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GESTÃO DE

EMPRESAS E
TRANSPORTES

Ramiro Córdova
Júnior
Substituição de Frotas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
„„ Apresentar os conceitos que envolvem a variação de custos em
função do tempo.
„„ Identificar os tipos de custos que podem ser levantados para aná-
lises de substituição de frota.
„„ Elaborar planilhas de evolução de custos em função do tempo de
uso dos veículos.

Introdução
Após um determinado tempo de operação, os veículos sofrem des-
gastes que exigem uma reposição. Diferentemente do caso de equi-
pamentos relacionados diretamente com tecnologia (como compu-
tadores, por exemplo), em que a substituição se dá normalmente em
função de questões técnicas, no caso dos transportes, a reposição
normalmente ocorre em função de desgastes mecânicos. A indústria
automobilística investe alto no sentido de aperfeiçoar seu desempe-
nho e isso passa por uma redução de custos operacionais.
Para fundamentar as decisões relacionadas à substituição de veícu-
los das frotas de empresas, se faz necessário a realização de análises
econômicas baseadas no desgaste dos veículos. Nesse texto, iremos
abordar a relação entre o tempo de utilização dos veículos e as aná-
lises de custos.

Vida útil dos veículos


A conservação de instrumentos e ferramentas é uma prática observada histo-
ricamente, desde os primórdios da civilização. A partir do surgimento das pri-
meiras máquinas têxteis a vapor, no século XVI, surge a tarefa manutenção.
Naquela época, os projetistas das máquinas realizavam o treinamento dos
operadores para que pudessem operar e dar manutenção às máquinas caso
elas estragassem. Os projetistas intervinham somente em casos de extrema
complexidade. A partir do século passado essa cultura passou a se modificar.
Com o surgimento dos motores elétricos surgiu a figura do mantenedor eletri-
cista, que era o responsável pela manutenção.
Para manter o perfeito funcionamento de equipamentos, ferramentas e
dispositivos é que se iniciou o processo de aprimoramento da manutenção
na esfera militar. Após a revolução industrial a manutenção passou a ser in-
corporada nas empresas como sendo uma função técnica relacionado com a
produção de bens e serviços. O termo “manutenção” surgiu na indústria na
década de 50 nos Estados Unidos.

Figura 1. Variação dos custos do veículo ao longo do tempo

Fonte: Valente et. al (2016)

