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o que queria na palma de sua mão. Porém, com uma grande fatalidade que levou sua mãe, ela verá
Frederic Cooper é um homem atraente e tinha apenas 28 anos quando perdeu a esposa para
uma terrível doença. Desolado com a perda, ele tem apenas uma única pessoa a quem se apoiar: sua
enteada.
Por um pedido da falecida esposa, ambos terão que conviver sob o mesmo teto, no entanto,
Como Estére e Frederic conseguirão resistir a uma ardente e proibida paixão que não deveria
E o pior; como irão lidar com uma pessoa do passado de Frederic que pode colocar tudo a
perder?
estupro, entre outras coisas que podem causar desconforto. Se você não estiver à vontade lendo esta
Amazon e passou por novas mudanças e outra revisão, deixando o texto ainda mais amplo e bem
organizado. Algumas cenas foram alteradas e outras adicionadas, para dar ainda mais conteúdo aos
livros. Essa duologia é proibida para menores de dezoito (18) anos. Nela, contém cenas de sexo
explícito, com teor duvidoso. Caso não goste do tema, peço que abandone a leitura imediatamente.
Beatrice Meirelles.
Meu nome é Estére Muller, e se você pensa que essa história é comum, está enganado. Aqui,
nós somos tratados como os inimigos. Eu me trato assim. Veja bem, eu perdi uma pessoa importante
para um maldito câncer e adivinha o que fiz? Não consegui lidar bem com isso e me entreguei a uma
paixão avassaladora.
Acredite se quiser, eu não escolhi isso. Na verdade, nós não escolhemos. Simplesmente as
coisas foram acontecendo e quando vi, já estávamos tão envolvidos que o Pecado e a Luxúria
estavam andando de mãos dadas. E foi aí que me vi em um campo minado e as coisas começaram a
sair do controle. Peço que por favor, não nos julgue, conheça-nos antes de qualquer coisa e descubra
mais ridículo do que está sendo, até mesmo parecia que Deus olhava para gente e dizia: “Bem, já que
sua mãe morreu, vou mandar uma chuva forte para deixar você ainda mais triste, e com sorte, cortar
os seus pulsos e se juntar no inferno com ela”. O pensamento de que mamãe agora está no inferno é
triste, mas real. Não que ela tenha sido uma pessoa ruim ou algo parecido, entretanto, eram assim as
coisas. Quem realmente ia para o céu? Deus deveria escolher a dedo as pessoas, e mesmo minha mãe
tendo morrido por causa de um maldito câncer, duvido que Ele tenha tido piedade.
Suspiro, frustrada, e seco a lágrima que escorre pelo meu rosto, encosto a cabeça na janela da
sala e continuo olhando para o lado de fora, vendo um casal jovem correr debaixo da chuva, sorrindo
apaixonados. Penso o quanto a vida as vezes é estranha; sim, estranha. Estou aqui dentro, sofrendo
pela morte de mamãe, e eles dois lá fora, sorrindo, se abraçando e beijando-se debaixo da chuva
Levanto-me e apanho meu celular que vibra na mesa de centro. Vejo no visor que é uma
mensagem do meu namorado, Collin Spellman. Apesar de gostar muito dele, sempre achei seu nome
um tanto ridículo.
“Você se chama Estére, acha seu nome comum e bonito?” Ouço meus pensamentos dizerem.
— Estére? — Ouço a voz do meu padrasto me chamar e ele entra na sala, me encarando. Está
usando um terno preto com a gravata torta. A cabeça, com os cabelos em corte militar, está molhada
por conta da chuva. Seu olhar é frio e triste, por conta de ter perdido a esposa. O peitoral forte sobe
Ele é muito mais jovem que mamãe, cerca de quase doze anos.
— Oi — digo, ainda parada, com o celular na mão, pronta para responder Collin.
— Vim ver se você está precisando de alguma coisa — diz Frederic. Esse é seu nome, o que,
Silêncio. Ele fica parado onde está e concorda com um aceno de cabeça.
— O funeral estava cheio, você não acha? — pergunta e sei o que ele está fazendo.
— Você quer saber como estou, então pergunte logo — digo ríspida.
Frederic abaixa a cabeça e quando levanta, voltando a me encarar, vejo seus olhos marejados.
— E você a sua esposa, também sinto muito, mas quando ela descobriu sobre o câncer,
— Ok, vou me deitar, amanhã o advogado vai vir ler o testamento, sabemos que sua mãe não
— Pode ficar com o dinheiro, não vejo problema nisso — digo, seguindo em sua direção e
saindo da sala. Passo ao seu lado sem ao menos encará-lo e Frederic segura meu braço, virando meu
— Eu também a quero aqui, está bem? Mas sabemos que isso é impossível! Não tem como ela
Meu padrasto concorda e me desvencilho dele, seguindo pelo corredor e subindo a escada da
nossa casa. Vejo ele uma última vez antes de me perder no corredor e entro para o meu quarto, deito-
Penso o quanto que a vida é injusta, por que perdíamos as pessoas? Por que minha mãe havia
Sinto meu celular vibrando e saio dos meus pensamentos vendo que é uma ligação de Collin.
— Amor, como você está? Quer que eu vá para sua casa? — pergunta com a voz rouca.
Suspiro e me viro na cama, olhando a janela, que continua chovendo do lado de fora da Cidade do
Vale Sombrio[1], uma cidadezinha interiorana que fica localizada na Europa. A cidade leva esse nome
por boa parte do tempo estar chovendo e ter um ar misterioso. Muitos moradores até mesmo diziam
que aqui habitava o próprio Diabo, o que eu não duvido, já que é um verdadeiro inferno.
— Oi — digo. — Estou bem, não precisa, nos vemos amanhã, o que acha?
Collin é um homem muito bonito, isso não posso negar. Na nossa faculdade ele sempre foi um
dos caras mais desejados, tanto por mulheres como por homens, no entanto, havia sido eu que
acabara conquistando-o.
Começamos a namorar no segundo ano da faculdade e até então ainda não havíamos ido para a
cama. O que, de certa forma, sei que o incomoda, mas desde então tem sido um cavalheiro e tanto
comigo.
— Sim, nos vemos amanhã — digo com firmeza.
— Sinto muito que esteja passando por isso, minha garota — diz ele. Sorrio da forma que
— Eu também sinto, mas não podemos fazer mais nada. Agora, se não se importa, vou dormir,
Acordo de madrugada um tanto assustada, com o vento forte batendo na vidraça da janela e o
barulho dos relâmpagos. Levanto-me e fecho a cortina, observando o temporal continuar do lado de
fora.
Bocejo e saio do quarto, vou até o banheiro, faço xixi e me encaro no espelho, observando
meus cabelos loiros bagunçados, meus olhos azuis brilhantes e minha pele clara. Puxei as
características de mamãe, que, quando jovem e viva, era uma cópia perfeita de mim. Aliás, ao
contrário.
A única diferença entre nós é que mamãe era séria demais e determinada a fazer o que fosse
Sempre fui uma garota despreocupada, o que era um forte motivo para mamãe e eu brigarmos.
Até mesmo sobre eu ainda ser virgem era assunto de brigas, o que me incomodava bastante.
Mas, pensando agora que a perdi, preferia mil vezes brigar com ela do que tê-la perdido para
o câncer.
Esqueço meus pensamentos melancólicos e saio do banheiro, sigo pelo corredor e desço a
escada. Olho para o relógio na parede e vejo que ainda são 4 horas da manhã. Sigo até a cozinha,
Me assusto e quase derrubo a caixa. Viro-me na ilha da cozinha e coloco-a sobre o balcão.
— Droga, Frederic, você me assustou! — digo, encarando meu padrasto. Vejo que sua pele
— Me desculpe, não foi minha intenção. Ouvi passos pela casa e decidi verificar se realmente
era você.
Ele me encara e abre a boca pronto para proferir algo, porém, a fecha e começa a gesticular
com os braços.
— Aceita um pouco? — pergunto, apontando para o leite, ele concorda e pego dois copos.
Volto em sua direção e nos sirvo, entregando um a ele, que sorri grato.
— É meio difícil, quando se está acostumado a ter outro corpo esquentando o seu — diz, de
maneira despreocupada. — Me desculpe, sei que você nunca foi muito com minha cara, já que eu sou
— Não, por favor, não vamos falar sobre isso. Eu nunca disse que não ia com sua cara,
apenas me incomodava o fato de que meu padrasto tem idade para ser meu irmão.
— Entendo, mas agora não sou mais seu padrasto, não se preocupe com isso — diz, forçando
— Acho que agora vou tentar dormir — digo, terminando meu leite e colocando o copo sobre
a pia. Frederic concorda e me despeço dele, passando ao seu lado e me esbarrando sem querer no
seu peitoral. Sinto a quentura de sua pele e meus pelos se arrepiam. — Você está quente.
Volto para meu quarto e me deito, fecho os olhos e tento dormir, no entanto, é em vão.
Sinto uma mão passear pelo meu rosto e abro meus olhos devagar, encarando Frederic sentado
ao meu lado.
— O que está fazendo aqui?! — pergunto ríspida, esfrego meus olhos e o encaro, vendo que
na verdade é Collin.
— Oi, amor, me desculpe, pensei que havíamos combinado de nos vermos hoje — diz ele,
Fico surpresa com o que houve e balanço a cabeça. Apenas uma confusão. É isso. Com
certeza, se deve ao fato de ter visto meu padrasto de madrugada e agora estou vendo coisas.
— Me desculpe — digo. Me aproximo dele e deposito um beijo suave nos seus lábios,
rapidamente me levanto e vou para o banheiro, tranco a porta e o deixo para o lado de fora.
— Você quer sair para comer alguma coisa? — pergunta do outro lado da porta. — Pensei
que, como esta semana as aulas foram suspensas por conta das fortes chuvas, seria legal se fôssemos
Faço xixi e escovo os dentes, lavo o rosto e prendo meus cabelos. Passo desodorante e abro a
porta, encarando o homem de 1,80m, braços musculosos, corpo malhado, cabelos arrepiados e olhar
— Não estou muito no clima — digo, o encarando. Ele morde o canto da boca e passo ao seu
lado, indo até meu guarda-roupa. —, mas aceito sair para comer, estou com fome.
— Ótimo, que tal irmos no Beer’s que você tanto adora? Hoje é dia de panqueca.
Penso sobre o Beer’s, que é uma lanchonete-bar que sempre ia com minha mãe quando ela
— Chovendo e abafado, como sempre, parece que estamos na boca do inferno — diz, se
aproximando com um sorriso no rosto. Solto uma risada e ele me abraça, então deixo algumas
lágrimas escorrerem pelo meu rosto que molham sua camiseta. — Sinto muito que esteja passando
por isso, minha garota, se eu pudesse, arrancaria toda essa dor que está sentindo no seu peito.
— Obrigada, Collin, de verdade. Mamãe gostava bastante de você, ela ficaria feliz em saber
— Que tal você se trocar para irmos tomar aquele café de que estávamos falando? —
pergunta.
— Claro, não poderemos demorar muito, Frederic me disse que o advogado vai vir em casa
— Parece que sim — digo procurando uma calça jeans, visto e coloco uma blusa amarela,
então vejo que é muito chamativa para quem está de luto e coloco uma preta, que mostra minha
barriga.
— E Frederic? Agora que sua mãe morreu, ele vai se mudar, não é?
— Eu não sei ainda como será, passamos tantos anos os três juntos nesta casa...
— Sim, mas ele não é mais nada seu, deixou de ser seu padrasto quando sua mãe morreu e foi
— Conversaremos sobre isso depois, que tal irmos comer agora? — Pego meu celular com a
carteira e vejo uma mensagem de Frida, minha melhor amiga, que “ganhou” esse nome por conta de
— Certo, hoje você que manda — diz, passando o braço pelo meu ombro.
— Vamos, sim — digo. — Collin vai me levar para comer panqueca no Beer’s, quer ir
conosco?
— Ah, não, se divirtam. Se puder não demorar muito, o advogado virá em breve.
Concordo e nos despedimos dele, saindo para o lado de fora, que está garoando. Entramos no
— Ir conosco? — pergunta ele, ligando o rádio, uma música da Colbie Caillat toca baixo.
— Só quis ser educada — digo, revirando os olhos, ele forma um sorriso e sorrio de volta. A
Cidade do Vale Sombrio remete a uma floresta em volta da pequena cidade que fica afastada de toda
a Europa. Encaro as árvores verdejantes e suspiro, cantando baixinho com a cantora. Logo a música
Meia hora depois, Collin estaciona o carro em frente ao Beer’s, conosco saindo e entrando
pela porta, que toca um sino assim que passamos. O local está cheio, para uma quinta-feira comum, e
alguns rostos me encaram, reconhecendo-me. Isso que dá você morar em uma cidade pequena.
— Estére — diz o dono do local, o senhor Georgie. Ele é um homem barrigudo, de olhos
caídos e sorriso gentil, que pela primeira vez não está estampado na sua face. — Sinto muito pela
morte de Jolie, realmente foi algo totalmente inesperado.
Quero dizer que foi inesperado para ele que não convivia com ela e não via a luta diária por
— O que vão comer? Podem escolher o que quiserem, hoje é por conta da casa — diz ele.
— Obrigada, Georgie — digo. — Vou querer panquecas com calda de chocolate e morango, e
— Pode ser o mesmo que o dela, e dois sucos de laranja, por favor.
O homem concorda, se afastando e Collin me guia em direção à mesa que fica próxima a
janela. Nos sentamos e os olhares continuam sobre mim, o que começa a me incomodar.
— Não, tudo bem, com certeza teriam pessoas lá me olhando iguais a essas — digo. Ele
“Oi, amiga, estou bem, não se preocupe. Vim no Beer’s com Collin, o que está fazendo?”
“Por que não me chamaram? Estou em casa, meus pais estão comigo, mal dormimos essa
“Mesmo se eu tivesse chamado, seus pais não deixariam você sair, e foi de última hora.
Combinamos outra hora de nos vermos.”
Sorrio, me despedindo dela e vejo os pratos serem depositados sobre a mesa. O cheiro de
ovos com bacon e das panquecas invadem meu nariz e meu estômago protesta, me lembrando que a
Ele se afasta e pego o garfo, levando um pouco dos ovos e bacon para minha boca. Engulo e
— Este lugar nunca decepciona — digo, comendo tudo, Collin faz o mesmo e após
terminarmos, ele limpa minha boca com o guardanapo e mordisca o canto da sua.
— Fico feliz em poder proporcionar um pouco de alegria neste momento tão difícil — diz
Collin.
— Você tem sido ótimo, não se preocupe, mais uma vez obrigada por sempre estar comigo.
— Claro que estarei — diz, erguendo a mão em um sinal de saudação, rimos e vamos até o
— Não precisa, como disse, é por conta da casa hoje — diz Georgie. Agradeço a ele e me
— Você tem que me levar para casa agora, é tempo do advogado chegar — digo, ele concorda
e após afivelarmos o cinto, Collin sai do estacionamento, seguindo em direção à casa de mamãe.
Minha. De Frederic.
Assim que chegamos, saio às pressas por conta de a chuva ter aumentado e entramos à casa,
Vejo Frederic vir da cozinha e ele nos encara, forçando um sorriso. Está usando calça jeans
— Deve estar che... — Frederic é interrompido com o toque da campainha e ele sorri. —
Vejo ele ir em direção à porta e abri-la, dando passagem a um homem baixinho, de pele negra,
— Olá, Estére, acredito que não se lembre de mim, sou Edie, o advogado da família. Como
está?
assim como esta casa, dois carros, e outras duas residências, sendo um chalé e uma casa de campo,
— Certo, meu avô deixou esse pequeno patrimônio para ela quando morreu, como vovó já
morreu também e ela era a única herdeira, ficou tudo para mamãe.
— Assim como você, porém, preciso ler o testamento, pois antes de morrer, em seus últimos
dias de vida, sua mãe fez algumas mudanças — diz Edie. Concordo, estranhando.
— Certo, estamos ouvindo — digo. Frederic se senta em uma das poltronas e Edie abre sua
— Como imaginado, sua mãe te deixou o chalé, a casa de campo, um dos carros e metade
desta casa. Para Frederic ela deixou um carro, vinte por cento do dinheiro e metade desta casa.
— É isso mesmo que eu disse, Srta. Muller — diz Edie. — Metade desta casa te pertence e a
— Não tem como reverter isso? — questiona Frederic. — Não quero a casa nem nada. Não
— Cancelar? Senhor, isso foi escrito pela sua própria esposa, seria muito difícil conseguir
cancelá-lo, fora que não há nada de errado em sua esposa ter deixado um pouco da sua herança para
o marido.
— Não, Srta. Muller, apenas que assine alguns papéis se estiver de acordo com o testamento.
— De acordo? Não tenho escolha — digo, me aproximando dele. Edie suspira e pega os
papéis, me entregando a caneta e apontando onde devo assinar. Assino sem pensar duas vezes e
encaro Frederic.
— Vou sair, até mais. — Encaro Collin e ele levanta, se despedindo dos outros. Abro a porta
— É, não é uma má ideia, se desse para fazer isso. Como ainda tenho 20 anos, teríamos que
esperar mais 4 para podermos colocar à venda. E o chalé é muito longe, teria que sair de madrugada
— Não é uma má ideia — digo, sorrindo. Ele concorda e segue para o cinema que tem na
cidade.
Não demora e logo chegamos. Collin estaciona e abre a porta para mim. Saio e vejo que não
está chovendo, o que me deixa um pouco aliviada, então seguimos para bilheteria e escolhemos um
— Vamos dar um passeio enquanto não dá a hora do filme — diz ele. Concordo e seguro sua
mão, andando pelo interior do cinema, onde tem algumas lojinhas e uma livraria.
— Estére, você tem mais livros do que consegue ler, a última vez que viemos aqui, você
— Não li, mas livro nunca é demais — digo, já encarando as prateleiras. — Qual é? Você
— Tudo bem, você venceu — diz ele. Sorrio, batendo palmas, e continuo olhando para as
prateleiras, passando as mãos pelas lombadas dos livros. Escolho alguns que me chamam a atenção e
Assim que saímos da livraria, Collin passa o braço pelo meu ombro e me encara.
— Eu estava pensando, já que você não pode vender sua casa por causa de uma lei idiota por
aí, e não quer se mudar para o chalé, que fica longe, por que não vem morar comigo?
Congelo com suas palavras e ele para ao meu lado, me encarando de sobrancelhas erguidas,
sem entender.
— Como disse?
Penso sobre aquilo e fico quieta, voltando a andar e chegando na fila do cinema. Entrego os
ingressos e vamos para o local indicado, com Collin me encarando, esperando uma resposta.
— Não seria como um casamento, sabe? Seria como se fôssemos amigos — argumenta.
— Como se fôssemos amigos? Somos namorados, não tem como namorados morarem juntos
sendo como amigos. E eu tenho minha casa, não sou uma sem-teto ou algo parecido.
— Eu sei que não disse, mas... é que... — Fico quieta e Collin me encara.
— Só estou querendo dizer que seria muito estranho você morar naquela casa enorme com um
homem, agora solteiro, e atraente — diz ele. — Ele era seu padrasto, mas sua mãe morreu, a ligação
— Espera, você está dizendo que meu padrasto é atraente? O que quer dizer com isso? —
— Só estou querendo dizer que ele pode tentar algo, sei lá...
— Frederic era o marido da minha mãe, como consegue pensar nisso? Isso é ciúme? —
questiono. — Droga, Collin, a ligação que tínhamos como padrasto e enteada pode ter acabado, mas
se você não ouviu o que Edie disse, minha mãe deixou 20% da herança para ele, um carro e metade
da casa onde passei minha vida inteira! Então não faça esse assunto virar seu, sendo que não é!
Pego a pipoca, mastigo e bebo um pouco do refrigerante, sentindo-me nervosa. Como Collin
pôde transformar o assunto em algo dele? Claro que não tiro a razão de sentir ciúme de Frederic,
afinal de contas, ele é sim um homem bonito e atraente. No entanto, passou os últimos anos casado
— Pensei que iríamos ver um filme para nos distrairmos um pouco — diz ele.
— É, eu também pensei, até você se colocar como o centro do assunto quando nem faz parte
Vejo Collin assentir e pegar a pipoca e refrigerante da minha mão, jogando-os na lixeira mais
próxima. Algumas pessoas nos encaram e reviro os olhos, saindo do cinema e seguindo para o carro.
Ele faz o mesmo e destrava a porta. Entro e passo o cinto pelo meu corpo, ficando em
silêncio.
Collin liga o veículo e acelera, me levando para casa. E durante todo o caminho me mantenho
Saio do carro quando Collin para em frente de casa e ele me encara sério.
— Vamos conversando pelo WhatsApp — digo fechando a porta e pegando meus livros, ele
concorda e arranca o carro. Entro em minha casa e bato a porta com força, sentindo-me chateada.
“Ótimo, perdi minha mãe, estou presa nesta casa e ainda briguei com a pessoa que se
importa comigo.”
Saio dos meus pensamentos e suspiro, vou até a cozinha e abro a geladeira, pego uma garrafa
de vinho e encho uma taça, bebo em um único gole, então subo para meu quarto, enfiando meus novos
livros na minha estante. Mesmo tendo uma biblioteca em casa, sempre gostei de guardar os meus
livros comigo.
Saio do meu quarto e vejo Frederic de roupão e pantufas andando pela casa, está com óculos
— Oi — digo, ele me encara e força um sorriso, fechando o roupão. Vejo que por baixo está
apenas de cueca.
Concordo e ele segue até a sala de jantar, onde fica o nosso bar. Não demora e Frederic volta
Bebo o líquido âmbar e sinto queimar meu estômago, então suspiro e volto a observar
Frederic.
— Collin me convidou para morar com ele, ele disse que seria estranho vivermos aqui,
juntos, já que não temos mais elo nenhum — digo. Frederic ergue a sobrancelha grossa e morde o
canto da boca.
— Bem, ele acha que como você não é mais meu padrasto, seria meio que convidativo a você
— Não, claro que não. Apesar de tudo, ainda somos uma família, mesmo que diferente —
digo, apontando meu copo para ele, que bate com o seu e viramos de uma vez.
— Bem, se você quiser, posso me mudar, ou sei lá. Não quero deixá-la desconfortável em
aspecto nenhum.
— Não, tudo bem, se mamãe deixou esta casa para nós dois, é porque ela queria que um
apoiasse o outro. Seria injusto não realizarmos o seu último desejo, porém, não irei levar a roupa na
lavanderia e nem lavar o banheiro. Ah, e cozinhar também não é comigo, minha comida sempre foi
horrível.
— Obrigado, Estére. Apesar de ela ter partido, ainda a amo, e não seria fácil me despedir
daqui.
— Tudo bem, nem para mim. Eu cresci aqui junto com ela, já que meu pai nunca foi um
homem presente e nem sei da sua existência. Seria injusto para ambos se tivéssemos que sair.
— As aulas foram suspensas por conta do temporal, mas estão indo bem, estamos prestes a
fechar a matéria e com sorte, passarei em todas.
Frederic concorda e me despeço dele, seguindo para meu quarto. Fecho a porta e passo a
Estudo um pouco, converso com Frida no telefone e assisto à programas bobos na televisão,
então, quando já está beirando 21h, peço uma pizza para comer e assim que chega, jogo a caixa sobre
a mesa e apanho um prato, colocando duas enormes fatias nele. Pego um copo de suco e subo para
Como em silêncio, ansiando o momento de terminar para poder tomar um banho e dormir.
Assim que faço isso, coloco meu pijama e me aconchego na cama, cobrindo-me com o edredom
grosso. Deixo a janela fechada com as cortinas abertas, avistando ao longe as árvores e a chuva, que
Levanto-me da cama, sem entender, abro a porta e sorrio ao ver minha mãe parada, já vestida
para o trabalho.
meu olhar. Encaro novamente e Frederic está parado na minha frente, sem camisa, com os pés
— O quê? — questiono, mas sou surpreendida quando ele me pega e prende-me nos seus
braços, encarando meus olhos. Fixo os meus nele e engulo em seco, notando o sorriso se formar em
seus lábios.
— Jolie, você voltou para mim — diz ele, aproximando-se de mim e me beijando.
Tento me afastar, mas é em vão, pois ele é muito mais forte. Então, sem escolhas, entrego-me
ao beijo, sentindo meu corpo se arrepiar por inteiro. Ele passa as mãos pelos meus braços e desce
para o meu quadril, movimentando sua pélvis contra mim. Sorrio e o encaro, vendo que agora o rosto
é do Collin, que sorri maliciosamente e se aproxima do meu pescoço, o mordiscando. Respiro fundo
e o aperto contra mim, então ouço um barulho e sou trazida para a realidade, com o despertador me
acordando e me mostrando que só posso estar ficando louca ao sonhar com isso.
Sinto meu coração acelerado mais do que o normal e olho o relógio, mostrando que já são
mais de 6 horas da manhã. Devo ter esquecido de tirar o despertador do celular, já que ainda estou
de luto e, claro, as aulas foram canceladas pela tempestade. Realmente, esta cidade é uma maldição.
Levanto-me e sigo para o banheiro, decidindo tomar um banho para esfriar a cabeça por conta
do sonho que eu havia tido. Não que eu sinta atração pelo meu (ex) padrasto — como devo chamá-
lo? —, mas aquela paranoia de Collin em dizer que seria estranho morarmos juntos, agora que ele é
“É culpa do idiota do meu namorado, mas não vou dar o braço a torcer e falar com ele”,
penso, enquanto a água escorre pelo meu corpo, molhando meus cabelos loiros naturais.
Termino o banho e saio, enrolando-me na toalha e colocando uma sobre os meus cabelos. Sigo
para o lado de fora do banheiro e abro meu guarda-roupa, procuro uma lingerie e a visto. Logo
coloco um moletom confortável e saio do quarto, olhando ao redor do corredor. Está silêncio, apenas
com a trovoada da chuva do lado de fora, então, desço as escadas e vou para a cozinha, a fim de
comer alguma coisa.
Como vem acontecendo nos últimos oito anos, Frederic está com a mesa posta. A diferença é
que somos só nós dois agora. Temos frutas, leite, suco, café, torradas e pastéis doces que tanto adoro.
— Bom dia — diz, sorrindo. Noto que seus olhos demonstram uma tristeza inexplicável. —
Sabia que acordaria cedo, então decidi preparar uma refeição adequada, já que nos últimos dias
— Obrigada, realmente estou precisando, mesmo isso não sendo uma refeição em si.
— Bem, brigada com Collin e Frida presa em casa por causa da tempestade, ficarei em casa
lendo “Alice no País das Maravilhas” e pensando em mamãe. — Ele concorda e fica cabisbaixo. —
— Bem, preciso ir à funerária acertar algumas coisas que durante o enterro não tive tempo.
Vão colocar a lápide de Jolie — diz. Concordo apenas com um aceno de cabeça.
nove anos com sua mãe, um de namoro e oito de casados, mas você não. Ela te teve, te criou, ensinou
a caminhar e a falar. Esposa podemos encontrar outra após alguns anos de perda, mas mãe não. É
algo único.
Concordo com suas palavras, mesmo discordando um pouco na parte sobre arrumar outra
“É claro que não, Estére, não seja idiota! É apenas uma metáfora, ele só quer filosofar um
pouco. Dê palco.”
— Obrigada por entender — digo, comendo, ele concorda e leva sua atenção para seu prato
— Eu estava pensando que poderia cozinhar à noite. O que acha? Fazermos algo que
Penso sobre sua atitude e até diria que é fofo, então assinto.
— Lasanha — respondo e ele concorda, formando um sorrisinho. — Seria bom comer uma
dizer que eu não saiba dirigir. Enquanto você resolve as coisas na funerária, eu vou para o mercado e
faço as compras.
— Bem, se preferir, ao invés de sair de carro, posso te dar uma carona e você volta de táxi —
— Bem, não, não quis dizer isso. Só quis ser gentil — responde, meio sem jeito.
— Estou brincando, seu bobo, eu sei que quis ser gentil, mas realmente prefiro dirigir, vai me
Algumas horas mais tarde, após organizarmos algumas bagunças da casa, Frederic sai e me
despeço dele, me preparando para ir ao supermercado no carro que mamãe havia deixado para mim.
Observo a casa atentamente, antes de sair, e seco uma lágrima que insiste em descer pelo meu rosto,
então pego a chave do carro, tranco a porta, verifico se estou com bateria e vou para a garagem, que
O local é bastante grande. Gosto de pensar que vovô, quando vivo, gostava de casa cheia.
Diferente de mamãe. Nos fundos do nosso quintal, temos uma piscina enorme e uma área de
churrasco, com a garagem ao lado. Sigo para lá e vejo a piscina coberta com folhas das árvores. Não
consigo entender o motivo para termos ela, já que o tempo quase não melhorava.
Encaro-a por um minuto inteiro e lembro dos churrascos que fazíamos. Suspiro, sabendo que
não adianta pensar nisso e entro na BMW preta. Passo o cinto, prendendo-me e aciono o motor,
dando ré. Abro o portão grande com o controle que fica no carro e saio, o fechando logo em seguida.
Sigo pela estrada e coloco uma música do System Of a Down, cantarolando em voz baixa.
Estaciono o carro em frente ao mercado que tem um letreiro reluzente escrito “Mercado
Ando pelos corredores à procura dos ingredientes e coloco no carrinho, pegando até mesmo
Sigo para os outros e pego cerveja, que mamãe adorava, chocolates, os outros ingredientes
— São 40 euros — diz ela, mostro o cartão e passo, pegando as sacolas e me despedindo
dela, em agradecimento.
Ligo o motor e saio do estacionamento, voltando para a estrada. Coloco uma música para
tocar e canto animada, pensando que mamãe iria gostar de me ver feliz. Claro que o luto não é fácil
de lidar, porém, há certas coisas que são difíceis de compreender. Como uma música poderia nos
deixar felizes apenas em ouvi-la? Assim como um abraço, que nos conforta quando o sentimos.
Continuo cantando e pensando em mamãe. Passo o farol vermelho, animada, então vejo uma
fumaça subir do capô do carro e estranho com ele fazendo ruídos e, logo em seguida, parando.
— O quê? Esta merda é nova! — digo nervosa. — Droga, custava ter me deixado o outro
carro, mamãe?! — pergunto, olhando para o céu, querendo rir ao recordar que dois dias atrás eu
Suspiro, frustrada, e pego meu celular, mandando uma mensagem para Collin, ele a visualiza e
não responde, o que me irrita ainda mais, mas decido ignorar, afinal, ambos estamos chateados um
com o outro. Mando uma mensagem para Frida, para perguntar se ela pode me buscar enquanto
aciono o guincho e ela diz que continua presa por conta das fortes tempestades.
Respiro fundo, sem alternativas, e ligo para Frederic, que atende no segundo toque.
— Parece que mamãe me deixou um carro ferrado e ele acabou de fundir o motor na estrada.
Eu acho. Estou acionando o guincho, mas vai demorar um pouco e estou sozinha na estrada, será que
você poderia vir me encontrar e ver o que pode ser na sua oficina, você é mecânico, não é?
— Droga. Claro. Sim, sou, você sabe. Me diga, onde você está?
— Na estrada Negra, altura oito mil — digo. — Quanto tempo acha que chega aqui?
— Tudo bem, eu espero, não tenho alternativas mesmo — digo, ele solta uma risada baixa e
O guincho chega junto com Frederic, o que me faz revirar os olhos. Então, sem alternativas,
pego as compras e coloco no carro dele. O carro que mamãe deixou. Ele me ajuda e logo vejo meu
carro ser arrastado pelo outro de maneira lenta, com meu ex-padrasto afirmando que foi o motor que
fundiu.
— Normalmente, quando acontece isso, perdemos todo o motor, mas verei o que posso fazer,
Concordo, grata, e entro no carro, com ele fazendo o mesmo e logo seguindo pela estrada.
— Obrigada por ter vindo — digo, Frederic me encara e assente.
— Somos? — pergunto, mais para mim do que para ele, que assente.
— Sim, somos, se vamos conviver naquela casa juntos, então é bom nos tratarmos como uma
família. Mesmo seu namorado se opondo com isso, acho que seria legal e sua mãe iria gostar.
— É claro que ela iria gostar, ela nos colocou nessa enrascada — digo avistando o lado de
fora da janela, ele está tão rápido que a floresta é mais um borrão do que algo formado.
— Enrascada? Então é isso que sou para você. — Não foi uma pergunta, mas noto que ele se
— Me desculpe, ok? Não está sendo fácil digerir isso. Quero dizer, semana passada você e
minha mãe estavam casados, com ela no hospital definhando. E agora estamos aqui, dentro deste
carro que ela te deu, indo para casa fazer a comida que ela tanto adorava.
— Pensando agora, parece que foi uma ideia idiota cozinhar em homenagem a ela — diz ele,
— Está claro que você quis dizer que sua mãe está morta e nós estamos aqui, chegando em
casa para fazermos uma refeição. Algo que ela amava comer. Sim, parece bastante idiota pensando
agora, mas não foi isso que eu quis que parecesse.
Concordo com ele, é a mais pura verdade. Como uma simples refeição poderia causar tanto
desconforto? Nós dois estamos aqui, vivos e pensando em comer, enquanto minha mãe está morta e
— Bem, mesmo assim, já comprei as coisas e gastei quarenta euros, não vamos desperdiçar.
Ficamos mais uma vez em silêncio e Frederic me encara quando já estamos próximos de casa.
— Olha, podemos sim comermos juntos e conviver naquela casa, mas não espere que a partir
de agora eu vou tratar você como meu pai ou algo parecido — digo, com ele rindo logo em seguida.
— É sério!
— Só queria saber se está tudo bem — diz ele. — É difícil você brigar com a pessoa que
ama, principalmente se você não tem certeza se no dia seguinte ela estará lá te esperando.
Fico em silêncio diante de suas palavras e quando vejo, ele estaciona o carro na garagem de
Lavo minhas mãos e começo a picar cebola, alho e os outros temperos que vão acompanhar o
molho de Frederic, aproveito e coloco os tomates para cozinhar. Sempre preferimos fazer o molho
em casa. Enquanto isso, Frederic coloca um avental e começa a cozinhar a carne, saboreando-a a
todo instante. Analiso-o na cozinha mexendo na panela e assim que termina a carne, parte para o
— Isso vai ficar maravilhoso — diz ele. Concordo e pego uma cerveja na geladeira, que está
gelada. Entrego uma garrafa a ele e abro uma para mim, batendo a minha na dele.
— Um brinde à mamãe — digo, dando o primeiro gole. Ele assente e bebe, me encarando.
— Quer convidar o Collin para vir comer conosco? — pergunta, voltando a atenção para suas
panelas.
— Não, obrigada. Quando o carro quebrou, mandei mensagem para ele, e o canalha só
visualizou.
— Canalha é?
— Mas é claro! Eu estava sozinha no meio da estrada, e se tivesse acontecido alguma coisa?
— Bem, eu fui lá, não fui? Não permitiria que algo acontecesse com você.
Fico surpresa com suas palavras, mas sei que é verdade o que ele diz.
— Obrigada — digo, continuando a beber, logo em seguida me levanto. — Falta somente uma
— O quê?
Instantaneamente uma música da P!nk começa a tocar e acompanho as batidas do seu ritmo.
— Cala a boca e só escuta — digo, cantarolando. Ele concorda e começa a cantar comigo e a
P!nk, o que me deixa surpresa em saber que conhece a música. — Eu não acredito que o enigmático
— Talvez eu seja uma caixinha de surpresas que você não conhece nem metade do que
escondo — responde.
de que mamãe iria gostar de estar aqui para provar, passa pela minha mente, porém, o afasto
bebermos um pouco além da conta e, quando vejo, acabamos com a cerveja e duas garrafas de vinho.
— Estamos em casa, é só você subir a escada que estará no seu quarto, não tem com que se
preocupar.
— Ah, é verdade. Você está certo — digo, apontando meu dedo para Frederic e rindo
debochadamente. — Frederic, me diz uma coisa, como você e minha mãe se conheceram?
Ele me encara e suspira, dando de ombros.
— Foi em um bar, ela havia acabado de sair do trabalho e eu também. Nos sentamos um ao
lado do outro e ela me ofereceu uma cerveja. Acabou que eu aceitei e então... bem, o resto você não
precisa saber.
— Então está dizendo que minha mãe deu uma cantada em você e transou logo de cara? —
pergunto rindo descontroladamente. — Acho que ela foi mesmo para o inferno.
Ele fica sem entender e dou de ombros, terminando minha taça de vinho.
Concordo e vejo meu celular apitar, mostrando uma nova mensagem. O agarro e abro, vendo
que é de Frida.
“Papai disse que as aulas retornam amanhã, a faculdade já está segura de novo.”
— Mas que droga, amanhã tenho aula e estou caindo de bêbada — digo.
— É simples, é só não ir. Você está de luto, perdeu sua mãe esta semana, eles vão entender,
tenho certeza.
— Claro que vão, até descobrirem que estou em casa bebendo com meu ex-padrasto.
— Ex-padrasto? Isso soa tão estranho. E como iriam descobrir que você está dentro de sua
casa, bebendo comigo?
— Moramos na Cidade do Vale Sombrio, interiorana, menos de dez mil habitantes, todos
— Talvez nem todos — diz, fico sem entender e dou de ombros, me despedindo dele e
seguindo para meu quarto. Durmo sem ter sonhos malucos, o que é um alívio.
Levanto-me cedo, tomo banho, escovo os dentes, prendo meus cabelos, visto uma roupa preta
básica para mostrar que ainda estou de luto e desço à procura de cafeína. Encontro Frederic sentado,
bebendo café e lendo o jornal, assim que me vê, ele forma um sorriso e aponta o lugar à sua frente.
— Bom dia, obrigada, estou precisando mesmo — digo já me servindo. — Você poderia me
levar à faculdade?
— Não, tudo bem, eu te levo, vou à oficina hoje. Termine seu café que já iremos sair.
Concordo e continuo comendo, assim que finalizo, me levanto e vou em direção à saída da
casa, com Frederic vindo logo em seguida. Entramos na garagem e ele sai de ré, seguindo pela
— Sim, vou mexer no seu carro, ver o que pode ser, assim se você e Collin não se
do lado de fora. A sensação de vê-las me causa uma certa calmaria, o que não sei explicar.
— Sempre pensei que aqui lembra muito Forks — digo, encarando o local.
— Vai adentrar esta floresta e procurar o seu vampiro que brilha? — pergunta Frederic.
— Ok, se está dizendo — diz. Balanço a cabeça, sabendo que ele apenas quer me provocar
muito bonita. Tem vinte e dois anos e está no mesmo ano que eu de Fotografia. Seus cabelos são
escuros e sua pele é clara, com o corpo esguio e o olhar vibrante. Seu sorriso é tão contagiante que
— Oi — digo, sorrindo.
— Como você está? Não pensei que voltaria hoje, mandei mensagem apenas para informar, se
não viesse, com certeza meu pai não iria se opor. Estamos todos de luto pela tia Jolie.
— Só quero me distrair um pouco, ficar em casa trancada não adianta de nada, ainda mais que
Collin e eu brigamos.
— Brigaram por quê? — pergunta, curiosa, segurando no meu braço e me arrastando para
dentro.
— Mamãe deixou a casa para Frederic e eu, e como não posso vendê-la, teremos que
conviver juntos. Ele me convidou para morar com ele e os pais, disse que seria como amigos, não
como um casamento. E eu retruquei dizendo que não sou uma sem-teto para ir morar de favor na casa
dos outros.
— Sim, Collin pensa que, agora que Frederic e eu não temos mais ligação nenhuma, não
existem motivos para continuarmos morando juntos.
— É, tecnicamente ele não é mais seu padrasto, poderia até mesmo ser seu namorado. Foi isso
— O quê? Eca, que nojo! Mas basicamente foi isso, ele quis dizer que Frederic pode tentar
— Eca o quê, Srta. Muller? Todas nós sabemos que seu padrasto ou sei lá como queira
chamar, é um cara gostoso, mas duvido que ele tente alguma coisa, sempre te respeitou bastante.
— Sim, e não se esqueça que ele é ex-marido de mamãe, viúvo dela — digo, dando ênfase a
“viúvo”.
— Mas não deixa de ser gostoso. Tia Jolie tinha sorte, será que ele fode tão bem quanto dá
Reviro os olhos e finjo que estou vomitando, então damos de cara com Collin.
— Oi — digo ríspida, se ele acha que eu havia esquecido sobre ter me ignorado quando pedi
— Na verdade, não, pode dizer aqui, agora, Frida vai saber de qualquer maneira.
Minha amiga sorri e Collin suspira, concordando.
— Certo, desculpo, mas e sobre ontem quando precisei de ajuda e você me ignorou?
— Seu carro quebrou mesmo? Pensei que era só uma maneira de eu ir atrás de você, não fiz
por mal, juro. Sei que temos as nossas diferenças, mas eu te amo.
— Tenho que ir agora, minha aula já vai começar, nos vemos no intervalo.
— Ele vai mesmo se manter no curso de Medicina? — questiona minha amiga, assim que
entramos na sala.
Um tempo atrás, Collin havia dito que desistiria de cursar Medicina, no entanto, acho que seus
pais não ficaram tão felizes com isso e ele acabou desistindo de mudar.
— Bem, os senhores Perfeitinhos não devem ter deixado — digo, me referindo aos seus pais.
Frida concorda e logo em seguida seu pai, o senhor Viktor Bohringer, entra na sala e nos dá bom-dia.
Ele é um homem bonito, eu diria, tem a pele negra, olhos escuros, corpanzil forte e cabeça
careca. Usa óculos de grau e é um pouco afeminado, o que me deixa ainda mais encantada pelo pai
da minha amiga.
Sentamos em nossos lugares e começo a assistir a aula, porém, minha mente fica vagando,
pensando sobre Frida ter dito que Frederic poderia ser meu namorado.
“Vai querer que eu te busque ou já se resolveu com o seu príncipe?” debocha Frederic na
“Nos resolvemos, eu acho. Frida, ele e eu iremos ao shopping. E meu carro, quais as
Estamos do lado de fora da faculdade, e, por sorte, não está chovendo, o que deixa todos
muito surpresos.
— Certo, vou retocar meu batom, segura para mim — diz, entregando-me um espelho
pequeno. Seguro e minha amiga retoca seu batom, logo após isso, ela arruma os cabelos e passa
perfume, guardando as coisas na mochila e me encarando. — Como estou?
— Linda, como sempre, mas por acaso você é prostituta e vai encontrar algum cliente no meio
do caminho?
— Sou solteira, no shopping sempre têm homens bonitos, só quero paquerar um pouco.
Concordo e logo vemos Collin vir em nossa direção, ele me abraça e pega minha mochila,
apanha a de Frida também, que joga em cima dele. Dou risada e seguimos para o seu carro. Ele
O shopping está cheio, o que já era de se esperar, já que o final de semana está quase
chegando. As lojas estão decoradas para o Natal, o que me faz me sentir totalmente perdida no
— Credo, esse povo é adiantado, não acham? Faltam dois meses ainda para o Natal e já estão
preparando tudo.
Concordo com minha amiga e encaro a livraria, sentindo vontade de entrar, no entanto, lembro
de Collin e eu no cinema local da cidade, quando fomos na livraria e depois disso, acabamos
brigando.
— Não, acho que concordo com você e tenho livros demais já — digo. Collin ri e
continuamos andando, avistamos várias pessoas sorrindo, felizes, em suas vidas perfeitas.
Penso sobre isso e decido que não é momento de me vitimizar e me comparar com essas
pessoas. Com certeza, em algum momento de suas vidas, elas já perderam alguém ou estão prestes a
isso. Esta é a lei da vida. Nascer, crescer e morrer. Isso quando você cresce.
— Querem comer alguma coisa? — pergunta Collin quando passamos próximos a praça de
alimentação. Concordamos e vamos para a fila do McDonald’s, que não demora muito, nos atende.
Peço um Big Mac com batatas fritas e Coca-Cola, meu namorado pede o mesmo e Frida escolhe um
outro. Nos sentamos em uma das mesas mais próximas enquanto não fica pronto.
— Então, Collin, você desistiu de mudar de curso? — pergunta minha amiga. A encaro, séria,
e ela sorri.
Collin fica em silêncio e assente, levantando-se e indo pegar nossos pedidos quando a
atendente chama.
Concordo e Collin volta com nossos lanches, começamos a comer em silêncio e assim que
Depois de passearmos pelas lojas e Frida acabar comprando algumas coisas sem
necessidade, decidimos ir embora. Como minha amiga mora mais próximo do shopping, Collin a
— Nos vemos amanhã na aula — digo, ela concorda e a vejo se afastar. Collin se despede e
— Sim — digo.
— Então, os rapazes da faculdade me chamaram para irmos em uma festa que vai ter no final
— Já que minha mãe morreu — o corto, desacreditada com o que ele diz. — Você sabe que
não vou a lugar algum, voltei para a faculdade porque não posso perder as matérias. Mas ir a festas?
— Não, quer dizer, sim. Gostaria muito de ir, com você é claro. Somos um casal, namoramos
— Nem transamos — completo. — Então é sobre isso, você quer ir a essa festa comigo para
— Sei que você quer fazer sexo no momento certo, mas eu sou homem. Todos os meus amigos
já me perguntaram se transamos, andam dizendo até mesmo que você é virgem. O que é verdade, mas
— Perco minha mãe para o câncer e o assunto dos seus amigos é se eu sou virgem ou não?
— Não, claro que não. Eu acabo de perder minha mãe e você quer fazer sexo, isso é
— Vamos conversar tranquilamente, por favor. Sei que perdeu sua mãe e está passando por
um momento difícil, mas somos um casal. Estou com você, do seu lado, porém, queria ao menos ter
Abro a porta e saio, seguindo pela rua sem olhar para trás. Vejo Collin fazer o retorno e sigo
para casa, entrando e subindo direto para meu quarto, sentindo-me completamente nervosa e frustrada
É assim que me sinto nos últimos dias. Na verdade, no último ano, quando Jolie chegou em
Só de pensar que há um ano eu havia dito a ela que tudo daria certo e venceríamos essa
batalha... Falhei com ela. Falhei com ela e com sua filha, Estére, que agora praticamente vive apenas
Só de pensar na dor que minha esposa deve ter passado, desejo partir deste mundo, porém,
não tenho escolhas a não ser continuar nesta batalha iminente que insiste em recair sobre mim.
Para me distrair um pouco, decido ir até minha oficina para ver como estão as coisas. O meu
funcionário, Jack, está mexendo no carro de Estére, que para ajudar, ferrou o motor.
— Como estamos, Jack? Me diz que dá para recuperar — digo, pegando um cigarro no bolso
de trás da calça e acendendo. Dou um trago e solto a fumaça, me sentindo um completo idiota por
essa atitude.
“Sua esposa morreu de câncer e você está fumando, babaca!”
— Não tenho boas notícias, chefe, infelizmente — diz ele fechando o capô e se aproximando,
— Perdemos o motor? — questiono. Ele assente, suspirando. — Porra! Como isso foi
acontecer? Agora para arrumar outro vai ser uma grana preta.
Jack me encara e sei que ele quer dizer que isso não é o problema, já que minha enteada tem
— Temos mais alguma coisa para fazer ou o movimento continua fraco? — questiono.
— Fraco — diz, coçando a cabeça. — Somente os clientes de sempre, que querem fazer
manutenção.
Concordo, nos últimos tempos os negócios andam mais fracos do que de costume.
— Certo, qualquer novidade me avise — digo e ele faz um movimento com a cabeça como
resposta, me afasto, seguindo para dentro do meu escritório. Me sento na cadeira e olho a papelada à
minha frente, frustrado com tudo que anda acontecendo na minha vida. Por que Jolie tivera que
morrer?
Respiro fundo e me levanto, procurando uma garrafa de uísque que deixo guardada aqui para
momentos como este. A acho e procuro um copo, como não encontro com a bagunça, abro a garrafa e
viro um farto gole na boca, bebendo e torcendo o nariz.
— Droga — sussurro. Repito o processo e bebo ainda mais, sentindo meu corpo se arrepiar
chorar, me sentando no chão e pensando em Jolie. Por que a minha mulher? Por que perder
justamente ela?
Fico pensando nos momentos felizes em que tivemos e no nosso delicioso sexo. Jolie nunca
me decepcionou na cama. A mulher era puro fogo, e eu, a gasolina. Juntos, incendiávamos tudo que
estivesse ao nosso redor, sem nos importarmos com quem seria atingido no meio do fogaréu.
E agora, não teria mais isso. Não teria o melhor sexo da minha vida, não teria a minha
Saio da oficina me despedindo de Jack e entro no carro, arrancando com tudo e seguindo para
a cidade vizinha mais próxima a fim de distrair a mente um pouco. Paro o carro em frente a um bar e
Assim que entro no local, vários caras me encaram e assinto para eles, que erguem a cerveja
O homem concorda e enche mais uma, duas, três vezes, comigo bebendo rapidamente.
— Se continuar bebendo assim vai ficar bêbado rapidinho, gatão. — Ouço a voz de uma
mulher ao meu lado. Me viro e vejo o rosto de Jolie, fazendo-me arregalar os olhos e limpá-los com
a mãos, então vejo uma mulher de cabelos escuros, pele escura e sorriso largo. Não é minha esposa.
— O único objetivo em vir ao um bar é sair daqui bêbado — digo, pedindo outra dose. Viro e
devolvo o copo para o homem. — Duas cervejas, por favor, uma para mim e outra para a mocinha
intrometida.
— Me diga, por que um homem como você está aqui, sozinho, sem a companhia de uma boa
— Porque a minha mulher morreu — digo e ela ergue a sobrancelha, sem graça.
— Me desculpe, deve ser difícil — diz. Concordo e o homem nos entrega a cerveja, dou um
gole e a encaro.
— É difícil sim, obrigado. — Me viro e fixo meu olhar nas garrafas de bebidas na prateleira
— Tem certeza...
— Por favor — digo, em ênfase, para que ele entenda que não estou com saco para aguentar
essas pessoas se intrometendo na minha vida sobre eu estar bebendo mais do que deveria. Quem foi
— Certo. — Ele se afasta, vai até o caixa e me traz o troco com a dose da bebida. Viro de
Entro no carro e suspiro, pego meu celular e vejo uma foto de Jolie, Estére e eu. Lado a lado.
Foi durante um passeio em um parque que tiramos. Lembro-me de ter pedido a um homem qualquer
Estamos os três sorrindo, suas peles claras, reluzindo com a minha. Dou zoom e encaro o
sorriso perfeito de minha esposa, então noto que Estére tem o mesmo sorriso que o dela. Na verdade,
Guardo o aparelho e ligo o carro, encarando à minha frente. Tudo está embaçado. A visão
turva.
Respiro fundo e com dificuldade saio, pegando a avenida principal para voltar para casa. O
trânsito está relativamente bom, o que é um alívio, e não tem nenhum policial no caminho que possa
implicar comigo.
Dirijo rápido e, quando vejo, estaciono em frente à casa, acertando o veículo na lixeira. Não
me importo e saio, andando em direção à porta. Sinto minhas pernas fraquejarem e abro com
dificuldade, então entro e sigo em direção a escada, subindo os degraus devagar. Procuro por Estére,
mas não a vejo, então entro para meu quarto e me jogo na cama, deixando a porta aberta, sem me
importar. Tiro os sapatos e arranco a camiseta, abro o zíper da calça, mas antes que eu consiga tirá-
Fico deitada na minha cama, olhando para o teto e me animo em saber que o tempo está bom
em muito tempo. Decido colocar meu pijama e mexo no meu celular, vendo minhas redes sociais.
Collin e eu não voltamos a nos falar, o que me desanima um pouco. Depois da morte de mamãe,
parece que tudo começa a desandar, o que, de certa forma, faz sentido, já que ela era meu alicerce.
Saio dos meus pensamentos quando ouço passos subindo a escada e sei que é Frederic.
Decido me manter no meu quarto e tempo depois não ouço mais nada, então me sento na beirada da
cama e coloco as pantufas nos meus pés, levantando-me devagar. Ando em direção à porta e a abro
devagar, encarando o breu no corredor. Vejo a porta no final aberta e decido averiguar se está tudo
bem com Frederic, então ando em direção ao quarto que ele dividiu com minha mãe por longos anos
e me aproximo lentamente. Vejo a imagem dele deitado na cama com as pernas pendentes para fora.
Está sem os sapatos e sem a camisa, apenas com a calça. Penso se aconteceu alguma coisa e entro no
local nas pontas dos pés, para não o acordar, então o vejo com a boca entreaberta e o botão da calça
jeans desabotoado, revelando o cós da sua cueca. Vejo abaixo do seu umbigo e observo sua barriga
Engulo em seco e o encaro novamente, o vendo dormir, então procuro o cobertor e jogo por
cima dele, o cobrindo e analisando mais perto seu rosto. De repente, me recordo do meu sonho com
ele e sobre o que Collin havia dito de Frederic tentar algo comigo, já que agora, tecnicamente, ele é
solteiro e não temos mais uma ligação de padrasto e enteada. O que é mentira. Lembro de Frida
dizendo que ele poderia ser meu namorado e perco os sentidos, me aproximo cada vez mais, então
vejo seus olhos estalarem e ele me encarar, dando um pulo da cama de susto.
— O que você está fazendo aqui? — pergunta e sinto o cheiro forte de bebida. De repente, é
como se o álcool estivesse saindo em partículas pela sua pele de tão forte que fica o cheiro.
— Vim ver se estava tudo bem e resolvi te cobrir — digo, sabendo que é verdade, mas
— Me responda com sinceridade — peço e Frederic me encara sem entender. — Você bebeu,
— Tem certeza disso? Porque você tem seu namorado e sua melhor amiga. E eu? Eu só tenho
lembranças dolorosas, Estére. Você pode estar sofrendo, e sei que sim, mas tem seus momentos de
liberdade para pensar em outra coisa. Tem pessoas que te apoiam! — ele grita e levanta, o corpo
— Você está certo, tenho pessoas que me apoiam mesmo. Collin e eu estamos brigando mais
nos últimos dias do que o nosso relacionamento inteiro. E Frida não sabe lidar muito bem com a
morte. Mas sim, estou tendo apoio! — grito, sendo sarcástica. — Se quer encontrar um refúgio,
procure outro, ou teremos que tomar medidas em relação a morarmos sob o mesmo teto.
— Você está certa, me desculpe, mas isso não muda o fato de que não está sendo fácil.
Fico quieta, e olho para abaixo do seu umbigo, notando a calça agora um pouco mais abaixo.
Desvio meu olhar e encaro seus olhos, torcendo para que ele não tenha reparado os meus olhares
estranhos.
— Você tem a mim, Frederic, sei que não sou a melhor companhia e muito menos ela, mas se
mamãe quis que ficássemos aqui, nesta casa, ela queria que um apoiasse o outro. Quero muito
realizar sua última vontade, mas agora está nas suas mãos fazer isso dar certo.
Saio do seu quarto sem ouvir uma resposta e entro para o meu, batendo a porta com força e
Levanto-me no dia seguinte mais cedo do que de costume e me troco, pegando minhas coisas.
