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Namorado de ficção
1° Edição
assassinato.
— Como assim, sua louca? Jurava que já tivesse o esboço dela, não
conseguiu escrever nadinha? — Choramingou no outro lado da linha. —
Estava doida para ver aquele desgraçado morrer!
Outro riso escapuliu da minha boca, achando graça da situação.
Cora era a típica romântica sonhadora, tão romântica que vivia disso,
consumia e escrevia livros sobre amor.
Eu era a sua única exceção, ela lia os meus thrillers e sempre me
ameaçava para colocar algum tipo de romance no roteiro, mesmo que no fim
provoquei.
Ela riu do outro lado.
— Esse personagem merece o que está por vir. — Estalou a língua. —
Mas parece que você vai me torturar com a espera...
Fechei as pálpebras com força, sentindo a pressão para terminar o livro
no prazo me consumir.
Após alguns segundos de silêncio, ela continuou com um tom mais
suave:
— Verdade...
— Será que esgotei a minha fonte de ideias?
— Não! Você vai conseguir pensar em algo fabuloso, amiga — ela
disse veemente, acreditando mais em mim do que eu mesma acreditava no
momento.
— E como vai o seu novo livro? — Coloquei o foco sobre ela.
— Tô apaixonada... — Suspirou. — Queria que o meu mocinho
existisse na vida real.
Eu também estava apaixonada por ele, era o meu mais novo namorado
literário. Minhas relações amorosas se resumiam em namoros de ficção
ultimamente, desde que flagrei o meu ex me traindo no ano passado...
Personagens de livros não quebravam o meu coração.
— Quero um capítulo hoje no meu e-mail, viu? — incentivei de forma
genuína.
Eu estava viciada no seu novo romance e aguardava ansiosa pela
próxima cena onde os personagens finalmente ficariam juntos.
— Até à noite envio. — Soou animada. — E nem preciso dizer que
espero por um e-mail seu também, né? Nem que seja a cena incompleta ou
um outro capítulo, deixa fluir que as ideias chegam na hora certa.
— Pode deixar!
Encerrei a chamada depois de nos despedirmos, sentindo o estômago
completamente de vista.
— Mas que diabos? — Lancei um olhar fulminante para a parede à
minha frente, de onde o som atravessava. — Ah, não... Não acredito que o
vizinho tá aniquilando a minha concentração, de novo!
Não fazia nem uma semana que havia se mudado para o lado, mas
desde então a minha paz acabou.
Há dias meus ouvidos eram alvejados por batucadas de martelos e o
irritante ruído de furadeira durante a minha escrita. Já tentei usar fones a fim
recostando nela.
Meu coração retumbava e calor se espalhava por toda parte do meu
corpo, deixando-me com falta de ar.
Culpei meu descontrole pelo aborrecimento, não tinha nada a ver com
que estava pendurado no gancho atrás da porta por cima do meu blusão de
moletom.
A estampa do dia era:
( ) Solteira
( ) Comprometida
( X )Em um relacionamento com um personagem fictício
Levantei o capuz, cobrindo meus longos cabelos escuros e ocultando
parte dos meus olhos que, por trás das lentes dos óculos e agora encobertos,
discretamente com a cabeça para uma mesa. — Aquele rapaz bonito acabou
de pedir a última porção deles.
Segui o seu olhar apreciativo e meu coração disparou, bombando
indignação nas veias.
Quando não disse nada em troca, pois ainda estava mastigando, ele
continuou:
— E qual é o seu nome?
Levei a caneca aos lábios, dando um longo gole antes de responder.
— Serena.
Ele assentiu satisfeito, então seus olhos se recaíram na altura dos meus
seios e ali ficaram por um bom momento, depois fisgou o lábio inferior como
se contivesse um sorriso.
que dizer.
— Eu estava em pé sobre a escada, literalmente com as mãos ocupadas
pintando a parede quando você bateu nela, no susto me desequilibrei e deixei
a bandeja de tinta cair no chão.
o croissant só para ter algo para fazer com as mãos, por algum motivo Luke
me deixava inquieta. — Eu trabalho em casa e é muito difícil me concentrar
com barulho.
— Tudo bem, vou me lembrar disso na próxima vez.
Ele fez menção de comer outro pão e, por mais que eu tentasse, não
conseguia conter o ressentimento por ele ter pego a última porção.
— Pensei que tivesse me perdoado por ontem.
— Hã? Eu perdoei.
— Então por que está me olhando desse jeito? Como se eu estivesse te
ofendendo.
— Não é nada.
— Por que será que não acredito em você? — indagou com os cantos
da boca curvados para cima.
Entortei o nariz para ele, odiando o fato daquele estranho me ler tão
bem como um livro aberto.
— Ok, é só que você pegou a última porção do meu pão de queijo
favorito.
— Pode pegar um se quiser — ofereceu.
— Não, tá tudo bem — simulei indiferença, forçando outra mordida do
meu croissant.
Droga, eu realmente não estava com vontade de comer aquilo.
para cima.
Desviei minha atenção para o café da manhã à minha espera, e ele fez
o mesmo, num mútuo acordo de que não precisávamos de cerimônias para
comer ou de continuar com a conversa.
No entanto, quando o sabor orgástico invadiu minha boca ao dar a
primeira mordida, um gemido me escapou, fazendo as suas íris azuis
reluzirem sobre mim. Luke me observava sem reservas, ateando fogo na
minha pele num intenso rubor, mas aproveitei para fazer o mesmo com ele,
contato na tela.
— Não é.
Ele franziu a testa.
— Ah, qual é! — Tentei aliviar o clima e dissipar aquela ruguinha na
sua testa. — Vai me dizer que também não ignora chamadas da sua mãe de
vez em quando.
Ele negou com a cabeça, evitando o meu olhar.
— Então ela não deve ser do tipo que usa chantagens e tenta te
dando umas batidinhas nas minhas costas até que minha respiração se
normalizasse.
— Eu não fazia ideia, desculpa... — murmurei, encarando-o fundo nos
olhos.
— Está tudo bem. Faz muito tempo.
Luke se ergueu sobre as pernas e tentou se afastar, mas segurei a sua
mão na minha, soltando-a quando ele se voltou para mim.
— Minha mãe e eu... — Mal nos conhecíamos, mas por algum motivo
não queria que pensasse o pior de mim. — Temos uma relação bem
complicada.
— Não precisa se explicar, Serena. — Ele voltou a sorrir para mim
como se nada tivesse acontecido. — Escuta, preciso me arrumar para o
trabalho. Está pronta para ir?
Mordi o lábio inferior e assenti.
O silêncio nos acompanhou até o prédio, mas mil perguntas se
passavam na minha cabeça.
De um vizinho sem face ele se transformara em um homem com uma
coisa?
Deixei um riso de nervoso me escapar, girando a taça de vinho nas
mãos.
— Hum, o de sempre. Minha mãe está tentando me convencer a passar
o Natal em família. — Fiz uma careta, lembrando-me da última mensagem
que recebi dela em letras maiúsculas, pedindo para eu parar de ignorar as suas
ligações.
Cora entortou a boca coberta por um batom rosa pink já desbotado e
balançou a cabeça, seu cabelo loiro deslizando por cima dos ombros com o
movimento. Ela tinha olhos meigos de um tom de verde calmo, naquele
momento eles me fitavam com empatia.
— Já decidiu o que fazer?
conhecia direito.
— Aha! — Ela estalou os dedos. — Sua cara já disse tudo, me conta
logo.
— Já te contei sobre o novo vizinho. — Tentei soar blasé.
— O barulhento. — Assentiu. — O que tem ele?
— Bem... — Exalei baixinho. — Eu o conheci pessoalmente, ontem
esbarrei com ele na cafeteria e...
— E o quê?
Isso aqui não é um dos seus livros de romance não, é a minha vida. E você
sabe muito bem que não acredito nessas coisas.
— Você realmente não acredita no amor?
— Eu acredito nos amores de ficção, onde os personagens são feitos,
irmos?
— Tudo bem.
Brindamos mais uma vez ao seu novo livro e nos despedimos com a
promessa de que eu leria os últimos capítulos ainda naquela noite.
Cheguei ao apartamento um pouco antes da meia-noite, aumentei o
termostato, escovei os dentes e tirei as roupas, trocando-as por um
conjuntinho de flanela. Aconcheguei-me na cama com o meu Kindle, pronta
para ler o último arquivo que Cora havia enviado. Minhas coxas se
esfregaram uma na outra quando cheguei na cena erótica, os personagens
Não fazia ideia de como eu havia parado ali, e nem queria pensar
muito nos pormenores, a única certeza é de que eu estava gostando.
Gostando era eufemismo.
Eu estava adorando.
Enquanto ofegava esparramada em sua cama, sem conseguir sentir
direito as pernas depois da segunda onda arrebatadora de prazer, ele se
levantou e caminhou até a escrivaninha. Assisti com um sorriso lânguido à
sua figura de costas, prometendo a mim mesma que morderia aquela bunda
No sonho era eu quem estava com ele na noite passada, mas éramos os
personagens de romance da Cora, reproduzimos todas aquelas cenas eróticas
e um pouco mais. Foi um daqueles sonhos tão reais que despertei com os
resquícios das sensações, por um breve momento podia sentir o gosto do seu
Mas eu não era o tipo de pessoa que conseguia entregar meu corpo sem
entregar um pedaço do meu coração também.
Portanto, como ainda não me sentia preparada para começar uma nova
relação, meu vibrador fazia um bom serviço.
Soltei um longo suspiro antes de abandonar o conforto do meu
colchão, calcei minhas pantufas e fiz um coque desleixado no alto da cabeça
enquanto caminhava até o banheiro. Assim que tive um vislumbre do meu
reflexo no espelho fiz uma careta, havia me esquecido de retirar a
maquiagem.
quando era questão de vida ou morte. Ou para brindar um livro, como foi o
caso na noite anterior.
— Why so serious? — falei com a voz rouca e abri um sorriso largo,
uma imitação quase perfeita do Coringa adaptado por Heath Ledger.
Depois de limpar o rosto, parecendo humana novamente, coloquei os
meus óculos gatinho e fui até a cozinha preparar o café da manhã, mas não
havia chocolate em pó o suficiente.
— Droga, me esqueci de fazer as compras — choraminguei com
nervos.
Ah, o mistério da calcinha desparecida foi desvendado.
— Obrigado? — Soou como uma pergunta, seu sorriso parecia mais
uma careta, e talvez fosse mesmo.
Tapei a boca tentando abafar o riso à tempo, mas não tive sorte.
Ambos olharam para mim no mesmo instante, fingi uma crise de tosse
e pude sentir a minha face em brasas.
Descongelei os meus pés do lugar e praticamente corri em direção do
elevador, pressionei o dedo no botão com força, rezando para que daquele
jeito ele chegasse mais rápido.
— Anda, anda... — implorei baixinho.
No entanto, o barulho de saltos altos se aproximando pelo corredor me
sabia que Luke não estava mais ali, pois ouvi o som da porta se fechando.
Comprimi os lábios e assenti, entrando rapidamente no elevador assim
que a porta de ferro se abriu.
De esguelha a vi ligar para alguém, seu celular colado na orelha, no
contrário. Ele vai enxergar que fomos feitos um para o outro. Até deixei a
minha calcinha debaixo do travesseiro dele, a clarividente me garantiu que
essa simpatia funciona.
Meu Deus, a mulher não batia bem da cabeça.
algo, ou alguém.
— E o moço bonito, não vem?
