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Contabilidade de

Transportes, Construção
Civil, Rural e Terceiro Setor

Unidade 6:
Obrigações na
contabilidade de transporte

Objetivos
• Identificar os custos, despesas e receitas da atividade;

• Estudar as obrigações tributárias das empresas do setor de


transportes;

• Conhecer as obrigações tributárias do transportador autônomo.


Unidade 6

Na Unidade 5, você estudou as características e os tipos de transporte,


além da forma jurídica de exploração da atividade de transporte e as formas de
financiamento. Agora, veremos os conceitos de custo, despesa e receita da ativi-
dade de transporte, além das obrigações tributárias dessa atividade.

Segundo o Conselho Nacional de Trânsito (CNT, 2019, p. 5), “em 2016, as


atividades de transporte terrestre responderam por 57,8% do PIB do setor [...],
seguidas dos serviços de armazenamento e atividades auxiliares (24,9%), cor-
reio e outras atividades de entrega (7,1%), transporte aéreo (5,7%) e transporte
aquaviário (4,5%). No segmento terrestre, o maior peso vem do transporte ro-
doviário de cargas (27,4% do PIB do transporte), que é seguido pelo rodoviá-
rio de passageiros (18,2%), dutoviário (6,5%) e ferroviário e metroferroviário
(5,7%)”. De acordo com esse levantamento, o transporte rodoviário de cargas
é o que possui maior representatividade no Produto Interno Bruto do setor de
transporte (representando 27,4% para o transporte de cargas e 18,2% para o
transporte de passageiros). Nesse sentido, devido à representatividade do trans-
porte terrestre, esta unidade terá como foco o transporte rodoviário.

Custo, despesa e receita no transporte


Nesta seção, veremos os conceitos de custo, despesa e receita da atividade de
transporte.

Custos de transporte
Como estudado na Unidade 5, a atividade de transporte possui como carac-
terística um alto valor de investimentos em equipamentos, além de uma grande
variedade de custos.

Padoveze e Takakura Jr. (2013) afirmam que a primeira etapa na identificação


do custo direto compreende a apuração do custo unitário dos equipamentos e insta-
lações que podem representar o imobilizado utilizado no transporte e na logística.

a) Custo (carga completa)


Na atividade de transporte rodoviário, por exemplo, inicia-se a verificação
do custo direto apurando o custo unitário do quilômetro rodado do equipamento
(apenas do equipamento, sem considerar mão de obra, combustíveis etc.).

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Caminhão tipo A Quantidade Unidadedemedida Custo unitário Custototal


Equipamento

Custo de aquisição 250.000

Valor residual estimado - 100.000

Valor depreciável 150.000

Manutenção

Pneus 10 troca 8.000 80.000

Óleo 50 troca 200 10.000

Lavagens 50 lavagem 105 5.250

Filtros 50 troca 120 6.000

Revisões 25 revisão 1.000 25.000

Quebras 5 conserto 2.000 10.000

Soma 136.250

Tributos e seguro

IPVA 5 ano 5.000 25.000

Seguro 5 ano 7.750 38.750

Soma 63.750

TOTAL GERAL 350.000

Quilômetros de rodagem - quantidade padrão 500.000

Custo unitário por quilômetro rodado do equipamento 0,70000

Fonte: Adaptado pela Univates com base em Padoveze e Takakura Jr. (2013, p. 186).

Como pode ser observado, os autores apresentaram como exemplos de cus-


tos com equipamento de transporte pneus, trocas de óleo, lavagens de veículos,
revisões e manutenção de peças quebradas. Além disso, consideraram como custo
direto os gastos com impostos e seguros.

Esse exemplo demonstra a apuração da depreciação de um equipamento de


transporte rodoviário. No entanto, existem três aspectos fundamentais que devem
ser analisados na determinação desse cálculo, os quais podem ser aplicados para
qualquer modal de transporte. Compreendem esses fatores:

• Definição da vida útil do equipamento


Este aspecto tem por objetivo determinar por quantos quilômetros o bem
será utilizado pela empresa.

• Determinação do valor residual do bem


Este aspecto define por quanto o bem provavelmente poderá ser vendido no
final de sua vida útil.

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• Identificação dos gastos de manutenção


Este aspecto identifica os gastos necessários para manter o equipamento em
perfeitas condições de uso, incluindo os gastos com seguro, impostos, entre outros.

