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Copyright © 2023 Kel Costa

Capa e diagramação
Kel Costa

Revisão
Raquel Moreno

Texto em conformidade com as normas do novo acordo ortográfico


da língua portuguesa (Decreto Legislativo Nº 54 de 1995).

1ª edição – 2023

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial,


de qualquer forma ou por qualquer meio, mecânico ou eletrônico,
incluindo fotocópia e gravação, sem a expressa permissão da
autora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei
nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
- playlist
- sinopse
- capítulo um
- capítulo dois
- capítulo três
- capítulo quatro
- capítulo cinco
- capítulo seis
- capítulo sete
- capítulo oito
- capítulo nove
- capítulo dez
- capítulo onze
- capítulo doze
- capítulo treze
- capítulo quatorze
- capítulo quinze
- capítulo dezesseis
- capítulo dezessete
- capítulo dezoito
- capítulo dezenove
- capítulo vinte
- capítulo vinte e um
- capítulo vinte e dois
- capítulo vinte e três
- capítulo vinte e quatro
- capítulo vinte e cinco
- capítulo vinte e seis
- capítulo vinte e sete
- capítulo vinte e oito
- capítulo vinte e nove
- capítulo trinta
- capítulo trinta e um
- capítulo trinta e dois
- capítulo trinta e três
- capítulo trinta e quatro
- capítulo trinta e cinco
- capítulo trinta e seis
- capítulo trinta e sete
- capítulo trinta e oito
- capítulo trinta e nove
- capítulo quarenta
- capítulo quarenta e um
- capítulo quarenta e dois
- capítulo quarenta e três
- capítulo quarenta e quatro
- capítulo quarenta e cinco
- capítulo quarenta e seis
- capítulo quarenta e sete
- capítulo quarenta e oito
- capítulo quarenta e nove
- epílogo
- capítulo bônus
- conversinha
- agradecimentos
- quem é kel costa?
- meus livros
O livro é repleto de músicas selecionadas especialmente para cada
um dos momentos em que aparecem. Você pode ouvir a playlist na
Apple Music ou abri-la no Spotify.
AVISO DE GATILHO: Algumas cenas deste livro podem ser
consideradas mais fortes e desencadear gatilhos em pessoas
sensíveis a narrativas que envolvam o estupro e suas
consequências psicológicas.

Mason Johnson é o típico jogador de futebol americano


popular, que consegue sair com a garota que quiser, que nunca
recebe um “não”, que está sempre cercado de muitos amigos, vive
nas festas e aproveita o máximo possível sua vida universitária.

Hazel Mackenzie é uma atleta disciplinada desde a infância e


agora, é uma das integrantes da ginástica artística da UCLA, e tudo
que deseja é apenas se dedicar à faculdade e ao esporte, sem
precisar se envolver com ninguém.

Mas por obra do destino, a criação de um novo projeto da


universidade os obrigará a passar alguns meses juntos, conhecendo
um pouco a vida acadêmica um do outro.

Ele tem vinte e dois anos e quer o mundo aos seus pés.
Ela tem vinte e um e quer distância de jogadores de futebol.
Mason a enxerga como o maior desafio de sua vida.
Hazel tem certeza de que ele é um grande babaca.
Ele não tem nada a perder.
Ela tem traumas que não quer trazer à tona.

Mason e Hazel nasceram mesmo para serem eternos inimigos


ou o futuro astro da NFL conseguirá abrir caminho para o coração
quebrado da garota?
[ para todas as garotas que precisam ser fortes todos os dias ]
Mason Johnson
Guardei a chave no bolso depois de acionar o alarme e trancar
as portas, apesar de não ser o dono do automóvel que tinha
estacionado de qualquer jeito ali na frente da lanchonete. Não tinha
culpa, não encontrei nenhuma vaga decente porque a única que eu
podia ter usado tinha sido inutilizada porque algum idiota parou a
porra de um patinete elétrico de forma displicente.
Se meu melhor amigo estivesse comigo, reclamaria da minha
decisão e infernizaria minha vida até que eu encontrasse um outro
lugar para estacionar, mas Josh passava quase todo o tempo livre
com a minha irmã — e eu tinha certeza de que ela estava sugando
toda a energia vital dele.
De qualquer forma, eu não podia reclamar. Pelo menos, ele me
emprestava sua BMW potente sempre que eu precisava, e quando
isso acontecia, eu ainda conseguia descolar umas gatas que curtiam
carros luxuosos. Não que fosse necessária qualquer ajuda para que
pudesse terminar minhas noites entre as pernas de alguma mulher,
dava conta desse objetivo sozinho e nunca me faltava um corpo
macio e quente na cama. Porém, era sempre bacana transar dentro
de uma máquina potente como aquela, tornava tudo mais
emocionante.
Entrei na lanchonete e avistei Bryan e Noah sentados na nossa
mesa de sempre, rindo de alguma idiotice que Thomas gesticulava.
Acenei para eles, mas me dirigi direto ao balcão, debruçando-me ali
e estendendo a mão para McConnor.
— E aí, mano? — cumprimentei David, que era um dos
atendentes da noite. — Como estão as coisas?
— Uma belezinha. — Ele sorriu, batendo a mão na minha. —
Quer o de sempre?
— Sim — respondi, morto de sede, batucando no balcão. —
Prefere que eu espere ou você leva pra mim?
— Com licença. — Ouvi uma voz bonita, mas o som não
condizia totalmente com a visão que tive. — O que está fazendo?
Havia uma garota de, não sei, talvez um metro e meio, me
lançando um olhar assassino com um braço apoiado no balcão. Eu
sempre olhava com muita atenção para cada donzela que aparecia
diante de mim, principalmente, quando se tratava de um rosto que eu
ainda não conhecia, afinal de contas, podia ser uma conquista em
potencial. Portanto, dei uma conferida no visual, notando o conjunto
de moletom preto muito largo e muito over, um par de tênis branco
que não era mais branco de tão encardido, e uma espécie de rabo
de cavalo que parecia ter sofrido um ataque de enxame de abelhas.
Apenas os olhos eram bonitos demais, num tom médio de azul, mas
a expressão enfezada indicava que não valia a pena perder meu
tempo.
— Não sei se reparou, mas eu sou a próxima da fila. Está na
minha vez. — Ela gesticulou por cima de seu ombro. — E adivinha?
Tem outras pessoas esperando.
Sim, existia uma fila de duas pessoas, sendo apenas a própria
garota e mais um rapaz que me encarava de um jeito encantado.
Provavelmente, um fã.
— Sou cliente vip aqui — respondi, levando a mão ao peito. —
Dave já sabe o que costumo pedir, não vai demorar.
— Como é que é? — A garota franziu a testa e cruzou os
braços.
Ela queria mesmo arrumar confusão por causa de uma fila? Eu
olhei mais uma vez ao nosso redor, notando que o garoto não
parecia incomodado com minha atitude, que para falar a verdade,
era costumeira e ninguém se alterava porque McConnor sempre me
servia bem rápido.
Mas aquela não era uma noite propícia para me estressar com
ninguém. Eu estava em paz e só queria bater um papo com meus
amigos. Sendo assim, pensei em algo que poderia tirar o foco da
briga que ela queria arrumar.
— Escuta, quer um autógrafo? — perguntei, encolhendo os
ombros e sorrindo. — Isso vai te fazer feliz, não acha?
Debrucei-me sobre o balcão até alcançar a caneta que estava
perto do caixa e a levei à boca, puxando a tampa com os dentes e
encarando a menina.
— Qual o seu nome? Quer que eu rabisque seu moletom?
— Eu estou cagando pro seu autógrafo, só quero o meu
sanduíche — declarou, arqueando a sobrancelha e se virando para
encarar Dave. — Vai mesmo tirar o pedido dele antes do meu? Qual
o nome do seu gerente?
— É rapidinho... — murmurou McConnor, com um sorriso sem-
graça.
— Se é tão rápido, ele pode esperar na fila. — A louca virou o
rosto para mim. — Eu esperei só dez minutos.
Ela estava de sacanagem com a minha cara, né? Eu ainda
segurava a caneta quando olhei na direção da mesa dos meus
amigos, procurando por qualquer sinal de que tinham armado uma
pegadinha comigo, mas pareciam muito entretidos numa conversa.
Se fosse armação, certeza de que já estariam gargalhando da minha
cara e não perderiam a oportunidade de filmar a cena ridícula que eu
estava vivenciando.
— Eu... — Dave gaguejou, intercalando olhares entre nós dois.
— Você sabe quem eu sou? — perguntei, inclinando-me e me
aproximando mais da irritadinha. — Tem certeza de que não quer um
autógrafo? Ou uma foto?
— Sei, sim. — Ela sorriu, mas era uma expressão bastante
debochada. — Existe alguma mulher nesse campus que não saiba
quem você é?
— Ah! Entendi. — Prendi a risada e suspirei, tocando o queixo
que ela empinou por conta da nossa diferença de altura. — Sabe, eu
tenho predileção por garotas mais altas, mas posso abrir uma
exceção pra você. Basta me dar um tempinho pra ficar um pouco
com meus amigos e, depois, a gente sai pra curtir melhor a noite.
Ali estava a reação que eu sempre causava. Olhos arregalados,
rostinho vermelho e lábios entreabertos. Confesso que, às vezes, era
cansativo. Como agora, que eu só queria me divertir comendo um
sanduba e bebendo com a galera, mas precisava cumprir meu dever
cívico e manter a comunidade feminina feliz e satisfeita.
A menina ficou sem piscar por alguns segundos, até que
estreitou os olhos e fui notando uma mudança estranha em sua
expressão.
— Que nojento — declarou, torcendo o nariz e me olhando da
cabeça aos pés. — Acha que toda garota é obrigada a ouvir você
cagar pela boca?
Recebi um tapa violento na mão e parei para refletir e assimilar
aquela reação da baixinha, porque não era o que costumava
acontecer. Até mesmo o garoto que esperava na fila, atrás dela,
estava pálido e boquiaberto, porque obviamente, ela era louca. Será
que eu estava dormindo e aquilo era um pesadelo? Talvez fosse a
explicação mais plausível para aquela situação, então bastaria
acordar e tudo ficaria bem.
Eu não era qualquer pessoa e, sim, o running back[1] do Bruins,
time de futebol americano da UCLA e um dos jogadores com melhor
desempenho nas últimas três temporadas. Minha fama dentro e fora
do campo ia bem longe e eu só perdia em popularidade para Bryan,
o nosso quarterback[2]. As garotas faziam fila e arrisco dizer que até
mesmo os garotos gostariam que eu curtisse um pouco de pau para
poderem me pegar.
Puxei na memória quando havia sido a última vez em que levei
um fora e não consegui lembrar. Pelo menos, não durante minha
estadia na universidade.
— Eu a ofendi de alguma forma? — perguntei, sondando o
território, colocando um sorriso mais bonito nos lábios. — Por que
não me diz seu nome?
Merda, havia esse pequeno problema, uma probabilidade de eu
já ter transado com a menina e não me recordar. Então, toda a raiva
dela podia ser consequência disso, pois não seria a primeira vez que
uma confusão dessa acontecia. Eu tinha mesmo dificuldade de me
lembrar dos nomes e rostos de todas.
— Meu nome é “não te interessa” — respondeu a ranzinza,
voltando-se para Dave e fazendo uma grande mecha de cabelos se
soltar da bagunça que era aquele rabo de cavalo, o que só a deixou
com um aspecto pior. — Desisto do pedido. Já entendi que o futebol
tem prioridade aqui. Prefiro procurar outro lugar.
Então, a garota saiu da fila e marchou com força naqueles pés
pequenos, em direção à porta, empurrando a maçaneta com o
próprio corpo. Como estávamos numa quinta-feira e a lanchonete
possuía um movimento razoável naquele horário, foram várias as
cabeças que se viraram na minha direção depois do grande show da
pequena garota.
Controlando a minha vontade de ir atrás dela e esganar seu
pescocinho, apenas me aproximei da porta e observei quando a filha
da mãe montou a porcaria do patinete e saiu pilotando aquele
negócio patético como se estivesse numa Ferrari.
— Cara... Acho que você acabou de manchar seu histórico —
murmurou Bryan ao meu lado, passando um braço pelos meus
ombros. — Não acompanhei a discussão, mas foi impressão minha
ou aquela garota deu um belo fora em você?
— Tive zero interesse por ela — respondi, sem controlar a
risada. — Como poderia levar um fora de alguém que não queria
pegar? Aliás, quem é a louca?
— Não sei. Uma desconhecida qualquer.
— Caloura?
Bryan encolheu os ombros antes de me dar um tapinha nas
costas e voltar para a mesa. Ainda olhei mais uma vez para a rua,
mas ela já tinha sumido e eu senti meu corpo estremecer de leve, só
de pensar que, por muito pouco e para evitar aborrecimentos, eu
quase cogitei ir pra cama com aquela ranzinza. Precisava beber e
brindar por ter me livrado de uma possível dor de cabeça, isso sim.
Hazel MacKenzie
Prendi o último grampo para manter o coque no lugar e saí do
vestiário, alongando o pescoço no caminho para o ginásio. Precisava
treinar uma nova sequência nas barras assimétricas[3] e hoje não
estava sendo o melhor dos dias para mim, pois tive um pesadelo que
não me deixou dormir pelo resto da madrugada. Não era algo
frequente, não nos últimos anos, mas ainda acontecia vez ou outra e
quando eu não conseguia controlar, perdia algumas horas de sono
até conseguir relaxar e voltar a dormir.
— Aí está você! — Sidney vinha no sentido oposto e deu uma
corridinha até me alcançar, passando um braço pelos meus ombros.
— Já ia te chamar. A Suzy quer todas nós reunidas para dar um
recado.
— É mesmo? Alguma ideia do que seja?
— Não deve ser nada muito importante — respondeu minha
melhor amiga, encolhendo os ombros. — Pela cara dela, não parece
ser nenhuma má notícia.
Suzy Miller era a treinadora da ginástica artística[4] feminina da
UCLA. Era uma mulher negra de trinta e cinco anos, que tinha sido
atleta de elite[5] e participado de duas Olimpíadas, e há algum tempo
comandava a equipe universitária. A gente se dava muito bem, mas
na verdade, eu considerava impossível alguém não gostar dela.
Além de servir de inspiração para todas nós e guardar uma medalha
olímpica de ouro em casa, ainda era como uma irmã mais velha para
a maioria.
— Não posso dizer o mesmo de você, né, princesa? —
debochou Sidney, estreitando os olhos para mim. — Dá para
perceber singelas olheiras nesse rostinho. Não dormiu direito? —
Neguei, sem entrar em detalhes. — Se eu não te conhecesse bem,
perguntaria se está de ressaca.
Soltei uma gargalhada e envolvi a cintura da garota que era só
dois centímetros mais baixa do que eu. Minha história com Sid era
curiosa, bem coisa do destino mesmo. Nós duas nascemos em
Dayton, cidade localizada no estado de Ohio, e nos conhecemos aos
quatro anos de idade, por ingressarmos quase ao mesmo tempo nas
aulas de ginástica artística. Foi muito fácil nos tornarmos grandes e
melhores amigas, sempre compartilhando o amor pelo esporte.
Mesmo quando ela foi para a elite e entrou para a seleção, nada
entre nós mudou. Por diversos motivos, eu fiquei para trás e não tive
a mesma capacidade que Sidney, mas torcíamos uma pelo sucesso
da outra.
Aos quinze anos, chegou a participar das Olimpíadas do Rio,
mas voltou para casa sem nenhuma medalha, mantendo o sonho de
competir novamente em 2020. No entanto, por conta de algumas
lesões no ano anterior que resultaram numa queda de seu
rendimento, ela já sabia que não seria escalada. Naquela época, eu
era caloura na Universidade de Arkansas e já integrava a equipe de
ginástica dos Razorbacks, e dei muito apoio a Sidney quando ela
decidiu que ingressaria na UCLA e seria o novo nome do Bruins.
A gente se encontrava com frequência durante o campeonato
do College da NCAA[6] e dessa forma, a saudade nunca ficava tão
grande. Porém, tudo mudou quando eu consegui transferência para
a UCLA e pude começar a vestir o collant azul. Sidney e eu não
poderíamos estar mais felizes e eu me sentia muito sortuda porque
sempre quis competir por uma das universidades que possui mais
vitórias na ginástica.
Descemos os degraus até a quadra onde ficavam os aparelhos
e colchonetes e nos sentamos ao lado das outras meninas que
aguardavam. Suzy vestia seu tradicional uniforme preto e estava
sentada diante de nós, conversando com Paige, a ginasta mais velha
da nossa equipe.
Fui transferida em setembro, no início daquele ano letivo, então
só tinha mais ou menos cinco meses de convivência com as garotas,
mas me senti muito acolhida quando cheguei em Los Angeles. No
entanto, sentia que com Paige existia um pouco mais de dificuldade
de interagir, pois ela parecia não gostar muito da minha cara. Até
cheguei a pensar que fosse de sua personalidade ser mais fria e
distante, mas aos poucos, percebi que com as outras meninas ela
agia normalmente, o que me causava ainda mais estranheza.
— Bom dia, equipe — disse Suzy, apoiando a prancheta nas
pernas e cruzando os braços. — Como vocês estão?
Várias respostas se cruzaram, todas indicando que estava tudo
bem, enquanto Paige se levantava para sentar perto de nós. Ela
notou que eu a observava e deu um sorriso seco antes de virar o
rosto na direção da treinadora e ajeitar a postura.
— Eu as chamei para conversarmos antes de iniciarmos o
treino, porque tenho uma notícia para dar a vocês — declarou,
deixando a todas ansiosas. — Por conta da alta taxa de alunos em
depressão, registros de brigas pelo campus, a crescente busca por
psicólogos na clínica estudantil, e diversos outros motivos que vocês
sabem que existem aqui, a universidade está iniciando um programa
que visa integrar as comunidades de alunos, com a intenção de
combater o bullying, aproximar as pessoas, espalhar empatia pelo
próximo, enfim, tentar melhorar a vida de vocês.
— Uma boa maneira de nos tirar da depressão é fazer
novamente o lance do calendário com os rapazes do futebol —
murmurou Ava, movendo os pés para cima e para baixo enquanto
mantinha as pernas completamente esticadas à frente do corpo.
— Prefiro o time de basquete — retruquei, piscando para ela.
— Amiga, eu tenho um metro e cinquenta e um — sussurrou,
rindo. — Aquele Vince, com um e noventa e oito, nem preciso me
ajoelhar pra...
— Garotas! — Suzy chamou nossa atenção. — Também acho
as bundas atléticas incríveis, mas podemos falar disso em outro
momento? O programa se chama Unit e propõe o compartilhamento
de experiências intercursos. É facultativa a participação, mas para
explicar rapidamente, digamos que um aluno de Engenharia pode se
inscrever e ser adotado por um aluno de Direito, para conviver com
ele durante dois meses.
— Como um intercâmbio? — perguntou Abby Rice, nossa
caçula.
— Parece que sim — respondeu Suzy, encolhendo os ombros.
— A parte chata é que a universidade precisa de quem dê o exemplo
e incentive que os alunos se engajem com o Unit. Portanto, decidiu
que seus atletas sejam os porta-vozes do programa. A integração, no
nosso caso, é obrigatória e será feita entre equipes esportivas.
Houve um sorteio e fomos combinados com o futebol americano.
— Todo mundo precisa participar? — Sidney fez a pergunta que
eu estava quase fazendo. — Porque isso vai atrapalhar bastante
nossos treinos, não vai? Ninguém quase tem tempo sobrando, como
faremos pra dar conta de mais uma atividade?
— Apenas um atleta de cada equipe vai participar do Unit —
explicou Suzy. — E a universidade achou melhor que fosse baseado
num sorteio. Sendo assim, já tenho o anúncio da nossa integrante
que passará dois meses no programa.
Todo mundo ficou em silêncio porque eu tinha quase certeza de
que nenhuma de nós desejava ser a infeliz sorteada. A ideia do Unit
parecia bem legal, mas para quem quisesse viver esse tipo de
experiência. Talvez se eu não passasse meus dias tentando fazer
milagre com meu tempo quase escasso, quando ainda precisava
focar no campeonato que em breve começaria, eu até me animaria a
me inscrever para conhecer um pouco mais de algum outro curso.
— Já deixo claro que o sorteio não foi feito por mim e, sim, pela
comissão estudantil — anunciou Suzy, soltando um suspiro. — Eu,
de verdade, acho um absurdo ocupar qualquer uma de vocês com
esse programa, mas infelizmente, Hazel, foi o seu nome que saiu no
sorteio.
— Eu?
Suspiros de alívio foram seguidos de várias cabeças se virando
na minha direção. Senti o sangue deixar meu rosto e minhas mãos
esfriarem imediatamente. Só podia ser ironia do destino. Justo eu?
Sidney, ao meu lado, apertou minha mão e trocou um olhar
comigo antes de se virar para Suzy.
— Posso trocar de lugar com a Hazel? — perguntou, me
surpreendendo e me fazendo puxar a mão para que parasse. — Meu
sonho é entender um pouco mais sobre futebol e...
— Não pode, Sidney. — A treinadora encolheu os ombros e nos
lançou um sorriso frustrado. — Eles enfatizaram exatamente essa
regra, ou isso abriria uma lista de exceções.
— Está tudo bem, Sid — murmurei para tentar não preocupá-la
tanto. — Não é o fim do mundo.
— Então, meninas, recado dado, certo? — Suzy se levantou,
colocando a prancheta debaixo do braço e batendo as mãos nas
pernas da calça de lycra. — Hazel, assim que eu receber todas as
informações, passo pra você. Agora, vamos treinar.
Assenti para ela e retribuí o abraço de Sidney, que deu um
tapinha na minha bunda e um beijo no meu rosto, antes de sussurrar:
— Sabe que estarei sempre pronta pra quebrar os dentes de
qualquer filho da mãe, principalmente se for um jogador de futebol.
— Eu sei, e muito obrigada por isso — respondi, dando uma
risadinha. — Mas eu vou ficar bem. Prometo.
Ela piscou para mim ao me soltar e se afastar, se dirigindo ao
meio da quadra aos pulinhos. Respirei fundo e contei até dez,
esperando me sentir bem e confiante o suficiente para começar meu
treino. Eu tinha vinte e um anos e estava na faculdade para levar
uma vida normal. Oito anos de terapia precisavam servir para
alguma coisa, afinal de contas. Não seria um bando de marmanjo
uniformizado que atrapalharia meus planos.
Mason Johnson
— Ah, isso é muito errado... — minha irmã estalou a língua
antes de beber sua água, já que a gravidez a impedia de encher a
cara como gostava. — É tipo deixar um leão solto numa jaula cheia
de filhotes de lindos cervos.
— Vai ser sangrento — murmurou Bryan, com um sorriso
debochado. — Não vai sobrar um Bambi pra contar a história.
— Tem certeza de que sortearam o seu nome, Mason? —
perguntou Josh, o filho da puta que eu considerava meu melhor
amigo, mas que agora comia minha irmã e seria pai da minha
sobrinha. — Não foi você que roubou?
Ergui meu dedo do meio e o girei para todos os lados da mesa,
na cara dos idiotas. Estávamos bebendo no lugar que a gente curtia
e que tocava música boa ao vivo, porque Olivia nos arrastou até lá,
