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Um

Jeito de superar a ex- namorada


Desempregada.
Dobrei meu braço ao lado do teclado e apoiei a testa na dobra do
cotovelo.
Eu estava exausta.
Não era sequer uma exaustão física, era apenas uma desistência
mental, filosófica e espiritual.
Nunca estive desempregada daquele modo antes. Até então, todos os
momentos da minha vida em que havia precisado de um emprego
tinham sido normais. Eu saía do emprego anterior por causa de uma
proposta melhor ou pela ambição pessoal de acreditar que merecia uma
proposta melhor. E nunca estive enganada.
Estive no meu emprego anterior nos últimos dois anos, antes de ser
sumariamente demitida por “má conduta profissional”.
Claro que meus empregadores não eram imbecis cruéis, incapazes
de compreender que eu fugi da cidade quatro meses atrás porque corria
risco de ser assassinada por um chefe do crime organizado. Essa parte
eles seriam perfeitamente capazes de compreender.
Era a versão oficial dos fatos que eles tinham problemas em aceitar.
Expirei longamente, sentindo meu corpo
inteiro doer. Fiquei horas e horas na internet, enviei
currículos, agendei entrevistas… apenas
para descobrir uma inevitável verdade: eu não ia conseguir um
emprego tão cedo. Para conseguir voltar à minha vida normal e honrar
o acordo que fizera com o agente Zahner para manter Yuri Kulik bem
longe de mim, precisei mentir para todas as pessoas ao
meu redor, apresentando–lhes uma nova versão dos
fatos e uma justificativa
plausível para o meu desaparecimento.
O problema recorrente, no entanto, é que o “plausível”, no meu
caso, não inspirava qualquer tipo de simpatia aos meus empregadores,
antigos e eventuais.
Eu tinha deixado de ser a garota corajosa que enfrentou a máfia
russa, colaborou com uma investigação policial e tirou a roupa para
salvar uma boate às vésperas da falência para me tornar a garota
maluca com um severo grau de ansiedade generalizada que, em um
ataque de pânico, tinha abandonado emprego, família e amigos, sem
qualquer explicação ou adeus, para fugir por algumas semanas com um
gigolô que lhe tirara a virgindade, em umas férias não planejadas.
A nova versão oficial dos acontecimentos trazia até fotos,
especialmente preparadas, minhas e de Devon em um barco qualquer.
“Navegando para o horizonte em um iate com um deus do sexo para
esquecer as mazelas da minha vida.”
Essa era a resposta que, com palavras mais rebuscadas e educadas,
eu era obrigada a fornecer em entrevistas de emprego sempre que me
era feita a pergunta de “E por que abandonou seu emprego anterior?”.
É… Eu não ia conseguir um emprego tão cedo. E era melhor me
conformar com isso.
É por isso que não arranja emprego, sua preguiçosa! – Monique
estava em nosso apartamento há dois segundos e eu já queria matá-la. –
Fica cochilando quando deveria estar procurando o que fazer. –
recriminou.
Eu empurrei para o lado a caixa com meus documentos, certificados,
diplomas e currículos, só para encará- la.
Quem te deu a chave? – resmunguei.
E quem precisa de chave? A fechadura dessa porta está frouxa. Já
disse a vocês que isso é um perigo. Mas como estou lidando com a
Mina preguiçosa e a Elise desmiolada, acho que vocês nunca vão
resolver esse problema.
O que você quer, Mon? – Elise surgiu do seu quarto para me
resgatar.
Não incomode a Mina, ela está muito estressada.
Monique me irritava, sem dúvidas. Mas acho que eu preferia a sua
agressividade ao zelo excessivo de Elise. Minha melhor amiga tinha
ficado verdadeiramente preocupada com meu desaparecimento e,
então, com a descoberta do meu surto mental. Ela sabia que esse tipo
de fuga não condizia com minha personalidade e para que eu tivesse
recorrido a uma solução desse porte eu deveria estar bem afetada.
Quatro meses tinham se passado e ela tinha exigido que eu me
mudasse para sua casa. Elise usou como desculpa o fato de eu estar
desempregada e sem nenhum dinheiro além de minhas economias, mas
eu sabia que, na verdade, ela só queria ficar de olho em mim.
Vim devolver isso. – Tirou da bolsa alguns colares. – E quero saber
se vocês vão sair hoje!
Eu não tenho planos. – Elise levantou um ombro.
Então vai para a festa de aniversário do Cristian comigo!
Monique, se você não gosta dos amigos dele, precisa dar um jeito.
Ou falar pra ele. Não podemos ficar servindo de escudo para você
sempre que… O Gerard vai estar lá – cantarolou.
Elise mordeu o lábio, controlando o sorriso.
Maldita. – Ela havia tomado a decisão e Monique desatou a rir.
E você, Mina? Vem com a gente ou vai sair com o namorado?
Namorado.
Eu não gostava de pensar em Lance como meu namorado. Era cedo
demais para chamá-lo de namorado. Mas depois de dois meses
conversando com ele quase todos os dias e encontrando- o todos os
fins de semana… era tarde demais para chamá-lo de qualquer outra
coisa.
Não é o namorado dela. – Elise me defendeu. Tivemos umas duas ou
oito discussões irritadas assim: Mon se referia a Lance como meu
“namorado”, eu dizia que não queria que o chamasse assim e, por fim,
acho que Elise começou a temer que eu tivesse outro surto mental e
então resolveu interferir sempre que a conversa ameaçasse ressurgir.
Foi só uma pergunta, Elise! Não precisa ficar trabalhando como
guarda-costas da Mina sempre que ela ouvir uma pergunta de que não
gosta.
Mina não está bem, Monique! Pare de ser inconveniente!
Mina estava muito bem há alguns meses, quando resolveu mandar o
trabalho se foder e fugir com o
prostituto. Mas agora não está bem para responder a uma simples
pergunta?
Cala a boca, garota!
Você tem que parar de tratá-la como se ela fosse uma flor delicada!
Bault é uma mulher adulta que vai ter que lidar com as consequências
do que…
Vou sair com o Lance – interrompi.
Já temos planos para hoje à noite.
As duas se calaram, Elise desenhou um sorriso simpático no rosto e
Monique fez uma expressão de vômito.
As duas se puseram a combinar horários e etiquetas. Aproveitei a
distração delas para puxar meu celular e enviar uma mensagem para
Lance.
Na verdade, eu não tinha planos para aquela noite. Mas Elise…
Elise era minha melhor amiga.
Ela se preocupava. Estava desesperada, na verdade.
E eu sabia disso.
Ela era a última família que eu tinha e se sentia pessoalmente
responsável por não ter previsto minha crise de loucura. Foi Elise
quem achou que eu deveria sair com um gigolô e, na cabeça dela, o
fato de ter sido ela quem arranjara o encontro que me levaria à fuga
apenas aumentava a sua culpa.
O único detalhe é que não houvera nenhuma crise de loucura.
Havia um gigolô. Havia uma fuga. Mas nada tinha sido como ela
imaginava.
Mesmo que seu cuidado me irritasse, eu sabia que era apenas uma
preocupação carinhosa. Ela me amava. Nos primeiros dias depois que
voltei, suas perguntas eram tão intensas que eu imaginei que ela
suspeitasse da minha mentira. Mas uma visita do agente Zahner e uma
história elaborada e bem montada tinham bastado para conquistar a
confiança de Elise em nossa pequena ficção. Agora, só me restava
tentar diminuir suas preocupações e assegurá-la de que eu estava bem.
O que era injusto comigo: agora não apenas eu tinha que esconder a
verdade, procurar um novo emprego,
lidar com o julgamento dos outros… mas ainda tinha que tomar
conta das emoções da minha melhor amiga.
Era coisa demais para manter sob controle e eu só queria…
Eu só queria mandar tudo se foder, como a Monique tinha dito.
Queria fugir com um gigolô que me dissesse que o melhor modo de
viver é perdendo o controle.
Mas não seria em um iate.
Não seria por uma crise de loucura. E, definitivamente, não seria
com o
Devon.
Seria ele.
Não importava para onde. Nem quando. Ou por quê.
Se fosse ele, eu fugiria de novo. Para onde ele quisesse me levar.
Eu mandaria toda a confusão da minha nova vida se foder.
Deixaria uma carta para Elise dessa vez e iria embora sem intenção
de voltar.
Desde que fosse com ele.
De muitos modos, não poder falar sobre Ryker era a pior parte.
Era como se eu tivesse acabado de perder um braço e não pudesse
contar a ninguém. Como se tivessem enfiado uma prótese em mim e
todos esperassem que eu fosse continuar a viver como se nada tivesse
acontecido.
Mas uma parte de mim estava faltando, e a prótese nunca seria capaz
de funcionar do mesmo jeito que antes.
Foi a experiência mais arrebatadora da minha vida.
O amor mais intenso. A intimidade mais visceral. O contato mais
profundo.
E acabara.
Agora só me restava lembrar e tentar esquecer. Eu tinha descoberto
para que servia meu coração, tinha o colocado para funcionar, apenas
para vê-lo destruído. E sequer podia conversar com minha melhor
amiga sobre isso.
Só o que eu tinha era Lance: uma prótese.
Ele era um jornalista que aparecera para falar com as vítimas que
tinham perdido suas casas na explosão misteriosa que resultara em
muitos mortos e feridos. O jovem jornalista estava investigando o
desastre e quase tropeçara em uma ou outra informação que o levaria
para o lado errado da legalidade se eu não o tivesse impedido.
Eu sabia o que Kulik era capaz de fazer quando alguém farejava o
seu rastro. Achei melhor tentar proteger o desavisado Lance.
Mas ele confundiu minha preocupação com interesse. E meu receio
com carinho.
E logo eu não conseguia mais me livrar dele.
Lance respondeu minha mensagem com uma animação
desnecessária, confirmando nosso encontro para aquela noite.
Acho que se eu fosse realmente me livrar de Lance algum dia… não
seria hoje.

Grazie. – Sorriu. Era um sorriso sexual.


Daqueles bem óbvios e descarados. Seria mais fácil se ela apenas me
chamasse de gostoso e perguntasse quando acabava o meu turno.
Mas não era isso que ela fazia.
Ela apenas se sentava na parte externa do café a cada dois ou três
dias, puxava assuntos que não me interessavam, demorava demais para
pedir a conta e agradecia com um sorriso largo de sexo. Semana após
semana.
Pelo menos me deixava gorjetas generosas e eu não tinha do que
reclamar.
Eu não conseguia lembrar o seu nome, apesar de já tê-lo ouvido em
algumas ocasiões. Para mim, ela era a “Mesa 8”.
Acho que ela te daria a calcinha junto à gorjeta, se você pedisse –
Colin riu quando coloquei a bandeja em cima do balcão.
Acho que ela ainda vai fazer isso, mesmo sem eu pedir.
Ai! – Gargalhou. – Você é gay? – perguntou, encarando Mesa 8,
quando ela acenou para mim antes de sair.
Sorri de volta para a mais assídua cliente do café.
Ela tinha uma boa bunda.
E acho que me chuparia por horas com uma boa disposição.
Mas eu simplesmente não estava no clima.
O que era peculiar diante do fato de que eu não tinha uma mulher ao
redor do meu pau havia meses.
Menos de um ano atrás, depois de duas semanas de exclusiva
masturbação, eu já estaria pronto para foder Mesa 8 ali na frente do
Colin, sem pedir licença. Mas hoje… Hoje, bastava eu fechar os olhos
e pensar em sexo que a única coisa que me vinha à mente era ela.
Ela na minha frente. Por cima de mim.
Embaixo de mim.
Com a boca no meu pau. Tirando a roupa no palco. Me oferecendo a
bunda.
Chamando meu nome enquanto gozava.
Ela.
E então eu abria os olhos e nada era bom o suficiente para me
manter ereto.
O único modo de aliviar o esporro que se concentrava violentamente
no meu escroto era pensando nela.
Enfiava a mão na cueca e me sacudia sem educação, sonhando com
um reencontro impossível.
A merda da garota me estragou para sempre.
Me incomodou bastante nos primeiros meses… Depois da terceira
mulher que levei para a cama e não consegui comer, eu estava pronto
para voltar a Paris, encontrá-la e xingá-la com os piores nomes que eu
conseguisse imaginar. Logo depois de fodê-la, claro.
Arrancaria minha masculinidade de volta de suas mãos delicadas e
nunca mais a entregaria para mulher nenhuma.
Mas nas últimas semanas, eu aprendera a aceitar.
Passei o pano por cima do balcão, mantendo-o limpo.
Ia levar tempo pra esquecê-la. Principalmente por que que eu não
parecia ser capaz de parar de bater uma furiosa punheta após a outra
com ela no meu mais imediato pensamento.
Estou cansada.
Virei de lado para encontrar Mesa 8 atrás de mim, com um sorriso
sensual e os braços cruzados no colo, empinando os seios.
O que disse?
Estou cansada – repetiu devagar. – De vir aqui quase todas as noites.
E eu nem gosto de café.
Não sei se estou entendendo. – Sorri.
Eu estava entendendo.
É claro que eu estava entendendo.
Eu estava entendendo desde a primeira noite que ela errara o pedido
três vezes, sorrindo para mim, antes de pedir um “café preto”.
Quero saber o que preciso fazer para você me chamar pra sair. –
Levantou um ombro, sedutora.
Reencarnar como uma francesa envergonhada e irritante seria um
bom começo.
Ah… – Devolvi o sorriso sedutor que saía de meus lábios de forma
mais natural que qualquer outro sorriso.
Eu poderia levá-la para a minha cama, foder sua bunda com força,
murmurar o nome de Mina antes de esporrar. Mesa 8 me daria um tapa,
mandaria eu tomar no cu e iria embora.
O café ia perder uma cliente e eu ia perder as gorjetas.
Mas pelo menos eu ia gozar.
E então? – questionou com urgência.
Eu… acabei de sair de um relacionamento complicado – expliquei. –
Não sei se tenho cabeça para me envolver em outro agora.
E quem disse algo sobre “se envolver”? – Ela piscou um olho.
Não sei se sou o tipo de cara que consegue só fazer sexo com uma
mulher.
É, eu sou safado. Um putão.
Eu nem queria transar com ela.
Mas minha boca estava adestrada para dizer exatamente o que uma
mulher precisa ouvir para responder com um: – Então... – sussurrou. –
Deixa eu te ensinar a fazer “só sexo” com uma mulher. – Mordeu o
lábio inferior.
Eu estava rindo. Fingi um constrangimento digno de Oscar.
Em qualquer outro dia do ano anterior, eu fingiria hesitar e pegaria
seu telefone. Marcaria uma hora. Treparia com ela o fim de semana
inteiro.
Mas hoje eu só conseguia ficar ali parado, escutando a voz de Mina
na minha memória…
Está querendo dizer que não gosta de mim? É sério? É esse o
argumento que vai usar?
É! É esse o argumento que vou usar. Não te tenho mais. Vou te
esquecer. Não vou mais sentir essa porra dessa aflição no meu peito
sempre que penso em ficar com outra mulher e sinto como se estivesse
te traindo. Não vou me importar mais!
Mentiroso.
Sinto muito – expirei, educado. – Obrigado pelo convite, mas…
acho que preciso de um tempo.
Mesa 8 entreabriu os lábios sem acreditar no que estava ouvindo.
Ela insistiu e me ofereceu seu número. Diante da recusa, ela estava
ainda mais desesperada para abrir as pernas para mim. Eu tinha certeza
disso.
O problema é que não queria que ela abrisse as pernas para mim.
Não fazia nenhuma questão.
Só havia uma mulher que eu desejava.
E ela tinha demorado como o inferno para abrir aquelas benditas
pernas.

Estava com saudades. – Lance beijou minha boca.


A primeira vez que eu o tinha beijado fora com um propósito
calculista. Ele queria me adicionar ao rol de entrevistados na matéria
que estava escrevendo sobre o escapamento de gás e a explosão e eu…
bem, eu gostaria muito que ele não fizesse isso. Eu conseguia
imaginar o agente Gareth Zahner espumando óleo
fervente pela boca se visse meu nome em um dos jornais de maior
circulação de Paris, associado a um incidente
causado por Yuri Kulik.
Meu bom senso não tinha me abandonado a esse ponto e fui
especialmente manhosa ao pedir a Lance que mantivesse minha
privacidade, usando um pseudônimo no artigo. Em vez disso, ele citou
apenas minhas iniciais e deixou todos os detalhes de fora. Eu lhe
agradeci com um jantar e… com dois meses da minha vida,
aparentemente.
Como foi o trabalho?
Consegui a entrevista com o CEO da Ferrer!
Nossa! Parabéns! – Ele veio me dar mais um beijo, mas eu tinha
intenção de abraçá-lo. Foi um segundo longo e constrangedor. Segurei
seu rosto e juntei nossos lábios desajeitadamente. – Você trabalhou
duro por isso.
Muito! – Aceitou a taça de vinho que lhe ofereci. – Esses caras são
inacessíveis!
Vai ter que me explicar o problema todo de novo qualquer dia… Foi
tão complicado que não entendi.
Esquema de lavagem de dinheiro. – Deu de ombros. – Não tenho
provas suficientes ainda, mas é estranho uma construtora do porte da
Ferrer investir tanto dinheiro em uma agência de turismo
desconhecida.
Engoli em seco. Eu não gostava desse tipo de problema. Um
jornalista investigativo enfiando sua lanterna no meio de uma operação
criminosa era justamente o tipo de coisa da qual eu queria distância.
Acabava sendo mais um motivo para me afastar de Lance.
Minha questão é que o pobre Lance parecia ser a única coisa que
cortava o efeito Ryker ultimamente.
Ele não era meu gigolô encantado nem o homem dos meus sonhos.
Mas quando eu estava com ele, a saudade não era tão grande.
Acho que era melhor ter uma prótese do que ter braço nenhum.
E era por isso que eu tinha comprado algumas garrafas de vinho e
decidido que hoje seria a noite.
Hoje seria a noite que eu transaria com um cara que não era Ryker.
Ele não seria tão bom quanto, eu provavelmente não gozaria e teria
de mentir depois.
Só era algo que precisava ser feito.
Algo que eu precisava superar.
Mas, antes, eu precisava ficar bêbada.
Lance perguntou como estava a minha busca por emprego; e como
aquele era o pior dos assuntos, puxei a boca dele para a minha e o
beijei com fome.
Ou pelo menos “fome” era a intenção.
Seus lábios finos, porém, quase não se encaixavam nos meus e
sempre escapavam com facilidade.
Ele enfiava a língua na minha boca para tentar me segurar, mas era
língua demais e eu logo ficava incomodada.
A hiperconsciência me arrebatou quando ele passou a mão no meu
seio e me veio a vontade de lhe dar um tapa.
Era errado. Tudo errado.
O modo, a intensidade, o ritmo, o homem.
Estávamos no sofá e tentei imaginar que ele era Ryker. Tentei com
todas as minhas forças, Mas a lembrança do toque perfeito do meu
gigolô servia apenas para contrastar com o desinteresse que eu sentia
pela minha companhia atual.
Mantinha os olhos abertos enquanto Lance me beijava com paixão e
tentava, pela minha vida, ficar excitada em vez de nervosa. Mas
parecia impossível parar de listar mentalmente para quais empresas eu
tinha mandado currículos e quais ainda não tinham respondido.
Inferno.
Eu não era mais uma virgem.
A ansiedade diante do desconhecido não deveria mais existir, mas lá
estava eu: nervosa, ansiosa, desesperada. Ansiando que aquilo tudo
acabasse.
Eu não estava excitada. Eu não conseguia ficar
excitada.
Ótimo.
Ryker parecia ter descoberto qual parte do meu corpo estava
quebrada e a consertara. Mas, só de birra, deve ter mexido nos fios
quando me deu adeus, desligando alguma conexão importante.
Me deixou sem funcionar mais uma vez.
Por isso, foi um alívio quando a porta do apartamento se abriu, sem
anúncio, dando passagem a uma Elise em vias de despir-se envolvida
por um cara que eu suspeitava ser o Gerard.
Mina! Ah…! – assustou-se. – Eu… eu achei que você ia sair.
Não! – Sentei no sofá e ajeitei minha blusa, recolocando meu decote
no lugar.
Um segundo constrangedor se prolongou.
Boa noite. – Lance cumprimentou Gerard, tentando evitar aquele
constrangimento inevitável Eu senti vontade de rir.
Lance queria quebrar o gelo. Gerard parecia pálido e sem palavras.
Elise não sabia o que fazer.
Eu era a única que já tinha ficado nua em público, aparentemente, e
me alegrou perceber que minha recém- adquirida sem-vergonhice não
tinha me abandonado.
Consegui ser a única pessoa do quarteto presente em nossa sala que
não estava absolutamente boquiaberta.
De certo modo, me senti orgulhosa.
Se Ryker estivesse ali, ficaria orgulhoso também. Apesar de que…
eu suspeitava com algum grau de convicção que se Ryker estivesse ali,
ele pioraria a situação e aí eu ficaria, de fato, envergonhada, assim
como o restante do grupo.
Mas eu estava sozinha. E sozinha, eu conseguia me sentir à vontade
com o tema o suficiente para falar sobre ele, embora não para fazê-lo
com meu namorado.
Se alguém parasse para me estudar, perceberia que eu não faço
sentido. Até eu canso a mim mesma, às vezes.
Bem, acho que… Acho que é melhor a gente sair – sugeri para
Lance.
Ele pareceu decepcionado e inspirou profundamente como se fosse
argumentar que nós estávamos ali primeiro. Então sorri, lembrei-o
discretamente que era melhor fazermos aquilo pela nossa primeira vez
em uma situação mais confortável e me odiei por me encontrar, de
novo, organizando uma primeira vez.
Sinceramente… quantas dessas uma mulher pode ter?
Abri a geladeira para pegar o leite. O pote de morangos estava ali.
Eu nunca os comia. Não queria morrer.
Mas eu os olhava todos os dias, quando abria minha geladeira para o
que quer que fosse. Zahner se enfiou ao meu lado e arrancou uma
cerveja do refrigerador.
Vai pagar por isso?
Não seja mesquinho – chiou, sentando no sofá. – Vim até aqui te
visitar e é assim que você me recebe?
Ele era pouco mais velho do que eu, mas seu porte e suas palavras
sempre o faziam soar como um adulto cercado de crianças.
Veio com más notícias. Deveria ter trazido cervejas para não ficar
roubando as minhas.
Herbeck é um idiota. Não vai muito longe.
Queria ter a sua confiança, Gary.
Herbeck era o único ponto falho em nosso plano para proteger Mina,
e a mera lembrança dela me causava poderosos arrepios. Ele era o
único inspetor francês que sabia sua identidade e conhecia seu
envolvimento com o assassinato no Grand Classique, responsável por
ter começado toda aquela confusão.
Eu te pedi para não falar com a polícia, Bault!
Mas eu não podia culpá-la. Não nos conhecíamos bem naquela
primeira noite. Ela não tinha motivos para confiar em mim e, em sua
inocência, ir à polícia realmente parecia a coisa mais sensata a fazer.
Ele não sabe nada que possa te prejudicar. Mina não deu detalhes
sobre você quando foi à polícia, não é? Não vão te encontrar.
Mas ele falou com Mina e nosso acordo…
Eu sei, eu sei! Sua namorada está a salvo. – Girou a garrafa,
vertendo o líquido garganta abaixo.
Como pode ter certeza?
Zahner me olhou de soslaio. Ele estava escondendo algo. – O que
foi? Como sabe que Mina está bem, Zahner?
Mantenho uma equipe com ela. Nada demais! – acrescentou com
pressa. – Só um ou dois homens, observando à distância.
Era o tipo de informação que deveria me acalmar, mas, em vez
disso, me lançou ao mais absoluto frenesi de pânico.
Você disse que a história era coesa, que preparou todos os
documentos! Por que precisa mantê-la sob observação se me certificou
que ela estava a salvo? – Eu estava de pé e pronto para lhe dar um
murro.
Jesus! Acalme-se, homem. – Torceu o nariz. – Eu só preferi ter
certeza.
Preferiu mantê-la por perto caso precise dela – rosnei. – Isso não faz
parte do acordo, Zahner!
Ah! Você está tão desagradável... O que há com você? Falta de
sexo? – brincou, e eu engoli em seco. – Não vou fazer nada para
quebrar o acordo. As informações que você nos forneceu sobre Simak
foram excepcionais. Estou transformando a vidinha medíocre e
arrogante dele em seu próprio inferno particular.
Eu vi as notícias no jornal – confirmei. – Mas fale sobre Herbeck,
Gary! Ele falou com Mina, ele pode saber que…
Ele não vai prejudicá-la, Ryker. Ele sabe o risco que corre comigo e
com a Interpol se fizer isso. E ele não sabe onde ela está. Deve
imaginar que está no programa de proteção à testemunha também.
Nada mais faria sentido. Ela está a salvo. E, caso não esteja, tenho
homens cuidando dela.
Não se preocupe. Tome aqui! – Ofereceu-me sua cerveja pela
metade e foi buscar outra.
Obrigado. – Sorri, sarcástico.
Por que você tem morangos na geladeira? – resmungou. – Está
planejando se suicidar?
Não é da sua conta.
Você é a testemunha-chave de dois dos meus principais casos. É da
minha conta, sim.
Até hoje não sei como descobriu sobre minha alergia.
Sei até qual é sua cor preferida, garoto, é o meu trabalho. Mas nunca
entendi qual é a dos morangos. – Sentou-se mais uma vez. – Você
sempre os compra e guarda na geladeira até estragarem. E aí joga fora
e compra mais.
Muito observador.
Por que faz isso?
Já disse. Não é da sua conta. Quer que eu repita?
Não, senhor Mau Humor.
Obrigado.
O que veio fazer aqui, Gary? Além de trazer más notícias e roubar
minhas cervejas?
Herbeck pode ser insignificante, como também pode não ser. Mas o
fato é que ele desapareceu, é uma peça que mudou de lugar. E eu não
quero arriscar.
Não quer arriscar o quê?
Você.Vamos mudar você de lugar.
Vou mudar toda a equipe encarregada também. Nova identidade,
novo endereço, novo tudo.
Eba – exclamei sem qualquer empolgação.
Que bom que está tão feliz, porque vamos fazer a mudança amanhã
mesmo.
Tudo bem, mas...
O telefone de casa tocou e eu me levantei para atender, gesticulando
para Gary que eu voltaria em breve. Meu chefe, Colin, era a única
pessoa que tinha aquele número e, se ele estava ligando, seria legal eu
me despedir com educação antes de desaparecer na manhã seguinte.
Puxei o gancho do aparelho branco colado na parede da cozinha.
Alô?
Olá, filho. Quanto tempo.
Uma sensação ruim se espalhou pelo meu corpo.
Sei que está muito ocupado contando segredos de família para a
polícia, mas espero que possa arranjar um tempo para seu velho pai.
Eu sentia a amargura em sua voz.
Sua carreira estava em pedaços, sua vida estava destruída e ele
deveria estar tendo reuniões ininterruptas com advogados para tentar se
livrar da cadeia.
Ele me odiava e sua voz deixava isso perceptível.
Bem perceptível.
Fique em silêncio e só me escute, ouviu?
Não preciso te obedecer, seu puto. Ele tinha me achado… Tudo
bem.
Parabéns para ele. Mas a Interpol já estava ali com tudo organizado
para me remover. Parabéns, papai. Parabéns por nada. Ele chegou
quando eu estava de saída e agora, por mim, ele podia se foder.
Se você disser mais uma palavra, sua namoradinha morre.
Meu lábio inferior tremeu num ato involuntário e tive certeza de que
tinha ouvido algo errado.
Achei que só estava fazendo isso para se vingar de mim, mas,
quando descobri sua namorada francesa, não foi difícil imaginar outros
motivos por trás do seu acordo com a polícia. Muito romântico de sua
parte.
Não sei do que…
Ah, sabe, sim. Sua namorada francesa, aquela que estava com você
quando Kulik cometeu o assassinato. Ela também viu tudo. Ela
procurou a polícia, sabia?
Herbeck. O filho da puta do Herbeck.
O que você quer, Edgar?
Quero que você pare de falar com a polícia. Quero que você
desapareça. Quero parar de me arrepender por não ter te afogado
quando você era um pirralho.
Não, obrigado. Acho que prefiro continuar te incomodando.
Não acho que vai fazer isso.
Eu não ligo pra garota – blefei. – Se essa é sua única carta, então
você não tem nada.
Isso é o que nós vamos ver… Acabei de descobrir isso e posso não
saber onde ela está ainda, Ryker. Mas ainda tenho alguns bons amigos
e sei que ela não está no programa com você. E se ela está solta em
algum lugar do mundo, eu vou encontrá-la. E aí a gente vai descobrir o
quanto ela significa para você. – Eu podia senti-lo trincando os dentes
de fúria do outro lado da linha. – A gente vai descobrir bem depressa.
O sinal interrompido da linha do telefone informou que ele tinha
desligado.
Era mais que apenas uma ameaça.
Era uma promessa.
Strome? – Zahner chamou, da sala.
Algum problema?
Não – respondi, esfregando meu queixo.
Se eu contasse para o Gary o que tinha acabado de acontecer, ele ia
me enfiar em um bunker no núcleo da Terra e eu nunca mais ouviria
notícias de Mina. Zahner poderia dizer que ela estava bem e segura,
mas será que eu acreditaria?
Os homens que ele tinha por perto de Mina… será que eles seriam
incorrompíveis? Ou venderiam minha menina para a melhor oferta?
Será que algum dia eu conseguiria ter paz sem ter a certeza de que
ela estava a salvo da merda que eu tinha colocado ao nosso redor?
Se Edgar queria Mina, só havia um jeito de protegê-la.
Apenas um jeito de ter certeza que ela estava bem.
Um único modo de garantir sua segurança.
Eu precisava me livrar do Zahner. Eu precisava voltar a Paris.
Dois

Técnicas para reencontrar sua ex

– E então? Como foi ontem à noite?


Amarrei o cordão do robe e sentei-meao lado de Elise na mesa.
– Normal. – Peguei uma maçã sem entender o motivo de seu
interesse.
– Mina. – Ela largou os punhos insatisfeitos sobre a mesa. – Me
conta! Foi sua primeira noite com um homem desde… – ela hesitou.
Ela semprehesitava ao abordar aquele tópico – … desde o gigolô.
– Humm... – Percebi que eu não ia gostar dessa conversa. – Não
fizemos nada. Só fomos a um restaurante.
Me concentrei na minha maçã, mas Elise não ia deixar aquela
conversa acabar.
– Um restaurante? Você estava se agarrando com ele no sofá e saiu
para ira um restaurante?
– É. Qual o problema?
– Mina Bault! – rugiu. – Você faz eu me sentir horrível por ter
interrompido!
– Elise, você está exagerando. – Mordi a fruta com descaso.
– Um quarto de hotel! A casa dele! O banheiro de alguma boate!
Qualquer lugar, Mina! – chiou.
– Não quero transar pela primeira vezem qualquer lugar!
– Primeira vez? – Arregalou os olhos.
– Primeira vez com o Lance – acrescentei.
Elise tomou seu café e me permitiu um pouco de silêncio.
Eu já estava começando a ficar confortável quando ela estalou mais
umavez: – Você tem certeza que não é mais virgem?
– Ai, Elise… – gemi, exausta.
– Porque olha… se você for, amiga, é claro que não tem problema! –
Não sou mais virgem, eu juro! – Abri os olhos, forçadamente, para dar
ênfase às minhas palavras.
– Essa coisa toda sua com o gigolô foi tão estranha... – murmurou.
– Devon. O nome dele é Devon.
– Às vezes – ela me ignorou e continuou tagarelando: – eu me pego
pensando se é verdade mesmo. Serealmente aconteceu ou se…
– Ou se o quê?
– Sei lá… Talvez… talvez tenha acontecido alguma coisa que você
não queira me contar.
Tipo… – Revirei os olhos – Eu e o gigolô presenciamos um
assassinato de um chefão do crime e aí fugimos para salvar nossas
vidas como em um filme de ação clichê. Nos apaixonamos e ele teve
que ir embora para salvar minha vida, inventando uma história furada
sobre um iate e um ataque de pânico para que eu pudesse ficar em casa
a salvo?
– Tá – reclamou,em meio a risadas.– Também não precisa exagerar.
Deixei meus ombros caírem.
– Mas talvez você tenha tido uma crise de pânico porque não
conseguiu perder a virgindade e tenha fugido para tentar. Olha, eu
estava lendo um artigo sobre pessoas assexuadas e…
– Eu tenho que sair. – Levantei da mesa, revirando os olhos mais
uma vez.
– É sério! – avisou. – É uma coisa que acontece.
– Você é louca – respondi com um carinho exagerado. – Mas eu te
amo mesmo assim.
– Mina, me escuta.
– Olha! – Peguei meu celular de cima da mesa. – Presta atenção –
avisei antes de comandar ao aparelho que ligasse para Lance. – Lance?
– chamei, dengosa
– Estou te atrapalhando? – Como era que Ryker falava? – É
algo sério, sim. Não aguento mais, Lance. A gentesempre
fica adiando… – gemi. – Mas eu estou com fome. Acho que você tem
que vir jantar aqui em casa hoje. Eu te preparo uma refeição deliciosa.
E algo especial para você comer de sobremesa. Elise tinha os olhos
arregalados e o queixo caiu no chão, dando vazão a um sorriso
imenso.
Moveu as mãos em umas palmas mudas e eu pisquei um olho
para ela.
Lance não tinha palavras suficientes para concordar com meus
planos.
E era isso.
Lá ia Mina mais uma vez.

Por favor, não tenha se mudado!


Elise era minha única chance de encontrar Mina e eu não teria muito
tempo.
Certamente, Zahner estava furioso e à minha procura e, a não ser que
eu corresse, ele me pegaria antes que eu chegasse até ela.
O problema é que a casa de Mina tinha explodido e o único contato
que eu ainda poderia ter com ela se chamava Elise Rion, sua melhor
amiga.
Meu plano era seguir Elise até encontrar Mina. Não era um plano
infalível, mas meus planos sempre eram uma merda mesmo. Eu tinha
aprendido a me adaptar. Já começava a escurecer quando eu me
encontrei na esquina do prédio de Elise. Parado contra uma parede,
analisando os arredores.
Os dois homens que Zahner tinha colocado para vigiar Mina não
poderiam ser mais óbvios: dois caras de atitude suspeita e camisa de
manga comprida, um deles estava sentado no carro estacionado com
a porta aberta, o outro estava de pé, terminando de tomarum café.
Esperei alguns segundos para me certificar e, quando ele acabou de
tomar seu café e voltou a entrar no carro, apenas para continuarem
parados ali, eutive certeza.
Certo, Ryk, boas e más notícias.
A má era que eu não podia deixar eles me verem ou Zahner saberia
exatamente onde eu estava e ia chegar em cinco minutos como um cão
raivoso.
A boa era que, se os homens que Gary colocou para ficarem perto de
Mina estavam ali, isso só podia significar umacoisa.
Se eu fizesse a coisa do jeito certo, ou seja, se não chamasse a
atenção dos doisbulldogs da polícia francesa, e Mina estivesse em casa,
em vinte minutos ela estaria nos meus braços. Engoli em seco e não
permiti que o pensamento ficasse confortável demais em meu cérebro
ou eu não conseguiria encontrar um modo de chegar até o
apartamento… e aquela era a primeira parte.
A senhora que saiu do prédio de Elise parecia ter uns setenta anos.
Ela mexia na bolsa e na lista de papel que carregava nas mãos. Ignorou
a parada de ônibus e virou a esquina na direção oposta à entrada de
metrô mais próxima.
Tinha achado minha entrada.
Ia demorar um pouco mais de tempo do que eu tinha previsto…
mas o resultado seria ideal.

Peguei um pacote de morangos apenas para apreciar minha própria


piada e me certifiquei de que ficaria na fila bematrás dela.
– Para lavar as janelas? – Aproximei- me com polidez, indicando um
dos potesem suas compras.
– Oh, ah, sim! – Ela sorriu, ajeitando os óculos. – Uns pombos
danadosfizeram seu ninho bem em cima da minhajanela – reclamou.
– Ah, é horrível quando isso acontece
– concordei, sério. – Tem um produto que eu uso que acho bem
melhor do que esse.
– É mesmo? – Virou-se, interessada.
– Sim, com certeza.
– Qual é?
– Eu posso pegar, se a senhora quiser.Pode segurar para mim por um
instante?
– Entreguei-lhe meus morangos, que ela segurou com gratidão e
corri para trocar o pote dela por outro qualquer. – Esse aqui. – Voltei à
fila. – Sempre uso esse!
– menti. – É excelente.
– Oh, muito obrigada, rapaz.
– Imagina. – Sorri, educado.
– E você vai pegar essa fila apenaspara comprar morangos?
– Minha namorada adora! – avisei. –Não posso deixá-la ficar sem.
– Que garota de sorte.
– A Elise me enlouquece. – Dei de ombros. – Principalmente sem os
seus morangos. E a Mina, a garota que divide apartamento com ela,
gosta muito deles também – arrisquei.
– Oh! Elise e Mina? Elise Rion é sua namorada?
– É, sim, senhora – fingi surpresa. – Asenhora a conhece?
– Sim, ela é minha vizinha! Oh, que mundo minúsculo!
– Minúsculo mesmo – repeti com umsorriso.
Ajudei-a a embalar as compras.
– Está indo para lá agora? – perguntei. – Posso ajudá-la a carregar.
–ofereci, para me mostrar prestativo.
– Ah, que bom garoto você é.
Agradeço! Estou indo para lá, sim, obrigada!
Peguei as sacolas e lhe ofereci o braço enquanto andávamos pela
rua, percorrendo o caminho de volta até o prédio de Elise, passando
despercebido, portanto, pelos seguranças que me viram apenas como
um neto ajudando a avó. Ela abriu a porta do prédio e nós entramos.
Sucesso.
Acho que, no fim, meus planos nemsão assim tão maus.

Toquei a campainha pela terceira vez e ninguém atendeu. Elas não


deveriam estar em casa.
Isso não era bom.
Eu não podia ficar parado no meio docorredor.
Talvez minha nova amiga do supermercado me oferecesse abrigo até
alguém chegar. Sacudi meus cabelos,irritado. Era minha melhor opção.
Dei um soco de frustração na porta e já ia me virar de costas quando
ouvi o rangido da madeira cedendo.
Senti a testa enrugando ao perceber que a fechadura estava frouxa, o
que nãopermitia que a porta ficasse trancada.
Isso era péssimo para Mina e Elise. O que diabos aquelas duas
estavampensando? Morando sozinhas em uma casa com uma porta que
não tranca? No entanto, era ótimo para mim.
Me enfiei no apartamento depois de verificar rapidamente os
arredores e ter certeza de que ninguém me observava.
O lugar era… estranho. Não era exatamente aconchegante como eu
imaginava que o apartamento de Mina seria. Era tudo muito anguloso e
aleatório. Abri a porta que supus ser um dos quartos e o caos de roupas
em cima da cama, sapatos espalhados pelo chão e maquiagens em cima
do móvel gritou emalto e bom som que minha Mina controladora nunca
poderia habitar um ambiente tão entrópico.
Testei a outra porta, me sentindo um pouco como Cachinhos
Dourados na casa dos ursos e vi algo que me pareceu bem mais
familiar.
O lugar tinha um cheiro gostoso de velas aromáticas e estava
arrumado com metódica perfeição. As almofadas coloridas sobre a
cama e a grande poltrona fofa conferiam um ar envolvente ao quarto.
Uma ideia de lar.
Todavia, foi a parede repleta de pôsteres daqueles filmes de drama
que ela adorava que me deram plena segurança de que minha garota
morava ali.
Lavei o rosto e as mãos em seu banheiro e considerei esta ação um
banho. Fora uma longa viagem e um homem sempre deve tomar banho
quando sexo oral é uma possibilidade. Não é uma questão de
safadeza. É uma questão de respeito. Não há nada pior do que a ideia
de uma garota querer fazer sexo oral em você e seu pênis estar com
cheiro de queijo.
Abri a porta do móvel embaixo da piana busca por uma toalha e…
Um vibrador.
Singelo, lilás, discreto, comprido. E um rabbit, ainda por cima!
Minha boca se abriu com um sorriso de surpresa.
Mina Bault, sua danadinha.
Tirei o vibrador de seu esconderijo e o coloquei em cima da cama.
Era o tipo de coisa que para a qual se precisariater acesso fácil.
Optei por tomar um banho completo e nem me incomodei em
colocar a roupa de volta. Eu queria ver Mina com vergonha. Ela ficava
um espetáculo de tão linda quando ficava com vergonha e já estava em
crise de abstinência depois de tanto tempo sem vê-la corar, dar seus
socos desajeitados no meu braço e me chamar de “impossível”. Eu
precisava muito daquilo.
Deitei na cama e senti seu perfume nos travesseiros.
Quando dei por mim, estava com o nariz enfiado em um deles,
apertando-o contra o rosto, em uma típica atitude babaca que, até
então, eu pensava que só existia naquelas comédias românticas que
fazem as mulheres mais inocentes chorarem pelos olhos e pela vagina.
Se meu cunhado me visse agora, ia se sentir decepcionado.
Se minha irmã pudesse me ver agora, ia rir e dizer um “eu avisei”.
Era o jeito dela… Enquanto Sven sabia que eu era um predador, Lexa
insistia em afirmar que eu era um cara romântico que fingia ser algo
que não era.
Mas, sozinho ali, envolvido por mais Mina do que eu jamais pensara
em ter nos últimos meses, eu me permiti aquele pequeno prazer
proibido.
Meu pau começou a acordar e senti vontade de acariciar-lhe e dizer
“isso, garoto, se acalme, sua hora chegou”. Mas algo no criado-mudo
chamou minha atenção e ligou um botão no meu corpo me inundando
em incômodo.
Estiquei o braço e peguei o porta-retrato que descansava embaixo
doabajur.
Era uma foto de Mina… Minha Mina em um iate vestindo nada
além de um biquíni.
Com os braços gananciosos de Devonao seu redor.

Lance era legal.


Ele era até divertido.
Gentil, adequado, prestativo.
A cor de seus olhos era bonita e seu sorriso era quase charmoso.
Entramos em casa entre meios sorrisos e meias conversas, ele me
ajudou a carregar as compras e despejamos tudo ruidosamente em
cimado balcão.
Lance acariciou meu braço e apertou minha mão. Eu tinha
desenvolvido um carinho por ele que era quase atrativo. Beijou minha
bochecha e arregaçou as mangas fazendo alguma piada boba sobre
culinária.
Ele era bom para mim.
Nunca seria Ryker, mas seria bom.
E, simples assim, com um olhar em meio perdido entre as compras
da cozinha, resolvi que ia tentar fazer aquilo funcionar.
Tentar de verdade.
– Vai separando as coisas? – pedi.
– Vou. Para onde você vai?
– Vou só me refrescar e colocar algo mais confortável. – Sacudi os
ombros, indicando a roupa que eu tinha usado na minha primeira
entrevista de emprego de sucesso em meses – E aí eu volto pra gente
comemorar.
Estalou um beijo no canto da minha boca e me permiti ficar feliz.
As engrenagens da minha vida estavam voltando ao seu devido lugar.
Pelo menos até eu abrir a porta domeu quarto, e o que me esperava
ládentro explodir a máquina da vida,
arremessando as engrenagens, emcompleta desordem, para todos
os lados. Eu podia estar só alucinando pela falta de sexo. Ou Ryker
poderia estar no
meio do meu quarto só de cueca?
Eu não sabia qual das duas versões eu preferia.
Se estivesse apenas alucinando, eupoderia ter minha vida de volta.
Se não estivesse, eu poderia terRyker.
Mentira… eu sabia muito bem qualera a minha preferência.
Abri a boca com um grito mudo.
– Eu posso explicar! – Ele correu para perto de mim. – Não grita,
Mina, pelo amor de Deus! – Juntou as mãos e entrelaçou os dedos.
– Ryker? – Eu queria abraçá-lo, mas o choque e a descrença eram tão
grandes que a primeira coisa que saiu da minha boca foi: – Por que
diabos está só de cueca?
Ele se afastou apenas um passo e riu com vontade.
– É a primeira coisa que você nota, não é, safada?
Eu lembrava do seu cheiro. Lembrava dos seus olhos. Lembrava do
seu sorriso.
Foi mais forte do que eu. Dei um passo adiante, vencendo a
distância e passando meu braço pelos seus ombros. Ele apertou minha
cintura no mesmo instante e me envolveu.
Eu não conseguia respirar.Eu não conseguia pensar.
O fato de que eu não podia contar para ninguém o que tinha
acontecido me fez sufocar os sentimentos que eu tinha por ele em
algum lugar onde pudessem parar de doer em silêncio.
Mas vê-lo ali, tão próximo… A saudade que eu sentia dele começou
a me destruir e eu soube que não importava mais: mesmo que ele fosse
embora naquele segundo, meu relacionamento com Lance não teria
mais chances.
Eu nunca sentiria por homem nenhumo que eu sentia por ele.
Mas Lance ainda era um bom homem… eu não queria magoá-lo.
Não poderia.
E além do mais… eu não tinha como saber se Ryker ficaria. Eu não
tinha a menor ideia do que estava acontecendo.
– O que está fazendo aqui? – Me afastei, segurando seus braços. –
Não é perigoso? O Zahner sabe que veio para Paris? E por que está só
de cueca?
– Você não consegue ignorar a cueca,não é?
E como se minha situação não fosse ruim o suficiente, Ryker fez o
que ele fazia melhor: piorou tudo.
Me puxou, engolindo minha boca, me enchendo daquela saliva
perfeita que eu tinha aprendido a venerar. Seu corpo se aqueceu sob a
palma das minhas mãos e eu soube que meu sangue deveria ter descido
inteiro, se concentrando na minha vagina e se preparando rápido
demais.
Por dois meses Lance me tocou, e por dois meses meu corpo se
recusou a colaborar.
Ryker me tinha por dois segundos. E o que eu poderia dizer? Será
que haviaalguma parte de mim que ainda duvidavaque eu era dele?
Enfiou a língua na minha boca e perdi o chão. Seus braços me
seguravam pela cintura e eram o único apoio que eu tinha contra a
gravidade. Segurei sua nuca com desespero. Eu preferia morrer a vê-lo
se afastar. Chupou minha boca, mordiscou meus lábios, me tomou pela
boca com violência até a tensão começar a se acalmar. O tesão era
imenso; a saudade, porém, era maior. E saudade pedia beijos, abraços,
olhares e palavras antes de nudez e cama.
Ryker segurou meu pescoço em suas mãos, passeando os polegares
pelo meu queixo, acariciando minha bochecha com as costas dos
dedos e voltando eme segurar.
– Eu estava precisando disso – suspirou ainda de olhos fechados. –
Pronto. – Abriu os olhos. – Pode voltar a ficar estressada e fazer suas
perguntas agora.
– O que está fazendo aqui? – murmurei.
– Acho que você está em perigo.
– É o quê? – exaltei-me.
– Não tenho certeza! – Abanou as mãos. – Mas vim porque… –
Olhou para os lados, à procura de uma resposta. – Vim porque queria
ter certeza.
– Por que acha que estou em perigo? E não é mais perigoso para
você? Onde está o incompetente do Zahner? Ele sabe que você está
aqui? Ele deixou você vir? Ou veio com você?
– Mina, Mina, Mina! – pediu. – Calma. Faz quatro meses que a
gente não se vê. Me dá alguns minutos para pegar o seu ritmo na
velocidade nível desespero, tá? Zahner não sabe onde estou, vim
sozinho porque ele não ia medeixar vir.
– Por um bom motivo! Você precisa ligar pra ele! – Enfiei as mãos
nos cabelos.
– Ele não pode vir aqui! Podecomprometer seu disfarce!
– E você não compromete?
– Eu sou sagaz. – Sorriu.
– Tenho certeza de que é – rosnei, sem paciência.
– Ninguém mais sabe que estou aqui.
– Mina? – uma voz lá fora me chamou. – Tem alguém aí com você?
– Merda! – sussurrei, empurrando Ryker pelo ombro.
Eu não queria magoar Lance e… eu nem pensei. Seja lá qual fosse o
cenário,um homem só de cueca no meu quarto era uma péssima cena.
Ele seguiu minha deixa, embora a contragosto, e se jogou no chão,
ao lado da cama, longe da visão de Lance, que abriu a porta do meu
quarto, curioso.
– Ahm… Está tudo bem?
– Está! – falei, sem fôlego.
– Ouvi você falando com alguém.
– Comigo mesma. – Minha boca estava funcionando sozinha. –
Eu gosto de falar comigo mesmo para me animar. Vai lá Mina – fingi. –
Vai fazer um jantar delicioso. Vai sim, eu confio em você. – Ai, Mina,
cala a boca, por favor.
– Essas coisas. – Sorri.
Eu queria chorar.
Lance levantou os olhosinspecionando meu quarto.
– Quer ajuda com alguma coisa?
– Não, não. – Fiquei à sua frente para impedir que entrasse. Mais um
passo e ele veria Ryker no chão em toda a sua majestosa nudez. – Tudo
certo.
Livre-se dele, Mina. Livre-se dele rápido.
Diga algo que o deixe constrangido.
Mas o que diabos deixa uma pessoa constrangida em poucos
segundos?
Eu queria que Ryker me desse uma dica.
– Ahm… O que é aquilo? – Sorriu, e eu vi suas bochechas ficarem
vermelhas.
Virei de lado e me deparei com o meu vibrador novo em cima da
cama.
É… ele não precisava se preocupar com a máfia russa. Quem ia
matar o Strome era eu.
– Um vibrador. – Minha boca continuou, mesmo sem minha
permissão.
– Vou me masturbar, era isso que eu ia fazer. Gosto de me
masturbar antes dos encontros. – Eu estava empurrando Lance para
fora do meu quarto, plenamente consciente que ficara mais
envergonhada do que ele.
– Ah, Mina… – Segurou meu braço
com intensidade. – Eu posso… ficar?
– Eu deixaria. – Minha voz era um ganido de desespero. – Deixaria
de verdade. Mas estou menstruada – menti.
– É muito desagradável. Preciso cobrir tudo com um plástico. –
Continuei empurrando-o para fora do quarto. – Parece um tsunami
vermelho. Olha, me espera lá na cozinha, tá? – Consegui colocá-lo
além do limite da porta e me fechei dentro do quarto sem esperar uma
resposta.
Fiquei encarando a maçaneta e pensando em como era
humanamente possível alguém se meter nas coisas em que eu me
metia. Ouvi a risada incontrolável e abafada de Ryker contra o chão.
– Calado – resmunguei, sem me virar.
– Nem uma palavra.
– Vou ficar em silêncio. – Começou a se levantar. Estava vermelho,
provavelmente de tanto segurar o riso. – Mas só porque estou com
medo do tsunami. – Tapou a boca e não conseguiuparar de rir.
– Eu te odeio. – Balancei a cabeça.
– Mentirosa. Venha aqui. – Puxou-me de novo. Beijou-me de novo.
Eu já estava começando a esquecer dos problemas quando ele parou
e… – Ele queria ficar – hesitou, procurando meus olhos. – Você disse
que ia se masturbar e ele pediu pra ficar. Oh, Bault! – Distanciou-se de
mim. – Quem é o palhaço?
– Quer me dizer que você não ficou com mulher nenhuma nos
últimos meses?
Ele mordeu o lábio inferior, me encarando com raiva.
– Quero que se livre dele.
– É um jornalista, é uma boa pessoa e…
– Não me importa. Livre-se dele.
– Ryker, eu não sei exatamente o que aconteceu ou como você
voltou. Mas lembro que nós estávamos em uma situação bem ruim
antes.
Espremeu os lábios daquele jeito infantil que fazia quando
contrariado.
Achei que ele ia continuar a reclamação, mas em vez disso, só
segurou meu rosto entre as mãos e raspou o nariz no meu.
Foi tão brusca aquela mudança... Da discussão infantil para o
carinhoabsoluto.
Mas eu entendia.
Ele não queria brigar. Só queria me beijar, e foi isso o que fez. Eu
agradeci, já que estava na mesma situação.
O momento foi lento e íntimo.
Seus dedos nos meus cabelos guiavam meu rosto e posicionavam
minha boca, mantendo nossos corpos juntos. Arranhei seu abdome
antes de chegar aotórax e aos ombros. A saudade que eu sentia daquele
corpo conseguia ser ainda maior que o tesão. Ryker escorregou a mão
pela minha bunda e precisei incluir um quase em minha afirmação. A
saudade quase conseguia ser maior que o tesão.
Deveria ter sido só um beijo. No entanto, quando era Ryker quem
estava ali, me tocando e tomando-me para si, a química se transformava
em algo a mais. Era uma sensação que se espalhava pelo meu corpo
inteiro, causando espasmos e arrepios. Uma intensidade que parecia
atravessar o caminho oposto à concentração do orgasmo que liquefazia
meu corpo e me derretia por completo.
Um beijo. Interminável.Maravilhoso.
Como Lance poderia algum dia secomparar?
Lance.
– Ryk… não… – gemi. Ele demorou a
me soltar, mas finalmente cedeu.
Não completamente… Seus lábios raspavam nos meus, dentadas
superficiais na minha pele, lambidas deliciosas… Mas eu podia falar.
– Ryker, pare… – gemi, sem ar.
– Não – devolveu, dengoso. – Por favor, não peça isso. – Sua boca
estava no meu pescoço e minha razão começoua falhar.
– Ryker, não… O Lance… ele é um cara legal. Não posso fazer
isso comele. Não posso agir assim.
– Eu não ligo nem um pouquinho pro Lance – sussurrou, rouco. Eu
conhecia bem aquela rouquidão e um tremor de reconhecimento
desceu pela minha espinha. – Só ligo para aquele vibrador
em cima da cama. Aquilo é novo, Mina?
– Sorriu e eu o mordi. Seu sorriso tinha um sabor único.
– A gente tem que parar – avisei, sem conseguir parar de morder
linha do seu queixo. Senti a barba por fazer raspando na minha pele
cada uma de minhas terminações nervosas ficou excitada.
– Humm… Estou percebendo. – Riu, sarcástico, transbordando
safadeza. – Você não respondeu à minha pergunta. Quero saber se teve
a coragem de roubar de mim a chance de te ver usandoum vibrador pela
primeira vez.
– Estou falando sério, Ryker. –Beijos, tantos beijos.
– Eu também. – Estava ficando embriagada de tesão. Eu precisava
trazer nós dois de volta pra realidade.
– Eu tenho um namorado. – Empurrei seus ombros com o poder de
decisão que me restava.
– Tem sim – sussurrou. – E agora que voltou, ele está com ciúmes.
Então, é melhor você se livrar do jornalista e voltar para que ele te
ensine como usar um vibrador.
Três

Motivos para comprar um


vibrador
Lance estava sentado na cadeira em frente ao meu computador, suas
bochechas estavam avermelhadas de um modo peculiar e eu me peguei
imaginando qual seria o pensamento que percorria sua mente naquele
momento.
Você apontou para um vibrador e disse que ia se masturbar, Mina.
Ele deve estar com sexo em mente. Ele deve estar com sexo no corpo
todo.
Eu tinha conseguido nos levar de um clima leve, íntimo e divertido
de um jantar que seria seguido por sexo, para um clima tenso e pesado
que ia terminarde um jeito que Lance não teria como antecipar.
Porém, seria hipocrisia colocar qualquer homem na frente de Ryker
na minha lista de prioridades. Seria hipocrisia com meu coração, que
tinha se aquecido até derreter no meu peito, dando voltas aluadas de
alegria. E seria hipocrisia com minha vagina, que não parava de se
contrair desde que ouvira a palavra “vibrador”.
– Você acabou? – Lance se levantou. Ele queria puxar um assunto
para recuperar a intimidade de antes, mas os dois segundos que eu
passei me perguntando como responder àquilo devem ter refrescado
sua memória de que eu estava, supostamente, me masturbando e que a
pergunta era estranha se proferida por qualquer homem na minha vida
que não fosse o gigolô à minha espera, no interior do quarto. – Ah!
Não quis… Não quis ser… Ah, droga! – Seu sorriso tinha um aspecto
cansado, como se me implorasse para ignorá-lo.
Gesticulei para dissipar sua preocupação. Quando Ryker estava no
mesmo quilômetro quadrado que eu, ninguém mais conseguia me
deixar comvergonha. Ele era o único que tinha essepoder.
– Achei que você ia colocar algo mais confortável.
– Hã? – Olhei para baixo, seguindo sua indicação com o olhar e
lembrei que esse fora meu motivo inicial para ter me retirado para o
quarto. – Ah, eu… ahm…
Talvez eu devesse ter decidido o que dizer antes de sair do quarto.
– Se quiser voltar lá e trocar de roupa, eu espero. – Ele expôs um
sorriso agradável, como se acreditasse, do fundo da sua alma, que era
ele o responsável pela desordem em meu
pensamento.
Inspirei fundo e o observei por apenas um segundo antes de
perceber que eu não precisava ensaiar qualquer discurso. Eu já vinha
pensando naquilo há muito tempo.
– Estamos indo rápido demais – informei.
Ele manteve a boca aberta como se o que eu acabara de dizer não
fizesse qualquer sentido. Eu estava acostumada a ver os homens terem
essa reação perto de mim. Principalmente quando o assunto “sexo”
surgia.
– Não fui completamente sincera comvocê, Lance.
Ele se sentou mais uma vez, preparando-se para minhas próximas
palavras.
– Há uma pessoa… Um homem do meu passado e eu… acho que
nunca consegui superá-lo – admiti, dando de ombros. – Não acho justo
dar o próximo passo com você. Não quero te magoar. – Arrisquei me
aproximar. – Você é uma ótima pessoa e… merece mais do que posso
oferecer! Eu quis tentar mas…
– Mina. – Levantou a mão quando engoliu em seco. – Tudo bem.
Eu entendo. – Ele abriu um sorriso que expressava muitas coisas,
embora nenhuma delas fosse “eu entendo”. – Acho melhor eu ir,
então? A não ser que você queira fazer sexo por vingança – brincou. –
Se ele te traiu, posso ajudar com isso.
Me inclinei e apliquei um beijo em sua bochecha.
– Você é uma boa pessoa, Lance.
– É o cara no seu quarto, não é?
– O quê? – Arregalei os olhos. Se fosse possível uma pessoa se
petrificar em um instante, naquele minuto eu era uma séria candidata a
estar sofrendo desse processo.
– O cara na foto, no seu quarto? Com você, no iate?
Eu respirei como se tivesse acabado de nascer e Lance enrugou a
testa.
– É. – Dobrei o lábio quando menti. – Ele mesmo. Está sendo muito
difícil superá-lo. – Balancei a cabeça.
– Posso perguntar o motivo de vocês terem acabado?
Ergui os olhos rumo ao vazio, procurando uma justificativa que não
fosse mentira. Não queria precisar deuma.
– Ele foi embora. Para me proteger.Lance riu.
– Tudo bem. – Sua risada foi alta e descrente. – Então, acho que vou
embora, tá? – Apontou para a porta.
– Sinto muito.
Ele se virou como se fosse me dizer mais alguma coisa. Talvez me
pedir para ligar, ou insistir, ou me mandar à merda. Mas, após alguns
segundos, apenasfechou a boca, gesticulou um cumprimento e se foi.
Seja lá o que ele ia dizer, no fim,preferiu guardar para si.
Expirei o cansaço dos meus pulmões e voltei para o quarto, me
sentindo um pouco pior. Eu sabia que havia uma grande chance de o
nosso envolvimento terminar assim, mas nem por isso queria vê-lo
triste.
O que esperava por mim no meu quarto, no entanto, era um Ryker
de cueca segurando um vibrador. Tinha aquele sorriso no rosto que me
fazia tremer e imaginar o que ele não faria comigo.
– Se livrou do jornalista?
– Ryk, não seja assim. Ele é uma boa pessoa. Eu não queria magoá-
lo e acho que foi inevitável. – Ergui um ombro.
– “Não queria magoá-lo?” – Fez uma careta irritada. – Mina, ele é
um homem
adulto, não um filhote de sharpei. Vai ficar bem. E por quanto tempo
você ficou com ele, no fim das contas? Dois meses? Três?
– Dois.
– Quase nada – reclamou.
– Foi mais tempo do que fiquei com você.
Ele abriu a boca exageradamente, simulando estar ofendido.
– Bault, se você comparar meu impacto com o dele, vai apanhar –
chiou. Revirei os olhos e imediatamentesua careta irritada se desfez em
gozação.
– Na verdade, acho que isso seria até legal. – Puxou-me pela cintura
com força, prendendo meu corpo ao dele. – Não experimentamos isso
ainda –
sussurrou, desenhando a curva do meu pescoço com os lábios. – Vai.
Me compara com ele.
Sua boca chegou ao meu queixo e logo se afastou poucos
centímetros. Um ímpeto se apoderou de mim e fez com que eu me
inclinasse e lambesse sua boca com gosto.
Ryker ficou duro imediatamente. Contemplei seu rosto, admirado e
satisfeito com minha ousadia, quando passou a língua pelos lábios
experimentando minha saliva.
– O que foi? – Ri. – Te peguei desprevenido?
– Você sempre me pega desprevenido.
– Sua voz mudou, preenchida por aquela intensidade que me
atormentava as
entranhas nos sonhos mais libidinosos. – Mas agora… – Tinha algo
duro subindo pela barra da minha saia, algo comprido, com a
superfície suave e arredondada. – Diz pra mim, menina. – O vibrador
atingiu minha calcinha e Ryker o usou para afastar o pano do caminho,
atingindo meu clitóris e minha entrada. Eu tive certeza de que minha
vagina estava começando a transpirar. –Onde é que a gente parou?

Eu não queria apenas fazê-la gozar.Não queria apenas fazê-la gritar.


Não queria apenas fazê-la gemer esalivar.
Eu queria fazê-la morrer.
Ali, debaixo do meu toque, da minha pressão, da minha boca… para
minha menina se lembrar de quem ela era putinha. E quem era o
putinho dela.
Desabotoei os botões como se desembrulhasse um presente. Meu
presente. Aqueles peitinhos arrebitados escondidos no sutiã cor de
creme.
– Outra cor – mandei, mordendo sua orelha e escorregando o
vibrador pela linha entre seus seios – Não gosto de bege. Você veste
vermelho. Veste preto. Veste verde. Me deixou louco com um sutiã
verde bem clarinho. – Eu mordia meus próprios gemidos, porque só a
ideia de Mina nua com uma lingerie de uma cor que me agradasse e,
mais do
que isso, porque eu tinha pedido, me deixava com um tesão que minha
cueca não conseguia conter. Eu estava me esfregando em suas coxas,
trepando na pele dela como um animal incapaz de controlar os
hormônios. Fechei os olhos,deixando minha língua no seu rosto.
Eu queria que fosse para ela.Queria deixá-la fora de si.
Mas sua pele atingiu minha língua e eu não conseguia mais pensar
com coerência. Apertei seus seios com força, espremendo o vibrador
contra um deles enquanto engolia o outro. Abri minha boca inteira,
retraindo minha língua para dar mais espaço para a carne de seus
mamilos. Eu era sugador crônico de peitos. Não tinha parte da pele
que tivesse um sabor mais delicioso. E, ao contrário da maioria dos
homens, eu não gostava deles grandes demais. Pequenos demais
também eram interessantes, mas eu preferia os médios. Aqueles
arrebitados e discretos como os da Mina, fartos o suficiente para me
deixar doido, e modestos o suficiente para caber na minha boca. Eu me
esforçava com vigor enquanto ela gemia: se um único pedacinho
daquele peitinho ficasse fora da minha boca, seria um desperdício
imperdoável. Lambi o mamilo e o prendi entre meus dentes,
observando a marca em sua carne avermelhada, porque eu a tinha
sugado por tempo demais. Eu tinha começado há menos de um minuto
e já deixava chupões em Mina. Bom, era melhorassim.
Ela colaborou como uma boa menina quando comecei a arrancar
suas roupas. Havia blocos negros na minha visão, prejudicada pela
ausência de sangue nomeu cérebro. Todo o sangue do meucorpo
tinha descido em um épico trabalho biológico em equipe
e eu nãoestava mais pensando como uma pessoa.Eu era só
uma criatura de necessidades:
necessidades guiadas pelo meu membro que se erguia
em desespero, magneticamente atraído em direção às curvas de Mina.
Eu era só fome; só sede. Estapeei seu peito e ela reclamou. Não era
um gemido sensual, mas uma reclamação genuína. Acho que pedi
desculpas antes de engolir sua orelha. Espero que eu tenha pedido
desculpas… Ela não me perdoaria depois.
O vibrador ainda estava na minha mão, mas eu estava preocupado
demais com minha boca para tomar qualquer atitude que o incluísse.
Minha boca encontrou a dela e o mundo acabou. Larguei o vibrador
em cima da cama e agarrei as extremidades de sua bunda, livrando-me
de sua saia, deixando-a só com a calcinha. Nem vi a cor. Não me
importei. Puxei seu lábio inferior entre os dentes até ouvi-la reclamar.
Minha vontade era arrancar um pedaço dela pra levar comigo, assim ia
ter mais materialpara a masturbação.
– Deita na cama. – Minha voz era um pedido rouco e urgente. – Tira
a calcinha e deita na cama.
Ela me observou atordoada, como se ainda não tivesse se recuperado
dos beijos, mordidas e sugadas para compreender e responder.
Enfiei minhas mãos nos meus cabelos,sacudindo com desespero.
– Deita logo, Mina, porque suas pernas não vão aguentar o que eu
tô querendo fazer com você.
Deitou-se na cama, puxou a calcinha pelas longas pernas e eu
descobri que quem ia morrer não era ela: era eu.
– Você depilou essa porra?
Fechei meus olhos e os escondi atrás das palmas das mãos para
evitar que eu
gozasse ali mesmo.
– Eu… ahm…
Não abra os olhos, Ryk. Não abra. Se abrir, ela vai estar depilada e
com vergonha e você vai foder aquela bocetinha rosada e esporrar
dentro dela. Vai deixá-la roxa e dolorida, não vai conseguir segurar a
tempo para ela gozar e isso não vai ser legal.
Não abra os olhos. Ela vai estar vermelha de vergonha e você não
vai aguentar: ou vai comer ela com fúria ou vai esporrar na cueca.
Me joguei na cama por cima dela e só abri os olhos quando era
seguro. Eu estava beijando sua boca e seu pescoço.
– Ryk! – chamou, nervosa. – Isso é ruim? – Ela estava vermelha
como um
morango. – Eu ter me depilado? – perguntou, em desespero. – É
ruim pro sexo quando uma mulher faz isso?
Alisei seu rosto e a beijei de novo com profundo amor.
– Sabe de uma coisa? Senti uma saudade do cacete dessas suas
perguntas. – Escorreguei minha mão para senti-la lisinha. Meu pau
ameaçou explodir e achei que seria melhor não voltar a tocá-la
diretamente. – Acho quenão consigo mais foder uma mulher se ela não
estiver me entrevistando. – Alcancei o vibrador em cima da cama.
– Você está mais excitado. – Sorriu, lambendo os lábios. – É isso!
Ficou excitado porque eu me depilei! – Ela ficou toda satisfeita com a
descoberta e
eu quis foder sua garganta.
– É, meu amor... – Beijei sua boca. – Me pegou desprevenido de
novo.
– Acho que gosto de te pegar desprevenido. – Enfiou as mãos pela
minha cueca à procura da minha bunda edeu um beliscão.
Mordi seu ombro e liguei o vibrador.
– Já usou isso aqui? – gemi quando oouvi vibrar, ainda devagar.
– Claro que não – ela gemeu dengosa, se contorcendo de prazer. –
Estava esperando por você. – Seu sorriso era um misto de safadeza e
timidez, e não sei qual das duas metades eu apreciava mais.
Lambi o vale entre seus seios e desci minha língua pelas costelas
dela. Onde
quer que minha saliva atingisse, era rapidamente seguida pelo
vibrador. Mina começou a tremer e seus espasmos conseguiram me
excitar ainda mais.
Não havia parte do seu corpo pela qual eu não tivesse passado o
vibrador. Demorei em seu umbigo, descendo pelo quadril e
escorregando em deliciosas vibrações até os seus pés delicados. Atingi
todo o corpo. Todo, menos a virilha.
Sempre que eu aproximava o vibrador da parte interna de suas coxas
ou do topo do seu osso púbico, ela gemia mais alto, como se
implorasse, e um arrepio insuportável se agarrava aos meus pelos
pubianos.
Beijei seus seios de novo, enquanto
arrodeava suas auréolas com o vibrador e apertei o botão para
aumentar em um nível a vibração.
O barulho aumentou, bem como o gemido de Mina. Eu mal a tinha
tocado;a reação fora resultado apenas do som, que estava mais intenso.
Mesmo que ela nunca tivesse usado um vibrador antes, eu podia sentir
seus instintos assumindoo controle.
Deslizei o vibrador entre seus seios, cobrindo o corpo dela com o
meu. Desci pelas costelas e o umbigo… O vibrador empostado entre
nós. Suas unhas cravaram-se em meu pescoço, se enfiando na minha
carne quando sorri e desci mais um pouco. Atingi o espaço entre suas
pernas, sem penetrá-la,
porém: apenas encaixei a extensão do brinquedo na sua bocetinha,
lambuzando-o com seu doce. Ela já estava bem úmida e não resisti:
levantei o corpo com um braço, me afastando dela, e puxei o vibrador
para a altura de seus olhos. Estirei a língua e derrapei o aparelho da
base próxima ao botão, até sua ponta arredondada. Depois o chupei
como se fosse um dedo.
Eu podia morrer por aquele gosto.
Trocaria cada oral que já fiz em cada uma das mulheres com quem
trepei na vida e o excelente sexo que se seguiu em cada uma dessas
ocasiões, apenas pelo gosto do néctar de Mina.
Girei a língua na boca, misturandominha saliva ao seu lubrificante.
Puta que pariu.
Como alguém conseguia ser tão saborosa?
– No ponto – murmurei.
Ela arfava, boquiaberta. Ficara hipnotizada pelos movimentos da
minhalíngua e do meu corpo, consumida pelo meu desejo.
Seu corpo brilhava de suor e eu sequer tinha começado. Apertei o
botão para intensificar a vibração em mais um nível e ela começou a
gemer meu nome em um ganido interminável de tesão. Continuei a
provocá-la, girando o vibrador ao redor de sua entrada e assistindo-a
rebolar de encontro ao equipamento que lhe escapava.
Mina rebolando embaixo de mim,
somado à proximidade do meu pau àquela boceta depilada não era
uma equação com o resultado que eu queria. Pelo menos não por
enquanto. Rastejei por seu corpo, movimentando-me para baixo e
comecei a massagear seu clitóris com o vibrador. Ora com a ponta, ora
com a extensão. Movi o aparelho até encontrar o ponto que a fazia
gritar mais alto, então pressionei-o bem ali e segurei as pernas
trêmulas, contraídas em desespero. Assisti seu pé convulsionar em
espasmos involuntários e urgentes quando atingi um ponto específico e
aproveitei o seu prazer concentrado para lambê-la. O estímulo da
minha língua em adição ao brinquedo foi demais e Mina berrou meu
nome,
uma vez após a outra.
Eu adorava quando ela gritava daquele jeito: perdendo seu precioso
controle e se deixando levar.
– Por que comprou esse? – provoquei. – Por que um rabbit?
– Ryker… – pediu. – Ry-ker! – Girei o vibrador.
– Responda. Por que um rabbit? – Enfiei a cabecinha do vibrador
em sua vagina e assisti seus olhos revirarem e desaparecerem quando
ela jogou a cabeça para trás, enfiando-se nos travesseiros – Não sabe
como funciona, Mina? – Lambi sua entrada inteira. – Ou responde, ou
não te deixo gozar.
– O… O… O… – ela tentava articular palavras, mas o fôlego
nunca
era suficiente. – O quê? – conseguiubalbuciar, enfim.
– Um rabbit? Esse vibrador quecomprou é um rabbit.
– Promoção – gemeu em um grito finoe eu ri.
– Ah, foi por acidente, então? Maravilha. Deixa eu te mostrar pra
que ele serve.
Mordi sua coxa e enfiei o vibrador inteiro nela, até a ponta
superior dorabbit atingir seu clitóris, estimulando-o.
Mina gritou e agarrou meus cabeloscom força.
– Divertido, não é? – Voltei a lamber sua entrada, nas bordas do
vibrador.
Suas pernas tinham criado vidaprópria ao meu redor e eu
precisei
colocar uma delas por cima do meu ombro para poder trabalhar em
paz. Passei a estocá-la com o vibrador, fazendo a ponta do rabbit
estimular seu clitóris, enquanto o lubrificante natural se misturava à
minha saliva, esguichando suavemente com um barulho baixo que me
inebriava de luxúria.
Ela estava tão perto… Não ia precisar de muito mais. Urrava meu
nome como se fosse um mantra.
Belisquei seu clitóris que ainda recebia uma bela surra do rabbit e
suas pernas me apertaram contra seu corpo, avisando-me que ela
chegara ao clímax.O que se seguiu foi um grito longo e alto. Seu corpo
estava coberto de suor.
Levantei a tempo de ver sua cabeça jogada para trás e a garganta
esticada, delineando as veias em demonstração daintensidade do prazer.
Sua careta de tensão se desfez, e vi um sorriso delicioso de alívio à
medida que eu tirava o vibrador de dentro dela, devagar.

