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Perfeito
Caos
JOSIANE VEIGA
O PERFEITO CAOS
1ª Edição
2020
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou
transmitida por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e
gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem autorização
escrita da autora.
Esta é uma obra de ficção. Os fatos aqui narrados são produto da imaginação.
Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real deve ser
considerado mera coincidência.
Título:
O perfeito Caos
Romance
ISBN –
9798618589734
Texto Copyright © 2020 por Josiane Biancon da Veiga
Eu me casei com Joana. A trouxe para essa vida. Ela não tinha escolha a não ser ficar ao
meu lado...
Sou um membro da Black Rose. Nossa organização criminosa comete as maiores barbáries,
contudo, a protegerei como puder desse mundo terrível.
Ela pode confiar em mim. Tudo que faço é por ela. Nosso amor sobreviverá a tudo.
Sumário
JOSIANE VEIGA
Demais livros do universo Bianconi
Enzo
ENZO
JOANA
ENZO
JOANA
ENZO
JOANA
ENZO
JOANA
ENZO
JOANA
ENZO
JOANA
ENZO
JOANA
ENZO
JOANA
ENZO
JOANA
ENZO
JOANA
ENZO
JOANA
ENZO
Demais livros do universo Bianconi
Victor Bianconi era membro da máfia que tinha origem na Itália e agora dominava a Serra Gaúcha. Ele
havia sido salvo por aqueles bandidos e devia a eles mais que a vida, toda a sua lealdade.
Sem princípios morais que pudesse carregá-lo, ele sempre acreditou que cumprir seu papel de vilão
bastaria... Até ela aparecer.
Francine Stein era de uma boa família. E era, igualmente, uma boa pessoa. O tipo de gente que jamais
iria se aproximar de um bandido como Victor.
Mas, o destino provou-se ser mais forte que tudo.
Anjo e Demônio queriam coexistir.
Aquilo seria, definitivamente, o apocalipse.
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Quando eu tinha dez anos, os Bianconi me levaram... me estupraram... me escravizaram... Mas, com a
morte do chefe da máfia, eu consegui fugir.
E não havia lugar mais seguro para me esconder do que a pequena cidade de Esperança, lugar onde
Pietro Bianconi conheceu seu fim.
O que eu não esperava é que nessa cidade eu conheceria um homem que desejava uma esposa e um
filho. Um bom homem...
Como eu poderia ser isso para ele?
Fugir não é a melhor solução?
Contudo, o que fazer quando me descubro grávida?
Os Bianconi estão me caçando, e o único abrigo que consigo imaginar é nos braços fortes do único
homem por quem senti algo... O pai do meu filho.
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Ele queria transformá-la em sua cadela, sua escrava. Ela acabou por ser sua
SENHORA.
LUCAS VOLTOU...
Aos doze anos, ele foi salvo das ruas pelos Bianconi. Órfão de mãe, abandonado
pelo pai, havia se entregado a degradação das drogas quando Pierre o resgatou...
... Apenas para usá-lo.
Aos dezoito anos, já era um assassino. E essa condição custou a vida de alguém que
ele amava, seu irmão, Victor.
Depois de anos preso, ao encontrar a liberdade, soube que não conseguiria lutar
contra os Bianconi por meios justos. Ele precisava se tornar o rei de uma novo
grupo.
Com sua experiência, Black Rose, em pouco tempo, já era uma das maiores
organizações criminosas do país.
Todavia, não bastava. Sua condição exigia vingança contra àqueles que o induziram
a ser quem era.
Para fazer isso, seu caminho cruzou com o de Renata.
A garota perfeita, virgem e pronta para desposar o novo líder dos Bianconi, Bruno.
Tê-la para si se tornou um objetivo. Mas, amá-la não estava nos planos.
Sexo, fogo, paixão... Lucas não esperava que uma garota tão simples e delicada
pudesse fazê-lo repensar todos os seus objetivos.
Perdido em sua teia de desejos, tudo que ele queria era possuí-la.
E ele faria isso...
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Enzo
Ricardo está estressado. Ele é meu irmão mais inquieto. Costuma ser
irascível, mas é muito leal, então normalmente sua personalidade é aceita
com normalidade.
Ele acena na minha direção. Caminho entre pedaços de carne moída,
partes do corpo de alguém que não podemos identificar.
— Tem alguém matando na nossa área — Ricardo reclama.
A vida podia ser tranquila e gostosa. Eu adorava terminar meu dia, ir
para casa e aproveitar o final da tarde tomando chimarrão ao lado da minha
esposa na nossa varanda com vista para a Redenção.
Joana não sabia o que eu fazia, e assim pretendia que ficasse. Ao que
tudo indicava, eu trabalhava com vendas para uma empresa de tecnologia.
Obviamente, a empresa era apenas uma laranja da Black Rose. Assim eu
seguia meu dia: um homem comum, bom marido, bom cidadão, que pagava
meus impostos e respeitava as autoridades. O tipo de homem que qualquer
mulher se congratulava por conseguir desposar.
— Merda... merda — Ricardo reclama.
Um leve toque de vômito flutua em minha direção. Ricardo odeia
pedaços de cadáveres.
O cheiro está insuportável. Dou um tapinha animador nas costas dele
antes de passar por cima de uma perna e sigo na direção de dois de meus
irmãos ajoelhados no chão.
Entre eles, há uma coleção de partes do corpo meio comidas -
principalmente dedos das mãos e dos pés.
— Bom, é óbvio que o corpo está aqui há alguns dias. Quem quer que
for, teremos que contatar nosso contato na polícia para saber se alguém está
desaparecido.
— O problema, você sabe... — Ricardo toca meu braço —, é a porra de
uma merda dessas acontecer na nossa área. O pai está voltando de Veneza. O
que Lucas dirá quando souber dessa bagunça?
— Não temos como cuidar de toda a área. Além disso, sempre há
mortes que não envolvem o tráfico. Sabem dizer se é homem ou mulher?
— Você quer que eu procure por uma piroca ou uma vagina no meio
dessa porra — Juliano reclama. Dou um suspiro cansado. Estou ficando
velho. — Ainda precisamos saber o tempo e o método da morte.
— Pela cor da pele, está assim há uns quatro dias.
— Como você sempre sabe disso?
— Eu presto atenção aos mortos. E tive muitos anos de experiência
com cadáveres — retruco.
— É assustador, irmão. Sem ofensa.
— Não me sinto ofendido. Você mandou Fernando tirar fotos? Papai
irá querer ver isso.
— Sim. — Ele rola a cabeça em volta dos ombros. Há um tom exausto
nele. Ninguém quer ver o resultado de um assassinato dias depois. Matar é
uma coisa, lidar com pedaços do que já foi gente é outra. — Está tudo
organizado num arquivo. Nada foi movido aqui, também, então se você
quiser pegar uma amostra, fique à vontade.
Observo os pedaços de carne. Os animais dos arredores daquela mata
fizeram um bom trabalho em esconder meu crime. Seria difícil determinar
com precisão que dano foi causado pelo agressor e que feridas a mãe natureza
infligiu.
— Quem fez isso é um bastardo doente — observa Juliano. — Matar é
uma coisa, estraçalhar desse jeito é covardia.
