Você está na página 1de 110

Copyright © 2022 Bruna Eloísa

Capa: Larissa Chagas


Foto de Capa: Adobe Stock
Diagramação: Bruna Eloísa
Revisão: Vitor Matheus
Betagem: Ana Julia Gomes, Luiza Carvalho e Maria Clara Ronda
Composição: Heitor Lobo
Ilustração: Amanda (@ehmandinha)
 
 
Esta é uma obra literária de ficção. Todos os personagens, estabelecimentos
e acontecimentos retratados são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com pessoas e acontecimentos reais é mera coincidência. Todos
os direitos são reservados à autora.
São expressamente proibidas a distribuição ou reprodução de toda ou
qualquer parte desta obra por qualquer forma, meio eletrônico ou mecânico
sem a prévia permissão da autora.
Plágio é crime!
Esta obra segue as regras do Novo Acordo Ortográfico.
 
 
 
 
 
 
Para todos os meus leitores.
Obrigada por acreditarem que Dean Crawford e Dakota Greer
mereciam um lugar especial em suas vidas.
 
 
 
 
 
 
Mesmo sabendo que não há tempo de sobra, eles escolhem viver a
versão mais bonita da vida.
— Rupi Kaur
 
NOTA DA AUTORA
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
“OLIVE BRANCHES”
 
 
Cá estamos nós novamente, mundinho Deankota!
Quando anunciei o conto de SHE, no ano passado, não fazia
ideia de como seria visitar esse universo novamente — depois de
mais de um ano longe. Dean Crawford e Dakota Greer, mesmo que
meses tivessem se passado, ainda martelavam na minha mente.
Apesar de ser de um jeito sutil, eles estavam lá.
E quando escrevi Antes de Você Dizer Adeus, foi inevitável
que a The Backdoor não aparecesse.
Esse conto, em primeiro momento, nem estava nos meus
planos. No entanto, eu sabia que havia certos acontecimentos que
não seriam narrados com a mesma intensidade se não fosse pelo
ponto de vista deste casal. Então, cedi e sentei em frente ao
computador, colocando suas vozes no papel.
As cenas que vocês vão encontrar em Both Of Us acontecem
três meses depois do epílogo de SHE, iniciando no mês de março e
seguindo ao longo de todo o ano. Vamos acompanhar não somente
o relacionamento da Dakota e do Dean, mas também rever os
nossos personagens favoritos.
ATENÇÃO: Both Of Us é recomendado para maiores de 18
anos e contém cenas de sexo implícito e explícito, nudez, consumo
de álcool e linguagem imprópria.
Sem mais delongas, desejo a todos uma ótima leitura. Espero
que apreciem um pouquinho mais desse incrível casal!
 
Com carinho,
Bruna Eloísa. 
 
 

 
Março, Nova York
A vida é boa.
Às vezes, até demais.
E, em alguns momentos, ela é um tesão.
Já no meu caso, arrisco dizer que faço parte da mínima parcela
da população de Nova York que consegue ter a vida que sempre
sonhou. Ou, pelo menos, um pouco perto disso.
Moro em um apartamento legal com a minha namorada, tenho
uma banda que está seguindo, aos poucos, em direção ao sucesso
e uma família que amo muito. É claro que existem percalços no
caminho — a relação com o meu pai é o maior exemplo disso, mas
buscar entender os limites de cada um e respeitá-los já é o começo
de algo.
A única coisa que vai de mal a pior é que Dakota Greer é viciada
em fazer compras de decoração. E hoje, faltando dois dias para o
meu aniversário, nós estamos em uma loja em que tudo se resume
a enfeites, velas coloridas e balões em formatos esquisitos.
Chega a ser aterrorizante.
— Consigo perceber sua careta a mil quilômetros de distância —
Dakota diz ao virar levemente o pescoço para trás, me lançando um
dos seus olhares frios. — Daqui a pouco, vão achar que você está
com dor. Tal qual o Jasper Hale em Crepúsculo.
— Eu, com certeza, estou com dor estilo Jasper Hale —
murmuro. — E isso é inteiramente culpa sua.
Seus lábios se esticam em um sorriso debochado, revelando os
dentes perfeitamente alinhados.
— É claro que sim — ironiza. — Nós somos um casal, ou seja,
temos que fazer absolutamente tudo juntos, inclusive as compras
para a sua festa.
Bufo em descontentamento e gemo baixinho em uma súplica
para que essa tortura acabe de uma vez por todas.
A vida, neste momento, é tudo, menos um tesão.
A única resposta de Dakota é dar risada e saltitar pelo corredor,
sua animação quase chegando a ser palpável. Se ela fosse o
personagem de um desenho animado, não tenho dúvidas de que
estrelinhas e coraçõezinhos brilhosos estariam flutuando ao seu
redor, combinando-se com uma música instrumental de péssima
qualidade. 
Escondo as mãos dentro da jaqueta e permaneço os
próximos minutos em silêncio, apenas observando-a. No carrinho de
compras, há uma toalha de mesa cafona, velas coloridas e
chapeuzinhos de papel.
Da última vez que viemos até a Alice’s, Dakota comprou uma
torre giratória para cupcakes e copos personalizados. Quando
voltamos para casa, eu só conseguia pensar que minha namorada
não iria se contentar só com isso. E nunca estive tão certo: duas
semanas depois, estamos aqui novamente, caminhando por esses
corredores que nunca parecem ter fim.
— Qual dos dois você acha mais bonito? — sua voz animada
me puxa de volta para a realidade. Ela está segurando dois balões,
em um formato bizarro de guitarra, lado a lado. — Azul ou
vermelho?
Arqueio a sobrancelha.
— Você quer que eu seja sincero?
Ela revira os olhos.
— É claro que sim, Crawford.
Sorrio em provocação.
— Os dois são a coisa mais feia que já vi, pequena Greer.
Ela pragueja um palavrão e coloca os dois balões de gás
dentro do carrinho.
— Onde eu estava com a cabeça quando me apaixonei por
você? Bem que dizem que o amor é cego.
Estico o braço e encaixo os polegares nos passadores de sua
calça jeans, puxando-a para mais perto de mim. O costumeiro
perfume chega até as minhas narinas e o inspiro, apreciando a
sensação, ao mesmo tempo em que uma risada baixa me escapa.
Dakota pousa as mãos em meus ombros e faz um biquinho fofo.
Preciso me conter para não beijá-la.
— Você estava com a cabeça nas nuvens. Pensando em
mim, de todos os jeitos sujos e indecentes — sussurro e abaixo a
mão, apertando a sua bunda. Por sorte, o corredor está vazio. — Ou
talvez... Pensando em mim fazendo todas aquelas coisas que você
ama.
Dakota troca o peso dos pés e mordisca o lábio inferior. As
pupilas estão dilatadas e a respiração acelera um pouquinho. Meu
pau também começa a despertar por debaixo da calça, ansiando
pelo momento em que ficaremos a sós naquele maldito apartamento
cheio de decorações bregas.
— Você nunca esteve tão errado, Dean.
Franzo o cenho, surpreso.
— Eu nunca erro, Dakota.
Ela abre um sorriso recheado de segundas intenções e,
tentadora como sempre consegue ser, move lentamente os lábios
de encontro aos meus. É somente um roçar, mas é o suficiente para
que uma descarga de energia se forme ao nosso redor. É
exatamente como quando nos conhecemos: quente como o Inferno.
Vários meses podem ter se passado desde que Dakota bateu
na minha porta usando um roupão de cupcakes, mas ela continua
despertando em mim as mesmas sensações. O costumeiro frio na
barriga causado pela adrenalina, as palmas da mão suadas e
aquela expectativa crescente para o que está prestes a acontecer é
algo que nunca me abandona.
É quase como estar em cima de um palco. Porém, neste
palco em específico, há somente Dakota Greer.
— Eu não teria tanta certeza assim. — O polegar passeia
pela gola da minha jaqueta de couro. — Quando nos conhecemos,
eu só pensava em derrubar a sua parede com socos e depois... Ser
fodida por você daquele jeito que só você consegue fazer.
A reação do meu cérebro é quase automática. Imagens, mais
especificamente lembranças, surgem na memória. Hoje pela manhã,
quando levantei, encontrei Dakota na cozinha usando uma camisola
que deixava muito pouco para a imaginação. Levou apenas dez
minutos para que eu a colocasse em cima do balcão de mármore e
a fizesse gozar com a minha língua.
O andar inteiro deve ter ouvido os seus gemidos, porque nós
nunca fomos o tipo de casal silencioso.
— Você não pode dizer essas coisas enquanto estamos
nessa porcaria de loja.
Dakota me direciona uma piscadela e deposita um rápido
selinho em minha boca.
— Foi você quem começou — sibila. — Achei que você já
soubesse que eu sou uma ótima jogadora, Crawford. Eu nunca
perco. Nunca mesmo.
Tombo a cabeça para o lado, não acreditando que estamos
fazendo isso novamente.
— Está me desafiando, pequena Greer?
— Você está?
Mordo o interior da bochecha para esconder o sorriso e
coloco uma mecha do seu cabelo para trás da orelha, descendo
com o polegar pela bochecha e parando na altura dos lábios,
contornando-os. Ela os entreabre, deixando que o hálito quente
integre-se às nossas respirações. Sua pele está tão quente quanto o
clima entre nós.
— Em algum momento eu não estive? — resvalo o seu nariz
no meu. — Sempre estou jogando com você, gatinha. Desafiá-la é o
meu passatempo favorito.
— Sorte sua que esse é o meu passatempo favorito também.
— Dá um passo para trás e contorna o carrinho, criando uma
distância maior entre nós dois. — Da próxima vez, apenas se
certifique de não entregar a sua submissão por mim de um jeito tão
óbvio.
Ela aponta com o indicador para o meio das minhas pernas e
não preciso olhar para baixo para saber que minha ereção se
destaca, levemente, no tecido da calça. 
— Quando chegarmos em casa, você vai ter o seu castigo —
aviso. — Não fique achando que vai se safar.
Os ombros, cobertos por um casaco de botões, balançam em
uma tentativa de soar despretensiosa. Dakota está tão radiante,
devolvendo as minhas provocações, que não consigo parar de
pensar o quanto eu a amo. Amo-a tanto que faria absolutamente
qualquer coisa para fazê-la a mulher mais feliz de todo o mundo.
— Você sabe que eu não fujo.
— E mesmo que fugisse, eu te encontraria. — Encaro suas
íris chocolate. — Sempre vou te encontrar.
— Exatamente como um predador.
Sorrio.
— Exatamente como um. — Aponto para o carrinho de
compras e depois para o corredor que ainda não terminamos de
percorrer. Há ainda, pelo menos, metade da loja para Dakota
explorar. — Fico feliz que tenha entendido. Vamos?
Dakota concorda com um aceno e empurra o carrinho, o
silêncio se prolongando entre nós. Quase posso ver os seus
pensamentos funcionando a todo vapor para formular uma resposta
que fique à altura da minha. Isso quase me faz soltar uma risada
inadequada.
No entanto, assim que alcançamos a seção de luminárias,
Dakota gira sobre os saltos das botas e fica de frente para mim. As
bochechas estão coradas e os cílios, pincelados de maquiagem,
tornam o seu olhar mais desafiador. Ela está linda, como sempre.
— Você só se esqueceu de um detalhe, Crawford. — Inclina
o rosto para perto do meu, de forma que consigo identificar as
sardinhas minúsculas ao redor do seu nariz. — No pódio do nosso
jogo, só cabe um vencedor.
— E você vai ser a vencedora, suponho.
Ela levanta o queixo em superioridade.
— Em algum momento eu não fui? — levanta a mão quando
faço menção de responder. — Não precisa dizer nada. Nós dois
sabemos a resposta.
Estreito os olhos.
— Sua sorte é que te amo muito, porque nunca aceitaria isso
de qualquer outra pessoa.
— Fico feliz em ouvir isso. Significa que sou única em sua
vida.
Reprimo a vontade de dar um beliscão em sua cintura.
— Você sempre será única, Dakota. Mesmo daqui a um
milhão de anos, ainda serei completamente seu.
Rapidamente sou arrematado por seus braços rodeando o
meu pescoço e os lábios se chocando de encontro aos meus. Nosso
beijo é lento, cheio de promessas e tímido. Não dura mais do que
cinco segundos, mas é toda a confirmação de que preciso a respeito
de tudo o que sentimos um pelo outro.
Dakota e eu amamos nos provocar, tirar um ao outro do sério
e inventar joguinhos que não fazem sentido para ninguém —
somente para nós dois —, mas também amamos os momentos de
calmaria do nosso relacionamento. As tardes passadas em frente à
televisão assistindo aos nossos filmes favoritos, as conversas de
madrugada e as danças lentas na cozinha ao som de Elvis Presley.
Tudo isso somente me faz ter certeza de que tomei a decisão
certa em não deixar que meus medos e inseguranças estragassem
tudo o que construímos. Ela não desistiu da gente, nem mesmo
quando tudo desmoronou, e eu também nunca desistirei dela, não
importa o que aconteça.
— E eu sou completamente sua, Crawford — diz em um fio
de voz ao se afastar alguns centímetros. — Sempre serei sua.
— Fico feliz em ouvir isso.
Ela dá um tapa em meu ombro de brincadeira e gargalhamos
juntos, o som da sua risada aquecendo o meu coração.

Ao retornarmos para o apartamento, a primeira coisa que


Dakota faz é acender o abajur e substituir as almofadas velhas do
sofá pelas novas. Antes de virmos para casa, ela insistiu que
parássemos na Macy’s, a sua loja favorita de decoração.
É por causa dessa maldita loja que a nossa sala de estar, a
cada dia que passa, está mais parecida com um catálogo de revista.
Há até mesmo um carrinho de bebidas próximo da estante e,
mesmo que sejamos apaixonados por vinhos, nunca achei que tudo
isso fosse necessário.
Eu me contentaria com uma simples taça de plástico.
Entretanto, discutir com Dakota é um tipo de esforço que
evito fazer todos os dias. Só quando a situação, de fato, vale a pena
e tenha uma recompensa no final.
— O que você acha? — ela pergunta, girando o corpo para
trás e depois voltando para a atenção para as almofadas. — Eu
achei que ficou uma fofura.
Coço o queixo, analisando-as pelo mínimo de tempo
possível. São fofas, devo confessar. O único problema é que não
entendo nada de decoração, então não faço ideia do que responder
além de um sonoro sim.
— Penso o mesmo que você — digo e caminho até a
geladeira, pegando a jarra de água e depois um copo no armário. —
Fofo, fofíssimo, fofinho. A coisa mais fofa que meus olhos já viram.
Dakota dá risada.
— Suas tentativas de me agradar são sempre encorajadoras.
Despejo a água no copo e levanto-o como se fosse brindar.
— O que vale é a intenção, não é mesmo?
— As melhores desse mundo — concorda e se acomoda em
uma das banquetas que ficam de frente para o balcão. — E o que
vamos comer hoje? Estava pensando em lasanha.
Arqueio as sobrancelhas e levo o copo de água aos lábios.
— Isso é uma indireta para que eu cozinhe para você? — o
sorriso que dança em sua boca é resposta o suficiente. — Saiba
que vai ter um preço.
— Eu já esperava por isso. Sua sorte é que meu pagamento
do Rue’s foi feito ontem à noite.
— Não é esse tipo de pagamento que estou me referindo,
Dakota.
Ela arregala os olhos em fingimento e leva a mão ao coração.
Sua atuação é uma das coisas mais engraçadas de ver, porque é
muito ruim.
— Sempre tão interesseiro, Crawford.
— É o meu jeitinho. — Direciono a ela uma piscadela marota
e me desfaço do casaco, deixando-o sobre o balcão. — Qual sabor
de lasanha você quer?
Dakota dá um gritinho animado e contorna, entre pulinhos, o
balcão. Sou arremetido por seus braços ao redor do meu pescoço e
sua boca distribuindo beijos molhados em minhas bochechas. Estou
vivendo o paraíso na Terra, não tenho dúvidas.
— Quatro queijos, por favor. — Beija a pontinha do meu
nariz. — E saiba que você é o melhor namorado do mundo!
Acerto um tapa de brincadeira em sua bunda.
— E você, a namorada mais esfomeada de toda a Nova York.
Seus ombros balançam de um jeito tímido.
— É por isso que sou irresistível. — Pisca as pestanas. —
Não existe mais ninguém assim.
— Graças a Deus. — Faço um gesto de agradecimento com
as mãos. — Agora vá tomar banho. Quando você voltar, vamos
comer a sua lasanha e depois...
— Depois serei a sobremesa. — Dá risada. — Já entendi,
Crawford.
Sorrio.
— Você aprende rápido.
— Tive o melhor professor.
Antes que eu possa puxá-la para um beijo, Dakota corre para
longe de mim, seguindo em direção ao corredor que leva para os
três quartos do apartamento. O eco de sua risada é uma mistura de
animação, provocação e luxúria. O melhor som do mundo, não
tenho dúvidas disso.
Nessas horas, chego à conclusão que a vida é, sem sombra
de dúvidas, um tesão. Porque ter Dakota Greer presente em meus
dias é tudo isso e mais um pouco.
 
