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Copyright © 2019 Vanessa Secolin

Capa: Islay Rodrigues

Diagramação: Vanessa Secolin

Leitura final: Karina Lima

Está é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Todos os direitos reservados. Este ebook ou qualquer parte dele não pode
ser reproduzido ou usado de forma alguma sem autorização expressa, por
escrito, do autor, exceto pelo uso de citações breves em uma resenha do
ebook.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/ 98 e


punido pelo artigo 184 do Código Penal.
O DESTINO – Livro 4
Série Bittencourt

Vanessa Secolin
1ª edição - 2019

Todos os direitos reservados.


Dedicatória

Para todos os leitores que acompanham e amam a série


Bittencourt.

E para aqueles que já tiveram o coração partido...


Índice

Dedicatória

Índice

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9
Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capitulo 16

Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Capítulo 23
Capítulo 24

Capítulo 25

Capítulo 26

Capítulo 27

Capítulo 28

Capítulo 29

Capítulo 30

Capítulo 31

Capítulo 32

Capítulo 33

Capítulo 34

Capítulo 35

Capítulo 36
Capítulo 37

Capítulo 38

Capítulo 39

Capítulo 40

Capítulo 41

Capítulo 42

Epílogo

Bônus especial

Agradecimentos

Próximo livro da série

Sobre a autora
Prólogo

Você já teve o coração partido? Se não, então sinta-se sortudo.


Amar parece tão belo enquanto se é lido ou visto em um filme, mas
nunca te preparam para a dor real que o amor causa. De todos os
sentimentos, o amor é o pior deles. — Era nisso que ele acreditava, para
Matthew Bittencourt se apaixonar foi seu maior erro.

Crescer em uma família onde seus pais demonstram se amar de


verdade, sempre fez com que o mais novo dos homens Bittencourt
desejasse isso também, um amor recíproco, forte e verdadeiro. Um
sentimento tão puro ao qual os dois se entreguem completa e
intensamente.

Esse desejo acabou se tornando um erro, afinal quando ele colocou


os olhos nela pela primeira vez, se encantou.

Emily foi encarregada de fazer um tour com ele pela universidade,


mas os únicos detalhes que ele prestava atenção eram nela.

Aquela mulher o enfeitiçou, o sorriso discreto e o leve rubor


deixavam-na ainda mais bela, as delicadas sardas no pequeno nariz e
ombros, os olhos tão verdes quanto esmeraldas recém-polidas e os
cabelos em um tom ruivo natural, tudo a tornava linda demais pelos
olhos dele.

Não sabia se era uma jogada mestre do destino, mas se atrasar no


dia anterior acabou fazendo com que o encontro dos dois acontecesse e a
paixão surgiu naquele instante.

Na época ele acreditou que ela também se sentiu assim, então se


entregou por completo achando que receberia o mesmo, mas doeu tanto
quando ele percebeu que não era essa a verdade. O pior de tudo não foi
o coração partido, mas sim a forma como ela o partiu, o estraçalhou.
Mesmo tentando todos os dias, esquecê-la parecia impossível,
Emily estava presente em seus pensamentos, quando fechava os olhos a
primeira coisa que via era o belo sorriso dela e se focasse um pouco
mais podia se recordar do som da sua risada com perfeição.

A mulher parecia estar impregnada nele, mesmo depois de quebrá-


lo ainda o tinha por completo, estava vivendo um vício incomum.

Como esquecer essa maldita mulher? — Era exatamente isso que


ele queria saber. Na tentativa de esquecê-la, ficava com outras mulheres,
sem compromisso, apenas prazer carnal, mas Emily sempre dava um
jeito de estar lá, em seus pensamentos, em seu maldito coração. Ele
acabava comparando, tentando achar em outra o que havia encontrado
só nela.

Sua família nunca soube da existência dela e esse foi o seu maior
acerto, não contar sobre ela foi sua melhor decisão, mas talvez se tivesse
contado, a apresentado, a dor ainda não seria tão forte, Emily não teria
mais tanto poder sobre ele, enfrentar isso sozinho o sufocava.

Talvez se eles soubessem, o ajudariam a perceber que não era um


amor verdadeiro, não é quando você se doa demais e não recebe o
mesmo.

Agora, depois que os três irmãos se comprometeram


verdadeiramente, o foco das mulheres estavam nele, a maioria por puro
interesse, o último solteiro dos Bittencourt. Algumas se aventuravam
tentando seduzir os irmãos, mesmo com o peso da aliança nos dedos,
mas era um fracasso, quando um Bittencourt se compromete, é intenso e
verdadeiro.

Depois de Emily, ele passou a detestar qualquer uma que tentasse


entrar no seu coração, sabia o quanto elas podem ser cruéis, usam a
sedução como uma espécie de feitiço para conseguir o que quer e
estraçalham o seu coração quando o tem por completo.

Disposto a nunca mais amar novamente, ele buscou sua melhor


defesa, as regras.
Cinco na verdade.

Bem tolas essas regras, mas até aquele instante nenhuma mulher
conseguiu ultrapassar nem a primeira delas.

Só que novamente o destino parecia ter interesse nele, estava o


convidando a jogar e tudo começou quando sua assistente resolveu
passar o fim de ano com a família em outra cidade e tirou férias,
disposto a não contratar outra por meros trinta dias, ele acreditou dar
conta, roubaria as dos irmãos caso fosse algo importante e inadiável.

Com isso, todas as manhãs passou a buscar o seu café no


Starbucks próximo a Bittencourt & Co., só que naquele dia em especial
ele estava atrasado, com fome e levemente estressado com a reunião
importante que não poderia perder em pleno sábado, a sorte não estava a
seu favor e tudo provou piorar quando uma loira, linda e louca tentou
despi-lo no meio da Times Square, em uma manhã fria ela acabou
ultrapassando mais regras do que Matthew gostaria...
Capítulo 1

O dom em fotografar foi herdado do pai, Alfonso Sulatte, já que a


mãe, Denise, era um desastre em capturar os melhores momentos.

Allana se recordava bem, certa vez quando seu pai tentava ensiná-
la a andar de bicicleta, a mãe ficara responsável por registrar com fotos
aquele precioso momento em família, mas das duas dúzias que ela tirou,
apenas uma fotografia foi aproveitada, na imagem Allana demonstrava
medo nos lindos olhos azuis acinzentados, porém o sorriso de Alfonso a
tranquilizou e foi quando ele soltou a bicicleta e deixou que ela
pedalasse sozinha, andar sem rodinhas com apenas cinco anos, na época
foi a sua maior conquista, mas ali, olhando incrédula para a tela do seu
notebook ela soube que o pai tinha razão.

As palavras dele a seguiam como um mantra: Você Allana nasceu


com um dom, nunca deixe que ninguém te diga o contrário, você tem um
talento para mostrar ao mundo.

Quase vinte anos depois, ela percebeu que o homem que mais ama
na vida estava certo. Um único e-mail fez seu dia ganhar mais cor, fez
seu sorriso dobrar de tamanho e fez seu coração se acelerar.

Expor suas fotos em Nova Iorque, é uma grande conquista.

Quando sua melhor amiga soltou um gritinho agudo e feliz, Allana


acordou de seus pensamentos e percebeu seus olhos cheios de lágrimas,
eram de alegria e satisfação.

Estava sendo reconhecida na sua carreira e a única coisa que ela


queria agora era pular no colo do pai e agradecer muito a ele, afinal só
descobriu seu dom quando ganhou sua primeira câmera profissional
ainda na adolescência.

— Meus parabéns Lana. — Suzy, sua melhor amiga, a puxou para


seus braços e a apertou feliz.

— Eu... Eu ainda não acredito nisso. — Allana falou incrédula.

— Eu nunca duvidei de você e do seu talento.

— São muitas pessoas e logo eu fui a ganhadora.

— É que de muitas, você é a melhor. — Suzy falou convicta, com


certeza Allana nasceu para a fotografia, esse prêmio foi apenas o
primeiro de muitos.

— Tenho uma semana para estar em Nova Iorque, tenho que


organizar tantas coisas, separar os meus melhores trabalhos... Meu Deus
Suzy, não sei se darei conta. Quando me inscrevi, não achei que
ganharia. — Ela colocou as duas mãos na cabeça, começando a surtar.

— Apenas se acalme e respira, sei que dará conta sim. — Suzy


puxou Lana para seus braços novamente e a abraçou apertado, conhecia
tão bem a melhor amiga que sabia o quanto precisava de amparo nesse
momento.

— Dará conta de quê? — A voz de Solange, mãe da Suzy, chegou


aos ouvidos das meninas.

— Ouça isso mãe — Suzy se jogou na cama de Allana e começou


a ler o e-mail em voz alta, o tom orgulhoso estava explícito na voz
bonita e rouca dela. — É com imenso prazer que a New York Photo
Gallery avisa que você, Allana Sulatte, é a ganhadora do nosso primeiro
concurso intitulado “Jovens Talentos”. Nossa equipe ficou muito
satisfeita com as prévias enviadas e ficaremos honrados em apresentar o
seu talento em um evento especial...

Solange soltou um gritinho empolgado, idêntico ao da filha.

— Meu Deus minha filha, é sobre aquela inscrição que você fez?

— Sim. — Allana respondeu com a voz embargada, o olhar


orgulhoso que Solange estava a deixou emotiva demais.
— Foram centenas de inscrições e a nossa garota foi a escolhida.
— Suzy voltou a falar, toda contente.

— Falta pouco, muito pouco para eu surtar. — Allana


confidenciou.

— Não precisa surtar, sei que tirará de letra, tenho certeza que
onde quer que Alfonso e Denise estejam, eles estão muito orgulhosos de
você. — Solange a apertou em um abraço maternal delicioso.

Allana deixou as lágrimas caírem, tudo o que ela mais queria era
ter os pais ali, comemorando com ela essa nova conquista. Com certeza
eles fariam questão de estar em Nova Iorque com ela, em um dos
melhores momentos da sua vida.

— Eu sei tia, queria tanto que eles estivessem aqui.

— Eu também filha, sua mãe era a minha melhor amiga, sinto


tanta falta dela — ela começou a secar as lágrimas de Allana, — mas
agora não é hora de lágrimas, coloca um lindo sorriso nesse belo rosto e
organize a sua ida.

— Suzy você irá comigo, não é? — Allana a olhou esperançosa.

— Meu bem é óbvio, quero estar com você nesse dia especial.
Serei o porto seguro que você precisa.

As três deram um abraço coletivo, Solange olhou orgulhosa para a


filha, Suzy e Allana eram como irmãs, mesmo não existindo o laço de
sangue, as duas se consideravam.

Allana sempre amou capturar os melhores momentos com sua


câmera, uma das principais razões é a cidade onde nasceu e foi criada:
Genebra, um lugar lindo, com paisagens magníficas, onde um belo
retrato se torna uma obra de arte perfeita.

Fora nessa cidade que viveu os melhores dias de sua vida ao lado
dos pais já falecidos, de Suzy, Solange e alguns amigos, mas nunca
imaginou que o seu trabalho seria reconhecido fora de sua terra, tão
longe.

Mesmo assim irá arriscar, esse é o seu sonho e não será agora que
irá desistir pelo simples fato de sentir medo do desconhecido.

∞∞∞

Ser a escolhida trouxe além do reconhecimento profissional,


algumas regalias.

A hospedagem em um hotel cinco estrelas é uma delas, e Suzy


amou quando abriu a porta com o cartão magnético e deu de frente com
duas camas enormes disponíveis para elas.

— Eu só quero dormir. — Ela se jogou de costas em uma das


camas e abriu os braços.

Ambas desembarcaram em Nova Iorque bem cedo e como o


evento seria só no fim do dia, as meninas ainda teriam tempo para
aproveitar a grande cidade, mas pelo visto esse não era o plano de Suzy.

— Eu estou ansiosa demais para conseguir dormir, mas aproveite e


descanse, nossa noite será longa. — A loira colocou as malas próxima a
sua cama temporária e olhou para a amiga que não se incomodou em
abrir os olhos quando perguntou:

— Vai sair?

— Vou comprar um café.

— Você ainda vai morrer por causa desse vício. — Suzy falou
ainda de olhos fechados.

A loira sorriu alto, poderia morrer, mas nunca abriria mão do seu
bom e velho café.
— Pelo menos eu morrerei feliz. — Allana fechou a porta do
quarto antes que Suzy voltasse a reclamar do único vício que ela tem.

Enquanto andava pela Times Square, a procura de um Starbucks,


ela apreciava aquele momento, nunca estivera ali e tudo parecia tão
comum para as pessoas que passavam apressadas ao lado dela, umas até
esbarrando e nem se importando em se desculpar.

Quando ela avistou um estabelecimento, ela adentrou o local e


olhou ao redor sorrindo admirada.

Com certeza esse é o lugar dos sonhos para os cafólotras, Allana


pensou apreciando o aroma do local.

Estava pegando a mania de Suzy, já que segundo a melhor amiga,


dar aquele nome aos viciados em café era justo.

Já que quem é viciado em bebidas alcoólicas, é alcoólatra.

E quem é em chocolate, é chocólatra.

A espetacular Suzy constatou que quem é viciado em café, é


cafólotra. Simples assim.

Como no dia em que Allana ouviu isso, ela voltou a sorrir.

Se não fosse pelo apoio de Suzy, a jovem loira nunca teria


conseguido superar a morte dos pais, a cada dia que acorda ela lembra
deles, a dor da perda ainda existe, mas ela conseguiu continuar com a
vida, encontrando apoio em Suzy e em Solange, a melhor amiga da sua
mãe que lhe deu teto quando ela ainda era órfã com dezesseis anos.

Tão perdida em pensamentos, Allana não viu o olhar atento da


atendente sobre ela.

— Posso ajudar senhorita? — A jovem mulher perguntou.

— Quero um café puro, com açúcar. — Ela fez o pedido.


Não demorou muito e seu café já estava em sua mão, ela pagou e
saiu do Starbucks de cabeça baixa, guardando seu troco na bolsa, a loira
não percebeu quando esbarrou em alguém, virando todo o seu café
quente na pessoa.

— Meu Deus. — A voz rouca dele foi ouvida.

Completamente sem graça, Allana não ousou levantar o olhar para


o rosto do homem.

— Me desculpe, me perdoe mesmo eu não vi você, eu estava


distraída e nem percebi... — Ela começou a falar nervosa.

— Tudo bem. — O tom dele foi calmo e gentil, mas nem isso a
acalmou.

— Eu te queimei. Precisa tirar essa roupa agora. — Ela falou


começando a desabotoar a camisa social dele.

O homem paralisou com o toque de Allana, ela tinha sim o


queimado, mas a loira desesperada na sua frente o deixou sem reação.

Quando Lana se tocou do que estava fazendo ela parou


bruscamente, seus dedos estavam no quarto botão da camisa dele, os três
primeiros ela já havia soltado e isso deu a visão de uma parte do peito
dele. Foi impossível não notar o quão em forma ele está.

— Me desculpe de novo, eu não deveria te despir assim. — Ela


corou e o olhou, os olhos acinzentados dela se fixaram em um azul
cobalto intenso demais.

Descendo o olhar ela notou que ele sorria. Dentes alinhados e


brancos. Um belo sorriso.

Descendo um pouco mais o olhar ela viu o estrago que tinha feito
na camisa dele, nem o terno que estava aberto seria capaz de cobrir.

— Me desculpe mesmo, eu te sujei todo, se quiser eu posso lavar.


— Após se oferecer para isso ela lembrou que não tinha como lavar, ela
estava em um hotel, só se levasse em uma lavanderia, mas ele teria que
ficar sem a camisa para ela tentar arrancar a mancha.

— Não precisa se preocupar, caiu mais no chão do que em mim,


eu estou um pouco atrasado, mas tenho uma roupa reserva no escritório.

Ela deu passagem para ele entrar no Starbucks, mas o homem


apenas assentiu e caminhou para longe.

Allana ficou paralisada no lugar, olhando aquele desconhecido se


distanciar mais e mais dela.

O sorriso dele ficou nos seus pensamentos e ela acabou sorrindo


também...
Capítulo 2

Allana ainda estava pasma com sua reação diante daquele


homem, ainda não acreditava que tudo aquilo realmente aconteceu, o
coração estava acelerado e a sua vontade de beber café tinha sumido.

Voltou para o hotel sem a sua bebida favorita, queria conversar


com Suzy, contar o mico que tinha acabado de passar, mas a melhor
amiga dormia aconchegada nos inúmeros travesseiros.

Lana suspirou frustrada.

Qual a chance de eu vê-lo novamente? — Se perguntou quando


entrou no banheiro do hotel, a mão que segurava o café estava melada e
levemente avermelhada, tinha se queimado também, mas não deu
importância para isso, estava focada demais em despir aquele homem.

Deus e que homem.

Olhando a necessaire viu que não tinha creme para queimadura,


teve que deixar ardendo e apenas lavou com água corrente, a sensação
melhorou bastante.

Quando Suzy acordou faltavam apenas duas horas e meia para o


início do evento, Allana tinha acabado de se encontrar no restaurante do
hotel com Desiree Beaumont, a dona da New York Photo Gallery, a
elegante mulher é francesa, sorridente e com olhar maternal, logo de
início as duas se deram bem e Allana amou perceber que a senhora
ocupada fizera questão de conhecê-la antes do evento para garantir que
tudo já estava organizado.

Como Lana era um desastre na arte de se maquiar, Suzy a usava


como boneca, mas no fim o resultado era espetacular.

— Você deveria se especializar nisso e não apenas em jornalismo.


— Lana comentou enquanto fechava o zíper lateral do seu vestido.

— Isso é um hobby, minha paixão é o jornalismo, assim como era


a do meu pai. — Suzy comentou nostálgica, o tema pai era delicado para
se tocar.

— Poderia fazer um freelance, você tem talento para isso. — A


loira teimou enquanto se admirava de corpo inteiro no espelho.

A peça elegante que lhe caia perfeitamente foi escolhida por Suzy,
tudo em Allana gritava sexy, mas sofisticada. O tom é champanhe,
acompanhado de uma grande fenda lateral na perna esquerda e um
decote em “v” discreto, a peça é longa e requer o uso de um salto
altíssimo.

— Quem sabe um dia? — Suzy retocou o batom e deu uma


voltinha. — E aí como estou? — perguntou se exibindo.

— Vestida para matar. — Allana respondeu a admirando, Suzy


escolheu um vestido acima do joelho, ombro a ombro, no tom azul
marinho com a saia rodada.

— Perfeito, quem sabe eu saia de lá acompanhada? — Ela deu


uma piscadinha sapeca e Allana corou quando se recordou do ocorrido
mais cedo.

— Eu não te contei uma coisa — começou enquanto pegava a


bolsa e conferia as joias delicadas.

— O quê? — Suzy perguntou curiosa.

— No caminho te conto, não quero me atrasar.

As duas deixaram o quarto de hotel e enquanto o táxi percorria a


movimentada avenida de Nova Iorque, Allana começou a narrar o
ocorrido.

— Minha primeira vez em Nova Iorque e eu fiz uma coisa dessa


— finalizou sussurrando para tentar evitar que o motorista ouvisse.
A melhor amiga que não sabe o que é discrição gargalhou alto,
chamando a atenção do homem para as duas, Allana sorriu amarelo para
ele que logo desviou o olhar do retrovisor.

— Essas coisas acontecem amiga, ainda mais com você. — Suzy


falou depois de receber uma carranca em resposta ao seu riso.

— Coisas assim acontecem, mas ninguém fica tirando a roupa dos


outros em plena luz do dia. — Ela relembrou.

Estava tão nervosa, focada em livrá-lo da camisa encharcada de


café quente, que nem ao menos apreciou a vista do corpo exposto
daquele desconhecido.

— A única coisa que consigo te dizer agora é, que vergonha


alheia. — Suzy quis rir de novo, mas o tapa que ela ganhou no ombro a
impediu.

— Engraçadinha, cadê o meu porto seguro e tudo o mais? —


Allana cobrou.

— Serei sempre seu porto amiga, assim como você é o meu, mas
não dá esses vacilos não. — A morena sorriu.

— Um dia você fará algo assim e serei eu quem vai rir.

— Você não precisa se martirizar, a possibilidade de revê-lo é bem


pequena, então não tem que se preocupar.

Allana apenas suspirou desanimada, ela queria revê-lo, nem que


fosse apenas para olhá-lo ou voltar a se desculpar, mas queria aquele par
de olhos azuis cobaltos fixos nela novamente.

∞∞∞

Assim que o taxista estacionou em frente a galeria, os olhos de


Allana brilharam.

Era o seu maior sonho se realizando e isso não tinha preço.

A entrada estava lotada com a impressa, Allana sorriu para alguns


e respondeu algumas perguntas, tais como:

É sua primeira exposição? Sim.

Tem alguma ligação com Desiree Beaumont? Ainda não. Apenas a


exposição.

Pretende ficar em Nova Iorque ou voltará para o seu país? Voltarei


para a Suíça.

O segurança as conduziu para dentro da galeria.

— Eu não esperava por tudo isso. — Allana comentou surpresa e


olhou para a infinidade de câmeras sendo disparada em sua direção.

— É normal isso acontecer em grandes eventos como esse. — O


segurança comentou e abriu a porta que dava acesso ao salão principal.
— Boa noite senhoritas. — Suzy deu uma piscadinha para ele e Allana
agradeceu com um sorriso.

O imenso salão disponibilizava diferentes trabalhos de Allana em


pontos estratégicos, chamando a atenção. A cada passo dado ela se
orgulhava mais, para ser mais perfeito que isso era preciso ter os pais ali.

Assim que Desiree Beaumont viu a artista da noite chegar, ela


caminhou com passos elegantes até as meninas.

— Allana, como é bom revê-la. — Desiree a beijou no rosto, ela


ostentava um vestido negro longo, totalmente de seda.

— Digo o mesmo Desiree, essa é Suzy, minha melhor amiga. — A


loira apresentou as duas e Desiree não estranhou quando Suzy a
cumprimentou calorosa com um abraço.
— É um prazer querida. — A fala da francesa foi cortada quando
sua assistente parou ao lado dela e sussurrou algo em seu ouvido. —
Estão nos chamando para uma sessão de fotos. — Desiree comentou
com Allana.

— Claro vamos. — Ela arrastou Suzy junto, afinal queria registrar


esse momento e a melhor amiga era parte essencial.

— Exposição especial de Allana Sulatte. — Suzy leu o sofisticado


cartaz preto com elegantes letras douradas.

Allana sorriu e apertou a mão da amiga, querendo ter certeza que


tudo isso era real e unicamente para ela.

As primeiras fotografias foram com Desiree, Allana e Pierre, o


único filho da francesa e herdeiro da galeria.

Quando a senhora Beaumont teve que se retirar, Allana posou com


Suzy e algumas vezes com Pierre novamente, até o fotógrafo declarar
que já estava perfeito.

A loira não deixou de reparar na troca de olhares entre a melhor


amiga e o herdeiro francês gato.

— Pelo visto você vai sair acompanhada daqui mesmo. — Lana


falou quando as duas ficaram sozinhas.

— Não dele, o homem é um pedaço de mau caminho, mas parece


que não foi com a minha cara. — Suzy comentou fingindo pouco caso.

— Acho que foi sim, ele está vindo para cá. — Allana contou
animada.

Suzy não ousou olhar para trás, ela simplesmente saiu em busca de
uma bebida, deixando a artista da noite sozinha com o francês.

— Está gostando? — Ele perguntou.

— Estou amando. — Os olhos dela brilharam felizes.


— Minha mãe está encantada por você e quando isso acontece é
para sempre. — Ele comentou.

— Sua mãe é muito gentil, eu a adorei também.

— Fico feliz. — Pierre concordou e mudou de assunto. — Desde


quando você se apaixonou? — Ele perguntou para a surpresa dela.

— Como assim? — Ela mostrou sua confusão com um franzir de


sobrancelhas.

— Desde quando se apaixonou pela fotografia? — Ele foi mais


claro.

— Ah sim! Desde sempre, cresci vendo a paixão do meu pai em


fotografar e quando ganhei a minha primeira câmera eu soube que nasci
para isso também. — Ela foi sincera.

— Qual é a sua preferida? — Pierre perguntou e Allana o


conduziu até a imagem.

Assim que chegou no grande salão a primeira fotografia que ela


localizou foi a sua favorita.

— Essa, eu tenho uma paixão por ela. — Allana comentou


olhando para a imagem.

Tamanha foi a sua surpresa quando ela se virou e na entrada do


grande salão, o mesmo par de olhos azuis cobaltos de mais cedo estavam
fixos nela. Era ele.

Era como se algo os unisse em meio à multidão.

Pierre saiu de foco, todos ao redor saíram, sua atenção estava


unicamente nele e os olhos dele não se desgrudavam dela também.

Ao contrário da loira que o olhava surpresa, o homem


desconhecido a encarava seriamente, parecendo preocupado até.
Poderia ser coincidência? Ou será o destino?

Quando Pierre a tocou no ombro, Allana desviou o olhar daqueles


olhos azuis intensos e encarou o negro brilhante do francês.

— Um grande amigo chegou, nos falamos depois. — Ele se


despediu e caminhou em direção ao desconhecido que ela derrubara café
mais cedo.

Foi só quando Pierre segurou a mão de uma loira fenomenal e a


beijou que Allana percebeu, o homem que ela despiu em plena luz do
dia estava acompanhado.

A elegante acompanhante ainda segurava o braço daquele


desconhecido que ela queria tanto rever.

Saber que ele estava ali deixou-a nervosa, Lana desviou o olhar e
encarou sua obra.

Ela não entendia o motivo das mãos trêmulas, das pernas bambas e
do coração acelerado.

Talvez seja vergonha — pensou respirando fundo.

— É a mais linda na minha opinião. — A voz já conhecida


chamou a atenção dela. Allana poderia jurar que sentiu um duplo sentido
na frase.

Ela se virou lentamente para olhá-lo.

Se mais cedo ele estava lindo vestindo o terno aberto e sem


gravata, agora poderia ser comparado com um deus grego. Ele está com
um smoking preto alinhado ao corpo, os olhos azuis estão ainda mais
intensos e quando ele sorriu para ela, a loira se pegou encarando aqueles
lábios.

— É a minha favorita. — Ela comentou, ainda com os olhos fixos


nele.
O moreno a sua frente se aproximou mais um passo, deixando que
o delicioso perfume masculino embriagasse a artista da noite.

— Sou Matthew Bittencourt — apresentou-se para ela...


Capítulo 3

A loira admirou o nome, combina com ele, tão atraente quanto.


— Allana Sulatte. — Ela aceitou o aperto de mão e os dois se
encararam novamente.

O toque foi diferente, quente, eletrizante e a troca de olhares foi


intensa demais.

— Eu imaginei que você fosse a artista da noite. — Ele comentou


desviando o olhar e o toque do dela, para encarar o retrato na frente dos
dois.

— Por quê? — Ela ainda o olhava, curiosa.

— A forma que você olha para o seu trabalho, demonstra tanto


amor e admiração pelo que faz. — Ele foi sincero e a olhou.

— Eu sou apaixonada pelo meu trabalho, amo cada uma das


minhas fotografias, mas essa — ela desviou o olhar dele e olhou para o
belo retrato — é especial.

Matthew viu os olhos dela brilharem nostálgicos, estava encantado


com a beleza de Allana e sem ele permitir, a loira já tinha ultrapassado
três das suas preciosas regras.

Como ele ficou em silêncio apenas olhando-a pensativo, Allana


prosseguiu:

— Ela foi tirada na última férias que tive com os meus pais,
estávamos acampando, me lembro que quando vi a paisagem, eu corri
para pegar a minha câmera. — Ela sentiu seus olhos marejarem e
engoliu em seco.
— Quantos anos você tinha? — Matthew perguntou, percebendo o
quão emocionada ela estava.

— Quinze, foi quando meu pai me deu a minha primeira câmera


profissional. Ele disse que conhecia um lugar perfeito para estrear o meu
presente, então nos levou para acampar lá, eu me apaixonei pela vista, a
neve cobria apenas uma parte da montanha, as árvores estavam com o
contraste perfeito e a água do rio, tão cristalina que refletia as nuvens
branquinhas do céu, foi quando eu fotografei, daquele dia em diante essa
se tornou a minha favorita. — Allana já não estava mais ali, enquanto
narrava o momento se permitiu viver aquilo novamente, o som gostoso
da risada da mãe enquanto o pai reclamava por estar armando a barraca
sozinho, o cheiro de terra molhada e ar puro, o leve crepitar da fogueira
para deixá-los aquecidos e por fim a fotografia.

A loira só percebeu que uma lágrima solitária rolou no seu rosto


quando sentiu o toque de Matthew secando-a.

— Eles devem sentir muito orgulho de você. — Ele comentou


quando ela o olhou.

— Tenho certeza que eles sentiam sim. — Allana sorriu tentando


esconder a tristeza.

Nesse momento Matthew percebeu a razão de aquela ter sido a


última férias dela com os pais.

— Eu sinto muito pela sua perda. — Ele sabia que essas palavras
não ajudavam em nada, mas foi sincero.

— Obrigada Matthew. — Ela voltou a olhar para a fotografia,


dessa vez deixando um sorriso escapar.

Quando o pai viu o retrato ele ficou muito orgulhoso, alegando


que realmente o talento foi herdado dele.

— Você lembra muito a Megan, ela também ama fotografias.


Allana estava prestes a perguntar quem é Megan, quando Desiree
se aproximou dos dois, interrompendo a conversa.

— Vejo que já conheceu o Matthew. — Ela comentou olhando


para Lana.

— Eu tive esse prazer. — A loira foi educada e sorriu gentil para a


anfitriã da noite.

— Uma pena seus pais não terem vindo, mas foi por um bom
motivo afinal. — Desiree se dirigiu a Matt, dando uma piscadinha
elegante para ele.

— Na próxima semana eles já estarão de volta das férias. — O


Bittencourt explicou.

Seus pais nunca passavam o Dia de Ação de Graças fora.

— Fico feliz que você e Megan tenham vindo. — Desiree sorriu


gentil para ele.

Allana ficou prestando atenção no diálogo e não deixou de notar


que aquela loira linda que o acompanhou no evento, é a mesma que ele
citou antes da chegada de Desiree.

Megan.

— Allana querida, todas as obras já estão esgotadas. Essa foi a


mais pedida. — A mulher olhou para o retrato enquanto falava.

Lana sorriu agradecida, sua noite nem tinha começado e suas obras
já estavam esgotadas.

Quando Desiree se afastou deles, Matthew comentou:

— Parabéns.

— Obrigada Matthew, às vezes nem acredito que meu sonho se


realizou.
— Pois acredite, é o seu talento sendo reconhecido.

Ela sorriu para ele, não sabia o que nesse Bittencourt que o tornava
tão cativante, algo nele a puxava, era como se o conhecesse a muito
tempo, não apenas naquela manhã desastrosa e nesse início de noite.

— Quero te apresentar uma pessoa. — Ele falou olhando para ela,


que apenas aceitou com um aceno.

Allana caminhou ao lado de Matthew, que vez ou outra orientava a


direção correta com um toque gentil em sua cintura.

Enquanto andava entre os convidados, ela sorria para alguns e


agradecia os elogios de outros, completamente relaxada, mas quando ela
notou em qual direção Matthew a conduzia ela se tensionou.

Queria apresentá-la para a tal Megan.

— Ei Megan essa é Allana, a fotógrafa homenageada. — Assim


que Meg se virou, Lana deu de frente com lindos e grandes olhos azuis
claros, e um belo sorriso.

— Muito prazer. — A mulher a apertou em um abraço gentil e


Allana correspondeu o gesto.

— O prazer é meu.

— Pierre ia me apresentar a você, mas o Matt já tinha roubado


toda a sua atenção. — Megan o tocou no ombro, íntima.

Allana não deixou de notar isso e sorriu sem graça.

— Sim, estávamos comentando sobre o meu trabalho.

— Que é incrível por sinal, eu mesma encomendei alguns para


decorar a minha casa e a dos meus irmãos. — Ela comentou orgulhosa.

— Eu agradeço, estava conversando com o seu... — Allana parou


de falar, olhando de Matthew para Megan, não sabendo como completar
a frase.

Namorado? Noivo? Marido?

— Irmão, Matthew e eu somos irmãos. — Megan explicou e sorriu


satisfeita quando percebeu o alívio de Allana.

— Ah sim, ele me disse que você também ama fotografias. —


Allana ruborizou, sentindo o olhar de Matthew fixado nela.

— Sim, é uma das minhas paixões, mas estou cursando designer


de moda. — Ela contou orgulhosa.

— É a profissão que mais combina com você irmã, ela não pode
ver uma pessoa se arrumando, que já se intromete. — Matthew tirou
sarro e ganhou um tapa no ombro.

— É verdade, eu amo ajudar e te salvei diversas vezes por causa


disso. — Megan sorriu para ele.

Allana notou o quanto os dois se amavam.

A vontade de ter um irmão ou irmã sufocou o peito, se tivesse,


toda a dor que sofreu com a perda dos pais poderia ter sido um pouco
mais amena, afinal teria alguém com quem recordar as rotinas diárias da
família.

— Designer de moda é uma excelente escolha de profissão


também. — Allana falou, mudando o foco dos seus pensamentos, antes
de se entristecer.

— Eu concordo. Terá um desfile no mês que vem, não será com os


meus desenhos ainda, mas é do designer que sou estagiária, você deveria
ir. — Megan deu a ideia e olhou com expectativa para Allana.

— Eu já terei voltado para casa, não estarei mais em Nova Iorque.


— Allana comentou com pesar.

— De onde você é? — Matthew perguntou curioso.


— De Genebra, na Suíça. — Ela respondeu e o olhou.

Matthew assentiu, parecendo um pouco desapontado.

— Uma pena que não poderá ir, mas eu colocarei o seu nome na
lista, caso mude de ideia. — Megan deu uma piscadinha sapeca.

— Eu agradeço. — Allana ruborizou novamente.

Ela sabia que não iria para esse desfile, que não sairia de Genebra
tão cedo após essa exposição, mas sorriu e agradeceu educada.

— Vou colocar uma acompanhante, aí você pode levar uma


amiga. — Megan continuou planejando empolgada e Allana não deixou
de notar que ela se referia a uma amiga como acompanhante.

Matthew também não e foi quando ele semicerrou os olhos na


direção da irmã, tentando descobrir o que ela tramava naquela cabecinha
rebelde.

— Se me dão licença, eu preciso cumprimentar alguns convidados.


— Allana falou quando Pierre fez um aceno de cabeça discreto para ela.

Matthew se despediu com um beijo casto no rosto da fotógrafa,


que o olhou nos olhos.

Tão lindo...

— Depois nos falamos mais. — Megan foi mais empolgada e a


abraçou. — Gostei de te conhecer Allana, sinto que nos veremos mais
vezes.

— Eu também gostei Megan. — Ela se afastou dos dois.

Matt a observou caminhar elegante até Pierre que a segurou pela


cintura e a levou em direção a alguns convidados.

— O amor demora, mas sempre aparece. — Megan comentou


alegre.
— Do que você está falando? — Ele desviou o olhar para a irmã.

— Você está com aquele mesmo sorriso besta do Chris, Elli e


Ethan. Pelo visto eu acabei de conhecer a minha quarta cunhada. —
Meg suspirou sonhadora.

— Sei que sorriso é esse, aquele que você também fica quando o
Miguel está por perto. — Matthew a provocou, mas voltou a olhar para
Allana, que dessa vez estava acompanhada de Suzy.

Megan o encarou inconformada.

— Como você consegue ser chato. — Ela reclamou.

— O que é maninha? Não sabe brincar guarda o carrinho.

Megan o estapeou no ombro, não ligou para os convidados


próximos e quando Matthew riu, ela riu também.

— Miguel é apenas meu amigo, Henrique se apegou a ele, por isso


ele é próximo de nós.

— Só o seu filho quem se apegou a ele? — Matthew arqueou as


sobrancelhas, daquele modo que sabe das coisas e sorriu mais ainda com
o bico que Megan fez.

— Somos só amigos. — Ela comentou não tão certa disso.

— Nem você acredita nisso, ele é o pai do Henrique, mesmo que


não de sangue, o menino se apegou a ele e o ama como pai. Miguel
gosta de você, não perca mais tempo, ele não vai te esperar para sempre.
— Matthew foi sincero e percebeu quando a irmã ficou pensativa...
Capítulo 4

O par de sandálias altíssima castigavam os seus pés, mas nem


isso desanimou Allana, que a cada cumprimento e felicitação, sorria
sincera.

Quando ela se aproximou de Suzy, só em olhar para a amiga ela


percebeu que uma enxurrada de perguntas estava a caminho.

— Por que você está toda corada? Quem é aquele bonitão que
estava com você?

Enquanto Suzy falava, Allana voltou a olhar na direção de


Matthew e ele já a olhava, em um gesto educado ele levantou a taça de
champanhe para ela, que fez o mesmo.

— Allana eu estou falando com você. — Suzy reclamou


cutucando-a.

— Desculpe, eu estava distraída.

— Sei a razão da sua distração, quem é aquele homem que está


praticamente te comendo com o olhar? — Suzy perguntou provocando e
percebeu quando a amiga ficou ainda mais vermelha.

— O que você estava falando? — optou por desconversar, afinal


para ela falar sobre aquele moreno que estava com os olhos azuis
pregados nela, seria difícil, Matthew Bittencourt estava conseguindo
tirar o ar da jovem loira.

— Sobre o Pierre me chamar para sair. — Suzy comentou como se


não fosse nada, mas Allana quase engasgou com sua bebida.

— O Pierre? Filho da Desiree? — perguntou para ter certeza.


— Oras sim, aquele francês.

— Mas você disse que ele não foi com a sua cara. — Allana
comentou confusa, mas realmente tinha notado a troca de olhares entre
os dois.

— Foi a minha primeira impressão, mas ele me trouxe uma bebida


e começamos a conversar, quando eu disse que era a minha primeira vez
na cidade, ele se propôs a me apresentar lugares legais.

Os olhos acinzentados de Allana se arregalaram.

— Você não perde tempo — comentou sorrindo.

— Eu sempre fui assim, você bem sabe. Por que não vem
conosco? — Suzy sugeriu e tomou mais da sua bebida.

— Sabe que eu não posso. — Allana respondeu pensativa.

— Amiga é a sua noite, você deve comemorar que as obras já


foram esgotadas, deveria se divertir também. — Suzy insistiu, mas a
loira continuou pensativa.

— Eu estou cansada, só quero ir para o hotel e dormir. — Voltou a


negar.

— Logo iremos embora, você deveria se divertir e conhecer a


cidade, não sabemos quando iremos voltar. — Suzy a segurou nos
ombros e a olhou nos olhos.

— Você sabe que eu não posso. — Allana encarou a taça, o olhar


castanho da amiga era intenso e desafiador demais.

— Se divertir e conhecer novos lugares não significa ficar com


alguém, apenas dançar, beber um pouco e relaxar.

Suzy estava quase conseguindo convencê-la, mas Allana se


decidiu e falou firme:
— Eu irei para o hotel, mas você vai se divertir por nós duas. —
Ela deu uma piscadinha sapeca e Suzy bufou, cedendo.

— Você é tão certinha, acredito que é por isso que sempre nos
demos bem, afinal eu sou a doida, explosiva, que fala e faz sem pensar,
já você é totalmente diferente.

— Da dupla uma deve ter juízo. — Allana riu com a careta que
Suzy fez.

— Por isso você deveria ir comigo hoje, vai que eu beba demais e
acabo me perdendo na cidade? Quer a minha mãe te culpando para
sempre? — Suzy arqueou as bonitas sobrancelhas.

— Sei bem onde você vai se perder, nos braços daquele francês
ali. — Lana indicou Pierre com um aceno discreto.

— Seria louca se negasse. — Suzy gargalhou. — Então você vai?

Allana suspirou cansada de toda essa insistência, o olhar dela caiu


sobre Matthew que estava na companhia de Desiree, como se fosse
automático, ele a olhou também, sorrindo quando o olhar dos dois se
encontraram.

— Tudo bem eu vou, mas não quero voltar tarde — impôs a


condição.

— Eu sei, aquele discurso de sempre, tudo bem, você manda gata.


— Suzy a abraçou feliz.

Quando a galeria já estava vazia, Pierre se aproximou das duas


mulheres sorridentes.

— Já podemos ir meninas. — Ele parou ao lado de Suzy e olhou


para Allana, que estava com uma carinha de desanimada.

— Estou tão cansada, quero apenas dormir. — Ela comentou


quando Suzy a olhou.
— Vai ser divertido amiga.

Allana acenou com a cabeça e começaram a caminhar para a saída


da galeria.

Antes de sair completamente, ela deu uma olhada pelo local e não
viu Matthew, ele e Megan não se despediram quando foram embora.

Quando o Pierre enlaçou seus dedos nos de Suzy, Allana


comentou decidida.

— Eu vou ficar.

— Por quê? — Suzy a olhou confusa.

— Não quero ficar de vela e acabar atrapalhando vocês.

— Não vai atrapalhar coisa nenhuma, pode até conseguir uma


companhia. — Suzy piscou provocativa para a loira, mas Allana não
sorriu.

— Eu prefiro ir para o hotel, descansar. Pierre você toma conta


dela? — perguntou olhando confiante para o francês.

— Pode deixar, ela vai voltar inteira para casa. — Ele garantiu.

Suzy encarou a amiga emburrada.

— Sabe que não pode ser assim para sempre Allana, você é tão
nova, precisa se divertir.

— Eu sei Su, mas hoje estou realmente cansada e só quero a cama.

Mesmo contrariada, Suzy se despediu da amiga com um abraço e


saiu com Pierre.

Lana os acompanhou com o olhar, a amiga sempre foi dessas que


não pensam antes de agir e o fato de conhecer Pierre a tão pouco tempo,
deixou Allana preocupada.
Desiree que estava próxima da fotógrafa falou sorrindo:

— Pode ficar tranquila, tenho certeza que o meu filho cuidará dela.

— Suzy é... Digamos assim, extrovertida demais.

— Então ela está com a pessoa certa, Pierre é certo demais, ele
precisa de alguém assim na vida dele. Alguém que o tire dos trilhos às
vezes. — Desiree foi sincera.

— Ela também precisa de alguém para enfiar juízo na cabeça dela.


Como todos já foram embora, eu também vou. — Ela sorriu para a
mulher que lhe deu a maior oportunidade da sua vida.

— Pode ir minha querida, parabéns mais uma vez pelo seu talento.
— Desiree a abraçou apertado e Allana retribuiu.

— Eu agradeço de coração Desiree, por essa oportunidade incrível


e por realizar meu sonho.

As duas se afastaram do abraço e se olharam.

— Eu fico honrada por ser a pessoa que te ajudou, estou


planejando abrir uma filial em Genebra e sei que você estará disposta a
me representar por lá, estou certa?

Allana a olhou perplexa. Ser a representante de uma das maiores


galerias do mundo era algo gratificante demais.

— Nossa, eu estou sem palavras — comentou sem saber o que


dizer.

— Apenas diga sim e do restante cuido eu. — Desiree falou


confiante.

— É uma oportunidade única.

— Eu sei Allana e agora que te conheci não deixarei seu talento


passar despercebido. Você é maravilhosa e precisa de um patrocinador,
tipo uma madrinha, eu serei essa pessoa, quero você entre os meus
artistas principais, tanto aqui quanto em Genebra. — A dona da galeria
falou de modo amistoso, mas não deixando brechas para recusas.

Allana continuava sem saber o que dizer ou responder.


Completamente perdida.

— Eu estou acostumada as coisas sempre darem erradas, que


tenho medo de tudo isso ser um sonho. — Ela foi sincera.

Desiree a olhou com amor, essa jovem estava mais do que apenas
perdida, ela precisava de um amparo.

A senhora elegante puxou-a para os seus braços e a abraçou, foi


algo tão maternal. Allana se sentiu bem com o carinho recebido, apenas
a mãe de Suzy a abraçava assim, com tanto afeto envolvido.

Desde que Denise se foi, Allana se viu perdida sem um conselho


maternal e quando foi morar com Suzy e sua mãe, Lana se sentiu
acolhida e o vazio no peito amenizou, não era como ter sua mãe ao seu
lado, mas saber que alguém a amava como filha já era maravilhoso.