Além disso, os autores reforçam que, para o cálculo da depreciação dos bens
que podem ser substituídos, deve-se desconsiderar o valor residual do bem, pois,
após sua venda, haverá uma entrada de caixa.

Portanto, para o cálculo da depreciação da atividade de transporte, utiliza-


se a seguinte fórmula:

valor depreciável = valor de aquisição - valor residual estimado

Como afirmam os autores, esse método de cálculo deve ser aplicado para
todos os equipamentos utilizados para transporte. Além disso, o valor encontrado
como sendo o “custo unitário” deve ser acrescido ao valor do custo do frete, que
compreende os gastos com combustível, pedágios, diárias de viagem e mão de obra.

O cálculo demonstrado anteriormente pode ser utilizado quando o equi-


pamento realiza o transporte de apenas um tipo de produto, ou quando atende a
apenas um cliente.

Outro aspecto que merece atenção é o transporte realizado para mais de um


cliente ou com mais de um tipo de produto - ou seja, transporte de carga fracionada.

b) Custo (carga fracionada)


Quando ocorre o transporte de carga fracionada, o cálculo do custo do frete
deve levar em conta não apenas a quantidade de quilômetros rodados, mas tam-
bém o peso, a dimensão e o valor da mercadoria.

O exemplo abaixo demonstra a forma de cálculo pela quantidade de quilos:

Se um caminhão possui capacidade de transporte de 12 toneladas, então o custo


unitário por quilômetro rodado deve ser dividido pela capacidade de carga:

Capacidade: 12 toneladas
Custo unitário do km rodado: R$ 0,70
Custo unitário por kg: 0,70 / 12 = 0,05833

Logo, para cada tonelada, o custo do equipamento é de 0,0583 (aproximadamente 6


centavos para cada tonelada). Assim, se for realizado o frete para cargas de diferentes
produtos, o cálculo do custo do frete deve levar em conta o peso.

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Mas, além do peso, pode ser analisado o volume. O exemplo abaixo apre-
senta a forma de cálculo pelo volume:

Considere os seguintes dados:

Capacidade: 20 m³
Custo unitário do km rodado: R$ 0,70
Custo unitário por m³: R$ 0,70 / 20 = 0,035

Logo, para cada m³, o custo do equipamento é de 0,035 (aproximadamente 4 centa-


vos para cada m³).

Neste caso, considerando a capacidade máxima de volume, o custo (apenas


do equipamento) do km rodado deve considerar o volume a ser transportado.

De acordo com Padoveze e Takakura Jr. (2013), a segunda etapa para a apu-
ração do custo no serviço de transporte é o cálculo de custos departamentais.

c) Custos departamentais
O controle dos custos na atividade pode afetar decisões como determinar o
momento de trocar os equipamentos, decidir entre alugar ou comprar equipamen-
tos, avaliar a rentabilidade da frota, bem como reajustar o preço dos fretes, entre
outras (DIAS, 2019).

Os custos departamentais na atividade de transporte podem ser representa-


dos pelos custos dos departamentos de apoio. Estes, considerados também como
“centros de custos”, são os setores de armazenagem, de controle de operação, de
limpeza, de manutenção e de oficina, por exemplo.

Normalmente, os custos departamentais são considerados custos fixos, ou


seja, são custos fixos que não variam em função da produção (ou serviço) (ME-
GLIORINI, 2011). Entre os custos fixos da atividade de transporte, podem ser
citados mão de obra e respectivos encargos sociais, gastos com manutenção, segu-
ros prediais, depreciação de prédios, consumo de energia, aluguel (se for o caso),
telefone, entre outros materiais auxiliares relacionados com a prestação do serviço
(DIAS, 2019).

Por outro lado, os custos variáveis são aqueles que variam em função da
produção (ou serviço) (MEGLIORINI, 2011). Na atividade de transporte, os cus-
tos variáveis, em geral, correspondem ao gasto com combustíveis, pedágios, diá-
rias de viagem, entre outros.

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Dica de leitura
Para aprofundar seus conhecimentos sobre os custos na atividade de transporte,
recomenda-se a leitura do capítulo 6 Transportes, do livro Administração de mate-
riais: uma abordagem logística, de Marco Aurélio P. Dias.