— Como vou saber? — Encolhi um ombro. — Não nos conhecemos.
— Não foi o que pareceu na segunda-feira — retrucou com um brilho
coração e a ardência por trás das pálpebras ao passar por casais apaixonados e
vitrines com decorações natalinas.
Até pouco tempo atrás eu amava essa época do ano, acreditava na
magia do Natal, mas agora tudo o que sentia era desencanto.
mas não conseguia achar os marshmallows. Minha bebida matinal não seria a
perfeição de sempre sem os pedacinhos daquelas guloseimas que derretiam
na boca.
Percorri meus olhos pelo lugar onde costumava encontrá-los,
suspirando em alívio ao avistar os últimos dois sacos na prateleira do alto.
Estiquei os braços e fiquei na ponta dos pés, mas ainda assim não
conseguia alcançar.
Uma mão masculina ultrapassou a minha, pegando os meus bens
preciosos.
Até outra semana eu nunca o tinha visto na vida, agora parecia que ele
surgia em todo lugar!
Será que existia alguma lei da física que explicava esse fenômeno?
Ou era só má sorte mesmo?
Ele me fitava com uma expressão divertida, suas sobrancelhas erguidas
e um sorrisinho de canto.
— Calma esquentadinha, eu peguei para você. — Entregou-me os dois
pacotes.
fingir procurar por algo a mais naquela mesma prateleira para me ocupar e
não fazer papel de boba.
— Precisa que eu pegue outra coisa que não alcança? — perguntou ao
meu lado, sua voz soou pertinho do meu ouvido e eu estremeci, perdendo o
sua frente.
— Trabalhei um tempo em um restaurante italiano quando era novo.
— Analisou algo na prateleira e finalmente encontrou o que buscava,
virando-se com uma garrafa de champanhe nas mãos. — Aprendi algumas
coisas.
Mas eu já não prestava mais atenção no que dizia porque de repente
meu coração deu uma guinada e bombeou fogo por todas as minhas
extremidades.
Eu só conseguia enxergá-lo nu com o champanhe, derramando o
líquido em minha pele antes de saboreá-lo junto ao meu corpo.
Mordi o lábio e balancei a cabeça, dissipando as imagens do sonho e
me agarrando à realidade, morrendo de medo que ele lesse os pensamentos
E olha que eu nem era boa em física, mas não podia negar que daquele
físico eu gostava.
Capítulo 4
Nunca fui boa com interações, sempre fui melhor em escrever do que
falar.
E esse pensamento me lembrou do trabalho à minha espera.
Soltei um longo suspiro e segui com a rotina.
Por algum motivo estava bastante inspirada, além do normal, as vozes
dos personagens soavam frenéticas e eu precisava pedir para eles se
acalmarem, pois meus dedos não eram tão ágeis. Minhas bochechas doíam de
tanto que eu sorria, sentia-me exultante, e tinha certeza de que conseguiria
tempo passar.
Sabia que meu celular tinha recebido algumas mensagens mais cedo e
finalmente fui conferir, torcendo para não ser outra ameaça da mamãe, apesar
de eu já ter dito que não passaria o Natal lá.
Cora: Novidades?
Cora: Esbarrou com o vizinho gostosão de novo?
Ri alto e balancei a cabeça.
Sabia que não deveria ter falado nada sobre o Luke. Conhecia a peça,
agora ela ficaria me perguntando dele e sonhando com um romance
improvável entre nós.
Serena: Estou quase terminando o livro, consegui sair do bloqueio!
Minha mensagem foi visualizada na hora e logo recebi uma resposta.
Caminhei distraída até lá, abrindo-a sem conferir quem era enquanto
digitava no celular. Pensei se tratar da senhora do andar de baixo que sempre
perdia o seu gato fujão e o procurava por todo o prédio. Não pude estar mais
enganada.
jantou?
— Ainda não.
— Por que não vem jantar comigo? — Fez o convite de forma
despretensiosa. — Eu preparei mais do que devia, ainda não me acostumei a
cozinhar para uma pessoa só e sempre sobra.
Para quem mais você costumava cozinhar?
Mordi o interior das bochechas, contendo a pergunta.
Enquanto ponderava se era uma boa ideia ou não, meu estômago se
decidiu por mim. Ele vinha reclamando da fome fazia algumas horas, pois eu
só havia comido um sanduíche no almoço e mais nada. Além do mais, ao
ouvir a palavra “nhoque” minha boca se encheu d’água, eu seria boba se
recusasse.
— Tudo bem, se não for incômodo...
Ele deu uma batidinha no balcão de mármore antes de se afastar e se
virar em direção à porta. Eu continuei presa no lugar, assistindo-o.
— Você não vem? — perguntou da soleira.
Balancei a cabeça em afirmativa, e o segui.
americana com uma ilha de mármore branco, era de muito bom gosto e
separava aquele ambiente da sala de estar.
Embora estivesse curiosa para conhecer o resto da casa, Luke puxou
um banco para eu me sentar em frente à ilha. Sobre ela já estavam a salada e
os utensílios, precisei conter um riso ao ver dois pratos dispostos, o danado já
esperava pela minha presença antes mesmo de eu aceitar o convite.
— Já está tudo pronto — comentou ao retirar um refratário de vidro do
forno e colocá-lo sobre o balcão, depois pegou o ralador e passou a salpicar o
o movimento.
— Sem problemas — ele disse com a voz enrouquecida, então se
afastou, levando consigo o seu calor, mas jurava que ainda podia sentir os
rastros de fogo que deixara na minha pele.
Se eu já não estava vermelha, com certeza estaria naquele instante.
Encarei a taça agora vazia sobre o balcão, recriminando-me por ter
bebido tanto, já estava sentindo e imaginando coisas absurdas.
— Enfim — voltei a falar como se nada tivesse acontecido —, quero
passar o Natal aqui, mas não tenho certeza, provavelmente acabarei cedendo
às coerções da minha mãe e passarei com a família.
Ele assentiu em silêncio, mas seu rosto denunciava curiosidade, talvez
não entendesse o motivo de eu preferir ficar sozinha quando tinha uma
família.
— E você?
— Vou ficar aqui. — Baixou o olhar para o seu prato vazio, e aquele
gesto me deu um aperto no peito.
— Sozinho?
— Sim.
Abri a boca, mas acabei fechando-a logo em seguida.
Diferente de mim, a ideia de passar o Natal sozinho não parecia ser
uma escolha sua, queria perguntar, mas não sabia se tinha esse direito.
Soltei um suspiro, resignada por ele ter visto aquilo, devia estar
pensando o pior de mim.
— É melhor — confirmei, pegando o aparelho para desbloquear o
resto da mensagem.
Mãe: Está sendo egoísta como sempre, depois de tudo o que fiz por
você! Por que não é como a sua irmã? Por que sempre tem que arruinar
tudo?
Eu: Não estou arruinando nada, mãe. Posso te visitar em qualquer
outro dia, menos quando eles estiverem aí.
— Bem, obrigada pelo jantar, estava uma delícia — agradeci sem jeito.
— Obrigado você pelo queijo — retrucou com um sorriso enquanto
colocava os pratos e todo o resto no lava-louças. — Fez toda a diferença.
Quando ele disse aquelas últimas palavras, olhando-me fundo nos
olhos, parecia estar agradecendo por outra coisa e permiti-me acreditar ser a
minha companhia.
Talvez fosse bom tê-lo como amigo, pois eu não tinha muitos.
Sorri de volta, sabia que ele tentava melhorar o clima, mas eu ainda me
sentia estranha depois das mensagens que recebi. Por isso forjei um bocejo e
avisei ter de ir embora. Luke não tentou me convencer a ficar, deve ter
percebido minha mudança de humor, e acompanhou-me até a saída.
— Boa noite, esquentadinha — falou antes que eu atravessasse a porta.
Estávamos quites.
Antes que ele pudesse dizer alguma coisa de volta, acenei um breve
tchau e fui embora, achando que não o veria tão cedo novamente.
Estava enganada.
— Qualquer coisa?
— Sim, faço qualquer coisa!
Mordi o lábio inferior, ponderando, então assenti.
— Ok, você quem pediu por isso — falei sem esconder o riso.
Andei até a porta e a escancarei, colocando a cabeça para fora e
encontrando a loira com um dedo em riste no interruptor da campainha.
— Oi, você está procurando por Luke? — Fiz a minha melhor cara de
inocente.
— Sim! — A moça se aproximou com os seus saltos agulha, estava
vestida como se estivesse pronta para a noitada, mas não passava das oito da
manhã. — Sabe onde ele está?
— Não ficou sabendo? — sussurrei de forma conspiratória, inclinando-
me para que ela me escutasse. — A esposa dele chegou aqui com duas
crianças e deu o ultimato, ou ele voltava para casa ou pagava a pensão. Então
voltou.
Ela arfou alto, espalmando o peito.
— Ele era casado? — perguntou com os olhos se enchendo de
lágrimas, fiquei até com pena. — Mas ontem mesmo a clarividente me
afirmou que eu conheci a minha alma gêmea...
— Talvez você tenha se confundido. — Entrei na onda, tentando soar
séria, apesar do riso borbulhando dentro de mim. — Será que ela não se
— Fique à vontade.
— Você tem bastante livros — comentou, bisbilhotando a estante que
dominava boa parte da parede da sala.
Assenti enquanto colocava os ovos mexidos em dois pratos.
— Legal, já leu todos eles? — Deslizou a ponta dos dedos pelas
lombadas, lendo os títulos em silêncio.
— Sim, mais de uma vez até. — Mordisquei o lábio. — E alguns deles
eu mesma escrevi.
— Sério?! — Fitou-me surpreso, depois voltou a observar a estante. —
me ajudasse a relaxar.
— Já sei — murmurei, indo atrás do vinho e me servindo em uma
caneca mesmo. Afinal, já vestia pijamas e estava sozinha em casa, pouco me
importava com formalidades.
Dei um longo gole, tentando não me preocupar com o lançamento, e
nem com a ligação que recebi da minha agente naquela manhã de sábado.
Ela me questionou se eu não gostaria de publicá-lo de forma
tradicional, pois uma renomada editora tinha interesse nele. No entanto,
aquilo adiaria a sua publicação. Além do mais, essa história fazia parte de
Portanto, tão logo encerrei a chamada, trabalhei com afinco para deixar
o manuscrito pronto, dando os toques finais na diagramação, só parando
minutos atrás ao me dar conta de já ser noite. Em contrapartida, consegui
finalizar à tempo, e poderia tirar alguns dias de folga durante as festas de fim
de ano antes de entrar de cabeça na próxima história.
Cora: Ah, meu Deus, acabei de ver o seu manuscrito diagramado
na minha caixa de entrada! Parabéns, ficou lindo!
Eu: Mal terminei esse livro e já preciso começar outro, socorro!
vinho que eu havia deixado ali. — Não deixe nenhum detalhe de fora!
Ri, balançando a cabeça.
— Veio mesmo aqui só para saber do meu vizinho?
— Pelo visto é mais que um vizinho, né?
Não sei por quê, mas minhas bochechas arderam em brasas.
— Sabia! Você não me engana com esse papinho de “não foi nada
demais”. — Sorriu ao gesticular a frase entre aspas.
Rolei os olhos.
— Amiga, eu não sou um personagem de romance clichê, não — falei,
Hoje ele parecia um astro do rock com aquela calça jeans lavada,
camiseta preta que abraçava o seu corpo e anunciava para o mundo o abdome
definido, jaqueta de couro e, para completar, coturnos. Só faltava a guitarra,
mas em seu lugar estava uma caixa, e o cheiro que vinha dela era de dar água
na boca.