Sigo para a cozinha e vejo que Frederic não se levantou ainda, então decido preparar nosso café. Já
que ele havia feito isso por mim, não via problema em retribuir o gesto, mesmo tendo discutido com
Passo o café e assim que está pronto, arrumo a mesa e decido chamá-lo para comermos. Subo
a escada devagar e sigo em direção à porta do seu quarto, então dou duas batidinhas e espero. Nada.
Estranho e espero mais um pouco, porém, Frederic não me atende, então bato novamente e sou
A imagem que vejo com certeza me perturbará por um bom tempo; os cabelos de Frederic
estão molhados e a água escorre pelo seu pescoço, descendo para seu peitoral e seguindo para sua
barriga, onde meu olhar para. Noto que ele está com a toalha frouxa em volta do seu corpo,
— Ah, me desculpe, não sabia que estava no banho — digo, me virando de costas.
Droga, o que está acontecendo comigo? Por que estou vendo coisas onde não existem?
“Ele é o ex-marido da sua mãe! Seu padrasto, apesar de tudo. E você tem namorado!”
Desço correndo após afastar os pensamentos e pego minha mochila. Chamo um Uber. Como
tem um veículo próximo de casa, ele chega em menos de cinco minutos e entro no carro sem ao
menos tomar café, pensando no que havia acabado de acontecer e a vergonha que estou sentindo.
Droga!
simplesmente não consigo me concentrar na aula direito. As horas passam rapidamente, o que é um
Encontro Collin no corredor e desvio dele, seguindo para a biblioteca a fim de esfriar um
pouco a cabeça sobre tudo que vem acontecendo e, claro, estudar um pouco, afinal de contas, o ano
— Não esqueça que deve colocar o celular no silencioso antes de entrar — diz.
Quero dizer que sim; aconteceu. Aconteceu muita coisa, principalmente nos últimos dias. Vem
acontecendo tantas coisas que não consigo explicar. Perdi minha mãe, brigo direto com meu
namorado babaca que agora decidiu querer transar, e ainda por cima, tive um sonho maluco com meu
Porém, como sei que não adianta conversar isso com ele, desligo o celular para não ser
Ando pelas prateleiras e me sinto mais calma. Para alguns é besteira, mas os livros acalmam
minha alma de uma maneira que pessoa nenhuma consegue. Bem, a que conseguia me acalmar e dizer
que tudo ficaria bem quando tudo estava uma merda, acaba de morrer. Mostrando que sim, a vida está
Pego um livro qualquer sobre fotografias e me sento, o abrindo e analisando as imagens. Tento
cada uma delas o abdômen definido de Frederic. Sei que pensar isso é errado e nojento, afinal de
contas, ele foi casado com mamãe por anos. Mas não consigo ter controle dos meus pensamentos e
ações. De repente, me vejo com ele tirando a toalha e o vendo completamente nu. O que será que ele
esconde por debaixo daquele tecido? Penso sobre a noite anterior, quando o vi com a calça aberta e
— Estére! — Saio dos meus pensamentos pecaminosos e me viro, vendo Frida do lado de
fora da biblioteca acenando para mim. Levanto-me, guardo o livro e vou em sua direção.
— O que está fazendo aqui? Pensei que já havia ido embora — digo.
— Estava conversando com um gatinho e acabei vendo você aqui distraída demais. Você está
bem?
— Tudo bem. Vou na festa que chamaram o Collin, você não vai, né?
— Não era necessário, eu não vou mesmo, ainda mais que Collin e eu discutimos de novo.
— Acho que vocês deveriam dar um tempo, andam só brigando. Quantas vezes foram esta
semana? Três? Quatro? Mas tudo bem, ficarei de olho nele, se não encontrar nenhum gatinho lá.
Sigo em direção à entrada de cabeça baixa, atrás das minhas chaves e sou surpreendida com
Frederic sentado nos degraus da pequena escada vestido de preto e flores nas mãos.
— Oi, Estére, eu estava te esperando, mandei mensagem e você não respondeu — diz ele, me
— Obrigado, são para sua mãe, estava esperando você chegar para saber se quer ir comigo
Ele concorda e sigo em direção à porta, abrindo e jogando sobre o sofá a mochila após pegar
meu celular e documentos. Saio, respirando fundo, determinada a não pensar no que houve mais cedo
— Está pronta?
O caminho inteiro, ficamos em silêncio, apenas ouvindo uma música da Sia que toca baixo.
Frederic deixou as flores no banco traseiro e enquanto dirige, bate seus polegares no volante, o que
me faz acreditar que tem algo o incomodando, porém, se realmente tem, prefiro não saber.
Chegamos no cemitério e ele estaciona sem me encarar, então me viro para pegar as flores e
ele vira junto, com nossas mãos se encostando. Sinto meu corpo se arrepiar e um formigamento tomar
— Desculpe — diz, não respondo e rapidamente saio do carro, fechando a porta e seguindo
cabisbaixa para o cemitério. Apesar de estarmos aqui há poucos dias, é como se tivesse passado um
milhão de anos.
Anos longos, duros e tristes. Porém, o pior é saber que só se passaram alguns dias.
Seguimos lado a lado em silêncio e não demora, nos aproximamos do local em que mamãe foi
enterrada. Ajoelho-me ao lado da cova, que ainda têm algumas flores vivas, e sinto as lágrimas
“Perdão...”
Continuo chorando, chateada com tudo que vem acontecendo. Com certeza, quem iria para o
inferno quando morresse, seria eu. Imagine pensar no antigo marido de sua mãe de maneira diferente.
Continuo chorando, tentando negar o que está acontecendo, então vejo Frederic depositar seu
braço sobre meu ombro, passando-me conforto. Não recuo, apesar de tudo que vem acontecendo, ele
é uma das únicas pessoas com quem posso contar. Então continuo chorando e ele se ajoelha,
— Sua mãe te amava muito, Estére — diz, a cada vez que ele diz meu nome, mais meu corpo
— Eu sei, às vezes penso que falhei com ela, quando ela disse que estava com câncer, não
consegui acreditar. Até vê-la perdendo seus cabelos. Vê-los caindo por conta da quimioterapia me
— Eu falhei com ela quando me disse sobre a doença, prometi que venceríamos essa batalha e
que iríamos rir disso tudo. Mas não cumpri, a perdemos para sempre.
Concordo e tenho uma reação que não espero; viro-me para Frederic e o encaro, então o
— Você quer almoçar em algum lugar? — pergunta Frederic após sairmos do cemitério.
— Seria bom.
Penso que a última vez que estive lá foi com Collin e concordo, dando de ombros.
Meu padrasto concorda e seguimos para o restaurante-bar, agora ouvindo uma música do
Evanescence.
Quando entramos no Beer’s, somos recebidos por Georgie, que sorri ao nos ver. Seguimos em
direção a uma das mesas e ele se aproxima com um bloquinho nas mãos e uma caneta.
— Olá, Estére. Frederic — diz, acenando para meu padrasto, que corresponde com o mesmo
gesto.
Sorrio, grata.
— Vou querer fritas com hambúrguer, e de sobremesa, sorvete de chocolate com calda de
— Pode ser o mesmo que ela, mas de sobremesa quero panquecas com mel e blueberry. —
Georgie concorda e logo se afasta, nos deixando a sós. — Está melhor? — pergunta me encarando.
— Sim. E você?
— Sim — murmura, sem muita vontade, concordo e ficamos quietos por um bom tempo.
— Perguntei se está nervosa, Estére — diz, me encarando sério. Ele deposita sua cabeça
sobre o braço e se aproxima de mim. — Sua mãe dizia que quando você fica assim, balançando as
pernas e mexendo nas mãos, é porque está nervosa. Algo a incomoda. O que é?
O encaro por um minuto inteiro e sinto um arrepio percorrer minha espinha. Como dizer a ele
— É só impressão sua, não estou nervosa — minto. Frederic concorda e não demora nossos
pedidos são colocados na mesa, comigo pegando meu hambúrguer e dando uma mordida. Sinto o
delicioso gosto invadir minha boca e solto um gemido baixo, com Frederic me encarando e rindo.
— Sim, mas o seu parece melhor — diz, passando a língua nos lábios.
— Você quer um pedaço para tirar a prova? — pergunto, sendo mais maliciosa do que
deveria.
Ele concorda e se aproxima por cima da mesa, então segura meus dois punhos com suas fortes
mãos e leva o lanche em sua direção, o provando. Fico quieta enquanto ele mastiga e me solta,
Termino de comer o meu lanche e sigo para as batatas, devorando-as rapidamente. Logo após
— Ah, agora quem vai querer um pedaço sou eu — digo, pegando o garfo de sua mão e
— Fico feliz que tenha gostado, Estér — diz. Ouço o apelido que mamãe me dera quando
— Eu também, Fred.
Sinto-me mais feliz após o almoço que tenho com Estére, porém, após sairmos do Beer’s, a
tristeza me abraça e fico em silêncio o caminho inteiro. Assim que chegamos em casa, ela sai do
— Tenho que passar na oficina para ver se Jack já consertou seu carro — digo e ela concorda,
se despedindo e entrando. Vejo seu rebolar e encaro suas pernas. São torneadas, com os pelos claros,
Penso na sorte que Collin tem. Não posso negar; a filha da minha mulher é linda.
Saio em disparada e relembro do momento que aconteceu mais cedo, onde Estére me viu
apenas de toalha e ficou me observando. Talvez ela tenha pensando que eu não percebi, mas é claro
Mas o que será que esse olhar queria dizer? O que está acontecendo com Estére e eu, afinal de
contas?
*
Acabo não passando na oficina e sigo para o mesmo bar da outra vez. Sei que Estére não iria
gostar de saber que eu bebi de novo, no entanto, algumas regras foram feitas para serem quebradas.
Assim que entro, vejo os mesmos rostos da última vez. Fodidos. É isso que esses homens são.
Com certeza estão fodidos por causa de alguma coisa e vêm ao bar para afogarem as mágoas.
Afasto meus pensamentos e me sento em frente ao balcão, igual a última vez, então o barman
se aproxima e me encara.
— Uísque com gelo — digo. Ele concorda e volta um minuto depois com o copo pela metade.
— Completa, eu pago.
O homem me encara e, suspirando, vai atrás da garrafa e enche meu copo. Sinto vontade de
socar sua cara e quebrar todos os seus dentes. Ele é a putinha de todos nós. Está aqui para nos servir.
Mas, no fundo, não o julgo, com certeza ele já havia visto coisas muito ruins neste bar.
Bebo um gole e torço o nariz, mesmo sendo apreciador de vinhos, cerveja e uísque, ainda não
sou completamente acostumado a sentir isso que a bebida causa. Bebo mais um pouco, pensando em
É como se estivéssemos na nossa cama, deitados, com ela apenas de lingerie e eu de cueca.
De repente, vislumbro a imagem dela sorrindo e beijando minha barriga, descendo para meus pelos
pubianos e indo de encontro ao meu pau. Consigo visualizar completamente a cena em minha mente.
Jolie era uma mulher voraz e muito, muito danada. Ter sua boca em volta do meu pau era como ter a
Então continuo no meu mundo, visualizando a cena dela me chupando, passando a língua pela
Abro os olhos e vejo a movimentação no bar, a música está tocando alto agora e as pessoas
dançam, o que, de certa forma, me deixa confuso. Droga! Mas que porra é essa que estou pensando?
Sei que ando com um tesão além do normal, e não me culpo, mesmo estando de luto. São
reações do meu corpo. Coisas que eu simplesmente não posso controlar. É instinto.
Sempre fui fodedor de belas bocetas. Conheci minha esposa morta quando tinha apenas
dezenove anos, começamos a namorar e um ano depois nos casamos. Ficamos casados por oito anos.
Porém, antes de Jolie, muitas mulheres passaram pela minha cama. Diversas. Milhares.
Centenas de mulheres. De todas as formas. Umas mais gostosas que as outras, mas sempre com o
Preciso me aliviar, está nítido isso na minha mente. Já estou até mesmo pensando besteira.
Como Jolie se sentiria em saber que acabo de pensar em sua filha chupando meu pau? Com
certeza ela não iria gostar nem um pouco, porém, o desejo diz mais alto.
— Desejo, olha como você está dizendo — sussurro para mim mesmo, em meio a música. —
Quando vejo, já foram mais de oito doses de uísque e meu corpo começa a ficar inerte. Me
levanto e sinto uma sensação estranha... boa. É como se minhas pernas tivessem vida própria e
andam em direção ao banheiro sem eu realmente querer. Então assim que entro, me tranco, abro o
botão da calça, desço o zíper e coloco meu pau para fora. Mijo e vejo ele meia-bomba na minha
mão, então olho para trás, como se alguém pudesse estar ali dentro. Começo a fazer movimentos de
vaivém e meu pênis cresce em minha mão. Suspiro, pensando em Jolie e na saudade que sinto das
deliciosas vezes em que trepamos. Então continuo com os movimentos, aumentando a velocidade
— Ah, Estére — digo, e é como se todo o álcool saísse do meu corpo e eu voltasse a
realidade. Paro os movimentos, broxando na hora e me vejo no banheiro. O som do lado de fora é
alto.
— Sim, eu. Agora me dê a droga de mais uma bebida. — Arranco da carteira algumas notas e
jogo em sua direção, com ele torcendo o nariz e concordando. Então bebo mais, e quando vejo, já
Pego meu celular no bolso da calça e vejo que já está tarde, então com a visão turva, me
levanto e saio, seguindo para dentro do meu carro. Suspiro, ligo o motor e faço o retorno, seguindo
para casa. A estrada está deslizando, então vou devagar, forçando minha visão para enxergar o que
Chego em casa com dificuldade e saio cambaleando, então subo os degraus e coloco a chave
na fechadura, a virando. Abro a porta e olho ao redor. Silêncio. Sento-me no sofá e suspiro,
— Fred? — Ouço me chamar. Levanto o olhar e vejo o rosto dela... da minha esposa.
Estranho. Será que ela havia voltado para mim e não passara de um pesadelo tudo isso? — Frederic,
— Me desculpe, eu bebi, estava com medo e chateado, então acabei parando no bar — digo,
Fico sem entender, encarando o rosto da minha esposa, então me aproximo cada vez mais e a
— O quê? — digo, a encarando, me aproximo e beijo seu pescoço, mordiscando sua orelha e
— Me solte! Não está vendo que está ficando louco? — diz Jolie.
Volto a agarrá-la com mais firmeza e seguro seu rosto, me aproximando dela e beijando seus
lábios. O gosto é diferente do que estava acostumado, sua boca parece menor e se encaixa com a
minha, então levo minha língua até ela e, de repente, sinto um chute no meio das minhas pernas e caio
— O quê, como? — pergunto, sem entender. Vi nitidamente a minha esposa. Tenho certeza do
que estou dizendo. — Por favor, me desculpe, e-eu fiz algo que a machucasse?
— Não, mas saiba que se continuar desse jeito, teremos que falar com o advogado e mudar
Fico quieto, surpreso com a loucura que estamos passando. A que ponto eu cheguei?
— Só fique longe de mim — diz ela me encarando. Vejo Estére subir a escada e sumir na
escuridão, deixando-me sozinho com os pensamentos de que realmente estou ficando louco.
Dois dias se passaram após o beijo que Frederic me deu. Não consegui sair do meu quarto
durante essas 48 horas, apenas indo ao banheiro que tem no meu quarto. Quando ouvia o silêncio ou a
porta da frente se abrindo, mostrando que Frederic saiu, ia para a cozinha comer alguma coisa.
Acabei não falando com Collin, por conta da nossa briga e tão pouco com Frida, que a última
mensagem enviada havia sido para me mandar o endereço da tal festa que será hoje.
Olho para o teto, deitada de pernas esticadas, e penso sobre o que anda acontecendo nos
últimos dias. É isso que venho fazendo esses tempos; pensando. Porém, agora que Frederic me
beijou, alegando que viu minha mãe ao invés de mim, não consigo sequer entender o que sinto.
Relembro do momento em que nossos lábios se tocaram e de quando ele beijou meu pescoço e
mordiscou minha orelha. Só de pensar nisso, meu corpo se arrepia por inteiro e sinto um frio no meu
Não que os beijos com Collin fossem ruins, pelo contrário; ele beija muito bem. No entanto,
com Fred foi algo... novo, por assim dizer.
— Olha o que você está pensando, sua idiota — digo para mim mesma. Me viro na cama e
solto um suspiro, vendo meu celular alertar sobre uma nova mensagem de voz. Vejo que é de Frida e
dou play:
— Sei que não anda muito bem por conta da sua mãe e que estou sendo uma péssima
amiga, mas, por favor, me diga como você está. Hoje será a festa, você e o Collin se resolveram?
Quer que eu ainda fique de olho nele? Por favor, responda. Te amo.
Resolvo responder.
“Desculpe não ter falado com você nos últimos dois dias, acabei ficando doente, mas já
me sinto melhor. Se divirta na festa. Ainda não me resolvi com Collin, porém, se puder, fique de
Vejo que já são mais de sete horas da noite e jogo o celular na cama, me sentindo cansada e
presa. Cansada de toda essa situação estranha em que estou envolvida. Presa por ficar dentro deste
quarto sem conseguir sair por não querer olhar para a cara de Frederic.
Mas afinal, será que ele está envergonhado assim como eu?
Esqueço isso e penso sobre essa festa que Collin e Frida estarão. Pego o celular novamente e
Decido procurar alguma roupa adequada, decidida a aparecer de surpresa e ver eu mesma
Collin, afinal, somos namorados e uma hora ou outra, teremos que nos resolver.
Pego uma calça jeans preta, botinas claras, uma blusa escura, com um unicórnio na frente, e
visto, olhando-me no espelho. Minha barriga magra está de fora, o que faz eu mostrar um sorriso.
Prendo meus cabelos em um coque frouxo e deixo alguns fios soltos, passando uma maquiagem logo
em seguida. Nada vulgar, até porque continuo de luto, então aplico o batom vermelho e o perfume
sobre a minha pele. Sei que pode parecer egoísmo da minha parte e um tanto errado sair sabendo que
a mãe morreu tem uma semana, no entanto, preciso me desligar um pouco de tudo que vem
acontecendo e me resolver com meu namorado. Quem sabe assim esqueço de uma vez por todas o
“Não aconteceu nada, foi apenas uma grande confusão. Ele estava bêbado e pensou ser
Saio sem ao menos ver Frederic, o que acaba sendo um alívio. Peço um carro e o motorista
segue em silêncio.
Quando estamos próximos da festa, ouço o som alto tocando Dangerous Woman da Ariana
Grande.
— Aqui está, obrigada, pode ficar com o troco — digo ao motorista, entregando o dinheiro,
ele agradece e saio do carro, olhando para a mansão com portões ladeados à minha frente. A casa
pertence a, se não me engano, Ron Philips, amigo de Collin.
Entro, sentindo o nervosismo tomar conta de mim e penso que é besteira eu estar aqui.
Deveria ter ficado em casa, chorando, comendo chocolate e assistindo a vídeos no videocassete que
mamãe guardava da minha infância perfeita. Porém, resolvi ser egoísta e pensar apenas uma noite em
Algumas pessoas da faculdade me encaram e começam a sussurrar entre eles, talvez dizendo
que eu, a primogênita de Jolie Muller, já superei o seu luto. O que é mentira.
Esqueço essas pessoas e continuo andando, chegando à casa. O som está alto e várias pessoas
bebem e dançam, descontraídos, sem ligar se sabem a coreografia ou não, o que arranca um sorriso
meu.
— Estére Muller. — Ouço meu nome atrás de mim e me viro, vendo o próprio Ron. — Você
veio.
— Oi, Ron. Sim, espero que não se importe — respondo, encolhendo os ombros.
— Claro que não, você é a namorada do meu amigo, por que me importaria? Seja bem-vinda
— diz, sorrindo. Ele é um homem bonito, não há como negar. Na verdade, na Cidade do Vale
Sombrio, existem muitas pessoas bonitas. Seus cabelos são encaracolados e sua pele negra, o sorriso
largo é cativante, e seu peitoral é como nesses filmes de adolescentes; malhado ao extremo.
Pergunto-me quando eles têm tempo para malhar, já que sempre estão bebendo, fumando, falando de
— Ah, a Frida está na cozinha bebendo com os caras. Eles fizeram uma aposta para ver se ela
consegue beber doze doses de tequila. Já o Collin, se não me engano, está ajudando na churrasqueira.
— Não! Espere, você não vai querer perder esse desafio da Frida, não é? — pergunta,
segurando meu braço e sorrindo. Olho para sua mão e ele me solta.
— Apenas Estére, Ron, nos conhecemos há tanto tempo que não sei dizer — digo, agarrando
no seu braço. Ele concorda e me guia pela multidão das pessoas que estão na sala.
Seguimos por um corredor e não presto muita atenção na casa, apenas notando o quanto está
cheia e é grande.
— Qual é, garota? Vira essa tequila de uma vez. — Ouço, assim que passamos para a cozinha.
Frida está em cima do balcão, na ilha da cozinha, usando uma saia curta e uma blusa
transparente, revelando seus seios. Seus cabelos estão bagunçados e a maquiagem berrante. Seu olhar
é sério e desafiador.
— Ela vai beber sim, e vou acompanhá-la — digo, me desvencilhando de Ron.
Todos que estão na cozinha ficam em silêncio e me encaram. Frida me observa e abre a boca,
— Então vem, princesa — diz um dos rapazes. Todos gritam e sigo em direção de Frida,
— Beba, beba, beba! — começam a gritar. Faço uma reverência dramática e viro com tudo a
Todos gritam entusiasmados e Frida me abraça, bebendo a dela e descendo do balcão. Desço
— É, nem eu acredito — digo sorrindo. — Você viu o Collin? Ron disse que ele está na
— Ele está atrás de você — diz ela. Me viro e encaro meu namorado, que me observa com o
Saímos da cozinha pela porta dos fundos e fomos para a área da piscina, com diversas
— Fico feliz que tenha vindo — diz, ainda surpreso com a minha ida a festa.
— Que bom — digo. — Você chegou aqui tem muito tempo? — pergunto, para criar assunto.
Concordo e forço um sorriso. — Você quer uma cerveja? Posso pegar para nós.
— Seria bom.
— Certo, espere aí, volto em um minuto. — Ele se afasta e o vejo indo em direção da
churrasqueira. Ele abre um freezer e pega duas cervejas geladas. Uma garota para ao seu lado e ele
Logo ela se afasta e ele volta, parecendo sério, o que me deixa confusa. Collin me entrega a
cerveja já aberta e me dá um enorme sorriso... o sorriso por qual me apaixonei. Que fez várias vezes
— Quem era a garota bonita? — pergunto, levando um gole da bebida aos lábios.
— Ah, ninguém, só estava perguntando sobre o Ron — diz ele, sem me olhar. Concordo,
sentindo que ele está mentindo, porém, como quero evitar brigas, não estendo o assunto. — Então,
como você passou esses últimos dias? Não temos conversado muito.
— Coisas de mulheres — concluo. Como ele é homem e não entende, apenas assente, dando o
— Então, quero que me desculpe, não quis forçar a barra em relação a transarmos, nem quis
O interrompo com um beijo e ele fica surpreso, me agarrando e segurando minha cabeça com
a mão livre. Sua língua invade a minha boca e simplesmente não sinto nada. Nem uma sensação. Nem
um arrepio.
Continuamos nos beijando, tento afastar esse pensamento insano e depois de um tempo,
— Eu te amo, Collin — digo, convicta das minhas palavras. Ele me encara e sorri.
— Eu também te amo, Estére — diz, sorrindo. Encosto minha testa na sua e sorrio, mesmo
— Você está bêbada — digo, e ela se senta ao meu lado, entrelaçando seu braço ao meu.
— Sim, mas o que posso fazer? A vida é curta, temos que aproveitar.
— Você está certa — digo, sorrindo. E realmente está. Quando vemos, a vida já passou, as
pessoas que amamos já morreram e não fizemos nada. Penso neste instante se as pessoas ao nosso
— Então vamos nos divertir, baby, porque a noite só está começando! — Ela se levanta com
dificuldade e dou risada, encarando Collin, que se diverte. Nos levantamos e começamos a dançar
— Eu te amo, amiga.
Ela concorda e então sai correndo, indo em direção à piscina, pulando com tudo, molhando
diversas pessoas.
Ouço tocar um remix de Halo da Beyoncé e sorrio, segurando na mão de Collin e correndo
com ele, nos jogando com tudo na piscina. Dançamos na água e rimos bastante, nos divertindo, então,
Analiso o céu e vejo as estrelas brilharem. Sorrindo pelo momento descontraído, beijo meu
Collin, decidindo fazer um piquenique no parque local da cidade. O lugar é simples, é praticamente
no começo da floresta, onde tem um campo de futebol, mesas de pedra redondas e um pequeno lago.
Como está sol, aproveito para usar um short curto, camiseta regata e óculos, a fim de me
bronzear um pouco e dar cor a minha pele branca. Frida está no mesmo estilo que eu, e Collin de
bermuda, tênis e sem camisa, mostrando sua barriga definida e seus músculos.
— Sei que o namorado é seu, mas puta que pariu, que homem gostoso o Collin é — diz Frida
ao meu lado, sussurrando, quando ele está um pouco mais à frente, vendo uma mesa para ficarmos.
— Sim, e você está perdendo a chance de saber como é o material dele — diz ela, como se
— Estou começando a pensar que esse momento está cada vez mais perto, mas não quero
— Sim, eu estava dizendo a Estére que se o ex-padrasto dela quiser, eu posso ajudá-lo a
superar o luto.
Ouço ele me chamar de “amor” e sorrio, mesmo não sendo a primeira vez que isso acontece,
isso ainda me deixa boba. Então percebo que meu padrasto acabou virando assunto.
— Ele está bem, não ando vendo-o muito, está trabalhando bastante na oficina. Por conta do
— É, espero que ele fique bem logo. Quem sabe não arrume uma namorada ou esposa mais
rápido do que o esperado — diz Collin. Não respondo, colocando sobre a mesa a cesta de vime e
tirando de dentro as coisas que trouxemos. Temos frutas, suco, entre outras coisas.
— Que tal deixarmos Frederic de lado e conversamos sobre outra coisa? — peço de maneira
— Claro, amor, você que manda — diz meu namorado me abraçando e depositando um suave
Retribuo o beijo e me recordo dos lábios do meu padrasto encostando nos meus, me
— Isso é o máximo que você vai conseguir de mim — digo, arrancando uma risada dela.
— Você está bem? — pergunta Collin ao meu lado, Frida foi comprar sorvete para nós.
— Estou sim — minto, quero dizer a ele que não, não estou bem. Que possivelmente ele
estava certo de que seria um erro morar com Frederic, e também quero dizer do beijo, mas sei que
isso iria acarretar a tragédias inimagináveis. Então me mantenho em silêncio, com ele passando o
braço sobre meu ombro e me apertando contra ele. — E você, parece meio que aéreo, está tudo bem
— Sim, está. Quero dizer, eu não sei. — Collin bufa e sorri. — Tudo anda complicado para
todos nós, menos para Frida, ela sabe deixar as coisas leves e divertidas.
— É, Frida é a alegria em pessoa, mas voltando a você, não gosto de vê-lo triste.
— Eu também não gosto de ver você triste, minha garota, mas algumas coisas são impossíveis
de mudar.
— Há dores que nem mesmo o tempo é capaz de curar — digo, concordando com ele. Com
certeza está triste porque seus pais não o deixaram mudar o curso na faculdade.
— Aqui está — diz Frida nos entregando os sorvetes, pego o meu que é de chocolate e passo
a língua, sentindo o sabor, Collin me encara e solta uma risadinha baixa, o que me envergonha. —
Um milagre esta cidade de merda estar fazendo sol, não vejo a hora de chegar as férias para ir ao
— Sem chances, vou usar as férias para estudar. Não quero repetir em nenhuma matéria.
— Você é muito correta — diz minha amiga, revirando os olhos. — E você, Collin, fará o que
— Estava pensando em irmos para o seu chalé, o que acha? Falta um mês ainda, dá para
Concordo, sorrindo, não quero negar de cara, até porque a ideia é boa. Entretanto, faz muitos
anos que não vou ao chalé, principalmente por ser no meio da floresta.
— Agora chega de tanto melaço, e já que o dia está lindo, vamos andar um pouco — diz
— O que? Pensei que quisesse ficar no parque apenas contemplando as pessoas — digo,
levantando-me do chão.
— Eu gostava mais da visão sem — digo, mordendo o canto da boca, ele sorri sem graça e
Andamos mais e passamos ao lado do pequeno lago que contém no parque. Jogo uma pedrinha
na água e a vejo pular três vezes, até afundar. Collin pega uma e faz o mesmo, nos divertindo com
isso.
— Oi, Collin. — Ouço uma voz feminina atrás de mim e meu namorado e eu nos viramos
juntos, olhando a garota da festa de ontem que havia falado com ele. Ergo a sobrancelha, sem
— Apenas passeando pelo parque, aproveitando o sol que resolveu aparecer — diz, então se
vira para mim. — Você deve ser a Estére, estou certa? Fiquei sabendo sobre sua mãe, sinto muito.
— Obrigada, muito prazer. — Sorrio e ela forma um sorriso largo, voltando a encarar o meu
namorado.
— Nos vemos na aula, até mais. — Se afasta logo em seguida, me deixando confusa.
— Sim, uma coincidência e tanto ela aqui, não é? — diz, desviando o olhar do meu. Fico sem
O restante do passeio foi bastante tranquilo, pelo menos para minha amiga e eu. Collin se
manteve em silêncio o tempo inteiro, completamente distraído do que dizíamos com ele.
Quando o sol começou a baixar e dar lugar as nuvens escuras e a lua, decidimos pegar nossas
coisas e irmos embora. Como viemos no carro do meu namorado, ele deixou Frida em casa primeiro
e ela se despediu de nós com beijos no rosto, dizendo que nos via na aula de amanhã. Logo depois
— Você ficou estranho depois que encontramos Laura — digo. — Aconteceu algo que eu deva
saber?
— Não é nada, só estou um pouco cansado — responde, mas sei que está mentindo. É como se
afastar. Olho ao redor da casa e tudo está organizado. Procuro Frederic pelo andar debaixo e não o
encontro, o que é um alívio, então subo a escada nas pontas dos pés e vejo a porta do seu quarto
aberta. Me esgueiro e dou uma olhada, notando que ele também não está aqui, então sigo pelo
Tiro minhas roupas e decido tomar um banho, sigo para a banheira e relaxo um pouco. Passo a
bucha pelo meu corpo e lavo meus cabelos, sentindo-me relaxada. Assim que termino, saio e me
Ouço a campainha tocar e estranho, sabendo que não estou esperando ninguém e, pelo que sei,
Coloco uma toalha nos meus cabelos molhados e abro a porta. Sigo distraída pelo corredor,
— Ah, meu Deus! — digo, envergonhada por estar apenas de roupão. O agarro ainda mais
contra meu corpo e Frederic fica de costas. — Me desculpe, pensei que não estava em casa.
— Estava nos fundos da casa, acabei de subir e a campainha tocou, deve ser a pizza que pedi
— Tudo bem — digo, ele se vira e me encara, com seus olhos pousando sobre mim.
Fico sem graça e me encolho, notando seu olhar vidrado, então a campainha toca de novo.
Concordo e ele desce, me deixando completamente sem graça e com um calor além do normal,
Conto até três e decido atendê-lo, indo até a porta e colocando meu corpo por trás dela,
— Oi — digo. Frederic está com uma calça moletom que nem havia reparado e camiseta
preta. Os pés descalços. Nas suas mãos há um prato com duas fatias de pizza e um copo de leite.
— Achei que iria querer comer — diz, estendendo em minha direção. Fico surpresa com sua
Agora estou vestida com meu pijama, mas por conta do que houve antes, sinto-me exposta.
— Obrigada — respondo de maneira gentil após pegar o prato com o copo. Ele sorri e fica
— Podemos conversar? — pergunta. — Sinto que as coisas entre nós estão estranhas depois
Quero dizer a ele que as coisas estão estranhas desde quando mamãe morreu. Principalmente
porque, sem motivo algum, sonhei que o beijava. E ele me beijou, o que torna tudo ainda mais difícil.
— Vai ser rá... — fecho a porta antes que ele complete a fala e encosto meu corpo na madeira,
sentindo meu coração acelerar. —...pido — completa e vejo por baixo sua sombra se afastar.
Fico parada por um tempo, então pulo para a minha cama com o copo de leite e o prato com
as fatias de pizza. Mordo a ponta de uma e não consigo sentir o gosto de nada, ainda pensando no que
aconteceu. Estou ficando maluca, tenho certeza. Deve ser coisa da minha cabeça isso tudo.
Como apenas para forrar o estômago e assim que termino de beber meu leite, escovo os
Já teve um sonho em que pensou ser real? Que na verdade, você está acordada, sem conseguir
Estou na sala da minha casa, apenas de lingerie. Estranho, pois nunca fiz isso, principalmente
em casa.
Então vejo um movimento na escada e me levanto, parando em frente ao primeiro degrau e me
ajoelhando, cabisbaixa. Olho os pés à minha frente e percebo que são masculinos, meu olhar vai
subindo pelas pernas e vejo os pelos negros. Não é Collin, já havia visto os seus pelos que são
claros.
— Por que está de joelhos, Estére? — Ouço a voz rouca e excitante do meu padrasto e engulo
em seco, nervosa.
— V-você me pediu — digo, ainda de cabeça baixa. Ouço sua respiração pesada e ele estende
— Levante-se, não é preciso uma coisa dessas. — Concordo, ainda de cabeça baixa e ele me
guia pela sala, passando pelo corredor e entrando na biblioteca. — Sente-se naquela poltrona.
Ele aponta para uma poltrona grande e larga, com o estofado claro, cheio de desenho de flores
O obedeço e me sento, então Frederic para na minha frente e vejo seu olhar sério, com seus
— Gosta do que vê? — pergunta, levando minhas mãos pelo seu peitoral. É forte, sua pele é
— Assim como a sua mãe, não é? Você é uma vadiazinha querendo dar para o seu próprio
padrasto! — vocifera. De repente, seu rosto se transforma e vira o de mamãe, que acerta um tapa no
Sento-me na cama, tentando raciocinar. Recordo do sonho e suspiro, colocando minha cabeça
— Você está ficando louca, Estére, só pode ser isso — digo para mim mesma. — Pare de
pensar essas coisas, é só uma semana difícil, você perdeu sua mãe e está encontrando refúgio nos
braços errados.
Me troco e saio de casa sem comer, ansiando o momento de chegar na faculdade. Como Collin
e eu nos resolvemos por hora, ele me busca, e assim que me vê, dá um beijo na minha testa. Apesar
de ter sido um sonho o que tive, me sinto estranha, como se estivesse traindo-o, o que não é verdade,
— O que foi?
Fico em silêncio e ele não insiste no assunto, o que me deixa aliviada e feliz. Se ele soubesse
— Certo, e sobre o que conversamos ontem, conseguiu pensar sobre o assunto ou ainda não
— Sobre o chalé?
— Sim — diz.
— Isso! — diz, animado, e vem para o meu lado, entrelaçamos nossas mãos e ele forma um
Ele sorri e seu sorriso some quando entramos na faculdade e Laura passa por nós, acenando.
— Preciso ir agora, amor, nos vemos no intervalo. — Collin sai andando sem ao menos me
— Péssimo, estou com cólica e só quero chocolate e assistir a alguma série na Netflix — diz.
— Você pode ir para casa, se quiser, converse com seus pais e me avise, o que acha?
Concordo e entramos para a sala, nos posicionando nos nossos lugares e prestando atenção
nas aulas.
Porém, mais uma vez, me vejo perdida em pensamentos sobre os meus sonhos e a estranheza
de Collin.
As primeiras aulas passam rapidamente e quando chega o intervalo, encontro Collin e Laura
conversando. Assim que me aproximo, ela me encara e acena, logo em seguida se afasta.
— Viraram amigos mesmo, hein? — comento, com ciúme. Collin me encara e sorri.
— Está com ciúme, minha garota? — pergunta aproximando meu corpo do seu.
— É assim que me sinto todos os dias em saber que você mora sozinha com seu padrasto —
— Frederic é meu padrasto, Collin, você mesmo acabou de dizer isso. Por que esse ciúme?
— Porque ele é homem, Estére. Assim como eu sou. Acredite, a maioria de nós não pensamos
coisas muito boas quando vemos uma mulher linda e gostosa como você.
— Meus pais deixaram, então assim que sairmos daqui, vou para casa organizar minhas
coisas e encontro você na sua casa às 18h. Quero pizza e brigadeiro.
— Combinado — digo animada, ter outra pessoa naquela casa fora Frederic será bom.
Entro em casa e ouço um barulho na cozinha, então sigo até ela e vejo Frederic parado
— Oi, Estére.
— Só queria avisar que teremos visita mais tarde — digo, cruzando as mãos uma na outra. —
— Tudo bem, quer que eu prepare alguma coisa para vocês comerem? — pergunta, me
— Não precisa, pedimos uma pizza para comer. Ela pediu brigadeiro, mas é fácil de preparar.
— Tem certeza?
Concordo e me viro, pronta para sair.
— Estére — diz, vindo até a mim a passos largos e segurando meu braço. O ponto em que sua
— Podemos conversar?
Fico olhando Frederic por um minuto inteiro e sei que não vai adiantar tentar me esquivar
— Tudo bem — respondo, ele concorda e volta para a cozinha, então o sigo e me sento na
— De qual parte estamos falando? — questiono. — Porque, pelo que me lembro, você chegou
— Eu sei — ele suspira, sua respiração é pesada; seu peito desce e sobe rapidamente —, mas
prometo que dessa vez será diferente, irei evitar ao máximo beber.
— Você tem vinte e oito anos, Frederic, um homem formado, pode fazer o que quiser da sua
colo.
— Desculpe — diz. — Me perdoe pelo beijo, não foi o que pareceu, eu realmente vi o rosto
de sua mãe. Eu estava muito bêbado e você sempre se pareceu muito com Jolie.
— Sinto muito, de verdade, não queria que passássemos por isso — digo.
— Então, nos resolvemos? — Ele volta seus olhos para mim e vejo o brilho intenso nas suas
íris.
— Se você preparar aquele brigadeiro para Frida e eu, estaremos sim — digo, rindo. Ele ri e
levanta.
— É para já! Tem que estar frio na hora que ela chegar.
leite, achocolatado e leite condensado. Vejo-o acender o fogão cooktop e colocar a panela sobre ele.
— E as aulas vão até quando? — pergunta criando assunto enquanto mexe a colher.
— Collin quer passar uns dias no chalé — digo, ele me encara e concorda, desligando o fogo.
— Ah, isso é o fogão. Posso ser quente, mas quem fez tudo foi o fogo.
Ouço aquilo e fico em silêncio, então assinto, desviando meu olhar para a panela.
— Claro — digo. Vou pegar a colher e acabo derrubando o brigadeiro quente no meio do
— Desculpe, deixe-me ajudá-la — diz assoprando minha pele. Sinto o seu hálito frio no meu
— Um pouco, obrigada. Agora só estou suja mesmo — digo, vendo meu dedo com o
brigadeiro.
— Isso não é problema — diz Frederic. Vejo-o ainda segurar minha mão e aproximar ainda
mais seu rosto do meu dedo, então ele o leva até a boca e o engole por inteiro, limpando todo o doce.
Meu corpo inteiro se arrepia e sinto uma sensação estranha cobrir meu ventre. Ele continua e passa a
língua na queimadura, tirando meu dedo de sua boca. — Viu, problema resolvido.
Frederic solta minha mão e vai na direção do armário em busca de um prato como se nada
Ele me encara e estreita os olhos, sem entender, ou talvez está se fazendo de fingido.
— V-você — gaguejo.
— Sei que é errado o que vou dizer e que não deveria pensar essas coisas — começo, criando
Saio da cozinha e subo em direção ao meu quarto, notando que Frederic não me segue.
“Estou chegando, espero que esteja preparada para a noite de garotas que teremos”.
Leio a mensagem de Frida e suspiro, pensando no que havia acontecido na cozinha pouco
tempo atrás. Frederic não me procurou, o que de certa forma foi um alívio, afinal de contas, não
saberia onde enfiar minha cara. Penso onde estava com a cabeça para confessar a ele que eu havia
gostado do beijo, algo que foi completamente inédito até mesmo para mim.
Ouço meu celular apitando e o pego, lendo uma mensagem de Collin:
“Desculpe, agora não dá, Frida já está chegando. É algo muito sério?”
“Ok, eu te amo.”
Envio a mensagem e a olho, questionando-me se realmente ainda amo tanto Collin quanto
antes.
— Quanto tempo que não venho aqui — diz ela analisando cada detalhe, ela vai até o
aparador e vê os porta-retratos com as fotos de nós mais novas, quando ainda cursávamos o ensino
médio.
A conheci quando tinha entorno de quinze anos. Desde que a conheço, Frida nunca soube o
paradeiro da sua mãe biológica, assim como eu nunca soube do meu pai. Quando éramos
adolescentes, brincávamos por conta de eu ter mãe e ela não, e ela ter dois pais e eu não ter um
— Você realmente tem a cara da tia Jolie — diz pegando um porta-retratos que estou com
— Frida, como está bonita — diz se aproximando e a abraçando, ele dá um beijo no seu rosto
— Oi, Fred. Obrigada, você também não está nada mal, ainda mais para quem acabou de ficar
— Não foi, mamãe se foi e estamos aqui, sei que ela iria querer que seguíssemos em frente.
— Sorrio, pensando que ela iria querer isso mesmo, só não iria desejar que eu saísse por aí
— É verdade, Jolie era maravilhosa. E obrigado pelo nada mal, Estére tem cuidado bem de
mim — diz Fred, sorrindo e piscando. Frida concorda com um movimento da cabeça e ele cruza os
braços. — É melhor eu ir nessa, não quero atrapalhar a noite das garotas. Até mais.
— Qual é, o cara é gostoso pra cacete. Se eu morasse sozinha com ele, me desculpe, mas já
teria sentado.
— E que Deus a tenha. Amava sua mãe e você sabe disso, sinto muito mesmo pela morte dela,
mas não podemos negar que Frederic é lindo. Vai dizer que nunca o observou melhor?
Quero dizer a minha melhor amiga que sim, eu observei. Até mesmo seus pelos pubianos e seu
peitoral. E claro, seus lábios, mesmo que não tenha sido de uma maneira convencional. Porém, me
mantenho em silêncio, revirando os olhos e a puxando em direção a escada e indo para meu quarto.
— Bem, prefiro não pensar nele dessa maneira — minto para ela, o que me incomoda.
Assistimos filmes bobos na Netflix, comemos pizza e o brigadeiro que Frederic fez, que por
sinal, ficou delicioso. Quando é um pouco mais de meia-noite, Frida se ajeita na minha cama e dorme
rapidamente. Contudo, comigo é diferente. Fecho os meus olhos e viro de um lado para o outro na
Levanto-me sem fazer barulho e vejo minha amiga roncar, então saio do quarto e desço até a
— Outra noite sem sono, Estére? — Me viro e vejo Frederic entrando na cozinha com o
— Sim, não consegui dormir — digo, tentando não fixar meus olhos nisso.
— Nem eu — diz, vindo em direção à geladeira, pega uma maçã de dentro e a morde, me
— Sim, somente nós estamos acordados — digo, como se essa informação fosse algo
importante. Ele concorda e sai em direção ao corredor. Fico sem entender e decido segui-lo, então
Fred sobe a escada e entra no seu quarto. Paro em frente à sua porta e ele me olha.
Fico incrédula com sua atitude e me sinto chateada, então vou para o meu quarto e me deito,
forçando-me a dormir.
Ouço o carro de Collin estacionar em frente à casa e Estére sair às pressas com Frida para a
faculdade. Não saio do quarto, então ouço a amiga da minha enteada perguntar sobre mim e Estér
dizer que talvez eu já tenha ido para o trabalho, o que ela sabe que é mentira. Normalmente vou para
Quando o carro sai em disparada, abro a porta do quarto e me vejo sozinho no corredor. Sigo
para o andar debaixo e preparo um café forte, tomando e comendo alguns biscoitos. Assim que
finalizo minha refeição, saio em direção à garagem e sigo para a oficina, pensando em Estére e no
Minha enteada está flertando comigo e eu estou gostando disso, contudo, algo me impede de
tomar alguma atitude sobre o assunto. Não posso simplesmente esquecer que era casado com sua
mãe. Mas vê-la me olhando de maneira diferente e ter dito que gostou do beijo involuntário que havia
Porém, na mesma proporção que me sinto excitado, me sinto um verdadeiro canalha. Primeiro,
não havia nem um mês que minha esposa havia falecido, segundo que minha esposa era a mãe de
Estére, o que deixa tudo ainda mais confuso. E terceiro, ela namora.
— Que pensamento nojento, Frederic Cooper — digo para mim mesmo. — Como pode pensar
em Estére desse jeito? Ela é sua enteada há anos, jamais pensou nela dessa forma antes, por que
agora?
Suspiro, frustrado. Realmente gostaria de encontrar respostas para essas perguntas, no entanto,
não acho.
Vejo que já estou em frente à minha oficina e rapidamente saio do carro. Vejo Jack mexer no
veículo de Estér.
— Encontrei um motor, mas não funcionou, tive que fazer o pedido de outro e vai demorar
lugar.
Sorrio e assinto.
— Se não tiver mais nada para fazer, pode tirar um dia de folga, aproveita o tempo bonito e
Jack me olha com gratidão e assim que termina seu trabalho, se despede de mim e sai, indo
embora. Fico sozinho e abro o carro de Estére, entrando. Sento-me no banco dianteiro e coloco
minha cabeça sobre o volante, pensando nela ali dentro. Solto um suspiro, sentindo a frustração
tomar ainda mais conta de mim e olho para o teto, sentindo lágrimas descerem dos meus olhos.
— Por favor, Jolie, me perdoe — digo, secando-as. — Não quero pensar em Estére desse
jeito, mas não consigo controlar o desejo que tenho sentido por ela.
Coloco as mãos sobre o meu colo e sinto meu pau duro. Concentro-me para que passe a
ereção, mas é impossível, então, em uma súbita loucura, abro o zíper da calça e abaixo a cueca, o
pegando. Vejo a lubrificação do meu membro e me excito ainda mais, então esqueço todos os meus
medos, receios e a loucura que vem acontecendo na minha vida com minha enteada e me masturbo,
gozando.
Me recomponho e anseio que esses pensamentos e a minha ação não me atormentem.
A aula foi chata, para variar. Na verdade, desde quando retornamos as aulas após as fortes
tempestades, vêm sendo chatas. Isso, é claro, deve ser porque não consigo me concentrar
Assim que terminam as primeiras e vamos para o intervalo, saio com Frida e seguimos para a
— Eu adorei passar a noite na sua casa, amiga, obrigada — diz Frida pegando nossas saladas.
Sorrio e concordo.
— Eu também adorei, quando quiser, podemos repetir. Fazia anos que não fazíamos isso.
Ela concorda e vamos para uma mesa vaga, com Collin vindo em nossa direção um tanto
sério.
— Podemos conversar? — pergunta, com os braços dentro da sua jaqueta azul. Como a salada
e concordo com um movimento, apontando a cadeira vazia à minha frente. — Aqui não, tem que ser
em particular.
— O que houve? — pergunto após engolir a salada. Seu olhar é sério e triste, e fico pensando
Olho para Frida, que está sem entender e concordo com um menear de ombros, comendo o
— Nos vemos na próxima aula, até mais — me despeço da minha amiga e sigo Collin, que
anda à frente um pouco cabisbaixo. Continuo sem entender sua atitude, mas resolvo dar o braço a
Nos afastamos do campus da faculdade e nos sentamos em um banco de pedra. Collin coloca a
Novamente o pensamento de ele ter descoberto sobre o beijo involuntário entre Frederic e eu
me causa arrepios.
normal, quero ficar com você. Quero fazer essa viagem ao chalé para aproveitarmos.
Sorrio e percebo que ele não esboça reação alguma, o que me deixa mais confusa ainda. Não
Ele nega com a cabeça, então vira seu olhar para mim e vejo lágrimas escorrendo por eles.
— Eu te traí, Estére.
É como se suas palavras fossem pequenas gotículas de neve que encostam em minha pele e
queimam por causa da sensação gelada. Fico parada, estarrecida, sem conseguir acreditar no que ele
diz.
Me traiu.
— O quê? — Não quero acreditar no que ele diz, só pode ser mentira. Tenho certeza. Nosso
Se realmente existisse isso entre nós, Collin não teria me traído e eu não estaria sentindo
atração por Frederic. Não existia mais amor entre nós.
Concordo, entendo o que ele quis dizer. Então realmente ele transou com uma garota na festa
da qual eu fui depois e ficamos juntos, comigo me divertindo e ele ao meu lado, como se nada tivesse
acontecido. Será que ele não tinha nem um pouco de remorso por isso?
— Quem é ela? — pergunto, ele me encara ainda em lágrimas. — Por favor, pare de chorar, é
— Arrependido? Ora essa, você tem coragem de me trair e depois que goza vem me dizer que
está arrependido?! — grito, nervosa. Eu poderia ter gostado do beijo de Frederic, mas nunca
— O que eu posso dizer? Eu implorei diversas vezes para transarmos e você simplesmente
não quis.
— Eu não estava preparada! E agora quer colocar a culpa em mim? — Me levanto, tremendo
na vida. Uma pena não a ter levado para minha cama, perdi minha aposta.
— Sim, meus amigos e eu fizemos uma aposta para saber se eu conseguiria levá-la para a
minha cama. Porém, comecei a me apaixonar de verdade por você. Me perdoe por isso também, mas
— Eu perdi minha mãe, seu babaca! Como quer que eu fique? — Me aproximo dele e cuspo
no seu rosto. — Eu tenho nojo de você, está tudo acabado entre a gente.
Dou as costas, pronta para seguir em frente e Collin segura meu braço.
— Estére...
Viro-me e desfiro um soco no seu rosto, fazendo ele se contorcer de dor e eu gritar.
Assim que entro, sigo até a minha sala e pego minha bolsa, ignorando o fato do professor
— Srta. Bohringer, onde pensa que vai? Vou reportar essa atitude para seus pais!
— Então fique à vontade e eu digo que você deu em cima de mim, em quem você acha que
eles vão acreditar? — pergunta ela, no meio do corredor em voz alta. O professor arregala os olhos e
— O quê? — Vejo a fúria tomar conta de minha amiga e quando nos viramos, Collin passa
pelo corredor, o rosto vermelho e os cabelos bagunçados. — Seu desgraçado, eu vou te arrebentar!
Vejo Frida correr em sua direção e dar um forte soco no seu rosto, o impacto é tão grande que
— Frida, não! — grito correndo em sua direção. Logo o corredor está cheio de pessoas
aglomeradas, vendo a confusão que está ocorrendo. Vejo minha amiga bater ainda mais em Collin e
ele se manter parado, apenas cobrindo o rosto que está ensanguentado, com seus braços. Ao menos
não é um agressor covarde. — Frida, por favor. Será que alguém pode me ajudar?
— O que está acontecendo aqui? — Ouço a voz de Viktor, o pai da minha amiga e logo atrás
Stefan, o seu outro pai. — Frida Bohringer, o que pensa que está fazendo?
— Mas o quê, Frida? — questiona Stefan. Seu segundo pai é alto, da pele clara e careca. —
Por conta de Estére ter sido traída, você acha que tem o direito de agredir esse rapaz? Ele pode nos
Todos nos olham, a vergonha estampada em nossos rostos. Só pode ser mentira. Se isso for um
— Quero os três na minha sala agora — diz o senhor Stefan apontando para Collin, Frida e
eu.
— Mas é agressão igual, querida — diz Viktor, sincero. — Tudo bem, vão os três para a
enfermaria e depois sigam para a sala do diretor. O resto de vocês voltem para suas aulas e evitem
Collin se levanta e vejo seu rosto machucado, o que de certa forma me deixa feliz e chateada.
Seguimos os três em silêncio para a enfermaria e tento verificar se Frida está machucada.
Assim como eu, apenas sua mão está inchada, em decorrência dos socos que ela deu no meu ex-
Ficamos em silêncio e ela pede ajuda a duas colegas, que atendem Frida e eu, enquanto ela cuida dos
machucados de Collin.
— Sinto muito colocá-la no meio dessa encrenca — digo a Frida, que está à minha frente com
— Vou ter que pedir um raio-x das duas. As mãos estão inchadas demais e podem ter
quebrado algo.
raio-x.
— Tudo bem — digo, desanimada, sem muitas opções. Encaro Collin e vejo a mulher fazer os
curativos, então Frida e eu seguimos as enfermeiras e ele desaparece da minha visão, mostrando-me
Minha mão já está se recuperando. Por sorte, Frida e eu não as quebramos, apenas uma luxação e
nada mais. Ganhamos uma suspensão de três dias na faculdade, o que para mim foi um verdadeiro
inferno, ainda mais que faltava pouco para entrarmos de férias. Agora que não tinha mais Collin para
me buscar e a droga do meu carro não ficara pronto, Frida que me busca para irmos juntas para a
faculdade.
Evito ao máximo Frederic, afim de que ele não saiba que estou solteira, contudo, sei que
quando menos esperar, ele irá saber, afinal, a cidade toda já está sabendo do ocorrido na faculdade.
— Que tal sairmos hoje à noite para bebermos um pouco e dançarmos? — pergunta minha
— Não sei, ainda estou pensando na suspensão que seu pai nos deu e, claro, no seu castigo.
— Não se preocupe, eles disseram que não vamos para o Brasil nas férias, mas sei que no
fim, mudarão de ideia. Você conhece meus pais, eles sempre foram assim, apenas nos deram a
suspensão de três dias porque papai é diretor e diriam sobre favoritismo.
— Pai Viktor não vai muito com a cara do Collin, pai Stefan não vai com a dos pais, mas
ainda estão com medo deles quererem processar nós e a faculdade, é claro, o que causaria sérios
problemas, mesmo Collin Arrombado, ter dito que não faria isso.
— Você está certa, preciso mesmo esfriar minha mente, ainda não consigo aceitar o fato de
que Collin transou com a Laura quando eu estava no começo do meu luto.
— Sério, já que vocês terminaram e não vai ter mais chalé, por que não vem conosco para o
Brasil?
Com toda a confusão que anda acontecendo, nem me lembrava que não iria para o chalé mais.
— Não, é sério, aproveite sua viagem com seus pais, se realmente ela acontecer.
Ela ri e concorda.
As aulas passaram tranquilas demais, não encontrei Collin e parece que as pessoas haviam
começado a esquecer que eu era a garota de luto e agora sou a garota do ringue, o que, de certa
forma, é mentira, já que dei somente um soco no meu ex-namorado.
Depois do intervalo, na última aula, sou chamada na sala do diretor, o que me deixa nervosa.
“Ele mudou de ideia e vai me expulsar. Os pais do Collin com certeza resolveram processar
Tento não pensar nisso e assim que entro na sala do diretor, sou surpreendida com Frederic
— O que... — sussurro.
— Estére, bem-vinda, sente-se, por favor — diz Stefan apontando a cadeira ao lado do meu
— Nada de mais, querida, não tem com que se preocupar — diz Viktor, sorrindo.
