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Revisão: Ârtemia Souza e Beatrice Meirelles

Capa: Hórus Editorial


Imagens Diagramação: Fox Assessoria Literária
Diagramação: Beatrice Meirelles
____________________
Dados internacionais de catalogação (CIP)
NOS BRAÇOS DO PECADO & LUXÚRIA
BOX DUOLOGIA DESEJO SOMBRIO — LIVRO 1 & LIVRO 2.
1ª Edição
1. Literatura Brasileira. 2. Literatura Erótica. 3. Romance erótico. Título I.
____________________
É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio
eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da
internet, sem permissão de seu editor (Lei 9.610 de 19/02/1998). Esta é uma obra de ficção, nomes,
personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor, qualquer
semelhança com acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos desta edição são reservados pela autora.
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor
desde 1º de janeiro de 2009.
Dedicatória
Sinopse
Nota da autora sobre o assunto
Nos Braços do Pecado — Livro 1
Prólogo — Estére
Capítulo 1 — Estére
Capítulo 2 — Estére
Capítulo 3 — Estére
Capítulo 4 — Estére
Capítulo 5 — Estére
Capítulo 6 — Estére
Capítulo 7 — Estére
Capítulo 8 — Frederic
Capítulo 9 — Estére
Capítulo 10 — Estére
Capítulo 11 — Frederic
Capítulo 12 — Estére
Capítulo 13 — Estére
Capítulo 14 — Estére
Capítulo 15 — Estére
Capítulo 16 — Frederic
Capítulo 17 — Estére
Capítulo 18 — Estére
Capítulo 19 — Estére
Capítulo 20 — Estére
Capítulo 21 — Frederic
Capítulo 22 — Estére
Capítulo 23 — Estére
Capítulo 24 — Estére
Capítulo 25 — Estére
Capítulo 26 — Estére
Capítulo 27 — Estére
Capítulo 28 — Estére
Capítulo 29 — Estére
Capítulo 30 — Estére
Epílogo — Ferdinand
Nos Braços da Luxúria — Livro 2
Capítulo 1 — Estére
Capítulo 2 — Estére
Capítulo 3 — Estére
Capítulo 4 — Estére
Capítulo 5 — Estére
Capítulo 6 — Estére
Capítulo 7 — Estére
Capítulo 8 — Estére
Capítulo 9 — Ferdinand
Capítulo 10 — Estére
Capítulo 11 — Estére
Capítulo 12 — Estére
Capítulo 13 — Estére
Capítulo 14 — Estére
Capítulo 15 — Estére
Capítulo 16 — Estére
Capítulo 17 — Estére
Capítulo 18 — Estére
Capítulo 19 — Estére
Capítulo 20 — Estére
Capítulo 21 — Estére
Capítulo 22 — Estére
Capítulo 23 — Estére
Capítulo 24 — Estére
Capítulo 25 — Estére
Capítulo 26 — Estére
Capítulo 27 — Estére
Capítulo 28 — Estére
Capítulo 29 — Estére
Capítulo 30 — Estére
Epílogo — Estére
Uma espiada em “Nos Braços do Dominador” — Frida
Agradecimentos
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Dedico este box a todas as pessoas que acreditaram de alguma maneira no meu trabalho e
não soltaram a minha mão.
Obrigada, vocês foram essenciais em cada passo dessa caminhada!
Estére Muller é uma jovem linda e inocente de apenas 20 anos, virgem, que sempre teve tudo

o que queria na palma de sua mão. Porém, com uma grande fatalidade que levou sua mãe, ela verá

sua vida virar de ponta cabeça.

Frederic Cooper é um homem atraente e tinha apenas 28 anos quando perdeu a esposa para

uma terrível doença. Desolado com a perda, ele tem apenas uma única pessoa a quem se apoiar: sua

enteada.

Por um pedido da falecida esposa, ambos terão que conviver sob o mesmo teto, no entanto,

eles não esperavam que um sentimento avassalador poderia nascer.

Como Estére e Frederic conseguirão resistir a uma ardente e proibida paixão que não deveria

existir entre os dois?

E o pior; como irão lidar com uma pessoa do passado de Frederic que pode colocar tudo a

perder?

Embarque neste romance eletrizante de Beatrice Meirelles e descubra que os mocinhos às


vezes podem ser os melhores vilões já vistos.
Alerta de gatilho: esse livro contém cenas de sexo explícito e narrado. Contém tentativa de

estupro, entre outras coisas que podem causar desconforto. Se você não estiver à vontade lendo esta

história, abandone a leitura imediatamente.


Esse box conta com os dois volumes da duologia “Desejo Sombrio”, que foram removidos da

Amazon e passou por novas mudanças e outra revisão, deixando o texto ainda mais amplo e bem

organizado. Algumas cenas foram alteradas e outras adicionadas, para dar ainda mais conteúdo aos

livros. Essa duologia é proibida para menores de dezoito (18) anos. Nela, contém cenas de sexo

explícito, com teor duvidoso. Caso não goste do tema, peço que abandone a leitura imediatamente.

Beatrice Meirelles.
Meu nome é Estére Muller, e se você pensa que essa história é comum, está enganado. Aqui,

nós somos tratados como os inimigos. Eu me trato assim. Veja bem, eu perdi uma pessoa importante

para um maldito câncer e adivinha o que fiz? Não consegui lidar bem com isso e me entreguei a uma

paixão avassaladora.

Acredite se quiser, eu não escolhi isso. Na verdade, nós não escolhemos. Simplesmente as

coisas foram acontecendo e quando vi, já estávamos tão envolvidos que o Pecado e a Luxúria

estavam andando de mãos dadas. E foi aí que me vi em um campo minado e as coisas começaram a

sair do controle. Peço que por favor, não nos julgue, conheça-nos antes de qualquer coisa e descubra

os nossos desejos mais sombrios...


Ouço o barulho da chuva bater na janela e a porta principal da casa é aberta. Não poderia ser

mais ridículo do que está sendo, até mesmo parecia que Deus olhava para gente e dizia: “Bem, já que

sua mãe morreu, vou mandar uma chuva forte para deixar você ainda mais triste, e com sorte, cortar

os seus pulsos e se juntar no inferno com ela”. O pensamento de que mamãe agora está no inferno é

triste, mas real. Não que ela tenha sido uma pessoa ruim ou algo parecido, entretanto, eram assim as

coisas. Quem realmente ia para o céu? Deus deveria escolher a dedo as pessoas, e mesmo minha mãe

tendo morrido por causa de um maldito câncer, duvido que Ele tenha tido piedade.

Suspiro, frustrada, e seco a lágrima que escorre pelo meu rosto, encosto a cabeça na janela da

sala e continuo olhando para o lado de fora, vendo um casal jovem correr debaixo da chuva, sorrindo

apaixonados. Penso o quanto a vida as vezes é estranha; sim, estranha. Estou aqui dentro, sofrendo

pela morte de mamãe, e eles dois lá fora, sorrindo, se abraçando e beijando-se debaixo da chuva

como se fosse a coisa mais comum do mundo.

Levanto-me e apanho meu celular que vibra na mesa de centro. Vejo no visor que é uma
mensagem do meu namorado, Collin Spellman. Apesar de gostar muito dele, sempre achei seu nome

um tanto ridículo.

Fala sério, quem coloca esse tipo de nome no seu filho?

“Você se chama Estére, acha seu nome comum e bonito?” Ouço meus pensamentos dizerem.

— Estére? — Ouço a voz do meu padrasto me chamar e ele entra na sala, me encarando. Está

usando um terno preto com a gravata torta. A cabeça, com os cabelos em corte militar, está molhada

por conta da chuva. Seu olhar é frio e triste, por conta de ter perdido a esposa. O peitoral forte sobe

e desce por baixo da camisa.

Ele é muito mais jovem que mamãe, cerca de quase doze anos.

— Oi — digo, ainda parada, com o celular na mão, pronta para responder Collin.

— Vim ver se você está precisando de alguma coisa — diz Frederic. Esse é seu nome, o que,

na minha opinião, não combina muito com ele.

— Estou bem, na verdade, estava me preparando para tomar um banho e me deitar.

— Você tem certeza? Não quer comer alguma coisa? — Questiona.

Nego com a cabeça, segurando o celular com firmeza.

— Obrigada, estou sem fome.

Silêncio. Ele fica parado onde está e concorda com um aceno de cabeça.
— O funeral estava cheio, você não acha? — pergunta e sei o que ele está fazendo.

— Você quer saber como estou, então pergunte logo — digo ríspida.

Frederic abaixa a cabeça e quando levanta, voltando a me encarar, vejo seus olhos marejados.

— Só queria... você perdeu sua mãe, sinto muito.

— E você a sua esposa, também sinto muito, mas quando ela descobriu sobre o câncer,

sabíamos que as chances disso acontecer eram grandes.

Voltamos a ficar em silêncio e ele concorda.

— Ok, vou me deitar, amanhã o advogado vai vir ler o testamento, sabemos que sua mãe não

era rica, mas tinha um dinheiro considerável na poupança.

— Pode ficar com o dinheiro, não vejo problema nisso — digo, seguindo em sua direção e

saindo da sala. Passo ao seu lado sem ao menos encará-lo e Frederic segura meu braço, virando meu

corpo para ele. — O que foi?

— Não quero o dinheiro da sua mãe, apenas a quero de volta.

— Eu também a quero aqui, está bem? Mas sabemos que isso é impossível! Não tem como ela

voltar dos mortos.

Meu padrasto concorda e me desvencilho dele, seguindo pelo corredor e subindo a escada da

nossa casa. Vejo ele uma última vez antes de me perder no corredor e entro para o meu quarto, deito-

me na cama e lamento a morte de mamãe.


“Droga, como será de agora em diante?”

Penso o quanto que a vida é injusta, por que perdíamos as pessoas? Por que minha mãe havia

partido tão cedo?

Sinto meu celular vibrando e saio dos meus pensamentos vendo que é uma ligação de Collin.

Decido atender para que ele possa me deixar em paz.

— Amor, como você está? Quer que eu vá para sua casa? — pergunta com a voz rouca.

Suspiro e me viro na cama, olhando a janela, que continua chovendo do lado de fora da Cidade do

Vale Sombrio[1], uma cidadezinha interiorana que fica localizada na Europa. A cidade leva esse nome

por boa parte do tempo estar chovendo e ter um ar misterioso. Muitos moradores até mesmo diziam

que aqui habitava o próprio Diabo, o que eu não duvido, já que é um verdadeiro inferno.

— Oi — digo. — Estou bem, não precisa, nos vemos amanhã, o que acha?

— Tem certeza? Posso pedir um Uber — murmura do outro lado da linha.

Collin é um homem muito bonito, isso não posso negar. Na nossa faculdade ele sempre foi um

dos caras mais desejados, tanto por mulheres como por homens, no entanto, havia sido eu que

acabara conquistando-o.

Começamos a namorar no segundo ano da faculdade e até então ainda não havíamos ido para a

cama. O que, de certa forma, sei que o incomoda, mas desde então tem sido um cavalheiro e tanto

comigo.
— Sim, nos vemos amanhã — digo com firmeza.

— Sinto muito que esteja passando por isso, minha garota — diz ele. Sorrio da forma que

diz e seco a lágrima que escorre pela minha bochecha.

— Eu também sinto, mas não podemos fazer mais nada. Agora, se não se importa, vou dormir,

estou bastante cansada.

— Tudo bem, eu te amo, até amanhã.

Desligo sem respondê-lo e tomo um rápido banho, deito-me na cama e durmo.

Acordo de madrugada um tanto assustada, com o vento forte batendo na vidraça da janela e o

barulho dos relâmpagos. Levanto-me e fecho a cortina, observando o temporal continuar do lado de

fora.

Bocejo e saio do quarto, vou até o banheiro, faço xixi e me encaro no espelho, observando

meus cabelos loiros bagunçados, meus olhos azuis brilhantes e minha pele clara. Puxei as

características de mamãe, que, quando jovem e viva, era uma cópia perfeita de mim. Aliás, ao

contrário.

A única diferença entre nós é que mamãe era séria demais e determinada a fazer o que fosse

necessário para alcançar seus objetivos. Já eu não.

Sempre fui uma garota despreocupada, o que era um forte motivo para mamãe e eu brigarmos.

Até mesmo sobre eu ainda ser virgem era assunto de brigas, o que me incomodava bastante.
Mas, pensando agora que a perdi, preferia mil vezes brigar com ela do que tê-la perdido para

o câncer.

Esqueço meus pensamentos melancólicos e saio do banheiro, sigo pelo corredor e desço a

escada. Olho para o relógio na parede e vejo que ainda são 4 horas da manhã. Sigo até a cozinha,

abro a geladeira e pego um pouco de leite.

— Sem sono também? — Ouço uma voz atrás de mim.

Me assusto e quase derrubo a caixa. Viro-me na ilha da cozinha e coloco-a sobre o balcão.

— Droga, Frederic, você me assustou! — digo, encarando meu padrasto. Vejo que sua pele

brilha e seu peitoral está desnudo.

— Me desculpe, não foi minha intenção. Ouvi passos pela casa e decidi verificar se realmente

era você.

— Se não fosse eu, quem é que seria? — pergunto, revirando os olhos.

Ele me encara e abre a boca pronto para proferir algo, porém, a fecha e começa a gesticular

com os braços.

— Eu não sei, me desculpe novamente, só não consigo dormir.

Concordo e viro meu corpo, sigo em direção ao armário e pego um copo.

— Aceita um pouco? — pergunto, apontando para o leite, ele concorda e pego dois copos.
Volto em sua direção e nos sirvo, entregando um a ele, que sorri grato.

— Obrigado, Estére — diz, pronunciando meu nome devagar.

— Por nada. Agora me diga, não dormiu nem um pouco?

— É meio difícil, quando se está acostumado a ter outro corpo esquentando o seu — diz, de

maneira despreocupada. — Me desculpe, sei que você nunca foi muito com minha cara, já que eu sou

muito mais novo do que sua mãe era...

— Não, por favor, não vamos falar sobre isso. Eu nunca disse que não ia com sua cara,

apenas me incomodava o fato de que meu padrasto tem idade para ser meu irmão.

— Entendo, mas agora não sou mais seu padrasto, não se preocupe com isso — diz, forçando

um sorriso, forço outro apenas para correspondê-lo.

— Acho que agora vou tentar dormir — digo, terminando meu leite e colocando o copo sobre

a pia. Frederic concorda e me despeço dele, passando ao seu lado e me esbarrando sem querer no

seu peitoral. Sinto a quentura de sua pele e meus pelos se arrepiam. — Você está quente.

— Não se preocupe, sou assim mesmo — diz. Concordo e ergo a sobrancelha.

— Se você está dizendo. Até mais tarde.

Volto para meu quarto e me deito, fecho os olhos e tento dormir, no entanto, é em vão.
Sinto uma mão passear pelo meu rosto e abro meus olhos devagar, encarando Frederic sentado

ao meu lado.

— O que está fazendo aqui?! — pergunto ríspida, esfrego meus olhos e o encaro, vendo que

na verdade é Collin.

— Oi, amor, me desculpe, pensei que havíamos combinado de nos vermos hoje — diz ele,

estreitando as sobrancelhas. — Está tudo bem?

— Como você chegou aqui? — pergunto, surpresa.

— Frederic abriu para mim — diz.

Fico surpresa com o que houve e balanço a cabeça. Apenas uma confusão. É isso. Com

certeza, se deve ao fato de ter visto meu padrasto de madrugada e agora estou vendo coisas.

— Me desculpe — digo. Me aproximo dele e deposito um beijo suave nos seus lábios,

rapidamente me levanto e vou para o banheiro, tranco a porta e o deixo para o lado de fora.
— Você quer sair para comer alguma coisa? — pergunta do outro lado da porta. — Pensei

que, como esta semana as aulas foram suspensas por conta das fortes chuvas, seria legal se fôssemos

juntos para algum lugar, para você descansar, o que acha?

Faço xixi e escovo os dentes, lavo o rosto e prendo meus cabelos. Passo desodorante e abro a

porta, encarando o homem de 1,80m, braços musculosos, corpo malhado, cabelos arrepiados e olhar

sério e gentil ao mesmo tempo.

— Não estou muito no clima — digo, o encarando. Ele morde o canto da boca e passo ao seu

lado, indo até meu guarda-roupa. —, mas aceito sair para comer, estou com fome.

— Ótimo, que tal irmos no Beer’s que você tanto adora? Hoje é dia de panqueca.

Penso sobre o Beer’s, que é uma lanchonete-bar que sempre ia com minha mãe quando ela

estava de folga no trabalho.

— Pode ser, como o tempo está lá fora, abafado?

— Chovendo e abafado, como sempre, parece que estamos na boca do inferno — diz, se

aproximando com um sorriso no rosto. Solto uma risada e ele me abraça, então deixo algumas

lágrimas escorrerem pelo meu rosto que molham sua camiseta. — Sinto muito que esteja passando

por isso, minha garota, se eu pudesse, arrancaria toda essa dor que está sentindo no seu peito.

— Obrigada, Collin, de verdade. Mamãe gostava bastante de você, ela ficaria feliz em saber

que está me apoiando neste momento tão difícil.


Ele segura meu queixo e deposita um beijo em minha testa.

— Que tal você se trocar para irmos tomar aquele café de que estávamos falando? —

pergunta.

— Claro, não poderemos demorar muito, Frederic me disse que o advogado vai vir em casa

hoje ler o tal do testamento.

— Sua mãe tinha um testamento? — pergunta, sentando-se na cama.

— Parece que sim — digo procurando uma calça jeans, visto e coloco uma blusa amarela,

então vejo que é muito chamativa para quem está de luto e coloco uma preta, que mostra minha

barriga.

— E Frederic? Agora que sua mãe morreu, ele vai se mudar, não é?

— Eu não sei ainda como será, passamos tantos anos os três juntos nesta casa...

— Sim, mas ele não é mais nada seu, deixou de ser seu padrasto quando sua mãe morreu e foi

enterrada — resmunga Collin. Dou de ombros e passo um perfume qualquer.

— Conversaremos sobre isso depois, que tal irmos comer agora? — Pego meu celular com a

carteira e vejo uma mensagem de Frida, minha melhor amiga, que “ganhou” esse nome por conta de

os pais gays serem fãs de Frida Kahlo.

— Certo, hoje você que manda — diz, passando o braço pelo meu ombro.

— Eu mando todos os dias — digo, e ele ri.


*

Encontro Frederic no andar debaixo e ele me encara sorrindo.

— Bom dia, eu acho — diz. — Vão sair?

— Vamos, sim — digo. — Collin vai me levar para comer panqueca no Beer’s, quer ir

conosco?

— Ah, não, se divirtam. Se puder não demorar muito, o advogado virá em breve.

Concordo e nos despedimos dele, saindo para o lado de fora, que está garoando. Entramos no

Porsche do meu namorado e ele sai do meio-fio, seguindo pela estrada.

— Ir conosco? — pergunta ele, ligando o rádio, uma música da Colbie Caillat toca baixo.

— Só quis ser educada — digo, revirando os olhos, ele forma um sorriso e sorrio de volta. A

Cidade do Vale Sombrio remete a uma floresta em volta da pequena cidade que fica afastada de toda

a Europa. Encaro as árvores verdejantes e suspiro, cantando baixinho com a cantora. Logo a música

acaba e uma outra começa, de um cantor que não conheço.

Meia hora depois, Collin estaciona o carro em frente ao Beer’s, conosco saindo e entrando

pela porta, que toca um sino assim que passamos. O local está cheio, para uma quinta-feira comum, e

alguns rostos me encaram, reconhecendo-me. Isso que dá você morar em uma cidade pequena.

Quando algo acontece, todos os habitantes ficam sabendo rapidamente.

— Estére — diz o dono do local, o senhor Georgie. Ele é um homem barrigudo, de olhos

caídos e sorriso gentil, que pela primeira vez não está estampado na sua face. — Sinto muito pela
morte de Jolie, realmente foi algo totalmente inesperado.

Quero dizer que foi inesperado para ele que não convivia com ela e não via a luta diária por

conta do câncer, no entanto, apenas assinto e forço um sorriso, agradecida.

— O que vão comer? Podem escolher o que quiserem, hoje é por conta da casa — diz ele.

— Obrigada, Georgie — digo. — Vou querer panquecas com calda de chocolate e morango, e

ovos mexidos com bacon.

— É para já, minha jovem. E você, Collin?

— Pode ser o mesmo que o dela, e dois sucos de laranja, por favor.

O homem concorda, se afastando e Collin me guia em direção à mesa que fica próxima a

janela. Nos sentamos e os olhares continuam sobre mim, o que começa a me incomodar.

— Fiz besteira em tê-la trazido aqui? Poderíamos ter ido no Griu’s.

— Não, tudo bem, com certeza teriam pessoas lá me olhando iguais a essas — digo. Ele

concorda e resolvo responder à mensagem de mais cedo de Frida.

“Oi, amiga, estou bem, não se preocupe. Vim no Beer’s com Collin, o que está fazendo?”

“Por que não me chamaram? Estou em casa, meus pais estão comigo, mal dormimos essa

noite por conta da tempestade.”

“Mesmo se eu tivesse chamado, seus pais não deixariam você sair, e foi de última hora.
Combinamos outra hora de nos vermos.”

“Tudo bem, fique bem. Te amo.”

Sorrio, me despedindo dela e vejo os pratos serem depositados sobre a mesa. O cheiro de

ovos com bacon e das panquecas invadem meu nariz e meu estômago protesta, me lembrando que a

última vez que comi foi antes de ir para o velório.

— Obrigada, Georgie — digo, forçando um sorriso.

— Por nada, Estére, espero que gostem.

Ele se afasta e pego o garfo, levando um pouco dos ovos e bacon para minha boca. Engulo e

bebo um pouco do suco e vejo meu namorado me encarar.

— O que foi, vai ficar aí me encarando? — pergunto, ele ri e começa a comer.

— É só que eu gosto de te observar, é isso — diz. Sorrio e comemos em silêncio, eu me

deliciando nas panquecas.

— Este lugar nunca decepciona — digo, comendo tudo, Collin faz o mesmo e após

terminarmos, ele limpa minha boca com o guardanapo e mordisca o canto da sua.

— Fico feliz em poder proporcionar um pouco de alegria neste momento tão difícil — diz

Collin.

— Você tem sido ótimo, não se preocupe, mais uma vez obrigada por sempre estar comigo.
— Claro que estarei — diz, erguendo a mão em um sinal de saudação, rimos e vamos até o

balcão, prontos para pagar.

— Não precisa, como disse, é por conta da casa hoje — diz Georgie. Agradeço a ele e me

despeço, com Collin e eu voltando para dentro do carro.

— Você tem que me levar para casa agora, é tempo do advogado chegar — digo, ele concorda

e após afivelarmos o cinto, Collin sai do estacionamento, seguindo em direção à casa de mamãe.

Minha. De Frederic.
Assim que chegamos, saio às pressas por conta de a chuva ter aumentado e entramos à casa,

com Collin se colocando ao meu lado no sofá.

Vejo Frederic vir da cozinha e ele nos encara, forçando um sorriso. Está usando calça jeans

escura, uma camisa xadrez e botas grossas nos pés.

— Oi, onde está o advogado? — pergunto.

— Deve estar che... — Frederic é interrompido com o toque da campainha e ele sorri. —

Acho que chegou.

Vejo ele ir em direção à porta e abri-la, dando passagem a um homem baixinho, de pele negra,

careca e olhar sério. Ele nos encara e nos cumprimenta.

— Olá, Estére, acredito que não se lembre de mim, sou Edie, o advogado da família. Como

está?

— Indo — digo, sorrindo, ele sorri e encara Collin, o cumprimentando.


— Bem, como você sabe, sua mãe trabalhava com finanças e tinha uma herança considerável,

assim como esta casa, dois carros, e outras duas residências, sendo um chalé e uma casa de campo,

que ficam localizadas pela Europa mesmo.

— Certo, meu avô deixou esse pequeno patrimônio para ela quando morreu, como vovó já

morreu também e ela era a única herdeira, ficou tudo para mamãe.

— Assim como você, porém, preciso ler o testamento, pois antes de morrer, em seus últimos

dias de vida, sua mãe fez algumas mudanças — diz Edie. Concordo, estranhando.

O que mamãe havia mudado?

— Certo, estamos ouvindo — digo. Frederic se senta em uma das poltronas e Edie abre sua

pasta, pegando alguns documentos de dentro. Ele pigarreia e começa a examiná-lo.

— Quer que eu leia em voz alta ou apenas cite as mudanças? — pergunta.

— Seja objetivo e fale sobre as mudanças, por favor.

Ele concorda e limpa a garganta.

— Como imaginado, sua mãe te deixou o chalé, a casa de campo, um dos carros e metade

desta casa. Para Frederic ela deixou um carro, vinte por cento do dinheiro e metade desta casa.

— O quê? — pergunto, surpresa. Frederic está tão surpreso quanto eu.

— É isso mesmo que eu disse, Srta. Muller — diz Edie. — Metade desta casa te pertence e a

outra metade pertence a Frederic, o viúvo de sua mãe.


— Só pode ser mentira — sussurro, acenando com a cabeça.

— Não tem como reverter isso? — questiona Frederic. — Não quero a casa nem nada. Não

podemos ir à justiça e cancelar esse testamento?

— Cancelar? Senhor, isso foi escrito pela sua própria esposa, seria muito difícil conseguir

cancelá-lo, fora que não há nada de errado em sua esposa ter deixado um pouco da sua herança para

o marido.

Ficamos em silêncio e suspiro.

— Tudo bem, mais alguma coisa? — questiono e me levanto.

— Não, Srta. Muller, apenas que assine alguns papéis se estiver de acordo com o testamento.

— De acordo? Não tenho escolha — digo, me aproximando dele. Edie suspira e pega os

papéis, me entregando a caneta e apontando onde devo assinar. Assino sem pensar duas vezes e

encaro Frederic.

— Vou sair, até mais. — Encaro Collin e ele levanta, se despedindo dos outros. Abro a porta

com brutalidade e saímos. Entro rapidamente no carro.

“Ótimo, perdi minha mãe e agora começará um inferno na minha vida.”


— Vocês podem vender a casa e como tem o chalé, pode se mudar para lá — diz Collin

seguindo pela estrada.

Ligo o som do rádio e ele me encara de canto de olho.

— É, não é uma má ideia, se desse para fazer isso. Como ainda tenho 20 anos, teríamos que

esperar mais 4 para podermos colocar à venda. E o chalé é muito longe, teria que sair de madrugada

para chegar na faculdade.

— Isso é mesmo uma droga — diz ele.

— Sim, é uma droga — digo, triste.

— Quer ir ao cinema para se distrair um pouco? Eu pago.

— Não é uma má ideia — digo, sorrindo. Ele concorda e segue para o cinema que tem na

cidade.

Não demora e logo chegamos. Collin estaciona e abre a porta para mim. Saio e vejo que não
está chovendo, o que me deixa um pouco aliviada, então seguimos para bilheteria e escolhemos um

filme qualquer, apenas para nos distrairmos um pouco.

— Vamos dar um passeio enquanto não dá a hora do filme — diz ele. Concordo e seguro sua

mão, andando pelo interior do cinema, onde tem algumas lojinhas e uma livraria.

— Aqui — digo e entro na livraria.

— Estére, você tem mais livros do que consegue ler, a última vez que viemos aqui, você

comprou oito e aposto que não leu nenhum ainda.

— Não li, mas livro nunca é demais — digo, já encarando as prateleiras. — Qual é? Você

mesmo disse para nos distrairmos, me deixe ver alguns livros.

Collin revira os olhos e forma um sorriso, concordando.

— Tudo bem, você venceu — diz ele. Sorrio, batendo palmas, e continuo olhando para as

prateleiras, passando as mãos pelas lombadas dos livros. Escolho alguns que me chamam a atenção e

seguimos até o caixa para pagar.

Assim que saímos da livraria, Collin passa o braço pelo meu ombro e me encara.

— Eu estava pensando, já que você não pode vender sua casa por causa de uma lei idiota por

aí, e não quer se mudar para o chalé, que fica longe, por que não vem morar comigo?

Congelo com suas palavras e ele para ao meu lado, me encarando de sobrancelhas erguidas,

sem entender.
— Como disse?

— Estou chamando você para morar comigo — diz.

— Mas e seus pais? — questiono.

— Bem, não posso expulsá-los de casa, não é mesmo? — questiona, sorrindo.

Penso sobre aquilo e fico quieta, voltando a andar e chegando na fila do cinema. Entrego os

ingressos e vamos para o local indicado, com Collin me encarando, esperando uma resposta.

— Não seria como um casamento, sabe? Seria como se fôssemos amigos — argumenta.

— Como se fôssemos amigos? Somos namorados, não tem como namorados morarem juntos

sendo como amigos. E eu tenho minha casa, não sou uma sem-teto ou algo parecido.

— Não disse que é — diz, indo comigo buscar pipoca e refrigerante.

— Eu sei que não disse, mas... é que... — Fico quieta e Collin me encara.

— Só estou querendo dizer que seria muito estranho você morar naquela casa enorme com um

homem, agora solteiro, e atraente — diz ele. — Ele era seu padrasto, mas sua mãe morreu, a ligação

que tinham acabou.

— Espera, você está dizendo que meu padrasto é atraente? O que quer dizer com isso? —

pergunto, sem entender. Às vezes sei me fazer de uma bela otária.

— Só estou querendo dizer que ele pode tentar algo, sei lá...
— Frederic era o marido da minha mãe, como consegue pensar nisso? Isso é ciúme? —

questiono. — Droga, Collin, a ligação que tínhamos como padrasto e enteada pode ter acabado, mas

se você não ouviu o que Edie disse, minha mãe deixou 20% da herança para ele, um carro e metade

da casa onde passei minha vida inteira! Então não faça esse assunto virar seu, sendo que não é!

— Me desculpe, tá legal? Só queria ajudar a encontrar uma solução.

Pego a pipoca, mastigo e bebo um pouco do refrigerante, sentindo-me nervosa. Como Collin

pôde transformar o assunto em algo dele? Claro que não tiro a razão de sentir ciúme de Frederic,

afinal de contas, ele é sim um homem bonito e atraente. No entanto, passou os últimos anos casado

com minha mãe.

— Me ajude me levando para casa, por favor — peço, estarrecida.

Collin me encara e balança a cabeça em negativa.

— Pensei que iríamos ver um filme para nos distrairmos um pouco — diz ele.

— É, eu também pensei, até você se colocar como o centro do assunto quando nem faz parte

dele — digo de maneira ríspida.

Vejo Collin assentir e pegar a pipoca e refrigerante da minha mão, jogando-os na lixeira mais

próxima. Algumas pessoas nos encaram e reviro os olhos, saindo do cinema e seguindo para o carro.

Ele faz o mesmo e destrava a porta. Entro e passo o cinto pelo meu corpo, ficando em

silêncio.
Collin liga o veículo e acelera, me levando para casa. E durante todo o caminho me mantenho

em silêncio, pensando no que farei da minha vida.

Saio do carro quando Collin para em frente de casa e ele me encara sério.

— Nos vemos quando? — questiona-me.

— Vamos conversando pelo WhatsApp — digo fechando a porta e pegando meus livros, ele

concorda e arranca o carro. Entro em minha casa e bato a porta com força, sentindo-me chateada.

“Ótimo, perdi minha mãe, estou presa nesta casa e ainda briguei com a pessoa que se

importa comigo.”

Saio dos meus pensamentos e suspiro, vou até a cozinha e abro a geladeira, pego uma garrafa

de vinho e encho uma taça, bebo em um único gole, então subo para meu quarto, enfiando meus novos

livros na minha estante. Mesmo tendo uma biblioteca em casa, sempre gostei de guardar os meus

livros comigo.

Saio do meu quarto e vejo Frederic de roupão e pantufas andando pela casa, está com óculos

de leitura e um copo com uísque nas mãos.

— Oi — digo, ele me encara e força um sorriso, fechando o roupão. Vejo que por baixo está

apenas de cueca.

— Me desculpe, não sabia que havia chegado — diz.


— Collin e eu brigamos, então vim embora antes do previsto — respondo. Ele assente e

desço a escada, com ele me seguindo.

— Posso saber por que brigaram? — pergunta, curioso.

O encaro e aponto para o seu copo.

— Antes, aceito um desse — digo, ele forma um sorriso e concorda.

— É para já, espere só um momento.

Concordo e ele segue até a sala de jantar, onde fica o nosso bar. Não demora e Frederic volta

com um copo para mim e o seu cheio.

Bebo o líquido âmbar e sinto queimar meu estômago, então suspiro e volto a observar

Frederic.

— Collin me convidou para morar com ele, ele disse que seria estranho vivermos aqui,

juntos, já que não temos mais elo nenhum — digo. Frederic ergue a sobrancelha grossa e morde o

canto da boca.

— Por que estranho?

— Bem, ele acha que como você não é mais meu padrasto, seria meio que convidativo a você

tentar algo comigo. Eu sei, é doentio, mas você quis saber.

Vejo ele rir e rio junto, voltando a beber.


— E você concorda com ele?

— Não, claro que não. Apesar de tudo, ainda somos uma família, mesmo que diferente —

digo, apontando meu copo para ele, que bate com o seu e viramos de uma vez.

— Bem, se você quiser, posso me mudar, ou sei lá. Não quero deixá-la desconfortável em

aspecto nenhum.

— Não, tudo bem, se mamãe deixou esta casa para nós dois, é porque ela queria que um

apoiasse o outro. Seria injusto não realizarmos o seu último desejo, porém, não irei levar a roupa na

lavanderia e nem lavar o banheiro. Ah, e cozinhar também não é comigo, minha comida sempre foi

horrível.

Rimos e ele sorri, estendendo o braço e passando os dedos nos meus.

— Obrigado, Estére. Apesar de ela ter partido, ainda a amo, e não seria fácil me despedir

daqui.

— Tudo bem, nem para mim. Eu cresci aqui junto com ela, já que meu pai nunca foi um

homem presente e nem sei da sua existência. Seria injusto para ambos se tivéssemos que sair.

Frederic concorda e me levanto.

— Se não se importa, vou para o meu quarto estudar um pouco.

— Como está a faculdade? — pergunta.

— As aulas foram suspensas por conta do temporal, mas estão indo bem, estamos prestes a
fechar a matéria e com sorte, passarei em todas.

Frederic concorda e me despeço dele, seguindo para meu quarto. Fecho a porta e passo a

tranca. Não sei explicar o motivo.

Estudo um pouco, converso com Frida no telefone e assisto à programas bobos na televisão,

então, quando já está beirando 21h, peço uma pizza para comer e assim que chega, jogo a caixa sobre

a mesa e apanho um prato, colocando duas enormes fatias nele. Pego um copo de suco e subo para

meu quarto, entrando e voltando a passar a tranca.

Como em silêncio, ansiando o momento de terminar para poder tomar um banho e dormir.

Assim que faço isso, coloco meu pijama e me aconchego na cama, cobrindo-me com o edredom

grosso. Deixo a janela fechada com as cortinas abertas, avistando ao longe as árvores e a chuva, que

já recaí sobre a cidade amaldiçoada em que vivo.

Suspiro e fecho meus olhos, não demora e caio no sono.

— Filha? — Ouço a voz de mamãe. — Estére, está na hora de se levantar, querida.

Levanto-me da cama, sem entender, abro a porta e sorrio ao ver minha mãe parada, já vestida

para o trabalho.

— Mamãe, pensei que estivesse...

— Morta? — completa. Assinto e ela sorri. — Mas eu estou.


Vejo seu rosto enegrecer e sua pele apodrecer, então me afasto e caio para trás, desviando

meu olhar. Encaro novamente e Frederic está parado na minha frente, sem camisa, com os pés

descalços e o zíper da calça aberto.

— Oi, Jolie — diz se aproximando.

— O quê? — questiono, mas sou surpreendida quando ele me pega e prende-me nos seus

braços, encarando meus olhos. Fixo os meus nele e engulo em seco, notando o sorriso se formar em

seus lábios.

— Jolie, você voltou para mim — diz ele, aproximando-se de mim e me beijando.

Tento me afastar, mas é em vão, pois ele é muito mais forte. Então, sem escolhas, entrego-me

ao beijo, sentindo meu corpo se arrepiar por inteiro. Ele passa as mãos pelos meus braços e desce

para o meu quadril, movimentando sua pélvis contra mim. Sorrio e o encaro, vendo que agora o rosto

é do Collin, que sorri maliciosamente e se aproxima do meu pescoço, o mordiscando. Respiro fundo

e o aperto contra mim, então ouço um barulho e sou trazida para a realidade, com o despertador me

acordando e me mostrando que só posso estar ficando louca ao sonhar com isso.
Sinto meu coração acelerado mais do que o normal e olho o relógio, mostrando que já são

mais de 6 horas da manhã. Devo ter esquecido de tirar o despertador do celular, já que ainda estou

de luto e, claro, as aulas foram canceladas pela tempestade. Realmente, esta cidade é uma maldição.

Levanto-me e sigo para o banheiro, decidindo tomar um banho para esfriar a cabeça por conta

do sonho que eu havia tido. Não que eu sinta atração pelo meu (ex) padrasto — como devo chamá-

lo? —, mas aquela paranoia de Collin em dizer que seria estranho morarmos juntos, agora que ele é

solteiro, me fez sonhar com isso.

“É culpa do idiota do meu namorado, mas não vou dar o braço a torcer e falar com ele”,

penso, enquanto a água escorre pelo meu corpo, molhando meus cabelos loiros naturais.

Termino o banho e saio, enrolando-me na toalha e colocando uma sobre os meus cabelos. Sigo

para o lado de fora do banheiro e abro meu guarda-roupa, procuro uma lingerie e a visto. Logo

coloco um moletom confortável e saio do quarto, olhando ao redor do corredor. Está silêncio, apenas

com a trovoada da chuva do lado de fora, então, desço as escadas e vou para a cozinha, a fim de
comer alguma coisa.

Como vem acontecendo nos últimos oito anos, Frederic está com a mesa posta. A diferença é

que somos só nós dois agora. Temos frutas, leite, suco, café, torradas e pastéis doces que tanto adoro.

Ele me encara e coloca na mesa dois pratos com ovos e bacon.

— Bom dia — diz, sorrindo. Noto que seus olhos demonstram uma tristeza inexplicável. —

Sabia que acordaria cedo, então decidi preparar uma refeição adequada, já que nos últimos dias

você não tem se alimentado muito bem.

Sorrio, agradecida e me sento, com ele à minha frente.

— Obrigada, realmente estou precisando, mesmo isso não sendo uma refeição em si.

Rimos e ele concorda, comendo.

— Quais são seus planos para hoje? — pergunta, curioso.

— Bem, brigada com Collin e Frida presa em casa por causa da tempestade, ficarei em casa

lendo “Alice no País das Maravilhas” e pensando em mamãe. — Ele concorda e fica cabisbaixo. —

E você? — pergunto, tentando ser gentil.

— Bem, preciso ir à funerária acertar algumas coisas que durante o enterro não tive tempo.

Vão colocar a lápide de Jolie — diz. Concordo apenas com um aceno de cabeça.

— Não me ofereço para ir com você porquê...


— Sim, eu sei, não se preocupe, deve ser mais difícil para você do que para mim. Convivi

nove anos com sua mãe, um de namoro e oito de casados, mas você não. Ela te teve, te criou, ensinou

a caminhar e a falar. Esposa podemos encontrar outra após alguns anos de perda, mas mãe não. É

algo único.

Concordo com suas palavras, mesmo discordando um pouco na parte sobre arrumar outra

esposa. Estaria pensando nisso já?

“É claro que não, Estére, não seja idiota! É apenas uma metáfora, ele só quer filosofar um

pouco. Dê palco.”

— Obrigada por entender — digo, comendo, ele concorda e leva sua atenção para seu prato

com ovos e bacon.

— Eu estava pensando que poderia cozinhar à noite. O que acha? Fazermos algo que

possamos homenagear sua mãe.

Penso sobre sua atitude e até diria que é fofo, então assinto.

— Pode ser, o que tem em mente?

— Estava pensando em fazermos o prato favorito dela...

— Lasanha — respondo e ele concorda, formando um sorrisinho. — Seria bom comer uma

lasanha mesmo, faz muito tempo que não comemos.

— Sim, passo no mercado quando sair da funerária.


— Não, tudo bem, eu posso ir de carro. Tirei minha carteira de motorista agora, mas não quer

dizer que eu não saiba dirigir. Enquanto você resolve as coisas na funerária, eu vou para o mercado e

faço as compras.

— Bem, se preferir, ao invés de sair de carro, posso te dar uma carona e você volta de táxi —

sugere. Penso e estreito os olhos.

— Acha que dirijo muito mal? — questiono.

— Bem, não, não quis dizer isso. Só quis ser gentil — responde, meio sem jeito.

— Estou brincando, seu bobo, eu sei que quis ser gentil, mas realmente prefiro dirigir, vai me

ajudar a esfriar um pouco a cabeça com tudo que vem acontecendo.

Frederic concorda, forçando um sorriso e terminamos de comer em silêncio, comigo pensando

em mamãe e no sonho maluco que eu havia tido.

Algumas horas mais tarde, após organizarmos algumas bagunças da casa, Frederic sai e me

despeço dele, me preparando para ir ao supermercado no carro que mamãe havia deixado para mim.

Observo a casa atentamente, antes de sair, e seco uma lágrima que insiste em descer pelo meu rosto,

então pego a chave do carro, tranco a porta, verifico se estou com bateria e vou para a garagem, que

fica ao lado da nossa casa.

O local é bastante grande. Gosto de pensar que vovô, quando vivo, gostava de casa cheia.

Diferente de mamãe. Nos fundos do nosso quintal, temos uma piscina enorme e uma área de
churrasco, com a garagem ao lado. Sigo para lá e vejo a piscina coberta com folhas das árvores. Não

consigo entender o motivo para termos ela, já que o tempo quase não melhorava.

Encaro-a por um minuto inteiro e lembro dos churrascos que fazíamos. Suspiro, sabendo que

não adianta pensar nisso e entro na BMW preta. Passo o cinto, prendendo-me e aciono o motor,

dando ré. Abro o portão grande com o controle que fica no carro e saio, o fechando logo em seguida.

Sigo pela estrada e coloco uma música do System Of a Down, cantarolando em voz baixa.

Estaciono o carro em frente ao mercado que tem um letreiro reluzente escrito “Mercado

Davon’s” e pego um carrinho pequeno, o empurrando para dentro do local.

Ando pelos corredores à procura dos ingredientes e coloco no carrinho, pegando até mesmo

algumas coisas a mais. Ainda bem que tenho cartão de crédito.

Sigo para os outros e pego cerveja, que mamãe adorava, chocolates, os outros ingredientes

para a lasanha e sigo em direção ao caixa, sorrindo para a atendente.

— São 40 euros — diz ela, mostro o cartão e passo, pegando as sacolas e me despedindo

dela, em agradecimento.

Jogo no porta-malas do carro e entro, mandando uma mensagem para Frederic:

“Já estou com tudo. Como estão as coisas por aí?”

“Até então, tranquilas, já vou embora.”


“Ok, nos vemos em casa.”

Ligo o motor e saio do estacionamento, voltando para a estrada. Coloco uma música para

tocar e canto animada, pensando que mamãe iria gostar de me ver feliz. Claro que o luto não é fácil

de lidar, porém, há certas coisas que são difíceis de compreender. Como uma música poderia nos

deixar felizes apenas em ouvi-la? Assim como um abraço, que nos conforta quando o sentimos.

Continuo cantando e pensando em mamãe. Passo o farol vermelho, animada, então vejo uma

fumaça subir do capô do carro e estranho com ele fazendo ruídos e, logo em seguida, parando.

— O quê? Esta merda é nova! — digo nervosa. — Droga, custava ter me deixado o outro

carro, mamãe?! — pergunto, olhando para o céu, querendo rir ao recordar que dois dias atrás eu

estava pensando que ela está no inferno.

Suspiro, frustrada, e pego meu celular, mandando uma mensagem para Collin, ele a visualiza e

não responde, o que me irrita ainda mais, mas decido ignorar, afinal, ambos estamos chateados um

com o outro. Mando uma mensagem para Frida, para perguntar se ela pode me buscar enquanto

aciono o guincho e ela diz que continua presa por conta das fortes tempestades.

“Nem está chovendo agora, o que é um milagre!”

Respiro fundo, sem alternativas, e ligo para Frederic, que atende no segundo toque.

— Algum problema? — pergunta.

— É seu dia de sorte, porque sim — digo, revirando os olhos.


— Meu dia de sorte? Como assim, o que houve?

— Parece que mamãe me deixou um carro ferrado e ele acabou de fundir o motor na estrada.

Eu acho. Estou acionando o guincho, mas vai demorar um pouco e estou sozinha na estrada, será que

você poderia vir me encontrar e ver o que pode ser na sua oficina, você é mecânico, não é?

— Droga. Claro. Sim, sou, você sabe. Me diga, onde você está?

— Na estrada Negra, altura oito mil — digo. — Quanto tempo acha que chega aqui?

— Uns quinze minutos, se for rápido, máximo vinte.

Encaro as árvores e a floresta pela janela do carro e concordo, suspirando.

— Tudo bem, eu espero, não tenho alternativas mesmo — digo, ele solta uma risada baixa e

desliga, me deixando ainda mais irritada.

O guincho chega junto com Frederic, o que me faz revirar os olhos. Então, sem alternativas,

pego as compras e coloco no carro dele. O carro que mamãe deixou. Ele me ajuda e logo vejo meu

carro ser arrastado pelo outro de maneira lenta, com meu ex-padrasto afirmando que foi o motor que

fundiu.

— Normalmente, quando acontece isso, perdemos todo o motor, mas verei o que posso fazer,

preciso ir mesmo na oficina.

Concordo, grata, e entro no carro, com ele fazendo o mesmo e logo seguindo pela estrada.
— Obrigada por ter vindo — digo, Frederic me encara e assente.

— Por nada, somos uma família, não somos?

— Somos? — pergunto, mais para mim do que para ele, que assente.

— Sim, somos, se vamos conviver naquela casa juntos, então é bom nos tratarmos como uma

família. Mesmo seu namorado se opondo com isso, acho que seria legal e sua mãe iria gostar.

— É claro que ela iria gostar, ela nos colocou nessa enrascada — digo avistando o lado de

fora da janela, ele está tão rápido que a floresta é mais um borrão do que algo formado.

— Enrascada? Então é isso que sou para você. — Não foi uma pergunta, mas noto que ele se

sente chateado com a maneira que falo.

— Me desculpe, ok? Não está sendo fácil digerir isso. Quero dizer, semana passada você e

minha mãe estavam casados, com ela no hospital definhando. E agora estamos aqui, dentro deste

carro que ela te deu, indo para casa fazer a comida que ela tanto adorava.

Ficamos em silêncio um minuto e ele concorda.

— Pensando agora, parece que foi uma ideia idiota cozinhar em homenagem a ela — diz ele,

enfático. Estreito os olhos e sinto-me culpada, o motivo, não sei dizer.

— Não quis dizer isso...

— Está claro que você quis dizer que sua mãe está morta e nós estamos aqui, chegando em

casa para fazermos uma refeição. Algo que ela amava comer. Sim, parece bastante idiota pensando
agora, mas não foi isso que eu quis que parecesse.

Concordo com ele, é a mais pura verdade. Como uma simples refeição poderia causar tanto

desconforto? Nós dois estamos aqui, vivos e pensando em comer, enquanto minha mãe está morta e

nunca mais fará isso.

— Bem, mesmo assim, já comprei as coisas e gastei quarenta euros, não vamos desperdiçar.

Inclusive, comprei a cerveja que ela adorava.

Ficamos mais uma vez em silêncio e Frederic me encara quando já estamos próximos de casa.

— E você e Collin, se resolveram? — pergunta, curioso.

— Olha, podemos sim comermos juntos e conviver naquela casa, mas não espere que a partir

de agora eu vou tratar você como meu pai ou algo parecido — digo, com ele rindo logo em seguida.

— É sério!

— Só queria saber se está tudo bem — diz ele. — É difícil você brigar com a pessoa que

ama, principalmente se você não tem certeza se no dia seguinte ela estará lá te esperando.

Fico em silêncio diante de suas palavras e quando vejo, ele estaciona o carro na garagem de

casa. Me ajuda com as sacolas e entramos para o hall.

Lavo minhas mãos e começo a picar cebola, alho e os outros temperos que vão acompanhar o

molho de Frederic, aproveito e coloco os tomates para cozinhar. Sempre preferimos fazer o molho

em casa. Enquanto isso, Frederic coloca um avental e começa a cozinhar a carne, saboreando-a a
todo instante. Analiso-o na cozinha mexendo na panela e assim que termina a carne, parte para o

molho natural e sorri ao vê-lo fervendo.

— Isso vai ficar maravilhoso — diz ele. Concordo e pego uma cerveja na geladeira, que está

gelada. Entrego uma garrafa a ele e abro uma para mim, batendo a minha na dele.

— Um brinde à mamãe — digo, dando o primeiro gole. Ele assente e bebe, me encarando.

— Quer convidar o Collin para vir comer conosco? — pergunta, voltando a atenção para suas

panelas.

— Não, obrigada. Quando o carro quebrou, mandei mensagem para ele, e o canalha só

visualizou.

— Canalha é?

— Mas é claro! Eu estava sozinha no meio da estrada, e se tivesse acontecido alguma coisa?

— Bem, eu fui lá, não fui? Não permitiria que algo acontecesse com você.

Fico surpresa com suas palavras, mas sei que é verdade o que ele diz.

— Obrigada — digo, continuando a beber, logo em seguida me levanto. — Falta somente uma

coisa para completar a homenagem a mamãe.

— O quê?

— Música, é claro, ela adorava cozinhar ouvindo música.


Frederic concorda e conecto meu celular no pequeno aparelho moderno que há na cozinha.

Instantaneamente uma música da P!nk começa a tocar e acompanho as batidas do seu ritmo.

— Try, é? Não lembro de sua mãe gostar dessa música.

— Cala a boca e só escuta — digo, cantarolando. Ele concorda e começa a cantar comigo e a

P!nk, o que me deixa surpresa em saber que conhece a música. — Eu não acredito que o enigmático

Frederic Cooper sabe cantar essa música.

Frederic me encara e dá de ombros.

— Talvez eu seja uma caixinha de surpresas que você não conhece nem metade do que

escondo — responde.

O jantar é tranquilo e divertido. A comida realmente é muito gostosa e um breve pensamento

de que mamãe iria gostar de estar aqui para provar, passa pela minha mente, porém, o afasto

imediatamente e continuamos comendo. Aproveitamos o jantar em homenagem a mamãe para

bebermos um pouco além da conta e, quando vejo, acabamos com a cerveja e duas garrafas de vinho.

— Não deveríamos beber tanto assim e já está ficando tarde — digo.

— Estamos em casa, é só você subir a escada que estará no seu quarto, não tem com que se

preocupar.

— Ah, é verdade. Você está certo — digo, apontando meu dedo para Frederic e rindo

debochadamente. — Frederic, me diz uma coisa, como você e minha mãe se conheceram?
Ele me encara e suspira, dando de ombros.

— Foi em um bar, ela havia acabado de sair do trabalho e eu também. Nos sentamos um ao

lado do outro e ela me ofereceu uma cerveja. Acabou que eu aceitei e então... bem, o resto você não

precisa saber.

— Então está dizendo que minha mãe deu uma cantada em você e transou logo de cara? —

pergunto rindo descontroladamente. — Acho que ela foi mesmo para o inferno.

Ele fica sem entender e dou de ombros, terminando minha taça de vinho.

— Acho que está na hora de se deitar, Estére.

Concordo e vejo meu celular apitar, mostrando uma nova mensagem. O agarro e abro, vendo

que é de Frida.

“Papai disse que as aulas retornam amanhã, a faculdade já está segura de novo.”

Para variar, o pai da Frida é um dos professores na faculdade e o outro o diretor.

— Mas que droga, amanhã tenho aula e estou caindo de bêbada — digo.

— É simples, é só não ir. Você está de luto, perdeu sua mãe esta semana, eles vão entender,

tenho certeza.

— Claro que vão, até descobrirem que estou em casa bebendo com meu ex-padrasto.

— Ex-padrasto? Isso soa tão estranho. E como iriam descobrir que você está dentro de sua
casa, bebendo comigo?

Reviro os olhos e me coloco de pé, sentindo minhas pernas bambearem.

— Moramos na Cidade do Vale Sombrio, interiorana, menos de dez mil habitantes, todos

sabem o que acontece aqui.

— Talvez nem todos — diz, fico sem entender e dou de ombros, me despedindo dele e

seguindo para meu quarto. Durmo sem ter sonhos malucos, o que é um alívio.
Levanto-me cedo, tomo banho, escovo os dentes, prendo meus cabelos, visto uma roupa preta

básica para mostrar que ainda estou de luto e desço à procura de cafeína. Encontro Frederic sentado,

bebendo café e lendo o jornal, assim que me vê, ele forma um sorriso e aponta o lugar à sua frente.

— Bom dia, coma algo antes de sair.

— Bom dia, obrigada, estou precisando mesmo — digo já me servindo. — Você poderia me

levar à faculdade?

— Pensei que Collin viria te buscar — diz ele.

— Bem, ainda estamos brigados, mas se não puder posso ver...

— Não, tudo bem, eu te levo, vou à oficina hoje. Termine seu café que já iremos sair.

Concordo e continuo comendo, assim que finalizo, me levanto e vou em direção à saída da

casa, com Frederic vindo logo em seguida. Entramos na garagem e ele sai de ré, seguindo pela

estrada que nos conecta pela cidade.


— Você vai trabalhar? — pergunto, afim de criar algum assunto.

— Sim, vou mexer no seu carro, ver o que pode ser, assim se você e Collin não se

resolverem, você pode dirigir.

Concordo e seguimos o caminho em silêncio, comigo, como sempre, observando as árvores

do lado de fora. A sensação de vê-las me causa uma certa calmaria, o que não sei explicar.

— Sempre pensei que aqui lembra muito Forks — digo, encarando o local.

— Vai adentrar esta floresta e procurar o seu vampiro que brilha? — pergunta Frederic.

Reviro os olhos e rimos.

— Não fale mal de Crepúsculo, eu adoro por sinal.

— É claro que adora, todo adolescente gosta.

— Não sou adolescente há muito tempo — digo. — Tenho vinte anos.

— Ok, se está dizendo — diz. Balanço a cabeça, sabendo que ele apenas quer me provocar

para me animar e assim que vejo, estamos em frente à faculdade.

— Obrigada pela carona.

— Não precisa agradecer. Quer que eu te busque também?

— Bem, caso Collin e eu não nos resolvermos, eu te envio uma mensagem.

Ele concorda e saio, me despedindo e vendo o carro sumir rapidamente.


— Amiga! — diz Frida vindo em minha direção e me abraçando. Minha amiga é uma mulher

muito bonita. Tem vinte e dois anos e está no mesmo ano que eu de Fotografia. Seus cabelos são

escuros e sua pele é clara, com o corpo esguio e o olhar vibrante. Seu sorriso é tão contagiante que

consegue fazer qualquer pessoa se animar.

— Oi — digo, sorrindo.

— Como você está? Não pensei que voltaria hoje, mandei mensagem apenas para informar, se

não viesse, com certeza meu pai não iria se opor. Estamos todos de luto pela tia Jolie.

Concordo, forçando um sorriso.

— Só quero me distrair um pouco, ficar em casa trancada não adianta de nada, ainda mais que

Collin e eu brigamos.

— Brigaram por quê? — pergunta, curiosa, segurando no meu braço e me arrastando para

dentro.

— Mamãe deixou a casa para Frederic e eu, e como não posso vendê-la, teremos que

conviver juntos. Ele me convidou para morar com ele e os pais, disse que seria como amigos, não

como um casamento. E eu retruquei dizendo que não sou uma sem-teto para ir morar de favor na casa

dos outros.

— Ele te convidou para morar com ele, assim, do nada?

— Sim, Collin pensa que, agora que Frederic e eu não temos mais ligação nenhuma, não
existem motivos para continuarmos morando juntos.

— É, tecnicamente ele não é mais seu padrasto, poderia até mesmo ser seu namorado. Foi isso

que Collin quis dizer?

— O quê? Eca, que nojo! Mas basicamente foi isso, ele quis dizer que Frederic pode tentar

algo ou sei lá.

— Eca o quê, Srta. Muller? Todas nós sabemos que seu padrasto ou sei lá como queira

chamar, é um cara gostoso, mas duvido que ele tente alguma coisa, sempre te respeitou bastante.

— Sim, e não se esqueça que ele é ex-marido de mamãe, viúvo dela — digo, dando ênfase a

“viúvo”.

— Mas não deixa de ser gostoso. Tia Jolie tinha sorte, será que ele fode tão bem quanto dá

aquele sorrisinho de lado? — pergunta, suspirando.

Reviro os olhos e finjo que estou vomitando, então damos de cara com Collin.

— Oi, Estére — diz ele.

— Oi — digo ríspida, se ele acha que eu havia esquecido sobre ter me ignorado quando pedi

ajuda sobre a droga do carro, está enganado.

— Podemos conversar a sós? — pergunta.

— Na verdade, não, pode dizer aqui, agora, Frida vai saber de qualquer maneira.
Minha amiga sorri e Collin suspira, concordando.

— Me desculpe, por favor. Não quis te chatear, só fiquei com ciúme.

— Certo, desculpo, mas e sobre ontem quando precisei de ajuda e você me ignorou?

— Seu carro quebrou mesmo? Pensei que era só uma maneira de eu ir atrás de você, não fiz

por mal, juro. Sei que temos as nossas diferenças, mas eu te amo.

Ouço em silêncio e vejo seus olhos brilharem, acreditando em suas palavras.

— Tudo bem, mas você ainda me deve um passeio.

— Podemos ir ao shopping, se quiser. O que acha?

Encaro Frida e ela dá de ombros.

— Claro, vamos sim, Frida vai conosco.

Ele concorda e se aproxima de mim, dando-me um selinho.

— Tenho que ir agora, minha aula já vai começar, nos vemos no intervalo.

Concordo e o vejo se afastar, encarando Frida e seguindo para a sala.

— Ele vai mesmo se manter no curso de Medicina? — questiona minha amiga, assim que

entramos na sala.

Um tempo atrás, Collin havia dito que desistiria de cursar Medicina, no entanto, acho que seus

pais não ficaram tão felizes com isso e ele acabou desistindo de mudar.
— Bem, os senhores Perfeitinhos não devem ter deixado — digo, me referindo aos seus pais.

Frida concorda e logo em seguida seu pai, o senhor Viktor Bohringer, entra na sala e nos dá bom-dia.

Ele é um homem bonito, eu diria, tem a pele negra, olhos escuros, corpanzil forte e cabeça

careca. Usa óculos de grau e é um pouco afeminado, o que me deixa ainda mais encantada pelo pai

da minha amiga.

Sentamos em nossos lugares e começo a assistir a aula, porém, minha mente fica vagando,

pensando sobre Frida ter dito que Frederic poderia ser meu namorado.
“Vai querer que eu te busque ou já se resolveu com o seu príncipe?” debocha Frederic na

mensagem que me manda assim que as aulas terminam.

“Nos resolvemos, eu acho. Frida, ele e eu iremos ao shopping. E meu carro, quais as

novidades sobre ele?”

“Foi mesmo o motor, mas irei dar um jeito. Se divirta.”

— Pronta? — pergunta Frida me trazendo para a realidade, guardo o aparelho celular na

minha mochila e concordo, sorrindo.

— Sim, Collin já está vindo — digo.

Estamos do lado de fora da faculdade, e, por sorte, não está chovendo, o que deixa todos

muito surpresos.

— Certo, vou retocar meu batom, segura para mim — diz, entregando-me um espelho

pequeno. Seguro e minha amiga retoca seu batom, logo após isso, ela arruma os cabelos e passa
perfume, guardando as coisas na mochila e me encarando. — Como estou?

— Linda, como sempre, mas por acaso você é prostituta e vai encontrar algum cliente no meio

do caminho?

Ela ri e me dá um tapa fraco no braço.

— Sou solteira, no shopping sempre têm homens bonitos, só quero paquerar um pouco.

Concordo e logo vemos Collin vir em nossa direção, ele me abraça e pega minha mochila,

apanha a de Frida também, que joga em cima dele. Dou risada e seguimos para o seu carro. Ele

destrava e entro, com Frida sentando no banco traseiro.

— Prontas? — pergunta meu namorado, ligando o motor.

— Eu sempre estou pronta, meu amor — diz Frida, sorrindo.

O shopping está cheio, o que já era de se esperar, já que o final de semana está quase

chegando. As lojas estão decoradas para o Natal, o que me faz me sentir totalmente perdida no

tempo. Como havia me esquecido que já estamos no final de outubro?

— Credo, esse povo é adiantado, não acham? Faltam dois meses ainda para o Natal e já estão

preparando tudo.

Concordo com minha amiga e encaro a livraria, sentindo vontade de entrar, no entanto, lembro

de Collin e eu no cinema local da cidade, quando fomos na livraria e depois disso, acabamos
brigando.

— Não vai querer entrar? — pergunta ele, segurando minha mão.

— Não, acho que concordo com você e tenho livros demais já — digo. Collin ri e

continuamos andando, avistamos várias pessoas sorrindo, felizes, em suas vidas perfeitas.

Penso sobre isso e decido que não é momento de me vitimizar e me comparar com essas

pessoas. Com certeza, em algum momento de suas vidas, elas já perderam alguém ou estão prestes a

isso. Esta é a lei da vida. Nascer, crescer e morrer. Isso quando você cresce.

— Querem comer alguma coisa? — pergunta Collin quando passamos próximos a praça de

alimentação. Concordamos e vamos para a fila do McDonald’s, que não demora muito, nos atende.

Peço um Big Mac com batatas fritas e Coca-Cola, meu namorado pede o mesmo e Frida escolhe um

outro. Nos sentamos em uma das mesas mais próximas enquanto não fica pronto.

— Então, Collin, você desistiu de mudar de curso? — pergunta minha amiga. A encaro, séria,

e ela sorri.

— Por enquanto sim, eu acho — diz ele.

— Seus pais se opuseram à sua decisão? — questiona.

Collin fica em silêncio e assente, levantando-se e indo pegar nossos pedidos quando a

atendente chama.

— Frida! Por que fez isso? — questiono.


— Ele tem que se abrir com a gente, você é a namorada e eu a melhor amiga da namorada,

tornando amiga dele, óbvio.

Reviro os olhos e rio com isso, concordando com ela.

— Mas deixe que ele se abra, não force a barra.

— Tá bom, não está mais aqui quem falou.

Concordo e Collin volta com nossos lanches, começamos a comer em silêncio e assim que

terminamos, voltamos a passear pelo shopping.

Depois de passearmos pelas lojas e Frida acabar comprando algumas coisas sem

necessidade, decidimos ir embora. Como minha amiga mora mais próximo do shopping, Collin a

deixa em casa e me despeço com um beijo em sua bochecha.

— Nos vemos amanhã na aula — digo, ela concorda e a vejo se afastar. Collin se despede e

segue a estrada, me levando para casa.

— Podemos conversar? — pergunta, olhando para a frente.

— Sim — digo.

— Então, os rapazes da faculdade me chamaram para irmos em uma festa que vai ter no final

de semana, queria saber se quer ir comigo, já que...

— Já que minha mãe morreu — o corto, desacreditada com o que ele diz. — Você sabe que
não vou a lugar algum, voltei para a faculdade porque não posso perder as matérias. Mas ir a festas?

Acho que isso já é um pouco demais.

Ele fica em silêncio e sei o que está acontecendo.

— Por acaso você quer permissão para ir a essa festa? — questiono.

— Não, quer dizer, sim. Gostaria muito de ir, com você é claro. Somos um casal, namoramos

há um bom tempo e ainda nem...

— Nem transamos — completo. — Então é sobre isso, você quer ir a essa festa comigo para

ver se no final acabamos na sua cama.

Collin fica em silêncio e reviro os olhos.

— Sei que você quer fazer sexo no momento certo, mas eu sou homem. Todos os meus amigos

já me perguntaram se transamos, andam dizendo até mesmo que você é virgem. O que é verdade, mas

não confirmei nada.

— Perco minha mãe para o câncer e o assunto dos seus amigos é se eu sou virgem ou não?

Como eles são babacas!

Collin não diz nada, apenas dirigindo.

— Não queria te chatear com esse assunto — diz.

— Não, claro que não. Eu acabo de perder minha mãe e você quer fazer sexo, isso é

realmente bem patético!


Vejo-o parar o carro com tudo e me encarar, então percebo que já estou próxima de casa.

— Vamos conversar tranquilamente, por favor. Sei que perdeu sua mãe e está passando por

um momento difícil, mas somos um casal. Estou com você, do seu lado, porém, queria ao menos ter

um momento nosso. Só nosso.

O encaro e pego minha mochila.

— Obrigada pela carona, tenha uma boa festa.

Abro a porta e saio, seguindo pela rua sem olhar para trás. Vejo Collin fazer o retorno e sigo

para casa, entrando e subindo direto para meu quarto, sentindo-me completamente nervosa e frustrada

com meu relacionamento.


Estarrecido.

É assim que me sinto nos últimos dias. Na verdade, no último ano, quando Jolie chegou em

mim e contou sobre o câncer.

Só de pensar que há um ano eu havia dito a ela que tudo daria certo e venceríamos essa

batalha... Falhei com ela. Falhei com ela e com sua filha, Estére, que agora praticamente vive apenas

por ser obrigada.

Só de pensar na dor que minha esposa deve ter passado, desejo partir deste mundo, porém,

não tenho escolhas a não ser continuar nesta batalha iminente que insiste em recair sobre mim.

Para me distrair um pouco, decido ir até minha oficina para ver como estão as coisas. O meu

funcionário, Jack, está mexendo no carro de Estére, que para ajudar, ferrou o motor.

— Como estamos, Jack? Me diz que dá para recuperar — digo, pegando um cigarro no bolso

de trás da calça e acendendo. Dou um trago e solto a fumaça, me sentindo um completo idiota por

essa atitude.
“Sua esposa morreu de câncer e você está fumando, babaca!”

— Não tenho boas notícias, chefe, infelizmente — diz ele fechando o capô e se aproximando,

passo o cigarro para ele, que traga e me devolve.

— Perdemos o motor? — questiono. Ele assente, suspirando. — Porra! Como isso foi

acontecer? Agora para arrumar outro vai ser uma grana preta.

Jack me encara e sei que ele quer dizer que isso não é o problema, já que minha enteada tem

grana e eu também. Não tanto quanto ela, mas tenho.

— Vou procurar um bom e no preço — diz e concordo, grato.

— Temos mais alguma coisa para fazer ou o movimento continua fraco? — questiono.

— Fraco — diz, coçando a cabeça. — Somente os clientes de sempre, que querem fazer

manutenção.

Concordo, nos últimos tempos os negócios andam mais fracos do que de costume.

— Certo, qualquer novidade me avise — digo e ele faz um movimento com a cabeça como

resposta, me afasto, seguindo para dentro do meu escritório. Me sento na cadeira e olho a papelada à

minha frente, frustrado com tudo que anda acontecendo na minha vida. Por que Jolie tivera que

morrer?

Respiro fundo e me levanto, procurando uma garrafa de uísque que deixo guardada aqui para

momentos como este. A acho e procuro um copo, como não encontro com a bagunça, abro a garrafa e
viro um farto gole na boca, bebendo e torcendo o nariz.

— Droga — sussurro. Repito o processo e bebo ainda mais, sentindo meu corpo se arrepiar

por completo, mesmo estando acostumado com a bebida.

A jogo na parede, frustrado, e a vejo se transformar em vários pedaços, então começo a

chorar, me sentando no chão e pensando em Jolie. Por que a minha mulher? Por que perder

justamente ela?

Fico pensando nos momentos felizes em que tivemos e no nosso delicioso sexo. Jolie nunca

me decepcionou na cama. A mulher era puro fogo, e eu, a gasolina. Juntos, incendiávamos tudo que

estivesse ao nosso redor, sem nos importarmos com quem seria atingido no meio do fogaréu.

E agora, não teria mais isso. Não teria o melhor sexo da minha vida, não teria a minha

companheira. Minha esposa.

Eu a perdi para sempre.

Saio da oficina me despedindo de Jack e entro no carro, arrancando com tudo e seguindo para

a cidade vizinha mais próxima a fim de distrair a mente um pouco. Paro o carro em frente a um bar e

saio, sentindo meu olhar turvo por conta do uísque e choro.

Assim que entro no local, vários caras me encaram e assinto para eles, que erguem a cerveja

como um sinal de cumprimento. Sento-me em frente ao barman e o encaro.

— Me dê uma dose de tequila — peço.


— É para já — diz, virando-se de costas e pegando a garrafa, ele enche o shot e viro de uma

vez, apontando para que encha novamente.

O homem concorda e enche mais uma, duas, três vezes, comigo bebendo rapidamente.

— Se continuar bebendo assim vai ficar bêbado rapidinho, gatão. — Ouço a voz de uma

mulher ao meu lado. Me viro e vejo o rosto de Jolie, fazendo-me arregalar os olhos e limpá-los com

a mãos, então vejo uma mulher de cabelos escuros, pele escura e sorriso largo. Não é minha esposa.

É coisa da minha cabeça. Estou ficando louco!

— O único objetivo em vir ao um bar é sair daqui bêbado — digo, pedindo outra dose. Viro e

devolvo o copo para o homem. — Duas cervejas, por favor, uma para mim e outra para a mocinha

intrometida.

Ela ri e se aproxima, me olhando dentro dos olhos.

— Me diga, por que um homem como você está aqui, sozinho, sem a companhia de uma boa

mulher? — pergunta, curiosa.

— Porque a minha mulher morreu — digo e ela ergue a sobrancelha, sem graça.

— Me desculpe, deve ser difícil — diz. Concordo e o homem nos entrega a cerveja, dou um

gole e a encaro.

— É difícil sim, obrigado. — Me viro e fixo meu olhar nas garrafas de bebidas na prateleira

do bar. A mulher pega sua garrafa e sai, deixando-me só.


— Vadia — sussurro sem que possam ouvir, o barman me encara e limpa o balcão. Termino

de beber e tiro do bolso 50 euros, entregando a ele.

— Me dê uma dose de uísque, por favor.

— Tem certeza...

— Por favor — digo, em ênfase, para que ele entenda que não estou com saco para aguentar

essas pessoas se intrometendo na minha vida sobre eu estar bebendo mais do que deveria. Quem foi

que pediu a opinião deles mesmo?

— Certo. — Ele se afasta, vai até o caixa e me traz o troco com a dose da bebida. Viro de

uma vez e agradeço. Levanto-me e saio do bar com as pernas bambeando.

Entro no carro e suspiro, pego meu celular e vejo uma foto de Jolie, Estére e eu. Lado a lado.

Foi durante um passeio em um parque que tiramos. Lembro-me de ter pedido a um homem qualquer

para tirar a foto.

Estamos os três sorrindo, suas peles claras, reluzindo com a minha. Dou zoom e encaro o

sorriso perfeito de minha esposa, então noto que Estére tem o mesmo sorriso que o dela. Na verdade,

os mesmos traços. Tudo, são praticamente idênticas.

Guardo o aparelho e ligo o carro, encarando à minha frente. Tudo está embaçado. A visão

turva.

Respiro fundo e com dificuldade saio, pegando a avenida principal para voltar para casa. O
trânsito está relativamente bom, o que é um alívio, e não tem nenhum policial no caminho que possa

implicar comigo.

Dirijo rápido e, quando vejo, estaciono em frente à casa, acertando o veículo na lixeira. Não

me importo e saio, andando em direção à porta. Sinto minhas pernas fraquejarem e abro com

dificuldade, então entro e sigo em direção a escada, subindo os degraus devagar. Procuro por Estére,

mas não a vejo, então entro para meu quarto e me jogo na cama, deixando a porta aberta, sem me

importar. Tiro os sapatos e arranco a camiseta, abro o zíper da calça, mas antes que eu consiga tirá-

la, eu acabo apagando.


Já está de noite e me encontro sozinha em casa, Frederic ainda não chegou da oficina, pelo

menos eu acho que é isso.

Fico deitada na minha cama, olhando para o teto e me animo em saber que o tempo está bom

em muito tempo. Decido colocar meu pijama e mexo no meu celular, vendo minhas redes sociais.

Collin e eu não voltamos a nos falar, o que me desanima um pouco. Depois da morte de mamãe,

parece que tudo começa a desandar, o que, de certa forma, faz sentido, já que ela era meu alicerce.

Saio dos meus pensamentos quando ouço passos subindo a escada e sei que é Frederic.

Decido me manter no meu quarto e tempo depois não ouço mais nada, então me sento na beirada da

cama e coloco as pantufas nos meus pés, levantando-me devagar. Ando em direção à porta e a abro

devagar, encarando o breu no corredor. Vejo a porta no final aberta e decido averiguar se está tudo

bem com Frederic, então ando em direção ao quarto que ele dividiu com minha mãe por longos anos

e me aproximo lentamente. Vejo a imagem dele deitado na cama com as pernas pendentes para fora.

Está sem os sapatos e sem a camisa, apenas com a calça. Penso se aconteceu alguma coisa e entro no
local nas pontas dos pés, para não o acordar, então o vejo com a boca entreaberta e o botão da calça

jeans desabotoado, revelando o cós da sua cueca. Vejo abaixo do seu umbigo e observo sua barriga

lisa, subindo e descendo, com a respiração acelerada.

Engulo em seco e o encaro novamente, o vendo dormir, então procuro o cobertor e jogo por

cima dele, o cobrindo e analisando mais perto seu rosto. De repente, me recordo do meu sonho com

ele e sobre o que Collin havia dito de Frederic tentar algo comigo, já que agora, tecnicamente, ele é

solteiro e não temos mais uma ligação de padrasto e enteada. O que é mentira. Lembro de Frida

dizendo que ele poderia ser meu namorado e perco os sentidos, me aproximo cada vez mais, então

vejo seus olhos estalarem e ele me encarar, dando um pulo da cama de susto.

— O que você está fazendo aqui? — pergunta e sinto o cheiro forte de bebida. De repente, é

como se o álcool estivesse saindo em partículas pela sua pele de tão forte que fica o cheiro.

— Vim ver se estava tudo bem e resolvi te cobrir — digo, sabendo que é verdade, mas

escondendo que fiquei encarando-o de maneira... estranha.

— Certo, obrigado — diz, esfregando os olhos.

— Me responda com sinceridade — peço e Frederic me encara sem entender. — Você bebeu,

não foi? Foi por causa de mamãe?

Ele me observa e fica em silêncio, então bufo, frustrada.

— Não está sendo fácil para mim, tá legal? — diz ele.


— Não está sendo fácil para ninguém — digo, nervosa.

— Tem certeza disso? Porque você tem seu namorado e sua melhor amiga. E eu? Eu só tenho

lembranças dolorosas, Estére. Você pode estar sofrendo, e sei que sim, mas tem seus momentos de

liberdade para pensar em outra coisa. Tem pessoas que te apoiam! — ele grita e levanta, o corpo

balançando de um lado para o outro.