 
 

 
Março, Nova York
 
Na manhã seguinte, sou acordado com a claridade
atravessando as finas cortinas do quarto. Pisco os olhos repetidas
vezes, até focar na imagem de Dakota deitada ao meu lado,
dormindo tranquilamente.
Os cabelos castanhos, que antes eram compridos, agora
alcançam a altura dos seus ombros, de forma que revelam a
tatuagem próxima da clavícula. Sorrio, porque compartilhamos do
mesmo coração rodeado de espinhos que espiralam ao redor das
rosas desenhadas. O significado é a definição completa da nossa
relação.
Sou tão dela, quanto ela é minha.
Levanto a mão e acaricio gentilmente sua bochecha corada,
descendo por suas costas e puxando-a para mais perto de mim.
Beijo o topo de sua cabeça e fecho os olhos, apreciando a doce
sensação de calmaria.
— Hum... — Dakota ronrona contra o meu peito nu,
acordando aos poucos.
Crio uma pequena distância entre nós. Ela pisca as
pálpebras, acostumando-se com a claridade do quarto e depois
focando em meu rosto.
— Bom dia, pequena Greer — sussurro e beijo sua testa. —
Não quis te acordar, desculpe.
— Não me acordou — diz e aconchega-se em meu peito
novamente, a mão pousando em meu abdômen. — Que horas são?
Faço um biquinho, embora ela não possa ver.
— Não faço a mínima ideia, mas deve ser tarde.
Seu corpo vibra em uma risada, certamente se recordando da
noite anterior.
Depois que comemos a lasanha e organizamos a cozinha,
Dakota e eu ficamos sentados no sofá, conversando. Foi um
momento aconchegante que durou pouco tempo. Em questão de
minutos, ela já estava sentada em meu colo e se desfazendo do
sutiã, dando-me acesso livre aos seus seios que estão maiores do
que no mês passado.
Abaixo a vista para eles. Estão pressionados em meu
peitoral, os bicos intumescidos e a pele do colo, avermelhada.
Automaticamente, mais fragmentos da nossa vêm à mente. O meu
momento preferido, sem sombra de dúvidas, foi quando ela ficou de
joelhos diante de mim e me chupou como se nossas vidas
dependessem unicamente disso.
Gozei como todas as outras vezes: vendo estrelas no teto e
me sentindo o homem mais sortudo do mundo.
— Dean?
Pisco as pálpebras repetidas vezes, voltando para a
realidade. Dakota se afastou um pouco, de forma que consegue me
encarar nos olhos. Há uma centelha de preocupação cintilando ali.
Tenho notado, com frequência, esse mesmo detalhe em seu rosto,
quase como se houvesse algo a incomodando.
Provavelmente deve ser estresse por causa da organização
da festa.
— Você disse algo? — pergunto, coçando a nuca.
Ela deixa escapar uma risada pelo nariz e se acomoda
melhor no colchão, ficando sentada de frente para mim. A coberta
cai ao redor do seu quadril, revelando por completo os seios. Eles
estão implorando para serem beijados por mim.
— O assunto não parece estar muito interessante para você
— ronrona de forma provocadora e empurra o cabelo para o lado. A
claridade que vem da janela ilumina a sua pele branca, deixando-a
tão linda quanto uma escultura exposta em um museu. — Quer
conversar sobre outra coisa?
Sorrio e estico o braço, puxando para mim. Ela ri baixinho ao
abrir as pernas e se acomodar em meu colo. A única barreira entre
nós é o fino tecido do cobertor.
— Quero fazer outras coisas com você. — Encaixo as mãos
ao redor da sua cintura, movimentando um pouco o meu quadril. —
Nada melhor que começar o dia com o pé direito, você não acha?
Suas sobrancelhas se franzem em um arco cheio de
maldade.
— E como você quer fazer isso?
Engulo em seco e aproximo o rosto do seu.
— Primeiro, eu começaria te beijando. — Resvalo o nariz em
seu pescoço e subo para sua boca. Passo a língua pelos seus
lábios e fecho os dedos ao redor do seu cabelo solto. — Daquele
jeito que você adora e que te tira o fôlego todas as vezes.
— E depois? — indaga em um fio de voz, as pálpebras quase
se fechando.
— Depois... — Meu pau começa a despertar aos poucos e
ela percebe isso, porque começa a remexer a bunda para frente e
para trás. — Depois eu iria chupar esses seus peitos gostosos até
você quase gozar. Mas não te deixaria chegar lá. Ainda não.
Dakota suspira e apoia os joelhos no colchão, criando
sustento.
— Quando você estiver revirando os olhos e implorando por
mim, vou me livrar dessa coberta maldita e enfiar os meus dedos
dentro de você. Vou sentir que você está pingando por mim, como
todas as outras vezes. — Prendo o lóbulo da sua orelha entre os
dedos. — Vou colocar dois dedos, bem do jeito que você gosta.
— Dean...
Sorrio e deslizo a mão por suas costas, parando na altura dos
seios inchados. Acaricio, brincando com o bico entre os dedos.
Estão intumescidos e se encaixam com perfeição. Seja na boca ou
na palma da mão, eles foram feitos sob medida para mim. Nunca
duvidei disso.
— Você vai gozar bem assim, com meus dedos dentro de
você e com a minha língua chupando o seu clitóris. — Sigo
descendo com a mão e paro na altura do seu umbigo. — Quero
ouvir você gemer o meu nome e implorar por mais. Muito mais.
A impaciência de Dakota está aumentando gradativamente.
Seu quadril se move em círculos, pressionando o meu pau e
friccionando a coberta. Estou duro de um jeito nada confortável.
Nunca desejei tanto que nossas provocações terminassem de uma
vez por todas.
Ao mesmo tempo, gosto de testar nossos limites e ver até
onde aguentamos. Estamos pendurados por uma fina linha, lutando
para ver quem vai ceder primeiro.
— E depois, o que você vai fazer? — ela consegue perguntar
em um sussurro, os olhos fechados e o pescoço pendendo para
trás. — Vai me foder do jeito que eu gosto? Ou me torturar ainda
mais?
— Você sabe a resposta, pequena Greer.
Ela arqueja e abre os olhos, encarando-me de cima. É uma
das visões mais excitantes do mundo. O cabelo castanho
bagunçado, as bochechas coradas, os lábios entreabertos e os
seios a pouquíssimos centímetros da minha boca, se movendo de
acordo com a sua respiração acelerada.
Isso tudo é um tesão do caralho.
— Se eu sei a resposta, então você sabe o que irei fazer em
seguida.
Ergo as sobrancelhas, a curiosidade ardendo como fogo em
minhas células.
— E o que você vai fazer?
Dakota aperta os lábios em uma linha reta e levanta o quadril,
empurrando a coberta para longe. Volta a se sentar em meu colo,
dessa vez o meu pau encaixando-se entre os seus lábios vaginais.
Consigo senti-la inteiramente molhada e, quando ela começa a se
movimentar, posso jurar que vou gozar antes mesmo de penetrá-la
de verdade.
— Vou te torturar do melhor jeito possível. — Inclina o corpo
para frente e resvala, de leve, a boca na minha. — Vou fazer você
implorar, até que não reste mais nenhum pensamento na sua
cabeça além do mais puro desejo.
Puta merda.
Deito a cabeça nos travesseiros e aperto sua cintura, guiando
os seus movimentos. Meu pau desliza por suas dobras em um vai e
vem delicioso. Gememos em uníssono e o orgasmo se aproxima
cada vez mais. Estou querendo muito afundar dentro dela e senti-la
cavalgar até os cabelos oscilarem ao seu redor, mas também estou
querendo gozar assim, só com a porcaria de algumas esfregadas.
— Você não faz ideia das coisas que provoca em mim,
Dakota.
Ela ri de um jeito malicioso e toca o seio direito, apertando o
mamilo com a ponta dos dedos. Um gemido lhe escapa e, sem
esperar mais nenhum segundo sequer, inclino o rosto para frente e
afundo a boca no seio esquerdo. Dou uma leve mordidinha e o
circulo com a língua. A primeira reação de Dakota é esfregar o seu
clitóris com mais veemência contra o meu pau e, logo em seguida,
mordiscar o lábio inferior com força, silenciando os próprios
gemidos.
— Geme pra mim — peço com o nariz enterrado em seus
peitos. — Geme como se não tivéssemos a porra de vários vizinhos
podendo nos ouvir.
Dakota faz exatamente o que eu digo. Os sons escapam de
sua boca enquanto nos movemos em sintonia. O costumeiro
formigamento se forma abaixo do meu umbigo e preciso de todo o
autocontrole do mundo para não gozar antes de Dakota. Sei que ela
também está perto, porque as sobrancelhas estão franzidas e os
olhos fechados com força.
Sou pego de surpresa quando ela afunda a boca de encontro
à minha. Engolimos os gemidos um do outro enquanto minha língua
brinca com a sua. É um beijo confuso que se mistura com as nossas
mãos e o movimento de nossas pélvis. Tudo no quarto está quente
e não consigo aguentar mais nenhum segundo.
— Dakota, eu...
A frase se perde no ar, porque ela impulsiona o quadril uma
última vez e gozo em minha própria barriga. Solto um palavrão ao
sentir todo o corpo entrar em um estado de formigamento,
começando pelos pés e terminando no último fio de cabelo.
Sem deixar Dakota para trás, uso a mão para acariciar o seu
clitóris. Isso é o suficiente para que ela espalme as mãos em meu
peitoral e estique a coluna para trás, gozando no meu pau. Vê-la
assim, à mercê da própria luxúria, é uma visão impossível de
desviar o olhar.
Permanecemos em silêncio, controlando a própria respiração
e acalmando as batidas ritmadas dos nossos corações. Assim como
eu, ela está toda molenga e com os olhos brilhando. Acaricio seu
queixo e deposito um rápido selinho no canto de sua boca. Os
lábios se abrem em um sorriso preguiçoso.
— Essa foi a melhor forma de começarmos o dia, Dean.
— Não tenho dúvidas disso. Melhor presente antecipado de
aniversário.
Dakota dá risada, confirmando que, juntos, somos incríveis.
 
 

 
Março, Nova York
 
Detesto comemorar o meu aniversário.
Está no topo das coisas mais chatas, tediosas e
desagradáveis que eu poderia fazer em uma noite de sexta-feira.
Entretanto, como minha namorada é o ser humano mais insistente
que já pisou nesse planeta, eu acabo abrindo uma exceção.
Vou sorrir e cumprimentar todos os convidados como se esse
fosse a porra do dia mais feliz da minha vida.
Inspiro profundamente, enchendo os pulmões de ar, e abotoo
o último botão da camisa. Dobro as mangas na altura do cotovelo,
deixando as tatuagens do antebraço visíveis, e visto o par de
coturnos. Dou uma rápida olhada no espelho, satisfeito com o
resultado e saio do closet.
A primeira coisa que vejo ao entrar no quarto é Dakota
parada em frente a penteadeira, passando um gloss brilhoso nos
lábios. Ela está vestida de vermelho, minha cor favorita, e usando
sandálias com saltos tão finos que não sei como consegue se
manter em pé em cima disso. O complemento final, e que me faz
morder o interior da bochecha para conter o sorriso, é a fenda do
vestido.
Ela é discreta, mas não o suficiente para me impedir de
encará-la da cabeça aos pés. O tecido adere bem às suas coxas e
deixa sua bunda ainda mais redondinha. Não sei o que eu fiz de tão
extraordinário pra conquistar essa mulher, além de desafiá-la — e
de dizer que coloquei veneno de rato em sua panqueca.
— Uau, você está horrorosa.
Dakota me lança um olhar frio pelo reflexo do espelho.
— E você está ridiculamente mal vestido. Não acredito que
me apaixonei por um feio.
Rio.
— Bem que dizem, gatinha, o amor é cego.
Ela revira os olhos e coloca os brincos de argola que lhe dei
de presente alguns meses atrás. Logo em seguida, se levanta e
caminha até onde estou. Suas mãos pousam em meus ombros,
alisando o tecido da camisa e depois arrumando o colarinho.
— Agora sim, você está perfeito.
— Achei que estivesse feio.
Faz um beicinho fofo.
— Feio para os outros. Lindo para mim.
Balanço a cabeça em negação e a puxo para mais perto. Seu
cheiro é uma mistura entre hidratante corporal, perfume de jasmim e
shampoo de cereja.
— Pois saiba, pequena Greer, que você está
extraordinariamente linda. A mulher mais maravilhosa que toda a
Nova York já viu. Vai ser difícil não ficar encarando-a a noite toda.
Sua resposta é se aconchegar ao redor dos meus braços e
deitar a cabeça em meu ombro. Relaxo com o gesto. Mesmo não
gostando do meu aniversário, ainda consigo ficar uma pilha de
nervos. O motivo? Não faço ideia, só sei que é um pé no saco.
— Que horas os meninos chegam?
Apoio o queixo no topo de sua cabeça.
— Daqui a alguns minutos, acredito. Sean vai dar carona
para Corbin e Miles. Andrew vai vir sozinho, mas deve chegar logo
depois. E as meninas?
— Channel e Reeva vão sair do trabalho e vir direto para cá.
Lucy, Noora e Hailey vão sair da NYU mais cedo e vão dividir um
táxi, provavelmente — explica. — Isso significa que temos alguns
minutos antes de sermos interrompidos.
Abro a boca para fazer um comentário sarcástico, mas o som
da campainha ressoa por todo o apartamento.
— Ou talvez, não.
Dakota elimina um muxoxo e se afasta, me dando um rápido
selinho.
Saímos do quarto e caminhamos em direção à sala, com ela
seguindo na frente. Como imaginei, o cômodo inteiro está decorado
com elementos que remetem ao universo da música. Balões no
formato de guitarra, de microfone e de nota musical, além de um
bolo de dois andares na cor azul. É meio brega, tenho que
confessar.
O charme final é a torre de cupcakes. Não sei onde Dakota
arranjou tempo para encomendar tudo isso, mas suspeito que tenha
contado com a ajuda de Noora, já que ela trabalha em uma
confeitaria aqui no Queens.
A porta é aberta e vejo Miles, Sean e Corbin carregando mais
dois balões no formato de um morango ambulante e uma moto. Não
consigo me conter e acabo gargalhando.
— Feliz aniversário, seu cuzão! — Corbin é o primeiro a me
cumprimentar em um abraço de urso. — Espero que continue
tirando todos nós do sério e desafinando em todos os vocais.
Mostro o dedo do meio e retribuo o abraço, dando risada.
O próximo é Sean. Em um movimento rápido, ele encaixa um
chapeuzinho de papel na minha cabeça e um colar feito com flores
sintéticas ao redor do pescoço. Assim como Corbin, seu abraço é
rápido, mas cheio de significado.
— Que seus 27 anos sejam comemorados em grande estilo!
— ele faz um barulhinho engraçado com a boca. Hoje, ele aparou a
barba, revelando boa parte da pele marrom-clara livre de
imperfeições. — Entenda como quiser.
Reviro os olhos e desloco minha atenção para Miles. A
relação dele com todos os meninos da banda ainda é uma incógnita.
Bem lá no fundo, desconfio de que alguma coisa esteja
acontecendo. Contudo, não quero pressioná-lo. Quando for a hora
certa, sei que ele vai conversar a respeito com todos nós.
— Parabéns, Crawford — diz e me entrega um pacote. — Um
presente para te lembrar o quanto você é insuportável. Foi o Corbin
quem escolheu.
Pego o pacote laminado e rasgo-o. É a coisa mais estúpida
que já vi, mas também a mais bonita. É uma fotografia minha e de
Dakota sentados no palco após o fim de um show em Boston. Ela
me fez uma surpresa naquela noite e, durante as poucas horas que
tínhamos, fiz cada segundo valer a pena.
Sorrio.
— Muito obrigado.
Corbin dá dois tapinhas nas minhas costas, enquanto Miles
assente com um meio-sorriso.
— E onde estão o restante dos convidados?
— Devem chegar em breve. — Dakota é quem responde. —
Vão querer beber alguma coisa?
— O que tem para beber? — Miles pergunta.
— Tudo e mais um pouco. Quer vir escolher?
Ele assente com um aceno de cabeça e os dois seguem para
a cozinha. Escuto o som da voz de Dakota enchendo Miles de
perguntas que o obrigam a responder de forma não silábica. É
engraçado, porque ela tem essa mania de tentar arrancar
informações dos outros quando percebe que alguma coisa está
errada.
E, embora Miles não admita em voz alta, eu sei que as coisas
não estão como antes — e nem sei se algum dia vão voltar. Faço
tudo o que está ao meu alcance para que ele confie em mim e no
restante da banda novamente, mas é um processo difícil. Depois de
uma mentira contada, nunca é fácil recuperar a confiança.
Lamento por tudo isso, é claro. Se eu pudesse voltar no
tempo, com certeza faria as coisas diferentes. Não me orgulho das
decisões que tomei. Fui um péssimo amigo, um péssimo colega de
apartamento e tomei atitudes egoístas. Espero nunca mais ser
assim.
— E como vão as coisas com a Astrid? — é a voz de Sean
que me puxa de volta para a realidade.
Corbin coça a pontinha do nariz e acomoda-se no sofá.
— Incertas. Às vezes, acho que ela quer terminar comigo,
mas não sabe como fazer isso.
Ano passado, Astrid e Corbin começaram um tipo de amizade
colorida, só que com a liberdade de ambos ainda saírem com quem
quiserem. Não sei de quem foi a ideia, contudo acho muito estranho,
ainda mais que Corbin não costuma transar muito. Ele prefere
relações mais calmas e Astrid não é nada disso.
— E você quer terminar com ela?
Ele nega e Sean arqueia as grossas sobrancelhas.
— E o que você quer, então?
— Não sei. Uma cerveja, talvez?
Reviro os olhos.
— É inacreditável que você seja o mais inteligente de nós.
Corbin empurra minha cabeça em um gesto brincalhão.
— E é inacreditável que, de todos nós, você foi o primeiro a
sossegar. Dean Crawford, o maior mulherengo de Nova York, agora
vive com a namorada no Queens e possuem tatuagens iguais.
Sinceramente, que decepção.
— Você diz isso porque ainda não se apaixonou.
— E espero que isso demore muito para acontecer. — Cruza
os braços e dá um cutucão em Sean. — E você? Como vai a vida
de apaixonado?
— Não estou apaixonado por ninguém, seu cuzão.
— E Hailey?
Aperto os lábios para evitar rir da careta que Sean faz.
— Hailey está muito bem. Ela agradece pela preocupação.
Corbin xinga um palavrão e estica as pernas. Assim como
Sean, ele está vestido de preto da cabeça aos pés. Os costumeiros
coturnos, a camiseta velha e a jaqueta de couro com o seu
sobrenome bordado nas costas. A única diferença em suas
vestimentas é que Sean trocou a jaqueta por uma jeans desbotada.
— Pelo visto, não conseguirei dar nenhum conselho amoroso
hoje. Vocês estão todos com as vidas resolvidas.
Afago seu ombro, fingindo consolo.
— Você merece essas férias, Corbin. Se preocupou demais
no último ano.
Ri nasalado.
— Você me deu muita dor de cabeça, Dean.
Sorrio.
— Esse é o peso de ser o meu melhor amigo.
Corbin bagunça os meus cabelos e observamos, em
conjunto, Dakota e Miles retornarem da cozinha com uma bandeja
de bebidas. Miles está com um pequeno sorriso nos lábios,
parecendo um pouco mais à vontade. Já Dakota... se eu pudesse
definir o Sol em uma pessoa, seria ela.
— Do que vocês estavam falando? — questiona ao entregar
uma cerveja para Corbin e outra para o Sean.
— Que Dean foi o primeiro de nós a se apaixonar. A gente
jurava que ele seria o último, em decorrência do seu histórico.
Ela ri.
— O histórico de babaca, você quer dizer?
Dou um apertão em sua cintura.
— E você ainda diz que me ama.
Ela me dá um rápido selinho.
— Tenho gostos peculiares, você não entenderia.
Dessa vez, todos nós gargalhamos com sua referência a fala
do Christian Grey, de Cinquenta Tons de Cinza.
— Os filmes de romance estão certos, então. Os babacas
são os maiores apaixonados. — Sean murmura e levanta a latinha
de cerveja. — Um brinde a Dean Crawford, por seus 27 anos e por
ser um grande cachorrinho da Dakota.
— Ei!
Dakota pousa o indicador em meus lábios e sussurra em meu
ouvido:
— Você sabe que ele tem razão.
Não contra-argumento, apenas deslizo o nariz por seu
pescoço e levanto a long neck, cedendo ao brinde de Sean. E, pela
primeira vez nos últimos anos, não odeio tanto o meu aniversário.
Porque, com Dakota Greer e meus amigos ao meu lado, as
dificuldades da vida se tornam muito mais toleráveis.
Eles, por si só, já são o maior presente que eu poderia ter
pedido.
 