dizendo que estava pegando o guitarrista da nova banda da casa. A
infeliz gostava de músicos, isso estava bem óbvio, mas ela não
precisava cantar a porra de todas as músicas, bem no nosso ouvido,
considerando que tinha a voz mais pavorosa do universo.
Naquele instante mesmo, quase fiquei surdo, porque recebi um
grito bem dentro do meu tímpano. Ela era a melhor amiga da minha
irmã mais velha, então eu não tinha muito o que fazer a respeito de
sua companhia quase integral. Quando alguns dos meus amigos a
conheceram, até tentaram me empurrar para cima dela, mas eu e
Olivia nunca aconteceria, porque eu realmente possuía sentimentos
fraternais por ela e sabia que o pensamento da garota era recíproco.
No entanto, assim como muitas vezes eu sentia vontade de matar
Mia, o mesmo valia para a peste da Olivia.
— Vocês acham, de verdade, que eu estou curtindo a ideia de
virar a babá do time? — perguntei, vendo todos rirem da minha cara.
— Qual é a graça?
— Considerando que você tem um neurônio e meio, tenho pena
da pobre menina que vai ter que andar contigo. — Mia encolheu os
ombros e jogou um beijinho no ar.
Que merda, caralho. Eu estava era puto, isso sim. Naquela
manhã, nosso técnico nos reuniu para contar sobre um projeto da
UCLA, o tal do programa Unit, que um bando de velho e corno
decidiu criar para transformar a comunidade estudantil numa versão
diferente de Woodstock. Parece que eu fui o contemplado para me
unir com uma ginasta durante dois meses e trocar conhecimento e
experiência a troco de nada.
Estavam zombando da minha cara, mas ninguém do time
queria essa merda em cima da própria cabeça. A gente já tinha
responsabilidade demais e tempo de menos para precisar lidar com
o fato de que uma garota estaria seguindo um de nós para todos os
cantos. Eu nem sabia direito como funcionaria, mas tinha certeza de
que não seria agradável.
A não ser que pudéssemos transformar esse martírio em algo
prazeroso para os dois. E isso eu só saberia quando visse a pessoa
que foi selecionada para mim. Não conhecia a equipe de ginástica da
UCLA, nem o lado masculino, nem o feminino. Eles não costumavam
ser tanto de farra como a galera do basquete e do polo aquático, por
exemplo, que acabavam se misturando conosco em alguns eventos.
Por isso, eu não fazia ideia se ficaria grudado numa grande gostosa
ou em alguma esquisita, e essa informação teria muita interferência
no meu humor.
— De uma coisa eu tenho certeza — disse Noah, debruçando-
se na mesa e erguendo a garrafa de Heineken. — Mason vai cumprir
direitinho o protocolo sobre integração. Ele vai mesmo se misturar
bem, talvez até demais.
— É um dom. — Encolhi meus ombros. — Não tenho culpa se
as garotas são tão receptivas comigo.
— Deu sorte de não cair com a galera do basquete. Dizem que
o vestiário deles fede a cueca suja — provocou nosso quarterback.
— Já esteve lá pra saber, Bryan?
— Vai se foder, Mason!
— Quantos anos vocês têm mesmo? — perguntou Mia,
fazendo uma careta. — Eu sei que há uma boa diferença de idade
entre a gente, mas às vezes, me preocupo que você ainda não tenha
saído da adolescência.
— E o seu namoradinho é muito adulto, né? — retruquei, vendo
Josh revirar os olhos.
— Estou quieto na minha, não enche.
Estava prestes a proferir um xingamento para o idiota, quando
Olivia gritou mais uma vez ao meu lado e eu fiquei tonto com aquela
agressão. Acabei me levantando para ir ao banheiro e, talvez assim,
deixar que meus ouvidos tivessem uma folga de alguns minutos.
Acabei de puxar o zíper da calça e acionei a torneira da pia
para lavar minhas mãos, quando vi pelo espelho o armador do time
de basquete passar pela porta e me cumprimentar com um aceno de
cabeça.
— E aí, Johnson? Tudo bem?
— Sim, normal — respondi, secando minhas mãos enquanto
Anthony começava a mijar. — Me diz uma coisa. Chegou até vocês a
informação sobre um tal programa chamado Unit?
O armador riu, balançando a cabeça e estalando a língua.
— Nem me fala dessa merda. Fui o sorteado da equipe e vou
acompanhar a porra de um jogador de golfe.
— Puta merda...
— Pois é. — Anthony suspirou. — E o futebol, caiu com quem?
— Ginástica artística — respondi e o cara se virou,
aproximando-se para lavar as mãos, me encarando como se tivesse
nascido um chifre na minha testa. — Feminina.
— Está de sacanagem, né? Ginastas? — Sua sobrancelha se
arqueou quando ajeitou a postura de seus quase dois metros de
altura. — Você vai ficar no meio de um monte de garota de maiô
enfiado na bunda e eu vou seguir um babaca riquinho que joga
golfe?
Por um instante, eu pensei em todo o rancor que estava
sentindo a respeito daquela ideia idiota de programa, então o engoli
em silêncio e me senti aliviado. Estava reclamando sem motivos,
porque golfe, isso sim seria um inferno. Quem gostava dessa merda?
— A vida é injusta, cara — comentei, dando um tapinha no
braço de Anthony e me afastando. — Sinto muito...
Quando deixei o banheiro para trás, algo diferente parecia
crescer em meu peito e não estava me referindo à azia. Alcancei as
duas mesas unidas para comportar todos nós e encarei meus
amigos, sentindo um sorriso florescer nos meus lábios.
— Ginastas usam maiôs o tempo todo?
— Quê? — Bryan franziu a testa.
— Maiôs... Elas usam? Tipo, não é só durante as competições?
— Acho que o termo certo é collant — disse Mia, estreitando os
olhos. — Por que ficou tão interessado nisso agora?
O que tinha sido informado para mim naquela manhã é que eu
precisava passar no mínimo três horas semanais com o outro
integrante, dentro do espaço acadêmico, sendo supervisionado pelo
responsável pelas respectivas equipes. Mas ninguém me avisou que
as garotas se vestiam com maiôs... ou collants, tanto faz. Isso
significava que eu veria um monte de bundinha bonita por algumas
horas na semana?
— Eu sei exatamente o que você está pensando e devo dizer
que é um belo filho da puta — zombou Bryan, erguendo sua cerveja
para mim. — Mas eu pensaria a mesma coisa.
— Pois é. — Assenti, sentindo o olhar da minha irmã fuzilar
minha testa. — Sabe o que me lembrei? Preciso estar bem cedo no
escritório da comissão organizadora do Unit para ser apresentado à
minha ginasta, então, acho melhor ter uma bela noite de sono.
— A pobre coitada não é sua, Mason — alfinetou Josh,
sorrindo. — Você usou o pronome errado, mano.
— Isso é algo que eu ainda irei decidir, dependendo da
aparência dela. — Pisquei e recebi um tapa de Bryan, que se
inclinou para perto de mim e me mostrou seu celular aberto no
Instagram.
— Este é o perfil da equipe de ginástica. Quem será ela?
Peguei o aparelho de sua mão e conferi algumas fotos,
tentando dar zoom para apreciar melhor o conteúdo, mas os gritos
de Olivia acabaram tirando a minha concentração e quase deixei o
telefone do quarterback cair no chão.
— Vou esperar pra descobrir amanhã — avisei, devolvendo-o
ao dono e esticando os braços acima da cabeça para me alongar. —
Estou me sentindo ansioso. Podem ser dois meses frustrantes ou
dois meses de sexo delicioso.
— Tomara que o seu pau caia pra deixar de ser nojento —
Olivia gritou no meu ouvido antes de dar um tapa na minha nuca. —
Por que o seu irmão é assim, Mia? Como pode ele ter sido o
espermatozoide vencedor?
Enchi minha mão com o amendoim que estava na travessa
sobre uma das mesas e despejei tudo dentro do decote da infeliz,
que soltou um gritinho enquanto as bolinhas escorregavam para
dentro do sutiã. Então, me levantei, puxei dinheiro do bolso e deixei
as notas perto da garrafa vazia, jogando um beijo para Mia e dando
um peteleco na orelha de Josh.
— Vou pra casa, pois não quero acordar de ressaca — avisei.
— Será que devo fazer a barba?
Quando Bryan e Noah me mostraram o dedo do meio, resolvi
sair logo dali e ir me preocupar com o que realmente importava. Era
óbvio que todas as garotas me conheciam e as ginastas não ficariam
atrás, mesmo assim, sabia que precisava causar uma ótima primeira
impressão, porque se não desse certo com a integrante designada
para mim, eu ainda teria uma equipe inteira para me aventurar. Pela
primeira vez desde que recebi a notícia, estava realmente animado
para participar desse programa Unit.
Hazel MacKenzie
Comecei na ginástica artística aos quatro anos porque minha
mãe achou que seria bom praticar uma atividade física desde
criança, de forma que me desenvolvesse bem em diversas áreas da
minha vida. O que meus pais sempre me contavam é que eu detestei
as aulas nas primeiras semanas e implorava para que não me
levassem para o ginásio, mas que não demorou para que eu
começasse a parecer mais entusiasmada à medida que também
passava a falar sobre minha nova amiga.
Não são lembranças que eu possuo, só consigo ter
recordações mais concretas a respeito disso, a partir dos meus sete
anos. Era apaixonada pela ginástica e me tornei extremamente
disciplinada, tanto dentro quanto fora do ginásio. Com o passar do
tempo, a coisa mais certa que eu e Sidney tínhamos em mente era a
de que um dia faríamos parte da seleção do nosso país e
competiríamos juntas nas Olimpíadas.
Eu nunca fui o tipo de criança que dava trabalho, também me
transformei numa pré-adolescente tranquila. Gostava muito de
estudar, porque meus pais sempre foram muito claros comigo a
respeito disso e eu sabia que a carreira de uma ginasta de elite era
bem curta. Sabia que precisava me dedicar no colégio, tirar notas
altas, ter capacidade de ingressar numa boa faculdade quando
chegasse o momento. Ao mesmo tempo, também me dedicava o
máximo possível aos meus treinos e minha futura carreira.
Foi dos doze para treze anos que minha vida mudou
drasticamente e eu perdi meus sonhos. Sidney seguiu os dela como
tinha que ser, mas eu passava por uma fase sombria demais para
conseguir me concentrar em qualquer coisa que não fosse a
obrigação de acordar para ir à escola.
Cheguei a ficar um tempo sem falar direito com a minha melhor
amiga, foi uma época em que nossa amizade quase se desfez,
porque eu não me abria com ela, que não sabia o que estava
acontecendo e acreditava que eu a repelia gratuitamente.
Não me lembro exatamente quando foi que a chave dentro de
mim virou e eu entendi que precisava de ajuda. As coisas
começaram a melhorar quando passei a encontrar semanalmente
com a Sra. Thompson, minha psicóloga, e ela me arrancou, devagar,
de dentro daquele inferno de buraco. Não conseguiu me tirar sem
impedir que se formassem as diversas cicatrizes entranhadas na
minha alma, mas vivi um dia de cada vez até voltar a me sentir como
uma pessoa normal.
Foi a dedicação em meu retorno à ginástica, aliada ao apoio
que sempre recebi dos meus pais e dos meus irmãos, que consegui
erguer a cabeça e dar a volta por cima. Certamente, eu ainda
precisava lidar com um demônio ou outro de vez em quando, pois
determinadas marcas nunca se apagavam, mas aqui estava eu,
perfeitamente capaz de morar sozinha a milhares de quilômetros de
distância, sem precisar sair correndo para chorar nos braços da
família.
E era por isso que eu tinha decidido não me deixar abalar por
conta daquela nova rotina que foi praticamente jogada sobre a minha
cabeça. Era apenas um jogador, eu podia lidar muito bem com isso,
porque tinha uma vida inteira pela frente e um mundo de problemas
que surgiriam diante de mim todos os dias.
Terminei de vestir um jeans boyfriend, passei uma camiseta
com a logo UCLA GYMNASTICS pela cabeça, calcei meu par de
tênis e prendi os cabelos num rabo de cavalo bem alto.
— Nossa, já vai sair? — perguntou Ava, que dividia o dormitório
comigo.
— Tenho que passar no Centro Estudantil pra ver o lance do
Unit. — Minha amiga fez uma careta, lembrando daquela desgraça.
— Boa sorte! Espero que tenham sorteado algum gatinho.
Acenei enquanto abria a porta e murmurei uma despedida. Não
gostar daqueles caras não significava que eu não os achava
atraentes. Não todos, mas alguns tinham mesmo corpos bonitos e
seus nomes viviam na ponta da língua de quase todas as garotas
que eu conhecia. Entretanto, os mais famosos e disputados também
eram os mais arrogantes. Ainda não tinha engolido a cena que
aconteceu na lanchonete, com aquele babaca do Mason Johnson
que se achava o tal porque pegava todo mundo. Quem ele pensava
que era para sair passando na frente das pessoas sem nem
perguntar se podia fazer isso? Nem mesmo se tivesse um pau de
ouro, seria permitido agir como um idiota.
Esfreguei minha nuca antes de montar no patinete, me sentindo
tensa só de relembrar aquela noite. Ou talvez fosse pelo fato de que
Mason tinha uma energia tão carregada, que fiquei cansada só de
pensar em seu nome.
O dia, pelo menos, estava bonito e não tão frio quanto ontem.
Não que eu pudesse reclamar, afinal de contas, o inverno de Los
Angeles nem podia ser comparado ao de Ohio, mas confesso que
estava ansiosa pela chegada da primavera em algumas semanas.
Meu celular tocou quando estava estacionando e atendi logo ao
ver o nome de Sid na tela. Imaginei que estivesse acordando e se
lembrara de onde eu estaria.
— Bom dia, princesa — murmurou e, pela sua voz, eu estava
certa.
— Bom dia, maravilhosa. Já tomou seu café da manhã?
— Nem levantei da cama... — Ela riu e a ouvi se espreguiçar.
— Boa sorte hoje. Se precisar, me chame pra eu quebrar o nariz de
alguém.
— Não acho que seja esse o tipo de integração que o Unit
queira inspirar. — Parei diante das portas do edifício e suspirei. —
Sid, eu estou bem. De verdade. Não precisa se preocupar.
— Ok, ok. Eu sei que você já está crescidinha. É que fico mal
só de pensar na minha baixinha ficando nervosa.
— Você é só dois centímetros mais alta do que eu — debochei,
subindo os lances de escada.
— Dois centímetros é coisa pra caramba, Hazel.
— Eu não acho — rebati.
— Diga isso pro cara que tem um pênis murcho de seis
centímetros.
Cheguei ao andar em questão e olhei para ambos os lados,
procurando pela sala à qual tinha sido orientada por Suzy. Havia uma
pequena movimentação naquele corredor, e pela aparência das
pessoas, estava bem claro que eram todos os envolvidos no
programa. Por isso, tentei discretamente, procurar por algum rosto
conhecido do futebol, ao mesmo tempo em que meu cérebro
processava o que Sidney tinha acabado de dizer.
— E, por acaso, um pau de oito centímetros faz muito mais
diferença? — questionei.
Imediatamente, ouvi alguém atrás de mim tentando prender
uma risada e me virei para descobrir quem tinha sido a pessoa que
me ouviu dizer aquela asneira. O celular quase escorregou da minha
mão quando encarei Mason Johnson com um sorrisinho irônico e os
braços para trás.
— Fique tranquila, acho que fui o único a ouvir — murmurou,
piscando e passando por mim.
Não.
Não.
— Não!
— O quê? — Sidney gritou do outro lado da linha. — O que foi,
Hazel?
— O meu par no Unit...
Meu corpo inteiro estava gelado e eu sentia vontade de vomitar
por constatar a pior verdade de todas. Justamente a única pessoa
que eu não gostaria de reencontrar, muito menos ser obrigada a
passar dois meses ao lado dela.
— Quem é o idiota? — perguntou Sidney e eu me dei conta de
que ainda apertava o telefone contra o ouvido.
— Mason Johnson — sussurrei, sem acreditar no meu azar.
— Nossa, ele é muito gost...
Desliguei na cara de Sidney. Eu me recusava a ouvir minha
melhor amiga endeusando aquele babaca, mas sabia que não podia
culpá-la, porque não me lembrei de contar o que aconteceu na
lanchonete.
Enfiei o celular dentro do bolso e me mantive quieta no mesmo
lugar, afastada da pequena multidão onde algumas pessoas
conversavam de forma animada, e apenas aguardei. Sentia meu
coração bater tão forte, que parecia estar bem na minha garganta.
Cogitei até ligar rapidamente para a Sra. Thompson porque temia
entrar em crise bem ali, mas fechei os olhos ao me encostar contra a
parede e puxei o ar devagar, respirando bem fundo.
— Você é a chata da lanchonete, não é?
Minha paz não durou muito, nem mesmo um minuto. Então, eu
abri meus olhos e encarei os de Mason, parado com os braços
cruzados e uma sobrancelha arqueada.
— Sabia que te conhecia de algum lugar — murmurou,
achando graça. — Tenho pena do pobre coitado que for designado
pra você. Qual o seu esporte?
Ele estava falando sério ou aquela era uma maneira de me
provocar? Fiquei em dúvida, por isso, apenas o encarei por alguns
segundos e percebi que esperava mesmo pela minha resposta.
Portanto, ergui meu dedo indicador e o inclinei na direção do meu
peito, bem onde ficava a porcaria da logo enorme: UCLA
GYMNASTICS.
— Não... — Mason arregalou os olhos. — Está me zoando.
Não, nem fodendo.
— Mason Johnson e Hazel MacKenzie! — Uma voz grossa nos
chamou. — Podem entrar!
— Você queria saber meu nome naquela noite — comentei,
desencostando-me da parede e enfiando minhas mãos nos bolsos
do jeans, assim evitaria dar uns tapas nele. — Agora já sabe, idiota.
Duas meninas me olharam como se sentissem inveja de mim
quando passei por elas, sendo seguida pelo jogador. A funcionária
do conselho estava em pé na porta aberta e meneou a cabeça para
mim antes de entrar para nos esperar. Foi nesse momento que eu
estaquei e cogitei sair correndo, mas sabia que seria muito ridículo
fazer isso na frente de todo mundo, por isso, virei-me e encarei
Mason.
— Podemos dizer que não nos damos bem e sabemos que não
é nenhuma mentira — sugeri para ele. — Basta pedirmos para
sermos trocados.
Senti meu corpo inclinar levemente para trás quando o idiota
segurou meu rosto entre aquelas mãos enormes e se curvou até
chegar muito perto. Eu sequer tinha dado autorização para que
invadisse meu espaço pessoal daquele jeito, e mesmo assim, já era
extremamente abusado.
— Baixinha, eu sou Mason Johnson. Não recuo, nem desisto
de nada. Acha mesmo que vou encarar as pessoas lá dentro e pedir
pra sair? — Ele estalou a língua. — O programa mal começou e já
estou te ensinando um dos meus talentos: o da interpretação.
Coloque um sorriso apaixonado no rosto e finja que está muito feliz
em ser minha parceira.
Durante os milésimos de segundos em que o jogador me
soltou, meu corpo pendeu para trás e se desequilibrou, mas num
piscar de olhos Mason estava me girando de frente para a porta e
passando um braço por cima dos meus ombros. Fui obrigada a
entrar com ele na sala e me sentar ao seu lado para ouvir uma
ladainha sem fim sobre o Unit e tudo que era esperado do programa.
Minha cabeça girava e meu coração não conseguia se
acalmar, mas nem era por medo ou ansiedade, e sim por raiva e
frustração. Não acreditava que teria que aturar Mason Johnson e sua
arrogância quilométrica por todo aquele tempo, precisar mostrar
interesse em qualquer área da vida dele como se eu realmente me
importasse.
— Vamos, bonequinha? — Pisquei e ergui o rosto, vendo sua
mão esticada para mim e seu sorriso debochado estampando os
lábios. — Nossa reunião acabou.
— Restou alguma dúvida, Hazel? — perguntou uma das
mulheres sentadas à mesa.
— Hm, não. — Sorri, porque nem mesmo tinha prestado tanta
atenção. — Está tudo bem... Obrigada.
Ignorei a mão estendida e me levantei, passando primeiro pela
porta e marchando pelo corredor, plenamente consciente da
proximidade de Mason às minhas costas.
— Se me chamar daquele jeito de novo, eu juro que corto a sua
língua — ameacei quando começamos a descer as escadas.
— De que jeito? Bonequinha? — Parei e me virei, querendo
arrancar seu sorriso irritante. — Prefere baixinha? Doidinha?
Chatinha?
Tínhamos descido lances de escada suficientes para nos
afastarmos do andar em que estávamos, e isso significava que não
havia ninguém além de nós dois naquele local. Sendo assim, ergui
minha mão e dei um tapa forte no rosto de Mason, que fechou os
olhos, mas sequer se moveu. E para me irritar ainda mais, o sorriso
estúpido continuou intacto.
— Ah, você tem mão de bonequinha mesmo — debochou,
abrindo os olhos e piscando. — Vamos manter esse apelido, então.
Droga, minha palma estava ardendo com o impacto do tapa e
eu nem tinha conseguido fazer nenhum estrago nele. Fechei a mão
em punho e respirei fundo, me virando e voltando a descer, dessa
vez com um pouco mais de pressa.
— Acho melhor marcarmos logo alguma coisa amanhã —
disse, sem deixar de me seguir. — Não sei ainda se posso confiar
em você no meio dos meus amigos, então deixe que eu vou ao seu
ginásio. Que horas devo chegar?
— Sei lá, descubra sozinho.
Saí pelas portas largas e desci o lance de cinco degraus até me
aproximar da rua, ansiosa para atravessar e pegar meu patinete,
mas quando coloquei o pé no asfalto, meu corpo sofreu um impacto
forte e foi puxado para trás no mesmo segundo em que uma bicicleta
desviou de mim, derrapou e quase caiu mais à frente.
— Tente não se matar na minha presença — a voz grossa
resmungou perto do meu ouvido. — Sou órfão, tenho problemas com
acidentes de trânsito.
Por estar com a cabeça encostada em seu peito, bastou
apenas olhar para cima e encontrar seus olhos sobre os meus.
Mason era muito mais alto e eu me senti um gnomo daquele jeito,
por isso, afastei-me bruscamente e ajeitei minha mochila no ombro.
— É... Obrigada.
— Seu celular. — O loiro esticou seu telefone na minha direção.
— O quê? — perguntei, sem entender.
— Anote seu número, Hazel Mackenzie. — Como eu demorei a
reagir, ele soltou um suspiro e passou uma das mãos pelos cabelos
cheios. — Sério, você é difícil. Quer se comunicar como? Vamos
acionar nossa telepatia?
Controlando-me para não soltar um palavrão, pois Mason tinha
acabado de evitar que eu me machucasse, peguei de uma vez o
celular dele e digitei meu número, devolvendo o telefone para seu
dono.
Por sorte, sua atenção foi desviada quando uma garota chamou
o nome do jogador e acenou para ele, começando a se aproximar
com muita animação. Foi o momento ideal para que eu fosse embora
e finalmente me livrasse dele, agradecendo internamente a uma de
suas fãs.
Antes que eu ligasse meu patinete, senti meu celular vibrar no
bolso e o puxei para encontrar uma mensagem de um número
desconhecido. Do outro lado da rua, enquanto era assediado pela
garota que tirava selfies com ele, Mason gesticulou para que eu
olhasse o telefone.