Eu me sentia como uma boneca de pano: jogada em cima da cama e


completamente à mercê das intenções dequem quer que fosse.
Naquele momento, seria à mercê de Ryker, então sequer me
incomodei.
Ele colocou o vibrador de lado e me
lambeu.
Por Deus, homem, já chega.
Gemi baixinho, reunindo o resto de minhas forças para me agarrar
aos lençóis.
Sua língua derrapava pela parte interna das minhas coxas,
desenhando toda a parte da minha virilha, maculada pelo meu
lubrificante natural.
Lambidas longas e gostosas.
Ele está me limpando.
Era isso que estava fazendo. Me lavando como um gato, lambendo
cada gota do tesão que tinha pingado de mim. Mantinha minhas pernas
abertas, com as mãos fechadas em punhos. Permiti que ele assumisse o
controle, porque, sinceramente, que outra opção eu tinha?
Quando sua língua voltou para a parte interna da minha boceta, o
prazer recomeçou. Acumulando-se ainda bem discreto, embora não
fosse demorar muito para que eu pegasse fogo de novo. Bastava que ele
continuasse aquilo.
Aquele carinho maravilhoso que sua língua dedicava à minha
intimidade.
Meus dedos desenhavam um contínuo cafuné em seus cabelos, um
agradecimento silencioso de quem não tinha força para muitas outras
coisas.
Ele desferiu uma última lambida ao longo da extensão de minha
entrada e sugou meu clitóris a ponto de me fazer tremer.
– Pronto – decidiu com um sorriso sacana. – Está limpinha. – Veio
para a
minha boca e senti meu gosto nele. Sua mão apertou minha cintura.
Ah, aquela mão larga e forte sabia me pegar do jeito certo. Eu estava
despertando de novo. – Minha vez – sussurrou e me arrepiei por
completo.
Uma batida grosseira na porta me fez sobressaltar e Ryker me cobriu
com seu corpo. Me abraçou instintivamente, como se almejasse me
proteger de um perigo que ele sequer sabia se existia.
– Mina! Você está errada! – Era a voz de Lance, que batia a porta do
meu quarto com força.
– Vocês precisam consertar a porta de casa! – reclamou baixinho e eu
o mandeicalar a boca.
– Está me ouvindo? – Bateu
novamente na porta. – Um cara não largauma mulher como você para
“te proteger” – disse e, dentro do meu quarto, Ryker apontou para si
mesmo com um questionamento no olhar. – Isso é o tipo de coisa que
homens descarados dizem para mulheres boas quando querem se livrar
delas. Não acredite nesse tipo de coisa.
– Por que ele voltou? – Rykerreclamou com um suspiro.
Eu dei de ombros, mostrando minha idêntica confusão. Lance
prosseguia com seus argumentos do lado de fora da minha porta, mas
Ryker o ignorava.
– Por que ele voltou justo quando era minha vez? – chiou e tive que
me controlar para não rir de sua agonia. –
Você está rindo porque já gozou – rosnou baixinho – Depois os
homens é que são egoístas.
– Mina, por favor... – Dava para perceber em sua voz: Lance
desconhecia a história por trás de tudo. Ele sequer sabia que Ryker
estava ali… Em sua mente, ele estava apenas sendo cuidadoso e
romântico. Que tipo de ser humano eu seria se me livrasse dele sem
qualquer consideração? – Não vale a pena você interromper sua vida
por causa de um gigolô qualquer que nunca teve cuidado com você.
Ryker emitiu um rosnado ameaçador disfarçado de risada.
– Tô sentindo que, antes de a noite acabar, o jornalista ainda vai
levar um
murro – reclamou.
– Ryker, preciso ir lá fora falar com ele – murmurei.
Ryk se virou de lado, puxou um dos travesseiros e enfiou a cabeça
nele, com raiva, por alguns segundos. Parecia mais calmo quando o
travesseiro se foi.
– Vai ficar me devendo, sabe disso, não é?
– Estou indo, Lance – avisei alto. – E vou bem rápido! – prometi
baixinho para Ryker.
– Vai coisa nenhuma… – Apoiou a testa na mão. – Eu te conheço,
garota. Ainda me lembro que transar com você é difícil como o
inferno.
– Ryk…
– O jornalista tá aí pra provar que o
cara tem que te merecer umas doze vezes antes de poder te
experimentar – concluiu, desiludido. Sua ereção ainda erguida
mostrava o quanto aquela separação seria irritante.
– Não seja assim. – Ri, beijei sua bochecha, depois sua boca. – Bem
rápido! – prometi de novo.
– Vai ficar me devendo.
– O que você quiser. – Levantei e comecei a me vestir. – Só me dá
um minuto! – pedi alto para Lance.
– Vai me chupar quando voltar – reclamou com infantilidade. –
Antes de eu te comer!
– Sem problemas.
– Até a garganta! – Arregalou os olhos.
– Vou precisar ir devagar, mas tudo bem. – Sorri, puxando sua
bochecha e dando-lhe mais um beijo.
– Vou te comer com força, está me ouvindo? – sussurrou,
fazendome rir.
– Tudo bem.
– E vou comer sua bunda também!
Revirei os olhos e lhe ofereci umacareta de negativa como resposta.
– Achei que valia a pena tentar. – Riu,sacudindo os ombros.
– Tá, agora se esconde! – Gesticulei.
– Não.
– Ryker! – sussurrei, dando um murrono seu joelho.
– Não! – repetiu, birrento. – Se ele não quer me ver nu, que não
atrapalhe atrepada. – Abriu um sorriso amarelo.
Ele não ia cooperar. Ficou sentado no meio da minha cama com as
pernas cruzadas e eu quis lhe dar um tapa. E depois morder aquela
bunda gostosa. Ainda não tinha feito isso…
Sacudi a cabeça para organizar os pensamentos. Travei os lábios
para deixar claro que ele tinha me irritado, mas ele apenas fez graça da
minha careta me imitando.
Eu me aproximei da porta e saí do quarto o mais rápido que pude
para não correr o risco de deixar Lance ver qualquer pedacinho do
Ryker.
E eu realmente precisava consertarminha porta.

Quatro
Receitas irresistíveis
Foi o barulho do liquidificador que me acordou. Espremi os olhos
para afastar o sono, espreguiçando o corpo sobre o colchão. O
travesseiro ao meu lado estava abarrotado e a cama ainda estava um
pouco quente.
Ryker!
A fração de segundo que minha mente precisou para lembrar dele
foi o tempo exato que o resto do meu corpo
precisou para acompanhar e ficar
completamente desperto.
– Ryk? – chamei baixinho, correndopara o banheiro.
Ele não estava lá.Banheiro vazio.
Chuveiro vazio.Quarto vazio.
O liquidificador soou alto e estremeceu minha espinha.
Que horas são?
Eu queria correr para a cozinha, rezando aos céus para que Elise
não estivesse mais em casa ou eu ia ter que dar mais algumas
explicações. As necessidades fisiológicas do meu corpo, no entanto,
gritavam estridentes e eu precisei me trancar no banheiro
por alguns instantes.
Se Elise estivesse em casa, ela já teria visto Ryker. Era inevitável.
Algunssegundos a mais ou a menos não fariam diferença, de modo que
preferi prender os cabelos e escovar os dentes de uma vez.
Ainda usava a camisa comprida do Strome, propositalmente
comprada três tamanhos maiores do que o meu e o short lilás bem
curto do pijama. Abri uma fresta da porta para verificar os arredores
e preparar o que precisaria ser dito antes de sair do quarto.
Eu estaria mentindo se dissesse que aquela bunda linda não foi a
primeira coisa que vi.
Virou-se em uma das laterais da
cozinha americana, cortando coisas, mexendo coisas, colocando
coisas no liquidificador. Senti saudade disso: de assistir ao Ryker nu.
Apoiei o ombro na porta aberta, relembrando do Lucky’s. Ryker como
gigolô era uma ideia genial, mas ele como stripper era uma ideia
milionária. Eu pagaria para passar o dia assistindo àquela bunda na
minha cozinha. Àquela curva torneada sob a qual suas costas
acabavam. À entrância antes de os contornos da bunda darem espaço
para o começo das coxas fortes. Ao músculo rígido que ficava em
evidência a cada passo que ele dava.
Ele tinha encontrado o avental e o vestira por cima da nudez,
amarrando
as tiras vermelhas na metade das costas. Bastava ele entreabrir as
pernas e eu podia ver aquele membro maravilhoso flácido, balançando
pesadamente entre suas coxas. Puxou uma frigideira e vi o músculo do
seu braço se contrair.
Eu não sabia se isso acontecia com todas as mulheres, mas eu tinha
uma quedinha por músculos.
Mal podia ver qualquer desenho se formar sob a pele de Ryker
indicando a presença de um músculo poderoso e já imaginava como
ele poderia usar aquela parte do seu corpo para me comprimir,
apertar, esfregar ou espremer. E de preferência com força.
Percebi que estava mordendo meu
lábio inferior.
– Se vier até aqui, pode ver minha bunda mais de perto –
cantarolou, sem se virar.
Ri, lambendo os lábios.
Claro que ele tinha notado minhapresença.
– O que está fazendo? – Andei até acozinha.
– Café da manhã. – Piscou um olhopara mim.
– Ia levar pra mim na cama se eunão tivesse acordado? – brinquei.
– De jeito nenhum. – Fez uma caretasafada. – Você não merece.
– Por que não? – me ofendi.
– Me deixou duro e foi embora. – Passou geleia nas torradas. – De
novo.
– Sacudiu a cabeça em descrença. – Me prometeu que ia voltar
rápido, chupar meu pau e me dar a bunda.
– Mentiroso. – Revirei os olhos.
– E...! – reclamou alto, me interrompendo. – Demorou tanto que
eu dormi e aqui estou com pau que não foi chupado e diante de uma
bunda quenão foi fodida.
– Vai me deixar sem comer só por causa disso? – exagerei.
– Só por causa disso? Só? Você chama isso de “só”? Por que
demorou tanto com o jornalista, Bault? – Torceu o nariz.
– Lance é uma pessoa boa.
– Já ouvi essa parte. Pule para a parte em que você não transou
com ele
enquanto eu estava te esperando, nu,na sua cama.
– Não transei com ele. – Estirei a língua. – E só não me ofendo
porque já te conheço. Se não, batia essa frigideira na sua cabeça. –
lembrei.
– E fez o quê? – Ignorou-me e o ciúme era perceptível em sua voz –
Se não transou com ele?
– Fomos comer alguma coisa. – Roubei uma das torradas com
geleia.
Ele largou a frigideira ruidosamente sobre a pia.
– Pois eu venho aqui, te faço gozar com um vibrador, te lambo TODA
e ele é quem recebe a atenção e a comida. – Tomou-me a torrada e
enfiou-a por inteiro na boca. – Me diga de novo por
que eu devia ficar com você? – rosnou por cima das mordidas.
Mordi a linha do seu maxilar e enfiei a mão pela lateral do avental
acariciando sua masculinidade.
– Nem vem – reclamou, manhoso, mas não se afastou. – Você não
me engana com isso – sussurrou, fechando os olhos.
– Tudo bem – gemi. – Eu paro quando você pedir.
– Combinado – murmurou.
Movi a mão pela extensão do membro e seu joelho se dobrou,
levantando uma das pernas involuntariamente.
– Acho que estou aprendendo. – Mordi seu lábio.
Não sei se foi a brincadeira, a lembrança do nosso primeiro
encontro ou simplesmente a natureza, mas Ryker desistiu da gentileza
rápido demais e mal eu tinha terminado de proferir as palavras, ele já
tinha me devorado a boca e enfiado as mãos entre meus cabelos,
desfazendo meu rabo de cavalo.
Mantive a mão em sua ereção, sem usar muito força enquanto o
massageava.
– Aqui. – Lambeu minha boca e me entregou uma torrada. – Você
está começando a merecer.
Mordi a comida que me era oferecida, lambendo a geleia de seus
dedos. Ryk estava se esfregando em
mim. As únicas coisas que nos separavam eram o seu avental e meu
short. Nenhum dos dois apresentaria grande resistência.
E, como eu tinha previsto, rapidamente minha roupa se foi. Ou a
maestria de Ryker para despir uma mulher era impressionante, ou eu
já estava tão tonta de tesão que mal dei por mim enquanto minhas
roupas caíam no chão.
Suas mãos eram largas. Eu sentira falta disso. Aquelas mãos fortes
e imponentes guiando meus quadris eram garantia de um orgasmo bem
providenciado. E eu estava precisando de orgasmos. Sentira falta
deles também. A sua língua se empostou na
minha, experimentando o sabor de uva direto da minha boca. Puxou
meu joelho e apoiou uma das extremidades da minha bunda na pia,
empurrando minha canela para cima, me mantendo exposta. Eu sabia
para onde nós estávamos indo e adorava a ideia.
Meu corpo se jogou para trás até minha cabeça atingir a parede,
que passei a usar como apoio. Ryker segurava a espátula miúda e
usava-a para espalhar geleia de uva pela minha vagina. Mordi o lábio
com tanta força que era certo que fizera um corte ali. O frescor gelado
contra minha pele quente e a antecipação da língua que viria resolver
aquela contradição estava me enlouquecendo de tesão.
Mas ele não tinha acabado.
A espátula alcançou meus mamilos, cobrindo um deles com geleia…
e depois o outro. Ryker estava tão excitado que o avental não
conseguia mais ficar esticado; erguia-se como uma barraca firme e
robusta. Ele raspava a cabeça do pau em minha coxa. Eu observava
suas pálpebras caírem pesadas de desejo sempre que ele fazia isso, o
que só servia para misturar mais lubrificante natural à dose de geleia
em minha vagina.
Os dedos de Ryker estavam no pote e ele lambuzou meus lábios.
– Não coma – rosnou, seu corpo inteiro se contraía. – Quem vai
comer sou eu. – As palavras saíam de sua
boca de um modo forçado, como se manter a comunicação exigisse
cada gota de seu autocontrole. – Vou comer tudo. – A ponta de sua
língua se aproximou dos meus lábios e eu queria me esfregar na sua
ereção. – Vou tecomer todinha.
Ele me beijou, degustando toda a geleia que tinha distribuído na
minha boca, me alimentando de volta com meu gosto e seu sabor.
Uma misturaque me deixava embriagada.
A mão ao redor do meu tornozelo me puxou, ocasionando um
sobressalto. Ryker me colocou quase deitada. Sua mandíbula travada
daquele jeito faminto. Ele queria me deixar roxa, eu sabia que ele
queria… Queria me foder
do jeito que fazia quando perdia o controle: me pedia desculpas e
dizia que eu deveria pedir para ele parar se estivesse indo forte
demais.
Mas eu estava gostando.
Estava me acostumando com seu “forte demais” e me deliciando
com ele.
Eu queria que ele se soltasse. Que me engolisse por completo.
O frio se apossou de meu estômago quando ele emborcou um pouco
de sucono vale em minha barriga e sorveu-o direto do meu umbigo.
Enfiei as mãos em seus cabelos.
Eu sentia que Ryker não fazia nada daquilo por mim. Ele queria me
fazer gozar, claro. E conseguiria, quantas
vezes tentasse. Mas quando ele travava a mandíbula e me encarava
com aquela gula psicótica, eu sentia que não estava mais fazendo por
mim. O erotismo em servir de bandeja, para sua refeição, os
alimentos gelados na minha pele, as promessas obscenas
sussurradas… Nada daquilo tinha o objetivo de me deixar excitada
ou deme fazer gozar.
Era tudo a mais absoluta verdade: ele estava com fome e queria
comer em mim e depois me comer. Era o seu apetite voraz e
avassalador que não pouparia reféns. Ele ia me abocanhar e morder e
engolir. Ia beber o suco da laranja e o meu indiscriminadamente
porque considerava os dois igualmente
saborosos. Ia travar os dentes sobre meus mamilos quando
limpasse a geleia que lhes cobria. Ia me possuir ali, no meio da
minha cozinha.
E, naquele momento, ia fazer isso tudo porque me desejava. Não
porque queria me fazer gozar, mas porque eu podia fazê-lo gozar.
Receber prazer é espetacular. Contudo, ser o recipiente da luxúria
transbordante de outra pessoa fazia com que não houvesse
escapatória: eu me sentia gostosa.
Me sentia gostosa além do que qualquer palavra seria capaz de
descrever.
Era como ele conseguia fazer com que eu me sentisse. E fazia isso
sem
nem tentar. Ficava ali, me observando, me lambendo… e eu me
sentia uma delícia. Ele gemia com suas pálpebras caídas e eu ia à lua.
Sua língua desceu o percurso pelo meu corpo, bebendo mais do suco
que por ele escorria e eu soube que gozaria assim que sua língua
atingisse a região entre minhas pernas. Mas ele voltou a subir e a se
concentrar nos mamilos. Estava me provocando. Ganhando tempo,
talvez… Mas ele não precisava fazer isso. Eu estava mais do que
pronta para gozar e estar em um momento da minha vida em que
poderia reconhecer e antecipar um alívio como aquele fez com que eu
me sentisse ainda mais sensual.
– Ryk… – gemi, com os lábios
ressecados. – Vou gozar...
– Não vai, não. – reclamou com urgência, beliscando meu mamilo
e piorando a tensão na minha virilha. – Vai gozar só quando eu
deixar.
Deu dois toques no meu clitóris como se testasse as cordas de um
violão e depois levou o dedo médio à boca. Eu podia ver a geleia ali.
– Espere por mim – pediu.
Fechei os olhos com força e quis prometer, mas a verdade é que eu
não sabia sequer como tinha resistido àquele último toque sem me
desfazerem um orgasmo. O próximo toque seria fatal.
– Quero gozar dentro de você enquanto te ouço chegar lá
comigo –
implorou na minha boca. – Você geme meu nome tão gostoso
quando tá gozando, amor. – Eu não conseguia respirar. – Quero gozar
com som dos seus gemidos no meu ouvido. Deixa… – Ele se esfregava
em mim com fúria. – Por favor. – Suas palavras eram insanas como
um delírio. Encontrávamo-nos perdidos no prazer do corpo um do
outro.
Serviu o copo de suco na minha boca para me acalmar e eu bebi
dois goles. Gotas escaparam pelos cantos da minha boca, descendo
pelo meu pescoço e alcançando meus seios.
Ryker inspirou fundo antes de descer, fazendo sua língua perseguir o
suco.
Eu estava gemendo, suando e
tremendo.
– Camisinha – pediu e eu soube que ele não aguentava mais. –
Onde tem?
Eu arregalei os olhos em expressão do meu típico desespero e vi a
expressão de Ryker afundar.
– Você não tem camisinha?
– Ai, meu deus! – Eu ia levar as mãos à cabeça e começar a entrar
em desespero, mas Ryker estava cheio de tesão e não conseguia mais
esperar.
Ele me puxou pela perna e me virou de costas, pressionando minha
coluna para me manter curvada, apoiei meus cotovelos na pia com um
estalo.
– Ryker, não! – pedi. – Por trás, não.
– Mina... – Sua voz estava no meu ouvido. – Se você acha que eu
comeria
sua bunda sem seu consentimento, muito lubrificante e sem
responde às suas milhões de perguntas, está me confundindo com
alguém.
Enfiou a ereção entre minhas coxas e me forçou a prendê-lo. Sua
mão escorregou pelo meu abdome e atingiu meu clitóris. Não houve
penetração de dedos… não houve mão me agarrando por completo…
Havia apenas seus dedos, dedilhando meu clitóris como se
produzissem uma sinfonia. Diferentes dedos me tocando. Me fazendo
cantar. Até encontrar uma pressão, um momento.
Ryker fodia minhas pernas, atrás de mim, inclinando o corpo
contra o meu,
me apertando contra a pia com seu peso. Dedilhando seus acordes
no meu clitóris e arfando sem ar.
Eu estava gemendo seu nome. Sussurros baixos e apressados. Os
olhos fechados, entregues ao momento.
– Isso – implorou quando sussurros já não eram suficientes e eu
estava gritando seu nome. – Isso.
Seu queixo estava no meu ombro, oouvido alinhado para
escutar meusgemidos. Ele fodia minhas coxas, maise mais
rápido. Seus dentes se cravaram no meu ombro e o alívio tomou meu
corpo me fazendo perder a força naspernas. Ryker me agarrou pela
cintura.
Ele estava bem perto também, mas precisava de mais um pouco.
– Eu quero – gemi. – Ryk – rebolei, tentando me livrar de suas
mãos.
Me virei e beijei sua boca. Eu lia a confusão nos seus lábios. Ele
estava tão perto de chegar lá e eu escapei roubando seus preciosos
últimos momentos. Era quase decepção o que havia ali. Quase
frustração.
Até eu me colocar de joelhos diante dele.
Até eu tocar a cabeça do seu paucom a língua.
Até eu enfiá-lo na boca.
Eu era sua bandeja e ele tinha se alimentado de mim. Agora eu
queria me alimentar dele. E, pela minha vida, eu nunca quis tanto
experimentar uma coisa como queria agora.
– Mina… – ele disse, incrédulo, enquanto eu o mantinha na boca.
Não até a garganta, como ele impusera, mas fodendo minha boca e
minha língua devagar.
Ouvi um baque alto e ruidoso quando ele agarrou a pia com uma
força monstruosa. Seu quadril se movia ao meu encontro, mais
desesperado agora, na minha boca, do que há poucos instantes, entre
minhas pernas.
– Mina… eu vou gozar, amor. Sai… Sai… Sai… – Ele sequer
respirava.
Mas eu queria aquilo.
Não tínhamos conversado antes, como era nosso hábito, e Ryker
estava tentando dar um passo para trás para esporrar no chão da
minha cozinha.
Foi apenas quando eu o agarrei pelas bolas e o mantive na minha
boca queele entendeu minha intenção e aceitou.
Ele urrou, alto e delicioso. O líquido quente invadiu minha boca e
senti seu gosto. O reflexo de regurgitação chegou para a festa rápido
demais e eu acabei deixando sua ereção escapar e expulsar as últimas
gotas do seu esporro pelo chão da minha cozinha. Cuspi no chão,
tossindo para me recuperar.
Ryker jogou as costas contra os armários e escorregou até o chão
comose a vida tivesse fugido de seu corpo para sempre.
– Achei que você ia querer perguntar…
– O quê? – Ri, limpando a boca.
– Perg… Pergunt… – Ele não conseguia recuperar o fôlego e
abanou a mão em um gesto de “deixa pra lá” que me causou outra
risada.
Ryker Strome desistindo de me deixar com vergonha por falta de
forças.
Eu realmente devia ter feito umexcelente trabalho.

Eu me vesti e limpei os resquícios de nossa brincadeira do chão da


cozinha.
– Como você não tem camisinha em casa? – ralhou e eu revirei os
olhos, percebendo que ele recuperara as
forças. – Como uma pessoa pode viver sem ter camisinha em casa?
– Olhe pelo lado bom. – Levantei o indicador. – Isso significa que
eu estava despreparada para transar com qualquer outro homem
enquanto você esteve longe.
Ele me abraçou e quase sorriu, antes de desistir.
– Não… o jornalista tem aquela cara de tarado que anda com um
pacote de camisinha na carteira, outro no bolso e outro no carro.
– E você não? – Ri.
– Eu saí de casa apressado pra salvar sua vida, você me dá
licença? – respondeu, sarcástico.
– Ah, mas agora que minha vida está
salva... – exagerei. – Não está pensando em ir comprar umas
camisinhas?
– Vai ser necessário, não é? Esqueci que tudo com você é
complicado. – Torceu o nariz, birrento, mas me beijou. Inspirou como
se fosse continuar a me provocar com qualquer coisa, mas desistiu e
voltou a me beijar.
Eu ficava sorrindo. Era idiota, mas era isso que eu fazia: ele me
beijava e eu ficava sorrindo como uma imbecil.
Era lindo porque ele também sorria.Talvez, em sua
mente, pensasse omesmo que eu e ainda
assim nãoconseguisse tirar o sorriso idiota dorosto. Beijei
sua bochecha e me afastei.Foi obra do destino que eu tivesse
me afastado porque, no segundo seguinte, a porta se abriu, dando
passagem à Elise. Eu estava pensando que tivemos sorte por ela não
ter chegado segundos ou minutos antes… até lembrar que Ryker ainda
estava nu no meio da nossa sala, a não ser pelo avental.
– Mina, você não vai acreditar, eu… oh! Olá.
Se ele ou ela se movessem apenas um centímetro, a bunda nua e
gostosa dele estaria à disposição da minha amiga.
Ótimo. Mais uma para a minha enciclopédia de Situações Absurdas
em que a Mina se Mete.
– Mina… quem é o seu amigo? –perguntou, sem graça.
Ryker colocou as mãos atrás das costas e esperou que eu me
decidisse.
Mas…
Meu… o que ele era? Eu não fazia a menor ideia. Mas arranjar uma
explicação com Ryker seminu ao meu lado, rindo e com a certeza de
que eu estava morrendo de vergonha e sem saber o que fazer não era
uma boa opção.
– Boa tarde. – Ryker deu um passo à frente, mantendo sua bunda
ainda escondida atrás de si e apertou a mão de Elise.
– Ahm… e você é...? – Minha amiga quis saber.
Uma resposta precisava ser dada. Ryker inspirou fundo e achei
melhor me
meter. Qualquer resposta que eu desse seria melhor que qualquer
resposta queele poderia dar.
– O diarista – decidi. Ryker hesitou, espremendo os lábios e eu
soube… eu soube… que ele ia gargalhar enfurecidamente da minha
escolha assim que estivéssemos a sós.
– Diarista? – Elise me observou com incredulidade. – Mina, posso
falar com você um instante? – Apontou para o canto e Ryker a
cumprimentou com um gesto, andando de ré até o sofá, no qual se
sentou.
– Mina, quem é esse cara? – Elise levantou uma sobrancelha assim
que me aproximei.
– Achei que a gente podia precisar
de uma ajuda com a limpeza. – dei de ombros.
Havia algo nos seus olhos.
Eu não sabia determinar se era descrença, frustração ou medo de
que eu estivesse louca.
– Olha… – gesticulou de mododefinitivo. – Tudo bem, a casa é sua
também. Se você acha que a gente precisa disso, eu entendo. Mas…
será que a gente podia conversar antes de um homem… – Ela engoliu
em seco – ...sem camisa vir trabalhar na nossa casa?
– Claro! Me desculpe! Eu queria… – Ai, merda. – ... te fazer uma
surpresa. – Levantei um ombro. – Não sabia que você ia chegar
agora. – Sorri, tentando
tranquilizá-la.
Ela acenou devagar, como se esperasse que eu fosse dizer mais
alguma coisa.
– Tudo bem – expirou, finalmente. – Eu preciso ir. Só esqueci umas
coisas em casa… Cometi o pecado de comentar com a Monique e ela
deu com a língua nos dentes… – Balançou os cabelos. – Enfim… por
que a gente é amiga dela mesmo?
– Nem me pergunte. Você é quem gosta de sair com ela. – Abri os
olhos, exagerada, e ela riu.
Abriu a porta e se despediu de Ryker a distância.
– Prazer em conhecê-lo. – Ela abriu um meio sorriso e o
observou por
alguns segundos.
Se não fosse minha melhor amiga, eu ficaria com ciúme da encarada
prolongada que lhe ofereceu.
– Mina? – Virou-se de volta.
– Hum?
Ela inspirou como se fosse dizer algomuito difícil.
– Sabe que eu estou aqui, né? Se… precisar de alguma coisa –
murmurou.
– Qualquer coisa.
– Sei, claro. Elise, está tudo bem?
Ela me encarou quase do mesmo modo como tinha feito com Ryker
antes de sacudir os cabelos de novo, como se estivesse estalando de
volta para a realidade.
– Está, está. – Acenou para Ryker,
sorriu para mim e se foi.
Estranho.
Elise parecia mais preocupada comigo a cada dia que
passava e…
– Diarista? – Ele riu.
Agora era eu quem expirava, exausta. Tinha esquecido que essa
conversa estava à minha espera.
– O que você preferia que eu dissesse? – ralhei.
– Um amigo. – Abriu as mãos, apontando quão ridícula era minha
situação. – Um primo distante? Um colega?
– Não ia funcionar.
– Parece que você pensa em todas as possibilidades na hora de
mentir e escolhe a pior. – Levou a mão à testa,
ainda rindo, e eu lhe dei um tapa na barriga.
– Elise conhece todos os meus amigos e sabe que não tenho
família! Como eu ia aparecer com um colega donada?
– Um cara que você pegou no bar! Eu estou nu, Bault! NU! –
gargalhou. – E você achou que seria mais convincente se dissesse que
eu ia trabalhar aqui?
– Fez sentido na hora! – reclamei.
– Humm… tenho certeza de que fez.
– Abraçou-me, cheio de sarcasmo. – Olha, trabalhando como
garoto de programa eu já fui pego em algumas situações bem
constrangedoras e já fui chamado de muitas coisas. Mas
diarista foi a primeira vez.
Eu estava começando a rir também, embora ainda estivesse
preocupada…
– Você é cheia de “primeiras vezes” pra mim. – Beijou minha
boca. – É asua sina – decidiu.
– Você acha que ela não acreditou? – Movi a cabeça em direção à
porta, indicando Elise.
– Se eu acho que ela não acreditou?
– Baixou os olhos para mim. – Amor, eu tenho certeza. Acho que
você estásubestimando sua amiga. – Ele espremeu os lábios e encarou
a porta com um pesar comedido.
– O que eu digo, então? Pra ela?
– Diga que terminou com o jornalista e começou a ficar com
um
cara novo, mas que não sabia como contar.
Eu considerei a sugestão por alguns segundos.
– Sua ideia é melhor – concordei.
– Não é? – Abriu os olhos, arrogante, e ganhou mais um tapa na
barriga.
Estava reclamando e já ia receberoutro quando meu celular tocou.
Foi uma ligação rápida. Objetiva. Mas me preencheu com a mais
absolutadose de ânimo.
Desliguei o telefone e enfiei uns oito beijos em Ryker.
– O que foi? – Riu.
– Consegui um emprego! – Levantei os braços acima da minha
cabeça.
– Viva! – Ele me puxou pela cintura e me beijou, mesmo que não
soubesse de minha saga de desempregada, sem dúvida percebeu que
era uma notíciamuito boa. – Achei que você já tinhaum trabalho.
– Longa história – justifiquei. – Mas isso é uma notícia ótima.
– Certo! – animou-se. – A gente vai comemorar agora ou você tem
que ir?
– Encarou-me, safado, indicando oquarto.
– Tenho que ir. – Levantei um ombro.
– Você acha mesmo que ia conseguir ficar duas vezes seguidas
comigo assim tão fácil? – exagerei.
– Verdade! – Balançou a cabeça, seus cabelos se agitaram e me
fizeram
sorrir. Ele era lindo. – É melhor eu aceitar minhas vitórias. Posso te
esperar aqui?
Eu sorri. A ideia de voltar para casa no fim do dia e ter Ryker me
esperando era…
– Ryk?
– Eu não faço bagunça! – Agitou as mãos.
– Não é isso – toquei seu peito. – Você fugiu do Zahner. – Lembrei.
Sua expressão assumiu um tom sombrio e eu soube que tinha
estourado nossa bolha de alegria. Era horrível… masnecessário.
– Fugi – expirou.
– A gente precisa conversar sobre isso. – Acariciei seu braço. –
Quando
eu voltar? – pedi.
Ele levantou os ombros com um meio sorriso que me fez querer
abraçá-lo e mantê-lo grudado comigo pelo resto da vida.
– Não vou a lugar algum – prometeu.
As risadas dentro do apartamento chamaram minha atenção assim
que me aproximei da porta. Puxei as chaves sentindo minha testa se
enrugar de dúvida e mal toquei na fechadura e a porta cedeu macia,
abrindo-se e liberando minha visão para a sala que eu compartilhava
com Elise, onde Ryker estava sentado no sofá ao lado
de uma Monique que era só mãos, toques, sorrisos e jogadas de
cabelos.
Pelo menos, ele estava vestido.
– O que está fazendo aqui? – Ignorei a educação enquanto
atravessava a sala. Ryker abriu os olhos, exagerado, com um sorriso
sacana e percebi que minha encenação “mulher enciumada” tinha
começado rápido demais. – Não estava te esperando, Monique – tentei
corrigir, diminuindo a velocidade da minha investida.
– Ah, eu vim te devolver aquele livro.
– Que livro?
Ela tinha uma taça de vinho nas mãos. Os joelhos dobrados por
cima do sofá, virando-se de lado, quase montada no colo de Strome.
Um dos
cotovelos apoiados no encosto do sofáe a mão apertando o ombro
de Ryk, aproveitando-se de seus músculos. Ela riu e eu soube que
minha boca estava torta e meu nariz retorcido em uma careta de
indignação.
– Que livro? – repeti.
O que diabos ela estava fazendo ali? E… eu sei que a suportara
quando trabalhávamos juntas, pelo bem da boa convivência, e que –
sabe-se lá por quê
– Elise gostava de sair com ela… mas eu não precisava tolerar
essas visitas espontâneas na minha casa.
– E aí quando cheguei aqui... – continuou, com sua patinha
irritante no ombro do meu homem – ... conheci o Ryker. – Abaixou o
rosto e lhe ofereceu
um sorriso indiscreto, como se os dois estivessem compartilhando
alguma brincadeira interna. – E acabei ficando para uma taça de
vinho.
Strome espremeu os olhos, me analisando. Decidindo se ia me
absolver ou condenar e eu esperei profundamente que ele me
absolvesse. Não suportaria sua condenação ali na frente de Monique.
Dei mais alguns passos e me inclinei sobre eles.
– Que. Livro.
– Ah… – sorriu para ele, revirando os olhos, como se me
considerasse louca e insuportável. – Aquele, Mina. O que você me
emprestou – murmurou, meencarando. Enchendo as palavras de
significado como se me pedisse para entender e ficar quieta. Como
se quisesse que eu colaborasse.
Colaborasse para ela pegar meu homem no meu sofá.
Eu só precisava de uma gota de “que se foda” e aquela folgada ia
apanhar.
– Não, não sei – avisei. – Por que não pega pra me mostrar? –
Presenteei-lhe com um imenso sorriso amarelo.
– Mina... sempre neurótica. – Riu. – Eu não te disse? – Virou-se
para Ryk, que concordou, educado.
– Disse o quê? – O pânico começoua subir pela minha espinha.
– Deixa eu te mostrar o livro. – Levantou.
– Disse o quê? – Ryker ria com gosto e eu tive certeza que essa parte
era importante.
Estávamos de costas para o sofá quando ela me beliscou.
– Elise disse que você tinha um amigo gato em casa. Mas, nossa,
Bault!
– Olhou de soslaio para trás. – Uau! – Deixou o queixo cair.
– Monique…
– Então, olha… Elise disse que ele só estava ajudando com umas
coisas da casa, mas vocês liberam ele mais cedo hoje, não é? Tenho
umas coisas para ele arrumar lá em casa, também – sussurrou. – No
meu quarto, pra ser mais precisa. – Balançou os dedinhos nojentos em
um cumprimento que Ryker
retribuiu com um brinde silencioso e o último gole do seu vinho.
Ele estava bebendo com ela?Ele ia apanhar também!
Ia apanhar, ele. Ia apanhar, ela. Ia apanhar, a Elise.
Todo mundo ia apanhar! Travei as mãos em punhos.
– Mais vinho, Ryk? – Buscou a taça vazia de suas mãos.
Não deixa a vagabunda pegar seuhomem.
Eu conseguia ouvir Spider gritando no meu ouvido. Ali, diante de
Monique, como tinha feito diante de Skye.
– Por favor, querida. – Ele lhe entregou a taça e piscou para mim.
– Algum problema? – perguntou, falso.
Estava me dando o troco por causa de Lance. Eu o tinha deixado
com ciúme e ele estava aproveitando para retribuir. Era a nossa
brincadeira.
O problema é que a moça da padaria e Skye eram mulheres
desconhecidas com quem eu não precisava competir porque não
estava com ele. Não naquela época.
Dessa vez era diferente. Era diferente porque estávamos juntos
agora. E era diferente porque não se tratava de uma prostituta
profissional que eu mal conhecia ou de uma garota da padaria de
quem eu sequer lembrava o nome.
Agora era Monique.
Era a amiga que tinha surgido em
nossas vidas por proximidade e ficado porque Elise se divertia com
ela e eu não tinha forças para mandá-la para o inferno. Era a mulher
que me distribuía patadas e destruía minha autoconfiança sempre que
entrávamos em uma boate. Era a idiota que ria de mim a cada nova
tentativa de primeira vez. A minha própria inimiga pessoal que nunca
me dava espaço para respirar quando o assunto era “homens”.
E ali estava ela.
Trazendo mais uma taça de vinho para Ryker e sentando-se ao seu
lado.
Eu tinha em emprego novo e tinha acabado de voltar do trabalho,
na certeza de que ele estaria esperando
por mim. Era o primeiro dia em meses que as coisas pareciam
certas. Pareciam boas. A conversa sobre Zahner ainda precisaria
acontecer e, eventualmente, ele precisaria ir embora para ficar a
salvo, eu sabia disso tudo. Mas eu achava que hoje ia ser um dia bom.
Pelo menos até abrir a porta.
Agora eu só sentia um peso me espremendo contra o chão e um
desejo imenso de que Spider estivesse ali ao meu lado.
Spider…
Mãos gigantes e invisíveis apertavam meus pulmões e eu não
conseguia respirar. Sentei na cadeiradiante deles e os ouvi rir. Ryker
mantinha um olho em mim como se meu ciúme lhe causasse êxtase e
eu o odiei por isso.
Me senti ficar miúda sentada naquela cadeira. Esmagada e
minúscula.
Ele ia dar em cima dela para me provocar e teria um sucesso
monstruoso em sua empreitada.
Duas semanas de striptease não tinham mudado minha
personalidade a ponto de me deixar confiante para competir com ela.
Eu precisava de uma taça de vinho também.
Quis correr e me esconder no meu quarto. Quis colocar Monique
para fora da minha casa. Quis ligar para
Elise só para poder gritar com alguém.
Mas, por fim, desisti de tudo.
Eu queria que Spider estivesse ali comigo.
De algum modo estranho e quase sobrenatural, suas forças
passavam para mim.
Spider…
Spider caída no chão.Lucy chorando.
Eu não conseguia respirar.
A vida era uma coisa tão fugaz. Os problemas da vida eram imensos
e eu me senti despreparada e desprotegida.
Quando dei por mim, estava de pé.
Era maior do que Ryker e Monique no sofá da minha sala.
Foi quando tudo girou ao meu redor,
e eu achei que ia desmaiar, que percebi o quanto aquela sensação
era maior que um pouco de ciúme.
– Mina? – Acho que eu deveria estar pálida, porque Ryker se moveu
com seriedade. O sorriso safado tinha desaparecido.
– Eu… – O quê? O que eu queria? – Eu esqueci de pegar… –
Apontei para a porta, sem rumo. Eu precisava de ar. – Esqueci uma
coisa.
Estava na porta quando ouvi Monique fazer alguma piada sobre
“sozinhos finalmente”. Desci as escadas para a rua e senti as
lágrimas no meu rosto assim que o vento me atingiu. Eu estava
andando pelacalçada. Para qual direção, eu não
sabia. Não importava.
Uma pressão no meu cotovelo, uma força me puxando.
– Mina?
Eu me virei de volta. Meu olhar se perdia no vazio.
– Mina? – Ryker tinha me seguido e apertou meus braços
procurando meus olhos. – Você está bem? Desculpa, amor. – Riu, sem
jeito e me puxou para perto. – Eu estava só te provocando. Não quis te
magoar. Eu sou imbecil,você sabe. Não faço isso de novo e… Mina?
Eu tentava respirar pela boca, mas o ar entrava e saía em lufadas
irregulares que não me traziam oxigênio suficiente.
– Mina, o que houve? – Ele me apertou e eu soube que estava
preocupado. – O que aconteceu?
– Spider morreu, Ryker – murmurei.
Ele se afastou um pouco, piscando os olhos em silêncio, tentando
entender como eu tinha ido de Monique e taças de vinho para Spider.
– O funeral foi… foi… – Levei as costas da mão para aparar as
lágrimas e Ryker me soltou.
– Eu queria ter ido – suspirou.
Há quantos anos eles se conheciam? Ela significava muito mais
para ele do que para mim.
– Eu estava lá. Quando aconteceu – continuou. – Eu devia ter feito
alguma coisa. Não devia ter sido daquele jeito.
– Nada aconteceu do jeito que deveria ter sido – confortei-o. –
Nãofoi culpa sua. A culpa foi…
– Não foi sua. – Segurou-me pelos braços de novo. – Mina, não foi!
– Sacudiu-me com cuidado. – A gente não pode se culpar por ter
tentando salvar nossas vidas e ter feito a coisa certa. Não é justo –
completou.
– Eu sei – inspirei profundamente. – Mas é perigoso, Ryk. Isso tudo
que aconteceu com a gente. Que ainda pode acontecer. Você não devia
ter fugido doZahner.
– Tive um bom motivo.
– E eu preciso saber qual é! Precisa me contar.
– Vou te contar tudo, mas não aqui
fora, está bem? – Olhou ao redor, como se temesse ser perseguido e
só então seus olhos assumiram um tom nervoso. Como se algo tivesse
escapado discretamente de sua memória e retornado agora com um
grito e um estouro. – Vamos entrar? A gente se livra da sua amiga
estranha e conversa. A gente conversa a noite toda. Mas vamos
entrar.
Ele me puxou pelo braço e permiti que me guiasse.

– É ele?
Puxou meu casaco, querendo olhar afoto.
Estreitei os olhos, focando no homem do outro lado da rua que
passava o braço pelos ombros da garota ruiva e a puxava de volta
para o prédio. Ele olhava ao redor, preocupado. Tentava desvendar os
perigos das sombras e, ao mesmo tempo, estava completamente alheio
aos verdadeiros riscos.
Olhei para a foto mais uma vez. Mesmo na penumbra, não havia
dúvida.
– Uspekh, camarada. É ele.

Cinco
Caminhos para retornar à casa
Monique estava de pé no apartamento, no meio da minha sala,
próxima à janela e eu desejei ter beijado Ryker na rua. Ela estava nos
assistindo… Pela minha vida, eu tinha certeza de que estava.
Tamborilou os dedos nos braços, revirando os olhos para mim
como se
quisesse gritar:“Acabou seu showzinho,
virgem?”
A lembrança de Spider tinha destruído um pedaço de mim e eu
quase esqueci que Ryker precisaria ser punido pelo comportamento
infantil. Um erroque eu não repetiria.
Eu entrei primeiro e ele me seguiu deperto.
– Está mais calma, Mina? – Riu, debochada. – Parece que ela
precisa de um pouco de vinho também, Ryk.
Ryker pegou a garrafa em cima da mesa e encarei sua nuca com
ódio.
Se você a obedecer e me servir uma taça dessa porcaria, eu estouro
a garrafa na sua cabeça.
Não duvide!
– Pode dar a minha para ela. – Monique indicou sua taça vazia. – Eu
e você dividimos a outra.
Chega. Eu dei um passo para a frente sentindo o rosnado subir minha
garganta.
Mas Ryker apenas a ignorou.
Ignorou-a tão completamente que foi como se ela sequer existisse.
Não era como se quisesse fazê-la se sentir mal, não era por vingança,
infantilidade ou mesquinharia. Era simplesmente um novo dia e
Monique não existia mais.
Ele apanhou a garrafa e seguiu para o meu quarto em silêncio. Eu
observei suas costas se afastarem ainda sem entender suas intenções.
Vi quando colocou a garrafa em cima da penteadeira. E aí meu olhar
se perdeu,
ao encarar as entrâncias pélvicas daquele abdome deliciosamente
malhado quando ele arrancou a camisa pelo pescoço, sem qualquer
cerimônia ou aviso. Piscou um olho safado para mim e fechou a porta.
Monique estava boquiaberta.E eu estava salivando.
Juro que queria ignorar Monique de propósito. Ela estava falando
algo. Talvez fosse uma crítica, talvez uma pergunta… e eu queria
sorrir para ela, revirar os olhos, dizer “é meu” e mandá-la sumir do meu
apartamento. Ou algo igualmente à altura…
Mas Ryker tinha tirado a camisa eminha língua estava formigando.
Estava na minha cama… segurando
aquele vibrador… revirando minhas gavetas em busca de alguma
camisinha esquecida… planejando qual era a próxima coisa que eu
precisava experimentar…
E Monique restou, totalmente esquecida e sem importância diante
das minhas perspectivas.
Eu queria ter debochado dela como ela fazia de mim.
Mas meus pés estavam me conduzindo rumo ao interior do quarto em
algum tipo de piloto automático e se Monique queria me dizer alguma
coisa, teve que ir embora querendo.
Naquele momento, ela também não existia mais para mim. A única
coisa que existia era Ryker.
E, quando ele tirava a roupa, raramente outros assuntos tinham
importância.

– Isso foi um pedido de desculpa?


Sentado sobre minha cama, sem camisa. Ele não tinha terminado de
se despir, o que me fez pensar que talvez a camisa tivesse sido retirada
apenas para provocar minha “amiga”.
Parte de mim ficou feliz porque ele resolveu colaborar.
Parte de mim ficou infeliz porque ele não estava nu.
– Está querendo que eu tire as roupas sempre que faça algo que te
desagrada?
– Riu. Mas seu sorriso não foi safado como geralmente o era em
situações do tipo. Ele estava contido. Delicado. Como se houvesse
muito mais em sua mente do que apenas sexo e me peguei
surpreendida. – Porque, se esse for o caso, é melhor eu ficar logo nu o
tempo inteiro.
– Isso pode funcionar – brinquei.
Do lado de fora, a porta bateu num estalo alto. Monique tinha
decidido ir embora, salientando bem sua fúria para quem quisesse
percebê-la. Ela ia descontar em Elise depois. Ia estressar minha amiga
até deixá-la preocupada com minha sanidade mais uma vez.
– Mina… senta aqui. – Seus lábios estavam espremidos e eu soube
que
estava na hora de conversarmos. Ryker me encarou com cuidado,
como se tentasse decidir quais palavras causariam menor impacto.
– Ryk, só me conta – pedi. – Não sepreocupe em como vai falar. Só
fale.
Ele balançou a cabeça e respiroufundo.
– Lembra das histórias que te conteisobre o meu pai?
Um gosto de bile subiu-me à garganta.
– Não acho que é o tipo de coisa que eu conseguiria esquecer.
– Certo… – murmurou. – Ele se envolveu com algumas coisas
ilegais. Eu tenho conhecimentos sobre algumas delas e… – Sua risada
foi desconfortável. – Acho que essa parte
não importa muito. O que é importa é o acordo que fiz com Zahner.
– Informações sobre seu pai para que eu pudesse voltar pra casa. Eu
lembro dessa parte. – Revirei os olhos, tentando exagerar e descontrair
o momento, mas Strome estava rígido como uma estátua.
– Foi uma ideia ao mesmo tempo boa e ruim. Porque assim eu podia
ajudar a polícia a fazer justiça, mas em troca teria não apenas o Kulik
atrás de mim, mas também o meu pai.
– Veio atrás de mim porque percebeu isso? – Levantei uma
sobrancelha. – Porque, se foi por isso, demorou um pouco para fazer as
contas. – Ri, amigável.
– Antes fosse. – Colocou minha mão
entre as suas. – Ele ligou pra mim.
Ryker estava encarando nossas mãos entrelaçadas e eu não consegui
compreender.
– Zahner? Ele ligou? Você atendeu?
– Não, Mina… Simak, meu pai… eleligou.
Seguiu-se uma sensação estranha, daquelas que faz seu corpo inteiro
dilatar. Eu sei como é quando os músculos se contraem diante de uma
notícia ruim: aquela sensação de adrenalina passando pelo corpo e te
preparando para fugir. Quando o instinto se resume a levantar e correr
para longe do perigo.
Mas essa sensação era diferente. Umasensação de dilatação.
De se derreter em qualquer superfíciee esperar pelo fim.
Uma sensação de desistência.
– Seu pai… onde? Como ele… como? – balbuciei e esperei que
Ryk conseguisse traduzir minhas meiaspalavras.
– Ligou para mim no meu apartamento. Na Itália.
– Estava na Itália! – Arregalei os olhos e enfiei um tapa no seu
braço. – Strome! Não deveria me contar isso! Não pode dizer isso para
ninguém! Ah meu Deus! – Enfiei os dedos nos olhos, esfregando-os
como se essa atitude pudesse nos fazer voltar no tempo. – Precisamos
falar com Zahner! Ele precisa te levar para outro lugar! Você
vai ter q…
– Mina – Ryker falou muito baixo, muito suave e muito devagar. –
Mina, meescuta.
Meu queixo tremia.
– Ele sabe sobre você.
– Sobre mim? – sussurrei.
– Não sei como ele descobriu. Nem sobre você, nem onde eu
estava… Tenhouma suspeita, mas não tenho certeza. Ele ligou para mim
e falou sobre você. Zahner disse que mantinha uns homens por perto
para se certificar de que você estava bem, mas…
– Zahner fez O QUÊ? – exclamei com minha boca aberta de
indignação.
– Mina, ele só estava preocupado e fazendo o trabalho dele. –
Subiu e
desceu as mãos pelos meus braços tentando me reconfortar com seu
carinho.
– Preocupado com o quê? – Espremi os olhos, exasperada. – Achei
que não havia mais nenhum risco para mim.
Vi seu pomo de adão se movendo e eusoube que tinha sido enganada.
– Eu não estava a salvo?! RYKER! Coloquei Elise em perigo! – Eu já
estava de pé. Não lembrava de ter levantado, mas me pusera a andar de
umlado para o outro no quarto.
– Eu não sabia! – defendeu-se. – Foi só quando perguntei por você
que… Zahner deixou escapar. Foi um dos motivos para eu ter
resolvido vir! Eu já achava que você estava em perigo antes,
aí meu pai me ligou dizendo que sabe que você existe e eu… eu
precisava saber se você estava bem.
Ryker girava ao meu redor, sem nunca me tocar. Como se quisesse
desesperadamente que eu me acalmasse, mas temesse que eu fosse
explodir se eleme tocasse. Foi uma boa decisão.
Cravei os dentes no lábio, sentindo o pânico invadir meu corpo mais
uma vez, naquela sensação insana que eu imaginara que nunca mais
precisaria experimentar. Mas ali estava ela: subindo pela minha
espinha e congelando meus músculos.
Mas tinha algo…
Tinha algo que não somava.O que era?
– Eu fui à polícia – murmurei para mim mesma.
– Eu sei. Falou com o inspetor Herbeck, na noite do assassinato.
Simak mencionou, acho que Herbeck contou para ele. Zahner fez um
acordo com ele,que desapareceu há pouco tempo. Pode ter sido só para
começar uma vida nova. Ou pode ter sido outra coisa... – levantou suas
suspeitas, sombrio.
– Eu liguei pra casa – continuei meu raciocínio, ignorando Ryker.
– Ligou pra casa? Quando? Mina, do que está falando?
– Liguei para a casa de Elise! Não para a casa que eles explodiram...
– Minha voz escapava quase inaudível. Eu não estava falando
para
Ryker, estava falando para mim mesma.
– Mina, você não está fazendo sentido.
– Eles explodiram a casa achando que era sua? – calculei. – Eles
não sabiam da minha existência, devem ter descoberto o endereço por
causa do taxista e explodiram minha casa achando que era sua. Mas, se
Herbeck falou com eles, eles saberiam que eu existo e teriam o número
de Elise.
– Mina, será que eu posso participar da conversa? – irritou-se.
Eu levantei o indicador.
– Eles não sabiam que eu existo, só viram você no estacionamento –
listei. –E não teriam como saber sobre mim semHerbeck.
– Então Herbeck falou com eles. Foi o que eu disse.
– Shh!
Enfiei a mão em seu rosto, forçando sua boca a se fechar. Eu
precisava que ele ficasse em silêncio para que eu conseguisse pensar.
– Eu liguei para a casa de Elise da delegacia, naquela noite. Herbeck
sabe da ligação. Eu estava na delegacia, na frente dele quando liguei.
Se foi ele quem falou para o seu pai da minha existência, ele deve ter
visto a ligação. – Parte de mim já tinha terminado o cálculo e era por
isso que eu tremia tanto. – Como nos encontraram em Amsterdã?
– Não faço a menor ideia.
– Seu pai pode estar trabalhando com Kulik?
– Nada faria mais sentido.
– Eles estão aqui. – Esfreguei minhas têmporas. – Ryker! – chamei,
em pânico.
– Eles estão aqui!
– O quê? Não… eu tomei cuidado! E os homens do Zahner estão lá
em baixo. Eu os vi! Tive que despistá-los para entrar no seu prédio, não
me viram.
– Homens do Zahner? – Eu parara de respirar não sabia há quanto
tempo.
– É. Eles não vão deixar nada ruim acontecer com a gente.
– O que você viu?
– Dois caras suspeitos encarando o seu prédio. – Deu de ombros.
– E como sabe que eram do Zahner? –
chiei. Seus olhar de incredulidade se transformou em uma careta de
pavor.
– Herbeck é o único que sabe sobre mim! – Segurei seus ombros e o
sacudi.
– E ele sabe que fiz uma ligação!
– Qual o problema com essa maldita ligação? – reclamou.
– Herbeck pode ver para qual número eu disquei e encontrar o
endereço no registro de ligações da delegacia! Ele teria acesso a essa
informação, Ryker! Ele saberia o endereço!
Eu estava gritando, completamente sem rumo. O olhar de Ryker se
perdeu pálido no horizonte quando ele enfim acompanhou meu
raciocínio.
– Para qual número você ligou? – perguntou, mas no seu olhar
identifiquei
que já sabia a resposta.
– Para cá – gemi, sofrível. – Liguei para a casa de Elise. Se eles têm
o número, eles têm o endereço. – Eu sabia que Ryker já tinha
entendido, mas as palavras estavam na minha boca e euacabei por dizê-
las – Se Herbeck contou uma coisa para o seu pai, ele pode ter contado
as duas! O que significa que se ele sabe que eu existo, então sabe onde
eu estou. Sabia o tempo todo. Poderia chegar até mim quando quisesse.
Mas ele não me quer! Ele quer você.
Ryker deu um passo para trás e acho que, assim como eu, ele
também estava tremendo.
– Seu pai só quis te assustar. Ele sabia onde eu estava. Mas não
sabia
onde você estava. Ou não tinha como chegar até você. E aí fez você
vir até ele. Só precisava fazer você vir atrás de mim e te esperar na
minha porta.
Eu achei que Ryker poderia chorar quando olhou para mim, como se
implorasse meu perdão.
Inspirou como se fosse me prometer algo. Como se quisesse dizer
que me amava. Como se estivesse à beira dodesespero.
Mas não houve tempo para nada disso. Um barulho ensurdecedor
invadiu nossa sala. Uma explosão de madeira e vidro e muitas coisas se
quebrando.
O perigo que nós temíamos tinha batido à minha porta e a tinha
encontrado destrancada.
Ryker me puxou de um jeito involuntário, me protegendo em seu
abraço. Mas a carne dele, como a minha,não era à prova de balas.
Nós íamos morrer.
Minha sala deveria estar destruída.
O barulho fora tão alto que eu cheguei a pensar que fosse uma
bomba: os russos tinham chegado e iam explodir meu apartamento de
novo…
Mas não foi uma explosão. Eram só barulhos altos de tudo sendo
quebrado edestruído.
– Aqui. – Ryker me puxou, veloz,abrindo a janela.
– Ryker, eu preciso pegar algum dinheiro.
– Mina! – rugiu com os dentes
travados. – Saia daqui, agora! – Ele me empurrou pela janela do
quarto para a escada de emergência. Caminhei apressada e me
equilibrei no apoio de metal que servia de parapeito. A escada não
passava exatamente pela minha janela, mas era larga o suficiente para
que eu pudesse me pendurar nela sem medo de cair do sexto andar. Eu
já estava praticamente apoiada e pronta para fugir quando Ryker
hesitou e eu o vi desaparecer para dentro do quarto sendo puxado de
volta por um par de mãos pouco amigáveis.
Usei o pé de apoio para me impulsionar de volta pela janela.
Não, eu não sei o que eu poderia fazercontra matadores russos.
Eu nem sequer sabia se eram, de fato,matadores russos.
Eu precisava parar de pensar nas palavras “matadores russos”. Elas
faziam com que eu me sentisse ridícula e potencialmente morta. E eu
não era umafã em particular de nenhuma das duas sensações.
Senti o carpete do meu quarto sob meus dedos, quando perdi o
equilíbrio e caí de joelhos atrás da minha cama. O homem agarrava
Ryker por trás e ele enfiou o cotovelo em suas costelas. Meu corpo
reagia sem esperar minha autorização, verificando os arredores e
buscando qualquer objeto que pudesse ser usado como arma, e
encontrou nada além do longo vibrador em cima do
criado-mudo.
Agarrei sua empunhadura sem pensar duas vezes e usei-o como um
porrete contra a cabeça do nosso agressor. Ryker tinha enfiado uma
cotovelada em seu estômago e se abaixou, permitindo que meu golpe
encontrasse o alvo em cheio.
Em seguida, ouvi um baque surdo e o homem caiu sobre minha
cama, que se moveu com o impacto.
Ryker se levantou me segurando pelo braço e correndo para a janela
mais umavez. Coloquei o pé para fora e...
– Esperem!
Virei para trás e vi o homem caído sobre minha cama, agarrando o
narizensanguentado com as mãos. Ele gemeu
de dor, se movendo, irritado. Então soltou o nariz e agarrou a caixa
de lenços sobre o meu criado-mudo.
– Juro por Deus que um dia aindaparo de ajudar vocês dois.
– Zahner! – Eu me joguei aos seus pés em sinal de um alívio que não
poderia ser expressado com palavras e tentei lhe ajudar com o
machucado. – Sinto muito,eu não…
– É, eu sei! – rosnou, distanciando-sede mim com um gesto.
– O que houve? – Ryker se inclinou para observar além da porta do
quarto e segui a linha do seu olhar. Podia ver pedaços de vidros
quebrados… Minha mesa de centro.
Os pés calçados com largas botas
negras e rústicas estavam jogados de modo que o corpo sumia do
meu campode visão. Ele parecia ter caído por cima da minha mesa.
– Você ainda me pergunta “o que houve”? – Zahner avançou,
furioso. – Strome! Você perdeu o cacete do seu juízo?
– Meu pai descobriu sobre Mina, Gary, o que você queria que eu
fizesse?
– Não sei… – começou, dissimulado.
– Contar para o responsável pela sua segurança, talvez?
– Temos que ligar para a polícia. – Encontrei meu celular, mas
Zahner o tirou do meu alcance.
– Não, a gente precisa dar o fora daqui.
– Zahner, eu sei que são corruptos, mas não vão poder ser corruptos
abertamente!
Um meio sorriso atravessou seu rosto,embora não houvesse qualquer
graça emseu olhar.
Cores sombrias tremeluziam em seus olhos.
– O mundo é mesmo belo para vocês dois, não é? – Riu. – Vocês
veem o dono da máfia russa e maior chefe do crime organizado da
Europa cometer um assassinato, mas não é problema algum.
– Ridicularizou, dando de ombros. – Se escondem na casa de um
amigo e acham que o problema vai se resolver. Então, querem fugir
juntos pelo mundo e, quando percebem que não vai dar certo,
me convencem a manter a vida normal para pelo menos um de
vocês, apenas para que depois o outro – olhou para Ryker com raiva e
continuou: – possa me enganar depois e fugir.
– Não foi isso que…
–VOCÊS SÃO TESTEMUNHAS DE UM
ASSASSINATO ! – berrou. – Quando vão enfiar isso nessas cabeças de
merda? – Dei um passo para trás e Ryker tentou argumentar, mas a
fúria de Zahner mal tinha começado. – Não podem simplesmente fugir
por aí. Não podem entrar em contato um com o outro. Não podem
esconder coisas de mim. Vocês querem morrer? É isso? Porque, se for,
só me avisem! Eu paro de me envolver.
– Riu. – Prometo.
– Olha aqui… – Strome começou.
Mas tinha pelo menos um homem caído na minha sala destruída e a
verdade é que Zahner estava completamente certo.
– Não queremos morrer – interrompi Ryk, decidindo por nós dois. –
Nos digao que temos que fazer.
Zahner me encarou por um segundo.
– Eu preferia ter feito um acordo com ela. – Indicou-me com o
polegar. – E deixado você pra trás – ralhou. – Ela é muito mais
coerente.
– Está querendo me explicar que a vida é uma merda? Porque eu já
sei disso, Gary.
Zahner esfregou a cabeça, sacudindo seus cabelos e desfazendo o
topete.
Eu estive tão preocupada com nossos próprios problemas que sequer
dediquei algum tempo para observar a situação do pobre Gary. Sua
camisa estava rasgada na altura da manga e ele parecia ter levado um
murro no rosto, além do golpe do meu vibrador no seu nariz.
– Discutimos depois. Agora a gente precisa dar o fora daqui. Eram
só dois atrás de vocês, dessa vez. Se fossem mais, acho que nem
estaríamos tendo essa conversa. Vamos embora. Agora.
Agora era Gary quem me empurrava para a saída de emergência.
– Desçam. Vão.
– Zahner… – Engoli em seco. Eu ia embora de novo, deixando uma
bagunçapara Elise mais uma vez. – Os homens
na sala… estão…?
– Mortos? Não – falou sem cuidados.
– Agora, desçam!
– Por que não esperamos a polícia chegar?
Desci pela escada de metal com os dois logo atrás de mim.
Alcançamos a rua fria e vimos o aglomerado de pessoas que seguia na
direção oposta, provavelmente atraídos pelas sirenes de polícia que
começavam a se aproximar.
– Vocês estão processando o pai de Ryker e mais um monte de
gente, não é?
– perguntei rapidamente, enquanto andávamos apressados. – Não
pode ser tão fácil assim para um agente corrupto agir agora.
– Mas meu pai sabe onde estamos,
Mina.
– Eu sei! Fui eu que percebi isso, lembra? – Senti vontade de lhe
dar um peteleco na testa. – Mas a gente já tentou fugir uma vez e isso
não nos levou a lugar algum.
– Levou, sim! Eu só voltei porque souidiota.
– Não foi idiota, só estava preocupado.
– Chega! – Zahner rosnou. Ele nos observava como se não
acreditasse que éramos reais. – Herbeck desapareceu. Eu fiz um
acordo com ele antes: ele ficaria quietinho e eu não o denunciaria por
corrupção, colocando-o na cadeia. Mas eu precisava manter escondida
a identidade de Mina por causa do acordo
com o Ryker – murmurou com uma velocidade tão grande que eu
mal conseguia compreender suas palavras. – Então, eu não podia dizer
para ninguém COMO eu sabia que Herbeck era corrupto, sem explicar o
envolvimento de Mina. Herbeck deve ter percebido que eu estava só
blefando e fez um acordo melhor com Simak.
– Foi por isso que mandou alguém ficar de olho nela – Ryker
compreendeu.
– Estava preocupado com Herbeck.Queria garantir.
Zahner se desviou do caminho e nos puxou para um canto mais
afastado da praça, no qual ninguém podia nos ouvir.
– A notícia que recebi hoje de manhã piorou tudo – resmungou,
impaciente,
nos conduzindo por um beco para o outro lado da rua. – Herbeck
reapareceu em Paris, cheio de promoções e contatos, o que tornou
minha vida mais difícil.
– Mas como ele conseguiu ser promovido? Com Simak ou Kulik?
Elesnão estão sendo investigados? Ainda conseguem pedir favores?
– Não há provas, garotinha! – reclamou. – Será que vocês não
entendem isso? Ainda não há provas definitivas contra Simak e não há
provas definitivas contra Kulik. Nenhuma, fora vocês dois. Os dois
idiotas apaixonados
–rugiu com uma careta. – A investigação prejudica Simak
politicamente, mas, por enquanto, não
vai além disso. Herbeck contou para Simak que tinha mais alguém
envolvido.
– Apontou para mim. – Agora, Simak está se defendendo das
acusações e da investigação com uma nova teoria, que envolve o
testemunho de Mina.
– Meu testemunho? – Ri. – Como eu poderia afirmar algo para
inocentá-lo?
– Ele já conseguiu provar que você existe e que tem um
relacionamento próximo com Ryker: testemunho de Herbeck, ligação
da delegacia e eles encontraram filmagens da estação em Bruxelas em
que vocês dois aparecem. Simak está dizendo que você pode refutar
todas as informações contra ele porque era confidente de Ryker e sabe
que Ryker está mentindo para se vingar
do pai.
– Mas isso é mentira!
– É, as pessoas mentem. – Revirou os olhos, furioso. – Horrível, não
é? O problema é que eu te ajudei a desaparecer dessa história – recitou
cada palavra como se as amaldiçoasse.
– E esse processo não foi feito exatamente dentro do protocolo.
– E o que tem? – Eu estava confusa, mas Ryker estava apertando
meu braço eeu percebi que, dessa vez, era ele quem já tinha entendido.
– Simak está se defendendo ao alegar que Zahner escolheu provas
contra ele para incriminá-lo em vez de analisar todas as provas. Ou
seja, a tese do meu pai se baseia em afirmar que Zahner se
limitou a me usar como testemunha e a se livrar da Mina. Estão te
investigando? – Fui suspenso. E pra piorar, justo quando você deveria
sertrazido para um novo depoimento…
– ... eu fui embora… – completei. – Você teve que adiar o
depoimento e elesacham que você está tentando enganá- los.
– Precisamente.
– Calma! – Eu precisava fazer uma lista porque estava começando a
me perder, mas os dois me puxaram por uma área movimentada da rua e
eu preferi permanecer em silêncio.
Respirei fundo.Liste...
Herbeck contou para Simak a meu
respeito Simak disse que Ryker está mentindo por pura raiva dele e
que Mina Bault é a confidente que pode provar isso. Aproveitou-se da
situação para acusar Zahner de parcialidade.
Ryker foi convocado para um novo depoimento, mas Zahner não
pôde levá-lo de volta porque ele tinha fugido para me procurar.
As informações nas mãos da Interpol indicam que Zahner escondeu
umatestemunha e depois sumiu com a outra.
Simak está agindo como se fosse o injustiçado da história e Zahner
acabou se tornando o vilão.
Para variar, estamos todos fodidos.
– Perdi meu emprego e minha reputação para que vocês dois
pudesses
trocar uns beijinhos – murmurou. – Estão satisfeitos?
– Mas que absurdo! – Eu ri. – Se o problema todo é esse, então me
levem até o juiz! Meu depoimento obviamente não vai inocentar
Simak.
Ryker e Zahner se entreolharam e eu sabia que não receberia boas
notícias.
– Mina… eles não querem que você testemunhe. Eles só precisam
que você exista para que possam te usar como argumento de defesa.
Faz sentido: você me conhece, procurou a polícia e, logo depois,
quando Zahner começou a investigação contra meu pai, você
desapareceu. A sua existência é um ponto ótimo para o caso deles. Mas
se você testemunhar…
– Vão me matar – compreendi.
– Vão tentar. – Ryk segurou minhas mãos, mas não precisava.
Minha vida era uma montanha-russa e eu já tinha dado tantas voltas
que ficar de cabeça para baixo mais uma vez não ia me fazervomitar.
– Mas por que não me mataram logo? Eles sabiam onde eu estava! –
Olhei de um para o outro à procura de uma justificativa.
– Não tinham acesso a Strome – explicou.
– Queriam reunir nós três? – Ryker voltou-se para Zahner.
– Matar vocês dois e colocar a culpa em mim, provavelmente.
Obrigado por colaborar com eles, por sinal.
– Mas não nos mataram! Por que nãovamos à polícia agora e...
– Garota, desista da polícia! Eles não vão ajudar! Vão nos foder!
Assim que você aparecer na frente deles, metem uma bala na sua
cabeça, jogam a mim e Ryker na cadeia e alegam ter sido legítima
defesa porque um de nós parecia estar armado. O sistema está contra a
gente agora. Consegue entender?
– Ei! Não fale assim com ela!
– Isso, moleque, brigue comigo, aúnica pessoa no mundo que ainda
quer salvar sua vida.
– Parem, vocês dois! – Tapei os olhos com as mãos e ouvi os dois se
calarem. Senti que ia chorar e Ryker me enfiou
em seus braços. A voz de Zahner estava mais amena quando ele
continuou.
– Só o que nós precisamos agora é de um esconderijo seguro. Um
lugar onde a gente possa se sentar, colocar as ideias em ordem e
organizar o que fazer a seguir. Não estou mais na polícia, mas ainda
tenho alguns amigos. Gente que vai me ouvir. Mas não podemos
circularpor aí como loucos. Precisamos de um plano.
– Você conhece algum lugar seguro? – Ryker quis saber.
– Meus contatos com a polícia. O problema é que…
– São contatos da polícia?
Não ouvi a resposta de Zahner, já que ainda estava com o rosto
afundado no
peito de Ryker, mas imagino que eletenha confirmado.
– Bem… – Ryk apertou meus braços e eu me permiti um ligeiro
afastamento para respirar melhor. Ele estava olhando para mim.
Aqueles imensos olhos claros que conseguiam me acalmar mesmo no
meio de um furacão. O mesmo sorriso que me ofereceu quando nos
conhecemos… diante da cesta de sacanagens de Elise e de toda a
minha vergonha. O mesmo sorriso de todos aqueles dias que passamos
juntos. Cada problema. Cada solução. Estávamos enfiados em um
inferno de novo, mas pelo menos dessa vez íamos ficar juntos. Eu sorri
de volta e ele reuniu coragem para continuar: – se o que a gente
precisa é de um abrigo seguro e de pessoas confiáveis para ajudar...
– Ele piscou um olho descarado para mim, deixando claras suas
intenções. – Então acho que conheço um lugar.

Zahner usou meu celular uma única vez antes de retirar o chip e
jogar tudo no lixo. Eu apenas confiei que suas atitudes fariam sentido e
me limitei a sentar no banco traseiro de seu carro ao lado de Ryker e
esperar que o ex- inspetor assumisse a direção.
Ele acelerou pelas ruas, deixando Paris para trás.
Escorreguei as pontas dos dedos pela
janela fria.
Estava indo embora de novo. Eperdendo mais um emprego.
Era melhor mesmo que Zahner me colocasse no programa de
proteção à testemunha dessa vez… Eu ia precisar de uma nova
identidade porque Mina Bault nunca mais conseguiria emprego em
lugar nenhum de Paris.
Eu estava preocupada com Elise. Minha melhor amiga no mundo e
eu ia fazê-la passar por aquilo de novo. Sem me despedir… A
diferença é que dessa vez não importava mais: meu rosto ia aparecer na
televisão e todo mundo ia saber o que tinha acontecido.
Pelo menos, a mentira ia acabar.
A viagem foi longa. Foi cansativa. E
em mais de um aspecto foi,principalmente, surreal.
Era surreal estar a caminho de Amsterdã de novo e era
especialmente surreal querer ir para Amsterdã. Há um ano, eu nunca
cogitaria fazer uma viagem como aquela com tanta resignação e até um
pouco de alegria. Euconfiava no pessoal do Lucky’s e seria ótimo rever
todo mundo. Tínhamos Zahner conosco dessa vez como nosso próprio
guia pessoal em assuntos da criminalidade. E, além disso, era um guia
armado. Já tínhamos passado por aquilo antes e sobrevivido. Eu já
tinha perdido meu emprego, eu já tinha arriscado minha vida. Já tinha
visto alguém morrer.
Eu estava preparada dessa vez.
Mais preparada do que jamaisimaginei estar.
E além de tudo… eu tinha Ryker. E ele me tinha.
Qualquer que fosse o problema, era sempre mais fácil encarar
quando ele estava ali: pronto para sorrir, me constranger e me deixar
excitada. Relaxei dentro do seu abraço e vi Amsterdã chegar.

Eu me lembro de ter dado dois abraços muito fortes na minha vida.


Apenas dois.
O abraço que tinha dado em Ryker há
pouquíssimo tempo não entrava na lista apenas porque contra
Strome não havia concorrência. Ele era único para mim, então tudo o
mais que o envolvia era igualmente único.
Em minha lista não constava Ryker ou qualquer contato físico com
ele. Minha lista somava apenas dois abraços que me fizeram sentir
como se o universo inteiro tivesse derrubado um véu sobre mim.
O primeiro abraço fora o do meu avô, logo depois que os meus pais
morreram. Eu estava na casa de Elise naquela noite. Eles tinham saído
e me deixado com a família dela. Eu lembro que a casa estava cheia
quando acordei. Lembro que a mãe de Elise me segurou
pelos ombros e lembro do seu olhar antes de me enfiar em um
abraço maternal. Ela não sabia o que me dizer… É o tipo de coisa que
você não aprende na escola, faculdade ou pós- graduação: como contar
a uma criança que os pais dela morreram. Meu avô chegou o mais
rápido que pôde. A única pessoa viva da minha família, além de mim.
Ele era a única família que eu ainda tinha. Quando paro para me
lembrar, acho que ele me abraçou muito mais do que eu o abracei.
Acho que era porque eu ainda era jovem e faz parte das expectativas
sociais assumir que os mais velhos vão morrer antes. Meu avô deveria
sentir o oposto… Sua expectativa deveria ser que fosse morrer
antes dos mais jovens. Sob essa perspectiva, acho que eu era muito
maisa última integrante da família para ele do que ele para mim. É por
isso que acho que foi ele quem me abraçou e que eu fui a abraçada.
Seja como for, foi um momento singular que permanecia em primeiro
lugar para mim.
O segundo abraço fora o de Elise, logo quando voltei para Paris,
depois da minha experiência insana no Lucky’s. Eu tinha perdido tanta
coisa… Tinha perdido minha inocência, minha virgindade, minha
vergonha e, acima de tudo, tinha perdido meu Ryker. Abraçar Elise
trouxe a sensação de recuperar algo que eu pensava ter perdido, mas
que ainda estava lá. A sensação
incomparável de ainda possuir algo no mundo. Aquele abraço
simbolizou que nada poderia me separar dela. Acho que eu estava
errada… Seja como for, dessavez fui definitivamente eu quem abraceie
ela quem foi abraçada. Ou sufocada.
Eu nunca imaginei que algum outro abraço no mundo pudesse
concorrer com esses dois. Nunca imaginei que outroabraço sequer seria
considerado para entrar na minha lista minúscula e especial.
Porém, assim que vi Luckas parado à porta principal da boate que
levava seu nome, o letreiro em neon com luzes falhando, seus óculos
modestos, sua postura longa e arrebitada como sua casa de Amsterdã,
seus olhos quentes e
seu sorriso amigo…
Corri em sua direção, lancei meus braços ao redor de seu pescoço e
o abracei com força, bem apertado.
Eu me lembrava de suas palavras para mim e Ryker. A ajuda que
ofereceu a bom amigo e a uma completa estranha. Eu me lembrava de
suas poucas palavras no funeral de Spider e de como senti um arrepio
pelo corpo inteiro quando ele abriu uma garrafa de cerveja no meio do
cemitério e bebeu um gole direto do gargalo oferecendo um brinde
silencioso. Acho que teria jogado uma boa quantidade do líquido sobre
o caixão como uma homenagem à nossa peculiar amiga, se a irmã de
Spider não tivesse feito algo semelhante primeiro.
Nila era o nome dela. Três anos mais nova, tinha acabado de se
lançar à profissão da irmã. Estava linda e sorridente, mesmo no
funeral. Lembro que cheguei a imaginar se havia alguma indisposição
entre elas para que Nila apresentasse um sorriso tão verdadeiro naquela
situação. Pelo menos até me aproximar e ver que se formavam
lágrimas em seus olhos, apesar do sorriso. Um sorriso transcendental e
uma atitude de “eu sei que minha irmã me espancaria com chicotadas
na bunda se me pegasse fazendo qualquer coisa que não fosse cultuar a
vida, principalmente em seu enterro”. Serviu duas doses de tequila e
sorveu um gole antes de oferecer outro ao chão. Vi seus lábios se
moverem em um diálogo querido e apressado com a lápide de sua
irmã. Mas não me atrevi a me aproximar. Não era um momento meu,
mas de Nila. Era um de seus abraços. Mesmo que não houvesse braços
envolvidos.
Lucky apertou minha bochecha como se fosse um tio que eu não via
há anos.
– Não conseguiu ficar longe de nós? – brincou. Ryker o
cumprimentou e agradeceu. Ele apenas pediu-lhe que deixasse de
formalidades e nos ofereceu a chave do quarto no primeiro andar. –
Vão se ajustar bem lá.
– A boate está funcionando? – Zahner observou, por cima de nós.
Sempre atento e observador. Eu sentia um nervosismo quando ele
apoiava as mãos
na cintura daquele jeito… como se ele estivesse sempre pronto para
levar uma mão à arma.
O curioso era que Gareth Zahner era um dos homens mais
charmosos que eu já conhecera. Não se comparava ao meu Ryk, claro.
Mas ele era alto, tinha um porte que chamava a atenção, olhos
profundos e aquele topete de cabelos finos e arrepiados que não era
exatamente de propósito, mas também não era completamente
acidental. Exibiaum sorriso agradável e sedutor e seria um homem que
suscita admiração e suspiros não fosse sua obstinada intensidade. O
homem exalava estresse. Ele falava qualquer coisa e eu esperava que
os arredores explodissem, balas
voassem ou sequestros acontecessem. Quando levava a mão à
cintura, eu esperava que ele fosse sacar a arma e atirar em alguém. Não
importava em quem… Seria apenas para aliviar o insistente estresse
que carregava consigo. Eu me senti ridícula por pensar assim… mas
talvez ele precisasse de sexo.
Seria legal poder afirmar que a ideia de Zahner e sua suposta
necessidade de sexo tinha me encantado e me feito pensar em seu
corpo nu se, por mais nada, pelo menos para me dar a ideia de que
Zahner era apenas um ser humano com quem eu poderia fantasiar.
Mas nem isso…
Me detive naquele pensamento e até
considerei imaginar seu corpo nu e… absolutamente nada.
E não era apenas porque eu estava irremediavelmente apaixonada
por Strome, mas porque havia algo em Zahner que não pedia pena.
Não pedia carinho. Não pedia desejo.
Havia algo nele que solicitava apenas que estivesse atento, que não
fizesse nenhuma besteira e, acima de tudo, que não morresse. Não
havia alívio ao seu redor. Só tensão.
– Está funcionando. – Lucky abriu umsorriso triste e eu imaginei que
ele aindaresistia bravamente, e que os meses não tinham mudado o fato
de que ele precisaria vender tudo para alguém como o Allender. Pelo
seu sorriso
murcho, imaginei que não demoraria a fazê-lo.
– Precisamos colocar os dois lá dentro sem chamar atenção –
Zahner decidiu.
– E você? Não vai entrar?
– Não. Vou me livrar do carro primeiro.
Ryk tinha a mão na minha cintura e estava seguindo Lucky para
entrarmos naboate quando Gary puxou-o com força pelo braço.
– Posso confiar que vocês dois vão ficar aí dentro, escondidos, em
silêncioe sem fazer nenhuma idiotice até eu voltar?
Seu olhar era duro e eu quis revirar os olhos.
A gente sabe que você é o policial que está tentando resolver tudo e
provavelmente é quem tem mais conhecimento para nos tirar dessa,
Zahner, mas não precisa agir como um arrogante imbecil o tempo
inteiro.
– Pode. – Ryker ofereceu-lhe um imenso sorriso de “eu queria que
você fosse ali tomar no seu cu e me deixasse em paz” que reproduziu
com precisão osmeus sentimentos.
Zahner ainda hesitou e nos encarou por mais alguns segundos antes
de soltar Strome e nos deixar seguir. Eu sentia seu olhar cravado em
nossas costas e tive certeza de que ele só foi embora depois que nos viu
entrar em segurança na boate.