Segundo Megliorini (2011, p. 7), na atividade de prestação de serviço, na


qual se enquadra o transporte, os custos “correspondem aos gastos relativos à exe-
cução dos serviços, ao passo que as despesas correspondem aos gastos relacio-
nados à administração da empresa e à geração de receitas incorridas durante o
exercício”. Vamos agora conhecer as despesas na atividade de transporte.

d) Despesa
Despesa, na definição de Megliorini (2011), consiste em gastos necessários
para a geração da receita, ou seja, gastos realizados para administrar a empresa e
executar as vendas. Em geral, é representada pelas despesas administrativas e pelas
despesas de vendas.

Na atividade de transporte, as despesas mais comuns são salários e encargos


dos setores administrativos e de vendas, despesas com aluguel ou depreciação de
prédios e salas administrativos/comerciais e despesas com comunicação (telefone,
internet, jornais).
Dica de leitura
Para aprofundar seus conhecimentos sobre a conceituação de custo e despesa,
sugere-se a leitura do capítulo 1 Bases para o conhecimento de custo, do livro Cus-
tos: análise e gestão, de Evandir Megliorini.

e) Receita
Na atividade de transporte, a receita ocorre de uma forma um pouco dife-
rente das outras atividades empresariais. Em uma empresa que presta o serviço de
consultoria, por exemplo, a receita seria reconhecida pela emissão da Nota Fiscal
de Serviço.

Na atividade de transporte, a receita é reconhecida pela emissão do Co-


nhecimento de Transporte Eletrônico (CT-e), o qual pode ser conceituado como
sendo: “um documento de existência apenas digital, emitido e armazenado ele-
tronicamente, com o intuito de documentar, para fins fiscais, uma prestação de
serviço de transporte de cargas realizada por qualquer modal (Rodoviário, Aéreo,
Ferroviário, Aquaviário e Dutoviário). Sua validade jurídica é garantida pela assi-
natura digital do emitente (garantia de autoria e de integridade) e pela recepção e
autorização de uso, pelo Fisco” (CT-e, 2020, texto digital).

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As receitas na atividade de transportes são oriundas dos fretes realizados,


no entanto, outras receitas podem ocorrer, como por exemplo pela venda de equi-
pamentos para substituição (veículos, entre outros).

Estrutura das demonstrações


A estrutura das demonstrações da atividade de transporte é aplicada igual-
mente a outras atividades.

Veja, na imagem abaixo, as demonstrações de uma transportadora:

Fonte: Rio de Janeiro (2012).

Obrigações tributárias
A atividade de transporte rodoviário, via de regra, não está relacionada entre
as entidades obrigadas à apuração dos impostos com base no Lucro Real (Lei n.º
9.718/1998). Nesse sentido, considerando apenas a atividade de transporte rodo-
viário, é possível a opção pelo regime de tributação com base no Lucro Presumido,
bem como pelo Regime do Simples Nacional, inclusive como Micro Empresário

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Aspectos gerais de tributação: IRPJ, CSLL, PIS, COFINS,


Contribuição previdenciária
Assim como na atividade da construção civil, na atividade de transporte,
as obrigações tributárias federais compreendem o IRPJ, a CSLL, o ISS, o PIS-CO-
FINS e a Contribuição Previdenciária. No entanto, destaca-se que, na atividade de
transporte internacional de cargas ou de passageiros, ocorre a isenção das contri-
buições para o PIS-COFINS.

a) IRPJ e CSLL
No regime do Lucro Presumido, a atividade de transporte é tributada pelo
IRPJ com base na presunção de que o lucro corresponda a 8% da receita, e sobre
ela incide a alíquota de 15% do imposto. Já a base de cálculo para a CSLL é presu-
mida em 12%, e a alíquota corresponde a 9% (Lei n.º 9.249/1995).

IRPJ CSLL
Base de cálculo 8% 12%

Alíquota 15% (+ adicional 10%*) 9%

*Caso a empresa apure lucro mensal superior a R$ 20.000,00, esta deve recolher a título de Adicional de IRPJ o
valor correspondente a 10% sobre o que exceder a R$ 20.000,00.
Fonte: Adaptado pela Univates com base em Brasil (1995).