— Gosta de pizza de pepperoni? — foi a primeira coisa que disse ao
me ver.
Assenti, erguendo as sobrancelhas.
gesto que lhe dizia estar em apuros. Ela não se abalou, pelo contrário, soltou
um risinho.
Numa tentativa vã de desviar a atenção do meu vizinho para qualquer
coisa, menos para o fato de que eu conversava sobre ele com a minha amiga,
abri a tampa da caixa.
— Foi mal, não sabia que já tinha outros planos. — Ele colocou as
mãos dentro dos bolsos da calça.
— Nada, eu já estava de saída! — Cora pegou sua bolsa e me deu um
Segurei seu braço, puxando-o de volta à cozinha. Ele riu, mas não insistiu
naquele papo, graças a Deus.
Em meio à sua visita inesperada logo após falar dele para a minha
amiga, e da reação de Cora ao conhecê-lo, mal consegui fazer nada além de
tentar sobreviver à situação constrangedora.
Mas agora, ao me servir da pizza, finalmente pude relaxar. Além do
mais, não havia motivo para me sentir estranha com o Luke, já o considerava
um amigo e, mesmo o conhecendo em tão pouco tempo, sentia-me à vontade
com ele.
Luke não parecia se importar com as minhas tendências geek e meu
jeito esquisito, ao seu lado eu podia ser quem realmente era.
— Obrigada por isso — murmurei antes levar a fatia até a boca, e
precisei conter um gemido ao sentir o rico sabor e a textura perfeita da massa.
— Gostou? — Soou divertido.
Concordei com a cabeça, ocupando-me com outra grande mordida.
— Tão bom assim? — Riu quando emiti sons de contentamento.
— Uhum — confirmei, lançando um olhar cheio de desconfiança para
pele.
Deus, o que eu ia falar mesmo?
Pisquei algumas vezes, tentando desatar meus pensamentos que de
súbito se emaranharam ao redor do meu vizinho.
mortificação.
— William e Sarah merecem ser felizes, eles se amam e essa sua
inveja os magoa. Está na hora de você vir e se reconciliar com eles.
Inspirei fundo e exalei.
calor.
— O que está acontecendo? — Sua voz firme fez-me destapar os olhos
para encará-lo, encontrando-o de braços cruzados e com uma expressão
fechada. — Claramente essa ligação te chateou, o modo como ela falava com
você...
— Eu vou te contar, prometo — interrompi suas palavras com o
coração acelerado. — Mas não agora, por favor.
Não estava preparada.
— Você não comentou sobre seus pais morarem no outro lado do país,
esquentadinha — Luke disse assim que me viu, agitando a tela do seu celular
com as informações do voo que eu tinha enviado na madrugada.
— Isso é um problema? Eu não pensei. — Mordisquei o canto da boca.
— Simplesmente me esqueci de avisar.
— Não, não é problema. — Seguiu-me para dentro do apartamento e
foi comigo até o quarto. — Mas sabendo que não vou poder dar uma
passadinha no trabalho durante esse período, preciso delegar algumas coisas.
— Não posso usar isso, minha mãe as odeia. — Fiz uma pequena
careta. — Quero minimizar minha dor de cabeça quando estiver lá, e não vai
ajudar em nada tê-la me enchendo o saco sobre como me visto mal.
— Bem, eu gosto delas...
rosto. — Mas se quer que eu finja ser o seu namorado, preciso saber o que
aconteceu, ou pelo menos como lidar com a situação.
Abaixei o olhar, mas assenti.
Tentei me esquivar desse assunto o quanto pude, mas Luke estava
certo, se eu quisesse que esse namoro de ficção parecesse legítimo, ele tinha
de saber.
— Tudo bem, mas com uma condição.
— Diga. — Seus polegares afagaram minhas bochechas, ateando fogo
nelas.
Desvencilhei-me sutilmente, deixando os cabelos cobrirem parte do
meu rosto para esconder minha reação ao seu toque.
— A cada informação minha que eu der, você tem que retribuir com
uma sua.
— Combinado — concordou.
— E outra coisa... — falei e ele riu, erguendo as sobrancelhas em
expectativa. — Precisamos de regras.
— Que tipo de regras?
devemos nos comportar como namorados. Mas nada de exagero, não vai ser
necessário beijo de língua e pode controlando essas mãos bobas!
— Você é quem manda, Serena.
— Se sou eu que mando... — Tentei manter o clima leve entre a gente,
lançando um sorriso travesso. — Que tal você me acompanhar hoje? Preciso
de sua ajuda.
— Com o quê?
— Compras.
Ele esfregou a nuca, sorrindo de volta como se não acreditasse no que
como era possível, mas Luke estava mais lindo do que nunca com seus jeans
rasgados na altura dos joelhos, coturnos e camiseta preta simples com uma
jaqueta jeans por cima.
Ele era a personificação de um bad boy literário.
Pena que na vida real os bad boys não mudavam por amor como nos
livros, um romance com um homem desses estava fadado a um coração
partido.
Controlei meus pensamentos, varrendo aquela atração para um canto
obscuro da mente.
Ao sairmos pelo portão do prédio fomos brindados por uma lufada
forte de vento, fazendo-me estremecer. Luke deve ter percebido, porque no
mesmo instante passou seu braço por sobre meus ombros e me puxou para o
outros.
Provei no total dez vestidos.
Luke não foi de muita ajuda, tudo o que eu vestia, ele gostava.
Por fim acabei comprando quatro, dentre eles o primeiro que vesti,
depois de me enxergar pelos olhos do meu vizinho nele, senti-me linda e
desejada.
Uma mulher deveria se sentir daquele jeito todo dia.
Mas como não era o meu caso, pelo menos agora tinha um vestido que
— Em janeiro vai fazer dois anos. — Mordiscou seu lábio inferior com
uma expressão mais séria. — Quando minha mãe se foi, há quatro anos,
herdei alguns bens da família. Por um tempo não soube o que fazer com o
dinheiro, fiquei um pouco perdido durante alguns meses...
impossível.
Luke afagou minhas costas, a cadência suave dos seus dedos para cima
e para baixo acelerou meu pulso, mas de uma forma estranha também me
acalmou.
— Eu e William estávamos juntos há seis meses, achava até que ele ia
me pedir em noivado, a namorada do melhor amigo dele ouviu uma conversa
entre os dois e me confidenciou. — Continuei de olhos fechados. — Mas
tudo mudou quando William bateu os olhos na minha irmã.
O movimento acalentador em minhas costas parou abruptamente.
— Bem, nunca foi segredo de que Sarah é a sua filha predileta, acho
que eu me pareço demais com meu pai, ele a traiu e se casou com a amante
quando eu tinha três anos. Sarah é minha meia irmã.
Luke contraiu os músculos do rosto, sabia o quanto aquilo o fez pensar
terem traído a sua confiança. — Buscou por minhas mãos e entrelaçou nossos
dedos. — Os perdedores são eles, literalmente perderam alguém especial.
— Obrigada. — Funguei, tentando conter as pequenas lágrimas que se
formavam. — Mas de qualquer forma sinto medo, não quero desmoronar ao
confrontá-los. Vai ser mais fácil com você ao meu lado para amortecer a
queda.
— Pode contar comigo, eu não te deixarei cair.
Capítulo 8
— Cinquenta.
— Quê? — Uni as sobrancelhas sem entender.
— Aposto cinquentinha que vocês vão se apaixonar.
Soltei um riso alquebrado, sentindo suor frio brotar na nuca.
— Sim, mas não vou beber com você porque não quero viajar com
ressaca.
Cora encontrou a garrafa e se serviu, então me acompanhou até o
quarto.
— Por nada, mas tem outra coisa importantíssima que não está
levando.
— O quê?
Ela abriu sua bolsa, retirando de lá alguns preservativos.
lábios nos meus. Apesar do contato ter sido breve, deixou rastros de fogo em
minha pele, devastando-me.
— Tudo pronto para amanhã, namorada? — perguntou com a voz leve,
como se não tivesse acabado de me roubar um beijo. Então se afastou
minimamente para me fitar.
Aqueles olhos de diamante me fitavam tão de perto que tive medo, era
como se ele pudesse ler meus pensamentos, como se pudesse decifrar cada
batida do meu coração. Ambos diziam coisas inadequadas, coisas que ele
completamente dela.
— Ah, oi! Não sabia que estava aqui. — Meu vizinho a cumprimentou
com um sorriso fácil.
Sua reação despretensiosa só serviu para me lembrar de que nada era
real, e eu precisava me certificar de não confundir seu afeto como algo além,
ele só estava cumprindo o combinado.
— É, eu percebi — Cora respondeu com um brilho divertido nos olhos.
— Eu já estava de saída, mas queria desejar a vocês uma boa viagem
amanhã.
— Obrigado — Luke agradeceu, colocando as mãos dentro dos bolsos
da calça jeans.
— Obrigada, amiga. — Aproximei-me dela que já rumava em direção
a saída.
Antes de ir, virou-se para mim no batente e me abraçou.
— Ele te quer! — sussurrou no meu ouvido.
Suas palavras eram ludibriantes, acelerando meu pulso com a mínima
probabilidade.
— Não quer não. — Balancei a cabeça em negativa, forçando um riso.
—
O que você viu foi ilusão de ótica.
— De onde eu estava parecia muito que ele te beijou — cochichou,
— Não foi nada demais, nós combinamos para não parecer falso
quando estivermos na frente da minha família.
Minha amiga comprimiu os lábios como se contivesse um riso, sua
expressão de descrença era nítida.
— Quê? — reclamei baixinho para Luke não nos escutar. — É a
verdade!
— Nada. — Atravessou a porta, acenando em despedida. — Só estou
pensando no que vou gastar com o dinheiro que ganharei da aposta — falou
mecha do meu cabelo entre os dedos. — Saímos daqui às seis e meia, certo?
— Isso — murmurei, forçando-me a não reagir com a sua
aproximação.
Mas quando Luke colocou a mecha para atrás da minha orelha, naquele
gesto agora tão familiar, os nós dos seus dedos afagaram minha pele,
fazendo-me estremecer.
— Então é melhor irmos dormir se quisermos tirar algumas horas de
sono. — Afastou-se.
— Ok. — Foi tudo o que consegui dizer.
— Boa noite, esquentadinha.
— Noite — respondi, observando-o ir.
Já não tinha tanta certeza se sairia ilesa desse acordo, mas era tarde
cheiro reconfortante.
— Ok, tem razão — sussurrei mais tranquila, suas carícias acalentando
as batidas do meu coração. — Aliás, o meu aniversário é no dia quinze de
janeiro.
do Luke.
— Acho que já sabemos o suficiente, namorada. — Depositou um
beijo no topo da minha cabeça. — Tente descansar um pouco.
— Ok... — Fechei as pálpebras, mas Luke se movimentou ao meu
— Uhum...
— Bem, eu estava certo, esse aqui subiu no topo da lista.
Bem ali, naquele instante, ele conseguiu roubar outro pedacinho do
meu coração. Precisei de muito esforço para não cair na doce ilusão e acabar
entregando-o todo o resto.
Luke era como um personagem fictício, por mais que eu gostasse dele
nada aconteceria entre nós, porque nosso romance não existia na vida real.
Era tudo mentira.
Capítulo 9
me estranhamente constrangida.