Eu poderia dizer que o quarto no primeiro andar era exatamente


como eu me lembrava, mas não era.
Era completamente diferente.
O bom e velho ditado já dizia que nunca se pode voltar para casa.
Não de verdade. Ou sua casa mudou, ou quem mudou foi você. De um
jeito ou de outro,nunca há um retorno. Era assim que eu me sentia.
Talvez o quarto estivesse idêntico. Talvez nada tivesse sido movido
nem um milímetro. Mas eu tinha mudado, e muito. E todo o processo
de metamorfose começou ali: entre aqueles lençóis.
Ryker estava se despindo e eu nem meincomodei em recriminá-lo. Se
ele quisesse transar agora, seria muito bem- vindo. Na verdade, acho
que mesmo queele não quisesse, eu iria sugerir.
Passei os nós dos dedos pelo topo de sua bunda onde a barra da
cueca acabava, dando passagem à curva na parte baixa de suas costas.
Ele se virou com reflexos sobre-humanos, puxando- me pelo braço.
– Safada – recriminou, apertando-me entre seus braços. Eu ri e ele
me beijou.
Reagiu tão rápido que eu imagino que já estaria planejando algo
semelhante antes mesmo de meus dedos terem alcançado seu traseiro.
– Eu me lembro da primeira vez que
te vi nua nesse quarto – suspirou.
– Quando arrancou minhas roupas e me fez gozar com a boca pela
primeira vez – completei, gulosa.
– Não! – exclamou, ofendido. – Não se lembra?
Estreitei os olhos, vasculhando minhamemória e…
– Eu estava tomando banho! – Lembrei, desferindo um tapa em
seu ombro. – E você veio me assistir porque é um pervertido – exagerei
e me afastei. Ele me agarrou pela cintura, me virou de costas e alinhou
sua virilha à minha bunda, roçando nossos desejos com sua fome
característica.
– Ia ficar decepcionado se vocêtivesse esquecido – murmurou,
mordendo minha orelha, fazendo sua rouquidão me excitar.
– De como você é pervertido? – provoquei. – Jamais!
Ele riu e se afastou tão subitamente que, por um segundo, imaginei
que a brincadeira poderia tê-lo ofendido. Ryker estava vestindo a
camisa de voltae subindo o zíper.
– O que houve? – perguntei, preocupada.
– Vamos fazer isso. – A sacanagem em seu sorriso deixava evidente
que estava tudo bem. Ele tinha planos… masestava tudo bem.
– O que você quer? – Levantei uma sobrancelha.
– Quero que você vá tomar banho. –
Lambeu minha boca. – Quero assistircom calma desta vez.
Travei os dentes nos meus lábios e despi o casaco que Zahner me
oferecera no caminho. Eu e Ryker fugimos sem muitos pertences.
Larguei o casacosobre a cama e o encarei enquanto decidia.
– E então? – pediu com urgência.
– Afaste-se – resolvi provocar. – Nãome toque a não ser que eu peça,
ok?
Ryker arregalou os olhos e abriu a boca, indignado.
– Não! Que brincadeira horrível!
Claro que não. Peça outra coisa.
Eu estava rindo.
Andei até o banheiro e ele me seguiu como um fiel animal de
estimação.
Me livrei de tudo, menos da roupa íntima. Ainda estava em frente à
porta do banheiro. Tentei voltar ao quarto para repousar o resto das
minhas roupas sobre a cadeira ou a cama, mas Ryker estava quase em
cima de mim. Não me tocava, mas também não permitia que eu me
movimentasse, de modo que eu só pude me esgueirar ao seu redor para
lançar as peças de roupa sobre seu ombro ou pelo canto entre sua
cintura e a porta. Eu ria enquanto ele mantinha as mãos enfiadas nos
bolsos. Pelo volume em sua calça, eu tinha ciência de que ele estava
duro e que as mãos que enfiara nos bolsos estavam cerradas em
punhos.
Ele gostou da brincadeira.
Não vai me tocar a não ser que eu
permita.
Estava me sentindo ótima e orgulhosa do meu conforto com meu
corpo seminu. E então… girei devagar na porta do quarto e seus dentes
se enfiaram no lábio inferior com tanta força que percebi os sulcos se
formarem.
Ele estava com raiva? Ah, porcaria… Eu tinha tirado a roupa rápido
demais, não era?
Coloquei os braços longos e lentos sobre o meu corpo… Não ia
servir para me tapar, mas pelo menos iria conter meu constrangimento
momentâneo.
– Acho que não sou boa nessa coisa de striptease. – Senti meus
dentes baterem uns contra os outros quando travei minha mandíbula. –
Tirei tudo
rápido demais, não foi? Acho que não sei fazer sem Lucy e Spider…
– Tentei rir e ajeitei o cabelo atrás da orelha, tirando os fios soltos do
meu campo de visão. Queria observá-lo melhor, no entanto, ele não
tinha soltado os dentes do lábio e eu não tinha certeza se isso era bom
ou ruim. Comecei a tremer de um jeito horrivelmente familiar, de
quando a tensão de véspera de prova me atingia. – Coloco de volta? A
minha roupa? – Ele ficou mudo. – Coloco, não é? Você disse que
queria me ver tomar banho, aí eu tirei de vez! Porém, se fosse pra me
ver tirar devagar, deveria… Por que não me disse? Tem que me
avisar! – reclamei, sentindo um ardor horrível subir pelas bochechas
à
medida que eu ficava mais e mais consciente do excesso de roupas
dele e da ausência das minhas. – Coloco de volta? Ou só tiro o resto e
entro no chuveiro? – ele não me respondia. Eu atropelava minhas
perguntas umas sobre as outras e ele se recusava a me conceder uma
resposta, de modo que meu pânico aumentou e aumentou: – Acho
melhor eu me vestir. Você me dá licença? Eu coloco de volta, aí tiro de
novo e depois…
Senti a parede do banheiro quando minha nuca e minhas costas se
chocaramcontra ela. Ryker estava ao meu redor, me espremendo contra
os azulejos frios. Não estava me beijando, mas nossa distância não
passava de uma fração de
centímetro. Estava tão perto que eu sentia seu hálito aquecendo os
lábios quando ele respirava em mim.
– Estou tentando obedecer. – Inspirou com dificuldade. – Estou
tentando não te tocar, já que você pediu. Estou agindo de acordo com
essa sua brincadeirinha desagradável, mas está sendo bem difícil. –
suspirou quente.
– Ah! – respirei aliviada. – Então eu estava fazendo tudo certo?
Ryker encarou o teto com uma risada breve e logo estava no meu
pescoço… Rápido demais. Raspando os dentes na linha do meu queixo
como se não me morder demandasse toda a sua força de vontade.
– Isso foi um sim? – Eu quis saber. A
animação estava começando a me esquentar, afastando o gélido
receio temporário.
– Deixa eu te explicar como é – suspirou, fazendo nossos narizes se
tocarem. – A gente conversou sobre você tirar a roupa e eu fiquei duro.
Você tirou a roupa e meu pau cresceu no jeans a ponto de doer. Aí
você...
– Não tem problema se foi rápido? – interrompi, preocupada.
– Bault! Estou tentando ser sensual! – reclamou, alto. – Você deixa?
– exagerou na indignação e eu estava rindo. Gesticulei um floreio para
que ele, por favor, continuasse.
– Onde é que eu estava?
– Ahm… – Estreitei os olhos. – Falar
sobre tirar a roupa e ficar duro. Tirar a roupa e ficar mais duro –
revisei.
– Isso – proferiu cada sílaba com umacalma infinita. – Obrigado.
– Disponha.
– Não vá vestir a roupa de volta – decidiu com simplicidade. – Vá
tirar o resto e entre no chuveiro.
– Tem certeza? Porque eu posso tirara roupa mais devagar.
– Mina… eu já te vi tirar a roupa devagar vezes o suficiente. Juro.
Acho que prefiro quando você fica nua rápidomesmo. É mais seguro.
– Ok! Eu tiro? Você tira? Tanto faz? –Ergui os ombros.
Ryker se empurrou para trás e se sentou sobre a tampa do vaso.
– Você tira. – Indicou o chuveiro comum gesto e se recostou contra a
parede.
Coloquei os braços para trás para abrir o fecho do sutiã.
Acontece que eu não tiro o sutiã assim… Acho horrível encontrar o
fecho sem estar olhando para ele, então eu geralmente dispo as alças,
giro o sutiã e desataco com o fecho na parte da frente, atividade essa
que não exige nada da minha coordenação motora. Entretanto, abrir um
fecho sem vê-lo, com os braços estirados para trás das costas, e um
Ryker me assistindo com o olhar praticamente na altura da minha
virilha, era muito diferente.
A ação rapidamente se mostrou impossível e Ryker estava rindo
daquele
jeito delicioso quando se levantou.
– Não ria! – Estalei um tapa no seu peito.
– Aqui. – Me abraçou. – Deixa eu te ajudar.
– Deixa eu virar de costas – sugeri, tentando escapar dos braços que
me esmagavam para que eu pudesse virar o fecho do sutiã para ele.
Sua pele subiu pelas minhas costas, seus dedos arranhando minha
coluna.Para ele, bastou apenas uma mão para abrir meu sutiã.
– Nossa! – Mantive a boca exageradamente aberta para indicar
minha admiração. – Acho que não deve ter sido sua primeira vez, não
é? – Torcio nariz, brincalhona.
Mas Strome deteve meu sutiã nas mãos e os olhos nos meus seios
daquele modo predador que ele assumia quando a nudez era demais
para que resistisse. Umedecia os lábios com a língua enquanto
dedicava longos segundos de observação, divididos entre os seios, um
após o outro.
Eu me inclinei para tirar a calcinha e foi somente quando seu olhar
se inclinou, acompanhando os movimentos da minha nudez, que eu
percebi o nível de sua hipnose. Engoli em seco e me dirigi ao chuveiro.
Ele ficou de pé dessa vez, os braços cruzados com o ombro apoiado
contra a parede. Os cabelos bagunçados e aquele sorriso lindo. Seus
olhos não
encontravam os meus, o que significava que ele estava se divertindo
ao inspecionar cada centímetro da minha pele. Liguei o chuveiro e
deixei a água encharcar meus cabelos.

A água escorria pelo corpo dela, formando um fluxo contínuo entre


os seios e escorrendo até o meio de suas pernas.
Eu estava salivando. Achava a vergonha de Mina excitante. Até ela
tirar a roupa com tanta animação girando pelo banheiro, foi então que
percebi que gostava dela sem vergonha, também. Aí ela se atrapalhou
com o fecho do sutiã e
eu estava latejando com tanta força que achei que ia romper as
calças, porque aparentemente eu gosto até de Mina desajeitada. Ela
sorriu, ligou o chuveiro e eu quis beijá-la. Quis fodê-la. Quis me
declarar e fazer amor. Qualquer coisa. Oque ela quisesse e do jeito que
ela quisesse.
Foi então que percebi que eu gostava de Mina de qualquer jeito. E o
mais curioso é que ela não precisava nem estar nua. Desde que ela
estivesse por perto, eu gostava dela de qualquer jeito.
Se ela estivesse nua era melhor, obviamente. Mas se estivesse
vestida, eu não iria reclamar. Ela apertou os cabelos para que o excesso
de água escorresse. Sorriu, sapeca, afastando as
gotas de água do rosto.
Eu não conseguia desviar o olhar. Não conseguia pensar em nada
que não fosse ela. Tirei a blusa sem dedicar muita atenção às minhas
ações e chutei os sapatos para o lado.
– Achei que só ia se aproximar quando eu pedisse. – Riu e eu quis
apertá-la todinha.
– Eu não prometi nada. – Empurrei as calças para baixo e peguei seu
olhar curioso em busca da minha ereção. – Quer ver mais de perto? –
Sempre! – Deu um passo para trás de modo a abrir espaço embaixo do
chuveiro.
Ela era tão linda que me dava vontade de gritar. E quando ela ria
desse jeito, sem vergonha, sussurrando algo safado
para mim, eu ficava tonto. Meu quadril se aproximou primeiro e eu
estava raspando nossas mais deliciosas partes uma na outra. Um passo
adiante e Mina estava apoiada nos meus ombros.
Beijou minha boca e se pressionou contra o meu tórax, encaixando o
rosto na curva do meu pescoço. Eu a abracei e deixei a água cair sobre
nós.
Aquilo era bom. Aquele abraço quente, aquele banho gostoso,
aqueles braços ao meu redor.
Aquilo era tão bom. Apertei o abraço e fechei os olhos. Minha
ereção perfurava a carne da sua cintura, mas ela não reclamou. Minha
Mina envergonhada que tinha se acostumado com paus duros. Estava
sorrindo.
Desfrutava do meu momento e da minhamenina.
Estiquei o braço e peguei o sabonete no apoio lateral. Ensaboei suas
costas primeiro enquanto ela permanecia abraçada comigo. A curva de
sua bunda, o alto de suas coxas… O sabonete escorregava suave e eu
aproveitava para passar minha mão logo em seguida. Eu poderia usar o
pretexto de que queria apenas lavá-la melhor, mas… quem eu estaria
enganando?
Me ajoelhei e ensaboei o resto de suas pernas. Ela riu baixinho e se
moveupara me ajudar. Beijei o joelho antes de cobri-lo de sabão. Lavei
seus pés com cuidado antes de me levantar. Ela mantinha aquele
sorriso comedido que
me dava vontade de mordê-la. Escolher uma porção de carne, de
preferência a dos seios, e abocanhá-la com força. Todavia, em vez
disso, continuei minhas carícias com bolhas de sabão, dedicando um
cuidado especial a cada um dos mamilos. São partes delicadas do
corpo feminino… e precisam, portanto, de uma atenção especial.
Beijei seu pescoço e, com as mãos em concha, lavei-a por inteiro.
Movendo seus braços para colocá-la debaixo do jato, lavando cada
parte do seu corpo.
Quando me dei por satisfeito, depositei de volta o sabonete no
recipiente e alcancei o pote que ficava ao seu lado. Mina enrugou a
testa e eu compreendi sua dúvida.
– Shampoo? – Quis saber.
Eu ri antes de deixar a resposta escorrer com uma luxúria
incontrolável:
– Sabonete íntimo.
Sua expressão se contraiu em uma preocupação intensa e a senti
hesitar emmeus braços.
– Shh… – Pedi e a fiz se virar, mantendo sua bunda contra minha
virilha, esfregando minha ereção contra aquela curva perfeita…
Apliquei uma boa quantidade do líquido em minha mão antes de
derrubar o pote ruidosamente no chão molhado. Deslizei a mão por sua
barriga e notei quando ela prendeu a respiração.
Minha mão explorou cada canto da sua vagina. Ensaboando-a com
dedos
lentos, girando ao redor do clitóris, percebendo os pequenos
movimentos de contração em suas pernas, que começavam a ansiar por
mais. Prendi o lóbulo de sua orelha entre meus dentes e enfiei a cabeça
do meu cacete entre as bandas de sua bunda.
– Ryk… – gemeu.
– Não vou fazer nada, amor –acalmei-a. – Não vou fazer nada. Só é
gostosinho deixar aqui… nem que seja um pouquinho.
Mina inspirou profundamente e arrebitou a bunda o suficiente para
que meu pau se escondesse um pouco mais entre suas bochechas e eu
estava de olhos fechados de novo. Com sua boceta inteira em uma de
minhas mãos, levantei
a outra para agarrar seu seio. Ela estava gemendo mais alto e eu não
estava maisconseguindo controlar meus dentes.
– Vocês voltaram!
O grito alto fez meu coração disparar em desespero, tomando a
frente de Mina. O pânico fez meu corpo inteiro se contrair e eu ia
precisar de minutos – ou horas – para superar a sensação de que meu
peito ia explodir.
– Lucy? – reclamei.
Mina emitiu alguma exclamação alta ese enfiou atrás de mim.
Na nossa frente, a porta estava abarrotada de curiosos. Liderados por
Lucy, quase todos os nossos amigos da boate tinham aparecido para
nos prestigiar.
E malditos fossem. Todos eles.

– Não é possível. – Ryker abriu a boca, enquanto eu me tapava,


envergonhada. – Realmente inacreditável. – Ele não
parecia ultrajado ou envergonhado. Só estava verdadeiramente
incrédulo. – A gente não vai conseguir transar nunca mais?
– Shhh! – exclamei, em pânico.
– Você tem alguma maldição. Não épossível.
– Será que você pode se vestir? –implorei, angustiada.
– Algo como: “Um dia se aproximará de você um homem chamado
Ryker.” –
anunciou com uma frustração que seria cômica se eu não estivesse
tão desesperada. – “E deste dia em diante, Ryker nunca mais conhecerá
os prazeresdo sexo.”
– Bem específica essa sua maldição, hein? – reclamei.
– E irritante! – Arregalou os olhos.
Eu me enrolei em uma toalha e Lucy logo me abraçou.
– Vocês voltaram! – repetiu.
Atrás dela estavam Skye, Tonya, Joanie, Devon, Roy e Tim,
seguidos de perto por um Lucky que ergueu as mãos para mim como se
pedisse desculpas e explicasse que era impossível impedir aquele
grupo de fazer seja lá o que fosse.
Abracei Lucy de volta e ela começou a empurrar todos para trás,
assim que me soltou.
– Vocês esqueceram que ela tem vergonha? – ralhou alto. –
Deixem que ela volte para o quarto para se vestir. Trouxe roupas dessa
vez, bebê? – Apertou meu braço. – Ou vai precisar de algumas
emprestadas de novo?
Ah… tinha isso também…
– Eu… ahm…Lucy sorriu.
– Tudo bem! Eu te empresto!
– O que aconteceu? – Devon quis saber. – Vocês conseguiram se
livrar dorusso?
– Que russo? – Roy perguntou.
– O russo que eles viram matar um
cara, Roy, presta atenção. – Joanie revirou os olhos.
– Como vocês sabem disso? – Ryker avançou pelo quarto.
– O policial me contou. – Devon deu de ombros. – Quando eu fui
ajudar Mina.
– E você resolveu divulgar? – exclamou, irritado.
– Você já tentou manter algum segredo nessa boate? – Arregalou os
olhos.
– Pode se vestir? – pedi para Ryker, baixinho.
– Coloca a vida da gente em riscoquando faz algo assim, Höfler!
– Ah, vá pro inferno, Strome! Fiz o que pude para ajudar sua
namorada! E você me retribuiu comendo minha
mulher!
– Não te retribuí! – berrou. – Isso aconteceu antes, seu animal!
– Pior ainda! Porque eu te ajudei,apesar disso.
– Meninos, chega! – Lucy pediu.
– E eu não comi sua mulher! – Ryker revidou. – Se você não era
suficiente e ela precisou contratar um garoto de programa, a culpa não
foi minha.
– Cala essa boca! – Devon avançou e eu tive certeza que eles iam
brigar.
– O QUE É ISSO?
Era uma voz imponente.
O tipo de voz que se obedece, nãocom a qual se discute.
Zahner estava parado na porta doquarto com sangue nos olhos.
– Qual parte… QUAL PARTE do “fiquem em silêncio e escondidos”
vocês dois têm problemas para entender? – Levou as mãos à cabeça. –
É impossível. – Ele deu dois passos e se sentou na borda da cama. –
Impossível. Vocês vão morrer. Eu não consigo proteger vocês.
– Gary, tira a cueca da bunda – Ryker rosnou, furioso. – São nossos
amigos. São pessoas de confiança.
– Tenho certeza de que são. – O inspetor torceu o nariz. – Estou
aqui há dois segundos e já vi pelo menos um cara que não te quer
muito bem. E foi ele quem você indicou para servir de álibi pra Mina.
Perdeu o juízo? – Ele se levantou. Por um segundo, achei que ele fosse
entrar em combustão espontânea.
No entanto, respirou fundo e nos ofereceu uma risada de desespero.
– Não importa! – decidiu, mais para si mesmo do que para o resto da
plateia. – Não importa! O que importa é o que nósvamos fazer agora.
– Vocês precisam de provas para prender o russo? – Joanie quis
saber. – Ou só precisam fugir?
Zahner abriu os olhos e boca com umaindignação que não poderia ser
descrita em palavras. Mas depois apenas se calou, resignado. Sentou-se
de volta e, com o cotovelo apoiado no joelho, escondeu a boca atrás da
mão e ali permaneceu.
– Conta a história desde o começo pra gente! – Lucy pediu. – A
gente pode
ajudar!
– Não quero colocar vocês em risco.
– Acenei, preocupada.
– Mina. – Lucy segurou minhas mãos.
– A gente adora você e o Ryker e, não me leve a mal, ajudaríamos
vocês só porisso. Somos uma família. Eles não estãoapenas ameaçando
nossa família. Eles... já machucaram nossa família. – Engoliu em seco
com os olhos firmes nos meus e eu soube.
Spider.
O pessoal da Lucky’s podia ter um jeito insano de lidar com
problemas, mas sua união nunca foi um aspecto a ser questionado.
Spider morrera. O culpado poderia ser punido. Eles não iriam a lugar
algum.
– Acho que eles não podem contar! –Luckas tentou defender.
– Mas nem pra gente? – Tim pareceu ofendido.
– Não, não podem! – Zahner interferiu. Esfregava os dedos nos
olhos como se aquilo fosse capaz de fazê-lo acordar de toda aquela
insanidade. – Nem eu sei ainda o que pode ser feito para solucionar o
problema. Estamos em uma merda bem grande e agora Strome e Bault
precisam ficar bem quietos e me deixar resolver.
Lucy ensaiou um “uhh” que certamente irritaria Gary mais ainda,
mas sua revolta foi interrompida pelapergunta de Ryker: – Por quê?
Todos se calaram para observá-lo.
– “Por que” o quê? – Zahner devolveu.
– Por que temos que deixar você resolver?
– Está me chamando de incompetente, garoto? Porque eu me lembro
de ter salvado sua vida pelo menos umas duas vezes.
– Pare! – reclamou. Era bizarro o fatode que ele ainda estava nu e eu
precisei…
– Ryk, por que não veste algo?
– Fazia sentido te deixar resolver antes, Gary! – Ele me ignorou. Eu
podia perceber que tinha algo em mente. O traçar de um pensamento o
estava guiando, então resolvi deixá-lo em paz.
– Fazia sentido quando você era da
Interpol, quando tinha contatos, quando tinha um plano! Mas agora
você é apenas um de nós.
Ele fez silêncio por um segundo, como se esperasse que Zahner
refutasse suas afirmações. Mas, em vez disso, ele apenas engoliu em
seco.
Ryker respirou fundo e um silêncio tomou conta do quarto.
– Certo… – Ryk balançou a cabeça. – Então acho que agora é a hora
de pedir ajuda.
– A quem? – Zahner levantou os olhos para Strome. – Não pode
confiar emqualquer um!
– O que você acha? – Ele me encarou. Um olhar calmo e profundo de
quem temtudo sob controle. De alguém que sabe
exatamente o que fazer.
– O que você achar melhor. – Acenei.
– Eu concordo.
– Preciso de um celular – murmurou.
Zahner estava reclamando sobre alguma coisa quando Tonya
ofereceu seu aparelho a Ryk. Ele apertou números demais e aguardou
em silêncio. Do outro lado, alguém deve ter atendido porque ele disse
com uma voz alta e firme.
– Olá. Preciso falar com Sven Delvak, por favor.

Seis
Novos planos
– Eu ainda não entendi quem é esse Herbeck de quem vocês tanto
falam.
– Joanie! – Luckas pediu.
– Foi só uma pergunta! – ela se defendeu.
– Eu sei! E Ryker e Mina já concordaram que, desta vez, todo
mundovai ficar por dentro dos
acontecimentos… Mas a irmã dele já está chegando. Vamos segurar
as perguntas por alguns minutos para que ele não precise explicar tudo
duasvezes, sim?
– A gente já esperou quase um dia inteiro! Pode ser que ela entenda
essa parte bem rápido – Joanie reclamou, torcendo seu nariz afilado e
cheio de sardas. – Ele podia ir adiantando, caso eu seja mais lenta.
Quase um dia inteiro de espera e antecipação. Eu não sabia se
estava mais nervosa com a perspectiva de ser apresentada à irmã de
Ryker, que era uma das minhas autoras eróticas favoritas, ou ao
cunhado dele, o presidente da maior empresa
pornográfica do planeta e que parecia ser algum tipo de super-
homem que ele idolatrava.
Luckas ofereceu a Joanie uma careta de desagrado como resposta e
Devon inspirou fundo para dizer alguma coisa enquanto Ryker se
movia como se fosse pedir calma. Zahner estava sentado por perto,
prestes a entrar em ebulição, quando um barulho na porta
nos fez calar. Pela luminosidade na lateral do salão, era de se
imaginar que a porta estivesse aberta. Pude ouvir a voz de Brout
cumprimentando alguém, seguidapor uma voz
masculina intensa eprofunda. Prendi a respiração.
Os estalos do salto alto ecoaram pelo salão. Ela se aproximou e
entrou no meu
campo de visão primeiro.
Lexa Strome.
Tinha algo imperial no modo como ela se portava e se movia. Diante
de sua presença forte, que indicava que nada a poderia atingir, era
difícil acreditar que ela já tinha passado por um trauma. Os longos
cabelos loiros escuros lhe caíam até a cintura. Uma mistura de fios cor
demel com um castanho muito claro em cachos soltos, longos, pesados
e invejáveis. Sua elegância seria considerada esguia, não fosse pelas
curvas angulosas em todos os lugares certos. Sua saia justa descia até
os joelhos e perpassava a cintura, delineando o corpo inteiro. A camisa
de seda, metodicamente colocada por
dentro da saia, tinha as mangas compridas dobradas em três quartos.
Apenas um botão desatacado exibia o pingente delicado de seu colar
discreto, um pouco de pele e nada mais. Não havia decote a ser
exibido, não havia abertura na saia que comprometesse a integridade
das coxas. Ela era o símbolo da pureza com um gosto incompreensível
por sacanagem.
Talvez fossem os lábios que se entreabriam em um sorriso peculiar.
Ou os olhos. Um verde-azulado que lembraria com segurança o tom
dos de Ryker, embora os dele estivessem mais próximos do verde
enquanto os dela se agarravam ao azul.
Foi então que notei as semelhanças…
Não fosse pela cor dos cabelos: os dele permeavam um castanho
muito escuro e os dela eram uma mescla inusitada de tons de loiro.
Desconsiderando isso, eles seriam perfeitamente reconhecíveis como
membros da mesma família. Além da tez semelhante, os traços
sugeriam uma mesma ascendência, associados ao sorriso que eu não
conseguia exatamentedefinir.
Ela abriu o sorriso e os braços, e Ryker se levantou.
– Você deveria ligar com mais frequência. – Colocou o irmão mais
novo dentro do seu abraço e lhe ofereceu um beijo na bochecha que
ficouregistrado pela marca vermelha do seu batom.
– Não gosto de incomodar.
– Não seja bobo, Ry. – Recriminou-o com um olhar que seria
condescendente,se não exalasse carinho.
– Ahm, Lex. – Virou-se para mim comum sorriso. – Essa é Mina. Ela
é uma fã.
– Riu e eu tive certeza que a vermelhidão tinha assumido minhas
bochechas para sempre.
Eu me pus de pé com um solavanco eLexa me estendeu a mão.
– Como vai? – Seu sorriso era deslumbrante. Eu retribuí o gesto de
simpatia e já tinha a mão estendida no arquando ele se aproximou.
Seria impossível afirmar com certeza, mas acho que senti seu cheiro
antes mesmo de vê-lo. Percebi sua presença
antes mesmo de saber como era seu rosto ou me certificar de seu
nome. Havia algo na sua mera existência que me fazia tremer. Como se
ele fosse capaz de infectar alguém com uma perigosa dose de
feromônios por meio do ar que respirava.
Ele abriu um sorriso e eu esqueci quedeveria apertar a mão de Lexa.
Em cima de seus saltos altos e finos, Lexa deveria beirar um metro e
noventa. O homem atrás dela era levemente mais alto. Seu físico era
evidente mesmo por baixo de paletó e casaco. Sua barba clara estava
rala e por fazer. O maxilar quadrado e a expressão descarada. O loiro
de seus cabelos arrepiados era de um tom diferente dos de Lexa. Era
um
loiro mais claro e evidente. O tom de seus olhos também era
diferente… bem diferente… Um azul-claro que assumia uma
profundidade tectônica, provocando em mim um ardor que queimava
em locais bastante inapropriados.
Ele se aproximou mais do que eu poderia imaginar e já invadia meu
espaço pessoal quando tomou para si a mão que eu mantinha no ar
estendida para Lexa.
– Sven – sussurrou, antes de beijar meus dedos. – É um prazer
conhecê-la.
Por que ele precisava pronunciar apalavra “prazer” daquele jeito?
Seus lábios se foram dos meus dedos, mas ele ainda sustentava o
aperto em minha mão, com os olhos fixos nos meus
como se para prolongar a hipnose. E seja lá o que fosse… estava
funcionandoperfeitamente bem.
– Sven? – Ryker limpou a garganta e eu despertei com um estalo,
tomei minha mão de volta com educação. Mas meu captor não pareceu
se incomodar ou se constranger. Em vez disso, apenas aproximou o
rosto do meu e respirou fundo, como se pudesse me compreender
melhor pelo olfato. Nossos hálitos se misturaram e eu assisti à sua testa
se enrugar em uma proximidade perigosa.
– Virgem? – Ele estreitou um olho e eu entrei em pânico.
– Delvak! – Lexa estourou um livro contra suas costas e a hipnose
sequebrou. Eu dei um passo para trás e o
vi sorrir antes de tirar o foco de mim e levá-lo a outra pessoa.
Eu não era mais virgem, mas era consideravelmente inexperiente.
Mas como ele sabia? Como era possível saber? Pelo cheiro?
Virei o rosto para o lado, aproximando o nariz das minhas roupas na
altura do ombro e tentei fungar discretamente… Como era possível?
– Eu estava apenas dizendo “olá” – defendeu-se.
– Vá dizer “olá” para outra pessoa. – Lexa revirou os olhos e ele se
foi. Lucy estava de pé, o que era extremamente curioso.
Engoli em seco e recuperei o ar.
– Eu… sinto muito. – Meu rosto
explodia em um vermelho que me fazia arder de vergonha. Eu tinha
encarado libidinosamente o namorado da Dama Imperial do Erótico.
Que, por sinal, era minha cunhada. E tinha feito isso na frente do meu
namorado.
Ter Ryker nu era uma coisa boa, mas vou te contar… Fora isso, ser
eu era uma merda.
– Não se preocupe, querida. – O modo descontraído com o qual ela
sorriu me fez crer que tudo estava realmente bem. – Ele faz isso.
– E você não se incomoda? Oh, desculpe! – Levei a mão à boca
quando percebi que a pergunta indevida tinha escapado rápido demais.
– Não é da minha conta.
– Por que me incomodaria? – ela se limitou a responder.
Meu queixo caiu enquanto eu tentavaencontrar o sentido.
– Vocês… ahm… Ryker disse que você e ele…
– Não estamos juntos. – Ela puxou a orelha do irmão e Ryk chiou,
irritado. – Ry tem essa alucinação de que eu e Sven namoramos. Mas
não é verdade.
– Não tenho alucinação nenhuma. Vocês dois só tem problemas
paraassumir.
Ela poderia ter respondido. Poderia ter revidado e refutado. Usado
argumentos que pessoas normais usariam. Ou poderia ter ficado com
vergonha e fugido do assunto. Porém, em
vez disso, ela apenas o segurou pelo queixo e sorriu, encarando seus
olhos com cuidado.
Sorriu como se ele fosse uma criança muito pequena que não
entende absolutamente nada de sexo ou relacionamentos. Como se a
opinião dele sobre os dois temas servisse tanto quanto a opinião de
uma criança de doisanos sobre física espacial.
Nunca tinha visto alguém tratar Ryker assim. Ele sempre tinha sido o
deus-de- todo-o-conhecimento até onde eu sabia, e ver que havia
alguém no mundo que não apenas ficava mais à vontade com o assunto
do que ele, mas também era incapaz de se constranger com algo dito
por ele foi realmente uma boa dose de ar
fresco.
Eu me virei de volta para o grupo, tomando o cuidado de não fazer
contato visual direto com o senhor Delvak. Ele tinha acabado de
cumprimentar todos aonosso redor, de modo que só faltava Zahner.
– Gareth Zahner. – Eles apertaram as mãos com cordialidade. –
Interpol.
– Ah, então você é o incompetente?
– Como é? – rosnou.
– O incompetente – Delvak repetiu, sem problemas. – É você?
– Não me conhece o suficiente para fazer esse tipo de ofensa. –
Mordeu o lábio. Ele estava tentando ser educado, mas estava exigindo
tudo de si.
– Conhece a definição de
incompetência, senhor Zahner? Significa inabilidade. Inaptidão.
Incapacidade de realizar algo.
– Depende do contexto – Lexa assoviou baixinho, fazendo Delvak
interromper seu discurso, controlando uma careta de irritação. Expirou
fundo elhe ofereceu um sorriso de desagrado.
– Você quer falar por mim? –convidou.
– Acho que eu faria um trabalho melhor do que o seu na maior
parte das vezes. – Sorriu, absoluta, passando um braço pelos ombros de
um Ryker que claramente se divertia com a dinâmica entre os dois. –
Mas ainda estou matando as saudades do meu irmão. Pode continuar,
obrigada.
Delvak abriu um sorriso mais amplo de quem estava lutando para
ser agradável e se voltou para Zahner.
– Até onde sei, você era responsável por cumprir um acordo, que era
manter aqueles dois a salvo. E, até onde sei, você foi incapaz de
realizá-lo. Estou errado? – continuou.
– Não gosto de você. – Gary decidiu em alto e bom tom.
– Homens geralmente não gostam – sorriu. – A não ser que eles
sejam homossexuais. Neste caso, não conseguem se distanciar. – Ele
piscou um olho para Lucy e tenho certeza que a vi corar, o que não
fazia qualquer sentido.
Delvak despiu o casaco e, quando ele
desatou os botões do paletó para se sentar em uma das cadeiras perto
de Luckas, eu soube que ele era o tipo de pessoa impossível de
descrever.
O homem era sexo em um terno caro.
Sexo muito bom, por sinal.
– Então, moleque! – Riu para Ryker e ele foi se sentar ao seu lado.
Me puxou pela mão quando passou por mim. Sentei perto do meu
namorado e respirei fundo.
– O que houve? A parte de ter visto o Kulik matar alguém eu já
entendi. Explique o resto.
Ryker falou rápido e suave, poupando apenas os detalhes que
pertenciam apenas a nós dois e seriam irrelevantes a terceiros.
Começou repassando os eventos da primeira noite em Paris,
ignorando o motivo que nos unira naquela noite e eu lhe fui
profundamentegrata por isso.
Delvak e Lexa se entreolhavam em breves espaços de tempo,
aguardando a conclusão da narrativa que seguia com seriedade, mas
sem maiores problemas. Pelo menos, a cena se desenvolveu assim até
Ryker chegar na parte da ligação que recebeu na Itália. Ele fez uma
pausa para respirar fundo e algo na sua postura deve ter indicado a
Lexa e a Delvak que as más notícias se aproximavam.
A explicação daquela parte da história fez o clima no salão mudar.
Rykmurmurou, em meio a doses precisas denojo e fúria, a participação
de Simak no
nosso reencontro com os russos, a morte de Spider e o motivo de
estarmos fora do programa.
A menção ao nome do pai de Ryker fez Delvak cerrar as mãos em
punhos. Seu semblante alterou-se e o safado brincalhão tinha
desaparecido. Ele estava sério como o dia depois do Apocalipse e Lexa
apoiou a mão em seuombro, apertando-o em uma carícia de conforto.
Sven esfregou os olhos por dois segundos.
– Não vou te enganar, moleque. Você se meteu em um problema bem
sério.
– Eu sei. E detesto envolver vocês, mas…
– Deveria ter nos envolvido antes –
Lexa falou com intensidade. – No entanto, estamos aqui agora e
vamos resolver.
– Ela está certa – Delvak falou. – Não acontece com frequência. –
Sorriu e Lexa ofereceu-lhe a língua em resposta, suavizando o clima de
tensão ao nosso redor.
– Sven… – Ryker pediu devagar. – Não conhece algum policial por
aqui?
Delvak expirou sem pressa, antes de se recostar na cadeira.
– Conheço muitos policiais, garoto. Mas os conheci quando eles
estavam me prendendo. Esse tipo de coisa não é uma boa fundação para
uma relação deconfiança.
– Prendendo? – murmurei. – Você já
foi preso?
– Atentado ao pudor mais do que qualquer outra coisa – explicou,
gesticulando, como se não fosse nada. – Mas isso não importa. Não é
com a polícia que vamos resolver o problema desta vez.
Ryker fechou e abriu a boca como se não soubesse qual era a
intenção de Delvak.
– Nosso problema não é recuperar a reputação do agente Zahner
nem transformar vocês em testemunhas protegidas – suspirou. – O
verdadeiro problema ainda é o fato de vocês dois terem testemunhado
um chefe da máfia russa cometer um assassinato. Esse é o seu
problema que nunca foi devidamente
resolvido. Esqueça o resto! Esqueça o Herbeck e Simak – cuspiu o
último nome. – Esqueça o programa de proteção à testemunha ou as
politicagensda Interpol. Esqueça tudo. Seu problemaé que a máfia russa
quer vocês dois mortos. Suas opções, de acordo com a polícia, sempre
vão ser: morrer ou passar o resto da vida escondidos. Mas a polícia
nunca vai lhes contar que existe uma terceira porta.
Eu não tinha entendido. Contudo, pelas testas enrugadas, olhares
estreitos e narizes torcidos ao meu redor, tinha certeza que não era a
única.
– Sven… – Lexa pediu baixinho. Ao contrário do resto de nós, ela
tinha entendido perfeitamente bem.
– Vocês estão tentando encontrar a solução na lei. – Ele pegou a
mão que Lexa posicionara em seu ombro e a segurou nas suas, numa
tentativa de acalmá-la. – Mas as soluções da lei são uma merda! Agora,
nós precisamos procurar uma solução no crime.
Dizer que todo mundo começou a falar ao mesmo tempo seria uma
gentileza.
As pessoas estavam gritando. A começar por Zahner, que
transformousua gargalhada de escárnio em uma interminável sequência
de ofensas dirigidas a Delvak.
O baque alto fez todos se calarem mais uma vez. Lexa Strome tinha
dado um murro ruidoso em uma das mesas
com tanta força que foi difícil imaginar que ela não teria se
machucado.
– Calem-se todos! – ralhou. – Vocês estão aqui há meses tentando
resolver esse problema e não tiveram sucesso.
– Bem, alguns de nós… – Höfler começou.
– Silêncio! – ela rosnou e ele se calou de imediato. – Errar é
compreensível, só que persistir no erro é estupidez. O modo como
lidaram com tudo até agora foi ineficiente.
– Ou incompetente. – Svenacrescentou.
– Cale-se você também! – rugiu, e ele levantou as mãos em um
pedido de desculpas. – Nós vamos experimentar algo novo agora e eu
não quero ouvir
reclamações. Todos sabemos a gravidade da situação. Não é
brincadeira, não é festa. O que vai acontecer a partir de agora vai ser
ainda mais grave e só por optarem estar aqui, aqueles de vocês que
ainda não estão envolvidos, estão arriscando as próprias vidas também.
E eu não vou permitir que essa situação piore ainda mais por causa de
baderna e infantilidades. Sven tem um plano, vamos ouvi-lo sem
interromper, a não ser que tenhamos algo produtivo a acrescentar ou
uma crítica construtiva pertinente. Fui clara?
O modo assustador como ela se impôs deixou todos nós aflitos e
ávidos para concordar. Delvak esperou alguns segundos antes de ter
certeza que era
seguro continuar.
– O plano é tornar Yuri Kulik irrelevante. Dessa forma, mesmo que
elequeira matar vocês, não poderia fazer isso.
– E como você pretende fazer isso? – Zahner interrompeu e Lexa
ficou lívida.
– Porque nós temos tentado há anos e…
– Vocês têm tentando dentro das leis –Delvak lembrou. – Não preciso
fazer isso e posso ser mais criativo.
– Criativo? É outra palavra para “ilegal”? – Zahner não parecia
confortável com a ideia e eu não o culparia por isso. Pelo contrário,
senti- me aflita por ele. Não poderia ser fácil estar naquela situação: ele
era apenas um cara honesto que tentou nos ajudar e
que agora estava pagando por isso de todas as formas possíveis. Ele
queria nos manter a salvo e acabar com Kulik, certamente. Mas havia
muito mais em risco. Sua carreira, sua reputação. Sua vida...
Sven inspirou fundo como se Gary o deixasse exausto, mas Lexa
tocou seu ombro e falou por ele, talvez sentindo por Zahner a mesma
empatia que eu.
– Senhor Zahner? – ela chamou. – Qual solução o senhor vê? –
convidou, mais polida desta vez. – Procurar ajuda da polícia? Por que
eles acreditariam em qualquer um de nós? Colocar tudo na internet e
correr o risco de sermos todos assassinados ainda assim? Conseguir um
empréstimo e fugir para Bali pelo resto
de suas vidas? Qual é o seu plano?
Gary a encarou em silêncio. Eu vi sua postura mudar. Não era mais
defensiva eestressada. Ele estava considerando…
– Eu não sei – admitiu, finalmente. – Não sei. – Enfiou a mão nos
cabelos e eu senti por ele… O homem que sempre tinha um plano
estava completamente perdido e isso deveria ser mais difícil para ele
do que nós poderíamos compreender. Uma parte de mim desejouter sido
mais paciente com ele nos últimos dias. – Eu queria poder consertar a
situação – admitiu para si mesmo. – Mas não sei como. – Largou- se na
cadeira e apoiou a testa no punho. Foi aí que percebi que ele estava
disposto a escutar.
– Eu tenho um amigo. – Lexa se sentou ao lado do agente com um
sorriso simpático. – Ele dizia uma coisa muito interessante, senhor
Zahner…
– Gary – pediu. – Pode me chamar deGary.
– Gary – ela concordou com uma reverência breve. – Ele dizia que,
ao se deparar com um problema, a melhor coisa que se pode fazer é a
coisa certa. A segunda melhor coisa que se pode fazer é a coisa errada.
E a pior coisa que se pode fazer é não fazer nada.
– Não tenho certeza se estouentendendo aonde quer chegar. – Gary
expirou, cansado.
– Ela está dizendo que vocês já tentaram fazer a coisa certa. –
Sven
sorriu com simplicidade. – Porém, agora, está na hora de fazer a
coisa errada.
As pizzas demoraram a chegar, mas se foram em uma velocidade
impressionante. Espalhamos folhas de papel-ofício pelo chão de modo
a facilitar a visualização da parte da estrutura da máfia russa que
Zahner conhecia.
– Trabalhei nisso durante um bom tempo, Delvak, e é bom que sua
criatividade seja farta mesmo, porquenão vejo nenhuma alternativa.
– Não preciso de alternativas, Zahner.
– Ele tinha despido o paletó e a gravata. Arregaçou as mangas e,
mesmo que eu me amaldiçoasse para sempre, uma parte de mim
desejou que ele viesse me cheirar de novo. – Na verdade, nem
precisava desse seu resumo. Isso foi insistência da Lexa, pois é
escritora e tem essa mania de roteiros, mas eu já sei o que precisa ser
feito.
– Quer dizer que esse trabalho todo foi pra nada? – Lucy reclamou,
indicando as folhas no chão.
– Não importa quanto poder Kulik tenha. Sua influência, seus
conhecimentos, sua força bruta...
– Força bruta? – Devon se interessou.
– Homens e mulheres que trabalham para ele – Delvak esclareceu
antes de
continuar. – Nada disso importa porque tudo isso é sustentado por
uma mesma fragilidade absoluta: dinheiro. – Sorriu ao atingir o clímax
de sua explicação. Ao seu redor, o resto de nós permanecia em silêncio
e seu sorriso de conquista se transformou em uma careta de frustração.
– Sinceramente! Vocês não estão prestando atenção? Sem dinheiro, as
influências dele acabam, ele não tem mais como pagar o pessoal.
Mesmo seus conhecimentos e contatos seriam insignificantes por si só.
Tudo o que precisamos fazer é tirar o dinheiro de Kulik e ele se tornará
irrelevante.
– Então a gente vai roubar um mafioso? Em vez de matá-lo? – Tim
quissaber.
– Acho uma péssima ideia – Devon começou e logo Roy estava
concordando: – Com certeza! A gente não pode votar? Porque, se for
para escolher entre roubar um chefão da máfia ou matá-lo, acho que
matar é maisseguro.
– Vocês ficaram loucos? – Tonya levou a mão ao peito. – Não
vamos matar ninguém! É uma vida humana!
– O pobre coitado que Mina e Ryker viram ser assassinado também
era uma vida humana! – Roy lembrou.
– E ele matou a Spider!
– Foi ele quem matou a Spider? – Tonya arregalou os olhos e Lucy
travou os lábios, em fúria.
– Tonya, sinceramente, você precisa
parar de ficar lendo TMZ no celular e começar a prestar atenção.
– Shh, shh! – Sven pediu. – O plano étirar o dinheiro dele.
– Pensei que a gente ia votar. – Joanie olhou ao redor à procura de
apoio.
– É, eu voto por matarmos ele! – Roy levantou a mão e a
concordância se espalhou pelo salão. Delvak estava escondendo os
olhos atrás da mão e Zahner continuava com sua risada de desespero
como se tivesse certeza desdeo início que aquilo não ia dar certo.
– Eu ainda acho que toda essa gente não deveria estar aqui. – Gary
virou-se para nós.
– É bom que estejam. Vamos precisarde ajuda – Delvak decidiu.
– Gente, por favor! – levantei a voz. – Sei que todo mundo quer
ajudar e somos gratos pela preocupação. Já entendi que é uma questão
de honra para o clube por causa de… – respirei fundo – ... Spider. Mas
a gente precisa ser inteligente. O senhor Delvak parece ter um
entendimento melhor do que está acontecendo, então… vamos tentar…
sópor um segundo… ouvir?
Menos de um segundo depois do meu discurso, todos estavam
falando ao mesmo tempo novamente e percebi que minha razão não ia
alcançar ninguém.
Delvak e Zahner pareciam se encontrar nas imediações de uma
desistência, enquanto Lexa tentava atraira atenção de todos.
Entretanto, eu sabia o que ia funcionar. Peguei a garrafa de vodca
mais próxima e arremessei-a com força no chão. O vidro se espalhou
junto ao líquido transparente e todas as pessoas se calaram.
– Calem a boca! Ou ficam e escutam ou saem.
– Poxa, Mina – Roy chiou. – Precisava ter estragado uma garrafa
de vodca?
– E se derem mais um pio eu começo a quebrar as de tequila! –
esbravejei.
Meus colegas não pareciam felizes,mas estavam resignados e – mais
importante – calados.
– Tudo bem – Lucy aceitou. – Então, a gente vai roubar o chefão do
crime?
– Precisamente. – Delvak cruzou os braços.
– Isso não parece nem um pouco simples. – Ryker coçou a cabeça
olhando para a irmã.
Lexa tocava o lábio inferior com o indicador como se considerasse
uma possibilidade particularmente interessante. O grupo tinha
dúvidas quanto à estrutura representada nas folhas de papel-ofício e
Zahner seocupou de explicar.
– Delvak? – Lexa chamou baixinho, fazendo-o parar de rabiscar
alguma coisa em uma folha de papel para voltar sua atenção a ela. – Por
que não chamamos Lola?
Ele se apoiou sobre um cotovelo e,
embora fingisse considerar, estava claroque já tinha resolvido.
– Acho melhor a gente cuidar de tudodessa vez.
– Por quê? – perguntou, incisiva. – Vamos chamar a Lola! – Sorriu.
– É a ideia perfeita!
– Quem é Lola? – perguntei, observando Ryker que não aparentava
saber mais do que eu.
– Lola é uma pessoa... de conduta questionável. No entanto, é muito
boa noque faz. Sven já a contratou algumas vezes quando precisou que
algo delicado fosse feito.
– Tipo um assalto?
– Mais investigações. Eu espero – acrescentou, demonstrando seu
desejo
de que seu amigo não tivesse cometido alguma ilegalidade. – Por
que nãochamamos Lola? – repetiu, empolgada.
– Ahm… – Ele encarou o chão como se a resposta estivesse anotada
em um dos papéis aos seus pés.
– Sven… – Lexa murmurou com um tom de poucos amigos.
– Digamos que… – bagunçou os cabelos loiros com as mãos –
...talvez eu tenha transado com ela e, por um motivo que não foi culpa
minha – enfatizou, abanando as mãos com os olhos arregalados –,
tenha, talvez, esquecido de ligar para ela depois.
Lexa levou as mãos às têmporas e respirou fundo.
Eu achei que ela ia superar e seguir
em frente, como fez com Ryker. Todavia, desta vez, Delvak deve ter
ido longe demais e os tapas fortes que ela deu em seu torso, costas e
braços chamou a atenção de todos.
– SÓ VOCÊ! – bradou. – Para transar com uma espiã mercenária e não
ligar no dia seguinte! VOCÊ… – Lexa parecia pronta para espumar e
então se calou. Respirou fundo como se transcendesse e levantou um
indicador ameaçador para um Sven verdadeiramente assustado. – Você
vai ligar para Lola e vai pedirdesculpas.
– Não foi culpa minha…
– Nunca é culpa sua! – exclamou, sarcástica. – A vida é linda pra
você,não é mesmo, raio de sol? Nunca faz
nada de errado! E ainda assim o universo explode para todos os
lados. Vai ligar para ela, sim! – repetiu. – Vai pedir desculpas. Vai se
colocar à disposição dela para quantos orgasmos ela achar conveniente
– exagerou. – E vai pagar o que ela solicitar pelo nosso serviço.
– Lexie, você sabe como ela é. – Levantou os ombros. – Teimosa
como uma porta. E se ela resolver se vingar?
O lábio inferior de Lexa tremia de fúria.
– Um dia seu pinto vai apodrecer e cair! – amaldiçoou e ele levou as
mãos a virilha como um reflexo irracional. – Eu vou rir e dizer que foi
bem-feito. E nadadisso vai funcionar! – Apontou para os
papéis no chão. – Precisamos de mais informações sobre as finanças
de Kulik antes de sequer pensar em montar um plano.
O silêncio se espalhou pelo salão, com risadas baixas direcionadas
a um Delvak que só parecia ser capaz de calar a boca se por uma
ordem de Lexa.Mas eu não estava pensando na
interação dos dois… Estava pensando em um modo de obter mais
informações. Quem pode saber o que precisamos sobre Kulik?
Somente uma pessoa dedentro. Alguém da equipe dele. Mascomo
poderíamos saber quem é daequipe dele? E
como poderíamossubmetê-las a um cenário sob nosso
controle?
Uma imagem me vinha à mente. Uma memória, na verdade.
Nebulosa e distante a princípio, foi ficando progressivamente mais
palpável e definida. Eu sabia! Eu sabia como prosseguir a partir dali.
– Precisamos de alguém da equipe do Kulik. Alguém que possa nos
dar informações.
– Sim – Delvak sorriu. – Essa é a ideia. Tem algum plano em
mente, meu amor?
Pisquei diante do tratamento carinhoso e do mel que escorria de suas
palavras. Me senti gaguejar por um segundo ou dois, piscando os
olhos, tentando recuperar o foco.
– Mina? – Ryker me segurou pelo
cotovelo e consegui sentir o solo firme sob meus pés de novo. Ele
sorriu, amoroso. – Pare com isso, Sven – pediu.
– Ela se envergonha com facilidade. – Piscou um olho protetor para
mim e sorri com gratidão.
– Nós já recebemos homens do Kulikaqui antes! – afirmei.
– Quando eles mataram a Spider e levaram o Ryker? – Lucy
levantou uma sobrancelha. – Mina, não sei…
– Não só dessa vez! Teve outra ocasião. – Olhei para Tim,
sugestiva, e ele entendeu.
– Eu os trouxe! – lembrou. – Eles queriam ver a Tímida.
– Mais do que isso! – continuei. – Dessa vez, eles estão procurando
por
nós. Eles já conhecem esse lugar, foi daqui que nos tiraram antes!
Claro que eles devem pensar que seria estupidez buscar esconderijo em
um lugar que seu inimigo já conhece e não devem imaginar que a gente
estaria aqui… mas seria uma estupidez maior ainda não verificar esse
lugar, só por segurança.
– Eles vão mandar homens para comprovar se estamos aqui. –
Ryker meseguiu.
– Mas não podem fazer isso abertamente. Não podem mais mandar
um monte de russos invadir o lugar porque agora esse problema
envolve muito mais que uns capangas do Kulik. Agora, envolve a
Interpol, um senador, toda a máfia russa e sabe-se lá quantas
polícias locais.
– Precisam ser discretos. – Ryker já tinha entendido tudo. – Vai ser
arriscado
– murmurou.
– Mas é o melhor plano. Além da necessidade de averiguar a boate
de um modo discreto, será necessário um motivo.
– E eu posso lhes oferecer um motivo.
– Tim espremeu as mãos. – Posso perder dinheiro no jogo e lhes
convidar para ver a Tímida como pagamento da minha dívida, como da
última vez.
– Tim vive se metendo nessas. – Ryker bateu uma mão na outra. –
Com todo o respeito – acrescentou para o amigo. – Eles não vão
suspeitar.
– E quando eles chegarem aqui – eu ri
– nós estaremos à sua espera.
– Eu não faço a menor ideia do que seja a Tímida. – Sven balançou
a cabeça. – Mas estou adorando tudo.
– Só tem um problema nesse plano. – Ryker se virou para mim,
enquanto o resto da gangue comemorava nosso primeiro avanço. –
Para que eles venham até aqui, precisam estar bem interessados.
Precisa ser algo que valha a pena para eles, para que aceitem como
pagamento do Tim. Vamos precisar gerar curiosidade sobre o show.
Tudo denovo.
– Eu sei. – Engoli em seco e levantei meu queixo com o máximo de
resolução que consegui reunir. – Parece que vou precisar ficar nua no
palco de novo.

O lugar estava consideravelmentecheio.


Seja lá quem fosse o contato de Lexaem Amsterdã
para divulgação deeventos, deveria ser um
excelente profissional. O fato de que seu encontro deveria ter
terminado na metade da tarde e ela ainda não tinha voltado me fez
imaginar como ela poderia ter retribuídoa ajuda de
seu contato com uma prolongada sessão de sexo sujo e suado. O
que seria uma bela merda levando em consideração que eu passei
horas emum avião para acompanhá-la em umajornada através
da criminalidade damáfia para ajudar seu único irmo. Para
piorar, eu não tinha recebido nem um boquete pelo meu trabalho.
Todavia, lá estávamos nós. A boate estava lotada, os avisos sobre o
show da Tímida tinham sido devidamente espalhados e o stripper
viciado em jogo já havia sido enviado em sua missão há mais de uma
hora. Gareth Zahner estavaparado em um dos cantos do salão principal
e parecia mais um segurança do que os próprios seguranças. Era bom
que ele nunca tivesse trabalhado disfarçado. Seria sumariamente
identificado e assassinado em questão de segundos.
Eu ia recriminá-lo pelo seu comportamento, mas a baderna contida
perto da porta dos fundos chamou minha
atenção.
– Não é bom você ficar por aqui, Nila. Você precisa ir!
– Sei que eles estão aqui, Luckas! Eu falei com a Joanie!
– Joanie não deveria ter te contado nada. Menina, por favor, me
escute…
– Era minha irmã! Eles mataram minha…
– Shhh! – O dono do estabelecimentopuxou a bela jovem negra pelo
braço e se enfiou em seu escritório. Ia fechar a porta atrás de si, mas eu
a barrei com o pé e entrei com ele.
– O que está havendo aqui?
– Senhor Delvak. – Luckas encarou o chão, coçando a testa. – Nada,
Nila apenas…
– Não é da sua conta. – Virou seus imensos olhos negros, me
expulsando dadiscussão.
– Por que não me diz qual é o assunto e eu mesmo decido se é da
minha conta?
– convidei.
– O assunto é o novo creme vaginal que eu quero usar para controlar
a infecção na minha boceta. É da sua conta? – rosnou.
Lambi meu sorriso, discreto.
Gostei de você, garota.
– Tem um novo chamado Ingensy que é muito bom. Ainda está na
fase de teste,mas posso te conseguir uns tubos, sequiser.
Enfiei as mãos nos bolsos e esperei sua reação. Ela apenas focou o
olhar em
meu rosto com uma boca entreaberta de dúvida, acho que ela não
deveria conhecer ninguém mais inapropriado que ela mesma. Mas
agora eu estava ali e isso ia mudar.
– Nila, o senhor Delvak é amigo de Ryker. Está aqui para nos ajudar
com…bem, com tudo.
– Qual é o plano? – ela sequer hesitou.
– O plano é você sair daqui e não se meter – decidi.
– Eu já pedi a ela, mas…
– Não vou embora. E, se não me deixarem participar, eu vou gritar
na porta que a máfia russa deveria vir até aqui. Vou até o jornal, se
precisar!
Esfreguei minhas têmporas enquanto
ela terminava a frase. Acho que Zahner estava certo: Ryker deveria
ter sido mais cuidadoso. A quantidade de pessoas que sabia sobre
aquele assunto, que deveria ser secreto, era cada vezmaior.
– E posso perguntar por quê?
– Era minha irmã! – sibilou.
– Sua irmã?
– Ela trabalhava aqui – Luckas explicou. – Os russos a
assassinaram... – murmurou, como se as palavras doessem quando
estalavam em sua língua.
– Entendo…
– Nila, você está muito envolvida com isso. Emocionalmente…
– Estamos todos envolvidos, Lucky! Não venha com esse papo para
cima de
mim! Spider era minha irmã. Ela morreu nesse buraco, assassinada
por aqueles putos de merda e se vocês tem um plano para vingá-la, eu
tenho o direito de participar!
Luckas estava à beira de ser razoável mais uma vez. Eu o interrompi,
porém.
– Vai ser feio – avisei.
– Não me importa. – Seus olhos brilharam de esperança.
– Vai ser ilegal.
– Meu jeito favorito!
Mordi o canto do lábio enquanto considerava.
Se ela já sabia de detalhes, era melhor mantê-la por perto, de
qualquer modo.
– Ela fica – resolvi e a vi sorrir pela
vitória.
– Nós temos um problema. – Zahner abriu a porta e avistei Tim logo
atrás dele.
– Timothy! – exclamei quando eles entraram. – Mas que merda!
Não deveria estar perdendo muito dinheiro em um jogo?
– Eles não foram! – alertou,apressado. – Os russos não estavam lá.
– Como não?
– Eles estão aqui. – Zahner apontou o polegar para o salão. – Estão
sentados em uma das mesas na esquerda há um tempo. Tim acabou de
identificá-los.
– São os putos de merda que mataramAdrill?
– Quem é Adrill? – Tim estreitou os
olhos.
– Spider. – Nila revirou os olhos antes de puxá-lo pela gola. –
Foram eles?
– Não sei.
– A gente precisa sair daqui. Pegar Ryker e Mina…
Luckas estava concentrado em sua pequena crise de pânico enquanto
Zahner parecia se resumir a um pequeno ponto geométrico cheio de
ansiedade.
– Shhh, shhh! – pedi, gesticulando com firmeza. – Vocês estão
enxergando asituação pelo lado errado. São boas notícias. – Ri.
– É melhor você se esconder, Gareth
– Luckas pediu. – Se eles te virem, vão saber quem é.
– Ei, ei! Calma – avisei. – Nós
queremos que eles vejam o Zahner.
– Mas o que diabos, Delvak?
– Vamos fazer o seguinte – coordenei.
– Está armado, Zahner?
– Claro.
– Esconda a arma direito, não os deixe perceber que está armado.
Quero que se sente no bar, peça uma bebida e se comporte como se
estivesse desoladoe embriagado. Pode fazer isso?
– Posso, mas como vou ajudar assim?
– Só obedeça. – Tirei o celular do bolso. Achara que ia ter mais
tempo antes de precisar fazer essa ligação, mas estava errado. –
Agora… – Examinei aoredor, quando coloquei o aparelho no ouvido. –
Qual de vocês sabe usar uma
arma?

Eu não estava com vergonha. Isso era um problema. Um problema


muito sério. Ficoudecidido que Ryker ia me despir sozinho, já
que a combinação com Devon da vez anterior não tinha dado certo.
Quando Tim saiu para umanoite de jogo com seus colegas russos e eu
me vi vestida no camarim por trás do palco sob a perspectiva de ficar
nua empúblico mais uma vez, a sensação que se
apoderou de mim foi de confiança.
Tínhamos um plano dessa vez. Não éramos cegos desesperados. Ter
um focoe um objetivo tinha me preenchido com
a sensação de que podíamos concluir a missão com sucesso.
Podíamos aplicar um golpe, como nos filmes antigos, e podíamos
roubar um chefão da máfia e sair ilesos. Contávamos com o elemento-
surpresa a nosso favor e depois dos últimos meses e de todos os
eventos que marcaram presença na minha vida, eu não estava mais
com medo.
Eu tinha me deparado com o corpo ensanguentado de uma amiga.
Tinha sobrevivido ao pânico da notícia sobre o sequestro de Ryker.
Encarei minha velha vida como uma pessoa nova e recebi de braços
abertos os preconceitos e julgamentos que vieram com a mentira que
eu contei para me
proteger.
Então, agora eu não tinha mais medo. Não tinha medo de fazer algo
ilegal para me vingar de um criminoso que roubara minha vida, nem de
um político corrupto e pedófilo. Não tinha medo de contar com amigos
inusitados, não tinha medo de homens grandes, nem de armas
barulhentas. Em menos de um ano, eu tinha sobrevivido a mais
problemas do que muitas outras pessoas encontram emuma vida inteira,
e essa percepção me injetou com uma dose incalculável de confiança.
O que seria ótimo em qualquer noite do ano. Exceto em uma noite
na qual euteria que apresentar um show chamado “Tímida”.
– Tudo bem com você? – Ryker beijou minha bochecha.
– Tudo está bem até demais – murmurei. – Acho que esse é o
problema, Ryk… Não sei se vou ficar com vergonha.
– Acho que posso resolver isso – sorriu, passando a língua pelos
lábios. Eu gostaria de dizer que fiquei receosa diante de seus planos,
mas não fiquei. Não conseguia imaginar uma frase dita por ele que
pudesse transformar minha confiança em vergonha.
– Não sei, não – constatei, nervosa.
– Olha só para você, duvidando das minhas capacidades! –
cantarolou. – Vou ter que fazer o possível para te mostrar que está
errada – prometeu. – Talvez eu
te deixe completamente nua.
– Pro Höfler me ver? – Ri de suas ameaças vazias.
– Ou eu te como no palco.
– Sem camisinha?
– Eu fiz uma bateria de exames na Itália e você nunca ficou com
outro cara,ficou? – Ergueu uma sobrancelha.
– Strome, se quer saber se fiquei com alguém depois de você, esse
não é o jeito certo de perguntar.
– E qual é o jeito certo de perguntar?
– quis saber.
– Boa sorte! – Lucy se aproximou com um sorriso, mas eu
enxerguei através de seu nervosismo antes que ela explicasse qualquer
coisa.
– O que houve? – Ryker se adiantou,
deixando claro que notou o mesmo que eu.
– Os russos já estão aqui – murmurou.
– O quê? Como? – indaguei. Ryker deu um passo adiante e me
tomou em umabraço protetor.
– O plano já era, Mina. Vamos só seguir com o combinado e deixar
os capangas do Kulik bem à vontade. Vamos fazê-los acreditar que
venceram.
Eu sabia que era tudo parte do plano. Mesmo assim, ele tinha
caminhado mais rápido do que eu pude me preparar. Ryker segurou
minha mão daquele modo carinhoso que lhe era típico, sempre me
suscitando a dúvida se ele queria me reconfortar ou se queria ser
reconfortado. Talvez um pouco dos dois.
Apertei sua mão de volta.
– Como está sua confiança agora? – murmurou quando a música
mudou, anunciando que deveríamos subir ao palco. – Um pouco
abalada? – Sorriu, gentil.
Eu acenei, confirmando. Mas “pouco abalada” era realmente uma
gentileza. Duas frases de Lucy e minha confiança estava
completamente destruída.
– Olhe pelo lado bom – sugeriu. – O show não precisa mais ser bom
e chamar atenção. Pode ser sem-vergonhao tanto que quiser.
Ele estava certo. Pisquei um olho para ele apesar do nervosismo e
senti seus lábios nos nós dos meus dedos.
A boate ficou escura do outro lado da
cortina e a luz clara do holofote iluminou o lugar por onde
entraríamos. Não queríamos penumbra dessa vez. Queríamos ter
certeza que qualquer um poderia nos identificar.
– Pronta? – Ryker me perguntou antesde entrar no palco.
Mas eu não respondi, apenas respireifundo.
Se eu estava pronta? Não faziadiferença.

A cadeira esperava por nós no centro do palco. Eu deveria me sentar


nela e assistir enquanto Mina dançava, resistir alguns segundos e
depois começar a
passar a mão em seu corpo macio enquanto a despia.
A música tocava sedutora e, depois de bons anos trabalhando com
striptease, apesar de meu corpo estar acostumado a seguir seu ritmo de
forma involuntária, eu me percebi calmo e firme.
Meu quadril não se moveu. Minhas pernas não acompanharam a
batida sensual com um rebolado que eu sabia fazer, e que motivava as
mulheres a travarem os dentes nos lábios. Eu apenas atravessei o
palco, puxando Mina atrás de mim, impelindo-a a me seguir. Andei
devagar o suficiente para que o público pudesse demorar o seu olhar
nela. Me virei quando chegamos à
cadeira e eu vi suas bochechas enrubescidas.
Não vai ficar com vergonha, não é?Até parece…
Puxei sua cintura esguia e lambi seu lóbulo antes de sussurrar.
– Você disse que não estava mais comvergonha, não é? – provoquei.
Sentei, permitindo que meus dedos escorregassem pelo seu quadril,
seguindo meu movimento, delineando a barra de sua saia como um
moleque levado. Brincando com meu indicador em uma das pontas,
fingindo indecisão quanto a levantar ou não o pano que a cobria.
– Dança pra mim – pedi, dengoso.
Ela levou as mãos à barriga e tentou
assumir um gingado delicado, mas não era isso que eu queria. Puxei
seu quadril com violência, forçando-a a montar em uma de minhas
pernas. De frente para mim, contemplei suas bochechas vermelhas e
seu ofegar nervoso.
– Não quero essa merda que você dá pra eles todas as noites –
murmurei em seu ouvido, indicando a plateia com um movimento do
meu queixo. – Quero algoespecial. Algo só pra mim.
A luz iluminou seu rosto quando ela se virou de lado observando
seus espectadores e sua vergonha ficou ainda mais avassaladora sob os
tons azuis e vermelhos dos holofotes.
– Ryker… – pediu baixinho. – Não tem como ser só pra você. –
suspirou,
ainda nervosa.
– Esquece que eles estão aqui. – Enfiei meus dedos por baixo de sua
saia, agarrando a popa de sua bunda. Apoiada em meus ombros, ela se
ergueu por um segundo, sobressaltada diante do meu toque. Seu olhar
voltou-se para o mesmoponto na plateia e eu o segui.
Delvak estava em uma das mesas na primeira fila. Tinha um copo de
bebida à sua frente, o cotovelo na mesa e o queixo apoiado na mão.
Observavanossa apresentação com zelo.
– Quer dar um show pra ele? – Mordi seu queixo. – Deixa eu te
ajudar. – Belisquei sua coxa e ela rebolou no meu colo. – Quero
mostrar pra ele o que a minha virgem sabe fazer.
– Sua virgem não sabe fazer nada! – sussurrou em seu típico
desespero e eu tive que lembrar que, embora risadas fossem uma parte
constante dos nossos encontros sexuais, elas provavelmente não
agradariam ao público. Mordi língua e lábio e empurrei seu quadril.
Guiei-a para que se levantasse. Ela obedeceu.
– Rebola pra mim. – Mina olhou ao redor, hiperconsciente. – Ei! –
chamei alto e ela estalou de volta. – Rebola – sibilei, rude. – Devagar.
Apoiei o cotovelo em um dos meus joelhos e assisti Mina rebolar
aquela bundinha linda. Girou devagar fazendo o tecido leve saltar
exibindo um pouco mais de pele. Raspei meus dedos aqui e
ali, sentindo-a se arrepiar.
Olhei para cima, assistindo ao movimento de seu corpo sob a luz da
boate, deixando minha mão se perder emsua pele.
É aquele calor maldito. As mulheres têm um calor bem no meio das
pernas, antes da boceta… Quando você sobe a mão pelo meio de suas
coxas, direto ao ponto especial entre suas pernas… antes de atingir o
seu destino, sua mão capta um calor exalado pela virilha. Um ardor
febril que se apodera de sua mão como se estivesse próxima ao fogo,
numprenúncio do que está por vir. Aquele maldito calor que você sente
na mão quando a coloca entre as pernas de uma mulher e sabe que a
bocetinha está logo
ali. Poucos centímetros mais acima evocê atinge o objetivo.
Mina rebolou no meio de uma plateia inteira. Mas não era para eles
que ela rebolava. Era para mim.
E, quando aquele calor da minha mulher atingiu minha mão, foi
impossível não ficar imediatamente duro.
Aproximei o nariz do seu joelho e estirei a língua para atingir sua
pele. Lambidas leves de saliva e desejo. Ela terminou sua volta e ficou
de frente paramim. Aquela postura rígida e ávida por novas instruções.
– Já fez uma dança no colo de alguém? – murmurei e ela balançou
a cabeça em uma negativa. – Então venha
aqui porque eu quero uma.
Coloquei-a de costas para mim. De pé, com uma de minhas pernas
entre as suas.
– Rebola de novo, amor. Só que dessa vez, até sentar na minha perna.
– Mordi a bochecha da sua bunda e ela emitiu umgrito rápido que quase
me fez esporrar nas calças. – E depois sobe de novo.
Ela obedeceu. Desceu devagar e, quando sua bunda tocou minha
perna, fui eu quem rebolei. Esfregando parte da minha ereção nela.
Qualquer parte. Raspei os dentes em seus ombros quando ela se
ergueu novamente e forcei o movimento para que ela ficasse de frente
para mim.
– Aqui. Assim. – Puxei um de seus
joelhos e coloquei seu pé apoiado na cadeira ao meu lado. Sentei na
ponta do assento, enfiando as mãos por baixo de suas coxas, puxei-a
para mim pelabunda.
Mina vestia uma calcinha, mas não me importava. Enfiei nariz e boca
entre suas pernas e me esbaldei em seu calor delicioso. Lambi,
mordisquei e rosnei. Senti suas mãos nos meus cabelos, embora não
soubesse determinar se foi porque ela buscava mais equilíbrio ou mais
prazer. Mordi seu clitóris e suas unhas se enterraram no meu couro
cabeludo.
Mais prazer.
Puxei o pano da calcinha para fora do caminho da minha língua,
usando os
dentes desajeitados. Respirei fundo e comecei a sentir meu corpo
tremer e falhar. Eu tinha gozado naquelas pernas gostosas não fazia
muito mais de dois dias.
Mas naquela bocetinha… naquela bocetinha rosada, depilada e
suculenta… Fazia muito tempo que eu não gozava ali.
A sensação provocada pela lembrança tomou o controle do meu
corpo como um ataque de pânico. Um frenesi de fúria. Um descontrole
irremediável. Meus dedos agarrados nas bandas de sua bunda puxando-
a mais para dentro de minha boca. Eu sentia a perna ao meu lado,
apoiada na cadeira, tremendo involuntariamente. Ela
começou a gemer e eu soube que queriaengoli-la ali mesmo.
Enfiei a pontinha da língua dentro dela, só para provocá-la. Desferi
uma lambida longa e a empurrei para trás, com cuidado para que ela
não perdesseo equilíbrio.
– Fique nua – pedi. Agora era eu quem ofegava em desespero.
– Ryker – gemeu, miúda. – Você tem que tirar. – Tentou recuperar o
controle me lembrando dos tópicos do show.
– Hoje não – rosnei. – Hoje você tira. Você tira pra mim. – Eu não
consegui controlar minha mão e só percebi que tinha estapeado sua
nádega quando o golpe estalou alto, assustando Mina e fazendo-a
arregalar os olhos. – E vai
tirar tudo – gemi.
Eu não tirei os olhos dela. Não perdi um segundo. Não deixei que
ela esquecesse que só ela conseguia aliviar aquela minha fome.
E ela se despiu. A puta da minha virgenzinha se despiu toda como
um presente pra mim. Tirou cada uma das peças sem qualquer
sensualidade. Despindo-as com tensão, como se fizesse isso dentro do
banheiro de sua casa quando estava com pressa para ir para algum
outro lugar. Mas eu estava duro. Eu estava irreparavelmente duro.
Latejando dentro das calças, meu coração explodia enquanto
bombeava cada gota de sangue exatamente para o lugar certo.
Mina tirou tudo menos a calcinha e o sutiã. Pretos.
Dei dois tapinhas no meu colo e ela obedeceu. Montando sobre
minhas pernas, envolvendo-me com suas coxas.
Seus braços passaram pelos meus ombros e eu senti o cheiro do seu
hálito.
– Desabotoe a minha blusa – decidi.
Seus dedos frágeis e vacilantes assumiram minha camisa e eu enfiei
o nariz na curva do seu pescoço. Apertando sua bunda, sua cintura, o
topo de suas pernas… Lembrando da geleia que comi de seus seios.
Lembrando do sabonete que passei em sua entrada. Enfiei a mão pela
parte de trás de sua calcinha e escorreguei meu dedo entre suas
bandas, provocando a entrada de
seu cu. Mina arfou e rebolou. Eu não saberia precisar quando
comecei a mover o quadril como se a estivesse fodendo, mas aí
estava…
Seus dedos tocaram meu tórax quando minha camisa estava aberta.
Enfiando-sepelas mangas e expulsando o tecido do meu torso.
– Minha calça – gemi. Mas Mina parecia estar envolvida
exatamente pela mesma sinfonia que eu e, mal eu tinha terminado meu
pedido e suas mãos já estavam em meus botões, libertando meu pau
ereto e faminto.
– Onde você quer que eu coloque?
Eu fechei os olhos. É incrível como aquela frase podia ser ridícula
ao ponto de ser anticlímax quando suspirada por
uma atriz pornô ruim, logo depois de gemer que aquele era o pau
mais delicioso que ela já tinha chupado. Mas quando Mina as dizia…
Ela piscava seus olhos doces para mim, ficava vermelha e
perguntavaapenas porque ela realmente queria saber.
Não era falso. Era o exato oposto.
Não havia nada mais verdadeiro do que as dúvidas de Mina e uma
coisa ficou muito clara para mim: eu não ia conseguir ver minha virgem
tirar a roupana minha frente, rebolar sua bundinha exclusivamente para
mim, me perguntar onde eu queria que ela colocasse meu pau e, depois
disso tudo, não comê-la. Seria impossível.
Pus-me de pé rápido demais e o passo para trás que Mina deu me
avisou que ela tinha se assustado.
Mas eu não parei. Eu não conseguia parar.
Avancei com brutalidade, enfiando minhas mãos por baixo de seus
joelhos, apoiei suas costas contra o pole dance à minha frente e a
mantive colada comigo,alinhando nossas virilhas.
– Quero que você coloque aquidentro.
– Ryker… – Um sorriso, seus olhos fechavam como se suas
pálpebras fossem pesadas demais para que ela os mantivesse abertos. –
Coloca... – pediu. Lambi seus lábios e Mina abriu a boca me deixando
entrar com a minha língua.
Bebi sua saliva, gemendo com seusabor.
Puxei sua calcinha para o lado. Mina forçou as costas contra o pole e
me encarou com a boca entreaberta para facilitar a respiração
vacilante. Raspei a cabeça do meu pau em seu suco, mordendo minha
boca em um pedido mudo. Eu queria ter certeza que ela queria.
O gesto de permissão que ela fez foi simples, mas claro. Então, ela
segurou o pole atrás de sua cabeça com uma das mãos e fechou os
olhos, levantando o queixo rumo ao teto.
Um movimento. Apenas um.
Meu quadril se jogou inteiro na direção dela e eu a penetrei.
Eu a penetrei em cima do palco.No meio daquela gente.
Sob os olhares dos russos, do Delvake do Höfler.
Mina manteve os olhos fechados e eutravei os dentes em seu queixo.
Ela me absorveu exatamente como eu tinha antecipado: quente e
suculenta.
Muito quente. Muito suculenta.
Daquele jeito que faz o homem amaldiçoar a mais fina das
camisinhas por jamais ser capaz de oferecer prazer remotamente
próximo àquele.
Pressionei meu rosto contra o vale dos seus seios por dois segundos.
Deixando a sensação se firmar e aquietar. Tomando maior segurança
nos
impactos e no meu movimento. Tudo aquilo não me serviria de nada
se minhas pernas falhassem e eu não conseguisse mais foder Mina
porque estávamos os dois caindo pelo palco.
No entanto, verdade seja dita, era preciso que a queda me deixasse
paralisado da cintura para baixo para que me impedisse de continuar
fodendo a Mina. Principalmente depois de tanto tempo. Principalmente
depois de tanta coisa.
Ela era minha agora. Toda minha. E um ataque nuclear me mataria
com impacto ou radiação, mas eu não pararia o que estava fazendo para
me proteger.
Seus dentes prendiam o lábio inferior com força suficiente para
arrancar carne
e, mesmo assim, não eram suficientes para deter os gemidos que
ainda escapavam com sua respiração e quando coloquei a mão entre
nossos corpos para estimular seu grelinho, girando-o como uma
azeitona carnuda entre meu indicador e polegar, Mina me deu um soco
no ombro com força e exclamou um palavrão delicioso. Me agarrou
pelo pescoço com força e escondeu o rosto no meu corpo. Ela me
embalou e eu a comi. Levantando suas pernas,espremida contra o pole.
Não sei se por vergonha, tensão ou prazer… mas Mina tinha um
jeito de contrair os músculos vaginais de uma maneira que me
enlouquecia. Eu não tinha esquecido daquilo… A cada vez
que, nos últimos meses, eu tinha tentando levar uma mulher para a
cama, tinha lembrado desse apertão perfeito no meu pau e no modo
involuntário como ela conseguia causar tamanho efeito.
E agora, sem camisinha. Sentindo a carne dela na minha carne…
Tudo que eu conseguia fazer era urrar e gemer. Lambendo seu suor
frio, sussurrando minhas juras ao seu ouvido, me derretendo; seu.
Havia passado meses sem ela.
Mina gritou meu nome alto e eu soube que ela tinha atingindo o
clímax.
Senti meu orgasmo se aproximando em uma retrospectiva de todo o
tempo que passara sem ela e de todo o tempo que passei tentando tê-la.
Meu esporro foi libertado com violência, me levando a um dos maiores
êxtases que eu já tinha experimentado na vida, apenas para me fazer
perceber que Mina dava um trabalho do cacete, mas que, assim como
daquela vez na estufa de Bessie, nos cobertores no chão e entre as
flores mal-arranjadas… para mim, ela sempre seria a mulher pela qual
valia a pena esperar.