Responda essa mensagem informando que horas começam os seus


treinos e eu esperarei por você, pontualmente, na porta do John
Wooden Center[7].

Digitei a porcaria da resposta que ele queria e fui embora,


mentalmente cansada, e só passei poucos minutos ao lado do meu
atual problema. Como eu aguentaria por dois longos meses?
Mason Johnson
Aumentei o volume quando “Mockingbird” do Eminem, começou
a tocar na rádio e conferi a hora no celular, para me certificar de que
não me atrasaria. Hazel Mackenzie parecia ser bem chata e
implicante, portanto, não queria dar motivos extras para me estressar
logo no primeiro dia daquele projeto maluco.
— Juro que adoraria saber de quem foi essa ideia idiota —
comentei, frustrado, e ouvi a risadinha de Josh ao meu lado.
Meu amigo estava dirigindo seu carro e me dando carona até o
ponto de encontro marcado com a garota. Quando nossos horários
conciliavam, a gente vinha junto para o campus, como naquele dia,
mas em breve eu finalmente teria meu próprio batmóvel[8] porque
minha irmã estava me ajudando com isso.
— Eu acho que é uma ótima maneira de conhecer novas
pessoas — murmurou Josh, com um sorrisinho debochado.
— Claro que acha. Não é o seu tempo que será perdido com
algo tão tosco. — Eu me virei um pouco no banco e o encarei. — Fui
sorteado para a ginástica artística. O que isso vai agregar à minha
vida?
— Não sei, mas se pararmos pra pensar um pouco, vamos
achar alguma utilidade. Você pode aprender a dar piruetas no ar — o
filho da puta sugeriu, sem conseguir prender uma risada ridícula. —
Desculpe, é engraçado. Estou ansioso pra vê-lo de collant.
— Já tomou no cu hoje, Coleman?
Revirei meus olhos quando ele abriu um sorriso ainda maior,
muito feliz por poder me provocar daquele jeito. E o pior de tudo, é
que eu sabia que seria só o começo. Podia ver meus outros amigos
zoando com a minha cara em todas as oportunidades.
Se pelo menos eu conseguisse tirar algum proveito disso, até
valeria a pena, mas depois que fiquei cara a cara com a pessoa
designada para ser minha parceria, entendi que mais me estressaria
do que me divertiria durante aqueles meses. Com tanta mulher
gostosa e simpática na equipe de ginástica da UCLA, eu tive o azar
de receber justamente alguém que me detestava e parecia levar uma
vida amarga.
— É aqui que vai descer? — Josh perguntou ao nos
aproximarmos do local combinado e eu murmurei uma confirmação.
— Aquela é a menina que vai se juntar a você?
Olhei na direção da calçada e, no meio de alguns pedestres
que transitavam pela região, avistei uma figura de um metro e meio
vestida com um conjunto branco de moletom, cabelos soltos, um
boné preto na cabeça e fones nos ouvidos. Estava de braços
cruzados, olhando para os lados, com uma expressão que indicava
zero paciência.
— Infelizmente, é ela — respondi, soltando um suspiro quando
Josh parou o carro e levei a mão à maçaneta. — Me deseje sorte.
— Não dê em cima da garota.
— Por incrível que pareça, ela não faz meu tipo — retruquei ao
saltar do automóvel e bater a porta, colocando a cabeça para dentro.
— E eu sei que nunca tive tipo nenhum, mas veja só, ela é tão chata,
que abri a primeira exceção da minha vida.
Meu melhor amigo revirou os olhos porque não me levava a
sério, mas eu estava sendo sincero. Tinha certeza de que não queria
complicação na minha cabeça, não fazia sentido algum me envolver
com alguém que parecia insuportável.
Deixei que Josh fosse embora e me virei para trás, subindo a
calçada na direção da garota que ainda não tinha me notado.
Aproximei-me pelo lado esquerdo e percebi quando um rapaz
passou na frente dela, encarando-a com muito interesse, e Hazel fez
um contato visual muito rápido antes de abaixar a cabeça.
— Bom dia, princesa! — falei, sem evitar o deboche, e seu
rosto se virou para mim já estreitando os olhos. — Cheguei para
colorir o seu dia!
— Você está quatro minutos atrasado — ela respondeu,
ajeitando a mochila no ombro direito e empinando o nariz.
De cabelos soltos e sem estar despenteada como nas outras
duas vezes em que nos encontramos, ela ficava bem bonita. Seus
olhos claros eram muito marcantes e os traços do rosto, bem
perfeitinhos.
Para provocar, inclinei meu corpo levemente para a frente,
levando a mão direita ao peito e suspirando.
— Perdi esses quatro minutos enquanto admirava de longe a
sua beleza — zombei, mas com muita seriedade.
Causei o efeito desejado quando Hazel perdeu a reação,
apenas me encarando por uns segundos, até soltar um suspiro muito
cansado e puxar o celular do bolso. Ela simplesmente se virou de
costas e saiu andando, esperando que a seguisse e me deixando
completamente no vácuo.
Eu a acompanhei para o interior do John Wooden Center,
sendo a primeira vez que entrava naquele centro de treinamento.
Passamos pelo saguão com pouco movimento e entramos por um
corredor após a área das catracas, onde eu podia ouvir as vozes que
deviam vir do ginásio.
Na parede à minha esquerda, havia uma vitrine em vidro com
fotos diversas de garotas em seus uniformes. Algumas eram da
equipe do vôlei, outras da ginástica, e eu tentei encontrar o rosto de
Hazel entre elas, mas não achei.
— Por que não está em nenhuma foto? — perguntei.
— Porque fui transferida pra cá em agosto. — Ela se virou de
repente e isso quase me fez atropelá-la, mas consegui evitar um
contato brusco antes que a derrubasse no chão. — Você pode entrar
no ginásio, eu ainda preciso ir ao vestiário para me trocar.
A garota apontou para o local mais à frente, onde grandes
janelas em vidro faziam a função de parede e possibilitavam que de
onde estávamos, pudéssemos ter uma bela visão do interior do
ginásio de treinamento delas. Algumas ginastas já estavam lá dentro,
e logo pensei que seria interessante, considerando que sem a
presença amarga de Hazel ao meu lado, eu até poderia conhecer
suas amigas que certamente deviam ser mais simpáticas do que ela.
Sorri para a baixinha e assenti em silêncio, deixando-a para
trás e caminhando até as portas em vidro, que se abriram para me
dar passagem. Numa rápida avaliação, percebi que não havia
nenhum treinador no local naquele momento, apenas umas três
garotas vestidas com a mesma roupa: short preto e camiseta regata
azul da UCLA. Tudo bem, ainda não era o collant, mas não
reclamaria se tivesse que ver aquele uniforme todo dia, considerando
que o short era extremamente curto e justo.
Fiz um alto e sonoro cumprimento para que notassem a minha
presença, porque estavam distraídas se alongando, então procurei
um lugar para me sentar e não atrapalhar ninguém.
— Oi? — Uma delas me encarou, com a testa franzida. — Você
é o Mason Johnson!
— Em carne e osso — respondi, feliz por ser reconhecido.
— Ah... Deve estar com a Hazel, né? — perguntou outra
menina, muito confortável numa posição que eu jamais conseguiria
reproduzir, com as pernas completamente abertas para lados
opostos.
— Isso mesmo. — Sorri, largando minha mochila no chão entre
minhas pernas. — Estamos presos um ao outro por algum tempo.
A primeira garota que falou comigo se levantou e se aproximou
de mim, esticando a mão pequena e colocando um sorrisinho doce
no rosto. Era bonitinha, tinha cabelos loiros e compridos, olhos claros
e traços delicados.
— Sou Ava, prazer — disse ela. — Você é famosinho no
campus, mas quebraremos os seus dentes se for babaca com a
nossa amiga.
Certo, talvez elas não fossem tão doces como eu imaginava.
Mesmo assim, mantive um sorriso discreto enquanto apertava sua
mão.
— Acredite, tanto eu quanto Hazel só queremos nos livrar
dessa obrigação. Tenho quase certeza de que sua amiga também
enxerga isso como perda de tempo.
— Não é perda de tempo — disse a garota, encolhendo os
ombros e me lançando um olhar avaliador. — É bom termos a
presença de um gato por aqui...
Mas que grata surpresa receber uma leve cantada naquela
hora da manhã, sem que eu esperasse. Isso sim era um reforço
positivo para o meu cérebro, e quase respondi com a intenção de
descolar o telefone da menina, quando vi a chegada de um homem
na faixa dos quarenta anos, vestido com uma camiseta polo bem
típica de uniforme da UCLA.
— Bom dia! — cumprimentou sem se dirigir a ninguém
específico e se aproximou de uma mesa no canto oposto do ginásio.
— Só estão vocês aqui?
Ele mal terminou a pergunta e outras duas meninas surgiram,
conversando e trocando risadas, quando logo atrás delas, também
pude avistar a própria Hazel. Vê-la com as pernas nuas me deixou
um tanto surpreso, mas não consegui resistir à vontade de reparar
nas coxas bonitas.
Como se fizesse questão de me ignorar, ela passou direto por
mim e se misturou às amigas, iniciando uma conversa animada que
não me dizia respeito. Isso não me incomodava, afinal de contas, eu
nem queria estar ali, então fiquei quieto no canto que encontrei e
aproveitei para conferir meu celular. Poderia encarar o programa
Unit como um método para tirar um cochilo durante três horas por
semana.
— Mason Johnson? — Parei de digitar uma mensagem para
Bryan e ergui os olhos na direção da mulher na mesma faixa etária
que o homem que chegou um pouco antes. — Sou Suzy Miller,
treinadora das meninas. — Ela esticou a mão e eu a cumprimentei.
— Seja bem-vindo. Aquele é o Wallace, um dos assistentes técnicos
e temos mais outras duas pessoas que integram a nossa equipe.
— É um prazer, Sra. Miller.
— Só Suzy, por favor — pediu, sorrindo. — Que bom que Hazel
o trouxe hoje. Ela estava bem nervosa de ter que participar desse
programa, mas é um amor de menina.
Sério mesmo que a treinadora estava se referindo a mesma
pessoa que eu conheci? Isso até me fez olhar na direção da garota e
observar sua interação com suas amigas. Ela tinha soltado uma
gargalhada enquanto se alongava numa rodinha de fofoca.
— Por que não tira seus tênis e vem se juntar a nós? — sugeriu
Suzy, tocando meu ombro. — Vou esperar todas chegarem para
apresentá-lo, mas não precisa ficar isolado aqui no canto.
— Não quero atrapalhar o treino — comentei, mas na verdade,
preferia mesmo ficar onde estava e responder umas mensagens.
— Você não vai — respondeu a treinadora, demonstrando que
não aceitaria uma recusa.
Eu assenti e ela se afastou depois de dar dois tapinhas no meu
braço. Tirei meus tênis, praguejando o momento em que o destino
quis me sacanear fazendo meu nome sair no sorteio e joguei de volta
meu celular no bolso do jeans. Fui me sentar no chão no meio da
quadra do ginásio lotado de colchões e equipamentos, sentindo-me
muito estranho rodeado só de garotas com metade do meu tamanho.
Ao lado de Hazel, porque fiz questão de ficar bem perto dela
para irritá-la, dobrei minhas pernas e tentei ignorar os olhares
curiosos para cima de mim.
— Já assistiu alguma competição nossa, Mason? — perguntou
uma menina que eu não sabia o nome.
Abri a boca para responder, mas ouvi a risada irônica em meu
ouvido e virei a cabeça para o lado, encarando Hazel.
— O que foi? — questionei.
Como ela era muito branca, as bochechas ganharam cor
rapidamente antes que conseguisse desfazer o contato visual ao
notar que tinha capturado a minha atenção.
— Achei a pergunta engraçada, só isso — respondeu, pegando
das mãos da garota chamada Ava, o rolo de bandagem que
começou a passar ao redor do tornozelo direito.
— Já vi algumas coisas pela televisão, geralmente durante as
Olimpíadas — respondi ao me virar para a menina que fez a
pergunta. — Mas pessoalmente, nunca tive a oportunidade de
assistir nada. Talvez a primeira vez aconteça nesse período em que
estiver acompanhando a Hazel.
— Espere só para vê-la praticando no solo — disse outra,
sorrindo. — Ela é incrível!
Levei um susto quando notei uma aproximação perto de mim e
vi uma garota se jogar quase em cima de Hazel e abraçá-la por trás,
enquanto sussurrava alguma coisa em seu ouvido. Minha parceira de
projeto deu um sorrisinho contido e movimentou a cabeça em
negação antes que a que acabara de chegar a soltasse e se
sentasse no espaço que não existia entre mim e a ginasta.
— Com licença — pediu, me obrigando a chegar para o outro
lado, então se virando e esticando a mão. — Sou Sidney.
— Mason. — Retribuí o cumprimento e a observei estreitar os
olhos na minha direção.
Ela parecia interessada em dizer mais alguma coisa, mas o
treinador assistente pediu que se reunissem em círculo, chamando
as que acabavam de chegar, e enquanto rolava uma conversa sobre
treinos e as primeiras etapas da temporada que se iniciava,
aproveitei para mexer no celular.
Observei quando começaram uma rodada de exercícios de
aquecimento e me sentia morto de tédio, ansioso para que a hora
passasse e eu pudesse ir embora aproveitando a desculpa de ter
que treinar também.
Quando faltavam menos de vinte minutos para acabar meu
dever naquele dia, Suzy se aproximou de mim e parou ao meu lado.
— É bem diferente do futebol, não é?
— Um pouquinho — quis responder com deboche, mas me
contive e sorri. — Bastante.
— Hazel! — Ela chamou a baixinha, que estava passando talco
nas mãos e caminhou até nós sem se dar ao trabalho de me encarar.
— Querida, por que não mostra os aparelhos para o Mason e explica
suas funções?
A ginasta encarou sua treinadora por alguns segundos, parecia
se controlar para não dar uma resposta que ela não gostaria de
ouvir, porque eu tinha certeza de que aquele rostinho não estava
expressando alegria.
— É claro — murmurou Hazel, me olhando e sorrindo toda
azeda. — Estava ansiosa pra fazer isso.
Suzy afagou os cabelos da garota, sem mexer em seu coque
apertado no alto da cabeça e fui obrigado a seguir a ginasta que
quase batia os pés como uma criança birrenta.
— Este é o cavalo, aparelho usado tanto nas competições
femininas quanto masculinas — disse Hazel, apontando o aparelho
que parecia uma mesa alta e que eu sabia que os ginastas saltavam
por cima dele. — É a prova mais rápida, dura em média cinquenta
segundos.
Dei um passo à frente para olhar de perto, mas a garota esticou
o braço direito diante do meu peito e me empurrou para trás, no
instante em que uma das meninas iniciou uma corrida pela pista até
saltar sobre o tal cavalo e cair em pé do outro lado.
— Tente não atrapalhar nem matar uma de nós — pediu,
suspirando.
— Que tal você ir até lá e mostrar pra mim como se faz?
— Você acabou de ver a Ava saltar — respondeu a baixinha,
estreitando os olhos para mim.
Eu sorri, inclinando-me para me aproximar de seu rosto.
— Não prestei atenção suficiente. Acho que se eu for pedir pra
Suzy, ela pode encontrar uma forma de te incentivar, não é?
Hazel revirou os olhos e puxou a barra da minha camisa
quando eu fiz menção de me virar de costas, exatamente como eu
planejava que reagisse. Provavelmente, ela gostaria de me xingar,
mas tomou uma postura plena enquanto caminhava para o lado
oposto da passarela, com os braços esticados ao lado do corpo, até
se virar de frente e se preparar.
Quando começou a correr, nem parecia a menina baixinha de
antes e, sim, uma criatura potente e forte, que tocou as mãos no
chão ao dar um salto mortal por cima do aparelho, girar
perfeitamente no ar e cair com os pés bem fixos nos colchonetes.
Dali, ela saiu e voltou a se aproximar com naturalidade, como se não
tivesse acabado de fazer algo muito difícil pelo meu ponto de vista.
— Então, este é o cavalo — murmurou, com os ombros subindo
e descendo rápido por conta da respiração acelerada, a única coisa
que indicava o que havia acabado de fazer. — Satisfeito? Ótimo. —
Ela deu alguns passos em outra direção e eu a segui. — Aquele ali é
o que chamamos de trave e só é usado na ginástica feminina.
Preciso demonstrar também ou os seus neurônios já estão
funcionando?
Num gesto completamente impulsivo, estiquei minha mão para
limpar uma faixa branca acima da sobrancelha dela, que ficou suja
quando a garota passou a mão com pó de magnésio no rosto. Eu
nem percebi direito o que estava fazendo porque não era nada
demais para mim, foi apenas um reflexo, mas Hazel congelou os
movimentos e os olhos grudados nos meus.
— O que foi? — Ela deu um tapa fraco na minha mão, mas de
forma tardia. — O que pensa que está fazendo?
— Já saiu — respondi e pisquei. — Era só uma sujeirinha
nesse rostinho de princesa.
Hazel puxou o ar bem forte antes de revirar os olhos e me dar
as costas, marchando rumo ao aparelho que tinha acabado de me
apresentar. Precisava confessar que aquele era muito mais
interessante para assistir seus movimentos, porque necessitava de
equilíbrio e muito foco para se manter sobre aquela barra tão fina.
Observei as coxas torneadas e os pés que vez ou outra ela
flexionava com delicadeza. Em certo momento em que deu uma
estrela para trás, finalizou se sentando com uma perna para cada
lado e levou minha mente a pensar em algumas sacanagens.
— Será que não está na sua hora? — perguntou ela, se
balançando e me encarando.
— Para a sua felicidade, tenho que ir embora — retruquei,
cruzando minhas mãos atrás das costas e sorrindo. — Tente fingir
um pouco de tristeza. Mais tarde envio mensagem pra marcarmos a
sua vez de me assistir em atividade, ok? Não fique tão ansiosa.
— Vou me esforçar. — Ela me lançou um sorriso cínico e saltou
do aparelho, batendo as mãos cheias de pó nas pernas e se sujando
toda. — Sabe onde fica a saída, não é?
Abri meus braços e pisquei bem sedutor para Hazel, que
franziu a testa e não demonstrou interesse em me agarrar.
— Que tal um abraço de despedida para selarmos nossa
amizade?
— Eu acho que não — respondeu, passando por mim. — Até
amanhã.
Porra, ela era insuportável. Respirei fundo para manter meu
nível de paciência no limite necessário e desci meus olhos para a
bunda bonitinha moldada no short preto. Pelo menos, era uma boa
visão. Isso tinha que valer alguma coisa, já que a garota era um belo
pé no saco.
Hazel Mackenzie
Perto de uma das clínicas principais da universidade havia um
restaurante com os melhores tacos da cidade, e como Sidney e eu
acompanhamos Ava até lá para que tomasse uma injeção de rotina,
aproveitamos e paramos para jantar no lugar que tinha uma adorável
fachada de tijolinhos.
O Tacos 1977 vivia lotado independente do dia da semana e o
horário de chegada, mas valia muito a pena ter que esperar algum
tempo pela comida, porque era tudo delicioso. Nós três sentamos
rapidamente numa das mesinhas pequenas perto da entrada, depois
de esperarmos por dez minutos até que ela fosse desocupada, e nos
ocupamos com o cardápio que nem tinha tanta variedade.
— Gente, vamos falar sobre um assunto muito sério? —
perguntou Sid, apoiando o rosto nas mãos e soltando um suspiro
pesado. — Eu sou a única que não está dormindo por causa da
ansiedade pré-show?
— Está falando do show que só vai acontecer daqui a um mês?
— Eu ri, porque sabia que ela era assim.
— Siiiiiim! — Minha melhor amiga formou um bico com os
lábios e deitou a cabeça na mesa. — Por que o tempo está
passando tão devagar? Não aguento mais sofrer à espera da minha
loira.
Ela queria dizer Taylor Swift, mas eu meio que a entendia. Mais
ou menos. Era fã, mas não ficava obcecada dessa forma. Tínhamos
comprado ingressos para o show dela logo que as vendas foram
abertas e desde então Sidney parecia contar cada dia no calendário.
— Qualquer dia eu vou parar de dormir por sua causa, isso sim
— disse Ava, sorrindo para o garçom que trouxe nossas bebidas. —
Pelo amor de Deus, garota, você está nos causando ansiedade.
— Eu só queria que já fosse amanhã, sabe?
Revirei meus olhos e tomei um gole da minha água com gás.
Não sabia dizer exatamente o que sentia a respeito do show. Tipo,
claro que queria muito ir, afinal de contas, tinha comprado o ingresso.
Mas apenas porque as duas insistiram muito para que as
acompanhasse. Eu não curtia muito ficar em lugares com multidões,
espaços apertados e fechados. Não me considerava claustrofóbica,
mas não eram situações que me deixavam muito confortável. Por
isso mesmo, evitava frequentar shows desse porte, então apesar de
sentir vontade para que o dia chegasse logo, ao mesmo tempo me
sentia apreensiva e com vontade de vender meu ingresso.
Eu não dizia isso para as meninas, porque sabia que se abrisse
a boca, elas me encheriam de incentivos para me animar, porque por
mais que tentassem me entender, nunca saberiam o que é estar
dentro da minha mente e lidar com meus fantasmas.
— Disfarcem, mas o bonitão está entrando — murmurou Ava,
que estava de frente para a porta do restaurante e olhava um ponto
atrás das minhas costas.
— Quem? — perguntou Sidney.
Como eu não era nem um pouco discreta com essas coisas,
acabei cometendo a gafe de virar meu tronco para conferir de quem
Ava se referia e dei de cara com Mason. Felizmente, ele ainda não
tinha nos visto, estava com o braço sobre os ombros de uma garota
de cabelos lisos e muito escuros, que sorria e falava algo perto do
ouvido dele. Havia também um detalhe muito significativo: a enorme
barriga que ela ostentava, de uma gravidez aparentemente,
avançada.
— Ah, que saco — murmurei, virando-me depressa para a
frente e rezando para que o rapaz não nos notasse. — De tantos
lugares para ir, ele tinha que aparecer aqui?
— Eu poderia pensar que está te seguindo, amiga... — Sid
sorriu, debochada.
— Por que eu seguiria alguém tão ranzinza e implicante? —
Ouvi a voz grave e encarei os dedos da mão que pousou perto da
minha na mesa. — Tenho outras prioridades, meninas, mas já que
nos encontramos, acho que podemos nos sentar com vocês, não é?
Enquanto minhas amigas congelaram ao encará-lo, eu levantei
minha cabeça e encarei o rosto do jogador arrogante. Mason se
achava o cara mais gostoso do mundo e não dava para negar que
era bonito, porque realmente era, mas sua personalidade estragava
sua beleza. Observei os cabelos ondulados e volumosos no topete,
com fios castanhos, o sorriso muito branco e a camisa com os
primeiros botões abertos. Sua fama de pegador o acompanhava por
onde fosse e eu me perguntava como conseguia conquistar tantas
mulheres com aquele jeito insuportável.
— Acho que a sua namorada prefere ficar a sós com você —
comentei, sorrindo.
Eu sabia que um cara como ele não namorava ninguém, falei
apenas para incomodar e deixá-lo numa posição desconfortável,
porque certamente a garota ficaria animada com a confusão e ele
teria que se livrar dela depois.
— Está falando da Mia? — perguntou Mason, soltando uma
risadinha irritante e beijando o rosto da sua companhia. — Quer ficar
a sós comigo, gatinha?
Ela se inclinou na direção da mesa, com os olhos arregalados e
a mão no peito, encarando diretamente a mim.
— Acha que eu namoraria alguém como ele? — questionou,
suspirando. — Mesmo que não fosse meu irmão, jamais daria bola
pra quem faz rotatividade na cama.
— Ei! — Ele resmungou, puxando o cabelo dela. — Você tem
que ser a primeira a me defender, não me atacar. Eu sou o tio
favorito dessa gatinha que está gerando.
Eles eram irmãos? Quis me enfiar debaixo da mesa ao
perceber a gafe cometida, mas nem tive tanto tempo para digerir a
informação, porque o idiota puxou as duas cadeiras vazias da nossa
mesa e se sentou, sugerindo que a irmã fizesse o mesmo.
Ava e Sidney estavam controlando seus sorrisos histéricos, eu
as conhecia muito bem para saber que se dividiam entre o surto de
ter um jogador famoso sentado junto com a gente e a necessidade
de me proteger caso eu estivesse me sentindo incomodada. Pois
estava, e muito, mas não era nenhuma criança e podia lidar com a
situação com maturidade.
— Espero que não estejamos atrapalhando — disse a garota
de cabelos pretos, fazendo uma careta. — Mason costuma ser assim
mesmo, bastante...
— Inconveniente — completei, arrancando um sorriso dela.
— Sim.
— Não tem mesa vazia — ele murmurou, encolhendo os
ombros e pegando o cardápio. — Qual o problema de nos sentarmos
com amigas minhas?
Ele era extremamente cara de pau e eu quis chutar sua canela,
mas parei quando sua irmã se inclinou para me olhar, pois o idiota
estava sentado entre nós duas.
— Sou Mia, prazer.
— Hazel — respondi, levando a mão ao peito e, em seguida,
apontando minhas amigas. — Estas são a Sidney e a Ava.
Ao dizer meu nome, vi um brilho de compreensão nos olhos de
Mia, que assentiu, apoiando um braço no ombro do irmão.
— Ah! Você é a parceira dele no tal programa, certo? — Ela
sorriu sem esperar pela minha resposta. — Nossa, sinto muito por
você. Não caia na lábia do Mason. Na verdade, o alerta serve para
todas, porque ele não presta.
Tive a certeza de que minha relação com Mia Johnson seria
muito mais fácil do que com o irmão dela, que acabou soltando o
cardápio e girando o tronco um pouquinho na direção da garota. Pelo
que entendi na troca de olhares, eles gostavam de se provocar e se
entendiam muito bem, porque dava para perceber o tom de ironia na
conversa.
— Sua missão de vida é prejudicar minha vida sexual? —
perguntou o jogador.
— Claro que não. — Ela sorriu, bagunçando os cabelos dele. —
Pelo contrário, quero é que você sossegue e arranje uma namorada
pra me dar um sobrinho no futuro.
— Não estou vendo ninguém reclamar do meu estilo de vida —
retrucou Mason, relaxando na cadeira e esticando as pernas por
baixo da mesa, sem perceber que empurrou meu pé. — Quem
reclama é porque não conseguiu garantir uma segunda vez. — Ele
me encarou firme. — Sou exigente.
— Parabéns — respondi, chutando o tornozelo que me
incomodava. — Consegue se sentar direito ou suas bolas são do
tamanho do seu ego e te impedem de fechar as pernas?
Ava cuspiu seu refrigerante, chamando mais atenção do que
deveria para a minha alfinetada, mas nem mesmo isso
desestabilizou o idiota, que apenas me lançou um sorriso sinistro,
cheio de segundas intenções. Eu tinha alguma ideia do que ele
gostaria de falar em resposta, mas por sorte, o pedido de nossa
comida chegou naquele momento e me salvou de ouvir mais
absurdos.
Eu e minhas amigas começamos a devorar nossos tacos e até
esqueci por um segundo a presença do meu parceiro de projeto,
enquanto ele se ocupava de fazer seu pedido e o de sua irmã. No
entanto, Mia me observava de forma astuta demais, como se tivesse
gostado de alguma coisa em mim, ou talvez de algo que falei,
considerando que não abaixei a cabeça para Mason.
E daquele jeito, eu quase consegui comer em paz, ocupada
entre me alimentar e deslizar pelo feed do meu Instagram, conferindo
os comentários no último reels que havia postado. Mas então, minha
paz foi embora em questão de segundos, porque senti um dedo
brutamontes deslizar pelo canto da minha boca e me fazer derrubar
meu copo com o susto que levei.
A água escorreu pela mesa de madeira e pingou em mim e no
jogador, que se apressou para pegar alguns guardanapos e controlar
a situação.
— Você está bem? — Sidney perguntou, tocando meu braço.
— Sim. — Olhei firme para Mason, que se ocupava de se
secar.
Que mania era aquela de ficar me tocando? Primeiro, tinha
acontecido lá no ginásio na manhã do dia anterior e fiquei sem
entender nada. Agora, mais uma vez, ele tomava uma atitude sem
nenhuma autorização pra ficar encostando em mim dessa forma tão
íntima. Na minha boca? Sério?
Sentia meu coração bater acelerado e não era como nos filmes
de romance, por pura emoção, mas sim por me sentir surpreendida
de um jeito ruim, por algo fora do meu controle. Por isso, como não
queria demonstrar meu nervosismo, levantei da mesa e pedi licença,
disparando na direção do banheiro para jogar uma água no rosto.
Entrei rápido e me encostei na porta ao fechá-la atrás de mim,
encarando a pequena pia com o espelho redondo e levemente
oxidado nas laterais. Uma batida na porta, seguida da voz conhecida
de Sidney, me fez desencostar dali e abri-la, observando minha
amiga pela fresta.
— Tem certeza de que está bem? — indagou, mordendo o
cantinho do lábio, visivelmente preocupada. — Vi o susto que levou.
— Foi só isso mesmo, um susto bobo — respondi, colocando
um sorriso no rosto e escondendo minhas mãos trêmulas. — Já vou
voltar pra mesa, fica tranquila.
Sidney assentiu e se virou para trás no mesmo instante em que
Mason surgiu no corredor estreito e parou diante de nós.
— O que aconteceu? — Quis saber, com a testa franzida.
— Nada — respondi.
— E por que eu tenho certeza de que está mentindo? —
perguntou, arqueando uma das suas sobrancelhas.
— Mason, vamos voltar lá pra frente. — Minha amiga segurou o
braço dele, mas foi ignorada com sucesso porque o jogador não saiu
do lugar. — É sério, dê espaço pra Hazel.
Agradeci por Sidney estar presente e ser a responsável por
fazê-lo me deixar em paz, mas ela era tão pequena quanto eu e não
tinha poder nenhum sobre o garoto, que puxou o braço e empurrou a
porta do banheiro. Ele se agigantou sobre mim rapidamente, me
fazendo recuar até sentir meus quadris baterem na bancada da pia.
Sua mão enorme ficou apoiada na maçaneta quando ele a fechou,
sem deixar de me encarar.
— Por que você é tão estranha?
— O quê?
— É a segunda vez que toco no seu rosto e você age como se
eu tivesse alguma doença contagiosa — declarou, estreitando os
olhos.
Percebi que Sidney continuava tentando intervir, porque a porta
se mexia sutilmente, mas não o bastante para que ela conseguisse
entrar no banheiro. Ali dentro, o espaço parecia ter diminuído metade
do tamanho e eu me sentia abafada com a proximidade de Mason,
que parecia não se dar conta de que não era bem-vindo.
— Você não tem que ficar me tocando, não dei intimidade pra
isso — respondi, puxando o ar devagar e o soltando da mesma
forma, sentindo as pontas dos meus dedos geladas. — Pode sair,
por favor?
— Por que você age assim? Tem algo a ver com tesão
encubado ou é só implicância mesmo? — ele perguntou, passando a
chave na fechadura e se afastando da porta.
Mason cruzou os braços e deu alguns passos na minha
direção, mas apenas três foram suficientes para que diminuísse toda
a distância que havia entre nós. Não era a primeira vez que eu
passava por uma situação como aquela, mas não ter uma rota de
fuga livre me deixava mais tensa do que o normal. A atitude
predadora de Mason também contribuía para acelerar meus
batimentos cardíacos e eu só desejava que ele me deixasse em paz.
— Não vai responder? — Seu tom de voz tinha mudado, ficado
mais baixo e mais grave do que o normal quando apoiou uma das
mãos na bancada atrás de mim. — O gato comeu a sua língua,
baixinha?
— Não... sei o que quer ouvir... — Fechei os olhos, abaixando
meu rosto e me concentrando em respirar e contar até dez. — Pode
me deixar sair?
Sem ter onde me apoiar, fechei meus punhos, sentindo gotas
de suor frio escorrerem pelo meio das minhas costas ao mesmo
tempo em que um frio consumia meu estômago.
— Deixo sair se me olhar nos olhos — declarou o jogador.
Puxei o ar devagar enquanto levantava minha cabeça até
encontrar seus olhos escuros focados nos meus. Sua testa se franziu
e ele se aproximou mais ainda ao se inclinar para a frente. O nó
formado em minha garganta aumentou de tamanho, mas felizmente,
a porta do banheiro foi aberta de supetão e Sidney invadiu o lugar,
seguida por um homem que devia ser funcionário do restaurante e
segurava uma chave na mão.
— Mas que merda, Mason! — Ouvi o grito de minha amiga e
aproveitei a oportunidade para fugir daquele banheiro e respirar com
alívio, deixando os dois para trás o quanto antes e só parando de
correr quando cheguei à calçada.
Levei minhas mãos aos joelhos para recuperar o fôlego e deixar
que meu coração se acalmasse, ciente de que logo Sidney e Ava
viriam ao meu encontro e eu não queria que me vissem tão
descontrolada.
Precisava ligar e conversar com minha psicóloga, contar o que
vinha acontecendo naqueles últimos dias e descobrir porque estava
me sentindo por um fio. Eu não era mais uma adolescente, tinha
aprendido a lidar com situações desconfortáveis e me saía muito
bem na maioria das vezes. Mas geralmente, tinha sucesso em repelir
os caras que se aproximavam demais e isso não parecia funcionar
totalmente com Mason Johnson. Pelo contrário, quanto mais eu
batia, mais ele revidava e me tirava da minha zona de conforto.
Teria que encontrar uma maneira de conviver em paz com o
jogador durante aqueles meses, sem permitir que ele tirasse minha
paz de espírito e me causasse crises de pânico.
— Hazel!
Como esperado, minhas amigas surgiram ao meu redor e
Sidney tocou meus cabelos. Ava não sabia sobre meu passado a
fundo, então eu entendia que o assunto não seria abordado naquele
momento e apenas ficaria parecendo que eu perdi a paciência com
Mason.
— Quer que eu dê um soco no nariz dele? — perguntou Ava,
cruzando os braços. — O que o filho da mãe fez pra te fazer correr
assim?
— Ele... — Engoli em seco, sem saber o que dizer.
— Tentou beijar a Hazel — disse Sidney, entregando-me a
minha mochila. — Vamos embora? Ava acertou a conta, depois a
gente paga pra ela.
Assenti, me sentindo aliviada por não precisar voltar lá para
dentro. Apenas olhei uma última vez para trás e vi, pela parede de
vidros escuros, que Mia continuava sentada no mesmo lugar, mas
olhando na nossa direção com uma expressão confusa. Mason não
tinha retornado à mesa e eu não pretendia esperar que
reaparecesse. Por mim, nem mesmo o encontraria amanhã, como
tínhamos combinado por mensagem. Mas sabia que não podia
abandonar o programa e teria que conhecer a droga do time de
futebol e os amigos dele.
Mason Johnson
Ah, tudo bem, eu gostava de provocar, principalmente ela que
fazia questão de mostrar seu descontentamento por mim. Mesmo
assim, não era nenhum monstro para aquela garota sair correndo
como se eu tivesse dado um tapa nela.
Fui até o banheiro tirar satisfação porque Ava e Mia ficaram na
mesa, me olhando como se eu tivesse cometido algum crime
quando, na verdade, só estava limpando a porra do molho que sujou
o rosto da ginasta.
— Deixo sair se me olhar nos olhos.
Foi isso que eu disse quando Hazel implorou para que eu a
deixasse passar, agindo como se estivesse desesperada para
colocar alguma distância entre nós. E o pavor que enxerguei nos
olhos dela quando ergueu a cabeça na minha direção, quase me
desmontou. Será que eu tinha feito ou falado alguma coisa muito
errada e não tinha percebido? Cogitei perguntar isso e recuar um
pouco, quando a porta do banheiro foi escancarada e a garota
aproveitou para escapar por ali num piscar de olhos.
Sua amiga Sidney correu para cima de mim e me deu um tapa
no braço, depois um empurrão fraco, com a testa enrugada e os
olhos coléricos.
— Mas que merda, Mason! — gritou. — Deixa a Hazel em paz!
Ela nem percebeu que sua amiga não estava mais ali, mas
continuou me atacando sem que eu soubesse o motivo.
— Calma, leoa! — pedi, erguendo minhas mãos em defesa. —
Só estava tentando conversar e entender a Hazel. Achou que eu
fosse atacá-la?
Sidney abaixou os braços, mantendo-os ao lado do corpo e eu
podia notar que fazia força para mantê-los no lugar, como se sua
maior vontade fosse continuar me batendo.
— Tem noção do que aquela menina já passou? — perguntou,
com a expressão muito séria. — Muita merda, Mason. Merda que
você nem consegue sonhar. Então, não mexa com ela.
— Mas não fiz nada.
— Você não entenderia — disse ela, soltando um suspiro e
arrumando os cabelos. — Mas isso não é sobre mim, não me cabe a
posição de explicar. Só saiba que abordá-la desse jeito desencadeia
lembranças ruins e grandes traumas.
Sidney saiu do banheiro, empurrando a porta com força e me
deixando ainda mais confuso do que antes.
Repassei minhas falas e atitudes desde o momento em que
estávamos na mesa para encontrar o ponto alto da minha falha. Tudo
bem que a encurralei aqui dentro, mas não chegava a ser nada tão
absurdo, porque minha intenção não era ultrapassar nenhum limite
com Hazel. Aquele era só o meu jeito de chegar de forma impactante
numa garota e, geralmente, nem precisava de tudo isso para que se
derretessem nos meus braços, mas eu nem mesmo tinha a intenção
de que a ginasta fizesse isso.
— Ei, cara! Vai desocupar o banheiro feminino ou ainda
pretende retocar o batom? — Virei o rosto e encarei o funcionário
que me observava com os braços cruzados. — Anda logo, preciso
voltar ao trabalho.
Olhei para o espelho à minha frente, pela primeira vez sentindo
a ficha cair de que tinha invadido o banheiro das mulheres. Quando
voltei para a mesa, apenas Mia continuava ali, beliscando sua
comida que havia chegado em algum momento e mexendo no
celular. Eu me sentei ao seu lado e apoiei os cotovelos na madeira,
encarando a parede em vidro diante de nós e procurando vestígios
de Hazel e suas amigas.
— Elas foram embora — murmurou. — O que aconteceu lá
atrás, Mason?
— Nada do que você está pensando. Só existe muita
dificuldade de interação entre mim e Hazel.
— Já parou pra pensar que ela é diferente das garotas que
você pega e talvez, só talvez, não esteja interessada nos seus
dotes?
— Mas não estou tentando pegar a Hazel, Mia. Só quero
descontrair as coisas entre nós, porque eu nunca fiz nada para que
ela me detestasse e não estou disposto a aturar cara feia pelo tempo
em que ficaremos presos nesse programa.
— Nunca mesmo? — Minha irmã me olhou com a sobrancelha
arqueada como se me desafiasse a responder.
Parei e pensei um pouco, porque eu me lembrava que nos
conhecemos naquela noite na lanchonete, quando furei a fila. Tudo
bem, Hazel não tinha ficado feliz com aquilo, mas seria motivo
suficiente para odiar uma pessoa? Se esse fosse o problema, eu não
me incomodaria em pedir desculpas para que pudéssemos seguir
em frente.
Ela precisava entender que eu não estava em sua cola porque
queria e, sim, porque estava preso a esse projeto idiota. Hazel tinha
a mesma obrigação com o Unit, então porque precisava parecer que
só eu tinha algum interesse em encontrá-la?
— O que faço são as minhas brincadeirinhas de sempre —
comentei, pegando meu taco e dando uma grande mordida. —
Quando nos conhecemos eu até ofereci um autógrafo a ela.
Mia me lançou um olhar debochado e até parecia que coisas
como aquela seriam causadoras de reações desse tipo em alguma
pessoa. Claro que não podia ser por isso. Tudo bem, eu tinha furado
a fila e isso gerou um pequeno atrito, mas eu não podia acreditar que
era tudo por conta de um mal-entendido.
— Por que não tenta agir como um rapaz normal que não dá
em cima de todo mundo? Sem piadinhas nem nada. Pode ser que
Hazel não goste desse tipo de conduta.
— Não sei ser de outro jeito — respondi, porque não mudaria
por causa de uma garota que mal conhecia.
— Tente, Mason. — Mia encolheu os ombros. — Pode ser que
assim, vocês consigam conviver de forma pacífica.
— Foi assim que o Josh conquistou seu coração de pedra? —
zombei, vendo-a revirar os olhos.
— Claro que não. Vocês dois são totalmente diferentes. A
Hazel claramente não vai com a sua cara, enquanto o Josh... bem...
— Mia sorriu, apaixonada. — É impossível alguém não gostar dele,
não é?
Sorri muito a contragosto para ela e dei um peteleco em seu
braço antes de me concentrar em comer para irmos logo embora.
Mais tarde quando chegamos em casa, tentei ignorar que
minha irmã e meu melhor amigo estavam se beijando no sofá da sala
e fui para meu quarto, com o celular na mão, pensando se deveria ou
não mandar uma mensagem para Hazel. Será que ela se lembrava
que tinha marcado comigo um horário para nos encontrarmos
amanhã? Depois do seu surto no banheiro, não sabia mais se a
garota ainda pretendia aparecer e não queria ficar igual um idiota
esperando.