— Você está certo, tenho pessoas que me apoiam mesmo. Collin e eu estamos brigando mais

nos últimos dias do que o nosso relacionamento inteiro. E Frida não sabe lidar muito bem com a

morte. Mas sim, estou tendo apoio! — grito, sendo sarcástica. — Se quer encontrar um refúgio,

procure outro, ou teremos que tomar medidas em relação a morarmos sob o mesmo teto.

Ele me encara e vejo lágrimas descerem pelos seus olhos.

— Você está certa, me desculpe, mas isso não muda o fato de que não está sendo fácil.

Fico quieta, e olho para abaixo do seu umbigo, notando a calça agora um pouco mais abaixo.

Desvio meu olhar e encaro seus olhos, torcendo para que ele não tenha reparado os meus olhares

estranhos.

— Você tem a mim, Frederic, sei que não sou a melhor companhia e muito menos ela, mas se

mamãe quis que ficássemos aqui, nesta casa, ela queria que um apoiasse o outro. Quero muito

realizar sua última vontade, mas agora está nas suas mãos fazer isso dar certo.

Saio do seu quarto sem ouvir uma resposta e entro para o meu, batendo a porta com força e

desejando que isso não estivesse acontecendo.


*

Levanto-me no dia seguinte mais cedo do que de costume e me troco, pegando minhas coisas.

Sigo para a cozinha e vejo que Frederic não se levantou ainda, então decido preparar nosso café. Já

que ele havia feito isso por mim, não via problema em retribuir o gesto, mesmo tendo discutido com

ele na noite anterior.

Passo o café e assim que está pronto, arrumo a mesa e decido chamá-lo para comermos. Subo

a escada devagar e sigo em direção à porta do seu quarto, então dou duas batidinhas e espero. Nada.

Estranho e espero mais um pouco, porém, Frederic não me atende, então bato novamente e sou

surpreendida com ele abrindo bruscamente.

A imagem que vejo com certeza me perturbará por um bom tempo; os cabelos de Frederic

estão molhados e a água escorre pelo seu pescoço, descendo para seu peitoral e seguindo para sua

barriga, onde meu olhar para. Noto que ele está com a toalha frouxa em volta do seu corpo,

revelando um pouco seus pelos pubianos.

— Ah, me desculpe, não sabia que estava no banho — digo, me virando de costas.

— Aconteceu alguma coisa, Estére? — pergunta, como se estivesse completamente vestido.

— Vim chamá-lo para tomar café — respondo, ainda de costas.

— Tudo bem, desço em dez minutos. Me espera?

Assinto e, ainda de costas, sigo em direção a escada, ouvindo a porta se fechar.

Droga, o que está acontecendo comigo? Por que estou vendo coisas onde não existem?
“Ele é o ex-marido da sua mãe! Seu padrasto, apesar de tudo. E você tem namorado!”

Desço correndo após afastar os pensamentos e pego minha mochila. Chamo um Uber. Como

tem um veículo próximo de casa, ele chega em menos de cinco minutos e entro no carro sem ao

menos tomar café, pensando no que havia acabado de acontecer e a vergonha que estou sentindo.

Droga!

Chego na faculdade e encontro Frida, conversamos um pouco sobre coisas aleatórias e

simplesmente não consigo me concentrar na aula direito. As horas passam rapidamente, o que é um

verdadeiro alívio, e quando vejo, já acabou.

Encontro Collin no corredor e desvio dele, seguindo para a biblioteca a fim de esfriar um

pouco a cabeça sobre tudo que vem acontecendo e, claro, estudar um pouco, afinal de contas, o ano

letivo está prestes a se encerrar.

— Bom dia, querida — diz a senhora na biblioteca.

— Bom dia — digo, sorrindo forçadamente.

— Não esqueça que deve colocar o celular no silencioso antes de entrar — diz.

Concordo, pegando meu aparelho e vejo uma mensagem de Frederic:

“O que houve que você não me esperou? Aconteceu alguma coisa?”

Quero dizer que sim; aconteceu. Aconteceu muita coisa, principalmente nos últimos dias. Vem
acontecendo tantas coisas que não consigo explicar. Perdi minha mãe, brigo direto com meu

namorado babaca que agora decidiu querer transar, e ainda por cima, tive um sonho maluco com meu

padrasto e ando o observando mais do que deveria.

Porém, como sei que não adianta conversar isso com ele, desligo o celular para não ser

incomodada e mostro para a senhora, que sorri e me deixa entrar.

Ando pelas prateleiras e me sinto mais calma. Para alguns é besteira, mas os livros acalmam

minha alma de uma maneira que pessoa nenhuma consegue. Bem, a que conseguia me acalmar e dizer

que tudo ficaria bem quando tudo estava uma merda, acaba de morrer. Mostrando que sim, a vida está

uma merda enorme.

Pego um livro qualquer sobre fotografias e me sento, o abrindo e analisando as imagens. Tento

me concentrar, mas é praticamente impossível. É como se eu estivesse olhando as imagens e visse em

cada uma delas o abdômen definido de Frederic. Sei que pensar isso é errado e nojento, afinal de

contas, ele foi casado com mamãe por anos. Mas não consigo ter controle dos meus pensamentos e

ações. De repente, me vejo com ele tirando a toalha e o vendo completamente nu. O que será que ele

esconde por debaixo daquele tecido? Penso sobre a noite anterior, quando o vi com a calça aberta e

sobre seus pelos pubianos que vi mais cedo.

— Estére! — Saio dos meus pensamentos pecaminosos e me viro, vendo Frida do lado de

fora da biblioteca acenando para mim. Levanto-me, guardo o livro e vou em sua direção.

— O que está fazendo aqui? Pensei que já havia ido embora — digo.
— Estava conversando com um gatinho e acabei vendo você aqui distraída demais. Você está

bem?

Concordo, lembrando sobre o que eu estava pensando antes dela me chamar.

— Sim, estou, vou já para casa.

— Tudo bem. Vou na festa que chamaram o Collin, você não vai, né?

Nego com um movimento de cabeça.

— Não estou muito afim — digo.

— Bem, enviei o endereço no seu celular, de qualquer maneira.

— Não era necessário, eu não vou mesmo, ainda mais que Collin e eu discutimos de novo.

Faz o favor de ficar de olho nele para mim?

Ela revira os olhos e boceja.

— Acho que vocês deveriam dar um tempo, andam só brigando. Quantas vezes foram esta

semana? Três? Quatro? Mas tudo bem, ficarei de olho nele, se não encontrar nenhum gatinho lá.

Reviro os olhos e dou risada.

— Obrigada, você realmente é uma amiga e tanto.

Ela pisca e concorda, então seguimos em direção de nossas casas.


Quando estou chegando em casa, vejo que já está quase na hora do almoço, o que me deixa

surpresa em saber como a hora passa tão rápido.

Sigo em direção à entrada de cabeça baixa, atrás das minhas chaves e sou surpreendida com

Frederic sentado nos degraus da pequena escada vestido de preto e flores nas mãos.

— Oi, Estére, eu estava te esperando, mandei mensagem e você não respondeu — diz ele, me

encarando com o olhar triste. Engulo em seco e mordo o canto da boca.

— Desculpa, eu não vi, estava presa na biblioteca...

— Lendo, eu sei — diz. — Te conheço mais do que imagina.

Fico sem resposta diante disso.

— Belas flores — digo, apontando para o buquê na sua mão.

— Obrigado, são para sua mãe, estava esperando você chegar para saber se quer ir comigo

até o cemitério levá-las.


— Você vai agora? — questiono, surpresa.

—Sim, você quer me acompanhar?

— Claro, só me deixe colocar a mochila dentro de casa.

Ele concorda e sigo em direção à porta, abrindo e jogando sobre o sofá a mochila após pegar

meu celular e documentos. Saio, respirando fundo, determinada a não pensar no que houve mais cedo

e me viro para ele, sorrindo.

— Está pronta?

— Sim, vamos — digo, seguindo em direção ao carro.

O caminho inteiro, ficamos em silêncio, apenas ouvindo uma música da Sia que toca baixo.

Frederic deixou as flores no banco traseiro e enquanto dirige, bate seus polegares no volante, o que

me faz acreditar que tem algo o incomodando, porém, se realmente tem, prefiro não saber.

Chegamos no cemitério e ele estaciona sem me encarar, então me viro para pegar as flores e

ele vira junto, com nossas mãos se encostando. Sinto meu corpo se arrepiar e um formigamento tomar

conta da boca do meu estômago, então as solto e ele as pega.

— Desculpe — diz, não respondo e rapidamente saio do carro, fechando a porta e seguindo

cabisbaixa para o cemitério. Apesar de estarmos aqui há poucos dias, é como se tivesse passado um

milhão de anos.
Anos longos, duros e tristes. Porém, o pior é saber que só se passaram alguns dias.

Seguimos lado a lado em silêncio e não demora, nos aproximamos do local em que mamãe foi

enterrada. Ajoelho-me ao lado da cova, que ainda têm algumas flores vivas, e sinto as lágrimas

escorrerem pela minha bochecha.

“Perdão...”

Continuo chorando, chateada com tudo que vem acontecendo. Com certeza, quem iria para o

inferno quando morresse, seria eu. Imagine pensar no antigo marido de sua mãe de maneira diferente.

Continuo chorando, tentando negar o que está acontecendo, então vejo Frederic depositar seu

braço sobre meu ombro, passando-me conforto. Não recuo, apesar de tudo que vem acontecendo, ele

é uma das únicas pessoas com quem posso contar. Então continuo chorando e ele se ajoelha,

depositando as flores com as outras.

— Sua mãe te amava muito, Estére — diz, a cada vez que ele diz meu nome, mais meu corpo

se arrepia. Sinto meu pescoço pinicar e concordo.

— Eu sei, às vezes penso que falhei com ela, quando ela disse que estava com câncer, não

consegui acreditar. Até vê-la perdendo seus cabelos. Vê-los caindo por conta da quimioterapia me

trouxe para uma realidade que eu não quis acreditar.

Frederic concorda e suspira.

— Eu falhei com ela quando me disse sobre a doença, prometi que venceríamos essa batalha e
que iríamos rir disso tudo. Mas não cumpri, a perdemos para sempre.

Concordo e tenho uma reação que não espero; viro-me para Frederic e o encaro, então o

abraço apertado e ficamos chorando juntos por um bom tempo.

— Você quer almoçar em algum lugar? — pergunta Frederic após sairmos do cemitério.

— Seria bom.

— Que tal o Beer’s? — pergunta, dando ré e saindo pela estrada.

Penso que a última vez que estive lá foi com Collin e concordo, dando de ombros.

— Claro, mamãe adorava àquele lugar.

Meu padrasto concorda e seguimos para o restaurante-bar, agora ouvindo uma música do

Evanescence.

Presto atenção na letra da canção Lithium e canto junto:

Lítio; não quero me isolar

Lítio; não quero esquecer como é sentir saudades

Lítio; eu quero permanecer apaixonada, com minha tristeza

Oh, mas, meu Deus, quero me libertar

Venha pra cama, não me deixe dormir sozinha


Não poderia esconder o vazio que você mostra sem saber...

Quando entramos no Beer’s, somos recebidos por Georgie, que sorri ao nos ver. Seguimos em

direção a uma das mesas e ele se aproxima com um bloquinho nas mãos e uma caneta.

— Olá, Estére. Frederic — diz, acenando para meu padrasto, que corresponde com o mesmo

gesto.

— Oi, Georgie — digo, sorrindo de volta. — Como está?

— Bem, minha jovem. Fico feliz em vê-la sorrindo.

Sorrio, grata.

— Vou querer fritas com hambúrguer, e de sobremesa, sorvete de chocolate com calda de

morango — digo, vendo-o anotar.

— Certo, e você, Frederic?

— Pode ser o mesmo que ela, mas de sobremesa quero panquecas com mel e blueberry. —

Georgie concorda e logo se afasta, nos deixando a sós. — Está melhor? — pergunta me encarando.

— Sim. E você?

— Sim — murmura, sem muita vontade, concordo e ficamos quietos por um bom tempo.

Balanço as pernas e torço as mãos umas nas outras. — Está nervosa?


— O que disse?

— Perguntei se está nervosa, Estére — diz, me encarando sério. Ele deposita sua cabeça

sobre o braço e se aproxima de mim. — Sua mãe dizia que quando você fica assim, balançando as

pernas e mexendo nas mãos, é porque está nervosa. Algo a incomoda. O que é?

O encaro por um minuto inteiro e sinto um arrepio percorrer minha espinha. Como dizer a ele

que me sinto nervosa por estar na sua presença?

— É só impressão sua, não estou nervosa — minto. Frederic concorda e não demora nossos

pedidos são colocados na mesa, comigo pegando meu hambúrguer e dando uma mordida. Sinto o

delicioso gosto invadir minha boca e solto um gemido baixo, com Frederic me encarando e rindo.

— Está tão gostoso assim? — pergunta, comendo o seu.

— Sim, o seu não está?

— Sim, mas o seu parece melhor — diz, passando a língua nos lábios.

Sinto meu rosto queimar e aponto o lanche para ele.

— Você quer um pedaço para tirar a prova? — pergunto, sendo mais maliciosa do que

deveria.

Ele concorda e se aproxima por cima da mesa, então segura meus dois punhos com suas fortes

mãos e leva o lanche em sua direção, o provando. Fico quieta enquanto ele mastiga e me solta,

voltando para seu lugar.


— Realmente, o seu está muito melhor — diz, voltando a comer o seu.

Termino de comer o meu lanche e sigo para as batatas, devorando-as rapidamente. Logo após

terminar, Georgie se aproxima com o sorvete e entrega as panquecas de Frederic.

— Ah, agora quem vai querer um pedaço sou eu — digo, pegando o garfo de sua mão e

cortando um fardo pedaço da panqueca. Frederic fica me encarando e como, me lambuzando. —

Divinas, como sempre.

Devolvo o garfo a ele, que sorri e começa a comer.

— Fico feliz que tenha gostado, Estér — diz. Ouço o apelido que mamãe me dera quando

viva e formo um sorriso de canto de boca.

— Eu também, Fred.
Sinto-me mais feliz após o almoço que tenho com Estére, porém, após sairmos do Beer’s, a

tristeza me abraça e fico em silêncio o caminho inteiro. Assim que chegamos em casa, ela sai do

carro e fico parado, contemplando-a.

— Você não vem? — questiona, me encarando.

— Tenho que passar na oficina para ver se Jack já consertou seu carro — digo e ela concorda,

se despedindo e entrando. Vejo seu rebolar e encaro suas pernas. São torneadas, com os pelos claros,

quase imperceptíveis. A depilação deve estar em dia.

Penso na sorte que Collin tem. Não posso negar; a filha da minha mulher é linda.

Saio em disparada e relembro do momento que aconteceu mais cedo, onde Estére me viu

apenas de toalha e ficou me observando. Talvez ela tenha pensando que eu não percebi, mas é claro

que sendo um homem observador, notei seu olhar.

Mas o que será que esse olhar queria dizer? O que está acontecendo com Estére e eu, afinal de

contas?
*

Acabo não passando na oficina e sigo para o mesmo bar da outra vez. Sei que Estére não iria

gostar de saber que eu bebi de novo, no entanto, algumas regras foram feitas para serem quebradas.

Assim que entro, vejo os mesmos rostos da última vez. Fodidos. É isso que esses homens são.

Com certeza estão fodidos por causa de alguma coisa e vêm ao bar para afogarem as mágoas.

“Igual a você, não é mesmo, Frederic?”

Afasto meus pensamentos e me sento em frente ao balcão, igual a última vez, então o barman

se aproxima e me encara.

— Tequila? — questiona, me observando.

— Uísque com gelo — digo. Ele concorda e volta um minuto depois com o copo pela metade.

— Completa, eu pago.

O homem me encara e, suspirando, vai atrás da garrafa e enche meu copo. Sinto vontade de

socar sua cara e quebrar todos os seus dentes. Ele é a putinha de todos nós. Está aqui para nos servir.

Mas, no fundo, não o julgo, com certeza ele já havia visto coisas muito ruins neste bar.

Bebo um gole e torço o nariz, mesmo sendo apreciador de vinhos, cerveja e uísque, ainda não

sou completamente acostumado a sentir isso que a bebida causa. Bebo mais um pouco, pensando em

Jolie e fecho meus olhos, visualizando sua imagem.

É como se estivéssemos na nossa cama, deitados, com ela apenas de lingerie e eu de cueca.

De repente, vislumbro a imagem dela sorrindo e beijando minha barriga, descendo para meus pelos
pubianos e indo de encontro ao meu pau. Consigo visualizar completamente a cena em minha mente.

Jolie era uma mulher voraz e muito, muito danada. Ter sua boca em volta do meu pau era como ter a

melhor das bebidas no meio de um deserto.

Então continuo no meu mundo, visualizando a cena dela me chupando, passando a língua pela

glande do meu pau e de repente seu rosto se transforma para o de Estére.

Abro os olhos e vejo a movimentação no bar, a música está tocando alto agora e as pessoas

dançam, o que, de certa forma, me deixa confuso. Droga! Mas que porra é essa que estou pensando?

Sei que ando com um tesão além do normal, e não me culpo, mesmo estando de luto. São

reações do meu corpo. Coisas que eu simplesmente não posso controlar. É instinto.

Sempre fui fodedor de belas bocetas. Conheci minha esposa morta quando tinha apenas

dezenove anos, começamos a namorar e um ano depois nos casamos. Ficamos casados por oito anos.

Porém, antes de Jolie, muitas mulheres passaram pela minha cama. Diversas. Milhares.

Centenas de mulheres. De todas as formas. Umas mais gostosas que as outras, mas sempre com o

mesmo desejo que eu — gozar, gozar sem limite.

Viro o copo de uma vez e coloco sobre o balcão.

— Mais um — peço, o barman concorda e enche, então viro de uma vez.

Preciso me aliviar, está nítido isso na minha mente. Já estou até mesmo pensando besteira.

Como Jolie se sentiria em saber que acabo de pensar em sua filha chupando meu pau? Com
certeza ela não iria gostar nem um pouco, porém, o desejo diz mais alto.

— Desejo, olha como você está dizendo — sussurro para mim mesmo, em meio a música. —

Só pode ser idiotice. É claro que é. Uma completa loucura.

Termino de beber e peço mais. Mais. Mais. E mais.

Quando vejo, já foram mais de oito doses de uísque e meu corpo começa a ficar inerte. Me

levanto e sinto uma sensação estranha... boa. É como se minhas pernas tivessem vida própria e

andam em direção ao banheiro sem eu realmente querer. Então assim que entro, me tranco, abro o

botão da calça, desço o zíper e coloco meu pau para fora. Mijo e vejo ele meia-bomba na minha

mão, então olho para trás, como se alguém pudesse estar ali dentro. Começo a fazer movimentos de

vaivém e meu pênis cresce em minha mão. Suspiro, pensando em Jolie e na saudade que sinto das

deliciosas vezes em que trepamos. Então continuo com os movimentos, aumentando a velocidade

cada vez mais.

— Ah, Estére — digo, e é como se todo o álcool saísse do meu corpo e eu voltasse a

realidade. Paro os movimentos, broxando na hora e me vejo no banheiro. O som do lado de fora é

alto.

Saio e volto para o bar, acreditando que estou ficando louco.

Sim, é isso. Só pode ser.

— Mais um — peço e o homem me encara.


— Não quero ser chato, cara, mas vejo muitos bêbados aqui e não quero ter trabalho com

mais um. Você tem alguém para te levar embora depois?

— Sim, eu. Agora me dê a droga de mais uma bebida. — Arranco da carteira algumas notas e

jogo em sua direção, com ele torcendo o nariz e concordando. Então bebo mais, e quando vejo, já

foram mais quatro copos.

Pego meu celular no bolso da calça e vejo que já está tarde, então com a visão turva, me

levanto e saio, seguindo para dentro do meu carro. Suspiro, ligo o motor e faço o retorno, seguindo

para casa. A estrada está deslizando, então vou devagar, forçando minha visão para enxergar o que

está à minha frente.

Chego em casa com dificuldade e saio cambaleando, então subo os degraus e coloco a chave

na fechadura, a virando. Abro a porta e olho ao redor. Silêncio. Sento-me no sofá e suspiro,

começando a chorar, pensando no que está acontecendo e na minha esposa.

— Volte para mim, Jolie — sussurro, em lágrimas.

— Fred? — Ouço me chamar. Levanto o olhar e vejo o rosto dela... da minha esposa.

Estranho. Será que ela havia voltado para mim e não passara de um pesadelo tudo isso? — Frederic,

está tudo bem?

Fico surpreso e me levanto, chorando.

— Jolie — digo, me aproximando ainda mais dela.


— O quê? — diz, sem entender. O que ela está fazendo? Será que não está feliz em me ver?

— Você está bêbado?

— Me desculpe, eu bebi, estava com medo e chateado, então acabei parando no bar — digo,

me aproximando mais. — Me deixe te abraçar, por favor, Jolie.

— Não... Não sou a Jolie — diz.

Fico sem entender, encarando o rosto da minha esposa, então me aproximo cada vez mais e a

agarro, abraçando-a forte.

— Eu senti tanto sua falta — digo, ainda abraçado a ela.

— Frederic, por favor.

— O quê? — digo, a encarando, me aproximo e beijo seu pescoço, mordiscando sua orelha e

segurando seu rosto.

— Me solte! Não está vendo que está ficando louco? — diz Jolie.

— Por favor, amor, eu já me desculpei por ter bebido.

Volto a agarrá-la com mais firmeza e seguro seu rosto, me aproximando dela e beijando seus

lábios. O gosto é diferente do que estava acostumado, sua boca parece menor e se encaixa com a

minha, então levo minha língua até ela e, de repente, sinto um chute no meio das minhas pernas e caio

no chão, me contorcendo de dor.

Solto um grito e recobro a consciência, encarando Jolie... que na verdade é Estére.


— O que foi que você fez? — pergunta, gritando. — Está bêbado de novo e agora me

confundindo com minha mãe?!

— O quê, como? — pergunto, sem entender. Vi nitidamente a minha esposa. Tenho certeza do

que estou dizendo. — Por favor, me desculpe, e-eu fiz algo que a machucasse?

— Não, mas saiba que se continuar desse jeito, teremos que falar com o advogado e mudar

esse testamento. V-você me beijou! Está maluco?

Fico quieto, surpreso com a loucura que estamos passando. A que ponto eu cheguei?

— Me perdoe, por favor — peço.

— Só fique longe de mim — diz ela me encarando. Vejo Estére subir a escada e sumir na

escuridão, deixando-me sozinho com os pensamentos de que realmente estou ficando louco.
Dois dias se passaram após o beijo que Frederic me deu. Não consegui sair do meu quarto

durante essas 48 horas, apenas indo ao banheiro que tem no meu quarto. Quando ouvia o silêncio ou a

porta da frente se abrindo, mostrando que Frederic saiu, ia para a cozinha comer alguma coisa.

Acabei não falando com Collin, por conta da nossa briga e tão pouco com Frida, que a última

mensagem enviada havia sido para me mandar o endereço da tal festa que será hoje.

Olho para o teto, deitada de pernas esticadas, e penso sobre o que anda acontecendo nos

últimos dias. É isso que venho fazendo esses tempos; pensando. Porém, agora que Frederic me

beijou, alegando que viu minha mãe ao invés de mim, não consigo sequer entender o que sinto.

Culpa? Medo? Excitação? Ou tudo misturado, talvez?

Relembro do momento em que nossos lábios se tocaram e de quando ele beijou meu pescoço e

mordiscou minha orelha. Só de pensar nisso, meu corpo se arrepia por inteiro e sinto um frio no meu

ventre, o que, de certa forma, é novo para mim.

Não que os beijos com Collin fossem ruins, pelo contrário; ele beija muito bem. No entanto,
com Fred foi algo... novo, por assim dizer.

— Olha o que você está pensando, sua idiota — digo para mim mesma. Me viro na cama e

solto um suspiro, vendo meu celular alertar sobre uma nova mensagem de voz. Vejo que é de Frida e

dou play:

— Sei que não anda muito bem por conta da sua mãe e que estou sendo uma péssima

amiga, mas, por favor, me diga como você está. Hoje será a festa, você e o Collin se resolveram?

Quer que eu ainda fique de olho nele? Por favor, responda. Te amo.

Resolvo responder.

“Desculpe não ter falado com você nos últimos dois dias, acabei ficando doente, mas já

me sinto melhor. Se divirta na festa. Ainda não me resolvi com Collin, porém, se puder, fique de

olho nele. Te amo.”

Vejo que já são mais de sete horas da noite e jogo o celular na cama, me sentindo cansada e

presa. Cansada de toda essa situação estranha em que estou envolvida. Presa por ficar dentro deste

quarto sem conseguir sair por não querer olhar para a cara de Frederic.

Mas afinal, será que ele está envergonhado assim como eu?

Esqueço isso e penso sobre essa festa que Collin e Frida estarão. Pego o celular novamente e

analiso o endereço; é perto, dá para ir de Uber sem gastar muito...

Decido procurar alguma roupa adequada, decidida a aparecer de surpresa e ver eu mesma
Collin, afinal, somos namorados e uma hora ou outra, teremos que nos resolver.

Pego uma calça jeans preta, botinas claras, uma blusa escura, com um unicórnio na frente, e

visto, olhando-me no espelho. Minha barriga magra está de fora, o que faz eu mostrar um sorriso.

Prendo meus cabelos em um coque frouxo e deixo alguns fios soltos, passando uma maquiagem logo

em seguida. Nada vulgar, até porque continuo de luto, então aplico o batom vermelho e o perfume

sobre a minha pele. Sei que pode parecer egoísmo da minha parte e um tanto errado sair sabendo que

a mãe morreu tem uma semana, no entanto, preciso me desligar um pouco de tudo que vem

acontecendo e me resolver com meu namorado. Quem sabe assim esqueço de uma vez por todas o

que aconteceu com Frederic e eu.

“Não aconteceu nada, foi apenas uma grande confusão. Ele estava bêbado e pensou ser

mamãe, afinal, somos muito parecidas. Foi isso. Um erro de percurso.”

E espero acreditar nesse meu pensamento.

Saio sem ao menos ver Frederic, o que acaba sendo um alívio. Peço um carro e o motorista

segue em silêncio.

Quando estamos próximos da festa, ouço o som alto tocando Dangerous Woman da Ariana

Grande.

— Aqui está, obrigada, pode ficar com o troco — digo ao motorista, entregando o dinheiro,

ele agradece e saio do carro, olhando para a mansão com portões ladeados à minha frente. A casa
pertence a, se não me engano, Ron Philips, amigo de Collin.

Entro, sentindo o nervosismo tomar conta de mim e penso que é besteira eu estar aqui.

Deveria ter ficado em casa, chorando, comendo chocolate e assistindo a vídeos no videocassete que

mamãe guardava da minha infância perfeita. Porém, resolvi ser egoísta e pensar apenas uma noite em

mim, decidida a me divertir nesta festa.

Algumas pessoas da faculdade me encaram e começam a sussurrar entre eles, talvez dizendo

que eu, a primogênita de Jolie Muller, já superei o seu luto. O que é mentira.

Esqueço essas pessoas e continuo andando, chegando à casa. O som está alto e várias pessoas

bebem e dançam, descontraídos, sem ligar se sabem a coreografia ou não, o que arranca um sorriso

meu.

— Estére Muller. — Ouço meu nome atrás de mim e me viro, vendo o próprio Ron. — Você

veio.

— Oi, Ron. Sim, espero que não se importe — respondo, encolhendo os ombros.

— Claro que não, você é a namorada do meu amigo, por que me importaria? Seja bem-vinda

— diz, sorrindo. Ele é um homem bonito, não há como negar. Na verdade, na Cidade do Vale

Sombrio, existem muitas pessoas bonitas. Seus cabelos são encaracolados e sua pele negra, o sorriso

largo é cativante, e seu peitoral é como nesses filmes de adolescentes; malhado ao extremo.

Pergunto-me quando eles têm tempo para malhar, já que sempre estão bebendo, fumando, falando de

mulheres e transando com elas.


— Obrigada. Você viu o Collin ou a Frida por aí? Quero fazer uma surpresa a eles.

— Ah, a Frida está na cozinha bebendo com os caras. Eles fizeram uma aposta para ver se ela

consegue beber doze doses de tequila. Já o Collin, se não me engano, está ajudando na churrasqueira.

Concordo, pensando o quanto Frida é louca.

— Certo, vou atrás dele e depois vejo Frida — digo, já me afastando.

— Não! Espere, você não vai querer perder esse desafio da Frida, não é? — pergunta,

segurando meu braço e sorrindo. Olho para sua mão e ele me solta.

— É, realmente. Você me acompanha? — questiono.

— Será um prazer, Srta. Muller.

— Apenas Estére, Ron, nos conhecemos há tanto tempo que não sei dizer — digo, agarrando

no seu braço. Ele concorda e me guia pela multidão das pessoas que estão na sala.

Seguimos por um corredor e não presto muita atenção na casa, apenas notando o quanto está

cheia e é grande.

— Qual é, garota? Vira essa tequila de uma vez. — Ouço, assim que passamos para a cozinha.

A cena que vejo é um tanto hilária.

Frida está em cima do balcão, na ilha da cozinha, usando uma saia curta e uma blusa

transparente, revelando seus seios. Seus cabelos estão bagunçados e a maquiagem berrante. Seu olhar

é sério e desafiador.
— Ela vai beber sim, e vou acompanhá-la — digo, me desvencilhando de Ron.

Todos que estão na cozinha ficam em silêncio e me encaram. Frida me observa e abre a boca,

surpresa por eu estar aqui.

— Então vem, princesa — diz um dos rapazes. Todos gritam e sigo em direção de Frida,

subindo no balcão com ela, que me dá espaço.

Pego a dose de tequila da sua mão e todos me encaram, vibrando de emoção.

— Beba, beba, beba! — começam a gritar. Faço uma reverência dramática e viro com tudo a

bebida, balançando a cabeça quando engulo.

Todos gritam entusiasmados e Frida me abraça, bebendo a dela e descendo do balcão. Desço

junto e minha amiga me encara.

— Eu não acredito que você veio! — diz animadíssima.

— É, nem eu acredito — digo sorrindo. — Você viu o Collin? Ron disse que ele está na

churrasqueira, queria ter certeza antes de ir até lá.

— Ele está atrás de você — diz ela. Me viro e encaro meu namorado, que me observa com o

rosto vermelho e o olhar surpreso.

— Estére — diz se aproximando.

— Oi, Collin — digo, forçando um sorriso.


— Vou terminar meu desafio, vocês precisam conversar — diz Frida se afastando. Concordo e

Collin estende a mão na minha direção, e a agarro.

Saímos da cozinha pela porta dos fundos e fomos para a área da piscina, com diversas

pessoas nadando ao som de Perfect Illusion de Lady Gaga.

— Fico feliz que tenha vindo — diz, ainda surpreso com a minha ida a festa.

— Que bom — digo. — Você chegou aqui tem muito tempo? — pergunto, para criar assunto.

O que é estranho, já que ele é meu namorado.

— Às 19h, os caras precisaram de ajuda para carregar as bebidas e na churrasqueira — diz.

Concordo e forço um sorriso. — Você quer uma cerveja? Posso pegar para nós.

— Seria bom.

— Certo, espere aí, volto em um minuto. — Ele se afasta e o vejo indo em direção da

churrasqueira. Ele abre um freezer e pega duas cervejas geladas. Uma garota para ao seu lado e ele

conversa com ela, noto o quanto ela é bonita.

Logo ela se afasta e ele volta, parecendo sério, o que me deixa confusa. Collin me entrega a

cerveja já aberta e me dá um enorme sorriso... o sorriso por qual me apaixonei. Que fez várias vezes

eu sentir borboletas no estômago.

— Quem era a garota bonita? — pergunto, levando um gole da bebida aos lábios.

— Ah, ninguém, só estava perguntando sobre o Ron — diz ele, sem me olhar. Concordo,
sentindo que ele está mentindo, porém, como quero evitar brigas, não estendo o assunto. — Então,

como você passou esses últimos dias? Não temos conversado muito.

— É, eu sei. Fiquei meio que doente, mas já estou bem — minto.

— Meio doente? — questiona, sem entender.

— Coisas de mulheres — concluo. Como ele é homem e não entende, apenas assente, dando o

assunto por encerrado.

— Então, quero que me desculpe, não quis forçar a barra em relação a transarmos, nem quis

parecer um canalha. Me desculpe mesmo...

O interrompo com um beijo e ele fica surpreso, me agarrando e segurando minha cabeça com

a mão livre. Sua língua invade a minha boca e simplesmente não sinto nada. Nem uma sensação. Nem

um arrepio.

Continuamos nos beijando, tento afastar esse pensamento insano e depois de um tempo,

separamos nossas bocas.

— Eu te amo, Collin — digo, convicta das minhas palavras. Ele me encara e sorri.

— Eu também te amo, Estére — diz, sorrindo. Encosto minha testa na sua e sorrio, mesmo

sabendo que não senti nada em beijá-lo.

— Ah, os pombinhos se resolveram, finalmente! — grita Frida animada.

— Você está bêbada — digo, e ela se senta ao meu lado, entrelaçando seu braço ao meu.
— Sim, mas o que posso fazer? A vida é curta, temos que aproveitar.

— Você está certa — digo, sorrindo. E realmente está. Quando vemos, a vida já passou, as

pessoas que amamos já morreram e não fizemos nada. Penso neste instante se as pessoas ao nosso

redor estão felizes com a vida que andam vivendo.

— Então vamos nos divertir, baby, porque a noite só está começando! — Ela se levanta com

dificuldade e dou risada, encarando Collin, que se diverte. Nos levantamos e começamos a dançar

uma música animada que toca.

Frida rebola sem parar, animadíssima, então ela me abraça e sorri.

— Eu te amo, amiga.

— Eu também te amo — digo, rindo da sua bebedeira.

Ela concorda e então sai correndo, indo em direção à piscina, pulando com tudo, molhando

diversas pessoas.

— Vem! Vamos nadar, a água está deliciosa — diz.

Ouço tocar um remix de Halo da Beyoncé e sorrio, segurando na mão de Collin e correndo

com ele, nos jogando com tudo na piscina. Dançamos na água e rimos bastante, nos divertindo, então,

de repente, várias pessoas entram e se divertem conosco.

Analiso o céu e vejo as estrelas brilharem. Sorrindo pelo momento descontraído, beijo meu

namorado e aproveitamos a festa.


Está sol no domingo, o que acaba sendo um milagre e tanto. Então saio cedo com Frida e

Collin, decidindo fazer um piquenique no parque local da cidade. O lugar é simples, é praticamente

no começo da floresta, onde tem um campo de futebol, mesas de pedra redondas e um pequeno lago.

Como está sol, aproveito para usar um short curto, camiseta regata e óculos, a fim de me

bronzear um pouco e dar cor a minha pele branca. Frida está no mesmo estilo que eu, e Collin de

bermuda, tênis e sem camisa, mostrando sua barriga definida e seus músculos.

— Sei que o namorado é seu, mas puta que pariu, que homem gostoso o Collin é — diz Frida

ao meu lado, sussurrando, quando ele está um pouco mais à frente, vendo uma mesa para ficarmos.

— É, não posso negar que ele é gostoso demais.

— Sim, e você está perdendo a chance de saber como é o material dele — diz ela, como se

estivesse me repreendendo. Reviro os olhos e formo um sorrisinho.

— Estou começando a pensar que esse momento está cada vez mais perto, mas não quero

dizer a ele, para não se animar.


Frida e eu rimos e nos aproximamos da mesa.

— Qual a piada? — pergunta ele, nos encarando.

Olho Frida e ela sorri.

— Só estava perguntando sobre Frederic para Estére, nada demais.

— E isso as fizeram rir? — questiona.

— Sim, eu estava dizendo a Estére que se o ex-padrasto dela quiser, eu posso ajudá-lo a

superar o luto.

Collin me olha e estreita as sobrancelhas.

— Entendi, eu acho — diz ele. — E como é que ele está, amor?

Ouço ele me chamar de “amor” e sorrio, mesmo não sendo a primeira vez que isso acontece,

isso ainda me deixa boba. Então percebo que meu padrasto acabou virando assunto.

— Ele está bem, não ando vendo-o muito, está trabalhando bastante na oficina. Por conta do

meu carro que quebrou.

— Isso é bom, não é? Ele trabalhar, quero dizer — diz Frida.

— Acho que sim — digo.

— É, espero que ele fique bem logo. Quem sabe não arrume uma namorada ou esposa mais

rápido do que o esperado — diz Collin. Não respondo, colocando sobre a mesa a cesta de vime e
tirando de dentro as coisas que trouxemos. Temos frutas, suco, entre outras coisas.

— Que tal deixarmos Frederic de lado e conversamos sobre outra coisa? — peço de maneira

gentil para não desconfiarem de algo.

— Claro, amor, você que manda — diz meu namorado me abraçando e depositando um suave

beijo nos meus lábios.

— Também quero! — brinca Frida.

Retribuo o beijo e me recordo dos lábios do meu padrasto encostando nos meus, me

separando do meu namorado e dando um beijo na bochecha de Frida.

— Isso é o máximo que você vai conseguir de mim — digo, arrancando uma risada dela.

— Você está bem? — pergunta Collin ao meu lado, Frida foi comprar sorvete para nós.

— Estou sim — minto, quero dizer a ele que não, não estou bem. Que possivelmente ele

estava certo de que seria um erro morar com Frederic, e também quero dizer do beijo, mas sei que

isso iria acarretar a tragédias inimagináveis. Então me mantenho em silêncio, com ele passando o

braço sobre meu ombro e me apertando contra ele. — E você, parece meio que aéreo, está tudo bem

com seus pais?

Seu rosto se contorce e ele suspira, dando de ombros.

— Sim, está. Quero dizer, eu não sei. — Collin bufa e sorri. — Tudo anda complicado para
todos nós, menos para Frida, ela sabe deixar as coisas leves e divertidas.

Concordo, vendo minha amiga se aproximar com três sorvetes e rio.

— É, Frida é a alegria em pessoa, mas voltando a você, não gosto de vê-lo triste.

— Eu também não gosto de ver você triste, minha garota, mas algumas coisas são impossíveis

de mudar.

— Há dores que nem mesmo o tempo é capaz de curar — digo, concordando com ele. Com

certeza está triste porque seus pais não o deixaram mudar o curso na faculdade.

— Aqui está — diz Frida nos entregando os sorvetes, pego o meu que é de chocolate e passo

a língua, sentindo o sabor, Collin me encara e solta uma risadinha baixa, o que me envergonha. —

Um milagre esta cidade de merda estar fazendo sol, não vejo a hora de chegar as férias para ir ao

Brasil com meus pais.

— Vocês vão mesmo viajar? — pergunto.

— Sim, e você pode ir conosco se quiser.

— Sem chances, vou usar as férias para estudar. Não quero repetir em nenhuma matéria.

— Você é muito correta — diz minha amiga, revirando os olhos. — E você, Collin, fará o que

nas suas férias?

Ele toma um pouco do sorvete e me encara.


— Pretendo passar ao lado da minha namorada e impedi-la que seja tão correta — diz,

arrancando risadas de nós duas.

— E no que você está pensando para fazer isso? — pergunto.

— Estava pensando em irmos para o seu chalé, o que acha? Falta um mês ainda, dá para

pensar com calma.

Concordo, sorrindo, não quero negar de cara, até porque a ideia é boa. Entretanto, faz muitos

anos que não vou ao chalé, principalmente por ser no meio da floresta.

— Vamos pensar na possibilidade — digo e ele sorri.

— Agora chega de tanto melaço, e já que o dia está lindo, vamos andar um pouco — diz

Frida, começando a recolher as nossas coisas.

— O que? Pensei que quisesse ficar no parque apenas contemplando as pessoas — digo,

levantando-me do chão.

— Ah, me poupe, já vimos bastante as pessoas, vamos aproveitar nosso domingo.

Reviro os olhos e Collin se levanta, vestindo sua camisa.

— Eu gostava mais da visão sem — digo, mordendo o canto da boca, ele sorri sem graça e

beija minha testa.

— Eu também — confirma Frida já andando à nossa frente.


— Vá com calma, não estamos fugindo, estamos? — grito para que ela ouça.

Andamos mais e passamos ao lado do pequeno lago que contém no parque. Jogo uma pedrinha

na água e a vejo pular três vezes, até afundar. Collin pega uma e faz o mesmo, nos divertindo com

isso.

— Oi, Collin. — Ouço uma voz feminina atrás de mim e meu namorado e eu nos viramos

juntos, olhando a garota da festa de ontem que havia falado com ele. Ergo a sobrancelha, sem

entender e Collin a encara.

— Oi, Laura — diz sério —, o que está fazendo aqui?

— Apenas passeando pelo parque, aproveitando o sol que resolveu aparecer — diz, então se

vira para mim. — Você deve ser a Estére, estou certa? Fiquei sabendo sobre sua mãe, sinto muito.

Ela estende a mão e a aperto.

— Obrigada, muito prazer. — Sorrio e ela forma um sorriso largo, voltando a encarar o meu

namorado.

— Nos vemos na aula, até mais. — Se afasta logo em seguida, me deixando confusa.

— É a garota da festa de ontem — digo, segurando a mão de Collin.

— Sim, uma coincidência e tanto ela aqui, não é? — diz, desviando o olhar do meu. Fico sem

entender, mas concordo, vendo Frida bem à frente.

— Venham logo! — grita ao longe.


Encaro Collin uma última vez e ele continua com o olhar desviado do meu, então seguimos

andando atrás de Frida.

O restante do passeio foi bastante tranquilo, pelo menos para minha amiga e eu. Collin se

manteve em silêncio o tempo inteiro, completamente distraído do que dizíamos com ele.

Quando o sol começou a baixar e dar lugar as nuvens escuras e a lua, decidimos pegar nossas

coisas e irmos embora. Como viemos no carro do meu namorado, ele deixou Frida em casa primeiro

e ela se despediu de nós com beijos no rosto, dizendo que nos via na aula de amanhã. Logo depois

disso, seguimos para a minha casa, quietos.

— Você ficou estranho depois que encontramos Laura — digo. — Aconteceu algo que eu deva

saber?

— Não é nada, só estou um pouco cansado — responde, mas sei que está mentindo. É como se

eu pudesse sentir isso.

— Ok — concordo, afirmando com um movimento da cabeça, sabendo que se realmente

Collin esconde algo, uma hora ou outra eu irei descobrir.


Me despeço do meu namorado com um beijo molhado e, assim que entro, vejo seu carro se

afastar. Olho ao redor da casa e tudo está organizado. Procuro Frederic pelo andar debaixo e não o

encontro, o que é um alívio, então subo a escada nas pontas dos pés e vejo a porta do seu quarto

aberta. Me esgueiro e dou uma olhada, notando que ele também não está aqui, então sigo pelo

corredor e entro para o meu quarto.

Tiro minhas roupas e decido tomar um banho, sigo para a banheira e relaxo um pouco. Passo a

bucha pelo meu corpo e lavo meus cabelos, sentindo-me relaxada. Assim que termino, saio e me

seco, enrolando-me no roupão.

Ouço a campainha tocar e estranho, sabendo que não estou esperando ninguém e, pelo que sei,

Frederic não está em casa.

Coloco uma toalha nos meus cabelos molhados e abro a porta. Sigo distraída pelo corredor,

então esbarro em um corpanzil forte e vejo que é Frederic.

— Ah, meu Deus! — digo, envergonhada por estar apenas de roupão. O agarro ainda mais
contra meu corpo e Frederic fica de costas. — Me desculpe, pensei que não estava em casa.

— Estava nos fundos da casa, acabei de subir e a campainha tocou, deve ser a pizza que pedi

para comer — diz, ainda virado. — Você se importa se...

— Tudo bem — digo, ele se vira e me encara, com seus olhos pousando sobre mim.

Fico sem graça e me encolho, notando seu olhar vidrado, então a campainha toca de novo.

— Melhor eu ir atender — diz, olhando nos fundos dos meus olhos.

Concordo e ele desce, me deixando completamente sem graça e com um calor além do normal,

então sigo para meu quarto, me trancando.

Ouço uma batida na porta e ergo meu corpo, séria.

— Estére? — Ouço a voz abafada de Frederic. — Você ainda está acordada?

Conto até três e decido atendê-lo, indo até a porta e colocando meu corpo por trás dela,

revelando apenas minha cabeça.

— Oi — digo. Frederic está com uma calça moletom que nem havia reparado e camiseta

preta. Os pés descalços. Nas suas mãos há um prato com duas fatias de pizza e um copo de leite.

— Achei que iria querer comer — diz, estendendo em minha direção. Fico surpresa com sua

atitude e saio de trás da porta.

Agora estou vestida com meu pijama, mas por conta do que houve antes, sinto-me exposta.
— Obrigada — respondo de maneira gentil após pegar o prato com o copo. Ele sorri e fica

parado, me encarando. — Posso ajudá-lo em algo?

— Podemos conversar? — pergunta. — Sinto que as coisas entre nós estão estranhas depois

do... bem, você sabe.

Quero dizer a ele que as coisas estão estranhas desde quando mamãe morreu. Principalmente

porque, sem motivo algum, sonhei que o beijava. E ele me beijou, o que torna tudo ainda mais difícil.

— Desculpe, estou cansada e amanhã tenho aula, conversamos outra hora.

— Vai ser rá... — fecho a porta antes que ele complete a fala e encosto meu corpo na madeira,

sentindo meu coração acelerar. —...pido — completa e vejo por baixo sua sombra se afastar.

Fico parada por um tempo, então pulo para a minha cama com o copo de leite e o prato com

as fatias de pizza. Mordo a ponta de uma e não consigo sentir o gosto de nada, ainda pensando no que

aconteceu. Estou ficando maluca, tenho certeza. Deve ser coisa da minha cabeça isso tudo.

Como apenas para forrar o estômago e assim que termino de beber meu leite, escovo os

dentes e me deito, pegando no sono imediatamente.

Já teve um sonho em que pensou ser real? Que na verdade, você está acordada, sem conseguir

tomar conta das suas reações? É o que sinto neste momento.

Estou na sala da minha casa, apenas de lingerie. Estranho, pois nunca fiz isso, principalmente

em casa.
Então vejo um movimento na escada e me levanto, parando em frente ao primeiro degrau e me

ajoelhando, cabisbaixa. Olho os pés à minha frente e percebo que são masculinos, meu olhar vai

subindo pelas pernas e vejo os pelos negros. Não é Collin, já havia visto os seus pelos que são

claros.

— Por que está de joelhos, Estére? — Ouço a voz rouca e excitante do meu padrasto e engulo

em seco, nervosa.

— V-você me pediu — digo, ainda de cabeça baixa. Ouço sua respiração pesada e ele estende

as mãos para mim, comigo as segurando com firmeza.

— Levante-se, não é preciso uma coisa dessas. — Concordo, ainda de cabeça baixa e ele me

guia pela sala, passando pelo corredor e entrando na biblioteca. — Sente-se naquela poltrona.

Ele aponta para uma poltrona grande e larga, com o estofado claro, cheio de desenho de flores

e toda revestida em madeira maciça, na cor mogno.

O obedeço e me sento, então Frederic para na minha frente e vejo seu olhar sério, com seus

olhos revelando um fogaréu incomum.

— Gosta do que vê? — pergunta, levando minhas mãos pelo seu peitoral. É forte, sua pele é

quente, e os músculos firmes.

— Sim, eu gosto muito.

Ele sorri e lambe os lábios.


— E Collin sabe disso? Ele sabe que você anda querendo me dar? — diz, de maneira

selvagem, o que me deixa confusa. — Me responda, Estére.

— Não, ele não sabe — digo, sem graça.

— Assim como a sua mãe, não é? Você é uma vadiazinha querendo dar para o seu próprio

padrasto! — vocifera. De repente, seu rosto se transforma e vira o de mamãe, que acerta um tapa no

meu rosto e acordo pulando da cama com o susto.

Sento-me na cama, tentando raciocinar. Recordo do sonho e suspiro, colocando minha cabeça

entre as minhas pernas.

— Você está ficando louca, Estére, só pode ser isso — digo para mim mesma. — Pare de

pensar essas coisas, é só uma semana difícil, você perdeu sua mãe e está encontrando refúgio nos

braços errados.

“Nos braços do pecado”.

Só pode ser loucura, com certeza!

Me troco e saio de casa sem comer, ansiando o momento de chegar na faculdade. Como Collin

e eu nos resolvemos por hora, ele me busca, e assim que me vê, dá um beijo na minha testa. Apesar

de ter sido um sonho o que tive, me sinto estranha, como se estivesse traindo-o, o que não é verdade,

certo? Sonhos são sonhos, não realidade.


“Sonhos são coisas que desejamos, não se faça de idiota. A própria palavra já diz!” Ouço

meu subconsciente me alertar.

— Dormiu bem? — pergunta Collin dirigindo. — Parece cansada.

— Tive um pesadelo — digo, me arrependendo logo em seguida.

— O que foi?

— Ah, nada de mais, só sonhei com mamãe — digo. — Besteira.

Fico em silêncio e ele não insiste no assunto, o que me deixa aliviada e feliz. Se ele soubesse

o que eu realmente sonhei...

— Certo, e sobre o que conversamos ontem, conseguiu pensar sobre o assunto ou ainda não

decidiu? — questiona estacionando o carro. Saímos e o encaro.

— Sobre o chalé?

— Sim — diz.

— É, vai ser legal — digo.

“Melhor do que passar dentro de casa com meu padrasto.”

— Isso! — diz, animado, e vem para o meu lado, entrelaçamos nossas mãos e ele forma um

sorriso largo. — Quero que seja os melhores dias da sua vida.

— Dias? — pergunto, curiosa.


— Sim, vamos passar uma semana lá, ou um mês, o que acha? Estaremos de férias, não

teremos com o que nos preocupar.

Sorrio e concordo, apreciando a ideia.

— Vamos pensar sobre isso — digo.

Ele sorri e seu sorriso some quando entramos na faculdade e Laura passa por nós, acenando.

— Preciso ir agora, amor, nos vemos no intervalo. — Collin sai andando sem ao menos me

dar um beijo e fico sem entender, encontrando Frida.

— Bom dia, amiga — digo, passando meu braço no seu.

— Péssimo, estou com cólica e só quero chocolate e assistir a alguma série na Netflix — diz.

Dou risada e aperto seu braço.

— Você pode ir para casa, se quiser, converse com seus pais e me avise, o que acha?

— Ai, seria fantástico, falarei com eles na hora do intervalo — diz.

Concordo e entramos para a sala, nos posicionando nos nossos lugares e prestando atenção

nas aulas.

Porém, mais uma vez, me vejo perdida em pensamentos sobre os meus sonhos e a estranheza

de Collin.
As primeiras aulas passam rapidamente e quando chega o intervalo, encontro Collin e Laura

conversando. Assim que me aproximo, ela me encara e acena, logo em seguida se afasta.

— Viraram amigos mesmo, hein? — comento, com ciúme. Collin me encara e sorri.

— Está com ciúme, minha garota? — pergunta aproximando meu corpo do seu.

— Talvez eu esteja — digo.

— É assim que me sinto todos os dias em saber que você mora sozinha com seu padrasto —

diz, acariciando meu rosto. Afasto sua mão e o encaro.

— Frederic é meu padrasto, Collin, você mesmo acabou de dizer isso. Por que esse ciúme?

— Porque ele é homem, Estére. Assim como eu sou. Acredite, a maioria de nós não pensamos

coisas muito boas quando vemos uma mulher linda e gostosa como você.

Fico calada e vejo Frida se aproximar, sorrindo.

— Meus pais deixaram, então assim que sairmos daqui, vou para casa organizar minhas
coisas e encontro você na sua casa às 18h. Quero pizza e brigadeiro.

— Combinado — digo animada, ter outra pessoa naquela casa fora Frederic será bom.

Ela dá pulinhos de alegria e vamos comprar alguma coisa para comer.

Entro em casa e ouço um barulho na cozinha, então sigo até ela e vejo Frederic parado

organizando as compras no armário.

— Oi — digo, ele se vira para mim e forma um sorriso.

— Oi, Estére.

— Só queria avisar que teremos visita mais tarde — digo, cruzando as mãos uma na outra. —

Frida vem dormir aqui.

— Tudo bem, quer que eu prepare alguma coisa para vocês comerem? — pergunta, me

encarando. Seus olhos brilham.

— Não precisa, pedimos uma pizza para comer. Ela pediu brigadeiro, mas é fácil de preparar.

Ele concorda e fica me olhando.

— Quer que eu faça? — pergunta.

— Não, tudo bem, eu faço.

— Tem certeza?
Concordo e me viro, pronta para sair.

— Estére — diz, vindo até a mim a passos largos e segurando meu braço. O ponto em que sua

mão encosta queima minha pele.

— O que foi? — pergunto, me virando, sabendo do que ele quer falar.

— Podemos conversar?

Fico olhando Frederic por um minuto inteiro e sei que não vai adiantar tentar me esquivar

dele por muito tempo.

— Tudo bem — respondo, ele concorda e volta para a cozinha, então o sigo e me sento na

banqueta, na ilha. Frederic se senta de frente para mim e me encara.

— Quero me desculpar novamente pelo ocorrido.

— De qual parte estamos falando? — questiono. — Porque, pelo que me lembro, você chegou

bêbado da primeira vez e conversamos sobre isso.

— Eu sei — ele suspira, sua respiração é pesada; seu peito desce e sobe rapidamente —, mas

prometo que dessa vez será diferente, irei evitar ao máximo beber.

Concordo, fingindo que acredito.

— Você tem vinte e oito anos, Frederic, um homem formado, pode fazer o que quiser da sua

vida. Desde que isso não me prejudique.


Ele concorda e estende a mão em direção à minha, recuo, colocando meus braços sobre o meu

colo.

— Desculpe — diz. — Me perdoe pelo beijo, não foi o que pareceu, eu realmente vi o rosto

de sua mãe. Eu estava muito bêbado e você sempre se pareceu muito com Jolie.

Concordo, agora tentando acreditar no que diz.

— Sinto muito, de verdade, não queria que passássemos por isso — digo.

Ele concorda, cabisbaixo.

— Então, nos resolvemos? — Ele volta seus olhos para mim e vejo o brilho intenso nas suas

íris.

— Se você preparar aquele brigadeiro para Frida e eu, estaremos sim — digo, rindo. Ele ri e

levanta.

— É para já! Tem que estar frio na hora que ela chegar.

Concordo e rapidamente Frederic começa a ir atrás dos ingredientes, pegando a manteiga,

leite, achocolatado e leite condensado. Vejo-o acender o fogão cooktop e colocar a panela sobre ele.

Logo os ingredientes estão nela e ele começa a mexer, conosco em silêncio.

— E as aulas vão até quando? — pergunta criando assunto enquanto mexe a colher.

— Até vinte de novembro, eu acho. Não vejo a hora de entrar de férias.


— E você já tem planos?

— Collin quer passar uns dias no chalé — digo, ele me encara e concorda, desligando o fogo.

— Está pronto — diz.

— Você realmente é rápido — digo levantando e me aproximando da panela.

— Ah, isso é o fogão. Posso ser quente, mas quem fez tudo foi o fogo.

Ouço aquilo e fico em silêncio, então assinto, desviando meu olhar para a panela.

— Parece delicioso — digo.

— Quer provar? — pergunta pegando uma colher e colocando um pouco.

— Claro — digo. Vou pegar a colher e acabo derrubando o brigadeiro quente no meio do

dedo. — Ai! — digo, sentindo queimar.

Frederic solta a colher e segura minha mão, proferindo um palavrão baixo.

— Desculpe, deixe-me ajudá-la — diz assoprando minha pele. Sinto o seu hálito frio no meu

dedo e rapidamente alivia. — Melhor?

— Um pouco, obrigada. Agora só estou suja mesmo — digo, vendo meu dedo com o

brigadeiro.

— Isso não é problema — diz Frederic. Vejo-o ainda segurar minha mão e aproximar ainda

mais seu rosto do meu dedo, então ele o leva até a boca e o engole por inteiro, limpando todo o doce.
Meu corpo inteiro se arrepia e sinto uma sensação estranha cobrir meu ventre. Ele continua e passa a

língua na queimadura, tirando meu dedo de sua boca. — Viu, problema resolvido.

Frederic solta minha mão e vai na direção do armário em busca de um prato como se nada

tivesse acontecido, então volta e me encontra na mesma posição.

Ele me encara e estreita os olhos, sem entender, ou talvez está se fazendo de fingido.

— V-você — gaguejo.

— O que foi, Estére? — pergunta, me olhando.

— Preciso confessar uma coisa — digo.

— Claro, o que foi? — Seus olhos se estreitam e o brilho neles aumentam.

— Sei que é errado o que vou dizer e que não deveria pensar essas coisas — começo, criando

coragem. —, mas eu gostei do beijo. — Frederic me observa e fica em silêncio. — Me desculpe.

Saio da cozinha e subo em direção ao meu quarto, notando que Frederic não me segue.

“Estou chegando, espero que esteja preparada para a noite de garotas que teremos”.

Leio a mensagem de Frida e suspiro, pensando no que havia acontecido na cozinha pouco

tempo atrás. Frederic não me procurou, o que de certa forma foi um alívio, afinal de contas, não

saberia onde enfiar minha cara. Penso onde estava com a cabeça para confessar a ele que eu havia

gostado do beijo, algo que foi completamente inédito até mesmo para mim.
Ouço meu celular apitando e o pego, lendo uma mensagem de Collin:

“Precisamos conversar, podemos?”

“Desculpe, agora não dá, Frida já está chegando. É algo muito sério?”

“Não, tudo bem, nos falamos outra hora.”

“Ok, eu te amo.”

Envio a mensagem e a olho, questionando-me se realmente ainda amo tanto Collin quanto

antes.

Frida entra com um enorme sorriso, olhando em volta da sala.

— Quanto tempo que não venho aqui — diz ela analisando cada detalhe, ela vai até o

aparador e vê os porta-retratos com as fotos de nós mais novas, quando ainda cursávamos o ensino

médio.

A conheci quando tinha entorno de quinze anos. Desde que a conheço, Frida nunca soube o

paradeiro da sua mãe biológica, assim como eu nunca soube do meu pai. Quando éramos

adolescentes, brincávamos por conta de eu ter mãe e ela não, e ela ter dois pais e eu não ter um

sequer. Pensando agora nisso, vejo o quanto é deprimente.

— Você realmente tem a cara da tia Jolie — diz pegando um porta-retratos que estou com

minha mãe e Frederic. Concordo e sorrio.


— Ao menos a puxei na beleza — digo e rimos. Somos tiradas do momento descontraído

quando Frederic sai da cozinha e encara minha amiga, sorrindo.

— Frida, como está bonita — diz se aproximando e a abraçando, ele dá um beijo no seu rosto

e me encara, me deixando desconfortável.

— Oi, Fred. Obrigada, você também não está nada mal, ainda mais para quem acabou de ficar

viúvo — diz, me encarando. — Desculpe, não quis ser indiscreta.

— Não foi, mamãe se foi e estamos aqui, sei que ela iria querer que seguíssemos em frente.

— Sorrio, pensando que ela iria querer isso mesmo, só não iria desejar que eu saísse por aí

querendo provar do beijo do seu marido.

— É verdade, Jolie era maravilhosa. E obrigado pelo nada mal, Estére tem cuidado bem de

mim — diz Fred, sorrindo e piscando. Frida concorda com um movimento da cabeça e ele cruza os

braços. — É melhor eu ir nessa, não quero atrapalhar a noite das garotas. Até mais.

Murmuro um “tchau” e vejo Frida olhando para sua bunda.

— Você é mesmo uma safada — digo.

— Qual é, o cara é gostoso pra cacete. Se eu morasse sozinha com ele, me desculpe, mas já

teria sentado.

— Frida! Estamos falando do viúvo de mamãe.

— E que Deus a tenha. Amava sua mãe e você sabe disso, sinto muito mesmo pela morte dela,
mas não podemos negar que Frederic é lindo. Vai dizer que nunca o observou melhor?

Quero dizer a minha melhor amiga que sim, eu observei. Até mesmo seus pelos pubianos e seu

peitoral. E claro, seus lábios, mesmo que não tenha sido de uma maneira convencional. Porém, me

mantenho em silêncio, revirando os olhos e a puxando em direção a escada e indo para meu quarto.

— Bem, prefiro não pensar nele dessa maneira — minto para ela, o que me incomoda.

— Bem, você que sabe, agora me diga o que vamos assistir.

Ligo a televisão do quarto e coloco na Netflix.

— Bem, que tal vermos um filme bobo enquanto pedimos a pizza?

Assistimos filmes bobos na Netflix, comemos pizza e o brigadeiro que Frederic fez, que por

sinal, ficou delicioso. Quando é um pouco mais de meia-noite, Frida se ajeita na minha cama e dorme

rapidamente. Contudo, comigo é diferente. Fecho os meus olhos e viro de um lado para o outro na

cama, não conseguindo dormir.

Levanto-me sem fazer barulho e vejo minha amiga roncar, então saio do quarto e desço até a

cozinha, abro a geladeira e pego a garrafa com água.

— Outra noite sem sono, Estére? — Me viro e vejo Frederic entrando na cozinha com o

peitoral descoberto e o cós da calça de moletom um pouco abaixo do normal.

— Sim, não consegui dormir — digo, tentando não fixar meus olhos nisso.
— Nem eu — diz, vindo em direção à geladeira, pega uma maçã de dentro e a morde, me

olhando com um sorriso. — Frida já está dormindo?

— Sim, somente nós estamos acordados — digo, como se essa informação fosse algo

importante. Ele concorda e sai em direção ao corredor. Fico sem entender e decido segui-lo, então

Fred sobe a escada e entra no seu quarto. Paro em frente à sua porta e ele me olha.

— Boa noite, Estére — diz, fechando a porta.

Fico incrédula com sua atitude e me sinto chateada, então vou para o meu quarto e me deito,

forçando-me a dormir.
Ouço o carro de Collin estacionar em frente à casa e Estére sair às pressas com Frida para a

faculdade. Não saio do quarto, então ouço a amiga da minha enteada perguntar sobre mim e Estér

dizer que talvez eu já tenha ido para o trabalho, o que ela sabe que é mentira. Normalmente vou para

a oficina depois das 8h.

Quando o carro sai em disparada, abro a porta do quarto e me vejo sozinho no corredor. Sigo

para o andar debaixo e preparo um café forte, tomando e comendo alguns biscoitos. Assim que

finalizo minha refeição, saio em direção à garagem e sigo para a oficina, pensando em Estére e no

que vem acontecendo.

Minha enteada está flertando comigo e eu estou gostando disso, contudo, algo me impede de

tomar alguma atitude sobre o assunto. Não posso simplesmente esquecer que era casado com sua

mãe. Mas vê-la me olhando de maneira diferente e ter dito que gostou do beijo involuntário que havia

rolado entre nós, me deixa excitado.

Porém, na mesma proporção que me sinto excitado, me sinto um verdadeiro canalha. Primeiro,
não havia nem um mês que minha esposa havia falecido, segundo que minha esposa era a mãe de

Estére, o que deixa tudo ainda mais confuso. E terceiro, ela namora.

Penso se as coisas fossem diferentes. Se eu namorasse com Estére ao invés de Jolie?

Estaríamos juntos neste momento lamentando a morte da minha “sogra”?

— Que pensamento nojento, Frederic Cooper — digo para mim mesmo. — Como pode pensar

em Estére desse jeito? Ela é sua enteada há anos, jamais pensou nela dessa forma antes, por que

agora?

Suspiro, frustrado. Realmente gostaria de encontrar respostas para essas perguntas, no entanto,

não acho.

— Foco, Fred, pense no que pretende fazer de agora em diante.

Vejo que já estou em frente à minha oficina e rapidamente saio do carro. Vejo Jack mexer no

veículo de Estér.

— Bom dia, chefe — diz, secando o suor da testa.

— Para você, Jack — digo. — Quais as novidades sobre esse carro?

— Encontrei um motor, mas não funcionou, tive que fazer o pedido de outro e vai demorar

alguns dias para chegar.

— Que merda! — profiro, irritado. — O movimento melhorou?

— Do mesmo jeito — diz me encarando, percebo a angústia no seu olhar.


— Não se preocupe, tenho dinheiro, não irei mandá-lo embora, você é meu braço direito neste

lugar.

Ele assente e fecha o capô do carro.

— Obrigado, chefe — diz.

Sorrio e assinto.

— Se não tiver mais nada para fazer, pode tirar um dia de folga, aproveita o tempo bonito e

leve sua esposa para passear com seus filhos.

Jack me olha com gratidão e assim que termina seu trabalho, se despede de mim e sai, indo

embora. Fico sozinho e abro o carro de Estére, entrando. Sento-me no banco dianteiro e coloco

minha cabeça sobre o volante, pensando nela ali dentro. Solto um suspiro, sentindo a frustração

tomar ainda mais conta de mim e olho para o teto, sentindo lágrimas descerem dos meus olhos.

— Por favor, Jolie, me perdoe — digo, secando-as. — Não quero pensar em Estére desse

jeito, mas não consigo controlar o desejo que tenho sentido por ela.

Coloco as mãos sobre o meu colo e sinto meu pau duro. Concentro-me para que passe a

ereção, mas é impossível, então, em uma súbita loucura, abro o zíper da calça e abaixo a cueca, o

pegando. Vejo a lubrificação do meu membro e me excito ainda mais, então esqueço todos os meus

medos, receios e a loucura que vem acontecendo na minha vida com minha enteada e me masturbo,

gozando.
Me recomponho e anseio que esses pensamentos e a minha ação não me atormentem.
A aula foi chata, para variar. Na verdade, desde quando retornamos as aulas após as fortes

tempestades, vêm sendo chatas. Isso, é claro, deve ser porque não consigo me concentrar

completamente ao que está acontecendo.

Assim que terminam as primeiras e vamos para o intervalo, saio com Frida e seguimos para a

fila afim de comprarmos alguma coisa para comermos.

— Eu adorei passar a noite na sua casa, amiga, obrigada — diz Frida pegando nossas saladas.

Sorrio e concordo.

— Eu também adorei, quando quiser, podemos repetir. Fazia anos que não fazíamos isso.

Ela concorda e vamos para uma mesa vaga, com Collin vindo em nossa direção um tanto

sério.

— Podemos conversar? — pergunta, com os braços dentro da sua jaqueta azul. Como a salada

e concordo com um movimento, apontando a cadeira vazia à minha frente. — Aqui não, tem que ser

em particular.
— O que houve? — pergunto após engolir a salada. Seu olhar é sério e triste, e fico pensando

se ele descobriu que Frederic me beijou e eu havia gostado.

— Só termine de comer logo, ok? Tenho que te contar uma coisa.

Olho para Frida, que está sem entender e concordo com um menear de ombros, comendo o

mais rápido possível.

— Nos vemos na próxima aula, até mais — me despeço da minha amiga e sigo Collin, que

anda à frente um pouco cabisbaixo. Continuo sem entender sua atitude, mas resolvo dar o braço a

torcer, curiosa para descobrir o que tem a me contar.

Nos afastamos do campus da faculdade e nos sentamos em um banco de pedra. Collin coloca a

cabeça entre as pernas e suspira, parecendo frustrado.

— O que foi que realmente aconteceu, Collin? Estou ficando preocupada.

Novamente o pensamento de ele ter descoberto sobre o beijo involuntário entre Frederic e eu

me causa arrepios.

— Eu te amo, Estére — começa.

— Eu também te amo, Collin — digo. — E apesar de estarmos brigando mais do que o

normal, quero ficar com você. Quero fazer essa viagem ao chalé para aproveitarmos.

Sorrio e percebo que ele não esboça reação alguma, o que me deixa mais confusa ainda. Não

era ele que queria tanto transar comigo?


— Me diz o que está acontecendo, Collin. São seus pais? Eles ainda estão implicando com

você por querer mudar de curso?

Ele nega com a cabeça, então vira seu olhar para mim e vejo lágrimas escorrendo por eles.

— Me perdoe, por favor — pede, o que me faz continuar sem entender.

— Perdoar pelo quê?

— Eu te traí, Estére.

É como se suas palavras fossem pequenas gotículas de neve que encostam em minha pele e

queimam por causa da sensação gelada. Fico parada, estarrecida, sem conseguir acreditar no que ele

diz.

“Eu te traí, Estére.”

Me traiu.

Collin havia me traído.

— O quê? — Não quero acreditar no que ele diz, só pode ser mentira. Tenho certeza. Nosso

amor seria mais forte que isso, não seria?

Então percebo o quanto sou idiota em dizer isso.

Amor... que amor?

Se realmente existisse isso entre nós, Collin não teria me traído e eu não estaria sentindo
atração por Frederic. Não existia mais amor entre nós.

— Foi na festa — comenta. — Pouco antes de você chegar.

— Você transou com ela ou só se beijaram?

— Só se beijaram? Isso eu faço com você, Estére.

Concordo, entendo o que ele quis dizer. Então realmente ele transou com uma garota na festa

da qual eu fui depois e ficamos juntos, comigo me divertindo e ele ao meu lado, como se nada tivesse

acontecido. Será que ele não tinha nem um pouco de remorso por isso?

— Quem é ela? — pergunto, ele me encara ainda em lágrimas. — Por favor, pare de chorar, é

ridículo até para você.

— Estou arrependido — diz, com a voz embargada.

— Arrependido? Ora essa, você tem coragem de me trair e depois que goza vem me dizer que

está arrependido?! — grito, nervosa. Eu poderia ter gostado do beijo de Frederic, mas nunca

transamos. Nunca transaríamos.

— O que eu posso dizer? Eu implorei diversas vezes para transarmos e você simplesmente

não quis.

— Eu não estava preparada! E agora quer colocar a culpa em mim? — Me levanto, tremendo

de nervoso. — Se nosso relacionamento era isso, então fomos um erro.

Ele se levanta e concorda.


— Realmente, se quer saber, foi com a Laura que transei, e foi um dos melhores sexos que fiz

na vida. Uma pena não a ter levado para minha cama, perdi minha aposta.

Fico surpresa ao ouvir isso.

— Espera aí, você está dizendo que...

— Sim, meus amigos e eu fizemos uma aposta para saber se eu conseguiria levá-la para a

minha cama. Porém, comecei a me apaixonar de verdade por você. Me perdoe por isso também, mas

realmente não estamos bem já faz um tempo.

— Eu perdi minha mãe, seu babaca! Como quer que eu fique? — Me aproximo dele e cuspo

no seu rosto. — Eu tenho nojo de você, está tudo acabado entre a gente.

Dou as costas, pronta para seguir em frente e Collin segura meu braço.

— Estére...

Viro-me e desfiro um soco no seu rosto, fazendo ele se contorcer de dor e eu gritar.

— Merda! — vocifero, segurando meu punho. Saio às pressas, seguindo em direção à

faculdade e começo a chorar de dor e tristeza.

Assim que entro, sigo até a minha sala e pego minha bolsa, ignorando o fato do professor

falando comigo. Frida me encara e se levanta, também pegando suas coisas.

— Srta. Bohringer, onde pensa que vai? Vou reportar essa atitude para seus pais!
— Então fique à vontade e eu digo que você deu em cima de mim, em quem você acha que

eles vão acreditar? — pergunta ela, no meio do corredor em voz alta. O professor arregala os olhos e

saio andando, cabisbaixa e com dor no meu pulso. — Estére, espere!

Minha amiga se aproxima e segura meu corpo, me olhando.

— Não estou bem, Frida, conversamos outra hora.

— O que foi que houve? — pergunta.

— Collin e eu terminamos, ele me traiu com a Laura. A vadia da festa.

— O quê? — Vejo a fúria tomar conta de minha amiga e quando nos viramos, Collin passa

pelo corredor, o rosto vermelho e os cabelos bagunçados. — Seu desgraçado, eu vou te arrebentar!

Vejo Frida correr em sua direção e dar um forte soco no seu rosto, o impacto é tão grande que

Collin e ela caem para trás.

— Frida, não! — grito correndo em sua direção. Logo o corredor está cheio de pessoas

aglomeradas, vendo a confusão que está ocorrendo. Vejo minha amiga bater ainda mais em Collin e

ele se manter parado, apenas cobrindo o rosto que está ensanguentado, com seus braços. Ao menos

não é um agressor covarde. — Frida, por favor. Será que alguém pode me ajudar?

— O que está acontecendo aqui? — Ouço a voz de Viktor, o pai da minha amiga e logo atrás

Stefan, o seu outro pai. — Frida Bohringer, o que pensa que está fazendo?

Vejo minha amiga parar de bater em Collin e se levantar, séria.


— Ele traiu a Estére, papai, me desculpe em causar esse alvoroço, mas...

— Mas o quê, Frida? — questiona Stefan. Seu segundo pai é alto, da pele clara e careca. —

Por conta de Estére ter sido traída, você acha que tem o direito de agredir esse rapaz? Ele pode nos

processar, você sabia?

Todos nos olham, a vergonha estampada em nossos rostos. Só pode ser mentira. Se isso for um

sonho, que eu acorde agora.

— Quero os três na minha sala agora — diz o senhor Stefan apontando para Collin, Frida e

eu.

— Posso ir à enfermaria antes? — questiono, sentindo cada vez mais dor.

— Você se machucou, querida? — pergunta Viktor segurando minha mão e analisando.

— Dei um soco no Collin, mas não foi no campus.

— Mas é agressão igual, querida — diz Viktor, sincero. — Tudo bem, vão os três para a

enfermaria e depois sigam para a sala do diretor. O resto de vocês voltem para suas aulas e evitem

aglomeração nos corredores, não tem nada a ser visto aqui.

Collin se levanta e vejo seu rosto machucado, o que de certa forma me deixa feliz e chateada.

Seguimos os três em silêncio para a enfermaria e tento verificar se Frida está machucada.

Assim como eu, apenas sua mão está inchada, em decorrência dos socos que ela deu no meu ex-

namorado. Ex-namorado. Como soa estranho pensar isso.


— Meu Deus, o que houve com vocês? — pergunta uma enfermeira assim que nos vê.

Ficamos em silêncio e ela pede ajuda a duas colegas, que atendem Frida e eu, enquanto ela cuida dos

machucados de Collin.

— Sinto muito colocá-la no meio dessa encrenca — digo a Frida, que está à minha frente com

a moça analisando sua mão.

— Vou ter que pedir um raio-x das duas. As mãos estão inchadas demais e podem ter

quebrado algo.

— O que? Eu só dei um soco nele, como quebraria a mão por isso?

— Ah, querida, eu já vi pessoas escorregarem e quebrarem o pé com isso. Eu vou fazer o

raio-x.

— Tudo bem — digo, desanimada, sem muitas opções. Encaro Collin e vejo a mulher fazer os

curativos, então Frida e eu seguimos as enfermeiras e ele desaparece da minha visão, mostrando-me

que nossa história está encerrada de uma vez por todas.


Depois do término com Collin, os dias seguintes passam rapidamente e me vejo perdida.

Minha mão já está se recuperando. Por sorte, Frida e eu não as quebramos, apenas uma luxação e

nada mais. Ganhamos uma suspensão de três dias na faculdade, o que para mim foi um verdadeiro

inferno, ainda mais que faltava pouco para entrarmos de férias. Agora que não tinha mais Collin para

me buscar e a droga do meu carro não ficara pronto, Frida que me busca para irmos juntas para a

faculdade.

Evito ao máximo Frederic, afim de que ele não saiba que estou solteira, contudo, sei que

quando menos esperar, ele irá saber, afinal, a cidade toda já está sabendo do ocorrido na faculdade.