Covardia é tirar de um homem seu direito a um fim de tarde tranquilo
ao lado da esposa.
A perturbação é acentuada por alguns pássaros cantando. Os animais
não são incomodados por cadáveres. Somente os humanos.
— Isso me lembra alguma coisa. — murmura.
Finjo interesse.
— Como assim?
— Não sei. Apenas tem algo me incomodando.
Fernando seria um bom policial se a vida não o tivesse levado para o
caminho errado. Ele tem instintos de um cão de caça. Gosto dele. Aperto seu
ombro, orgulhoso.
— Se lembrar de algo, se sua intuição dizer algo, não esqueça de me
avisar. — mencionei casualmente.
— Sim, irmão.
— Enquanto isso, por favor, mandem os mais novatos avisar a polícia.
Deixamos a cargo deles a incumbência de limpar essa bagunça.
— Mataram na nossa área — Ricardo que até então estava quieto,
voltou a se manifestar. — Uma morte assim, e ficaremos quietos?
— E vamos fazer o quê se nem ao menos soubermos quem foi? Faça
um relatório e tire fotos para Lucas. Avisaremos nosso pai, e seremos
cautelosos até sabermos quem está matando na nossa área. No mais, não
precisamos fazer nada.
— Podemos fazer como os traficantes do Rio de Janeiro e tocarmos o
terror.
Eu quase gargalho diante da ideia. Ricardo era mesmo impulsivo.
— Nós temos classe, meu irmão. Só o que falta querer insinuar que
passamos a ouvir funk.
— Eu até gosto de uma batida.
— Nossa música é tradicionalista. Nossas roupas são sociais. Não
deixe nosso pai te ouvindo falando essas merdas. Não somos marginais,
somos negociantes de drogas.
Ele suspira, irritado. Dou-lhe as costas e volto para o meu carro.
No caminho, meu celular vibra.
Pressiono o botão e a voz de Joana enche meu carro.
— Virá para o jantar? — ela pergunta.
Eu me lembro que agendamos de ir a um restaurante. Nem lembro
porquê? Aniversário de namoro? Do primeiro beijo? Merda... Destroçar
aquele idiota que a estava perseguindo – um imbecil que veio de Santa
Catarina porque Joana estava fazendo uma matéria sobre o tráfico naquela
região – havia me afastado dos nossos momentos românticos.
Foi por acaso que eu soube do cara. Uma ligação anônima para a
delegacia dizia que um homem queria se vingar da repórter sensacionalista
que estava metendo o bedelho onde não era chamada. Meu contato na polícia
me contou. Eu fiz o cara em pedaços para dar um recado bem dado aos seus
companheiros do estado vizinho.
— Estou a caminho, meu amor. Você quer que eu te pegue?
— Não. Eu já estou no restaurante.
Bosta! Atrasado!
— Tudo bem, querida, vejo você em breve.
Desligo o aparelho. Eu podia ser um psicopata, mas sempre respeitava
o tempo dado a minha esposa.
CAPÍTULO DOIS
JOANA
Eu guardo meu telefone. Joana e sua irmã, Joseane, vão comer, tricotar,
assistir televisão e ir para a cama por volta das dez. Eu tenho apenas cinco
horas para concluir minha tarefa.
Evandro Garbin é muito preciso, como minha esposa disse. A grama
dele é tão uniformemente cortada que eu não ficaria surpreso se ele o fizesse
à mão. Ele provavelmente matou a esposa por não colocar o controle remoto
em seu devido lugar ou por algo igualmente mesquinho. Parece ser do tipo.
Da minha posição no final de sua propriedade, atrás do parque onde ele
escondeu o corpo de uma mulher transitória que ele matou, eu posso vê-lo se
preparando para caminhar. Um zumbido alto precede ele e seu cachorro.
Olho para cima e vejo um zangão voando no alto. O cachorro dispara para
frente, perseguindo a abelha voando baixo.
Caminho estrategicamente atrás de Evandro. Ele avança para o parque.
Naquele horário, quase noite, não há muita gente perto das árvores, mas
Evandro não tem medo de andar por aquelas bandas. Ele é o perigo ali.
Mal sabe ele que eu também sou.
Perto de uma curva, onde uma formação rochosa cria um pequeno
abrigo, eu me aproximo.
Evandro me percebe, surpreso. Ele não está acostumado a ver pessoas
em seu caminho. Seus olhos disparam em direção à parte de trás daquelas
árvores. É aí que está o corpo da esposa?
Este é o lugar perfeito para matar alguém. É por isso que eu o escolhi.
Enfio minhas mãos no meu casaco e dou um passo à frente. Ele dá um passo
desajeitado, como se não soubesse se devia avançar ou retroceder.
— Como é ser um homem livre?
Ele suspira aliviado, imaginando que sou algum repórter curioso.
— Como me sinto? Muito bem. A justiça existe no nosso país. —
Então, como se ele lembrasse que deveria estar triste, acrescenta: — Mas,
claro, quero que o desaparecimento de minha esposa seja resolvido.
Esfrego um dedo na minha barba rasa.
— Com o corpo, talvez o desfecho do seu julgamento fosse diferente.
Ele endurece e o sorriso desaparece.
— Sim, uma verdadeira tragédia.
Ele limpa a garganta e não fala até eu erguer o olhar para ele.
— Bom... vou continuar meu passeio.
Há um brilho claro em seu pescoço. Ele está começando a suar.
— Você acredita em equilíbrio, Evandro?
— Como assim?
— Minha esposa disse que você gostava de rotinas e ordem em sua
vida. Imagino que as pessoas que estragam as coisas o deixem louco.
— O que há de errado com a ordem? Se você não consegue se lembrar
de regras simples e não consegue executar tarefas simples, não oferece
realmente valor neste mundo. Existem estudos que comprovam o que estou
falando. Sabia que o simples ato de acordar de manhã e arrumar sua cama já
o coloca em uma seleta lista de pessoas com provável sucesso.
Avanço em sua direção. Ele não recua. Parece me estudar.
— Estou totalmente de acordo com você. Também não gosto dessas
pessoas. — Pego a seringa do meu bolso e o apunhalo no pescoço antes que
ele tenha tempo de responder. — Eu não gosto nada de gente que faz
serviços porcos e deixam pistas — murmuro enquanto ele cai no chão.
Arrasto seu corpo em direção à mata fechada. Eu já havia preparado
anteriormente num pequeno local a maneira com que eu faria tudo da forma
mais limpa possível.
Sem tiros. Sem barulho. Sem som. O homem estava dopado por uma
medicação forte que consegui com um farmacêutico. Eu o queria acordado
para saber onde estava o corpo da sua esposa, mas depois eu faria o que fosse
necessário para trazer paz a Joana.
O amarrei forte em uma árvore e cobri sua boca. Enquanto o breu
noturno caía naquele lugar, sentei em uma pedra e aguardei que acordasse.
Lucas não sabia o que eu andava fazendo, e eu imaginava se devia
contar ao pai da Black Rose. Ele me condenaria? Não sei dizer...
Cerca de uma hora depois, ouvi um gemido. O homem estava
acordando. Deixei que se situasse, abrisse seus olhos e compreendesse tudo
que estava acontecendo.