 

 
Março, Nova York
 
Horas mais tarde, o apartamento está abarrotado de gente.
Channel e Reeva estão improvisando um karaokê, com Corbin
tocando violão. Sean e Miles estão na sacada fumando na
companhia de Hailey. Lucy e Noora se divertem com os cupcakes
temáticos. Andrew, da última vez que chequei, estava enchendo a
boca de bolo e prometendo que seria o próximo a cantar. Ele é
apaixonado por qualquer coisa envolvendo música.
Já Dean, não faço ideia de onde ele se meteu.
Respiro fundo e bebo, em um gole único, o restante do
refrigerante, deixando o copo de plástico em cima do balcão. Faz
semanas que não coloco uma gota de álcool na boca. Contorno as
pessoas espalhadas pela sala e sigo para o corredor, procurando
por Dean. Entro primeiro em nosso quarto, mas está tudo escuro. O
mesmo para o closet e o quarto de hóspedes.
Quando estou prestes a voltar para sala, sinto dedos se
fecharem ao redor do meu pulso e me puxarem para dentro do
banheiro. Quase tropeço por conta das sandálias de salto.
— Ouch — resmungo ao escutar a porta fechar e meu corpo ser
imprensado contra a madeira.
— Esperava uma recepção mais calorosa, pequena Greer —
Dean diz no pé do meu ouvido, sua voz soando extremamente
sensual.
Socorro.
O banheiro está sem as luzes acesas, não me deixando
enxergar nada além da baixa luminosidade que vem da pequena
janela. Tateio o escuro, sentindo o tecido da sua camiseta e depois
os ombros. Pouso as mãos ali, ao mesmo tempo em que ele se
aproxima ainda mais, sua respiração se condensando de encontro à
minha.
— Você me pegou de surpresa, Crawford.
— A ideia era justamente essa.
A mão se fecha ao redor da minha cintura, o polegar
desenhando minúsculos círculos imaginários no tecido do vestido.
— O aniversário é seu. Eu é quem deveria te preparar uma
surpresa.
Ele nega com um muxoxo, dispensando minhas palavras.
— Estar aqui com você, em um banheiro escuro, me lembra da
primeira vez que nos beijamos.
Sorrio, embora ele não possa ver.
— Você se lembra desse dia?
— E como eu poderia esquecer? — sua boca desliza por meu
pescoço, a língua parando em um pontinho bem atrás da minha
orelha. Sinto minha pele toda se arrepiar com o contato. — Sentir
você, implorando por mim e me beijando como se nossas vidas
dependessem disso... Ah, Dakota, você não faz ideia de quantas
vezes revivi essa cena na minha cabeça.
Tombo a cabeça para o lado, dando-lhe mais acesso. Ele
entende o meu gesto, porque dá mordidinhas na região da nuca, ao
mesmo tempo em que usa a outra mão para acariciar o interior da
minha coxa. Nunca fiquei tão feliz por ter escolhido um vestido com
uma fenda.
Seus dedos deslizam para cima e para baixo, me provocando
em uma dança lenta, exatamente como sua língua faz na minha
pele. É tão delicioso que acabo deixando um gemido escapar.
— Isso é você pedindo por mais?
Concordo com um aceno.
Dean dá uma risadinha e aproxima os lábios dos meus. Seu
hálito é uma mistura entre cerveja, cigarros e creme dental. A
combinação pode parecer estranha, mas é a minha favorita do
mundo inteiro. É o cheiro de Dean, em sua total essência.
— Na primeira vez que estivemos assim, no aniversário da
Reeva, eu não conseguiria parar de pensar em como seria sentir
você em meus dedos. — O polegar sobe mais um pouco e passeia
pelo elástico da calcinha em uma provocação lenta. — O lado bom é
que agora, quase um ano depois, eu posso, finalmente, desfrutar
disso.
Dean me beija. De um jeito quente, ardente e enlouquecedor.
Seu beijo é exigente, assim como sua ânsia em me ter em suas
mãos. Os lábios sugam os meus e depois o puxam entre os dentes,
me arrancando um arquejo de surpresa quando sua mão esquerda
aperta a minha bunda com força.
São tantas sensações acontecendo em sincronia que fico
perdida. Amparo meu próprio corpo na porta e abro mais as pernas,
suspirando de alívio ao sentir seus dedos descendo um pouco,
acariciando a renda da calcinha. Estou molhada, não tenho dúvidas
disso.
— Ah, Dakota... — Dean afasta a boca da minha. — Desejar
você, do jeito que desejo, é com certeza um dos meus maiores
pecados.
Sem esperar por minha resposta, ele fica de joelhos e levanta o
meu vestido, o tecido se acumulando ao redor da minha cintura. Em
câmera lenta, a calcinha desce por minhas pernas, depois passando
pelas sandálias. No escuro, é difícil ver a expressão em seu rosto,
porém, não tenho dúvidas de que ele está sorrindo. Aquele maldito
sorriso cheio de malícia que expõe todos os pensamentos sujos que
se passam por sua cabeça.
Sem dizer nenhuma palavra, ele leva a calcinha ao nariz e a
cheira, para logo depois guardá-la no bolso traseiro da calça. A cena
faz minha boceta formigar em desejo.
— O que você está esperando, Dean? — indago, minha
impaciência crescendo tanto quanto a vontade de senti-lo dentro de
mim.
Dean usa as mãos para afastar ainda mais as minhas pernas.
Mantenho o vestido preso entre os meus dedos, de forma a garantir
que isso não nos atrapalhe. Meu coração bate com força nos
ouvidos, cheio de expectativas para o que está por vir.
Sem me dar nenhuma resposta, ele começa a distribuir uma
sequência de beijos pelo interior da minha coxa, enquanto os outros
dedos afundam na carne da minha bunda. Contraio a barriga, já
ficando ofegante. O nariz desliza para cima e para baixo e, de
repente, param sobre a minha intimidade.
Estou excitada só ao vê-lo de joelhos diante de mim.
— Você está tão molhada quanto imagino que está? — ele
pergunta, levantando levemente o queixo para cima para conseguir
me ver.
— Sim.
Dean sorri e, finalmente, insere um dedo dentro de mim. Arfo,
não conseguindo conter a deliciosa sensação que acomete todo o
meu corpo quando ele insere mais um, do jeito que eu gosto, e
começa a movimentar para dentro e para fora. A visão é de tirar o
fôlego.
— Dakota... — Bate com a língua no céu da boca. — Traz essa
boceta gostosa para mais perto da minha boca.
Em um movimento fluido, ele encaixa a minha perna em seu
ombro direito, deixando-me completamente à sua mercê. Eu sou o
banquete de Dean Crawford e não há do que reclamar.
— Você tem um cheiro maravilhoso — murmura baixinho, o
polegar acariciando o meu clitóris. — Mas o seu gosto... Ele é
incomparável.
Suspiro alto quando sua língua desliza por toda a minha
extensão, combinando-se com o movimento dos seus dedos dentro
de mim. Ele contorna o clitóris e depois o chupa, repetindo o
processo inúmeras vezes. Sou obrigada a tapar minha boca com a
mão para evitar que os gemidos se tornem audíveis. Os convidados
estão todos na sala e, mesmo que uma música esteja tocando,
ainda haveria o risco de sermos ouvidos.
— Está quieta por que, Greer? — Dean provoca. — Tem medo
que as pessoas descubram o que eu faço com você?
Balanço a cabeça em um gesto positivo, incapaz de formular
qualquer tipo de frase.
— Tudo bem, não me sinto ofendido em saber disso. — Seu
dedo toca um ponto dentro de mim que me faz revirar os olhos. —
Eu também gosto de fazer as coisas no sigilo.
Então, ele dá um leve tapa na minha boceta e o gemido alto
acaba me escapando. Meu clitóris lateja, assim como todas as
minhas células que estão implorando por um orgasmo.
— Não aguento mais, Dean — imploro, afundando os dedos em
seu couro-cabeludo. — Me faz gozar de uma vez por todas.
Ele me chupa mais uma vez e usa a mão livre para me
impulsionar um pouco para cima. Rebolo contra sua boca em uma
tentativa de aumentar a fricção.
— Como se diz?
— O quê? — resmungo, quase vendo estrelas quando sua
língua afunda em minha entrada e logo se afasta.
— Como se diz, Dakota?
Mordo o lábio inferior com força.
— Por favor, Dean.
Isso é tudo o que ele precisa ouvir. Como se a sua paciência
tivesse se esgotado, Dean insere três dedos dentro de mim e
dedica-se inteiramente ao meu clitóris. Ele chupa, lambe e dá uma
leve mordidinha. Meu quadril continua a se movimentar contra sua
boca, seguindo um ritmo próprio. Todo o meu corpo formiga, em um
sinal de que estou muito perto de gozar.
Dean, então, substitui os seus dedos por sua língua e isso é o
que faltava para me levar diretamente para o abismo. Seguro-me no
balcão do banheiro e gozo contra sua boca. Não contenho nenhum
gemido, porque quero que ele saiba tudo o que causa em mim. É o
mais puro e genuíno êxtase.
Volto a abrir os olhos e um sorriso malicioso domina todas as
suas expressões. Os lábios estão molhados com o meu gozo e ele
passa a língua por eles, sentindo o gosto. Ao se levantar, ele
gentilmente pousa minha perna no chão e faz um sinal para o meu
rosto.
— Abre a boca, Dakota.
Arqueio as sobrancelhas, mas faço exatamente o que ele pede.
Arregalo os olhos de surpresa quando ele coloca os dois dedos
dentro da minha boca. Chupo-os, rodando a pontinha de cada um
com a língua, sentindo o meu próprio gosto.
Dean encara meus olhos e geme baixinho, afastando os dedos.
— Essa é a agora a minha segunda lembrança favorita de nós
dois em um banheiro.
Dou risada e afundo o rosto no seu pescoço.
— Pois saiba que para mim também.
— Espero que possamos criar muitas outras.
Lhe dou um selinho.
— Nós iremos. Não tenha dúvidas disso. Temos ainda muitos
aniversários pela frente.
Ele não diz nada, somente me beija. E isso é tudo o que
precisamos para tornar esse aniversário tão inesquecível quanto
tudo o que sentimos um pelo outro. Até porque nosso amor é
infinito, assim como todas as outras memórias que estamos
cultivando juntos.

Ao retornarmos para a sala, Dean é interceptado por Andrew e


Corbin, que o convidam para cantar no karaokê improvisado. Eu
aproveito o momento de distração e sigo para a sacada, onde
Channel e Reeva estão sentadas, bebendo um drinque colorido.
Minha relação com Channel melhorou muito nesses últimos
meses. Ainda estamos nos acostumando com a ideia de sermos
irmãs. É um pouco estranho, devo admitir. Ela, que foi minha melhor
amiga por tantos anos, agora representa um papel muito mais
importante. Estamos eternamente ligadas por um laço de sangue.
— O que vocês estão bebendo? — pergunto ao acomodar meu
corpo em uma das cadeiras de ferro.
Reeva levanta o copo que tem um guarda-chuvinha encaixado
na borda.
— Sunrise. Foi o Sean quem preparou.
Paraliso por um milésimo de segundo.
O término do namoro de Reeva e Sean é um caso complicado.
Ninguém sabe ao certo se as coisas entre eles estão resolvidas ou
inacabadas. Há sempre aquele ponto de interrogação pairando no
ar. No entanto, nenhum deles deixa transparecer algo. Quem os vê
de fora, nunca imaginaria que já houve um relacionamento entre
eles.
— E como vocês estão? — arrisco.
Channel dá um leve cutucão na minha perna por debaixo da
mesa.
Reeva não parece perceber, porque bebe um gole do drinque e
desvia o olhar, focando nos prédios ao nosso redor. Seus olhos
vacilam por um milésimo de segundo.
— Estamos bem — diz. — As coisas entre nós já terminaram
tem muito tempo. Não há pelo o que lamentar.
Inclino a cabeça para o lado, em uma tentativa de encontrar
algum significado oculto por trás de suas palavras. É difícil, porque
de nós três, Reeva é a mais fechada. Nunca sabemos se ela está
sofrendo por algo ou, simplesmente, ignorando os próprios
sentimentos.
— Você não ficaria magoada se o Sean começasse a namorar
com a Hailey, então? — Channel alfineta.
— Não, porque ele nunca namoraria com ela.
Troco um rápido olhar com Channel, mas ela se mantém firme.
— Não tem como você saber disso, Reeva.
Reeva revira os olhos e retorna a atenção para nós. A expressão
em seu rosto é a menos amigável possível.
— Eles são amigos, Channel. Ele mesmo me disse.
— Então, isso quer dizer que vocês ainda conversam?
Tudo o que recebemos é o mais desconfortante silêncio. Reeva
leva o copo aos lábios e bebe o restante do drinque sem dizer
nenhuma palavra. O clima entre nós ficou uma merda.
— Tudo bem. — Channel bate nas próprias pernas e se levanta
em um pulo. — Vou pegar uma bebida para mim.
Ela não espera que a gente diga alguma coisa. Retorna para
dentro, deixando uma pequena fresta na porta. A música do karaokê
chega até nós. Dean está cantando Lady Gaga completamente fora
de ritmo. Escuto as gargalhadas de todo mundo e isso me faz abrir
um mínimo sorriso.
Entretanto, Reeva permanece inexpressiva. Encaro-a de cima a
baixo. O cabelo loiro está mais curto e os olhos estão maquiados
com sombra preta. Seu vestido é preto, contrastando com sua pele
pálida.
— E Cassian?
— O que tem ele?
— Vocês não estão mais juntos?
— É complicado. Não quero manter nenhum tipo de
relacionamento quando conseguir a vaga de emprego em Paris —
explica. — Não me entenda mal, Dakota, mas a minha prioridade
sempre foi o meu emprego e a minha carreira. Não quero que nada
atrapalhe isso.
Assinto.
— Entendo. — Estico o braço e pouso a mão sobre a sua. — Só
não quero que você desista de viver algo extraordinário com
alguém, só porque tem medo que isso atrapalhe os seus sonhos. Se
a pessoa amar você de verdade, ela vai torcer junto de você. Vai te
apoiar, incentivar e jamais, de forma alguma, impedir que você
alcance grandes voos. Um amor de verdade é sobre isso.
Os olhos de cor verde azeitona ficam marejados e ela funga
baixinho.
— Não sei como fazer isso — confessa.
— Se apaixonar?
Nega.
— Permitir que alguém entre assim na minha vida. Sean e eu
terminamos por vários fatores, não somente pelo o que aconteceu
naquela noite. Foi uma sucessão de coisas. A falta de confiança
dele em mim, o meu bloqueio emocional, nossas relações passadas
e a minha terrível mania de afastá-lo sempre que as coisas
pareciam ficar sérias demais. Acho que ele nunca vai me perdoar.
— Isso não é verdade. O Sean adora você e te respeita. Ele já te
perdoou, Reeva. — Enxugo uma das suas lágrimas. — Resta agora
você perdoar a si mesma e amadurecer para que nada disso
aconteça nas suas próximas relações. Converse com o Cassian.
Tenho certeza que ele vai te entender e te ajudar.
Reeva concorda com um aceno e respira fundo, se recompondo.
Ela não me abraça, porque não é do feitio dela.
— Muito obrigada.
— Sempre vou estar aqui para o que você precisar.
Abre um meio-sorriso e gesticula para o interior do apartamento.
— Quer cantar no karaokê? Uma última vez antes de eu ir para
Paris.
— É claro! — exclamo. — Vamos cantar uma música da Disney.
Já estou te avisando.
Ela dá risada e retornamos para dentro. Enquanto caminhamos,
torço baixinho para que ela consiga não somente se perdoar por
tudo o que aconteceu, mas também reencontrar a si mesma depois
de tanto tempo perdida. Reeva merece ser feliz, assim como todos
nós.
 
 
 
 

