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PSlCÚLOGO
CRP 06/B6338
utameia
Terceiras Estórias
PREFÁCIO
Aletria e herm
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.~ o
< realidade superior e dimensões paro mágicos novos sistemas de pensa- de chuva, e, como estivesse ;mto sentado debaixo de goteira, perguntou-
o
mento. -lhe o condutor por que não trocava de lugar. Ao que, inerme, humano,
"'
Não q11e dê toda anedota evidência Jefácil prestar-se àquela ordem inerte, ele respondeu:- "Trocar... com quem?"
ele desempenhos; donde, e como naturalmente elas se arranjam cm catc- J1enos ou mais o mesmo, em ethos negatim, versejo-se no copia:
" 90ria.-; ou tipos certos, quem sabe conviria primeiro ([UC a respeito se
'o lentasse qualquer razoável classiflCação. E há que, numa separação mal
C)
"Esta si que es callc, calk;
o
debuxada, caberia desde logo série assaz sugestiva - demais que já de calle de valor y mie<lo.
«
o si o droldtico responde ao mental e ao abstrato - a qual, a grosso, de Quiero entrar y no n1e dejan,
cômodo e até que lhe venha nome apropriado, perdôe talvez chamar-se quiero salir y no puedo."
de: anedotas <lc abstraç:ão.
Serão essas - as com alguma coisa excepta - as de pronta valia Mol'ente importante símbolo, porém, exprimindo possivelmente - e
no que aqui se (/Uer tirar: seja, o leite que a vaca não prometeu. Talvez tÍe modo novo oriflinal - a busca de Deus ( ou de algum f:.den pré-
porque mais direto colindem com o não-senso, a ele qfins; e o não-senso, -prisco, ou da restituição de qualquer Je nós à invulnerabilidade e
crê-se, reflete por um triz a coerência do mistério geral, que nos envol- plenitude primordiais) é o caso do narotinho, que, perdido na multidão,
ve e cria. A vida também é para ser lida. Não literalmente, mas em seu na praça, em festa Je quermesse, se aproxima de um polícia e, chora-
supra-senso. E a gente, por enquanto, só a lê por tortas linhas. Está-se mingando, indaga:- "Seo guarda, o sr. não viu um home1n e mna
a achar que se ri. Veja-se Platão, que nos dá o "Mito da Caverna". mulher sem um 1neninozinho assim como eu?!"
Siga-se, para ver, o conhecidíssimo .fiaurante, que anda pela rua, Entretanto e isso concerne com a concepção hegeliana do erro
empurrando sua carrocinha de ptw, quando al911ém lhe grita:· -- "Ma- absoluto? -- aguda solução foi a de que se valeu o in9lês, desesperado
nuel, corre a Niterói, tua mulher está feito louca, tua casa está já com as sucessivas Jàlsas ligações, que o telefone lhe perpetram: -
pegando fogo!. .." Larga o herói a carrocinha, corre, vôa, vai, toma a "Telefonista, <lê-me, por favor, um 'número errado' errado ..."
barca, atravessa a Baía quase ... e exclama:- "Que <liaho! eu não me Sintetiza em si, porém, próprio neral, o mecanismo dos mitos - sua
chamo Manuel, não moro em Niterói, não sou casado e não JOrmulação sens~ficadora e concretizame, de malhas para captar o in-
tenho casa ..." <·ognosdvel - a maneira de um sujeito procurar explicar o que é o
Agora, ponha-.<.e em ftio exame a estorieta, sanarada de todo burlesco, e relégr10-sem~fio:
tem-se uma fórmul.a à Kqfka, o esquelew algébrico ou tema nuclear de um - "Imagine um cachorro basset, tão comprido, que a cabeça
romance k'!Jkaesco por ora não ainda escTito. está no Rio e a ponta do raho em Minas. Se se belisca a ponta
De análogo pathos, balizando posição-limite da irrealidade existen- do rabo, cm Minas, a cabeça, no Rio, pega a latir... "
cial ou de e.<.lática angú.,;tia - e denunciando ao mesmo tempo a goma- "E é isso o telégrafo-sem-fio?" <
-arábica da língua quotidiana ou drculo-de-His-de-prender-peru "Não. Isso é o telégrafo com fio. O sem-fio é a mesn1a ,,
será aquela do cidadão que viajava de bonde, pa.,;sageiro Único, em dia e
coisa .. _ mas sem o corpo do cachorro."
e-"
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< Já de menos invenção valendo por "fallacia nem causae "Setnblent les feux de grands cierges, tcnus en main,
o
pro causa" e a ilustrar o: "ab absurdo sc9uitur quodlibct", Dont on n'aperçoit pas rnonter la tige immense."