No regime de tributação pelo Lucro Real, permanecem as alíquotas de 15%


de IRPJ e 9% de CSLL, porém a base de cálculo é o lucro apurado mensalmente.

Vamos estudar um exemplo prático:

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A Transportadora JT Ltda. auferiu receita de 238.000,00 no mês de janeiro de 202X.


Como custos e despesas no período, apurou:

• 120.000,00 referente a salários e encargos de motoristas e auxiliares;


• 60.000,00 referente a combustível;
• 40.000,00 referente a pneus, peças de manutenção, entre outros.

Se ela optasse pelo Lucro Presumido, a apuração do imposto seria a seguinte:

IRPJ CSLL
Base de cálculo 238.000,00 X 8% = 19.040,00 238.000,00 X 12% = 28.560,00
Alíquota 19.040,00 X 15% = 2.856,00 28.560,00 X 9% = 2.570,40
Adicional 10% IRPJ Isento
Imposto devido 2.856,00 2.570,40

Fonte: Univates (2021).

Se a empresa tivesse optado pelo Lucro Real, a apuração do imposto seria da seguinte
forma:
Receita 238.000,00
(-) Salários e encargos de motoristas e auxiliares 120.000,00
(-) Combustível 60.000,00
(-) Pneus e peças de manutenção 40.000,00
Base de cálculo 18.000,00
IRPJ Alíquota 15% 2.700,00
CSLL Alíquota 9% 1.620,00

Fonte: Univates (2021).

Com base nos resultados apresentados, se a empresa escolher o regime do Lucro Real,
pagaria menos impostos.

Como mencionado anteriormente, a atividade de transporte internacional


de cargas ou de passageiros não está sujeita à tributação de PIS e COFINS. No en-
tanto, as atividades de transporte rodoviário intermunicipal e interestadual estão
sujeitas às alíquotas de PIS e COFINS.

b) PIS e COFINS
A tributação do PIS e da COFINS para as entidades optantes pelo Lucro
Presumido é baseada em uma alíquota que incide sobre o faturamento bruto da
entidade. A alíquota do PIS corresponde a 0,65% (Lei n.º 9.715/1998), e a alíquo-
ta da COFINS corresponde a 3%, ambos incidentes sobre a receita bruta (Lei n.º
9.718/1998).

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Já as empresas tributadas pelo Lucro Real devem recolher, a título de con-


tribuição para o PIS, o valor equivalente a 1,65% (Lei n.º 10.637/2002) e 7,6% de
COFINS (Lei n.º 10.833/2003) sobre a receita total auferida.

Lembre-se
No regime do Lucro Presumido, mudam-se as alíquotas dos impostos e não se
altera a base de cálculo, diferentemente da apuração do IRPJ e da CSLL.

Neste caso, pode-se estudar a apuração do PIS e da COFINS com base no


seguinte cálculo:

A Transportadora JT Ltda. auferiu receita de 238.000,00 no mês de janeiro de 202X. A


apuração dos impostos PIS e COFINS geraram os seguintes saldos a recolher:

Lucro Presumido
Faturamento bruto 238.000,00
Alíquota PIS 0,65%
Alíquota COFINS 3%
Valor devido PIS 1.547,00
Valor devido COFINS 7.140,00

Lucro Real
Faturamento bruto 238.000,00
Alíquota PIS 1,65%
Alíquota COFINS 7,60%
Valor devido PIS 3.927,00
Valor devido COFINS 18.088,00

Fonte: Univates (2021).

c) Contribuição previdenciária
Assim como na atividade da construção civil, as empresas do setor de trans-
porte rodoviário podem contribuir para a previdência social de duas formas: sobre
a folha de salários (Lei n.º 8.212/1991) ou sobre a receita bruta (Lei n.º 12.546/2011).

Vimos, na Unidade 4, a forma de apuração da contribuição previdenciária


patronal. Na atividade de transporte, a apuração é realizada da mesma forma, po-
rém, enquanto na construção civil a alíquota é de 4,5% sobre a receita bruta, na
atividade de transporte a alíquota corresponde a 1,5% sobre o faturamento.

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Vamos ao exemplo:

A Transportadora JT Ltda. auferiu receita anual de 2.856.000,00 (238.000,00 x 12) e os


gastos com folha de pagamento corresponderam a 1.440.000,00 (120.000,00 x 12).