Mason: “Devo esperá-la no horário marcado amanhã?”

Encarei a pergunta, achando que tinha ficado estranho, ela


solta daquele jeito, meio aleatória.

Mason: “Olha, não era minha intenção assustar


você nem nada parecido com isso.”
Não recebi nenhuma resposta e nem sabia se Hazel estava
online, por isso, fui cuidar das minhas coisas e deixei o celular de
lado até a hora de ir me deitar. Apenas quando estava prestes a
colocar o aparelho para carregar, é que vi a nova notificação e abri a
conversa, encontrando apenas uma palavra.

Hazel Mackenzie: “Sim.”

Sim para qual das duas mensagens? Não sabia dizer. Sua
resposta curta não queria dizer muita coisa, mas decidi que não
ficaria forçando nada. Deixaria para lidar com novos problemas no
dia seguinte, quando estivesse de cabeça fria e ela também. Se
percebesse que não conseguiríamos levar adiante o programa,
procuraria o comitê estudantil responsável pelo Unit e explicaria a
situação. Afinal de contas, por mais que não fosse ideal e nem
estivesse nos meus planos iniciais participar disso, pelo menos eu
estava tentando. Não cabia a mim forçar a outra parte a tentar
também, se ela não quisesse.
Com isso em mente, apaguei as luzes do quarto e fui me deitar,
sem conseguir evitar que a expressão de Hazel ficasse impregnada
na minha mente, mesmo depois de fechar meus olhos. A forma
apavorada como a garota me encarou no banheiro me deixava muito
perturbado ao relembrar o pouco que Sidney falou para mim. Que
diabos tinha acontecido com a baixinha para que ficasse daquele
jeito?
— Isso talvez não seja da sua conta, Mason — murmurei, me
ajeitando na cama e virando de lado, procurando pelo sono. — Não
se meta em mais problemas...
Era isso que eu precisava fazer. E levaria em consideração
também a sugestão de Mia sobre tentar agir de forma mais neutra
possível. Se a garota não gostava de brincadeiras, então eu não
brincaria. Faria apenas minha parte no programa até que os dois
meses chegassem ao fim e pudesse retornar à minha adorada rotina.
Hazel Mackenzie
Apertei três vezes o botão lateral do celular para aumentar
bastante o volume da música. Em meus fones de ouvido tocava
“Patience” do Guns N`Roses, uma das poucas que conseguiam me
acalmar e curar meus machucados. Eu possuía uma playlist
exclusiva para dias como aquele, em que queria sumir e esquecer do
mundo lá fora, e a escutava desde o momento em que me deitei.
No quarto escuro, encarava o teto decorado com sombras de
galhos de árvore que a fresta na cortina deixava entrar. Puxava o ar
devagar pelo nariz e o soltava pela boca, no mesmo ritmo lento, já
que o sono não queria aparecer de jeito nenhum. Na cama ao lado,
Ava dormia tranquilamente há alguns minutos e eu me perguntava
como devia ser não possuir nenhum fantasma para espantar à noite.
Não que eu os tivesse sempre, ainda bem. Mas algumas coisas
e situações os desencadeavam e traziam tudo à tona, como o que
aconteceu esta tarde. Agora, toda vez que eu tentava fechar meus
olhos, era o rosto dele que aparecia. Sardas em suas bochechas, o
cabelo ruivo que caía sobre a testa e os olhos azuis. O melhor amigo
do meu irmão mais velho. Uma das pessoas em quem eu mais
confiava no mundo.
Travei a mandíbula quando senti a queimação subir pela minha
garganta e refletir em meus olhos. Engoli em seco e me virei de lado,
de costas para Ava e de frente para a parede branca, aumentando
um pouco mais o volume da música que chegava ao fim, mas que eu
colocaria para tocar de novo. Era a primeira vez que eu entrava em
crise desde que me transferi para a UCLA e não queria ter que
explicar o motivo para minha colega de quarto.
Fechei os olhos e sussurrei a letra da canção, puxei meus
joelhos para cima ao curvar mais meu corpo e pressionei a lateral do
meu rosto contra o travesseiro. Não podia deixar o passado me
vencer, pois era apenas isso que ele era. Minha realidade era aqui e
agora, longe de tudo que um dia me fez mal. Palavras sábias da
minha psicóloga, que eu sempre me esforçava para repetir, mas que
nem sempre surtiam o efeito rápido e desejado.
Eu precisaria encarar situações muito piores na vida adulta e
não podia me deixar afetar por qualquer coisa. Não podia fugir e sim,
encarar de frente o que viesse, e foi pensando nisso que em algum
momento, consegui pegar no sono, com os olhos úmidos, o peito
apertado e a esperança de fazer melhor no dia seguinte.
Por isso, mesmo morrendo de vontade de desmarcar com
Mason e enrolar um pouco mais, eu mantive o compromisso de
encontrar com o jogador no final da tarde, já que era o único horário
que eu tinha livre naquela quarta-feira e que coincidia com o período
em que o time de futebol estaria treinando.
Não nos falamos depois que respondi curta e grossa sua
pergunta, mas também não me importava com isso. A culpa tinha
sido dele por eu ter passado uma noite horrível e só ter conseguido
dormir lá pelas duas da manhã. Meu dia no ginásio nem rendeu
direito porque me sentia cansada e indisposta, até precisei inventar
uma mentira para Suzy, que ficou preocupada comigo.
— Sabe que não me engana, né? — disse Sid quando ficamos
a sós no vestiário depois do treino. — Você não dormiu direito?
— Demorei, mas consegui dormir — respondi, enquanto vestia
minha calça jeans. — Só quero esquecer o dia de ontem, então falar
sobre isso não é a melhor opção.
— Hazel, você sabe o que penso. Acho que deveria pedir para
ser retirada do programa, diga que tem problemas com o Mason ou,
sei lá, inventa qualquer outra coisa. Ninguém pode te obrigar a nada.
Desvirei meu moletom do lado do avesso e o passei pela minha
cabeça antes de fechar meu armário e me encostar nele. Sidney me
encarava de braços cruzados, sentada no banco diante de mim, com
o semblante carregado de preocupação. Eu odiava dar trabalho para
qualquer pessoa, inclusive ela.
— Não quero fazer isso, Sid — respondi, me abaixando para
amarrar os cadarços do tênis. — Se eu fizer, estarei desistindo.
Fugindo. E não posso passar a minha vida com medo de encarar
situações que podem me deixar desconfortável.
— Mas Hazel...
— Eu quero ser diferente. Quero ser a garota que não tem
medo de nada. — Sorri, respirando bem fundo. — Quero poder levar
uma vida completamente normal, me interessar por garotos,
namorar, casar...
Sentir vontade de fazer sexo sem querer vomitar. Andar na rua
sozinha à noite sem achar que estou sendo seguida. Conversar com
um homem sem me colocar sempre na defensiva. Enfim, encarar
diversas situações comuns para garotas da minha idade, que
pareciam um pesadelo completo para mim e me traziam ansiedade
só de pensar nelas.
Sentei-me ao lado de Sidney para pentear meus cabelos e
peguei um elástico daqueles bem minúsculos para prender apenas a
mecha frontal no alto da cabeça. Conferi as horas no meu celular e vi
que ainda daria tempo de fazer a consulta online com a Sra.
Thompson, pois ontem à tarde liguei para ela e implorei para que
arranjasse um tempo hoje. Sabia que era muito mais prático eu
arranjar uma psicóloga que pudesse me atender presencialmente,
mas há anos me sentia apegada demais àquela mulher que já
conhecia todos os meus traumas e sabia exatamente como me
apoiar.
Despedi-me de Sidney e fui direto para o meu quarto,
aproveitando que Ava estava saindo com um rapaz e nunca voltava
cedo para o dormitório. Pude fazer minha sessão de terapia com
tranquilidade, contei para a Sra. Thompson o que havia acontecido
na tarde anterior e como me senti durante o resto do dia. Ela me fez
falar um pouco sobre Mason, até mais do que eu gostaria, mas no
fim da consulta, me sentia mais leve.
Na opinião dela, eu estava certa em querer enfrentar a situação
e levar o programa adiante, mas deveria contatá-la se tivesse
alguma outra crise desencadeada por causa disso. Concordei, me
despedi e segui para minhas aulas daquela tarde, colocando na
mochila alguns livros que eu ainda precisaria devolver à biblioteca,
pois estava no último dia do prazo.
Foi justamente por causa deles e por não querer ganhar uma
advertência, que acabei me atrasando para encontrar Mason. Ele
tinha marcado às quatro da tarde no lugar onde o time treinava, e já
passava das cinco quando saí da biblioteca que estava um inferno
de tão lotada. Para piorar, eu não sabia onde ficava o tal Spaulding
Field e quando percebi que estava perdida, precisei parar e olhar o
mapa do campus. Descobri que ficava atrás do Pauley Pavilion, o
estádio que era a casa do basquete feminino e masculino, e fiz o
caminho para lá o mais depressa possível.
Mason só esqueceu de me explicar como eu entrava no campo,
considerando que ele não estava mais no local de espera,
obviamente. Eu nunca tinha ido até aquela região, então circulei toda
a área, até achar a entrada do prédio que parecia ser o centro de
treinamento deles e que eu esperava que desse acesso ao campo.
O edifício baixo era moderno e todo espelhado, muito bonito,
com um saguão espaçoso e arejado, que me levou às dependências
do que era realmente a base do futebol americano da UCLA. O lugar
estava razoavelmente vazio e quando expliquei à recepcionista o que
estava fazendo ali, ela me indicou a direção que devia tomar para o
campo de treinamento.
Não sei dizer o que fiz de errado ao reproduzir a dica dela, pois
acabei entrando sem querer num vestiário. Parei por um segundo,
assimilando o espaço ao meu redor, até que um jogador
completamente pelado apareceu diante de mim.
— Opa. — Ele levou um susto, que logo passou quando sorriu.
— Está perdida ou acabou de me achar?
Em sua mão, estava o helmet[9] que soltou no banco antes de
se aproximar. Meus olhos foram atraídos até o objeto e flashes
dispararam na minha cabeça, trazendo lembranças quase como um
déjà-vu muito inconveniente. Mudava apenas a cor, nada além disso.
— Sério, o que faz aqui? Nós nos conhecemos?
Quando deu mais dois passos na minha direção, eu ergui
minhas mãos à frente do corpo e tentei recuar, sentindo o bolo preso
na minha garganta e sem conseguir encontrar minha voz. Sabia que
logo meu coração aceleraria tanto que eu me sentiria capaz de
perder as forças e desmaiar, mesmo que fosse apenas um alarme
falso toda vez que acontecia.
Algo duro, mas ao mesmo tempo macio e quente, bateu contra
as minhas costas quando tentei fugir, e ao erguer a cabeça, vi uma
montanha alta de músculos vestida com o uniforme azul e dourado.
— Hazel?
Antes que eu conseguisse me esquivar, a mão de Mason
segurou a minha com força e um de seus braços passou pela minha
cintura. Percebi que estávamos nos movendo e me preocupei em
manter a atenção para onde ele me levava, até que paramos no
meio de um corredor e me permiti fechar os olhos.
— Você está bem? — perguntou ao me soltar.
Puxei o ar uma vez, depois mais outra, controlando minha
respiração. Mas não consegui me recuperar porque fui puxada para
dentro de uma sala e obrigada a me sentar numa cadeira.
— Sério, o que está acontecendo? Elliot fez alguma coisa com
você?
— Elliot? — perguntei, sem gaguejar.
Então esse era o nome dele. Elliot. Não Thomas. De cabeça
baixa, encarei meus tênis e sentei sobre minhas mãos quando vi
meus dedos tremerem levemente.
— Elliot é quem você viu no vestiário — murmurou Mason em
algum lugar ao meu lado. — Precisa me dizer se ele fez ou falou
alguma babaquice.
Neguei num gesto de cabeça, separando o que era realidade e
o que não passavam de lembranças que machucavam. Elliot não
teve culpa de eu ter invadido o vestiário no momento em que se
trocava. Era eu quem não devia ter entrado ali. Ou talvez eu nem
devesse estar aqui, agora, fazendo isso. Não era forte o suficiente.
— Por que ficou apavorada?
Ergui a cabeça devagar e busquei pelo jogador, que estava
sentado numa cadeira na fileira acima da minha, com o corpo
inclinado para a frente e os cotovelos apoiados nos joelhos. Ele
vestia a camisa azul do time e a bermuda num tom escuro de
amarelo, felizmente, não estava com o helmet.
— Não fiquei — respondi, enxugando meu rosto que tinha
molhado com algumas lágrimas. — Preciso ir embora.
— Não sem antes me explicar por que você age assim. —
Mason se levantou e se aproximou, sentando na cadeira bem ao
meu lado e se virando na minha direção. — Eu pretendia ficar na
minha, mas não dá, quando você está sempre estranha pra caralho.
Senti meus olhos queimarem e engoli em seco, pensando que
talvez, a melhor opção mesmo fosse sair do programa. Tenho
certeza de que Sidney me substituiria se eu pedisse e ela seria
perfeita para isso.
O jogador me encarava com a testa franzida e o pescoço
brilhando com o suor. Tomei um tempo para observar o lugar onde
estávamos e, assim, conseguir recuperar minha voz habitual, sem
correr o risco de gaguejar. Notei que era uma sala que devia servir
para reuniões do time, pois havia cadeiras enfileiradas de frente para
um telão na parede diante de nós.
— Vai mesmo ficar calada?
— Não — respondi, voltando a olhar Mason. — Vou sair do
programa. Amanhã tentarei falar com alguém do comitê estudantil.
Ele certamente não esperava ouvir isso, pois arregalou os olhos
antes de estreitá-los para mim.
— Por qual motivo?
— Não gosto de futebol americano.
— Não gosto de ginástica artística e não estou reclamando —
declarou. — Acha que está todo mundo feliz com essa maluquice?
Por que pensa que tem o direito de desistir e ser beneficiada quando
outras pessoas também gostariam de ser liberadas do programa?
— Acho que ter sido estuprada aos doze anos por um jogador
de futebol americano me concede esse direito.
Coloquei um sorriso no rosto, porque assim espantava as
lágrimas, então me levantei enquanto Mason permanecia imóvel. Eu
não contava nunca isso para ninguém, mas se tivesse que usar essa
carta na manga para me livrar daquela obrigação, então usaria.
Sabia que no momento em que revelasse a informação, justamente
para alguém como Mason Johnson, a notícia poderia se espalhar
como um vírus por toda a universidade, mas não pensei muito nisso
na hora de abrir a boca.
Só então percebi que estava sem a minha mochila, que deve
ter ficado caída na porta do vestiário quando levei o choque visual.
Portanto, me dirigi para a saída daquela sala e olhei uma última vez
para o jogador, que me encarava boquiaberto.
— Se eu não conseguir a dispensa, volto a te procurar — avisei
e puxei a maçaneta para sair daquele lugar.
Mason Johnson
Precisava consertar aquela rachadura e depois comprar uma
tinta para passar ali em cima e deixar tudo como novo. Era feio pra
caralho e estava me irritando muito nos últimos vinte minutos que
passei deitado olhando para a porra do teto acima da minha cama.
Há quanto tempo a rachadura existia e eu nunca tinha percebido?
— Mason? — Ouvi a voz de Mia e suas batidinhas na minha
porta. — Vou entrar, não esteja pelado.
Apenas baixei os olhos na direção do meu pau, que
descansava dentro do short, então, tudo seguro. Movi a cabeça para
ver minha irmã abrir e fechar a porta do quarto antes de parar aos
pés da minha cama com um sorrisão no rosto.
— Vou dar uma olhada em alguns automóveis hoje à tarde.
Quer ir comigo?
— Que horas?
— Depois da minha hora de almoço — respondeu ela. — Olivia
já me deu a folga.
Assenti, voltando a observar a rachadura.
— Você está bem?
— Sim.
— Tem certeza? Não deveria estar se arrumando pra sair de
casa?
— Já tinha notado essa rachadura? — perguntei, apontando
com o dedo e Mia jogou a cabeça para trás. — Ela não é irritante?
— A casa é velha, Mason... Em quase todas as paredes há
algo assim. Tem certeza de que está tudo bem?
Eu me sentia bem. Tirando o fato de que não tive uma boa noite
de sono porque não parava de pensar numa determinada conversa.
E foi com isso em mente, que eu me sentei no meio da cama e
encarei minha irmã, que estreitou os olhos na minha direção e
apoiou as duas mãos sobre a barriga.
— Uma garota não inventaria que uma coisa muito ruim tenha
acontecido com ela, né?
— O quê? — Mia franziu a testa. — Como assim? Do que está
falando?
Ah, sei lá. Nem eu sabia direito o que estava dizendo e no que
estava me metendo, só queria a opinião de uma pessoa de fora. De
uma mulher, de preferência.
— Eu ouvi uma confissão de algo muito ruim que aconteceu
com uma pessoa e cogitei ser mentira, mas ela não tem cara de ser
alguém que inventaria isso.
— Entendi. É alguma das iludidas que saem com você? —
Minha irmã encolheu os ombros e se aproximou de mim, afagando
minha cabeça. — Pobrezinho, descobriu que algumas mulheres
fingem orgasmo?
Dei um safanão na mão da filha da mãe e pulei da cama,
pegando-a pelos ombros e virando seu corpo na direção da porta do
meu quarto. Mia abafou uma risada enquanto tentava resistir à
expulsão, mas nossos tamanhos eram muito discrepantes e ela
sempre perdia fácil para mim.
— De repente, desisti de pegar conselhos com você, obrigado
— falei, abrindo minha porta e a colocando para fora. — Me mande o
endereço mais tarde e eu apareço pra ver os carros contigo. Chata!
Ela assoprou um beijinho para mim antes de descer as
escadas, feliz da vida por ter me deixado minimamente irritado, e eu
pensei que por muito pouco, tinha gente que saía rolando os
degraus. Balancei a cabeça, frustrado, voltando ao meu quarto e
separando uma roupa antes de ir tomar banho.
Minha cabeça não parou de funcionar em nenhum momento,
pensando o tempo todo naquela frase sinistra que saiu da boca de
Hazel um pouco antes de se despedir de mim. Cada vez que eu
pensava mais nisso, mais tinha certeza de que não era invenção.
Nenhuma garota brincaria com algo tão grave e aquela confissão
meio que se encaixava com algumas de suas reações que eu já
tinha testemunhado.
Convicto disso e da merda enorme que aquilo era, eu não
consegui me reconhecer direito quando parei na porta do ginásio
onde a equipe de ginástica treinava e esperei. Claro que depois de
passar os primeiros doze minutos em pé sem saber se naquela
manhã a garota apareceria por lá, eu comecei a me sentir meio
idiota. Devia ter tentado confirmar os horários dela antes de agir por
impulso e olhei para o copo na minha mão, pensando se jogava no
lixo ou tomava eu mesmo.
Quando me virei de costas para ir até a lata de lixo e partir
rumo à minha primeira aula do dia, que inclusive, já tinha começado,
avistei Hazel caminhando tranquilamente pela calçada, segurando as
alças da mochila pendurada nos ombros, sorridente, tagarelando
com sua amiga Ava.
Quando as duas me viram, estacaram a alguns metros de mim
e eu me aproximei, notando que a outra mocinha me olhava com a
intenção de me estrangular.
— Bom dia, senhoritas. — Sorri e encarei Hazel. — Podemos
conversar?
— Nós temos horário a cumprir — disse Ava, cruzando os
braços.
— Apesar de já ter perdido o meu, não deixarei que perca o seu
— falei, mas sem tirar os olhos de Hazel. — Posso ter um minuto do
seu tempo? A sós?
— Não há segredos entre nós — retrucou a amiga dela,
passando um braço por cima dos ombros da baixinha. — Portanto, o
que tiver pra dizer a Hazel, pode falar na minha frente.
Encarei de forma mais intensa os olhos verdes, tentando
identificar se ela concordava com o que Ava tinha acabado de dizer.
Não havia mesmo nenhum segredo? Porque algo dentro de mim
parecia sentir o contrário, como se aquela confissão do dia anterior,
não fosse dita muitas vezes por aí.
E eu estava certo, afinal de contas, porque Hazel engoliu em
seco e virou o rosto na direção da amiga, tocando sua mão e
sorrindo para ela.
— Eu resolvo, Ava. Pode ficar tranquila. — A ginasta encolheu
os ombros e meneou o queixo para o ginásio. — Entre, irei logo em
seguida.
Lancei um sorriso para a menina que parecia disposta a puxar
meus testículos se Hazel pedisse e acenei para ela quando passou
por mim e seguiu seu destino. À minha frente, a baixinha cruzou os
braços e sustentou o olhar no meu.
— Eu disse que te avisaria se não conseguisse...
— Ser dispensada — completei ao impedir que continuasse sua
fala. — Sim, eu me lembro. Só não acho que deva fazer isso. — O
copo gelado em minha mão me fez acordar um pouco e estiquei o
braço. — Comprei pra você, como uma oferta de paz.
— Não bebo café — respondeu, arqueando uma sobrancelha.
— Obrigada.
— É milk-shake, você tem cara de quem gosta de coisas doces.
E fique tranquila, não coloquei veneno dentro.
A garota estreitou os olhos e pareceu um pouco sem-graça
quando pegou o copo da minha mão, levando o canudo à boca e
experimentando a bebida. Não fez cara feia, o que indicava que tinha
gostado ou, pelo menos, tolerado o sabor. Mas ela apenas deu mais
um gole antes de abaixar o braço ao lado do corpo e voltar a me
encarar.
— Então, agora você vai me tratar bem porque ficou com pena
de mim?
— Não — respondi, alongando um pouco o meu pescoço e
torcendo para não falar nada que soasse babaca. — Só não quero
que saia do programa porque, apesar de me detestar, prefiro lidar
com você do que com alguma de suas amigas que parecem
ansiosas pra arrancar meu pau... pênis. — Merda, cedo demais pra
falar idiotice. — Minha cabeça. — Hazel arqueou a sobrancelha. Ela
ia me matar. — A de cima. Não... Bem, esquece.
A ideia de comprar um milk-shake foi realmente boa, porque
Hazel colocou o canudo mais uma vez na boca, e enquanto ela
sugava a bebida, talvez evitasse me xingar. Eu podia jurar que era
isso que se passava naquela cabeça diabólica enquanto seus olhos
queimavam sobre mim, até que afastou o copo e usou a mão
esquerda para segurar o cotovelo direito, alternando o apoio dos pés.
— Acha que te contei aquilo ontem pra que sentisse pena ou
fosse legal comigo? — A baixinha esboçou um sorriso debochado. —
Nem tudo gira em torno do seu umbigo, Mason. Pensei apenas em
mim, porque sei que vai me fazer mal continuar nesse programa.
— Você... hm... quer conversar sobre isso?
Senti meu rosto esquentar, porque parecia muito estranho me
colocar como confidente de uma garota, se nem mesmo com a
minha irmã eu me sentia tão à vontade para conversar sobre
assuntos íntimos e pessoais. De qualquer forma, por mais que
tivesse medo da resposta, achei que fosse educado perguntar e me
colocar disponível.
A reação de Hazel foi rir. Soltar uma gargalhada alta e fazer
algumas pessoas que passavam por nós, olharem com curiosidade
antes de continuarem seus caminhos.
— Sério? — perguntou a garota. — Acha que quero me abrir
com você? O pegador Mason Johnson? Hum, não, obrigada. É para
isso que eu pago a minha psicóloga.
Graças a Deus!
— Ok, certo. — Pigarreei, olhando rapidamente o horário em
meu relógio de pulso. — Mas você não querer mais participar do Unit
tem a ver com a gente? Jogadores de futebol americano? Porque se
for só isso, você não precisa ficar a sós com nenhum deles. Aquilo
ontem só aconteceu porque nos desencontramos. Mesmo assim,
ninguém ali faria mal a você.
Ouvi uma risada baixinha que ela não fez questão de esconder.
— Claro.
— Tudo bem, mas falo por mim. — Levei a mão ao peito. —
Não sou tão babaca assim. Não a deixarei sozinha quando
estivermos lá.
— E por que eu confiaria em você?
— Porque eu sou incrível — respondi, sorrindo e ignorando seu
olhar de descaso. — O fato de ter facilidade em dormir com várias
mulheres não faz de mim um filho da puta que não as respeita.
— Mason, eu preciso entrar. — Hazel tentou passar por mim,
mas me coloquei em seu caminho para impedi-la.
— Saia comigo.
— Oi? — Aquele pedido faria garotas arrancarem suas
calcinhas, mas Hazel me olhou como se visse um fantasma.
— Não do jeito que parece — expliquei, erguendo minhas
mãos. — Saia apenas... fora desse ambiente do campus. Você já
conheceu minha irmã, certo? Por que a gente não faz algum
programa diferente? Algo que não tenha relação com o Unit? Sei lá,
pra você me conhecer melhor e pegar confiança em mim.
— Não tem lógica nenhuma — respondeu, arqueando a
sobrancelha. — Por que você simplesmente não aceita que eu peça
dispensa?
— Porque eu detesto desistir de algo e detesto que outras
pessoas sejam fracas a esse ponto.
Hazel abriu e fechou a boca, soltando um suspiro logo em
seguida.
— Está livre depois do almoço? Vou com minha irmã escolher
nosso novo carro. Quer me acompanhar?
— Tenho uma palestra pra assistir às três e meia — disse ela,
quase se dando por vencida.
— Estará de volta a tempo, prometo.
A garota ficou pensativa e passou a língua pelo lábio inferior,
mas não de um jeito sensual que me deixaria de pau duro. Acho que
ela sequer se preocupava em parecer atraente diante de mim, já que
me detestava. Mesmo assim, eu me flagrei observando a ponta da
língua que fazia o caminho de um lado para o outro, até que tocasse
o centro do lábio superior e sumisse dentro da boca, que formou um
bico em seguida.
— Tudo bem — concluiu, fazendo parecer que aquelas
pequenas palavras pesavam uma tonelada.
— Você não vai se arrepender — respondi, sorrindo e recuando
alguns passos para seguir meu caminho. — A gente combina por
mensagem. Boas piruetas!
Ignorei que Hazel tenha franzido a testa numa careta e me virei
de costas, satisfeito com aquela pequena, mas muito importante,
vitória.
Hazel Mackenzie
Estava sentindo um pouco o meu tornozelo direito e sabia que
teria que ficar mais tempo do que o habitual na fisioterapia, que era
meio que uma das maiores aliadas de um ginasta. Principalmente
depois de passar as últimas horas concentradas em treinar alguns
movimentos, como o Dos Santos[10], que exigia muito da musculatura
e me deixava exausta. Por isso mesmo, enviei uma mensagem de
texto para Mason, quando ele marcou o horário comigo, e
desmarquei aquele encontro estranho.
Tomei um banho rápido, vesti meu jeans e um casaco leve,
enfiando meus fones nos ouvidos e dando play no telefone, que
começou a tocar “Anti-Hero” da Taylor Swift. Eu me apressei pelo
final do corredor quando vi que Sidney estava caminhando de
costas, e pulei com meus braços ao redor dos ombros dela, pegando
minha amiga de surpresa.
— Até parece que eu não sei quem é — murmurou, se
libertando de mim e sorrindo ao se virar. — Está indo pra casa?
Pausei a música que tocava em meus fones, mas não os tirei
enquanto conversava com ela.
— Tenho um tempinho livre pelas próximas horas — respondi,
prendendo o braço dela no meu. — Vamos fazer algo interessante?
— Sabe que nunca digo não pra você, mas hoje não dá porque
preciso terminar um trabalho pra amanhã.
Fiz uma careta de frustração, mas eu a entendia e sabia que os
estudos sempre vinham em primeiro lugar. Nós caminhamos juntas
para fora do prédio, enquanto discutíamos sobre um filme que
desejávamos assistir no cinema e tentávamos chegar a um horário e
dia em comum para marcarmos, quando Sid me cutucou na altura
das costelas e me fez olhar para o lado. No mesmo lugar onde o
encontrei de manhã, avistei Mason parado, com ambas as mãos nos
bolsos do agasalho do Bruins e, apesar dos óculos escuros, sabia
que olhava em minha direção.
— Ele começou a perseguir você? — perguntou minha amiga.
— Acho que não. — Suspirei, querendo espantá-lo dali. — Ele
me chamou para sair e eu desmarquei.
— Para sair? — Sidney parou de andar e se virou para mim,
arregalando os olhos. — E você cogitou aceitar? Não sei se fico feliz
por ver uma evolução acontecendo ou se me preocupo por ser
justamente com o cafajeste da UCLA.
— Um dos — consertei. — Um dos cafajestes. Ele não é o
único, né?
Minha amiga levou a mão ao peito e recuou um passo, toda
exagerada.
— E ela agora o defende — falou como se eu não estivesse
bem na sua frente. — Meu Deus, o mundo está louco!
— Não estou defendendo. — Ri, dando um tapa na bunda de
Sidney quando a abracei apertado. — Finja que precisa muito da
minha ajuda para esta tarde.
— Mas ele te chamou para fazer o quê?
— Acho que... ver carros pra comprar. Algo assim. — Quando
soltei minha amiga, aproximei minha boca de sua orelha. — Eu
contei a ele sobre meu passado.
Sidney estava pronta para retrucar minha confissão quando
Mason desistiu de esperar e parou ao nosso lado, com o rosto
claramente virado na minha direção. O filho da mãe era muito bonito
e sabia disso, tanto que usava sua aparência a seu favor, dando
aqueles sorrisos de quem não valia nem mesmo uma nota falsa.
— Pronta para irmos? — questionou ele.
— Eu desmarquei com você — respondi, pensando em conferir
no celular, se ele tinha recebido a mensagem.
— Blá-blá-blá. — Mason revirou os olhos. — Eu vi e não
aceitei. É tudo desculpa. Na verdade, acho que é só medrosa
mesmo e não tem muita coragem de interagir com as pessoas. — O
idiota virou a cabeça para Sidney e levou a mão ao peito ao se
inclinar. — Depois falam de mim, sabe? Mas estou aqui tentando ser
legal e me desculpar pelas merdas que fiz, mas a Hazel é meio
teimosa e chata.
— Não é bem assim. Vou ter que ajudar a Sid a fazer umas
pesquisas para um de seus trabalhos e...
— Eu posso me virar sozinha, amiga — respondeu a traíra,
coisa que eu jamais esperava que fizesse. — Pode ir para o seu
encontro.
— Não é um encontro. — Nisso, pelo visto, tanto eu quanto
Mason concordávamos, considerando que falamos ao mesmo
tempo.
Mesmo assim, o que Sidney estava pensando ao fazer aquilo
comigo? Ela sabia que eu não ia muito com a cara do rapaz e
tentava fugir dele, então por que me desmentiu e me jogou na cova
do leão?
Arregalei meus olhos para ela, que apenas sorriu e ajeitou os
cabelos antes de se curvar e beijar meu rosto para se despedir.
— Sei lá, agora ele me passou confiança. Vai viver um pouco
— sussurrou antes de se afastar e acenar para Mason. — Cuida bem
da minha amiga ou eu te mato.
Encarei as costas de Sidney, que caminhava na direção que ela
sempre tomava ao ir para seu dormitório e, aos poucos, girei o corpo
para olhar o jogador ao meu lado. Me incomodava bastante os
óculos escuros e eu até temi ter falado isso em voz alta, porque
Mason os empurrou para cima e os prendeu nos cabelos
bagunçados.
— Parece que agora você não pode mais dar nenhuma outra
desculpa — murmurou, sorrindo e olhando no relógio. — Podemos
ir? Vamos pegar ônibus, espero que não tenha nenhum problema
com isso.
— Não nasci rica, sei o que é andar de transporte público.
— Temos algo em comum, que maravilha, Hazel! — Senti a
ironia em sua voz e revirei meus olhos quando comecei a caminhar
ao seu lado. — Acho ótimo termos experiências para compartilhar.
Dito isso, ele simplesmente arrancou um dos meus fones do
meu ouvido direito e o enfiou no dele como se tivesse alguma
intimidade comigo para fazer aquilo. Quis dar um tapa em suas
costas, mas Mason começou a correr em direção ao ponto de ônibus
mais próximo.
— Temos que pegar aquele que está chegando! — avisou, me
obrigando a segui-lo na correria para não ficar pra trás.
Até deixei para pedir meu fone de volta depois, ocupando-me
de apressar meus passos porque o coletivo já estava parado no
ponto e uma pessoa havia descido. Mason o alcançou primeiro,
subindo os degraus e esperando por mim, que cheguei esbaforida e
com vontade de matar o garoto.
— Não sabia que corria tão devagar — murmurou quando me
juntei a ele.
— Minha perna é metade da sua, babaca.
Ele gargalhou quando passamos pelo motorista e notamos que
o ônibus estava um pouco cheio, com todos os assentos ocupados.
Ou quase todos, porque vimos que havia uma única poltrona, da
fileira individual mais ao fundo, que ainda encontrava-se vazia. Nos
movemos até lá e paramos os dois diante dela, até que Mason me
encarou.
— Pode sentar.
— Estou bem aqui — respondi, sem nem saber o motivo.
Ele arqueou uma sobrancelha e eu também estranhei minha
recusa. Talvez apenas não quisesse dar o braço a torcer e aceitar
qualquer que fosse seu gesto de cavalheirismo. Sendo assim, ele
não se fez de rogado e ocupou o lugar depois de dar de ombros, me
lançando um sorriso provocante.
— Seus fones servem apenas de enfeite ou você vai colocar
alguma música pra tocar? — questionou, virando o rosto na direção
da janela e abaixando novamente os óculos escuros. — Temos uma
viagem de uns quinze minutos pra curtir.
Suspirei, usando uma mão para me segurar quando o
transporte entrou em movimento e mexi no meu celular com a que
ficou livre, dando play em “SNAP”, da Rosa Linn.
Tentei ignorar que estava a caminho de um programa inusitado
pelo qual eu não me interessaria, com um garoto que não
acrescentava nada na minha vida, prestes a perder um tempo que
poderia ser precioso para outras coisas. Ainda tinha a questão da
irmã de Mason, que estaria presente e eu não sabia o que pensaria
ao nos ver juntos. Se fosse eu vendo a situação de fora, poderia me
equivocar e pensar que se tratava de duas pessoas se relacionando
e passando um tempo juntos. E eu, definitivamente, não gostaria que
pensassem isso justo de mim e Mason.
Devia ter inventado uma desculpa convincente quando Sidney
me sabotou, mas era tarde demais para pensar nisso. Minha atenção
foi toda desviada à freada brusca que o motorista deu e que fez meu
corpo ser lançado para a frente do corredor livre. Precisei apertar
firme meus dedos ao redor do ferro onde me segurava, e quando a
lei da física me jogou de volta para trás, a maneira como me
desequilibrei fez com que caísse exatamente sobre o colo do
jogador.
Achava que esse tipo de situação só acontecia em filmes e
seriados, mas ali estava eu, muito patética, estatelada no colo de um
quase estranho. Depressa, virei meu rosto na direção dele e encarei
seus óculos escuros.
— Nem tente! — avisei, dando um tapa em sua testa. —
Guarde qualquer piada para si mesmo.
— Sequer tive tempo de pensar em algo antes de apanhar —
murmurou enquanto eu me levantava e recolhia minha dignidade. —
Sabe, eu ofereci o lugar. Se caiu e passou vexame, a culpa é
totalmente sua.
Meu coração tinha acelerado mais do que deveria. Parecia tão
agitado quanto nos dias de competição, quando eu precisava pular e
girar no ar, podendo cair e sofrer um acidente a qualquer momento.
Naquele caso específico, acho que a condição para me deixar
nervosa daquele jeito foi o fato de ter tido mais contato do que
gostaria com o jogador.
Procurei disfarçar que tinha ficado com vergonha e mexi no
meu celular, segurando com mais firmeza no suporte e movendo um
pouco meu pé direito de forma que me sustentasse melhor. No
entanto, Mason se levantou, olhando-me de perto e fazendo uma
leve pressão no meu ombro.
— Sente-se logo e deixe de frescura. — Ele sorriu. — Se negar
mais uma vez, vou achar que prefere meu colo.
Suspirei, resignada, mas achei melhor obedecer. Ajeitei meu
fone que estava quase caindo e me sentei de uma vez. Virei o rosto
para observar tudo pela janela e evitar notar qualquer outra coisa,
considerando que ele estava de pé e perto demais de mim.
Não demorou para que um grupo de estudantes entrasse no
ônibus e reconhecessem o famoso jogador do Bruins, se
aproximando para tietar Mason, que já se achava muito sem precisar
disso. Procurei ignorar toda a atenção que ele recebia e a conversa
animada que rolava, mas era até difícil não observar a forma como
uma das meninas parecia ansiosa para se jogar em cima dele. Como
podia ser tão fácil para o filho da mãe? Ele realmente tinha quem
quisesse, a hora que quisesse?
Por fim, antes do grupo descer, a garota conseguiu fazer com
que Mason anotasse o número dela, sem se incomodar em ser
apenas mais um nome naquela agenda de contatos que devia ser
formada em noventa por cento por mulheres.
— Vamos saltar no próximo ponto — avisou ele, quase me
dando um susto ao falar perto do meu ouvido. — Por que está com
essa cara mais azeda do que nunca? Ficou com ciúmes?
— O quê? — Eu me levantei quando chegou nossa vez de
descer e flagrei seu sorrisinho. — Você ficou louco? Por que eu teria
ciúmes?
— Não sei, talvez você seja possessiva. — Ele deu de ombros,
me irritando. — Tenho amigas que são assim.
— Você tem amigas? Mulheres? — Soltei uma gargalhada
enquanto caminhávamos pela calçada. — Isso me surpreende muito,
considerando que deve ter pegado todas elas em algum momento.
— Claro. Do sexo às belas amizades. — De repente, ele parou
de andar e coçou a nuca, arregalando os olhos. — Quer dizer... é...
esquece o que eu disse.
Mason colocou um sorriso sem-graça no rosto e enfiou as mãos
nos bolsos, voltando a caminhar com uma expressão de quem
parecia arrependido por alguma coisa. A constatação disso me fez
soltar um suspiro cansado e apressei meus passos para alcançar o
idiota e dar um soco nas suas costas. Nada que o machucasse,
claro, porque eu não tinha esse poder.
Quando o garoto se virou, surpreso, eu pensei em lhe dar outro
soco, mas parei e me controlei.
— Sabia que estava com pena de mim. É a segunda vez que
fica estranho por dizer certas coisas.
Puxei o ar pelo nariz, evitando proferir os xingamentos que me
vieram à mente. Eu detestava aquele tipo de atitude, que felizmente
quase não testemunhava mais porque eram pouquíssimas as
pessoas do meu novo círculo social que sabiam sobre o meu
passado. Porém, quando era mais nova e ainda morava em Dayton,
minha vida era um saco porque muita gente sabia do que tinha
acontecido e me tratava como uma pobre coitada.
— Mas não sinto pena nenhuma — disse Mason, tirando os
óculos escuros e encolhendo os ombros. — Ok, desculpe. Só acho
que não sei o que posso ou não falar perto de você.
— Eu te acho irritante independente das asneiras que fale —
avisei, ajeitando minha mochila no ombro. — O que sair da sua boca,
que eu sei que é suja, não vai mudar nada. Pode parecer
surpreendente pra você, mas eu consigo sobreviver mesmo que
ouça palavras com cunho sexual. Impressionante, não é?
Mason suspirou e assentiu, parecendo não saber o que dizer e
isso sim era incrível. Queria que aquele cenário com ele totalmente
mudo se repetisse mais umas vinte vezes naquela tarde, se eu
desse muita sorte.
Infelizmente, assim que chegamos à agência onde ele tinha
marcado com a irmã, o jogador não se calou mais enquanto conferia
os carros expostos e tecia elogios a cada um, além de ter decidido
que precisava narrar — em detalhes — o que significava a sigla de
cada motor, a história por trás de cada modelo e ano de fabricação e
o que seria esperado do desempenho de cada um. Nem mesmo Mia
parecia aguentá-lo, porque estava bem claro que a garota só se
importava mesmo com a cor do automóvel e o valor que ele custaria.
Mason Johnson
O carro que eu queria era um clássico Corvette lindo, pretinho,
com a lataria brilhando e chamando por mim, mas o carro que Mia e
eu fechamos a compra foi um Nissan 2016, branco sem nenhuma
graça, que não tinha sequer um teto panorâmico. Eu já devia
imaginar que o ideal dela era bem diferente do meu, mas cheguei
mesmo a me iludir ao pensar que gastaríamos uma fortuna
comprando um automóvel incrível e com cheiro de novo.
Quem parecia ter se divertido às custas da minha frustração foi
Hazel, que não tirou o sorrisinho do rosto desde o momento em que
fechamos negócio, mesmo que eu continuasse olhando na direção
do Corvette.
A garota tinha demonstrado não entender nada de carro
enquanto eu explicava algumas coisas sobre os modelos que
estávamos olhando, e depois de um tempo eu nem me importei que
tivesse preferido conversar com minha irmã a me acompanhar na
verificação de algumas daquelas máquinas impressionantes.
Quando saímos da loja com a promessa de que o carro estaria
liberado na próxima semana, nos despedimos de Mia para voltarmos
até o campus. Sabia que Hazel tinha uma palestra para assistir, mas
enquanto caminhávamos até o ponto, percebi que ainda havia tempo
de sobra até o compromisso dela.
— Vamos comer alguma coisa? — perguntei.
A garota rapidamente conferiu as horas no celular antes de
balançar a cabeça em afirmação, então puxei a manga de seu
casaco para atravessar a rua com ela. Ali do outro lado havia um
pequeno shopping que tinha uma hamburgueria famosa e eu estava
louco por uma carne suculenta.
— Alguns amigos já vieram aqui e disseram que os sanduíches
são ótimos — avisei quando empurrei a porta e a deixei entrar
primeiro.
— Tomara que eles não tenham gostos duvidosos — debochou
Hazel, escolhendo logo uma mesa perto da parede.
Sorri, controlando-me para não revirar os olhos. A garota não
apenas gostava de implicar comigo, também parecia dirigir o mesmo
tratamento aos meus amigos, talvez pelo simples fato de serem
próximos a mim, seu inimigo número um.
Sentei-me na cadeira de frente para ela e peguei o cardápio de
plástico quando fez o mesmo. Tinham muitas opções disponíveis,
mas ela até que foi bem rápida ao soltar o objeto e me encarar.
— Quero um desse T-Rex Premium — murmurou, apoiando as
mãos na mesa. — Você vai pagar, né? Espero que sim. Mas tem
duas pessoas na fila, tente não passar na frente de ninguém.
— Posso pagar — respondi, largando o cardápio e me
levantando sem desviar meus olhos da atrevida. — Vou considerar
como um gasto por causa do Unit.
A filha da mãe ergueu o polegar para mim, com uma cara
debochada, antes que eu me dirigisse à fila do caixa. Eu merecia um
troféu pela paciência que estava tendo para lidar com ela, porque era
mesmo uma situação completamente adversa às que eu costumava
encarar.
Enquanto esperava, conferi meu celular quando ouvi o barulho
de uma notificação e li as mensagens que tinham chegado no grupo
que compartilhava com meus amigos. Estavam marcando de ir a
uma festa na fraternidade Sigma Pi amanhã, já que no sábado não
jogaríamos em casa e não poderíamos comemorar caso a vitória
fosse nossa.