— Que tal sairmos hoje à noite para bebermos um pouco e dançarmos? — pergunta minha

amiga seguindo a estrada para a faculdade.

— Não sei, ainda estou pensando na suspensão que seu pai nos deu e, claro, no seu castigo.

— Não se preocupe, eles disseram que não vamos para o Brasil nas férias, mas sei que no

fim, mudarão de ideia. Você conhece meus pais, eles sempre foram assim, apenas nos deram a
suspensão de três dias porque papai é diretor e diriam sobre favoritismo.

— Espero que esteja certa — digo, ela concorda, sorrindo.

— Pai Viktor não vai muito com a cara do Collin, pai Stefan não vai com a dos pais, mas

ainda estão com medo deles quererem processar nós e a faculdade, é claro, o que causaria sérios

problemas, mesmo Collin Arrombado, ter dito que não faria isso.

Dou risada da maneira que ela diz e concordo.

— Você está certa, preciso mesmo esfriar minha mente, ainda não consigo aceitar o fato de

que Collin transou com a Laura quando eu estava no começo do meu luto.

Ela concorda, me encarando.

— Sério, já que vocês terminaram e não vai ter mais chalé, por que não vem conosco para o

Brasil?

Com toda a confusão que anda acontecendo, nem me lembrava que não iria para o chalé mais.

— Não, é sério, aproveite sua viagem com seus pais, se realmente ela acontecer.

Ela ri e concorda.

— Vai acontecer, gatinha.

As aulas passaram tranquilas demais, não encontrei Collin e parece que as pessoas haviam

começado a esquecer que eu era a garota de luto e agora sou a garota do ringue, o que, de certa
forma, é mentira, já que dei somente um soco no meu ex-namorado.

Depois do intervalo, na última aula, sou chamada na sala do diretor, o que me deixa nervosa.

“Ele mudou de ideia e vai me expulsar. Os pais do Collin com certeza resolveram processar

a faculdade e agora eu.”

Tento não pensar nisso e assim que entro na sala do diretor, sou surpreendida com Frederic

sentado de frente para Stefan e Viktor.

— O que... — sussurro.

— Estére, bem-vinda, sente-se, por favor — diz Stefan apontando a cadeira ao lado do meu

ex-padrasto. Ou padrasto. Eu já nem sei como devo chamá-lo.

— Aconteceu alguma coisa? — pergunto, ao me sentar.

— Nada de mais, querida, não tem com que se preocupar — diz Viktor, sorrindo.

— Ok — digo, sem muito o que dizer.

— Deve estar se perguntado o que está fazendo aqui, não é? — questiona o diretor. Concordo

e ele sorri. — Bem, chamei seu padrasto para...

— Ele não é mais meu padrasto — o corto. Frederic me encara e Stefan e Viktor ficam sem

entender. — Quero dizer, minha mãe morreu, o elo que tinham se acabou. Só não é meu padrasto.

— Entendemos, querida, mas sua mãe, antes de morrer, deixou um documento registrado
alegando que o senhor Cooper é seu responsável em qualquer virtude que fosse preciso — diz

Stefan.

— O que? Do que é que estão falando? Eu já sou maior de idade, posso resolver meus

problemas sem ter alguém tentando limpá-los.

Frederic se mantém em silêncio, então pigarreia.

— Quais problemas você está dizendo? Porque não vim aqui para tratar sobre a agressão ao

seu ex-namorado. Vim conversar com o diretor e seu marido para você poder aplicar as provas

finais.

— Aplicar as provas finais? O que isso quer dizer?

— Bem, o conselho de classe queria que além da suspensão, você fosse impedida de fazer as

provas — Stefan conta. — Eu tentei de todas as formas mudar isso, alegar que está passando por um

momento difícil pela morte de sua mãe, mas eles não me deram ouvidos. Consegui reverter a situação

apenas de Frida, o que foi uma dor de cabeça e tanto. Mas você não foi fácil.

— Foi aí que ligamos para sua casa e encontramos Frederic — comenta Viktor. — Como na

sua inscrição mostra que ele é o responsável por você quando sua mãe morreu, pedimos para ele vir

até aqui.

— Então não irei fazer as provas? Vou perder meu ano todo por causa do babaca do meu ex-

namorado e um soco?
— É aí que eu entro — diz Frederic. — Eu mesmo conversei com o conselho e dei uma ajuda

de custo alta para a reforma de algumas partes do campus, assim, quando chover, vocês não terão

mais que ficar sem vir a aula. Então eles mudaram de ideia e deixaram você fazer as provas.

Fico em silêncio ao ouvir isso.

— Então eu corria o risco de não fazer as provas — digo, processando a informação.

— Exatamente, Estére, mas Frederic resolveu isso para você, além disso, o campus

finalmente vai ser consertado, já que os proprietários não fazem nada para resolver.

— Pagamos uma nota para estudar e ainda temos que passar por isso — digo, mais para mim

do que para eles. — Certo, obrigada por fazerem eu não perder as provas, se isso acontecesse, seria

um ano difícil.

Eles concordam e Viktor sorri.

— Agradeça a Fred, agora preciso ir nessa, tenho aula para dar.

Concordo e encaro Frederic, que sorri.

— Obrigada — digo, sincera. — Você realmente me salvou.

— Não agradeça tão rápido, estamos um pouco mais pobres, mas nada que interfira no nosso

futuro.

“Nosso futuro...”
— Isso é o de menos, o que acho um absurdo é eles não reformarem aqui. — Saio da sala do

diretor com Fred me seguindo.

— Não está sendo fácil para ninguém — diz. — A oficina quase não está virando nos últimos

dias.

Fico surpresa em ele se abrir para mim e concordo.

— Bem, quando consertar o meu carro, vou pagar pelo serviço — digo. Ele ri e concorda.

— Tenho que ir agora, nos vemos mais tarde em casa.

Concordo e ele sai, então o chamo e Frederic me observa.

— Você sabia que minha mãe o colocou como o meu responsável mesmo sabendo que não

preciso de um?

Ele dá de ombros e me encara.

— Às vezes até a pessoa mais cabeça dura precisa de um pouco de ajuda — diz e sai.

O restante do dia passou tranquilamente, e quando vimos, já está na hora de irmos para casa.

Frida comunica ao seus pais que vamos sair e eles não se opõem, o que é ótimo, então entramos no

seu carro e seguimos para sua casa, para ela pegar suas coisas para a noite.

— Eu quase perco as provas finais por conta da confusão com Collin — conto a ela enquanto

escutamos uma música no rádio.


— Como assim? — pergunta.

Rapidamente conto a minha amiga o que houve e ela fica boquiaberta.

— Ainda não consigo acreditar que mamãe pensou em tudo antes de morrer e colocou

Frederic como meu responsável. Sou maior de idade, e ele? Temos oito anos de diferença, não é

como se ele fosse o padrasto velho.

Ela concorda e balança a cabeça em negativa.

— Ao menos ele ajudou você a não perder as provas, se isso acontecesse seria nossa ruína.

— A minha, você quis dizer. Seus pais conseguiram na hora resolver o seu problema. Parece

que por eu não ter pais as coisas se tornam mais difíceis.

— Ei, nem pense nisso agora — ela profere. — E seria a nossa ruína porque eu repetiria para

ficar ao seu lado.

— Perder um ano inteiro por causa de uma amiga? Eu não permitiria que você fizesse isso.

— E nem eu faria, mas daríamos um jeito, o bom é que agora não precisamos esquentar nossas

cabeças com isso.

Concordo e logo paramos em frente à casa, que é um sobrado estilo o meu; cercado na frente,

com um jardim bonito e a garagem ao lado. Saímos do carro e rapidamente entramos, com Frida

subindo direto para seu quarto.

Eu a sigo e encontro um ambiente com uma cama de casal, penteadeira, closet, banheiro,
televisão e uma escrivaninha. Nada de livros, a não ser, é claro, os da faculdade.

— Me ajude a escolher um look bom para esta noite — diz abrindo o closet e jogando

diversas opções em cima de mim.

Vejo um vestido preto, brilhante e curto, uma bermuda clara, e outras peças, não aprovando

nenhuma.

— Dê mais opções — digo, ela concorda e de dentro, tira uma saia curta.

— E se eu fosse de saia, o que acha? — questiona.

Penso por um momento e concordo.

— Vai ficar ótimo, vista-se para vermos.

Ela concorda e retira sua roupa, ficando apenas de lingerie. Não demora e ela veste a saia,

com saltos altos, e uma blusa cheia de pelinhos preta. Minha amiga solta os cabelos e rapidamente

passa um batom preto.

— O que acha?

— Se eu fosse lésbica, te beijaria fácil — digo, rimos e ela concorda.

— Está decidido, agora precisamos ver algo para você.

— Bem, pretendo ir de calça jeans e camiseta comum — digo, meneando os ombros.

— Você não está maluca — diz procurando coisas pela cama. — Teste esse vestido.
Encaro o vestido curto que reprovei ela usar e bufo.

— Por acaso vamos dançar ou serei prostituta por uma noite? — pergunto.

— Para de drama e coloca logo o vestido — diz, revirando os olhos. Concordo e retiro minha

roupa, vestindo a pequena peça que fica acima dos meus joelhos, deixando minhas pernas desnudas.

— Caralho, mulher!

Sinto a empolgação de minha amiga e vou até o espelho que tem no seu quarto, me encarando

e vendo a minha imagem, que me surpreende.

O vestido realmente cai muito bem em mim. Seu tecido de camurça combina com minha pele.

Vejo o modelo rodado no comprimento e as mangas um pouco acima dos meus cotovelos. Na frente,

contém duas fitas de cetim, que pego e faço um laço, deixando-me surpreendida com o enorme

decote, que mostra meu sutiã de renda preto.

— Uau — digo, surpresa em como a roupa realça meu corpo.

— Você está linda, um arraso! — Frida está animada. — Aqui, coloque essas botas de cano

alto.

Ela me entrega o par de botas e vejo que também são de camurça, então coloco, vendo que o

comprimento chega na minha panturrilha.

— É esta — digo, sorrindo.

*
Fomos para minha casa e encontramos Frederic, que prepara o almoço para nós. Quando está

pronto, ele nos chama e seguimos para a sala de jantar. Fazia muito tempo que não usávamos aquele

cômodo para fazermos nossas refeições. Para falar a verdade, quase não comia, a não ser besteira, é

claro.

— Estão ansiosas para o término das aulas? — ele pergunta, puxando assunto.

— Mais do que ansiosa — diz minha amiga animada. — Meus pais e eu vamos ao Brasil,

então imagina como estou.

Frederic concorda, mostrando um sorriso de tirar o fôlego de qualquer garota.

— E você, Estére, o que pretende fazer agora que Collin e você terminaram? — Seus olhos

recaem sobre mim e mastigo a salada sem sentir o sabor.

— Ainda não sei, talvez eu vá para algum lugar.

— Eu a chamei para ir conosco, mas Estére é cabeça dura e não quis.

Fico em silêncio e Frederic concorda.

— Sim, você tem razão, ela é muito cabeça dura.

Fico em silêncio e termino de comer.

Quando são oito horas da noite, Frida e eu já estamos prontas para irmos a uma balada que

fica na cidade. Apesar de aqui ser um lugar pequeno, com poucas coisas para conhecer, algum gênio
resolveu abrir uma boate para divertir os jovens.

Termino de fazer a maquiagem e vejo minha amiga com o batom preto e os olhos escuros; ela

realmente está maravilhosa.

Passo um perfume que ganhei de mamãe e coloco um pequeno colar que ela me deu, com um

pingente que dentro tem as nossas iniciais; J&E.

Frida me olha e assobia.

— Se mais cedo você estava linda, agora você está linda e gostosa, vai arrasar corações esta

noite e mostrar para Collin que não precisa dele para nada.

— Como assim “mostrar para Collin”? — questiono.

— Ouvi boatos de que ele estará lá — diz ela, desviando o olhar do meu.

— Ouviu boatos ou você já sabia e quis me arrastar para lá?

— Isso mesmo — diz, sincera. — Sei que anda triste com esse término e a morte de sua mãe,

então achei legal sairmos e provar para aquele babaca que você está bem.

— Mas você mesma acabou de dizer que não ando feliz — digo, revirando os olhos e rindo.

Ela ri comigo.

— Eu sei, mas você sabe como homens são superficiais e não percebem nada, e esse

vestidinho preto mostrará que você ainda está de luto, mas vivendo.
— Até na cor do vestido você pensou?

— Não, isso eu pensei agora te analisando.

Rio e concordo, pegando minha bolsa de mão com celular, documentos e dinheiro.

— É melhor irmos logo se quisermos esfregar na cara de Collin o que ele perdeu — digo, ela

concorda e sorri.

— É isso aí, garota!

Saímos, fecho a porta e encontramos Frederic no corredor, pronto para se deitar.

— Estamos de saída — digo.

Ele se vira para nós e me encara, de repente, sinto como se seus olhos estivessem analisando

cada parte do meu corpo, vidrados pelo que estão olhando. Sinto meu corpo se arrepiar e me

encolho, sentindo que seu olhar sobre mim é algo diferente do que estou acostumada nesses anos.

Observo meu padrasto e noto que ele me olha de uma maneira diferente; me desejando. E por mais

incrível e nojento que pareça, eu o olho igual.

— Terra chamando Estére — diz Frida. — Você ouviu?

— O quê?

— Frederic dizendo que estamos lindas, a propósito, obrigada pelo elogio — diz, sorrindo.

— Agora vamos.
Sou puxada pelo braço e encaro Frederic uma última vez, notando que ele passa a língua nos

lábios e entra para o quarto.

A balada está lotada. Diversas pessoas dançam descontroladas com a música que toca. Outras

já estão bêbadas, o que me causa repulsa. Como alguém pode ficar bêbado tão rápido?

— Vamos na chapelaria deixar nossas coisas — diz Frida, concordo, pego meu celular com o

cartão e coloco nos seios, arrumando meu decote.

Não demora e somos atendidas, então vamos para o bar e peço uma marguerita, enquanto

Frida pede uma caipirinha.

Nossos copos nos são entregues e saímos, indo em direção a pista. Bebo um gole e balanço

meu quadril, rebolando. Noto alguns olhares conhecidos da faculdade e não me importo que recebo a

atenção deles. Quero me divertir e farei isso.

Frida e eu continuamos dançando e assim que a música acaba, uma nova começa, fazendo-me

dançar de maneira sensual com ela. Ouvimos gritos de pessoas indo à loucura e sorrimos, adorando a

sensação de sermos o centro das atenções. Então, ao longe, avisto Collin me encarando. Em suas

mãos contém uma garrafa de cerveja e seu pé está sobre a parede. Não me importo com ele e

continuo no ritmo, me sentindo livre e feliz.

Então, quando a canção se encerra, Frida e eu fazemos uma reverência e todos nos aplaudem,

gritando entusiasmados.
— Isso foi maravilhoso — digo, bebendo, ela concorda e sorri.

— Eu disse que iríamos arrasar nesta noite.

A abraço e sorrio.

— Obrigada por estar me ajudando a me distrair tanto esses últimos dias.

— É para isso que irmãs servem — diz, piscando.

— Com licença, garotas, posso pagar uma bebida para vocês? — pergunta um homem

surgindo no meio da multidão e nos observando. Não posso negar que ele é bonito e bastante

atraente. Seus cabelos são curtos, sua pele clara e o olhar cativante, mostrando seus olhos azul-

turquesa. Vejo que ele usa uma calça jeans, uma camiseta com estampa do Batman e uma jaqueta de

couro preta por cima. — Achei você fantástica, se não se importa em eu elogiá-la — completa, me

olhando.

— Obrigada — digo. — Aceitamos a bebida.

— O que gostam de beber? — pergunta.

— Está calor, uma cerveja cairia bem — respondo, ele concorda e não demora, entrega uma

garrafa para cada uma de nós.

— Bem, eu vou ao banheiro, obrigada pela bebida — diz Frida, se afastando, e entendo sua

jogada.

— Qual é seu nome? — pergunta, curioso. Nos encostamos no balcão do bar e estendo minha
mão.

— Estére, e o seu?

— Estére? Que nome diferente, é muito bonito. Me chamo Dréck, é um prazer conhecê-la.

Ele beija minha mão e sorrio.

— Obrigada pelo elogio, o seu nome também é bastante diferente — digo. — O que significa?

— Ah, é uma coisa ridícula que você não vai querer saber — diz, sorrindo de lado.

— Estou curiosa, me diz o seu, que digo o meu.

— Ok, vamos lá, mas não vale rir. — Concordo, bebericando a cerveja. — Em alemão, Dréck

é nada mais nada menos que “sujeira”, é, eu sei, é ridículo.

Ele ri e o acompanho, sabendo que realmente é ridículo.

— É diferente, eu gostei, apesar que as pessoas não precisam saber o significado.

— Acredite, elas descobrem, sempre vão e buscam no Google.

— O meu não é o mais comum, na verdade, não conheço outra pessoa que se chama Estére,

que significa em húngaro “à noite”. Minha mãe disse-me quando a questionei, que escolheu esse

nome porque quando anoitecia, eu ficava agitada dentro de sua barriga.

— Então foi por isso que você estava dançando tão feliz hoje — diz. — Está agitada?

— Talvez um pouco — digo, bebendo mais. É legal poder flertar com uma pessoa que não
seja Collin.

“Ou Frederic, não é?”

— Então dançaria esta música comigo? — pergunta, me estendendo a mão.

Concordo e seguimos para a pista, dançando Rihanna com nossos corpos colados.

A hora passa rapidamente e bebemos mais do que o normal. Quando vejo, já são quase quatro

horas da manhã e decido ir embora, com Dréck me acompanhando. Frida pergunta se tenho certeza de

que quero ir com ele, ou prefere que eu vá com ela.

Percebo que minha amiga está com um rapaz e tenho certeza de que o restante da sua

madrugada será regado a sexo, então digo que não há problema, afinal, Dréck foi um verdadeiro

gentleman.

— Seu carro é igual ao meu — digo, vendo a BMW.

— É mesmo? E o que houve com ele, você veio com sua amiga, não foi? — pergunta, ao

entrarmos no carro.

— Sim, vim com ela. Parece que o motor deu problema.

— Isso é um problema, mas como tenho o meu aqui, me passe seu endereço para colocar no

GPS para eu levá-la até em casa — pede, de maneira gentil. Passo e logo já estamos a caminho da

minha casa, com um rap tocando baixo no seu carro. — Adorei passar a noite com você, Estére.
— Obrigada, eu também gostei muito de passar com você — digo.

Vejo sua mão repousar sobre minha perna e ele a aperta, o que me causa certo desconforto,

então, sem que ele note, a afasto devagar.

— Você mora sozinha? — pergunta.

— Não, minha mãe morreu há menos de um mês, então vivo com meu padrasto — digo,

desacreditando daquilo. Quando é dito em voz alta soa mais estranho do que o normal.

— Entendi, Estér, posso chamá-la assim? — pergunta me encarando.

— Sim — respondo, me sentindo incomodada, sem saber o porquê.

Ficamos em silêncio e, quando vejo, já estamos próximos da minha casa, então solto o cinto e

me viro para ele.

— Pode me deixar aqui, obrigada pela carona.

Ele não esboça reação alguma. É como se eu não tivesse falado com ele.

— Está cedo, Estér — diz.

— Não está, eu preciso descansar — digo, sem saber o que devo falar. Ele não responde,

mantendo o carro em movimento, agora mais devagar. Vejo ele passar por minha casa e me preocupo.

— Você já passou — digo. Silêncio, ele continua seguindo pela estrada e o desespero toma conta de

mim. — Dréck, estava divertido, mas não estou mais gostando dessa brincadeira. Me leve para casa,

por favor!
Ele me encara e sorri. Fico atônica e faço algo que jamais pensei que faria na minha vida —

abro a porta do carro em movimento e pulo de uma vez, caindo e rolando pelo asfalto. Sinto uma

ardência tomar conta do meu cotovelo e vejo que estou próxima de casa, então tento me levantar e

sinto uma dor no meu pé. Olho para trás e vejo Dréck parar, saindo do carro e andando lentamente

em minha direção.

— Por que você fez isso, Estér? Poderia ter se machucado. Vamos curtir a noite, ainda falta

muito para encerrarmos.

Levanto-me e acelero o passo, então sou surpreendida com ele me agarrando quando estou

perto de casa.

Caio no chão e bato a cabeça no gramado, soltando um gemido.

—Shhh, fica quieta, sua vadia, eu vou dar para você o que implorou a noite inteira — diz

passando a língua pelo meu pescoço. Me mexo, tentando me esquivar, mas ele é mais forte.

— Socorro! — grito. — Alguém me ajude!

Ouço apenas o latido de um cachorro e Dréck bate no meu rosto.

— Cala sua boca, vadia! — diz, a tampando e levantando meu vestido. Sinto seus dedos

nojentos percorrerem até a minha calcinha e ele a puxar com tudo, revelando meu sexo. O sorriso no

seu rosto se alarga e ele abaixa sua calça, se aproximando mais ainda de mim.

Sinto minha respiração acelerar e o medo tomar conta de mim. Não posso perder minha
virgindade assim, então abro a boca e ele enfia seus dedos nela. Cravo meus dentes e Dréck solta um

grito de dor.

— Frederic, socorro! — consigo gritar, encarando a porta de casa.

O que acontece é tão rápido que fico sem reação; vejo a porta frontal se abrir e Frederic vir

correndo apenas de cueca.

Ele joga seu corpo com tudo por cima de Dréck e os dois caem para trás, então vejo o pau

duro de Dréck, o que me enoja. Por pouco ele não me estupra.

Frederic sobe por cima do canalha e desfere diversos socos no seu rosto. Dréck não tem

reação, então vejo o sangue escorrer do seu rosto e manchar o asfalto, com Fred ainda batendo nele.

— Fred, você vai matá-lo! — disparo, indo em sua direção com as lágrimas pelos olhos. Meu

padrasto não me dá ouvidos e continua batendo no homem, então vejo Dréck levar a mão até o bolso

da jaqueta e de dentro tirar um pequeno revólver. Imediatamente Frederic para de bater nele e

estende as mãos para cima.

— Saia de cima de mim! — grita Dréck com o rosto machucado. Sinto agonia em olhá-lo.

Frederic faz o que é pedido e, com os braços ainda para cima, vem em minha direção. Vejo

Dréck se levantar e subir sua calça.

— Vá embora daqui antes que eu te arrebente mais ainda — diz Fred.

— Estou armado — diz o outro.


— É isso que te dá vantagens, se não estivesse, o mataria!

Dréck destrava a arma e me coloco na frente de Frederic.

— Por favor, Dréck, vá embora! Não irei prestar queixa, eu juro.

Ele cospe no chão e vejo o sangue, então se afasta, ainda apontando a arma e entra no seu

carro, saindo em disparada.

Sinto meu coração desacelerar e caio, com Fred me pegando em seus braços. Vejo seu

peitoral e os movimentos dos seus lábios, porém, não compreendo, então tudo fica escuro.
— Estére? — Ouço meu nome ao longe e abro meus olhos devagar, tentando me lembrar do

que havia acontecido, então vem em minha mente o que Dréck tentou fazer.

Ergo meu corpo e vejo a mão de Frederic sobre meu peito, empurrando-me novamente para o

sofá.

— O que aconteceu? — pergunto.

— Você desmaiou depois que aquele canalha foi embora, ficou vinte minutos inconsciente, eu

já estava prestes a chamar uma ambulância e você acordou.

— Ouvi você me chamar — digo, reconhecendo que a voz era dele ao dizer meu nome.

Frederic assente e noto que ele ainda está somente de cueca. — Obrigada por ter me salvado.

Ele meneia a cabeça e se levanta, fazendo meus olhos irem direto para sua barriga definida e

logo em seguida para o volume que tem na sua cueca. Percebo que seu membro está mole, o que me

faz arregalar os olhos.


“Imagine isso duro...”.

Afasto o pensamento e sinto vontade de chorar ao lembrar que vi o pênis de Dréck; ele quase

me estuprou. Então me sento e vejo que a mão de Frederic está enrolada em um pano.

— Você se machucou? — pergunto. Ele concorda, mostrando a mão roxa.

— Parece que passei dos limites nos socos, mas vai ficar tudo bem.

— Deixe-me ajudá-lo — digo me levantando e indo atrás da bolsa de gelo. A pego na

geladeira e volto para a sala, fazendo-o se sentar. Me sento ao seu lado e encosto a bolsa, vendo seu

olhar torcer. — Está doendo muito?

— Aposto que não mais que o rosto daquele babaca maldito, precisamos ir à delegacia

prestar queixa. Ele te machucou? Notei seu cotovelo ralado e o pé inchado. Se ele encostou em você,

vou até o inferno atrás daquele desgraçado.

Quero sorrir com suas palavras, mesmo o momento não sendo propício a isso, contudo, não

faço.

— Irei resolver isso, mas antes temos que cuidar da sua mão, está muito inchada — digo

olhando seus dedos compridos. Cada parte de sua mão está roxa, o que me deixa surpresa.

— Me conte o que aconteceu, aquele babaca te conhece de onde?

— O conheci na balada que fui com Frida. Ele parecia bastante gentil, passamos a madrugada

juntos...
— Você está me dizendo que veio para casa com um homem que conheceu a poucas horas?

Está ficando maluca? E se ele tivesse conseguido estuprá-la?! — Frederic grita, o que faz eu dar um

pulinho no sofá.

— Eu estava bêbada, ok? Não me julgue, você também não fica muito bem quando bebe.

— Está falando sobre aquele beijo? — pergunta. Desvio meu olhar do seu.

— Fico grata que tenha me ajudado e sinto muito pela sua mão, de verdade, mas não quero

falar sobre isso. Só quero me deitar e dormir.

Me levanto e sigo em direção à escada.

— Eu também gostei do beijo, Estére, e demorei muito a entender isso, mas sim, eu gostei. —

Suas palavras fazem meus pés travarem e Fred se aproxima de mim. Vê-lo dessa maneira; frágil e

nervoso ao mesmo tempo, apenas de cueca, com o volume marcando no meio das pernas, me deixa

excitada. Algo que nunca havia sentido antes. Pobre Collin. — Eu gostei — ele repete.

Fico sem reação e faço algo totalmente fora do meu controle; esqueço meus medos, meus

receios e o fato de Frederic Cooper ser meu padrasto, o viúvo de minha mãe e o agarro, pulando em

seu colo.

Seus fortes braços se entrelaçam em minhas costas e fecho minhas pernas nas suas; levo meus

lábios até sua boca.

O beijo é como se fosse um elixir da vida. É como se fosse a melhor das bebidas de todos os
tempos e isso me deixa ainda mais excitada. Frederic prende sua mão sobre minha nuca, colando

ainda mais nossas bocas e sinto sua língua me invadir. O gosto do seu beijo é uma mistura de menta

com uísque, que com certeza ele bebeu quando estava sozinho. Solto um gemido e mordo o seu lábio,

com ele nos desconectando e levando sua boca até meu pescoço. Meu corpo se arrepia e envia

alertas abaixo do meu ventre e sinto que se ele continuar fazendo isso, irei me entregar a ele. Então

Frederic continua mordendo minha boca e me leva em direção ao sofá.

Ele me deita e fica por cima, abro ainda mais as pernas e ele afoga seu rosto nos meus seios.

Então, devagar, desço minhas mãos pelo seu peitoral e encosto na sua barriga, puxando o cós da

boxer. Sinto seu pau encostar na minha mão por baixo do tecido da cueca e me arrepio por inteira,

maravilhada com o tamanho e grossura quando o pego e aperto.

“O pau que sua mãe pegava, sua vadia. O pau em que ela trepou por nove anos.”

Minha mente retorna ao que está acontecendo e empurro Frederic, que cai para trás e solta um

“ai” baixo.

— O que está acontecendo, você não gostou? — pergunta, sem entender.

Quero dizer a ele que sim, gostei até demais. Mas a realidade dolorosa de que ele é meu

padrasto me impede de continuar.

— Sinto muito — digo. Corro para o meu quarto e me tranco.

Choro até amanhecer, ouvindo Frederic ir para seu quarto, e penso o quanto sou pervertida.

*
Assim que amanhece, ainda sem conseguir dormir, penso em tudo que havia acontecido e vejo

uma mensagem de Frida perguntando como havia sido à noite com Dréck. Peço para que ela venha

até em casa, que preciso contar a ela tudo que houve, então não demora e minha amiga entra no meu

quarto, bem arrumada e muito animada.

— O que você ainda está fazendo nessa cama? Dormiu de maquiagem? — pergunta. Quero

dizer que nem dormi ainda, mas ouço o que ela diz: — Quando Frederic me atendeu e disse que você

não havia saído do quarto, eu não acreditei, mas a vendo agora...

Me sento e aponto o lado vago para ela se sentar.

— Preciso da sua ajuda para fazer uma coisa — começo.

— Claro, o que é?

Mexo nas mãos, nervosa, e abaixo a cabeça, começando a chorar, então conto a ela que Dréck

quase me estuprou. Enquanto conto, minha amiga fica cada vez mais espantada e as lágrimas nos seus

olhos são perceptíveis.

Não escondo detalhe algum, dizendo a ela que Fred que me salvou e que no final, por pouco o

canalha não atirou em nós. Então encerro, dizendo que desmaiei.

— Meu Deus — diz, ainda em lágrimas. A encaro e desvio meu olhar do seu. — Como você

está se sentindo? Péssima, tenho certeza. Precisamos agora mesmo ir à delegacia abrir uma queixa

sobre esse cara, ele não pode ficar solto por aí fazendo mais vítimas. Por pouco ele não te estupra,

mas e se existirem outras garotas que ele fez a mesma coisa?


— É para isso que preciso da sua ajuda, não sei se consigo ir sozinha até a delegacia dizer o

que houve.

— Claro que irei com você, sem pensar duas vezes, e levaremos Frederic conosco, vai ser

bom termos uma figura masculina ao nosso lado.

Quero dizer que não, que será melhor eu evitar meu padrasto o máximo possível, mas ela está

certa.

Me levanto e começo a me trocar, vendo algumas marcas no meu pescoço, na minha coxa e o

pé e cotovelo machucados. Sinto dor e protesto. A adrenalina havia passado e antes não estava

sentindo, mas agora elas são nítidas.

Frida me ajuda a colocar uma calça, uma blusa de frio, já que o tempo voltou a mudar e faço

minha higiene matinal prendendo meus cabelos e lavando meus olhos. Tiro a maquiagem borrada e

suspiro.

Desço devagar e encontro Frederic na cozinha, que me encara e puxa a cadeira para eu me

sentar. O olho e vejo que sua barba está bem-feita, os cabelos molhados e usa uma calça e jaqueta.

— Bom dia — diz, depositando uma xícara de café à minha frente, agradeço e tomo um gole.

— Está melhor?

— Assustada ainda, tenho que confessar — digo, ele concorda e suspira pesadamente.

— Vamos à delegacia assim que terminar de comer.


Concordo, com medo.

— E se fizerem milhares de perguntas? Eu tenho medo do que pode acontecer comigo depois

desse registro — indago, receosa.

— Você precisa fazer isso para não deixar esse miserável impune — diz Frederic, Frida

concorda, sentando-se ao meu lado e segurando minha mão. — Estaremos ao seu lado. Eu estarei lá.

Vamos contar tudo o que houve.

Concordo e termino meu café, sentindo pesar no meu estômago, então seguimos para o carro

de Frederic em silêncio até a delegacia.

O local não está muito cheio, o que já é um alívio. Percorro meu olhar pelo lugar e vejo

algumas cadeiras de estofados pretos vazias, um balcão com dois homens escrevendo alguma coisa

nos computadores e três mulheres sentadas, aguardando serem chamadas. Entro com Frederic e Frida

e noto uma pequena recepção, com uma mulher me encarando. Me aproximo e criando coragem digo:

— Quero registrar uma queixa.

— Certo, sobre o que é? — pergunta pegando uma ficha e me entregando, olho o papel e vejo

a caneta.

— Tentativa de estupro — digo, ela me olha sem expressão na face e concorda.

— Só um momento.
Aguardo e a vejo ir até o telefone que há do outro lado. Ela disca alguns números que não

vejo e fala baixo, não sendo possível ouvi-la. Alguns minutos depois, ela volta e me encara.

— O seu caso é no outro setor, siga o corredor até o final e vire a sua esquerda, terá um

homem e uma mulher lhe aguardando.

Concordo, agradecendo, e sigo pelo corredor com Frederic e Frida ao meu lado, que segura

minha mão com firmeza.

Assim que chegamos no local indicado, vejo as duas pessoas que a mulher citou e sinto o suor

na minha testa.

— Olá, bom dia, quem é a vítima? — pergunta o homem sem sequer nos olhar.

— Eu — respondo, de imediato. Ele me encara e concorda, pegando um papel onde vejo ser

uma ficha parecida com a anterior, que não cheguei a preencher.

— Preciso do seu documento com foto. — Entrego a ele e rapidamente preenche umas

informações e me devolve o documento. — Pode entregar para a inspetora que vai dar continuidade

ao seu caso.

Concordo, quieta, pegando o papel que ele me entregou, então sigo em direção à mulher e lhe

dou o papel, vendo-a me encarar e sorrir.

— Momento difícil, imagino — diz. Concordo, sentindo vontade de chorar. Quanta loucura em

tão pouco tempo. — Vou fazer uma breve entrevista com você, pode se sentar. — Indica a mulher à
minha frente. — Sabe como funciona?

— Não.

— Teremos uma testemunha, eu e um escrivão, para ir anotando tudo o que você diz. Não se

preocupe, se quiser sigilo sobre sua identidade, iremos manter. Me dê uns minutos, já volto aqui.

— Tudo bem, obrigada.

Ela se afasta sorrindo e nos sentamos lado a lado. Encaro Frederic e ele segura uma das

minhas mãos, enquanto Frida segura a outra. E deixo, sem me importar se irão dizer ou pensar alguma

coisa.

Passa exatamente trinta minutos e sou chamada pela mesma mulher. Me levanto e Frederic me

ajuda, guiando-me para dentro da sala em que a mulher nos mostra.

— O senhor não poderá entrar — diz ela.

— Mas fui eu quem a salvei — diz Frederic, irritado.

— Mesmo assim, senhor, são protocolos.

— Por favor — peço —, deixe ele entrar comigo, ele testemunhou o ocorrido, será mais fácil

dizer.

A mulher me encara e balança a cabeça, permitindo.

— Vejo você daqui a pouco — falo para Frida, que concorda, voltando para o lugar e se
sentando. A porta é fechada e me vejo em uma saleta branca. Há uma mesa no meio, duas cadeiras de

um lado e uma do outro. No canto, um homem sentado com um notebook à sua frente.

— Pode se sentar, Estére. Antes de tudo, meu nome é Ericka e gostaria de ressaltar que sua

identidade será mantida em sigilo caso você queira. Então preciso que sempre me responda com

“sim”, certo?

— Sim.

— Ótimo, então, que tal começar a contar o que realmente houve?

— Eu fui a uma balada com a minha amiga que está lá fora e conheci um rapaz. Ele me disse

que seu nome é Dréck, porém, não sei se é real. Ele me pagou uma bebida e foi bastante gentil, nos

divertimos a noite toda, então, quando eu estava prestes a vir embora, ele me ofereceu uma carona e

acabei aceitando. Não pensei que aquele homem tão gentil e educado iria se transformar tão

rapidamente.

“Quando já estávamos chegando em casa, ele colocou a mão sobre a minha perna e eu recuei.

Foi quando pedi que me deixasse naquele trecho da estrada mesmo, que, como estávamos perto, eu

poderia ir andando. Mas ele não me deu ouvidos, continuou andando em silêncio.

“Não tive outra escolha a não ser pular do carro em movimento, não me machuquei muito

porque estava devagar, então só arranhei o cotovelo e machuquei meu pé.

“Após ter feito isso, ele parou e veio atrás de mim, tentei escapar e não deu muito certo. Ele

se colocou por cima de mim e abaixou minha calcinha, tapando minha boca e abaixando a sua calça.”
Paro de falar, me recordando do que houve.

— E depois disso?

— Eu consegui morder a mão dele e foi quando gritei pelo meu padrasto, Frederic, e ele me

socorreu. Acabou que ele agrediu o rapaz e quase morreu, pois Dréck tinha uma arma. Foi quando ele

fugiu e eu acabei desmaiando.

— E o senhor a socorreu nesse momento também?

— Sim — diz Frederic —, a levei para dentro de casa e tentei acordá-la. Quando estava

prestes a chamar uma ambulância, ela acordou e, depois disso, se trancou no quarto até hoje de

manhã.

— Por que não veio imediatamente à delegacia? — pergunta Ericka.

— Medo — digo, percebendo que Fred ocultou uma parte da história. — Quantas vítimas

vemos por aí que vão à delegacia prestar queixa e acabam sendo acusadas por algo que não fez?

Quantas mulheres usam uma roupa mais justa e é taxada de vagabunda por causa disso? Eu pensei

que seria assim que me tratariam. Como a mulher que não se colocou no lugar que a sociedade

impõe, que flertou com um cara solteiro e acabou quase sendo abusada. Meu medo era esse, ser a

culpada da história quando na verdade sou a vítima.

Ericka concorda e estende a mão para mim, que seguro de bom grado.

— Que bom que você veio em uma delegacia onde uma mulher que já foi abusada é a
inspetora — diz. Fico surpresa com a revelação dela, aquilo não ia contra suas diretrizes? —

Preciso que me descreva como o agressor é e quais vestes usava. E o carro, se conseguir lembrar.

— Certo, seus cabelos são curtos e escuros, pele clara, olhos azul-turquesa e usava uma calça

jeans, uma camiseta do Batman e uma jaqueta de couro, onde carregava a arma. O carro é um BMW,

chegamos a conversar sobre isso, por ser um carro igual ao meu.

Ericka me ouve e vejo que o homem anota tudo que eu digo.

— Há marcas de agressão pelo corpo?

— Sim.

— Pode dizer onde?

— Sim, tem marcas no meu pescoço, cotovelo e nas pernas também.

— Somente para dar veracidade ao seu relato, temos um protocolo no qual você faz o exame

de corpo delito, é opcional, porém, para termos provas cabais contra o agressor o exame se faz

necessário. Aqui está a guia que deverá ser apresentada no ato da realização do exame.

Penso sobre toda situação e a exposição que já tive aqui, então balanço a cabeça em negativa.

— Pensarei sobre isso — afirmo.

Ela concorda e suspira, ciente de que não farei, pela sua expressão ela sabe que já estou certa

da minha decisão.
— Por enquanto, terminamos aqui. Aqui está seu registro. Se encontrarmos algum suspeito que

pareça com as características que você me informou, entraremos em contato para ser feito o

reconhecido, ok?

Concordo, pegando os papéis e Ericka se levanta.

Frederic me ajuda e então saímos. Frida vem em minha direção e me encara.

— Como foi?

— Acho que supero.

— Claro que vai, estamos com você — diz, me abraçando.

— Bem, Estére, sinto muito por tudo que tenha passado, mas agora preciso trabalhar,

infelizmente existem outras vítimas com o mesmo caso que o seu.

Encaro Ericka e concordo.

— Quantas dessas mulheres são compreendidas como eu fui? — questiono, ela me encara e

suspira.

— Infelizmente, não muitas, mas as que passam comigo sempre tento dar um pouco de

consolo.

Concordo, agradecida pelo apoio que ela me dá e saio com Frederic e Frida.
— Obrigada pelo apoio que me deu hoje — digo a Frida, quando chego em casa. Ela sorri e

me abraça mais apertado ainda.

— Sempre estarei aqui para você, para ajudá-la e apoiá-la no que for preciso — responde.

Concordo e me despeço dela, pensando se ela apoiaria a loucura que vem acontecendo

comigo e Frederic.

Vejo seu carro se afastar e entro para casa com meu padrasto.

— Você quer comer alguma coisa? — pergunta.

— Seria legal — digo, sorrindo.

— Certo, vou preparar alguns sanduiches para nós, não saia daqui.

O vejo se afastar para a cozinha e fico sentada no sofá, lembrando de Frederic e eu nos

beijando. Lembrando de quando passei minha mão pelo seu peitoral e levei até seu membro duro.

Suspiro, me sentindo a pior pessoa do mundo. Talvez o que havia acontecido com Dréck foi
castigo por estar pensando no meu padrasto de uma maneira que não deveria.

Penso se mamãe estivesse viva. Como seria? Em anos morando com ela e Frederic, nunca, em

hipótese alguma, pensei nele dessa maneira. Por que agora depois que minha mãe morreu? Talvez

poderia ser porque ambos estamos vulneráveis, mas isso não deixa de ser errado. É como se

estivesse sendo amante dele. Traindo mamãe. Sua confiança, o seu amor e dedicação que teve anos

por mim.

— Ah, mamãe, se você puder me ouvir de algum lugar, peço que apenas me perdoe por isso.

— E choro baixinho.

Me recomponho quando Frederic volta até a sala e anuncia que o almoço está pronto. A hora

havia passado tão rápido que nem reparara.

— O que temos hoje? — pergunto, sentindo o delicioso cheiro invadir minhas narinas.

— Couve de Bruxelas, omelete e carne — diz, colocando os pratos sobre o balcão.

— Obrigada por tudo que vem fazendo por mim — digo, quando ele me serve.

— Prometi a sua mãe que cuidaria de você e pretendo fazer isso até o fim dos meus dias —

diz, firme. Começo a comer e o encaro.

— Como se sente em relação a tudo que vem acontecendo entre nós? — pergunto, curiosa. Sei

que uma hora ou outra terei que enfrentar meus receios e conversar com ele sobre isso, então por que

não agora?
— Existe um nós? — questiona.

— Acho que sim — digo.

Ele remexe na sua comida e me observa, os olhos estreitos.

— Não estou muito feliz em saber que sinto atração pela filha da minha esposa morta, se é

isso que quer saber — dispara. — Por outro lado, não a vejo como minha enteada, já que, como você

mesma disse, quando sua mãe morreu os elos que tínhamos foram rompidos.

— E se a situação fosse diferente, Frederic — começo. — E se eu fosse a sua esposa?

— Bem, para isso teríamos que nos conhecer bem depois, não acha? Sou oito anos mais velho

que você, o que é quase uma década. Mas, respondendo à sua pergunta, não sei como seria. Não

consigo enxergar minha esposa como sogra.

Fico quieta, vendo o quanto é ridícula a minha pergunta e claro, a sua resposta, mesmo que ele

esteja certo.

— Me desculpe, não queria que chegássemos a esse ápice da loucura — digo.

— Ápice da loucura, Estére? O que quer dizer?

— Você não nos acha loucos por sentirmos atração um pelo outro quando na verdade você foi

casado por anos com minha mãe e sempre o vi como o padrasto chato?

— Padrasto chato? — repete, rindo.


— Sim. — Rio também. — Pode parecer estranho, mas no começo, estranhei você ser mais

novo que minha mãe.

— Sua mãe ser onze anos mais velha que eu, nunca foi um problema para mim — diz. — E

respondendo sua pergunta, acho sim um pouco louco, estou confuso também, e claro, se pudesse

evitar, faria isso. Em respeito à memória de Jolie e pelo amor que senti durante anos por ela.

Concordo e seguro sua mão.

— Talvez sermos amigos venha ser a nossa única opção.

Depois de comermos e conversarmos sobre o que vem acontecendo, decido ir para meu

quarto tomar um banho para aliviar a mente das loucuras e lavar meu corpo e tirar qualquer vestígio

que tenha de Dréck em mim. Deixo a porta aberta e sigo para o banheiro, a encostando, então me

dispo e abro o chuveiro, deixando a água quente cair para mim entrar debaixo.

Quando já está aquecida, entro e umedeço meu corpo, sentindo como se esse simples ato

tirasse toda a impureza da minha pele. Passo o sabonete pelo meu pescoço me lembrando dos beijos

nojentos de Dréck e esfrego minha pele até ficar vermelha, então me lavo por completo e escorrego

meus dedos pela minha barriga, parando no meu sexo. O lavo e então sinto meu corpo se arrepiar

com meu toque.

De repente, imagino que seja Frederic me tocando, e devagar, passo os dedos pelo meu sexo.

Os acaricio e sinto um toque que eu nunca havia sentido antes.


Fecho meus olhos, ainda me acariciando, pensando no meu padrasto. Então, é como se eu

visualizasse a cena dele aqui comigo, abaixando-se à minha frente e chupando meu sexo virgem, e

depois, devagar, me desvirginando.

Continuo passando meus dedos, fazendo movimentos circulares e ouço um barulho, trazendo-

me para a realidade.

Olho para a porta e a vejo do mesmo jeito, estranhando.

— Frederic? — chamo e o silêncio é a minha única resposta.

Ouço o barulho da água e paro no meio do corredor, vendo que a porta do quarto de Estére

está aberta. Me sinto indeciso sobre o que fazer e deixo o tesão falar mais alto, então ando devagar

na direção do seu quarto e o barulho da água se intensifica.

Caminho devagar e avisto a porta do banheiro entreaberta, então me aproximo e a olho. Sei

que isso é errado e nojento, mas a visão que tenho de Estére é como se fosse eu visualizando Deus.

Seu corpo, suas curvas, são perfeitos da sua maneira. Seus seios são pequenos e juntos, os

biquinhos estão rígidos e sinto um desejo enorme de entrar ali e provar deles, mas me controlo.

Então, a vejo de olhos fechados e seus dedos escorregam para sua boceta, com ela fazendo

movimentos circulares em seu sexo. Lambo os lábios, desejando estar ali, provando dela, sentindo o

seu delicioso gosto e, devagar, para que ela não ouça nenhum barulho, abro o zíper da calça e a
desço, colocando meu pau já duro para fora. Olhando-a ainda se tocar, continuando com os

movimentos circulares, começo a me masturbar, imaginando que seja ela no meu lugar. Imagino

Estére se ajoelhando diante de mim e chupando meu pau grosso. Tentando visualizar a cena na minha

mente de quanto caberia na sua pequena boca.

Então, sem que perceba, esbarro meu braço na porta e saio às pressas, sabendo que a porra da

minha burrice a despertou do seu transe.

Porra! Eu a quero. Eu a desejo. Quero minha enteada como a minha mulher.

Quero-a nos meus braços. Quero ela comigo, se aproveitando do pecado e da luxúria que

sentimos um pelo outro.

Eu estou ficando louco!


Ainda estou pensativo sobre tudo que vem acontecendo entre Estére e eu e o quase estupro

dela. Fora essas merdas, agora outra surgiu do inferno para me deixar com mais dor de cabeça ainda.

Ando de um lado para o outro na oficina e suspiro, jogando uma das ferramentas no chão.

O advogado no telefone havia me dito que a pena dele está prestes a acabar e que será solto, o

que me deixa preocupado.

Nós não somos inimigos. Sempre fomos muito unidos e por conta de um erro do nosso

passado, ele acabou pagando sozinho por coisas que não deveria. Fiz de tudo para tirá-lo da cadeia,

mas como ele foi pego em flagrante, foi impossível, fazendo assim ficar preso por todos esses anos.

Mas agora, sabendo que está quase saindo da cadeia, me incomoda pelo simples fato de que

ele virá atrás de mim em busca de vingança. Sei disso. Tenho plena certeza, afinal, em momento

algum desde que foi preso, eu fui visitá-lo.

Claro que posso dar um bom dinheiro a ele e fazê-lo ir embora o mais rápido possível,

contudo, seria como atirar no próprio pé. O conheço bem, pegaria a grana e depois faria de tudo para
me ridicularizar na frente de todos que me conhecem.

E as coisas na oficina não andam muito bem. O que deixa tudo ainda mais difícil. Eu poderia

muito bem pegar o dinheiro que Jolie me deixou e ajudá-lo, mas me recuso a mexer nele.

Quase trezentos mil euros guardados no banco sem uso. Se eu usasse essa herança, as coisas

estariam resolvidas, mas com tudo que vem acontecendo entre Estére e eu, sinto que é um erro usar o

dinheiro que pertencia a minha esposa.

Estére...

Não consigo mais resistir a ela, porém, me mantenho distante o máximo possível, sempre

dizendo que estou na oficina trabalhando, para assim esfriar a cabeça e saber o que fazer a respeito

desse impasse que paira sobre mim.

“Droga, estou fodido!”

Os dias passam voando, e quando vemos, as provas finais já haviam passado e estamos

oficialmente de férias.

As marcas no meu corpo desaparecem e Dréck não é encontrado, o que me deixa chateada.

Frida vai com os pais ao Brasil, a despedida no aeroporto na cidade vizinha havia sido

resumida a lágrimas bobas de amigas e promessas de que ela traria presentes para mim.
Frederic e eu não voltamos a conversar sobre “nós”. Ele está indo mais vezes para a oficina,

prometendo que terminará meu carro o mais rápido possível.

Rolo na cama e mexo no celular, olhando o Instagram, então sou surpreendia com uma foto de

Collin com Laura. Os dois estão se beijando e na legenda diz:

“O melhor presente que eu poderia ter ganho do universo.”

— Filho da puta! — digo. — Como ele tem coragem de assumir namoro com outra um mês

após o nosso término?

Clico duas vezes na tela, curtindo, para que ele saiba que vi e saio da rede social, recebendo

uma ligação de Frida por chamada de vídeo.

— Amiga, como está sendo a viagem? — pergunto a observando. Está de dia no Brasil e ela

usa um boné e óculos de sol. Percebo que está andando.

— Está sendo fantástico, apesar de não termos conhecido muita coisa ainda. O brasileiro é

o verdadeiro piadista, mas não liguei para falar sobre isso, afinal, teremos tempo, o que quero

saber mesmo é o que você está fazendo.

— Isto aqui — digo, mostrando que estou na cama, assopro o cabelo do meu rosto e minha

amiga revira os olhos.

— Não acredito que você vai passar suas férias deitada — diz, ainda andando. Ouço

algumas pessoas falando na língua que não entendo e dou de ombros.


— Meu plano era ir ao chalé com Collin, mas ele me largou e está namorando com Laura

agora.

— Eu vi a foto no Instagram, ele é nojento, mas não pense nisso. Por que você não vai para

o chalé?

— Sozinha? Sem chances, é no meio do nada e não sei acender uma lareira sozinha — digo,

rindo. Ela ri e mostra a língua.

— Então não vá sozinha, convide Frederic para ir junto com você. Os dois merecem um

pouco de folga, os últimos dois meses não foram fáceis.

Penso sobre isso e torço o nariz, achando a ideia um absurdo.

— Sem chance, eu e ele no chalé sozinhos, no meio do nada? E se um urso nos devorar? —

digo, com minha imaginação indo ao longe.

— Só se ele for o urso, não é? Pare de besteira, levanta sua bunda gostosa daí e arrume

suas malas. Tenho certeza de que ele vai gostar da ideia.

— Ok, vou pensar a respeito da sua brilhante ideia.

— Cabeça dura, preciso ir agora, nós vamos conversando, eu te amo.

— Também te amo.

Encerro a ligação e coloco o celular de lado, pensando na ideia dela. Até que não é tão ruim.

*
Ouço uma buzina vindo do lado de fora e vou até a janela. Vejo Frederic acenando para mim e

meu carro parado na frente da casa.

Saio correndo, animada, e desço a escada rapidamente, abrindo a porta e correndo em sua

direção.

— Olha só quem está pronto — diz, mostrando a chave.

— Puta merda, nem acredito! — digo e me jogo nos seus braços, o abraçando. — Obrigada!

Eu já estava sem esperanças dele voltar a funcionar.

— Não esqueça que sou o melhor mecânico da cidade — diz, me soltando. Ficamos nos

olhando e concordo. — Ande, dê uma volta para ver se está funcionando.

— Tenho outra ideia — digo, pensando na sugestão de Frida.

— Qual?

— Como o Natal está chegando, estou de férias e quase todos estão viajando, estava pensando

em ir para o chalé. Você quer me acompanhar?

Frederic me encara e um sorriso se forma nos seus lindos lábios grossos.

— Só eu e você? — questiona.

— Sim.

— E você não acha isso meio... perigoso?


— Pelo contrário, acho excitante — digo, mordendo o canto da boca. Ele ri e meneia a

cabeça.

— Certo, então acho que devemos organizar as nossas malas, e irmos ao mercado da cidade,

afinal, lá está fechado há anos.

Sigo para dentro de casa e o puxo pela mão.

— Então é melhor irmos logo com isso.

Organizo minha mala com calças, bermudas, camisetas, blusinhas, blusas de frio, calcinhas

extras, tênis e outros acessórios. Coloco perfume, é claro, creme hidratante e meus outros produtos

de higiene. Toalhas extras, e quando vejo, tudo está pronto, com as coisas que preciso em duas

enormes malas.

— Não me diga que resolveu morar lá de uma vez — diz Frederic no portal da porta.

— São coisas que vou usar na viagem — digo. — Uma mulher sempre tem que estar

preparada. Mas e você, já terminou sua mala?

— Claro, sou homem, esqueceu? É só jogar meia dúzia de cuecas, camisetas e bermudas e

está tudo pronto — brinca arrancando uma risada de mim. — Minhas coisas já estão prontas.

— Ótimo, está preparado para que eu dirija duas horas seguidas?

— Estou com meu terço para ir rezando e pedindo perdão — responde.


— Idiota — digo, ele ri e me atento ao som da sua risada. É uma música para os meus

ouvidos.

— Deixe-me ajudá-la com as malas — diz, já pegando a maior, arrasto a menor, verificando

se peguei tudo e fecho a porta do meu quarto.

Colocamos tudo no porta-malas e Frederic abre a porta para mim. Agradeço, colocando-me

atrás do volante assim que ele entra e afivelamos o cinto, ligo o rádio, colocando na música Black do

Pearl Jam e acelero.


Está uma forte tempestade, então demoramos mais ainda para chegarmos ao chalé por conta da

estrada. Frederic, a todo instante, não para de olhar para minha mão e fica analisando como dirijo.

Não digo nada, apenas formando um sorriso de canto e me concentrando à nossa frente. O local em si

não é longe, no máximo duas horas de viagem, mas com a forte chuva, com certeza gastaríamos bem

mais.

— Tem um mercado mais à frente, vamos parar nele por conta da tempestade, está muito forte

— diz Frederic limpando toda hora o vidro do carro, que está embaçando por conta de nossas

respirações.

— Tudo bem — digo, concordando.

Ele meneia com a cabeça e dirijo por mais quarenta minutos, sentindo medo por conta de tanta

chuva. Tantos dias para chover e Deus decide mandar bem no dia que decido dirigir.

— Ali, estacione — diz Fred ao vermos o mercado. Volto a concordar e paro no

estacionamento coberto. A tempestade está realmente forte, então, com dificuldade, saímos e
entramos no local.

— Você está bem? — pergunta Frederic, assim que nos colocamos para dentro, olho em volta

e vejo que o local está cheio, algumas pessoas fazendo compras e outras usando o local como

refúgio.

— Sim — digo, estranhando a pergunta.

— Certo, você parecia nervosa dirigindo. — Ele está ao meu lado. Pego um carrinho e

começo a arrastar pelo local.

— É por conta da chuva, não gosto de dirigir com tempestade — digo, pegando na prateleira

vários produtos de limpeza, aproveito e compro uma vassoura, rodo e panos.

— Ah — é a única coisa que ele diz. Então seguimos para o próximo corredor, pegando mais

coisas para limpeza do local. Depois disso, seguimos para a comida, abastecendo o carrinho. —

Quanto tempo pretendemos passar no chalé?

— Ainda não sei, mas comida nunca é demais — digo. Ele ri e concorda, quando vejo, já

pegamos todas as nossas coisas.

Seguimos em direção ao caixa, com Frederic ao meu lado e, de repente, as luzes do local se

apagam, com todos suspirando. Fico parada no meio do corredor e olho em volta, esperando voltar,

porém, não acontece.

— Me sinto como estivesse no filme “O Nevoeiro” — sussurro, buscando meu celular.


Frederic dá uma risada e pega o seu do bolso, acendendo a lanterna.

— Eu não pensei que no primeiro dia da nossa viagem seria assim — diz. — Vou pegar velas,

caso venhamos a precisar.

Ele se afasta e continuo no mesmo lugar, sentindo a necessidade de ir atrás dele, mas me

mantenho parada, até que as luzes voltem.

O gerente vem e nos diz que o gerador está com problema, mas que não é para nos

preocuparmos, que logo tudo irá normalizar, então espero, sem muita alternativa, e Frederic volta

com diversas velas.

— Parece que o gerador está com problema e vai demorar um pouco para a energia retornar

— digo a ele, assim que aparece. Um trovão ecoa no céu e solto um gritinho, me agarrando a ele. —

Me desculpe. — Me desvencilho dele e Frederic me segura, encostando nossos corpos no meio do

corredor.

— Não precisa se desculpar — diz, passando a língua nos lábios.

Fico quieta, sentindo minha respiração entrecortada e concordo, voltando a abraçá-lo.

— Não esqueça que somos só amigos — digo.

— E amigos se abraçam — me responde, fechando seus fortes braços em volta de mim.

Meu corpo pinica e fico quieta, pensando na loucura que estamos fazendo.

*
Continuo abraçada a Frederic quando as luzes voltam e todos ficam aliviados. Rapidamente

me solto dele e sinto meu rosto queimar, indo para o caixa.

Fred não diz nada, apenas está com um sorriso debochado em seus lábios e isso faz com que

eu fique nervosa, contudo, não dou o gosto a ele de dizer isso.

Sou atendida e rapidamente vou colocando as coisas sobre o balcão do caixa, com a

atendente, que está com o olhar cansado, passando devagar.

Um tempo depois, após passar todos os produtos, ela se vira para mim e sorri.

— São duzentos euros — diz.

Pego o cartão e Frederic passa na minha frente, entregando as notas a mulher, que o olha com

desejo.

— Fique com o troco — diz ele, sorrindo. A mulher agradece e o observa.

— O senhor está passeando pela cidade? Não lembro de tê-lo visto antes, com certeza

lembraria do seu rosto.

A encaro e ela finge que eu nem existo, me deixando surpresa e com raiva por estar flertando

com Frederic.

— Minha namorada e eu estamos apenas de passagem, moramos na Cidade do Vale Sombrio

— diz ele, segurando minha mão. — Vamos tirar férias, se é que você me entende.

Ele pisca e a mulher me nota, fazendo cara de desprezo. Então percebo que o “vamos tirar
férias, se é que você me entende” que dizer outra coisa.

— Aproveitem — diz. — Próximo!

Nos afastamos e seguimos em direção à saída, então noto que a tempestade passou, dando

lugar a uma fraca garoa.

— Uau, o que foi isso? — pergunto, surpresa. Frederic me encara e dá de ombros, formando

um sorriso. — Aquela moça pareceu interessada em você — comento, dando as sacolas a ele, que

coloca no porta-malas e no banco traseiro.

— Não percebi — diz, sarcástico. —, mas parece que você não deixou de notar, não é?

— O que quer dizer com isso?

— Nada — responde. — Te incomoda o fato de outras mulheres darem em cima de mim?

Encaro Frederic e bufo, entrando no carro e logo saindo do estacionamento.

— Não me causa ciúme, se quer saber — digo, olhando para frente. Ele solta uma risada e

reviro os olhos.

— Se você diz — responde, olhando para o lado de fora.

Fico quieta, querendo dizer que me causa algo sim, mas não vou dar esse gostinho a ele.

Então nos mantemos em silêncio e continuo dirigindo. Não demora e logo avisto o vislumbre

do chalé. É um lugar simples, que fica próximo à entrada da floresta, longe da cidade.
Paro o carro em frente e saímos. Sinto o ar fresco e sorrio, me recordando das vezes em que

vim com mamãe aqui.

Passávamos sempre as minhas férias aqui ou na casa de campo quando não queríamos viajar.

Recordo-me do dia em que viemos para cá e mamãe lutou a noite inteira tentando manter a lareira

acesa, já que a lenha estava molhada.

Abro a porta da frente e vejo o local do mesmo jeito que deixamos a última vez, a diferença é

que há camadas de pó por todo lugar e até mesmo algumas teias de aranha. O local é grande para um

chalé, com uma sala onde há um pequeno sofá e duas poltronas, uma janela mostrando a floresta, um

enorme tapete e a lareira. Ao lado fica a cozinha, que tem a pia, um balcão com fogão embutido, a

geladeira antiga e outra janela.

Ando pelo local e vejo o corredor, que no final leva para o banheiro e a escada de madeira ao

lado, levando para os dois pequenos quartos.

— É lindo — diz Frederic entrando com as sacolas, concordo, sorrindo e o ajudo, colocando

tudo sobre o balcão da cozinha.

— Passei muito tempo com mamãe aqui — digo após pegarmos tudo. Frederic me encara e

nos sentamos no sofá empoeirado.

— Ela e eu nunca viemos aqui antes — diz ele. — Sua mãe trabalhava tanto antes de

descobrir sobre o câncer, e depois não conseguimos fazer mais nada.

Concordo, afirmando o que ele diz. Por diversas vezes mamãe ia trabalhar e voltava tarde ou
só no dia seguinte para tomar banho, trocar de roupa e voltar ao trabalho.

— Acho que é melhor começarmos a limpeza — digo, não querendo falar sobre minha mãe.

Fred concorda e subo para os quartos. Ambos são simples, com cama, penteadeira e cômoda.

Tiro o plástico do colchão e passo um pano nos móveis, forrando a cama e limpando o chão

amadeirado. Assim que termino um, sigo para o outro, fazendo a mesma coisa e limpando a escada.

Frederic ainda está limpando a cozinha, então ajudo no sofá, aspirando o pó e abro todas as

janelas.

Ele termina e segue para o banheiro, o lavando rapidamente.

— Não foi difícil — diz, jogando-se na poltrona. Me sento no sofá e concordo, em busca do

meu celular.

— Não sei como ainda temos sinal aqui — digo, vendo a internet funcionar, ele concorda e se

levanta, pegando o celular da minha mão. — Ei, me devolve isso! Esse celular é meu.

— Eu sei disso, mas viemos aqui para descansar, não ficarmos em redes sociais. — O vejo

guardar o aparelho no bolso dianteiro da sua calça e suspiro. — Se quiser de volta, vai ter que pegar.

— Ora essa! — digo nervosa. Sigo em sua direção e ele desvia, rindo da minha cara. Tento

pegar o aparelho e Frederic desvia de novo. — Por favor, me devolva.

— Peça com jeitinho que eu dou — diz, desviando das minhas tentativas falhas de apanhá-lo.

Reviro os olhos e pulo em sua direção, levando minha mão até o bolso da calça. Frederic ri e me
segura, então nos aproximamos e nossos rostos ficam centímetros um do outro. — Por que seu

coração está acelerado, Estére?

— Porque é isso que você faz comigo — digo, atônita. Ele fica parado e fecha os olhos,

respirando profundamente.

— Acho que estou ficando louco — sussurra.

— Então teremos que ser internados juntos, porque eu também.

Ele me encara e sinto a tensão pairar sobre nós, então Frederic se aproxima e não recuo,

esquecendo por um momento que ele é o meu padrasto. Seus lábios grossos e macios encostam nos

meus. Ficamos assim, parados, e devagar, abro a boca, levando minha língua até a sua. Frederic faz o

mesmo e nos entrelaçamos, com ele me agarrando e eu passando as pernas em volta do seu corpo.

Frederic devora meus lábios e solto um gemido entre o nosso beijo, sentindo uma de suas

mãos percorrer para o meu seio. Um arrepio elétrico sobe na região que ele toca e sinto meu seio

enrijecer, implorando por mais.

— Estére, não devíamos — diz, em meio ao beijo molhado.

— Eu sei, mas não consigo mais resistir — respondo, segurando sua cabeça contra mim.

Continuamos nos beijando e me delicio com o sabor da sua boca.

É algo inédito. Completamente diferente do que tive com Collin.

Frederic é um homem bonito, atraente e com uma boa pegada, e mesmo ele sendo o meu
padrasto, não me sinto arrependida de estar beijando-o. O que me dá certeza de uma coisa — nós

dois vamos para o inferno. Isso é fato. E com esse pensamento acredito que talvez mamãe esteja no

céu.

Nos separamos e Frederic me coloca no chão, me encarando, então ele dá suaves beijos nos

meus lábios e encerra nossa conexão naquele momento.

— Está ficando tarde e precisamos de lenha, então vou buscar, você fica aqui?

Percebo que ele se sente mal com o que acaba de acontecer e concordo, sem muita alternativa.

— Claro — digo.

Ele me encara mais uma vez e suspira, seguindo para o lado de fora.

E percebo que o pecado que estamos cometendo jamais será perdoado.

Fodido. É isso que estou.

Completamente fodido e perdido. Como pude deixar isso acontecer? Como fui capaz de

esquecer em tão pouco tempo a mulher que amei nos últimos nove anos e me entreguei aos braços de

sua filha?

O pior dos pecados. Traição para mim sempre foi algo completamente inaceitável, porém,
agora cometendo esse ato tão deplorável, vejo que, quem muito julga, acaba fazendo.

E é isso que estou fazendo. Traindo a memória da minha esposa, que com certeza não está

descansando em paz.

Nunca acreditei no inferno, aliás, não sou muito religioso. Apenas acredito em uma força

maior que nos coloca à prova todos os dias. Seria essa a minha? Seria a minha prova resistir a

Estére? Porque se for, falhei miseravelmente.

Pego o machado e ando pela floresta, entrando nela. Está claro ainda, apesar de ter caído uma

tempestade, e as árvores são abertas, como se fosse um convite para entrar ali.

Procuro algumas madeiras caídas, evitando o máximo cortar os galhos e vejo um enorme

galho caído. Sigo até ele e o puxo, notando que por sorte, não está molhado, então o levo até atrás do

chalé. Desconto toda minha raiva, medo e frustração nela, cortando facilmente, então assim que

termino, jogo no espaço coberto que há atrás do chalé e volto para a floresta, sabendo que a lenha é o

suficiente para hoje e amanhã, mas não quero ficar perto de Estére, senão irei acabar perdendo ainda

mais à cabeça e a levando para a cama.

“Resistir mais para que, se vocês dois já cometeram todos os pecados possíveis?” Ouço

uma voz na minha cabeça dizer.

Suspiro, frustrado. É verdade, mesmo não a levando para a cama, o pecado já havia sido

cometido quando a desejei em meus braços pela primeira vez. E se Estére soubesse que a vi se

tocando e me masturbei com a cena, ficaria brava e com certeza recuaria.


O que seria bom em uma parte e na outra, ruim, afinal, por mais difícil que está sendo as

coisas, eu não quero perdê-la. A quero para mim, por completa.

A quero nos meus braços.

“Porra!”

Volto para o chalé com as lenhas e vejo que Estére está com outra roupa, o que me dá a

certeza que tomou um banho enquanto estive fora. Percebo também um cheiro agradável pelo

ambiente e fico surpreso quando a vejo na cozinha, mexendo em uma panela.

— O quê? — pergunto, surpreso. É a minha única reação, afinal, Estére nunca foi de cozinhar,

já que sua comida é suspeita de digerir.

— É macarronada — ela comenta —, olhei na internet como que faz, eu sei, é ridículo, mas

como você foi atrás de lenha, achei que seria legal preparar algo para comer.

Concordo, sorrindo, e sigo até a lareira, colocando as lenhas e logo em seguida, ateando

álcool e fogo. Não demora e a chama alaranjada começa a aquecer o local gelado.

— Vou tomar um banho enquanto você termina — digo, arrancando a blusa suja e a calça.

Estére me encara e ergue a sobrancelha. — O que foi? Parece que nunca me viu de cueca.

— Bem, já, mas..., tudo bem, tome seu banho rápido antes que a comida esfrie.

Sorrio e concordo, seguindo para o banheiro, então abro o chuveiro e me lavo rapidamente.
Quando termino, procuro a toalha e não a encontro, então abro a porta um pouco e chamo por

Estére.

— Me dê uma toalha, por favor — peço. Ela se aproxima e me entrega, me encarando. Vejo

seu olhar recair sobre meus pelos pubianos e sorrio. — Obrigado.

Pego a toalha e fecho a porta, sabendo que ela está louca para ver meu amigão.

Ainda estou surpresa com a imagem de Frederic no banho, mesmo tendo visto pouca coisa.

Porém, só de pensar que uma porta é a única coisa que me impede de vê-lo nu, me sinto um pouco

frustrada.

Coloco o macarrão sobre o balcão e ele sai do banheiro enrolado na toalha, subindo

graciosamente a escada. Não demora e Frederic volta com calça de moletom que sempre usa, uma

camiseta e chinelos nos pés.

— Pensei que iria demorar mais — digo, me sentando e apontando para a banqueta ao meu

lado. Ele ri e dá de ombros.

— Temos o que para beber?

— Suco, refrigerante, cerveja e vinho — digo, ele concorda e pega duas taças, trazendo uma

garrafa de vinho que havíamos comprado no mercado.


— Acho que o momento é perfeito para isso — diz enchendo as duas. Fred me entrega uma e

sorrio, então batemos uma na outra e bebo um gole, sentindo o sabor delicioso invadir minha boca.

— Espero que goste do macarrão, é o meu primeiro.

— Bem, caso eu passe mal, tem um hospital na cidade, fica a uma hora daqui.

— Engraçadinho — digo, mostrando a língua. Ele ri e senta ao meu lado, começando a comer.

Faço o mesmo e sinto o gosto agradável. Não é o dos melhores, mas está saboroso.

— Até que não está tão ruim — diz ele, após comer tudo. Rio, sabendo que apenas quer me

provocar e Fred se levamta, pegando os pratos e lavando.

Assim que termina, seguimos para a sala e me sento no tapete em frente à lareira para me

aquecer. Bebo um pouco do vinho e mais uma vez penso em mamãe.

— No que está pensando? — pergunta, me tirando dos meus pensamentos.

— Em mamãe.

— O quê?

Viro meu olhar para ele e mordo o canto da boca até sangrar, sentindo o gosto se misturar ao

vinho quando o bebo. Frederic enche minha taça de novo e continua me olhando, esperando uma

resposta.

— No que ela diria se soubesse o que vem acontecendo entre nós. Não adianta dizermos que
não existe nada, porque existe.

— Acredito que Jolie iria querer que fôssemos felizes. Ela não iria querer que parássemos

nossas vidas por conta da dela ter se encerrado.

— Eu sei disso, mas eu tinha que tentar ser feliz justamente nos braços do meu padrasto? —

pergunto, bebendo.

Ele me encara e dá de ombros, pensativo.

— A felicidade surge onde menos esperamos, Estére. O errado às vezes pode ser o certo,

assim como o contrário. O que é bom para sua vida não é para a minha. Não podemos nos basear nas

pessoas, mas sim, nas nossas histórias.

— Se isso é felicidade, por que não me sinto completamente feliz? Por que sinto que estamos

traindo minha mãe?

Ele me encara e dá de ombros.

— Só você mesma pode me responder essa pergunta.


O sol invade a janela do meu quarto e desperto com o cantar dos pássaros. A situação é um

tanto clichê, mas fico feliz em ter um pouco de luz natural.

Me sento na cama e bocejo, sorrindo. Coloco meus chinelos e sigo para o andar debaixo,

descendo a escada devagar.

Vejo Frederic na cozinha já preparando o café e ele me encara.

— Bom dia — diz animado.

— Bom dia — respondo indo em direção ao banheiro. Fecho a porta e faço xixi, logo em

seguida lavo minhas mãos, escovo os dentes e lavo meu rosto, prendendo meus cabelos.

Saio e sigo em direção ao pequeno balcão, me sentando e vendo os ovos mexidos com torrada

e geleia. Agradeço a Frederic e beberico o café que ele coloca à minha frente.

— Dormiu bem? — pergunta, me encarando.

— Sim, sem sonhos. E você?


— Deu para descansar — diz, sorrindo.

Concordo e continuamos comendo.

— Quais os planos para hoje? — pergunto, ansiosa.

— Você que manda.

— Bem, podíamos ir à cidade, já que o tempo está agradável. O que acha?

Ele concorda tomando seu café.

— Vamos assim que terminarmos de tomar café — diz.

Logo após comermos e ajeitarmos as bagunças do chalé que havíamos deixado, vou para o

meu quarto e coloco uma calça legging preta, botas de coturno e uma camiseta qualquer, prendendo

meus cabelos em uma trança embutida. Resolvo passar um pouco de maquiagem, nada muito forte, e

um brilho labial, aplicando um perfume na minha pele.

Pego meu celular e vejo que Frida mandou uma foto dela com os pais em um Museu de São

Paulo. Então tiro uma foto minha e escrevo “#Chalé”. Ela manda vários corações e guardo o

aparelho, descendo até a sala e encontrando Frederic já pronto. Ele usa botas grossas, calça jeans,

uma camiseta e boné. A barba por fazer lhe dá um charme enorme.

— Estou pronta, vamos?

— Claro — diz, dando passagem para mim. Não sei dizer se é cavalheirismo ou apenas ele
querendo vislumbrar minha bunda. Prefiro acreditar na primeira opção.

— Você dirige — digo, jogando as chaves para ele, que pega no ar. Fred destrava o veículo e

entro, colocando o cinto. Ele faz o mesmo e dá ré, indo em direção à estrada.

Fico olhando-o dirigir e vejo como Frederic manuseia bem o volante apenas com uma mão

enquanto a outra fica em sua perna. Me ajeito no banco e ele me olha, sorrindo de lado.

— Precisa de alguma coisa? — pergunta.

— Não — digo, o encarando, abro o vidro do carro, deixando o vento bater no meu rosto.

— Hummm — é a única coisa que ele diz, como se fosse um rosnado baixo.

— Estou ansiosa para saber o que esta viagem nos reserva, faz tanto tempo que não viajo —

digo, agora olhando o lado de fora. Ele concorda e volto a olhá-lo.

— Confesso que também estou ansioso para isso — diz, com malícia. Passo a língua pelos

lábios, os umedecendo e concordo, então um pensamento involuntário me invade a mente.

Será que Frederic e mamãe flertavam assim também?

Chegamos à cidade uma hora depois. Após meu súbito pensamento, fiquei em silêncio e Fred

percebeu que algo aconteceu, contudo, não me perguntou, talvez já suspeitando o que fosse.

Assim que entramos na cidade, notamos uma aglomeração e percebo que há um pequeno

parque montado próximo a floresta. Vejo “Bem-vindos” escrito na entrada da cidade com luzes de
Natal e um papai Noel de plástico enorme sorrindo e acenando.

— Parece que o Natal começou cedo por aqui — diz Fred estacionando próximo do pequeno

parque. Um rapaz vem para perto de nós e sorri.

— Bom dia, senhor, senhorita, este estacionamento é exclusivo para visitantes para o evento

que ocorrerá hoje na cidade. Vocês são moradores daqui?

— Não, estamos visitando — diz Fred. O homem magrelo, com os cabelos grandes e roupas

largas, assente.

— Ótimo, então sejam bem-vindos — diz.

Frederic agradece e saímos do carro.

— Que evento vai ter hoje aqui? — pergunto ao rapaz.

— Teremos show e o parque está inaugurando hoje, com preços reduzidos.

— Uma montanha-russa e roda-gigante — diz Fred olhando os brinquedos em movimento.

— Sim, entre outros, fiquem à vontade para conhecerem o lugar.

O homem se afasta e Frederic dá de ombros.

— Acho que vale a pena. Há quanto tempo você não vai em uma montanha-russa? — ele

pergunta. Seguimos o fluxo de pessoas e penso sobre o que ele diz.