 
Março, Nova York
 
Um suspiro de alívio me escapa no momento em que todos os
convidados vão embora.
O apartamento, para a nossa sorte, não está tão bagunçado. Há
copos vazios espalhados pela sala, balões de gás flutuando no teto
e alguns poucos cupcakes que restaram. Essa situação pode ser
resolvida em alguns minutos e a faxina pesada fica para amanhã.
Não estou nem um pouco animado em passar a madrugada
limpando.
Dakota, felizmente, parece concordar comigo.
Seu corpo está esticado no sofá; o cabelo, bagunçado, e a
maquiagem um pouco borrada. Como pela manhã, ela parece estar
tensa — e não faço ideia do por que. Os ombros estão um pouco
rígidos e há uma ruguinha no centro da testa que nunca
desaparece.
Sento-me ao seu lado e puxo seus pés para o meu colo, tirando
as sandálias de salto. Elas caem em um baque seco no piso e
massageio os dedos que estão pintados com esmalte rosa bebê.
Ela suspira em alívio e deita a cabeça nas almofadas recém
compradas.
Analiso-a por alguns minutos. Na primavera do ano passado, a
minha vida não era nem um pouco parecida com a atual. A The
Backdoor fazia apresentações esporádicas no The Veague Loungue
e o pagamento não era muito bom. Não morava no Brooklyn e ainda
mantinha um relacionamento em segredo com Hailey.
Se alguém tivesse me dito, que um ano depois, eu estaria
sentado em um sofá com a minha namorada, massageando seus
pés, eu teria dado risada. Achado a porra de um absurdo. No
entanto, aqui estou eu. Com uma tatuagem em homenagem a
Dakota Greer e com a certeza de que quero passar a minha vida
toda ao seu lado.
— Um dólar por seus pensamentos? — pisco os olhos ao ouvir
sua voz macia.
— No quanto a vida pode mudar em um ano. — Sorrio, voltando
a acariciar os seus tornozelos. — Em alguns meses, na verdade. Eu
não digo isso com tanta frequência, mas você foi a melhor coisa que
aconteceu na minha vida, Dakota. Ter conhecido você foi um golpe
de sorte do caralho. Não sei o que fiz para merecer uma mulher tão
incrível assim ao meu lado.
Ela revira os olhos de um jeitinho engraçado e se movimenta no
sofá, agora se sentando no meu colo. Acaricia meu rosto,
contornando as sobrancelhas, a curva do nariz e depois os lábios.
Por fim, beija suavemente minha boca.
— Você ameaçou colocar veneno de rato na minha panqueca.
Foi isso o que você fez, Crawford.
Solto uma risada.
— É o meu jeito romântico de ser. — Sacudo os ombros.
Dakota dá um peteleco na ponta do meu nariz e abre um sorriso
sutil, os olhos chocolate fixos nos meus.
— Você também foi a melhor coisa que me aconteceu, Dean —
diz. — A nossa relação começou de um jeito estranho, mas eu não
mudaria nada. Se, em outra vida, nos reencontrarmos, saiba que
vou me apaixonar por você de novo. E em todas as outras que
vierem.
Não digo nada. Beijo-a com todo o amor do mundo. Expresso,
nesse roçar de lábios, todos os sentimentos que mantenho dentro
de mim. Nunca fui bom com palavras. O meu jeito de demonstrar as
coisas é através dos gestos. E, neste momento, quero que Dakota
entenda que sempre serei dela. Nessa vida e em todas as outras
que vierem, exatamente como ela disse.
— Espera aí... — Ela pousa as mãos em meus ombros e se
afasta alguns centímetros quando faço menção de baixar as alças
do seu vestido. — Ainda temos alguns minutos para o seu
aniversário acabar.
Arqueio as sobrancelhas.
— E?
— E eu tenho uma surpresa para você. — Salta para fora do
meu colo e arruma o cabelo atrás da orelha, apreensiva. — Fique
aqui. Não se mexa.
Acomodo-me melhor no sofá e relaxo a coluna no encosto.
— Serei a estátua perfeita.
Escuto sua risada enquanto ela segue para o quarto. Volta
minutos depois, carregando uma caixinha minúscula nas mãos. O
lacinho azul marinho, se fosse uma pessoa, estaria debochando de
mim, sem sombra de dúvidas.
— O que é isso?
Dakota vacila por um milésimo de segundo, mas se recupera
bem depressa. Volta a se sentar no sofá, só que de frente para mim.
Escrutino suas feições, não encontrando nenhuma pista além de
uma palpável nervosismo. Seja lá o que esteja dentro dessa caixa,
não me parece algo muito bom.
— Uma surpresa. — Morde o lábio inferior, desviando o olhar.
— Se fosse uma surpresa, você não estaria com cara de dor.
Ela ri pelo nariz e me entrega a caixinha.
Encaro a embalagem em minhas mãos, pensando no que pode
ser. É pequeno demais para ser um livro e grande demais para ser
uma aliança de noivado — nunca se sabe, certo? E nós nem
conversamos sobre casamento ainda, então acho que não está na
hora. Penso, então, em outras coisas, mas não chego à conclusão
alguma.
— Você não vai abrir? Estou ficando com dor de barriga, Dean.
— Que dramática — provoco-a e puxo o lacinho, rasgando o
papel logo em seguida. A caixinha deve é um pouco maior que a
minha mão. — Sinceramente, Dakota, você que está me dando
medo.
Sua resposta é levar o polegar à boca, mordiscando a pontinha
da unha. Tento decifrar alguma coisa em seu semblante, porque
Dakota é uma das pessoas mais expressivas que conheço.
A tensão em seu corpo é o detalhe mais gritante de todos. Além
dos ombros tensos, ela não consegue ficar quieta. É como se
estivesse pisando em cima de vários formigueiros.
A reação é, no mínimo, curiosa, o que faz minha barriga se
contrair em expectativa. Se isso aqui for algum tipo de joguinho, não
estou achando nem um pouco engraçado.
Crio coragem e levanto a tampa, o coração pulsando nos
ouvidos.
Fico paralisado por alguns segundos, encarando o objeto ali
dentro.
Será que é isso mesmo que estou pensando? Se a mudança de
comportamento de Dakota for por causa disso, tudo faz sentido
agora.
Porra.
Os dois risquinhos cor de rosa são a única resposta de que
preciso.
— Você tá grávida.
Não é uma pergunta, contudo, quando viro o rosto para encarar
Dakota, vejo a dúvida pairando acima da sua cabeça, bem
semelhante a um letreiro de estrada em uma noite chuvosa.
Ela retorce as mãos uma na outra, as íris castanhas tremulando
enquanto encaram o meu rosto. Há medo, receio e muita
insegurança ali.
— Eu...
— Puta merda, Dakota!
Levanto do sofá em um pulo e a puxo para mim, querendo
apagar qualquer tipo de pensamento ruim da sua cabeça.
Impulsiono suas coxas para cima e ela entende de imediato,
fechando-as ao redor do meu quadril. Giro nós dois na sala, minha
gargalhada se misturando com as lágrimas que escapam e rolam
por minhas bochechas. Meu coração está prestes a pular para fora
do peito. Nunca estive tão feliz na vida quanto agora.
Dakota dá risada também e, quando paramos de rodopiar, vejo
que também está chorando.
— De quantos meses você está?
— Estou de sete semanas. Queria ter certeza antes de te contar
e o seu aniversário me pareceu ser o momento perfeito. — Dá um
sorrisinho envergonhado. — Você não está chateado?
Franzo o cenho.
— E por que eu ficaria chateado?
— Uma gravidez não estava em nossos planos. A gente nunca
nem mesmo falou sobre ter filhos, Dean.
Coloco-a no chão cuidadosamente, mantendo minhas mãos em
sua cintura mesmo depois dos pés tocarem o piso. Seguro seu rosto
e enxugo as lágrimas com o polegar.
— Bom, agora nós estamos falando. Antes tarde do que nunca,
huh?
Ela ri, os olhos diminuindo de tamanho.
— Você está pronto para ser pai? — a sua preocupação é
visível. — Os ensaios com a banda, os shows nas cidades vizinhas,
o meu emprego... Não sei se vai dar certo, Dean e eu...
— Ei. — Fixo os olhos nos seus. — Você quer ser mãe?
Dakota aperta os lábios, contendo o sorriso.
— É o que eu mais quero no mundo. Não sabia disso até que
descobri que estava grávida, mas agora não consigo pensar em
outra coisa.
— Então, é isso. — Beijo a pontinha do seu nariz avermelhado
pelo choro. — Nós vamos ser pais, pequena Greer. Nossa vida
continua, só que, dessa vez, seremos em três. Vai ser perfeito, eu
garanto para você. E, se não for, sempre teremos um ao outro para
tornar as coisas um pouquinho melhores.
As lágrimas voltam a escorrer por suas bochechas e a abraço
novamente, apertando o corpo pequeno contra o meu. Uso esse
momento de silêncio para assimilar a realidade. Cinco minutos
atrás, eu nem desconfiava de que ela estava grávida. Para ser
sincero, mesmo com todas as pistas diante de mim, eu nem cogitei
essa possibilidade. Achei que ela estivesse somente preocupada
com a festa de aniversário.
E agora, sem esperar, descubro que vou ser pai.
Não consigo descrever em palavras a sensação. Imagino uma
menininha correndo por nosso apartamento, usando fantasias dos
filmes da Disney e comendo panquecas de morango no café da
manhã. Imagino Dakota grávida, ficando ainda mais linda do que já
é. Imagino também nós três passeando no Central Park, vivendo o
típico filme norte-americano romântico e meloso que detesto.
Nas imagens criadas na minha cabeça, somos a família perfeita.
— Dakota? — chamo-a e ela levanta o queixo.
— Hum?
— Obrigado — sorrio. — Esse é o melhor presente que você
poderia me dar.
Dakota devolve o meu sorriso.
— Feliz aniversário, futuro papai.
 

 
Março, Nova York
Guardar um segredo é difícil.
Mas guardar esse segredo por quase um mês é ainda pior.
E quando esse segredo, em específico, envolve a gravidez de
Dakota, as coisas se tornam um grande jogo de resistência.
Depois que ela me contou que estava grávida, ela decidiu que
gostaria de manter as coisas somente entre nós, pelo menos por
algumas semanas. Em partes, entendo o seu receio de sair
contando para todos como se fosse uma fofoca. Não é.
Mas isso não significa que seja fácil manter a minha boca
fechada. É difícil pra caramba.
No entanto, hoje é o meu dia de sorte.
Os meninos da The Backdoor — finalmente — vão saber que
serei pai dentro de alguns meses.
Estou curioso para as suas reações, confesso. Em todos esses
anos em que somos amigos, nunca conversamos muito além de
relacionamentos sérios. Então, uma gravidez é algo mais do que
inesperado. Vai ser uma surpresa para eles, assim como foi para
mim. Aposto que Andrew vai ser o tio babão, enquanto Corbin vai
comprar todos os brinquedos que encontrar pelo caminho. Já Sean
vai competir com Miles para ver quem é o favorito.
Quando me dou conta, estou com um sorrisão no rosto ao
estacionar o carro em frente à casa de Andrew, que fica no subúrbio
de Nova York. Aqui é tão tranquilo que acaba sendo inevitável não
pensar que, daqui a alguns anos, Dakota e eu acabemos nos
mudando para cá.
Amo o caos da cidade, mas também sou apaixonado pelo
confortável sossego.
Depois de desligar o motor, saio do carro e caminho pelo jardim
da casa de Andrew. A construção é de dois andares e poderia
facilmente ter saído de uma revista. Há uma varanda que rodeia boa
parte da lateral da casa e, nos fundos, uma área de lazer que conta
com piscina e churrasqueira.
Sigo para a garagem, onde encontro Sean, Miles, Corbin e
Andrew conversando entre si. Eles têm, nas mãos, garrafas de
cerveja e um saco de salgadinho aberto em cima do caixote que
usamos como mesinha de centro.
— O superstar chegou! — Corbin é o primeiro a me notar. —
Achamos que não viria para o ensaio.
Escondo as mãos dentro do bolso.
— O trânsito estava uma merda, vocês sabem.
— Desde que você trocou a sua moto por um carro, as coisas
nunca mais foram as mesmas — Andrew murmura ao me entregar
uma cerveja. Não é a minha favorita, mas tudo bem.
— Sou agora um homem responsável.
Sean revira os olhos de um jeito brincalhão e faz um sinal para o
sofá. Me acomodo ao seu lado, esticando as pernas.
— E sobre o que vocês estavam conversando antes de eu
chegar?
— Miles está saindo com alguém.
Arregalo os olhos.
— Sério?
Ele nega.
— Não, não estou. É invenção da cabeça deles.
— Nada disso. — Corbin se intromete, erguendo o dedo
indicador que aponta para o teto. — Nós temos provas, Miles. Não
se pode fugir da verdade.
Miles desvia o olhar ao levar a cerveja aos lábios. Bebe um
grande gole e pousa a garrafa vazia em cima do caixote. Diferente
dos outros dias, hoje ele está usando uma camiseta vermelha e
calças jeans desbotadas. É estranho vê-lo com qualquer cor que
não seja preto.
— Vocês querem a verdade, então?
Andrew cruza os braços, arqueando a sobrancelha castanha
clara.
— Se estou nessa vida, é para isso.
Contenho uma risada.
Andrew pode ser o mais responsável entre nós, agindo, algumas
vezes, até como o paizão da banda, mas ninguém pode negar que
ele sabe aproveitar as grandes oportunidades quando as vê diante
de si. Isso inclui participar de um body shot só porque apostaram
que ele não encararia.
— Conheci alguém — confessa. — E isso é tudo o que vocês
vão receber.
Uma quantia absurda de palavrões ecoa por toda a garagem.
— Filho da mãe!
— Seu cuzão!
— Quem é, porra?
— Vai tomar no cu, Miles.
O tecladista balança as sobrancelhas para cima e para baixo, os
olhos angulados e estreitos brilhando em divertimento. Ele não está
nem um pouco abalado com os insultos. Está se divertindo, isso
sim.
— Corbin disse que tinha provas, agora é responsável por
descobrir quem é.
Corbin faz uma careta.
— Isso não é nem um pouco engraçado.
Miles dá de ombros e se levanta, pegando mais uma cerveja no
frigobar que Andrew instalou alguns meses atrás.
Desde que fomos notados pelo agente Cornnel, nossos
pagamentos por shows melhoraram muito. Ainda não é uma quantia
exorbitante de dinheiro, infelizmente, mas é o que tem pagado as
minhas contas muito bem. Pude até mesmo trocar a — minha
amada — moto por um carro, o que foi um investimento tremendo,
levando em conta que agora Dakota e eu temos um bebê a
caminho.
— Tenho uma coisa para contar para vocês.
Todos os rostos se viram na minha direção. Fico nervoso no
mesmo instante, o coração pulsando nos ouvidos.
— Eu vou ser pai.
Por alguns segundos, só escuto o longo e terrível silêncio. Então,
como um balão sendo estourado, todos vêm para cima de mim. É
uma bagunça de mãos, cabelos, assovios e pernas. Não sei ao
certo onde eu começo e onde eles terminam. Só sei que gargalho
alto, achando inesperado a reação de todos.
— Desde quando? — Andrew pergunta. O sorriso em sua boca
chega a ser assustador de tão grande.
— Ela me contou no meu aniversário, mês passado. Quis contar
para vocês assim que soube, mas Dakota me pediu para guardar
segredo — explico. — Hoje fui liberado do castigo. Agora posso
dizer para Nova York inteira que vou ser pai.
— Estou ansioso para a gente encher essa criança de
brinquedos! — Corbin exclama, confirmando minhas suspeitas. —
Já sabem se é menino ou menina?
— Vamos descobrir na semana que vem.
— Caralho — Sean assovia. — Ainda não acredito que isso é
real. Dean pai babão vem aí?
Sorrio.
— Vou ser o melhor pai do mundo para essa criança. Ela vai
ficar até irritada com o quanto que vai ser mimada.
— A gente precisa comprar alguns presentes para comemorar
isso. — Miles tira o celular do bolso e abre o aplicativo do Google,
acredito. — O que vocês acham de uma bateria de brinquedo?
Sean estica o pescoço, tentando ver a tela do aparelho.
— Compra uma bateria, uma guitarra, um teclado e uma flauta.
Arqueio a sobrancelha.
— Ninguém aqui toca flauta, Sean.
— A gente ensina. Sou um ótimo professor — murmura. —
Vamos ensinar tudo, essa é a verdade. Quando você ver, essa
criança vai estar se apresentando com a gente nos shows.
— Meu filho nem nasceu e você já está querendo que ele vire
uma super estrela — resmungo.
Andrew se acomoda ao meu lado no sofá e gira a garrafa de
cerveja entre os dedos.
— Ele vai ser uma super estrela, assim como a gente. — Me
direciona uma piscadela. — E se for menina, vai brilhar também.
Estamos falando de Dean Crawford e Dakota Greer, afinal.
Empurro seu ombro de brincadeira.
— Quero só ver você dizer isso quando essa criança estiver com
a fralda cheia de cocô.
Corbin faz um biquinho.
— Isso já não vai ser problema nosso. Os tiozões aqui vão viver
só as melhores partes. — Gesticula para si mesmo. — Passeio de
moto, aula de piano, banho de piscina, casa na árvore e todos os
brinquedos que a gente encontrar na vitrine. Já o Dean vai viver o
pior.
Mostro para ele o dedo do meio.
— Vou colocar vocês de babás, escutem o que estou dizendo.
Sean e Miles ignoram o que eu disse e viram o celular para mim,
mostrando as coisas que encontraram em um site esquisito de
brinquedos para crianças. É um microfone que brilha no escuro e
muda de cor conforme a música toca. É a coisa mais extraordinária
que já vi.
— Porra, vocês precisam comprar isso.
Todos nós gargalhamos em uníssono. Sei que a
responsabilidade na criação de uma criança não é fácil. Haverá
sempre dificuldades no caminho, tanto para mim quanto para
Dakota, mas saber que não estamos sozinhos nessa já é algo de
grande valor.
A The Backdoor é a minha segunda família e agora, com Dakota
junto e o bebê, ela acaba de ficar ainda maior.
 