Mason: Topo qualquer coisa.


Tô mesmo precisando pegar alguém porque
essa semana foi tensa.

Bryan: Cara, você perdeu o jeito, não foi?

Noah: Achei que até o fim de semana você já teria


comido metade das ginastas.

Mason: Não é bem assim...


Bryan: Amanhã tu tira o atraso, cara.

Desisti de responder porque chegou a minha vez de ser


atendido, então guardei o celular de volta ao bolso e fiz meu pedido
junto com o de Hazel. E por falar na garota, vi o momento em que
soltou os cabelos, que caíram sobre os ombros enquanto ela os
ajeitava. Um garoto entrou na lanchonete naquele instante e passou
ao lado de nossa mesa, encarando a baixinha com mais intensidade
do que o normal. Era um cara de boa aparência que eu acreditava
que atraía alguma atenção, mas Hazel sequer fez contato visual com
ele.
— Obrigada. É só aguardar pelo seu número — disse a
atendente ao me entregar a nota fiscal do pedido. — Próximo!
Saí da fila e voltei para meu lugar, sentando-me diante da
ginasta e a observando em silêncio. Ela era bonita pra cacete, só
não parecia fazer muita questão de ser vista e admirada.
— Estava jogando charme pro cara que entrou, né? —
provoquei, apesar de saber que não era verdade.
— O quê? — Hazel ergueu os olhos de seu telefone para o
meu rosto, depois girou a cabeça para os lados. — Quem?
— Ali na fila — respondi, piscando para ela. — O de camisa
listrada, ele pareceu muito interessado. Quase quebrou o pescoço.
Da minha posição, eu não conseguiria olhar sem que virasse
meu corpo todo, mas notei que Hazel olhou na direção que indiquei e
avaliou a pessoa. Sua testa se franziu e as bochechas ficaram
rapidamente vermelhas quando voltou a me encarar.
— Ele está te olhando, não está? — Prendi o riso pela forma
desconcertada em que ficou. — Deve estar feliz por finalmente ter
chamado sua atenção.
— Você quer levar um chute por baixo da mesa? —
resmungou, endurecendo a expressão e erguendo o celular para
tentar esconder o rosto. — Virou cupido, agora?
— Cupido? — Gargalhei, espreguiçando-me na cadeira e
esticando minhas pernas para incomodar as dela. — Longe de mim
fazer isso. Até porque, se alguém for te dar uns beijos, que seja eu.
Sou eu quem estou sofrendo pra te aturar.
Pela reação de Hazel, se pudesse a garota entraria debaixo da
mesa para fugir do meu olhar, pois seus ombros se encolheram e ela
aproximou ainda mais o celular do rosto pequeno.
— Idiota — murmurou, evitando o contato visual. — E eu
achando que você não tinha segundas intenções.
— Mas eu não tenho. — Hazel finalmente soltou um suspiro e
largou o telefone, fixando os olhos nos meus. — Não segundas. São
sempre as primeiras intenções. — Ela abriu a boca, mas a impedi de
falar ao me adiantar: — Veja bem, o ser humano nasceu para
procriar, desde a Idade da Pedra, não é? Faz parte do nosso instinto
comer e se reproduzir, porque é disso que depende a sobrevivência
da espécie.
— E você está tentando se reproduzir? — A filha da mãe
arqueou a sobrancelha em deboche.
— Ainda não. — Sorri. — Mas é necessário praticar para
aprender.
— Sei. — Ela cruzou os braços. — Ou seja, você é bem idiota
já que pratica há anos e ainda não aprendeu. Estou certa? Tipo o
aluno que fica repetindo vários semestres na faculdade.
Encolhi meus ombros, mas não consegui prender a risada.
— Talvez, somente neste caso, ter um aprendizado lento seja
uma vantagem — declarei. — Mas não se vanglorie. Não estou
dando em cima de você, apenas estou disponível se surgir alguma
oportunidade, porque eu nunca desperdiço nenhuma.
Hazel pressionou um lábio no outro e assentiu, arregalando os
olhos numa expressão engraçada.
— Você é muito encantador.
— A sinceridade é meu diferencial — comentei, olhando para a
tela onde apareciam os números de pedidos prontos. — Não engano
ninguém nem prometo romance, mas dou para as garotas apenas o
melhor sexo da vida delas e as trato como princesas quando estão
comigo.
Meu número piscou em vermelho e eu me levantei para retirar a
bandeja, mas me lembrei de algo e me curvei ao lado de Hazel,
apoiando as mãos na mesa.
— Me perdoe pela boca suja, mas você disse que não se
importava.
Belisquei sua bochecha, quase recebendo um tapa na mão que
ela não conseguiu acertar, e saí para pegar nossa comida. Antes de
voltar, carreguei a bandeja até a parte de bebidas e peguei o
refrigerante refil para equilibrar no braço até a mesa.
Hazel era pequenina e tinha aquela aparência delicada, mas
pegou seu sanduíche e deu a primeira mordida como se fosse um
ogro morto de fome. Segurei a risada e aproveitei para ler algumas
mensagens enquanto degustava do meu sanduíche, vendo meus
amigos idiotas ainda teorizando sobre meu fracasso no mundo da
ginástica artística.
— Seu objetivo era levar minhas amigas pra cama?
Ouvi a voz estridente e levantei meus olhos, encontrando Hazel
de expressão fechada e o sanduíche apontado na minha direção
como se fosse uma arma.
— De onde você tirou isso?
— Eu consigo perfeitamente ler de cabeça pra baixo, seu idiota
— respondeu, voltando os olhos para o meu celular.
Mas que merda. Fechei o aplicativo de mensagens e até virei
meu aparelho de cabeça para baixo, só para o caso de a garota
também ter visão raio-x ou coisa pior. Ela não devia estar ocupada
comendo?
— Fofoqueira — murmurei, rindo. — Isso é papo de homem. A
gente se zoa com essas coisas.
— Deve ter se decepcionado, né? Porque nenhuma se jogou
em cima de você.
— Não estou preocupado com isso — respondi, sorrindo para
ela que tinha voltado a comer. — Digamos que, talvez, você e suas
amigas, sejam exceções. Há centenas de outras garotas por aí, não
é mesmo? Amanhã eu me recupero disso.
— Amanhã? — Hazel perguntou enquanto enfiava uma batata
na boca.
— Sim, vou sair. — Sorri. — Estarei em meu habitat natural.
— No esgoto?
Joguei a cabeça para trás ao soltar uma risada, aliviado por não
estar engolindo nada ou teria até me engasgado. A ginasta me
olhava de forma entediada e eu controlei a vontade de apertar a
ponta do nariz dela, que estava vermelhinho.
— Numa festa — expliquei, piscando. — Sabe o que é isso?
— Não vivo numa caverna, Mason. Para a sua surpresa, eu
frequento festas. Muito raramente, é verdade, mas sou uma pessoa
sociável como qualquer outra.
— Não é o que parece.
— Está me desafiando? — perguntou a baixinha, estreitando os
olhos para mim.
— De jeito nenhum, eu acredito em você — respondi, erguendo
uma das mãos. — Até porque não faço a menor questão de te
encontrar amanhã, já que estarei focado em outra coisa.
Hazel assentiu e mordeu mais um pedaço de seu sanduíche,
mastigando-o devagar e em silêncio, com os olhos fixos no copo à
sua frente. Por fim, ela levantou o rosto com um sorrisinho maligno
direcionado a mim.
— Pois decidi que vou nessa festa pra te fazer companhia —
declarou.
— Você pode ir, a festa não é minha, acho que é entrada
liberada. — Encolhi meus ombros e sorri de volta. — O que não
significa que vai ficar perto de mim. Não estou interessado na sua
companhia amanhã.
— Pois você não vai me deixar sozinha — murmurou Hazel,
mordiscando outra batata. — E não poderá ficar com garota
nenhuma. A noite toda. — A filha da mãe estreitou os olhos. — Essa
é a condição para que eu continue no Unit.
— O quê? De repente, resolveu tomar conta da minha vida
sexual? — Inclinei-me sobre a mesa e me aproximei. — Esse é o
seu jeitinho de impedir que outra pessoa usufrua do parquinho?
— Talvez seja apenas o meu jeito de ser uma pedra no seu
sapato. — A garota piscou. — Já que é exatamente isso que você
significa pra mim.
Hazel Mackenzie
Dei de cara com Sidney sentada na cama de Ava quando saí
do banho, ainda enrolada na toalha, para poder me preparar para a
festa mais tarde. As duas não tinham boas expressões em seus
rostos e tais caretas eram direcionadas para mim.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei, apesar de
possuir uma leve desconfiança.
— Exatamente, o que faço aqui, não é mesmo, Hazel? — Sid
devolveu a pergunta, cruzando os braços. — Por que eu precisei
saber pela Ava que a senhorita iria a uma festa esta noite?
Lancei um olhar magoado para a minha colega de quarto. Eu
nem pretendia contar nada, mas ela chegou no dormitório bem na
hora em que eu estava olhando meu guarda-roupas e escolhendo
algo para vestir. Como eu nunca saía de noite, as poucas vezes que
isso acontecia eram sempre na companhia delas, precisei contar
sobre o compromisso do dia.
Ava surtou, obviamente, ao saber que eu iria a uma festa e que
nem tinha pensado em convidá-las. Eu a deixei resmungando e fui
tomar banho, sem imaginar que chamaria reforços.
— Gente, não é nada de mais — avisei, sentando-me na beira
da cama. — Não é como se eu estivesse saindo pra me divertir.
— O que você vai fazer numa festa se não for se divertir?
— Bem, eu vou com o Mason — respondi, vendo os queixos de
ambas despencarem. — E não é do jeito que estão pensando.
— Você vai sair à noite com um dos maiores pegadores da
UCLA — murmurou Ava, arqueando a sobrancelha. — Tem certeza
de que não é você que está equivocada sobre o que está
acontecendo?
— Certeza absoluta. A gente só estava conversando e rolou
esse desafio. Enfim, eu vou apenas para evitar que ele se dê bem
esta noite. — Sorri, imaginando como Mason ficaria puto. — Minha
missão é impedir que ele sequer beije na boca.
— Está gostando de Mason Johnson? — Sidney perguntou,
com os olhos arregalados.
— Não! — respondi, pulando da cama e balançando minhas
mãos. — Vocês estão surdas?
— Você está ouvindo o que diz? — Ava riu.
— Juro que estou confusa... — Sid se jogou de costas no
colchão e tapou o rosto. — Essa conversa merecia uma bebida.
Não era difícil entender minha linha de raciocínio, mas elas não
conheciam a minha interação com o jogador e não sabiam que a
gente implicava o tempo todo um com o outro. Se ele podia infernizar
a minha vida insistindo para que eu continuasse na porcaria do
programa, eu também podia infernizar a dele. Era muito justo.
Deixei que minhas amigas conversassem entre si sobre o
quanto achavam que eu tinha enlouquecido e comecei a me arrumar.
Vesti meu jeans depressa e peguei a camisa que tinha separado,
quando a peça foi arrancada da minha mão.
— O que pensa que está fazendo? — questionou Ava, jogando
a roupa na cama. — Você não acha que vamos deixá-la ir a uma
festa vestindo isso, né?
— Pra início de conversa, eu acho que a Hazel nunca nem
esteve numa festa de fraternidade — disse Sidney, parecendo
preocupada ao exibir o vinco no meio da testa. — Tem certeza de
que vai sozinha? Não quer nossa companhia?
— Infelizmente, eu não posso ir — disse Ava, fazendo beicinho.
— Tenho aula muito cedo.
— Não estarei sozinha — tentei tranquilizá-las. — Mason estará
lá. E eu o mato se me largar no meio da festa.
As duas me olharam como se eu acreditasse muito em algo
sem sentido e, tudo bem, confesso que havia uma pitada de medo
de que as coisas dessem muito errado. Mas daria um voto de
confiança a ele, já que não se opôs quando fiz a proposta de me
manter no Unit. Apesar de saber que o jogador era completamente
sem-noção, Mason não aparentava ser uma pessoa ruim.
— Ah, que seja! — Sidney jogou as mãos para o alto e soltou
um suspiro. — Se for pra cometer essa loucura, pelo menos, vá com
uma bela produção.
— Quais os vestidos que você tem? — perguntou Ava, abrindo
as portas do meu armário. — Preto nunca é um erro. Que tal?
Ela puxou meu único tubinho preto, que resistia bravamente há
quatro anos e eu já tinha usado em dois velórios.
— Está furado na axila direita — avisei, sorrindo quando fez
careta. — Sempre esqueço de costurar.
— Que desgraça é essa? — Olhei para o cabide que a Sid
tinha puxado, exibindo um vestido azul.
— É a roupa que usarei na minha formatura.
— Mas você não vai se formar este ano — ela retrucou o óbvio,
franzindo a testa.
— Sim, mas minha mãe me mandou para usar quando
chegasse o momento.
— Ah... — minha amiga murmurou, meio frustrada. — Entendi.
Você vai usar a roupa que uma senhora de setenta anos usaria com
prazer. Legal.
Revirei os olhos, mas sabia que não podia discordar daquela
afirmação. O vestido era mesmo bem feio, num azul desbotado de
um tecido pesado sem caimento nenhum, que batia nos meus
joelhos e possuía um decote que só mostrava a cor do meu pescoço.
Mamãe o enviou pelo correio quando me transferi para a UCLA, com
um bilhetinho que dizia que o viu numa vitrine e me visualizou dentro
daquela belezura — palavras dela — no dia da minha formatura.
— Definitivamente, acho que está na hora de tomarmos
medidas drásticas. — Ava se afastou até o outro lado do quarto,
mexendo em seu próprio armário e pegando algumas peças de lá. —
Apesar de eu ter menos bunda que você, nós temos a mesma altura,
então vai dar certo.
— Sabem que eu não faço questão de me produzir toda, né? —
esclareci, tentando fugir das duas. — Não irei à festa com a intenção
de paquerar ninguém.
— Até porque nenhuma pessoa que estará lá usa o termo
“paquerar”, querida. — Sid afagou meu ombro. — Não se permita
contaminar pelo vestido de vovó da sua formatura.
Ava empurrou uma roupa branca contra meu peito como se
quisesse testá-la em mim, mas eu rapidamente avaliei e empurrei de
volta.
— Não vou usar nada que impeça o oxigênio de entrar em
meus pulmões.
A garota me deu um sorriso triste e soltou o cabide sobre a
cama, pegando o próximo e o balançando diante do meu rosto. Era
um vestido de cetim lilás e eu tinha achado a cor linda, mas ele
parecia tão curto que tive medo de vestir.
— Acho que combina com você, é tão delicado quanto — disse
Sidney. — Só que não dá pra usar sutiã, então precisaremos
proteger seus mamilos.
Segurei meus peitos, apreensiva. Não queria que a festa visse
meus mamilos, disso eu tinha certeza absoluta. Eles não eram
grandes, mas naquela roupa ficariam muito expostos. Por isso,
aceitei de bom grado quando Ava correu até uma de suas gavetas e
retornou com dois adesivos próprios para aquele uso.
Tirei minha toalha e fiquei só de calcinha, colocando os
acessórios nos seios e pegando o vestido para experimentar. Virei-
me de frente para o espelho depois que senti o tecido gostoso
deslizar pelo meu corpo e vi os sorrisos satisfeitos das duas ao meu
lado.
— Ficou perfeito!
— Ava, a roupa é linda, mas não sei... — Ajeitei as alcinhas
muito finas. — Não quero que pareça que me arrumei para encontrar
o Mason. É isso que o idiota vai pensar, com certeza.
— Você está se arrumando para você — disse Sidney. — Para
ficar deslumbrante porque merece e porque nenhuma das outras
garotas dessa festa é mais gata que a minha amiga.
— Não vamos exagerar — pedi, rindo.
— É que não está acostumada a se vestir assim, Hazel, mas
não está tão produzida. O vestido é simples, não tem nenhum
adorno que chame tanta atenção, nem estampas ou bordados. —
Ava parou atrás de mim, mexendo nos meus cabelos e os jogando
para frente. — A gente não precisa investir tanto na maquiagem se
não quiser parecer que perdeu muito tempo se arrumando. Coloque
só um par bonito de brincos e passe um rímel nesses cílios que já
são grossos.
— O batom também não pode faltar — disse Sid, mexendo na
minha simplória gaveta de maquiagem. — E um blush, claro.
As duas me obrigaram a sentar na cama enquanto cutucavam
meu rosto, aumentando em mim o medo de descobrir como ficaria o
resultado final. Quando finalmente terminaram e eu fui liberada para
me olhar no espelho, respirei com alívio ao notar que não
exageraram em nada e atenderam meus pedidos. Meus olhos
estavam destacados apenas pelo rímel preto, sem sombra ou
delineador porque eu não gostava. Eu deixava as makes brilhantes e
incrementadas apenas para as competições.
Dei um sorriso, conferindo o batom escolhido por Sidney, num
tom coral bem discreto que não duelava muito com a cor da roupa, e
as bochechas levemente coradas pelo blush. Não fizemos nada nos
cabelos, eu os deixaria soltos daquele jeito, e finalizei com um par de
sandálias de cor bege que eu não usava tanto, com saltos finos, mas
de apenas cinco centímetros.
— A gente percebe que a pessoa nasceu com a bunda virada
pra lua quando ela nem precisa de muita coisa pra ficar maravilhosa
— murmurou Sidney, pegando uma jaqueta no meu guarda-roupas e
a colocando sobre meus ombros. — O look está de arrasar, amiga!
— Graças a vocês — respondi, sorrindo e piscando para elas.
— É um desperdício, mas não vou ficar resmungando.
— Desperdício coisa nenhuma. — Ava bateu palmas e saiu
correndo pelo quarto. — Agora preciso fazer xixi porque prendi esse
tempo todo!
Ela nem nos deu tempo de falar nada, mas quando fiquei
sozinha com Sidney, minha amiga tocou meu braço e se aproximou,
carregando um semblante preocupado que eu sabia que estava
sempre ali quando se tratava de mim.
— Tem certeza de que vai ficar bem esta noite? Eu acabo com
as chances do Mason ter filhos no futuro se fizer alguma coisa
contigo.
— A Sra. Thompson diz que preciso me arriscar mais —
respondi, apertando a bochecha de Sid. — Uma festa numa
fraternidade masculina, na companhia de um jogador de futebol. Tem
tudo que eu não gosto nessa equação, então é uma ótima
oportunidade para me testar.
— Certo. — Ela estreitou os olhos. — E não há mesmo nenhum
outro interesse por trás disso, não é? — Quando suspirei e me
preparei para responder, Sidney riu e ergueu as mãos. — Tudo bem,
não falo mais nada! Mas só pro seu conhecimento, se você me
dissesse que está apaixonada, eu te apoiaria de qualquer forma.
Estiquei meu corpo e meu braço até conseguir bater na
madeira da cama para afastar o mau agouro e demos risada ao
mesmo tempo daquele absurdo.
Mason Johnson
Josh tinha me emprestado seu carro já que preferia ficar em
casa com minha irmã do que aproveitar para se divertir um pouco
com os amigos. Por isso, dei carona para Noah e encontramos com
Bryan na rua lateral à Sigma Pi, quando o nosso quarterback
também estava estacionando.
Ignorei a segunda ligação daquela noite e guardei o celular de
novo no bolso. Meus contatinhos estavam na festa e à minha
procura, pelo visto, e eu só conseguia pensar que a ginasta
implicante logo apareceria para me irritar e acabar com minhas
chances de foder gostoso mais tarde.
— Souberam que Peter Miller já está totalmente bêbado lá
dentro? — perguntou Noah, mexendo no seu telefone. — Acabaram
de postar um vídeo dele de cueca em cima da mesa de sinuca.
— Nojento — respondi, imaginando um dos astros do time de
hóquei da UCLA, exibindo sua bunda pálida. — Que bom que ainda
não entramos.
— Quem é aquela gostosinha? — Virei o rosto na direção em
que Bryan olhava e logo identifiquei Hazel, que estava mesmo
diferente. — Conhecem?
— É a ginasta. — Encolhi os ombros quando os dois me
encararam e pararam de andar. — A Hazel. Ela... ficou de me
encontrar aqui. — Sabia, pela expressão confusa dos meus amigos,
que estavam prontos para me encher de perguntas, portanto, me
adiantei. — Depois explico, podem entrar sem mim.
Empurrei o ombro de Bryan como incentivo e me distanciei
deles, pois Hazel estava parada na calçada oposta, encostada numa
árvore como se quisesse sumir ou, pelo menos, passar
despercebida. Como ela não tinha me visto, evitei me aproximar e a
observei discretamente para entender o que estava fazendo ali.
Conferi meu celular e não havia nenhuma mensagem dela, então
não era como se esperasse por mim ou nada do tipo.
A porta da residência da Sigma Pi estava movimentada com
quem chegava ou saía da festa, assim como os seus arredores. Até
mesmo ali onde a menina aguardava, havia certo movimento, então
isso facilitou para que eu não fosse notado.
Dei a volta para não abordá-la de frente, observando que mexia
de um jeito ansioso nas mãos, com a atenção fixa na direção da
fraternidade. Cogitei aparecer de repente e lhe dar um susto, mas vi
que não seria a decisão mais inteligente e decidi chegar pelo lado,
soltando um assobio forte para que percebesse logo a minha
presença.
— Estou torcendo para que tenha desistido de participar da
festa e me deixar em paz — falei, vendo seu olhar ser atraído para
mim.
Esperei pela resposta atravessada e ácida, mas ela não veio.
Hazel apenas pressionou os lábios e apertou a alcinha fina da bolsa
em seu ombro. O gesto chamou minha atenção, lógico, e acabei
olhando demais para o conjunto todo. A jaqueta escondia
parcialmente o look, mas o decote do vestido estava em evidência e
exibia seios pequenos, porém, aparentemente durinhos. O
comprimento da roupa era bem curto e deixava as coxas lisas à
mostra, com a musculatura de anos de ginástica muito aparente.
— Gostei da escolha da roupa.
— Você não tem que gostar de nada — rebateu, arrancando
um sorriso meu. — Não pense que me arrumei pra te impressionar.
— Jamais. — Ergui minhas mãos. — Mas vamos entrar ou ficar
do lado de fora? Sei que não quer que eu pegue ninguém, mas
adoraria, pelo menos, beber uma cerveja.
Hazel virou o rosto, olhando para a entrada lotada da
residência, em seguida, abaixou a cabeça como se encarasse o
chão. Esperei alguns segundos por outra reação e observei seus
ombros se movimentarem com uma respiração pesada.
— Ei. — Pousei minhas mãos neles, sobre a jaqueta, e inclinei
meu corpo para aproximar meu rosto do dela. — Olha, não conheço
seus traumas e tal... Nem sei se tô falando besteira... Mas você não
precisa entrar.
Hazel assentiu, mas não se mexeu.
— Não precisa ser legal — sussurrou. — Sei que parece
besteira.
— Não estou me esforçando pra ser legal. Eu tenho uma irmã,
né? Só estou tentando compreender você.
Houve um silêncio que perdurou por mais tempo do que eu
gostaria e me deixou sem saber o que fazer, até que Hazel abriu sua
bolsa minúscula, tirou seus fones lá de dentro e os colocou nos
ouvidos, acionando uma playlist no celular e pigarreando.
— Pode entrar, eu só preciso escutar um pouco de música —
avisou, encostando a cabeça no tronco da árvore e fechando os
olhos. — Eu já te alcançarei.
Quis dizer que do lado de dentro da casa também tinha música
tocando, mas achei melhor ficar calado, porque devia ser algum
gosto muito específico da garota. E por isso mesmo, eu arranquei um
dos fones e o coloquei em mim, prestando atenção no que tocava e
ignorando o olhar irritado que me lançou ao abrir um dos olhos.
— Isso é Ben E. King? — perguntei.
— Sim, a música favorita do meu irmão. — A garota soltou um
suspiro. — Stand By Me.
Não fazia o meu estilo, mas eu reconhecia que era um clássico.
Só não imaginava que seria o tipo de som que faria parte da lista de
alguém como Hazel.
— Você e seu irmão são muito próximos?
— Um pouco.
— Onde ele estuda?
Hazel abriu os olhos e me encarou devagar, com um semblante
mais leve e tranquilo do que segundos antes.
— Harry faleceu há alguns anos — declarou, me pegando de
surpresa. — Ele não chegou a ir pra faculdade.
Ah, que merda. Por essa eu não esperava mesmo. Nunca sabia
o que dizer nessas horas, mas sabia que agora, não havia mais
nenhum clima para levar a garota para dentro de uma festa.
No entanto, Hazel sorriu de um jeito fofo demais para quem era
e ficou nas pontas dos pés, arrancando o fone de mim e o
devolvendo ao interior da bolsa junto com seu par.
— Não precisa ficar com essa cara de velório, está tudo bem —
murmurou, abafando uma risada. — Aconteceu há quase dez anos,
não é como se eu estivesse de luto, só que essa é uma das minhas
músicas de conforto. Me faz lembrar dele e do motivo de sua morte,
e isso me dá vontade de viver.
Pensei se deveria estender o assunto e perguntar o que tinha
acontecido, mas ela deixou claro que não desejava alongar a
conversa quando ajeitou a jaqueta, balançou os cabelos e ergueu o
queixo para me olhar de forma pedante.
— Espero que não tenha achado que eu desistiria do meu
plano e o deixaria livre a noite toda. — Demonstrando uma confiança
que eu não tinha certeza se comprava totalmente, a ginasta se
afastou da árvore e se pôs a caminhar pela calçada.
— Estou ansioso pra saber se você vai me acompanhar
também quando eu for ao banheiro — murmurei, deixando que