— Apenas aceite, minha querida. — Desiree insistiu, ainda com a


loira abraçada a ela.

— Eu seria louca se negasse...


Capítulo 5

Após aceitar a proposta de Desiree e se despedir, Allana saiu da


galeria com um imenso sorriso.

Ela passou pelo segurança que acompanhou ela e Suzy quando


chegaram e o desejou boa noite, o homem respondeu caloroso e abriu a
porta para ela.

Ao contrário da entrada, a saída foi mais tranquila, tinham poucos


fotógrafos e quando Allana terminou de responder as perguntas e posar
para as fotos, eles a deixaram partir.

Ela olhou ao redor em busca de um táxi e quando o chamativo


carro amarelo passou por ela, acenou chamando-o, mas já estava
ocupado.

Voltou a caminhar na direção que acreditava ser o hotel e se


assustou quando percebeu um carro preto andar lentamente ao lado dela,
acompanhando-a.

Começou a andar um pouco mais rápido, mas quando o vidro foi


abaixado e Matthew sorriu para ela, Lana respirou aliviada.

Não é nenhum maníaco desconhecido.

— Quer uma carona? — Ela ouviu a voz já conhecida.

Allana encarou os olhos azuis dele e deu um pequeno sorriso


nervoso. Ainda não o conhecia o suficiente para já entrar no carro dele e
pegar uma carona.

— Não precisa, eu vou pegar um táxi. — Ela comentou parando


de andar.
— Não está com medo de mim, está? — Ela viu quando Matthew
sorriu, dando vida as covinhas que ele tinha.

A loira mordeu o lábio inferior indecisa.

— Não é medo, é que meus pais me ensinaram a não pegar carona


com estranhos. — Ela brincou e Matthew deixou uma gargalhada
escapar enquanto descia do carro.

— Não sou um estranho, já nos vimos duas vezes e se bem me


lembro, em uma delas você estava me despindo. — Ele respondeu
risonho.

Allana mordeu o lábio inferior evitando rir e não deixou de reparar


no quão lindo ele é.

— Mas ainda assim eu te conheci hoje, não devo aceitar uma


carona.

— Juro que não sou um sequestrador. — Ele se aproximou um


pouco mais.

— Isso é o que os sequestradores dizem. — Ela o olhou.

— Juro que não sou uma má pessoa. — Ele teimou risonho.

— É você não tem cara de sequestrador e nem de má pessoa. —


Ela deu de ombros.

— Não sou um assassino também. — Matthew continuou.

— Também não tem cara de assassino.

— Então tenho cara de quê? — Ele sorriu enquanto ela colocava


uma mecha de cabelo atrás da orelha e fingia pensar.

— Deixa-me ver... Tem cara de ser uma pessoa boa, mas é como a
minha tia diz, quem vê cara não vê coração. — A loira repetiu o mantra
que Solange vive falando para ela e para a filha.
— Essa sua tia é uma pessoa muito sábia, mas não irei fazer mal a
você, ficar aqui sozinha sim pode ser perigoso.

Allana o encarou por um instante e logo depois voltou sua atenção


a rua.

— Talvez você tenha razão e está tão frio.

— Vai arriscar então? — Ele arqueou a sobrancelha, sorrindo.

— Sim, mas só porque estou muito cansada e faminta. — Ela


completou.

Matthew abriu a porta para ela e entrou logo em seguida.

— Estou me considerando um cara de sorte por você aceitar a


carona, mas se eu te convidar para comer algo, você aceitaria? — Ele
perguntou enquanto colocava o cinto.

— Está me convidando? — Ela levantou levemente a sobrancelha


questionando-o.

— Talvez, você vai aceitar? — Ele viu quando Lana colocou o


cinto, isso era um bom sinal, pelo menos ela não sairia correndo.

— Você pelo visto não está acostumado a ouvir não como


resposta, certo?

— É, não estou acostumado. — Ele riu enquanto falava a verdade.

— Se eu negar vai adiantar alguma coisa? — Ela perguntou


olhando-o enquanto colocava o carro em movimento.

— Não, eu iria insistir até você aceitar. — Ele sorriu, desviou o


olhar da estrada e a olhou por um instante.

— Eu não iria negar mesmo, ninguém nega um convite para


comer. — Ela brincou.
Matthew dirigia, tentando prestar atenção no trânsito e não no
cheiro adocicado que o carro estava. O cheiro dela.

O Bittencourt tinha certeza que essa mulher não era como


qualquer outra, algo nela o cativava.

— Será que tem algo aberto ainda? — Allana perguntou.

— Tem um lugar bacana que eu costumo ir, é italiano, não sei se


você gosta.

— Eu gosto sim.

Ele sorriu, já sabia mais uma coisa sobre ela.

— É fotógrafa, é linda e gosta de comida italiana. — Ele listou o


que achava dela.

Mas para Matthew esse pensamento não era para ter sido dito.
Allana o olhou por alguns minutos.

— Esqueceu de colocar que sou desastrada, me desculpe mais uma


vez pelo café. — Por reflexo ela olhou para o peito dele.

— Não chegou a me queimar muito. Já você. — Ele olhou para o


avermelhado na mão dela.

— Não machucou muito também, já nem está mais doendo.

— Ainda bem. — Ele assentiu aliviado.

Quando chegaram ao restaurante, os dois fizeram os pedidos


iguais e enquanto esperavam, Matthew puxou assunto.

— Então você nasceu em Genebra?! — Foi mais uma afirmação


que uma pergunta.

— Nasci, é o meu lugar preferido do mundo, se fosse para


escolher, eu escolheria lá para nascer sem dúvida. E você nasceu aqui?
— Nasci, vivo em Nova Iorque desde sempre. — Ele riu.

— E qual é a sua profissão? — Ela perguntou curiosa.

— Acabei de me formar em advocacia, é um legado de família. —


Ela viu o olhar orgulhoso que ele ostentou.

— Todos da sua família são advogados? — Allana bebeu da sua


água, o olhando com curiosidade genuína.

— Nem todos, tenho um irmão que se formou em advocacia


criminalista, mas com a intenção de ser policial.

— Qual área você se formou? — Ela perguntou assim que o


garçom já tinha colocado os pratos sobre a mesa.

O cheiro delicioso da massa fez sua fome aumentar ainda mais.

— Civil. — Ele falou com um sorriso.

Allana o admirou um pouco mais.

— Que bacana, pelo visto você gosta.

— Sim, eu sempre soube que essa área era para mim.

— Você já pegou algum caso ou ainda não?

Matthew se lembrou de quando Ethan o convocou por essa razão.


Um caso especial demais para o irmão.

— Sim, o meu primeiro caso é a adoção de Enzo, um menino de


cinco anos...
Capítulo 6

Bônus Ethan Bittencourt...

Quando saí essa manhã de casa eu já sabia que meu dia não seria
fácil, parecia uma intuição, um sentimento, até mesmo Ane me alertou e
mandou eu tomar cuidado.

E agora entendo a razão da minha angústia, quando a chamada da


central atingiu os meus ouvidos através do meu rádio, eu me levantei na
hora, saí da minha sala e avistei Miguel no corredor, ele falava ao
telefone e sorria, com certeza era com a Megan, minha irmã.

— Preciso de você — avisei passando por ele e ouvindo enquanto


se despedia.

— Dá um beijo no Henrique por mim, mais tarde eu passo aí. —


Ele completou e quando meu olhar e o dele se cruzaram ele sorriu ainda
mais.

Megan com certeza tinha laçado o coração desse homem e nem


percebia.

— Já te disse que essa história de ainda ter o rádio da polícia na


sua sala não é muito boa. — Miguel falava enquanto entrava no carro
também.

— Não começa cara, já não basta a minha mãe e a minha mulher


— reclamei enquanto pegava a sirene portátil e colocava em cima do
meu carro particular.

— Desculpe senhor, o que aconteceu dessa vez? — Ele ironizou.

Me recordei de quando fui nomeado a investigador, aquela


promoção que eu tanto desejei e quase me custou Tayane.

Quando fui promovido, a felicidade de Ane e da minha mãe foram


notáveis, elas não gostavam dos riscos que eu corria todos os dias nas
ruas de Nova Iorque, mas para mim essa era a adrenalina da minha
profissão e não ficar em uma sala o dia todo, por isso coloquei o rádio lá
e sempre que posso, saio nas ruas.

— Uma chamada de violência doméstica — contei e vi quando ele


fez uma careta confusa.

— Você não pega esses casos normalmente.

— Eu sei, mas algo nesse me chamou a atenção, pareceu


importante. Eu quero entender a razão de estar tão ansioso — falei
sentindo novamente a ansiedade tomar conta de mim.

Miguel ficou calado e pensativo, permanecemos nesse silêncio até


chegarmos ao Brooklin.

— Será que deveríamos pedir reforços? — Miguel perguntou


quando vimos as pessoas na frente da casa.

Encarei o amontoado de pessoas e avistei para onde eles olhavam.

Descemos do carro, eu estava preparado para fazer o meu trabalho,


descansei uma mão em minha arma, pronto para qualquer coisa, mas as
pessoas abriram caminho para nós passarmos e foi quando eu avistei o
homem segurando fortemente o cabelo da mulher ajoelhada, que
chorava em desespero.

Todos olhavam para aquela direção, do lado de fora tínhamos a


visão completa devido ao estado todo quebrado das janelas sem cortinas.

Miguel me olhou em busca de um sinal.

Acenei com a cabeça o fundo da casa para ele, mas eu segui pela
frente. Alcancei a porta a abri devagar, foi quando o olhar do homem
caiu sobre mim que eu vi o desafio.
O desgraçado estava espancando a esposa e ainda se achava no
direito de me desafiar?

Me aproximei ainda mais, examinando minuciosamente a área


completa.

Não tinha nenhuma arma de fogo por perto, mas o faqueiro da


cozinha estava bem próximo ao alcance dele.

— Solte-a — ordenei em um tom firme.

— Você não pode entrar na minha casa. — Os olhos negros dele


me encararam com frieza e fúria.

— Tenho o dever de entrar em caso de flagrante e delito. —


Minha voz ainda estava firme.

O indivíduo me olhou e desviou o olhar para a porta dos fundos,


onde Miguel com certeza já tinha adentrado sem ser notado.

— Você cometeu o erro de aparecer sozinho? — O deboche estava


na voz dele, seguido de um riso.

Eu não sorri, eu não demonstrei nada, assim como fui treinado,


apenas o olhei ainda mais decidido.

— Tire as mãos dela agora — voltei a ordenar.

Sempre tinham casos onde o agressor não recatava a ordem


policial e devíamos recorrer pelo lado mais difícil.

Ele apenas a puxou para perto e forçou ainda mais o aperto,


fazendo com que a mulher soltasse um gemido doloroso.

Me aproximei ainda mais e vi quando ele a jogou bruscamente no


chão e pegou uma faca, apontando para mim.

Seu olhar dirigido a mim estava vidrado. Sem esperar ele avançou
sobre mim, tentando me golpear no braço, já que eu estava com colete.

Quando me desviei ele perdeu o equilíbrio, deixando claro seu


estado de embriaguez.

O imobilizei e o algemei, ouvindo-o proferir diversos


xingamentos, em sua maioria culpando a esposa pela desgraça da sua
vida.

— Você tem o direito de permanecer calado, tudo o que você


disser poderá e deverá ser usados contra você no tribunal. Você tem o
direito de ter um advogado presente durante qualquer interrogatório. Se
você não puder pagar um advogado, um defensor lhe será indicado.
Você entende os seus direitos? — citei os direitos do infeliz, que apenas
sorriu debochado para mim.

O encaminhei para a viatura que tinha acabado de chegar e o


coloquei no banco de trás.

— Leve ele para a delegacia — pedi para o policial responsável


pela viatura, ele assentiu e adentrou o veículo.

Quando voltei para dentro da casa, onde Miguel ajudava a mulher


a se levantar, eu a encarei.

O estado dela estava desprezível, os olhos vermelhos denunciavam


o frequente uso de drogas, o sorriso no rosto mostrava o quando ela não
ligava para o que acontecia a sua volta. Ela apenas falava a mesma frase
vezes seguida.

— Eu quero meu cristal, cadê a merda daquele moleque com o


meu cristal?

Miguel também a encaminhou para uma outra viatura.

Eu não conseguia sair da casa, alguma coisa estava me prendendo


ali, eu não entendia o motivo, até que olhei para um canto escondido e o
avistei.
Ele estava encolhido no cantinho entre o armário e a geladeira e as
lágrimas escorriam de seus olhinhos castanhos.

Senti meu coração se apertar.

Essa era a razão de eu estar ali, eu sabia que não era apenas mais
um simples chamado.

Naquele lugar fétido, sujo e completamente desadequado para o


convívio de uma criança, estava ele ali, todo pequeno e magro, me
olhando em busca de uma salvação.

Caminhei até o menino franzino, todo descuidado, sujo e


apavorado. Estendi a mão e ele segurou a minha com a sua pequena e
fria.

Foi naquele instante que eu percebi.

Ele precisa de mim...

— Você está seguro agora, não precisa mais ter medo, eles não
vão te machucar — comecei calmo.

O toque frio na minha mão se intensificou, o ajudei a se levantar e


as perninhas enfraquecidas cederam. Sustentei seu peso no meu colo,
tirando-o dali.

— Qual é o seu nome criança? — perguntei sentindo a voz


embargar.

Crescer em um lar seguro, onde nada me faltou, fazia uma cena


dessa doer demais. É a triste realidade de alguns e se eu pudesse
mudaria isso.

— Enzo. — Ele respondeu com a voz enfraquecida...


Capítulo 7

Bônus Tayane Herrera...

Eu estava distraída na cozinha do apartamento do Ethan, quando


ele chegou parecia perturbado.

— O que houve? — perguntei secando as mãos no pano de prato e


o olhando preocupada.

— Não é nada, só tive um dia difícil. — Ele me segurou pela


cintura e selou seus lábios nos meus.

O beijo foi carinhoso, carregado de saudades, mas mesmo assim


eu sentia a tensão do seu corpo.

— O que foi? Sei que aconteceu algo, você está tenso — segurei
suas mãos, mas ele apenas suspirou e disse:

— É bom chegar em casa e ter você aqui, deveria se mudar para


cá.

Eu deixei um riso escapar.

— De novo esse assunto? Já passo os fins de semana com você.

— Mas eu queria ter você aqui todos os dias. — Ele fez uma
careta bonita demais.

— Amor, morar no dormitório é uma experiência que eu não


quero perder, estou feliz com nossos fins de semana juntos, não quero
adiantar as coisas.

Ele assentiu, sempre teimava nesse assunto, mas sabia que a


privação de Alejandro me fez querer desfrutar dessa vida de
universitária, eu não quero me mudar para cá e acabar dando um passo
maior que a minha perna.

— Eu sei, vou esperar o tempo que for. — Ele me abraçou e


inalou o meu pescoço, roçando a barba por fazer na minha pele, me
arrepiando de uma forma deliciosa.

Deixei um gemido escapar quando ele colou meu corpo ao dele,


querendo aprofundar o carinho.

— Estou com o jantar no forno, se continuar assim, tudo vai


queimar — acabei rindo quando ele mordeu meu queixo.

— Tem razão, vou tomar um banho rápido e já venho te ajudar. —


Ele me deu um selinho e caminhou para o corredor, mas antes de sair do
meu campo de visão, se virou e disse — a propósito o cheiro está ótimo.

Voltei para a cozinha sorrindo, mas estava preocupada, algo no


trabalho o perturbou e eu vou descobrir o que é.

∞∞∞

Ethan me ajudou preparando a salada, estávamos sentados no


tapete da sala de estar, jantando juntos em um silêncio acolhedor, mas a
minha preocupação estava quase me sufocando.

— Não quer me contar o que te perturba? — comecei cautelosa.

— Não quero trazer a maldade do mundo para dentro de casa —


ele acariciou o meu rosto e suspirou desanimado. — Foi um dia ruim,
um caso de violência doméstica, envolvendo uma criança também.

Olhei para o chão, notando o quanto isso o perturbava.

— Tudo bem se quiser conversar sobre isso.


— Não quero, amanhã vou te levar a um lugar. — Ele avisou e
daquele momento em diante, todo aquele suspense me deixou ansiosa.

∞∞∞

Ethan me analisava enquanto eu procurava algo para vestir. Ele


ainda estava tão sério quanto na noite anterior.

— Se você me falasse para onde vamos, seria mais fácil escolher o


que vestir — tentei convencê-lo a me contar.

Mas esse loiro teimoso, apenas sorriu de lado e disse:

— Apenas coloque uma roupa confortável.

Minha intenção era deixá-lo à vontade, tirar aquele ar sombrio dos


olhos verdes que tanto amo, por isso dei de ombro e o provoquei.

— Mais confortável que nua impossível — virei exibindo-me e


notei o olhar quente me percorrer toda.

— Não me provoque mulher, ou não sairemos desse quarto. — Ele


quase rosnou.

— Só vou parar porque estou ansiosa para saber onde iremos. —


Sim, eu estava morta de curiosidade.

Quando terminei de me vestir, ele se levantou da cama, colocando


o distintivo no pescoço e a arma na cintura.

— Achei que não iria armado — constatei preocupada.

— Amor, eu não posso me dar ao luxo de me descuidar. — Ele


respondeu sincero.

Eu suspirei sabendo que ele nunca andava sem proteção, sempre


tinha uma arma no carro.
A ansiedade de antes se transformou em preocupação extrema.

— Onde iremos que precisa estar armado? — perguntei


demonstrando o medo na voz.

Ele abriu a porta do carro para mim e acariciou o meu rosto, mas
só me respondeu quando o carro já estava em movimento.

— Sabe que nunca te colocarei em perigo, não sabe? — Eu apenas


assenti. — Não tenha medo, acho que vai gostar.

E lá estava a preocupação nos olhos dele novamente.

Permaneci o restante do caminho em silêncio, apenas apreciando o


lindo dia que aquele sábado trouxe, mas o medo ainda estava em mim.

Desde que Ethan foi promovido, o meu receio em relação a


profissão dele não diminuiu como imaginei, apenas aumentou.

Na minha inocente cabeça, acreditei que a promoção o deixaria


sossegado em sua sala, apenas trabalhando e investigando os casos
trazidos para ele, mas não, Ethan voltou a me surpreender quando não se
prendeu naquela sala e voltou as ruas, nos casos que lhe chamavam a
atenção.

Ele ama a profissão pelo motivo que mais me amedronta, a chance


de salvar vidas, a adrenalina de lutar por quem não consegue se defender
sozinho.

Mas quem vai salvar a mim, se algo o acontecer?

Saio dos meus pensamentos quando o carro para, em frente a uma


casa colorida, com uma placa escrito “lar feliz”.

Percebo logo de início que é um lar temporário para crianças,


aqueles pagos pelo governo.

— Um lar temporário? — pergunto olhando para Ethan, que já me


olhava ansioso.
— Você não quer entrar? — Ele perguntou confuso.

— Claro que quero. — O olhei chateada, apenas por pensar que


sou do tipo que não entraria.

— Eu só pensei que não quisesse entrar. — Ele tentou se explicar.

— Eu quero sim, mas qual é a razão de me trazer aqui? —


perguntei soltando o cinto e descendo do carro.

Ethan acionou o alarme e enlaçou seus dedos nos meus.

— Vou te explicar tudo lá dentro. — O sorriso que ele me deu foi


carregado de esperanças.

Enquanto Ethan nos identificava pelo interfone, eu reparei na


fachada da casa, ela é colorida e com vários nomes, revelando aos
visitantes quem foi o responsável pela bela arte infantil que decorou o
muro.

Quando adentramos o local, uma senhora com um sorriso gentil


nos cumprimentou, Ethan e ela ficaram trocando algumas palavras, mas
eu fui adentrando, explorando o lugar. Foi quando um menino me
chamou a atenção.

Ele estava sentado brincando, enquanto algumas crianças


gargalhavam e brincavam juntas, ele estava sozinho.

Deixei Ethan para trás e segui até o garotinho. Curiosa.

— Eu adoro o Capitão América — falei me sentando ao seu lado e


observando o boneco que ele segurava.

O menino apenas levantou os olhos castanhos para mim e


permaneceu em silêncio.

Quando eu estava quase puxando outro assunto ele prosseguiu:

— Eu prefiro o Homem de Ferro. — Seu tom foi baixinho,


cauteloso, aparentando estar com medo de falar comigo.

Eu sorri para tranquilizá-lo. Tão novo e com um olhar tão sofrido.

— O Homem de Ferro também é muito legal — disse procurando


com o olhar o boneco dele.

Mas não encontrei.

— Você não tem o Homem de Ferro? — perguntei, para continuar


o assunto.

— Eu tinha, mas não tenho mais. — Ele respondeu pensativo, as


lembranças pareciam doer nele.

Tão pequeno e tão machucado pela vida, pude perceber isso


apenas em olhá-lo.

— Você o perdeu? — Quis saber.

Nesse momento eu tive uma ideia, e estava disposta a colocá-la em


prática, queria tirar as lembranças tristes que o cercava e o abraçar
carinhosamente, mas o menino ainda não confiava em mim.

— Tiraram de mim — respondeu com um dar de ombro.

Olhei para o menino franzino, confusa e logo olhei ao redor,


procurando a criança que pegou o seu brinquedo.

Minha intenção era ensinar que isso é errado, que não se toma as
coisas alheias, mas não vi nenhuma das poucas crianças que tinha ali
com o brinquedo dele.

— Quem tirou de você? — Queria ajudá-lo, não entendia essa


conexão que senti ao olhá-lo assim que entrei.

— Não foi aqui — percebi que ele não queria falar sobre isso,
então encerrei o assunto.
— Eu me chamo Tayane Herrera, mas pode me chamar de Ane —
estendi a mão e ele deixou um riso escapar, revelando dentes pequenos e
alinhados.

Foi impossível não sorrir também, aquele menino pequeno me


trazia uma paz e eu já gostava dele.

— Eu sou Enzo... Só Enzo mesmo. — Ele enlaçou a pequena mão


na minha e apertou firme.

— Você aperta forte — falei sorrindo.

— Eu aprendi ontem, com um amigo. — Ele se explicou.

Quando eu estava para perguntar que amigo é esse, Ethan apareceu


e se sentou ao meu lado.

— Oi campeão — falou para o menino que o olhou com um brilho


esperançoso no olhar, aliviado também.

— Oi, você voltou. — A voz que antes estava serena, ficou um


pouco embargada.

— Claro que sim, eu prometi que voltaria, não foi?

O menino assentiu e eu permaneci apenas olhando confusa para os


dois.

— Você está bem? — Ethan perguntou para Enzo que voltou a


assentir e disse calmamente.

— Aqui é melhor que lá.

Meu coração se partiu. Fiquei curiosa em relação a Enzo, Ethan e


a razão de eu estar ali.

— Amor, por que no meio de várias crianças, bem Enzo te


chamou a atenção?
Eu não soube responder, só sei que me senti conectada com ele.

— Eu não sei, mas quando coloquei os olhos nele, eu senti algo


especial — fui sincera e Ethan me olhou surpreso e emocionado, o seu
sorriso demonstrava alegria e certeza.

— Por isso que eu não me canso de dizer que você é perfeita para
mim, eu te amo...
Capítulo 8

Enquanto Matthew narrava como Ethan conheceu Enzo, e que


levou Ane para o lar temporário, ela se aproximou do menino por uma
razão desconhecida mesmo sem saber de quem se tratava, Allana ouvia
atenta, notando o brilho que o olhar bonito dele ganhava, a cada menção
da sua família.

— Então eles se apaixonaram pelo garotinho logo de cara? — Ela


perguntou, querendo levar o assunto adiante.

— Sim, eles se encantaram. — Ele respondeu e voltou a provar a


sobremesa.

O jantar dos dois já está acabando, mas enquanto Matthew puder


ele prorrogará o máximo possível.

— Ela não contou a razão de escolher o menino sem saber? —


Allana reparou na forma que ele se deliciava com o mousse e provou do
seu.

— Não, mas acho que é um amor materno, mesmo não sendo dela,
ela sentiu essa ligação. — Ele comentou sincero.

Allana sorriu, não conhecia nenhum Bittencourt a não ser Matthew


e Megan, mas se familiarizou com os que Matt citou apenas pelo fato de
eles serem assim, especiais a sua maneira.

— E agora a adoção de Enzo é o meu primeiro caso. — Matthew


finalizou.

— Mas você pode? É da família, um envolvido no caso.

— Sim, estou ligado ao caso, mas... Digamos que meu pai tem
muitos contatos.
Allana assentiu, não tinha parado para pensar que Matthew
Bittencourt pode ser um homem rico, influente e com certeza membro
de uma das famílias mais importantes de Nova Iorque. O jeito simples e
humilde dele e Megan não denunciou, os dois estavam bem arrumados,
se portam com elegância, mas Allana e Suzy também estava e não são
de famílias ricas e influentes.

— É um caso complicado, meu irmão e minha cunhada ainda não


são casados, Tayane ainda está na universidade, os dois não moram
juntos. Tem muitos empecilhos no caminho dessa adoção, por isso meu
irmão pediu a influência do meu pai, isso é algo que ele nunca fez, por
isso sei que Enzo é importante para ele. — Matthew contou, estava
confiante, mas o medo de não conseguir o deixava ansioso e
preocupado.

— Você vai conseguir, tenho certeza. — Lana comentou decidida


e segurou nos dedos dele, como um apoio.

Matthew a olhou um pouco mais intenso. Querendo desvendar


essa mulher apenas em admirá-la.

Allana trazia uma confiança que nunca antes uma mulher trouxe,
nem mesmo Emily.

— Enzo já é da família, eu só preciso ganhar a causa e oficializar


isso. — Ele deixou um sorriso escapar e Allana reparou no mover dos
lábios.

Quando Matthew também olhou para os lábios dela, tão próximos,


Allana tentou desfazer o toque, sorrindo gentil, mas Matthew a segurou.

— Eu já falei muito sobre mim, agora é a sua vez. — Ele pediu,


ainda com a mão dela em seu domínio.

Ela não tentou mais se afastar, afinal era apenas um toque gentil de
mãos, mas que estava lhe trazendo uma sensação tão boa, eletrizante,
confiável, diferente, inesquecível.
— O que você quer saber? — Ela perguntou e usou a mão livre
para pegar sua taça com água e beber.

Estava nervosa e não entendia a razão.

— Qualquer coisa? — Ele arqueou a bonita sobrancelha e ela


respondeu com um sorriso:

— Sim, só não garanto que responderei.

Matthew também sorriu.

— Qual é a sua idade? — Ele perguntou cauteloso.

— Isso é fácil demais Matt, 22. — Ela o encarava nos olhos.

— Qual é a sua...

— Nada disso, agora é a minha vez. — Ela negou com a cabeça.

— Tudo bem, pode perguntar. — Matt aceitou, mas temeu o grau


da pergunta.

— Vou ser razoável também, qual é a sua idade? — Ela devolveu.

— 23.

Allana o olhou, esperando a próxima pergunta, que não demorou a


ser feita:

— Qual é a sua comida preferida?

— Nossa isso é tão difícil de responder, uma pessoa que adora


comer não consegue responder essa pergunta... — Ela pensou um pouco,
mas não foi capaz de responder.

— É pelo visto você é amante de comida e não sabe responder. —


Ele riu da careta que ela fez.
A conversa entre os dois estava fluindo tão naturalmente, que
ambos pareciam se conhecer há muito tempo antes.

— E você? Consegue escolher apenas uma comida? — Ela


arqueou as sobrancelhas loiras, o desafiando.

— Bom, eu também sou fã de comer, mas entre todos os doces eu


prefiro brownie, com toda certeza.

— Bom, pelo visto temos algo em comum. Somos amante de uma


boa refeição. — Ela sorriu.

— Um vício? — Matthew perguntou.

Os dois já tinham terminado o jantar, mas não queriam dar por


encerrada a noite.

— Café. E falando nisso você me deve um. — Ela acusou.

— Você quem derrubou em mim. — Matthew reclamou fingindo


frustração.

— Eu sei, mas você quem entrou na minha frente. — Ela apontou


um dedo para ele, com uma careta decidida.

Ele gargalhou com vontade. É tão teimosa quanto ele.

— Só porque eu ia entrar na cafeteria por sua causa, não significa


que a culpa seja minha. — Ele confessou, vendo cada reação do rosto
bonito dela, que o olhou surpresa e completamente confusa.

— Como assim? Por minha causa? — Ela perguntou em um tom


baixinho, ainda surpresa.

Matthew quis tocar no rosto ruborizado, mas a sensação gostosa de


segurar a pequena mão dela, o impediu.

— Eu a vi entrando no Starbucks e quis me aproximar, atravessei a


rua e quando fui entrar você se esbarrou em mim, o resto já sabe. — Ele
falou tudo tão rápido, que Allana piscou várias vezes tentando entender.

— Iria conversar comigo? Não estava lá para comprar um café?

— Eu pretendia comprar o meu café, mas te vi antes e foi outra


razão para me aproximar.

— Por que não falou comigo? — Ela perguntou, ainda tentando


entender.

— Porque você começou a arrancar a minha roupa na frente de


todos, eu fiquei completamente surpreso e... envergonhado. — Ele
sorriu tímido.

— Você está tentando mudar o assunto. Por que iria falar comigo?
— Ela o olhou questionadora, querendo entender aquilo.

Matthew parou de sorrir, não poderia falar sobre a sua primeira


regra, não ainda.

Ele sustentou o olhar questionador dela e respondeu sincero:

— Porque eu te achei linda e quis me aproximar.

Allana piscou várias vezes novamente, querendo sorrir, querendo


ir embora e fugir daquele reboliço que as palavras dele fizeram com ela.

— Mas você começou a me despir e eu percebi que de todas, você


é diferente.

Uma das qualidades de Matthew era a sinceridade e Allana não


soube lidar com isso, então apenas perguntou:

— Um vício? — Voltou o foco para a brincadeira de antes, um


campo seguro onde ela sabia caminhar.

— Eu não tinha nenhum até te conhecer, mas sei que isso está
prestes a mudar. — Ele falou em um tom rouco e foi quando Allana
percebeu que Matthew Bittencourt é um homem decidido, ele nunca
deixaria o assunto anterior morrer, não sem antes falar o que queria...
Capítulo 9

As palavras de Matthew acertaram Allana em cheio, ele falou


com tamanha intensidade que ela paralisou desconfortável.

Sempre foi uma garota bonita, mas nunca lhe falaram palavras tão
provocantes e carregadas de segundas intenções. Estava acostumada aos
simples elogios, aos olhares de vez em quando, mas nunca se sentiu tão
ligada a um homem como se sentiu em relação ao Bittencourt.

Ele a intimidava com apenas um olhar e hipnotizava com aquele


sorriso branco, alinhado, bonito e sedutor. Allana sabia que não deveria
se afetar assim, se ver admirando tanto um homem, sabia o quão errado
era, mas não conseguia evitar.

— Será que podemos ir? Não estou me sentindo muito bem. —


Ela pediu de modo delicado, não queria estragar a noite dos dois, mas
aquela aproximação estava ultrapassando os limites que ela impôs.

— Claro. Quer que eu te leve ao hospital? O que está sentindo? —


Ele a olhou preocupado e ela se xingou mentalmente por ter causado
isso nele.

— Não se preocupe, estou apenas com dor de cabeça, nada que


uma boa noite de sono e um analgésico não resolvam. Acredito que foi a
bebida, não estou acostumada. — Ela foi sincera, nunca foi de beber e
realmente a cabeça estava começando a doer de forma incômoda.

— Vou levar você. — Ele acenou para o garçom, pedindo a conta.

Allana insistiu para dividirem os gastos, mas ele negou, alegando


que ela foi convidada e convidados não pagam.

Quando já estavam no carro, ele perguntou em qual hotel ela


estava e Allana respondeu. O silêncio se seguiu por alguns minutos, com
Matthew evitando falar para não piorar a dor dela, e com Allana se
culpando por estragar a noite deles assim, mas as palavras dele foram
como um choque de realidade.

— Me desculpe por estragar o final da nossa noite. — Ela falou


baixinho e mordeu o lábio inferior, nervosa.

Matt desviou o olhar do trânsito e a olhou confuso e com interesse,


mas vê-la prendendo os lábios daquela forma, o deixou desejoso.

Queria que fossem os lábios dele que ela mordesse assim, queria
beijar aquela mulher mais do que qualquer coisa no momento.

Ele logo desviou o olhar, estava dirigindo e precisava de atenção,


mas a linda mulher loira ao seu lado era uma distração das grandes.

— Você não estragou, dor de cabeça é horrível. — Ele respondeu


sincero e deu um sorriso quando ela respirou aliviada.

Ele estava desejando-a, mas o silêncio dela estava o preocupando.


No restaurante praticamente confessou seu interesse, mas ela
simplesmente pediu para irem embora.

Quando o carro parou em frente ao hotel, os dois perceberam que


não queriam se afastar, mas era necessário.

— Obrigada pelo jantar e pela carona. — Ela o olhou e sorriu


agradecida.

Mesmo tendo consciência de que era errado, Allana se sentia


ligada nele de uma forma inexplicável, era como se o conhecesse a
muito tempo antes.

— Eu quem tenho que agradecer a companhia e também tenho que


agradecer a minha irmã, quase não fui com ela na exposição, mas ter ido
foi a minha melhor escolha. — Allana percebeu que ele se referia ao fato
de ter conhecido ela.

— Também foi muito bom ter te conhecido Matthew, adorei


conhecer a Megan também, uma pena não ter conseguido me despedir
dela.

— Ela teve um problema em casa, precisou voltar mais cedo. —


Ele se explicou pela irmã.

— Espero que ela consiga resolver. Adorei conhecê-la e adoraria ir


no desfile que me convidou, mas segunda já volto para Genebra. —
Allana comentou com pesar.

— Você já voltará na segunda? — Ele perguntou demonstrando


aflição.

— Sim, eu só vim para a exposição, lá é a minha vida. — Allana


respondeu cabisbaixa, dando de ombro.

Matthew só teria o domingo com ela, já que na segunda ela


voltaria para a sua cidade.

— Então, quer tomar um café comigo amanhã? Afinal eu te devo


um mesmo. — Ele foi direto ao ponto, sorrindo galante.

Allana ponderou a oferta e não viu razões para recusar.

— Eu vou adorar. — Ela aceitou sorrindo, enquanto retirava o


cinto.

— Às nove? — Ele perguntou, contente pelo aceite.

— Sim, às nove está ótimo. Nos vemos daqui a pouco então. —


Ela comentou olhando a hora no celular e abrindo a porta.

Mas ele segurou no seu braço.

— Foi muito bom ter te conhecido senhorita Sulatte. — Foi


inevitável para ambos não se encararem. Matthew se aproximou um
pouco mais e Allana travou no lugar.

Aquela troca de olhares trouxe sensações novas para os dois.


Coisas nunca sentidas antes.

Se ele a beijasse, ela não teria forças para se afastar. Mesmo


sabendo que era errado.

Mas Matthew depositou um beijo bem próximo dos lábios dela.


Apenas isso.

Allana fechou os olhos e apreciou a carícia. Quando o encarou, os


olhos azuis estavam mais brilhantes que antes, com uma tonalidade mais
escura e linda.

— Então até amanhã. — Juntou as poucas forças que lhe restou e


desceu do carro.

Na entrada do hotel, ela deu uma última olhada para ele e sorriu,
recebendo um outro sorriso em resposta.

Matthew só deu partida no carro, quando viu Allana segura dentro


do hotel.

O caçula dos Bittencourt estava com um sorriso bobo nos lábios.


As garras do amor estavam mais próximas do que ele imaginava, só que
muitos empecilhos ainda aparecerão....
Capítulo 10

Quando Allana acordou, a cama de Suzy ainda estava intacta, a


preocupação de ontem à noite se multiplicou.

Suzy mal conhecia Nova Iorque, mas nem isso a fez dormir no
hotel. Imediatamente Allana pegou o seu celular e ligou para a amiga.

Chamou várias vezes e quando estava prestes a desligar, Suzy


atendeu, com a voz rouca de sono, deixando claro que tinha acabado de
acordar.

— Por que está me ligando tão cedo? — reclamou logo de cara e


Allana apenas sorriu aliviada.

— Eu não precisaria ligar se você tivesse me dado notícias, ou se


ao menos tivesse me avisado que não dormiria no hotel.

Suzy ficou em silêncio, demorou alguns instantes para se recordar


de onde estava e da noite que tivera, mas não precisou de muito esforço,
já que Pierre estava dormindo ao lado dela na cama, segurando-a
possessivamente pela cintura, os dois nus.

— Meu Deus, eu acabei dormindo no apartamento do Pierre. —


Ela respondeu baixinho, já Allana gargalhou com vontade.

— Você não perde tempo mesmo, hein sua doida?

Suzy se afastou do corpo dele, com cuidado e se levantou,


caminhando para a janela de vidro do quarto dele.

— Eu não nasci para perder tempo Lana, sou assim e sempre serei.
Gosto de aproveitar cada momento que a vida me dá — respondeu
sussurrando, tentando evitar que Pierre a ouvisse.
Arriscou dar uma espiada nele, ainda estava dormindo e pelo visto
o sono é bem pesado, afinal não acordou nem quando o celular tocou.
Ou ela acha que não.

— Às vezes eu queria ser assim também, aproveitar cada momento


sem sentir a consciência pesada. — Allana reclamou suspirando
pesadamente, mas não era assim, sempre pensou muito antes de agir.

— Sabe que pode e sabe muito bem o que penso a respeito disso...
— Suzy começou com seu habitual diálogo.

— Tudo bem, tudo bem, está cedo demais para discutirmos sobre
isso. Vai aproveitar esse francês mais um pouco e inicia o dia da forma
mais deliciosa que tem. — Allana sugeriu.

— Você acha que não? É claro que irei aproveitar mais desse
homem, pensa em um cara gostoso. Sério eu poderia me perder nele
para sempre. — Ela deixou um suspiro escapar e voltou a admirar Pierre
adormecido na cama, apenas um lençol cobrindo a sua nudez masculina.

— Eu vivi para ouvir que você vai ficar com um homem mais de
uma vez? O mundo está acabando, só pode. — Allana dramatizou.

— Eu sei, não costumo fazer isso, sabe o que penso de figurinhas


repetidas, mas essa eu faço questão de repetir.

Allana sorriu.

— Você é uma safada.

— Sou mesmo, e confesso que Pierre é a melhor foda que já tive.


— Ela voltou a olhar para a janela, mordendo o lábio inferior satisfeita.

— Não quero saber dos detalhes, preciso desligar, tenho um café


agora de manhã. — Allana comentou e deixou Suzy curiosa.

— Com quem? — perguntou interessada.

— Não tenho tempo para te contar tudo agora, prometo te explicar


depois. Bye. — Allana desligou rapidamente, antes que Suzy começasse
com o interrogatório costumeiro.

— Ela desligou na minha cara? — A morena se perguntou,


olhando para o celular frustrada e curiosa.

Quando ela desviou o olhar do aparelho e olhou para a cama,


Pierre estava com os olhos bem abertos, encarando-a com um sorriso
convencido nos lábios.

Suzy temeu a possibilidade de ele ter ouvido a conversa.

— Tem muito tempo que acordou? — Ela perguntou, caminhando


novamente para a cama e se sentando na ponta.

De repente ficou envergonhada.

— O suficiente. — O tom rouco fez o corpo da morena se acender


de desejo.

— Como assim? — perguntou quase gaguejando. Estava nervosa.

Nunca ficou assim em relação a homem nenhum, mas esse francês


sabia desestabilizá-la.

Pierre também se sentou, se aproximando dela.

— O suficiente para ter certeza que você é linda até quando


acorda. — Ele beijou a nuca dela, segurando firme os cabelos negros,
fazendo-a se arrepiar com a carícia gostosa.

Suzy suspirou satisfeita, ela com certeza queria muito mais desse
homem.

Então ele não tinha ouvido a conversa. Quando o alívio já tinha


tomado conta do seu corpo, a voz dele foi ouvida novamente.

— E o suficiente para ouvir que eu sou a melhor foda que você já


teve. — O tom dele, tão próximo da pele dela a fez se arrepiar, mas a
mordida que ele deixou em seu lóbulo a levou à loucura.

Queria se jogar nele e aproveitar cada pedacinho daquele corpo.

Mas saber que ele tinha ouvido sua confissão, a deixou


completamente envergonhada.

E pela primeira vez Suzy corou por causa de um homem. Isso


nunca tinha acontecido, mas pelo visto Pierre é perito em deixá-la
envergonhada.

— Você não deveria ter ouvido a minha conversa ao telefone. —


Ela protestou num fio de voz.

— Foi impossível, já que o toque estridente do seu celular me


acordou. E confesso, não resisti quando olhei você se levantando nua,
quis aproveitar a deliciosa visão.

— Pierre eu estava de costas. —Suzy constatou o óbvio.

— E o que tem? A beleza traseira também é linda. — Ele voltou a


provocar, dessa vez apalpando-a muito próxima dos seios expostos.

Suzy sentiu o rosto esquentar ainda mais. Envergonhada.

— Você fica linda quando ganha esse tom de cobre. — Ele


acariciou as bochechas e depositou um casto beijo nos lábios carnudos
dela.

Já que Suzy é filha de uma suíça e um afrodescendente, ela nasceu


com o tom de pele excepcional. Ela não ficava vermelha, o tom de seu
rosto ganhava a cor de cobre. Deixando-a ainda mais linda.

— Se você acha que ontem foi a melhor foda da sua vida, esteja
preparada para apreciar esse corpo aqui, sem álcool nas veias. — Pierre
apontou para si mesmo, todo a vontade em sua própria nudez.

Ontem ambos tinham bebido, só que nem isso foi o suficiente para
a noite não ser maravilhosa e memorável, mas o olhar de Pierre nessa
manhã estava deixando Suzy ainda mais curiosa e desejosa para
aproveitar-se dele.

E foi isso que ela fez, o beijou ferozmente, cheia de vontade e sem
reservas, querendo muito passar o dia todo na cama com ele, afinal
amanhã já teria que ir embora...
Capítulo 11

O nervosismo na hora de escolher o que vestir, Allana nunca


tinha passado por isso, sempre sabia o que usar antes mesmo de acordar
para um compromisso.

Mas esse café da manhã em especial estava mudando-a. Encarava


as roupas que trouxera na mala quando suspirou e se jogou na cama,
com os braços abertos.

— Por que eu trouxe tão poucas opções? — perguntou-se, foi


nesse instante que o olhar dela caiu nas malas de Suzy.

Enquanto a loira trouxera apenas duas malas, sendo uma de mão,


Suzy trouxe três e mais uma de mão.

Allana se levantou empolgada e começou a vasculhar as roupas da


amiga.

Os estilos das duas mulheres são completamente diferentes,


enquanto Allana é mais reservada no seu visual, Suzy prefere ousar,
mostrar as curvas lindas do seu corpo.

Olhando atenta cada peça, Allana começou a se desanimar de


novo. Nada ali era do seu agrado.

Como o dia estava frio, ela optou pelo seu habitual jeans e casaco.
Uma escolha confortável.

Enquanto finalizava sua simples maquiagem, voltou a se


questionar se era errado o que estava fazendo.

Não é errado sair com ele. Repetiu mentalmente, desde que não
caísse na tentação daqueles lábios.
Mesmo que em seus sonhos ela acabou cedendo ao desejo e
provou do beijo de Matthew, ela lutaria e resistiria até o fim.

Mas e se não conseguisse? Queria se tornar aquele tipo de mulher?

Estava considerando mandar uma mensagem cancelando o café,


quando seu celular começou a tocar.

O nome no visor era a razão da sua dúvida, sabia que não deveria
ir, mas ao invés de cancelar com Matt, ela simplesmente rejeitou a
ligação e seguiu o seu coração pela primeira vez.

Queria um pouco mais do Bittencourt, nem que fosse por alguns


instantes.

Enquanto desligava o celular e descia para esperar por Matthew na


calçada do hotel, seu subconsciente alertava que tudo aquilo era um erro.