Remuneração anual dos empregados 1.440.000,00


Receita auferida 2.856.000,00

Contribuição Previdenciária - 20% 288.000,00 (1.440.000,00 x 20%)


Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta - 1,5% 42.840,00 (2.856.000,00 x 1,5%)

Fonte: Univates (2021).

No exemplo acima, podemos observar que é bastante compensatório optar


pela contribuição previdenciária sobre a receita bruta (CPRB). Se a empresa op-
tasse pela CPRB, pagaria 42.840,00; já se optasse pela contribuição sobre a folha de
salários, pagaria 288.00,00 de Contribuição Previdenciária.

Importante: cada empresa deve realizar o estudo de qual é a melhor forma


de tributação, visto que a opção é irretratável para o exercício corrente. Imprescin-
divel consultar na legislação a manutenção da CPRB para cada atividade.

Dica: É conveniente retomar o tópico Contribuição Previdenciária da Uni-


dade 4.
Lembre-se
As empresas que estiverem sob o regime da Contribuição Previdenciária sobre
a Receita Bruta deverão apresentar as informações no Bloco P da EFD-Contribui-
ções, de acordo com o artigo 4º, inciso V, da IN RFB n.º 1.252/2012.

Além da contribuição previdenciária patronal, as empresas que realizam a


atividade de transporte estão sujeitas ao recolhimento das alíquotas de 1,5% de
contribuição ao Serviço Social do Transporte (SEST) e 1,0% de contribuição ao
Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SENAT), ambas incidentes so-
bre a remuneração dos trabalhadores, conforme determina a IN n.º 971/2009:

“[...] relativamente às atividades compreendidas no 2º (Segundo) Gru-


po (empresas de transporte rodoviário de cargas ou passageiros), con-
tribuirão para o Serviço Social do Transporte (Sest) e para o Serviço
Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat), de acordo com o
código FPAS 612, mediante aplicação das alíquotas previstas no Anexo
II, desta Instrução Normativa” (BRASIL, 2009, art. 111-D, inciso II).

Veja um exemplo:

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Unidade 6

Valor da remuneração 55.000,00


Alíquota SEST/SENAT 2,5%

Valor devido 1.375,00

Fonte: Univates (2021).

Lembre-se
Além da contribuição previdenciária patronal, as empresas também devem reco-
lher a contribuição retida na folha de pagamento de seus empregados.

Também vale destacar a questão da contribuição previdenciária do trans-


portador autônomo.

Transportador autônomo
Como você estudou na Unidade 5, a atividade de transporte pode ser exe-
cutada tanto por pessoa jurídica como por pessoa física. Nesse sentido, as pessoas
físicas que exercem atividade de transporte são amparadas pela IN n.º 971/2009
(BRASIL, 2009).

Assim, a base de cálculo da contribuição previdenciária dos transportado-


res autônomos “corresponde a 20% (vinte por cento) do valor bruto auferido pelo
frete, carreto, transporte” (BRASIL, 2009, art. 55, § 2º). Veja o parágrafo na íntegra:

“§ 2º. O salário-de-contribuição do condutor autônomo de veículo


rodoviário (inclusive o taxista), do auxiliar de condutor autônomo,
do operador de trator, máquina de terraplenagem, colheitadeira e
assemelhados, sem vínculo empregatício, do motorista que atua no
transporte de passageiros por meio de aplicativo de transporte, e do
cooperado filiado a cooperativa de transportadores autônomos, cor-
responde a 20% (vinte por cento) do valor bruto auferido pelo fre-
te, carreto, transporte, conforme estabelece o § 4º do art. 201 do De-
creto nº 3.048, de 6 de maio de 1999 - Regulamento da Previdência
Social, observado o limite máximo a que se refere o § 2º do art. 54,
vedada a dedução de valores gastos com combustível ou manutenção
do veículo, ainda que discriminados no documento correspondente”
(BRASIL, 2009, art. 55, § 2º, grifo nosso).

Sobre a base de cálculo de 20%, incide a alíquota de 11% de contribuição


previdenciária.

Quando o transporte for contratado por pessoa jurídica, a responsabilidade


pela arrecadação da contribuição previdenciária pertence ao contratante. Porém,

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quando o transporte for contratado por pessoa física, mesmo que equiparada à
pessoa jurídica, a arrecadação é de responsabilidade do transportador (BRASIL,
2009).