Até então havia omitido o fato da minha família ser rica porque não
queria que Luke pensasse diferente sobre mim ou desistisse de vir comigo
por não se sentir à vontade. Porém ele não disse nada, sequer parecia se
incomodar com aquela informação e se acomodou no banco do passageiro,
observando calmamente a cidade passar pela janela. Ao contrário de mim
que, quanto mais nos aproximávamos do nosso destino, mais o meu pulso se
acelerava e meus pés batucavam o assoalho.
nossas malas para dentro do closet. — Hum, eu e meu namorado não estamos
juntos há muito tempo, será que não tem outro quarto disponível?
— Desculpe. — Negou com a cabeça.
Num suspiro fechei a porta, andei até a cama gigantesca e me sentei,
sentindo-me sem energias.
— Ei, por que esses olhos tristes? — Luke surgiu ao meu lado,
afundando o colchão com o seu peso. — Se está preocupada em dividir a
cama comigo, posso dormi ali. — Apontou para o divã perto da janela.
Tive de rir, ele não caberia ali nem se estivesse dobrado ao meio.
— Não seja bobo.
Empurrei seu braço, amenizando o clima.
Ele viajou por mim e enfrentaria dias torturantes com minha família,
seria demais se dormisse de mal jeito também.
— Essa cama é tão enorme que, se dormirmos cada um em uma ponta,
sequer escutarei os seus roncos — complementei em tom de brincadeira,
embora por dentro surtasse.
Seria tentador demais me deitar com ele, e eu já estava por um fio.
Luke percorreu deliberadamente o seu olhar por meu corpo, foi tão quente e
sensual que evaporou as gotas d’água que escorriam em minha pele.
Ao menos foi essa a sensação que tive.
Depois ele murmurou algo, virou-se de supetão e se trancou no
banheiro.
Tive a impressão de que demorou além da conta no chuveiro, fazendo-
me pensar no que ele poderia estar fazendo lá e se estava se tocando
pensando em mim assim como eu me toquei pensando nele minutos antes.
Espalmei minhas bochechas coradas e comprimi um sorriso.
susto.
— Eu disse aquilo em voz alta? — perguntei, fitando-o pelo espelho da
penteadeira.
— Sim. — Com passos confiantes e postura dominante ele andou até
mim, meus olhos o seguiram cativos.
Parou por trás, colando seu peito nas minhas costas e aproximou sua
boca no meu ouvido, encarando-me através do reflexo.
— Sempre foi linda. Não precisa de maquiagem ou roupas elegantes
para isso, esquentadinha. — Virou o rosto e beijou minha bochecha, fazendo
minha pele arder de desejo, ansiando por mais. — Mas você neste vestido...
Prendi a respiração, esperando por suas próximas palavras.
— Você neste vestido está um espetáculo — murmurou, suas palmas
quentes afagavam meus braços enquanto seus olhos me contemplavam pelo
mas agora não sabia aonde estava com a cabeça por pensar aquilo.
William era o típico filhinho de papai, até poderia se passar por bonito
naquele seu estilo engomadinho, mas agora só enxergava feiura nele.
Além do mais, Luke revolucionou o parâmetro de beleza dos homens
para mim, arruinando-me para todos os outros.
Will não chegava aos seus pés.
E acho que ninguém chegaria.
Tentei me recompor, saindo daqueles pensamentos e quebrando o
silêncio embaraçoso.
— Luke, essa é a minha irmã Sarah e esse é o seu noivo William.
Enquanto eu fazia as apresentações, ele desatrelou nossos dedos a fim
de envolver minha cintura e me puxar para si, abraçando-me por trás. Apoiou
seu queixo no topo da minha cabeça, esticando o braço livre à nossa frente
para cumprimentá-los.
— Pessoal, esse é o Luke, meu namorado — completei.
— Olá — ele disse ao apertar as mãos dos dois. — Serena me falou
bastante de vocês. — Precisei conter meu riso com a expressão cômica que
minha irmã fez, obviamente preocupada com as informações que devo ter
compartilhado com ele.
William murmurou uma saudação com a cara fechada, Sarah parecia
prestes a dizer algo, mas foi interrompida pela voz que soou atrás de mim.
— Ah, você veio. — Minha mãe surgiu do corredor que dava acesso à
suíte master, analisando-me de cima a baixo enquanto caminhava na nossa
direção.
— Eu disse que viria — retruquei, sentindo meu peito se comprimir
com o modo frio no qual me recebeu.
— Bem, depois de tanta decepção me acostumei a não te levar a sério.
Então seu olhar desaprovador se recaiu sobre o Luke.
— Esse deve ser o namorado.
suportar melhor o tratamento diferenciado que mamãe tinha por suas filhas.
Ergui o rosto e encontrei seus olhos atenciosos presos em mim.
Ele desempenhava muito bem o seu papel de namorado, melhor do que
eu podia imaginar, e me flagrei desejando que aquilo não fosse uma farsa.
Desejava um dia ter alguém que me tratasse com o mesmo zelo e amor, e que
me olhasse da mesma forma que ele estava olhando para mim: como se eu
fosse o centro do seu universo.
— Obrigada — sussurrei, contendo a vontade de chorar.
Comi alguns dos frios que foram servidos para aplacar um pouco a
nossa fome enquanto aguardávamos por Harold. No meio tempo, os pais dele
desceram de um dos quartos de hóspedes e se juntaram a nós, dando atenção
para Sarah e seu noivo, mas praticamente me ignoraram. Eles nunca me
trataram como uma neta, pois não partilhávamos do mesmo sangue. Quando
pequena aquilo me magoava, hoje eu correspondia com a mesma indiferença.
Durante toda a conversa à mesa, que não me incluíam, Luke fazia
questão de me tocar e roubar minha atenção para si.
sem dar atenção para a família enquanto conversava com alguém no celular.
Notei a careta de desagrado da minha mãe, mas não ousou repreendê-lo por
trabalhar à mesa, pois era ele quem bancava a sua vida de luxo.
Aquilo me lembrou sobre o meu celular que estivera em modo avião
ouvia, e suspirei ao notar que todos se distraíram com a chegada dos Elliot.
— São os pais do Will — murmurei, mergulhando meu rosto em seu
pescoço para ocultar minha careta. Não sabia se ria ou se chorava. — Um dia
foram meus futuros sogros, mas agora são os da minha irmã.
Passar o Natal em família já estava sendo ruim, mas com a chegada
dos novos integrantes ficaria ainda pior.
Capítulo 10
— Ah, que assunto chato para se ter na ceia! — A sra. Elliot riu,
abrindo o guardanapo de pano e o colocando sobre o colo.
— Pode ser interessante, minha querida — seu marido contrapôs. —
Você contou para eles da boa notícia, William?
— Ainda não, estava aguardando a sua chegada — respondeu ao pai,
empertigando-se na cadeira com uma expressão presunçosa. — Fui
promovido à contador fiscal sênior.
Sarah abriu um sorriso orgulhoso, esfregando o braço do noivo.
— Estou muito feliz por você, meu amor. — Ela se inclinou para beijá-
lo e precisei desviar o olhar.
Apesar de já ter superado a traição, vê-los juntos daquele jeito
cutucava a ferida recentemente cicatrizada.
genuíno, mas pela expressão insultada do Will o comentário não foi bem
recebido.
— O cargo é meu por direito — retrucou, estufando o peito.
— Seria inconcebível colocar outra pessoa na função, quem mais eu
confiaria na minha empresa, senão meu próprio filho? — Sr. Elliot comentou,
sem se dar conta de que soou como um grande nepotista. — Ainda mais
agora que Will vai se casar e ser chefe de família.
— E quanto a você Luke, também é escritor como a Serena? —
Ele virou seu rosto bonito para mim, apertou minha nuca e me puxou
para um beijo discreto, resvalando a ponta do seu nariz no meu de forma
carinhosa antes de se afastar.
Voltei minha atenção ao prato praticamente intacto na minha frente,
mas meu estômago parecia cheio demais com todas aquelas borboletas se
alvoroçando dentro dele.
Com as mãos trêmulas, levei o copo d’água aos lábios e forjei
tranquilidade pelo resto da ceia, ignorando tudo ao redor, com exceção do
homem ao meu lado.
Amava o modo como ele fazia tudo desaparecer até que só restasse
apenas nós dois naquela sala.
— E quanto a vocês? — A voz da minha mãe penetrou meus ouvidos,
estourando a minha bolha da felicidade.
Pelo tom sabia que falava comigo.
Voltei meu olhar para ela, esperando que elaborasse a pergunta.
— Esse namoro é sério? — Inclinou a cabeça para o lado enquanto nos
analisava com frieza. — Há quanto tempo estão juntos?
Pela segunda vez o meu corpo se retesou, meu coração titubeou e
Ele abriu um sorriso lindo, segurou meu rosto com adoração e o ergueu
delicadamente até sobrar apenas um fiapo de distância entre nós.
— Parece que por toda a minha vida, e não é o suficiente — ele a
respondeu, colando a sua boca na minha e me arrancando um suspiro.
Seus lábios deslizaram suavemente pelos meus, dedos voltearam
minha nuca, puxando-me para mais perto, nossas respirações se mesclaram
perigosamente enquanto Luke prolongava o toque da sua boca macia na
minha. Aquele beijo, apesar de casto, durou mais tempo do que devia,
e fechei os olhos.
Continuei na mesma posição quando ouvi os seus passos se
aproximando, fingindo ter caído no sono, quando na verdade cada molécula
do meu corpo estava desperta.
Através das pálpebras percebi quando ele desligou a luz e logo em
seguida o colchão se moveu com o peso do seu corpo.
— Boa noite, Serena — murmurou baixinho.
— Boa noite. — Só sussurrei de volta mais tarde, quando a respiração
pelo rosto.
Um soluço me escapou, a dor persistia no peito mesmo após eu ter
acordado. Fiquei ali chorando e tremendo, incapaz de conter as lágrimas.
Ouvi um farfalhar ao meu lado e no instante seguinte senti a mão
fervor.
Sua língua deslizou provocadora pela costura dos meus lábios,
arrancando-me um suspiro. No instante em que entreabri a boca,
sucumbindo-me ao anseio, sua língua se chocou com a minha. Emiti um
pequeno gemido em deleite, enveredando meus dedos em seus cabelos eu o
puxei para mim, sedenta por aquele beijo proibido. Ele grunhiu baixinho,
mordendo meu lábio inferior para então sugá-lo sedutoramente antes de soltá-
lo.
para cima e para baixo, deixando rastros de fogo e desejo por onde tocava.
Retribuí suas carícias com as minhas, descendo minhas mãos por suas
costas, resvalando as pontas das unhas de leve em sua pele e o fazendo
arrepiar.
Ele desacelerou o nosso beijo, pressionando seus lábios nos meus uma
última vez antes de mergulhar o rosto em meu pescoço. Senti o seu sorriso
contra a minha pele e sorri também, encarando o teto sem acreditar no que
acabara de acontecer.
meus pulmões com o seu cheiro reconfortante, então amoleci em seu corpo,
sentindo-me protegida.
— Boa noite — sussurrei, embora soubesse que não conseguiria cair
no sono tão cedo, não depois daquele beijo.
Mas no embalo das batidas do seu coração e dos seus braços protetores
ao meu redor, acabei adormecendo antes do que imaginava.
Capítulo 11
dobrado para o alto com sua cabeça apoiada nele e aquela posição
evidenciava seu bíceps definido. Levantei o olhar, sem me mover muito com
medo de acordá-lo, e contemplei seu rosto pacífico. Ele era lindo, mas
enquanto dormia a sua beleza parecia angelical, me deu vontade de tocá-lo só
para ter certeza de que não era uma miragem, mas me controlei.