 
Maio, Nova York
 
No décima quarta semana de gestação, Dakota e eu estamos na
sala de espera do consultório da Dra. Aimy Adams.
No meu ponto de vista, o lugar é tão assustador quanto a
decoração atual da sala de estar do nosso apartamento. As paredes
são pintadas em tom verde claro e há brinquedos espalhados por
todos os lugares. Duas crianças estão sentadas no chão, montando
um quebra-cabeça de vinte peças, enquanto a mulher sentada ao
nosso lado folheia uma revista, mantendo-a apoiada sobre a barriga
proeminente.
Dakota aperta minha mão a cada minuto, a ansiedade
corroendo-a por dentro. Tenho que confessar que estou com um
desconfortável aperto no estômago desde que chegamos aqui, mas
não quero deixá-la ainda mais nervosa. Já está sendo
suficientemente difícil para ela encarar tudo isso.
Diferente do que pensamos, a gravidez não é nem um pouco
fácil. Dakota teve enjoos frequentes no começo, muita dor de
cabeça e um emocional difícil de entender. Sente-se insegura com o
próprio corpo e, naqueles dias mais difíceis, ela mal conversa
comigo. Em outros, as coisas são tão tranquilas e boas que sorrio
só de vê-la feliz.
Na semana passada, ela estava pulando de alegria quando
fomos comprar as coisas para o quarto do bebê. Desta vez, fiz um
esforço para aturar as quatro horas que passamos dentro da loja de
decoração. Dakota comprou de tudo: chupetas, mamadeiras,
mantas e alguns brinquedos de pelúcia.
Como ainda não sabemos o sexo do bebê, optamos por compras
coisas mais neutras. Nada de vestidos ou sapatos. 
Para a nossa sorte, hoje isso está prestes a mudar.
A Dra. Aimy nos garantiu que esta semana vamos conseguir
descobrir se teremos uma menina ou um menino. Não criei muitas
expectativas a respeito disso, embora as coisas estejam
conspirando para que seja uma menina. Miles e Sean já compraram
várias coisas porque estão convictos de que Dakota está esperando
uma garotinha.
— Você está esmagando meus dedos — murmuro no pé do seu
ouvido quando sinto uma fisgada se estender por todo o pulso.
— É para você ir treinando para a sala de parto. — Dá um
sorriso amargo e volta a prestar atenção nas crianças brincando. —
Você acha que seremos bons pais, Dean?
Arqueio a sobrancelha.
— E por que não seríamos?
Ela encolhe os ombros, envergonhada.
— Nosso histórico familiar não é um dos melhores, vamos
confessar. — Encara as unhas pintadas de esmalte rosa claro. —
Meu pai teve um caso com a mãe da Channel, a engravidou e
mentiu durante anos sobre isso. E o seu pai...
Sua frase pende no ar, esperando que eu tire minhas próprias
conclusões.
Para a minha tristeza, sei que ela tem razão. Jay Greer e Gideon
Crawford não são os melhores exemplos de pais. Mesmo que
estivessem presentes em nossas vidas, tomaram escolhas e
atitudes que trouxeram consequências em nossa forma de encarar
as relações.
E mesmo que as coisas tenham melhorado muito no último ano,
entendo exatamente o que ela quer dizer. Ainda há um risco,
mesmo que pequeno, que sigamos por um caminho semelhante.
Engulo em seco e encaro, também, as duas crianças. Uma delas
tem cabelo castanho claro curtinho, enquanto a outra exibe cachos
loiros presos em uma presilha de pérolas.
  — Sabe o que eu acho?
Dakota vira sutilmente o corpo na cadeira de estofado, os olhos
chocolates fixos nos meus com afinco. Sempre achei eles muito
expressivos, mas, nos últimos meses, eles gritam tudo aquilo que
Dakota não expõe em voz alta. São a entrada para a sua mente
cheia de pensamentos.
— Hum?
Acaricio seu rosto com o nós dos dedos.
— Não tem como a gente saber se seremos bons pais ou não.
Pais cometem erros, por mais perfeitos que eles tentem ser. Minha
mãe é a mulher mais maravilhosa que já conheci e ela não ficou
imune aos erros da maternidade. E tenho certeza que, aqui em
Nova York, há um pai que faz de tudo para o filho e, ainda sim,
comete alguns deslizes no caminho. É natural do ser humano —
explico. — A gente vai errar, Dakota. Muito. O que faz a diferença,
nessas situações, é que estaremos errando por amor.
Uma solitária lágrima lhe escapa.
— A gente vai fazer de tudo por nosso filho. Vamos dar a vida
que ele merece e fazê-lo a criança mais feliz que esse mundo já viu.
— Abaixo os olhos. — Também vamos errar, discutir, colocá-lo de
castigo e, até mesmo, ouvir ele dizer que a gente não o entende.
Porém, nós vamos, acima de tudo isso, apoiá-lo. Não vamos mentir,
manipular, esconder segredos e obrigá-lo a tomar decisões
motivadas pelas nossas opiniões.
Quando termino de falar, o lábio inferior de Dakota tremula.
— Você vai ser um pai incrível, Dean.
Sorrio.
— E você vai ser uma mãe extraordinária, pequena Greer.
Suas bochechas adquirem um tom rosado enquanto nega com a
cabeça.
— Uma mãe extraordinária com defeitos e inseguranças.
— Para mim, soa como a mãe perfeita.
Antes que ela possa ter a chance de dar uma resposta
sarcástica, a porta vai e vem é aberta e o nome de Dakota é
chamado pela enfermeira. Entrelaçamos nossas mãos e seguimos
pelo extenso corredor do consultório até chegarmos na sala de
ultrassonografia.
A enfermeira segue com os procedimentos que já estamos
acostumados a ouvir. Pergunta sobre como Dakota está se sentindo
e se os enjoos já passaram. As duas conversam tranquilamente
conforme as observo da poltrona que estou sentado. A sala tem luz
baixa, deixando o ambiente aconchegante.
Por fim, a enfermeira se despede, avisando que a Dra. Aimy logo
vai nos atender, e fecha a porta em um clique. Dakota gira o corpo
no travesseiro, observando-me com atenção. As feições estão mais
serenas, confirmando que a conversa que tivemos na sala de
espera acalmou um pouco dos seus ânimos.
— Ainda não conversamos sobre os nomes — informa, as mãos
cruzadas sobre a barriga que ainda é pequenina.
— Você pensou em algum especial?
Franze a pontinha do nariz, pensativa.
— Pensei em Fallon, Lilah, Olive ou Peyton.
Coço a barba rala. Não me passa despercebido que Dakota citou
apenas nomes de meninas.
— Gostei de Olive. Poderíamos chamá-la de Ollie.
— Já pensando nos apelidos?
— Apelidos são charmosos. — Abro um meio-sorriso. — E
indicam intimidade. Vamos saber quem são os amigos de verdade
da nossa filha só pela forma que chamarem por ela.
Dakota dá risada.
— Nosso bebê nem nasceu e você já está bancando o pai
protetor?
Cruzo os braços, divertindo-me com o rumo da conversa.
— Um treinamento para os próximos anos que estão por vir.
Seu revirar de olhos acaba me arrancando uma risada, também,
que silencia-se de imediato no momento em que a porta adjacente é
aberta e a Dra. Aimy passa por ela. Usando um jaleco branco,
calças cor de rosa e um broche no formato de uma chupeta, ela foi
escolhida a dedo por Channel e Reeva. Elas garantiram que o
trabalho dela como obstetra era coisa de outro mundo, então temos
a tranquilidade de saber que o bebê está em boas mãos.
— Como estamos hoje? — ela questiona com um sorriso ao se
sentar de frente para o monitor do ultrassom.
— Estamos bem, só estou um pouco nervosa — Dakota
confidencia, soltando uma longa lufada de ar. — Têm sido semanas
difíceis. A curiosidade tem me dado péssimas noites de sono.
Quanto a esse assunto, não faço nenhum comentário. As duas
semanas que se passaram — nas quais o agente Cornnel deu folga
para a The Backdoor — foram bem caóticas. Dakota, que antes
dormia tranquilamente, agora tem noites complicadas. Acorda com
frequência, se remexe muito na cama e se levanta de madrugada.
Fica na cozinha, sentada na banqueta, bebendo chá enquanto me
esforço para distraí-la com conversas triviais.
Estou tentando ser o melhor namorado. Alguém com quem ela
pode contar para todas as horas, independentemente do motivo.
Só estou com receio quanto à agenda de shows, que só vai ficar
mais lotada daqui para frente. O agente Cornnel quer que nós
façamos uma viagem de duas semanas para a Filadélfia. Não é
muito tempo, mas deixar Dakota sozinha não é o que desejo. Ao
mesmo tempo em que quero cancelar tudo e ficar somente com ela,
sei que tenho um compromisso com a banda.
Não posso deixá-los na mão.
Fico tão preso nos próprios pensamentos que acabo não
ouvindo o restante da conversa entre a Dra. Aimy e Dakota. Sou
puxado para a realidade somente quando ela estica o braço, me
chamando para ficar mais perto. Engulo em seco e entrelaço nossas
mãos, não querendo que ela associe a minha expressão com algo
ruim.
— Então, vamos descobrir o sexo desse bebê?
A Dra. Aimy aplica o gel na barriga de Dakota e nós dois
respiramos fundo, o silêncio doendo nos ouvidos. Primeiro,
escutamos o coraçãozinho batendo com força. O som faz meus
olhos marejarem todas as vezes. É muito surreal pensar que, em
alguns meses, terei um bebê nos braços que dependerá de nós dois
para viver.
A Dra. Aimy explica algumas coisas e, por fim, pousa o aparelho
de ultrassom em um ponto específico da barriga de Dakota, fazendo
uma mínima pressão. Há um sorriso de felicidade esticando as suas
bochechas magras.
— É uma menina.
Dakota aperta os dedos ao redor dos meus e nós dois choramos.
Choramos de amor pela nossa menininha que está vindo. Choramos
de felicidade, porque nunca imaginamos que estaríamos vivendo
isso antes dos trinta anos. Choramos, acima de tudo, porque ainda
nem a conhecemos, e já a amamos com tudo o que temos.
Não sei se iremos mesmo escolher mesmo o nome Olive, mas,
para mim, ele soa perfeito. Tão perfeito quanto a imagem pequenina
sendo reproduzida no monitor de ultrassom.
 
 

 
Agosto, Nova York
 
As coisas entre mim e Dean não vão nada bem.
Estou de vinte e nove semanas e sinto que sou uma bomba
relógio prestes a explodir. Eugenie diminuiu minha carga horária no
Rue’s em decorrência da proximidade com o parto e ainda me deu a
liberdade de trabalhar em casa, caso fosse necessário.
Enquanto isso, Sean, Corbin e Miles fazem visitas semanais,
ajudando Dean e eu a decorarmos o quarto da Ollie. As paredes
estão pintadas de um lilás clarinho e o berço também já foi montado.
As prateleiras foram instaladas e Channel comprou toda a
decoração com a minha ajuda. É a coisinha mais linda que já vi.
Reeva, no entanto, está acompanhando tudo à distância, já que
conseguiu o emprego em Paris. É um contrato de dois anos, mas há
chances da empresa estender por mais tempo. Confesso que sinto
saudades da minha amiga, mas essa distância permitiu que
Channel e eu ficássemos mais próximas. Ela está sendo a irmã
perfeita junto de Lucy.
Agora, o meu relacionamento...
Nunca passamos por uma fase tão difícil quanto agora. O pior de
tudo é que não faço ideia de como melhorar as coisas. A cada
semana que passa, tenho a impressão de que estamos nos
encaminhamos para a linha de chegada.
A gravidez era para nos unirmos ainda mais. Ou, pelo menos, foi
isso que pensamos.
Massageio as minhas têmporas com a ponta dos dedos e bebo
um gole do chá que preparei minutos atrás. O relógio pregado na
parede da cozinha marca uma e meia da manhã. Esse é o horário
que Dean e eu combinamos de ligar durante as noites em que ele
estivesse fora da cidade por causa dos shows da The Backdoor.
Há uma semana, ele e os meninos viajaram para Boston.
Conseguiram uma noite de cinco shows seguidos em diferentes
bares. No começo, achei a ideia incrível. Entretanto, desde que nos
aproximamos do parto de Ollie, Dean quase nunca está em casa.
Ou está enfiado na garagem de Andrew ensaiando, em alguma
reunião com o agente Cornnel ou viajando para longe de mim.
Quando paro para pensar no assunto, considero a possibilidade
de estar sendo egoísta em somente pensar em mim. Queria ele aqui
comigo? Claro que sim. É uma droga ficar sozinha, mas também
não quero que ele abra mão dos próprios sonhos por minha causa.
Desde o começo, nós sabíamos que seria assim. Eu só não
esperava que fosse ser tão doloroso sentir na própria pele.
Respiro fundo e desbloqueio a tela do celular, clicando no seu
contato. Deixo a ligação no viva-voz. O telefone chama, chama e
chama, mas ninguém atende. Tento de novo, só que dessa vez vai
direto na caixa postal. Praguejo um palavrão, odiando estar nessa
situação.
Mando uma mensagem, contudo não obtenho também nenhuma
resposta.
Fico sentada na cozinha até duas da manhã. O silêncio é tudo o
que recebo de Dean e isso já é mais do que suficiente. Coloco a
caneca com o chá na lavadora de louças, apago as luzes e me deito
em nossa cama. Seu cheiro permanece impregnado nos lençóis e
pego no sono desejando que, quando acordar amanhã, ele esteja
aqui comigo.

Meu celular está vibrando descontrolado em cima da mesinha de


cabeceira.
Pisco os olhos, me acostumando com a claridade do quarto. Não
faço ideia de que horas são, mas já é de manhã, se levar em conta
os raios solares que atravessam a fina cortina.
Meio grogue de sono, estico o braço e pego o telefone. Deslizo o
indicador pela tela, atendendo a ligação.
— Alô?
— Bom dia, pequena Greer.
A voz de Dean é como ser atingida por um soco na boca do
estômago. Por um segundo, esqueço toda a nuvem de chuva que
paira sobre o nosso relacionamento. Quando ele me chama de
pequena Greer, eu quase consigo ignorar o formigamento irritante
que domina o meu subconsciente. Nesse curto espaço de tempo,
me permito acreditar que não estamos empurrando todos os
problemas para debaixo do tapete.
Só que, hoje, não vou deixar isso acontecer. Estou cansada,
grávida e sozinha.
— Você não me ligou ontem.
Dean suspira do outro lado da linha, soando culpado.
— O show se estendeu até as três da manhã. Quando voltamos
para o hotel, já era tarde demais para te ligar. Desculpe se isso te
preocupou. Não vai acontecer de novo.
Fecho os olhos. Quero acreditar em suas palavras, mas já é a
terceira vez que isso acontece nos últimos dois meses. Não há
tempo em sua agenda para uma namorada grávida.
— Dean...
— O que foi?
Sua voz exala toda a preocupação do mundo, porque ele me
conhece melhor do que ninguém. Sabe que estou prestes a dizer
algo que vai doer a nós dois, por mais que queiramos evitar isso a
todo custo.
— Nós não podemos continuar assim.
— Eu sei — murmura. — Mas é temporário. No final de semana,
já estaremos de volta a Nova York e tudo vai voltar a ser como
antes.
Nego com um balançar de cabeça, embora ele não possa ver.
— Para de mentir para si mesmo, Dean. Daqui a algumas
semanas, você vai viajar de novo. Pode ser alguns dias, uma
semana ou um mês. É uma incógnita — suspiro alto. — A Ollie
nasce daqui algumas semanas e eu nem sei se você vai estar aqui.
Como você quer que eu fique com isso?
A quietude que se segue entre nós chega a ser desconcertante.
Ele não está aqui, mas consigo imaginar seu rosto contraído em
tristeza com uma facilidade incrível. Enquanto isso, sua cabeça luta
para encontrar uma solução, uma forma de nos mantermos intactos
nesse barco que não para de oscilar. O problema é que não sei se
há.
Não enquanto a The Backdoor estiver, cada vez, mais perto de
estourar.
— Você quer terminar, é isso?
Pressiono o celular com mais força contra a orelha.
— Não quero te esperar toda noite, Dean — confesso. — Não
quero encarar a maternidade sozinha. Nós prometemos que
daríamos um jeito. Você me garantiu que seríamos ótimos pais, só
que não tem como fazermos isso se somente um de nós está
disponível por inteiro.
— Você quer que eu saia da banda, então?
— Quero que você siga seus sonhos e conquiste o mundo, mas
que faça isso comigo ao seu lado.
Não lhe dou a chance de responder.
Encerro a ligação com um único clique e volto a me deitar,
encolhendo o corpo debaixo das cobertas. O telefone vibra diversas
vezes por quase meia hora. Não atendo. Não faço absolutamente
nada. Somente fecho os olhos e torço, baixinho, para que esse não
seja o ponto final entre nós.
Não pode ser.

 
Dean e eu não conversamos há dois dias.
E embora eu me esforce muito, é difícil não pensar no assunto.
Checo meu celular três vezes por dia, torcendo para receber uma
mensagem sua. Contudo, tudo o que encontro é a grande e temida
ausência. O silêncio é a pior resposta que ele já me deu em todos
esses meses de namoro.
— Você quer me contar algo? — Channel arrisca. Sua voz soa
mais macia do que o normal.
Levanto o rosto do prato de bolo diante de mim e foco na minha
meia-irmã.
Hoje não há nenhum resquício de maquiagem em seu rosto, o
que deixa seus olhos cor de chocolate ainda mais intensos. O
cabelo ruivo encontra-se preso em um coque bagunçado e a
camiseta larga serve como um vestido em seu corpo esguio.
— Acho que Dean e eu vamos terminar.
— O quê? — o garfo paralisa no ar. — Por quê?
Mordo o cantinho do lábio inferior.
— Não sei como fazer as coisas funcionarem entre nós e a Ollie
ainda nem nasceu — confidencio. — A banda está cada vez mais
perto do sucesso. Não quero nem pensar quando as coisas, de fato,
começarem a ficar sérias. Nova York não será mais suficiente, nem
mesmo eu e a nossa filha.
O rosto de Channel se contorce em uma careta.
— Você está falando bobagem. Se o Dean tivesse que escolher,
ele escolheria vocês duas sem em hesitar.
— É aí que está o problema, Channel — aponto. — Eu não
quero que ele escolha. Não deveria ser assim. Desde que a gente
se conheceu, o sonho dele é ser famoso, estar em cima do palco e
fazer as pessoas conhecerem as suas músicas. Que tipo de
namorada eu seria se o privasse disso?
Ela encolhe os ombros, desanimada e enche a boca de bolo red
velvet.
Uma vez por semana, Channel e eu damos um jeito de virmos
até a confeitaria onde Noora, a melhor amiga de Lucy, trabalha. É
um lugar charmoso, todo decorado em tons pastéis e com os
melhores doces que já experimentei. Prometi que iria me controlar
durante a gravidez, contudo, é muito mais difícil falar do que fazer.
Já estou na minha segunda fatia de bolo e faz somente uma
hora que chegamos.
— O que você quer fazer, então? — indaga, alguns minutos
depois.
— Não faço a mínima ideia. — Bebo um gole do milk-shake de
baunilha. — Só não quero ficar sozinha cuidando da Ollie e
esperando que ele venha para casa depois de semanas. Quero que
a nossa filha tenha um pai presente. Você sabe melhor do que
ninguém do que eu estou falando.
Channel assente, os olhos exalando toda a bondade do mundo.
— Vocês vão encontrar um jeito — garante. — Dean te ama
muito e não vai te deixar na mão em um momento tão importante
quanto esse.
— Espero que sim.
Nenhuma de nós diz mais nada. O assunto está encerrado e
ainda não faço ideia de como melhorar. Tudo está desmoronando
entre nós.
 