— Uns anos, a última vez foi com minha mãe, eu era criança ainda.
Ele concorda e continuamos andando. Há palhaços divertindo as crianças, ilusionistas e até

mesmo mágicos. Fico encantada com isso e ao longe avistamos o “papai Noel” tirando fotos com as

crianças. É um senhor idoso já, com sua barba de verdade, o que me faz acreditar que ele deixou o

ano inteiro ela crescer para estar tão enorme.

Saio dos meus pensamentos insanos e continuamos andando, observando um homem sorridente

entregando rosas às mulheres. Vejo Frederic ir até ele e apontar para mim, então o homem acena e

retribuo o gesto, sem entender. Em seguida, Fred volta com a rosa na mão.

— Aqui, para você — diz, rabugento. A pego e sinto o cheiro delicioso.

— Obrigada — digo, tirando o caule e colocando atrás da orelha. — Como fiquei?

— Acredite, mais linda do que já é — diz, fazendo eu ruborizar. — Vi que estão servindo

hambúrguer e cachorro-quente, quero comer.

— Você tomou café há pouco tempo — digo, continuando seguindo pela multidão, o barulho

de risadas, músicas e dos palhaços me fazem falar mais alto.

— Eu sei, mas é comida de graça.

Rio, revirando os olhos da maneira que ele fala e concordo.

— Tudo bem, você ganhou desta vez.

Ele pisca e seguimos em direção às barracas que estão dando os lanches. Pegamos cachorro-

quente e hambúrguer e nos sentamos próximo a uma praça para comermos. Realmente está gostoso e
me delicio.

— Pensei que tivesse tomado café antes de virmos para cá — me provoca.

— Como você mesmo disse, é comida de graça.

Depois de mais ou menos uma hora e meia andando pela cidade, Frederic e eu decidimos ir

ao parque. O show de uma banda local já começou e eles estão cantando músicas do Aerosmith,

Pearl Jam, Guns N’ Roses, entre outros.

Vamos para a fila da montanha-russa após comprarmos nossos bilhetes e Frederic se mantém

atrás de mim, com seu corpo colado ao meu. Sinto minha pele se arrepiar com isso, mas mantenho o

foco e não demora muito, estamos no brinquedo.

Seguro com firmeza e Frederic se diverte com meu medo.

— Não tem com que se preocupar, se essa montanha-russa estiver há quatro metros do chão, é

muito.

— Quatro metros ainda me parece uma queda e tanto se isso escapar — digo, segurando o

“colete” com força.

— Se você cair, eu prometo te segurar antes que aconteça — diz. Sorrio e o brinquedo

começa a se movimentar.

De início é devagar, seguindo em linha reta, então começa a subir, faz uma curva brusca, segue
em frente e mais outra curva brusca, agora subindo mais alto possível e parando. Respiro fundo e

então o brinquedo desce com tudo, comigo gritando de desespero. Ele repete o processo e as outras

pessoas me acompanham nos gritos. A diferença é que o deles é de animação, os meus, de medo.

Então encaro Frederic e vejo que ele está se contorcendo de tanto rir.

O brinquedo para bruscamente e somos liberados. Saio com as pernas bambas e respiro

fundo.

— Está se sentindo bem? — pergunta Fred.

— Ótima, claro — respondo, debochadamente. Ele ri ainda mais e estende a mão para mim.

Eu a seguro.

— Vamos, agora iremos na roda-gigante.

Ele corre, me puxando e me divirto com isso, rindo e indo atrás. Olhando assim, até

parecíamos dois adolescentes apaixonados.

“O quê? Alerta! Nada de se apaixonar pelo seu padrasto! Você está realmente ficando

maluca.”

Ficamos na fila e como na montanha-russa, não demora e seguimos para as cadeiras, com o

rapaz se certificando de que está travada e que não iremos cair de lá de cima.

— Lamento em dizer que esse sim é alto — diz Frederic. — Deve ter no mínimo de dez a

quinze metros de altura.


— Obrigada, com certeza estou muito mais calma com isso — digo.

Frederic estende a mão para mim e a seguro, com seus dedos acariciando os meus.

— Se você cair, eu caio — diz. — E não estou filosofando, porque eu não iria atrás de você,

mas se ficar se mexendo demais isso aqui vai virar e vamos morrer.

Dou risada e acerto um tapa fraco no seu braço.

— Como você é idiota, Frederic!

— Eu sei, e você está gostando, senão, não estaria com esse sorriso enorme no rosto.

O brinquedo sobe alto e olho para baixo, então Frederic segura meu rosto.

— O que foi?

— Não olhe para baixo, olhe à sua frente.

Faço o que ele me diz e vejo a cidade inteira, com a enorme floresta ao redor. O sol reflete no

meu rosto e fico maravilhada com isso, fotografando essa imagem em minha mente.

Desde a morte de mamãe eu nunca estive tão feliz quanto agora. E sei que Frederic tem a ver

com isso.
Fomos para casa quando já está de noite e ficamos sabendo que a árvore de Natal vai ser

acessa nos próximos dias, comigo afirmando a Frederic que quero ir ver. Ele concorda, e quando

chegamos, cada um vai para seu quarto e fico pensando seriamente sobre o que está acontecendo.

Ultimamente venho fazendo muito isso, contudo, não me julgo, afinal de contas, é algo

totalmente inusitado o que está acontecendo entre Frederic e eu.

Troco minhas roupas, colocando meu pijama e me deito, olhando para o tempo lá fora. O céu

está um breu e as estrelas brilham, então caio no sono com essa imagem.

Acordo na manhã seguinte um pouco assustada. Me levanto e sigo em direção ao quarto em

que Frederic está, mas vejo sua cama arrumada e desço, vendo que ele não está. Procuro algum

bilhete que me dê notícias sobre seu paradeiro e não encontro nada, então vou ao banheiro e resolvo

comer alguma coisa assim que saio. Preparo um suco natural e como algumas torradas, quando

termino, vou atrás do meu celular e encaminho uma mensagem a Frederic, porém, não vai e vejo que
o sinal está fraco.

— Merda — sussurro.

Decido não me preocupar, afinal, Frederic é adulto e sabe o que faz, mas algo me diz que ele

está escondendo alguma coisa.

Saio cedo para a cidade, afim de esquecer um pouco os problemas e entro no supermercado

mais próximo, observando a atendente sorrir mais do que o normal para mim. Retribuo com um olhar

sério e seu sorriso vacila, então vejo o celular tocar e sinto meu coração descompassar ao ver o

número do advogado.

— Espero que me dê boas notícias — digo, ao atendê-lo.

— Olá, Frederic, como está? — pergunta Hugo do outro lado da linha.

— Por favor, sem formalidades, nos conhecemos há anos. Me diga quais são as novidades.

— Aconteceu o que já sabíamos, Fred. — Meu apelido estala na sua boca e fico sem reação.

— Você está me dizendo que ele saiu da cadeia? — questiono, não querendo acreditar no que

me diz. Não sei se me sinto feliz ou preocupado.

— Sim, é isso mesmo — afirma. — E ele sabe onde você está e pretende procurá-lo, espero

que você tenha um bom plano, afinal de contas, sabemos que Ferdinand não está muito feliz.
Paro no corredor de vinhos e fecho os olhos, tentando raciocinar.

— Plano? Meu plano era tirá-lo dessa enrascada há muitos anos e você não foi capaz de fazer

isso!

— Me desculpe, mas sabemos que o caso era realmente delicado e é muita sorte ele

conseguir sair agora — ele responde. — Depois de todos esses anos, o juiz o libertou por bom

comportamento.

— Então isso só nos mostra que você foi um completo incompetente! O seu trabalho era livrá-

lo disso bem antes, sabemos perfeitamente que ele é inocente.

— Você pode até estar certo, mas lembre-se que ser culpado por algo que não fez é muito

mais difícil de provar. Você acha mesmo que esses policiais se importam com isso? Aqui as coisas

não funcionam do jeito que você pensa, é muita sorte ele conseguir finalmente sair.

Não respondo, sabendo que ele está certo.

— Verei o que posso fazer — digo.

— É bom ver mesmo, porque sabemos que ao sair ele irá atrás de você na mesma hora.

Você sempre soube que uma hora ou outra Ferdinand iria se vingar. E é isso que ele fará. E sua

cabeça será o prêmio principal.

— Não tive culpa, você sabe disso! Nós dois fomos enganados, apenas fui errado em ter

fugido do local.
Hugo suspira do outro lado da linha.

— Eu sei disso, meu jovem, mas ele não, e agora você terá que explicar isso, ou irão

acabar em guerra.

Saio do mercado com duas garrafas de vinho, alguns queijos e outros petiscos, afim de que

isso possa me ajudar a distrair a mente um pouco. Aproveito e apanho mais algumas lenhas para que

possamos passar o final de semana aquecidos. Quando olho, a hora passou voando e não falei com

Estére, esquecendo-me de deixar um recado a ela. Como dizem, a pressa é realmente inimiga da

perfeição.

Jogo as lenhas no mesmo local em que coloquei as outras e sigo para dentro do chalé,

entrando e dando de cara com uma Estére furiosa. Seus olhos estão vermelhos e os cabelos

bagunçados.

— Aconteceu alguma coisa? — pergunto.

— Como tem coragem de me perguntar isso? — questiona, aflita. — Você saiu, não deixou

nenhum recado e eu fiquei sem sinal. Pensei que houvesse sido morto, sequestrado, devorado!

Seguro a risada do seu drama e coloco as coisas que comprei sobre o balcão.

— Bem, ninguém me devorou, nem sequestrou ou matou. Apenas saí para ir ao mercado e

esqueci de deixar um recado. Falha de comunicação, só isso.

— Só isso? — questiona, com a sobrancelha erguida.


— Sim — digo.

Ela me encara e suspira, notando que se preocupou à toa.

— Apesar do meu jeito, me importo com você e seu bem-estar — diz, me analisando por

completo.

Sorrio e me aproximo dela, a abraçando. E sinto justamente a mesma coisa que ela.

Quero apenas o seu bem.

Me sinto mais aliviada quando Frederic chega e depois de nos separarmos do nosso abraço,

ele diz que é para eu colocar música, que vai preparar uns petiscos para comermos. Coloco o som no

volume ambiente e me sento próxima ao balcão enquanto o vejo com as mãos à obra. Ele trouxe do

mercado vários tipos de queijo, salame e azeitona. Então coloca-os cortados em tamanhos iguais

sobre uma bandeja que encontra e pega duas taças, enchendo-as com o vinho que comprou.

— Vamos fazer um brinde — diz, erguendo a sua taça.

— Ao quê?

— Ao desejo sombrio — diz malicioso, umedecendo os seus lábios. Sei de qual desejo ele

está dizendo e meu corpo se arrepia com isso. Bebo sentindo o gosto suave e doce invadir minha

boca.
Ele começa a se servir e faço o mesmo, comendo os petiscos que ele comprou.

— Por que não me chamou para ir com você? — pergunto, bebendo mais do vinho.

— Não quis acordá-la — diz, dando de ombros. Concordo, observando o quanto ele é bonito.

— Na próxima você me acorda, então — digo.

— Não consegue mais ficar longe de mim, Estére? — pergunta. Toda vez que meu nome estala

em sua boca é como se uma sensação cobrisse meu ventre.

— Não seja tão convencido assim — o respondo. Ele sorri e perco o fôlego com seu sorriso

tão sexy.

— Quer dançar comigo essa música? — pergunta.

Presto atenção no rádio e ouço Skin da Rihanna começando a tocar.

— Tudo bem — digo, me levantando. Ele vem até mim e me estende a mão.

A seguro e seguimos para o meio da sala, Frederic passa uma de suas mãos para o meu

quadril e levo a minha ao seu ombro. Começamos a mexer os quadris devagar, seguindo o ritmo lento

da música.

Ele me olha atentamente e fixo meus olhos nos seus. Então sua boca entreabre e minha

respiração dispara.

— De onde estou, sou capaz de ouvir seu batimento cardíaco, Estére — diz. — Por que seu
coração está acelerado?

Engulo em seco e fico sem reação, pensando no que as pessoas diriam se nos vissem agora.

Se Collin descobrisse que suas teorias de morar sozinha com meu padrasto estavam certas. Se Frida

soubesse que escondi para ela o que vem acontecendo no último mês.

— Eu quero te beijar — digo, ele concorda e sorri.

— Eu também quero — responde.

Rapidamente nossos corpos se aproximam e naquele momento esqueço meus medos, os tabus

e as opiniões das pessoas, e me aproximo de Frederic, o beijando.


Os dias no chalé têm sido tranquilos. Frederic mostra um lado seu que por anos desconhecia.

Ele é gentil comigo e isso me deixa cada dia mais encantada por ele, o que acaba me preocupando.

Fomos à cidade ver a árvore que ele fez questão de me levar. O evento foi lindo, e com isso,

tive a dolorosa realidade de que passaria o primeiro Natal longe de mamãe. O que me fez ficar

chateada e dar a noite por encerrada.

No dia seguinte, acordo mais cedo e decido preparar café para Frederic e eu, afinal, ele

sempre vem cuidando de mim, então nada mais justo do que eu fazer a mesma coisa. Faço um café

forte para despertarmos e preparo algumas torradas, aquecendo-as no micro-ondas que temos na

cozinha. Pego algumas fatias de queijo, presunto defumado e frutas, colocando sobre o balcão.

Aqueço o leite, e quando estou terminando, ele desce apenas de camiseta e cueca. Percebo que o

volume no meio de suas pernas está marcando mais do que quando vi a última vez, o que me dá a

certeza de que seu material deve ser grande. Muito grande.

— Bom dia — digo.


Ele murmura alguma coisa e entra no banheiro, ainda sonolento, alguns minutos depois, sai

vestido com uma bermuda que deveria ter deixado lá. Seus olhos recaem sobre mim e ele boceja,

então se senta à minha frente e encosta a cabeça no balcão.

— Não dormiu esta noite?

— Nem um pouco — diz, me encarando e pegando uma xícara. — Obrigado pelo café.

— Não tem o que agradecer — digo, me sentando e começando a comer.

Fazemos nossa refeição em silêncio, o que me deixa um pouco incomodada. Será que há algo

que está incomodando Frederic?

— Você está bem? — o questiono.

— Sim, por quê?

— Nada — minto, sabendo que realmente deve ter alguma coisa acontecendo e ele não quer

me falar.

— Vamos aproveitar hoje, que amanhã já é véspera de Natal — diz, mudando de assunto.

— Claro, preciso ir ao mercado comprar as coisas da nossa ceia, que você vai cozinhar, é

claro. Não adianta, sou um desastre na cozinha.

Ele me encara e rimos disso.

— O seu macarrão não ficou ruim — diz.


— O que é sorte — digo.

— É, talvez esteja certa. Vou só arrumar as bagunças e me trocar, te encontro em meia hora.

Frederic me encontra no tempo que diz. Ainda estou no quarto e ele dá uma batida na porta,

encostando seu corpo no batente.

— Estou pronto — diz. Vejo que está usando a roupa que sempre usa; calça, botas grossas e

camiseta.

— Certo, só me deixe arrumar meu cabelo — digo. Ele concorda e então penteio sem ao

menos olhar e os prendo, deixando algumas mechas caídas pela frente. Fred sorri e pego meu celular

com a carteira, indo em direção à saída. — Vamos.

Passo ao seu lado e Frederic para na minha frente, me encarando mais próximo que o normal.

Engulo em seco e minha respiração fica entrecortada, então ele se aproxima e coloca os dedos no

meu rosto, arrumando meu cabelo.

— Estava bagunçado. Vamos.

O vejo se afastar e descer a escada, então o sigo, sabendo que ele está fazendo isso para me

provocar.

Se esse é seu plano, então será o meu também.

O mercado está lotado, como já era de se esperar. Pessoas vão para todos os lados
empurrando seus carrinhos com crianças correndo ou chorando.

Pego o carrinho e Frederic o empurra, seguindo pelos corredores de bebidas. Pego uma

garrafa de vinho e uma de champanhe, decidida a fazer esse Natal ser uma noite agradável, mesmo

que eu vá passar longe de mamãe e até mesmo de Frida. Logo após isso, seguimos para outro

corredor e Fred começa a pegar as coisas que vai usar.

Menos de uma hora depois, nosso carrinho está com tudo que iremos consumir e seguimos

para a enorme fila, que se arrasta por mais uma hora.

Quando finalmente saímos do mercado, olho distraída para as pessoas e um olhar marcante me

nota. Congelo, sentindo-me estarrecida. Vejo seus olhos azul-turquesa me notarem e o sorriso sádico

estampar o seu rosto machucado, então Frederic percebe que há algo errado e olha na mesma direção

que eu.

— Está tudo bem? — pergunta.

Pisco e percebo que Dréck sumiu. Isso se realmente ele esteve ali.

— Era ele — sussurro olhando ainda na mesma direção, como se ele fosse se materializar ali.

— Dréck. Eu o vi.

Frederic me encara e olha ao redor, seu olhar mudando completamente.

— Tem certeza disso? — pergunta. Concordo com um aceno de cabeça. — Entra no carro —

ordena.
— O que você pretende fazer?

— Entra no carro e fique aqui, entendeu?

Não questiono, então entro e ele fecha a porta, travando o veículo. Vejo Frederic se afastar e

meu coração congela ainda mais com isso.

Onde ele pensa que vai?

Então reparo que Fred procura Dréck pela multidão, o que me deixa aflita, com um enorme

embrulho no estômago.

Ele segue para o outro lado e depois volta para dentro do mercado, saindo do meu campo de

visão.

Pego meu celular e me atento a ligar para a polícia, porém não o faço. E se realmente havia

sido minha imaginação? E se estou ficando tão paranoica com tudo que me vem acontecendo que

agora estou vendo coisas?

Uma batida no vidro me faz sair dos meus pensamentos e então encaro Fred, que entra no

carro.

— Não achei aquele desgraçado — diz, batendo no volante. Me assusto e ele me observa. —

Me desculpe.

— Tudo bem, obrigada por ter tentado.

Ele concorda e sai do estacionamento, seguindo para o chalé em silêncio. Me mantenho do


mesmo jeito, quieta e com medo.

Chegamos rapidamente e ajudo Frederic com as coisas, comigo subindo para o meu quarto e

me mantendo o dia todo trancada, com medo de Dréck aparecer e conseguir me violentar.
Acordo na manhã seguinte não conseguindo me lembrar do momento em que dormi e meu

estômago protesta. Levanto-me da cama e corro para o andar debaixo, indo para o banheiro. O cheiro

de comida fresca invade minhas narinas e sinto ainda mais fome, então após eu sair do banheiro, vou

para a cozinha e encontro Frederic com um avental, todo animado.

— Parece que alguém acordou com disposição hoje — digo, o encarando. Ele sorri e

concorda, colocando na minha frente panquecas com mel e sorvete.

— Pensei que iria gostar de comer isso hoje, sei que não é do Beer’s, mas tentei.

— Parece ótimo, obrigada! — digo animada. Me sento e começo a devorar, sentindo a

sensação de antes se esvair. Não pensei mais em Dréck, parece que dormir e ter uma noite sem

sonhos me ajudou a descansar minha mente, o que me anima. — O que você está aprontando?

— Bem, coloquei as batatas para cozinharem, já coloquei o peru no forno e vou preparar a

sobremesa.

— Você está mesmo adiantado.


— Sim, iremos à cidade depois da ceia, o que acha? Vai ter um coral de Natal lá, pensei que

seria bom para você se distrair um pouco.

Sei sobre o que ele está falando. Frederic não quer ficar sozinho comigo porque sabemos que

se fizermos isso, nossa noite de véspera de Natal vai ser regada a lágrimas e tristeza por não termos

mamãe ao nosso lado.

— Eu gosto da ideia, desde que você me deixe dirigir.

— Claro, o carro é seu — diz, sorridente.

Sorrio de volta e continuo comendo, maravilhada com o sabor das panquecas. Após terminar,

coloco o prato sobre a pia e o lavo, com Frederic mexendo no seu celular e ficando com o olhar

sério.

— Eu vou para o meu quarto, as batatas já estão boas e o peru vai demorar pelo menos mais

umas quatro horas, nos vemos daqui a pouco — diz, já subindo para o andar de cima e fechando a

porta.

Fico sem entender, curiosa com o que está acontecendo. Será que Frederic havia arrumado

uma namorada e está com medo de me dizer?

“Não seja idiota! Ele deve estar com algum problema na oficina. É, pode ser isso mesmo.”

E espero que eu esteja certa.

*
As horas passam devagar, tento falar com Frida, mas seu celular dá caixa postal, o que me faz

acreditar que esteja dormindo por conta do fuso horário.

Continuo na cozinha, sentada, sentindo o cheiro da comida, quando Frederic sai do quarto e

desce, indo até o forno. O vejo mexer no peru e depois terminar de fazer as batatas.

— Está quase pronto, parece que iremos comer cedo.

— Por mim tudo bem, sempre achei besteira termos que comer tarde — digo.

— Concordamos nisso, então — diz, preparando o arroz e depois a salada. Quando termina,

ele segue para a sobremesa, que é torta de banana com canela que tanto adoro.

O cheirinho da canela percorre todo o ambiente e lambo os beiços, com água na boca.

— Você aprendeu a cozinhar tão bem assim com quem? — pergunto, Frederic se vira e me

olha.

— Minha mãe, quando viva, era uma cozinheira fantástica, tudo que sei foi ela quem me

ensinou.

— Eu sinto muito que a tenha perdido.

Ele agradece com um movimento de cabeça.

— Faz mais de dez anos. Quando conheci Jolie, ela havia falecido — responde. — Hoje em

dia é mais fácil lidar com a dor, mas não superei ainda.
Fico em silêncio, se Frederic não havia superado a morte de sua mãe depois de dez anos,

imagino que será do mesmo jeito comigo.

— É difícil superarmos a morte de quem amamos, estou sentindo isso na pele. Quando meus

avós morreram, não foi tão difícil quanto está sendo com mamãe.

— Sim, Jolie era uma ótima mulher, é realmente difícil superar sua morte.

— Você ainda a ama? — pergunto, curiosa.

— Sim — responde de imediato. — Acredito que sempre irei amar sua mãe, de uma maneira

ou outra. Afinal, não terminamos nosso relacionamento, ele foi interrompido.

Fico atônita ao ouvir isso. É verdade, a imagem de mamãe sempre irá pairar diante de nós,

mesmo que passasse anos, lembraríamos dela. Eu, como a filha que a traí depois de morta, e Frederic

como o canalha que “pega” mãe e filha.

O pensamento me deixa enjoada.

Fico o restante do dia no meu quarto e quando está anoitecendo, decido tomar um banho e

lavar meus cabelos. Depois disso, me depilo e faço as sobrancelhas, decidida a ficar bem arrumada

nesta noite.

Escolho um vestido vermelho que realça minhas curvas. Ele é acima do joelho e tem um

decote nas costas e um discreto na frente. Coloco o colar que ganhei de mamãe no último Natal e

seco os cabelos, deixando com a ondulação natural. Faço uma leve maquiagem e depois que termino
de me arrumar, ouço meu celular tocar e mostrar a imagem de Frida na tela.

— Finalmente conseguimos nos falar, pensei que havia me esquecido por completo — digo,

sorrindo. Minha amiga está linda; seu vestido é brilhoso e com um enorme decote, está com um colar

no pescoço e enormes brincos na orelha, enquanto seus cabelos estão presos e bem arrumados. O

batom escuro na sua boca realça suas bochechas.

— Eu nunca te esqueceria — diz. — Me conta, como estão as coisas no chalé?

— Bem tranquilas, Frederic é bem gentil, o que é estranho, e está cozinhando para nós.

— Diz que mandei um beijo, mas agora me conta, ele já tentou algo com você como Collin

supôs?

Fico surpresa com sua pergunta e gaguejo.

— O-o quê? Claro que não!

Frida me encara e ri.

— Você tinha que ter visto sua cara agora. Só estou brincando, bobinha.

Reviro os olhos e mostro a língua.

— Você está virando uma verdadeira piadista — digo.

— Isso é culpa das pessoas daqui, mas agora preciso ir nessa. Foi bom conversar com você.

Eu te amo.
Me despeço dela e desligo o aparelho, vendo Frederic parado à porta.

— Oi — diz. Vejo que ele usa uma camisa social e que as mangas estão dobradas abaixo do

cotovelo. É escura e combina com sua calça jeans preta e sapatos sociais. Seus cabelos curtos estão

penteados e a barba está bem alinhada.

— Olá — digo, desviando meu olhar do seu corpo. Droga, preciso aprender a me controlar!

— Você está linda, Estére — diz, se aproximando de mim.

— Você também está — digo.

Ele sorri e ficamos frente a frente, com nossos corpos colados. Frederic leva sua mão até meu

rosto e acaricia minha pele.

— Vendo-a desse jeito, vestida nessa roupa, tenho certeza de uma coisa — diz.

— O quê?

— Eu te quero, Estére, e mesmo sabendo que você é minha enteada, sinto que isso não é

errado — sussurra, passando os dedos no meu rosto. Cada toque seu me causa um formigamento.

— Eu também te quero, Frederic, o que é uma loucura. Você foi por anos meu padrasto, se

mamãe estivesse viva, continuaria sendo, então me diz por que isso aconteceu, por que não consigo

me controlar quando estou perto de você?

Encostamos nossas testas uma na outra e ele suspira.


— Eu também quero uma resposta para isso, contudo, não a tenho. Mas não consigo só ser seu

amigo, eu a desejo a todo instante. É como se fosse o desejo mais sombrio que já tive em toda minha

vida — revela.

Concordo e fixo meus olhos nos seus lábios, o beijando devagar. Ele retribui e movimenta sua

língua para dentro da minha boca, me fazendo questionar em como seria se estivesse no meio das

minhas pernas. Tento não pensar em mais nada, não pensar em mamãe e nem no que as pessoas

diriam se soubessem, e nos entregamos ao beijo quente, doce e apaixonado.

Frederic me guia para o andar debaixo com uma venda nos olhos. Ele diz que quer mostrar a

surpresa que me preparou e sinto meu coração acelerar cada vez mais quando chego no último

degrau.

Assim que chegamos, fico parada e sinto minha respiração acelerada, então, devagar, ele

retira a venda.

Olho ao redor da sala e da cozinha e vejo luzes acesas em torno das janelas e lareira. Em

cima do balcão, estão nossos pratos, com guardanapos, talheres e taças. Fico surpresa, sem acreditar

que ele havia feito isso tudo para mim em tão pouco tempo. O peru está sobre o fogão, assim como o

restante da comida.

E é aí que eu vejo que não temos uma árvore de Natal, com a correria e loucura dos últimos

dias, esquecemos completamente de providenciar isso tudo.


— Como você arrumou isso tão rápido? — questiono.

— Foi enquanto você esteve no seu quarto — diz. — Infelizmente eu não consegui uma

árvore, e foi burrice nossa não pensarmos nisso antes, mas achei isto.

Vejo ele pegar um buquê de rosas vermelhas e me entregar. Sinto o perfume e sorrio.

— São lindas, obrigada — digo, alegre. Ele sorri de volta e do buquê, pega uma rosa.

— Vermelho é considerado por algumas pessoas, a cor do pecado, você sabia? — questiona.

— Não — digo, curiosa com o que ele quer dizer. Frederic segura a rosa e brinca com ela

entre seus dedos.

— E a rosa vermelha significa paixão — completa. — Eu sei que é muito cedo para dizer

isso, e não consigo explicar, mas estou apaixonado por você, Estére.

Fico surpresa ao ouvir isso e sinto as lágrimas transbordarem nos meus olhos. Frederic, meu

padrasto, está apaixonado por mim.

E o pior, eu também estou apaixonada por ele, o que me deixa completamente confusa.

Quando isso aconteceu? Como sei que o que sinto é paixão? Como pude deixar isso

acontecer?

Sinto medo e repulsa por estar apaixonada pelo homem que passou anos ao lado de mamãe,

mas o que eu poderia fazer a respeito? Como explicar ao meu coração, que acelera quando ele se

aproxima de mim e me beija, que o que estamos fazendo é errado? Como mamãe se sentiria? Como
Frida reagiria?

Esqueço por um pequeno momento isso e finjo que tudo não passa de loucura. Que Frederic

nunca foi o meu padrasto e retribuo o beijo.

Para alguns, nós seríamos o próprio Diabo. O oitavo pecado capital. Mas para Frederic e eu

não.

Somos apenas duas pessoas apaixonadas que não sabem o que fazer em relação a isso.

Estávamos perdidos e nos encontramos um nos braços do outro. E mesmo que nos julguem,

massacrem e digam que isso não passa de loucura, eu iria fazer de tudo para ficar com ele.

Eu me entregaria a completa loucura e combustão que nos consomem.


— É melhor irmos comer antes que a comida esfrie — digo, separando nossos lábios.

Estamos parados no meio da sala e Frederic concorda com um simples movimento de cabeça.

— Você está certa, ainda vamos à cidade.

Concordo e coloco as rosas, inclusive a de que está em sua mão, na cozinha e seguimos para o

balcão. Me sento e Frederic me serve, a todo instante sorrindo.

É estranho pensar que menos de dez minutos atrás ele me disse que está apaixonado por mim,

contudo, não me sinto mal com isso. Pelo contrário. É como se dependêssemos em dizermos isso um

ao outro para nos libertarmos de todos os nossos medos.

Mesmo eu não tendo dito em voz alta.

— Gostou? — pergunta Frederic comendo.

— Do quê? — pergunto, saindo dos meus pensamentos.

— Do peru, é claro — diz. — E do restante da comida também.


— Está realmente delicioso, essas batatas estão divinas. Obrigada por isso, se não fosse você

ter vindo comigo para cá, eu iria acabar comendo comida enlatada.

Ele ri e leva outra garfada até a boca.

— Fico realmente feliz que esteja se divertindo, apesar de não termos saído muito.

— Não preciso sair para me divertir — digo. — A minha diversão está aqui.

Percebo o quanto isso soa sexy e ele demonstra um sorriso de lado.

— É bom saber que sou uma diversão para você.

— É sim, principalmente suas comidas. — Rimos e continuo comendo. Assim que finalizo

meu prato, me sirvo de mais um pouco, não ligando para as gordurinhas que irei ganhar.

— Realmente está bom, acho que é a primeira vez que a vejo repetindo comida.

— Talvez eu tenha mudado mais do que imagina nos últimos tempos. — Dou de ombros e levo

o garfo à boca, bebendo do vinho.

Ele bebe da sua taça e concorda.

— Nós mudamos, pelo visto — diz e ouço seu celular apitar, informando uma nova

mensagem. Ele pede licença e se levanta, indo até o banheiro.

Estranho essa atitude, mas não me importo. A loucura de achar que ele tem uma namorada não

paira mais em minha mente, visto que ele se declarou para mim.

*
Quando terminamos de jantar, entramos no meu carro e seguimos para a cidade. Dirigir com o

salto me deu um pouco de dificuldade, mas consegui, o que fez Frederic se divertir bastante.

— Você volta com o carro — digo saindo e batendo a porta.

— Você que quis vir dirigindo, apenas fiz o que queria.

Reviro os olhos e mostro a língua a ele, que se aproxima de mim e passa a mão pelas minhas

costas desnudas.

— Não mostre a língua para mim ou serei obrigado a mostrar o que a minha pode fazer.

Me arrepio com isso e mordo o canto da boca, já criando teorias do que ele faria comigo.

— Devo admitir que estou curiosa para saber — digo. Ele ri e seguimos em direção à

multidão que já espera o coral começar. Há fileiras de cadeiras colocadas à frente da praça da

cidade e nos sentamos, com Frederic segurando minha mão na frente das pessoas sem se importar.

Claro que aqui não há conhecidos nossos, podemos ter essa liberdade, então penso em como

será na nossa cidade. Iremos ter a mesma liberdade que aqui?

“É claro que não, e não sei por que está pensando tanto, vocês não são nada.”

Esqueço isso pelo menos por agora e avisto o palco que foi improvisado na nossa frente. O

céu está claro, o que é bom e não está frio.

Vejo algumas pessoas subindo no palco vestidas com roupas de anjos, eu diria. Cada um se

posiciona lado a lado e um homem vem na frente deles, fazendo um sinal para que o coral comece a
cantar.

As vozes de todos ecoam entre nós e fico fascinada. A música escolhida é Hallelujah.

Sinto meus pelos se arrepiarem e me emociono, visualizando em minha mente o sorriso

radiante de mamãe. Penso em como daria tudo para ela estar comigo neste momento. Até mesmo essa

paixão que sinto pelo meu padrasto.

Choro baixinho e Fred percebe, me abraçando apertado enquanto eles ainda continuam

cantando. Reflito em tudo que não fiz com minha mãe.

Não fizemos nossa viagem dos sonhos e ela não me viu formada, casada e com filhos, como

sempre desejou. Quantas coisas foram perdidas com o fim de sua vida.

Seco meus olhos e digo a Fred que está tudo bem, então continuo prestando atenção ao coral,

que finaliza a música e começa outra. Agora é a vez de cantarem Imagine, que me faz ficar mais

emocionada ainda.

— Eu não quero perdê-lo, Frederic — digo olhando-o com lágrimas nos olhos. — Eu também

estou apaixonada por você, e por mais complicado que isso possa parecer, não quero te perder, em

hipótese alguma. Já basta eu não conhecer o meu pai e ter perdido minha mãe. Perdê-lo seria como o

fim.

Ele me observa e seca minhas lágrimas.

— Você não vai me perder, estarei ao seu lado até o instante em que desejar. Sei que é
estranho isso tudo e não entendo muito bem o que aconteceu entre nós, mas eu não pretendo ir a lugar

algum, Estére.

Me aproximo dele e sem me importar com as pessoas à nossa volta, o beijo, sentindo não só

as minhas lágrimas, mas as suas também invadirem nossas bocas.

— Vamos para casa, por favor — peço.

— Se formos agora, não irei conseguir me controlar, Estér — diz, encostando sua testa na

minha.

— Nem pense em se controlar, Frederic, por favor, eu quero isso.

Ele me encara e vejo as pessoas aplaudirem o coral.

— Tudo bem, vamos.

Chego no chalé ansiosa e com duas unhas já ruídas. Meu coração acelera ainda mais quando

Frederic para o carro e me encara.

— Se não quiser fazer isso, tudo bem, podemos somente dormir juntos, o que acha?

Penso sobre a proposta e mordo o canto da boca. Dormir com ele parece bom, mas ter a ideia

de transarmos e minha primeira vez ser com ele, é melhor ainda.

— Por acaso você está pulando fora, Frederic Cooper? — pergunto, brincando. Quem sabe o

clima de descontração não ajude a meu coração parar de pular tanto no peito.
— Eu nunca pulo fora, Estére, ainda mais quando é uma mulher como você — responde.

Fico sem palavras e saio do carro, com ele fazendo o mesmo e seguindo para dentro do chalé.

Entro e retiro os saltos que me matam, então Frederic se aproxima de mim e me agarra.

Solto um gemido quando ele me pega no colo e encara meus olhos, o brilho dos seus me

fascinam. Me aproximo, sem qualquer ressentimento e começamos a nos beijar. Sinto sua língua

invadir minha boca e o aperto contra mim, levando minhas mãos até suas costas largas. Frederic me

guia pela escada e vai subindo devagar, parando no meio dela e beijando meu pescoço, descendo

para o meu decote. Solto outro gemido com isso e o aperto ainda mais forte contra mim, pensando no

que está prestes a acontecer.

Seguimos para o quarto e com ele ainda me segurando, abro a porta com dificuldade e avisto

o seu quarto, que é igual ao meu. Assim que passamos pela porta, Frederic me coloca no chão e

desabotoa sua camisa, revelando seu abdômen malhado, que me faz ficar com água na boca toda vez

que o vejo. Ele se movimenta para trás de mim e joga meus cabelos para a frente, beijando minhas

costas nuas. Então abre o zíper do vestido e as alças percorrem pelos meus braços, caindo devagar

pelos braços e escorregando para o chão. Fico somente de lingerie e ele vem para a minha frente, me

encarando.

— Me diga como você gosta, Estére, que farei melhor.

Fico em silêncio ao ouvir isso e sinto meu rosto queimar, então abaixo a cabeça, sem graça.

— E-eu — gaguejo e Frederic estreita as sobrancelhas.


— O quê?

— Eu não sei como gosto — digo. — Nunca fiz.

Seus olhos se arregalam e ele fica um minuto inteiro em silêncio.

— Espera... você está me dizendo que é virgem? — pergunta Frederic, surpreso.

Balanço a cabeça em concordância, sem olhá-lo.

— Sim — afirmo.

— Você e Collin nunca... nada? — questiona e balanço a cabeça em negativa. — Meu Deus,

por pouco você não é estuprada.

Fico quieta, sabendo o que ele quer dizer. Por pouco, pouco mesmo, eu não perco minha

virgindade sendo estuprada.

— É isso mesmo — afirmo.

— Você tem certeza de que quer isso? Digo, quer mesmo fazer isso comigo?

— Sim, eu quero — respondo. Ele sorri e leva sua mão até a alça do meu sutiã.

— Porra, Estére, você está me deixando louco. Prometo que farei ser a melhor noite da sua

vida, certo? Se algo lhe incomodar, peço que me avise imediatamente, que então paro.

Concordo, estranhando. É estranho demais isso... principalmente por saber que estou prestes a

perder a virgindade com o ex-marido de mamãe.


Mas não me oponho ao meu instinto. Pelo contrário, esqueço naquele momento o que sempre

fomos e deixo Frederic me guiar.

Vejo ele retirar meu sutiã e olhar meus seios, maravilhado com a imagem. Então Fred tira sua

calça e fica apenas de cueca, enquanto estou de calcinha.

Ficamos frente a frente e ele se aproxima, encostando seu corpo ao meu, fazendo-me sentir seu

pau já duro encostar no alto da minha barriga, o que faz meus pelos se arrepiarem e meu corpo enviar

um alerta para meu baixo-ventre, o umedecendo. Sinto-me excitada, louca para tê-lo enterrado em

mim, então, passo as mãos no seu peito e me delicio com a rigidez deles. Desço devagar e acaricio

sua barriga, levando meus dedos até o cós da box. Fred fica me encarando e, devagar, o puxo e vejo

seus pelos pubianos, levando minha mão até dentro de sua cueca. Minha pele se encontra com a do

seu pênis e me arrepio, então o sinto pulsar. Lambo os lábios e Frederic me puxa para mais perto,

beijando meu pescoço e mordiscando minha orelha, enquanto sua mão brinca com meu seio.

Levo minha mão mais para dentro da boxer preta e a puxo para baixo, finalmente vendo seu

pênis.

Como supus, é grande, grosso e com as veias saltadas, o que me preocupa e excita ao mesmo

tempo. Só de tê-lo em minha mão já sinto o quanto isso irá me satisfazer, mas sinto medo por ser

virgem.

— Seu toque é delicioso, Estér — diz, descendo com sua língua para meu seio. Ele o chupa e

tiro a mão do seu pau, soltando o gemido e o segurando contra mim naquela posição. Sinto sua língua
brincar com o bico do meu seio e solto outro gemido. — Viu, Estére, é isso que eu faço com a minha

língua, mas tem mais.

Frederic desce devagar, fazendo-me ficar ansiosa. Ele passa a língua pela minha barriga e me

arrepio, sentindo medo dos meus instintos. Então Fred para em frente à minha boceta e se aproxima,

inalando o cheiro da minha calcinha.

Fico nervosa e ele leva as duas mãos até o cós, a puxando devagar, como se fosse uma tortura.

Então fico nua em sua frente. Frederic encara minha boceta e lambe os lábios, se aproximando

e passando sua língua no meu clitóris, fazendo me arrepiar ainda mais.

— Você é linda, Estére — diz.

Continuo em silêncio e o vejo voltar a passar a língua em mim, mergulhando-a na minha

boceta.

Solto um gemido alto ao sentir a sensação. É algo completamente novo para mim, e sinto que a

qualquer momento posso explodir de tanto desejo que sinto.

Frederic continua com sua língua brincando na minha boceta e depois de um bom tempo ele se

levanta e traz seus lábios até minha boca, a devorando. Sinto o sabor do meu sexo e arranho suas

costas, sendo a minha vez de me abaixar.

Passo a língua pelo seu peitoral e sigo para sua barriga, sentindo os gominhos, então desço

devagar e sinto o cheiro de sabonete nos seus pelos pubianos.


— Eu nunca fiz isso — digo, de joelhos.

— Tudo bem, não precisa ter medo — diz.

Concordo e seguro seu pênis duro que está à minha frente. Levo minha língua em direção da

glande e passo devagar, maravilhada com a sensação que isso me causa. Frederic solta um gemido e

repito o processo, colocando-o devagar sobre a minha boca.

Faço alguns movimentos, me sentindo com vergonha e desconfortável com aquilo. E se eu

estiver fazendo errado? E se estiver machucando Frederic e ele não quer falar para não me magoar?

Paro de chupá-lo e passo a língua na base, sabendo que isso é uma coisa que não o

machucará. Eu e minha inexperiência maldita. Então, depois de um tempo brincando com seu pau,

Frederic me puxa para cima e me encara.

— Por hoje está bom — diz.

— Eu te machuquei? — pergunto, nervosa. Ele ri e nega.

— Não, mas não se preocupe com isso, sei que está nervosa e quero deixá-la o mais

confortável possível. Então faremos isso outra vez, certo? Eu te ensino.

— Me ensinar? Eu não sei nada.

— Então fique feliz em saber que temos tempo, agora venha.

Concordo e o sigo, ele me deita na cama, devagar, ficando sobre mim e passando a ponta dos

dedos no meu rosto. Fecho os olhos, aproveitando seus toques e ele os leva até meus lábios.
— Quando eu for te ensinar a me chupar, iremos treinar com meu dedo — diz, enfiando na

minha boca, fico sem reação e concordo com um leve menear de cabeça. —, mas agora quero saber

se você está pronta.

Respiro fundo e concordo.

— Sim, estou — sussurro.

— Se te machucar, quero que me diga, entendeu?

Concordo e sinto ele acariciar meu braço e seguir para barriga, então me ajeito na cama e

Frederic se mantém por cima de mim, enfiando seu pênis devagar na minha entrada. A sensação

inicial que sinto é de desconforto e um pouco de dor, mas não digo a ele, afinal, quero isso. Então ele

vai se aprofundando mais e sinto um estalo seguido de um pequeno desconforto.

Frederic fica parado e sinto seu pau escorregar para dentro de mim, me preenchendo. Fico

sem reação, deliciada com isso, e ao mesmo tempo assustada por ser algo completamente novo.

— Como está se sentindo? — pergunta.

— Estou bem — respondo.

— Posso? — Sei que ele quer permissão para se movimentar e concordo, passando minhas

pernas em volta de suas costas para que ele saiba que estou realmente pronta. A dor e desconforto

continuam presentes, mas logo são substituídas pelo desejo e tesão que ele me causa.

Frederic começa a movimentar seu quadril devagar, enfiando aos poucos e tirando. Continuo
abraçada a ele, não conseguindo acreditar que aquilo está acontecendo, então os seus movimentos

vão se intensificando e me sinto ainda mais excitada.

Como pude ficar sem isso por tanto tempo? Será que se eu tivesse perdido minha virgindade

com Collin seria tão bom quanto está sendo com Frederic?

“Como pude resistir a esse homem por tanto tempo?”

Ele continua investindo em mim e me agarra, me colocando de pé, e enquanto seu pau entra e

sai de mim, envolvo-me em seus braços, cada vez mais deliciada com isso.

Deliciada em saber que acabo de perder minha virgindade com meu padrasto. Com o homem

que foi casado por tanto tempo com mamãe. E não me importo.

Deixo o desejo nos consumir e me entrego completamente a ele, que continua estocando em

mim, segurando meu corpo, arrancando gemidos de dor e prazer da minha boca, e então Frederic

solta um rugido, saindo de dentro de mim antes de gozar e me sujar por completo.
Frederic me pega no colo e devagar desce a escada, me levando para o banheiro. Ele me dá

banho e sorri a todo instante, assim que termino, ele também finaliza e voltamos para o seu quarto.

Noto uma mancha de sangue no lençol que não havia reparado antes e ele o retira, substituindo por

outro.

— Dorme comigo — pede, após buscar uma roupa para mim e nos trocarmos.

Penso sobre isso e concordo, sabendo que não adianta me crucificar mais, afinal, o “pior” já

havia acontecido.

E por pior que eu pareça ser, não me sinto mal com isso e sei que Frederic também não.

Nos deitamos e ele apaga a luz, me abraçando e puxando meu corpo para mais perto do seu. É

a primeira vez que durmo com um homem. Sim, nem mesmo isso eu havia feito com Collin. Tudo é

realmente novo e me sinto completamente excitada e confusa ao saber que estou fazendo isso com

Frederic.

— Boa noite, Estére, durma com os anjos — sussurra.


— Boa noite — digo, sorrindo, ele continua fazendo carinho em mim até cair no sono e logo

em seguida também durmo.

Acordo na manhã seguinte e vejo Frederic ao meu lado ainda. Sorrio com isso e me levanto,

seguindo até o banheiro. Faço xixi e escovo os dentes, prendendo os cabelos. Assim que saio, dou de

cara com ele, que sorri.

— Bom dia, Estér — diz.

— Bom dia, Fred — respondo depositando um selinho em sua boca, ele retribui e vai para o

banheiro. Coloco a água para preparar o café e ele sai, vindo até a mim.

— Pronta para ir para casa?

— Pensei que passaríamos o Ano-Novo aqui também — digo.

— Infelizmente a oficina precisa de mim — diz, bufando.

— Você sabe que não precisa trabalhar tanto, não é? Mamãe te deixou um dinheiro

considerável, por que não usa para investir e arrumar outra pessoa para trabalhar?

Ele me encara e nega com a cabeça.

— Não tenho dinheiro, Estére — diz.

— O que? Você gastou todo aquele dinheiro que mamãe deixou?

Ele nega com a cabeça.


— Na verdade, nem cheguei a mexer. Prefiro não usar, não é meu. — Ele desvia seu olhar do

meu e termina de preparar o café.

— É por minha causa, não é? Você não quer utilizar o dinheiro porque está apaixonado pela

enteada.

— Por favor, não vamos entrar nesse assunto agora.

— Mas por quê? Qual o problema em usar algo seu? Mamãe não se importaria, sei que ela

iria querer que você seguisse sua vida.

— Não com a filha dela! — grita, socando a porta do armário e fazendo eu me assustar. —

Me desculpe, não quis gritar com você, mas não é fácil digerir isso.

Fico em silêncio, sabendo que ele tem razão. Realmente não é fácil. E se as pessoas

souberem, irão nos criticar. Mas como mandar em algo que não conseguimos sequer controlar? É

impossível.

— Vou arrumar minhas coisas — digo, mudando de assunto e subindo para o meu quarto.

— Estére, por favor, volte aqui — pede.

Fecho a porta e a tranco, sabendo que Frederic está certo. Pode passar o tempo que for,

sempre seríamos o padrasto e a enteada que se apaixonaram.

Depois de um tempo, ouço uma batida na porta e guardo as últimas coisas na mala antes de
abrir.

— O que foi? — pergunto a Frederic que está parado com duas xícaras de café.

— Trouxe um café para você como um pedido de desculpas — diz, me entregando a xícara. A

pego e tomo um gole, agradecendo. — Por favor, me desculpe, não quis ser rude.

— Tudo bem, sei que é uma situação completamente confusa — digo. Ele fica parado e cruzo

os braços. — Posso ajudá-lo em algo mais?

— Sim, me escutando.

— Estou.

— Me desculpe, ok? Estou realmente apaixonado por você e é tudo muito confuso. Há

momentos que estamos juntos que não me importo com mais nada, a não ser com você, mas quero que

entenda que por nove anos seguidos você foi minha enteada, e agora é a mulher pela qual me

apaixonei. É confuso e sei que será difícil as pessoas digerirem. Será difícil nós digerirmos isso,

afinal, têm poucos meses que sua mãe morreu, então peço que tenha paciência, pois terei com você.

Vejo que ele tem razão e assinto.

— Tudo bem, mas desculpo se tivermos panquecas para o café — digo a fim de descontrair.

Ele está certo, faz pouquíssimo tempo que mamãe morreu e já estamos apaixonados.

Como pode uma coisa dessa?


Realmente iremos para o inferno.

Ele sorri e dá de ombros.

— Te conheço mais do que imagina e já preparei, é só descermos para comer.

Comemos e logo após terminarmos, ajeitamos a bagunça do chalé e começamos a guardar

nossas coisas no carro. Já indo para casa, com Frederic dirigindo, uma súbita sensação de que as

coisas serão diferentes me cobre. E agora, o que iríamos fazer? Aqui, mesmo que não fosse tão longe

de onde moramos, é um lugar onde ninguém nos conhece, então podemos andar pelas ruas como um

casal apaixonado. Mesmo que não fôssemos um casal.

Mas afinal, o que somos? Frederic assumiu estar apaixonado por mim, assim como eu

também, e acabamos transando. Mas o que isso significa na realidade? Ainda somos somente o

padrasto e a enteada ou nos tornarmos algo a mais?

Saio dos meus pensamentos, decidida a não pensar nisso. Quero que as coisas aconteçam da

forma que devem ser, sem serem atropeladas. Mesmo assim, ainda não consigo dimensionar isso

tudo.

O principal fato é que eu estou completamente apaixonada por um homem proibido. Mesmo

mamãe estando morta e Frederic ser solteiro, sei que é um homem que eu nunca deveria olhar. Mas

como? Como simplesmente esquecer o homem que te tocou pela primeira vez?

*
Chegamos cedo e como não tínhamos muito o que fazer, Frederic decidiu passar no Beer’s, o

que foi uma ótima ideia.

Passo pela porta com ele e ouço o sino tocar. Assim que entramos, encaro Georgie e sorrio,

mas o mesmo vacila ao ver que Collin e Laura estão sentados em uma das mesas.

Fred nota meu olhar e me puxa delicadamente em direção ao balcão do local.

— Não se deixe abalar por causa dessa babaca — diz, e meneio a cabeça.

— Estére, é bom vê-la aqui — diz Georgie sorrindo. — Frederic.

— Olá, Georgie, como está?

— Bem, fico feliz em vê-los, como passaram o Natal?

— Ótimos — respondo, encarando Collin, que me olha. — Fomos à cidade vizinha e ficamos

no chalé, nada demais.

Georgie concorda.

— Já sei o que querem, panquecas com mel e ovos com bacon, certo?

— Hoje vai ser diferente — digo. — Quero omelete com queijo e chocolate quente.

— O mesmo para mim — diz Frederic.

Georgie assente e se afasta, então seguimos para uma das mesas vazias.

— Está frio — digo, como se isso fosse novidade.


— Se eu pudesse, a agarrava agora mesmo para aquecê-la — sussurra, arrancando uma risada

baixa de mim.

— Talvez possa fazer isso em casa. — Pisco e ele concorda.

— Olá, Estére. — Me viro e encaro Collin.

— Oi, Collin — digo, fria. —, o que quer?

— Ouvi você dizendo a Georgie que passou o Natal no chalé com Frederic — diz, nos

encarando. Droga, lá vem problema.

— Isso mesmo — afirmo, com um meneio de cabeça. — E você deve ter passado na cama da

loira vadia que está ali sentada, estou certa?

Ele me encara e balança a cabeça.

— Vejo que a vadia aqui é você.

Frederic se levanta e todos nos olham.

— Repita isso na minha frente, filho da puta — diz ele, nervoso.

— O que foi, então você a defende agora? Não basta só fodê-la?!

— O quê? — questiono.

Mas não dá tempo de dizer mais nada. Vejo Frederic fechar o punho e acertar o rosto de

Collin, fazendo-o cair para trás. Solto um grito, pedindo ajuda, mas as pessoas não fazem nada,
apenas se afastam e dão mais espaço aos dois.

— Repita o que você disse, desgraçado! Repita! — grita Frederic, socando o rosto de Collin.

Meu ex-namorado não reage, apenas leva os golpes, então arrisco me colocar na frente de Frederic.

— Por favor, pare, você vai matá-lo.

Encaro Frederic que não me dá ouvidos e olho Collin, vendo o rosto de Dréck. Me assusto e

ando para trás, tropeçando nos meus próprios pés, soltando um grito e batendo meu corpo.

Frederic para ao me ver caída e vejo seu punho ensanguentado. O sangue de Dréck... Collin,

cobre sua camisa e o chão. Todos nos olham, assustados e sem reação. Laura chora desesperada e

Georgie está com o telefone, talvez ligando para a polícia.

— Você está bem? — pergunta, verificando se eu não me machuquei.

— Acho que sim — digo, vendo Collin tossir e levantar. Ele limpa o sangue do nariz e cospe,

nos encarando.

— Você vai pagar por ter feito isso — diz, puxando Laura e saindo.

Todos continuam nos olhando e encaro Georgie, pedindo desculpas, então saio às pressas e

corro para meu carro, com Frederic entrando e começando a dirigir.

— Foi um erro termos vindo embora — digo, quando estamos próximos de casa. —

Deveríamos ter ficado no chalé.


Ele não diz nada, apenas dirige, ainda sujo com o sangue do meu ex.

— Vai ficar tudo bem, ele não voltará a te ofender — murmura, como se não tivesse ouvido o

que eu disse.

Frederic para o carro em frente à casa e saio, pegando as malas e seguindo em direção à

porta. A destranco e entro, jogando as coisas sobre o sofá. Ele vem logo atrás de mim e arranca sua

camisa, indo direto para o banheiro, não demora e Fred volta com as mãos limpas.

— Você está bem? — pergunto e ele assente. — Onde aprendeu a bater tanto assim?

— Um homem precisa saber se defender, Estér — responde. Concordo e ouço seu telefone

tocar. — Preciso atender, vai indo para o banheiro tomar um banho que te encontro em poucos

minutos.

Ele sai para o lado de fora e subo sem muitas opções, curiosa para saber quem liga tanto para

ele.

Saio da casa e ando em direção à garagem, atendendo o celular.

— Alô — digo.

— Olá, Frederic. — Ouço sua voz e congelo.

— Ferdinand — murmuro, com a voz embargada.


— Pensei que em todos esses anos sem me ver, não lembraria da minha voz — diz,

sarcástico.

— O que você quer?

— Está sabendo que estou livre, não está? Sei que sim.

— Sim, soube disso, mas por que me ligou? — pergunto, já sabendo a resposta.

— Porque temos coisas a resolver, você não acha? Deixe-me adivinhar, você está naquela

cidadezinha tosca chamada Vale Sombrio, não é mesmo?

Fico em silêncio por um minuto e suspiro.

— Na verdade, não, fui embora. Minha esposa morreu e deixei tudo para trás.

— Que estranho, mandei um rapaz na oficina e ele perguntou de você para o tal Jack e ele

confirmou que você estava viajando com sua enteada, Estére Muller — responde, me deixando

atônito.

— O que você realmente quer, Ferdinand? Se for dinheiro, posso conseguir. Me passe um

valor que deposito para você.

— Calma, Fred, vamos chegar nessa parte ainda, por enquanto, só quero que saiba que

estou na cidade e em breve iremos nos ver.


Entro na banheira e não demora muito Frederic aparece, já tirando sua roupa e entrando por

detrás de mim.

— Resolveu sua ligação? — pergunto.

— O quê?

— A ligação — digo. — Percebi que você vem tendo algumas, é algum problema? Se eu

puder ajudar, me diga.

Ele passa as mãos pelos meus ombros e beija, fazendo arrepios percorrerem minha pele.

— É só burocracia da oficina — diz —, mas obrigado, se eu precisar, te aviso.

Concordo, sabendo que ele não fará isso, e continuamos tomando banho.

Assim que terminamos, saímos e sigo para o meu quarto, com Frederic indo para o seu. Não

demora e ouço uma batida na minha porta. A abro e o vejo de calça moletom que sempre usa e

camiseta regata.

— Posso dormir aqui com você? — pergunta.

Penso sobre isso, no chalé havia sido fácil por conta de ele não ter ido lá com mamãe. Mas e

aqui? Aqui eles conviveram nove anos juntos, dormindo no final do corredor. Transando lá dentro.

— Tudo bem — digo, afastando meus pensamentos insanos. Nos ajeitamos na cama e ele me

abraça, beijando meus cabelos.


— Obrigado, Estére, por nesses últimos tempos estar sendo a minha sanidade.
O Ano-Novo foi tranquilo demais, por incrível que pareça. Frederic e eu acabamos passando

em casa por conta de não termos outro lugar para passar. Mas foi ótimo, afinal, foi regado a comida

caseira que ele preparou, taças de vinho e muito sexo.

Da segunda vez que transamos, foi muito mais prazeroso e pude explorar ainda mais meu

corpo, descobrindo pontos simples que me causavam mais tesão ainda.

Frederic havia voltado a trabalhar na oficina e eu ficava em casa estudando, já que Frida

ainda não havia voltado de viagem.

O medo se tornou parte de mim, afinal, todos os dias era isso que eu sentia. Ainda mais

quando Frida me perguntava se durante a viagem ao chalé eu não havia encontrado um gatinho e

transado.

Queria muito dizer a ela que finalmente havia deixado de ser virgem, mas como contar a sua

melhor amiga, que conviveu com você e sua mãe, que você está transando com o viúvo que é seu

padrasto? Só de pensar em dizer a ela, o meu eu me abraçava e eu desistia.


“Mas uma hora ou outra você terá que contar a ela o que anda fazendo, Estére. Vocês não

são melhores amigas? Amigas de verdade não escondem esse tipo de segredo”.

Afasto esses pensamentos e pego meu celular. Envio uma mensagem a ela, dizendo que

preciso lhe contar algo. Imediatamente Frida responde e encaro a mensagem:

“Me diga que finalmente você transou.”

Rio com isso, às vezes eu sabia mesmo ser bem superficial. Até mesmo quando a pessoa está

longe de mim.

Então penso sobre isso. Deveria contar para Frida o que está acontecendo entre Frederic e

eu? Ela entenderia isso? Respiro fundo e envio para ela:

“Não é nada de mais, apenas que Collin levou uma surra de Frederic no Beer´s.”

Conto para ela o que houve semana passada, antes do Ano-Novo e ela se divertr, ficando feliz

com a notícia.

Pelo que soube, Collin havia fraturado o nariz e ido até a delegacia abrir queixa sobre

Frederic, o que torcíamos para ser mentira. Mas, com os pais que ele tem, não duvido que isso

realmente aconteça.

Chego na oficina cedo, o Ano-Novo ao lado de Estére havia sido tranquilo e Ferdinand não
voltou a me procurar, o que me deixa mais relaxado sobre isso.

Meu único problema neste momento é Collin, que levou a maior surra de mim, e pelos boatos,

havia ido à delegacia abrir uma queixa. Até agora policial nenhum havia me procurado, então talvez

seja mentira, mas é melhor que eu me mantenha na linha.

Vejo Jack mexer em um carro novo e me animo um pouco, feliz em finalmente termos algum

cliente diferente.

— O que temos aí, Jack? — pergunto, vendo-o debaixo do carro.

— Nada de mais, eu acho — diz.

— Certo, estarei no meu escritório, qualquer novidade me avise.

— Tudo bem, chefe, mas preciso te dizer uma coisa antes.

— O quê? — pergunto, o encarando. Ele me olha, ainda na mesma posição e aponta para o

veículo.

— O dono deste caro, ele disse que vem buscar mais tarde, quero saber se vai precisar que eu

fique ou você entrega.

— Tudo bem, eu entrego. Qual o nome do cliente? — pergunto, curioso.

— Ferdinand — diz. Fico em choque e mordo o canto da boca até sangrar. Não pode ser, com

certeza é só uma coincidência, afinal, se Jack tivesse visto o Ferdinand, iria comentar sobre “a

novidade” que venho escondendo.


— Certo, termine e tire o resto do dia de folga, eu assumo o resto das coisas.

Ele concorda e vou para meu escritório, ainda não querendo acreditar no que Jack me disse.

Espero que eu realmente esteja errado e seja apenas uma coincidência.

Mas, conhecendo Ferdinand tão bem, sei que isso é um joguinho seu.

Pensando nisso, pego a garrafa de uísque e encho meu copo, tomando a forte bebida afim de

aliviar essa loucura toda que vem acontecendo.

Droga, estou mesmo fodido!

O restante do dia foi de fúria e agonia. Ligo para Estére, dizendo que não poderei almoçar em

casa e ela diz que tudo bem, que me espera à noite, então dispenso Jack e aguardo Ferdinand chegar,

sabendo que em algum momento ele irá aparecer e acabar de uma vez com esse joguinho ridículo.

Ando de um lado para o outro e vejo o ponteiro do relógio andar mais devagar que o habitual.

Ou é apenas coisa da minha cabeça. Porém, quando vejo, já está começando a anoitecer e passa das

20h30.

Continuo esperando, vendo a mensagem de Estér dizendo que está preocupada com a minha

demora. Respondo que estou enrolado com um cliente e ela manda um emoji de coração, o que faz

um sorriso bobo aparecer no meu rosto.

— Apaixonado, irmão? — Ouço sua voz e vejo a silhueta parada no meio das sombras.

Engulo em seco, ansiando o momento e ele vem em minha direção.


— Ferdinand — digo, o olhando atentamente. Meu irmão para na minha frente e vejo uma

cópia perfeita de mim. Somos idênticos, completamente iguais, até mesmo a silhueta e os músculos

são parecidos. — Andou malhando na cadeia, suponho.

Ele sorri e vejo seus dentes retos e brancos, a barba alinhada, a roupa nova.

— Quando você é a putinha de dez homens por noite, aprende que para se manter vivo

necessita de força. — diz, cuspindo no chão. Fico parado, surpreso com o que diz. Não consigo

sequer imaginar tudo que ele tenha passado nesses últimos anos. — Mas não vim aqui para falar dos

últimos dez anos fodidos da minha vida. Que tal me contar como anda a sua? Sinto muito pela morte

da sua esposa, é realmente algo muito triste.

Não respondo, apenas encaro-o andar de um lado para o outro.

— Por que voltou? — pergunto, sabendo a sua resposta.

— Como é? Vai me dizer que não sentiu minha falta nesses últimos anos?

Ele se aproxima e para bem na minha frente, encostando sua cabeça na minha e me segurando

com força.

— Ferdinand, eu...

— Silêncio! — grita, ainda me segurando. — Vamos lá, irmãozinho, mostra um pouco de

compaixão a mim, finja ao menos que está feliz em me ver!

Fico quieto, sabendo que não adiantaria eu dizer que sim, estou feliz em vê-lo, mas também
envergonhado.

— Aceita um drinque? — pergunto, me esquivando dele e indo atrás da garrafa de uísque. Ele

concorda e encho dois copos, entregando um a ele, que bebe em um único gole. Encho de novo e meu

irmão toma mais uma vez.

— É bom poder tomar um uísque de verdade — diz, analisando seu copo. Concordo e me

sento, com Ferdinand sentando-se à minha frente.

— Agora você está livre, pode fazer o que quiser, viver onde quiser. Está precisando de

dinheiro? Posso ajudá-lo nisso.

Ele solta uma risada e balança a cabeça.

— De novo esse assunto de dinheiro, irmão? Eu já disse que iremos falar sobre isso depois,

mas por enquanto quero ficar aqui, nesta cidade. Conhecer as pessoas, entende? Quem sabe conhecer

até mesmo sua enteada e comê-la.

Vejo-o levar sua mão até o meio de suas pernas e segurar seu pau por cima da roupa.

— Estére não é mulher para você, faça o que quiser comigo, mas se mantenha longe dela.

Ele ri e lambe os lábios.

— O que foi? Vai me dizer que já está fodendo sua enteada?

— Ela não é minha enteada! — vocifero.


Ferdinand ri e concorda.

— É, você está comendo a garota mesmo. Isso é bem baixo até para você. Me diga, irmão,

quando sua esposa era viva, você já pensava nela como mulher?

— Cala a boca! — grito, batendo na mesa, ele levanta e me encara. Fico pensando em como

ele sabe tanto sobre a minha vida.

— Por quê? Revelar para as pessoas que você e Estére Muller estão tendo um caso é

complicado demais? Complicado igual falar sobre mim? Que me escondeu durante todos esses

anos?!

Fico quieto e ele acerta um tapa no meu rosto, fazendo minha pele arder na hora. Não recuo,

continuo olhando dentro dos seus olhos e ele sorri.

— Não é bem desse jeito que você pensa, Ferd — murmuro seu apelido e seu rosto torce. —

Não tive escolhas, por favor, entenda isso.

— Me deixar mofar na cadeia durante todos esses anos me pareceu uma escolha — responde.

Fico quieto, sabendo que não adianta tentar me defender. Ele já está com sua opinião formada

sobre o assunto e o não o julgo por isso.

— Se veio buscar seu carro, ele já está pronto — digo, mudando de assunto.

— Não tenho carro, caso não tenha percebido, isso foi apenas para chegar até você. O veículo

é de um outro cara e dei cem euros para dizer que o nome dele é Ferdinand. Eu sabia que isso o
perturbaria.

— Como conseguiu dinheiro? — pergunto.

— De uma mulher que conheci no presídio. Ela me visitava e quando soube que eu sairia, me

arrumou dinheiro. Estranho, não é, irmão? Uma desconhecida me visitar e você não.

Fico quieto ao ouvir isso, sabendo que é realmente perturbador. Como pude ser tão covarde?

— Eu sinto muito — digo, o encarando. Ferdinand sorri e balança a cabeça.

— Você deveria sentir mesmo, passei um inferno naquele lugar que você não iria gostar de

saber, então sim, sinta muito, mas saiba que isso não vai mudar o fato de eu estar completamente

desapontado com você.

Ele coloca o copo sobre a mesa e me olha mais uma vez.

— Ferdinand, por favor...

— Não, Frederic, não me peça perdão. Quero que se culpe, sinta a culpa tomar conta de você.

— Meus olhos ficam marejados e ele sorri, vitorioso. — Você é mesmo um fracote.

E sai, me deixando sozinho, com a dor e a culpa me consumindo.


Frederic não chegou cedo, o que me deixou um pouco chateada, afinal, arrisquei cozinhar para

nós e acabei jantando sozinha. Assim que finalizo a comida, que ficou até que boa, subo para o meu

quarto e tomo um banho, lavando meus cabelos e os secando. Visto uma lingerie e meu pijama,

ouvindo a campainha tocar.

Estranho, sabendo que não estou esperando ninguém, e desço para abrir, dando de cara com

Frederic.

— Por acaso você perdeu suas chaves, foi? — pergunto, sorrindo.

Ele não me responde, Frederic vem em minha direção e fecha a porta, me agarrando. Fico

surpresa e ele me pega no colo, passando a língua pela minha clavícula e descendo em direção aos

meus seios. Passo meus braços em volta do seu pescoço e entrelaço minhas pernas na sua cintura,

vendo-o subir para o andar de cima.

— Parece que alguém chegou animado — digo, rindo. Ele continua em silêncio, parado no

corredor. — Para o meu quarto.


Continuamos parados e estranho sua atitude, a luz fraca refletindo seu olhar sério. Então desço

do seu colo e o puxo para o meu quarto, excitada.

Ele me segue, sem proferir uma palavra sequer, então entramos e fecho a porta, deixando

apenas um dos abajures aceso.

Frederic beija meus lábios com voracidade e estranho, porém, não me importo, apenas

retribuo e sinto sua língua passear pela minha boca. Seu beijo está... diferente. O sabor misturado de

álcool, cigarro e hortelã me invadem e puxo sua língua, o agarrando com firmeza.

Tiro sua camisa e passo as mãos pelo seu abdômen, sentindo-os mais duros do que o normal,

mas não me importo, querendo apenas aproveitar este momento. Ele faz o mesmo comigo e me deixa

apenas de lingerie, então vou beijando-o e me abaixando. Abro sua calça e inalo o cheiro delicioso

dos seus pelos pubianos, pegando no volume duro e abaixando a cueca.

Estou ficando maluca ou seu pênis está diferente, talvez um pouco menor e mais grosso?

Afasto esse pensamento louco e começo a masturbá-lo, sabendo que gosta disso. Ele solta um

gemido baixo. Um gemido diferente. E continuo fazendo os movimentos de vaivém, levando minha

língua até a ponta do seu pau e passando na glande lubrificada. Sinto o gosto de sabonete e o seu

sabor.

Um sabor diferente, mas delicioso. Continuo passando a língua em torno da cabeça do seu pau

e, devagar, para não o machucar, enfio dentro da boca, sentindo um pouco de dificuldade.

Faço algumas sucções e Fred continua gemendo de prazer, talvez feliz que eu esteja melhor
que na primeira vez e não o machuco.

Depois de um bom tempo chupando seu pau, passo a língua pelo comprimento, chupo suas

bolas e inalo ainda mais seu delicioso cheiro. Ele me levanta e me pega no colo, arrancando um

gritinho de mim.

Frederic me ergue cada vez mais, colocando minhas pernas nos seus ombros e segue em

direção à parede para que eu possa me apoiar.

— Você está selvagem — sussurro, tendo o silêncio como resposta. Será que aquela posição

teria um nome? Só sei que é completamente novo para mim e excitante.

Continuo com minhas pernas nos seus ombros, afastando meus pensamentos insanos e Frederic

afasta minha calcinha com o dente e invade minha boceta, que está praticamente no seu rosto, com

sua língua, fazendo-me gemer ainda mais alto. Ele faz círculos com a ponta da língua e a mergulha

ainda mais no meu sexo, fazendo eu me contorcer de tesão.

— Fique parada — diz, finalmente. Noto que sua voz está mais rouca, grave, e não me

importo com isso, apenas me concentrando no delicioso sexo oral que estou recebendo.

Ainda chupando minha boceta e segurando meu corpo com uma de suas mãos, Frederic leva a

outra em direção à minha bunda e puxa o tecido da calcinha, ainda me chupando. Fico em sinal de

alerta, sem saber onde estou sentindo mais prazer. Em sua língua na minha boceta ou seu dedo, que

está fazendo círculos no meu ânus.

— Ah, Frederic, como isso está gostoso — sussurro, maravilhada.


Fred não dá bola para o que eu digo e continua nos movimentos, chupando minha boceta e

investindo seu dedo devagar no meu orifício anal. Continuo gemendo, me apoiando na parede e

pedindo a ele que não pare, então Fred para, como uma tortura, e me desce, encarando meus seios.

— São seus — digo, Frederic volta a me pegar no colo e me leva para a cama, me deitando e

subindo por cima. Sinto urgência em tê-lo em mim, então retiro meu sutiã e ele os chupa,

mordiscando como nunca havia feito antes. — Continue, por favor.

Ele não para, continua chupando meus seios e roça seu pênis na minha boceta, me deixando

ainda mais excitada.

— Por favor! — imploro. — Me come, Frederic!

Ele sorri e me arrepio com isso, vendo-o parar de roçar e brincar com meus seios e subir por

cima de mim. Sinto seu pau encaixar na minha boceta e ele se aprofundar na minha carne, fazendo eu

soltar um gemido ainda mais alto.

Frederic vai até o fim e para, relaxando nossos corpos, então começa a remexer seus quadris

em movimentos circulares, que me deixa ainda mais excitada. Abro ainda mais as pernas e ele

continua se remexendo, e, quando menos espero, começa com as estocadas lentas e tortuosas.

Solto outro gemido, arranhando suas costas e me deliciando com isso, então Frederic estoca

cada vez mais rápido em mim, fazendo eu perder o ar.

Fred sai de dentro da minha boceta e se levanta, puxando meu corpo para beirada da cama.

Vislumbro apenas a sua sombra e ele volta a se encaixar em mim, e vejo o quanto somos perfeitos um
para o outro. Seu pau se encaixa perfeitamente na minha boceta, assim como seu corpo.

Ele continua me fodendo e solto mais gemidos ainda, então, depois de um tempo, ele para, me

puxa, colocando-me de pé e se senta, me puxando para ele.

Sei o que ele quer, então vou me encaixando no seu colo e descendo devagar no seu pau.

Frederic solta um gemido alto, como um rugido, e o beijo, subindo e descendo.

Enquanto o beijo e me mantenho nessa posição, Frederic esfrega com o seu dedo meu clitóris,

o estimulando. Sinto uma sensação estranha tomar conta de mim, como se eu fosse eclodir a qualquer

momento e continuo descendo e subindo no seu pau, cada vez mais rápido, então com um grito alto,

Frederic goza e eu também, surpresa em saber que esse é meu primeiro orgasmo.

Assim que terminamos, ele me tira do seu colo devagar e me deito, sentindo o cansaço tomar

conta de mim. De repente, meus olhos pesam e o encaro, vendo Frederic formar um enorme sorriso.

— Onde é que você vai? — pergunto, quando o vejo sair do quarto.

— Não se preocupe, Estére, eu volto em breve. — E sai, fechando a porta.

Não consigo reagir, sentindo o sono tomar conta de mim e então durmo, sonhando com o

delicioso sexo que havia acabado de ter.

Acordo com uma sacudidela e vejo Frederic me encarar. Seu olhar é sério e percebo que usa

outras roupas.
— Onde é que você foi? — pergunto, erguendo meu corpo e bocejando.

— Estava na oficina — responde, suspirando pesadamente. — Precisamos conversar.

— Claro, sente-se — digo, dando espaço. — O que você foi fazer na oficina tão tarde?

Ele me encara e ergue a sobrancelha, sem entender.

— Estive lá o dia todo — responde. — Acabei de chegar e a vi dormindo.

O encaro e dou risada, fazendo-o ficar sem entender.

— Do que é que você está falando? — digo, sem entender.

— Do que você está falando? — pergunta.

É minha vez de estreitar as sobrancelhas.

— Ah, Frederic, não se faça de besta. Você esteve em casa, inclusive abri a porta para você.

Ele arregala os olhos e fica sério, como se eu estivesse louca.

— Você está dizendo que eu estive aqui? — questiona.

— Sim, porque esteve. O que está acontecendo? Que brincadeira mais sem graça é essa?

Vejo Frederic levantar e andar de um lado para o outro, a fúria tomando conta dele.

— Ele te machucou, Estére? Ele fez alguma coisa com você?

— Ele quem? Me diga o que está acontecendo! — vou em sua direção, mas ele se afasta.
— Eu deveria ter lhe contado antes, mas as coisas saíram do meu controle e não sabia como

dizer isso a você — começa.

Estranho mais ainda, não compreendo o que ele quer dizer.

— Por favor, Frederic, seja mais claro, não estou te entendendo.

Ele suspira e bufa, frustrado.

— Eu tenho um irmão, Estére — murmura. — Tenho um irmão gêmeo.

Arregalo os olhos ainda mais surpresa com isso e ele me encara, como se me pedisse perdão.

— O quê? — murmuro, de repente, me lembro dos beijos, dos toques, do abdômen e até

mesmo do pênis de “Frederic” que eu insisti em estar diferentes.

— É isso mesmo, sei que escondi isso por muito tempo, mas tenho meus motivos, e agora

estou com medo do meu irmão vir atrás de você e fazer algo.

Me sento, sentindo as lágrimas invadirem meus olhos.

— Você está me dizendo que não veio para casa hoje e depois voltou para a oficina? —

pergunto.

Ele nega com a cabeça.

— Foi meu irmão, tenho certeza. Ele fez alguma coisa com você? Te machucou?

— O quê? Não! — respondo, chorando. Vejo o alívio tomar conta dele e Frederic me encara,
sem entender.