Quando avistou o carro preto dele parando próximo, ela suspirou


profundamente.

Decidida a aproveitar o café, Allana caminhou até o veículo, mas


antes que ela entrasse, ele desceu.

Ela paralisou no lugar.

Porra... Não estava preparada para a visão que teve.

Matthew Bittencourt estava um arraso.

Ele também optou por um jeans, só que escuro, tão preto quanto
sua camisa de mangas longas, ele estava todo de preto, mas o que mais
chamou a atenção dela foi o sorriso e o brilho nos olhos azuis.

— Bom dia, — ele abriu a porta do carro para ela e Allana se


obrigou a andar — você está muito linda.

Enquanto elogiava, Matthew a admirou com o olhar. Um encanto


de mulher, que ficou com ele por toda a noite em seus pensamentos.
Pela primeira vez, não eram os olhos verdes esmeraldas de Emily
que ocuparam sua mente e sim os azuis acinzentados de Allana, às vezes
com um brilho divertido e disposto a fazer loucuras, em outras
pensativos demais e se privando de arriscar.

Lana passou bem perto dele, e o aroma masculino a embriagou.

Droga, nunca um maldito perfume pareceu tão bom.

— Bom dia, você está muito... lindo — Ela o admirou também e


sorriu.

Enquanto Matthew dirigia para o mesmo Starbucks onde “se


conheceram”, Allana prometia mentalmente que era apenas um café, o
fato de estar ao lado de um belo homem era apenas um mero detalhe.

Detalhe esse que não passou despercebido pela maioria das


mulheres que estavam no Starbucks.

Enquanto Matthew parecia não reparar, Allana falhava cada vez


mais em esconder o seu incômodo.

— O que foi? — Ele perguntou franzindo o cenho.

Os dois estavam em uma mesa afastada, mas que dava para ver
todo o estabelecimento.

— Você não percebe? — Ela perguntou.

Sempre foi de ficar na dela, sem chamar a atenção para si, mas
parecia que Matthew era bem diferente, atraia olhares até mesmo
masculinos.

— Percebe o quê? — Foi quando ele sorriu confuso e interessado,


mistura essa que o deixou mais atraente ainda.

— Você costuma sempre chamar a atenção assim? — Ela deu uma


voltinha com o dedo e olhou o local, duas mesas a frente estavam
sentadas um grupo de mulheres, quatro ao todo.
— Eu teria escolhido um local mais reservado para o nosso café,
mas você quis vir aqui. — Ele comentou e sorriu.

O sorriso foi direcionado a loira a sua frente, mas ele cometeu o


erro de olhar ao redor e foi quando seus olhos pousaram nas quatro
mulheres, que sorriram de volta, achando que era para elas.

Allana percebeu a troca de sorrisos e ficou inconformada.

Quando a atendente veio para anotar o pedido, Lana percebeu que


toda a sua fome tinha passado.

— Um café puro e com açúcar — pediu apenas isso.

— Não quer nada além do café? — Matthew perguntou confuso,


alguns minutos antes ela alegou estar faminta.

— Não obrigada.

— Tem certeza? Você disse que estava com fome.

— Tenho certeza. — Ela respondeu olhando para a atendente, que


assentiu e encarou Matthew, em busca do pedido.

— O mesmo que ela.

A moça os deixou sozinhos e Allana focou sua atenção no potinho


de açúcar, ainda tentando entender porque ficou tão incomodada ao ver
Matthew sorrindo para outras mulheres.

— Eu fiz alguma coisa? — Ele perguntou confuso e foi quando ela


levantou o olhar para ele.

A loira se perguntou se ele tinha feito algo.

Não, o pior é que ele não tinha feito nada.

Estava sendo uma idiota, e não deixaria uma coisa boba dessas
estragar o único café que tomaria com ele.
— Não é você, sou eu, estou acostumada a beber apenas café de
manhã — mentiu sorrindo, afinal Solange nunca deixava as meninas
saírem para o trabalho sem tomar um bom e reforçado desjejum.

Matthew continuou olhando para os olhos acinzentados dela,


pensativo. Allana sustentou o olhar dele e só desviou quando seu café
foi servido.

Foi impossível não sorrir para a xícara que exalava um aroma


delicioso e completamente viciante.

— Você realmente é viciada. — Matthew comentou sorrindo com


a reação dela.

— É amor por café, não vício. Tento me convencer de que um dia


serei capaz de parar de beber se eu quiser.

Matthew não aguentou a expressão quase convencida dela e


gargalhou.

O clima estava voltando a ser agradável e Allana começou a


desejar um Croissant, mas uma voz vinda ao lado dela a fez se tencionar.

— Oi. — Os olhos de Allana e até mesmo os de Matthew foram


para a moça, que sorriu apenas para ele.

— Oi. — Ele respondeu e a loira não se deu ao trabalho, afinal o


cumprimento não foi para ela.

— Eu anotei meu número aqui, caso queira me ligar. — A morena


muito linda arrastou o guardanapo de papel pela mesa, até chegar na
mão de Matthew.

Allana reprimiu um suspiro irritado, então olhou para ele, que já a


olhava.

Arqueando uma sobrancelha loira, ela o desafiou a responder.

Acreditou que ele diria algo sobre estar acompanhado, mas não,
ele apenas sorriu sem mostrar os dentes e aceitou o guardanapo com o
número da desconhecida.

Allana olhou para o papel e sentiu um gosto amargo na boca.

Sentiu vontade de se levantar e se fazer presente, afinal sua


presença parecia nem ser notada, mas não o fez, permaneceu sentada
tensa, apenas olhando para a mão de Matt que ainda segurava o
guardanapo de papel.

Quando a mulher se virou e voltou para a mesa, Allana a analisou,


estava vestida em uma saia de couro preta, meio curta, mas não ao ponto
de ser vulgar e era magra, mas com curvas. Muito bonita.

Matthew analisou Allana e viu quando ela pegou a carteira para


sair do Starbucks.

— O que está fazendo? — perguntou confuso.

— Vou pagar o café para ir embora.

Ir não irmos, ele percebeu e isso o deixou confuso e quase


desesperado, não queria que a manhã acabasse tão rápido assim.

— É por causa da mulher? Sei que foi chato, mas não deve
estragar a nossa manhã por causa disso. — Ele a tocou na mão.

— Chato? Foi bem pior, e se eu fosse sua namorada, noiva ou


esposa? — Allana o olhou querendo uma resposta.

Não tinha o direito de criar um clima, mas o incômodo no seu


peito não estava deixando-a pensar com clareza.

Matthew quis rir.

— Você está com ciúmes? — Ele perguntou, ainda segurando a


mão dela e olhando-a divertido.

Allana se retraiu.
Sabia que suas ações e palavras demonstravam isso, mas ela não
tinha esse direito.

— Ciúmes? Não, claro que não. — Ela olhou para a xícara, seu
café já estava frio, assim como todo o seu corpo agora, apenas em
cogitar que estava sendo ciumenta logo por ele, um homem que nem ao
menos conhecia.

— Eu só fui educado. — Matthew se explicou, querendo tirar


aquela expressão do rosto dela.

— Mas ela não percebeu isso, a única coisa que ela estava
pensando é nesse seu maldito sorriso sexy. — Ela não controlou as
palavras antes que saíssem.

Matthew deixou aquele sorriso sexy e maldito escapar, de


propósito e amou ver os olhos acinzentados fixos em sua boca.

Queria beijá-la agora, afinal Allana é linda corada desse jeito,


brava...
Capítulo 12

A loira notou a intenção dele de beijá-la e se levantou em um


pulo.

Matthew a olhou confuso.

— O que foi? Ainda quer ir embora? — Ele perguntou.

— Sim, não estou mais à vontade aqui. — Ela olhou ao redor,


discretamente.

— Tudo bem, vamos. — Ele concordou e também se levantou.

Antes que Allana pagasse a conta, Matthew pegou a nota da


atendente e acertou tudo.

— Eu ia pagar. — Ela protestou.

— Eu te convidei, portanto quem paga sou eu. — Ele retrucou,


guiando-a pela cintura até a saída do local.

A intensidade do toque gentil, mesmo por cima do jeans, era bem


sentida. Allana percebeu que com Matthew, tudo parecia intenso
demais. Nunca teve essa reação com um simples toque.

Quando os dois passaram pela porta, o mesmo local onde ela


derrubou café sobre ele, ambos sorriram.

— É, foi bem aqui. — Ele comentou olhando-a.

— Juro que não tinha te visto, senão eu nem teria estragado o meu
café. — Ela comentou engraçada.

Matthew a olhou completamente surpreso.


— Sério? Você se preocupou mais com o café do que comigo?

— Claro. — Ela sorriu provocando-o.

Ambos começaram a caminhar lado a lado, indo em direção ao


carro dele, ele ainda com a mão em sua cintura, não querendo se afastar.

— E eu? E a minha camisa? — Ele tentou ser totalmente


convincente, mas não estava nem aí para a roupa e ele também não tinha
se queimado tanto.

— Café é café, Matthew, não tem comparação. — Ela soltou, mas


olhou no peito dele, onde o líquido quente tinha caído.

Pelo pouco que dava para ver com o colarinho da camisa aberta,
não tinha marca nenhuma, a não ser que fosse mais em baixo.

— Seu olhar me parece muito preocupado. — Ele zombou,


fazendo com que ela deixasse de olhar para o seu peito e o encarasse.

— Você não se queimou mesmo, não é? — Ela deixou a


preocupação transparecer no tom e no olhar.

Ele sorriu convencido demais.

— Café é café, Matthew, não tem comparação — ironizou


tentando imitar a voz dela.

Allana revirou os olhos acinzentados, chamando ainda mais a


atenção do Bittencourt, que a achou mais linda fazendo esse gesto
dramático.

— Engraçadinho — respondeu rindo.

— Você está preocupada comigo, confessa — pediu.

— Não estava, mas depois que descobri que você é de uma família
de advogados, sendo advogado também, eu comecei a me preocupar
muito.
— Por quê? — Ele perguntou com um sorriso, já imaginando o
que ela responderia.

— Não quero levar um processo nas costas, ainda mais fora do


meu país. — Ela fez uma careta engraçada.

Matt sorriu ainda mais, ele sempre sorria com Lana ao seu lado.

— Nunca faria algo assim, eu sou um perfeito cavalheiro.

Ela se lembrou do tão cavalheiro ele é.

— Eu sei bem que é, fica cheio de sorrisinhos para mulheres


desconhecidas. — Isso ela não queria ter falado em voz alta, mas acabou
escapando.

— Se eu pudesse chutar o que isso parece, diria que é ciúmes sim.


— Ele voltou ao assunto, convencido.

— Não é ciúmes, nem nos conhecemos direito. — Ela o olhou nos


olhos.

— Isso pode mudar. — Ele se aproximou, a prensando entre o seu


carro e o seu corpo.

Quando Allana percebeu que ele a beijaria, ela desviou o olhar e


virou o rosto.

— Eu não posso — sussurrou por fim.

— Por quê? — Ele ainda estava perto demais dela. Tão próximo
que estava cada vez mais difícil se segurar.

O perfume dele a embriagava.

O olhar penetrante a excitava.

E os lábios, Deus aqueles lábios poderiam ser sua perdição.


— Nos conhecemos ontem Matthew. — Ela voltou a olhá-lo nos
olhos e a mistura entre confusão, desejo e cautela, o deixou tão belo.

— Exatamente, mas quando eu coloquei meus olhos em você eu


percebi que você é especial.

— Imagino o porquê, já que eu estava te despindo em plena luz do


dia, no meio da Times Square. — Ela recordou de seus delicados dedos
sobre a camisa suja de café dele.

— Eu já tinha percebido antes, quando te vi entrar no Starbucks.


Foi inevitável não ir atrás de você.

— Como você me notou no meio de tantas pessoas? De tantas


mulheres lindas? — Ela queria muito uma resposta.

— Eu te notaria em qualquer lugar. — Ele ousou colocar a mão no


rosto dela, acariciando levemente.

Allana percebeu que estava muito envolvida em algo que ela sabia
que não deveria, então se afastou, aproveitando a brecha que Matthew
deu ao tocá-la na face.

— Matthew eu não posso, vou embora amanhã e sei que isso é


errado. — Ela apontou para os dois.

— Errado por quê? Eu quero e você parece querer também. — Ele


insistiu, não estava pronto para desistir.

Eu quero, mas não posso. Ela pensou.

— Não sou esse tipo de mulher, uma noite e já basta, não sou
assim. Sei que você está acostumado a ter tudo o que quer, percebi isso
no café, qualquer mulher daria tudo para estar aqui no meu lugar, mas eu
não sou assim.

— Por que você acha que eu fui atrás de você? Por ter notado que
você não é assim. — Ele contou, querendo que ela deixasse essa história
de errado para trás e permitisse que a beijasse.
— Então por que pegou o número da mulher do café? — Ela tinha
que perguntar isso, ela queria muito entender.

— É simples Allana, se eu não tivesse pego, ela teria insistido,


então eu simplesmente peguei e joguei fora, não iria ligar mesmo. Com
isso evitei perder mais do nosso tempo juntos.

— Mas acabamos perdendo o nosso café — resmungou


contrariada.

— Quem disse? Podemos ir para outro lugar, um onde ninguém


nos atrapalhará.

Ela entendeu que estariam sozinhos dessa vez.

Mas teria forças para resistir a esse homem, estando em um lugar a


sós com ele?

— Eu não sei se é uma boa ideia. — Ela olhou para o chão,


preocupada.

Matthew a segurou nas duas mãos.

— Juro que não farei nada que você não queira. — Ele prometeu.

Mas esse era o problema, ela queria.

Queria beijá-lo, mordê-lo, acariciá-lo, queria experimentar muitas


coisas com ele e sabia que não era capaz de resistir.

— Se eu dissesse sim, para onde me levaria? — Ela perguntou


curiosa.

Matthew sorriu, percebendo que ela aceitaria.

— Podemos tomar café em um restaurante, só que em uma área


reservada, depois poderíamos passear juntos pelo Central Park. Você
ainda não conheceu a cidade, não é?
Ela o olhou alarmada, ele estava conseguindo convencê-la.

— Não, ainda não.

— Então vamos? — Ele perguntou, decidido.

— Só me prometa uma coisa antes? — Ela pediu.

— O quê?

— Que não irá me beijar. — Allana notou quando Matthew


engoliu em seco, quase angustiado.

— Beijar você é o que eu mais quero, mas prometo não te beijar se


você não quiser. — Essa foi uma das promessas mais difíceis que ele já
fez.

Ela suspirou, não o conhecia muito, mas viu sinceridade no olhar


dele.

— Então vamos senhor Bittencourt, hoje você será o meu guia


turístico. — O mais lindo que eu já vi. Completou em pensamentos...
Capítulo 13

O dia ao lado de Allana tinha sido um dos melhores que Matthew


já viveu.

Não apenas por estar ao ar livre apreciando a beleza do Central


Park e de toda a cidade, mas por estar com ela, aproveitando a
companhia agradável.

A promessa de não a beijar foi cumprida com eficiência, mas não


foi fácil.

De todas as promessas que já fez, essa foi uma das mais difíceis de
cumprir. Só não foi a mais difícil porque a que fez para Megan é a que
ocupa o primeiro lugar, prometer para a sua irmãzinha que não contaria
para o pai de seu filho a existência do bebê, foi a coisa mais difícil que
ele já fez.

Entendia o receio de Megan em ter Theodoro de volta na sua vida,


viu o quanto ela se feriu com esse relacionamento e a dor nos olhos dela
é algo que Matthew nunca mais quer ver, só prometeu a irmã isso,
porque sabia que ela precisava do apoio dele, de todos da família na
verdade, mas por outro lado, pensar que Theodoro está perdendo tudo, o
nascimento, os passinhos, as palavras, fazia com que Matthew sentisse
culpa.

Mesmo admirando Miguel, gostando do cara e sabendo que ele


ama Megan, Matt ainda sentia culpa, não gostaria que fizessem isso com
ele, não deseja isso a ninguém, mas o problema é entre Megan e
Theodoro, não dele, ele só prometeu não contar, assim como quase
todos da família fizeram.

— Como você tem tanta certeza que não ligaria para aquela
mulher do Starbucks? — A pergunta de Allana o tirou de seus
pensamentos.
Os dois estavam caminhando até o carro dele, o dia já estava
chegando ao fim e Matthew detestava isso.

Saber que não a veria amanhã, causava uma sensação


desagradável no estômago.

Ele pensou a respeito da pergunta, sabia que ela merecia a verdade


e optou por contá-la.

— Só aceitei para não perder tempo ao seu lado, não ligaria. Eu


tenho... — Ele pausou, olhando atento para os olhos acinzentados que o
encaravam curiosos — tenho umas regras Allana, simples, mas que me
ajudam a evitar muitas coisas.

Matthew viu quando a expressão curiosa dela se transformou em


confusa.

— Regras? Para quê? — Ela não queria ser invasiva, mas sua
curiosidade era gritante.

— Para evitar problemas futuros. — Ele mentiu, na verdade era


para evitar dar o seu coração para ser pisoteado novamente.

— São quantas regras? — Ela mordeu o lábio. — Não precisa


responder se não quiser, eu só estou curiosa.

Matthew sorriu, tentando amenizar a tensão que seu corpo estava.

— São cinco e nenhuma das quatro mulheres do Starbucks passou


pela primeira.

Allana queria bombardeá-lo com mais perguntas, mas a expressão


dele não estava uma das melhores, ele parecia tenso, com medo até.

Matthew abriu a porta do carro para ela e Allana entrou, ainda


perdida em pensamentos.

Queria saber todas as cinco regras...


Saber se passou por alguma...

Se caso alguém passasse por todas, o que aconteceria?

Queria muitas respostas, mas permaneceu em silêncio, apenas


olhando-o dirigir.

Incrível como um homem confiante, que sabe conduzir um carro,


pode ser excitante, apenas olhá-lo já é bom.

— Pode perguntar. — Ele comentou em um sussurro.

Ela quis rir, se conheciam a tão pouco tempo, mas ele parecia
conhecê-la tão bem.

— Qual é a primeira regra? — Ela foi cautelosa no tom, mas os


olhos questionadores deixaram Matthew ainda mais tenso.

— Algo na mulher tem que me atrair. — Ele foi direto e Allana


ponderou se deveria perguntar mais.

— Então nenhuma das quatro te atraíram. — Ela concluiu seu


pensamento em voz alta.

— Nenhuma. A que eu quero já estava ao meu lado. — Ele


desviou o olhar para o dela por um instante e viu quando Allana se
chocou com a sinceridade dele.

— Qual é a segunda regra? — Ela voltou o foco a esse assunto,


querendo evitar que as borboletas na sua barriga causassem um mal-
estar.

Matthew mordeu o lábio inferior, ponderando se deveria ou não


responder.

— Você tem o dom de tentar fugir do assunto. — Ele riu, mas


logo completou. — A segunda é, não vir falar comigo.

— Coisa que ela fez. — Allana concluiu.


— Sim.

— Você vai me contar quais são as outras três regras? — Ela o


olhou curiosa, querendo muito saber.

— Não, hoje não, mas saiba que você já passou por três delas. —
Ele voltou a olhá-la rapidamente.

Allana não soube se foram as palavras dele, ou o olhar que


prometia muita coisa, mas algo a fez se arrepiar.

Ficou o restante do caminho ponderando que regra poderia ser a


terceira.

Não era relacionada a beijos, afinal não o beijou em momento


nenhum, mas o que poderia ser?

Matt notou que ela estava inquieta, agitada, curiosa. Os dentes


brancos e alinhados castigavam o lábio inferior, e ele queria tanto
resgatar aquele lábio e o acariciar com os seus.

Porra, estava atraído demais por essa mulher, mas a cada passo
que ele dava, ela recuava dois.

Quando o hotel foi avistado, ele falou:

— Nunca quis tanto que cancelassem um voo. — Ele entrou no


estacionamento quando estava começando a escurecer, afinal o dia
ensolarado estava se transformando em noite.

As palavras dele, o estacionamento deserto e meio escuro, tudo


estava fazendo com que Allana tremesse em antecedência, não queria
partir também, mas sua vida estava em Genebra.

Allana o olhou, conseguia lê-lo às vezes, apenas com um olhar, os


olhos azuis intensos dele denunciavam quase tudo o que o belo homem
pensava e ela adorou notar isso.

— Eu... Eu não sei quando vou voltar para cá — comentou


sentindo que deveria.

— Eu posso ir para lá, nos fins de semana. — Ele a olhou dessa


vez, querendo muito ver a reação dela.

Primeiro de tudo Allana ficou confusa com a declaração dele, mas


logo depois corou ao perceber que ele estava disposto a voar de Nova
Iorque para a Suíça, quatro vezes ao mês, apenas para vê-la.

Mas tinha tantas coisas no caminho dos dois, por isso ela sentiu
medo, muito medo.

Matthew notou isso, foi nesse momento que ele a segurou no


rosto, acariciando lentamente.

— O que foi? — perguntou preocupado.

Allana o olhou, querendo que tudo fosse diferente.

— Eu sei que você pode estar assustada, estranhando o meu


comportamento, mas eu... Nem eu entendo direito. — Ele confessou,
olhando para os lábios dela.

— Nos conhecemos tão pouco Matthew.

— Eu sei, mas parece que te conheço a muito tempo, eu não sei o


que sinto, mas sei que você tem que estar ao meu lado para tudo ficar
bem. — Ele demonstrou em palavras a avalanche de sentimentos que o
rondava desde que colocou os olhos nela.

Allana o entendia, ela sentia o mesmo, mas sabia que não poderia,
nunca deveria ter alimentado essa pequena atração entre os dois.

— Eu... Eu realmente não posso... Não devo. — Ela comentou


recuperando um pouco da razão que ainda lhe restava.

Sua atenção estava nos lábios dele, ela queria tanto poder beijá-lo,
mas isso era um erro, o maior que ela poderia cometer.
— Eu não sou assim, eu... — Ela voltou a falar, se afastando.

— Sei que também sente isso Allana, dá para ver nos seus olhos.

— Não vou mentir Matthew, eu me vi atraída por você desde que


te vi, nunca senti isso por ninguém, nem mesmo pe... — Ela não
terminou a frase, já que Matthew colocou o dedo indicador nos rosados
lábios dela.

— Eu não entendo a razão de se afastar de mim sempre que me


aproximo. Eu nunca quis tanto beijar alguém como eu quero beijar você
agora. — Ele se aproximou um pouco mais, quase roçando os lábios nos
dela, mas Allana não cedeu.

De todos os sentimentos, o que mais dói é a traição e ela nunca


seria a causadora dessa dor em alguém.

Quando a loira desceu do carro correndo, Matthew se assustou, ele


não esperava por isso.

Ele ansiava pelo momento que ela cederia passagem para a língua
dele, para enfim provar o gosto que ele tinha certeza que seria a sua
perdição.

— Allana espera. — Ele desceu do carro e correu atrás dela.

Matthew Bittencourt estava correndo atrás de uma mulher, mas ela


não era qualquer uma, em apenas um dia Allana ultrapassou mais da
metade das suas regras idiotas.

Como não ir à loucura com isso? Estava tão acostumado que


nenhuma passasse pela primeira, mas aí Allana apareceu com aquele
sorriso e olhar apaixonado, bem na frente do Starbucks.

Se viu atraído por ela naquele instante, vendo a adoração no olhar


bonito e acinzentado dela.

— Eu não posso deixar você sair da minha vida assim, preciso de


uma razão. — Ele a segurou firme no braço e a encostou no pilar de
concreto do estacionamento.

Allana olhou para o toque dele, depois para o seu rosto e por fim
para os seus lábios.

— Eu... Eu também quero Matthew, nunca quis tanto um homem,


mas não posso, não hoje, não antes de... — Ela paralisou e parou de falar
quando ele a segurou firme na nuca, acariciando os cabelos loiros.

— Não antes de quê? — Ele perguntou, os corpos colados.

Tão excitados que Allana sentia o quando ele a desejava.

— Não enquanto eu tiver outro homem na minha vida, eu sou


comprometida Matthew...
Capítulo 14

Há dois dias Allana tinha voltado para casa e Matthew se pegava


pensando em cada momento que vivenciou com ela.

Era terça-feira, precisava se levantar para o trabalho, mas pela


primeira vez em muito tempo, ele não queria isso.

Estava enrolando na cama, quando Megan entrou sem bater,


acendendo a luz quase o cegando.

— Porra Megan e se eu estivesse pelado? — Ele reclamou tapando


os olhos, a voz rouca por ter acabado de acordar.

— Não está. — Ela abriu as cortinas e voltou para perto da porta,


apagando a luz.

— Eu poderia. — Ele não se deu ao trabalho de olhar para ela.

— Nada que eu nunca vi. — Ela respondeu petulante.

— Éramos crianças Megan, tem uma diferença aí. — Ele ainda


estava com os olhos fechados.

— Não estou falando de você, estou falando do corpo masculino


em geral, mas ainda bem que não estava, me causaria pesadelos.

Ele quis rir, mas não deu esse gostinho a ela.

— Me diz o que te traz aqui? — Ele perguntou, abrindo os olhos e


olhando para a irmã, ela estava de pijama, descabela e com grandes
olhos azuis curiosos para ele.

— E a Allana? Já voltou para Genebra, não é? — Ela começou,


sem cautela, direta como sempre.
— Pois é. — Ele concordou, sentindo a boca amargar de repente.

— E então? Não vai me dizer como foi o domingo com ela? —


Megan se jogou na cama, ao lado dele.

— Foi um bom domingo. Levei ela para conhecer praticamente


toda a cidade. — Ele foi evasivo.

— Ficou com ela? — Meg apoiou o rosto nos braços, olhando para
ele curiosa.

— Não, mas não foi por falta de vontade.

Ela franziu o cenho.

— Está perdendo o jeito irmão? Ou ela não te quis?

— Nós dois queríamos Megan, mas é complicado.

— Defina complicado, eu não entendo. Vi a forma que se olharam


durante a exposição.

— Ela é comprometida. — Ele se sentou na cama, evitando o


olhar surpreso e triste de Megan.

— O quê? Mas que merda. Ela quem te contou?

Matthew assentiu, a pior parte de tudo isso é que sendo sincera, ela
acabou ultrapassando a quarta regra e ele se angustiava com medo de
que ela ultrapassasse a quinta sem ele notar.

— Depois que ela falou que é comprometida, o que mais


aconteceu?

— Eu vim para casa... — Ele respondeu calmamente, mas as


batidas do seu coração estavam a mil.

Quando a mulher que ocupa a mente dele desde que ele a viu,
confessou ser comprometida, Matthew sentiu como se um balde de água
fria tivesse sido jogado na cara dele.

A mistura de confusão e decepção é algo que ele nunca mais quer


sentir.

— Simples assim? Você virou as costas e se mandou? — Megan


continuou questionando, estava confusa.

Matt se levantou e foi para o banheiro, não estava com vontade de


reviver aquele momento.

Ele começou a escovar os dentes tranquilamente, mas não


demorou muito para Megan estar ao seu lado, olhando-o.

Ela o analisava e parecia pensar, parecia estar prestes a criar um


plano mirabolante para unir o irmão e a fotógrafa.

— Não fez nada? Apenas veio embora? — Ela voltou a perguntar,


quando ele finalizou sua higiene.

Ele não queria contar que mesmo após descobrir o compromisso


de Allana, ele ainda cogitou roubar um beijo dela, prensá-la naquela
parede fria e fazê-la entender que ele é muito melhor que o cara que está
na vida dela.

Mas o olhar dela gritava que não podia fazer isso, e ele não fez,
simplesmente a olhou com pesar, virou as costas, entrou no carro e saiu
do estacionamento sentindo ciúmes de alguém que nunca foi dele.

— Queria que eu fizesse o quê? — perguntou frustrado.

Matthew passou a procurar algo para vestir, tentando ignorar a sua


frustração e vontade de socar algo. Ou alguém. De preferência o sujeito
que nem ao menos se dignou a vir com ela para Nova Iorque e prestigiá-
la em uma das noites mais importante da vida de Allana.

— Você poderia ter perguntado se era namorado, ou noivo, ou


marido... — As palavras da irmã mais nova congelaram-no.
A ideia de ter um marido na vida de Allana o angustiou de uma
forma intensa demais.

— Eu... — Ele começou a falar, mas se calou.

— Você não perguntou, não é? — Meg permaneceu perto dele, os


olhos claros questionando-o.

— Megan eu nem pensei nisso, caralho ela tinha acabado de dizer


que alguém era dono do seu coração, como achou que eu reagiria?
Achou que eu perguntaria, mas Allana você é casada? Isso seria o
cúmulo. — Ele explodiu, soltando para fora tudo de uma vez.

Megan percebeu que isso afetava Matthew de uma forma ainda


mais intensa do que imaginou.

Ele gostou da fotógrafa, isso é um fato.

— Como foi que ela te contou? Me diga com as mesmas palavras


que ela usou. — Megan pediu, voltando a sentar na cama dele, apenas o
observando.

Matthew virou as costas para ela e se trancou no banheiro, ele


ligou o chuveiro e enrolou, enrolou e enrolou, só para não ver a irmã
quando saísse.

Assim que o chuveiro foi desligado, ele ouviu a voz de Megan do


outro lado da porta.

— Ainda estou aqui te esperando. — A petulante ainda riu.

— Às vezes não entendo a razão dos nossos pais não terem parado
no quarto filho. — Ele foi para a frente do espelho, dando o nó na sua
gravata.

Megan revirou os olhos, mania essa que ela e Elliot têm, e que fez
com que Matthew se lembrasse de Allana.

— De nós cinco eu sou a única que pensa. — Ela falou convencida


disso.

Matthew se virou para ela com um sorrisinho arrogante nos lábios.

— Quer mesmo começar a falar sobre isso? — Ele se referiu ao


fato de ultimamente Megan não estar pensando com clareza. Pelo
menos, não a respeito do pai biológico do seu filho.

— Eu só estou tentando te ajudar Matt. — Ela recuou.

Ele a analisou e por fim suspirou.

— Reviver esse assunto não me ajuda em nada.

— Mesmo assim, me conte tudo.

Ele se sentou ao lado dela e narrou o que achou ser útil, contou
que Allana também estava atraída, mas que no fim não podia por ter um
compromisso.

— Matthew a quem você quer enganar? — Megan não queria uma


resposta para isso, então prosseguiu. — Me explique em que parte ela te
disse que já não era mais dona do próprio coração?

Ele refletiu.

— Em nenhuma. — Ele percebeu só nesse instante que Allana não


disse em momento algum isso.

— E o que você está fazendo aqui ainda? Vai atrás dela.

Era uma grande loucura isso, vindo de Megan só poderia ser, mas
Matthew se pegou pensando no assunto. Querendo ir.

— Está louca? Eu não posso ir.

— Meu querido irmão lerdo, dá para me escutar uma vez na vida?


Vamos lá, você sabe que ela sente o mesmo, ter um noivo ou um marido
não vai mudar isso.
— Megan eu tenho princípios, não vou estragar o casamento de
ninguém.

— Mas quem disse que ela é casada? Você foi lerdo demais e nem
perguntou. Vai atrás dela e ao menos tente.

— Eu já disse que não vou. — Ele respirou cansado.

— Matthew, ela não estava com aliança na exposição, portanto


casada ela não é.

Essa frase fez com que o coração dele saltasse no peito. Nem no
domingo, não estava com nenhuma aliança desde que a viu no
Starbucks.

— Talvez eles sejam aqueles casais que não usam alianças. — Ele
comentou.

— Que homem em sã consciência deixaria uma esposa linda


daquelas por aí dando sopa? Pense maninho, pense. — Meg sorriu, se
afastando e saindo do quarto, já estava quase na hora de amamentar
Henrique.

Matthew ficou observando a irmã deixar o quarto, as palavras dela


o deixando cada vez mais pensativo.

— Temos um irmão investigador Matthew, podemos usar um


pouco esse benefício, por que você não aproveita? — E então ela fechou
a porta e se foi.

A curiosidade dele estava cada vez mais intensa. Pedir para Ethan
investigar a vida de Allana estava fora de cogitação, mas por que a
vontade de pegar o celular e fazer exatamente isso passava pela mente
dele?

E sem pensar em mais nada ele discou o número do irmão.

Quando Ethan atendeu, Matthew apenas disse:


— Preciso de um favor...
Capítulo 15

As saídas frequentes dos homens da família Bittencourt, sempre


foram algo que Matthew apreciava bastante, mas nessa noite em
especial, ele só queria ir embora logo, mas a presença de Ethan e as
possíveis novidades relacionadas a Allana o fizeram ficar.

Passou todo o dia pensando nela, mas Ethan estava atarefado e só


poderia ajudá-lo no dia seguinte.

— Relaxa Matthew, o que deu em você hoje? — Elliot perguntou,


colocando uma cerveja na frente do irmão mais novo.

Ethan olhou para Matthew querendo sorrir, ninguém ali além dele
sabia da existência de Allana.

— Verdade, você é sempre o mais relaxado nesses encontros. —


Christopher o olhou atento, mas só quando Alfredo abriu a boca que
todos começaram a considerar a questão.

— Acho que é alguma mulher. — O Pai falou encarando o caçula.

Pigarreando Matthew enrolou sobre o que dizer, mas Ethan se


adiantou:

— Só deve ser cansaço. Entendo você, hoje o meu dia também foi
puxado. Como está o caso do Enzo? — Ethan o salvou, todos se focaram
na questão da adoção.

Matthew bebeu da sua cerveja antes de responder.

— Já está ganho, tenho certeza, em breve Enzo estará na sua casa.

Ethan assentiu pensativo. A cada visita seu coração se partia mais


por deixar Enzo naquele lar temporário.
Na última vez que o visitou, Ane estava junto, foi ideia dela levar
brinquedos novos para todas as crianças que moram no lar, os presentes
foram entregues e enquanto ela observava atenta a reação de cada um, os
braços finos e pequenos de Enzo se enrolaram na cintura dela.

— Você gostou do seu? — perguntou sorrindo para o menino que


ainda a mantinha em um abraço.

— Sim, obrigado. — Ele a soltou quando Ane o beijou no rosto,


carinhosa.

O novo boneco do Homem de Ferro estava sendo segurado com


carinho e admiração, desde o princípio esse foi o objetivo de Tayane,
fazer aquele menino sorrir. Cada criança a agradeceu de um modo
diferente, umas mais tímidas, outras mais alegres e extrovertidas, mas
todas, sem exceção de nenhuma, ganharam beijos carinhosos.

Ethan se via cada dia mais apaixonado por aquela mulher, que
alegou, mesmo após a conclusão da adoção de Enzo, ela faria questão de
todos os meses visitar aquele lar e fazer daquelas crianças um pouco
mais felizes.

Ele via na namorada o amor pelo menino, que conquistou os dois


desde a primeira troca de olhares e a ansiedade em ter logo Enzo na casa
deles, vivendo com os dois, protegendo-o, só aumentava.

— Não tem como não dar certo. — Alfredo comentou, tirando


Ethan de seus pensamentos.

— O menino já é da família. — Elliot comentou.

— Todos estaremos lá te dando apoio. — Chris garantiu.

A família notou o quão importante o menino é para Ethan e


passaram a amar o garoto assim como ele.

— Sim — Ethan olhou para cada um daqueles homens, os que


mais ama na vida. — Ele é um Bittencourt agora, só falta oficializar.
Todos os homens da família ergueram suas garrafas e brindaram.

Matthew deixou que a tensão saísse do seu corpo, viveu vinte e


três anos sem saber da existência de Allana, poderia sobreviver mais
algumas horas sem informação alguma.

∞∞∞

Na manhã seguinte, Ethan tinha acabado de ocupar a sua mesa,


quando bateram na sua porta.

— Entre — mandou.

— Está ocupado? — Matthew perguntou olhando-o atento.

— Não estou, pode entrar. Caiu da cama hoje? Ou nem conseguiu


dormir? — Ethan riu maldoso.

Matthew quis esganá-lo, mas apenas negou com a cabeça, na


verdade dormiu sim, mas bem pouco.

— Eu vim para... Você sabe... — Ele ficou sem graça.

Nunca foi de pedir favores e relacionado a vida de uma mulher,


nunca aconteceu antes.

— Sim eu sei, preciso de alguns dados sobre ela. — Ethan ligou


seu notebook, querendo rir da expressão do caçula.

— Não sei se vou conseguir ajudar, quase não sei nada sobre ela.
— Com as palavras de Matthew, Ethan franziu o cenho confuso.

— Não quero me intrometer, mas por que o interesse nela? —


perguntou o investigador, que mesmo sabendo que não era correto,
estava pesquisando sobre a vida de uma mulher para seu irmão mais
novo, esse ao qual nunca lhe pediu nada antes.
— Nada em especial, ela só é... Ela só é... — Matt não achou as
palavras certas para dizer o que Allana significava.

Só é a mulher que ocupou sua mente por todos esses dias.

Só é a única que ultrapassou quatro de suas regras em apenas dois


dias.

Só ela quem foi capaz de fazê-lo se esquecer dos olhos verdes-


esmeraldas de Emily e ver os azuis-acinzentados no lugar.

É ela só é isso. A garota que foi embora sem nem ao menos beijá-
lo.

— Já entendi. — Ethan sorriu compreensivo, entendendo que de


especial a jovem tinha tudo.

— Não é bem assim, eu só preciso de uma informação sobre ela.

O loiro já entrava no centro de dados e estava preste a digitar as


poucas informações, quando perguntou:

— Qual informação? — Ele levantou as sobrancelhas se


divertindo com o constrangimento do mais novo.

— Se ela é casada. — A frase pegou o investigador de surpresa,


fazendo-o soltar um pequeno "ow".

— Não me diga que de todos nós você é o mais corrompido? —


gargalhou, deixando Matthew ainda mais envergonhado.

Ethan ainda se deliciava com a expressão do irmão, enquanto


imaginava o mais novo dos homens Bittencourt apaixonado por uma
mulher casada.

Porra seria desastroso — pensou.

— Eu nunca prejudicaria um casamento, por isso quero saber logo


e resolver de vez essa questão.
— E se ela for casada? Você vai desistir? — Dessa vez Ethan o
encarou, estava realmente curioso.

Essa era a pergunta que Matthew estava evitando pensar.

E se ela fosse casada? O que eu faria?

Allana mexeu com ele de uma forma inimaginável, ainda não


estava disposto a abrir mão dela.

Como a pergunta não obteve resposta, Ethan prosseguiu:

— Qual o nome completo dela?

— Allana Sulatte. — Matthew respondeu de imediato.

— Sabe mais alguma coisa importante? — O loiro perguntou, sem


tirar os olhos da tela do seu notebook.

— Nasceu e cresceu em Genebra, na Suíça. Profissão fotógrafa.

Ethan terminou de digitar o que o irmão sabia a respeito da mulher


e procurou no sistema.

A foto de Allana apareceu, revelando que seu único crime foi uma
multa de carro, por excesso de velocidade, uma única vez há dois anos,
mas já foi o suficiente para encontrar ela no sistema.

— Bom... O estado civil dela é solteira. — Ethan comentou e


notou a expressão de Matthew se suavizar.

O caçula agradeceu, já estava se levantando para partir, quando


Ethan disse:

— Só quer saber isso mesmo? — Ele perguntou, em busca do real


interesse do irmão.

— Só. — Matthew mentiu.


O loiro deu de ombros, como se não se importasse e olhou para a
tela do notebook novamente.

— Ela é muito bonita. Aqui tem onde ela mora, o local de


trabalho, a ficha completa, mas já que você não tem interesse, então tudo
bem. — Ele jogou.

Matthew parou no exato momento que abriria a porta, em dúvida


se deveria ou não seguir esse rumo, mas a curiosidade falou mais alto
que a timidez e ele se virou.

— Tem o endereço dela?

Ethan se levantou e disse:

— Eu sabia, pelo visto teremos mais um casamento na família.

— Não diga besteiras, eu nem a conheço, só estou curioso. — Ele


falou rápido demais.

— Sim, claro que está. Vai até a Suíça apenas para matar a
curiosidade então? — Ethan sorriu maldoso.

— É um belo país, nunca estive lá, tenho a curiosidade de


conhecer. — Matthew respondeu na defensiva.

— Sim, é um país bonito, que tem como moradora uma mulher


linda. — Ethan fingiu pouco caso e colocou as informações que
descobriu sobre Allana para imprimir.

— Sim, ela é realmente linda. — Matthew comentou.

— Eu vi que é, você merece ser feliz irmão, se ela despertou o


mais pequeno dos interesses, tente, afinal ela não tem nenhuma aliança
no dedo, nada te impede de tentar.

— Eu irei tentar, tenho certeza que Megan já deve ter organizado


tudo para a minha ida. — Matthew confessou.
Os dois sorriram, vindo da irmã, não era de se duvidar.

Ethan estendeu as informações impressas para Matthew, que


quando pegou e viu a foto de Allana, sentiu seu coração se acelerar.

Ela não é casada e se a atração que ele sentiu foi recíproca, ele não
desistirá de tentar algo com ela.

Seu celular apitou.

Era uma mensagem de Megan avisando que tudo já estava


organizado para a ida dele a Suíça.

— Irei amanhã de manhã...


Capítulo 16

Dormir estava nos planos de Matthew, mas ele não conseguiu.


Estava ansioso e com medo.

Sabia que deveria ir, mas simplesmente estava com receio.

Chegaria lá e diria o que a ela?

Não sabia o que diria, o que faria, mas de uma coisa tinha certeza,
iria atrás dela.

Allana mexeu com ele e o mais novo dos homens Bittencourt


queria ao menos tentar.

Quando saiu do quarto ainda era quatro e meia da manhã, faltavam


mais de duas horas para o seu voo.

Segurando a mala pequena, Matthew desceu as escadas, foi


quando ele viu Megan com Henrique no colo.

O bebê estava com os olhos bem abertos e atentos, o contrário da


mãe, que estava com um visível cansaço.

Assim como Matthew tem seu apartamento próximo dali, Megan


tem sua própria casa no condomínio, mas com os estudos, a ajuda de
Angélica acabou sendo muito importante e a filha optou por ficar com
eles até o término da universidade.

Já Matthew, se dividia entre o apartamento e o seu lar, afinal a


casa onde cresceu sempre será seu lugar favorito no mundo.

— O que aconteceu? — Matt perguntou preocupado.

— Ele perdeu o sono, estamos aqui há um bom tempo, mas nada o


faz dormir. Acho que ele está sentindo falta dos nossos pais,
normalmente eles conseguem fazê-lo dormir. — Meg respondeu em um
tom exausto.

Matthew se aproximou mais dos dois e deixou sua mala no chão.

— Me dê ele aqui, vai dormir um pouco. Eu cuido desse meninão.


— Ele mandou, estendendo o braço para o bebê.

— Mas e o seu voo? — Megan se preocupou.

— Irei sair só daqui a duas horas, aproveite para dormir um pouco.


— Ele mandou.

Megan deu um beijo na testa do bebê e um no rosto do irmão.

— Obrigada, eu amo você. — Ela sussurrou agradecida.

— Também amo você. — Ele respondeu e caminhou até o sofá


com o sobrinho.

— Você cansou a sua mamãe hoje garotão. — Matthew começou


a falar com Henrique, que o olhava curioso, os grandes olhinhos azuis
brilhando.

Olhando com atenção para o sobrinho, Matthew via muito de


Megan nele, os olhos azuis intensos, o cabelo nem loiro e nem preto,
estava mais próximo de um castanho claro. As bochechinhas gordinhas,
e o sorrisinho sapeca de quem não vai dormir mais.

— Pelo visto você está sem sono mesmo e me fará companhia, não
é? — Matthew falou com o menino de apenas um ano e meio em seu
colo. — A mamãe precisa descansar também garotão, cuidar de você
sozinha não é fácil para ela. — Ele comentou, recebendo em resposta
um bufinho como se estivesse irritado.

Um pequeno possessivo, que queria a mãe só para ele.

Matthew se levantou sorrindo, mesmo Henrique não estando


cansado, ele começou a ninar o bebê, do jeito que a mãe o ensinou
quando, Andrew, seu primeiro sobrinho nasceu.