Uma das minhas pernas estava enroscada na sua, e em algum momento
da noite o lençol foi empurrado para os nossos pés. Aproveitei para espiar o
volume despontando por trás do seu moletom e contive um risinho ao
confirmar como ele era grande, correspondendo com o que senti
um beijo no topo da minha cabeça. — Bom dia — falei com a voz abafada.
— Feliz Natal, Serena — murmurou de encontro aos meus cabelos.
Afundei o nariz em seu peito, viciada no seu cheiro aconchegante, e
respondi com um sorriso acanhado.
— Feliz Natal, Luke.
Desvencilhei-me dele e me levantei antes que fizesse algo
constrangedor, como aprisioná-lo na cama comigo e coagi-lo a ser meu de
verdade.
Ainda pensava no nosso beijo de ontem e em como ele foi real e
Havia três blusas, todas com frases estampadas, bem no estilo que eu
gostava. Uma delas era de um tom de rosa claro e de mangas compridas,
quando li a estampa deixei um riso escapar.
“Desculpa o atraso, eu não queria vir.”
— Amei, obrigada! — Abracei o Luke apertado, soltando-o logo em
seguida para erguer a blusa que mais me chamou a atenção. — Vou até trocar
de roupa, quero vestir essa blusa hoje.
Imaginava a cara de horror da minha mãe quando lesse a frase, e me
senti vingada pela noite anterior. Não adiantava tentar agradá-la, sempre a
visse o quanto estamos felizes com o desenrolar das coisas, que algo de bom
nasceu em consequência dos seus atos.
Meu peito se comprimiu dolorosamente e um nó brotou na garganta,
impedindo-me de falar.
agarrou seu colar de pérolas, ofendida. Então se voltou para a filha predileta e
quando a viu, sua expressão de afronto se desmoronou.
Sarah havia começado a chorar, denunciando sua culpa.
— Não era para você ter visto aquilo. — Soluçou, como se fosse a
vítima e não eu. — Nunca foi a nossa intenção te magoar, simplesmente
aconteceu.
— Filho, isso é verdade? — A mãe do Will perguntou incrédula,
lançando um olhar decepcionado para ele.
amigos.
Virou-me em seus braços para me olhar, afagando meu rosto.
— Às vezes os vínculos de sangue não têm muita importância, Serena,
o que importa são as pessoas que escolhem ser sua família. — Encostou sua
testa na minha. — E você tem a mim, tem a Cora, e uma multidão de fãs que
a admiram. Você é muito amada.
Duas lágrimas despencaram dos meus cílios e sorri, cingindo meus
braços ao seu redor aproximando nossas bocas de forma instintiva.
— Obrigada — sussurrei, meus lábios acariciando os dele sutilmente.
— Por nada, esquentadinha — murmurou de volta, beijando-me
docemente antes de apertar meus quadris e se afastar. — Ah, consegui
reservar uma suíte para nós em um hotel não muito longe daqui.
boca.
Luke franziu sua testa em preocupação, acenei para ele de que estava
tudo bem e girei a maçaneta.
— Serena — minha irmã disse meu nome em súplica, segurando a
porta como se tivesse medo que eu a batesse na sua cara. — Por favor, me
escute.
Cruzei os braços em meu peito, tentando escudar meu coração, e dei
um passo para trás, permitindo sua entrada.
De esguelha vi Luke entrando no banheiro para nos dar privacidade,
mas saber que ele estava por perto me reconfortou, dando-me forças para
aguentar o que fosse que minha irmã tivesse para me dizer.
— O que foi? — Minha voz soou dura, defensiva.
Ela me fitou com seus olhos avermelhados, o rosto inchado pelo choro
se contorcendo como se prendesse uma nova onda de lágrimas.
Aquilo me irritou profundamente, que droga, qual era o seu problema?
Foram suas escolhas que nos levaram até aquela situação, que nos
afastou e quebrou qualquer laço de fraternal que tínhamos, o que já era quase
nulo.
Sarah e eu nunca fomos muito amigas, não tínhamos nada em comum
e a diferença de idade nos separava ainda mais.
No entanto, quando a olhava agora, enxergava uma estranha a qual não
abaixando a cabeça envergonhada. — Por que não esperar que ele terminasse
comigo antes de ficarem juntos?
— A-aconteceu — titubeou, erguendo os olhos molhados. — Eu me
apaixonei por ele.
— Em menos de uma semana? — indaguei.
— Sim, Serena. — Confirmou com a cabeça. — Pode não acreditar,
mas é a verdade.
Comprimi a boca, sem saber o que dizer, só queria ir embora e deixar
tudo aquilo no passado.
— O amor não tem prazo certo para acontecer, e posso soar como uma
vadia por dizer isso — continuou enquanto me olhava fundo nos olhos —,
mas não me arrependo por ter ficado com ele, só me arrependo pela maneira
que tudo aconteceu.
de cabeça.
— Perdoo, Sarah — respondi, deixando um peso se esvair do peito. —
Mas se pensa que a partir de hoje seremos amigas como se nada tivesse
acontecido... — Neguei com a cabeça.
— Entendo — murmurou, desviando os olhos para o lado. — Bem, ao
menos espero que vá ao casamento, afinal você é minha irmã.
— Veremos.
Ela mordeu o lábio e assentiu, girando o corpo na direção da porta,
olhou-me pela última vez por sobre o ombro e então se foi.
odiava, porque comprava para mim nas manhãs em que nos encontrávamos e
eu tinha pena de recusar, apesar de fazer careta a cada gole. Ele nunca me
notou realmente, não como o Luke me notava.
Balancei a cabeça para apagar aquelas lembranças, e me recriminei por
teimar em comparar os dois homens, não tinha propósito algum.
De repente oscilei sobre as pernas, agarrando-me no braço do Luke.
Depois que a adrenalina causada pelo confronto com minha família se
esvaiu do meu corpo, sentia-me zonza. Precisava comer urgentemente ou
então desfaleceria. Merecia uns pãezinhos recheados da Nana, mas como ali
— Esse foi o único lugar por perto que encontrei no dia do Natal,
tivemos sorte que alguém cancelou a reserva — Luke disse ao passar nosso
cartão-chave no leitor da porta, abrindo passagem. — Espero que goste.
— Aqui está ótimo! — falei antes mesmo de entrar e prestar atenção
no ambiente.
Mas assim que atravessei a porta, meu queixo caiu, porque aquela suíte
era bem melhor do que poderia ter imaginado.
Deparei-me com uma ampla sala com decoração de bom gosto, no
centro havia um bonito sofá com uma mesa de centro, mais ao fundo um
balcão em semicírculo do bar privativo nos brindava com um balde de
champanhe, e logo ao seu lado tinha algo que me surpreendeu.
— Você sabia sobre isso? — perguntei pasma, apontando para a
jacuzzi no interior da sala.
— Não — respondeu rindo. — Mas pode apostar que vamos usá-la.
Fiquei sem fala, meus passos agora animados me carregaram ligeiros
para conhecer o resto do lugar.
O quarto esbanjava uma cama king e me sentei nela, alisando o lençol
— Deus, que dia! — falei em meio aos risos. — E olha que ele mal
começou.
— Como você está se sentindo? — perguntou com uma voz risonha,
apesar de saber que falava sério, preocupava-se comigo.
Encolhi os ombros.
— Estou bem. — Exalei, virando o corpo de lado e apoiando as mãos
de baixo do rosto. — Só um pouco cansada, mas não fisicamente, sabe?
— Quer tentar dormir mais? — Brincou com uma mecha do meu
cabelo enquanto falava comigo, acelerando meus batimentos cardíacos.
comparar muito.
— Eu sei de um lugar onde podemos ir mais tarde, acho que vai gostar.
— Combinado, enquanto isso, que tal passarmos o dia naquela jacuzzi?
Mordi o lábio, tentada em aceitar o convite, mas sentindo um friozinho
na barriga só de pensar em nós dois lá dentro, parecia muito íntimo.
Também havia outro detalhe que me impedia.
— Não vai rolar, não trouxe biquíni.
Seu sorriso se tornou travesso e foi sua vez de morder o lábio, mas
diferente de mim, seu gesto era pura sensualidade, fazendo meu coração
colapsar no peito.
— Sem problemas, pode ficar sem, não me importo.
Aquele homem era um perigo para a minha saúde, acabaria me
infartando.
comportadas, ainda que mostrasse boa parte da minha bunda, não era
tanguinha como as outras. Suspirei, virando-me de um lado para o outro a fim
de conferir se tudo estava no lugar, peguei o roupão e o vesti. Então fui atrás
dele, meus passos lentos e hesitantes em contraste com as batidas aceleradas
do coração.
Luke estava ao lado da banheira já quase completa d’água, segurava
um frasco de sais de banho que o hotel oferecia de cortesia, quando me ouviu
se virou para mim.
Ele entrou primeiro e esticou o braço para mim, segurando minha mão
e me conduzindo para dentro da banheira redonda e cheia de espuma.
— Hum... — gemi em contentamento, relaxando ao sentir os jatos de
água morna massageando meus músculos.
— Está boa, né? — Riu do meu lado, esgueirando uma mão na minha
nuca, complementando a massagem que eu recebia com as pontas dos dedos,
fazendo-me arquejar.
Virei o rosto lentamente na sua direção, meu corpo amolecendo com as
sensações prazerosas, o estresse dos últimos dias se dissipando, minha guarda
abaixando.
Mordi o lábio e sorri languidamente, assentindo.
— Obrigada por vir comigo — sussurrei, transmitindo minha gratidão
através das palavras. — E obrigada por isso, por tentar salvar o Natal.
dentro de mim.
— Por quê? Você não quer?
Querer eu queria, e muito. O problema não era esse.
— Porque não posso. — Decidi ser sincera, mesmo que soasse como
uma boba aos seus ouvidos. — Não sou como você, Luke. Não consigo ter
um relacionamento casual, eu me apego rápido.
Engoli em seco, porque “se apegar” foi uma forma muito sutil de
explicar o que realmente estava acontecendo comigo.
— É isso o que pensa de mim? — perguntou, unindo as sobrancelhas.
arranhando tudo por dentro —, porque passei pelo mesmo com a minha noiva
e meu melhor amigo.
Ofeguei, meu coração se comprimindo dolorosamente ao compreender
o que dizia. Levei as mãos até seu rosto, tocando-o com as pontas dos dedos,
familiarizando-me com ele sob aquela nova luz.
Deus, como não o enxerguei antes?
— Quando? — perguntei com a voz alquebrada.
— Há três meses. — Descortinou seus olhos, fitando-me com uma
mesmo comigo.
— Você ainda a chama de noiva... — Franzi o cenho, percebendo
tardiamente aquele detalhe.
Ele emitiu um som de aborrecimento, como se recriminasse a si
mesmo.
— Foram quase dois anos de noivado, às vezes o termo sai sem querer,
mas está tudo acabado entre nós — constatou, descendo as mãos pelos meus
braços e entrelaçando nossos dedos.
calcinha, arrepiando minha pele, roubando meu ar, aumentando meu anseio.
Em seus braços me sentia livre.
Finalmente cedi àquela atração avassaladora, sem mais reservas.