Sete
Coisas erradas para se dizer
Acenei devagar para Valerik e um meio sorriso arranhou seu rosto
rude, maltratado pelo sol e pelo gelo. Era o moleque que o senhor
Kulik queria vivo e a menina que o senhor Kulik queria morta. Eles
foram imbecis para voltar ao mesmo lugar onde haviam sido
capturados da outra vez.
E ainda por cima tinham nos oferecido um pequeno show antes de
se separarem para sempre. Era poético, de certo modo. Um último
adeus.
Eles se dirigiram para os bastidores quando o show acabou e eu
lancei um olhar de volta para o bar e para o inspetor da Interpol,
curvado sobre o balcão e seu oitavo copo de vodca desde que
chegáramos. Ou pelo menos, deveria ser o oitavo. Eu tinha perdido a
conta em algum lugar perto do seis. E, pelo olhar bêbado em seu
rosto, o agente Zahner deveria ter perdido a conta também.
Ele não seria um problema para nós. O que também era poético, já
que também não pretendíamos ser um
problema para ele. O garoto Strome desapareceria. A garota Bault
ficaria morta para trás. A polícia holandesa seria acionada e chegaria
em suas bicicletas, pedalando velozes pelos becos estreitos e ruas
entre canais e encontraria um ex-agente desertor procurado
internacionalmente sobre o corpo ensanguentado da jovem parisiense
que ele sequestrara.
Simak e Kulik respirariam aliviados. Simak bradaria a todos os
pontos cardeais que jamais desistiria de buscar seu filho enquanto
Kulik o manteria sob seus cuidados como eterno refém… Vantagem
sobre um político influente.
Justiça poética.
Bem… talvez não justiça.Mas poesia.
Ordenei à garçonete que trouxesse a conta. Levantaria apenas
depois de pagar, atraindo o mínimo possível de atenção e acabaria
com tudo aquilo.
O garoto teria que ser forte, mas a garota… a garota ia receber a
partefácil.
Não é difícil morrer nesta vida, é o que Maiakóvski diria, viver é
muito mais difícil.

Assim que saímos do palco, Mina seescondeu atrás das mãos.


– Ai, minha nossa – murmurou,
temerosa. – Ai, minha nossa… minhanossa.
– Mina, calma – ri, afagando seuombro.
– Ótimo espetáculo. – Nila seaproximou e…
– Nila? O que está fazendo aqui?
– Estou com vocês, explico depois – abanou a mão no ar. – Eles
estão vindo.Delvak estava logo atrás dela, seguido de perto
por Lucky, e Mina se
escondeu ainda mais atrás das mãos.
– Estou ofendido – Sven começou, com a testa enrugada. – Se
tivessem me contado o que era o show da Tímida, euteria vindo antes –
reclamou. – Ryker, ótimo trabalho. – Aproximou-se e colocou uma
mão fraternal sobre o meu
ombro. – Gostei do modo como deu as instruções, foi claro, mas ao
mesmo tempo misterioso. Ótimo trabalho,moleque!
Eu abri a boca para agradecer, mas… agradecer a Delvak por
achar que eu tinha feito um bom trabalho comendo minha namorada
não me pareceu razoável.
– E você. – Ele apontou um dedo para Mina. – Eu achei que era
virgem.
– Espremeu os lábios. – Não é comum eu me enganar com essas
coisas. – Mina emitiu um gemido baixo de dor e constrangimento e eu
comecei a sorrir, gesticulando para Delvak ao sugerir que se calasse,
mas ele me ignorou. – Da próxima vez, tente caprichar nos
gemidos, sim?
– Próxima vez? – Mina levantou os olhos arregalados para ele.
– Caprichar nos gemidos – repetiu a instrução. – Sinceramente –
irritou-se.
– Eu estava na primeira fileira e mal conseguia te ouvir. Tem que
lembrar que tem uma música tocando, e precisa ser, no mínimo, mais
alto do que a música, ou então vai parecer que Ryker está tendo uma
péssima performance.
Eu já tinha visto Mina vermelha e com vergonha em outros
momentos. Mas nunca daquele jeito. Ela tinha encontrado uma nova
coloração na sua paleta de timidez e o rosto assumiu um rubor tão
vivo e intenso que tive certeza que ela explodiria.
– Delvak, não faça isso – pedi, tentando salvar minha namorada.
– Ah, perdão. – Ele revirou os olhos.
– Fez um bom trabalho também – elogiou, cansado, e eu percebi
que meu pedido tinha sido mal compreendido. – Conseguiu rebolar
mesmo quando pressionada contra um pole e com os dois pés fora do
chão, e isso não é fácil.
Mina desistiu.
Desistiu de mim, do show, da conversa.
Mas acima de tudo, ela desistiu de Delvak. Passou por nós,
chocando o ombro contra o meu braço e correu para as escadas e o
quarto, ainda contida em seu novo tom de vermelho.
– Por que precisa fazer isso? – sorri, recriminando meu amigo.
– Não preciso. – Pareceu ofendido. – Foi você quem me mandou
elogiá-la.
– Não mandei elogiá-la! – Levantei as mãos.
– Eu estava fazendo críticas construtivas sobre a performance
sexual dela e você me mandou parar.
– Parar de falar! – exclamei. – Não mudar de assunto!
– Ah. – Estreitou os olhos numa expressão confusa.
– Acho que não conhece Sven bem o suficiente, irmãozinho. – Lex se
aproximou. – Ele é incapaz de parar de falar.
– Onde você estava? – Delvak
rosnou, percebendo a chegada da minha irmã. – Sabe que horas
são?
– Respondo suas duas perguntas se perguntar de novo com
educação. – Seus olhos brilharam por trás dos óculos, Sven respirou
fundo e deixou os ombros caírem.
– Estávamos preocupados –generalizou, embora eu não estivesse
nem um pouco preocupado. Lexa sabia se cuidar muito bem e não era
ela quemia servir de isca para mafiosos russos.
– Pierre quis jantar em um lugar afastado e eu não poderia negar
depois de toda sua ajuda com a divulgação do evento de hoje.
– Da próxima vez, dê meu número e eu nego por você.
– Ei! Vocês dois! – Nila chamou, irritada. – Russos. Plano. Alguém
se lembra de alguma coisa? – resmungou, sarcástica.
– Sim, Ryker. Vá para o camarim.
– Não é melhor ele ficar fora do caminho? – Lexa perguntou, eu
podia ouvir a preocupação com minhasegurança em sua voz.
– É melhor você não fugir com seu namoradinho no meio da minha
operação, da próxima vez. – Delvak recriminou.
– Sua operação?
– Porque assim saberia todo o plano. Mas agora não temos tempo:
Ryker vai sozinho, nós voltamos para o salão e você só fica quieta e
me obedece.
Lexa tinha os braços cruzados sob os seios e os lábios apertados em
uma única linha rígida, como se desafiasse Delvak a lhe dar uma
ordem. Qualquer que fosse.
– Temos que sair agora – continuou.
– Ryker vai para o camarim sozinho – sussurrou. Ele estava
realmente tentando manter a resolução, mas era perceptível que o foco
firme de minha irmã começava a constrangê-lo. Olhou ao redor por
um segundo, ciente do perigo que se aproximava antes de expirar
longamente em desistência. – Por favor? – pediu. – Eu te explico em
um segundo.
Ela se virou e lhe deu as costas em resposta. Sven gesticulou para
que eu
andasse depressa e a seguiu de voltapara o salão.

Eu estava no camarim fingindo arrumar alguma coisa e sentia os


segundos se arrastarem demoradamente. Os dois
homens de Kulik não devem ter demorado mais do que dois ou três
minutos, mas, para mim, era como se a Terra tivesse completando sua
volta ao redor do sol umas oito vezes.
Quando finalmente vi seus reflexos no espelho iluminado do
camarim, nem me dei o trabalho de fingir surpresa.
– Boa noite, cavalheiros.
Um deles sorria, mas o outro deve ter percebido na minha
naturalidade que algo saíra do seu controle. Mostrou-me a arma com
autoridade.
– Está de bom humor! Ótimo. – Sua risada era gutural e
deselegante. – Vamos buscar sua amiga e dar uma volta.
Era impossível não lembrar daquela noite, há poucos meses. Tinha
sido idêntica à de hoje e, ao mesmo tempo, completamente diferente.
Homens de Kulik tinham vindo atrás de mim naquela noite também.
Estavam armados e dispostos a matar.
Tudo seria exatamente igual, se não fosse por um detalhe.
– Não, obrigado. – Cruzei os braços.
– Acho que vou preferir ficar aqui. Por que vocês não me entregam
suas armas?
Eles riram e se entreolharam.
– Garoto, se vier conosco em silêncio e chamar sua namorada, nós
levamos vocês até o Kulik. Se der trabalho, a gente te mata e leva só
sua namorada para o Kulik.
– E se diverte com ela no caminho –o outro acrescentou e eu senti o
sorriso presunçoso abandonar meu rosto pela primeira vez. – Esse
show todo nos deixou com vontade.
– Olhe para isso, Valerik. Agora ele se calou. Acho que seu
argumento foi bom.
Mantive meus braços cruzados e não
senti mais vontade de rir.
– Vocês deviam me entregar suas armas. Agora – avisei.
– Ah… eu entrego – riu, debochado.
– Se você pedir por favor.
Eu ri ao ver Zahner se aproximar por trás deles, a arma alinhada
com a cabeça de um deles.
– Por favor – pediu por mim.
Os homens se sobressaltaram e seviraram.
Nila, Luckas, Brout e Delvak seguiam Zahner de perto,
Nila e Brout empunhando armas, Luckas com um bastão velho e
Delvak com seu sorriso. Espalharam-se assim que entraram no
camarim, cercando os homens de Kulik.Um deles se rendeu
primeiro. O
outro rosnou um ou dois palavrões em russo antes de estender a
arma à sua frente.
– E eu estava preocupado que não falássemos a mesma língua. –
Delvak brincou ao esticar a mão para lhe tomar a arma. – Mas acho
que ameaçaé uma língua internacional.
Ele se distraiu com o som da própria voz e Valerik lançou o punho
contra o seu rosto. Sven tinha bons reflexos e conseguiu escapar do
golpe por um mísero centímetro. Meu coraçãoexplodiu dentro do peito
quando a mão do nosso inimigo se firmou na arma, o dedo buscando o
gatilho. Delvak perdeu o equilíbrio, mas mesmo que estivesse firme,
seus reflexos não
seriam capazes de mantê-lo longe do percurso da bala.
Minha boca estava aberta, mas não tive tempo para gritar.
O som estalou poderoso, me fazendo levar as mãos à cabeça. Meus
ouvidos apitavam ruidosamente, mas eu ainda conseguia ouvir a
sequência de baques abafados pela potência da música eletrônica que
tocava lá fora.
Eu gostaria de, ao narrar esta história, contar que fui de maior
serventia. Todavia, a verdade é que, enquanto eu ainda estava
tentando me adaptar a mudança e decidir o que fazer, os instintos de
Zahner já tinham reassumido o controle da situação.
Valerik caíra no chão. Sangrava pelo
nariz e boca, depois de receber três golpes de Gary, um deles
usando a própria pistola. O homem estava desarmado e quase
inconsciente.
– Aqui. – Ofereceu algemas para Nila e ela ajudou Brout a
neutralizar o outro… O que tinha se rendido primeiro.
– Olhe pra isso. – Delvak tinha o lábio dobrado de admiração. – O
agente serve para alguma coisa no fim das contas. – Impressionou-se.
Zahner apenas lhe ofereceu um olhar impaciente e uma careta
desgostosa.
– De nada – resmungou, enquantoguiavam os homens para fora.

– E agora? – Enfiei as mãos nos bolsos, enquanto Luckas nos


confirmava que poderíamos prosseguir com o plano, após conferir que
o resto da gangue tinha mantido o salão sob controle e ninguém
desconfiava denada.
– Agora você sobe para ficar com a garota – Sven murmurou. – Eu
cuido doresto.
– Cuida como? – Zahner quis saber.
Delvak olhou para a porta dos fundos, calculando o melhor
caminhopara sair sem ser visto por ninguém.
– Com um pouco de ajuda. – Sorriu, misterioso.

Fiquei de pé, encostado na porta fria do carro estacionado.


Assistindo aos meus oito seguranças dançarem ao meu redor, em
constante vigilância para se certificar que nenhum perigo nos
surpreenderia.
O beco do lado de fora da boate era mal iluminado, elemento
imprescindível para um bom lugar de negócios. No letreiro, lia-se a
inscrição “Lucky’s” desenhada em um vermelho irritante de neon.
Seja lá qual fosse o presente que Sven Delvak tinha para mim,
aquele era um lugar peculiar, diferente das luxuosas boates e clubes
eróticos emque ele geralmente conduzia seus negócios.
Mas… desde que fosse um bom cavalo dado, eu não olharia seus
dentes.
Verifiquei as horas. Ia precisar lembrá-lo de que eu era um homem
ocupado e que, da próxima vez que precisasse de minha ajuda, iria
precisar ligar com maior antecedência.
– Hideki-sama.Sama.
Ele nunca se dirigia a mim com respeito a não ser quando queria
algo. Era seu modo arrogante de pedir “por favor”, sem nunca
realmente dizer as palavras.
– Senhor Delvak. – Apertei a mãoque ele estendia.
Atrás dele, dois homens armados
conduziam dois outros algemados.
– O que temos aqui?
– Temos dois cavalheiros russos –anunciou.
– Russos? – Senti meus olhos se abrindo forçosamente.
– Sim. – Ele me ofereceu seu melhor sorriso sedutor e empresarial.
– Hideki, tenho uma proposta de negócios para lhe fazer.

Apertei a mão de Delvak e o assisti fechar a porta da boate depois


de deixar seus prisioneiros sob o controle dos meus homens. Os
detalhes de nosso acordo ainda precisariam ser
estabelecidos, mas eu não via como aquilo poderia beneficiá-lo
mais do que a mim.
Observei meus cativos nos olhos.
Aquela seria uma ótima noite.
– Acabei de fechar um negócio muitobom envolvendo vocês dois.
– Sorri.
– Não vamos te contar nada.
– Ah, vão sim. – Ri da inocência deles. – Vão me contar tudo o que
eu quero saber e vão passar para Kulik exatamente a informação que
eumandar.
– Vai nos ameaçar, agora? Nós sabemos como funciona, japonês.
Não vai fazer conosco nada que já não tenhamos feito com outros
homens.
– Não se incomoda se eu discordar, não é mesmo? – Tirei o lenço
do meu bolso. – Nós, japoneses, podemos ser bem criativos. – Usei o
lenço para proteger meus dedos de sua imundície quando enfiei meu
indicador sob o queixo do seu colega, verificando seu rosto. Os que
ficavam em silêncio quando capturados geralmente eram mais difíceis
de submeter. Encarei seus olhos frios por um segundo, aceitando o
desafio.
– Vai nos matar? – o silencioso quis saber.
– Matar? Não. De modo algum. – Soltei seu rosto e lhe ofereci um
sorriso reconfortante. – Vou lhe oferecer umemprego.

Mina estava deitada na cama com a cabeça enfiada embaixo dos


travesseiros, como um avestruz.
– Amor? – chamei, tentando não rir.
– O mundo acabou? – choramingou.
– O quê?
– O mundo? – chiou, debaixo dos travesseiros. – Acabou? Todo
mundo morreu? Porque eu só saio daqui quando isso acontecer.
Me coloquei de quatro sobre a cama e fui engatinhando até cobrir
seu corpo com o meu. Me deitei por cima dela, esmagando-a com meu
peso.
– Onde está Mina? – murmurei, escavando o caminho até ela
através
dos travesseiros. Faltava apenas um, que eu empurrei para o lado
o suficiente para poder ver seu rosto quando rolei, me deitando ao
seu lado.
– Não foi tão mal assim.
– Ryker – gemeu. – A gente tem definições diferentes de “mal”.
– Podia ter sido pior.
– Ah, na minha vida abençoada? – reclamou, sarcástica. – Eu não
duvido que nada possa ser pior! No entanto, acho pouco provável que
dessa vez isso fosse possível.
– A boate podia ter pegado fogo.
– As pessoas iriam embora e não teriam assistido até o fim! Teria
sido melhor.
– Mas... você estaria distraída
comigo e nós seríamos interrompidos por bombeiros com jatos de
água.
– Eu preferia isso aí.
– Ou o Höfler podia ter subido no palco – arrisquei o pior cenário
que eu poderia imaginar.
– Você ia ter ficado com raiva, brigado com ele e a gente teria
saídodo palco mais cedo – decidiu. – Eu preferia isso também.
Mordi o lábio pensando em algo que poderia ser verdadeiramente
horrível. Encostei minha testa na dela arregalando os olhos em
antecipação a pior das hipóteses: – Você podia não ter gozado.
Mina emitiu um longo rosnado de dor e puxou o travesseiro de
volta para
cobrir o próprio rosto.
– É sério! Já imaginou? Eu lá em cima do palco fazendo o meu
melhor e você não gozar? – continuei a piada na tentativa de fazê-la
rir. – Ia ser horrível.
– Eu gozei na frente daquela gente. –Eu mal conseguia compreender
suas palavras, abafadas pelo travesseiro. – Aquela gente lá fora sabe
o que eu grito em um orgasmo. Quero morrer.
– Por que não disse que não queria?
– Porque eu queria – resmungou, dolorida. – Mas agora eu queria
não querer.
– Amor! – Esperneei na cama, devagar, fazendo o impossível para
nãorir de sua situação. – Já passou. Então,
é melhor aproveitar e se preparar pra próxima.
– Próxima? – Ela se livrou do travesseiro e me encarou com olhos
felinos. – Strome, eu nunca mais subo naquele palco com você! Nunca
mais nem fico perto daquele palco com você!Nunca mais faço nada em
público perto de você! – Eu acenava em concordância com suas
afirmações desesperadas. – Na verdade, decidi que vou passar o resto
da minha vida aqui dentro desse quarto.
– Posso ficar também? – perguntei temeroso, quando ela se
escondeu em sua caverna improvisada mais uma vez, porém, não sem
antes arremessar um dos travesseiros na minha cara. – Você
nem perguntou se a coisa com os russosdeu certo – lembrei.
– Tomara que tenha dado errado – gemeu, escondida. – Deixa a
porta destrancada, se eles quiserem entrar pra me matar é mais
rápido.
– Mina! – Tirei os travesseiros do caminho. – Não diga isso! – Me
chateei.
– Eu não sou como você! – arfou. Seu rosto ainda estava
perigosamente vermelho. – Não sei o que fazer agora!
Larguei os travesseiros na cabeceira da cama e me apoiei sobre
eles antesde abrir o braço.
– Agora você me abraça – resolvi. – A gente acabou de fazer amor,
eu gosto de ficar abraçado depois que faço
amor.
– Eu nem sei para o que eu reviro os olhos primeiro! – exclamou
indignada. Mas pelo menos ela estava se sentando na cama. Animação
era bom sinal. – Para o fato de que você considera “fazer amor” um
sexo em cima de um palco, contra um pole, na frente de uma plateia.
Ou para essa sua conversa fiada de que gosta de ficar abraçadinho
depois de…
Eu a puxei com força para o meu colo. Tapei sua boca com uma de
minhas mãos e usei minhas pernas paramantê-la imobilizada.
– Pronto. – Afaguei seus cabelos com a outra mão, exagerando na
intimidade de nosso momento, claramente forçado
para ela. – Você é tão romântica, minha linda. Obrigado por ficar
abraçadinha comigo depois que fizemos amor.
Foi impossível não rir.
Mas bem… considerando que eu tinha conseguido sobreviver até
esse ponto sem emitir nenhuma risada, acho que eu já estava pronto
para sercanonizado.
Ela gemeu irritada, com minha mão tapando sua boca, balbuciando
palavras incompreensíveis.
– Ah, é verdade – provoquei. – Foi um sexo muito gostoso.
Seus olhos se estreitaram e suas palavras ficaram mais afiadas.
Acho que escutei um “Ryker” no meio de seus rosnados sob minha
mão.
– Eu também quero de novo, amor. Mas um homem precisa
descansar. – Eu podia ver nos seus olhos que ela estava detestando
minha brincadeira. – Você precisa ser um pouco menos insaciável
– reclamei. – Gosto desse seu jeito safado, mas um cara precisa de
um pouco de tempo. Só uns minutos ou…
Ela lançou o joelho contra minha virilha e a brincadeira perdeu a
graça. Toda a graça.
– Pronto – chiou. – Pode ter os minutos que quiser agora.
Satisfeito?Protegi minha virilha com as mãos e lhe lancei um olhar de
revolta antes de girar para o outro lado para me proteger de sua
personalidade maldita.
– Sua mulher cruel – sussurrei.
Mina espremeu os lábios, observando meu sofrimento por dois
segundos e então se aproximou.
– Desculpa! – pediu, alto demais. – É que você me irrita! – Passou
as mãos pelos meus cabelos com um olhar verdadeiramente
arrependido e eu exagerei a careta de dor para receber maiores
cuidados. – Por que precisa fazer isso justo quando estou com
vergonha?
– Está doendo – choraminguei.
– Sinto muito. – Beijou minha testa e escorregou a mão pelo meu
tórax. Eu conheço Mina bem o suficiente para ter certeza de que,
quando afagou minha virilha atingida, foi apenas com a intenção de
fazer um agrado em um
zona machucada. Mas é claro que meu pênis não recebe afagos em
silêncio…
– Seu descarado. – O tapa no meu ombro estalou alto.
– Ai! Por que eu apanhei? – Arregalei os olhos. – A joelhada no
saco até entendi – admiti. – Mas esse tapa agora eu não mereci!
– Está ficando… – Abanou as mãos rapidamente, sugerindo
palavras que não queria pronunciar. – …animado – escolheu, me
fazendo revirar os olhos.
– Sério que você não consegue dizer “ereto”, “excitado” ou “de
pau duro”, Bault? – recriminei, incrédulo. – A gente acabou de foder
na frente de umas sessenta pessoas e você está preocupada com
vocabulário?
Apanhei de novo.
– Certo – aceitei. – Esse eu mereci.
– Você fingiu que tinha doído, mas estava duro! – reclamou.
– “Fingi”? Você me deu uma joelhada!
– Não foi tão forte assim.
– Não importa! Pênis não foram feitos para receber qualquer tipo
de impacto, sua maluca! Foram feitos para ser tratados com carinho.
– Alisei minha ereção com amor e ela começou a rir.
– Dramático.
– E ele só levantou porque você veio com essa sua mão safada e o
acordou.
– Pare de tratar seu pênis como se fosse uma pessoa. – Riu.
– Fale mais baixo! – Balancei as mãos. – Senão ele te escuta, se
ofende eaí você vai reclamar quando ele se recusar a colaborar.
– Até parece que ele alguma vez na vida se recusou a colaborar.
– E é exatamente por ser um trabalhador tão fiel que deve ser
respeitado.
Mina se jogou nos travesseiros, rindo, e eu repousei minha cabeça
em seu estômago, bem abaixo dos seus seios.
– Eu sei o que está fazendo. – Suspirou. – Obrigada.
– Por ter te explicado como pênis funcionam? De nada. Não foi a
primeira vez.
– Não. – Riu e deu um tapa leve e brincalhão em meus cabelos. –
Por me distrair.
Me virei rapidamente, plantei um beijo rápido na sua barriga e
enlacei sua cintura com meus braços.
– Não sei como vou encarar todo mundo depois, Ryk… – confessou.
– Quer vê-los transando também? Porque, se isso ajudar, tenho
certezaque pode ser arranjado.
– Ryker, é sério. A gente transou na frente de todo mundo. Como
pode estar tão tranquilo com isso?
Me apoiei sobre o cotovelo, forçando meu corpo para cima até
alinhar nossas bocas. Eu a beijei sem pressa.
De início, meu plano era beijá-la e
dizer algo que eu sabia que iria acalmá-la. Entretanto, nossas bocas
se juntaram e eu esqueci o que ia fazer depois. Posicionei a mão em
sua nuca e a mantive por perto. Prologamos o toque de lábios e
salivas. Colocar a boca de Mina na minha era um ato sacro. Eu podia
fechar os olhos e sentir toda a capacidade sensitiva do meu corpo se
concentrar no ponto entre nossos lábios. Aquela pequena porção de
carne macia e gostosa que eu podia mordiscar e lamber, me enchendo
desatisfação.
Foi assim no dia na estufa de Bessie. Não no dia em que fui seu
primeiro homem… mas no dia em que a beijei. No dia em que nos
escondemos e Mina
se tornou minha primeira mulher… A primeira para quem eu tinha
contado tantos detalhes da minha vida. A primeira com quem eu tinha
me sentido completamente vulnerável e protegido de verdade. A
primeira que tinha sido não apenas amante ou amiga, mas uma
companheira. A primeira mulher que eu tinha beijado por horas sem
pensar em sexo.
Era aquela boca.
Aquela boca perfeita que era minha maldição em tantos sentidos.
Aquela boca que sorria e me fazia esquecer as palavras, que se
espremia de vergonha suscitando o meu riso, que deixava escapar uma
língua descarada estirada para mim ou que me beijava
como se eu fosse o único homem do mundo. Me beijava como se
visse em mim exatamente o que eu via nela, e não havia sensação no
mundo mais plena ou satisfatória do que aquela.
Meu polegar girava por sua pele causando arrepios. Sua mão no
meu tórax. As unhas se movendo de leve em um arranhão suave.
Enfiei os dedos pelos seus cabelos, mal conseguindo continuar o
beijo, tamanha era minha vontade de sorrir.
Mina mordeu meu lábio inferior e o sacudiu de leve para os lados,
antes de me soltar.
– O que foi? – Ela riu.
– Eu te amo.
– O quê? – Seu sorriso sumiu.
O quê?
Eu não sabia o quê.
– Hum? – consegui exalar um gemido curto e pela primeira vez
desejei que ela não estivesse tão perto.
– O que você disse? – sussurrou com os olhos arregalados.
É, imbecil, o que é que você disse?
O que é que você abriu essa porra dessa sua boca imensa para falar
sem pensar nem por um segundo?
– Nada – murmurei. – Você ouviualguma coisa?
Ela estava perto demais. Eu não conseguia pensar.
Mina manteve seus olhos fixos em mim, sem conseguir entender o
que estava acontecendo comigo.
Uma pena que ela não estivesse entendendo, porque, se estivesse,
ela poderia me ajudar, já que eu estava completamente perdido.
Por que eu tinha resolvido dizer aquilo?
Por que agora?
Não houve um momento de realização. Não houve ato ínfimo ou
demonstração grandiosa. Nada de especial tinha acontecido. Eu
apenas a beijei, abri a boca e…
E agora?
Eu queria inverter os papéis e pedir para ela me explicar o que eu
deviafazer.
Me ajoelhar no chão?
Isso, Ryker, seja um imbecil.
E mais que um imbecil! Seja um imbecil de um filme de época, em
que as mulheres se casavam na adolescência com homens escolhidos
por seus pais. Que ótima ideia.
Beijo a mão dela?
Tenho quase certeza que isso também deve ser cena de algum filme
idiota.
Se Mina gostasse de comédias românticas eu poderia, no mínimo,
passar uma imagem adorável com uma dessas atitudes. Mas a maldita
gostava daqueles filmes de drama em que alguém sempre vai embora
em alguma jornada de autodescoberta. Será que essa era a expectativa
dela? Que eulevantasse da cama e fosse passear pela boate enquanto
pensava no que
fazer e tentava descobrir minhas verdadeiras intenções antes de
voltar com uma conclusão apoteótica em que nem eu nem ela
saberíamos o que eu diria?
Seria uma linda jornada. E bem curta também.
Principalmente se eu topasse com Delvak ou Lucy assim que
descesse o último degrau da escada. Seria épico explicar para eles
dois o motivo do meu passeio. Digno de uma comédia para eles e um
drama para mim.
Contudo, não houve joelho no chão. Nem beijo nas mãos. Nem
jornada de autodescoberta.
Eu só fiquei ali, parado e perdido. Me sentindo preso e violado
por uma
emoção que eu não lembrava de jamais ter experimentado… E
certamente nunca naquela intensidade: um sorriso de Mina, três
palavras minhas, seus olhos nervosos fixos em mim.
Eu estava morrendo de vergonha.
Era péssimo. A pior sensação do mundo.
Como diabos Mina conseguia viver com isso o tempo inteiro?
Ela estava certa: deveria ser horrível conviver com alguém como
eu, que se divertia de sua situação.
Eu queria reagir. Queria mudar de assunto. Queria lhe dirigir uma
pergunta. Estava disposto a qualquer coisa que acabasse com aquela
minha sensação terrível.
Mas os segundos se prolongaram.
Se prolongaram longamente, até a expressão de Mina se suavizar
em uma desistência contida e hesitante.
Ela respirou fundo.
Meu coração parou de bater até eu ouvir suas palavras.

– Achei que tinha dito alguma coisa.


– Suspirei.
Ryker estava prendendo arespiração.
Eu sabia o que ele tinha dito. Sabiamuito bem.
Eu não tinha ouvido errado.
Mas, se ele tinha preferido voltar
atrás, era melhor respeitar sua vontade.
Organizar uma trama para roubar um mafioso, transar na frente de
um monte de gente e me deparar com um “eu te amo” de Ryker era
mais do que eu podia aguentar naquele momento.
Tentei lhe oferecer um sorriso natural, mas tive certeza da falsidade
estampada em meu rosto. Ele ainda me observava como se esperasse
uma continuação da conversa.
– Vai me contar o que houve com os russos? – Engoli em seco.
Seus olhos fitavam os meus, aguardando, silenciosos. Como se
mantivessem uma constante esperança que eu fosse dizer mais alguma
coisa.
Mas o quê?
O que ele queria que eu dissesse? “Eu também te amo “? Logo
depois
que ele retirou o que disse? E o que ele responderia depois?
Eu gostava muito dele. Estava apaixonada. O sexo era divino. Eu
confiava nele.
Mas se era amor? Eu não sabia.
E, verdade seja dita, sempre imaginei que, se nosso
relacionamento se prolongasse, seria eu quem diria algo assim
primeiro. Ou pelo menos,seria eu quem perguntaria a ele.
Nunca imaginei que ele pudesse simplesmente soltar essas palavras
assim. Do nada.
“Se nosso relacionamento se prolongasse…”
Tudo com Strome tinha sido intenso e maravilhoso. Mas tinha sido
igualmente rápido. Poucas semanas juntos, seguidas de meses sem nos
ver. Sempre cercados por esse clima de tensão e desespero que
tornava todas as experiências mais urgentes. Será que nós
resistiríamos a uma semana normal? Será que ele ainda acharia
minha vergonha linda depois de um dia de trabalho? Será que o sexo
continuaria tão excitante depois de meses juntos? Será que eu seria
suficiente para ele, mesmo com todas as minhas inseguranças? Será
que ele seria suficiente para mim, apesar de
todas as suas incertezas?
Eu estava acostumada a cultivar raízes grossas e profundas. Mesmo
que eu não tivesse uma família além de Elise, tinha um lar e gostava
dessa sensação. Ryker era o oposto: conduzia uma vida nômade, sem
planos, vivendo no improviso depois do trauma que experimentou em
sua infância. O único lar que ele já experimentou tinha sido
pervertido.
Quando todo aquele calor de uma situação emergencial, de quase
morte e de novidade após novidade se esvaísse, será que nosso
sentimento ainda existiria? Ou será que nós dois apenas tínhamos
encontrado conforto um nos braços do outro em um momento ruim,
não por opção, mas porque não tínhamos mais ninguém a não ser
um ao outro?
Ele ainda sustentava um sorriso esperançoso e eu quis dizer.
Quis dizer as palavras que imaginei que ele quisesse ouvir.
Eu queria amar Ryker. Queria que ele me amasse.
Queria que o plano de Delvak desse certo para que eu e Ryker
pudéssemos nos amar pelo resto de uma vida bem longa e tranquila.
Liste, Mina.Liste.
1 – Ryker disse que me ama.
2 – Ryker retirou o que disse antes de me dar a chance de
responder.
Se ele apenas tivesse dito que me amava eu poderia… poderia
compartilhar com ele todos os meus medos. Poderia expressar tudo.
Mas ele voltou atrás. Ele se arrependeu.
Um cara como Ryk é acostumado a muito sexo e pouco sentimento.
Se eu desrespeitasse seu arrependimento e quisesse conversar mais, eu
poderia acabar por afastá-lo. Ou pior… forçá- lo a confessar um
sentimento que me obrigaria a corresponder.
Eu não queria dizer “eu te amo” para ele só por medo de morrer.
Não era justo.
E talvez fosse exatamente isso queele tivesse feito…
Ryker se curvou e riu para o chão.
Um sorriso triste e desolado.
As palavras se amontoaram em minha língua. Mas não era certo
proceder desse jeito. Se um dia eu confessasse aquelas três palavras
para alguém não seria por medo ou pânico.
Ele se moveu na cama e eu inspirei, pronta para lhe pedir que
conversasse comigo, mas ele me segurou pelo braço e me beijou. Foi
feroz e súbito, me puxou para si, mordendo meus lábios.
Desejei me entregar, mas não parecia natural. Algo no modo como
ele me olhava… Como o Ryker dos primeiros dias naquele quarto, o
Ryker que me provocava e queria me comer para provar um ponto.
Não era o Ryker
que me fazia sentir a salvo, o Ryker queme chamava de “amor”…
Pressionada contra o colchão, ele colocou minhas mãos acima da
minha cabeça, mordendo meu queixo. Suspirando no meu pescoço.
Afogando sua frustração no meu corpo.
Eu não queria aquilo. Não o queria daquele jeito.
Queria meu Ryk de volta.
Por favor, que eu não o tenha quebrado! Por favor, que eu não
tenha destruído tudo.
Segurei seus ombros sentindo a pressão avassaladora de todos os
problemas que nos cercavam. O medo, a tensão, a raiva, a ousadia…
Cadaetapa de cada problema que superamos
juntos e que ainda teríamos que superar.
Era demais. Era uma tensão insuportável que se espalhava pelo
meu corpo inteiro. Toquei os ombros de Ryker e o empurrei devagar.
Sua mão atingiu o meio das minhas pernas no mesmo momento. Seus
dedos bem treinados alcançaram meu clitóris. O beliscão foi rápido e
firme e meu corpo se desfez em ondas e vibrações.
Todo o desespero e tensão que assumia meu corpo de forma
descontrolada se concentrou imediatamente naquele ponto mágico
atrás do meu umbigo.
Entretanto, meus lábios já tinham deixado escapar: – Ryk, não.
Para.
Ryker se afastou e tirou as mãos do meu corpo. Seu semblante
preocupado, suas mãos nas minhas bochechas, procurando no meu
olhar a respostapara o que estava errado.
Ah, ele está aqui.Meu Ryker.
Estava ali.
Estava triste, decepcionado, arrependido.
Talvez até com medo.Mas estava ali.
Estava usando sexo como uma distração.
Talvez não fosse o meu primeiro reflexo depois de um “eu te amo”
não correspondido, mas agora que ele tinha apertado meu botão, eu
estava ligada e
querendo mais.
Ele se inclinou para trás, de modo a sair de cima de mim.
Obedecendo a minha vontade.
Mas agora eu tinha mudado de ideia. Ainda tinha as mãos em seus
ombros quando o puxei de volta e o beijei.
Puxando sua nuca, cravando as unhas na sua pele.
– O quê? – suspirou quando nossos lábios se soltaram. – Você
pediu paraeu parar.
– Mudei de ideia. – Sorri. – Fica comigo.
Seus lábios eram uma única linha rígida. A expressão indecifrável
demonstrava que ele estava fazendo algum cálculo impossível por
trás de
seus olhos esverdeados.
Sacudiu a cabeça, apoiando a testacontra a minha.
– Está com pena de mim? –sussurrou.
– O quê? Ryk! Não! – eu me preparei para o monólogo mais
apressado da minha vida, mas palavra alguma foi dita. Ele tomou
minha boca mais uma vez. Despiu o roupão que eu tinha vestido
precariamente e me estimulou em todos os lugares de que eu gostava.
Em todos os lugares de que ele gostava. Eu ainda não tinha tomado
banho depois do show e ainda estava molhada,
resquício dos líquidos sexuais meu e dele. Ryker estava ereto e
eu fechei os olhos quando uma de
suas mãos guiou meu joelho para lhe dar passagem. Esperei que ele
se enterrasse em mim, mas em vez disso, senti-o ao meu lado, rolando
para alateral da cama.
Abri os olhos e vi seu braço estirado para o criado-mudo, a mão
enfiada na gaveta procurando…
Ele pescou uma tira curta de preservativos que deveria estar lá há
alguns meses. Rompeu uma das embalagens e vestiu a si mesmo, antes
de me penetrar.
É ridículo, não é? Como coisas minúsculas conseguem assumir
proporções monstruosas?
Sempre usamos camisinha. Nossa! Até tínhamos desistido de
penetração
há poucos dias, mesmo depois de tanto tempo de saudade, apenas
porque não tínhamos preservativo.
Ele me fizera vesti-lo em uma ou outra ocasião que eu detestei
sumariamente. Era complicado colocar aquela coisa em um pênis
ereto; eu não sabia qual lado desenrolar e sempre me sentia boba
precisando de instruções.Preferia que ele mesmo colocasse.
Mas não hoje.
Hoje nós tínhamos transado sem camisinha e ele tinha dito que me
amava.
Eu queria que ele me cobrisse e fizesse amor comigo.
Era estúpido… Preservativo era uma questão de proteção e
respeito, mas…
mas depois de tudo… eu sabia que era irracional, mas queria que
ele tivesse retomado de onde havíamos parado.
Ou, se era para usar a camisinha, que ele me fizesse vesti-lo. Que
fizesse suas brincadeiras irritantes e me deixasse com vergonha.
Era nossa dinâmica. Nossa interaçãoíntima.
Sem ela, eu sentia como se eu fosse mais uma.
Só mais uma das incontáveis mulheres que ele comeria em silêncio.
Vestindo a camisinha em si mesmo para atingir seu próprio prazer
mais rapidamente.
Ryker gozou de forma modesta e eu ainda não o tinha
acompanhado.
Eu senti lágrimas caindo dos meus olhos, arrastando-se pela lateral
do meu rosto.
– Não gozou ainda... – Sorriu. – Vou cuidar disso imediat... Mina?
Ryker se afastou, preocupado, tomando minhas lágrimas com os
polegares, secando meu rosto.
– Mina? – repetiu, alarmado. – Oque houve? O que aconteceu? Eu
devia ter parado? Mina, sinto muito!
– Não, não foi nada. – Consegui sorrir. – Eu só… só fiquei triste.
Mas jápassou. – Empenhei-me mais no sorriso.
Ele ainda resfolegava e me observou por alguns segundos,
analisando minhas palavras.
– Não passou. Eu sei que não passou. Fala pra mim.
Respirar começou a ficar difícil e eu ia chorar se continuasse assim.
– Acho… acho que sempre fizemos amor até hoje. Ou pelo menos
era assim que me sentia e agora… agora parece que estamos só…
só… fodendo
– murmurei a palavra, sentindo-a doer na minha língua.
Ryker piscou duas vezes e então abriu aquele seu sorriso gostoso,
ao deixar a cabeça cair.
– Então, vibradores e sexo exibicionista foram sinônimo de fazer
amor. Aí eu digo que te amo e é foder?
– Senti algo dentro de mim congelar, mas o modo calmo como ele
riu me fez
perceber que estava tudo bem. – Nunca tive problemas para
entender asmulheres, Bault, mas você é algo especial.
– Você disse que não tinha dito nada
– lembrei.
– Eu falei sem pensar. – Engoliu em seco. – Acho que foi a hora
errada, não foi?
– Ah, Ryk! – choraminguei, me pendurando em seus ombros. – É
só isso que eu pensei. Acho que tem tanta coisa acontecendo… não me
parece o momento para…
– Shh, shh. Eu sei. – Desceu a mão pela minha coluna. – Esquece
que eu disse qualquer coisa, está bem? – Raspou o nariz no meu com
um sorriso
simples e limpou o que restava de minhas lágrimas, me fazendo
sorrir. – Mas eu tenho permissão para continuar? – Tinha um pouco
mais de safadeza no seu sorriso agora, o que me tranquilizou ainda
mais. – Não gosto dessa ideia de gozar sozinho.
Beijei sua boca e senti sua mão voltar ao meu clitóris. Mas dessa
vez… dessa vez eu me entreguei. Gemi seu nome baixinho e ele
manteve sua testa contra a minha. Seu nariz contra o meu.
– Não vou sair daqui – sussurrou,antes de me beijar.
Eu gozei na sua mão, entre seu beijo e sua carícia, sentindo o
mundo inteiro derreter ao nosso redor. Ele me
abraçou, gentil, sem abandonar aquele beijo carinhoso e suave.
— De novo? – A voz aguda na porta fez Ryker me soltar, assustado.
Eu puxei os lençóis me envolvendo, com raiva. – Quanta saúde, hein,
Strome? – Nila estava na porta do quarto e a lembrança do que tinha
acontecido no palco há pouco tempo me enfiou de volta na enchente de
vergonha.
Sven vinha logo atrás dela e eu notei que ele levantara os polegares.
– Só vim avisar que está tudo resolvido. Eu e sua irmã estamos
voltando para o hotel. Nos vemosamanhã.
– Interrompeu meu sexo pra isso? – reclamou. – Achei que isso era
pecado
na sua religião.
– Na minha religião, pecado é saber que sexo está acontecendo nas
proximidades e não ir me meter. E de nada. Sua irmã ia subir para se
despedir, mas eu senti o cheiro de sexo e achei melhor vir na frente.
– Obrigado. – Riu.
Eu olhei de um para o outro, indignada, antes de dar dois tapas com
força no ombro de Strome.
– ESSA GENTE NÃO BATE NA PORTA! –
rosnei. – Bota eles para fora, Ryker! Agora! Como pode ficar tão
tranquilo?
– Mina… – Ele se virou para mim com exagerada desolação. –
Vamos pensar pelo lado bom… Pelo menos dessa vez, a interrupção
foi depois que
nós dois gozamos. Com nossa sorte, acho que isso é o máximo que a
gente pode pedir.

Oito

Jogos de sedução
Eu desci com o queixo erguido na manhã seguinte. Demonstrar a
vergonha que eu sentia não ia me ajudar em nada e, por mais estranho
que pudesse parecer, eu estava mais incomodada com o fato de Ryker
não ter me acordado pela manhã do que com o fato de toda aquela
gente ter me visto durante uma intensa sessão
de sexo.
– Por que não me chamou? – Belisquei seu braço.
– Você parecia cansada. – Sorriu de maneira breve e inquieta. Eu
conhecia aquele sorriso. Algo estava errado.
Muito provavelmente, era só porque ele tinha declarado seu amor
por mim e eu o tinha feito desistir disso como uma bruxa sem coração.
Muito provavelmente.
Nós íamos precisar conversar sobre isso.
Eu não estava particularmente ansiosa por esse diálogo, mas seria
necessário.
Depois.
Porque agora, Delvak estava explicando as informações que
ele tinha
adquirido dos russos.
– Como você descobriu isso tudo? – Zahner torceu o nariz.
– Você não vai querer saber.
– Foi o seu amigo japonês, não foi?
Quem é o cara, Delvak?
– Não tem importância agora.
Sven tinha transformado o salão principal da boate em uma sala de
reuniões. Um quadro branco apoiado precariamente contra um dos
poles era ofoco de todos nós.
– O importante é que conseguimos duas informações bem
importantes! – ele rascunhou o número “1” no quadro, seguido de
palavras resumidas. – Uma das principais bases de Kulik é aqui em
Amsterdã por causa de uma pessoa
muito importante: seu contador. Dois! – Rabiscou o número e mais
algumas palavras… Eu estava me sentindo presa em alguma franquia
de George Clooney.
– Ele usa os seus restaurantes de fachada para muitas de suas
operações.
– São as duas informações mais aleatórias que eu já ouvi. – Gary
coçoua cabeça.
– Os dois homens que a gente… conheceu ontem não fazem parte
do círculo íntimo do mafioso, agente Zahner, eles só puderam oferecer
informações mal ouvidas.
– E eles traíram Kulik assim tão rapidamente? A gente vai apenas
confiar que eles não estão nos enganando? – Lucy soou preocupada.
Com razão. Sua
lógica fazia bastante sentido.
– Kulik não mandaria homens de confiança para cá. – Zahner deu
de ombros.
– Por que não? – eu quis saber.
– Porque não é seguro. Você e Ryker são assunto quente no
momento. Kulik está procurando vocês como um maluco, mas não pode
ser visto perto de vocês. Homens de confiança geralmente podem ser
vinculados a ele pelos arquivos da polícia. Mesmo que não
oficialmente… Mas nós, que o perseguimos há mais tempo, temos uma
longa lista de associados próximos. Ele precisaria mandar rostos novos
atrás de vocês.
– Mas será que eles não têm medo do Kulik? – Nila interrompeu. –
Medo pode
ser um argumento mais forte que lealdade.
– É por isso que a gente precisou encontrar alguém de quem eles
teriam ainda mais medo. – Delvak concluiu com um sorriso.
– Seu amigo japonês. – Zahner rosnoue eu tive certeza de que aquele
tópico o incomodava imensamente e que se tornaria, então, recorrente
em nossas vidas.
– Se a gente conseguir encontrar esse contador, podemos obter
informações importantes. – Ryker se inclinou, estava sentado quase na
ponta da cadeira. Não tinha me tocado uma única vez. Desviei os olhos
de sua figura e encontrei a de Lexa. Seu olhar me perfurava com um
brilho que era todo seu. – Sabemos algosobre ele?
– Sabemos várias coisas sobre ele. – Delvak piscou um olho. – No
entanto, as mais importantes são seu nome, seu sobrenome e um lugar
que ele frequentaassiduamente.
– Algum clube de sexo pervertido e estranho, não duvido – Zahner
acrescentou. – Por que criminosos precisam ter esses gostos bizarros?
– O que diabos você chama de “sexo bizarro”? – Delvak pareceu
ofendido.
– Meninos! – Lexa reclamou. – Agora não é hora. Precisamos
encontrar um jeito de conseguir as informações de Viktor Trummer –
ela ter mencionado o nome do contador com tanta
naturalidade me fez imaginar que deveria ter discutido o plano com
Delvak antes de terem decidido apresentá-lo. Eles eram uma dupla.
Uma dupla bem peculiar e esquisita, mas funcionavam juntos. Assim
como eu e Ryk. Fitei meu namorado com o canto do olho, observando-o
a distância…
Ou… pelo menos, como eu e Ryk costumávamos ser.
– Alguém pode resumir o plano? – Tonya pediu.
– Pegar as informações do contador e fechar os restaurantes do
Kulik. – Delvak deu de ombros. – Dificultamos suas operações e
pegamos mais informações que levem ao dinheiro que queremos
roubar ou fazer desaparecer.
– Assim, ele vai ficar pobre e desarmado. – Zahner suspirou.
– Lex? – Ryker chamou. – Conhece alguém da vigilância sanitária
para fechar os restaurantes?
– Não. – Ela lambeu o próprio sorriso. – Conheço a próxima
melhorcoisa: todos os críticos e comentaristas da mídia local.
– Vai destruir a reputação dos restaurantes dele? – Eu estava
admirada.Ela apenas sorriu em resposta.
– Só isso não vai funcionar – Nila avisou. – Tim nos deu a lista dos
locais dos russos que ele conhece. Um ou dois são locais chiques que
vão sentir o impacto da má publicidade… mas o resto é um monte de
buracos imundos…
– É aí que o Zahner entra. – Delvak piscou um olho para ele. O
agente da Interpol apenas sorriu e acenou. Eu não identifiquei qual era
o plano, mas eles claramente tinham um e preferi confiar que, se
aqueles dois finalmente tinham se entendido, deveria ser um bom plano.
– Quando pode ir encontrar seus amigos críticos? – Zahner
perguntou.
– Agora mesmo, só preciso trocar duas palavras com meu irmão
antes. – Ela se levantou e Ryker a encarou, confuso.
– Tudo bem! – Delvak bateu as mãos.
– O resto de nós se concentra em achar um modo de arrancar
informações de umcontador em um bar.

– Aconteceu alguma coisa? – perguntei assim que fechei a porta


do escritório do Luckas.
– Não sei. – Minha irmã cruzou os braços. – Era isso que eu queria
te perguntar.
Abri e fechei a boca como um peixe.
– Estou confuso, Lex. O que você quer?
– Quero saber por que brigou com sua garota menos de doze horas
depois do coito no palco.
– Coito? – Ri. – Por Deus, você consegue ser pior do que a Mina
com sua escolha de palavras.
– Foda, sexo, transa, trepada – listou,
entediada. – Não tente me enganar com semântica, Ry. Se o assunto
for vocabulário, eu vou ganhar e você vai perder. – Levantou uma
sobrancelha.
– É por isso que o Delvak é prepotente. – Ergui o indicador em
acusação. – O cara precisa ser megaconfiante para sobreviver perto de
você.
– Se o assunto for o Delvak, também vou ganhar. Se for para mudar
de assunto com essa cara de pau, irmãozinho, pelo menos escolha um
quevocê domine melhor do que eu.
– Vamos falar de sexo, então. – Ergui as mãos e ela gargalhou como
se me desafiasse a dominar esse assunto melhor do que ela. –
Vamos falar do
sexo com a Mina, ao qual você não assistiu.
– Não assisti. Mas ouvi Delvak descrever com, acredite, mais
detalhes do que seria adequado. E agora vocêmal olha para ela.
– Lexa! – Esfreguei minhas têmporas.
– Você sequer conhece Mina!
– Conheço você.
– Nós estamos bem!
– Por que não olha para ela?
– Eu estava… – Gesticulei em desespero. – Estava prestando
atenção no seu namorado e no discurso dele.
– Delvak não é meu namorado e se isso foi uma tentativa de me
constranger para que eu esqueça o assunto do seu relacionamento, foi
uma tentativa pífia e
estou decepcionada.
– Você diz que Delvak não é seunamorado, mas o carrega em todos
os lugares.
– Vamos, Ry, você consegue fazer melhor do que isso – provocou.
– Não estou tentando te constranger, Lexa! É impossível, ok, eu
aceito! – me exaltei.
– Está tentando mudar de assunto! Porquê?
– Porque você quer que eu tenha um problema quando eu sequer
tenho umrelacionamento. – Dei de ombros.
– Você a apresenta como sua namorada, Ry. Nunca te vi fazer isso
antes.
– Faz tempo que a gente não se vê.
– Reparei em como vocês se olham. Não tente me enganar! Até
Delvak concorda, ele ficou impressionado com o sexo de vocês. –
Abriu os braços. – E olha, moleque… pro Delvak se impressionar com
sexo é porque o coito
– provocou – foi intenso.
– Sempre sou intenso com sexo. – Sorri, arrogante.
– Intenso o suficiente para impressionar Delvak? – A
incredulidadevoltou ao seu rosto.
– E por que não?
– Suspeito que você não conheça bem o Delvak – murmurou. – Ou o
significado da palavra “intenso”.
– Eu e o Sven somos iguais, Lex. – Segurei seus braços com
cuidado. – É
por isso que nos damos bem. Entendo o que sexo é para ele, porque
é assim para mim também. Estou com Mina agora, é verdade. Mas isso
não é definitivo. – Sorri, tentando manter no olhar uma calma que eu
não sentia. – Não é nada contra a garota. – Levantei os ombros. – É só
como eu sou. Quando parar de funcionar para mim, não ficaremos
mais juntos e pronto. Isso não é um de seus romances, Lex. Pare de
tentar enfiar mistério onde só existe simplicidade.
Ela piscou algumas vezes, com uma expressão ilegível antes de me
oferecer um meio sorriso: – Você acredita nessas bobagens que está
falando? – Abriu os olhos. – Porque, se acredita, o problema é mais
sério do que imaginei.
– Acredite no que quiser… – Tentei reproduzir o sorriso
descontraído de Delvak, embora sem a certeza que estava tendo
sucesso.
– Você não é como o Sven, Ryker.
Não tem nada a ver com ele.
– Acho que não me conhece bem o suficiente, então, irmã.
– E não é como o Simak, Ry. – Sua expressão ficou séria e eu me
senti congelar na sua frente. – Não tem nada a ver com ele, também.
Mantive minha boca aberta, com nojo, por dois segundos inteiros.
Agora, era ela quem tocava meus braços com carinho, tentando conter
minha indignação.
– Não tenho nada a ver com um
estuprador pedófilo? – rosnei, sarcástico. – Poxa, Lexa, muito
obrigado!
– Ryker…
– Não acredito que você fez essa comparação!
– Eu não fiz! – Apertou meus ombros.
– Mas você faz, moleque. Você faz o tempo inteiro.
Levei minhas mãos à cabeça. Eu estava destruído pelo silêncio de
Mina eultrajado pelo barulho de minha irmã.Eu só queria que aquilo
acabasse. Acho que preferia os russos, as armas e os sequestros…
– Ryker, me escuta!
– Não, Lexa! – Abanei as mãos.
– Ele é a referência que você tem.
Nosso… pai. – Torceu o nariz ao som da palavra. – Ele foi a única
referência que você teve de um homem de família. Um homem que
afirmava amar uma mulher,que se casou e teve filhos. Teve que assistir
esse homem se transformar no monstro das nossas vidas. – Puxou meu
rosto, igualando a altura de nossos olhos. – Teve que assistir ele tentar
abusar de mim…
– Lex, por favor… – gemi, com os dentes semicerrados.
– Teve que assistir ele tramar para te matar. – Manteve o toque firme
no meu rosto. – É compreensível que odeie Simak e tudo o que ele
representa. Na verdade, é a única reação compreensível, Ry. – Seu
olhar se
suavizou, fraternal. – Mas, em algum momento da sua infância, você
fez a associação absurda de que um homem de família não presta e
que o cara safado era o superprotetor decente.
– Não tem nada a ver – murmurei, mas minha voz foi tão baixa que
eu mesmo mal a escutei.
– Simak era o nosso pesadelo; Sven apareceu e… – Ela sorriu. Foi
inevitável e… lindo. Será que eu sorria daquele jeito quando pensava
em Mina?
– E ele foi o nosso herói. Meu e seu. – Bateu a mão espalmada de
leve contra meu peito. – Você era muito pequeno. Vilões e super-
heróis assumiram outra identidade para você. Por isso, você tenta se
espelhar no Sven. Não vê, Ry? –
Seu sorriso aumentou. – Você faz isso porque é um homem bom. –
Apertou minha bochecha. – Faz isso porque quer ser sempre um
homem bom. E me preocupa porque… você nunca foi como o Sven. –
Riu. – Lembra da sua primeira namorada?
– Lexa… – Balancei a cabeça.
– Você não tinha dez anos, Ryker! – Riu. – Não era sequer um
namoro de verdade e você já estava planejando onde iria morar quando
se casassem.
– Eu era uma criança idiota.
– Você era uma criança romântica. Que cresceu e se tornou um
homem romântico. E não tem nada de errado com isso. O mundo está
repleto de homens de todos os tipos.
– Você está errada.
– Não estou, querido. Sabe que não estou. Eu li seus contos! Seus
poemas. Mesmo que nunca tenha permitido que eu te ajudasse a
publicá-los…Você é bom, Ry! Muito bom. Sven viveria toda a vida
sem nunca conseguir acumular uma gota da sensibilidade que você
transmite em um parágrafo. Você não é como ele. E também não é
como o Simak. – Passou os dedos pelos meus cabelos. – Você é como
eu.
Eu respirei fundo.
– Você é romântico e safado. – Riu. – E bom. E decente. Pare de se
esconder atrás dessa máscara de Sven que pintou para si.
– Não estou me escondendo!
– Está mentindo para si mesmo.
– Não estou! – me irritei.
– E está magoando Mina no caminho.
Se gosta dela, Ry, por que não…
– Eu a amo! – Segurei Lexa pelos braços, sentindo a indignação
tomar conta do meu corpo. – Confessei isso a Mina ontem e ela me
mandou calar a boca – regurgitei. – Pronto. – Expirei, sentindo a dor
me rasgar. – Satisfeita?
– Ela te mandou “calar a boca”? – Mordeu os lábios, incrédula.
– Não com essas palavras. – Revirei os olhos perante sua calma
diante deuma circunstância que quase me fazia explodir.
– Com quais palavras?
– Importa? – rosnei.
– Claro que importa! – disse, ultrajada. – É só o que importa!
Palavras têm poder, sabia?
– Ela não disse nada! E aí me perguntou o que eu tinha dito. Eu
fingi que não tinha dito nada e ela aceitou. Mas ela sabe que eu disse
alguma coisa.
– Isso não é o mesmo que te mandar calar a boca.
– Depois eu repeti – balancei o indicador, avisando que não tinha
terminado – e ela disse que era melhor não pensar nisso agora, porque
tínhamos coisas demais nos preocupando no momento. Foi um “cala a
boca” educado. Mas eu conheço Mina, Lexa, foi um “cala a boca”.
– Dê um pouco de tempo a ela.
Realmente, há muito acontecendo ao mesmo tempo e…
– Lexa! – Comecei a rir e acenei para interrompê-la. – Dê um pouco
de tempoa ela? Esse é seu conselho? A rainha dos relacionamentos quer
que eu compreenda e dê um tempo?
– Ryker…
– Precisei reunir todos os meus esforços para não começar uma
brigacom ela na cama mesmo! Eu contei que aamava! E ela ficou muda!
Por uma eternidade! E depois deixou para lá. – Gesticulei. – Como se
eu só tivesse perguntado que horas são.
– Você está encarando isso do jeito errado!
Basta.
Eu estava cansado dessas contínuas conversas que só serviam para
me espancar ainda mais.
– Chega, Lexa. – Coloquei a mão na maçaneta.
– Você não pode decidir o momento certo para ela, Ryker! Você
estava pronto para dizer “eu te amo”, mas ela não estava. Não é justo
exigir isso!
– Você nem a conhece, Lexa! Por queessa defesa?
– Ela te faz bem, moleque! Não é qualquer mulher que sobreviveria
a toda essa situação com a dignidade que ela demonstra. E sem te
abandonar ou perder o carinho. Situações horríveis mostram o que as
pessoas têm por dentro. E o que Mina tem é bom.
Eu sabia que o que Mina tinha era bom.
Era o melhor.
Ela era decente e corajosa e linda. Mas também era indecisa e
insegura.
Eu tinha olhado nos seus olhos e sentido o vazio do seu silêncio
depois que eu despejei meu coração naqueles lençóis.
Máscara ou não… Agir como o Sven nunca tinha me magoado
daquele jeito.
– Lexa. Eu te amo. – Girei a maçaneta. – E é por isso que eu te
peço para não me levar a mal… mas não se meta na minha vida.

– O que ainda está fazendo aqui? – Delvak estreitou seus olhos


inquisitivos.
– Achei que você já tinha ido atrás dos seus amigos críticos.
– Não são amigos, no plural. É um crítico só que pode resolver tudo
– expliquei. – E eu já estou indo, mas preciso te pedir algo antes.
– Se tiver a ver com sexo, a gente pode fazer no palco na frente de
todo mundo? – Tocou minha cintura. – Não quero que seu irmão me
deixe para trás
– concluiu com um dengo falso.
– Preciso que você converse comRyker.
– Sobre o sexo no palco? O dele ou onosso?
– Delvak! – vociferei. – Você pode
dar uma pausa nas suas besteiras pordois minutos? Por favor?
Seus ombros caíram quando ele expirou fundo. Seu toque na minha
cintura ficou mais pesado.
– O que houve? – Ele se declarou para Mina e não foi retribuído no
momento.
– Isso nunca é bom. – A seriedade pacífica em sua voz me agradou.
Saber que ele não tinha feito alguma piada ridícula me informava que
ele estava realmente tendo uma conversa sóbria. E eram muito raros os
momentos em que ele não estava embriagado pelo sexo.
– Ele está interpretando tudo errado, Sven – suspirei. – Continua
com essa ilusão perigosa que o único jeito de ser
uma pessoa decente é sendo como você.
– Que fique claro que nunca concordei completamente com essa
sua análise, Lexie. – Balançou a cabeça devagar. – O garoto só está
experimentando a vida. Sei que eu exagero. – Abriu os olhos
forçadamente.
– Mas ele não é como eu. Ryker tem a cabeça no lugar. Mesmo
quando se mete em um problema colossal como esse com que estamos
lidando. Ele continua focado, concentrado… Seu irmão é um bom
menino.
– Eu sei disso tudo.
– Então por que está se metendo na vida dele? – recriminou. –
Deixa eleencontrar o próprio caminho.
– Não é isso, Sven! – Esfreguei minha
testa com as mãos e ele soltou minha cintura para apertar minhas
mãos, tentando me acalmar. – Simak se meteu na vida dele primeiro.
Destruiu o garoto meigo e romântico que tinha lá dentro e agora…
Agora Ryker não tem rumo. Eleacha que é errado ser quem ele é.
– Tenho certeza que não acha isso.
– Não conscientemente. Mas eu conheço meu irmão! – Dobrei o
lábio, birrenta. – Svenie, por favor! Só faça o que estou te pedindo. Por
favor? – Coloquei as mãos em seus ombros, deixando meu olhar lhe
explicar o quanto era verdadeiro meu pedido.
– O que quer que eu diga?
– Só converse com ele. – Dei de ombros. – Veja se ele está bem.
Tente
acalmá-lo. Tenho medo que ele destrua tudo com Mina no calor do
momento. Vai fazer isso?
Ele sorriu com aquela doçura que quase nunca demonstrava.
Colocou os fios soltos dos meus cabelos atrás daminha orelha.
– Sabe que faço qualquer coisa por você – sussurrou. Não havia
qualquer dose de sedução no seu tom. E eu adorava quando ele falava
assim.

– O celular dele! – lembrei. – As pessoas guardam tudo nos


celulares hojeem dia.
– É, Mina… Mas guardam tudo em
um celular com senha. – Devon deu de ombros. – Sem a senha do
contador, a gente não consegue acessar asinformações.
– Você não conhece algum hacker, Interpol? – Lucy tocou seu
ombro.
– Conheço. O departamento de informática da agência.
– Só? Não tem ninguém underground
que trabalhe por dinheiro ou drogas?
– Ah, claro! – Zahner deu um tapa na própria testa. – Esqueci que
estávamos em um filme da Disney. Claro que conheço.
– Você é o agente secreto mais inútil que eu já vi. – Lucy torceu o
nariz para acareta de Gary.
– E que filme da Disney é esse que
tem drogas? – Joanie parecia chocada.
– O seu amigo japonês não conhece ninguém? – Zahner quis saber.
Ele sempre voltava a esse assunto. Estava curioso para descobrir mais
sobre a procedência das amizades de Delvak.
– Não precisamos de nada disso. – Sorriu, calculista. – Só
precisamos decorar sua senha antes de roubar o celular.
– E como vamos fazê-lo nos mostrar asenha?
– Eu tenho um plano. – Piscou um olho. – Mas, para isso, vou
precisar de uma voluntária.
– Para dar em cima do contador? – Lucy riu. – Isso aqui é uma boate
de prostitutas, meu amor, voluntárias não
vão faltar.
– Ótimo! – Bateu palmas. – Então vamos agir essa noite. Temos
que atacar em todas as frentes ao mesmo tempo. Lexa e Zahner cuidam
dos restaurantes e o resto de nós consegue as informações com o
contador. Acabamos aqui? – Ele espiou Ryker com uma urgência
estranhaque chamou minha atenção.
Quer falar com Ryk, Delvak? Entra na fila.
Assim que essa reunião acabar, quem vai ter uma conversa com o
Strome sou eu.
Lidar com sentimentos profundosseria estressante no meio de nossas
tramas contra a máfia. Mas qualquer coisa era melhor do que
receber esse
gelo de Ryker. Eu não ia conseguir me concentrar para nada até
resolver isso.
– Não acabamos – Joanie avisou. – Seduzir o cara não vai ser
problema, mas você ainda precisa explicar seu plano sobre como
conseguir a senha dele.
Delvak inspirou profundamente e se preparou para falar. Eu não
precisaria estar presente para essa parte da lição. Não quando havia por
perto pelo menos três ou quatro mulheres muito mais capacitadas para
seduzir um estranho doque eu.
– Ryker? – Toquei seu braço e notei o olhar de Delvak sobre nós
mais uma vez. – A gente precisa conversar. – Eu mantinha o canto do
olho em Sven,
tentando entender o motivo do seu interesse discreto. Ele geralmente
era mais evidente e barulhento que aquilo.
Talvez tivesse algo a ver com a conversa que Lexa tivera com
Ryker…
– Sobre? – Ele levantou uma sobrancelha.
O celular de Delvak tocou em seu bolso e ele se afastou,
cumprimentando Lexa, do outro lado da linha.
– Ryker – reclamei. – Vai mesmoquerer jogar esse jogo?
– Mina, eu…
– É O QUÊ? – A exaltação de Sven do outro lado do salão chamou
nossa atenção. Todos pararam suas atividades e ninguém sequer
respirava. – Como assim, “uma de cada”? De onde diabos
você conhece esse homem, Lexa? – Ele ficou em silêncio enquanto a
esperava responder. – Então, você vai ficar? É isso? – Mordeu os
lábios com força. Eu toquei o braço de Ryker instintivamente,buscando
proteção. – Ótimo, volte e aí… Como assim não vai voltar? Eu não
estou… – Esfregou a testa, irritado. – Merda! Que bela merda! Ok. Eu
ligo pra você em dois minutos. – Ele desligou o telefone com raiva. –
Mudança de planos, pessoal! O crítico, “amigo” da Lexa está cobrando
para nos ajudar a destruir a reputação dos restaurantes do Kulik em
menos de dois dias.
– Quanto? – Levei a mão aos olhos. Se fosse uma quantia alta
teríamos que pedir dinheiro emprestado… e à Lexa,
provavelmente.
– Não é dinheiro que ele quer. Ele conhece Lexa e quer uma
experiência única com várias prostitutas. Negra, loira, morena, ruiva e
asiática. Aomesmo tempo. – Sven nos ofereceu um sorriso amarelo.
– Que diabo de amigo é esse? – Ryker soou preocupado com as
amizades da irmã.
– Exatamente o que eu gostaria de saber – Delvak rosnou. – Mas,
no momento, não temos tempo. – Olhou para o relógio. – Jornalistas
funcionam com prazos apertados demais e nós queremos que ele tenha
tempo para escrever um artigo bem gordo. Quais de vocês topam? –
Procurou ao redor.
Lucy, Joanie e Nila se entreolharam casualmente. Três prostitutas
que fariamqualquer coisa por Spider.
– Quem vai nos pagar pela hora? – Tonya quis saber. — Não me
levem a mal, eu também amo Spider e quero vingança pelo que
aconteceu com ela. Mas trabalhar de graça é contra minha filosofia.
– Eu pago! – Delvak deu de ombros. –Estamos resolvidos?
– Sem problemas, por mim. – Tonya sorriu.
– Precisamos de uma morena – Sven avisou.
– Skye! – exclamei, interrompendo-o.
– Skye vai ajudar.
– Tem certeza? – Ryker me olhou,
incerto.
– Tenho. Ela é uma boa pessoa – decidi. – Não se dava bem com
Spider, mas vai ajudar. Sei que vai. Ela veio nos ver quando chegamos,
lembra? E foi mevisitar em Paris. E… – Tentei lembrar outras ocasiões
que confirmassem a veracidade de sua amizade por nós. – Não
importa! Eu ligo para ela! – Eu já ia seguir para pegar o telefone,
quando me virei de volta, girando sobre meus pés para observar Sven. –
Pode ser que ela cobre também – avisei, sem jeito.
Ele riu e concordou com um gesto.
– Acho que ela é bem cara. – Enruguei minha testa, percebendo
que, mesmo com toda minha experiência recente, a verdade é que eu
não fazia a
menor ideia de quanto uma prostitutadeveria cobrar.
Considerando minha breve e angustiante experiência com Ryker em
nossa primeira noite, eu também não sabia exatamente quanto cobrava
um garoto de programa.
– Não é problema. – Sven acenou e eu confiei que minhas palavras
sobre uma prostituta “ser cara” teriam um significado para ele que não
tinham paramim. Ele deveria saber quanto custava, não é?
– Vou ligar para ela agora mesmo!
– Depois volte, preciso te ensinar como pegar o código do celular –
disse. Eu tinha dado dois passos completos antes de perceber que eu
não conseguia
compreender o que ele dissera.
– O quê? – Virei de volta para ele.
– O código do celular. Preciso te ensinar como convencer o
contador a te mostrar.
– Mas… mas… – Eu sabia que minha boca estava se movendo…
mas minha mente ainda estava preocupada demais em tentar colocar
sentido nas palavras de Delvak. Ele não precisava de mim para seduzir
um estranho! Não quando estava cercado por mulheres lindas e
experientes no assunto. – Uma das meninas não pode…?
– Elas vão precisar ir. Todas. – Seu tom era de obviedade. – O idiota
tarado quer “uma de cada”. Parece que coleciona sexo. – Havia um
tom
brincalhão na afirmação, mas a lembrança de Allender me fez
tremer. Delvak não deveria fazer ideia do quanto sua bobagem tinha
um peso de realidade. – Não é problema para você, não é, querida? Se
conseguiu transar em público, consegue fazer um mísero homem
acreditar que está interessada por ele.
Ele fazia soar simples.Talvez até fosse.
Mas não era.
Não era nem um pouco.
Era completamente diferente!
O sexo em público tinha sido comRyker.
Com Ryker eu tinha coragem de fazerqualquer coisa. Me sentia
segura e
confortável.
Mas Ryker não poderia ficar do meu lado, me emprestando sua
ousadia, enquanto eu dava descaradamente em cima de outro homem.
Seria contraproducente.
– Lexa… – implorei. – Lexa não podeseduzir o contador?
– Lexa precisa esperar as meninas chegarem lá para apresentá-las ao
idiota
– Sven lembrou. – Não sabe se vai conseguir voltar a tempo.
– Por que não deixamos para amanhã,então? – Apertei minhas mãos,
tentando me acalmar. – Acho que não é uma boa ideia eu ir… Vou
acabar estrag...
– Mina, se fosse só uma brincadeira ou pequena reunião de
negócios, eu não
veria problemas em adiar – ele continuou. – Mas a vida de vocês
dois está em risco. Quer mesmo esperar maisum dia?
– Delvak, você não me conhece bem o suficiente. Não julgue minha
personalidade pelos últimos dias. –Lembrei da nova versão do show da
Tímida e percebi que estava entrando em pânico. – Eu sou tímida e
introvertida. Não sou nem um pouco sensual! Vou falar alguma
besteira, derrubar bebida no cara e fazê-lo rir da minha desgraça.
– Então, nós temos um problema… porque não há mais ninguém
que possa fazer isso. – Deu de ombros.
– Você consegue, Mina. – Joanie
sorriu.
– A gente te dá umas dicas antes de sair. – Lucy tentou ajudar.
Rápido demais, todos estavam falando ao mesmo tempo. Tonya
conhecia algum canal no YouTube com dicas que eu poderia
incorporar nas próximas horas, Devon sugeriu que eu praticasse com
alguns dos caras da boate e Tim estava certo de que o plano ia dar
errado.
– Mina.
Era aquela voz doce. Aquela voz constante.
Aquela voz que me enchia de segurança.
Fazia poucas horas que eu não a ouvia com tanto carinho e já
começava a sentir
saudade.
Ryker se aproximou com seu típico cuidado e eu quis abraçá-lo,
pedir desculpas, dizer “eu te amo” e mandar tudo se foder.
– Calma – sorriu.
Era um sorriso comedido.
Como se ele estivesse chateado comigo, mas, apesar de estar se
policiando para não ser gentil, não conseguisse evitar.
Eu amava aquele sorriso.
Amava cada minúscula parte dele.
– Eu te ajudo.
Claro que ele me ajuda.
Claro que ele sempre me ajuda.Eu sou idiota.
Qual era o meu problema?
Por que não consegui simplesmente dizer “eu também te amo”
quando o momento se apresentou?
Por que não consegui gritar essas palavras?
– Lucy! – Ryker se virou, assumindo uma postura muito similar à de
Sven. Ele era o líder agora. – Pegue as meninas e encontre Lexa. Sven
tem o endereço? – Delvak sorriu como se apreciasse ver Ryk assumir
as rédeas. – Ótimo. Escreva para as meninas. O restode vocês, vão logo
para o maldito bar para onde o contador geralmente vai nos dias de
hoje. Cheguem separados, finjam que não se conhecem. Deem uma
olhada ao redor. Vou ligar para todos vocês antes de sairmos. A gente
precisa ter o
mínimo de certeza de que o lugar é seguro. Sven… eu e você
ficamos para trás. – Sven acenou, compreendendo.
Eu olhei para Ryker, sentindo o pânico se diluir. Mas aquela horrível
sensação de que eu ia sufocar ainda estava lá… me atormentando. Se
eu falhasse, poderia colocar todo o plano a perder. Toda a dedicação
dos meus amigos, todo o risco que tinham assumido…
Era demais: colocar toda a responsabilidade do nosso sucesso em
uma tentativa de sedução a ser realizada por uma garota que teve uma
crise histérica de riso na primeira vez que viuum pênis ao vivo.
Delvak se virou para as meninas,
enquanto os rapazes se preparavam parasair.
Apertei a mão de Ryker à espera deinstruções.
Ele apertou minha mão de volta.
– Vem comigo? Eu apenas sorri.Vou.
Claro que vou.
Vou com você para qualquer lugar.