— Eu quero informações — antecipei. — Onde está o corpo da sua
mulher?
— O quê? — ele gaguejou.
Eu quase podia acreditar na sua inocência não fosse uma investigação
prévia me dizer que o cara gostava de espancar namoradas e que uma moça
universitária havia sido encontrada morta exatamente naquele parque, dois
meses antes.
— Não me faça repetir a pergunta.
— Acredite em mim, não sei onde...
— Olhe — o interrompi. — Você tem sua rotina, não é? Eu tenho a
minha. Após trabalhar durante o dia, eu gosto de chegar em casa, tomar um
banho, sentar na varanda da minha casa, e tomar chimarrão com a minha
esposa. Eu sei o que está pensando: é uma vida muito comum e chata. Mas,
sabe? Eu gosto da chatice. Do comum. Eu gosto de não ter muita emoção no
meu dia a dia. E alguém interrompeu isso: você. Porque agora minha esposa
está totalmente revoltada com o caso da sua esposa, e eu sei que você será o
assunto dela por semanas. Talvez para sempre, porque ela nunca se esquece
de injustiças. Então...
— Você é maluco?
— Maluco ao ponto de derrubar você e o trazer para essa mata? Sim.
Maluco ao ponto de querer minha esposa triste? Não. Facilite a minha vida e
fale logo onde ela está.
Dei-lhe alguns segundos para pensar. Eu não era violento. Mesmo
quando esquartejava alguém, só o fazia se a pessoa merecia.
— Nada? Não vai falar?
Pus as luvas. Estava tranquilo, frio. Tinha uma automática no casaco
que me protegeria caso algo saísse errado.
Peguei uma faca. Aproximei-me de Evandro. Andei em volta dele,
observando o que melhor eu poderia cortar. Decidi por um dedo.
Antes, cobri sua boca, tapando-a com um pano sujo, lacrando com uma
fita adesiva.
Então, me pus ao serviço.
Não era difícil. Se você já esquartejou uma galinha, saberia como
cortar um dedo. As juntas não eram assim tão diferentes.
Enquanto ele se contorcia contra a árvore, me lembrei que teria um
jogo novo no campeonato gaúcho. Fazia muito tempo que eu não ia ao
estádio ver o Grêmio.
O sangue se esparramou na grama verdejante. A mistura de verde e
vermelho é bonita. Lembra-me um quadro que Joseane pintou no verão
passado.
Dedo no chão. Voltei para frente e o observei.
— Onde está o corpo? — indaguei.
Quando tirei a mordaça, fez menção de gritar, então lhe dei um belo
soco na cara.
— Vai ser pior se começar a fazer escândalo. Eu odeio gritaria e
baderna. Você não foi homem para matar sua mulher? Seja homem para
enfrentar as consequências.
— Você é maluco... maluco...
— Onde ela está?
— Eu não a matei... Eu juro que não a matei.
— Você vai mesmo me fazer arrancar todos os dedos da sua mão?
Talvez cortar fora um pedaço do seu pau? Furar seus olhos? Vou lhe dar
cinco minutos para você meditar enquanto sente a dor pulsando na sua mão.
Então você irá me dizer onde o corpo está.
Voltei a sentar perto de uma árvore. Limpei minha faca, e imaginei
como cortaria ele de uma forma que mandasse uma boa mensagem a
sociedade.
Eu tinha um machado no carro. Mas, ele estava numa avenida, e
poderiam haver câmeras por perto.
Senti vontade de fumar. A maldita carteira de cigarro também estava
no carro. Respirei fundo, percebendo que devia ter planejado melhor minha
ação.
— Atrás... atrás do banheiro público do parque. Eu a enterrei lá de
madrugada — ele confessou, entre lágrimas, me fazendo erguer a face e
encará-lo. — Você vai me soltar agora, não vai? Eu já disse o que você
queria.
Que merda de lugar para se enterrar uma pessoa.
— Nunca disse que ia soltá-lo.
Eu não planejava atirar no cara, mas, de repente, estava cansado demais
daquela merda.
Puxei minha automática, mirando-a no crânio do infeliz.
Foi uma morte misericordiosa, alheia a minha personalidade. De fato,
eu devia estar ficando muito velho para essas coisas.
Enquanto volvia para a trilha, puxei meu telefone. O cachorro de
Evandro surgiu no final do terreno de terra e então me dei conta de que o
idiota deve ter colocado sua smartwatch na coleira do animal, para que ele
circulasse pelo parque enquanto matava a esposa.
Vou até meu carro. Preciso matar tempo, então sento no banco
enquanto busco o cigarro mentolado do porta-luvas.
Enquanto aspiro a fumaça, ligo para Joana.
— Como vão as coisas? — ela pergunta alegremente.
— Apenas outro dia no escritório. Eu devo estar em casa amanhã cedo.
— Sinto sua falta.
Eu abaixo minha voz mesmo que ninguém esteja por perto.
— Você está sozinha?
— Não, minha irmã vai dormir comigo essa noite. Portanto, sem sexo
por telefone. Também não me deixe excitada, caso contrário não poderei
dormir.
Isso é decepcionante.
— Ok, tenha uma boa noite de sono, porque amanhã eu precisarei
dessa energia extra.
— Eu posso sentir o caminho perigoso que essa conversa pode levar,
então estou desligando agora porque Joseane já está me olhando
estranhamente — diz ela, mas eu posso ouvir o riso e a antecipação em sua
voz.
Em seguida, disco o número de Ricardo.
***
As duas e quinze retorno para perto do banheiro público. O corpo da
esposa atraiu dois cachorros de rua e Ricardo já está lá, observando o monte
de carne podre com um olhar chocado.
— É a esposa?
— Isso mesmo.
— E o marido?
— Eu o matei.
Ricardo cobriu parte da boca, tentando se proteger do ar pungente.
— Matou? Por quê?
— Porque eu quis.
Ele me encara como se estivesse juntando peças.
— Mas que bosta, hem?
— Não me olhe assim. Maníaco é o cara que fez isso com essa moça.
Ricardo deu os ombros.
— Ok. Eu nem ligo, na verdade. Vamos avisar a polícia?
— Sim, faça isso, mas quero um favor. Peça para Juliano descobrir
tudo que puder sobre um tal de Edison Magalhães.
— O advogado?
— Esse mesmo.
— Mais sujo que pau de galinheiro — brincou. — E o corpo do cara?
Quer que eu dê um sumiço?
— Por favor, leve-o para o mar. A água salgada vai corroer qualquer
vestígio que eu possa ter deixado.
— Vou mandar os notados fazerem isso. Primeiro cadáver é sempre
emocionante.
Não digo nada, apenas puxo mais um cigarro.
A lua brilhava alto no céu. Avistei novamente o cão de Evandro.
— Acha que tem lugar para levarmos esse? Não queria deixar o animal
abandonado por aí...
— Vou mandar um dos garotos colocar no facebook que ele o
encontrou perdido. Quando ninguém aparecer, a gente fica com ele. —
Ricardo contrapôs.
Aliviado por saber que o animal não ficaria sozinho nas ruas, voltei
para o carro. Ainda tinha algumas horas para dormir antes de retornar para
minha casa.