Suguei seu lábio inferior, ondulando instintivamente meu corpo ao seu,
ele revidou, mordiscando meu queixo em seguida, deixando rastros de beijos
pelo meu pescoço e me fazendo arquejar. Um braço cingiu minha cintura
com força e a outra mão subiu até minha cabeça, puxando meus cabelos para
trás, e então ele me fitou cheio de tesão, esquentando o sangue que corria
espalhavam pelo meu corpo todas as vezes que ouvia os gemidos e suspiros
escapando dos seus lábios, encorajando-me a provocá-lo ainda mais e
aumentando meu tesão.
Afastei ainda mais as coxas, pressionando-me em seu colo com
ousadia e sentindo o volume grosso e longo da sua ereção despontando da
cueca. Ele se impulsionou para cima com força em resposta e não consegui
conter o rolar dos meus quadris, buscando por alívio no ponto onde eu
pulsava de desejo. Um rosnar se esgueirou de sua garganta, seus dedos
agarraram meus cabelos com força, deslocando nossas bocas. Seu rosto
contorcido num misto de dor e prazer.
— Eu te quero muito, mas precisamos parar.
Não entendi como ele conseguiu se refrear, deveria ter poderes sobre-
humanos.
Nossos corpos estavam correndo uma maratona deliciosa, e faltava tão
pouco para alcançar a linha de chegada que era crueldade interromper nosso
avanço.
Deus, fazia tanto tempo desde que me senti daquele jeito com alguém.
mergulhou em meu seio esquerdo, sua boca sugando o mamilo por cima do
sutiã, espalhando choques de prazer por todas as minhas extremidades e
incitando o orgasmo.
Estremeci num grito mudo.
disse:
— Já transferiu o dinheiro para a minha conta?
Capítulo 13
recente pela qual ele passou, e o beijo que aconteceu logo em seguida.
— Quando estávamos nos beijando e a coisa esquentou, ele quis parar,
mas não deixei — cochichei envergonhada. — Agora não sei se forcei
demais a barra.
— Sabia que estava me escondendo alguma coisa — respondeu
animada, fazendo-me rolar os olhos. — Serena, duvido que ele não quisesse o
mesmo que você.
— Ele tinha acabado de me confidenciar algo triste, e o que eu fiz?
Ataquei o homem!
Minha amiga riu, jogando a cabeça para trás e tudo.
— Estou falando sério, Cora. — Minha voz saiu trêmula, fazendo-a
ficar séria ao notar a gravidade do meu nervosismo. — Ele está tomando
banho e não sei como reagir quando voltar de lá.
— Serena, não se preocupe, eu vi a maneira como Luke te olha.
Sorriu docemente, acalmando um pouco os meus receios.
— Ele me olha como?
— Como se você fosse o presente mais aguardado do Natal, e ele mal
beira do precipício. Estava em queda livre e não havia mais como voltar
atrás, só me restava aceitar minha situação.
Quebrei a nossa primeira regra: me apaixonei.
Minha mente não parava de voltar ao conselho que Cora me deu, eu
divertiu em ver.
Não havia muitos lugares legais funcionando naquele dia, quase tudo
estava fechado por conta do feriado.
Infelizmente tinha me esquecido desse pequeno detalhe e não
conseguiríamos ir no cinema ao ar livre, havia planejado assistir a um filme
temático com ele, aconchegados numa manta e beliscando besteiras.
Levei-o até o The Grove em vez disso, o shopping a céu aberto parecia
uma viagem a um mundo mágico, todo o lugar estava completamente
decorado, além das árvores e iluminações natalinas, havia enormes estrelas
De repente uma gota açoitou meu rosto, sequei a lágrima fugitiva com
o dorso da mão antes que Luke notasse, mas quando outras gotas frias
deslizaram por minha pele, percebi que não eram lágrimas.
— Oh, não. — Movi a cabeça para trás, sendo atingida pela chuva que
caía cada vez mais forte.
Luke se inclinou por cima de mim, tentando me proteger da
tempestade repentina com o seu corpo.
Os músicos pararam de tocar, apressando-se em guardar os
instrumentos, e as pessoas ao nosso redor corriam em busca de proteção.
Meu coração vibrava tão forte no peito que ecoava por todo meu
corpo.
A tempestade continuou firme e forte lá fora, Luke novamente tentou
me proteger da chuva ao sairmos do carro, tirando sua jaqueta e colocando-a
sobre minha cabeça enquanto percorríamos o curto caminho até entrarmos no
hotel.
Abandonamos nossos sapatos na entrada da sala, junto com as meias, e
seguimos para dentro deixando trilhas molhadas pelo caminho.
— Você precisa de um banho quente — falou ao atravessarmos a porta
da nossa suíte.
— Você também — retruquei, tocando em sua face e enxugando
rastros de chuva que escorriam do seu cabelo.
— Estou bem — disse, beijando a palma da minha mão.
congele.
Ele estava pertinho de mim e me fitou fundo nos olhos, suas mãos
tocaram as laterais do meu corpo, apesar de frias elas queimaram minha pele.
Seus dedos se enroscaram na barra da minha blusa, mas permaneceram
imóveis enquanto ele me olhava, esperando por um sinal.
Seu toque era como fogo, esquentando tudo em mim e derretendo o
gelo causado pelo temporal. Meu ar ficou em suspensão com a doce
expectativa.
Eu não precisava de sua ajuda para tirar a roupa, mas queria, não seria
Luke arrastou a barra da minha blusa para cima, os nós dos seus dedos
deslizando por minha pele, arrepiando-me. Embora o ar estivesse denso,
repleto de tensão e anseio, a gola grudou na minha cabeça e desalinhou meus
óculos, arrancando-me um riso de nervoso e quebrando completamente o
clima.
Ele riu também, ajeitando os óculos no meu rosto quando finalmente
consegui me livrar da peça de roupa. Flagrei seu olhar descer até meu busto
coberto apenas por um sutiã de tule com transparência, meus mamilos ocultos
Ele assentiu e passou por mim ligeiro, saindo pela porta e fechando-a
atrás de si.
Deus, o que foi que acabou de acontecer?
Luke parecia tentar fugir da óbvia atração que sentia, mas eu não
compreendia o porquê.
Ignorei minha frustração e retirei as peças íntimas, entrando debaixo
do chuveiro.
Meus olhos se fecharam automaticamente e exalei alto, permitindo que
a torrente quente dissipasse a tensão do meu corpo. Fiquei mais tempo que o
afastei.
Escolhemos nossos pratos e dei a primeira colherada, gemendo
baixinho em deleite.
Ele me lançou um olhar fortuito no mesmo instante em que espiei seu
perfil, então sorriu, acordando as borboletas no meu estômago.
— Quer provar? — Ofereci ao flagrá-lo me observando pela terceira
vez.
Luke desceu os olhos para a minha boca e anuiu, aproximando seu
rosto do meu.
Sua língua deslizou sutilmente para fora, lustrando seus lábios antes de
abri-los lentamente. Seus dedos envolveram meu pulso, guiando a minha mão
que segurava a colher para si. Ele emitiu um som de contentamento ao
saborear a sopa, seu olhar preso ao meu.
Meu coração deu uma guinada brusca no peito e ofeguei baixinho,
sentindo meu rosto em brasas.
— Deliciosa — murmurou antes de se afastar e voltar a atenção para o
seu próprio prato.
TV e coloquei no primeiro filme que vi, só para manter minha mente ocupada
e não surtar por dividir novamente a cama com o Luke.
— Simplesmente Amor? — ele comentou com um sorriso na voz,
ajeitou-se à minha esquerda e passou um braço por meus ombros, aninhando-
me ao seu lado.
— Sim, se importa? — Olhei para cima a fim de vê-lo, minha cabeça
estava deitada em seu peito e minha perna levemente intricada na dele.
— Não, até gosto desse filme. — Pressionou sua palma na minha
Se descobrisse que ele também leu os livros e não somente assistiu aos
filmes, não me responsabilizaria por meus atos, eu o obrigaria a ser meu ali e
agora.
Daria uma de louca, como aquela loira do elevador, e o convenceria de
dedos perigosamente perto da minha bunda. Mas não falou nada, e voltou a
me torturar com suas carícias.
Comprimi um sorriso e continuei com a minha trajetória, resvalando
delicadamente as unhas por sua extensão até alcançar o cós do moletom. Ele
palpitando.
Luke buscou por meus olhos e deve ter enxergado a sinceridade neles
porque logo depois devorou minha boca, voltando a me beijar.
Nossas línguas se enredaram, circundando e deslizando numa dança
sensual. Ele apertou minha bunda com uma mão enquanto a outra me puxava
pelo cabelo, guiando o compasso do nosso beijo. Abri as pernas,
pressionando-me em sua ereção, sentindo-me quente e prestes a explodir a
qualquer momento só pela fricção deliciosa de nossos corpos.
Mas eu precisava de mais.
Muito mais.
Estava prestes a vocalizar minhas vontades quando Luke me
surpreendeu, com um rosnar de tesão ele me alçou para o lado, colocando-me
de costas no colchão e se embrenhando entre as minhas pernas.
do peito. Deus, ele não queria? — Não tenho nenhum preservativo aqui
comigo.
Suspirei, abrindo um sorriso.
— Eu trouxe alguns, estão na mala! — falei rapidamente, praticamente
empurrando-o para fora da cama na direção da minha bagagem.
Ele riu, seguindo minhas ordens e voltando com as três embalagens em
mãos.
Teria que agradecer a minha amiga mais tarde, ela salvou minha vida,
Parecia muito com o que eu sentia por ele, e fiz uma silenciosa prece
para que não fosse uma miragem, ou só um mero reflexo dos meus
sentimentos no espelho dos seus olhos.
Capítulo 14
o seu coração, fisguei meu lábio entre os dentes, hesitando entre tentar outra
vez ou me acovardar. Esperava somente que o barulho da ligação cessasse
para me decidir, porém, assim que a chamada acabou, ela começou de novo
logo em seguida.
nosso andar.
Luke me ajudou a carregar as malas até o meu apartamento, mas não se
delongou por ali, precisava se arrumar e ir direto para o restaurante.
— Você vai ficar bem? — perguntou antes de ir embora, fitando-me
do batente.
Embora meu coração gritasse dentro do peito, almejando ser ouvido, as
palavras se entalaram na minha garganta e apenas assenti.
Sim, eu ficaria bem, só não naquele exato momento.
— Ok — ele disse, hesitando por um breve momento antes de
daquele beijo?
Ela não sabia sobre a minha volta repentina, não tive tempo de avisá-
la.
Serena: Estou em Nova Iorque.
Cora: Já? Pensei que fossem ficar em LA até domingo.
Minha amiga digitava rápido demais, sequer consegui responder
quando uma nova mensagem chegou.
Cora: O que aconteceu?
outro lado.
— Um dia me acostumo com todo esse glamour — comentei ao
abraçá-la, referindo-me à sua nova vida depois que ficou noiva de um rock
star.
Cora riu e quando nos afastamos notei o rubor em suas bochechas.
— Eu sei! Até hoje preciso me beliscar para conferir se não estou
sonhando — segredou, puxando minha mão e me carregando para dentro da
cobertura.
— Onde está o Alec? — perguntei ao me sentar no enorme sofá,
baterista.
— Temos a tarde toda só para nós — ela complementou, levando sua
taça à boca.
Aproveitei e fiz o mesmo, dando um longo gole da bebida a fim de
acalmar meus nervos, mas as minhas mãos tremiam tanto que quase derramei
o vinho na minha blusa.
— O que houve, Serena?
— Eu transei com ele, Cora.
ombro. —
Ele não seria a primeira pessoa a me decepcionar.