Mina não soltava minha mão. Eu não saberia dizer se era apenas por
causa do receio criado diante da situação recente ou se por causa de
toda a situação de confissão de sentimentos e mais toda
aquela merda.
– Vai conseguir. – Encarei seus olhos,transmitindo segurança.
Eu queria me manter minimamente afastado. Eu a amava. Não era
recíproco. Minha cabeça girava em turbilhões inconstantes,
principalmente depois de minha conversa com Lexa. Será que ela
estava certa? Será que eu nunca tinha conseguido ver o amor com bons
olhos? Ou era só sexo?
Não… Eu cedi ao que sinto por Mina, não foi? Admiti tudo. Eu não
poderia fazê-lo se Lexa estivesse certa.
Mina espremeu os lábios, nervosa, e eu quis me manter distante.
Mas era difícil. Era quase impossível.
– Ryker – murmurou muito séria. – Da
primeira vez que tentei te seduzir, acabei te causando um choque
anafilático.
– E espremendo minhas bolas no punho, não esqueça essa parte. –
Sorri diante da lembrança. Eu não conseguia me manter apático com
Bault.
– Pois é! Esse plano está fadado ao fracasso! A gente tem mais
chances de seduzir o contador se colocar você em um vestido e saltos.
– Não zoe comigo, Bault. Eu consigo fazer um vestido e saltos
funcionarem muito bem, ouviu? – brinquei, fingindo arrogância e ela
riu. – Você vai conseguir. – Apertei sua mão. – Vai dar tudo certo.
– Como pode ter tanta certeza?Eu não tinha certeza…
Senti um meio sorriso atingir meu rosto junto com a ideia.
– Finja que sou eu. – Levantei o ombro. – Finja que está falando
comigo e querendo me convencer a fazer algo.
– Eu sou péssima em te convencer. – Levantou uma sobrancelha e
eu soube que ela estava gostando da ideia.
– Faça isso e vai dar certo – prometi.
Mina acenou devagar e nos perdemos em silêncio, presos um ao
olhar do outrodurante alguns segundos que passaram rápido demais.
– Está distante porque disse que me amava e eu não respondi? –
sussurrou, como se cada palavra doesse para sairda boca.
Um nó se atou na minha garganta,
naquele local inconveniente bem abaixoda glote.
– Não é uma boa ideia fazer isso agora.
– Ryk, diante da nossa atual situação em que cada dia pode ser o
último, achoque o melhor momento é agora – lembrou.
Sentei na cama, expirando. Cotovelos sobre os joelhos, afundei meus
dedosnos cabelos.
– Sempre achei relacionamentos tão simples – confessei. – E, de
repente,ficou tudo tão complicado.
– Relacionamentos sempre foramcomplicados. Sexo que é simples.
– Sentou–se ao meu lado, tocando meu joelho e eu abaixei os braços
para
observá-la. – Quer dizer… – Arregalou os olhos. – Pelo menos para
um de nós.
– Me fez rir.
Eu queria levar a mão à sua bochecha e tocá-la. Queria acariciar seus
braços, colocá-la no meu colo e beijá-la a noite toda.
– Por que precisa ser tão complicado? – suspirei.
– Porque a gente nunca sabe o que a outra pessoa está pensando. “É
de verdade? Ele está me enganando? Ele está se enganando?”… Se eu
soubesse tudo que está na sua cabeça e você soubesse tudo que está na
minha seria mais simples.
Sua explicação me divertiu.
– O segredo para um relacionamento
saudável é a telepatia, então? Por que não me avisou antes, Bault? –
Estreitei os olhos.
Ela mordeu o sorriso, sustentando meu olhar como se arquitetasse
um plano.
– Vamos fazer assim. – Ela se levantou e pegou o despertador na
cabeceira. Girou os ajustes na parte de trás e colocou o relógio sobre a
cama antes de se sentar. – Quinze minutos de absoluta honestidade.
– Do tipo: como eu gosto que uma mulher me chupe?
Ela fez uma careta para minha brincadeira.
– Acho melhor eu começar – decidiu.
– Mina… – Coloquei minha mão
sobre a sua antes que ela ativasse o alarme. – Tanta coisa pode dar
errado nesse seu plano.
– Ryker. – Ela assumiu a coragem queeu não tive e sua mão estava no
meu rosto, espalhando eletricidade pela minha bochecha. – Você mal
olhou para mim hoje. Eu quero saber por quê – decidiu. – Só quinze
minutos. Eu digo tudo. Você diz tudo. Sem medo ou julgamento. E,
quando os quinze minutos acabarem, a gente finge que nada aconteceu e
segue a partir dali.
– Quinze minutos?
– É menos tempo do que a gente passou no palco. – Sorriu.
– Mas suspeito que vá ser bem menosdivertido. – Suspirei.
Não tive tempo para me preparar ou sequer respirar fundo: Mina
apertou o botão e a contagem regressiva começou.
– Eu te amo – ela confessou e eu tremi. Cada pedacinho de pele
vibrava de acordo com as batidas pesadas do meu coração. – É assim
que me sinto. É assim que eu acho que me sinto. – Balançou a cabeça.
– Mas eu tenho medo. Tenho medo porque a gente se conhece há
pouco tempo e tudo aconteceu de um jeito muito conturbado. Tenho
medo porque você é uma das pessoas mais descaradas que eu conheço.
Top 5 – afirmou, tentando não sorrir. – Não tenho sequer certeza se
você sabe o que é estar apaixonado por alguém. E se você estiver
confuso? E se
for apenas a intensidade de toda essa situação? Eu digo que te amo
também, você me beija, a gente faz amor e esqueço que o mundo
existe. E depois? E depois do sexo? E depois da máfia russa e da boate
de striptease? O que sobra pra mim? Antes, você tinha a novidade da
caça pela minha virgindade. – Arregalou os olhos, defronte à escolha
de palavras. – Teve a emoção da separação, do reencontro, da trama e
do risco de vida… mas e quando isso acabar? Se a gente ainda estiver
vivo… você vem pra Paris comigo? Eu fico em Amsterdã com você?
Você vai continuar se prostituindo? Porque, sinceramente, não sei
como me sentiria com isso. Você
abriria mão do seu jeito moleque- safado-garanhão e stripper por
mim? Seus rendimentos como garoto de programa? Ou desistiria de
mim? Desistiria daqui a uns meses assim que eu estivesse
completamente apaixonada por você? Admitir torna o sentimento mais
real e tenho medo dessa realidade, Ryker, porque você é sempre tão…
imprevisível – gemeu e eu senti sua angústia. – Eu gosto de controle.
Você sempre soube disso! E com você… com você não há controle
nunca! Transei na frente de um monte de gente ontem mesmo! –
exclamou. – Eu gosto do modo como você me faz sentir. Eu amo! Mas
isso tudo pode dar tão errado. Você achamesmo tão incompreensível e
tão…
inaceitável… que eu tenha resolvido tomar um pouco de cuidado
com meu coração?
Sua pausa se prolongou e eu suspeitei que era minha vez. Esfreguei a
palma contra a testa, lutando bravamente para puxar as palavras para
fora.
Se ela fosse em algum aspecto como eu, estaria entrando em
desespero diante do meu silêncio a qualquer segundo. Seria ela a ficar
com raiva e me ignorando, dessa vez.
– Calma. – Entrelaçou nossos dedos, me surpreendendo. – Não é
uma prova.
– Seu sorriso me enchia de paz. Ela era maravilhosa: toda ela. Seu
jeito, sua personalidade, sua voz, seu sorriso, sua beleza. – Não tem
resposta errada.
Apenas diga a primeira coisa que vier à sua mente.
Eu sabia exatamente o que estava na minha mente.
– Sou mais inseguro do que você – meu sussurro mal se fazia ouvir.
Senti seu toque em minha mão hesitar, confuso. – Acho que por causa
do modo como a gente se conheceu e do lugar onde a gente veio parar.
Acabamos reduzindo tudo a sexo, não foi? E aí você me considerou
autoconfiante e eu te considerei inexperiente e foi isso. Mas a vida é
muito mais que duas pessoas nuas e suadas em uma cama. Ou no sofá.
Na cozinha… – Tentei lembrar.
– Em um palco…
– Ryk… – Riu, baixinho.
– Lexa me chamou para conversar hoje mais cedo.
– Eu vi.
– Ela me disse muitas coisas que eu odiei ouvir, mas… acho que ela
tem razão. Simak foi… – Passei os dedos na linha dos meus cabelos…
Minha visão se embaçou e eu senti que poderia chorar. Qual era o meu
problema? – Nãotive uma boa infância. – Decidi usar outras palavras e
o mundo voltou a entrar em foco. – Acho que passei minha vida inteira
fugindo do homem que eu temia me tornar. Acho que exagerei e…
acabei me forçando a ser algo completamente diferente.
– Algo como o Delvak?
– Talvez. – Me permiti respirar fundo.
Eu conseguia fazer isso. Eu conseguia desabafar e abrir o jogo. Não
teria conseguido com Lexa. Mas com Mina sempre foi diferente. –
Sexo foi simples. Ser garoto de programa, ser stripper, reduzir minha
interação com mulheres a sexo, mesmo em relacionamentos mais
longos como foi com Skye. Eu não precisava pensar. Não precisava
encarar o medo ou a insegurança. Não sei por que foi diferente com
você, mas foi. Consegui contar sobre o que aconteceu com Simak e
Lexa pela primeira vez na minha vida e… foi bom. Com você não era
só sexo. Apesar de ter muito sexo. – Agora era ela quem ria. – Eu
confio em você. Sinto como se tivesse alguém comigo. De verdade.
Alguém que gosta
de mim e que… não sei… Eu sempre estive sozinho e quando você
apareceu, pode ter sido rápido, mas… de repente eu não me sentia mais
só. A cada dia quepassa eu gosto mais de você. – Comprimi sua mão. –
Mas você está certa, Mina. É amor? Não sei. – Dei de ombros. – Acho
que é… O que eu te disse foi só… foi natural – decidi. – Só escapou.
Eu não estava pensando no futuro, nem fazendo grandes conjecturas.Foi
só uma constatação. Algo que eu tive vontade de dizer. Espero que
você não me entenda mal, mas eu me arrependi.
– Se arrependeu? – Seu olhar caiu e segurei suas duas mãos com
força.
– Não porque meu sentimento mudou,
mas porque você está certa de novo: é complicado demais.
Principalmente na nossa situação. Você me fez um monte de perguntas e
eu… não sei responder metade delas. E acho que você também não
saberia responder se eu te perguntasse coisas parecidas. Acho que a
gente… precisa conversar. Mas não agora. Quero dizer… Se a gente
morrer amanhã, não faz diferença a gente ter decidido morar em Paris
ou Amsterdã, não é? – lembrei, as articulações dos dedos pelo seu
rosto.
– Faz sentido.
Acenei devagar. Ela sorriu. Puxei sua nuca para mim e beijei sua
boca.
Soltei o beijo e Mina me deu um último selinho que estalou bem
alto.
Meu sorriso se abriu, imenso.
Ela me abraçou e nós deixamos os minutos restantes escorrerem
devagar. Raspando meu nariz no dela até o alarme soar estridente e ela
se mover, rindo, para desligá-lo – Não doeu, né?
Puxei sua cintura e deitamos na cama, um de frente para o outro,
mantive sua mão na minha, tocando seus dedos com carinho.
Vivi minha vida toda um dia de cada vez.
Mina foi a primeira pessoa na minha vida que me fez querer pensar
em termode “anos”.
Era por isso que era diferente comela.
Sem saber, ela tinha me feito encarar
os traumas da minha infância a fim de superá-los. Enfrentar o fato
de que a vida nem sempre dá o que a gente quer: às vezes ela nos dá
uma mulher que a gente ama e que não responde a declaração no
mesmo segundo. Ou nos dá um pai violento e uma irmã vítima. Nos dá
impotência e nos mantém presos,impossibilitados de nos defender ou de
acolher as pessoas que amamos.
– Vem cá, eu quero te beijar de novo
– pedi.
Ela me beijou, e meu sorriso sedesfez em uma risada deliciosa.
– O que foi? – ela quis saber.
– Não, não – brinquei. – Seus quinzeminutos acabaram.
– Ah, isso é fácil de resolver! – Ela
se esticou na cama, brincalhona, procurando o relógio mais uma vez
e eu a segurei pela cintura. Fiz coceguinhas em suas costelas,
informando-a de que ela estava roubando.
– Me conta! – pediu. Eu sentia nossos hálitos se misturando e soube
que eu nãopoderia negar.
– Tem uma autora de que minha irmã gosta muito. Em uma
passagem de um livro dela, há uma citação que Lexa ama. Essa autora
diz que muitas pessoas passam a vida inteira hibernando. Você se
levanta da cama, vai trabalhar, acha que está fazendo tudo certo na
vida… Aí, um dia, algo simplesmente acontece e você acorda. Percebe
tudo que estava fazendo errado. Tudo que era sem
sentido. Tudo que você quer mudar. É meio louco ver assim. –
Mantive Mina bem perto, sua testa contra a minha. – Mas acho que era
isso. Eu estava hibernando. E você, com esse seu jeito maluco, sem
querer me fez repensar minha vida inteira. Acho que é por isso que eu
te amo. – Sorri e a beijei rapidamente. – Mesmo que dê errado, mesmo
que você quebre meu coração ou eu quebre o seu: eu sempre vou te
amar. Vou te amar porque, sem você, eu teria passado minha vida
inteira alheio a mim mesmo. Vou te amar porque foi você quem me
acordou.
– E espremi suas bolas no punho! – lembrou.
– Claro! Não podemos esquecer essa
parte. – Girei sobre ela. – Qual o homem que não se apaixona por
uma mulher que o deixa infértil?
– Ei! – Delvak estava na porta – Temos que ir ao hotel, para pegar
um vestido da Lexa para Mina. Vai ajudar no elemento sedução –
explicou. – Estãoprontos?
Mina revirou os olhos e se esticou para encarar Delvak.
– Acho que a gente ia transar, mas você interrompeu tudo!
Eu gargalhei muito alto diante de sua ousadia.
– Ah, nesse caso eu espero. – Ele piscou um olho.
Mina beijou minha bochecha, antes dese levantar.
– Controle-se, Delvak – sugeriu, passando por ele. – Ou peço pra
Lexa te dar uma surra quando ela voltar – desafiou e eu arregalei os
olhos em descrença.
A vida é assim… Te dá traumas, uma infância horrível repleta de
abusos e uma rotina de fugas. Aí, um dia, ela chega e te oferece uma
Mina também.
Eu sorri ao assistir à minha namorada e ao meu amigo descerem as
escadas enquanto trocavam ofensas e elogios de duplo sentido. Eu não
estava mais sozinho. Talvez nunca tivesse estado. Talvez tivesse sido
apenas uma opção. Talvez eu estivesse fugindo tão rápido que nunca
parei para notar os amigos e família que se dispunham ao meu redor e
que buscavam me alcançar.
Mas agora eu tinha acordado e estavapronto.
Agora eu não era mais impotente. Podia me defender e podia
defender as pessoas que eu amava.
Eu finalmente tinha compreendido quea vida não é apenas uma vadia
nojenta. Ela joga coisas horríveis para cima de você? Sim. Mas então,
quando você menos espera, ela entra em um quarto de hotel, disfarçada
de uma cliente virgem,e te dá um presente maravilhoso.

O plano de Delvak era bem simples.E a melhor parte


é que podia ser
dividido em etapas facilmente listáveis:
1. Seduzir o contador.
2. Fazer o contador pedir meu telefone.
3. Exagerar na proximidade enquanto sussurrava o telefonefalso no
ouvido dele.
4. Prestar atenção quando eledesbloqueasse o aparelho.
5. Decorar o número pela minhavida.
6. Distrair o contador enquanto Tim roubava o aparelho do seu
bolso.
7. Roubar todo o dinheiro do mafioso e deixá-lo sem condições de
perseguir qualquer um de nós.

Ok. Havia um pequeno abismo entre


as etapas 6 e 7. Embora eu não soubesse como pulá-lo, esperava
profundamenteque o plano de Delvak desse conta dele.O mesmo
Delvak que tinha me garantido além de quaisquer dúvidas
que as etapas 1 a 6 seriam facilmente
executáveis.
“Facilmente” ele tinha dito. Claramente não me conhecia. Mas ia
conhecer.
E não ia acreditar.
Não que isso importasse agora.
Agora, eu estava enfiada em um vestido de Lexa que me
supervalorizava. Não de um modo óbvio e direto, mas do jeito sexy e
provocante da irmã mais velha de Ryk. Era o tipo de sensualidade que
mostra muito sem mostrar nada e
que funcionava perfeitamente nela.
Nela.
Não em mim.
Lexa sabia se comportar. Até o andar da maldita era sensual. Ela
ficaria linda até em um saco de estopa rasgado depois de tanto
carregar batatas, enquanto eu podia vestir alta-costura e ainda
comprimiria meus membros emuma corcunda tímida e desesperada em
confronto com a necessidade de seduzir alguém.
Acho que eu preferia a blusa oferecida por Lucy com um decote
que ia até o umbigo ou a camisa levemente comprida da Forever 21
que Nila insistia em me garantir que era um vestido. Eu ainda achava
que algum
funcionário da Forever 21 deveria ser demitido, porque o vestido da
Nila veio sem a parte de baixo, mas o que é que euentendo de moda?
Provavelmente tanto quanto eu entendia de sedução.
Aproximadamente“zero”. E em um dia bom.
No geral, minha designação era negativa.
Acho que é por isso que eu preferia as roupas sensuais mais óbvias.
Meu corpo era bem decente e seria preferível apenas ficar de pé, em
silêncio, deixando meu corpo trabalhar por nós dois enquanto meu
cérebro se ocupava em me convencer a não desmaiar.
As roupas sensuais de Lexa, porém, exigiam mais trabalho.
Delvak murmurou um “exagerada” antes de se afastar.
Era fácil para ele.
Minha experiência com sedução se resumia a sorrir para algum cara
em um bar ou contratar um garoto de programa.
E agora, não apenas eu tinha que abordar um desconhecido, mas
conquistá-lo o suficiente para fazê-lo pedir meu número.
– Tenho certeza que vários caras já pediram seu número antes. –
Devon fez questão de brincar, ainda na boate, ao perceber meu
desespero.
Claro, meu bem, claro que já pediram. Mas nunca quando eu os
persegui, precisando que eles me cobiçassem desesperadamente para
conseguir arquitetar um assalto e salvar a minha vida e a do meu
homem.
Era responsabilidade demais para sedução de menos.
Respirei fundo, aproveitando para me esbaldar de oxigênio já que
aquela seria, provavelmente, a última vez que eu respiraria na noite.
Delvak e Ryker tinham ficado para trás, apoiando as bebidas em uma
mesa e se mantendo de pé para observar os arredores. As caixas de
som em cada centímetro do lugar estouravam com uma música
eletrônica que, no momento, era lenta e sensual.
Isso deveria me ajudar, não é?
Talvez eu começasse a dançar e pedisse para alguém tirar minha
roupa
na frente dele. A considerar pelo meu histórico, acho que eu teria
mais chancesdesse jeito.
Virei o rosto para o lado, em busca da confirmação de Sven que o
homem ao meu lado era com certeza absoluta o contador do Kulik.
Ele acenou, exagerado, e eu tive certeza que sua paciência havia se
esgotado.
Eu não estava errada em querer ter certeza, não é? Ia ser uma perda
de tempo – para não dizer um esforço horrível – fazer o impossível
para seduzir um cara e lhe dar um telefone falso para, apenas então,
descobrir que tinha batido meus cílios para o cara errado.
Tudo bem que perguntar se Delvak tinha certeza apenas por duas ou
três vezes seria mais aceitável do que as doze ou quinze perguntas que
lhe apontei, mais os oito pedidos para ver fotos e as verificações de
descrições físicas. Uma das quais o impeliu a apenas rir em desistência
antes de virar as costas.
Apoiei os cotovelos sobre o balcão no qual o contador estava e
esperei alguma coisa acontecer. Espremendo meus lábios.
A cerveja que ele pedira chegou e elese foi depois de pagar.
Nada aconteceu.
Claro que nada aconteceu.Eu não fiz nada.
Estava esperando o quê, Bault? Que ele dissesse “olha, você é tão
linda e silenciosa que eu vou até te dar o código do meu celular aqui,
sem você precisar nem pedir”?.
Eu queria dizer que revirei os olhos diante desse pensamento.
Contudo, ele foi tão quente e agradável que eu me agarrei a ele. Ia ser
tão lindo se eu simplesmente conseguisse fazer aquilo por algum
milagre ou graça do destino.
Mordi o lábio e o segui devagar.
Em algum lugar ao meu redor, eu tinha certeza que os strippers do
Lucky’s estavam apostando quanto tempo eu levaria para desistir.
Vamos, Universo, colabora, porfavor! Uma mísera vez!
Ele se sentou em uma poltrona e quando eu dei por mim já estava a
uns vinte centímetros dele.
Hora de agir, Mina. Sacode essa bunda, empina esses peitos, usa uma
falamansa… QUALQUER COISA, só não fica aí parada.
Ótima ideia, cérebro, valeu pela colaboração. Mas será que dá pra
avisar minhas pernas?
Coloquei uma mão sobre o braço da poltrona, na mais ousada
tentativa desedução que me ocorreu.
Pois é. Minha mais ousada tentativa de sedução era acariciar o braço
da cadeira em que o cara estava.
Não é de estranhar que a perda da minha virgindade tenha sido
uma
verdadeira saga.
Ele levantou os olhos e notou minha presença.
Ok.
Agora eu faço o quê?
Abaixa! É. Ficar na linha de visão dele, parecia bom.
Comecei a me abaixar, mas o vestido colado de Lexa não concordou
com o movimento e minhas coxas começaram a se espremer uma contra
a outra daquele jeito que ou rompe a circulação ou os ossos.
Levanta.
Comecei a levantar de volta, mas já estava mais para baixo do que
para cima e aquela dança de minhoca não estava ajudando o escasso
elemento “sedução”
de minha presença. Ele estreitou um dos olhos e eu tive certeza que
minhas habilidades corporais o deixaram confuso.
Estou contigo, amigo.
Eu também fico confusa com minha idiotice.
Todo mundo fica.
Meu corpo estava inclinado naquela posição “galinha que não sabe
se coloca o ovo ou sai pra ciscar” e eu ponderei se, entre abaixar ou
levantar, era melhor escolher a porta número 3 e fingir que aquela
“meia abaixada” tinha sido proposital: sentei no braço da cadeira e
coloquei meu braço ao redor dele.
O contador olhou para mim como se me desafiasse a ser ainda mais
inapropriada sem sua autorização.
E não de um jeito bom.
Não daquele jeito “eu te desafio a ser mais ousada e lamber meu
pau”.
Mas do jeito “tá me confundindo com quem, magricela?”, que
contribuiu aindamais para minha autoconfiança.
Eu não sei por que cacete resolvi dizer “você vem sempre aqui?”,
mas acredito que é o tipo de frase imbecil que ninguém, NINGUÉM no
mundo usa para uma cantada, embora você sempre escute como
exemplo.
O que encaixava perfeitamente com a Mina: superengajada na teoria,
uma merda na prática.
Mas eu não demorei a perceber que o que realmente me destruiu não
foi o que
eu disse, mas como eu disse.
Queria sussurrar, mas isso não daria certo por causa do barulho do
ambiente. Então, decidi falar alto. E, como eu queria acabar com aquilo
de uma vez, pensei em me fazer ouvir rapidamente.
E bem… posso ou não ter gritado altodemais no ouvido dele.
Considerando o sobressalto do homem e o modo irritado como me
olhou depois… é bem provável que eu tenha gritado.
E me conhecendo… eu gritei. Certeza. Ainda estava gelada com
minha cara de pastel encarando o vazio e tentando achar uma saída
que, de preferência, não envolvesse levantar e abaixar como um pistão
com problemas mentais, nem
estourar os tímpanos de um ser humano. Ele se moveu em evidente
sinal de desconforto e eu pulei no seu colo.
Por que eu fiz isso?
Qualquer pessoa que me conhece o mínimo poderia apostar que eu
não sei.
Nunca sei como me enfio nessas situações embaraçosas. Entretanto,
quando eu dou por mim, já estou lá: enfiada e submersa.
Eu olhei para o contador.
O contador olhou para mim.Eu estava no colo dele.
Ele tinha as mãos nos braços da cadeira e era a representação física
da indignação.
Eu queria dizer alguma coisa.Ele parecia prestes a gritar.
Eu olhei para ele. Ele olhou para mim.Eu sorri.
Veja bem, eu não tinha um espelho na minha frente, mas eu tenho
certeza que abri algum sorriso amarelo e idiota.
– Pode me dar licença? – ele pediu e tive certeza que não havia
circunstâncias reais ou imaginárias que pudessem fazer com que aquela
noite acabasse com o contador pedindo meu número de telefone.
Não. Havia. Chance.
Por um lado, eu tinha certeza que Ryker deveria estar no meio de
umaincontrolável crise de risos bem atrás de
mim.
Por outro lado, ia ser legal olhar paraDelvak e dizer “EU TE AVISEI!”.
– Me dá uma chance – miei. – Você étão lindo.
As palavras saíram constrangidas assim que eu as disse.
Tentei rebolar no colo dele, mas acho que só devo ter levantado e
sentado de algum jeito que não o deixou à vontade.
– Com licença. – Ele se levantou sem esperar que eu me
manifestasse. Ele se foi e eu voltei a sentar no braço da cadeira,
reunindo forças para encarar Delvak e chorar para que Lexa chegasse
bem depressa. Ela conseguiria fazer aquilo em um instante, não era?
– Não fique assim, querida. – A
garçonete se aproximou, recolhendo o copo que ele tinha deixado
para trás. – Você só não é o tipo dele.
Pisquei os olhos, colocando-a em foco.
– Ele preferia que eu fosse loira? – perguntei, esperançosa. Não que
Lexa precisasse de ajuda… mas se ele preferisse loiras seria ainda
mais fácil.
– Não. – Ela riu com gosto. – Ele preferia que você tivesse… –
encarou minha virilha – ...mais bagagem. – Saiu rindo e senti minhas
bochechas seaquecerem.
Bagagem?
Ela queria dizer experiência?
Como DIABOS todo mundo sabia queeu era quase virgem?
O comentário da garçonete me deixou tão irritada que sequer fiquei
envergonhada ao me aproximar da mesa onde Ryker e Sven riam sem
qualquer pudor.
– Acho que se você tivesse ido até o chão ele se apaixonava. –
Strome me puxou pela cintura.
– Homens gostam disso? – Esqueci a garçonete, voltando à realidade
dosmeus problemas.
Ryker arregalou os olhos e ficou alguns segundos em silêncio antes
de rir.
– Foi uma piada, amor.
– Vai nos explicar qual foi a da dancinha? – Sven pediu,
inclinando-se sobre a mesa, na minha direção. – Ou prefere manter
seus segredos de sedução
bem armazenados?
– Onde está a Lexa? – implorei.
– A caminho. Vamos esperar que ela chegue a tempo, ou teremos que
tentar denovo amanhã. – Ryker deu de ombros.
– Próxima semana – Delvak corrigiu.
– A informação é que ele vai estar fora da cidade nos próximos
dias.
– É por isso que você insistiu que viéssemos hoje? – Ryker levantou
a sobrancelha.
– Precisamente. Então… vamos esperar que sua irmã chegue bem
depressa. A não ser que sua garota queira ir até lá e não rebolar até o
chão de novo.
– Acho que prefiro morrer –resmunguei.
– Você realmente estava certa quandocontou que não era boa nisso.
– Eu te avisei! – rosnei, antes de lembrar de um detalhe. – Mas
parece que não foi completamente culpa minha.
– Não? – O teor de incredulidade na voz de Delvak me chateou.
– Não! – Estirei a língua e ele se limitou a rir, antes de beber mais
um gole, sem tirar os olhos de mim ou da minha língua. Guardei-a de
volta na boca, por medo que ele conseguisse roubá-la só com o olhar.
Seus olhos azuis tinham um magnetismo muito peculiar. Quase
sobrenatural. Deixavamo ar denso e tornavam a respiração difícil.
– Mina? – Ryker pediu com um
sorriso. – Estava dizendo…?
– Ah! Sim! – Fechei os olhos com força. – A garçonete disse que
eu nãoera o tipo dele. Que o tipo dele eram mulheres mais experientes.
Apesar de que… não sei como elasabia que eu sou inexperiente.
– Não sabe? – Ryker soltou o copo, rindo. – De verdade? Não faz
ideia do que pode ter causado essa impressão? – Riu, puxando minha
cintura na tentativade me reconfortar.
– Como assim “mais experiente”? – Delvak nos interrompeu. –
Acha que elaquis dizer “mais velha”?
– Não! – afirmei, com segurança.
– Por que não? – Delvak sacudiu a cabeça, como se não confiasse
nos meus
instintos. – O que ela disse, exatamente?
– Ela disse que eu não era o tipo dele.
– Levantei um ombro. – E que ele preferia mulheres com mais
“bagagem”.
– Bagagem? – Havia um sorriso tortona boca de Delvak. – Essa foi a
palavra que ela usou?
– Foi. Por quê? – Mudei o foco de minha atenção de Sven para
Ryker. – Isso é código para alguma coisa?
– O que mais ela disse? – Sven continuou.
– Mais nada. Só disse que ele preferia alguém com mais bagagem
– expliquei. – E olhou pra minha virilha na hora. Acho que ela deve ter
imaginado que eu não tenho tantaexperiência na cama e… O que foi?
Ryker e Sven estavam se entreolhandoe sorrindo.
– O que foi?
– Pedra, papel ou tesoura? – Ryker sugeriu.
– Não, eu vou. – Delvak piscou um olho para nós. – Assim é mais
seguro.
– O que foi que houve? – perguntei.
– Assim você me ofende, Sven.
– Não se ofenda, garoto. Não é pessoal. Não importa quem seja a
alternativa, eu sou sempre a opção mais segura.
– Será que vocês podem me informar o que está acontecendo? –
reclamei, puxando Ryker pela manga.
– O cara é gay, amor – Ryk sorriu.
Gay.
– Você. – Apontei para Sven. – Você me disse que seria fácil! – Pelo
menos, a culpa não era toda minha. – Só dar em cima dele e pegar o
número. E o cara é gay! Não parece mais tão fácil agora, não é? –
rosnei baixinho.
Delvak estava enrolando as mangas para cima, prendendo-as nos
antebraçoslargos, evidenciando-os de uma maneiradeliciosa.
– Querida, se o cara é gay... – piscou um olho ao abrir os dois botões
no topo da camisa – ...então vai ser mais fácil ainda.

– Vem dançar comigo – pedi.


– Não – resmungou, enfiando as mãos embaixo dos braços, para que
eu não as pegasse. – Já preenchi minha cota de danças por hoje,
obrigada.
Sven já estava próximo ao contador e eu soube que ele não iria
demorar.
Se eu não precisaria de muito tempo para suscitar o interesse do
cara, Sven precisaria de menos ainda. Nossa operação estava segura e
eu me peguei puxando a mão da minha namorada e empurrando-a em
direção à pista de dança.
– Quero ver aqueles movimentos sensuais de novo.
– Você está pedindo para apanhar – avisou.
– Humm, gostosa – gemi, mordendo o
lábio. – Me comportei como um garoto levado e mereço apanhar? –
gemi no seuouvido.
– ISSO! – Bateu um pé no chão, se exaltando. – Era isso que eu
queria saber fazer! – chiou. – Usar palavras normais desse jeito que faz
todo mundo ter certeza que você está falando de sexo! Você faz
parecer tão fácil! Mas quando eu tento fazer, pareço uma perturbada
inconveniente com algum problema mental.
– Você se esforça demais – expliquei,acariciando seus braços. – Tem
que ser suave.
– Gostoso – falou baixinho, balançando o corpo de um jeito
completamente não natural.
Arregalei os olhos para o seu movimento e os pisquei várias vezes.
– Fiz merda, não foi? – Seus ombros caíram, causando-me uma
crise de riso.
– Pare de rir! – Deu um murro no meu ombro.
No entanto, era impossível atender a seu pedido. Eu estava dobrado
sobre o meu estômago, sentindo as lágrimas se formarem nos meus
olhos.
– Acho que pra ser mais sensual... – trouxe-a de encontro ao meu
abraço assim que me recuperei – ...você vai precisar de umas aulas.
– Vou precisar reencarnar – resmungou.
– Você é sensual quando não tenta – constatei. – Quando se
esforça, é um
desastre! – Arregalei os olhos, exagerando no medo e ela me
ofereceu alíngua como resposta.
– Morro de inveja da sua irmã. – Torceu o nariz. – Basta ela andar e
já dápra sentir a sensualidade emanando.
– Lexa é uma espécie diferente deanimal, amor.
– Do tipo que não entra em pânico quando tem que seduzir um
cara? – Do tipo que não teve uma virgindade intransponível.
– Ah! – sorriu. – Se o quesito de definição é esse, então eu sou uma
espécie muito única!
– Exclusiva. – Puxei sua boca para beijá-la.
O comum é imaginar que emoções
estão vinculadas ao coração. Afinal, foi o órgão que nós elegemos
pararepresentar um sentimento mais profundo.
Eu peço licença para discordar.
Desde que conheci Mina, percebi que as emoções são muito mais
vinculadas às pálpebras. Acontece quando eu sinto o cheiro dela. O
toque de sua pele maciaque sempre parece estar um pouco mais quente
do que a minha, me abraçando em seu calor. O som do seu sorriso
desajeitado ou sua voz carinhosa. Aquele segundo em que nossos
narizes se tocam.
O peso nas minhas pálpebras é insuportável. Eu quero manter os
olhos abertos para vê-la ali, perto de mim.
Assistir à perdição de seus olhos nos meus, ver os fios revoltos
caídos pela sua testa, saber quando nossos lábios se fundem.
Mas as pálpebras… as malditas pálpebras…
Elas parecem engordar três toneladas em um instante. Um meio
olhar é tudo que me resta. Uma vista inebriada e embriagada que
desconhece qualquer coisa que não seja a mulher na minha frente e seu
nariz entrelaçado ao meu, a iminência do toque entre nossos lábios e o
calor de nossos hálitos misturados.
Aquilo era o que eu sentia por Mina.
Um carinho capaz de cegar, pois bastava a proximidade de sua boca
e eu me entregava ao momento, abandonando
um de meus sentidos para descobrir outro ainda mais poderoso.
Minhas pálpebras pesaram e eu a beijei, fechando os olhos e
sentindo as linhas da sua boca no meu polegar. Prolonguei o beijo até
senti-la ofegante.
– Gostoso – murmurou, baixinho, ainda de olhos fechados. Ela
tambémestava entregue ao momento.
– Assim – parabenizei. – Melhor.
– É? – Lambeu parte do sorriso satisfeito, ainda de olhos fechados.
– Bem melhor. – Lambi o mesmo lugar que ela, antes de mordiscar
seus lábios. – Você fica bem mais sensual quando não tenta. – Enfiei
minha língua em sua boca e ela sugou, animada. – Bem mais –
completei.
– Humm? – gemeu, me fazendo perceber que ela não estava mais
prestando atenção às minhas palavras.
– Olha só pra isso… – ri baixinho. – Está excitada, Bault?
– Detesto quando você faz perguntas retóricas.
– E detesto quando você abandona gemidos para responder com
palavras articuladas. – Passei a língua pela sua boca. – Geme de novo
pra mim?
– Descarado. – Mordeu minha línguae quem gemeu fui eu.
– Gosto quando você me morde – confessei, apertando minha testa
contra adela.
– Gosto quando você me chupa.Ri alto diante de sua ousadia.
– Mina Bault, sua safadinha! Há um tempo, você nem conseguia
dizer “pau”.
– Você quer conversar sobre o que eu não fazia há um tempo ou sobre
o que eu vou fazer daqui a pouco?
– Estou intrigado. – Forcei uma aparência concentrada, tentando
me manter firme no diálogo. Minhas pálpebras, porém, não estavam
colaborando. Nem meu pau. Não que isso fosse novidade: nessas
horas, ele nunca colaborava. – Elabore – pedi, fechando os olhos e
mordendo seu queixo.
– Estou tentada a te morder bem aqui.
Se você me chupar, é claro.
– Um acordo muito justo. – Já estava ficando duro. – Mas não faça
promessas
que não pode cumprir, Bault. Ou eu te como no meio de um salão
cheio de gente. De novo.
– Sinto uma pressão estranha na minha virilha toda vez que você
fala algo assim, sabia?
– Claro que sabia. É a minha intenção. – Pisquei um olho. – Vamos
até ali… – Raspei a língua no seu lóbulo, deixando minhas palavras
dançarem. – Colocar um pouquinho mais de pressão no lugar certo.
Ela se contraiu em meus braços quando o arrepio tomou conta de
seu corpo e eu arrisquei um toque em seu joelho. Minha mão solta mal
a tocava, quando meu polegar atingiu a barra do seu vestido e além.
Não aumentei a
força da fricção. Em termos de sexo, existem dois toques que
funcionam: ou você aperta a carne dela como sequisesse abocanhar um
pedaço com os dedos, ou você mal a toca, deixando a ponta dos dedos
fazerem cócegas leves.
Era esse segundo efeito que eu buscava, no momento. Apenas as
pontas dos dedos repousando no ponto de suas coxas, onde o vestido
começava a cobri- la. Uma promessa de que bastaria um leve incentivo
e eu a engoliria com as mãos. Uma provocação suave. Seus olhos
fechados provavam que minha intenção tinha sido perfeitamente
recebida e eu passei um braço pelo seu corpo quando a senti se
desfazer em anseios.
Uma esfregada.
Foi tudo que eu precisei.
Um movimento do meu quadril contra o arrebitar do seu quadril e
meu pênis saltou na direção do seu corpo, possuído por vontade
própria. Apertei sua bunda e a virei com força, meus dedos cravados
nas suas ancas, empurrando sua cintura com os polegares, encoxando
sua bunda, raspando meu pau para cima e para baixo. Um leve
movimento na minha visão periférica e parte de mim soube que
estávamos sendo observados. Não ia ser exatamente algo inédito e por
isso não tive qualquer pudor em continuar a desabrochar minha libido
nacarne suculenta dela.
Mina gemeu, cobrindo minhas mãos
com as suas. Voltou suas costas para mim, forrando-me, alongando-
se em meu tórax. Mordi sua orelha e foi como se eu tivesse ativado um
botão, fazendo com que ela rebolasse.
Você precisa ser homem para entender o nível do desespero de ter
uma mulher deliciosa rebolando contra seu pênis ereto.
Suas pernas tremem, sua visão sai de foco e seu corpo inteiro é
submetido a uma vontade incontrolável de fazê-lo avançar pelas carnes
macias das nádegas. Minha mão subiu à procura de sua calcinha, dois
dedos passeando entre as bochechas de sua bunda e Mina emitiu um
gritinho tão baixo que só pudeouvir porque seu rosto estava de lado e
seus dentes cerrados em minha orelha.
– Isso… não vai… acabar… bem… –ofegou.
– Ah, amor… – Dancei o indicador pela fresta entre suas pernas, a
mão todaenfiada em sua calcinha. – Eu discordo.
Meu pulso estalava contra sua bunda enquanto eu movia a mão até
fazer as pontas dos dedos roçarem no alto dos seus pequenos lábios.
Provoquei os arredores do clitóris sem nunca atingi- lo. Usei a mão
sobre sua boceta como o controle das rédeas, guiando-a para o
banheiro, entre beijos no pescoço e urros roucos ao pé do ouvido.
O banheiro masculino estava concorrido. Um casal rodopiava
contra a parede dos fundos, se alternando entre
espremer e ser espremido, enquanto todaa aventura ficava disponível
para o homem que lavava as mãos com um sorriso no canto da boca, o
que erguia as calças atacando o cinto, e um terceiro, girando o gelo
dentro do seu copo de uísque, com as costas apoiadas contra a parede
oposta. Ele observava o desenrolar da situação, sem pressa.
Alguns dos olhares se voltaram para nós, Mina deu um passo para o
lado e minha ereção ficou evidente.
– Ryker… – Ela tinha aquele tom nos olhos de quem começa a ser
invadida pela realidade e eu soube que, ou eu a deixava excitada a
ponto de não conseguir recusar, ou voltava duro e frustrado para o
salão principal e
esperava que Delvak terminasse logo seu assunto com o contador
para que eu pudesse voltar para o nosso quarto efodê-la na cama.
Afastei a mão apenas o suficiente para poder estapear sua boceta
com fome, ouvi o som rouco e abafado do ar escapando entre minha
mão e sua entrada. Meus passos foram largos e definitivos,
empurrando-a contra a parede, ao lado do casal de desconhecidos que
se divertiam de forma invejável.
– Aqui fora com eles ou lá dentro sozinhos? – Indiquei a cabine,
autoritário.
Sua boca estava entreaberta e os olhos arregalados.
– Ryker… – murmurou, só para mim. Havia o princípio de um
sorriso ali, se deleitando na minha atuação.
– Minha mão tá enfiada em você, Bault. Não me diz que não está
excitada que eu vou saber que é mentira. Está molhada como uma
prostitutazinha que acabou de descobrir que foi contratada por um
tarado gostoso. – Raspei os dentes no seu queixo. – Não minta pra
mim.
– Se a gente… ficar aqui… eles vão me ver nua – suspirou,
explicando o seureceio.
Em cima de um palco, à meia luz, tinha sido impessoal. Espremida
contra uma parede compartilhada a centímetros de distância era
diferente. Seu sorriso,
no entanto, se alargou,contraditoriamente. Passando a
línguanos lábios.
Estourei a costura da calcinha entre meus dedos, abandonando o
pano amorfo no chão. Levei os dentes à alça fina do vestido e, entre o
fechar da mandíbula e um puxão com meu punho, as alças se
desfizeram. Enfiei os dedos no bojo do vestido abaixando-o até a
barriga, expondo seus seios no banheiropúblico.
Eles pularam arrebitados com o movimento do pano, os mamilos
rosados e endurecidos apontando para minha boca. Lambi um de cada
vez, usando minha saliva para acalmar a pele eriçada ao redor das
auréolas, enquanto
minhas mãos se espalharam pelas suas coxas, puxando a saia do
vestido para cima, libertando sua virilha aos espectadores e
transformando seu vestido composto em um cinto largo na altura do
estômago, única parte do seu corpo que se mantinha coberta.
– Pronto. Já te viram nua. – Dei um meio passo para trás para poder,
eu também, apreciar a vista. Ela não se escondeu ou se cobriu.
Manteve as palmas contra a parede, os olhos nos meus e um quase
sorriso divertido na boca, como se não acreditasse que estava fazendo
aquilo, apesar de felizpela ousadia. – Problema resolvido –resmunguei,
doido de tesão e só percebi que estava prendendo a respiração
diante da nudez angelical de Minaquando comecei a ficar tonto.
Arreganhei suas pernas, elevando-a pelos joelhos e jogando-a contra
a pia. Me ajoelhei na sua frente e cobri sua boceta com minha boca.
Sua coxa deslizava contra minha orelha, seu suco tinha descido
pesadamente por ali enquanto eu a despia. Virei o rosto de lado e a
lambi na parte interna da coxa.
Mina abandonou a cautela e gemeu alto, com muita força.
Ao nosso lado, o jovem rapaz de cabelos castanhos tirou o pênis das
calças e se enfiou na sua companheira que, ao contrário de Mina, ainda
estava quase completamente vestida. Ela gritou e percebi falsidade em
seu gemido. Ela
queria competir com a gente? Ah… boasorte para ela.
Enfiei a língua, entortando-a dentro de Bault como um anzol,
procurando as áreas mais delicadas.
– Ah… – ela gritou, sem conseguir respirar. – Por favor… Por
favor… – Suas pernas se apertaram ao meu redor e eu ri com a boca
encharcada pelo seu líquido, ouvi o gemido alto e desconhecido da
mulher que tentava nossuperar e levei para o lado pessoal.
Abracei as coxas de Mina e prendi seu clitóris entre o indicador e o
polegar. O ideal é começar a estimular o grelinho de uma moça sempre
devagar e dar tempo para que ele se engorde e estique. Mas quando o
toquei ele já
estava grande e roliço de desejo entre meus dedos. Apetitoso como
uma azeitona. Acelerei de imediato, esfregando seu grelo com
velocidade e força, mas ainda com cuidado para não machucá-la com
um movimento brusco.Ela gozaria logo. E gozaria bem alto.
Eu podia chupar Mina em silêncio, mas resolvi emitir rosnados,
deixar quemeus toques ecoassem sons altos desexo, o ar escapando, o
estalar da minhasaliva misturada ao seu suco. Ouvi Minagritar um
som interminável. Seu ar parecia ter acabado, mas o seu
grito não.Fiz minha língua trabalhar por mais alguns instantes antes de
levantar os olhos para assisti-la em sua glória. A mão que agarrava
o seio de Mina não
era a minha e eu tive pensamentos homicidas imediatos. O puto ao
nosso lado fodia sua garota enquanto assistia a minha gozar.
Estapeei sua mão com tanta força quesenti a minha latejar.
– Tira a mão, imbecil! – Empurrei-o para o lado com o ombro e ele
perdeu o equilíbrio, com o pênis escapulindo da namorada e gemendo
um pedido de desculpas.
Não detive minha atenção neles para ouvir: agarrei Mina pela bunda
e a enfiei em uma das cabines, me espremendo contra ela para fechar a
porta.
– Desistiu da audiência? – provocou.
– Estava ficando concorrido demais.
– Eu queria voltar a chupá-la. Ainda não tinha terminado e queria
mais um pouco.Os dedos ágeis na minha cintura se desfazendo de cinto
e braguilha é que me convenceram a mudar de ideia. Me impressionou
como ela conseguiu me despir com velocidade. Acho que estava se
acostumando.
– Ficou com ciúmes? – Corou à medida que me fez perceber que
ela não tinha notado no toque do outro homem até eu ter interferido.
Cega de tesão.
– Não – menti, forçando um bico mimado que ela lambeu. – Mas eu
prefiro te fazer gozar sem ajuda de ninguém, obrigado.
Ela não esperou minhas mãos para guiá-la e apoiou um dos pés
sobre o
vaso.
– Olha só pra isso! – Ri. – Estou me sentindo tentado a não te deixar
gozar sópara prolongar esse momento.
– Vem logo. – Puxou-me pela gola ao morder minha boca. – Estou
pingando tanto que daqui a pouco alguém escorrega nesse chão.
Sensual quando não tenta.
Era isso que Mina conseguia.
Tomei meu pau encorpado que ela mantinha nas mãos e estapeei sua
entrada com minha glande. Esfreguei a pontinha contra seu clitóris.
Mina mordeu o lábio inferior, emitindo um gemido agudo e
incontrolável. Lá fora, o intrometido parecia ter encontrado o caminho
de volta para a boceta da sua
mulher e o som de impactos deixava claro que ele tinha encontrado
um ritmo contra a parede. Com a competição a distância, a moça podia
gemer com honestidade e, embora modesto, o som do seu prazer ali tão
perto de nós começou a me excitar ainda mais.
Mina tinha os olhos fechados e parecia ter desistido das funções em
quaisquer partes do seu corpo que não fossem o ponto exato de sua
vagina que recebia os impactos curtos da minha cabecinha.
Coloquei a ponta da minha carne contra a abertura da dela e
pressionei. Suas unhas se enfiaram em meus ombros enquanto eu me
enfiava nela. A cada novo centímetro percorrido, ela exalava
um novo suspiro. Um que misturava desespero com alívio.
Encontrei, eu também, um ritmo só nosso. Um que fazia nossos
gemidos se misturarem em uma rouquidão que prenunciava o que
estava por vir, de um modo tal que eu ouvia os gemidos, mas não
distinguia mais se eram meus ou dela.
Mina jogou as mãos para trás, se apoiando na divisória entre as
cabines, buscando uma posição que a deixasse se abrir mais sem perder
o equilíbrio. Unidos pelos nossos sexos, os tórax afastados em um vale
para que eu pudesse assistir seus seios saltarem. O suor cobria seu
corpo e uma gota particularmente resiliente pendurada no
bico rígido do seio engordava, se recusando a cair, e prendendo
minha atenção. A linha de suor descia como um córrego pela curva do
seio, reunindo mais peso à gota que vacilava, mas não desaparecia,
apesar do balançar dos peitos.
Pensei em levar minha boca e chupar seu suor, mas foi tarde demais.
Aquele milésimo de segundo indescritível que acontece imediatamente
antes do esporro se fez sentir, levei a mão ao clitóris de Mina em um
reflexo automático e o belisquei. Ela gritou em desesperado alívio
enquanto eu derramava meu líquido quente dentro do seu corpo,
sentindo aquele recuo delicioso contrair os músculos das
minhas coxas e nádegas enquanto eu melibertava dentro dela.
Mina arfou uma última vez e eu vi a gota de suor pingar do seu seio
antes de conseguir enfiar meu rosto na curva do seu pescoço, lutando
para que minhas pernas resistissem e não nos derrubassem no chão do
banheiro.

Eu não conseguia pensar direito. Minhas pernas tremiam, minha


cabeça girava. Eu só queria tomar um banho, fechar os olhos e dormir.
Talvez pular o banho.
A mão de Ryker me puxando era a única coisa que me mantinha
firme na
realidade. Mas eu escapava a cada segundo.
– Acho que vou ter que te comer em boates mais vezes para você se
acostumar – constatou. Pisquei os olhos e percebi que não era uma
piada. Ryker me ofereceu uma garrafa de água que bebi inteira.
Devolvi-a vazia e ele riu.
– O que foi? – perguntei, recobrando a consciência.
– Eu queria um gole. – Levantou um ombro, ainda sorrindo.
– Ai, amor! – Levei as mãos aos lábios. – Me desculpa! Eu pego
uma para você!
– Não se preocupa. – Me abraçou antes de se inclinar no balcão.
Sven estava a poucos passos de nós e
o contador estava claramente mais satisfeito com ele do que
comigo. Tocava os antebraços expostos e o tórax na altura dos botões
abertos. Sven sorria, enquanto o contador girava, preso ao seu campo
gravitacional.
O maldito fazia parecer muito fácil.
– Ali. – Ryker apertou o abraço sugestivo e eu me virei para ver
Lexa apoiada em uma das mesas, a distância.
– Onde estavam? – Sorriu antes de dar um gole em sua bebida e eu
soube que ela não precisava de uma resposta.
– Como está? – Ryker perguntou, indicando Sven com o queixo. –
Acha que ele consegue o código?
– Ah, já conseguiu. – Lexa piscou os olhos com obviedade. – E já
distraiu o
homem para que Tim roubasse seucelular.
Ryker enrugou a testa, confuso.
– E o que ainda está fazendo lá?
– Já tentou escapar três vezes. – Riu.
– Mas o contador parece irreparavelmente apaixonado. Se recusa a
deixá-lo ir.
– Não tem como a gente ajudar? – perguntei.
– Tem sim. Eu e Sven temos um código – explicou, passando a
língua nolábio inferior. Ela estava se divertindo.
– Um gesto para pedir auxílio em uma situação assim.
– E ele ainda não usou o gesto?
– Ah, já usou! – Riu alto. – Umas quatro vezes.
Ryker riu, entendendo a brincadeira da irmã.
– Não acha melhor ir até lá? – sugeriu, com calma.
– Não. – Torceu o nariz, risonha. – Ele sobrevive.
O contador virou–se para o balcão para pagar alguma bebida e
Delvak lançou um olhar firme e irritado para Lexa, com uma careta de
indignação. Eu podia ler o “você me paga por isso” na expressão dele.
Seu novo amigo se virou, oferecendo-lhe um copo da bebida e um
brinde. Ele sorriu e observei a careta voltar ao seu rosto antes de virar
a dose.
– Ele vai se vingar de você depois – avisei.
– Vai. – Lexa me ofereceu um sorriso deslumbrante. – Mas não acha
que vale a pena? – Riu com gosto. – É tão raro ver Delvak perdido –
suspirou.
– Por que ele simplesmente não dá o fora? – Höfler se aproximou de
nós.
– Ainda está aqui? – Ryker mal se virou.
– Estamos todos aqui – resmungou. – Alguém pode responder? Por
que ele não dá o fora?
Eu e Ryker nos entreolhamos. Eu não entendia nada do mundo de
seduções do resto da gangue então era compreensível que eu não
soubesse. Mas o fato de que Ryker também não sabia me deixou
confusa.
Lexa pigarreou antes de explicar: –
Ele passou todo esse tempo demonstrando interesse pelo homem
para que anotasse seu telefone. Se simplesmente fosse embora, se
tornaria suspeito. Quando notar que seu telefone desapareceu, ele pode
lembrar de Sven. Para que o homem não suspeite, ele precisa simular
que está realmente interessado e que foi embora por algum motivo
válido.
– E como vai fazer isso?
O contador estava próximo demais de Delvak, sussurrando algo em
seu ouvido e, se aquela não tinha sido uma proposta para irem para
algum lugar mais reservado juntos, eu não sabia o que mais poderia
ser. Delvak sorriu beliscando o queixo do seu novo amigo
de um jeito envolvente, antes de passar os dedos pela orelha em um
gesto peculiar, que imaginei ser o código entreos dois.
Lexa abanou os dedos para ele em um “tchau” divertido e riu como
se presenciasse a piada da sua vida.
– A gente precisa do código que ele decorou – lembrei. – Para ativar
o celular.
– Pegamos amanhã. – Lexa gargalhou.
– Lex… – Ryker pediu. – Não faz isso!
Ela expirou profundamente, irritada por não deixarmos que ela
continuasse ase divertir.
– Está bem, está bem.
Sven estava andando ao lado do
contador em direção à saída da boate, e Lexa os alcançou no meio
do caminho. Três passos largos para alcançá-lo e lhe deu um ruidoso
tapa no meio do rosto.
Delvak parecia desorientado, entre uma irritação pela sua demora e
umasatisfação por ela finalmente ter se manifestado.
– SEU CANALHA! – berrou a plenos pulmões. O susto me fez
segurar o braço de Ryker num ato involuntário. – Você jurou que tinha
acabado com essa vida.
O pânico que Delvak simulou foi bastante crível.
– Querida, eu posso explicar… – Ergueu as mãos, mas não antes de
Lexa o estapear mais uma vez.
– Você tem três filhos! Três! Estão em
casa, esperando por você! E enquanto eu lavo suas cuecas e explico
para os seus filhos por que você tem que trabalhar até tarde, você fica
aqui… nessa… nessa… sodomia! – berrou, indignada. Ela era uma
excelente atriz.
– Meu bem, me escuta...
– Não vou escutar! Seu canalha! Vou voltar pra casa! E você vai
voltar comigo! Vai explicar pro Junior por que perdeu a festa de
aniversário dele! A Anaïs levou o namorado para a festa! Queria te
apresentar! Mas onde você estava? – Outro tapa. – Onde?!
Delvak entortou o rosto, mordendo os lábios como se não acreditasse
que Lexaia continuar a estapeá-lo.
– Estava aqui! – Indicou os arredores.
Ela deveria estar se divertindo tanto. – Confraternizando com…
com… Eu não consigo nem falar em voz alta! Seu cafajeste! O que o
seu pai vai dizer? Os nossos vizinhos? O pessoal da igreja? – Vi os
ombros de Sven caírem, sem acreditar que ela iria tão longe. – Meu
Deus! – Lexa levou a mão à boca. – O que o pastor vai dizer? Você vai
serexpulso da congregação! Expulso! – exclamou antes de se virar para
se afastar.
Sven murmurou duas palavras para o contador, que parecia tão
chocado quanto o resto de nós. Eles se despediram rapidamente e Sven
correu atrás de Lexa.
Eu, Ryker e Höfler nos entreolhamos.
Nenhum dos três conseguia comentar o que quer que fosse. Mas
cada um correu mais rápido que o outro para o lado de fora para
encontrar Sven e Lexa.

Ela estava curvada sobre o próprio corpo e não conseguia parar de


rir. Svennão parecia compartilhar da sua alegria.
– Muito engraçada. Muito.
– A gente pode fazer isso de novo amanhã? – ela pediu, sem
conseguir parar de rir.
– Junior e Anaïs, Lexa? Sério?
– Não sou boa para inventar nomes. Foram os primeiros que eu
pensei – defendeu-se.
– Não é boa para inventar nomes?
Você é escritora!
– Não sou boa para inventar nomes sob pressão – acrescentou. –
Mas fora esse detalhe, meu roteiro foi impecável
– afirmou, exuberante.
– Impecável – Ryker concordou, rindo.
– Que bom que se divertiram. Onde está o telefone?
– Peguei com o Tim. – Devon entregou o aparelho.
– Ótimo. Tenho o código, vou dar uma olhada nisso e elaborar o que
podemos fazer. Acho que está na hora de convidar mais adultos para a
brincadeira. Porque eu, sozinho, não consigo cuidar de todos vocês. –
Torceu o nariz, oferecendo um
olhar recriminador para Lexa.
– Se a situação fosse o inverso e eu é que estivesse com o contador,
você teriafeito pior. – Piscou um olho descarado.
– Não teria te dado um tapa!
– Três – ela corrigiu, rindo.
Ele fingiu rir, se aproximou, perigoso, e beliscou uma porção de
carne na barriga dela, bem abaixo do seio. Não foi a mim que ele
beliscou, mas eu senti a pontada intensa ainda assim.
– Quero ver você rir – a boca dele estava no canto do ouvido dela,
suspirando em sua pele – quando eu me vingar.
Eles entraram no táxi e Lexa ainda estava rindo das ameaças de
Sven.
Eu não sabia como ela conseguia.
Não foi comigo que ele falou, masminha boca estava seca.

Ela sorriu e me desejou boa noite, mas eu segurei a porta do quarto


para não permitir que se fechasse entre nós.
– Quer entrar, Sven? – sorriu, provocando.
– Não sei se posso. – Mantive a seriedade. – Porque, se entrar, vou
querer te punir pelo seu comportamento essa noite. – Sorri. – E não sei
se posso
– confessei.
Lexa espremeu os lábios em uma linha rígida.
– Você sabe que eu e ele temos um
relacionamento muito aberto.
– Sei. – Acenei, ainda me apoiando na porta. – Mas também sei que
você me recusou da última vez. Então, não sei, Lex. – Passei a mão
pelos cabelos, tentando ser sedutor. Mas com ela... com ela nunca era
fácil tentar nada. A única pessoa no mundo que enxergava por baixo de
toda minha merda sem qualquer dificuldade. – Quero entrar – decidi. –
Posso?
– Você é diferente para ele, Svenie – sussurrou. – Nosso
relacionamento é aberto, mas sei que ele tem ciúmes de você. Não sei
se ficaria confortável se você me tocasse.
Concordei com um gesto, xingando o maldito de todos os nomes
mais
sórdidos que eu conseguia imaginar. Uma mulher como Lexa não
foi feita para um relacionamento monogâmico. E ela tinha encontrado
um poligâmico, mas ainda assim não poderia se envolver comigo? Em
que universo sádico algo assim seria justo?
– Sabe, Lex, quando eu toco uma mulher – suspirei, meu hálito em
seu rosto. – Meu objetivo não é conforto. – Toquei sua cintura. Ainda
longe de suas nádegas, apenas uma sugestão, não uma insistência. –
Angústia, desespero, necessidade... – Estreitei os olhos quando minhas
palavras faltaram.
– Sofreguidão, anseio, tormenta... – ajudou.
– Isso, obrigado. Todas essas coisas,
sim. Duas de cada, por favor. Mas conforto? – Revirei os olhos e ela
riu. – Você ficaria mais confortável se eu não te tocasse? – desafiei,
maléfico.
– Está dizendo que vai me punir sem me tocar, Delvak? – Piscou os
olhos, duvidando. – Levar uma mulher ao orgasmo sem um único
toque? – A curiosidade tinha fisgado a pesquisadora erótica e ela
precisaria ir até o fim. – Impossível. Mesmo pra você – decidiu.
– Quer me dar uma chance de tentar?
– Mordi o lábio. – Pelo bem da ciência e da literatura? – arrisquei.
Lexa me encarou com devota fixação.
– Sem um único toque?
– Se você tirar as próprias roupas. Se não, vou precisar fazer isso
por você –
considerei. – Fora isso, nenhum toque.
– Eu tiro – resolveu e eu fiquei duro.Instantaneamente.
– Tudo bem. – Lambi os lábios. – Vamos descobrir se eu consigo.
Lexa não esperou que eu a conduzisse ao quarto ou indicasse que
poderíamos começar. Ela nunca esperava por homem algum. Para mim,
a mulher decidida era o fator máximo de sedução e meu pau, como
bom companheiro que era, não discordava de mim.
Não houve dança sensual, não houve espera por iluminação
adequada, não houve troca de olhares inseguros em um misto de
timidez e hesitação. Ela se despiu sem pressa como se estivesse
sozinha no quarto. Seu olhar não
desviava do meu por um segundo que fosse, me mantendo
hipnotizado e presoao seu olhar, mesmo que seios igualmente divinos e
diabólicos já estivessem à minha disposição.
Eram os seus olhos. Era a sua convicção.
No despir. No falar. No caminhar.
Atravessando o quarto até onde a cama nos aguardava. Nua,
acendendo as luzes pelo caminho. Reconhecendo o meu olhar, atraindo
minha atenção. Expondo seu corpo enigmático, indiferente às próprias
imperfeições com um poder tal que me fazia crer que ela não as tinha.
A sedução sempre esteve nas atitudes. Não nos corpos. Não nos
gestos. Não
nos movimentos que os corpos fazemquando se amam ou se fodem.
Era a porra da atitude daquela mulher, que exalava a certeza de que
poderia me prostrar de joelhos, bem abaixo dos seus saltos, e me fazer
rezar não a uma divindade, mas a ela.
Sentou-se na cama e cruzou as pernas.
– Onde você me quer?
– Ao redor do meu pau. Rebolando, de preferência. Mas essa parte é
opcional.
– Isso envolveria toque – recriminou,balançando o indicador.
– Coisa pouca. – Dei de ombros. – Eucoloco as mãos para trás.
Ela riu alto.
– Sven!
Aproximei meu rosto do dela. Respirei fundo. Sentindo seu hálito,
fiz com que ela sentisse o meu. Ela se calou. Nada de risadas, nada de
sorrisos.
Ela me sentia.
Os dedos enfiados nos lençóis.Ela me sentia.
Fechou os olhos, entreabriu os lábios e deixou nossas respirações se
misturarem.
Eu a sentia.
O calor do hálito maculava minha pele embora seus lábios nunca me
tocassem, prolongando eternamente a sensação insuportável que
antecedia o beijo. Os instantes eram ainda mais desesperadores, pois
vinham recheados
da convicção que o beijo não aconteceria.
Levantei as mãos ao redor do seu rosto, mantendo as palmas
próximas às suas bochechas, mas sem tocá-las. Apenas circundando os
fios de seus cabelos, impedido pela áurea invisível e impenetrável que
nos separava.
Segurei os lençóis bem perto de onde estavam suas mãos, milímetros
separavam nossos dedos. Uma distância imensa. Me inclinei sobre ela,
Lexa não cedeu. Os seios firmes oscilando em sua respiração
compassada.
Meus dedos flutuaram leves entre nós,delicados. Sem tocá-la, movi a
mão em direção ao seu pescoço. Devagar. Guiando.
Ela compreendeu sem que qualquer palavra fosse necessária e
permitiu que minha ameaça de toque a conduzisse. Afastando-se de
meus dedos, seguindo a direção que eu sugeria. Com ela deitada na
cama, movi os dedos no ar, ao longo dos seus joelhos e ela os afastou.
Lenta no abrir-se, aguardando minha atenção. Expondo o rosa entre
suas pernas creme. Ela se movia, obedecendo a cada um de meus não
toques como uma coreografia ensaiada, transformando cada uma de
minhas intenções em movimento.
Aberta para mim.Na cama.
Minha.
Me fazendo tremer e transpirar.
– Você me deixa guloso – gemi,
perdendo o controle. – Não é natural. – Ajoelhei na cama. – Faz isso
comigo. Me causa uma gula. – Me curvei sobre seu corpo, desenhando
seus arredores com meus lábios, fazendo-a sentir meu hálito, mas
nunca meus lábios. – E gula faz a gente querer lamber – sussurrei. –
Querer morder – gemi, alcançando seus mamilos eretos. – Querer
comer.
– Sem falar – devolveu meus gemidos. Seus olhos estavam
fechados.
– Você devia ser proibido de falar. – Tinha o lábio inferior preso
entre os dentes. – Sua voz tem uma coisa eróticaque não dá pra definir.
Não há palavras no dicionário.
– Me explique com gemidos, então. Desci o rosto por seu abdome,
encontrando o ponto correto entre suas coxas e soprei. Muito, muito
devagar. Senti o ar sair de mim cheio de desejo e atingi-la, causando o
exato efeito que eubuscava.
– Se você falar, vai ser fácil me fazer gozar – considerou. – Silêncio,
Delvak.
– Maldita seja, mulher – recriminei, com uma careta. – Não posso
nem falar?
– Achei que você gostava de desafios
– riu, agarrando os travesseiros, e eunão consegui resistir.
Com o nariz entre ela, respirei fundo. Tragando-a. Sentindo-a me
possuir do único jeito que me era permitido. Estirei a língua sem tocá-
la, mas deixei uma única gota de saliva escapar. Ela se curvou,
tentando me observar, um meio
sorriso que me deixava mais duro que sua nudez.
O movimento em seu ventre foi fácil de identificar. Ela estava se
contraindo por dentro. Pompoarismo. Esticando e contraindo os
músculos circunvaginais para tentar aliviar o tesão que invadia sua
pele.
Eu podia trabalhar com isso.
Apoiei meus braços no colchão, abraçando suas coxas, fazendo o
impossível para não tocá-la. A boca encaixada sobre sua bocetinha,
quase depilada e os poucos pelos querevestiam sua entrada.
Entreabri os lábios apenas o suficiente para abocanhar o seu
grelinho,fosse essa minha intenção, e deixei o ar
sair de minha garganta. Quente e estimulante, cobrindo seu ponto
mais excitado com meu hálito febril. Lexa estremeceu, seu gemido foi
se intensificando.
Um sorriso impossível de conter.
Ela se contraiu e eu soprei. O ar quente acariciava sua intimidade,
estimulando os movimentos intensos que funcionavam quase como uma
masturbação.
Substituí o ar quente por um sopro frio e delicado, e Lexa agarrou os
próprios seios, gemendo mais alto.
Subi em direção à sua barriga, usando minha respiração para excitar
ainda mais seus mamilos hipersensíveis e a ouvi implorar. Uma
interminável
sequência de por favores.
Por favor.Por favor.
Eu não sabia pelo que ela implorava.Para que eu a tocasse?
Para que eu a fodesse?Não importava.
Eu não tinha tempo para perguntar e duvidava que ela se desse o
trabalho de responder.
Foi meu hálito que cobriu seu corpo, estimulando o que mãos e
beijos não poderiam estimular. Meu hálito nos seus seios, na sua boca,
na sua barriga, nos seus braços, descendo pelo seu umbigo. De volta
em sua bocetinha encharcada, pingando entre os lençóis, aberta apenas
o suficiente para que eu soubesse onde
respirar.
Quis enfiar os dedos nela, ao menos para abri-la. Terminei por
buscar meu pau e acariciá-lo, apenas para manter minhas mãos
ocupadas, se por nada mais.
Mas o que minhas mãos encontraram foi um cacete firme e duro
como jamais antes. Eu sentia cada uma das veias esticadas, pulsando,
coléricas. Me amando por ter criado a oportunidade. Me odiando pelos
termos do acordo estabelecido.
Era Lexa.
Com Lexa, tudo sempre era mais intenso.
Fosse o toque ou sua ausência.
Eu não ia precisar de muito tempo.
Alternei a temperatura do único contato que me era permitido e seu
gemido evoluiu em um grito.
Acho que continuei respirando sobre ela.
Acho que consegui me impedir detocá-la.
Mas eu só acho.
Ela rebolou sob meus lábios, me fazendo querer lambê-la.
Me fazendo imaginar como seria lambê-la.
Me fazendo lembrar de como era lambê-la.
Eu explodi em minhas mãos. Espalhando esporro pelos lençóis e por
suas pernas.
Em algum momento eu desisti, e meus
lábios atingiram sua virilha. Acima do clitóris. Sobre seus pelos.
Apoiando meu queixo sobre seu osso púbico.
Ela terminou de gozar, antes de me lembrar que eu não deveria tocá-
la e mefazer levantar.
Eu amava sexo mais que qualquer coisa. E ir embora depois do
orgasmo sempre fez parte do meu sexo.
Mas não quando era sexo com ela, quando era orgasmo com ela.
Nesses casos, ir embora sempre era uma parte desagradável.
Principalmente em uma noite como aquela, que me dava a certeza
que eu estava indo embora depois de ficar com Lexa pela última vez.

