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NA REDENÇÃO DO ADVOGADO
1ª Edição
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá ser reproduzida ou
transmitida por qualquer forma, meios eletrônicos ou mecânico sem consentimento e
Capa: @designerttenorio
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação do autor. Qualquer semelhança com fatos reais é mera
coincidência. Nenhuma parte desse livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer
meios existentes – tangíveis ou intangíveis – sem prévia autorização do autor. A violação
dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98, punido pelo artigo 184 do
código penal.
ANOS ANTES.
Uso a cama como forma de manter distância do meu irmão mais velho,
mas como ele é um pouco maior e mais ágil do que eu, consegue me capturar
antes que eu salte por cima do colchão. Caímos sobre os lençóis, Mateo
fazendo cócegas em mim, arrancando-me mais e mais gargalhadas.
Sorrio, seguro a máscara pesada sobre a face com as duas mãos e sigo
para o corredor, correndo e gritando.
aproximação e isso me instiga a acelerar, contudo, bato contra algo outra vez,
o impacto mais uma vez é forte, vou ao chão com violência, a máscara
escorrega para longe e a cena de alguém caindo escada abaixo aos gritos é
agonizante.
— O que é isso? Que barulho foi esse? — Papai surge, e daqui de cima
o vejo assustado, seus olhos emanando pavor ao avistarem o acidente. — Oh,
meu Deus!! Meu Deus... NÃO! — Se desespera, agachando-se ao lado da
vítima, tentando entender. Seu olhar encontra com o meu e um sentimento
ANOS DEPOIS.
Bato na porta do escritório do meu pai e entro, quando ouço a sua voz.
Estamos na nossa mansão, o lugar onde fui criado, onde vivi as maiores
felicidades e infelicidades da minha vida. Estou ansioso, sei que esta noite
será importante e as minhas expectativas estão a mil. Trabalhei muito para
esse momento... para ter o tão esperado reconhecimento.
Vai dar tudo certo.
defronte para a imensa janela que dá visão para o jardim. O céu lá fora está
coberto por nuvens negras, prevendo que uma tempestade se aproxima.
imponente escrivaninha.
Respiro fundo, ainda sinto culpa, mesmo sabendo que não a tive e que
nem deveria ter.
— Está tudo bem. Por que está querendo falar a respeito? — Franze as
sobrancelhas, sem entender.
Seguimos para a sala, onde quase toda a família nos espera, exceto
Alejandro, meu irmão de criação. Papai marcou essa reunião de repente e
desconfio que o propósito seja a escolha daquele que o substituirá no cargo
de CEO da empresa.
Olho para mamãe que dialoga com papai no sofá. Ela ri para mim
positiva, motivadora, me dando a certeza que tanto quero, algo que acalenta o
meu coração.
— Creio que sim — afirmo, estou bastante convicto. Papai não tem
outra opção, Mateo nunca se interessou pelos negócios da família, é professor
renomado e premiado do ensino superior, tem a sua vida e carreira, foi o
primeiro e único até agora a sair de casa. Luna também não se interessa, e
Alejandro... apesar de ser um exímio diretor na empresa, simplesmente não
consegue se comunicar verbalmente.
— Será que é sobre isso mesmo que ele quer falar, Esteban? — Mateo
observa o nosso pai de soslaio, curioso.
— Ansioso?
— Bastante.
— Até Joaquin ele chamou — comenta, fitando o assistente e intérprete
de Alejandro tagarelando com Luna, a nossa irmã de criação.
Fico sem chão. Não consigo acreditar que mais uma vez fui preterido
por papai, que simplesmente nomeou o meu primo como presidente da
empresa ao invés de mim, seu filho legítimo!!
passado, de como a minha vida mudou após a chegada dele nesta casa, de
todo o desprezo que passei a receber de papai dali por diante. Da forma como
passei a mover céus e terras na tentativa insana de conseguir um pouco de
atenção!
— Isso só pode ser piada! — rebato, não processando que ele me quer
apenas como vice-presidente!
— Não é piada, estou falando muito sério. Você e todos aqui sabem
muito bem o quanto seu irmão é altamente capacitado para isso...
Ele nega em suas expressões, como sempre não emite uma palavra
sequer. Isso me dói, pois muitas vezes parece deboche, como se me
ignorasse, apesar de não ser nada disso.
— Desde que chegou aqui, sempre quis tudo o que era meu! Tudo o
que me pertencia! — sibilo, emputecido.
— Não acredito que ainda discursa essa tolice! Que decepção! — rosna
papai, atingindo-me outra vez. Ele não cansa de me bater com palavras.
— Decepção? Eu sou uma decepção? — Sou possuído pelos
sentimentos mais perversos possíveis. Encaro Alejandro. — Vai, prova agora
para a gente que você pode ser o CEO da Javier, vai! Fala alguma coisa ao
menos uma vez na vida, mudinho! — O empurro com força no tórax,
provocando-o. — FALA, PORRA!
— Você vai pagar muito caro por isso, Esteban! — exclama papai,
fuzilando-me.
batalhas que podia lutar, mas perdi a guerra. Tomo a decisão que mudará para
sempre a minha vida:
tremendo e rosno:
— Hipócrita...
minha língua.
— Chega! Para com isso! Não vai a lugar nenhum! Você foi um idiota
com o Alejandro mais uma vez, mas não vai embora porra nenhuma! — Luna
grita, tentando desfazer a minha mala, mas a seguro pelos pulsos. Ela se
sacode revoltada e se afasta, chorando.
— Nossa irmã tem razão, para e esfria essa merda de cabeça para poder
pensar direito! — repreende Mateo.
— Não... não, Mateo, não deixe ele ir, por favor!! — implora Luna,
toda se tremendo. Dou-lhe o abraço de despedida.
tudo.
— Eu vou ter que viajar por um tempo, mas juro que volto. — Minto,
com o coração em pedaços.
— Não... farei apenas uma viagem, já disse. Logo, logo, iremos nos
ver, ‘tá bom? — Beijo sua testa.
A abraço mais forte, deixo-a com a babá que sai do quarto à sua
— Meu menino, não faça uma coisa dessa, olha o estado da sua mãe!
— diz ela agoniada, enquanto mamãe chora e nega com a cabeça.
— Vai ser melhor assim. Todos nós sabíamos que isso um dia ia
acontecer — digo, tentando parecer forte.
— Não, Esteban... — implora dona Alba. — Para onde meu filho vai?
cuidar.
— Não...
ATUALMENTE
ao vivo em noites como essa, onde me reúno com amigos do trabalho para
beber e apreciar as beldades que desfilam pelo ambiente.
entrar em ação:
A mulher faz uma cara engraçada, sem saber como agir ou o que
responder, então prossigo:
— Nem eu. Pode não parecer, mas estou em busca de algo sério. —
— Sei... então sexo é algo muito sério para você? — Acerta na mosca!
Hmmmm, objetiva e realista!
— Ah, não me diga que vai me dispensar como fez com os outros três
— comento, tomando mais um pouco da bebida.
A linda mulher respira fundo, bebe um pouco mais do seu drink, sem
— O que te faz pensar que é diferente dos outros três? — Boa pergunta.
Está me testando.
Penso um pouco.
— Hmmm... eles não eram tão boas companhias quanto eu. — Levo
tudo no bom humor.
— Vamos sair daqui, que eu faço você descobrir — digo sério, com a
voz rouca.
— Insistente...
— Não tem problema, eu tenho a vida toda. — Rebato rápido, ela cai
em graça outra vez. O clima está esquentando. Estou torcendo para que
resista mais, para que seja mais difícil, isso me excita, me deixa louco.
tempo por ter sido tão fácil. Recebo o seu olhar sexy, as pontas dos seus
— Você é muito bom, o melhor da noite, mas não vou te dar hoje,
querido. — Sopra as palavras me decepcionando. Oi??
trazia nas mãos, uma bandeja com vários drinks, molhando seu vestido
prateado e curto, o qual molda perfeitamente o seu corpinho magro.
perco!
Nossa, que arrogante, penso. Mas os meus planos são maiores agora.
— O que ela disse? — Mais uma francesa que não entende o espanhol.
disfarça.
não acontece.
Deslizo por entre o vão dos seus seios pequeninos, enxugando a sua
pele que se arrepia ao meu toque. De repente, todo o estresse dela desvanece
e sua atenção agora está inteiramente voltada para mim.
— Oooh... — geme.
— Você disse que não vai me dar hoje? Isso é mesmo verdade? —
Provoco-a, mordiscando o seu lábio, assistindo-a arder de tesão. Seu rosto
corresponde, negando. Giro o dedo em suas entranhas, ela geme mais forte.
— Então você vai me dar essa boceta hoje?
— Dar o quê?
— A minha... boceta.
A beijo outra vez e continuo fodendo o seu centro, resvalando por seus
lábios íntimos, tornando tudo ainda mais lambuzado. A noite termina com ela
no meu loft, onde trepamos até nos aproximarmos do crepúsculo.
ESTEBAN JAVIER
P.S: mais tarde, como sempre, quero a minha recompensa por mais uma
vez ter salvado a nação.
Visto uma calça moletom, jaqueta e tênis. Vou para o andar inferior,
seguindo para a cozinha que fica abaixo do mezanino onde está localizada a
minha suíte. Vivo em um loft planejado e decorado exatamente ao meu estilo.
cidade acordada, cortada pelo rio Sena que faz um arco. Daqui tenho uma
visão privilegiada, avisto inclusive a Torre Eiffel distante, imponente.
precisava do dinheiro do meu pai para construir o meu império, que por sinal
não chega nem perto do poder da multinacional Javier, mas que hoje é mais
do que suficiente para suprir todas as minhas necessidades e me dar uma vida
confortável.
Há um ano não vivo cercado de todo aquele luxo da mansão onde fui
criado, porque não quero, eu aprendi que não precisava de tanto luxo, mas
sim de viver em cima das minhas próprias expectativas, dos meus objetivos,
criar os meus desafios voltados para o meu crescimento e não para conseguir
desesperadamente o olhar de um homem que nunca quis assumir a minha
paternidade de fato.
paterna em minha vida, mas que infelizmente falharam. Nunca consegui ser
tão forte quanto Mateo, entretanto, ele não chegou nem perto de ser tão
desprezado quanto eu.
Pode até haver mais, não sou onisciente, certas coisas sempre ficaram nas
sombras.
Hoje, após tanto refletir sobre o meu passado, parece até que tudo foi
bolado milimetricamente pelo destino, para que eu e papai sempre
estivéssemos afastados, e que ele sempre fosse hostil comigo mesmo que
sutilmente como fazia na grande maioria das vezes, para não aborrecer
mamãe. Sempre que tentava me aproximar, algo surgia e acabava por nos
afastar.
tarde demais.
Foi nesse momento que botei os pés no chão e voltei a focar nos
estudos, logo estava em Harvard com o meu irmão mais velho, lá estudei
Direito enquanto ele fazia Literatura, mesmo contra a vontade de papai.
Mateo não ligava para a opinião dele e cada vez mais eu queria ser igual, mas
não conseguia.
Achava que devia me redimir de tudo o que fiz no passado, até das
coisas que não quis fazer. Carregava uma culpa em relação ao meu pai que
não deveria carregar e todo o meu currículo exemplar dali por diante, foi
pensado para impressioná-lo, para mostrar que havia mudado, que era o filho
de quem poderia ter orgulho. A minha vida girava em torno dele.
jurídico na Javier por mérito, nada era o suficiente, nada estava cem por cento
bom ou perfeito. Entretanto, engoli tudo calado, já não atacava mais
Alejandro, vivemos em paz por anos na empresa, mesmo distantes. Ele
sempre foi frio e preso em seu próprio mundo, mundo que eu não conseguia
Depois o destino decidiu intervir outra vez, dando mais um motivo para
papai sentir ódio de mim, fiz de tudo para contornar, me expliquei, e mais
uma vez me senti culpado por algo que não deveria sentir e me calei, tudo por
ele!!
era pelo status de ser o CEO, mas pelo tão sonhado reconhecimento após
tudo o que fiz por Miguel e por aquela empresa.
Hoje não quero mais ser entendido, já passei dessa fase. Arrependo-me
de muitas coisas. Quando chegamos em um ponto de autorreflexão da nossa
vida e olhamos para trás, percebemos o que de verdade valeu a pena e no
meu caso, não valeu quase nada.
Reconheci muito tarde que meu lugar não era naquela casa, naquela
cidade, mas antes tarde do que nunca. Vim para Paris, onde amigos que se
formaram comigo já tinham um escritório renomado. Tornei-me sócio deles,
fui muito bem recebido e ganhei uma nova família, aumentei os lucros da
organização, trouxe novos métodos jurídicos adquiridos no meu doutorado
para resolver casos bem específicos e finalmente ganhei o reconhecimento
que busquei por mais de trinta anos.
Não foi fácil, mas até que aconteceu rápido. Em trezentos e sessenta e
cinco dias toda a sociedade parisiense já sabia quem era Esteban Javier. Ele
era o filho preterido e esquecido às sombras do dono de uma das maiores e
mais poderosas marcas da relojoaria de luxo do mundo? Não!! Ele era agora
um dos melhores advogados de Paris!!
Eu sou foda sim!! Tenho o meu valor sim!! E provei a mim mesmo,
que eu posso fazer tudo sozinho sim!! Sou capaz, sou demais e sempre
consigo tudo o que quero!! Sempre.
ESTEBAN JAVIER
gostei de fazer exercícios e, quando por algum motivo deixo de malhar, fico
com a consciência pesada. Adoro ser grande — em todos os sentidos —, forte
e musculoso, mas para manter o corpo esculpido não é nada fácil. A minha
sorte é que a academia é uma das minhas válvulas de escape para o estresse
do dia a dia, assim como o sexo.
repulsa de relacionamentos.
Por enquanto isso não me faz falta, mas é algo que não posso descartar.
Nunca diga nunca, jamais diga que dessa água não bebereis, pois tudo pode
mudar em um piscar de olhos, porém no meu caso acho difícil.
Sexo sem compromisso é vida, mas isso não é motivo para que eu
destrate as mulheres com quem já me relacionei ou me relaciono, muito pelo
contrário, trato-as da devida forma que merecem, pois, mulheres para mim
são bênçãos divinas, damas, flores sensíveis, que merecem o maior e melhor
cuidado possível, mesmo que numa trepada casual.
sentido, pois todos somos seres humanos, não vejo razão para ser um
cafajeste frio e ridículo, que come a garota e depois lhe passa a sensação de
que ela não foi mais que apenas um objeto. Não, não faço isso.
Sou um cafa, mas com sentimentos. Deixo bem claro o que elas podem
Não penso em ter filhos, nem ter uma esposa. Isso pode mudar com
alguém? Sim, mas esse alguém até o momento nunca chegou. Infelizmente,
quase todas as mulheres que peguei foram muito fáceis, isso meio que me
desanimou, o fato de não ter um desafio de verdade e de sentir emoção ou
não saber o que esperar.
Quando termino tudo, miro o relógio de pulso, vendo que ainda tenho
alguns minutos. Dou um sinal com o olhar para ela, seguindo para o
quartinho onde a recebo em seguida, discretamente.
— Adorei o outro dia, então eu... — Fica tímida, não sabe bem como
dizer o que quer.
— Sei o que você quer e eu também quero, mas tenho pouco tempo
Retorno para o loft, subo para o meu quarto, onde encontro uma moça
toda descabelada se vestindo apressada e calçando os scarpins
desengonçadamente.
película jateada, que me dá privacidade, só que por pouco tempo, pois logo a
mulher invade a suíte totalmente nua.
Não estava em meus planos, mas como nunca nego fogo, pego o
preservativo no armário sobre a pia e transo pela segunda vez na manhã. Só
para que fique claro, isso não é comum, mas às vezes acontece.
óculos escuros da Maybach, o The Diplomat I, dirijo pela famosa Avenue des
Champs-Élysées, uma das avenidas mais caras em imóveis na Europa.
— Acontece...
Loca”
Sempre presto atenção na letra e penso a mesma coisa: será que essa
garota descrita na música existe? Será que um dia irei encontrar uma mulher
que vai fazer eu me apaixonar, que me fará tirar a roupa na chuva e dançar,
viver a vida louca ou que tirará a minha dor como uma bala no meu cérebro?
Desço com a minha maleta e peço para um dos porteiros pôr o meu
automóvel no estacionamento, dando-lhe a chave, pois hoje estou muito
animado, é dia de comemorar e por isso quero entrar pela porta da frente.
— Nossa, para quem será esse lindo buquê? — pergunta uma delas.
— Para todas as princesas desse prédio que fazem o meu dia mais feliz!
— Sorrio de orelha a orelha, entregando uma rosa a cada uma delas, que
ficam absolutamente encantadas.
— Meu Deus, que lindo!! Nem sei quando foi a última vez que ganhei
flores, obrigada, doutor! — Agradece uma.
post-its coloridos para chamar a minha atenção para o que é mais importante.
— Muito bem Chloé, você não será demitida hoje! — Aponto o indicador
direito para ela, vendo o seu rosto empalidecer.
Sigo para o meu destino gargalhando, a minha vida é brincar com ela, a
ameaçando falsamente de perder o emprego, quando na verdade nem chego
perto de cogitar isso. Miro o Omega no pulso esquerdo, ele marca nove e
meia, o expediente começa as nove.
ESTEBAN JAVIER
debochado.
— Mas é claro, Pierre, o que você queria que acontecesse após mais
uma aposta vencida por esse cafajeste ontem à noite? — indaga Bernard,
inconformado.
— Filho da mãe... — rosna Dominique, mais inconformado ainda.
— Não vou lhe dar a minha moto! — retruca Dom, batendo a mão na
mesa e fuzilando-me, a sua raiva me diverte.
— Bom dia, Esteban, quero que vocês parem de discutir sobre essas
— Pare de ser bobo, ele está te provocando porque você ganhou a moto
dele na aposta. Dom sabe que ninguém aqui pode se envolver com
integrantes do escritório, ainda mais estagiárias, isso é o caminho para um
escândalo. — Pierre bebe um pouco da água do copo ao seu lado.
Destruo Dominique com o olhar, que sorri satisfeito por ter abalado a
minha paz. Ele tem o semblante de malvado.
de que a faxineira passou por aqui. Livro-me da roupa e tomo um belo banho,
ficando um bom tempo na hidro, ouvindo a belíssima voz de Alejandro Sanz
ecoar pelo ambiente.
Sem querer, lembro do meu irmão de criação que tem o mesmo nome
do cantor. Fico imaginando, como em tantas outras ocasiões, se a voz dele
poderia ser parecida com a do Sanz.
De repente, uma memória antiga de nós dois invade a minha mente. Foi
em uma manhã, enquanto estávamos na escola, quando flagrei três meninos
força.
Não consegui mais assistir a tudo escondido, os encontrei por acaso e estava
ouvindo a confusão.
que devia estar chocado com este meu “ato de heroísmo” que nem eu mesmo
consegui compreender.
Era estranho pois, gostava de perturbá-lo, mas não aprovava que outros
de fora da família fizessem isso. Por alguma razão desconhecida, me irritava.
— Isso não muda nada entre nós... mudinho. Nada — declarei arfando,
sem olhá-lo nos olhos, não conseguia fazer isso. Assim, me afastei o
deixando sozinho.
Pode parecer bobo, mas quando vim para Paris, passei a me sentir mais
humano. E, por incrível que pareça, foram as pequenas coisas que me
trouxeram essa humanidade. Digo não por questão sentimental, mas por
aprender a ver coisas que antes não via por estar sempre cercado de muito
luxo e pompa.
também, sair para comprar pão na padaria, comprar flores e dar de presente
para mulheres do meu dia a dia. Enfim.
Apesar de tudo isso, ainda tenho o meu lado cretino, como fazer altas
apostas com os meus amigos envolvendo mulheres. Mesmo que não haja
desrespeito algum com elas ou coisas do tipo — visto que nem ficam sabendo
—, sei que não é algo, digamos... ético. Mas não me importo, pelo contrário,
divirto-me bastante, é uma velha prática da Universidade que ressurgiu
quando vim trabalhar com eles aqui em Paris.
— Ele não vai vir! — conta Pierre. — Desista, aquela moto foi presente
do pai dele, faz muitos anos.
— Ele não irá entregá-la a você. — Pierre está convicto. — Vai enrolá-
— Até parece, logo você que adora ser desafiado, Sr. Javier. —
Debocha Bernard.
— Não. Isso é ir longe demais — nego, mas meu cérebro cogita a ideia,
pois com a porcentagem dele me tornaria o segundo maior lá dentro, ficando
apenas atrás de Pierre.
— Relaxa, Pierre, sabe muito bem que você não será afetado. Vamos
Javier, pense bem, pense bem...
— Se ele disser que sim, já sei até qual será o novo alvo — conta
Bernard, Dom fita-o, contrariado. — Se eu fosse você, me deixava escolher
dessa vez amigo, se quiser vencer, é claro. Lembre-se que lhe afirmei naquele
dia que a moça que havia recusado três rapazes não era uma boa opção e
mais, que Esteban já perdeu mais apostas comigo do que contigo.
— Vocês realmente são uns imbecis! Vou voltar para o meu Chopp que
— É melhor não — digo, mas no fundo algo grita para que eu diga sim.
— Vamos lá, sei que você quer. Vamos lá... pense no poder que iria ter.
— Dominique é como uma serpente sibilando em meus ouvidos.
— Está difícil escolher? Que seja bonita, hein — aviso. Pierre revira os
olhos, desconfortável com a nossa brincadeira de sempre.
— Já a escolhi faz tempo e dessa vez não nos venha com “que seja
bonita”. As bonitas sempre caem no seu papinho, dessa vez vamos colocá-lo
em um desafio de verdade. — Bernard está super animado. Ele adora essa
adrenalina e emoção das nossas apostas. Talvez seja por isso que sejamos
viciados nessa porra.
— Tudo bem, fala logo!
— A garota que você vai ter que levar para a cama desta veeez... está
Miro por sobre o ombro, avistando apenas uma das garçonetes fazendo
o que ele descreveu, é uma mulher pequena e gordinha.
— Isso é golpe baixo, sabem que ela não faz o meu tipo.
— Estamos fartos de você, Esteban, faz tempo que não perde uma.
— Por que ela? — indago sem entender, observando a moça mais uma
vez, vestida em seu horrível uniforme de trabalho.
rebato, enraivecida.
quando não está circulando pelo bar para encher o meu saco e o das minhas
colegas.
Procuro por elas e vejo que também estão ocupadas, o local está lotado
de clientes, sem falar da música alta. Estamos trabalhando desde as seis da
tarde e parece que sempre chega mais gente. Hoje é um dos dias mais
movimentados, tem até fila de espera do lado de fora.
mesas. No caminho, passo por Amélie, minha melhor amiga que também
caminha ligeira com o seu uniforme e uma bandeja em punhos, no pique que
o Le Loup nos exige.
cara, mal percebem que estou aqui, coisa que não acontece com Amélie e as
demais garçonetes, simplesmente porque elas estão dentro dos padrões de
beleza dessa sociedade hipócrita. Porque não possuem manequim quarenta e
seis ou busto acima de noventa ou cento e oito de quadril como eu.
Não se preocupem, não sou a “chata militante”, mas sei muito bem o
que me diferencia das demais mulheres ou dos olhares dos homens ao meu
redor. Amo a minha amiga, a respeito e ela me respeita também, porém todos
os dias sofro com preconceito, mas insisto em não dar atenção a isso, até
porque, já estou acostumada e tenho coisas mais importantes para focar.
Neste momento então, adoraria ganhar uma gorjeta como Amélie, mas
para mim essa pequena atitude é muito mais rara. Fazer o quê, né?
sobre o balcão. Ele também é meu amigo, sempre nos demos bem. É um fofo,
o pegador de funcionárias, já passou o rodo em quase todas as moças que
trabalharam ou ainda trabalham aqui. Até porque o homem é um pecado!
balcão simplesmente entra em minha frente de repente, sem mais nem menos,
fazendo-me esbarrar nela e molhar seu vestido com os drinks. As taças se
espatifam no chão e a primeira coisa que penso é que isso vai sair do meu
salário.
Droga!
— Oh, meu Deus, desculpe! — peço, levando uma das mãos à boca. A
coitada está toda molhada.
— Não olha por onde anda, balofa?! — A visão de coitada que eu tinha
sobre ela se esvai em milésimos de segundos pelo modo como me trata. A
culpa foi dela! Foi um acidente!
— Não precisa mais voltar para o bar, não quero mais estragos essa
noite. Aproveita que está aqui e lave essa louça! — ordena, finalmente indo
embora.
Observo o meu dedo outra vez, consigo um Band Aid com um dos
— Eu vi ela esbarrando em você, mas não sabia que ela tinha te falado
tanta porcaria! Vaca! — Amélie está indignada com a cadela.
— Pois é, ainda bem que aquele cliente retirou ela de lá, porque acho
que a situação ficaria pior. Eu não conseguiria segurar a minha língua por
muito tempo, já estava coçando — conto, bocejando. Estou exausta.
— Sim, não lembro o nome dele, mas faz parte daquele grupinho de
advogados soberbos que não saem do bar.
— Já são clientes há muitos anos. Antes só eram três, depois surgiu o
gostoso. Um mais lindo que outro! — afirma empolgada, mas nem lhe dou
— Sabe que não gosto que se refira a ele assim — rebato, calma. —
Quanto à sua pergunta, não... não sei se terei coragem.
— Não quero que ele pense que estou tentando chamar a sua atenção
— comento, pensando sobre o assunto.
— Sim.
— Então entrega logo essa merda, mas se ele te tratar mal, juro que vou
naquela faculdade destruí-lo!
Volto a olhar pela janela, desacreditada.
— Não mesmo, só tirou a sua virgindade e depois fingiu que você não
existia. Aliás, continua fingindo até hoje. — Ela é revoltada com isso, pois
passou pelo mesmo.
— Não vou mais ficar aqui ressaltando as suas qualidades, viu? Você é
linda sim, e falo isso de coração porque é mesmo a minha opinião. Eu
mataria e morreria para ter esse rosto de anjo e esses olhinhos verdes, meu
— Tchau!
profissão após se aposentar como policial, depois que quase foi morto em
uma troca de tiros com bandidos. Ele trabalha em casa com a minha mãe,
ambos vendem comida por delivery. Tivemos que nos adequar a esta opção,
principalmente depois da aposentadoria do meu pai e também por causa do
meu irmão, que precisa de uma atenção especial.
Assim que abro a porta sanfonada, levo um susto ao ver Timothée, meu
irmão, dentro do quarto. Ele estava distraído andando de um lado a outro
falando baixinho e sozinho, quando me ouve e vira em minha direção com
um largo e belo sorriso. O garoto de oito anos possui cabelos castanho-claro,
— Aham. — É sincero.
o presente.
Ele sorri de forma tão linda e tão grandiosa, que arrebata o meu
coração. O meu amor por ele é infinito.
— Você não esqueceu, Madeleine — comenta, pegando seu presente,
abrindo e tocando rapidamente como se quisesse comprovar que é real.
— Adorei. — Enxugo uma lágrima que desce por minha face. Ele é o
meu ponto forte em muitos momentos, ainda mais em um dia difícil como
este, porém nem imagina.
Fico com ele ainda por longos minutos até finalmente deixá-lo na sua
fantasia e voltar para o meu quarto, onde capoto na cama para dormir.
encontrar a porta.
Quando faço tudo que tenho que fazer, olho-me no espelho indecisa
sobre a roupa nova que comprei para usar hoje. Amélie me ajudou a escolher,
entretanto quando experimentei em sua presença parecia bem melhor, agora
que estou sozinha o meu reflexo não me agrada. Sempre tenho a tendência de
achar que estou ridícula.
Uso uma saia preta que deixa meus joelhos e pernas à amostra com
uma blusinha branca de mangas curtas e sapatilhas. Meu cabelo castanho-
loiro está solto, são madeixas lisas e agora bem penteadas. A saia está um
pouco apertada, mas não totalmente desconfortável. Olho-me várias vezes
fazendo careta, até que resolvo ligar para a minha amiga.
— Não vou usar essa roupa ridícula! — É a primeira coisa que afirmo
quando Amélie atende.
— Vai apenas no mais que dará tudo certo, amiga! Agora vou voltar a
dormir, beijos! — Desliga, me deixando sem saída.
Após dar uma última conferida, pego a mochila pesada com tanta coisa
e sigo para a cozinha, onde encontro a minha família. Meu pai já está
cortando os legumes, com uma rapidez incrível que já é de costume em
preparar as marmitas para vender no horário do almoço.
Graças a Deus ele não tem nenhum tipo de retardo mental, mas ainda
Tim não dá atenção a ele, está mais interessado em tomar o seu café da
— Para que tudo isso? Que exagero! Não gostei, ficou mais gorda —
afirma, não me surpreendendo.
— Esse batom também não combina com você, já te disse isso antes,
mas não me escuta — critica, tento não deixar as suas palavras entrarem na
minha mente, mas sempre entram, agora ou mais tarde.
me defende. É assim que na maioria das vezes começa uma briga entre o
casal.
— Não pode, pegue essa outra. — Oferece a ele outro talher, mas é
inútil.
objeto. Dona Martina revira os olhos, sabe que não é bom insistir. Assim,
lava a única colher favorita dele na pia e a entrega de volta.
Após sair de casa com essa linda motivação da minha mãe — coisa que
ela faz diariamente sem que eu entenda o porquê —, pego o metrô, seguindo
diretamente para a faculdade. Durante a viagem, para tentar melhorar o meu
humor que já está quase obsoleto, ponho os fones de ouvido e escuto
“Bailando” na versão espanhola, de Enrique Iglesias, um cantor pelo qual
sou apaixonada.
Me va saturando
uma forma que nenhum outro homem jamais olhou para mim, a se aproximar
e puxar conversa.
Não foi difícil dar o meu número, como passar dias conversando até
que eu entregasse a ele a minha virgindade. Ele me levou para um motel, me
tratou com carinho, foi belo e inesquecível enquanto durou, mas depois, foi
como se nunca tivéssemos nos conhecidos.
Hoje ele faz aniversário, e como foi de certa forma alguém importante
em minha vida, mesmo que por apenas uma noite, quero lhe dar um presente.
Chego na faculdade e fico a aula inteira pensando em como farei isso, sequer
consigo prestar atenção ao que o professor está falando.
O sigo, sei que é muito abordado, é popular na faculdade, por isso devo
aproveitar que está sozinho para fazer o que vim fazer. Apresso-me para
acompanhá-lo, respiro fundo tomando coragem.
— Vincent! — chamo por ele, então para e me nota, o sorriso que tinha
no rosto morre.
— Oi..., é... — Tenta lembrar do meu nome, isso acaba comigo por
dentro. Como não lembra do meu nome?
— Ah, que bom, então. — Fico sem saber o que fazer agora, as mãos
cruzadas em frente ao corpo, uma vontade interna e imensa de ser chamada
para sair.
Ele olha para trás quando uma garota alta e magra acompanhada de
umas amigas o chama, isso me destrói.
Assinto, séria.
Fico igual uma otária, vendo o cara que foi o meu primeiro homem,
abraçando a loira sorridente, beijando-a e se afastando com ela de mãos
dadas. Penso em várias coisas, mas a mais forte delas é segui-los. Quem é
ela? Ele está namorando? Não consigo me controlar, preciso saber mais.
estarrecedor!
Fico tão magoada, tão chocada que só sei fugir. Fujo chorando para o
banheiro feminino mais próximo, esbarrando sem querer em umas meninas
que estão se maquiando em frente ao espelho, antes de me trancar no box.
Sento no vaso, ponho as duas mãos na boca para não fazer nenhum
ruído, fecho os olhos e choro dolorosamente, em um silêncio torturador. Cada
lágrima é como uma lâmina cortando a minha face, aprofundando e criando
Após ficar horas aqui dentro, quando não escuto mais nenhum
movimento do lado de fora, resolvo então sair. Estou exausta de tanto chorar.
Quando penso que ao olhar para o espelho, vou encontrar apenas o rosto
vermelho de pranto de uma idiota, vejo uma frase escrita de batom que diz:
Saio dali arrasada, com uma certeza absoluta: nunca mais vou permitir
que nenhum homem brinque comigo assim! Nunca!
Alguns dias se passam e não conto o que houve nem mesmo para
Amélie, quero exterminar Vincent da minha mente. Estou em mais uma noite
de trabalho no Le Loup, hoje até que está mais tranquilo, não é um dia tão
grave falar:
A moça com cara de vinte e seis anos, até um pouco nova demais para
mim, termina com os clientes e se afasta para um canto mais tranquilo, onde
quase não há movimento. Perfeito! Este é o momento. Limpo a garganta e me
dirijo até a minha nova conquista que aproveita o instante para relaxar,
— Não..., acontece.
— Eu? Ah não, não, não. Pode ter certeza que não. — Balança a
cabeça, negando e sorrindo.
— Será que não? Ela tinha esse mesmo sorriso lindo que o seu. — A
— Desculpa moço, mas com certeza essa pessoa não sou eu. Desculpe,
tenho que voltar ao trabalho. — Faz menção em se afastar, mas não permito.
afirma.
melhor este assunto. — Pisco para ela, deixando-a ainda mais perplexa.
— Oi? — Ainda não processou. Cogitei que uma abordagem assim não
era comum para ela, porém não pensei que fosse tanto.
Penso um pouco.
Sua boca rosada abre, procurando a resposta que leva um tempinho até
sair.
— Não sabia que pedir o número de uma garota era crime, então. —
Brinco.
— No meu caso, talvez, mas só vou lhe dizer duas coisas: a primeira,
nós nunca nos vimos antes. A segunda, não estou conseguindo acreditar em
uma só palavra que sai da sua boca, então é melhor dizer o que quer de
Porra! Talvez não seja tão fácil assim, tenho que mudar de estratégia.
Respiro fundo, fechando os olhos por um milésimo de segundo.
— Oh, meu caro Dom, sei que está ansioso para ter a minha moto de
volta, mas sinto muito em lhe dizer que hoje ela vai para a minha garagem.
Inclusive, vim de Uber só para sentir o gostinho de pilotá-la — provoco-o,
bebendo um pouco da minha cerveja que agora está quente.
— Esse caminho já é conhecido por todos nós, Ben. Esse não logo mais
irá se transformar em um sim. — Estou confiante.
sabem que não podem me subestimar, assim como também não os subestimo.
A gente brinca, se provoca, mas sabemos o poder que temos com as
mulheres. Já fizemos isso muitas e muitas vezes, por isso mesmo que não
estabelecemos um tempo exato para as conquistas, exceto com a última, já
que valia o bem mais precioso de Dominique.
conversando com aquela que me fará ganhar dez por cento a mais de direito
sobre o escritório.
este risco.
— Nossa, que jogo baixo. — Fica tentada, seus olhos brilham quando
miram a grana.
Bebo um pouco da cerveja sorrindo. É, parece que esse jogo vai ser
divertido. Quanto mais difícil, mais longo será o meu entretenimento. Gosto
mais dessas que dizem “não” de início, porque é muito empolgante quando
depois estão totalmente rendidas e gritando “sim”.
gargalhamos.
— Vamos, seu tolo! — Bernard o puxa pelo braço até o seu carro.
— E como vai com a Camille? — indago, sei que o casamento dele não
anda bem.
— Pode deixar que apareço e ainda levo um presente. Vou lá dar essa
força, torço muito por vocês — afirmo, pondo a mão em seu ombro.
— Agradeço, meu amigo. Nos vemos no sábado à noite, então.
Ponho o capacete, ligo a moto, olho uma última vez para o Le Loup,
vendo a garçonete trabalhando. Ela parece ser atraída por um imã, seu rosto
novamente vira em direção ao meu, trocamos um olhar rápido, momento em
que confirmo que está interessada, por mais que me diga que não.
braço, chamando o meu nome preocupado, sua voz estava distante. Notei que
enfim percebeu o que aconteceu, olhando o que eu fiz e ficou aterrorizado,
indo para o piso inferior depressa, me deixando ali em cima sozinho.
mas o meu humor está péssimo e não dou atenção, vindo embora assim que
concluo o treino.
Mas lhe permito ter esperança, afinal... ela é a última que morre!
Giro na cadeira, pensando na garçonete que ainda não sei o nome, mas
que terei que conquistar. Faz dois dias que não vou ao Le Loup. Hoje farei
uma nova visitinha!
promete uma foda louca a noite inteira, porém tenho que me concentrar. Levo
os meus negócios a sério, é por isso que para eu perder uma aposta é raro.
de sempre:
— E então? — Sorrio.
— E o telefone?
— Por que esse sorriso? Por acaso ela é lésbica? — Ergo uma
sobrancelha.
Saio do balcão e ocupo uma mesa, retiro o casaco e ponho nas costas da
cadeira ao lado, esperando Madeleine aparecer. Não demora muito, ela surge
com a sua clássica bandeja pela porta da cozinha, os cabelos mal arrumados,
o uniforme que não a valoriza em nada. Realmente não faz o meu tipo, acho
que nunca transei com uma mulher igual a ela, mas tudo tem a sua primeira
vez.
— Já sei também, que você não tem namorado e que não é lésbica,
então, qual é o problema?
A ligação corta antes que eu possa falar mais alguma coisa. Viro a
caneca de cerveja até secar e ergo a mão para o barman que já sabe o que
fazer. Faço-o entender que quero que coloque Madeleine para me servir, ele
atende ao meu pedido sorrindo, se divertindo com a situação ao chamá-la.
me empolga.
— Não sabe escolher?! Não sabe o que quer?! — É arrogante, mas não
me atinge.
— Não sei se sabe, mas não faço parte do cardápio. Não estou à venda!
— ‘Tá, eu deixo bater, mas tem que ser com carinho — ironizo, ela
sorri desacreditada. Issooo, a fiz sorrir! Até que tem um sorriso bonito de
verdade.
inclinando o rosto em minha direção, levo o meu para mais perto ainda do
dela.
indicador e o polegar.
Bebo meu Chopp e fico buscando na mente de onde conheço essa mulher.
Faço uma busca intensa, mas não me recordo, sou particularmente péssimo
de memória!
Sei que o Le Loup hoje fecha mais cedo, então deixo o tempo passar
enquanto bolo o próximo passo, não vou desistir agora que já senti o cheiro
da atração da garçonete por mim. Sim, ela quer, mas não vai se entregar fácil,
já deixou isso bem claro. Assim, não mexo mais com Madeleine. Ela fica
passando por mim me ignorando, resolvo não ser mais inconveniente e
permitir que termine o expediente em paz.