Depois de tantos desenganos eu já esperava o pior das pessoas.
Meu pai abandonou a família para ficar com a amante, minha mãe me
renegou desde que me entendia por gente e meu noivo me traiu com a minha
própria irmã...
A insegurança que eu carregava no peito foi semeada desde o berço,
enraizando-se e crescendo com o passar do tempo, toda vez que alguém a
regava com novas mágoas e desilusões.
— Amiga, não adianta ficar sofrendo por antecipação, você só terá
certeza se perguntar a ele.
— Não é tão fácil assim, Cora. Ele é meu vizinho, lembra-se?
mensagem alguma. Embora Luke tivesse prometido que nos falaríamos mais
tarde, aquele mais tarde nunca chegou e, quando voltei para o meu
apartamento naquela noite, dormi sem ter ouvido nada dele.
No dia seguinte ocupei minha mente com um livro, ou no caso tentei,
peguei-me precisando reler a mesma página várias vezes porque meus
pensamentos corriam para longe. Portanto desisti da história e liguei a TV,
acomodando-me debaixo da coberta enquanto tentava a todo o custo me
concentrar no seriado.
— Droga, o que está acontecendo? — Peguei o controle da televisão
ele trazia para mim quando tentava pagar pelo favor. Sentia falta dos carinhos
espontâneos, dos beijos roubados, do coração descompassado.
Sentia falta dele.
Odiava aquela quietude.
Chutei a coberta para longe e me levantei no impulso.
Talvez um banho quente me fizesse bem, limpasse aquela carência
para fora do meu corpo e a jogasse no ralo.
Não adiantava eu querer conversar com ele, abrir meu peito e
confidenciar meus sentimentos se ele não estivesse ali para ouvir.
Se até agora ele não havia dado notícias, então claramente estava me
evitando, e eu não seria mais o tipo de pessoa que corria atrás de alguém que
não estava interessado.
Depois de tudo o que passei, de doar meu coração só para tê-lo partido
onde ele estava, por que não falou comigo ontem como havia prometido e por
que não o ouvi chegar no apartamento. Não admitiria, mas fiquei acordada
até tarde aguardando por algum indício dele, mas ou Luke não dormiu em
casa ou chegou pela madrugada e saiu no raiar do dia. Ambas as opções eram
trágicas. Onde ele passou a noite e com quem? No entanto, mordi a língua e
tentei soar indiferente.
Serena: Sim.
Luke: O que acha de vir almoçar aqui no restaurante?
Luke: Preciso falar com você.
Engoli o coração que entalou na garganta e reli as últimas mensagens.
Uma das minhas perguntas mudas foi respondia, Luke estava no
restaurante.
E ótimo que ele queria falar comigo, porque eu também queria falar
com ele.
Oh, Deus. Chegou a hora.
Ao conferir rapidamente o horário, notei ser onze e meia.
Serena: Tudo bem, chego aí em trinta minutos.
Capítulo 15
local, aguardando na pequena fila até ser atendida pela hostess. Assisti em
silêncio uma pequena comoção quando uma mulher passou direto pelas
pessoas e demandou ser atendida com prioridade, não consegui ouvir o que
disse, mas ficou claro que se achava importante demais para esperar como
todos. O casal na minha frente não gostou nem um pouco daquilo, e desistiu
de almoçar ali, indo embora e me fazendo ser a próxima da vez.
— Bem-vinda, mesa para quantas pessoas? — a hostess perguntou
com um sorriso e sorri de volta.
Não era a mesma que havia me atendido da última vez que estive ali,
pois aquela estava ocupada guiando a mulher fura-fila para dentro do
estabelecimento.
— Obrigada, tenho uma mesa reservada pelo — titubeei, quase
referindo-o pelo primeiro nome — Sr. Moretti. Ele está me aguardando.
— Oh, mas... — Seu sorriso vacilou e notei como seus olhos se
arregalaram minimamente antes de se desviarem para o salão. — Qual é o seu
nome, por favor?
— Serena.
— Ok, um momento.
Mordi meu lábio em nervosismo e assenti, algo parecia estranho.
Talvez Luke tivesse se esquecido de avisar sobre a minha chegada, mas isso
não seria um problema, poderia esperar até que uma mesa vagasse. Ela se
virou de lado e a observei comunicar algo baixinho pelo rádio portátil, tentei
ler seus lábios e só entendi quando falou meu nome, e meneou a cabeça
positivamente ao dizer um “sim, senhor”. Quando a hostess findou a
comunicação, girou nos calcanhares e se aprumou. Seus olhos pareciam jogar
uma partida de tênis, indo de mim para um ponto adiante e, antes que ela
pudesse dizer alguma coisa, uma voz masculina se fez ouvir ao meu lado.
— Oi — Luke falou, beijando minha têmpora. — Pensei que já
estivesse na sacada, estava indo para lá te encontrar.
antes alegando estar ali para se encontrar com ele, portanto pensaram se tratar
de mim e a acomodaram na mesa reservada.
Ele pareceu muito confuso, mas não fez alarde.
— Vou lá conferir quem é, mas da próxima vez confirmem o nome na
junto dele.
— O que você está fazendo aqui? — Ele empalideceu ao mesmo
tempo em que seu corpo se retesou.
Sentada a uma das mesas estava a mulher que eu vira há pouco furar a
fila, ao ouvir a voz do Luke ela se levantou, elegante, alisando seu longo
vestido. Quando notou minha presença, lançou-me um olhar mortífero e
empinou o nariz antes de voltar sua atenção para o homem ao meu lado.
— Vim te convencer a voltar para casa — ela disse audaciosa, levando
a mão que vestia a aliança até o peito de forma premeditada, exibindo-a
altivamente.
Mas é claro que a ex do Luke tinha de ser linda.
Parecia uma Kardashian com seus cabelos pretos longos que caíam em
ondas impecáveis até a cintura fina, olhos escuros adornados por cílios
penderam sutilmente.
— Você só está aqui porque ele te largou, não é?
— Esquece ele. — Ela jogou as mãos para o alto em exaspero, no
entanto sua voz tremeu, denunciando a veracidade da acusação. — Eu cometi
estremecer.
— Ex-noivo — Luke rebateu. — E Serena fica — anunciou.
Por mais que eu odiasse deixá-los a sós, sentia que estava impedindo
que tivessem uma conversa pertinente.
Obviamente a relação deles não teve um ponto final apropriado se ela
pensava que ainda estavam juntos.
A mulher continuava usando a aliança, pelo amor de Deus!
Estava claro que aquele não era o momento certo para me declarar,
enquanto Luke não resolvesse suas pendências do passado, nós dois não
gato fujão...
— Serena. — A voz do Luke atravessou a porta, seguida por três
batidas.
Oh, Deus, era mesmo ele.
Por um instante cogitei fingir não estar em casa, tive medo do que
veria em seus olhos.
Será que enxergaria pena por ter decidido me rejeitar para voltar com a
ex?
Ou talvez indiferença, como se não devesse explicação para mim já
que nossa relação nunca foi real.
Cerrei os olhos com força e encostei a testa na porta fechada.
— Sei que está aí, esquentadinha.
grave. — Da mesma forma que você sentiu quando encontrou com a sua irmã
e o Will.
Voltei a encará-lo, ainda insegura, porém com mais esperança do que
antes.
deliciosa estava tão próxima que podia sentir o gosto do beijo iminente.
— Por que fugiu mais cedo? — perguntou, esfregando seus lábios
macios nos meus.
Soltei um suspiro trêmulo, querendo acabar logo com aquela conversa
— Não, eu quis muito falar com você ontem, mas precisei correr para
o restaurante e resolver alguns problemas.
— Não precisa se explicar...
Ele apertou as minhas coxas, interrompendo-me.
— Além do gerente, outros dois funcionários não puderam ir. Precisei
ficar até o último horário para cobrir os buracos. A bateria do meu celular
acabou e ninguém tinha um carregador para me emprestar.
Tudo passou a fazer sentido e me senti péssima por ter imaginado o
pior.
— No fim estava tão exausto que dormi no escritório, ainda bem que
eu sempre deixo uma muda de roupas lá para emergências.
Envolvi seu belo rosto entre as mãos, amando a sensação da sua barba
por fazer, e o beijei docemente.
não tem valor para mim, mas quis acabar com qualquer fiapo de esperança
que ela ainda pudesse ter.
— Bom saber. — Exalei em alívio.
— Será que agora posso matar a saudade que tenho da minha
namorada? — perguntou com o timbre rouco, reaproximando nossas bocas
saudosas.
Esbocei um sorriso ao ouvi-lo me chamar por aquele termo, adorando a
perfeição de sonoridade em seus lábios.
— Sua namorada, é? — Meu sorriso se expandiu, sendo espelhado
Meu namorado!
Ah, mal podia acreditar que era real.
Contive um riso bobo e depositei beijos delicados por toda a extensão
do seu corpo que conseguia alcançar. Comecei por seu ombro, subindo para o
pescoço até o seu maxilar, depois voltei a descer e beijei o seu peitoral à
mostra.
Pude sentir os seus batimentos cardíacos vibrarem céleres sob os meus
lábios e no instante seguinte mãos grandes apertaram minha bunda, fazendo-
me arfar em surpresa.
— Bom dia — ele disse, apertando-me junto a si. — Dormiu bem?
— Você não me deixou dormir muito, né? — Ri, esfregando-me em
seu corpo.
nossos quadris, pude sentir sua ereção pressionando meu ventre. Mas logo se
afastou, mirando seus olhos risonhos em mim.
— Se não sairmos agora vou acabar te jogando de volta nessa cama.
— Não seria uma má ideia...
— Ah, esquentadinha. — Balançou a cabeça sorrindo. — Vou passar a
te chamar de tentação.
Luke me agarrou subitamente pelas coxas e me pegou no colo, soltei
um gritinho quando me lançou no colchão e se colocou entre as minhas
pernas. Sua boca mergulhou de encontro à minha num beijo voraz, e seu
corpo se moldou perfeitamente ao meu.
Quem é que precisava de café da manhã quando se tinha um homem
daqueles disponível para um banquete pessoal?
boca com uma mão para abafar um riso ao me lembrar dos nossos embates.
No início não dei trégua para o homem porque pensei o pior dele, nunca me
enganei tanto quanto a uma pessoa e acabei pagando com a língua, ou
melhor, acabei com a língua enfiada naquela boca gostosa.
— Aqui está, tentação. — Luke chegou com o nosso café da manhã.
acabado de engolir. Aquela era a primeira vez em que ela entrava em contato
comigo desde que fui embora na manhã de Natal.
— Não vai conferir? — Luke perguntou absorto, sem ter notado o
nome na tela enquanto tomava um gole do seu café.
— É a minha mãe.
— Ah... — Assentiu, descansando a caneca sobre a mesa e me dando
sua total atenção. A ruguinha entre as sobrancelhas denotava a sua
preocupação comigo.
Eu estava tão feliz que havia me esquecido dos problemas não
minha blusa.
— Eu posso ter checado um pouco os seus peitos, sim — confidenciou,
levando um tapa no braço em resposta e rindo alto.
Seguimos até as prateleiras das bebidas e precisei conter um gemidinho
ao vê-lo segurar uma garrafa de champanhe, lembrando-me do sonho erótico
protagonizado por ele e que ainda não tive a oportunidade de transformar em
realidade. Nosso tempo no hotel foi tão curto que sequer tive chances de
colocar minha fantasia em prática.