— Então por que está chorando? Sei que escondi isso de você e de sua mãe, mas posso

explicar.

Não dou importância para o que ele diz, é como se sua voz sumisse da minha mente. Me

levanto e sigo até o banheiro, me encarando. Há marcas no meu pescoço e no meio do seio, então

encaro Frederic, que vê.

— O que foi isso? — questiona.

— Frederic, eu...

As palavras se perdem no ar e ele arregala os olhos.

— Você está me dizendo que...

Concordo com a cabeça e continuo chorando, não acreditando que isso esteja acontecendo.

Eu transei com o irmão de Frederic.

Não bastasse estar nos braços do pecado, eu estive nos braços... Da luxúria. Sim, luxúria,

havia sido isso que o irmão de Frederic e eu tivemos.

— Me perdoe, eu não sabia — digo.

Vejo seus olhos marejarem e ele suspira.

— Você está me dizendo que transou com meu irmão?


Dou um trago no cigarro e solto a fumaça que desaparece na noite fria que está fazendo na

cidade. Formo um sorriso ao ver o que acabo de fazer — transei com a garota que meu irmão vem

comendo. A sensação de vitória me consome e logo me vejo parando em um bar, pedindo uma

cerveja e alguns petiscos.

— Você sumiu — diz o homem à minha frente, depositando a cerveja.

— Do que você está falando? — pergunto, bebendo do copo. O sabor por qual fiquei tantos

anos sem, invade minha boca e causa ondas de arrepios pelo meu corpo.

— Nada — responde. — Boa cerveja.

Vejo o barman se afastar e reviro os olhos. Com certeza está me confundindo com o idiota do

meu irmão, que a esta hora, já está sabendo que comi sua mulher.

Bebo a cerveja e assim que termino, pego outra, tomando de uma vez e pagando. Saio do

local, sigo em direção a um hotel fajuto e peço um quarto.


— Quantas noites o senhor vai querer? — pergunta um homem me encarando.

— Apenas uma, amanhã é um novo dia e tenho certeza de que muitas emoções irão acontecer.

Sorrio e ele concorda, então sigo para o quarto e me deito, feliz por finalmente estar livre e

poder me vingar do meu irmão.

Frederic Cooper e Estére Muller não sabem o que lhes esperam.

Enfim terei minha vingança.


Me tranquei no quarto durante dois dias seguidos, sem conseguir olhar para Frederic por

conta do que eu havia feito. Claro que eu não sabia sobre seu irmão gêmeo e não podia adivinhar que

estaria transando com ele. E ele sabia disso, deixando claro que poderíamos esquecer e seguirmos

em frente.

No entanto, havia um enorme fator que me impedia de fazer isso.

Ferdinand Cooper.

Ele me contou o nome do seu irmão quando afirmei que havíamos transado e não sabia que era

ele.

Mas havia outro impasse diante de nós. Eu ter gostado do sexo.

Não me culpo tanto por pensar que era Frederic e desejá-lo a todo instante, mas ao me

recordar dos toques, beijos e investidas de Ferdinand, meu corpo se arrepia por completo e me vejo

completamente perdida.

Já não bastasse eu gostar do meu padrasto, esconder isso da minha melhor amiga, que está
voltando do Brasil, agora estou pensando no sexo delicioso que tive com meu cunhado. E claro, o

pior, fui obrigada a ir à farmácia comprar a famosa pílula do dia seguinte para tomar, já que o

suposto “Frederic” gozou dentro de mim. Fez-me gozar. O pensamento me causa repulsa, contudo,

como não tem muito que fazer, tento esquecer isso pelo menos pelos próximos dias.

Levanto e saio do quarto em direção ao corredor. Sigo para a cozinha e encontro Fred

sentado, lendo o jornal e tomando café. Forço um sorriso e ele retribui.

— Bom dia, como dormiu essa noite? — pergunta, me encarando.

— Tive pesadelos, mas supero.

Ele concorda e suspira.

— Pode me falar quais pesadelos foram esses? — pergunta, já deduzindo.

— Se você sabe, por que me tortura ao perguntar sobre isso? — questiono, nervosa.

Frederic coloca o jornal de lado e se aproxima de mim, fazendo meu corpo se arrepiar por

inteiro.

— Por que a mulher que eu estou apaixonado gostou de transar com meu irmão? — pergunta.

— Não a culpo por ter transado com ele e gostado, afinal, o filho da puta se passou por mim. Mas

agora estou começando a me incomodar com o fato de estar me afastando de você e porque toda noite

fica gemendo, e quando eu vejo, está dormindo, sonhando com o pau de Ferdinand te fodendo.

Desfiro um tapa no seu rosto e ele me encara, sério.


— Me desculpe — murmuro.

— Não peça desculpas por algo que você queria fazer.

— Você está certo, se tivesse me dito antes que tem um irmão, eu não iria acabar transando

com ele — respondo, indo em direção à sala. Frederic me segura e me puxa contra ele, beijando

meus lábios.

Não recuo, pelo contrário; retribuo. No entanto, é tão diferente de Ferdinand que me sinto

completamente extasiada ao pensar nisso.

Frederic me agarra e passa as mãos pelo meu corpo, apertando o bico dos meus seios. Solto

um gemido e ele morde meu lábio, descendo para meu pescoço e beijando minha clavícula.

Recordo que Ferdinand tocou ali e me afasto, com ele me encarando.

— Você nem consegue disfarçar que o deseja — diz, nervoso.

— Frederic, por favor — digo, chorosa.

— Tudo bem, Estére, sempre soubemos que essa relação seria um erro. Eu fui o seu padrasto

durante anos e acabamos nos apaixonando, seria bom se ficasse com meu irmão mesmo.

— Do que você está falando? — pergunto, arregalando os olhos.

— Que se você quiser, encerramos o que temos agora — murmura.

Nego com a cabeça.


— Por favor, não faça isso, estou confusa, sim, mas continuo apaixonada por você.

Ele suspira e concorda.

— Tudo bem, vou trabalhar, nos vemos mais tarde.

Vejo Frederic se afastar e sair, fechando a porta. Fico pensando nele e em seu irmão.

Desejando saber onde Ferdinand estaria neste momento.

Nós não conseguimos descrever um sentimento até senti-lo, e neste momento o que sinto é

raiva.

Ainda estou tentando digerir tudo que aconteceu entre Estére e Ferdinand, mesmo que não

tenha sido culpa dela. Penso sobre como ela deve ter se sentido durante o ato; com certeza,

maravilhada.

Penso em Ferdinand, desde o dia que ele apareceu na oficina, não voltou a nos procurar, o que

chega a ser um alívio e tanto, mas tenho medo do que ele pode estar aprontando. E se ele estiver

planejando alguma coisa que possa prejudicar Estére e eu?

Só de pensar em deixá-la sozinha em casa, sem ninguém para lhe fazer companhia, me deixa

de cabelos em pé.

Penso em Jolie e em como ela se sentiria ao saber toda a loucura que vem acontecendo. Com
certeza, nada feliz.

Pensar nela me causa um pouco de conforto e a sensação de traição está cada vez menor.

Mesmo sabendo que isso não muda o fato do que Estére e eu fizemos.

Será que de onde Jolie está neste momento ela pode me ver? Me ouvir? Se sim, que ela me

perdoe por isso tudo que eu fiz.


Meu celular toca e vejo que é uma mensagem de Frida avisando-me que já está na cidade e

quer me encontrar no Beer’s.

Recordo-me que a última vez que eu fui lá, antes do Ano-Novo, Frederic e Collin haviam

brigado, e só de pensar nisso, quero dizer a minha amiga que é melhor não, mas não consigo negar o

seu pedido e vou até o banheiro, penteando meus cabelos e fazendo uma trança embutida. Logo após

isso, passo um pouco de maquiagem e batom para ressaltar meus lábios.

Como não está tão frio hoje, coloco uma jardineira e meu All Star, passo perfume e pego

minha carteira e celular.

Pego as chaves do meu carro e encaro a casa em que vivi com mamãe a minha vida toda. Se

ela soubesse que nos últimos tempos eu transei com dois homens diferentes/iguais aqui, o que ela

diria?

Com certeza me elogiaria, até descobrir que um deles era seu marido e o outro seu cunhado

que ela nunca conheceu.


Saio e tranco a porta, sigo para a garagem e entro no meu carro. Dou ré e sigo pela estrada,

ouvindo uma música animada da Dua Lipa.

Quando chego no Beer’s e vejo Frida sentada em uma das mesas mexendo no celular, esqueço

todos os meus problemas e corro em sua direção, a abraçando tão forte que seria capaz de quebrar

seus ossos.

— Amiga, que saudade que eu estava! — diz, também me apertando.

— Eu estava muito mais, pode acreditar.

Nos sentamos uma de frente para outra e ela sorri. Está usando um batom amarelo e uma roupa

berrante na mesma cor, que revela um pouco da sua barriga.

— Me diga, pois estou muito ansiosa, quais são as novidades? Quero saber como foi sua

viagem ao chalé.

Dou de ombros e como uma batata que está sobre a mesa.

— Nada de mais, você que precisa me dizer como foi sua viagem ao Brasil, isso sim é

realmente algo interessante.

Frida suspira e chama um atendente.

— Traga dois milk-shakes de chocolate e panquecas com mel e morango para nós, por favor.

— O rapaz concorda, se afasta e ela me olha. — Precisamos comer, a conversa vai ser longa.

Dou risada, feliz por esquecer um pouco do que ando passando e concordo.
— Então comece a falar.

Frida concorda e passa a próxima meia hora me contando como foi sua viagem com os pais e

que conheceu um brasileiro de tirar o fôlego. Rio quando ela me conta sobre as piadas e fico com

água na boca quando me conta sobre a comida. Depois de me dizer tudo que fez na sua viagem e

nossas panquecas com os milk-shakes serem servidos, ela me encara e aponta com o dedo magro.

— Agora é sua vez de falar, mocinha, e nem pense em me esconder alguma coisa.

Sinto meu rosto queimar ao ouvir isso. É como se ela soubesse que estou escondendo várias

coisas.

— Dréck continua desaparecido e não foram encontradas novas pistas sobre ele — digo. —

Tenho certeza de que o vi enquanto viajava com Frederic, mas Fred não encontrou nada.

— Não se preocupe com ele, iremos encontrá-lo! — afirma, me dando esperanças.

— Torço para isso, apesar de não pensar mais tanto no assunto, desejo vê-lo atrás das grades,

que é o seu lugar.

Ela concorda comendo e volta a me encarar.

— Mas sua viagem não foi regada só a isso. Vai, me diga, conheceu algum gatinho?

Quero sorrir, dizer que o “gatinho” que conheci mora comigo há mais de nove anos, mas

decido apenas dar de ombros.

— Não estava a fim — minto. Quero dizer a verdade a ela, mas Frida entenderia? Nem eu
mesma consigo entender direito, como poderia fazer uma pessoa de fora compreender o que está

acontecendo?

Como dizer a sua melhor amiga que você está transando com seu ex-padrasto — se é que

existe isso — e transou com o irmão dele, que é uma cópia perfeita?

Como dizer a sua melhor amiga que gostou de transar com os dois e se pudesse repetiria?

Simplesmente não consigo ser sincera com Frida agora. Sei que estou errada diante disso, mas não

quero ser julgada. Não agora.

“E pensar que você achou que sua mãe estava no inferno. Quem vai para lá é Frederic,

Ferdinand e você!”

Afasto meus pensamentos e suspiro.

— Você precisa sair mais, Estére — diz.

— A última vez que fizemos isso não deu muito certo. — Formo um sorriso triste e ela segura

minha mão.

— Não pense nisso, ok? Agora que voltei de viagem, você terá que me aguentar. Mas me diga

sobre Collin e o que aconteceu entre ele e Frederic.

Conto rapidamente para ela o que realmente aconteceu, dizendo que Fred ficou nervoso por

conta da maneira que ele me xingou.

Frida fica cada vez mais surpresa e coloca as mãos sobre a boca aberta quando termino de
falar.

— Eu daria tudo para ter visto a surra que ele levou — diz ela rindo. — Collin é um frouxo,

apanhou de mim calado e de Frederic.

— Não esqueça meu soco que quase quebrou minha mão — a lembro, que ri ainda mais.

— Esse soco foi o melhor. Mas que tal agora irmos ao cinema para distrair um pouco a mente

e vermos uns gatinhos?

Concordo, sabendo que não vai adiantar negar esse seu pedido, e depois que terminamos de

comer e pagamos a conta, seguimos para os nossos carros, combinando de nos encontrarmos no

cinema da cidade.

Escolhemos um filme bobo de romance clichê e compramos pipoca, refrigerante e chocolate.

Frida se diverte com as cenas do casal e rio, sem graça, apenas para acompanhá-la, já que não presto

atenção direito.

Penso em Frederic e nos seus beijos deliciosos, no seu toque, em como ele foi gentil na nossa

primeira vez e na rosa que me deu, se declarando para mim. Depois penso em Ferdinand, que chegou

calado, me agarrando, beijando e depois me devorou por completo. Não posso dizer que um transa

melhor que o outro, mas afirmo que os dois fazem o trabalho direito.

E então um súbito pensamento toma conta da minha mente neste momento.


E se eu tivesse que escolher entre Frederic e Ferdinand?

Com certeza não saberia com quem ficar.

Estére me envia uma mensagem dizendo que está no cinema com Frida e que vai demorar para

chegar em casa. Concordo, mandando um simples “ok” e Jack entra no meu escritório.

— Chefe — murmura.

— O que foi?

— Seu irmão está aí — diz, parecendo surpreso. — Ele é igual a você, eu nem sabia que você

tem um irmão.

Reviro os olhos e concordo.

— Você deve ser a terceira pessoa que sabe, peça para ele vir ao meu escritório, e como não

temos muita coisa para fazer, pode tirar o resto do dia de folga.

Jack concorda com um sorriso no rosto e sai. Não demora e vejo meu irmão entrar no meu

escritório, fazendo-me recordar da primeira vez em que esteve aqui.

— Oi, irmãozinho — diz Ferdinand, me encarando sério. Ele usa uma jaqueta de couro preta,

com uma camiseta branca por baixo, calça jeans e botas grossas.

— Vejo que a sua mulher continua te mandando dinheiro — digo, encarando as roupas novas.
Ele sorri e passa os dedos pela barba, que está alinhada.

— Não vim aqui falar sobre isso — murmura. — Pelo contrário, vim falar sobre Estér, como

ela está? Ela contou para você como foi o nosso sexo?

Fecho o punho nervoso ao ouvir isso e vou em sua direção; seguro a gola da sua camiseta.

— Se veio aqui para falar sobre Estére, é melhor dar meia-volta e ir embora! — grito.

Ele apenas ri e o solto, volto para o meu lugar e respiro fundo para não perder a linha.

Principalmente com meu irmão.

Mas vê-lo na minha frente e saber que ele transou com Estére me deixa nervoso. Fico

imaginando-a gemendo no seu pau e ele gozando nela, o que me enfurece. Será que haviam se

protegido?

Duvido, Estére e eu não nos protegemos, o que foi um erro enorme nosso, então com certeza

eles não teriam se protegido. Ainda mais que há vi indo à farmácia. Teria ido comprar pílula do dia

seguinte?

Que droga! Só de pensar isso, sinto minha mente entrar em combustão. O que esse filho da

puta fez com minha mulher?!

— Se você não precisa de mais nada, acho que é melhor ir embora.

Ferdinand me observa e segue em direção da saída. O sigo e ele para próximo à calçada, se

virando para mim.


— Me responda uma coisa — pede.

— O quê?

— Estére por acaso te contou como gemeu no meu pau e como ela gozou para mim? — Ele ri

e vai se afastando.

Tomo fôlego antes de correr até ele e pular nas suas costas, o jogando contra o chão.

Rapidamente Ferdinand se vira, tentando se esquivar e acerto um soco no seu rosto. Ele não recua,

como pensei que faria, e então soca meu estômago, me fazendo perder o ar.

Caio para o lado e meu irmão sobe em cima de mim, me encarando.

— Já passou da hora de você aprender a ser homem — diz e desfere o soco. Sinto um apito no

meu ouvido e ele dá outro soco. E mais um.

Minha visão fica turva e cuspo o sangue, rindo dele.

— O único que precisa aprender a ser homem aqui é você. O que foi, Ferdinand, ser a garota

dos caras na cadeia te fez perder a força? — Dou risada e vejo seu punho se fechar de novo pronto

para vir na direção do meu nariz, mas meu irmão é impedido quando dois policiais o seguram e tiram

de cima de mim, o que me faz ficar surpreso. Eu nem havia notado a presença deles.

— O que está acontecendo aqui? Os dois estão presos por agressão — murmura o policial nos

encarando. Cuspo o sangue e ele nos enfia dentro da viatura, seguindo para delegacia.

Ótimo, era realmente o que me faltava.


Estére vai me matar.
Ouço meu celular tocar quando saio do cinema com Frida e atendo o número que desconheço.

— Alô — digo.

— Estére, sou eu — diz Frederic.

— Oi, estou com Frida, podemos conversar depois? — pergunto, observando minha amiga

mexer no celular e roer a unha.

— É urgente — diz. — Ferdinand e eu fomos detidos. Estamos na delegacia da cidade,

disseram que só seremos liberados sob fiança. Preciso da sua ajuda.

Fico surpresa ao ouvir isso e arregalo os olhos.

— O quê? Como? — questiono, não querendo acreditar.

— Juro que explico depois, mas agora preciso que venha para cá.

— Tudo bem, estou indo.

Desligo o celular e encaro Frida.


— O que houve, amiga? Você está pálida.

— Preciso ir agora, houve um problema e Frederic foi detido — digo, nervosa.

— Meu Deus, será que foi por causa do Collin? — pergunta, estupefata.

— Eu não sei, mas qualquer novidade eu te digo — minto, me despedindo dela com um beijo

e corro para o meu carro. Entro e saio do meio-fio rapidamente.

Sigo pela estrada, sentindo o nervosismo tomar conta de mim e não demora muito estaciono

em frente à delegacia local.

Saio do carro mais nervosa do que quando entrei e sigo a passos largos para o interior do

local, sentindo-me aflita ao me recordar do momento em que estive aqui para relatar o que aconteceu

com Dréck.

— Por favor... — Me aproximo de um policial e ele se vira para mim.

— Sim?

— Poderia me ajudar? Eu estou procurando dois irmãos, gêmeos, que foram detidos, os

nomes deles são Frederic e Ferdinand Cooper.

O homem me encara e assente.

— Sei quais são, eu mesmo os trouxe para cá, pareciam dois animais selvagens se batendo no

meio da rua.
Ouço isso e fico atônita. Os dois se batendo? Bem típico de Frederic.

— Onde posso encontrá-los? — pergunto.

— Neste momento eles estão detidos em salas separadas, ambos estavam muito agitados e

preferimos algemá-los para não se machucarem mais — o policial diz.

— Certo, e eu poderei vê-los? — pergunto, mordendo o canto da boca e torcendo as mãos

uma na outra.

— Falarei com o delegado e já venho lhe informar, peço que aguarde na recepção.

Concordo, agradeço e volto para a entrada, me sentando em um dos bancos.

Enquanto o policial não volta, fico pensando no motivo de Frederic e Ferdinand terem se

batido. O que realmente aconteceu para chegarem a esse ponto? Por que Ferdinand odeia tanto o

irmão?

Frederic teria que me contar, se ele quiser sair daqui hoje, terá que começar a ser sincero

comigo.

O policial me chama depois de um tempo e me guia para uma saleta estilo a que eu estive

quando fui abrir a queixa sobre Dréck. A lembrança me deixa aflita, porém, não estou aqui hoje para

isso, então entro e dou de cara com Frederic sentado e os braços algemados.

— Estér — sussurra, ao me ver. Me aproximo dele e o abraço com um pouco de dificuldade.


— Onde você estava com a cabeça? O que aconteceu? — Analiso seu rosto e vejo os

machucados. Seus olhos estão inchados, o lábio cortado e a camiseta suja de sangue. Sinto-me

completamente impotente ao vê-lo dessa maneira e quero chorar, mas me controlo.

— Ferdinand — diz, torcendo o nariz que também sangra. — Acabamos discutindo e a

situação saiu do controle, quando vi, já estávamos aqui. Eu sinto muito.

Concordo e me sento de frente para ele.

— E onde seu irmão está? — pergunto, ele me encara e morde o canto da boca. — Não é hora

para ciúme, Frederic.

Fred solta uma risada seca e volta a me encarar.

— Está na sala ao lado, pelo que sei.

— Ok, verei o que pode ser feito para tirá-los daqui, mas antes precisamos conversar.

Ele me examina e me sinto exposta.

— O que houve? — pergunta.

— Você que precisa me dizer — respondo. — Sei que Ferdinand e você têm suas diferenças,

mas para chegarem a esse ponto? Para ele se passar por você e fazer o que fez...

Deixo as palavras se perderem no ar e ele mantém seus olhos fixos nos meus.

— Já sei que você gostou, Estére, não precisa entrar nesse assunto mais uma vez.
— Não me culpe por isso, eu pensei que era você, como poderia adivinhar se são idênticos?

Mas não é esse o assunto. O que quero saber é o motivo de toda essa briga, o que um fez para o outro

a ponto de se machucarem assim.

Frederic fica em silêncio e desvia seu olhar do meu, olhando para o chão.

— Para falar a verdade, é mais um desentendimento do que qualquer outra coisa — responde.

— Desentendimento? — questiono.

Fred concorda com um movimento da cabeça e suspira.

— Sim, na verdade, nem eu mesmo sei explicar como as coisas chegaram a esse ponto —

responde, bufando. — Você não precisa fazer parte disso, Estére, é algo que eu posso muito bem

tentar resolver com meu irmão.

— Percebi — digo, apontando para os machucados. — Quero estar ao seu lado, Frederic, mas

antes disso preciso saber o que vem acontecendo entre você e Ferdinand. Por que ele te odeia tanto?

Quais são os motivos para isso?

— Você não entenderia, sempre foi filha única — murmura.

—Talvez você pudesse tentar e aí saberíamos se eu entenderei ou não. Pare de escapar da

verdade.

Ele volta a suspirar e assente.

— Tudo bem, você quer saber o que aconteceu entre meu irmão e eu? Então vou te contar.
— Estou esperando — digo.

— Herdamos do nosso pai uma pequena oficina, estilo a que eu tenho hoje, e lá cuidávamos

dos carros de todos da cidade. Os concorrentes sentiam inveja de como meu irmão e eu

trabalhávamos em harmonia, mas, na época, precisávamos de uma grana extra porque nossa mãe

estava muito doente. — Ele para de falar, como se estivesse vagando aos acontecimentos. — Fomos

contatados por um homem bastante gentil, ele disse que soube sobre a situação da nossa mãe e que

queria ajudar, precisávamos apenas fazer um favor a ele.

— Qual favor?

— Espere, chegaremos lá — diz. — Conversei com Ferdinand e o convenci de que seria bom,

que o dinheiro poderia ajudar nossa mãe e sobraria um pouco para as contas, que estavam

acumuladas. Sem escolhas, meu irmão concordou, e foi quando fomos falar com o rapaz.

“Ele disse que o trabalho era simples, era só deixarmos um carro dele guardado na nossa

oficina que no tempo certo ele pediria para levarmos em um local próximo. Concordamos, afinal, o

que era deixar um carro na sua oficina se havia espaço para isso?

“O carro ficou lá durante um mês, depois disso começamos a achar que poderia ser algum

problema e o homem apareceu com o dinheiro e disse que em breve iríamos levá-lo e pegaríamos

mais uma grana. Na situação, aceitamos, então, após alguns dias, fomos contatados para levarmos o

carro em um endereço um pouco afastado da cidade.

“Não vimos problemas nisso, então nos despedimos de mamãe e fomos. O grande problema é
que, ao chegarmos lá, percebemos que fomos apenas fantoches e que o homem que nos pagou era um

traficante.

“Saí do carro, esperei, e então vi um movimento estranho de policiais, na hora que os vi disse

para Ferdinand sair do carro e correr, contudo, ele não foi tão bom como eu e acabou sendo pego. Eu

vi de longe, escondido, eles perguntarem a ele quem os havia mandado e descobri um tempo depois

que o carro estava cheio de drogas por dentro.

“Contratei um advogado para meu irmão, mas não tínhamos provas de sua inocência, afinal,

foi pego no ato e nunca encontramos o verdadeiro culpado.

“Por medo, eu nunca fui visitá-lo, questionando-me se a polícia me prenderia também. Então,

depois disso, mamãe morreu e eu me mudei para cá, fechei a oficina e reconstruí minha vida nesta

cidade pacata.

“Foi aí que conheci sua mãe, na época ela já tinha uma carreira sólida e escondi o fato de ter

um irmão preso por medo dela achar que eu poderia tentar roubá-la ou algo parecido.

“Desde então, nos últimos dez anos, eu nunca fui visitar o meu irmão na cadeia. Apesar de

sermos inocentes, ele pagou por um crime que não cometeu, e eu, sendo um grande covarde naquela

época, não fui capaz de ajudá-lo ou ao menos apoiá-lo.”

Frederic fica em silêncio após me contar o que houve e levo minha mão até a sua, apertando-a

com cautela.

— Sinto muito que você e seu irmão tenham passado por isso, mas sabemos que você não teve
culpa.

— Sei disso, Estére, ambos fomos enganados, mas eu o deixei mofar na cadeia durante todos

esses anos. Contratei um advogado que não serviu de nada, mas o pior não é isso, e sim o fato de

nunca o ter visitado.

Concordo com um movimento de cabeça, esse fato é algo que nunca daria para mudar, e até

mesmo entendo um pouco o lado de Ferdinand.

— Se tivesse dito a mamãe, ela teria ajudado ele, era muito influente.

— Hoje penso dessa maneira, mas antes não. Sei que não será fácil meu irmão me perdoar por

conta disso. Durante anos, enquanto eu estava sendo feliz, ele esteve preso, sozinho, sem o apoio de

alguém que o amasse de verdade. Sinto-me culpado por conta isso.

Fico quieta, sabendo que isso é algo que apenas Frederic pode mudar.

— Vou conversar com os policiais sobre a fiança de vocês, mas antes disso, quero vê-lo.

Frederic me encara e torce o nariz.

— Não quero que fique com ele sozinha, Estére.

— O que ele poderia fazer comigo na frente de um policial? — pergunto, olhando pela

primeira vez o policial em pé, no canto, apenas nos ouvindo.

Fred suspira e concorda.


— Tudo bem, não irei sair daqui — diz, mostrando as algemas. Formo um sorrisinho e me

levanto, indo em direção à saída. O mesmo policial me direciona para a outra sala e assim que entro

e vejo Ferdinand, um arrepio percorre minha espinha.

— Estére Muller — diz, lambendo os lábios. — Veja só, que prazer em finalmente conhecê-

la. Quero dizer, conhecê-la me apresentando como Ferdinand.

Fico quieta e noto que seu rosto também está machucado, e me guio em direção à cadeira

devagar.

— Ferdinand — digo, nervosa. — Como está?

Ele sorri e mostra as algemas iguais a do irmão.

— Pareço bem? — questiona. — Acabo de sair da cadeia por bom comportamento e meu

irmão me coloca nessa enrascada igual na última vez há anos.

Fico quieta e ele me encara.

— Ele te contou, não é? Não parece surpresa. Vai, me diga, quais foram as mentiras de

Frederic? Ele se fez de coitadinho, com certeza.

Me mantenho calada, brincando com minhas mãos.

— Quero ajudar você, Ferdinand, irei pagar a fiança e iremos sair daqui.

— Você acha que no meu caso vai ser tão simples assim, pagar fiança e sair?
— Acredito que sim, mas vão cobrar mais do que o normal — respondo. Ele sorri e vejo os

dentes brancos e retos, percebendo que ao menos isso a cadeia não marcou.

— Ah, e a gatinha órfã tem dinheiro para pagar. — Ele se aproxima e me encara dentro dos

olhos. — O que sua mãe diria se soubesse que você vai gastar o dinheiro dela com o irmão

presidiário e o ex-marido dela, que você vem trepando?

Sinto vontade de acertar um tapa no seu rosto, mas me controlo.

— Não dificulte as coisas, Ferdinand — digo. — E aqui também não é lugar para discutirmos

sobre isso. Vim apenas informá-lo que irei pagar a fiança de vocês e vamos para minha casa, temos

muito o que conversar.

Ele estreita as sobrancelhas e vejo o quanto se parece com Frederic. Se eu não soubesse quem

é ele, diria que é Fred.

“Você achou isso, não achou? Quando estava transando com ele, você sequer deu

importância para as mudanças que notou.”

— Temos, é? — questiona. — Por acaso você quer me conhecer mais do que já conheceu?

Reviro os olhos ao ouvir isso. Não posso negar que realmente é ridículo saber que o homem

que está na minha frente já transou comigo, e eu não sei absolutamente nada sobre ele.

— Conversaremos em casa — afirmo, esquecendo meus pensamentos. Me levanto e ele me

olha uma última vez, sorrindo.


— Ótimo, vai ser bom ir lá novamente e relembrar o que fizemos — diz, e saio revirando

meus olhos.
Pago uma pequena fortuna para ter os dois livres e assim que somos liberados, entro no meu

carro com os dois atrás, em silêncio. Mando mensagem para Frida dizendo que está tudo resolvido e

que Frederic não foi preso por causa do Collin e sim por brigar com o irmão gêmeo.

“Irmão gêmeo? Desde quando você sabe essa informação?”

“Estou tão surpresa quanto você.”

Mesmo ocultando algumas partes, decido que o melhor é ser sincera com minha amiga, até

porque, com a cidade pequena em que moramos, não demoraria muito para todos os moradores

saberem que Frederic tem um irmão e saiu no tapa com ele.

“É tão gostoso quanto Frederic? Você pode ficar com ele sem consciência pesada agora.”

Dou risada e percebo que Ferdinand está olhando a mensagem.

— Sua amiga tem razão, Estére, você pode ficar comigo sem as pessoas criticarem tanto —

diz, me encarando. Respiro fundo e encaro Frederic, que está sério.

— Fiquem os dois quietos até chegarmos em casa, ok? — peço, seguindo pela estrada.
— Você não nos deu muitas escolhas, Estér — sussurra Ferdinand ao meu ouvido. Ignoro o

arrepio que percorre meu corpo e mantenho meus olhos na estrada, rezando a Deus que isso tudo não

passe de um sonho.

“Um sonho bastante erótico, não acha?”

Felizmente ou infelizmente, não é um sonho. Ainda não consigo decidir se ter Frederic e

Ferdinand entrando em minha casa, com os rostos machucados e as roupas sujas, é a melhor coisa do

mundo. Contudo, poderia ser pior. Bem pior.

— Ferdinand, você toma banho aqui embaixo e Frederic no quarto dele — digo, apontando

para a porta do banheiro.

— Não tenho roupas, não quer que eu fique pelado, quer? — questiona Ferdinand me

provocando.

— Acho que ter um irmão gêmeo com o porte praticamente igual ao seu deve ajudar —

respondo.

Frederic me encara e o vejo revirar os olhos, subindo para o seu quarto.

— Suba e pegue as roupas, não vou trazer para você — diz, parecendo um adolescente

birrento. Quero rir disso, mas ao mesmo tempo, bater nos dois.

Ferdinand bufa e segue o irmão, comigo analisando sua bunda.


“Droga, estou ficando louca mesmo!”

E então me lembro das palavras de Frida, dizendo que eu poderia namorar com ele, que as

pessoas não me julgariam tanto.

Penso em relação a isso, será que Frida desconfia de alguma coisa e joga essas indiretas para

cima de mim a fim de que eu conte a verdade a ela?

Não, claro que não. Jamais minha amiga ficaria calada com um segredo desse.

Não que ela seja fofoqueira e sairia contando por aí, mas com certeza ela já teria chegado em

mim e perguntado a respeito. Certo?

Saio dos meus pensamentos, quando vejo Ferdinand descer a escada tranquilamente com uma

toalha de banho, sabonete e roupas, inclusive uma cueca boxer limpa.

Ele passa por mim e me encara, o que me faz meu corpo estremecer. Contudo não sei se isso é

bom ou ruim.

Mas tenho que confessar que estou louca para saber.

Ando de um lado para o outro na cozinha, esperando os dois saírem dos seus banhos. Preparo

a maleta de primeiros socorros e resolvo fazer um chá para aliviar a tensão.

Coloco três xícaras sobre a mesa de centro da sala e a maleta com açúcar e adoçante.
Roo a unha, esperando, e quando vejo, Frederic desce e Ferdinand sai do banheiro. Ambos

estão com os cabelos molhados e os machucados um pouco melhores, já que o sangue saiu da pele.

Olho os dois e noto como são iguais; as roupas de Fred ficaram ótimas no irmão.

— Perdeu o ar, gatinha? — pergunta Ferdinand se aproximando, vejo Frederic fechar o punho

e me afasto do outro.

— Deixe suas piadas para outra hora, Ferdinand, não é o momento para isso.

Ele dá de ombros e concorda, se sentando. Frederic senta na poltrona e nego com a cabeça,

fazendo-o ficar sem entender.

— Sente-se ao lado do seu irmão — peço.

— O quê?

— Você está parecendo nossa mãe — diz Ferdinand.

— Sim, quando éramos mais novos e brigávamos para ver quem ficaria com a bola —

responde Frederic.

— Só quero poder conversar com os dois como pessoas civilizadas — digo, servindo-nos.

Entrego uma xícara para cada um e os vejo torcerem o nariz.

—Chá? Por acaso você acha que somos o quê? O chapeleiro maluco, Alice? — questiona

Ferdinand, fazendo menção ao meu livro favorito.

— Devo concordar com ele, isso não vai aliviar a tensão entre nós e nem melhorar minhas
dores — argumenta Fred, se levantando e indo até o bar. O vejo encher dois copos de uísque e fico

incrédula.

— Tudo bem, sem chá, me traga um também — digo, apontando para a bebida cor âmbar.

Frederic ergue a sobrancelha e concorda, vindo nos entregar os copos. Logo em seguida ele

volta e enche um para ele, voltando ao seu lugar e se sentando ao lado do irmão.

Os dois levam seus copos até seus lábios e mordo o canto da boca, reprimindo minhas pernas.

De repente a lembrança deles chupando meu sexo invade minha mente e tento afastar esse

pensamento, bebendo o líquido.

Tusso e eles me olham.

— A gatinha não aguenta uma bebida forte, mas aguenta...

— Cala a boca! — grito, o encarando, vejo ele estreitar as sobrancelhas e Fred rir. — Desde

o momento em que nos vimos, você não para de fazer piada, só porque você teve coragem de vir aqui

e se passar pelo seu irmão. Agora já chega, estamos aqui para vocês tentarem se resolver. Não

podem ficar por aí brigando e parecendo crianças.

Os dois ficam em silêncio e Frederic abaixa a cabeça, não querendo me olhar.

— Crianças? — questiona Ferdinand. — Está nos comparando com crianças?

— Sim — afirmo, segurando o copo e o encarando, me sento na poltrona e ele forma um

sorriso largo.
— Somos duas crianças que te comeram com gosto, você não acha?

— Ferdinand — diz Fred, chamando a atenção do irmão.

— Seria somente um se o outro não fosse tão covarde e se passasse pelo irmão para conseguir

uma mulher — respondo, o alfinetando.

— Posso ser covarde em ter me passado por Frederic, mas que fizemos um delicioso sexo

isso você não pode negar.

É minha vez de abaixar a cabeça e ficar em silêncio.

— Sério, para mim já chega, se vocês vão ficar aqui falando sobre isso na minha frente como

se eu não existisse... Foi por esse motivo que saímos no tapa, Estére. Não gosto de saber que você

transou com outro, principalmente com meu irmão.

— Sei que é difícil compreender isso, mas sabemos que o único culpado aqui é Ferdinand —

digo, apontando para ele. Ele coloca os braços para o alto, segurando o copo e sorri.

— Culpado — responde, dando de ombros.

— Você se acha muito engraçadinho, não é? — questiono.

Ele ri ainda mais, se divertindo com a minha fúria.

— Sim, eu me acho — responde. — Mas seja clara, por que estamos aqui? Qual o objetivo

disso tudo?
— Primeiro que você precisa deixar esse humor ácido de lado — começo. — E depois, vocês

dois precisam conversar. Resolverem o que ambos têm em aberto. É isso — digo, convicta das

minhas palavras.

Ferdinand ri e Frederic o encara.

— Estére está certa, Ferd, precisamos conversar, nos resolvermos.

Ferdinand nos encara e ri ainda mais, balançando a cabeça em negativa.

— Vocês sabem por acaso o inferno que eu passei na prisão para me dizerem que

simplesmente temos que nos resolver?! — questiona, gritando.

— Não, não consigo imaginar a dor que é ficar anos preso sem poder ir ao menos ao mercado.

Não consigo pensar o quanto é ruim você ter que dividir seu espaço com outras pessoas, mas você

precisa entender que Frederic não teve culpa. Vocês foram enganados. O erro dele foi apenas não ir

visitá-lo, quando na verdade deveria ter feito isso. Mas ele não teve culpa, acredite.

Ele solta uma gargalhada e nega com a cabeça.

— No dia que você for estuprada todos os dias e noites durante dez anos, conversaremos —

responde, me observando.

Fico surpresa com suas palavras e meu coração acelera. Estuprado? Ferdinand havia sido

estuprado por dez anos? E pensar que eu quase fui abusada por Dréck, que ainda está solto por aí,

sabe Deus fazendo o quê.


— Acredite, eu quase fui, mas realmente não consigo compreender o que é passar por isso,

ainda mais por tantos anos.

Ele concorda, ficando quieto ao ouvir o que eu digo e Frederic se levanta.

— Sinto muito por tudo que você tenha passado, Ferdinand. Confesso e reconheço que fui um

covarde em não o visitar, mas fiz o que pude. Contratei um advogado para tirá-lo da cadeia, mas sem

provas do verdadeiro culpado e você sendo pego no local do crime, foi impossível. Queria ter lhe

visitado sim, mas na época nossa mãe já começava a ficar doente e eu precisava mentir para ela,

dizendo que você estava trabalhando fora para ajudar nas coisas.

“Trabalhei o dobro para pagar o advogado e suprir tudo que ela necessitava, e, quando mamãe

morreu, não consegui me manter na cidade e foi aqui que consegui encontrar pessoas que me amam

de verdade. Jolie era magnifica, sinto muito que ela tenha morrido tão cedo, mas encontrei conforto

com Estére e realmente fico feliz que você esteja livre. Quero que possamos nos entender e

seguirmos em frente. Sei que perdeu anos da sua vida, mas agora estou aqui para me desculpar e

ajudá-lo no que precisar.”

Fico emocionada com as palavras de Frederic e encaro Ferdinand, que continua em silêncio.

— Se não se importarem, acho melhor eu ir embora — diz, colocando o copo sobre a mesa.

Me levanto e paro em sua frente.

— Você vai para onde? Deixe-me ao menos fazer um curativo nesses machucados.

Ele me encara e balança a cabeça.


— Importa para onde eu vou? — questiona.

— Para Fred e eu, sim — respondo.

Ele não responde, sabendo que minhas palavras são verdadeiras.

— Tudo bem, acho que não custa ter suas mãos acariciando a minha pele.

Reviro os olhos e ele ri.

Vejo Frederic e seu olhar triste.

— Vamos cuidar dos seus machucados também — digo, estendendo a mão para ele.

Frederic concorda e os dois se sentam no sofá, enquanto vou fazendo os curativos.

Não demora muito e assim que termino, Ferdinand volta a ficar de pé.

— Obrigado.

— Você pode ficar, se quiser, não precisa pagar um hotel — digo. — Temos quartos vagos.

Podemos fazer um jantar, o que acham?

Frederic encara o irmão e espero ansiosa pela resposta.

— Tudo bem, somente desta vez você ganhou — diz Fred.

— Eu cozinho, não confio na comida de vocês — responde o outro seguindo para a cozinha e

arrancando uma risada minha.


Sigo Ferdinand para a cozinha e assim que chegamos, ele já vai abrindo os armários à procura

das coisas como se estivesse familiarizado com o local. Me sento, apenas o olhando e Frederic sent

bcca ao meu lado, contemplando o irmão abrir a geladeira e pegar o que quer que fosse fazer.

— O que teremos no cardápio? — pergunto, curiosa, quando ele já começa a temperar os

bifes e depois cortar tomates e cebolas em rodelas.

— Apenas um bife com purê, nada de mais — diz, dando de ombros. O vejo acender o fogo e

colocar as batatas descascadas na panela com água, que começa a ferver rapidamente. — Se vocês

dois vão ficar aí me olhando, aproveite e me conte mais sobre você, Estére.

Ele me encara e me sinto um pouco desconfortável, então noto o olhar de Fred para mim.

— Não tem muito o que dizer, eu acho.

— Não é possível, uma jovem como você com certeza tem muitas coisas para nos contar.

— Você fala como se fosse um velho — digo, ele ri e balança os ombros.

— Bem, não é isso, só não tenho muito o que contar e não quero reviver o inferno que passei
nos últimos anos. — Seu olhar recai sobre Frederic e concordo.

— Tudo bem, me diz o que quer saber que eu conto.

Ferdinand aguarda as batatas cozinharem e se aproxima de nós.

— Me fale sobre sua mãe — pede.

Ótimo, não poderia ser pior!

Falar de mamãe nunca foi algo difícil para mim, pelo contrário, ela era uma mulher tão

simples e fantástica, que era fácil falar sobre suas qualidades e ensinamentos que me deu. Mas, nos

últimos tempos, depois do Natal, para ser mais exata, eu estou evitando pensar nela.

Não que eu queira esquecê-la, mas sim para não me sentir tão culpada pelo que estou fazendo.

— Mamãe era uma mulher fantástica — digo, ao visualizar o sorriso dela em minha mente. —

Adorava comer panquecas e lasanha, quando precisava me dar bronca sempre me chamava de canto

para não me expor.

— Você sente falta dela, Estére? — pergunta Ferdinand.

— Muita — respondo, sorrindo.

Ele me encara e olha o irmão.

— Me diz, pois estou curioso. Se sua mãe estivesse viva, você renunciaria ao meu irmão?

Ouço sua pergunta, tentando compreender o que ele quer dizer e fico em silêncio por um
tempo. Eu o renunciaria? Desistiria de ter Frederic ao meu lado para ter mamãe?

— Eu não sei responder a isso — digo.

— Então está assumindo que ama meu irmão — diz Ferd, voltando para as panelas e vendo as

batatas.

— O quê? Não! Quero dizer, não que não o ame, mas é difícil pensar em uma resposta assim,

do nada. Nunca parei para pensar nisso.

Encaro Fred e ele sorri, sem graça.

— Quando isso começou a acontecer entre vocês? Por que não me responde essa, Frederic?

Fred suspira e dá de ombros.

— Não sei com certeza quando aconteceu, mas quando vi já estava apaixonado por Estére.

Sorrio ao ouvir isso. Pode parecer errado, mas adoro quando ele diz que está apaixonado por

mim.

— Estranho, não é? Vocês eram padrasto e enteada e agora são o quê, amantes?

— Não sei ao certo o que somos — respondo, ficando cabisbaixa. A palavra “amante” me

incomoda.

— Então, voltando ao que já havíamos conversado, Estér, você não é minha cunhada, como

presumi.
— Sim, ela é — afirma Frederic me encarando. — Namora comigo? — pede.

Fico surpresa com o pedido inesperado e tusso, me espantando com isso. Ele me encara e

Ferd ri, adorando a cena.

— O quê? — pergunto ao me acalmar.

— Isso que eu disse — ele diz. — Namora comigo e assim Ferdinand será seu cunhado

oficialmente e ele poderá parar de dar em cima de você.

Encaro-o e me viro para Ferdinand.

— Então é isso? Você está me pedindo em namoro apenas para seu irmão parar de dar em

cima de mim?

— Eu vou parar? — pergunta o outro, rindo.

— Não foi isso que eu quis dizer, Estér, sabe que realmente gosto de você e já que moramos

juntos, você é solteira, eu viúvo, por que não?

— Você é viúvo de mamãe — digo. — Como vou sair por aí e dizer que estou namorando o

cara que chamei os últimos nove anos de padrasto? As pessoas irão nos crucificar.

— Então namora comigo — diz Ferdinand. — Veja bem, as pessoas vão estranhar o fato de

você namorar o gêmeo do seu padrasto, e claro, vão achar mais estranho ainda ele ter um irmão

gêmeo, já que me escondeu por anos, mas ao menos não será tão ruim quanto namorar com o

padrasto.
— Vocês estão mesmo me pedindo em namoro, é sério isso? — pergunto, incrédula. Ferd

concorda e tira as batatas da água, amassando-as e separando, enquanto em uma panela derrete a

manteiga.

— É sério — diz Fred. — Digo, da minha parte, não dê ouvidos ao meu irmão, ele está

fazendo isso apenas para nos provocar.

— Provocá-lo por que, se Estére e eu transamos, assim como vocês? — questiona o outro.

— Já chega, esse assunto de novo não. Sabemos que isso foi um grande erro, então não vamos

ficar relembrando, ok? Não vou namorar com nenhum dos dois, isso é loucura!

— Então namore com os dois, Estér — oferece Ferdinand. — Não me importaria de dividi-la

com meu irmão, afinal, já fizemos isso antes.

— Se continuar relembrando isso, irei te arrebentar! — vocifera Fred.

— Então vem — provoca o outro, mexendo o purê.

— Não comecem! Ao menos esta noite, por mim, não briguem. Vamos ter um jantar normal e

esquecer essa conversa que tivemos aqui agora.

Os dois se encaram, me olham e concordam, ficando em silêncio, enquanto eu, por dentro,

estou mais agitada que o normal, criando um pensamento um tanto inusitado.

E se realmente eu namorasse com os dois, como seria?

*
Arrumo a mesa da sala de jantar em silêncio. Coloco os pratos, os talheres e nossas taças,

com Frederic afirmando que vai abrir uma garrafa de vinho para acompanhar. O cheiro do bife com o

tomate e cebola e do purê invadem minhas narinas e meu estômago protesta. Então vejo Ferdinand

colocar a comida sobre a mesa e nos sentamos.

Me sento na cabeceira da mesa, enquanto cada um se senta ao meu lado. Começamos a nos

servir e como em silêncio, saboreando o delicioso gosto da carne macia e do purê.

— Está delicioso — digo, comendo ainda mais. Ferdinand agradece e eles comem em

silêncio, depois de um tempo, Ferd me encara.

— Você faz faculdade, Estér? — pergunta, bebendo um pouco do vinho. Faço o mesmo e

assinto.

— Sim, faço Fotografia — digo.

— E não é muito de fotografar, pelo que percebi. Há poucas fotos pela casa — diz.

— Gosto de curtir o momento e deixá-lo registrado em minha mente — respondo, comendo.

Ele concorda e sorri.

— Me fale sobre o que aconteceu com você — pede. — Quero dizer, quando eu disse que fui

estuprado, você falou que passou por algo assim...

— Sim — digo. — Quase fui abusada por um rapaz que conheci em uma balada, seu nome é

Dréck. Quem me socorreu foi Frederic. — Me viro para ele e sorrio, relembrando o momento
angustiante que passei.

— Que bom que você tinha meu irmão ao seu lado para ajudá-la — diz, levando o purê e

carne até a boca.

Concordo, comendo e um súbito pensamento sobre o que houve entre nós dois me toma a

mente novamente.

“Droga, Estére, não houve nada entre vocês e sim entre Frederic e você! Ele se passou pelo

irmão, percebe o quanto isso é doentio?”

Mas o que estou fazendo com Frederic é sadio por acaso?

Penso em mamãe e sobre o que ela faria. E se ela conhecesse Ferdinand? Ela também ficaria

interessada nele, mesmo tendo Frederic ao seu lado?

Como negar a mim mesma o desejo sombrio que me consome? Como entender que pensar em

tê-los é loucura?

Por que Ferdinand teve que aparecer justamente agora e ainda por cima fazer sexo comigo?

Como se eu não tivesse gostado disso!

— A comida estava deliciosa — digo colocando o garfo sobre o prato —, mas agora preciso

descansar.

— Você não comeu tudo — diz Frederic me encarando.


— Tudo bem, estou mesmo cansada, o dia foi longo — digo sorrindo. Ele concorda e

Ferdinand me observa.

— Então vamos todos nos deitar — diz ele assim que termina, se levanta e pega a louça. O

ajudo e levamos até a cozinha. — Deixem que amanhã cuido dessa bagunça. Já que a gatinha está

cansada, é melhor colocarmos ela para dormir.

Reviro os olhos com isso e ignoro, indo em direção à sala e subindo a escada, os dois vêm

atrás de mim e aponto para o quarto de hóspedes.

— Tem cobertas e lençóis limpos — digo, abrindo a porta e avistando um local simples. Ferd

concorda e entra. — Se precisar de alguma coisa...

— Tudo bem, obrigado, isso aqui é um palácio comparado ao local que vivi nos últimos anos

— diz me encarando e em seguida olha para o irmão. — Boa noite, irmão.

Frederic o encara e vejo um pequeno sorriso aparecer no canto de sua boca.

— Boa noite, Ferd — diz. O outro fecha a porta e encaro Fred.

— Dorme comigo esta noite? — peço, erguendo minha mão para ele, que concorda e a pega.

Seguimos para o meu quarto, e assim que entramos, fecho a porta, trocando a roupa que estou

por um pijama. Frederic tira sua roupa, ficando apenas com a boxer branca e nos deitamos, com ele

me abraçando. Me aconchego nos seus braços e ele beija minha cabeça, entrelaçando sua mão na

minha.
— Parece que demos um pequeno passo com seu irmão — sussurro, com ele assentindo.

— Sim, espero que ele me perdoe pelo que fiz.

— Ele vai, só precisa de mais tempo, fique tranquilo.

Frederic concorda e me viro, o encarando. Passo as pontas dos meus dedos pelo seu peitoral

e ele me encara.

— Sei que já conversamos sobre isso, mas por favor, seja sincera comigo — começa.

— O que foi?

— Você realmente gostou do sexo com Ferdinand? — questiona-me.

O encaro nos olhos e mordo o canto da boca.

— Sim, eu gostei, mas não pense sobre isso, como já disse, pensei que era você, Fred. Pare

de se torturar com isso.

Ele concorda e suspira.

— Falei sério sobre namorar comigo, Estér.

— Sabe que não é tão fácil quanto parece, não sabe? Quero dizer, não poderia esconder para

sempre que estou namorado e não seria fácil dizer que meu namorado era meu padrasto.

— Ferdinand poderia ser seu padrasto e eu o irmão solteiro — brinca, se aproximando e

beijando meus lábios. Retribuo, sentindo sua língua e o aperto contra mim.
— Não seria fácil do mesmo jeito, Fred.

— E se você tivesse que escolher, me diga, quem escolheria?

Reflito sobre isso e dou de ombros.

— Não sei, quem sabe não aceite a proposta do seu irmão e eu fique com os dois? — digo,

rindo, mas percebo que isso não é tão brincadeira quanto parece ser.

Frederic me encara e suspira, fica em silêncio, então percebo que minha brincadeira o

incomoda e, não demora muito, dormimos.


— Acorde, Estére, já está na hora. — Ouço a voz de Ferdinand sussurrar no meu ouvido e

abro os olhos, vendo Frederic e ele em pé ao lado da minha cama.

Esfrego os olhos, imaginando estar vendo coisas e os dois sorrirem.

— O que está acontecendo aqui? — questiono, sem entender.

— Ferdinand e eu conversamos e vimos que a maneira mais fácil de lidarmos com o que está

acontecendo entre nós, é colocarmos tudo à prova e vermos no que vai dar.

Fico sem entender e noto que ambos estão apenas de cuecas boxer. Seus peitorais desnudos

são parecidos, e olhando lado a lado, consigo notar a diferença. Ambos são bem malhados, mas

Ferdinand consegue ser um pouco mais por conta dos longos anos na prisão.

— E o que estão planejando? — questiono, percorrendo meus olhos pelos braços deles e

descendo abruptamente para os volumes insistentes que estão no meio de suas pernas.

— Vamos provar de você agora, juntos — responde Ferdinand. — Não diga que não quer,

pois sabemos que você deseja isso. Pode parecer um desejo sombrio, Estére, mas além disso, é
delicioso.

Fico atônita ao ouvir isso e apenas assinto, sabendo que não adianta negar o que está

acontecendo. Eu quero os dois.

— Tudo bem — digo, com a voz firme, o que chega a me surpreender.

Os dois sorriem e me levanto, retirando meu pijama e ficando apenas de lingerie.

— Fique onde está e faça o que eu pedir, ok? — diz Ferd.

— O que está fazendo? — pergunto, sem entender o que quer dizer.

— Nada de mais, quero apenas que você nos obedeça. Pode fazer isso?

Encaro-os e Frederic sorri.

— Sim — digo, concordando.

Os sorrisos à minha frente se alargam ainda mais e fico nervosa, sentindo o suor brotar na

palma de minhas mãos.

— Quero que você se ajoelhe e se toque, Estér — diz Fred.

— Por quê? — questiono, me ajoelhando. Será que posso questionar o que está acontecendo

aqui? Afinal, que loucura é essa?

— Porque quero que você explore o seu corpo — responde. — Você precisa se conhecer para

poder nos dizer em quais pontos sente mais prazer.


Concordo, com meu rosto queimando e, fechando os olhos, acaricio minha pele, tiro o sutiã e

deixo meus seios à mostra. Percorro meus dedos por eles e sinto um arrepio invadir a boca do meu

estômago.

Os dois ficam parados, apenas contemplando a imagem à sua frente. Então, com uma das

mãos, mexo nos meus seios e com a outra desço devagar, colocando por debaixo da minha calcinha.

Meu indicador acaricia meu clitóris e solto um gemido baixo, arfando. Os dois sorriem com

isso, começando a pegar em seus membros que estão duros sob a cueca.

Continuo me tocando, inserindo o dedo e gemendo baixinho. Eu nunca havia me tocado.

Esqueço isso e insiro outro dedo, soltando um gemido mais alto ainda. Frederic e Ferdinand

abaixam suas cuecas e analiso os dois pênis à minha frente.

Não são cem por cento diferentes, mas há sim uma pequena diferença. A mesma que eu senti

quando transei com Ferdinand, achando ser Frederic.

— Você quer, Estére? — pergunta Ferdinand segurando seu pênis. O vejo se masturbar e

continuo me tocando.

— S-sim — murmuro, nervosa.

Encaro Frederic e vejo o fogaréu nos seus olhos, então os dois vêm na minha direção e

acordo, pulando da cama.

*
Estou assustada, pensando no sonho que acabei de ter, então me levanto e vejo que ainda está

de madrugada e que Frederic dorme. Suspiro e sinto sede. Abro a porta devagar e desço na ponta dos

pés para a cozinha. Ando pelo corredor, meio sonolenta, e esbarro em um corpo forte e quente. Solto

um gritinho e vejo que é Ferdinand. O encaro e noto que seu peitoral está de fora e sem querer,

repouso minha mão nele.

— Desculpe — digo, me afastando. Ele sorri e lambe os lábios, e vejo que está apenas de

cueca.

— Sem sono, gatinha? — pergunta, me analisando. Sinto-me exposta diante dele e tento não

focar meu olhar no seu peitoral sexy e na boxer.

— Tive um pesadelo e acordei com sede, só isso — digo, seguindo para a cozinha sem olhá-

lo. Ferdinand vem atrás de mim e abro a geladeira, pegando leite. Coloco no copo e viro de uma vez,

me sentindo mais relaxada.

Assim que termino, vejo Ferd ainda me olhando e estreito as sobrancelhas.

— Perdeu alguma coisa aqui? — questiono.

— Não, só estava admirando — responde.

Concordo, dando de ombros.

— E você, não conseguiu dormir? — pergunto, para puxar assunto.

— Tive pesadelo também — responde.


— Quer falar sobre?

— Desde que você fale do seu. — Ele pisca.

Não respondo, se eu disser a ele que o pesadelo na verdade foi um sonho erótico, com certeza

serei tratada como uma pervertida.

Não que eu não fosse, levando em consideração tudo que fiz nos últimos tempos, mas pensar

nisso me causa sensações desconfortáveis.

— Então acho melhor guardarmos para nós mesmos o que sonhamos — digo. Ele me encara e

suspira.

— Sonhei que estava na prisão — comenta. — No sonho, eu era abusado pelos caras

novamente. Não pense que sou um cara fodido e mal resolvido, é que simplesmente não é fácil

pensar sobre isso.

— Você não sente desconforto em dizer para a pessoa que conheceu esses dias sobre ter sido

abusado sexualmente na cadeia por tanto tempo?

— Por que eu deveria sentir vergonha pelo pecado dos outros? Não me orgulho disso, mas é

algo mais comum na prisão do que você imagina. Imagine-se no meio de vários homens e você é a

mais vulnerável. O que eles fazem? Te usam como escape da porra dos seus problemas. Quem é que

não gosta de transar um pouco para distrair a mente? Contudo, com poucas opções e ninguém

querendo abrir mão da masculinidade, o alvo fácil se torna vítima.


Alvo fácil. Foi isso que fui para Dréck.

Ele nunca foi gentil por acaso, apenas me viu como um alvo fácil, sabendo que eu seria idiota

o bastante de sair com ele.

— Sinto muito — é o que consigo dizer.

— Eu supero — diz, piscando. — Agora me diga, você irá aceitar o pedido de namoro do

meu irmão?

Penso sobre isso e dou de ombros, sem saber o que dizer.

— Acho que pode ser loucura, quero dizer, ele era casado com minha mãe. Não quero ter que

me esconder para sempre das pessoas, como irei dizer a elas que estou namorando meu antigo

padrasto?

Ele sorri e se aproxima.

— Então isso é um não.

— Por enquanto.

— Isso quer dizer que se eu quiser beijá-la agora não haverá problema? — questiona, me

deixando arrepiada. Ainda bem que ele não percebe. — Por que não aceita o que eu disse e namora

com os dois? Veja bem, você pode sair na rua comigo de mãos dadas, chegar e ter meu irmão te

esperando.

Dou risada e nego com a cabeça.


— Você só pode estar louco, teria mesmo coragem de dividir sua namorada com outro homem,

ainda mais sendo seu irmão?

— E por que não? Não vejo problema nisso. — Percebo que ele está falando sério e me

afasto, com medo de acabar fazendo uma besteira e agarrá-lo.

— Bem, eu não serei essa garota — digo determinada. — Se você quiser dividir outra mulher

com outro homem, tudo bem. Seu irmão também não está em jogo para ser dividido.

Ferdinand ri e balança a cabeça.

— Eu sei que você quer isso, Estére, consigo ver nos seus olhos o desejo de nos ter em sua

cama, mas é muito orgulhosa para admitir.

Dou de ombros e fico quieta.

— Que bom que percebeu que sou orgulhosa, agora se me der licença, irei dormir.

Ando em direção ao corredor e sou puxada, logo Ferdinand cola nossos corpos.

Solto um gemido baixo e perco o ar quando o vejo se aproximar ainda mais e trazer sua boca

em direção a minha. Penso que será agora que eu vou provar dos seus lábios novamente e ele o

morde, seguindo em direção do meu ouvido.

— Tenha bons sonhos, espero que sonhe com a nossa transa — sussurra. Ele me solta e fico

atônita, sentindo minhas pernas bambearem, então subo para o quarto, sentindo-me além de

arrepiada, excitada.
Porra! O que esses homens estão fazendo comigo?
Acordo na manhã seguinte um pouco tarde. Me viro e encontro o lado da cama vazio, então me

levanto e sigo até o banheiro, faço xixi e arrumo meus cabelos. Troco de roupa, substituindo o pijama

por uma calça legging, tênis e uma blusa de moletom. O tempo até que está agradável, com os raios

do sol aparecendo pelas janelas. Sorrio e apanho meu celular na mesinha de cabeceira, vendo uma

mensagem de Frida:

“Estou indo para a sua casa, prepare o café, estou faminta!”

Arregalo os olhos com isso e saio em disparada, sem me importar onde Frederic e Ferdinand

estão.

Desço os degraus de dois em dois e sigo pelo corredor, encarando os irmãos Cooper

sentados, tomando café e conversando.

Estreito as sobrancelhas, não acreditando no que os meus olhos estão vendo e ando até eles.

— Acho que preciso de óculos — digo, sarcástica.

— Por quê, gatinha? — questiona Ferd me encarando.


— Frederic e você, sentados, comendo e conversando? É de admirar.

Fred ri e o irmão dá de ombros.

— Talvez as crianças estejam amadurecendo, gatinha — diz Ferd, piscando. Reviro os olhos e

vejo o que temos para o café.

Há algumas frutas, biscoitos, panquecas, bacon e ovos.

— Frida está vindo para cá — anuncio, me servindo de uma xícara com café. Observo Fred e

sua testa fica franzida.

— Tão cedo? — questiona.

— Sim, talvez eu tenha deixado escapar que você tem um irmão gêmeo e com certeza ela está

vindo aqui para vê-lo.

— Espera, essa tal de Frida está vindo para cá apenas para me ver, como se eu fosse um

bicho preso na jaula? — questiona Ferdinand.

— Basicamente isso — afirmo. Ele sorri e lambe os lábios.

— Estou cheiroso? Meus dentes estão limpos?

— O quê?! — pergunto, incrédula.

— O que foi? Tenho que estar apresentável para conhecer essa sua amiga. Quem sabe ela é

gostosa e resolve me dar uma chance. — Ele arqueia a sobrancelha e reviro os olhos, incomodada da
maneira que fala.

— Nem tente algo com Frida, ela não faz seu tipo — digo.

— E qual é meu tipo? Você? — questiona.

— Não começa, Ferdinand — diz Frederic.

O ignoro, e quando estou prestes a levar a xícara até a boca, ouço a campainha tocar.

Ferd sorri e vou até a porta, a abrindo.

— Bom dia, amiga! — diz Frida animada. Ela me abraça e dou um beijo no seu rosto. — Vim

conhecer o irmão de Frederic.

— Uau, sério que você veio na casa da sua melhor amiga para ver a cópia de um cara que

você está cansada de ver? — pergunto, cruzando os braços. Sorrio e ela ri.

— Sabe que te amo, mas preciso ver isso de perto. Um é bom, dois então, deve ser magnifico!

Preparou o café? Estou faminta.

— Os rapazes prepararam — digo.

Seguimos em direção à cozinha e avisto rapidamente Frederic e Ferdinand, que estão

sentados, fingindo que leem o jornal. Sei que eles estão fingindo, tenho certeza disso.

Pigarreio e os dois me olham, com Frida atrás de mim com o rosto vermelho.

— Temos visita — digo, apontando para minha melhor amiga.


Frida sai de trás de mim e acena para os dois.

— Olá — diz, acanhada, o que me faz formar um sorriso. Desde quando minha amiga fica

tímida?

— Frida, quanto tempo, como está? — pergunta Frederic se levantando e a cumprimentando

com um beijo no rosto. — Esse aqui é meu irmão, Ferdinand, mas acredito que Estére já tenha falado

dele para você.

Ferdinand se aproxima e segura a mão da minha amiga, depositando um beijo.

— Olá, Frida. Belo nome.

— Obrigada, é um prazer enorme conhecê-lo. E estou bem — diz, virando-se para Fred. — A

viagem ao Brasil foi sensacional.

Fred sorri e aponto para o balcão.

— Sirva-se — digo, me sentando, e em seguida aponto para o meu lado, onde ela se senta e

pega uma xícara.

— Deixe que eu faço isso — diz Ferdinand pegando de sua mão, ela concorda e o vejo

colocar o café e leite. — Veja se está do seu agrado.

Frida agradece e bebe um pouco.

— Gostaria de panquecas? — pergunto, mostrando a ela. Minha amiga aceita e mais uma vez

Ferdinand se prontifica a ajudar, o que começa a me incomodar.


— Me fale mais sobre você, Ferdinand, como não o conhecíamos? — pergunta minha amiga,

já começando a comer.

Encaro os irmãos Cooper e Fred fica sem graça.

— Estive viajando por alguns anos e resolvi voltar agora, de surpresa. Não é mesmo,

irmãozinho? — Ferd se vira para Frederic e ergue a sobrancelha.

— Sim, isso mesmo, e que surpresa — diz Fred debochado.

— E você nunca pensou em falar sobre seu irmão apenas porque ele estava viajando? —

pergunta Frida, bebendo o café.

— Estávamos brigados — responde Ferdinand.

— Que briga tensa — diz minha amiga sarcástica. Frederic concorda com um meneio de

cabeça e o encaro, sem graça.

— Mas deixemos minha história de lado e me conte sobre você, Frida — Ferdinand balbucia.

— Não tem muito o que saber — diz ela. — O que as pessoas não sabem sobre mim,

descobrem com o tempo.

Vejo o sorriso de Ferdinand aumentar e sinto um calor anormal tomar conta da minha barriga.

— Interessante, e como eu posso conhecê-la melhor?

— Você pode começar me chamando para sair — responde minha amiga, flertando com
Ferdinand. Fico estupefata e ele aumenta ainda mais o sorriso.

— Que tal fazermos isso hoje? Podemos sair por aí, você decide, não conheço muito a cidade.

Ele pisca e ela sorri, sem graça. O que me faz estranhar. Frida com vergonha?

— Claro, por mim tudo bem — diz e dá de ombros.

— Então está combinado. Você e Frederic deveriam sair também, Estére, ele, como seu

padrasto, pode levá-la para passear às vezes.

Sinto vontade de mostrar o dedo do meio para ele, porém me controlo.

— Acho que seria bom mesmo, amiga, por que vocês não saem para paquerarem um pouco?

Seria bom para os dois.

— Não tenho idade para sair e ficar paquerando — diz Frederic mal-humorado.

Frida dá de ombros e me encara.

— Então leve minha amiga para paquerar ao menos.

Frederic ri e me encara.

— Gostaria de ir à oficina comigo e de lá na cidade vizinha para você paquerar? — pergunta,

com o sorriso cínico.

Reviro os olhos e me levanto.

— Por que não, já que Frida e Ferdinand vão sair, podemos ir passear um pouco também.
Encaro Ferdinand e o seu sorriso aumenta ainda mais. Sei que ele está fazendo isso apenas

para me provocar, porém, se ele pensa que pode usar minha melhor amiga como um fantoche apenas

para me causar ciúmes, ele está enganado.

Se Ferdinand quer jogar, eu jogarei com ele. E mostrarei que quando uma mulher entra para

batalha, é para vencer.


Vou para meu quarto com Frida e procuro uma roupa para vestir e sair com Fred. Escolho um

vestidinho curto que realça as minhas curvas e pego meus óculos de sol. Como o tempo na cidade é

confuso, apanho ao menos uma blusinha para cobrir os braços.

— Como estou? — pergunto à Frida quando termino de arrumar meus cabelos e passo um

brilho labial.

— Está linda, se eu não soubesse que Frederic é seu antigo padrasto, diria que iriam para um

encontro e tanto.

Ela sorri e forço um sorriso sem graça. Como pude mentir para minha melhor amiga? Como

não pude contar para ela sobre a minha primeira vez? E como pude esconder dela que o homem que

estava flertando com ela na cozinha também transou comigo?

Chega a ser estranho pensar que eu havia transado com os dois, mas como o momento não é

propício para pensar essas coisas, decido esquecer.

— Se Ferdinand tentar alguma gracinha com você, não hesite em dar um soco nele igual você
fez com Collin, ok? — peço, segurando suas mãos. Frida ri e concorda.

— Sabe que sei me defender muito bem, mas apenas aceitei o convite dele por ser educada.

Apesar de serem dois homens maravilhosos, não fazem meu tipo. Acho que Ferdinand faz mais o seu,

Estére.

— O-o quê? Claro que não! — digo, ríspida. Ela ri e balança a cabeça.

— Eu te conheço demais para saber quando está com ciúmes de alguém. Não se julgue por

olhar o cara que tem o mesmo rosto do seu padrasto com outros olhos. Ele realmente é gato! Se

quiser, posso cancelar o passeio.

Me sento na cama e a puxo para o meu lado.

— Você acha isso normal, quero dizer, eu sentir algo por Ferdinand? — pergunto, surpresa em

como chegamos a esse assunto.

— Estranho? Claro que não, estranho seria se fosse Frederic, mas como não é... — Desvio

meu olhar do seu e ela puxa meu rosto. — Você não está me dizendo que... Você e Frederic...

— O quê? Não, claro que não! — afirmo de imediato, sei o quanto é péssimo mentir para ela

e posso ter perdido minha melhor chance de ser sincera, no entanto, não está na hora de dizer isso a

Frida. — Frederic é muito gentil comigo, você viu, mas não passa disso.

— Certo. — Ela balança a cabeça. — Quer que eu cancele com Ferdinand? Nunca que iria

querer ser fura-olho.


— Não, não precisa cancelar. Pode sair com ele, eu irei sair com Frederic e espairecer um

pouco a mente, mas se ele tentar alguma gracinha, não hesite em...

— Socar ele, eu sei — diz, me cortando. Demos risada e a abraço, feliz por pelo menos ser

um pouco sincera com Frida.

E claro, ser sincera comigo em admitir que sim, estou com ciúmes de Ferdinand, e

possivelmente começando a gostar dele.

O problema é como dizer isso a Frederic, e claro, como gostar de dois homens ao mesmo

tempo, principalmente quando são irmãos gêmeos.

Droga!

Saio do quarto com Frida nos meus calcanhares e descemos até a sala onde os dois homens

que me deixam confusa estão nos esperando, sentados.

Frederic levanta ao me encarar e Ferdinand faz o mesmo, só depois olha para Frida. Neste

momento, é como se só estivéssemos nós três aqui, e sinto medo dos meus instintos.

O que eu seria capaz de fazer com os dois ao mesmo tempo?

Penso no meu sonho erótico e reprimo minhas pernas, quase caindo. Frederic corre em minha

direção, me segura e perco o ar.

— Obrigada — digo, o encarando. Frida nos encara e me levanto, esgueirando dos braços de
Fred.

— Tome cuidado, Estére, você pode acabar se machucando e não queremos que isso aconteça

— diz Ferd, me encarando.

— Vamos? — pergunto a Frederic, mudando de assunto.

— Claro, a propósito, gostei do vestido.

— Eu também — emenda Ferdinand, pegando no braço de Frida. — Até mesmo parece que

vocês vão para um encontro.

Resolvo ignorar e saímos, trancando a porta e indo para o meu carro. Frida se despede de

mim com um beijo e sorri.

— Depois conversamos — diz, olhando os irmãos. — Eu te amo.

— Eu também te amo — digo e a abraço apertado.

— Até mais, Estér — diz Ferdinand que logo se afasta com minha amiga para o carro dela. Os

dois entram e, com minha amiga acenando, saem em disparada pela estrada.

— O que foi isso? — digo, aliviada em tê-los longe de nós.

— O quê? — pergunta Frederic.

Entro para dentro do carro e ele dirige, saindo da garagem.

— Nada de mais, pensei alto — digo. Ele me encara por um minuto inteiro e segue em
silêncio.

A música da Nelly Furtado me distrai o caminho inteiro enquanto Fred apenas dirige em

silêncio. Fico pensando na conversa que tive com Frida e em como pude ser tão transparente tanto

para ela quanto para mim. A verdade é que é maravilhoso poder ser sincera com uma pessoa que

você ama, mas, com a revelação a ela sobre os ciúmes de Ferdinand, uma sensação de estar traindo

Frederic me cobre.

Penso sobre quando isso aconteceu, sendo que conheço Ferdinand há pouco tempo. Como

pude me deixar levar e ser tão idiota a ponto de isso acontecer?

— Está distraída — diz Frederic, parando em frente à oficina. Olho o lugar simples e noto o

seu funcionário já mexendo em um carro.

— Não é nada de mais — digo e saio do carro. Ele sai e bato a porta, indo até o local.

Rapidamente o rapaz sai de baixo do veículo e sorri para mim.

— Olá, muito prazer, me chamo Jack — diz.

— O prazer é meu, sou Estére.

— Ah, eu sei quem você é — responde, sorrindo.

— Como estão as coisas, Jack? — pergunta Fred. É a primeira vez que venho na sua oficina,

ele nunca foi de deixar mamãe e eu visitarmos o local.


— Tudo ótimo, as coisas enfim estão começando a melhorar.

— Que bom, eu vim só ver as novidades e já estamos de saída, qualquer coisa pode ligar no

meu celular que atendo.

O outro concorda e volta para debaixo do carro, então sigo Frederic para dentro da oficina. O

vejo ir para uma sala, que lembra um escritório, e noto a bagunça.

— Bem limpo — brinco, rindo. Ele ri também e dá de ombros.

— Está pronta para ir à cidade? Estava pensando que poderíamos comer em algum lugar por

lá, quem sabe termos realmente um encontro, longe de tudo e todos daqui.

Ele se aproxima de mim e me puxa, passando seus braços na minha cintura. Coloco os meus

sobre seus ombros e entrelaço.

— Por mim tudo bem, vamos transformar este dia em algo perfeito — digo. Ele concorda e se

aproxima, beijando meus lábios. Penso se não daria para Jack nos ver, mas não me importo.

Na verdade, deixo de me importar naquele instante com o que as pessoas diriam se

soubessem. O pior já está acontecendo. Estou gostando de dois homens ao mesmo tempo, mesmo

tendo o mínimo de contato com Ferdinand.

Frederic continua me beijando e nos separa, encerrando o beijo com selinhos.

— Você está tensa, aconteceu alguma coisa? — pergunta, me encarando. Tento desviar o olhar

do seu, mas ele é mais rápido e vira meu rosto em sua direção. — Sabe que pode ser sincera comigo,
não sabe?

— Sim, eu sei, mas não está acontecendo nada, não se preocupe.

Frederic me olha e concorda.

— Se você me garante — diz. — Vamos?

Seguro sua mão por um minuto e concordo, a soltando e indo para o carro com o pensamento

de quando irei poder andar de mãos dadas com Frederic sem ser julgada.

Talvez nunca.

Seguimos para a cidade vizinha, e assim que chegamos, me sinto em liberdade. É como se eu

estivesse saindo de uma prisão e aqui pudesse ser quem realmente sou.

— Aqui te faz bem, não é? — pergunta Fred.

Concordo, sorrindo, e sinto o sol arder na minha pele. A sensação é confortável.

— Sim, é como se aqui eu pudesse ser eu, sabe? Sinto que nesta cidade podemos ser um casal

normal e as pessoas não nos julgariam, afinal, ninguém nos conhece.

Ele dá um sorriso de canto e passa a língua no lábio.

— Então quer dizer que está pensando no meu pedido de namoro? — pergunta.

Dou de ombros, seguindo para a praça e me sento no banco, respirando o ar puro que a cidade
emana. As árvores em volta dela me deixam ainda mais calma.

— Estou dizendo que talvez pudéssemos nos mudar para cá um dia — digo.

Frederic me encara e segura minha mão, a apertando. Então me abraça, sem medo de sermos

vistos.

— Isso realmente é muito bom — diz, apertando-me contra ele.

Concordo, sorrindo, e analiso as pessoas. O parque do final de ano já havia sido desmontado,

então as crianças brincam na praça e se divertem. Vejo as mães sentadas, despreocupadas e sorrio

com essa imagem, olhando ao redor.

E é aí que eu o vejo novamente, igual daquela vez quando Frederic e eu estávamos no

mercado.