CAPÍTULO SEIS
JOANA
Olho para cima e vejo minha irmã em pé, encarando-me com o olhar
nitidamente questionador. Enfio meu desastre de tricô embaixo da mesa da
cafeteria para que ela não o veja.
— O que você está fazendo aqui? — finjo inocência.
— Eu sempre tomo meu café aqui. A questão é o que você está
fazendo aqui? — Ela cai na cadeira em frente à minha. Depois se inclina um
pouco para tentar dar uma olhada no que estou escondendo. – Não há
cafeterias perto do jornal?
Há uma cafeteria ao lado do trabalho, mas eu decidi ir naquela direção.
Joseane faz um gesto com a mão para eu lhe dar meu tricô. Pego-o debaixo
da mesa e o entrego. Ela nem tenta lutar contra uma risada.
— Eu sou péssima nisso. — Busco a xícara com meu café puro,
tomando um gole. — Ninguém me conhece aqui. – comento em seguida,
tentando justificar minha presença.
— Por que importa se as pessoas te conhecem? — Em segundos ela
desfaz a bagunça emaranhada nos fios. Suas mãos são mágicas ou algo assim.
Joseane tem o dom do artesanato, coisa que eu jamais teria.
Mesmo sendo irmãs, éramos tão diferentes.
— O motivo é um pouco vergonhoso. — Admito.
— Sou sua irmã. Entre nós não existe isso. Você pode me dizer
qualquer coisa, que jamais irei julgá-la. Eu nem estou tirando sarro de você
sobre isso. — Ela coloca minha tentativa de fazer uma touca na mesa,
sabendo que não quero que ela faça isso por mim.
— Você se lembra daquele cara que me ligou naquela noite que
estava lá em casa?
Ela levanta as sobrancelhas perfeitas. Sua cara é de repulsa.
— Senhor macho escroto?
— Sei que você não o conhece, mas existe algo nele que me dá ânsia
de vômito. Lá no trabalho muitas mulheres o bajulam porque é um advogado
famoso. Nos tribunais, ele deslumbra os jurados com seu charme falso.
Realmente não entendo como as pessoas não veem através dele. Sei que não
é feio na aparência, mas exala uma vibração estranha que sobe pela minha
espinha toda vez que eu o vejo, e me dá calafrios. Pode ser porque sei que ele
é um merda.
— Bom, o jeito que ele falava com você era assustador. Parecia quase
íntimo. Se eu não a conhecesse bem, acharia que eram amantes.
— Vê? É por isso que estou tentando evitá-lo. Ele está sempre por
perto porque seus clientes são sempre manchete no jornal. Fico imaginando o
que Enzo faria se visse a maneira como ele me olha. Sei que algumas
mulheres gostam de provocar seus parceiros com ciúmes, mas não faço o
tipo. Não quero que meu marido fique estressado porque tenho que conviver
com aquele cara.
— Na minha opinião você deveria contar a ele.
Minha boca se abre, mas nenhuma palavra sai.
— Se ele está te incomodando, você deve falar com seu marido. Ele
precisa estar ciente das coisas que ocorrem com você. Isso vai estabelecer um
canal melhor de confiança.
Eu tomo outro gole.
— E direi o quê? Que Edison é assustador? As pessoas pensam que
Enzo também é.
Não ligo quando ouço as pessoas dizerem isso sobre ele. Enzo não é
assustador. Ele é brilhante, gentil, doce. Ele é um homem bom, trabalhador,
alguém em quem posso confiar. Claro, não era perfeito, mas quem era? Às
vezes ele me incomoda um pouco com seu excesso de organização e limpeza.
É como se nunca deixasse rastro. Tem dias que acho que sequer moramos
juntos.
Mas, isso é apenas uma característica. Enzo gosta de detalhes. Por
menores que sejam, são importantes.
Talvez por ser assim, foi que me conquistou tão rapidamente. Não
havia nada que eu pudesse reclamar. Ele sempre foi atencioso e humano.
Enzo percebe cada respiração que exalo. Ele sabe até mesmo os dias
que vou menstruar, e sempre deixa um bombom no criado mudo um dia
antes.
É o homem perfeito.
Eu me mexo na minha cadeira tentando fazer minha mente vagar por
esse caminho. Enzo está tão sintonizado com o meu corpo porque presta
atenção aos sons que eu faço. Ele sabe quando eu gosto de algo, o que por
sua vez permite que me traga um grande prazer.
Certa vez ele me disse que eu era o anjo de sua vida. Foi uma confissão
inesperada, e fiquei curiosa com seu passado, mas ele nunca fala muito disso.
“Não há nada para dizer”, ele me comentou. “Eu cresci sem ninguém e
cometi erros, mas já encontrei minha família”. Ele nunca explicitou, mas eu
acreditava que essa família era eu. E, em breve, se Deus permitisse, bebês
que estava louca para ter.
Enzo me protege e me cuida. Eu acho que isso pode ser parte da razão
pela qual não disse algo sobre Edison aparecendo o tempo todo. E se eu
estiver errada? E se estivesse vendo algo a mais no seu olhar? Eu não queria
meter meu marido em confusão por alguma bobagem.
Edison é advogado. Nós temos que conviver porque sou repórter
voltada a área criminal. Não tenho certeza se Enzo é do tipo ciumento. Acho
que nunca houve uma razão para ele ser. Se eu dissesse algo, isso poderia
tornar as coisas estranhas.
— Enzo não é assustador. Ele é muito inteligente e pode ler as
pessoas. Só é assustador se você tem algo a esconder. — Joseane adora meu
marido.
Eu sorri. Quando se conheceram, Joseane estava passando por um
momento complicado. Ela tinha um ex-namorado abusivo que vivia
aparecendo no apartamento dela. Havia medidas protetivas dadas por um
juiz, mas o cara nunca as respeitava. Então Enzo disse que falaria com o dito
cujo.
Enzo deixou claro que considerava Joseane como uma irmã e cuidaria
dela. Aquilo a marcou muito. Alguns dias depois o ex-namorado ligou
pedindo perdão por tudo e nunca mais apareceu.
Isso foi no começo do nosso namoro, quando eu pensava que jamais
iria me apaixonar tanto. Todos os meus relacionamentos até então eram
decepcionantes, com homens que simplesmente não se importavam comigo.
Antes de Enzo, nunca soube o que era receber uma mensagem à noite
perguntando como havia sido meu dia, ou se eu havia chegado em segurança
em casa.
Na época estava investigando a Black Rose. Estava nervosa e
preocupada com tudo. Enzo foi um bálsamo.
— Tenho sorte por ter Enzo na minha vida. – acenei.
Não sei como outra mulher não o pegou antes de mim. O pensamento
me arrepia, porque não sei se há muitas no trabalho dele.
Ok, eu posso ser ciumenta. Não que eu tenha que me preocupar com
Enzo. Ele é tão gentil e amoroso que não consigo acreditar que me traia.
Quando nos casamos, antes de me beijar, ele repetiu murmurando os
votos contra meus lábios: “Até que a morte nos separe”. Eu lembro de ter
ficado arrepiada. E emocionada.