Além da contribuição previdenciária, o transportador autônomo está su-


jeito à tributação de SEST, SENAT, Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) e
Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN).

Conforme art. 111-I da IN n.º 971/2009, a base de cálculo para apuração de


SEST e SENAT é a mesma da contribuição previdenciária, e as alíquotas corres-
pondem a, respectivamente, 1,5% e 1,0% sobre a base de cálculo (BRASIL, 2009).

De acordo com o art. 39 do Regulamento do Imposto de Renda (Decreto n.º


9.580/2018), a base de cálculo do IRRF corresponde a 10% (art. 39, inciso I) e, para
o transporte de passageiros, corresponde a 60% (art. 39, inciso II).

O ISS é um imposto de competência municipal e incide sobre a prestação


de serviço realizada por pessoas físicas e jurídicas. Nesse sentido, o recolhimento
desse imposto deve ser realizado sob as formas determinadas na legislação de cada
município. As alíquotas de ISS podem variar de, no mínimo, 2% (dois por cento)
até, no máximo, 5% (cinco por cento) (Lei complementar n.º 116/2003).

Observe o exemplo abaixo:

Um transportador autônomo realizou o transporte de uma carga de grãos para a em-


presa CMM Comércio Ltda., no valor de 5.000,00. Para realizar o transporte, obteve
despesas de combustível no valor de 1.000,00 e pedágios no valor de 250,00.

Como determina a IN n.º 971/2009, é vedada a dedução de despesas; portanto, quan-


do ocorrer a prestação de serviço do transportador autônomo para pessoa jurídica, a
empresa contratante emitirá um Recibo de Pagamento de Autônomo (RPA) e recolhe-
rá a contribuição patronal (11%) sobre a base de cálculo de 1.000,00 (5.000,00 x 20%).

Sobre essa base de cálculo, incidirá a alíquota de 11% a título de contribuição previ-
denciária, além de 1,5% de SEST e 1,0% de SENAT.

Contribuição previdenciária devida: 110,00 (1.000,00 x 11%).


SEST: 15,00 (1.000,00 x 1,5%)
SENAT: 10,00 (1.000,00 x 1,0%)

A título de IRRF, a base de cálculo para esse tipo de frete corresponde a 10%, portanto:
Base de cálculo IRRF: 5.000,00 x 10% = 500,00
IRRF devido: isento

Neste caso o transportador está isento de tributar o IRRF, mas, se atingisse o valor a
partir de 2.112,00, estaria sujeito, conforme a seguinte tabela:

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Já a tributação de ISS varia conforme o município de atuação. Vamos considerar que a


alíquota seja de 2,5% para calcular o ISS do nosso exemplo:

Base de cálculo: 5.000,00 x 2,5%


ISS devido: 125,00
Resumo:
Valor do serviço: 5.000,00
(-) Contribuição previdenciária devida: 110,00
(-) SEST: 15,00
(-) SENAT: 10,00
(-) IRRF: Isento
(-) ISS: 125,00
Valor líquido: 4.850,00

Nesta unidade, você estudou o conceito de custo e despesa na atividade


de transporte, bem como a forma de reconhecimento da receita. Além disso,
conheceu as obrigações tributárias na atividade de transporte rodoviário reali-
zada por pessoa jurídica e também por transportador autônomo.

Atividade
Agora que você já estudou o conceito de custo e despesa na atividade de
transporte, bem como a forma de reconhecimento da receita e as obrigações tri-
butárias na atividade de transporte rodoviário realizada por pessoa jurídica e
também por transportador autônomo, realize as atividades propostas. Para isso,
acesse o Ambiente Virtual.

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Referências

BRASIL. Decreto n.º 9.580, de 22 de novembro de 2018. Regulamenta a


tributação, a fiscalização, a arrecadação e a administração do Imposto sobre a
Renda e Proventos de Qualquer Natureza. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/decreto/D9580.htm. Acesso em: 22 out. 2020.

BRASIL. Lei complementar n.º 116, de 31 de julho de 2003. Dispõe sobre o


Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza, de competência dos Municípios e
do Distrito Federal, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp116.htm#:~:text=LEI%20COMPLEMENTAR%20
N%C2%BA%20116%2C%20DE%2031%20DE%20JULHO%20DE%20
2003&text=Disp%C3%B5e%20sobre%20o%20Imposto%20Sobre,Art. Acesso em:
22 out. 2020.