 
Agosto, Nova York
 
Retorno para o apartamento mais tarde que o previsto.
Depois que Channel e eu saímos da confeitaria, ela decidiu que
seria uma boa ideia darmos uma caminhada no Central Park, como
fazíamos antes de eu descobrir estar grávida. O ar fresco me fez
bem e me permitiu esquecer os pensamentos conflitantes. Enquanto
o sol aquecia a minha pele, os problemas envolvendo Dean, Ollie e
a banda sumiram por completo.
Por um milésimo de segundo, me permiti imaginar como seria se
as coisas entre nós fossem menos difíceis. Ter ficado grávida no
momento mais importante da carreira da The Backdoor não foi uma
boa ideia. Estamos empolgados com o nascimento da Ollie, e os
meninos são os maiores exemplos disso, mas, ao mesmo tempo,
sinto que eles têm medo que Dean acabe desistindo de tudo por
causa de nós duas.
É um risco cheio de consequências.
Balanço a cabeça em negação e insiro a chave na fechadura,
abrindo a porta. Acendo as luzes e me desfaço das sandálias de
salto baixo. Um suspiro de alívio me escapa ao sentir as panturrilhas
livres das tiras apertadas. Penduro também a bolsa no cabideiro e,
quando giro sobre os calcanhares descalços, deixo escapar um grito
ao encontrar Dean parado no meio da sala.
Sua aparência é a primeira coisa que noto. A barba cresceu em
comparação à última vez que nos vimos. Agora, ela adorna sua
mandíbula, os pelos loiros deixando-o mais velho do que realmente
é. As olheiras também são visíveis, denunciando que não teve uma
boa noite de sono. E os olhos... O costumeiro azul oceano nunca
esteve tão escuro.
Ele me encara da cabeça aos pés, fazendo uma análise
minuciosa. A atenção fixa-se por mais tempo na minha barriga nada
discreta. O vestido, embora seja soltinho, não faz milagre.
— O que você está fazendo aqui? — consigo dizer, a voz
arranhando a garganta.
Dean esconde as mãos dentro da calça jeans.
— Não queria resolver isso por telefone.
Ergo as sobrancelhas.
— Você dirigiu de Boston até aqui?
Concorda com um tímido aceno e faz um sinal para que eu me
sente no sofá. Faço o que ele pede e abraço uma almofada. Dean
se acomoda ao meu lado, mas ainda mantendo uma distância
generosa entre nós.
— Por que?
Ele encara as próprias mãos. A tatuagem no dorso, com a frase
“I am completely yours” me causa uma estranha sensação na boca
do estômago. Engulo o nó invisível ao redor da garganta, desviando
o olhar.
— Porque eu não posso te perder, Dakota. Não posso perder
você, Ollie e tudo o que construímos — diz baixinho. — Eu nunca
me perdoaria por isso.
Afundo os dedos no tecido da almofada.
— Você não vai nos perder.
Ele vira o rosto, fixando o olhar no meu. Posso ver a dor
exalando de cada parte sua.
— Se as coisas continuarem assim, eu vou.
Não sei o que responder.
Não sei nem mesmo o que pensar do futuro. A banda está muito
perto de conseguir um contrato com a Sing Park. Eles foram
notados por um dos produtores musicais e estão passando pelas
fases finais da seleção. Mais uns meses e a The Backdoor vai
começar a trilhar o seu caminho rumo ao grande sucesso. Dean
sabe disso melhor do que ninguém.
— Não posso desistir — ele diz, como se lesse os meus
pensamentos.
— Não estou pedindo para que desista.
Dean vira o corpo no sofá e se aproxima, segurando minhas
mãos nas suas. Elas estão geladas e causam um arrepio
desagradável no meu corpo.
— O que quer que eu faça, então? Não importa o que pedir, eu
prometo dar um jeito, Dakota. — Encosta a testa na minha. — Só
não quero terminar com você e ficar longe da Ollie. Quero ser o pai
e o namorado que vocês duas merecem.
Fungo baixinho, o choro lutando para ser libertado.
— Eu quero você. — Fecho as mãos ao redor da sua nuca,
diminuindo ainda mais a distância entre nós. — Quero você aqui,
com a gente, mas também quero você nos palcos.
Ele dá uma risada curta.
— Não posso estar em dois lugares ao mesmo tempo, meu
amor.
— Eu sei. Por isso que não sei o que fazer.
Dean se afasta e fica de joelhos no chão. Abro minhas pernas e
deixo que ele se acomoda entre elas. Os dedos, calejados,
acariciam meus joelhos e depois as coxas, dedilhando minha pele
como se eu fosse as teclas de um piano. Ao chegar na altura da
minha barriga, ele levanta o vestido e deposita ali um suave beijo.
Posso jurar que Ollie se agita dentro de mim.
— Meses atrás, quando você me contou que estava grávida, eu
prometi que moveria montanhas para ser o melhor pai do mundo —
Dean conversa comigo, mas mantém os olhos em minha barriga. —
Tenho falhado muito e você, Ollie, ainda nem nasceu. Não gosto
nem de pensar em como vai daqui algumas semanas, porque posso
colocar tudo a perder.
— Dean...
— A banda é a minha carreira. É o sonho que eu e os meninos
batalhamos dia após dia — ele continua a falar, ignorando o meu
chamado. — Entretanto, se em algum momento eu tiver que
escolher... Vai ser a decisão mais difícil que terei que tomar, porque
eu vou ser egoísta ao ponto de querer ter as duas coisas para mim.
  — Você não estará sendo egoísta, Dean.
Ele trinca os dentes, movendo a cabeça de um lado para o outro.
— Será que é tão impossível assim ter uma banda de sucesso e
uma família?
O questionamento atinge em cheio o meu coração, quebrando-o
em inúmeros pedacinhos cortantes.
— Não deveria ser.
Dean assente e flexiona os joelhos, se levantando. Caminha até
a sacada e fica de frente para as portas de vidro fechadas,
encarando a cidade iluminada e barulhenta. Permaneço no sofá,
sem saber o que fazer.
Vários minutos se passam. O apartamento nunca pareceu tão
sufocante quanto agora. Quando faço menção de me levantar
também, Dean se vira, me paralisando.
— Tenho uma ideia.
— Como assim?
Dean volta a se sentar ao meu lado. Os olhos azuis dizem tantas
coisas que não consigo decifrar.
— Daqui a alguns meses, se conseguirmos o contrato com a
Sing Park, estaremos em Nova York por tempo indeterminado, pelo
menos enquanto produzimos o álbum. Isso normalmente leva
meses. É um processo desgastante.
— E?
— O que significa que os shows vão parar. Devem retornar
somente quando o disco estiver pronto e entrarmos em turnê —
explica. — Esse período vai ser o mais difícil de todos. Pode ser que
passemos meses fora de casa, voltando em dias esporádicos entre
folgas e feriados.
— Dean, você não está ajudando.
Ele deixa escapar uma risada nervosa.
— Se tudo isso for para acontecer, darei um jeito de vir para
Nova York. Nem que seja por uma ou duas noites. Eu atravesso os
Estados Unidos inteiro se for preciso. — Segura minhas mãos entre
as suas. — Não vou deixar você sozinha, Dakota. E quando a Ollie
estiver maior, e você sentir que é a hora certa, dou um jeito de
conseguir passagens e o melhor quarto de hotel para que fiquemos
juntos pelos dias que você quiser.
Sorrio, sentindo as lágrimas se formarem.
— Você faria isso?
— Eu disse uma vez e repito quantas vezes forem necessárias:
você e a Ollie são as pessoas mais importantes da minha vida. Eu
amo vocês como nunca amei ninguém. Não vou deixar que meu
sonho estrague isso. — Sua boca beija suavemente a minha. —
Vocês são minha prioridade, acima de tudo.
Entre lágrimas, puxo Dean para um beijo. Sua boca se move
com a minha em uma dança lenta que transmite a confusão de
nossos sentimentos. O medo do término, o amor infinito e o futuro
que nos aguarda. Tenho consciência de que haverá ainda muitas
dificuldades pelo caminho — esse é só o começo —, mas confio em
nosso relacionamento. Confio no fato de que daremos um jeito, não
importa a situação.
De repente, algo se acende na minha cabeça. Pouso a mão em
seu peitoral e o afasto. A confusão em seu rosto chega a ser
engraçada.
— E se vocês não conseguirem o contrato com a gravadora?
Dean abre um sorriso sacana.
— Está duvidando do nosso talento, pequena Greer?
Mostro a língua.
— Estou considerando possibilidades, Crawford.
Ele revira os olhos e empurra meu cabelo para atrás da orelha,
os dedos massageando o meu couro cabeludo logo em seguida.
— Se não conseguirmos o contrato, o que duvido muito que
aconteça, vou pedir para que o agente Cornnel diminua a nossa
agenda de shows. Três noites no máximo e somente duas vezes por
mês.
Nego.
— Você não pode fazer isso, Dean.
— Posso, sim. — A boca desliza pelo meu pescoço e os dentes
mordiscam o lóbulo da minha orelha. — Sou o vocalista. Sem mim,
não há banda.
— Que convencido.
Ele sorri contra a minha pele.
— Contra fatos não há argumentos, gatinha — sussurra.
Ele não me dá a chance de resmungar qualquer tipo de
argumento. Volta a me beijar, as mãos puxando meu cabelo para
trás. É tão delicioso que deixo escapar um gemido. Meus mamilos já
estão intumescidos, tão sensíveis que são a primeira parte do meu
corpo que desperta quando Dean me toca desse jeito.
— Estou falando sério, Dean. — Consigo dizer entre um beijo e
outro. — Você não pode pausar a sua carreira por causa de nós.
Escuto um palavrão baixinho ser proferido.
— Dakota, você tem que se decidir. Você me quer em casa ou
me quer do outro lado dos Estados Unidos?
— Quero você comigo.
— Então, assim vai ser. Fico com você, porque o contrato com a
Sing Park vai dar certo — garante. — E se não der, eu também vou
ficar com você. Haverá noites que estarei longe, mas vou contar
cada maldito segundo para voltar para casa.
Deslizo as unhas por seus ombros, o sorriso sendo impossível
de ser contido.
— Eu amo você, Crawford.
— E eu amo você, Greer.
Dito isso, ele me beija. De novo e de novo. Me beija até que os
problemas sejam pequenos demais para que nos atormentem. Dean
me beija até que todas as suas palavras se tornam verdade.
Porque, não importa a distância, sempre vamos estar juntos. Nós
três.
 
 

 
Novembro, Filadélfia
 
A assistente de palco está arrumando o meu microfone lapela.
Seus olhos são de um castanho escuro que me lembra muito os de
Dakota, o que faz a preocupação em meu peito triplicar de tamanho.
Eu, definitivamente, não queria estar aqui, prestes a participar de
uma entrevista em um dos programas de auditório mais famosos
dos Estados Unidos, mas eu não tive muita escolha.
Considerei a possibilidade de cancelar. Diversas vezes. Dakota,
no entanto, não me deixou ceder, mesmo que ela esteja nas últimas
semanas de gravidez. Olive pode nascer a qualquer momento e eu
não quero que isso aconteça enquanto eu estiver falando da minha
carreira na televisão.
Droga.
Dispenso a assistente com um aceno de mão e checo o celular.
Não há nenhuma mensagem além dela desejando boa sorte para
todos nós.
— Está nervoso? — Corbin pergunta, girando sutilmente o corpo
na cadeira enquanto a maquiadora arruma o seu cabelo em um
topete.
Mordisco o interior da bochecha.
— Estou mais preocupado com a gravidez da minha namorada,
isso sim.
A maquiadora lança um rápido olhar em minha direção através
do reflexo.
Desde que conseguimos o contrato com a Sing Park, isso tem
acontecido com frequência. Sempre tenho a impressão de que as
pessoas, mesmo que discretamente, estão julgando o meu namoro
com Dakota através de olhares — nada — discretos. Eles não estão
noivos, mas vão ter um bebê. Que terror! Corbin diz que não devo
dar tanta atenção para esses comentários. É difícil, porque eles me
incomodam pra caralho.
Arqueio a sobrancelha e a maquiadora rapidamente desvia o
olhar, voltando a atenção para Corbin.
— Você está se preocupando à toa. O parto não está previsto
para acontecer na semana que vem?
Troco o peso dos pés.
— Sim, mas imprevistos acontecem. Ollie é um bebê agitado.
— E qual criança não é?
Deixo escapar uma risada e pego uma garrafinha de água no
frigobar. Bebo quase metade, em uma tentativa de acalmar as
batidas descompassadas do meu coração.
Hoje é quinta-feira e o dia de maior audiência do programa The
Other Side Show. Eles são reconhecidos por trazerem diversas
celebridades para uma sessão intensa de entrevistas. Conseguir um
espaço na grade deles foi algo que nenhum de nós esperava que
fosse acontecer. Três meses atrás, a The Backdoor estava
batalhando por um contrato com uma das maiores gravadoras de
Nova York e agora estamos aqui, prestes a serem notados por
milhões de pessoas.
É insano pensar o quanto a nossa vida consegue mudar em um
curto espaço de tempo.
— Vocês estão prontos? — Sean irrompe pela porta lateral do
camarim, sua voz preenchendo todo o espaço silencioso.
Assim como eu e Corbin, ele está vestido de preto da cabeça
aos pés. A cor acentua a tonalidade da sua pele marrom-clara e o
brilho intenso dos olhos. O cabelo foi penteado todo para trás,
deixando em evidência o piercing na sobrancelha e a tatuagem que
começa na altura da sua nuca e se esconde para dentro da roupa.
— Mais alguns minutos e serei o homem mais gostoso de todo o
mundo — Corbin responde, arrancando uma risada de nós três.
— E você, Dean? — Sean gesticula para a minha garrafinha
praticamente vazia.
— Tudo okay — asseguro-o. — E Miles e Andrew?
— Andrew está conversando com o agente Cornnel e Miles está
no telefone.
Arqueio a sobrancelha.
— Aconteceu alguma coisa?
— Nada demais. Hailey teve um imprevisto de última hora e não
vai conseguir assistir ao programa. Ela está bem chateada.
— Haverá outras oportunidades. — Bebo o último gole de água e
jogo a garrafinha no lixo. — Notícias de Dakota?
Sean semicerra os olhos em minha direção, a mandíbula
tensionando.
— Ela é a sua namorada. Não minha — alfineta. — Se Dakota
não disse nada, é porque está tudo bem. Você está se preocupando
demais, Dean.
Xingo um palavrão e afundo os dedos no cabelo, bagunçando-o
nas mais diferentes direções e estragando todo o trabalho da
maquiadora. Foda-se. Não preciso disso para ficar bonito para as
câmeras. Até porque a gravação do programa de hoje não é sobre
nós, mas sobre a nossa música e o contrato inédito com a Sing
Park.
Longos minutos se passam e minha impaciência cresce cada
vez mais. Estou contando os minutos para entrar no carro e
voltarmos para Nova York. Sei que eu deveria estar mais animado
para as entrevistas, porque essa é uma oportunidade em um milhão,
só que é complicado.
No sétimo mês de gestação, Dakota e eu passamos por um
momento conturbado em nosso relacionamento — algo que achei
que nunca fosse acontecer. Eu passava poucos dias em casa e nem
sempre conseguia ligar para ela. A ausência foi aumentando aos
poucos, até que Dakota chegou ao seu limite. Quando viajei de
Boston para Nova York naquela noite, prometi que estaria com ela.
Mesmo que eu precisasse atravessar os Estados Unidos inteiro
para isso.
A entrevista de hoje nem era para acontecer. Implorei para o
agente Cornnel que adiasse o máximo possível, mas os
coordenadores do programa não cederam. Então, tivemos que
embarcar no carro e viajar até a Filadélfia para a gravação. Os
meninos vão passar duas noites aqui. Eu volto para Nova York
assim que eles nos liberarem do estúdio.
— Melhore essa expressão, Crawford — Cornnel resmunga
minutos antes de começarmos. A assistente de palco está a poucos
metros de distância, podendo ouvir tudo com facilidade. — Eu sei
que não éramos para estar aqui por causa da sua namorada, mas
você precisa levar as coisas um pouco mais a sério. É só uma
gravação com duração de três horas. Você consegue.
Concordo com um aceno. A língua pinica para argumentar
contra, embora eu saiba que este não seja o melhor momento para
isso. Não posso estragar essa oportunidade.
Ele sorri, animado, e dá alguns outros conselhos para Miles e
Andrew. Sean conversa com outro assistente de palco e Corbin
mantém os olhos fixos no auditório, onde está todo o público
esperando ansiosamente por nós. Um estranho frio atinge a minha
barriga, como se houvesse um grande vazio ali dentro.
Enxugo a palma das mãos no tecido grosso da calça e, quando a
assistente de palco faz um sinal, nós entramos. Somos aplaudidos
de pé pelo público e Robert James, o entrevistador do The Other
Side Show, nos convida para sentar no sofá no formato de U
invertido.
Ele começa a discorrer sobre a nossa carreira, em um breve
resumo, enquanto fotografias correm pela grande tela atrás de si. O
público dá risada de algumas de suas piadas e Andrew responde a
maioria das perguntas, se divertindo com a interação. Eu
permaneço estático, encarando um ponto perdido entre toda a
equipe de gravação.
— E você, Dean? — Robert me chama, obrigando meus olhos a
encará-lo.
Ele deve ser alguns anos mais novo que o agente Cornnel. Tem
cabelo preto, pele negra-escura e um olhar que te deixa intimidado.
Ele é aquele típico entrevistador que consegue arrancar as piores
respostas de você, mesmo que você não queira respondê-las. É um
dom que poucos jornalistas conseguem explorar.
— Perdão. — Abro um sorriso amarelo. — Eu não estava
prestando atenção.
Robert dá risada, sendo acompanhado pelo público, e a câmera
foca em meu rosto. Tento manter a expressão divertida, como se
esse diálogo fizesse parte de um roteiro que ensaiamos por
semanas.
— Você tem sido muito elogiado nas redes sociais por sua
performance no palco. É uma presença impressionante, devo
admitir.
Sorrio.
— Foram anos de prática.
O público volta a dar risada. Estou achando isso um pé no saco.
— E quando vocês se mudaram para Nova York, esperavam que
conseguissem um contrato com uma das maiores gravadoras da
cidade?
— Nos mudamos para Nova York sem ter certeza de nada. Foi
uma escolha arriscada e por isso batalhamos para conseguir
alcançar um lugar nos holofotes. Sabemos que não é fácil, porque
há muita gente talentosa em todos os cantos do mundo.  E talvez
seja um pouco clichê o que eu vá dizer, mas... Às vezes é também
uma questão de sorte.
— E quais são os planos de vocês para os próximos meses?
— Começar a produzir o álbum — Andrew responde por mim. —
E depois, entrarmos em turnê. Queremos tornar nossa música algo
inesquecível.
Robert assente e se volta novamente para mim.
— Já que vocês falaram sobre uma turnê... Como ficaria a
questão do seu relacionamento, Dean? Sabemos que, em breve,
você vai ser pai. Como conciliar shows e a criação de um bebê
quando se está tão ocupado e exausto com a carreira de vocalista?
Faço uma careta. Era essa, justamente, a pergunta que eu não
queria que ninguém fizesse.
Lanço um rápido olhar para o agente Cornnel. Ele está no
telefone, a atenção fixa em mim. Murmura alguma coisa, mas não
consigo entender se está falando comigo ou com a outra pessoa do
outro lado da linha. Segundos depois, uma movimentação atrás de
si me chama a atenção. É o nosso motorista.
Cornnel desliga o celular e dois começam a discutir em um tom
baixo. Alguma coisa está acontecendo.
— E então, Dean? — Robert insiste. — Como conciliar a vida
amorosa, familiar e profissional? Estamos curiosos.
Fecho as mãos em punho. Cornnel, finalmente, me nota. O seu
semblante é como um livro aberto. Em questão de segundos, sei o
que está acontecendo. Me levanto do sofá em um pulo, chamando a
atenção de todos.
— Desculpe, não posso responder a sua pergunta. Eu tenho que
ir.
Saio do palco praticamente correndo, a câmera seguindo os
meus passos. Ao alcançar Cornnel, fecho os dedos ao redor do seu
braço. As palavras escorrem da minha boca em uma velocidade
surpreendente.
— Onde ela está?
— No hospital — informa. — Entrou em trabalho de parto faz
cerca de uma hora e ...
Xingo um palavrão e arranco o microfone com um puxão,
jogando em cima dele. Cornnel me chama, o desespero
aumentando o timbre de sua voz em várias oitavas. Não lhe dou
ouvidos. Somente faço um sinal para o motorista e saio do estúdio
de gravação. Foda-se tudo isso. Eu não vou perder o nascimento da
minha filha por causa de um programa de auditório.
Não vou mesmo.