— Deve estar se perguntado o que está fazendo aqui, não é? — questiona o diretor. Concordo
— Ele não é mais meu padrasto — o corto. Frederic me encara e Stefan e Viktor ficam sem
entender. — Quero dizer, minha mãe morreu, o elo que tinham se acabou. Só não é meu padrasto.
— Entendemos, querida, mas sua mãe, antes de morrer, deixou um documento registrado
alegando que o senhor Cooper é seu responsável em qualquer virtude que fosse preciso — diz
Stefan.
— O que? Do que é que estão falando? Eu já sou maior de idade, posso resolver meus
— Quais problemas você está dizendo? Porque não vim aqui para tratar sobre a agressão ao
seu ex-namorado. Vim conversar com o diretor e seu marido para você poder aplicar as provas
finais.
— Bem, o conselho de classe queria que além da suspensão, você fosse impedida de fazer as
provas — Stefan conta. — Eu tentei de todas as formas mudar isso, alegar que está passando por um
momento difícil pela morte de sua mãe, mas eles não me deram ouvidos. Consegui reverter a situação
apenas de Frida, o que foi uma dor de cabeça e tanto. Mas você não foi fácil.
— Foi aí que ligamos para sua casa e encontramos Frederic — comenta Viktor. — Como na
sua inscrição mostra que ele é o responsável por você quando sua mãe morreu, pedimos para ele vir
até aqui.
— Então não irei fazer as provas? Vou perder meu ano todo por causa do babaca do meu ex-
namorado e um soco?
— É aí que eu entro — diz Frederic. — Eu mesmo conversei com o conselho e dei uma ajuda
de custo alta para a reforma de algumas partes do campus, assim, quando chover, vocês não terão
mais que ficar sem vir a aula. Então eles mudaram de ideia e deixaram você fazer as provas.
— Exatamente, Estére, mas Frederic resolveu isso para você, além disso, o campus
finalmente vai ser consertado, já que os proprietários não fazem nada para resolver.
— Pagamos uma nota para estudar e ainda temos que passar por isso — digo, mais para mim
do que para eles. — Certo, obrigada por fazerem eu não perder as provas, se isso acontecesse, seria
um ano difícil.
— Não agradeça tão rápido, estamos um pouco mais pobres, mas nada que interfira no nosso
futuro.
“Nosso futuro...”
— Isso é o de menos, o que acho um absurdo é eles não reformarem aqui. — Saio da sala do
— Não está sendo fácil para ninguém — diz. — A oficina quase não está virando nos últimos
dias.
— Bem, quando consertar o meu carro, vou pagar pelo serviço — digo. Ele ri e concorda.
— Você sabia que minha mãe o colocou como o meu responsável mesmo sabendo que não
preciso de um?
— Às vezes até a pessoa mais cabeça dura precisa de um pouco de ajuda — diz e sai.
O restante do dia passou tranquilamente, e quando vimos, já está na hora de irmos para casa.
Frida comunica ao seus pais que vamos sair e eles não se opõem, o que é ótimo, então entramos no
seu carro e seguimos para sua casa, para ela pegar suas coisas para a noite.
— Eu quase perco as provas finais por conta da confusão com Collin — conto a ela enquanto
— Ainda não consigo acreditar que mamãe pensou em tudo antes de morrer e colocou
Frederic como meu responsável. Sou maior de idade, e ele? Temos oito anos de diferença, não é
— Ao menos ele ajudou você a não perder as provas, se isso acontecesse seria nossa ruína.
— A minha, você quis dizer. Seus pais conseguiram na hora resolver o seu problema. Parece
— Ei, nem pense nisso agora — ela profere. — E seria a nossa ruína porque eu repetiria para
— Perder um ano inteiro por causa de uma amiga? Eu não permitiria que você fizesse isso.
— E nem eu faria, mas daríamos um jeito, o bom é que agora não precisamos esquentar nossas
Concordo e logo paramos em frente à casa, que é um sobrado estilo o meu; cercado na frente,
com um jardim bonito e a garagem ao lado. Saímos do carro e rapidamente entramos, com Frida
Eu a sigo e encontro um ambiente com uma cama de casal, penteadeira, closet, banheiro,
televisão e uma escrivaninha. Nada de livros, a não ser, é claro, os da faculdade.
— Me ajude a escolher um look bom para esta noite — diz abrindo o closet e jogando
Vejo um vestido preto, brilhante e curto, uma bermuda clara, e outras peças, não aprovando
nenhuma.
— Dê mais opções — digo, ela concorda e de dentro, tira uma saia curta.
Ela concorda e retira sua roupa, ficando apenas de lingerie. Não demora e ela veste a saia,
com saltos altos, e uma blusa cheia de pelinhos preta. Minha amiga solta os cabelos e rapidamente
— O que acha?
— Você não está maluca — diz procurando coisas pela cama. — Teste esse vestido.
Encaro o vestido curto que reprovei ela usar e bufo.
— Por acaso vamos dançar ou serei prostituta por uma noite? — pergunto.
— Para de drama e coloca logo o vestido — diz, revirando os olhos. Concordo e retiro minha
roupa, vestindo a pequena peça que fica acima dos meus joelhos, deixando minhas pernas desnudas.
— Caralho, mulher!
Sinto a empolgação de minha amiga e vou até o espelho que tem no seu quarto, me encarando
O vestido realmente cai muito bem em mim. Seu tecido de camurça combina com minha pele.
Vejo o modelo rodado no comprimento e as mangas um pouco acima dos meus cotovelos. Na frente,
contém duas fitas de cetim, que pego e faço um laço, deixando-me surpreendida com o enorme
— Você está linda, um arraso! — Frida está animada. — Aqui, coloque essas botas de cano
alto.
Ela me entrega o par de botas e vejo que também são de camurça, então coloco, vendo que o
*
Fomos para minha casa e encontramos Frederic, que prepara o almoço para nós. Quando está
pronto, ele nos chama e seguimos para a sala de jantar. Fazia muito tempo que não usávamos aquele
cômodo para fazermos nossas refeições. Para falar a verdade, quase não comia, a não ser besteira, é
claro.
— Estão ansiosas para o término das aulas? — ele pergunta, puxando assunto.
— Mais do que ansiosa — diz minha amiga animada. — Meus pais e eu vamos ao Brasil,
— E você, Estére, o que pretende fazer agora que Collin e você terminaram? — Seus olhos
Quando são oito horas da noite, Frida e eu já estamos prontas para irmos a uma balada que
fica na cidade. Apesar de aqui ser um lugar pequeno, com poucas coisas para conhecer, algum gênio
resolveu abrir uma boate para divertir os jovens.
Termino de fazer a maquiagem e vejo minha amiga com o batom preto e os olhos escuros; ela
Passo um perfume que ganhei de mamãe e coloco um pequeno colar que ela me deu, com um
— Se mais cedo você estava linda, agora você está linda e gostosa, vai arrasar corações esta
noite e mostrar para Collin que não precisa dele para nada.
— Ouvi boatos de que ele estará lá — diz ela, desviando o olhar do meu.
— Isso mesmo — diz, sincera. — Sei que anda triste com esse término e a morte de sua mãe,
então achei legal sairmos e provar para aquele babaca que você está bem.
— Mas você mesma acabou de dizer que não ando feliz — digo, revirando os olhos e rindo.
Ela ri comigo.
— Eu sei, mas você sabe como homens são superficiais e não percebem nada, e esse
vestidinho preto mostrará que você ainda está de luto, mas vivendo.
— Até na cor do vestido você pensou?
Rio e concordo, pegando minha bolsa de mão com celular, documentos e dinheiro.
— É melhor irmos logo se quisermos esfregar na cara de Collin o que ele perdeu — digo, ela
concorda e sorri.
Ele se vira para nós e me encara, de repente, sinto como se seus olhos estivessem analisando
cada parte do meu corpo, vidrados pelo que estão olhando. Sinto meu corpo se arrepiar e me
encolho, sentindo que seu olhar sobre mim é algo diferente do que estou acostumada nesses anos.
Observo meu padrasto e noto que ele me olha de uma maneira diferente; me desejando. E por mais
— O quê?
— Frederic dizendo que estamos lindas, a propósito, obrigada pelo elogio — diz, sorrindo.
— Agora vamos.
Sou puxada pelo braço e encaro Frederic uma última vez, notando que ele passa a língua nos
A balada está lotada. Diversas pessoas dançam descontroladas com a música que toca. Outras
já estão bêbadas, o que me causa repulsa. Como alguém pode ficar bêbado tão rápido?
— Vamos na chapelaria deixar nossas coisas — diz Frida, concordo, pego meu celular com o
Não demora e somos atendidas, então vamos para o bar e peço uma marguerita, enquanto
Nossos copos nos são entregues e saímos, indo em direção a pista. Bebo um gole e balanço
meu quadril, rebolando. Noto alguns olhares conhecidos da faculdade e não me importo que recebo a
Frida e eu continuamos dançando e assim que a música acaba, uma nova começa, fazendo-me
dançar de maneira sensual com ela. Ouvimos gritos de pessoas indo à loucura e sorrimos, adorando a
sensação de sermos o centro das atenções. Então, ao longe, avisto Collin me encarando. Em suas
mãos contém uma garrafa de cerveja e seu pé está sobre a parede. Não me importo com ele e
Então, quando a canção se encerra, Frida e eu fazemos uma reverência e todos nos aplaudem,
gritando entusiasmados.
— Isso foi maravilhoso — digo, bebendo, ela concorda e sorri.
A abraço e sorrio.
— Com licença, garotas, posso pagar uma bebida para vocês? — pergunta um homem
surgindo no meio da multidão e nos observando. Não posso negar que ele é bonito e bastante
atraente. Seus cabelos são curtos, sua pele clara e o olhar cativante, mostrando seus olhos azul-
turquesa. Vejo que ele usa uma calça jeans, uma camiseta com estampa do Batman e uma jaqueta de
couro preta por cima. — Achei você fantástica, se não se importa em eu elogiá-la — completa, me
olhando.
— Está calor, uma cerveja cairia bem — respondo, ele concorda e não demora, entrega uma
— Bem, eu vou ao banheiro, obrigada pela bebida — diz Frida, se afastando, e entendo sua
jogada.
— Qual é seu nome? — pergunta, curioso. Nos encostamos no balcão do bar e estendo minha
mão.
— Estére, e o seu?
— Estére? Que nome diferente, é muito bonito. Me chamo Dréck, é um prazer conhecê-la.
— Obrigada pelo elogio, o seu nome também é bastante diferente — digo. — O que significa?
— Ah, é uma coisa ridícula que você não vai querer saber — diz, sorrindo de lado.
— Ok, vamos lá, mas não vale rir. — Concordo, bebericando a cerveja. — Em alemão, Dréck
— O meu não é o mais comum, na verdade, não conheço outra pessoa que se chama Estére,
que significa em húngaro “à noite”. Minha mãe disse-me quando a questionei, que escolheu esse
— Então foi por isso que você estava dançando tão feliz hoje — diz. — Está agitada?
— Talvez um pouco — digo, bebendo mais. É legal poder flertar com uma pessoa que não
seja Collin.
Concordo e seguimos para a pista, dançando Rihanna com nossos corpos colados.
A hora passa rapidamente e bebemos mais do que o normal. Quando vejo, já são quase quatro
horas da manhã e decido ir embora, com Dréck me acompanhando. Frida pergunta se tenho certeza de
Percebo que minha amiga está com um rapaz e tenho certeza de que o restante da sua
madrugada será regado a sexo, então digo que não há problema, afinal, Dréck foi um verdadeiro
gentleman.
— É mesmo? E o que houve com ele, você veio com sua amiga, não foi? — pergunta, ao
entrarmos no carro.
— Isso é um problema, mas como tenho o meu aqui, me passe seu endereço para colocar no
GPS para eu levá-la até em casa — pede, de maneira gentil. Passo e logo já estamos a caminho da
minha casa, com um rap tocando baixo no seu carro. — Adorei passar a noite com você, Estére.
— Obrigada, eu também gostei muito de passar com você — digo.
Vejo sua mão repousar sobre minha perna e ele a aperta, o que me causa certo desconforto,
— Não, minha mãe morreu há menos de um mês, então vivo com meu padrasto — digo,
desacreditando daquilo. Quando é dito em voz alta soa mais estranho do que o normal.
Ficamos em silêncio e, quando vejo, já estamos próximos da minha casa, então solto o cinto e
Ele não esboça reação alguma. É como se eu não tivesse falado com ele.
— Não está, eu preciso descansar — digo, sem saber o que devo falar. Ele não responde,
mantendo o carro em movimento, agora mais devagar. Vejo ele passar por minha casa e me preocupo.
— Você já passou — digo. Silêncio, ele continua seguindo pela estrada e o desespero toma conta de
mim. — Dréck, estava divertido, mas não estou mais gostando dessa brincadeira. Me leve para casa,
por favor!
Ele me encara e sorri. Fico atônica e faço algo que jamais pensei que faria na minha vida —
abro a porta do carro em movimento e pulo de uma vez, caindo e rolando pelo asfalto. Sinto uma
ardência tomar conta do meu cotovelo e vejo que estou próxima de casa, então tento me levantar e
sinto uma dor no meu pé. Olho para trás e vejo Dréck parar, saindo do carro e andando lentamente
em minha direção.
— Por que você fez isso, Estér? Poderia ter se machucado. Vamos curtir a noite, ainda falta
Levanto-me e acelero o passo, então sou surpreendida com ele me agarrando quando estou
perto de casa.
—Shhh, fica quieta, sua vadia, eu vou dar para você o que implorou a noite inteira — diz
passando a língua pelo meu pescoço. Me mexo, tentando me esquivar, mas ele é mais forte.
— Cala sua boca, vadia! — diz, a tampando e levantando meu vestido. Sinto seus dedos
nojentos percorrerem até a minha calcinha e ele a puxar com tudo, revelando meu sexo. O sorriso no
seu rosto se alarga e ele abaixa sua calça, se aproximando mais ainda de mim.
Sinto minha respiração acelerar e o medo tomar conta de mim. Não posso perder minha
virgindade assim, então abro a boca e ele enfia seus dedos nela. Cravo meus dentes e Dréck solta um
grito de dor.
O que acontece é tão rápido que fico sem reação; vejo a porta frontal se abrir e Frederic vir
Ele joga seu corpo com tudo por cima de Dréck e os dois caem para trás, então vejo o pau
Frederic sobe por cima do canalha e desfere diversos socos no seu rosto. Dréck não tem
reação, então vejo o sangue escorrer do seu rosto e manchar o asfalto, com Fred ainda batendo nele.
— Fred, você vai matá-lo! — disparo, indo em sua direção com as lágrimas pelos olhos. Meu
padrasto não me dá ouvidos e continua batendo no homem, então vejo Dréck levar a mão até o bolso
da jaqueta e de dentro tirar um pequeno revólver. Imediatamente Frederic para de bater nele e
— Saia de cima de mim! — grita Dréck com o rosto machucado. Sinto agonia em olhá-lo.
Frederic faz o que é pedido e, com os braços ainda para cima, vem em minha direção. Vejo
Ele cospe no chão e vejo o sangue, então se afasta, ainda apontando a arma e entra no seu
Sinto meu coração desacelerar e caio, com Fred me pegando em seus braços. Vejo seu
peitoral e os movimentos dos seus lábios, porém, não compreendo, então tudo fica escuro.
— Estére? — Ouço meu nome ao longe e abro meus olhos devagar, tentando me lembrar do
que havia acontecido, então vem em minha mente o que Dréck tentou fazer.
Ergo meu corpo e vejo a mão de Frederic sobre meu peito, empurrando-me novamente para o
sofá.
— Você desmaiou depois que aquele canalha foi embora, ficou vinte minutos inconsciente, eu
— Ouvi você me chamar — digo, reconhecendo que a voz era dele ao dizer meu nome.
Frederic assente e noto que ele ainda está somente de cueca. — Obrigada por ter me salvado.
Ele meneia a cabeça e se levanta, fazendo meus olhos irem direto para sua barriga definida e
logo em seguida para o volume que tem na sua cueca. Percebo que seu membro está mole, o que me
Afasto o pensamento e sinto vontade de chorar ao lembrar que vi o pênis de Dréck; ele quase
me estuprou. Então me sento e vejo que a mão de Frederic está enrolada em um pano.
— Parece que passei dos limites nos socos, mas vai ficar tudo bem.
geladeira e volto para a sala, fazendo-o se sentar. Me sento ao seu lado e encosto a bolsa, vendo seu
— Aposto que não mais que o rosto daquele babaca maldito, precisamos ir à delegacia
prestar queixa. Ele te machucou? Notei seu cotovelo ralado e o pé inchado. Se ele encostou em você,
Quero sorrir com suas palavras, mesmo o momento não sendo propício a isso, contudo, não
faço.
— Irei resolver isso, mas antes temos que cuidar da sua mão, está muito inchada — digo
olhando seus dedos compridos. Cada parte de sua mão está roxa, o que me deixa surpresa.
— O conheci na balada que fui com Frida. Ele parecia bastante gentil, passamos a madrugada
juntos...
— Você está me dizendo que veio para casa com um homem que conheceu a poucas horas?
Está ficando maluca? E se ele tivesse conseguido estuprá-la?! — Frederic grita, o que faz eu dar um
pulinho no sofá.
— Eu estava bêbada, ok? Não me julgue, você também não fica muito bem quando bebe.
— Está falando sobre aquele beijo? — pergunta. Desvio meu olhar do seu.
— Fico grata que tenha me ajudado e sinto muito pela sua mão, de verdade, mas não quero
— Eu também gostei do beijo, Estére, e demorei muito a entender isso, mas sim, eu gostei. —
Suas palavras fazem meus pés travarem e Fred se aproxima de mim. Vê-lo dessa maneira; frágil e
nervoso ao mesmo tempo, apenas de cueca, com o volume marcando no meio das pernas, me deixa
excitada. Algo que nunca havia sentido antes. Pobre Collin. — Eu gostei — ele repete.
Fico sem reação e faço algo totalmente fora do meu controle; esqueço meus medos, meus
receios e o fato de Frederic Cooper ser meu padrasto, o viúvo de minha mãe e o agarro, pulando em
seu colo.
Seus fortes braços se entrelaçam em minhas costas e fecho minhas pernas nas suas; levo meus
O beijo é como se fosse um elixir da vida. É como se fosse a melhor das bebidas de todos os
tempos e isso me deixa ainda mais excitada. Frederic prende sua mão sobre minha nuca, colando
ainda mais nossas bocas e sinto sua língua me invadir. O gosto do seu beijo é uma mistura de menta
com uísque, que com certeza ele bebeu quando estava sozinho. Solto um gemido e mordo o seu lábio,
com ele nos desconectando e levando sua boca até meu pescoço. Meu corpo se arrepia e envia
alertas abaixo do meu ventre e sinto que se ele continuar fazendo isso, irei me entregar a ele. Então
Ele me deita e fica por cima, abro ainda mais as pernas e ele afoga seu rosto nos meus seios.
Então, devagar, desço minhas mãos pelo seu peitoral e encosto na sua barriga, puxando o cós da
boxer. Sinto seu pau encostar na minha mão por baixo do tecido da cueca e me arrepio por inteira,
“O pau que sua mãe pegava, sua vadia. O pau em que ela trepou por nove anos.”
Minha mente retorna ao que está acontecendo e empurro Frederic, que cai para trás e solta um
“ai” baixo.
Quero dizer a ele que sim, gostei até demais. Mas a realidade dolorosa de que ele é meu
Choro até amanhecer, ouvindo Frederic ir para seu quarto, e penso o quanto sou pervertida.
*
Assim que amanhece, ainda sem conseguir dormir, penso em tudo que havia acontecido e vejo
uma mensagem de Frida perguntando como havia sido à noite com Dréck. Peço para que ela venha
até em casa, que preciso contar a ela tudo que houve, então não demora e minha amiga entra no meu
— O que você ainda está fazendo nessa cama? Dormiu de maquiagem? — pergunta. Quero
dizer que nem dormi ainda, mas ouço o que ela diz: — Quando Frederic me atendeu e disse que você
— Claro, o que é?
Mexo nas mãos, nervosa, e abaixo a cabeça, começando a chorar, então conto a ela que Dréck
quase me estuprou. Enquanto conto, minha amiga fica cada vez mais espantada e as lágrimas nos seus
Não escondo detalhe algum, dizendo a ela que Fred que me salvou e que no final, por pouco o
— Meu Deus — diz, ainda em lágrimas. A encaro e desvio meu olhar do seu. — Como você
está se sentindo? Péssima, tenho certeza. Precisamos agora mesmo ir à delegacia abrir uma queixa
sobre esse cara, ele não pode ficar solto por aí fazendo mais vítimas. Por pouco ele não te estupra,
que houve.
— Claro que irei com você, sem pensar duas vezes, e levaremos Frederic conosco, vai ser
Quero dizer que não, que será melhor eu evitar meu padrasto o máximo possível, mas ela está
certa.
Me levanto e começo a me trocar, vendo algumas marcas no meu pescoço, na minha coxa e o
pé e cotovelo machucados. Sinto dor e protesto. A adrenalina havia passado e antes não estava
Frida me ajuda a colocar uma calça, uma blusa de frio, já que o tempo voltou a mudar e faço
minha higiene matinal prendendo meus cabelos e lavando meus olhos. Tiro a maquiagem borrada e
suspiro.
Desço devagar e encontro Frederic na cozinha, que me encara e puxa a cadeira para eu me
sentar. O olho e vejo que sua barba está bem-feita, os cabelos molhados e usa uma calça e jaqueta.
— Bom dia — diz, depositando uma xícara de café à minha frente, agradeço e tomo um gole.
— Está melhor?
— Assustada ainda, tenho que confessar — digo, ele concorda e suspira pesadamente.
— E se fizerem milhares de perguntas? Eu tenho medo do que pode acontecer comigo depois
— Você precisa fazer isso para não deixar esse miserável impune — diz Frederic, Frida
concorda, sentando-se ao meu lado e segurando minha mão. — Estaremos ao seu lado. Eu estarei lá.
Concordo e termino meu café, sentindo pesar no meu estômago, então seguimos para o carro
O local não está muito cheio, o que já é um alívio. Percorro meu olhar pelo lugar e vejo
algumas cadeiras de estofados pretos vazias, um balcão com dois homens escrevendo alguma coisa
nos computadores e três mulheres sentadas, aguardando serem chamadas. Entro com Frederic e Frida
e noto uma pequena recepção, com uma mulher me encarando. Me aproximo e criando coragem digo:
— Certo, sobre o que é? — pergunta pegando uma ficha e me entregando, olho o papel e vejo
a caneta.
— Só um momento.
Aguardo e a vejo ir até o telefone que há do outro lado. Ela disca alguns números que não
vejo e fala baixo, não sendo possível ouvi-la. Alguns minutos depois, ela volta e me encara.
— O seu caso é no outro setor, siga o corredor até o final e vire a sua esquerda, terá um
Concordo, agradecendo, e sigo pelo corredor com Frederic e Frida ao meu lado, que segura
Assim que chegamos no local indicado, vejo as duas pessoas que a mulher citou e sinto o suor
na minha testa.
— Olá, bom dia, quem é a vítima? — pergunta o homem sem sequer nos olhar.
— Eu — respondo, de imediato. Ele me encara e concorda, pegando um papel onde vejo ser
— Preciso do seu documento com foto. — Entrego a ele e rapidamente preenche umas
informações e me devolve o documento. — Pode entregar para a inspetora que vai dar continuidade
ao seu caso.
Concordo, quieta, pegando o papel que ele me entregou, então sigo em direção à mulher e lhe
— Momento difícil, imagino — diz. Concordo, sentindo vontade de chorar. Quanta loucura em
tão pouco tempo. — Vou fazer uma breve entrevista com você, pode se sentar. — Indica a mulher à
minha frente. — Sabe como funciona?
— Não.
— Teremos uma testemunha, eu e um escrivão, para ir anotando tudo o que você diz. Não se
preocupe, se quiser sigilo sobre sua identidade, iremos manter. Me dê uns minutos, já volto aqui.
Ela se afasta sorrindo e nos sentamos lado a lado. Encaro Frederic e ele segura uma das
minhas mãos, enquanto Frida segura a outra. E deixo, sem me importar se irão dizer ou pensar alguma
coisa.
Passa exatamente trinta minutos e sou chamada pela mesma mulher. Me levanto e Frederic me
— Por favor — peço —, deixe ele entrar comigo, ele testemunhou o ocorrido, será mais fácil
dizer.
— Vejo você daqui a pouco — falo para Frida, que concorda, voltando para o lugar e se
sentando. A porta é fechada e me vejo em uma saleta branca. Há uma mesa no meio, duas cadeiras de
um lado e uma do outro. No canto, um homem sentado com um notebook à sua frente.
— Pode se sentar, Estére. Antes de tudo, meu nome é Ericka e gostaria de ressaltar que sua
identidade será mantida em sigilo caso você queira. Então preciso que sempre me responda com
“sim”, certo?
— Sim.
— Eu fui a uma balada com a minha amiga que está lá fora e conheci um rapaz. Ele me disse
que seu nome é Dréck, porém, não sei se é real. Ele me pagou uma bebida e foi bastante gentil, nos
divertimos a noite toda, então, quando eu estava prestes a vir embora, ele me ofereceu uma carona e
acabei aceitando. Não pensei que aquele homem tão gentil e educado iria se transformar tão
rapidamente.
“Quando já estávamos chegando em casa, ele colocou a mão sobre a minha perna e eu recuei.
Foi quando pedi que me deixasse naquele trecho da estrada mesmo, que, como estávamos perto, eu
poderia ir andando. Mas ele não me deu ouvidos, continuou andando em silêncio.
“Não tive outra escolha a não ser pular do carro em movimento, não me machuquei muito
“Após ter feito isso, ele parou e veio atrás de mim, tentei escapar e não deu muito certo. Ele
se colocou por cima de mim e abaixou minha calcinha, tapando minha boca e abaixando a sua calça.”
Paro de falar, me recordando do que houve.
— E depois disso?
— Eu consegui morder a mão dele e foi quando gritei pelo meu padrasto, Frederic, e ele me
socorreu. Acabou que ele agrediu o rapaz e quase morreu, pois Dréck tinha uma arma. Foi quando ele
— Sim — diz Frederic —, a levei para dentro de casa e tentei acordá-la. Quando estava
prestes a chamar uma ambulância, ela acordou e, depois disso, se trancou no quarto até hoje de
manhã.
— Medo — digo, percebendo que Fred ocultou uma parte da história. — Quantas vítimas
vemos por aí que vão à delegacia prestar queixa e acabam sendo acusadas por algo que não fez?
Quantas mulheres usam uma roupa mais justa e é taxada de vagabunda por causa disso? Eu pensei
que seria assim que me tratariam. Como a mulher que não se colocou no lugar que a sociedade
impõe, que flertou com um cara solteiro e acabou quase sendo abusada. Meu medo era esse, ser a
Ericka concorda e estende a mão para mim, que seguro de bom grado.
— Que bom que você veio em uma delegacia onde uma mulher que já foi abusada é a
inspetora — diz. Fico surpresa com a revelação dela, aquilo não ia contra suas diretrizes? —
Preciso que me descreva como o agressor é e quais vestes usava. E o carro, se conseguir lembrar.
— Certo, seus cabelos são curtos e escuros, pele clara, olhos azul-turquesa e usava uma calça
jeans, uma camiseta do Batman e uma jaqueta de couro, onde carregava a arma. O carro é um BMW,
— Sim.
— Somente para dar veracidade ao seu relato, temos um protocolo no qual você faz o exame
de corpo delito, é opcional, porém, para termos provas cabais contra o agressor o exame se faz
necessário. Aqui está a guia que deverá ser apresentada no ato da realização do exame.
Penso sobre toda situação e a exposição que já tive aqui, então balanço a cabeça em negativa.
Ela concorda e suspira, ciente de que não farei, pela sua expressão ela sabe que já estou certa
da minha decisão.
— Por enquanto, terminamos aqui. Aqui está seu registro. Se encontrarmos algum suspeito que
pareça com as características que você me informou, entraremos em contato para ser feito o
reconhecido, ok?
— Como foi?
— Bem, Estére, sinto muito por tudo que tenha passado, mas agora preciso trabalhar,
— Quantas dessas mulheres são compreendidas como eu fui? — questiono, ela me encara e
suspira.
— Infelizmente, não muitas, mas as que passam comigo sempre tento dar um pouco de
consolo.
Concordo, agradecida pelo apoio que ela me dá e saio com Frederic e Frida.
— Obrigada pelo apoio que me deu hoje — digo a Frida, quando chego em casa. Ela sorri e
— Sempre estarei aqui para você, para ajudá-la e apoiá-la no que for preciso — responde.
Concordo e me despeço dela, pensando se ela apoiaria a loucura que vem acontecendo
comigo e Frederic.
Vejo seu carro se afastar e entro para casa com meu padrasto.
— Certo, vou preparar alguns sanduiches para nós, não saia daqui.
O vejo se afastar para a cozinha e fico sentada no sofá, lembrando de Frederic e eu nos
beijando. Lembrando de quando passei minha mão pelo seu peitoral e levei até seu membro duro.
Suspiro, me sentindo a pior pessoa do mundo. Talvez o que havia acontecido com Dréck foi
castigo por estar pensando no meu padrasto de uma maneira que não deveria.
Penso se mamãe estivesse viva. Como seria? Em anos morando com ela e Frederic, nunca, em
hipótese alguma, pensei nele dessa maneira. Por que agora depois que minha mãe morreu? Talvez
poderia ser porque ambos estamos vulneráveis, mas isso não deixa de ser errado. É como se
estivesse sendo amante dele. Traindo mamãe. Sua confiança, o seu amor e dedicação que teve anos
por mim.
— Ah, mamãe, se você puder me ouvir de algum lugar, peço que apenas me perdoe por isso.
— E choro baixinho.
Me recomponho quando Frederic volta até a sala e anuncia que o almoço está pronto. A hora
— O que temos hoje? — pergunto, sentindo o delicioso cheiro invadir minhas narinas.
— Obrigada por tudo que vem fazendo por mim — digo, quando ele me serve.
— Prometi a sua mãe que cuidaria de você e pretendo fazer isso até o fim dos meus dias —
— Como se sente em relação a tudo que vem acontecendo entre nós? — pergunto, curiosa. Sei
que uma hora ou outra terei que enfrentar meus receios e conversar com ele sobre isso, então por que
não agora?
— Existe um nós? — questiona.
— Não estou muito feliz em saber que sinto atração pela filha da minha esposa morta, se é
isso que quer saber — dispara. — Por outro lado, não a vejo como minha enteada, já que, como você
mesma disse, quando sua mãe morreu os elos que tínhamos foram rompidos.
— Bem, para isso teríamos que nos conhecer bem depois, não acha? Sou oito anos mais velho
que você, o que é quase uma década. Mas, respondendo à sua pergunta, não sei como seria. Não
Fico quieta, vendo o quanto é ridícula a minha pergunta e claro, a sua resposta, mesmo que ele
esteja certo.
— Você não nos acha loucos por sentirmos atração um pelo outro quando na verdade você foi
casado por anos com minha mãe e sempre o vi como o padrasto chato?
— Sua mãe ser onze anos mais velha que eu, nunca foi um problema para mim — diz. — E
respondendo sua pergunta, acho sim um pouco louco, estou confuso também, e claro, se pudesse
evitar, faria isso. Em respeito à memória de Jolie e pelo amor que senti durante anos por ela.
Depois de comermos e conversarmos sobre o que vem acontecendo, decido ir para meu
quarto tomar um banho para aliviar a mente das loucuras e lavar meu corpo e tirar qualquer vestígio
que tenha de Dréck em mim. Deixo a porta aberta e sigo para o banheiro, a encostando, então me
dispo e abro o chuveiro, deixando a água quente cair para mim entrar debaixo.
Quando já está aquecida, entro e umedeço meu corpo, sentindo como se esse simples ato
tirasse toda a impureza da minha pele. Passo o sabonete pelo meu pescoço me lembrando dos beijos
nojentos de Dréck e esfrego minha pele até ficar vermelha, então me lavo por completo e escorrego
meus dedos pela minha barriga, parando no meu sexo. O lavo e então sinto meu corpo se arrepiar
De repente, imagino que seja Frederic me tocando, e devagar, passo os dedos pelo meu sexo.
visualizasse a cena dele aqui comigo, abaixando-se à minha frente e chupando meu sexo virgem, e
Continuo passando meus dedos, fazendo movimentos circulares e ouço um barulho, trazendo-
me para a realidade.
Ouço o barulho da água e paro no meio do corredor, vendo que a porta do quarto de Estére
está aberta. Me sinto indeciso sobre o que fazer e deixo o tesão falar mais alto, então ando devagar
Caminho devagar e avisto a porta do banheiro entreaberta, então me aproximo e a olho. Sei
que isso é errado e nojento, mas a visão que tenho de Estére é como se fosse eu visualizando Deus.
Seu corpo, suas curvas, são perfeitos da sua maneira. Seus seios são pequenos e juntos, os
biquinhos estão rígidos e sinto um desejo enorme de entrar ali e provar deles, mas me controlo.
Então, a vejo de olhos fechados e seus dedos escorregam para sua boceta, com ela fazendo
movimentos circulares em seu sexo. Lambo os lábios, desejando estar ali, provando dela, sentindo o
seu delicioso gosto e, devagar, para que ela não ouça nenhum barulho, abro o zíper da calça e a
desço, colocando meu pau já duro para fora. Olhando-a ainda se tocar, continuando com os
movimentos circulares, começo a me masturbar, imaginando que seja ela no meu lugar. Imagino
Estére se ajoelhando diante de mim e chupando meu pau grosso. Tentando visualizar a cena na minha
Então, sem que perceba, esbarro meu braço na porta e saio às pressas, sabendo que a porra da
Quero-a nos meus braços. Quero ela comigo, se aproveitando do pecado e da luxúria que
dela. Fora essas merdas, agora outra surgiu do inferno para me deixar com mais dor de cabeça ainda.
Ando de um lado para o outro na oficina e suspiro, jogando uma das ferramentas no chão.
O advogado no telefone havia me dito que a pena dele está prestes a acabar e que será solto, o
Nós não somos inimigos. Sempre fomos muito unidos e por conta de um erro do nosso
passado, ele acabou pagando sozinho por coisas que não deveria. Fiz de tudo para tirá-lo da cadeia,
mas como ele foi pego em flagrante, foi impossível, fazendo assim ficar preso por todos esses anos.
Mas agora, sabendo que está quase saindo da cadeia, me incomoda pelo simples fato de que
ele virá atrás de mim em busca de vingança. Sei disso. Tenho plena certeza, afinal, em momento
Claro que posso dar um bom dinheiro a ele e fazê-lo ir embora o mais rápido possível,
contudo, seria como atirar no próprio pé. O conheço bem, pegaria a grana e depois faria de tudo para
me ridicularizar na frente de todos que me conhecem.
E as coisas na oficina não andam muito bem. O que deixa tudo ainda mais difícil. Eu poderia
muito bem pegar o dinheiro que Jolie me deixou e ajudá-lo, mas me recuso a mexer nele.
Quase trezentos mil euros guardados no banco sem uso. Se eu usasse essa herança, as coisas
estariam resolvidas, mas com tudo que vem acontecendo entre Estére e eu, sinto que é um erro usar o
Estére...
Não consigo mais resistir a ela, porém, me mantenho distante o máximo possível, sempre
dizendo que estou na oficina trabalhando, para assim esfriar a cabeça e saber o que fazer a respeito
Os dias passam voando, e quando vemos, as provas finais já haviam passado e estamos
oficialmente de férias.
As marcas no meu corpo desaparecem e Dréck não é encontrado, o que me deixa chateada.
Frida vai com os pais ao Brasil, a despedida no aeroporto na cidade vizinha havia sido
resumida a lágrimas bobas de amigas e promessas de que ela traria presentes para mim.
Frederic e eu não voltamos a conversar sobre “nós”. Ele está indo mais vezes para a oficina,
Rolo na cama e mexo no celular, olhando o Instagram, então sou surpreendia com uma foto de
— Filho da puta! — digo. — Como ele tem coragem de assumir namoro com outra um mês
Clico duas vezes na tela, curtindo, para que ele saiba que vi e saio da rede social, recebendo
— Amiga, como está sendo a viagem? — pergunto a observando. Está de dia no Brasil e ela
— Está sendo fantástico, apesar de não termos conhecido muita coisa ainda. O brasileiro é
o verdadeiro piadista, mas não liguei para falar sobre isso, afinal, teremos tempo, o que quero
— Isto aqui — digo, mostrando que estou na cama, assopro o cabelo do meu rosto e minha
— Não acredito que você vai passar suas férias deitada — diz, ainda andando. Ouço
agora.
— Eu vi a foto no Instagram, ele é nojento, mas não pense nisso. Por que você não vai para
o chalé?
— Sozinha? Sem chances, é no meio do nada e não sei acender uma lareira sozinha — digo,
— Então não vá sozinha, convide Frederic para ir junto com você. Os dois merecem um
— Sem chance, eu e ele no chalé sozinhos, no meio do nada? E se um urso nos devorar? —
— Só se ele for o urso, não é? Pare de besteira, levanta sua bunda gostosa daí e arrume
— Também te amo.
Encerro a ligação e coloco o celular de lado, pensando na ideia dela. Até que não é tão ruim.
*
Ouço uma buzina vindo do lado de fora e vou até a janela. Vejo Frederic acenando para mim e
Saio correndo, animada, e desço a escada rapidamente, abrindo a porta e correndo em sua
direção.
— Puta merda, nem acredito! — digo e me jogo nos seus braços, o abraçando. — Obrigada!
— Não esqueça que sou o melhor mecânico da cidade — diz, me soltando. Ficamos nos
— Qual?
— Como o Natal está chegando, estou de férias e quase todos estão viajando, estava pensando
— Só eu e você? — questiona.
— Sim.
cabeça.
— Certo, então acho que devemos organizar as nossas malas, e irmos ao mercado da cidade,
Organizo minha mala com calças, bermudas, camisetas, blusinhas, blusas de frio, calcinhas
extras, tênis e outros acessórios. Coloco perfume, é claro, creme hidratante e meus outros produtos
de higiene. Toalhas extras, e quando vejo, tudo está pronto, com as coisas que preciso em duas
enormes malas.
— Não me diga que resolveu morar lá de uma vez — diz Frederic no portal da porta.
— São coisas que vou usar na viagem — digo. — Uma mulher sempre tem que estar
— Claro, sou homem, esqueceu? É só jogar meia dúzia de cuecas, camisetas e bermudas e
está tudo pronto — brinca arrancando uma risada de mim. — Minhas coisas já estão prontas.
ouvidos.
— Deixe-me ajudá-la com as malas — diz, já pegando a maior, arrasto a menor, verificando
Colocamos tudo no porta-malas e Frederic abre a porta para mim. Agradeço, colocando-me
atrás do volante assim que ele entra e afivelamos o cinto, ligo o rádio, colocando na música Black do
estrada. Frederic, a todo instante, não para de olhar para minha mão e fica analisando como dirijo.
Não digo nada, apenas formando um sorriso de canto e me concentrando à nossa frente. O local em si
não é longe, no máximo duas horas de viagem, mas com a forte chuva, com certeza gastaríamos bem
mais.
— Tem um mercado mais à frente, vamos parar nele por conta da tempestade, está muito forte
— diz Frederic limpando toda hora o vidro do carro, que está embaçando por conta de nossas
respirações.
Ele meneia com a cabeça e dirijo por mais quarenta minutos, sentindo medo por conta de tanta
chuva. Tantos dias para chover e Deus decide mandar bem no dia que decido dirigir.
estacionamento coberto. A tempestade está realmente forte, então, com dificuldade, saímos e
entramos no local.
— Você está bem? — pergunta Frederic, assim que nos colocamos para dentro, olho em volta
e vejo que o local está cheio, algumas pessoas fazendo compras e outras usando o local como
refúgio.
— Certo, você parecia nervosa dirigindo. — Ele está ao meu lado. Pego um carrinho e
— É por conta da chuva, não gosto de dirigir com tempestade — digo, pegando na prateleira
— Ah — é a única coisa que ele diz. Então seguimos para o próximo corredor, pegando mais
coisas para limpeza do local. Depois disso, seguimos para a comida, abastecendo o carrinho. —
— Ainda não sei, mas comida nunca é demais — digo. Ele ri e concorda, quando vejo, já
Seguimos em direção ao caixa, com Frederic ao meu lado e, de repente, as luzes do local se
apagam, com todos suspirando. Fico parada no meio do corredor e olho em volta, esperando voltar,
— Eu não pensei que no primeiro dia da nossa viagem seria assim — diz. — Vou pegar velas,
Ele se afasta e continuo no mesmo lugar, sentindo a necessidade de ir atrás dele, mas me
O gerente vem e nos diz que o gerador está com problema, mas que não é para nos
preocuparmos, que logo tudo irá normalizar, então espero, sem muita alternativa, e Frederic volta
— Parece que o gerador está com problema e vai demorar um pouco para a energia retornar
— digo a ele, assim que aparece. Um trovão ecoa no céu e solto um gritinho, me agarrando a ele. —
corredor.
Meu corpo pinica e fico quieta, pensando na loucura que estamos fazendo.
*
Continuo abraçada a Frederic quando as luzes voltam e todos ficam aliviados. Rapidamente
Fred não diz nada, apenas está com um sorriso debochado em seus lábios e isso faz com que
Sou atendida e rapidamente vou colocando as coisas sobre o balcão do caixa, com a
Um tempo depois, após passar todos os produtos, ela se vira para mim e sorri.
Pego o cartão e Frederic passa na minha frente, entregando as notas a mulher, que o olha com
desejo.
— O senhor está passeando pela cidade? Não lembro de tê-lo visto antes, com certeza
A encaro e ela finge que eu nem existo, me deixando surpresa e com raiva por estar flertando
com Frederic.
— diz ele, segurando minha mão. — Vamos tirar férias, se é que você me entende.
Ele pisca e a mulher me nota, fazendo cara de desprezo. Então percebo que o “vamos tirar
férias, se é que você me entende” que dizer outra coisa.
Nos afastamos e seguimos em direção à saída, então noto que a tempestade passou, dando
— Uau, o que foi isso? — pergunto, surpresa. Frederic me encara e dá de ombros, formando
um sorriso. — Aquela moça pareceu interessada em você — comento, dando as sacolas a ele, que
— Não percebi — diz, sarcástico. —, mas parece que você não deixou de notar, não é?
— Não me causa ciúme, se quer saber — digo, olhando para frente. Ele solta uma risada e
reviro os olhos.
Fico quieta, querendo dizer que me causa algo sim, mas não vou dar esse gostinho a ele.
Então nos mantemos em silêncio e continuo dirigindo. Não demora e logo avisto o vislumbre
do chalé. É um lugar simples, que fica próximo à entrada da floresta, longe da cidade.
Paro o carro em frente e saímos. Sinto o ar fresco e sorrio, me recordando das vezes em que
Passávamos sempre as minhas férias aqui ou na casa de campo quando não queríamos viajar.
Recordo-me do dia em que viemos para cá e mamãe lutou a noite inteira tentando manter a lareira
Abro a porta da frente e vejo o local do mesmo jeito que deixamos a última vez, a diferença é
que há camadas de pó por todo lugar e até mesmo algumas teias de aranha. O local é grande para um
chalé, com uma sala onde há um pequeno sofá e duas poltronas, uma janela mostrando a floresta, um
enorme tapete e a lareira. Ao lado fica a cozinha, que tem a pia, um balcão com fogão embutido, a
Ando pelo local e vejo o corredor, que no final leva para o banheiro e a escada de madeira ao
— É lindo — diz Frederic entrando com as sacolas, concordo, sorrindo e o ajudo, colocando
— Passei muito tempo com mamãe aqui — digo após pegarmos tudo. Frederic me encara e
— Ela e eu nunca viemos aqui antes — diz ele. — Sua mãe trabalhava tanto antes de
Concordo, afirmando o que ele diz. Por diversas vezes mamãe ia trabalhar e voltava tarde ou
só no dia seguinte para tomar banho, trocar de roupa e voltar ao trabalho.
— Acho que é melhor começarmos a limpeza — digo, não querendo falar sobre minha mãe.
Fred concorda e subo para os quartos. Ambos são simples, com cama, penteadeira e cômoda.
Tiro o plástico do colchão e passo um pano nos móveis, forrando a cama e limpando o chão
amadeirado. Assim que termino um, sigo para o outro, fazendo a mesma coisa e limpando a escada.
Frederic ainda está limpando a cozinha, então ajudo no sofá, aspirando o pó e abro todas as
janelas.
— Não foi difícil — diz, jogando-se na poltrona. Me sento no sofá e concordo, em busca do
meu celular.
— Não sei como ainda temos sinal aqui — digo, vendo a internet funcionar, ele concorda e se
levanta, pegando o celular da minha mão. — Ei, me devolve isso! Esse celular é meu.
— Eu sei disso, mas viemos aqui para descansar, não ficarmos em redes sociais. — O vejo
guardar o aparelho no bolso dianteiro da sua calça e suspiro. — Se quiser de volta, vai ter que pegar.
— Ora essa! — digo nervosa. Sigo em sua direção e ele desvia, rindo da minha cara. Tento
— Peça com jeitinho que eu dou — diz, desviando das minhas tentativas falhas de apanhá-lo.
Reviro os olhos e pulo em sua direção, levando minha mão até o bolso da calça. Frederic ri e me
segura, então nos aproximamos e nossos rostos ficam centímetros um do outro. — Por que seu
— Porque é isso que você faz comigo — digo, atônita. Ele fica parado e fecha os olhos,
respirando profundamente.
Ele me encara e sinto a tensão pairar sobre nós, então Frederic se aproxima e não recuo,
esquecendo por um momento que ele é o meu padrasto. Seus lábios grossos e macios encostam nos
meus. Ficamos assim, parados, e devagar, abro a boca, levando minha língua até a sua. Frederic faz o
mesmo e nos entrelaçamos, com ele me agarrando e eu passando as pernas em volta do seu corpo.
Frederic devora meus lábios e solto um gemido entre o nosso beijo, sentindo uma de suas
mãos percorrer para o meu seio. Um arrepio elétrico sobe na região que ele toca e sinto meu seio
— Eu sei, mas não consigo mais resistir — respondo, segurando sua cabeça contra mim.
Frederic é um homem bonito, atraente e com uma boa pegada, e mesmo ele sendo o meu
padrasto, não me sinto arrependida de estar beijando-o. O que me dá certeza de uma coisa — nós
dois vamos para o inferno. Isso é fato. E com esse pensamento acredito que talvez mamãe esteja no
céu.
Nos separamos e Frederic me coloca no chão, me encarando, então ele dá suaves beijos nos
— Está ficando tarde e precisamos de lenha, então vou buscar, você fica aqui?
Percebo que ele se sente mal com o que acaba de acontecer e concordo, sem muita alternativa.
— Claro — digo.
Ele me encara mais uma vez e suspira, seguindo para o lado de fora.
Completamente fodido e perdido. Como pude deixar isso acontecer? Como fui capaz de
esquecer em tão pouco tempo a mulher que amei nos últimos nove anos e me entreguei aos braços de
sua filha?
O pior dos pecados. Traição para mim sempre foi algo completamente inaceitável, porém,
agora cometendo esse ato tão deplorável, vejo que, quem muito julga, acaba fazendo.
E é isso que estou fazendo. Traindo a memória da minha esposa, que com certeza não está
descansando em paz.
Nunca acreditei no inferno, aliás, não sou muito religioso. Apenas acredito em uma força
maior que nos coloca à prova todos os dias. Seria essa a minha? Seria a minha prova resistir a
Pego o machado e ando pela floresta, entrando nela. Está claro ainda, apesar de ter caído uma
tempestade, e as árvores são abertas, como se fosse um convite para entrar ali.
Procuro algumas madeiras caídas, evitando o máximo cortar os galhos e vejo um enorme
galho caído. Sigo até ele e o puxo, notando que por sorte, não está molhado, então o levo até atrás do
chalé. Desconto toda minha raiva, medo e frustração nela, cortando facilmente, então assim que
termino, jogo no espaço coberto que há atrás do chalé e volto para a floresta, sabendo que a lenha é o
suficiente para hoje e amanhã, mas não quero ficar perto de Estére, senão irei acabar perdendo ainda
“Resistir mais para que, se vocês dois já cometeram todos os pecados possíveis?” Ouço
Suspiro, frustrado. É verdade, mesmo não a levando para a cama, o pecado já havia sido
cometido quando a desejei em meus braços pela primeira vez. E se Estére soubesse que a vi se
“Porra!”
Volto para o chalé com as lenhas e vejo que Estére está com outra roupa, o que me dá a
certeza que tomou um banho enquanto estive fora. Percebo também um cheiro agradável pelo
— O quê? — pergunto, surpreso. É a minha única reação, afinal, Estére nunca foi de cozinhar,
— É macarronada — ela comenta —, olhei na internet como que faz, eu sei, é ridículo, mas
como você foi atrás de lenha, achei que seria legal preparar algo para comer.
Concordo, sorrindo, e sigo até a lareira, colocando as lenhas e logo em seguida, ateando
álcool e fogo. Não demora e a chama alaranjada começa a aquecer o local gelado.
— Vou tomar um banho enquanto você termina — digo, arrancando a blusa suja e a calça.
Estére me encara e ergue a sobrancelha. — O que foi? Parece que nunca me viu de cueca.
— Bem, já, mas..., tudo bem, tome seu banho rápido antes que a comida esfrie.
Sorrio e concordo, seguindo para o banheiro, então abro o chuveiro e me lavo rapidamente.
Quando termino, procuro a toalha e não a encontro, então abro a porta um pouco e chamo por
Estére.
— Me dê uma toalha, por favor — peço. Ela se aproxima e me entrega, me encarando. Vejo
Pego a toalha e fecho a porta, sabendo que ela está louca para ver meu amigão.
Ainda estou surpresa com a imagem de Frederic no banho, mesmo tendo visto pouca coisa.
Porém, só de pensar que uma porta é a única coisa que me impede de vê-lo nu, me sinto um pouco
frustrada.
Coloco o macarrão sobre o balcão e ele sai do banheiro enrolado na toalha, subindo
graciosamente a escada. Não demora e Frederic volta com calça de moletom que sempre usa, uma
— Pensei que iria demorar mais — digo, me sentando e apontando para a banqueta ao meu
— Suco, refrigerante, cerveja e vinho — digo, ele concorda e pega duas taças, trazendo uma
sorrio, então batemos uma na outra e bebo um gole, sentindo o sabor delicioso invadir minha boca.
— Bem, caso eu passe mal, tem um hospital na cidade, fica a uma hora daqui.
— Engraçadinho — digo, mostrando a língua. Ele ri e senta ao meu lado, começando a comer.
Faço o mesmo e sinto o gosto agradável. Não é o dos melhores, mas está saboroso.
— Até que não está tão ruim — diz ele, após comer tudo. Rio, sabendo que apenas quer me
Assim que termina, seguimos para a sala e me sento no tapete em frente à lareira para me
— Em mamãe.
— O quê?
Viro meu olhar para ele e mordo o canto da boca até sangrar, sentindo o gosto se misturar ao
vinho quando o bebo. Frederic enche minha taça de novo e continua me olhando, esperando uma
resposta.
— No que ela diria se soubesse o que vem acontecendo entre nós. Não adianta dizermos que
não existe nada, porque existe.
— Acredito que Jolie iria querer que fôssemos felizes. Ela não iria querer que parássemos
— Eu sei disso, mas eu tinha que tentar ser feliz justamente nos braços do meu padrasto? —
pergunto, bebendo.
— A felicidade surge onde menos esperamos, Estére. O errado às vezes pode ser o certo,
assim como o contrário. O que é bom para sua vida não é para a minha. Não podemos nos basear nas
— Se isso é felicidade, por que não me sinto completamente feliz? Por que sinto que estamos
Me sento na cama e bocejo, sorrindo. Coloco meus chinelos e sigo para o andar debaixo,
— Bom dia — respondo indo em direção ao banheiro. Fecho a porta e faço xixi, logo em
seguida lavo minhas mãos, escovo os dentes e lavo meu rosto, prendendo meus cabelos.
Saio e sigo em direção ao pequeno balcão, me sentando e vendo os ovos mexidos com torrada
e geleia. Agradeço a Frederic e beberico o café que ele coloca à minha frente.
Logo após comermos e ajeitarmos as bagunças do chalé que havíamos deixado, vou para o
meu quarto e coloco uma calça legging preta, botas de coturno e uma camiseta qualquer, prendendo
meus cabelos em uma trança embutida. Resolvo passar um pouco de maquiagem, nada muito forte, e
Pego meu celular e vejo que Frida mandou uma foto dela com os pais em um Museu de São
Paulo. Então tiro uma foto minha e escrevo “#Chalé”. Ela manda vários corações e guardo o
aparelho, descendo até a sala e encontrando Frederic já pronto. Ele usa botas grossas, calça jeans,
— Claro — diz, dando passagem para mim. Não sei dizer se é cavalheirismo ou apenas ele
querendo vislumbrar minha bunda. Prefiro acreditar na primeira opção.
— Você dirige — digo, jogando as chaves para ele, que pega no ar. Fred destrava o veículo e
entro, colocando o cinto. Ele faz o mesmo e dá ré, indo em direção à estrada.
Fico olhando-o dirigir e vejo como Frederic manuseia bem o volante apenas com uma mão
enquanto a outra fica em sua perna. Me ajeito no banco e ele me olha, sorrindo de lado.
— Não — digo, o encarando, abro o vidro do carro, deixando o vento bater no meu rosto.
— Hummm — é a única coisa que ele diz, como se fosse um rosnado baixo.
— Estou ansiosa para saber o que esta viagem nos reserva, faz tanto tempo que não viajo —
— Confesso que também estou ansioso para isso — diz, com malícia. Passo a língua pelos
Chegamos à cidade uma hora depois. Após meu súbito pensamento, fiquei em silêncio e Fred
percebeu que algo aconteceu, contudo, não me perguntou, talvez já suspeitando o que fosse.
Assim que entramos na cidade, notamos uma aglomeração e percebo que há um pequeno
parque montado próximo a floresta. Vejo “Bem-vindos” escrito na entrada da cidade com luzes de
Natal e um papai Noel de plástico enorme sorrindo e acenando.
— Parece que o Natal começou cedo por aqui — diz Fred estacionando próximo do pequeno
— Bom dia, senhor, senhorita, este estacionamento é exclusivo para visitantes para o evento
— Não, estamos visitando — diz Fred. O homem magrelo, com os cabelos grandes e roupas
largas, assente.
— Acho que vale a pena. Há quanto tempo você não vai em uma montanha-russa? — ele
— Uns anos, a última vez foi com minha mãe, eu era criança ainda.
Ele concorda e continuamos andando. Há palhaços divertindo as crianças, ilusionistas e até
mesmo mágicos. Fico encantada com isso e ao longe avistamos o “papai Noel” tirando fotos com as
crianças. É um senhor idoso já, com sua barba de verdade, o que me faz acreditar que ele deixou o
Saio dos meus pensamentos insanos e continuamos andando, observando um homem sorridente
entregando rosas às mulheres. Vejo Frederic ir até ele e apontar para mim, então o homem acena e
retribuo o gesto, sem entender. Em seguida, Fred volta com a rosa na mão.