Nove
Detalhes para um roubo bem
planejado
Sven entrou na boate fazendo barulho e eu ainda estava com um
pouco da dor decabeça da noite anterior.
– Onde está? – perguntou a Ryker.
– Zahner? Ele já foi. Assim que os jornais saíram com a denúncia.
Acha que vai funcionar?
– Vamos esperar que sim. Foi trabalho demais para que não dê
certo.
– E o telefone? – Ryker quis saber.
A boate estava muito cheia e sempre tinha gente demais falando ao
mesmo tempo. Peguei um copo de água no bar e tomei uma aspirina.
– Se for ressaca, dançarina – Sven sugeriu –, é melhor beber mais
um pouco de álcool. Prefiro você bêbadaque incapacitada.
Eu queria lhe oferecer uma careta, entretanto, assim que levantei o
rosto me surpreendi por não encontrar Lexa atrás dele. Pelo barulho na
entrada, ela também tinha chegado e estava conversado com Brout.
Mas a mulher atrás de Sven era morena, com grandes
olhos amendoados e uma boca desenhada que parecia estar sempre
na iminência de um sorriso.
A curiosidade nos meus olhos ointerrompeu.
– Ah, pessoal está é… – Virou-se para ela. – Qual nome está usando
hoje?
– Lola está bem. – Sorriu.
– Lola! Todo mundo, esta é Lola. Lola, todo mundo. – Gesticulou. –
Ela éuma amiga do Hideki.
Lola. Eu lembrava desse nome.
– Seu amigo japonês de origens suspeitas? – Ryker provocou,
cumprimentando Lola com um aceno.
– Eu vivo de sexo, todos os meus amigos têm origens suspeitas.
Lola ergueu uma sobrancelha para o
seu comentário e eu lembrei que Delvak mencionou algo sobre os
dois já terem se envolvido. Era sobre a morena que ele estava
falando, não era?
– É seguro trazer mais alguém para a equipe? – Joanie murmurou. –
E se ela tiver contato com o Kulik?
– Não tem – Sven decidiu. – Lola vai nos ajudar com a parte que não
podemoscompletar sozinhos.
– E que parte é essa? – alguém perguntou. Mas eu não estava
prestandoatenção, minha cabeça latejava, incomodada.
– Zahner vai balançar seu distintivo da Interpol para a vigilância
sanitária e, com sorte, eles não vão verificar que elefoi suspenso. Se o
blefe der certo, os
restaurantes de Kulik vão ser fechados em poucas horas. Mas isso é
só uma das suas fontes de renda. As outras três estão aqui. – Balançou
o celular no ar. –Investimentos pesados por meio de uma multinacional,
lavagem de dinheiro através de uma agência de turismo e um cofre bem
grande e gordo entupido de notas e moedas de uns oito países
diferentes.
E assim, de repente, minha dor decabeça tinha piorado.
O plano era deixar Kulik pobre para torná-lo irrelevante. Mas como
diabos agente ia fazê-lo perder todo aquele dinheiro?
– Quer dizer que estamos fodidos? – Ryker expressou meus
pensamentos com
palavras mais objetivas.
– Zahner acabou de ligar. – Lexa se aproximou. – Deu certo. Ele já
está a caminho.
– Não era melhor ele acompanhar o fechamento das unidades?
Mande o preguiçoso trabalhar! – Delvak reclamou.
– Fui eu quem pediu para ele voltar, Svenie. A polícia pode fazer
isso sozinha. Ele ficar passeando pela cidade no meio das forças
policiais só aumentao risco de alguém reconhecê-lo.
Ele inchou como se quisesse esbravejar que ela estava errada, mas,
em vez disso apenas engoliu a própria angústia, me deixando muito
confusa.
Eu brigava com Ryker daquele jeito
quando a gente não transava. Desse jeito impetuoso como se
estivesse constantemente tentando se livrar da tensão sexual. Mas Sven
e Lexa não pareciam pertencer ao tipo de ser humano que guardaria
qualquer gota de tensão sexual mal resolvida.
Mas… o que eu entendia desse assunto? Ainda mais com essa dor de
cabeça me incomodando.
– Você está bem? – Ryker alisou meus cabelos, beijando minha
bochecha.
– Pouco sono, pouca comida e acho que bebi um pouco antes de dar
em cimado contador ontem.
O sorriso que ele deu só para mim me fez melhorar muito mais que a
aspirina.
– Vamos só sobreviver a mais isso e
já cuido de você, combinado?
Eu acenei a cabeça, afirmando, embora tivesse certeza que o sorriso
quedevolvi já deveria ter respondido pormim.
Delvak não tinha parado de falar e estava explicando os detalhes do
seu plano. Parece que ele e Hideki poderiam cuidar de uma parte, e
Lola cuidaria do cofre. Nós teríamos que resolver a parte da agência de
turismo e Delvak tinha arquitetado um plano muito elaborado ao longo
de um intervalo de tempo muitopequeno. Não era de se admirar que ele
era CEO de uma multinacional. O homem conseguia resolver
problemas como um realizador de milagres e delegava tarefas como
um verdadeiro
líder.
Ela já estava bem avançado em sua explicação quando ouvi a porta
dos fundos se abrir. Zahner acenou brevemente para mim e para Ryker
quando entrou na boate e então tudo aconteceu rápido demais.
Seus olhos passearam pelo salão e sua mão treinada estava no
coldre, desembainhando a arma. Seu olhar se cruzou com o de Lola e
ela mergulhou para trás do palco no momento preciso para escapar do
tiro que Zahner disparou em sua direção.
O barulho alto no ambiente fechado fez meu corpo inteiro vibrar.
Minha cabeça latejou como se fosse explodir e fiquei completamente
sem reação. Ryker
tomou minha frente por instinto e eu meagarrei à sua camisa.
Delvak gritou em fúria, mas Zahner parecia possuído por um
demônio quando atirou de novo, buscando umângulo mais favorável.
Era diferente agora. Desde o começo, Zahner podia ter sido irritante e
mandão,mas fora sempre frio e lógico.
Agora ele tinha enlouquecido. Puxou o gatilho uma terceira vez e eu
soube que ele estava atirando para matar. Ninguém ousou se aproximar
dele durante o frenesi de insanidade, a não ser, curiosamente, a própria
Lola que, com um movimento rápido digno de ilusão de ótica fez
parecer que tinha corrido para um lado do palco, mas se
arrastou pelo chão até o outro. Correu como um animal para cima de
Zahner, derrubando-o no chão com um chute firme e uma chave de
braço. O cotovelo de Gary atingia um ângulo não natural, enquanto
Lola o forçava a se manter ajoelhado. Tomou a arma do agente que
urrava em fúria. Luckas pediu a Brout que olhasse os arredores para
ver se os tiros não teriam atraído atenção, mas Bessie estava lembrando
que o lugar todo tinha isolamento acústico por causa do som do DJ.
Lucky pediu que ainda assim ela se certificasse, enquanto Lola fazia o
que só poderia ser descrito como desmontar toda a arma de Gary com
uma única mão, até não restarem mais que balas e pedaços de metal
espalhados pelo chão.
– Se acalmou? – Lola provocou.
– Assassina! – berrou e ela lhe deu um murro no nariz fazendo
sangue escorrer. Eu parei de respirar.
– E agora? – perguntou mais uma vez.
– Zahner, ela está com a gente! – Delvak se abaixou, imaginando
que olhar nos olhos de Gareth fosse uma atitude capaz de acalmá-lo.
Não tenho certeza se funcionou. – Ela vai roubar o cofre do Kulik para
a gente. O plano nãofunciona sem isso.
– Ela está no topo da lista de pessoas mais procuradas da Interpol.
Você sabia disso? – Gary falava depressa, movendo o braço, tentando
fugir da imobilizaçãoà qual Lola o tinha submetido.
– Não está, Gary – Delvak falou.
– Não está porque ela é problemademais! – Sua fúria lhe estremecia
todo o corpo como se ele tivesse perdido o controle dos músculos. –
Alta espionagem governamental! A lista na qual o nome dela consta
não pode sequer ser aberta ao público!
Lola sorriu como se ele lhe tivesse feito um elogio.
– Isso não nos importa. – Delvak virou-se para Brout, recebendo a
confirmação de que estava tudo certo. – Só nos importa que ela rouba
coisas muito bem.
– E sabe o que ela cobra? Sabe como ela cobra?
– Já temos um acordo, Gary, não
recisa se preocupar.
– E posso saber qual é? – urrou.
– Promete se comportar se Lola tesoltar?
Zahner trincou os dentes, forçando um grito rouco para dentro do
corpo.
Eu estava agarrada à camisa de Rykere sequer tinha percebido.
– Isso foi um sim? – Delvak esperou enquanto Zahner se manteve em
silêncio.Depois acenou para Lola indicando que o soltasse.
– Eu quero ouvir ele dizer “sim” – eladisse.
– Vá se foder! – rosnou.
– Gary, você não está colaborando! – Delvak estava perdendo a
paciência. Estávamos todos perdendo a paciência.
Menos Lola. Lola parecia poder continuar ali por dias.
– Sim, está bem? Merda! Eu espero vocês explicarem antes de matá-
la.
Lola o soltou e não deu sequer um único passo para trás. Ele se
levantou, forçando o tórax contra o corpo esguio da morena. Tinha os
lábios apertados em uma única linha branca, e isso parecia ser a única
coisa que o impedia de mordê-la. Até rasgar sua carne ou até ficar
duro. Eu não saberia dizer qual dos dois. Havia fogo nos olhos dele.
Umfogo que ódio puro não consegue se sustentar sozinho.
– Lola trabalhou para Hideki. Também já me conhece de… outros
lugares – explicou.
– Eu não confio em você, nem no seu amigo japonês, Delvak. Se
essas são as duas credenciais dela, a coisa não está boa.
– Cale-se, Zahner! Precisamos de Lola e vocês vão se comportar.
– Eu sempre me comporto. – Ela sorriu, ainda a milímetros dele.
Não era apenas que ela parecesse não ter medo da morte. Era como se
ela tivesse certeza que a morte tinha medo dela.
– Lola, por favor. – Sven soltou os ombros como um adulto
implorando a duas crianças que, por favor, parassem de brigar por
bobagens. – Precisamos dela e precisamos de você – continuou.
– Então, comportem-se como adultos e, quando tudo isso acabar,
vocês retomam
seja lá qual for o problema que tinham antes.
– Quando isso acabar, vou te levar presa de volta pra Interpol –
decidiu.
– Ah, achei que eles tinham te demitido. – Uma piscadela e Zahner
estava perdendo a razão de novo.
– Ora, mas que inferno! – Delvak se enfiou no meio dos dois. –
Vocês não precisam trabalhar um do lado do outro, mas vão precisar
trabalhar juntos! – exclamou com veemência e voltou-se para o
inspetor. – Zahner, você quer seu emprego e credibilidade de volta?
Entendi que Sven imaginasse que aquela era uma boa pergunta para
incentivá-lo. Mas nos olhos de Gary, a gente podia ver que ele não
tinha certeza
se preferia limpar o próprio nome ou se lambuzar no sangue de Lola.
– E Lola, você não quer o dinheiro docofre?
– Foi isso que você prometeu pra ela?
– Zahner avançou para Delvak. – Esse dinheiro precisa ser retido
como evidência.
Lola riu como se tivesse escutado uma piada particularmente
engraçada.
– Está rindo da justiça. – Abanou asmãos. – Claro.
– Você chama de justiça, eu chamo deenganação de ignorantes.
– Você cala a boca, sua criminosa.
– Aposto que você está doido para vir calar. – Havia sensualidade no
seu tom eisso pareceu irritar Gary mais do que
qualquer ameaça.
– Zahner… – Agora era Lexa quem seenvolvia. – Seja razoável.
– ELA TENTOU ME MATAR!
Lola revirou os olhos como se estivesse sem paciência para esse
argumento específico.
– E roubou uma coisa muito importante – acrescentou, com a boca
cheia de angústia como se nenhum dos presentes fosse capaz de
compreender.
– É um transmissor de sinal tão potente que pode influenciar em
determinadas características climáticas e até causar algumas
catástrofes – ela explicou rapidamente.
– ISSO É INFORMAÇÃO CONFIDENCIAL!
– Ele queria, mas eu peguei e agora
ele não consegue lidar com a frustração.
– CALA A BOCA!
Sven se sentou, esfregando as têmporas em uma evidente desistência.
– Fique calminho, Gar. – Lola expirou. – Sei que você só late e não
morde, mas não precisa se humilhar na frente dos seus amigos.
– Criminosa! Você traiu minha equipe inteira e nos deixou lá para
morrer!
– Nunca traí ninguém. Eu nunca estive com vocês, o que é bem
diferente.
– Fui condenado a trabalho burocrático pelo resto da minha vida
depois da sua brincadeira!
– Bem feito. – Acenou. – Não é muito bom em seu trabalho, Gar. Se
fosse, teria notado a maníaca infiltrada na sua
equipe usando um nome falso. – Piscou um olho.
– Vou te enfiar na cadeia e vou pegara Harpa de volta.
– Se pequenas mentiras assim te ajudam a dormir melhor à noite,
eu não ligo.
– Sua mau-caráter do inferno. Nosdeixou lá para morrer.
– Eu deixei um revólver com você! – exclamou, indignada. – Se
tivesse te deixado para morrer, estaria morto agora.
– Vou te enfiar na cadeia. Vai apodrecer onde você merece.
– Ai, docinho. – Revirou os olhos. – A gente jogou e eu ganhei. Se
quiser jogar de novo, a gente joga. Mas precisa
superar.
– Não vou trabalhar com você. Apanhe os pedaços da minha arma
do chão, sua vagabunda, e me devolva ela inteira. E depois volte pro
buraco delodo de onde você saiu. Não preciso de você para…
Observei Lola revirar os olhos uma última vez antes de puxar Gary
pela gola da camisa. Passou a língua longamente pela boca dele,
fazendo-o calar a boca. Zahner engoliu em seco, a expressão perdida
entre indignação e vontade de lambê-la de volta.
– Yuri Kulik – ela disse com sua voz suave e definitiva. – Você me
odeia e pode me pegar agora ou não. E se nós conhecemos seu
histórico, docinho, não
vai me pegar – lembrou. – Mas pode pegar Kulik. Pode pegar Kulik
essa semana. Depois, a gente zera tudo e você vem atrás de mim de
novo. – Levantou um ombro. – Peixe grande como a máfia russa e
quem sabe? Pode ser até que te tirem da burocracia e te coloquem de
volta em campo.
– Não vai me convencer – resmungou,com os dentes semicerrados.
– Não seja ridículo, Gar – ela sorriu.
– Já convenci.

Sven passou boa parte do dia falando apressadamente ao telefone


com um milhão de pessoas diferentes. Zahner
parecia ter sido submetido a um feitiço perverso que o esculpira em
pedra, e ele permaneceu sentado em uma cadeira, com o corpo rígido e
os lábios travados. O olhar vidrado no horizonte ou em qualquer coisa
que não fosse Lola.
A atitude parecia exigir toda sua forçae ninguém o perturbou por isso.
Ninguém a não ser, é claro, a própria Lola.
Ela posicionou uma cadeira exatamente ao lado da dele, puxou
assuntos que mesmo à distância era certo que o incomodavam e, em
um momento repleto de adrenalina, arriscou-se a acariciar seus
cabelos. O que foi respondido com um tapa forte de um Zahner que se
virou na direção dela,
perdendo o controle e precisando ser apartado por quase todos os
presentes.
O resto de nós se sentou a uma distância segura e só não fez pipoca
porque não havia milho.
Era interessante como Zahner sempre tinha aparentado ser uma
figura forte, experiente e racional e ali, ao lado de sua velha
conhecida, parecia um adolescente perdido que puxa as tranças da
coleguinha para não precisar pegar na sua mão.
Avaliando a conduta dos dois, acabei por perceber que nunca tinha
atentado verdadeiramente para a idade de Zahner. Ele era o agente da
Interpol que andava armado e sabia lutar alguma coisa. E,
principalmente perto de nós, grupo de
pessoas insanas que aposta a virgindadedos outros, ele era um adulto.
Mas a verdade é que não deveria ter mais de 30 anos. Mesmo com
as rugas de preocupação, sua expressão não passava dos 27, talvez 28.
Seus olhos azuis eram escuros como se alguém tivesse jogado um
bocado de escuridão na sua íris, os traços firmes, o corpo largo
esculpido em músculos excepcionalmente bem treinados, os cabelos
que subiam como um topete mal-educado apenas para cair logo em
seguida sob o peso dos fios lisos. Ele era bem bonito quando não
estava carrancudo. E era sempre charmoso, envolto em seu ar de
perigo. Não que seu charme em algum momento houvesse
me atingido, mas eu não ignorava sua existência.
– Está se divertindo? – Ryker me empurrou com o ombro para
indicar a dupla composta pelo policial concentrado e pela criminosa
irritante.
– Ah, mas é claro! É relaxante assistir a uma situação de tensão
sexual que nãome envolve. É bem raro poder aproveitar uma dessas.
Ele se afastou um pouco e parecia orgulhoso.
– Olhe para você! Identificando uma situação de tensão sexual!
Balancei a cabeça.
– Não é mérito algum, Ryk. Esses dois estão praticamente berrando
um “me fode” na cara do outro.
– Será que a gente estava assim também? – divertiu-se. – No
começo? Quando você queria morrer virgem antes de deixar eu te
pegar? Será que todo mundo que olhava para a gente achava que a
gente estava gritando um “me fode” para o outro?
– Eu estava – admiti com simplicidade e ele entalou com a
própria gargalhada. – Não vou nem tentar mentir. Mas não sei se
alguémpercebeu.
– Todo mundo percebeu. – Lucy suspirou e percebi que nossa
conversa era pública.
– Todo mundo – Joanie concordou.
– Algum de vocês percebeu e contou para os outros – reclamei. – É
isso que
deve ter acontecido, seu bando de fofoqueiros.
O clube inteiro me encarou com descrença.
– Sério? – pedi.
– “Eu não quero perder minha virgindade com o Ryker”. – Tim
começou a fazer uma interpretação aguda de minha voz que me
assustou pela precisão. – “Tenho medo que ele destrua meu coração” –
terminou seu monólogo com a mais épica revirada de olhos.
– Fala sério, bebê – Lucy riu. – Nem você acreditava nessa sua
ladainha.
– Eu? E por que ninguém fala do Ryker? – Apontei. – Ele disse que
eu ia me apaixonar antes dele e mimimi e que
queria ficar longe por causa disso.
– Vocês lembram que ela quase perdeu a virgindade com o Devon?
– Joanie apontou e estavam todos rindo, indicando que minha tentativa
de reverter o jogo tinha falhado severamente.
– Ei! Qual o problema? – Devon abriu os braços em sinal de
indignação.
– E o Allender! – Skye lembrou. – Poxa, Mina, bem que você podia
ficar virgem de novo, hein? Foi tão divertido!
– Só está dizendo isso porque ganhou o dinheiro. – Lucy fez uma
careta.
– Skye! – Esfreguei as têmporas. – Oque ainda está fazendo aqui?
– Não é culpa minha se vocês não sabem fazer apostas inteligentes

ignorou.
– A gente pode parar de conversar sobre minha virgindade? – pedi
alto.
– Spider me contou que ela apostou em você pra tirar a virgindade
dela, Lucy. – Mal Nila fechou a boca e todos estavam repetindo em
quem tinham apostado e eu percebi que meu pedido tinha sido
completamente ignorado. De novo.
– Obrigada. – Sorri, sarcástica, para ninguém.
– Ei! – Joanie bateu palmas. – A gente podia apostar alguma outra
virgindade da Mina, que tal? – Seus olhos brilharam e a animação se
espalhou pelosalão.
– Não! – reclamei. – Não, não podem!
Vocês são pessoas horríveis! Ryker, manda eles
pararem!
Ryker tinha os lábios espremidos emdúvida.
– Se dessa vez me falarem antes, quero participar da aposta –
resolveu.
– STROME! – rosnei.
– Amor, a gente combina e ganha o dinheiro! – sussurrou,
indiscreto.
– Anal? – o resto da boate ainda discutia.
– Será que ela já não experimentou isso?
Silêncio absoluto se fez ouvir quando todos pararam para me
observar enquanto consideravam. Eu engoli em seco e eles se
desfizeram em uma risadade escárnio.
– Não.
– É. De jeito nenhum.
– A gente pode apostar o “quando”. Ou vocês querem apostar o
“com quem”?
– Ei! – Ryker reclamou.
– Ah! Agora você reclama? – Desferium tapa no joelho dele.
– Mas o Ryker não pode participar, não é justo – Tim lembrou.
– Até parece que é ele quem vai decidir isso… – Devon ironizou.
– Eu odeio todos vocês – constatei. Eles estavam rindo e Ryker me
abraçou,beijando minha bochecha.
– Estou tentando resolver o problema da agência de turismo – Sven
anunciou.
– Ainda não consegui falar com
Oliver… É o cara que trabalha comigo. Vamos precisar dele para
essa parte do plano.
– Essa é a parte na qual a gente entra,não é?
– Exatamente. Agora só falta elaborar o jeito certo para convencer o
investidor dele a fazer o dinheiro desaparecer. Depois, Lola rouba o
cofre e o nosso problema acaba.
– Pode considerar a parte do cofrefeita. – Lola sorriu.
– Vamos considerá-la feita quandoestiver feita – Zahner rosnou.
– E como vamos fazer isso? Vai dar em cima do investidor também,
Delvak?
– Ryker coçou a cabeça.
– Não vai ser tão difícil. Mas também
não vai ser tão fácil. Primeiro, preciso de um motivo para falar com
o Allendere só depois…
– Allender? – Imaginei que tinha falado sozinha, mas o som saiu
tão alto que percebi que, ao meu redor, quase todos os meus amigos
tinham ecoado a minha surpresa.
– É. Cashel Allender – Delvak explicou. – A Allender Global é a
investidora que faz as aplicações financeiras do Kulik depois que o
dinheiro é lavado na agência.
– Será que ele sabe disso? O senhor Allender? – Luckas levantou-
se. – Se ele soubesse que era ilegal, ele…
– Ele não liga. – Lexa levantou um ombro. – Allender sabe muito
bem o que
está fazendo. A linha da ética dele é bemnebulosa.
– E por “nebulosa”, ela quer dizer“inexistente” – Sven concluiu.
– É, e… – Comecei a falar antes mesmo de decidir como ia
terminar. – Ele coleciona… – Engoli em seco. – Sexo. E mulheres…
Sei que parece loucura e não culpo vocês se nãoacreditarem, mas ele…
– Confie em mim, eu acredito – Delvak murmurou, sombrio.
– Vocês o conhecem? – Soube que o tema ainda era sensível para
Ryker pelo modo arredio como deu um passo na direção de Sven.
Como se apenas o nome do homem pudesse lhe colocar em modo de
alerta.
– Sim, e eu sei como eu o conheço. – Delvak estreitou os olhos,
confuso. – Mas como vocês o conhecem?
– Uma longa história… – Ryker expirou. – A versão mais curta é
que ele queria transar com a Mina. – Torceu o nariz. – E comprar o
clube do Lucky.
O queixo de Sven caiu em um sorriso.
– Conte-me mais.
– Não, Delvak! – Ryker gesticulou de forma definitiva. – Não vou
deixar Minaperto dele, arranje outro plano.
– Não, não. – Balançou a cabeça, sem perder o sorriso. – Nada
disso, garoto.É sobre a parte do comprar o clube que eu quero saber.
– Ele estava interessado em comprar o estabelecimento – Luckas
explicou. –
Acho que tem outros negócios por aqui. Eu fiquei bem sem opções,
mas ainda estou tentando resistir.
Delvak tinha um sorriso majestosamente atravessado pelo rosto e,
pela expressão no rosto de Lexa, ela deveria entender exatamente qual
o plano traçado por ele.
– Onde acha que ele está? Em casa? – perguntou, à meia voz, para
Lexa.
– A convenção em Düsseldorf é essa semana. Ele deve estar lá.
Sven ficou em silêncio por um instante antes de bater palmas, com
empolgação: – Luckas, preciso que ligue para Allender. Preciso que o
faça agora. Diga a ele que recebeu uma oferta melhor que a dele e
que vai fechar a
venda. Diga que vai fazer isso essa noite. E… – Ele passou a língua
pelo sorriso como se ele mesmo soubesse o quanto é delicioso. – Essa
parte é a mais importante – avisou. – Não deixe de mencionar que o
comprador interessadosou eu.
– E ele vai vir só porque ouviu seu nome? – Ao contrário de Delvak,
Rykernão parecia confiante.
– Vai – concluiu. – Ele vai vir correndo.

O filho da puta de um cacete mole doSven Delvak.


Ninguém mais.
Ninguém menos.
Meses querendo aquela porra daqueleponto.
Um maldito clube de merda que mal valia os impostos que pagava,
mas cuja localização era um luxo. Provavelmente o único motivo pelo
qual o lugar não tinha sido possuído por teias de aranha: a localização
era excelente e tinhagarantido uma clientela fiel.
E aquele caralho daqueles funcionários que trabalhavam como uma
família. Alguém precisava estapear aquela gente e lembrá-los que, em
um mundo capitalista, se trabalha por lucro. Não por satisfação pessoal
nem para ajudar os amiguinhos.
Mas não importava. Rendesse pouco
ou muito dinheiro, os funcionários continuavam voltando. As contas
quase tinham engolido o dono da espelunca, mas em algumas semanas
o Show da Tímida tinha revivido suas esperanças e lhe conferido um
novo fôlego.
A puta da Tímida.
Ficou nua e quase entrou na minha coleção.
Até o meu quarto ser invadido. Eu devia ter chamado a polícia.
Devia ter processado toda aquela gente.
Talvez eu ainda tivesse perdido o pudor que eu tinha pela minha
credibilidade no mundo financeiro, assumido para o mundo que tipo de
artigo eu colecionava e processado toda
aquela gente.
Mas nada disso tinha se concretizado. Tudo que eu
pude fazer para me vingar tinha sido colocar o dedo emcima do
clube e esperar que elessufocassem. Mesmo
depois que um assassinato aconteceu no lugar e a máfia
russa se envolveu… ainda assim omerda do
Luckas continuou
sobrevivendo.
Sobreviveu tempo suficiente para encontrar outro merda.
Um maior ainda.
Contudo, se a Willex Adult Entertainment queria entrar no meu
caminho, eu ia fazer Delvak se arrepender. Mostrar para ele que,
presidente de uma empresa ou não, ele
precisa aprender a não entrar no meu caminho.
Mal meu motorista tinha freado o carro, eu já estava com a porta
aberta.
Lexa Strome estava conversando com um homem na calçada. Virou-
se para o barulho do freio do meu carro e firmou o olhar em mim.
Percebi sua hesitação e angústia no momento em que me viu. O modo
acelerado como cumprimentou o homem oriental com quem falava
chamou minha atenção.
Estava querendo se livrar dele. Senti um sorriso nos meus lábios.
Lexa Strome.
Uma das mulheres mais lindas que já conhecera na vida e uma das
mais deliciosas que já tive o pleno prazer de
experimentar.
Talvez a peça mais exuberante da minha coleção. Uma pena que ela
não fosse namorada do Delvak quando a levei para a cama. Teria sido
uma satisfação e um item adicional para possuir. No entanto, até
aquele dia, Delvak só tinha estado preso a uma namorada em toda sua
vida… e não tinha sido Lexa.
Paciência. Foi um belo prêmio ainda assim.
A noite mais cara da minha vida.E eu pagaria de novo.
Cada centavo.
Mas agora ela não estava linda e nua na minha cama.
Ela estava preocupada querendo se
livrar de alguém antes que eu pudesse descobrir quem era.
– Cash. – Sorriu, me oferecendo os braços abertos. Tinha
praticamente enfiado o homem para dentro do carro.
Eu a abracei, com iguais quantidades de gula e falsidade, o queixo
em seus cabelos, e observei o carro que se afastava. O motor morreu
por alguns segundos ainda perto de nós e eu decorei a placa com
cuidado.
– Que coincidência. – Beijou minha bochecha. – Venha! Vamos
tomar alguma coisa. – Olhou ao redor, à procura de um táxi. – Não se
pode ignorar uma coincidência assim. Venha me contar as novidades.
Não, querida. Não vai me enganar.
– Quem era seu amigo?
– Ninguém importante. – Torceu o nariz, abanando a mão.
– Tenho certeza – suspirei. – Se me dálicença.
– Achei que íamos procurar um lugarpara conversar.
– Que tal lá dentro? – Indiquei o clube Lucky’s com um sorriso. –
Sven pode se juntar a nós. – Sorri com simplicidade, me divertindo ao
vê-la perdida diante dos meus conhecimentos.
Sua expressão mudou completamenteenquanto me seguia.
Delvak se levantou, atacando os botões do paletó, ao me ver.
– Eu bem que senti uma pressão. – Gesticulou. – Como se a
gravidade
tivesse mudado – provocou. – Acho que acontece quando uma
pessoa do seu porte entra em um ambiente.
– Ouvi dizer que queria comprar minha boate, Sven.
– Ouvi dizer que o dono era o Luckas, Cash. Mas tenho certeza que
podemos acertar uma sociedade.
Eu ri até tossir.
– Achei que não estava interessado em uma parceria. – Balancei o
indicador, repreendendo seu desespero.
– O Negligê não é minha responsabilidade, Allender. Sabe disso.
Se quiser parceria com outra parte da Willex, podemos conversar. Para
o Negligê, você precisa conversar com o Oliver. Mas é uma pena que
você comeu
a namorada dele. – Torceu o nariz, olhando para Lexa. – Acho que
ele não vai ser muito amigável.
– O que quer que ele tenha te oferecido. – Olhei para Luckas. – Eu
pago cinco vezes mais. É suficiente?
Luckas engoliu em seco e gaguejou.
– Imaginei que você diria isso. – Nãoo deixei concluir. – E já trouxe
os contratos.
– Eu ofereci 100 milhões de euros.
Senti a fúria nos músculos do meu rosto antes de deixá-la
transparecer na minha voz.
– Se você acha que vai me enganar para pagar meio bilhão por esse
buraco, perdeu o juízo, Delvak.
– Não foi isso que te ofereci?
Luckas respirou fundo. Eu o conhecia bem o suficiente para perceber
que ele tinha sentido o cheiro de vantagem e não ia abandonar a
possibilidade.
– Na verdade, estávamos conversando sobre 150. – Levantou o
ombro.
– É verdade. – Delvak acenou. – Essedaqui é bom em negociações.
Lexa estava sorrindo atrás de mim e eu quis estrangular todos eles.
– Seu filho da puta. Estou negociando para conseguir esse lugar há
eras. O que você fez, Delvak? Conquistou o homem com seu charme?
Pagou um boquete para ele? Ou mandou sua puta fazer isso por você? –
indiquei Lexa.
O pomo de Adão de Delvak se
moveu.
Lexa.
O ponto fraco dele.
A ferida que sempre o tirava do sérioe acalmava meu ego.
Eu tinha fodido ela.Ele não.
Esperei que ele esbravejasse e perdesse a razão, mas, ao invés
disso…
– Trouxe uma caneta junto ao seu contrato, Cash? – Ele bateu nos
bolsos procurando o item necessário. – Porque eu também trouxe o
meu. – Balançou o papel no ar antes de entregá-lo a Luckas.
– Mas parece que esqueci a caneta.
– Vá se foder.
– Eu tenho uma caneta – Luckas avisou.
– Ah, ótimo! – Ele sorriu e agradeceu.
– Parece que não precisamos de você, então, Cash.
O ódio me consumiu inteiro, me deixando cego de fúria enquanto
dava ascostas para aquela gente.

– Funcionou?
Zahner tinha os braços eternamente cruzados, uma algema biológica
que o impedia de avançar em Lola.
Delvak fitou Lexa, buscando confirmação.
– Funcionou.
– Tem certeza?
– Tenho. Ele estava doido para saber
quem era o Hideki, tenho certeza que anotou a placa.
– Pedi para o motorista estancar ocarro. Qualquer coisa para lhe dar
mais alguns segundos para decorar.
– Longe de mim ser pessimista. – Eu conhecia o nível de
nervosismo de Ryker pelo modo como ele apertava minha mão. Era
suave e carinhoso quando queria me acalmar. Porém, quando ele
imprensava meus dedos como se quisesse quebrá-los, é porque estava
em pânico. – Vocês irritaram o cara, mas o que garante que ele vai
partir em uma Cruzada de vingança?
Delvak era o oposto de Ryker e exalava uma tranquilidade budista,
deixando claro que ele acreditava que
aquela seria a parte mais fácil de todo o plano.
– Cashel Allender é um adolescente.
– Tirou o paletó caro que tinha vestido exclusivamente para sua
exibição diante do velho amigo. – Ele só pensa em duas coisas: na
próxima conquista e em como vai se gabar dela. É um garoto mimado
que considera a vida toda como se fosse apenas um jogo. Para ser
sincero, às vezes eu até gosto dele. – Alongou o corpo na cadeira,
esticando a coluna e esfregando os joelhos.
– Gosta dele? – Ryker parecia ter perdido um pouco da admiração
que tinha por Sven.
– Quando ele não está chamando sua irmã de… – rosnou,
torcendo o nariz
para Lexa e engolindo a raiva. – Porque,quando ele menciona você...
– manteve os olhos nela – ...tenho vontade de abrir a barriga dele com
uma navalha cega e enforcá-lo com suas tripas. – Girou o gelo no copo
de uísque sem elevar o tomde voz.
– Simpatizo com a ideia. – Ryker sentou-se ao seu lado, olhando
para mim, e eu soube que a admiração voltara.
– Mas no dia a dia, ele é só uma criança. Está sempre buscando se
livrar do tédio, o que faz dele uma companhia muito divertida. E sua
coleção de sexo faz dele um bom cliente.
– Então, vocês sabem dessa parte?
– Se sabem? – Lexa levantou uma
sobrancelha em desaprovação. – Foram eles que deram a ideia.
– Eles?
– Sven e Oliver – explicou, amarrando o longo cabelo loiro em um
nó. – Deram a sugestão a ele como uma brincadeira idiota que ele
levou a sério demais.
– Porque ainda não passou da puberdade – Sven ironizou.
– Você também não – Lexa devolveu.
– E não sai por aí fazendo propostas indecentes para… – ela hesitou
quando percebeu a falha no próprio raciocínio.
– Nada não – desistiu. – Esquece.
– Será que a gente pode voltar aoproblema principal? – Nila estalou
os dedos, trazendo-nos de volta à
realidade.
– Cash acha que Lex tentou esconder Hideki dele. Acha que ela fez
isso em meu benefício. Ele quer ganhar de mim, então vai descobrir
quem Hideki é, vai conversar com ele e vai tentar um acordo melhor
que o meu. Para nossa satisfação, Hideki está sabendo de tudo e vai
fazer exatamente o acordo que nós queremos que ele faça. Um acordo
bem lindo que vai foder os investimentos do Kulik.
– Ótimo. Então só falta a agência de viagens e o cofre.
– Já disse que o cofre não vai ser problema. – Lola se manifestou e
Zahnertremeu inteiro.
– Por que você não deixa para falar
só quando alguém te perguntar alguma coisa?
– Porque, ao contrário de você, ninguém manda em mim. – Abriu
uma barrinha de cereais que trazia no bolso e a mastigou com alegria.
Zahner não a encarava, o que parecia diverti-la imensamente.
– Prender Yuri Kulik – Gary murmurou para si mesmo como um
mantra. – Prender Yuri Kulik Prender Yuri Kulik.
– A parte da agência vai ser complicada. Vamos precisar organizar
uma festa insana nessa boate e fazê-la atrair muito sucesso. Vamos
precisar vender pacotes adiantados queinteressem a agência.
– O Show da Tímida? – perguntei, infeliz.
– Obrigado por oferecer, querida. – Delvak segurou meu queixo
com seu sorriso hipnótico. – Mas creio que vocês dois transando no
palco não vão ser suficientes para o que eu planejo.
– Quem falou em transar no palco? – me sobressaltei.
– A gente pode fazer umas coisas diferentes, Sven. – Ryker
levantou um ombro. – Usar uns brinquedos.
– Que brinquedos? – Bati o pé.– Não,não! – Gesticulei.– Nada
disso.
– Se acalme, querida. Não seria suficiente, garoto. Vamos precisar
trazer uma festa de gente grande para cá para atrair a atenção
necessária.
– Vai ligar para o Oliver? – Lexa quissaber.
– Vou. Preciso coordenar com ele e solicitar que mande um monte
de coisas para cá e bem rápido. Vai ser um gasto vultoso, mas não tem
problema.

Lucy e Nila já estavam planejando a festa que a Willex ia fazer na


boate do Luckas. Por algum motivo, estavam imaginando que a festa
seria delas e se divertindo muito com isso. Ninguém teve coração frio
o suficiente para destruir seus sonhos e lembrá-las que teriam que
trabalhar durante o evento.
Ryker me abraçou e apoiou o queixo
no meu ombro.
Estalei um beijo na sua bochecha, fazendo-o sorrir.
– Estou orgulhosa.
Ele apenas enrugou as sobrancelhas em sinal de dúvida.
– De nós! – expliquei. – Estamos encarando a morte de um jeito
mais ativo. – Fechei o punho em uma péssima imitação da força de Lola
e ele riu mais alto. – Nada de se esconder e esperar a sorte nos salvar.
Estamos resolvendo.
– É! Acho que dessa vez vai dar certo, hein?
– Não! – exclamei. – Alguma coisa ainda vai dar errado. – Levantei
o ombro e ele não conseguia parar de rir.
– Certeza. Sempre dá.
– E aí, o que a gente vai fazer?
– A gente vai resolver.
– Ah, claro.
– A gente sempre resolve.
Outro beijo na sua bochecha, mas dessa vez ele se virou e prendeu
minha boca na dele. Lambeu meus lábios e mordeu minha pele.
– Se tudo der certo – murmurei com a testa apoiada contra a dele –,
daqui a uma semana, o único problema que tereiserá o desemprego.
– Com suas habilidades de dança sensual, acho que podemos te
arranjar alguma atividade.
– Ou, pelo menos, continuar o Show da Tímida!
– Mina, sinto muito, mas acho que sua
timidez não dura muito mais tempo. – Gargalhou. – Está quase
extinta a pobrezinha.
Enfiei o cotovelo nas suas costelas enquanto ele se contorcia,
puxando meuqueixo com a mão para mais um beijo.
Era difícil saber qual beijo me agradava mais. Acho que eu preferia
aquele beijo assim: descontraído, entre sorrisos do dia a dia. Um beijo
roubado seguido de um cotovelo enfiado nas costelas. Nossa própria
dinâmica de relacionamento. Era nossa. Funcionava. Ele falava algo
para me deixar constrangida, eu o surpreendia com meus novos
conhecimentos, ele apanhava, eu ganhava um beijo. Era nossa
definição. E servia para nós dois.
Servia muito bem.
Mas não serviria para sempre.Pelo menos não daquele jeito.
– Uma hora a gente vai precisar conversar. – Apliquei um selinho
rápidonos seus lábios quando ele deixou o beijo terminar.
– Quer acabar comigo, Bault? – Riu. Mas eu me mantive séria.
Ofereci-lhe apenas um meio sorriso educado.
Não estou brincando, agora, amor.
Precisamos conversar de verdade.
Seu tórax se pressionou contra mim quando ele inspirou
profundamente.
– Sobre depois?
– Sobre depois.
– Achei que íamos deixar para fazer isso depois do Kulik. –
Raspou as
pontas dos dedos pela minha testa, me libertando do meu próprio
cabelo.
– Tenho medo que as coisas aconteçam rápido demais. – Busquei
seu corpo, ansiando pelo apoio dos seus ombros. – Se for assim que vai
acabar… não quero ter que me despedir em poucos segundos, como da
outra vez.
– Mina…
– Ryk, a gente não pode se esconder. Preciso ouvir suas verdades e
você precisa ouvir as minhas.
– Mina, tudo está se encaixando. Daqui a poucos dias vamos estar
livres do Kulik. Foi você mesma quem disse que era melhor conversar
sem essa sentença de morte pairando sobre nossascabeças.
– Não precisa ser uma sentença de morte, Ryk. Mas se qualquer
coisa der errado…
– O quê? – arriscou, demonstrando confiança em nosso plano.
– A gente precisa que Allender fale com Hideki, que Lola tenha
sucesso e que a festa dê certo. São peças demais. Se a gente perder
qualquer uma delas, tudo cai por terra. Não espero que isso acabe com
o Kulik matando nós dois, Ryk. Mas pode acabar com fugas. De novo.
E eu não quero te ouvir suspirar um adeus apressado no meu ouvido
porque a gente não tem tempo para mais nada. Não vou passar por
aquilo de novo.
– Tá bem, tá bem. – Segurou meu
rosto entre as mãos. – Então a genteconversa. Hoje? Depois que todo
mundofor embora?
– Outros quinze minutos dehonestidade? – brinquei.
– Acho que vamos precisar de uma boa hora dessa vez. –
Experimentamos um tipo novo de beijo.
Misturado com receio.Eu não gostava desse. Preferia o outro.
Nossas mãos se conservavam entrelaçadas quando Delvak desligou
o telefone. Senti as más notícias em seu rosto antes mesmo que ele
falasse.
– Precisamos ir embora. – Despido da arrogância. Desconfiança.
Despidodas constantes palavras descaradas.
Delvak parecia uma casca de um homem pequeno e sem rumo. Lexa
o segurou pelos braços, buscando os seus olhos.
– Sven? – ofegou.
– Harrel piorou. – Engoliu em seco.
– O que houve? – Estava tão perdida me desesperando com o medo
de Sven que sequer tenho certeza sobre quem perguntou. Talvez tenha
sido eu.
– É o meu chefe. – Um breve sorriso dançou na sua expressão triste,
como uma lembrança saudosa. – Ele não está bem. Esteve internado. –
Sua boca estava ressecada e ele não conseguia pronunciar mais que
algumas palavras de cada vez. – Piorou muito. – Encarou o chão. –
Vocês estão bem aqui… vão ficar seguros. Hideki… – Gesticulou,
tentando ordenar o pensamento. – Hidekivai voltar mais tarde. Ele vai
ajudar.
– Seu amigo japonês… – Zahner insistiu. – Se você precisa ir…
nós precisamos saber com quem estamos lidando. – Apoiou o punho
na mão, arranhando o próprio queixo, considerando os fatos. – Ele é
Yakuza, não é? – Sua mandíbula estava travada de ódio. – Seu plano é
se livrar da máfiarussa entregando o poder para a máfia japonesa.
– Touchè, detetive – Delvak confirmou, simplesmente.
– Idiota – suspirou. – Substituir uma máfia pela outra não resolve o
problema.
– Resolve o problema do Ryker. –
Delvak estava seco. Ríspido. Como se a notícia sobre seu amigo
tivesse destruído sua disposição para discutir qualquer outra coisa. – E
não sei sobre qual problema você está se referindo. Mas esse é o
problema que eu vim até aqui resolver.
O silêncio sacro se prolongou até Delvak olhar para Lex mais uma
vez.
– Sven… – Ela alisou o braço do empresário e observou Ryker,
dividida entre se despedir de um velho amigo ou ficar para proteger o
irmão.
– Está tudo bem, Lexie. – Ryker me abandonou para segurar a mão
dela e lhe oferecer um abraço rápido, mas firme. – A gente se vira
sozinho a partir daqui. Vou te visitar quando isso acabar. –
Sorriu e ela acenou, grata.
– Talvez se a gente esperar até Hidekivoltar? – pediu a Delvak.
– A gente precisa ir agora, Lex – murmurou. Suave e dolorido –
Oliver acha que ele não sobrevive a esta noite.

– Onde está o Delvak?


– Ele precisou resolver problemas pessoais. – Zahner assumiu a
liderança assim que Hideki cruzou a porta.
Piscou seus olhos estreitos em desconfiança e escutei as palavras em
minha mente.
Ele vai dizer que só lida com Delvak.
– Ele nos contou quem você é. –
Zahner adiantou-se como se tivesse antecipado o mesmo problema
que eu. –Nos informou para quem trabalha e qualo plano completo.
Atrás dele, um de seus seguranças se moveu preparando-se para
lutar ou intimidar. Era mais alto e mais forte que Brout. O cabelo liso
cortado muito curto se arrepiava como uma penugem malcomportada.
Seu nariz era enfiado para dentro do rosto e havia umapequena cicatriz
de queimadura descendo pelo pescoço largo, mantinha os braços
cruzados com as mãos enfiadas nas axilas, a pressão em seu casaco
delineava a arma que ele trazia próxima às costelas e eu notei que
talvezsuas mãos não estivessem próximas às
axilas e sim ao coldre. O outro segurança era mais peculiar.
Esguio e baixo, sentou-se em uma das mesas, comendo balinhas
coloridas retiradas de dentro de um saco plástico vermelho com
estampas infantis. Seus olhos atentos deslizavam, alegres e curiosos,
sobre todos nós, mas sempre se detiam sobre Lola com maior nível de
sobriedade. Era como se ele tivesse analisado tudo e percebido nela a
única possibilidade real de perigo. Ela lhe devolvia sorrisos e olhares,
mas não parecia nem um pouco preocupada.
Era irônico imaginar que o pior e mais arriscado problema da minha
vida deveria ser só uma terça-feira para Lola.E exatamente por isso era
reconfortante
tê-la por perto. Talvez não para Gary, mas para o resto de nós.
– Ele também me contou quem você é
– Hideki continuou, objetivo. – Por que devo acreditar que alguém
da Interpol cooperaria comigo?
– Já suspeitava antes de receber a confirmação e trabalhei com você
aindaassim, não foi?
Hideki olhou para Lola, permanecendo em silêncio.
– Não se preocupe com ele – ela garantiu.
Zahner inspirou fundo como se preferisse que Hideki desconfiasse
desua lealdade do que tê-la garantida por Lola.
– Senhor Zahner. – O japonês alinhou
o blazer. – Preciso da absoluta certeza que Kulik não terá como
reagir quando eu anunciar o prêmio pela sua cabeça.
Engoli em seco.
Esse é o plano.
Nós tiramos o poder de Kulik e Hideki cuida do seu assassinato.
Mesmo que ninguém o matasse, sem dinheiro e com uma
recompensa pela sua morte, ele se tornaria obsoleto. E nada daquilo
poderia ser rastreado até mim ou Ryker. Ele imaginaria que fora tudo
obra da máfia japonesa.
Um golpe.
Puro e simplesmente. Delvak merecia os parabéns.
– Se Kulik tiver meios para reagir, a minha tomada da região vai se
transformar em uma guerra de máfias. – Balançou a cabeça. Ele
nunca elevava a voz. Sempre controlado e paciente. – E uma guerra
não seria inteligente. Só aceitei participar porque Delvak me ofertou
uma garantia: Kulik saberia que fora tudo um golpe da Yakuza apenas
quando já tivesse perdido tudo. Nem um segundo antes. E agora ele se
foi. Você pode me fornecer a mesma garantia?
Era como nos filmes. Hideki sustentava uma eloquência que fazia
comque cada uma de suas palavras tivessem um peso obscuro causador
de arrepios. Não era uma simples pergunta. Ele queria que Zahner lhe
fizesse uma promessa. Uma que, se não fosse cumprida, traria
consequências. E, ao
contrário de Kulik, Hideki sabia nossos nomes, sobrenomes e
endereço.
– Posso. Tivemos apenas um contratempo – lembrou.
– Qual?
– A agência de turismo onde Kulik lava dinheiro. Pretendíamos
levá-la à falência, mas esse plano dependia da ajuda de Delvak.
– Para quê?
– Ele ia fazer uma festa.
O segurança magro abriu um sorriso gostoso de balinhas coloridas,
divertindo-se com o plano absurdo. Hideki apenas acenou, incrédulo.
– Só Delvak para planejar derrubar uma máfia com uma festa. A
agência não será um problema – resolveu. – Não
posso oferecer algo tão glamouroso quanto sua festa, mas posso
resolver de forma igualmente eficaz.
– Ótimo. – Zahner juntou as mãos. – Então temos um acordo.
– Não comuniquei todos os meus termos ainda, senhor Zahner. Para
resolver o problema da agência, precisarei gastar um bom dinheiro.
Preciso pagar alguém para executar o plano por mim. Não quero
minhas digitais nesse problema.
– Porque, se eu não cumprir minha parte do plano, um Kulik ainda
poderosovai ser problema para sua família – Gary concluiu.
– E eu não levo problemas para minhafamília – concordou.
– Tudo bem. Acho que o gasto vai valer a pena, não? Depois de tirar
Kulik de circulação, você será hegemônico.
– Meu acordo com Delvak não incluía isso, senhor Zahner. Não vou
pagar por uma parte do acordo que não concordei. O mais honrado seria
você e os seus pagarem pelo prejuízo.
Gary inspirou profundamente.
O potencial de lucro para Hideki era incontável, mas ele era um
negociante. E qualquer bom negociante veria que ele contava com todo
o tempo e espaço para obter o melhor acordo possível, enquanto o resto
de nós tinha uma arma metafórica apontada para as cabeças. Nós não
tínhamos tempo. Não tínhamos vantagem.
– E de quanto estamos falando? Hideki enfiou as mãos nos bolsos,
olhando para ninguém em particular. Fingia pensar em uma cifra,
mas eu tinhacerteza que ele já tinha calculado.
– Delvak me contou o plano. Deve teraproximadamente 2 milhões de
euros no cofre que vocês pretendem roubar. Por aproximadamente 2
milhões de euros, euresolvo o problema da agência.
– Você resolve o problema da agência por uns 50 mil – Lola
reclamou.
– Depende de quem contrataríamos.
– Hideki-san. – Gesticulou. Aquela era a primeira vez que eu a via
irritada.
– Jogue um corpo lá dentro e faça uma denúncia anônima para a
polícia. O lugar vai ficar interditado por semanas e
não importa quão incompetente a polícia seja, com certeza, vai achar
algo suspeito.
– Quero algo mais definitivo.
– O dinheiro daquele cofre já me foi prometido.
– Não por mim, senhorita Ox. Eu cumpro apenas as promessas que
eu mesmo fiz.
Lola rodou sobre os próprios pés, mordendo o lábio. A sugestão era
contrária ao plano dela e, se ela não topasse o roubo, todos nós
estaríamos fodidos.
– Eu não vou atrás de você. – Zahner estava esfregando as têmporas,
aquela sugestão exigiu toda sua força de vontade. – Assim que voltar
para a
Interpol, te dou uma semana antes de incluir sua presença nos
relatórios. Te dou uma semana de vantagem. Isso pagaos seus serviços?
– Não preciso de vantagem.
– Tire uma semana de férias, Lola! – Berrou com os dentes
semicerrados. – Não seria bom passar uma semana sem medo da
polícia te engolir?
– Medo? – ridicularizou. – Se me derseis meses, eu considero.
– Eu te digo em que prisão ele está – decidiu. – E te garanto que não
será umaarmadilha.
Eu consegui enxergar as veias no seu pescoço quando ela segurou a
respiração.
Estava nervosa. Em pânico.
Pela primeira vez.
– Foi uma armadilha das outras duas vezes que o encontrei, Gar.
Não vouconfiar em você dessa vez.
O resto de nós se entreolhou e até o homem das balinhas prendia a
respiração para evitar perder alguma informação.
– Vou com você roubar esse cofre – determinou. – Assim que você
me entregar o dinheiro, eu te digo qual é a prisão. Você conseguiria
chegar até ele antes de eu ser reinstituído na Interpol.
Lola sequer piscava.
– Não vou ter tempo para organizar uma armadilha. Você me dá o
dinheiro. Eu te dou o nome de uma prisão. – Estendeu a mão. – Temos
um acordo?
O lábio de Lola tremia quando ela otocou.
– Um acordo, Zahner.

Lola carregou os blocos maciços de notas do cofre para a bolsa


escura antes de guardar os instrumentos que usou para arrombar a
segurança em outra bolsa preta.
Eu sabia exatamente o que ela pretendia fazer e me senti até um
pouco ofendido que ela tivesse me consideradoestúpido a ponto de cair
naquele truque. Ia ser o fim da noite, ela ia trocar as duas bolsas quase
idênticas e me entregar a que contivesse os
instrumentos e não o dinheiro.
– Isso foi fácil – decidi, quando ela fechou o zíper e se virou para
trancar o cofre. Havia apenas uma diferença entre as duas bolsas
compridas, uma pequena tarja branca com a marca da mochila em uma
delas. A dos instrumentos. Essa era a que eu precisaria evitar.
– Diz isso porque eu me livrei de dois deles. – Indicou os três
homens caídos no chão com o queixo. – E você teve que cuidar de um
só.
– Está querendo me convencer de quefoi difícil pra você?
– Não. – Sorriu. – Estou querendo dizer que não seria fácil para
você. Ainda amarrei os três e arrombei o cofre enquanto tudo que você
fez foi ficar aí
parado sendo rabugento.
– Não ia te deixar vir sozinha.
– Sua preocupação com minha segurança me sensibiliza.
– Não é com sua segurança que estou preocupado – rosnei. – O que
vai fazer com ele depois de tirá-lo da prisão?
– Quem disse que vou tirá-lo da prisão?
– Vai precisar, não? Para...
– Shh. – Levou os dedos à boca. – Ouviu isso? – Alinhou o ouvido
em uma das direções e eu me virei para verificar. Eu sabia exatamente
o que elaestava fazendo e aceitei participar dojogo.
– Vamos sair daqui logo. O contador vai voltar para casa a qualquer
instante.
Troca feita.
Trocou as duas bolsas quando eu não estava olhando.
Boa garota.
Levei a mão às duas mochilas, mas fui impedido pelo toque de metal
na minha testa. Lola apontava sua arma para minha cabeça.
– O nome da prisão, Gar – solicitou. O barulho do lado de fora ficou
mais alto, chamando minha atenção. – É a polícia – explicou. –
Denúncia anônima. Estão vindo buscar o ex-agente da Interpol que
desapareceu sequestrando duas testemunhas. Não facilite a vida deles –
sugeriu, maldita, e eu quis enforcá-la. – Me diga o nome da prisãoe eu
te deixo ir. Talvez até te deixe levar
o dinheiro.
Encarei seus olhos escuros.
– 2 a 0 pra você, hein?
– Eu sou boa assim. – Não havia alegria em seu rosto. – A prisão,
Zahner.
– Fizemos um acordo, Ox. O acordo não incluía polícia ou arma. Só
dinheiroem troca de um nome.
– A polícia e a arma são para garantirque você vai cumprir sua parte.
– E o que me garante que você vai cumprir a sua?
Estreitou os olhos, pensando por um minuto.
– AQUI EM CIMA! – gritou, antes de se voltar para mim. – Que escolha
você tem?
Senti meu rosto inteiro se espremer
em uma careta de fúria.
– Calabouços de Domokos – menti.
– Já procurei lá.
– Não procurou bem o suficiente – rosnei, colérico.
Passos do outro lado da porta fizeram-na hesitar. Um único segundo.
Agarrei-a pela cintura e arremessei-a contra os policiais. Busquei a
bolsa sem a tarja branca em um instinto cego e me joguei pela janela
por onde tínhamos entrado, deixando Lola para trás e desaparecendo na
noite.

– Acha que eles vão se matar? – Sentei na borda do palco ao lado


de
Ryker, depois que todos se foram.
– Acho mais provável eles abandonarem o plano para ficarem nus.
– Na casa de um estranho? – Torci o nariz.
– Qual o problema? Nunca transou nacasa de um estranho?
– Todas as vezes que transei foram com você, Ryker. – Revirei os
olhos e ele abriu um imenso sorriso de satisfação.
– Precisamos mudar isso. – Lambeu o sorriso. – Você não ter
transado na casa de um estranho – explicou, muito rápido.
– Não a parte de só ter transado comigo.
– Tem algum lugar em mente? – Ri, deixando ele me beijar. A
melhor sensação do mundo: eu sempre detestei
a temática sexo em qualquer outro contexto. Menos com Ryk. Com
ele, sexo era um de meus assuntos favoritos.
– Na casa do Devon ia ser genial!
– Ainda não sei qual o problema entrevocês dois.
– Sabe de uma parte.
– Ficou com a mulher dele?
– Fiquei.
– Ryker! – reclamei, dando um tapa no seu ombro.
– Não é como você está pensando! Não foi uma traição. Pelo menos
não daminha parte.
– Não consigo imaginar qualquer cenário em que isso seja possível
– recriminei. – Tem que pedir desculpas.
– Não vou pedir desculpas.
– Ryker! – reclamei de novo e ele segurou meu rosto com as mãos.
– Você também fica vermelha quandofica irritada. – Raspou a língua
no meu queixo, começando a se desfazer ao meuredor. – Tão linda.
– Não me engana! – Seus dedos escalaram a região do meu joelho
ao meu quadril, desviando da rota para desbravar entre minhas pernas
e eu estava amolecendo.
– Com quantas mulheres casadas você acha que o Devon já ficou? –
defendeu- se. – Faz parte da profissão. Uma cliente te contrata e você
não pergunta estado civil. Você só diz quanto cobra e ela diz se aceita
ou não.
Engoli em seco, sentindo minha
vagina ressecar.
Era aquela realidade tão óbvia que você nunca para e se questiona. O
céu é azul, a grama é verde. Você só aceita. Nunca para um momento
no seu dia para olhar e dizer “Nossa, é mesmo! Como a grama é
verde!”.
Ryker era um garoto de programa. Eu sempre soube disso.
Desde o primeiro segundo em que nosconhecemos.
Então, eu me apaixonei e ele foi meue nunca parei para considerar.
Eu o amava, e o trabalho dele nuncame impediria de amá-lo.
Desde que fosse no passado. Mas... e se fosse no presente?
Há quanto tempo ele era garoto de
programa? Com quantas mulheres dormiu? Tinha clientes regulares?
Será que alguma delas já se apaixonou por ele? Será que ele se
apaixonou por alguma delas? Algum marido, namorado, noivo… já
descobriu? Algum já o agrediu? Será que ele já tinha sido preso por
causa de sua profissão? Será quetinha algum país em que ele não podia
mais entrar? Ele tinha vontade de trabalhar com outra coisa? Ele
sempre pareceu tão feliz sendo stripper… sendo garoto de programa…
será que estava em seus planos exercer outra atividade? E se não
estivesse? Ele passaria suas noites na rua conferindo prazer a mulheres
casadas enquanto eu esperava que ele voltasse para me dar prazer. Eu
ainda o amaria nessas condições?
– A mulher do Devon te contratou. – Não era uma pergunta.
– Devon a traiu – explicou. – O que é um feito bem grande se você
considerar que a porra do cara já era um garoto de programa. Ele
trabalhava com isso e a mulher dele sempre soube e aceitou.
Eu estava sentindo uma fraqueza nas pernas.
Era possível, então… Estava na realidade de Ryker que uma mulher
aceitasse estar com um garoto de programa. Ele esperava que eu
aceitasse também? Seria só preconceito meu? Ou era algo que eu
realmente não conseguiria suportar?
– Mas o Devon foi e ficou com uma
das amigas dela enquanto ela estava viajando a negócios. Ela
descobriu depois. A amiga tirou uma foto e contoupra ela.
Monique.
Íamos sair para um jantar só de garotas e Monique ia sacar seu
celular da bolsa e me mostrar uma foto de Ryker nu beijando suas coxas
magras. “Ele medeu um desconto”, ela iria dizer. “Já marquei de novo,
acho que vou fazer dessas experiências algo semanal”.
Talvez fosse preconceito.Mas eu não iria aguentar.Não ia suportar.
– E como… – Minhas pernas ainda tremiam. – E como ela sabia que
a amiga não era uma cliente? Devon podia
estar só trabalhando. – Tentei soar casual, mas cada palavra saía
exasperada.
– Eles tinham um acordo. – Ryker levantou uma sobrancelha. – Ele
não podia trabalhar com pessoas próximas a ela: família, amigos,
colegas de trabalho. Desde que ele soubesse quem eram, lógico. Mas
ela sempre fazia questão que soubesse.
– Então ele não estava trabalhando?
– Não. Foi de graça. Só porque ele quis.
– Ela ficou com raiva e se vingou ao te contratar.
– Exatamente.
– Você sabia disso? Quando ela te chamou?
– Imaginei. Mas faz parte da profissão não perguntar, Mina. A vida
de um cliente não é da minha conta. Se a gente tivesse ficado junto
naquela primeira noite no hotel, eu nunca teria te constrangido e
perguntado por que vocêera virgem ou qualquer detalhe.
– Não, não iria me constranger. – Sorri, amarela. – Fui bem capaz
de fazerisso sozinha, obrigada.
Ele riu. Seu braço encaixava na curva da minha bunda de um jeito
estável. Como se a gente se complementasse como duas peças de um
quebra-cabeça. O problema é que eu ainda não sabia que peça a gente
formava.
– Como ele descobriu?
– Ela me chamou na casa deles, em
um horário que sabia que ele voltaria. Eu não fui informado dessa
parte e quase levei um murro de graça.
– Devia ter deixado ele te dar ummurro.
– Não, não devia. – Apoiou a testa na minha, me encarando com
suavidade. – Não é assim que funciona, Mina. Se você trabalha em
uma loja de revelarfotos…
– Loja de revelar fotos, em que séculovocê vive?
– Se você trabalha em um departamento de tecnologia! – Revirou
os olhos. – E vê nos e-mails de um cara casado que trabalha pra
empresa que ele está tendo um caso, você não denuncia para a mulher
dele. Se você é
recepcionista de um motel, psicóloga, terapeuta, médica… e
descobre que um paciente ou cliente está tendo um caso, não cabe a
você interferir. Não é sua vida. Não é ético em nenhuma profissão. Com
prostituição também não. Se Devon traiu a mulher dele ou se a mulher
dele quis devolver, não é da minha conta. Ela me contratou, me
ofereceu mais do que cobro e eu geralmente aceito trabalhos assim de
bom grado.
– Aceita?
– Claro! – Riu, sem entender o sentido da pergunta. – Você não
faria o mesmo na sua área?
– ...ou aceitava? – continuei a pergunta e ele ficou sério assim que
compreendeu.
– Mina… não trabalhei com isso desde que nos conhecemos. – Eu
sei.
– E a parte do strip você já sabe melhor do que ninguém. – Apontou
parao palco.
– Eu sei.
– O único trabalho de sexo que tive nos últimos meses foi transar
com você nesse palco. – Deu dois tapinhas com o indicador.
– Eu sei.
– E por que está agindo como se não soubesse?
– É estranho, Ryker. – Me afastei,cruzando os braços.
– É estranho? O quê? – Ele abriu os braços, estava indignado. –
Transar comigo o tempo todo não foi. Perder a
virgindade comigo ou dizer que me amava. E agora, de repente, é?
– Não foi isso que eu quis dizer.
– Não posso voltar no tempo e mudar o que já fiz, Mina. E,
sinceramente, mesmo se pudesse, não faria isso. A prostituição
permitiu que eu me afastasse da minha família tóxica e criasse a vida
que eu queria. Livre. – Sua ênfase na última palavra murchou meu
coração. Eu não queria ser a mulher a cortar suas asas e destruir sua
liberdade. Mas não poderia impedir, se ele optasse por encarar meu
pedido desse modo. – Nunca imaginei que fosse um problema para
você.
– Está dizendo que vai continuar trabalhando com isso?
– Estou dizendo que não sei. – Ele parecia igualmente triste e
irritado com o rumo da conversa. – O que espera de mim, Mina? Não
vou me tornar um empreendedor rico e bem-sucedido do dia pra noite.
Não tenho qualquer conhecimento específico em algo que seja
rentável. Eu gosto de escrever, certo… mas sequer mostrei para
alguém que não fosse um amigo ou dois. Não fiz uma faculdade de
Letras rebuscada como a minha irmã, eu mal terminei a escola! E não
vou aceitar a ajuda dela, porque ela só vai fingir que meus escritos
venderam para me dar dinheiro e eu não quero viver minha vida
dependendo de ninguém desse jeito.
– Então está dizendo que vai
continuar a se prostituir? – Minha voz enganchou na garganta.
– Não! Estou dizendo que não sei – repetiu. – Não sei o que eu sei
fazer, Mina. Não sei como eu poderia sobreviver senão a partir disso.
– Eu posso te ajudar. Quando conseguir um emprego, posso…
– Não quero. Obrigado. – Virou-se decostas.
– Vai ser esse cara, então, Ryker? O cara que não aceita ajuda de
mulheres?
– Não tem nada a ver com isso.
– Com o que tem a ver, então? – exclamei, sofrendo.
– Tem a ver comigo! Com o fato de euter assistido aos crimes do meu
pai contra minha irmã prescreverem diante
da Justiça porque eu dependia dele para sobreviver e não tinha
coragem de encará-lo. Tem a ver com a independência que a gente
adquire quando não precisa de ninguém.
– É bom não depender de ninguém, Ryk. Mas também é muito
solitário.
– Está dizendo que não vai querer ficar comigo se eu decidir
continuar me prostituindo?
– Estou dizendo que não sei – tomei suas palavras emprestadas.
Ele acenou, magoado, e o silêncio se prolongou desconfortável.
– Acho que temos nossa resposta. – Seu meio sorriso carregava
tanta dor que sequer devia ter existido. Havia desprezo no seu olhar
quando se
aproximou de mim, mas eu não soube se era para mim ou para si
mesmo. Estava tão perto, me forçando a olhar para baixo para evitá-lo,
para fugir da sua esfera. Mas ele já estava ali… tão perto que, ao olhar
para baixo, tudo que vi foram nossos corpos se aproximando
lentamente, adestrados a executar aquele movimento. Suas mãos se
posicionaram em meus cotovelos quando sua boca me encontrou. Havia
um toque de amargo na nossa eterna doçura e senti que poderia chorar.
Ryker, em sua eterna compreensão sobre o meu funcionamento,
soltou meus lábios para dedicar sua trilha de beijos aos meus olhos. Um
beijo longo em umadas pálpebras, selinhos curtos nas
bochechas descendo o caminho que teria sido preenchido por
lágrimas se ele não estivesse sorrindo contra meu rosto e agarrando
minha bunda.
– O que está fazendo? – Ri.
– Me despedindo. Não era esse seu plano? – Mordeu meu pescoço.
– Não era a isso que estava me referindo.
– Era sim. Você estava se referindo asexo, sua safada.
A gargalhada aliviou a angústia carregada em meus pulmões por
todo aquele assunto desagradável e eu logo tinha me esquecido da
profundidade de nossos problemas mais uma vez.
– Eu quis dizer que a gente deveria conversar. – Enfiei meus
cotovelos entre
nossos corpos, tentando salvar o que restava de nosso foco. –
Decidir o que agente vai fazer depois.
Ele acenou, fingindo compreender, mas sem prestar verdadeira
atenção.
– Você quis dizer que queria transar da última vez que a gente se
separou, mas não teve tempo. Não quer arriscar perder a chance de
novo. Eu te entendo, amor – continuou, brincalhão, me fazendo rir em
meio a mordidas.
– Você entendeu tudo errado, seu tarado.
– Não quer sexo, então? – Afastou-se, enfiando as mãos no bolso. –
Tudo bem. Sem sexo. – Seu escrutínio analítico caiu sobre mim
enquanto ele esperava, com um meio sorriso perverso e
divertido, que eu me desfizesse em inevitável frustração. Que foi,
óbvio, exatamente o que eu fiz.
– Quer mudar de ideia? – provocou, sorrindo.
– Não. – Minhas bochechas pegavam fogo. Estavam envergonhadas
pela minha má atuação e decepcionadas pela minha vagina. – Eu quero
conversar. Mas agora… agora – Sexo faz alguma coisa bizarra com
uma parte específica do seu cérebro responsável pela comunicação. O
sangue desce para irrigar suas terminações nervosas e o metabolismo
do cérebro é diminuído a um ritmo digno de uma lesma indecisa. – Ah!
Você me fez esquecer o que eu ia dizer!
Sua mão larga e forte agarrava meu pescoço.
– Então venha aqui que eu te ajudo a lembrar.
O modo com o qual ele movia sua língua macia contra o céu da
minha boca me fazia suspirar e perder a razão. Espremia meu quadril
contra a lateral dopalco e descia as mãos até minha cintura.
Antes de Ryker, nunca tinha notado o tesão muito peculiar que eu
aparentemente sentia por bundas masculinas. Uma curva gostosa que
serve para prender uma calça mais folgada e para preencher mãos
gulosas. Agarrei suas nádegas com os dedos e meus lábios com os
dentes. O gemido
emitido como um miado morno, derretendo minha boca: –
Gostoso… – murmurei.
– Era isso que você esqueceu de dizer? – Ofereceu a língua para
que eu mordesse. – Como pode ter esquecido isso? – divertiu-se,
aceitando minhas mordidas intercaladas.
– Ryker, cala a boca.
– E me fode.
– Hum?
– É assim que se diz – explicou, acadêmico. – Cala a boca e me
fode.Um pedaço da frase não faz sentido semo outro.
Sua digressão me irritou.
– Vou te mandar calar a boca de novo.
– E eu só vou calar se você pedir pra
eu te foder. – Riu.
Respirei fundo e abri a boca, reunindo coragem para me jogar na
sua armadilha.
– Ficou com vergonha, foi? – provocou de novo. – Posso abrir as
portas e convidar o pessoal da rua para assistir. É assim que você
gosta, não é? Quando eu faço você gozar na frente de uma plateia. Vai
ter que gemer mais altodessa vez, como…
– Ryker… – Revirei os olhos. – Cala a boca e me fode.
Ele agarrou seio e bunda com invejável apetite, mas não me beijou.
Sua boca estava ocupada demais se abrindo em uma risada
interminável de satisfação.
– Minha garota!
– Cala a boca. – Belisquei sua bunda.
– Minha garota safada!
Não sei até que ponto foi de propósito, mas Ryker se dobrou sobre
mim, fazendo com que tropeçássemos ecaímos os dois sobre o palco.
– A gente vai subir para o quarto? – Apergunta era quase nula, já que
a invasão de seus dedos na parte interna de minha calcinha deixavam
suas intenções bem claras.
– Ou... – Arregalou os olhos, animados com sua exclamação. – Pra
casa do Devon! Experimentar essa novidade para você.
– É. – Fingi tédio. – Sinceramente, Strome, já transamos no palco,
estou
decepcionada. Está começando a ficar repetitivo… Ah! – Seus dedos
encontraram aquele ponto bem na lateral do meu clitóris que parecia
fazer minha virilha se derreter em lubrificante e arfei.
– Ah, desculpe. – Sarcástico. – Eu te interrompi. Estava dizendo
alguma coisa?
Não era acidental.
Ele sabia exatamente qual era o maldito ponto, porque estava
esfregando o polegar nele de um jeito que deveria ser ou proibido por
lei, ou obrigatório. Porque depois de conhecê-lo uma vez, mulher
nenhuma deveria ser obrigada a viver sem aquele toque.
Joguei a cabeça para trás, olhos
fechados, sentindo meus cabelos searrastarem no chão do palco.
– Esqueceu de novo? – Ele apertou com tanta força que teria doído
se não estivesse me fazendo encontrar o nirvana. – Eu te ajudo a
lembrar, de novo. – Um beliscão e eu não conseguia parar de gemer. –
Estava falando algo sobre decepção? – Ele girava meu clitóris preso
entre seus dedos, sem parar de esfregar o polegar no ponto perfeito.
Mordi a parte interna do meu lábio. Eu ia gritar. Era só uma questão
de tempo. – E repetitivo. – Seu dedo me invadiu, mas seria mentira
dizer que gostei mais dele do que do aperto do seu polegar. Aquele
dedo suave e curvado dentro de mim era uma delícia. Mas
nada se comparava à copiosa massagem clitoriana à qual ele me
submetia.
Ryker me despiu com a mão livre e eu colaborei como pude, o que
não foi muito. Ele não soltava minha virilha mesmo que eu debatesse
as coxas contrao braço dele.
– Quero te ensinar outra coisa. – Lambeu meu pescoço logo abaixo
da orelha, antes de me forçar a ficar de quatro sobre ele. Soltou meu
clitóris, parte de mim quis reclamar por causa disso, outra parte porque
temeu que ele quisesse sexo anal. Mas sua língua me lambeu inteira e
eu estava fechando os olhos para curtir o momento de novo.
– Já ouviu falar dessa posição aqui? – Seu sussurro abafado foi de
encontro à
minha vagina e seu hálito transformou o ar ali em um arrepio que
percorreu minha coluna, apressado. Desabotoei suas calças e Ryker me
engoliu. Puxando meu quadril para baixo, me forçando a sentar sobre
sua boca. Como ele estava conseguindo respirar, é algo que eu nunca
saberia.
Sexo para mim sempre tinha sido difícil e complicado. Mesmo com
Ryker, com quem tudo era mais fácil, tive minhas complicações em um
momento ou outro. Mas instinto é uma coisa engraçada, delicada e
curiosa que chega para assumir o controle quando você não está
esperando.
Era perceptível para mim porque era a primeira vez que acontecia.
Eu sempre
tive certeza que era deficiente no quesito “instinto sexual” até Ryker
me fazer aquela pergunta curta antes de me engolir em cima daquele
palco vazio.
Algo se apoderou do meu corpo como um desejo que não conseguia
mais ser contido e rasgaria minha pele para fugir se não fosse
controlado. E o único modo de controlá-lo era enfiando Ryker na boca.
Ele estava rígido e imenso. Era tão delicioso que me fazia ter vontade
de gritar uma obscenidade.
Como um pedaço de carne cheia de sangue que o homem esconde
dentro das cuecas pode ter uma aparência tão gostosa? Antes de Ryker
me parecia absurdo e até um pouco nojento. Mas ali estava ele, o
membro tão grande que não
conseguia ficar completamente linear e, ereto, fazia um curva suave
para a esquerda. Fechei o punho ao seu redor e meus dedos não se
fechavam. Eu o engoli de uma vez e, na minha gula, só percebi que
tinha sido ávida demais quando o reflexo de regurgitação se fez
perceber. Recuei, mas a vontade subsistia. Lambi a cabeça e Ryker
gemeu entre minhas coxas, o que me deixou ainda mais molhada. O
chupão que ele me deu parecia servir para dar vazão ao seu próprio
prazer e eu o imitei, usando seu pau para aliviar a minha tensão.
Engoli-o bem fundo mais uma vez. Senti um pouco de orgulho da
minha capacidade, apesar de ser notável que a posição claramente
facilitava a entrada
de sua ereção na minha boca. Segurei a base para controlá-lo
melhor, era impressionante como ele ficava mais largo e mais duro sob
meu toque sempreque eu fazia algo certo.
Será que era assim que as pessoasliam umas às outras na cama?
Eu podia tentar…
Transformar Ryker no meu laboratóriopessoal.
Dei uma longa lambida de baixo acima. Duro.
Raspei os dentes na base. Duro. Deslizei os dedos na sua extensão.
Duro.
Cocei seus testículos, muito de leve,ainda possuída pelo trauma.
Mais duro.
Certo…
Raspei os dentes na glande. Mais duro.
Lambi sua cabecinha. Mais, mais duro.
Usei os lábios para empurrar a pele de sua cabecinha para baixo em
uma masturbação dócil e provocante, usando apenas a pressão dos
meus lábios. Tão duro.
Ryker se esticou e aumentou como nunca tinha feito antes. Ou talvez,
eu não estivesse prestando atenção das outras vezes. Talvez eu não
soubesse nem em que prestar atenção.
Eu já tinha elementos suficientes para trabalhar e acariciei seus
testículos enquanto o masturbava com os lábios
entre mordidas e lambidas, arriscando engoli-lo o máximo que eu
conseguia em intervalos regulares. Ele não conseguia mais ficar parado
e impulsionava o quadril contra mim.
Está gostando.
Eu estou aprendendo.
Estava realmente desenvolvendo um ritmo interessante, mas foi aí
que Ryker me chupou com força. Sugou meu suco inteiro, estapeando
meu clitóris com a língua e eu soltei seu pau. Minha boca se abriu em
um grito nervoso e tive que me dobrar com esforço para conseguir
colocá-lo na boca de novo. Ele me mordeu quando começou a gozar e
sentimeu corpo inteiro vibrando.
Seguiu-se um momento mágico em
que toda a tensão se desfaz, espalhando espasmos pelo corpo a partir
da virilha e trazendo a certeza que, se o Paraíso existe, ele tem que ser
tão bom quanto um orgasmo, ou seria frustrante.
Me joguei para o lado assim que consegui parar de tremer, ainda
tentandorecuperar o fôlego.
– Não te ensinei a fazer isso – Ryker gemeu. – Quem te ensinou a
fazer isso?
– Ele parecia sofrer de prazer, o que me deixou realizada ao ponto
de não conseguir descrever.
– Estava só experimentando –confessei.
Ryker respirou fundo duas vezes completas.
– Pois experimente mais vezes. –
Sorriu.
Dei um tapa em sua barriga antes de levantar para me vestir. Foi só
aí que percebi o líquido escorrendo pelo meu queixo. Limpei minha
boca com as costas da mão.
– Desculpe. – Tomou meu rosto, alisando minhas bochechas e
lábios comos polegares. – Me perdi. Não te avisei.
Ainda estava tentando processar o fato…
– Eu… engoli?
– Acho que não tudo. – Riu, ajudandoa me limpar. – Mas um pouco.
Estalei a língua na boca testando o gosto e Ryker gargalhou com
força.
– Quer mais um pouquinho? Me dá uns cinco minutos – brincou
e ganhou
outro tapa.
Eu ainda estava vestindo a calça quando a porta bateu, anunciando
que tínhamos companhia. Apressei-me em me recompor enquanto
Ryker se rearrumava sem pressa, rindo do meu desespero.
– Estão acordados. Bom. – Zahner chegou carregando uma bolsa
escura. – O dinheiro do Hideki. Parece que finalmente acabou. –
Respirou fundo.
– Lola?
– Lola é problema de Lola. – Sorriu sem alegria, atirando a bolsa
em cima do palco.
Ela estalou com um som desagradável de metal batendo em metal e
Zahner arregalou os olhos em pânico.
– Não. Não, não, não!
Puxou o zíper e despejou o conteúdo ao nosso redor. Diversas
ferramentas estranhas que eu não sabia para que serviam.
– PUTA DO CACETE! – Zahner enfiou as mãos nos cabelos com muita
força, como se estivesse realmente disposto a arrancá-los pela raiz. –
Aquela puta… – repetiu em um sussurro baixo. – Não pode ser… –
Virou a bolsa à procura de algo. Ryker segurou meu pulso, indicando
que eu desse um passo para trás. Ele tomou minha frente por talvez
temer algum episódio de insanidade de Gary, demonstrando, assim, o
ímpeto de me proteger. – Ela trocou as bolsas! – falou sozinho. – Mas
a que tinha os
instrumentos tinha uma tarja branca bem ali. – apontou, irritado. Eu
não sabia se ele estava nos explicando ou tentando aceitar a verdade,
mas me encolhi para ver a bolsa e passei o dedo na região que ele
indicou.
– Tinha um adesivo aqui – avisei. – Édisso que está falando?
Havia insanidade nos olhos de Zahner quando ele puxou a bolsa para
verificar a verdade em minha constatação.
Passou o dedo pelos resquícios de cola de um adesivo que deve ter
sido arrancado rapidamente e começou a rir. Um riso de homens loucos.
– Era falsa. – As mãos estavam de volta nos cabelos. – Ela não
trocou a bolsa, ela trocou as tarjas. Colocou o
adesivo na outra bolsa. A criminosa do caralho arrancou a tarja de
uma e colocou na outra.
Ele se sentou no palco. Nós nos abaixamos perto dele. Coloquei a
mão em seu ombro na tentativa de consolá-lo. O pobre Gary nunca iria
admitir, mas gostava dela. Mesmo que em um nível doido, psicopata e
doentio… gostava de Lola. Eu entendia a fúria e a revolta. Não era
apenas por ter sido enganado, mas por ter sido enganado por uma
pessoa em quem ele queria acreditar. Eu tinha sentido fúrias e revoltas
semelhantes por Ryker um dia. Conseguia entender.
Mas independente da incômoda frustração que Gary sentia, Lola
parecia
não se importar.
Hideki ia aparecer no dia seguinte querendo seu dinheiro.
E, a não ser que aqueles instrumentos espalhados pelo palco
valessem aproximadamente dois milhões de euros, estávamos todos
fodidos.
Dez
Maneiras de perder o pudor
– E então? – Estávamos todos espalhados pelo beco atrás da boate,
esperando Zahner se despedir de Hideki, que mal tinha descido do
carro.
– Dois dias – falou em uma comemoração estúpida.
– Dois dias para conseguir dois milhões. Alguém aí tem uma
moeda? –
Ryker bateu as mãos nos bolsos. – Porque eu vou ali no orelhão
ligar pro Kulik e contar onde a gente está. – Fez uma careta, ranzinza. –
Já que vai acabarassim, pelo menos quero dar a notícia.
Esfreguei seus ombros nos esquentando do frio do clima e da falta
de esperança.
– Não precisamos dos dois milhões – Zahner garantiu. – Hideki só
quer lucrar o máximo que puder em cima da situação. Ele é um
criminoso e é inteligente. Nós estamos fodidos e qualquer um pode
sentir o cheiro. Ele quer Kulik preso e quer o controle sobre essa região.
Dois milhões não vão mudar isso agora, os russos já estão muito
enfraquecidos. – Balançou o
jornal. A leitura da manhã tinha aumentado sua disposição
consideravelmente, de modo que mal se identificava sua ressaca. Ou
isso ou ele tinha uma resistência bem forte a álcool. Um terço da vodca
que ele tomou na noite anterior em sua fúria contra Lola seria
suficiente para me fazer tirar a roupa de bom grado e querer transar
com Ryker na frente de todo mundo. Não que eu tenha precisado de
vodca da última vez.
A situação estava ruim. Mas já estivera pior.
Lucy se recostava à parede com as mãos enfiadas nos cabelos
enquanto Tim e Devon cogitavam se Kulik teria ou não uma esposa de
quem eles pudessem tirar
vantagem. Joanie os chamou de idiotas por considerarem que toda
mulher seria um alvo fácil para eles dois.
– Você não conhece meu charme. – Devon piscou um olho, com
arrogância esensualidade.
– Bebê – Lucy se intrometeu na discussão, sem paciência –, seu
charme não foi suficiente nem pra tirar a virgindade da Mina, então
fica quietinhoaí que você é mais bonito de boca fechada.
– Vocês estão vendo isso do jeito errado! – Zahner ainda estava
agarrado ao jornal, como um totem. A única peça que lhe trouxera boas
notícias nos últimos dias: uma manchete falando sobre quedas súbitas
de investimentos
que nós sabíamos ser referentes à maior parte das aplicações do
dinheiro de Kulik. Allender tinha derrubado as ações para levar o
nosso colega russo à falência. – A gente está quase lá!
– Quase por dois milhões de euros, Interpol. – Nila abraçou os
próprios joelhos. – Quero me vingar dos escrotos mais do que você,
mas dois milhões nãocaem do céu.
– Não precisamos dos dois milhões! – repetiu, batendo o pé no chão.
– Não estão me ouvindo?
Luckas se aproximou de Ryker com sugestões de como
contrabandear nós dois para fora da Europa, para algum lugar onde
Lexa pudesse nos buscar depois.
Ninguém estava ouvindo Zahner.Menos eu.
Eu estava ouvindo cada palavra.
– A festa – murmurei para mim mesma em minha própria epifania
digna de eureca. – A festa! – Levantei do chão. – A gente pode fazer a
festa que o Delvaktinha planejado.
Lucy esfregou as têmporas: – A festa que o Delvak tinha planejado
incluía doze übermodels de agências da Noruega e África do Sul
despindo peças exclusivas do Oscar de la Renta no palco do Lucky’s,
alguns quilos de caviar Beluga, três artistas do Cirque du Soleil em uma
performance exclusiva envolvendo uma cachoeira interna de Veuve
Clicquot adornada com cristais
Swarovski, que nenhum de nós faz a menor ideia de onde ele iria
arranjar, e uma participação especial de David Guetta. – Expirou. –
Nada contra seu show da Tímida, Mina, mas acho que a gente não vai
lucrar nem perto do plano do Delvak.
– Não é o show da Tímida. – Abanei as mãos. – Vamos supor que o
Zahner esteja certo e que a gente só precise lucrar alguns milhares para
convencer oHideki. Lola disse 50 mil, não foi? Vamos tentar conseguir
o mais perto de 50 mil em um fim de semana!
– Mina, sei que você é uma boa administradora e economista, amor,
masisso…
– Shh, Ryker! – Coloquei a mão nos
seus lábios. – A gente só precisa de algo diferente, que atraia a
atenção de todo mundo! Algo que todo mundo queira participar. E
depois o marketing… – Comecei a sorrir quando a ideia se formou na
minha cabeça. – A gente já tem o marketing pronto! – Ri sozinha.
– Mina, quando você quiser compartilhar o plano – Devon avisou.
– O resto de nós está curioso.
– Eu era virgem quando eu vim para cá.
– Ai meu Deus, ela endoidou. – Tonya arregalou os olhos diante da
minha faltade sentido.
– Bebê, não sei se agora é a hora para a gente dar as mãos e ter
conversas íntimas.
– Mas eu mudei! – tentei explicar.
– Não tanto pra quem viu a dança erótica pro contador. – Tim riu e
Ryker lhe deu um soco no ombro. Ele mesmo tinha feito uma piada
semelhante antes, mas parecia considerar que ele era o único com tal
direito.
– CALEM A BOCA! – mandei. – As pessoas vêm para Amsterdã
querendo algo diferente. Se lhes oferecermos algo diferente de tudo,
elas vão querer, não vão?
– Teoricamente, sim – Luckas concordou. – Mas o que pode ser
diferente em Amsterdã?
– O show da Tímida. – Dei de ombros e todos se calaram.
– É uma crise de ego – Joanie
explicou. – Já li isso em uma revista, quando a gente fala demais pra
uma pessoa que ela está indo bem, ela começa a se supervalorizar…
Acho que ultrapassou o limite.
O pessoal da boate estava ao seu redor concordando.
– Não, seus perturbados! Prestem atenção! – Bati palmas. – A gente
faz uma festa exclusiva e oferece a todos os convidados a chance de ser
a Tímida.
O silêncio que se seguiu foi mais convidativo. Eles estavam me
escutandoagora.
– Um show de strippers amadores? – Ryker estava sorrindo. –
Exatamente!Como um karaokê safado! – expliquei, animada.
– A gente disponibiliza máscaras para as pessoas que não quiserem
mostrar o próprio rosto, faz uma equipe de figurino no camarim para
vestir os turistas-strippers e eles levam para casa o dinheiro que
ganharem no palco! A gente pode cobrar um ingresso muito mais caro
que o normal, faz pacotes de luxo, monta uma área VIP, consegueumas
bebidas melhores e superfatura todas. E fazemos todos esses gastos
adicionais valerem a pena para os clientes por causa da experiência! É
isso que as pessoas buscam nessa cidade. Eles querem a experiência. E
a gente pode fornecer isso a elas.
– A gente pode fornecer mais – Lucy sugeriu. – A gente pode montar
um show
de sexo entre profissionais que permita a participação dos clientes
por um preço. – Observou ao redor. – A maior parte de nós é
profissional do sexo mesmo, quem toparia sexo em público por um
extra? – E levantou a própria mão. Praticamente todos a
acompanharam, inclusive Ryker, que levantou a mão rindo para mim.
Mas eu o segurei pelo cotovelo e coloquei sua mão malcomportada de
volta para baixo.
– A gente pode fazer isso também – concordei.
– Mas como vamos fazer as pessoas saberem da festa?
– Vocês conheceram o amigo de Lexa, o do jornal, não foi? – Voltei-
me para asmeninas e elas confirmaram com um
sorriso. – Acham que podem… convencê-lo a chamar a atenção da
mídia para nossa novidade?
Joanie respondeu um “com certeza” que me deixou satisfeita.
– E temos também o cara do Twitter –lembrei. – Que gostou do show
da Tímida.
– Posso mandar uma mensagem pra ele – Lucky concordou.
– Falem com seus clientes. Turistas são o foco, mas os residentes na
cidade também devem gostar da ideia. Vamos fazer uns panfletos e
deixar em todos os hotéis que pudermos. Devon, você… ahm… disse
que postou uma foto do seu… ahm…
– Do pau dele – Ryker sussurrou, me
atrapalhando mais do que ajudando.
– Isso. – Engoli em seco. – Disse que postou uma foto íntima no
Twitter uma vez e teve boa resposta. Ainda tem muitos seguidores?
– Tenho. – Riu satisfeito e Ryker revirou os olhos.
– Pode fazer uma postagem parecida… para propaganda? –
acrescentei depressa.
– Quer que eu poste uma foto do meu pau com um convite para a
festa de amanhã à noite?
– É – respondi, sentindo a pancada de vergonha e constrangimento.
– Normal ou ereto?
Eu tinha minha expressão congelada em uma careta de descrença.
Como
diabos eu deveria responder àquilo?
– Ereto geralmente é maior – Ryker sussurrou de novo, tentando me
ajudar. Mas sua assistência não estava colaborando.
– Eu sei! – reclamei. – Obrigada. Como você preferir, Devon. – As
palavras saíram engasgadas.
– Ereto, então. – Ele se afastou na direção do banheiro e eu preferi
não perguntar. Apenas fui grata por ele não ter abaixado as calças ali
mesmo.
– Assim a gente já tem turistas – contei. – Locais, pessoas que
verão a notícia no jornal e os… pervertidos que acompanham o Devon.
É só esperar quea notícia corra.
– E os panfletos? – Tim lembrou.
– Se for algo simples, a gente pode fazer aqui mesmo – Bessie
ofereceu.
– Pode ser algo simples. Só coloquem algo como “últimas reservas”
na propaganda. As pessoas tendem a correr quando acham que não vão
conseguir lugar.
Luckas abanou o indicador, concordando.
– Tudo bem. – Sorri. – Temos um plano.
Zahner acenou um misto de gratidão e respeito. Devolvi o aceno e
respirei fundo. Um último segundo de paz antes de correr para ajudar
Luckas com os fornecedores.