Sou um dos últimos a sair, a rua está até pouco movimentada, sento de
lado na minha moto, cruzando os braços, de frente para o bar, esperando
Madeleine aparecer. Mais alguns minutos e ela surge de braços dados com a
Elas tentam fingir que não estou aqui, contudo não permito:
— Quer uma carona, baby? — falo em alto e bom tom para que não
haja a desculpa de não ter me escutado.
— Eu disse para você avisar a ela que não vou desistir — reafirmo, não
retirando os olhos do meu alvo.
— Você vai com ele? — indaga sua amiga, desacreditada. — Mas nem
o conhece! Porém não julgo. — Me fita saliente.
garçonete.
Entro no Le Loup, sigo até a mesa onde estava, pego a jaqueta ainda
sobre as costas da cadeira, visto-a e quando retorno para fora não encontro
mais as garotas. Avisto as duas correndo de mãos dadas para longe,
gargalhando.
as duas moças bem distantes, sumindo por uma esquina. — ISSO VAI TER
RETORNO!! — berro, em seguida me dou conta do que aconteceu e
gargalho de desespero.
diz:
Tchauzinho, BABACA!!!
Corro a todo vapor com Amélie para longe do bar e para ainda mais
longe do imbecil do advogado. Nós ouvimos ele gritar alguma coisa assim
que dobramos a esquina. Paramos em gargalhadas, de mãos dadas, ofegantes.
— Já te falei isso e vou falar de novo! Há duas coisas que não entendo:
a primeira, é o que te fez mudar da água para o vinho, porque você poderia
até dizer “não”, mas não chegaria a fazer maldades desse tipo com um
gostoso daqueles. A segunda é, por que não dar uma chance para ele? Se não
quiser, eu quero!
— O que foi que ele fez? — A voz dela é preocupante. — O que aquele
cana...?
— Sim. Acho que é namorada... sei lá o que ela é. Não sei por que me
surpreendi, ela tem corpo de Barbie, faz muito bem o estilo dele, eu fui uma
exceção — concluo.
Sorrio em deboche.
pulseira que custou dois meses do meu sacrifício no pulso da outra — conto.
— Exatamente — concorda.
— Foi isso que me fez acordar de vez para o mundo real, amiga. É por
isso que não posso baixar a guarda para aquele arrogante do bar, seja lá qual
for a verdadeira intenção dele. Não consigo mais confiar nos homens, não
consigo mais ser a romântica incurável que eu era até dias atrás. Ainda mais
agora, que estou no último semestre da faculdade e vou me formar. Tenho
que focar no meu futuro e os homens que se fodam!
— Concordo com isso, apesar de saber que provavelmente você não vai
conseguir viver sem um pênis.
— O Advogado!!
— A resposta é nããão! Será que você não consegue ver que aquele cara
não quer nada comigo?
— Por que não poderia querer?! Só por que você é gorda? — Me fuzila
com os olhos.
— E daí?? Ele pode ter mudado de gosto! Pode estar cansado de comer
só pele e osso!
O que será que ele quer? A minha cabeça paranoica pensa em tudo,
menos na possibilidade de ele estar mesmo a fim de mim. Homens como ele
não saem com garotas feito eu. É muito raro, a conta não bate. O cara é lindo,
passa poder, riqueza e sofisticação, sempre pegou as mulheres mais bonitas
que já apareceram no Le Loup, por que diabos ele, de repente, olharia para
mim?
Ainda tenho sentimentos por ele, não é fácil superar, estou nesse
processo há mais de seis meses. Toda vez que lembro do que o vi fazer dói,
dói demais, mas me dá ainda mais força para querer esquecê-lo. E eu vou!
Tomo um belo banho, a minha barriga ronca avisando que preciso mais
nunca mudou nem mudará. Ao seu ver, as suas palavras não me machucam,
pelo contrário, são críticas construtivas.
— Ai, que susto, pai! — Ponho a mão no peito, enquanto ele ri. Minha
voz sai em tom baixo, para não ser escutada além dele.
O observo melhor, ele não diz mais nada, está com o olhar distante, o
— Eu que pergunto, o que houve. Por que essa cara? Por que ficar aqui
sozinho?
— Sofreu bullying na escola de novo, mas dessa vez foi mais grave. —
Está triste ao contar.
— Sim, isso com certeza. Todos na escola sabem, foi por prever
situações como essa que resolvemos desde o início informar sobre o autismo
dele, não para que o tratassem diferente, mas sim para que o tratassem como
ele deve ser tratado, de maneira especial. Também pelo respaldo que
poderíamos ter.
— E espero que tenha acontecido respaldo neste caso. — Meu tom sai
em exigência.
deliciosa refeição. — Ai, que ódio desse menino..., que raiva! Timothée já
está dormindo?
— Deixei-o na cama, espero que ainda esteja nela, você sabe como ele
é na madrugada, ainda mais em um dia agitado como foi hoje — comenta
papai, parece exausto. Então me oferece cerveja.
— A sua mãe tem que parar de tratá-la como se ainda fosse uma
criança e você tem que parar de ter medo de se impor a respeito disso. Não
— É inútil, pai, ela não vai mudar — digo após tomar um gole do
álcool.
— Então vai querer ser tratada por ela assim a vida inteira?
ela, claro, mas também não pode deixar que ela fale e aja contigo como
quiser. Não basta apenas eu reclamar, a sua voz tem que ser ouvida também.
— Eu sei..., mas estou cansada de tentar ser ouvida aqui, pai. Acho que
me basta o senhor e o Tim — confesso, cansada deste assunto, entristecida ao
O senhor Nicollas fica calado, sabe que de certa forma tenho razão,
tentar mudar mamãe é como dar murro em ponta de faca. Eles dois também
têm os seus desentendimentos. Sei que ele já pensou em divórcio algumas
vezes, — coisa que eu não gostaria que acontecesse —, mas desiste por causa
de mim e principalmente por meu irmão.
Suspiro e não digo mais nada, preferindo não me meter, pois este é um
terreno perigoso. Termino de comer, lavo a louça e abraço o meu papai por
trás enquanto ainda está sentado, o beijando na cabeça.
Caminhamos até o corredor dos quartos, sigo o ritmo dele que manca
devido ao incidente que teve enquanto era policial.
ferimento no braço.
castanhos e revoltos de Timothée. Fico com ele por algum tempo, até ir para
o meu quarto.
MADELEINE FERNANDEZ
No outro dia, saio de casa direto para o hospital onde faço estágio, acho
que ainda não contei para vocês, mas sou acadêmica de fisioterapia, a coisa
que mais amo fazer na vida e na qual pretendo crescer. Fico na área de
reabilitação, a que mais gosto, pois pretendo me especializar em fisioterapia
traumato-ortopédica.
beijos com a mesma garota para quem deu o meu presente. Escondo-me
rapidamente para não ser vista, observo com dor o entretenimento deles ao
ficarem às escondidas, mas não me permito permanecer nesta tortura,
mudando a rota em seguida.
Só que isso, sem querer já estraga o meu dia. A imagem do casal fica
grudada em minha mente. O pior é que a garota ainda está usando a pulseira
que dei para ele, o que me causa um ódio desmedido. Uma coisa é certa: se
eu não sentisse mais absolutamente nada por aquele otário, não doeria tanto.
Tento me recuperar, quando mais tarde sigo para o Le Loup, pois sei
que terei que absorver toda a calma do mundo para lidar com o arrogante do
Maurice e a correria rotineira do bar. Contudo, invento de ouvir Corazon
Partío de Alejandro Sanz durante a viagem, o que acaba comigo! Fico triste
Além disso, será bom para que os meus pais tenham um tempo só deles
Também quero distrair Tim, após o triste episódio que teve na escola
essa semana. Sábado e domingo são os únicos dias que consigo dar mais
atenção a ele, por isso gosto de levá-lo para passear, principalmente para
parques ambientais, algo que amo.
Estou em meu quarto em uma nova crise do que vestir. Fico olhando-
me no espelho, vendo o quanto o short que ousei experimentar contorna as
minhas coxas grossas e molda o meu bumbum gigantesco. É tão difícil ser
feia e gorda! Queria tanto possuir a autoestima das mocinhas plus size dos
romances que li, mas na vida real a coisa é bem diferente.
Queria muito ter coragem de usar peças assim mais leves e despojadas,
joviais, porém me falta coragem, exceto de apenas observá-las em meu corpo
em frente ao espelho de vez em quando. Mas sair de casa usando-as? Jamais!
Fico mal como sempre, controlando-me para não dizer o que penso da
bunda dela, que é bem maior que a minha.
— Não sei para que você foi escolher esse parque! Poderiam ir para
outro, não gosto do Buttes Chaumont! Sempre me pareceu perigoso. — Muda
de assunto, após perceber que o que procura não está aqui.
Ela me fita entendendo bem o que quis dizer sobre eles terem um
Após ela ir, tiro o short e ponho uma calça jeans, lutando para manter o
que sobrou do meu bom humor.
— Vamos, Mad... Madeleine! Vamos! — Timothée bate palmas
quando me vê, andando de um lado para o outro na sala, agitado, feliz da vida
porque vai sair para passear. Espero que ele não implique com o lugar novo.
É um risco que estarei correndo ao quebrar o costume de irmos sempre para
outro parque.
Ele não fica a semana inteira em casa, além da escola, faz terapia em
parando e olhando para ela, mas como sempre, sem focar nos olhos, não
gosta de contato visual.
— Vai ficar tudo bem, mãe, a senhora sabe que sempre fica — afirmo,
para relaxá-la.
Saio com o meu irmão, juntos vamos conversando até o metrô. Ele fala
sobre artes e grandes pintores da história com os seus grandes quadros, sabe
de tudo sobre Michelangelo, Picasso, Monet. É tanto conhecimento que fico
chocada, entendendo perfeitamente que não adquiriu todo este saber apenas
na escola. Como este é o seu assunto favorito, quando tento falar sobre outra
coisa, não tem interesse, exceto sobre o parque ao qual estamos indo.
O que mais gosto daqui é a grande variedade da flora — que inclui cedros do
Líbano, cedros do Himalaia, avelãs bizantinas, olmos siberianos, cerejeiras e
muito mais —, a enorme colina de pedra que abriga o Templo de la Sibylle
em seu topo e o lago artificial que a rodeia.
que não para de observar tudo ao redor, encantado. Trouxe-o para um canto
onde há menos gente, para que não fique irritado com os movimentos e sons
das conversas aleatórias em volta.
sonhando.
— Ah, porque não deu... você sabe que sou muito ocupada, mas
quando quiser podemos vir de novo.
— Vamos apenas chegar perto, não iremos sequer passar pela ponte, é
muito perigoso — aviso-o, pegando a mochila ao levantar.
Tim nunca teve noção de perigo, o meu coração quase para quando ele
se inclina sobre a tela de proteção com metade do corpo suspenso para fora.
Sinto meu corpo seguindo o seu, a gravidade nos puxando para baixo,
vamos morrer os dois aqui com a queda livre e não há nada que eu possa
fazer para conseguir impedir! Não consigo raciocinar e nem olhar para os
lados em busca de ajuda, não lembro se havia pessoas próximas quando tudo
isso começou. Foi muito rápido!
Gemo alto e forte, sentindo dor, vendo com pânico a mão do meu irmão
escorregando da minha pouco a pouco. Estou a ponto de ceder contra a minha
vontade quando outra mão — bem grande por sinal —, surge do nada e o
segura, puxando-o de volta para a ponte com potência e velocidade. Caímos
os três no piso.
enquanto ele está bem pleno, como se a quase tragédia não tivesse o afetado
em nada.
— Você não pode fazer isso comigo, está entendendo?!! Não pode!! —
grito, soluçando.
Após uma noite intensa de sexo com uma paquera que conheci na
balada, meu relógio biológico me acorda novamente. Hoje é sábado, final de
semana não vou a academia, geralmente gosto de correr pela cidade e quebrar
a rotina que sigo durante toda a semana, isso quando tenho pique, é claro. É o
que irei fazer.
verdes, a natureza me traz uma sensação que a academia nunca irá trazer,
nem se compara.
Como o jardim público fica perto de onde moro, sigo para lá correndo,
deixando a bela moça dormindo, como faço com todas as outras. Não tenho
Minutos mais tarde, estou respirando o ar até mais natural que o parque
exala, a flora e o clima aqui são fenomenais, parece que tudo é melhor, tudo
fica mais impressionante.
Dessa vez prefiro passar perto do lago artificial, seguindo rumo a ponte
pênsil, o local está pouco movimentado. Miro o templo no topo da falésia,
vou baixando os olhos até me deparar com uma visão de deixar qualquer um
ambos. Eu estava tão alucinado com a situação que mal me dei conta da força
gigantesca que usei para puxá-lo, o que fez nós três irmos ao chão.
Porra!
Quando ela por fim levanta o seu olhar para mim, também fica em
choque ao perceber a puta coincidência. Seus olhos chorosos me
compadecem, eles são lindos, de um verde impressionante, algo que eu não
tinha notado antes. As lágrimas os fazem brilhar, ficando mais intensos.
respiração.
— Eu não sabia... estava correndo. Pode não acreditar, mas foi uma
louca coincidência. Vocês me assustaram, veja... — Mostro-lhe a mão direita
que ainda está tremendo.
— Tim, este é o... — Sua voz falha, não sabe o meu nome.
— Esteban — apresento-me.
— Esteban, este é o Tim, o meu irmão. Agradece a ele por ter nos
ajudado, Timothée. — Ela pede, mas ele não quer conversar comigo. — Ele
é... tímido — explica fungando, ainda no processo de engolir o choro.
— Temos que ir para casa agora — determina, então volto a ficar ereto.
Ela o puxa, sua mão está cravada na dele como um metal soldado.
— De nada. Mas vocês não querem sentar um pouco, tomar uma água?
— indago, preocupado com o seu estado, tendo em vista que o menino está
como aquele.
Enquanto andamos, vou para o seu lado, aproveitando que Tim está
distraído, olhando ao redor. Falo em tom mais baixo:
— Acho que vai demorar bastante para que eu fique realmente calma.
— Gostaria de saber como isso aconteceu em detalhes, mas sei que este
não é o melhor momento. O importante é que estão bem.
— Não, vocês vão de táxi para que fiquem mais calmos e confortáveis,
não acha? — argumento, realmente estou tenso sobre ela ainda ter que
enfrentar uma viagem de metrô até chegar ao seu destino, tendo em vista a
— Leve eles para onde quiserem, por favor. — Entrego ao homem uma
nota alta, suficiente para qualquer viagem, mesmo que distante.
assim mesmo. E, para que fique bem claro para vocês, neste momento estou
agindo como agiria com qualquer outra mulher em seu lugar, não tem nada a
ver com a aposta.
situação de risco extremo, foi assustador! Será que apenas uma borboleta
causou esse estrago? Bem, não sei quase nada sobre autismo, é um universo
desconhecido para mim.
Ah, fiquei puto! Muito puto! Nenhuma mulher jamais fez isso comigo,
pelo contrário, ansiava para entrar em meu carro, para ficar comigo nem que
fosse apenas por alguns milésimos de segundos. Nem gosto de lembrar o
trabalhão que deu para conseguir voltar pra casa com a Streetfighter. Fora o
prejuízo para comprar novas rodas.
Pierre —, talvez não valha a pena. Senti dó dela, escutei seu desespero, foi
impossível não ficar tocado. Não sei como será de agora em diante, porque
não quero perder a minha moto e nem a porcentagem que me dará mais poder
e nome dentro do escritório.
Ao chegar no loft, descubro que a ruiva com quem dormi essa noite
ainda está na cama. Algumas ficam mais do que deveriam, outras vão embora
logo cedo. Ela acorda assim que tiro a roupa inteira, mostrando o meu corpo
com os músculos tensos e suados. Nossa troca de olhar diz tudo, faz inflamar
a tensão sexual que rolou na madrugada, então sigo em sua direção, sério,
fatal.
absolutamente nua para mim. Ergo as suas pernas, observando os seus pés
limpinhos, beijando a parte superior de ambos.
Observo-a, adoro ver a sua face exalar tesão, sensualidade, prazer. Faço
uma lambida servida por toda a vagina, umedecendo os lábios pequenos e
fininhos, que vibram ao meu toque. Passo a chupá-la com um pouco mais de
intensidade, mas lentamente de forma gostosa, calma e ao mesmo tempo
delicada.
Enfio o dedo médio por entre as suas carnes íntimas, devagar, até o fim
e faço movimentos dentro do seu corpo ao mesmo tempo em que continuo
com o sexo oral, chicoteando o seu clitóris com a língua macia, habilidosa.
Fecho os olhos em alguns momentos, absorvendo o sabor, curtindo cada
segundo, mamando com todo o carinho.
Largo as suas coxas finas, escorrego as mãos gigantes por seu abdômen
até os seios pequeninos que cabem nas minhas palmas, apalpando-os e
massageando-os, no instante em que inicio a nossa conjunção carnal de fato,
indo e vindo entre os seus lábios vaginais, deslizando por suas carnes
molhadas, comendo-a.
Sorrio cafajeste com o seu pedido, deito-me sobre ela, seguro o seu
queixo, viro seu rosto para o lado e cochicho em seu ouvido, safado:
— Não.
ESTEBAN JAVIER
— Seu e de Pierre, onde ele está? — Olho além dela, vendo a sala de
estar luxuosa muito bem preenchida com convidados da alta sociedade, todos
— Houve uma situação hoje que me fez repensar nesta aposta como
algo negativo — conto ao mesmo tempo em que observo ao redor,
encontrando algumas gostosas atraentes.
— Mas é por isso que fazemos de tudo para que elas não fiquem
Eles não acreditam em mim, resolvo não falar mais sobre o assunto.
— Sabe que sempre sou o último a chegar, mas também o último a sair.
— Pisco para ele.
— Ah, amor... estou dando atenção aos nossos convidados. — Ele tenta
recusar.
surgindo. Até Bernard e Dominique que não são bobos, conseguem um par e
vão dançar também.
— Que horror, isso aqui está pior que baile de debutante — comento,
quando fico sozinho. Seco a taça e logo pego outra.
— Tudo bem, liguei apenas para saber como estava, ter notícias dos
outros. Mamãe também não me atendeu mais cedo.
— Ah, hoje é dia dela ficar com a Alisa, você sabe. Quando aquela
gracinha está na mansão tudo fica de cabeça para baixo.
pequena.
— Aham... onde está o titio, Esteban? Por que o titio Esteban não
veio? — Tenta imitar a voz doce da nossa sobrinha.
— Você poderia ter enviado pelo menos o presente, sei que lembrou.
— Pontua.
— Ele está indo muito bem na empresa como CEO, mas está sentindo a
sua falta como diretor jurídico.
— Ah, me poupe, Mateo. — Debocho, bebendo mais um pouco e
caminhando para mais longe do som, entrando em um corredor.
— Acha que estou mentindo para lhe agradar? Me poupe você! Até
quando vai manter essa ferida aberta, um dia pode ser tarde demais. — Fico
levemente tenso com o tom da sua voz.
preocupado.
— Mas desde que ele foi morar sozinho está ainda mais distante...
obscuro. — Me ignora. — É o que sinto quando o vejo. Nas poucas vezes em
que o vejo.
— Isso não me importa. Não sei porque estamos falando dele. Quero
— Boa coisa não deve ser. O pai dela está sabendo disso? — Fico
curioso.
— Não, estão mantendo segredo, até porque acho que esse encontro
— Espero mesmo que não, a nossa sobrinha não merece aqueles avós.
você está?
— Foi o que ele sempre planejou desde o início. Está vendo como não
faço falta? — O alfineto.
Eles podem até curtir, mas vão ter que me esperar sair, pois não ficarei
preso aqui ouvindo uma mulher gemer sem que seja eu a causar os seus
gemidos. Abro a porta do boxe, recebendo um choque absoluto como jamais
tive algum dia na vida ao me deparar com Pierre prensando Adam contra a
— Esteban, cuidado! — Ela ri, mal consigo olhar na sua cara. — O que
— Ah...
— Ah, ele está ali! — Olho na direção em que ela olha, vendo Pierre
surgir agora sozinho, fitando-me ao lado da esposa aterrorizado. Ela vai em
sua direção e aproveito para fugir da festa, voltando para casa.
Abro uma garrafa de uísque assim que entro no loft, sentando no sofá
agora já mais calmo, bebendo para tentar impedir que os fantasmas daquilo
que me dói invadam a minha mente como fazem quando tenho pesadelos.
Foram tantas merdas para uma vida só, que nem sei dizer.
Não queria sentir tanto pela Camille, mas estou sentindo. Queria poder
entender o meu amigo, aquele que jamais demonstrou qualquer característica
homoafetiva ou infiel, mas até o momento não consigo entender, nada disso
também me diz respeito. Mas o acontecido tocou feroz em uma das minhas
cicatrizes, a porta se abrindo... o choque! Foi como um déjà vu.
Quem é?
Você sabe quem é. Quero agradecer mais uma vez pelo meu irmão. Muito
obrigada. E pedir desculpas por ter te tratado tão mal..., pela sua moto.
Segundo, pelo Esteban, por ter o tratado mal e ainda por cima furado os
pneus da sua moto. Agora estou com duas dívidas, lhe devendo em dobro,
rolando na cama após passar o dia tentando esconder dos meus pais a quase
tragédia. Tim não parou de falar da maldita borboleta azul, mas até o
momento não citou nada sobre o pior. Se nossa mãe descobre o que
aconteceu, é capaz de arrancar a minha cabeça fora.
Já está ficando tarde, mas não consigo dormir. Suspiro, irritada com a
insônia, então ligo para Amélie e lhe conto tudo. Ela fica chocada.
— Você não contou para a sua mãe, né? Diga que não.
— Óbvio que não! Deus me livre! Não quero morrer agora. Não contei
nem para papai, porque por peso na consciência ele poderia acabar falando
para ela.
— E como fez para o seu irmão ficar calado? Sei que o Timothée não
consegue guardar segredos, é muito verdadeiro.
— Menos mal. Mas e agora, o que vai fazer quanto ao gostoso dos
olhos azuis? — Está curiosa.
— Hmmm... não sei, estou me sentindo muito culpada por tê-lo julgado
mal lá no bar e furado os pneus dele. Agora estou devendo isso e o dinheiro
do táxi, além do ato heroico dele. Estou pensando em lhe mandar mensagem.
— Mas se ele realmente quiser comer você, vai te chamar para sair —
conclui.
— Ah ‘tá, então vou dar para o cara porque ele salvou a minha vida e a
do meu irmão.
— Mas, é sério amiga, até porque você também está precisando. — Ela
continua.
— Olha aqui, Amélie, você está muito ousada! Não estou precisando de
sexo, pelo contrário, estou muito bem, obrigada! — Tento ser verdadeira,
apesar de achar que falhei miseravelmente.
tentando.
— Vai demorar muito mais se não começar a ficar com outros homens.
Amiga, já te disse isso mil vezes, quanto mais homem melhor. É tão bom
quando estamos no poder e os usamos igualmente eles nos usam, assim o
jogo fica equilibrado e ninguém sai perdendo.
— Você só se deprecia tanto assim, devido a vida difícil que tem com
uma mãe dessas e pessoas tóxicas ao seu redor feito o imbecil do Maurice.
Você pode ser gorda, mas é muito gostosa, tem uma bunda perfeita, grande e
redondinha como eu gostaria de ter. Seu peso é muito bem distribuído, não se
concentra apenas na sua barriga. Sua pele é tão branquinha que fica rosada
facilmente, seus lábios carnudos são naturais e seus olhos... oh Deus! Que
vida injusta!
— Isso porque você não é quase esquelética como eu. Minha bunda é
tão seca que quando sento sinto até os ossos... e dói! Mas eu me amo, não
cem por cento, mas me amo muito mais do que me odeio e a senhorita
deveria ser assim também. Você poderia ser modelo plus size, sabia?!
Oh, merda! Penso. Bem que Amélie previu isso. Começo a digitar uma
desculpa esfarrapada para negar, afirmando ainda que vou pagar o táxi e os
— Esteban...?
Olho para a porta do meu irmão no fim do corredor, ele só pode ter
falado o que não devia, mas como já conheço bem a mãe que tenho, sei que
não posso entregar tudo de bandeja até saber até que ponto ela sabe.
— Absoluta.
— Então por que o seu irmão está desenhando ele desde que chegou do
parque?
— Porque eles conversaram, Timothée deve ter gostado dele, não sei.
— Hmm... sei. Espero então que tenha sido só isso mesmo, porque de
modo algum vou aceitar você ficar levando o seu irmão para testemunhar as
suas safadezas!
— Cale a boca, você está na minha casa e aqui eu falo o que quiser! Se
não estiver feli...
Ela vai para a porta do seu quarto, abrindo-a, mas antes de entrar, me
olha uma última vez e destila o seu veneno:
— É bom que ainda seja virgem, porque já é gorda, caso não seja
virgem também não valerá mais de nada! — Assim, some de vista.
a respirar direito. Lembro do que ela disse sobre o Tim e sigo para o quarto
dele.
— Sim.
Pego o celular do bolso observando novamente a última mensagem
dele me convidando para jantar. Olho o quadro do meu irmão outra vez,
Eu aceito.
A ignoro e continuo:
— Então foi para isso que veio aqui!! Para ficar lindaaa!! — Advinha.
— Se prepara bebê, porque hoje vou fazer você finalmente ver a linda
mulher que é! — Promete, empolgada.
— Claro, você deve estar com uma selva no meio das pernas! — afirma
descaradamente.
Amélie pega algumas coisas sobre a sua cômoda, seu quarto é pequeno,
com móveis antigos e gastos. Ela se vira para mim com o material que irá
— Okay... não vamos entrar neste mérito, agora finge que eu sou o
loiro gostoso e abra as pernas! — exige, olhando-me saliente.
à merda de novo, deita nessa cama e abre essas pernas! — grita, fazendo-me
esbugalhar os olhos.
— O fato de você ser a minha amiga não significa que eu não tenha
vergonha, entendeu?! Nunca fiz isso antes e não será hoje que irei fazer! Me
consegue um prestobarba que cuido disso sozinha!
— Aqui não tem prestobarba e você com essas unhas postiças vai
acabar decepando o seu clitóris antes de conseguir usá-lo outra vez! Agora
deita na merda dessa cama, caramba!! — fala mais alto ainda, histérica. —
Ou é isso ou vai para o banheiro tentar ficar aleijada da boceta, você que
escolhe!!
— Amiga, sei que tem vergonha do seu corpo, mas sou eu... relaxa! —
Tenta me acalmar.
gargalhando.
— Vou abrir, mas eu juro que se soltar mais alguma piadinha de mal
gosto, vou embora, desisto do encontro e você nunca mais vai me ver na
vida!! — ameaço.
Ponho as mãos no rosto novamente para evitar olhar para ela e abro as
pernas. Sinto o gel sendo posto sobre a minha vulva.
— Doer?
— É uma dor suportável. Nossa, cada vez odeio mais a sua mãe por
você ser tão inexperiente, uma mulher adulta que não sabe de nada. Tudo isso
aprendi com a minha mãe, cara! Nossa! — Ela fixa o lenço na minha
intimidade. — Preparada?
encarando sua face risonha, erguendo o meu rosto para ver o estrago, mas até
que gosto do resultado.
— Gostou? — pergunta.
— Gostei, mas não quero mais falar sobre isso. O que estava fazendo?
— indago, vendo-a mexer no meu vestido.
— Salvando o seu look da noite. — Ela me mostra a peça que antes era
longa e agora ficou curta, com um corte na barra no estilo babado.
— É porque quero que pareça uma jovem e não uma freira! Sei fazer
esse tipo de corte e ficou show! Vai ver quando vestir, mas antes vamos
arrumar o seu cabelo, vamos! Daqui a pouco o seu boy chega e o meu
também.
sorri orgulhosa e não tenho outra reação a não ser sorrir também.
— Você ficou linda!! — Elogia-me, e dessa vez não a contesto, até que
estou adorando essa minha nova imagem. — Agora a maquiagem, vamos!!
— Acha que beleza é fácil? Não é, não! Só quero ver a cara do gostoso
quando ver a garçonete transformada em uma princesa! — Gargalha
contente, mas o meu estômago esfria, fico com um pouco de medo ao
imaginar a cena.
Por fim, ponho o vestido que só cobre até a metade dos meus joelhos,
as minhas pernas depiladas ficam expostas assim como os meus braços e
ombros. A peça fica bem em meu corpo, valorizando as minhas curvas
avantajadas e segurando os meus seios grandes que agora não parecem tão
exagerados. Calcei tênis brancos, os que uso quando vou para o hospital e pus
um colar singelo que ganhei de papai aos quinze anos.
emocionando-se também.
— Tudo bem, não vou chorar. Só estou me sentindo muito nua, muito...
exposta e não me chame de careta! — A repreendo antes de tentar.
— É o Esteban?
— Chega de medo, Madeleine. Não tem como viver com medo, meu
amor. Só os corajosos vivem de verdade. Nossa, me saí tão filósofa agora. —
Sorrir, encantando-me.
Ela lembra que ainda não usei perfume, então o faço. Após alguns
minutos, descemos pelas escadas até a portaria, onde nos surpreendemos com
cruzam quando baixa os vidros. Tento não ficar boquiaberta e fingir costume,
mas é quase impossível.
analisar todo o meu corpo. Sua mão grande e macia segura a minha, não
estava esperando por isso!!
— Está pronta para mim, baby? — pergunta, sexy e fatal, a voz rouca
ressoando em meus ouvidos. É quando a minha intimidade pisca, se
Engulo em seco, não sei o que responder, a voz não sai. Ele abre a
porta para mim, cavalheiro. Observo o interior luxuoso do seu carro com a
sensação de que se entrar nele, estarei totalmente perdida, mas não posso
deixar que isso aconteça, preciso manter a sanidade mesmo ao lado do diabo.
Amélie — que está quase explodindo ao nos assistir —, volta para o seu
lugar, olha-me de maneira profunda mais uma vez e acaricia o meu queixo,
gosta de me tocar.
— Você está linda, Madeleine, nós vamos nos divertir muito hoje.
ESTEBAN JAVIER
— Você está linda, meu amor! Linda! — digo feliz, vendo ela abraçada
à dona Alba, sorrindo.
— Quando vai voltar, titio Esteban? — pergunta com sua doce voz. —
O senhor faltou ao meu aniversário e não me deu presente — lamenta,
tocando o meu coração, com seus olhos intensamente azuis me fitando.
— Nárnia não existe de verdade, não ache que sou boba, tio —
reclama, fazendo bico.
— Você jamais será boba, meu amor. Você é uma princesa, a minha
princesinha.
— Vamos, pequena!
— Ah, sim.
está bem e que não sabe quando vai voltar. Alejandro: desde que passou a
morar sozinho, mal vem nos visitar, só foca na Javier. Luna: muitas vezes
ainda é uma adolescente no corpo de uma mulher, vivendo a vida como se
todos os dias fossem os últimos, sinto que está se destruindo aos poucos.
— Ama não, quem ama não maltrata! — ouço-a rebater, enquanto Luna
me fita sorrindo.
— Hoje ela está uma fera — falo baixo, tentando evitar ser ouvido.
— Tudo na mesma — afirma, como quem não quer falar muita coisa.
— Nós não temos uma relação, é só sexo. Só você sabe disso porque
— Por que ele quer mais do que posso oferecer. — Luna sempre é bem
— E você já se permitiu?
Abaixo os olhos, fechando a cara. Assim como sei coisas sobre a sua
vida, ela também sabe coisas sobre minha.
— Eu fico com várias mulheres. — Tento fazer com que isso pareça
algo sólido, tentando nos diferenciar.
— Ele já deve estar, não fica esperando por mim, apesar de vir atrás de
vez em quando. Não dá Esteban, gosto dele, mas não consigo amá-lo. Não
— Vamos juntos, que tal? Acho que você também precisa! — ataca
novamente, reviro os olhos. Ela ataca quando se sente acuada. Vejo sua mão
nervosa mexendo em seus cabelos pretos curtos e repicados, Luna é linda,
exuberante, meio gótica. — Maldito o dia em que abri espaço para você na
minha intimidade! — reclama, fitando-me agora.
Minutos depois, estou abrindo a porta para recebê-lo. A nossa troca de olhar é
estranha, sinto o medo exalando de cada poro dele.
— Entra — digo, ele suspira e passa por mim. Fecho a porta. — Por
que não avisou que viria?
— Oh, meu Deus, estou tão envergonhado pelo que você viu ontem,
Esteban! — Seus olhos brilham, nunca o vi querer chorar antes.
— Foi um choque, admito. Mas não tenho nada a ver com a sua vida
com o que fez ou... está fazendo, mas essas coisas acontecem, acredito que
não seja de hoje, nem de ontem que... — Não sei como me expressar outra
vez.
horas sobre mulheres e eu ter que fingir que sentia tudo igual.
— Por isso que nunca participou das nossas apostas, você nunca achou
divertido —relembro.
lado por tantos anos reprimido após casar com Camille, quando conheci o
Adam. — Me fita, chorando, devastado. — Não queria fazer isso com ela,
não queria, mas tudo já estava insuportável! Era como se a qualquer
momento fosse explodir, porque por mais que quisesse amá-la, ser o homem
— Sei disso, mas não posso me separar! Ela é o meu ponto seguro para
que eu jamais seja descoberto. Tenho uma carreira e uma imagem a zelar, a
qual tenho certeza que consegui por ser heterossexual.
quando vim para Paris e me libertei de coisas tóxicas que me faziam mal na
Espanha. Me libertei quando você e os outros aceitaram que eu fizesse parte
do escritório. Tenho muito a te agradecer, Pierre, a oportunidade que me deu
aqui, dificilmente outro daria.
— Não seria tão difícil com o currículo glorioso que possui — elogia-
me, tentando um sorriso entre a profunda tristeza que se abate sobre o seu
semblante.
— Jura que não contará a ninguém? Nem mesmo aos nossos amigos?
— Está muito inseguro, desconfiado.
— Não vou contar, cara! Para com isso. Estou jurando que da minha
boca não sairá nada. Agora quero que quando sair daqui, pense bem sobre o
seu casamento. Pierre, nada é mais importante do que a sua saúde mental, a
sua paz interior, acredite em mim, foi por isso que deixei Madri. — Afasto-
me dele, encarando-o. — Precisa se libertar dessa merda toda, mandar a
opinião alheia para o caralho e quando finalmente se sentir pronto... libertar-
se de vez.
enfim o homem vai embora. Sinto que um lado seu confia em mim, mas há
outro perturbado pelo temor de um escândalo latejando em sua mente. Não
faz mal, com o tempo ele vai perceber que sou de total confiança, apesar de
achar que já sou merecedor de tal sentimento devido ao tempo em que
estamos convivendo, mesmo não sendo muito.
Vai ser uma experiência inédita para mim, acho que nunca fiquei com
mulheres gordinhas ou que pesassem mais que cinquenta e sete quilos.
Também nunca demorei tanto para ganhar uma aposta e de hoje não pode
mais passar. Espero que pelo menos ela saiba se vestir à caráter ou cuide um
pouco da aparência, pois todas as vezes em que a vi anteriormente não estava
apresentável como as garotas com quem costumo ficar.
Se bem que isso não importa tanto, levando em conta que ficaremos
todo os lados.
Ela vem em minha direção, mas sinto a necessidade de sair para recebê-
la, assim como todo bom cavalheiro deve fazer. Atravesso o carro, recebendo
o seu olhar de forte interesse, porém... para a minha grande surpresa, me pego
fitando-a com interesse também, pois vejo uma imagem totalmente nova da
garçonete que está simplesmente... linda.
nenhum lugar.
O vestido curto deixa de fora umas pernas tão alvas e de pele que
aparenta ser tão macia, que jamais imaginei que ela poderia ter. Sinto
curiosidade de vê-la nua, uma curiosidade monstruosa.
Nunca imaginei que poderia sentir o que estou sentindo por ela agora:
atração. Não por preconceito por ela ser de acordo com o que dizem, acima
do peso, mas simplesmente por não ter sentido essa força, essa vontade que o
homem tem de comer uma mulher logo que nos conhecemos como acontecia
com as outras, além de... — como já disse várias vezes anteriormente —, ela
estar fora dos padrões das moças que estou acostumado a levar para a cama.
enquanto está sentada e a minha mão coça para tocá-las, descobrir a textura
dessa pele que tanto me captura a atenção.
— Você está linda, Madeleine, nós vamos nos divertir muito hoje —
aviso.
ESTEBAN JAVIER
Ela suspira, está mexida assim como eu, posso sentir a química
faiscando entre a gente, entretanto, desfaz o meu toque afastando a minha
mão, para a minha surpresa.
— Sério? — indaga.
— Já disse naquele dia no bar, mas hoje não quero que brigamos e nem
ser antipático ou arrogante, a minha resposta é... quero jantar contigo, ter esse
momento a dois para nos conhecermos melhor. O que vem depois, se vier, é a
noite quem vai dizer. — Sou direto e sincero.
— O seu “se” foi muito bem colocado, agradeço por isso. Porém, quero
que saiba que não tenho as mesmas pretensões que você diz ter essa noite —
informa, ela não se dá por vencida, é tinhosa. Gosto disso.
Te pido de rodillas
Luna no te vayas
Alumbrale la noche
A ese corazón
Desilusionado
A veces maltratado
No te perdonaré
Si me dejas solo
Lo revuelven todo
Y me vuelven loco
— Sim, mas já faz um bom tempo, e foi durante o dia. Também nunca
entrei nos restaurantes — informa.
— Ainda temos alguns minutos até a nossa hora no 58, que tal darmos
uma volta enquanto isso? — A convido.
— Deve ter custado uma grana para ficarmos com essa vista —
comenta, ela sabe muito bem como funcionam as coisas.
— E a senhorita?
visível.
divertida.
Olho em volta, as mesas ficam bem perto umas das outras, a maioria é
composta por casais, há um burburinho pelo ambiente, um clima confortável,
vívido e divertido. Enquanto esperamos a nossa entrada, somos servidos com
um vinho que escolhi e pães de couvert para abrir o apetite.
— Ah, está bem, graças a Deus e a você. Ainda estou chocada com a
coincidência — revela.