— Acredite, mais linda do que já é — diz, fazendo eu ruborizar. — Vi que estão servindo
— Você tomou café há pouco tempo — digo, continuando seguindo pela multidão, o barulho
Ele pisca e seguimos em direção às barracas que estão dando os lanches. Pegamos cachorro-
quente e hambúrguer e nos sentamos próximo a uma praça para comermos. Realmente está gostoso e
me delicio.
Depois de mais ou menos uma hora e meia andando pela cidade, Frederic e eu decidimos ir
ao parque. O show de uma banda local já começou e eles estão cantando músicas do Aerosmith,
Vamos para a fila da montanha-russa após comprarmos nossos bilhetes e Frederic se mantém
atrás de mim, com seu corpo colado ao meu. Sinto minha pele se arrepiar com isso, mas mantenho o
— Não tem com que se preocupar, se essa montanha-russa estiver há quatro metros do chão, é
muito.
— Quatro metros ainda me parece uma queda e tanto se isso escapar — digo, segurando o
— Se você cair, eu prometo te segurar antes que aconteça — diz. Sorrio e o brinquedo
começa a se movimentar.
De início é devagar, seguindo em linha reta, então começa a subir, faz uma curva brusca, segue
em frente e mais outra curva brusca, agora subindo mais alto possível e parando. Respiro fundo e
então o brinquedo desce com tudo, comigo gritando de desespero. Ele repete o processo e as outras
pessoas me acompanham nos gritos. A diferença é que o deles é de animação, os meus, de medo.
Então encaro Frederic e vejo que ele está se contorcendo de tanto rir.
O brinquedo para bruscamente e somos liberados. Saio com as pernas bambas e respiro
fundo.
— Ótima, claro — respondo, debochadamente. Ele ri ainda mais e estende a mão para mim.
Eu a seguro.
Ele corre, me puxando e me divirto com isso, rindo e indo atrás. Olhando assim, até
“O quê? Alerta! Nada de se apaixonar pelo seu padrasto! Você está realmente ficando
maluca.”
Ficamos na fila e como na montanha-russa, não demora e seguimos para as cadeiras, com o
rapaz se certificando de que está travada e que não iremos cair de lá de cima.
— Lamento em dizer que esse sim é alto — diz Frederic. — Deve ter no mínimo de dez a
Frederic estende a mão para mim e a seguro, com seus dedos acariciando os meus.
— Se você cair, eu caio — diz. — E não estou filosofando, porque eu não iria atrás de você,
mas se ficar se mexendo demais isso aqui vai virar e vamos morrer.
— Eu sei, e você está gostando, senão, não estaria com esse sorriso enorme no rosto.
O brinquedo sobe alto e olho para baixo, então Frederic segura meu rosto.
— O que foi?
Faço o que ele me diz e vejo a cidade inteira, com a enorme floresta ao redor. O sol reflete no
meu rosto e fico maravilhada com isso, fotografando essa imagem em minha mente.
Desde a morte de mamãe eu nunca estive tão feliz quanto agora. E sei que Frederic tem a ver
com isso.
Fomos para casa quando já está de noite e ficamos sabendo que a árvore de Natal vai ser
acessa nos próximos dias, comigo afirmando a Frederic que quero ir ver. Ele concorda, e quando
chegamos, cada um vai para seu quarto e fico pensando seriamente sobre o que está acontecendo.
Ultimamente venho fazendo muito isso, contudo, não me julgo, afinal de contas, é algo
Troco minhas roupas, colocando meu pijama e me deito, olhando para o tempo lá fora. O céu
está um breu e as estrelas brilham, então caio no sono com essa imagem.
que Frederic está, mas vejo sua cama arrumada e desço, vendo que ele não está. Procuro algum
bilhete que me dê notícias sobre seu paradeiro e não encontro nada, então vou ao banheiro e resolvo
comer alguma coisa assim que saio. Preparo um suco natural e como algumas torradas, quando
termino, vou atrás do meu celular e encaminho uma mensagem a Frederic, porém, não vai e vejo que
o sinal está fraco.
— Merda — sussurro.
Decido não me preocupar, afinal, Frederic é adulto e sabe o que faz, mas algo me diz que ele
Saio cedo para a cidade, afim de esquecer um pouco os problemas e entro no supermercado
mais próximo, observando a atendente sorrir mais do que o normal para mim. Retribuo com um olhar
sério e seu sorriso vacila, então vejo o celular tocar e sinto meu coração descompassar ao ver o
número do advogado.
— Por favor, sem formalidades, nos conhecemos há anos. Me diga quais são as novidades.
— Aconteceu o que já sabíamos, Fred. — Meu apelido estala na sua boca e fico sem reação.
— Você está me dizendo que ele saiu da cadeia? — questiono, não querendo acreditar no que
— Sim, é isso mesmo — afirma. — E ele sabe onde você está e pretende procurá-lo, espero
que você tenha um bom plano, afinal de contas, sabemos que Ferdinand não está muito feliz.
Paro no corredor de vinhos e fecho os olhos, tentando raciocinar.
— Plano? Meu plano era tirá-lo dessa enrascada há muitos anos e você não foi capaz de fazer
isso!
— Me desculpe, mas sabemos que o caso era realmente delicado e é muita sorte ele
conseguir sair agora — ele responde. — Depois de todos esses anos, o juiz o libertou por bom
comportamento.
— Então isso só nos mostra que você foi um completo incompetente! O seu trabalho era livrá-
— Você pode até estar certo, mas lembre-se que ser culpado por algo que não fez é muito
mais difícil de provar. Você acha mesmo que esses policiais se importam com isso? Aqui as coisas
não funcionam do jeito que você pensa, é muita sorte ele conseguir finalmente sair.
— É bom ver mesmo, porque sabemos que ao sair ele irá atrás de você na mesma hora.
Você sempre soube que uma hora ou outra Ferdinand iria se vingar. E é isso que ele fará. E sua
— Não tive culpa, você sabe disso! Nós dois fomos enganados, apenas fui errado em ter
fugido do local.
Hugo suspira do outro lado da linha.
— Eu sei disso, meu jovem, mas ele não, e agora você terá que explicar isso, ou irão
acabar em guerra.
Saio do mercado com duas garrafas de vinho, alguns queijos e outros petiscos, afim de que
isso possa me ajudar a distrair a mente um pouco. Aproveito e apanho mais algumas lenhas para que
possamos passar o final de semana aquecidos. Quando olho, a hora passou voando e não falei com
Estére, esquecendo-me de deixar um recado a ela. Como dizem, a pressa é realmente inimiga da
perfeição.
Jogo as lenhas no mesmo local em que coloquei as outras e sigo para dentro do chalé,
entrando e dando de cara com uma Estére furiosa. Seus olhos estão vermelhos e os cabelos
bagunçados.
— Como tem coragem de me perguntar isso? — questiona, aflita. — Você saiu, não deixou
nenhum recado e eu fiquei sem sinal. Pensei que houvesse sido morto, sequestrado, devorado!
Seguro a risada do seu drama e coloco as coisas que comprei sobre o balcão.
— Bem, ninguém me devorou, nem sequestrou ou matou. Apenas saí para ir ao mercado e
— Apesar do meu jeito, me importo com você e seu bem-estar — diz, me analisando por
completo.
Sorrio e me aproximo dela, a abraçando. E sinto justamente a mesma coisa que ela.
Me sinto mais aliviada quando Frederic chega e depois de nos separarmos do nosso abraço,
ele diz que é para eu colocar música, que vai preparar uns petiscos para comermos. Coloco o som no
volume ambiente e me sento próxima ao balcão enquanto o vejo com as mãos à obra. Ele trouxe do
mercado vários tipos de queijo, salame e azeitona. Então coloca-os cortados em tamanhos iguais
sobre uma bandeja que encontra e pega duas taças, enchendo-as com o vinho que comprou.
— Ao quê?
— Ao desejo sombrio — diz malicioso, umedecendo os seus lábios. Sei de qual desejo ele
está dizendo e meu corpo se arrepia com isso. Bebo sentindo o gosto suave e doce invadir minha
boca.
Ele começa a se servir e faço o mesmo, comendo os petiscos que ele comprou.
— Por que não me chamou para ir com você? — pergunto, bebendo mais do vinho.
— Não quis acordá-la — diz, dando de ombros. Concordo, observando o quanto ele é bonito.
— Não consegue mais ficar longe de mim, Estére? — pergunta. Toda vez que meu nome estala
— Não seja tão convencido assim — o respondo. Ele sorri e perco o fôlego com seu sorriso
tão sexy.
— Tudo bem — digo, me levantando. Ele vem até mim e me estende a mão.
A seguro e seguimos para o meio da sala, Frederic passa uma de suas mãos para o meu
quadril e levo a minha ao seu ombro. Começamos a mexer os quadris devagar, seguindo o ritmo lento
da música.
Ele me olha atentamente e fixo meus olhos nos seus. Então sua boca entreabre e minha
respiração dispara.
— De onde estou, sou capaz de ouvir seu batimento cardíaco, Estére — diz. — Por que seu
coração está acelerado?
Engulo em seco e fico sem reação, pensando no que as pessoas diriam se nos vissem agora.
Se Collin descobrisse que suas teorias de morar sozinha com meu padrasto estavam certas. Se Frida
soubesse que escondi para ela o que vem acontecendo no último mês.
Rapidamente nossos corpos se aproximam e naquele momento esqueço meus medos, os tabus
Ele é gentil comigo e isso me deixa cada dia mais encantada por ele, o que acaba me preocupando.
Fomos à cidade ver a árvore que ele fez questão de me levar. O evento foi lindo, e com isso,
tive a dolorosa realidade de que passaria o primeiro Natal longe de mamãe. O que me fez ficar
No dia seguinte, acordo mais cedo e decido preparar café para Frederic e eu, afinal, ele
sempre vem cuidando de mim, então nada mais justo do que eu fazer a mesma coisa. Faço um café
forte para despertarmos e preparo algumas torradas, aquecendo-as no micro-ondas que temos na
cozinha. Pego algumas fatias de queijo, presunto defumado e frutas, colocando sobre o balcão.
Aqueço o leite, e quando estou terminando, ele desce apenas de camiseta e cueca. Percebo que o
volume no meio de suas pernas está marcando mais do que quando vi a última vez, o que me dá a
vestido com uma bermuda que deveria ter deixado lá. Seus olhos recaem sobre mim e ele boceja,
— Nem um pouco — diz, me encarando e pegando uma xícara. — Obrigado pelo café.
Fazemos nossa refeição em silêncio, o que me deixa um pouco incomodada. Será que há algo
— Nada — minto, sabendo que realmente deve ter alguma coisa acontecendo e ele não quer
me falar.
— Vamos aproveitar hoje, que amanhã já é véspera de Natal — diz, mudando de assunto.
— Claro, preciso ir ao mercado comprar as coisas da nossa ceia, que você vai cozinhar, é
— É, talvez esteja certa. Vou só arrumar as bagunças e me trocar, te encontro em meia hora.
Frederic me encontra no tempo que diz. Ainda estou no quarto e ele dá uma batida na porta,
— Estou pronto — diz. Vejo que está usando a roupa que sempre usa; calça, botas grossas e
camiseta.
— Certo, só me deixe arrumar meu cabelo — digo. Ele concorda e então penteio sem ao
menos olhar e os prendo, deixando algumas mechas caídas pela frente. Fred sorri e pego meu celular
Passo ao seu lado e Frederic para na minha frente, me encarando mais próximo que o normal.
Engulo em seco e minha respiração fica entrecortada, então ele se aproxima e coloca os dedos no
O vejo se afastar e descer a escada, então o sigo, sabendo que ele está fazendo isso para me
provocar.
O mercado está lotado, como já era de se esperar. Pessoas vão para todos os lados
empurrando seus carrinhos com crianças correndo ou chorando.
Pego o carrinho e Frederic o empurra, seguindo pelos corredores de bebidas. Pego uma
garrafa de vinho e uma de champanhe, decidida a fazer esse Natal ser uma noite agradável, mesmo
que eu vá passar longe de mamãe e até mesmo de Frida. Logo após isso, seguimos para outro
Menos de uma hora depois, nosso carrinho está com tudo que iremos consumir e seguimos
Quando finalmente saímos do mercado, olho distraída para as pessoas e um olhar marcante me
nota. Congelo, sentindo-me estarrecida. Vejo seus olhos azul-turquesa me notarem e o sorriso sádico
estampar o seu rosto machucado, então Frederic percebe que há algo errado e olha na mesma direção
que eu.
Pisco e percebo que Dréck sumiu. Isso se realmente ele esteve ali.
— Era ele — sussurro olhando ainda na mesma direção, como se ele fosse se materializar ali.
— Dréck. Eu o vi.
— Tem certeza disso? — pergunta. Concordo com um aceno de cabeça. — Entra no carro —
ordena.
— O que você pretende fazer?
Não questiono, então entro e ele fecha a porta, travando o veículo. Vejo Frederic se afastar e
Então reparo que Fred procura Dréck pela multidão, o que me deixa aflita, com um enorme
embrulho no estômago.
Ele segue para o outro lado e depois volta para dentro do mercado, saindo do meu campo de
visão.
Pego meu celular e me atento a ligar para a polícia, porém não o faço. E se realmente havia
sido minha imaginação? E se estou ficando tão paranoica com tudo que me vem acontecendo que
Uma batida no vidro me faz sair dos meus pensamentos e então encaro Fred, que entra no
carro.
— Não achei aquele desgraçado — diz, batendo no volante. Me assusto e ele me observa. —
Me desculpe.
Chegamos rapidamente e ajudo Frederic com as coisas, comigo subindo para o meu quarto e
me mantendo o dia todo trancada, com medo de Dréck aparecer e conseguir me violentar.
Acordo na manhã seguinte não conseguindo me lembrar do momento em que dormi e meu
estômago protesta. Levanto-me da cama e corro para o andar debaixo, indo para o banheiro. O cheiro
de comida fresca invade minhas narinas e sinto ainda mais fome, então após eu sair do banheiro, vou
— Parece que alguém acordou com disposição hoje — digo, o encarando. Ele sorri e
— Pensei que iria gostar de comer isso hoje, sei que não é do Beer’s, mas tentei.
sensação de antes se esvair. Não pensei mais em Dréck, parece que dormir e ter uma noite sem
sonhos me ajudou a descansar minha mente, o que me anima. — O que você está aprontando?
— Bem, coloquei as batatas para cozinharem, já coloquei o peru no forno e vou preparar a
sobremesa.
Sei sobre o que ele está falando. Frederic não quer ficar sozinho comigo porque sabemos que
se fizermos isso, nossa noite de véspera de Natal vai ser regada a lágrimas e tristeza por não termos
Sorrio de volta e continuo comendo, maravilhada com o sabor das panquecas. Após terminar,
coloco o prato sobre a pia e o lavo, com Frederic mexendo no seu celular e ficando com o olhar
sério.
— Eu vou para o meu quarto, as batatas já estão boas e o peru vai demorar pelo menos mais
umas quatro horas, nos vemos daqui a pouco — diz, já subindo para o andar de cima e fechando a
porta.
Fico sem entender, curiosa com o que está acontecendo. Será que Frederic havia arrumado
“Não seja idiota! Ele deve estar com algum problema na oficina. É, pode ser isso mesmo.”
*
As horas passam devagar, tento falar com Frida, mas seu celular dá caixa postal, o que me faz
Continuo na cozinha, sentada, sentindo o cheiro da comida, quando Frederic sai do quarto e
desce, indo até o forno. O vejo mexer no peru e depois terminar de fazer as batatas.
— Por mim tudo bem, sempre achei besteira termos que comer tarde — digo.
— Concordamos nisso, então — diz, preparando o arroz e depois a salada. Quando termina,
ele segue para a sobremesa, que é torta de banana com canela que tanto adoro.
O cheirinho da canela percorre todo o ambiente e lambo os beiços, com água na boca.
— Você aprendeu a cozinhar tão bem assim com quem? — pergunto, Frederic se vira e me
olha.
— Minha mãe, quando viva, era uma cozinheira fantástica, tudo que sei foi ela quem me
ensinou.
— Faz mais de dez anos. Quando conheci Jolie, ela havia falecido — responde. — Hoje em
dia é mais fácil lidar com a dor, mas não superei ainda.
Fico em silêncio, se Frederic não havia superado a morte de sua mãe depois de dez anos,
— É difícil superarmos a morte de quem amamos, estou sentindo isso na pele. Quando meus
avós morreram, não foi tão difícil quanto está sendo com mamãe.
— Sim, Jolie era uma ótima mulher, é realmente difícil superar sua morte.
— Sim — responde de imediato. — Acredito que sempre irei amar sua mãe, de uma maneira
Fico atônita ao ouvir isso. É verdade, a imagem de mamãe sempre irá pairar diante de nós,
mesmo que passasse anos, lembraríamos dela. Eu, como a filha que a traí depois de morta, e Frederic
Fico o restante do dia no meu quarto e quando está anoitecendo, decido tomar um banho e
lavar meus cabelos. Depois disso, me depilo e faço as sobrancelhas, decidida a ficar bem arrumada
nesta noite.
Escolho um vestido vermelho que realça minhas curvas. Ele é acima do joelho e tem um
decote nas costas e um discreto na frente. Coloco o colar que ganhei de mamãe no último Natal e
seco os cabelos, deixando com a ondulação natural. Faço uma leve maquiagem e depois que termino
de me arrumar, ouço meu celular tocar e mostrar a imagem de Frida na tela.
— Finalmente conseguimos nos falar, pensei que havia me esquecido por completo — digo,
sorrindo. Minha amiga está linda; seu vestido é brilhoso e com um enorme decote, está com um colar
no pescoço e enormes brincos na orelha, enquanto seus cabelos estão presos e bem arrumados. O
— Bem tranquilas, Frederic é bem gentil, o que é estranho, e está cozinhando para nós.
— Diz que mandei um beijo, mas agora me conta, ele já tentou algo com você como Collin
supôs?
— Você tinha que ter visto sua cara agora. Só estou brincando, bobinha.
— Isso é culpa das pessoas daqui, mas agora preciso ir nessa. Foi bom conversar com você.
Eu te amo.
Me despeço dela e desligo o aparelho, vendo Frederic parado à porta.
— Oi — diz. Vejo que ele usa uma camisa social e que as mangas estão dobradas abaixo do
cotovelo. É escura e combina com sua calça jeans preta e sapatos sociais. Seus cabelos curtos estão
— Olá — digo, desviando meu olhar do seu corpo. Droga, preciso aprender a me controlar!
Ele sorri e ficamos frente a frente, com nossos corpos colados. Frederic leva sua mão até meu
— Vendo-a desse jeito, vestida nessa roupa, tenho certeza de uma coisa — diz.
— O quê?
— Eu te quero, Estére, e mesmo sabendo que você é minha enteada, sinto que isso não é
errado — sussurra, passando os dedos no meu rosto. Cada toque seu me causa um formigamento.
— Eu também te quero, Frederic, o que é uma loucura. Você foi por anos meu padrasto, se
mamãe estivesse viva, continuaria sendo, então me diz por que isso aconteceu, por que não consigo
amigo, eu a desejo a todo instante. É como se fosse o desejo mais sombrio que já tive em toda minha
vida — revela.
Concordo e fixo meus olhos nos seus lábios, o beijando devagar. Ele retribui e movimenta sua
língua para dentro da minha boca, me fazendo questionar em como seria se estivesse no meio das
minhas pernas. Tento não pensar em mais nada, não pensar em mamãe e nem no que as pessoas
Frederic me guia para o andar debaixo com uma venda nos olhos. Ele diz que quer mostrar a
surpresa que me preparou e sinto meu coração acelerar cada vez mais quando chego no último
degrau.
Assim que chegamos, fico parada e sinto minha respiração acelerada, então, devagar, ele
retira a venda.
Olho ao redor da sala e da cozinha e vejo luzes acesas em torno das janelas e lareira. Em
cima do balcão, estão nossos pratos, com guardanapos, talheres e taças. Fico surpresa, sem acreditar
que ele havia feito isso tudo para mim em tão pouco tempo. O peru está sobre o fogão, assim como o
restante da comida.
E é aí que eu vejo que não temos uma árvore de Natal, com a correria e loucura dos últimos
— Foi enquanto você esteve no seu quarto — diz. — Infelizmente eu não consegui uma
árvore, e foi burrice nossa não pensarmos nisso antes, mas achei isto.
Vejo ele pegar um buquê de rosas vermelhas e me entregar. Sinto o perfume e sorrio.
— São lindas, obrigada — digo, alegre. Ele sorri de volta e do buquê, pega uma rosa.
— Vermelho é considerado por algumas pessoas, a cor do pecado, você sabia? — questiona.
— Não — digo, curiosa com o que ele quer dizer. Frederic segura a rosa e brinca com ela
— E a rosa vermelha significa paixão — completa. — Eu sei que é muito cedo para dizer
isso, e não consigo explicar, mas estou apaixonado por você, Estére.
Fico surpresa ao ouvir isso e sinto as lágrimas transbordarem nos meus olhos. Frederic, meu
E o pior, eu também estou apaixonada por ele, o que me deixa completamente confusa.
Quando isso aconteceu? Como sei que o que sinto é paixão? Como pude deixar isso
acontecer?
Sinto medo e repulsa por estar apaixonada pelo homem que passou anos ao lado de mamãe,
mas o que eu poderia fazer a respeito? Como explicar ao meu coração, que acelera quando ele se
aproxima de mim e me beija, que o que estamos fazendo é errado? Como mamãe se sentiria? Como
Frida reagiria?
Esqueço por um pequeno momento isso e finjo que tudo não passa de loucura. Que Frederic
Para alguns, nós seríamos o próprio Diabo. O oitavo pecado capital. Mas para Frederic e eu
não.
Somos apenas duas pessoas apaixonadas que não sabem o que fazer em relação a isso.
Estávamos perdidos e nos encontramos um nos braços do outro. E mesmo que nos julguem,
massacrem e digam que isso não passa de loucura, eu iria fazer de tudo para ficar com ele.
Estamos parados no meio da sala e Frederic concorda com um simples movimento de cabeça.
Concordo e coloco as rosas, inclusive a de que está em sua mão, na cozinha e seguimos para o
É estranho pensar que menos de dez minutos atrás ele me disse que está apaixonado por mim,
contudo, não me sinto mal com isso. Pelo contrário. É como se dependêssemos em dizermos isso um
ter vindo comigo para cá, eu iria acabar comendo comida enlatada.
— Fico realmente feliz que esteja se divertindo, apesar de não termos saído muito.
— Não preciso sair para me divertir — digo. — A minha diversão está aqui.
— É sim, principalmente suas comidas. — Rimos e continuo comendo. Assim que finalizo
meu prato, me sirvo de mais um pouco, não ligando para as gordurinhas que irei ganhar.
— Realmente está bom, acho que é a primeira vez que a vejo repetindo comida.
— Talvez eu tenha mudado mais do que imagina nos últimos tempos. — Dou de ombros e levo
— Nós mudamos, pelo visto — diz e ouço seu celular apitar, informando uma nova
Estranho essa atitude, mas não me importo. A loucura de achar que ele tem uma namorada não
paira mais em minha mente, visto que ele se declarou para mim.
*
Quando terminamos de jantar, entramos no meu carro e seguimos para a cidade. Dirigir com o
salto me deu um pouco de dificuldade, mas consegui, o que fez Frederic se divertir bastante.
Reviro os olhos e mostro a língua a ele, que se aproxima de mim e passa a mão pelas minhas
costas desnudas.
— Não mostre a língua para mim ou serei obrigado a mostrar o que a minha pode fazer.
Me arrepio com isso e mordo o canto da boca, já criando teorias do que ele faria comigo.
— Devo admitir que estou curiosa para saber — digo. Ele ri e seguimos em direção à
multidão que já espera o coral começar. Há fileiras de cadeiras colocadas à frente da praça da
cidade e nos sentamos, com Frederic segurando minha mão na frente das pessoas sem se importar.
Claro que aqui não há conhecidos nossos, podemos ter essa liberdade, então penso em como
“É claro que não, e não sei por que está pensando tanto, vocês não são nada.”
Esqueço isso pelo menos por agora e avisto o palco que foi improvisado na nossa frente. O
Vejo algumas pessoas subindo no palco vestidas com roupas de anjos, eu diria. Cada um se
posiciona lado a lado e um homem vem na frente deles, fazendo um sinal para que o coral comece a
cantar.
As vozes de todos ecoam entre nós e fico fascinada. A música escolhida é Hallelujah.
radiante de mamãe. Penso em como daria tudo para ela estar comigo neste momento. Até mesmo essa
Choro baixinho e Fred percebe, me abraçando apertado enquanto eles ainda continuam
Não fizemos nossa viagem dos sonhos e ela não me viu formada, casada e com filhos, como
sempre desejou. Quantas coisas foram perdidas com o fim de sua vida.
Seco meus olhos e digo a Fred que está tudo bem, então continuo prestando atenção ao coral,
que finaliza a música e começa outra. Agora é a vez de cantarem Imagine, que me faz ficar mais
emocionada ainda.
— Eu não quero perdê-lo, Frederic — digo olhando-o com lágrimas nos olhos. — Eu também
estou apaixonada por você, e por mais complicado que isso possa parecer, não quero te perder, em
hipótese alguma. Já basta eu não conhecer o meu pai e ter perdido minha mãe. Perdê-lo seria como o
fim.
— Você não vai me perder, estarei ao seu lado até o instante em que desejar. Sei que é
estranho isso tudo e não entendo muito bem o que aconteceu entre nós, mas eu não pretendo ir a lugar
algum, Estére.
Me aproximo dele e sem me importar com as pessoas à nossa volta, o beijo, sentindo não só
— Se formos agora, não irei conseguir me controlar, Estér — diz, encostando sua testa na
minha.
Chego no chalé ansiosa e com duas unhas já ruídas. Meu coração acelera ainda mais quando
— Se não quiser fazer isso, tudo bem, podemos somente dormir juntos, o que acha?
Penso sobre a proposta e mordo o canto da boca. Dormir com ele parece bom, mas ter a ideia
— Por acaso você está pulando fora, Frederic Cooper? — pergunto, brincando. Quem sabe o
clima de descontração não ajude a meu coração parar de pular tanto no peito.
— Eu nunca pulo fora, Estére, ainda mais quando é uma mulher como você — responde.
Fico sem palavras e saio do carro, com ele fazendo o mesmo e seguindo para dentro do chalé.
Entro e retiro os saltos que me matam, então Frederic se aproxima de mim e me agarra.
Solto um gemido quando ele me pega no colo e encara meus olhos, o brilho dos seus me
fascinam. Me aproximo, sem qualquer ressentimento e começamos a nos beijar. Sinto sua língua
invadir minha boca e o aperto contra mim, levando minhas mãos até suas costas largas. Frederic me
guia pela escada e vai subindo devagar, parando no meio dela e beijando meu pescoço, descendo
para o meu decote. Solto outro gemido com isso e o aperto ainda mais forte contra mim, pensando no
Seguimos para o quarto e com ele ainda me segurando, abro a porta com dificuldade e avisto
o seu quarto, que é igual ao meu. Assim que passamos pela porta, Frederic me coloca no chão e
desabotoa sua camisa, revelando seu abdômen malhado, que me faz ficar com água na boca toda vez
que o vejo. Ele se movimenta para trás de mim e joga meus cabelos para a frente, beijando minhas
costas nuas. Então abre o zíper do vestido e as alças percorrem pelos meus braços, caindo devagar
pelos braços e escorregando para o chão. Fico somente de lingerie e ele vem para a minha frente, me
encarando.
Fico em silêncio ao ouvir isso e sinto meu rosto queimar, então abaixo a cabeça, sem graça.
— Sim — afirmo.
— Você e Collin nunca... nada? — questiona e balanço a cabeça em negativa. — Meu Deus,
Fico quieta, sabendo o que ele quer dizer. Por pouco, pouco mesmo, eu não perco minha
— Você tem certeza de que quer isso? Digo, quer mesmo fazer isso comigo?
— Sim, eu quero — respondo. Ele sorri e leva sua mão até a alça do meu sutiã.
— Porra, Estére, você está me deixando louco. Prometo que farei ser a melhor noite da sua
vida, certo? Se algo lhe incomodar, peço que me avise imediatamente, que então paro.
Concordo, estranhando. É estranho demais isso... principalmente por saber que estou prestes a
Vejo ele retirar meu sutiã e olhar meus seios, maravilhado com a imagem. Então Fred tira sua
Ficamos frente a frente e ele se aproxima, encostando seu corpo ao meu, fazendo-me sentir seu
pau já duro encostar no alto da minha barriga, o que faz meus pelos se arrepiarem e meu corpo enviar
um alerta para meu baixo-ventre, o umedecendo. Sinto-me excitada, louca para tê-lo enterrado em
mim, então, passo as mãos no seu peito e me delicio com a rigidez deles. Desço devagar e acaricio
sua barriga, levando meus dedos até o cós da box. Fred fica me encarando e, devagar, o puxo e vejo
seus pelos pubianos, levando minha mão até dentro de sua cueca. Minha pele se encontra com a do
seu pênis e me arrepio, então o sinto pulsar. Lambo os lábios e Frederic me puxa para mais perto,
beijando meu pescoço e mordiscando minha orelha, enquanto sua mão brinca com meu seio.
Levo minha mão mais para dentro da boxer preta e a puxo para baixo, finalmente vendo seu
pênis.
Como supus, é grande, grosso e com as veias saltadas, o que me preocupa e excita ao mesmo
tempo. Só de tê-lo em minha mão já sinto o quanto isso irá me satisfazer, mas sinto medo por ser
virgem.
— Seu toque é delicioso, Estér — diz, descendo com sua língua para meu seio. Ele o chupa e
tiro a mão do seu pau, soltando o gemido e o segurando contra mim naquela posição. Sinto sua língua
brincar com o bico do meu seio e solto outro gemido. — Viu, Estére, é isso que eu faço com a minha
Frederic desce devagar, fazendo-me ficar ansiosa. Ele passa a língua pela minha barriga e me
arrepio, sentindo medo dos meus instintos. Então Fred para em frente à minha boceta e se aproxima,
Fico nervosa e ele leva as duas mãos até o cós, a puxando devagar, como se fosse uma tortura.
Então fico nua em sua frente. Frederic encara minha boceta e lambe os lábios, se aproximando
boceta.
Solto um gemido alto ao sentir a sensação. É algo completamente novo para mim, e sinto que a
Frederic continua com sua língua brincando na minha boceta e depois de um bom tempo ele se
levanta e traz seus lábios até minha boca, a devorando. Sinto o sabor do meu sexo e arranho suas
Passo a língua pelo seu peitoral e sigo para sua barriga, sentindo os gominhos, então desço
Concordo e seguro seu pênis duro que está à minha frente. Levo minha língua em direção da
glande e passo devagar, maravilhada com a sensação que isso me causa. Frederic solta um gemido e
estiver fazendo errado? E se estiver machucando Frederic e ele não quer falar para não me magoar?
Paro de chupá-lo e passo a língua na base, sabendo que isso é uma coisa que não o
machucará. Eu e minha inexperiência maldita. Então, depois de um tempo brincando com seu pau,
— Não, mas não se preocupe com isso, sei que está nervosa e quero deixá-la o mais
Concordo e o sigo, ele me deita na cama, devagar, ficando sobre mim e passando a ponta dos
dedos no meu rosto. Fecho os olhos, aproveitando seus toques e ele os leva até meus lábios.
— Quando eu for te ensinar a me chupar, iremos treinar com meu dedo — diz, enfiando na
minha boca, fico sem reação e concordo com um leve menear de cabeça. —, mas agora quero saber
Concordo e sinto ele acariciar meu braço e seguir para barriga, então me ajeito na cama e
Frederic se mantém por cima de mim, enfiando seu pênis devagar na minha entrada. A sensação
inicial que sinto é de desconforto e um pouco de dor, mas não digo a ele, afinal, quero isso. Então ele
Frederic fica parado e sinto seu pau escorregar para dentro de mim, me preenchendo. Fico
sem reação, deliciada com isso, e ao mesmo tempo assustada por ser algo completamente novo.
— Posso? — Sei que ele quer permissão para se movimentar e concordo, passando minhas
pernas em volta de suas costas para que ele saiba que estou realmente pronta. A dor e desconforto
continuam presentes, mas logo são substituídas pelo desejo e tesão que ele me causa.
Frederic começa a movimentar seu quadril devagar, enfiando aos poucos e tirando. Continuo
abraçada a ele, não conseguindo acreditar que aquilo está acontecendo, então os seus movimentos
Como pude ficar sem isso por tanto tempo? Será que se eu tivesse perdido minha virgindade
com Collin seria tão bom quanto está sendo com Frederic?
Ele continua investindo em mim e me agarra, me colocando de pé, e enquanto seu pau entra e
sai de mim, envolvo-me em seus braços, cada vez mais deliciada com isso.
Deliciada em saber que acabo de perder minha virgindade com meu padrasto. Com o homem
que foi casado por tanto tempo com mamãe. E não me importo.
Deixo o desejo nos consumir e me entrego completamente a ele, que continua estocando em
mim, segurando meu corpo, arrancando gemidos de dor e prazer da minha boca, e então Frederic
solta um rugido, saindo de dentro de mim antes de gozar e me sujar por completo.
Frederic me pega no colo e devagar desce a escada, me levando para o banheiro. Ele me dá
banho e sorri a todo instante, assim que termino, ele também finaliza e voltamos para o seu quarto.
Noto uma mancha de sangue no lençol que não havia reparado antes e ele o retira, substituindo por
outro.
— Dorme comigo — pede, após buscar uma roupa para mim e nos trocarmos.
Penso sobre isso e concordo, sabendo que não adianta me crucificar mais, afinal, o “pior” já
havia acontecido.
E por pior que eu pareça ser, não me sinto mal com isso e sei que Frederic também não.
Nos deitamos e ele apaga a luz, me abraçando e puxando meu corpo para mais perto do seu. É
a primeira vez que durmo com um homem. Sim, nem mesmo isso eu havia feito com Collin. Tudo é
realmente novo e me sinto completamente excitada e confusa ao saber que estou fazendo isso com
Frederic.
Acordo na manhã seguinte e vejo Frederic ao meu lado ainda. Sorrio com isso e me levanto,
seguindo até o banheiro. Faço xixi e escovo os dentes, prendendo os cabelos. Assim que saio, dou de
— Bom dia, Fred — respondo depositando um selinho em sua boca, ele retribui e vai para o
banheiro. Coloco a água para preparar o café e ele sai, vindo até a mim.
— Você sabe que não precisa trabalhar tanto, não é? Mamãe te deixou um dinheiro
considerável, por que não usa para investir e arrumar outra pessoa para trabalhar?
— É por minha causa, não é? Você não quer utilizar o dinheiro porque está apaixonado pela
enteada.
— Mas por quê? Qual o problema em usar algo seu? Mamãe não se importaria, sei que ela
— Não com a filha dela! — grita, socando a porta do armário e fazendo eu me assustar. —
Me desculpe, não quis gritar com você, mas não é fácil digerir isso.
Fico em silêncio, sabendo que ele tem razão. Realmente não é fácil. E se as pessoas
souberem, irão nos criticar. Mas como mandar em algo que não conseguimos sequer controlar? É
impossível.
— Vou arrumar minhas coisas — digo, mudando de assunto e subindo para o meu quarto.
Fecho a porta e a tranco, sabendo que Frederic está certo. Pode passar o tempo que for,
Depois de um tempo, ouço uma batida na porta e guardo as últimas coisas na mala antes de
abrir.
— O que foi? — pergunto a Frederic que está parado com duas xícaras de café.
— Trouxe um café para você como um pedido de desculpas — diz, me entregando a xícara. A
pego e tomo um gole, agradecendo. — Por favor, me desculpe, não quis ser rude.
— Tudo bem, sei que é uma situação completamente confusa — digo. Ele fica parado e cruzo
— Sim, me escutando.
— Estou.
— Me desculpe, ok? Estou realmente apaixonado por você e é tudo muito confuso. Há
momentos que estamos juntos que não me importo com mais nada, a não ser com você, mas quero que
entenda que por nove anos seguidos você foi minha enteada, e agora é a mulher pela qual me
apaixonei. É confuso e sei que será difícil as pessoas digerirem. Será difícil nós digerirmos isso,
afinal, têm poucos meses que sua mãe morreu, então peço que tenha paciência, pois terei com você.
— Tudo bem, mas desculpo se tivermos panquecas para o café — digo a fim de descontrair.
Ele está certo, faz pouquíssimo tempo que mamãe morreu e já estamos apaixonados.
nossas coisas no carro. Já indo para casa, com Frederic dirigindo, uma súbita sensação de que as
coisas serão diferentes me cobre. E agora, o que iríamos fazer? Aqui, mesmo que não fosse tão longe
de onde moramos, é um lugar onde ninguém nos conhece, então podemos andar pelas ruas como um
Mas afinal, o que somos? Frederic assumiu estar apaixonado por mim, assim como eu
também, e acabamos transando. Mas o que isso significa na realidade? Ainda somos somente o
Saio dos meus pensamentos, decidida a não pensar nisso. Quero que as coisas aconteçam da
forma que devem ser, sem serem atropeladas. Mesmo assim, ainda não consigo dimensionar isso
tudo.
O principal fato é que eu estou completamente apaixonada por um homem proibido. Mesmo
mamãe estando morta e Frederic ser solteiro, sei que é um homem que eu nunca deveria olhar. Mas
como? Como simplesmente esquecer o homem que te tocou pela primeira vez?
*
Chegamos cedo e como não tínhamos muito o que fazer, Frederic decidiu passar no Beer’s, o
Passo pela porta com ele e ouço o sino tocar. Assim que entramos, encaro Georgie e sorrio,
mas o mesmo vacila ao ver que Collin e Laura estão sentados em uma das mesas.
— Não se deixe abalar por causa dessa babaca — diz, e meneio a cabeça.
— Ótimos — respondo, encarando Collin, que me olha. — Fomos à cidade vizinha e ficamos
Georgie concorda.
— Já sei o que querem, panquecas com mel e ovos com bacon, certo?
— Hoje vai ser diferente — digo. — Quero omelete com queijo e chocolate quente.
Georgie assente e se afasta, então seguimos para uma das mesas vazias.
baixa de mim.
— Ouvi você dizendo a Georgie que passou o Natal no chalé com Frederic — diz, nos
— Isso mesmo — afirmo, com um meneio de cabeça. — E você deve ter passado na cama da
— O quê? — questiono.
Mas não dá tempo de dizer mais nada. Vejo Frederic fechar o punho e acertar o rosto de
Collin, fazendo-o cair para trás. Solto um grito, pedindo ajuda, mas as pessoas não fazem nada,
apenas se afastam e dão mais espaço aos dois.
— Repita o que você disse, desgraçado! Repita! — grita Frederic, socando o rosto de Collin.
Meu ex-namorado não reage, apenas leva os golpes, então arrisco me colocar na frente de Frederic.
Encaro Frederic que não me dá ouvidos e olho Collin, vendo o rosto de Dréck. Me assusto e
ando para trás, tropeçando nos meus próprios pés, soltando um grito e batendo meu corpo.
Frederic para ao me ver caída e vejo seu punho ensanguentado. O sangue de Dréck... Collin,
cobre sua camisa e o chão. Todos nos olham, assustados e sem reação. Laura chora desesperada e
— Acho que sim — digo, vendo Collin tossir e levantar. Ele limpa o sangue do nariz e cospe,
nos encarando.
— Você vai pagar por ter feito isso — diz, puxando Laura e saindo.
Todos continuam nos olhando e encaro Georgie, pedindo desculpas, então saio às pressas e
— Foi um erro termos vindo embora — digo, quando estamos próximos de casa. —
— Vai ficar tudo bem, ele não voltará a te ofender — murmura, como se não tivesse ouvido o
que eu disse.
Frederic para o carro em frente à casa e saio, pegando as malas e seguindo em direção à
porta. A destranco e entro, jogando as coisas sobre o sofá. Ele vem logo atrás de mim e arranca sua
camisa, indo direto para o banheiro, não demora e Fred volta com as mãos limpas.
— Você está bem? — pergunto e ele assente. — Onde aprendeu a bater tanto assim?
— Um homem precisa saber se defender, Estér — responde. Concordo e ouço seu telefone
tocar. — Preciso atender, vai indo para o banheiro tomar um banho que te encontro em poucos
minutos.
Ele sai para o lado de fora e subo sem muitas opções, curiosa para saber quem liga tanto para
ele.
— Alô — digo.
sarcástico.
— Está sabendo que estou livre, não está? Sei que sim.
— Sim, soube disso, mas por que me ligou? — pergunto, já sabendo a resposta.
— Porque temos coisas a resolver, você não acha? Deixe-me adivinhar, você está naquela
— Na verdade, não, fui embora. Minha esposa morreu e deixei tudo para trás.
— Que estranho, mandei um rapaz na oficina e ele perguntou de você para o tal Jack e ele
confirmou que você estava viajando com sua enteada, Estére Muller — responde, me deixando
atônito.
— O que você realmente quer, Ferdinand? Se for dinheiro, posso conseguir. Me passe um
— Calma, Fred, vamos chegar nessa parte ainda, por enquanto, só quero que saiba que
detrás de mim.
— O quê?
— A ligação — digo. — Percebi que você vem tendo algumas, é algum problema? Se eu
Ele passa as mãos pelos meus ombros e beija, fazendo arrepios percorrerem minha pele.
Concordo, sabendo que ele não fará isso, e continuamos tomando banho.
Assim que terminamos, saímos e sigo para o meu quarto, com Frederic indo para o seu. Não
demora e ouço uma batida na minha porta. A abro e o vejo de calça moletom que sempre usa e
camiseta regata.
Penso sobre isso, no chalé havia sido fácil por conta de ele não ter ido lá com mamãe. Mas e
aqui? Aqui eles conviveram nove anos juntos, dormindo no final do corredor. Transando lá dentro.
— Tudo bem — digo, afastando meus pensamentos insanos. Nos ajeitamos na cama e ele me
em casa por conta de não termos outro lugar para passar. Mas foi ótimo, afinal, foi regado a comida
Da segunda vez que transamos, foi muito mais prazeroso e pude explorar ainda mais meu
Frederic havia voltado a trabalhar na oficina e eu ficava em casa estudando, já que Frida
O medo se tornou parte de mim, afinal, todos os dias era isso que eu sentia. Ainda mais
quando Frida me perguntava se durante a viagem ao chalé eu não havia encontrado um gatinho e
transado.
Queria muito dizer a ela que finalmente havia deixado de ser virgem, mas como contar a sua
melhor amiga, que conviveu com você e sua mãe, que você está transando com o viúvo que é seu
são melhores amigas? Amigas de verdade não escondem esse tipo de segredo”.
Afasto esses pensamentos e pego meu celular. Envio uma mensagem a ela, dizendo que
Rio com isso, às vezes eu sabia mesmo ser bem superficial. Até mesmo quando a pessoa está
longe de mim.
Então penso sobre isso. Deveria contar para Frida o que está acontecendo entre Frederic e
“Não é nada de mais, apenas que Collin levou uma surra de Frederic no Beer´s.”
Conto para ela o que houve semana passada, antes do Ano-Novo e ela se divertr, ficando feliz
com a notícia.
Pelo que soube, Collin havia fraturado o nariz e ido até a delegacia abrir queixa sobre
Frederic, o que torcíamos para ser mentira. Mas, com os pais que ele tem, não duvido que isso
realmente aconteça.
Chego na oficina cedo, o Ano-Novo ao lado de Estére havia sido tranquilo e Ferdinand não
voltou a me procurar, o que me deixa mais relaxado sobre isso.
Meu único problema neste momento é Collin, que levou a maior surra de mim, e pelos boatos,
havia ido à delegacia abrir uma queixa. Até agora policial nenhum havia me procurado, então talvez
Vejo Jack mexer em um carro novo e me animo um pouco, feliz em finalmente termos algum
cliente diferente.
— O quê? — pergunto, o encarando. Ele me olha, ainda na mesma posição e aponta para o
veículo.
— O dono deste caro, ele disse que vem buscar mais tarde, quero saber se vai precisar que eu
— Ferdinand — diz. Fico em choque e mordo o canto da boca até sangrar. Não pode ser, com
certeza é só uma coincidência, afinal, se Jack tivesse visto o Ferdinand, iria comentar sobre “a
Ele concorda e vou para meu escritório, ainda não querendo acreditar no que Jack me disse.
Mas, conhecendo Ferdinand tão bem, sei que isso é um joguinho seu.
Pensando nisso, pego a garrafa de uísque e encho meu copo, tomando a forte bebida afim de
O restante do dia foi de fúria e agonia. Ligo para Estére, dizendo que não poderei almoçar em
casa e ela diz que tudo bem, que me espera à noite, então dispenso Jack e aguardo Ferdinand chegar,
sabendo que em algum momento ele irá aparecer e acabar de uma vez com esse joguinho ridículo.
Ando de um lado para o outro e vejo o ponteiro do relógio andar mais devagar que o habitual.
Ou é apenas coisa da minha cabeça. Porém, quando vejo, já está começando a anoitecer e passa das
20h30.
Continuo esperando, vendo a mensagem de Estér dizendo que está preocupada com a minha
demora. Respondo que estou enrolado com um cliente e ela manda um emoji de coração, o que faz
— Apaixonado, irmão? — Ouço sua voz e vejo a silhueta parada no meio das sombras.
cópia perfeita de mim. Somos idênticos, completamente iguais, até mesmo a silhueta e os músculos
Ele sorri e vejo seus dentes retos e brancos, a barba alinhada, a roupa nova.
— Quando você é a putinha de dez homens por noite, aprende que para se manter vivo
necessita de força. — diz, cuspindo no chão. Fico parado, surpreso com o que diz. Não consigo
sequer imaginar tudo que ele tenha passado nesses últimos anos. — Mas não vim aqui para falar dos
últimos dez anos fodidos da minha vida. Que tal me contar como anda a sua? Sinto muito pela morte
— Como é? Vai me dizer que não sentiu minha falta nesses últimos anos?
Ele se aproxima e para bem na minha frente, encostando sua cabeça na minha e me segurando
com força.
— Ferdinand, eu...
Fico quieto, sabendo que não adiantaria eu dizer que sim, estou feliz em vê-lo, mas também
envergonhado.
— Aceita um drinque? — pergunto, me esquivando dele e indo atrás da garrafa de uísque. Ele
concorda e encho dois copos, entregando um a ele, que bebe em um único gole. Encho de novo e meu
— É bom poder tomar um uísque de verdade — diz, analisando seu copo. Concordo e me
— Agora você está livre, pode fazer o que quiser, viver onde quiser. Está precisando de
— De novo esse assunto de dinheiro, irmão? Eu já disse que iremos falar sobre isso depois,
mas por enquanto quero ficar aqui, nesta cidade. Conhecer as pessoas, entende? Quem sabe conhecer
Vejo-o levar sua mão até o meio de suas pernas e segurar seu pau por cima da roupa.
— Estére não é mulher para você, faça o que quiser comigo, mas se mantenha longe dela.
— É, você está comendo a garota mesmo. Isso é bem baixo até para você. Me diga, irmão,
quando sua esposa era viva, você já pensava nela como mulher?
— Cala a boca! — grito, batendo na mesa, ele levanta e me encara. Fico pensando em como
— Por quê? Revelar para as pessoas que você e Estére Muller estão tendo um caso é
complicado demais? Complicado igual falar sobre mim? Que me escondeu durante todos esses
anos?!
Fico quieto e ele acerta um tapa no meu rosto, fazendo minha pele arder na hora. Não recuo,
— Não é bem desse jeito que você pensa, Ferd — murmuro seu apelido e seu rosto torce. —
— Me deixar mofar na cadeia durante todos esses anos me pareceu uma escolha — responde.
Fico quieto, sabendo que não adianta tentar me defender. Ele já está com sua opinião formada
— Se veio buscar seu carro, ele já está pronto — digo, mudando de assunto.
— Não tenho carro, caso não tenha percebido, isso foi apenas para chegar até você. O veículo
é de um outro cara e dei cem euros para dizer que o nome dele é Ferdinand. Eu sabia que isso o
perturbaria.
— De uma mulher que conheci no presídio. Ela me visitava e quando soube que eu sairia, me
arrumou dinheiro. Estranho, não é, irmão? Uma desconhecida me visitar e você não.
Fico quieto ao ouvir isso, sabendo que é realmente perturbador. Como pude ser tão covarde?
— Você deveria sentir mesmo, passei um inferno naquele lugar que você não iria gostar de
saber, então sim, sinta muito, mas saiba que isso não vai mudar o fato de eu estar completamente
— Não, Frederic, não me peça perdão. Quero que se culpe, sinta a culpa tomar conta de você.
— Meus olhos ficam marejados e ele sorri, vitorioso. — Você é mesmo um fracote.
nós e acabei jantando sozinha. Assim que finalizo a comida, que ficou até que boa, subo para o meu
quarto e tomo um banho, lavando meus cabelos e os secando. Visto uma lingerie e meu pijama,
Estranho, sabendo que não estou esperando ninguém, e desço para abrir, dando de cara com
Frederic.
Ele não me responde, Frederic vem em minha direção e fecha a porta, me agarrando. Fico
surpresa e ele me pega no colo, passando a língua pela minha clavícula e descendo em direção aos
meus seios. Passo meus braços em volta do seu pescoço e entrelaço minhas pernas na sua cintura,
— Parece que alguém chegou animado — digo, rindo. Ele continua em silêncio, parado no
Ele me segue, sem proferir uma palavra sequer, então entramos e fecho a porta, deixando
Frederic beija meus lábios com voracidade e estranho, porém, não me importo, apenas
retribuo e sinto sua língua passear pela minha boca. Seu beijo está... diferente. O sabor misturado de
álcool, cigarro e hortelã me invadem e puxo sua língua, o agarrando com firmeza.
Tiro sua camisa e passo as mãos pelo seu abdômen, sentindo-os mais duros do que o normal,
mas não me importo, querendo apenas aproveitar este momento. Ele faz o mesmo comigo e me deixa
apenas de lingerie, então vou beijando-o e me abaixando. Abro sua calça e inalo o cheiro delicioso
Estou ficando maluca ou seu pênis está diferente, talvez um pouco menor e mais grosso?
Afasto esse pensamento louco e começo a masturbá-lo, sabendo que gosta disso. Ele solta um
gemido baixo. Um gemido diferente. E continuo fazendo os movimentos de vaivém, levando minha
língua até a ponta do seu pau e passando na glande lubrificada. Sinto o gosto de sabonete e o seu
sabor.
Um sabor diferente, mas delicioso. Continuo passando a língua em torno da cabeça do seu pau
e, devagar, para não o machucar, enfio dentro da boca, sentindo um pouco de dificuldade.
Faço algumas sucções e Fred continua gemendo de prazer, talvez feliz que eu esteja melhor
que na primeira vez e não o machuco.
Depois de um bom tempo chupando seu pau, passo a língua pelo comprimento, chupo suas
bolas e inalo ainda mais seu delicioso cheiro. Ele me levanta e me pega no colo, arrancando um
gritinho de mim.
Frederic me ergue cada vez mais, colocando minhas pernas nos seus ombros e segue em
— Você está selvagem — sussurro, tendo o silêncio como resposta. Será que aquela posição
Continuo com minhas pernas nos seus ombros, afastando meus pensamentos insanos e Frederic
afasta minha calcinha com o dente e invade minha boceta, que está praticamente no seu rosto, com
sua língua, fazendo-me gemer ainda mais alto. Ele faz círculos com a ponta da língua e a mergulha
— Fique parada — diz, finalmente. Noto que sua voz está mais rouca, grave, e não me
importo com isso, apenas me concentrando no delicioso sexo oral que estou recebendo.
Ainda chupando minha boceta e segurando meu corpo com uma de suas mãos, Frederic leva a
outra em direção à minha bunda e puxa o tecido da calcinha, ainda me chupando. Fico em sinal de
alerta, sem saber onde estou sentindo mais prazer. Em sua língua na minha boceta ou seu dedo, que
investindo seu dedo devagar no meu orifício anal. Continuo gemendo, me apoiando na parede e
pedindo a ele que não pare, então Fred para, como uma tortura, e me desce, encarando meus seios.
— São seus — digo, Frederic volta a me pegar no colo e me leva para a cama, me deitando e
subindo por cima. Sinto urgência em tê-lo em mim, então retiro meu sutiã e ele os chupa,
Ele não para, continua chupando meus seios e roça seu pênis na minha boceta, me deixando
Ele sorri e me arrepio com isso, vendo-o parar de roçar e brincar com meus seios e subir por
cima de mim. Sinto seu pau encaixar na minha boceta e ele se aprofundar na minha carne, fazendo eu
Frederic vai até o fim e para, relaxando nossos corpos, então começa a remexer seus quadris
em movimentos circulares, que me deixa ainda mais excitada. Abro ainda mais as pernas e ele
continua se remexendo, e, quando menos espero, começa com as estocadas lentas e tortuosas.
Solto outro gemido, arranhando suas costas e me deliciando com isso, então Frederic estoca
Fred sai de dentro da minha boceta e se levanta, puxando meu corpo para beirada da cama.
Vislumbro apenas a sua sombra e ele volta a se encaixar em mim, e vejo o quanto somos perfeitos um
para o outro. Seu pau se encaixa perfeitamente na minha boceta, assim como seu corpo.
Ele continua me fodendo e solto mais gemidos ainda, então, depois de um tempo, ele para, me
Sei o que ele quer, então vou me encaixando no seu colo e descendo devagar no seu pau.
Enquanto o beijo e me mantenho nessa posição, Frederic esfrega com o seu dedo meu clitóris,
o estimulando. Sinto uma sensação estranha tomar conta de mim, como se eu fosse eclodir a qualquer
momento e continuo descendo e subindo no seu pau, cada vez mais rápido, então com um grito alto,
Frederic goza e eu também, surpresa em saber que esse é meu primeiro orgasmo.
Assim que terminamos, ele me tira do seu colo devagar e me deito, sentindo o cansaço tomar
conta de mim. De repente, meus olhos pesam e o encaro, vendo Frederic formar um enorme sorriso.
Não consigo reagir, sentindo o sono tomar conta de mim e então durmo, sonhando com o
Acordo com uma sacudidela e vejo Frederic me encarar. Seu olhar é sério e percebo que usa
outras roupas.
— Onde é que você foi? — pergunto, erguendo meu corpo e bocejando.
— Claro, sente-se — digo, dando espaço. — O que você foi fazer na oficina tão tarde?
— Ah, Frederic, não se faça de besta. Você esteve em casa, inclusive abri a porta para você.
— Sim, porque esteve. O que está acontecendo? Que brincadeira mais sem graça é essa?
Vejo Frederic levantar e andar de um lado para o outro, a fúria tomando conta dele.
— Ele quem? Me diga o que está acontecendo! — vou em sua direção, mas ele se afasta.