Henrique parecia estar entediado e brincava com os cabelos do tio,


dando risinhos sapecas.

— Você não vai dormir pelo visto, então vamos ficar aqui os dois,
sem nada para fazer até as sete da manhã, o que acha? — Ele encarou o
bebê.

Matthew falava com o bebê, como se o pequeno fosse respondê-lo.

— Hoje o tio irá buscar a sua futura titia, não vou voltar sem ela
nos meus braços, me deseja sorte viu? — Henrique bocejou, deitando a
cabeça no ombro do tio novamente.

Matthew percebeu que falar da sua vida amorosa para um bebê


estava o cansando, resolveu prosseguir, assim o menino dormiria.

— Ela tem um namorado ou noivo, sabia? Mas isso não vai ser o
suficiente para eu desistir, sei que ela também sente algo por mim. —
Ele continuou falando e lentamente os dedinhos do menino pararam de
se mexerem nos cabelos do tio, demonstrando que ele havia dormido.

Matt subiu a escada lentamente e continuou assim até chegar no


quarto de Megan, onde colocou o menino em seu berço.

— Ele dormiu? — Ela perguntou assim que o filho já descansava.

— Dormiu. — Matt sorriu para a irmã que o olhou aliviada.

— Como você conseguiu? Eu tentei por muito tempo.

— Foi só falar da minha vida amorosa, ele acabou cansando. —


Matt sussurrou e cobriu o pequeno.

— Obrigada Matt. — Megan respondeu e bocejou.

— Acho que eu não deveria viajar Megan, não com os nossos pais
fora, não devo deixá-la sozinha.

— Não estarei sozinha, o Chris e o Elli moram bem ao lado, um


grito e eles estarão aqui armados e tudo o mais. — Ela fez um gesto de
pouco caso, sorrindo. — Não perca a sua chance de ser feliz.

Matthew assentiu pensativo, mas a ideia de deixá-la sozinha com o


bebê, ainda parecia errada.

— Sabe que é cansativo para você, Miguel adora o menino e tenho


certeza que ele também adora você, por que não dá uma chance a ele?

— Eu... Eu não sei. Não tenho certeza se esse é um passo que o


Miguel quer dar. — Ela respondeu perdida em pensamentos, ninguém
nunca entenderia o seu receio.

— Megan ele quer muito, todos sabemos, mas você sabe que um
dia ele vai cansar de insistir.

— Mas ele não é o pai do Henrique, não seria justo. Um filho é


uma responsabilidade grande demais.

— Tem certeza que é só isso que te impede? Ou tem algo mais? —


Matthew perguntou em um sussurro.

Notou quando a irmã desviou o olhar, confusa.

— Matt...

— Não adianta usar essa desculpa Megan, não quando o Miguel é


tão interessado em dividir essa responsabilidade com você, Henrique o
ama. Tenho certeza que a primeira palavra do menino será papai. —
Matt sorriu imaginando a fúria da irmã, caso isso acontecesse, mas pelo
contrário, ela sorriu.

— Ontem ele falou papai para o Miguel, bem nítido. Foi até fofo.
— Ela comentou emocionada.

— Eu não disse? Você deveria parar de adiar isso Megan e se


entregar logo.

— Eu tenho medo Matthew, medo de me entregar e tudo se


repetir, não sei se aguento quebrar o meu coração uma segunda vez. —
A loira deixou a sua dor transparecer, ela sempre foi forte, na frente dos
outros, mas ali, diante do irmão ela confessou o que realmente sentia.

O moreno se deitou ao lado dela, a abraçando apertado, nem


ligando para sua roupa que amassaria.

— Seu erro é comparar o Miguel ao Theodoro, os dois são homens


totalmente diferentes, pense nisso irmã.

Ele continuou com ela em seus braços, cuidando da caçula que ele
sempre iria proteger. Até que ela adormeceu, pensando nas palavras do
irmão.

∞∞∞

Quando o voo foi anunciado, o Bittencourt sentiu a ansiedade


correr em suas veias, estava a menos de oito horas de distância dela.

E essas horas foram as mais sufocantes que ele já teve. Quando


por fim desembarcou no aeroporto de Genebra, já eram quase nove da
noite.

As seis horas de diferença no horário e a noite mal dormida,


fizeram ele tomar a decisão de procurá-la na manhã seguinte.

No momento precisava de um bom banho e descanso.

O carro que ele havia alugado já estava no aeroporto, após colocar


o endereço do hotel no GPS, ele deu partida.

Estava praticamente com ela em seus braços...


Capítulo 17

Matthew tinha que agradecer ao cansaço da viagem, que se


acumulou com o da noite anterior.

Já que nessa manhã despertou disposto, iria atrás dela, após tomar
o seu desjejum.

Diante da pequena, mas aconchegante casa, ele pensou se deveria


descer.

Já estava ali, tinha viajado por quase oito horas e só naquele


momento parou para pensar que poderia ser o namorado a abrir a porta.

— Isso é loucura — comentou para si mesmo.

Mesmo sua razão alertando, Matthew teimoso como um


Bittencourt é, resolveu seguir seu coração e ao menos tentar falar com
ela.

Decidido, ele desceu do luxuoso carro preto e arrumou o terno.

Sentindo a mão soar de nervoso, ele tocou a campainha,


acreditando que conseguiria colocar os olhos nela depois de cinco dias,
mas não foi Allana quem abriu a porta.

Uma senhora na casa dos quarenta o olhou confusa e ao mesmo


tempo curiosa.

— Bom dia. — Ele falou constrangido.

— Bom dia, no que posso ajudá-lo? — Ela perguntou.

Matthew notou que a mulher à sua frente não era tão fluente no
seu idioma quanto Allana.
— Quero falar com a Allana. Ela está? — Por incrível que pareça,
ele falou devagar, calmo, deixando a senhora compreender suas
palavras.

— Ela não está. Saiu a pouco para o trabalho. — A mulher


respondeu olhando para o seu relógio de pulso.

Merda! Desesperado em ao menos tentar, ele não pensou em mais


nada, apenas em vir logo para Genebra.

— Então voltarei outra hora. — Ele respondeu indeciso.

— Tudo bem, eu sou Solange, a mãe da Suzy, melhor amiga da


Allana.

— É um prazer conhecê-la senhora, sou Matthew Bittencourt. —


Ele estendeu a mão, se recordando da falta de educação que teve em não
se apresentar.

Allana estava enlouquecendo-o e nem ao menos o beijara.

— É um prazer Matthew, você a conhece de onde? — A senhora


perguntou, interessada, protegendo a sua menina.

— Nos tornamos amigos, eu estive na exposição dela em Nova


Iorque.

Os olhos da mulher se arregalaram um pouco, mas ganharam um


brilho admirado também.

— Veio de Nova Iorque apenas para vê-la? — Voltou a perguntar,


interessada.

— Pois é. — Ele coçou a nuca, ouvindo essas palavras de outra


pessoa, isso realmente parecia um grande absurdo.

— Então volte depois da cinco, ela estará aqui. — Ela aconselhou,


ele assentiu e se despediu rápido, não queria responder perguntas que
nem ele sabia as respostas.
Matthew ficou dirigindo por um tempo, perdido em pensamentos,
até que seus olhos caíram na ficha completa que Ethan imprimiu sobre
Allana.

Parou o carro e colocou o endereço do trabalho dela no GPS.

Já estava ali mesmo, não aguentaria esperar.

Quando parou em frente ao pequeno estúdio, ele olhou dentro do


local, estava vazio, nenhum cliente. Não teria mal nenhum em descer
então.

Ele desceu do carro decidido. Não iria embora sem falar com ela.

Quando entrou no estúdio, um homem loiro e alto, o olhou


curioso.

— Em que posso ajudar? — perguntou em Inglês, percebendo que


Matthew é um turista.

A atenção de Matt estava ao redor, querendo vê-la o quanto antes.

— Quero falar com uma funcionária. — Ele respondeu, desviando


o olhar para o homem em questão.

Loiro o olhou interessado, curioso.

— Com qual delas?

— Allana Sulatte. — Ele voltou a responder, vendo os olhos do


homem à sua frente se estreitarem, analisando-o melhor.

— Ela está trabalhando em um evento hoje. O que você quer com


a minha noiva? — Dessa vez o tom dele já não era mais tão educado
quanto antes.

Matthew o olhou de cima a baixo, analisando-o também.

— Sua noiva? — O Bittencourt perguntou, testando a palavra com


desprezo.

— Sim, minha noiva. — O loiro respondeu com um sorriso


convencido.

É claro que a vida não seria tão fácil, não podia ser um
namorado, tinha que ser um noivo. — Pensou Matthew com evidente
ciúme de alguém que nem era dele.

— Meu assunto é com ela. — Seu tom foi firme.

Foda-se que era noiva dele, ele estava ali e não sairia sem falar
com ela. Nem se tivesse que esperar.

— Então você é o cara? — O noivo de Allana perguntou, parecia


muito irritado.

Matthew o olhou sem entender. O que raios ele quer dizer com
isso?

— É você que ficou atrás dela em Nova Iorque? — Após


perguntar isso, o loiro sorriu com deboche.

Matthew se aproximou um pouco mais do homem em questão e o


olhou com firmeza, nos olhos.

— O que você quer dizer com isso? — Seu tom ainda firme, a
cada segundo detestando mais o infeliz que a decretou como sua.

— Pelo visto você não desistiu, vir de Nova Iorque até aqui atrás
da minha garota. — O loiro fez questão de frisar o pronome possessivo.

— Tivemos um encontro casual, eu não fiquei atrás dela, viajei até


aqui porque a Allana se tornou especial para mim. Eu vim ter certeza se
ela também se sente assim.

O loiro se irritou, fechando as mãos em punhos ele falou


entredentes:
— Você vem no meu país, no meu emprego, atrás da minha noiva
e confessa assim na minha cara? — Pareceu incrédulo.

— Sou homem para assumir as minhas atitudes, ao contrário de


você. — Foi Matthew quem sorriu com deboche dessa vez.

O Bittencourt não sabia o porquê, mas ele não conseguia parar de


enfrentar o homem na sua frente. Seu santo simplesmente não bateu com
o dele.

— Ao contrário de mim? O que você quer dizer com isso afinal?

— Que você foi um idiota em deixar uma mulher linda como a


Allana viajar para Nova Iorque sozinha, em um dia tão importante para
ela e ainda se diz o noivo.

— Eu tive um compromisso. — O loiro falou irritado, essas foram


as mesmas palavras que Suzy, a amiga que ele detestava de sua noiva,
havia dito dias antes.

— Um compromisso mais importante do que ela? — Matthew


perguntou.

— Ela é minha noiva, mas eu tenho uma vida também.

— Ela deveria ser a sua prioridade.

— Eu não te devo explicações. Se veio aqui apenas para isso, pode


ir embora. Só tenho um conselho para te dar, não espere por ela. Se você
tivesse sido tão importante assim para a Allana, ela não teria aceitado o
meu pedido de casamento assim que voltou de viagem. — E essas
palavras golpearam o Bittencourt em cheio.

Ele acreditou que Allana também o desejava, afinal via isso nos
olhos acinzentados dela, mas pelo visto se enganara, afinal ela aceitou se
casar com um babaca completo.

— É melhor você voltar para o seu país, logo ela será minha
esposa, não é você e nem ninguém que mudará isso. — O tom do loiro
fez Matthew sair de seus pensamentos.

— Quem perde é ela, não sou eu. — Ele respondeu por fim, saindo
do lugar onde nem deveria ter pisado...
Capítulo 18

Allana Sulatte...

Sabe aquele amor de adolescência? Aquela paixão desenfreada


que cultivamos tão fortemente, mas que um dia acaba e nem notamos?

Era exatamente isso que eu estava percebendo agora.

Me apeguei ao Luan por tempo demais. Ele era o meu vizinho


quando eu ainda morava com meus pais, o mais próximo que tive de
amigo depois de Suzy. Me vi encantada por ele na adolescência.

O menino loiro, de olhos castanhos e com sonhos futuros, aquele


que sorria sempre que me via, que segurava a minha mão quando meus
pais não estavam vendo, o mesmo que me apoiou no funeral.

Esse garoto foi o que acreditei amar, não o homem que ele se
tornou.

Me apeguei ao menino que me abraçou forte quando as duas


pessoas que mais amei na vida partiram, me apeguei ao menino que
prometeu sempre estar comigo, independente de qualquer coisa.

Mas o homem ocupado que ele se tornou não o permitiu cumprir


essa promessa.

Luan mudou, a vida e as responsabilidades adultas o mudaram.

Ele não esteve comigo no meu último aniversário, por causa de um


compromisso.

Não esteve comigo no meu evento em Nova Iorque, mas eu já


desconfiava a razão, afinal ele também é fotógrafo, também se inscreveu
para o concurso e não ganhou.

Tinha quase certeza que a razão dele não me acompanhar foi por
orgulho ferido.

Mas agora que acabei de pisar no aeroporto internacional de


Genebra e não o vi, senti meu peito se afundar em tristeza.

Acreditei que ele estaria aqui, louco de saudades, mas me enganei.

Olhei ao redor, procurando-o, mas as palavras de Suzy


confirmaram as minhas suspeitas.

— Ele não veio Allana.

Ela me conhecia, com apenas um olhar decifrava o que eu estava


pensando.

Suzy deixou as malas dela de lado e me puxou para um abraço.

— Sempre falei que ele não merece você. O Luan se tornou


alguém desprezível depois que cresceu.

Infelizmente eu precisei sentir atração e conhecer um homem


como Matthew, para notar isso.

Eu estava no meu país, no lugar que sempre considerei o meu lar e


fui feliz, mas dessa vez estava diferente.

Estava faltando algo...

Ele.

Eu queria, mas não podia confessar em voz alta a falta que estava
sentindo do Bittencourt, afinal ainda estou com o Luan, mesmo que seja
em um relacionamento complicado, ainda é um.

— Aí amiga, Nova Iorque me marcou, — Suzy comentou sorrindo


nostálgica. — Pierre me marcou, literalmente.
Pelo visto não sou só eu que notei a diferença em voltar. E
realmente o francês havia a marcado, a bela marca estava em seu
pescoço.

Suspirei feliz por ela e voltei a procurar por Luan na saída.

Nada dele.

— Eu cansei de levar esse relacionamento sozinha Suzy — acabei


confessando.

A morena linda que se tornou uma irmã para mim, me olhou em


choque.

— Meu Deus, eu vivi o suficiente para ver esse momento. — Fez


o típico drama dela, já eu estava decidida.

Luan não estava mais merecendo toda a minha dedicação, cansei


de tentar por nós dois.

Quando avistamos Solange, ela correu até nós e nos apertou em


um abraço.

— Senti tantas saudades das minhas meninas, aquela casa é


silenciosa demais sem vocês.

— Nós também sentimos — respondemos juntas e sorrimos.

Já no carro, Solange olhava curiosa para a marca no pescoço da


filha, mas nada perguntou.

Fomos levadas para a casa respondendo às perguntas dela sobre


Nova Iorque, eu quem mais respondi, afinal Suzy passou o pouco tempo
que esteve lá jogada em uma cama, com um francês para lá de lindo.

Quando chegamos em frente à nossa casa, Luan estava lá, com as


duas mãos dentro do bolso da jaqueta quente e olhando em nossa
direção.
— Desculpe não ir te buscar, acabei de chegar aqui. — Ele se
explicou e acenou para Suzy e Solange, que nada disseram apenas o
cumprimentaram com um aceno também.

As duas entraram e nos deixaram sozinhos. Quando seus lábios


quase encontraram os meus, eu desviei.

Não era esse beijo que eu queria, não era mais ele quem eu queria.
Quando Luan me encarou, vi em seu o olhar a confusão.

— Está chateada por eu não ir te buscar? — perguntou confuso.

Eu estou chateada por tantas coisas, agora que a venda caiu, eu


estava enxergando nitidamente muitas coisas.

— Eu estou chateada por muitas outras coisas Luan, mas não


quero falar sobre isso agora, estou com frio e quero entrar — dei as
costas e entrei.

Ele me seguiu, arrastei a minha mala para o meu quarto e a joguei


na cama.

— Eu te liguei, você não me atendeu.

— Sim, eu sei.

— Estava ocupada demais? — O tom acusatório foi percebido.

— Foi você quem não quis ir comigo, não venha com graça agora
— respondi ríspida.

Ele me olhou surpreso.

— O que deu em você Allana?

— Eu estou cansada Luan. Cansada da viagem, cansada de tudo.

— Não quero brigar com você agora. — Ele se aproximou


novamente, mas eu me afastei.
— Eu também não, nada vai me fazer mudar de ideia afinal.

— Que ideia? — Ele perguntou confuso.

Confesso que me dói terminar tudo, mas ele mudou tanto, não é o
mesmo garoto que me encantava.

— Eu quero termin...

— Deixa esse assunto para depois, eu tenho algo mais importante


para te dizer. — Ele me cortou.

— O quê? — O incentivei, achando que era algo no nosso


trabalho, afinal trabalhamos no mesmo estúdio.

— Desde que você viajou eu senti muito a sua falta, então decidi
comprar isso. — Ele retirou uma caixinha do bolso.

O quê? Bem agora? Não! Que não seja o que estou pensando.

Olhei para a caixinha que ele abriu lentamente, depois para o anel
e depois para ele, que me olhava em expectativa.

Eu fiquei em silêncio, perplexa, isso realmente estava


acontecendo? Logo agora que eu já não tinha mais tanta certeza dos
meus sentimentos?

— E então? — Ele perguntou, já que fiquei em silêncio, incrédula.

— E então o quê? — Fiz questão de perguntar, queria ver se ao


menos ele perguntaria.

Dessa vez eu não faria tudo por ele, não mesmo. O pedido formal
teria que vir dele.

— Quero saber se você quer ser minha esposa. — E a resposta


veio, mas não foi uma pergunta, ele realmente estava conseguindo
estragar ainda mais o momento.
— Luan... Eu... Eu não quero — respondi por fim, me sentindo
culpada por negar e aliviada por fazer algo certo uma vez na vida.

Não me via casada com ele, não depois de desejar Matthew


Bittencourt de uma forma que nunca desejei Luan.

— O QUÊ? Está me rejeitando? — E o sentimento de rejeição o


deixou furioso, ele fechou a caixinha com um baque.

— Esse é um passo que eu não pretendo dar Luan, estava


justamente tentando terminar com você.

— Allana, você não vai terminar tudo assim, não mesmo, isso só
acaba quando eu quiser. — Ele se exaltou e agarrou meu braço forte.

Essa frase e esse puxão me fizeram notar que o nosso fim não seria
amigável.

Os olhos dele me transmitiam raiva, frustração, medo. Ele estava


com medo de eu o deixar?

— Se você não sabe, uma relação é baseada em duas pessoas —


falei puxando o meu braço do seu toque, com medo.

O local ardia, ele tinha me apertado bem forte. Me machucado.

— É outro cara, não é? Você está me traindo? — O tom frio da


voz dele me assustou.

— Sabe que eu não sou assim Luan, nunca te trairia. Sabe que esse
relacionamento não está dando certo, deveríamos ter terminado muito
tempo antes.

Ele me olhou inconformado.

— Tudo isso só por que eu não viajei com você? É isso? Porra
Allana, eu queria ganhar essa exposição, eu merecia mais que você. —
Ele respondeu a própria pergunta, de forma rude.
O olhei chocada, achei que mesmo perdendo, ele me apoiaria, mas
pelo visto não.

— Eu não tive culpa de ganhar.

— Eu sei merda, só não entendo porque terminar.

— Só não estamos mais dando certo, você sabe.

— É outro homem tenho certeza, sua amiga Suzy quem fez você
ficar com outro, não é? Ela é uma vadia, sempre quis nos separar e pelo
visto você se tornou uma também. — A única resposta minha que ele
recebeu foi um belo tapa na cara. Dei o tapa com toda a minha força,
sentindo minha mão latejar com o ato.

Luan me olhou com raiva.

— Nunca mais ofenda a Suzy na minha frente — falei rancorosa.

A risada irônica dele, junto com o desprezo, me fez prever o que


ele diria.

— Você é tão desprezível Allana, todos que te cercam só estão


com você por pena, não por te amar, depois que seus pais morreram,
você se tornou digna de pena, se apegando a quem lhe desse carinho.

— Não fale deles. — Quis gritar, mas saiu um sussurro.

— Eu acreditei gostar de você, mas quando comecei a me


interessar e sair com outras mulheres, percebi que só perdia meu tempo
contigo.

As palavras dele me pegaram de surpresa, fazendo meus olhos se


lacrimejarem e as lágrimas caírem com força total. Não foi o fato de
descobrir ser traída que doeu, foi a fato de ele mencionar os meus pais.

Meu choro se tornou forte e intenso, eu só queria ficar sozinha,


mas Luan parecia não notar isso.
Me abaixei e sentei no chão, colocando a cabeça sobre os joelhos,
sei que essa não era a hora para eu chorar assim tão covardemente, eu
deveria enfrentá-lo, deveria expulsar ele daqui, mas não tinha força, eu
estava desarmada.

Quando perdi meus pais, realmente me apeguei ao mínimo carinho


que recebia, mas isso não faz de mim digna de pena.

Quando a mão dele me tocou, eu me afastei com repulsa e raiva.

— Allana eu sinto muito, não deveria ter falado isso, nunca me


perdoarei. — Ele comentou, um tempo depois, sentado ao meu lado.

— Tudo bem Luan, não faz diferença para mim — respondi


baixinho, com o choro já controlado.

Ele sorriu aliviado.

— Já que tudo está bem, por que não aceita o anel? — Ele o
retirou da caixinha e o enfiou no meu dedo.

Encarei a joia e depois a retirei.

— Luan quem você acha que eu sou? Depois de tudo acha que eu
ainda iria querer olhar para você? Me casar com você? Me deitar com
você? Você só pode estar louco se acha que sim — joguei o anel na cara
dele, indo para a porta do quarto e a abrindo, pelo menos Suzy e Solange
poderiam me ajudar a tirar ele daqui.

— Você só pode estar louca Allana, nós estávamos bem.

— Luan, acabou, apenas aceite isso e vá embora — concretizei


com o pouco de voz que ainda tinha.

Ele me olhou de cima a baixo e falou:

— Tudo bem, eu não me importo, vá e fique com o homem que te


tornou isso. — E a ideia de um cara novo em minha vida ainda não tinha
saído da cabeça dele.
Eu não disse nada, apenas deixei que ele passasse por Suzy e
Solange na ponta do corredor e depois cai no abraço das duas...
Capítulo 19

Allana Sulatte...

Há cinco dias eu estava em Genebra, mas a sensação de algo fora


do lugar, faltando, ainda estava presente.

Eu sei que isso era causado por Matthew, mesmo cinco dias
depois, eu ainda pensava nele, o desejava.

O Bittencourt mexeu comigo de uma forma irracional, intensa


demais, inexplicável. Mas eu não poderia simplesmente deixar tudo aqui
e voltar para Nova Iorque, voltar para ele.

Minha vida é aqui, sempre foi, acredito que ele nem pense mais
em mim, que essa obsessão louca aconteceu só comigo, afinal quando eu
contei que era comprometida, vi a decepção nos olhos lindos e claros,
ele ficou triste. Não pretendo voltar para lá e enxergar esse olhar
novamente nele.

Mesmo que o desejo de beijá-lo tenha sido insano, eu nunca


passaria pelos meus princípios, sou do tipo de pessoa que quando está
com alguém é fiel até o último instante. Nunca trairia o Luan, mesmo
sendo imensamente atraída por Matthew Bittencourt.

Mas pensar sobre isso agora me faz rir, afinal todo o respeito que
dei a esse homem, não me resultou no mesmo, afinal Luan mesmo
confessou que me traía, com frequência.

E agora solteira, eu posso ir para Nova Iorque e fazer o que eu


desejei antes. Não estou mais com ninguém, tenho a mente tranquila.

Suspirei fundo e fechei os olhos, aproveitando o friozinho gostoso


que essa manhã trouxe.
Devo lutar por alguém que não conheço tão bem? Ou
simplesmente tenho que esquecê-lo? Sei que será difícil, mas viverei um
dia de cada vez.

Entrei no estúdio preparada para ver Luan ali, afinal estava de


licença por causa do concurso, para colocar tudo em seu devido lugar.
Só que a realidade sempre bate na sua porta e você deve voltar a
trabalhar.

— Bom dia — cumprimentei a todos, em geral.

Luan ergueu o olhar para mim no mesmo instante, encarando-me


intensamente. Como se ainda estivéssemos juntos.

Desviei a minha atenção para o meu armário e guardei a minha


bolsa, celular e casaco, já que ali dentro estava quente e agradável. Pelo
menos o clima, afinal o lado ruim de se relacionar com alguém do
trabalho é que quando o término chega, o que antes era bom se torna
desgastante e ruim.

— Bom dia Allana, venha até a minha sala. — Hugo, meu chefe e
dono desse estúdio pediu.

Caminhei atrás dele, apreensiva.

Meu Deus será que ele irá me demitir? Eu não posso perder esse
emprego.

Permaneci em pé, inquieta, enquanto ele se servia de café e se


acomodava em sua cadeira.

— Aceita um café? — perguntou educado.

— Não, obrigada — respondi apreensiva, encarando o homem de


meia idade na minha frente.

— E como foi o evento em Nova Iorque? Grande oportunidade


essa sua. — Ele voltou a falar, me olhando agora.
— Foi uma experiência única — acabei sorrindo.

— Eu acompanhei o evento pelas mídias. Estou orgulhoso de


você, tem talento e deve ser reconhecida.

Fiquei surpresa, afinal Hugo nunca foi de elogiar ninguém, mas


pelo visto um evento grande como o que fui prestigiada, o fez mudar de
ideia.

— Obrigada. — Apenas agradeci, não sabia mais o que dizer.

— Bom... Preciso que você cubra um evento hoje — comentou


sem notar o meu alívio, afinal não era uma ordem de demissão e me
deixaria o dia todo longe de Luan e suas gracinhas.

— Qual evento senhor? — perguntei contente, se tem algo que eu


amo mais do que revelar as fotos e organizar, é tirá-las.

— É um aniversário infantil. Evento pequeno, por isso irá sozinha.


— Ele procurou por algum papel e quando achou me entregou. — É do
outro lado da cidade, pode pegar o carro do estúdio. — Aceitei o papel e
a chave do carro, feliz da vida.

Amo festas de crianças, amo elas na verdade, são os pequenos que


trazem vida ao local, que com sua inocência deixa tudo ainda mais
bonito.

Saí do estúdio sem olhar para ninguém. Quero evitar o meu ex


mais do que qualquer coisa, mas sei que isso é impossível. A oferta que
Desiree me fez de um emprego em Nova Iorque é a oportunidade
perfeita para isso. Minha vontade de aceitar está a mil, mas Solange e
Suzy são a minha vida, eu não posso ir embora e deixar as duas pessoas
que me acolheram quando eu mais precisei.

Simplesmente não posso...

E como eu imaginava, meu dia foi divertido, a aniversariante


estava vestida de Batman, a maioria dos coleguinhas estranharam o tema
da festa, mas a menina alegou que é o Batman que ela ama e que não
mudaria isso só por ser menina. Os pais a apoiaram e eu achei a atitude
deles belíssima. Não devemos tentar mudar a mente da criança, nem os
gostos.

Só passei no estúdio bem mais tarde, apenas para deixar as fotos


do aniversário. Começarei a revelar amanhã. Quando passei pela
recepção, percebi que Luan me olhou diferente, feliz até, com um sorriso
grande demais. O ignorei e segui meu caminho.

Hugo me deu o restante do dia de folga, afinal é sempre assim


quando cobrimos algum evento.

Quando pisei na calçada do estúdio, senti um arrepio gostoso


percorrer a minha espinha, era como se alguém me observasse, mas
olhando ao redor constatei que não tinha ninguém a me encarar, apenas
um carro preto muito bonito estava estacionado do outro lado da rua.

— Allana espere. — Ouvi a voz de Luan e me virei para a entrada


do estúdio.

Desde o término, ainda não tínhamos nos falado.

— O que você quer? — perguntei, não querendo prolongar demais


essa conversa.

Ele tirou as mãos das costas e revelou o buquê de rosas vermelhas.

Só pode ser brincadeira.

Ele pensa que iremos nos reconciliar?

— Luan... — Comecei a falar, mas como sempre, ele me cortou e


beijou o meu rosto, muito próximo a minha boca.

Pulei assustada, não só pelo gesto, mas pelo barulho de pneu


cantando e o carro preto bonito saindo em disparada.

Olhei na direção do carro e o vi distanciar.


— Luan você sabe que terminamos. — Não aceitei as flores, mas a
reação dele me surpreendeu.

— Eu sei sim gata, mas já consegui o que eu queria. — Sorrindo,


ele voltou para o estúdio me deixando completamente confusa.

O que foi que aconteceu aqui?

∞∞∞

Quando cheguei em casa, fui recebida por um cheiro desagradável.

Caminhei para a cozinha e entendi tudo, Suzy estava em uma


tentativa falha de cozinhar.

— Cadê a sua mãe? — perguntei, afinal Solange é a nossa


salvação, já que eu e Suzy somos um desastre cozinhando.

— Teve que sair às pressas, aconteceu um acidente e ela foi


chamada no hospital.

Pelo visto hoje ela estaria de plantão. É a enfermeira chefe no


hospital central da cidade.

— O que você está tentando cozinhar? — Caminhei para perto do


fogão, tentando adivinhar. Suzy era ainda pior que eu na cozinha, afinal
ao menos um arroz e macarrão eu sei fazer, já ela, nada.

— Não sei ainda. — Ela respondeu pensativa.

— Como uma pessoa começa a cozinhar sem saber o que irá


fazer? — perguntei segurando uma gargalhada, mas quando a minha
amiga me olhou culpada e brava, eu não aguentei.

— Para de rir de mim, você cozinha tão mal quanto eu. — Ela me
bateu com o pano de prato.
— Por que não buscamos alguma coisa? — Sugeri e vi quando os
olhos dela brilharam, satisfeita ela desligou o fogão, dando fim ao seu
prato malsucedido.

— Essa é uma excelente ideia, vamos tomar banho e iremos.

E assim fizemos, durante o banho fiquei pensando na sensação de


ser observada que tive hoje mais cedo e o comportamento estranho do
Luan.

O que será que aconteceu? O que ele queria e acabou


conseguindo?

Finalizei o banho ainda sem entender, nada na minha cabeça fazia


sentido, até que uma mensagem chegou no meu celular...
Capítulo 20

Matthew Bittencourt...

A provocação do noivo de Allana funcionou.


Eu odiei o cara logo de início. Pelo simples fato de ele ter o que eu
quero e não dar nenhum valor a isso, afinal é notável que ele é um
imbecil que não a respeita.

Eu estava decidido a voltar para Nova Iorque, sem nem ao menos


olhar para ela mais uma vez. Apenas queria pegar o primeiro voo, ir para
casa me preparar para a audiência de adoção do Enzo e ganhar o meu
primeiro caso.

Simples assim, voltar a ser o Matthew Bittencourt que eu era antes


de vê-la pela primeira vez.

Mas como nem tudo na minha vida é simples e como o planejado,


eu estava ali, parado diante daquele estúdio, esperando para vê-la
novamente, não sabia a razão, mas eu a queria, e muito.

Allana mostrou ser diferente desde o início, não pelo fato de me


despir em uma manhã movimentada, mas por ter conseguido ultrapassar
quatro das minhas regras em tão pouco tempo.

Isso fez dela a minha obsessão, pelo menos era assim que eu me
sentia em relação a essa loira, linda e talentosa.

Esse era o único modo de explicar isso, eu a conheci e já estava


encantado, enfeitiçado até. Deduzir que era uma obsessão foi o mais
fácil, mas eu soube que isso não era verdade quando ela me contou ser
comprometida.
O que eu senti foi inédito para mim, eu nunca tinha sentido aquilo
antes, nem mesmo quando a garota que um dia eu acreditei amar me
deixou, aquela tristeza não pode ser comparada ao que eu senti quando
soube que tinha outro homem na vida de Allana.

Foi somente com ela que a mistura de sentimentos aconteceu, no


mesmo instante que eu estava louco para puxá-la para os meus braços e
beijá-la, eu também estava furioso por saber que ela era dele.

Vir para Genebra e perceber que o cara é um babaca convencido,


fez da merda do que eu sentia aumentar ainda mais.

O que uma mulher como ela viu nele?

O que levou ela a aceitar se casar com ele? Alguém que nem ao
menos a acompanha em um evento especial como o que ela ganhou.

Estou enfurecido, enciumado, mas nada pode mudar isso. E


mesmo assim, diante dos fatos estou aqui parado a quase duas horas
esperando por ela.

Apenas para vê-la mais uma vez.

Estava trocando mensagens com a Megan, quando a vi.

Tão linda...

O tom loiro do seu cabelo estava escondido em baixo da touca


vinho, mas as pontas davam para serem vistas, parecia ainda mais claro.
Os olhos acinzentados que tanto senti falta estavam tristes, ela não
parecia estar feliz para alguém que acabou de aceitar se casar.

Um cachecol no mesmo tom da touca a protegia do frio.

A acompanhei com o olhar, vendo cada passo, guardando cada


gesto.

Quando ela entrou no estúdio, senti uma vontade insana de ir atrás


dela e exigir atenção.
Foda-se o noivo idiota, se ela quisesse eu a levaria dali agora
mesmo e não seria ele quem me impediria. Ninguém conseguiria afastá-
la de mim, somente ela.

Mas a razão falou mais alto. Me forcei a permanecer ali em frente,


dentro do carro, acolhido pelo calor gostoso que o aquecedor
proporcionava, mas nem isso me acalmava, estava nervoso.

Quando ela saiu e parou olhando ao redor, eu me arrepiei, meu


coração se acelerou e nosso olhar se encontrou, mas eu sabia que ela não
me via, afinal o vidro do carro era escuro demais.

A forte sensação voltou com tudo, eu já estava com a mão na


maçaneta, pronto para descer do carro e ser visto, mas ele apareceu,
segurando flores para ela, esperei para ver o que aconteceria, e então ele
a beijou.

Aquilo foi o suficiente, tomei uma decisão, sai de lá o mais rápido


que pude, querendo muito voltar para casa e esquecê-la.

Mas a quem eu estava tentando enganar?

Seria difícil conseguir esquecê-la, Emily que não me afetou tanto,


permaneceu em meus pensamentos por tempo demais.

Allana seria ainda mais complicado, afinal ela foi a única a


ultrapassar as minhas regras tolas em tão pouco tempo.

A sinceridade dela em relação ao compromisso, fez ela passar a


quarta regra. Isso foi a prova de que ela era perfeita para mim, mesmo
existindo outro homem, eu estava decidido a não desistir.

Não depois de chegar tão perto de me entregar de novo.

De todas as regras, a terceira era a mais difícil, e ninguém tinha


conseguido ultrapassar.

Primeiro ela me chamou a atenção, mas não com algo específico e


sim com seu jeito de ser, seu sorriso magnífico, seu olhar acinzentado
penetrante.

Depois ela me surpreendeu mais uma vez, de uma forma


involuntária, mas me surpreendeu, afinal foi eu quem fui atrás dela para
vê-la mais uma vez, e ela estava alheia à minha presença, em momento
algum tentou chamar a minha atenção.

E como uma jogada do destino eu a reencontrei, por mero acaso,


fazendo assim ela ultrapassar a minha terceira e inviolável regra.

Em apenas um dia, aquela loira, desconhecida e belíssima, havia


ultrapassado três das minhas regras.

Quando a vi no evento, me surpreendi e me preocupei, afinal ela


permaneceu nos meus pensamentos o dia todo, desde o encontro
inusitado no Starbucks, mas de início eu não liguei, afinal sabia que a
chance de vê-la novamente era minúscula.

Foi inevitável não me aproximar.

Eu não imaginava que ela ultrapassaria a quarta etapa tão rápido e


de uma forma tão dolorosa. Afinal a sinceridade dela me afetou e muito.

Ser sincera e leal a alguém é algo raro de se ver hoje em dia,


mesmo diante da nossa atração inevitável e perceptível, ela não traiu o
cara que mesmo de longe tenho a total certeza que não a trata com o
mesmo respeito e fidelidade.

Mas cada um tem o que quer e pelo visto é ele quem ela quer, não
sou eu quem vou atrapalhar isso.

Peguei meu celular e enviei uma mensagem antes de o meu voo


ser anunciado...

∞∞∞

Allana Sulatte...
Olhei incrédula para a mensagem.

— SUZY VEM AQUI — gritei.

— O que foi? Uma barata de novo? — Ela entrou no quarto


correndo e me olhou com uma careta. — Meu Deus Allana, você está
nua.

Só nesse momento me toquei, saí do banho e fui direto responder à


mensagem.

— Leia isso — joguei o celular para ela e peguei o meu roupão,


me enrolando nele.

Por que Solange não me avisou antes?

— Minha mãe só pode estar louca, como o Matthew estaria aqui?


— Suzy me olhou, tão confusa quanto eu.

Peguei o celular novamente e reli a mensagem.

“Querida, esqueci de te avisar mais cedo, mas esteve em casa hoje


um rapaz muito charmoso atrás de você, ele se apresentou como
Matthew. Ah! Não se esqueça de comprar o jantar ou se não Suzy te
matará envenenada com a comida dela. Beijos.”

A última parte teria me feito rir, se eu não estivesse tão surpresa e


sem ar.

— Meu Deus, Matthew esteve aqui Suzy, aqui em casa, ele veio
atrás de mim. — Comecei a andar pelo quarto nervosa.

O que ele veio fazer aqui?

Só então me toquei.

— Como eu fui burra. A atitude estranha do Luan, o carro


estacionado, as flores, a sensação de ser observada. Meu Deus Suzy, ele
armou tudo para o Matthew acreditar que ainda estamos juntos.

— Se troque rápido, vamos atrás dele. — Suzy falou e saiu do


quarto.

Peguei o primeiro agasalho que encontrei e o vesti.

Quando cheguei na cozinha, Suzy já me esperava com a chave do


carro em mãos.

— Sabe para onde estamos indo? — perguntei vendo que Suzy


dirigia concentrada.

— Eu sei onde ele está, liguei para o Pierre enquanto você se


trocava e ele me passou o número da loira elegante que estava com o
Matthew no seu evento. — Ela respondeu, pisando fundo no acelerador.

— Megan?

— Sim essa mesma. — Suzy bufou.

— Por que parece que você está brava? — perguntei confusa,


afinal Megan se mostrou ser uma pessoa adorável.

— Não estou brava. Estou furiosa, como e por que o Pierre tem o
número daquela mulher? Em? Ele me respondeu na hora, como se
soubesse o número de cabeça, acredita? — Ela desviou o olhar do
trânsito e me olhou.

— Você está com ciúmes — afirmei, afinal é o óbvio.

Mas essa reação é nova, nunca vi Suzy com ciúmes de um homem


antes.

— Não sinto ciúmes de nada. — Ela negou, rápido demais.

— Talvez eles sejam só amigos. — Tentei ajeitar o lado do


francês, mas não funcionou muito.
— Nem você acredita nisso, sorte a dele que estou muito longe, ou
eu mesma o surraria.

— Do jeito que você fala até parece que estão juntos há anos em
um relacionamento sério.

Por um momento Suzy se acalmou.

— É complicado, mas parece que eu o conheço a muito tempo,


sabe?

— Eu sei bem.

E realmente sei, afinal foi exatamente assim que eu me senti com


Matt e saber que ele está aqui, tão perto, me enche de expectativas.

— Por que estamos indo para o aeroporto? — perguntei


reconhecendo o caminho.

— Porque é lá que ele está, ou assim espero, já que foi isso que a
Megan disse. Temos menos de cinco minutos para o voo decolar. —
Suzy comentou.

Senti meu coração se acelerar ainda mais. Saber que ele está indo
embora, sem nem ao menos me procurar, me afetou mais do que eu
gostaria.

Luan tinha conseguido o que queria, ele fez todo aquele teatro na
frente do estúdio apenas para Matthew ver, e eu me arrependo por não
ter entendido antes.

Quando Suzy estacionou, desci feito um foguete do carro, mas


nem isso evitou que ele partisse.

Cheguei tarde, Matthew já tinha ido embora sem me procurar...


Capítulo 21

O carro que já deveria ter sido devolvido, andava em alta


velocidade pelas ruas de Genebra.

Está no sangue dessa família não desistir e com Matthew não foi
diferente, não conseguiria ir embora sem falar com ela uma última vez.

Quando estava no aeroporto e enviou a mensagem para Megan,


contando que estava indo embora, percebeu a idiotice que estava prestes
a fazer.

Voou até ali, apenas para vê-la, ir embora sem fazer isso era
exatamente o que o noivo dela queria. Que ele desistisse sem nem ao
menos tentar.

Não seria um Bittencourt se desistisse fácil assim.

Falaria com ela.

O noivado? Dane-se, ela ainda não tinha se casado, ainda havia


tempo para conquista-la e tomá-la para ele.

Acabou deixando um sorriso escapar, pensando bem, não seria tão


difícil conquistar ela, já que o atual noivo não fazia questão de dar a
atenção que ela merece.

Quando chegou em frente a bonita casa, ele notou que estava tudo
apagado. Não havia ninguém.

Foi quando Matthew supôs que ela estaria com o loiro de mais
cedo, ele sentiu o sangue esquentar. Um ciúme que não deveria existir,
surgir.

Apenas imaginar Allana nos braços de outro homem o irritava


demais.

Esperou por mais um bom tempo, estava decidido a não ir embora


sem vê-la, nem se tivesse que esperar a noite toda ali.

Foi quando ele avistou um carro se aproximar da casa e estacionar


na entrada.

Olhando com mais atenção ele viu Allana descer, os olhos


acinzentados estavam lacrimejantes, ela estava chorando e triste.

Apertou o volante com força, detestando a ideia de o noivo tê-la


feito chorar.

Mas a loira estava assim por ele.

Allana tinha ido atrás dele feito uma louca, para no fim descobrir
que o Bittencourt embarcou de volta para Nova Iorque sem nem ao
menos falar com ela.

Aquilo doeu mais do que deveria e foi quando ela percebeu que
estava se apaixonando por um completo desconhecido.

Ficou o caminho todo de volta para a casa em silêncio, deixando


que o sentimento que apertava o seu peito se esvaísse em forma de
lágrimas.

A jovem fotógrafa não se lembrava de quando foi a última vez que


chorou por algo assim, talvez tenha sido no aniversário da morte de seus
pais, ou no dia do casamento deles, ela sempre chorava nessas datas, ou
quando eles eram citados de forma maldosa, igual Luan fez há poucos
dias, mas chorar por coisas banais ela nunca fizera, só que no momento
isso estava impossível de controlar.

— Você deveria ir para Nova Iorque, falar com ele, quem sabe não
consigam se resolver? — Suzy comentou tentando ajudar a amiga.

Nenhuma das duas percebeu quando Matthew desceu do carro e


atravessou a rua, se aproximando delas.
— E eu falaria o que para ele? Olha Matthew, você deveria ter me
procurado quando esteve no meu país, porque eu estou me apaixonando
por você. — Allana tentou ironizar, mas o olhar assustado de Suzy para
as costas dela a fez se calar.

E foi virando lentamente que Allana o viu, parado logo atrás dela,
provavelmente ciente do que ela acabou de desabafar com a amiga.

Ele estava ainda mais lindo do que ela se lembrava, as mãos


estavam dentro do bolso da calça jeans escura, agasalhado, ela não
conseguia imaginar Matthew ainda mais belo, mas quando ele sorriu
dando vida as covinhas perfeitas, ela soube que ele sempre a
surpreenderia.

Matthew Bittencour era ainda mais belo quando sorria.

Ele também não deixou de reparar na beleza da loira, que o olhava


envergonhada, encantada e aliviada ao mesmo tempo. Ela vestia um
agasalho simples, o cabelo loiro estava com um coque mal feito no alto
da cabeça, os olhos acinzentados estavam vermelhos por causa das
lágrimas recém derramadas.

Suzy aproveitou a troca de olhares entre os dois e saiu de fininho,


entrando na casa, para deixá-los a sós.