" em aras da Escolástica - é afacécia Jo <liáloHo:
"< "Em escavações, no meu país, encontraram-se :fios Ou total, como nesta "adivinha': que propunha uma menina Jo
"O que é, o que é: que é melhor do que Deus, pior
'
o
de cobre: prova de que os primitivos habitantes conheciam sertão.
e; já o telégrafo ..." do que o diabo, que a gente morta come, e se a gente viva co-
o
'<
- "Pois, no n1eu, em escavações, não se encontrou fio mer morre?" Resposta: - "É nada."
o
nenhum. Prova de que, lél, pré historicamente, já se usava Ou seriada, como na universal estória dos"Dez pretinhos" ('Scvcn
o telégrafo-sem-fio." little ln<lians" ou ''Ten little Nigger boys"; "Dix petits né-
grillons"; "ZwOlf kleine Neger")* ou na quadra de Apporelly, ci-
E destoa o tópico, para o elementar, transposto em escala Je tada de memória:
in9ên11a hilaridade, chocarrice, neste:
"Joãozinho, dê um exemplo de substantivo concreto." "As minhas ceroulas novas,
-- "Minhas calças, Professora." ceroulas das mais modernas,
- "E de abstrato?" não têm cós, não têm cadarços,
não têm botões e não têm pernas."
- "As suas, Professora."
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< Comprei uns Óculos novos, 1lldo portanto, o que em compensação vale* C que as coisas não são
o
Óculos dos mais excelentes: cm si tão simples, se bem que ilusórias. "O erro não existe: pois que
" não têrn aros, não tên1 asas, enganar-se seria pensar ou dizer o que não é, isto é: não pensar
não têm grau e não têm lentes ... nada, não dizer nada" proclama genial Protánoras; nisto, Platão
"
'o Dis.rnada-se-nos porém de aplicar - por exame Je sentir, balanço
é do contra, querendo que o erro .ffja coisa positiva;aqui, porCm, sejamos
amifJOS de Platão, mas ainda mais amigos da verdade; pela qual, aliás,
"o ou divertimento-· a par~frase a mais Íntimo5 a:.suntos:
dina-se, luta-se ainda e muito, no pensamento 9re9O.
•<
o
Meu amor é bem sincero,
Pois, o próprio Apporelly, em vésperas da nacional e política desor-
amor dos mais convincentes:
....................... (etc.). dem, costumava hastear o r'!flão:
Com o que, pode o pilheriático efCito passar a drástico desilusio- "Há qualquer coisa no ar
nante. além dos aviões ria Panair., ."
Como nojàt.o do espartano - nos Apophthégmata lakoni- Ainda, por azo da triuf!_fàl chegada ao Rio do aviador Sarmento de
ká de Plutarco - que depenou um rouxinol e, achando-lhe Reires em raid transatlântico, estampou ele no "A Manha" ... uma.foto
pouca carne, xingou: "Você é uma voz, e n1ais nada!" normal da Guanabara, Pão de Açúcar, sob legenda: "O Argos, à entrada
Assim atribui-se a Voltaire - que, outra hora, diz ser a mesma da barra, quando ainrla não se o via ..." Mas um capítulo sobre o entu-
amiúde"o romance do espírito" -- a e.,;trcifàlária se9uime dtp.nição
siasmo, afé, a expectação criadora, podia epigrq_fàr-se com a braba piada.
--> de "metciflsica": "É um cego, com olhos vendados, num quar-
to escuro, procurando mn gato preto ... que não está lá."
Deixemos vir os pequenos em geral notáveis intérpretes, convo-
Seja quem seja, apenas o autor da blague não imaginou é que
cando-os do livro "Criança diz cada uma!", de Pedro Bloch:
o cego em tão pretas condições pode não achar o nato, que pensa
que busca, mas topar resultado mais importante - para Já da
tacteada concentração. E vê-se que nes.'w risca é que devem adian-
* AinJa uma adivinhu "abstrata", de Minas: "O trem chega às 6 <la manhã, e
anda sem parar, para sair às 6 da tarde. Por que é que não tem foguista?"
tar os koan do /en.
(Porque é o sol.) Anedóticu meramente.
F houve mesmo a áquica e ~f1caz receita que o médico deu a
Outra, porém,Jórnece vários dados sobre o trem: relocidade horária, pontos de
cliente neurótico:''R. / Uso int." / Aqua fontis, 30 e.e. I Illa
partida e de che9c1du, distância a ser percorrida; e termina: - "Qual é o nome do
repetita, 20 e.e. / Eadem stillata, 100 e.e. / Nihil aliunde, maquinista?" Sem respostu, só ardilosa, lemhra célebre koan: "Atravessa uma moça <
9. s." (E eliminou-se de propósito, nesta versão, o "Hidrogeni a rua; ela é a irmã mais velha, ou a caçula?" Apondo a mente u problemas sem ,
protoxidis", que fl9ura nou1.ras variantes.) saída, desses, o que o zenisti1 pretende é 11tin9ir o satori, iluminaçâo, estado aberto às <
e
;..