— É para brindarmos a virada do ano — comentou, colocando a
alguns capítulos do novo livro para tirar uma folga e aproveitar o tempo livre
com o Luke.
Estive focada no trabalho, por vezes passava o dia inteiro em frente ao
notebook escrevendo, só conseguindo dar atenção ao meu namorado tarde da
nossas taças com o vinho, então voltou a falar, mirando seus olhos cintilantes
nos meus. — Uma delas é que cozinhar é uma das mais prazerosas
demonstrações de amor.
Deus do céu, ele falou mesmo o que eu estava pensando?
apertado.
[1]
— Não acredito que trouxe toda a Baine of my life com você! —
bradei em seu ouvido, referindo-me à banda composta pelos primos Baine.
— Pode acreditar, é um dos seus presentes!
— Tem mais? — Arregalei os olhos.
Ela riu, assentindo e gesticulando para um canto do salão onde, pela
primeira vez, percebi o palco improvisado com os instrumentos musicais da
banda.
— Mentira!
— É verdade, pequena — Alec respondeu no seu lugar, esboçando um
sorriso genuíno, diferente dos que ele costumava mostrar para a imprensa. —
Será um prazer tocar para você e seus amigos.
Fogo se alastrou por todo o meu rosto e o abracei, quando dei por mim
todos os meninos me congratulavam, abraçando-me e beijando minhas
bochechas. Luke surgiu atrás de mim logo em seguida, como se marcasse
território, e me derreti em seus braços, contendo um riso.
— Obrigada. — Direcionei as palavras tanto para os Baine quanto para
— Mãe?
Escudei minha expressão, tentando não transparecer o quanto a sua
presença me afetava. Quando ela me perguntou sobre o meu aniversário no
outro dia e eu contei que comemoraria no restaurante do Luke, não presumi
Ela aquiesceu, abriu a boca como se fosse falar algo, porém desistiu e
voltou a dedilhar o seu bendito colar.
Soltei um pequeno suspiro, mas ocultei a minha frustração ao forçar as
próximas palavras.
— Fique à vontade. — Apontei para uma mesa vaga e depois para
alguns atendentes que transitavam com bandejas. — O jantar está sendo
servido.
Dei um passo para trás, mas os seus dedos envolveram o meu braço,
impedindo-me de me afastar.
— Espera, filha.
Anestesiei as minhas emoções e inspirei fundo, dissipando o nó que
brotou na garganta.
Filha.
Ela me chamou de filha.
Até então essa alcunha era reservada à Sarah. Por toda a minha vida eu
fui apenas Serena, nunca recebi apelido afetuoso dela, e quando recebia
algum, era depreciativo.
— Sim?
— Podemos nos falar em um lugar mais... — Olhou ao redor antes de
retornar a sua atenção em mim. — Reservado?
Cruzei os braços e assenti, não me sentiria à vontade com ela em um
lugar completamente vazio, portanto não pedi para que Luke nos deixasse
usar o seu escritório, preferi guiá-la escada abaixo onde o salão não estava em
uso, porém alguns funcionários transitavam pelo local entre a cozinha e a
sacada.
Assim que nos sentamos eu a encarei em expectativa, flagrando o
momento em que ela engoliu em seco e então subiu o olhar de suas mãos em
seu colo para o meu rosto.
— Por que está aqui? — Liberei a pergunta que ecoava na minha
cabeça.
A Serena de antigamente estaria insegura e fugiria de um confronto,
mas eu mudei, cresci. Estava na hora de me impor.
— Ora, você me contou que comemoraria o seu aniversário nesse lugar
esta noite — falou, empinando o nariz ao analisar cada canto do restaurante,
sua atitude não era de se espantar, mas precisei controlar um revirar de olhos.
— Ainda não respondeu minha pergunta, mãe. — Ergui as
sobrancelhas. — Soube onde eu comemorei nos últimos anos, mesmo assim
não se importou em comparecer antes. Nem da vez em que fiz uma festa na
piscina na sua própria casa, lembra? Você e Harold viajaram no mesmo dia.
Ela arfou, espalmando o peito e virando seu rosto para o outro lado.
Balancei a cabeça em exaspero, ponderando se me levantava dali e a
deixava para trás quando ouvi um murmúrio quase inaudível sair de sua boca.
— Quê?
— Eu vim me desculpar — ela repetiu mais forte, encarando-me.
Limpei a garganta, odiando o fato de senti-la embargada. Depois de
anos de abuso psicológico e negligência, pensei que meu coração estivesse
imune a ela. Pensei que não restassem esperanças, mas aquelas palavras me
pegaram de surpresa e senti minha máscara de indiferença ruir.
— Pelo quê?
— Por tudo — proferiu baixinho como se fosse difícil soltar a frase de
dentro de si. E seu queixo, apesar de erguido, tremia. — Sei que não fui uma
boa mãe para você.
Eu precisava ouvir o seu pedido de desculpas, era a peça que faltavam
em meu coração para que finalmente se completasse, caso contrário sempre
haveria um buraco nele.
Nunca era tarde demais para se pedir perdão, só era difícil digerir as
suas palavras depois de tantos anos engolindo as dores que me causou.
Meu peito se comprimiu, sufocando-me com o turbilhão de
sentimentos. Inalei fundo pelo nariz, forçando o ar para dentro dos pulmões, e
controlei a ardência por trás dos olhos, não choraria na sua frente.
— Seu namorado estava certo, Serena. — Ela continuou com voz
contrita. — Você não fez nada para merecer o meu descaso, a culpa foi
minha.
concordei com a cabeça ele se curvou e incidiu seus lábios delicadamente nos
meus.
— Sim. — Soprei a resposta. — Ela me pediu desculpas e tentou se
explicar, disse que vai tentar ser uma mãe melhor.
inclinando o rosto para cima a fim de vê-lo. — Gosto da nossa vida pacata.
— Pacata? — Abriu um sorriso devasso. — Nem tanto.
Ri, sabendo muito bem do que ele se referia.
Voltamos para a sacada e desfrutamos do restante da festa, música
Por que fui inventar de pedir para Luke ser o modelo da capa do meu
livro?
E por que, Deus, tive a brilhante ideia de trazê-lo para a sessão de
autógrafos do lançamento?
Ele era um exímio profissional e estava se saindo muito bem no seu
papel, embora vez ou outra notasse o rubor tomando conta do seu rosto, ainda
mais quando era atacado por suas fãs descontroladas. Luke estava fazendo
mais sucesso do que eu, que era a autora do livro.
Apesar dos ciúmes, eu estava radiante, grata por receber tanto carinho
do público e por meu lançamento ser um grande sucesso.
— Amo todos os seus livros, Serena! — uma moça me disse assim que
chegou a sua vez na fila do autógrafo, suas palavras fizeram o meu peito se
expandir para tentar conter tanta felicidade. — Mas esse aqui é o meu
preferido, adorei o romance entre o detetive e a vítima! Que homem... —
falou ao se abanar, fitando o meu namorado.
Lá estava a pontada de ciúme novamente, mas não deixei que aquilo
desbotasse o meu sorriso, pelo contrário, ri da situação.
Por muitas vezes reconhecia leitores pelas fotos que usavam em seus
perfis nas redes sociais, mas a minha memória para nomes era péssima. Então
sempre dava uma espiada sutil nos crachás quando usavam ou, naquele caso,
no bendito pedaço de papel. Não fosse pela minha querida assessora
organizando o evento e se certificando de que todos escrevessem seus nomes
no post-it, eu passaria vexame.
Contudo, quando a próxima pessoa da fila surgiu à minha frente, não
precisei de nenhuma ajuda para saber quem era.
— Vi, sim. — Ri, achando graça da sua reação. — Mas acho que esse
cara aqui está atraindo mais gente do que o costume. — Acenei em direção
ao Luke que riu ao meu ouvir, negando com a cabeça.
— Nada disso, o mérito é todo seu. — Ele se inclinou para perto,
beijando minha bochecha e complementou o discurso baixinho, só para eu
ouvir: — Todos esses leitores vieram porque amam o seu trabalho. Porque te
admiram. Porque você é sensacional. Tenho muito orgulho de você, amor.
Suas palavras eram um bálsamo para a minha alma e precisei conter a
nunca tivemos uma relação de amizade antes, então não havia muito o que se
fazer além de ser cordial quando nos encontrávamos, coisa que raramente
acontecia. Aliás, pelo que me lembrava da minha irmã, ela nunca se
interessou em ler livros, quando lia algo era por obrigação e relacionado aos
estudos da faculdade.
— Bem, espero que sim. — Tocou sutilmente em seu colar. — É um
presente, você sabe que a gravidez dela é de risco e mal sai da cama, vai lhe
fazer bem ler alguma coisa para se distrair.
Ah, verdade.
Sarah descobriu que estava grávida semanas após o Natal, o bebê foi
uma surpresa, o que acabou mudando todos os seus planos. Ela e Will se
casaram
às pressas em março, enquanto a barriga de gestante mal podia ser notada por
baixo do vestido. Tive a “infelicidade” de não poder comparecer à cerimônia,
porque estava viajando a um evento literário em Roma, na Itália. Luke foi
comigo e aproveitamos para tirar umas férias românticas no país que ele
carregava no coração. Quando fomos a Positano, meu namorado me levou
para conhecer a sua família paterna que morava lá, foi um momento
inesquecível, vê-lo se reconectando com as suas origens e matando as
saudades do seu pai.
— Obrigada por vir — falei ao lhe entregar os livros autografados. —
Vai ficar quanto tempo aqui dessa vez? — inquiri, referindo-me à sua estadia
em Nova Iorque.
— Durante o fim de semana. Pensei que poderíamos...
— Sim? — perguntei ao notar a sua hesitação.
a fama como o seu noivo, prefiro ser um astro somente na vida de uma
pessoa. — Piscou para mim.
Ah, esse homem um dia me mataria do coração, eu não tinha
suficiência cardíaca para o tanto de amor que ele me proporcionava, sentia
Adorava sim.
Amava tudo o que ele fazia.
Amava todas as suas facetas, do mocinho afável ao bad boy devasso.
Simplesmente o amava.
Nosso namoro podia ter começado como uma mentira, mas às vezes o
amor nascia de situações inusitadas.
Luke apareceu em minha vida despretensiosamente, com as suas
músicas altas e batucadas na parede ele, aos poucos, derrubou os muros que
ergui ao redor do peito. Com o caminho livre, apossou-se do meu coração
desgastado e o restaurou com gentileza e esmero, fazendo-o pulsar como se
fosse novo.
Antes eu só acreditava nos amores de ficção, mas descobri que na vida
real havia sim pessoas que nasceram para complementar nosso enredo.
Luke surgiu como uma reviravolta do destino na minha história.
E eu estava animada para viver cada capítulo dela ao seu lado.
Olá, obrigada por ter chegado até aqui, espero muito
que tenha gostado!
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A BELA E O CHEFE
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Agradecimentos
Meninas do grupo Point das Autoras, vocês são meu guia, tenho muito
orgulho de vocês e agradeço pela união e por todo incentivo!
Hellen, obrigada por tudo, amiga!
Lara, gratidão por todo apoio.
Muito obrigada a todas as minhas parceiras, sem vocês eu estaria
perdida!
Leitores queridos, sem vocês eu nem estaria aqui, obrigada por
tornarem possível a realização dos meus sonhos.
[1]
No inglês a expressão “The bane of my life” significa “A ruína da minha vida”. Os
primos fizeram um trocadilho com a frase, substituindo a palavra “bane” pelo sobrenome
deles.