Allana não sabia o que dizer, estava nervosa demais, já que


confessou estar se apaixonando por ele, mas sem saber que ele estava
ouvindo a conversa.

— E então? — Matthew perguntou para quebrar o silêncio que se


instalou entre os dois.

— E então? — Lana não sabia o que dizer, então resolveu


perguntar o mesmo.

Quando o Bittencourt percebeu que a situação não mudaria, ele se


aproximou, selando por fim os lábios dos dois.
Apenas com um olhar ele soube que era exatamente isso que ela
queria.

O toque foi gentil, ambos se conhecendo, se conectando pela


primeira vez.

Quando ela deu passagem, ele a provou intensamente, se


deliciando com o beijo que eles tanto desejaram.

Os corpos pareciam em sintonia, a mão dele a segurava firme na


nuca, não permitindo que se afastasse um centímetro se quer. A dela
estava no ombro dele, o tocando levemente, parecia com medo de se
mexer e estragar o momento.

— Como eu esperei por isso. — Ele sussurrou, ainda com ela


muito próxima, um centímetro de distância para beijá-la novamente.

— Eu também. — Ela confessou e sorriu.

Ter imaginado nunca seria suficiente para comparar com a


realidade, o beijo do Bittencourt a deixou querendo mais.

Allana tomou a iniciativa, o segurou no pescoço e o puxou para ela


mais uma vez, se deliciando com aquele homem.

Ele permitiu, queria tanto ou mais do que ela.

O segundo beijo foi mais ousado, os corpos se colaram


perfeitamente, ela conseguia sentir o quanto ele a desejava, e isso não a
amedrontava, pelo contrário, ela queria mais de Matthew, queria ter e
conhecer ele de todas as formas.

E quando ele se afastou, um pequeno reclamar foi ouvido pela


parte dela.

— Se você continuar me beijando assim, eu não vou aguentar. —


Ele se afastou pouca coisa, mas continuou com as mãos nela, não
querendo soltá-la nunca mais.
— Você não precisa se segurar. — Ela o olhou nos olhos.

Matthew não aguentou e fechou os seus.

— Porra baby, o que você está fazendo comigo? — Ele perguntou


e a puxou de novo para si, só que dessa vez a encostou no carro,
devorou-a em um beijo avassalador, quente, excitante.

Allana gemeu, queria continuar aquilo o quanto antes.

Se afastar depois de um beijo desse deveria ser crime, mas o ar


sempre se fazia presente e clamava por atenção.

— Eu já deveria ter feito isso a muito tempo. — Ele comentou


olhando-a intensamente nos olhos, enquanto acariciava o lábio inferior
dela com o polegar.

Involuntariamente Allana mordeu o lábio, chamando a atenção


dele para a boca novamente.

— Eu deveria ter deixado nas outras vezes que tentou. — As


palavras dela saíram como um sussurro, mas a proximidade dos dois fez
ele entender perfeitamente.

Ambos sorriram cúmplices.

Valeu a pena cada segundo de espera.

Matthew estava com o que mais desejava em seus braços e não


seria ninguém capaz de mudar isso...
Capítulo 22

A loira ainda não acreditava que ele viajou até ali por ela, estava
parado diante dela, na frente de sua casa.

— Veio de Nova Iorque apenas para me ver e me beijar? — Ela


perguntou, após perceber que ambos deveriam conversar, mesmo a ideia
de trocar apenas beijos fosse tentadora, eles tinham uma conversa
pendente.

Matthew se afastou por um instante, querendo olhar nos olhos


acinzentados dela.

Allana tinha se tornado tão transparente para ele, que ele saberia o
que se passava em seus pensamentos apenas olhando-a.

— Tecnicamente sim — respondeu simplesmente.

Lana o olhou com mais atenção.

— Então veio para cá a trabalho? — Allana insistiu, querendo que


ele confessasse a razão de estar ali diante dela.

Matthew se viu sem saída, não poderia simplesmente responder


que veio conhecer o país que era conhecido por sua beleza, e o fato de
ter sido logo após conhecê-la era mero detalhe, essa seria a desculpa
mais idiota que o Bittencourt poderia falar, afinal nem mesmo Ethan
caiu na dele.

A única alternativa seria contar a verdade, mas ele tinha medo de


se abrir, tinha medo que o passado se repetisse, mas por outro lado ele
acabara de ouvir que ela também estava se apaixonando, ela também se
sentia atraída da mesma maneira.

— Bom, a trabalho eu não vim... — Ele respondeu isso, ainda com


os olhos fixos nela confessou, — eu vim para saber se você se sente da
mesma forma em respeito a mim?!

Allana o olhou agora surpresa, não esperava que ele fosse tão
direto assim tão fácil, desde que conheceu o Bittencourt ela percebeu
que ele não era extrovertido, Matthew era mais na dele, mais tímido.

— Acredito que você tenha ouvido o que contei para Suzy, certo?

Ela cruzou os dedos mentalmente, torcendo para que ele não tenha
ideia do que ela está falando, mas o sorriso genuíno que cresceu nos
belos lábios do homem à sua frente foi a prova de que sim, ele já sabia
que ela estava entrando em um caminho perigoso e desconhecido, a
paixão.

Apaixonada por um Bittencourt. Sim essa frase parecia ser


assustadora dita em voz alta, mas era a que chegava mais perto da
confusão de sentimentos que a jovem fotógrafa estava.

— Tive a sorte de chegar nessa hora. — Ele comentou, segurando


uma mechinha dos fios loiros que havia se soltado do coque dela.

Allana sorriu, completamente sem graça.

Estava se apaixonando por um desconhecido, mas a sensação de o


conhecer a muito tempo antes, existia.

Para ela, estar com Matthew parecia o correto, era muito mais
prazeroso a companhia do Bittencourt, um homem que ela pouco
conviveu, a de Luan, o garoto que cresceu ao seu lado e se mostrou ser
um completo desconhecido no fim.

— E quanto a mim? — Ela perguntou, sabia da resposta, ou ao


menos imaginava, afinal ele não iria atrás dela se não sentisse nada, mas
queria ouvir dos lábios dele. É muito importante para ela, ouvir a
confirmação dele.

— Você o quê? — Os dedos levemente gelados dela, relaram no


vinco que se formou entre as sobrancelhas dele, ele estava realmente
confuso, ou fingia muito bem.

— Você já sabe sobre como eu me sinto em relação a você,


agora... Bom... Eu queria... — Ela tentou se expressar, mas o beijo de
Matthew a impediu.

O desejo que os lábios e mãos dele transmitiam a fez se esquecer


da pergunta, estava se deliciando com o gesto, quando ele se afastou e a
segurou no rosto, fazendo-a encará-lo.

— Acha que eu voaria de Nova Iorque até aqui, apenas para


provar a mim mesmo que seu beijo é ainda melhor do que eu imaginei?
— A pergunta pareceu retórica, então Allana optou por não responder.

Ela apenas sorriu, satisfeita com essa resposta, mas o que ele disse
em seguida a surpreendeu ainda mais.

— Eu vim para cá para saber se você se sentiu tão atraída por mim
quanto eu por você, se você também sentiu a minha falta, e... — Ele deu
uma pausa, mas decidiu ser sincero — queria ter certeza que você não
era casada, e se não fosse, aproveitaria para saber se há alguma chance
entre nós.

Allana que não sabia o que responder ficou em silêncio por alguns
instantes, os olhos claros dele a analisando com atenção, aflito, desde
seu último envolvimento, ele não tentou nada mais sério com nenhuma
outra mulher.

Depois de um longo suspiro e de uma troca de olhares intensa, ela


respondeu:

— Eu me senti da mesma forma em relação a você Matthew, eu


não sou casada, se eu fosse não teria viajado sozinha para Nova Iorque.
— Ela respondeu uma parte das questões que o levou até ali.

— Mas você estava noiva, ou ficou quando chegou... — Ele


respondeu, confuso.
— Não, eu nunca fui pedida em casamento... — Ela respondeu e
pensou por um momento. — Na verdade, quase nunca.

Matthew ficou com a expressão indecifrável diante do olhar dela.

Se a loira pensava que o Bittencourt era adivinhável apenas com


um olhar, ela estava enganada, já que está no sangue dessa família
esconder as suas emoções por trás de sorrisos e expressões fechadas.

— Ele não tinha me pedido em casamento antes de eu ir para Nova


Iorque... — Ela começou a se explicar, devido ao silêncio dele.

Aquela conversa estava ficando estranha demais, e de repente a


vontade louca de apenas trocar beijos tinha voltado para a mente de
Allana, mas o olhar curioso de Matthew provava que ele não queria
apenas beijos. Estava ali em busca de algo mais e confessou isso.

— Ele só me pediu em casamento quando eu voltei.

E com as palavras dela, Matthew teve certeza de que Luan não


tinha mentido... O pedido tinha sido feito assim que Allana voltou de
Nova Iorque...
Capítulo 23

— Assim que cheguei em casa, o Luan estava aqui. Eu tinha


decidido me separar, estava confusa com os meus sentimentos, antes de
viajar eu acreditava amá-lo, mas quando eu vi você, quando eu te toquei,
tudo foi inédito, achei que já tivesse descoberto o real sentimento com o
Luan, mas não, eu encontrei em você, que era um desconhecido, e senti
coisas que não tinha sentido nem com o meu namorado de quase uma
vida toda. Não era justo continuar com ele, quando desejei outro
homem.

Matthew detestou o que ouviu, saber que Allana foi daquele infeliz
por quase uma vida o incomodava demais.

— Ele foi o seu único namorado? — A voz do Bittencourt saiu


sussurrada, mas ela entendeu a pergunta.

— Sim.

O sentimento de raiva e ciúme dominou Matthew, estava assim


por alguém que a menos de uma semana ele nem conhecia, mas saber
que Luan foi o primeiro em tudo de Allana, o deixou enciumado demais.

— Eu achei que o conhecia, sempre fomos um casal diferente, não


viajávamos juntos, tanto que fui sozinha para Nova Iorque na minha
primeira exposição, e ele, que deveria estar comigo, estava aqui com
outras mulheres, eu fui uma tola e quando resolvi terminar, ele me pediu
em casamento, como eu recusei ele falou coisas horríveis de mim, e até
da Suzy, me revelando quem ele realmente é. — Allana reviveu a cena
em sua mente, querendo muito que aquilo nunca tivesse acontecido.

— Por que ele não foi com você para Nova Iorque? — Matthew
perguntou o que mais o intrigava.

A resposta que Luan deu no estúdio foi vaga demais.


— Bom, primeiro ele disse que tinha um compromisso, que não
poderia adiar a vida dele aqui e simplesmente viajar comigo, mas depois
que eu voltei, acabei entendendo que ele não foi porque detestou o fato
de eu ter ganhado a exposição e ele não.

— Então ele também se inscreveu. — Matthew concluiu,


compreendendo um pouco melhor agora.

— Sim, ele também é fotógrafo.

O fato de o Bittencourt não ter soltado Allana por nenhum


segundo se quer dessa estranha conversa, a fez se sentir mais confiante.
Estava se sentindo protegida nos braços dele, que transmitiam segurança
e conforto.

— Ele não aceitou muito bem a rejeição, falou coisas dos meus
falecidos pais, se mostrou ser alguém que eu não conhecia, ele nunca
tinha sido violento antes. — E essa última frase fez Matthew se afastar
dela, olhando-a com atenção.

— Ele te agrediu? — O tom de Matthew saiu assustador, os olhos


varreram o belo corpo dela, mas o agasalhou cobria o roxo que Luan
deixou no braço de Allana.

A loira ficou com medo de contar, não conhecia tão bem o


Matthew, mas o tom de voz e a expressão denunciavam que ele não
tolerava nenhum tipo de agressão a mulher.

— Não, ele não me agrediu. — O olhar dela caiu para o chão, as


mãos começaram a tremer e a voz falhou.

Nunca foi boa em mentir.

— Onde foi? — Dessa vez ele a olhou intensamente nos olhos,


exigindo sinceridade.

— Matthew... — Ela protestou.

— Allana, não o defenda. — Dessa vez ele não a tocava mais,


estava completamente afastado, olhando-a com aqueles olhos críticos de
advogado.

— Eu já disse que ele não me agrediu.

— Não minta para mim. Eu sei que ele te agrediu, você é péssima
mentindo.

— Eu não estou mentindo. — Ela voltou a negar, tentando ser


convincente.

— Está sim, eu sou um advogado, sei pela expressão da pessoa


quando ela está mentindo.

Ela respirou pesadamente. Tinha se esquecido desse detalhe, e


outra, a loira nunca foi boa com mentiras, não seria dessa vez que isso
mudaria.

— Ele puxou o meu braço com força e acabou machucando. —


Ela ergueu o braço do moletom, mostrando o hematoma arroxeado.

Matthew que já estava com uma péssima expressão facial, fechou


a cara ainda mais.

Ele iria voltar para Nova Iorque, mas não antes de dar uma boa
lição naquele infeliz.

— Tem mais alguma coisa que você queira me contar? — O tom


sério e mandão dele deixou-a surpresa.

Esse homem ainda era desconhecido em sua maioria, teria que


desvendar Matthew Bittencour aos poucos, porém a preocupação dele a
deixou feliz, ele se importava com ela, mesmo se conhecendo a tão
pouco tempo, ele ainda assim se importava.

— Não. — Ela respondeu ainda sem conseguir encará-lo.

Com os dedos também gelados, Matthew a ajudou a descer


novamente o moletom e ergueu o rosto dela delicadamente.
— Não quero mais que minta para mim, muito menos se for para
proteger aquele infeliz.

— Eu não estava protegendo-o, pelo contrário, eu estava


protegendo você. — Ela respondeu inconformada.

Matthew não acreditou nisso, estava morrendo de raiva do sujeito,


e mais furioso ainda por ela ainda nutrir algum sentimento pelo seu
próprio agressor, a ponto de protegê-lo.

Cresceu em uma família onde a agressão contra mulheres sempre


foi vista como um ato covarde, abominável, nunca fecharia os olhos
diante de algo assim.

— Ele te bateu Allana, te marcou, você não o denunciou, não quis


me contar e aposto que não contou para ninguém da sua casa. Isso para
mim é proteger. — Ele respondeu ainda chateado, frustrado,
enraivecido, e claro preocupado com o bem-estar dela.

Matthew estava realmente preocupado, ele voltaria para casa e


deixaria ela ali, sozinha com aquele marginal.

— Eu apenas não contei para proteger vocês, não queria que Suzy
ou a Solange fossem falar com ele e acabassem machucadas, assim
como não quero que aconteça nada com você, Luan é violento, agora eu
sei disso. — Ela respondeu preocupada também, a ideia de Matthew ou
as duas mulheres que ela considera sua família se machucar por causa
dela a amedrontava demais.

O Bittencourt a segurou carinhosamente no rosto, olhando-a


intensamente nos olhos quando falou:

— Baby, quem tem que se preocupar agora é ele, ninguém


machuca o que é meu...
Capítulo 24

O olhar assustado de Allana, fez Matthew se lembrar de que ela


não conhece a história da sua família, ela não entende esse assunto, não
sabe o quanto a família Bittencourt é protetora com um dos deles.

— Não precisa se preocupar com isso, é melhor você entrar, você


está muito gelada. — Ele comentou a puxando para os braços e a
beijando levemente na testa.

Pensar que teria que voltar para casa o sufocava, Allana parecia
ser o certo para ele, e nada seria capaz de mudar isso, nem mesmo a
distância.

— Claro que eu vou me preocupar, você vai fazer o que afinal? —


Ela se separou dele, deixando assim que ele percebesse que não tinha a
acalmado coisa nenhuma.

Os braços cruzados, o pequeno pé que batia levemente no chão e o


olhar erguido e determinado, eram a prova de que ela não seria fácil de
obedecer.

Allana é uma mulher decidida e determinada, não seria nenhum


homem capaz de fazê-la colocar um assunto desses debaixo do tapete.

Nem mesmo um Bittencourt como Matthew? A mente teimosa dela


perguntou, e ela sabia que não, Matthew tem seu charme, mas não faria
ela esquecer esse assunto.

— Nada que ele não mereça. — Matt respondeu simplesmente.

— Matthew, você é um recém advogado, tem uma reputação a


zelar e nem está no seu país, isso pode dar um problemão e tanto. — O
vinco formado entre as sobrancelhas dela demonstravam a real
preocupação.
Lana estava com medo também, medo por ele.

Ele sorriu de lado, presunçoso, sabendo que não teria problema


nenhum com isso, mas ela ficava muito linda brava e ele com certeza se
aproveitaria disso.

— Essa é a nossa primeira briga? Ainda nem tivemos o nosso


primeiro encontro oficial e já estamos brigando? — Ele perguntou com
um sorriso ainda mais lindo.

Allana deixou um suspiro involuntário sair de sua boca.

Tão lindo e tão encrenqueiro...

— Nós não estamos brigando. — Ela descruzou os braços,


enfiando a mão no bolso do moletom.

— Não? Então essa sua expressão é de quê? — Ele também enfiou


as mãos no bolso do jeans, estava frio demais ali.

— É de alguém preocupada com quem ela gosta, não quero que


você se machuque. — A última parte ela sussurrou, querendo que ele
soubesse o seu real medo.

— Não vou me machucar baby, pode ficar tranquila sei me


defender muito bem. — Ele voltou a sorrir, tentando amenizar a
gravidade do assunto.

— Você trouxe seus seguranças? — Ela perguntou curiosa,


olhando ao redor.

Matthew sorriu de novo, um pouco convencido dessa vez.

— Quem disse que tenho seguranças? Andou pesquisando sobre


mim? — Ele levantou levemente as sobrancelhas a encarando.

— Eu pesquisei... Bom eu achei que... Ah deixa para lá. Não é


importante.
Nos cinco dias que Allana ficou em Genebra após voltar de Nova
Iorque, ela havia pesquisado sobre a família Bittencourt, descobriu o que
estava disponível na mídia.

A matriarca da família é uma loira incrivelmente linda, par


perfeito para o marido que tem muito a ver com Matthew, apenas a
expressão do patriarca que é ainda pior, mais assustadora, mas a forma
como ele olha para os seus familiares nas fotografias demonstra amor
verdadeiro.

Christopher. O filho mais velho, primogênito, é um loiro alto, com


cara de poucos amigos assim como o pai, casado com uma morena
encantadoramente linda e de sorriso delicado.

Elliot. O segundo filho parece ser o mais extrovertido, sempre


sorrindo nas fotos e abraçado a esposa, que também não ficava para trás,
ela uma morena com traços perfeitos e olhar atencioso.

Ethan. O do meio também era comprometido e tão lindo quanto os


irmãos, apenas os olhos verdes que o diferenciava, a namorada era mais
nova, mas não deixava de ser linda.

E os netos, não estava disponível nada a respeito, apenas uma foto


com a família.

Allana encarou o cara à sua frente, tão lindo que até parecia ser um
pecado, e não se viu encaixada em uma família perfeita dessas, com
mulheres incrivelmente lindas, sem contar a mais nova, a filha com
certeza era digna de um prêmio por graça, beleza e educação, Megan era
definitivamente uma bela mulher.

— Andou pesquisando sobre a minha vida então? — Ele voltou a


perguntar, fazendo graça, mas foi pego também.

— Pelo visto você também, já que sabe até onde eu moro, isso eu
não sei de você. — Allana sorriu, sentindo um pequeno arrepiou de frio.

— Moro no Upper East Side, meus pais tem uma casa em um


condomínio, passo mais tempo lá do que no meu apartamento, mas
deixa esse assunto para depois, agora você vai entrar, está muito frio
aqui. — Ele foi mandão novamente.

Ela caminhou até a porta e ele foi junto, deu um beijo de


despedida nela, estava saindo quando ela segurou a mão dele.

— Não quero que você vá embora — protestou.

— Eu tenho que ir. — Ele respondeu com pesar.

Também não queria ir.

— Você tem algum compromisso aqui? — Ela sabia que não, mas
perguntou mesmo assim.

— Meu único compromisso aqui é você. — Ele a tocou no rosto,


Allana fechou os olhos e pediu:

— Então fica aqui comigo. — Quando ela abriu os olhos, ele


percebeu que não conseguiria mais viver sem aquele olhar.

Matthew pensou na ideia, mas seria uma grande falta de respeito,


não com Allana, mas com as outras moradoras da casa.

— Não seria o certo Baby.

— A Solange está de plantão, ela só chega amanhã de manhã, e a


Suzy não se importa, acredite. — Ela o puxou, beijando-o novamente,
por fim se separou e mordeu os lábios levemente. Tentando seduzi-lo.

Matthew sabia que não deveria, mas aquela mulher o tinha nas
palmas das suas mãos e nem sabia disso.

— Eu estou ferrado com você. — Ele aceitou o convite de ficar


com ela...
Capítulo 25

Allana Sulatte...

Andei de mãos dadas com Matthew até chegarmos no meu


quarto.

Eu ainda não acreditava que tinha pedido para ele entrar.

Sozinha com ele pela primeira vez, confesso que estava nervosa,
mas de um jeito delicioso. Nesse momento não sabia se o meu
nervosismo era a razão das minhas mãos frias ou se era o frio que estava
lá fora.

Quando entramos, fechei a porta e Matthew ficou admirando o


cômodo.

— É diferente — falou por fim, colocando os olhos azuis dele em


mim.

— É sim, dá para notar que sempre amei fotografia — sorri


olhando para o grande mural de fotos.

— Dá sim. Essas aqui faltando... — Ele não continuou a pergunta,


acredito que percebendo as fotos que faltavam.

— Eram as que eu estava com Luan. Tirei assim que terminamos


— contei.

Ele apenas assentiu e se aproximou do mural, vendo com atenção


cada momento precioso para mim.

Tem variados tipos de fotos, com Suzy fazendo graça, Solange nos
mimando, meus pais quando eram vivos fazendo churrasco com todos os
amigos, minhas na escola, na adolescência e até mesmo bebê.

— Essa é a sua coleção? — Ele perguntou, passando o dedo


levemente na minha prateleira de câmeras.

— Sim, é pequena ainda, mas pretendo aumentar com o tempo.

— Qual é a sua preferida?

— É difícil dizer, eu amo todas, mas essa é especial — peguei a


primeira que ganhei.

— A que seu pai te presenteou, eu presumo. — Ele olhou para a


câmera em minhas mãos e eu sorri sincera.

Matthew é o tipo de homem que te escuta quando você fala, ele se


lembra da noite na galeria, quando contei que minha primeira câmera
profissional foi um presente do meu pai.

— Sim, foi essa mesma.

Coloquei-a novamente na prateleira e olhei para a cama de casal.

Só agora parando para pensar no que o meu pedido resultaria.

Não estava com medo e tão pouco arrependida, longe disso, ter
Matthew aqui parece o certo para mim.

Mas mesmo assim o nervosismo estava presente, já que Luan foi o


único homem que tive na vida, foi o garoto que me deu o primeiro beijo
e o homem que tive a minha primeira experiência sexual.

Tudo com Matthew pode ser diferente.

Tudo é, afinal desde que o vi pela primeira vez, algo inédito surgiu
em mim.

As famosas borboletas no estômago, as mãos frias, as pernas


bambas e o coração acelerado, com Luan eu me sentia confortável,
estava bom assim, sem sentimentos intensos demais.

Só que foi apenas um olhar para Matthew Bittencourt, que eu


soube, se o assunto é amor, eu sou totalmente leiga.

Com apenas um olhar ele me causa coisas nunca sentidas e quando


ele sorri, meu Deus, meu coração se acelera e a minha única vontade é
correr para os braços dele e provar o gosto dos belos lábios.

— Você parece assustada, se quiser eu posso voltar para o hotel.


— Matthew comentou, me olhando com atenção.

— Não estou assustada, apenas não sei como agir. — Optei por ser
sincera.

Eu não sou nenhuma virgem inocente, mas também não sou


experiente em relação a vários homens, tive apenas um na minha vida,
mas nunca nessa cama.

Matthew sorriu para mim.

— E onde está a mulher decidida que vi agora pouco ali fora?


Aquela que praticamente me arrastou para dentro?

Não consegui evitar um imenso sorriso, ele tinha o dom de me


fazer relaxar.

— Ela está bem aqui, diante de um homem lindo, dentro do seu


quarto, a olhando com desejo. — Eu senti quando meu rosto ardeu, tinha
certeza que estava corada e para ser ainda pior, corei com minha própria
frase, já ele, apenas se aproximou mais, colando ainda mais o corpo dele
ao meu.

— Desejo é uma palavra tão insignificante para o que eu estou


sentindo agora. — Os olhos azuis dele demonstravam cobiça, ambição,
luxúria e sensualidade.

Matthew consegue demonstrar tudo isso através de um olhar e eu


tenho certeza que o meu demonstra o mesmo.
Eu o quero, aqui e agora. Aproveitarei cada segundo dessa noite,
cada momento que Matthew Bittencourt será só meu.

E as consequências?

Essas eu paro para pensar só amanhã de manhã.

Com a decisão tomada, eu me aproximei e o beijei mais


intensamente, demonstrando o que realmente quero.

Matthew se afastou, segurou meu rosto com ambas as mãos e


perguntou em um sussurro:

— Tem certeza? — No tom rouco percebi o quanto ele estava se


segurando para não me agarrar naquele instante.

— Absoluta — respondi e senti quando ele sorriu em meus lábios,


me levando com cuidado para a cama.

— Ainda bem, não sei se eu teria forças para parar. — Ele


confessou, distribuindo beijos pelo meu rosto e pescoço.

— Tenho certeza que teria, você nunca me obrigaria a fazer nada


que eu não quisesse — respondi arranhando as costas dele por cima da
roupa.

De repente aquele agasalho estava me incomodando, aquelas


roupas eram o único empecilho para eu enfim poder desfrutar da beleza
daquele corpo.

Comecei pelo zíper do moletom preto dele, depois segui para o


primeiro botão da camisa e a lembrança de quando nos conhecemos me
veio à mente e eu sorri.

— Você me molestou aquele dia. — Sua frase foi a perfeita


confirmação de que estávamos na mesma sintonia.

Matthew parecia pensar o mesmo que eu e a única coisa que


consegui fazer naquele momento foi o beijar. Demonstrei no beijo tudo
o que eu sentia, quando finalizei, um sorriso malicioso estava estampado
em meu rosto.

— E tenho certeza que você gostou.

— Claro que sim, tive que fugir, se não teria te arrastado para o
banheiro do Starbucks e teria feito você minha ali mesmo.

A sinceridade dele era o que mais me cativava, eu estava


encantada por aquele homem.

— Pode fazer isso agora — falei enquanto terminava de arrancar a


camisa dele, jogando-a sobre o tapete do meu quarto.

Matthew não perdeu tempo e as próximas peças de roupas a serem


tiradas foram as minhas. Só me lembrei que estava vestindo apenas o
moletom quando ele abaixou o zíper e minha nudez foi revelada.

— Você não deveria sair assim de casa. — Ele me alertou,


olhando para os meus seios descobertos.

— Não costumo sair, mas tive que me vestir às pressas para correr
atrás de um homem que estava indo embora sem falar comigo — mordi
meu lábio inferior devido ao olhar que ele me lançou.

— Você foi? — Ele perguntou me olhando mais encantado do que


antes.

— Sim Matt, não poderia deixar você ir embora sem saber que era
tudo um mal-entendido.

Ele sorriu, aquele sorriso que ilumina tudo ao redor e me faz sorrir
também.

— Baby, eu não consigo imaginar a minha vida sem você nunca


mais.

— Não imagine, apenas vamos aproveitar cada segundo.


Depois disso, Matthew não disse mais nada.

Ele se aproximou, segurou delicadamente a minha nuca e beijou o


meu pescoço, suave, lento, delicioso.

Os beijos foram descendo e a cada novo carinho, eu deixava


baixos gemidos escaparem.

Quando ele chegou nos meus seios, minhas pernas bambearam.

Ele provou um enquanto o outro era estimulado por seus ágeis e


gentis dedos.

— Ohh. — Deixei escapar um pouco mais alto.

Ele parou e me olhou.

— Deite-se — pediu rouco, sem tirar os olhos de mim.

Deitei-me receosa, tímida. Ele estava à vontade e quando puxou a


minha calça, a calcinha não estava ali.

— Saí correndo, você sabe. — Me expliquei.

Ele olhou para a minha intimidade e depois para mim.

— Teremos que conversar sobre a falta do uso de lingerie, mas só


depois, quero usar a minha boca para outra coisa agora.

Antes de eu pensar, Matthew já estava me provando.

Arqueie o quadril, surpresa, extasiada.

É tão delicioso e ele sabe fazer tão bem que não demorou para eu
atingir um orgasmo forte, gostoso, nunca sentido com tamanha
intensidade antes.

Fechei os olhos e deixei aquela sensação única me consumir.


Só voltei a encarar Matt, quando ouvi o barulho do preservativo
sendo aberto, ele se juntou comigo na cama e falou enquanto acariciava
o meu rosto:

— Você é tão linda baby, nunca mais deixarei que saia da minha
vida. — Com essas palavras, Matthew me possuiu.

A minha primeira noite com ele está sendo tão deliciosa e tão
certa.

— Eu nunca mais quero sair da sua vida — sussurrei, apreciando


cada movimento dele.

Cada investida me deixava mais desejosa.

Matthew Bittencourt estava se tornando um vício na minha vida,


mas eu só vou pensar nas consequências dessas declarações, quando o
dia amanhecer...
Capítulo 26

Matthew Bittencourt...

A claridade que entrava pela fresta da cortina me despertou.


Abri os olhos devagar, me acostumando com a luz do sol que
tentava dominar o ambiente.

Notei que estava em um lugar diferente, o quarto detalhadamente


decorado de Allana me fez sorrir, era a cara dela, o cantinho dela e eu
fui especial o suficiente para poder desfrutar desse momento.

Estar ali com ela parece tão certo, que minha vontade é nunca mais
ir embora.

O cheiro levemente cítrico dos cabelos loiros me fez fechar os


olhos e inalar profundamente. Eu posso muito bem me acostumar com
isso.

Fiquei a observando por um tempo, sua expressão tranquila e


relaxada em meus braços, sua respiração leve, sua beleza natural. Tudo
me fazendo recordar da nossa noite juntos.

Eu estou completamente perdido.

Nunca fui de me entregar por completo e tão rápido, apenas uma


vez, no início da universidade, mas me arrependi tanto que agora,
olhando cada detalhe do rosto lindo de Allana, das pequenas sardas que
parecem terem sido pintadas com esmero só para torná-la mais atraente,
eu sinto medo, medo de entregar novamente o meu coração por inteiro e
ele ser pisoteado sem dó.

Mas na noite passada eu percebi que já era tarde para sentir receio,
já estou apaixonado por essa mulher, não viria até aqui se não estivesse
e a noite passada só serviu para me confirmar ainda mais isso.

Toda a minha experiência sexual se transformou em nada,


comparado ao o que eu senti por ela.

Ao o que eu senti com ela.

Notei desde o início, desde que a vi pela primeira vez, que Allana
é diferente de todas as mulheres que já conheci, principalmente de
Emily, não pelo fato de ela estar sorrindo para a fachada de um
Starbucks, mas por notar que o sorriso era verdadeiro, que ela estava se
sentindo feliz apenas em poder estar ali.

Poucas coisas me chamam a atenção e com certeza a simplicidade


do olhar dela, o sorriso brilhante e verdadeiro, me cativaram. Ela não
sorri simplesmente, ela sorri com a alma.

Desde que conheci Allana, Emily, que antes costumava habitar


meus pensamentos e ser a maldita comparação para outras mulheres, se
foi. Não penso mais nela antes de dormir, nem quando acordo e nos
sonhos, há uma semana tem sido um par de olhos azuis acinzentados que
me dominam, um olhar sedutor e inocente ao mesmo tempo, aquela boca
que queria ser beijada, mas alegava não poder fazer isso. Cada pedaço
dela exterminou os cinco anos de Emily na minha vida.

Sorri me recordando do quanto desejei beijá-la, de uma forma


nunca desejada antes, do quanto essa boquinha pequena e rosada quase
me matou.

Enfim ontem consegui provar o sabor do beijo dela, guardei cada


segundo ao seu lado em minha mente, a imagem do seu sorriso, a
perfeição dos seus gemidos, as sensações indescritíveis que o toque dela
me causou, a essência natural de seu corpo, tudo, guardei para mim.

— Bom dia. — A voz delicada e levemente rouca me tirou dos


meus pensamentos.
Encarei seus olhos recém-abertos e os vi mais claros, o tom
acinzentado que me encanta não estava lá, estavam bem azuis,
parecendo o mar quando recebe a luz do sol e fica cristalino. Ela
conseguiu me surpreender ainda mais.

— Bom dia baby. — Foi inevitável não sorrir para ela.

Allana se acomodou um pouco mais em mim, não se importou em


cobrir a sua nudez, os seios delicados estavam tocando meu peito, as
unhas grandes deslizavam perto da minha costela e as pernas dela
estavam entrelaçadas na minha.

Porra, essa é sem dúvida a melhor manhã da minha vida.

— Você dormiu bem? — Ela perguntou, ainda com o rosto colado


no meu peito.

— Acho que a muito tempo eu não dormia tão bem.

Ela levantou novamente o olhar para mim e sorriu.

— Confesso que eu também.

— Só que poderia ser melhor sabe? — comecei como quem não


quer nada, ela me olhou atenta. — Eu poderia ter ganhado um beijo
matinal.

Allana arregalou os olhos azuis para mim e se levantou de pressa,


sem me dar chance de segurá-la.

— De jeito nenhum Matthew, não irei beijar você sem antes


escovar meus dentes — comentou, enquanto andava nua até o banheiro.

Eu estava quase indo atrás dela, mas a visão do seu corpo despido,
em plena luz do dia, me paralisou.

— Volte para essa cama baby, é tão injusto sair assim e me deixar
nesse estado.
Só ouvi o riso dela e fui atrás.

Quando cheguei na porta do seu banheiro, Allana estava próxima a


pia, não se importando com a falta de roupa e escovando os dentes.

Me juntei a ela, peguei a embalagem fechada que ela me deu e


iniciei a minha higienização, nossos olhares conectados pelo espelho,
parecíamos um casal e a ideia nunca pareceu ser mais perfeita.

— Eu posso facilmente me acostumar com isso — falei quando


finalizamos.

Ela se aproximou de mim, enlaçou meu pescoço com carinho e


comentou encarando meus lábios:

— Eu também, ficar esse tempo com você Matthew está sendo


maravilhoso.

Eu sorri, igual um bobo apaixonado.

— Agora eu posso fazer o que você tanto queria. — Ela comentou


e me beijou, delicadamente, reconhecendo as partes que ontem já eram
íntimas.

— Você poderia ter feito na hora que abriu esses belos olhos —
falei acariciando a sua cintura nua.

— Não estou acostumada a acordar com alguém do meu lado e


acredito que para um beijo ser melhor de manhã, tem que ser após
escovar os dentes. — Ela sorriu em meio a uma careta.

Mas o que ela falou me chamou a atenção.

— Não está acostumada a acordar acompanhada? Achei que você


e o... — De repente, comentar o nome dele me pareceu errado.

Eu estava feliz em dormir ali com ela...

Estava feliz em ter feito amor com ela pela primeira vez em seu
quarto...

Estava feliz em tê-la em meus braços a noite toda...

Mas a ideia de ela já ter feito isso com o ex namorado me deixou


com um gosto amargo na boca.

O gosto ruim dos ciúmes.

Eu realmente estava com ciúmes e para piorar estava com ciúmes


daquele babaca já ter estado aqui com ela, na época em que nem nos
conhecíamos.

— Luan nunca dormiu aqui Matt, nós nunca... — ela encarou a


cama — não aqui em casa pelo menos.

A olhei por um instante, tentando ver se ela mentia, mas apenas


enxerguei sinceridade ali.

— Eu e ele nunca fomos inseparáveis, nos víamos às vezes, mas


nunca o convidei para dormir aqui comigo.

— Mas já dormiu na casa dele? — perguntei, não consegui evitar.

— Ele mora com os pais, eu não achava certo dormir lá.

Essa frase me fez voltar a respirar novamente, deixei até um


pequeno sorriso de alívio escapar.

— Fico feliz que eu tenha sido o primeiro que dormiu ao seu lado
— comentei convencido, a puxando para mais perto.

Allana gargalhou.

— Não foi isso o que eu disse. — Eu a apertei um pouco mais.

— Como é? — perguntei, encarando-a.

Vi quando ela sorriu divertida e caminhou para perto da sua


prateleira de câmeras, a segui, queria entender tudo aquilo.

— Isso mesmo que você ouviu senhor Bittencourt, você não foi o
primeiro.

Eu não imaginava que uma simples frase pudesse me atormentar


tanto...
Capítulo 27

A expressão de Matthew foi impagável.


Allana pegou a mini câmera instantânea da sua coleção e capturou
o rosto dele, divertida.

A imagem foi revelada na hora. Ela a pegou e olhou, foi apenas o


rosto e parte do ombro, nunca tiraria uma foto de corpo todo dele, ainda
mais quando ele está completamente despido.

Essa é uma visão que ela não pretende compartilhar.

— Você não fez isso. — Ele caminhou para mais perto, pegou a
foto da mão dela e analisou.

Sua expressão estava intrigada, confusa e enciumada, tudo o que


ele nunca viu em si mesmo em um único momento, somente ela
conseguia capturar.

— Fiz sim, fará parte da minha coleção agora. — Ela pegou


novamente a foto e colocou-a em seu quadro com as melhores memórias
da sua vida.

Matthew ficou olhando cada gesto dela.

— Irei tomar banho, quer vir? — Ela se virou e o olhou.

Ele respirou fundo.

— Ainda não terminamos o assunto anterior.

Sorrindo ela caminhou até ele, ainda segurando a mini câmera nas
mãos.

— Eu não disse nada demais. — Ela mordeu o lábio inferior


travessa e ele soube que ela sabia exatamente do que se tratava.

— Você e quem? — ele perguntou confuso, afinal Allana contou


que nunca tinha namorado ninguém antes do ex.

Ela o olhou. Sua expressão não era uma das melhores, para
Matthew sentir ciúmes é ainda pior do que esconder seus sentimentos, é
algo tão ruim, uma vontade louca de pegar a pessoa e ter apenas para si,
assim nunca mais correr o risco de sentir aquilo novamente.

— Sempre quando eu tinha pesadelos, acordava no meio da noite e


ia dormir na cama dos meus pais, eu era uma criança. — Ela contou,
capturando novamente a expressão aliviada dele.

— Você é uma mulher muito má. — Ele a segurou na cintura nua,


acariciando levemente.

— Nunca disse o contrário. — Ela sorriu e ofereceu novamente.


— Quer tomar um banho agora?

— Quero outra coisa agora, mas aceito o banho também. — Então


ele a beijou, possessiva e intensamente.

Allana guardou a câmera e entrelaçou seus dedos nos dele, ambos


caminharam juntos para o banheiro, ela abriu o chuveiro enquanto ele
fechava o box.

E pela primeira vez, ele tinha acabado de sentir ciúmes de uma


mulher e não tentou evitar demonstrar isso.

Era o primeiro banho deles juntos, se dependesse dele seria o


primeiro de muitos.

— Eu posso me acostumar com essa visão. — Matt comentou,


vendo-a retirar as espumas do shampoo e abrir os olhos para encará-lo.

— Eu gostaria muito que se acostumasse. — Allana comentou,


despejando mais do produto sobre a mão e lavando dessa vez o cabelo
dele.
E foi assim que se seguiram os próximos minutos, um cuidando do
outro, um lavando o outro e um dando prazer ao outro.

Quando ambos saíram do banho, ela se trocou e ele ainda estava


parado no batente da porta do banheiro a olhando se vestir.

Matthew aproveitava a visão do belo corpo feminino e ao mesmo


tempo pensava se seria estranho sair do quarto de toalha e ir buscar a
sua mala no carro.

— Não vai mesmo. De jeito nenhum. — Allana comentou,


deixando claro que ele não sairia dali sem roupa.

— Eu disse isso em voz alta? — Ele perguntou, percebendo que


sim, tinha dito.

— Ainda bem que sim, eu busco a sua mala, cadê a chave daquela
belezura lá fora.

— Você gosta de carros? — Ele perguntou enquanto pegava a


chave no bolso da calça que usava na noite anterior e entregou na mão
dela.

— E quem não? Eu gosto de admirá-los, é um hábito que meu pai


tinha e eu acabei pegando.

Ele sorriu, ela sempre o surpreendia.

Quando a loira saiu do quarto, mal pisou na cozinha, Suzy e


Solange a encaravam curiosas.

— Bom dia. — Ela desejou sorrindo para as duas.

— Hum, pelo visto alguém dormiu bem. — Solange sorriu


cúmplice para Allana.

— Se é que ela tenha dormido, mãe. — Suzy comentou carregada


de malícia.
— Deixe a menina Suzy, até parece que tanto eu quanto você
nunca fizemos isso. — A voz da senhora estava animada.

Suzy tapou os ouvidos fazendo uma careta.

— Mãe, acredito que mesmo com quase trinta anos, eu nunca vou
conseguir ouvir você falando de suas intimidades. — Ela fez drama e
Allana apenas achava graça da situação.

Imaginava como seria agora, com os pais vivos, será que eles se
importariam de Matthew ter dormido com ela? Será que também fariam
brincadeiras a respeito disso? Tantos serás que não serão respondidos.
Allana estava quase se entristecendo, quando a voz de Solange a
despertou desse devaneio:

— Acha que você foi feita como filha? Com meu dedo que não
foi. — O tom cobre intenso que tingiu o rosto de Suzy mostrou que ela
estava envergonhada.

Allana nesse momento já gargalhava, quase chorando.

— Mãe por favor. — Suzy reclamou.

— Ok, ok, já parei. Tenho que ir trabalhar mesmo.

Tanto Allana quanto Suzy sabiam que Solange, desde a perda do


marido, nunca mais ficou com mais ninguém, ela brinca, se diverte com
as meninas, mas o brilho no olhar, a paixão que costumava dominar o
seu ser, se foi junto do homem que mais amou na vida.

— Eu vou pegar a mala do Matthew no carro. — Lana avisou e


saiu porta a fora.

Quando ela entrou arrastando a mala com rodinhas, Solange estava


de saída.

— Pelo visto o amor está no ar nessa casa, hein? — Com uma


piscadela ela deixou o lar sorrindo.
— Não entendi. — Allana comentou confusa.

— Nem tente, minha mãe não bate muito bem. Só o fato de ela
estar de bom humor essa hora da manhã, já mostra que ela é louca. —
Suzy foi evasiva.

A loira a encarou e estreitou os olhos desconfiada.

— Sei... Isso parece algo relacionado ao Pierre, sua mãe sabe


sobre ele? — Ela perguntou rindo.

— Não, sim...

— Sim ou não?

— Eu comentei pouca coisa, ainda estava com raiva sobre ontem e


precisei comentar.

— Raiva ou ciúmes? Acho que você está interessada nele, isso


sim.

Suzy fez uma careta horrível, como se o fato de se apaixonar por


alguém fosse o cúmulo.

— Daquele francês eu quero só distância.

Allana saiu sorrindo, a expressão da amiga já denunciava muita


coisa, mas apenas a possibilidade de se apaixonar, de se entregar para
um único homem e acabar deixando o seu coração à mercê dele,
assombrava a Suzy, a memória do quanto a morte do pai quebrou a mãe,
era algo que ela nunca se esqueceria.

— Nunca irei ficar vulnerável assim. — Ela jurou baixinho,


apenas para si...
Capítulo 28

Bônus Suzy...

Sabe aquele momento na vida que você se arrepende


intensamente de algo?

Sim, era exatamente isso que estava acontecendo comigo, a cada


toque do meu celular meu coração se acelerava ainda mais.

Parecia que esse órgão essencial para a minha existência estava


louco e que a qualquer momento poderia sair pulando da minha caixa
torácica.

Não é drama, estou sendo completamente sincera.

Mas se eu achava que estava à beira de um ataque cardíaco, tudo


piorou quando a voz dele foi ouvida.

— Achei que nunca me ligaria. — Ah essa voz um dia irá me


matar.