No entanto, o custo de depreciação está ligado ao preço inicial do veículo


novo: quanto mais caro for o veículo novo, maior será o valor da sua depre-
ciação. A curva B da Figura 1 mostra que quanto maior for o tempo de utili-
zação do veículo, o preço do veículo novo se dilui por um período de tempo
maior. Consequentemente, o valor mensal da depreciação tende a cair com a
idade do veículo.
Com a soma das curvas de custo de depreciação e custo total de manu-
tenção, obtém-se como resultado a curva pontilhada (C). Existe um tempo (T)
em que a soma dos custos com o veículo atinge o menor valor. Esse tempo
corresponde a melhor época (do ponto de vista econômico) para substituição
do veículo, pois o custo total é mínimo. A idade representada pelo custo total
mínimo na curva pontilhada é conhecida como vida econômica útil do veí-
culo.
Custo e idade do veículo
Caminhões normalmente desvalorizam cerca de 30 % no primeiro ano. A
desvalorização diminui no segundo ano para 20% em média. A cada ano
tem-se uma queda de valor. No terceiro e no quarto ano, a desvalorização é
em torno de 15% e no quinto ano cai para 5%. Sendo assim, o veículo desva-
loriza em torno de 85% em um período de 5 anos. Se uma empresa utilizar o
caminhão por um ano, terá apenas a desvalorização média de 30%, porém se
a empresa utilizar o veículo por cinco anos, a desvalorização média anual será
igual a 17% ao ano (85% dividido por 5).
Analisando do ponto de vista da idade, pode-se observar que para fins
de substituição de frota, quanto maior for o prazo de utilização, menor será
a desvalorização média anual. Num primeiro momento, pode parecer vanta-
joso para empresa manter o veículo em operação durante muitos anos, mas
existem fatores negativos associados a essa situação. Por exemplo, o custo de
manutenção, que tende a aumentar conforme a idade do veículo, eliminaria,
com o tempo, a queda no custo de depreciação.
Os custos associados à manutenção do veículo incluem peças de repo-
sição, material de consumo e custos com a oficina. Quando os veículos são
novos, o custo de manutenção se mantém baixo, porém, ao longo do tempo,
esse custo aumenta significativamente. Quando os problemas surgem com
frequência, os custos associados podem superar bastante a economia rela-
cionada ao capital que poderia ser obtido com a utilização do veículo por um
período mais longo.
Além disso, não pode ser desconsiderado o fato de que quando o veículo
está em manutenção, ele não é produtivo para empresa, o que significa pre-
juízo financeiro. Esse prejuízo fica fácil de ser percebido a partir da análise
de toneladas/quilometro transportadas por mês.
A menor confiabilidade no desempenho dos veículos ao longo do tempo
também surge como uma incerteza, pois ele pode estragar durante a operação
e provocar prejuízos bem maiores. Despesas como socorro em caso de al-
guma falha que impossibilite a continuidade da viagem ou a retenção de uma
carga são exemplos de prejuízos que podem causar efeitos negativos sobre a
imagem da empresa.
Custo financeiro
Ao longo do tempo, conforme o veículo vai ficando mais desvalorizado,
os juros sobre o valor inicial vão diminuindo. A Tabela 1 mostra o cálculo dos
juros para a vida útil de um veículo variando de 1 a 12 anos.

Tabela 1: Cálculo do custo financeiro em função do tempo de uso de um veículo.


Valor no início Custo Finan-
Tempo de uso Juros no ano Juros acumu-
do período ceiro médio
(anos) (R$) lados (R$)
(%) anual (R$)
1 100 18.000 18.000 18.000
2 70 12.600 30.600 15.300
3 50 9.000 39.600 13.200
4 35 6.300 45.900 11.475
5 20 3.600 49.500 9.900
6 15 2.700 52.200 8.700
7 10 1.800 54.000 7.714
8 7 1.260 55.260 6.908
9 5 900 56.160 6.240
10 5 900 57.060 5.706
11 5 900 57.960 5.269
12 5 900 58.860 4.905

O cálculo foi realizado com base em uma taxa de juros anual de 15% e
multiplicando-a pela porcentagem do valor da depreciação ao longo do tempo.
O valor de aquisição do veículo foi estipulado como R$ 120.000. Para uma
vida útil de 3 anos, o custo financeiro fica R$ 18.000 no primeiro ano, R$
12.600 no segundo e R$ 9.000 no terceiro ano. Somando esses valores, tem-se
R$ 39.600 (juros acumulados). Dividindo esse resultado por n=3, obtém-se
R$ 13.200, que é colocado na coluna custo financeiro médio anual da tabela.

Custo de manutenção
Esse tipo de custo aumenta bastante ao longo da utilização do veículo. A fim
de evitar despesas elevadas, é indicado que o veículo ao atingir uma determi-
nada idade seja trocado por um veículo novo. Existem diversas maneiras de
apresentar o custo de manutenção, uma maneira bem comum é considerá-lo
em função do valor do veículo novo. Sendo assim, é realizada uma relação
entre a soma das despesas de manutenção que ocorrem em um ano com o
valor de investimento no veículo.