— Eu deveria ter lhe contado antes, mas as coisas saíram do meu controle e não sabia como
Arregalo os olhos ainda mais surpresa com isso e ele me encara, como se me pedisse perdão.
— O quê? — murmuro, de repente, me lembro dos beijos, dos toques, do abdômen e até
— É isso mesmo, sei que escondi isso por muito tempo, mas tenho meus motivos, e agora
estou com medo do meu irmão vir atrás de você e fazer algo.
— Você está me dizendo que não veio para casa hoje e depois voltou para a oficina? —
pergunto.
— Foi meu irmão, tenho certeza. Ele fez alguma coisa com você? Te machucou?
— O quê? Não! — respondo, chorando. Vejo o alívio tomar conta dele e Frederic me encara,
sem entender.
— Então por que está chorando? Sei que escondi isso de você e de sua mãe, mas posso
explicar.
Não dou importância para o que ele diz, é como se sua voz sumisse da minha mente. Me
levanto e sigo até o banheiro, me encarando. Há marcas no meu pescoço e no meio do seio, então
— Frederic, eu...
Concordo com a cabeça e continuo chorando, não acreditando que isso esteja acontecendo.
Não bastasse estar nos braços do pecado, eu estive nos braços... Da luxúria. Sim, luxúria,
cidade. Formo um sorriso ao ver o que acabo de fazer — transei com a garota que meu irmão vem
comendo. A sensação de vitória me consome e logo me vejo parando em um bar, pedindo uma
— Do que você está falando? — pergunto, bebendo do copo. O sabor por qual fiquei tantos
anos sem, invade minha boca e causa ondas de arrepios pelo meu corpo.
Vejo o barman se afastar e reviro os olhos. Com certeza está me confundindo com o idiota do
meu irmão, que a esta hora, já está sabendo que comi sua mulher.
Bebo a cerveja e assim que termino, pego outra, tomando de uma vez e pagando. Saio do
— Apenas uma, amanhã é um novo dia e tenho certeza de que muitas emoções irão acontecer.
Sorrio e ele concorda, então sigo para o quarto e me deito, feliz por finalmente estar livre e
conta do que eu havia feito. Claro que eu não sabia sobre seu irmão gêmeo e não podia adivinhar que
estaria transando com ele. E ele sabia disso, deixando claro que poderíamos esquecer e seguirmos
em frente.
Ferdinand Cooper.
Ele me contou o nome do seu irmão quando afirmei que havíamos transado e não sabia que era
ele.
Não me culpo tanto por pensar que era Frederic e desejá-lo a todo instante, mas ao me
recordar dos toques, beijos e investidas de Ferdinand, meu corpo se arrepia por completo e me vejo
completamente perdida.
Já não bastasse eu gostar do meu padrasto, esconder isso da minha melhor amiga, que está
voltando do Brasil, agora estou pensando no sexo delicioso que tive com meu cunhado. E claro, o
pior, fui obrigada a ir à farmácia comprar a famosa pílula do dia seguinte para tomar, já que o
suposto “Frederic” gozou dentro de mim. Fez-me gozar. O pensamento me causa repulsa, contudo,
como não tem muito que fazer, tento esquecer isso pelo menos pelos próximos dias.
Levanto e saio do quarto em direção ao corredor. Sigo para a cozinha e encontro Fred
— Se você sabe, por que me tortura ao perguntar sobre isso? — questiono, nervosa.
Frederic coloca o jornal de lado e se aproxima de mim, fazendo meu corpo se arrepiar por
inteiro.
— Por que a mulher que eu estou apaixonado gostou de transar com meu irmão? — pergunta.
— Não a culpo por ter transado com ele e gostado, afinal, o filho da puta se passou por mim. Mas
agora estou começando a me incomodar com o fato de estar me afastando de você e porque toda noite
fica gemendo, e quando eu vejo, está dormindo, sonhando com o pau de Ferdinand te fodendo.
— Você está certo, se tivesse me dito antes que tem um irmão, eu não iria acabar transando
com ele — respondo, indo em direção à sala. Frederic me segura e me puxa contra ele, beijando
meus lábios.
Não recuo, pelo contrário; retribuo. No entanto, é tão diferente de Ferdinand que me sinto
Frederic me agarra e passa as mãos pelo meu corpo, apertando o bico dos meus seios. Solto
um gemido e ele morde meu lábio, descendo para meu pescoço e beijando minha clavícula.
— Tudo bem, Estére, sempre soubemos que essa relação seria um erro. Eu fui o seu padrasto
durante anos e acabamos nos apaixonando, seria bom se ficasse com meu irmão mesmo.
Vejo Frederic se afastar e sair, fechando a porta. Fico pensando nele e em seu irmão.
Nós não conseguimos descrever um sentimento até senti-lo, e neste momento o que sinto é
raiva.
Ainda estou tentando digerir tudo que aconteceu entre Estére e Ferdinand, mesmo que não
tenha sido culpa dela. Penso sobre como ela deve ter se sentido durante o ato; com certeza,
maravilhada.
Penso em Ferdinand, desde o dia que ele apareceu na oficina, não voltou a nos procurar, o que
chega a ser um alívio e tanto, mas tenho medo do que ele pode estar aprontando. E se ele estiver
Só de pensar em deixá-la sozinha em casa, sem ninguém para lhe fazer companhia, me deixa
de cabelos em pé.
Penso em Jolie e em como ela se sentiria ao saber toda a loucura que vem acontecendo. Com
certeza, nada feliz.
Pensar nela me causa um pouco de conforto e a sensação de traição está cada vez menor.
Mesmo sabendo que isso não muda o fato do que Estére e eu fizemos.
Será que de onde Jolie está neste momento ela pode me ver? Me ouvir? Se sim, que ela me
Recordo-me que a última vez que eu fui lá, antes do Ano-Novo, Frederic e Collin haviam
brigado, e só de pensar nisso, quero dizer a minha amiga que é melhor não, mas não consigo negar o
seu pedido e vou até o banheiro, penteando meus cabelos e fazendo uma trança embutida. Logo após
Como não está tão frio hoje, coloco uma jardineira e meu All Star, passo perfume e pego
Pego as chaves do meu carro e encaro a casa em que vivi com mamãe a minha vida toda. Se
ela soubesse que nos últimos tempos eu transei com dois homens diferentes/iguais aqui, o que ela
diria?
Com certeza me elogiaria, até descobrir que um deles era seu marido e o outro seu cunhado
Quando chego no Beer’s e vejo Frida sentada em uma das mesas mexendo no celular, esqueço
todos os meus problemas e corro em sua direção, a abraçando tão forte que seria capaz de quebrar
seus ossos.
Nos sentamos uma de frente para outra e ela sorri. Está usando um batom amarelo e uma roupa
— Me diga, pois estou muito ansiosa, quais são as novidades? Quero saber como foi sua
viagem ao chalé.
— Nada de mais, você que precisa me dizer como foi sua viagem ao Brasil, isso sim é
— Traga dois milk-shakes de chocolate e panquecas com mel e morango para nós, por favor.
— O rapaz concorda, se afasta e ela me olha. — Precisamos comer, a conversa vai ser longa.
Dou risada, feliz por esquecer um pouco do que ando passando e concordo.
— Então comece a falar.
Frida concorda e passa a próxima meia hora me contando como foi sua viagem com os pais e
que conheceu um brasileiro de tirar o fôlego. Rio quando ela me conta sobre as piadas e fico com
água na boca quando me conta sobre a comida. Depois de me dizer tudo que fez na sua viagem e
nossas panquecas com os milk-shakes serem servidos, ela me encara e aponta com o dedo magro.
— Agora é sua vez de falar, mocinha, e nem pense em me esconder alguma coisa.
Sinto meu rosto queimar ao ouvir isso. É como se ela soubesse que estou escondendo várias
coisas.
— Dréck continua desaparecido e não foram encontradas novas pistas sobre ele — digo. —
Tenho certeza de que o vi enquanto viajava com Frederic, mas Fred não encontrou nada.
— Torço para isso, apesar de não pensar mais tanto no assunto, desejo vê-lo atrás das grades,
— Mas sua viagem não foi regada só a isso. Vai, me diga, conheceu algum gatinho?
Quero sorrir, dizer que o “gatinho” que conheci mora comigo há mais de nove anos, mas
— Não estava a fim — minto. Quero dizer a verdade a ela, mas Frida entenderia? Nem eu
mesma consigo entender direito, como poderia fazer uma pessoa de fora compreender o que está
acontecendo?
Como dizer a sua melhor amiga que você está transando com seu ex-padrasto — se é que
existe isso — e transou com o irmão dele, que é uma cópia perfeita?
Como dizer a sua melhor amiga que gostou de transar com os dois e se pudesse repetiria?
Simplesmente não consigo ser sincera com Frida agora. Sei que estou errada diante disso, mas não
“E pensar que você achou que sua mãe estava no inferno. Quem vai para lá é Frederic,
Ferdinand e você!”
— A última vez que fizemos isso não deu muito certo. — Formo um sorriso triste e ela segura
minha mão.
— Não pense nisso, ok? Agora que voltei de viagem, você terá que me aguentar. Mas me diga
Conto rapidamente para ela o que realmente aconteceu, dizendo que Fred ficou nervoso por
Frida fica cada vez mais surpresa e coloca as mãos sobre a boca aberta quando termino de
falar.
— Eu daria tudo para ter visto a surra que ele levou — diz ela rindo. — Collin é um frouxo,
— Não esqueça meu soco que quase quebrou minha mão — a lembro, que ri ainda mais.
— Esse soco foi o melhor. Mas que tal agora irmos ao cinema para distrair um pouco a mente
Concordo, sabendo que não vai adiantar negar esse seu pedido, e depois que terminamos de
comer e pagamos a conta, seguimos para os nossos carros, combinando de nos encontrarmos no
cinema da cidade.
Frida se diverte com as cenas do casal e rio, sem graça, apenas para acompanhá-la, já que não presto
atenção direito.
Penso em Frederic e nos seus beijos deliciosos, no seu toque, em como ele foi gentil na nossa
primeira vez e na rosa que me deu, se declarando para mim. Depois penso em Ferdinand, que chegou
calado, me agarrando, beijando e depois me devorou por completo. Não posso dizer que um transa
melhor que o outro, mas afirmo que os dois fazem o trabalho direito.
Estére me envia uma mensagem dizendo que está no cinema com Frida e que vai demorar para
chegar em casa. Concordo, mandando um simples “ok” e Jack entra no meu escritório.
— Chefe — murmura.
— O que foi?
— Seu irmão está aí — diz, parecendo surpreso. — Ele é igual a você, eu nem sabia que você
tem um irmão.
— Você deve ser a terceira pessoa que sabe, peça para ele vir ao meu escritório, e como não
temos muita coisa para fazer, pode tirar o resto do dia de folga.
Jack concorda com um sorriso no rosto e sai. Não demora e vejo meu irmão entrar no meu
— Oi, irmãozinho — diz Ferdinand, me encarando sério. Ele usa uma jaqueta de couro preta,
com uma camiseta branca por baixo, calça jeans e botas grossas.
— Vejo que a sua mulher continua te mandando dinheiro — digo, encarando as roupas novas.
Ele sorri e passa os dedos pela barba, que está alinhada.
— Não vim aqui falar sobre isso — murmura. — Pelo contrário, vim falar sobre Estér, como
ela está? Ela contou para você como foi o nosso sexo?
Fecho o punho nervoso ao ouvir isso e vou em sua direção; seguro a gola da sua camiseta.
— Se veio aqui para falar sobre Estére, é melhor dar meia-volta e ir embora! — grito.
Ele apenas ri e o solto, volto para o meu lugar e respiro fundo para não perder a linha.
Mas vê-lo na minha frente e saber que ele transou com Estére me deixa nervoso. Fico
imaginando-a gemendo no seu pau e ele gozando nela, o que me enfurece. Será que haviam se
protegido?
Duvido, Estére e eu não nos protegemos, o que foi um erro enorme nosso, então com certeza
eles não teriam se protegido. Ainda mais que há vi indo à farmácia. Teria ido comprar pílula do dia
seguinte?
Que droga! Só de pensar isso, sinto minha mente entrar em combustão. O que esse filho da
Ferdinand me observa e segue em direção da saída. O sigo e ele para próximo à calçada, se
— O quê?
— Estére por acaso te contou como gemeu no meu pau e como ela gozou para mim? — Ele ri
e vai se afastando.
Tomo fôlego antes de correr até ele e pular nas suas costas, o jogando contra o chão.
Rapidamente Ferdinand se vira, tentando se esquivar e acerto um soco no seu rosto. Ele não recua,
como pensei que faria, e então soca meu estômago, me fazendo perder o ar.
— Já passou da hora de você aprender a ser homem — diz e desfere o soco. Sinto um apito no
— O único que precisa aprender a ser homem aqui é você. O que foi, Ferdinand, ser a garota
dos caras na cadeia te fez perder a força? — Dou risada e vejo seu punho se fechar de novo pronto
para vir na direção do meu nariz, mas meu irmão é impedido quando dois policiais o seguram e tiram
de cima de mim, o que me faz ficar surpreso. Eu nem havia notado a presença deles.
— O que está acontecendo aqui? Os dois estão presos por agressão — murmura o policial nos
encarando. Cuspo o sangue e ele nos enfia dentro da viatura, seguindo para delegacia.
— Alô — digo.
— Oi, estou com Frida, podemos conversar depois? — pergunto, observando minha amiga
— Juro que explico depois, mas agora preciso que venha para cá.
— Meu Deus, será que foi por causa do Collin? — pergunta, estupefata.
— Eu não sei, mas qualquer novidade eu te digo — minto, me despedindo dela com um beijo
Sigo pela estrada, sentindo o nervosismo tomar conta de mim e não demora muito estaciono
Saio do carro mais nervosa do que quando entrei e sigo a passos largos para o interior do
local, sentindo-me aflita ao me recordar do momento em que estive aqui para relatar o que aconteceu
com Dréck.
— Sim?
— Poderia me ajudar? Eu estou procurando dois irmãos, gêmeos, que foram detidos, os
— Sei quais são, eu mesmo os trouxe para cá, pareciam dois animais selvagens se batendo no
meio da rua.
Ouço isso e fico atônita. Os dois se batendo? Bem típico de Frederic.
— Neste momento eles estão detidos em salas separadas, ambos estavam muito agitados e
uma na outra.
— Falarei com o delegado e já venho lhe informar, peço que aguarde na recepção.
Enquanto o policial não volta, fico pensando no motivo de Frederic e Ferdinand terem se
batido. O que realmente aconteceu para chegarem a esse ponto? Por que Ferdinand odeia tanto o
irmão?
Frederic teria que me contar, se ele quiser sair daqui hoje, terá que começar a ser sincero
comigo.
O policial me chama depois de um tempo e me guia para uma saleta estilo a que eu estive
quando fui abrir a queixa sobre Dréck. A lembrança me deixa aflita, porém, não estou aqui hoje para
isso, então entro e dou de cara com Frederic sentado e os braços algemados.
machucados. Seus olhos estão inchados, o lábio cortado e a camiseta suja de sangue. Sinto-me
— E onde seu irmão está? — pergunto, ele me encara e morde o canto da boca. — Não é hora
— Ok, verei o que pode ser feito para tirá-los daqui, mas antes precisamos conversar.
— Você que precisa me dizer — respondo. — Sei que Ferdinand e você têm suas diferenças,
mas para chegarem a esse ponto? Para ele se passar por você e fazer o que fez...
Deixo as palavras se perderem no ar e ele mantém seus olhos fixos nos meus.
— Já sei que você gostou, Estére, não precisa entrar nesse assunto mais uma vez.
— Não me culpe por isso, eu pensei que era você, como poderia adivinhar se são idênticos?
Mas não é esse o assunto. O que quero saber é o motivo de toda essa briga, o que um fez para o outro
Frederic fica em silêncio e desvia seu olhar do meu, olhando para o chão.
— Para falar a verdade, é mais um desentendimento do que qualquer outra coisa — responde.
— Desentendimento? — questiono.
— Sim, na verdade, nem eu mesmo sei explicar como as coisas chegaram a esse ponto —
responde, bufando. — Você não precisa fazer parte disso, Estére, é algo que eu posso muito bem
— Percebi — digo, apontando para os machucados. — Quero estar ao seu lado, Frederic, mas
antes disso preciso saber o que vem acontecendo entre você e Ferdinand. Por que ele te odeia tanto?
verdade.
— Tudo bem, você quer saber o que aconteceu entre meu irmão e eu? Então vou te contar.
— Estou esperando — digo.
— Herdamos do nosso pai uma pequena oficina, estilo a que eu tenho hoje, e lá cuidávamos
dos carros de todos da cidade. Os concorrentes sentiam inveja de como meu irmão e eu
trabalhávamos em harmonia, mas, na época, precisávamos de uma grana extra porque nossa mãe
estava muito doente. — Ele para de falar, como se estivesse vagando aos acontecimentos. — Fomos
contatados por um homem bastante gentil, ele disse que soube sobre a situação da nossa mãe e que
— Qual favor?
— Espere, chegaremos lá — diz. — Conversei com Ferdinand e o convenci de que seria bom,
que o dinheiro poderia ajudar nossa mãe e sobraria um pouco para as contas, que estavam
acumuladas. Sem escolhas, meu irmão concordou, e foi quando fomos falar com o rapaz.
“Ele disse que o trabalho era simples, era só deixarmos um carro dele guardado na nossa
oficina que no tempo certo ele pediria para levarmos em um local próximo. Concordamos, afinal, o
que era deixar um carro na sua oficina se havia espaço para isso?
“O carro ficou lá durante um mês, depois disso começamos a achar que poderia ser algum
problema e o homem apareceu com o dinheiro e disse que em breve iríamos levá-lo e pegaríamos
mais uma grana. Na situação, aceitamos, então, após alguns dias, fomos contatados para levarmos o
“Não vimos problemas nisso, então nos despedimos de mamãe e fomos. O grande problema é
que, ao chegarmos lá, percebemos que fomos apenas fantoches e que o homem que nos pagou era um
traficante.
“Saí do carro, esperei, e então vi um movimento estranho de policiais, na hora que os vi disse
para Ferdinand sair do carro e correr, contudo, ele não foi tão bom como eu e acabou sendo pego. Eu
vi de longe, escondido, eles perguntarem a ele quem os havia mandado e descobri um tempo depois
“Contratei um advogado para meu irmão, mas não tínhamos provas de sua inocência, afinal,
“Por medo, eu nunca fui visitá-lo, questionando-me se a polícia me prenderia também. Então,
depois disso, mamãe morreu e eu me mudei para cá, fechei a oficina e reconstruí minha vida nesta
cidade pacata.
“Foi aí que conheci sua mãe, na época ela já tinha uma carreira sólida e escondi o fato de ter
um irmão preso por medo dela achar que eu poderia tentar roubá-la ou algo parecido.
“Desde então, nos últimos dez anos, eu nunca fui visitar o meu irmão na cadeia. Apesar de
sermos inocentes, ele pagou por um crime que não cometeu, e eu, sendo um grande covarde naquela
Frederic fica em silêncio após me contar o que houve e levo minha mão até a sua, apertando-a
com cautela.
— Sinto muito que você e seu irmão tenham passado por isso, mas sabemos que você não teve
culpa.
— Sei disso, Estére, ambos fomos enganados, mas eu o deixei mofar na cadeia durante todos
esses anos. Contratei um advogado que não serviu de nada, mas o pior não é isso, e sim o fato de
Concordo com um movimento de cabeça, esse fato é algo que nunca daria para mudar, e até
— Se tivesse dito a mamãe, ela teria ajudado ele, era muito influente.
— Hoje penso dessa maneira, mas antes não. Sei que não será fácil meu irmão me perdoar por
conta disso. Durante anos, enquanto eu estava sendo feliz, ele esteve preso, sozinho, sem o apoio de
Fico quieta, sabendo que isso é algo que apenas Frederic pode mudar.
— Vou conversar com os policiais sobre a fiança de vocês, mas antes disso, quero vê-lo.
— O que ele poderia fazer comigo na frente de um policial? — pergunto, olhando pela
levanto, indo em direção à saída. O mesmo policial me direciona para a outra sala e assim que entro
— Estére Muller — diz, lambendo os lábios. — Veja só, que prazer em finalmente conhecê-
Fico quieta e noto que seu rosto também está machucado, e me guio em direção à cadeira
devagar.
— Pareço bem? — questiona. — Acabo de sair da cadeia por bom comportamento e meu
— Ele te contou, não é? Não parece surpresa. Vai, me diga, quais foram as mentiras de
— Quero ajudar você, Ferdinand, irei pagar a fiança e iremos sair daqui.
— Você acha que no meu caso vai ser tão simples assim, pagar fiança e sair?
— Acredito que sim, mas vão cobrar mais do que o normal — respondo. Ele sorri e vejo os
dentes brancos e retos, percebendo que ao menos isso a cadeia não marcou.
— Ah, e a gatinha órfã tem dinheiro para pagar. — Ele se aproxima e me encara dentro dos
olhos. — O que sua mãe diria se soubesse que você vai gastar o dinheiro dela com o irmão
— Não dificulte as coisas, Ferdinand — digo. — E aqui também não é lugar para discutirmos
sobre isso. Vim apenas informá-lo que irei pagar a fiança de vocês e vamos para minha casa, temos
Ele estreita as sobrancelhas e vejo o quanto se parece com Frederic. Se eu não soubesse quem
“Você achou isso, não achou? Quando estava transando com ele, você sequer deu
— Temos, é? — questiona. — Por acaso você quer me conhecer mais do que já conheceu?
Reviro os olhos ao ouvir isso. Não posso negar que realmente é ridículo saber que o homem
que está na minha frente já transou comigo, e eu não sei absolutamente nada sobre ele.
meus olhos.
Pago uma pequena fortuna para ter os dois livres e assim que somos liberados, entro no meu
carro com os dois atrás, em silêncio. Mando mensagem para Frida dizendo que está tudo resolvido e
que Frederic não foi preso por causa do Collin e sim por brigar com o irmão gêmeo.
Mesmo ocultando algumas partes, decido que o melhor é ser sincera com minha amiga, até
porque, com a cidade pequena em que moramos, não demoraria muito para todos os moradores
“É tão gostoso quanto Frederic? Você pode ficar com ele sem consciência pesada agora.”
— Sua amiga tem razão, Estére, você pode ficar comigo sem as pessoas criticarem tanto —
— Fiquem os dois quietos até chegarmos em casa, ok? — peço, seguindo pela estrada.
— Você não nos deu muitas escolhas, Estér — sussurra Ferdinand ao meu ouvido. Ignoro o
arrepio que percorre meu corpo e mantenho meus olhos na estrada, rezando a Deus que isso tudo não
passe de um sonho.
Felizmente ou infelizmente, não é um sonho. Ainda não consigo decidir se ter Frederic e
Ferdinand entrando em minha casa, com os rostos machucados e as roupas sujas, é a melhor coisa do
— Ferdinand, você toma banho aqui embaixo e Frederic no quarto dele — digo, apontando
— Não tenho roupas, não quer que eu fique pelado, quer? — questiona Ferdinand me
provocando.
— Acho que ter um irmão gêmeo com o porte praticamente igual ao seu deve ajudar —
respondo.
— Suba e pegue as roupas, não vou trazer para você — diz, parecendo um adolescente
birrento. Quero rir disso, mas ao mesmo tempo, bater nos dois.
E então me lembro das palavras de Frida, dizendo que eu poderia namorar com ele, que as
Penso em relação a isso, será que Frida desconfia de alguma coisa e joga essas indiretas para
Não, claro que não. Jamais minha amiga ficaria calada com um segredo desse.
Não que ela seja fofoqueira e sairia contando por aí, mas com certeza ela já teria chegado em
Saio dos meus pensamentos, quando vejo Ferdinand descer a escada tranquilamente com uma
Ele passa por mim e me encara, o que me faz meu corpo estremecer. Contudo não sei se isso é
bom ou ruim.
Ando de um lado para o outro na cozinha, esperando os dois saírem dos seus banhos. Preparo
Coloco três xícaras sobre a mesa de centro da sala e a maleta com açúcar e adoçante.
Roo a unha, esperando, e quando vejo, Frederic desce e Ferdinand sai do banheiro. Ambos
estão com os cabelos molhados e os machucados um pouco melhores, já que o sangue saiu da pele.
Olho os dois e noto como são iguais; as roupas de Fred ficaram ótimas no irmão.
— Perdeu o ar, gatinha? — pergunta Ferdinand se aproximando, vejo Frederic fechar o punho
e me afasto do outro.
— Deixe suas piadas para outra hora, Ferdinand, não é o momento para isso.
Ele dá de ombros e concorda, se sentando. Frederic senta na poltrona e nego com a cabeça,
— O quê?
— Sim, quando éramos mais novos e brigávamos para ver quem ficaria com a bola —
responde Frederic.
— Só quero poder conversar com os dois como pessoas civilizadas — digo, servindo-nos.
—Chá? Por acaso você acha que somos o quê? O chapeleiro maluco, Alice? — questiona
— Devo concordar com ele, isso não vai aliviar a tensão entre nós e nem melhorar minhas
dores — argumenta Fred, se levantando e indo até o bar. O vejo encher dois copos de uísque e fico
incrédula.
— Tudo bem, sem chá, me traga um também — digo, apontando para a bebida cor âmbar.
Frederic ergue a sobrancelha e concorda, vindo nos entregar os copos. Logo em seguida ele
volta e enche um para ele, voltando ao seu lugar e se sentando ao lado do irmão.
Os dois levam seus copos até seus lábios e mordo o canto da boca, reprimindo minhas pernas.
De repente a lembrança deles chupando meu sexo invade minha mente e tento afastar esse
— Cala a boca! — grito, o encarando, vejo ele estreitar as sobrancelhas e Fred rir. — Desde
o momento em que nos vimos, você não para de fazer piada, só porque você teve coragem de vir aqui
e se passar pelo seu irmão. Agora já chega, estamos aqui para vocês tentarem se resolver. Não
sorriso largo.
— Somos duas crianças que te comeram com gosto, você não acha?
— Seria somente um se o outro não fosse tão covarde e se passasse pelo irmão para conseguir
— Posso ser covarde em ter me passado por Frederic, mas que fizemos um delicioso sexo
— Sério, para mim já chega, se vocês vão ficar aqui falando sobre isso na minha frente como
se eu não existisse... Foi por esse motivo que saímos no tapa, Estére. Não gosto de saber que você
— Sei que é difícil compreender isso, mas sabemos que o único culpado aqui é Ferdinand —
digo, apontando para ele. Ele coloca os braços para o alto, segurando o copo e sorri.
— Sim, eu me acho — responde. — Mas seja clara, por que estamos aqui? Qual o objetivo
disso tudo?
— Primeiro que você precisa deixar esse humor ácido de lado — começo. — E depois, vocês
dois precisam conversar. Resolverem o que ambos têm em aberto. É isso — digo, convicta das
minhas palavras.
— Vocês sabem por acaso o inferno que eu passei na prisão para me dizerem que
— Não, não consigo imaginar a dor que é ficar anos preso sem poder ir ao menos ao mercado.
Não consigo pensar o quanto é ruim você ter que dividir seu espaço com outras pessoas, mas você
precisa entender que Frederic não teve culpa. Vocês foram enganados. O erro dele foi apenas não ir
visitá-lo, quando na verdade deveria ter feito isso. Mas ele não teve culpa, acredite.
— No dia que você for estuprada todos os dias e noites durante dez anos, conversaremos —
responde, me observando.
Fico surpresa com suas palavras e meu coração acelera. Estuprado? Ferdinand havia sido
estuprado por dez anos? E pensar que eu quase fui abusada por Dréck, que ainda está solto por aí,
— Sinto muito por tudo que você tenha passado, Ferdinand. Confesso e reconheço que fui um
covarde em não o visitar, mas fiz o que pude. Contratei um advogado para tirá-lo da cadeia, mas sem
provas do verdadeiro culpado e você sendo pego no local do crime, foi impossível. Queria ter lhe
visitado sim, mas na época nossa mãe já começava a ficar doente e eu precisava mentir para ela,
dizendo que você estava trabalhando fora para ajudar nas coisas.
“Trabalhei o dobro para pagar o advogado e suprir tudo que ela necessitava, e, quando mamãe
morreu, não consegui me manter na cidade e foi aqui que consegui encontrar pessoas que me amam
de verdade. Jolie era magnifica, sinto muito que ela tenha morrido tão cedo, mas encontrei conforto
com Estére e realmente fico feliz que você esteja livre. Quero que possamos nos entender e
seguirmos em frente. Sei que perdeu anos da sua vida, mas agora estou aqui para me desculpar e
Fico emocionada com as palavras de Frederic e encaro Ferdinand, que continua em silêncio.
— Se não se importarem, acho melhor eu ir embora — diz, colocando o copo sobre a mesa.
— Você vai para onde? Deixe-me ao menos fazer um curativo nesses machucados.
— Tudo bem, acho que não custa ter suas mãos acariciando a minha pele.
— Vamos cuidar dos seus machucados também — digo, estendendo a mão para ele.
Não demora muito e assim que termino, Ferdinand volta a ficar de pé.
— Obrigado.
— Você pode ficar, se quiser, não precisa pagar um hotel — digo. — Temos quartos vagos.
— Eu cozinho, não confio na comida de vocês — responde o outro seguindo para a cozinha e
das coisas como se estivesse familiarizado com o local. Me sento, apenas o olhando e Frederic sent
bcca ao meu lado, contemplando o irmão abrir a geladeira e pegar o que quer que fosse fazer.
— Apenas um bife com purê, nada de mais — diz, dando de ombros. O vejo acender o fogo e
colocar as batatas descascadas na panela com água, que começa a ferver rapidamente. — Se vocês
dois vão ficar aí me olhando, aproveite e me conte mais sobre você, Estére.
Ele me encara e me sinto um pouco desconfortável, então noto o olhar de Fred para mim.
— Não é possível, uma jovem como você com certeza tem muitas coisas para nos contar.
— Bem, não é isso, só não tenho muito o que contar e não quero reviver o inferno que passei
nos últimos anos. — Seu olhar recai sobre Frederic e concordo.
Falar de mamãe nunca foi algo difícil para mim, pelo contrário, ela era uma mulher tão
simples e fantástica, que era fácil falar sobre suas qualidades e ensinamentos que me deu. Mas, nos
últimos tempos, depois do Natal, para ser mais exata, eu estou evitando pensar nela.
Não que eu queira esquecê-la, mas sim para não me sentir tão culpada pelo que estou fazendo.
— Mamãe era uma mulher fantástica — digo, ao visualizar o sorriso dela em minha mente. —
Adorava comer panquecas e lasanha, quando precisava me dar bronca sempre me chamava de canto
— Me diz, pois estou curioso. Se sua mãe estivesse viva, você renunciaria ao meu irmão?
Ouço sua pergunta, tentando compreender o que ele quer dizer e fico em silêncio por um
tempo. Eu o renunciaria? Desistiria de ter Frederic ao meu lado para ter mamãe?
— Então está assumindo que ama meu irmão — diz Ferd, voltando para as panelas e vendo as
batatas.
— O quê? Não! Quero dizer, não que não o ame, mas é difícil pensar em uma resposta assim,
— Quando isso começou a acontecer entre vocês? Por que não me responde essa, Frederic?
— Não sei com certeza quando aconteceu, mas quando vi já estava apaixonado por Estére.
Sorrio ao ouvir isso. Pode parecer errado, mas adoro quando ele diz que está apaixonado por
mim.
— Estranho, não é? Vocês eram padrasto e enteada e agora são o quê, amantes?
— Não sei ao certo o que somos — respondo, ficando cabisbaixa. A palavra “amante” me
incomoda.
— Então, voltando ao que já havíamos conversado, Estér, você não é minha cunhada, como
presumi.
— Sim, ela é — afirma Frederic me encarando. — Namora comigo? — pede.
Fico surpresa com o pedido inesperado e tusso, me espantando com isso. Ele me encara e
— Isso que eu disse — ele diz. — Namora comigo e assim Ferdinand será seu cunhado
— Então é isso? Você está me pedindo em namoro apenas para seu irmão parar de dar em
cima de mim?
— Não foi isso que eu quis dizer, Estér, sabe que realmente gosto de você e já que moramos
— Você é viúvo de mamãe — digo. — Como vou sair por aí e dizer que estou namorando o
cara que chamei os últimos nove anos de padrasto? As pessoas irão nos crucificar.
— Então namora comigo — diz Ferdinand. — Veja bem, as pessoas vão estranhar o fato de
você namorar o gêmeo do seu padrasto, e claro, vão achar mais estranho ainda ele ter um irmão
gêmeo, já que me escondeu por anos, mas ao menos não será tão ruim quanto namorar com o
padrasto.
— Vocês estão mesmo me pedindo em namoro, é sério isso? — pergunto, incrédula. Ferd
concorda e tira as batatas da água, amassando-as e separando, enquanto em uma panela derrete a
manteiga.
— É sério — diz Fred. — Digo, da minha parte, não dê ouvidos ao meu irmão, ele está
— Provocá-lo por que, se Estére e eu transamos, assim como vocês? — questiona o outro.
— Já chega, esse assunto de novo não. Sabemos que isso foi um grande erro, então não vamos
ficar relembrando, ok? Não vou namorar com nenhum dos dois, isso é loucura!
— Então namore com os dois, Estér — oferece Ferdinand. — Não me importaria de dividi-la
— Não comecem! Ao menos esta noite, por mim, não briguem. Vamos ter um jantar normal e
Os dois se encaram, me olham e concordam, ficando em silêncio, enquanto eu, por dentro,
*
Arrumo a mesa da sala de jantar em silêncio. Coloco os pratos, os talheres e nossas taças,
com Frederic afirmando que vai abrir uma garrafa de vinho para acompanhar. O cheiro do bife com o
tomate e cebola e do purê invadem minhas narinas e meu estômago protesta. Então vejo Ferdinand
Me sento na cabeceira da mesa, enquanto cada um se senta ao meu lado. Começamos a nos
— Está delicioso — digo, comendo ainda mais. Ferdinand agradece e eles comem em
— Você faz faculdade, Estér? — pergunta, bebendo um pouco do vinho. Faço o mesmo e
assinto.
— E não é muito de fotografar, pelo que percebi. Há poucas fotos pela casa — diz.
— Me fale sobre o que aconteceu com você — pede. — Quero dizer, quando eu disse que fui
— Sim — digo. — Quase fui abusada por um rapaz que conheci em uma balada, seu nome é
Dréck. Quem me socorreu foi Frederic. — Me viro para ele e sorrio, relembrando o momento
angustiante que passei.
— Que bom que você tinha meu irmão ao seu lado para ajudá-la — diz, levando o purê e
Concordo, comendo e um súbito pensamento sobre o que houve entre nós dois me toma a
mente novamente.
“Droga, Estére, não houve nada entre vocês e sim entre Frederic e você! Ele se passou pelo
Penso em mamãe e sobre o que ela faria. E se ela conhecesse Ferdinand? Ela também ficaria
Como negar a mim mesma o desejo sombrio que me consome? Como entender que pensar em
tê-los é loucura?
Por que Ferdinand teve que aparecer justamente agora e ainda por cima fazer sexo comigo?
— A comida estava deliciosa — digo colocando o garfo sobre o prato —, mas agora preciso
descansar.
Ferdinand me observa.
— Então vamos todos nos deitar — diz ele assim que termina, se levanta e pega a louça. O
ajudo e levamos até a cozinha. — Deixem que amanhã cuido dessa bagunça. Já que a gatinha está
Reviro os olhos com isso e ignoro, indo em direção à sala e subindo a escada, os dois vêm
— Tem cobertas e lençóis limpos — digo, abrindo a porta e avistando um local simples. Ferd
— Tudo bem, obrigado, isso aqui é um palácio comparado ao local que vivi nos últimos anos
— Dorme comigo esta noite? — peço, erguendo minha mão para ele, que concorda e a pega.
Seguimos para o meu quarto, e assim que entramos, fecho a porta, trocando a roupa que estou
por um pijama. Frederic tira sua roupa, ficando apenas com a boxer branca e nos deitamos, com ele
me abraçando. Me aconchego nos seus braços e ele beija minha cabeça, entrelaçando sua mão na
minha.
— Parece que demos um pequeno passo com seu irmão — sussurro, com ele assentindo.
Frederic concorda e me viro, o encarando. Passo as pontas dos meus dedos pelo seu peitoral
e ele me encara.
— Sei que já conversamos sobre isso, mas por favor, seja sincera comigo — começa.
— O que foi?
— Sim, eu gostei, mas não pense sobre isso, como já disse, pensei que era você, Fred. Pare
— Sabe que não é tão fácil quanto parece, não sabe? Quero dizer, não poderia esconder para
sempre que estou namorado e não seria fácil dizer que meu namorado era meu padrasto.
beijando meus lábios. Retribuo, sentindo sua língua e o aperto contra mim.
— Não seria fácil do mesmo jeito, Fred.
— Não sei, quem sabe não aceite a proposta do seu irmão e eu fique com os dois? — digo,
rindo, mas percebo que isso não é tão brincadeira quanto parece ser.
Frederic me encara e suspira, fica em silêncio, então percebo que minha brincadeira o
— Ferdinand e eu conversamos e vimos que a maneira mais fácil de lidarmos com o que está
acontecendo entre nós, é colocarmos tudo à prova e vermos no que vai dar.
Fico sem entender e noto que ambos estão apenas de cuecas boxer. Seus peitorais desnudos
são parecidos, e olhando lado a lado, consigo notar a diferença. Ambos são bem malhados, mas
Ferdinand consegue ser um pouco mais por conta dos longos anos na prisão.
— E o que estão planejando? — questiono, percorrendo meus olhos pelos braços deles e
descendo abruptamente para os volumes insistentes que estão no meio de suas pernas.
— Vamos provar de você agora, juntos — responde Ferdinand. — Não diga que não quer,
pois sabemos que você deseja isso. Pode parecer um desejo sombrio, Estére, mas além disso, é
delicioso.
Fico atônita ao ouvir isso e apenas assinto, sabendo que não adianta negar o que está
— Nada de mais, quero apenas que você nos obedeça. Pode fazer isso?
Os sorrisos à minha frente se alargam ainda mais e fico nervosa, sentindo o suor brotar na
— Por quê? — questiono, me ajoelhando. Será que posso questionar o que está acontecendo
— Porque quero que você explore o seu corpo — responde. — Você precisa se conhecer para
deixo meus seios à mostra. Percorro meus dedos por eles e sinto um arrepio invadir a boca do meu
estômago.
Os dois ficam parados, apenas contemplando a imagem à sua frente. Então, com uma das
mãos, mexo nos meus seios e com a outra desço devagar, colocando por debaixo da minha calcinha.
Meu indicador acaricia meu clitóris e solto um gemido baixo, arfando. Os dois sorriem com
isso, começando a pegar em seus membros que estão duros sob a cueca.
Esqueço isso e insiro outro dedo, soltando um gemido mais alto ainda. Frederic e Ferdinand
Não são cem por cento diferentes, mas há sim uma pequena diferença. A mesma que eu senti
— Você quer, Estére? — pergunta Ferdinand segurando seu pênis. O vejo se masturbar e
continuo me tocando.
Encaro Frederic e vejo o fogaréu nos seus olhos, então os dois vêm na minha direção e
*
Estou assustada, pensando no sonho que acabei de ter, então me levanto e vejo que ainda está
de madrugada e que Frederic dorme. Suspiro e sinto sede. Abro a porta devagar e desço na ponta dos
pés para a cozinha. Ando pelo corredor, meio sonolenta, e esbarro em um corpo forte e quente. Solto
um gritinho e vejo que é Ferdinand. O encaro e noto que seu peitoral está de fora e sem querer,
— Desculpe — digo, me afastando. Ele sorri e lambe os lábios, e vejo que está apenas de
cueca.
— Sem sono, gatinha? — pergunta, me analisando. Sinto-me exposta diante dele e tento não
— Tive um pesadelo e acordei com sede, só isso — digo, seguindo para a cozinha sem olhá-
lo. Ferdinand vem atrás de mim e abro a geladeira, pegando leite. Coloco no copo e viro de uma vez,
Não respondo, se eu disser a ele que o pesadelo na verdade foi um sonho erótico, com certeza
Não que eu não fosse, levando em consideração tudo que fiz nos últimos tempos, mas pensar
— Então acho melhor guardarmos para nós mesmos o que sonhamos — digo. Ele me encara e
suspira.
— Sonhei que estava na prisão — comenta. — No sonho, eu era abusado pelos caras
novamente. Não pense que sou um cara fodido e mal resolvido, é que simplesmente não é fácil
— Você não sente desconforto em dizer para a pessoa que conheceu esses dias sobre ter sido
— Por que eu deveria sentir vergonha pelo pecado dos outros? Não me orgulho disso, mas é
algo mais comum na prisão do que você imagina. Imagine-se no meio de vários homens e você é a
mais vulnerável. O que eles fazem? Te usam como escape da porra dos seus problemas. Quem é que
não gosta de transar um pouco para distrair a mente? Contudo, com poucas opções e ninguém
Ele nunca foi gentil por acaso, apenas me viu como um alvo fácil, sabendo que eu seria idiota
— Eu supero — diz, piscando. — Agora me diga, você irá aceitar o pedido de namoro do
meu irmão?
— Acho que pode ser loucura, quero dizer, ele era casado com minha mãe. Não quero ter que
me esconder para sempre das pessoas, como irei dizer a elas que estou namorando meu antigo
padrasto?
— Por enquanto.
— Isso quer dizer que se eu quiser beijá-la agora não haverá problema? — questiona, me
deixando arrepiada. Ainda bem que ele não percebe. — Por que não aceita o que eu disse e namora
com os dois? Veja bem, você pode sair na rua comigo de mãos dadas, chegar e ter meu irmão te
esperando.
— E por que não? Não vejo problema nisso. — Percebo que ele está falando sério e me
— Bem, eu não serei essa garota — digo determinada. — Se você quiser dividir outra mulher
com outro homem, tudo bem. Seu irmão também não está em jogo para ser dividido.
— Eu sei que você quer isso, Estére, consigo ver nos seus olhos o desejo de nos ter em sua
— Que bom que percebeu que sou orgulhosa, agora se me der licença, irei dormir.
Ando em direção ao corredor e sou puxada, logo Ferdinand cola nossos corpos.
Solto um gemido baixo e perco o ar quando o vejo se aproximar ainda mais e trazer sua boca
em direção a minha. Penso que será agora que eu vou provar dos seus lábios novamente e ele o
— Tenha bons sonhos, espero que sonhe com a nossa transa — sussurra. Ele me solta e fico
atônita, sentindo minhas pernas bambearem, então subo para o quarto, sentindo-me além de
arrepiada, excitada.
Porra! O que esses homens estão fazendo comigo?
Acordo na manhã seguinte um pouco tarde. Me viro e encontro o lado da cama vazio, então me
levanto e sigo até o banheiro, faço xixi e arrumo meus cabelos. Troco de roupa, substituindo o pijama
por uma calça legging, tênis e uma blusa de moletom. O tempo até que está agradável, com os raios
do sol aparecendo pelas janelas. Sorrio e apanho meu celular na mesinha de cabeceira, vendo uma
mensagem de Frida:
Arregalo os olhos com isso e saio em disparada, sem me importar onde Frederic e Ferdinand
estão.
Desço os degraus de dois em dois e sigo pelo corredor, encarando os irmãos Cooper
Estreito as sobrancelhas, não acreditando no que os meus olhos estão vendo e ando até eles.
— Talvez as crianças estejam amadurecendo, gatinha — diz Ferd, piscando. Reviro os olhos e
— Frida está vindo para cá — anuncio, me servindo de uma xícara com café. Observo Fred e
— Sim, talvez eu tenha deixado escapar que você tem um irmão gêmeo e com certeza ela está
— Espera, essa tal de Frida está vindo para cá apenas para me ver, como se eu fosse um
— O que foi? Tenho que estar apresentável para conhecer essa sua amiga. Quem sabe ela é
gostosa e resolve me dar uma chance. — Ele arqueia a sobrancelha e reviro os olhos, incomodada da
maneira que fala.
— Nem tente algo com Frida, ela não faz seu tipo — digo.
O ignoro, e quando estou prestes a levar a xícara até a boca, ouço a campainha tocar.
— Bom dia, amiga! — diz Frida animada. Ela me abraça e dou um beijo no seu rosto. — Vim
— Uau, sério que você veio na casa da sua melhor amiga para ver a cópia de um cara que
você está cansada de ver? — pergunto, cruzando os braços. Sorrio e ela ri.
— Sabe que te amo, mas preciso ver isso de perto. Um é bom, dois então, deve ser magnifico!
sentados, fingindo que leem o jornal. Sei que eles estão fingindo, tenho certeza disso.
Pigarreio e os dois me olham, com Frida atrás de mim com o rosto vermelho.
— Olá — diz, acanhada, o que me faz formar um sorriso. Desde quando minha amiga fica
tímida?
com um beijo no rosto. — Esse aqui é meu irmão, Ferdinand, mas acredito que Estére já tenha falado
— Obrigada, é um prazer enorme conhecê-lo. E estou bem — diz, virando-se para Fred. — A
— Sirva-se — digo, me sentando, e em seguida aponto para o meu lado, onde ela se senta e
— Deixe que eu faço isso — diz Ferdinand pegando de sua mão, ela concorda e o vejo
— Gostaria de panquecas? — pergunto, mostrando a ela. Minha amiga aceita e mais uma vez
já começando a comer.
— Estive viajando por alguns anos e resolvi voltar agora, de surpresa. Não é mesmo,
— E você nunca pensou em falar sobre seu irmão apenas porque ele estava viajando? —
— Que briga tensa — diz minha amiga sarcástica. Frederic concorda com um meneio de
— Mas deixemos minha história de lado e me conte sobre você, Frida — Ferdinand balbucia.
— Não tem muito o que saber — diz ela. — O que as pessoas não sabem sobre mim,
Vejo o sorriso de Ferdinand aumentar e sinto um calor anormal tomar conta da minha barriga.
— Você pode começar me chamando para sair — responde minha amiga, flertando com
Ferdinand. Fico estupefata e ele aumenta ainda mais o sorriso.
— Que tal fazermos isso hoje? Podemos sair por aí, você decide, não conheço muito a cidade.
Ele pisca e ela sorri, sem graça. O que me faz estranhar. Frida com vergonha?
— Então está combinado. Você e Frederic deveriam sair também, Estére, ele, como seu
— Acho que seria bom mesmo, amiga, por que vocês não saem para paquerarem um pouco?
— Não tenho idade para sair e ficar paquerando — diz Frederic mal-humorado.
Frederic ri e me encara.
— Por que não, já que Frida e Ferdinand vão sair, podemos ir passear um pouco também.
Encaro Ferdinand e o seu sorriso aumenta ainda mais. Sei que ele está fazendo isso apenas
para me provocar, porém, se ele pensa que pode usar minha melhor amiga como um fantoche apenas
Se Ferdinand quer jogar, eu jogarei com ele. E mostrarei que quando uma mulher entra para
vestidinho curto que realça as minhas curvas e pego meus óculos de sol. Como o tempo na cidade é
— Como estou? — pergunto à Frida quando termino de arrumar meus cabelos e passo um
brilho labial.
— Está linda, se eu não soubesse que Frederic é seu antigo padrasto, diria que iriam para um
encontro e tanto.
Ela sorri e forço um sorriso sem graça. Como pude mentir para minha melhor amiga? Como
não pude contar para ela sobre a minha primeira vez? E como pude esconder dela que o homem que
Chega a ser estranho pensar que eu havia transado com os dois, mas como o momento não é
— Se Ferdinand tentar alguma gracinha com você, não hesite em dar um soco nele igual você
fez com Collin, ok? — peço, segurando suas mãos. Frida ri e concorda.
— Sabe que sei me defender muito bem, mas apenas aceitei o convite dele por ser educada.
Apesar de serem dois homens maravilhosos, não fazem meu tipo. Acho que Ferdinand faz mais o seu,
Estére.
— O-o quê? Claro que não! — digo, ríspida. Ela ri e balança a cabeça.
— Eu te conheço demais para saber quando está com ciúmes de alguém. Não se julgue por
olhar o cara que tem o mesmo rosto do seu padrasto com outros olhos. Ele realmente é gato! Se
— Você acha isso normal, quero dizer, eu sentir algo por Ferdinand? — pergunto, surpresa em
— Estranho? Claro que não, estranho seria se fosse Frederic, mas como não é... — Desvio
meu olhar do seu e ela puxa meu rosto. — Você não está me dizendo que... Você e Frederic...
— O quê? Não, claro que não! — afirmo de imediato, sei o quanto é péssimo mentir para ela
e posso ter perdido minha melhor chance de ser sincera, no entanto, não está na hora de dizer isso a
Frida. — Frederic é muito gentil comigo, você viu, mas não passa disso.
— Certo. — Ela balança a cabeça. — Quer que eu cancele com Ferdinand? Nunca que iria
pouco a mente, mas se ele tentar alguma gracinha, não hesite em...
— Socar ele, eu sei — diz, me cortando. Demos risada e a abraço, feliz por pelo menos ser
E claro, ser sincera comigo em admitir que sim, estou com ciúmes de Ferdinand, e
O problema é como dizer isso a Frederic, e claro, como gostar de dois homens ao mesmo
Droga!
Saio do quarto com Frida nos meus calcanhares e descemos até a sala onde os dois homens
Frederic levanta ao me encarar e Ferdinand faz o mesmo, só depois olha para Frida. Neste
momento, é como se só estivéssemos nós três aqui, e sinto medo dos meus instintos.
Penso no meu sonho erótico e reprimo minhas pernas, quase caindo. Frederic corre em minha
— Obrigada — digo, o encarando. Frida nos encara e me levanto, esgueirando dos braços de
Fred.
— Tome cuidado, Estére, você pode acabar se machucando e não queremos que isso aconteça
— Eu também — emenda Ferdinand, pegando no braço de Frida. — Até mesmo parece que
Resolvo ignorar e saímos, trancando a porta e indo para o meu carro. Frida se despede de
— Até mais, Estér — diz Ferdinand que logo se afasta com minha amiga para o carro dela. Os
dois entram e, com minha amiga acenando, saem em disparada pela estrada.
— Nada de mais, pensei alto — digo. Ele me encara por um minuto inteiro e segue em
silêncio.
A música da Nelly Furtado me distrai o caminho inteiro enquanto Fred apenas dirige em
silêncio. Fico pensando na conversa que tive com Frida e em como pude ser tão transparente tanto
para ela quanto para mim. A verdade é que é maravilhoso poder ser sincera com uma pessoa que
você ama, mas, com a revelação a ela sobre os ciúmes de Ferdinand, uma sensação de estar traindo
Frederic me cobre.
Penso sobre quando isso aconteceu, sendo que conheço Ferdinand há pouco tempo. Como
— Está distraída — diz Frederic, parando em frente à oficina. Olho o lugar simples e noto o
— Não é nada de mais — digo e saio do carro. Ele sai e bato a porta, indo até o local.
— Como estão as coisas, Jack? — pergunta Fred. É a primeira vez que venho na sua oficina,
— Que bom, eu vim só ver as novidades e já estamos de saída, qualquer coisa pode ligar no
O outro concorda e volta para debaixo do carro, então sigo Frederic para dentro da oficina. O
— Está pronta para ir à cidade? Estava pensando que poderíamos comer em algum lugar por
lá, quem sabe termos realmente um encontro, longe de tudo e todos daqui.
Ele se aproxima de mim e me puxa, passando seus braços na minha cintura. Coloco os meus
— Por mim tudo bem, vamos transformar este dia em algo perfeito — digo. Ele concorda e se
aproxima, beijando meus lábios. Penso se não daria para Jack nos ver, mas não me importo.
soubessem. O pior já está acontecendo. Estou gostando de dois homens ao mesmo tempo, mesmo
— Você está tensa, aconteceu alguma coisa? — pergunta, me encarando. Tento desviar o olhar
do seu, mas ele é mais rápido e vira meu rosto em sua direção. — Sabe que pode ser sincera comigo,
não sabe?
Seguro sua mão por um minuto e concordo, a soltando e indo para o carro com o pensamento
de quando irei poder andar de mãos dadas com Frederic sem ser julgada.
Talvez nunca.
Seguimos para a cidade vizinha, e assim que chegamos, me sinto em liberdade. É como se eu
estivesse saindo de uma prisão e aqui pudesse ser quem realmente sou.
— Sim, é como se aqui eu pudesse ser eu, sabe? Sinto que nesta cidade podemos ser um casal
— Então quer dizer que está pensando no meu pedido de namoro? — pergunta.
Dou de ombros, seguindo para a praça e me sento no banco, respirando o ar puro que a cidade
emana. As árvores em volta dela me deixam ainda mais calma.
— Estou dizendo que talvez pudéssemos nos mudar para cá um dia — digo.
Frederic me encara e segura minha mão, a apertando. Então me abraça, sem medo de sermos
vistos.
Concordo, sorrindo, e analiso as pessoas. O parque do final de ano já havia sido desmontado,
então as crianças brincam na praça e se divertem. Vejo as mães sentadas, despreocupadas e sorrio
mercado.
Ele está usando uma calça jeans, uma camiseta xadrez e os cabelos bagunçados. Noto que
conversa com uma garota. Uma criança, na verdade, e lhe oferece algo.
Pisco uma, duas, três vezes. Me certificando de que não estou ficando louca, então o vejo
O primeiro instinto que tenho é ir atrás, então começo a correr e Frederic grita por mim, me
seguindo.
Continuo correndo, sentindo minhas panturrilhas protestarem, mas não paro, passo pelas
crianças e adentro a floresta. Tenho certeza de que o vi. Ele só pode morar aqui, certo? Será que eu
— Onde você está?! — grito, com medo, vendo que isso é uma loucura e tanto.
— Aqui! — respondo, olhando em volta. Noto as marcas no solo e vou seguindo, esbarrando
— O que houve para você sair correndo desse jeito? — pergunta, me olhando. Não respondo,
— Eu o vi de novo — digo. — O vi conversando com uma garota e correndo para cá, tenho
certeza, não posso estar ficando louca, não é? Você acredita em mim, não acredita?
— É claro que eu acredito em você, mas não pode simplesmente sair correndo atrás de um
Fico em silêncio, ele tem razão. E se Dréck me encontrasse e fizesse o que não conseguiu da
outra vez?
— Não adianta ir atrás dele, se formos à delegacia, você terá que fazer uma nova ocorrência
para endossar a primeira, mas como o exame de corpo de delito não foi feito, sabemos que não
— Certo, você quer ir para casa? Podemos encerrar o passeio, não irei me opor.
Concordo e ele me guia para fora da floresta, fazendo eu me sentir culpada por permitir que
cidade e isso já está se tornando um saco. Na verdade, não havia ficado interessado por ela, mas fiz
isso apenas para provocar Estére, e pelo desconforto que ela demonstrou, eu consegui.
— Eu não sei, que tal comermos em algum lugar? — pergunto. Peguei uma grana com meu
irmão quando Estére havia ido se arrumar, então poderia levá-la para comer alguma coisa.
— Podemos ir ao Beer’s — diz. Concordo, não dando muita importância a isso e seguimos
para lá em silêncio.