— Eu preciso de um favor seu, por isso liguei. — Nunca


confessaria que estava esperando-o me ligar.

Pela primeira vez na minha vida eu passei o meu contato para um


homem e esperei ele me ligar, ansiosa, olhando o celular a cada
segundo, mas Pierre não ligou. Estou em Genebra a cinco dias e a
ligação não aconteceu.

— Se não precisasse da minha ajuda, não me ligaria? — O tom


sério combina com ele.

— Também dei o meu número para você, por que não ligou? —
Eu quis ser simpática, já que quem precisa de um número para salvar o
quase relacionamento da melhor amiga sou eu, mas né? Eu sou assim,
não levo desaforo para casa.

— Culpado, eu poderia ter te ligado, mas acabei não conseguindo.


— A voz dele foi suave, mas nem isso evitou que eu me sentisse
atingida em cheio.

Que ótimo. Eu realmente não deveria ter ligado. Tentei ignorar


aquela dorzinha no peito.

Será que é assim que os homens que me passavam o seu número e


me pediam para ligar se sentiam? Espero que não, pois é uma sensação
horrível.

— O que você precisa? — Ele perguntou e só então percebi que


tinha ficado em silêncio por um bom tempo.

— Eu nem deveria ter... — Eu juro que ia começar a reclamar,


mas o olhar de Allana em minha mente, triste e ansioso, fez eu recuar e
deixar para xingá-lo quando já tivesse a informação que precisava.

— Eu preciso do número daquela loira que estava com o Matthew


Bittencourt na galeria. Você tem? — Não sei o motivo do meu coração
ter se acelerado ainda mais e eu estar torcendo para que a resposta fosse
negativa.

Imaginar o francês que ficou comigo enquanto estive em Nova


Iorque aos beijos com a loira linda e elegante me deixou desconfortável
demais.

Droga, eu não deveria ter ligado para ele, não se soubesse que
seria assim.

— Da Meg? Sim é claro que tenho. — Ótimo, o desconforto se


transformou em um gosto horrível na boca e a vontade de vomitar tudo o
que comi durante o dia me veio à mente.
Por que será que Pierre me afeta assim? De uma forma nunca
sentida antes?

— Que bom, então me manda. — E foi assim que eu desliguei na


cara dele, sem nem ao menos agradecer ou esperar pela sua resposta.

Em menos de um minuto a mensagem chegou, o contato estava


salvo como Meg e ao lado um emoji carinhoso.

Fala sério. Tão rápido? Por um acaso ele sabia de cor?

Nunca mais quero sentir isso.

Nunca mais quero ligar para o Pierre.

Nunca mais quero imaginar ele com ela, ambos juntos.

Mas eu ainda tenho que ligar para a loira lá e assim eu fiz, com
isso descobri que Matthew pegaria um voo em pouquíssimo tempo.

Ele estava indo embora, sem falar com a Allana. Isso é inaceitável.

A chegada de Allana até o carro e a corrida até o aeroporto,


valeram a pena, já que no final tudo deu certo e eles estão conversando
agora.

Quando entrei em casa reparei que tinha três chamadas perdidas,


achei que poderia ser do Pierre, mas não, era a minha mãe.

Que ótimo, eu estava parecendo uma adolescente ansiosa e tola.

Mandei uma mensagem respondendo a minha mãe, contando que


Allana conseguiu evitar a partida de Matthew e que provavelmente ele
dormiria aqui, fui para meu quarto e me joguei na cama.

Encarando o celular e vendo o número dele eu pensava se deveria


ligar novamente.

Pierre me causou emoções que nenhum outro conseguiu, mas eu


ainda sinto medo.

Os dias em que fiquei em Nova Iorque, que foram poucos


infelizmente apenas um fim de semana, me fez repensar na vida, nos
planos que eu tinha traçado com perfeição desde muito nova, para ser
mais exata, desde quando perdemos o meu pai e eu vi minha mãe
desmoronar como nunca antes, sei que até hoje um pedaço dela foi
enterrado com ele, que ela nunca será capaz de amar como um dia o
amou.

Nunca me apaixonar ou ter um relacionamento sério, esse era o


principal dos meus planos. Isso resultaria em nunca ficar vulnerável nas
mãos de outra pessoa, mas eu já não estava mais tão decidida assim,
comecei a questionar à minha maneira de pensar antigamente.

Esse antigamente era até quinta da semana passada, talvez na sexta


no comecinho da noite, mas quando meus olhos curiosos se conectaram
com o daquele francês.

Jesus, meu sangue esquentou, minha respiração ficou acelerada,


meu coração galopava forte no peito.

Algo que nunca tinha sentido antes, mas só piorou.

Piorou tudo quando Pierre se apresentou, me tocou, provou ser um


cara simpático, com bom humor, lindo e ainda por cima respeitador.

Onde que se encontra alguém assim em um pacote apenas?

Juro que já conheci alguns homens assim, mas nunca no mesmo


pacote.

Uma vez no colégio eu acreditei estar apaixonada, um carinha da


minha turma era lindo e simpático, mas o respeitador não estava
presente no pacote.

Depois dele eu comecei a prestar atenção em todos os outros antes


de me envolver.
Ou ele era lindo e simpático, ou ele era simpático e respeitador,
mas não lindo, classifiquei até como bonitinho, mas não lindo.

Só que Pierre estragou tudo, ele tinha tudo no pacote e quando


digo tudo é tudo mesmo.

Quando dei uma chance para aproveitar a noite com ele, eu


imaginava que um defeito ele tinha, talvez tivesse a perfeição em tudo,
mas fosse ruim de cama, uma parte pequena de mim torcia para que isso
realmente fosse verdade, mas me surpreendi.

Quem diria que aquele francês tinha uma pegada daquelas?

Depois daquela noite com Pierre, eu soube que nenhum outro


homem me marcaria tanto.

Eu já estava quente, desejando ter alguém que sei que nunca seria
meu, quando meu celular tocou.

Talvez fosse o destino, talvez fosse uma ligação entre nós, talvez
fosse... Apenas sorte.

Vou classificar como sorte, porque no momento é mais fácil lidar


com a sorte do que com a ligação entre nós.

Era Pierre me ligando e eu juro que iria deixar tocar até cair na
caixa postal, mas meu dedo traidor aceitou a ligação e meu coração,
bom eu já não tinha certeza se era realmente meu...
Capítulo 29

Bônus Pierre...

Só pelo olhar eu soube que minha mãe quer me perguntar algo.


Eu conheço Desiree Beaumont, sei quando ela está zangada, triste,
chateada, curiosa, que no caso é o que está agora.

— Pode perguntar Mère — falei por fim, deixando o meu café de


lado e a encarando.

Ela sorriu, também esquecendo o seu café e me olhando.

— Não sei como me conhece tão bem, queria ser assim com você,
mas você é igual ao seu pai sabe esconder seus sentimentos.

— Eu não escondo, apenas não demonstro — dei de ombros sem


dar importância para aquilo.

— Então querido... Queria saber sobre aquela moça da galeria. —


Ela começou delicadamente.

— Sobre a Allana? Achei ela extraordinária, acredito que é uma


excelente escolha para a nossa galeria — sorri internamente, sabendo
que o assunto não era esse.

A expressão fechada da minha mãe foi a prova de que não era isso
que ela queria saber.

— Também me encantei por Allana, ela é uma moça adorável,


mas não é sobre ela que estou perguntando.

Ah! Aí estava ela e sua curiosidade. Bebi do meu café tentando


demonstrar tranquilidade.

— Não é? E sobre quem seria? — perguntei, foi inevitável não


sorrir.

Só quem tem uma mãe intrometida e louca para saber sobre a sua
vida amorosa vai me entender nesse momento.

— Isso é cruel sabia? Eu estou curiosa e você está se aproveitando


disso. — Desiree é adorável.

— Não estou me aproveitando Mère, apenas estou tentando


entender qual é a sua pergunta — respondi suavemente, enquanto ela
quase me fuzilava com o olhar.

— Você está interessado pela Suzy? Aquela morena linda, amiga


da Allana. — Ela foi direta agora.

Minha mãe não precisava descrever quem é Suzy, em nenhum


segundo ela saiu da minha cabeça, tão pouco sairá, está sendo difícil
esquecer.

Ou ao menos tentar...

Era justamente esta pergunta que eu estava tentando evitar.

Desde que Suzy atravessou o meu caminho e bagunçou tudo, eu


vinha tentando evitar me perguntar qualquer coisa que a envolvesse.

Sua chegada foi tão turbulenta, só não ganhou de sua partida, que
foi mais turbulenta e repentina ainda.

— Eu não parei para pensar sobre isso — menti descaradamente e


foi nesse instante que eu agradeci aos céus por ser como o meu pai e ter
puxado dele o poder de esconder as emoções.

— Ah que pena! — O desapontamento estava na doce voz da


minha matriarca.
Devido ao meu silêncio, minha mãe continuou:

— Eu a adorei, sabe? Meu santo e o dela bateu, ela seria uma boa
nora, meio doidinha, mas é disso que você está precisando, vive essa
vida responsável e chata, precisa dela para dar uma chacoalhada nessa
chatice. — E aí estava a sinceridade.

Saber que minha mãe adorou Suzy, só torna a missão de não


pensar nela, ainda mais impossível.

Suspirei levantando-me.

— Ela foi embora e eu estou aqui, é isso o que importa.

Tinha em mente a saída perfeita, mas os delicados dedos me


seguraram no braço.

— Não deixe a sua felicidade escapar Pierre, sabe que


precisaremos de alguém na Suíça, seu pai não quer se mudar para lá.
Essa seria a sua chance. — E ali estava a mania de me provocar e sair
como se nada tivesse acontecido.

Essa é a minha mãe e esse dom de provocar, eu puxei dela.

Agora entendo a razão de ela ter gostado de Suzy, as duas são


iguais.

Personalidade forte, uma grande quantidade de loucura, mas


diferente da minha matriarca, Suzy é difícil de se ler, ela esconde as
emoções tanto ou melhor que eu.

Depois que a plantinha da dúvida, saudades e esperança já estavam


presentes, eu só pensava em Suzy, naquela boca carnuda e afiada,
naquele corpo cheio de curvas e no seu cheiro.

Porra, minha mãe conseguiu o que queria.

Ela me deixou com vontade de tomar conta dos negócios em


Genebra, mas não por se tratar de um investimento importante para a
minha família e sim por ser onde ela mora, eu a veria todos os dias, eu
talvez pudesse tê-la em...

E meus pensamentos foram embaçados devido à lembrança da


nossa última noite juntos.

Ela disse que não teria como continuarmos, disse que a distância
era grande demais e que nunca daríamos certo.

Essa foi a razão de eu ainda não ter ligado, ela não quer, eu não
ligarei.

Esses últimos dias tinham sido os piores, ela estava impregnada


em mim de uma maneira muito estranha e louca, mas era bom, era tão
bom pensar nela.

E quando o meu celular tocou, eu juro que acreditei em destino,


em cosmos, em qualquer coisa que unisse dois pensamentos, foi só
pensar e ela me liga.

Será que ela sente a minha falta assim como eu sinto a dela?

— Achei que nunca me ligaria. — Foi inevitável não a provocar,


eu precisava saber se ela se sentia do mesmo modo que eu.

— Eu preciso de um favor, por isso liguei. — Eu estou


perdidamente ferrado com essa belle femme.

— Se não precisasse da minha ajuda, não me ligaria? — Tenho


certeza que não.

— Também dei o meu número para você, por que não ligou? —
Eu quis contar que nesses cinco dias fiquei encarando o celular louco
para ligar, mas foi ela quem não quis que eu me aproximasse.

— Culpado, eu poderia ter te ligado, mas acabei não conseguindo.


— Em minha defesa, eu não iria pressioná-la, Suzy não me quer por
perto e bom, eu só quero estar perto dela.
Eu realmente estava com um conflito dentro de mim, estava fora
de eixo, queria ter ela comigo, vinte e quatro horas do meu dia, queria
acordar com ela ao meu lado, queria provar seu gosto na hora que bem
entendesse, mas Suzy é quem complicou tudo.

Ela me afastou e isso apenas me deixou mais frustrado ainda, mais


louco para tê-la.

Eu nunca me senti assim, nunca pensei demais em uma mulher.

— O que você precisa? — Eu queria ouvir a voz dela mais um


pouco, mas Suzy ficou tão calada.

— Eu nem deveria ter... — Ela não queria me ligar, que ótimo, eu


estou pensando demais em uma mulher que passou apenas um fim de
semana na minha cama e seguiu com a vida normal.

— Eu preciso do número daquela loira que estava com o Matthew


Bittencourt na galeria. Você tem? — Tentei lembrar que loira, já que a
família Bittencourt é formada por vários homens e quase todos casados,
mas no evento foram apenas o Matthew e a Megan.

— Da Meg? Sim é claro que tenho.

— Que bom, então me manda. — Após isso ela desligou sem nem
ao menos se despedir.

Enviei o número que achei na minha agenda e esperei ela me


responder à mensagem.

Esperei por quase duas horas e nada.

O foco que antes estava no trabalho, agora estava no celular,


encarando o número dela.

E eu liguei, segui meu coração e liguei. Foda-se, se ela não quiser


não atende e eu não ligarei mais.

Chamou a primeira vez e nada, na segunda ela atendeu. Saber


disso me tranquilizou, ela estava com o celular na mão, talvez esperando
eu ligar também.

— Sua mãe não te ensinou que desligar na cara das pessoas é falta
de educação? — Eu provoquei.

Sua respiração irregular me causou danos inevitáveis. Eu precisava


dela aqui nesse instante.

— Acredito que você não tenha me ligado para saber da minha


educação Pierre. — O meu nome sussurrado por ela me deixava ainda
pior.

— Touché. Você tem razão, liguei porque queria ouvir a sua voz,
só mais um pouco. — Eu fui sincero.

Ela permaneceu em silêncio por um tempo, preocupando-me,


angustiando-me e amedrontando-me.

— Você mente muito mal Pierre — sussurrou por fim.

— Por que acha que estou mentindo? — Meu coração estava


acelerado.

— Por que você tem o número da Megan? — Ela devolveu com


outra pergunta.

— Nossas famílias são amigas há muito tempo, eu apenas tenho,


mas você não me respondeu.

Suzy suspirou, irritada talvez.

— É claro que respondi, você que não percebeu. — Pelo seu tom
tenho certeza que ela está brava.

Mas por quê?

— Está brava? — perguntei mordendo o lábio inferior forte


demais.
— Eu deveria estar? — Ela devolveu.

Dessa vez eu quem respirei fundo.

— Suzy, eu não te entendo. O que você tem?

— Eu preciso desligar.

— Está pedindo dessa vez? Veja só como evoluímos. — A


provoquei intencionalmente.

— Pierre você está me provocando? — Senti o sorriso dela pelo


celular e acabei sorrindo também.

E a saudades me matou.

— É claro que não, a única culpada de eu não estar aí agora com


você, fazendo o que eu quiser e tendo certeza que você pediria por mais,
é você Suzy, você não me quer aí.

— Acho que você está se confundindo Pierre, eu não me chamo


Megan. — Sua resposta me deixou confuso.

Por que raios eu iria querer que ela fosse a Meg?

Só então eu me toquei, ela realmente tinha respondido à minha


pergunta.

Suzy estava com ciúmes da Megan. Quando fui respondê-la, a


ligação já tinha sido desligada...
Capítulo 30

Allana aproveitava a visão do Bittencourt se trocando em seu


quarto.

— Você tem mesmo que voltar hoje? — Ela perguntou sentindo


seu coração se apertar.

Matthew estava se tornando um vício ainda maior do que o café,


que até então era o seu maior vício, mas aquele Bittencourt, com sorriso
perfeito e beijo avassalador mexeu com todas as estruturas da fotógrafa.

— Infelizmente sim. Te deixar aqui será a pior parte. — Ele


terminou de abotoar a camisa e se aproximou dela.

Allana que estava sentada se levantou, o puxando para mais um


beijo, aproveitando os pouquíssimos minutos que restavam juntos.

— Eu queria que fosse diferente. — Ela comentou, passando a


mão pelo peito dele.

Matthew realmente provocava o melhor na jovem.

— Eu também queria, mas a audiência de custodia do Enzo é


segunda à tarde, eu realmente tenho que voltar. — Ele segurou
levemente o queixo dela, fazendo-a encará-lo.

— Que horas é o seu voo? — Lana perguntou, querendo muito que


fosse o último noturno.

— Vou sair as três da tarde. — Ele respondeu, franzindo o cenho,


era horrível se separar, quando nem ao menos ficaram juntos direito.

Allana pensou por um instante. Ele chegaria as onze da noite,


horário de Genebra, mas com o fuso seria cinco da tarde em Nova
Iorque.

— Você ainda terá um bom tempo para estudar o caso. — Ela


constatou.

— Sim, um bom tempo, mas quando o caso for ganho eu volto


para te ver.

— Promete? — Ela se viu perguntando, mais carente do que


pretendia demonstrar.

— Eu prometo. — Ele a beijou delicadamente nos lábios, se


afastando para terminar de se vestir.

Ela amou essa sensação de o conhecer a tanto tempo, ele ficava


relaxado diante dela, a olhava e sorria, e com ela era do mesmo modo.

Parece que se conheciam há anos e que apenas se reencontraram.

— Você poderia ir comigo. — Ele arriscou, era o que mais queria.

Só então Allana lembrou que ainda precisava trabalhar.

— Meu Deus, me esqueci que tenho que trabalhar ainda hoje. —


Ela olhou o relógio, quase oito da manhã.

— Que horas você entra? — Matthew perguntou, também olhando


a hora.

— Às nove, ainda temos tempo.

— Está bem, eu passo aqui para te pegar daqui a uma hora. — Ele
respondeu colocando a carteira no bolso e pegando a chave do carro.

— Por quê? Aonde você vai? — Ela perguntou confusa, afinal


achou que ele não tinha compromisso nenhum em Genebra, a não ser
com ela.

— Preciso fazer umas ligações a respeito da audiência e também


resolver algumas questões do hotel que estou hospedado.

Era meio verdade, já que ele ligaria para Ethan que estava
preocupado com a audiência e ligou várias vezes na noite passada, mas
sobre o hotel era mentira, ele não tinha mais nada para resolver lá, afinal
fez o checkout no dia anterior.

Mas precisava fazer uma visita para alguém e deixar claro que
Allana tem quem a protege agora.

— Ok, não quer tomar café da manhã antes de sair? — Ela


perguntou quando chegaram na cozinha.

— Agora não. — Ele a puxou novamente para os seus braços e a


beijou.

O Bittencourt querendo ou não, foi domado por ela de uma forma


irreversível.

Allana mal fechou a porta atrás de Matthew e já sentiu saudades.

Apenas uma noite com ele não foi o suficiente.

E quando ele voltasse para seu país?

E a distância? Tudo seria tão complicado para os dois.

Uma hora depois Matthew estava de volta, tocou a campainha e a


loira abriu a porta, mas ela ainda estava vestida com a mesma roupa de
quando ele saiu.

— Achei que já estivesse pronta. — Ele comentou entrando e a


puxando para os seus braços novamente.

— Bom... Eu liguei e disse que não vou hoje, falei que estava com
mal-estar.

Ele a olhou atentamente, preocupado.


— Está passando mal? Já se alimentou? — A pergunta veio
acompanhado do toque delicado e gentil.

— Foi uma pequena mentirinha, só para não ir. — Ela sorriu sem
graça, fazendo uma carinha de culpada.

Foi a primeira vez que ela fez isso na vida.

Matt sorriu com o constrangimento dela.

— Pelo visto você nunca fez isso antes. — Ele constatou ainda
rindo.

— Não e por isso eles acreditaram em mim, não costumo faltar. —


Ela falou a verdade, amava o seu emprego e detestava perder um dia de
trabalho.

— E por que irá faltar hoje? — Ele sabia a resposta, mas queria
ouvi-la confessando.

— Oras, não é óbvio? Eu quero ficar com você até as três, te levar
no aeroporto e me despedir com carinho.

Ele sorriu lindamente e a beijou.

Isso estava virando um vício. Beijar ela era tão bom que Matthew
detestava imaginar como seria ficar sem Allana.

Lana o arrastou para a cozinha, com a intenção de fazê-lo comer


algo.

— Você não comeu nada desde ontem à noite. — Ela comentou e


apontou para a mesa. — Fique à vontade.

Matthew obedeceu de bom grado, ele estava realmente com fome.

— Você também mal se alimentou desde ontem. — Ele constatou,


esperando pela companhia dela.
Allana se sentou, mas não se serviu.

— Eu me alimentei nesse tempo que você saiu, mas ficarei te


fazendo companhia.

Ele assentiu e perguntou:

— Você quem preparou? — Matthew estava se sentindo em casa,


colocou o suco natural de laranja no copo, pegou a fatia de pão,
recheando com geleia que ele presumiu ser de uva, já que era roxa.

— Digamos que eu não nasci com o dom da culinária, muito


menos a Suzy, então quem nos salva é a Solange. — Ela contou com
uma risadinha.

Matthew mordeu um bom pedaço e a olhou. Divertimento brilhava


em seus olhos claros.

— Eu também não sou muito bom na cozinha. Acredito que


podemos aprender juntos. — Os planos para um futuro com ela
pareciam certos.

Allana sentiu seu estômago se revirar em expectativa e acabou


sorrindo.

Matthew Bittencourt queria aprender a cozinhar com ela. Que


maravilha, apenas o fato de ele estar incluindo-a em sua vida, era
perfeito.

Mas toda a felicidade e expectativa do momento se foram, quando


ele pegou uma uva e Allana acompanhou o movimento da mão dele até
a boca.

Só nesse instante ela notou a mão machucada.

— Isso não estava aí ontem. — Ela constatou um fato e pegou a


mão dele, olhando com atenção.

— Não é nada demais. — Matthew evitou que ela olhasse demais


o machucado.

Allana estreitou os olhos para ele.

— É recente Matthew, por um acaso você brigou com alguém


enquanto estava no hotel? — Ela questionou nervosa...
Capítulo 31

Matthew Bittencourt...

Eu continuei comendo normalmente, tentando evitar aquele olhar


acinzentado.

Terminei, me deliciei com o suco e não deixei de reparar na


inquietação dela.

Allana se levantou, cruzou os braços, começou a bater o delicado


pé descalço no chão e me encarou intensamente.

Se um dia nós tivermos filhos, eu terei dó das crianças.

Aquele ser pequeno e loiro sabe te deixar inquieto com aquele


olhar questionador.

Ela está furiosa e tenho certeza que já sabe o que foi que eu fiz.

Antes de mais nada, quero ressaltar que não me arrependo nem por
um segundo.

De repente me veio na memória quando minha mãe castigava a


mim e aos meus irmãos, na maioria das vezes sobrava tudo para mim, já
que eles eram mais velhos e sempre me culpavam.

É injusto, eu sei.

O olhar da matriarca da família Bittencourt é tão inquietante


quando o de Allana agora.

— É isso mesmo o que você está pensando — confessei a olhando


também.
Ela respirou fundo, acredito que em busca de calma.

— Matthew, eu não queria isso, não te pedi isso. — Ela olhou


novamente para os meus recentes machucados.

— Sei que não me pediu, mas eu queria e muito. — Fui sincero.

Eu queria arrebentar a cara daquele infeliz desde o momento que


ele se gabou quando comentou ser o "noivo" de Allana. Naquele
momento um ódio me consumiu e eu estava prestes a matar alguém, mas
não cometi um assassinato em consideração a ela, acreditei que ela
estava com ele e não queria causar a sua infelicidade.

Porém hoje de manhã quando eu fui procurar por ele, coisa que
não foi difícil já que com um telefonema eu consegui as informações, o
bastardo teve a ousadia de dizer que passou a noite com ela, nem vou
entrar em detalhes das merdas que ele me disse.

Percebi que Luan é um cara que joga sujo, expondo a intimidade


dos dois a ponto de querer me ferir, mas eu não dei esse gostinho para
ele, eu apenas sorri com deboche sabendo que foi comigo que ela
dormiu, foi meu nome que ela gemeu e não o contrário, a cara de merda
dele se fechou quando percebeu que eu sabia que era mentira e foi ali na
sala da casa dele que eu fiz o que queria desde que coloquei os meus
olhos nele.

Deixei-o avisado de uma forma nada agradável que Allana agora


é minha e que ele não sabe com quem está se metendo. Ele sabe que
errou machucando-a, e acredito que não fará isso de novo.

Antes de sair tive o vislumbre dele cuspindo o sangue pela sala,


me olhando mortalmente.

Espero não te ver novamente, da próxima você não terá tanta


sorte assim.

Avisei e saí, sabendo que ele me procuraria, tinha certeza que isso
não tinha acabado ainda. Mas o mais importante era Allana e nela eu
sabia que ele não encostaria nunca mais, já que seu ódio foi direcionado
a mim agora.

— Eu não gosto de violência, isso não leva a nada. — Ela ainda


estava zangada. E era comigo.

— Não penso como você, ele te marcou e isso ele teve que pagar
— falei me levantando e tocando levemente no machucado dela.

O braço estava com um tom levemente roxo e ver aquilo só me


deu mais certeza de que foi certo o que eu fiz.

Allana não se afastou do meu toque, pelo contrário ela se


aproximou mais.

Beijei a marca roxa e fui subindo pelo braço, até chegar eu sua
boca, para beijá-la intensamente.

— Não queria que tivesse se machucado. — Ela fez uma careta


linda e acariciou o meu rosto.

Sorri com deboche e confesso, convencido também.

— Ele ficou bem pior, acredite baby. — A expressão dela me


deixou incomodado.

— Você machucou muito ele? — Ela perguntou preocupada.

Preocupada demais para o meu gosto.

É sério isso?

— Está preocupada com ele? — Meu tom saiu mais rude do que
eu pretendia.

Ela se afastou, me olhando surpresa. Acho que não esperava por


isso, nem eu estava esperando, mas Allana mexe comigo e o simples
fato de ela se preocupar com aquele verme, me irrita.
— Apesar de tudo o que aconteceu, eu cresci com ele, Luan era
meu amigo antes de tudo isso. — Ela foi sincera e isso foi o que mais
me incomodou.

— Eu entenderia essa sua preocupação se caso ele não fosse o


causador desse machucado. — Acusei, olhando para o ferimento.

— Talvez ele... — Ela começou, cautelosa.

— Não o defenda, isso é inaceitável para mim. — Eu a cortei,


antes que ela começasse a defender o seu agressor.

— Eu não iria defendê-lo Matthew, estava apenas comentando que


talvez ele tivesse se arrependido, Luan não é assim, ou não era pelo
menos.

Eu sai da cozinha, indo em direção a saída da casa. Não aguento


mais esse assunto.

— Acredito que não estamos falando da mesma pessoa. — Eu


alcancei a maçaneta e abri a porta.

— Aonde você vai? — perguntou, enquanto segurava o meu


braço.

— Vou sair daqui porque não quero discutir com você.

Ela apertou um pouco mais o toque, a olhei.

— Você não vai a lugar nenhum, podemos mudar de assunto e


ficarmos juntos, não quero perder o pouco tempo que nos resta. — Ela
sussurrou, ainda me olhando.

Frustrado é a palavra que melhor me define agora.

— Só me responde uma coisa — pedi, angustiado.

— O quê? — Ela perguntou rápido, disposta a não me deixar ir.


— Você ainda o ama? — E o medo da resposta me dominava
completamente.

Allana soltou o meu braço, mas permaneceu me encarando, o


silêncio dela era a resposta que eu precisava.

— É, pelo visto sim — conclui, ela voltou a me olhar, dessa vez


chateada.

— Matthew, como pode achar isso depois da noite que tivemos?


Achei que tinha demonstrado em gestos o que eu sinto por você. — Não
consegui olhar nos olhos dela.

Ela estava chateada e eu estava morrendo de ciúmes.

Allana pode estar gostando de mim agora, atraída por alguém


diferente do que estava acostumada a anos, mas quem ela ama é ele.

O meu medo é que isso nunca mude...


Capítulo 32

Allana estava realmente chateada com o Matthew.


Mas ela estava ainda mais chateada consigo mesma, já que quando
ele fez a pergunta ela hesitou, não soube o que responder.

Mesmo depois de tudo, as lembranças da infância ao lado de Luan,


ainda existiam, não tinha como apagar.

Mas amor?

Ela ainda o ama?

Chegou a realmente amar um dia?

Essas são as perguntas que a fotógrafa estava evitando, mas


quando Matthew perguntou, pegou-a desprevenida, totalmente surpresa,
ela optou pelo silêncio e o olhar do Bittencourt em resposta a
despedaçou.

Merda, e se fosse o contrário? E se ele tivesse uma ex que ainda


fosse um pouco especial? Ela também se sentiria afetada, com certeza.

Porém com Luan é diferente, parando para pensar, comparando o


que sente com Matthew e o que sentia com Luan — desde o início do
relacionamento —, ela sabia que não, nunca chegou a amá-lo
intensamente, a se afetar assim como se sente em relação ao Bittencourt.

Ela nutria sim um belo sentimento pelo ex namorado, mas


conhecer a verdadeira personalidade dele marcou esse afeto.

Marcou de uma forma inesquecível, dolorosa, assustadora. Ela


passou a ter medo dele, mas não ao ponto de desejar algo ruim a ele.

— Olhe para mim. — Ela pediu delicadamente, se aproximando


de Matthew, segurando a mão dele com cuidado.

Quando os olhares dos dois se conectaram, Allana notou que o


azul dele estava ainda mais claro.

— Eu não o amo mais, não da forma como você acredita e supôs,


eu não posso simplesmente apagar o Luan assim, ele fez parte da minha
vida, estava comigo nos meus piores momentos e querendo ou não, ele
me apoiou, cuidou de mim, eu me sinto agradecida por isso. — Allana
foi sincera, olhando-o nos olhos.

A única coisa que ela queria era que Matthew confiasse no


sentimento bonito que está crescendo entre os dois, mas ele permaneceu
em silêncio, apenas olhando-a nos fundos dos olhos.

— A pergunta que você deveria ter feito é se eu amo você. —


Dessa vez a loira se aproximou mais, ela queria, ela precisava tocá-lo.
Essa necessidade a assustava demais.

O mais novo dos homens da família Bittencourt sentiu seu coração


se acelerar, ele não esperava que Allana fosse falar aquilo, estava cedo
para conversar sobre amor, não estava?

Mas porra, a curiosidade dele em saber era imensa.

— Você me ama? — Matthew praticamente sussurrou a pergunta.

Allana sentiu seus olhos marejarem, ela estava se segurando para


não chorar.

— Sim Matthew, eu amo você, pode ser cedo eu sei — ela sorriu
se esforçando para não chorar, mas prosseguiu, — só que nada nem
ninguém pode mudar o que eu sinto por você.

As palavras simplesmente saíram da jovem, de uma forma sincera


e verdadeira.

Allana o ama, mas esse sentimento está apenas nascendo, ele irá
crescer e se depender dela ele irá permanecer entre os dois.
Quando ela confessou amá-lo, não esperou ouvir que era
recíproco, ela só quis contar. E Matthew não disse se a amava também
ou não.

— Não chore baby. — Ele secou as lágrimas dela e a puxou para


os seus braços, confessando com gestos o que a boca não foi capaz de
dizer.

Ouvir de Allana as palavras que ele tanto fugiu, paralisou-o.

De repente Matthew não estava mais ali com Allana, o tempo


mudou e ele estava no corredor da universidade, com uma garota ruiva
em seus braços, confessando amá-la e ela garantia ser recíproco, falando
em alto e bom tom que o coração dele pertencia a ela. E no mesmo dia
Emily o destruiu.

O que ela fez o afetou tão profundamente, acabou resultando nas


regras tolas que ele criou, no medo de se entregar. Mesmo Matthew não
querendo, Emily o mudou.

— O que foi? — Allana perguntou.

Só então Matthew percebeu que tinha ficado calado por muito


tempo e que a fotógrafa também secou algumas lágrimas dele.

— Não é nada, eu só quero ficar aqui com você.

Ela assentiu, percebendo que era sim alguma coisa, mas que
aquele não era o momento ideal para cobrar respostas sinceras.

Matthew a apertou em seus braços, inalando o delicioso cheiro de


seus cabelos, ela fechou os olhos e relaxou.

Tudo o que queria estava ali com ela, por pouco tempo, mas ainda
assim, com ela.

Allana não se incomodou com o fato de Matthew não falar que a


ama, viajar até Genebra atrás dela já era uma grande prova de amor. E a
briga com Luan também comprovou que ele realmente nutre algo por
ela.

Para a fotógrafa, ouvir a frase não fazia diferença, seu coração


gritava que ele a amava, e foi com essa confiança que ela passou o resto
da tarde nos braços dele.

O amando e provando para os dois que ele é o único homem que


ela quer ter a partir de agora.

∞∞∞

Quando Matthew entrou no avião, de volta para Nova Iorque, ele


sentiu seu peito se apertar, a ausência da Allana era mais forte do que ele
imaginava.

A cada instante ele pensava nela, ao fechar os olhos era ela quem
via e ao se recordar de anos antes ele percebia que era com ela com
quem ele queria estar.

Emily foi a razão de Matthew criar as malditas regras, mas Allana


foi a única mulher que passou por quase todas elas, coisa que nunca
tinha chegado a acontecer.

Três delas Allana ultrapassou em um único dia.

A quarta regra foi a que mais o destruiu, já que para ultrapassá-la,


era simplesmente necessário a pessoa ser sincera com ele, foi o que
Allana fez, confessando ser comprometida e se afastando de cada
investida dele para ficar com ela.

Allana era digna de respeito, mesmo ela sendo traída pelo ex


namorado, ela nunca o traiu, nem mesmo com Matthew. A atração entre
os dois era notável e mesmo assim ela não cedeu.

Quatro delas já tinham sido concluídas, mas a última regra era a


que Matthew mais temia, era a prova de que ele já estava perdidamente
apaixonado.

E hoje quando a loira confessou o amar, ele simplesmente não


conseguiu dizer o mesmo, já que no passado ele cometeu esse grande
erro, e com medo de tudo se repetir, o Bittencourt se calou.

A última regra seria falar a frase até então proibida, a que ele tanto
fugiu. Afinal apenas três mulheres na sua vida a ouviram, a sua mãe, a
sua irmã e a última foi o seu maior erro.

Por isso ele jurou nunca mais confessar amar alguém.

Não antes de ter certeza que essa mulher é merecedora de tal ato...
Capítulo 33

Tudo parecia loucura? Sim, claro que parecia.


Allana o conhecia há tão pouco tempo? Sim, conhecia.

Mas soube nesse tempo que o amava.

Não tem como questionar isso.

Somente quem já se apaixonou sabe como isso é rápido, intenso e


às vezes desastroso.

Mas às vezes o certo é arriscar, se jogar, esquecer o medo que o


passado deixou marcado, viver o presente e não se preocupar com as
consequências que podem surgir no futuro.

O amor é algo estranho, para ele não existe tempo, idade, religião,
nada disso importa. Nada disso precisa ser levado em consideração.

Quando dois corações se tornam apenas um, não tem como evitar.
É amor na certa.

E Allana tinha certeza disso, já que mesmo sendo comprometida, a


atração entre os dois existiu desde o início.

Ela tinha namorado, mas era com o Matthew que ela queria estar...

Era nos braços dele que ela queria se perder...

Era naqueles lábios tentadores que ela queria se encontrar...

Encontrar com ele a mulher quente que ela sabia que existia dentro
de si.

Não foi difícil, a cada toque ela se sentia queimar, de uma forma
única, intensa demais, mas tão boa, que ver Matthew indo embora a
partiu.

Mas algo a confortou, a certeza se saber que de uma forma ou de


outra o destino dos dois estava traçado, a prova disso foi a vinda de
Matthew para Genebra.

Se ele pôde, por que não?

Por que não estar com ele na sua primeira audiência?

Por que não demonstrar que é tão louca por ele também?

Por que não deixar seu país de nacionalidade e voar para Nova
Iorque atrás de alguém que fez o mesmo por ela?

Ela encontrou todas essas respostas, antes da amiga doida a ajudar


com tudo.

Suzy sempre seria a sua cupido preferida, isso quando era com
Matthew, afinal Luan passou a não ter o afeto da melhor amiga de uns
tempos para cá.

Allana respirou fundo, olhou para o lado e viu uma senhora já


dormindo.

A fotógrafa estava em um voo comercial, com destino a Nova


Iorque.

— Estou apenas retribuindo o que ele fez. — Ela sussurrou para si


mesma, sorrindo.

Depois de passar uma noite com Matt, dormir na noite seguinte


sozinha foi desastroso, ela se mexia inquieta, sentindo falta do corpo
definido e quente a segurando protetoramente.

Foi assim que tomou a decisão de ir até Nova Iorque.

Para quem nunca tinha saído do país que nasceu, viajar para a
cidade que nunca dorme duas vezes no mesmo mês era um grande feito.

E ela estava indo confiante, ela tinha uma razão para isso.

Claro que no fim do mês a fatura do seu cartão de crédito irá pesar,
mesmo estando na classe econômica, mas valerá a pena.

O homem que ela ama vai ganhar o seu primeiro caso e ela quer
estar com ele.

Acompanhando o seu sucesso.

O mais interessante ainda era que esse não era um simples caso,
mas sim a adoção de um futuro sobrinho.

O primeiro e com certeza mais importante caso da vida e carreira


de Matthew Bittencourt.

Estar lá para Allana é o certo... E assim ela fez, planejou sua ida
para chegar a tempo de assistir a audiência.

Quando chegasse em Nova Iorque, teria muitas coisas para


conversar com ele.

Ela tinha percebido assim que ele partiu, que nada faria mais
sentido sem ele ao seu lado. Precisam dar um jeito nessa distância.

Agora só resta saber se ele quer o mesmo.

∞∞∞

Matthew estava nervoso, tinha chegado na audiência com uma


hora de antecedência, acompanhado de Ethan e Tayane.

— Será que eu posso ficar com o Enzo por enquanto? — Ane


perguntou.
— É melhor não. Espere mais um pouco amor, logo ele estará na
nossa casa. — Ethan a abraçou, sentindo que tudo daria certo.

— Ele vai amar a decoração do quarto, Drew ajudou a decorar. —


Ela comentou emocionada.

— Tenho certeza que vai. — Matthew respondeu gentil, mas o seu


nervosismo estava visível.

— Relaxa Matt, você parece mais preocupado do que nós dois que
somos os futuros pais.

O mais novo olhou seriamente para o irmão e respondeu:

— Essa é a questão, vocês serão pais do menino se eu ganhar a


causa, não quero perder e tampouco desapontar vocês. — Ele olhou para
os dois.

— Você não vai nos desapontar Matt, acredite se tem alguém para
ganhar essa causa, esse alguém é você. — Tayane falou confiante.

Matthew ficou agradecido com o apoio da cunhada, mas o


nervosismo ainda estava presente.

— Você sempre se sentirá assim Matthew, pode se passar anos,


essa sensação diminui, mas nunca vai embora. — A voz de Christopher
foi ouvida.

Foi difícil para Matthew acreditar nas palavras do irmão mais


velho, afinal quando Christopher entra em uma audiência, ele exala
confiança e poder, sempre ganhou a maioria dos casos que pegou.

Assim como Elliot, mas para Matthew, ele tinha quase certeza que
sempre se sentiria nervoso.

Mas não como nesse, o primeiro e ainda por cima a adoção de


Enzo.

O menino já tinha capturado o coração de todos da família


Bittencourt, até mesmo dos primos que ainda eram tão pequenos.

— Não quero imaginar a sensação. — Tayla comentou ao lado do


marido.

— Achei que não viriam. — Matthew comentou.

Chris sorriu de lado, confiante.

— Eu não perderia isso por nada, Elliot apostou comigo que você
estaria suando de nervoso, pelo visto eu acabei de perder mil pratas.

— Quando se trata dos nossos irmãos, eu sempre ganho Chris,


agora me pague. — Elliot chegou sorridente e estendeu a mão na frente
do loiro, que retirou as notas da carteira com uma cara péssima.

— Isso vai ter volta. — O primogênito retrucou enquanto


entregava as notas.

— Vocês amam se divertir com a desgraça alheia, não? —


Matthew perguntou um pouco mais relaxado, mas o nervosismo nunca
iria embora por completo.

— Não é qualquer pessoa cara, é você. — Ethan entrou na


brincadeira, provocando o mais novo.

Isso fez Matthew se recordar da sua infância, ele era sempre o saco
de pancadas nos treinos, era sempre o culpado por quebrar as coisas e
era sempre ele quem tinha que brincar com a Megan, já que Angélica
vivia repetindo que a menina se sentia sozinha no meio de quatro irmãos
mais velhos.

Matthew sorriu, ignorando a implicância dos irmãos. Sabia que


tudo o que eles queriam, era que ele relaxasse.

— Agora eu cresci e mostrarei para vocês como se ganha uma


causa...
Capítulo 34

Allana Sulatte...

Assim que cheguei no hotel que Suzy deixou reservado, peguei a


minha chave e tomei apenas um banho rápido, estava em cima da hora.

Peguei um táxi e segui o meu destino, quando cheguei, a audiência


tinha acabado de começar.

Não consegui ver Matthew antes, nem desejar boa sorte, mas eu
estava ali, isso o que importa.

Entrei o mais silenciosa possível e o vi.

Matthew estava ainda mais lindo, o terno escuro destacava as


melhores partes do seu corpo, os cabelos estavam devidamente
apresentáveis.

Meu Deus, como ele é perfeito.

Não o conheço a tanto tempo, mas notei que estava nervoso, olhei
ao redor, tinham bastante pessoas presentes, entre elas todos os
Bittencourt, eles estavam algumas fileiras à frente de mim, do lado
oposto.

Todos unidos é uma visão e tanto.

Notei que estavam ali para apoiar Matthew em seu primeiro caso,
assim como por Ethan, sua namorada Tayane e o futuro neto. Saber
disso me fez admirar um pouco mais cada um deles.

Ao lado de cada um dos filhos estavam as respectivas mulheres,


das três eu não sabia diferenciar a mais linda.
Tayla estava confiante assim como o marido.

Melanie estava ansiosa, notei pelo fato de ficar batendo levemente


os pés no chão e Elliot a confortava, ele parecia bem confiante também.

Ethan e Tayane estavam nervosos, a moça estava quase roendo as


unhas de tanta tensão.

Na fileira de cima estava Megan, que encontrou o meu olhar e


arregalou os olhos surpresa, ao lado dela a mulher loira e elegante
segurava a mão do homem que eu nunca mais esqueceria o rosto,
Alfredo Bittencourt, o próprio.

Pesquisar sobre a família foi o certo afinal, já que agora sei quem é
cada um.

Saber que Matthew é tão amado e apoiado me deixa feliz,


confesso que senti uma pequena pontada de inveja, ter a família tão
unida é algo que me faz falta, mesmo estando ao lado das duas mulheres
que mais amo na vida, os meus pais me fazem muita falta.

Notei que Megan sussurrou algo no ouvido de Angélica, no


instante seguinte eu estava sendo alvo do olhar curioso da matriarca
Bittencourt.

Pronto, se eu já estava nervosa antes, agora estou o dobro.

Alfredo também me olhou, sorri sem jeito para eles e voltei minha
atenção para o homem em questão, aquele que roubou meu coração no
instante em que o vi, tão lindo e tão molhado de café.

Sorri com esse pensamento. Matthew me causa isso, o melhor de


mim.

As palavras que ele dizia eram tão dolorosas que tentei não prestar
muita atenção, os maus-tratos que o pequeno Enzo de apenas cinco anos
sofria, estavam sendo ditos em voz alta para todos ali presentes.

Arrisquei olhar para os Bittencourt e vi o exato momento em que a


mãe do garoto começou a chorar, não adianta negar, ela já é a mãe do
pequeno, mesmo que não de sangue, o destino os uniu de uma forma
ainda mais poderosa. É notável que ela é apaixonada pelo menino.

Quando Matthew terminou de declarar seus fatos, o silêncio do


lugar foi quebrado por uma pessoa que entrou sem nem ao menos fazer
questão de ser discreta, todos os olhares foram para a porta.