– Tente o Simak de novo! – berrei.


Meus restaurantes fechados. Meu dinheiro roubado. Meus
investimentosperdidos. Era um ataque. Restava descobrir de quem.
– Ele não atende, senhor.
– Nem vai atender – Viktor comentou com singela amargura. – Ele
morreu politicamente, Yuri. Havia rumores demais com o nome dele
envolvendo aqueles dois. E em política, fofoca vira realidade com uma
velocidade impressionante.
– Vamos achar o filho dele e a garota
– resmunguei. – E, quando fizermos isso, vamos fazer parecer que o
filho delemorreu um herói ou um pária. Como elepreferir! Desde que
o puto não me
abandone agora! – Acorde, Yuri! – elevou a voz. Você sabe que está
perdendo a firmeza sob seus pés quando até seu contador encontra
confiança parase dirigir a você com tamanha insubordinação. – Ele não
pode ser visto perto de você. Tem que ficar longe para se salvar e
mesmo assim não é certo. O concorrente dele está recebendo um
patrocínio pesado de novos investidores.
– Ligue para Allender! Eu tinha um acordo com ele!
– E ele deve ter feito um acordo melhor com outra pessoa.
Provavelmente a mesma pessoa que fechou seus restaurantes e roubou
seu dinheiro.
Enfiei os dentes no meu lábio inferior até sentir o gosto ferroso que
indicava que ele tinha se rachado.
– E como sei que não foi você? – Cuspi saliva e sangue em meu
discurso de ódio. – Guardo meu dinheiro na sua casa e ele desaparece
assim?
Viktor se levantou. Ele também estava irritado. Furioso. Mas se
conteve em respeito à nossa história.
– Como você não tem mais dinheiro para me pagar, prefiro ir
embora a ficare ouvir esse tipo de acusação. Mas antes de ir, vou te dar
um conselho, Yuri. Um último conselho. Uma cortesia entre velhos
amigos. – Suspirou. – Vá embora. Fuja bem depressa.
– Não sou covarde como você!
– Pois então fiquei e morra com sua bravura.
Ele virou as costas para mim.
O puto de merda me virou as costas. Avancei com força em passos
pesados para informá-lo que eu não estava vencido.
– Não me dê as costas quando ainda estou falando!
– A pessoa que armou isso tudo contra você veio para ficar. Depois
que terminar de destruir tudo que você tem, vai querer te eliminar. É a
jogada mais inteligente. É o que você faria. Minha única sugestão é que
você vá…
– Senhor? – Michkin entrou recuperando o fôlego. – Quase não
temos mais amigos na polícia, e tão
rápido… mas consegui uma declaração de um dos oficiais.
– Diga de uma vez!
– Ele disse que chegaram à casa de Viktor não por causa da invasão
ao cofre. Não foi uma denúncia feita por nenhum vizinho ou barulho
suspeito. A denúncia foi que o ex-agente da Interpol procurado pelo
sequestro de duas testemunhas estava lá.
Em Amsterdã.De novo?
Eu podia me sentir espumar como um animal raivoso. Eu mandei
homens até lá para verificar se não teriam voltado… Alguém tinha me
enganado nisso também! Se o agente estava aqui, os dois também
estavam.
Era ele? Era ele quem estava me destruindo?
Meu corpo inteiro estava trêmulo e incontrolável. A não ser por uma
única ideia.
– Junte os homens, Michkin. Cerquem aquela boate de merda. Quero
confirmação de que eles estão lá, primeiro. Depois quero que vocês
entrem e matem todos.
Para quem estava preocupada com desemprego, Mina parecia
desatenta aos seus muitos talentos. O Lucky’s podia não ser a boate de
maior prestígio na cidade, mas não era um lugar pequeno e
insignificante. Pelo contrário… as instalações tradicionais tinham o seu
porte e o seu allure, mas a jovem administradora não se deixava
intimidarpor nenhum desses aspectos.
Cinco minutos no telefone com um dos fornecedores e ela já tinha
conseguido negócios melhores que Luckas em cinco anos.
– Eles lembram dela. – Lucky bateu no meu ombro, rindo. – Quando
eu disse que ia passar o telefone pra ela, um deles chegou a xingar. –
Riu.
– Ela negocia muito bem.
– É impressionante – concordou. – Ryker… acha que quando isso
tudo acabar, ela estaria interessada em um emprego?
Foi uma pergunta inocente. Luckas não tinha poderes sobrenaturais
que lhe permitissem ouvir pensamentos ou ler intenções. Mas sua
inocência não impediu que um incômodo se espalhasse pelas minhas
entranhas.
Mina amarrou os cabelos para mantê- los longe do ouvido que ela
dedicava ao telefone. Falava apressada, olhando para o relógio com
frequência e rascunhando números com um lápis de madeira. Mesmo
em um clube de striptease, cercada pelo cheiro de sexo, ter uma tarefa
que ela podia realizar sem morrer de vergonha tinha lhe conferido um
ar profissional que eu achava igualmente sensual e intimidante.
Eu sabia lidar com a garota perdida
que não sabia o que fazer com o homem só de cueca no seu
apartamento.
Mas e quando ela olhasse para mim com seus números e lápis de
madeira? Quando ela tivesse um emprego fixo e colegas de trabalho
contadores, advogados e economistas. O que diabos eu deveria fazer?
Quais histórias eu ia contar na festa de fim de ano da empresa dela? O
que eu ia dizer quando o círculo de colegas engravatados se apertasse
até ficar claustrofóbico e me engolisse com perguntas sobre o que eu
fazia, no que eutinha me formado e onde já tinha trabalhado.
Mina não ter família tinha se tornado uma bênção para os meus
delírios de pesadelos diurnos. Como se apresenta
um namorado garoto de programa para o seu pai? Para sua mãe?
Irmãos? Meus relacionamentos nunca tinham sido duradouros o
suficiente para que eu precisasse me preocupar com esse tipo de
apresentação e, agora, com uma mulher com quem eu planejava passar
longos anos, a ríspida verdade é que a maldição da garota órfã era um
alívio para o namorado que não teria assunto para debater com o sogro
durante o chá.
Ela queria que eu largasse minha ocupação.
Não era um pensamento novo para mim. Eu não queria fazer isso
para sempre. Mas também não tinha exatamente um plano definido
sobre como eu poderia parar.
Todavia, acampar no sofá de Mina, desempregado e ocioso,
enquanto considerava todas as possibilidades, não era uma ideia
atraente. Teria que ser do meu jeito: eu precisava me manter ocupado
enquanto procurava outro meiode subsistência.
Claro que Mina não ia curtir essa ideia nem um pouco.
Eu não curtiria se estivesse na posição dela e é por isso mesmo que
não podia culpá-la por seu receio. Restava descobrir como eu ia desatar
o nó que minha vida tinha dado um jeito de amarrar.
Ela sorriu sozinha, fechando o punho em vitória, depois de uma boa
notícia dooutro lado da linha e eu me peguei rindo
com ela, mesmo que ela sequer estivessenotando minha presença.
Eu te amo e quero ficar com você.
Mas talvez um pouco de distância fosse necessário em algum
momento.
Um pouco de Paris para você. Umpouco de Amsterdã para mim.
Pelo menos até tudo se aquietar.Ia ser horrível.
Seu sorriso ainda estava lá, dançando vitorioso naquele rosto lindo.
Eu queria me sentar na cadeira à sua frente e assisti-la trabalhar a tarde
toda. Roubar um beijo de vez em quando não seria nada mal.
Eu quis que todos fossem embora à noite, para poder levá-la para a
cama e contar-lhe, olhos nos olhos. Mas os
preparativos avançaram pela madrugada e acabaram com metade de
nós dormindo de qualquer jeito sobre sofás ou encostados nas mesas
quando o sol surgiu no céu.
E quando o dia se foi de novo, nós estávamos prontos.
Eu não tinha roubado beijos suficientes. Não tive tempo suficiente.
Não falei verdades suficientes.
Mina surgiu de volta no salão poucos minutos antes das portas se
abrirem usando um vestido curto e folgado com um decote imoral.
A piscadela que ela me deu de presente teve doses similares de
pureza e descaração. Seu jeito Mina de ser nunca parava de me
encantar. Devolvi
com outra piscadela. A minha, com certeza, bem mais indecente,
com direito a uma leve passeada de língua pelos lábios, indicando a
fome em resposta à sua roupa. Ela revirou os olhos antes de me lançar
um beijo pelo ar.
Talvez a gente precisasse de um tempo afastado quando tudo aquilo
terminasse.
E ia, sim, ser horrível.
Mas se fosse necessário para que ficássemos juntos no fim, eu faria.
Eu faria qualquer coisa.

A palavra “lotado” estavadesenvolvendo um


novo significado
para mim. Nunca antes eu tinha visto tanta gente nos salões do
Lucky’s e, pela expressão nos rostos do resto da gangue, eu suspeitava
que eles também não.
O show de striptease amador tinha sido um sucesso automático, as
máscaras eram alugadas ou vendidas para mulheres e homens de todas
as partes do mundo que subiam ao palco para experimentar a
adrenalina de tirar aroupa na frente de um público. As inscrições foram
tantas que precisamos colocar as pessoas agrupadas em trios ou não
haveria tempo para todos se apresentarem.
A ideia de Nila foi excelente e abrimos um ponto de troca de moeda.
Turistas chegavam com seus 50 euros e
nós os trocávamos por 45 notas de 1. A taxa de 5 euros era cobrada
pela troca e isso estava rendendo boa parte dos lucros da noite. As 45
notas de 1 rapidamente desapareciam nas roupas íntimas de
desconhecidos mascarados e os clientes estavam de volta em busca de
mais algumas notas trocadas.
Tim transformou tudo em um jogo: roletas, lançamento de dardos,
brincadeiras de bar… Tudo virava motivo para apostas e a prenda era
sempre a mesma: subir no palco e tirar a roupa. Brout precisou chamar
outros cinco colegas para trabalharem de seguranças e estávamos todos
atentos para que fotos não fossem tiradas. Era impossível ter certeza…
mas fazíamos o
que estava ao nosso alcance.
O auge da noite não seria o show da Tímida, afinal, ele tinha se
tornado completamente obsoleto diante da quantidade de novas pessoas
que subiam no palco com iguais quantidades de determinação e
vergonha para se expor. Era libertador, divertido, único… mas não
seria a atração principal.
O sexo ao vivo ia ser apenas um aperitivo. Um demonstrativo para
incentivar os clientes a pagarem um pouco mais pela chance de algo
ainda mais exclusivo. E essa sim seria a atração principal.
Devon e Lucy seriam os primeiros. Depois disso, Devon ficaria
disponível para clientes e Lucy faria uma nova
apresentação, dessa vez com Nila, antes de ficarem as duas também
disponíveis para clientes. Joanie mudou o valor no quadro três vezes e
a noite mal tinha começado. Quanto mais o lugar enchia, mais ela
acreditava que poderíamos cobrar mais caro pela participação no show
de sexo. E ela não estava errada. Na terceira vez que aumentou em
cinco dólares o valor da entrada, três turistas nas imediações de uma
embriaguez compraram seus ingressos para sexo com uma das garotas
sem sequer saber exatamente do que se tratava a atração. Queriam
apenas garantir seus lugares antes que o preço subisse demais.
Eu contei o caixa duas vezes, mas o dinheiro não parava de entrar e
eu logo
perdia a conta. Então percebi que era melhor esperar a noite
terminar. Virei as duas doses de tequila que Tonya trouxe e resolvi me
divertir. Em determinado momento, Ryker se afastou para atender uma
ligação de Lexa e eu me encontrei dançando com Devon no meio da
pista. Só parei quando notei que suas mãos estavam ousadas demais.
Ele não tinha superado a ideia de se vingar de Ryker e eu não queria ter
nada a ver com suas ideias pervertidas.
Os cartazes pendurados por todos os lados descreviam a festa que
nós tínhamos criado e o nome usado para batizá-la: Sem Pudor. Duas
palavras que definiam perfeitamente o clima do lugar, principalmente
quando o DJ acalmou a
música e Joanie pegou o microfone paraperguntar quem queria sexo.
Pergunta completamente retórica naquele ambiente. Tim e Devon
tinham espalhado potes com camisinhas por todos os lados, grudaram
notas em todas elas que pediam aos amantes para “usarem os
banheiros” e eu apenas ri deles por pensarem que todos os seres
humanos do planeta eram tão propensosa sexo em qualquer lugar como
eles. No entanto, o ânimo da festa se adensou e esquentou. Homens e
mulheres sentiam uns aos outros em mesas, cadeiras, cantos do palco e
contra a parede. Em duplas ou grupos. A tensão sexual começou a
crescer e sufocar.
A boate do Lucky ia se transformar
em um clube de sexo bem rápido e os potes de camisinhas de Tim e
Devon seriam postos a bom uso. Bem como os pedidos de uso dos
banheiros, que eu começava a questionar se alguém obedeceria.
Enfim, quando você oferece sexo ao vivo em um palco para seus
clientes, não pode ser exatamente seletivo com o nível de pudor que
eles demonstrarem. Se essa festa tivesse uma segunda edição,
precisaríamos colocar avisos sobre DSTs em todas as paredes e
contratar uma equipe que fizesse uma limpeza e esterilização digna de
umasala de cirurgia após o evento.
Lucy subiu ao palco ainda completamente vestida, dançando e
provocando os clientes que urravam aos seus pés. Devon pulou da
plateia para o palco, tirando a camisa quase de imediato e fazendo as
mulheres gritaremmais alto que os homens.
Eu comecei a hiperventilar ao encarar seu abdômen dividido. Eu era
comprometida, sei disso. No entanto, o aroma de sexo era tão forte que
precisei virar mais uma dose de qualquer coisa só para manter minhas
pernas retas. Nãoia ser saudável para mim assistir àquilo.
Menos ainda no meio do público.
Circulei o salão devagar até chegar aos bastidores. Quando alcancei
meu esconderijo seguro, Devon já posicionara as mãos na bunda de
Lucy emovia o rosto em busca do beijo que ela
lhe recusava. Girava, fingindo não querer aceitá-lo e perguntava ao
público qual atitude tomar. Eles respondiam um coro de “beija”, “se
você não quiser, eu quero”, “não beija ele, me beija” e até um “fode
logo” que considerei bastante sincero. Devon se aproveitou da
proximidade de sua virilha com o quadril da amiga e se perdeu em
uma esfregada cheia de lascívia. Quando o beijo finalmente aconteceu
e ela agarrou seus ombros, esqueci que Lucy era gay e o público, com
certeza, sequer suspeitou.
Existe um formigamento bem típico que atinge sua intimidade
quando você começa a ficar excitada. Uma palpitação discreta pelos
músculos internos de sua
vagina que começa com um golpe rápido e delicioso bem abaixo do
seu umbigo, causando o ímpeto de se contrair inteira antes da sensação
de formigamento se desfazer e contaminar o corpo inteiro. Uma
cutucada abstrata em uma região sensível, uma perdição de desejo que
começa sem que qualquer toque seja necessário.
Devon estava agarrando Lucy e eu estava ficando excitada como ela.
Ele estava sem camisa e claramente ereto, mas eram as mãos dele
que me seduziam. As mesmas mãos ousadas que eu tive a convicção
para recusar há pouco tempo agora espremiam a carne farta dos peitos
da loira à sua frente, virando-a para alinhar bunda e ereção
em uma dança tântrica. Ele sussurrou alguma coisa só para ela e eu
me arrepiei.
Não era necessário saber qual tinha sido a frase. Os olhos fechados
enquantoas palavras eram pronunciadas manifestavam uma ideia muito
boa do que elas deveriam significar. Expressavam êxtase. Não
importava qual idioma ele tivesse utilizado ou quais palavras
concretizaram a sensação. Eu podia não saber o que ele tinha dito, mas
eu sabia o que ele queriadizer.
Os olhos dele se fecharam logo antes do sussurro. Os dela, logo
depois. Ambos estavam unidos pela exposição perante o público e, ao
mesmo tempo,
pela manutenção de um segredo singelo.
Os corpos deles eram compartilhadospor todos nós.
O sussurro era só deles.
A mistura do permitido com o proibido era embriagante, como um
perfume delicioso que invade todo o ambiente e que permanece
pairando no ar muito após a fonte ter ido embora. A imagem dos dois,
despindo um ao outro entre sorrisos públicos e palavras secretas,
permaneceria na minha mente por dias.
Raspei minhas pernas, tentando pôr fim ao prazer da minha carne ou
saciar a vontade da minha mente. Apertei os lábios com os dentes e
minha cinturacom os dedos.
Era estranho assisti-los. Principalmente ali. Escondida.
Era como se a performance fosse para o público e eu não tivesse
autorização para ver.
É para os clientes com dinheiro, Bault. Não para você.
Mas ainda assim… lá estava eu. O olhar hipnotizado pela cena além
da brecha das cortinas, assistindo a dois amigos ficarem nus e suados.
Devon segurou o mamilo rígido de Lucy entre os dentes e eu soube
que os meus próprios deveriam estar tão duros quanto os dela. Tão
desejosos por uma saliva quanto os dela.
Estava esquecendo de respirar.
Me perdi na agradável tortura a que
Höfler submetia a outra mulher. Enfiei minhas mãos pelos cabelos
como se fosse um pau que meus dedos agarrassem. Não sei por qual
motivo… mas experimentei o sabor de um de meus dedos enquanto a
outra mão descia pela minha barriga, explorando o caminho entre
minhas pernas.
Um puxão gostoso no meu clitóris… Meus dedos tinham encontrado
seu próprio caminho me ajudando a encontrar o mesmo prazer que os
dois amantes no palco. Meu dedo médio foi oprimeiro a se alongar pela
minha abertura, ainda por cima do vestido leve e da calcinha fina.
Assistindo aos meus colegas se apalparem enquanto eu mesma
desfrutava de um segredo só meu
e um prazer que não poderia ser compartilhado.
Olhei para baixo, contemplando o decote que exibia parte dos meus
seios e minha mão enfiada entre as coxas, e fui arrebatada pela familiar
sensação de vergonha. Mas foi apenas quando levantei o rosto para
descobrir que Devon estava olhando diretamente para mim que senti o
prazer se transformar em embaraço.
Estava certa de que ele iria rir. Não agora… pois estava entretido
demais com sua masculinidade entre os dedos experientes de Lucy.
Mas depois… depois, quando a festa acabasse e estivéssemos contando
o dinheiro eespólios. Ele ia apontar, dizer que sabia
que eu estava me divertindo e iria rir.
Ele estaria certo. Eu ficaria vermelha.
Ryker ficaria irritado.
Tudo aquilo era errado por muitosmotivos diferentes.
Era o sexo de outras pessoas. Fechei os olhos com força e me virei.
Decidida a encontrar água gelada para beber ou tomar um banho.
Desde que estivesse gelada, qualquer alternativa iria servir.
Com o corpo inclinado, Ryker apoiava o ombro contra a parede.
– Ah, não. Não pare – pediu, sem se mover.
– Ai, meu Deus! – Levei a mão ao peito, meu corpo inteiro vibrando
da tensão acumulada e dos disparos do coração. – Como você
consegue ser tão
silencioso?
– Não fui silencioso. – Lambeu os lábios. – Você que estava
entretida.
– Ryker, eu não… – Lancei um olhar de soslaio para Devon além do
vão da cortina. Ele iria ficar chateado e eu não poderia culpá-lo. Como
me sentiria se opegasse se masturbando diante da nudezde Skye?
– Não estava assistindo Lucy foder o Devon? Então, você é a única.
– Se aproximou, macio. – Porque eu não estava conseguindo tirar os
olhos – gemeu, morno, no meu ouvido.
Eu me inclinei contra seu corpo com um gemido sofrido.
Seus dentes tocaram minha orelha.
– Estava pensando no dia em que te
comi nesse palco. – Seu hálito esquentava minha pele, resfriada pela
ausência do sangue que parecia ter descido inteiro para minha virilha. –
E pensando em inscrever nós dois para a atração principal. – Riu. – O
que acha? Pagar algum dinheiro para foder alguémda gangue?
Parei de respirar.
– Lucy? Nila? Tim? – sugeriu, a língua dançando no meu pescoço.
– Quem você quisesse. Menos o Devon, é claro.
– Quer dizer que gostaria de ver outrohomem comigo.
Ele inspirou profundamente.
– Vi como você ficou com o cara no banheiro do clube no outro
dia. –
Lembrei e ele ofegou, irritado.
– É… você tem razão. A gente podia deixar um dos caras ajudar.
– Ou uma das meninas?
– Seria hipocrisia se eu dissesse que não queria te ver com um dos
caras, masnão ligaria de assistir você com uma dasmeninas?
– Seria.
– Então eu sou um hipócrita fodido.
Eu ri e ele chupou a pele na curva do meu pescoço. As mãos
imóveis, fundidas ao meu quadril quando apoiou o queixo no meu
ombro.
– Continua? – pediu, manhoso. – Continua pra eu te assistir?
Fechei os olhos, perdida em sua voz. Eu não podia recusar. Até
porque, antes
mesmo do seu pedido, minhas mãos já estavam se enfiando por
baixo do vestido.
Ryker puxou o pano mais para cima, dobrando-o na altura de minha
cintura, para poder acompanhar melhor a cena. Eu me enfiei na minha
calcinha e gemi. Ele ecoou os sons do meu prazer, sem setocar, sem me
tocar, mas completamente envolvido pelos toques que eu oferecia a
mim mesma.
Para mim, ele sussurrou segredos, elogios e promessas como os que
Devon deveria ter compartilhado com Lucy no palco. Sempre com sua
voz rouca de tesão, sem ousar esfregar qualquer parte do seu corpo no
meu por receio de se desfazer em um orgasmo rápido e
poderoso. E realmente não me importavam as palavras manifestas.
Assim como as que Devon sussurrou no ouvido da minha amiga: o
importante é o que Ryker queria expressar. O que ele dizia era apenas
simbólico. Desejo sentido pelo meu corpo concretizado em fonemas.
Tudo fazia parte da nossa dança: cada beijo, cada toque, cada
sussurro. Cada movimento da minha mão sob minha calcinha que
Ryker, sem conseguir ver, podia apenas imaginar. E pelos seus
gemidos, eu estava certa que ele imaginava muito bem.
Sua mão cobriu a minha. Eu por baixo da calcinha, ele por cima. Um
movimento sutil do seu quadril e ele
começou um movimento rítmico. Apenas me acompanhando.
Levemente. Qualquer coisa a mais poderia levá-lo além e para o fim.
Seus dedos tremiam.
Seu sussurro ficou ainda mais rouco. Mais pesado. Mais firme. Mais
intenso.
Enfiei um dedo em mim e ele emitiu um rosnado grave,
impulsionando a ereção contra minha bunda, enfiando a mão livre por
baixo do meu vestido para agarrar minha coxa.
Eu também estava gemendo palavrasde desejo em resposta às suas
carícias. Mas não me importava quais fossem. Eu estava implorando
enquanto seus dentes encontravam minha orelha mais uma vez. Um
pedido bastou para Ryker explodir. Empurrou minha
nuca, me
inclinando de quatro, me fazendo precisar agarrar as cortinas para
não perder o equilíbrio. Bem devagar, chutou um de meus pés,
enfiando o joelho entre minhas coxas. Eu obedeci sentindo sua mão
puxar minha calcinha para baixo. Eu queria tanto que Ryker me
possuísse ali que por um segundo insano minha mente chegou a
processar que, mesmo que minha bunda fosse o alvo, não me
importaria. A viscosidade que escorria pelas minhas pernas deixou
claro para nós dois o quanto eu o queria e o barulho de saliva depois de
seu toque cheio de tara me causou arrepios… Ele estava sugando meu
sucodos dedos, como sempre fazia.
Fechei os olhos. Com as mãos nos
meus peitos, ele me controlava. Me mantinha na altura, inclinação e
velocidade desejadas. A cabeça de seu pau se chocou contra a parte
errada das linhas da minha boceta, pressionando contra o clitóris, fora
da entrada. Ele girou o quadril, mas eu estava tão encharcada que seu
pênis deslizava de um lado para o outro, passando direto pela minha
abertura, sem nunca penetrá- la. Ryker precisou segurar sua base com
uma das mãos e pressionar a glande contra minha vagina. Desfrutei de
uma pressão mais forte e comecei a engoli- lo.
Centímetro por centímetro.
Ele fez questão de entrar bem lentamente.
Ainda não estava todo dentro de mim quando eu comecei a rebolar.
Apertou as bandas da minha bunda para melhor se enfiar no meu calor.
Um tapa leve esquentou a pele fria. O estalo me assustou, mas eu
queria outro. Rebolei mais rápido.
Seus dedos encontraram meu clitóris, o outro polegar raspou no meu
ânus por um breve segundo, enquanto ele apertava minhas bochechas,
me tomando de quatro. Puxando as cortinas com força, sentindo o
êxtase que se aproximava. Ryk urrou mais alto, aumentando a
violência do impacto. Minha boca entreaberta, sem conseguir controlar
a saliva, uma contradiçãoinexplicável se meus lábios ressecados
fossem levados em conta.
Dessa vez, Ryker gozou primeiro, mas eu estava tão perto que a
diferença foi quase imperceptível. Permaneci rebolando e me jogando
contra os resquícios de sua ereção ainda forte e larga, à medida que
seus dedos estimulavam o ponto mais sensível do meu corpo. Um
aperto em um dos mamilos, uma mordida no meu pescoço.
Gozei alto, agarrando as cortinas com ainda mais força, sentindo-as
se abrirem, aumentando a brecha que nos separava do público. Se
alguém nos viu,eu não saberia dizer.
Mas não me importava.Nem um pouco.
Dezenas de milhares de euros.
Poucas dezenas de milhares de euros.

Tinha sido uma excelente noite para o negócio do Luckas, mas não
tinha sido suficiente para resolver nossos problemas. Talvez Hideki
aceitasse qualquer valor, como eu acreditava que ele faria. Talvez não.
Strome ligou para a irmã como um golpe de misericórdia, mas nem
ela nem o namorado tinham dois milhões líquidos. A empresa de
Delvak poderia fazer um empréstimo… mas o chefe dele tinha falecido
e todos os bens da empresa estavam congelados devido a alguma
cláusula do testamento.
Sven e Lexa iam voltar para conversar com Hideki, mas eu
duvidavaque fizesse qualquer diferença. Ou ele aceitaria o dinheiro, ou
não. A presença dos dois não iria interferir em muita coisa.
Para todos os efeitos, a noite acabou se revelando melhor do que
todos imaginávamos e estava quase amanhecendo quando os
convidados se foram e eu me fechei no escritório do Luckas para tentar
dormir algumas horasantes de precisar lidar com a máfia japonesa.
A presença de um movimento desconhecido no escuro me fez puxar
a arma por instinto.
– Vamos fazer isso de novo? – ecoou
suave e quente.
Segurei a arma com firmeza.
– Me dê um bom motivo para não atirar em você agora. E pode ser
que eu atire mesmo assim.
Lola sorriu na penumbra, balançando- se na cadeira do outro lado da
mesa.
– Vim pedir desculpas, como uma boa garota, e você vai atirar em
mim? O queisso diria sobre você?
– Não estou preocupado com isso.
– Não… Está preocupado com isso aqui. – Ela se levantou para me
mostrar a bolsa escura e comprida.
– É meu dinheiro? O que você roubou? – Não ousei baixar a arma.
– É, e ainda te fiz um favor. – Sorriu.
– Eu troquei… Dá pra você apontar isso
para outro lugar? – resmungou. – Sei que não vai atirar em mim, mas
está me incomodando.
Julguei sua expressão por alguns instantes e apenas guardei a arma
de volta no coldre por um senso mórbido de curiosidade. Poderia ser
tudo um golpe, mas eu queria saber para onde ela ia com toda aquela
conversa.
– Me traiu de novo.
– Ah, não seja assim, Gar! – resmungou, arisca. – Você me jogou
pracima dos policiais e fugiu!
– Policiais que você chamou para me cercar.
Ela ficou em silêncio. Tinha aquele sorriso curto e prepotente de
quem sabe coisas que não deveria saber e não tem
medo de contar.
– Acho que estamos quites, então?
– Nem perto – exclamei, ouvindo as palavras autoritárias ecoarem
nas paredes.
– Nem se eu te der isso? – Colocou a bolsa em cima da mesa. –
Troquei as notas para você. São sequenciais agora.
Minha boca se entortou em um sorriso antes que eu pudesse impedi-
la. Não queria demonstrar minha satisfação a Ox, no entanto meu
reflexo foi quase instantâneo.
– Vou poder rastrear o Hideki depois que der esse dinheiro para ele.
– E se ele usar com qualquer coisa ilegal, você consegue prendê-lo.
– Piscou um olho para mim. – De nada.
– Pensei que ele era seu amigo.
– Já me pagou bem por alguns serviços. – Deu de ombros. – Me
pagou mal por outros. E você devia saber: eu não tenho amigos.
– Não, não tem. – Acenei antes de ser subitamente possuído por uma
dúvida. –Onde arranjou notas sequenciais assim tão rápido?
– Quer mesmo saber? – Ergueu uma sobrancelha.
– Não. – Gesticulei. – Estou bem, obrigado.
– Com medo de um pouco de ilegalidade? – Não resistiu à
provocação. – Achei que tinha superado isso com sua carreira de
fugitivo e tudo o mais.
– Vá se foder.
Sentei no sofá, passando a mão pelos cabelos. Lola sentou-se na
borda da mesa. Nós dois, no escuro, esperando. Acho que nenhum de
nós sabia exatamente pelo quê. Mas, quanto mais o silêncio se
prolongava, mais eu sentia o calor que se espalhava pelo meu esôfago,
um desconforto que tomava conta do meu corpo sempre que ela estava
por perto.
– Por que voltou, Lola? – Eu estava com raiva. Não era uma fúria
cega, mas uma raiva contida. Uma capacidade de escolher o melhor
momento para a violência, mas ciente de que a violência seria
inevitável. Nós dois não éramos feitos de materiais compatíveis e não
poderíamos ficar no mesmo ambiente por muito tempo sem que
algum desastreacontecesse.
– Crise de consciência? – arriscou, me fazendo rir alto. – Eu não
queria ter te passado para trás de novo.
– Se queria só trocar as notas, não precisava ter me enganado. Eu
teria concordado com esse plano.
– Eu não ia trocar as notas, a princípio. – Revirou os olhos. – Ia
pegaro dinheiro para mim e pronto.
– Acabou de dizer que não queria me enganar – apontei a
contradição. – Qual dos dois, Lola? Queria me enganar ou não?
– Eu não queria te enganar quando decidimos tudo. Tinha dito a mim
mesma
que ia deixar você ganhar dessa vez. Mas… quando chegou a hora,
eu…
– É da sua natureza – suspirei.
– Perdão?
– Não conhece a história da enchentena floresta?
Ela espremeu o sorriso.
– O escorpião vai se afogar e pede ajuda ao sapo para atravessar o
rio – contou, demonstrando que conhecia. – O sapo se recusa porque
tem certeza que o escorpião vai lhe picar. O escorpião promete e
promete. Implora e implora. O sapo acaba aceitando. – Gesticulou,
simbolizando a travessia do rio.
– E, assim que chegam do outro lado e o escorpião está a salvo, ele
pica o sapo – concluí. – Enquanto morre
envenenado… – dramatizei. – O sapo pergunta “Por quê? Por que
você fezisso?” E o escorpião simplesmente responde…
– “Desculpe” – enunciou. – “Mas é daminha natureza”.
– É da sua natureza – repeti. Ela sorriu de um jeito que parecia
quase genuíno. Teria me enganado se eu não a conhecesse tão bem. –
Você é uma filhada puta incapaz de compaixão ou lealdade.
– Ele não está nos Calabouços, não é?
– ignorou.
– Não – repliquei, sem arrodeio.
– Vai me dizer onde ele está?
– Não.
Ela acenou como se esperasse aquele
tópico desde o começo.
Mas eu precisava saber…
– O que vai fazer com ele, Lola?
Quando o encontrar?
– Gosto que você diz quando e não se.
– Você é uma garota esperta. E ele não está tão escondido assim –
provoquei. – Estou decepcionado quenão o tenha encontrado ainda.
– Seja razoável, Zahner. – Riu e veio sentar-se ao meu lado. – Estou
me comportando.
Ela estava perto demais e, em breve, meus impulsos violentos não
estariam mais sob controle. Levantei-me, por nenhum motivo além de
me afastar dela.
– O que vai fazer com ele, Lola?
Ela tocou o lábio inferior, ainda
perdida em pensamentos.
– Por que está protegendo um estuprador, Gary? – seu sussurro foi
quase inaudível.
– Não estou protegendo um estuprador, Lola. Só acontece que ele
éa última isca que me restou para te atrair.
– Me entregue ele e eu te arranjooutra isca.
– Não.
Ela estapeou os próprios joelhos. Esperava conseguir aquela
informação, eu a estava frustrando. Era uma sensaçãogostosa.
– Posso terminar o que comecei naquele dia, sabia? Posso enfiar
duasbalas na sua cabeça e uma lâmina afiada
no seu coração. – Ela precisou de dois passos para ficar a
centímetros de mim.
– Gostaria de ver você tentar.
– Eu me lembro de você ajoelhado e submisso no chão da última
vez quetentou me enfrentar.
– Me pegou desprevenido. Não vai acontecer de novo. – Eu sentia
meu narizse retorcendo em uma careta irritada.
– Vai acontecer de novo. Quantas vezes eu quiser. – Respirou no
meu rosto, me contaminando com seu hálito delicioso, o que me fez
travar os punhos como força. Era uma tentativa de me impossibilitar de
agarrar seu pescoço e espremê-lo.
– A única coisa que vai acontecer da próxima vez vai ser você
levando uma
surra.
– Rá!
– Uma que você já está merecendo hámuito tempo.
– Quer me espancar, Gar? – Inseriu um calor inapropriado às
palavras. – Fuiuma garota má?
– Cale a boca. – Segurei seu maxilar com força. – Pare de jogar
comigo, sua criminosa. Não sou seu brinquedo.
– Não. Você é só o brinquedo do governo que paga seu salário. –
Seguroumeu pulso, cravando as unhas na minha carne.
– Você não me conhece, vagabunda. –Salivei, meu queixo tremia.
– Nem você me conhece, seu animal. O segundo inteiro que nos
encaramos
em silêncio pareceu uma hora.
– Quer transar comigo, Gareth? – sussurrou e sua expressão mudou.
As palavras escorreram, pesando no ar.
Posso ter gaguejado por um segundo, mas consegui rebater: – Não
vai me convencer a informar a localização dele.
– Já entendi essa parte. Não é a isso que estou me referindo. –
Elevou um ombro. – Estou dizendo que eu vou embora agora. – Eu
ainda tinha os dedos nas suas bochechas, o queixo dela contra o meu
punho. – Não acho que vamos nos encontrar de novo. Nunca mais. –
Acenou. – Não podemos continuar cruzando o caminho um do outro.
– Por que não? – arrisquei, embora já
soubesse a resposta.
Lola levantou o rosto, senti seu hálito morno quando respirou a
centímetros demim.
– Naquele dia, na cabana – suspirou.
– Eu queria. E você também.
Engoli em seco. Se eu conseguisse encontrar minha voz, eu negaria.
Seria mentira, mas eu não daria o gosto da vitória a ela.
– Me arrependi depois que fomos embora. – Doía ouvir aquela
confissão. Sempre imaginara que seria satisfatório ouvi-la dizer
palavras assim. Principalmente porque, na minha imaginação, eu
sempre ria na cara dela e a mandava se foder. Mas ali, ouvindo cada
palavra… não era o que eu queria
de verdade. Ódio era mais fácil. – Você me detesta, Gar – constatou.
– E eu te detesto, também. – Travou a mandíbula.
– De um jeito que não dá nem pra descrever. Você me irrita e
complica minha vida. Meu trabalho. Meus clientes. – Minha garganta
ressecara. – Mas naquele dia… naquela cabana… eu te quis. Então,
estou te informando que pode me detestar amanhã e todos os dias em
sequência. Estou contando que vou fugir e que nunca mais pretendo te
encontrar de novo. Mas também estou dizendo que, se quiser me foder,
essa noite é sua única chance.
Eu não tremia mais. Nenhuma parte de mim.
O toque da minha mão no seu queixo
ficou mais suave. Não muito… Ainda tinha algo violento nas minhas
intenções. Embora fosse um tipo diferente de violência. Minha outra
mão encontrou ocaminho pelos seus cabelos no mesmo instante que sua
boca tocou a minha.
Ela era saborosa como nada jamais tinha sido.
Suas mãos agarraram meus ombros com violência, cravando as
unhas na minha camisa até atingir a carne. Minha consciência nublada,
meus sentidos acentuados. Cada raspão de sua pele me fazia
enlouquecer com o calor, o arrepio que meu hálito lhe causava, as
pálpebras pesadas mantendo seus olhos fechados. Um único gemido
escapou pelos seus lábios em um sinal de fraqueza que ela
nunca ousava demonstrar. Segurei seus cabelos escuros, um nó em
minhas mãos,com força, erguendo seus lábios rumo à minha boca.
Havia saliva. Havia língua. Mas, mais que tudo, havia dentes. Eu a
mordia, destilando o ódio de anos e ela devolvia como se quisesse
provar um ponto: não havia fúria contida por mim que ela não pudesse
imitar.
Nos odiamos e nos amamos em carícias contínuas de calma
desesperada e furiosa lentidão. Suas mãos estavam no meu pescoço
enquanto eu a despia. Não estava me sufocando, mas minha respiração
já ofegante estava ainda mais prejudicada. Havia um animal dentro de
mim, uma besta enlouquecida, que eu
mal conseguia controlar. Então, eu me livrei de suas roupas, seus
seios estavam expostos na penumbra e a besta se libertou. Enfiei-os na
boca, um de cada vez e depois repeti a ação, urrando em rouquidão.
Sua bunda estava nas minhas mãos. Pele em pelo, suscitando a dúvida
de se ela mesma teria tirado a calcinha para me receber ou se a
calcinha nunca existira. Aquela dúvida me assombraria pela
eternidade. Cada vez que a caçasse, ansioso por apreendê-la, por
encontrá-la, apenas para vê-la diante de mim e entrar em desespero,
me perguntando se a ausência de roupa íntima era um hábito
permanente para ela.
Não havia salvação com Lola.
Nunca houve.
Mordi seu pescoço e suas mãos se moveram no sentido de minha
ereção. Sentia a vibração do seu coração sob a pele, enquanto meu
próprio sangue pulsava, fervente, expandindo a parte de mim que ela
prendia nas mãos.
O calor irradiava. Dos seus dedos. Do seu toque. Pelo meu pau
ereto e desesperado, subindo pela virilha e explodindo em meu peito.
Um desejo quente que me obrigava a encontrar umanova definição para
a palavra “insuportável”, porque a que eu carregava até então já não
servia mais.
Suas mãos intensas contra meu tórax,dispararam-me contra a parede.
Agarrei suas coxas, enlaçando-a à minha cintura.
Guiou minha rigidez para dentro de si, gemendo alto enquanto eu a
sentia ao meu redor.
Quente.
Quente como o inferno que ela semprefazia questão de ser.
Não havia prazer com Lola.Apenas danação.
Uma danação sublime e maravilhosa que te faria se perder no
submundo e nunca mais encontrar o caminho de volta.
Ela me desferiu um tapa. Primeiro no braço, depois no rosto. Foi
forte, violento, delicioso. Eu queria que ela me batesse mais, mas
sabia que ela jamais aceitaria uma ordem.
Belisquei sua bunda, enfiando meus
dedos fundo entre suas bochechas. Ela agarrou meus ombros e
rasgou minha camisa. O corpo retorcido sobre mim, arqueando os
mamilos duros na direção dos meus lábios.
Estapeei sua bunda e ela rebolou. Foi apenas então que percebi.
Estava ali, brilhando mesmo no escuro, atraindo toda a minha atenção
apesar de todas as suas curvas irresistíveis: um sorriso deslumbrante
que me causava arrepios por dentro e por fora. Maligno e rebelde. Um
sorriso magnífico que me desencadeou um rompante de beijá-la e
abraçá-la. Com força.
Eu estava me desfazendo. Era mais Lola do que eu podia suportar.
Quente eúmida, rebolando ao meu redor. Sua
saliva na minha língua. Seu suor na minha língua. Minha língua
onde elaquisesse.
– Me conta uma verdade – murmurei, sem acreditar que estava
realmente proferindo as palavras. Seu olhar esfriou sobre o meu.
Questionando o mesmo que eu: não era seguro. Intimidade entre nós
dois nunca seria seguro. Contudo, ali estava ela: nos meus braços. Me
fazendo gemer e implorar. E implorar era exatamente o que eu faria. –
Só uma – pedi.
Seu movimento se intensificou ainda mais, seus olhos se fecharam
em antecipação ao orgasmo. Agarrei sua cintura, me enterrando em seu
corpo, tentando memorizar cada detalhe do que
seria nossa primeira e última vez. O orgasmo a levou. O orgasmo me
levou.
Com os dois caídos ao sofá em busca de paz na respiração um do
outro, tentávamos nos prender a um breve momento de calmaria entre
nossas tempestades.
Sua testa suada pressionou-se contra a minha. Ela não me fitou nos
olhos.
– Eu gosto de lírios – confessou.
Não consegui ver seu sorriso, emboratenha conseguido senti-lo.
O motivo de seu sorriso seria porque me contava uma verdade? Ou
porque mecontava uma mentira?
Eu nunca saberia. Com Lola, eu nuncapoderia saber.
Ainda assim, me deliciei em seu
sorriso.
Segurei seu queixo e a beijei. Foimais forte do que eu.
Mentirosa.
– Fica essa noite? – murmurei.
Ela se espremeu dentro do meuabraço.
– Fico.

A boca. Os seios. O cabelo.O sorriso.


O maldito sorriso.
Afastei o sonho com um misto de pesar e frustração. Minhas
pálpebras se
moveram, ainda pesadas, afastando o que restava da noite, aceitando
que era hora de acordar e enfrentar o dia. Meu braço estava caído…
frouxo e solitário sobre o espaço frio do sofá onde ela estava antes de o
sono me invadir.
Me conta uma verdade, Lola.
Meu pedido para ela na noite anterior ainda se debatia sobre o ar.
Umacriatura afogada, buscando oxigênio. Desespero sem esperança. Se
afundando no destino… A pobre criatura que nunca tivera chance de
sobreviver.
Me conta uma verdade. Só uma.
Eu ainda podia sentir seu lábio macio sob a carne do meu polegar.
Quis mordê-la. Beijá-la. Mantê-la por perto até conseguir obrigá-la a
me conceder o
que eu queria.
Uma única e mísera verdade.Eu gosto de lírios.
Simples. Lírios.
Ela gostava de lírios.Eu não acreditei.
Mais uma mentira.
Ou talvez fosse verdade. Por mais simples que fosse, eu era
simplesmente incapaz de acreditar nela.
Fica essa noite?
Eu soube que iria me amaldiçoar por esta súplica no momento em
que a fiz.
Fico.
Prometeu.
Acordei sozinho no sofá frio.
Outra mentira.
Mais uma de… quantas?
Vesti a roupa, reparando no barulho do lado de fora do escritório. Os
outros tinham acordado e já estavam ali. Era hora de aceitar o dia.
Em cima da mesa, um pedaço de papel rasgado trazia palavras
rascunhadas. Meu coração bateu mais forte antes mesmo de ler a
mensagem.
O desenho rascunhado de um escorpião servia como assinatura, num
formato muito parecido com a tatuagem que ela levava na nuca.
Marcada pelo seu dono, como gado.
As palavras eram poucas e insatisfatórias.
Mas significam mais do que eu esperava.
Não posso ficar, Gar. E não voupedir desculpas por isso.
Não é da minha natureza. Nenhuma das duas coisas.
– Vamos agora?

– Não, imbecil. Aqueles caras aliestão armados, não está vendo?


– Os japoneses? – Empurrou-mecontra a parede para enxergar.
Bloqueei seu movimento com ocotovelo.
– É. Fique quieto, mudak! Idiota! Oueles vão te ver.
– Qual é o plano, Michkin? – Não me virei para ver quem tinha
perguntado.
– O plano é esperar os japoneses armados irem embora e depois
entrar naquela boate e finalmente dar um jeito naquele casal
amaldiçoado.
– E se houver mais gente armada lá dentro?
Estreitei os olhos, reconhecendo o homem alto que entregou uma
bolsa escura para o japonês alinhado antes de apertar sua mão.
O cara da Interpol.
– Não tem. Só um segurança.
– E se ele atirar?
– Ele é um. Nós somos cinco. Gosto das nossas chances. – Cuspi,
restos da minha saliva amarga no chão.
– Vai matar todos? Ou vai levar algumpara o chefe?
– O chefe teve que ir embora. – Expirei. – Vamos matar todos.
– Eu não entendo, Michkin… Se o chefe foi embora, por que vamos
fazer isso?
– Não é óbvio? – Virei-me, irritado. –Vingança.

Levei a mão ao interruptor e fui barrado pelo punho firme que


segurava meu pulso.
– Não acenda a luz.
– Você está paranoico, Matvey.
– Paranoia é saudável hoje em dia, Nicolai.
Deixei a mão cair e dei alguns passos
no escuro. Três mesas estreitas ocupadas por computadores de tela
plana recém-adquiridos. Um deles ainda tinha o plástico envolvendo o
cabo.
– Comprou material novo? – Ri.
– A empresa andava bem. Achei que seria interessante melhorar o
material dotrabalho.
Minha gargalhada se confundiu com uma tosse e um rosnado.
– Cuida muito bem das aparências, Matvey.
– Esse lugar pode ser só uma fachada para lavagem de dinheiro para
todos vocês, mas eu estava conseguindo lucrarbem com isso.
– Ouvi dizer que o mercado não estava bom para turistas. – Dei
um
peteleco em um mapa-múndi repleto de avisos de pacotes turísticos
para diferentes locais. Passei o dedo médio pelo logo da agência.
O fim de uma era.
– Vai querer discutir pacotes deviagem, Nicolai?
– Não. – Respirei fundo, esfregando as têmporas. – O que você
ouviu?
– A Yakuza chegou.
– Então é verdade?
– Você duvidava?
– Eu não chamaria de dúvida. – Gesticulei. – Chamaria de
“esperança”.
– Kulik perdeu quase tudo em umasemana, Nicolai. Foi a Yakuza.
– E parece que não agiram sozinhos – disse, mais para mim mesmo
que para
Matvey.
– Do que está falando?
– Não importa mais. Michkin vai cuidar disso agora. Nós
precisamos fechar tudo, nos livrar dos documentos e ir embora. Vou
para a Ucrânia amanhã mesmo. Quanto eles ofereceram pelo Kulik?
– Quase dois milhões de euros. – Acenou.
– Vivo ou morto?
– Morto. – Engoliu em seco. – A notícia já se espalhou. Eles não
têm utilidade para Kulik vivo.
– Se não fosse a lealdade à família, hein? – brinquei, mas Matvey
não sorriu.
– Relaxe! – Bati uma mão na outra. – Yuri já está bem longe daqui
a essa
altura.
– Não importa. É da Yakuza que estamos falando, Nic. Acha que
não vãoencontrá-lo?
– É isso que não importa, Matty. Yuri está morto. Mesmo que fique
vivo, está morto. Temos que recuar e nosreorganizar…
– Você acha mesmo que…
O barulho do tiro soou abafado. Calibre baixo com um silenciador.
Foram três tiros. Vi a mancha escura de sangue na camisa clara de
Matvey antes de notar que um dos tiros tinha atingido sua cabeça.
Mesmo com a penumbra, eu podia ver sua camisa se encharcando do
líquido escuro e viscoso antes de elecair de joelhos no chão.
Mais três tiros soaram baixos. O ardor atingiu meu peito
devagar.
Não tive sequer chance de determinarde onde tinham vindo os tiros.

Onze

Formas de acabar uma história


– Como é que uma mulher linda e safada como você ainda é
virgem? Olhos verdes e brincalhões procuravam me tirar do sério.
– Ah! – comecei, dissimulada. – É porque eu tenho mania de
espremer
testículos.
– Humm? – fingiu interesse.
– É tipo um fetiche incontrolável. – Arregalei os olhos e ele riu.
– Acho que eu suportaria isso, se pudesse ficar com você.
– Não sei não, viu? – Bebi um gole decerveja direto da garrafa.
– O último cara que me disse isso, ó… – gesticulei – ...caiu na cama
agarrado à virilha.
– Foi mesmo? – Roubou minha cerveja.
– Ficou vermelho como um morango.
Enfiou a mão nos meus cabelos e me beijou.
Não se afastou quando o beijo acabou, em vez disso, ficou
raspando o
sorriso no meu, colando nossas testas. Ao nosso redor, a gangue
inteira bebia, falava alto, trocava as músicas… Uma comemoração
acolhedora e genuína.
– Acabou, Ryk?
– Acabou. – Um selinho suave. – Zahner acabou de falar com
Hideki. É Kulik quem vai ter que fugir agora.
– E a gente?
– A gente espera um pouco. As influências que Kulik tem na polícia
vão desaparecer assim que os pagamentos pararem. As influências de
Hideki vão se conservar mais fortes e nós nos entregamos para um
policial da confiança dele. Depois, prestamos nossos testemunhos e
livramos o Gary.
– Quer dizer que temos um tempinho
de férias, então? – Lambi meu sorriso, descarada. – Acha que essa
gente toda vai nos dar uns dias a sós?
Ele olhou ao redor, infeliz.
– Esse bando de desocupados? Dejeito nenhum.
Ryker me abraçava de maneira confortável. Uma maneira íntima de
casal que se conhece e está junto há tempo demais para perder tempo
com trivialidades como ficar separados quando tudo o que se quer são
toques intermináveis. Acariciava cada parte do meu corpo que
alcançava, mas não com sua típica luxúria. Era apenas um carinho
sossegado.
Beijei sua bochecha.
– A gente dá um jeitinho.
– Hum! – concordou, durante o gole. – Atrás daquelas cortinas ali. –
Apontou a boca da garrafa para o ponto atrás do palco onde ele tinha
me agarrado dequatro.
– Ou um lugar novo – sugeri.
– A casa do Höfler?
– Ryker!
– Nada mais justo. Ele fica aqui incomodando o tempo todo.
– Não é nossa casa, Ryk. É a boate doLucky.
– Quando tivermos nossa casa, vou te comer na sala. Vou até deixar
a porta destrancada.
Meu sorriso se abriu, tão doce e gostoso… Sua frase foi tão gentil
que eu até ignorei seus eternos impulsos
exibicionistas.
– Nossa casa? – Eu quis fingir recriminação, mas era impossível
parar de sorrir.
– É. – Levantou um ombro, levementeconstrangido. – Um dia… quem
sabe.
Então seus olhos encontraram os meuse ele sorriu.
Doce e gostoso assim como eu.Todo doce.
Todo gostoso.
Eu o beijei devagar. Lábios cheios e macios se dobrando ao encontro
dos meus. Massageando minha língua entre um desejo e uma mordida
brincalhona.
– Estive pensando… – começou. – Sobre o que conversamos e…
minhaprofissão.
– Hum? – Prendi meu lábio inferior com os dentes para não arriscar
que ele tremesse.
– Vou levar um tempo para… – Engoliu em seco. – Conseguir
outra coisa para fazer. Depois que isso tudo acabar, vou precisar de um
tempo para me organizar e descobrir outra atividadeque eu saiba fazer.
– Mas vai querer exercer outra atividade?
Desenhou meu rosto com indicador e polegar, da sobrancelha ao
queixo.
– Algo me deu a impressão que você não ficaria comigo se eu
continuasse nomesmo ramo.
Ri baixinho.
– Não – exagerei. – O que te deu essa
impressão? – Segurei sua mão nas minhas. – Só não quero te dividir
com ninguém – murmurei.
– Eu entendo. – Seu sorriso se traduzia em uma afirmação que ele
sentia o mesmo por mim. – Mas clientes não seriam uma divisão, Mina.
É só meutrabalho.
– Sei que isso é verdade. Mas de uma forma prática e impessoal,
Ryk. Eu não acho que ia conseguir lidar com isso muito bem.
Ele encarou o chão.
– O que foi?
– Não sei se você vai gostar.
– Não importa. – Eu estavapreocupada. – Me conta.
O que era agora? Algum outro
mafioso russo também tinha nos visto? Ele achava que a Yakuza ia
nos trair e tentar nos matar? Algo pior?
– Acho que a gente vai precisar ficar separado por um tempo.
Algo pior.
– Por quê? – Me afastei um pouco, e ele não me prendeu pela
cintura como sempre fazia.
– Até eu me reorganizar, Mina… vou precisar trabalhar com algo
para me sustentar. E não acho que você ia me querer em Paris fazendo
isso, ia?
O baque alto e abafado ressoou, fazendo meu corpo tremer. Por um
instante, eu imaginei que a falta de controle sobre meu próprio corpo
tinha sido causada pela descoberta de que
Ryker pretendia continuar a se prostituir por um tempo e não pela
descarga de adrenalina.
A porta principal pendia em sofrida inclinação, presa pelas poucas
dobradiças que tinham restado e os homens invadiram a boate tão
rápido que não consegui sequer contar quantos eram.
A lembrança do corpo ensanguentado de Spider nas escadas me fez
congelar. Uma memória tão recente e ao mesmo tempo tão distante em
contraste com as circunstâncias que se seguiram. Meu coração
explodia em desespero, acelerado no meu peito.
Eu e Ryker éramos a primeira linha deresistência diante da porta.
Se é que era possível se referir a nós dois como qualquer tipo de
resistência.
Lá no fundo da minha mente, eu tinha conhecimento que Zahner
estava armado em algum lugar atrás de nós e quis me abaixar para
deixá-lo lidar com a situação.
Mas o instinto tinha feito meu corpo agir antes de qualquer decisão.
Ryker apertou minha mão.Ele queria me proteger.
De novo.
Como sempre fazia.Eu o amava.
Eu o amava independentemente de suas intenções, profissões ou
desejos.
E, mesmo que eu tivesse receio emadmitir aquilo, era verdade.
Eu o abracei, tomando sua frente, impedindo que o mal inevitável
chegasse a ele. Ou que, se chegasse, levasse a mim primeiro, porque eu
não ia conseguir encarar seus olhos frios e vidrados como fiz com
Spider.
Um único momento me fez descobrir que a vontade de morrer a ter
de viver sem a outra pessoa não era um exagero propagado por
romances. Era realmenteuma coisa real. Uma verdade absoluta.
Se nós íamos morrer, eu preferia ir primeiro.
Seus dedos, em pânico, se enfiaramna minha cintura tentando tomar
minha frente, mas era tarde demais. Eu já estava agarrada aos seus
ombros, protegendo-o com meu corpo, os olhos
fechados e o nariz enfiado na sua camisa. Sentindo seu cheiro.
Sentindo seu coração bater tão veloz quanto o meu.
Esperei o estalar de um tiro que não veio. E, quando o grito grave
ecoou pelo ar, eu achei que era uma alucinação. Minha mente
desesperada substituiu o pavor de antecipação a um tiro por um som de
esperança.
– Parados! Polícia!
O barulho atrás de mim se intensificou, me despertando.
Os resquícios da adrenalina em meu corpo me estremeciam de forma
descontrolada. Minhas pernas falharam ao ver os policiais fardados
renderem os invasores e Ryker tentou me segurar.
– Mina!
Nós estávamos no chão.
Levei um tiro.
Foi isso que aconteceu.
– Mina, você está bem? – Ryker passava as mãos pelas minhas
costas em desespero, verificando minha integridade física. – Você está
bem.
Precisei de alguns segundos para compreender que ele não estava
perguntando.
Estava afirmando.
Eu estou bem.
– Estou bem – murmurei.
Ele levantou o rosto tentando entender o que tinha acontecido,
embora sem sucesso.
Os invasores armados foram
algemados e retirados da boate enquanto policiais de capacete e
investigadores de paletó e gravata entravam na boate. Paramédicos os
seguiram assim que a polícia atestou a segurança do lugar.
Eu ainda estava atordoada. Não tinha conseguido processar o perigo,
quem dirá a solução.
Nila e Lucy estavam de pé, abraçando uma à outra em um dos cantos
da boate. Pareciam tão confusas quanto eu. Tim, Devon, Luckas…
Listei todos os meus amigos de forma rápida e só consegui me acalmar
depois de me certificar de que estavam todos de pé.
Zahner tinha sido rendido. Ele deve ter puxado a arma durante o
caos e, em sua entrada, a polícia holandesa não
parece ter feito distinção.
– Soltem-no! Tirem essas algemasimediatamente!
O homem que gritara tinha cabelos grisalhos e usava um sobretudo
bege com barras enlameadas. A boca formava uma linha rígida
escondida pela barba malfeita de fios prateados. Devia ter mais de
sessenta anos, se movia como um homem sedentário e esquecido. Mas
sua voz portava a autoridade de um oficial no auge da vida.
– Soltem-no agora! – ordenou e os policiais obedeceram, livrando
Zahner.
– Gareth Zahner?
– Sou eu – concordou.
– Onde estão os dois que estava protegendo?
Eu não conseguia respirar ou raciocinar. Assisti ao Zahner apontar
para nós dois como se fosse um filme. Uma história que acontece com
outras pessoas.
O senhor autoritário seguiu a indicação de Gary e acenou para nós
antes de se virar para um dos policiais.
– Deixe-a entrar. – Sorriu.
Minha testa estava enrugada pela mais absoluta confusão mental. Eu
queria muito que alguém começasse a me explicar o que estava
acontecendo em vez de só incluir mais mistério à receita.
– Mina… – Ryker suspirou, chamando minha atenção para a pessoa
que estava barrada no que restava da porta da boate.
O policial deu um passo para o lado e deixou se aproximar de nós a
mulher mais linda e maravilhosa que eu já tinhavisto na vida.
Só percebi que tinha abandonado os braços de Ryker quando me
joguei nos dela.
– Elise!
Ela me abraçou de volta entre lágrimas e sorrisos. Meu coração
começou a se acalmar enquanto eu recuperava o fôlego.
Tudo tinha sido rápido, insano e incompreensível.
Mas minha melhor amiga estava ali.Ia ficar tudo bem.

Paramédicos lançaram cobertores sobre alguns de nós como faziam


nos filmes e eu não entendi qual o propósitodaquilo. Eu não estava com
frio.
Lucy e Joanie gritaram com alguns policiais que tinham interditado
o bar e conseguiram convencê-los a deixá-las passar e pegar garrafas
para todo mundo.
Nos sentamos no chão. O beco nos fundos da boate tinha sido
fechado pela polícia, mas estava menos lotado que o salão principal.
Devon e Nila emitiam declarações a oficiais atentos, Luckas
acompanhava de perto a inspeção de seu prédio e Zahner tinha
desaparecido paraalgum lugar com o homem que o libertara.
– Como você chegou aqui? – Eu não conseguia parar de apertar
Elise e era recíproco.
– O inspetor Alfoit.
Eu conhecia aquele nome…
– É um amigo antigo dos meus pais, não se lembra?
Era verdade… Procurei por ele nos arredores, tentando inspecionar
seu rosto com mais cuidado, mas ele nãoestava por perto.
– Aquele senhor é o inspetor Alfoit?
– Ele mesmo. Ele é tipo uma lenda pra Interpol. – Riu. – Conhece
muitagente.
– Mas como… Como você soube que poderia nos encontrar aqui?
E… por quefalou com ele? Ele acreditou em você?
Nós estávamos fugindo! – constatei, acelerada. – Você deveria ter
ficado longe, Elise, não era seguro! Ficou louca? – Outro pensamento
me ocorreu de repente. – Eu perdi meu emprego novo, não foi? Me
demitiram?
Ela me abraçou com força.
– Estava com saudades de você, sua desesperada.
Eu também estava com saudades dela e a abracei de volta. Mas
abanei a cabeça pedindo respostas.
– Você está me ofendendo, Bault. – Revirou os olhos. – Acha que
sou burra?
– Não, claro que não! Eu só…
– Te conheço desde que erámos pirralhas que fingiam ser adultas. –
Deu um peteleco irritado no meu nariz. –
Achou mesmo que eu ia acreditar que você teve algum colapso
nervoso e desapareceu com um gigolô?
Eu sorri, desconcertada.
– Não – murmurei.
– Sabia que tinha acontecido alguma coisa. – Deu de ombros. –
Principalmente porque você deixou uma mensagem na minha secretária
eletrônicaantes de desaparecer pela primeira vez.
Minhas sobrancelhas se uniram em questionamento.
– Não se lembra? – indignou-se.
– Da delegacia! – Estapeei minha própria testa. – Eu liguei para
você! Mas você ainda estava no hotel!
– É! – Balançou a cabeça, meridicularizando.
– Esqueci! Acho que tanta coisa aconteceu depois disso que…
– É, mas eu não esqueci! Me deixou desesperada, Bault! – Ela
também deu um tapa na minha testa. – Falando sobre como alguém
morreu e sobre o estacionamento do hotel. Não saiu nada no jornal,
mas voltei lá e tinha uma parte do estacionamento interditada pela
polícia. As pessoas da recepção não davam qualquer resposta direta e
eu soube que havia algo errado. E explodiram seu apartamento! –
exclamou, revivendo um pânico que certamente deve ter sentido. –
Disseram que foi escapamento de gás, mas não sou idiota. Tentei falar
com a polícia, mas ninguém me ouvia. Só o inspetor Alfoit.
– Alisou os cabelos, respirando fundo. – Aí, ele me mandou falar
com um cara daInterpol que trabalhava com máfias.
– O Gary! Foi você que mandou ele atrás da gente! – lembrei.
– Ele foi o único que me escutou de verdade. Aí desapareceu e
pouco tempo depois reapareceu afirmando que tudo não passara de um
mal-entendido e que você fugiu com o gigolô. Aparentemente,ele, assim
como você, achou que eu era idiota – recriminou.
– Eu só queria te proteger, Elise.
– Eu sei. – Beijou minha bochecha. – É por isso que nunca perguntei
nada. Durante nossa vida toda, era sempre eu quem nos metia em
encrencas e você quem nos tirava. Então, imaginei que se
estava mentindo deveria ter um ótimo motivo e me limitei a confiar
em você.
– Eu te amo, sabe disso?
– Sei, sua maluca. Também te amo.
Fiquei preocupada com você.
– Achei que estava preocupada por causa do meu colapso nervoso e
da fuga.
– Ri, lembrando. – Achei que estava estressada imaginando que eu
poderia surtar de novo.
– Estava desesperada porque você estava envolvida em um caso de
assassinatos e máfias! Foi por isso que insisti que ficasse lá em casa.
Você não queria me contar, mas isso não me impedia de tomar uma
atitude.
– Você é a melhor amiga do planeta.
– Eu sei. Você me compra um presente
caro quando conseguir um emprego novo.
– Combinado.
– Quando cheguei em casa e vi o apartamento destruído, tive
certeza que ia te achar morta. Quase morro junto, Mina!
– Sinto muito! Eu queria ter deixado alguma mensagem.
– Mas não podia, eu sei. Quando vi a história nos jornais e soube
que você tinha sido sequestrada pelo diarista e pelo agente da Interpol,
fui direto falar com Alfoit e ele ligou os pontos.
– Foi assim que nos achou aqui?
– O Matt. – Sorriu, piscando um olho para mim ao fazer referência
ao garoto de programa de quem era cliente regular.
– Ele é amigo do garoto de programa que ficou com você. O de
verdade. – Revirou os olhos. – Não aquele modelo que você colocou
nas fotos.
Eu limpei a garganta, rindo de sua dedução e apontei para Devon do
outro lado do beco.
O queixo de Elise caiu copiosamente.
– Você conhece ele de verdade? – Deu três tapas com força no meu
braço para expressar sua descrença. – Me apresenta! Ele trabalha com
isso? – sussurrou, sugestiva.
Segurei a gargalhada enquanto Elise me beliscava.
– Matt me disse que eu podia tentar encontrar vocês aqui.
– Você é um gênio.
– Eu sei. De nada.
Ryker se aproximou devagar, trazendoduas garrafas de cerveja.
– Comemorar? – arriscou. Aceitei uma e Elise aceitou a outra,
analisando-o de cima a baixo.
– Vai me apresentar? – resmungou. – Ou vai manter a história de que
o homemseminu era um diarista?
– Você sabia que ele estava seminu?
– Bault, acha mesmo que sou idiota? – reclamou alto e Ryker acenou
em concordância.
– Te disse que ela tinha percebido.
– Eu não sabia o que dizer!
– Ela não pensa bem sob estresse – Elise explicou.
– E fala as besteiras mais engraçadas
da história! – Ryker completou.
– Uma vez, na faculdade, faltei em uma prova porque estava de
ressaca e Mina tentou me livrar de um zero querendo convencer o
professor que eu tinha desenvolvido estresse pós- traumático
temporário depois de pularde bungee jump no fim de semana.
– Ela levou o amigo jornalista pra sua casa e me encontrou esperando
por ela no quarto. Aí, impediu que o amigo desse de cara comigo
dizendo queprecisava se masturbar e pedindo praele esperar na sala.
Elise ponderou por alguns segundos encarando o vazio, enquanto eu
mantinha uma expressão emburrada, ansiosa para que um dos dois
notasse que eu não
estava gostando da brincadeira.
– Tá – ela decidiu. – Sua história ganha. Não dava pra ter
apresentado elepro jornalista como um amigo? – Virou-se para mim.
– Eu estava seminu na hora – explicou.
– Nossa, garoto. Você fica seminu o tempo todo, hein?
– Eu fico bem seminu. – Riu, galante.
– Não faça gracinhas comigo, rapaz. – Elise levantou o indicador e
Ryker se encolheu diante da minha amiga brava. – Peguete da Mina pra
mim é mulher.
– Respeito isso. E pode chamar de namorado.
– Não, não posso. – Estirou a língua.
– Ainda não decidi se aprovo você. Só é
namorado se for aprovado. Não explicou pra ele como funciona,
Bault?
Sorvi três goles da cerveja ignorando os dois.
– Salvei a vida dela umas duas vezes
– contou, erguendo o indicador. – Convenci o Zahner a levá-la de
volta pra casa e elaborei um plano para que ela ficasse a salvo com
você. Voltei quando descobri que ela estava em perigo e ainda ajudei a
tirar a gente da confusão com a máfia de uma vez por todas.
Elise estreitou os olhos em uma minuciosa análise dos fatos.
– Foi você quem tirou a virgindade dela, não foi? – falou, mansa,
ignorandotodo o resto. – O cara que ela diz que
estragou sexo pra ela com qualquer outro homem? O fofinho que
espalhou asflores?
Ryker abriu e fechou a boca em uma típica demonstração de peixe
indignado diante do elogio “fofinho”. Por fim, se resignou.
– Sou eu mesmo.
– Tudo bem. – Elise sorriu, dando um tapinha no seu ombro. – Gosto
de você.
– Estou aprovado?
– A quem estamos enganando? – Ela riu. – Depois de compartilhar a
história da Mina dizendo que ia se masturbar para fugir do ex, quem
seria capaz de te reprovar?