Penso no meu irmão e em Estére, querendo saber como está sendo o “encontro” deles. Será
que Estér está se divertindo? Com certeza, afinal, ela gosta do meu irmão.
O intruso nessa história toda sou eu, e reconheço isso. Se eu não tivesse aparecido na vida
dela e retornado na do meu irmão, já seriam um casalzinho enjoativo desses de romances clichês.
Pena que nossa história não é isso. Pelo contrário, nós somos os vilões. Eu sou o vilão.
Vejo Frida parar o carro e saio dos meus pensamentos, me dando conta de que chegamos no
tal Beer’s. Analiso o local e saio, com ela ao meu lado.
Concordo e nos ajeitamos em uma das mesas, o local em si está até que cheio, com o
— Oi, Rafa, vamos querer hambúrgueres com batatas fritas — diz Frida. — Já conhece o
Ferdinand, irmão gêmeo de Frederic? — pergunta, como se fosse completamente difícil perceber que
— Ah, não, ele está na cidade vizinha com Estére. Esse aqui é Ferdinand e hoje ele é só meu.
— Que bom, ficamos com medo de Frederic depois da surra que deu em Collin. — O rapaz
olha em volta e seu olhar para em um jovem que está sentado do outro lado com alguns caras e uma
garota.
— Sim, muito bem — digo. — Principalmente quando um cara vem bancar o fodão para cima
de mim.
— Bem, Collin não pode ser considerado um homem, ele apanhou de Estére, Frederic e eu em
Rimos e chamamos a atenção de algumas pessoas, inclusive do tal Collin, que se vira e nos
encara. Vejo seu olhar duro contra mim e sustento o meu no seu, cruzando os braços. Noto que seu
— As marcas são pela surra que Frederic deu nele? — pergunto, curioso, ainda o olhando
— Sim, parece que por pouco os pais não denunciaram Frederic — diz ela. — A verdade é
que não sabemos ao certo se ele deu queixa ou não, mas como ninguém foi atrás de Frederic...
— É bom ele não ir mesmo — digo, o analisando. — Se ele for, os problemas ficarão maiores
ainda.
Vejo Collin e os outros rapazes se levantarem, com a garota segurando sua mão, e eles passam
afinal de contas?
— Collin é o ex de Estére, eles namoraram por um bom tempo e ela nunca sequer transou com
ele, acabou que ele a traiu com aquela vadia que estava com ele.
— E por que Estére nunca quis transar com ele? — pergunto, curioso.
— Bem, ela queria perder a virgindade no momento certo — responde. — Droga, não diga a
Fico surpreso ao ouvir isso. Estére era virgem quando começou a se relacionar com meu
irmão?
— Tudo bem, seu segredinho está guardado — respondo, sorrindo, pensando que comi uma
“Ah, Estére, como eu daria tudo para tê-la em meus braços novamente.”
Estére está aflita, dá para notar isso no seu olhar que percorre as imagens distorcidas que
O que eu poderia fazer para ajudar? Exatamente nada, a não ser, é claro, que eu pegasse esse
filho da puta e/ou fizesse justiça com as próprias mãos, ou o entregasse a polícia.
Com certeza, sem termos provas cabíveis, o desgraçado seria solto rapidamente. Isso se
Tento não pensar muito sobre isso, sabendo que de nada vai adiantar, então dirijo em silêncio,
— Quer comer alguma coisa? — pergunto, finalmente quebrando o silêncio que se instalou
— Estou sem fome — diz, sem me olhar. Concordo, sabendo que não iria adiantar insistir e
Estaciono o carro em frente ao sobrado e Estére sai em disparada, comigo a seguindo. Assim
que entramos dentro de casa e fecho a porta, me certificando de estar trancada, ela se vira para mim e
— Sim, eu só quero... — Ela não completa a frase e se aproxima ainda mais, depositando sua
pequena mão no meu peitoral e devorando meus lábios. Retribuo já passando meus braços pelo seu
corpo e a agarro, com Estére pulando e entrelaçando suas pernas em volta do meu corpo. — Me leve
Concordo, voltando a beijá-la e sigo em direção à escada, subindo devagar enquanto ainda
nos beijamos.
Assim que chegamos no final da escada, percorro o corredor com ela grudada aos meus lábios
e abro a porta, entrando para o seu quarto e fechando logo em seguida. Não nos separamos, Estére
continua me beijando e retribuo, sentindo sua língua invadir minha boca e seus dentes mordiscarem
Quando chego à cama, a solto e começo a retirar minha roupa com rapidez, ficando apenas
com a boxer preta. Ela faz o mesmo, ficando com a lingerie clara e então se ajeita sobre a cama,
Faço o que ela pede e vou me aterrando a cama, indo até ela e voltando a conectar nossos
lábios. Os beijos são selvagens e deliciosos, o que me deixa rapidamente de pau duro. Ela sente meu
pênis rígido e passa sua mão pelo meu abdômen, enquanto me mantenho por cima dela. Não demora e
Abaixo a cueca com urgência e ela volta a pegá-lo, agora fazendo movimentos de vaivém com
rapidez. Solto um gemido alto e retiro seu sutiã, contemplando seus seios.
Penso que meu irmão esteve aqui, igual estou agora, e um pensamento de que Ferdinand a
Afasto esses pensamentos e chupo seus seios, mordiscando o bico e passando meus dedos
freneticamente sobre eles. Estére solta um gemido alto, enquanto ainda segura meu pau e me sinto
— Por favor, Frederic — pede, puxando meu corpo para mais próximo do seu —, me fode.
Concordo, sorrindo e abaixo sua calcinha, com ela soltando meu pênis e erguendo os braços
para cima. A imagem que tenho é maravilhosa; seu corpo magro com as curvas alinhadas, os seios
Me aproximo, beijando sua barriga e desço direto para sua boceta, chupando-a
deliciosamente. Absorvo seu gosto delicioso e me sinto inebriado, pensando o quanto estava com
saudades de senti-la.
suas pernas. Ela se abre ainda mais para mim e enfio meu pau devagar, sentindo a quentura de sua
— Puta que pariu — murmuro, maravilhado com isso. Estére sorri e me aprofundo ainda mais,
sentindo meu pau entrar por completo. — Me diga, Estére, você quer fazer amor ou que eu te foda?
Concordo e começo a movimentar meu quadril, entrando e saindo dela devagar. Vislumbro
como meu pau se encaixa bem na sua bocetinha e sinto ela me apertar. Solto um gemido,
Enquanto a como, volto a chupar seus seios e os movimentos vão aumentando ainda mais, com
Estére gemendo cada segundo mais alto. Beijo seus lábios com fúria e continuo-a fodendo, metendo
Não consigo parar, continuo me aprofundando em sua pele e chupo seus seios, imaginando se
Ferdinand fez desse jeito. Na verdade, neste momento não me importo, apenas quero proporcionar a
Sei disso, Estére é completamente diferente de todas as mulheres das quais eu fiquei.
Diferente de Jolie.
Continuo investindo e ouvindo seus gemidos, que entram pelos meus ouvidos como uma
deliciosa melodia, enquanto ela implora por mais. A safada quer mais, muito mais. E eu não paro.
Mantenho os movimentos rápidos e ela me abraça, apertando seu corpo contra o meu e
E juntos, gozamos, comigo pensando em Ferdinand e o que ele faria se estivesse aqui.
*
Ficamos deitados, agarrados, e beijo o alto de sua cabeça, quando Estére passa seu braço
Concordo e olho a hora, está ficando tarde e Ferdinand não havia chegado.
— Sabe alguma coisa sobre Frida e Ferdinand? — pergunto. Ela me olha e morde o canto da
boca.
— Eles foram no Beer’s e de lá para o cinema — responde. — Seu irmão já deve estar
chegando.
Fico em silêncio e ouço seu celular tocar, então Estére se estica por cima de mim e o apanha
na mesinha de cabeceira.
— Falando na diaba — brinca, atendendo. Não presto atenção em sua conversa, sei que ela
está falando com Frida e logo após desligar ela me encara. — Melhor nos levantarmos, ela disse que
Concordo, me levantando, e começo a me vestir, com Estére fazendo a mesma coisa. A vejo
arrumar os cabelos e lavar o rosto, então saio do seu quarto e seguimos juntos para a sala, nos
sentamos e assistimos algo na televisão depois de muito tempo sem fazer isso.
A verdade é que depois da morte de Jolie muitos hábitos simples que fazíamos com ela foi
deixado de lado. Era de lei Jolie se sentar neste sofá e ver o jornal.
Muitas das vezes ficávamos apenas eu e ela, e outras, nós dois com Estére e Collin. O que faz
— Nada de mais, que tal irmos comer alguma coisa enquanto esses dois não chegam?
— Acho a ideia de pedirmos uma pizza e ficarmos aqui esperando muito melhor.
— Você que manda — digo, sorrindo. Ela concorda e faz o pedido, conosco ainda sentados,
Não demora muito e ouvimos a campainha tocar. Me levanto, pegando a carteira e abro a
— Melhor não, amanhã me levanto cedo para resolver algumas coisas com meus pais, eles
Estér concorda e se despede da amiga, que vai para dentro do carro e buzina, seguindo pela
avenida.
— Ela vai transar, tenho certeza — diz Estére sorrindo e entrando, a seguimos e, novamente, a
campainha toca.
— Boa noite — digo, pegando as duas caixas, que eu nem sabia que Estére havia pedido mais
de uma, e o pagando. — Pode ficar com o troco — digo, me despedindo e fechando a porta.
pizzas ansiosamente.
Coloco as caixas sobre a mesa de centro e vou até a cozinha, pego três latas de refrigerantes e
guardanapos. Entrego uma para cada e beberico o líquido da minha, pegando uma fatia da pizza de
calabresa e comendo.
— Deliciosa como sempre — diz Estére se lambuzando. Dou risada e vejo o canto de sua
boca suja, então pego o guardanapo e a limpo, com meu irmão me observando e ela ficando sem
graça.
— E como foi o passeio, Ferdinand? — pergunto. — Para Frida ter ido transar com outro,
acredito que não tenha sido muita coisa.
— Não saí com ela para transar, se eu quiser fazer isso, não preciso ir muito longe —
— Que bom, porque enquanto você estava com Frida, Estére e eu estávamos...
— Dá para vocês pararem agora mesmo?! — pergunta, irritada. — Vocês falam como se eu
— Não quis o que, Frederic, dizer que estávamos transando? Não quis me tratar como um
prêmio? Porque é justamente isso que está fazendo. — Ela se levanta e vejo abrir a segunda caixa de
pizza, colocando duas fatias na tampa e mais duas da outra. — Vou para o meu quarto, boa noite.
Estére segue para a escada com o refrigerante e as fatias de pizza e Ferdinand me encara.
Sinto vontade de rir do que ele diz, mas a preocupação de que fiz besteira toma conta de mim
Fico trancada no meu quarto por mais de uma semana, apenas saindo para comer e evitando
Frederic e Ferdinand. Às vezes converso com Frida por mensagem e passo a maior parte do tempo
Me sinto chateada pela maneira que Fred e Ferd vêm se comportando. Até mesmo parece que
são dois leões brigando por um pedaço de carne. Prazer, sou a carne.
É ridículo pensar nisso, porém, os pensamentos não deixam de invadir minha mente.
Essa semana me sinto mais relaxada, em breve as aulas retornarão e terei algo para ocupar a
mente. Neste momento, só consigo pensar nos sexos que eu havia tido com os dois.
A última vez que transei com Fred ele me fez chegar ao orgasmo, o que, de certa forma, foi a
primeira vez que conseguiu, já que da outra havia sido seu irmão.
Penso o quanto isso é estranho. O cara por qual me apaixonei não foi capaz de me fazer gozar
morreu minha vida se tornou uma verdadeira caixa de Pandora. E o pior é que a cada dia eu fico mais
E com essa caixa sempre me surpreendendo, não duvido que mais alguma coisa maluca possa
acontecer.
Está cedo, o tempo lá fora me anima a sair da cama. Frederic e Ferdinand não me procuraram,
ambos sabem que estou chateada e quero esse momento só para mim.
Ouço o barulho do carro e corro para a janela, vendo que Fred já está de saída, com certeza
Levanto-me e vou até o banheiro, faço minhas necessidades e depois de arrumar os cabelos e
passar um pouco de maquiagem para disfarçar as noites mal dormidas, sigo até o closet atrás de algo
Não consigo dormir, todas as vezes que fecho meus olhos e agarro no sono, acabo sonhando
coisas eróticas com Frederic e Ferdinand. Não consigo controlar, é praticamente impossível.
Afasto os pensamentos e suspiro, coloco uma calça jeans que realça minhas pernas e uma
blusa de mangas compridas na cor branca, que mostra o decote na frente. Sorrio e saio do quarto
assim que passo perfume e calço meus tênis, pego o celular e coloco no bolso.
Desço devagar e sigo para a cozinha, dando de cara com Ferdinand sentado no balcão e uma
mulher o chupando.
— Droga, Estére, eu estava quase gozando. Pensei que estivesse dormindo ou sei lá — diz
Ferdinand, rindo. Reviro os olhos ainda de costas e espero. — Você já pode ir, gatinha, obrigado
Continuo de costas e não demora muito a mulher passa ao meu lado usando um vestido preto
curto e saltos altos. Ela vai até a porta e sai sem nem olhar para trás.
Respiro fundo e conto até três, me viro e o vejo sentado no mesmo lugar, com as pernas
— Uma prostituta me chupando. Você não sabia que aqui tem? — questiona, sarcástico como
sempre.
— Isso é nojento, as coisas não podem ser como antes? Você sair com uma garota e acabar
— Relaxa, Estére, é só sacanagem, não um encontro — murmura. — Até porque a garota que
Fico quieta e me sirvo de café, sentindo um pouquinho de nojo por tê-lo visto com outra.
— E que garota é essa por acaso? — pergunto, como quem não quer nada.
— Ah, não se faça de idiota, porque sabemos que você não é — diz.
Finjo-me de desentendida.
Ele sorri e lambe os lábios. Estou à sua frente agora, de pé, enquanto ele continua no balcão.
— Se você quer ouvir, então irei contar — começa. — É você, Estére, quero levá-la para
sair, mas você e meu irmão estão juntos e isso seria um problema.
Ele desce do balcão e para na minha frente, passando seus dedos no meu rosto.
— Mas eu vejo, porque não quero ser só seu amigo. Quero ser tudo, até mesmo amante, menos
só seu amigo.
— Quando você perde dez anos da sua vida atrás das grades, acaba se tornando uma pessoa
mais objetiva.
— Bem, podíamos sair um pouco, o que acha? Irmos ao shopping por exemplo. Aqui não tem
— Você está me chamando para sair? Meu irmão não acharia isso ruim?
Ferdinand me olha um minuto inteiro e sorri de lado, concordando, então se afasta e fico
Meia hora mais tarde, Ferdinand desce a escada bem-arrumado e com os cabelos curtos
molhados. O perfume másculo invade meu nariz e me arrepio com a virilidade que ele exala, me
— Estou pronto, vamos? — pergunta, estendendo a mão para mim. A pego de bom grado e
entrego a chave do carro para ele. — Você falou com meu irmão hoje?
— Não estamos nos falando ultimamente — respondo, ele concorda, não dizendo nada e
saímos, trancando a porta de casa. Seguimos para o meu carro e rapidamente ele sai da garagem,
Concordo e ligo o rádio, procurando uma estação que nos agrade. Paro em uma música do
Link Park e Ferdinand se anima, cantando a letra com eles. Apenas o admiro, observando o quanto
ele canta bem e está despreocupado, batendo os dedos no volante do carro. Fico pensando em como
E se no fim de tudo mamãe ainda estivesse viva? Eu me apaixonaria por Fred e estaria me sentindo
Tantos “e se...” e nenhuma resposta. Principalmente para o fato de que sou apaixonada por
Chegamos ao shopping da cidade e vejo que o local está lotado. Saio do carro assim que
Ferdinand para no estacionamento e sinto o sol cobrir minha pele, o que me deixa animada.
— Vamos? — pergunta Ferd erguendo o braço em minha direção. Fico pensando o que as
pessoas diriam se vissem meu braço entrelaçado no dele e decido que somente hoje não irei me
As pessoas andam para todos os lados bastante animadas, fico maravilhada em vê-las
sorrindo despreocupadas e sinto uma pontada de inveja. Como eu gostaria de poder andar
— Vamos entrar aqui — diz Ferd me trazendo à realidade novamente. Me viro e vejo uma loja
masculina.
Entramos e ele começa a ver várias roupas e noto seus olhos brilharem por cada uma delas. A
verdade é que Ferdinand não tem roupas, ele ainda usa as do irmão, afinal, saiu há pouco tempo da
prisão.
E sei também que ele não tem dinheiro, o que me deixa desconfortável.
Uns com tanto, outros sem nada. A vida realmente sabe ser injusta.
— Bom dia, pessoal — diz um vendedor, me tirando dos meus pensamentos —, gostariam de
aproveitar as promoções da loja? — O olho e vejo o enorme sorriso no rosto do homem de pele
clara e cabelos loiros.
— Hoje não, estamos apenas olhando — diz Ferdinand. O vendedor concorda, e sorrindo se
— Na verdade, o que ele quis dizer é que vamos olhar outros setores da loja, o que você acha
que combinaria com meu amigão aqui? — pergunto, apontando para Ferd. O olho e vejo o
— Bem, podemos ver algo que combine com ele — diz o outro.
— Então nos mostre — peço, dando meu melhor sorriso. O vendedor se anima e puxo
— Dando-lhe alguns presentes, por acaso eu não posso? Você é machista a ponto de não
— O problema não é esse, e sim quem está dando — diz, travando o maxilar. — Meu irmão
— Minha mãe me deixou uma herança para usufruir, se eu não posso pegar o meu dinheiro e
gastar com quem eu quiser, para que vou querê-lo? E Frederic não tem nada a ver com isso. Ele
recebeu uma porcentagem do dinheiro de mamãe e optou em não usar. É um direito dele, mas o meu,
eu vou gastar.
Ferdinand ri e bagunça meus cabelos.
— Você é muito boa, Estére, nem Frederic e eu a merecemos. Somos muito quebrados para
Acabamos pegando várias calças, camisetas, blusas, bermudas e outros. Ferd se anima com o
tanto de roupa e assim que pago, saímos da loja com ele sorrindo. E percebo que é um sorriso
Seguimos para outras lojas e compro alguns tênis para Ferdinand e depois disso vamos para
outra, onde adquirimos alguns acessórios como bonés, óculos e outros que ele se agrada. Compro
para ele alguns perfumes e brinco dizendo que ele pode sair mais cheiroso ainda para suas
“acompanhantes de luxo”.
Quando encerramos as compras, nos direcionamos para a praça de alimentação e me viro para
Ferd.
— Escolha o que você quiser, sem pensar em preços — digo.
Ele concorda sem pestanejar e acaba pedindo um lanche do McDonald’s, o que me deixa
surpresa.
— Faz mais de dez anos que comi um desses, é realmente algo diferente para mim —
responde. Concordo, sentindo vontade de chorar. O quanto esse homem havia sofrido na cadeia por
Deixo meus pensamentos de lado, antes que eu comece a chorar, e ele me observa, sorrindo.
Pegamos nossos pedidos e voltamos para a mesa, com Ferd comendo logo em seguida. O vejo
se lambuzar com o ketchup e dou risada, mergulhando uma batata no molho e levando até a boca.
— Eu perderia essa barriguinha sexy que você fica com água na boca quando olha — diz,
—Você é tão diferente de Frederic — digo. — Quero dizer, apesar de ter passado por tantas
— Talvez você esteja certa, mas você também precisa se conhecer melhor, Estére.
O passeio com Ferdinand foi tranquilo, quando chegamos em casa e seu irmão nos viu com as
compras, um sorrisinho no canto do seu rosto surgiu, como se estivesse feliz pelo que eu havia feito.
Depois disso, os dias passaram rapidamente e me vi pronta para retornar à faculdade, o que
Suspiro pensando que Frederic e eu não havíamos voltado a conversar. Não que ele não
tivesse me procurado, porém, com meus pensamentos tão confusos e a maneira que ele havia dito,
ainda me sinto incomodada. Posso estar sendo um tanto idiota, eu sei, mas na hora certa iremos
conversar.
Saio de casa e sigo para dentro do meu carro com a mochila nas costas, a jogo no banco
traseiro e sigo pela avenida ao som de Avril Lavigne. Canto animada com ela e não demora, já estou
Desço do veículo e minha amiga vem na minha direção com um sorrisinho no rosto.
— Bom dia, amiga! — diz, me abraçando. Está, como sempre, bastante animada.
— Animada para a volta às aulas? — pergunto assim que nos separamos e seguimos devagar
para dentro da faculdade. Reparo que algumas pessoas me olham mais do que o normal, mas não me
importo. Talvez ainda não tenham superado o fato de Collin e eu termos nos separado. Às vezes isso
— Nem tão animada assim, mas feliz que é um semestre a menos — murmura. — Estive
— Sim, isso mesmo que você ouviu — responde. — Pensei que você poderia dar uma chance
— Ele e eu fomos ao shopping uns dias atrás, mas não foi nada de mais, apenas fui ajudá-lo a
— Claro que não! Somos somente amigos, assim como Frederic. Seria estranho eu ficar com o
“Estranho namorar com o irmão do seu padrasto, mas não é estranho ficar com
Frederic?!”
— Besteira — diz —, mas você que sabe, está perdendo um partidão.
Penso em contar a ela que aconteceu algo entre nós, claro, mudando alguns fatos, porém, me
mantenho em silêncio. Mesmo me sentindo péssima em mentir para minha melhor amiga, ainda não
chegou a hora de contar a verdade a ela, principalmente pelo fato de que Collin e eu terminamos há
pouco tempo.
— As pessoas estavam mesmo com saudades de nós — digo, chegando ao meu armário e
— Como assim?
— Você acha mesmo que todas essas pessoas nos conhecem ou se importam conosco? Tem
algo errado — diz, olhando em volta. — Ei, você aí, vem cá!
Frida chama uma garota que nunca vi e a jovem se aproxima com o olhar sério.
— Você por acaso sabe o que está acontecendo para essas pessoas estarem nos olhando? —
— Não estão olhando para vocês, e sim para ela — diz, apontando com um movimento de
cabeça em minha direção. — Estão dizendo que você e seu padrasto andam transando e que um irmão
Fico quieta, em choque, ao ouvir o que ela diz. Como as pessoas descobriram sobre isso?
— Pois é, foi o Collin que começou a contar isso por aí — responde a garota que não sei o
nome. — Ele disse que desde quando vocês terminaram, você, Estére, vem tendo um caso com seu
padrasto. Até mesmo contou que o motivo do término nem foi a traição com a loira vadia, e sim
Fico estupefata com o que ela diz. Como Collin teve coragem de sair dizendo isso por aí?
— Ele me paga — digo para Frida. Minha amiga concorda e olha atrás de mim, então me viro
— Estére, como está? — pergunta, com a loira ao seu lado. Virou sua sombra.
— Seu desgraçado, filho de uma puta! — grito, tomando alguns olhares em nossa direção. Ele
faz um olhar espantado e forma um sorriso debochado.
Sinto vontade de voar no seu pescoço e bater nele, porém, me controlo. Não posso perder a
cabeça, a outra vez já havia dado problemas demais para mim, quase me fazendo perder as provas.
— Você me paga por isso — digo, pegando minhas coisas e dando a volta. Saio do campus,
com Frida me chamando, e corro para o meu carro, entro e saio rapidamente do estacionamento. Sigo
pela estrada, nervosa, e me afasto cada vez mais, sentindo que, no final, Collin nunca esteve tão
certo.
Paro o carro em frente à casa e saio, batendo a porta e acionando o alarme. Subo os degraus e
Mamãe poderia estar viva, casada com Frederic, e Collin e eu juntos. Talvez se eu tivesse ido
para a cama com ele, Collin não teria me traído e estaríamos juntos ainda.
Só de pensar que o homem pelo qual me apaixonei perdidamente se tornou um grande babaca,
— Não foi à aula? — Saio dos meus pensamentos e vejo Frederic em pé, no batente do
corredor. Agora consigo diferenciar um do outro.
— Houve um problema, e para não fazer besteira voltei para casa — digo. — Perder um dia
— Posso? — pergunta, apontando para o assento ao meu lado, concordo e ele vem em minha
— Foi Collin — digo. — Ele anda espalhando na faculdade que você e eu estamos tendo um
caso.
— Não descobriu, apenas está dizendo por diversão, mas muitas pessoas estão acreditando
nele, é claro.
— Não adianta bater nele, isso só vai te trazer mais problemas, ainda não esqueceram do que
houve no Beer’s.
Ele concorda e vejo Ferdinand descer a escada com uma de suas roupas novas.
— Collin — diz Frederic —, ele anda espalhando na faculdade que Estére e eu estamos tendo
um caso.
— Acho que você não ouviu o que seu irmão disse — começo. — Collin está espalhando pela
faculdade que...
— Sim, eu entendi — me corta —, ele está espalhando que vocês andam trepando. O conheci
no Beer’s quando fui com Frida, na verdade, apenas o vi de longe e pareceu um babaca e tanto. Fico
— Que apesar de ele ser um tremendo babaca, está certo. Vocês não estão trepando mesmo?
certo.
Estou deitada e já é a noite do dia seguinte. Não fui à faculdade de novo, pensando no que
havia acontecido.
Frida não para de me enviar mensagens e ligar, e só respondo que está tudo bem. Porque
realmente está. Collin está certo, contudo, sinto medo do que faria se as pessoas descobrissem que é
verdade.
Boatos sempre existirão, sobre tudo. O único problema é manter a verdade escondida.
Ouço uma batida na porta e me ajeito na cama, permitindo entrar. Vejo Frederic entrar e na sua
— Isso é para mim? — Aponto para o prato e ele sorri, concordando. — Então podemos
conversar.
Fred ri e se aproxima, me entregando a torta. Pego o garfo e levo um pedaço até a boca, me
assunto rolando na faculdade, o diretor entrou em contato comigo para saber sobre os boatos.
— Bem, ele disse que infelizmente não pode fazer muita coisa em relação às pessoas falando,
mas que daria uma punição severa ao Collin, que espalhou o assunto.
— Collin é um babaca, mas Ferdinand está certo, ele só disse a verdade, mesmo não sabendo
sobre ela. — Suspiro, triste. — Os vilões nesta história somos nós, Frederic. Você e eu. Fomos nós
sentindo por você, mas hoje não, Estére. Sei que não somos as melhores pessoas e sinto muito em
fazer isso com Jolie, mas eu realmente gosto de você e não mando nos meus sentimentos.
— Primeiramente, que você me perdoe pela maneira que falei em relação a você para
Ferdinand. Eu realmente me senti um pouco ameaçado com ele aqui, e com tudo que houve pensei
que me trocaria por ele. Então agi como um idiota e reconheço isso.
— Estére, eu te amo — diz, displicentemente. — Sei que é loucura dizer isso, mas é a mais
Fico perplexa ao ouvir o que ele diz e arregalo os olhos. Seu olhar é vibrante, intenso e
parece um fogaréu, como se estivesse esperando eu dizer o mesmo. E sei que ele está.
— Frederic, eu...
— Tudo bem, fique tranquila, apesar de esperar um dia ouvir que você também me ama, não
— Gosto muito de você, sabe que realmente estou apaixonada e confiei algo muito importante
— Mas é mais do que isso — respondo, completando. — Eu gosto de você e estou muito
confusa sobre...
— O que você sente por ele? — pergunta, e percebo o tom de mágoa em sua voz.
Estére. Confiei em dizer que te amo, quero que confie em me dizer o que sente.
— Não sei ao certo o que sinto, quando estou perto dele uma sensação estranha toma conta de
mim. Como se eu estivesse com borboletas no estômago, e você também me causa isso! Gosto do
toque dos dois, não posso negar — respondo, sentindo a voz embargada, como se algo preso
— Uau — diz ele, rindo sem graça. — Está claro, não está? — questiona.
— O quê?
— Você está apaixonada por Ferdinand, Estére, assim como está por mim — responde, me
— Não, não é isso, você está louco — digo, negando com a cabeça.
— Me diga, além dessas sensações que ele te causa, o que você sente ao ficar ao seu lado?
— Me sinto bem, mas isso é comum, me sinto bem com muitas pessoas.
— Ok, mas, e sobre o dia que ele saiu com Frida, estava claro que você sentiu ciúmes disso.
Fico quieta e concordo, ele realmente está certo.
— Há mais algumas coisas como por exemplo, o dia em que foram ao shopping. Quando você
— O mesmo quando disse que está apaixonada por mim — responde, ficando cabisbaixo.
— Tudo bem, você não tem culpa, não há um jeito que controle os sentimentos. Eles
simplesmente acontecem, e aconteceu. Talvez seja ironia do destino, já que você se apaixonou pelo
seu padrasto.
— Acho que você deveria ser sincera com ele — me responde. — Diga que está apaixonada.
— Você está me entregando de bandeja ao seu irmão? — pergunto, com raiva na voz.
— Não, jamais abriria mão de você, prefiro ter um pouco do que nada.
— O que quer dizer com isso, Frederic? — pergunto, sentindo meu coração acelerar.
— Que se for preciso dividir você com meu irmão, irei fazer isso, porque eu te amo e não
— É isso mesmo, Estére, se for necessário, irei dividi-la, só não quero perdê-la. Já perdi
domingo.
Fui obrigada a ir para a aula e os burburinhos começaram a diminuir. O diretor, pai de Frida,
me chamou até sua sala e pediu desculpas pelo ocorrido, como se ele fosse o culpado. Aceitei,
apenas para evitar mais problemas, e depois disso, foquei meu pensamento apenas nas aulas para não
O semestre está cada vez mais difícil, até mesmo para quem faz Fotografia. Teríamos um
trabalho do qual tínhamos que fotografar pessoas de nossa família e montarmos um álbum.
Penso aleatoriamente no meu pai, não sinto vontade de conhecê-lo, mas às vezes fico
imaginando o que ele está fazendo neste momento. Isso é, se ele ainda estiver vivo. E se estiver, se
ele tem outra família e se tenho irmãos, o que, de certa forma, seria até que divertido.
— Já decidiu como vai fazer esse trabalho? — pergunta Frida, deitada de barriga para cima
na minha cama.
— Você e suas ideias malucas — digo, rindo. Ela havia me sugerido que deveria convidá-los
para irmos a algum parque e tirarmos as fotos, porém, com toda a situação que havia acontecido entre
— Frederic anda bastante ocupado na oficina e Ferdinand está atrás de emprego — respondo.
— Baboseiras que irá mudar o seu futuro quando terminar a faculdade — diz, revirando os
olhos.
— Talvez você esteja certa, mas não vou chamá-los de jeito nenhum.
— Tudo bem, eu mesma farei isso. Não pode ser pior que eu, terei que fotografar meus
— Em quesito ridículo, você venceu de mim — digo, a vendo revirar os olhos e mostrar a
língua.
Ouço uma batida na porta e Frida corre para abrir, então encaramos Frederic.
— O almoço está pronto — diz, me encarando. Sinto um formigamento cobrir minha pele e
concordo, me levantando. Quando ele está dando a volta para sair, Frida segura seu braço.
— Tem um trabalho na faculdade que vale nota — diz. — É sobre fotografarmos alguns dos
nossos parentes, mas como Estér só tem você e seu irmão como família, ela está com vergonha de
— É — respondo.
— Tudo bem, só diga o dia que estaremos lá, vou conversar com Ferdinand sobre o assunto,
— Obrigada, Fred, você é um herói — diz Frida, toda derretida, o que faz eu rir.
— Vamos comer — digo, puxando-a pelo braço e descendo com os dois para a sala de jantar.
*
Frida e eu passamos o restante do dia no meu quarto assistindo a séries bobas na Netflix e
comendo bastante pipoca e brigadeiro. Fazer algo simples, mas descontraído, me deixa um pouco
mais relaxada e feliz. Pela primeira vez em dias eu consigo esquecer um pouco sobre a loucura que é
Frederic e Ferdinand.
— Tenho que te contar uma coisa e não sei por onde começar — digo, me sentindo nervosa.
— Não, claro que não! Mas estou sentindo algo por ele — confesso, não seria tão ruim assim
dizer a ela que estou gostando do ex-cunhado de mamãe, não é? Mesmo ele sendo uma cópia perfeita
do meu ex-padrastro.
— Eu sabia! — ela grita, dando pulinhos na cama. — Você não consegue me esconder as
Fico quieta, sabendo que isso não é verdade. Se eu contar neste momento o que venho
— Bem, não se anime tanto assim, porque não pretendo contar a ele.
— Não teria futuro e acabaria estragando nossa amizade — minto, dando de ombros.
— O convide para jantar, claro, não no Beer’s, aquilo está tão ultrapassado quanto a calcinha
que você está usando. Leve-o em um restaurante chique, essa cidade de merda deve ter, não é
possível.
— Você não ouviu isso sair da minha boca — responde apontando o dedo magro na minha
direção. — Vamos lá, daremos um tapa no seu visual e você o convida para jantar.
— Pare de besteira, é claro que pode, ambos são solteiros, o que te impede?
Frederic, é claro. Com certeza ele não iria gostar nem um pouco de me ver saindo com seu
irmão.
Maldita hora que abri a boca para contar a minha amiga sobre meus sentimentos confusos.
— Ainda são três horas, combine para sair as oito, é tempo de arrumarmos suas unhas, o
cabelo e escolhermos uma roupa. Ande, vá até o quarto dele e o convide.
Respiro fundo, sentindo meu coração acelerar e sigo até o quarto que Ferdinand está ficando.
Bato na porta e espero, com ele abrindo um minuto depois apenas de cueca.
— Oi, gatinha, precisando de alguma coisa? — pergunta, levando a mão até o meio de suas
— O quê?
— Vim convidá-lo para jantar — respondo —, mas vendo o babaca que é, deveria ter ficado
sabendo que Frida está no meu quarto com o ouvido atrás da porta.
Ele concorda e cruza os braços, comigo desviando o olhar do seu abdômen definido e do
volume no meio das pernas.
— Sei que você é uma mulher empoderada e tal, mas estou pedindo para que avise a ele. Não
Fico estupefata com suas palavras e a firmeza na voz. Nenhuma gracinha sobre me levar para
— Se isso fará você aceitar o convite, tudo bem — respondo, sabendo que a conversa com
— Sim, me procure depois que conversar com ele. — Ele sorri e fecha a porta, me deixando
confusa e pensando que não seria ruim passar a mão nos seus gominhos.
Ando de um lado para o outro no corredor e fico pensando em como chegar em Frederic e
dizer que irei sair com seu irmão para jantar. O que ele pensaria a respeito disso? Apenas um jantar
“Deixe de ser idiota, sabemos melhor que ninguém que você e Ferdinand não são amigos,
você apenas o presenteou com algumas coisas, nada mais. E claro, transaram, mesmo não sabendo
Reviro os olhos com meus pensamentos e sigo pelo corredor, criando coragem e batendo na
porta do quarto de Frederic. O quarto do qual ele passou anos com mamãe.
devaneios.
— Bem — responde, estranhando a pergunta, afinal, nos vimos há poucas horas quando fomos
almoçar.
— Que bom — digo, desviando o meu olhar do seu. — Gostaria de falar com você sobre uma
coisa.
— Eu gostaria de saber se você se importaria se eu saísse para jantar com Ferdinand — digo.
— O convidei para jantar sob influência de Frida, mas ele pediu para eu falar com você primeiro,
— Você está mesmo interessada nele — diz, fico em silêncio e ele assente. — Tudo bem,
podem ir, não me importo, desde que amanhã você saia comigo para jantar.
Ouço o pedido e fico surpresa com sua reação. É sério que ele está deixando? Então lembro
de suas palavras.
— Tudo bem — respondo, sorrindo. Ele forma um sorriso e olha para o corredor, vistoriando
se Frida está ou não nos olhando. Minha amiga se mantém dentro do quarto e então ele me puxa,
— Você sempre será minha, Estére — sussurra, para que não sejamos ouvidos.
O beijo e concordo, mordiscando seu lábio, então me afasto e ele me encara, fechando a
porta.
Bato na do quarto de Ferdinand e ele atende do mesmo jeito que estava antes.
— Então?
— Às oito — respondo. Ferdinand concorda e volto para meu quarto, me virando para Frida.
— Você demorou — diz, sem me olhar. Se me olhasse, perceberia que algo aconteceu.
Passo as próximas horas sendo cobaia de Frida. Ela faz as unhas das mãos e segue para os
pés, insistindo que devo usar um salto. Depois disso, me ajuda a depilar as pernas, alegando que irei
usar um vestido. No banho, ela faz eu depilar as pernas e depois que termino, arruma meus cabelos,
Quando termina, me ajuda com a maquiagem e só então seguimos para a roupa, o que é uma
verdadeira confusão.
— Você precisa renovar seu guarda-roupa — diz, nervosa. Dou risada e espero minha amiga
Depois de um bom tempo, achamos um vestido que eu nem lembrava ter. Ele é branco-pérola,
com um decote avantajado na frente e fechado atrás. O comprimento vai até abaixo do joelho, com a
Frida me faz vesti-lo, e assim que me olho no espelho, vejo o quanto ficou bonito. Sorrio e ela
— Não, não acho, e enquanto você enrolava com Ferdinand, procurei no Google e achei
algumas opções de restaurantes. Aqui na cidade mesmo tem um chamado Flor de Lótus, não entendi
muito bem o nome, mas pelos comentários o lugar é bastante renomado. Fico pensando como não
— Talvez seja porque sempre acabamos indo ao Beer’s — respondo. Ela ri e concorda.
— Mas hoje será diferente, vocês vão nesse restaurante, vou enviar a localização no seu
celular.
Concordo e ela envia, então vejo a hora e falta dez minutos para as oito.
— A hora passou voando — digo, surpresa, ela concorda, sorrindo.
— Isso é que dá se produzir inteira — diz, se levantando. — Bem, vou indo nessa, depois me
— Não quero segurar vela — diz, me dando um beijo e me encarando. — Se divirta esta
— Prometo — respondo, sorrindo. Ela volta a me dar um beijo e sai, não demora muito, a
vejo pela janela no seu carro e Frida acena, seguindo pela estrada.
Respiro fundo quando me vejo sozinha e me assusto quando uma batida na porta atrai minha
atenção.
Me viro e perco o fôlego ao ver Ferdinand vestido em um smoking preto, com a camisa
branca e a gravata borboleta. Sua barba está bem alinhada e o sorriso cativante aparece, deixando-
— Oi — consigo dizer.
— Olá, Estére — diz, se aproximando, e pega minha mão. Ele deposita um beijo e me arrepio.
— Frederic me emprestou, ele disse que eu deveria me vestir bem para sair com uma garota.
Fico quieta com suas palavras e apenas movimento a cabeça em um sinal de aprovação.
Novamente fico quieta, pensando em como Frederic estaria se sentindo. Ao pensar nisso, uma
— É melhor irmos nessa — digo, mudando de assunto. Ferdinand concorda e estende o braço
Paro meu olhar na porta do quarto de Frederic e suspiro, saindo com Ferd e indo para o meu
carro.
Ferdinand dirige até o restaurante que fica um pouco longe de onde moro. Durante todo o
caminho, fomos ouvindo músicas da Katy Perry, e cantando com ela. O que me deixa surpresa em
— O que foi? — pergunta quando o vejo cantando. — Só porque estive preso, acha que não
sei cantar?
Ferd ri, nega com a cabeça e continua cantando. Canto Wide Awake com ele e logo chegamos
no local.
iluminado, com pessoas por todos os lados. Noto que o restaurante é nesses formatos antigos, como
Um homem nos recepciona e nos leva até uma das mesas, onde nos sentamos e fico
— Claro, por que não? — diz Ferd sorrindo, o homem concorda, se afasta e logo em seguida
— Pode ser ele mesmo — diz Ferd o cortando, não querendo ouvir a ladainha, o homem fica
— Agora mesmo, senhor — diz se afastando e trazendo logo em seguida a garrafa. Ele enche
— Poderia ter deixado o homem ao menos terminar de falar — digo, rindo. Ele dá de ombros
— E perder a chance de passar mais tempo com você? — pergunta, me fazendo corar.
— O que pretende comer? — pergunto, mudando de assunto, ele olha o cardápio e suspira.
— Eu não sei, que tal ostras? Parece nojento. — Rio e ele aponta para outro. — Ou podemos
— Acho que vou querer somente uma salada mesmo — digo, ele fecha a carta e me encara.
— Certo, fingiremos que somos pessoas saldáveis que comem só mato para não passarmos
vergonha neste restaurante super chique. — Ferd assente e arranca uma risada minha.
Ele concorda e chama o garçom, fazendo nossos pedidos. O homem anota e se afasta.
— Apenas quis, eu acho — digo, sabendo que isso não é total verdade.
— Pensei que estivesse apaixonada pelo meu irmão — responde, me encarando no fundo dos
olhos. O desconforto que isso me causa é como se eu estivesse nua na frente de todas aquelas
pessoas.
— Uma garota não pode convidar um rapaz para jantar sem segundas intenções?
— Claro que pode, mas sabemos que esse não é o nosso caso — ele responde. — Sei que
você está interessada em mim, assim como eu em você. E você, claro, no meu irmão, o que chega a
O garçom coloca nossos pratos sobre a mesa e se afasta, conosco começando a comer. Assim
— Sei que realmente parece confuso, mas quando disse ao seu irmão, ele não se opôs a me
— Então isso quer dizer que você a partir de agora vai se dividir?
— Não exatamente, mas ele soube entender bem meus sentimentos, o que chega a ser
— Não compreende ou não aceita este fato? — questiona-me. — Vamos lá, Estére, você sabe
melhor do que ninguém que estou certo. Você está louca para se entregar para nós dois, mas não
— O quê? Uma relação a três? É claro que não fez, perdeu sua virgindade com meu irmão —
diz, sorrindo.
— Frida me disse que você era virgem, e como ela não sabe o acontece com você e Frederic,
— Não estou mudando — respondo, displicentemente. — Você age como se isso fosse
normal. Não esqueça que estamos falando do seu irmão, você e eu. Não é outra pessoa, é seu irmão!
— digo, estupefata.
— Eu não sei — digo, voltando a comer a minha salada, ele faz o mesmo e o encaro. — Para
— Não é a melhor relação que eu já vi, mas acredito que quando três pessoas não brigam,
elas trepam — sussurra, se aproximando de mim. Sinto meu rosto queimar e ele ri, bebendo do
vinho.
Faço o mesmo e termino de comer, encerrando o assunto e pedindo sobremesa. Ferdinand faz
Comemos em silêncio e continuamos bebendo vinho, com o clima ficando um tanto estranho.
Quero dizer que sim. Estou mesmo incomodada. Sinto uma excitação fora do normal e meu
corpo se contorce com isso. Quero dizer a Ferdinand que ele está certo, realmente quero aquilo.
Mesmo sendo algo totalmente novo para mim, é isso que desejo.
Eu o desejo, assim como desejo seu irmão. O mesmo desejo sombrio que me consumira
A diferença é que agora é em dobro, e me pergunto se para ambos está tudo bem fazermos
Iríamos para o inferno de qualquer maneira, então por que não aproveitar a chance que a vida
está me dando? Por que não me entregar completamente a esses dois homens que me desejam tanto?
Realmente somos os vilões desta história para algumas pessoas, mas para nós não. Somos
apenas três pessoas descompreendidas, quebradas da nossa maneira que encontramos conforto um
Entro sentindo a tensão tomar conta do lugar, minhas mãos estão suadas e minhas pernas
comprimidas. Disfarçadamente, sem que Ferd veja, passo os dedos pelos meus seios e sinto a
Só de pensar que Frederic e Ferdinand concordam com aquela loucura de “me dividir” me
— Está tudo bem aí? — pergunta Ferdinand saindo do estacionamento e seguindo pela
estrada.
— Não parece — me responde, olhando-me nos olhos. Ele forma um sorrisinho de canto e
— O quê?
— O tipo de calor que está sentindo — responde, ainda olhando para a frente. Sinto meu rosto
— Claro que não é isso que está pensando — respondo com firmeza, o que chega a me deixar
surpresa.
Fico quieta e fixo meu olhar do lado de fora do carro. Ferdinand não diz mais nada, e quando
Assim que ele para o carro, solto o cinto e abro a porta, saindo e seguindo para dentro de
casa. Sinto seu corpo logo atrás de mim e me viro, o encarando, então tropeço nos meus próprios pés
Sinto minha respiração entrecortada e continuamos nos olhando, então encaro seus lábios e
— Está tudo bem? — Sou trazida para a realidade quando ouço a voz de Frederic e me
desvencilho do seu irmão.
Fico quieta e Frederic desce a escada devagar, noto que ele está usando calça jeans e camisa
— Sim, tropecei nos meus próprios pés — respondo, desviando meu olhar do seu.
então Frederic se aproxima cada vez mais e para bem na minha frente.
— Me desculpe — digo, encarando-o. Ele coloca seus dedos no meu queixo e ergue meu
rosto.
— Pelo o quê?
— Por querer você e Ferdinand — digo, encarando seu irmão que está parado ao seu lado.
— Sim — admito, sabendo que não adianta eu mentir para mim mesma. — É isso que eu
— Que vocês fiquem? — questiono, erguendo a sobrancelha. Vejo Ferd rir e Fred revirar os
— Não me sinto excitado em pensar nisso, irmão, relaxe — diz Ferdinand dando um soco
— Mas se sente excitado em dividir a mesma garota com o irmão? — pergunto sarcástica.
— Por acaso você não está querendo dizer que Ferd e eu ficarmos seria comum, está?
— Não, mas se quiserem, não vejo problemas — respondo, sentindo meu corpo se arrepiar
com a ideia.
Os dois se encaram e me aproximo deles, colocando cada uma de minhas mãos nos seus
peitorais.
Tocando-os ao mesmo tempo, consigo sentir a diferença; Ferdinand com certeza é mais
Não digo mais nada e assinto, os dois me encaram e, devagar, escorrego meus dedos pelas
suas camisas e puxo a de Ferd, tirando-a de dentro da calça. Assim que faço isso, sigo meu olhar
Sorrio com isso e levo minhas mãos por debaixo das camisas, sentindo minha pele entrar em
contato com a deles. Um arrepio percorre minha espinha e continuo acariciando, subindo até o peito
deles. Ambos continuam em silêncio, então me desvencilho dos dois e desabotoo a camisa de
Frederic, vendo-a escorregar pelos seus braços e cair no chão. Sem receio, abro o botão da sua calça
e desço o zíper, o mantendo nessa posição, enquanto vou até o seu irmão e tiro o smoking, a gravata e
Fixo meu olhar nos dois, olho seus abdomens definidos e sinto água na boca, então abro o
botão da calça de Ferdinand e desço o zíper igual fiz com seu irmão.
— Vocês querem isso? — pergunto, retirando meus saltos. Levo o meu braço até as costas e
Sorrio com as respostas e retiro meu vestido, vendo-o cair no chão e me deixar somente com
a lingerie. Eles me olham fixamente e vejo Ferd lamber os lábios, enquanto Frederic vai descendo
sua calça. Mantenho ainda mais o sorriso e o outro faz o mesmo, agora nós três apenas de roupas
íntimas.
— Me beije — sussurro.
Ele concorda e se aproxima, encostando seus lábios nos meus. Rapidamente invado sua boca
com minha língua e as entrelaçamos, com Frederic passando a mão pela minha nuca e me agarrando.
Solto um gemido no meio do nosso beijo e, ainda fixo a ele, puxo Ferdinand para próximo de nós e
Separo-me de Frederic e encaro seu irmão, indo em sua direção e beijando seus lábios.
Agora, beijando os dois ao mesmo tempo, consigo sentir a diferença. É algo notável. Ambos, apesar
Aproveito o momento e o beijo, sentindo sua língua me invadir e ele agarrar minha cintura,
passando seu braço em torno de mim. Um gemido involuntário sai e sinto Frederic acariciar meus
seios, então volto-me para ele e o beijo novamente, agora com o irmão acariciando meu mamilo.
Ferdinand se vira para o irmão e o encara bem, então me puxa em sua direção e me beija,
De início, noto que Frederic está receoso e se mantém sem reação enquanto nos vê se
beijando, então me afasto um pouco de Ferdinand e deslizo meus dedos pelo cós da calcinha,
mergulho minha mão na minha boceta, enfiando um dedo nela e começo a me masturbar. Solto um
gemido alto, com os dois fazendo trilhas de beijos pelo meu corpo e continuo me tocando, deliciada
com aquilo. Deliciada em saber que nós três estamos nos entregando ao desejo sombrio. Ao pecado e
Continuo me tocando e eles mantém os beijos, o que me deixa animada e surpresa, então vejo
Ferd puxar minha mão de dentro da minha calcinha e introduz um dedo na minha boceta. Solto um
gemido alto, enlouquecida com seu toque e ele começa a movimentar seu indicador, enquanto o irmão
A imagem de Frederic de joelhos, parado em frente a mim, faz eu sentir arrepios percorrerem
Fred encara Ferdinand e me olha, comigo ainda sendo tocada, então Ferd tira seu dedo da
minha boceta e traz até minha boca, fazendo eu engolir e sentir o meu gosto.
Não posso negar que é inebriante senti-lo, então chupando seu dedo, vejo Frederic abaixar a
Solto um gemido alto, me contorcendo de tanto tesão com isso, como um homem poderia fazer
aquilo tão gostoso? Sinto pena de quem não tem um homem como esse em sua casa. Ou melhor,
com Frederic ainda chupando minha boceta e enfiando um dedo devagar, enquanto o dedo de
Não demora e Fred para de chupar minha boceta e só mantém o dedo nela, fazendo
movimentos no meu clitóris, que me causa ondas de prazer. Seu irmão me observa atentamente, ainda
com o dedo na minha boca, e fico ainda mais excitada, se isso realmente é possível. Não demora e
Fred se levanta, vindo até nós dois e voltando sua atenção para mim.
Ele beija meu pescoço e abaixo a cueca de Ferdinand, segurando seu pênis duro e o
masturbando. Ferd geme diante do meu toque e faço o mesmo com Fred, masturbando os dois ao
mesmo tempo, enquanto ambos chupam meus seios, me causando ondas elétricas de prazer.
Ainda os masturbando e sentindo suas bocas nos meus seios, os dois guiam suas mãos para a
direção do meu sexo e introduzem um dedo de cada no meu sexo, esfregando meu clitóris. Sinto a
sensação na boca do estômago com isso e continuo os masturbando, cada vez mais maravilhada com
a cena que estou. Nunca imaginei na vida que perderia minha virgindade com o ex marido de mamãe,
e pensar nisso, enquanto estou com ele e seu irmão gêmeo, me deixa completamente extasiada diante
da situação. Iríamos realmente para o inferno, mas neste momento, não me importo com nada disso, e
pensando o quanto esse ato de nós três é delicioso, acabo gozando no dedo dos dois, soltando um
gemido alto.
Sinto meu corpo amolecer e eles continuam com os movimentos, me sinto excitada com isso,
então, devagar, nos separo e me deito sobre o chão, com os dois fazendo o mesmo.
Frederic vem para o meu lado e começa a beijar meu pescoço, descendo para meus seios,
enquanto Ferdinand chupa minha boceta. Solto um gemido. Continuo na mesma posição, deitada,
— Quero retribuir o que estão fazendo por mim — diz, lambendo os lábios, seus olhos
brilham. — Então, se me permitirem, primeiramente vou assistir Frederic te comer, Estére, e depois
farei isso.
Os dois sorriem e vejo Frederic se encaixar no meio das minhas pernas, enfiando seu pau sem
qualquer dificuldade dentro de mim. Solto um gemido ainda mais alto ao senti-lo e minha boceta se
contrai, fazendo-o gemer também. Logo as investidas começam e vejo algo um tanto delicioso;
Frederic dobra minhas pernas, investindo cada vez mais dentro de mim e beija meus lábios, enquanto
Sinto-me deliciada ao ver outro homem nos assistindo e agarro o rosto de Fred, devorando
seus lábios. O suor escorre do seu cabelo, descendo para seu rosto e indo de encontro ao seu peitoral
forte, que está suado. Ele continua com os movimentos e gemo ainda mais, então, sinto meu corpo
cada vez mais quente e Fred para de me foder, saindo de dentro de mim e trocando de posição com o
irmão, que coloca seu pênis de uma vez dentro de mim e me faz soltar mais um gemido.
— Agora é a minha vez de te foder com força — diz, sorrindo e remexendo os quadris. Fico
extasiada com isso e ele começa com os movimentos cada vez mais rápidos.
Vejo Frederic sorrir para mim, e começa a se masturbar, olhando-me transar com seu irmão.
Fico ainda mais fascinada com isso, pensando na primeira vez que transei com Ferdinand e o quanto
Ficamos um bom tempo nesta posição e beijo Ferd e esfrego meu clitóris.
— Eu vou gozar — sussurra Ferdinand estocando com rapidez dentro de mim. — Você toma
pílula?
Nego com a cabeça e ele concorda, continuando as investidas mais rápidas e de repente,
saindo de dentro de mim. Ele solta um gemido e goza sobre a minha barriga, então vejo Frederic
também gozar na direção do chão e deliciada com isso, solto um grito, chegando mais uma vez ao
deitando ao meu lado. Não abro os olhos para saber quem é, afinal, estou tão exaurida que mal
Não lembro do momento certo em que eu dormi, só me vem à lembrança do sexo que eu havia
O sexo.
Havia sido algo tão delicioso e inovador, que chega a me assustar. Só de pensar que eu transei
com os irmãos Cooper, meu corpo envia sinais e quero repetir, mas me controlo.
Após Estére dormir, saio da sua cama e sigo para o meu quarto, deixando a porta encostada.
Me deito e olho para o teto, pensando no que havia acontecido entre Estér, Ferdinand e eu.
Ainda é muito novo para mim a ideia de ter uma relação trisal, ou como é que chamam. Só de
pensar no sexo que havíamos tido, me repreendo. Não por ser algo errado, apesar de saber que não é
— Toc, toc. — Ouço meu irmão na porta e me viro para ele, que está usando uma calça de
— Sim, aconteceu — responde. — Estére, você e eu fizemos sexo, isso que aconteceu — me
diz.
Fico em silêncio, pensando quando criei coragem e aceitei essa loucura. Droga, o que está
acontecendo comigo? A experiência havia sido completamente nova para mim, eu nunca havia feito
algo parecido, a não ser, é claro, transar com duas mulheres e tê-las só para mim.
Mas o fato de ter ficado com a mesma mulher que o meu irmão, me causa uma sensação
estranha.
Que pecado havíamos cometido? Sei que isso é errado, mas o que fazer em relação a algo,
sendo que eu havia gostado? Como explicar que realmente foi excitante ter transado com Estére e ter
— Você que precisa me dizer, Fred — sussurra, torcendo o nariz. — Se me disser que não se
sente bem com isso, que estou invadindo o espaço de Estére e seu, eu posso pegar minhas coisas e
cair fora, cara, mas para isso preciso saber o que você acha.