Me virei e vi quando o tom avermelhado tomou conta das


bochechas da mulher, combinando perfeitamente com os longos cabelos
ruivos que beiram a cintura.

Matthew a notou também e por um momento vi seus olhos


brilharem. Saudades talvez. A ruiva por sua vez sorriu para ele, isso fez
um incomodo enorme crescer no meu peito.

Ciúmes, uma merda. Os dois se conheciam, isso era notável.

Toda a confiança de antes se foi.

Pelo visto ele também tem alguém do seu passado que resolveu
voltar.

Quando a ruiva se sentou, todos voltaram a prestar atenção em


Matthew, mas ele ainda a olhava, parecia interessado na presença dela
ali. Foi nesse instante que eu entendi a razão dele não dizer aquelas
palavras que as mulheres tanto querem ouvir.

Minutos antes isso não era um problema, mas a existência de outra


na sua vida, mudou tudo.

Ele amava alguém sim, mas não era a mim.

Matt amava a ruiva que sustentava o seu olhar.

A família perfeita estava completa por fim, sendo que de todas,


agora eu consigo saber qual é a mais bela e ela estava nesse instante
sorrindo para o homem que eu passei a amar intensamente.
Um incômodo tão grande me tomou, que acreditei não conseguir
chegar ao banheiro antes de soltar tudo o que tinha comido no avião ali
mesmo.

Foi quando ia me levantar que Matthew me viu.

Seus olhos de um azul cobalto se fixaram em mim, a garota que


estava louca para sair dali e voltar a respirar.

O olhei de volta, da mesma maneira, mas algo que ele viu em mim
o fez mudar sua expressão facial para confuso.

Talvez tenha sido a minha presença repentina, sem prévio aviso,


ou talvez fosse a questão mais provável, meus olhos molhados, que de
uma forma ou de outra encontrou a maneira de aliviar aquela dor.

E no instante seguinte eu senti uma mão segurando a minha,


apertado.

— Não fique assim Allana, certeza que Matthew tem uma


explicação. — Era Megan, que também percebeu a troca de olhares
entre os dois.

Todos ali presentes devem ter percebido, afinal a tensão foi tanta
que qualquer um é capaz de notar.

Arrisquei olhar para Matthew novamente e ele sorriu para mim, e


não para ela.

E como se acordasse de um transe, ele prosseguiu com a


audiência.

Claro que no final ele ganhou, vez ou outra eu pegava ele me


olhando intensamente, mas o que me quebrava cada vez mais era o
momento que ele também olhava para aquela ruiva.

A atração entre os dois era perceptível. Eu nunca imaginei que


seria capaz de sentir tanta raiva de uma só pessoa. Ainda mais sendo
essa uma desconhecida.
A garota era linda, o tom ruivo do cabelo era natural, dava para
perceber, já que ela tinha delicadas sardas na pontinha do nariz, ela era
perfeita para ele, os olhos verdes pareciam duas esmeraldas de tão
brilhantes.

— Quem é ela? — perguntei para Megan, que também olhava para


a ruiva que caminhava cautelosamente na direção de Matthew, no fim da
audiência.

— Eu não sei, mas não gostei dela...


Capítulo 35

Matthew Bittencourt...

De todas as coisas que eu já fiz na vida, falar em voz alta todo o


sofrimento que Enzo já passou foi o que mais me doeu.

Um menino de apenas cinco anos não deveria ter sido privado de


estudar, não deveria ter sido espancado diversas vezes, não deveria ter
no corpo as marcas de queimaduras de cigarro, um menino inocente, que
nasceu na pior das famílias.

Falar a respeito mexeu comigo, fez uma parte minha amá-lo ainda
mais, ele merece ser cuidado, ser amado e ser aceito em uma família
como a minha.

Todos os Bittencourt estão dispostos a protegê-lo e amá-lo,


dispostos a tudo.

Tudo o que Enzo merece é um lar estável, uma família que cuide
dele com devoção.

Todas as crianças no mundo deveriam ser tratadas bem, elas são o


futuro, os anjos, as pequenas alegrias de cada momento.

Sei que dentre todas as famílias, a minha é a menos perfeita, temos


segredos, temos discussões, mas o mais importante de tudo nunca
deixamos faltar, o amor e o respeito entre nós.

E agora olhando para Ane em prantos, eu sei que a causa já está


ganha, a dor dela é perceptível, ela ama o menino como se tivesse
nascido dela e foi com isso que eu terminei os meus argumentos.

O silêncio tomou conta de todo o local, acredito que todos estavam


digerindo o peso das minhas palavras. Nesse instante a porta da frente se
abriu, ergui o meu olhar e a vi.

Emily...

Ela estava diferente, os cabelos tão longos, as roupas tão casuais,


diferente da garota que estudava comigo, uma jovem carregada de
sonhos, ambiciosa, alguém que sempre planejou se tornar uma advogada
de sucesso para ter tudo o que sempre desejou na vida.

Ela estava bem ali, diante de mim, sorrindo para mim, eu


simplesmente travei, fazia muito tempo que eu não a via. Ela se sentou
na última fileira, seus grandes olhos verdes focados em mim, os belos
lábios sorrindo confiante.

Eu simplesmente não senti nada além de surpresa, as coisas que


costumava sentir antes quando a via não apareceu, o coração
permaneceu com a batidas regulares, a mão não suou, nada aconteceu,
eu simplesmente fiquei parado olhando o quão cara de pau ela é.

Depois de tudo ela aparece assim, como se nada tivesse


acontecido? Inconformado eu desviei o olhar, estava furioso.

E foi nesse instante que meus olhos encararam os acinzentados da


loira na fileira oposta, meu coração deu um salto no peito, meu sorriso
nasceu naturalmente. Allana estava ali, por mim e para mim. Quando
nossos olhares se encontraram eu percebi que seu olhar estava marejado
e sem o brilho habitual.

Ela estava magoada, mas o que foi que aconteceu?

Vi quando Megan se sentou ao lado dela, segurando as suas mãos,


minha irmã fez um gesto para mim e eu lembrei que tinha que terminar a
audiência, jurando ir falar com Allana assim que a audiência for
finalizada.

Queria saber a razão dela estar aqui, mas ainda maior era a minha
curiosidade para saber a razão de suas lágrimas.
Será que tinha acontecido alguma coisa com a Suzy ou a Solange?

Focado eu finalizei a audiência, sentindo os olhares delas sobre


mim.

O verde que no passado amei agora estava me sufocando.

O azul acinzentado que está fazendo meu mundo se tornar melhor.

As palavras do juiz foram claras, Enzo acabou de se tornar um


Bittencourt.

Minha primeira vitória nos tribunais e tenho certeza que foi a


melhor da minha carreira.

Após Ethan e Ane serem chamados para oficializar a adoção, eu


recebi meus parabéns de cada familiar.

Confesso que não imaginei que todos estariam presentes, mas ter o
apoio de quem eu mais amo foi gratificante.

Meu olhar não saia de Allana, que ainda estava sentada


conversando com a Megan.

Estava me aproximando das duas quando Emily parou diante de


mim.

— Meus parabéns Matt. — A voz suave me enganaria se eu não


conhecesse a pessoa por trás dela.

— O que você está fazendo aqui Emily? — Meu tom saiu grosso,
nem toda a educação que recebi dos meus pais me faria tratá-la bem.

— Não foi o que prometemos? Um estaria com o outro na nossa


primeira audiência. — Ela respondeu como se fosse óbvio.

— Não seja hipócrita, todas as nossas promessas morreram


quando você entrou naquela clínica e abortou aquele bebê — respondi
sentindo o gosto amargo do rancor.
Ela se encolheu com as minhas palavras, fingindo mágoa.

— Vamos discutir isso de novo Matt? Já se passaram quase cinco


anos. — Os olhos verdes marejaram-se.

Isso não me comoveu.

— Não estou discutindo nada com você, já que para isso


precisamos ser algo e você não passa de uma desconhecida para mim.

— Uma desconhecida que você um dia amou. — Ela me olhou


nos olhos, determinada.

— Eu não amei essa pessoa na minha frente, eu amei a garota que


sonhava ter um futuro ao meu lado, a que me fazia feliz, não essa. — A
olhei com desprezo.

— Nada mudou Matthew, eu ainda sou essa garota. Eu ainda


estou disposta a tentar. Eu ainda sou a sua Emy...

— Tudo mudou Emily, a partir do momento que você entrou


naquela clínica e arrancou a criança, você deixou de ser a garota doce
que eu amei, para se tornar uma pessoa cruel, é isso o que você é para
mim agora.

Ela deixou as lágrimas que se esforçava para segurar, rolarem em


seu rosto.

— Eu acreditei que depois de tanto tempo você já tivesse me


perdoado e esquecido.

— Cinco anos não foram suficientes, acredito que nunca irei


esquecer.

— Matthew, eu era tão nova, estava com medo, tão assustada. E


você sabe que o pai do bebê nunca iria assumi-lo.

Se existisse a possibilidade de odiá-la mais eu a odiaria, mas com


o tempo percebi que odiar Emily fazia mal apenas a mim.
— Sua falta de vergonha é maior do que eu imaginei, me trair foi
perdoável, mas arrancar o fruto dessa traição foi deplorável.

Sentia cada parte do meu corpo tremer de raiva, nervosismo,


impaciência.

— Se eu não tivesse... Você sabe... Se caso o bebê tivesse


nascido, você ainda estaria comigo? — senti a esperança no tom de voz
dela.

Foi inevitável não sorrir com ironia e mais desprezo ainda.

— Eu disse que te perdoei a respeito da traição, mas não sou o


tipo de homem que volta após ser traído, se existe algo que eu odeio é
isso. — Fui sincero.

Para mim, quando se está com alguém, é apenas com essa pessoa,
mais ninguém.

— Matt, por favor... — Ela sussurrou em súplica.

— O melhor que você tem a fazer agora é se perdoar e seguir a


sua vida Emily, assim como eu estou seguindo com a minha. — Dei as
costas para ela, sem um último olhar, sem um último adeus.

A única pessoa que eu quero estar agora e para sempre é Allana, a


loira que praticamente me fuzila com o olhar nesse instante...
Capítulo 36

Enquanto encarava o irmão e a ruiva conversando, os olhos azuis


de Megan se tornavam cada vez mais raivosos.

— Se o Matthew não se afastar dela em dois minutos eu arranco os


olhos dele. — Megan ameaçou, ela estava notando o quanto a
aproximação do irmão com a desconhecida estava afetando Allana, que
apenas observava os dois de longe, confusa, raivosa e querendo
explicações.

— Se ele ainda tiver os olhos. — Lana respondeu.

A forma como a mulher gesticula enquanto fala e o modo de


Matthew observá-la, demonstra que a conversa não está sendo tão
agradável.

— Filha, então essa é a famosa Allana? — A voz curiosa de


Angélica chamou a atenção de Allana, que ainda observava a conversa
de Matthew.

Lana se virou e viu a matriarca dos Bittencourt a analisando com


interesse, o marido estava ao lado, fazendo a mesma análise.

Quando Angélica sorriu, aquele habitual sorriso de cupido, Megan


e Alfredo notaram que ela tinha aprovado a escolha de Matthew.

— Sim mãe, essa é a Allana, a namorada do Matthew. — Megan,


com seu jeito infantil de ser às vezes, falou a última parte um pouco
mais alto, tendo certeza que a ruiva ouviu.

— Como você é linda. — Angélica a elogiou e em seguida a


abraçou.

Allana ficou sem jeito, retribuiu o abraço meio dura, meio perdida,
não estava esperando por tanta intimidade logo no primeiro encontro
delas.

Primeiro encontro com os pais dele, em um tribunal, não é bem


assim que as pessoas querem conhecer os futuros sogros.

— Obrigada. A senhora também é linda. — Allana respondeu


tímida, olhando nos olhos tão verdes de Angélica, que chegam a brilhar.

— Concordo com você, o tempo só faz bem para a minha mulher.


— Alfredo comentou e logo estendeu a mão para a fotógrafa. — Sou
Alfredo Bittencourt e minha esposa se chama Angélica.

Ele sorriu, já que na euforia do encontro, Angélica nem se


apresentou.

— É um prazer conhecê-los. — A loira voltou a responder tímida.

— Agora entendo a razão de Matthew ter se apaixonado e viajado


para Genebra. — Alfredo comentou com a esposa.

Allana sorriu, completamente sem graça e foi quando ela notou


Matthew se afastar da ruiva e se aproximar deles.

Ela estava lutando para não demonstrar a sua raiva e o seu ciúme,
mas foi difícil, ela nunca soube ocultar o que sente.

— Eu seria louco se não corresse atrás dela. — O mais novo dos


Bittencourt enlaçou Allana pela cintura e a beijou, na frente dos pais, na
frente de todos.

— Quem era aquela com você? — Megan perguntou direta.

Matthew a olhou, sério dessa vez.

— Apenas uma conhecida Megan. — Ele foi evasivo.

Allana não aguentou se segurar e disse:


— Não foi o que me pareceu, ela estava sorrindo demais para
você.

As palavras foram ditas de forma firme, olhando nos olhos claros


dele.

Os Bittencourt ali presentes se surpreenderam, até mesmo Alfredo


deixou um riso escapar.

— Você está com ciúmes de mim? — Matthew arqueou a


sobrancelha, divertindo-se com o constrangimento dela diante da sua
família.

— Eu deveria estar? — Allana perguntou, mesmo sentindo seu


rosto pegar fogo de vergonha, ela queria respostas.

— Bom, isso depende de...

— Nós iremos deixar vocês conversarem a sós... — Angélica


cortou o filho, antes que ele matasse Allana de vergonha. — Espero que
apareça em casa para o jantar de comemoração, quero que conheça a
todos, eles estavam aqui, mas infelizmente tiveram que ir embora no
término da audiência.

— Eu vou adorar senhora.

— Sem essa de senhora, me sinto tão velha quando me chamam


assim. — Angélica fez uma careta.

— Desculpe, eu irei adorar Angélica. — Allana se corrigiu,


sorrindo.

— Bem melhor agora, vamos te esperar então. — Ela deu uma


piscadinha.

— Foi um prazer conhecê-la Allana. — Alfredo a apertou


novamente na mão.

— Digo o mesmo.
— Estou orgulhoso de você filho. Parabéns pela audiência. —
Alfredo abraçou Matthew, carinhoso.

Allana notou o quanto as palavras do pai mexeram com ele.

Angélica se despediu dela com um abraço e parabenizou Matthew


antes de partir.

— Megan você vem conosco. — Alfredo chamou, já que a caçula


ficou parada no mesmo lugar.

— Mas pai, eu estou com o meu carro.

— Vamos logo Megan, eles precisam conversar a sós. — Angélica


quem falou dessa vez.

— Você me deve uma explicação Matthew. — Megan reclamou


antes de seguir atrás dos pais.

Allana se virou para o Bittencourt, ele já a olhava, com um sorriso


convencido nos lábios.

— E então? — Ele perguntou, Allana queria pular no pescoço


dele, não sabia se por saudade ou por ciúme, mas queria.

— Uma conhecida? — Ela arqueou as sobrancelhas,


demonstrando sua insatisfação.

— Está com ciúmes? — Ele a segurou mais firme na cintura.

Estava louco para arrancá-la dali.

— É só curiosidade.

— Não é o que parece. — O sorriso convencido dele só


aumentava.

— Sei bem o que você está tentando fazer. — Ela reclamou,


cruzando os braços.
— Sabe? E o que é então?

— Está tentando mudar de assunto Matthew, mas não vai


conseguir.

— Claro que não, quando eu quero mudar de assunto com você eu


faço outra coisa. — Ele respondeu.

— E o que seria? — Ela perguntou, sabendo bem o que era.

Estava ciumenta e raivosa? Sim, mas queria tanto um beijo dele


novamente.

Para um Bittencourt, a forma mais fácil e prazerosa de se mudar de


assunto sempre será um beijo, não qualquer um, mas sim aquele que tira
todo o ar, o raciocínio, o foco.

— Você ainda me deve uma resposta Matthew. — Allana falou,


mesmo estando com as pernas bambas e o coração acelerado, mas a
mente dela ainda estava curiosa a respeito da mulher ruiva.

— Só vamos sair daqui. — Ele pegou a mão dela e a conduziu


para a saída.

Allana passou os olhos pelo local mais uma vez e viu o par de
olhos verdes fixos nela.

Sua curiosidade a respeito daquela mulher só aumentou.

A ruiva estava encarando-os, o brilho nos olhos demonstrava


arrependimento, culpa e Allana jurou ver inveja também...
Capítulo 37

Bônus Suzy...

Eu tinha acabado de deixar Allana no aeroporto, quando entrei


em casa e meu celular notificou uma nova mensagem. Era da minha
mãe, avisando que ficaria de plantão no hospital.

Suspirei olhando ao redor, a casa está tão vazia.

Allana sempre foi a mais caseira, enquanto eu sou a festeira, e


correr atrás do que quer sempre foi algo que ela me inspirou a fazer,
afinal desde muito pequena ela sempre correu atrás dos seus sonhos,
mas de um homem? Nunca, ela nunca tinha feito nada parecido, isso me
surpreendeu.

Já a minha mãe, desde a morte do meu pai ela se matou de


trabalhar, mesmo após eu e Allana começar a ajudar em casa, dona
Solange não diminuiu o seu ritmo, ela ama ser enfermeira e sei que é
algo que a faz se esquecer um pouco da dor da perda.

Sustentar sozinha a filha menor de idade foi complicado, mas nem


isso a impediu de abrir as portas para a Allana, que roubou nossos
corações no instante em que colocamos os olhos nela, ainda muito
pequena.

Essa garota é a irmã que eu sempre quis, mas nunca cheguei a


pedir, já que dividir as minhas coisas estava fora de cogitação. E agora,
morando com ela, dividindo a minha mãe com ela, compartilhando
roupas e sapatos, retribuindo amor e carinho, trocando segredos
profundos. Eu não me imagino mais sem isso, ela se tornou parte do
meu ser, parte de mim e da minha mãe. Parte da nossa pequena família.

Eu estou com ela a tempo demais, ela viveu muita coisa ao meu
lado, compartilhou seus maiores sucessos comigo, desde o primeiro
emprego conquistado até a viagem para Nova Iorque.

Seu sucesso é merecido, sua felicidade é a minha, mas eu não


deveria ter pisado naquela galeria, não deveria ter colocado meus olhos
naquele francês, só que com isso eu não teria visto o grande sorriso da
minha irmã por ter alcançado tal feito.

Agora sozinha em casa, depois de um longo banho e jogada no


sofá de pijama bebendo uma taça de vinho, o meu pensamento traidor só
conseguia pensar naquele francês infeliz e macumbeiro.

Sim, macumbeiro, só pode ser isso, ele deve ter feito alguma
simpatia de amarração, não tem outra explicação para esse vazio no meu
peito desde o momento que finalizei aquela maldita ligação.

Pierre não tinha me ligado depois daquilo, não tinha mandado


nenhum sinal de vida, apenas me ignorado. Eu só não entendi a razão
disso me incomodar tanto.

Eu estava sendo uma idiota por querer um sinal? Nem que fosse de
fumaça, apenas um maldito sinal que demonstrasse que ele também
pensa em mim.

Quando olhei pela janela desanimada, vi que o dia estava sendo


substituído pela bela noite, decidi ligar e pedir uma pizza, afinal,
cozinhar seria uma tentativa falha mesmo.

Eu estava fodida por aquele francês, além de não deixar de pensar


nele, não fiquei com nenhum outro homem nesse tempo, por falta de
vontade mesmo, afinal eu queria ele. Como se isso não fosse o
suficiente, pedi uma pizza enorme de quatro queijos, para comer
sozinha.

É tudo culpa do Pierre, a Suzy antes de conhecê-lo, estaria nesse


horário desfrutando de um bom jantar com um cara, para depois curtir
com ele.
Eu não sou assim, não sou a merda de uma romântica que só pensa
em um cara. Nunca fui.

Me joguei de novo no sofá, enchi novamente a minha taça com o


vinho tinto e fiquei encarando o nada enquanto bebia, estava sendo tão
hipócrita comigo mesma, ele poderia estar acompanhado uma hora
dessas.

Lindo como é, duvido ter ficado sozinho depois da minha partida e


só o pequeno pensamento me incomodava tanto.

Eu estou acabada, segundo a minha mãe, a palavra certa é


apaixonada, mas eu prefiro morrer a confessar isso em voz alta.

Paixão é o primeiro passo para o amor e amor é o único


sentimento que precisamos sentir para conhecer a destruição. Eu não
quero isso.

Encarei meu celular novamente, já estava na terceira taça de


vinho, estômago vazio, quase embriagada.

Merda, será que devo ligar? Ou faço como a Allana e vou atrás
dele? Não, não posso deixar Genebra nesse momento, não quando
acabei de ser promovida no trabalho.

Dar o braço a torcer uma vez na vida não vai te matar Suzy... —
Era a voz da minha mãe, hoje de manhã, me alertando que correr atrás
do que quero nunca será um erro.

E eu resolvi ligar.

Esperei e esperei mais um toque, quando ele atendeu ofegante, eu


senti meu mundo ruir.

Merda, sei muito bem quando ele fica com essa respiração agitada.

Ele está acompanhado.

Com certeza está ofegante por se perder nos braços de alguma


mulher.

— Suzy? — Ah! Esse tom que me arrepia.

— Acredito que liguei em uma hora ruim — tentei controlar a


minha frustração, mas foi falho.

Eu estava por um fio.

Estava quase desmoronando e isso era péssimo.

Minha mãe está certa, eu me apaixonei por um homem que mora


longe demais.

Isso é irrevogável.

— Nunca será uma hora ruim para você, belle femme.

Diga para mim, como não se apegar? Eu amo a forma que ele fala
belle femme naquele tom luxuriante.

Ele sabe o que falar na hora certa.

— Eu preciso desligar Pierre, não queria atrapalhar vocês. — Fui


sincera.

— Suzy, não desliga... — Ele tentou dizer, mas a voz feminina ao


fundo me fez encerrar a ligação.

Eu estou frustrada, irritada e minha fome só aumentou, droga,


deveria ter pedido duas pizzas enormes.

Esse sempre foi o meu maior defeito, quando estou com medo,
como, quando estou brava, como, quando estou frustrada, como, quando
estou triste, como ainda mais.

Comer sempre foi a melhor terapia para mim.

Não entendo aquelas pessoas que perdem o apetite por qualquer


coisa. Eu não sou assim.

Quando meu celular tocou e o nome dele apareceu na tela, eu


atendi apenas para dizer umas boas verdades.

— Você não esperou nem uma semana, Pierre — reclamei com a


voz irritada.

— Não esperei o quê? — Ele teve a audácia de perguntar.

— Não se finja de idiota. Você sabe muito bem do que estou


falando.

— Você está brava comigo de novo? — O tom dele pareceu


debochar de mim.

Comecei a fazer um exercício de respiração, para acalmar a


avalanche que nasceu em mim e queria sair em forma de lágrimas.

Um...Dois... Três... Respira fundo... Quatro...

Sentir ciúmes doí mais do que eu gostaria.

— Não estou brava — menti descaradamente.

— Então abra essa porta agora. — E foi só nesse instante que eu


me toquei que a campainha estava tocando...
Capítulo 38

Suzy foi até a janela incrédula.


Pierre realmente estava na sua porta, vestido todo de preto em seu
agasalho elegante, os cabelos espatifados pelo vento.

Não é possível, o que ele está fazendo aqui? — Suzy se perguntou.

O celular que ela ainda segurava voltou a vibrar, aparecendo o


nome dele na tela.

Ela atendeu de imediato.

— Abre a porta, aqui fora está congelando. — Ele voltou a pedir.

A morena abaixou a cortina da janela e correu abrir.

— Pretendia me deixar passar a noite toda aqui fora?

O sotaque, misturado com o perfume masculino que ela passou a


amar, eram viciantes demais.

— Passar a noite? — perguntou, sentindo sua pele se arrepiar, o


pijama é curto e confortável, ótimo para dormir, mas o frio que entrava
pela porta não estava agradável.

Pierre fechou a porta e não deixou de reparar nas pernas torneadas


dela.

Suzy encarou o seu pijaminha, ele é lindo, mas é aquele lindo que
você sempre usa de tão bom que é, e o conjuntinho estava surrado
demais.

— Me desculpe, eu não deveria ter aberto a porta vestida assim,


não estava esperando ninguém.
Pierre que até então a olhava esfomeado, sorriu enquanto disse:

— Pelo contrário belle femme, você deveria abrir a porta sempre


assim, desde que seja eu a pessoa a tocar a campainha. — E lá estava o
olhar castanho carregado de luxúria.

Santo Deus, não tem como resistir. — Suzy pensava enquanto


também passava o olhar pelo corpo do francês.

Pierre se aproximou, deixou a mala cair no chão e puxou a sua


morena para os seus braços.

O beijo começou tão calmo quanto eles conseguiram, mas a


saudade era tanta que logo ela estava prensada entre o corpo quente dele
e a parede fria, ambos se devorando naquela carícia de enlouquecer
qualquer um.

— Senti tanta falta dessa sua boca malcriada. — A voz rouca


confessou.

Suzy por sua vez puxou os fios de cabelo dele, colando os seus
lábios novamente.

Ela também sentiu muito a falta dele, mas não confessaria, era
orgulhosa demais.

— Onde é o seu quarto? — Ele perguntou, mordendo levemente o


ombro dela.

— Segunda porta do corredor — respondeu simplesmente, sendo


carregada até lá.

Pierre estava morto de saudade, e Suzy queria tanto quanto ele.

As roupas dela foram praticamente rasgadas, os sons que emitiam


eram intensos e desejosos, mas a campainha tocou bem na hora, tirando
os dois do mundo onde ambos havia desejado nos últimos dias.

— Você disse que não esperava ninguém. — Ele falou confuso, a


respiração irregular.

Foi só aí que Suzy se lembrou da ligação.

— Quando eu te liguei você estava ofegante. — Ela ignorou a


campainha, focou toda a sua atenção nele.

— Tinha acabado de sair do aeroporto e conseguir um táxi foi


complicado. — Ele se explicou.

— Mas e a voz feminina que eu ouvi? — Ela questionou,


enciumada.

— Era a taxista. — Ele sorriu e por alguma razão ela acreditou


nele, afinal os olhos castanhos demonstravam sinceridade. — Não tive
interesse em nenhuma outra mulher depois de você Suzy. — Ele
garantiu, olhando-a nos olhos.

Antes que ela pudesse responder, a campainha voltou a tocar,


Pierre a olhou sugestivo, como se perguntando quem era.

— Eu pedi pizza. Já volto. — Ela se levantou, vestia apenas a


lingerie e caminhou até a porta do quarto.

Quando Suzy estava para abrir a porta do quarto, ela foi puxada
novamente.

— Está doida? Não vai abrir a porta vestindo só isso. — Ele


reclamou, olhando-a enciumado.

Suzy sorriu para ele, aquele sorriso sapeca.

— Ah é? E quem vai me impedir? — O queixo erguido o


desafiou.

Pierre que ainda estava encarando o corpo moreno da mulher


vestida em um conjunto branco provocante, fez o que ela não imaginava.

A alça da calcinha foi alcançada pelos dedos dele, sendo rasgada e


virou um trapo. Já o sutiã, teve um fim parecido, deixando a jovem nua.

— O que te faz pensar que eu não vou abrir a porta assim? — Ela
provocou dando uma voltinha e enquanto isso, o entregador ainda tocava
a campainha impaciente.

— A mais você não vai mesmo, essa visão é minha, só minha a


partir de hoje. — Suzy sentiu o sangue esquentar com o olhar dele, era
tão bom se sentir desejada por um homem tão belo.

Pierre, pensou rápido e tirou a chave da porta, trancando-a lá


dentro. Ele vestia apenas a calça e não se importou em abrir a porta
assim.

Suzy suspirou indignada, nunca abriria a porta nua, mas era tão
bom provocar o francês que isso se tornou seu vício.

Ele todo se tornou um vício.

Quando Pierre abriu a porta, o entregador o encarou com uma


carranca, ele perguntou o valor e assim que pagou a pizza, entrou e a
guardou na geladeira, se sentindo em casa. Suzy ficaria ocupada por
algumas horas e ainda não poderia comer.

Quando destrancou a porta do quarto, não esperava pela visão que


teve.

A mulher estava irradiando beleza. O cabelo ela tinha prendido em


um coque, a pele morena estava brilhando pela luz que iluminava o
quarto. A cama que estava coberta com um edredom azul claro, deixava
ela parecendo uma deusa deitada nua de bruços falando no celular.

Pierre não resistiu e se juntou a ela, esperando ansioso ela desligar


aquela merda.

— Eu estou bem mãe, tudo bem, não ligo de passar a noite sozinha
em casa. — Suzy sorriu para o homem ao seu lado, sozinha ela
realmente não estava.
— Ela não está sozinha senhora. — E quando Suzy percebeu, a
merda já estava feita.

Ela se levantou em um pulo, com o grito de Solange.

— Ele foi atrás de você filha? Meu Deus coloca na viva voz —
exigiu.

— Mãe definitivamente não é uma boa hora. — Suzy comentou,


olhando o homem em sua cama.

— É uma ordem Suzy. — Foi autoritária.

A filha teve que colocar, não adianta a idade que você tenha, sua
mãe sempre vai conseguir mandar em você.

— Está na viva voz Pierre? — Solange perguntou.

— Sim senhora. — Ele comentou sorrindo.

— Não me chame de senhora, somente Solange ou sogra — ela


deu um risinho travesso, — não acredito que você foi atrás da Suzy,
definitivamente você me conquistou, agora não tem mais aquela história
de “nunca vou me relacionar”, enfim poderei sonhar com netos, está
ouvindo Suzy? Eu quero netos. — Solange falou mais alto.

Suzy olhou para Pierre corada e totalmente constrangida, mães


tem o dom de fazer essas coisas.

— Bom saber sogra, eu quero ter muitos filhos. — Ele respondeu,


mas os olhos estavam grudados na mulher em pé, olhando-o curiosa.

— Então eu vou desligar, já encomenda um. — E assim Solange


desligou a ligação, sorrindo satisfeita.

Já a filha estava envergonhada e curiosa, na mesma medida.

— Desculpe por isso, minha mãe não tem freio na língua — falou
colocando o celular novamente no criado mudo.
— Que história é essa de nunca se relacionar? — Ele perguntou
curioso.

Suzy mordeu o lábio indecisa se deveria contar ou não.

— Minha mãe e sua boca grande. — Ela reclamou. — É uma coisa


antiga, algo que resolvi assim que meu pai morreu.

Pierre começou a prestar ainda mais atenção nas palavras dela.

— Não precisa me contar se não quiser.

Ela respirou fundo, mas resolveu ser sincera.

— Eu vou contar, afinal de algum modo você acabou mudando


esse meu ponto de vista. — Ela deu uma pausa, olhou-o nos olhos e
prosseguiu, — meus pais sempre foram muito apaixonados, e quando
meu pai faleceu, minha mãe se quebrou, a morte dele foi a ruína dela, eu
a vi desmoronar, se partir, depois disso, depois de ver o quanto o amor
machuca, eu resolvi nunca amar ninguém, mas... — Sua voz embargou,
então ela parou de falar.

Pierre engoliu em seco, nunca tinha visto Suzy tão séria. Ele notou
que a mulher em seu colo estava com um conflito dentro de si.

Se entregar ou não ao que sentem...

Os dois se olharam por um tempo, ela ainda nua no colo dele, se


abrindo de uma forma incomum, mesmo Pierre morrendo de medo do
que diria, ele precisava confessar, ele precisava dizer que a ama.

— Eu amo você. — Os dois disseram no mesmo instante.

Suzy estava todo esse tempo fugindo do sentimento que cresceu


dentro dela desde que o viu pela primeira vez, por medo, mas algo no
olhar dele, algo no toque, algo especial, fez ela perceber que a vida é
curta demais para perder o que queremos.

Pierre a apertou em seus braços, inalando o cheiro que tanto lhe


fez falta.

— Eu não posso prometer uma vida eterna Suzy, mas posso


prometer que enquanto eu estiver vivo, farei você feliz, provarei que
vale muito mais viver o agora com quem amamos do que nunca
aproveitar a companhia um do outro.

Ele secou as lágrimas que ela deixou rolar.

— Minha mãe e sua boca grande acabou estragando a nossa noite.

— Ela não estragou, pelo contrário, ela acabou nos ajudando a nos
abrir um com o outro, eu também estava com medo de confessar o que
sinto por você.

— Sério?

— Sim, agora sei para quem você puxou, você é igual a sua mãe,
confesso que minha sogra também me conquistou.

— Sogra é? — perguntou mordendo o lábio inferior.

— Claro, quero você na minha vida, ou acha que eu viajei até aqui
apenas para dormir com você? Confesso que para isso também, mas eu
tenho muitas outras coisas em mente e não aceito um não como resposta.
— Ele foi firme.

Suzy foi puxada para o colo dele, de bom grado a morena se


aconchegou.

— Eu seria louca se negasse você...


Capítulo 39

Allana deixou que Matthew a conduzisse até o seu carro, não era
o mesmo que ele usou em Genebra, afinal aquele foi alugado para a sua
estadia lá.

Quando ele abriu a porta para ela, a loira o olhou e sorriu


agradecida, mas nada disse.

O olhar que trocou com aquela mulher ruiva ainda a perturbava.

— Eu não sei você, mas estou faminto. Não consegui me alimentar


direito antes da audiência. — Matthew comentou para quebrar o
silêncio.

— Não estou com fome, mas te acompanho. — Ela continuou


olhando para a janela, perdida em pensamentos.

— Conheço um lugar legal, é de comida brasileira. — Matt


continuou tentando engatar um assunto.

Allana o olhou dessa vez, interessada.

— Nunca provei comida brasileira.

Ele sorriu, sabia que comida era um ponto fraco dela.

— Melanie a esposa do meu irmão Elliot é uma das sócias do


restaurante, vou te levar para conhecer.

Allana assentiu e voltou a ficar calada.

— Por que você está tão quieta? — Ele perguntou um tempo


depois.

Ela desviou o olhar do movimento na calçada e o olhou.


— Quem é aquela mulher? — Ela foi direta.

Matthew imaginava que era justamente isso que a incomodava,


mas não achou que ela perguntaria assim.

Ele engoliu em seco, ficando nervoso.

— Allana... — Foi um pedido silencioso.

— Tudo bem Matthew, não vou te pressionar.

Ele respirou fundo, a presença dela ali é o que ele mais desejou,
mas não dessa forma.

Emily consegue estragar tudo, mesmo sem estar por perto.

Matthew estacionou o carro e olhou para ela.

— Chegamos — comentou.

— É um lugar bonito. — Ela olhou encantada para a faixada


branca escrito Sabor Brasileiro em letras vermelhas.

— Você ainda não viu nada. — Matthew abriu a porta para ela e
os dois entraram de mãos dadas.

Willian como um bom gerente estava na entrada do


estabelecimento e sorriu caloroso para os dois.

— Matthew como é bom revê-lo — ambos apertaram as mãos,


depois disso os olhos verdes do Will se fixaram em Allana. —
Senhorita... — Ele fez um aceno com a cabeça.

— É muito bom revê-lo também. Essa é Allana, a minha namorada


e esse é Willian o gerente daqui. — Matt olhou para Allana e notou a
surpresa dela por ele classificar a relação dos dois assim de modo tão
natural.

A fotógrafa aceitou o cumprimento de Willian e falou:


— É um prazer, o restaurante é muito lindo. — Foi sincera.

— Obrigado, minha esposa é a chefe daqui — ele apontou para a


porta de vidro, que dava para ver todo o movimento da cozinha. — Vou
acompanhá-los até uma mesa. Espero que apreciem a refeição.

Allana adorou o local logo que pisou ali.

Matthew comentou que a esposa do Willian, chamada Karina é a


sócia da Melanie, e também a chefe dali que fez questão de
cumprimenta-los assim que os viu.

Ela está grávida de sete meses, mas nem isso a fez se afastar do
seu trabalho.

A fotógrafa não resistiu quando Matthew fez o seu pedido e


acabou provando também, picanha, arroz e feijão preto, com farofa e
vinagrete.

— E aí o que achou? — Ele perguntou quando finalizaram.

Allana respirou fundo e foi sincera.

— Divino.

Ele sorriu e bebeu mais do seu suco, estava dirigindo e optou por
não ingerir bebida alcoólica.

— Sabia que iria amar.

— Acho que é o meu lugar preferido em Nova Iorque. — Ela


comentou olhando ao redor, os funcionários falavam a língua nativa e
eram fluentes em português. O ambiente tinha um ar acolhedor, as cores
da bandeira do Brasil entrando em contraste com os lustres bem
situados, um lugar elegante, arejado e moderno.

— Como é? — Matthew fingiu espanto.

Ela acabou sorrindo.


— Você é a minha pessoa preferida daqui, mas esse lugar é...

— Melhor que o Starbucks? — Ele perguntou arqueando a


sobrancelha.

Allana fez um biquinho.

— Aí você me pegou.

— Quer sobremesa? Aqui também servem café.

O sorriso dela iluminou o ambiente.

— Quero os dois.

Matthew ia fazer os pedidos quando o celular de Alana começou a


vibrar em cima da mesa, o nome “Luan” brilhava na tela.

— Não vai atender? — Ele perguntou notando que ela só encarava


a tela.

— Não. — Ela recusou a ligação e arriscou olhar para o


Bittencourt, a expressão dele não era uma das melhores.

— Eu falei para ele não se aproximar de você.

— Matt, eu não o vi desde que me afastei do estúdio para vir atrás


de você. — Ela segurou a mão dele e acariciou de modo gentil.

— Detesto o fato de mesmo longe, ele ainda conseguir me


incomodar.

— Eu também detesto o fato de existir outra mulher na sua vida,


mas optei por não estragar o nosso dia juntos, por que não faz o mesmo?

E ela realmente optou por aproveitar o dia ao lado dele, a ruiva da


audiência não pode estragar algo belo que está crescendo entre os dois,
ou pelo menos Allana está tentando ser otimista.
— Ela não é a mulher da minha vida, você é, só quero que entenda
isso. — As palavras do Bittencourt foram o mais próximo de uma
declaração que Allana recebeu dele.

Ela assentiu.

— Então o que me sugere de sobremesa senhor Bittencourt? —


perguntou, tentando voltar ao clima de antes.

— Brigadeiro, provei a primeira vez que estive aqui e é


maravilhoso.

— Eu quero provar.

Os dois fizeram o pedido e enquanto aguardavam, Matthew


contava que o irmão, Elliot, é viciado nesse doce que surgiu no Brasil de
uma forma inusitada.

— Então o nome surgiu graças a um candidato a presidência? —


Allana perguntou sorrindo.

— Exatamente.

Quando ela provou o doce, a sensação foi única. Ela fechou os


olhos e se deliciou.

— Meu Deus.

— Melhor que café? — Matthew provocou.

— Nunca, mas é divino também.

O almoço dos dois foi agradável, Luan e Emily foram esquecidos


por um tempo, mas não muito, já que o celular de Allana voltou a tocar.

— É ele. — Ela comentou.

Matthew, que dirigia a caminho de seu apartamento, se tensionou.


— Atende.

— Não sei se é uma boa ideia Matthew.

Ele desviou o olhar do trânsito para ela, por alguns instantes.

— Está com medo dele ou de mim? — perguntou.

— De nenhum, só não quero estragar o nosso dia.

— Não vai, só acaba logo com isso. — Ele respirou fundo.

Allana atendeu, Matthew estava prestando atenção na conversa e


na rua.

— Oi Luan. — Ela falou baixo.

— Allana, eu precisava ouvir a sua voz.

— Aconteceu alguma coisa? — Ela perguntou, ignorando a frase


anterior.

— Sim merda, aconteceu...

— O quê? — Ela olhou para Matthew, os dedos que seguravam o


volante estavam com a ponta branca, tão forte que ele apertava.

— Eu soube que se afastou do estúdio, sei que é por minha causa e


sinto muito por isso.

Ela sorriu, com deboche dessa vez.

— Sente mesmo?

— Sim, sei o quanto esse emprego era bom para você. — Ele foi
sincero.

— Foi a minha melhor decisão, ligou apenas para isso?


— Não, quero te ver, preciso te ver.

— Para que Luan? O que tínhamos para conversar já conversamos.

Ele ficou um tempo em silêncio.

— Você tem razão, eu só queria pedir perdão, pela agressão, pela


grosseria e por tudo.

— Olha... — Ela começou, mas ele a cortou.

— É sério Allana, eu me arrependi, essa ligação não é para te pedir


outra chance, sei que foi para Nova Iorque atrás dele, o cara pelo visto
gosta de você, ele meio que me deu uma lição.

— Eu fiquei sabendo.

— Eu mereci, só quero que saiba que eu me arrependi e realmente


torço para que você seja feliz.

— Eu o amo Luan, estou feliz com ele.

— Então eu fico feliz por você. Espero que um dia possa me


desculpar.

— Sabe que eu nunca fui de guardar ressentimentos, mas não


quero uma aproximação.

— Eu sei, esse é o meu último contato, só queria terminar de outra


forma, prefiro que se lembre da nossa infância juntos do que nesse
término horrível.

— Tudo bem eu lembrarei disso.

Os dois encerraram a ligação, só então Allana notou que Matthew


já tinha estacionado na vaga dele em seu prédio, e que a olhava com
interesse.

— E então? — perguntou.
— Foi uma ligação para se despedir, disse que está feliz por eu
estar feliz e se desculpou.

A expressão do Bittencourt não se alterou.

— Assim espero, ele nunca mais vai tocar em você baby, eu vou
garantir isso.

— Tudo bem Matthew, acredito que ele foi sincero.

Os dois entraram no elevador em silêncio.

Allana odiava isso, quando o clima bom some e o ruim pesa entre
os dois.

— Você mora sozinho?

— Sim. Quase não venho aqui, na verdade não venho a muito


tempo, prefiro ficar na casa dos meus pais.

— Por que não fomos para lá então?

Matthew deixou um sorriso escapar.

— Digamos que a minha hora chegou e eles não me perdoariam.


— A resposta dele não fez sentido nenhum para ela.

Quando Allana ia questioná-lo, o elevador se abriu, revelando um


corredor muito elegante.

Quando entraram no apartamento, Allana reparou no quanto o


lugar é belo.

A cara dele.

— Foi você quem decorou? — perguntou admirando cada canto.

— Não, foi a Megan. — Ele respondeu, seguindo para a cozinha


atrás da loira curiosa que olhava tudo.
— Sabe o que eu estava me lembrando? Eu ainda não te
parabenizei por ter ganho hoje. — Ela comentou, olhando para ele e se
encostando na bancada da cozinha moderna.

Matthew sorriu, lembrar que Enzo agora é oficialmente um


Bittencourt é gratificante.

— Pois é, você não me parabenizou mesmo.

Allana foi quem sorriu dessa vez, conseguindo entrar na conversa


que tanto queria.

— Eu estava indo falar com você, justamente para te parabenizar,


quando aquela ruiva se aproximou, a propósito, quem é ela afinal? — A
curiosidade brilhava em seus olhos, e a loira não deixou de perceber
quando Matthew sorriu nervoso.

— Não deixaríamos esse assunto de lado?

— Eu só estou curiosa, percebi que ela te afeta.

Na verdade, Allana nunca conseguiria deixar esse assunto sem


resposta.

— Achei que a sua vinda até aqui era para presenciar a minha
vitória. — Ele respondeu, se virando e pegando a água na geladeira.

— Essa foi a razão, eu queria estar aqui, mas a presença dela me


pegou de surpresa. — Os braços cruzados e o olhar atento revelavam o
que ela queria.

Saber quem era aquela mulher e o que ela significou na vida dele.

— É complicado. — Matthew suspirou, detestava falar sobre isso.

— Me faça entender.

Matthew deixou o copo vazio no balcão, e caminhou até a loira.


— Vamos para o meu quarto? — pediu.

— Essa não é uma tentativa de fugir do assunto, é?

— Não, eu vou te contar tudo.

Allana não protestou mais, ela o seguiu, sentindo que ele precisava
desse tempo para começar a contar.