andasse na minha frente sacodindo os cabelos. — Afinal de contas,
posso mentir que preciso mijar pra beijar alguma boca pelo caminho.
Hazel ergueu a mão e mostrou o dedo do meio para mim,
mesmo de costas, e me peguei sorrindo quando chegamos à porta
da fraternidade. Não levamos muito tempo para entrar e eu só
esperei que ela deixasse sua jaqueta na entrada antes de arrastar a
garota pela multidão, à procura dos meus amigos.
Ser jogador do Bruins nos dava muitas regalias durante a vida
estudantil, como acesso vip a qualquer lugar do campus,
principalmente quando o assunto eram as festas. Portanto, em
qualquer lugar que um ou mais jogadores estivessem a reunião deles
se tornava o ponto central e principal dos eventos.
Sendo assim, não foi difícil achar meu grupo, perto da área
onde a galera se reunia mais para beber e fumar, e cumprimentei
alguns dos que ainda não tinha visto aquela noite. Bryan me lançou
um olhar todo malicioso quando notou Hazel ao meu lado, mas não
disse nada.
— Quem é a vítima de hoje? — perguntou Johnny, um calouro
que estava atuando na posição de tigh end do time, olhando com
cobiça para a ginasta. — Tudo bem, gracinha?
— Esta é Hazel, uma amiga minha — frisei a palavra que
indicava a todos os idiotas que ela era proibida. — Da equipe de
ginástica artística.
— Sou o Bryan. — O quarterback esticou a mão para ela, que a
apertou, mantendo uma postura um pouco retraída. — Não acredite
em nada que o Mason diga.
— Este tem sido o meu mantra — a garota disparou,
arrancando risadas.
— Então, Hazel, é verdade o que falam sobre a elasticidade
das ginastas?
Virei o rosto na direção do idiota que tinha feito a pergunta, era
Oliver, que possuía o sonho de ser o quarterback titular e tomar o
lugar de Bryan um dia. Temi que isso deixasse Hazel nervosa, mas
antes que eu conseguisse descontrair e mudar o foco, a própria
garota conseguiu se defender.
— Se você não tem capacidade para descobrir por conta
própria, então eu só lamento — respondeu, encolhendo os ombros.
Claro que aquilo foi suficiente para todo mundo à nossa volta
cair na zoação em cima de Oliver, que ficou vermelho e tentou
desconversar. Até me senti aliviado, porque percebi que ela usava
essa língua afiada com qualquer um que a incomodasse, não era
uma reação exclusiva a mim.
Enquanto ponderavam sobre o fora do jogador, notei que
Hannah, uma das garotas que tinha me ligado mais cedo, estava
rondando perto do balcão das bebidas e eu queria muito falar com
ela. Ao meu lado, Hazel parecia distraída, observando os grupos
espalhados pelo salão e tentando se situar.
— Quer beber alguma coisa? — perguntei, aproximando-me de
seu ouvido. — Vou pegar cerveja.
Ela negou com um gesto de cabeça e aproveitei para me
afastar. Misturei-me rápido entre as pessoas e me esgueirei até onde
Hannah estava, tocando discretamente sua cintura por trás e
grudando em seu corpo.
— Foi mal não ter atendido sua ligação. Estava dirigindo. —
Beijei-a no rosto. — Você está gostosíssima esta noite.
A garota morena se virou com um sorriso no rosto, deslizando a
mão pelo meu braço, até que seus olhos se estreitaram para algo
atrás de mim.
— Perdeu alguma coisa aqui, lindinha? — perguntou, com uma
expressão debochada.
Eu precisei me virar, mas o toque em minha mão já me causou
um frio na espinha, e não de um jeito bom. Eu sabia quem era antes
mesmo de cruzar meu olhar com a filha da mãe, que estava parada
de um jeito que quase grudava em mim, sorrindo de maneira
afetada.
— Perdi meu date, mas já o encontrei — respondeu Hazel. —
Lindinha.
— Seu... date?
Pelo tom de voz de Hannah, eu podia jurar que ela estava
prestes a ficar histérica, enquanto a ginasta mantinha o sorriso
intacto. Eu a encarava com olhos prestes a soltar labaredas sobre a
encrenqueira, mas ela nem mesmo desviava sua atenção da
morena.
— Sim — respondeu, batendo os cílios charmosos. — Date,
ficante, contatinho, booty call[11], sei lá, chame como quiser.
Virei o rosto na direção de Hannah, que arqueou a sobrancelha
para mim e estalou a língua, entendendo que tinha perdido a transa
boa daquela noite. Ela saiu de perto de nós e me deixou livre para
fuzilar Hazel, que apertou os meus dedos e balançou meu braço
como se fosse uma criança.
— Vai ser tão divertido fazer isso a noite toda!
— Cuidado que eu posso fazer com que você seja obrigada a
encenar o que diz — avisei ao me inclinar bem perto de seu rosto. —
Nem sempre palavras são convincentes.
Eu a deixei revirando os olhos enquanto me voltei para pegar
uma cerveja, louco pra começar a beber já que, pelo visto, minha
foda estava totalmente empatada naquela festa.
Hazel Mackenzie
Não era mesmo o local onde eu gostaria de estar, preferia
minha cama quentinha e aconchegante, minhas meias confortáveis e
meu moletom com cheirinho de amaciante. Mas aqui estava eu,
numa festa da Sigma Pi, cheia de macho idiota que se achava
irresistível e a nata da sociedade. Algumas das garotas não ficavam
muito para trás, em seus narizes empinados e posturas arrogantes.
Uma ou outra me olhou com ar de superioridade ao me ver perto de
Mason e eu tentei ignorar.
O jogador, por incrível que pareça, se mostrou muito diferente
do que eu imaginava. Ele fazia um tipo descontraído perto dos
amigos, da farra, risonho e tagarela, e estava bem claro que era
amado por todos. Achei que aquele jeito fosse algo como uma
máscara para tentar me impressionar, mas não, era apenas o que
Mason era.
Não podia dizer que estava confortável naquele lugar, mas
alguns de seus amigos, como Bryan e Noah, estavam sendo legais
comigo e não me causavam ansiedade. Torci para que isso não
fosse consequência por Mason ter aberto a boca para os dois e
contado sobre meu passado, mas também não queria ficar pensando
nessa possibilidade e tentei ao máximo relaxar.
Tocava “Blood Mary”, da Lady Gaga quando eu estava distraída
e flagrei o momento em que Mason levou a mão até seu jeans para
ajeitar o material, gesto típico de homem. Senti meu rosto esquentar
por ter olhado naquela direção, mas felizmente as luzes da festa
impediam que alguém visse que eu estava vermelha.
— Preciso mijar — avisou, me surpreendendo ao se aproximar
de mim, pois eu tinha me enfiado num canto que me protegia da
multidão de corpos que se esbarravam. — Vai vir pra tomar conta de
mim?
Ah, graças a Deus! Achei que esse homem nunca precisaria
colocar pra fora todo o líquido que estava bebendo, porque eu me
sentia apertada há quase uma hora, mas não queria ter que procurar
pelo banheiro sozinha.
— Acha que vou te deixar escapar? — retruquei, sorrindo e
agradecendo mentalmente. — Vá na frente.
O jogador obedeceu, abrindo caminho e se dirigindo ao local
que eu não sabia onde ficava. Como era conhecido, toda hora
alguém o parava para abraçar ou trocar uma palavra rápida, e o filho
da mãe era daqueles que adorava ser paparicado. Parecia fazer
questão de ficar de costas para mim sempre que conversava com
alguém, principalmente se fosse mulher, mas naquele momento eu
só conseguia pensar em chegar ao banheiro.
Quando finalmente chegamos ao corredor que parecia nos
levar ao nosso destino — depois de eu ter beliscado a cintura de
Mason três vezes para que fosse mais rápido —, a mão de um rapaz
bateu contra a parede ao meu lado e impediu a minha passagem.
Seu braço estendido na altura do meu rosto me fez erguer os olhos
para observar a pessoa idiota que tinha me abordado.
— Imagina nós dois...
Ele não completou a frase e o sorriso sumiu de seu rosto
quando Mason percebeu que fiquei para trás e voltou depressa,
empurrando o outro pelas costas.
— Some! — mandou com um tom de voz que eu ainda não
tinha ouvido e uma expressão de quem se preparava para uma
briga. — Ficou maluco?
O cara que me parou chegou a tropeçar para o lado e se virou,
observando quem era seu oponente e soltando um suspiro ao
mesmo tempo em que erguia as mãos num pedido de desculpa. Ele
nem mesmo respondeu nada, apenas saiu rapidamente e voltou a se
misturar às pessoas no salão.
— Você quase começou uma briga — murmurei, enxugando o
suor que se acumulou na minha testa.
— Eu? — Ele franziu o nariz e riu. — Nunca arranjo brigas no
campus. — Encolheu os ombros e olhou ao redor. — Qualquer um
sabe que pra brigar com um, tem que encarar o time inteiro. Já viu o
tamanho da galera da defesa?
— E se a pessoa em questão for do time de basquete?
Ele abriu um sorriso grande e passou a mão pelos cabelos que
adorava deixar despenteados. Acho que era tipo um de seus
charmes, pois eu nem conseguia imaginá-lo de cabeça raspada ou
com os fios muito curtos.
De qualquer forma, passei por Mason e quase corri até o
banheiro feminino, mas ao girar a maçaneta, nada aconteceu,
porque a porta estava trancada.
— Ei! — Bati umas cinco vezes na madeira e esperei. — Tem
alguém aí?
E a resposta veio em gemidos. Sim, isso mesmo, vários
gemidos intercalados, que até mesmo Mason ouviu e se aproximou,
encostando o rosto na porta para escutar melhor.
— Pelo menos, alguém está se divertindo — debochou,
estalando a língua e fechando os olhos. — Adoraria gemer assim
esta noite...
Dei um peteleco forte no queixo dele, que resmungou e recuou,
esfregando a região.
— Já pode dizer que te fiz gemer — provoquei, dando mais
algumas batidas. — Tem gente aqui fora querendo usar o banheiro!
— Deixe de ser chata. — Mason segurou minha mão e me
puxou pelo corredor. — Vamos usar o masculino. Prometo que não
será presa.
— O quê? — Tentei me soltar sem sucesso. — Não vou fazer
xixi num mictório. Não estou tão desesperada assim, posso segurar
mais um pouco.
No entanto, o jogador não queria me ouvir e parou diante da
porta sem soltar minha mão. Ele a abriu só um pouco e enfiou a
cabeça para dentro, voltando a fechá-la e me encarando.
— Vamos esperar esvaziar.
— Você ouviu o que eu disse?
— Que não vai mijar no mictório — respondeu, encolhendo os
ombros. — Tem privada aqui dentro, fique tranquila.
Abri a boca, mas me calei quando saiu um garoto baixinho dali
de dentro, nos encarou um pouco confuso e então, passou por nós e
disparou pelo corredor. Foi nessa hora que Mason me rebocou para
dentro do banheiro e trancou a fechadura, me deixando pasma.
Meu cérebro rapidamente tentou me lançar numa armadilha,
fazendo-me recordar exatamente de outro momento como aquele,
que também envolvia o jogador, mas as coisas tinham evoluído um
pouco desde o outro dia e eu não me senti apavorada como antes.
No entanto, ainda era uma situação muito inusitada e eu queria
estapear o filho da mãe que me encarava com expectativa.
— Precisa de um tapete vermelho? — indagou, arregalando os
olhos e meneando a cabeça na direção da privada.
— Você acha mesmo que eu vou fazer xixi na sua frente?
Por fim, parece que ele percebeu e entendeu o que estava
acontecendo, intercalando olhares entre mim e o vaso, umas três
vezes, antes de estalar a língua e coçar a cabeça, quase ao mesmo
tempo.
— Entendi — pigarreou, levando a mão à fechadura. — Vou
ficar aqui fora e não deixar ninguém entrar. Seja rápida porque
também preciso mijar.
— Adorável. — Fiz uma reverência debochada e esperei que
saísse do banheiro.
Quando Mason fechou a porta, só por garantia, eu mesma a
tranquei por dentro e me apressei a fazer o que precisava. Tomei
mais cuidado do que o normal para não encostar em nenhuma parte
daquele vaso com urina respingada para todos os lados e senti o
alívio me atingir quando, finalmente, esvaziei a bexiga.
Lavei as mãos depressa e estava prestes a destrancar a
fechadura quando ouvi um burburinho do lado de fora seguido da voz
de Mason.
— Sosseguem, porra. Minha garota está usando o nosso
banheiro já que tem gente fodendo no feminino.
Minha garota.
Senti meu estômago se revirar e um frio estranho atingir meu
peito. Desde quando ele usava esse termo? E por que eu senti
vontade de rir ao ouvir aquilo?
Encarei o espelho diante de mim e percebi minhas bochechas
ficarem vermelhas. Respirei fundo, devagar, e expirei, aguardando
que meu rosto voltasse ao normal e meu coração desacelerasse. Só
depois de recuperada, destranquei a porta e puxei a maçaneta,
encarando um Mason muito relaxado e de braços cruzados,
enquanto outros dois garotos pareciam muito apertados.
— Ótimo — disse ele. — Agora podem entrar, mas eu sou o
primeiro da fila.
Me senti meio atordoada quando ele quis passar pela porta ao
mesmo tempo em que eu tentava sair e nossos corpos se
espremeram um contra o outro. Para Mason, parecia algo corriqueiro
e não causou efeito algum, mas foi estranho para mim,
principalmente porque ele tocou meus dedos ao mesmo tempo em
que entrava no banheiro.
— Já volto, mas se algum babaca te incomodar, fale que está
comigo.
Nem tive tempo de retrucar antes de me escorar na parede
oposta à porta e vê-la se fechar com todos os rapazes lá dentro.
Consegui usar aqueles minutinhos para me recuperar, bem a
tempo de Mason sair e sorrir como se nada tivesse acontecido.
Começou a tocar uma música que eu achava muito gostosa de ouvir,
“Need To Know”, da Doja Cat, e eu parecia não ser a única, porque a
galera passou a dançar numa vibe mais intimista e sensual. As luzes
diminuíram e percebi a atmosfera se transformar um pouco.
Senti-me nervosa quando as mãos de Mason tocaram meus
ombros e ele me fez andar na sua frente, de volta ao salão, cantando
e balançando um dos braços acima da cabeça. Alguém derrubou
cerveja perto dos meus pés, porque senti os respingos, mas
continuei andando e sendo levada pelos outros corpos que se
moviam. Até que num determinado momento, um dos meus ombros
foi puxado para trás e eu virei a cabeça, vendo que Mason tinha sido
agarrado, literalmente, por uma doida que derrubou quase toda sua
bebida do copo só pra beijar a boca do jogador.
Cogitei tomar alguma atitude, mas era tarde demais já que a
língua da garota estava dentro da garganta dele. A surpresa mesmo
ficou por conta do safado, que ao contrário do que eu imaginava, sua
reação foi recuar a cabeça assim que se deu conta do que
aconteceu, mas sem tirar o sorriso convencido do rosto. Não pude
ouvir o que ele murmurou por causa da música alta, mas logo se
desvencilhou e voltou a me guiar para que eu continuasse a
caminhada.
Não fique pensando nisso, Hazel, porque não diz respeito a
você. Repeti a frase mais cinco vezes mentalmente, enquanto nos
aproximávamos do seu grupo de amigos.
— Precisa ficar mais atenta, baixinha — ele sussurrou no meu
ouvido, mas foi a primeira vez que seus lábios encostaram na minha
pele e isso me fez arrepiar. — Outra pessoa chegou primeiro do que
você no parquinho.
Foi um erro ter me virado de frente para Mason, porque ele
estava tão perto que me desequilibrei, precisando apertar seu braço
para me manter no lugar e ajeitar minha postura.
— Acha mesmo que estou fazendo isso por interesse em você?
— questionei, vendo seu sorriso aumentar. — Se fosse verdade,
bastava eu te beijar. Aceite que não tenho essa vontade.
— Vontade você tem — ele rebateu, levando as mãos para trás
das costas. — O que não tem é coragem.
Agindo por impulso, mas também para calar aquela boca
petulante, levei minhas mãos ao seu pescoço, aproveitando que
estava inclinado na minha direção, e o puxei. Só cessei o movimento
quando nossos lábios ficaram a poucos centímetros de distância,
então sorri.
O filho da mãe tinha uma boca atraente? Sim. Não que eu
tivesse muito com o que comparar, mas não podia mentir e fingir que
não enxergava a beleza de Mason. No entanto, aparência não era
tudo. E além do mais, eu nunca estive aberta para paixonites.
— Você não aceita que uma garota não se jogue nos seus
braços, não é? — murmurei, assoprando na direção de sua boca. —
Prazer, Hazel Mackenzie.
Como se o destino quisesse brincar conosco, as pessoas que
estavam atrás do jogador se movimentaram bruscamente e seu
corpo foi lançado para a frente, já que estava inclinado e sem muito
apoio. Aconteceu muito rápido e eu antevi o instante em que o beijo
sairia mesmo contra nossa vontade, mas Mason foi ainda mais
ligeiro e conseguiu virar a cabeça na hora que nossos corpos se
chocaram. Os braços dele envolveram minha cintura e fui puxada
com força contra seu peito, de forma que evitou a minha queda, ao
mesmo tempo em que meus lábios deslizavam pelo seu pescoço.
— Caralho! — xingou quando nos reequilibrou e me soltou,
virando-se para trás e ouvindo alguns pedidos de desculpa.
Automaticamente, senti seus dedos se entrelaçarem aos meus
quando me puxou para alcançarmos seus amigos de uma vez por
todas. No entanto, minha mente ainda estava presa no que tinha
acabado de acontecer. Foi surpreendente que Mason tenha evitado o
beijo acidental por conta própria. Qualquer outro cara, pelo menos, a
grande maioria, deixaria acontecer simplesmente. Por que ele
evitou? O que se passava dentro daquela cabeça e qual teria sido o
motivo para tal reação?
Mason Johnson
Minha barriga doía de tanto rir das piadas ridículas que Noah
sempre começava a contar quando ficava bêbado. Ele era mestre
em surgir com repertórios ridículos e ainda incrementar o momento
encenando em detalhes cada um de seus relatos. Tinha me sentado
num dos sofás de couro preto que já tinha visto dias melhores, e
observei Hazel, que se manteve de pé ao lado do braço do móvel.
A garota parecia ter se retraído um pouquinho depois que fui
atacado por uma desconhecida, mas eu realmente não tive culpa do
que aconteceu. Durante toda a festa, a ginasta conseguiu espantar
umas três meninas que tentaram se aproximar, além da Hannah,
mas nem ela mesma previu que eu seria agarrado de forma tão
repentina.
— Vocês lembram quando o Mason e o Bryan regaram o
campo com mijo? — perguntou Noah, abrindo mais uma cerveja e
compartilhando-a entre nossos copos.
— E o Josh desesperado atrás de nós — completei, voltando a
cair na gargalhada.
— Ele quase chorou naquele dia — disse Bryan, fechando os
olhos. — Dizendo que seríamos presos e o pai dele o deserdaria.
— Vocês jogaram xixi no campo de futebol? — Hazel
questionou, chocada, sentando na pontinha do sofá.
Na verdade, não existia muito espaço onde ela tentava se
enfiar, entre mim e o braço largo de couro, mas cheguei um pouco
para o lado de forma que a garota pequena conseguisse se encaixar
ali dentro e recostar normalmente.
— Não seja inocente — murmurou Oliver, rindo. — Eles não
jogaram com baldes, se é isso que está pensando. Apenas
abaixaram as calças e mijaram.
A garota abriu a boca em choque e me olhou.
— Por que fizeram isso?
— O treinador tinha dado um esporro enorme no Bryan porque
ele jogou com a cabeça enfiada na bunda, então nós nos vingamos
— expliquei, vendo Hazel ficar cada vez mais aterrorizada.
— Choveu no dia seguinte — disse o quarterback, piscando
para ela. — Então, a água limpou tudo direitinho.
Emendamos um papo no outro, aproveitando que Noah
começou a falar de alguns jogos perdidos, e enquanto eu me distraía
com o pessoal, fui sentindo que Hazel se jogava cada vez mais para
cima de mim. Seu braço esquerdo estava pressionado contra o meu
e seu tronco havia ficado um pouco retorcido, de um jeito estranho.
Fui tentando entender o que a garota queria, como se
precisasse se esconder ou se apoiar, até que meus olhos foram
atraídos para seu decote. Com o braço direito, ela se esforçava em
tapar os mamilos levemente acesos, disfarçando enquanto fingia
coçar o pescoço. Então, tive a ideia de passar o meu braço por cima
de seus ombros e cruzá-lo diante de seu peito, tapando toda a visão
que os outros pudessem ter.
Meu toque a deixou imediatamente retesada e senti seu rosto
se virar na direção do meu. Eu não pressionei, não me movi nem fiz
qualquer força que pudesse gerar atrito entre nós, apenas mantive o
braço imóvel e aproximei minha boca de seu ouvido.
— Só estou querendo ajudar — sussurrei, encostando meus
dedos em seu braço fino e arrepiado. — Posso recuar, se preferir.
— Coloquei adesivo, mas não adiantou...
— Está com frio? — perguntei e a menina assentiu, então
desviei meus olhos para suas pernas nuas, notando os pelinhos
todos arrepiados.
Eu não tinha levado nenhum casaco, apenas vesti uma camisa
de mangas compridas, mas encarei Bryan que gesticulava animado
ao conversar, alheio ao que acontecia, e o cutuquei com o pé.
— Tira o seu casaco e me dá — pedi.
— Por quê? — Ele franziu a testa e eu inclinei minha cabeça na
direção da ginasta. — É pra Hazel? Por que não falou antes? Achei
que fosse pra você, e não deixaria um macho fedorento vestir meu
casaco.
Revirei meus olhos enquanto o idiota abria o zíper e tirava o
agasalho, jogando-o na minha direção. Usei a roupa para cobrir as
pernas da garota e a apertei mais contra meu peito. Por um instante,
senti certo receio quando os dedos pequenos e finos tocaram a gola
do casaco, que nada mais era do que uma das vestimentas oficiais
do Bruins. Temi que se ofendesse, por ser parte do futebol
americano, mas se achou ruim, não disse nada.
— O Josh também tem histórias boas, ele não era totalmente
um santo — comentou alguém e eu nem sabia quem era, porque
estava impressionado em notar o quanto Hazel parecia relaxada com
o rosto tocando meu peito. — Mas juro que não sei como ele
conseguiu conquistar a gostosa da Mia.
— Chame minha irmã de gostosa mais uma vez e ficará sem os
dentes — avisei ao idiota do David ao descobrir quem tinha sido o
engraçadinho.
— A gente sabe que você é um frouxo, Mason. Josh manteve
todos os dentes e fez coisa muito pior com a Mia. — Bryan sorriu,
ciente de que eu não levantaria do sofá por causa de Hazel. — Se a
irmã fosse minha, ele teria perdido as bolas.
— Sua irmã namora um dos seus amigos? — perguntou a
baixinha, com uma voz meio preguiçosa, indicando que o sono
chegava.
— Infelizmente. Josh é o nosso wide receiver. — Aproximei
meus lábios do rosto dela, já que os rapazes continuavam
conversando alto demais. — Caso interesse saber, eu sou o running
back do time.
Imediatamente, Hazel se retesou e levantou a cabeça, saindo
de dentro do meu abraço e encarando as mãos soltas em seu colo.
Observei-a com muita atenção e vi que engoliu com certa
dificuldade, o que me fez crer que algo em meu discurso não fez
bem a ela. Gatilhos, gatilhos... o que poderia ter sido?
— Quer ir embora? — perguntei, tocando suas costas
tensionadas.
Assim que ela assentiu, eu me levantei e estendi minha mão,
mas Hazel não a aceitou ao se colocar de pé e devolver o casaco de
Bryan. Seu sorriso ao se despedir estava vacilante e a acompanhei
em silêncio para fora da fraternidade, girando a chave do carro em
meus dedos e pensando se deveria oferecer uma carona.
— Sinto muito — falei ao pisarmos na calçada e nos livrarmos
da música alta.
— Por quê? — Ela se virou para mim, a ponta do nariz ficando
avermelhada pelo frio que fazia do lado de fora, enquanto vestia seu
agasalho.
— Não sei, mas acho que disse ou fiz algo que não devia.
Hazel abaixou o rosto por um instante, deslizando os dentes
pelo lábio e enfiando as mãos nos bolsos da jaqueta. Aproveitei para
agitar o chaveiro do carro diante de seus olhos e gesticulei para que
me seguisse, ficando claro que eu a levaria para casa. Ela não
ofereceu nenhuma resistência quando toquei a base de sua coluna e
a direcionei para a rua onde estacionei.
— Ele jogava na sua posição — declarou de repente, quando
caminhávamos em silêncio. — O garoto que...
— Entendi — eu a interrompi para que não precisasse terminar
a frase. — Sinto muito. — Seu olhar encontrou o meu. — Por
existirem pessoas como ele.
— Tudo bem.
Não estava tudo bem, mas eu não tinha a menor ideia de como
falar sobre aquele assunto, sequer sabia se ela desejava entrar nele
comigo. Acionei o botão para destravar o automóvel quando nos
aproximamos dele e antes que Hazel desse a volta até o outro lado,
segurei a ponta da manga de sua jaqueta e a impedi de se afastar.
— Eu não sou o tipo de cara que fala bonito ou que sabe dar
conselhos, mas estou disponível pra conversar ou apenas ouvir.
Gostaria de entender e saber direito o que aconteceu, mas entendo