 
O percurso da Filadélfia para Nova York nunca foi tão
agonizante.
O trânsito está uma merda e posso jurar que o motorista está
tirando uma com a minha cara. Sua paciência me dá vontade de
chutá-lo para fora do carro. Nunca quis tanto a minha moto quanto
agora.
— Você pode ir mais rápido?
O motorista me lança um olhar sobre o retrovisor interno.
— Senhor Crawford, infelizmente não posso passar por cima dos
outros carros. Estamos presos em um congestionamento.
Puta merda.
Engulo todos os palavrões possíveis e desbloqueio a tela do
celular. O percurso da Filadélfia até Nova York leva, em média,
cerca de uma hora e meia. Já faz uma hora que deixei o agente
Cornnel para trás e toda a equipe de filmagem. Todos devem estar
chateados comigo, não tenho dúvidas. Quando essa confusão se
acalmar, é certeza que levarei uma bronca imensa.
E o mais engraçado é que não estou nem aí. Dakota e Olive são
minha prioridade.
Respiro fundo e desbloqueio a tela do celular. Liguei para Dakota
assim que saí do estúdio, mas quem atendeu foi Channel. A
chamada estava confusa e foi difícil de entender algumas partes.
Basicamente, elas duas estavam maratonando a segunda
temporada de um reality quando a bolsa, inesperadamente,
estourou.
A primeira coisa que elas fizeram foi me ligarem. Só o que meu
telefone estava no silencioso por conta da gravação e caiu na caixa
postal. Então, Dakota recorreu ao agente Cornnel. E ele, tão
preocupado com o programa, achou que seria uma boa ideia dizer
que a gravação estava quase no fim e que passaria o recado.
A verdade é que nem havíamos começado a gravar direito.
Xingo mentalmente todos os palavrões possíveis e ligo
novamente para Dakota, sabendo que será Channel quem vai
atender.
— Como ela está? — pergunto de supetão e ouço a risada baixa
de Channel do outro lado da linha.
— Estamos indo bem. A dilatação ainda não está completa —
informa. — Não se preocupe, Dean. Vai dar tempo de você chegar.
Lanço um rápido olhar para a janela. O carro, finalmente,
começou a se mover em uma velocidade aceitável.
— Dentro de uma hora devo estar aí. Será que dá tempo?
— Vai dar sim, Dean. Relaxe. Dakota já está estressada o
suficiente. Duas pessoas estressadas é demais para eu aguentar.
Abro um sorriso diante do seu bom humor. Channel tem esse
talento natural de amenizar o clima diante de situações inesperadas.
É uma das coisas que mais admiro nela.
— Tudo bem — cedo. — Qualquer mudança, me ligue.
— Tchau, Dean.
— Tchau, Channel.
Encerro a ligação e tento relaxar. Meu pé balança em um ritmo
nervoso e percebo, tarde demais, que estou usando as roupas do
estúdio. A jaqueta de couro que deve valer o aluguel do nosso
apartamento no Queens e um relógio que nem faz o meu estilo.
Tiro-o, deixando sobre o assento de couro.
— Deseja alguma coisa, senhor Crawford? — o motorista volta a
questionar.
— Que o senhor vá mais rápido.
Ele dá uma curta risada.
— O nascimento do primeiro filho costuma ser estressante assim
mesmo. Quantos anos tem sua esposa?
Ignoro a parte da esposa. Não estou no clima para explicações.
— 25 anos.
Ele concorda, batucando com os dedos no volante.
— Vocês são jovens. Eu tinha 21 anos quando me tornei pai. Foi
uma experiência inesperada, se posso dizer assim. — Percebo de
imediato que ele está tentando puxar assunto como uma maneira de
me acalmar. Sorrio diante do gesto. — Minha namorada e eu
estávamos no segundo ano da universidade. Foi uma surpresa, já
que nenhum de nós planejava uma gravidez.
— E como vocês lidaram com isso?
— Pedi ela em casamento. — Me direciona uma piscadela pelo
retrovisor. — Dei a nós dois a vida que não havíamos sonhado, mas
que foi perfeita. Fiz o que estava ao meu alcance para vê-la feliz.
Não deixei que seus objetivos fossem esquecidos por causa do
bebê. Apenas adiados, se podemos dizer assim.
— E como vocês estão hoje?
O motorista abre um sorriso que quase chega às suas orelhas.
— Hoje ela é proprietária de uma floricultura em Nova York, já eu
trabalho como motorista para subcelebridades, como você —
discorre. — E o nosso filho é jogador de futebol americano.
— Sério?
— Sim — diz entusiasmado. — Ele ainda está na universidade,
mas não tenho dúvidas de que vai conseguir ser draftado. O menino
é puro talento.
O motorista e eu seguimos conversando durante toda a viagem
até Nova York. A sua tática de me distrair deu certo, porque, quando
ele estaciona o carro em frente ao hospital, não estou mais tão
nervoso. O coração ainda pulsa em todas as minhas veias, mas já
não tenho vontade de xingar todos os habitantes da cidade, o que é
um grande avanço.
Saio do carro e faço um sinal para ele abaixe o vidro.
— Muito obrigado...
— Pode me chamar de Bowers. É sempre um prazer, senhor
Crawford. Espero que o nascimento da sua filha seja um momento
inesquecível.
Sorrio em agradecimento e me despeço com um rápido aceno.
— Vai ser. Não tenho dúvidas disso.

 
Dakota está em um quarto com paredes azuis e lâmpadas tão
brilhosas que me causam uma rápida vertigem.
Sua mão está segurando a minha, as unhas afundando na pele.
Não faço reclamação nenhuma, porque é visível a dor que ela está
sentindo. Eu não fazia ideia de que um parto poderia ser tão
agonizante.
A Dra. Aimy está ao lado de Dakota, instruindo-a quando
necessário. Tem sido assim há quase uma hora, desde que cheguei
ao hospital. Cheguei no momento certo, porque a dilatação estava
perfeita — foi o que Channel me disse no corredor, pelo menos.
— Só mais uma vez, Dakota — A Dra. Aimy pede com uma voz
doce.
Dakota concorda com um aceno sôfrego e inspira fundo, fazendo
força. Ela está toda suada, o cabelo castanho escuro aderindo a
testa e a pele branca do pescoço. Se fosse possível, eu faria de
tudo para diminuir a sua dor.
Dra. Aimy continua a dizer palavras encorajadoras e eu viro o
rosto de Dakota para mim. Os olhos encontram os meus e sorrio.
Ela devolve o gesto, embora os lábios mal se movam.
— Você consegue — sussurro. — Falta só mais um pouquinho.
Traga a nossa Olive para o mundo.
Ela resmunga alguma coisa e segue os instintos do próprio
corpo. Empurra com força uma última vez, um gemido de dor sendo
proferido.
Então, de repente, um choro irrompe pelo quarto.
Forte e insistente, marcando a sua presença em nossas vidas.
Imediatamente, meus olhos se enchem de lágrimas ao verem o
pequeno bebê coberto de sangue e agitando os bracinhos e
perninhas.
— Parabéns! — a Dra. Aimy exclama e corta o cordão umbilical.
Com Ollie ainda chorando, ela é entregue nos braços cansados
de Dakota. Nós dois encaramos a nossa filha com as pálpebras
cerradas e as mãozinhas fechadas em punho. É a coisa mais linda
do mundo.
— Dean... — O choro deixa sua voz embargada.
— Você conseguiu, pequena Greer. — Acaricio o cabelo loirinho
de Ollie e dou risada. — Acho que não posso mais te chamar assim.
Temos outro pequeno ser humano agora em casa.
Ela dá risada, ao mesmo tempo em que nega com um sutil
balançar de cabeça.
— Nós dois conseguimos. E você vai precisar melhorar seus
apelidos, Dean.
Beijo sua testa suada.
— Nós temos muito tempo para pensar sobre isso — sorrio. —
Muitos e muitos anos, meu amor.
Dakota devolve o meu sorriso e observamos, juntos, o rosto
redondo de Ollie.
E neste momento, não tenho dúvidas de que o destino, mesmo
que de um jeito estranho, atuou de forma maravilhosa em nossas
vidas. Nunca fui de acreditar nesse tipo de coisa, mas não há outra
explicativa para tudo o que vivemos, estamos vivendo e ainda
vamos viver.
Porque, no final de tudo, a vida é boa. 
Às vezes, até demais.
E, nosso caso, ela é perfeita.
 
 
 

CINCO ANOS DEPOIS


A primeira coisa que noto, ao abrir os olhos pela manhã, é
que Dean está me encarando.
Os olhos azuis oceano adquiriram um brilho diferente com o
passar dos anos. Agora são uma mistura entre o vocalista famoso, o
namorado sedutor e o pai dedicado. Há, também, pequeninas rugas
de preocupação que quase nunca desaparecem. Seja por causa de
uma notícia ruim que saiu, uma fofoca sem pé nem cabeça ou
porque a diretora da escola ligou, durante um dos seus ensaios,
para avisar que Ollie caiu enquanto brincava no parquinho.
— Bom dia.
Ele abre um sorriso de covinhas.
— Sabia que você fica linda dormindo?
Enterro o rosto no travesseiro para abafar a minha risada.
— Os seus elogios estão ficando cada vez piores. Daqui a
pouco, você vai dizer que fico gostosa usando um pijama de flanela
e pantufas de bichinho.
Dean me puxa para mais perto do seu corpo.
— Bom, anos atrás, você bateu na minha porta usando um
roupão de cupcakes. Acho que, bem lá no fundo, sua consciência
estava nos preparando para o futuro que nos aguardava.
Dessa vez não consigo conter a gargalhada e Dean me
acompanha, seu corpo vibrando.
— Você é péssimo.
— Eu sei. — Finge um choramingo. — Acho que é a idade
batendo na porta e acabando comigo.
— Nossa, que dramático. — Acaricio seu queixo com a ponta
dos dedos e deposito um rápido selinho em sua boca. — As suas
fãs discordam, no entanto.
Dean revira os olhos e me puxa para um abraço, enterrando
o rosto na curva do meu pescoço.
Desde que a The Backdoor conseguiu o tão sonhado contrato
com a Sing Park, a vida dos meninos mudou — e muito. Eles
levaram seis meses para produzir o álbum e a turnê foi estrondosa.
Começou quieta, de um jeito até tímido. Então, uma das músicas
principais do disco estourou e os shows lotaram. Eles estenderam a
agenda por mais dois meses e, toda vez que eu falava com Dean
por chamada de vídeo, eu podia jurar que seus olhos brilhavam
como fogos de artifício.
Não vou mentir. Aqueles meses em que ele ficou fora de casa
foram difíceis. Por sorte, Olive sempre foi uma criança boazinha,
então não tivemos grandes problemas. Nos dias de folga, Dean
embarcava no avião e vinha nos visitar. Eram momentos curtos que
valiam a pena. Ele estava se esforçando. Não somente pela banda,
mas também por nós duas.
E hoje, cinco anos depois do dia em que Dean interrompeu a
gravação de um programa de auditório após descobrir que eu
estava entrando em trabalho de parto, eu não poderia estar mais
orgulhosa da nossa caminhada.
— No que você está pensando?
Inspiro baixinho pelo nariz e encaro o teto, consciente da
rotina que cerca nossas vidas.
— Temos cinco segundos antes da Ollie entrar e ...
Mal termino a minha frase e escuto os seus pezinhos
ecoarem pelo corredor e a porta ser aberta.
— Sabe que dia é hoje? — ela saltita pelo quarto e caminha
até a nossa cama, o ursinho de pelúcia sendo mantido pressionado
embaixo do braço. Como ninguém responde sua pergunta, as
sobrancelhas loiras se erguem. — É o dia do meu aniversário!
Com um gritinho animado, ela sobe na cama e se joga sobre
nós. Sua risada animada ecoa por todo o quarto, enchendo o meu
coração de amor. Dean se aproveita do momento e a enche de
cócegas, fazendo seu corpo pequenino se contorcer em posições
engraçadas.
— Quantos anos essa princesa está fazendo? — ele
pergunta, cessando as cócegas e a colocando de pé no colchão.
Ollie nos encara de cima, os olhos chocolate ficando
pequeninos devido ao seu sorriso.
— Cinco! — levanta a mão com os cinco dedos levantados.
— Sou uma mocinha cheia de coisas pra fazer agora.
— Ah, sério? — arrumo seu cabelo loiro para atrás das
orelhas. — O que essa mocinha cheia de responsabilidades quer
fazer hoje?
Ollie bate o dedo do queixo pontudo, fingindo pensar.
— Quero comer todos os cupcakes que a tia Noora fizer! —
exclama, dando dois pulinhos e quase caindo entre os travesseiros.
— Depois, passear no parquinho e tomar sorvete de bola de
morango. Você pode me levar na piscina também. E quero ganhar
muitos e muitos presentes.
Dean aperta os lábios em uma tentativa de manter a
expressão séria.
— Seu dia envolve muitas comidas. Como que vai sobrar
espaço nessa barriguinha para o bolo de aniversário?
Os olhos de Ollie se arregalam, pega de surpresa.
— Hum... A gente pode guardar o bolo pro outro dia, né?
Nenhum de nós se aguenta e acabamos rindo. Olive, sem
entender, cruza os braços e empina o queixo para cima.
Ela é uma versão miniatura do Dean. O cabelo loiro com a
raiz mais escura, o sorriso de covinhas e a petulância impossível de
ser contida. Acho que a única coisa que ela tem de mim são os
olhos chocolate e a mania de sempre nos desafiar. Ela consegue
tirar todos do sério com uma facilidade incrível.
— E quanto às velinhas? Você não vai poder assoprá-las se
não tivermos o bolo.
Minha filha projeta o lábio inferior para frente enquanto pensa
em uma solução. Dean adora colocá-la em situações que exigem
respostas rápidas. É o seu passatempo favorito, embora ele não
admita. Bem lá no fundo, sei que faz isso só para se divertir com as
ideias que Olive inventa em questão de segundos.
— Deixamos os cupcakes para outro dia — cede. — Mas eu
ainda quero sorvete de morango.
Dean concorda com um aceno e a abraça, enchendo-a de
beijos molhados nas bochechas. Eu me junto na brincadeira, não
tendo dúvidas de que o aniversário de Ollie vai ser uma grande
aventura — exatamente como todos os outros anos.

Como o combinado, Dean leva Ollie para o roteiro do dia


mais importante do ano — foi como ela o chamou segundos antes
de sair pela porta usando um vestido amarelo de bolinhas. De
acordo com minha filha, seu aniversário deve ser comemorado
durante 24 horas e todos, sem exceção, devem atender a todos os
seus desejos, como um gênio da lâmpada.
Balanço a cabeça em negação, ainda sem acreditar que esse
pequeno ser humano já está fazendo cinco anos.
— Adorei o quadro novo na parede — Channel comenta ao
voltar do banheiro. — Aquilo é uma indireta para que você e Dean
tenham outro bebê?
Channel está se referindo ao desenho que Ollie pintou na
escola, semana passada. O objetivo da atividade era fazer alguma
coisa relacionado a coisas que te deixam feliz e ela decidiu, de
forma inesperada, me pintar com uma barriga de grávida. Quando
questionada por Dean, ela disse que ser irmã mais velha deve ser
muito legal.
— Uma indireta mais do que direta — respondo enquanto
corto as bandeirinhas para pendurarmos no jardim. — Olive decidiu
que vai ser uma ótima irmã mais velha, já que seus amiguinhos da
escola dizem que é muito legal ter com quem brincar em casa.
— E vocês vão ter outro bebê?
Finjo a minha melhor expressão, mas Channel me entende
como ninguém. Os olhos se arregalam de surpresa e um sorriso
imenso surge em seu rosto. A atenção recai rapidamente para a
minha barriga, que ainda se encontra exatamente igual. Não há
nenhuma mudança desde que fiz o teste de gravidez.
— Quando você pretendia me contar?
— Descobri na semana passada — explico, abaixando a
tesoura. — Fiz três testes para ter certeza e todos deram positivo.
Channel dá um gritinho animado e me puxa para um abraço.
— Não acredito que vou ser tia duas vezes! — aperta minhas
bochechas com os dedos fechados em um movimento de pinça. —
Dean já sabe?
— Ainda não e confesso que estou com um pouco de medo
da reação.
— Por quê?
Pego a tesoura e volto a cortar as bandeirinhas coloridas.
— Eles estão no melhor momento da carreira. A mídia vai vir
para cima da gente mais uma vez. Quando eu estava grávida da
Ollie, foi um pé no saco e eles nem eram tão famosos. Agora... —
Um arrepio me atinge. — Prefiro nem pensar em como vai ser.
— Infelizmente tenho que concordar com você. Os paparazzi
nunca dão trégua — morde a cutícula do dedão. — Mas você e
Dean sempre dão um jeito. Estão conseguindo criar a Ollie longe de
todo esse caos.
Faço um biquinho. O maior desafio de nossas vidas é dar a
Olive uma infância normal. Não queremos fotos suas rolando por
toda a internet e muito menos fofocas e especulações quando se
tornar uma adolescente. Ser famoso é um fardo do Dean, não dela.
— Espero que continue assim.
Channel afaga meu ombro com a ponta dos dedos em um
gesto de consolo.
— Vai dar tudo certo — sorri. — Não tenho dúvidas disso. E
caso não dê, Dean dá uma entrevista e todo mundo fica quietinho.
Ninguém quer estressar o astro.
Dou risada da sua escolha de palavras, me lembrando de
quando Dean me defendeu em uma de suas entrevistas no The
Other Side Show, meses depois de nossa filha ter nascido. Robert
não poupou nas perguntas invasivas e recebeu uma resposta tão
ruim quanto. Desde aquele dia, os jornalistas não fazem mais
especulações sobre a nossa família.
Ainda existem algumas fofocas rolando pela internet, porque
isso é inevitável entre os fãs, mas os entrevistadores tendem a
segurar a língua na maioria das vezes.
— Ser famoso tem as suas vantagens, mesmo que poucas.
— Oh, minha querida irmãzinha, há inúmeras vantagens. É
só uma questão de saber aproveitar.
Reviro os olhos.
— Você só diz porque também namora um famoso.
Ela empurra o cabelo ruivo para trás do ombro e finge estar
sendo fotografada por um paparazzi. Acho que de todos nós,
Channel foi a quem melhor lidou com a fama. Os boatos ao seu
respeito são pequenos, porque ela se dedica inteiramente ao
jornalismo. Só vejo notícias a respeito de suas reportagens e
trabalhos no exterior. Uma verdadeira estrela em seu habitat natural.
— Sobre o que você estão conversando?
Giramos, ao mesmo tempo, sobre os calcanhares ao escutar
a voz de Lucy. Ela está parada no arco de entrada da cozinha,
segurando uma caixa de papelão nas mãos. Os cabelos, presos em
um rabo de cavalo alto, deixam evidentes as maçãs do rosto magras
e o pescoço esguio.
— Dakota está grávida.
— Ei! — repreendo-a
Minha irmã solta um palavrão.
— Mentira!
— Verdade! — Channel exclama de volta.
Lucy, rápida como um furacão, deixa a caixa de papelão em
cima do balcão e me abraça. Quando se afasta, noto que os olhos
se encontram marejados. Ela enxuga uma lágrima traiçoeira que
escapou e abre um sorriso envergonhado. Antes que eu possa dizer
algo, ela é rápida em se recuperar.
— E onde está a nossa abelhinha?
— Saiu com o Dean para tomar sorvete e brincar na piscina
do clube. Eles devem chegar daqui a pouco.
— E os meninos?
Channel aponta para a porta dos fundos. É possível ouvir o
burburinho de suas conversas na área de lazer. A risada alta de
Corbin é inconfundível.
— Lá fora.
— Vou lá, então. — Lucy balança os dedos em um aceno e
some através da porta, deixando-nos sozinhas novamente.
Desde que minha irmã se mudou para Nova York, sua vida
passou por grandes mudanças. Se dedicou ao balé na Julliard e,
anos depois, conseguiu ser a protagonista de uma peça na
Broadway. Hoje ela vive inteiramente de ensaios e apresentações
que enchem os críticos de elogios. Nas horas vagas, ela ainda
ensina balé para Ollie. Não sei se minha filha vai seguir a mesma
carreira de Lucy, mas é lindo ver as duas em uma sala cheia de
espelhos, praticando juntas.
— Dakota?
Pisco os olhos, voltando para a realidade. Não percebi que
estava encarando, sem motivo nenhum, a janela da cozinha.
— Me distraí — explico. — Alguma notícia de Reeva, a
propósito?
— Conversei com ela na semana passada. Está participando
de uma ação voluntária no Egito. Deve voltar para Nova York na
semana que vem.
Reeva, depois de conseguir o tão sonhado emprego em
Paris, nunca mais parou de bater asas. Atualmente, ela trabalha
inteiramente com fotojornalismo e viaja por todo o mundo,
participando de eventos e de ações. Esse é o primeiro ano em que
ela não vai estar presente no aniversário de Ollie. Uma pena,
porque minha filha adora ser fotografada.
Estou prestes a fazer uma pergunta quando a porta de
entrada é aberta e o som da risada de Olive chega aos nossos
ouvidos. Dean surge logo em seguida com ela no seu colo. Com o
cabelo loiro ainda um pouco molhado e o vestido substituído por
uma jardineira jeans, minha filha exibe bochechas coradas e um
imenso sorriso.
— Olá, tia Channel — ela cumprimenta com um tchauzinho.
— Oi, mamãe.
Aproximo-me dos dois e beijo a pontinha do seu nariz.
— Como foi seu dia, minha princesa?
— Papai deixou eu comer duas bolas de sorvete! — diz
animada. — Uma de morango e outra de chocolate. Uma delícia.
Semicerro os olhos para Dean, mas ele estica o pescoço
para trás, encarando o teto e assoviando.
— Vocês se divertiram, então?
— Muito! — Suas sobrancelhas dançam para cima e para
baixo, em uma mania que ela tem desde que começou a ir para a
escola. — Só faltou os cupcakes coloridos.
Dou um cutucão de brincadeira em sua barriga, arrancando-
lhe uma gargalhada.
— Amanhã você come seus cupcakes coloridos, eu prometo.
— Empurro seu cabelo para trás. — Agora, vá tomar um banho e
ficar bem cheirosa. Tem um aniversário te esperando.
Dean coloca Ollie no chão e ela sobe as escadas em direção
ao próprio quarto para pegar as coisas para o banho. Nós damos
autonomia para que, em dias especiais como o seu aniversário, ela
escolha o que vestir, quais sapatos calçar e o que fazer no cabelo.
Ano passado ela insistiu em usar uma fantasia da princesa Merida.
Ninguém se opôs.
— Pode deixar que eu ajudo ela — ele murmura ao me
cumprimentar com um beijo rápido. — A propósito, adorei o vestido,
Channel.
Channel agradece com um sorriso e Dean volta a me
observar. Ele está lindo com a barba aparada e o cabelo molhado
penteado para trás. Uma visão que enche os olhos e faz algo dentro
de mim se agitar. Nós dificilmente encontramos um tempo para
ficarmos sozinhos, devido a rotina confusa e os cuidados com Ollie,
então as pequenas oportunidades devem ser aproveitadas da
melhor forma — e espero que a noite de hoje seja uma delas.
— E você continua sendo a mulher mais linda de todo esse
mundo.
Ele contorna minha cintura com o braço e afunda o nariz na
curva do meu pescoço, inspirando fundo. O gesto causa um arrepio
que se espalha por todo o meu corpo.
— Se vocês precisarem de alguns segundos, posso cuidar de
Ollie. — Channel pigarra, chamando nossa atenção.
Dean semicerra os olhos.
— Está insinuando que eu duraria assim tão pouco, Bland?
Ela aperta os lábios, contendo a própria gargalhada.
— A única que pode responder isso é a sua namorada.
Levanto as mãos em redenção e me afasto, dando um passo
para trás. Dean estica o braço, mas sem sucesso em me alcançar.
— Não ache que isso ficará assim, pequena Greer.
Contorno balcão e volto para as bandeirinhas. Só há algumas
ainda para serem cortadas.
— Eu sei que não, Crawford.
Ele se limita a concordar com um aceno cheio de significado
e sobe as escadas ao ouvir Olive chamando por ele do quarto.
Quando a cozinha volta a mergulhar na quietude, Channel se
acomoda em uma das banquetas e apoia os braços sobre o balcão.
Ela visivelmente está se divertindo com a situação.
— E então?
— O quê?
— Quanto tempo o Dean dura?
Praguejo um palavrão e levanto o dedo médio para ela.
— Você nunca vai saber.