— Por que tanta desconfiança, Madeleine? Por que sempre está assim...
armada ou com o pé atrás? Tem medo de mim? — Vou direto ao ponto.
— Não exatamente de você, desde ontem te vejo com novos olhos, mas
sou receosa sim com os homens em geral, ainda mais esses como você.
— Sim... uma vez ele soltou a mão da minha mãe na rua e atravessou a
avenida, quase foi atropelado. Foi um susto e tanto, mas o que você
presenciou foi muito pior — diz.
— Ele faz tratamento? Fora aquilo o achei muito... não sei se posso
falar essa palavra.
— Normal?
— Sim.
corrigi-lo. Mas sim, ele faz tratamento multidisciplinar desde muito pequeno,
o autismo dele é do grau moderado, ele não possui nenhum tipo de atraso
mental, porém enfrenta os seus obstáculos dia após dia. Já melhorou bastante
comparado ao que era antes.
— Que chique.
dor nas costas, sabe... — Brinco, trocamos sorrisos com segundas intenções.
nacionalidade — peço.
— Ah, sim. Nasci em Madri, e depois meus pais vieram para Paris,
então quase não tenho lembranças da Espanha, porém gosto muito da cultura
de lá, principalmente das músicas, acho que está no meu sangue.
— Eu sou de Madri também, vim para Paris faz um ano, quis mudar de
vida.
— Legal.
Gargalho.
— Não... você jamais faria isso de qualquer jeito. — A sua voz está um
pouco suave demais. Ela, pelo visto se embebeda fácil, não deve ser
acostumada com álcool.
— Por que acha que tem tanta certeza a meu respeito? — Volto a entrar
no assunto de meu interesse.
— Não acho, eu tenho. — Bebe mais um pouco, já secou várias taças.
— Porque homens como você não ficam com mulheres como eu.
Conheço-o, antes de falar comigo, o vi por inúmeras e inúmeras vezes no Le
Loup cortejando e paquerando várias moças, cada dia uma diferente, todas
bem diversas de mim, altas... magras e perfeitas. O senhor... não leva para a
cama mulheres gordas, feias e pequenas, aposto que nunca ficou com alguém
como eu... não sabe o que é um corpo sem qualquer procedimento estético,
que não seja lapidado numa academia ou em um crossfit.
— Está dizendo na minha cara que não sei o que é uma mulher de
e não lembro quando foi a última vez em que me diverti tanto. Você é
divertido, sabia?
— Acho que o álcool está te fazendo falar o que não falaria se estivesse
sóbria — digo.
— Mas é verdade, só fiquei com um cara em toda a minha vida e ele foi
um escroto! — confessa, me deixando chocado.
— Sim..., mas não conta para ninguém. — Faz sinal de silêncio. É, ela
está bêbada e nem percebi como chegou a este ponto.
— Vinte e um.
Entro em um dos boxes, mijo e sigo para a pia, lavo as mãos e o rosto,
me achando um ordinário por ter vindo para cá com uma menina com
segundas intenções. E todas as coisas que eu disse para ela? Quando a vi no
bar, parecia mais velha, apesar de vulnerável. Está decido, sairei do banheiro,
a deixarei em casa e mandarei essa aposta para o inferno!
— Você não vai acreditar, o meu ex... quer dizer, o cara que eu fiquei,
está aqui!! — afirma, como se fosse o fim do mundo, murmurando.
— Madeleine, eu...
Não consigo concluir, a baixinha fica nas pontas dos pés, puxa o meu
rosto com força com as duas mãos e gruda os nossos lábios, roubando-me um
beijo.
ESTEBAN JAVIER
Só há ela e eu.
autora.
A pretensão nesse jogo nunca foi machucar alguém, sempre foi apenas
se distrair, se divertir. Não posso permitir que as regras sejam quebradas.
Apesar de tudo isso ser uma merda como Pierre sempre falou, tentamos ter
alguma espécie de princípios onde é quase impossível.
enganar? As dicas estavam todas ali durante todo o tempo mesmo que de
modo implícito, entretanto não as captei.
e... tesão. Foi o beijo mais simples e casual de toda a minha vida, contudo o
gosto ainda está aqui, latejando em meus lábios.
Olho-a sem entender nada. Fico calado, prefiro não responder. Ela
entende a minha negativa silenciosa e continua:
— Pare de pedir desculpas! Vai pedir desculpas por não querer transar
comigo? Também não quero transar contigo! — disparo, não vou ficar por
baixo.
iríamos transar.
— Não..., mas não posso ir para a casa dos meus pais... — geme, pondo
a mão na garganta. — Eles nem sonham que estou com um homem... em um
encontro..., não quero nem pensar o que mamãe diria se descobrisse! —
Fecha os olhos, fazendo careta.
Agora tenho ainda mais certeza de que eu, um homem de trinta e sete
anos, estou com uma garota, de que levei uma menina para jantar. Fiz merda,
a envolvi em um jogo sujo que pode acabar com os seus sentimentos, a deixei
sair de casa mentindo para os pais para poder me encontrar e agora está aqui
no meu carro passando mal. Isso está indo muito longe, longe demais.
em excesso para fora, despejando tudo na rua. Fico ao seu lado, segurando-a
para que não haja risco de cair e se machucar. Deixo-a botar para fora o que
lhe faz mal.
— Terminou? — pergunto.
— Não, Madeleine, se tem alguém aqui que deve pedir desculpas, sou
eu — assevero, ela me fita sem entender.
— Foi mal mesmo. Vou ligar para Amélie. — Voltamos para o carro,
retorno para a pista, permitindo-a tentar se comunicar com a sua colega, mas
pelo visto não dá em nada. — O celular não está chamando. — Está muito
preocupada, é como se tivesse caído numa cilada. — Não acredito que ela fez
isso comigo! — Fica incrédula, decepcionada, agoniada. Acredito nos seus
sentimentos, são todos reais. — Já sei, você me deixa no prédio dela, irei
esperá-la no corredor do apartamento, não tem problema.
focado na direção.
— Vai sim, não tem outra opção e não permitirei que fique ao relento
sem saber a que horas a sua amiga vai chegar.
cansada, não discute. — Não se preocupe, não irei tocar em você — afirmo,
sério.
— Acha que seria tão ruim assim transar comigo? — Não resisto,
preciso saber.
me convenceu com a sua desculpa esfarrapada, talvez nem ela mesma tenha
se convencido do que disse. Paro de rir quando noto as suas maçãs fofinhas
enrubescendo. Fico encantado... é uma graça!
uma menina!
— Ah, para por favor, não quero tocar mais neste assunto — determina,
séria.
— Tudo bem, não está mais aqui quem falou. — Dou o assunto por
encerrado.
diferente.
— Achei que você fosse daqueles caras que esbanjam luxo por todos os
— O que está fazendo?! — Seu tom de voz aumenta e seus pés dão um
passo para trás, em alerta.
— Aff... sabia que era uma péssima ideia vir para cá! — reclama,
cruzando os braços.
— Já disse que não irei te tocar, para de querer ser chata, pois sei que
não é. — Caminho até a escada. — Vem! — chamo, subindo os degraus.
— Esse seu sofá é mais confortável que a minha cama, e bem espaçoso
— Usa isso, ainda está com o meu perfume, vai que te faz ter sonhos
eróticos conosco esta noite. — Pisco, provocando-a, vendo sua expressão de
raiva.
Adoro irritá-la.
com a minha língua prendendo a dela de várias formas, com os meus dentes
mordendo a sua carne, chupando. Fico chocado com a ereção se formando
entre as minhas coxas, com os pensamentos sacanas. Meu pau levanta
rapidamente, longo, grosso, pungente, saindo de dentro da água apontando
para o alto.
bunda enorme, redonda e durinha. Meu queixo vai ao chão! Fico paralisado,
em choque, porque foi tão repentino, inesperado.
Ela usa uma calcinha roxa de cintura alta que mesmo sendo
proporcional ao seu tamanho, está enfiada entre as suas nádegas avantajadas,
branquinhas, a pele lisa. Engulo em seco, meu pau se contrai, criando vida
outra vez, endurecendo com força, o sangue correndo pelas veias,
esquentando o corpo inteiro.
Mesmo com ela longe, meu corpo está quente, parece até que não tomei
banho. É como se eu estivesse sem foder há dias, pois não é possível tanta
atração momentânea. Pela primeira vez uma mulher dorme na minha casa
sem ser na minha cama ou após transar comigo. Isso está estranho... muito
estranho! Não devia estar perturbado, mas estou, porque a desejo.
Fico imaginando como seria aquele rabo dela sentando sobre mim,
engolindo-me por inteiro em suas entranhas e concluo que o impacto seria
forte, poderoso. Rolo mais vezes, chegando a rosnar de raiva por não
conseguir adormecer. Canso de lutar e me entrego.
Agora estou eu aqui, entre a razão e o tesão, mas com o pau na mão.
Suspiro, o que ele está fazendo? Esteban então desce pelos degraus,
bem lento, e vem caminhando decidido em minha direção. Quando se
aproxima, é que consigo notar que está completamente pelado, fico
boquiaberta ao focar em seu pênis gigantesco.
Uma parte da minha consciência grita para que eu lute, mas a outra
parte berra muito mais alto para que eu ceda, para que o permita me tomar e
fazer de mim o que quiser. Sua língua lambe o meu pescoço, arrastando-se
por minha pele. Enlaço o seu quadril quando sinto o seu pau pressionado
contra o meu abdômen, quente, pegando fogo.
euforia, com violência, suas mãos largam os meus pulsos e apalpam os meus
grandes seios com força. Sinto seu corpo colossal escorregar pelo meu,
resvalando para baixo, o casaco que visto sendo jogado para o alto, a calcinha
rasgada, e então...
Oh, meu Deus, onde ele está?! Viro-me com violência em busca dele,
tentando achá-lo, mas me desequilibro, esquecendo que estou no sofá e caio
toda desengonçada no chão. O tombo me faz gemer de dor e despertar de vez.
Olho para o alto após levantar, não há movimento algum, nenhum sinal
Agora mais calma, capto melhor todas as sensações que o meu corpo
emana, estou um pouco mole, mas é uma moleza gostosa. Tenho vontade de
me tocar mais, ao mesmo tempo em que estou incomodada com o melecado
entre as pernas. Minha pele está quente, o sonho foi muito realista,
avassalador e assustador.
Como pude ter sonhado com aquele babaca?! Não, não, não, isso não
aconteceu! Não posso estar atraída a esse ponto por ele!
a tomar um bom banho para voltar ao meu estado normal. Sei que acordar
assim após os últimos acontecimentos é normal, mas a questão é que eu não
queria que fosse assim, queria ser indiferente ao Esteban, no fundo sei que ele
não me quer de verdade, isso não pode ser possível, então, não posso sentir
nada por ele. De jeito nenhum!
Não posso correr o risco de repetir com ele a mesma história que tive
com o Vincent.
tempo! Querendo ou não, me convidar para jantar foi uma grande sacada, foi
romântico, o melhor jantar de toda a minha vida. Depois, quando passei mal,
ele me acolheu, cuidou de mim e me trouxe para a sua casa sem garantia de
sexo.
Por que Esteban não poderia ser apenas convencido e arrogante?! Por
que ele tinha que ser educado, lindo, romântico, provocante, cuidadoso e
protetor? Um cavalheiro na pele de lobo e um safado na pele de cordeiro!
Sinto que ele está me envolvendo aos poucos e conquistando com essa
personalidade tão... fascinante, desafiadora! Ao mesmo tempo que tenho
vontade de o pôr em seu devido lugar, sinto vontade de estar lá com ele. Mas
isso deve ser passageiro, mal nos conhecemos, são poucos dias demais, para
já ficar assim... derretida, controversa, incomum!
toalhas a noite toda após dar uma lavada ontem somente no local em que
manchou um pouco de vômito. Que vergonha vomitar daquele jeito na frente
dele, vergonha maior ainda foi tê-lo beijado para atingir Vincent!
Essa noite foi uma loucura, uma loucura que nunca mais quero que se
repita!
bom livro.
— Não estou conseguindo ligar para o seu celular, Esteban, por acaso
anda fugindo de mim? Sei que é cedo, mas estou ligando para lembrá-lo da
aposta! — Levanto-me, pegando a minha bolsa, seguindo para o banheiro. —
Nunca o vi demorar tanto, por acaso está com dificuldades para comer a
garçonete gordinha do bar? — Estanco no meio do caminho, encarando o
telefone com pavor. — Se quiser me devolver a moto já estou aguardando, do
contrário trate logo de ganhar essa merda! Ou será que não consegue? Até
academia, todo suado. Fito-o sem reação, gélida, estou tremendo inteira por
dentro!
— Um cara acabou de ligar cobrando a aposta que você fez com ele, a
de comer a gordinha do bar! — Cuspo as palavras com nojo. Esteban é pego
de surpresa! O seu semblante assustado acaba de confirmar que tudo é
verdade mesmo.
força perturbadora, mas me controlo. Não quero, não posso e não vou ficar
fragilizada na frente dele!
— Agora sim entendi todo aquele seu interesse! Mas como eu disse
ontem, nunca acreditei mesmo que fosse... — a minha voz falha, uma maldita
lágrima desce pelo meu rosto —, verdade. — Estou quebrada! Não sou mais
nada!
— Era tudo mentira, Amélie. Tudo não passava de... uma aposta! —
revelo, fungando, dando um gole na xícara de porcelana.
— Em troca de quê?
— Acho que de uma moto. — Me sinto tão fútil sabendo disso. É como
se esse fosse o meu valor.
— Não — nego.
— Ah, que bom. — Põe a mão no peito aliviada, fechando os olhos por
um instante.
— Ah, não consigo acreditar que isso aconteceu, Madeleine!! Mais que
merda passa na cabeça desses homens?! — alteia o tom de voz, furiosa. —
Por que eles têm que ser tão... IMBECIS?! — Está inconformada.
usando. Com o álcool na cabeça, lembrei do que você disse sobre usar o
Suspiro.
— O lado bom é que você mostrou ao Vincent que não está mais nem
aí para ele e de quebra conseguiu se livrar de um novo embuste, no caso, o
Esteban. Se formos analisar, foi melhor ter descoberto agora do que depois
de, sei lá... se apaixonar por ele, pois isso era uma possibilidade.
de mim dizia que não podia ser verdade que um homem daqueles olhasse
para mim, e no fim estava certa. Senão fosse essa tal aposta, ele jamais teria
me enxergado.
grego filho da puta, mas o Vincent também é muito lindo e lhe enxergou. Ele
queria somente a sua virgindade? Correto, mas poderia ter comido outras
virgens, porém preferiu a Madeleine.
— Não, amiga, não sinto que ele pode ser o homem que preciso. Se for
para arrumar problema, prefiro ficar solteira. Que tal ficarmos as duas
solteironas, titias? — Aperta-me em seus braços. Sorrio.
— Ai... só você mesmo para me fazer sorrir nos momentos mais
complexos da minha vida.
— Temos que rir para não chorar. Vi essa frase em algum lugar na
internet. — Levanta, afastando-se de mim. — Vai ficar aqui até a hora do
trabalho? Porque já perdeu a faculdade.
assim. Preciso de mais algum tempo para me reerguer, mas irei. — A minha
voz sai em tom de promessa.
Amélie passa para o seu quarto e volta com a sua bolsa de lado, beija-
me na testa e segue até a porta de saída.
Suspiro, cansada do pranto, cansada de ser feita de trouxa, mas até que
com Esteban fui mais esperta. Ele sinalizava perigo, sempre ficou com várias
no bar e acredito que a imagem de cafajeste que eu já possuía dele quando
apenas o observava de forma longínqua, atrelada à experiência que tive com
Vincent, contribuiu para me deixar sempre com o pé atrás.
Fico refletindo deitada no sofá por longos minutos até que ouço o som
de mensagem em meu celular. Pego-o e me surpreendo quando vejo que se
trata de Esteban. Mas que diabos ele quer?
Fico assustada. Ele está aqui?? Levanto e corro para a janela que dá
visão para a rua, abro a cortina vagarosamente, mas ela desprende da parede e
cai, momento em que meu olhar se cruza com o do advogado que está lá
embaixo, de terno, encostado em seu carro na rua.
Oh, merda!!
Não vou permitir que suba, se quiser falar comigo, vai ter que ser eu aqui e
você aí.
Ele revira os olhos ao ler a minha mensagem e perceber que não vou
facilitar. Abre os braços em um pedido de por favor, aproximando-se do
prédio.
— Vim te pedir desculpas!! — exclama, mas me finjo de desentendida.
— O quê? Não ouvi direito! — grito de volta, ele vem para mais perto.
Ele faz uma careta horrorosa e se aproxima ainda mais, ficando bem
embaixo da minha janela. Põe as mãos na lateral da boca numa tentativa de
criar mais eco quando grita:
— Não, deixa esse assunto para lá, rapaz. O meu dinheiro não nasce em
árvore, sabia?
— Hmmm, vai se formar hein, que legal. Acho que é a única daqui que
sairá graduada, o que deve ser considerado um milagre.
Nós sorrimos.
na vida real.
— Boa noite. Acordado até agora? Vai ficar com sono amanhã —
afirmo, aproximando-me dele e o beijando na testa, então sento na poltrona.
— Por isso também, mas é que o Tim demorou para dormir hoje, estava
com ele até alguns minutos atrás, ele estava querendo te ver chegar. Desde
ontem não para de falar no seu nome.
— Ele sabe que aos finais de semana sempre fico em casa, é raro não
me ver aqui — comento. — Vou dar uma olhadinha nele antes de ir para o
meu quarto. — Reflito um pouco. — Pai, não estou gostando desse clima
chato entre você e a mamãe. Sei que sempre brigaram, mas não gostaria de
vê-los separados.
— São vários fatores que estão nos afastando, além disso, cuidar do
Tim também não é fácil, quase não temos tempo para nós. Entretanto, o que
me deixa mais entristecido é a aparente insatisfação dela em estar aqui
conosco. Parece até que Martina gostaria mais de ter a vida que tinha antes de
eu conhecê-la.
não quer mais falar sobre o assunto. — Mas ficará tudo bem, não se
preocupe. Não iremos nos separar, após anos de casado dá preguiça.
— Preguiça, é? — Gargalho.
— Sim.
autismo, mas para quem gosta bastante de dar e receber carinho feito eu, isso
machuca.
apesar de ainda faltar cerca de dois meses inteiros para o verão, que é quando
nos formaremos após três anos de curso.
escuros. É neste momento que sinto um buraco se abrir abaixo das minhas
pernas e me absorver lá para o fundo.
— Porque garotas com quem já fiquei não saem ficando com outros por
aí, ainda mais uma que tirei a virgindade!
— Ah, e queria que eu fizesse o quê? Ficasse esperando a vida toda por
você?!
Ele fica calado, remoendo palavras que não saem, as suas narinas,
tremendo de raiva. A minha voz sai mais alta do que deveria, sinto que
— Aliás, não sei nem por que está perdendo o seu tempo falando
comigo, porque depois que nós ficamos, você simplesmente passou a fingir
que eu não existia e agora, até onde sei, tem uma namorada.
— Azar o seu, agora tenho namorado, vida que segue! — replico, não
pensando antes de falar. Ele esbugalha os olhos.
pulseira que a idiota aqui te deu de presente no seu aniversário e deu para
aquela menina com quem desfila pela faculdade!
— Por acaso está falando de mim, garota? — Ouço a voz da dita cuja
às minhas costas, viro-me para encará-la. Ela finge que não sou ninguém e
fita o namorado atrás de mim. — Amor, o que está acontecendo? Por que está
falando com essa gorda?
— Saiba que foi essa gorda aqui, que deu essa pulseira que está no seu
pulso de presente para o seu namorado e ele, como não é homem nem para
comprar um presente, deu a pulseira a você! — exclamo, apontando o dedo
— Fui homem o suficiente quando usei o meu pau para tirar a porra da
sua virgindade, não fui?! — revela ele, emputecido comigo. Fico estarrecida
por ter revelado isso assim, diante de todos, mas agora pelo menos não sairei
de mentirosa nesta história, porém também não quero sair humilhada!
não consigo nem mais ver os finais do corredor, porém nada disso me
importa agora, só o que me importa é acabar com esses dois!
antes na história dessa faculdade. Vincent fica vermelho como tomate, sem
palavras e humilhado.
O pessoal se agita outra vez, estão do meu lado e adorando tudo o que
estou botando para fora, toda a merda que durante meses segurei entalado na
garganta.
— Sua vaca... tudo isso é por causa dessa merda de pulseira?! Então
toma!! — Retira o objeto do pulso e arremessa aos meus pés.
Troco olhares uma última vez com Vincent, que não faz um movimento
sequer para ajudar a namorada. Fujo dali, ultrapassando todos que aparecem
em minha frente, afastando-me da faculdade. Só preciso desaparecer!
Em uma noite, enquanto estou servindo no bar que está lotado, num
momento daqueles agitados, fico infeliz ao ver Vincent entrando no
estabelecimento. Mas que inferno, parece que nunca terei paz! Ele jamais
veio aqui antes e se veio hoje, deve ser por minha causa, mas alguma parte de
O homem é lindo, isso não posso negar, também sabe se vestir bem
com calça jeans e camisa polo. Logo que ele me encontra, não tira mais os
olhos de mim, sequer ocupa uma mesa, vejo negar a Maurice quando este
tenta guiá-lo.
Tenho que levar um pedido e infelizmente cruzar com ele, que por uma
maldição segura-me pelo braço, obrigando-me a encará-lo com a bandeja na
mão.
— Morra — respondo.
Assim que Maurice se distrai, falo com Amélie e Marcel, então consigo
— Não sei como descobriu que trabalho aqui, mas quero que esqueça
hoje mesmo, então fala rápido! — ordeno, o olhando com ódio.
— Não aceito nem um nem outro. Era só isso? De nada. — Sou ríspida,
tentando me afastar, mas Vincent não permite. — Solte-me — ordeno.
— A resposta é não.
— Mas não acredito nisso. Aquele cara não é seu namorado, está
mentindo. Está tentando me enganar.
— Oh, como você se acha, querido. Por que eu estaria mentindo? Por
acaso acha que não sou capaz de ter um namorado como aquele?
Bufo furioso. Que raiva! E agora? Tenho uma audiência marcada! Meu
telefone toca, é do escritório, sei que se trata de Chloé. Atendo, pondo no alto
falante.
— Mas...
— Não. — Desligo.
com resquícios da tinta que tentei ao máximo tirar usando a minha camisa de
algodão egípcio. De algodão egípcio!!
uma mulher me tratou assim, mas por mais que eu queira tocar o foda-se, sei
que o errado ainda sou eu e não consigo. A imagem de decepção nos seus
olhos quando descobriu a verdade está marcada a ferro e fogo na minha
mente.
Sequer estou conseguindo ter raiva de Dominique, pois ele não poderia
imaginar que eu estava acompanhado e está ansioso para ter a sua moto de
volta. Ele é leal, também não gosta de machucar as mulheres com quem
praticamos as apostas, jamais seria capaz disso só para ganhar, nós temos
Só que dessa vez deu tudo errado, Madeleine foi a primeira a descobrir
o nosso jogo sujo, saiu machucada, ferida, e a sua reação ao me banhar com
tinta branca não foi nada mais nada menos do que a demonstração de toda a
sua revolta.
— Jamais.
— Não quero ver ninguém hoje e tratar apenas dos assuntos mais
economizar tempo.
não precisa de muito, deixando preparado para peticionar. Logo a minha paz
acaba, quando Dom irrompe pela porta. Charlotte vem atrás dele irritada.
— O Pierre? Não ouviu o que eu disse? Está ranzinza, mas fora isso...
aconteceu algo que não estou sabendo? — Ergue uma sobrancelha, preciso
agir rápido.
— Claro que não, só estranhei porque ele não costuma ficar da forma
como acabou de descrever — desconverso. A verdade é que sei muito bem o
motivo do nosso amigo não estar bem.
— Sei por que está aqui, mas tudo deu errado e não quero falar sobre
isso agora. — Trago o foco de volta para mim.
— Porra, Dominique! Já disse que não quero falar sobre isso agora! —
exclamo, descontrolando-me.
— Okay..., então foi mais sério do que pensei. — Ignora a minha raiva.
— O que pode ser mais sério do que perder?
— Tem que botar para fora, Esteban. Sou seu amigo, desabafe e se
sentirá melhor. — Continuo calado, o ignorando e voltando a focar no
computador. Dom mira o relógio de pulso, resolvendo mudar de tática. —
Você chegou atrasado hoje, falta apenas uma hora para o almoço, que tal
conversamos sobre isso no restaurante de sempre?
Suspiro, tentando ficar calmo e entender por que estou tão estressado.
Óbvio que é por causa do que aconteceu com Madeleine, mas principalmente
pela forma como as coisas aconteceram. Na minha cabeça, já tinha desistido
da aposta, não era para ela ter descoberto.
— Pode ser qualquer coisa, estou sem fome. — Não dou atenção a isso.
assim por causa da aposta, uma merda muito grande deve ter ocorrido, pois
você sabe perder, por isso, suponho que este não deve ser o problema.
— Com a ligação que você fez hoje de manhã para o meu telefone fixo.
— Não tem, mas precisava disso? Será que não poderia me esperar
voltar da academia para te responder? E para que tão cedo, Dom? O que foi?
Acordou com a porra da moto na cabeça?! — desabafo emputecido,
controlando o tom para não ser ouvido pelos demais clientes em volta.
— Não, mas é que notei que o jogo com ela deveria ser diferente, não
dava para ser rápido como as outras, mas acabou que conversamos demais e,
descobri algumas coisas.
— Por exemplo?
dela e tentar pedir o seu perdão. Mas pelo pouco que contou, essa gordinha...
tem o gênio forte, então provavelmente não irá querer olhar na sua cara.
Basta saber até onde o senhor está determinado a ir para consertar isso, se
bem que, ao meu ver, não tem conserto. Também não acho que foi tão grave,
já que nem chegaram a transar. Nós sempre soubemos que havia este risco,
agora é a hora de estar preparado.
— Sim, sei muito bem disso. Só quero dizer que talvez se afastar seja o
— Não exagera...
— Não acredito que vai fazer isso — diz, a raiva tomando conta do seu
corpo.
— Enfie no seu rabo!! Não quero mais saber! Vamos comer — afirmo,
o garçom chega com os nossos pratos. Durante todo o almoço sinto a energia
negativa emanada do advogado sobre mim. Ele vai ter que engolir essa e se
conformar!
suado.
— Há algo no banheiro social, decidi nem tocar, pois sei que gosta de
cuidar desse tipo de assunto. — Gargalha um pouco tímida, fico contrariado.
uma calcinha bem diferente das costumeiras que ficam por aqui, pois é de um
tamanho maior, mais larga. Rapidamente identifico que é de Madeleine, pois
a vi usando, ficou muito sexy nela. Engulo em seco só de recordar.
Saio com ela na mão, notando o olhar irônico e curioso da mulher sobre
mim, ela sabe que sempre guardo as calcinhas, é a única que não tive como
evitar que descobrisse o meu segredo, até porque lava todas elas para que
fiquem sempre cheirosas e limpas. Ela me acha um safado, mas me adora.
Conversamos bastante quando está trabalhando aqui, nos momentos em que
tenho tempo.
ainda pior. Além disso, não sou de correr atrás de ninguém, isso aqui é uma
exceção.
Ela vira-se para mim de olhos esbugalhados, sem acreditar que estou
aqui. Já o moleque está com cara de poucos amigos. Não sei por que, mas
gosto disso, de vê-lo incomodado.
— Dá licença, titio, não está vendo que estamos tendo uma conversa
particular? — Ele é afrontoso. Ergue o queixo em minha direção, tentando
Que emoções loucas são essas que estou sentindo? O moleque cruza os
braços com cara de mal, encarando-nos calado, analisando.
— Não acredito que esse cara seja mesmo o seu namorado, Madeleine.
Os dois não me convencem — debocha, então puxa a mão da garçonete,
depositando nela uma pulseira de ouro. — Não vou descansar até tê-la de
— Mas que inferno, só posso ter feito algo muito ruim para Deus para
ser perseguida por tanto embuste, Senhor! — reclama, puxando mais.
qualquer um. Por que é tão diferente das outras mulheres, Madeleine?
— Se ela é gorda ou não, isso não lhe diz respeito e com certeza ela não
é ridícula! — rosno, atravessando-o com o olhar, sou puro ódio agora. — Ser
gordo não é um defeito e sim uma condição física assim como todas as
outras! — O sacudo forte, vendo-o amedrontado. — O nome dela é
— Esteban largue ele, por favor. — A garçonete está chocada, mas não
lhe dou atenção.
— E é melhor ela não ser demitida sem justa causa depois dessa nossa
conversinha! — O largo, jogando ele para trás com força. O cara sai
Troco olhares com a garota que está sem palavras, com os olhos
brilhando, sensível. O meu raciocínio retorna, pisco, dando-me conta do que
fiz, foi como se tivesse saído de mim enquanto ameaçava o ridículo. Acho
que fiz merda
— Desculpe, eu... não queria... — Minha voz falha.
uma lágrima que quer descer, tocando o meu coração. Não gosto de ver
mulher chorar, na verdade detesto isso com todas as minhas forças.
Assinto, esticando um sorriso sem graça. Não sei o que deu em mim.
Mudo a rota de repente e sigo para uma das boates que mais gosto de
frequentar. O lugar é luxuoso, cheio de gente bonita e jovem. Aproximo-me
do bar como sempre e peço uma dose enquanto a música eletrônica francesa
soa estrondosamente pelo ambiente. Vejo lindas garotas dançando e troco
olhares com algumas. Preciso me divertir.
Respondo:
Ah ‘tá. Quero saber como faço para que devolva a minha calcinha.
Se eu for te buscar será mais prático para nós dois, pois depois terei que
retornar para o trabalho. Diga aonde está.
Ela não discute mais, concordando. Na hora combinada, vou para casa
pegar a sua peça íntima e em seguida sigo para a faculdade dela. Paro em
frente ao grande prédio na pista do extenso e belíssimo gramado. Desço do
automóvel chamando a atenção de vários jovens, tanto homens quanto
mulheres.
Amélie gargalha tão alto, que se vê obrigada a tapar a boca com a mão
para não assustar os demais passageiros do trem que já nos fitam de forma
estranha. Quem poderia estar tão feliz a essa hora da noite em que o cansaço
e o sono são os mais lógicos? É claro que teria que ser a minha melhor e
única amiga, ela acabou de saber o que Esteban fez com o nosso chefe horas
atrás.
dizer... esse Esteban é aquele tipo de homem que a gente não sabe se ama ou
odeia.
— Concordo. Por que ele tinha que vir me procurar? Já não havia sido
o suficiente tudo o que aconteceu? — Tento entender.
— Mas eu não acreditava que ele pensasse assim até aquele momento.
Não foi nada armado, simplesmente aconteceu. Esteban estava mesmo com
raiva, consegui enxergar isso em seus lindos olhos azuis — suspiro.
— Não sei e prefiro não descobrir. Ainda estou processando esse seu
comportamento louco. Após o sexo, ele sempre fingiu que eu não existia.
— Ele devia se achar muito por ter sido o único a tocá-la, estava bem
com isso enquanto pegava geral. Vincent, com certeza sabia que você ainda
gostava dele, o seu comportamento deixava isso claro.
— Ele não gosta de mim de verdade, apenas quer assegurar que outro
não chegue perto. Se eu ceder, depois vai fazer a mesma coisa.
— Não quero mexer no que está quieto. Acho que depois de hoje, ele
finalmente me deixará em paz.
— Mas, lembre-se que ele ainda está com a sua calcinha. — Pisca para
mim e se vai. Às vezes Amélie é pior que um padrinho mágico.
— Sim... Madeleine.
— Tim, Terra do Nunca não existe, meu amor. Eu estava sendo irônica.
Lembra o que isso significa? Já te expliquei.
Assim, passo a próxima hora contando sobre Peter Pan, Capitão Gancho,
Sininho e os Garotos Perdidos. Mas no fim, acabo deixando o menino mais
confuso do que antes.
Quando o levo para o seu quarto dormindo em meu colo, penso por um
instante, em pegar o desenho do advogado para que ele esqueça a ideia de
devolver pessoalmente, mas desisto. Isso poderia lhe deixar muito estressado
no dia seguinte, então nem vou arriscar.
Durante a madrugada, volto a sonhar com Esteban, vejo nós dois no 58
outra vez, nos beijando, só que de modo mais fervente, mais quente do que
— Mas a sua mesa é aquela ali — aponto com o rosto —, onde estão
— Tenho certeza que logo, logo estará. — Ele sorri com segundas
intenções.
— Não quero provar nada, só não te quero com aquele cara que insiste
em dizer que é seu namorado. — Ele é sincero também.
daqui exausta.
as costas, me afastando.
— Mas é claro. Me deixe pelo menos ser seu amigo — pede, mas fico
desconfiada. — Qual é? Vou só te dar uma carona, é sem pretensão alguma.
Por favor — insiste.
Olho ao redor, o cansaço fala mais alto, então aceito. Minutos depois,
estou ao seu lado, sentindo o vento sacudir os meus cabelos, já que o teto do
carro está removido, e isso me relaxa.
— Você que não deve lembrar. Não quero falar sobre isso — corto-o,
percebendo que está mudando de rota. — Para onde está indo? — Ergo uma
sobrancelha, desconfiada. O cara não responde. — Vincent, este não é o
caminho do bar, para onde está me levando? — Minha voz sai mais incisiva.
— Por que me trouxe aqui? — A minha voz sai frágil, estar aqui me
causa gatilhos, me deixa sensível.
Sorrio, em deboche.
— Você não gosta de mim, Vincent. Nunca gostou, seja franco.
— Porque está com o ego ferido, acha que sou uma coisa sua, que tem
que tomar de volta — disparo, fortificando o tom, mas por dentro estou até
tremendo.
— Mas quero mesmo que seja minha — fala manso, pondo a mão
sobre a minha coxa. — Vamos entrar ali de novo, Madeleine... deixa eu tirar
a sua roupa — sussurra em meu ouvido, depois tenta me beijar, mas viro o
rosto.
— Não!
Meu coração está a ponto de sair pela boca, as mãos estão tremendo,
não consigo nem mesmo ficar de pálpebras erguidas. O barulho do vento e do
motor misturado, retumbando em meus ouvidos. Volto a respirar direito
quando finalmente paramos. Observo ao redor, devagar e ofegante,
reconhecendo que estou em frente ao Le Loup.
— Madeleine... — Uma voz masculina faz com que eu olhe para trás
Esse dia está sendo uma loucura! As próximas horas são normais, não
acontece mais nada de diferente, porém não consigo esquecer da atitude
impulsiva de Vincent. Estou com uma sensação ruim. Muito ruim. Essa
sensação se confirma quando, na manhã do dia seguinte, ao terminar a última
aula, encontro um pedaço de papel dentro do meu armário.
satisfação! Espero que saia de lá assim como os seus colegas de turma que
estão indo embora, mas nada. Quando tento entrar, esbarro em uma garota, os
óculos escuros dela vão ao chão e quando encontro o seu olhar fico ainda
mais desestabilizada. É a namorada do Vincent, de olho roxo, como quem
levou um soco.
tão... descontrolado.
Está quase na hora do almoço, resolvo sentar em uma mesa de uma das
lanchonetes do prédio e enviar mensagem para o advogado. Como não quero
assustá-lo, resolvo agir como sempre agi com ele, chamando-o de babaca e
perguntando pela calcinha, a melhor desculpa que consegui inventar para
tentar reencontrá-lo.
Surpreendo-me ao saber que fui apelidada de “Pimentinha” e chego a
negar o seu convite de almoço — que foi até mais rápido do que imaginei —,
fica ainda mais tentador, os seus olhos azuis brilham de forma intensa sob o
sol e seu perfume me inebria. O cabelo dourado penteado para trás, a barba
cerrada, o porte de galã, de macho alfa. Não há como negar, é muito gostoso
como Amélie diz, e sua presença me faz esquecer por vários segundos o
motivo de tê-lo procurado, até quando entramos no carro.
— Como quiser. Acho que conheço um local pelo qual vai se apaixonar
— comenta.
— Madeleine...
— Tudo bem, mas só quero deixar claro que isso não é um encontro.
Quero apenas conversar algumas coisas com você — digo preocupada,
lembrando do Vincent.
um olhar profundo, onde perdemos a graça, até que enfim ele volta a focar na
direção.
cortesia. Ele pergunta o que iremos querer, momento em que Esteban fala
comigo em espanhol:
— Então era isso que comia nos estados unidos? — Estou curiosa.
— Sim. Talvez tenha sido por isso que te defendi de forma tão...
violenta contra o seu chefe. Digamos que ouvi muitas piadinhas devido ao
meu físico na época de acadêmico, por isso não gostei nada do tom que ele
usou para falar contigo, ainda mais aquele apelido ridículo.
— Sei que não, mas é a verdade. Era para ser apenas uma brincadeira, a
intenção nunca foi machucar alguém, então quando descobri a sua idade, a
sua inexperiência, me arrependi no mesmo instante. Nunca me envolvi com
garotas da sua idade. Não querendo te ofender, mas achei que você era um
pouco mais velha. Só um pouco — confessa.
Respiro fundo, perdendo o encanto por ele outra vez.
— Você é muito escroto, Esteban. Você e quem faz parte disso — falo,
mas sem agressividade, pois não quero brigar. — O pior é que... nem precisa
disso para ficar com uma mulher, cara! Por que faz isso?
— Isso não justifica, cara. Vocês correm esse risco, são os sentimentos
de outra pessoa envolvida — argumento.
algo mais agressivo. — Como já disse, não precisa desse tipo de coisa para se
relacionar com uma mulher, se o faz, é porque tem medo do que pode vir
depois.
— Você disse...
— Não...
— Okay, vamos parar de falar disso agora, senão ficarei puto contigo
antes de matar a minha fome, se isso acontecer, estragarei qualquer chance de
te pedir perdão, Madeleine.
— Nem precisa perder o seu tempo, também não foi por isso que vim
— E o que seria?
Se tem uma coisa que Esteban possui, é bom gosto. Já constatei isso
nele, tanto para restaurantes quanto para comida. Realmente o que pediu está
delicioso.