— Ah, sua sortuda! Você tem o melhor marido do mundo!
Sorrio para Joseane. É verdade.
— Brincadeiras à parte, se você está se sentindo constrangida sobre
Edison, acho que deveria contar a Enzo.
Estendo minha mão e seguro a dela.
— Prometo que o farei se a situação ficar insustentável.
Joseane olha para mim, não convencida pelas minhas palavras.
— Eu vou! – Tranquilizo-a. — Se ele fizer algo, vou falar com Enzo.
Até lá, espero que desapareça e realmente tudo seja coisa da minha cabeça.
CAPÍTULO NOVE
ENZO
Viro-me para olhar para a porta dos fundos quando ouço o som do
alarme sendo desativado. Enzo aparece um momento depois. Um sorriso
surge no meu rosto. É involuntário, sempre fico feliz quando o vejo.
Ando, apaixonada, em sua direção. Ele me encontra no meio do
caminho, me levantando do chão enquanto me beija.
— Senti sua falta — digo antes de dar outro beijo.
Ele é minha casa. Eu me sinto completa quando ele está aqui.
— Também senti sua falta, Joana.
Enzo aperta minha bunda. Eu lhe dou um leve tapa enquanto me
separo, volvendo em direção a cozinha onde, momentos antes, descascava
batatas.
— Por que você está assistindo essa merda? — Ele indaga, volvendo
em direção a televisão, onde um noticiário sensacionalista comenta as
manchetes do dia.
Enzo odeia quando assisto as notícias. Ele sabe que elas sempre me
afetam de alguma maneira, mesmo quando não estou envolvida nas
investigações.
— Sua irmã ligou. — Ele vai até o balcão onde eu estava prestes a
começar a cortar as batatas.
Espero para ver onde ele está levando a conversa.
— Ela queria me perguntar se eu já assisti “O homem do Castelo
Alto”, da Amazon Prime. Fiquei curioso com a premissa – ele comenta. –
Acho que podemos fazer maratona dessa série.
Não respondo. Enzo lava as mãos na pia, e depois começa a cortar as
batatas. Suas mãos se movem rapidamente enquanto ele as corta em
segundos. Levaria três vezes mais se eu estivesse fazendo isso. Ele é tão
talentoso com as mãos e não apenas na cozinha.
— Como foi seu dia? — Ele coloca as batatas fatiadas em uma tigela.
— A entrevista que eu iria fazer com o presidente do sindicato foi
cancelada, mas você já sabe disso. — mandei uma mensagem para ele
durante a tarde, desgostosa com a situação.
— Você está preocupada sobre o aumento do preço das passagens, não
é?
Eu tento pensar em outra coisa para dizer a ele, realmente tentando
evitar a conversa.
— Estou tão decepcionada com tudo. Só queria que as pessoas fossem
honestas. Mas, ninguém parece ser.
Ele solta uma risada profunda que aquece todo o meu interior. Não sei
como ele faz isso, mas Enzo ainda me faz sentir como uma colegial
apaixonada. Borboletas dançam no meu estômago sempre que ele está por
perto.
— Sinto muito, Joana. — Ele volta para mim para dar um beijo na
ponta do meu nariz. – Mas, não sei... A gente pode criar um mundo só nosso,
completamente honesto. Faremos nossos filhos serem pessoas de valor. —
Ele se vira, indo à geladeira pegar os bifes que preparou de manhã.
Eu lambo meus lábios repentinamente secos. Já conversamos sobre
crianças antes, mas nunca dissemos quando ou quantas. São sempre
comentários aleatórios.
— Por que você não me diz o que está pensando agora? Sei que está
viajando na sua mente. — Enzo interrompe meus pensamentos sobre bebês.
— Como você faz isso? — Não sei por que pergunto.
Enzo pode me ler como um livro. Ele está sempre prestando atenção
em tudo que faço.
Ele desliga o fogão, esperando minhas palavras. Eu sei que ele está
certo. De um jeito ou de outro, eu vou falar. E o que me incomoda não é o
tema da maternidade.
— Você sabe... tem um advogado... Edison Magalhães...
Todo o comportamento de Enzo muda. Ele fica um pouco mais alto.
Seus braços se dobram sobre o peito por um momento antes que ele os
derrube rapidamente.
— E?
— Pode não ser nada — tento diminuir a importância da situação. –
Mas eu sinto que... Eu não sei explicar... Eu não gosto da maneira como ele
parece... – Droga! Não queria falar disso ao meu marido. – Às vezes eu acho
que ele está dando em cima de mim – desabo.
— O que ele fez?
— Bem, ele fica me oferecendo um emprego.
— Você não quer este emprego.
Ele não está me perguntando. Enzo sabe que estou desconfortável.
— Que emprego é?
— Nunca perguntei, não faço nem questão de saber, mas ele continua
me pressionando.
— Como se estivesse te forçando? — Enzo dá um passo em minha
direção.
— Pode ser coisa da minha cabeça, mas juro que toda vez que me viro,
ele está lá. Não apenas no trabalho. Às vezes na cafeteria, às vezes no
restaurante, no mercado. Esses dias ele ligou para meu número pessoal.
Silêncio. Sorrio, tentando aliviar o clima sombrio que caiu sobre a
cozinha. Eu sei que Enzo não está chateado comigo, mas com Edison.
— Você está com medo dele?
— Não... Eu tenho um marido que me protegeria – brinco.
— É um fato – concorda.
De repente ele está tão perto que posso sentir sua presença me
dominando. Coloco minhas mãos em seu peito, inspirando-o. Eu sei que meu
toque sempre lhe traz conforto. Ele se inclina para mim.
— Sempre estou de olho em você, querida. Isso te irrita?
Nego.
— Sabe quando nos conhecemos? Na verdade eu a estava seguindo.
Isso te assusta?
A frase me perturba um pouco, mas volto a negar.
O que eu poderia pensar? Ele me viu em algum lugar, enamorou-se e
foi atrás de mim? Era até romântico.
— Estou agradecida pelo dia em que entrou na minha vida. Mas não
sinto o mesmo por aquele advogado.
A mandíbula de Enzo se move.
— Não fique chateado. – peço.
— Não ficar chateado que alguém esteja perturbando minha esposa?
— Eu não quero causar problemas. Não sou esse tipo de mulher.
— Você nunca é um problema, Joana. — Ele se inclina para me
beijar. Envolvo meus braços em volta de seu pescoço, aprofundando o beijo.
Quando Enzo se afasta, sorrio para ele porque sua boca está um pouco
vermelha e inchada pelos nossos beijos.
— Edison não incomodará mais você.
— Mas temos que trabalhar juntos, às vezes.
— Você confia em mim?
— Não precisa me perguntar isso.
Eu confio neste homem com a minha vida. Enzo é meu tudo.
— Vou resolver isso.
Sinto-me boba por não ter contado antes. Claro que meu Enzo cuidaria
disso para mim. Ele faria qualquer coisa por mim.
CAPÍTULO ONZE
ENZO
Enzo foi chamado para trabalhar naquele sábado. Não era costume do
seu empregador reivindicá-lo nos finais de semana, mas ele atendeu a ligação
e prontamente se dispôs a comparecer. Não me disse porque precisava ir, mas
eu respeitei sua saída. Apenas espero que não seja nada importante que o faça
ter que se ausentar por dias. Estamos numa fase nova – e quente – do nosso
casamento. Tudo que quero é usufrui-la o máximo que puder.