que não queira compartilhar.
A baixinha deu um sorriso sincero e eu a soltei quando percebi
que estávamos parados no meio da rua.
— Um dia, talvez, eu te conte — declarou, encolhendo os
ombros, com as mãos ainda guardadas nos bolsos. — Não hoje.
— É justo, eu posso esperar.
Ela soltou uma gargalhada, como se dissesse que eu não tinha
que querer nada e devia esperar sentado. Não me importei,
entretanto, porque a noite até que tinha sido divertida, mesmo com a
implicante espantando minhas possíveis fodas da madrugada. Teria
que dormir mais uma noite depois de bater uma punheta.
Suspirei, espantando a frustração, e entrei no carro de Josh,
esperando Hazel se ajeitar no banco e colocar o cinto de segurança.
Mal tinha dado a partida e ainda estava manobrando, quando a
garota se virou no assento e me encarou.
— Por que você virou o rosto?
— Eu? Quando?
— Na hora em que foi empurrado — respondeu, refrescando
minha memória. — Você tinha a oportunidade perfeita pra me roubar
um beijo e não o fez.
— Isso a deixa triste? — Sorri, olhando pelo retrovisor externo
para me certificar de que podia sair da vaga.
Confesso que estava distraído e não dava muita atenção para
aquele papo, mas a risadinha debochada da garota me fez olhar em
sua direção.
— Claro que não. — Revirou os olhos. — Só fiquei muito
curiosa para saber o motivo.
Acendi os faróis do carro e dirigi sem destino naqueles
primeiros segundos, porque não sabia onde ficava o dormitório dela.
Ao mesmo tempo, minha mente trabalhava para se manter na
conversa e puxar na memória o que eu tinha pensado no momento
do tal quase possível beijo.
— Eu não tenho motivos para te roubar nada — declarei,
fazendo uma curva. — Um beijo sem vontade da outra parte, não me
interessa. E a garota que me agarrou antes estava fumando... Tô
com gosto de cigarro na boca.
— O gosto de cigarro é ruim? — Ela quis saber. — Nunca
fumei, não faço ideia.
— Eu acho. — Diminuí a velocidade e parei num recuo de uma
calçada. — Tem gente que não liga, mas eu não gosto. Agora, que
tal me dizer onde fica o seu dormitório?
Ela me explicou em qual edifício residencial estava morando e
dividindo o quarto com sua amiga Ava, então pude voltar a dirigir. O
carro ficou em silêncio por todo o tempo que levamos até parar na
porta do seu prédio. Havia uma pequena pracinha alguns metros à
frente, e num dos bancos estava um casal que parecia prestes a
começar a foder bem ali mesmo.
Como eu não era de ferro, precisei desviar o olhar para não
ficar com tesão, porque a mulher estava montada no sortudo, com as
pernas abertas ao redor dele, ganhando uns apertões gostosos na
bunda.
— É... desculpe por ter estragado a sua noite — murmurou
Hazel ao meu lado. — Você poderia estar curtindo como aquele
rapaz ali.
— Terei outras várias noites, não se preocupe — respondi,
piscando para ela. — O que importa, é que agora não pode mais
fugir do Unit. Eu cumpri a minha parte no nosso acordo.
— Ok.
— Não vou deixar que fique sozinha novamente nas
dependências do centro de treinamento — avisei, levando a mão ao
peito. — Prometo. Fique tranquila quanto a isso.
— Tudo bem. — Seu sorriso estava um pouco estranho quando
abriu a porta, mas não saiu. — Seu jogo é amanhã à noite, né? —
Eu assenti. — Espero que ganhem.
Hazel saltou e bateu a porta com cuidado, dando a volta pela
frente do carro, enquanto eu esperava para que entrasse no prédio.
No entanto, ela parou no meio do caminho e voltou, se aproximando
e gesticulando para que eu abaixasse o vidro.
— Acho que eu preciso fazer isso — falou, apoiando as mãos
na porta ao se debruçar para dentro e beijar minha boca.
Tipo, ela beijou minha boca. A Hazel. Não foi algo que partiu de
mim, foram os lábios dela que grudaram nos meus, de forma muito
inesperada. Levei meio segundo para reagir, por culpa do meu
cérebro alcoolizado, mas quando consegui deslizar a ponta da minha
língua para dentro daquela boquinha macia, seu rosto se afastou
depressa.
Ainda tentei segurá-la, mas Hazel foi muito mais rápida. Fiz
menção de abrir a porta, só que a filha da mãe jogou seu peso contra
ela e apoiou as mãos ali, com os olhos arregalados.
— Não saia! — pediu. — Fique aí dentro.
— O quê?
— Tchau, Mason — murmurou. — Vai embora.
— Você acabou de me roubar um beijo, agora vai me explicar o
que acabou de acontecer.
— Não vou, não. — Ela fechou os olhos e riu. — Por favor... Foi
meu primeiro beijo, não quero conversar sobre isso.
Era óbvio que eu podia muito bem empurrar a porta e sair com
facilidade, a força mínima da ginasta nunca me impediria disso. Mas
primeiro, eu temia machucá-la fisicamente se fizesse isso. Segundo,
levei um pequeno choque com aquela revelação. Terceiro, tinha
bebido bastante e podia fazer merda se tentasse beijá-la de novo.
A forma inocente e envergonhada como Hazel fugia do meu
olhar me manteve com a bunda grudada no banco.
— Ok — murmurei, respirando fundo. — Vou pra casa.
Mãos no volante e mente em surto, mas eu podia fingir que não
tinha acontecido nada de extraordinário. Certo?
Observei a ginasta se afastar do carro, recuando de passo em
passo e de costas para o prédio.
— Quando você disse que era seu primeiro beijo, quis se referir
a sua vida toda? — perguntei porque não me sentia em paz.
A filha da mãe assentiu e apontou o dedo em riste para mim,
agora a uns cinco metros de distância.
— Não me siga.
Apenas olhei até que ela se virasse e corresse edifício adentro,
sumindo dos limites da minha visão e me deixando com o cérebro
em ebulição. Que porra tinha acontecido, afinal? Será que eu tinha
bebido tanto a ponto de alucinar que Hazel me agarrou por vontade
própria?
Olhei para o outro lado e avistei o casal quase trepando, então
me belisquei para me certificar de que era real. Não satisfeito, dei um
tapa na minha própria cara e senti a pele arder, só assim consegui
ficar em paz e dirigir para casa. Precisava de um banho, um litro de
água e um travesseiro macio... macio como os lábios que me
tocaram de forma tão leve, que poderia não passar de um sonho.
Hazel Mackenzie
Meu Deus, meu coração estava muito acelerado quando me
encostei na parede para esperar pelo elevador. Precisei tocar meu
peito, sentindo os batimentos cardíacos, sem conseguir acreditar no
que eu tinha acabado de fazer.
Beijar Mason não estava em meus planos. De jeito nenhum.
Nunca. Por que, então, eu senti uma vontade incontrolável de fazer
isso? Desde quando ainda estávamos na festa, desde aquele
momento em que nos empurraram e ele desviou o rosto... Foi ali que
me frustrei por não ter sentido como seria o contato entre nossas
bocas e fiquei com aquela ideia absurda na cabeça.
Entrei no elevador, com o meu rosto queimando de vergonha,
porque não sabia como ia encarar o jogador dali para frente. O ego
de Mason era monstruoso naturalmente, agora que eu o havia
beijado, seria muito difícil controlá-lo e ele me lembraria em todas as
oportunidades, que a atitude havia partido de mim. E pior, o jogador
pensaria que eu estava caidinha por ele, o que não era verdade e
nunca seria.
Caminhei pelo corredor do prédio e parei diante da porta do
meu dormitório, começando a sentir que algo mudava dentro de mim.
Aquela adrenalina de segundos atrás parecia dar lugar a algo
diferente, um sentimento melancólico que começou a abafar meu
peito.
Ava estava acordada quando abri a porta e se sentou depressa
na cama assim que me viu, com seus olhos curiosos arregalados e
um sorriso bobo no rosto.
— Me conte tudo, pelo amor de Deus! Estou há horas
esperando você voltar porque a fofoqueira que habita em mim não
conseguiu dormir.
Joguei-me na minha cama e escondi as mãos atrás do rosto,
me sentindo uma completa idiota por ter cometido um erro tão
grande. Tinha pensado em não contar nada sobre o beijo para
ninguém, nem mesmo para Sidney que sabia tudo sobre a minha
vida, dessa forma, podia fingir que não tinha acontecido. Mas foi só
Ava se sentar do meu lado para que as coisas engasgadas saíssem
de minha boca.
— Eu beijei o Mason!
Aquela sensação opressora em meu peito acabou se
convertendo em lágrimas inesperadas e acho que assustei Ava,
porque minha amiga se levantou depressa e colocou as mãos na
cintura.
— O que o filho da puta fez? — perguntou, raivosa. — Eu e a
Sidney vamos matar aquele moleque!
— Mason não fez nada — respondi, erguendo a cabeça e
deixando as lágrimas caírem. — Eu apenas o agarrei.
— Hã?
— Eu o beijei, Ava... — choraminguei, fechando meus olhos. —
Desperdicei meu primeiro beijo justo com Mason Johnson...
— Seu primeiro beijo? Como assim? — Só balancei a cabeça,
usando os dedos para enxugar meus olhos. — Eu sabia que você
nunca tinha namorado, mas não que era virgem de boca. Pelo
menos, foi bom?
— Não sei! — Deixei que ela me abraçasse quando sentou ao
meu lado mais uma vez e chorei em seu ombro. — Foi só um
selinho...
— Poxa, amiga... — Sua mão afagou meus cabelos. — Não
deu tempo de dar um daqueles beijos cinematográficos? O primeiro
merece ser incrível, mesmo que não seja com alguém de quem
gostamos.
— Eu saí correndo — confessei.
Ava me soltou e fez uma careta, o que quase me deu vontade
de voltar a chorar. Ela limpou meu rosto com muita paciência apesar
do horário, pois passava de meia-noite, e por fim, apertou meus
ombros.
— Por que não toma um banho e coloca uma roupa confortável
pra dormir? — sugeriu, sorrindo. — Você precisa de uma boa noite
de sono, vai ver como amanhã não se sentirá tão mal.
— Ouviu que eu disse que saí correndo? — murmurei,
arrependida de ter agido daquele jeito. — O que Mason deve ter
pensado? Que eu sou uma criança, né?
— E daí? Ninguém é perfeito, Hazel. — Ava sorriu e piscou
para mim. — Vamos concordar que ele é um gato, apesar de
cafajeste. Acho que eu também ficaria nervosa se o beijasse. A única
coisa que importa é não se arrepender e lidar com isso de forma
madura. Eu prefiro me arrepender apenas das coisas que deixei de
fazer e viver, sabe? Estamos na idade certa para cometer erros e
maluquices, não fique se lamentando tanto porque não somos
perfeitas.
Assenti, me permitindo absorver aqueles conselhos por um
instante. Não queria mesmo me sentir arrependida. Era meu primeiro
beijo, afinal de contas. E por mais que eu não tivesse aproveitado
direito, não desejava carregar essa frustração dentro de mim.
Por isso, aceitei a sugestão de Ava, quando ela mais uma vez
mandou que eu fosse tomar banho, e aproveitei para lavar toda a
vergonha que estava sentindo. Por sorte, Mason viajaria no dia
seguinte por causa do jogo e eu só seria obrigada a encará-lo na
segunda-feira, talvez na terça se conseguisse uma desculpa boa o
suficiente para pular mais um dia.
Não tive facilidade para pegar no sono, pois minha cabeça não
parou de trabalhar um segundo. Podia ouvir Ava roncar baixinho
enquanto encarava o teto, tentando contar carneirinhos para driblar a
insônia, e não me lembro que horas eram quando finalmente fechei
os olhos.
No entanto, levei um susto ao despertar com o toque estridente
do meu celular, e achei absurdo que alguém estivesse me ligando às
sete horas da manhã de um sábado. Só atendi porque vi que o
código de área era da Califórnia e podia ser algum assunto
importante sobre a faculdade.
— Oi — resmunguei para demonstrar que não estava feliz nem
muito disposta.
— Senhorita Mackenzie?
— Sim...
— Desculpe ligar tão cedo, aqui é Wendy do escritório do
Comitê do Unit. Tudo bem?
Faria diferença se eu respondesse que estava puta por ter sido
acordada?
— Tudo — murmurei.
— Que ótimo! — a mocinha parecia animada, ao contrário de
mim. — Estou ligando tão cedo porque só agora foi deferida a sua
solicitação. Como aconteceu tudo muito em cima da hora, o prazo
apertado não me deu outra opção a não ser ligar num horário tão
ingrato.
— Ah... Ok. — Cocei meus olhos e me sentei direito na cama.
— Que solicitação?
Será que eu tinha feito o pedido para sair do programa e não
me lembrava?
— Do acompanhamento nas viagens — declarou Wendy. —
Inclusive, o Comitê achou a ideia muito boa e decidiu estender esse
acompanhamento a todas as equipes que se mostrarem
interessadas. O problema, no seu caso, é que o time sairá em
viagem em pouco menos de três horas, então precisa se apressar,
ok?
— Desculpe, Wendy, mas não entendi nada do que disse.
— Senhorita Mackenzie? — Ela pareceu mais confusa do que
eu. — Bem, seu colega de programa deu entrada na solicitação e...
— Mas do que se trata isso? — interrompi, começando a perder
a paciência.
— A senhorita poderá acompanhar o time na viagem para o
jogo desta noite — respondeu ela. — Não estava ciente disso?
Inclusive, devo avisar... — Minha cabeça girou cento e oitenta graus
com aquela informação e, de repente, eu não escutei mais nada do
que Wendy dizia do outro lado da linha. — ... ficar juntos. Tem algum
problema?
— Ah, não. Nenhum — respondi sem prestar muita atenção. —
Obrigada.
Encerrei a ligação e larguei meu celular entre minhas pernas,
olhando fixamente para ele e notando, pela visão periférica, que Ava
se movimentava na cama.
Mason tinha feito uma solicitação para que eu viajasse com
ele? Quis esganar seu pescoço, mas estava longe demais para isso.
— O que houve?
Ia responder quando meu telefone tocou e vi o nome do garoto
aparecer na tela. Respirei fundo, contei até três e atendi, tentando
não soar nervosa.
— Bom dia — murmurou. — Eu te acordei?
— Não. Fui acordada por uma tal de Wendy, que me deu a
notícia de que tenho uma viagem pra fazer hoje.
— Então... Pois é. Abri a solicitação ontem de manhã, confesso
que nem estava com esperanças de que fossem deferir tão rápido
sobre isso.
— O que acontece se eu não for?
— Não sei — respondeu e eu acreditei em sua palavra, porque
sequer pensou antes de responder.
A ligação caiu num silêncio profundo por alguns segundos,
enquanto Ava sentava na beira da minha cama e me encarava como
se tivesse nascido um chifre no meio da minha testa.
— Vamos embarcar às dez horas — avisou Mason. — Se você
decidir ir, me avisa que eu passo pra te buscar antes das nove,
porque é o horário que os ônibus sairão do CT para o aeroporto.
— Ok.
— Dormiu bem?
— Ah... — Que tipo de pergunta era aquela? Ele estava
preocupado comigo? — Sim. Eu falo contigo depois.
Desliguei, percebendo que contei uma pequena mentira, mas
quem se importava com isso? Naquele momento, eu me sentia à
beira do surto porque, primeiro, fui pega de surpresa e não pretendia
fazer viagem nenhuma. Segundo, viajar com o time de futebol
americano não parecia ser algo tão bacana. Terceiro, se eu fosse
mesmo, teria um tempo curtíssimo para preparar uma mala.
— Eu entendi direito? Você vai viajar com o Mason?
— Você acredita que ele pediu pra abrirem uma exceção aos
participantes do Unit?
— Ele é obstinado, não podemos ignorar isso — declarou Ava,
balançando a cabeça e se esforçando para esconder o sorrisinho de
mim.
— Qual é a graça? — Dei um tapa na perna dela.
— Ontem você estava surtando por causa do beijo e hoje vai
viajar com o boy. — Minha amiga arregalou os olhos. — Essa
relação está evoluindo bem rápido.
— Não existe relação nenhuma, Ava.
Levantei-me da cama para lavar o rosto e escovar os dentes,
sentindo que a garota me seguia de perto e até parou encostada na
porta do banheiro, enquanto eu ligava a torneira.
— Você vai nessa viagem, né? — questionou. — Não
desperdice essa chance, Hazel.
— Até pouco tempo atrás você estava se oferecendo para
quebrar a cara do Mason e, agora, quer me jogar pra cima dele.
— Claro que não. Estarei sempre disponível para bater em
qualquer idiota que magoar uma amiga minha, mas isso não significa
que não vou torcer para vocês serem felizes.
— O que ser feliz tem a ver com a viagem? — Suspirei,
apertando o tubo de pasta de dente e ocupando a minha boca por
um momento.
— Você chorou por causa de um selinho — Ava relembrou
minha derrota. — Não estou dizendo que gosta do Mason, mas se há
uma possibilidade de curtir um pouquinho a vida e, claro, se ele é
legal com você...
Revirei meus olhos, encarando meu reflexo descabelado no
espelho. Precisava ligar para Sidney e contar tudo o que tinha
acontecido desde a hora em que me despedi delas para ir à festa.
Como era a única que sabia de todo o meu passado, talvez sua
opinião pudesse ser diferente da de Ava e eu me sentiria muito
tranquila se apontasse a viagem como a coisa mais estúpida que eu
poderia fazer na vida.
Mason Johnson
Caminhei até o banheiro me sentindo bastante atordoado
depois de ter recebido a ligação de Wendy. Tinha esquecido
completamente disso. A ideia era apenas infernizar a vida de Hazel
quando ela fosse obrigada a me aturar numa viagem, mas agora
parecia estranho. Os acontecimentos da noite anterior ainda
nublavam meu raciocínio e eu esperava poder pensar com mais
clareza depois de um banho gelado.
Deixei que a água escorresse pelos meus cabelos, apoiando
minhas mãos na parede à frente e abaixando a cabeça. Não
costumava sofrer com ressacas pós-bebedeira, ainda bem, mas me
sentia cansado porque fui dormir tarde demais. Tinha chegado em
casa de madrugada e invadido o quarto de Josh — depois de gritar
para que se cobrissem caso Mia estivesse com ele — para
conversar.
Meu amigo se sentou de cueca na cama, sonolento, enquanto
minha irmã me lançava um olhar assassino.
— Posso falar a sós com Josh? — pedi, sorrindo para ela, que
revirou os olhos e levantou da cama muito devagar, alisando a
barriga que carregava minha sobrinha.
Por sorte, estava vestida, apesar de parecer quase pelada com
aquelas calcinhas mais largas tipo shortinho e um top que mais
parecia um sutiã. Ela vivia andando quase nua pela casa nas últimas
semanas, dizendo que tudo que vestia a incomodava.
— Mason, são... — ele pegou o celular na mesa de cabeceira
— porra, uma hora da manhã. O que você quer falar?
— Como você sabe se está gostando de alguém ou se quer
somente foder a garota?
Ele abriu a boca e coçou os olhos, me deixando ansioso pela
resposta.
— Essa é uma pergunta séria? — Riu da minha cara e
balançou a cabeça. — Nós dois somos muito diferentes, não sei se
você entenderia minha linha de raciocínio, porque eu quis sua irmã
desde que bati os olhos nela.
— Quis de que forma? Sexual?
— O que está acontecendo? — Josh perguntou, franzindo a
testa. — Está gostando de alguma garota? Esse dia finalmente
chegou?
Afundei o rosto entre minhas mãos, pressionando a base do
meu nariz e respirei fundo, sem conseguir entender o que acontecia
dentro de mim. Além da confusão sentimental, havia também o
excesso de álcool no organismo, que era capaz de afetar qualquer
raciocínio. Mas se havia alguém em quem eu confiava para falar
abertamente sobre qualquer assunto, era Josh. Era o único que
podia me ajudar e me dar algum conselho útil de verdade.
— Não sei o que pensar sobre a Hazel — declarei.
— A ginasta? — Ele estalou a língua e apertou meu ombro. —
Isso significa que ainda não transou com ela, né? Eu te conheço
Mason, e sei que isso sempre passa depois que você dorme com a
garota. Então, deve ser apenas tesão reprimido.
— Acho que é por isso que não sei lidar direito com ela. —
Encarei meu amigo, imitando seu gesto e apoiando a mão em seu
ombro. — O que vou contar não pode sair daqui, por favor. Nem a
Mia eu quero que saiba.
— Tudo bem — disse Josh, assentindo.
— Há alguns dias, a Hazel me confidenciou que sofreu um
estupro.
— Eu odeio os homens! — Mia invadiu o quarto de repente,
parando aos pés da cama com as mãos na barriga. — Estava
ouvindo atrás da porta, me processem. — Ela olhou na direção do
namorado. — Não acredito que ia mesmo ficar de segredinho com
meu irmão e não me contaria isso, Josh!
— É bom saber que temos uma grande fofoqueira em casa —
comentei, querendo matá-la. — Você está proibida de abrir a boca
pra qualquer pessoa, mesmo pra Olivia.
— Não vou — respondeu, sentando-se na beira da cama. — É
um assunto muito sério pra ser compartilhado por aí. Acho
impressionante que ela tenha contado pra você. Quantos anos a
Hazel tinha?
— Doze. — Minha irmã levou uma das mãos à boca e seus
olhos se inundaram. — Não conheço os outros detalhes, apenas
isso. Mas a merda é que está bem claro que essa garota é
completamente diferente das que estou acostumado a pegar, e não
sei como lidar com essa bagagem. Eu me sinto mal até quando
penso que ela é atraente... — Soltei um suspiro, meus ombros
pesando uma tonelada. — Sei lá, fico toda hora pensando que
poderia ser você passando por uma merda dessa... Me senti nojento
só de ter olhado pra bunda dela esta noite.
— Ouvindo isso, pra mim está bem claro que você se importa
com os sentimentos da Hazel — Josh opinou, se espreguiçando. —
Pode não ser paixão, mas existe a necessidade de cuidado dentro
desse seu coração imundo.
Nós dois olhamos para Mia, que soltou um suspiro pesado e
enxugou os olhos. Ela encolheu os ombros e deu um sorriso triste
quando percebeu que era o centro das atenções.
— Foi mal — comentou, fungando. — Doze anos... Eu nem
consigo me colocar no lugar. Não conheço direito a relação de vocês,
mas me recordo de algumas coisas que notei nas duas vezes em
que vi Hazel. Só acho que o mais importante pra ela, é sentir
segurança e confiança em qualquer situação. Claro que isso é o que
toda mulher deseja, mas para alguém que passou pelo que ela
passou, imagine que precise do dobro disso. Faça com que ela saiba
que tem o controle sobre qualquer coisa que aconteça entre vocês
dois, nos mínimos detalhes.
— Diferente das outras garotas, eu não estou morrendo de
vontade de levá-la pra cama — confessei, estremecendo. — Tenho
certeza de que não estou impotente, só... Não consigo pensar em
putaria com ela. O quão estranho isso tudo é? Desde quando eu
recuso sexo?
Minha irmã sorriu e se levantou, segurando meu rosto entre as
mãos.
— Você, afinal, possui um coração e acabou de nos mostrar um
pedacinho dele. — Não consegui evitar revirar meus olhos. —
Precisava mesmo aparecer alguém que mudasse o seu modo de
pensar e agir.
— Eu não mudei. Continuo querendo transar. Só não... com ela.
— A parte estranha era que eu não conseguia me imaginar
aceitando qualquer outro cara se aproximando de Hazel com
segundas intenções. — E geralmente, eu quero muito transar com
qualquer garota bonita.
— Bem-vindo ao mundo da amizade entre homem e mulher. —
Josh me deu um tapinha nas costas e sorriu. — Acredite, isso existe.
Ele até podia ter razão, em partes, quanto ao que falava, mas
soltei uma risada interna ao pensar que estava um pouco enganado.
No entanto, eu não ia revelar que a mulher em questão tinha me
beijado na despedida. Muito menos que foi exatamente aquela
atitude que fodeu tudo na minha cabeça, porque eu havia aprendido
a provocar e implicar com Hazel, mas não pensei que chegaria o
momento em que tal linha seria realmente cruzada por um de nós.
Meu instinto não me deixava ter qualquer outro pensamento
além de que tinha sido bom. Era um beijo na boca, de uma mulher
linda, eu sempre ia gostar de vivenciar um acontecimento como
aquele. Só não sabia o que Hazel esperava de mim. Foi algum sinal
que tentou me dar? Ou não passou apenas de um experimento,
considerando que tinha sido seu primeiro beijo? Eu deveria fingir que
nada aconteceu para não deixá-la com vergonha ou a garota
esperava que na próxima vez, eu a cumprimentasse retribuindo seu
gesto?
Por algumas horas, esqueci da solicitação que fiz ao Unit. Rolei
de um lado ao outro do meu colchão de casal e só consegui pregar
os olhos por volta das quatro da manhã, para ser acordado três
horas depois com a ligação de uma tal de Wendy. Agora, terminava
de tomar meu banho, ouvindo a voz confusa e reticente de Hazel
ainda ecoar em meus ouvidos. Ela não parecia feliz no telefone, não
mesmo.
Tomei um café da manhã rápido com Josh antes de entrarmos
no carro dele para ir ao CT encontrar com todo mundo. A ginasta
ainda não tinha dado nenhum sinal de vida, então me surpreendi e
senti o coração disparar quando recebi uma notificação de
mensagem.