Tabela 2: Custos anuais médios de manutenção


Custo anual
de manu- Custo anual
Tempo de uso Custo acumu- Custo anual
tenção em % de manu-
(anos) lado (R$) médio (R$)
do valor do tenção (R$)
veículo novo
1 11,20 13.440,00 13.440,00 13.440,00
2 12,30 14.760,00 28.200,00 14.100,00
3 13,50 16.200,00 44.400,00 14.800,00
4 15,70 18.840,00 63.240,00 15.810,00
5 17,80 21.360,00 84.600,00 16.920,00
6 20,10 24.120,00 108.720,00 18.120,00
7 22,30 26.760,00 135.480,00 19.354,29
8 25,50 30.600,00 166.080,00 20.760,00
9 28,80 34.560,00 200.640,00 22.293,33
10 32,40 38.880,00 239.520,00 23.952,00
11 36,80 44.160,00 283.680,00 25.789,00
12 41,70 50.040,00 333.720,00 27.810,00

No exemplo apresentado na Tabela 2, foram utilizadas as porcentagens


apresentadas na coluna 2 da tabela. Essas porcentagens são aplicadas ao valor
do veículo novo, nesse caso R$ 120.000, fornecendo estimativas do custo
anual de manutenção (coluna 3). Por exemplo, no quinto ano de vida útil, o
custo anual é de 17,8% do valor do veículo novo, ou seja, R$ 21.360. O custo
anual médio é calculado pela divisão do custo acumulado pelo número de
anos correspondentes. Ou seja, quando o veículo estiver com 5 anos de uso,
há um custo acumulado de R$ 84.600. Realizando a divisão desse valor por 5
(idade do veículo), obtém-se o valor médio anulado de R$ 16.920.

Custo por quilômetro


A produção de um veículo em quilômetros rodados por mês tende a cair ao
longo dos anos. No exemplo apresentado na Tabela 3, pode-se perceber que o
custo médio por quilômetro vai caindo até o sétimo ano de uso do veículo. A
partir do oitavo ano de uso, esse valor só cresce. Esse é um indicativo de subs-
tituição do veículo. O valor do custo médio por quilômetro é obtido a partir da
divisão do custo anual pela quilometragem média anual.

Tabela 3: Cálculo do custo médio por quilômetro

Custo Custo
Depre- Custo Quilome-
médio de Custo médio por
Tempo de ciação financeiro tragem
manu- anual quilô-
uso (anos) média médio média
tenção total (R$) metro (R$/
anual (R$) anual (R$) anual
(R$) km)
1 36.000,00 18.000,00 13.440,00 67.440,00 102.000 0,661
2 30.000,00 15.300,00 14.100,00 59.400,00 100.920 0,589
3 26.000,00 13.200,00 14.800,00 54.000,00 99.660 0,542
4 24.000,00 11.475,00 15.810,00 51.285,00 98.196 0,522
5 20.400,00 9.900,00 16.920,00 47.220,00 96.480 0,489
6 18.000,00 8.700,00 18.120,00 44.820,00 94.512 0,474
7 15.942,86 7.714,29 19.354,29 43.011,43 92.256 0,466
8 14.250,00 6.097,50 20.760,00 41.917,50 89.664 0,467
9 12.666,67 6.240,00 22.293,33 41.200,00 86.688 0,475
10 11.400,00 5.706,00 23.952,00 41.058,00 83.304 0,493
11 10.363,64 5.269,00 25.789,00 41.421,82 79.440 0,521
12 9.500,00 4.905,00 27.810,00 42.215,00 75.000 0,563

É possível notar também que o aumento de custo indicado do sétimo para


o oitavo ano de uso é mínimo, ou seja, o custo não sobe rapidamente a partir
do ponto ideal para a substituição do veículo.
Referências
VALENTE, A. M., PASSAGLIA, E., & NOVAES, A. G. (2016). Geren-
ciamento de transporte e frotas. Ed. Cengage.

PEREIRA, D. B. D. S. (2006). Análise do impacto das condições de


rodovias pavimentadas na renovação da frota de transporte rodoviário
de carga.

SANTOS, D. R. D. (2013). Renovação de frotas: uma análise econômica


e financeira em um atacadista do Paraná (Bachelor’s thesis, Universidade
Tecnológica Federal do Paraná).
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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