— Eu não sei o que senti — digo. — Quero dizer, estava visível que senti tesão, mas agora,
depois que tudo passou, não consigo pensar direito. Porra, Ferd, nós transamos com a mesma mulher!
Me levanto e ando de um lado para o outro, sentindo-me completamente perturbado com isso.
— Eu não sei.
— Olha, eu passei muitas coisas na cadeia, e ser passivo dos caras, chupar pau e às vezes ser
obrigado a fodê-los, foram algumas delas. De início, foi completamente difícil, porém, com o tempo,
me acostumei com coisas desse tipo. Não estou dizendo que só porque estamos transando com a
mesma garota, devemos transar também, mas para mim é mais normal do que imagina ter mais de uma
ele está certo, não tinha que dar satisfação da sua vida para mim. E saber disso não me incomoda, o
Quantas coisas meu irmão havia passado na cadeia e eu não estive ao seu lado.
Será que se eu tivesse sido preso junto, também seria abusado e obrigado a fazer essas
coisas?
— O problema não é transarmos com Estére, mas sim sermos irmãos, ainda mais gêmeos —
respondo, ainda andando de um lado para o outro, cada vez mais nervoso.
— Você está preocupado com o que as pessoas dirão a respeito? — questiona-me e assinto,
suspirando, frustrado.
— Tenho medo por Estére e pela gente, é claro, sabe o quão doentio é você se relacionar com
a mesma mulher que o seu irmão? Uma relação a três tudo bem, isso é mais comum do que as pessoas
Ferdinand se aproxima e coloca as duas mãos sobre meus ombros, parando-me à sua frente.
— Não se preocupe com o que a sociedade irá dizer, as pessoas gostam de se indignar na web
e apreciar por trás, é isso que elas fazem. Criticam para parecerem as corretas, mas por trás
consomem aquilo. Não estou dizendo que essa relação é normal, e que termos transado juntos, com a
mesma garota, é algo comum, mas quero dizer que se nós gostamos, e Estére está de acordo, não há o
certo, estou me preocupando demais com o que as pessoas dirão a respeito disso. E o pior de tudo é
que tenho medo da reação delas. E se Frida descobrisse? Estére não conseguiria esconder para
sempre de sua amiga o que está acontecendo entre nós dois. Aliás, entre nós três.
— Me desculpe se te causei algum desconforto, mas se não quiser mais, podemos conversar
com Estére...
— Tudo bem, só é muito novo para mim, entende? Só preciso de um tempo para processar
isso.
Meu irmão concorda e dá um tapa no meu ombro, se despedindo e saindo do quarto. Fecho a
Acordo na manhã seguinte com o cheiro de ovos e bacon no ar. Levanto, vou até o banheiro e
escovo os dentes. Me encaro no espelho e recordo do que havia acontecido na noite anterior,
Assim que saio do quarto, já arrumado e com minhas coisas, desço a escada e sigo para a
cozinha, dando de cara com Estére e Ferdinand preparando o café para nós.
— Bom dia — digo, forçando um sorriso.
Estér vem em minha direção e deposita um suave beijo nos meus lábios.
— Está com fome? — pergunta, sorrindo. Sorrio e concordo, com Ferdinand vindo até a mim.
— Devo cumprimentá-lo com um beijinho também? — caçoa, rindo logo em seguida. Reviro
— Nem pense — digo, me sentando e pegando a xícara que Estér depositou à minha frente.
Beberico um gole da bebida quente e começo a comer os ovos com bacon quando ela me entrega.
Penso sobre o que havia falado com ela no dia anterior antes de sair com Ferdinand e
concordo, pensando em como em poucas horas as coisas haviam mudado. Não que eu não tivesse
gostado de ter feito sexo com os dois, porém, quando você é novo nisso, é estranho pensar depois no
que aconteceu.
— Claro — digo, sorrindo e afastando novamente meus pensamentos. Porra, eu havia aceitado
isso.
— Tudo bem, eu pensei que poderíamos fazer as fotos no final de semana, o que acham?
— Só farei essas fotos porque não tenho escolha, gatinha — diz, piscando.
Estére revira os olhos e levanta, indo até meu irmão e depositando um suave beijo nos seus
lábios, por incrível que pareça, isso não me incomoda, então ela vem na minha direção e faz o
mesmo.
— Preciso ir nessa, não posso mais perder aula, nos vemos mais tarde.
Assim que fala, ela vai em direção à porta e a fecha, deixando-me sozinho com meu irmão.
— Quer ajuda na oficina? — pergunta. — Estou de bobeira, está difícil achar um emprego
pela cidade.
Penso sobre isso e me recordo dos velhos tempos, conosco na oficina que pertencera ao nosso
pai.
de lembrar. Não havia me importado nem um pouco sobre tudo que Frederic e Ferdinand fizeram
juntos comigo; pelo contrário. Só de imaginar nós três transando juntos, me sinto excitada.
Porém, algo me incomoda, e é o que faremos de agora em diante. Fico pensando o caminho
todo sobre o que Frida faria se estivesse no meu lugar e tomo a decisão de puxar o assunto com ela,
Saio dos meus pensamentos quando já estou em frente ao campus e assim que estaciono, vejo
Frida vir em direção do meu carro com um enorme sorriso no rosto. Pego minha mochila e desço,
travando a porta.
— Sobre o jantar, é claro! Você não me mandou mensagem, então creio eu que deve ter rolado
alguma coisa.
Sorrio forçadamente. Eu havia esquecido completamente que minha amiga iria querer saber
sobre isso.
— Na verdade, antes de tudo, quero te fazer uma pergunta — digo, seguindo para dentro da
faculdade.
— Qual?
— O que você faria se dois caras estivessem a fim de você e dispostos a dividi-la entre eles?
— Se ambos querem e eu também, qual seria o problema? — pergunta, curiosa. — Não vai
me dizer que além do Ferdinand você está com outro? Me diga quem é.
— É só uma pergunta mesmo — respondo. — Sobre o jantar, foi sensacional, depois que
Estou sendo sincera, certo? Realmente havia acontecido um beijo, só não havia dito que foi
com Frederic e Ferdinand. E claro, que passou disso. Aliás, passou muito disso.
— Espere, Srta. Muller, você está me dizendo que Ferdinand e você ficaram? Isso é
— O que é sensacional? — pergunta Collin atrás de nós. Me viro e torço o nariz ao vê-lo.
— Bem, não é da sua conta, mas já que quer saber... — começa Frida, limpando a garganta.
— Estére está ficando com outro cara, um muito melhor que você, acredite.
— Ele é realmente maluco, eu não sei como vocês ficaram juntos tanto tempo — diz Frida, e
concordo com ela, seguindo para a aula assim que o sinal toca.
A aula passou tranquilamente e me peguei pensando várias vezes no sexo que eu havia tido
com Frederic e Ferdinand. Só de pensar que poderia repetir isso quantas vezes eu quisesse, dava
— Você é mesmo uma tarada, Estére Muller — murmuro para mim mesma, quando estou indo
para uma mesa no refeitório. Frida havia ido buscar sucos para nós duas, enquanto eu comprava os
— Pensando sozinha, amiga? — pergunta me trazendo para a realidade assim que deposita na
— Escondendo? — questiono, sabendo o quanto estou sendo hipócrita, por que não contar
logo a verdade a ela? Por que não me abrir para minha amiga? No fundo, sei que ela irá me apoiar,
no entanto, o medo toma conta de mim. — Bem, várias coisas, mas outra hora eu conto. — Pisco e
— Você deveria chamá-lo de novo para sair, quem sabe não rola sexo — diz, dando de
ombros.
Me sinto mal ao ouvir isso e não poder contar para minha amiga sobre o que já aconteceu.
— Os rapazes e eu vamos no final de semana para o chalé para fazermos as fotos — digo,
mudando de assunto. — Decidimos ir para lá, por ser um lugar mais tranquilo.
— Conheci um rapaz tem uns dias e estamos conversando bastante, mas ele me disse algo que
me assustou.
— Ele me disse que gosta de práticas BDSM, eu nunca fiz nada parecido, você sabe disso,
— Uau, seria ótimo saber o que daria entre vocês dois, afinal, o novo sempre é gostoso, de
— Você está certa, veja o quanto Ferdinand está fazendo bem a você — diz, convicta.
— Não seja boba, nos conhecemos esses dias — respondo, sem graça.
— Sim, e o tempo que esteve com Collin eu nunca vi esse brilho nos seus olhos.
Quero dizer a ela que os culpados disso são Frederic e Ferdinand, mas dou de ombros e
sorrio.
— Possa ser que você esteja certa, mas que tal irmos logo para aula antes que a gente se
atrase?
— Quem diria que as coisas mudariam tanto, você com Ferdinand e eu com um cara com
gostos peculiares.
Rio e concordo, querendo dizer a ela que os meus não são menos peculiares que o dela, mas
me mantenho em silêncio.
Muitas das vezes, o novo causa medo e impacto em algumas pessoas. Sei disso, aliás, passei
por muitas coisas novas das quais o medo foi pioneiro delas.
Lembro-me perfeitamente do dia em que fui jogado na prisão e lá apodreci por longos dez
anos. Sim, podridão, foi isso que aconteceu comigo. Passei por muitas coisas novas, que foram ruins,
e outras que no fim, se tornaram boas. Como, por exemplo, o sexo. Por mais que tenha sido estuprado
por anos, quando eu fazia de livre e espontânea vontade, até que era bom. Não, não sou gay e nunca
fui, mas descobri um lado novo meu que não sabia antes.
E agora, com Estére e Frederic, descobri mais um. O desejo sombrio de tê-la conosco, o que,
Por que nos prendermos em estereótipos se vamos mesmo para o inferno? Isso se realmente
ele existir, é claro.
caminhonete e concordo.
— Mas é claro, qual o problema dessa belezura? — questiono, voltando-me para Jack.
— Nada de mais, só a correia mesmo — diz, encarando o capô aberto. Concordo com um
aceno de cabeça e encaro meu irmão, que está com a mão na cintura nos observando.
— Essa é fácil — digo, tirando a correia velha e a substituindo pela nova, aproveito e reviso
o óleo do motor e assim que finalizo, fecho o capô do carro e encaro meu irmão. — Pensei que seria
— Culpado, eu queria mesmo que viesse para cá para relembrarmos os velhos momentos que
Penso sobre isso e ele segue para seu escritório, então o sigo e me sento, lembrando do dia
— Eram bons momentos — digo, saindo dos meus pensamentos novamente e aceitando o copo
— Você acha que nossa mãe estaria orgulhosa de nós? — pergunta. — Digo, em relação a
tudo que já fizemos. Nem saber que você foi para a prisão ela soube, escondi o máximo possível e
quando vi, ela havia morrido, e eu não tinha você lá do meu lado para me apoiar, assim como você
— Não pense nessas coisas, tá legal? Já passou — respondo, bebendo o uísque. — E apesar
de tudo, acredito que ela tenha orgulho sim de nós, independentemente de onde esteja. Não fomos os
melhores filhos do mundo, mas também não os piores. — Sorrio e ele também. — Você está
— Você não?
— Sim, mas para mim é mais fácil aceitar e conviver com este pecado, do que continuar me
julgando.
— Eu também não sei, mas é a mulher que você ama — digo, cruzando as pernas. — Isso te
incomoda?
— A mulher que eu amo gostar do meu irmão? Não, creio que não. Quando ela me disse,
parecia problemático, mas agora não, porque eu também te amo, você é meu irmão e...
— E...?
— Esquece, deixe isso para lá. — Fred suspira e se senta. — Porra, como sou idiota, quem eu
quero enganar? Gostei muito do que nós três fizemos.
— Mais tarde vou jantar com Estére, por que não vem junto?
— É melhor não, eu tive meu momento com ela, tenha o seu também — respondo.
— Para a noite acabarmos os três juntos? —questiona. — Vou avisá-la que você irá conosco.
jantar conosco e que vamos em um lugar especial. Fico pensando que lugar é esse e me vejo sorrindo
com sua mensagem, sendo tirada do meu devaneio com Frida surgindo ao meu lado.
e balanço a cabeça.
— Sim, só me convidando para jantar de novo — minto, me sentindo péssima com isso. Frida
— Conte, por favor, estou desesperada por fofoca — respondo e nós duas rimos.
— E vocês vão sair quando? — questiono, surpresa com isso, essa história vai ser
— Ele me chamou para um jantar em sua casa, fica próxima da minha, então não terei muito
problema. Ele me disse que quer me mostrar algumas coisas.
— Você está certa, irei encaminhar uma mensagem a ele e dizer que aceito, mas se formos em
— Tudo bem, mesmo assim, mantenha sua localização atualizada e me mande mensagem
sempre.
— Se ele for tão bonito quanto o nome, está feita — brinco e ela concorda, se despedindo de
mim.
Concordo e sigo para o meu carro, entrando e seguindo em direção da estrada, com o
pensamento de que minha amiga vai se divertir e muito com esse rapaz.
Sigo para casa ouvindo música e sorrindo feito boba ao pensar que ao chegar lá, terei dois
Frederic trocou com Ferdinand a penetração, fazendo eu sorrir com a lembrança. Não posso negar, os
dois são ótimos no sexo, ambos são diferentes e especiais de suas maneiras.
Só de pensar que de início acreditei que Ferdinand não passava de um babaca, quero rir, mas
isso não muda o fato dele ser um bom “piadista” com suas sátiras sem graça.
Chego em casa e saio do carro, seguindo para dentro. O cheiro de comida invade minhas
Sigo para a cozinha e encontro os irmãos Cooper conversando e preparando o almoço. Fred
— Boa tarde, gatinha — diz Ferd sorrindo para mim, retribuo e o cumprimento com um beijo
— O que temos para o almoço? O cheiro está ótimo — digo, lambendo os beiços.
— Certo, querem ajuda para alguma coisa? — questiono, ambos negam com a cabeça.
— Só esteja preparada para mais tarde — diz Fred piscando, concordo, pensando no que ele
estaria aprontando e decido ir assistir a um pouco de televisão, pensando que isso poderia me ajudar
a distrair a mente.
Mas ver os dois na cozinha, pensando que poderiam estar comigo, me deixa com a mente
fervendo.
qualquer e pego meu celular, notando algumas notificações do Instagram. Então recebo uma
Seguro a respiração e abro o link, vendo que é um vídeo de um suposto padrasto abusando
sexualmente da enteada, o que me deixa enojada. Fecho o navegador e leio a outra mensagem de
Collin:
“É assim que ele faz com você, Estére? É assim que Frederic te fode?”
“A verdade, assuma de uma vez por todas que você e Frederic estão transando. Agora
com o irmão dele por perto, você deve estar fazendo sexo com os dois, não é mesmo?”
Fico atônita com suas duras palavras e sinto minhas mãos tremerem, então sou trazida à
cabeça e tento disfarçar o olhar aflito, porém, falho miseravelmente. — Está tudo bem? Você está
pálida.
— Não é nada de mais — minto, sabendo que se ele e seu irmão souberem sobre a mensagem
— Sim, eu tenho certeza — afirmo, com a voz embargada. Ele me encara e quando vou sair do
— Só irei deixá-la sair daqui quando me falar o que realmente está acontecendo — diz, me
fitando.
Vejo que não terei escolha e pego o celular, mostrando a ele as mensagens.
— Collin está desconfiado de nós e quer que eu diga de qualquer maneira a verdade.
— Vou arrebentar esse filho da puta! — diz, com a voz alterada. Não demora e Frederic
— O que está acontecendo? — questiona. Mordo o canto da boca e sinto o gosto do sangue,
— Não adianta agirmos de cabeça quente, e no final, ele está certo, temos mesmo uma
relação, mesmo sem rótulos, estamos juntos, certo? — Os dois assentem. — Então, isso só daria
— E se ele tentar alguma coisa com você? Isso já está se tornando perseguição — responde
Frederic, me observando.
— Caso isso aconteça, eu mesma vou atrás de um advogado e peço uma medida protetiva para
— Acho que ele não aceita o fato de nós nunca termos transado — digo.
devolve o celular.
— Se ele continuar com essas mensagens, vamos até a delegacia, entendeu? — Meneio com a
Mordo o canto da boca e seguro seu braço quando ele está prestes a sair.
— Sim, não vamos deixar esse babaca nos atrapalhar — responde. Concordo e nós três
descemos em direção à cozinha, nos sentamos nas banquetas e logo estamos comendo, com o
Porém, não consigo esquecer o vídeo nojento que Collin havia me mandado, e a mensagem. O
que será que ele faria se soubesse que suas teorias sobre Frederic, Ferdinand e eu estão corretas?
Estamos no carro de Frederic quando a noite já está caindo e seguimos para um local mais
afastado da cidade. Estou no banco da frente, enquanto Ferdinand está sentado atrás, cantarolando a
música que toca no rádio.
Fred havia me dito que o jantar seria diferente, que iríamos fazer um piquenique à luz das
A cesta de vime está com Ferd, e pelo que vi, bastante cheia.
Fico pensando sobre isso que está acontecendo conosco e sorrio, feliz pelo simples momento
— Está pensando no quê? — pergunta Frederic me encarando com um sorrisinho nos lábios.
— Uns três meses? Eu não sei, ando tão perdido no tempo com tudo que está acontecendo —
— Sei que é ridículo e você não acredita nisso, mas ela está em um bom lugar.
Desejo que ele esteja certo mesmo, afinal, se mamãe soubesse o que está acontecendo dentro
da casa da qual ela me criou a vida inteira, não estaria nem um pouco orgulhosa de mim. Analiso a
situação e mordisco o canto da boca, sentindo o gosto do sangue. Quantas pessoas fazem o que
Frederic, Ferdinand e eu estamos fazendo? Claro que há pessoas que nos julgam, mas será que tem
pessoas que nos apoiam? Que acham “normal”? Principalmente em relação aos gêmeos Cooper em
Decido esquecer isso assim que o carro para e vejo que estamos próximos de um pequeno
Saio do carro assim que Fred destrava as portas e aspiro o ar fresco e úmido do local. A
grama verde está aparada e limpa; essa é uma das qualidades daqui, os cidadãos não são imundos
— Deixe de besteira, irmão — responde o outro. — Vamos ficar por aqui mesmo, é tranquilo
e está vazio.
Concordamos e me afasto quando vejo os dois colocarem as mãos para funcionar. Frederic
tira de dentro da cesta uma enorme toalha, forrando o chão. Logo em seguida, Ferdinand o ajuda a
colocar as coisas que vamos comer. Noto que temos queijos, presunto defumado, salgadinhos,
azeitonas e até mesmo uma garrafa de vinho e três taças. Contém frutas como uva, morango e maçã. A
fruta considerada do pecado, mas consumida por muitos. Penso em relação a essa teoria. Muitos
criticam o pecado, mas o consomem, assim como “o fruto proibido”. É ridículo, eu sei, mas sorrio
com isso, analisando a situação. Será que Frederic e Ferdinand seriam meus frutos proibidos?
— Não devíamos fazer isso aqui — sussurro —, pode ter algum conhecido.
— Eu pensei nisso também, não vem quase ninguém que possamos conhecer nesta parte da
cidade.
Concordo, me sentindo um pouco insegura com isso e me sento, com Ferdinand nos servindo
do vinho.
— A quê? — questiono, segurando minha taça e o encarando. Ele está sentado com as pernas
cruzadas, enquanto seu irmão está ao meu lado com as mesmas esticadas.
— A nós, é claro — diz ele —, que apesar dos pesares, estamos aqui, nos divertindo como se
— Quero agradecer aos dois pelo que estão fazendo por mim — digo.
— O quê? Transando? — questiona Ferd rindo. Reviro os olhos e nego com a cabeça.
— Claro que não, digo no sentido de me darem um pouco de conforto. É tudo muito novo para
mim e bastante confuso, mas estou realmente feliz em tê-los ao meu lado. — Me viro para Fred e
seguro sua mão, que acaricia minha pele com seu polegar.
— Não precisa agradecer por algo que nem sabíamos que aconteceria. Isso é novo para nós
três, mas acho que podemos fazer dar certo. — Ele encara o irmão e Ferd concorda, finalizando o
vinho.
— Ok, vocês ganharam, eu também estou feliz em estar com vocês e de podermos enfim nos
resolver. Claro que não imaginei vir para cá e manter uma relação com a garota do meu irmão, mas...
Os irmãos Cooper assentem e começo a comer algumas azeitonas, bebendo mais vinho. Os
dois fazem o mesmo e aproveito para comer fatias de queijo e presunto que tanto adoro.
— Agora chegou a parte que eu mais esperei — diz Fred. Fico sem entender e estreito as
sobrancelhas.
— Soube que seu nome significa “a noite” — diz Fred —, sua mãe uma vez me contou que era
— Sim — digo, surpresa com isso, ele nunca havia me dito que sabia o significado do meu
nome.
— Ela me contou também que vinha muito aqui e ficava olhando o céu todas as noites, quando
você chutava a barriga dela. Jolie me contou que as estrelas brilhavam mais do que o normal por
aqui, e só acreditei quando vi... — ele aponta para o céu e ergo minha cabeça, vendo as estrelas
reluzirem.
Fico emocionada com isso e sorrio, com Fred e Ferd me abraçando, e analisando o céu ao
meu lado. Penso em mamãe e o quanto a amo e sinto sua falta, sabendo que se ela estivesse aqui, as
coisas seriam completamente diferentes. Sorrio ao pensar que em algum momento ela falou sobre
mim para Frederic e sinto as lágrimas cobrirem meu rosto, comigo chorando pela primeira vez em
meses.
arrumo minha mala com coisas que irei usar e procuro nas gavetas a câmera fotográfica que mamãe
havia me dado. Quando a pego, milhares de lembranças do momento em que ganhei, encobrem minha
Quando disse a mamãe que estudaria Fotografia, ela formou um enorme sorriso e disse-me
que eu deveria ser o que quisesse, o que me deixou muito feliz. E então, no mesmo dia, um pouco
mais tarde, ela me entregou a câmera e disse para que eu a usasse nos momentos mais felizes da
minha vida. Infelizmente, com medo de não ser uma boa fotógrafa, nunca cheguei a tirar uma foto de
Guardo-a na mala e saio do meu quarto, já arrumada. Estou usando calça legging, tênis e
camiseta, com meus cabelos presos em uma trança. O tempo está bastante agradável, o que me deixa
realmente feliz.
Desço a escada com a mala e encontro Ferdinand na sala com o jornal e uma xícara de café na
mão.
— Bom dia — digo, sorrindo. Ele está usando calça jeans, camiseta e botas. Eu havia dito na
noite anterior que queria viajar cedo para aproveitarmos ao máximo o final de semana.
— Bom dia, gatinha — diz levantando e vindo em minha direção. Ele dá um selinho em mim e
— Onde está Frederic? — questiono, deixando a mala de lado e puxando a xícara dele.
— Eu não acredito que eu que sou mulher já estou pronta e ele não — digo indo em direção à
cozinha. Ferd me segue e pego no armário pão, e manteiga de amendoim na geladeira. Passo em uma
fatia e entrego a Ferdinand, então faço outra e como, sentindo o gosto doce invadir minha boca.
— Ainda há de existir uma explicação para você ser tão magra e comer igual a um
dragãozinho — diz ele, passando o dedo na ponte do meu nariz. Dou risada e balanço os ombros.
— Penso que devemos ser felizes do jeito que somos, independentemente se isso agrada ou
ouvido.
— Muito — respondo, mastigando o pão. O empurro e aponto meu dedo para ele. — Nem
— Tem medo de cair nas minhas garras e acabar querendo brincar antes de viajarmos?
— Vou fingir que você não disse nada — respondo e vejo Frederic vir em nossa direção. O
— Estou atrasado? — pergunta, depositando um beijo nos meus lábios. Sorrio, afirmando com
— Ah, eu quero beijo também — provoca Ferdinand fazendo biquinho. Rio com isso e
— Você é mesmo um babaca, Ferd — diz Frederic e o irmão ri, divertindo-se com isso.
— Claro, seu babaca — xinga o outro dando as costas e se servindo de café. Rio, achando
graça e ouço meu celular apitar. O pego e noto que é uma mensagem de Frida:
“Eu sei que demorei para falar com você, mas precisa saber.”
“O quê?”
“Claro que não! Eu só adorei o sexo e o que ele pode fazer na cama, o BDSM é algo que
deveria ser muito mais explorado. Você deveria tentar com Ferdinand.”
— Vamos nessa?
Vamos os três o caminho inteiro cantando músicas aleatórias que toca no rádio. Dessa vez
quem está dirigindo é Ferdinand e Frederic está no banco da frente, comigo atrás os analisando
Sorrio com isso e pouco mais de uma hora depois, Ferdinand estaciona próximo ao chalé. O
local está do mesmo jeito que deixamos da última vez do lado de fora, com algumas lenhas
guardadas e o ar fresco.
— Eu me mudaria para cá tranquilamente — digo, sentindo a luz do sol refletir no meu rosto.
— Por conta da minha idade, ainda não podemos vender. É uma leia meio idiota que não
entendo direito.
— Você venderia o lugar que passou sua vida inteira? — questiona Ferd.
— Por que não? — Ele meneia os ombros e seguimos para o interior do local.
— Teremos que ir ao mercado — diz Fred, assim que entramos. O lugar está limpo e me
recordo do Natal que passamos aqui. A lembrança parece tão distante que chega a me incomodar.
Estamos em fevereiro já, e pensar que meu aniversário está cada vez mais próximo, me deixa
incomodada ainda mais. Seria o primeiro, de muitos, que passaria sem mamãe.
— Faremos isso — digo, saindo dos meus devaneios. Ferdinand me encara e como se lesse
— Já que teremos uma relação, me diga, quando é seu aniversário? O que mais gosta de
fazer? Qual sua comida e cor preferidos?
— Sim, meu irmão e eu precisamos conhecer melhor a mulher pela qual estamos nos
apaixonando.
Fico quieta e sorrio, então me sento e Frederic e Ferdinand fazem o mesmo, os dois estão com
os olhos brilhando.
— Acho que Frederic sabe meu aniversário e isso ele pode te responder.
— É dia seis de março, e você não gosta de contar para ninguém. Sua comida favorita é
panquecas do Beer’s, ovos e bacon. Você gosta de assistir a séries clichês da Netflix e ouvir música
no carro. Em casa é raro. Sua cor favorita é todas, nunca parou para usar uma cor só, sua melhor
Ele termina de falar e fico surpresa em como me conhece bem, o que me faz me achar uma
— Uau, falta um mês para o seu aniversário e você não pretendia me falar? — questiona
Ferdinand.
— Não gosto de aniversários, penso que é só uma data para me lembrar que estou ficando
— Estou há anos ao lado de Estére, a vi crescer, realizar seus sonhos, namorar e se tornar
— Estou surpresa, eu mal olhava na sua cara — digo, arrancando uma risada dos dois.
— Eu sei, mas eu a olhava, na verdade, sua mãe sempre falava de você para mim, então era
— Se ela estivesse aqui, tudo seria diferente — digo. — Talvez não teríamos nos relacionado,
— Sei que é difícil, mas e se ela estivesse aqui, o que você faria?
— Quando isso aconteceu? — questiono. — Quando foi que nós três nos apaixonamos?
Os dois dão de ombros.
— Eu não sei, Estére, mas não quero mais viver sem isso — diz Frederic.
Sorrio e me aproximo dos dois, os abraçando, então beijo Frederic e sigo para Ferdinand,
pensando que, mesmo que seja errado, loucura ou nojento para alguns o que estamos vivenciando, eu
seguimos para o chalé para Frederic preparar nosso almoço. Ele resolveu fazer almôndegas para nós,
Depois disso, passeamos pela cidade e conhecemos alguns lugares dos quais não havíamos
ido da outra vez. Ferdinand está superanimado e adorando o passeio, sempre respirando o ar puro e
Penso o quanto isso deve ser importante para ele e acaricio a palma de sua mão quando
estamos próximos, o que faz Ferd sorrir ainda mais e continuarmos aproveitando o passeio.
Quando já está quase anoitecendo, voltamos para o chalé em silêncio, cansados de tanto
— O dia foi incrível, obrigado por isso — diz Ferdinand assim que entramos para o chalé,
— Realmente foi maravilhoso, vocês são ótimas companhias. — Pisco e os dois lambem os
lábios.
Meneio a cabeça e tiro minha camiseta, jogando na direção deles. Logo retiro meus tênis e a
Passo ao lado dos dois, que ficam me observando, e entro no banheiro, sorridente.
Abro o chuveiro e a água quente cai sobre mim, molhando meus cabelos e meu corpo.
Devagar, passo o sabonete pela minha pele e assim que termino, vejo a porta do banheiro ser aberta e
Os dois sorriem um para o outro e vêm em minha direção, entrando debaixo do chuveiro. Me
afasto, permitindo-os se molharem e vejo a água escorrer por suas barrigas definidas, molhando os
Instantaneamente consigo notar os volumes marcando e mordo o canto da boca, com Frederic
me olhando e me chamando com seu indicador. Me aproximo dos dois e fico entre eles, com a água
agora cobrindo os três, então Ferdinand pega o xampu e ensaboa meus cabelos, esfregando-os
cuidadosamente, o que me faz soltar um pequeno gemido involuntário. Frederic nota e então pega o
sabonete, fazendo espuma em sua mão e a passando pela minha clavícula e descendo para meus
seios. Quero dizer a ele que já me ensaboei, mas a sensação que seus dedos me causam me deixa sem
voz. Enquanto seu irmão se mantém nos meus cabelos, sua mão percorre devagar entre meus seios, os
Meu corpo se arrepia e ele para próximo a minha boceta, então passa a mão por cima,
— Quem foi que fez você atingir seu primeiro orgasmo? — questiona-me.
Penso sobre a pergunta e fico receosa de responder, mas decido ser sincera.
— Ferdinand — assumo.
— Ótimo, apesar do seu primeiro orgasmo não ter sido comigo, vou fazê-la ter o melhor
agora — murmura e assinto, notando que Ferdinand parou de lavar meus cabelos e esfrega as minhas
costas.
volto a abri-los e encaro Frederic na mesma posição, com sua mão encostada na minha boceta.
— Está pronta, Estér? — pergunta sério, seus olhos brilham com uma intensidade que se
Ele concorda e tira sua mão da minha boceta, lavando os dedos e trazendo em minha direção.
— Abra a boca, Estére — faço isso e ele enfia seu indicador e médio dentro da minha boca.
Concordo com um movimento de cabeça e faço o que ele pede, chupando seus dedos como se
fossem seu pênis. Passo a língua nos dois e engulo, quase me engasgando. Ele sorri e investe os
— Está ótimo — diz, os tirando da minha boca. — Agora eu vou enfiá-los na sua boceta e
Fico arrepiada e sinto beijos serem dados pelos meus ombros, comigo me virando e avistando
Ferdinand. Ele sorri e mordisca meu ombro, arrancando um gritinho baixo meu. Quando menos
espero, sinto os dedos de Frederic serem introduzidos na minha boceta e me arrepio ainda mais, com
Ferdinand continuando a me morder e beijando cada parte do meu ombro, pescoço e costas.
— Sim — respondo, com a voz falha. Fred sorri e ainda me fodendo com seus dedos, se
aproxima e segura meu rosto com a mão livre, beijando meus lábios de maneira selvagem e ágil.
Solto um gemido entre seus lábios e ele me devora por completo, ainda me fodendo com os dedos,
enquanto seu pau e o de Ferdinand encostam na minha pele desnuda e molhada pela água.
Gemo cada vez mais, principalmente quando Ferdinand vai descendo devagar e mordisca
minha bunda, enquanto seu irmão continua me beijando e enfiando os dedos em mim. São tantas
sensações que sinto, que não consigo sequer descrever. Somente quem já havia feito o que estamos
fazendo que saberia compreender a situação. O tesão se transforma em luxúria e me vejo perdida nos
braços dos dois. Frederic não para, disposto a me fazer ter um orgasmo e Ferdinand separa minhas
— Está gostando? — pergunta Ferd, tirando seu rosto do meio da minha bunda e me
encarando. O olho por cima do ombro e concordo, então ele volta a chupar meu cu e Frederic beija
meu pescoço.
Logo em seguida ele para e se abaixa, tirando seus dedos de dentro de mim e os levando a sua
boca.
— Seu sabor é delicioso, Estére — diz, me encarando ajoelhado. Fico extasiada com a cena
dos dois ajoelhados diante de mim e então Frederic começa a chupar minha boceta, fazendo eu gritar
— Puta que pariu! — digo, sentindo o fogaréu me cobrir. Eles continuam me chupando e solto
vários gemidos, sorrindo com a cena. Como que alguém podia viver sem isso? Claro que muitas
vezes um homem apenas sabia satisfazer uma mulher, mas acho que todas as mulheres mereciam ter a
sensação que estou tendo agora. Todas deveriam ao menos uma vez na vida transar com dois homens
Os dois continuam enfiando suas línguas em minhas regiões íntimas e me seguro na parede,
Então, quando menos esperam, solto um gemido e gozo, lambuzando a boca de Frederic. Ele
— Ainda não acabou, gatinha — sussurra Ferd, saindo e pegando uma toalha.
Frederic fecha o registro do chuveiro e me ajuda a sair do box, me pegando no colo e guiando
pela saída. Rapidamente ele sobe a escada e vejo Ferdinand logo atrás, então sou colocada em pé, ao
lado da cama e Ferd começa a me enxugar, comigo sem reação, deixando-os cuidarem de mim como
jamais fizeram.
— Por favor — peço, desejando cada vez por mais. Ele concorda e assim que seu irmão
Ouço o que ele diz e fico surpresa com a pergunta. Ele está mesmo querendo saber se eu
— E-eu — gaguejo e engulo em seco —, eu nunca fiz isso, você sabe, é claro.
— Tudo bem — digo, me sentindo mais relaxada —, podemos tentar, comece um e depois o
outro...
O irmão concorda e Fred me dá um beijo, dando espaço para o seu gêmeo, que se encaixa no
meio das minhas pernas. Respiro fundo e relaxo minha mente e corpo, pensando apenas no desejo
sexual que estou sentindo. Quero mais do que tudo provar isso. Eu os desejo mais que qualquer
coisa, e pensar que posso ter os dois dentro de mim, faz minha lubrificação ficar cada vez maior.
Ferd se encaixa no meio das minhas pernas e o vejo encaixar seu pênis na minha entrada,
então ele o desliza pela minha boceta e abro ainda mais minhas pernas, me agarrando a ele. Arranho
segundo mais rápido. Suas investidas são fortes e o vejo delirar de prazer; seu olhar mostrando o
Como ele sabe, não sou especialista em oral, mas faço o meu melhor, engolindo-o
O quarto do chalé é coberto pelos sons dos nossos gemidos. Ferdinand geme por estar me
fodendo. Eu gemo por estar sendo comida por ele e chupando seu irmão. Enquanto Frederic geme por
Se vissem essa cena, as pessoas diriam que somos promíscuos, e realmente devemos ser, no
entanto, isso não deixa de ser maravilhoso. É pecado? Pode até ser. É luxúria? Também, mas esse é o
nosso amor. A nossa maneira de nos completarmos. De nos amarmos e sermos felizes.
— Sim, estou — respondo, tirando o pau de Fred da minha boca e voltando a chupá-lo logo
em seguida.
Ele concorda e o sinto enfiar dois dedos na minha boceta, junto do seu pau, o deslizando cada
vez mais rápido. Sinto-me completamente excitada com isso e então Ferdinand sai de dentro de mim
Então Ferdinand se deita na cama e subo em seu colo, de costas para ele, deslizando pelo seu
pau e o sentindo me preencher por completo. Cavalgo no seu pau e abro ainda mais as minhas pernas,
Frederic vem para minha frente, subindo na cama e sorrindo, então o vejo beijar meus seios,
enquanto seu irmão ainda me fode. Devagar, ele se aproxima e enfia seu pau com um pouco de
dificuldade na minha boceta, arrancando um gemido meu. Sinto um pequeno desconforto, que
— Sua boceta é tão quente e deliciosa, Estére — sussurra Frederic, lambendo os lábios.
Sorrio maravilhada com isso e me inclino um pouco para trás, com Fred movimentando-se
dentro de mim, enquanto seu irmão gêmeo se mantém parado, acariciando minhas costas. Solto um
gemido alto, misturado com um gritinho. A sensação é tão gostosa que me deixa surpresa em saber
que isso realmente está acontecendo. Fred nota o quanto estou excitada e continua com as investidas,
Eles continuam e levo minha mão até meu clitóris, esfregando o polegar com rapidez,
enquanto os dois continuam me penetrando e fazendo eu ter um orgasmo que jamais pensei ter na
vida.
Solto um grito de prazer e o pênis de Frederic escapa da minha boceta, então ele goza, com
seu sêmen escorrendo pela minha barriga e perna, e noto que Ferdinand também gozou, o que me
— Eu não quero nunca mais viver sem isso — digo, com a respiração acelerada.
— Namora conosco? — pergunta Ferd no pé do meu ouvido. Sinto um arrepio e encaro Fred,
que sorri.
— Namoro — digo, aceitando o pedido, e vejo Frederic levar sua língua até minha boceta, me
limpando completamente.
Acordo na manhã seguinte e sorrio ao ver Ferdinand e Frederic deitados em cada lado da
cama. Levanto-me devagar para não os acordar e sigo em direção ao andar de baixo, uso o banheiro
e preparo um café. Enquanto coa, arrumo o balcão com algumas coisas que compramos no mercado e
como, vendo que ainda está cedo. Pego meu celular que deixei aqui na noite anterior e dou “bom dia”
para Frida, que responde na hora e pergunta como foi a viajem. Quero dizer a ela que está sendo
ótima, principalmente porque não tenho um, mas sim dois namorados oficialmente.
Lembrar do pedido dos rapazes me deixa com o coração acelerado, principalmente pelo fato
Como não tenho coragem de dizer para Frida o que realmente está acontecendo, apenas digo
que a viagem foi tranquila e ela me responde com um coração. Sorrio, realmente feliz, o que chega a
ser estranho. Creio que nunca fui feliz assim com Collin, mas agora é diferente, porque estou com
pessoas que realmente gosto. Não que eu não gostasse do meu ex, pelo contrário, tenho certeza de
Ferdinand usando apenas boxers. Rapidamente Fred vai ao banheiro e minutos depois, seu irmão,
— Bom dia, dorminhocos — digo, sorrindo. Dou um beijo em cada um e eles se sentam, se
servindo de café.
— As fotos, é claro, viemos para cá para isso, não se faça de bobo — respondo, ele ri e
concorda.
— Tudo bem, mas pensei que poderíamos passar os três na cama, o dia todo, depois que
— Você é o que cozinha melhor — digo, dando de ombros. Ferd concorda e ele fica em
silêncio. — Sobre ficarmos deitados, não é uma má ideia, mas realmente preciso dessas fotos.
— Podemos fazer isso depois — diz Ferd, sorrindo maliciosamente. O vejo levar a mão até o
— Claro que não, o que é bom é para se mostrar... para você, é claro.
Estreito os olhos e rio, não aguentando manter o olhar sério, ele ri também e Frederic revira
os olhos.
— Convencido ao extremo... que tal fazermos as fotos agora de manhã e mais tarde um
— Então acho que é melhor irmos logo fazer meu trabalho — respondo, terminando o café e
me levantando.
Pego a câmera e sorrio ao ligá-la e focar a lente na entrada da floresta. Capturo cada detalhe;
o céu claro, os raios do sol, as árvores e o gramado molhado. Noto o musgo pelos troncos e tiro
Havia decidido de última hora fazer as fotos do lado de fora do chalé e os gêmeos Cooper me
apoiaram nessa decisão. Tiro mais algumas fotos e assim que termino, vejo-os sentados no solo, me
encarando.
fotografias. Faço mais algumas e assim que termino, me viro para eles.
— Se gostam mesmo de mim, sim — digo, fazendo beicinho. — Como sabem, o trabalho
precisa ser feito com a família, e vocês são os mais próximos que tenho disso neste momento.
— Tudo bem, desculpe por isso, mas faremos essas fotos com uma condição — começa.
— Qual?
— Depois que você terminar, meu irmão e eu iremos fotografá-la — diz, dando de ombros.
— Tudo bem — digo, achando a proposta válida —, mas agora se aproxime daquela árvore
— Essas serão para eu aquecer e ficarão guardadas comigo — digo, piscando. Os dois
Coloco meu olho na lente da câmera e foco neles, mexendo e desfocando o ambiente, então
tiro a foto. Peço para que fiquem de lado e tiro outra, observando cada detalhe dos seus corpos. São
mas aceita. Foco neles, vendo-os se encararem, os peitorais descendo devagar, a respiração
Eles concordam e fazem poses engraçadas, comigo os fotografando e rindo a cada careta de
Ferd. Assim que termino, faço mais algumas e tiro uma com eles atrás de mim. Sorrio e bato a foto,
— Não deve ser muito difícil, Srta. Muller — diz e aperta o botão, com o flash reluzindo no
Reviro os olhos para ele e rio logo em seguida, colocando os meus cabelos para trás e vendo
— Por quê? Você é linda de qualquer jeito — responde Ferd e Frederic vai para o seu lado,
analisando a foto.
Mordo o canto da boca de novo e me sinto nervosa. Eu adorava fotografar as pessoas, e com a
morte de mamãe, havia reduzido bastante esse meu hábito. Mas eu ser fotografada é algo totalmente
Sinto-me tímida e o flash bate mais algumas vezes, com Frederic e Ferdinand pedindo para
que eu sorria, mude a posição e até mesmo faça um olhar mais sensual.
— O quê? — questiono.
— Isso mesmo — diz Fred. — Fizemos o que nos pediu, agora é sua vez.
Concordo, revirando os olhos e o tiro, cobrindo meus seios com o braço. Parece ser ridículo,
mas estar no meio da floresta, com os seios de fora na frente dos dois, me deixa envergonhada.
— Não precisa ter vergonha, Estére — diz Fred, como se lesse meus pensamentos —,
conhecemos cada parte do seu corpo, agora nos deixe eternizar isso.
Concordo com um movimento de cabeça e descubro meus seios, com a luz do flash reluzindo.
Mudo de posição, me entregando àquilo e mais uma vez Ferdinand tira a foto, agora comigo de lado,
— Você é maravilhosa, Estére — diz, tirando outra. Sorrio e retiro o short e a calcinha que
uso, ficando completamente nua. Fecho minhas pernas para esconder meu sexo e outra foto é tirada.
— Venha tirar comigo, Fred — peço. Ele concorda, se despindo e se aproxima, me abraçando
por trás e me encarando. Analiso seus olhos e seus fortes braços, deixando-me completamente
Ferd continua tirando fotos nossas, em diversas posições. Com ele me beijando, me
Assim que terminamos, ele troca de lugar com o irmão e me vejo nos braços de Ferdinand.
Nos braços da luxúria. Um homem do qual nunca imaginei conhecer, mas que acabou se tornando
Estar nos braços de Fred e Ferd me deixa fascinada. É assim que eles são para mim; pecado,
luxúria, e o mais importante: o amor. Sinto que posso finalmente entregar todo esse sentimento aos
dois e beijo Ferd, com Frederic parando de nos fotografar e se juntando conosco.
Os dois me beijam ardentemente e me sinto feliz, completamente liberta dos meus medos e
receios. Neste momento, enquanto estamos nos amando, nos conectando e nos completando, não me
importo com o que as pessoas diriam se soubessem. Quero apenas ser feliz ao lado dos dois.
E realmente sou.
Depois de fazermos sexo no meio da floresta, o que me deixa completamente feliz e surpresa,
nos arrumamos e vamos para a cidade. Só de lembrar dos beijos e carícias de Fred e Ferd, me sinto
excitada novamente. Pela primeira vez, desde quando começamos a nos relacionar, o sexo havia sido
Sorrio com a lembrança de estar deitada no solo duro e ver um de cada vez investir em mim,
então afasto meus pensamentos quando chegamos e vejo a movimentação dos moradores.
O local me acalma, não consigo explicar o porquê, mas estar ali, longe do Vale Sombrio, me
causa um conforto enorme. Talvez seja porque aqui possamos ser nós mesmos, sem medo das pessoas
Ao pensar nisso, sem medo, seguro na mão de cada um dos dois, que retribuem o gesto, e
seguimos vendo as lojas, parando em uma que vende vinhos e queijos variados. Entramos e o cheiro
de mofo e lugar velho invade meu nariz, fazendo-me espirrar e ao mesmo tempo rir com isso.
— Qual é a graça? — questiona Ferd soltando minha mão e indo para uma das prateleiras.
— Nada de mais, é que estar aqui, andando tranquilamente, sem ninguém nos encarando torto,
é realmente bom.
Assim que termino de dizer isso, vejo uma mulher próxima da prateleira segurando um pote de
doce de leite me encarar de cima abaixo. Ela nota minha mão na de Frederic e balança a cabeça em
negativa, dando a volta e saindo pelo outro lado. Sinto-me incomodada com isso e Fred me encara.
— Não se importe, é isso que eles querem, que você se sinta atingida pela opinião deles.
Concordo e sigo até o local que ela estava antes, vendo os potes de doces. Pego um para
levarmos e apanho duas garrafas de vinho, os rapazes escolhem outras coisas e assim que pagamos,
— Podíamos comer alguma coisa, o que acham? Estou ficando com fome.
— Claro, gatinha, realmente dá fome depois de um sexo delicioso como o que fizemos —
Ignoro o que ele diz e seguimos para um restaurante ali próximo. Logo que entramos, somos
recebidos por um rapaz jovem nos dando as boas-vindas e nos levando para uma das mesas.
— Aqui estão os cardápios, espero que gostem — diz, nos entregando as cartas e se afastando
Escolho uma salada e os meninos pedem fritas e hambúrguer. Chamamos o rapaz que nos
— Deixe-me ver as fotos enquanto nossos pedidos não chegam — diz Ferd puxando a câmera
do meu pescoço. Ele a liga e começa a visualizar cada uma, sorrindo a todo instante, então me mostra
a que estou olhando para o céu. — Veja o quanto você é perfeita, gatinha.
Puxo a câmera dele e analiso a imagem; olho cada traço do meu corpo. As estrias, celulites,
— E o que tem isso? — ele me corta. — São partes de você, não significa que não seja linda
e espetacular.
— Ele está certo — completa Fred. — Você é uma mulher maravilhosa e deve se lembrar
sempre disso.
— Obrigada — digo, sem graça. Nunca fui uma pessoa que não me aceitasse, pelo contrário,
sempre me achei muito bonita, mas há certas coisas que não podemos esconder ou impedir de termos,
certo? E saber que os dois gostam dessas partes em mim, me deixa com uma sensação boa.
E eu amo isso.
Os dias seguintes passam tão rápidos que quando vejo falta pouco para o meu aniversário.
Não estou nem um pouco animada, como já era de se esperar. Se nunca gostei de aniversário
antes, imagine agora que não tenho mamãe ao meu lado para me acordar com beijos, abraços,
O trabalho da faculdade havia sido maravilhoso, as fotos dos rapazes comigo me renderam
uma boa nota, o que me fez rir muito quando vi o dez, pensando o que o professor acharia sobre as
Frida está saindo cada vez mais com esse tal de Hector e fico realmente feliz por ela, mas
ainda me sinto muito incomodada pelo fato de mentir sobre o que anda acontecendo entre os irmãos
Cooper e eu. Entre os meus namorados e eu. A palavra “namorados” faz uma sensação estranha
E pensando nisso, vejo que preciso me abrir logo para Frida antes que aconteça alguma coisa.
Collin não voltou a me perturbar, o que foi ótimo, e com a chegada do meu aniversário e Frida
insistindo em fazermos uma festa em casa, acabei cedendo. E agora, metade do campus está sabendo
particularmente vão às festas somente por conta disso, então temos que arrasar!
— Você que decide — digo, desanimada. Minha amiga me encara e belisca minha mão que
está sobre a mesa, fazendo eu soltar um gritinho de dor. — Que merda foi essa?
— Você que precisa me dizer — responde. — Sei que não gosta de aniversários e é o
primeiro sem sua mãe por perto, mas ao menos finja que está animada com isso. A faculdade inteira
— Estão esperando à toa — digo. — Primeiro que nem cabe todo esse pessoal lá em casa.
— Isso é fácil de resolver, todos estão sabendo, mas poucos realmente entrarão na festa.
— E sairei como a vadia exibicionista que impede o povo de entrar numa festa — resmungo.
Ela ri e concorda.
— De fato, irão dizer isso mesmo, mas não se preocupe, o seu quintal dos fundos é grande e
— Eu sei disso, o que me deixa mais desanimada ainda para essa festa. As pessoas nem
— Se você quiser, podemos cancelar — diz Frida, cabisbaixa. Fico sentida pelo jeito que diz
e nego com a cabeça.
— Tudo bem, vou aceitar a festa e forçar vários sorrisos no rosto, só evite que Collin esteja
lá. Frederic e Ferdinand querem acabar com ele, e se Collin aparecer, pode dar merda.
— Se ele aparecer, eu mesma o quebro — murmura, eu havia dito para ela sobre o vídeo que
meu ex havia me mandado e a maneira obsessiva que ele estava tendo em me perseguir no Instagram.
— Tudo bem, podemos comprar salgadinhos para a festa, cerveja e um bolo. Está ótimo, não
está? — pergunto, fingindo animação. Minha amiga sorri agradecida pelo esforço e concorda.
— Está perfeito, essa festa será um arraso e tanto! Agora precisamos pensar no seu visual,
— Ok, ok, você ganhou desta vez — digo, me levantando quando o sinal toca.
A semana passa rápido, e para variar, o tempo está frio e chovendo, o que me deixa ainda
No final de semana, faltando exatamente uma semana para a minha festa, Frida decide passar
comigo para vermos séries, comermos besteiras e ficarmos de bobeira. A presença da minha amiga
me anima, mas saber que não poderei fazer nada com Fred e Ferd me deixa chateada.
— E você já participou de alguma sessão BDSM? — pergunto, curiosa. Levo a pipoca até a
— Não sei se posso considerar uma sessão, mas ele me mostrou algumas coisas e fizemos o
melhor sexo da minha vida. Ele tentou me controlar, mas não deixei, o que com certeza fez ele me
procurar novamente.
— Não quero me apaixonar, você sabe como sempre fui para essas coisas. Gosto de me sentir
livre, de ser dona de mim mesma sem ter que dar satisfação para alguém.
— Vou precisar evitar que isso aconteça, irei continuar o sexo, é claro, mas sabendo que é só
isso.
— Me perdoe por esconder isso por tanto tempo — peço, mordendo o canto da boca.
— Você está me dizendo que... é sério mesmo que finalmente essa toca foi invadida?
— Frida! — a repreendo, rindo da maneira que fala. Minha amiga ri junto e dou um tapa no
Concordo, decidida a contar sobre a primeira vez de Ferdinand e eu, que na época eu achava
ser o Frederic. Quero ser o máximo possível sincera com minha amiga, mas ainda não estou
Então vou contando os acontecimentos para ela, mudando alguns fatos, é claro, e juntando
outros.
Frida fica realmente feliz e surpresa com isso, batendo palminhas e querendo a todo instante
Quero dizer a ela que além dele ser bem-dotado, o irmão também é, mas fico quieta. Falar
para ela apenas sobre Ferdinand me incomoda pelo fato de que também namoro com Frederic, e
Coro e concordo.
— É estranho, porque por um ano eu idealizei esse momento com Collin, e de repente ele me
traiu, nós terminamos e agora estou com a cópia do marido de mamãe — “e o ex-marido dela
— O quê?
— O fato de eu estar com o ex-cunhado de mamãe — respondo. Frida me encara e nega com a
cabeça.
— Não acho que seja estranho, afinal, sua mãe morreu e o vínculo que Frederic e ela tiveram
se encerrou. Claro que sempre haverá as lembranças dos anos que eles passaram juntos, mas uma
hora ou outra ele arrumará outra pessoa. Essa é a lei da vida, seguirmos sempre em frente.
Penso no que ela diz e vejo o quanto minha amiga tem razão. A lembrança de mamãe na vida
de Frederic nunca será apagada. Saber que por anos eles foram casados e mantinham relações
sexuais me incomoda um pouco, mas é algo que não dá para simplesmente apagarmos da nossa
história.
— E se eu estivesse com ele ao invés de Ferdinand, o que você diria sobre isso? — pergunto,
criando coragem.
Frida me encara surpresa com a pergunta e balbucia algo que não entendo.
— É difícil pensar nisso assim tão de repente. Visualizar você com Ferdinand é mais fácil, ele
— Bem... sei lá, de início seria um pouco estranho, mas acho que daria para se acostumar, só
não sei se você conseguiria aceitar o fato de que o pau que você treparia foi o mesmo que sua mãe
sentou por anos. Mas por que essa pergunta, Srta. Muller? Está interessada nós dois? Fred é uma
— Se passou pela sua cabeça, significa que em algum momento você se imaginou com ele —
— Não é isso, é que as vezes olho Ferdinand e estranho — minto, engolindo em seco. Frida
Fico quieta e penso sobre a conversa que acabei de ter com minha amiga. A maneira que ela
disse, aparentemente aceitaria normal, mas se soubesse que é verdade, agiria assim mesmo?
Sinto-me exausta, ainda mais porque essa última semana Frida vem abusando bastante de
Decidi usar um vestido preto curto no meu aniversário. Na frente há um decote que Fred e Ferd não
gostaram muito, e as costas é fechado. Um pouco acima do joelho, combinou perfeitamente com os
saltos pretos escolhidos. Decidi também contratar um DJ por insistência de Frida — obviamente — e
garçons para nos servir. Um toldo azul foi colocado nos fundos da minha casa que desde a morte de
mamãe pouco usamos. Na verdade, nem lembro quando foi a última vez que fizemos algo aqui.
Compramos bastante salgados e muita bebida, o que me preocupa. Com certeza a festa seria
A semana na faculdade também foi intensa. Apesar das pessoas estarem animadas com a festa,
muitas ainda falavam sobre a “fofoca” que Collin havia espalhado entre os rapazes e eu. E pensar
que todas essas pessoas — ou ao menos boa parte delas — estariam na mesma casa em que meu ex-
— Você está pensativa demais hoje, Estére — diz Frederic colocando o prato de comida à
minha frente. Havia acabado de chegar do shopping com Frida, que foi para sua casa com a promessa
de que virá para casa no dia seguinte cedo. Minhas unhas estão bem-feitas e o cabelo também, o que
— Não é nada de mais — digo, comendo —, só pensando nessa festa de amanhã. Frida
— Bem, ela acha que por ser o primeiro aniversário sem mamãe seria bom me distrair.
— Ela por acaso sabe que Frederic e eu podemos fazer isso? — pergunta, malicioso.
— Ela sabe sobre você, cheguei a fazer um comentário sobre Frederic, mas não contei nada
— respondo.
— Sabe que uma hora terá que contar, não sabe? — questiona Fred. Concordo com um
— Eu sei, mas não é tão fácil como parece, mesmo nos aceitando completamente, tenho medo
do que as pessoas dirão. Do que ela vai dizer. Na verdade, tenho quase certeza de que aceitaria
tranquilamente, mas o fato de esconder por todos esses meses faria com que ela me matasse —
respondo, querendo rir, mas sabendo o quanto isso é verdade. Os dois me encaram e concordam.