Meu corpo ainda está doendo de fazer amor.
Não sei ao certo o que mudou, mas seja o que for, espero que continue
assim. Sinto-me mais perto de Enzo, o que não achei que fosse possível.
Nosso vínculo sempre foi intenso, mas o sexo tornou-o ainda mais forte.
Eu sempre amei Enzo. Desde o momento em que o conheci, ele tem
sido meu tudo. Eu não sabia que poderia me apaixonar mais por ele, mas a
cada dia acho que sim. Ele tirou algo de dentro de mim que não sabia que
estava lá. Provou que realmente fará qualquer coisa para me fazer feliz.
“Você pertence a mim”.
Meus mamilos endurecem, pensando nas palavras que ele me disse.
Pertenço a ele, mas ouvi-lo dizer isso despertou algo profundo dentro
de mim. Vendo o olhar em seus olhos enquanto ele pronunciava essas
palavras de posse, meu mundo inteiro parecia como se tivesse tombado.
Para mim, suas palavras eram tão doces quanto quando ele me disse
que me amava pela primeira vez. Tão especiais quanto quando disse que me
seria fiel e me honraria até que a morte nos separasse. Algumas pessoas
podem não entender, mas é assim que me sinto sobre Enzo.
Me afasto da janela, indo para a cozinha para fazer café. De relance,
vejo o tricô sobre a mesinha de canto.
Nunca vou conseguir fazer essa touca se não começar a trabalhar nela.
O inverno vai acabar antes que Enzo tenha a chance de usá-la.
Bom, conhecendo meu marido, ele ainda a usaria, mesmo que
parecesse horrível. Ele sorriria, me daria um beijo e a usaria até que ela se
consumisse pelo tempo, o que tenho certeza de que não demoraria muito,
devido à minha falta de habilidade em fazer tricô.
Adicionando mais açúcar ao café, vou para a sala de estar para sentar
na poltrona de Enzo enquanto pego as agulhas. Uma batida na porta me faz
virar para olhar o relógio. É muito tarde para alguém estar me visitando.
Minha irmã teria ligado se estivesse a caminho. Meu coração salta quando
corro para a porta.
Não sou tola. Eu já mexi em muito vespeiro nas minhas investigações.
Eu sabia que o sindicato estava incomodado com a minha tentativa de
entrevistá-los sobre o aumento das passagens. Além disso, alguns meses
antes havia recebido ameaças de traficantes.
A preocupação enche meu estômago enquanto meu ritmo cardíaco
aumenta. Abro a porta e vejo Juliano e Fernando ali. São colegas de Enzo na
empresa que ele trabalha. Já os havia conhecido em festas de final de ano.
— O que aconteceu? Onde está Enzo? — Meus olhos se enchem de
lágrimas. — Ele está bem?
— Enzo está bem. — Fernando dá uma cotovelada em Juliano, que me
encara perplexo. — Ela acha que algo aconteceu com o marido. Dois
homens à sua porta tarde da noite nunca é um bom sinal.
Juliano suspira, um riso lhe escapa da boca.
— Desculpe, não quisemos preocupá-la. Enzo ficará muito bravo se
souber que a preocupamos — ele brincou.
— Oh. E o que querem? – indago.
— Estamos aqui para conversarmos com a senhora.
— Me chame de Joana – peço.
Aos poucos, vou recuperando o fôlego. Nunca pensei em perder Enzo
antes, mas vê-los ali diante de mim trouxe-me essa possibilidade. Não sei se é
algo que eu poderia lidar ou pensar naquele momento. Há tanta coisa ruim no
mundo que Enzo é a única pessoa com quem eu sempre posso contar para
colocar um sorriso no meu rosto no final de um dia de merda.
— Por favor, entrem.
Dou um passo para trás, abrindo a porta.
— Vocês podem me fazer um favor e não dizer a Enzo que eu abri a
porta sem perguntar antes quem era? — peço. – Ele é meio super protetor.
Os dois homens se encaram.
— Mentir para Enzo?
Qual a porra do problema? Que tipo estranho de colegas de trabalho.
— Omitir – murmuro.
Enfim, não me preocupo muito com isso. Se eles contassem, o máximo
que aconteceria era Enzo avermelhando minha bunda com tapas. Ele está
sempre tão preocupado com a minha segurança.
— Café? – Mudo de assunto, fazendo sinal para que eles entrem na
sala de estar. Eles vão naquela direção, fechando a porta atrás deles.
— Não, obrigado Joana. — Fernando olha em volta de nossa casa,
seus olhos examinando o local. — Lugar agradável que vocês tem aqui.
Enzo ganha muito bem. Suas comissões são sempre altíssimas. E ele
gosta de viver bem.
— Obrigada. — Sento-me na beira da poltrona.
Os dois se sentam no sofá de frente para mim.
Dobro minhas mãos no meu colo.
— Bem, é sobre o dr. Edison Magalhães — diz Fernando finalmente.
Eu me encolho com o nome do homem.
— Joana, sei que é uma pergunta estranha para dois funcionários de
uma empresa de software de segurança, mas... sabemos que trabalha perto do
advogado, e já cobriu vários casos dele... Então... o Dr. Magalhães já a fez
sentir-se desconfortável?
Eu lambo meus lábios, arqueando minhas sobrancelhas.
— Enzo me falou que a empresa de vocês estava fazendo um novo
software para a polícia. Tem algo a ver com isso?
Eles se entreolharam.
— É melhor você não saber — Juliano destacou.
— Por que então você me pergunta isso? — devolvo.
— Para ser sincero com você, estamos ajudando a polícia, mas
preferimos não falar muito sobre isso. Ocorreu que investigando o cara,
algumas pessoas nos contaram que ele tem uma queda por você. Eles notaram
algum comportamento estranho da parte dele quando se refere a você.
— Edison fez algo errado? — Eu tento não parecer muito esperançosa.
Aquele homem devia estar atrás das grades. Não apenas pelo fato de
ser tão perturbador. Nem pelo jeito que ele me encurralou no meu carro. Ele é
cúmplice de cada crime que ajudou a reverter nos tribunais.
— Nós realmente não podemos discutir isso. — Fernando encolhe os
ombros, parecendo se desculpar.
Então digo a verdade. Sobre Edison parecendo estar em todo lugar que
eu estava. Sua insistência num emprego que recusei. O jeito que ele me
encurralou no estacionamento. Conto tudo, exceto a parte sobre Enzo
jogando Edison em seu carro. Eu não digo isso a eles. Eu não minto, apenas
deixo convenientemente essa parte de lado.
— Há mais alguma coisa que você queira nos dizer? — Juliano
pergunta.
Eles não são policiais. Eu sei que devia estar falando sobre isso com
um policial. Mas, se de alguma forma eu pudesse ajudar naquela investigação
privada, devia fazer. Porém, eram colegas de Enzo e eu não queria deixar
meu marido em uma situação desconfortável no trabalho.