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< Blanchc scmcncc, puussiCrc, Nem é nada excepcionalmente maluco o 9aio descobrimento dopa-
e
1'ombrc du noir est amCrc ciente que, com ternura, Manuel Bandeira nos diz em seu livro '"Ando-
"
trempée de ton ahsence ... rinha, Andorinha":
,,
"Qyando o visitante do Hospício de .Alienados atravesmva uma sala,
,"< E realista verista estoutro "d~finição", abordando o nrosseiroformal, nu um louquinho de ouvido colado à parede, muito atento. Uma hora
o
C) externo à coisa, e dele, por necessidade pragmática, saltando a seu apo- depois, passando na mesma sala, lá estava o homem na mesma posição.
e
«
Jogai tj"eito fulminante: "Eletricidade é um fio, desencapado na :!cercou-se dele e perguntou: 'Que é que você está ouvindo?' O
e
ponta: quem botar a mão ... h'm ... finou-se!" louquinho virou-se e disse: 'Encoste a caheça e escute.' O outro
Mas reza pela erÍStica o capiar1 que, tentando dar a outro ideia de miou o ouvido à parede, não ouviu nada: 'Não estou ouvindo nada.'
uma electrola, emfim de eiforço se desatolou com esta intocável equação: l:'núio o louquinho explicou intriaado: 'Está assim há cinco ho-
,,,
"Você sahe o que é uma máquina ele costura? Pois a victrola 1".lS,
é muito diferente ..."• -1/lnal de contas, a parede são vertiginosos átomos, soem ser. Houve
Acima a9ora do vão risilóquio, toam otimismo e amor fati na con- /(Í até, não sei onde ou nos Estados-Unidos, uma certa parede que ir-
versa.fiada: r,Hliava, ou emitia por si ondas de sons, perturbando os rádios-ouvintes
"Vou-me encontrar, às 6, com un1a pequena, na esquina t'tc. O universo é cheio de silêncios bulhentos. O maluquinho podia
de Berribeiro e Santadara ..." lanto ser um cientista amador 4uanto um pnfeta a9uanlando se com-
-"Quem?" tilctasse séria revelação. Apenas, nós é que estamos acostumados com que
- "Sei lá 9ucm vai estar nessa esquina a essa hora?!" dS paredes é que tenham ouvidos, e não os maluquinhos.
Por onde, pelo comum, poder-se corrigir o ridículo ou o grotesco, até
Enquanto, com desconto, minimiza nota opressiva o exemplo de não- lerá-los ao sublime; seja daí que seu entre-limite é tão tênue. E não
-senso dado por Vinicius de Moraes, que o traduziu do inglês: ,crá esse um caminho por onde o pe~fcitÍSsimo se alcança? Sempre que
,ilgo de importante e arande se.faz, houve um silogismo inconcluso, ou,
"Sobre uma escada um dia eu vi 1l1,<1amos, um pulo do cômico ao excelso.
Um homem que não estava ali; Conflui, portanto, que:
Hoje não estava à mesma hora.
Tmnara que ele vá embora." Os dedos são anéis ausentes?
Há palavras assim: dcsintcgraç·ão ...
O ar é o que não se vê,jóra e dentro das pessoas.
O mundo é Dem estando em toda a parte.
* COROdRIO, em não-senso: O que respondeu o anspeçada, em exame para sua a
O mundo, para um ateu, é Deus não estando nunca em nenhuma parte.
prom()râo a caho-de-esquadra: "Parábola? f precisamente a trajetória do <
e
v,Í.cuo no cspaç·o."
Copo não bw,ta: é preciso um cálice ou dedal com água, para as =
wundes tempestades.
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< O O é um buraco não esburacado.
o
O que é - automatü.:amcntc?
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O avestruz é uma gir<!fa; só o que tem é que é um passarinho.
•<
Haja a barriga sem o rei. (Isto é: o homem sem algum rei na barriga.)
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Entre Abel e Caim, pulou-se um irmão começado por B.
o
e:, Se o tôlo admite, seja nem que um instante, que é nele mesmo que
o está o que não o deixa entender, já começou a melhorar em argúcia.
•<
o
A peninha no rabo do gato não é apenas "para atrapalhar".
Há uma rubra ou azul impossibilidade no roxo (e no não roxo). Antiperipléia
O copo com água pela metade: está meio cheio, ou meio vazio?
Saudade é o predomínio do que não está presente, diga-se, ausente.
Diz-se de um irjlnito rendez-vous das paralelas todas.
O silêncio proposital dá a maior possibilidade de música.
Se viemos do nada, é claro que vamos para o tudo.
Veja-se, vezes, prtffácio como todos 9ratuito.
Ergo:
O livro pode valer pelo muito que nele não deveu caber.
-E o ,ohoe qoe, me 1-,, d;e,~,e, às rid.J~;
1klongo. Tudo, para niim, é viagem de volta. En1 qualquer
ofício, não; o que eu até hoje tive, de que n1eio entendo egos-
Quo<l crat <lemonstran<lum. to, é ser guia de cego: esforço destino que me praz.
E vão 1ne deixar ir? Em dês que o 1neu cego seô Tomé se
passou, me vexam, por mim puxam, desconfiam discorrem.lo.
1(~1-ra de injustiças.
Aqui paran10s, os meses, por causa da mulher, por conta do
falecido. Então, prendam a mulher, apertem com ela, o marido
rufião, ai esses expliquem decerto o que nem se deu. A mulher,
terrlvel. Ddega<lo segure a alma <lo meu seô Tomé cego, se for
t ·apaz! Fie amasiava oculto com a mulher, Sa Justa, disso alguém
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