Ele está usando uma calça jeans, uma camiseta xadrez e os cabelos bagunçados. Noto que

conversa com uma garota. Uma criança, na verdade, e lhe oferece algo.

Me levanto de maneira abrupta, e ao longe ele me olha, acenando para mim.

Pisco uma, duas, três vezes. Me certificando de que não estou ficando louca, então o vejo

correndo em direção à floresta e desaparecendo.

O primeiro instinto que tenho é ir atrás, então começo a correr e Frederic grita por mim, me

seguindo.

Continuo correndo, sentindo minhas panturrilhas protestarem, mas não paro, passo pelas
crianças e adentro a floresta. Tenho certeza de que o vi. Ele só pode morar aqui, certo? Será que eu

estaria louca a ponto de ver Dréck duas vezes aqui?

Me perco entre as árvores e o procuro.

— Onde você está?! — grito, com medo, vendo que isso é uma loucura e tanto.

— Estére! — grita Fred.

— Aqui! — respondo, olhando em volta. Noto as marcas no solo e vou seguindo, esbarrando

em Frederic, que me segura e me aperta.

— O que houve para você sair correndo desse jeito? — pergunta, me olhando. Não respondo,

ainda procurando por Dréck.

— Eu o vi de novo — digo. — O vi conversando com uma garota e correndo para cá, tenho

certeza, não posso estar ficando louca, não é? Você acredita em mim, não acredita?

Sinto o desespero tomar conta de mim e Fred me aperta contra ele.

— É claro que eu acredito em você, mas não pode simplesmente sair correndo atrás de um

estuprador querendo achá-lo. O que você faria se ele estivesse aqui?

Fico em silêncio, ele tem razão. E se Dréck me encontrasse e fizesse o que não conseguiu da

outra vez?

— Precisamos ir à delegacia, eu tenho que falar com a inspetora.


Ele nega com a cabeça.

— Não adianta ir atrás dele, se formos à delegacia, você terá que fazer uma nova ocorrência

para endossar a primeira, mas como o exame de corpo de delito não foi feito, sabemos que não

mudará esse fato.

Fico quieta. Frederic está certo, não adiantaria muita coisa.

— Por favor, me leve para outro lugar — peço.

— Certo, você quer ir para casa? Podemos encerrar o passeio, não irei me opor.

Concordo e ele me guia para fora da floresta, fazendo eu me sentir culpada por permitir que

um fantasma do passado estrague o nosso dia.


— Para onde quer ir? — pergunta Frida, enquanto dirige. Ela havia me mostrado um pouco da

cidade e isso já está se tornando um saco. Na verdade, não havia ficado interessado por ela, mas fiz

isso apenas para provocar Estére, e pelo desconforto que ela demonstrou, eu consegui.

— Eu não sei, que tal comermos em algum lugar? — pergunto. Peguei uma grana com meu

irmão quando Estére havia ido se arrumar, então poderia levá-la para comer alguma coisa.

— Podemos ir ao Beer’s — diz. Concordo, não dando muita importância a isso e seguimos

para lá em silêncio.

Penso no meu irmão e em Estére, querendo saber como está sendo o “encontro” deles. Será

que Estér está se divertindo? Com certeza, afinal, ela gosta do meu irmão.

O intruso nessa história toda sou eu, e reconheço isso. Se eu não tivesse aparecido na vida

dela e retornado na do meu irmão, já seriam um casalzinho enjoativo desses de romances clichês.

Pena que nossa história não é isso. Pelo contrário, nós somos os vilões. Eu sou o vilão.

Vejo Frida parar o carro e saio dos meus pensamentos, me dando conta de que chegamos no
tal Beer’s. Analiso o local e saio, com ela ao meu lado.

— Peça o hambúrguer, você vai adorar — diz.

Concordo e nos ajeitamos em uma das mesas, o local em si está até que cheio, com o

delicioso cheiro de cafeína e ovos no ar.

— Olá, o que vão querer? — pergunta um rapaz nos encarando.

— Oi, Rafa, vamos querer hambúrgueres com batatas fritas — diz Frida. — Já conhece o

Ferdinand, irmão gêmeo de Frederic? — pergunta, como se fosse completamente difícil perceber que

sou igual ao meu irmão.

— Muito prazer — diz ele, sorrindo. — Pensei que fosse Frederic.

— Ah, não, ele está na cidade vizinha com Estére. Esse aqui é Ferdinand e hoje ele é só meu.

— Ela me encara e sorri.

O homem assente e anota nossos pedidos.

— Que bom, ficamos com medo de Frederic depois da surra que deu em Collin. — O rapaz

olha em volta e seu olhar para em um jovem que está sentado do outro lado com alguns caras e uma

garota.

— Não se preocupe, Rafa — digo —, só mexo com quem mexer comigo.

Ele concorda, se afastando e Frida me encara.


— Então você sabe se defender.

— Sim, muito bem — digo. — Principalmente quando um cara vem bancar o fodão para cima

de mim.

Ela concorda e sorri.

— Bem, Collin não pode ser considerado um homem, ele apanhou de Estére, Frederic e eu em

um curto período de tempo.

Rimos e chamamos a atenção de algumas pessoas, inclusive do tal Collin, que se vira e nos

encara. Vejo seu olhar duro contra mim e sustento o meu no seu, cruzando os braços. Noto que seu

rosto está meio esverdeado.

— As marcas são pela surra que Frederic deu nele? — pergunto, curioso, ainda o olhando

dentro dos olhos. Ele se mexe na cadeira, incomodado.

— Sim, parece que por pouco os pais não denunciaram Frederic — diz ela. — A verdade é

que não sabemos ao certo se ele deu queixa ou não, mas como ninguém foi atrás de Frederic...

— É bom ele não ir mesmo — digo, o analisando. — Se ele for, os problemas ficarão maiores

ainda.

Vejo Collin e os outros rapazes se levantarem, com a garota segurando sua mão, e eles passam

pela gente, sem nos encarar.

— Você causou medo neles — diz Frida, brincalhona.


— Isso é pelo simples fato de achar que sou meu irmão, mas me diga, quem é esse Collin

afinal de contas?

Frida se mexe na cadeira e me encara.

— Collin é o ex de Estére, eles namoraram por um bom tempo e ela nunca sequer transou com

ele, acabou que ele a traiu com aquela vadia que estava com ele.

— E por que Estére nunca quis transar com ele? — pergunto, curioso.

— Bem, ela queria perder a virgindade no momento certo — responde. — Droga, não diga a

ela que eu te contei que é virgem.

Fico surpreso ao ouvir isso. Estére era virgem quando começou a se relacionar com meu

irmão?

Então Frederic havia tirado sua virgindade.

— Tudo bem, seu segredinho está guardado — respondo, sorrindo, pensando que comi uma

mulher mais inexperiente do que imaginava.

“Ah, Estére, como eu daria tudo para tê-la em meus braços novamente.”

Estére está aflita, dá para notar isso no seu olhar que percorre as imagens distorcidas que

vamos deixando para trás, enquanto dirijo em alta velocidade.


Sei que ela falou a verdade em ter visto Dréck, jamais duvidaria da palavra dela. E pensar

que isso ainda a perturba, me deixa com as mãos atadas.

O que eu poderia fazer para ajudar? Exatamente nada, a não ser, é claro, que eu pegasse esse

filho da puta e/ou fizesse justiça com as próprias mãos, ou o entregasse a polícia.

Com certeza, sem termos provas cabíveis, o desgraçado seria solto rapidamente. Isso se

ninguém mais fosse a delegacia prestar queixa.

Tento não pensar muito sobre isso, sabendo que de nada vai adiantar, então dirijo em silêncio,

com Estére quieta, e não demora muito já estamos próximos de casa.

— Quer comer alguma coisa? — pergunto, finalmente quebrando o silêncio que se instalou

desde o momento em que saímos da floresta.

— Estou sem fome — diz, sem me olhar. Concordo, sabendo que não iria adiantar insistir e

continuo o percurso, chegando em casa mais cedo do que pretendíamos.

Estaciono o carro em frente ao sobrado e Estére sai em disparada, comigo a seguindo. Assim

que entramos dentro de casa e fecho a porta, me certificando de estar trancada, ela se vira para mim e

me encara por um minuto inteiro.

— Está tudo bem? — pergunto, estranhando o olhar que mantém em mim.

— Sim, eu só quero... — Ela não completa a frase e se aproxima ainda mais, depositando sua

pequena mão no meu peitoral e devorando meus lábios. Retribuo já passando meus braços pelo seu
corpo e a agarro, com Estére pulando e entrelaçando suas pernas em volta do meu corpo. — Me leve

para a cama — pede, em um sussurro quase inaudível.

Concordo, voltando a beijá-la e sigo em direção à escada, subindo devagar enquanto ainda

nos beijamos.

Assim que chegamos no final da escada, percorro o corredor com ela grudada aos meus lábios

e abro a porta, entrando para o seu quarto e fechando logo em seguida. Não nos separamos, Estére

continua me beijando e retribuo, sentindo sua língua invadir minha boca e seus dentes mordiscarem

meu lábio inferior.

Quando chego à cama, a solto e começo a retirar minha roupa com rapidez, ficando apenas

com a boxer preta. Ela faz o mesmo, ficando com a lingerie clara e então se ajeita sobre a cama,

sorrindo e me chamando com o indicador.

Faço o que ela pede e vou me aterrando a cama, indo até ela e voltando a conectar nossos

lábios. Os beijos são selvagens e deliciosos, o que me deixa rapidamente de pau duro. Ela sente meu

pênis rígido e passa sua mão pelo meu abdômen, enquanto me mantenho por cima dela. Não demora e

sua mão está em volta do meu pau, com Estére o apertando.

Abaixo a cueca com urgência e ela volta a pegá-lo, agora fazendo movimentos de vaivém com

rapidez. Solto um gemido alto e retiro seu sutiã, contemplando seus seios.

Penso que meu irmão esteve aqui, igual estou agora, e um pensamento de que Ferdinand a

comeu invade minha mente.


“Não pense nisso agora, não é o momento.”

Afasto esses pensamentos e chupo seus seios, mordiscando o bico e passando meus dedos

freneticamente sobre eles. Estére solta um gemido alto, enquanto ainda segura meu pau e me sinto

excitado com o som que sai da sua boca.

— Por favor, Frederic — pede, puxando meu corpo para mais próximo do seu —, me fode.

Concordo, sorrindo e abaixo sua calcinha, com ela soltando meu pênis e erguendo os braços

para cima. A imagem que tenho é maravilhosa; seu corpo magro com as curvas alinhadas, os seios

pequenos e sua boceta depilada.

Me aproximo, beijando sua barriga e desço direto para sua boceta, chupando-a

deliciosamente. Absorvo seu gosto delicioso e me sinto inebriado, pensando o quanto estava com

saudades de senti-la.

“ irmão foi o último a sentir essa boceta...”

Continuo a chupando, sentindo sua lubrificação e então me afasto, encaixando-me no meio de

suas pernas. Ela se abre ainda mais para mim e enfio meu pau devagar, sentindo a quentura de sua

pele invadir a minha.

— Puta que pariu — murmuro, maravilhado com isso. Estére sorri e me aprofundo ainda mais,

sentindo meu pau entrar por completo. — Me diga, Estére, você quer fazer amor ou que eu te foda?

Fico parado, esperando sua resposta.


— Por hoje, quero que você me foda, por favor — pede, se contorcendo de tesão.

Concordo e começo a movimentar meu quadril, entrando e saindo dela devagar. Vislumbro

como meu pau se encaixa bem na sua bocetinha e sinto ela me apertar. Solto um gemido,

movimentando-me um pouco mais rápido.

Enquanto a como, volto a chupar seus seios e os movimentos vão aumentando ainda mais, com

Estére gemendo cada segundo mais alto. Beijo seus lábios com fúria e continuo-a fodendo, metendo

meu pau cada vez mais rápido.

Não consigo parar, continuo me aprofundando em sua pele e chupo seus seios, imaginando se

Ferdinand fez desse jeito. Na verdade, neste momento não me importo, apenas quero proporcionar a

essa mulher um orgasmo do qual ela não teve comigo.

Sei disso, Estére é completamente diferente de todas as mulheres das quais eu fiquei.

Diferente de Jolie.

Continuo investindo e ouvindo seus gemidos, que entram pelos meus ouvidos como uma

deliciosa melodia, enquanto ela implora por mais. A safada quer mais, muito mais. E eu não paro.

Mantenho os movimentos rápidos e ela me abraça, apertando seu corpo contra o meu e

soltando um grito. Um grito de tesão, de luxúria. Um grito de libertação.

E juntos, gozamos, comigo pensando em Ferdinand e o que ele faria se estivesse aqui.

*
Ficamos deitados, agarrados, e beijo o alto de sua cabeça, quando Estére passa seu braço

para cima do meu peitoral.

— Como você está se sentindo? — pergunto, olhando para seus cabelos.

— Estou melhor, obrigada. E, agora, morrendo de fome.

Concordo e olho a hora, está ficando tarde e Ferdinand não havia chegado.

— Sabe alguma coisa sobre Frida e Ferdinand? — pergunto. Ela me olha e morde o canto da

boca.

— Eles foram no Beer’s e de lá para o cinema — responde. — Seu irmão já deve estar

chegando.

Fico em silêncio e ouço seu celular tocar, então Estére se estica por cima de mim e o apanha

na mesinha de cabeceira.

— Falando na diaba — brinca, atendendo. Não presto atenção em sua conversa, sei que ela

está falando com Frida e logo após desligar ela me encara. — Melhor nos levantarmos, ela disse que

já está trazendo Ferdinand.

Concordo, me levantando, e começo a me vestir, com Estére fazendo a mesma coisa. A vejo

arrumar os cabelos e lavar o rosto, então saio do seu quarto e seguimos juntos para a sala, nos

sentamos e assistimos algo na televisão depois de muito tempo sem fazer isso.

A verdade é que depois da morte de Jolie muitos hábitos simples que fazíamos com ela foi
deixado de lado. Era de lei Jolie se sentar neste sofá e ver o jornal.

Muitas das vezes ficávamos apenas eu e ela, e outras, nós dois com Estére e Collin. O que faz

eu dar uma risadinha.

— Qual a piada que eu perdi? — pergunta, curiosa.

— Nada de mais, que tal irmos comer alguma coisa enquanto esses dois não chegam?

— Acho a ideia de pedirmos uma pizza e ficarmos aqui esperando muito melhor.

— Você que manda — digo, sorrindo. Ela concorda e faz o pedido, conosco ainda sentados,

assistindo televisão e esperando.

Não demora muito e ouvimos a campainha tocar. Me levanto, pegando a carteira e abro a

porta, dando de cara com Ferdinand e Frida.

— Olá, irmão — diz, sorrindo.

— Está entregue — diz Frida.

Estére vem até nós e encara a amiga.

— Você não vai entrar? Pedimos pizza.

— Melhor não, amanhã me levanto cedo para resolver algumas coisas com meus pais, eles

estão se preparando para a volta às aulas.

— Mas ainda falta um mês — responde Estére.


— Sim, eu sei, mas eles realmente precisam de ajuda.

Estér concorda e se despede da amiga, que vai para dentro do carro e buzina, seguindo pela

avenida.

— Ela vai transar, tenho certeza — diz Estére sorrindo e entrando, a seguimos e, novamente, a

campainha toca.

Abro a porta olhando o entregador de pizza e ele sorri.

— Boa noite, senhor.

— Boa noite — digo, pegando as duas caixas, que eu nem sabia que Estére havia pedido mais

de uma, e o pagando. — Pode ficar com o troco — digo, me despedindo e fechando a porta.

Vejo Ferdinand sentado na poltrona, assistindo televisão e Estér me encara, esperando as

pizzas ansiosamente.

Coloco as caixas sobre a mesa de centro e vou até a cozinha, pego três latas de refrigerantes e

guardanapos. Entrego uma para cada e beberico o líquido da minha, pegando uma fatia da pizza de

calabresa e comendo.

— Deliciosa como sempre — diz Estére se lambuzando. Dou risada e vejo o canto de sua

boca suja, então pego o guardanapo e a limpo, com meu irmão me observando e ela ficando sem

graça.

— E como foi o passeio, Ferdinand? — pergunto. — Para Frida ter ido transar com outro,
acredito que não tenha sido muita coisa.

Estér me encara e vejo o quanto o que eu digo a incomoda.

— Não saí com ela para transar, se eu quiser fazer isso, não preciso ir muito longe —

responde, querendo me provocar.

— Que bom, porque enquanto você estava com Frida, Estére e eu estávamos...

— Dá para vocês pararem agora mesmo?! — pergunta, irritada. — Vocês falam como se eu

nem estivesse aqui ouvindo isso.

— Desculpe, eu não quis...

— Não quis o que, Frederic, dizer que estávamos transando? Não quis me tratar como um

prêmio? Porque é justamente isso que está fazendo. — Ela se levanta e vejo abrir a segunda caixa de

pizza, colocando duas fatias na tampa e mais duas da outra. — Vou para o meu quarto, boa noite.

Estére segue para a escada com o refrigerante e as fatias de pizza e Ferdinand me encara.

— Ela come bastante, não é mesmo?

Sinto vontade de rir do que ele diz, mas a preocupação de que fiz besteira toma conta de mim

e não permite eu esboçar reação alguma.


Os dias passam devagar, como se, ao invés de vinte e quatro horas, fossem quarenta e oito.

Fico trancada no meu quarto por mais de uma semana, apenas saindo para comer e evitando

Frederic e Ferdinand. Às vezes converso com Frida por mensagem e passo a maior parte do tempo

assistindo a séries e filmes na Netflix.

Me sinto chateada pela maneira que Fred e Ferd vêm se comportando. Até mesmo parece que

são dois leões brigando por um pedaço de carne. Prazer, sou a carne.

É ridículo pensar nisso, porém, os pensamentos não deixam de invadir minha mente.

Essa semana me sinto mais relaxada, em breve as aulas retornarão e terei algo para ocupar a

mente. Neste momento, só consigo pensar nos sexos que eu havia tido com os dois.

A última vez que transei com Fred ele me fez chegar ao orgasmo, o que, de certa forma, foi a

primeira vez que conseguiu, já que da outra havia sido seu irmão.

Penso o quanto isso é estranho. O cara por qual me apaixonei não foi capaz de me fazer gozar

na primeira e seu “substituto” conseguiu isso em uma única transa.


Esqueço isso por um segundo. Droga, o que está acontecendo comigo? Desde quando mamãe

morreu minha vida se tornou uma verdadeira caixa de Pandora. E o pior é que a cada dia eu fico mais

confusa sobre Frederic e Ferdinand.

E com essa caixa sempre me surpreendendo, não duvido que mais alguma coisa maluca possa

acontecer.

Está cedo, o tempo lá fora me anima a sair da cama. Frederic e Ferdinand não me procuraram,

ambos sabem que estou chateada e quero esse momento só para mim.

Ouço o barulho do carro e corro para a janela, vendo que Fred já está de saída, com certeza

indo para a oficina.

Me animo um pouquinho, afinal, suas palavras me deixaram chateada de verdade.

Levanto-me e vou até o banheiro, faço minhas necessidades e depois de arrumar os cabelos e

passar um pouco de maquiagem para disfarçar as noites mal dormidas, sigo até o closet atrás de algo

bom para vestir.

Não consigo dormir, todas as vezes que fecho meus olhos e agarro no sono, acabo sonhando

coisas eróticas com Frederic e Ferdinand. Não consigo controlar, é praticamente impossível.

Afasto os pensamentos e suspiro, coloco uma calça jeans que realça minhas pernas e uma

blusa de mangas compridas na cor branca, que mostra o decote na frente. Sorrio e saio do quarto
assim que passo perfume e calço meus tênis, pego o celular e coloco no bolso.

Desço devagar e sigo para a cozinha, dando de cara com Ferdinand sentado no balcão e uma

mulher o chupando.

Solto um gritinho e rapidamente ela para. Viro de costas.

— Que merda é essa?! — pergunto, estupefata com o que acabo de ver.

“Meu Deus, apague isso da minha mente, por favor.”

— Droga, Estére, eu estava quase gozando. Pensei que estivesse dormindo ou sei lá — diz

Ferdinand, rindo. Reviro os olhos ainda de costas e espero. — Você já pode ir, gatinha, obrigado

pelo serviço, aqui está.

Continuo de costas e não demora muito a mulher passa ao meu lado usando um vestido preto

curto e saltos altos. Ela vai até a porta e sai sem nem olhar para trás.

— Pode se virar, docinho, eu já estou vestido.

Respiro fundo e conto até três, me viro e o vejo sentado no mesmo lugar, com as pernas

abertas, porém, seu “amigão” já está guardado.

— O que foi isso? — pergunto, indo até ele.

— Uma prostituta me chupando. Você não sabia que aqui tem? — questiona, sarcástico como

sempre.
— Isso é nojento, as coisas não podem ser como antes? Você sair com uma garota e acabar

com ela na sua cama de maneira mais... aceitável?

Ele ri e lambe os lábios.

— Relaxa, Estére, é só sacanagem, não um encontro — murmura. — Até porque a garota que

eu quero levar para sair não está disponível.

Fico quieta e me sirvo de café, sentindo um pouquinho de nojo por tê-lo visto com outra.

— E que garota é essa por acaso? — pergunto, como quem não quer nada.

— Ah, não se faça de idiota, porque sabemos que você não é — diz.

Finjo-me de desentendida.

— Às vezes sei ser idiota — respondo. — Me conte quem é a garota.

Ele sorri e lambe os lábios. Estou à sua frente agora, de pé, enquanto ele continua no balcão.

— Se você quer ouvir, então irei contar — começa. — É você, Estére, quero levá-la para

sair, mas você e meu irmão estão juntos e isso seria um problema.

Dou de ombros e termino meu café.

— Podemos sair como amigos, não vejo problema nisso.

Ele desce do balcão e para na minha frente, passando seus dedos no meu rosto.

— Mas eu vejo, porque não quero ser só seu amigo. Quero ser tudo, até mesmo amante, menos
só seu amigo.

Fico atônita ao ouvir isso e assinto.

— Você é bem direto quando quer alguma coisa.

— Quando você perde dez anos da sua vida atrás das grades, acaba se tornando uma pessoa

mais objetiva.

Concordo em silêncio e dou de ombros.

— Bem, podíamos sair um pouco, o que acha? Irmos ao shopping por exemplo. Aqui não tem

muitos lugares para irmos — digo.

— Você está me chamando para sair? Meu irmão não acharia isso ruim?

— Claro que não, só iremos sair como amigos.

Ele me encara e assente.

— Tudo bem, vou apenas tomar um banho.

— Eu acho bom, enquanto isso eu vou comendo alguma coisa.

Ferdinand me olha um minuto inteiro e sorri de lado, concordando, então se afasta e fico

sozinha na cozinha, pensando no que ele havia acabado de me falar.

Meia hora mais tarde, Ferdinand desce a escada bem-arrumado e com os cabelos curtos
molhados. O perfume másculo invade meu nariz e me arrepio com a virilidade que ele exala, me

causando um arrepio na espinha.

— Estou pronto, vamos? — pergunta, estendendo a mão para mim. A pego de bom grado e

entrego a chave do carro para ele. — Você falou com meu irmão hoje?

— Não estamos nos falando ultimamente — respondo, ele concorda, não dizendo nada e

saímos, trancando a porta de casa. Seguimos para o meu carro e rapidamente ele sai da garagem,

seguindo pela estrada e ligando o rádio.

— Coloque uma música para ouvirmos — pede.

Concordo e ligo o rádio, procurando uma estação que nos agrade. Paro em uma música do

Link Park e Ferdinand se anima, cantando a letra com eles. Apenas o admiro, observando o quanto

ele canta bem e está despreocupado, batendo os dedos no volante do carro. Fico pensando em como

as coisas seriam se ele não tivesse ido parar na cadeia.

Poderia ter sido algo completamente diferente.

E se conhecêssemos ele antes? E se mamãe se apaixonasse por Frederic e eu por Ferdinand?

E se no fim de tudo mamãe ainda estivesse viva? Eu me apaixonaria por Fred e estaria me sentindo

atraída pelo seu irmão?

Tantos “e se...” e nenhuma resposta. Principalmente para o fato de que sou apaixonada por

Frederic e atraída pelo homem ao meu lado.


*

Chegamos ao shopping da cidade e vejo que o local está lotado. Saio do carro assim que

Ferdinand para no estacionamento e sinto o sol cobrir minha pele, o que me deixa animada.

— Vamos? — pergunta Ferd erguendo o braço em minha direção. Fico pensando o que as

pessoas diriam se vissem meu braço entrelaçado no dele e decido que somente hoje não irei me

importar, então o aceito de bom grado e vamos para dentro do estabelecimento.

As pessoas andam para todos os lados bastante animadas, fico maravilhada em vê-las

sorrindo despreocupadas e sinto uma pontada de inveja. Como eu gostaria de poder andar

despreocupada dessa maneira.

— Vamos entrar aqui — diz Ferd me trazendo à realidade novamente. Me viro e vejo uma loja

masculina.

Entramos e ele começa a ver várias roupas e noto seus olhos brilharem por cada uma delas. A

verdade é que Ferdinand não tem roupas, ele ainda usa as do irmão, afinal, saiu há pouco tempo da

prisão.

E sei também que ele não tem dinheiro, o que me deixa desconfortável.

Uns com tanto, outros sem nada. A vida realmente sabe ser injusta.

— Bom dia, pessoal — diz um vendedor, me tirando dos meus pensamentos —, gostariam de

aproveitar as promoções da loja? — O olho e vejo o enorme sorriso no rosto do homem de pele
clara e cabelos loiros.

— Hoje não, estamos apenas olhando — diz Ferdinand. O vendedor concorda, e sorrindo se

afasta, então vou em sua direção.

— Na verdade, o que ele quis dizer é que vamos olhar outros setores da loja, o que você acha

que combinaria com meu amigão aqui? — pergunto, apontando para Ferd. O olho e vejo o

desconforto em seu rosto.

— Bem, podemos ver algo que combine com ele — diz o outro.

— Então nos mostre — peço, dando meu melhor sorriso. O vendedor se anima e puxo

Ferdinand pelo braço, o guiando pela loja.

— O que você pensa que está fazendo? — pergunta baixinho.

— Dando-lhe alguns presentes, por acaso eu não posso? Você é machista a ponto de não

aceitar algo de uma mulher?

— O problema não é esse, e sim quem está dando — diz, travando o maxilar. — Meu irmão

não vai gostar nada disso.

— Minha mãe me deixou uma herança para usufruir, se eu não posso pegar o meu dinheiro e

gastar com quem eu quiser, para que vou querê-lo? E Frederic não tem nada a ver com isso. Ele

recebeu uma porcentagem do dinheiro de mamãe e optou em não usar. É um direito dele, mas o meu,

eu vou gastar.
Ferdinand ri e bagunça meus cabelos.

— Você é muito boa, Estére, nem Frederic e eu a merecemos. Somos muito quebrados para

uma garota como você.

Ouço suas palavras e engulo em seco.

— Bem, sobre isso, sou eu quem decide também.

Ele ri e seguimos o vendedor, que nos mostra diversas roupas.

Acabamos pegando várias calças, camisetas, blusas, bermudas e outros. Ferd se anima com o

tanto de roupa e assim que pago, saímos da loja com ele sorrindo. E percebo que é um sorriso

diferente do que estou acostumada a ver.

Normalmente, Ferdinand sorri de maneira sarcástica e autoritária, para não demonstrar

fraqueza, mas o sorriso que ele me dá é de gratidão.

Seguimos para outras lojas e compro alguns tênis para Ferdinand e depois disso vamos para

outra, onde adquirimos alguns acessórios como bonés, óculos e outros que ele se agrada. Compro

para ele alguns perfumes e brinco dizendo que ele pode sair mais cheiroso ainda para suas

“acompanhantes de luxo”.

Quando encerramos as compras, nos direcionamos para a praça de alimentação e me viro para

Ferd.
— Escolha o que você quiser, sem pensar em preços — digo.

Ele concorda sem pestanejar e acaba pedindo um lanche do McDonald’s, o que me deixa

surpresa.

— O que foi? — pergunta, estranhando meu olhar de surpresa.

— Pensei que pegaria algo diferente — digo.

— Faz mais de dez anos que comi um desses, é realmente algo diferente para mim —

responde. Concordo, sentindo vontade de chorar. O quanto esse homem havia sofrido na cadeia por

algo que não cometeu.

Deixo meus pensamentos de lado, antes que eu comece a chorar, e ele me observa, sorrindo.

Sorrio de volta e somos chamados.

Pegamos nossos pedidos e voltamos para a mesa, com Ferd comendo logo em seguida. O vejo

se lambuzar com o ketchup e dou risada, mergulhando uma batata no molho e levando até a boca.

— Está gostoso? — pergunto, enquanto ele come.

— Sim, eu comeria uns dez lanches desse — responde, bebendo o refrigerante.

— E o que te impede de fazer isso? — pergunto.

— Eu perderia essa barriguinha sexy que você fica com água na boca quando olha — diz,

piscando. Reviro os olhos e mostro a língua para ele.


— Você é mesmo convencido.

— Sou, e você adora esse meu jeito, pode dizer.

Balanço a cabeça em negativo e rio, comendo meu lanche e bebendo a Coca.

—Você é tão diferente de Frederic — digo. — Quero dizer, apesar de ter passado por tantas

coisas, é mais despreocupado, feliz.

— Não acho que eu seja esse homem — comenta.

— Então você precisa se conhecer melhor, Ferdinand — digo.

Ele me olha e seus olhos brilham.

— Talvez você esteja certa, mas você também precisa se conhecer melhor, Estére.
O passeio com Ferdinand foi tranquilo, quando chegamos em casa e seu irmão nos viu com as

compras, um sorrisinho no canto do seu rosto surgiu, como se estivesse feliz pelo que eu havia feito.

Depois disso, os dias passaram rapidamente e me vi pronta para retornar à faculdade, o que

me anima um pouco e, também, desanima.

Suspiro pensando que Frederic e eu não havíamos voltado a conversar. Não que ele não

tivesse me procurado, porém, com meus pensamentos tão confusos e a maneira que ele havia dito,

ainda me sinto incomodada. Posso estar sendo um tanto idiota, eu sei, mas na hora certa iremos

conversar.

Saio de casa e sigo para dentro do meu carro com a mochila nas costas, a jogo no banco

traseiro e sigo pela avenida ao som de Avril Lavigne. Canto animada com ela e não demora, já estou

no campus estacionando o carro ao lado de Frida.

Desço do veículo e minha amiga vem na minha direção com um sorrisinho no rosto.

— Bom dia, amiga! — diz, me abraçando. Está, como sempre, bastante animada.
— Animada para a volta às aulas? — pergunto assim que nos separamos e seguimos devagar

para dentro da faculdade. Reparo que algumas pessoas me olham mais do que o normal, mas não me

importo. Talvez ainda não tenham superado o fato de Collin e eu termos nos separado. Às vezes isso

parece mais um colegial do que faculdade.

— Nem tão animada assim, mas feliz que é um semestre a menos — murmura. — Estive

pensando em Ferdinand e você.

— O quê? — pergunto, surpresa com o que diz.

— Sim, isso mesmo que você ouviu — responde. — Pensei que você poderia dar uma chance

a ele, é bem fofinho e gostoso.

Sinto-me atônita e mexo nos meus cabelos.

— Ele e eu fomos ao shopping uns dias atrás, mas não foi nada de mais, apenas fui ajudá-lo a

comprar algumas roupas.

“Isso é mentira, Estére!”

— Isso é fofo — diz —, mas e aí, rolou alguma coisa?

— Claro que não! Somos somente amigos, assim como Frederic. Seria estranho eu ficar com o

homem que tem o rosto do antigo marido de mamãe.

“Estranho namorar com o irmão do seu padrasto, mas não é estranho ficar com

Frederic?!”
— Besteira — diz —, mas você que sabe, está perdendo um partidão.

Penso em contar a ela que aconteceu algo entre nós, claro, mudando alguns fatos, porém, me

mantenho em silêncio. Mesmo me sentindo péssima em mentir para minha melhor amiga, ainda não

chegou a hora de contar a verdade a ela, principalmente pelo fato de que Collin e eu terminamos há

pouco tempo.

— As pessoas estavam mesmo com saudades de nós — digo, chegando ao meu armário e

notando mais olhares sobre nós.

Frida olha em volta e ergue a sobrancelha.

— Tem alguma fofoca no ar — diz, displicente.

— Como assim?

— Você acha mesmo que todas essas pessoas nos conhecem ou se importam conosco? Tem

algo errado — diz, olhando em volta. — Ei, você aí, vem cá!

Frida chama uma garota que nunca vi e a jovem se aproxima com o olhar sério.

— O que é? — pergunta, mascando o chiclete.

— Você por acaso sabe o que está acontecendo para essas pessoas estarem nos olhando? —

pergunta Frida, cruzando os braços.

— E por que eu saberia? —questiona a outra.


— Ora, porque quando rola uma fofoca, todo mundo sabe — diz minha amiga. A outra me olha

de cima abaixo e faz uma bolha com o chiclete, a estourando.

— Não estão olhando para vocês, e sim para ela — diz, apontando com um movimento de

cabeça em minha direção. — Estão dizendo que você e seu padrasto andam transando e que um irmão

gêmeo dele apareceu e está fazendo a mesma coisa.

Fico quieta, em choque, ao ouvir o que ela diz. Como as pessoas descobriram sobre isso?

Como isso se tornou assunto da faculdade?

— O quê?! — questiona Frida, falando mais alto do que o normal.

— Pois é, foi o Collin que começou a contar isso por aí — responde a garota que não sei o

nome. — Ele disse que desde quando vocês terminaram, você, Estére, vem tendo um caso com seu

padrasto. Até mesmo contou que o motivo do término nem foi a traição com a loira vadia, e sim

porque você o traiu primeiro.

Fico estupefata com o que ela diz. Como Collin teve coragem de sair dizendo isso por aí?

“Então não descobriram, foi apenas uma fofoca nojenta dele.”

— Ele me paga — digo para Frida. Minha amiga concorda e olha atrás de mim, então me viro

e dou de cara com Collin.

— Estére, como está? — pergunta, com a loira ao seu lado. Virou sua sombra.

— Seu desgraçado, filho de uma puta! — grito, tomando alguns olhares em nossa direção. Ele
faz um olhar espantado e forma um sorriso debochado.

— O que houve? É porque seu segredinho foi espalhado?

Sinto vontade de voar no seu pescoço e bater nele, porém, me controlo. Não posso perder a

cabeça, a outra vez já havia dado problemas demais para mim, quase me fazendo perder as provas.

— Você me paga por isso — digo, pegando minhas coisas e dando a volta. Saio do campus,

com Frida me chamando, e corro para o meu carro, entro e saio rapidamente do estacionamento. Sigo

pela estrada, nervosa, e me afasto cada vez mais, sentindo que, no final, Collin nunca esteve tão

certo.

Paro o carro em frente à casa e saio, batendo a porta e acionando o alarme. Subo os degraus e

entro, me jogando no sofá, nervosa.

Solto um grito, pensando em como deixei as coisas chegarem a esse ponto.

Por que as coisas não poderiam ser diferentes?!

Mamãe poderia estar viva, casada com Frederic, e Collin e eu juntos. Talvez se eu tivesse ido

para a cama com ele, Collin não teria me traído e estaríamos juntos ainda.

Só de pensar que o homem pelo qual me apaixonei perdidamente se tornou um grande babaca,

meu estômago embrulha.

— Não foi à aula? — Saio dos meus pensamentos e vejo Frederic em pé, no batente do
corredor. Agora consigo diferenciar um do outro.

— Houve um problema, e para não fazer besteira voltei para casa — digo. — Perder um dia

não me fará mal.

Ele me encara e assente.

— Posso? — pergunta, apontando para o assento ao meu lado, concordo e ele vem em minha

direção, sentando-se logo em seguida. — Quer conversar sobre o que aconteceu?

Suspiro e fecho os olhos por um longo minuto.

— Foi Collin — digo. — Ele anda espalhando na faculdade que você e eu estamos tendo um

caso.

Frederic se mantém em silêncio e coça o alto da cabeça.

— Filho da puta — sussurra. — Como ele descobriu?

— Não descobriu, apenas está dizendo por diversão, mas muitas pessoas estão acreditando

nele, é claro.

— Vou arrebentar a cara dele! — diz, ficando nervoso.

Nego com a cabeça e deposito minha mão no seu braço.

— Não adianta bater nele, isso só vai te trazer mais problemas, ainda não esqueceram do que

houve no Beer’s.
Ele concorda e vejo Ferdinand descer a escada com uma de suas roupas novas.

— Não foi à faculdade? — pergunta, me olhando.

— Estou lá, a alma aqui — brinco e ele ri.

— O que houve? — questiona, se sentando na poltrona ao lado.

— Collin — diz Frederic —, ele anda espalhando na faculdade que Estére e eu estamos tendo

um caso.

Ferdinand nos encara e começa a rir descontroladamente. Fred e eu apenas o observamos.

— Qual o motivo da risada? — pergunto, cruzando os braços.

— Vocês estão mesmo preocupados com isso? — pergunta.

— Acho que você não ouviu o que seu irmão disse — começo. — Collin está espalhando pela

faculdade que...

— Sim, eu entendi — me corta —, ele está espalhando que vocês andam trepando. O conheci

no Beer’s quando fui com Frida, na verdade, apenas o vi de longe e pareceu um babaca e tanto. Fico

me perguntando como você teve coragem de namorar com ele, Estére.

— Aonde você quer chegar com esse assunto? — pergunto, o encarando.

— Que apesar de ele ser um tremendo babaca, está certo. Vocês não estão trepando mesmo?

Frederic até a pediu em namoro, Estér.


Fico em silêncio olhando o sorrisinho cínico dele e reviro os olhos, sabendo que ele está

certo.
Estou deitada e já é a noite do dia seguinte. Não fui à faculdade de novo, pensando no que

havia acontecido.

Frida não para de me enviar mensagens e ligar, e só respondo que está tudo bem. Porque

realmente está. Collin está certo, contudo, sinto medo do que faria se as pessoas descobrissem que é

verdade.

Boatos sempre existirão, sobre tudo. O único problema é manter a verdade escondida.

Ouço uma batida na porta e me ajeito na cama, permitindo entrar. Vejo Frederic entrar e na sua

mão há um prato com pedaço de torta de morango.

— Podemos conversar? — pergunta, parado na entrada.

— Isso é para mim? — Aponto para o prato e ele sorri, concordando. — Então podemos

conversar.

Fred ri e se aproxima, me entregando a torta. Pego o garfo e levo um pedaço até a boca, me

deliciando com o gosto maravilhoso.


— Queria saber como você está — diz, de maneira sincera. — Com sua falta a aula hoje e o

assunto rolando na faculdade, o diretor entrou em contato comigo para saber sobre os boatos.

Reviro os olhos e continuo comendo.

— E o que ele disse?

— Bem, ele disse que infelizmente não pode fazer muita coisa em relação às pessoas falando,

mas que daria uma punição severa ao Collin, que espalhou o assunto.

Dou uma risada debochada e nego com a cabeça.

— Collin é um babaca, mas Ferdinand está certo, ele só disse a verdade, mesmo não sabendo

sobre ela. — Suspiro, triste. — Os vilões nesta história somos nós, Frederic. Você e eu. Fomos nós

que nos entregamos um ao outro.

— E eu não me arrependo — responde. — De início recusei bastante sobre o que estava

sentindo por você, mas hoje não, Estére. Sei que não somos as melhores pessoas e sinto muito em

fazer isso com Jolie, mas eu realmente gosto de você e não mando nos meus sentimentos.

— O que quer dizer? — pergunto, surpresa.

— Primeiramente, que você me perdoe pela maneira que falei em relação a você para

Ferdinand. Eu realmente me senti um pouco ameaçado com ele aqui, e com tudo que houve pensei

que me trocaria por ele. Então agi como um idiota e reconheço isso.

— É, você realmente agiu como um idiota — digo, suspirando profundamente —, mas já


passou, eu acho.

Ele me encara e se aproxima, depositando sua mão na minha.

— Estére, eu te amo — diz, displicentemente. — Sei que é loucura dizer isso, mas é a mais

pura verdade. Eu te amo demais, e hoje consigo distinguir esse sentimento.

Fico perplexa ao ouvir o que ele diz e arregalo os olhos. Seu olhar é vibrante, intenso e

parece um fogaréu, como se estivesse esperando eu dizer o mesmo. E sei que ele está.

— Frederic, eu...

— Tudo bem, fique tranquila, apesar de esperar um dia ouvir que você também me ama, não

disse esperando isso, apenas quis ser sincero com você.

Mantenho o silêncio por um longo minuto e aperto sua mão.

— Gosto muito de você, sabe que realmente estou apaixonada e confiei algo muito importante

a você. Me entreguei primeiramente a você.

— Mas... — diz, sabendo que viria um.

— Mas é mais do que isso — respondo, completando. — Eu gosto de você e estou muito

confusa sobre...

— Ferdinand — responde, completando minha frase.

Fico cabisbaixa e concordo.


— Sinto muito — digo.

— O que você sente por ele? — pergunta, e percebo o tom de mágoa em sua voz.

— Eu não sei, me sinto mexida por ele, uma sensação estranha.

— Que sensação? — questiona, o observo e ergo a sobrancelha. — Pode confiar em mim,

Estére. Confiei em dizer que te amo, quero que confie em me dizer o que sente.

— Não sei ao certo o que sinto, quando estou perto dele uma sensação estranha toma conta de

mim. Como se eu estivesse com borboletas no estômago, e você também me causa isso! Gosto do

toque dos dois, não posso negar — respondo, sentindo a voz embargada, como se algo preso

estivesse finalmente se libertando.

— Uau — diz ele, rindo sem graça. — Está claro, não está? — questiona.

— O quê?

— Você está apaixonada por Ferdinand, Estére, assim como está por mim — responde, me

fazendo rir e negar com a cabeça.

— Não, não é isso, você está louco — digo, negando com a cabeça.

— Me diga, além dessas sensações que ele te causa, o que você sente ao ficar ao seu lado?

— Me sinto bem, mas isso é comum, me sinto bem com muitas pessoas.

— Ok, mas, e sobre o dia que ele saiu com Frida, estava claro que você sentiu ciúmes disso.
Fico quieta e concordo, ele realmente está certo.

— Há mais algumas coisas como por exemplo, o dia em que foram ao shopping. Quando você

chegou, vi um brilho nos seus olhos... um brilho diferente.

— Que tipo de brilho?

— O mesmo quando disse que está apaixonada por mim — responde, ficando cabisbaixo.

— Sinto muito — repito isso como se fosse um mantra.

— Tudo bem, você não tem culpa, não há um jeito que controle os sentimentos. Eles

simplesmente acontecem, e aconteceu. Talvez seja ironia do destino, já que você se apaixonou pelo

seu padrasto.

— O que faremos? — questiono, surpresa com a conversa.

— Acho que você deveria ser sincera com ele — me responde. — Diga que está apaixonada.

Balanço a cabeça em negativa.

— Você está me entregando de bandeja ao seu irmão? — pergunto, com raiva na voz.

— Não, jamais abriria mão de você, prefiro ter um pouco do que nada.

— O que quer dizer com isso, Frederic? — pergunto, sentindo meu coração acelerar.

— Que se for preciso dividir você com meu irmão, irei fazer isso, porque eu te amo e não

suportaria perdê-la para sempre.


— O que... — Minhas palavras se perdem no ar.

— É isso mesmo, Estére, se for necessário, irei dividi-la, só não quero perdê-la. Já perdi

Jolie, se você me deixar, não irei suportar.

Aperto sua mão e engulo a bile.

— Você não vai me perder. Nunca.


Fico pensando no que Frederic havia falado durante o restante da semana, e quando vejo já é

domingo.

Fui obrigada a ir para a aula e os burburinhos começaram a diminuir. O diretor, pai de Frida,

me chamou até sua sala e pediu desculpas pelo ocorrido, como se ele fosse o culpado. Aceitei,

apenas para evitar mais problemas, e depois disso, foquei meu pensamento apenas nas aulas para não

perder nem uma coisa importante.

O semestre está cada vez mais difícil, até mesmo para quem faz Fotografia. Teríamos um

trabalho do qual tínhamos que fotografar pessoas de nossa família e montarmos um álbum.

O único problema disso tudo é que eu não tenho família.

Penso aleatoriamente no meu pai, não sinto vontade de conhecê-lo, mas às vezes fico

imaginando o que ele está fazendo neste momento. Isso é, se ele ainda estiver vivo. E se estiver, se

ele tem outra família e se tenho irmãos, o que, de certa forma, seria até que divertido.

— Já decidiu como vai fazer esse trabalho? — pergunta Frida, deitada de barriga para cima
na minha cama.

— Não, ainda não — respondo.

— Deveria fazer o que eu disse — responde. — Chame Frederic e Ferdinand e os fotografe.

Os dois são lindos e isso ajudará a ganhar alguns pontos a mais.

— Você e suas ideias malucas — digo, rindo. Ela havia me sugerido que deveria convidá-los

para irmos a algum parque e tirarmos as fotos, porém, com toda a situação que havia acontecido entre

Frederic e eu, não sabia se aceitariam.

— Frederic anda bastante ocupado na oficina e Ferdinand está atrás de emprego — respondo.

— Eles não têm tempo para essas baboseiras.

— Baboseiras que irá mudar o seu futuro quando terminar a faculdade — diz, revirando os

olhos.

— Talvez você esteja certa, mas não vou chamá-los de jeito nenhum.

Frida bufa e se senta.

— Tudo bem, eu mesma farei isso. Não pode ser pior que eu, terei que fotografar meus

próprios pais que trabalham na faculdade. É ridículo demais!

Dou risada e concordo.

— Em quesito ridículo, você venceu de mim — digo, a vendo revirar os olhos e mostrar a

língua.
Ouço uma batida na porta e Frida corre para abrir, então encaramos Frederic.

— O almoço está pronto — diz, me encarando. Sinto um formigamento cobrir minha pele e

concordo, me levantando. Quando ele está dando a volta para sair, Frida segura seu braço.

— Frederic, Estére precisa de um favor seu e de Ferdinand — diz.

— Frida! — a repreendo, negando com a cabeça.

— O quê? — questiona ele.

— Tem um trabalho na faculdade que vale nota — diz. — É sobre fotografarmos alguns dos

nossos parentes, mas como Estér só tem você e seu irmão como família, ela está com vergonha de

pedir para que vocês façam isso por ela.

Frederic me encara e mordo o canto da boca.

— É sério? — pergunta, me observando.

— É — respondo.

— Tudo bem, só diga o dia que estaremos lá, vou conversar com Ferdinand sobre o assunto,

como ele é um pouco cabeça-dura, vai recusar, mas vou convencê-lo.

— Obrigada, Fred, você é um herói — diz Frida, toda derretida, o que faz eu rir.

— Vamos comer — digo, puxando-a pelo braço e descendo com os dois para a sala de jantar.

*
Frida e eu passamos o restante do dia no meu quarto assistindo a séries bobas na Netflix e

comendo bastante pipoca e brigadeiro. Fazer algo simples, mas descontraído, me deixa um pouco

mais relaxada e feliz. Pela primeira vez em dias eu consigo esquecer um pouco sobre a loucura que é

Frederic e Ferdinand.

— Está pensando no que, Srta. Muller? — pergunta Frida.

— Tenho que te contar uma coisa e não sei por onde começar — digo, me sentindo nervosa.

Frida me encara e seu sorriso aumenta.

— Não me diga que você e Ferdinand... vocês transaram?

Engulo em seco e mexo as mãos. Devo contar a ela?

— Não, claro que não! Mas estou sentindo algo por ele — confesso, não seria tão ruim assim

dizer a ela que estou gostando do ex-cunhado de mamãe, não é? Mesmo ele sendo uma cópia perfeita

do meu ex-padrastro.

— Eu sabia! — ela grita, dando pulinhos na cama. — Você não consegue me esconder as

coisas, Srta. Muller.

Fico quieta, sabendo que isso não é verdade. Se eu contar neste momento o que venho

escondendo, ela me perdoaria?

— Bem, não se anime tanto assim, porque não pretendo contar a ele.

— Por que não? — questiona, arregalando os olhos.


“Porque eu gosto de Frederic também, e ele me ama.”

— Não teria futuro e acabaria estragando nossa amizade — minto, dando de ombros.

Frida mordisca o lábio e vejo o sorriso se espalhar.

— O convide para jantar, claro, não no Beer’s, aquilo está tão ultrapassado quanto a calcinha

que você está usando. Leve-o em um restaurante chique, essa cidade de merda deve ter, não é

possível.

Dou risada e balanço a cabeça, não acreditando no que ela diz.

— Pensei que amasse morar aqui.

— Você não ouviu isso sair da minha boca — responde apontando o dedo magro na minha

direção. — Vamos lá, daremos um tapa no seu visual e você o convida para jantar.

— Não posso fazer isso — respondo.

— Pare de besteira, é claro que pode, ambos são solteiros, o que te impede?

Frederic, é claro. Com certeza ele não iria gostar nem um pouco de me ver saindo com seu

irmão.

Maldita hora que abri a boca para contar a minha amiga sobre meus sentimentos confusos.

— Já está tarde — digo, criando uma desculpa ridícula.

— Ainda são três horas, combine para sair as oito, é tempo de arrumarmos suas unhas, o
cabelo e escolhermos uma roupa. Ande, vá até o quarto dele e o convide.

Penso a respeito disso e concordo, me levantando.

— Fique aqui, não faça parecer mais constrangedor.

Ela concorda e saio, fechando a porta.

Respiro fundo, sentindo meu coração acelerar e sigo até o quarto que Ferdinand está ficando.

Bato na porta e espero, com ele abrindo um minuto depois apenas de cueca.

— Oi, gatinha, precisando de alguma coisa? — pergunta, levando a mão até o meio de suas

pernas. Reviro os olhos e ele ri.

— Isso foi um erro —digo, em voz alta.

— O quê?

— Vim convidá-lo para jantar — respondo —, mas vendo o babaca que é, deveria ter ficado

no meu quarto, trancada pelo resto do domingo.

Ele ri e passa a língua pelos lábios, os umedecendo.

— Me convidar para jantar? — questiona e assinto. — Frederic sabe disso? — sussurra,

sabendo que Frida está no meu quarto com o ouvido atrás da porta.

— Não, mas não pensei que deveria comunicá-lo.

Ele concorda e cruza os braços, comigo desviando o olhar do seu abdômen definido e do
volume no meio das pernas.

— Sei que você é uma mulher empoderada e tal, mas estou pedindo para que avise a ele. Não

quero parecer o irmão fura-olho, entende? E será só um jantar.

Fico estupefata com suas palavras e a firmeza na voz. Nenhuma gracinha sobre me levar para

cama, é isso mesmo?

— Se isso fará você aceitar o convite, tudo bem — respondo, sabendo que a conversa com

Frederic não será nem um pouco fácil.

— Sim, me procure depois que conversar com ele. — Ele sorri e fecha a porta, me deixando

confusa e pensando que não seria ruim passar a mão nos seus gominhos.
Ando de um lado para o outro no corredor e fico pensando em como chegar em Frederic e

dizer que irei sair com seu irmão para jantar. O que ele pensaria a respeito disso? Apenas um jantar

ou um encontro? Afinal de contas, o que espero desse jantar?

“Deixe de ser idiota, sabemos melhor que ninguém que você e Ferdinand não são amigos,

você apenas o presenteou com algumas coisas, nada mais. E claro, transaram, mesmo não sabendo

que ele era ele.”

Reviro os olhos com meus pensamentos e sigo pelo corredor, criando coragem e batendo na

porta do quarto de Frederic. O quarto do qual ele passou anos com mamãe.

Como ele se sentia dormindo ali?

— Oi — diz, me tirando dos meus pensamentos. Ultimamente venho tendo diversos

devaneios.

— Oi — digo, já torcendo as mãos. — Como você está?

— Bem — responde, estranhando a pergunta, afinal, nos vimos há poucas horas quando fomos
almoçar.

— Que bom — digo, desviando o meu olhar do seu. — Gostaria de falar com você sobre uma

coisa.

Ele cruza os braços e concorda.

— Estou ouvindo — diz, displicentemente.

— Eu gostaria de saber se você se importaria se eu saísse para jantar com Ferdinand — digo.

— O convidei para jantar sob influência de Frida, mas ele pediu para eu falar com você primeiro,

para saber se está de acordo.

Ele estreita as sobrancelhas e coloca a mão na cintura.

— Você está mesmo interessada nele — diz, fico em silêncio e ele assente. — Tudo bem,

podem ir, não me importo, desde que amanhã você saia comigo para jantar.

Ouço o pedido e fico surpresa com sua reação. É sério que ele está deixando? Então lembro

de suas palavras.

“Prefiro ter um pouco do que nada.”

— Tudo bem — respondo, sorrindo. Ele forma um sorriso e olha para o corredor, vistoriando

se Frida está ou não nos olhando. Minha amiga se mantém dentro do quarto e então ele me puxa,

beijando meus lábios e tirando meu fôlego.

— Você sempre será minha, Estére — sussurra, para que não sejamos ouvidos.
O beijo e concordo, mordiscando seu lábio, então me afasto e ele me encara, fechando a

porta.

Bato na do quarto de Ferdinand e ele atende do mesmo jeito que estava antes.

— Então?

— Ele deixou — digo, me sentindo um pouco animada.

— Ok, nos vemos que horas?

— Às oito — respondo. Ferdinand concorda e volto para meu quarto, me virando para Frida.

— Você demorou — diz, sem me olhar. Se me olhasse, perceberia que algo aconteceu.

— Ele aceitou — digo, ignorando o que diz.

Rapidamente ela se vira para mim animada e solta um gritinho.

— Vamos cuidar do seu visual!

Passo as próximas horas sendo cobaia de Frida. Ela faz as unhas das mãos e segue para os

pés, insistindo que devo usar um salto. Depois disso, me ajuda a depilar as pernas, alegando que irei

usar um vestido. No banho, ela faz eu depilar as pernas e depois que termino, arruma meus cabelos,

deixando-os encaracolados com o babyliss.

Quando termina, me ajuda com a maquiagem e só então seguimos para a roupa, o que é uma
verdadeira confusão.

— Você precisa renovar seu guarda-roupa — diz, nervosa. Dou risada e espero minha amiga

achar algo que sirva para esta noite.

Depois de um bom tempo, achamos um vestido que eu nem lembrava ter. Ele é branco-pérola,

com um decote avantajado na frente e fechado atrás. O comprimento vai até abaixo do joelho, com a

lateral aberta, revelando a coxa.

Frida me faz vesti-lo, e assim que me olho no espelho, vejo o quanto ficou bonito. Sorrio e ela

me entrega um par de sandálias de salto na mesma cor.

— Você está linda — diz.

— Você não acha um exagero isso tudo? É só um jantar.

— Não, não acho, e enquanto você enrolava com Ferdinand, procurei no Google e achei

algumas opções de restaurantes. Aqui na cidade mesmo tem um chamado Flor de Lótus, não entendi

muito bem o nome, mas pelos comentários o lugar é bastante renomado. Fico pensando como não

soubemos dele antes.

— Talvez seja porque sempre acabamos indo ao Beer’s — respondo. Ela ri e concorda.

— Mas hoje será diferente, vocês vão nesse restaurante, vou enviar a localização no seu

celular.

Concordo e ela envia, então vejo a hora e falta dez minutos para as oito.
— A hora passou voando — digo, surpresa, ela concorda, sorrindo.

— Isso é que dá se produzir inteira — diz, se levantando. — Bem, vou indo nessa, depois me

conte como foi.

— Você tem certeza? Pode descer conosco.

— Não quero segurar vela — diz, me dando um beijo e me encarando. — Se divirta esta

noite, promete? Não pense em mais nada, só na noite.

— Prometo — respondo, sorrindo. Ela volta a me dar um beijo e sai, não demora muito, a

vejo pela janela no seu carro e Frida acena, seguindo pela estrada.

Respiro fundo quando me vejo sozinha e me assusto quando uma batida na porta atrai minha

atenção.

Me viro e perco o fôlego ao ver Ferdinand vestido em um smoking preto, com a camisa

branca e a gravata borboleta. Sua barba está bem alinhada e o sorriso cativante aparece, deixando-

me com um formigamento nas partes íntimas.

— Oi — consigo dizer.

— Olá, Estére — diz, se aproximando, e pega minha mão. Ele deposita um beijo e me arrepio.

— Você está linda.

— Obrigada, você também está. Onde conseguiu o smoking?

— Frederic me emprestou, ele disse que eu deveria me vestir bem para sair com uma garota.
Fico quieta com suas palavras e apenas movimento a cabeça em um sinal de aprovação.

— O que Frederic está fazendo? — pergunto, e ele entende a pergunta.

— Dando-lhe o direito da escolha — diz.

Novamente fico quieta, pensando em como Frederic estaria se sentindo. Ao pensar nisso, uma

sensação estranha toma conta de mim.

— É melhor irmos nessa — digo, mudando de assunto. Ferdinand concorda e estende o braço

para mim, me guiando pelo corredor.

Paro meu olhar na porta do quarto de Frederic e suspiro, saindo com Ferd e indo para o meu

carro.
Ferdinand dirige até o restaurante que fica um pouco longe de onde moro. Durante todo o

caminho, fomos ouvindo músicas da Katy Perry, e cantando com ela. O que me deixa surpresa em

como ele aprendeu as letras rapidamente.

— O que foi? — pergunta quando o vejo cantando. — Só porque estive preso, acha que não

sei cantar?

— Não é isso, sua voz, ela é linda.

Ferd ri, nega com a cabeça e continua cantando. Canto Wide Awake com ele e logo chegamos

no local.

Saímos do carro e Ferdinand me estende a mão. A seguro e entramos no ambiente bem

iluminado, com pessoas por todos os lados. Noto que o restaurante é nesses formatos antigos, como

se fosse um pub, com janelas em toda a sua volta e o teto abobadado.

Um homem nos recepciona e nos leva até uma das mesas, onde nos sentamos e fico

maravilhada com o local.


— Vocês aceitam a sugestão do sommelier para escolher a bebida? — pergunta o rapaz.

— Claro, por que não? — diz Ferd sorrindo, o homem concorda, se afasta e logo em seguida

se aproxima outro, com um sorriso enorme.

— Boa noite — diz, educadamente, o cumprimentamos e ele continua nos olhando. — A

sugestão desta noite é um vinho tinto delicioso que veio da França...

— Pode ser ele mesmo — diz Ferd o cortando, não querendo ouvir a ladainha, o homem fica

sem graça e concorda.

— Agora mesmo, senhor — diz se afastando e trazendo logo em seguida a garrafa. Ele enche

nossas taças e a deixa sobre a mesa.

— Poderia ter deixado o homem ao menos terminar de falar — digo, rindo. Ele dá de ombros

e bebe um gole do vinho.

— E perder a chance de passar mais tempo com você? — pergunta, me fazendo corar.

— O que pretende comer? — pergunto, mudando de assunto, ele olha o cardápio e suspira.

— Eu não sei, que tal ostras? Parece nojento. — Rio e ele aponta para outro. — Ou podemos

comer ouriço-do-mar, dizem que é um delicioso crustáceo.

Balanço a cabeça, me negando a experimentar aquilo.

— Acho que vou querer somente uma salada mesmo — digo, ele fecha a carta e me encara.
— Certo, fingiremos que somos pessoas saldáveis que comem só mato para não passarmos

vergonha neste restaurante super chique. — Ferd assente e arranca uma risada minha.

— Basicamente isso, melhor do que comermos ouriço-do-mar.

Ele concorda e chama o garçom, fazendo nossos pedidos. O homem anota e se afasta.

— Me diga, Estére, por que me convidou para jantar?

Fico pensativa e meneio os ombros.

— Apenas quis, eu acho — digo, sabendo que isso não é total verdade.

— Pensei que estivesse apaixonada pelo meu irmão — responde, me encarando no fundo dos

olhos. O desconforto que isso me causa é como se eu estivesse nua na frente de todas aquelas

pessoas.

— Uma garota não pode convidar um rapaz para jantar sem segundas intenções?

— Claro que pode, mas sabemos que esse não é o nosso caso — ele responde. — Sei que

você está interessada em mim, assim como eu em você. E você, claro, no meu irmão, o que chega a

ser bastante confuso.

O garçom coloca nossos pratos sobre a mesa e se afasta, conosco começando a comer. Assim

que engulo a salada, me volto para ele.

— Sei que realmente parece confuso, mas quando disse ao seu irmão, ele não se opôs a me

dividir com você.


Ferdinand arregala os olhos, surpreso com o que eu disse.

— Então isso quer dizer que você a partir de agora vai se dividir?

— Não exatamente, mas ele soube entender bem meus sentimentos, o que chega a ser

engraçado, sendo que nem eu mesma consigo compreendê-los.

— Não compreende ou não aceita este fato? — questiona-me. — Vamos lá, Estére, você sabe

melhor do que ninguém que estou certo. Você está louca para se entregar para nós dois, mas não

aceita isso. Não compreende.

Torço minhas pernas, me sentindo nervosa.

— E-eu nunca fiz isso — gaguejo.

— O quê? Uma relação a três? É claro que não fez, perdeu sua virgindade com meu irmão —

diz, sorrindo.

— Como sabe disso? — questiono.

— Frida me disse que você era virgem, e como ela não sabe o acontece com você e Frederic,

acabei deduzindo. Mas não mude de assunto.

— Não estou mudando — respondo, displicentemente. — Você age como se isso fosse

normal. Não esqueça que estamos falando do seu irmão, você e eu. Não é outra pessoa, é seu irmão!

— digo, estupefata.

— É melhor um conhecido do que um desconhecido, não acha?


— Você está pensando mesmo que vou levar esse assunto em questão?

— E se não vai fazer isso, o que pretende? Quem vai escolher?

— Eu não sei — digo, voltando a comer a minha salada, ele faz o mesmo e o encaro. — Para

você seria normal isso?

— Não é a melhor relação que eu já vi, mas acredito que quando três pessoas não brigam,

elas trepam — sussurra, se aproximando de mim. Sinto meu rosto queimar e ele ri, bebendo do

vinho.

Faço o mesmo e termino de comer, encerrando o assunto e pedindo sobremesa. Ferdinand faz

a mesma coisa e logo somos servidos com bolinhos recheados e sorvete.

Comemos em silêncio e continuamos bebendo vinho, com o clima ficando um tanto estranho.

— Algo está lhe incomodando? — pergunta, depois de um tempo.

Quero dizer que sim. Estou mesmo incomodada. Sinto uma excitação fora do normal e meu

corpo se contorce com isso. Quero dizer a Ferdinand que ele está certo, realmente quero aquilo.

Mesmo sendo algo totalmente novo para mim, é isso que desejo.

Eu o desejo, assim como desejo seu irmão. O mesmo desejo sombrio que me consumira

quando comecei a me relacionar com Frederic Cooper, me consome por Ferdinand.

A diferença é que agora é em dobro, e me pergunto se para ambos está tudo bem fazermos

aquilo, por que me repúdio tanto?


O pior eu já havia feito, que foi me entregar ao meu padrasto.

Iríamos para o inferno de qualquer maneira, então por que não aproveitar a chance que a vida

está me dando? Por que não me entregar completamente a esses dois homens que me desejam tanto?

Realmente somos os vilões desta história para algumas pessoas, mas para nós não. Somos

apenas três pessoas descompreendidas, quebradas da nossa maneira que encontramos conforto um

nos braços do outro.

E eu quero isso, eu desejo mais do que tudo Frederic e Ferdinand.

E os terei para mim.


Ferdinand pede a conta e após ele pagar, dizendo que havia pegado dinheiro com o irmão e

economizado, saímos do restaurante e seguimos para o carro.

Entro sentindo a tensão tomar conta do lugar, minhas mãos estão suadas e minhas pernas

comprimidas. Disfarçadamente, sem que Ferd veja, passo os dedos pelos meus seios e sinto a

rigidez. Estou excitada. Não posso negar isso.

Só de pensar que Frederic e Ferdinand concordam com aquela loucura de “me dividir” me

deixa com o sangue fervendo.

Mas o que iríamos fazer de agora em diante? O que vem agora?

— Está tudo bem aí? — pergunta Ferdinand saindo do estacionamento e seguindo pela

estrada.

— Sim — digo, com a respiração entrecortada.

— Não parece — me responde, olhando-me nos olhos. Ele forma um sorrisinho de canto e

mordisca a boca, voltando sua atenção para a avenida.


— Só estou com calor — digo, abrindo a janela do carro, o vento gelado bate em minha pele

e alivia um pouco do que estou sentindo.

— Calor... — A palavra estala em sua boca. — Entendi.

— O quê?

— O tipo de calor que está sentindo — responde, ainda olhando para a frente. Sinto meu rosto

arder de vergonha e nego com a cabeça.

— Claro que não é isso que está pensando — respondo com firmeza, o que chega a me deixar

surpresa.

— Tem certeza de que não é?

Fico quieta e fixo meu olhar do lado de fora do carro. Ferdinand não diz mais nada, e quando

vejo já estamos próximos de casa.

Assim que ele para o carro, solto o cinto e abro a porta, saindo e seguindo para dentro de

casa. Sinto seu corpo logo atrás de mim e me viro, o encarando, então tropeço nos meus próprios pés

e escorrego, com Ferdinand me segurando e encostando meu rosto próximo ao seu.

— Toma cuidado, gatinha, você pode acabar se machucando.

Sinto minha respiração entrecortada e continuamos nos olhando, então encaro seus lábios e

começo a me aproximar, pronta para beijá-lo.

— Está tudo bem? — Sou trazida para a realidade quando ouço a voz de Frederic e me
desvencilho do seu irmão.

— Só Estére caindo por aí — diz Ferd, me encarando.

Fico quieta e Frederic desce a escada devagar, noto que ele está usando calça jeans e camisa

social com os botões abertos.

— É só isso mesmo, Estére? — pergunta Frederic, me encarando.

— Sim, tropecei nos meus próprios pés — respondo, desviando meu olhar do seu.

Vejo de canto de olho ele balançar a cabeça em concordância e me mantenho em silêncio,

então Frederic se aproxima cada vez mais e para bem na minha frente.

— Não tenha medo dos seus instintos, Estér — sussurra.

— Me desculpe — digo, encarando-o. Ele coloca seus dedos no meu queixo e ergue meu

rosto.

— Pelo o quê?

— Por querer você e Ferdinand — digo, encarando seu irmão que está parado ao seu lado.

Sua mão pende e ele meneia a cabeça, concordando e suspirando pesadamente.

— Se é isso que você quer...

— Sim — admito, sabendo que não adianta eu mentir para mim mesma. — É isso que eu

quero e pode parecer errado, mas gosto da ideia.


Encaro os dois e vejo expressões opostas. Frederic está surpreso, enquanto Ferdinand está

com um olhar de que gosta disso.

— Você não pensa que nós... Ferdinand e eu...

— Que vocês fiquem? — questiono, erguendo a sobrancelha. Vejo Ferd rir e Fred revirar os

olhos. — Não os obrigaria a isso, a não ser que queiram…

Os encaro e Fred torce o nariz.

— Não me sinto excitado em pensar nisso, irmão, relaxe — diz Ferdinand dando um soco

fraco no seu braço.

— Mas se sente excitado em dividir a mesma garota com o irmão? — pergunto sarcástica.

Os dois sorriem e vejo Fred lamber os lábios.

— Por acaso você não está querendo dizer que Ferd e eu ficarmos seria comum, está?

— Não, mas se quiserem, não vejo problemas — respondo, sentindo meu corpo se arrepiar

com a ideia.

Os dois se encaram e me aproximo deles, colocando cada uma de minhas mãos nos seus

peitorais.

Tocando-os ao mesmo tempo, consigo sentir a diferença; Ferdinand com certeza é mais

malhado que o irmão, isso por conta dos anos na cadeia.


— Por enquanto apenas a ideia de dividi-la já me basta, Estér — responde Fred.

Não digo mais nada e assinto, os dois me encaram e, devagar, escorrego meus dedos pelas

suas camisas e puxo a de Ferd, tirando-a de dentro da calça. Assim que faço isso, sigo meu olhar

para os dois e vejo suas expressões sérias e excitadas.

Sorrio com isso e levo minhas mãos por debaixo das camisas, sentindo minha pele entrar em

contato com a deles. Um arrepio percorre minha espinha e continuo acariciando, subindo até o peito

deles. Ambos continuam em silêncio, então me desvencilho dos dois e desabotoo a camisa de

Frederic, vendo-a escorregar pelos seus braços e cair no chão. Sem receio, abro o botão da sua calça

e desço o zíper, o mantendo nessa posição, enquanto vou até o seu irmão e tiro o smoking, a gravata e

sua camisa, jogando no chão da sala.

Fixo meu olhar nos dois, olho seus abdomens definidos e sinto água na boca, então abro o

botão da calça de Ferdinand e desço o zíper igual fiz com seu irmão.

— Vocês querem isso? — pergunto, retirando meus saltos. Levo o meu braço até as costas e

desço devagar o fecho do vestido.

— Mais do que tudo, Estére — responde Frederic.

— Pode apostar — diz o outro.

Sorrio com as respostas e retiro meu vestido, vendo-o cair no chão e me deixar somente com

a lingerie. Eles me olham fixamente e vejo Ferd lamber os lábios, enquanto Frederic vai descendo

sua calça. Mantenho ainda mais o sorriso e o outro faz o mesmo, agora nós três apenas de roupas
íntimas.

Respiro fundo, ainda os encarando e vou até Frederic.

— Me beije — sussurro.

Ele concorda e se aproxima, encostando seus lábios nos meus. Rapidamente invado sua boca

com minha língua e as entrelaçamos, com Frederic passando a mão pela minha nuca e me agarrando.

Solto um gemido no meio do nosso beijo e, ainda fixo a ele, puxo Ferdinand para próximo de nós e

acaricio seu peito, sentindo-me ficar cada vez mais excitada.

Separo-me de Frederic e encaro seu irmão, indo em sua direção e beijando seus lábios.

Agora, beijando os dois ao mesmo tempo, consigo sentir a diferença. É algo notável. Ambos, apesar

de serem diferentes, beijam muito bem.

Aproveito o momento e o beijo, sentindo sua língua me invadir e ele agarrar minha cintura,

passando seu braço em torno de mim. Um gemido involuntário sai e sinto Frederic acariciar meus

seios, então volto-me para ele e o beijo novamente, agora com o irmão acariciando meu mamilo.

— Isso é delicioso — sussurro, me separando de Frederic. — Os quero só para mim.

Eles me encaram e vejo seus membros duros dentro de suas cuecas.

Ferdinand se vira para o irmão e o encara bem, então me puxa em sua direção e me beija,

fazendo meu corpo se arrepiar por inteiro.

De início, noto que Frederic está receoso e se mantém sem reação enquanto nos vê se
beijando, então me afasto um pouco de Ferdinand e deslizo meus dedos pelo cós da calcinha,

mergulho minha mão na minha boceta, enfiando um dedo nela e começo a me masturbar. Solto um

gemido alto, com os dois fazendo trilhas de beijos pelo meu corpo e continuo me tocando, deliciada

com aquilo. Deliciada em saber que nós três estamos nos entregando ao desejo sombrio. Ao pecado e

a luxúria. Abraçando-os, como se fizéssemos parte de uma só carne.

Continuo me tocando e eles mantém os beijos, o que me deixa animada e surpresa, então vejo

Ferd puxar minha mão de dentro da minha calcinha e introduz um dedo na minha boceta. Solto um

gemido alto, enlouquecida com seu toque e ele começa a movimentar seu indicador, enquanto o irmão

desce pela minha barriga e fica de joelhos diante de nós dois.

A imagem de Frederic de joelhos, parado em frente a mim, faz eu sentir arrepios percorrerem

meu corpo, como se eu pudesse chegar ao ápice só de vê-los.

— Se entregue, Frederic — sussurro.

Fred encara Ferdinand e me olha, comigo ainda sendo tocada, então Ferd tira seu dedo da

minha boceta e traz até minha boca, fazendo eu engolir e sentir o meu gosto.

Não posso negar que é inebriante senti-lo, então chupando seu dedo, vejo Frederic abaixar a

minha calcinha e mergulhar sua língua dentro da minha boceta.

Solto um gemido alto, me contorcendo de tanto tesão com isso, como um homem poderia fazer

aquilo tão gostoso? Sinto pena de quem não tem um homem como esse em sua casa. Ou melhor,

homens como esses.


Saindo dos meus pensamentos sem sentido, fixo minha mente no momento em que estamos,

com Frederic ainda chupando minha boceta e enfiando um dedo devagar, enquanto o dedo de

Ferdinand se mantém na minha boca, comigo o chupando e gemendo baixo.

Não demora e Fred para de chupar minha boceta e só mantém o dedo nela, fazendo

movimentos no meu clitóris, que me causa ondas de prazer. Seu irmão me observa atentamente, ainda

com o dedo na minha boca, e fico ainda mais excitada, se isso realmente é possível. Não demora e

Fred se levanta, vindo até nós dois e voltando sua atenção para mim.

Ele beija meu pescoço e abaixo a cueca de Ferdinand, segurando seu pênis duro e o

masturbando. Ferd geme diante do meu toque e faço o mesmo com Fred, masturbando os dois ao

mesmo tempo, enquanto ambos chupam meus seios, me causando ondas elétricas de prazer.

Ainda os masturbando e sentindo suas bocas nos meus seios, os dois guiam suas mãos para a

direção do meu sexo e introduzem um dedo de cada no meu sexo, esfregando meu clitóris. Sinto a

sensação na boca do estômago com isso e continuo os masturbando, cada vez mais maravilhada com

a cena que estou. Nunca imaginei na vida que perderia minha virgindade com o ex marido de mamãe,

e pensar nisso, enquanto estou com ele e seu irmão gêmeo, me deixa completamente extasiada diante

da situação. Iríamos realmente para o inferno, mas neste momento, não me importo com nada disso, e

pensando o quanto esse ato de nós três é delicioso, acabo gozando no dedo dos dois, soltando um

gemido alto.

Sinto meu corpo amolecer e eles continuam com os movimentos, me sinto excitada com isso,
então, devagar, nos separo e me deito sobre o chão, com os dois fazendo o mesmo.

Frederic vem para o meu lado e começa a beijar meu pescoço, descendo para meus seios,

enquanto Ferdinand chupa minha boceta. Solto um gemido. Continuo na mesma posição, deitada,

deixando-os me explorarem e vejo Ferdinand parar de me chupar e nos encarar.

— Quero retribuir o que estão fazendo por mim — diz, lambendo os lábios, seus olhos

brilham. — Então, se me permitirem, primeiramente vou assistir Frederic te comer, Estére, e depois

farei isso.

— Então faça isso agora, Fred — sussurro, o observando.

— Está gostando disso, Estére? — pergunta Ferdinand.

— Sim — respondo —, mas, por favor, me comam agora.

Os dois sorriem e vejo Frederic se encaixar no meio das minhas pernas, enfiando seu pau sem

qualquer dificuldade dentro de mim. Solto um gemido ainda mais alto ao senti-lo e minha boceta se

contrai, fazendo-o gemer também. Logo as investidas começam e vejo algo um tanto delicioso;

Frederic dobra minhas pernas, investindo cada vez mais dentro de mim e beija meus lábios, enquanto

seu irmão está se masturbando, apenas nos observa.