— Para ser sincera, eu realmente não quero falar sobre isso sem Enzo.
— Abaixo a cabeça, olhando para as minhas mãos, fingindo ser tímida e
assustada com tudo isso.
— Compreendo. — Fernando se levanta. Juliano segue o exemplo.
— Obrigado pelo seu tempo. — Juliano acena para mim.
Eu os conduzo até a porta, dizendo adeus e trancando-a atrás deles.
CAPÍTULO DEZENOVE
ENZO
Minha irmã tem azar com os homens. Ela sempre brinca e diz que eu
usei toda a sorte da família quando conheci Enzo, não deixando nada para
ela. Mas, a verdade é que Joaquim enganou a nós duas.
Quando o conheci, achei que fosse um bom rapaz. Contudo, Joseane
me disse que ele estava lhe traindo com uma garota da academia.
Eu queria me sentar ao seu lado e lhe dar todo o conforto, mas minha
mente, de repente, foi tocada pela presença de Juliano e Fernando.
Quando falaram comigo, havia algo a mais nas suas indagações. Como
uma suspeita... mas, não sobre Edison... Sobre mim.
E algo a mais havia me aprofundado desde que eles foram embora.
Palavras de Edison que, na época, considerei como apenas provocações, mas
que agora me tomavam se me deixar: Você sabe com quem se casou, Joana?
Você sabe os antecedentes dele?
Que mulher, em nome de Deus, busca pelos antecedentes do
namorado? Que mulher que vai investigar o noivo? Que vai pedir uma ficha
criminal do marido?
— Eu nunca vou ser feliz, Joana — Joseane murmura, nos meus
ombros.
Dou um abraço apertado na minha irmã.
A ignorância é muitas vezes felicidade. Joseane era feliz com Joaquim
sem saber que ele a traia. Eu sou feliz com Enzo não sabendo nada sobre seu
passado.
O pouco que ele me disse, me deixou claro que era algo que não se
orgulhava.
Então...
Mas...
Havia um problema. Enzo está tramando algo. Eu posso sentir isso.
Não tenho ideia do que é, mas não posso ignorar esse sentimento. E a
constatação disso me faz ter a certeza de que ele está mentindo para mim.
Porém, eu sempre respeitei a sua privacidade. Se ele não queria falar
sobre sua família, seu passado... eu sempre respeitei isso. Contudo... Eu sabia
com quem havia me casado?
O homem com quem dividi os últimos dois anos era maravilhoso. Eu
realmente desejava saber como ele era antes de nós nos conhecermos?
— Estou tão magoada, tão infeliz. Nunca vou conhecer alguém
sincero?
— Claro que vai, Joseane. Você só precisa esperar o tempo certo. As
vezes Deus está te livrando de algo pior.
— Deus? Você ainda acredita em Deus vendo tantas desgraças?
— Por um tempo me deprimi vendo bandidos saindo impunemente da
cadeia. Mas, sabe... de repente está começando a haver justiça. Nos últimos
anos, muitos dos desgraçados que cometeram barbárie e foram soltos,
apareceram...
... Mortos.
— Apareceram o quê? — Joseane insistiu.
— Enfim, eles encontraram a justiça — desconversei.
Desde quando isso começou a acontecer? Dois anos...?
Desde Enzo...
Neguei com a face.
Você sabe com quem se casou, Joana?
Meu sangue começou a ferver.
— Encontraram a justiça? — minha irmã repetiu. — Bem feito!
— Você acha bem feito?
— Se a lei não cumpre seu papel, que alguém o faça. Claro que fazer
justiça com as próprias mãos pode trazer problemas, mas... É melhor que
nada.
Eu nunca pensei nisso assim antes.
— Eu me senti feliz quando alguns deles aparecem mortos —
confessei.
— Não tem nada de errado nisso. Se as leis fossem cumpridas, a gente
não precisaria clamar por justiça pelas próprias mãos. Então, estou feliz que
alguém esteja dando um fim nesses desgraçados, seja lá por que motivo.
Muita gente que foi tema das minhas matérias desapareceu ou acabou
morta. Nunca havia ligado os pontos até então.
Porém, nada é uma coincidência. Quantas vezes meu próprio marido
me disse isso? Quantas vezes ele teve que sair no meio da noite?
Eu balanço os pensamentos da minha cabeça. É por causa trabalho que
ele saí. Claro que ele é chamado no meio da noite. Se um sistema de
segurança dá pau... se chama... os técnicos, não o vendedor...
Como nunca me dei conta disso antes? Por que ele é chamado se não é
ele que os projeta?
Não... não... Por que ele faria isso?
Por mim.
Se eu sei alguma coisa sobre Enzo, é que ele odeia quando estou
chateada. Se algo está me incomodando, o homem tem como missão
consertar isso. Ele me ama mais que tudo. Eu nunca duvidei disso.
Algo em nosso relacionamento mudou nos últimos meses. Uma
conexão mais profunda vem crescendo. Nós dois mostramos lados que
mantivemos trancados dentro de nós.
Eu sorrio.
Estranhamente, ironicamente, horrivelmente... Eu sorrio.
Meu Deus...
Aquele homem é meu tudo. Ele pode ser totalmente inocente, mas
mesmo que fosse culpado, ainda assim que o amaria.
Eu deveria mandar uma mensagem para Enzo.
CAPÍTULO VINTE E UM
ENZO
— Joana.
Ele estava surpreso por me ver. Eu devia estar no apartamento de
Joseane, mas senti que precisava voltar para casa. Pedi perdão a minha irmã e
peguei um Uber.
Não fiquei surpresa ao encontrar a casa vazia. No fundo eu sabia que
ele não estaria lá. Todas as suas mensagens durante a noite foram mentiras.
Um pouco antes de ele chegar, mandei uma mensagem para Bruna:
“Faça um levantamento completo com o documento de identidade
abaixo”.
Estava limpo. Nenhuma mancha, nem mesmo uma multa de trânsito.
Naquele momento, soube que Enzo usava documentos falsos. E percebi
que eu podia enfrentar tudo em nome do meu amor por ele, mas eu precisava
saber a verdade.
Ele cruzou pela cozinha, vindo na minha direção.
— Joana... Eu precisei sair porque...
— Diga-me, Enzo: Amanhã eu verei alguém que conheço estampado
nos jornais, morto?
Ele ficou em silêncio. Aquilo fez meu coração vibrar.
— Enzo, diga-me a verdade. Desde o começo.
Então, vi seu olhar vacilar. Pela primeira vez na vida, parecia fraco.
— Não quero perder você...
— Vai me perder se não dizer tudo. Mas, se me contar... Por pior que
seja, sei que ficarei ao seu lado.
— Não vai ficar... – ele insistiu.
— Eu vou – aproximei-me de meu marido, segurando seus ombros. –
Fale, Enzo. Eu imploro...
Ele largou o celular na mesa da cozinha. Buscou uma cadeira, sentou-
se. O imitei, ficando defronte a ele.
— Você lembra da Black Rose? – indagou.
Eu esperava tudo, menos aquela pergunta.
— A organização que na verdade era apenas uma lenda?
— Não é uma lenda...
As palavras pareciam loucura. Eu passei meses no encalço daquela
organização e tudo deu em nada.