— Ela primeiramente foi uma colega de turma... — Ele começou,


mas o toque do celular o interrompeu. — Desculpe, vou deixar tocar. —
Matthew comentou vendo o nome da irmã na tela.

— Atende, pode ser importante. — Allana deixou ele falar com


Megan e se sentou na cama.

O criado mudo ao lado da cama chamou sua atenção e em cima


dele tinha um livro.

A fotógrafa olhou para Matthew que estava olhando pela janela,


prestando atenção nas palavras da irmã.

Lana pegou o livro, e leu o título.

"O Morro dos Ventos Uivantes"

Abriu a primeira folha e uma letra perfeita escrita com uma caneta
rosa, a fez arregalar os olhos.

"Para Matt, com todo a amor que existe em mim!

De sua Emily!"

Releu mais umas três vezes, e realmente era isso o que estava
escrito.

De sua Emily...

Isso era tão possessivo e Allana se sentiu incomodada.


Como em um quebra cabeça, as peças foram se encaixando.

A ruiva da audiência, só pode ser a tal Emily.

— Megan queria avisar que hoje à noite será o jantar de


comemoração... — Ele parou de falar quando viu o livro na mão dela.

— Emily em? — Ela só conseguiu pronunciar isso.

A frase lida ainda sendo processada em seus pensamentos.

— É como eu te disse, quase não venho aqui, não me lembrava


mais disso. — Ele retirou o livro das mãos dela, o jogando na lixeira.

— É a ruiva, não é? A garota que você ama. — Allana precisava


de uma resposta.

— Emily é aquela ruiva da audiência sim, mas ela não é mais


quem eu amo Allana, eu deixei de amá-la faz um tempo.

— Tem certeza? Deu para perceber que ela mexe com você
Matthew, de uma forma intensa demais.

— Eu vou te contar tudo, só me escuta, prometo te responder tudo


quando acabar. — O tom dele a alertou.

Emily pelo visto feriu muito Matthew no passado e Allana temeu o


que ouviria...
Capítulo 40

Matthew Bittencourt...

Quando comecei a contar tudo o que aconteceu no passado para


Allana, era como se eu estivesse vivendo tudo novamente.

Eu estava morrendo de saudades da Emily, era a nossa primeira


férias de verão desde que começamos a namorar, Emily planejou visitar
a avó em Nova Jersey, e eu planejei ir junto, mas meus planos foram
por água abaixo graças ao meu pai. Ele praticamente me obrigou a
ficar no escritório, não o culpei, nunca o culpei na verdade, toda a
merda que a minha vida tinha virado teve apenas uma culpada, Emily,
ela não pensou em mim, não pensou nela e muito menos no inocente que
carregava no ventre.

Quando eu escolhi seguir a profissão da família, eu sabia as


consequências que viriam, assim como foi com Christopher, Elliot e
Ethan. Eu não subiria na Bittencourt & Co. Não subiria sem mérito.

Meus irmãos também começaram como estagiários, assim como


Bruno e os outros tantos filhos dos sócios, comigo não foi diferente,
estagiei enquanto estudava, sabia que meu emprego não era fixo, se eu
fizesse merda, seria tratado como um funcionário normal, carregar o
peso do sobrenome nunca me fez ser mais do que ninguém lá dentro, eu
sou funcionário assim como os outros, e sinceramente isso é o que eu
mais gosto no meu pai.

Bom, como eu estava no meu primeiro ano na Bittencourt & Co.,


eu não tive a minha tão desejada férias com a Emily.

Ela partiu para Nova Jersey sem mim, nos falávamos todos os
dias na primeira semana, mas ela começou a ignorar as minhas
ligações, com o tempo e com várias recusas eu parei de insistir e só
voltei a vê-la no primeiro dia de aula.

Ela estava diferente, abatida e pálida, perguntei o que ela tinha


sem nenhuma aproximação íntima, ela não conseguiu olhar nos meus
olhos, apenas me deu as costas.

Eu como o idiota que era a segui, entrei no banheiro feminino e vi


quando ela começou a passar mal, ainda sendo um tolo apaixonado que
nem sabia mais como rotular aquela relação, a levei no hospital, ela
suava frio nos meus braços, enquanto o taxista corria.

Eu não estava em condições de dirigir, estava desesperado,


lembro que xinguei o pobre homem, quando por fim chegamos e ela foi
atendida, eu respirei novamente, mas não antes de descobrir a pior
merda que poderia ter me arruinado.

— Como ela está? — perguntei a médica que tinha acabado de


entrar no quarto que Emily ocupava.

Meu olhar ainda estava na ruiva desacordada deitada na cama.


Eu segurava a sua mão e acariciava seus dedos delicadamente.

— Ela está melhor agora, o mal-estar foi causado pelo aborto. —


Automaticamente meu olhar se fixou com o da doutora.

— Aborto? — perguntei num fio de voz, sem acreditar.

Eu teria um filho com a mulher que mais amo, mas ela perdeu a
criança. A sensação como se uma faca estivesse entrando no meu peito
foi sentida, doía quase fisicamente.

— Pelo visto o senhor não sabia da gravidez, — ela me olhou com


pesar. — O procedimento clandestino arruinou a jovem, ela nunca mais
poderá gerar outro filho.

E com isso a dor em meu coração se intensificou ainda mais.

— Como assim procedimento clandestino? — perguntei engolindo


em seco e me afastando de Emily, caminhei até a janela, sentindo meus
olhos lacrimejarem.

Não, ela nunca faria isso. Não a minha Emily.

— O aborto foi proposital senhor, um serviço mal feito a levou a


infertilidade. — Eu queria gritar, queria acordar ela e fazê-la desmentir
essa médica maldita, mas eu não tinha forças, eu não tinha coragem.

Eu tinha medo de ouvir da boca dela que tudo aquilo era


realmente verdade.

Doía tanto.

Doía demais.

Eu seria pai, e ela matou o meu filho.

Não sei como a pessoa que eu amei poderia se tornar dona


também do meu ódio em tão pouco tempo, mas nunca acreditei que tudo
que é ruim poderia se tornar ainda pior.

— A vida dela ainda foi poupada devido a gestação ser de poucas


semanas. — A médica voltou a explicar.

— Quantas semanas? — Minha voz saiu carregada, eu estava


prestes a desmoronar.

— A gestação, acredito eu, era de menos de dez semanas.

Quando a médica me disse isso, nem parei para pensar, a dor da


perda era muito maior.

Permaneci no quarto até ela acordar, quando Emily abriu os


olhos, eu senti tanta repulsa por aquele verde que eu adorava.

— Era meu? — Meu tom saiu carregado de desprezo e dor.

Ela se sentou assustada na cama, me olhou intensamente.


— Eu nunca faria isso com um filho seu, Matthew. — A maldita
abaixou a cabeça, seu teatro me fez ter mais raiva ainda.

— Se sua intenção é que eu tenha compaixão, sinto muito Emily,


de mim você só terá desprezo.

— Matthew eu sinto muito, eu amava o pai do bebê no colegial,


quando o reencontrei em Nova Jersey eu não resisti, nós ficamos,
acabei engravidando, mas ele nunca assumiria a criança, ele mesmo me
mandou abortar, eu não sabia o que fazer, nunca mentiria para você,
nunca fingiria que o filho era seu. — Ela começou a chorar.

Eu já estava deixando as lágrimas rolarem, meu coração maldito


batia acelerado, dolorido.

Eram lágrimas de ódio, de dor, de pena daquele bebê.

— Era uma criança Emily, sangue do seu sangue, o infeliz


mandou e você simplesmente aceitou essa merda? — Me aproximei
dela, cego de raiva.

Mas não a agredi, minha mãe criou um homem, eu nunca bateria


em uma mulher.

— Eu não tive escolha, eu tenho um futuro promissor pela frente,


estou na universidade ainda, não posso perder tudo isso, não posso
perder você, errei eu sei, só peço que me perdoe.

— Não é o meu perdão que você precisa, tudo o que você faz tem
consequência.

Ela me olhou ainda mais assustada.

— O que você quer dizer Matt? Você não me perdoa? Poderemos


ter mais filhos futuramente, filhos nossos, com os seus belos olhos e o
meu tom de cabelo, será perfeito.

Eu a encarava com desprezo.


— Eu te perdoou Emily, — ela sorriu aliviada. — Te perdoou por
ter me traído, afinal isso só mostrou o quão confiável você é, mas
arrancar o fruto dessa traição? Isso é demais, o aborto é monstruoso, é
a maior atrocidade que alguém pode cometer, meu perdão a respeito
disso você nunca terá.

Arranquei o cordão prateado que representava o nosso


relacionamento e coloquei na mesinha ao lado dela. Após isso eu sai do
quarto, sai do hospital e sai da vida dela, perdendo com tudo isso a
minha vida própria.

Perdi naquele dia a minha fé no amor e foi assim que criei as


cinco regras, para me proteger da dor que dilacerava o meu peito.

Até o término dos estudos, tudo funcionou, eu consegui me


proteger.

Mas então eu conheci uma loira, linda e louca, que me despiu no


meio da Times Square, sem saber, ela me salvou...

Allana me salvou no instante em que a vi, sorrindo para a fachada


de um Starbucks...

A fotógrafa talentosa me fez criar fé no amor novamente...

A mulher mais difícil de se beijar que eu já conheci, é a mulher


que eu amo...

A única que merece esse sentimento...


Capítulo 41

A mente de Allana rodava, eram muitas informações para serem


digeridas em tão pouco tempo, a loira segurou a mão de Matthew o
tempo todo, o sofrimento dele era notável.

O Bittencourt por sua vez olhava o vazio, encarava o nada


enquanto falava, seu peito doía, sua calma vinha da palma quente e
pequena que segurava sua mão bem maior.

Ele praticamente engolia a mão delicada com seus dedos longos,


Allana o olhava em silêncio, deixando-o terminar de contar a maldita
história que o fez mudar.

Mudar de um idiota apaixonado, para um homem sem vontade de


amar novamente. Um homem fechado em suas regras.

Mas a dona daquela mãozinha pequena era a sua salvação, Allana


era pura, era linda e era tudo o que ele queria para sempre. Ela provou
ser a cada instante.

— Isso foi horrível Matt. — A voz dela foi ouvida um tempo


depois, o aperto de ambas as mãos se intensificou.

— Eu sei Allana, acredito que aquele dia nunca mais sairá da


minha memória, foi naquele maldito dia que eu quebrei, eu descobri o
quão ruim pode ser amar alguém.

A loira o olhou intensamente, o olhar azul acinzentado estava


lacrimejado, não tinha noção na dor dele, mas estava afetada também.

— O bebê não tinha culpa da decisão que ela tomou, e você


também não, não conheço essa Emily, mas o pouco que sei sobre ela me
faz detestá-la.
O Bittencourt levantou o olhar e encarou a sua garota.

— Mas é como minha mãe sempre disse, tem males que vem para
o bem.

O olhar confuso da jovem na sua frente o fez prosseguir.

— Se eu não tivesse sido traído, se não tivesse descoberto o


aborto, idiota e cego como eu era, ainda estaria com ela Allana e não
teria conhecido você, a pessoa que me fez enxergar o lado belo do amor
novamente, a pessoa que me fez amar de verdade.

A fotógrafa não sabia se ficava chateada por ele afirmar que ainda
estaria com a Emily, ou se ficava feliz por ele se declarar tão
abertamente.

Allana optou por matar a sua curiosidade.

— Você estaria com ela ainda? — A pergunta dela fez Matthew


desviar o olhar, ele nunca tinha parado para pensar se o seu
relacionamento com Emily seria assim, tão forte e firme.

— Acredito que sim, ela era minha amiga e da minha turma, não
teria razões para me separar. — Ele foi sincero.

— É talvez... — A resposta dela foi evasiva.

— Você está com ciúmes? — Ele levantou uma sobrancelha


questionando-a.

Alla cruzou os braços se sentindo uma idiota por isso, ele tinha
acabado de contar a pior fase da sua vida para ela, e ela simplesmente se
sentiu enciumada por ele supor estar com Emily ainda.

— Me desculpe, eu fui uma tola, mas a ideia de você ainda querer


estar com ela é muito ruim. — Ela desviou o olhar, incapaz de encara-lo.

Matthew a abraçou apertado e sorriu.


— Baby, nunca confunda querer com supor, eu acho que poderia
estar com ela ainda, mas eu não quero, eu não a quero mais, a única
pessoa que eu quero está aqui nos meus braços, e juro por tudo que
existe em mim, que eu não vou deixar você sair daqui, esquece Genebra,
você é minha agora e eu não abro mão do que é meu.

Lana por sua vez correspondeu ao abraço, levantando levemente a


cabeça e selando os lábios dos dois.

— E você não é tola, nunca mais diga isso. — Allana sorriu com a
careta dele.

— Eu amo você Matthew. Sabe eu fiquei muito satisfeita em saber


que você não ama mais aquela... Aquela... Essa Emily. É bom saber que
você está livre para se apaixonar novamente, e eu juro também, com
tudo que existe em mim que eu vou fazer você amar de novo, juro
tentar. — Ela levou os dedos até os lábios e fez um pequeno estralo,
jurando de verdade.

— Vai ser difícil para você, já que o meu coração já não pertence
mais a mim, ele só bate aqui, mas a razão de bater é você. — Matt
colocou a palma da mão dela em seu peito, onde o coração batia
acelerado.

— Essa é a sua forma de dizer que também me ama? — Um


enorme sorriso cresceu na bela mulher.

— Não, a minha forma de dizer que te amo é mais intensa, sei que
você vai amar.

O corado das bochechas dela o fez mordê-la, bem em cima do tom


avermelhado lindo.

— Mas eu não farei isso, não ainda pelo menos. — Ele se


levantou.

— O quê? Por quê? — Ela também se levantou, querendo a


aproximação novamente.
Quando Matthew se virou para ela, com as mãos enfiadas no bolso
da calça social, ele estava sorrindo.

— Você ainda me deve os parabéns, mocinha. — E então ele


sorriu, daquele jeito que a deixa abalada.

Allana também sorriu, envolvendo os braços no pescoço dele e se


equilibrando nas pontas dos pés.

— Me desculpe senhor Bittencourt, eu vou te parabenizar


direitinho. — A voz e a expressão dela combinaram com o sorriso
safado dele.

— Eu amo tanto você. — Ele confessou, olhando-a fixamente nos


belos olhos azuis-acinzentados.

Tão intenso e tão lindo. Só dela e para ela.

— E eu estou tão orgulhosa de você, meus parabéns por ter ganho


a causa, eu nunca duvidei de que você era capaz, e só para ressaltar, eu
sou a pessoa que ama mais nessa relação.

— Isso é um desafio? — Os olhos de Matthew brilharam em


expectativa.

— Talvez. — Ela mordeu o lábio inferior provocando-o.

— Baby, eu amo um desafio...


Capítulo 42

Enquanto Matthew dirigia a caminho da casa de seus pais, Allana


tentava focar sua atenção em outros detalhes, estava nervosa e assustada,
afinal ia conhecer o restante da família dele.

— Tem algo que você ainda não me contou. — Ela começou


cautelosa.

Matt desviou o olhar para ela por um instante.

— O quê?

— As regras, você me disse apenas duas delas.

— Tem certeza? — Ele se fingiu de confuso.

— Sim, a primeira que algo na mulher deve chamar a sua atenção


e a segunda é não vir falar com você, quais são as outras?

Matthew sorriu, Allana é tão teimosa quanto linda.

— Quer mesmo saber? Ou apenas quer saber o que fez você


ultrapassar todas elas?

— Já ultrapassei todas? — Ela perguntou surpresa.

— Sim amor, hoje você ultrapassou a quinta. — Ele a tocou na


coxa. — Na verdade você já tinha ultrapassado, eu só estava com medo
de confessar.

Allana o olhou confusa demais.

— Quero muito saber, estou morrendo de curiosidade desde


quando falou sobre elas.
— Sabe que o que chamou a minha atenção em você foi o seu
sorriso, não é?

— Sei. — Ela corou, mas sorriu.

— E não veio falar comigo.

— É eu fui mais ousada. — Ela corou ainda mais se lembrando


daquele dia que o despiu.

— Até aí você já tinha ultrapassado duas regras e eu passei o dia


todo pensando em você, mas eu sabia que a chance de a terceira ser
ultrapassada era pequena, afinal encontrar você novamente em uma
cidade com mais de oito milhões de pessoas era quase impossível.

— Então essa é a terceira? Se encontrar novamente por acaso?

— Exatamente.

— Mas isso é quase impossível mesmo.

— Eu sei, por isso quando te vi no seu evento, eu me desesperei,


nunca me preocupei tanto na minha vida, afinal você ultrapassou três
das minhas regras em um dia, coisa que nenhuma outra foi capaz em
anos.

— Nossa, eu não fazia ideia, notei que você estava preocupado,


mas não imaginei que fosse por isso. Qual é a quarta? — Ela perguntou
curiosa.

Ele voltou a olhá-la quando parou em um semáforo.

— Ser sincera e leal, você foi sincera quando me contou ser


comprometida e foi leal ao seu ex namorado, mesmo ele não merecendo
isso. Essa foi a pior das regras, foi a que mais me afetou, saber que você
tinha outro homem me deixou transtornado.

— Eu não imaginava Matthew, mas fui sincera, nunca fui de


mentir e enganar as pessoas.
— Eu notei isso assim que te conheci melhor, você foi chegando
devagar e acabou tomando o meu coração para ti.

Allana o olhou emocionada.

— Eu me sinto igual em relação a você, foi rápido e intenso


demais.

— Eu sei. — Ele sorriu.

— Qual é a quinta? — Allana perguntou notando que já tinham


adentrado no condomínio.

Ótimo estamos chegando. — Ela pensou nervosa.

— Confessar que te amo, essa era a quinta, eu não queria


confessar e nem notar o que sinto, estava com medo do estrago que você
poderia me causar. Mas meu erro foi comparar você e a Emily, vocês
são duas mulheres completamente diferentes.

— Ela não teria passado pelas suas regras?

— Acredito que não, sinceridade e lealdade não é algo que ela


demonstrou para mim.

Allana apenas assentiu e quando Matthew adentrou um enorme


portão preto, ela se tensionou e apertou a coxa dele.

— Relaxa, eles vão amar você. — Matthew garantiu.

Allana já tinha conhecido Megan, Angélica e Alfredo, mas o


restante ainda não.

Estava nervosa demais, não era a primeira vez que conhecia a


família de um namorado, mas quando conheceu a família do ex ela ainda
era uma criança.

Mas com Matthew é totalmente diferente, a família dele vem de


uma classe social alta, o medo de não ser aceita desesperava-a.
Matt acionou o controle e o grande portão preto se abriu,
revelando um lindo jardim iluminado com a luz do luar.

— É lindo. — Ela comentou encantada.

— Minha mãe adora esse jardim, de dia ele é mais bonito. —


Matthew estacionou o carro e olhou para ela, que ainda prestava atenção
no jardim.

— É um lugar perfeito para fotografar.

— Tenho certeza que meus sobrinhos irão amar ser fotografados


por você. — Eles desceram do carro.

O casal estava próximo a porta quando ela se abriu, Megan


carregava um menino lindos nos braços, os olhos tão azuis quanto os
dela e os cabelos bem castanhos.

— Que bom que chegaram. — Ela os cumprimentou.

— É seu? — Allana perguntou, olhando para o menino.

— Sim, esse é o Henrique, meu filho.

Allana olhou para Matthew. Ele não tinha dito nada a respeito.

— Henrique estava febril no dia do seu evento, meus pais estavam


viajando e Megan teve que voltar mais cedo por isso. — Matt contou.

— Espero que ele esteja melhor. — Allana comentou.

— Sim, foi só um resfriado, ele estava com a minha cunhada


Tayla, mas eu sou o tipo de mãe que gosta de estar por perto sempre,
ainda mais doente. — Megan falou deixando todo o seu carinho ser
transmitido.

— Posso segurá-lo? — perguntou ainda na porta, querendo muito.

— Claro. — Megan passou Henrique para Allana, que o pegou


cautelosa.

— Eu nunca segurei uma criança. — Ela comentou com medo.

— Não tem segredo. Henrique já está grande. — Megan garantiu.

— Todos já estão aqui? — Matthew perguntou ainda olhando para


a namorada que segurava seu sobrinho.

Tão encantadora. Foi impossível não imaginar um bebê de ambos


nos braços dela.

— Só falta o Ethan, a Ane e o Enzo.

Eles entraram, caminhando devagar até a sala, Matt guiou Allana


com uma mão na sua cintura.

Quando os dois irmãos que já estavam presentes os viram, o


sorriso de ambos foi inevitável. A cada apresentação Allana se sentia
mais nervosa.

— Então é verdade? — Chris perguntou segurando Olívia nos


braços, chamando a atenção de Tayla que estava sentada com Andrew.

— O caçula tem bom gosto. — Elliot descarado como é não


deixou de comentar, mas o beliscão que ganhou de Melanie o fez dizer.
— Com todo o respeito é claro.

A fotografa sorriu tímida, mas dava para perceber o amor que


existia entre o irmão atrevido e a mulher mais baixa que ele, que o
olhava encantadoramente brava.

— Realmente eu sou um cara de sorte. — Matthew se gabou,


sentando-se no sofá ao lado de July que assistia alguma coisa no celular
do pai, Andrew se aproximou deitando-se ao lado da prima e prestando
atenção no aparelho eletrônico também.

Allana sentiu quando foi puxada pelo namorado e teve que se


sentar ao lado das crianças, olhando o quão bonito eles são.
— São tão lindos. — Ela comentou, recebendo a atenção de Tayla
e Mel, que a olhavam com atenção.

— São mesmo e são tão unidos. — Tay falou sorrindo para a loira.

Megan que é outra Bittencourt que não tem freio na língua


provocou:

— Eles se amam, só vocês que não notaram isso ainda, eu vejo um


futuro tão promissor para esses dois.

Lana a olhou confusa.

— Mas eles não são primos? — Foi inevitável para ela não
perguntar.

— Isso não é um problema, muitos primos se casam hoje em dia.


— Mel respondeu, mas logo completou. — Eles também não são de
sangue.

— Sim, acho que a Megan tem razão, olha o jeito que eles se
olham. — Tayla comentou, olhando para o filho e July juntos.

— Parem de falar merda, Andrew a ama sim, mas como uma irmã,
vocês enxergam romance em tudo. — Elliot carrancudo reclamou.

— Aceita logo Elliot, meu filho vai se casar com a sua filhinha. —
Christopher provocou.

Elli o socou no braço, descontando um pouco da sua frustração.

— Não é que estão todos te esperando Enzo? — Ethan comentou,


quando entrou na sala de estar, acompanhado de Ane que segurava a
mão do mais novo membro da família.

— Seja bem-vindo a família meninão. — Elliot se aproximou dele.

Enzo se escondeu atrás da perna de Ethan, calado.


— Ele ainda está envergonhado. — Ane explicou.

— Ei Drew, vem conhecer o Enzo. — Christopher pegou a mão do


filho, que encarou o recém-chegado curioso.

Mas Enzo estava olhando para Olívia que estava nos braços de
Christopher.

— Como os olhos dela são lindos. — Pela primeira vez o menino


tinha aberto a boca, e fora para elogiar os olhos de Olívia.

— Agora eu sei quem é que vai casar com a sua filhinha


Christopher. — Elliot gargalhou diante da careta de Chris.

— Seja bem-vindo a família garotão, mas fica longe da minha


filha. — Christopher comentou espatifando o cabelo do menino que
ainda olhava para Oly.

Enzo se fechava cada vez mais a cada apresentação, o menino não


estava acostumado a receber tanta atenção e aquela família o aceitou
com tanto amor.

— Ele é meu primo agora pai? — Andrew perguntou.

— Sim.

— Quer assistir com a gente Enzo? — July perguntou, olhando


para o menino.

Drew fechou a cara enciumado, mas nada disse.

— Vai filho, pode ir com eles.

Enzo caminhou tímido até os primos, e se sentou ao lado de July.

Drew ciumento como é se sentou do outro lado, segurando os


dedinhos livres da prima.

— Eu sempre vou ser o seu melhor amigo, não é July? — Ele


perguntou para garantir.

— Claro que vai seu bobinho, mas o Enzo agora é da família


também e é meu amigo.

Ela sorriu para o menino de olhos castanhos escuros.

— Acredito que Megan tenha razão mesmo. — Allana falou.

— Essa é a Allana então? — Ane perguntou, se aproximando e se


apresentado.

Assim que Alfredo e Angélica pisaram na sala, eles viram todos


reunidos.

A sensação de ter a certeza que os filhos estavam com as


verdadeiras mulheres das suas vidas, os deixavam felizes. Amar é tão
bom e quando se encontra a pessoa certa, o amor se torna ainda mais
belo.

— Veja só se Matthew não resolveu aparecer? Achei que


esconderia Allana para sempre. — Alfredo comentou enquanto Angélica
abraçava o caçula.

— Estava com medo dela desistir de mim, depois de conhecer a


minha família. — Ele sorriu para Allana que ainda carregava o Henrique
nos braços.

— Ela te ama seu bobo, nunca desistiria. — Angélica a abraçou.


— É bom te rever, seja bem-vinda a família, já te falaram que você
combina muito com um bebê nos braços? Trate de me arrumar outro
neto, quero muitas crianças pela casa.

Allana olhou para Matthew completamente sem graça, mas ele


sorriu para tranquilizá-la.

— Nós vamos mãe, cansei de ser só tio, quero alguém me


chamando de pai também. — Ele comentou firme.
A confissão fez todos o olhar surpreso.

— Esse é para casar Allana, não deixe escapar. — Alfredo


comentou, ao lado da esposa.

— Eu não seria louca, estou pensando em comprar um anel de


noivado. — Ela brincou, mas a ideia a deixou fascinada.

— Isso é um pedido? — Matthew a puxou para ele.

O tom avermelhado da moça chamou a atenção.

— Não sei, depende da sua resposta. — Ela sorriu.

— Eu seria louco se negasse. — Ele a beijou, mas logo se afastou


por causa dos protestos de Henrique, que não estava feliz com a
aproximação do casal, o menino queria curtir o colo sossegado.

— Tinha que ser o Matthew. — Elliot falou.

E Ethan completou sorrindo.

— Todos nós pedimos as nossas mulheres em casamento, já você


foi pedido.

— É como eu disse, eu sou um cara de sorte...


Epílogo

Era final de tarde, Allana caminhava descalça na areia branquinha


enquanto a água do mar refrescava seus pés, mais adiante Matthew
segurava a mão de Nicolas que a cada onda soltava um som surpreso e
um riso engraçado.

— Ele está amando esse primeiro contato com o mar. — O marido


falou um pouco mais alto.

Ela os analisou com atenção.

Nicolas nasceu há um pouco mais de um ano, tão parecido com o


pai, mas os olhos acinzentados ele herdou dela. O menino veio em um
parto prematuro e de risco assustando a todos, mas desde pequeno foi
forte e corajoso, passou por tudo e se saiu perfeitamente bem.

— Com certeza ele está. — Ela caminhou mais rápido e os


alcançou, com as pontas dos pés molhou os dois.

Pares de olhos azuis, um celeste e outro cinzento, se fixaram nela


surpresos.

Nico não demorou a sorrir, era aquele sorriso que iluminava o dia
de Allana, mas o pai, esse pegou o pequeno no colo e revidou.

Ela tentou correr, mas Matthew foi mais rápido e não demorou
muito para os três se encharcarem.

A cada gargalhada o coração se enchia mais de amor.

Quando se mudou de Genebra e aceitou a proposta de gerenciar a


galeria de Desiree, Allana não imaginou que seria tão feliz em Nova
Iorque, apenas pegou suas malas e partiu com o apoio de Suzy e
Solange.
Com essa mudança duas coisas eram certas, ela queria esse novo
emprego e mais do que isso, queria Matthew.

Acreditou que ficariam juntos por um bom tempo antes de dar um


passo tão grande e iniciar uma família, mas a gravidez surpresa os pegou
desprevenidos, o casamento aconteceu quando estava com seis meses de
gestação, mas ela não mudaria nada.

Nico chegou para completar aquele vazio que eles não sabiam que
existia, ele veio e trouxe a felicidade que só um filho pode trazer.

— Eu nunca imaginei que poderia ser assim aqui. — Ela


comentou pensativa quando os três se sentaram exausto.

— Assim como? — Matthew acomodou o filho sentado entre suas


pernas e olhou para a esposa com atenção.

— Perfeito. A maternidade, o casamento, o trabalho, são uma


felicidade plena que não imaginei existir depois que perdi meus pais.

Ele assentiu pensativo.

O casamento dos dois tinha sim seus dias complicados, as brigas


assim como todos os outros, mas sempre se resolviam, sempre voltavam
a se falar e nem se recordavam do motivo da discussão.

— Eu também não sabia que seria assim amor, mas se eu pudesse


voltar no passado, no dia que te conheci, eu não mudaria nada, deixaria
tudo acontecer novamente.

— Aposto que você não imaginou que aquela louca que te despiu
seria a sua esposa, a mãe do seu filho e ainda por cima a mulher que te
atormentaria em relação as regras. — Ela brincou.

— Quando eu te vi senti um desejo insano, mas casamento não era


algo que eu queria no momento e muito menos que você ultrapassasse
aquelas barreiras, mas era o nosso destino afinal.

— Está confessando na minha cara que só queria me levar para a


cama? Matthew Bittencourt isso é o cúmulo.

Ele gargalhou, Nico olhou para o pai com curiosidade e logo


começou a gargalhar também, imitando direitinho.

— Culpado, eu queria te levar para cama naquele dia, assim como


quero agora. — Ele falou em um tom safado.

Ela olhou para o filho e depois para o marido ruborizando.

Nem com o tempo ela deixou de corar com as palavras dele.

— É muito bom saber que meu marido continua me desejando


depois da gestação.

Ele a olhou com mais atenção. O corpo continuava tentador e


desejável como antes, até mais.

— Te desejo bem mais agora.

Nico bateu palminhas esparramando areia para os lados.

— Deveríamos voltar e deixar ele com a Megan por alguns


minutos, acho que ela não se importaria. — O Bittencourt propôs.

— Mas estão todos na casa, vão perceber.

— E o que tem?

Allana queria protestar, mas aquele olhar desejoso dele estava


deixando-a desejosa também.

Caminharam de mãos dadas até a casa de férias da família nos


Hamptons.

Quando adentraram a casa, Angélica pegou o neto e disse:

— Deixa que eu dou um banho nesse menino aqui, vocês


aproveitem esse tempo livre.
Matthew arqueou a sobrancelha para a esposa que estava tão
corada e não era por causa do verão.

— Viu? Eu nem precisei pedir. — Ele comentou sorrindo


enquanto subiam as escadas.

Allana não ousou encarar o restante da família que também


estavam na sala de estar, ouvir as risadas foi o suficiente.

Quando a porta do quarto deles se fechou, Matthew a pegou no


colo, encaixando o corpo dos dois.

— Um dia você ainda vai me matar de vergonha. — Ela comentou


entre um beijo e outro.

— Um dia você ainda vai me matar de desejo. — Ele a mordeu no


pescoço.

Allana soltou um gemido baixinho.

Matthew a carregou até a bancada do banheiro e a sentou lá.

— Não é a da nossa casa, mas ainda assim é perfeita. — Ele soltou


o laço da parte de cima do biquini dela, expondo os seios maiores por
causa da amamentação.

O dedo ágil e gentil começou a provoca-la.

Allana desceu os dedos trêmulos pelo corpo dele e abriu a


bermuda.

— Está com pressa? — Matt perguntou.

— Sabe que não temos muito tempo. — Ela sussurrou enquanto


ainda o explorava.

Ele sabia bem, depois que o filho nasceu cada segundo a sós
deveria ser muito bem aproveitado.
A resposta de Matthew foi simples, ele se livrou das roupas e a
desceu da bancada, colocando-a de costas para ele.

Os beijos lentos começaram na nuca dela e quando chegaram no


quadril ele a virou, Allana fechou os olhos quando Matthew beijou a
cicatriz da sua cesárea.

Sempre que ele fazia isso ela se emocionava. Não pelo ato em si,
mas pelo carinho que ele demonstrava com esse gesto.

— Eu amo você — sussurrou e não esperou pela resposta dela.

Allana se surpreendeu e não conseguiu segurar um gemido alto,


Matthew sorriu orgulhoso de si mesmo, adorava fazê-la perder o
controle.

Quando ele a levou para debaixo do chuveiro, ela estava trêmula


do recente orgasmo, mas nem isso a impediu de retribuir o prazer.

Amava prova-lo.

Matthew fechou os olhos e deixou que ela o descontrolasse dessa


vez.

Somente Allana tinha esse poder sobre ele.

— Ohh baby. — Ele sussurrou enquanto a erguia e a possuía, não


existia melhor lugar do que dentro dela para ele se perder...
Bônus especial

Suzy e Pierre

Sabe quando a vida parece perfeita demais?


Era exatamente assim que Pierre estava se sentindo.

Morava no seu próprio apartamento, tinha uma namorada fogosa


na cama e incrível demais fora dela e comandava o maior cargo na
galeria que a sua família inaugurou em Genebra.

Só que parecia que algo faltava e esse sentimento aumentava


sempre que Suzy decidia voltar para casa, o apartamento dele ficava
grande e vazio sem ela ali.

Ela não queria se casar, sempre que Pierre tocava no assunto ela
desconversava e dizia que estava perfeito apenas namorando.

Só que para ele não estava, ele queria mais, estavam juntos desde
quando ele se mudou de vez para Genebra, há três anos.

— É a hora perfeita para um passo maior, não é? — Ele perguntou


para a mãe, que atentamente o ouvia.

— Não tem isso de hora filho, seu pai me pediu em casamento no


dia que me conheceu, claro que não nos casamos nesse dia, mas me
lembro que ele me olhou e disse: “Eu me casaria com você agora.” —
Pierre sorriu, ele conhecia cada detalhe dessa história, afinal ouvira
tantas vezes.

— Só que você o enrolou por um ano e meio.

— Claro, eu precisava ter certeza e é exatamente isso que a Suzy


quer, ela está com medo, lembra como foi difícil para ela confessar que
te ama?

Ele suspirou exausto.

— Eu sei, ela é complicada, sei o quanto isso tudo a afeta, mas


mãe... — ele deu uma pausa, — tudo o que eu quero é uma aliança no
dedo dela.

Desiree sorriu aliviada.

— Eu sei meu menino, só espere, tudo dará certo, acredite.

Pierre queria ter essa confiança, mas Suzy já o negou três vezes e
nesses últimos dias estava até o evitando.

— Preciso desligar, acho que ela chegou. — Ele avisou quando


ouviu o barulho da porta do seu apartamento sendo aberta.

Ela tem a chave, roupas no closet, escova de dente na bancada do


banheiro, só falta se mudar, mas é justamente isso que ela não quer.

Ele caminhou até a sala de estar e a viu.

Estava linda em uma jardineira jeans colada ao corpo, os cabelos


presos em um rabo de cavalo alto, só que ela parecia nervosa, muito
nervosa.

— Oi belle femme. — Ele se aproximou.

— Oi, precisamos conversar. — O tom dela não o agradou.

— Aconteceu alguma coisa? Sempre que a conversa começa assim


é algo ruim.

Suzy se sentou no sofá e indicou a poltrona para ele.

Ótimo, ela queria distância para ter essa conversa. Ele pensou
preocupado.
— Vou direto ao assunto, não vou conseguir comemorar com você
amanhã. — Ela encarou as mãos, incapaz de olhá-lo.

Pierre se levantou.

— O quê? Mas é o nosso aniversário de namoro — perguntou


indignado.

Completariam três anos juntos no dia seguinte, ele planejou um


jantar especial e um novo pedido de casamento, mas pelo visto ela tinha
outros planos.

— Eu sei, mas estarei enrolada no trabalho. — Suzy ainda evitava


o olhar dele.

— Trabalho? De novo essa história? Seja sincera Suzy.

— Estou sendo. — Ele notou quando ela engoliu em seco.

— Não está, nem nos meus olhos você está olhando.

— Pierre — ela também se levantou — não complica as coisas, só


passei para te avisar.

Suzy caminhou para a porta, mas ele a segurou, impedindo-a de


sair

A morena respirou fundo, o toque quente, gentil e familiar a fez se


arrepiar.

Pierre a segurou na nuca, olhando-a nos olhos quando se


aproximou e selou os lábios dos dois.

— Você quem está complicando, passei o dia querendo te ver, te


tocar e você quer ir embora assim? — Ele perguntou quando os lábios
dos dois já estavam separados.

A reação dela o deixou satisfeito, ele sabia do poder que possuía


em relação ao corpo curvilíneo.
— Vai me dizer que parou de sentir isso, essa atração, esse desejo
insano? — Ele a mordeu no pescoço, Suzy gemeu satisfeita.

Isso não estava nos planos dela, esse jogo de sedução.

— Não, tudo o que eu quero é isso, pode conferir você mesmo. —


Ela sussurrou rouca.

Ele não perdeu tempo, livrou-a da jardineira e conferiu.

— Tão molhada e pronta para mim. Você não vai sair daqui essa
noite.

Suzy recuperou um pouco da razão.

— Mas amanhã não posso.

Ele bufou e se esfregou nela.

— Veremos isso amanhã.

∞∞∞

Pierre acordou com o corpo dela sobre o dele, nua, os cabelos


rebeldes e o cheiro que só ela tinha o embriagando.

— Bom dia. — Suzy sorriu e o beijou rapidamente.

— Bom dia belle femme.

Ela o apertou forte em um abraço.

— Preciso ir para o trabalho. — Suzy sabia que essa frase acabaria


com a paz entre eles.

Pierre se sentou na cama, nu também, olhando-a com atenção.

— O que está acontecendo Suzy? São os meus pedidos? Isso está


te afastando de mim? Se for me conte, eu posso parar de te pedir em
casamento, mas não aguento essa indiferença entre nós.

— Eu não estou indiferente em relação a você, achei que tivesse


provado isso ontem.

— Você pode não perceber, mas eu sim, sei que está me


escondendo algo.

— Não estou. — Ela se sentou na cama e enrolou o lençol no


corpo exposto.

— Tem outro cara, é isso? — Ele não queria perguntar, mas não
sabia mais o que fazer.

Suzy se levantou e o olhou magoada.

— Não, não tem outro cara, assim você me ofende.

Pierre tentou ir atrás dela, mas a porta do banheiro foi trancada na


sua cara.

— Belle femme, me desculpe, eu só.... eu não entendo o que


mudou entre nós.

— Nada mudou, Pierre. Agora preciso ir, antes que eu coloque


tudo a perder. — Ela saiu do banheiro já vestida, mas não o olhou nos
olhos.

Ele a deixou ir.

Não adiantava insistir em algo que ela mesma não queria.

O sábado se arrastou, ele ficou supondo o que ela estaria fazendo,


sabia que o jornal não abria nos fins de semana, mas foi justamente essa
desculpa que ela usou para evitar vê-lo.

Estava anoitecendo quando seu celular apitou, uma mensagem


dela.
“Pode vir até aqui? Preciso te contar uma coisa”

Logo a baixo estava a localização.

Ele não pensou duas vezes, pegou a chave do carro e a carteira e


saiu.

O local desconhecido o deixou desconfiado.

Desceu do veículo, olhou ao redor e entrou. Tudo estava escuro.

— Suzy? — Ele chamou por ela.

Braços o enlaçaram pelo pescoço, ela o apertou tanto e falou


chorosa:

— Nunca, nunca mais na minha vida eu faço isso.

Ele tentou se afastar para acalmá-la.

— Faz o quê? — perguntou confuso.

Foi só então que as luzes se acenderam e ele viu seus pais e


amigos o olhando em expectativa, todos gritaram: “parabéns”.

Pierre desviou o olhar deles e encarou sua mulher.

— Eu não estou entendendo.

Ela pegou a mão dele, colocou na sua barriga plana e perguntou:

— Será que aqueles pedidos de casamento ainda estão valendo?


Só que não seremos só nós dois, seremos três. — Ela o olhou aflita.

Pierre cambaleou um pouco para trás, piscando confuso.

— Três? — perguntou notando a faixa que Matthew e Allana


seguravam.
“Parabéns papai”.

Ele olhou para a mão da Suzy em seu ventre e depois para os olhos
assustados e marejados dela.

A tontura voltou, estava acreditando em um possível término, mas


na verdade é um filho.

— Você está grávida? — Ele perguntou tentando se apoiar em


algo.

— Sim, seremos pais. — Ela o segurou no braço. — Não ouse


desmaiar Pierre Beaumont, eu sou a grávida aqui, eu quem posso fazer
drama.

Ele começou a rir.

Não era o fim, não era uma traição.

— É um filho.

— Sim homem, agora volte ao normal, se você desmaiar eu te


bato.

— E eu a ajudo. — Ele ouviu a voz de Desiree.

Só que todos ficaram em segundo plano, ele apenas pegou Suzy


nos braços e a beijou.

— Porra belle femme, eu achei que estava te perdendo.

Ela chorou, de verdade, muitas lágrimas de alívio rolando pelo


rosto bonito.

Era tão bom contar a notícia.

— Nunca irá se livrar de mim, eu te amo.

— Também amo você, mas me evitar por dias foi maldade.


— Eu sei, culpe as meninas, elas quem tiveram a ideia, eu quis te
contar diversas vezes. — Suzy apontou para a Allana, Solange e
Desiree.

— Deveria ter me contado, eu sou um bom ator, fingiria bem. —


Então ele a beijou.

Não importava todos que os olhavam. Os bens mais preciosos da


sua vida estavam na proteção dos seus braços.

Não estava nos planos de Pierre ser pai ainda, mas tocar na barriga
da sua noiva, enquanto ouvia o riso gostoso de Nicolas, filho de
Matthew e Allana, o fez perceber que um filho só vai completar o que já
estava perfeito.

— Então eu tenho uma resposta para os meus pedidos? Vai se


casar comigo? — Ele perguntou olhando-a apaixonado.

— Eu seria louca se negasse...


Agradecimentos

Aos leitores que aceitaram essa série tão bem, me apoiando e me


incentivando cada vez mais.

Agradeço a minha leitora, amiga e beta Karina Lima, pela leitura


final, por toda ajuda, dica e sugestões.

Também digo obrigada a Islay que fez uma capa linda.

Obrigada a todos vocês, sem cada ajuda, incentivo e criação esse


livro não chegaria até aqui...
Próximo livro da série

MEU PEQUENO MILAGRE – LIVRO 5


Megan Bittencourt também tem o direito de ser feliz, mas o que a
loira não esperava era que essa felicidade viesse em um pequeno pacote
de olhos azuis cintilantes, com um sorrisinho banguela de retirar
suspiros.

Ela nunca se imaginou mãe e muito menos uma mãe solteira.

Ela nunca imaginou que pudesse amar e odiar na mesma


intensidade, mas descobriu isso da pior maneira possível.

Ela nunca imaginou que o pai de seu filho a ferisse de uma tal
maneira, deixando assim marcas que nem ao menos o tempo apagaria.

Um segredo...

Um passado com feridas não cicatrizadas...

Um lado cruel da máfia...

Um possível recomeço...

Será que o amor, o sentimento mais forte que existe, pode curar
feridas que nem o tempo foi capaz de diminuir?
Sobre a autora

Vanessa Gandolpho Secolin nasceu em fevereiro de 1996, no


interior de São Paulo, onde atualmente reside com o marido e a filha. É
uma mulher sonhadora, viciada em chocolate, café, livros e séries, não
necessariamente nessa ordem.

Descobriu a paixão pela escrita há pouco tempo, por meio de uma


plataforma online, já o amor pela leitura nasceu anos antes, quando leu
“O Morro dos Ventos Uivantes” para um trabalho escolar, desde então,
se aventura em diversos gêneros, mas o seu preferido é o romance.

REDES SOCIAIS

Instagram: autoravanessasecolin

Wattpad: AutoraVanessaSecolin

E-mail: vanessasecolin@hotmail.com

Gostou de conhecer mais um pouco da família Bittencourt? Se


sim, vamos levar O Destino para mais leitores.

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avaliações são muito importantes.

Desde já eu agradeço imensamente.

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