Ele sorri cafajeste, e esse sorriso acaba comigo. Deus... por quê? Pisco,
tentando não ficar hipnotizada. Terminamos a entrada e partimos para a
sobremesa, momento em que decido falar o porquê procurei por ele:
— A questão é que depois que ele nos viu naquela situação lá na Torre
Eiffel, está agindo de modo muito estranho... possessivo, e tenho razões para
acreditar que você pode estar em perigo.
— Olha, sei que é surreal, mas... Deus, como posso te explicar? — Fico
pensativa. — A culpa é minha por ter dito que você era o meu namorado.
Ontem ele fez uma coisa, e hoje... acho que me ameaçou.
— Não, não, nada de polícia, também não é para tanto. Estou nos
últimos meses da faculdade, só quero me formar em paz! — respiro fundo. —
Ontem eu tive a infeliz ideia de aceitar uma carona dele, ele tentou...
— Não, mas tentou reatar o que nunca tivemos, eu neguei e aí... ele
ficou um pouco louco, insistente e furioso com a minha recusa. Me levou
contra a minha vontade até a frente do motel onde tivemos a nossa primeira
vez, não me deixou descer do carro, correu em altíssima velocidade, me
assustando. Era como se realmente quisesse me pôr medo e de fato
conseguiu. Enfim..., hoje encontrei esse bilhete no meu armário. — Retiro o
papel da mochila que deixei sobre uma das cadeiras e mostro a ele.
porque... a minha intuição não falha. Fui procurá-lo para tirar satisfação,
encontrei a namorada dele com o olho roxo e isso me deixou muito aflita.
Sinto que se o Vincent continuar assim... dessa forma que nunca vi antes,
pode acabar tentando alguma merda. Ele é muito rico, não está acostumado a
ouvir não.
— Ah, vou ficar bem. Não se preocupe — digo, mas por dentro estou
muito incerta sobre isso.
— Olha, já vi que por meras palavras, não irei conseguir o seu perdão.
Então me deixe tentar isso através de atitudes.
Sinto que Madeleine está com medo do seu ex, o moleque que pelo
visto se acha o rei do mundo. Ela me contou coisas que me deixaram atento,
como o fato do tal Vincent ter a amedrontado com o carro em alta velocidade
e socado o rosto da sua namorada atual. Esse é um bom momento para tentar
me redimir e ainda por cima, livrá-la desse problema.
— Nem sim, nem com certeza. A minha resposta é não. Isso só pode
ser brincadeira. — Ela arqueja, incrédula. — Quer brincar comigo de novo?
Não vai conseguir.
— Mas ele me viu contigo. Era eu, não outro. E se continuar assim,
você terá que se esconder dele sempre que for a um encontro. É isso o que
quer?
— Você disse que talvez fosse a hora da sua redenção, não disse? —
— Se eu aceitar, não será apenas por mim..., mas por todas as mulheres
que já enganou e usou para essas apostas ridículas. Tenho certeza que não fui
a primeira, mas se vamos entrar em um acordo, também quero garantir que
serei a última.
— Não, estou falando muito sério. Que espécie de redenção você quer
fazer? Se for para mudar, que seja de verdade. Você me ajuda a me livrar do
Vincent, eu te perdoo, mas antes te ajudo a encontrar uma namorada que o
faça parar de praticar essas cafajestagens por aí.
— Mas não tenho medo dessa merda! — Minha voz sai mais alta do
Unidos, criado por um cara chamado Mário Lucas. A questão é que não estou
em busca de uma namorada. Estou ótimo solteiro, posso muito bem pegar
mulher sem precisar de aposta alguma.
— Pois essa sua redenção pelo visto não valerá de nada. — Ela não tem
filtro, sai derrubando tudo, atirando as suas opiniões sem mira. — Olha como
repudia a simples ideia de se apaixonar. Saiba que pode se surpreender e ter
mais a ganhar do que perder.
— Por quanto tempo acha que o moleque vai ficar te enchendo o saco?
— Temos que levar isso em conta, afinal será uma missão dupla,
afastar Vincent e encontrar uma pessoa especial para o seu coração, se é que
o tem. — É irônica, mas a ignoro e decido entrar na sua brincadeira. Vamos
ver até quando vai suportar lidar sobre esses assuntos comigo.
— Depende da garota, se ela for fácil, levo para a cama no mesmo dia,
se for mais difícil, levo para a cama até o terceiro ou quarto dia. — Me gabo,
a deixando perplexa.
— Ainda estou lhe devendo dois pneus e um táxi, deixa que eu pago
tudo — determina.
— Que tipo de namorada é você que nem me deixa dar uma apalpada?
— indago, tentando suavizar a dor, massageando o lugar que recebeu o golpe.
— Ah, é? Então por que não me deixa apalpar o seu rabo? — Ela fala
baixo, rosnando, tentando não ser ouvida, mas está puta!
Paro em um andar bem antes do que vou descer, momento em que entra
Pierre, surpreendendo-me. Por incrível que pareça, estamos só nós dois aqui,
geralmente o elevador costuma ficar mais cheio.
— Sim, graças a Deus ela não desconfia de nada e..., resolvi dar um
basta naquilo — fala, mas não de forma feliz.
— Tem certeza que essa foi a melhor decisão? — Sinto que ele não
está feliz.
— Se foi a melhor, não sei, mas com certeza é a mais correta. De
qualquer forma, também gosto muito da Camille, ela é uma mulher excelente
outras pessoas.
tornam meus amigos, gosto de ter contatos e criar laços, sou bastante
comunicativo.
ela quer me fazer encontrar a mulher da minha vida, parece que conseguiu ler
além do ideal e descobrir que realmente evito me envolver demais com
alguém. Tenho razões fortíssimas para isso.
Observo a hora na tela do celular, já é tarde. Isso não é vida, mas sei
que a maioria das pessoas tem uma realidade bem diversa da minha, sempre
tive berço de luxo, mas também não cheguei até aqui devido ao meu dinheiro,
ele ajudou é claro, contudo o esforço e muito estudo é que realmente fez toda
diferença.
Se quiser, podemos conversar uma outra hora.
Proponho.
Pode falar.
— O que foi?
terá consequências.
— Por quê?
— Qual clube?
— Não lembro o nome agora, mas tenho uma foto salva aqui, vou te
enviar — avisa, rapidamente recebo a foto do pivete com roupa de jogador
em frente ao clube que uma vez visitei.
— Ah, conheço. Tenho clientes que jogam lá. Será perfeito. — Abro
um sorriso maléfico.
— Vincent Fournier.
— Nem pensar!
— Até o final de semana, baby. Boa noite! — Desligo na sua cara, sei
que a deixei furiosa.
Procuro no celular pelo contato dos meus clientes que sei que
frequentam o mesmo clube do moleque. Está na hora de contra-atacar!
ESTEBAN JAVIER
— Relaxa, não viemos brigar, mas apenas mostrar para ele que você
tem um namorado de verdade.
— Não sei, estou contando com a sorte. Você que o conhece melhor,
sabe se ele vem todos os domingos mesmo?
— Não entendo como pôde ter dado lugar para um cara como aquele?
— Bastante.
— Então pronto. — Faz com que eu cale a boca. Ah, eu fico puto! Mas
suspiro, tentando continuar no clima saudável.
— Apropriado. — Gargalho.
Ela suspira nervosa, mas não contesta. O nosso toque é quente, quer
dizer, a minha palma aquecida está esquentando a dela que é fria.
Atravessamos portas duplas até nos depararmos com um campo de futebol
belíssimo, onde há vários jogadores, todos da alta sociedade, sei que o clube
é bem frequentado.
imbecil do ex dela.
Madeleine acha que não percebi, porém sou bastante observador e notei
que mais uma vez está lindamente arrumada, como na noite do jantar. Senti o
seu perfume doce e gostoso desde que entrou no meu carro. Ela, como
plastificado.
qualidade, já passei o seu contato a eles. Mas hoje não é dia de conversar
sobre negócios, é dia de jogar bola! — O homem então foca em Madeleine.
— E essa linda moça, quem é? — Sorri para ela.
— Ah... claro! Tudo bem. — Ela aceita, está toda sem graça, é uma
péssima atriz, mas eu não. Antes que a sua mão solte a minha, a puxo de
volta.
— Agora sim pode ir. Tchau, vida! — Aceno para ela, vendo-a se
afastar emputecida. — Ah, eu amo essa mulher! — comento com os irmãos.
de grama artificial, porém Vincent fica bem longe, do outro lado no gol,
fingindo que não existo. Na partilha do time, fico no grupo de Cédric, Claude
vai jogar no time de Vincent. Garanto aos meus novos colegas que sou um
ótimo atacante e eles confiam.
Isso... vai ficando com raiva moleque, vai! O juiz apita, voltamos para o jogo.
Dessa vez sou marcado por dois caras, mas os meus pés são rápidos, muito
mais rápidos que os deles.
parece que dança quando está conosco, logo criamos uma conexão incrível.
Em um momento, chuto para Cédric, que parece ser mais jovem do que eu
com tanta disposição. A bola rola para outro e para outro até voltar para mim.
Arrisco mais um gol e acerto em cheio.
por futebol.
Após toda a algazarra, saio do campo bem suado. Olho para o lado e
vejo Vincent me observando com um semblante maligno. Madeleine vem em
minha direção com as outras mulheres que vão ao encontro de seus parceiros,
momento em que decido dar a cartada final.
línguas.
No início, fico temendo que a garota se afaste, mas ela não o faz, pelo
contrário, me corresponde. Fecho os olhos sentindo o seu sabor ainda mais
ardente e ao mesmo tempo doce, gostoso e viciante. Nosso toque é molhado,
fervente, as nossas carnes se complementam de modo fenomenal e outra vez
tudo desaparece em volta, sobrando apenas nós dois e o calor.
Está quente. Sou muito maior que ela e tenho que me inclinar para
poder lhe beijar com furor. A coisa toma uma proporção inesperada, a aperto
Estamos queimando de tal forma que o meu suor parece intensificar por
dentro da camisa. Os dedos dela cravam-se em meu ombro, afundando na
pele, e os da outra mão serpenteiam a minha nuca, arrepiando-me por inteiro,
pegando-me desprevenido, vou ao chão com força total! Ele puxa Madeleine
pelo braço, violento. — Está achando que eu sou otário, sua puta?!! —
Arrasta ela, descontrolado.
mim, entendo tudo. Ele sabia sobre o vínculo sanguíneo entre pai e filho
desde o início! Mas que perspicaz, inteligente, malévolo! Agora sim consigo
compreender o real motivo de termos vindo para cá e todo aquele teatro
durante o jogo. Mas será que o nosso beijo foi apenas fingimento também?
Vincent tenta se justificar, mas a minha língua está coçando e não consigo me
controlar, o interrompendo:
— Papai...
— Papai...
— Cédric, nos desculpe, não fazíamos ideia de que o garoto era o seu
filho. Eu cheguei a vê-lo no campo, mas achei que pudéssemos levar o jogo
até o fim sem incômodos... — Esteban é um ator excelente, merece até um
Oscar por tanta cara de pau, entretanto, não consigo odiá-lo e nem tenho
motivos para isso, muito pelo contrário, estou com uma gratidão por ele sem
tamanho.
foi. Pago terapia para ele há anos, descobri há pouco tempo que nem mesmo
frequentava mais o psicólogo, estava me enganando. Ainda estou pasmo com
a coincidência, mas...
— Nós também!
— Porém, coincidência ou não, isso não apaga o fato que houve aqui e
que foi grave. Vincent sempre teve confusões relacionado a namoradas, por
isso sei que Madeleine está mesmo falando a verdade. Não achem que sou
aquele tipo de pai que passa a mão na cabeça do filho quando ele está errado,
porque não sou.
Prometo a vocês que posso controlar o meu filho a partir de agora e que
nunca mais ele irá incomodá-los.
— Sendo assim... por mim tudo bem — afirmo, Esteban sorri, Cédric
também, mas o seu sorriso é de gratidão.
— Por favor, será o meu pedido de desculpas. Prometo que não haverá
outro problema como esse.
homem se afasta.
Aquele beijo... por que não resisti? Por que não o empurrei, relutei? À
equilíbrio.
— Deu tudo certo! — A sua voz rouca me tira dos devaneios. O seu
sorriso encantador e olhos que faíscam o azul chamam a minha total atenção.
— E então, gostou? — indaga, enquanto fecha a porta do carro.
Esteban —elogio.
— Por que acha que sou advogado? Nasci para isso. E quanto ao
Cédric, ele sempre foi um homem muito respeitador, de boa moral, algo me
dizia que não iria aceitar essas barbaridades do filho. Só precisávamos
instigar o seu ex para fazer um papelão em frente ao pai e deu certo, já que
ele é mau-caráter. Gostou da minha atuação?
armado. Esteban parece não ter sentido nada demais, encarou tudo como uma
brincadeira mesmo.
— Impossível, nós não temos nada a ver um com outro, mas realmente
fizemos bonito lá no clube — afirmo respirando fundo, olhando pela janela
não querendo encarar o loiro agora, ainda estou frágil por dentro com aquele
beijo e toda a proteção que ele me passou. Foi só atuação, Madeleine, nada
além disso.
— Por mim tudo bem, ainda está cedo. — Olho o relógio, ainda falta
uma hora para o sol começar a se pôr.
— Não. Não sei se notou, moro em Paris, porém quase não tenho vida
social.
— Sei.
— Bem, qualquer um que me olhe vai notar que sou acima do peso —
digo, sem encará-lo, bebendo um pouco.
— Mas quem disse que você é acima do peso? Ser ou não acima do
peso na minha opinião é uma ideia, uma opinião formada, muitas vezes um
julgamento. O que o seu chefe fazia com você se chama gordofobia...
são as mais magras da Europa. Porém, essa ideia de que a nossa cidade
somente comporta gente magra é falsa. Pode ser verdade, talvez, entre
pessoas de alto poder aquisitivo, onde raramente há problemas com peso.
Você deve ter se perguntado por que eu permito que o meu chefe fale
— Que você acreditou — completa, com uma das mãos sob o queixo,
observando-me.
— Por que acha que sempre fui desconfiada quanto às suas intenções?
Porque sempre o observei no bar, assisti as mulheres com quem paquerava,
eram todas parisienses modelos, de acordo com os padrões sociais. Eu não
estou dentro do seu padrão, Esteban.
— Estou imensamente grata pelo que fez hoje por mim, Esteban e..., eu te
perdoo... de todo coração. — A lágrima vem, não consigo segurar.
— Madeleine...
— E... o seu irmão? — Certamente não era isso que eu esperava ouvir,
mas me agrada da mesma forma. Me derreto inteira por dentro por lembrar do
Timothée.
Esteban não pede para eu ficar, eu não peço para ele não ir, e assim
termina o nosso dia, o nosso contato para sempre. Sei que não nos
encontraremos mais, posso sentir.
bar esses dias, até seus amigos vieram, mas ele não. Confesso que de vez em
quando miro a mesa em que sempre costuma ficar, o procurando e, quebro as
expectativas quando não o encontro. Por outro lado, sou consciente de que
seria melhor que nunca mais nos víssemos, pois depois daquele beijo fiquei
muito mexida e sonhei com ele a semana inteira.
A notícia boa é que Vincent também não deu mais as caras, me deixou
em paz e foi transferido de faculdade como o seu pai prometeu, esse era o
burburinho da semana entre os corredores da instituição. Isso me deixou
muito aliviada e segura.
— Você precisa vir aqui em casa urgente! — A voz dela está tão
animada que me enche de curiosidade imediatamente, fazendo-me até
levantar e caminhar até o meu quarto para não ser ouvida por ninguém. — O
que houve? — sussurro.
Tomo banho e troco de roupa num piscar de olhos. Pego a minha bolsa
de lado e caminho até a cozinha, recebendo o olhar desconfiado da minha
mãe logo de cara.
— Para onde pensa que vai? — pergunta, enquanto mexe uma colher
— Ah... ele estava mesmo pedindo. Vá..., mas não demore. — Ele
ergue a sobrancelha, permitindo que eu saia e passando por cima da voz de
Meia hora mais tarde, sou recebida ao gritos e pulos de Amélie que
parece uma louca eufórica.
— O que está acontecendo?! — pergunto, ansiosa.
vermelho sobre a sua mesa da sala. — Chegou para você! Acho que é do
gostoso de olhos azuis! O advogato!
— Ele disse seu... você viu? — indago, para ter certeza de que não
estou ficando louca.
— Sim, seu cafajeste romântico. Ai, Deus... agora vai! Ele vai te
comer!! —exclama, abrindo os braços, sorrindo de orelha a orelha. —
preto e aveludado. Ficamos tão chocadas que não conseguimos falar, apenas
trocamos olhares incrédulos.
— Ele vai te comer até desmaiar — Amélie afirma, séria dessa vez
— Eu não posso acreditar... achei que nunca mais iríamos nos ver —
comento.
— É isso aí garota!
— Sim.
— Ai, pai... que vergonha! — Estou muito tímida com essa conversa
sincera entre a gente.
pescoço assim que ergo as minhas mechas para lhe dar espaço. — Por que
uma borboleta? Achei tão fofo.
— O Tim?
— Quem sabe a noite toda. — Sinto ironia na sua voz, que me causa
um calor absurdo entre as pernas.
incontestável entre a gente, mas não quero e não devo me precipitar. Porém,
se Esteban investir, sei que dessa vez irei ceder! Sei que dessa vez estarei
perdida eternamente.
Estou com a mulher que não saiu dos meus pensamentos a semana
inteira. Eu não podia convidar outra pessoa para essa festa, tinha que ser ela.
Madeleine, a doce jovem mais encantadora que já conheci.
Uma parte de mim grita afirmando que estou fazendo errado, que ela é
jovem demais para mim, mas a outra é mais poderosa que um imã, uma força
e a ela sobre o seu baile beneficente. Até neguei, mas o homem insistiu,
queria ter certeza que havia selado a paz entre a gente e me utilizei disso para
ficar ao lado de Madeleine outra vez.
Planejei tudo, comprei o que sei que ela iria precisar para um evento
deste porte e agora estamos de mãos dadas, lado a lado, juntos, caminhamos
pelo tapete vermelho sob um céu estrelado rumo ao enorme e incrível jardim
da luxuosa mansão Fournier, onde há vários convidados da alta sociedade.
sussurra Madeleine, ela fica ainda mais linda nervosa. Hoje, em especial, está
mesmo deslumbrante, a minha escolha do vestido foi certeira, todo o look
caiu de forma impressionante em seu corpo, como imaginei.
— Não solte a minha mão, eu te guiarei. — Pisco para ela, tentando lhe
passar segurança.
Uma moça nos atende, levando-nos até a nossa mesa, mas antes que
possamos nos sentar, Cédric aparece em seu smoking preto, um senhor muito
bem apresentável.
— Não sei, é bem provável que sim, mas mesmo que esteja, não irá nos
importunar. Cédric sempre foi um cliente de palavra, confiável — informo,
para tranquilizá-la.
— Ele faz o quê mesmo da vida? Sempre soube que Vincent era rico,
mas nunca me interessei em pesquisar da onde vinha a fonte de riqueza da
sua família.
— Uau... agora não entendo por que Vincent quis ser médico.
— Não tenha, eles são muito evoluídos, sabem que o filho estava
errado e que não é a primeira vez que apronta. Quando um mesmo fato se
repete sempre, não tem mais como passar a mão na cabeça do moleque. —
Sorrio com tristeza, sabendo que um dia já fui esse jovem rebelde. A ovelha
negra.
Nunca o disse.
— E prefiro não dizer, não gosto que saibam — revelo. Madeleine não
pergunta, mas o seu semblante imprime um claro “por quê”? — Não gosto de
ter a minha imagem profissional relacionada a eles, não quero que digam que
estou hoje onde estou por causa do meu sangue, entende?
— Trinta e sete.
— Estou chocada, não parece. Não parece mesmo. Parece ter uns trinta.
Acho que fiz essa pergunta tarde demais. — Pensa alto e dá um gole na taça.
— Tarde demais por quê? — A deixo sem palavras, estou curioso, mas
— Nada... falei besteira. — Tenta disfarçar, mas não consegue. Sei que
Madeleine sente a mesma atração que sinto por ela. Essa coisa que não
deveríamos sentir, mas que sentimos.
licença à Madeleine e vou com ele para um canto do gramado, distante das
mesas.
conhecesse.
Ambos começam a discursar sobre o baile, o prazer que é ter todos aqui
por mais um ano e por fim, dão lugar para o celebrante realizar o leilão de
vários objetos e peças caras, algumas artísticas entre outras, em prol das
instituições carentes as quais serão destinado o dinheiro arrecadado nesta
noite.
— Confesso que também estou ansioso, já faz tempo que não assisto a
um show deles — comento, mirando o palco que é preparado para receber o
grupo de sucesso.
espanhol.
— Não quero dançar com ela, Madeleine. Quero dançar com você.
Quise volar
Y conoci la soledad
Sin esperar
Poder amar
No se vivir
Sin amor
— Não... — responde.
informo, com a voz rouca e então, não podendo mais resistir, acaricio o seu
pescoço com a ponta do meu nariz, fechando os olhos, aspirando esse odor
que me deixa louco. — Adoro o seu perfume, Madeleine — declaro.
— Esteban...
— Sei que não, tenho trinta e sete anos, você apenas vinte e um. Você é
tão novinha para mim, mesmo assim, de uma forma inexplicável eu te desejo.
Fito os seus lábios com um desejo absurdo que não consigo controlar e
a beijo. Madeleine se entrega outra vez, permitindo-me tocá-la, as nossas
carnes em contato, as línguas se fundindo de forma avassaladora como se
precisássemos disso para sobreviver. É uma necessidade que faz meu pau
acordar instantaneamente e queimar dentro da calça.
Devoro-a, cada vez mais intenso, quando sinto os seus dedos roçando
na minha nuca como na primeira vez, um arrepio gostoso, todos os meus
Troco olhares com a garçonete que hoje se tornou uma princesa. Sei
que estou no comando, então posso fazer de tudo. Puxo-a pela mão,
aproveitando a distração do público para nos afastar o máximo possível de
todos. Nos embrenhamos pelo imenso jardim, seguindo pela lateral da
mansão, indo para os fundos onde não avisto movimento algum.
ESTEBAN JAVIER
O fogo se alastra entre nós sem controle, inflamável. A puxo para mim
pela bunda, grudando os nossos corpos, abrindo as suas nádegas ao meio com
as duas mãos, afundando os dedos na sua carne fofa e gostosa, que queima.
selvagem fora da jaula, disposto a tudo para saciar a sua fome! Mordisco a
sua pele ao mesmo tempo em que as suas unhas roçam por meu couro
cabeludo, bagunçando todos os fios, me tirando do prumo.
Volto a beijá-la e puxo as alças do seu vestido que escorregam livre por
seus ombros. Faço isso devagar, dando tempo a ela de revidar, mas não
revida. Abaixo o seu decote, Madeleine está sem sutiã e fico ainda mais
entorpecido com isso. Apesar da pouca claridade, consigo ver o desenho dos
seus seios avantajados em forma de gota. Troco olhares com ela, ambas as
respirações saindo tremidas. Abocanho o mamilo direito, atacando-o ávido,
libertino!
Sugo a sua carne, mordo, resvalo os dentes, sendo golpeado pela libido,
açoitado pela saliência e me tornando um homem incontrolável, doido para
foder essa mulher. Sugo o bico entumecido, brincando com ele entre os
lábios, pincelando a ponta da língua ligeiro, predador, causando-lhe arrepios,
arrancando-lhe mais gemidos e suspiros
Assim, resolvo parar, afastando a mão das suas partes íntimas. Fico
totalmente ereto, demonstrando a nossa diferença de tamanho e seguro o seu
queixo com a outra mão, dominador, obrigando-a a me observar de baixo
para cima. Coloco o dedo que usei para penetrá-la dentro da boca, sensual,
sentindo o gosto molhado da bocetinha, fantástico, carregado de luxúria, em
isso aqui hoje, não assim, não desse jeito, você merece muito mais, porém...
preciso te fazer gozar e gozar também. Então peço que confie em mim e
fique de costas.
Desço a peça íntima até a metade das suas coxas, volto a ficar de pé,
subindo com a mão entre elas até tocar o seu centro.
tão absorta na tensão sexual que estou lhe oferecendo. Penetro o dedo médio
dentro da sua vagina, indo o mais fundo possível entre as suas paredes
vaginais vívidas, que se contraem loucamente quando me recebem.
ponto G. Aproveito para acelerar a minha masturbação, meu pau está em alta
temperatura, a ponto de explodir!
Deixo-me esvaziar por completo até não sobrar mais nada, pondo a
mão na testa quando enfim acaba, meio desequilibrado. Isso foi surreal. Viro-
Após tentarmos nos recompor sem muito sucesso. Seguro a jovem pela
— Percebi, por isso não quis insistir com o sexo, teremos tempo para
isso. No entanto, o que fizemos foi ótimo.
— Quero te levar para qualquer lugar onde possa entrar dentro de você,
Madeleine. Isso agora se tornou uma necessidade e a minha prioridade, mas
faremos no seu tempo. — Pisco para ela, vendo-a morder o lábio inferior,
excitada. — Não faça isso, se não teremos um acidente.
isso é especial.
Ela fica encantada, sorrimos e nos beijamos. É tão bom que não
queremos que acabe. Porém, Madeleine enfim vai embora e só o que me resta
é o seu perfume que está impregnado em meu corpo. Passo a mão no cabelo,
respirando fundo, caindo a ficha de toda a loucura que vivemos naquele baile.
Nada disso estava programado, mas botamos para fora todas as nossas
vontades, os instintos.
mas o tesão reprimido gritou mais alto, estava muito tempo encubado, sendo
empurrado e naquele momento foi mais poderoso, nos possuiu, mas não tanto
a ponto de que fizéssemos merda.
mas uma garrafa de vidro é lançada no meu capô que explode e pega fogo,
tapando a minha visão, pondo-me em terrível perigo. Fico sem saber o que
fazer, também não estou conseguindo enxergar, temo um acidente e então
paro o carro.
por punhos, joelhos e pés. Vou ao chão sangrando, já não consigo enxergar
direito. Fico tonto, sem ar, a dor dilacerando por toda parte. Ouço o som de
sirene policial antes de desmaiar.
MADELEINE FERNANDEZ
Após fofocar muito com Amélie e contar a aventura que foi a minha
noite, estou no banheiro depois de tomar banho, nua até a cintura onde a
toalha está presa, observando-me em frente ao espelho, acariciando o busto
onde ainda há marcas de Esteban, recordando dos momentos que vivemos no
baile horas atrás e que não saem de modo algum da minha mente.
Não quero jamais repetir a mesma história que tive com Vincent, a
quem deixei que me levasse para a cama com poucas palavras, poucas
atitudes. Ele me pegou inocente, carente de amor e carinho, frágil, vulnerável.
Foi o primeiro que me deu um pouco de atenção onde ninguém nunca dava e
permiti me entregar.
Tenho que dar um passo de cada vez e não deixar que o desejo e o calor
que a sua boca causa quando encosta na minha fale mais alto. Volto para a
cama da minha amiga que divido com ela quando durmo aqui e demoro a
pegar no sono, com as lembranças vivas na mente. Dessa vez não sonho com
Esteban, tenho sonhos diversos sobre a faculdade e futuro.
tomarmos café, tendo uma manhã e uma tarde agitadas. Está ficando cada vez
mais corrido, já que estamos chegando na reta final do curso. Aproveito a
hora do almoço para estudar um pouco para as provas.
— Boa noite coisa nenhuma! Você vai me falar agora o que anda
aprontando, Madeleine! — impõe, com o indicador a posto.
— Mentira! Seu pai disse que está conhecendo um rapaz. Não vou
aceitar que fique saindo e entrando na minha casa a hora que quiser para ficar
de safadezas por aí, entendeu?!
paz?! — Agora ela fica sem palavras, nunca fui tão incisiva assim, sempre
abaixei a cabeça, mas não aguento mais. A ultrapasso e sigo para o meu
quarto. Ela me segue.
admitir, Madeleine! Você é uma ordinária ingrata! Não aceitarei esse tipo de
comportamento, a minha casa não é bagunça... — Fala mais um monte de
outras coisas, contudo, tranco a porta na sua cara.
que tanto me odeia sem motivos. Sinto que o prazer dela é me fazer infeliz,
tentando me colocar para baixo a todo instante e me reduzir a nada.
— Meu Deus, mas essa sua mãe não quer que você respire! Parece que
ela é infeliz e quer que você seja mais ainda! Ela vive em função de te botar
para baixo, Madeleine! — Minha amiga está puta com a situação.
— Pois é..., juro que estou a ponto de enlouquecer. Não consigo ter paz
em casa para estudar ou me concentrar, ela não deixa, e sempre que saio de lá
fico desequilibrada emocionalmente com as suas palavras maldosas e triste o
dia inteiro.
— Olha... por que não vem morar comigo? — propõe, já falamos disso
antes.
— Mas já deve pensar nisso, amiga. Afinal, até onde sei, o seu plano é
sair de casa assim que se formar e se for para o seu irmão sofrer, ele sofrerá
de qualquer jeito, então que seja agora, antes que fique louca. Será até bom
para o pequeno ir se acostumando. E quanto ao meu apartamento, há outro de
dois quartos no andar de cima, o qual está para vagar, o vizinho vai se mudar,
podemos dividir o aluguel e as contas.
— Amélie...
Balanço a cabeça em negativa. Isso é outra coisa que está doendo, mais
do que deveria doer, na verdade.
— Não... já passei por isso com o Vincent e não quero repetir. Não
quero ser a chata insistente que fica atrás do cara depois de termos ficado —
confesso, apesar de estar morrendo de vontade de tentar me comunicar com o
loiro.
tudo bem? ” Entretanto, a mensagem não chega para ele. — Ele não recebeu
a mensagem, será que está com o celular desligado?
— Pode ser, porque bloquear ele não te bloqueou, a gente saberia disso
se fosse o caso.
— Pensando por esse lado, agora estou até um pouco preocupada. Será
que aconteceu algo? Tudo nessa vida é tão imprevisível.
— Vamos pedir a Deus para que não, para que esteja tudo bem e ele
tenha uma desculpa plausível, então assim você poderá descobrir como é dar
para um gostoso de olhos azuis! — Ela adora tirar sarro da minha cara,
gargalhando e me animando, resgatando-me da tristeza.
— A terapeuta?
— Sim.
— Fico com raiva — afirma, sem olhar nos meus olhos, atento ao
brinquedo.
Após colocá-lo para dormir, sigo para a minha cama e fico pensando
em Esteban. Olho o celular, a mensagem ainda não chegou para ele, apenas
foi enviada. O que será que aconteceu? Será que ele apenas não quer mais
falar comigo? É impossível não divagar sobre um monte de besteiras.
diz:
Bom dia, Pimentinha. Desculpe o sumiço. Não estou muito bem, e você?
infinitas coisas! É claro que Vincent demonstrando ser violento como estava
demonstrando, não deixaria isso barato. Não há outra resposta, foi ele! Por
que mais de quatro homens iriam perseguir Esteban sem motivo?
— Não, porque como o meu caso não foi grave, não fiquei lá muito
tempo. Assim que recebi alta, entrei em contato com Dominique, um amigo
que me trouxe para casa.
— Esteban... já parou para pensar que Vincent pode estar por trás
disso? — A minha voz é carregada de medo.
— Não chore, baby. Está tudo bem agora — murmura, ainda de olho
fechado.
— Não devia ter me procurado. Não devia ter inventado essa história
de redenção — fungo, tentando engolir o choro.
— Porque eu queria... pelo menos uma vez... fazer alguma coisa certa
na minha vida — revela sincero, fofo. Meu coração palpita e mais lágrimas
vêm. A sua palma segura a minha, como se quisesse ter a segurança de que
estou aqui, dormindo em seguida.
MADELEINE FERNANDEZ
Uso a mão livre para acariciar os seus cabelos dourados, tão sedosos e
macios. Controlo-me, o pranto não pode me dominar. Respiro fundo e apenas
contemplo o grande homem que agora parece um garoto ferido, carente e
sozinho. Olho ao redor, pelo visto ele não tem ninguém, já que a família vive
Se tiver mesmo sido Vincent o autor desse crime, não sei o que posso
esperar dele e me sinto em risco também. Desprotegida. Resolvo esquecer um
pouco disso e focar no advogado que dorme como um bebê. Fico dando
afago a ele, acalmando-me também, então resolvo observar o seu corpo com
mais atenção.
havia notado quando o vi sem camisa pela primeira vez, porém, como evitei
olhá-lo diretamente, não prestei total atenção. No ombro e braço esquerdos há
mais algumas.
ele é grande, forte, musculoso, e não paro de fitar as veias grossas no seu
abdômen que também somem para dentro da calça. Não deveria ficar mexida
com o seu corpo, com a mão quente sobre a minha e a respiração que faz seu
peitoral largo e inflado descer e subir, mas fico. Bastante eu diria.
alguém cozinhar.
alguns ingredientes que não são bons para Esteban agora, como o vinho e
caldo de carne, vou usar água no lugar.
Acerta na mosca.
— Por favor, não faça piada desse assunto sério. Não gosto nem de
pensar — declaro, preparando o prato dele da forma mais bela possível, como
papai me ensinou.
proponho.
— Então acho que já posso ser nomeada a sua babá, baby. — Dou o
seu prato com a colher, ele mexe a sopa analisando a textura, parece até um
expert no assunto.
— Mas para ser a minha babá é preciso fazer de tudo, já vou logo
avisando. Inclusive, me dar banho. — É irônico.
Esteban leva a colher à boca com certo requinte, ele tem finesse até
para comer, mas com o seu imperdível jeito masculino de ser. A forma como
o metal transpassa os seus lábios é sensual, mesmo com o estado caótico em
que se encontra o seu rosto.
— Ele está de parabéns, então. A sua sopa está melhor que a minha —
dispara, ergo as sobrancelhas, surpresa.
— Pega, experimenta o pão com queijo. — Levo até a sua boca, ele
morde com cuidado, adorando.
profundamente.
mais cedo da faculdade, poderei ficar aqui até a hora de ir para o bar... se
quiser é claro. — Fico sem jeito, não quero me sentir a intrometida.
— Quero muito, mas não se prejudique nos testes por minha causa —
afirma, responsável.
Nos próximos dias, graças ao bom Deus, ocorre tudo tranquilo. Adapto
a minha rotina com as visitas ao Esteban, saindo de casa para a faculdade, da
faculdade para o loft dele e de lá para o trabalho. É assim todo santo dia.
interessa pelo meu curso, gosta de saber sobre o que sei, faz perguntas e
conta sobre alguns casos que já pegou fora da sua área envolvendo saúde.
Esteban volta a trabalhar, mas de casa, ele estava ansioso por isso, não
aguentava mais ficar enclausurado sem fazer nada. O seu rosto, com o passar
dos dias retorna ao normal, o seu olho roxo já não existe mais e a sua visão
fica sem qualquer sequela. A sua costela também fica em ótimo estado e as
dores cessam de vez.
Vou visitá-lo em um sábado à noite, que promete ser o seu último final
de semana de recuperação antes de voltar a frequentar o escritório onde
trabalha. Quando ele abre a porta, como sempre, me agarra forte pela cintura,
muito medo.
ao seu quarto, onde nunca fui durante todos esses dias em que vim aqui. Ele
não me convidou e eu também não me ofereci. Claro.
— Isso é para agradecer por ter ficado aqui comigo durante esse tempo.
Por ter cuidado de mim. — Entrega-me o presente, fico emocionada
segurando as lágrimas que imediatamente querem sair.
— Esteban...
— Sem você teria sido bem mais dolorido e sofrido, baby. — Acaricia
o meu rosto. Suspiro, encantada, sentindo o perfume intenso das flores cor de
sangue, de botões enormes e beleza impecável.
— Por que dificulta tanto as coisas? Nunca recebi flores antes. — Estou
maravilhada, e dessa vez sou eu a puxá-lo para um beijo. Fico na ponta dos
pés, como sempre, para poder alcançar a sua boca, suas mãos grandiosas
seguram o meu rosto enquanto os nossos lábios brincam entre si.
Sei que ela se sentia culpada, mas além disso queria estar comigo e
para mim era o mais importante. Nunca passei tanto tempo com uma mulher
nesse apartamento sem sexo, tudo sempre era relacionado a isso, a transar e
nada mais. Não havia cuidado, cumplicidade ou sentimento.
— Sim. — A olho com segundas intenções. Vejo que está tentada, que
me deseja, porém ainda tem receios.
— É que...
— Sei disso, nem precisa falar. Então tudo bem, só preciso avisar a
Amélie — informa.
Ponho tudo sobre o móvel preto em frente a cama, onde fica a televisão
e há gavetas preenchidas com as minhas coisas. Abro o vinho com o saca-
rolhas elétrico, que é bem prático para momentos como este. Preencho as
taças com a bebida, entregando a de Madeleine. Capturo a pequena tigela de
vidro com os bloquinhos de chocolate e deixo sobre a cama, entre nós dois,
quando me sento ao seu lado.
mim ficar preso em casa, o que me salvou foi trabalhar daqui e a sua
companhia, mas não é a mesma coisa que estar no escritório. Foi uma loucura
com todos os compromissos que eu tinha, porém a minha estagiária e
secretária são excelentes, deram conta.
— Em quê?
Viro a minha taça bebendo tudo, sem tirar os olhos salientes dela. A
desejo muito e todo esse tempo sem sexo só me deixou com o tesão em níveis
estratosféricos. Tomo a sua taça e ponho junto com a minha sobre as gavetas
flutuantes ao lado da cama, assim como a tigela de chocolates. Pego o
ramalhete de flores e deixo sobre o móvel em frente a cama.
Volto a me sentar ao seu lado, agora mais perto, ergo a mão que
acaricia o seu rosto e escorrega para a nuca, de onde a puxo para um beijo.
Estou muito quente, quero tirar tudo dela e levá-la ao extremo prazer, mas
preciso manter a calma e ir devagar, ainda não sei se Madeleine já está
preparada, se sente totalmente segura ao meu lado.
O nosso toque se torna mais intenso aos poucos, as unhas dela afundam
Inclino-me um pouco mais sobre ela até que esteja deitada, fico com
metade do corpo sobre o seu, intensificando o beijo e serpenteando a palma
por seu corpo macio, por suas dobras e curvas sensuais até o centro
protuberante das suas coxas. Madeleine usa um short que valorizou ainda
mais as suas pernas e bunda. Fiquei excitado desde que a recebi na porta.
as luzes do quarto e deixo apenas ele ligado. Retiro a camisa, o cinto, a calça
e os tênis, sem pressa, ficando apenas de cueca boxer que marca a poderosa
ereção. Madeleine foca em meu corpo nas sombras. Ajoelhado sobre o
colchão, vou até ela, vendo-a retirar as sapatilhas e me dar atenção.