— Eu investiguei muito e descobri que era apenas um boato...
— Você investigou muito e quase chegou à verdade. Porém, antes
disso, fui incumbido de matá-la.
Perdi o fôlego. Segurei-me na madeira da mesa, tentando conter as
lágrimas.
— Você quer dizer...?
— Lucas, meu chefe, é o Pai da Black Rose. Nossa empresa de
software é apenas uma empresa laranja, para lavagem de dinheiro. Eu não sou
um vendedor, sou um dos filhos de Lucas. Ele estava irritado com você,
então ordenou sua morte. Naquele dia que falei que a estava seguindo e você
achou romântico, na verdade não o fazia por amor, e sim porque estava
buscando a melhor forma de te assassinar.
Sua mão cruzou a distância da mesa e segurou a minha.
— Mas, eu me apaixonei. Não sei como, nem porque... Mas, fiquei
louco por você. Então, contei isso a meu pai. Lucas aceitou, contanto que eu
a mantivesse sobre controle. Então, manipulei sua investigação para deixá-la
longe da Rosa Negra.
Entendia tudo até ali. Estava chocada, mas entendia.
— Quem você é? Além dessa coisa da máfia? – questionei.
— Não menti quando disse que cresci jogado de um lado pra outro,
sem família. Fui preso cedo, na verdade várias vezes. Até que numa das
vezes, conheci Lucas. Ele me mudou. Ele me tornou alguém que as pessoas
respeitam.
— E as pessoas que morreram...?
— Sim, fui eu.
— Mas... por quê?
— O que eu posso dizer, Joana? Suas lágrimas pela injustiça me
fizeram agir.
Ali estava eu, segurando meu choro, descobrindo um Enzo
completamente novo. Provavelmente deveria me assustar, mas não sentia
isso. Ele me fazia sentir protegida e amada.
Sou tão doente quanto ele?
— Eu posso te jurar uma coisa, Joana: Nunca matei alguém que não
merecesse morrer. E você sabe disso, porque todos que matei nesses dois
últimos anos foram casos que você investigou.
Silêncio. Não consigo achar palavras, então Enzo segura meu rosto,
inclinando minha cabeça para trás para me beijar profundamente. Eu suspiro
em sua boca. Com um grunhido, Enzo se afasta do nosso beijo.
O medo me enche.
— Você vai me deixar? – ele indaga.
— Não. Nunca. – admito. – Mas, o que será de nós? E quando a
polícia chegar até você?
— A polícia nunca vai chegar até mim, Joana. Eu sou muito bom no
que faço.
Meu celular toca. Estou em choque. Não deveria atendê-lo, mas estou
no modo automático.
— Sim?
— Joana... – Era Bruna. –Edison Magalhães se matou. Uma das
amantes foi vê-lo e encontrou o corpo. Está nos grupos de notícia do
WhatsApp. Você acha que devo ir até a casa dele?
Meu estômago cai.
— Se matou? — Eu repito.
— Eles estão dizendo que ele deixou um bilhete de suicídio. Na carta,
confessa alguns assassinatos. Alguns deles eram seus próprios clientes.
— Isso é... — Eu paro porque não sei como me sinto sobre o que
Bruna está me dizendo.
Meus olhos volvem para Enzo, o verdadeiro assassino.
— Parece que a polícia já estava investigando. Tinha denúncias
anônimas. Há um monte de assassinatos não resolvidos, e eles falavam de um
serial killer. Joana, isso é ouro! Um material desses vai nos dar a melhor
matéria do ano.
Minha mente foca no meu marido. O olhar em seu rosto no dia em que
contei a ele sobre Edison. A raiva que saiu dele naquele dia no
estacionamento.
Desligo o telefone na cara de Bruna.
— Foi você?
— Para te proteger, acho que faria qualquer coisa. – admite sem
rodeios.
Essa é uma coisa que tenho certeza.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
ENZO
Eu não vou perdê-la. Joana é minha âncora nesta vida. Quando a vi,
sabia que a razão da minha existência era amá-la e apreciá-la. As coisas que
fiz foram porque eu queria criar um mundo melhor para ela.
— Você ainda é capaz de me aceitar? Estou sendo completamente
honesto com você.
Minha mão está molhada. Nunca estive mais nervoso.
— Você já matou mulheres?
— Quase nunca. Eu só matei duas mulheres e você conhece o caso de
ambas. Uma amarrava o filho pra ir num baile funk e a outra fez um aborto
numa dessas clinicas clandestinas. Nem sequer foi presa.
Ela assente.
— Lá na sua organização tem mulheres?
— Lucas é casado e não mantêm prostitutas, se é isso que está
perguntando.
— Quero saber se você já fodeu com mulheres quando está longe de
mim.
Eu era um homem completamente novo à sua visão. Entendi que ela
queria saber tudo. E eu estava dando tudo.
— Nunca te traí.
— Tem certeza?
— Eu nunca toquei em nenhuma mulher depois de conhecê-la. A não
ser as mortas.
— E crianças? Você já matou crianças?
— Não! Eu nunca mataria uma criança.
Ela fecha os olhos. Sei que está lutando internamente.
— Eu não posso te perder.
Seu murmuro faz meu coração balançar.
— Você nunca vai me perder, Joana. Eu sempre fui cuidadoso —
asseguro. — E vou continuar a ser.
Por fim, ela faz um movimento positivo com a face. Um enorme
suspiro de alívio me escapa. A puxo para mim, passo a mão nas costas dela
enquanto Joana senta-se no meu colo.
— Como você se sente ao saber de tudo?
— Não sei dizer. Culpa, talvez?
— Culpa?
— Porque, para mim, é reconfortante saber que existe alguém por aí
que cuida das coisas. Na verdade, eu estava pensando em deixar meu
emprego porque é muito frustrante ver as pessoas saírem impunes depois de
cometerem crimes hediondos. Não é justo.
— Não. Não é. — Eu a abraço com força.
Estamos do mesmo lado.
— Eu não quero te perder – ela soluça, repetindo a frase.
Coloco um dedo nos lábios macios de minha esposa.
— Eu não estou indo a lugar nenhum. Eu sou cuidadoso. Muito
cuidadoso.
— Nem sempre haverá um Edison para levar a culpa — ela sussurra.
Solto uma gargalhada.
— Sempre há um Edison, infelizmente. Sempre há alguém que coloca
o dinheiro acima de tudo.
Seus braços sobem para envolver meu pescoço.
Pressiono meus lábios no topo da cabeça dela.
— Não se arrisque, mas torne o mundo um lugar mais seguro. – ela
pediu.
Manter-me-ei fiel às suas palavras, ao seu doce desejo. Nosso amor é
imundo. Não me importo.
Não há espaço para culpa entre Joana e eu. Jamais haverá.
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Josiane Biancon da Veiga nasceu no Rio Grande do Sul. Desde cedo, apaixonou-se por
literatura, e teve em Alexandre Dumas e Moacyr Scliar seus primeiros amores.
Aos doze anos, lançou o primeiro livro “A caminho do céu”, e até então já escreveu mais
de sessenta livros, dos quais, vários se destacaram em vendas na Amazon Brasileira.
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