BRASIL. Lei n.º 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da


Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8212cons.htm. Acesso em: 22 out.
2020.

BRASIL. Lei n.º 9.249, de 26 de dezembro de 1995. Altera a legislação do imposto


de renda das pessoas jurídicas, bem como da contribuição social sobre o lucro
líquido, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l9249.htm#:~:text=Altera%20a%20legisla%C3%A7%C3%A3o%20
do%20imposto,l%C3%ADquido%2C%20e%20d%C3%A1%20outras%20
provid%C3%AAncias. Acesso em: 6 out. 2020.

BRASIL. Lei n.º 9.715, de 25 de novembro de 1998. Dispõe sobre as contribuições


para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor
Público - PIS/PASEP, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/Leis/L9715.htm#:~:text=Disp%C3%B5e%20sobre%20as%20
contribui%C3%A7%C3%B5es%20para,PASEP%2C%20e%20d%C3%A1%20
outras%20provid%C3%AAncias. Acesso em: 22 out. 2020.

BRASIL. Lei n.º 9.718, de 27 de novembro de 1998. Altera a Legislação


Tributária Federal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
l9718compilada.htm#:~:text=Altera%20a%20Legisla%C3%A7%C3%A3o%20
Tribut%C3%A1ria%20Federal,Art. Acesso em: 22 out. 2020.

BRASIL. Lei n.º 10.637, de 30 de dezembro de 2002. Dispõe sobre a não-


cumulatividade na cobrança da contribuição para os Programas de Integração
Social (PIS) e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep), nos casos
que especifica; sobre o pagamento e o parcelamento de débitos tributários federais,
a compensação de créditos fiscais, a declaração de inaptidão de inscrição de pessoas
jurídicas, a legislação aduaneira, e dá outras providências. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10637.htm. Acesso em: 22 out. 2020.

BRASIL. Lei n.º 10.833, de 29 de dezembro de 2003. Altera a Legislação


Tributária Federal e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.833.htm. Acesso em: 22 out. 2020.

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Unidade 6

BRASIL. Instrução Normativa RFB n.º 971, de 13 de novembro de 2009.


Dispõe sobre normas gerais de tributação previdenciária e de arrecadação das
contribuições sociais destinadas à Previdência Social e as destinadas a outras
entidades ou fundos, administradas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil
(RFB). Disponível em: http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.
action?idAto=15937. Acesso em: 22 out. 2020.

BRASIL. Lei n.º 12.546, de 14 de dezembro de 2011. Institui o Regime Especial de


Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra);
dispõe sobre a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) à
indústria automotiva; altera a incidência das contribuições previdenciárias devidas
pelas empresas que menciona; altera as Leis nº 11.774, de 17 de setembro de 2008,
nº 11.033, de 21 de dezembro de 2004, nº 11.196, de 21 de novembro de 2005, nº
10.865, de 30 de abril de 2004, nº 11.508, de 20 de julho de 2007, nº 7.291, de 19 de
dezembro de 1984, nº 11.491, de 20 de junho de 2007, nº 9.782, de 26 de janeiro
de 1999, e nº 9.294, de 15 de julho de 1996, e a Medida Provisória nº 2.199-14, de
24 de agosto de 2001; revoga o art. 1º da Lei nº 11.529, de 22 de outubro de 2007,
e o art. 6º do Decreto-Lei nº 1.593, de 21 de dezembro de 1977, nos termos que
especifica; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12546.htm. Acesso em: 22 out. 2020.

CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO - CNT. Transporte em números. 2019.


Disponível em: https://cdn.cnt.org.br/diretorioVirtualPrd/ea14e970-c1e2-455e-
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CONHECIMENTO DE TRANSPORTE ELETRÔNICO (CT-e). Conceito


e uso do CT-e. 2020. Disponível em: https://www.cte.fazenda.gov.br/portal/
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DIAS, M. A. P. Administração de materiais: uma abordagem logística. 7. ed. São


Paulo: Atlas, 2019. Disponível em: https://www.unijui.edu.br/Portal/Modulos/
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MEGLIORINI, E. Custos: análise e gestão. 2 ed. São Paulo: Pearson Prentice


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