— Por favor, baby, seja sincera comigo assim como sou contigo —
peço carinhoso, pousando a mão sobre a sua bunda quando fica de lado, à
minha frente.
— Por quê?
A sua palma fica imóvel e esquenta mais o meu sexo. É gostoso, difícil
de controlar. Seguro-me para não liberar um gemido e ela engole em seco.
Sorrio, em deboche.
— Acha que sou perfeito depois de tudo o que fiz? Após te mostrar o
meu lado ruim quando nos conhecemos?
queixo. — Quando vai parar de acreditar no que os outros dizem? Você não é
o patinho feio... é um lindo cisne. — A elogio, percebo que sorri. — Além
disso, não sou perfeito como diz, apenas gosto de musculação.
— Ué... meu pau é torto — repito. — Por ele ser acima da média, fica
um pouco inclinado para a esquerda quando está ereto. Isso porque a vida
toda sempre o coloquei nessa posição dentro da cueca.
Madeleine sorri, a sua tristeza vai embora tão rápido que nem se dá
conta. Novamente o meu humor fazendo efeito.
— Está fazendo bullying comigo, é isso? Olha, que entro com uma
ação judicial contra você — ameaço, brincando.
— Quero... — murmura.
ESTEBAN JAVIER
que a faz cravar as unhas em meus ombros outra vez, entretanto, com uma
força nunca antes usada, percebendo que estou descobrindo cada ponto do
seu corpo.
o seu psicológico — sussurro, arrastando os dentes por sua pele, ela geme
mais alto. — Vou te mostrar o quanto é linda... gostosa.
— Vou te provar que você tem tudo o que um homem precisa, o que eu
preciso... e que não falta nada! — Aperto as suas nádegas com mais força,
sentindo a sua pele fofa entre os meus dedos. O mastro lateja contra a sua
barriga, pegando fogo.
maldita blusa, controlando-me para não tentar tirá-la outra vez, porque agora
quero que essa atitude parta dela. Ela que tem que tirar, só assim quebrará o
trauma e se libertará dos demônios que implantaram em sua cabeça. Este, a
partir de agora será o meu maior desafio.
a sensação de ser a primeira vez. Ela está tão sensível e suas reações são tão
puras e primárias, que é como se ainda fosse virgem. Talvez realmente seja,
talvez ainda não tenha descoberto todos os seus pontos erógenos.
da mão. Meu pau está tão petrificado, apontando pungente para cima, quando
o forço para baixo, contraindo com o movimento, sinto-o estalar gostoso, isso
me arranca um gemido.
Meu coração bate acelerado, nós estamos arfando e suados mesmo com
o ar ligado. Deito-me ao seu lado, ainda tentando controlar a respiração.
Apenas dei prazer a ela aqui, porém fui arrebatado com os sentimentos na
mesma intensidade. Ficamos em silêncio por um bom tempo, até que levanto,
pego uma tolha de mão em uma das gavetas que uso para a limpar.
— Estamos só começando.
MADELEINE FERNANDEZ
mente desde que me entendo por gente, sinto que realmente será capaz disso
porque quando estou ao seu lado, esqueço dos problemas, fico livre.
Ontem, não nos enxergávamos bem devido ao escuro que impus, mas
quando o advogado me fez tocá-lo, quando a minha mão segurou aquele
mastro grosso e extenso, era como se eu visse tudo! Ele é lindo, gostoso e
muito quente. Me fez arder, implorar, porém não caiu na tentação e me levou
a um estado caótico.
tirou isso de mim, acho que conseguiu sugar prazer até da minha alma, mas
no fundo estou culpada por não ter dado a ele nem metade do que me deu.
me entregar sem qualquer pudor ou barreira. Realmente, para mim não é tão
fácil, não é uma coisa de escolher ou não fazer, quando chega a hora H,
simplesmente travo. Contudo, estou disposta a tentar vencer esse fantasma.
podermos dormir.
— Senão o quê? Vai quebrar a sua promessa e ceder? Por mim tudo
bem, eu acho ótimo! — revelo, mordendo-o novamente.
— Não vou perder essa guerra... já disse que vou te fazer implorar —
repete, bocejando.
— Acho que essa sua pose de autocontrole vai cair por terra em algum
momento. Não vai resistir muito. — Estou sendo leviana agora, e adorando
esse meu lado.
— Madeleine... — repreende.
Afasto-me dele, faço-o ficar de bruços e monto sobre a sua bunda nua e
gostosa.
— Ai... caralho. Não me diga que está sem calcinha — fala, ainda de
— Ah, é? E aquilo que fez comigo ontem à noite é coisa que se faça
com uma mulher? Quase não consegui dormir e agora estou querendo tudo de
uma vez, você por completo. — Deito-me sobre ele, cochichando sensual em
seu ouvido.
— Isso é tortura.
— Não precisamos passar por isso, com o tempo tudo dará certo.
— Qual o problema?
— Ainda sou virgem aí atrás, então cuidado com essas suas unhas
grandes — fala brincalhão e sonolento, arrancando-me ainda mais
gargalhadas.
— Não tenho unhas grandes, não posso devido à minha profissão, só
uso postiças de vez em quando — informa.
Me desmancho em risadas.
— Você jamais gostaria disso, não faz seu perfil. Não mesmo, senhor
advogado.
— Gosto de pegar na sua bunda, acho sexy, assim como sei que gosta
de pegar na minha.
— Sim.
— Posso morder?
— Não... de jeito nenhum! — Sua voz sai mais grossa, porém não lhe
dou ouvidos.
— É só para experimentar.
Aos risos, vejo-o se afastar rumo à toalete. Ainda consigo vê-lo através
da película jateada no vidro que separa o quarto do banheiro. Fico jogada na
cama, olhando para o teto, sentindo-me mais feliz do que nunca, bem, em paz
e com a saúde mental restaurada. Esteban faz com que eu me sinta única,
que quiser. Além disso, ele já teve o que mereceu. Acha que somos
diferentes? Assim como eu, ele só vai te comer e jogar fora. Porque você
não faz o nosso tipo, aliás... não faz o tipo de homem nenhum. Ninguém
quer assumir uma gorda ridícula e feia! Não se iluda, após ele conseguir o
Devolvo o celular para onde estava, até que noto que uma das gavetas
flutuantes está entreaberta. Algo me faz aguçar a curiosidade a ponto de abri-
la, momento em que fico boquiaberta ao descobrir um mundo de calcinhas.
Levanto-me para conferir melhor, são tantas que a gaveta mal fecha direito,
está lotada.
Encontro a minha que Esteban rasgou ontem à noite, que por sinal é
maior que as outras que puxo para conferir. Ele colocou a minha peça aqui,
em meio a outras dezenas. Vejo que há pouca diferença de um número para o
outra vez como uma pata. Fecho a gaveta rapidamente quando escuto Esteban
se aproximando. Disfarço, fingindo arrumar a cama para que não perceba o
meu estado enquanto ele se aproxima molhado enrolado na toalha.
estranho e fita a gaveta, como se soubesse que mexi ali. Engulo em seco e o
ultrapasso, seguindo para o banheiro, onde me tranco.
Crio coragem para tomar banho, porque quando fico ansiosa e nervosa
assim, geralmente gosto de comer para ficar mais tranquila. Ao retornar para
o quarto enrolada na toalha, vejo que estou sozinha e escuto Esteban
cozinhando no andar de baixo. Cozinhando e cantarolando uma canção em
Procuro a minha roupa, visto, mas sem a calcinha porque não tenho
mais, está rasgada e foi posta no depósito junto às outras. Penteio o cabelo
rapidamente, refletindo. Estou indecisa, sem saber o que fazer. Por um lado,
eu poderia conversar com Esteban acerca disso e pedir uma explicação, mas
por outro... não acho que já possuímos essa intimidade, poderia soar como
cobrança e não temos nada, apenas uma amizade colorida.
Ouço o celular apitar sobre a cama novamente, vou pegá-lo, mas não é
Ele é um cafajeste, tem uma vida sexualmente ativa. Quando foi que eu
esqueci disso? E se nesse tempo que ficou aqui outras vieram visitá-lo além
de mim? E se alguma daquelas calcinhas foi colocada naquela gaveta
enquanto estava machucado? Não posso duvidar de nada, não posso confiar
nele!
— Nada... só preciso ir embora! Isso entre a gente não vai dar certo! —
Dou-lhe as costas, voltando a caminhar, mas Esteban não desiste.
Ele fica calado, sem palavras. Não tem o que dizer, é a verdade.
e nunca seremos um casal porque não fomos feitos um para o outro. Olha
para mim e depois para você! Não combinamos e está tudo bem! Você jamais
se apaixonaria por alguém como eu. — São as minhas últimas palavras.
— Impossível!
Agora sou eu que fico sem palavras, sem argumentos, sem barreiras! O
— Esteban...
Ele beija o meu ombro nu, doce, carinhoso, ao mesmo tempo em que
retira o meu sutiã, livrando-se da peça, fico exposta, exposta como jamais
estive na frente de um homem, já que está tudo claro ao nosso redor, ainda
cai chuva lá fora.
os dedos, abrasando. Seu corpo se pressiona contra o meu, seu pau se aperta
mais contra a minha coluna, posso senti-lo pegando fogo, petrificado.
baixo, até sair pelos meus pés e ser jogado para longe. Ele está agachado aos
meus pés, aproveita para morder a minha bunda se vingando, me fazendo rir
e instintivamente me apoiar no espelho, arrebitando o traseiro que agora se
perde em seu toque grosso, assanhado.
A minha boca não é mais minha, agora pertence a ele, que chupa,
mordisca e devora. As nossas línguas se enfrentam, digladiando, enroscando-
se uma na outra, sugando. Nosso beijo é esfomeado, estamos com tesão
reprimido, aproveitando agora para botar tudo para fora, nos deixando
carência gigantesca entre as pernas, uma vontade de ser tocada no meu centro
sem igual, irreversível.
perverso..., me deixa vulnerável, açoita a minha alma, me tira tudo e fico sem
nada.
abrindo as pernas e pondo sobre as dele, meus pés sobre os seus e meus
braços atrás das suas coxas, nas laterais do seu corpo robusto. Esteban respira
pesado contra a minha orelha e isso é tão viril que me excita. Não sei o que
ele está pretendendo, qual será o seu próximo passo, é um poço de mistério e
Quero logo que transe comigo, mas a sua paciência e jogos são uma
tortura boa, fora do comum! Ele ergue a rosa, e a usa para acariciar o vão dos
meus seios, as pétalas vermelhas escorregando por minha pele com afeto e
suavidade, arrepiando tudo. Fecho os olhos e gemo forte quando toca a minha
boceta e gira. Preciso de mais e que seja bem mais forte, por isso fico
ensandecida, carente.
Ele volta a subir, a flor resvala por minhas dobras e pincela delicada em
meus mamilos, até ser deixada de lado na cama. Esteban larga o meu seio e
segura o meu pescoço com firmeza, descendo a mão direita para o meu sexo,
— Eu sou... sua!
— Agora sim você vai saber o que é ser fodida por um homem de
verdade.
ESTEBAN JAVIER
Ela está toda mole, enfraquecida, submissa e pronta para me dar tudo o
que quero. A beijo outra vez, seu corpo suado agora não mais da chuva, mas
sim de um suor cheiroso, viciante. Afasto-me dela, abro a gaveta abaixo da
que está repleta de calcinhas e pego um preservativo, abrindo-o com a boca e
me protegendo.
Ela me para quando estou com metade dentro de seu corpo, seus dedos
pressionam o meu abdômen, os seus lábios boquiabertos denunciam a dor e o
acostumar com o meu tamanho. Fico tão fascinado por sua imagem que me
deito sobre ela, prendendo os seus pulsos contra o colchão e tomando a sua
boca em um beijo que afaga as nossas almas. Os lábios derretendo uns nos
outros, com afeto e sentimento.
Ela arranha as minhas costas que já estão doloridas de tanto receber o mesmo
golpe, mas isso só me incentiva a continuar.
me faz perder a razão. Fico enfeitiçado, tomado por seu corpo fofo e gostoso,
suave, que tão perfeitamente encaixa com o meu, que é duro e ríspido.
Um homem apaixonado... é isso que sou! Foi tão rápido que nem
percebi, apenas constatei de verdade quando estávamos lá embaixo sob a
chuva, quando percebi que poderia perdê-la. Meu coração parou, parecia
preso pelo medo de não ver ela mais e surpreendeu até a mim. Ainda travei,
tive medo de confessar, mas confessei. Foi mais forte e mais intenso do que
pude imaginar.
Fodo-a afundando o meu pau na sua bocetinha sem parar de beijar a sua
boca. Ela segura os meus cabelos entre os dedos e geme cada vez mais
molhada, chocando os nossos sexos que fazem barulho com o impacto, uma
melodia para os meus ouvidos.
— Fique assim... não quero que tenha pudor antes ou depois do sexo.
apaixonei uma vez na vida antes de você, por isso sei o que é que está
acontecendo entre a gente. Só que contigo é mais forte — sou sincero.
— Por isso nunca fala da sua família? Tem irmãos? — Está curiosa,
sua voz sai com cuidado.
Ela resvala as pontas dos dedos macios por minha face, que continua
— Pior que não. Ela trata o meu irmão com amor, mas comigo nunca
teve isso. Jamais ouvi dela sequer um... “eu te amo”.
— Sei muito bem como é isso. No meu caso, foi o meu pai que sempre
me tratou assim. Na verdade, nem sempre... houve uma época em que tudo
era diferente, sei como começou, mas ainda assim não consigo compreender
tudo. — Penso alto, deixando claro, mesmo que sem pretensão, o quanto esse
assunto me perturba. Penso em fazer um depoimento, mas travo.
— Já sou mais íntimo de você do que de qualquer outra que tive nesta
cama, Madeleine. Não sei como conseguiu isso, mas está feito. E me perdoe
pela gaveta de calcinhas, por ter posto a sua lá também. Isso merece uma
explicação mais plausível, só que... a verdade é tão ridícula que me sinto até
envergonhado de falar.
— É estranho, mas sei que fazer isso irá me ajudar — confessa, então
nos beijamos.
— Você está conseguindo até bem rápido, eu diria — faz piada —, mas
— Se não suportar, podemos deixar para depois, hoje já foi mais do que
suficiente. — Puxo o lençol de volta e a cubro até o busto. — Melhorou?
— Desculpe por ter saído daquele jeito, você deve ter me achado
infantil, mas não foi só pela gaveta.
que foi do Vincent, ele disse palavras horríveis que me fizeram enlouquecer...
— confessa.
— Somei a mensagem dele ao que vi na gaveta e... pirei. Não posso ser
assim, impulsiva, desculpe-me.
você faria comigo o mesmo que ele fez. — Ela abaixa o olhar, medrosa. Isso
a afetou.
— Porque não envolve só aquele moleque, tem o pai dele que é meu
cliente. Quer dizer, era... amanhã mesmo vou pedir a renúncia dos poderes
que tenho para representá-lo. Não serei mais o seu advogado.
— Não, Esteban! Ficou louco? Para você pode ser, mas para mim não.
Deve ser muito caro.
— Posso pagar.
Assinto, saindo de cima dela e voltando para o meu lugar, agora sério,
com os pensamentos distantes. Sinto vontade de desabafar, Madeleine me
— Esteban...
— Ali começou o ódio do meu pai por mim, a rejeição. Ele queria
muito aquele filho, a minha mãe estava de oito meses, prestes a dar à luz...
— Que ele me culpou. Fui sentenciado por este crime ainda menino,
sem entender nada, nem o que havia feito direito, a gravidade da situação.
Paguei por isso a vida toda. Um assassino... que depois foi substituído pelo
novo irmão — o ódio em minha voz é audível, lembro de Alejandro
— Ele era o preferido e o que recebia toda a atenção da casa inteira, até
porque... era cheio de traumas, na verdade deve ser até hoje e por isso não
consegue falar, apesar de não ser mudo.
agulha.
— Mas ele, o Alejandro... não tinha culpa do seu pai fazer essa
crueldade. O seu pai foi infantil, você era apenas um garoto! — Madeleine
— Ele tinha culpa sim! — rosno. — Sabia da situação e não fazia nada
para me ajudar. Alejandro era sonso! Todas as vezes que eu tentava me
aproximar do meu pai, ele criava algo para chamar a atenção dele... de
propósito! Se vitimizava descaradamente. Uma vez... o flagrei dialogando
com Luna, mas quando estava na frente do meu pai... se calava
intencionalmente, para ser o foco. E foi assim por toda a nossa vida, até que...
quando adultos, ele me deu o golpe de misericórdia. — Suspiro, aflito.
repousando o rosto sobre o meu ombro, me dando carinho. Ela sabe que
preciso disso agora, eu também sei, porém... é tão estranho. Não queria que
me visse assim nunca, ainda estou decidindo se me arrependo ou não de ter
exposto o meu lado obscuro.
até que ela ergue a face para mim e nossos lábios se encontram. O beijo é
delicado, carregado de paixão e emoções sentimentais, afetuosas. Nossas
línguas se encontram e, juntas dançam uma valsa, uma guiando a outra se
envolvendo, se transformando, espalhando mágica sensual pelo corpo todo.
Nos beijamos com mais intensidade, a puxo para o meu colo e sinto a
pressão boa quando senta sobre o meu centro, nossos sexos roçando um no
outro debaixo d’água. Inigualável... a sensação é única, ela rebola
devagarinho me atiçando, provocando, enquanto comprimo as suas nádegas,
afundando os dedos em sua pele, gostando de tê-la para mim e sobre mim.
Suas unhas outra vez bagunçam os meus cabelos, o seu rosto fica sobre
vez que me sente bem fundo dentro dela, enterrado, pulsante. A pressiono
contra o meu corpo, adorando as suas dobras e curvas, um fascínio!
jovem rebola com vontade, puxando o meu rosto contra o seu busto, o seio
afundado entre os meus dentes, empurrando a língua. Sou atingindo por um
resquício de consciência e a tiro de cima de mim, ofegante, sem entender.
Estou muito curiosa e com uma vontade enorme de ajudar esse homem
que está me fazendo tanto bem sem pedir nada em troca, por quem estou
encantada e fascinada a cada instante a mais que passo com ele. Certo que ele
apenas se abriu sem pedir ajuda alguma, parece retraído quando a questão é a
receios e pensamentos negativos, não é uma coisa que se perde do dia para a
noite, mas sinto que se me manter ao lado de Esteban, conseguirei enfim
superar todos os meus limites.
Ele me leva à loucura, me tira do chão, me faz ter sensações que jamais
imaginei na vida e ir ao orgasmo de forma arrebatadora, tanto que fico com
vontade de mais. Sempre mais. Estou descobrindo o meu próprio corpo
através das mãos dele, com o seu toque grosso e masculino. Esse advogado
sabe o que faz, de forma que não fico com vergonha de me expor para ele.
Estou encostada na parede, com as mãos atrás das costas, usando uma
nova camisa sua, de pernas nuas e ainda sem calcinha, porque não vim
sorrindo, observando o loiro gostoso que está muito atento às panelas que
exalam um cheiro maravilhoso.
— Nem vou comentar o que acho de você usando a minha camisa sem
calcinha, senhorita Madeleine — afirma, fitando-me por um segundo.
— Também estou com muita fome, você sugou toda a minha energia,
Pimentinha.
— Ah, é?
— Sim!
— Vai comer da minha comida e ainda vai pedir para repetir — avisa,
desafiando-me.
— Eu admiti que o seu pai sabe cozinhar melhor que eu, não admiti?
— Mas o meu pai não cozinhou para você, eu que fiz a sopa que ele me
ensinou! Sendo assim...
Sorrio, em deboche.
duplas de vidro ainda molhadas da chuva do outro lado e sigo até elas
abrindo-as, o sol já brilha forte no céu. — Você tem uma varanda linda! —
exclamo.
— Olha sóóó! Quer dizer que você será o garçom hoje? — Provoco,
estou me sentindo muito leve, zen.
— Por que não? — Ele pisca para mim, sensual! Ai Deus, toda vez que
faz isso fico com vontade que me abra toda de novo. Retorna para a cozinha e
reaparece com duas travessas. — Aqui está, frango cozinhado ao vinho com
No fim, Esteban nos serve com um delicioso suco verde, algo leve após
o almoço intenso. Observamos Paris em silêncio, o movimento das pessoas lá
embaixo, nas ruas, os carros e ônibus.
— Sexo, todos os dias. Pelo menos umas três vezes por dia —
— Mas não poderemos fazer isso todos os dias. Está pensando que sou
uma máquina? Além disso... temos as nossas obrigações.
— Daremos um jeitinho, não há limites para dois amantes. — Pisca de
novo, me conquistando. — Acredite... você vai gostar.
Nos separamos, cada um para a sua função até que nos reencontramos
no quarto, ficamos agarrados na cama, assistindo um longa de comédia.
Sorrimos bastante e terminamos transando outra vez. Depois Esteban faz
pipoca e partimos para outro filme, agora um de suspense que não faz muito
o meu estilo, mas até que é bom.
uma aluna, só que séria e atenta. — Esta é Louise, ela vai cuidar de você,
Madeleine.
vez. Agora tenho que ir. — Ele me beija rapidamente, com naturalidade, não
sente vergonha alguma por estarmos em meio a diversas pessoas, então volta
para o carro e se vai.
— Eu me viro.
— Agora mesmo.
franzir a testa. — Aaah... — lembro que tenho que fingir que não a conheço.
— Aham.
— Madeleine você está muito chique! Meu Deus... — Ela acena para
Louise, sorrindo, e a mulher por sua vez a ignora. — Que grossa!
— Pare de acenar! Combinamos fingir que ela não está me vigiando
para que os outros não descubram! — repreendo.
noitada daquelas sem fim, já que você estará comigo, a sua segurança pelo
visto também estará.
— Dramática! — reclamo.
— E você vai?
— Sim. Adoro a Amélie e uma balada sempre cai bem, inclusive foi eu
que indiquei o lugar.
Louise vai embora quando o seu horário termina e eu sigo para casa,
encontrando Tim acordado, como sempre. Conversamos bastante, ele me
mostra todos os seus desenhos novos e as coisas que aprendeu nesses dois
dias que ficamos sem nos ver. Esteban faz uma vídeo-chamada para
— Boa noite. — Sorrio, contente por falar com ele. — Tim, veja só
quem está aqui. É o Esteban!
— Tim? Você está aí? Apareça para que eu possa vê-lo — Esteban
chama por ele, mas Timothée nega com a cabeça.
— Posso pelo menos ver o desenho que você fez de mim? — propõe o
advogado.
— Legal para quem? Você? Porque não estou feliz com isso, mas a
minha vida sempre foi assim... corrida.
— Venha aqui — chamo. — Pode vir meu amor, ele quer ver. Posso
virar a câmera?
— Prometo.
MADELEINE FERNANDEZ
— Bom dia para a senhora também, mãe. Bom dia, papai. — O beijo
na testa.
papai que faz menção em respondê-la, porém seguro a mão dele e o impeço,
tomando a palavra:
— Não faz mal, ele me adora como eu sou. Além disso, mãe, não estou
interessada em dieta, passei a gostar do meu corpo do jeito que ele é!
— Ainda estamos nos conhecendo. Ainda não é nada sério. Ele não é
meu namorado.
dinheiro dentro de casa, mas que teve que se qualificar com cursos e tudo.
Que gosta do que faz.
As minhas respostas não chegam para ele, Esteban havia afirmado mais
cedo que estava voltando hoje para Paris, o avisei sobre o aniversário de
Amélie, mas ele ainda não visualizou.
o alto, dançando e gritando. Ela usa um vestido curtíssimo, está quase nua.
— Foi o gostoso dos olhos azuis que me fez ter coragem para isso!
— Tentei, mas ele já deve estar em viagem e sem área para o celular, as
minhas mensagens não chegaram.
duvidar essa é a terceira vez que venho com Amélie, sempre para
acompanhá-la. Mas hoje quero fazer diferente, preciso me permitir mais,
descobrir e buscar por sensações de plenitude como aquelas que Esteban me
fez sentir.
Louise está atenta, não veio para se divertir, e sim para trabalhar, mas
acabamos fazendo-a relaxar um pouco. Marcel surge com bebidas,
entregando os nossos coquetéis, exceto para a segurança, que não aceita.
Não demora muito para a coisa piorar. Quando me dou conta, estamos
— Até parece que preciso. Conheço a casa em que estão. Chego dentro
— Sim!
— Acho que não vai gostar de me encontrar assim... tão íntima de você
— reflete.
sua segurança!
Louise fecha a cara para mim, negando com a cabeça para eu não
aceitar o convite, mas Marcel é apenas um amigo, o conheço já faz tempo e
não há perigo algum, por isso aceito. Ele fica às minhas costas, escorregando
Tudo está ótimo, incrível, até que de repente Esteban surge do nada,
empurrando Marcel para longe de mim com força. O meu amigo quase cai no
meio da galera, assustado por ser pego de surpresa. Fito o advogado
boquiaberta, os seus olhos azuis me encarando com fúria.
— Esteban? — A dupla fala em coro. Será que são os amigos dele que
sempre o acompanham no bar?
ESTEBAN JAVIER
Passo apenas alguns dias em Nova York, e quando chego dou de cara
com Madeleine dançando com o barman do Le Loup! O cara está
simplesmente se esfregando nela com toda intimidade. Isso é demais para
mim. Não consigo me controlar, uma raiva explosiva me sobe à cabeça,
ultrapasso as pessoas que dançam ao meu redor e o empurro antes que o
esfrega-esfrega continue!
Madeleine fica chocada com a minha atitude, enquanto olho para ela
furioso. Não quero parecer ciumento, é claro que a minha reação não foi fruto
de ciúmes, sou um homem feito, porém não suportei ver outro tocando-a.
— Modere o seu tom, rapaz! — repreendo. — Não vê que ela não está
sozinha? O que ainda quer aqui? — Sou intolerante. Ele bufa irritado e sai de
cena, derrotado.
— Ah, então são vocês que sempre vão ao Le Loup! Por isso tive a
impressão de que já te conhecia, gatinho! — Amélie acaricia o queixo de
Dom com toda intimidade, deixando a mim impressionado, ele fica um pouco
sem graça, percebendo que está ficando com a amiga da minha
acompanhante.
jovem para um canto um pouco mais silencioso da boate, onde podemos nos
escutar melhor para conversar.
— Não foi o que pareceu, não sou cego, Madeleine! Se não gostou,
também não gostei. Você sabia que eu estava vindo e ainda assim foi dançar
com aquele cara...
— Está com bafo de álcool! Está bêbada! Deve ser por isso que está tão
soltinha...
— Safado!
a ferro e fogo! Uma mão a segura pela nuca e a outra pela cintura, prendendo
ela a mim como um imã, uma força magnética exalando de nossos corpos
sem freio algum!
Madeleine fica na ponta dos pés e me ataca, puxando o meu rosto com
as mãos, levando a minha boca à sua com vontade, sem pudor e desinibida,
provando que também sentiu a minha ausência.
Era só isso que eu queria desde que cheguei aqui! Beijá-la... saciar essa
vontade que ficou impregnada em mim durante todo esse tempo em que
fiquei fora e que pareceu muito, sem seu corpo para esquentar, sem as suas
curvas para apertar.
mais esperar. Chupo a sua língua e apalpo a sua bunda sem vergonha, sem
me importar com as pessoas que passam por nós, mas Madeleine desfaz o
meu toque de novo, notando o perigo. Estamos quentes e ofegantes.
— Quero muito, mas não posso. Prometi a Amélie que passaria o seu
aniversário com ela este ano, e se eu sumir ela vai me matar. Já deve estar me
esperando, ainda teremos o bolo.
Bufo, insatisfeito.
— Vai ser rápido, pelo que tudo indica ela não ficará aqui muito tempo.
É capaz de sair com o seu amigo e aí a festa acaba. Não há festa sem
aniversariante. Além disso, estou adorando isso aqui, já faz muito tempo que
não venho a uma boate e quero me divertir. — Me olha com cara de pidona.
Ela fica feliz com a minha decisão, nos beijamos mais uma vez.
Madeleine está com um look de chamar a atenção, é a primeira vez que a vejo
de saia de tonalidade vinho, que é comportada e ousada ao mesmo tempo,
deixando um pouco das suas lindas coxas de fora. Veste um cropped branco
de renda que contorna bem o seu corpo e valoriza o seu decote, fatal! Além
dos saltos.
— Por favor, me digam que agora está tudo bem! — Cruza as mãos,
torcendo por um sim.
— Não a nada para entender, não irei expor nada. — Sou sério.
— Não. Apostas sem você não tem graça, gosto de provocá-lo. Viemos
aqui apenas para relaxar e então aconteceu toda essa situação. E como foi
com o cliente em Nova York?
— Sei que parece loucura, amigos, mas está acontecendo. Não iria
revelar isso a vocês tão cedo, até porque, ainda não é tão sério quanto parece.
Como eu disse... estamos nos conhecendo.
— Vou pegar alguma coisa para beber. — Pisco para eles, saindo e os
deixando em silêncio.
— Aham.
em que a mulher que parece alguns anos mais velha, apaga as velas. Louise
que, desde a minha chegada ficou desconfortável, para ao meu lado.
amigas felizes.
Nunca a vi tão feliz e leve, é uma nova faceta sua que estou
descobrindo agora, já que a conheci muito ranzinza devido aos traumas.
Também não estou me reconhecendo, só tenho sorrisos incontáveis para ela,
e a seguro para que possa pular e me beijar, adorando a minha companhia
é nada fácil e sei que isso só instiga ainda mais o meu amigo. Tanto eu,
quanto ele e Dom, gostamos de desafios, por isso me apaixonei por
Madeleine.
— Estamos indo, meu amigo. Preciso ficar a sós com Amélie. — Pisca
para mim, imoral.
— Divirtam-se! — Dou um tapinha no ombro dele.
— Eu vi.
— Obrigada por fazer parte da minha festa. Amei. Agora tenho que ir!
— Nos dá tchau.
— Ótimo — concorda.
com Dominique para o carro dele, enquanto Madeleine vem comigo para o
meu.
assustou. — Você foi uma garota má, baby, muito má... — Puxo a sua saia
apertada para o alto, até a sua cintura, desnudando a sua bunda e encontrando
uma calcinha verde-escuro. — Sabe que..., quando te vi de saia fiquei louco
— confesso, mordendo o lábio e o pau se contorcendo petrificado dentro da
calça.
— Esteban...
Acerto o seu rabo com uma palmada, o som do tapa moderado soando
pelo ambiente.
Solto-a, volto a ficar ereto e estapeio a sua bunda redonda outra vez,
— Aaaii... Esteban — grunhe, depois grita com o tapa forte que dou em
seu rabo. — Senhor... Esteban — corrige, voltando ao jogo.
Abro as suas nádegas formosas outra vez e beijo a sua intimidade com
Saio do seu corpo e arrasto-me para o alto, até o orifício rosado que
Resolvo terminar aqui, estou muito necessitado, foram dias sem esse
prazer e preciso agora. Levanto-me, abro a calça, desço a cueca e exponho o
mastro com a fenda lubrificada, a glande larga, que de rosa se tornou
vermelha com tanto tesão que me queima.
cabelos e afundando o meu corpo no seu, exalando essa magia luxuriosa entre
a gente, a comendo... um macho devorando a sua fêmea. Um cavalo sobre
uma flor.
ainda com as mãos em sua bunda, adoro essa parte do seu corpo, assim como
o busto e todo o resto. Prendo-a em meus braços com o mastro semiereto,
babado do orgasmo batendo nas dobras da sua barriga. Nosso toque é lento e
profundo, acalentador, as línguas enroscam-se com paixão até que perdemos
o ar.
Guio Madeleine até o enorme sofá, onde faço-a se sentar após tirar a
sua blusa e saia, mas não os saltos. Percebo que ela ainda tem receio de ficar
totalmente exposta para mim, não me disse nada dessa vez, mas consegui
notar pelo seu olhar ou gestos instintivos, contudo, vou enchê-la de tanto
prazer que não vai conseguir focar nisso.
— Agora quero que ofereça a sua boceta para mim. — Ela fica
contrariada, está desesperada por mim e não consegue raciocinar direito.
Agacho-me em sua frente outra vez, puxo as suas mãos com delicadeza por
sobre as coxas ainda abertas e uso os seus dedos para abrir os lábios externos
da sua boceta, mostrando a carne rosada lá dentro. — Assim... — sibilo,
pornográfico.
Não consigo parar de pensar nele todos os dias, e dessa vez, como não viajou,
cumpriu o que disse sobre nos vermos e transarmos diariamente. Foi o que
aconteceu e me surpreendi por não me incomodar com isso.
Pelo contrário, estou descobrindo que sou ou estou ficando tão fogosa
quanto ele. O advogado me faz ter desejos que nunca imaginei, me leva à
loucura, à luxúria, e descobre pontos específicos do meu corpo que nem eu
mesma sabia existir. A cada dia que passa, me sinto mais confiante, mais
apaixonada e segura de mim.
arrancando-me gargalhadas.
Meu centro pisca com a sua aproximação, ele molhado me esquenta até
mesmo sem me tocar. Engulo em seco, ainda não sei quando vou me
— Fizemos isso nos dois últimos fins de semana, não é uma má ideia,
pois eu adoro, mas neste quero que seja diferente. Vamos dar uma volta, há
um lugar onde quero te levar.
com calças jeans, tênis e jaquetas. Protegidos com capacete e até luvas.
Seguimos pela estrada, ultrapassando as belíssimas paisagens da França,
rumo ao inesperado. Realmente não sei o que esperar, estou vivendo um
sonho agarrada a Esteban, com os braços em volta do seu corpo, de sorriso no
rosto.
feito isso antes. Apesar de não saber para onde estou sendo levada, em
nenhum momento desconfiei do advogado, pois quando estou com ele me
sinto incapaz de ser atingida por qualquer coisa ruim.
Aperto o loiro com todas as minhas forças, gritando de medo, então ele
desacelera indo bem mais devagar agora, gargalhando do meu mini
desespero. Dou tapinhas em seu ombro.
— O quê?!
— Esteban...
— Abraaaa!
Atendo o seu pedido e estico os braços lentamente, até que fiquem
totalmente abertos, sentindo agora a brisa do vento mais intensa em todo o
meu corpo, afagando o meu espírito. Posso dizer que me tornei outra pessoa.
É como se nessa estrada, aquela velha Madeleine cheia de mágoa, feridas e
traumas ficasse para trás e desse espaço para uma nova mulher que acredita
que todos os seus sonhos podem mesmo se realizar!
A nossa viagem dura duas horas e meia, paramos apenas uma vez no
caminho, em um posto de gasolina para abastecer, esticar as pernas, ir ao
banheiro e beber água. A paisagem começa a mudar, surge areia e avistamos
o mar ainda distante. Fico chocada! Não esperava que ele me levasse à praia.
epopeico.
incrédula.
— Vamos, baby, temos um longo dia pela frente e já está quase na hora
fim, prefiro acreditar nele, até por que não tem mais motivos para me
esconder a verdade.
— Acho que não, mas se for... o que importa? — Para ele esse mundo é
muito normal, ainda fico processando tanto luxo, não estou acostumada e
realmente não sei fingir costume.
— Praia? Mas nem trouxemos roupa para isso! A mochila mal coube os
meu estômago.
— Que... é para isso que estou estudando, sabe? Que é uma vida assim
que quero ter daqui há alguns anos. Claro, não preciso de tanto, mas... quero
— Essa foi a coisa mais bonita que já ouvi na minha vida — confessa,
e eu sorrio. Unimos as nossas mãos por sobre a mesa, passando energia
positiva um para o outro. — Tenho certeza que conseguirá realizar todos os
seus sonhos, porque é guerreira, inteligente e determinada. Vai conseguir.
— Obrigada.
— Esteban, acho que não tem o meu tamanho aqui — cochicho em seu
ouvido antes de entrarmos.
Uma das vendedoras que é magra e alta vem nos atender, observando-
me de cima abaixo com desdém e provavelmente estranhando o fato de um
deus grego como Esteban estar ao meu lado.
— Boa tarde, por favor, será que pode encontrar algo para a minha
acompanhante? — O advogado fala, todo educado e naturalmente atrativo. A
mulher não consegue disfarçar o interesse nele. Tento não me sentir
diminuída em sua presença, mas é impossível.
Ele pegou pesado, mas adorei! A mulher fica muda por alguns instantes
até responder, educada:
— Mas não quero procurar, por favor, não me faça passar por isso. Já
vivi essa situação muitas vezes, não quero repetir — digo, o deixando sem
palavras. Penso um pouco. — Sei que planejou muitas coisas para nós, mas...
não precisamos tomar banho de mar... deve haver muitas outras coisas para
— Prazer — falo.
— Nossa, a suíte de vocês parece ser mais completa que a nossa! Esse
hotel é mesmo lindo, não é? — indaga, enquanto nos afastamos.
— É que ele queria fazer uma surpresa, ainda não sabe como é a nossa
vida de Plus Size, mas é um fofo!
— Oh querida, está tudo bem. Sabe, hoje não me atinjo mais com esse
tipo de coisa. Amo o meu corpo e quem eu sou, óbvio que demorou muito
para me aceitar, a sociedade é cruel, sempre excluindo aqueles que não estão
dentro dos padrões de beleza. Mas após muitas experiências, decidi ligar o
botão do foda-se. Porém, você ainda é muito jovem, sei que não deve ser
fácil.
— Sei, te entendo. Trabalhe em cima disso, com o tempo essa ideia vai
— Você tinha razão, não achei lojas aqui com o seu manequim.
Frustrado, voltei para o hotel sem saber o que fazer, até que esbarrei com eles
no elevador, notei que ela usava peças que serviriam em você e resolvi
perguntar onde comprou. O casal se mostrou muito solícito e entendeu a
nossa situação e então... bem, você sabe que sou bom em construir amizades.
— Aham... sei muito bem. E não sei como agradecê-lo por isso. Estar
contigo é viver a cada dia com uma surpresa diferente.