Meia hora depois, estamos todos reunidos na área de lazer


da nossa casa.
Depois que Ollie completou três anos de idade, Dean e eu
debatemos durante semanas se nos mudávamos do Queens para
uma casa no subúrbio de Nova York. Nesta época, a carreira dele
estava crescendo, mas nada em comparação com agora. Não
tínhamos paparazzis na porta do prédio, embora soubéssemos que
seria somente uma questão de tempo.
Então, antes que as coisas saíssem de controle e a infância
de nossa filha se tornasse um tormento, nós encontramos uma casa
e nos mudamos. O lugar é perfeito. Tem um jardim grande com
churrasqueira, um balanço de madeira e Dean está planejando
construir uma piscina. Há também uma garagem espaçosa, uma
mini quadra de basquete e a vizinhança é muito amigável.
Viver essa vida com o Dean é um sonho que nunca corre o
risco de acabar. 
Abro um sorriso e ajudo Olive a colocar o chapeuzinho de
papel na cabeça. Todos os convidados estão usando-os, variando
entre as cores verde, vermelho e azul escuro.
— Como estou, mamãe?
Coloco-a de pé sobre o banquinho para ficar na altura da
mesa.
— Está perfeita, minha princesa.
Ela pisca as pálpebras repetidas vezes e cochicha alguma
coisa no ouvido do pai. Dean dá risada e tira o isqueiro do bolso da
calça jeans, acendendo as velinhas. Faço um sinal e, então, todos
começamos a cantar, em uníssono, a música de parabéns. Ollie
bate palminhas junto, os olhos fixos no bolo com cobertura colorida
que Noora preparou exclusivamente para ela.
Enquanto entoo os trechos da melodia de aniversário, não
posso deixar de observar todas as pessoas presentes. Noora, Lucy
e Channel estão em um cantinho, usando chapeuzinhos e um colar
de pérolas que montaram juntos com Ollie semanas atrás. Hailey e
Sean cederam aos pedidos e vieram fantasiados de seus
personagens favoritos: o Príncipe Naveen da Princesa e o Sapo e
Aurora, de Bela Adormecida. 
Já Miles, Corbin e Andrew estão usando jaquetas de couro
com o nome de Ollie bordado no verso. A ideia foi de Corbin para o
aniversário de um aninho dela e, desde então, virou tradição nas
datas festivas. Nem preciso dizer que isso faz a minha filha se sentir
a criança mais fabulosa de toda a Nova York.
A última pessoa com quem troco um olhar é Dean.
O seu semblante revela sua felicidade por inteiro. O sorriso
de covinhas domina todo o seu rosto e faz o azul oceano ficar ainda
mais brilhoso. Há uma beleza diferente nele desde que se tornou
pai. Não há nada mais charmoso do que vê-lo sentado em nossa
sala lendo um livro para a Ollie ou brincando com ela no balanço.
Nunca vou me esquecer do quão emocionante foi vê-lo segurando-a
no colo pela primeira vez, ainda no hospital.
Dean é um pai maravilhoso, nunca tive dúvidas quanto a isso.
Mesmo com a agenda lotada de shows, entrevistas e ensaios, ele
nunca deixou que a nossa família ficasse em segundo plano.
Atravessou o país incontáveis vezes somente para nos ver, mesmo
que por poucas horas e, surpreendendo a todos, dedica algumas
músicas dos seus shows para nós. E durante todas as vezes que
isso acontece, eu choro em frente à televisão.
Anos atrás, se alguém tivesse me perguntado qual era o meu
maior sonho ao me mudar para Nova York, eu teria dado inúmeras
respostas, mas nada chegaria nem perto da realidade. A minha
família e o que conquistamos juntos é, sem sombra de dúvidas, o
maior pedido que eu poderia ter feito — mesmo sem saber. 
A Dakota de hoje tem muito orgulho da Dakota que foi
embora de Cape May após descobrir um terrível segredo. Depois de
tantas dificuldades, ela finalmente pode dizer que é mãe de uma
filha incrível, gerente do próprio restaurante e namorada de um dos
maiores astros da música.
Hoje eu sou, além de todas coisas, uma mulher realizada e
completa.
Dean, como se compreendesse o rumo dos meus
pensamentos, entrelaça o dedo mindinho ao redor do meu e sorri.
Um sorriso que não deixa dúvidas de que somos felizes. A família
mais feliz que toda a Nova York já viu.
E isso é só o começo.
 
Final da noite, Dean e eu estamos na cozinha. Ele está de
costas para mim, enchendo sua taça com vinho tinto. A minha está
intacta. Não sei como ele ainda não percebeu que não bebi uma
gota sequer de álcool nas últimas semanas.
— Semana que vem tenho uma entrevista em Los Angeles.
Devo ficar na cidade por um três ou quatro dias — explica enquanto
fecha a garrafa. — Tudo bem para você?
— Sem problemas. — Contorno a borda da taça com a ponta
da unha. — A nossa viagem para visitar sua irmã ainda está de pé?
Dean guarda o vinho na geladeira e vira-se para mim.
Permanece de pé, o balcão nos separando. Estou sentada na
banqueta, os pés descalços e o cabelo solto, caindo sobre o ombro
nu.
— Se nós não formos visitá-la, ela mesma pega um avião e
vem até a nossa casa. Não duvido que até mesmo derrube a porta
com um chute.
— Quanto a isso, não posso discordar. Sua irmã é capaz de
tudo.
Dean concorda com um aceno e leva a taça de vinho aos
lábios, mas para durante o percurso. Um pequeno vinco surge entre
as sobrancelhas.
— Seu vinho está estragado?
— Não.
— Então, por que você não está bebendo?
Uso minha mão de apoio para o queixo e balanço os ombros
do jeito mais descontraído que consigo.
— Por que você acha que não estou bebendo, Crawford?
Um longo silêncio se estende entre nós. Posso ver seus
pensamentos trabalhando a todo vapor, os olhos oscilando entre
focar em meu rosto, depois nos lábios e, por fim, no meu corpo. Os
dedos, então, afundam em sua nuca e ele dá uma curta risada. Meu
coração está batendo enlouquecidamente no meio do peito.
— Você está brincando comigo?
Nego com um balançar de cabeça.
— Não, Dean.
Ele solta um palavrão e contorna o balcão, me puxando para
fora da banqueta e me colocando sentada sobre o mármore. As
mãos pousam sobre minhas coxas, as palmas geladas causando
um arrepio delicioso na pele. Acaricio seus cabelos, sentindo o
costumeiro frio na barriga, idêntico a de quando contei que estava
grávida pela primeira vez.
— Nós vamos ter outro bebê, é isso?
— Sim. Você vai ser papai de novo.
— Ah, Dakota...
Dean não me dá tempo de reagir e me beija. Sua boca tem
gosto de vinho e, se felicidade tivesse algum sabor, certamente
seria o desse beijo. É doce, instigante e, ao mesmo tempo,
misterioso. É como se Dean tivesse juntado todos os sentimentos
do mundo e decidido transmiti-los através de sua língua.
Um gemido sôfrego me escapa e afundo as unhas em seu
couro cabeludo. Afasto as pernas, deixando que ele se acomode
entre elas.
— Você um dia ainda vai me matar.
— De felicidade, eu espero — murmuro contra seus lábios,
sorrindo.
Ele resmunga alguma coisa em concordância e distribui
beijos molhados em meu pescoço, o nariz fazendo cócegas. Sobe
alguns centímetros, prendendo o lóbulo da orelha entre os dentes.
Remexo-me, inquieta em cima do balcão, não conseguindo conter a
minha ansiedade.
— Acho que essa gravidez significa uma coisa.
— E posso saber o que é?
Dean se afasta alguns centímetros e empurra meu cabelo
para trás dos ombros, revelando as clavículas. O polegar passeia
pela tatuagem idêntica à sua, despertando todas as sensações que
conheço como a palma da minha mão. Mil anos podem se passar e
ele ainda vai me fazer sentir aquele gostoso frio na barriga que
antecede a expectativa.
— Você não faz ideia do que seja?
— Para de fazer mistério e fala de uma vez.
Uma curta risada lhe escapa e, demoradamente, ele se
inclina para mais perto. Os lábios tocam os meus em uma carícia
quase impossível de ser sentida. É uma tortura.
— Isso significa que nós devemos nos casar, pequena Greer.
 
 
 
 
 
 

 
 
 
Chegando ao fim de mais um livro e esse conto me trouxe as
mais deliciosas sensações de nostalgia. Visitar novamente a mente
de Dakota Greer e Dean Crawford foi uma experiência inesquecível.
Como foi gostoso relembrar dos incontáveis dias que passei
escrevendo a história deles, descobrindo suas camadas e lutando
por seu final feliz. Deankota é um dos meus casais favoritos e que
me enchem de orgulho. Eles têm defeitos, como todos nós, mas
possuem um dos corações mais lindos que já criei.
Vê-los construindo uma família, realizando seus sonhos e
compartilhando disso ao lado de seus amigos é algo impossível de
ser descrito em palavras. Eu amo todo esse universo e tudo o que
eles ainda tem para alcançar. A trajetória não acaba aqui. Não
mesmo. E vocês podem perceber isso através das inúmeras pontas
soltas que esse conto deixou. Both Of Us não é somente sobre
Dean e Dakota, mas também sobre tudo o que a The Backdoor
conquistou e ainda vai conquistar.
E por falar em conquistas, esse conto não seria possível sem
o apoio de incríveis pessoas ao meu lado. Agradeço aos meus pais,
que estão sempre torcendo por mim, não deixando que eu desista e
que abandone o barco diante da primeira dificuldade. Vocês, acima
de tudo, são o maior exemplo de família feliz que Dakota, Dean e
Olive se tornaram. Eu amo muito vocês!
À Maria Clara, por aguentar meus áudios de longa duração,
por ter as melhores ideias de enredo e por ser uma das pessoas
mais incríveis que a Amazon poderia ter me dado. Espero que
continuemos enchendo muito o saco uma da outra, comendo carne
crua em restaurantes ruins, passando por perrengues e
compartilhando de momentos constrangedores. Te amo muito! O
livro do Miles vem aí em breve, eu juro.
À Sofia Degan, a maior defensora de Deankota que esse
mundo inteiro já viu. Escrever esse conto e compartilhar vários
trechos com você foi uma experiência que me arrancou as maiores
risadas. Sua amizade aconteceu de um jeito tão natural que nem
parece que faz somente um ano que nos conhecemos. Vou te
perturbar até o fim da vida, me aguente. Te amo, feiosa!
À Anaju, o ser humano mais descontraído, divertido e cheio
de piadas que conheço. Ter você como leitora, desde a época do
Wattpad, me deixa de coração quentinho <3 Contar com a sua
betagem, comentários e puxões de orelha via WhatsApp salvaram
esse conto da ruína total. Muito obrigada!
À Luiza, uma das melhores amizades desse mundinho online!
Você é incrível, cada pedacinho seu, nunca se esqueça disso. A
gente conversa igual pombo correio, mas é sempre uma experiência
inesquecível. Esse é o meu primeiro livro que você acompanhou
mais como beta do que como leitora e foi incrível. Te amo demais!
Muito obrigada por ser essa amiga cheia de luz!
À Leonor Carvalho, por me ajudar de tantas formas, não
somente nesse conto, mas em todos os aspectos envolvendo
enredo e construção de personagens. Nossas conversas são
sempre uma mistura entre gargalhadas, deboches e fofocas.
Obrigada por ter entrado na minha vida. Você vai longe e tenho
muito orgulho de tê-la como minha amiga. Te amo, portuária!
Ao Vitor Matheus, por estar — mais uma vez —
compartilhando desse lançamento ao meu lado. Nossa parceria tem
um espaço gigantesco no meu coração. Obrigada por ser o melhor
revisor desse mundo e essa pessoa cheia de bom humor e piadas
sarcásticas. Te amo, droga.
À Isabeli e Julia, a dupla dinâmica que me segue para
qualquer ideia ou plano que for. Não sei se vocês vão ter a
oportunidade de ler esse conto, mas quero que saibam que vocês
são importantes demais para mim. Reeva e Channel são vocês por
inteiro!
As meninas do Instagram que, se eu listar aqui, vão ocupar
páginas e mais páginas. Obrigada por apoiarem o meu trabalho
desde 2020, acompanharem o lançamento de SHE na Amazon e
por ainda estarem aqui, acreditando nas minhas histórias. Muito
obrigada!
Por último, mas não menos importante: à todos os meus
leitores! Já faz mais de um ano que tivemos a oportunidade de
conhecer a história de Dean Crawford e Dakota Greer e vocês ainda
seguem aqui, apaixonados por eles. Se esse conto existe, é por
causa de vocês. Obrigada por encherem minha vida de luz, cor e
felicidade. Amo todos vocês!
A gente se vê em breve em mais um lançamento!
 
 
 
 
 
 
 
 
Ela me trouxe flores
E me disse para ser suave
Ela veio para mim gritando
E me disse para deixá-la viver
Ela levou nove meses
Para me trazer felicidade
Perdi minha paciência naquela época
Mas ela está fazendo isso durar
 
Ela floresceu em um dia nebuloso
Me fez amá-la em um olhar
Ela me fez me render
Assim que eu aprendi a verdade
De sua mãe, a vida veio
De sua mãe, o amor existiu
De mim, ela vai ter lições
Comigo ela vai se divertir
 
Raízes antes de ramos
Isso é o que eles dizem
E eu realmente acredito
Porque eu decidi ficar
Ramos de oliveira chegaram
E ela mora comigo agora
As folhas de outono podem partir
Mas ela sempre será minha vida
 
Ela destruiu meus planos no passado
Mas quem disse que eu me importo com isso?
Ela cancelou meu egoísmo
Em nome de seu sono
Eu preciso da minha garota todos os dias
E eu sinto falta dela todas as noites
Tentando ser um homem presente
Pegando caronas e voos
 
Eu ligo para ela quando estou na estrada
Checo seus amigos imaginários
Pergunto quais são as cores favoritas dela
Caso ela mude suas escolhas
Eu nunca posso me sentir menor
Quando ela me transforma em um gigante
Eu nunca posso sentir tristeza
Quando ela sempre me faz sorrir
 
Raízes antes de ramos
Isso é o que eles dizem
E eu realmente acredito
Porque eu decidi ficar
Ramos de oliveira chegaram
E ela mora comigo agora
As folhas de outono podem partir
Mas ela sempre será minha vida
 
Eu tenho que ser forte o suficiente
Para levantar ambos de nós
Eu, sua mãe e ela
Porque estamos destinados a ser
Vivendo juntos e para sempre
Vivendo para sempre e em paz
E se alguém vier até nós
Desta vez, estaremos prontos
 
Raízes antes de ramos
Isso é o que eles dizem
E eu realmente acredito
Porque eu decidi ficar
Ramos de oliveira chegaram
E ela mora comigo agora
As folhas de outono podem partir
Mas ela sempre será minha vida
 

Você também pode gostar