Sinto-me deliciada ao ver outro homem nos assistindo e agarro o rosto de Fred, devorando

seus lábios. O suor escorre do seu cabelo, descendo para seu rosto e indo de encontro ao seu peitoral

forte, que está suado. Ele continua com os movimentos e gemo ainda mais, então, sinto meu corpo

cada vez mais quente e Fred para de me foder, saindo de dentro de mim e trocando de posição com o
irmão, que coloca seu pênis de uma vez dentro de mim e me faz soltar mais um gemido.

— Agora é a minha vez de te foder com força — diz, sorrindo e remexendo os quadris. Fico

extasiada com isso e ele começa com os movimentos cada vez mais rápidos.

Vejo Frederic sorrir para mim, e começa a se masturbar, olhando-me transar com seu irmão.

Fico ainda mais fascinada com isso, pensando na primeira vez que transei com Ferdinand e o quanto

desejei tê-lo novamente dentro de mim.

Ficamos um bom tempo nesta posição e beijo Ferd e esfrego meu clitóris.

— Eu vou gozar — sussurra Ferdinand estocando com rapidez dentro de mim. — Você toma

pílula?

Nego com a cabeça e ele concorda, continuando as investidas mais rápidas e de repente,

saindo de dentro de mim. Ele solta um gemido e goza sobre a minha barriga, então vejo Frederic

também gozar na direção do chão e deliciada com isso, solto um grito, chegando mais uma vez ao

ápice e sentindo meu corpo amolecido.


Sinto fortes braços me carregarem para o meu quarto e me deito na cama, com alguém se

deitando ao meu lado. Não abro os olhos para saber quem é, afinal, estou tão exaurida que mal

consigo me manter consciente.

Não lembro do momento certo em que eu dormi, só me vem à lembrança do sexo que eu havia

feito com Frederic e Ferdinand.

O sexo.

Havia sido algo tão delicioso e inovador, que chega a me assustar. Só de pensar que eu transei

com os irmãos Cooper, meu corpo envia sinais e quero repetir, mas me controlo.

Continuo de olhos fechados e adormeço, sonhando com a experiência que tivemos

Após Estére dormir, saio da sua cama e sigo para o meu quarto, deixando a porta encostada.

Me deito e olho para o teto, pensando no que havia acontecido entre Estér, Ferdinand e eu.
Ainda é muito novo para mim a ideia de ter uma relação trisal, ou como é que chamam. Só de

pensar no sexo que havíamos tido, me repreendo. Não por ser algo errado, apesar de saber que não é

comum, mas sim por ter gostado mais do que eu esperava.

— Toc, toc. — Ouço meu irmão na porta e me viro para ele, que está usando uma calça de

moletom e camiseta. — Posso entrar?

Concordo e me sento na cama, com ele se aproximando e sentando-se ao meu lado.

— Aconteceu alguma coisa? — pergunto, sem encará-lo.

— Sim, aconteceu — responde. — Estére, você e eu fizemos sexo, isso que aconteceu — me

diz.

Fico em silêncio, pensando quando criei coragem e aceitei essa loucura. Droga, o que está

acontecendo comigo? A experiência havia sido completamente nova para mim, eu nunca havia feito

algo parecido, a não ser, é claro, transar com duas mulheres e tê-las só para mim.

Mas o fato de ter ficado com a mesma mulher que o meu irmão, me causa uma sensação

estranha.

Um medo. Medo do que diriam. Medo por ter gostado.

Que pecado havíamos cometido? Sei que isso é errado, mas o que fazer em relação a algo,

sendo que eu havia gostado? Como explicar que realmente foi excitante ter transado com Estére e ter

Ferdinand, meu irmão, ao meu lado a fodendo?


— E o que tem isso? — pergunto, saindo dos meus pensamentos.

— Você que precisa me dizer, Fred — sussurra, torcendo o nariz. — Se me disser que não se

sente bem com isso, que estou invadindo o espaço de Estére e seu, eu posso pegar minhas coisas e

cair fora, cara, mas para isso preciso saber o que você acha.

O encaro e noto seu semblante um pouco abalado.

— Eu não sei o que senti — digo. — Quero dizer, estava visível que senti tesão, mas agora,

depois que tudo passou, não consigo pensar direito. Porra, Ferd, nós transamos com a mesma mulher!

Nós somos irmãos. Tem noção do que fizemos?

Me levanto e ando de um lado para o outro, sentindo-me completamente perturbado com isso.

Estére havia nos colocado naquela enrascada e eu havia gostado. Merda!

— Isso é um problema para você, irmão? — pergunta, também se levantando.

— Eu não sei.

— Olha, eu passei muitas coisas na cadeia, e ser passivo dos caras, chupar pau e às vezes ser

obrigado a fodê-los, foram algumas delas. De início, foi completamente difícil, porém, com o tempo,

me acostumei com coisas desse tipo. Não estou dizendo que só porque estamos transando com a

mesma garota, devemos transar também, mas para mim é mais normal do que imagina ter mais de uma

pessoa em uma foda.

— Está me dizendo que você é bissexual e só veio me contar agora?


— Eu deveria ter comunicado antes? — responde, com outra pergunta. Nego com a cabeça,

ele está certo, não tinha que dar satisfação da sua vida para mim. E saber disso não me incomoda, o

fato dele ter sido abusado é o que me perturba.

Quantas coisas meu irmão havia passado na cadeia e eu não estive ao seu lado.

Será que se eu tivesse sido preso junto, também seria abusado e obrigado a fazer essas

coisas?

— O problema não é transarmos com Estére, mas sim sermos irmãos, ainda mais gêmeos —

respondo, ainda andando de um lado para o outro, cada vez mais nervoso.

— Você está preocupado com o que as pessoas dirão a respeito? — questiona-me e assinto,

suspirando, frustrado.

— Tenho medo por Estére e pela gente, é claro, sabe o quão doentio é você se relacionar com

a mesma mulher que o seu irmão? Uma relação a três tudo bem, isso é mais comum do que as pessoas

pensam, mas sermos irmãos? O que as pessoas pensariam a respeito disso?!

Ferdinand se aproxima e coloca as duas mãos sobre meus ombros, parando-me à sua frente.

— Não se preocupe com o que a sociedade irá dizer, as pessoas gostam de se indignar na web

e apreciar por trás, é isso que elas fazem. Criticam para parecerem as corretas, mas por trás

consomem aquilo. Não estou dizendo que essa relação é normal, e que termos transado juntos, com a

mesma garota, é algo comum, mas quero dizer que se nós gostamos, e Estére está de acordo, não há o

porquê de nos repreendermos tanto.


Ouço suas palavras e as analiso atentamente, reproduzindo-as na minha mente. Meu irmão está

certo, estou me preocupando demais com o que as pessoas dirão a respeito disso. E o pior de tudo é

que tenho medo da reação delas. E se Frida descobrisse? Estére não conseguiria esconder para

sempre de sua amiga o que está acontecendo entre nós dois. Aliás, entre nós três.

— Você está certo — digo, depois de um tempo.

— Me desculpe se te causei algum desconforto, mas se não quiser mais, podemos conversar

com Estére...

— Tudo bem, só é muito novo para mim, entende? Só preciso de um tempo para processar

isso.

Meu irmão concorda e dá um tapa no meu ombro, se despedindo e saindo do quarto. Fecho a

porta e me deito, fechando os olhos e adormecendo logo em seguida.

Sou invadido no meu sonho por lembranças do sexo que tivemos.

Acordo na manhã seguinte com o cheiro de ovos e bacon no ar. Levanto, vou até o banheiro e

escovo os dentes. Me encaro no espelho e recordo do que havia acontecido na noite anterior,

engolindo a bile e afastando os pensamentos.

Assim que saio do quarto, já arrumado e com minhas coisas, desço a escada e sigo para a

cozinha, dando de cara com Estére e Ferdinand preparando o café para nós.
— Bom dia — digo, forçando um sorriso.

Estér vem em minha direção e deposita um suave beijo nos meus lábios.

— Está com fome? — pergunta, sorrindo. Sorrio e concordo, com Ferdinand vindo até a mim.

— Devo cumprimentá-lo com um beijinho também? — caçoa, rindo logo em seguida. Reviro

os olhos e dou um soco fraco no seu braço.

— Nem pense — digo, me sentando e pegando a xícara que Estér depositou à minha frente.

Beberico um gole da bebida quente e começo a comer os ovos com bacon quando ela me entrega.

— O que vai fazer hoje? — pergunta Estére, comendo.

— Ir para a oficina — respondo.

— Vai querer sair para jantar? — questiona.

Penso sobre o que havia falado com ela no dia anterior antes de sair com Ferdinand e

concordo, pensando em como em poucas horas as coisas haviam mudado. Não que eu não tivesse

gostado de ter feito sexo com os dois, porém, quando você é novo nisso, é estranho pensar depois no

que aconteceu.

— Claro — digo, sorrindo e afastando novamente meus pensamentos. Porra, eu havia aceitado

isso.

— Tudo bem, eu pensei que poderíamos fazer as fotos no final de semana, o que acham?

Podíamos ir ao chalé, é na outra cidade e tem lugares ótimos lá.


Penso sobre isso e concordo, vendo meu irmão assentir.

— Só farei essas fotos porque não tenho escolha, gatinha — diz, piscando.

Estére revira os olhos e levanta, indo até meu irmão e depositando um suave beijo nos seus

lábios, por incrível que pareça, isso não me incomoda, então ela vem na minha direção e faz o

mesmo.

— Preciso ir nessa, não posso mais perder aula, nos vemos mais tarde.

Assim que fala, ela vai em direção à porta e a fecha, deixando-me sozinho com meu irmão.

— Quer ajuda na oficina? — pergunta. — Estou de bobeira, está difícil achar um emprego

pela cidade.

Penso sobre isso e me recordo dos velhos tempos, conosco na oficina que pertencera ao nosso

pai.

— É, pode ser divertido — digo, me levantando e colocando as louças na lavadeira. — Se

prepare, porque hoje você que vai trabalhar.

Ele sorri e bate palmas, um tanto animado.

— Ah, como eu estava com saudades de mexer em um carro!


Sigo para a faculdade pensando no que havia acontecido na noite anterior e fico arrepiada só

de lembrar. Não havia me importado nem um pouco sobre tudo que Frederic e Ferdinand fizeram

juntos comigo; pelo contrário. Só de imaginar nós três transando juntos, me sinto excitada.

Porém, algo me incomoda, e é o que faremos de agora em diante. Fico pensando o caminho

todo sobre o que Frida faria se estivesse no meu lugar e tomo a decisão de puxar o assunto com ela,

quem sabe ela pode me ajudar com alguma resposta útil?

Saio dos meus pensamentos quando já estou em frente ao campus e assim que estaciono, vejo

Frida vir em direção do meu carro com um enorme sorriso no rosto. Pego minha mochila e desço,

travando a porta.

— Bom dia! — diz, animada — Eu quero saber de tudo.

— Tudo o quê? — questiono.

— Sobre o jantar, é claro! Você não me mandou mensagem, então creio eu que deve ter rolado

alguma coisa.
Sorrio forçadamente. Eu havia esquecido completamente que minha amiga iria querer saber

sobre isso.

— Na verdade, antes de tudo, quero te fazer uma pergunta — digo, seguindo para dentro da

faculdade.

— Qual?

— O que você faria se dois caras estivessem a fim de você e dispostos a dividi-la entre eles?

— questiono, pensando o quanto soa ridículo dizer isso em voz alta.

Ela pensa por um minuto e dá de ombros.

— Se ambos querem e eu também, qual seria o problema? — pergunta, curiosa. — Não vai

me dizer que além do Ferdinand você está com outro? Me diga quem é.

Engulo em seco e dou de ombros.

— É só uma pergunta mesmo — respondo. — Sobre o jantar, foi sensacional, depois que

fomos para casa, rolou um beijo.

Estou sendo sincera, certo? Realmente havia acontecido um beijo, só não havia dito que foi

com Frederic e Ferdinand. E claro, que passou disso. Aliás, passou muito disso.

— Espere, Srta. Muller, você está me dizendo que Ferdinand e você ficaram? Isso é

sensacional! — diz em voz alta, fazendo algumas pessoas nos olharem.

— O que é sensacional? — pergunta Collin atrás de nós. Me viro e torço o nariz ao vê-lo.
— Bem, não é da sua conta, mas já que quer saber... — começa Frida, limpando a garganta.

— Estére está ficando com outro cara, um muito melhor que você, acredite.

Vejo o desconforto tomar conta dele e Collin me encara.

— Isso é verdade, Estére? — pergunta, estreitando as sobrancelhas.

— Sim, é — respondo, sorrindo.

Collin me observa e abaixa a cabeça, saindo sem falar mais nada.

— Ele é realmente maluco, eu não sei como vocês ficaram juntos tanto tempo — diz Frida, e

concordo com ela, seguindo para a aula assim que o sinal toca.

A aula passou tranquilamente e me peguei pensando várias vezes no sexo que eu havia tido

com Frederic e Ferdinand. Só de pensar que poderia repetir isso quantas vezes eu quisesse, dava

vontade de não sair de casa para mais nada.

— Você é mesmo uma tarada, Estére Muller — murmuro para mim mesma, quando estou indo

para uma mesa no refeitório. Frida havia ido buscar sucos para nós duas, enquanto eu comprava os

burritos de queijo e carne.

— Pensando sozinha, amiga? — pergunta me trazendo para a realidade assim que deposita na

minha frente o suco de morango.

— É, digamos que sim — digo, dando de ombros.


— O que você está escondendo de mim? — pergunta, me fitando. Me mexo na cadeira

desconfortável ao ouvir isso.

— Escondendo? — questiono, sabendo o quanto estou sendo hipócrita, por que não contar

logo a verdade a ela? Por que não me abrir para minha amiga? No fundo, sei que ela irá me apoiar,

no entanto, o medo toma conta de mim. — Bem, várias coisas, mas outra hora eu conto. — Pisco e

bebo do suco, com ela rindo e concordando.

— Mas então, e agora, como será entre você e Ferdinand?

— Eu não sei — digo, pensando em Frederic.

Ela come o burrito e faço o mesmo, sentindo o delicioso gosto da carne.

— Você deveria chamá-lo de novo para sair, quem sabe não rola sexo — diz, dando de

ombros.

Me sinto mal ao ouvir isso e não poder contar para minha amiga sobre o que já aconteceu.

“Você é uma amiga de merda!”

— Os rapazes e eu vamos no final de semana para o chalé para fazermos as fotos — digo,

mudando de assunto. — Decidimos ir para lá, por ser um lugar mais tranquilo.

Frida continua comendo e concorda.

— Mudando de assunto, ok.


— Sim, obrigada — digo, sorrindo. — Mas, e você, faz tempo que não me diz sobre algum

rapaz que esteja ficando.

Ela lambe os lábios e dá de ombros.

— Conheci um rapaz tem uns dias e estamos conversando bastante, mas ele me disse algo que

me assustou.

— O quê? — questiono, terminando de comer.

— Ele me disse que gosta de práticas BDSM, eu nunca fiz nada parecido, você sabe disso,

então seria algo completamente inédito para mim.

Fico surpresa com isso e concordo.

— Uau, seria ótimo saber o que daria entre vocês dois, afinal, o novo sempre é gostoso, de

alguma forma — digo, sorrindo. Ela me encara e concorda, estreitando os olhos.

— Você está certa, veja o quanto Ferdinand está fazendo bem a você — diz, convicta.

— Não seja boba, nos conhecemos esses dias — respondo, sem graça.

— Sim, e o tempo que esteve com Collin eu nunca vi esse brilho nos seus olhos.

Quero dizer a ela que os culpados disso são Frederic e Ferdinand, mas dou de ombros e

sorrio.

— Possa ser que você esteja certa, mas que tal irmos logo para aula antes que a gente se
atrase?

Nos levantamos e ela concorda.

— Quem diria que as coisas mudariam tanto, você com Ferdinand e eu com um cara com

gostos peculiares.

Rio e concordo, querendo dizer a ela que os meus não são menos peculiares que o dela, mas

me mantenho em silêncio.

Muitas das vezes, o novo causa medo e impacto em algumas pessoas. Sei disso, aliás, passei

por muitas coisas novas das quais o medo foi pioneiro delas.

Lembro-me perfeitamente do dia em que fui jogado na prisão e lá apodreci por longos dez

anos. Sim, podridão, foi isso que aconteceu comigo. Passei por muitas coisas novas, que foram ruins,

e outras que no fim, se tornaram boas. Como, por exemplo, o sexo. Por mais que tenha sido estuprado

por anos, quando eu fazia de livre e espontânea vontade, até que era bom. Não, não sou gay e nunca

fui, mas descobri um lado novo meu que não sabia antes.

E agora, com Estére e Frederic, descobri mais um. O desejo sombrio de tê-la conosco, o que,

de certa forma, é realmente um pouco estranho, mas ao mesmo tempo, maravilhoso.

Por que nos prendermos em estereótipos se vamos mesmo para o inferno? Isso se realmente
ele existir, é claro.

— Está pronto? — pergunta Frederic me tirando dos meus pensamentos. Encaro a

caminhonete e concordo.

— Mas é claro, qual o problema dessa belezura? — questiono, voltando-me para Jack.

— Nada de mais, só a correia mesmo — diz, encarando o capô aberto. Concordo com um

aceno de cabeça e encaro meu irmão, que está com a mão na cintura nos observando.

— Essa é fácil — digo, tirando a correia velha e a substituindo pela nova, aproveito e reviso

o óleo do motor e assim que finalizo, fecho o capô do carro e encaro meu irmão. — Pensei que seria

algo mais trabalhoso.

Ele dá de ombros e ergue as mãos.

— Culpado, eu queria mesmo que viesse para cá para relembrarmos os velhos momentos que

passamos na oficina de papai.

Penso sobre isso e ele segue para seu escritório, então o sigo e me sento, lembrando do dia

em que estive aqui e acabamos brigando.

— Eram bons momentos — digo, saindo dos meus pensamentos novamente e aceitando o copo

com uísque que ele me serve.

— Você acha que nossa mãe estaria orgulhosa de nós? — pergunta. — Digo, em relação a

tudo que já fizemos. Nem saber que você foi para a prisão ela soube, escondi o máximo possível e
quando vi, ela havia morrido, e eu não tinha você lá do meu lado para me apoiar, assim como você

não me teve nos últimos anos.

— Não pense nessas coisas, tá legal? Já passou — respondo, bebendo o uísque. — E apesar

de tudo, acredito que ela tenha orgulho sim de nós, independentemente de onde esteja. Não fomos os

melhores filhos do mundo, mas também não os piores. — Sorrio e ele também. — Você está

pensando de novo no que fizemos, não está?

— Você não?

— Sim, mas para mim é mais fácil aceitar e conviver com este pecado, do que continuar me

julgando.

Ele fica em silêncio e me encara, formando um sorriso maroto.

— Estére, como ela pôde nos envolver nisso?

— Eu também não sei, mas é a mulher que você ama — digo, cruzando as pernas. — Isso te

incomoda?

— A mulher que eu amo gostar do meu irmão? Não, creio que não. Quando ela me disse,

parecia problemático, mas agora não, porque eu também te amo, você é meu irmão e...

Ele para de falar e engole a bebida em um único gole.

— E...?

— Esquece, deixe isso para lá. — Fred suspira e se senta. — Porra, como sou idiota, quem eu
quero enganar? Gostei muito do que nós três fizemos.

— Eu também gostei — respondo, rindo. Ele forma um sorriso e concorda.

— Mais tarde vou jantar com Estére, por que não vem junto?

— É melhor não, eu tive meu momento com ela, tenha o seu também — respondo.

— Para a noite acabarmos os três juntos? —questiona. — Vou avisá-la que você irá conosco.

— Tudo bem, em que lugar está pensando em nos levar?

— Não se preocupe, vocês vão gostar.


Recebo uma mensagem de Frederic assim que saio da faculdade, avisando que Ferdinand vai

jantar conosco e que vamos em um lugar especial. Fico pensando que lugar é esse e me vejo sorrindo

com sua mensagem, sendo tirada do meu devaneio com Frida surgindo ao meu lado.

— Deixa eu adivinhar, é mensagem do Ferdinand? — pergunta, tentando olhar a tela, bloqueio

e balanço a cabeça.

— Sim, só me convidando para jantar de novo — minto, me sentindo péssima com isso. Frida

sorri e lambe os lábios.

— Tenho uma notícia para te dar — diz.

— Conte, por favor, estou desesperada por fofoca — respondo e nós duas rimos.

— Resolvi sair com o rapaz que é Dominador, ou sei lá como se chama.

— E vocês vão sair quando? — questiono, surpresa com isso, essa história vai ser

interessante, tenho certeza.

— Ele me chamou para um jantar em sua casa, fica próxima da minha, então não terei muito
problema. Ele me disse que quer me mostrar algumas coisas.

— Certo, e ele tem nome? Não acha perigoso ir à casa de um desconhecido?

Ela pensa sobre isso e concorda.

— Você está certa, irei encaminhar uma mensagem a ele e dizer que aceito, mas se formos em

algum restaurante, dependendo de como for, eu sigo para sua casa.

— Tudo bem, mesmo assim, mantenha sua localização atualizada e me mande mensagem

sempre.

— Claro, mas respondendo à sua pergunta, o nome dele é Hector.

— Se ele for tão bonito quanto o nome, está feita — brinco e ela concorda, se despedindo de

mim.

— Nos vemos amanhã.

Concordo e sigo para o meu carro, entrando e seguindo em direção da estrada, com o

pensamento de que minha amiga vai se divertir e muito com esse rapaz.

Sigo para casa ouvindo música e sorrindo feito boba ao pensar que ao chegar lá, terei dois

homens maravilhosos me esperando. Penso a respeito da noite anterior e do momento em que

Frederic trocou com Ferdinand a penetração, fazendo eu sorrir com a lembrança. Não posso negar, os

dois são ótimos no sexo, ambos são diferentes e especiais de suas maneiras.
Só de pensar que de início acreditei que Ferdinand não passava de um babaca, quero rir, mas

isso não muda o fato dele ser um bom “piadista” com suas sátiras sem graça.

Chego em casa e saio do carro, seguindo para dentro. O cheiro de comida invade minhas

narinas e meu estômago protesta, lembrando que só comi o burrito na faculdade.

Sigo para a cozinha e encontro os irmãos Cooper conversando e preparando o almoço. Fred

está nas panelas, enquanto seu irmão corta os legumes.

— Boa tarde, gatinha — diz Ferd sorrindo para mim, retribuo e o cumprimento com um beijo

no rosto, fazendo o mesmo com Fred.

— O que temos para o almoço? O cheiro está ótimo — digo, lambendo os beiços.

— Decidi fazer carne assada com batatas — diz Frederic.

— E para acompanhar, sala de legumes — completa Ferdinand.

— Certo, querem ajuda para alguma coisa? — questiono, ambos negam com a cabeça.

— Só esteja preparada para mais tarde — diz Fred piscando, concordo, pensando no que ele

estaria aprontando e decido ir assistir a um pouco de televisão, pensando que isso poderia me ajudar

a distrair a mente.

Mas ver os dois na cozinha, pensando que poderiam estar comigo, me deixa com a mente

fervendo.

“Quando foi que você se tornou uma pervertida?”


Dou risada com o pensamento e sigo para o meu quarto, ligo a televisão em uma série

qualquer e pego meu celular, notando algumas notificações do Instagram. Então recebo uma

mensagem de Collin com um link.

“Veja o quão doente isso é.”, diz na sua mensagem.

Seguro a respiração e abro o link, vendo que é um vídeo de um suposto padrasto abusando

sexualmente da enteada, o que me deixa enojada. Fecho o navegador e leio a outra mensagem de

Collin:

“É assim que ele faz com você, Estére? É assim que Frederic te fode?”

“O que você quer?”

“A verdade, assuma de uma vez por todas que você e Frederic estão transando. Agora

com o irmão dele por perto, você deve estar fazendo sexo com os dois, não é mesmo?”

Fico atônita com suas duras palavras e sinto minhas mãos tremerem, então sou trazida à

realidade quando Ferdinand entra no quarto.

— O almoço já está na mesa, vamos comer? — pergunta, concordo com um movimento de

cabeça e tento disfarçar o olhar aflito, porém, falho miseravelmente. — Está tudo bem? Você está

pálida.

— Não é nada de mais — minto, sabendo que se ele e seu irmão souberem sobre a mensagem

de Collin, acabará em briga.


— Tem certeza? — pergunta.

— Sim, eu tenho certeza — afirmo, com a voz embargada. Ele me encara e quando vou sair do

quarto, me impede, colocando seu corpo forte a frente.

— Só irei deixá-la sair daqui quando me falar o que realmente está acontecendo — diz, me

fitando.

Vejo que não terei escolha e pego o celular, mostrando a ele as mensagens.

— Collin está desconfiado de nós e quer que eu diga de qualquer maneira a verdade.

— Vou arrebentar esse filho da puta! — diz, com a voz alterada. Não demora e Frederic

aparece sem entender.

— O que está acontecendo? — questiona. Mordo o canto da boca e sinto o gosto do sangue,

então Ferd mostra o celular a ele. — Eu vou matar esse cara.

— Não adianta agirmos de cabeça quente, e no final, ele está certo, temos mesmo uma

relação, mesmo sem rótulos, estamos juntos, certo? — Os dois assentem. — Então, isso só daria

mais motivos para ele querer expor isso.

— E se ele tentar alguma coisa com você? Isso já está se tornando perseguição — responde

Frederic, me observando.

— Caso isso aconteça, eu mesma vou atrás de um advogado e peço uma medida protetiva para

ele manter distância.


— Mas afinal, o que esse babaca quer? — questiona Ferdinand, me observando.

Torço as mãos uma na outra e balanço o ombro.

— Acho que ele não aceita o fato de nós nunca termos transado — digo.

— Eu ficaria puto também — responde ele, me encarando, Frederic revira os olhos e me

devolve o celular.

— Se ele continuar com essas mensagens, vamos até a delegacia, entendeu? — Meneio com a

cabeça. — Certo, vamos almoçar, ainda iremos sair hoje.

Mordo o canto da boca e seguro seu braço quando ele está prestes a sair.

— Tem certeza de que ainda quer fazer isso? — questiono.

— Sim, não vamos deixar esse babaca nos atrapalhar — responde. Concordo e nós três

descemos em direção à cozinha, nos sentamos nas banquetas e logo estamos comendo, com o

delicioso gosto da carne invadindo minha boca.

Porém, não consigo esquecer o vídeo nojento que Collin havia me mandado, e a mensagem. O

que será que ele faria se soubesse que suas teorias sobre Frederic, Ferdinand e eu estão corretas?

Com certeza não seria algo bom.

Estamos no carro de Frederic quando a noite já está caindo e seguimos para um local mais

afastado da cidade. Estou no banco da frente, enquanto Ferdinand está sentado atrás, cantarolando a
música que toca no rádio.

Fred havia me dito que o jantar seria diferente, que iríamos fazer um piquenique à luz das

estrelas, o que me deixou bastante animada.

A cesta de vime está com Ferd, e pelo que vi, bastante cheia.

Fico pensando sobre isso que está acontecendo conosco e sorrio, feliz pelo simples momento

que estamos tendo agora.

— Está pensando no quê? — pergunta Frederic me encarando com um sorrisinho nos lábios.

— Nada de mais — digo, olhando-o. — Só pensando em como as coisas mudaram nos

últimos meses... Já faz quanto tempo que mamãe morreu?

— Uns três meses? Eu não sei, ando tão perdido no tempo com tudo que está acontecendo —

responde-me. — A falta dela ainda é grande.

— Sim, penso nela diversas vezes — respondo, o sorriso sumindo.

Fred concorda e segura minha mão, apertando-a.

— Sei que é ridículo e você não acredita nisso, mas ela está em um bom lugar.

Desejo que ele esteja certo mesmo, afinal, se mamãe soubesse o que está acontecendo dentro

da casa da qual ela me criou a vida inteira, não estaria nem um pouco orgulhosa de mim. Analiso a

situação e mordisco o canto da boca, sentindo o gosto do sangue. Quantas pessoas fazem o que

Frederic, Ferdinand e eu estamos fazendo? Claro que há pessoas que nos julgam, mas será que tem
pessoas que nos apoiam? Que acham “normal”? Principalmente em relação aos gêmeos Cooper em

dividir a mesma mulher. O que as pessoas diriam a respeito disso?

Decido esquecer isso assim que o carro para e vejo que estamos próximos de um pequeno

parque da cidade. Há algumas pessoas conversando, rindo e se divertindo.

Saio do carro assim que Fred destrava as portas e aspiro o ar fresco e úmido do local. A

grama verde está aparada e limpa; essa é uma das qualidades daqui, os cidadãos não são imundos

como em outros lugares.

— Para onde vamos? — pergunto, encarando os dois. Ferd dá de ombros.

— Eu não sei de nada, sou um penetra nisso tudo.

— Deixe de besteira, irmão — responde o outro. — Vamos ficar por aqui mesmo, é tranquilo

e está vazio.

Concordamos e me afasto quando vejo os dois colocarem as mãos para funcionar. Frederic

tira de dentro da cesta uma enorme toalha, forrando o chão. Logo em seguida, Ferdinand o ajuda a

colocar as coisas que vamos comer. Noto que temos queijos, presunto defumado, salgadinhos,

azeitonas e até mesmo uma garrafa de vinho e três taças. Contém frutas como uva, morango e maçã. A

fruta considerada do pecado, mas consumida por muitos. Penso em relação a essa teoria. Muitos

criticam o pecado, mas o consomem, assim como “o fruto proibido”. É ridículo, eu sei, mas sorrio

com isso, analisando a situação. Será que Frederic e Ferdinand seriam meus frutos proibidos?

Saio dos meus devaneios e encaro Fred.


— É simples, mas de coração — diz, sorrindo. Sorrio de volta e o abraço, com ele

depositando um suave beijo na minha testa.

— Não devíamos fazer isso aqui — sussurro —, pode ter algum conhecido.

Ele segura minha mão e nega.

— Eu pensei nisso também, não vem quase ninguém que possamos conhecer nesta parte da

cidade.

Concordo, me sentindo um pouco insegura com isso e me sento, com Ferdinand nos servindo

do vinho.

— Vamos fazer um brinde — diz ele.

— A quê? — questiono, segurando minha taça e o encarando. Ele está sentado com as pernas

cruzadas, enquanto seu irmão está ao meu lado com as mesmas esticadas.

— A nós, é claro — diz ele —, que apesar dos pesares, estamos aqui, nos divertindo como se

nada tivesse acontecido.

Sorrimos e estendo a taça, batendo nas deles e bebericando do vinho.

— Quero agradecer aos dois pelo que estão fazendo por mim — digo.

— O quê? Transando? — questiona Ferd rindo. Reviro os olhos e nego com a cabeça.

— Claro que não, digo no sentido de me darem um pouco de conforto. É tudo muito novo para
mim e bastante confuso, mas estou realmente feliz em tê-los ao meu lado. — Me viro para Fred e

seguro sua mão, que acaricia minha pele com seu polegar.

— Não precisa agradecer por algo que nem sabíamos que aconteceria. Isso é novo para nós

três, mas acho que podemos fazer dar certo. — Ele encara o irmão e Ferd concorda, finalizando o

vinho.

— Ok, vocês ganharam, eu também estou feliz em estar com vocês e de podermos enfim nos

resolver. Claro que não imaginei vir para cá e manter uma relação com a garota do meu irmão, mas...

Dou risada e Frederic aperta a mão do irmão agora.

— Nossa garota, cara — diz, piscando.

— E vocês os meus rapazes — afirmo, pensando na loucura que isso é.

Os irmãos Cooper assentem e começo a comer algumas azeitonas, bebendo mais vinho. Os

dois fazem o mesmo e aproveito para comer fatias de queijo e presunto que tanto adoro.

— Agora chegou a parte que eu mais esperei — diz Fred. Fico sem entender e estreito as

sobrancelhas.

— Do que você está falando? — questiono.

— Soube que seu nome significa “a noite” — diz Fred —, sua mãe uma vez me contou que era

quando você mais chutava na barriga.

— Sim — digo, surpresa com isso, ele nunca havia me dito que sabia o significado do meu
nome.

— Ela me contou também que vinha muito aqui e ficava olhando o céu todas as noites, quando

você chutava a barriga dela. Jolie me contou que as estrelas brilhavam mais do que o normal por

aqui, e só acreditei quando vi... — ele aponta para o céu e ergo minha cabeça, vendo as estrelas

reluzirem.

Fico emocionada com isso e sorrio, com Fred e Ferd me abraçando, e analisando o céu ao

meu lado. Penso em mamãe e o quanto a amo e sinto sua falta, sabendo que se ela estivesse aqui, as

coisas seriam completamente diferentes. Sorrio ao pensar que em algum momento ela falou sobre

mim para Frederic e sinto as lágrimas cobrirem meu rosto, comigo chorando pela primeira vez em

meses.

Só que desta vez é de felicidade.


O final de semana chega rápido, o que me deixa um tanto animada. Assim que me levanto,

arrumo minha mala com coisas que irei usar e procuro nas gavetas a câmera fotográfica que mamãe

havia me dado. Quando a pego, milhares de lembranças do momento em que ganhei, encobrem minha

memória e me vejo com um enorme sorriso no rosto e lágrimas nos olhos.

Quando disse a mamãe que estudaria Fotografia, ela formou um enorme sorriso e disse-me

que eu deveria ser o que quisesse, o que me deixou muito feliz. E então, no mesmo dia, um pouco

mais tarde, ela me entregou a câmera e disse para que eu a usasse nos momentos mais felizes da

minha vida. Infelizmente, com medo de não ser uma boa fotógrafa, nunca cheguei a tirar uma foto de

mamãe com ela.

Guardo-a na mala e saio do meu quarto, já arrumada. Estou usando calça legging, tênis e

camiseta, com meus cabelos presos em uma trança. O tempo está bastante agradável, o que me deixa

realmente feliz.

Desço a escada com a mala e encontro Ferdinand na sala com o jornal e uma xícara de café na

mão.
— Bom dia — digo, sorrindo. Ele está usando calça jeans, camiseta e botas. Eu havia dito na

noite anterior que queria viajar cedo para aproveitarmos ao máximo o final de semana.

— Bom dia, gatinha — diz levantando e vindo em minha direção. Ele dá um selinho em mim e

sorrio, ainda achando isso tudo muito novo.

— Onde está Frederic? — questiono, deixando a mala de lado e puxando a xícara dele.

— No quarto, ainda se arrumando, para variar — diz, revirando os olhos.

— Eu não acredito que eu que sou mulher já estou pronta e ele não — digo indo em direção à

cozinha. Ferd me segue e pego no armário pão, e manteiga de amendoim na geladeira. Passo em uma

fatia e entrego a Ferdinand, então faço outra e como, sentindo o gosto doce invadir minha boca.

— Ainda há de existir uma explicação para você ser tão magra e comer igual a um

dragãozinho — diz ele, passando o dedo na ponte do meu nariz. Dou risada e balanço os ombros.

— Penso que devemos ser felizes do jeito que somos, independentemente se isso agrada ou

não as pessoas — respondo. — Comer me deixa feliz.

Ele sorri e concorda, passando a língua nos lábios.

— E meu irmão e eu te comendo te deixa feliz? — sussurra sensualmente no pé do meu

ouvido.

— Muito — respondo, mastigando o pão. O empurro e aponto meu dedo para ele. — Nem

pense em ficar me provocando a esta hora do dia.


Ferd ri.

— Tem medo de cair nas minhas garras e acabar querendo brincar antes de viajarmos?

— Vou fingir que você não disse nada — respondo e vejo Frederic vir em nossa direção. O

perfume invade meu nariz e sorrio.

— Estou atrasado? — pergunta, depositando um beijo nos meus lábios. Sorrio, afirmando com

a cabeça. Eu posso me acostumar fácil com isso.

— Está, mas o perdoo depois dessa.

Ele ri e se vira para o irmão, dando um soquinho no seu braço.

— Ah, eu quero beijo também — provoca Ferdinand fazendo biquinho. Rio com isso e

Frederic revira os olhos.

— Você é mesmo um babaca, Ferd — diz Frederic e o irmão ri, divertindo-se com isso.

— Eu só estou te provocando — diz Ferd.

— Claro, seu babaca — xinga o outro dando as costas e se servindo de café. Rio, achando

graça e ouço meu celular apitar. O pego e noto que é uma mensagem de Frida:

“Eu sei que demorei para falar com você, mas precisa saber.”

“O quê?”

“O Hector é maravilhoso! Que homem delicioso! E que sexo! Eu estou encantada.”


“Será que alguém está se apaixonando?”, questiono.

“Claro que não! Eu só adorei o sexo e o que ele pode fazer na cama, o BDSM é algo que

deveria ser muito mais explorado. Você deveria tentar com Ferdinand.”

Sorrio e termino de comer meu pão.

“Estou tranquila quanto a isso, deixo para você.”

“Ok, você é uma cafona mesmo! Mas me diga, já foi viajar?”

“Estamos terminando de tomar café para irmos.”

“Mande notícias. Eu te amo.”

“Ok, também te amo.”

Guardo o celular e me viro para os dois.

— Vamos nessa?

Vamos os três o caminho inteiro cantando músicas aleatórias que toca no rádio. Dessa vez

quem está dirigindo é Ferdinand e Frederic está no banco da frente, comigo atrás os analisando

atentamente e vendo o quanto são iguais e ao mesmo tempo diferentes.

Sorrio com isso e pouco mais de uma hora depois, Ferdinand estaciona próximo ao chalé. O

local está do mesmo jeito que deixamos da última vez do lado de fora, com algumas lenhas
guardadas e o ar fresco.

— Eu me mudaria para cá tranquilamente — digo, sentindo a luz do sol refletir no meu rosto.

— Quem viveria no meio do nada? — questiona Ferd.

— Bem, temos carro, é uma boa opção — respondo.

— E o que fariam com a casa?

Frederic me encara e balanço os ombros.

— Por conta da minha idade, ainda não podemos vender. É uma leia meio idiota que não

entendo direito.

— Você venderia o lugar que passou sua vida inteira? — questiona Ferd.

— Por que não? — Ele meneia os ombros e seguimos para o interior do local.

— Teremos que ir ao mercado — diz Fred, assim que entramos. O lugar está limpo e me

recordo do Natal que passamos aqui. A lembrança parece tão distante que chega a me incomodar.

Estamos em fevereiro já, e pensar que meu aniversário está cada vez mais próximo, me deixa

incomodada ainda mais. Seria o primeiro, de muitos, que passaria sem mamãe.

— Faremos isso — digo, saindo dos meus devaneios. Ferdinand me encara e como se lesse

meus pensamentos, pergunta:

— Já que teremos uma relação, me diga, quando é seu aniversário? O que mais gosta de
fazer? Qual sua comida e cor preferidos?

— Então você decidiu me conhecer melhor? — pergunto, brincalhona.

— Sim, meu irmão e eu precisamos conhecer melhor a mulher pela qual estamos nos

apaixonando.

Fico quieta e sorrio, então me sento e Frederic e Ferdinand fazem o mesmo, os dois estão com

os olhos brilhando.

— Acho que Frederic sabe meu aniversário e isso ele pode te responder.

Os dois se olham e Fred pigarreia.

— É dia seis de março, e você não gosta de contar para ninguém. Sua comida favorita é

panquecas do Beer’s, ovos e bacon. Você gosta de assistir a séries clichês da Netflix e ouvir música

no carro. Em casa é raro. Sua cor favorita é todas, nunca parou para usar uma cor só, sua melhor

amiga é Frida e claro, adora fazer faculdade de Fotografia.

Ele termina de falar e fico surpresa em como me conhece bem, o que me faz me achar uma

ridícula, afinal, nunca soube muito bem do que ele gosta.

— Uau, falta um mês para o seu aniversário e você não pretendia me falar? — questiona

Ferdinand.

— Não gosto de aniversários, penso que é só uma data para me lembrar que estou ficando

cada vez mais velha.


Ele ri e Fred forma um sorriso de canto de boca.

— Pelo jeito meu irmão te conhece bem — diz.

Concordo e Frederic me encara.

— Estou há anos ao lado de Estére, a vi crescer, realizar seus sonhos, namorar e se tornar

essa grande mulher — murmura, com sorriso no rosto.

— Estou surpresa, eu mal olhava na sua cara — digo, arrancando uma risada dos dois.

— Eu sei, mas eu a olhava, na verdade, sua mãe sempre falava de você para mim, então era

difícil não notar.

Concordo e penso em mamãe.

— Se ela estivesse aqui, tudo seria diferente — digo. — Talvez não teríamos nos relacionado,

eu estaria com o Collin, Ferdinand teria aparecido de qualquer jeito.

— Não tenha dúvidas disso, gatinha.

Formo um sorriso e me volto para Frederic.

— Sei que é difícil, mas e se ela estivesse aqui, o que você faria?

Ele me encara e balança os ombros.

— Eu não sei, acho que Jolie e eu estaríamos casados ainda.

— Quando isso aconteceu? — questiono. — Quando foi que nós três nos apaixonamos?
Os dois dão de ombros.

— Eu não sei, Estére, mas não quero mais viver sem isso — diz Frederic.

Sorrio e me aproximo dos dois, os abraçando, então beijo Frederic e sigo para Ferdinand,

pensando que, mesmo que seja errado, loucura ou nojento para alguns o que estamos vivenciando, eu

realmente me sinto uma pessoa feliz.


O dia passou tranquilo, fomos ao mercado fazermos algumas compras e depois disso,

seguimos para o chalé para Frederic preparar nosso almoço. Ele resolveu fazer almôndegas para nós,

que estava uma delícia.

Depois disso, passeamos pela cidade e conhecemos alguns lugares dos quais não havíamos

ido da outra vez. Ferdinand está superanimado e adorando o passeio, sempre respirando o ar puro e

sorrindo ao fazer isso.

Penso o quanto isso deve ser importante para ele e acaricio a palma de sua mão quando

estamos próximos, o que faz Ferd sorrir ainda mais e continuarmos aproveitando o passeio.

Quando já está quase anoitecendo, voltamos para o chalé em silêncio, cansados de tanto

andarmos e vermos a cidade.

— O dia foi incrível, obrigado por isso — diz Ferdinand assim que entramos para o chalé,

fecho a porta, trancando-a e sorrio.

— Realmente foi maravilhoso, vocês são ótimas companhias. — Pisco e os dois lambem os
lábios.

— Que bom que acha isso — responde Frederic.

Meneio a cabeça e tiro minha camiseta, jogando na direção deles. Logo retiro meus tênis e a

calça, ficando apenas de lingerie.

— Vou tomar um banho, os vejo mais tarde.

Passo ao lado dos dois, que ficam me observando, e entro no banheiro, sorridente.

Abro o chuveiro e a água quente cai sobre mim, molhando meus cabelos e meu corpo.

Devagar, passo o sabonete pela minha pele e assim que termino, vejo a porta do banheiro ser aberta e

Frederic e Ferdinand entrarem apenas de boxer.

— Podemos nos juntar a você, Estére? — pergunta Frederic.

Cubro meus seios e cruzo as pernas, meneando a cabeça.

— Pensei que não iriam vir — digo.

Os dois sorriem um para o outro e vêm em minha direção, entrando debaixo do chuveiro. Me

afasto, permitindo-os se molharem e vejo a água escorrer por suas barrigas definidas, molhando os

pequenos tecidos que cobrem seus sexos.

Instantaneamente consigo notar os volumes marcando e mordo o canto da boca, com Frederic

me olhando e me chamando com seu indicador. Me aproximo dos dois e fico entre eles, com a água

agora cobrindo os três, então Ferdinand pega o xampu e ensaboa meus cabelos, esfregando-os
cuidadosamente, o que me faz soltar um pequeno gemido involuntário. Frederic nota e então pega o

sabonete, fazendo espuma em sua mão e a passando pela minha clavícula e descendo para meus

seios. Quero dizer a ele que já me ensaboei, mas a sensação que seus dedos me causam me deixa sem

voz. Enquanto seu irmão se mantém nos meus cabelos, sua mão percorre devagar entre meus seios, os

bicos e descem devagar para minha barriga.

Meu corpo se arrepia e ele para próximo a minha boceta, então passa a mão por cima,

acariciando meu clitóris, o que me faz soltar outro gemido.

— Me responda uma coisa, Estére — pede, em um sussurro.

— Qualquer coisa, Fred — digo, aproveitando o momento.

— Quem foi que fez você atingir seu primeiro orgasmo? — questiona-me.

Penso sobre a pergunta e fico receosa de responder, mas decido ser sincera.

— Ferdinand — assumo.

Ele meneia com a cabeça e sorri.

— Ótimo, apesar do seu primeiro orgasmo não ter sido comigo, vou fazê-la ter o melhor

agora — murmura e assinto, notando que Ferdinand parou de lavar meus cabelos e esfrega as minhas

costas.

— Tudo bem — respondo, sentindo minha voz tremer.

— Feche os olhos, gatinha — pede Ferd.


Faço o que me pede e ele enxágua meus cabelos, tirando todo o sabão. Assim que termina,

volto a abri-los e encaro Frederic na mesma posição, com sua mão encostada na minha boceta.

— Está pronta, Estér? — pergunta sério, seus olhos brilham com uma intensidade que se

houvesse um fósforo aqui, neste momento, tudo estaria em chamas.

— Sim, estou — respondo.

Ele concorda e tira sua mão da minha boceta, lavando os dedos e trazendo em minha direção.

— Abra a boca, Estére — faço isso e ele enfia seu indicador e médio dentro da minha boca.

— Chupe-os como se estivesse chupando meu pau.

Concordo com um movimento de cabeça e faço o que ele pede, chupando seus dedos como se

fossem seu pênis. Passo a língua nos dois e engulo, quase me engasgando. Ele sorri e investe os

dedos dentro da minha boca, como se estivesse a fodendo.

— Está ótimo — diz, os tirando da minha boca. — Agora eu vou enfiá-los na sua boceta e

mostrar para você do que sou capaz.

Fico arrepiada e sinto beijos serem dados pelos meus ombros, comigo me virando e avistando

Ferdinand. Ele sorri e mordisca meu ombro, arrancando um gritinho baixo meu. Quando menos

espero, sinto os dedos de Frederic serem introduzidos na minha boceta e me arrepio ainda mais, com

Ferdinand continuando a me morder e beijando cada parte do meu ombro, pescoço e costas.

— Meu Deus — murmuro, sentindo-me um tanto excitada. Os dois continuam e os movimentos


de Frederic dentro de mim se intensificam, então solto outro gemido ao sentir seus dedos me

penetrando e o polegar esfregando no meu clitóris.

— Está gostando, Estére? — pergunta, me encarando.

— Sim — respondo, com a voz falha. Fred sorri e ainda me fodendo com seus dedos, se

aproxima e segura meu rosto com a mão livre, beijando meus lábios de maneira selvagem e ágil.

Solto um gemido entre seus lábios e ele me devora por completo, ainda me fodendo com os dedos,

enquanto seu pau e o de Ferdinand encostam na minha pele desnuda e molhada pela água.

Gemo cada vez mais, principalmente quando Ferdinand vai descendo devagar e mordisca

minha bunda, enquanto seu irmão continua me beijando e enfiando os dedos em mim. São tantas

sensações que sinto, que não consigo sequer descrever. Somente quem já havia feito o que estamos

fazendo que saberia compreender a situação. O tesão se transforma em luxúria e me vejo perdida nos

braços dos dois. Frederic não para, disposto a me fazer ter um orgasmo e Ferdinand separa minhas

nádegas e chupa meu cu, causando-me ainda mais sensações deliciosas.

— Está gostando? — pergunta Ferd, tirando seu rosto do meio da minha bunda e me

encarando. O olho por cima do ombro e concordo, então ele volta a chupar meu cu e Frederic beija

meu pescoço.

Logo em seguida ele para e se abaixa, tirando seus dedos de dentro de mim e os levando a sua

boca.

— Seu sabor é delicioso, Estére — diz, me encarando ajoelhado. Fico extasiada com a cena
dos dois ajoelhados diante de mim e então Frederic começa a chupar minha boceta, fazendo eu gritar

e gemer ainda mais.

— Puta que pariu! — digo, sentindo o fogaréu me cobrir. Eles continuam me chupando e solto

vários gemidos, sorrindo com a cena. Como que alguém podia viver sem isso? Claro que muitas

vezes um homem apenas sabia satisfazer uma mulher, mas acho que todas as mulheres mereciam ter a

sensação que estou tendo agora. Todas deveriam ao menos uma vez na vida transar com dois homens

ao mesmo tempo e se sentir como eu me sinto. Desejada.

Os dois continuam enfiando suas línguas em minhas regiões íntimas e me seguro na parede,

sentindo minhas pernas cada vez mais se transformarem em gelatina.

Então, quando menos esperam, solto um gemido e gozo, lambuzando a boca de Frederic. Ele

se lambuza e rapidamente os dois levantam, me encarando.

— Ainda não acabou, gatinha — sussurra Ferd, saindo e pegando uma toalha.

Frederic fecha o registro do chuveiro e me ajuda a sair do box, me pegando no colo e guiando

pela saída. Rapidamente ele sobe a escada e vejo Ferdinand logo atrás, então sou colocada em pé, ao

lado da cama e Ferd começa a me enxugar, comigo sem reação, deixando-os cuidarem de mim como

jamais fizeram.

— Você quer mais, Estére? — questiona Fred.

— Por favor — peço, desejando cada vez por mais. Ele concorda e assim que seu irmão

termina de me secar, me deita na cama e abre as minhas pernas.


— Você acha que aguenta nós dois... ao mesmo tempo?

Ouço o que ele diz e fico surpresa com a pergunta. Ele está mesmo querendo saber se eu

consigo fazer dupla penetração na minha boceta?

— E-eu — gaguejo e engulo em seco —, eu nunca fiz isso, você sabe, é claro.

Frederic forma um sorrisinho e concorda.

— Se você não estiver confortável, tudo bem. Ferd e eu podemos revezar.

Penso sobre isso e sinto minha libido no alto; o tesão me consumindo.

— Tudo bem — digo, me sentindo mais relaxada —, podemos tentar, comece um e depois o

outro...

Frederic concorda com um movimento de cabeça e o vejo sorrir.

— Desta vez é com você primeiro, Ferd — diz.

O irmão concorda e Fred me dá um beijo, dando espaço para o seu gêmeo, que se encaixa no

meio das minhas pernas. Respiro fundo e relaxo minha mente e corpo, pensando apenas no desejo

sexual que estou sentindo. Quero mais do que tudo provar isso. Eu os desejo mais que qualquer

coisa, e pensar que posso ter os dois dentro de mim, faz minha lubrificação ficar cada vez maior.

Ferd se encaixa no meio das minhas pernas e o vejo encaixar seu pênis na minha entrada,

então ele o desliza pela minha boceta e abro ainda mais minhas pernas, me agarrando a ele. Arranho

suas costas e as investidas começam, arrancando mais gemidos de mim.


Penso sobre o que houve no banho e me sinto cada vez mais excitada, com ele metendo a cada

segundo mais rápido. Suas investidas são fortes e o vejo delirar de prazer; seu olhar mostrando o

quanto está deliciado com isso.

Me viro e vejo Frederic em pé se masturbando e o chamo com o polegar, com ele se

aproximando e enfiando seu pau na minha boca.

Como ele sabe, não sou especialista em oral, mas faço o meu melhor, engolindo-o

completamente e passando a língua na glande do seu pau lubrificado.

O quarto do chalé é coberto pelos sons dos nossos gemidos. Ferdinand geme por estar me

fodendo. Eu gemo por estar sendo comida por ele e chupando seu irmão. Enquanto Frederic geme por

conta de eu estar chupando seu pau.

Se vissem essa cena, as pessoas diriam que somos promíscuos, e realmente devemos ser, no

entanto, isso não deixa de ser maravilhoso. É pecado? Pode até ser. É luxúria? Também, mas esse é o

nosso amor. A nossa maneira de nos completarmos. De nos amarmos e sermos felizes.

— Está gostando, gatinha? — pergunta Ferd rebolando dentro de mim.

— Sim, estou — respondo, tirando o pau de Fred da minha boca e voltando a chupá-lo logo

em seguida.

Ele concorda e o sinto enfiar dois dedos na minha boceta, junto do seu pau, o deslizando cada

vez mais rápido. Sinto-me completamente excitada com isso e então Ferdinand sai de dentro de mim

e Frederic tira seu pau da minha boca.


— Você está pronta, gatinha — diz Ferd. Não foi uma pergunta.

Então Ferdinand se deita na cama e subo em seu colo, de costas para ele, deslizando pelo seu

pau e o sentindo me preencher por completo. Cavalgo no seu pau e abro ainda mais as minhas pernas,

com ele movimentando seu corpo e fazendo as investidas rápidas.

Frederic vem para minha frente, subindo na cama e sorrindo, então o vejo beijar meus seios,

enquanto seu irmão ainda me fode. Devagar, ele se aproxima e enfia seu pau com um pouco de

dificuldade na minha boceta, arrancando um gemido meu. Sinto um pequeno desconforto, que

rapidamente passa, e quando vejo, o dois estão dentro de mim, me preenchendo.

— Sua boceta é tão quente e deliciosa, Estére — sussurra Frederic, lambendo os lábios.

Sorrio maravilhada com isso e me inclino um pouco para trás, com Fred movimentando-se

dentro de mim, enquanto seu irmão gêmeo se mantém parado, acariciando minhas costas. Solto um

gemido alto, misturado com um gritinho. A sensação é tão gostosa que me deixa surpresa em saber

que isso realmente está acontecendo. Fred nota o quanto estou excitada e continua com as investidas,

com Ferdinand fazendo o mesmo, só que agora bem mais devagar.

O que me tortura ainda mais.

“Quero mais, muito mais!”

Eles continuam e levo minha mão até meu clitóris, esfregando o polegar com rapidez,

enquanto os dois continuam me penetrando e fazendo eu ter um orgasmo que jamais pensei ter na

vida.
Solto um grito de prazer e o pênis de Frederic escapa da minha boceta, então ele goza, com

seu sêmen escorrendo pela minha barriga e perna, e noto que Ferdinand também gozou, o que me

deixa ainda mais maravilhada.

— Eu não quero nunca mais viver sem isso — digo, com a respiração acelerada.

— Então não viva, Estére — murmura Frederic ainda à minha frente.

— O que quer dizer? — pergunto, ainda por cima de Ferdinand.

— Namora conosco? — pergunta Ferd no pé do meu ouvido. Sinto um arrepio e encaro Fred,

que sorri.

— Namoro — digo, aceitando o pedido, e vejo Frederic levar sua língua até minha boceta, me

limpando completamente.
Acordo na manhã seguinte e sorrio ao ver Ferdinand e Frederic deitados em cada lado da

cama. Levanto-me devagar para não os acordar e sigo em direção ao andar de baixo, uso o banheiro

e preparo um café. Enquanto coa, arrumo o balcão com algumas coisas que compramos no mercado e

como, vendo que ainda está cedo. Pego meu celular que deixei aqui na noite anterior e dou “bom dia”

para Frida, que responde na hora e pergunta como foi a viajem. Quero dizer a ela que está sendo

ótima, principalmente porque não tenho um, mas sim dois namorados oficialmente.

Lembrar do pedido dos rapazes me deixa com o coração acelerado, principalmente pelo fato

de ter aceitado, coisa que eu jamais imaginei que faria.

Como não tenho coragem de dizer para Frida o que realmente está acontecendo, apenas digo

que a viagem foi tranquila e ela me responde com um coração. Sorrio, realmente feliz, o que chega a

ser estranho. Creio que nunca fui feliz assim com Collin, mas agora é diferente, porque estou com

pessoas que realmente gosto. Não que eu não gostasse do meu ex, pelo contrário, tenho certeza de

que o amei, mas não como os rapazes...

“Então você confessa que os ama, Estére?” Penso comigo mesma.


Sou tirada dos meus pensamentos quando ouço passos descendo a escada e vejo Frederic e

Ferdinand usando apenas boxers. Rapidamente Fred vai ao banheiro e minutos depois, seu irmão,

com os dois vindo em minha direção.

— Bom dia, dorminhocos — digo, sorrindo. Dou um beijo em cada um e eles se sentam, se

servindo de café.

— Qual a programação de hoje? — pergunta Ferd.

— As fotos, é claro, viemos para cá para isso, não se faça de bobo — respondo, ele ri e

concorda.

— Tudo bem, mas pensei que poderíamos passar os três na cama, o dia todo, depois que

Frederic fazer o almoço.

— Por que eu? — questiona o outro, bebericando da sua xícara.

— Você é o que cozinha melhor — digo, dando de ombros. Ferd concorda e ele fica em

silêncio. — Sobre ficarmos deitados, não é uma má ideia, mas realmente preciso dessas fotos.

— Podemos fazer isso depois — diz Ferd, sorrindo maliciosamente. O vejo levar a mão até o

peitoral e reviro os olhos.

— Você é convencido demais, não acha?

— Claro que não, o que é bom é para se mostrar... para você, é claro.

Estreito os olhos e rio, não aguentando manter o olhar sério, ele ri também e Frederic revira
os olhos.

— Convencido ao extremo... que tal fazermos as fotos agora de manhã e mais tarde um

passeio à cidade? E, depois, ficarmos deitados? — Fred oferece.

Penso sobre a proposta e dou de ombros.

— Então acho que é melhor irmos logo fazer meu trabalho — respondo, terminando o café e

me levantando.

Os dois concordam e me seguem, correndo atrás de mim e me enchendo de beijos.

Pego a câmera e sorrio ao ligá-la e focar a lente na entrada da floresta. Capturo cada detalhe;

o céu claro, os raios do sol, as árvores e o gramado molhado. Noto o musgo pelos troncos e tiro

outra foto, sorrindo.

Havia decidido de última hora fazer as fotos do lado de fora do chalé e os gêmeos Cooper me

apoiaram nessa decisão. Tiro mais algumas fotos e assim que termino, vejo-os sentados no solo, me

encarando.

Estamos na orla da floresta, o local em si já proporciona um ambiente e tanto para as

fotografias. Faço mais algumas e assim que termino, me viro para eles.

— Vamos começar? — pergunto.

Os dois levantam e Ferd suspira.


— Temos mesmo que fazer isso, não é?

— Se gostam mesmo de mim, sim — digo, fazendo beicinho. — Como sabem, o trabalho

precisa ser feito com a família, e vocês são os mais próximos que tenho disso neste momento.

Ferd se aproxima e agarra minha cintura.

— Tudo bem, desculpe por isso, mas faremos essas fotos com uma condição — começa.

— Qual?

— Depois que você terminar, meu irmão e eu iremos fotografá-la — diz, dando de ombros.

— Tudo bem — digo, achando a proposta válida —, mas agora se aproxime daquela árvore

ali e tire essa camisa.

Aponto para a árvore atrás deles e Frederic estreita as sobrancelhas.

— Tirarmos nossas camisas? Pensei que era um trabalho mais familiar.

Dou risada e concordo.

— Essas serão para eu aquecer e ficarão guardadas comigo — digo, piscando. Os dois

concordam e tiram suas camisas, arrancando um suspiro de mim.

Coloco meu olho na lente da câmera e foco neles, mexendo e desfocando o ambiente, então

tiro a foto. Peço para que fiquem de lado e tiro outra, observando cada detalhe dos seus corpos. São

tão perfeitos que eu poderia passar o dia todo os observando.


Assim que faço mais algumas, peço para que fiquem frente a frente e Fred recua um pouco,

mas aceita. Foco neles, vendo-os se encararem, os peitorais descendo devagar, a respiração

entrecortada, seus corpos próximos, e fotografo, formando um sorriso.

— Ótimo, se vistam, agora vamos começar realmente esse ensaio.

Eles concordam e fazem poses engraçadas, comigo os fotografando e rindo a cada careta de

Ferd. Assim que termino, faço mais algumas e tiro uma com eles atrás de mim. Sorrio e bato a foto,

então Ferd toma a câmera da minha mão e me encara.

— Já chega, agora é a nossa vez.

Cruzo os braços e mordo o canto da boca.

— E você sabe tirar foto, Sr. Cooper? — pergunto, o provocando.

— Não deve ser muito difícil, Srta. Muller — diz e aperta o botão, com o flash reluzindo no

meu rosto. — Viu? É fácil.

Reviro os olhos para ele e rio logo em seguida, colocando os meus cabelos para trás e vendo

novamente ele me fotografar.

— Ao menos deixe eu me ajeitar — peço.

— Por quê? Você é linda de qualquer jeito — responde Ferd e Frederic vai para o seu lado,

analisando a foto.

Mordo o canto da boca de novo e me sinto nervosa. Eu adorava fotografar as pessoas, e com a
morte de mamãe, havia reduzido bastante esse meu hábito. Mas eu ser fotografada é algo totalmente

novo para mim.

Sinto-me tímida e o flash bate mais algumas vezes, com Frederic e Ferdinand pedindo para

que eu sorria, mude a posição e até mesmo faça um olhar mais sensual.

— Tire a blusa agora, Estére — pede Ferd.

— O quê? — questiono.

— Isso mesmo — diz Fred. — Fizemos o que nos pediu, agora é sua vez.

Concordo e tiro a blusa, ficando apenas de sutiã.

— O sutiã também — diz Ferd.

Concordo, revirando os olhos e o tiro, cobrindo meus seios com o braço. Parece ser ridículo,

mas estar no meio da floresta, com os seios de fora na frente dos dois, me deixa envergonhada.

— Não precisa ter vergonha, Estére — diz Fred, como se lesse meus pensamentos —,

conhecemos cada parte do seu corpo, agora nos deixe eternizar isso.

Concordo com um movimento de cabeça e descubro meus seios, com a luz do flash reluzindo.

Mudo de posição, me entregando àquilo e mais uma vez Ferdinand tira a foto, agora comigo de lado,

olhando para o céu que está claro.

— Você é maravilhosa, Estére — diz, tirando outra. Sorrio e retiro o short e a calcinha que

uso, ficando completamente nua. Fecho minhas pernas para esconder meu sexo e outra foto é tirada.
— Venha tirar comigo, Fred — peço. Ele concorda, se despindo e se aproxima, me abraçando

por trás e me encarando. Analiso seus olhos e seus fortes braços, deixando-me completamente

apaixonada por isso.

Estar nos braços do pecado é maravilhoso.

Ferd continua tirando fotos nossas, em diversas posições. Com ele me beijando, me

abraçando, me segurando em seus braços e até mesmo deitados no solo verdejante.

Assim que terminamos, ele troca de lugar com o irmão e me vejo nos braços de Ferdinand.

Nos braços da luxúria. Um homem do qual nunca imaginei conhecer, mas que acabou se tornando

uma das melhores coisas na minha vida.

Estar nos braços de Fred e Ferd me deixa fascinada. É assim que eles são para mim; pecado,

luxúria, e o mais importante: o amor. Sinto que posso finalmente entregar todo esse sentimento aos

dois e beijo Ferd, com Frederic parando de nos fotografar e se juntando conosco.

Os dois me beijam ardentemente e me sinto feliz, completamente liberta dos meus medos e

receios. Neste momento, enquanto estamos nos amando, nos conectando e nos completando, não me

importo com o que as pessoas diriam se soubessem. Quero apenas ser feliz ao lado dos dois.

E realmente sou.

Depois de fazermos sexo no meio da floresta, o que me deixa completamente feliz e surpresa,
nos arrumamos e vamos para a cidade. Só de lembrar dos beijos e carícias de Fred e Ferd, me sinto

excitada novamente. Pela primeira vez, desde quando começamos a nos relacionar, o sexo havia sido

diferente... menos selvagem, digamos assim.

Sorrio com a lembrança de estar deitada no solo duro e ver um de cada vez investir em mim,

então afasto meus pensamentos quando chegamos e vejo a movimentação dos moradores.

O local me acalma, não consigo explicar o porquê, mas estar ali, longe do Vale Sombrio, me

causa um conforto enorme. Talvez seja porque aqui possamos ser nós mesmos, sem medo das pessoas

dizerem que estou namorando com meu antigo padrasto.

Ao pensar nisso, sem medo, seguro na mão de cada um dos dois, que retribuem o gesto, e

seguimos vendo as lojas, parando em uma que vende vinhos e queijos variados. Entramos e o cheiro

de mofo e lugar velho invade meu nariz, fazendo-me espirrar e ao mesmo tempo rir com isso.

— Qual é a graça? — questiona Ferd soltando minha mão e indo para uma das prateleiras.

— Nada de mais, é que estar aqui, andando tranquilamente, sem ninguém nos encarando torto,

é realmente bom.

Assim que termino de dizer isso, vejo uma mulher próxima da prateleira segurando um pote de

doce de leite me encarar de cima abaixo. Ela nota minha mão na de Frederic e balança a cabeça em

negativa, dando a volta e saindo pelo outro lado. Sinto-me incomodada com isso e Fred me encara.

— Não se importe, é isso que eles querem, que você se sinta atingida pela opinião deles.
Concordo e sigo até o local que ela estava antes, vendo os potes de doces. Pego um para

levarmos e apanho duas garrafas de vinho, os rapazes escolhem outras coisas e assim que pagamos,

saímos comigo entrelaçando cada braço meu nos braços deles.

— Para onde iremos agora? — pergunta Ferd.

— Podíamos comer alguma coisa, o que acham? Estou ficando com fome.

— Claro, gatinha, realmente dá fome depois de um sexo delicioso como o que fizemos —

Ferdinand murmura, lambendo os lábios.

Ignoro o que ele diz e seguimos para um restaurante ali próximo. Logo que entramos, somos

recebidos por um rapaz jovem nos dando as boas-vindas e nos levando para uma das mesas.

— Aqui estão os cardápios, espero que gostem — diz, nos entregando as cartas e se afastando

para que possamos escolher tranquilamente.

Escolho uma salada e os meninos pedem fritas e hambúrguer. Chamamos o rapaz que nos

atendeu e falamos nossos pedidos, esperando.

— Deixe-me ver as fotos enquanto nossos pedidos não chegam — diz Ferd puxando a câmera

do meu pescoço. Ele a liga e começa a visualizar cada uma, sorrindo a todo instante, então me mostra

a que estou olhando para o céu. — Veja o quanto você é perfeita, gatinha.

Puxo a câmera dele e analiso a imagem; olho cada traço do meu corpo. As estrias, celulites,

entre outros e encaro ele.


— Onde está vendo que sou perfeita? — digo, dando zoom. Ele toma o aparelho da minha

mão e fica sério, com Fred ao seu lado me analisando.

— Onde está vendo que não é? — questiona-me.

Dou de ombros e balanço a cabeça.

— Veja as celulites, estrias...

— E o que tem isso? — ele me corta. — São partes de você, não significa que não seja linda

e espetacular.

— Ele está certo — completa Fred. — Você é uma mulher maravilhosa e deve se lembrar

sempre disso.

Sorrio e mordo o canto da boca.

— Obrigada — digo, sem graça. Nunca fui uma pessoa que não me aceitasse, pelo contrário,

sempre me achei muito bonita, mas há certas coisas que não podemos esconder ou impedir de termos,

certo? E saber que os dois gostam dessas partes em mim, me deixa com uma sensação boa.

Uma sensação de que sou amada.

E eu amo isso.
Os dias seguintes passam tão rápidos que quando vejo falta pouco para o meu aniversário.

Não estou nem um pouco animada, como já era de se esperar. Se nunca gostei de aniversário

antes, imagine agora que não tenho mamãe ao meu lado para me acordar com beijos, abraços,

bolinhos e presentes, como fez a vida inteira.

O trabalho da faculdade havia sido maravilhoso, as fotos dos rapazes comigo me renderam

uma boa nota, o que me fez rir muito quando vi o dez, pensando o que o professor acharia sobre as

fotos sensuais que havíamos feito.

Frida está saindo cada vez mais com esse tal de Hector e fico realmente feliz por ela, mas

ainda me sinto muito incomodada pelo fato de mentir sobre o que anda acontecendo entre os irmãos

Cooper e eu. Entre os meus namorados e eu. A palavra “namorados” faz uma sensação estranha

encobrir meu estômago, mas gosto dela.

E pensando nisso, vejo que preciso me abrir logo para Frida antes que aconteça alguma coisa.

Collin não voltou a me perturbar, o que foi ótimo, e com a chegada do meu aniversário e Frida
insistindo em fazermos uma festa em casa, acabei cedendo. E agora, metade do campus está sabendo

e se preparando para o tão aguardado final de semana.

— Precisa ter muita cerveja e comida — diz Frida no intervalo. — As pessoas

particularmente vão às festas somente por conta disso, então temos que arrasar!

— Você que decide — digo, desanimada. Minha amiga me encara e belisca minha mão que

está sobre a mesa, fazendo eu soltar um gritinho de dor. — Que merda foi essa?

— Você que precisa me dizer — responde. — Sei que não gosta de aniversários e é o

primeiro sem sua mãe por perto, mas ao menos finja que está animada com isso. A faculdade inteira

espera por esse momento.

— Estão esperando à toa — digo. — Primeiro que nem cabe todo esse pessoal lá em casa.

— Isso é fácil de resolver, todos estão sabendo, mas poucos realmente entrarão na festa.

— E sairei como a vadia exibicionista que impede o povo de entrar numa festa — resmungo.

Ela ri e concorda.

— De fato, irão dizer isso mesmo, mas não se preocupe, o seu quintal dos fundos é grande e

as pessoas se apertam. A maioria vai apenas para beber.

— Eu sei disso, o que me deixa mais desanimada ainda para essa festa. As pessoas nem

sequer se importam com o aniversariante — volto a resmungar.

— Se você quiser, podemos cancelar — diz Frida, cabisbaixa. Fico sentida pelo jeito que diz
e nego com a cabeça.

— Tudo bem, vou aceitar a festa e forçar vários sorrisos no rosto, só evite que Collin esteja

lá. Frederic e Ferdinand querem acabar com ele, e se Collin aparecer, pode dar merda.

— Se ele aparecer, eu mesma o quebro — murmura, eu havia dito para ela sobre o vídeo que

meu ex havia me mandado e a maneira obsessiva que ele estava tendo em me perseguir no Instagram.

— Tudo bem, podemos comprar salgadinhos para a festa, cerveja e um bolo. Está ótimo, não

está? — pergunto, fingindo animação. Minha amiga sorri agradecida pelo esforço e concorda.

— Está perfeito, essa festa será um arraso e tanto! Agora precisamos pensar no seu visual,

acho que poderia optar em arrumar os cabelos. Que tal pintar?

— Não, obrigada, eu amo meu loiro.

Ela me encara e concorda.

— É, você está certa, então ao menos vamos pensar na sua roupa.

— Estou pensando em usar calça jeans.

— Você não está louca.

Reviro os olhos e suspiro.

— E o que você sugere então?

Frida coloca o dedo na têmpora e balança a cabeça.


— Em uma saia, talvez? Um vestido mais sensual. Temos que ir às compras! E claro, fazermos

as unhas e os cabelos, pelo menos escovar.

— Ok, ok, você ganhou desta vez — digo, me levantando quando o sinal toca.

— Eu sempre ganho, amiga.

A semana passa rápido, e para variar, o tempo está frio e chovendo, o que me deixa ainda

mais desanimada para o meu aniversário.

No final de semana, faltando exatamente uma semana para a minha festa, Frida decide passar

comigo para vermos séries, comermos besteiras e ficarmos de bobeira. A presença da minha amiga

me anima, mas saber que não poderei fazer nada com Fred e Ferd me deixa chateada.

— Você precisa conhecer o Hector, ele é um homem e tanto!

— E você já participou de alguma sessão BDSM? — pergunto, curiosa. Levo a pipoca até a

boca e ela me encara.

— Não sei se posso considerar uma sessão, mas ele me mostrou algumas coisas e fizemos o

melhor sexo da minha vida. Ele tentou me controlar, mas não deixei, o que com certeza fez ele me

procurar novamente.

— É claro, agora ele fará de tudo para domá-la.

Ela concorda e ri.


— Mas se ele pensa que será fácil, está enganado — responde, pensativa, talvez se lembrando

do rapaz. — Acho que isso pode acabar dando errado.

— Por quê? — pergunto.

— Não quero me apaixonar, você sabe como sempre fui para essas coisas. Gosto de me sentir

livre, de ser dona de mim mesma sem ter que dar satisfação para alguém.

Concordo e engulo a pipoca.

— Se você realmente se apaixonar, estará bem encrencada.

Ela pensa por um longo minuto e concorda.

— Vou precisar evitar que isso aconteça, irei continuar o sexo, é claro, mas sabendo que é só

isso.

— Imagine se Frida se apaixonasse — digo, rindo —, seria algo icônico.

— Não me venha com essa, e me diga sobre Ferdinand e você, já rolou?

Encaro ela e decido ser apenas um pouco sincera.

— Me perdoe por esconder isso por tanto tempo — peço, mordendo o canto da boca.

— Você está me dizendo que... é sério mesmo que finalmente essa toca foi invadida?

— Frida! — a repreendo, rindo da maneira que fala. Minha amiga ri junto e dou um tapa no

seu braço. — Sim, aconteceu, e foi fantástico.


— Quero todos os detalhes! — pede.

Concordo, decidida a contar sobre a primeira vez de Ferdinand e eu, que na época eu achava

ser o Frederic. Quero ser o máximo possível sincera com minha amiga, mas ainda não estou

preparada para que o mundo saiba sobre a nossa relação.

Então vou contando os acontecimentos para ela, mudando alguns fatos, é claro, e juntando

outros.

Frida fica realmente feliz e surpresa com isso, batendo palminhas e querendo a todo instante

que eu diga qual o tamanho do “documento” de Ferdinand.

Quero dizer a ela que além dele ser bem-dotado, o irmão também é, mas fico quieta. Falar

para ela apenas sobre Ferdinand me incomoda pelo fato de que também namoro com Frederic, e

tenho que esconder isso de todas as pessoas.

— Estou realmente surpresa que você finalmente perdeu a virgindade.

Coro e concordo.

— É estranho, porque por um ano eu idealizei esse momento com Collin, e de repente ele me

traiu, nós terminamos e agora estou com a cópia do marido de mamãe — “e o ex-marido dela

também”. — Você acha isso normal?

— O quê?

— O fato de eu estar com o ex-cunhado de mamãe — respondo. Frida me encara e nega com a
cabeça.

— Não acho que seja estranho, afinal, sua mãe morreu e o vínculo que Frederic e ela tiveram

se encerrou. Claro que sempre haverá as lembranças dos anos que eles passaram juntos, mas uma

hora ou outra ele arrumará outra pessoa. Essa é a lei da vida, seguirmos sempre em frente.

Penso no que ela diz e vejo o quanto minha amiga tem razão. A lembrança de mamãe na vida

de Frederic nunca será apagada. Saber que por anos eles foram casados e mantinham relações

sexuais me incomoda um pouco, mas é algo que não dá para simplesmente apagarmos da nossa

história.

— E se eu estivesse com ele ao invés de Ferdinand, o que você diria sobre isso? — pergunto,

criando coragem.

Frida me encara surpresa com a pergunta e balbucia algo que não entendo.

— É difícil pensar nisso assim tão de repente. Visualizar você com Ferdinand é mais fácil, ele

é gêmeo de Fred, mas nunca se deitou com tia Jolie.

— Eu sei, mas o que você diria sobre isso? — questiono novamente.