— Só pense que você não precisa da aprovação de ninguém para viver do jeito que quer —
responde Ferd. — Veja Frederic e eu, muitos dirão que somos doentes por termos relações com a
mesma mulher. Mas o que realmente importa nisso tudo, é o que sentimos, não eles.
— Exatamente — completa Fred. — Sabe melhor que ninguém que estamos aqui para apoiá-la
— Obrigada, agora vou descansar um pouco. O dia amanhã será longo. — Reviro os olhos e
os dois riem, então beijo cada um e sigo para o meu quarto, tiro a roupa e coloco meu pijama. Fico
pensando sobre o que Frederic havia dito e me deito, sabendo que ele está certo, então adormeço.
Acordo com uma sacudida e assim que abro os olhos, vejo Frida em pé, parada, com um
enorme sorriso no rosto. Ela está com uma calça jeans, blusinha e tênis, o que a deixa bastante sexy e
— Acorde, amiga, está na hora — murmura, sentando ao meu lado. Bocejo e suspiro, a
Fico sem entender e vejo Frederic e Ferdinand entrarem no quarto, os dois estão com o café
da manhã nas mãos e fico surpresa.
— Feliz dia, Estér — diz, sorrindo. Sorrio e noto que temos panquecas com mel e blueberry,
ovos com bacon e suco de laranja. Há também um pequeno cupcake com uma vela em cima. — Faça
um pedido.
Assopro, fazendo o pedido e encaro os três, completamente emocionada. Era o que mamãe
fazia todos os anos para mim, e agora realmente vejo que ela não voltará nunca mais para nós.
— Jolie iria gostar que continuássemos com a tradição dela — comenta Fred. — Aproveite
seu café.
O vejo seguir em direção da saída e instantaneamente seguro sua mão, com Frida encarando.
— Fiquem, por favor, a gente pode dividir — respondo, ele me encara e concorda, então Ferd
Dou uma mordida na panqueca e engulo, saboreando o delicioso gosto. Assim que termino,
como um pouco dos ovos com bacon e tomo o suco, passando a bandeja para Frida, que come um
pouco e passa para Fred, que faz o mesmo e entrega ao irmão, voltando a me devolver.
ela que desejo só ficar na minha cama, mas sei que isso será impossível, então concordo e levanto.
— Tudo bem, você mais uma vez venceu, deixe só eu me arrumar — digo, de pijama. Ela
— Vocês não vão sair? — pergunta, os olhando. Os dois ficam sem saber o que falar e
levantam, pegando as louças e saindo. — Ferdinand não tirou o olho de você — comenta, após
fechar a porta.
maneira que ele te olhou. Estou começando a achar que Collin estava certo em uma coisa.
— Quero dizer que Collin estava certo; Frederic está a fim de você.
— E você deduziu isso apenas por eu ter pegado na mão dele? Se eu pegar na sua estarei a
fim de você também?
— Claro que não foi por isso, e sim pela maneira que ele te olhava e você, distraída como
sempre, não percebeu. É um olhar diferente das outras vezes em que o vi te observando.
— Talvez você esteja vendo coisas onde não existe — argumento, percebendo que estou
— Ok, não está mais aqui quem falou, vamos cuidar das coisas da sua festa que o dia vai ser
curto.
Fico quieta, chateada da maneira que ajo com minha amiga, e concordo, forçando um sorriso.
outras bebidas, o que, na minha opinião, foi um exagero. Frida fez questão de encher alguns balões e
fazer um painel deles em uma das paredes com os dizeres “Feliz aniversário E”, já que não deu para
completar meu nome. Compramos o bolo de dois andares, outra coisa que achei ser um exagero, já
que as pessoas iriam mais pelas bebidas, obviamente. Os salgadinhos chegaram na parte da tarde e
completamos com outros petiscos. O DJ ficaria perto da piscina, que diferente da última vez que eu
Colocamos luzes na área coberta, já que a lona está posta e analiso o tempo. Por incrível que
pareça, está sol e sinto o suor grudar em minha pele enquanto arrumamos tudo.
Ferdinand e Frederic nos ajudam, é claro, eles ficam com as coisas mais pesadas e agradeço
por isso.
Quando vejo, já está ficando tarde, faltando poucas horas para a festa começar. Frida me faz
tomar um banho e diz que irá retocar meu cabelo, que havia sido besteira termos feito no dia anterior
Assim que saio do banheiro, visto a lingerie escolhida e coloco o vestido, analisando-me no
espelho. O vestido realça minhas curvas e fico feliz com isso, então me viro para minha amiga, que
— Você está linda — comenta. — Sente-se aí, irei fazer a maquiagem e arrumar seus cabelos.
Concordo e a vejo pegando o babyliss, deixando-o aquecer e enrolando as mechas dos meus
cabelos. Assim que o deixa pronto, minha amiga começa a me maquiar, deixando-me pronta em
— Você está maravilhosa e vai abalar nessa festa — diz, batendo palminhas. Me encaro no
espelho e concordo, sorrindo ao me ver. Ela tem razão, estou mesmo linda e ao me notar, vejo os
— Obrigada, Frida, se não fosse vocês, eu estaria deitada na minha cama, chorando e me
entupindo de chocolate.
concordo.
— Tudo bem, você está certa, agora que tal ir logo se arrumar? Os convidados chegarão em
breve.
Ela concorda e corre para o banheiro, pronta para tomar banho e me ajudar na loucura que
apenas para beber. Alguns foram até um pouco gentis e trouxeram alguns presentes, e outros apenas
Sinto meu corpo arrepiado por conta disso e um medo toma conta de mim, pensando na
besteira que foi fazer esta festa. Eu deveria ter sido pulso firme com Frida e não a deixar fazer...
Afasto o pensamento e vejo Frederic e Ferdinand vindo na minha direção. Estou nos fundos da
casa com um copo com cerveja nas mãos, ouvindo as batidas da música que o DJ toca. Frida já está
dançando descontroladamente.
— Está tudo bem por aqui? — pergunta Fred, olhando ao redor. Sei quem ele está procurando,
e para nossa sorte, Collin não apareceu. Pelo menos ainda não.
— Está sim, só um bando de gente louca para beber — digo e os dois concordam, voltando a
olhar para as pessoas bebendo, dançando e comendo. Algumas já estão na piscina apenas de sunga e
— O quê? Claro que não, fiquem, por favor. A minha única amiga aqui é Frida, essas pessoas
— Tem certeza? Não queremos parecer o ex-padrasto chato e o irmão que surgiu do nada —
— Tenho sim, vai ser mais fácil se eu tiver vocês aqui comigo.
— Eu vou pegar uma cerveja para nós — diz Ferdinand, se afastando, e Fred me encara.
— Obrigada, você não está nada mal — digo, o encarando no jeans e jaqueta, a lua no céu
Olho em volta e noto que as pessoas nem estão preocupadas conosco, e volto meu olhar para
o seu.
— Eu também, está sendo uma tortura termos que nos manter longe esses últimos dias. Com
Frida em casa me ajudando neste aniversário, quase não pudemos ficar juntos.
— Esses jovens parecem que nunca foram a uma festa — diz, incrédulo, olhando o pessoal
dançando e se jogando na piscina. — Ou eu que fiquei muito tempo sem ter pessoas por perto.
— Dança comigo? — pede, sorrindo. Olho em volta e avisto Frida me encarar com um
enorme sorriso, retribuo e concordo, entregando meu copo para Fred, que sorri e bebe do seu. Sei
que ele gostaria de estar fazendo o mesmo comigo, e que ficar sem poder me tocar está sendo uma
tortura, e penso que, uma hora ou outra, terei que contar para as pessoas o que vem acontecendo.
Não que precisássemos da aprovação delas, mas sim para podermos viver em paz, sem ser em
segredo.
Saio dos meus devaneios e sigo para mais próximo da piscina com Ferd segurando minha
mão. Reparo que ganhamos alguns olhares, mas não me importo, então começa a tocar uma música
mais sensual e passo minhas mãos em torno do seu pescoço, com ele segurando minha cintura e
— Gosta dessa música? — pergunta, lambendo os lábios. Presto atenção na letra de Skin da
Rihanna e concordo, sabendo que em algum momento já havia ouvido ela com Fred.
— Sim, eu gosto — murmuro, sorrindo. Ele sorri de volta e continuamos embolados,
dançando até a música finalizar e seguindo para outra mais animada, agora rebolando e nos
divertindo. Algumas pessoas se aproximam e dançam conosco, e eu me divirto tanto que sinto minha
barriga doer. Sorrio e quando a música termina, abraço Ferd e me separo dele.
— Obrigado pela dança, gatinha — diz, piscando e se afastando. Sorrio e me viro quando
— Essa conexão de vocês dois — diz ela. — Foi incrível a dança de vocês, estou muito
apaixonada.
Sorrio e abaixo a cabeça, mordendo o canto da boca até sentir o gosto do sangue.
— Precisamos conversar, eu tenho que te contar uma coisa — murmuro, entrelaçando minhas
mãos.
Não há tempo de terminar a fala e a vejo saindo correndo em direção às bebidas, voltando
com um copo com cerveja e me entregando. Bebo e Frida sorri, gritando, pulando e dançando, sem se
importar com o que tenho para falar. Sinto a coragem se esvair do meu corpo e decido fazer o que ela
diz, voltando a dançar e a beber.
Vejo os irmãos Cooper afastados, conversando e bebendo. Sorrio, ainda dançando, então me
viro para Frida e ela começa a dançar elegantemente comigo a música da Britney Spears que o DJ
coloca para tocar. Sinto-me eufórica e feliz, pensando que no fim não havia sido completamente uma
Me divirto como se não houvesse amanhã, bebendo, dançando e comendo. Na hora do bolo, o
reparto e dou o primeiro pedaço para as três pessoas mais importantes da minha vida nesses últimos
meses, pensando que, pela primeira vez em muito tempo, não sinto tanta tristeza por não ter mamãe
comigo.
Pode parecer egoísmo, mas mesmo a querendo aqui, não sinto tanta saudade como estava
sentindo antes. Talvez, enfim, o luto está começando a se esvair de dentro de mim. Claro que sempre
irei sentir sua falta, mas neste momento, me divertindo com pessoas que eu mal conheço, me vejo
As horas vão passando rapidamente e quando notamos, o sol está começando a surgir.
Noto que algumas pessoas já começam a ir embora e a música cessa, comigo me sentindo
completamente exausta e bêbada. Assim que todos se vão, ficando apenas Frida, entramos para
Concordo e me despeço dela, a vejo sair pela porta e a fechar atrás de si. Suspiro aliviada
por enfim a loucura desta noite ter acabado e Fred e Ferd se jogam ao meu lado, ajudando-me a tirar
os sapatos.
— Vamos brincar um pouco e depois eu descanso — digo, o puxando contra mim. Ferdinand
sorri e começa a beijar meu pescoço, enquanto Fred se aproxima e enche minha pele de beijos,
causando arrepios. Fecho os olhos e me entrego ao momento, ansiando por aquilo, então ouço um
— Estére! — Ouço meu nome e abro meus olhos, arregalando-os ao ver Frida parada,
estarrecida, me encarando.
Minha melhor amiga acaba de descobrir o que vem acontecendo entre os irmãos Cooper e eu
— Não é o que você está pensando — digo, sabendo que não adiantará mentir.
— Eu não acredito — diz, começando a rir, fico sem entender e minha amiga me encara. —
Não consigo acreditar que esse tempo todo Collin esteve certo e você mentiu para mim.
— Explicar o quê? Que você está transando com Ferdinand e Frederic, que é seu ex-
padrasto?! — grita, nervosa. Fico sem reação e tento me aproximar dela de novo, que volta a recuar,
— Eu juro que queria ter contado — digo —, mas não sabia como você iria reagir diante
disso.
pior maneira possível. Eu fiquei do seu lado quando Collin começou com as paranoias dele, para no
Fico quieta, sabendo que não adiantará dizer muita coisa, afinal, ela está certa.
Quantas chances eu havia tido de contar a verdade a ela e optei em continuar escondendo?
— Sente muito? Você está transando com seu padrasto e me diz que sente muito?! —
responde, nervosa. — Como você pôde fazer uma coisa dessas com sua mãe? Você não sente
vergonha?!
— É claro que eu sinto, ok?! — é minha vez de gritar — Mas simplesmente não posso
controlar o que eu sinto. Não foi intencional, simplesmente aconteceu, e você mesma me disse várias
— Desde que você fosse sincera comigo! — responde, apontando o dedo na minha direção.
— Me diga, há quanto tempo isso vem acontecendo? Por favor, diga-me que Collin sempre esteve
em uma noite que ele estava bêbado e desde então venho sentindo algo por ele, até que aconteceu...
— Então você mentiu sobre sua virgindade também. — Não foi uma pergunta. — Meu Deus,
— O quê? Por favor, nos chame de tudo, mas não de doentes, nós não somos — digo.
— Eles não, você sim, por ter escondido todo esse tempo a verdade da pessoa que mais te
ama e apoia depois da tia Jolie — responde, e noto as lágrimas nos seus olhos. — Você sabia melhor
do que ninguém que poderia contar comigo para tudo, inclusive para isso! Foda-se a opinião das
pessoas e o que elas diriam, apenas deveria ter sido sincera com a pessoa que mais torce para a sua
felicidade.
Volto a ficar em silêncio e começo a chorar, ainda mais triste em saber que minha amiga me
— Antes de querer o meu perdão, aprenda a se perdoar, se escondeu esse tempo todo algo que
Ela encara Fred e Ferd e vejo pegar sua bolsa que está na mesa de centro — então foi por isso
que ela voltou. Assim que a pega, Frida me encara uma última vez e sai, batendo a porta e deixando-
me com o coração completamente despedaçado.
Quatro dias se passaram devagar e eu me mantive o tempo inteiro dentro do meu quarto,
apenas saindo para comer e ir à faculdade. Eu havia tentado conversar com Frida de todas as
maneiras possíveis, porém, ela não me respondeu. Na aula, Frida havia trocado de lugar para ficar
como que duas grandes amigas do nada haviam parado de conversar. Isso tudo graças a cidade
pequena.
Collin não apareceu desde a última vez que eu o vi, o que foi bom, afinal, se ele visse Frida e
eu brigadas, com certeza iria querer saber o motivo e eu não conseguiria esconder, sendo a idiota que
sou.
Fred e Ferd andavam trabalhando bastante na oficina, dizendo que me dariam o tempo que
fosse necessário para me recuperar do que havia acontecido, o que, de certa forma, foi até bom,
Me jogo na cama assim que chego da faculdade e suspiro, olhando uma foto de Frida e eu no
meu celular que havíamos tirado em algum momento. Seco a lágrima que escorre e olho para o teto,
pensando o quanto eu havia sido idiota de não ter contado a verdade para ela. Seria tudo mais fácil
se eu soubesse desde o início que ela aceitaria tranquilamente a minha relação com Fred e Ferd.
Mesmo dizendo que não me importo com o que as pessoas pensariam, percebo neste momento
que procuro uma aprovação da qual não preciso. Eu estando bem comigo mesma, já está ótimo.
Saio dos meus pensamentos e levanto, decidindo ir atrás de Frida e resolver essa situação.
Procuro no Instagram onde ela está, sabendo que terá postado um novo storie e vejo uma foto
dela na sua casa. Pego as minhas coisas e saio, entrando no carro e seguindo para lá, disposta a me
direção à porta e toco a campainha, ansiosa. Não demora muito e ela se abre, com Frida parada, me
encarando. Noto que o sorriso no seu rosto some e ela está bem-arrumada, talvez esperando alguém.
— Oi, podemos conversar? — pergunto, ansiosa. Ela me encara ainda séria e dá um passo
para o lado, permitindo que eu entre. Entro e Frida bate a porta, se virando na minha direção.
— Então vocês estão juntos? Fico feliz por isso — digo, sem graça, ela concorda com um
movimento de cabeça e fica em silêncio. — Quero me desculpar por ter mentido e escondido de você
por tanto tempo o que vem acontecendo entre Fred, Ferd e eu.
— O quê?
— O que a fez se envolver com os dois, afinal de contas? — questiona-me, ainda com os
braços cruzados.
Penso sobre a pergunta e dou de ombros.
— É uma história um pouco complicada, não sei se vai querer ouvir — respondo.
— Tá vendo, você não consegue se abrir para a pessoa que mais se importa com você —
— Me desculpe, é que é muito difícil eu dizer em voz alta para outra pessoa sobre o que vem
acontecendo entre nós três. Foi algo que surgiu do nada, e antes que pense que eu não me culpei, fiz
isso por muito tempo. Na verdade, ainda me sinto culpada em me envolver com meu ex-padrasto.
Você acha mesmo que é normal eu me relacionar com a pessoa que conviveu por anos com minha
— Não estou dizendo que você precisa ter orgulho. Eu não sou ninguém para me intrometer na
sua vida, mas acho que se realmente quer isso, terá que ser sincera com as pessoas e principalmente
com você. Vai mesmo querer viver a vida inteira escondendo o relacionamento de vocês? Está certo
que não é o relacionamento convencional, mas quem disse que precisamos ter um para sermos
felizes? Mas o que me magoou mesmo foi que você me bloqueou de conviver isso ao seu lado. Me
excluiu como se eu não fosse ninguém, sendo que sou a sua melhor amiga.
— O que você sente em relação aos dois? — questiona, ignorando meu pedido de desculpas.
Penso sobre isso e revivo na minha memória os momentos incríveis que tive com os dois; o
passeio no parque, nossa primeira vez juntos, a viagem para o chalé, a sessão de fotos e o sexo que
— Eu os amo, Frida — murmuro, convicta das minhas palavras. — Realmente amo eles de
Vejo ela movimentar a cabeça em concordância e a campainha tocar, então Frida abre a porta
Vejo um homem muito bonito; sua pele é clara, os cabelos escuros, corpo malhado e o olhar
sério. Está usando uma calça jeans clara, tênis e camiseta preta.
— O prazer é meu — digo, sorrindo sem graça, o silêncio reina no local por um minuto
— Não precisa...
Concordo, chateada e saio da sua casa, seguindo para dentro do meu carro. Suspiro e vejo
minha amiga e Hector entrarem no carro deles, saindo em disparada pela estrada, então ligo o motor
Dirijo por horas e acabo parando na cidade vizinha. Paro o carro próximo do parque que há
na cidade e saio do veículo, sentindo o delicioso cheiro de grama cortada. Respiro o ar puro e solto
devagar, pensando na loucura que minha vida se transformou desde a morte de mamãe. Um
pensamento de que se ela estivesse aqui tudo seria diferente surge na minha mente e seco uma
lágrima involuntária. Por que escolhi esconder a verdade da única pessoa que poderia me apoiar? As
— Oi, Estére. — Saio dos meus pensamentos e congelo ao ouvir a voz do homem que pensei
Me viro devagar e encaro Dréck, que está com um sorriso sádico no rosto e os cabelos
bagunçados. Noto que ele está pálido e dou um passo para trás, olhando em volta.
— O-o quê...
— Nem adianta gritar ou pedir socorro, as pessoas não iriam acreditar em nada do que você
dissesse, afinal, só estou conversando com você, não é mesmo? — pergunta, sorrindo ainda mais.
— Eu moro aqui — comenta, despreocupado, deixando claro que nas vezes que o vi, eu não
estava louca.
— Então naquela vez no mercado...
— Sim, realmente você me viu, e fugi antes que aquele cara viesse atrás de mim. Te vi
novamente com ele na outra vez e fugi de novo, mas não hoje. Hoje a vi de longe, sozinha, triste, e
resolvi me aproximar para conversarmos. Acho que não começamos muito bem da outra vez.
Sinto a fúria tomar conta de mim ao ouvir suas palavras e cuspo no seu rosto, com ele
limpando e rindo.
— Como você tem coragem de me dizer isso na maior tranquilidade? Você tentou me estuprar!
— Eu não quis te estuprar, você que ficou me provocando com aquela roupinha curta. É
sempre assim, não é? Vocês são umas vadias e nos provocam, quando conseguem o que querem,
Dou um tapa no seu rosto e sinto a ardência tomar conta da palma da minha mão. Maldito
“Esse é o mundo em que você e outras mulheres vivem, Estére Muller, isso é graças aos
— Você é um porco — digo, criando coragem. — Eu farei de tudo para vê-lo atrás das
grades.
— Então é melhor agir logo — diz. Vejo uma garota nova, talvez até mais que eu, se
aproximar de nós e o abraçar, me encarando séria.
— Anjo, essa aqui é uma amiga minha, se chama Estére — diz, apontando para mim. Sinto
Eu não fui a sua vítima, mas com certeza essa garota pode ser se eu não fizer nada.
— Certo, por que não vamos embora? — diz ela, me encarando séria. Será que ela está
mesmo pensando que eu estou dando em cima de Dréck e quer marcar território?
— Claro, meu anjo, você que manda — responde Dréck, sorrindo para mim. — Até mais,
Estére. — Ele se aproxima e sussurra no meu ouvido: — Vou fazer com ela o que não fiz com você, e
Congelo ao ouvir suas palavras e eles se afastam, com Dréck me encarando cada vez mais
longe.
Ainda atônita, entro no meu carro e o vejo entrar no dele com a garota, seguindo pela estrada,
então ligo o motor e, devagar, começo a segui-lo, procurando meu celular e discando rapidamente
com uma garota, ele me disse que vai machucá-la, faça alguma coisa, por favor.
— O quê? Do que você está falando, Estére? Onde você está? — questiona, aflito.
Digo a ele o que está acontecendo, ainda perseguindo o carro, que segue pela estrada
— Não faça nenhuma besteira, Estére, por favor, pare agora mesmo esse carro e iremos
— Não posso! Ele está com uma garota, ele vai machucá-la, tenho certeza disso — respondo,
sentindo o medo e a fúria tomar conta de mim, de repente as lágrimas encobrem meus olhos e sinto
meus pelos se arrepiarem. — Eu amo você, Frederic, você e Ferdinand. Eu os amo demais — digo,
— Sinto muito, mas não posso deixar Dréck machucar essa garota. — desligo o telefone e
seguro o volante com as duas mãos, pisando ainda mais no acelerador. Vejo Dréck se afastar cada
vez mais e noto que estamos saindo da cidade, o que me assusta, no entanto, não posso parar. Se eu
fizer isso e ele realmente machucar essa garota, nunca irei me perdoar.
Continuo dirigindo em velocidade máxima e encosto meu carro no de Dréck, batendo com
O vejo colocar o braço para fora e apontar uma arma na direção do meu carro, atirando.
Abaixo-me, gritando com medo e vejo a bala ultrapassar o vitro frontal, o trincando. Ergo meu corpo
Grito mais uma vez e ouço a garota pedir socorro de dentro do carro, o que me dá forças para
continuar acelerando.
Saio de trás de Dréck e sigo com meu carro para o lado do seu, com ele apontando a arma na
minha direção. No impulso, jogo meu carro para o lado e acerto a lataria, sentindo mais um
solavanco. Repito o processo, lembrando-me que ganhei este carro de mamãe e reúno as forças que
De repente, ouço ao fundo o barulho de uma sirene e vejo pelo retrovisor a viatura nos
seguindo, o que me deixa animada. Acerto mais uma vez o carro de Dréck, para chamar a atenção dos
policiais e ele atira, acertando o retrovisor do carro. Mesmo com medo, continuo no impulso,
— Droga, não dê problema! Agora não, agora não! — solto um grito e bato no volante,
pisando fundo no acelerador e alcançando Dréck, que continua atirando, comigo me abaixando e
desviando.
Penso na loucura que minha vida está. Minutos atrás eu estava pedindo perdão a minha amiga,
— Ele está com uma garota! — grito — Ele vai machucá-la! Por favor, faça alguma coisa.
Novamente Dréck atira e solto um grito, abaixando-me e sentindo o forte solavanco quando
meu carro para com tudo. Vejo o airbag acionar e solto um grito, vendo a viatura e o estuprador se
afastarem.
— Não! — grito, saindo do carro e os vendo cada vez mais longe, pego meu celular e mando
minha localização para Frederic, que me ligou diversas vezes e eu não ouvi, por conta da
perseguição.
Começo a correr, vendo meu carro completamente destruído e percebo que os dois veículos
pararam um pouco mais à frente. Acelero os passos e não vejo movimento nenhum de alguém saindo,
então crio coragem e continuo me aproximando, percebendo que um carro colidiu com o outro e que
estão desmaiados.
Sinto o desespero tomar conta de mim e ouço a voz da garota pedindo socorro, então corro em
— Me ajude, por favor — pede em meio às lágrimas. Vejo um vidro cravado na sua perna e a
encaro.
— Fique calma, vai ficar tudo bem, venha. — A puxo pelo braço e a ajudo a sair, sentindo o
cheiro de gasolina, então Dréck se mexe e solto um grito, puxando a garota para cada vez mais longe.
Sigo em direção à viatura e abro a porta, enquanto a garota que não sei o nome, chora
— Por favor, reajam — digo, mexendo nos policiais desacordados. — Me diga seu nome —
— Estela, eu me chamo Estére, percebeu a semelhança? Eu preciso que você seja forte e me
ajude, ok? Esses policiais precisam sair daqui, antes que a gasolina se espalhe e algo pior aconteça.
Sei que parece ser um filme de ação isso, mas é real e você precisa me ajudar, entendeu?
chão. Rapidamente fazemos o mesmo com o outro e vejo que Dréck tenta escapar, então apanho a
— Abaixe isso, Estére, sabemos que você é covarde demais para usar — murmura, cuspindo
— Você é mesmo uma vadia, não é? — comenta. — O que vai fazer agora? Me matar?
Continuo em silêncio, com a arma apontada para ele, e o vejo recarregar a sua, apontando
para mim.
— Por que fazer isso? — pergunto, com a voz embargada. — Por que machucar mulheres
inocentes?
— Inocentes? Vocês são umas vadias — diz, cuspindo. — Lamento muito por não ter
Vejo-o manter a arma apontada em nossa direção e sinto o medo tomar conta de mim. Um
pensamento de que tudo irá acabar invade a minha mente e sinto as lágrimas escorrerem pelo meu
rosto.
“Chegou a hora de encontrar mamãe”, penso, sentindo a bile subir pela minha garganta.
— Você é um covarde — digo, com a arma ainda apontada. Minhas mãos continuam tremendo
e Estela se mantém atrás de mim, em lágrimas e com a perna sangrando cada vez mais.
—Não sou eu que estou com minhas mãos tremendo — diz, de maneira sarcástica. — Vamos
lá, Estére, mostre-me do que é capaz. Atire e prove que você é tão cruel quanto eu.
Penso em suas palavras e destravo a arma, admirada em saber fazer isso. Continuo apontando
— Não saia de trás de mim — peço. Ela concorda e volto minha atenção para Dréck.
O vejo apontar para Estela, que treme de medo atrás de mim e nego com a cabeça.
O vejo formar um sorriso ao dizer isso e levar a mão até o gatilho, então tudo acontece tão
rápido que me assusto e caio no chão com Estela gritando de medo. Vejo Dréck cair e o sangue
manchar sua camisa, com ele levando a mão até o peito e cuspindo ainda mais sangue, então olho
para o lado e noto o policial com a arma apontada para ele, atirando novamente.
Abraço Estela e sinto o medo tomar conta de mim, vendo Dréck caído no chão, morto. Sinto
rapidamente avisto Frederic, Ferdinand e Frida sentados. Assim que me veem, os três vêm em minha
direção.
— Estére, como está? — pergunta Fred, segurando minha mão, a aperto devagar e engulo em
Fico em silêncio e me recordo do que havia acontecido, pensando em Dréck, que agora está
— Mais tarde você a verá, agora precisa descansar — Ferdinand diz, enfático.
— Por favor — peço, encarando os três, Frida está parada, em silêncio. — Desde quando
estou aqui?
— Tem um dia, não se preocupe, os médicos te doparam porque estava muito agitada, mas
— Eu perdoo por ter escondido a verdade, sabe que te amo e não quero ficar brigada com
dolorido e me sento na cadeira de rodas que Frida aproxima de mim. Apesar de não ter me
Volto à realidade e seguimos para o lado de fora do local, passando pelo corredor e seguindo
para o quarto ao lado. Rapidamente entramos e vejo Estela deitada com a perna enfaixada e Erika
— Estére, é bom vê-la novamente, mesmo que seja nessa situação — diz.
da sua cama.
— Não precisa agradecer, fiquei com tanto medo de Dréck fazer alguma coisa com você.
— Eu também, ele foi tão gentil, e de repente se tornou um homem agressivo.
— Quero te apresentar minha família — digo, apontando para cada um. — Essa é Frida,
Ela arregala os olhos, surpresa, e me sinto feliz em dizer isso em voz alta pela primeira vez.
— Bem, vou indo, obrigada pelo seu depoimento. Podemos conversar, Estére?
— Apesar de Estela ter me contado tudo o que aconteceu, preciso que você me fale sua
Concordo e começo a contar a ela tudo o que havia acontecido, finalizando comigo dizendo
— Você foi bastante corajosa, apesar de achar um pouco imprudente o que fez.
— Eu nunca permitiria que Dréck fizesse alguma coisa com essa garota, quantos anos ela tem,
dezoito?
— Dezenove, os pais estão vindo para cá já, estavam preocupados. No fim, você foi a heroína
dessa história.
— Só fiz meu dever de mulher, inspetora — digo, sorrindo. — Estamos aqui para uma ajudar
a outra, certo?
— É realmente diferente, mas aos poucos iremos abrir a mente das pessoas.
— Sim, eu os amo demais — digo, aliviada em falar isso em voz alta. — E se amar é
Erika concorda e se afasta, comigo voltando para o quarto e conversando com Frida, Estela e
os rapazes. E apesar da loucura que havia passado, eu me sinto completamente feliz em saber que
pela Cidade do Vale Sombrio. Diversas mulheres foram à delegacia contar o que Dréck havia feito,
inclusive Laura, que terminou com Collin e abriu um grupo de mulheres empoderadas que Frida e eu
começamos a fazer parte. O assunto de que eu estou namorando com Frederic e Ferdinand percorreu
rapidamente também, com o conselho de classe dizendo ser inadmissível isso e eu ser transferida
para outra faculdade, fazendo eu perder o semestre. Frida não gostou nem um pouco disso e pediu
As pessoas me olham torto, mas com o passar dos meses, isso acaba deixando de me causar
algum impacto. Na verdade, os rapazes e eu decidimos procurar um psicólogo para nos abrirmos em
relação a tudo. Ferdinand precisava mais do que imaginou e eu também, contando a minha psicóloga
Uma vez ao mês eu vou ao túmulo de mamãe colocar flores e pedir perdão, mesmo sabendo
Tive que comprar outro carro para mim, já que o meu acabou sendo destruído na perseguição
Tudo realmente está muito bom, as aulas estão tranquilas, estou recuperando o semestre
perdido com Frida e a ideia de nos mudarmos para o chalé está cada vez maior.
Frida e Hector estão ficando e todas as semanas vão em um clube de BDSM que eles vivem
Saio dos meus pensamentos e termino meu milk-shake, com Frida, Ferd e Frederic a minha
frente. Hector havia ido pegar batatas para nós na praça de alimentação do shopping, então vejo
Collin ao longe se aproximar de nós.
— Veja só quem está aqui — diz ele nos encarando. — Então é verdade mesmo os boatos que
— Meu Deus, depois de todo esse tempo você veio se dar conta agora? — questiona ela.
Collin fica em silêncio e vejo seu pomo de adão se mexer, com ele um tanto irritado.
— Então sempre estive certo — comenta. — Você me trocou mesmo por Frederic, não é? E aí
o irmão dele apareceu em um cavalo branco e não satisfeita com um, decidiu ficar com os dois.
— Eu não o troquei por ninguém, foi você que me traiu — começo. — E se estou com os dois,
— Você não percebe o quanto isso é nojento? — pergunta, conosco ganhando alguns olhares.
— Como consegue se relacionar com o homem que foi casado com sua mãe por anos? Isso é doentio.
Collin? É a falta de amor e empatia das pessoas no mundo. Quantas pessoas se intrometem na vida
dos outros e nem ao menos perguntam como elas estão? Você deveria ficar quieto e seguir sua vida,
do mesmo jeito que fiz com a minha. Não me importa a sua opinião e das pessoas que dizem que
somos demônios e vilões desta história. Na verdade, realmente devemos ser, mas ninguém tem nada a
ver com isso. Eu amo Frederic e Ferdinand, e é isso que realmente importa, o nosso amor.
Termino de falar e percebo que todas as pessoas na praça de alimentação estão em silêncio,
me encarando, então, quando menos espero, começam a bater palmas e gritar, com Collin ficando
Sorrio e agradeço, me sentando e encarando os dois homens da minha vida, que me observam
atentamente.
— Eu também amo vocês, cada um de vocês — murmuro, alegre, sentindo meu mundo
completo.
Um tempo depois...
O tempo passa rápido, sem piedade de nós, como se cada dia durasse menos de vinte e quatro
horas. Estou quase formada, pensando em toda a loucura que passei nos últimos anos. Pensando no
dia em que perdi minha mãe para o câncer e me vi sozinha nesta casa, vendo um casal desconhecido
se beijando, apaixonados, do lado de fora, na chuva. Penso em como as coisas mudaram neste tempo.
Eu sequer me imaginava terminando com Collin e acabando ficando com Frederic, meu antigo
A lembrança de Ferdinand entrando em casa, passando-se pelo seu irmão e me devorando por
Como o tempo pode passar tão devagar e ao mesmo tempo tão rápido?
Algumas pessoas ainda nos olham torto, torcendo o nariz e falando por aí sobre a filha que na
primeira oportunidade “traçou” o marido da mãe morta. Uns dizem que Fred e eu tínhamos um caso
antes mesmo de mamãe morrer e que escondemos sobre o paradeiro de Ferdinand todos esses anos.
Não me importo com o que dizem, na verdade, aprendi a aceitar que Fred, Ferd e eu não
somos os vilões. Somos mocinhos diferentes, quem sabe? Acabei aceitando que para sermos felizes,
basta desejarmos isso, e que ninguém tem nada a ver com a nossa vida. Somente nós mesmos
Com a morte de Dréck e o grupo que Laura criou, consegui me abrir sobre como me senti o
tempo em que meu abusador não havia sido pego. Estela está cada vez mais calma com relação a isso
e fico realmente feliz. É um verdadeiro alívio saber que não temos mais esse pesadelo entre nós.
Os irmãos Cooper também se abrem bastante comigo e a nossa psicóloga, alegando que,
mesmo sendo errado e pecado para alguns, realmente me amam. Para mim, não importa se as pessoas
deixou surpresa e aliviada. Realmente não sabemos sobre o caráter das pessoas.
Tudo está realmente bom, a faculdade, mesmo estando em outra, é maravilhosa. Até mesmo
digo que é melhor que a anterior, já que não conheço ninguém e parece que não se importam com
Sim, os irmãos Cooper me pediram em casamento. Foi uma noite tão feliz e agradável, regada
a vinho e muito sexo. E então, o pedido de ambos, com a voz embarga e o anel com a pedra nas
mãos. Dentro, havia nossas iniciais gravadas — FEF — com três pequenos pássaros voando.
Frederic explicou que significa a nossa liberdade. Que juntos, nós encontramos e nos libertamos dos
Estou feliz. Estou completa e cada vez mais pronta para o que a vida tem a nos oferecer.
Sinto-me nervosa ao ver que minha formatura finalmente chegou e estarei formada em poucas
horas. Levanto-me da cama e suspiro, indo em direção ao banheiro e tomando banho. Assim que saio,
encontro Frederic e Ferdinand arrumados, agora os dois são sócios na oficina e com muito custo,
Fred resolveu usar o dinheiro que mamãe deixou para ele e expandiu seus negócios, abrindo filiais
Penso em como o tempo passou rápido. Só de pensar que há alguns anos eu estava iniciando a
faculdade com minha mãe me dando uma câmera de presente e agora estou me formando, sinto como
O tempo passa tão rápido que quando notamos as pessoas morreram, outras saíram de nossas
Para minha sorte, Frida não foi embora, o que é um alívio, mas agora formada, sei que seus
caminhos serão alçados longe daqui, o que me deixa com o coração apertado.
— O advogado ligou e disse que tem uma boa proposta para a casa — diz Fred me
analisando. Coloco a lingerie e assinto, esperançosa. Com os anos passando e eu podendo vender a
casa, entramos em um acordo e vimos que essa seria a melhor decisão que podíamos tomar.
Não que eu não amasse a casa, mas com tudo que já havia acontecido, percebo que aqui se
— Isso é bom, se formos fechar com esse comprador, podemos usar o dinheiro para investir
Os dois concordam e coloco meu vestido vermelho que vai acima do joelho, com Ferdinand
— O tempo passou tão depressa, já estamos juntos há quantos anos? Três? Quatro? —
— Você é péssimo com datas, mas já que quer saber, estamos juntos há quase quatro anos, já
que o conselho me fez perder um semestre inteiro — digo, com ele rindo.
— Eu ainda acho que deveríamos ter processado a faculdade, eles não podiam se intrometer
— Tudo bem, na verdade foi bom mudar de faculdade e ir para um lugar que quase não
conheço ninguém, e Frida veio comigo, o que tornou tudo mais leve.
Infelizmente ela não está aqui para levá-la para sua formatura, mas farei esse papel por ela.
A cerimônia da formatura foi tranquila e quando recebi meu diploma, diversas pessoas
gritaram entusiasmadas, inclusive Laura, que acabou se tornando uma amiga. Não como Frida, mas
Sinto o frio na barriga e após terminar, seguimos para a festa, que me deixa animada e
relaxada.
— Estou tão orgulhosa de nós duas! — diz Frida, animada. — Eu nem consigo acreditar que
nos formamos.
— Você e os rapazes irão se casar quando? Já faz bastante tempo que foi feito o pedido.
Dou de ombros e suspiro.
crime — digo, encarando-a. — Por enquanto estamos bem desse jeito, quem sabe um dia a gente se
— Vou sentir sua falta quando eu for embora da cidade— diz, tristonha.
— Eu também, quem imaginava que você iria embora quando terminasse a faculdade. Já que
— Não, por enquanto não. Você sabe o quanto relutei para ter um relacionamento e gosto de
viver assim.
— É verdade, mas me prometa que não perderemos o contato e você vai sempre me contar as
novidades.
— Com certeza, ainda tenho a minha história para contar. Não se preocupe com isso.
Concordo, sorrindo e a abraço, com os rapazes se aproximando de nós. Frida se afasta e dou
— Claro — digo, segurando na mão dele e de Ferd. Seguimos para a pista de dança e
começamos a dançar a valsa que toca, os três, abraçados de maneira engraçada. Percebo que algumas
pessoas nos olham e sorrio feliz com isso, sabendo que, mesmo elas não nos aprovando, há outras
Acordo com o sol refletindo no meu rosto e levanto, bocejando e vendo os dois lados da cama
vazio. Visto meu pijama, seguindo em direção à escada e indo ao banheiro do chalé. Pensar que
larguei a minha vida na Cidade do Vale Sombrio e recomecei aqui me deixa com um sorriso no rosto,
principalmente pelo fato de que Frederic e Ferdinand apoiaram a minha decisão e vendemos a casa.
Frida foi embora, ela está morando nos Estados Unidos e está prestes a chegar para o Natal e
Ano-Novo. Como o chalé tem dois quartos, ela ficará no vago, onde fiquei quando vim pela primeira
vez aqui com Frederic. Minha amiga e Hector não deram certo, pelo que soube, a distância dela o
incomodou e acabou que ela descobriu um segredo dele, do qual não quis me contar, mas acredito
que no momento certo os dois ficarão juntos, já que se gostam tanto. Apenas precisam aprender a se
passaram seis sem nos darmos conta. O meu relacionamento com os rapazes está mais sólido do que
nunca, o que me deixa sempre com um sorrisinho maroto no rosto.
Apesar das pessoas ainda acharem estranho o fato de eu ter me relacionado com o meu ex-
padrasto, os burburinhos cessaram e agora elas compreendem mais, o que, de certa forma, é bom
Os negócios estão cada vez melhores e acabei abrindo uma clínica para ajudar mulheres que
estão se recuperando do uso de drogas e de abusos sexuais que sofreram em algum momento de suas
vidas. Com isso, aproveito e dou aula de Fotografia, mostrando-as que as marcas de seus corpos
deixadas pelos homens que elas juraram ser de suas vidas, pode se tornar algo bonito de se olhar.
Tudo realmente está bom, o que me deixa cada dia mais feliz e animada, e com isso, posso
finalmente dizer que estou realizada. Sei que de onde mamãe está, sente orgulho da mulher que eu me
tornei. E no fundo me sinto perdoada pelo que eu fiz, mesmo não ouvindo de sua própria boca isso.
Saio dos meus devaneios, escovo os dentes e arrumo meus cabelos, procurando meu celular e
vendo uma mensagem dos rapazes dizendo que já encontraram Frida no aeroporto. Envio um emoji
de beijo e começo a preparar as coisas. Com o tempo, finalmente eu consegui aprender a cozinhar
As horas passam e coloco o peru no forno, que eu havia temperado na noite anterior, e
preparo a salada, ouvindo a porta se abrir. Sigo até a sala e vejo os rapazes entrarem com Frida logo
atrás, comigo soltando um gritinho e correndo em sua direção, abraçando-a. Minha amiga retribui o
gesto e a encaro.
— Você está linda! — digo, observando-a, que dá uma voltinha.
— Assim como você, não é mesmo? — diz, voltando a me abraçar. Sorrio e seguimos para a
— Teremos muito tempo para isso, não se preocupe, a única coisa que quero neste momento é
poder matar a saudade que eu estava de você e aproveitar o máximo que puder.
Sorrio e concordo.
Frida concorda e forma um enorme sorriso, do qual somente ela consegue mostrar.
Os rapazes nos encaram e entram na nossa brincadeira, se divertindo conosco. Logo Fred e
Ferd me seguram e começam a fazer cócegas em mim, fazendo-me rir até as lágrimas escorrerem dos
meus olhos.
E é maravilhoso poder chorar de alegria e ter eles comigo, ao meu lado, sendo a minha
família.
Somos imperfeitos, peças de um quebra-cabeça diferente, e juntos nos tornamos mais do que
cama.
— Tenho sim, vai ser lindo, você vai ver, sendo aqui na floresta, vai ser parecido com o
Mordo o canto da boca e analiso o rosto da minha amiga. Ela havia tido a brilhante ideia de
que os rapazes e eu nos casássemos aqui, no chalé, na orla da floresta, para ser mais específica.
Não seria realmente um casamento, já que nenhum juiz de paz quis nos unir, seria mais como
algo simbólico.
— Na verdade quem vai os “unir” será eu — diz, fazendo as aspas com os dedos. — Mas
Dou de ombros e vou até a janela, olhando os irmãos Cooper cortando lenha com os peitos
— É estranho você me convencer a casar, sendo que meus noivos não fizeram isso.
— Bem, eles aceitaram o fato de que a sociedade hipócrita poderia se impor com a relação de
Sorrio e concordo.
— Os anos passaram, mas o fato de eu sempre conseguir o que eu quero continua — diz,
Frida iniciou os preparativos da festa com maestria. Nunca vi minha amiga tão animada em
toda minha vida. Nem mesmo no meu aniversário tantos anos atrás, ela mostrou tanta animação como
Quando tudo está pronto no decorrer dos dias, me vejo pensando em tudo que já aconteceu em
nossas vidas. Na primeira vez que Frederic me beijou achando ser mamãe; quando comecei a me
sentir atraída por ele; quando viemos para o chalé e finalmente na nossa primeira vez. Nele se
declarando para mim com uma rosa que perdi no tempo. Penso no dia em que transei pela primeira
vez com Ferdinand, acreditando ser o irmão. Em como me entreguei a ele de corpo e alma. Sorrio ao
pensar no pedido de namoro de Fred apenas para mostrar ao irmão que tínhamos algo e como isso me
chateou; hoje em dia é apenas uma lembrança que me faz rir. Então me recordo do meu jantar com
Ferd e depois, é claro, a nossa primeira vez juntos. Os três. Dos irmãos Cooper entregando-se a mim
e eu me entregando a eles.
Quem diria que uma relação considerada por muitos tabu e luxúria iria se tornar tão sólida.
Aliás, quem diria que eu acabaria com meu ex-padrasto e seu irmão gêmeo?
— Está pronta? — Sou tirada dos meus pensamentos e encaro minha amiga, formando um
sorriso.
— Acho que sim. Como estou? — Dou uma voltinha e ela observa o vestido, sorrindo com
— Está maravilhosa, eu jamais imaginei que você iria se casar e quem iria uni-la seria eu.
Sorrio em resposta e sigo até a frente do espelho, analisando-me por completa. Escolhi um
vestido vermelho de renda, com um decote frontal e as costas abertas com um tule. O vestido segue
até abaixo dos meus joelhos, revelando minhas pernas. Nos pés, uso sapatos na mesma cor, com os
cabelos presos e a maquiagem mais natural. O buquê foi diferente de outras noivas, afinal, nós somos
diferentes. Escolhi rosas vermelhas, por conta de significar a paixão, como Frederic mesmo havia me
dito. E claro, o vermelho ser considerado, para alguns, a cor do pecado. Escolhi rosas azuis, por
significar o amor verdadeiro, raro e que não se abala facilmente. E por último, escolhi rosas brancas,
que significa paz e harmonia, o que, de certa forma, encontrei com Frederic e Ferdinand, apesar de
— Está pronta para iniciar o seu verdadeiro felizes para sempre? — questiona Frida,
sorrindo.
— Estou sim.
Sigo para o lado de fora do chalé me sentindo nervosa. Minhas mãos tremem e o suor na
Ando devagar em direção a orla da floresta e me encanto em ver como minha amiga preparou
tudo da melhor maneira possível. Há diversas cadeiras cobertas com tecidos brancos, dando um
charme a floresta com ar sombrio. Vejo que me enganei e temos sim convidados; Laura está aqui,
assim como Estela, Erika e os pais de Frida, que com o tempo se desculparam conosco por conta de
terem que me transferir de faculdade. Fico feliz e emocionada e sigo caminhando firme, com o buquê
próximo do meu peito e o coração acelerado. E então eu os vejo, sorrindo, com a barba alinhada, os
paletós bem passados e os sorrisos estampados. Fred e Ferd estão lado a lado, de mãos dadas,
esperando-me, enquanto Frida está posicionada logo atrás dos dois em um palco improvisado. Há
ramos de flores falsas penduradas, pendendo-se abaixo de suas cabeças, o que dá ainda mais um
charme ao local.
As árvores com os troncos cobertos pelo musgo e o cheiro forte de mofo deixa tudo ainda
E quando vejo, estou parada diante dos dois, surpresa com a firmeza dos meus pés.
— Você está linda, gatinha — diz Ferd, dando um beijo no alto da minha cabeça. Sorrio,
emocionada e me viro para Fred, que está com lágrimas nos olhos.
Agradeço e nos viramos para Frida, com os poucos convidados sentando-se em seus
respectivos lugares.
— Boa tarde a todos — diz Frida, empolgada. — Estamos aqui, nesta tarde, para unirmos
esse casal que vieram para quebrar paradigmas impostos pela sociedade. Juntos, Estére, Frederic e
Ferdinand, enfrentaram um tabu apenas por um objetivo; o amor. Alguns podem até questionar sobre
amarmos mais de uma pessoa, mas devemos sempre colocar o respeito acima de nossas opiniões.
“Quem diria, não é mesmo? Estére Muller se casando, e ainda por cima, com seu ex-padrasto,
mas sem julgamentos, não mandamos nos nossos sentimentos, e o amor acontece onde menos
esperamos”.
“Sim, alguns vão dizer que é loucura, mas sabe o que realmente importa? A nossa felicidade.
Se te faz bem, te deixa feliz, com borboletas no estômago, esqueça a opinião das pessoas e viva a sua
vida da maneira que deseja. Somente nós sabemos a nossa luta diária para chegarmos até aqui. Então,
por que nos importarmos com o que as pessoas vão dizer? Deixe esse sentimento de aceitação e viva
da maneira que te faça feliz. Apenas viva e seja você mesma, assim verá como o mundo pode ser
melhor”.
Frida termina de falar e seco pequenas lágrimas que surgem nos meus olhos, emocionada com
suas palavras.
— Quero dizer que esta tarde fui beneficiada em poder unir esse casal. Então, sem delongas,
Frederic Cooper, você aceita se casar com Estére Muller e Ferdinand Cooper de livre e espontânea
vontade?
— Aceito.
— Ferdinand Cooper, você aceita se casar com Estére Muller e Frederic Cooper de livre e
espontânea vontade?
— Tinha que ser — diz Frida, revirando os olhos. — E você, Estére Muller, aceita se casar
Mas para nós apenas o amor de outra forma, assim como ele existe em diversos contextos
diferentes.
Fred pega de dentro do seu bolso uma caixinha com três alianças e deposita uma no meu dedo,
fazendo o mesmo com o seu irmão. Então Ferd e eu, colocamos a de Frederic, formando um enorme
sorriso.
Aproximo-me dos meus dois maridos e beijo cada um, com eles se abraçando e beijando o
— Em todos esses anos, nunca fui capaz de agradecer tudo que vocês fizeram por mim — diz
Ferd, emocionado. — Eu te perdoo de coração, irmão, pelos anos afastados e fico realmente feliz em
saber que nesses últimos anos fui liberto de uma vez por todas da prisão. E agradeço por você ter me
— Cem anos ao seu lado não seriam suficientes, Estére — diz Fred. — Por anos amei Jolie e
hoje posso dizer sem medo de ser julgado que eu a amo. Estou mais do que preparado para termos o
— Então vamos iniciá-lo a partir de agora — digo, emocionada. Voltamos a nos abraçar e
E então me vejo encarando o céu e tendo a certeza de que mamãe pode estar lá, talvez
Sorrindo, abraço os irmãos Cooper e me preparo para o que há por vir, feliz em saber que
independe de qualquer coisa, estaremos juntos para enfrentarmos o que for preciso. Lado a lado.
Fim!
O celular toca e vejo que é uma nova mensagem do Tinder, me ajeito na cama rapidamente e
pego o aparelho, desbloqueando e abrindo o app. Assim que entro, me surpreendo ao ver a foto de
um homem mascarado, que acabou de dar match em mim. Dou de volta e não demora, ele me chama
Sorrio e entro no seu perfil, analisando bem; ele mora aqui perto. Ótimo, ou não.
Que gosta de morar na Cidade do Vale Sombrio, onde a maior parte do tempo chove?
Procuro mais fotos e me surpreendo ao ver que só tem a do perfil, que não mostra
absolutamente nada.
Droga.
Como homem pode ser tão babaca a ponto de não querer mostrar o rosto?
Qual o sentido de você usar o app de pegação, se não está disposto a mostrar sua cara?
— Com certeza esse babaca é casado — digo para mim mesma e vejo que ele mandou “oi,
Decido responder e mando um “oi” de volta, mordendo a unha e tirando o esmalte. Preciso
contar isso imediatamente para minha amiga Estére, se ela souber que conheci um cara, ainda mais
Frida: Nada, apenas pensando o porquê um homem como você esconde seu rosto. É
comprometido?
Frida: Eu quero, mas antes me diga, por que se intitula Dominador? É algum fetiche?
Rio da minha ousadia e vejo que ele está digitando, me sento e continuo roendo a unha, então
Dominador: Me intitulo assim porque é isso que eu sou, domino as minhas transas e as
Fico surpresa com isso, pensando que em toda a minha vida de solteira, nunca sai com um
Fico animada com a conversa e ele continua digitando, então vejo que é seu número de
telefone.
Dominador: Caso tenha interesse, posso te ensinar algumas coisas, me mande uma
mensagem.
Encaminho meu telefone, pensando que eu não deveria fazer isso e tomar mais cuidado com
esses apps de pegação, mas a ideia de conhecer um praticamente de BDSM me deixa bastante
curiosa.
Fecho o aplicativo, não falando mais, e decido me preparar para a faculdade, disposta a ver
como minha amiga Estére está, afinal, os últimos meses não tiveram dó dela; perdeu a mãe, terminou
com o namorado babaca que dei uns socos, e para o seu azar, continua virgem.
Mando uma mensagem de bom dia para ela, dizendo que a vejo na aula. As aulas retornaram
já tem um tempo e reflito em como o tempo está passando rápido. Em como a minha viagem com
— Não, pai, vou no meu carro! — grito para que ele ouça.
— Tudo bem, te amamos, te vejo na faculdade.
Um dos meus pais é diretor da faculdade em que estudo e o outro é professor, o que me deixa
as vezes um tanto maluca. Não conheço a minha verdadeira mãe, e para falar a verdade, não faço
questão, já que ela apenas foi uma barriga de aluguel aos meus pais gays e ganhou muito grana com
isso.
Me arrumo às pressas e quando estou pronta, saio do meu quarto e desço a escada correndo,
pegando minhas chaves e indo para o meu carro. Ligo o som e cantarolo a música que toca, sentindo-
No caminho, ouço meu celular tocar e vejo que é uma mensagem do tal Dominador,
A abro, enquanto estou parada no farol, e fico surpresa ao ver o quanto ele é bonito.
— Uau, se você for esse cara mesmo, é muito gato — digo e rio, enviando uma foto minha
Deixo o celular de lado e continuo o percurso para a faculdade, ansiando o momento de poder
Para a minha sorte, a aula passou tranquilamente e minha amiga estava bem, o que me deixou
feliz por ela. Nos conhecemos há bastante tempo e Estére acabou se tornando a irmã que meus pais
não me deram.
Como ela nunca conheceu seu pai e cresceu ao lado de sua mãe, que anos depois casou com
um gostosão muito mais novo, brincávamos que ela tinha mãe, e eu não. E eu tinha pais, e ela não.
Isso parou de acontecer quando tia Jolie morreu para um terrível câncer, que nos deixou
devastados.
Afasto esses pensamentos e me despeço dela, indo para casa e pensando no Dominador,
decidi não falar dele para Estér ainda, para saber o que pode acontecer.
Assim que chego em casa, como um sanduiche e subo para o meu quarto, trocando de roupa e
Podíamos nos encontrar, o que você acha? Moramos perto, pode vir em casa.
Penso sobre isso e relembro o que aconteceu um tempo atrás com Estér, que quase foi
Frida: Acho que não vai rolar, bebê, você é muito bonito, mas isso não me garante que não
é um pervertido.
Envio e deixo o celular de lado, pensando que mesmo tendo cinquenta por cento de chances
de ele ser um pervertido, eu quero conhecê-lo, o que é uma loucura até mesmo para mim.
Droga, o que eu devo fazer?
Continua...
Gostaria de primeiramente agradecer a Deus por permitir que eu consiga publicar este livro.
Agradeço a minha família que apoia os meus sonhos e a assessória Fox, que me apoiou e incentivou
até o último momento. A você, caro leitor e leitora, que chegaram até aqui. Obrigada por me apoiar e
me ajudar neste lançamento. Se você não gostou e leu até o fim, agradeço da mesma forma por ter
Agradecimento em especial a minha amiga Jussara, que me incentiva a cada dia a não desistir
Beatrice Meirelles.
[1]
Cidade fictícia.
[2]
Citação ao livro “Crepúsculo”.