– Eu diria que posso explicar, mas algo me diz que o senhor já está
ciente de tudo o que aconteceu – sugeri.
– Sim – o Inspetor Alfoit concordou sem hesitar. – O político tcheco
está envolvido de algum modo nesta história, não é? A testemunha que
você estava protegendo estava envolvida em denúncias contra ele
também.
– Sim. A testemunha é o filho dele e estou certo de que vai
continuar cooperando.
– Ótimo. Fez um bom trabalho. – Mergulhou a mão em um bolso
largo na lateral do casaco e devolveu meu distintivo e minha arma. –
Notei que você tem duas. – Indicou a que eu tinha usado durante a
invasão da boate.
– Quer me dizer que o senhor não tinha?
– Tinha umas três. – Acenou e eu ri.
Era uma honra estar na companhiadaquele homem.
– Já está tudo resolvido com a Interpol. Tive que gritar com alguns
homens que se acham grandes até eles perceberem que são pequenos.
– Acho que devo uma ao senhor.
– Acho que deve algumas – brincou, me fazendo sorrir.
– Algumas, então. Notícias do Kulik?
– Ele foi apreendido na tentativa de sair da Europa em um barco.
Temos provas suficientes para uma condenação bem longa, então ele
fez umacordo conosco. Vai entregar fontes da
família russa em outros locais em troca de uma sentença mais
branda.
A informação me fez rir.
– Falei algo engraçado?
– Engraçado, não. Irônico.
– Irônico?
– É… – Cocei o queixo. – Considerando a maneira como chegamos
aqui, é no mínimo irônico que Kulik vá passar o resto da vida no
programa de proteção a testemunhas.
– Ah, sim – compreendeu. – Irônico.
– O que mais? – Expirei. – Será que vou ser responsável por ele? –
continueime divertindo.
– Não sei. O que acharia de voltar ao trabalho em campo?
Notícias boas podem nos fazer pular,
gritar, nos exaltar. Mas algumas notícias verdadeiramente boas nos
fazem murchar. Como se todas as nossas forças fossem economizadas
naquele segundo antes da confirmação, de modo a extravasar em uma
comemoração posterior.
– Trabalho em campo, senhor?
– Acho que já passou tempo demais em funções burocráticas e em
proteção de testemunhas, Zahner. O que acha de retomar sua antiga
posição?
– Contraespionagem?
– Uhum – confirmou. – O que acha?
– É… – Eu sabia as palavras, mas não conseguia encontrá-las. – É
tudo o que eu queria, senhor. – Suspirei.
– Ótimo. Acho que podemos dar um
jeito. Um de seus antigos casos veio à tona. Acho que não vou ter
problemas em convencer seus superiores de que você seria o melhor
candidato para o trabalho.
– Qual caso, senhor?Ele respirou fundo.
– A rede de espionagem dos Escorpiões. Encontramos o símbolo
deles em uma cena do crime aqui em Amsterdã. Coincidência, hein?
Que o lugar onde você escolheu para se esconder foi justamente o
lugar no qual um dos assassinos dos Escorpiões resolveu aparecer.
Engoli em seco.
Ela não faria isso…
– Como foi essa cena do crime? –
perguntei com cuidado, como um operador aproximando-se de uma
bombaarmada.
– Uma agência de turismo aqui em Amsterdã, há pouco tempo.
Recebemos uma ligação anônima sobre atividade suspeita lá dentro, a
polícia chegou e encontrou as portas abertas e escancaradas. Dois
corpos lá dentro. Assassinato profissional. Dois tiros no peito, um na
cabeça.
– Dois corpos e uma ligaçãoanônima? – Eu tive que rir.
Filha da puta…
– É. Quer ouvir o mais curioso? Eram dois homens do Kulik.
Como ele tem caído nos últimos dias, a polícia achou que ele tinha
ordenado o
assassinato de dois de seus comandantes, para mantê-los em
silêncio. A teoria é boa: o lugar estava todo revirado, muitos
documentos desapareceram. Mas um ou outro foi deixado para trás.
– E foram suficientes para descobrir que o lugar era uma fachada
para lavagem de dinheiro?
– Muito fácil, não acha?
– Muito – concordei.
– Também deixaram um papel amassado para trás. Um escorpião
rascunhado. O modus operandi da sua velha conhecida rede de
espionagem.
– O senhor disse que estava tudo revirado. Acharam o papel
amassado nomeio do caos? Não poderia ser algo
antigo que um dos homens de Kulik tinhaguardado?
– Foi o que eu imaginei, no entanto, os oficiais que chegaram
primeiro informaram que a folha chamava atenção no ambiente. Parecia
um recado deixadode propósito.
– Chamava atenção?
– Foi colocado em cima da única mesa que não tinha sido revirada.
Com uma flor em cima.
Uma flor…
Eu ri, balançando a cabeça.
– Deixa eu adivinhar… Um lírio? Nem precisei ouvir sua
confirmação.
O rádio de pilhas ligado em uma estação qualquer tocava uma
música doce e preguiçosa. Cortei um pedaço do queijo que meu
namorado guloso comeu da minha mão antes que eu pudesse impedir.
A toalha aberta no chão da estufa de Bessie, comidas e bebidas
espalhadas em nosso piquenique improvisado.
– De volta ao lugar onde tudo começou, hein? – Alisei seus cabelos
quando ele se reclinou, apoiando a cabeça no meu colo.
– Não começamos aqui! Começamosno hotel lá em Paris.
– Não de verdade… – defendi. – Foi aqui que eu e você começamos
mesmo.
– Está querendo fingir que a noite no
hotel nunca existiu, é? – Estreitou os olhos e eu soube que ele ia me
provocar.
– Querendo apagar da minha mente que a insaciável da Mina Bault
agarrou o pobre servente do hotel na mesma noite em que contratou
um garoto de programa?
– Foi um mal-entendido! – Plantei umtapa na sua testa.
– E aqui vou eu: apanhando de novo. Você é a safada e eu apanho.
Sempre assim.
– Achei que ele era você.
– Você achou que era eu? – Levantou- se. Havia tanta felicidade na
sua expressão que, apesar de irritada, precisei rir. – Calma, calma,
calma. – Abanou as mãos. – Nunca tinha me
contado essa parte. Você beijou ogarçom porque achou que ele fosse
o gigolô que você tinha contratado?
– É.
Eu não estava entendendo a graça. Mas Ryker, com certeza, estava.
Porque se curvou agarrado ao estômago em uma tentativa fútil de
controlar a gargalhada.
– Então você abre a porta pra um cara e o agarra sem nem perguntar
quem é? – Limpou as lágrimas que se formavam nos olhos. – E aí o
gigolô de verdade… Eu… – apontou para si mesmo com orgulho –
...chega e você oferece a mão para ele apertar, cruza os braços e fica
com aquela cara de entrevistadora?
– Fiquei constrangida.
– Você é muito engraçada quando fica
constrangida! Posso contar essa históriapra Elise também? Vou ficar
dois pontosna frente dela.
– Você e a Elise podem é parar de fofocar sobre minha vida.
– Não dá.Você não deixa! Não para de dar munição. – Ele estava
rindo de novo.
Puxei seu rosto para mim com força.
Mordi seu lábio inferior e o beijei.
– Cala a boca – sussurrei.
– Sim, senhora. – Abriu a boca para me sugar, me impelindo a
fechar os olhos e me entregar. Perdida nele. – Viu como é fácil me
fazer calar a boca? – murmurou. – Não precisa gritar, nem me bater. –
Alternava palavras com beijos.
– Bem mais fácil e eficiente.
– Ryker, cala a boca.
– Uhum. – Seu toque ficou mais intenso, ele me puxou para o seu
colo, me engolindo devagar.
O modo como cobriu meu corpo com o dele foi suave, despindo
minha pele com ternura. Roupas saíram do caminho aos poucos, de um
modo descansado e inevitável. Ambos sabíamos para onde estávamos
indo, como da outra vez. Mas agora caminhávamos com mais
confiança.
Segura de que ele me amava.Segura de que eu o amava.
Demorou-se em beijos nos meus seios e ria sobre meus mamilos
quando fiquei arrepiada. Acariciei seu cabelo, assistindo aos arranhões
de seus dentes
na minha pele e me permitindo rir com ele. Raspando as unhas na
sua carne, impulsionando-o pelo caminho que eu queria, apenas para
alisá-lo logo depois sobre as linhas vermelhas que se formavam em sua
pele.
Uma tarde longa e dócil. Sem preocupações.
Elise me esperava no hotel para irmos embora, mas isso seria mais
tarde.
Agora, éramos só nós dois. Mais nada.
Dedilhei seus cabelos e massageei sua nuca. Com a boca na minha,
ele retribuía a massagem, porém em minha língua.
– Você me ama. – Riu, safado. Sua nudez, como a minha, era
completa.
Sentindo o ar frio resfriando nossos corpos especialmente quentes.
Minha pele vibrava sob a batida conjunta de nossos corações,
separados por poucas dezenas de centímetros. Um enlace de pernas e
ele estava tão perto de me penetrar quanto poderia ficar sem
efetivamente me possuir.
– E você me ama – devolvi.
Pensei que ele ia me lamber. Ou morder. Ou me oferecer seu sorriso
safado e umas palavras ousadas.
No entanto, em vez disso, ele apenas se manteve sério. Ele apenas
acariciou meu rosto com um toque tranquilo e gentil. E me beijou.
Daquele jeito maravilhoso que te faz fechar os olhos antes mesmo de
as bocas
se tocarem porque você sabe exatamentecomo vai ser intenso.
Sua ereção se comprimiu timidamente no meu espaço apertado. Me
tomando sem pressa enquanto seu beijo me envolvia mais que a fusão
de nossas virilhas. Agarrei seu pescoço com um ardor doentio de
necessidade. Não queria que ele se afastasse agora.
Não queria que ele se afastasse nunca.
– Não vá embora – pedi.
Ryker beijou minha boca entendendoalém do meu pedido.
– Poucas semanas, amor – suspirou, ondulando o corpo sobre o
meu. Alternando a dor que eu sentia pela separação iminente com o
prazer que seconcentrava cada vez mais voluptuoso
abaixo do meu umbigo.
Ele respirava contra minha boca, me entregando seu hálito e saliva,
me encarando enquanto eu transpunha meus limites para descobrir que
êxtase pleno não era uma mera expressão.
Êxtase pleno era o que acontecia quando Ryker me beijava. Quando
me tomava daquele jeito. Quando me chamava de sua. Quando me
faziapromessas. Quando me tocava.
Ryker era meu êxtase. E ele era pleno.
Pleno como o que se construía dentrode mim.
Aquele prazer que começa modesto até se mostrar arrebatador além
de qualquer nível de suportabilidade. Que me fazia estourar em
gemidos loucos,
mordidas de lábios que não conseguiam me calar. Explodi ali:
devagar, espiralando fora de controle, sentindo meu corpo inteiro se
abstrair em plenitude.
Olhei nos olhos dele. Recuperava meu fôlego enquanto ele perdia o
dele. Sobre mim e em mim. Apertando nossos lábios não em um beijo,
mas em uma súplica. Um desejo que não podia ser contido,
reproduzindo o meu.
– Quantas? – gemi, quando ele caiu aomeu lado. – Quantas semanas?
– Poucas – repetiu, também ele ofegando.
Ryker tomou minha mão e a beijou antes de agarrá-la em um abraço
contra seu peito. As nuvens nos observavam
através dos vidros translúcidos da estufa. Separando-se de nós por
uma cortina de plantas e flores.
Eu ainda sentia o gosto dele na minhaboca.
– Me prometa uma coisa.
Ryker se virou de lado, me puxando de encontro ao seu peito.
– Não beije outra mulher – pedi.
Ele enfiou os dedos pelos meus cabelos, acariciando minha face com
o polegar.
– Mina, eu provavelmente vou ficar só com strip.
– Tudo bem. Mas prometa ainda assim.
– Prometo. – Apoiou-se no cotovelo para segurar meu rosto,
contemplando o
fundo dos meus olhos. – Não vou beijarmais ninguém.
Balancei a cabeça devagar.Era péssimo.
Era pior do que péssimo.
Talvez fosse muito pior do que péssimo.
Mas eu o amava e há pouco tempo atrás estava disposta até mesmo a
levar uma bala por ele.
Que tipo de insanidade era aquela em que eu preferia morrer em seu
lugar do que aceitar um breve momento de separação no qual ele,
talvez, transasse com outras mulheres?
No entanto era isso… Eu realmente preferia morrer a imaginá-lo
com outra mulher.
Não é sua escolha. É escolha dele.
A sua escolha é apenas decidir se quer ficar com ele ainda assim ou
não.
– Não precisa se prostituir –murmurei.
– Eu preciso descobrir minhas alternativas, Mina. E preciso fazer
isso sozinho.
– Só por orgulho? – falei, baixinho, para que ele não confundisse
minha preocupação com raiva.
– Independência é importante pra mim. – Beijou minha bochecha,
levemente. – Pode entender isso? Por mim?
– Vai fazer strips aqui no Lucky’s atéarranjar outra coisa?
– É o plano.
– E não vai se prostituir.
– É o plano.
– E se algo for contra o plano? –choraminguei.
– Mina, o que você quer que eu diga?
– Quero que diga que vem para Paris comigo – admiti. – Quero que
diga que não vai mais se prostituir. Quero que diga que a gente não
precisa ficar separado.
Esperei sua resposta, no entanto ele apenas ficou em silêncio. Me
observando, sem saber o que responder. Enfim, sua falta de palavras
disse mais do que qualquer palavra poderia ter dito.

– Ninguém morreu! Veja só como tudodeu certo!


– Bem-vindo de volta, Sven. – Abracei meu amigo antes de beijar
a bochecha da minha irmã. – Como foram as coisas com o seu chefe? –
Bem… – Ele enfiou as mãos nos bolsos e encarou o chão com uma dor
resignada. – Acho que alguém morreu, afinal – murmurou muito baixo.
– O funeral foi… Ele tinha filhos? – mudei a pergunta, coçando a
cabeça.
– História muito longa, moleque. Outro dia eu te conto. E por aqui
tudo acabou bem? Interpol voltou para a Interpol? Hideki ajudou
vocês?
– Sim, sim! Tudo fantástico, seu planofoi incrível – agradeci.
– Ryker! – Lexa me recriminou. – Não massageie o ego dele mais do
que o necessário, por favor. Não é você que vai ter que conviver com
ele depois.
– Perdão – me rendi, rindo.
– E onde está Mina? – ela quis saber.
– Voltou para Paris. – Engoli em seco.
Mina…
– E você? – Lexa piscou seus grandes olhos claros, me julgando. –
Quandovai?
– Não sei ainda. – Ergui um ombro. – Tenho umas coisas para fazer
aqui.
– Tipo o quê?
– Lexa! Tipo arranjar um emprego antes de ir embora para Paris.
– Já foi embora para Paris outras vezes sem emprego definido.
– Para me prostituir! Não vou me prostituir na cidade onde ela
mora.
– Posso te ajudar a conseguir outro emprego – disse com
simplicidade.
– Quero fazer isso sozinho.
– Por quê?
– Porque eu quero.
– Ryker…
– Lexa! Será que pode me deixar cuidar da minha vida sozinho?
– Sim! Porque você faz isso tão bem! Não é mesmo? Precisa de
ajuda, Ry,mesmo que não queira admitir.
– Não preciso. Sei me virar. – Esfreguei meus olhos, sentindo-os
arder.Lexa conseguia me tirar do sério.
– Não há nada de errado em precisar de ajuda, Ry!
– Eu sei. Obrigado. – Segurei seus ombros, tentando assegurá-la de
algo que eu sequer tinha certeza. – Me dá licença um instante?
Lucy e Joanie se aproximaram para cumprimentar os recém-
chegados. Sven sorriu, parabenizando nossos esforços com a festa e
oferecendo para as garotas o que parecia ser uma proposta de emprego.
Ou um curso de algum tipo.
Fechei-me no escritório, largandomeu corpo cansado sobre o sofá.
Mina…
Nós nos falávamos o tempo inteiro. Pelo menos nos primeiros
dias… Depois, ela ficou ocupada com
algumas coisas do trabalho. Parecia quenossa sincronia tinha
acabado: eu
sempre ligava quando ela não podia atender e ela devolvia a
gentileza. Há três dias nos falávamos apenas por mensagens de texto e
recados deixados na caixa postal.
Ela parecia bem.Parecia feliz.
Não parecia sentir minha falta.
Estava ocupada demais recolocando a vida nos eixos para sentir
minha falta.
O jornalista estava de volta. “Apenas para uma matéria”, ela
assegurara. Claro… todos os jornalistas do planeta queriam a nossa
história. Tinha sido apenas uma cortesia dela cedê-la ao cara a quem
ela tinha oferecido um pé nabunda.
A mim, restava ficar cozinhando em
ciúmes. Esperando que a entrevista fosse desagradável e
desconfortável eque a presença dele a deixasse constrangida.
Ou pelo menos seria essa a minha expectativa se não soubesse que
Mina fica ainda mais linda e safada exatamente quando está
constrangida.
Olhei meu celular mais uma vez.Eu queria fazer aquilo sozinho.
Eu sabia que todos iriam me apoiar se eu apenas falasse, mas
queria… queria muito merecer.
Não queria conseguir por causa da minha irmã, por causa do meu
amigo, por causa da minha namorada.
Não queria nem mesmo conseguir porque eu era o “cara do
escândalo com
a máfia russa e o pai corrupto”.
Foi por isso que enviei o manuscrito para o meu amigo, Nick, com
um pseudônimo. Nicholas se prostituía assim como eu. Mas, ao
contrário da minha atual situação, ele não tinha qualquer intenção de
abandonar a carreira. Uma de suas clientes trabalhava para uma
grande editora e… Não faria mal, não é?
Enviar o meu manuscrito mais razoável: a breve história da minha
própria vida. Os desfortúnios com minha família, minha interminável
fuga, alguns elementos picantes da profissão… e Mina. Mais sobre
Minado que qualquer outra coisa.
Arranjei um pseudônimo para ela
também, ou eu correria o risco de apanhar de novo.
Deter-me naquele pensamento me fez sorrir. Fiquei sentado,
encarando meus pés, me divertindo com meu próprio sorriso silencioso
e a imagem da reação de Mina se descobrisse que eu estava tentando
ser um escritor.
– Estou entrando – avisou, antes de fechar a porta atrás de si.
– Sven, eu já estava saindo. – Engoli em seco, afastando as
divagações. – Só precisava de um segundo.
– Sua irmã consegue pressionar um homem até esmagar seus
colhões, não é?
– Puxou uma cadeira para sentar-se na minha frente.
– Acho que você saberia disso melhor
do que qualquer um. – Ri. Ele apenas acenou por um instante.
Espremeu as mãos com os dedos entrelaçados.
– Ela mandou você vir aqui falar comigo?
– Mandou – confessou, sem hesitar. – Antes de irmos embora, na
verdade. Mas não tive tempo… A coisa toda com meu chefe aconteceu
rápido demais.
Concordei com um gesto.
– E sobre o que ela quer que você converse comigo?
– Sobre sentimentos, propósitos de vida e mais todas essas
bobagens.
– E vai fazer isso?
Ele fez uma careta, como se dissesse “vamos, você me conhece
melhor do que
isso”.
– Tudo bem. – Ri. – E sobre o que vamos conversar, então?
– O que está fazendo, moleque? – Levantou uma sobrancelha,
analítico.
– Sei o que estou fazendo.
– Ótimo, então me explique e assim eu me acalmo.
– Está preocupado comigo?
– Acalmo sua irmã – corrigiu.
– Por que todo mundo acha que não consigo me virar? – A
indignação transpareceu, evidente.
– Porque você é uma criança.
– Não sou uma criança. – Me pus de pé, – Sou um homem, Delvak.
Mesmo que você e minha irmã tenhamdificuldade em enxergar isso.
Eu falei ríspido e duro, mas ele não se abalou. Nem se moveu na
cadeira emque estava.
– Por que a deixou ir? – perguntou, me fazendo tremer.
– Porque primeiro preciso resolver algumas coisas sozinho. Preciso
da minha independência. Sou como você, Sven – tentei explicar de um
jeito que ele compreendesse.
– Isso de novo – resmungou. – Garoto, que alucinação insana é
essa que você tem? Precisa ser como eu ou está fodido, é isso? Não me
entenda mal, é compreensível. É óbvio que muitoshomens seriam como
eu, se pudessem. Mas por que você precisa tanto disso?
– Não é uma necessidade. É um fato.
– Não, não é.Você não é como eu.
Não existe ninguém como eu.
Só eu. Eu sou único, exclusivo e patenteado. Consegue entender
isso?
– Eu é que te pergunto por que você não aceita que alguém possa ser
como você?
Ele respirou fundo, sacudindo os cabelos loiros e penteados com a
mão irritada e se levantou.
– Pare com a conversa de merda, moleque. Guarde essas bobagens
pra sua irmã e as psicanálises dela. Diga pra mim: por que deixou a
namorada ir embora?
Mordi meu lábio, lutando contra meu instinto.
– Quero escrever – confessei antes
que desistisse.
Sven piscou em descrença. Demorou alguns longos segundos antes
de falar novamente.
– É isso? – Abriu os braços. – Só isso? A grande coisa que você
quer fazer sozinho e que não quer ninguém por perto para ajudar? –
Acenei, confirmando, embaraçado. – Meu Deus, garoto. Do jeito que
você estava dramatizando, pensei que estava envergonhado
porque tinha desenvolvido algum fetiche maluco em que
seu pau era sua namorada e você o chamava de Cecília e passava
batom na cabecinha antes de se masturbar.
– O quê?
– E daí que você quer escrever, qual
o problema? Fale pra sua irmã não se meter – avisou. – Não vai
adiantar. Ela vai se meter. Mas fale.
– Não tenho nenhuma formação, Delvak. – Não considerei que
seria necessário explicar para ele a origem domeu constrangimento,
mas aparentemente eu precisava. – Mina se formou em Paris, tem
mestrado e sabe- se lá mais o quê. Um currículo gordo e invejável. Eu
mal terminei a escola. Não sou minha irmã. Não vou ser um autor
premiado. Provavelmente vou vender exemplares de impressão barata
em algum sebo na margem do Sena! – exclamei, salivando. Colocar
todos aqueles receios para fora doía como uma ferida grande e
purulenta que é
espremida sem pudor. Bastava esperar que ela se esvaziasse e um
dia parasse de doer. – Sendo gigolô e stripper, sou diferente, sensual,
erótico. Tenho um senso de aventura. Mas se eu vou virar um escritor
parisiense frustrado, como Mina vai me ver? E se escrever não der
certo? O que vou fazer? Poderia trabalhar como garçom pelo resto da
vida, me divertindo nos fins de semana com Lucy, Tim e Joanie, mas e
Mina? Como ela vai me apresentar aos amigos?
– Do mesmo jeito que sua irmã me apresentou – sussurrou e meu
corpo congelou na exata posição em que estava, como se Sven tivesse
derrubado um balde de água gelada na minha cabeça. Eu podia sentir o
gelo correndo
pelas minhas veias. – É com esse nível de insegurança que você
pensa ser iguala mim?
– Pra você é fácil falar. – Engoli em seco.
– Qual parte é fácil pra mim, Ryker? – Espremeu os lábios. – Nasci
em um puteiro, nunca conheci meu pai e nem poderia: minha mãe
nunca soube qual camisinha de qual cliente foi a que falhou. Você mal
terminou a escola? Bem ou mal, pelo menos terminou. Eu não cheguei
nem perto. Você não tem graduação superior? Eu também não. Você
teve que se virar para conseguir alguma independência, sobreviver e
ajudar as pessoas que ama? Eu também. Você ficou nu em um palco
nos fins de
semana para ganhar algum dinheiro? Eu também. Você ficou sozinho
no mundo e sem família? Eu também. E sabe onde eu estou agora? Na
presidência de uma das maiores multinacionais do planeta. Você está
preocupado em não conseguir publicar um livro porque não tem
diploma? Um diploma é um recibo, Strome. Não tem nada que possam
te ensinar na faculdade que você não possa aprender sozinho. Vai ser
mais difícil? Vai. Não tenha dúvidas. Mas homens como eu e você não
fomos forjados pra vida fácil. – Parou para respirar e eu notei que ele
estava ficando vermelho. –Acho que você estava certo. Parece que eu e
você temos muito em comum, mesmo. A grande diferença entre nós vai
ser esse ponto agora. – Apontou o indicador para o chão – Quando
eu era mais novo, conheci o amor da minha vida. Mas agi como um
pirralho imbecil que achou que independência era a coisa mais
importante que eu tinha. Eu era o garanhão fodedor que não precisava
de ninguém: as pessoas é que precisavam de mim. Eu a deixei ir
embora e fodi tudo. – Balançou a cabeça, cheio de rancor pelas
próprias atitudes. – Agoraé sua vez, moleque. Não seja igual a mim.
Ele se sentou no sofá. Parecia destruído de um modo muito peculiar
e eu imaginei que nos poucos dias desde a última vez que nos vimos
algo muito delicado devia ter acontecido entre ele e
Lexa.
– Eu menti – sussurrei, ao sentar ao seu lado. – Menti pra Mina. Eu
contei a história toda do Simak pra ela, mas… mas não consegui contar
que ele era realmente pai da Lex. Falei que ela era adotada. Por algum
motivo… as palavras soaram melhores desta maneira. Soaram como
se um pai de verdade não fosse capaz de trazer tamanha brutalidade à
vida de um filho.
– Você é um homem melhor do que Simak, Ryk. – Apertou meu
ombro. – Você sempre foi. Não há nada do seu paiem você.
– Como pode ter certeza?
– Porque eu o conheci. E conheço você. Não precisa achar que o
cara
safado e independente é o único tipo de homem bom no mundo. Não
precisa ter medo de se apaixonar e começar uma família, garoto. Não o
deixe roubar isso de você.
Acenei devagar e me mantive um silêncio. Minha mente exibia
diante dos meus olhos toda a minha infância… A história da minha
vida. Os primeiros capítulos do meu livro. O lugar destruído e sem luz
onde tudo começou.
– Nunca tive coragem… – engasguei
– nunca tive coragem de perguntar pra ela.
– Perguntar o quê?
– Perguntar pra Lex se ele… se ele realmente fez… algo. Eu dormia
no quarto ao lado, Sven. Se ele estuprou
minha irmã a metros de distância demim, não sei se…
– Ele não fez. Parei de respirar.
– Não precisa ter medo de perguntar, Ry, e eu vou responder mesmo
que não tenha perguntado: ele não estuprou Lexa. Nunca. Mas abusou
dela em quatro ocasiões. As duas primeiras só a deixaram
constrangida. Foi logo quando ele começou. Na terceira, dei um chute
no saco dele e quebrei seu nariz com um murro. Mandei-o pro hospital.
Na quarta, quem o mandou pro hospital foi a Lex. Sua irmã é a mulher
mais incrível que já conheci na minha vida. E já conheci muitas
mulheres.
– Por que não estão juntos, Sven? Se
é possível ser um homem bom em um relacionamento, por que você
nunca ficou com ela? Por que fodeu tudo? – usei suas palavras.
– Porque eu não sou um homem bom. Não pra ela. – Sorriu com uma
tristeza palpável. – Mas nunca entendi por que é tão importante pra
você que eu e elaestejamos juntos.
– Não sei. Acho que… ela ficou a salvo quando você entrou nas
nossas vidas. – Ri, discreto. – Parte de mim sempre teve certeza que
ela estava segura com você. Que você tomaria conta dela se eu não
pudesse.
– Ah, Ryk… A vida mudou todos nós. Mas nenhum de nós ficou tão
forte quanto sua irmã. Ela não precisa de
ninguém para cuidar dela. Ela é uma mulher. Deus sabe que ela
acaba cuidando de mim muito mais do que eu cuido dela. Ela não
precisa de nós, moleque. Mas se precisar… ela sabe que pode contar
conosco. Sabe que estamos aqui. Ela não precisa de você. No entanto,
pelo que ouvi, tem uma jovem garota que precisa. Ouvi que ela foi
embora e que você a deixou ir, Ryk… Conta pra mim: você a ama?
– Amo.
– Então o que diabos você ainda está fazendo aqui conversando
comigo?

Lance sorriu ao guardar o gravador de


volta na mochila. Sorriu diretamente para mim, me obrigando a
desviar o olhar.
Foi só uma gentileza. Por favor, não transforme isso em algo que
não é.
Apertei meu celular nas mãos.
Eu queria falar com Ryker. Queria falar com ele o tempo inteiro.
Mas Strome era como um peixe. Eu não podia ficar agitando a isca
sempre ou ele iria embora. O maior problema é que agora eu temia que
meu receio em afastá-lo era justamente o que estava nosdistanciando.
Monique estava sorrindo para Lance e perguntando se ele queria
beber alguma coisa.“Agora ou mais tarde”.
O tipo de Monique era um cara bem
específico: qualquer um que estivesse interessado em uma amiga
dela. Sua insegurança deveria ser avassaladora para ela precisar ser
sempre o centrodas atenções.
Sua insegurança ou sua chatice. Eu nunca sabia julgar com precisão.
Ela e Elise tinham transformado minha entrevista em uma pequena
festa. Elise fez isso em meu benefício, já que preferi contar toda a
história de uma vez só e não ter que repetir a narrativa sempre que um
novo curioso do meu círculo de convívio mais próximo aparecesse.
Monique fez isso em benefício dela mesma, pois queria ser a
organizadora do evento, de modo que parte da luz do meu modesto
holofote
sobrasse para ela.
Respondi às perguntas de Lance, de colegas de trabalho, vizinhos e
alguns amigos, muitos dos quais eu sequer lembrava os nomes.
Pessoas que mal faziam parte da minha vida tinham brotado do nada
ansiosos por detalhes do caso mais comentado da Europa.
Eu não fazia questão de ficar em evidência, por isso recusei
educadamente todos os jornalistas interessados. Mas Lance… eu devia
uma a Lance. Em Amsterdã, o clube do Luckas estava crescendo com o
sucesso e aquele seria só o começo. Delvak tinha chegado na Holanda
e parecia querer investir no negócio como um parceiro silencioso. Ia
ser bom para
todos.
Todos…
– Toda essa história é ótima, não é? – Monique cercou Lance. –
Principalmente a parte de Mina precisar de um gigolô para perder a
virgindade!
– Exagerou no riso. – Essa parte é inesquecível! E tão verdadeira
para quem a conhece.
Elise revirou os olhos, mas Monique não me incomodava mais. Foi
impossível evitar a emoção sempre que eu mencionava Ryker.
Não era só a saudade de não o ver há quase duas semanas… Era a
incerteza sobre nossa situação atual. O não saber. Ele sempre
conseguia ser irritantementevago quando eu perguntava o que estava
fazendo. Como se estivesse escondendo algo, por receio ou
vergonha, apenas reforçando minha ideia de que ele tinha voltado a se
prostituir.
– Claro que deve ter sido horrívelpara o pobre rapaz ficar com Mina
pendurada nele durante todo esse tempo.
– Monique levou a mão ao peito se compadecendo por Ryker.
Mas eu não estava lhe oferecendo atenção. Estava ocupada demais
em navegar perdida em meus próprios devaneios.
Como esse relacionamento poderiadar certo?
Do outro lado da sala, Lance sorriu para mim me fazendo desviar o
olhar, mas era impossível não considerar os
elementos: como seria um relacionamento com ele e como seria um
relacionamento com Ryker?
Com Strome, tudo era sempre incerto e desconhecido. Quanto tempo
uma viciada em controle como eu poderia suportar algo do tipo?
Escutamos um baque alto contra a porta e uma voz irritada do outro
lado.
– Ah, agora vocês resolvem consertara porta!
Ryker!
Elise o deixou entrar e eu me levanteipor instinto.
Era tão singelo esse efeito entre agente. Tão delicado e curioso.
Uma troca de olhares, por mais rápidae insignificante que
parecesse, e
estávamos os dois sorrindo. Era a troca íntima de um sentimento
forte. Verdade de um que só o outro conhecia. Trejeitos, suspiros,
anseios. Tão pouco tempo e tanta coisa.
Tudo se concentrava no sorriso que ele me concedeu, o qual tenho
certeza deter retribuído.
Na sala cheia, eu só conseguia enxergá-lo.
Não conseguia pensar em convidados, em jornalista, em amigas ou
inimigas.
Só o meu gigolô sem-vergonha sorrindo para mim.
Venceu a distância entre nós, me enfiando em seu peito, fazendo eu
me sentir a coisa mais preciosa que ele possuía. Eu o abracei de
volta com a
mesma intenção.
Meu bem mais precioso é esse teu sorriso.
Que me faz tremer os joelhos e encharcar a outra metade das minhas
pernas.
Inspirei fundo para perguntar o que ele estava fazendo ali, mas ele
me beijou e palavras perderam a importância. Elas sempre perdiam a
importância nessas ocasiões.
– Cheguei – suspirou quando me soltou.
– Percebi. – Deixei-o beijar meu sorriso. Eu precisava elaborar
mais perguntas, precisava tirar todas as minhas dúvidas. Sabia que ele
ia rir e me chamar de desesperada, mas eu
precisava saber. Mais do que qualquer outra coisa. Inspirei mais uma
vez, pronta para o meu monólogo.
– Não me prostituí – respondeu o que seria a primeira de minhas
perguntas, antes mesmo que eu a fizesse. – Não fiz strips também.
Porque… – enfatizou a palavra como se soubesse que eu iria perguntar.
E estava certo. – Não parecia certo, sem você pra ficar lá me assistindo
e se embebedando para conseguir sobreviver a toda minha gostosura. –
Piscou um olho. – Estive tentando publicar um de meus livros. Uma
autobiografia. Com pseudônimo. Um pra você também. Sim, você está
nahistória. Não, eu não inventei nada. Nãosei se vou conseguir e pode
ser que eu
seja ruim. Pode ser que eu seja um desastre, por isso não te falei
nada. Estava com um pouco de vergonha – admitiu, balançando a
cabeça como se soubesse que era bobagem. – E com um pouco de
receio de te decepcionar. Você nunca me decepcionou, não queria ser o
primeiro. Apesar de que, se eu fosse o seu primeiro nisso também,
seria até apropriado – divagou. Eu podia notar que nossos convidados
tinham nos cercado com uma curiosidade intensa. Deixei que nos
observassem, eu não conseguia fazer nada que não fosse me perder em
Ryker. – E é isso – constatou, baixinho. – Não sei se vou ser um
desastre, é possível que eu seja. Mas prefiro ser um desastre aqui perto
de
você. Prefiro ser qualquer coisa perto de você. As coisas sempre
dão certo quando você está por perto. – Desceu os dedos pelo meu
rosto, aquecendo minha pele. – Quer dizer: dão errado. – Forçou os
olhos. – Mas depois dão muito certo.
– Ele se desfez em um sorriso e eu o acompanhei, gloriosamente. –
Acho que isso é tudo. Mais alguma pergunta que você ia fazer? Ou já
cobri todas? Ah, e eu te amo – lembrou, casualmente. – Quer ficar
comigo até a próxima coisa dar errado? – Enroscou nossos narizes.
– A gente resolve juntos?
– Melhor maneira.
Entreabriu os lábios e me beijou de novo.
– Olha que ótimo! Mais material pra
história! – Monique começou, aguda, se intrometendo em nosso
beijo. – Ryker, por que não conta um pouco como foi para…
– Você dá licença? – Ele a afastou com a mão, demonstrando um
pouco de polida rispidez. – Tô tentando agarrar a mulher que amo. Não
a vejo nua há maisde uma semana e você está incomodando.
– Ryker… – pedi baixinho. – Não precisa fazer isso. – Sorri. Ele
lembravade Monique e talvez quisesse ajudar na vingança.
– Fazer o quê? – Piscou devagar.
Ele não lembrava.
Estava apenas sendo genuíno e espontâneo. Sua mão se empostara
em
minha bunda quando me beijou, uma vez que terminara a pergunta.
Ele não solicitava uma resposta, não seria necessário. Ele queria me
beijar.
E, muito provavelmente, me ver nua.
Sua língua invadiu minha boca e eu a recebi com saudade.
Não sei se foi de propósito ou se nós apenas nos desequilibramos,
mas caímos, eu e ele, pelo sofá e por cima dealguém.
Como ele não se incomodou, eu apenas o segui. Suas mãos
escalavam minhas pernas, afastando a saia e se arriscando pela minha
calcinha. O rugido desesperado que eu ouvi deve ter sido de Elise, que
se pôs a colocar as pessoas para fora de casa. Diante das
circunstâncias, a maioria dos visitantes deve ter cooperado e os que
não cooperaram foram expulsos pela minha melhor amiga ainda assim.
Eu precisaria pedir desculpas.
Eu precisaria ficar com vergonha.
Mas isso seria depois. Agora, a salaestava silenciosa e deserta.
Ou, pelo menos, era o que euimaginava.
Não que eu me importasse.
Ryker tirou minha calcinha, me cobriu com seu corpo e me beijou
inteira.
Eu não me importava com nada.

Doze

Novos começos
Um ano depois Luckas estourou um champanhe e Tim começou a
distribuir
as taças.
– Mina. – Ryker se aproximou por trás e abraçou minha cintura, me
fazendo virar o rosto para beijar sua bochecha. – Quero te apresentar
umas pessoas.
Ela tinha longos cabelos ruivos, mais escuros que os meus. Usava
saltos
longos e afiados e um vestido quase tão sedutor quanto o
acompanhante orientalque trazia entrelaçado em seu abraço.
– Meu anjo da guarda. – Sorriu. – A editora responsável pela
publicação de Sem Vergonha.
– Olá! Nossa! – Abri os braços, desajeitada, mas ela assumiu o
controlee me devolveu o cumprimento. – É um prazer.
– O prazer é meu. – Ela sorriu. – Estávamos todos muito curiosos
para conhecer a Tímida.
Os sorrisos se espalharam enquanto Ryker me apresentava a outras
pessoas da editora e de livrarias. Todos reunidos para comemorar a
marca de cem mil exemplares vendidos do seu primeiro
livro. Sem usar o nome da irmã ou a fama que se seguiu à nossa
história coma máfia.
Sozinho.
O mérito era todo dele.
Eu estava morrendo de orgulho.
Um ano.
Há um ano ele se enfiou no meu apartamento, expulsando as visitas
para fora e me agarrando no sofá. Me pediu em namoro mais por
protocolo que por necessidade.
Eu era dele há tanto tempo.E ele era meu.
Mas hoje, um ano depois, eu me sentia amparada pela tranquilidade
ao saber que nosso relacionamento tinha sobrevivido a mais do que a
máfia
russa: ele tinha sobrevivido à normalidade. Tinha sobrevivido à
rotina. Aos trabalhos, às pequenas discussões, às grandes brigas…
enfim, tínhamos sobrevivido. Estávamos ainda mais fortes. Eu o amava
mais. E quando ele me olhava… eu poderia estar errada, mas apostaria
minha vida no fato de queele me amava mais também.
– Lex! Orgulhosa do irmão mais novo?
– Você não faz ideia! – Ela me abraçou. – E você, leu o livro? As
referências do menino são impressionantes. A descrição da primeira
vez de vocês dois foi sublime, estou quase com inveja do estilo dele.
– Lexa, Lexa… – pedi, abanando as
mãos. – Podemos não entrar em detalhessobre o assunto?
Ela riu com gosto. Sua eterna desenvoltura com assuntos sexuais
superava a do irmão.
– Me desculpe. Acho que é a convivência com o Sven… Acabo me
tornando inapropriada também. – Piscouum olho.
Desviei a atenção para o meio do salão, onde Ryker cumprimentava
diversos profissionais e referências do mercado editorial. Usava um
conjunto verdadeiro de paletó e gravata, não do tipo que vem preso
com velcro para despir em público. Esse último tipo ele ainda usava,
mas agora só para mim.
O modo como Lexa me encarava
chamou minha atenção.
– O que foi? – gaguejei.
– Nada. – Ela sorriu. – Você o ama mesmo.
– Eu estava babando, foi? – Ri.
– Um pouquinho. – Arranhou a taça de champanhe com delicadeza. –
É difícil resistir a um bad boy que no fundo é umhomem bom.
Agora era eu quem parava para analisá-la.
– Essa é a definição de Delvak também? – arrisquei. – No fundo,
ele é um homem bom?
– Ah, não! – Ela riu alto. – Sven não presta! Nem um pedacinho dele.
– E por que ele é tão difícil de resistir? – Manifestei uma careta, e
ela
alargou o riso ainda mais.
– Porque ele foi geneticamente abençoado com um sorriso safado,
um corpo que pede línguas e um pênis de comprimento severamente
desnecessário.
Pus-me a rir junto enquanto Ryker se aproximava, curioso.
– Sobre o que estão fofocando?
– Coisas de mulheres. – Lexa piscouo olho para mim mais uma vez
e eu abracei meu namorado, plantando um beijo descontraído na sua
bochecha.

Ver Mina interagindo com minha irmãme dava ainda mais


segurança em
relação aos meus planos.Ela já era da família.
Beijou minha bochecha e eu me virei, segurando seu queixo para
beijar sua boca. Ela protestou, argumentando sobre algo que tinha a ver
com o batom, mas eu não ligava para isso nem um pouquinho. Eu
queria meu beijo e queria na hora. Lançou um tapa brincalhão no meu
ombro quando a soltei.
Caminhei até o bar, dedilhando a caixa do anel em meu bolso.
Reformulando o discurso que eu planejara. Verificando se eu tinha
decorado as palavras certas.
– E aí, vai falar agora?
– Falar o quê? – Levantei uma sobrancelha para Höfler.
– Pedir Mina em casamento. E nem inventa de negar.
– Shh! – Puxei-o pelo braço, observando ao redor. – É surpresa!
Vai estragar tudo!
– Não vou. Só queria te pedir uma coisa – explicou, manso.
Devon me fazendo um pedido de forma educada era o tipo de coisa
que chamava minha atenção.
– O quê?
– Pode pedi-la em casamentoamanhã?
– Por quê? – Ergui os ombros, levemente ultrajado com a
intromissão.
– É porque a gente fez um bolão –justificou baixinho.
– É claro que fizeram.
– E eu apostei que ia pedi-la no dia depois da festa.
– É claro que apostou. Não vou mudar meus planos para pedir minha
namorada em casamento porque vocês são um bando de desocupados
viciados emjogos.
– Você me deve uma, Strome.
– Por qual motivo?
Apertou os lábios. Ele não se atrevia a proferir as palavras.
Respirei fundo… Com Mina, eu me tornei uma pessoa diferente.
Uma pessoamais adulta do que antes. Ela diz que não e ri de mim. Mas
percebo amudança em situações como essa.
– Se amava tanto sua mulher, nãodeveria tê-la traído, Dev.
– Não estou te culpando, Ryker.Encarei-o com descrença.
– Não estou te culpando mais – acrescentou. – Sei que foi culpa
minha. Mas você teve uma participação nisso.
– Está dizendo que vai deixar o rancor para trás se eu atrasar meu
pedido de casamento?
– É um bolão bem gordo. – Acenou.
– Não posso prometer nada. – Ri.
Ele deu dois tapinhas de “parabéns” no meu ombro antes de se
afastar.
– E vocês dois? – Mina enlaçou minha cintura com o braço. –
Sobre o que estavam fofocando?
– Coisas de homens. – Devolvi a brincadeira, estirando a língua.
Ela me beijou e eu fechei os olhos. Deixei
minhas pálpebras pesarem para mostrar a todos os presentes o
quanto eu a amava.
A minha pequena tímida descarada. Acariciei seu rosto ainda
entretido no beijo, puxando-a para bem perto, apertada no meu peito.
– Quero te perguntar uma coisa – suspirei, ainda considerando o
pedidode Devon.
– É? O que foi? – Sorriu.Linda.
Tão linda.
Aquele sorriso deslumbrante quefazia o tempo parar.
Eu te amo tanto.
– Vou te perguntar amanhã – decidi,sorrindo.
– E falou agora só para me deixar curiosa? – Beliscou meu braço,
indignada.
– É.Você fica linda quando curiosa – provoquei.
– O que é? Ryker! Uma dica!
– É uma coisa… – Encarei o teto na tentativa de ser o mais abstrato
possível.
– Quero saber se você quer fazer uma coisa comigo.
– Humm! – Considerou, tocando oqueixo. – E vai ser uma primeira
vez? – Riu, sapeca.
– Vai.
– E vou querer repetir? – Havia umasafadeza delicada no seu tom.
– Não. – Balancei a cabeça, fingindodecepção para confundi-la. – É
o tipo de
coisa que você vai querer fazer uma vezsó e nunca mais!
– Tudo bem. Eu quero – decidiu,envolvendo meus ombros.
– Mas você ainda nem sabe o que é! –Ri.
– Não importa. Se é uma primeira vez com você, é claro que eu
quero. – Beijou minha boca demoradamente. Um carinho sempre
misturado a uma pitada de safadeza. – Vai dar tudo errado! – exagerou,
sorrindo. – Mas no fim, vaiser perfeito.
Epílogo
Alguns meses depois Dois dias.
Em dois dias, eu seria uma mulher casada.
Isto é, se eu conseguisse superar a ressaca em 48 horas.
Lucy enfiou uma taça de champanhe nas minhas mãos e convocou o
brinde, me forçando a beber um único gole, como manda a etiqueta,
antes de abandonar o resto. Disparei um punhado de amendoins à boca,
temendo pelo vazio do meu estômago.
A ideia de celebrar a despedida de
solteira foi divertida. Infelizmente, não se pode afirmar o mesmo
sobre a ideia de visitar todas as boates na rua para engolir todos os
drinques do cardápio que englobassem a palavra “sexo” nonome.
Sexo na praia. Sexo no elevador. Sexo no fogo. Sexo febril. Sexo
vermelho. Sexo rosa. Sexo azul. Sexo maluco. Sexo Infernal. Sexo
Angelical. Sexo entre garotas.
Muitas coisas podiam faltar em um bar, mas a palavra “sexo”
realmente nãoera uma delas.
E nós bebemos.E bebemos.
Desisti da brincadeira no terceiro lugar que entramos, usando todas
as
técnicas conhecidas para me livrar de um copo de bebida. Até
inventei umas novas.
Quando finalmente voltamos à imensa suíte cinco estrelas
especialmente reservada para a ocasião, Elise já beirava as perigosas
imediações em quea embriaguez demanda nudez. O casacodesapareceu
em algum lugar entre o Sexo Angelical e o Infernal, o que era
igualmente poético e apropriado. O resto das roupas ficava cada vez
mais alheio ao seu corpo e, quando minha melhor amiga começou a
reclamar do calor, aumentei a ventilação do ar condicionado, antes que
ela resolvesse se despir apenas para se arrepender no dia seguinte.
Entre as garotas da boate, a
amiga de infância e as colegas de trabalho, somávamos quinze
mulheres espalhadas pelo sofá e tapetes da luxuosa antessala da suíte.
Estourando garrafas de champanhe e prendendo na minha cabeça o
minúsculo véu que se recusava a cooperar. Denny, uma de minhas
colegas de trabalho mais chegadas, já tinha bebido o suficiente para
ultrapassar a barreira da vergonha e me puxava pelo braço para
confessar o quanto ela achava meu noivo gostoso. Preferi ignorar, não
apenas porque eu tinha noção que o efeito do álcool a deixaria sem
graça no dia seguinte, mas também porque minha atenção estava
dedicada a manter Elise vestida.
– Mina, deixa ela ficar pelada –
Tonya reclamou, virando a taça de champanhe e servindo-se de mais
uma. – Ela está bêbada e só tem mulher aqui. Se ela quer ficar pelada,
deixa ela ficar pelada. Lucy não vai dar em cima dela.
– Riu alto.
Lucy riu baixinho, mas Nila não gostou da brincadeira. Com o braço
envolto na cintura da namorada, Nila resmungou em holandês, palavras
que não compreendi, mas que, pela entonação, só poderiam ser ofensas.
– A Mina é controladora mesmo quando está exalando álcool pelos
poros. – Elise me abraçou, estalando um beijo na minha bochecha. –
Pare de se preocupar! Divirta-se! Depois de amanhã você será uma
mulher casada!
Um único homem pelo resto da vida!
– Como uma pessoa pode querer um único homem pelo resto da
vida? – Tonya balançou a cabeça.
– Como uma pessoa pode querer um homem pelo resto da vida? –
Lucy provocou e Nila a beijou com carinho. Na comoção da ausência
de Spider, Lucy e Nila tinham encontrado, uma na outra, uma amizade
sutil e um amor furioso.
– Ryker é mais que homem suficiente pra me manter ocupada. – Ao
meu redor, minhas amigas riram, crentes que se tratava de uma
brincadeira. Entretanto, quando ofeguei, foi por verdadeiro cansaço.
– Não duvido. – Denny largou-se em
um dos sofás. – Se eu tivesse aquele homem, eu o lamberia todinho,
toda noite. Tá ali um gosto que eu não ia reclamar em repetir. – Riu.
Cerrei os olhos, me controlando para não lhe oferecer uma careta e
um murro. Tudo bem que ela estava bêbada e iria se arrepender
amanhã, mas se ela continuasse a citar as atividades que desejava
praticar com meu homem, eu afaria se arrepender no mesmo instante.
– Não vamos falar de Ryker! – Skye bateu palmas antes de me
abraçar, talvez percebendo que minha colega não estava sendo
exatamente educada. – Qual é o problema de vocês? Querem falar de
marido na despedida de solteira da menina?
– Tá. – Nila sorriu. Ela tinha um sorriso perigoso, como se sempre
estivesse planejando algo que envolvesse safadeza. Uma versão
feminina do sorriso descarado e sem-vergonha de Ryker. – Então, acho
que está na hora da surpresa?
– Que surpresa? – Estreitei os olhos. O que mais poderia haver? Até
ali, minha despedida de solteira já tinha envolvido galões de bebidas,
apostas, brinquedos eróticos e conversas sobre sexo em público. Tinha
rolado até mesmo um striptease estrelado por Lucy e Skye em cima do
balcão de um dos bares que, apesar de ter feito a noite de muitos
rapazes e ter deixado algumas de minhas colegas de trabalho coradas,
não
pode ser classificado como algo “especial”, a considerar de quem
estávamos falando.
– Pra começar a festa. – Tonya piscou um olho para mim e Skye
abriu a porta que dava para o quarto conjugado.
Tantos homens passaram pela porta aberta por Skye que perdi a
conta e a razão. Pareciam quase clones uns dos outros, não fosse a
ligeira diferença de altura e as cores dos cabelos. Os rostos cobertos
por máscaras, brancas e impessoais, cobriam-lhes da testa ao queixo.
Vestidos com paletós, gravatas e calças sociais que pareciam
esnobemente caras em seus cortes impecáveis, ao contrário da porcaria
barata de tecido vagabundo e velcro que
os meninos usavam no Lucky’s.
Lexa.
Meu olhar correu para ela, sentada em um dos sofás brancos e
felpudos. Sorvendo seu champanhe devagar. As pernas cruzadas
exibidas pelo decote na frente da sua saia justa. Parecia uma imperatriz
quando me ofereceu um brinde.
Strippers contratados por ela.
Entretenimento feminino de altíssimoluxo.
Sorri para mim mesma.
Por mais que parecessem chiques e caros... ainda eram strippers.
Ri, encarando as meninas.
– Desde quando strippers são “surpresa”? – Ri.
– Esses são caros! – Lucy dobrou o lábio. – Até eu, que não incluo
linguiça na minha dieta, estou curiosa para assistir.
– Acho que Mina merece uma dança sensual só pra ela, de um cara
que não seja o Ryker, hein? – Skye percorreu a fila, analisando
rapidamente as opções antes de segurar um deles pela mão e conduzi-
lo até mim. Os outros strippers se espalharam pela sala, divertindo a
todas. Não consegui ignorar o indicador elegante de Lexa, erguendo-se
no ar, indicando ao stripper ajoelhado aos seus pés que fosse entreter
outra dama.
Então, minha visão foi tomada pelo stripper aleatoriamente
escolhido por Skye, que me guiou pela cintura,
sentando-me na poltrona quase no meio da sala. Com as pernas
entreabertas, ele rebolou de maneira sensual, despiu opaletó e ergueu a
camisa social, retirando-a da proteção das calças, ainda sem exibir
nenhum pedaço de pele.
Eu adorava quando Ryker dançava daquele jeito para mim. Aquele
jeito de rebolar parecendo que o homem está fodendo o ar e faz
imaginar todo aquele movimento por cima de você, na cama. É comum
que as mulheres associem dança a sexo e, pelo menos no meu caso, era
inevitável. Ryker rebolava e eu o imaginava se enfiando em mim.
Minhas coxas de espremeram à medida que o stripper causava em
mim efeito
semelhante, levando-me a amaldiçoar meu plano idiota.
Um mês sem sexo antes do casamento. Sei que tive um motivo por
trás dessa decisão, mas pela graça dos céus, eu
nunca conseguia lembrar qual era.
O lado bom é que Ryker tinha uma capacidade seletiva de
entendimento e, quando sugeri “um mês”, ele escutou “duas semanas”.
Assim, trabalhou arduamente para me convencer que era ele quem
estava certo, de modo que, em vez de trinta longos dias, tive que
sobreviver a apenas quinze à abstinência.
Skye e Lucy seguraram minhas mãos, forçando-me a explorar o
tórax rígido do dançarino por cima de sua camisa e
algo dentro de mim se contraiu, querendo mais. Ele parece ter
notado minha intenção como um convite e se aproximou, me levantou
da cadeira, apertou minha cintura e desceu as mãos até quase atingir
minhas nádegas.
Seu aperto foi familiar, porém indecoroso, e eu o empurrei com uma
negativa, assim como Lexa tinha feito, deixando claro que estabelecera
um limite que não deveria ser ultrapassado. Ele ergueu as mãos,
rendido, dedicando seu foco e seu delicioso rebolado a uma de minhas
colegas ao seu lado.
A gravata permanecia presa ao pescoço quando seus dedos desceram
pelos botões, abrindo-os e expondo o peitoral másculo. Algo na
situação me
incomodava e não demorei a descobrir oque era.
Foi o modo como ele me envolveu com os braços. Como apertou
minha cintura. Como suas mãos gulosas se adiantaram na direção de
minha bunda. Era seu cheiro, sua altura, a cor do cabelo.
Então, a camisa se foi e o jeito com o qual despiu um tórax que eu
conhecia melhor que o meu destruiu a pouca dúvida que ainda me
restava. Ryker fazia essa coisa com os braços e os ombros quando
tirava a camisa. Movia- os devagar, abrindo-os, numa espécie de
convite para tocá-lo e lambê-lo só por estar despido.
Denny tinha uma mão erguida na
direção do seu peito.
– Ei, ei, ei – reclamei, chamando sua atenção. Ele parou a dança,
virando o rosto ainda mascarado para mim. – O senhor pode voltar pra
cá – ordenei, impaciente, com um movimento do indicador.
Ele curvou o rosto, ainda acreditando em seu anonimato e caminhou
de volta para mim, fazendo cada passo balançar de um jeito sensual
que ardia minhas entranhas. Parou na minha frente, as mãos
mergulhadas nos bolsos, a coluna levemente curvada para ficar da
minha altura. Enrolei sua gravata em uma das mãos.
– Me deixou com tesão e vai embora?
– Segurei o sorriso para não entregar a
brincadeira. – Onde já se viu? Deixar uma pessoa excitada e virar as
costas? Absurdo.
Desferiu um passo adiante e hesitou antes de tocar minha cintura
mais uma vez.
As mãos fortes apertaram minha carne.
Meu Ryker.
Meu Ryker bobinho. Achou mesmo que ia conseguir se esconder?
Sua máscara próxima ao meu ouvido. O sussurro abafado, rouco, mas
audível.
– Está com tesão? Acho que seu noivonão deve estar fazendo um bom
trabalho. Foi impossível não rir, enquanto ele se esfregava em mim.
Eu conhecia bemo movimento do seu corpo, a pressão de
sua mão contra a parte baixa de minhas costas, unindo nossas
virilhas.
– Ah, ele não dança muito bem – falei alto. – Depois que virou
escritor, perdeu a prática e ficou enferrujado. Desaprendeu tudo. Agora,
quando ele tenta dançar parece uma minhoca nervosa.
Ele travou imediatamente e, apesar da máscara, eu conseguia sentir
sua decepção. Os ombros tesos e rígidos.Sequer respirava.
– O que houve? – indaguei, sonsa.
Ele apenas balançou a cabeça indicando que não havia problema e
voltou a dançar. Dessa vez, sustentou uma dança nervosa e inquieta.
– Estava dançando melhor antes,
senhor – provoquei. – Mas deve ser porque está respirando do jeito
errado.
– Ele interrompeu sua dança assim que ouviu minhas palavras. – Se
estivesse respirando do jeito certo, estaria me fodendo. – Assisti à
queda de seus ombros, indicando um tipo diferente de decepção, e não
consegui controlar o riso. – Mas não! – ironizei. – Você precisava
respirar do jeito errado e estragar minha dança erótica. – Levantou o
rosto mascarado para o teto antes de se afastar um pouco.
– Você sabe – afirmou, frustrado.
– Quase certeza. – Espremi os lábios. Desabotoei sua calça, enfiando
a mão por dentro de sua cueca.
Ele tinha as mãos nos bolsos e tive
certeza que estava rindo.
– Um pau. – Lembrei de outro de nossos momentos.
– Não está constrangida? – brincou.
– Nem um pouquinho. – Encarei os olhos verdes fixos em mim,
deixando-o perceber que, apesar do público ao nosso redor, eu era uma
mulher diferente agora. Ele tinha me transformado em uma mulher
diferente. Uma sem- vergonha assim como ele. Desbravei seu membro,
da cabecinha às bolas, sentindo-o se esticar na minha mão. Ele gemeu
baixinho. – Pronto. – Soltei-o e ele se moveu, chateado. – Agora eu
tenho certeza.
Esperou apenas um segundo antes de me agarrar pela cintura,
girando no ar.
Removi sua máscara com cuidado, apenas para descobrir aquele
rosto que eu amava mais que qualquer outro.
– Aí está ele – sussurrei, raspando nossos narizes. – Minha minhoca
nervosa.
Ryker beijou minha boca, pousando- me no chão.
– Ei, isso não vale! – Lucy reclamou e eu vi Skye sorrir, sugerindo
que sua escolha de stripper não tinha sido nem um pouco aleatória. –
Ele não vale!
– Boa noite pra vocês – desejou depressa, antes que Lucy pudesse
impedi-lo, agarrando minha mão e me puxando para dentro do quarto.
– Só mais dois dias! – implorei, quando ele me prendeu contra a
porta
fechada, beijando meu pescoço. Seu quadril ainda mantinha um
rebolado proibido que me fazia tremer em todos os lugares errados.
– Você tem as piores ideias – resmungou, ainda com a boca enfiada
nacurva do meu pescoço.
– Falou o homem que tentou fazer um striptease anônimo pra mulher
que transacom ele há mais de um ano.
– Como conseguiu perceber? – Abriuos olhos, sua chateação relativa
ao plano falho era perceptível.
– Quer dizer que você não conhece meu corpo de cor e salteado?
Ele fechouos olhos e grudou nossas testas.
– Cada centímetro dele. – Sorriu sozinho e eu o beijei. – Ah, Mina,
chega
desse negócio de esperar, por favor! – Simulou uma dancinha
cômica de desespero, se esfregando em mim e eu belisquei sua bunda.
– Você e essa sua mania de me fazer esperar. – Entrelaçou nossos
dedos, ranzinza.
– Só mais um pouquinho, amor. – Mordi seu lábio inferior.
– Tá – resmungou. – Mas não aperta meu pau, né? Você quer
esperar, mas apertando meu pau fica difícil. Desse jeito não dá certo,
mulher.
Ri, aprofundando as mãos em seus cabelos e apertando-o em meu
abraço.
Sexo não ia acontecer, mas beijos não estavam fora dos limites e nós
dois não nos poupamos.
Um beijo que se prolongava e
aquecia.
– Amor... – gemeu, entre os beijos. – Amor... quero te pedir uma
coisa. – Era um murmúrio quieto. Quase tímido. Receoso.
– O que foi?
Segurou meus braços, encarando o chão.
– Um dos caras lá fora – suspirou. – Foi uma indicação de Lexa. Ele
é garotode programa. Ela disse que ele é muito bom. Profissional.
– Ele quer um emprego no Lucky’s? Eu só volto pra lá no próximo
semestre,Ryk, mas posso...
– Não, não. – Oscilou a cabeça. – É que... – Bagunçou os cabelos
com as mãos e me puxou para a cama. Não
houve lascívia quando se sentou sobre os lençóis. Apenas aquietou-
se de modo a contemplar o chão por um segundo, convidando-me para
ficar ao seu lado. – Você só ficou comigo a vida inteira. – Apertou
minha mão. – Isso me incomoda. Me incomoda que você não conheça
como é ficar com nenhum outro homem. Me preocupa que um dia isso
setorne algo desagradável pra você. Algo insuportável.
– Ryker... – Engoli em seco, compreendendo o rumo da conversa.
– Você está errado.
– Você não sabe como é. – Virou-se para mim com carinho. – Não
sabe porque nunca ficou com outro homem. Não tem com o que
comparar. Tenho
medo que um dia você olhe ao redor, decida que não sou mais o
suficiente e se pergunte como outros homens poderiam ser. Esse tipo
de pensamento gera frustração, Mina, gera curiosidade.
– Ryker! Ficou louco? Está preocupado com um problema que
pode ou não acontecer daqui a sabe-se lá quanto tempo? É um
problema muito improvável. – Fiz uma careta.
– Essas coisas acontecem em crise de meia-idade! Vai que você
repense sua vida e fique nervosa porque só ficou com um homem toda a
vida.
– Sua irmã tem alguma coisa a ver com essa conversa? Porque ela
não parece o tipo de pessoa que concordaria com isso.
– Não. Só pedi a indicação de umprofissional.
– E ela não imaginou que seria praisso?
– Você sabe como é a Lexa, amor. Orelacionamento dela é aberto.
Esse tipo de coisa, pra ela, é normal. Talvez ela imagine que a gente
também... Parei por alguns instantes, o olhar fixo no seu, à espera
do momento emque ele anunciaria que tudo não passarade uma
brincadeira. E quando esse momento finalmente
chegasse, ele iria
apanhar.
Mas o momento não veio e Ryker seguardou em silêncio.
– Está falando sério? Quer chamar um estranho lá fora para
transar com a gente?
– Eu já fui um estranho que você convidou pra cama. E não seria
com a gente. Seria... pra você. Ele faria o que você quisesse. Eu posso
ficar ou... – engoliu em seco, sua ereção minguava à medida que o
assunto avançava, deixando claro o quanto a conversa o incomodava –
...posso sair. Como você preferir. Mas acho que você precisa dessa
experiência. Acho que... – respirou fundo – ...precisa conhecer outro
homem. Para ter certeza que o melhor sou eu. – Sorriu, ensaiando uma
brincadeira cuja graça nunca atingiu seus olhos.
Ele estava racionalizando. Racionalizando sexo, que era o que
ele conhecia. Tentava antecipar sentimentos, algo que nunca foi sua
zona de conforto. Era lindo que ele quisesse se submeter a algo assim
por mim. Pelo nosso relacionamento. Mas também era idiota. Como a
maior parte das coisas que Ryker fazia quando se tratava de lidar com
emoções.
– Você é um idiota. – Beijei sua boca.
– Não quero.
– Mina. – Inclinou-se, abraçando a si mesmo. – Deixa pelo menos o
cara entrar? Olha pra ele. Deixa ele... – Engoliu em seco de novo,
como se algo lhe ardesse a garganta. – Deixa ele... – Gesticulou para o
meu corpo, o movimento parecia causar-lhe dor. – Deixa ele tocar em
você. Se não quiser,
tudo bem. Mas acho que pode gostar. Pode tentar? Eu me sentiria
melhor.
– Você é um idiota! – Não havia raiva na minha voz, apenas carinho.
– Se sentiria melhor se um homem transasse comigo antes do nosso
casamento?
– Me sentiria melhor se você tivesse experimentado outros homens
antes do nosso casamento para que não ficasse curiosa para
experimentar depois. Não estou afirmando que é certo, Mina. Mas é
realmente tão incompreensível? – murmurou.
Mordi o lábio, tentando respirar fundo.
– Tudo bem. Mande-o entrar.
Ele se ergueu e abriu a porta, convidando o estranho a se juntar a
nós.
– Ele pode ficar com a máscara. – Ryker parecia miúdo e reduzido,
apontando para o estranho com o polegar. – Para manter as coisas num
nível mais impessoal. Ou pode tirar, se você preferir. – Sua voz falhava
até quase desaparecer. As mãos enfiadas embaixo das axilas, como se
ele temesse que, ao liberá-las, fosse capaz de avançar e esmurrar o
estranho assim que ele me tocasse. – Só não o beije, tá? – sussurrou.
Ficou parado no canto enquanto o mascarado avançava pelo quarto.
Seus olhos castanhos eram intensos e sedutores. Tão intensos que,
mesmo que ele tirasse a máscara, seria possível que eu não enxergasse
qualquer outra parte
de seu rosto além de seus olhos.
Tocou minha cintura e, por um instante, temi que fosse idêntico.
Igual a Ryker. Me assustaria notar que eu não conhecia o toque do
meu homem, reduzindo-o a um mero toque, considerando-os todos
iguais.
Mas seus dedos atingiram minha carne e eu sorri.
Era pesado demais, desagradável. Sua ereção chegou rápida, suas
mãos escorreram pelas minhas costas, pressionando seu peito contra
meus seios e...
Não... não, não, não.
Minha vagina ressecara. Parecia uma esponja, sugando de volta para
dentro do meu corpo cada gota de lubrificante
liberado apenas para Ryker. Meu corpo não parecia capaz de ficar
molhado ou relaxado para qualquer homem que não fosse Ryker. O
mascarado tocou minhas coxas e sua rouquidão ecoava em meus
ouvidos, sussurrando palavras que me deixavam mais constrangida que
excitada.
Era o nervosismo de véspera de prova mais uma vez. Até mesmo
sua boca, mesmo que protegida pela máscara, me incomodava. Perto
demais do meu corpo.
Ryker tinha sido estranho um dia. Ryker tinha me tocado em um
quarto de hotel quando eu não sabia nada além de seu nome e sua
ocupação.
Mas não foi daquele modo. Havia
algo nos olhos do meu Ryk que eram diferentes da intensidade dos
castanhos que agora me observavam. Algo que mepromovia excitação.
Mas o castanho era diferente. O contexto era diferente.
Sorri ao ver Ryker rígido no canto do quarto. Ele me devolveu um
sorriso amarelo de incentivo. Não tinha compreendido o motivo da
minha risada.
Empurrei o dançarino com educação.
– Obrigada. – Acenei. – Já pode ir.
Ryker estava ao meu lado em um instante.
– Algo errado? Ele fez algo que você não gostou? O que ele fez? –
Me tomaranos braços.
– Calma. Obrigada. – Indiquei a
porta. O desconhecido apenas gesticulou uma breve reverência para
nós dois e se foi. – Não é culpa dele, Ry. É culpa sua.
– Minha? – Ele me soltou para enfiar as mãos de volta embaixo das
axilas. Eu conseguia sentir o cheiro forte do seu ciúme e desconforto. –
O que eu fiz? Eu estava quieto ali no canto e olha que nãofoi fácil!
– Culpa sua por ter me estragado, seu idiota. – Revirei os olhos. – Eu
ia fazer uma piada. – Gesticulei e ele respirou, compreendendo. – Você
foi o primeiro homem com quem fiquei mas me estragou de um jeito
que não me dá vontade de ter mais nenhum. – Apoiei- me em seus
ombros, abraçando-o devagar. – Acho que algumas mulheres
têm esse azar – provoquei. – De encontrar o idiota certo logo de
primeira. Tira a diversão de procurar outros idiotas – expliquei devagar
e ele riu. – Mas a gente ganha tempo. E você sabe que, pra mim,
eficiência vem em primeiro lugar. – Pisquei um olho.
– Tem certeza?
– Amor – Gargalhei baixinho. – No que você estava pensando? A
gente nem namorava quando Devon me tocou no palco e você lhe deu
um murro. Você me viu nua na cama do Allender e depois nem
conseguia olhar pra mim! A gente transou na frente de todo mundo no
banheiro do bar, mas no segundo que o cara do casal ao lado tentou me
tocar, você me agarrou e me levou para longe
de lá antes que eu percebesse o que tinha acontecido. Você é
exibicionista e nunca se incomoda com público. Mas nosegundo em que
alguém me toca, você começa a passar mal.
– Não gosto – resmungou, dando de ombros. – Mas não sou seu
dono.
– Ninguém acha isso, amor. Mas você é ciumento. No que estava
pensando quando resolveu sugerir que eu ficasse com outro homem?
– Você precisa experimentar, Mina. Não é certo uma mulher
conhecer só umhomem na vida.
– E certo é você querer definir o queé bom ou ruim para mim?
– Você não sabe porque só transou com um. Ter parceiros
diferentes é uma
experiência importante.
Travei os lábios, sentindo a irritação que finalmente me atingiu.
– Strome, senta aqui. – Indiquei a cama e ele obedeceu, cansado. –
Você e seus amigos confundem liberdade sexual com necessidade
sexual. É a minha virgindade, tudo de novo! – reclamei. – Perder a
virgindade cedo, perder a virgindade tarde, perder a virgindade em
uma grande ocasião com o homem dasua vida, perder a virgindade com
um desconhecido em um bar... Não faz diferença! O que importa é o
que a pessoa quer. É o que nos faz bem. – Segurei seu rosto em minhas
mãos. – Não é porque prezamos a liberdade sexual que devemos
cumprir todos os
quesitos da lista de “sexo livre”.
Ryker apertou minha mão com carinho, beijando o canto da minha
boca. Não devolvi o beijo, porém, assim que ele se afastou, passei o
polegar pelos seus lábios deixando-o beijar meus dedos. Apoiei um
joelho de cada lado de seu quadril, estirado sobre a cama. Pressionei
meu nariz contra o dele, montada em seu colo. Fechou os olhos,
inspirou meu cheiro. Coloquei seu pescoço entre minhas mãos em
busca de sua boca.
– Gosto de sexo safado e exibicionista. – Ri, Ryker não abriu os
olhos, ainda procurando minha boca. – Mas só gosto de sexo com você
– admiti com um sussurro. – Se a mulher transa
com três homens por noite ou se transa com um só a vida inteira,
também não faz diferença! Desde que seja a vontade dela. O que lhe
faz bem. E eu... – Beijei sua boca. – Eu sou apaixonada pelo meuidiota
e não quero outro. Obrigada. Entendeu? Ou quer que eu use palavras
mais fáceis?
– Tanto faz. – Raspou a língua no meu queixo. – Não consegui ouvir
mais nadadepois do “sexo safado e exibicionista”.
– Ah, é?
– Humm. – Seu gemido de concordância se transformou em um
gemido de algo mais e suas mãos estavam apertando minhas nádegas,
por baixo do vestido. Eu me movi em seu colo, montando em sua
ereção e
estimulando-a com minha virilha. Ryker apertou minha cintura com
força suficiente para atrapalhar minha respiração. Escorreguei minha
língua pela sua garganta, bebendo sua saliva, piscando os olhos
pesados, me entregando ao momento. Toque rápidos de lábios
molhados e olhos abertos, Ryker me observou com um meio-olhar. Me
desejando. Implorando. Beijos intensos de bocas sedentas e olhos
cerrados. Segurando-o pelas orelhas, engoli sua aflição. Agarrei seu
pescoço e ele se levantou, pegando-me por baixo dos joelhos antes de
me jogar de volta na cama.
– Amor, dois dias para o casamento –lembrei, rindo.
– Que casamento, senhorita? – Ele riu. Muito, muito safado. – Eu só
fui contratado para vir até aqui. Dançar pra você.Te deixar molhada.
Te comer, se tivesse a chance. – Lambeu meu queixo.
– A senhorita está noiva? – Beijou meu pescoço, raspando os dentes
na minha pele, me fazendo suspirar até transpirar.
– Seu noivo tem coragem de te deixar sozinha assim, às vésperas do
casamento? – Ele se pôs a me despir, com os dentes no meu mamilo.
– Ah, fiz um acordo com ele – gemi. – Nada de sexo por um mês
antes do casamento.
– E ele aceitou esse absurdo? – Fingiu estar chocado.
– Deu trabalho.
– Imagino. – Engoliu um de meus seios. – Não deve ser fácil abrir
mão de ter esses peitinhos lindos na boca. – Mordiscou a carne ao
redor da auréola.
– Mas ele acabou aceitando. – Apertei minhas pernas, sentindo-o
entre elas. Crescendo. Esfregando-se em uma parte que ficava mais e
mais sensível.
– Como pode um homem aceitar um acordo desses? Deve ser um
idiota. – Riu.
– É o que eu vivo dizendo – provoquei e ele me mordeu no seio,
com um pouco mais de força. – Ai! – Ri, dando-lhe um tapa no topo da
cabeça.
– Mas é um idiota que sabe dançar? – Voltou para minha boca e
apenas consegui gemer em resposta. – E comer?
Ele sabe te comer?
– Como ninguém – gemi, desesperada. Ryker tinha tirado minha
calcinha e despido meu vestido. Eu já estava abertae encharcada.
– Ah, então é um desafio. Tenho que te foder melhor do que ele, não
é isso? Para você se despedir da vida de solteira antes de casar com o
idiota?
– Vai ser difícil. – Balancei a cabeça.
– Ninguém jamais me enlouqueceu como ele. Em cima da cama ou
fora dela. Eleé o único que me deixa molhada.
– Humm... – Deslizou a boca pelo meu estômago, me fazendo
arquear as costas enquanto ele agarrava meus seios.
– Se você não ficar molhada sozinha, vamos ter que fazer algo a
respeito.
Sua boca atingiu o meio de minhas pernas. Eu estava pingando tão
incontrolavelmente que, quando sua língua me atingiu, suas lambidas
mais removiam meu suco do que me molhavam. Contudo, sua saliva
em minha pele causava um eterno efeito sobre minha libido e eu
explodi. Enfiei as mãos em seus cabelos só para gemer seu nome.
– Quem é Ryker? – Beliscou minha bunda à medida que afundava o
nariz emminha bocetinha. – Sou só um stripper, senhorita.
Ryker me engolia pela vagina enquanto prosseguia com sua
brincadeira de interpretação. Eu urrava baixinho e ele me lambeu e
mordeu até
me fazer atingir o limite, de modo que mal me penetrou e eu atingi
um orgasmo violento. Seu movimento continuou enquanto ele me
cobria com seu corpo. Exatamente como a dança que tinha me
oferecido: movia as nádegas em golpes fluidos e constantes, me
fodendodevagar, me impelindo a arreganhar pernas e boca mesmo que
o orgasmo já tivesse me atravessado. Algo voltou a se formar em meu
estômago. Intenso e poderoso. Agarrei seus cabelos com força.
– Humm... mais um? – Ele mordeu o lábio, se segurando para não
terminar. – Com dois seguidos assim, acho que eu ganho do idiota,
não?
Eu quis continuar a brincadeira, mas o
grito foi mais forte que eu. Berrando seu nome a plenos pulmões, eu
estava certa de que o resto da festa nos escutaria semproblemas.
Ele me beijou e gemeu na minha pele. Meu nome misturado com seu
sentimentode posse.
Mina... Minha...
Mordi seu queixo largo, sentindo sua barba por fazer furar meus
lábios. A explosão de alívio foi ainda mais forte que a anterior,
sentindo-o derramar seu prazer dentro de mim.
Ryker resfolegava, visivelmente sem ar. Uma gota de seu suor
escapou de sua testa para a minha antes de ele grudar nossos rostos em
um beijo ainda ofegante. Ele não saiu de mim e as
palavras que escaparam de seus lábios foram mais doces que seus
lábios em si.
– Sou teu – sussurrou. Tão baixo. Tãodoce.
– Eu sei. – Acariciei seu rosto, apenas para ter minha mão roubada
por sua boca e, assim, coberta de beijos. – É por isso que não quero
mais homem nenhum.
Ele sorriu e se voltou para a cama, saindo de mim. Nos deitamos um
sobre o outro, uma mistura de corpos tão completa que era difícil
determinar se quem me abraçava era ele ou se era eu quem o envolvia.
Corpos entrelaçados.
Entre beijos e sorrisos, olhares e confidências, nos esquecemos das
pessoas que nos aguardavam do lado de
fora.
Eu e Ryker.
Era isso que acontecia.
Nós esquecíamos todo o resto. Entrelaçados, nós deitamos.
Entrelaçados, nós esquecemos.
E entrelaçados, nós dormimos.
Naquela e em todas as outras noitesde nossas vidas.

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