— Bem... sei lá, de início seria um pouco estranho, mas acho que daria para se acostumar, só

não sei se você conseguiria aceitar o fato de que o pau que você treparia foi o mesmo que sua mãe

sentou por anos. Mas por que essa pergunta, Srta. Muller? Está interessada nós dois? Fred é uma

delícia, eu sempre achei isso. — Ela sorri maliciosamente e me encara.


— Claro que não, é só uma curiosidade que passou pela minha cabeça — digo, desviando

meu olhar do seu.

— Se passou pela sua cabeça, significa que em algum momento você se imaginou com ele —

ela diz, convicta. — Vai, pode me dizer.

— Não é isso, é que as vezes olho Ferdinand e estranho — minto, engolindo em seco. Frida

concorda, ainda me encarando e sorri.

— Se você está dizendo, quem sou eu para dizer o contrário.

Fico quieta e penso sobre a conversa que acabei de ter com minha amiga. A maneira que ela

disse, aparentemente aceitaria normal, mas se soubesse que é verdade, agiria assim mesmo?
Sinto-me exausta, ainda mais porque essa última semana Frida vem abusando bastante de

mim, principalmente em idas ao supermercado para comprarmos as coisas e a ida ao shopping.

Decidi usar um vestido preto curto no meu aniversário. Na frente há um decote que Fred e Ferd não

gostaram muito, e as costas é fechado. Um pouco acima do joelho, combinou perfeitamente com os

saltos pretos escolhidos. Decidi também contratar um DJ por insistência de Frida — obviamente — e

garçons para nos servir. Um toldo azul foi colocado nos fundos da minha casa que desde a morte de

mamãe pouco usamos. Na verdade, nem lembro quando foi a última vez que fizemos algo aqui.

Compramos bastante salgados e muita bebida, o que me preocupa. Com certeza a festa seria

regada a cachaça e pessoas bêbadas.

A semana na faculdade também foi intensa. Apesar das pessoas estarem animadas com a festa,

muitas ainda falavam sobre a “fofoca” que Collin havia espalhado entre os rapazes e eu. E pensar

que todas essas pessoas — ou ao menos boa parte delas — estariam na mesma casa em que meu ex-

padrasto e o irmão dele, me deixa um tanto enjoada.

— Você está pensativa demais hoje, Estére — diz Frederic colocando o prato de comida à
minha frente. Havia acabado de chegar do shopping com Frida, que foi para sua casa com a promessa

de que virá para casa no dia seguinte cedo. Minhas unhas estão bem-feitas e o cabelo também, o que

acaba sendo besteira, já que irei dormir.

— Não é nada de mais — digo, comendo —, só pensando nessa festa de amanhã. Frida

insistiu tanto sobre isso.

— Se não quiser, é só cancelar — comenta Ferdinand. — A casa é sua, o aniversário é seu,

por que fazer o que as pessoas querem?

— Bem, ela acha que por ser o primeiro aniversário sem mamãe seria bom me distrair.

— Ela por acaso sabe que Frederic e eu podemos fazer isso? — pergunta, malicioso.

Dou risada e nego, logo após afirmando:

— Ela sabe sobre você, cheguei a fazer um comentário sobre Frederic, mas não contei nada

— respondo.

— Sabe que uma hora terá que contar, não sabe? — questiona Fred. Concordo com um

movimento de cabeça e como.

— Eu sei, mas não é tão fácil como parece, mesmo nos aceitando completamente, tenho medo

do que as pessoas dirão. Do que ela vai dizer. Na verdade, tenho quase certeza de que aceitaria

tranquilamente, mas o fato de esconder por todos esses meses faria com que ela me matasse —

respondo, querendo rir, mas sabendo o quanto isso é verdade. Os dois me encaram e concordam.
— Só pense que você não precisa da aprovação de ninguém para viver do jeito que quer —

responde Ferd. — Veja Frederic e eu, muitos dirão que somos doentes por termos relações com a

mesma mulher. Mas o que realmente importa nisso tudo, é o que sentimos, não eles.

— Exatamente — completa Fred. — Sabe melhor que ninguém que estamos aqui para apoiá-la

em tudo, não sabe?

Concordo, terminando de comer e me levantando.

— Obrigada, agora vou descansar um pouco. O dia amanhã será longo. — Reviro os olhos e

os dois riem, então beijo cada um e sigo para o meu quarto, tiro a roupa e coloco meu pijama. Fico

pensando sobre o que Frederic havia dito e me deito, sabendo que ele está certo, então adormeço.

Acordo com uma sacudida e assim que abro os olhos, vejo Frida em pé, parada, com um

enorme sorriso no rosto. Ela está com uma calça jeans, blusinha e tênis, o que a deixa bastante sexy e

descolada. Reviro os olhos e bufo frustrada, esfregando os olhos e me sentando na cama.

— Acorde, amiga, está na hora — murmura, sentando ao meu lado. Bocejo e suspiro, a

observando com o sorriso intacto nos lábios.

— Que horas são? — questiono, um pouco irritada.

— Hora da surpresa — sussurra.

Fico sem entender e vejo Frederic e Ferdinand entrarem no quarto, os dois estão com o café
da manhã nas mãos e fico surpresa.

— Feliz aniversário, gatinha — Ferdinand sussurra ao meu ouvido. Fred se aproxima e

deposita um beijo no meu rosto, me abraçando.

— Feliz dia, Estér — diz, sorrindo. Sorrio e noto que temos panquecas com mel e blueberry,

ovos com bacon e suco de laranja. Há também um pequeno cupcake com uma vela em cima. — Faça

um pedido.

Assopro, fazendo o pedido e encaro os três, completamente emocionada. Era o que mamãe

fazia todos os anos para mim, e agora realmente vejo que ela não voltará nunca mais para nós.

— Obrigada — digo, com a voz embargada.

— Jolie iria gostar que continuássemos com a tradição dela — comenta Fred. — Aproveite

seu café.

O vejo seguir em direção da saída e instantaneamente seguro sua mão, com Frida encarando.

— Fiquem, por favor, a gente pode dividir — respondo, ele me encara e concorda, então Ferd

senta do outro lado da cama e o seu gêmeo se junta conosco.

Dou uma mordida na panqueca e engulo, saboreando o delicioso gosto. Assim que termino,

como um pouco dos ovos com bacon e tomo o suco, passando a bandeja para Frida, que come um

pouco e passa para Fred, que faz o mesmo e entrega ao irmão, voltando a me devolver.

Termino de comer e divido o pequeno bolo, sorrindo para cada um deles.


— Hoje o dia vai ser curto, temos que aproveitar bem — diz Frida, animada. Quero dizer a

ela que desejo só ficar na minha cama, mas sei que isso será impossível, então concordo e levanto.

— Tudo bem, você mais uma vez venceu, deixe só eu me arrumar — digo, de pijama. Ela

concorda e encara os rapazes.

— Vocês não vão sair? — pergunta, os olhando. Os dois ficam sem saber o que falar e

levantam, pegando as louças e saindo. — Ferdinand não tirou o olho de você — comenta, após

fechar a porta.

— Não reparei — digo, tirando meu pijama e colocando outra roupa.

— É claro, você estava olhando outra coisa — diz, sorrindo.

— O quê? — questiono, não entendendo o que ela quis dizer.

— Não se faça de boba, Estér — murmura. — Eu vi quando segurou a mão de Fred e a

maneira que ele te olhou. Estou começando a achar que Collin estava certo em uma coisa.

Engulo em seco e desvio meu olhar do dela.

— Não estou entendendo — minto.

Ela me observa e assente.

— Quero dizer que Collin estava certo; Frederic está a fim de você.

— E você deduziu isso apenas por eu ter pegado na mão dele? Se eu pegar na sua estarei a
fim de você também?

— Claro que não foi por isso, e sim pela maneira que ele te olhava e você, distraída como

sempre, não percebeu. É um olhar diferente das outras vezes em que o vi te observando.

— Talvez você esteja vendo coisas onde não existe — argumento, percebendo que estou

perdendo a chance de ser sincera.

— Ok, não está mais aqui quem falou, vamos cuidar das coisas da sua festa que o dia vai ser

curto.

Fico quieta, chateada da maneira que ajo com minha amiga, e concordo, forçando um sorriso.

Começamos organizando as coisas no quintal. Colocamos mesas onde deixamos as cervejas e

outras bebidas, o que, na minha opinião, foi um exagero. Frida fez questão de encher alguns balões e

fazer um painel deles em uma das paredes com os dizeres “Feliz aniversário E”, já que não deu para

completar meu nome. Compramos o bolo de dois andares, outra coisa que achei ser um exagero, já

que as pessoas iriam mais pelas bebidas, obviamente. Os salgadinhos chegaram na parte da tarde e

completamos com outros petiscos. O DJ ficaria perto da piscina, que diferente da última vez que eu

havia visto, está limpa, pronta para as pessoas usarem.

Colocamos luzes na área coberta, já que a lona está posta e analiso o tempo. Por incrível que

pareça, está sol e sinto o suor grudar em minha pele enquanto arrumamos tudo.
Ferdinand e Frederic nos ajudam, é claro, eles ficam com as coisas mais pesadas e agradeço

por isso.

Quando vejo, já está ficando tarde, faltando poucas horas para a festa começar. Frida me faz

tomar um banho e diz que irá retocar meu cabelo, que havia sido besteira termos feito no dia anterior

— eu disse que seria em vão, mas ela não me deu ouvidos.

Assim que saio do banheiro, visto a lingerie escolhida e coloco o vestido, analisando-me no

espelho. O vestido realça minhas curvas e fico feliz com isso, então me viro para minha amiga, que

está sorrindo feito boba.

— Você está linda — comenta. — Sente-se aí, irei fazer a maquiagem e arrumar seus cabelos.

Concordo e a vejo pegando o babyliss, deixando-o aquecer e enrolando as mechas dos meus

cabelos. Assim que o deixa pronto, minha amiga começa a me maquiar, deixando-me pronta em

menos de vinte minutos.

— Você está maravilhosa e vai abalar nessa festa — diz, batendo palminhas. Me encaro no

espelho e concordo, sorrindo ao me ver. Ela tem razão, estou mesmo linda e ao me notar, vejo os

traços de mamãe no meu rosto.

— Obrigada, Frida, se não fosse vocês, eu estaria deitada na minha cama, chorando e me

entupindo de chocolate.

Ela ri e concorda, cruzando os braços.


— Isso só aconteceria se fosse por cima do meu cadáver, querida. — Rio com suas palavras e

concordo.

— Tudo bem, você está certa, agora que tal ir logo se arrumar? Os convidados chegarão em

breve.

Ela concorda e corre para o banheiro, pronta para tomar banho e me ajudar na loucura que

será essa festa.


Como presumi, diversas pessoas que eu nunca havia falado na faculdade vieram à festa

apenas para beber. Alguns foram até um pouco gentis e trouxeram alguns presentes, e outros apenas

sorriram, me deram os parabéns e quando vi, já estavam bebendo e dançando.

Sinto meu corpo arrepiado por conta disso e um medo toma conta de mim, pensando na

besteira que foi fazer esta festa. Eu deveria ter sido pulso firme com Frida e não a deixar fazer...

Afasto o pensamento e vejo Frederic e Ferdinand vindo na minha direção. Estou nos fundos da

casa com um copo com cerveja nas mãos, ouvindo as batidas da música que o DJ toca. Frida já está

dançando descontroladamente.

— Está tudo bem por aqui? — pergunta Fred, olhando ao redor. Sei quem ele está procurando,

e para nossa sorte, Collin não apareceu. Pelo menos ainda não.

— Está sim, só um bando de gente louca para beber — digo e os dois concordam, voltando a

olhar para as pessoas bebendo, dançando e comendo. Algumas já estão na piscina apenas de sunga e

biquíni, como se soubessem que poderiam nadar, o que eu não duvido.


— Certo, estaremos lá dentro para você se divertir mais com seus amigos — diz Ferd.

— O quê? Claro que não, fiquem, por favor. A minha única amiga aqui é Frida, essas pessoas

eu nunca falei direito.

— Tem certeza? Não queremos parecer o ex-padrasto chato e o irmão que surgiu do nada —

diz Fred, me encarando.

— Tenho sim, vai ser mais fácil se eu tiver vocês aqui comigo.

Os dois sorriem e concordam com um aceno de cabeça.

— Eu vou pegar uma cerveja para nós — diz Ferdinand, se afastando, e Fred me encara.

— Você está linda — murmura.

— Obrigada, você não está nada mal — digo, o encarando no jeans e jaqueta, a lua no céu

está cheia, causando um brilho diferente no seu olhar.

— Obrigado — responde, piscando. — Quero tanto te beijar.

Olho em volta e noto que as pessoas nem estão preocupadas conosco, e volto meu olhar para

o seu.

— Eu também, está sendo uma tortura termos que nos manter longe esses últimos dias. Com

Frida em casa me ajudando neste aniversário, quase não pudemos ficar juntos.

Ele concorda e coloca as mãos nos bolsos, suspirando.


— Iremos resolver isso assim que todas essas pessoas forem embora — responde, piscando.

Sorrio e Ferd se aproxima, entregando a cerveja para o irmão.

— Esses jovens parecem que nunca foram a uma festa — diz, incrédulo, olhando o pessoal

dançando e se jogando na piscina. — Ou eu que fiquei muito tempo sem ter pessoas por perto.

Dou risada e ele me acompanha, erguendo a mão para mim.

— O que foi? — questiono, a segurando.

— Dança comigo? — pede, sorrindo. Olho em volta e avisto Frida me encarar com um

enorme sorriso, retribuo e concordo, entregando meu copo para Fred, que sorri e bebe do seu. Sei

que ele gostaria de estar fazendo o mesmo comigo, e que ficar sem poder me tocar está sendo uma

tortura, e penso que, uma hora ou outra, terei que contar para as pessoas o que vem acontecendo.

Não que precisássemos da aprovação delas, mas sim para podermos viver em paz, sem ser em

segredo.

Saio dos meus devaneios e sigo para mais próximo da piscina com Ferd segurando minha

mão. Reparo que ganhamos alguns olhares, mas não me importo, então começa a tocar uma música

mais sensual e passo minhas mãos em torno do seu pescoço, com ele segurando minha cintura e

ficando com seu olhar na direção do meu.

— Gosta dessa música? — pergunta, lambendo os lábios. Presto atenção na letra de Skin da

Rihanna e concordo, sabendo que em algum momento já havia ouvido ela com Fred.
— Sim, eu gosto — murmuro, sorrindo. Ele sorri de volta e continuamos embolados,

dançando até a música finalizar e seguindo para outra mais animada, agora rebolando e nos

divertindo. Algumas pessoas se aproximam e dançam conosco, e eu me divirto tanto que sinto minha

barriga doer. Sorrio e quando a música termina, abraço Ferd e me separo dele.

— Obrigado pela dança, gatinha — diz, piscando e se afastando. Sorrio e me viro quando

Frida vem em minha direção e agarra meus ombros.

— Amiga, o que foi isso?! — pergunta, eufórica.

— O quê? — questiono, sem entender.

— Essa conexão de vocês dois — diz ela. — Foi incrível a dança de vocês, estou muito

apaixonada.

Sorrio e abaixo a cabeça, mordendo o canto da boca até sentir o gosto do sangue.

— Precisamos conversar, eu tenho que te contar uma coisa — murmuro, entrelaçando minhas

mãos.

— Conversamos depois, vamos beber e nos divertir — responde, animada.

— Por favor, enquanto eu estou com coragem, me deixe...

Não há tempo de terminar a fala e a vejo saindo correndo em direção às bebidas, voltando

com um copo com cerveja e me entregando. Bebo e Frida sorri, gritando, pulando e dançando, sem se

importar com o que tenho para falar. Sinto a coragem se esvair do meu corpo e decido fazer o que ela
diz, voltando a dançar e a beber.

Vejo os irmãos Cooper afastados, conversando e bebendo. Sorrio, ainda dançando, então me

viro para Frida e ela começa a dançar elegantemente comigo a música da Britney Spears que o DJ

coloca para tocar. Sinto-me eufórica e feliz, pensando que no fim não havia sido completamente uma

besteira fazermos a festa.

Me divirto como se não houvesse amanhã, bebendo, dançando e comendo. Na hora do bolo, o

reparto e dou o primeiro pedaço para as três pessoas mais importantes da minha vida nesses últimos

meses, pensando que, pela primeira vez em muito tempo, não sinto tanta tristeza por não ter mamãe

comigo.

Pode parecer egoísmo, mas mesmo a querendo aqui, não sinto tanta saudade como estava

sentindo antes. Talvez, enfim, o luto está começando a se esvair de dentro de mim. Claro que sempre

irei sentir sua falta, mas neste momento, me divertindo com pessoas que eu mal conheço, me vejo

feliz de verdade, o que chega a me assustar.

As horas vão passando rapidamente e quando notamos, o sol está começando a surgir.

Noto que algumas pessoas já começam a ir embora e a música cessa, comigo me sentindo

completamente exausta e bêbada. Assim que todos se vão, ficando apenas Frida, entramos para

dentro de casa e me jogo no sofá.

— Durma aqui — digo a ela, com a voz arrastada.


— Melhor não, tenho certeza de que irei hibernar, mas não se preocupe, pedi um Uber e

depois busco meu carro.

Concordo e me despeço dela, a vejo sair pela porta e a fechar atrás de si. Suspiro aliviada

por enfim a loucura desta noite ter acabado e Fred e Ferd se jogam ao meu lado, ajudando-me a tirar

os sapatos.

— A noite foi boa — digo, cansada.

— Foi sim, gatinha, agora você precisa descansar.

Encaro Ferdinand e sorrio, o chamando para mais próximo de mim.

— Vamos brincar um pouco e depois eu descanso — digo, o puxando contra mim. Ferdinand

sorri e começa a beijar meu pescoço, enquanto Fred se aproxima e enche minha pele de beijos,

causando arrepios. Fecho os olhos e me entrego ao momento, ansiando por aquilo, então ouço um

barulho e ignoro, sentindo os lábios de cada um preencherem partes do meu corpo.

— Estére! — Ouço meu nome e abro meus olhos, arregalando-os ao ver Frida parada,

estarrecida, me encarando.

Minha melhor amiga acaba de descobrir o que vem acontecendo entre os irmãos Cooper e eu

da pior maneira possível.


Levanto imediatamente e me aproximo de Frida, que recua dois passos para trás.

— Não é o que você está pensando — digo, sabendo que não adiantará mentir.

Ela encara Fred e Ferd e suspira, balançando a cabeça em negativa.

— Eu não acredito — diz, começando a rir, fico sem entender e minha amiga me encara. —

Não consigo acreditar que esse tempo todo Collin esteve certo e você mentiu para mim.

— Por favor, deixe-me explicar — peço.

— Explicar o quê? Que você está transando com Ferdinand e Frederic, que é seu ex-

padrasto?! — grita, nervosa. Fico sem reação e tento me aproximar dela de novo, que volta a recuar,

encostando seu corpo na parede.

— Eu juro que queria ter contado — digo —, mas não sabia como você iria reagir diante

disso.

Vejo Frida rir e balançar a cabeça em negativa.


— Você teve tantas oportunidades para me contar a verdade e preferiu que eu descobrisse da

pior maneira possível. Eu fiquei do seu lado quando Collin começou com as paranoias dele, para no

fim saber que ele sempre esteve certo.

Fico quieta, sabendo que não adiantará dizer muita coisa, afinal, ela está certa.

Quantas chances eu havia tido de contar a verdade a ela e optei em continuar escondendo?

— Eu sinto muito — é a única coisa que consigo dizer.

— Sente muito? Você está transando com seu padrasto e me diz que sente muito?! —

responde, nervosa. — Como você pôde fazer uma coisa dessas com sua mãe? Você não sente

vergonha?!

— É claro que eu sinto, ok?! — é minha vez de gritar — Mas simplesmente não posso

controlar o que eu sinto. Não foi intencional, simplesmente aconteceu, e você mesma me disse várias

vezes que me apoiaria nisso.

— Desde que você fosse sincera comigo! — responde, apontando o dedo na minha direção.

— Me diga, há quanto tempo isso vem acontecendo? Por favor, diga-me que Collin sempre esteve

errado e isso aconteceu hoje porque estão bêbados.

Fico em silêncio e ela me encara, mostrando o quanto está desapontada comigo.

— Eu realmente sinto muito, queria ter contado a verdade...

— Há quanto tempo?! — me corta, gritando.


— Começou no Natal — digo, engolindo em seco. — Frederic e eu acabamos nos beijando

em uma noite que ele estava bêbado e desde então venho sentindo algo por ele, até que aconteceu...

— Então você mentiu sobre sua virgindade também. — Não foi uma pergunta. — Meu Deus,

sabe o quanto isso é doentio?

— O quê? Por favor, nos chame de tudo, mas não de doentes, nós não somos — digo.

— Eles não, você sim, por ter escondido todo esse tempo a verdade da pessoa que mais te

ama e apoia depois da tia Jolie — responde, e noto as lágrimas nos seus olhos. — Você sabia melhor

do que ninguém que poderia contar comigo para tudo, inclusive para isso! Foda-se a opinião das

pessoas e o que elas diriam, apenas deveria ter sido sincera com a pessoa que mais torce para a sua

felicidade.

Volto a ficar em silêncio e começo a chorar, ainda mais triste em saber que minha amiga me

apoiaria. No final, ela só desejava sinceridade da minha parte.

— Me perdoe, por favor — peço.

Frida me encara e suspira.

— Antes de querer o meu perdão, aprenda a se perdoar, se escondeu esse tempo todo algo que

te faz bem, o problema está em você.

Ela encara Fred e Ferd e vejo pegar sua bolsa que está na mesa de centro — então foi por isso

que ela voltou. Assim que a pega, Frida me encara uma última vez e sai, batendo a porta e deixando-
me com o coração completamente despedaçado.

Perdi minha mãe e agora a minha melhor amiga.

Quatro dias se passaram devagar e eu me mantive o tempo inteiro dentro do meu quarto,

apenas saindo para comer e ir à faculdade. Eu havia tentado conversar com Frida de todas as

maneiras possíveis, porém, ela não me respondeu. Na aula, Frida havia trocado de lugar para ficar

longe de mim, e no intervalo eu me sentava sozinha.

As pessoas estavam comentando, como já era de se esperar. Ninguém conseguia entender

como que duas grandes amigas do nada haviam parado de conversar. Isso tudo graças a cidade

pequena.

Collin não apareceu desde a última vez que eu o vi, o que foi bom, afinal, se ele visse Frida e

eu brigadas, com certeza iria querer saber o motivo e eu não conseguiria esconder, sendo a idiota que

sou.

Fred e Ferd andavam trabalhando bastante na oficina, dizendo que me dariam o tempo que

fosse necessário para me recuperar do que havia acontecido, o que, de certa forma, foi até bom,

afinal, neste momento, só quero ficar sozinha.

Me jogo na cama assim que chego da faculdade e suspiro, olhando uma foto de Frida e eu no

meu celular que havíamos tirado em algum momento. Seco a lágrima que escorre e olho para o teto,

pensando o quanto eu havia sido idiota de não ter contado a verdade para ela. Seria tudo mais fácil
se eu soubesse desde o início que ela aceitaria tranquilamente a minha relação com Fred e Ferd.

Mas ela está certa.

Quem precisa aceitar de fato a minha relação sou eu mesma.

Mesmo dizendo que não me importo com o que as pessoas pensariam, percebo neste momento

que procuro uma aprovação da qual não preciso. Eu estando bem comigo mesma, já está ótimo.

Saio dos meus pensamentos e levanto, decidindo ir atrás de Frida e resolver essa situação.

Procuro no Instagram onde ela está, sabendo que terá postado um novo storie e vejo uma foto

dela na sua casa. Pego as minhas coisas e saio, entrando no carro e seguindo para lá, disposta a me

conciliar com minha amiga e me abrir completamente com ela.


Paro o carro em frente à enorme casa e respiro fundo, criando coragem e saindo. Vou em

direção à porta e toco a campainha, ansiosa. Não demora muito e ela se abre, com Frida parada, me

encarando. Noto que o sorriso no seu rosto some e ela está bem-arrumada, talvez esperando alguém.

— Oi, podemos conversar? — pergunto, ansiosa. Ela me encara ainda séria e dá um passo

para o lado, permitindo que eu entre. Entro e Frida bate a porta, se virando na minha direção.

— Seja rápida, tenho um compromisso com Hector e não quero me atrasar.

— Então vocês estão juntos? Fico feliz por isso — digo, sem graça, ela concorda com um

movimento de cabeça e fica em silêncio. — Quero me desculpar por ter mentido e escondido de você

por tanto tempo o que vem acontecendo entre Fred, Ferd e eu.

— Me conta, porque estou muito curiosa — começa cruzando os braços.

— O quê?

— O que a fez se envolver com os dois, afinal de contas? — questiona-me, ainda com os

braços cruzados.
Penso sobre a pergunta e dou de ombros.

— É uma história um pouco complicada, não sei se vai querer ouvir — respondo.

— Tá vendo, você não consegue se abrir para a pessoa que mais se importa com você —

comenta. — Ao menos me diga como surgiu isso tudo.

— Me desculpe, é que é muito difícil eu dizer em voz alta para outra pessoa sobre o que vem

acontecendo entre nós três. Foi algo que surgiu do nada, e antes que pense que eu não me culpei, fiz

isso por muito tempo. Na verdade, ainda me sinto culpada em me envolver com meu ex-padrasto.

Você acha mesmo que é normal eu me relacionar com a pessoa que conviveu por anos com minha

mãe? Acha que tenho orgulho disso?

— Não estou dizendo que você precisa ter orgulho. Eu não sou ninguém para me intrometer na

sua vida, mas acho que se realmente quer isso, terá que ser sincera com as pessoas e principalmente

com você. Vai mesmo querer viver a vida inteira escondendo o relacionamento de vocês? Está certo

que não é o relacionamento convencional, mas quem disse que precisamos ter um para sermos

felizes? Mas o que me magoou mesmo foi que você me bloqueou de conviver isso ao seu lado. Me

excluiu como se eu não fosse ninguém, sendo que sou a sua melhor amiga.

Fico em silêncio e concordo.

— Me perdoe — peço, segurando as lágrimas.

— O que você sente em relação aos dois? — questiona, ignorando meu pedido de desculpas.
Penso sobre isso e revivo na minha memória os momentos incríveis que tive com os dois; o

passeio no parque, nossa primeira vez juntos, a viagem para o chalé, a sessão de fotos e o sexo que

fizemos depois disso.

— Eu os amo, Frida — murmuro, convicta das minhas palavras. — Realmente amo eles de

verdade e não quero perdê-los.

Vejo ela movimentar a cabeça em concordância e a campainha tocar, então Frida abre a porta

e sorri, dando passagem para o visitante.

Vejo um homem muito bonito; sua pele é clara, os cabelos escuros, corpo malhado e o olhar

sério. Está usando uma calça jeans clara, tênis e camiseta preta.

— Estére, este é Hector — diz Frida, apontando para ele.

— Muito prazer em conhecê-la, Estére — diz, em uma voz rouca e grossa.

— O prazer é meu — digo, sorrindo sem graça, o silêncio reina no local por um minuto

inteiro e solto um pigarro. — Melhor eu ir, vocês devem estar ocupados.

— Não precisa...

— É melhor ir mesmo — Frida corta Hector e me encara. — Conversamos outra hora.

Concordo, chateada e saio da sua casa, seguindo para dentro do meu carro. Suspiro e vejo

minha amiga e Hector entrarem no carro deles, saindo em disparada pela estrada, então ligo o motor

do meu carro e faço o mesmo, seguindo sem destino certo.


*

Dirijo por horas e acabo parando na cidade vizinha. Paro o carro próximo do parque que há

na cidade e saio do veículo, sentindo o delicioso cheiro de grama cortada. Respiro o ar puro e solto

devagar, pensando na loucura que minha vida se transformou desde a morte de mamãe. Um

pensamento de que se ela estivesse aqui tudo seria diferente surge na minha mente e seco uma

lágrima involuntária. Por que escolhi esconder a verdade da única pessoa que poderia me apoiar? As

nossas escolhas realmente refletem no nosso futuro.

— Oi, Estére. — Saio dos meus pensamentos e congelo ao ouvir a voz do homem que pensei

ser um cavalheiro e na verdade se mostrou ser um monstro.

Me viro devagar e encaro Dréck, que está com um sorriso sádico no rosto e os cabelos

bagunçados. Noto que ele está pálido e dou um passo para trás, olhando em volta.

— O-o quê...

— Nem adianta gritar ou pedir socorro, as pessoas não iriam acreditar em nada do que você

dissesse, afinal, só estou conversando com você, não é mesmo? — pergunta, sorrindo ainda mais.

Fico em silêncio e a bile sobe, deixando-me enjoada.

— O que está fazendo aqui? — pergunto, atônita.

— Eu moro aqui — comenta, despreocupado, deixando claro que nas vezes que o vi, eu não

estava louca.
— Então naquela vez no mercado...

— Sim, realmente você me viu, e fugi antes que aquele cara viesse atrás de mim. Te vi

novamente com ele na outra vez e fugi de novo, mas não hoje. Hoje a vi de longe, sozinha, triste, e

resolvi me aproximar para conversarmos. Acho que não começamos muito bem da outra vez.

Sinto a fúria tomar conta de mim ao ouvir suas palavras e cuspo no seu rosto, com ele

limpando e rindo.

— Como você tem coragem de me dizer isso na maior tranquilidade? Você tentou me estuprar!

— Eu não quis te estuprar, você que ficou me provocando com aquela roupinha curta. É

sempre assim, não é? Vocês são umas vadias e nos provocam, quando conseguem o que querem,

fogem e se fazem de vítima.

Dou um tapa no seu rosto e sinto a ardência tomar conta da palma da minha mão. Maldito

desgraçado! Como ele tem coragem de me culpar por isso?

“Esse é o mundo em que você e outras mulheres vivem, Estére Muller, isso é graças aos

homens que governam o mundo e o transformaram na droga que está”.

— Você é um porco — digo, criando coragem. — Eu farei de tudo para vê-lo atrás das

grades.

Dréck sorri e lambe os lábios.

— Então é melhor agir logo — diz. Vejo uma garota nova, talvez até mais que eu, se
aproximar de nós e o abraçar, me encarando séria.

— Anjo, essa aqui é uma amiga minha, se chama Estére — diz, apontando para mim. Sinto

meu corpo retesar ao ver isso e o suor brota na minha testa.

Eu não fui a sua vítima, mas com certeza essa garota pode ser se eu não fizer nada.

— Certo, por que não vamos embora? — diz ela, me encarando séria. Será que ela está

mesmo pensando que eu estou dando em cima de Dréck e quer marcar território?

— Claro, meu anjo, você que manda — responde Dréck, sorrindo para mim. — Até mais,

Estére. — Ele se aproxima e sussurra no meu ouvido: — Vou fazer com ela o que não fiz com você, e

ninguém poderá fazer nada.

Congelo ao ouvir suas palavras e eles se afastam, com Dréck me encarando cada vez mais

longe.

Ainda atônita, entro no meu carro e o vejo entrar no dele com a garota, seguindo pela estrada,

então ligo o motor e, devagar, começo a segui-lo, procurando meu celular e discando rapidamente

para Frederic, que me atende imediatamente.

— Oi, Estér, como está? Precisa de alguma coisa? — questiona.

— Eu o encontrei, Frederic — digo, descontroladamente. — Estou seguindo Dréck, ele está

com uma garota, ele me disse que vai machucá-la, faça alguma coisa, por favor.

— O quê? Do que você está falando, Estére? Onde você está? — questiona, aflito.
Digo a ele o que está acontecendo, ainda perseguindo o carro, que segue pela estrada

rapidamente, talvez percebendo que o estou seguindo.

— Por favor, chame a polícia — peço.

— Não faça nenhuma besteira, Estére, por favor, pare agora mesmo esse carro e iremos

mandar a polícia atrás dele.

— Não posso! Ele está com uma garota, ele vai machucá-la, tenho certeza disso — respondo,

sentindo o medo e a fúria tomar conta de mim, de repente as lágrimas encobrem meus olhos e sinto

meus pelos se arrepiarem. — Eu amo você, Frederic, você e Ferdinand. Eu os amo demais — digo,

acelerando cada vez mais.

— Nós também te amamos, Estére, mas por favor, me escute...

— Sinto muito, mas não posso deixar Dréck machucar essa garota. — desligo o telefone e

seguro o volante com as duas mãos, pisando ainda mais no acelerador. Vejo Dréck se afastar cada

vez mais e noto que estamos saindo da cidade, o que me assusta, no entanto, não posso parar. Se eu

fizer isso e ele realmente machucar essa garota, nunca irei me perdoar.

Continuo dirigindo em velocidade máxima e encosto meu carro no de Dréck, batendo com

tudo. Sinto o solavanco e solto um gritinho, com ele ainda dirigindo.

Então acontece algo completamente inusitado.

O vejo colocar o braço para fora e apontar uma arma na direção do meu carro, atirando.
Abaixo-me, gritando com medo e vejo a bala ultrapassar o vitro frontal, o trincando. Ergo meu corpo

e continuo seguindo, com ele atirando novamente.

Grito mais uma vez e ouço a garota pedir socorro de dentro do carro, o que me dá forças para

continuar acelerando.

Saio de trás de Dréck e sigo com meu carro para o lado do seu, com ele apontando a arma na

minha direção. No impulso, jogo meu carro para o lado e acerto a lataria, sentindo mais um

solavanco. Repito o processo, lembrando-me que ganhei este carro de mamãe e reúno as forças que

restam, acertando mais uma vez.

De repente, ouço ao fundo o barulho de uma sirene e vejo pelo retrovisor a viatura nos

seguindo, o que me deixa animada. Acerto mais uma vez o carro de Dréck, para chamar a atenção dos

policiais e ele atira, acertando o retrovisor do carro. Mesmo com medo, continuo no impulso,

determinada a ajudar a garota e sinto meu carro ir aos poucos parando.

— Droga, não dê problema! Agora não, agora não! — solto um grito e bato no volante,

pisando fundo no acelerador e alcançando Dréck, que continua atirando, comigo me abaixando e

desviando.

Penso na loucura que minha vida está. Minutos atrás eu estava pedindo perdão a minha amiga,

e agora estou perseguindo o homem que tentou me estuprar.

Realmente minha vida é uma caixa de Pandora e me reserva muitas coisas.

O barulho da sirene fica mais alto e vejo a viatura ao meu lado.


— Pare agora mesmo o carro! — grita um dos policiais, apontando a arma para mim.

— Ele está com uma garota! — grito — Ele vai machucá-la! Por favor, faça alguma coisa.

Novamente Dréck atira e solto um grito, abaixando-me e sentindo o forte solavanco quando

meu carro para com tudo. Vejo o airbag acionar e solto um grito, vendo a viatura e o estuprador se

afastarem.

— Não! — grito, saindo do carro e os vendo cada vez mais longe, pego meu celular e mando

minha localização para Frederic, que me ligou diversas vezes e eu não ouvi, por conta da

perseguição.

Começo a correr, vendo meu carro completamente destruído e percebo que os dois veículos

pararam um pouco mais à frente. Acelero os passos e não vejo movimento nenhum de alguém saindo,

então crio coragem e continuo me aproximando, percebendo que um carro colidiu com o outro e que

estão desmaiados.

Sinto o desespero tomar conta de mim e ouço a voz da garota pedindo socorro, então corro em

direção do carro de Dréck e, com um pouco de dificuldade, abro a porta, a encarando.

— Me ajude, por favor — pede em meio às lágrimas. Vejo um vidro cravado na sua perna e a

encaro.

— Fique calma, vai ficar tudo bem, venha. — A puxo pelo braço e a ajudo a sair, sentindo o

cheiro de gasolina, então Dréck se mexe e solto um grito, puxando a garota para cada vez mais longe.
Sigo em direção à viatura e abro a porta, enquanto a garota que não sei o nome, chora

compulsivamente e o sangue da sua perna se espalha pela calça, pingando no asfalto.

— Por favor, reajam — digo, mexendo nos policiais desacordados. — Me diga seu nome —

peço para a garota.

— Estela — murmura, chorando.

— Estela, eu me chamo Estére, percebeu a semelhança? Eu preciso que você seja forte e me

ajude, ok? Esses policiais precisam sair daqui, antes que a gasolina se espalhe e algo pior aconteça.

Sei que parece ser um filme de ação isso, mas é real e você precisa me ajudar, entendeu?

Ela concorda com um movimento de cabeça e me ajuda a puxar o policial, o colocando no

chão. Rapidamente fazemos o mesmo com o outro e vejo que Dréck tenta escapar, então apanho a

arma do coldre do policial e aponto para ele, que sai, se rastejando.

— Abaixe isso, Estére, sabemos que você é covarde demais para usar — murmura, cuspindo

sangue. Sinto a arma balançar na minha mão e Estela chora baixinho.

— Fique atrás de mim — peço, apontando a arma para ele.

— Você é mesmo uma vadia, não é? — comenta. — O que vai fazer agora? Me matar?

Continuo em silêncio, com a arma apontada para ele, e o vejo recarregar a sua, apontando

para mim.

— Por que fazer isso? — pergunto, com a voz embargada. — Por que machucar mulheres
inocentes?

— Inocentes? Vocês são umas vadias — diz, cuspindo. — Lamento muito por não ter

conseguido te violentar e não estuprar essa vagabunda.

Vejo-o manter a arma apontada em nossa direção e sinto o medo tomar conta de mim. Um

pensamento de que tudo irá acabar invade a minha mente e sinto as lágrimas escorrerem pelo meu

rosto.

“Chegou a hora de encontrar mamãe”, penso, sentindo a bile subir pela minha garganta.

— Você é um covarde — digo, com a arma ainda apontada. Minhas mãos continuam tremendo

e Estela se mantém atrás de mim, em lágrimas e com a perna sangrando cada vez mais.

—Não sou eu que estou com minhas mãos tremendo — diz, de maneira sarcástica. — Vamos

lá, Estére, mostre-me do que é capaz. Atire e prove que você é tão cruel quanto eu.

Penso em suas palavras e destravo a arma, admirada em saber fazer isso. Continuo apontando

para ele e olho Estela de canto de olho.

— Não saia de trás de mim — peço. Ela concorda e volto minha atenção para Dréck.

— Abaixe a arma, Estére — murmura. — Abaixe ou vou atirar na garota.

O vejo apontar para Estela, que treme de medo atrás de mim e nego com a cabeça.

— Não vou abaixar — murmuro.


— Então você acabou de assinar a sentença de morte dela.

O vejo formar um sorriso ao dizer isso e levar a mão até o gatilho, então tudo acontece tão

rápido que me assusto e caio no chão com Estela gritando de medo. Vejo Dréck cair e o sangue

manchar sua camisa, com ele levando a mão até o peito e cuspindo ainda mais sangue, então olho

para o lado e noto o policial com a arma apontada para ele, atirando novamente.

Abraço Estela e sinto o medo tomar conta de mim, vendo Dréck caído no chão, morto. Sinto

meus olhos se fecharem e, de repente, perco a consciência.


Acordo desorientada e ouço o bipe no meu ouvido, vendo tudo embaçado. Ergo meu corpo e

rapidamente avisto Frederic, Ferdinand e Frida sentados. Assim que me veem, os três vêm em minha

direção.

— Estére, como está? — pergunta Fred, segurando minha mão, a aperto devagar e engulo em

seco, sentindo um gosto estranho invadir a minha boca.

— Onde ela está? — pergunto. — Estela, onde ela está?

— Fique calma, ela está bem, no quarto ao lado com a inspetora.

Fico em silêncio e me recordo do que havia acontecido, pensando em Dréck, que agora está

morto e nunca mais poderá causar nada de ruim em outras pessoas.

— Quero vê-la — digo, com a voz embargada.

— Mais tarde você a verá, agora precisa descansar — Ferdinand diz, enfático.

— Por favor — peço, encarando os três, Frida está parada, em silêncio. — Desde quando

estou aqui?
— Tem um dia, não se preocupe, os médicos te doparam porque estava muito agitada, mas

agora está tudo bem — diz ela.

— Me perdoe, por favor — peço, sentindo as lágrimas cobrirem meus olhos.

— Eu perdoo por ter escondido a verdade, sabe que te amo e não quero ficar brigada com

você, mas não pense nisso agora, tente descansar.

— Ok, mas me levem para ver Estela.

Os três suspiram, desistindo de me impedir e me ajudam a me levantar. Sinto meu corpo

dolorido e me sento na cadeira de rodas que Frida aproxima de mim. Apesar de não ter me

machucado, sinto como se tivesse levado uma surra.

Volto à realidade e seguimos para o lado de fora do local, passando pelo corredor e seguindo

para o quarto ao lado. Rapidamente entramos e vejo Estela deitada com a perna enfaixada e Erika

conversando com ela. Assim que me vê, ela forma um sorriso.

— Estére, é bom vê-la novamente, mesmo que seja nessa situação — diz.

— Oi — sussurro, sem graça. — Como você está? — me direciono a Estela e me aproximo

da sua cama.

— Bem, e devo isso a você, que me salvou.

Sorrio, concordando e seguro sua mão, com ela apertando a minha.

— Não precisa agradecer, fiquei com tanto medo de Dréck fazer alguma coisa com você.
— Eu também, ele foi tão gentil, e de repente se tornou um homem agressivo.

Concordo e ela vê Frida e os rapazes.

— Quero te apresentar minha família — digo, apontando para cada um. — Essa é Frida,

minha melhor amiga, e esses são Ferdinand e Frederic, meus namorados.

Ela arregala os olhos, surpresa, e me sinto feliz em dizer isso em voz alta pela primeira vez.

Erika nos encara e sorri sem graça.

— Bem, vou indo, obrigada pelo seu depoimento. Podemos conversar, Estére?

— Claro — digo, me afastando dos outros e seguindo para o lado de fora.

— Apesar de Estela ter me contado tudo o que aconteceu, preciso que você me fale sua

versão do acontecimento, tudo bem?

— Pode ser aqui mesmo?

— Claro, desde que esteja à vontade.

Concordo e começo a contar a ela tudo o que havia acontecido, finalizando comigo dizendo

que desmaiei. Assim que termino de falar, ela me encara e sorri.

— Você foi bastante corajosa, apesar de achar um pouco imprudente o que fez.

— Eu nunca permitiria que Dréck fizesse alguma coisa com essa garota, quantos anos ela tem,

dezoito?
— Dezenove, os pais estão vindo para cá já, estavam preocupados. No fim, você foi a heroína

dessa história.

— Só fiz meu dever de mulher, inspetora — digo, sorrindo. — Estamos aqui para uma ajudar

a outra, certo?

Ela concorda e sorri.

— Dois namorados, é? Achei diferente.

Dou risada e concordo.

— É realmente diferente, mas aos poucos iremos abrir a mente das pessoas.

— Se você os ama, está certa em se entregar a eles.

— Sim, eu os amo demais — digo, aliviada em falar isso em voz alta. — E se amar é

considerado pecado, nós três iremos para o inferno.

Erika concorda e se afasta, comigo voltando para o quarto e conversando com Frida, Estela e

os rapazes. E apesar da loucura que havia passado, eu me sinto completamente feliz em saber que

poderei descansar desse pesadelo.

Os dias passam e o assunto de que eu havia perseguido um estuprador percorre rapidamente

pela Cidade do Vale Sombrio. Diversas mulheres foram à delegacia contar o que Dréck havia feito,

inclusive Laura, que terminou com Collin e abriu um grupo de mulheres empoderadas que Frida e eu
começamos a fazer parte. O assunto de que eu estou namorando com Frederic e Ferdinand percorreu

rapidamente também, com o conselho de classe dizendo ser inadmissível isso e eu ser transferida

para outra faculdade, fazendo eu perder o semestre. Frida não gostou nem um pouco disso e pediu

transferência, deixando seus pais loucos.

As pessoas me olham torto, mas com o passar dos meses, isso acaba deixando de me causar

algum impacto. Na verdade, os rapazes e eu decidimos procurar um psicólogo para nos abrirmos em

relação a tudo. Ferdinand precisava mais do que imaginou e eu também, contando a minha psicóloga

Annie como realmente me sentia.

Uma vez ao mês eu vou ao túmulo de mamãe colocar flores e pedir perdão, mesmo sabendo

que eu não tenho culpa de me apaixonar por Frederic.

Tive que comprar outro carro para mim, já que o meu acabou sendo destruído na perseguição

de Dréck e escolhi um conversível.

Tudo realmente está muito bom, as aulas estão tranquilas, estou recuperando o semestre

perdido com Frida e a ideia de nos mudarmos para o chalé está cada vez maior.

Frida e Hector estão ficando e todas as semanas vão em um clube de BDSM que eles vivem

convidando-nos. Acabamos aceitando e adoramos o local, mesmo eu achando demais os “métodos”

que eles usam.

Saio dos meus pensamentos e termino meu milk-shake, com Frida, Ferd e Frederic a minha

frente. Hector havia ido pegar batatas para nós na praça de alimentação do shopping, então vejo
Collin ao longe se aproximar de nós.

— Veja só quem está aqui — diz ele nos encarando. — Então é verdade mesmo os boatos que

andam rolando. Foi por isso que você se mudou de faculdade.

— Do que você está falando? — pergunto, o encarando séria.

— Você com esses dois — diz, trincando os dentes.

Encaro Frida e ela ri, balançando a cabeça.

— Meu Deus, depois de todo esse tempo você veio se dar conta agora? — questiona ela.

Collin fica em silêncio e vejo seu pomo de adão se mexer, com ele um tanto irritado.

— Então sempre estive certo — comenta. — Você me trocou mesmo por Frederic, não é? E aí

o irmão dele apareceu em um cavalo branco e não satisfeita com um, decidiu ficar com os dois.

Vejo Frederic e Ferdinand torcerem as mãos e ergo a minha, os impedindo.

— Eu não o troquei por ninguém, foi você que me traiu — começo. — E se estou com os dois,

isso não diz respeito a ninguém, principalmente a você.

Collin me encara e ri.

— Você não percebe o quanto isso é nojento? — pergunta, conosco ganhando alguns olhares.

— Como consegue se relacionar com o homem que foi casado com sua mãe por anos? Isso é doentio.

Me levanto e paro na sua frente, vendo Frida fazer o mesmo.


— Deixem que eu resolvo — digo aos três e volto a encarar meu ex. — Sabe o que é nojento,

Collin? É a falta de amor e empatia das pessoas no mundo. Quantas pessoas se intrometem na vida

dos outros e nem ao menos perguntam como elas estão? Você deveria ficar quieto e seguir sua vida,

do mesmo jeito que fiz com a minha. Não me importa a sua opinião e das pessoas que dizem que

somos demônios e vilões desta história. Na verdade, realmente devemos ser, mas ninguém tem nada a

ver com isso. Eu amo Frederic e Ferdinand, e é isso que realmente importa, o nosso amor.

Termino de falar e percebo que todas as pessoas na praça de alimentação estão em silêncio,

me encarando, então, quando menos espero, começam a bater palmas e gritar, com Collin ficando

envergonhado e saindo nervoso.

Sorrio e agradeço, me sentando e encarando os dois homens da minha vida, que me observam

atentamente.

— Nós te amamos, Estére — dizem, em uníssono.

— Eu também amo vocês, cada um de vocês — murmuro, alegre, sentindo meu mundo

completo.

Um tempo depois...

O tempo passa rápido, sem piedade de nós, como se cada dia durasse menos de vinte e quatro

horas. Estou quase formada, pensando em toda a loucura que passei nos últimos anos. Pensando no

dia em que perdi minha mãe para o câncer e me vi sozinha nesta casa, vendo um casal desconhecido
se beijando, apaixonados, do lado de fora, na chuva. Penso em como as coisas mudaram neste tempo.

Eu sequer me imaginava terminando com Collin e acabando ficando com Frederic, meu antigo

padrasto, e depois com seu irmão.

A lembrança de Ferdinand entrando em casa, passando-se pelo seu irmão e me devorando por

completo é tão vaga que me assusto com isso.

Como o tempo pode passar tão devagar e ao mesmo tempo tão rápido?

Algumas pessoas ainda nos olham torto, torcendo o nariz e falando por aí sobre a filha que na

primeira oportunidade “traçou” o marido da mãe morta. Uns dizem que Fred e eu tínhamos um caso

antes mesmo de mamãe morrer e que escondemos sobre o paradeiro de Ferdinand todos esses anos.

Não me importo com o que dizem, na verdade, aprendi a aceitar que Fred, Ferd e eu não

somos os vilões. Somos mocinhos diferentes, quem sabe? Acabei aceitando que para sermos felizes,

basta desejarmos isso, e que ninguém tem nada a ver com a nossa vida. Somente nós mesmos

sabemos o que passamos.

Com a morte de Dréck e o grupo que Laura criou, consegui me abrir sobre como me senti o

tempo em que meu abusador não havia sido pego. Estela está cada vez mais calma com relação a isso

e fico realmente feliz. É um verdadeiro alívio saber que não temos mais esse pesadelo entre nós.

Os irmãos Cooper também se abrem bastante comigo e a nossa psicóloga, alegando que,

mesmo sendo errado e pecado para alguns, realmente me amam. Para mim, não importa se as pessoas

criticam a nossa relação, o importante mesmo é sermos felizes.


Os pais de Dréck nos procuraram e pediram-nos desculpas pelas atitudes do filho, o que me

deixou surpresa e aliviada. Realmente não sabemos sobre o caráter das pessoas.

Tudo está realmente bom, a faculdade, mesmo estando em outra, é maravilhosa. Até mesmo

digo que é melhor que a anterior, já que não conheço ninguém e parece que não se importam com

minha vida e dos meus noivos...

Sim, os irmãos Cooper me pediram em casamento. Foi uma noite tão feliz e agradável, regada

a vinho e muito sexo. E então, o pedido de ambos, com a voz embarga e o anel com a pedra nas

mãos. Dentro, havia nossas iniciais gravadas — FEF — com três pequenos pássaros voando.

Frederic explicou que significa a nossa liberdade. Que juntos, nós encontramos e nos libertamos dos

medos, tabus e da opinião da sociedade.

E realmente faz muito sentido.

Estou feliz. Estou completa e cada vez mais pronta para o que a vida tem a nos oferecer.
Sinto-me nervosa ao ver que minha formatura finalmente chegou e estarei formada em poucas

horas. Levanto-me da cama e suspiro, indo em direção ao banheiro e tomando banho. Assim que saio,

encontro Frederic e Ferdinand arrumados, agora os dois são sócios na oficina e com muito custo,

Fred resolveu usar o dinheiro que mamãe deixou para ele e expandiu seus negócios, abrindo filiais

em outras cidades e colocando Jack como chefe.

Penso em como o tempo passou rápido. Só de pensar que há alguns anos eu estava iniciando a

faculdade com minha mãe me dando uma câmera de presente e agora estou me formando, sinto como

a vida é realmente um piscar de olhos.

O tempo passa tão rápido que quando notamos as pessoas morreram, outras saíram de nossas

vidas, trilhando seus caminhos, e novas surgiram.

Para minha sorte, Frida não foi embora, o que é um alívio, mas agora formada, sei que seus

caminhos serão alçados longe daqui, o que me deixa com o coração apertado.

— O advogado ligou e disse que tem uma boa proposta para a casa — diz Fred me
analisando. Coloco a lingerie e assinto, esperançosa. Com os anos passando e eu podendo vender a

casa, entramos em um acordo e vimos que essa seria a melhor decisão que podíamos tomar.

Não que eu não amasse a casa, mas com tudo que já havia acontecido, percebo que aqui se

tornou um lugar que não me cabe mais.

— Isso é bom, se formos fechar com esse comprador, podemos usar o dinheiro para investir

no projeto de Laura e nas oficinas.

Os dois concordam e coloco meu vestido vermelho que vai acima do joelho, com Ferdinand

fechando o zíper e selando com um beijo no meu ombro.

— O tempo passou tão depressa, já estamos juntos há quantos anos? Três? Quatro? —

questiona, me olhando. Encaro-me no espelho e sorrio, vendo o quanto estou linda.

— Você é péssimo com datas, mas já que quer saber, estamos juntos há quase quatro anos, já

que o conselho me fez perder um semestre inteiro — digo, com ele rindo.

— Eu ainda acho que deveríamos ter processado a faculdade, eles não podiam se intrometer

dessa maneira na sua vida.

Concordo e dou de ombros.

— Tudo bem, na verdade foi bom mudar de faculdade e ir para um lugar que quase não

conheço ninguém, e Frida veio comigo, o que tornou tudo mais leve.

Ele concorda e Fred se aproxima e me beija, encarando-me pelo espelho.


— Jolie estaria mais do que orgulhosa da mulher que você se tornou, tenha certeza disso.

Infelizmente ela não está aqui para levá-la para sua formatura, mas farei esse papel por ela.

Sorrio, segurando as lágrimas e concordo, abraçando e beijando os dois.

— Não me façam chorar, por favor, hoje é um dia de felicidade.

Os dois concordam e me apertam contra eles.

— Vamos pegar seu diploma, gatinha — murmura Ferd.

A cerimônia da formatura foi tranquila e quando recebi meu diploma, diversas pessoas

gritaram entusiasmadas, inclusive Laura, que acabou se tornando uma amiga. Não como Frida, mas

uma amiga verdadeira e sincera, que me respeita e é maravilhosa no seu projeto.

Sinto o frio na barriga e após terminar, seguimos para a festa, que me deixa animada e

relaxada.

— Estou tão orgulhosa de nós duas! — diz Frida, animada. — Eu nem consigo acreditar que

nos formamos.

— Nem eu, aconteceram tantas coisas nos últimos anos.

Ela concorda, analisando o anel no meu dedo.

— Você e os rapazes irão se casar quando? Já faz bastante tempo que foi feito o pedido.
Dou de ombros e suspiro.

— Na Europa é difícil aceitarem um casamento poligâmico, na verdade, é até considerado

crime — digo, encarando-a. — Por enquanto estamos bem desse jeito, quem sabe um dia a gente se

case de uma maneira diferente.

Ela concorda e me abraça.

— Vou sentir sua falta quando eu for embora da cidade— diz, tristonha.

— Eu também, quem imaginava que você iria embora quando terminasse a faculdade. Já que

está falando em casamento, você deveria dar uma chance a Hector.

— Não, por enquanto não. Você sabe o quanto relutei para ter um relacionamento e gosto de

viver assim.

— É verdade, mas me prometa que não perderemos o contato e você vai sempre me contar as

novidades.

— Com certeza, ainda tenho a minha história para contar. Não se preocupe com isso.

Concordo, sorrindo e a abraço, com os rapazes se aproximando de nós. Frida se afasta e dou

um beijo em Ferd e Fred.

— Que tal dançarmos? — pergunta Fred.

— Claro — digo, segurando na mão dele e de Ferd. Seguimos para a pista de dança e

começamos a dançar a valsa que toca, os três, abraçados de maneira engraçada. Percebo que algumas
pessoas nos olham e sorrio feliz com isso, sabendo que, mesmo elas não nos aprovando, há outras

que aceitam e o principal, nos respeitam.

E é o que realmente importa para nós. O respeito.


Dois anos mais tarde

Acordo com o sol refletindo no meu rosto e levanto, bocejando e vendo os dois lados da cama

vazio. Visto meu pijama, seguindo em direção à escada e indo ao banheiro do chalé. Pensar que

larguei a minha vida na Cidade do Vale Sombrio e recomecei aqui me deixa com um sorriso no rosto,

principalmente pelo fato de que Frederic e Ferdinand apoiaram a minha decisão e vendemos a casa.

Frida foi embora, ela está morando nos Estados Unidos e está prestes a chegar para o Natal e

Ano-Novo. Como o chalé tem dois quartos, ela ficará no vago, onde fiquei quando vim pela primeira

vez aqui com Frederic. Minha amiga e Hector não deram certo, pelo que soube, a distância dela o

incomodou e acabou que ela descobriu um segredo dele, do qual não quis me contar, mas acredito

que no momento certo os dois ficarão juntos, já que se gostam tanto. Apenas precisam aprender a se

perdoar, assim como eu fiz com os rapazes.

Lembrar disso me deixa espantada. Os anos não tiveram dó de nós e simplesmente se

passaram seis sem nos darmos conta. O meu relacionamento com os rapazes está mais sólido do que
nunca, o que me deixa sempre com um sorrisinho maroto no rosto.

Apesar das pessoas ainda acharem estranho o fato de eu ter me relacionado com o meu ex-

padrasto, os burburinhos cessaram e agora elas compreendem mais, o que, de certa forma, é bom

para gente, mesmo não nos importando com a opinião deles.

Os negócios estão cada vez melhores e acabei abrindo uma clínica para ajudar mulheres que

estão se recuperando do uso de drogas e de abusos sexuais que sofreram em algum momento de suas

vidas. Com isso, aproveito e dou aula de Fotografia, mostrando-as que as marcas de seus corpos

deixadas pelos homens que elas juraram ser de suas vidas, pode se tornar algo bonito de se olhar.

Tudo realmente está bom, o que me deixa cada dia mais feliz e animada, e com isso, posso

finalmente dizer que estou realizada. Sei que de onde mamãe está, sente orgulho da mulher que eu me

tornei. E no fundo me sinto perdoada pelo que eu fiz, mesmo não ouvindo de sua própria boca isso.

Saio dos meus devaneios, escovo os dentes e arrumo meus cabelos, procurando meu celular e

vendo uma mensagem dos rapazes dizendo que já encontraram Frida no aeroporto. Envio um emoji

de beijo e começo a preparar as coisas. Com o tempo, finalmente eu consegui aprender a cozinhar

algo um pouco aceitável.

As horas passam e coloco o peru no forno, que eu havia temperado na noite anterior, e

preparo a salada, ouvindo a porta se abrir. Sigo até a sala e vejo os rapazes entrarem com Frida logo

atrás, comigo soltando um gritinho e correndo em sua direção, abraçando-a. Minha amiga retribui o

gesto e a encaro.
— Você está linda! — digo, observando-a, que dá uma voltinha.

— Assim como você, não é mesmo? — diz, voltando a me abraçar. Sorrio e seguimos para a

sala, nos sentando.

— Me conte todas as novidades — peço, ela segura minhas mãos e sorri.

— Teremos muito tempo para isso, não se preocupe, a única coisa que quero neste momento é

poder matar a saudade que eu estava de você e aproveitar o máximo que puder.

Sorrio e concordo.

— Esse é só o começo, ainda temos muito o que aproveitar pela frente.

Frida concorda e forma um enorme sorriso, do qual somente ela consegue mostrar.

— Então vamos aproveitar! — diz animadíssima. Concordo e me levanto, colocando uma

música agitada para tocar e começo a dançar com ela.

Os rapazes nos encaram e entram na nossa brincadeira, se divertindo conosco. Logo Fred e

Ferd me seguram e começam a fazer cócegas em mim, fazendo-me rir até as lágrimas escorrerem dos

meus olhos.

E é maravilhoso poder chorar de alegria e ter eles comigo, ao meu lado, sendo a minha

família.

Somos imperfeitos, peças de um quebra-cabeça diferente, e juntos nos tornamos mais do que

perfeitos uns para os outros.


— Tem certeza disso? — pergunto, encarando Frida, que está sentada na beirada da minha

cama.

— Tenho sim, vai ser lindo, você vai ver, sendo aqui na floresta, vai ser parecido com o

casamento da Bella e do Edward[2].

— Que comparação ridícula — digo, rindo —, mas faz sentido.

— É claro que faz, mas me diga, você concorda com a ideia?

Mordo o canto da boca e analiso o rosto da minha amiga. Ela havia tido a brilhante ideia de

que os rapazes e eu nos casássemos aqui, no chalé, na orla da floresta, para ser mais específica.

Não seria realmente um casamento, já que nenhum juiz de paz quis nos unir, seria mais como

algo simbólico.

— Um casamento simbólico — sussurro, saindo dos meus pensamentos.

— Com direito a música, comida e festa — completa Frida.


— Vai ser legal, mas por acaso temos convidados? Será só você na plateia.

— Na verdade quem vai os “unir” será eu — diz, fazendo as aspas com os dedos. — Mas

teremos convidados, não se preocupe com isso.

Dou de ombros e vou até a janela, olhando os irmãos Cooper cortando lenha com os peitos

desnudos. Sorrio e me viro para Frida.

— É estranho você me convencer a casar, sendo que meus noivos não fizeram isso.

— Bem, eles aceitaram o fato de que a sociedade hipócrita poderia se impor com a relação de

vocês, mas tenho certeza de que irão adorar a ideia.

Sorrio e concordo.

— Tudo bem, você me convenceu.

Frida sorri e me abraça.

— Os anos passaram, mas o fato de eu sempre conseguir o que eu quero continua — diz,

animada. — Vamos preparar um casamento!

Frida iniciou os preparativos da festa com maestria. Nunca vi minha amiga tão animada em

toda minha vida. Nem mesmo no meu aniversário tantos anos atrás, ela mostrou tanta animação como

está demonstrando agora.


Os rapazes concordaram com a ideia de fazermos o “casamento”, até mesmo resolveram

alugar smokings e eu um vestido, que minha melhor amiga escolheu, obviamente.

Quando tudo está pronto no decorrer dos dias, me vejo pensando em tudo que já aconteceu em

nossas vidas. Na primeira vez que Frederic me beijou achando ser mamãe; quando comecei a me

sentir atraída por ele; quando viemos para o chalé e finalmente na nossa primeira vez. Nele se

declarando para mim com uma rosa que perdi no tempo. Penso no dia em que transei pela primeira

vez com Ferdinand, acreditando ser o irmão. Em como me entreguei a ele de corpo e alma. Sorrio ao

pensar no pedido de namoro de Fred apenas para mostrar ao irmão que tínhamos algo e como isso me

chateou; hoje em dia é apenas uma lembrança que me faz rir. Então me recordo do meu jantar com

Ferd e depois, é claro, a nossa primeira vez juntos. Os três. Dos irmãos Cooper entregando-se a mim

e eu me entregando a eles.

Quem diria que uma relação considerada por muitos tabu e luxúria iria se tornar tão sólida.

Aliás, quem diria que eu acabaria com meu ex-padrasto e seu irmão gêmeo?

— Está pronta? — Sou tirada dos meus pensamentos e encaro minha amiga, formando um

sorriso.

— Acho que sim. Como estou? — Dou uma voltinha e ela observa o vestido, sorrindo com

lágrimas nos olhos.

— Está maravilhosa, eu jamais imaginei que você iria se casar e quem iria uni-la seria eu.

Sorrio em resposta e sigo até a frente do espelho, analisando-me por completa. Escolhi um
vestido vermelho de renda, com um decote frontal e as costas abertas com um tule. O vestido segue

até abaixo dos meus joelhos, revelando minhas pernas. Nos pés, uso sapatos na mesma cor, com os

cabelos presos e a maquiagem mais natural. O buquê foi diferente de outras noivas, afinal, nós somos

diferentes. Escolhi rosas vermelhas, por conta de significar a paixão, como Frederic mesmo havia me

dito. E claro, o vermelho ser considerado, para alguns, a cor do pecado. Escolhi rosas azuis, por

significar o amor verdadeiro, raro e que não se abala facilmente. E por último, escolhi rosas brancas,

que significa paz e harmonia, o que, de certa forma, encontrei com Frederic e Ferdinand, apesar de

tudo que havíamos passado.

Saio dos meus pensamentos e me agarro ao buquê, encarando minha amiga.

— Está pronta para iniciar o seu verdadeiro felizes para sempre? — questiona Frida,

sorrindo.

— Estou sim.

Sigo para o lado de fora do chalé me sentindo nervosa. Minhas mãos tremem e o suor na

minha nuca me pinica.

Ando devagar em direção a orla da floresta e me encanto em ver como minha amiga preparou

tudo da melhor maneira possível. Há diversas cadeiras cobertas com tecidos brancos, dando um

charme a floresta com ar sombrio. Vejo que me enganei e temos sim convidados; Laura está aqui,

assim como Estela, Erika e os pais de Frida, que com o tempo se desculparam conosco por conta de
terem que me transferir de faculdade. Fico feliz e emocionada e sigo caminhando firme, com o buquê

próximo do meu peito e o coração acelerado. E então eu os vejo, sorrindo, com a barba alinhada, os

paletós bem passados e os sorrisos estampados. Fred e Ferd estão lado a lado, de mãos dadas,

esperando-me, enquanto Frida está posicionada logo atrás dos dois em um palco improvisado. Há

ramos de flores falsas penduradas, pendendo-se abaixo de suas cabeças, o que dá ainda mais um

charme ao local.

As árvores com os troncos cobertos pelo musgo e o cheiro forte de mofo deixa tudo ainda

mais bonito. Para alguns, loucura, para nós, uma realização.

E quando vejo, estou parada diante dos dois, surpresa com a firmeza dos meus pés.

— Você está linda, gatinha — diz Ferd, dando um beijo no alto da minha cabeça. Sorrio,

emocionada e me viro para Fred, que está com lágrimas nos olhos.

— Você está mesmo maravilhosa — diz ele.

Agradeço e nos viramos para Frida, com os poucos convidados sentando-se em seus

respectivos lugares.

— Boa tarde a todos — diz Frida, empolgada. — Estamos aqui, nesta tarde, para unirmos

esse casal que vieram para quebrar paradigmas impostos pela sociedade. Juntos, Estére, Frederic e

Ferdinand, enfrentaram um tabu apenas por um objetivo; o amor. Alguns podem até questionar sobre

amarmos mais de uma pessoa, mas devemos sempre colocar o respeito acima de nossas opiniões.

“Quem diria, não é mesmo? Estére Muller se casando, e ainda por cima, com seu ex-padrasto,
mas sem julgamentos, não mandamos nos nossos sentimentos, e o amor acontece onde menos

esperamos”.

“Sim, alguns vão dizer que é loucura, mas sabe o que realmente importa? A nossa felicidade.

Se te faz bem, te deixa feliz, com borboletas no estômago, esqueça a opinião das pessoas e viva a sua

vida da maneira que deseja. Somente nós sabemos a nossa luta diária para chegarmos até aqui. Então,

por que nos importarmos com o que as pessoas vão dizer? Deixe esse sentimento de aceitação e viva

da maneira que te faça feliz. Apenas viva e seja você mesma, assim verá como o mundo pode ser

melhor”.

Frida termina de falar e seco pequenas lágrimas que surgem nos meus olhos, emocionada com

suas palavras.

— Quero dizer que esta tarde fui beneficiada em poder unir esse casal. Então, sem delongas,

Frederic Cooper, você aceita se casar com Estére Muller e Ferdinand Cooper de livre e espontânea

vontade?

— Aceito.

— Ferdinand Cooper, você aceita se casar com Estére Muller e Frederic Cooper de livre e

espontânea vontade?

— É claro, gatinha — diz, piscando.

— Tinha que ser — diz Frida, revirando os olhos. — E você, Estére Muller, aceita se casar

com esses dois rapazes?


Encaro-os e engulo em seco, pensando no que estamos fazendo. Para alguns; pecado, luxúria.

Em alguns lugares, crime.

Mas para nós apenas o amor de outra forma, assim como ele existe em diversos contextos

diferentes.

— Aceito — sussurro, formando um sorriso.

— Então eu os declaro casados, podem trocar as alianças.

Fred pega de dentro do seu bolso uma caixinha com três alianças e deposita uma no meu dedo,

fazendo o mesmo com o seu irmão. Então Ferd e eu, colocamos a de Frederic, formando um enorme

sorriso.

— Podem se beijar — diz minha amiga.

Aproximo-me dos meus dois maridos e beijo cada um, com eles se abraçando e beijando o

alto da minha cabeça logo em seguida.

— Eu amo vocês dois — digo, encarando-os.

— Nós também te amamos, Sra. Cooper — diz Frederic, sorrindo.

— Em todos esses anos, nunca fui capaz de agradecer tudo que vocês fizeram por mim — diz

Ferd, emocionado. — Eu te perdoo de coração, irmão, pelos anos afastados e fico realmente feliz em

saber que nesses últimos anos fui liberto de uma vez por todas da prisão. E agradeço por você ter me

acolhido sem ao menos me conhecer, gatinha.


Sorrio ainda mais emocionada e os abraço.

— Estão prontos para vivermos o resto de nossas vidas juntos?

— Cem anos ao seu lado não seriam suficientes, Estére — diz Fred. — Por anos amei Jolie e

hoje posso dizer sem medo de ser julgado que eu a amo. Estou mais do que preparado para termos o

nosso final feliz.

— Então vamos iniciá-lo a partir de agora — digo, emocionada. Voltamos a nos abraçar e

então jogo o buquê, com Frida pegando e formando um sorriso debochado.

E então me vejo encarando o céu e tendo a certeza de que mamãe pode estar lá, talvez

orgulhosa da filha que me tornei.

Sorrindo, abraço os irmãos Cooper e me preparo para o que há por vir, feliz em saber que

independe de qualquer coisa, estaremos juntos para enfrentarmos o que for preciso. Lado a lado.

E eu amo isso mais que tudo.

Fim!
O celular toca e vejo que é uma nova mensagem do Tinder, me ajeito na cama rapidamente e

pego o aparelho, desbloqueando e abrindo o app. Assim que entro, me surpreendo ao ver a foto de

um homem mascarado, que acabou de dar match em mim. Dou de volta e não demora, ele me chama

no chat, com o nome de Dominador.

Sorrio e entro no seu perfil, analisando bem; ele mora aqui perto. Ótimo, ou não.

Que gosta de morar na Cidade do Vale Sombrio, onde a maior parte do tempo chove?

Tem vinte e nove anos, advogado.

Procuro mais fotos e me surpreendo ao ver que só tem a do perfil, que não mostra

absolutamente nada.

Droga.

Como homem pode ser tão babaca a ponto de não querer mostrar o rosto?

Qual o sentido de você usar o app de pegação, se não está disposto a mostrar sua cara?
— Com certeza esse babaca é casado — digo para mim mesma e vejo que ele mandou “oi,

tudo bem?” o que de certa forma me irrita.

Decido responder e mando um “oi” de volta, mordendo a unha e tirando o esmalte. Preciso

contar isso imediatamente para minha amiga Estére, se ela souber que conheci um cara, ainda mais

que se intitula Dominador, vai surtar.

Dominador: O que faz de bom por aí?

Frida: Nada, apenas pensando o porquê um homem como você esconde seu rosto. É

comprometido?

Decido ser direta, não gosto de rodeios, sempre fui assim.

Dominador: Não, sou solteiro, e se quiser, posso mostrar o rosto.

Frida: Eu quero, mas antes me diga, por que se intitula Dominador? É algum fetiche?

Rio da minha ousadia e vejo que ele está digitando, me sento e continuo roendo a unha, então

vejo a sua resposta.

Dominador: Me intitulo assim porque é isso que eu sou, domino as minhas transas e as

mulheres com quem eu saio.

Frida: Então você é praticamente de BDSM?

Fico surpresa com isso, pensando que em toda a minha vida de solteira, nunca sai com um

cara que faz esse tipo de prática.


Dominador: Sim, você gosta?

Frida: Nunca fiz nada em relação, para ser sincera.

Fico animada com a conversa e ele continua digitando, então vejo que é seu número de

telefone.

Dominador: Caso tenha interesse, posso te ensinar algumas coisas, me mande uma

mensagem.

Frida: Ok, mas se quiser, mande você.

Encaminho meu telefone, pensando que eu não deveria fazer isso e tomar mais cuidado com

esses apps de pegação, mas a ideia de conhecer um praticamente de BDSM me deixa bastante

curiosa.

Fecho o aplicativo, não falando mais, e decido me preparar para a faculdade, disposta a ver

como minha amiga Estére está, afinal, os últimos meses não tiveram dó dela; perdeu a mãe, terminou

com o namorado babaca que dei uns socos, e para o seu azar, continua virgem.

Mando uma mensagem de bom dia para ela, dizendo que a vejo na aula. As aulas retornaram

já tem um tempo e reflito em como o tempo está passando rápido. Em como a minha viagem com

meus pais gays ao Brasil passou voando.

— Filha, você vai conosco? — pergunta meu pai do andar debaixo.

— Não, pai, vou no meu carro! — grito para que ele ouça.
— Tudo bem, te amamos, te vejo na faculdade.

Um dos meus pais é diretor da faculdade em que estudo e o outro é professor, o que me deixa

as vezes um tanto maluca. Não conheço a minha verdadeira mãe, e para falar a verdade, não faço

questão, já que ela apenas foi uma barriga de aluguel aos meus pais gays e ganhou muito grana com

isso.

Me arrumo às pressas e quando estou pronta, saio do meu quarto e desço a escada correndo,

pegando minhas chaves e indo para o meu carro. Ligo o som e cantarolo a música que toca, sentindo-

me animada com isso, então dou partida e sigo para o campus.

No caminho, ouço meu celular tocar e vejo que é uma mensagem do tal Dominador,

apresentando-se como Hector, e com uma foto.

A abro, enquanto estou parada no farol, e fico surpresa ao ver o quanto ele é bonito.

— Uau, se você for esse cara mesmo, é muito gato — digo e rio, enviando uma foto minha

para ele, que corresponde com um coração.

Deixo o celular de lado e continuo o percurso para a faculdade, ansiando o momento de poder

conversar um pouco mais com esse homem.

Para a minha sorte, a aula passou tranquilamente e minha amiga estava bem, o que me deixou

feliz por ela. Nos conhecemos há bastante tempo e Estére acabou se tornando a irmã que meus pais
não me deram.

Como ela nunca conheceu seu pai e cresceu ao lado de sua mãe, que anos depois casou com

um gostosão muito mais novo, brincávamos que ela tinha mãe, e eu não. E eu tinha pais, e ela não.

Isso parou de acontecer quando tia Jolie morreu para um terrível câncer, que nos deixou

devastados.

Afasto esses pensamentos e me despeço dela, indo para casa e pensando no Dominador,

decidi não falar dele para Estér ainda, para saber o que pode acontecer.

Assim que chego em casa, como um sanduiche e subo para o meu quarto, trocando de roupa e

pegando meu celular.

Há uma nova mensagem de Hector, o Dominador, e leio atentamente:

Podíamos nos encontrar, o que você acha? Moramos perto, pode vir em casa.

Penso sobre isso e relembro o que aconteceu um tempo atrás com Estér, que quase foi

estuprada por um babaca chamado Dréck.

Deveria aceitar e arriscar, ou apenas ignorá-lo?

Frida: Acho que não vai rolar, bebê, você é muito bonito, mas isso não me garante que não

é um pervertido.

Envio e deixo o celular de lado, pensando que mesmo tendo cinquenta por cento de chances

de ele ser um pervertido, eu quero conhecê-lo, o que é uma loucura até mesmo para mim.
Droga, o que eu devo fazer?

Continua...
Gostaria de primeiramente agradecer a Deus por permitir que eu consiga publicar este livro.

Agradeço a minha família que apoia os meus sonhos e a assessória Fox, que me apoiou e incentivou

até o último momento. A você, caro leitor e leitora, que chegaram até aqui. Obrigada por me apoiar e

me ajudar neste lançamento. Se você não gostou e leu até o fim, agradeço da mesma forma por ter

dado uma chance ao meu trabalho.

Agradecimento em especial a minha amiga Jussara, que me incentiva a cada dia a não desistir

dos meus sonhos. Obrigada, amiga, você é fantástica.

E ao meu avô, que brilha lá do céu.

Obrigada, vovô, eu consegui.


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Beatrice Meirelles.

[1]
Cidade fictícia.
[2]
Citação ao livro “Crepúsculo”.

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