— Quero que se sinta bem ao meu lado. — Toca o meu queixo com
carinho. — E não posso permitir que nada estrague isso. — Me beija com
paixão, me apaixonando ainda mais. Esse homem não existe!
Ele sorri para mim e tudo se torna o paraíso. O seu cabelo fica ainda
mais dourado brilhando sob o sol... lembrando até um anjo pervertido.
Começamos a caminhar pela areia branca, fofa, Esteban acelera e quando me
dou conta estamos correndo.
— Nossa, nunca me diverti tanto naquela praia como hoje. Parece até
que foi a primeira vez — comenta, vindo por trás, apoiando as mãos sobre os
meus ombros e beijando-me no topo da cabeça.
Sinto a sua ereção crescer entre nós e mordo o seu lábio inferior, algo
que aprendi com ele. As suas sobrancelhas se erguem com a surpresa, e seus
olhos me encaram com desejo extremo.
— Nunca fiz isso, mas... quero que me ensine a te dar prazer — peço,
deixando-o boquiaberto, excitadíssimo. Esteban me beija com euforia, parece
ter adorado as minhas palavras.
Assim que perdemos o ar, pressiono o seu peitoral, ele entende que
quero sentá-lo, então se senta na ponta da cama. Quando me ajoelho à sua
frente, ele entende o que quero fazer e parece gostar da ideia, abrindo mais as
pernas e em seguida o roupão, dando visão para o seu mastro poderoso,
enorme e enrijecido que aponta para o alto, intimidador, atraente.
na imensidão da carne, arde com o calor que sai dali e atinge todo o meu
corpo. Ele é muito quente, grande, largo e duro.
Acho que está gostando. Lambo outra vez, cuidadosa, inexperiente com a
mão livre na sua coxa. Beijo novamente, a minha saliva está começando a
lambuzá-lo, fazendo a carne cintilar e se tornar ainda mais atraente aos meus
olhos.
até o alto, molhando a sua pele, atiçando as veias até que sua glande penetra a
minha boca novamente.
Esteban vai e vem com lentidão, uma coisa que aprecio nele é a
paciência, isso me deixa mais segura por saber que as coisas não acontecerão
entender.
Quando fico sóbria outra vez, ele volta a penetrar a minha boca
resvalando para dentro e para fora devagarinho e ensinando-me, cada gemido
seu me arrepiando. Ficamos assim por um bom tempo até que Esteban vibra,
parece que vai gozar, então levanta e me puxa pelos cabelos para beijá-lo. Ele
não tem nojo de nada, nossos lábios se misturam com indecência e sua mão
livre aperta o meu seio, massageando o bico.
— Está indo muito bem, baby. Agora quero mais — anuncia voraz, um
pouco ofegante.
meu rosto.
seus dois dedos do meio inteiros dentro da boca e chupá-los para fora,
deixando-os lubrificados o suficiente para em seguida penetrá-los com um
único movimento dentro da minha vagina.
sabendo que o jogo começou. Seguro o seu mastro bem onde faz a curva
saliente e volto a chupá-lo como posso, sem afobação, ainda aprendendo.
Estou gostando de degustá-lo e de fazê-lo gemer.
O tempo vai passando, mas não nos cansamos, pelo contrário, ficamos
cada vez mais excitados e provocativos. Esteban aumenta a intensidade de
suas investidas em meu centro ao ponto de fazer barulho quando me penetra
até o limite, criando um impacto gostoso demais que me leva à loucura.
vezes quero parar de chupá-lo e apenas receber essa lubricidade insana que
me domina, mas lembro da regra, é o que me impede.
com tudo e prendo o pau dele dentro da boca também, toda babada,
apertando-o com a mão e fechando os olhos, grunhindo sem parar,
incontrolável. Esteban grita, usando a mão livre para pressionar a minha
cabeça nos últimos momentos e resvalar mais alguns centímetros por meus
lábios, preenchendo-me até o limite a ponto de incomodar.
domínio lentamente por meus lábios vaginais e clitóris, permitindo que o meu
orgasmo seja ainda mais poderoso e duradouro.
esperma caindo sobre a minha face, os jatos que explodo para fora. O tempo
passa em câmera lenta e meu corpo parece que vai se partir ao meio.
Deixo escorrer por meu queixo e bochechas, sou banhada por Esteban,
literalmente. Não engulo, pois tenho receios, mesmo assim não consigo evitar
que algo desça por minha garganta. Estou feliz por tê-lo feito gozar e por esse
furacão que está passando aqui.
Ele usa a mão enorme para abrir mais a minha carne e brincar com os
meus lábios vaginais, acariciando eles e toda a região em volta. Então,
Ficamos dessa forma por vários minutos até que finalmente eu fico
molhada o suficiente e deixo o pênis dele todo babado de novo. Então,
Esteban põe o preservativo e me penetra por trás, devagar. Fico com a bunda
para o alto e a cabeça contra os lençóis. Libero um grunhido gutural quando
as mãos dele seguram pedaços das minhas nádegas para tomar impulso e
Não paro de gemer, sou toda dele e Esteban está fazendo comigo o que
quer e o que bem entende. Em um momento, se afasta e me deixa vibrando
por mais, ansiando para que me penetre outra vez. Abre a minha bunda com
brutalidade e arrasta a língua pelo centro, de baixo para cima sugando tudo.
O seu esperma vai longe e me enche tanto que escorre para fora, me
melando inteira. Ele aperta mais a minha carne entre os dedos e chega a
minha hora de flutuar, sendo arrebatada por um orgasmo diferente de todos
os outros, colossal. É como se Esteban arrancasse todas as minhas energias
pela vagina e tomasse para si. Derreto-me sobre a cama em um gemido longo
e manhoso enquanto perco todas as forças.
Mágico... ele finalmente sai do meu corpo, então caímos lado a lado,
trêmulos, os músculos espasmando, todo o nosso ser vibrando. Levo bastante
tempo para conseguir abrir os olhos, fico quietinha, mole, apenas sentindo a
— Então... infelizmente vou ter que comprar uma pílula do dia seguinte
para você. Desculpe, sei que não é o certo, não é algo a ser tomado assim...
mim. Era isso que eu queria e acho que consegui! — Foi bom? — Mudo de
assunto, estou curiosa.
sentir mais falta de ter uma convidada diferente todos os dias em minha
cama.
Sei que tudo isso é consequência da paixão que sinto por ela.
Reconheci que estava mudando o meu comportamento ainda lá atrás e assumi
isso quando me declarei para ela debaixo daquela chuva, desde então, essa
mulher só me domina cada vez mais.
Essa é a segunda vez que me apaixono na vida, mas está sendo bem
mais intenso do que a primeira, e bem mais verdadeiro também, porque de
fato estou sendo correspondido. Por mais que eu já tivesse uma ideia do que
era se apaixonar — tanto que reconheci o sentimento há muito esquecido
quando surgiu —, Madeleine está me fazendo questionar tudo a respeito.
Não sei quanto tempo dormimos, não foi somente o cansaço do sexo
que nos arrebatou, mas o das horas em que ficamos na praia também. Pelas
portas da sacada percebo que já é noite.
— Que horas são? E a pílula que tenho que tomar? Minha nossa! Não
posso engravidar Esteban, tenho todo um planejamento de vida pela frente
que não inclui um bebê! — Está atordoada.
moto.
É bem gostoso pilotar essa máquina sob a luz da lua, sempre gostei da
sensação, apesar do frio. Madeleine me agarra forte e me sinto bem, gosto de
saber que ela se sente protegida e confia em mim. Gosto de ser o cara que
está levando-a para passear, mesmo que esse passeio não seja o mais
desejável, já que nos dirigimos para a farmácia mais próxima.
— Gosto muito desse lugar, por isso quis trazê-la aqui, sabia que iria se
divertir. — — Coloco a mão sobre a dela, enquanto o mordomo
uniformizado termina de nos servir, deixando a mesa perfeita. Assinto para
— Tudo tem a sua fase, você ainda está saindo da faculdade, mas já
tem alguns planos em mente que farão diferença lá na frente. É assim que tem
que ser. Foi uma das coisas que me apaixonou em você — confesso, tornando
o seu sorriso ainda maior.
Penso um pouco.
— Não sei ao certo se começou ali, mas... quando me disse que eu fazia
apostas com os meus amigos porque era um covarde... porque tinha medo de
me apaixonar, me tocou fundo — conto, um pouco mais sério surpreendendo
a garota.
— Uma vez você me disse que não entendia como eu havia dado
espaço para alguém como Vincent entrar na minha vida, então te perguntei se
você nunca havia feito alguma merda que tenha se arrependido, a sua
resposta foi sim. Tem a ver com isso? — Ela acerta na mosca! Parece até que
consegue ler os meus pensamentos.
— Nunca falei disso com ninguém a não ser Mateo, ainda demorei
muito para criar coragem para contar a ele, foi efeito do álcool que estava no
meu corpo após beber feito um... imbecil, numa noite qualquer. Luna foi mais
esperta e descobriu sozinha, ela é bastante perceptiva, também sei seus
segredos e assim construímos uma amizade. O clube dos rejeitados... era
assim que eu nos intitulava porquê... só o Alejandro recebia atenção real do
nosso pai.
Respiro fundo.
você me conheceu, também possuía naquela época, sempre tive um fraco por
mulheres e não tenho vergonha de afirmar isso. Era um cafajeste assumido.
— Sorrio, Madeleine também.
“Só que... conheci ela, a nova secretária do meu pai. Era uma mulher
deslumbrante, não só fisicamente como... de conteúdo também. Ela
conseguia me desestabilizar como você — confesso, Madeleine está bem
atenta. — Nós começamos a ter um caso secreto para não chamar a atenção
dos colegas de trabalho, ela queria zelar por sua imagem e não ser mais uma
sangue que corre com dor pelas veias —, ela negou o meu pedido de
casamento e terminou tudo de repente, sem motivos persistentes. Foi quando
passei a notar que estava acontecendo algo estranho.
irmão. ”
revelou que já sabia do caso de Alejandro com ela e que foi ele quem
ordenou que ela terminasse comigo.
— Meu Deus...
ainda parece inacreditável. — Ele disse que descobriu que ela estava se
envolvendo com nós dois ao mesmo tempo, que a obrigou a fazer uma
escolha e como ela preferiu o Alejandro, então teria que abrir mão de mim
para ficar com ele porque..., como o meu irmãozinho era um coitado...
fodido, traumatizado... não poderia sofrer por amor. Mas eu, que era um
mulherengo... saberia superar mais fácil.
sentir pior.
— Fiquei revoltado... nós discutimos feio, gritei que a amava, mas ele
falou que não esperava por isso, que não era para eu ficar sabendo, mas como
não iria saber se todos morávamos dentro da mesa casa?! — Perco o ar só de
lembrar. — Revidei, xinguei Alejandro e joguei na cara dele que era o seu
filho preferido, mas que isso não iria passar em branco, eu não aceitaria! —
rosno, recordando dessa discussão.
Troco olhares com Madeleine, não dizemos nada por muito tempo,
apenas choramos, ela me assistindo em pedaços.
— Mas e se...?
— Esse “se” não existe, Madeleine! — rebato com raiva, a voz amarga.
Agora há apenas rancor dentro de mim — Fui obrigado a vê-lo se casando
com a mulher que eu amava, tendo uma filha linda..., uma princesa... com a
mulher que eu amava! E só consegui superar isso porque com o tempo,
Estou muito abalado, lembrar de tudo isso é como abrir uma ferida e
jogar sal. Agora... vendo Madeleine arrasada com o que escutou, me
arrependo... sinto vergonha por confessar como fui enganado, humilhado,
feito de trouxa e tive o coração transformado em cacos.
mais do que já estava sendo. Mais do que todos aqueles anos que tive que
suportá-lo sendo feliz dentro daquela casa enquanto eu era enganado com um
amor falso do meu pai e com a falta de caráter de Maite. No fim, eles se
mereciam!
parar de falar só porque não quer pôr a sua cabeça para raciocinar!!
mas acabo optando por sentar na cama e parar para tentar ordenar os
pensamentos.
O silêncio agora é absurdo, tanto daqui como de lá. Não ouvimos nada
um do outro por um longo tempo. Começo a me arrepender por ter agido
assim com Madeleine, porém o meu orgulho é grande demais para procurá-la
agora. Como pode defender o Alejandro sem nem mesmo conhecê-lo? Por
que todos defendem aquele maldito?! Será que vai me perseguir a vida
inteira? Por que resolvi contar tudo a ela?!
— Porque nenhum de nós quer ficar sozinho outra vez — diz o título
da música que tanto me toca e com a qual me identifico bastante.
ficar de pé. Ela me leva para o centro do quarto, sem desfazer o olhar do meu
e me abraça. Um abraço consolador e carregado de sentimentos fortes,
poderosos, que tocam o meu coração.
O meu ego diz para recusar, mas não consigo. Pelo contrário, a
correspondo, as lágrimas ainda fugindo por minha face sem o meu
consentimento. Menti para mim mesmo, o contato dela é tudo o que preciso
agora. Sempre que lembro do passado, me sinto carente e solitário, foi
Madeleine que mudou tudo isso desde que entrou na minha vida, desde que a
encontrei.
Não posso acreditar que seja amor, porque já foi muito difícil ceder à
paixão, mas não sou tolo o suficiente para não entender que estamos
construindo algo muito maior juntos. Tão forte que penso ser inabalável. Tão
puro que deve ser divino. Tão doce que provavelmente seja único.
Sin amor
cabeça para trás e arranhando os meus braços, colocando para fora todas as
chamas que a deterioram agora.
seu para que definitivamente não aja espaço entre nós e meu pau esteja total,
duro, robusto e fundo em seu interior que se contrai com euforia. Os lábios
vaginais abrem e fecham com força, lambuzando a base, sugando-me e me
fazendo gemer também.
fora.
semana durou vários dias e depois percebemos que foi pouco e que queremos
mais.
— Já eu não tenho mais dúvidas. Esteban nunca levou uma mulher para
o Grand Hotel, sempre fomos só nós para nos divertir e transar com as
turistas.
— Confesso que agora sinto um pouco de inveja. Talvez seja legal ter
alguém especial — Bernard pensa alto, refletindo.
— É uma experiência nova. Não foi algo que procurei, aconteceu com
aquela nossa maldita aposta.
— Sabe, foi difícil conseguir o seu perdão, mas deu tudo certo.
— Tive uma boa impressão de Madeleine, e pelo que Amélie fala sobre
recordando.
— Ela é muito divertida, estava sentindo falta dessa energia que ela tem
em minha vida — confessa, e sinto que tem algo além do sexo nessa história.
Talvez ele não percebeu isso ainda.
— Sei disso, inclusive usei isso como um dos argumentos para seduzi-
la. Por que Mad precisa de proteção?
— Não quero falar sobre isso — repito, seco. Prefiro não revelar a eles
que Vincent é filho de um dos maiores clientes com quem encerrei contrato,
algo que inclusive foi motivo de lamentação da parte deles, mas preferi não
deixar o assunto render, até porque consegui o cliente sozinho, não foi
através do escritório e não afetou o nosso trabalho em grupo nem a nossa
imagem. — Onde está Pierre? Ele nunca se atrasa — mudo de assunto,
observando a hora no relógio de pulso.
especial. Ele fica a maior parte do tempo escondido atrás dela, segurando o
quadro onde me pintou.
— Estou curioso, Tim. Vi pelo celular naquele dia, mas agora quero ver
— Leia o que está dizendo aqui, Tim. — Ela aponta para o topo da
caixa.
ensiná-lo essa parte, mas está aprendendo. Porém adora resolver problemas,
montar coisas. Acertou em cheio no presente, é ótimo para os autistas
desenvolverem habilidades e interagirem com os outros.
— Você sabe que tenho problemas com a minha mãe, ainda não é o
momento. Além disso, o seu carro só possui dois lugares, ficaremos
Discutimos mais um pouco sobre isso, insisto, mas sou vencido pela
teimosia dela. Não posso obrigá-la, mas fico puto! Deixo os dois na estação
mais próxima com raiva. Madeleine me beija antes de entrar no trem como
— O que respondeu?
— Então mentiu.
— Menti?
— Somos namorados, ora.
— E precisava?
— Sempre.
— Mas pelas minhas contas, essa sua mudança vai ocorrer... na semana
que vem? Já será a sua formatura.
— Definitivamente, não faço ideia. Às vezes acho que ela ficará muito
feliz, outras acho que odiará perder uma ajuda com o Timothée, mas nunca
que ficará triste. Ela não me ama.
— Qual o pai que não ama o filho? — devolve, então fico calado. Esses
casos existem por mais que pareçam impossíveis. — Tem razão..., mas deve
ter um motivo, tanto ódio gratuito assim não tem cabimento.
— Tenho uma tia lá, ela me adora, é da família do meu pai. De vez em
quando conversamos — comenta rindo, mudando de assunto. Melhor assim.
— Planejei isso com ela hoje. Deixe de ser bobo! — Me beija, deitando
sobre o meu corpo, excitando-me, então transamos de novo com ela por cima
me cavalgando.
Mais uma semana se passa e quase não vejo Madeleine, que não para
com os preparativos para a sua formatura. Ela está muito nervosa porque
estarei no mesmo lugar que seus pais e então precisará me apresentar a eles.
Está morrendo de medo de como a mãe dela vai me tratar, mas tentei
tranquilizá-la ao lembrá-la que sou advogado e sei lidar com qualquer tipo de
gente.
pulso.
ambos. O homem não tem nada a ver com Mad, ela se parece mais com a
mãe nos traços fisionômicos, porque de corpo a senhora é bem mais
corpulenta e pesada, coisa que estranho, pois Madeleine já me disse várias
vezes que sofreu preconceito dela por ser gorda, então esperava encontrar
— Muito prazer — diz ela, mas sinto que está incomodada com a
minha presença e não me vê como um amigo, porém finjo não notar.
esbarrando nele, por isso escolhemos essa mesa que é mais distante. Vou dar
uma voltinha com ele enquanto nos servem. — Nicollas sai com o menino.
— Mad, vem cá! — Amélie chama a amiga, que larga a minha mão e
vai até ela.
Sinto que mamãe disse alguma merda para o Esteban, mas ele disfarça
e me toma pela cintura.
— Vou procurar seu pai e o Tim — avisa, sem me olhar nos olhos,
fugindo. Imediatamente viro-me para Esteban, apoiando as mãos em seus
ombros largos.
faz suas piadinhas ridículas sobre mim, responde quando as minhas amigas
lhe perguntam algo e até sorri, mas passa a maior parte do tempo calada.
— Claro que não, ainda seremos amigas. Hoje não será a nossa última
balada! Você não se verá livre mim! Não é por que não será mais a minha
segurança que ficaremos distantes! — Aperto-a, fazendo-a sorrir.
— Ele parece ser incrível. — Todas nós fitamos o belíssimo loiro que ri
com o meu pai, que causa suspiros onde passa.
— Acho que estou vendo uma amiga minha ali... Camille — diz ele,
sigo o seu olhar e avisto a belíssima mulher de cabelos negros que parece
bêbada, perdida.
— Não faço a mínima ideia, ela não frequenta boate, muito menos o
Pierre.
Caralho, vamos ajudá-la! — Chama o amigo, juntos correm até a moça. Fico
— Ainda não conheço esse tal Pierre, mas Esteban já me falou sobre
ele — comento.
sério da turma, que não participa das farras, o único casado, porém o
casamento não vai bem — dispara Amélie, me surpreendendo.
— Aham, porque ele era o único do prédio que não corria atrás dela,
porém quem acabou namorando e casando com ela foi esse tal Pierre.
— Ele foi colocá-la em um táxi de volta para casa. Parece que brigou
com o nosso amigo outra vez e estava ultrapassando os limites sozinha aqui.
Assinto, mas quando Esteban some com ela, fico com ciúmes. Sinto
uma pontada dentro de mim que até me faz virar a taça, bebendo o drink
inteiro. Os meus demônios ainda estão aqui, eles não foram embora e toda
chorando.
— Por quê? A briga com o marido foi tão feia assim? — Fico
interessada na questão.
— O casamento deles está saturado, ela hoje chutou o balde, mas acho
que vai ficar bem. Vou ao banheiro. — Me devolve a taça, dá um leve toque
no meu ombro e se afasta.
Fico com uma sensação estranha, pensando na hipótese deles dois
alguma vez terem ficado, já que ela era afim dele antes de se casar, um
casamento que agora está indo de mal a pior. Não, Madeleine, não pira... isso
é só coisa da sua cabeça, o Esteban gosta de você. Ele nunca disse que te
ama, mas gosta muito, dá para sentir, penso.
Magra... alta, corpo de modelo. Bebo todo o resto do meu drink, sacudindo a
cabeça, percebendo que não só Esteban precisa de psicólogo para superar os
traumas dele, como também preciso para superar os meus.
— Você não está sóbria, não sabe o que está fazendo. Vamos brincar
mais tarde em casa, aqui não...
O homem se torna bruto e viril, fazendo sexo como nunca antes, sem
carinho, sem paixão, apenas com um tesão absurdo que não tem limites.
Porém, gosto dessa experiência aqui, entregando-me a ele no banheiro de
uma boate, sem pensar nas consequências, mas apenas no prazer.
faz queimar ainda mais do que estou queimando. Seu polegar penetra a minha
boca, fecho os olhos, sentindo a minha intimidade pingando.
Decepção... não queria estar decepcionada, mas estou. Penso que outra
vez estou correspondendo mais do que sendo correspondida e isso me afeta,
contudo, tento disfarçar. Deve ser o álcool que está me fazendo pensar tanta
besteira, ficar louca. Estamos com pouquíssimo tempo de relação, vai
completar apenas dois meses desde que nos conhecemos e já sou intensa
demais.
— Você quer me deixar mais gorda do que já estou, isso sim. — Minha
voz sai manhosa, sonolenta, caminho quase me arrastando até o sofá, onde
me sento.
— Melhor, pois terei mais carne para pegar. — Pisca para mim, safado.
que não puderam adiar e preciso ficar com o Tim. Não gostamos de deixá-lo
se isolar, por mais que ele adore fazer isso — afirmo, seguindo para a escada.
— Madeleine... —repreende!
— Só amanhã? — reclama.
— Se der volto ainda hoje, mas acho difícil! Tchau! — Corro, saindo
pela porta. Dessa vez Esteban não insistiu para me levar de carro, sabe que
Não quero que ele saiba o meu endereço e correr o risco de ter a sua
visita de surpresa, não confio em mamãe e não me sinto confortável naquela
casa para receber meu namorado. Em breve... quando eu passar a morar com
— Sei bem que tipo de imprevisto foi esse — ironiza, mas não lhe dou
atenção. Estou muito contente e ninguém vai estragar a minha felicidade.
— Boa tarde filha, te amo. — Papai pisca para mim, também
preferindo não rebater as ironias de mamãe. Noto que está tentando se
controlar, o clima aqui não está nada bem e fico curiosa para entender o
motivo, apesar de já deduzir que a relação deles está indo para o buraco.
Mando beijo para ele.
Sigo para o quarto, onde deixo a minha bolsa e troco de roupa, vestindo
algo mais confortável. Retorno para a sala e sento ao lado de Tim no sofá,
que não tira a cara da televisão, onde assiste curiosidades sobre os grandes
artistas do mundo, como sempre gosta.
Vejo o quebra-cabeças que Esteban lhe deu jogado no chão, e uso isso
para tentar fazê-lo interagir comigo, afinal de contas, sempre gosto de brincar
com ele, desenvolver as suas habilidades e ter contato, por isso pensar em
deixá-lo me dói a alma, mas a hora já está chegando. Não quero mais viver
assim, com uma mãe que me odeia.
Tudo vai bem até o anoitecer. Todos já jantamos e dei banho no Tim.
Terminamos de colocar o seu pijama quando escutamos os nossos pais
discutindo. Eles trocaram algumas farpas durante a tarde, mas isso é normal
quando trabalham bastante, porém, quando o serviço terminou, a energia
negativa se manteve.
— Eu disse que não era nada. — Fico aliviada também, odeio quando
eles perdem as estribeiras e brigam, ambos sabem que Tim não fica bem com
isso, contudo, sempre esquecem.
A paz não dura muito tempo. Pela manhã, acordo com os meus pais
discutindo outra vez. Salto da cama em alerta, muito preocupada porque a
coisa está ficando séria, se prolongando desde ontem sem sossego. Eles
nunca brigaram tanto assim. Saio do quarto e encontro com eles na sala
lavando a roupa suja.
daquele jeito...
— Sempre fiz de tudo por nós dois! Fiz por você o que outro homem
jamais faria! Sabe muito bem que me aposentei contra a minha vontade!!
Pelos malditos tiros que recebi na perna enquanto trabalhava como policial
para sustentar a nossa família! Mas você não valorizou isso, não é?
— O que está fazendo aqui? Isso é entre nós dois, não é da sua conta!
— sibila Martina. — Além disso, não venha com essa de Tim, pois há muito
tempo está claro que você não está nem aí para ele. Só pensa naquele homem
que te ilude e que te faz de pata! Mas a mim não!
— Martina... — papai tenta repreendê-la, pois sabe onde isso vai dar.
Mas dessa vez não sairei chorando como sempre. Não mais.
— Perguntei por que ele estava perdendo tempo com você! — afirma
com prazer.
— Olha, me respeita...
— Por que sempre faz isso?! — grito. — Por que não para de me
perseguir?!
— Parem com isso! — Tim aparece na sala, nervoso, porém não damos
atenção a ele
que tem de mim! — disparo, cuspindo as palavras que há muito tempo estão
entaladas na garganta.
— Fala das minhas roupas, mas se veste pior do que uma freira! Fala
do meu cabelo, mas o seu tem cara de que nunca foi lavado! Me chama de
gorda, porém é bem mais gorda do que eu! — disparo, destruindo o seu
sorriso imediatamente. Seus olhos esbugalhados querem me matar.
— Não!! Dessa vez não vou me calar! Não me calarei nunca mais
porque sou a sua filha e não o seu tapete para me pisar sempre que quiser!
próprios braços. Tudo está saindo do controle, nem papai sabe como agir
porque eu nunca agi dessa forma, sempre abaixei a cabeça.
Papai vem me ajudar, nós dois lutamos para conter o garoto que está
em mais uma crise absurda e devastadora.
— Ela não é... a sua filha!!! — Martina declara em alto e bom tom, sem
se importar com o estado de Timothée. — E você sabe muito bem disso! —
As lágrimas descem amargas por sua face, como se queimassem a sua pele e
os olhos vermelhos.
— Ele não é o seu pai biológico! Apenas te criou... e foi por causa dele
e de você que eu vim parar neste inferno! — confessa com dor, muita dor.
— Cala essa sua boca!! — grita papai. Tim se joga no chão com
violência, conseguindo se desvencilhar de nós. Lutamos para segurá-lo
novamente. É terrível!
—Você pensa que Esteban ama você? Se ele tiver dito isso é mentira!!
— soluça as palavras para mim, seu pranto é horripilante, é como se contasse
algo que já viveu. — Os homens não amam as mulheres de verdade!! Ainda
mais as gordas como nós! É tudo mentira! Ele vai te enganar até se cansar de
você! É sempre assim!!
Fico inconsolável, tento segurar o choro por causa do menino, mas não
consigo. Se isso tudo for verdade...
— Diga que é mentira... — peço ao meu pai quando ele pega o garoto
no colo, prendendo-o em seus braços para contê-lo.
Desolada... fico sem saber o que fazer, sozinha. Vou para o meu quarto
e tento me recompor com um banho, mas é impossível. Fico pensando mil e
uma coisas, mas não entendo nada. Como assim ele não é o meu pai
biológico? Me criou desde que nasci! Desde que me entendo por gente! Isso
não tem lógica alguma, não é verdade.
Sinto vontade de fugir, sempre tenho duas reações quando fico nervosa:
fugir ou comer. Não quero estar aqui quando Martina voltar, porém também
preciso saber da verdade! A verdade que agora tenho tanto medo de ouvir.
— Preciso que negue o que a mamãe falou. — Uma lágrima desce por
minha bochecha. Meu pai observa o chão, cabisbaixo não diz nada. Vou até
ele e o seguro pelos braços com força, o sacudindo. — Preciso que negue,
pai! Negue! — imploro. Ele me puxa para um abraço acalentador.
Arquejo, chocada.
— A Martina nem sempre foi amarga assim, não foi por essa mulher de
hoje que me apaixonei. O seu pai a rejeitou assim que soube da gravidez, a
fez ser demitida e depois tentou convencê-la a abortar — diz triste, fico
boquiaberta. — Ela achava que seria a melhor opção, mas à essa altura eu já
“Mas o seu avô com quem ela morava era rígido e a expulsou de casa
ao descobrir a gestação. Ele era mal, a maltratava por ser gorda e piorou
depois da gravidez. Eu a acolhi quando ninguém mais a quis... e a convidei
para recomeçar comigo aqui, onde me tornaria policial. A enchi de
expectativas de uma vida melhor que até tivemos antes desse... maldito
acidente! ”
Ele fita a perna manca, com culpa.
comportamentos dela comigo. Ela me culpa por ter a vida que tem.
— Sim... ela estudava antes de engravidar, era bonita e, hoje acha que
perdeu tudo quando decidiu manter você na barriga. Age contigo como o
velho nojento agia com ela. Tem raiva por ver a filha tendo a vida que ela
sempre sonhou ter, quando na verdade deveria sentir orgulho. Isso já está
doentio. Ela não conseguiu filtrar o amor do preconceito em que foi criada.
Mas nada justifica, você não tem culpa. Nunca teve.
— Sei que ainda deve estar cheia de dúvidas. — Acaricia o meu rosto,
afastando uma mecha para trás da orelha.
— Sim, mas agora não quero saber de mais nada. Por hoje foi o
suficiente, eu só... quero sair para respirar um pouco. — Levanto-me,
— Não se preocupe, ficará tudo bem. A gente ainda vai terminar essa
conversa. Agora vá. — Me beija na testa e me abraça novamente.
Saio de casa inconsolável, nem consigo me despedir do meu irmão. No
trem, choro mais que um bebê. A minha cabeça gira com inúmeros
Pego as cópias das chaves que Esteban me deu para abrir a porta, mas
Fico frustrado quando Madeleine bate à porta, indo embora. Porra, ela
se formou ontem, só curtiu a madrugada, hoje planejei outras coisas para nós.
Mas entendo e admiro a importância que ela dá à família, mesmo com uma
mãe horrível daquelas. Fora que Timothée realmente merece a sua atenção.
Gostei muito do senhor Nicollas também, conversamos bastante.
início da semana.
Como sempre, ele me oferece uma bebida, ser o seu advogado parece
até lazer, porque nos divertimos com diálogos enriquecedores enquanto
trabalhamos. Fico lá bem mais do que deveria, sigo para casa quando o
relógio está prestes a marcar vinte e uma horas, surpreendendo-me ao ter
Camille entrando na frente do meu carro quando estou prestes a descer para o
estacionamento no subsolo do meu prédio.
Ela parece terrível, bêbada como ontem e ainda por cima com uma
garrafa de uísque na mão, bebendo puro. Faço-a entrar no carro e a levo para
o loft. Assim que entramos, tento pela décima vez tomar-lhe a garrafa:
assim de novo. Por que estava na boate ontem naquele estado? Brigou com o
Pierre?
mulher, preferi desde então, apenas o amor na cama, dos orgasmos repetidos
— Não vou deixar que faça isso! Não irá adiantar! — alteio a voz.
— Entendo muito bem, mais do que imagina! Já passei por isso e sei o
quanto está sofrendo. — Viro-me para ela, a encarando. É incrível como a
dor lhe tirou todo o brilho e até a beleza, está aos cacos, em pedaços. —
Também fui atrás do álcool para tentar fugir, mas a verdade, é que não há
fuga, Camille! Você precisa enfrentar de frente! Só assim a dor vai passar! —
Sou duro, falo com ela como se tivesse falando com o Esteban de anos atrás,
o que estava nesta mesma situação.
— Posso dormir aqui hoje? Não tenho para onde ir. — É como se
pedisse socorro. — Estou com medo de dirigir...
Penso duas vezes, não quero me meter nesse problema, sou amigo do
Pierre, mas a mulher está desamparada e infelizmente lembrou de mim.
Também estou compadecido com o seu estado, pelo que ela está passando,
isso despertou em mim diversos demônios perigosos.
— Tudo bem, mas... o Pierre não pode saber. Não quero problemas
com ele e esse assunto remete apenas a vocês. Entende? — Sou educado.
— Tenho sim, mas ela não estará por aqui até amanhã à tarde.
Pego uma roupa confortável para dormir, jogo uma de minhas camisas
para ela e antes de descer para a sala, ouço-a me chamar:
— Claro que fiquei — a minha voz sai frágil, nesse tipo de coisa é
difícil saber mentir —, mas... como disse, não é um assunto que me diz
respeito.
maldita gaveta onde eu guardava as calcinhas e que agora está vazia. Vazia
desde que passamos a nos relacionar sério.
— Esteban...
— Por favor Camille, vai embora! — rebato. — Sei que está com
problemas, mas já me prejudicou demais! — Estou furioso.
— Por favor, vai! — A expulso, sem olhá-la, ela não diz mais nada e se
afasta. Em seguida, ouço a porta bater lá embaixo. Estou sozinho.
Chega um momento em que nem chama mais, deve ter desligado. Fico
preocupado, com um mal-estar enorme por todo o corpo, sabendo o quanto
ela é grilada com essas coisas, tanto quanto eu, sei que vai custar acreditar em
mim.
minha direção.
— Ela não está aqui! — rebate, mas por seu comportamento de quem
está inconformada, sei que está mentindo.
— Por favor é uma ova! Não tem vergonha na cara?! Por que vocês
homens são esses merdas, hein?! Ai que ódio! — exclama, emputecida.
— Você não tem nada a ver com isso, preciso falar com a Mad... — A
minha voz falha quando vejo a fisioterapeuta se aproximar.
— Por que ela sabe que não vou parar enquanto ela não me ouvir —
respondo por ela, sério, recebendo o olhar odioso das duas.
desabafar...
— Porra, Madeleine! Não te traí! Ela estava muito mal, então a acolhi,
ela dormiu na cama e eu no sofá, quando você chegou eu estava aproveitando
o sono dela para poder tomar banho com privacidade...
— É..., porque é mais fácil acreditar que sou um cafajeste e que tudo o
que vivemos até aqui foi mentira, não é?
Fico chocado. Agora ela pegou pesado. Não esperava por isso
— A minha família não tem nada a ver com isso. Não venha falar dos
meus traumas, porque não estou falando dos seus! — alteio a voz.
— Mas não é amor! É por isso que me traiu e vai continuar traindo,
porque...
— Se for amor, ainda não estou pronto para me declarar! Uma coisa
não tem nada a ver com a outra! Está pirando!! Já te contei a minha história, é
muito difícil para mim... — a minha voz falha, o peito dói —, declarar um
sentimento que me fez... tão mal! Mas não existe alguém mais especial do
que...
— E para mim, acha que é fácil?! Tudo o que sofri, tudo o que ainda
sofro... nem sabe as coisas que descobri sobre a minha vida, Esteban! E ainda
depois encontrá-lo com aquela mulher! — soluça, devastada.
— Por que não vai embora, seu babaca?!! E me esqueça! Esqueça para
sempre! — Me dá as costas, mas ao assisti-la se afastando, perco o chão. Não
pode ser o fim. Não assim.
Não tenho forças para segurá-la mais, a deixo partir. Estamos de cabeça
quente, continuar discutindo agora será pior, não adiantará nada. É preciso
tempo. Sei que está mentindo, é claro que ela me ama. O amor não se acaba
assim de uma hora para a outra.
MADELEINE FERNANDEZ
— Sim... foi ela quem deu essa ideia ao me ligar ontem. Tentei
disfarçar que não estava abalada, mas o senhor sabe como ela é, acabou
notando.
— Achei que a Lea vivesse com o namorado, noivo, sei lá o que ele é
dela. — Sorri outra vez.
— É por causa da briga com a sua mãe? Isso pode ser resolvido.
— Não pode. Não assim, não agora. Além dela... tem o Esteban. A
gente brigou, não estamos mais juntos e não quero mais vê-lo.
— Como assim não estão mais juntos? Ele me pareceu ser um bom
— Mas não quero mais, papai. Não quero nada que me ligue a ele. E
tudo aqui... essa cidade, lembra nós dois ou os conflitos com a mamãe. Tudo
recorda ao sofrimento e preconceito que tive das pessoas na faculdade... no
estágio... no emprego. É claro que tem as coisas boas também, o senhor... o
Tim e a Amélie, mas estou muito machucada. É como se tivesse levado uma
surra e não apenas um tapa — declaro, entristecida. Respiro fundo,
percebendo meu pai murchar. Ele sabe que tenho certa razão.
— Não sei o que o Esteban te fez, mas por favor não haja com a cabeça
quente. — Ele acaricia o meu rosto. Estamos só nós dois aqui, Amélie saiu.
— Sempre que chega ao seu limite, toma decisões precipitadas, fala e age de
uma forma que se arrepende depois.
minha tia.
— Todos os dias, mas não estou mais o recebendo. Não quero recebê-
lo.
novo. Por incrível que pareça, ainda tenho sonhos. — Estico os lábios, na
tentativa falha de me animar.
Mas vai me prometer... que quando chegar lá, irá procurar um psicólogo, nem
que seja apenas pelo tempo em que ficará em Madri.
— Não...
Fico surpresa.
— Não... isso nunca passou pela minha cabeça. Meu pai é o senhor,
não esse homem que não quis me assumir.
— Nunca afirmei o contrário. — Sorri sem humor, ela sabe para que
vou usar essa grana. Respira fundo e aperta a minha palma. — Amiga, sei
que prometi não insistir, mas... ainda dá tempo de desistir. Aqui você também
pode recomeçar.
comigo...
— Você estava muito abalada pela discussão brutal que teve com a sua
mãe, pela descoberta de um outro pai e depois flagrar aquela cena... foi muita
coisa ao mesmo tempo, porém...
Por favor, Pimentinha, não estraga tudo o que construímos até aqui.
— É ele? — indaga.
— É... — uma lágrima cai, e eu fungo —, está novamente pedindo uma
chance para conversarmos.
— Precisa dar essa chance a ele antes de ir embora. Essa conversa pode
mudar tudo.
— Madeleine, eu sinto que você vai para ficar! Sinto que se pegar
aquele avião não irá voltar e vou ficar aqui sozinha! — Ela se desespera
querendo chorar, engolindo em seco.
Eu já ouvi!
Aquilo não foi uma conversa, nem passou perto. Estávamos de cabeça
Sim... me magoa saber que a pessoa que eu mais gosto, pensa que a traí e
magoa ainda mais, saber que tive culpa nisso. Não devia ter recebido
Camille em minha casa, mas me pus em seu lugar.
Só não se pôs no meu. Gostaria de ter me visto saindo nua do banheiro com
um homem deitado em minha cama?
Isso me toca. Por que ele tinha que ter feito essa merda?? Estava tudo
indo tão bem! E por mais que esteja falando a verdade, pensar em meu
namorado recebendo uma mulher para dormir na cama que divide comigo é
Nos encontramos ali pela primeira vez. Foi uma noite trágica, mas ao
mesmo tempo... inesquecível. Ele foi o primeiro homem que me tratou bem e
me levou para sair. Mesmo que no fundo fosse uma mentira, os momentos
de Cédric. Ela sorri para ele, e toca em seu ombro com intimidade. Fico
paralisada com essa imagem, como se um buraco se criasse abaixo de mim e
me arrastasse para as profundezas.
Mais um tapa na cara. E assim vou aprendendo que ser boazinha, ter o
coração mole e pensar primeiro nos demais, nem sempre é um bom caminho.
É claro que não se deve generalizar, cada um é cada um, porém, o que eu vi
foi o suficiente para entender que Esteban jamais será apenas de uma mulher,
será de todas.
Agora está claro que os traumas dele com aquela tal Maite, o pai e o
irmão o bloquearam por completo para o amor. Todas as suas atitudes, os
seus comportamentos apontavam para a ideia de que era amor, de que me
amava, mas as palavras não saíram por sua boca, porque lhe faltava coragem
para superar ou porque realmente não sentia.
Talvez fui infantil por esperar e exigir isso dele, entretanto, também
tenho os meus traumas, e por isso mesmo é tão importante ouvir um “eu te
Recordo com pesar, quando ele jogou na minha cara que eu era uma
fodida do psicológico. Não posso negar que mesmo sendo feliz e aprendendo
a me amar ao seu lado, uma voz quase inaudível, lá no fundo do meu ser,
sempre dizia na minha mente que era temporário, e por mais terrível que
pareça, essa voz era a da minha mãe.
— Você vai para Madri e ficará por lá o tempo que for necessário, o
tempo que precisar. Sei que tentar se recuperar aqui dos últimos abalos que
viveu não será a mesma coisa, não com tanta gente jogando sal nas suas
feridas.
— Olha... fica com isso, para sempre me manter perto. — Ele gosta do
presente peando para ele. Acaricio a sua mão na oportunidade que tenho, ele
deixa o toque permanecer por mais tempo do que o comum e é fantástico.
— A borboleta azul... — comenta, encantado.
Aproximo-me de Amélie que está tensa. Ela não diz nada e apenas me
abraça outra vez, em um pranto profundo, parecemos duas crianças.
não adianta.
— Você é a irmã que nunca tive. Te amo tanto! — declara mais uma
vez, abalada.
— Vai dar tudo certo, quero te ver voltando revigorada! Quem me dera
poder ir para Madri reforçar as energias! Vai com tudo e me traga alguma
— É uma teoria, mas muito fantasiosa. — Não dou atenção a isso, fico
pensando em Madeleine.
— Então dê esse tempo a ela. Amélie ficou com tanto ódio de você que
até andou me evitando esses dias, principalmente depois que falei com ela em
seu nome para tentar alcançar Madeleine. Estou com saudades daquela doce
safada. — Ele sorri, apaixonado.
— Óbvio que não! Não sou homem de esperar e não posso deixar que
as chamas entre nós se apaguem. A quero de volta. Esses dias sem a presença
dela estão sendo devastadores. Só... solidão. — Dói até falar.
você não me explicou direito. — Na verdade, não disse nada a ele sobre
Camille ou Pierre, ainda estou mantendo a minha promessa e tentando
protegê-los, me fodendo inteiro por conta dos outros. — Mas o que pretende
fazer, então? Apenas palavras não estão adiantando.
ele assente, então corro para o meu carro, saindo descontrolado rumo ao
aeroporto.
um tempo? Não poderia me avisar? Isso é loucura e agora sei que a coisa é
muito mais grave do que imaginei. Sabia que a havia machucado, mas não
tanto. Inferno!
sensação de que tudo está ruindo ao meu redor, de que estou deixando o meu
verdadeiro amor ir embora. É amor! E fui covarde demais para afirmar! Ela
precisava ouvir tanto quanto eu... Madeleine foi muito mais corajosa do que
eu.
sentido.
Evito falar com todos enquanto caminho para a minha sala, mas Pierre surge
em minha frente. Bosta! Hoje não é mesmo o meu dia.
— Agora não, Pierre. — Tento ultrapassá-lo, mas ele não sai da minha
frente.
— Agora não! — Sou grosso, falo mais alto do que deveria, todos
olham para nós, crio um constrangimento desnecessário. — A minha vida
está indo por água abaixo porque fiquei tentando tapar as merdas que você
fez!! Prejudiquei o meu relacionamento porque você não foi homem o
suficiente para lidar com o seu!! — Perco o controle, Pierre fica nervoso,
Pierre fica chocado assim como o pessoal ao nosso redor, até Bernard e
Dominique nos olham das portas das suas salas sem compreender o que
acabou de acontecer. O silêncio é colossal, penso que posso ter me excedido,
mas não me arrependo de uma só palavra.
— Ela pegou um avião para Madri, vai ficar um tempo por lá. É tudo o
que sei — conta, fecho os olhos com pesar ao saber da notícia.
— É na casa de uma tia? Uma vez ela comentou que tinha uma tia por
— Tenha uma boa tarde. — Desliga na minha cara. Fico tão puto que
arremesso o celular no chão, quebrando-o inteiro. Vou precisar de outro
agora.
Sem controle... nada mais está ao alcance das minhas mãos. Perdi
tempo demais, agi tarde, algo me dizia que mesmo com a negativa dela, não
podia esperar e olha o que aconteceu, a perdi.
A minha cabeça dói bastante, lembro que não almocei e que agora não
sinto mais vontade de almoçar, parece que vou explodir de tanto estresse,
mas no fim, tento ser lógico e peço para a minha secretária providenciar
alguns comprimidos que tomo para conseguir terminar um processo, o qual
não posso deixar para depois.
— Não tomo decisões pela minha amiga e sabe muito bem disso. Mas
nesse caso, também não preciso, porque você é um canalha pervertido...
em Madri ou o dos pais dela aqui. Senão me disser, irei descobrir sozinho,
claro que vai demorar mais, mas vou descobrir — afirmo convicto, a
deixando tensa.
— Esteban, por favor, não piora as coisas. Quanto mais insistir agora,
mais vai distanciá-la. Por mais que você descubra o endereço dos pais dela,
eles não vão te revelar onde ela está, muito menos eu, até porque, eu também
não sei ainda e mesmo que soubesse não diria. — Parece sincera. — Ela já te
falou isso e eu vou repetir: Madeleine não te ama mais. — É como uma
facada no peito.
“Ela acabou de sair da faculdade, brigou com a mãe e não voltará mais
para casa, está tentando ter um futuro e nós sabemos que esse futuro não será
ao seu lado porque você já provou que ainda não está preparado. Então, vê se
entende logo de uma vez que ela quer distância e a deixe em paz! Porque se
Madeleine voltar por sua causa, coisa que eu acho quase impossível de
acontecer, e ter mais uma decepção, a responsabilidade será toda sua! ”
Troco olhares com Marcel, que logo finge não ter ouvido nada e se afasta
também. Sozinho... outra vez solitário, outra vez o mundo caindo sobre mim.
Fico ali por mais umas duas horas, bebendo uma dose atrás da outra,
amargo, no poço. Não posso forçar ninguém a continuar comigo, ainda mais
alguém que diz que me ama e que não tenho coragem ou não sei dizer o
mesmo. Parece que a garganta fecha e a voz não sai. Os traumas... os
malditos demônios, as lembranças daquilo que eu deveria chamar de família.
Talvez Amélie tenha razão, e eu ainda não esteja preparado para ser o
homem da vida de Madeleine. Ela está começando um futuro agora e ao
invés de ajudá-la, posso acabar estragando tudo. Também estou chateado por
não ter sido avisado da sua partida. Tanto que tentei.... Talvez ela também
ainda não esteja pronta para ser a minha mulher. Talvez... o amor não seja
— Diga a ela que vou realizar o seu desejo e deixá-la em paz... para
sempre. — A voz sai sofrida, dolorida. Sinto vontade de chorar, mas faço isso
apenas quando chego em casa, dentro da banheira onde tenho vontade de me
afogar.
ESTEBAN JAVIER
— Algum plano para hoje? Afinal... é sábado, seria bom tentar sair.
Está passando muito tempo em casa e no trabalho.
— Pela primeira vez em muito tempo, vou para um jantar na casa de
Dominique. Ele... se casou com a Amélie secretamente, na verdade... estavam
— Infelizmente?
— Não por ele, mas por ela... ela me lembra quem o senhor tenta me
— Não tento fazê-lo esquecer da Madeleine. O que digo, é que tem que
seguir em frente com a sua vida, assim, como provavelmente ela deve estar
seguindo a dela, já que nunca mais retornou para Paris.
— Está com medo de saber alguma notícia da Madeleine que não lhe
agrade?
— Talvez... — penso sobre isso —, ainda me machuca tudo o que
aconteceu.
— Há alguns meses.
— Há alguns meses.
Pausa de novo.
escritório ficou sabendo, na verdade, todo o prédio. Porém tenho certeza que
foi Camille quem deu um jeito de espalhar como meio de vingança depois
que se divorciaram.
ele?
Pierre acha que influenciei a ex-esposa a tomar todas as decisões que ela
tomou em seguida.
— Não sei mais se vale a pena. Às vezes, lembro das coisas que
Madeleine tentou me avisar sobre toda a minha história. Sobre ele também
não saber de nada, mas...
— Será que sente tanto ódio por ele assim? Sabia que na raiva também
pode existir amor?
— Bom, isso é muito bom. Então o ódio pelo Alejandro já não precisa
importar mais também, não concorda?
— Sim...
— Esse é o meu objetivo. Por esse motivo estou aqui. Não se preocupe,
somos só nós dois. Podemos conversar sobre tudo, lembra? Não há mais
ouvintes aqui além de mim. Não jogarei sal nas suas feridas, só quero ajudá-
lo a encontrar o caminho para curá-las de vez. Todas elas.
— Como assim?
— Não com o Alejandro. Pelo que conta, foi o seu pai quem criou isso
entre vocês. Já parou para pensar, que por esse motivo sempre se desafiou a
ser melhor para chamar a atenção dele? Mas, se não houvesse desafios
porque simplesmente o amor de irmãos fosse maior?
— Talvez. — A voz sai frágil. É uma ferida profunda que nunca irá
cicatrizar.
— Acha que quebrar esse afastamento mostraria a ele que não pode
tudo?
— Porém, Madri se tornou ainda mais distante, porque agora sei que a
Mad está lá também, e isso me deixa ainda mais inseguro. Foi ela quem quis
O meu coração fica gelado, tão gelado quanto o frio que faz lá fora. O
pior inverno da minha vida, em todos os sentidos. Permaneço calado, na
verdade, a minha voz desaparece, então levanto, deixando o divã.
Novo Chinês e o dia dos namorados, uma data que para mim nunca foi algo
para se comemorar, e agora menos ainda. O que mais gosto mesmo é das
inúmeras exposições que ocorrem por toda a cidade, porém ainda não tive
ânimo para ver nenhuma.
Sou recebido por Dom, com tapinhas amigáveis no ombro, que está
radiante, parece muito mais jovem que eu, apesar de termos a mesma idade.
Um homem feliz e realizado.
— Quanto tempo, Louise. Tudo bem? — Com ela sou mais receptivo,
até porque também sinto essa reciprocidade.
— Bem, agora que já estão todos aqui, posso servir o jantar? — Amélie
bate palmas, animada. Ela está lindíssima, não é mais ruiva, se tornou
morena, os cabelos escuros longos e ondulados a formoseando.
— Claro que pode, meu amor! — Dom a puxa pelo rosto com as duas
mãos e a beija.
a notícia.
— Não é possível.
vamos desfazer a sociedade com ele, mas ainda precisaremos ter um pouco
mais de paciência para que essa transição seja bem-feita e não nos cause
danos grandiosos.
— Vou ter que respirar fundo para encará-lo sem poder jogar mais
algumas verdades na sua cara. — Fico puto. — Não tenho nada a ver se a ex
dele explodiu na sociedade a sua orientação sexual! Que merda!
— Mas para ele tem — afirma Dom. — Conheço o Pierre, sempre foi
muito competitivo, se escondeu no armário por tantos anos pensando que ser
homossexual atrapalharia os seus interesses. Ele deve ser fodido de traumas,
mas não deveria misturar o pessoal com o profissional. Já é hora de dar um
basta, mas vou preparar tudo para que quando formos dar a notícia a ele, não
dê tempo de tentar qualquer besteira.
— Ela ainda vai me pagar por não ter vindo! Mas está muito ocupada
com o seu novo... — Dom aperta a mão da mulher sobre a mesa, lembrando-a
de mim. A voz de Amélie falha e os seus olhos encontram com os meus. —
Ah... nós temos um vinho melhor na adega, não temos amor? Esse aqui está
meio...
— Parece que quem não seguiu em frente foram vocês, eu estou muito
bem — minto, e não sei se estou sendo convincente. — Mas como querem
ultrapassar essa fase se evitam até comentar sobre Madeleine na minha
frente? — Jogo na cara deles, os deixando sem palavras. — Não estamos
mais juntos a meses e está tudo bem. Não sinto mais nada por ela. Por que
foto...
— Que bom para ela. — Sorrio, fingindo, mas claramente todos ficam
mais calmos com a minha reação. — Viu, Amélie... não doeu, doeu? —
pergunto, ela ainda continua constrangida.
Dom puxa outro assunto e forço-me a resistir durante todo o jantar para
não demonstrar a minha raiva, ódio e decepção. Ela está com outro. Com
outro. Quando finalmente chega a hora de ir, aceno para o casal antes de
entrar no carro. Ao tomar uma distância suficiente, choro em silêncio.
Lágrimas rasgando a minha face.
Sei para onde devo ir. Sigo para um clube de luxo, lugar em que
somente clientes de alto padrão podem frequentar, onde há as mulheres mais
gostosas e quentes de Paris. Escolho as que mais me agradam. Levo duas
para a cama e transo com elas feito um animal feroz.
MADELEINE FERNANDEZ
Uma mulher que vence um pouquinho mais a cada dia, é assim que me
sinto. É incrível como Deus foi bondoso comigo nos últimos meses e, em
menos de um ano, já conquistei muito do que almejava conquistar. Sinto que
é só o começo.
encontraria e teria uma paz que nunca tive antes para poder focar no meu
futuro e na minha carreira, provavelmente não acreditaria.
— Oi, Tim, tudo bem?! — Ele está ao lado de mamãe, que me olha
toda sem jeito. É sempre assim quando ela tem que fazer a vídeo-chamada
para mim no lugar de papai.
— Tudo bem, hoje eu pintei você outra vez, veja! — Ele mostra o
desenho no caderno, o meu rosto cercado de borboletinhas azuis.
— Já sabe quando vai voltar? — O garoto está curioso, acho que ele
sente saudade, só não declara.
— Oi, filha — diz, sem jeito. Parece que ela não sabe agir comigo.
Nesse tempo em que estivemos distantes, nunca mais fez qualquer deboche
ou disse palavras ruins. Sempre tenta puxar assunto, mas não sabe como. Não
sabe demonstrar sentimentos, é mais fria que o Timothée.
— Está na clínica?
— Sei que não vai acreditar, mas... estou feliz por você estar
— Sim, por quê? Quer saber se vou parar em algum lugar imoral no
meio do caminho? — alfineto, às vezes não consigo me controlar e ajo com
ela, como agia comigo.
Os meus olhos ardem, ela quer saber da minha vida, quer se importar.
Seguro as lágrimas, suspiro e balanço as pernas. É incrível que, mesmo não
querendo mais me importar com a sua opinião ao meu respeito, ainda me
importo e no fundo, bem lá no fundo, quase achando petróleo, gosto quando
demonstra algum tipo de sentimento por mim.
— Depois que sair daqui eu vou... para a psicóloga. Hoje é dia do
grupo de apoio das vítimas de gordofobia. Encontrar com as meninas duas
vezes por mês está me fazendo enxergar a mulher linda que eu sou e que o
meu corpo não é e nunca foi um problema. As pessoas preconceituosas é que
são.
— Que bom... — A sua voz sai quebrada. — Espero que..., esse grupo
e a psicóloga... consiga consertar o estrago que fiz em você — declara,
confessando a sua grave influência nos meus problemas.
— Ah, sim, achei que era por causa do Jaime, todos aqui sabem que ele
é louco por você.
— Boa noite, linda, pode me dar uma carona hoje de novo? — Sorri, o
seu sorriso é belo. Passamos a caminhar lado a lado.
— Sim. E é somente isso que pode ter de mim, amizade — falo mansa,
delicada para não o magoar.
— Que droga... você poderia me dar pelo menos uma chance — finge
lamentar. É engraçado
— Jaime, Jaime... vamos parar — digo, mas gosto da brincadeira, de
certa forma a amizade dele me faz bem. Porém, sempre corto as suas asinhas
sempre me deixa mais leve. Entretanto, toda vez que ele fala sobre as suas
segundas intenções, lembro de Esteban. Ainda não consegui esquecê-lo.
Acho que nunca conseguirei.
lento, suave. Mas quando afasto o rosto, vejo Esteban na minha frente, os
olhos azuis magníficos, o sorriso cafajeste, a barba loira aparada
emoldurando o queixo másculo, atraente.
— Desculpa se...
— Pois é, mas dessa vez não abaixei a cabeça e não fui me esconder e
chorar, muito pelo contrário! Eu disse que o que poderia explodir mesmo era
o preconceito dela que era enorme e que poderia levá-la algum dia para a
prisão. Que eu não aceitaria mais esse tipo de brincadeira, porque nunca falei
— Disse que estava de bem com o meu corpo, que me amava e que o
filho dela, o meu primo, não parava de correr atrás de mim, porque sou uma
gordinha gostosa!!!
ele, até que chamei a atenção do gerente da loja. O vendedor foi repreendido
e teve que nos pedir desculpas.
— Ah, eu disse para ela jamais abaixar a cabeça, porque sei que vai
enfrentar situações horríveis como eu enfrentei e nem sempre estarei lá para
protegê-la.
— O pior, é que as pessoas acham que eu sou gorda por opção, sabe.
Elas acham que gordo não emagrece porque não quer, porque é fácil, quando
na verdade, vocês sabem que tenho compulsão alimentar e já estou em
— Chora meu amor, põe para fora — diz a nossa psicóloga, que é
maravilhosa. — É para isso que estamos aqui, para expor os nossos
sentimentos e buscarmos força umas nas outras. Todas aqui temos histórias
fortes, sabemos que a gordofobia é um problema real e não uma brincadeira.
Aos poucos, todas estamos evoluindo para enfrentar os problemas da vida,
porque sabemos que a nossa condição física não é um problema, é mais uma
como todas as outras. Assim como os magros são magros, nós gordas somos
gordas e está tudo bem. E o mundo precisa entender isso!
para alguém que é magro apontar o dedo para nós e nos julgar, achando que
não emagrecemos por preguiça. Mas não precisamos emagrecer se não
quisermos, porque ser gordo é normal. O que não é normal é ser obeso,
porque obesidade é uma doença séria que deve ser tratada. Ser gordo não é
sinônimo de doença e nem de algo feio.
essa coisa de padrão. O verdadeiro padrão deve ser aquele que te faz bem,
seja magra, gorda, pequena ou alta. Assim como existem gordinhas que
querem ser magras, existem magras que querem ser mais cheinhas e gordas
que preferem continuar assim, porque se amam e está tudo bem! ”
corpo por não estar nos padrões, a obesidade ou qualquer outro problema que
leva a engordar de forma que faz mal. Essas coisas sim devem ser
combatidas! — A mulher respira fundo. — Alguém mais quer falar?
Madeleine, você que chegou por último querida, desabafe um pouco — me
chama, eu sorrio e me levanto.
Mas a verdade, é que essa garota ainda está aqui. — Ponho a mão sobre
o peito esquerdo. — Ela renasce todas as noites antes de dormir e vai embora
pela manhã, quando acordo para ir trabalhar. Sinto saudades, mas também
sinto rancor. — Respiro fundo, fazendo uma pausa. — É isso. Obrigada.
Adoro estar aqui. Adoro vocês. ”
jornalista, mas adora cozinhar como o senhor Nicollas e agradeço isso todos
os dias quando chego em casa.
— Falei, não tenho medo de ser demitida. Ela ficou murcha, quero ver
fazer de novo e, ai dela se me demitir — conta, servindo o próprio prato.
Gargalho bastante, ela me acompanha, então rimos juntas. — Agora venha
comer, deixe o banho para depois que estou morrendo de fome.
Troco de roupa e tento dormir outra vez. Passa uma hora... duas... e a
coisa fica tão ruim que me obrigo a pedir ajuda da minha tia. Ela me senta no
sofá, traz um copo d’água e um comprimido, entretanto, derrubo o copo ao
sentir uma contração bem forte que me joga no assento deitada. Grito alto.
Tia Lea fica louca, se tremendo inteira, sem saber o que fazer.
— Parece que tem algo que quer sair de dentro... de mim. — Sinto a
pressão sobre a minha vagina.
a minha calcinha. Nem consigo contestar. Ela observa abismada o centro das
minhas pernas.
— AAAAII! — grito.
— Tudo bem, preciso que fique entre as coxas dela e use uma toalha
para amparar o bebê quando ele sair.
— Uma toalha? Certo, vou buscar! — Titia corre pela casa feito uma
maluca e retorna com uma toalha branca felpuda. Ela se posiciona na minha
frente como lhe foi instruído.
— Peça para a sua sobrinha respirar fundo e fazer força. Nós já estamos
a caminho, caso o bebê nasça antes de chegarmos, ampare-o com a toalha e
deite-o no colo dela. Não corte o cordão umbilical. Entendeu? — indaga o
homem.
Meu Deus.
Fugir do mundo. Foi o que fiz... novamente! Assim como deixei Madri
quando tudo se tornou um caos, também abandonei Paris após descobrir que
Madeleine havia seguido a vida dela, e após saber que Pierre estava
boicotando o meu trabalho. Foi quando me senti no escuro na cidade luz. Que
ironia.
Fui embora sem rumo, buscando pelo homem que eu era antes dela.
Precisava voltar a ser frio e calculista, ainda menos bonzinho, fechado para o
amor, querendo apenas sexo e nada mais. Consegui. Viajei pelo mundo,
conheci e revisitei vários países, fodi tantas bocetas que perdi as contas, mas
ainda me sinto insatisfeito.
viajante da terra. Apenas continuei dando notícias para Mateo, para que
mamãe não ficasse preocupada demais.
Não gosto de deixá-la preocupada, mas mal sabe ela e Mateo que tudo
o que disse era mentira. Falei ao meu irmão que estava tudo bem e que ainda
estava trabalhando no escritório em Paris, que tudo estava evoluindo e
solidificando.
solidão. Agora estou em uma boate de luxo, é o primeiro lugar que decidi vir
depois da minha chegada. Sentado no bar, tomando o meu drink, ouço uma
voz conhecida ao meu lado, pedindo um Dry Martini, momento em que dou
de cara com Camille. Ela está linda e sensual como nunca antes.
— Não sabia, mas acho bem feito. Isso é que dá não valorizar os
amigos. Porém, também não me interessa.
em outro ponto.
— Gostaria de...?
Viro a taça e peço mais uísque até começar a sentir o álcool nas veias,
dominando o corpo. Sigo para a pista de dança, à caça, preciso de sexo
quente, ardente, bruto! Encontro duas gostosas que me recebem e começam a
dançar comigo. Elas ingerem balas e colocam uma na minha boca. Não gosto
Porém, tenho uma sensação estranha e desvio o rosto, avistando o meu irmão
Alejandro parado no bar, a alguns metros, me observando em choque.
Comento no ouvido das garotas que vou ter que partir, elas tentam me
impedir, mas não permito, afastando-me. Por que estou indo embora? A
resposta é clara, é porque não quero vê-lo, não quero ter contato com ele,
estou nervoso só de pensar nisso. Fujo, sentindo que estou sendo seguido.
Confirmo isso, quando fora da boate, Alejandro me puxa pelo ombro,
fazendo-me parar.
com várias dúvidas. — Como me achou aqui? Por acaso anda me seguindo?
— Isso é sério? Está querendo dizer que foi uma coincidência? — Não
vou acreditar nesse papinho. Não sei o que pretende, mas coisa boa não deve
ser. Nós dois estamos com trinta e oito anos agora.
— Não me venha com este papo de merda, mudinho. Acha que acredito
Afirma em sinais.
me.
Pior agora com esse encontro repentino com o meu irmão, o que mais
odeio ou quero odiar, não sei. Não sei mais de nada, exceto que devo retornar
para o mundo e tentar fugir desses demônios malditos que ainda me
— Ai, tia, deixa eu ir correndo tomar um banho logo para poder pegá-
la, não aguento de tanta saudade!! — digo, passando a tirar a roupa e
pegando a toalha. — Fico o dia inteiro naquela clínica pensando na minha
Esperanza.
— Tia, tem certeza que não está sendo pesado demais para a senhora?
Ainda podemos pensar na questão de termos uma babá. — Entro no banheiro.
Estamos em meu quarto, que adaptei para mim e para a bebê, crescendo o
— Principalmente a sua mãe. Tive que dar um basta, ela quer ver a
menina durante o dia todo, não tem condições!
Não senti praticamente nada do que uma gestação comum faz a mulher
sentir, exceto pelo pouco aumento de peso. Não desconfiei da minha barriga,
porque sempre fui gordinha e confundi alguns sangramentos comuns da
gravidez com a menstruação. O meu ciclo menstrual sempre foi bagunçado,
por isso não desconfiei.
Respiro fundo.
— Madeleine...
— Olha, já faz um tempo que estou cogitando uma hipótese, só que não
disse nada a você antes porque não quero te magoar ou preocupar.
— Ai, tia, pelo amor de Deus! Que horror! Nunca mais diga isso! —
alteio a voz, Esperanza geme, então acolho ela melhor em meus braços,
beijando a sua testa, sentindo o calor da sua pele.
— Mas eles irão saber, tia! Só que primeiro o pai dela será informado!
Não quero aparecer na porta dos Javier como a interesseira que deu o golpe
do baú. Não confio neles, principalmente no patriarca, o tal Miguel Javier.
— Você poderia então tentar falar com um dos irmãos que Esteban
gostava.
— Como assim?
— Aquela noite foi um desespero, mas deu tudo certo, graças a Deus.
Agora temos Esperanza. — Ela acaricia as costas da neném.
pílula no dia seguinte, mas acho que não fez efeito. Pelas minhas contas,
engravidei ali ou um pouco depois. Depois tomei anticoncepcional, mas nada
adiantou.
— Sim.
— Ah, tia, isso não me importa mais. Só o que importa agora é a nossa
filha. Não guardo mágoas do Esteban, também não penso mais que possamos
ter um futuro juntos, porém, temos um compromisso por toda a vida, que está
aqui em meu colo. — Sorrio para a minha menina, retirando o peito da sua
boca e lhe deixando arrotar.
— Sei disso, mas estou aqui para evitar que seja. E o Jaime, ainda
continua insistindo contigo? — muda de assunto.
— Ele até que daria um ótimo pai. Com toda essa insistência, vai
acabar te ganhando.
— Está muito bem, deve estar agora no parque passeando com a tia.
— Esteban apareceu?
— Na cara?
sabia dele. Foi então que ela disse que o encontrou numa boate na primavera.
— Você tinha que ver quando contei ao Dom, ele jogou tanta coisa na
minha cara defendendo o amigo. Mas eu rebati dizendo que você era a minha
amiga e que na época, entre acreditar na versão de Esteban e na sua, claro que
preferi acreditar na sua. Era uma palavra contra a outra.
“Expliquei que depois você foi para Madri, me proibiu de dar notícias
sobre Esteban e assim eu fiz, porque você estava se dando tão bem aí, fiquei
com medo de passar por uma nova decepção, e eu não tinha certeza de nada.”
— Amiga... será que ele vai acreditar que você teve uma gravidez
silenciosa?
— Estranho como?
— Ela disse que ele não tinha o mesmo carisma de antes. Estava...
obscuro sabe, do jeito que te contei como estava no meu jantar de casamento.
Ainda estou sem saber o que dizer, não consigo parar de encarar a mãe
de Esteban, ele tem tudo dela e consequentemente Esperanza também.
— Ah... está tudo bem! É só que... eu sou assim mesmo, às vezes paro
no tempo pensando besteira. E sim, estou à disposição sempre que precisar!
— Sorrio de orelha a orelha, tentando passar normalidade, mas não sei se
estou conseguindo.
Perco tudo quando a tia Lea aparece com Esperanza no carrinho atrás
das duas mulheres. A menina já chega fazendo barulho, chamando a atenção
delas.
— Mas é claro que pode! — Tia Lea, que é muito simpática, pega a
minha filha e dá nos braços da avó que se derrete inteira ao segurar a netinha.
— Meu Deus, Alba, ela se parece bastante contigo! Poderia ser a sua
neta! — comenta dona Rimena, meu coração dispara. Fico paralisada, sem
reação.
forte.
Não há nada mais bonito que o céu. Vejo as nuvens passando, sendo
iluminadas pela lua, a cidade lá embaixo surgindo, estamos chegando a
Madri. A voz do comandante soa pelo avião, avisando que vamos pousar.
Meu coração dispara, chegou o grande momento de voltar para o lugar que
por muito tempo chamei de casa.
fonte de vida.
Hoje sei que nunca estive totalmente em paz enquanto vivia em Paris, a
ferida estava ali, latente, pulsando, e eu me escondia na cidade luz por medo
de voltar ou enfrentar a minha escuridão.
Não quero mais ficar no escuro, ser esse homem sombrio. Preciso de
ajuda, não só por estar machucado por fora, mas principalmente por dentro. E
por mais que eu tenha conflitos com alguns parentes, há aqueles que sempre
me amaram de verdade.
como todo mundo, apenas mais um ser humano frágil e, não dá mais para
manter a pose de fodão. Há muito tempo não a mantenho.
A cada minuto que passa, o meu coração fica mais apertado, as minhas
mãos suam, a respiração sai lenta. Não avisei a ninguém da minha chegada,
quis evitar uma possível reunião ou preocupar todos de uma vez ao veem a
minha bota. Já basta mamãe que com certeza vai pirar.
ajudar, mas ergo a mão o parando, recusando. — Apenas deixe a minha mala
na porta.
Suspiro, então sigo até a entrada, lembrando dos degraus que levam à
— Meu filho... que bom que voltou — diz papai, a minha sobrancelha
se ergue em espanto. Ele se aproxima assim como todos os outros.
Alejandro e a moça cacheada ao seu lado, que mais parece uma boneca de tão
perfeita. Eles são um casal?
— O prazer é meu. Bem, já que você vai ficar, Alisa, então eu e seu pai
já vamos indo. — Ela beija a menina na testa, que a beija também, e assim
vão embora.
— Ah, sim.
chora de ódio, respirando com dificuldade. — Fiquei dois anos sem saber
onde te visitar, só recebendo as suas notícias rasas, isso até que suportei. Mas
aí você não fez mais ligações nos últimos seis meses e agora volta falando
que estava machucado na Antártida e não disse nada para a sua família?!
— Eu...
Fico esperando papai se meter, mas não o faz. Ele está diferente. Mateo
também não está gostando nada do que está descobrindo, se sente traído,
porque sempre lhe contei tudo.
— Fez o certo em voltar para casa, filho. — A voz do meu pai soa no
ar, surpreendendo-me. — Nós vamos cuidar de você — promete, e essa
promessa toca fundo na alma. Cuidar de mim? Ele vai cuidar de mim? Fico
sem reação com as suas palavras.
E nós vamos ter que ir no doutor Delmar para ver esse seu pé! —
choraminga, afastando-se.
— Amanhã nós resolvemos isso, mas por hoje seria melhor você ficar
embaixo.
— Alejandro está amando outra vez e agora parece que finalmente está
— E está. Hoje tive uma conversinha com Mina, ganhei a prova que
precisava para saber se ela era mesmo verdadeira ou mais uma cobrinha, feito
a Maite — afirma Luna. Abaixo os olhos ao ouvir o nome da mulher que
— Ele mudou muito depois da sua saída, a relação entre ele e mamãe
não está nada boa — informa Luna.
— Eu acho que foi mais profundo. Sabe aquela velha história que a
— Não sei tudo que essa pestinha sabe — diz Mateo —, mas uma coisa
é certa, a ficha cai para todos em algum momento.
— Não acredito neste conto de fadas. Vocês dois sabem o quanto papai
me feriu grave e não acredito nessa mudança repentina.
— Não foi repentina, você passou dois anos fora de Madri, Esteban —
lembra Luna.
— Você nunca foi culpado, filho. Esteban, você era apenas uma
criança... brincando com o irmão. Achei que o rancor do seu pai por ter
perdido o filho que ele tanto queria iria passar, principalmente com a chegada
do Alejandro, mas só piorou tudo. Por anos me senti incapaz de te defender,
de defender os meus dois filhos desse jogo sujo que Miguel estava fazendo.
Enganada. Ele foi tão desprezível ao ponto de jogar com vocês dois usando
Maite, aquela amaldiçoada. Não valia nada! — rosna, odiosa. Leva um tempo
para se recuperar até continuar: — Miguel me confessou tudo, porque a
consciência pesou demais, ele entrou em depressão depois que você se foi, na
verdade, ainda está e esse é o único motivo de eu não ter pedido o divórcio. ”
— Está acontecendo há seis meses. Quando ele viu que você realmente
“Tanto você quanto Mateo iam muito bem nos empregos, pelo que
contavam e Alejandro... conheceu uma mulher maravilhosa, está finalmente
se abrindo para o amor depois de tanto sofrer e não quis que nada
atrapalhasse. Contei somente à Luna que também ficou horrorizada. ”
— E para que fique sabendo de uma vez por todas, caso essa dúvida
ainda esteja na sua mente. Alejandro não sabia de nada, ele nunca foi
— Tenho sim! Como não consegui impedir isso? Como não consegui te
proteger? Você viveu aqui sob o mesmo teto que aquela mulher, teve que
suportá-la vivendo como esposa do seu irmão! E no fim, ela provou que
Alejandro, apesar de tudo... te ama, Esteban. E por mais que negue, sei que o
ama também. Muito. Então, por favor, superem isso. Mesmo que... doa
muito, muito. Superem isso. — A puxo para um abraço, ambos sofremos em
um pranto doloroso, carregado do nosso passado sombrio.
Saber de uma vez por todas que Alejandro nunca foi conivente com
Miguel, provoca emoções absurdas em mim, mesmo que eu já houvesse
— Contou. — Não estou feliz em saber que elas sabem disso. Ninguém
deveria ter descoberto. É horrível demais. Podre demais.
— A situação entre ela e papai está séria, ela estava dormindo em seu
quarto desde que ele não aguentou a barra e confessou tudo o que fez.
— Não, ela apenas fará uma análise inicial e semana que vem começará
— Felicidade, oras. A nossa bebê é muito feliz, né, meu amor? — Rir
para a menina que gargalha ao notá-la, a reconhecendo. — É sim!!
Esperanza, que entrego. Caminho para longe delas, ouvindo o meu chefe
requisitar a minha presença em um endereço bem específico. Fico gelada.
— Não é isso. Ele quer me encontrar na casa dos Javier. — Ainda não
consigo acreditar. Começo a caminhar de um lado para o outro, roendo as
unhar.
— É sério? Mas... por que ele te encontraria lá? Será que descobriram
algo a seu respeito?
— Então... está tudo bem, não? Você vai lá... faz o seu trabalho e volta
para casa. Tudo certo.
— Não, tia. Não está nada bem. Primeiro, eu não queria ter contato
com a família do Esteban sem antes contar a ele sobre Esperanza. Segundo, a
depender do trauma do paciente, posso ficar meses fazendo o tratamento. O
doutor disse que me quer exclusiva. Ele faz isso quando os pacientes são
amigos dele ou muito influentes na sociedade.
— Quem será que se machucou por lá? Meu Deus... você vai conhecer
de perto os seus cunhados, os seus sogros. Isso é obra do destino.
— Destino esse que com certeza não está ao meu favor. Droga! E se me
descobrirem? — Fico aflita.
pode negar esse pedido ao seu chefe e querendo ou não, essa exclusividade
pode te abrir muitas outras portas. Se Delmar lhe chamou, é porque já confia
em você. Será uma prova de fogo.
controlar.
me anuncia, chamando por seu nome, derrubando por terra qualquer dúvida.
imaginei que fosse ele, como não descobri que estava aqui? Demoro a notar a
sua perna com a bota ortopédica e automaticamente me preocupo. Meu Deus,
o que aconteceu?
máscula, mas sai ferida. O brilho da sua íris também não é mais tão radiante e
fica mais escuro a cada segundo que passa olhando para mim.
— Não!
agora nada mais é como antes. Não existe mais o amor. — Achei que não
quisesse me ver nunca mais. Que estava feliz aqui! — Joga na minha cara.
Fecho os olhos, controlando-me para não chorar.
— Olha só, ela chegou! — Dona Alba vem em minha direção, Esteban
volta a se virar para a janela, como se não quisesse mais olhar para mim.
Tenho que buscar todo o meu autocontrole para poder reagir a tantas
emoções ao mesmo tempo e ainda parecer normal. — Olá querida, tudo bem?
— Hoje eu não quero avaliar nada. Estou com uma dor de cabeça
terrível! — anuncia, sem olhar para trás. Rancoroso.
Fico sem saber o que fazer, não posso simplesmente disparar a notícia
sobre Esperanza. Tenho que prepará-lo. Quero tocá-lo, cuidar dele, abraçá-lo,
escutá-lo, talvez pedir desculpas, conversar, entender.
recusa a nos encarar. Fico chocada com o tamanho da sua perturbação com a
minha presença. Esse encontro está mexendo muito comigo também. Ainda
mais agora, que sei que não quer olhar na minha cara.
longe.
Indo longe, viajando por tantas lembranças, sem esquecer o olhar que
recebi minutos atrás e que me transpassou a ponto de me arrepiar inteira. As
minhas mãos tremem, a garganta está seca, o coração quase saindo pela boca,
— Oi? Sim... doutor... claro. — Saio dos meus devaneios. Tento traçar
— Por mim... tudo bem. Mas ele está de acordo? — Estou cheia de
dúvidas.
— Não. Ele não vai sair daqui a não ser que seja necessário, não se
preocupe.
Eu não estava preparado! O que irei fazer? Falei à dona Alba que
queria o tratamento, mas... na verdade só quero tempo para descer esse
encontro goela abaixo! Coincidência? Destino? Loucura? Deus... alguém
pode explicar isso? A minha fisioterapeuta é a mulher que mais mexeu
comigo em toda a vida!
Penso que ela vai embora e a sensação é de que irei perdê-la outra vez,
mesmo já sabendo que não é mais minha e não a querendo outra vez.
Entretanto, um sentimento impulsivo lateja por minhas veias, uma vontade
louca de saber mais, de... entender! De querer ter novamente o controle,
aquele que perdi quando Madeleine me deixou!
chamando.
— Mantenha uma distância segura, não permita que ela nos veja —
instruo o homem, estou no banco traseiro, fazendo uma careta, sentindo dores
no calcanhar. Deveria estar em repousou ou fazendo algum exercício de
fortalecimento como disse o doutor Delmar, mas não me movimentando
assim.
Ao chegar na mansão, sou recebido por Alisa, que vem me abraçar com
cuidado!
— Já voltou? Achei que iria dormir hoje com o seu pai — pontuo, pois
a tinham levado embora.
— Sim, ainda mais pela Alisa. Ainda não dissemos nada a ela, então
— Certo — confirmo.
— Oh, Deus... por que a minha família tem sofrido tanto? Onde você
estava? Você não pode se locomover tanto assim sem supervisão. Você quer
me enlouquecer, Esteban!
— Mãe...
— Amanhã a fisioterapeuta vem, por favor, filho, inicie esse
tratamento...
— Filho...
— Talvez não valha a pena, pai. Não quero reabrir antigas feridas.
Assinto.
— Ah, não é mais preciso. Será você que me levará para o quarto — o
aviso.
mulher com quem se envolveu há mais de um ano em Paris e que acha que
vocês têm uma filha? — Ele está embasbacado.
— Tudo isso são suposições. E bem loucas por sinal. Não consigo
imaginá-lo como pai. — Ergue as sobrancelhas, surpreso.
— Nem eu, mas... a criança também pode ser de outro. Ela teria que me
confirmar. Ela disse que me procurou, mas não dei oportunidade para falar o
motivo. Por que Madeleine me procuraria já que achava que eu a traí?
— Além disso, ela está aqui há apenas um ano, pouco tempo para
engravidar e já ter uma menina daquele tamanho.
— Mas é possível. É melhor não ficar especulando e conversar com
ela.
— E se você for mesmo o pai... como se sente com isso? — Mateo está
curioso.
— Ainda não sei. Não sei me descrever agora. Não sei o que é ser pai.
— Claro — concordo.
— Estou pensando nisso. Agora vou te pedir para sair, preciso fazer
uma vídeo-chamada com o meu psicólogo — informo, pegando o celular ao
lado.
assente.
— Então vamos começar tirando essa bota, preciso ver o seu calcanhar
— afirma. Fico deitado no sofá com o pé sobre travesseiros após retirar a
bota ortopédica. Madeleine analisa o pequeno inchaço no local do ferimento.
— Vou tocá-lo agora, tudo bem? — Os seus lindos olhos encontram com os
meus, há sentimento.
— Não.
— Aqui?
— Sim.
— Os seus exames estão bem recentes, mas por precaução vou pedir
outros. Precisamos movimentar o seu tornozelo, criar força, e para isso
faremos alguns exercícios. Todos os dias. — Olha-me nos olhos novamente,
porque acabou de dizer que o nosso contato se estenderá por semanas, talvez
meses.
— Entendo.
— O quê?
minhas costas.
alteia a voz.
— Mentirosa...
— Por que eu mentiria?
destilar toda a sua raiva por ter sido julgado injustamente por mim, pode
fazer! Vai! — O deixo perplexo, pela primeira vez estou confessando que ele
era inocente. — Há pouco tempo descobri que tudo o que me disse naquela
época era verdade. Amélie encontrou Camille por acaso e ela disse tudo,
falou que não... aconteceu nada entre vocês.
— Sabe... até entendo você ter ficado puta. Me coloquei no seu lugar...
eu também não teria acreditado se tivesse visto aquela cena, mas... o que fez
depois foi o que mais me magoou, Madeleine. Você não me deu a chance de
conversar, de me explicar, tanto que pedi...
— Mas...
— Nada a ver. Não foi nada! Você não viu nada demais!
— Na verdade, não era nada disso que eu queria... — soluço outra vez,
desabando em um abismo sem fim. — Tudo o que eu queria... era você! —
declaro, não suportando mais. Pego as minhas coisas com rapidez e corro
para fora, fugindo, preciso fugir!
estado.
ESTEBAN JAVIER
Fico bestificado com as palavras dela. Tudo o que ela queria era eu?
Tocou na ferida que agora dói muito mais que o meu calcanhar. Chorando, a
vejo partir e me deixar sozinho outra vez. Logo depois Luna entra, sem
entender nada, preocupada.
Mais tarde, após estar completamente calmo. Luna senta no outro sofá
e me escuta contar absolutamente tudo. Chocada, leva as mãos à boca sem
conseguir acreditar.
— Se a sua dúvida era saber se ela estava mentindo, o que tenho a dizer
é o seguinte: ou essa garota encontrou uma boa desculpa para contar uma
mentira bem contada ou ela realmente carregou a filha de vocês por nove
— Já não tenho mais coração, irmã. Mas o meu cérebro diz que
Madeleine está falando a verdade — concluo.
agora se veste com elegância, parece bem consigo mesma e com o corpo,
algo que não tinha antes. E isso aguça a minha atração.
— Estou me referindo ao seu tornozelo. Não pense que foi fácil para
mim também. Eu não quero brigar, Esteban. Querendo ou não, temos que
chegar a um acordo, não precisamos passar por isso, você pode trabalhar com
outro profissional e entrar em contato apenas sobre a nossa filha... se quiser, é
claro. — Desvia o olhar, essa última possibilidade claramente não lhe agrada.
Respiro fundo:
— Mas antes precisamos fazer a nossa sessão, não quero que mamãe
desconfie de nada agora, estamos passando por um momento conturbado na
família. Quando terminarmos, vou sair discretamente com o segurança e
segui-la até a sua casa. Tudo bem?
Quando dona Alba surge, nós fingimos que está tudo bem, fazemos
teatro. Após terminamos os exercícios para me trazer mobilidade no pé,
fazemos como combinado. Ela segue no seu carro a frente, enquanto vou com
o meu motorista atrás. Não queria, mas sinto orgulho de presenciar toda essa
sua independência. Saber que tão nova está conquistando as coisas que
sonhava.
que não queira admitir, tê-la comigo, mesmo que presa através da
fisioterapia, é uma lufada de sensações boas, indescritíveis... incríveis. Essa
mulher mexe comigo ainda mais do que antes.
muletas.
Sinto o meu peito voltar a bater, agora acelerado e fica mais rápido
enquanto ela toma a criança nos braços com delicadeza e experiência. A
menina faz um barulhinho e se reconforta no colo materno, o reconhecendo.
Engulo em seco, fascinado e chocado ao mesmo tempo.
comigo, mas tudo o que quero agora é protegê-la para sempre e nunca mais
sair de perto dela.
Tudo de ruim é destruído, não existe mais nada além desse olhar
inocente que me domina.
— Olha filha... é o seu papai — Madeleine soluça, fungando. — Eu
disse que ele chegaria logo, não disse? Ele voltou.
As palavras dela me emocionam, saber que falava sobre mim, que não
me esqueceu, que me mantinha aqui com elas de alguma forma, mesmo eu
não merecendo tudo. Esse momento é mágico, e nesses primeiros minutos, já
vou descobrindo um pouquinho do que é ser pai, e ser pai também é saber
reconhecer.
— desabafa, em prantos.
tremendo. Madeleine puxa o meu rosto e me beija. O toque dos nossos lábios
reanima todo o meu espírito e ressuscita sentimentos há muito tempo
esquecidos. É um forte e verdadeiro amor. Amo-a como jamais amei outra
mulher. Amo-a como se dependesse disso para sobreviver.
azuis intensos. Ela aperta as pequenas mãos uma contra a outra, nos
observando e fazendo lembrar que ainda está aqui. Sorrimos para ela.
— Oi, filha... — Seguro uma de suas palmas e ela aperta com uma
força monstruosa, gritando novamente, como se quisesse dizer alguma coisa.
— Acho que ela está feliz por conhecer o pai — Madeleine sorri,
enxugando os olhos.
— Também estou feliz. Pela primeira vez em muito tempo me sinto
feliz de verdade. — Sorrio, e beijo Madeleine outra vez.
MADELEINE FERNANDEZ
Parece até mentira, mas é real! Ter Esteban e Esperanza aqui comigo é
um sonho realizado! O meu peito se enche de alegria, uma felicidade que não
cabe em mim. Graças a Deus ele me escutou, nós discutimos, conversamos e
nos perdoamos de todo o mal que, sem querer fizemos um ao outro.
comenta titia, de mãos cruzadas, radiante, espiando pela porta entreaberta que
dá visão para a sala. — Que lindo! É de deixar o coração quentinho!
puxa os seus cabelos dourados com uma força imensa e grita, gargalhando.
— Eles são tão lindos juntos, não é tia? Parece até um sonho! — Fico
nas nuvens, suspirando.
notei que essa beleza vem do sangue. Todos eles são lindíssimos, os irmãos e
até os pais, apesar da idade, têm boa aparência.
— Você também não fica atrás. Agora, o jeito como ele te olha é
fascinante — comenta, inflando o meu ego e paixão.
— Ele disse que me ama, tia... pela primeira vez, e isso me tirou do
chão. — Volto para os sanduíches, organizando-os sobre a bandeja com um
copo grande de vitamina.
— Sei que sim, tia. E só o que me define agora é alívio. Vou lá levar o
— Vai... vou deixá-los a sós para que possam conversar a vontade. Sei
que há muito para esclarecer ainda.
admiração.
— Sabe que não é isso — sorri, é sensual até sem querer. — Quis dizer
que está muito bem... independente, mais ainda do que já era quando nos
conhecemos. Notei também que está mais segura de si... mais madura.
desse homem. — E o que fez ele ficar assim? Mutismo seletivo... nunca ouvi
falar.
Luna hoje foi para o hospital onde ela está internada, foi dar apoio ao
Alejandro. Estou esperando o momento certo para... sei lá, talvez pedir
desculpas — revelo, suspirando em seguida.
— Está disposto a isso? — Fico muito feliz por saber que agora
— Muda.
— Prova que ele também foi uma vítima do seu pai. Eu até tentei ter
raiva do senhor Javier esses dias em que estou indo à mansão. Mas ao olhá-
lo... vejo apenas um homem abatido e cabisbaixo, frágil. Dá até pena.
consegui superar todas as coisas que me fez. Porém, não foco mais nas
lembranças ruins, com o nascimento de Esperanza, uma nova vida nasceu
para mim também...
ESTEBAN JAVIER
da minha filha e de Madeleine. Pela primeira vez em bastante tempo, não tive
uma noite triste, solitária ou depressiva, muito pelo contrário. Os sorrisos e
gritos de Esperanza realmente me deram esperança de que posso ter um
futuro melhor, de que ainda é possível acreditar e fazer um novo caminho.
melhor.
mim: — Fala com ele. — Aponta com o rosto para dentro do cômodo, só
então estico o rosto e avisto Alejandro de costas, na janela, em prantos.
que irei dizer, não sei como reagir. Preciso, pelo menos uma vez ser o irmão
que nunca fui. Necessito do seu perdão e lhe dar forças neste momento
difícil, pois já passei pelo o que ele está passando, a sensação de perder a
mulher amada para sempre.
Meu coração está a ponto de sair pela boca e perco todas as palavras
quando paro ao seu lado, abalado, trêmulo, quase sem respirar. E agora? O
que farei? Onde está a intimidade que deveríamos ter? O companheirismo, a
camaradagem, a lealdade? Ambos fomos manipulados, enganados e criados
para sermos inimigos.
finalmente conseguir pousá-la sobre a dele. Torço para que esse toque
carinhoso valha ao menos pela metade das palavras que nunca lhe disse e que
não consigo dizer agora.
corpo. Eu precisava disso, dessa energia de irmãos da qual sempre fugi por
achar que era o meu mal, mas agora sei que sempre estive enganado.
Alejandro faz parte de mim e também sei que faço parte dele. O nosso laço é
profundo e único.
cheio com muita emoção. Seus dedos seguram os meus e me fazem chorar,
quebrado.
Neste simples gesto, ele me diz tudo que não pode verbalizar, afirma
que me perdoa e que precisa de mim tanto quanto preciso dele. Uma atitude
que vale mais do que mil palavras. Meu lábio inferior chega a tremer com o
pranto intenso, os suspiros de estar sentindo tanta energia positiva nos
sondando e todo o mal caindo por terra sem chances de se reerguer.
Contra todo o ódio, essa irmandade venceu!
MADELEINE FERNANDEZ
Com o tempo tudo vai se acertando. Vou para a mansão dos Javier
todos os dias, ajudando Esteban com o tratamento do seu tornozelo. Agora a
nossa interação é bem maior porque não há mais mágoas, somente amor.
Ele me observa dos pés à cabeça, um olhar faminto. Todo esse tempo
após o reencontro namoramos escondidos, mas não tivemos oportunidade de
fazer muita coisa, o que instigou ainda mais a nossa libido.
enquanto Esteban avista a mesa que preparei para nós, um lindo jantar à luz
de velas.
bebê.
Quase sem ar, não penso duas vezes antes de ir até ele, sendo enlaçada
por seus braços quentes e devorada por sua boca que recai sobre a minha em
um beijo lascivo, devagar e gostoso. Logo sinto quando as suas mãos
enormes resvalam por minhas costas e apertam a minha bunda com força ao
mesmo tempo em que chupa a minha língua, sugando, dominando.
veio ao mundo.
Nós vamos para o sofá que é bem espaçoso, ele coordena tudo, fica
Dor..., parece que voltei a ser virgem. A última vez que transei foi com
ele e já faz muito tempo.
Esteban aperta a minha cintura, sem tirar os olhos dos meus, gemendo.
Movimento-me, subindo e descendo, sem pressa, afundando as unhas no
peitoral dele. O homem me guia, aumentando o ritmo, movendo os quadris,
socando o pau na minha boceta com mais intensidade, saciando a nossa sede,
buscando o nosso prazer.
cabelos, pressionando o seu rosto contra mim, sentando em seu mastro com
mais força, molhada, lambuzada, sensível, e estremecendo, saindo de mim.
afrodisíaca que nos envolve e eleva as nossas almas a outro nível. Ele ergue o
rosto e o beijo, apaixonada, com o seu pau pulsando contra os músculos da
minha vagina que se contraem e o comprimem, fechando o seu corpo grosso
desenhado por veias ferventes.
— Sim.
— Por isso estava tão apertadinha. — Apalpa a minha bunda que tanto
gosta. — Eu te amo Madeleine, como jamais amei outro alguém — se
declara.
— Te amo mil vezes mais. — Acaricio a sua barba dourada, os fios que
tanto roçaram em minha intimidade. Nos beijamos outra vez e me excito ao
sentir o meu gosto nele. — Estou contente por Mina ter acordado. Acha que
agora podemos contar sobre Esperanza para Alejandro e para os seus pais?
— Sim, mas vamos esperar mais um pouco até Alejandro voltar à vida
normal. Ele recebeu a noiva com uma festa e começou o tratamento para
voltar a falar.
Madeleine, a nossa filha e dona Lea, indo em direção à mansão onde reuni os
Javier para um almoço. Quando o motorista para o automóvel, Madeleine
suspira, nervosa.
— Esteban tem razão, querida. Fique calma, tenho certeza que todos
vão amar a notícia, até porque já te conhecem e gostam de você.
mamãe, trocou algumas palavras com Mateo, Alisa e até papai. Falta apenas
conhecer Alejandro e Mina.
— A minha sobrinha encanta onde passa, mas se com ela não der certo,
tenho certeza absoluta que Esperanza dará conta do serviço.
Agora uso apenas uma muleta e uma bota menor, que cobre somente
até o calcanhar e me dá mais liberdade para exercer força ao caminhar.
Entramos os quatro na mansão após uma das empregadas nos receber.
Entregamos os nossos casacos a ela e encontramos a família inteira reunida
na sala de refeições, sentados à mesa, nos aguardando.
— Bom dia — dizem, menos Alejandro, que ainda não se sente seguro
falando em meio a tantas pessoas reunidas.
simpática senhora.
— Nós nos vimos naquele dia, eu estava com Rimena — recorda dona
Alba.
— Filho, por que não nos avisou que iria trazer convidados? Eu teria
preparado tudo melhor. Oh, não se ofenda Mad, estou adorando a presença de
vocês aqui, gosto de saber que a sua amizade com o meu filho ultrapassou a
relação profissional.
— Mãe, e todos aqui que ainda não sabem. Quero que respirem fundo
porque tenho uma grande notícia para dar a vocês — tento preparar o terreno.
Não sou muito bom nisso.
— Que o senhor tem mais uma neta, além de Alisa. Madeleine e eu nos
separamos em Paris, mas ela não sabia que estava grávida, teve uma gravidez
silenciosa, que não permite a mulher desconfiar da gestação. Enfim, a história
é longa, mas o importante é que nos reencontramos aqui em Madri como
paciente e fisioterapeuta, e ela me revelou Esperanza, a nossa querida filha.
saltando da cadeira, está vestida como uma princesa e não acredita na notícia.
— Sim, dona Alba. Perdão por não ter falado nada antes, eu e Esteban
achamos melhor esperarmos até Alejandro e Mina superarem a barreira que
estavam passando.
— Aaah, que gentil! — Mina levanta, vindo até nós com o noivo.
— Aaaah... bá, bá, bá, bá!! — Esperanza cantarola ao ser acolhida pela
avó. A menina é só felicidade, é como se entendesse que está sendo
apresentada à sua família paterna.
— Por que... ela não contou sobre a menina assim que a teve? — Papai
encara Mad com seriedade, raciocinando nessa questão crucial.
Alejandro já sabe o que o velho Javier fez comigo no passado. Ainda há esse
constrangimento entre mim e o senhor Miguel.
— Claro que pode, pai. Ela é a sua neta — permito. O homem respira
fundo quando Alejandro entrega a criança em seu colo. Esperanza gargalha,
O lugar está ricamente decorado, tudo obra de dona Alba que cuidou de
cada detalhe. Ela ama organizar eventos. O sol irradia brilhoso por todo lado,
está uma manhã maravilhosa e bastante florida.
depois disso. É impressionante, ainda não nos acostumamos com ele falando,
tanto que faz a mim e a Mateo sorrir novamente por ouvi-lo se expressar por
palavras. — Esqueceu que já a pedi em casamento? — Seu tom é baixinho,
quase um sussurro.
— Sim. Acho que ele pertence a alguma família real e nos escondeu
isso por todo esse tempo. — Alejandro fica reflexivo.
— Olha só, quem diria, Joaquin e seus segredos. Não acredito que ele
foi embora e não levou a Luna — brinco.
— É verdade, passei dois anos fora de casa, mas ela ainda é a mesma,
continua presa em uma bolha psicológica terrível que não a deixa evoluir —
digo. — Sinto que pode ter algum segredo seu que ainda não saibamos e que
jamais irá nos contar.
— Tenho certeza que ela tem um mistério não revelado. Luna é uma
caixinha de surpresas. Já tentei ajudá-la, mas ela recusou — informa Mateo.
— Ela recusa a ajuda de todos, acha que não precisa. Foi esse o
principal motivo que fez Joaquin deixá-la de vez — conta Alejandro.
— Você já tem a sua vida para cuidar, não? Então deixe a minha de
mão! — É grosso, se irritando, fazendo-me sorrir.
— Um... Dois...
— E você Mateo? O que está esperando? Mulheres sei que não faltam.
Não quero pressionar, mas... — o provoco novamente
— Sei que não gostam de falar disso, mas... e Maite? Luna me contou
que ela voltou — Mateo toca em um assunto extremamente desagradável. —
E que te procurou, Alejandro.
Ele assente com o rosto, com um pouco de ódio, depois toma coragem
e diz:
— Não quero conta... contato com ela, muito menos... que tenha com a
minha filha — Ele vê quando a Alisa e papai se aproximam de Mina e Luna,
ambos sorridentes.
— Também prefiro fingir que essa mulher não existe. Com licença,
senhores — vejo minha amada descer do palco e vir em minha direção de
braços dados com Amélie e Louise. Dominique e Bernard as acompanham.
Estão todos muito elegantes, vieram de Paris especialmente para o
casamento.
Deixo os meus irmãos conversando e vou até o grupo. Puxo Mad para
mim, soltando-a das amigas, enlaço-a pela cintura e lhe dou um beijo longo,
fazendo a galera zombar e rir bastante.
— Ai, eu amei o nosso AP!! Tenho certeza que seremos muito felizes
lá! — Madeleine puxa o meu rosto e me beija com afinco, apaixonada e
amada por mim.
povo espanhol é animado, quente e não tem papas na língua, assim como eu...
amo! — gargalha.
— Já falei que seria super legal vocês virem morar aqui, mas... —
Madeleine joga a dica, é louca para ter as melhores amigas por perto.
— Não é legal o que ele fez comigo, mas enfim, também já superei. —
a minha sobrinha? — indaga Tim, ele está mais lindo do que já era, e com
certeza irá se tornar um belo homem.
— Eu entendo a língua dos bebês. Quer dizer, entendo o que ela fala...
pelo menos algumas palavras.
esticou rapidamente.
— Ah, foi mal, não lembrava que já tinha lhe dito isso antes! —
gargalho.
— Ah, amor... não sei se vou ter coragem de passar três dias longe da
nossa Esperanza — Madeleine cansa de segurá-la e me entrega. A garotinha
sorri e fala várias coisas que não compreendemos.
— Você sabe que ela vai ficar bem! A titia vai cuidar dela como
sempre fez, não é meu amor? — exclama dona Lea, olhando Esperanza, em
— Até parece, Martina! — retruca Lea, a briga entre elas pela bebê me
diverte, mostra o quanto a amam.
— Bom dia a todos, olá Madeleine! Olá Esteban! — O doutor Delmar
se aproxima de braços dados com a esposa. Ambos muito elegantes.
— Ah, obrigada.
conhecessem.
— Despedir? Mas você disse que ficaríamos até o fim da festa, querido
— a esposa dele também não está entendendo nada.
lua de mel. Foi tudo muito lindo. — Delmar se despede com pressa e se
afasta, sumindo de vista.
rodando, se divertindo. Nossa menina grita, elétrica, ela adora música e ama
dançar.
colombianas, são tantas que dava para criar um mar só delas. O tom do
vermelho é de impressionar, e o perfume invade o ar. O burburinho de
surpresa do pessoal é enorme, o queixo da minha esposa vai ao chão.
— Louco por você, meu amor!! Eu te amooo! — grito, para que todos
escutem. A abraço forte, somos aplaudidos fortemente.
Após os fotógrafos que abusam de nós com tantas fotos. Pego a minha
mulher pela mão e a ajudo a subir nos degraus para o banco do passageiro.
As suas amigas ao lado de Luna e Mina se apressam para erguerem o seu
vestido com o véu. Corro para o outro lado, para subir ao meu lugar, ligo o
caminhão e buzino bastante para o pessoal que está em êxtase!
Corro de mãos dadas com Madeleine pela areia da praia, ela grita
quando a primeira onda nos atinge ao entrarmos no mar. A puxo para mim, a
abraçando forte, gargalhando, e então mergulhamos juntos, nadando um
pouco mais para o fundo.
do que antes. O nosso amor cresce a cada minuto que passamos juntos e
parece não ter limites. Ela enlaça o meu pescoço com os antebraços e me
beija gostoso, de forma sensual. A seguro pela bunda por dentro d’água,
fazendo-a montar em mim.
Estou apenas de sunga e ela de biquíni. Dessa vez veio preparada e não
se sentiu nem um pouco envergonhada ao tirar o roupão e se mostrar. Essa
sua segurança e amor com o próprio corpo me faz desejá-la ainda mais,
querê-la de uma forma que chega a ser obsessiva.
— Não vou aguentar chegar lá, veja como já estou duro... pronto para
me afundar em você, baby. — A minha voz é rouca e lasciva.
cabelos enquanto me abaixo e arrasto a sua calcinha para longe, dando duas
lambidas rápidas no seu clitóris.
enlaça o meu quadril, erguendo o pescoço, sem fôlego. Arranho os dentes por
sua garganta ao mesmo tempo que afundo os dedos em suas nádegas grandes
e redondas, maravilhosas. Coloco-a sobre o móvel mais próximo, espatifando
os objetos no chão, quebrando alguns.
vermelha com tanto calor, acertando a saliva sobre ela, melando o resto com
a mão, provocante, imoral.
Quando nos acalmamos mais um pouco e não ouvimos nada além das
nossas respirações ofegantes, saio dela sem pressa, observando encantado os
seus lábios vaginais me cobrirem e se arrastarem por meu corpo de veias
saltadas. Não tiro tudo, afundo-me nela outra vez, lento, criando uma dança
libidinosa entre a gente.
Rebolo mais rápido e faminto, meu pau arde com o contato das carnes,
em chamas. Uso a mão livre para segurar os seios de Madeleine
conjuntamente e uni-los no centro, apertando-os, brincando. Ela alteia os
gritos, arqueando o corpo, jogando as mãos para trás, contra parede, perdida e
alucinada.
para respirar melhor. Venho por cima dela como um felino, escorregando a
língua da sua bunda, passeando pelas costas até mordiscar o seu ombro ao
mesmo tempo que a penetro outra vez.
suas nádegas com o nosso contato. Não demora muito e grito alucinado,
moendo meu pau dentro dela com violência, esmagando-a, apertando-a
inteira e jogando tudo em seu interior, explodindo em um orgasmo
inesquecível.
MADELEINE FERNANDEZ
Tim e tia Lea, todos aqui para nos receber com um almoço incrível.
Sei que o que mamãe tem para me contar é sério, porque raramente ela
me chama para conversarmos a sós. Nós nunca tivemos essa intimidade,
coisa que mudou um pouco nos últimos tempos. O assunto é sobre o doutor
— Quer dizer então... que o meu chefe era o melhor amigo do meu pai
biológico? — pergunto, chocada.
— Ele pode saber onde o seu pai verdadeiro está, já que eu nunca mais soube
nada dele.
— Mas eu não quero saber disso, mãe. Nunca vim para Madri com a
intenção de encontrar esse homem que lhe abandonou no momento que você
mais precisava. Meu pai é o Nicollas, o outro não me interessa.
eu tive um caso com o seu pai e sabe que quando nos separamos, eu estava
grávida.
— Isso também serve para nós duas? Filha, você nunca disse se me
perdoou por tudo?
Suspiro, não queria ouvir essa pergunta.
com atitudes. Nos últimos tempos a senhora tem... por várias vezes, se
demonstrado uma mãe que me fez falta a vida inteira. Eu não a odeio, a
senhora é a minha mãe, já superei todos os meus fantasmas, não sou mais
aquela garota insegura e chorona. Porém, há marcas profundas que sei que o
tempo irá cicatrizar, mas para isso precisamos continuar plantando o bem...
com atitudes. Entendeu? — A observo reflexiva.
nunca você.
— Teve?
— Sim... foi durante a nossa festa. Ele veio pedir perdão, chorou...
disse que queria muito aquele filho que perdeu e depois encontrou em
Alejandro, o menino que tanto queria. — Vejo a dificuldade para o Esteban
ao abrir essa ferida.
— Aham.
— Você o perdoou?
— Sim. Como eu lhe disse, não voltei para Madri atrás de guerra. No
início ainda relutei com ele, mas... não vale a pena. Além disso, agora tenho a
minha própria família, e serei o melhor pai para Esperanza, um que eu nunca
tive. Vou transformar todo o mal que recebi durante anos, em amor por nossa
pequena.
No dia seguinte, vou para o trabalho, mal chego na minha sala e abro as
cortinas quando Delmar entra. Por sua expressão, já sei que quer falar sobre o
assunto que desejo manter esquecido.
entendo por que gostei da sua companhia à primeira vista, minha cara —
conta, então o nome dele era Petrus. Nem isso quis saber da minha mãe.
— Ela nunca mais soube nada sobre ele. Ela não quis procurá-lo, assim
como eu quando cheguei aqui. Não havia motivos para procurar um homem
— Não, seu pai era sozinho, não tinha família. Cresceu em um orfanato
e conquistou tudo que tinha sozinho. Ele estava começando a carreira quando
conheceu a sua mãe, depois sofreu um acidente de carro e faleceu.
— É realmente uma ironia. Porém, não consigo sentir nada por ele, mas
saber de toda essa história me deixa um pouco triste.
você é, não é crime, é o caminho para viver bem consigo mesma e então
poder abrir espaço de fato para alguém na sua vida, sem demônios
atormentando a sua mente.
“Não foi o meu marido que me abriu os olhos e me fez gostar de mim
mesma, ele me ajudou nesse longo caminho, claro, me ajudou bastante. Mas
a mudança começou, quando eu, sozinha acordei para esse fato. Aprendi que
não podia depender de ninguém para iniciar qualquer mudança a não ser de
mim mesma, porque eu era a minha maior inimiga e precisava superar os
meus medos.
avental e terminando de pôr a mesa. O jantar que ele fez exala um cheiro
maravilhoso que faz a minha barriga roncar.
— Venha para o papai, meu amor! Senti saudade de você e sua mãe o
— Ah, nem vou tomar banho, o cheiro da comida está tão bom que
quero agora.
Ele se senta com ela, enquanto nos sirvo com uma taça de vinho, ainda
sorrindo.
— Sim.
— Pode apostar que sim. Farei vocês felizes pelo resto da vida.
— Para sempre?
Sei que a sua promessa será cumprida e seremos assim todos os dias e
todas as noites. Pode até ser que novos percalços surjam no caminho, mas
com o nosso amor, resiliência, paciência e o poder da nossa superação,
poderemos vencer as barreiras, porque este é o significado de família.
Aliás, quero dizer que estou indignada com a quantidade de leite que
aquele bebê consome diariamente. Será que Vicenzo acha que a nossa mãe é
uma vaca e ele um bezerrinho? Pois bem, como diria vovó Alba, “é
preocupante”.
Mas, voltando ao que importa, hoje foi tudo diferente porque fomos
para a exposição dos quadros do meu querido tio, Timothée. O que soube é,
que ele vendeu bastante e um dia desses vi o seu nome no jornal. Ele até
tentou me persuadir para a pintura, mas retruquei afirmando que serei uma
escritora!
Já papai, fica falando para os meus tios e amigos que serei uma
advogada, mas como diz mamãe, eu não tenho a sua cara de pau. Ele replica
argumentando que sou nova demais, tenho apenas doze anos de idade e com
o tempo posso mudar de opinião. Porém, sei que serei uma escritora, porque
gosto de escrever, não é à toa que tenho você, querido diário!
Tá bom... ela não é tão chata assim, tio Tim diz que o meu ciúme que é
grande demais, maior do que aquelas pinturas que faziam nos tetos das
igrejas dos séculos passados. Odeio quando ele começa a contar a história
Fiquei triste pelo vovô Nicollas não ter vindo, gostaria de cozinhar
com ele de novo, mas a vovó Martina contou que eles tinham muito trabalho
com o restaurante novo que abriram. Ah, não vejo a hora de voltar a Paris
para jantar na Torre Eiffel, Vicenzo vai adorar conhecer o restaurante onde
os nossos pais comeram juntos pela primeira vez.
Mas isso vai demorar, mamãe tem planos para quando voltar a
trabalhar, as palestras que ela dá sobre gordofab... gordofobo... ah que
merda!! Gordofobia! Minha nossa! Mamãe não pode ler o que escrevi aqui
hoje, irá reclamar por me ver xingando até na escrita, mas ela pensa que não
a escuto falar palavrão de vez em quando.
A questão é que ela é uma mulher muito ocupada, papai a chama de:
mulher de negócios, mas ela nunca deixa de ter tempo para a nossa família,
nem papai. Nós fizemos uma promessa jurando bem juradinho, que a família
devia vir em primeiro lugar.
Falando nisso, Vicenzo também vai ter que jurar, mas ele ainda é
muito pequeno e grande demais para ter saído da barriga da nossa mãe. Eu
gosto dele, na verdade, amo aquela bolinha de sorvete, como diz papai.
Agora tenho um companheiro para brincar, vou ensiná-lo a maquiar o nosso
pai também.
fazer uma mágica e mandar colocar as minhas roupas dobradas nas gavetas
Papai disse que é preguiça minha, mas não vejo nada de mau em ser
preguiçosa! Descobri que não sou a única, minhas amigas também são.
Seguindo essa lógica, isso é mais do que normal, mas meus pais não
entendem!
Duvido que quando Vicenzo tiver a minha idade vai querer organizar o
quarto dele, aquele garoto tem carinha de sapeca igual ao meu pai, não é à
toa que são idênticos! O cabelo dele é tão dourado que dói os olhos devido
ao brilho, hahahaha! Mentirinha!!
sei o que seria de mim sem eles, até porque, os amos muitos e preciso que
continuem pagando as minhas contas até que eu atinja a maior idade.
Tenho muitos planos para a minha vida, por isso espero que ela seja
beeeeem longa! Enfim, este é o fim de mais páginas escritas com as minhas
aventuras e desventuras em série. Já estou bocejando... preciso ir, vou tentar
sonhar com a minha família completa na cidade luz.
Até logo,
au revoir,
goodbye.
Mário Lucas é piauiense, advogado, aventureiro e sonhador. Começou
a escrever aos quinze anos e agora não quer mais parar. “Na Redenção do
Advogado” é o seu sétimo e-book publicado, e já possui mais romances à
vista.
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NO SILÊNCIO DO CEO: SÉRIE
INTENSO DEMAIS – LIVRO 1
Quando criança, o homem que hoje possui trinta e oito anos, sofreu traumas
tão fortes e intensos que acabou psicologicamente perdendo a capacidade de
falar, apesar de não possuir nenhum problema físico que o impeça de emitir a
sua voz.
Mas essa situação não afeta em quase nada o “Senhor Silêncio”, assim é
conhecido na empresa, tendo as mulheres e os negócios na palma da sua mão.
Ele não consegue mais estabelecer relações sentimentais, a não ser com a
Mina Pacheco, é uma garota humilde de apenas dezenove anos, que trabalha
como assistente de professora na mais renomada escola de balé da cidade.
Seu dom para a dança nasceu com ela, um sonho que sempre a fez dar
piruetas com os quadris chamativos desde que se entende por gente, mas que
foi interrompido.
bailarina, tendo como motivação as suas pequenas alunas que sempre enchem
ela de amor, em especial a doce Alisa cujo o pai é um homem que Mina
nunca esqueceu e que sempre esteve em seus sonhos, Alejandro Javier.
independente. Não será necessário ler um livro para entender o outro. Serão
livros únicos. No Silêncio do CEO não terá continuação, a próxima história
será de outro personagem.
TEST DRIVE: SEU AMOR EM 30 DIAS
que poucos sabem, é que por trás de todo o sucesso profissional, Allie
Jackson se sente devastada na vida pessoal.
Será que trinta dias serão suficientes para conhecer a sua alma gêmea? Nada
melhor que um teste, mas há regras a serem seguidas.
também está próximo de ter seu mundo virado de cabeça pra baixo.
história que mescla três casais apaixonantes. Livro não recomendado para
menores de 18. Contém cenas de sexo explícito.
VICTOR: SÉRIE ALCATEIA - LIVRO 1
quente do perigo.
Mas a sua vida muda radicalmente quando ele descobre ser herdeiro de uma
grande fortuna deixada por um pai desconhecido. O jovem é levado a uma
casa luxuosa e passa a morar com Laura, a viúva, uma mulher cheia de
segredos e tentadoramente linda.
OBS: Esta história não se trata sobre lobos, não é uma fantasia! “Lobo” é
visto aqui no sentido figurado.
APOLO: SÉRIE ALCATEIA - LIVRO 2
Apolo Lobo, é um lindo jovem que apesar do rosto de anjo, possui a mente
Victor Lobo, viveu anos se sentindo o homem mais feliz e realizado de todos,
entretanto, a vida lhe mostrou que pode ser cruel arrancando-lhe a mulher
amada e o respeito do filho por uma mentira perversa. Agora, solteiro, tem a
sua carreira em ascensão e as mulheres que quer para satisfazê-lo apenas
Contudo, o que importa nesse momento é reestabelecer seu laço paterno com
Apolo, e quem sabe o destino lhe traga uma nova paixão.
Neste segundo volume da série Alcateia, pai e filho terão que redescobrir o
amor familiar e verão que possuem muita coisa em comum, principalmente
no quesito mulheres. Amor, sexo, traição e vingança se unem a cadCapítulo
tentadoramente.
OBS1: Este é o segundo livro da série, antes é preciso ler o primeiro, Victor.
OBS2: Esta história não se trata sobre lobos, não é uma fantasia! “Lobo” é
visto aqui no sentido figurado.
ERICK: SÉRIE ALCATEIA - LIVRO 3
muitas cenas quentes, e pode ser lido de forma independente dos demais.
Mas tudo muda quando Kelly, uma jovem astuciosa e linda, surge em sua
vida com más intenções, ela é uma aspirante a ladra, mas na falha tentativa de
roubá-lo, acaba se apaixonando por ele, sentimento este que deverá ser
provado com uma missão: Kelly agora terá que ajudar Erick contra um
inimigo que ameaça tomar o império da mãe dele, um resort hotel à beira-
mar.