Baixinha: Talvez eu me arrependa disso,


mas... estou pronta.

— Nós precisamos passar no dormitório da Hazel — avisei ao


meu amigo, que quase bateu com o carro. — No caminho eu explico
tudo.

Mason: Chego aí em dez minutos.

— Eu tô confuso pra caralho — Josh debochou, rindo. — Isso


significa que Mason Johnson vai viajar e não vai transar depois do
jogo?
— Porra, estou muito fodido. — Deitei minha cabeça na janela
e fechei os olhos. — Tem noção de que não transo há uma semana?
— Ao se tratar de você, isso é mesmo um recorde.
Eu não era uma pessoa religiosa, mas depois de ter contado
tudo ao meu melhor amigo, fiquei apreensivo e fiz uma prece
silenciosa, implorando para que, em algum momento da viagem, eu
arranjasse um tempo para dar umazinha. Se durasse cinco segundos
já estaria bom, eu só precisava sentir o calor de uma boceta gostosa.
Infelizmente, Josh não se solidarizou com minha situação tão
precária e utilizou todo o tempo que levamos para buscar Hazel,
debochando da minha cara porque finalmente podia se vangloriar de
ter transado mais do que eu na última semana.
Ao pararmos na porta do edifício da ginasta, saltei do carro
para encontrar com ela na portaria, onde esperava com sua mochila
nos ombros e uma bolsa de treino com a alça transpassada no peito.
Foi estranho ficar diante dela depois do beijo, mas eu já esperava
por isso desde que acordei naquela manhã.
Podemos ser amigos. Amizade entre homem e mulher existe.
Confiei nas palavras de Josh ao sorrir para a garota.
— Bom dia. — Estiquei minha mão para a bolsa. — Quer que
eu leve?
— Não está pesada — respondeu, recusando minha oferta.
Só então percebi que Hazel não conseguiu me olhar nos olhos
nem por dois segundos. Quis tocar no assunto do beijo, mas achei
que aquele não era o melhor momento, sequer o melhor lugar, sendo
assim, gesticulei para que me seguisse e esperei que entrasse no
carro para voltar a ocupar meu lugar.
— Oi, Hazel. — Meu amigo virou a cabeça para trás e esticou o
braço entre os bancos. — Sou o Josh e ouvi falar muito de você.
— Prazer, Josh. Também já escutei seu nome várias vezes. O
Mason é um pouco recalcado por você ter conseguido pegar a irmã
dele.
— Ah... — O filho da puta estalou a língua e sorriu ao me olhar.
— Mia não resistiu ao meu charme e o bonitinho aqui nada pôde
fazer para impedir nosso amor.
— Cara, que breguice — murmurei, dando um peteleco no
braço dele. — Podemos ir?
A maneira como Josh me encarou, parecendo se divertir com
alguma piada interna, me deixou incomodado. Voltei a encostar a
cabeça no vidro da janela porque ainda estava com muito sono e me
mantive em silêncio, prestando atenção para ouvir qualquer barulho
que pudesse acontecer no banco de trás.
Por sorte, a distância dali até o estacionamento coberto do
Centro de Treinamento, de onde os ônibus sairiam, não levava mais
do que quatro minutos. Assim que Josh estacionou o carro, eu saí e
consegui abrir a porta para Hazel antes que ela mesma fizesse isso.
— A equipe técnica não vai se importar com a minha presença?
— perguntou, parecendo insegura.
— Wendy disse que eles tinham sido avisados e concordaram
com tudo, então, não será um problema.
Pela minha visão periférica, notei o afastamento do meu amigo,
que depois de colocar nossas malas para fora, foi em direção ao
grupo já reunido por ali, e isso me deu oportunidade de ficar um
momento a sós com Hazel. Levei minhas mãos para trás das costas
para não sentir vontade de tocar na garota e inclinei meu corpo,
aproximando meu rosto do dela.
— Ficou satisfeita com o beijo de ontem?
Seus olhos claros e bonitos se moveram e encararam os meus
ao mesmo tempo em que suas bochechas ficavam vermelhas.
— Ainda se lembra disso? — ela perguntou, piscando
rapidamente.
— Não sou do tipo que sofre amnésia alcóolica. — Sorri. —
Lembro-me perfeitamente de tudo que aconteceu ontem.
Hazel mexeu a cabeça e olhou para algum ponto atrás de mim,
desviando sua atenção, e eu sabia que fazia de propósito para se
livrar da sabatina. Ela ajeitou a alça da bolsa e deu um passo para o
lado, saindo do meu alcance e fugindo depressa.
— Vou pegar logo um lugar bom, porque gosto de ficar na
janela — anunciou, a passos apressados na direção de um dos
ônibus.
Prendi a risada e a segui de longe, puxando minha mala de
rodinhas, observando sua maneira decidida de andar, e infelizmente,
descendo meus olhos pelo corpo pequeno. A garota usava um jeans
de modelagem mais larga, calçava tênis branco, e vestia uma
jaqueta preta por cima de uma blusinha rosa e justa que quase
mostrava seu umbigo.
Deixei minha mala para ser guardada no bagageiro e esperei
que Hazel subisse os degraus, aproveitando para cumprimentar
quem estava do lado de fora conversando, até que a segui para o
interior do ônibus e a procurei com os olhos. Vi Josh sentado com os
fones de ouvido no terceiro banco atrás do motorista e, normalmente,
eu me sentaria com meu melhor amigo. Porém, ele acenou para mim
quando me viu, ciente de que eu tinha outro foco naquele dia.
Caminhei pelo corredor, encarando a cabeça que quase sumia
entre os bancos, até parar diante de Hazel, encolhida contra a janela
sem querer olhar para mim. Para deixar isso bem claro, a filha da
mãe tirou a mochila do colo e a soltou no assento vazio ao seu lado.
— Ah, que fofa — zombei, pegando o objeto. — Acha que isso
vai me impedir de sentar aqui?
Eu me joguei na poltrona e abracei a mochila da menina,
sentindo seu perfume delicado que exalava do tecido. Seus cabelos
estavam soltos e jogados por cima dos ombros, soltando a mesma
fragrância, então, a curiosidade me fez pegar a mão pequena ao
meu lado, coberta quase totalmente pela manga da jaqueta, e a levar
até meu nariz. Hazel reagiu de forma imediata, virando o rosto para
mim e me encarando em choque.
— Hum, seu cheirinho é bom — comentei, soltando seus dedos
e me ajeitando na poltrona, enquanto evitava retribuir o olhar. — Vou
cochilar um pouco porque quase não dormi essa noite.
Abaixei um pouco o boné em minha cabeça e fechei os olhos,
me sentindo cada vez mais deslocado. Que diabos eu fui inventar de
trazer Hazel nessa viagem, afinal de contas? Eu mal sabia como
lidar com ela dentro de nossa rotina no campus, como faria quando
chegássemos ao hotel?
Hazel Mackenzie
A cabeça de Mason pesava em meu ombro porque ele tinha
pegado no sono dez minutos depois que entramos no avião. Por
algum tempo, o jogador se manteve com a postura correta, mas logo
após a decolagem seu pescoço simplesmente deixou a cabeça
tombar para cima de mim. Minha reação inicial foi empurrá-la de
volta para a posição original, mas quando caiu pela segunda vez,
não tive coragem de mexer novamente nele.
A única coisa que eu esperava era que o garoto não pudesse
sentir a forma acelerada como meu coração batia por causa daquele
contato. Eu tentava minimizar a ansiedade que aquela situação me
causava, mantendo minha respiração controlada para não sentir falta
de ar, enquanto procurava me distrair com a paisagem cheia de
nuvens que podia ver pela janela.
Vez ou outra, sempre que Mason se mexia, meus batimentos
disparavam por alguns segundos até voltar a me acalmar. Observei
as mãos do jogador, apoiadas de maneira relaxada em suas coxas, a
pele bronzeada, muito diferente da minha, que mal pegava sol, e os
pelinhos num tom bonito de dourado. Ele tinha dedos compridos e as
palmas largas, brutas, provavelmente, muito úteis para o esporte que
jogava.
A sensação de me flagrar notando aqueles detalhes me causou
estranheza, pois parecia ser a primeira vez que eu realmente
reparava em um garoto dessa maneira. Estava acostumada a fugir
deles e não sentir nenhum tipo de atração, mas gostei de observar o
formato do braço de Mason e a maneira como seu cotovelo tocava
meu quadril.
Em meus fones, “Say Something”, de A Great Big World &
Christina Aguilera, começou a tocar lindamente. Bem no momento
em que Mason se ajeitou um pouco mais e sua mão pousou em
minha perna. Tive medo de que estivesse apenas me provocando e
se aproveitando da situação, por isso, puxei seu boné com o máximo
de cuidado e pude observar seu semblante tranquilo, com os olhos
fechados. Percebi os lábios entreabertos soltando o ar devagar cada
vez que seu peito subia e descia.
Lentamente, toquei em seus dedos e os puxei para poder
mover sua mão de volta ao seu colo, mas bem nesse momento,
Mason acordou. Ou apenas despertou, eu não sabia dizer, pois seu
rosto se ergueu o suficiente para que pudesse me encarar com olhos
preguiçosos, em seguida, se esticou no assento até roçar a ponta do
nariz no meu pescoço e entrelaçar os dedos aos meus. Engoli em
seco quando senti seu polegar deslizar de forma delicada pela palma
da minha mão, até que o jogador voltou a fechar os olhos.
— Não me expulse, baixinha — murmurou, com a voz um
pouco enrolada. — O beijo de ontem me fez passar a noite
acordado. A culpa será sua se eu jogar mal hoje.
Mordi meu lábio, sem saber o que dizer. Ele era Mason
Johnson, não pensei que fosse capaz de perder o sono por causa de
um selinho patético de uma garota ainda mais patética. Vê-lo na
festa ontem com todas aquelas beldades que tentavam chamar sua
atenção, deixou bem claro que as brincadeirinhas do jogador eram
puramente implicância, pois eu não possuía nada de interessante
que pudesse mudar a vida dele.
Puxei minha mão de volta e a apertei junto com a outra entre
minhas pernas, agradecida pelo jogador não ter percebido ou não ter
se importado. Virei novamente o rosto para a janela e fixei o olhar
nas nuvens, esforçando-me para tirar qualquer outra coisa da minha
mente. Precisava guardar energia para aguentar a viagem e as horas
intermináveis que passaria junto com todo aquele grupo que exalava
testosterona em excesso.
Quando finalmente o piloto avisou que iríamos pousar, Mason
acordou e consertou a postura, abrindo os braços para se
espreguiçar e bocejando uma vez antes de virar o rosto e sorrir.
— Ainda bem que consegui tirar um cochilo. Você dormiu um
pouco?
— Não.
— Pois devia ter aproveitado — comentou, massageando o
pescoço.
— Deixarei pra descansar quando estiver sozinha no meu
quarto.
Cometi o erro de prestar atenção no rosto dele quando disse
isso, e vi Mason arregalar os olhos ao mesmo tempo em que franzia
os lábios. Eu nem teria pensado em nada se não fosse ele a
pigarrear e me lançar um sorriso muito preocupante.
— Então, sobre essa questão... — murmurou, fazendo meu
coração disparar. — O Comitê precisou agir muito em cima da hora e
eles avisaram que não conseguiram reservar um quarto só pra você.
— O que isso significa? — perguntei, sentindo meu ar ir todo
embora.
— Como estamos juntos no programa, entenderam que o ideal
seria me realocar para dividirmos um quarto duplo. — Ele fechou os
olhos e fez uma careta porque suas palavras eram absurdas. —
Acredite, eu sabia que você odiaria a notícia, mas é melhor ficar
comigo do que com qualquer outro idiota, não acha?
— Jura que pensa que uma coisa compensa a outra? —
questionei, sentindo minha garganta querer fechar e virei o rosto
para a frente, encarando a poltrona adiante e puxando o ar pelo
nariz.
Curvei um pouco o meu tronco e fechei os olhos quando
percebi que Mason tinha imitado minha posição para vir sussurrar
em meu ouvido.
— Juro por tudo que é sagrado, que não tenho absolutamente
nada a ver com isso. E sinceramente, eu posso até dormir dentro do
banheiro, não ligo. Vai ser só uma noite.
Wendy devia ter me avisado disso, não é? Ou será que avisou
e eu não escutei? Lembro que fiquei divagando por alguns segundos
enquanto a mulher tagarelava às sete da manhã, então talvez eu não
pudesse culpá-la pela falta de informação.

Encarei o visor do elevador quando ele parou no nosso andar,


me sentindo muito estúpida por ter me colocado naquela situação
desconfortável. Os jogadores que estavam ali dentro conosco,
saíram sem disfarçar as risadinhas idiotas por saberem que Mason e
eu estávamos a caminho do nosso quarto.
Sabia perfeitamente o que pensavam que aconteceria entre
quatro paredes e odiava ganhar uma fama que eu não desejava.
— Pelo menos, as camas são de solteiro — murmurou o garoto
quando abriu a porta. — Não é o fim do mundo.
Não respondi, qualquer bom humor que eu pudesse ter
adquirido naquele dia, tinha ficado dentro do avião assim que recebi
a notícia da divisão de quartos. Soltei minha bolsa e minha mochila
sobre a cama mais perto da porta e fui conferir a vista da janela.
Estávamos em Palo Alto, pois o jogo seria contra Stanford, e eu
nunca pisei ali antes.
Mason se sentou na beira da cama que seria usada por ele e
senti que estava me encarando, mas não me virei.
— Sairemos do hotel para o estádio às três e meia, então você
pode descansar um pouco — disse. — Geralmente, a gente pede
almoço no quarto, mas acho que vou te deixar sozinha e ficar com
Josh, Bryan e Noah até a hora de me trocar.
Olhei por cima do meu ombro para ver que Mason tinha se
levantado e colocado a mala sobre a cama, abrindo o zíper dela e
pegando alguns itens ali de dentro. Ele jogou um par de chinelos no
chão e trocou os tênis por eles, depois pegou o carregador do celular
e o enfiou dentro do bolso, caminhando na direção da porta.
— O quarto também é seu, não precisa sair — falei, deixando a
janela e voltando até minha cama. — Só por favor, trate de desmentir
qualquer boato que surgir, porque sua fama fará isso acontecer.
Mason se virou, passando a mão pelos cabelos ao levantar o
boné e sorrir um pouco sem jeito, o que não era comum à
personalidade que eu conhecia.
— Os rapazes só provocam, mas eles sabem que não está
rolando nada entre nós.
Assenti, controlando a vontade de perguntar se ele não tinha
contado sobre o beijo para nenhum deles. No entanto, minha
atenção foi desviada para o movimento que o jogador fez na hora de
tirar o moletom, pois a peça de roupa acabou puxando a camisa que
estava embaixo e revelando uns dois palmos de abdômen. Devia ser
muito comum para Mason, pois ele nem se alterou, provavelmente
nem percebeu o que aconteceu, apenas jogou o agasalho sobre a
cama e arrumou a camisa, aproveitando para ajeitar os cabelos no
processo.
Eu não fazia ideia de que o garoto tinha um corpo tão bonito.
Foram poucos os segundos que pude observar a região ao redor do
umbigo, mas deu para notar que todo o exercício que fazia resultava
em músculos trincados na região.
E por que eu estava pensando nisso, afinal de contas?
Esfreguei minha testa, querendo mesmo esfregar os olhos com
detergente para tirar a imagem gravada por eles.
— Vamos pedir o almoço? — Ergui a cabeça ao ouvir a
pergunta e notei Mason sentado na cama, segurando o gancho do
telefone. — Estou morrendo de fome.
— Quais são as opções?
Ele esticou o braço e peguei seu celular aberto na página do
aplicativo do hotel, que exibia o cardápio disponível no restaurante.
Escolhi o meu prato e aproveitei para levar minha mochila até o
banheiro e perder um tempo ali dentro. Deixei minha escova e pasta
de dente sobre a bancada da pia, além do meu hidratante facial e
protetor solar.
Eu estava menstruada, mas de jeito algum tiraria os
absorventes da bolsinha e os deixaria expostos à visão de Mason.
Por sorte, o que me tranquilizava um pouco era que consegui ter a
inteligência de trazer um pijama decente, de calça comprida, que não
estava tão velho e também não aparentava ser uma roupa usada
para seduzir ninguém.
Ao contrário de mim, que tentava não surtar por estar trancada
num quarto pequeno com ele, o garoto demonstrava estar muito
confortável. Ele tinha se deitado sem desfazer a arrumação da cama,
e falava no celular enquanto acariciava os próprios cabelos. Parecia
distraído e entendi que era Josh do outro lado da linha, quando
Mason murmurou o nome do amigo.
— Hazel! — Ele me chamou, sorrindo e meneando a cabeça.
— Josh quer ouvir de você de que está tudo bem. Pode fazer esse
favor?
O jogador revirou os olhos quando me aproximei e esticou o
telefone para mim.
— Oi?
— Hazel, é o Josh. — Ouvi a voz do rapaz simpático. — Se
Mason for inconveniente, bata na porta do quarto ao lado, ok? Eu
quebro o nariz dele por você.
— Hm, tudo bem — respondi, sem ter certeza se o garoto
falava sério. — Eu sei usar o joelho no lugar certo.
Mason fez uma careta diante da informação e Josh soltou uma
gargalhada. Devolvi o celular e senti seus dedos roçarem nos meus
quando o pegou da minha mão, e o toque também não passou
despercebido por ele, que deu um pequeno sorriso para mim antes
de eu me afastar.
Descalcei meus tênis e sentei no meio da minha cama, abrindo
minha bolsa, tirando minha câmera fotográfica do estojo e a
colocando no colo. Tinha resolvido trazê-la comigo, pois precisava
montar um trabalho neste semestre que envolvia a necessidade de
registrar momentos ligados ao esporte.
— Você não precisa de uma máquina tão complexa para
capturar um nude meu — comentou o idiota que surgiu ao meu lado
num passe de mágica e eu nem tinha percebido que havia encerrado
a ligação.
— Na verdade, eu não preciso de nada mesmo, para registrar
uma foto inútil.
Ele gargalhou e se sentou na beira da minha cama para me
irritar, não havia outro motivo. Dobrou uma perna sobre o outro
joelho e ficou observando eu mexer na lente da câmera.
— Quer alguma coisa, Mason? — perguntei, ligando meu
brinquedinho.
— Já que está perguntando, sim. — Sorriu. — Adoraria falar
sobre o beijo.
— Eu adoraria que você calasse a boca por uma hora inteira,
mas não temos tudo o que desejamos — retruquei e bati uma foto
dele no momento em que revirou os olhos.
Conferi o resultado e não consegui prender a risada, porque o
bestalhão saiu de boca entreaberta e os olhos completamente
virados, mostrando só a parte branca deles.
— Você deveria me tratar muito bem, porque duvido que
consiga manter sua fama de gostosão depois que eu divulgar essa
foto — avisei, recuando o braço quando Mason tentou pegar a
câmera.
— Gostosão? — Sorriu, convencido. — É assim que pensa em
mim?
— Falei que é a sua fama, não necessariamente, a sua
realidade.
— Sabe que posso arrancar isso da sua mão em dois
segundos, se eu quiser, né? — Seus olhos se estreitaram e fui
acometida por um arrepio estranho na espinha.
Congelei meus movimentos e pensei que era muito melhor
apenas mostrar logo a foto para ele e evitar toda uma cena que
podia acabar de um jeito ruim. Afinal de contas, eu sabia muito bem
como aquelas brincadeirinhas de pega-pega terminavam. Podia
nunca ter me envolvido com ninguém, mas não era tão inocente. Os
filmes, livros e seriados ajudavam muito a alimentar a imaginação.
Segurando firme para que Mason não roubasse a máquina
fotográfica, virei o visor dela para que conferisse o seu registro e ele
puxou meu pulso para olhar mais de perto.
— Eu fico bonito de qualquer jeito, impressionante!
— Acha mesmo que está bonito nesta foto? — questionei,
chocada.
— Claro que sim. — O idiota piscou de um jeito sedutor e
agitou as mãos na altura do rosto. — E estamos falando apenas
desta parte, mas o restante do conteúdo é ainda mais deslumbrante.
— Entendi. — Sorri, não dava para ficar muito tempo séria
perto dele. — Sua autoestima deveria ser vendida. Tem muita gente
precisando de um pouquinho disso.
Mason deu um sorrisinho bobo e encolheu os ombros, como se
fosse uma pessoa muito humilde recebendo seu primeiro elogio.
Francamente, ele precisava ser estudado.
— Vamos falar sobre o beijo, agora? — insistiu, fazendo meu
coração disparar e tocando uma mecha dos meus cabelos. — Achei
injusto você não ter me dado tempo para retribuir. Logo eu, que
adoro beijar na boca.
Abaixei a cabeça, sem acreditar no quanto ele era um pentelho
que parecia não desistir das coisas que colocava em foco.
— A intenção era justamente essa — murmurei, me jogando de
costas no colchão e puxando o travesseiro para cima do rosto. — Me
deixa em paz, Mason.
— A intenção era só roubar um selinho? Jura? Era essa a sua
ideia de primeiro beijo?
— Sim.
— Não acredito nessa mentira — retrucou ele, apertando meu
dedão do pé. — Estou disponível para mostrar como é um beijo de
verdade. Basta você querer.
— Estou ótima, obrigada.
— Tenho uma ideia — disse Mason, sem nunca desistir. —
Caso a gente perca o jogo de hoje, eu paro de tocar nesse assunto.
Porém, se ganharmos, você me deixa te beijar.
— Não deve ser uma aposta justa — respondi, voltando a me
sentar porque ouvimos a campainha anunciando a chegada da
comida. — Você não apostaria pra perder.
Mason se levantou e encolheu os ombros ao sorrir para mim,
prestes a abrir a porta do quarto.
— Se serve como dica, nós perdemos da última vez em que
jogamos contra Stanford — confessou, mas podia ser mentira. — Eu
não tenho o poder de decidir um jogo e você sabe disso.
— Ok. Vamos apostar. — Sorri para ele. — Se o Bruins perder
e você descumprir com a palavra, eu juro que dou um jeito de sair do
Unit.
O idiota fez aquele gesto típico de escoteiro e se virou para
receber o serviço de quarto, me deixando com a mente cheia de
pensamentos destoantes. Eu queria que Mason nunca mais tocasse
no assunto? Ou eu queria que ele me beijasse? Como era possível
me sentir completamente dividida naquele momento?
Mason Johnson
Havia falhado em prestar atenção nos detalhes, essa foi a
minha conclusão quando me vi em desespero. E tais detalhes
estavam bem na minha cara desde cedo, a partir do instante em que
descemos dos ônibus no estacionamento subterrâneo do estádio.
Hazel, que desde o almoço tinha conseguido descontrair um
pouco mais e até passou rímel nos cílios para incrementar o visual,
voltou a ficar tensa. Ninguém além de mim podia perceber, mas eu já
convivia há alguns dias com a garota e reconhecia com mais
facilidade as suas mudanças de humor. De qualquer forma, pensei
que só estivesse nervosa pelo jogo, como qualquer um de nós
costumava ficar, então não dei muita importância a isso.
Eu me preocupava bastante com ela, mas confesso que minha
mente entrava no automático quando pisava num estádio em dia de
partida. Éramos condicionados a permanecer focados no que
acontecia em campo, em nossos adversários e aliados, nas jogadas
que precisávamos fazer. Cada segundo contava muito e, justamente
por isso, era decisivo.
Apenas me despedi rapidamente de Hazel antes de entrar no
vestiário, para onde ela não nos seguiria porque seria invasivo
demais. A garota tinha ficado sob responsabilidade da equipe
técnica, que a levaria para assistir ao jogo na área exclusiva para
eles.
— Pessoal! Concentrem-se aqui! — Um dos treinadores bateu
palmas para chamar nossa atenção e nos fazer cessar o falatório. —
Não preciso dizer que espero que trucidem esses garotos, né? Vocês
estão aqui hoje porque são os melhores, e dos melhores, espera-se
sangue! — Gritamos, agitados. — Sangue da porra dos nossos
adversários! Vocês farão esses cardinais sangrarem hoje?
— Sim! — Mais gritos.
— Vocês vieram aqui pra destruir esses babacas de Stanford?
— Sim!
As frases delicadas de incentivo continuaram mais um pouco
até que os treinadores nos sentissem extremamente motivados.
Aqueles últimos minutos antes de entrar em campo sempre
passavam rápido demais e como um borrão, portanto, a adrenalina
ficava no ápice quando segurávamos as grades dos nossos helmets
ao deixarmos o vestiário para trás.
— Boa sorte, mano — disse Josh, batendo o punho no meu
como sempre fazíamos ao entrarmos em campo.
— Nos vemos na vitória — respondi, piscando para ele.
Foi instintivo olhar na direção de onde eu sabia que Hazel
estava sentada, mas levei um choque ao notar a ausência da garota.
Será que tinha ido ao banheiro? A curiosidade me arrebatou, mas
nada podia fazer naquele momento. Tentei apenas permanecer
atento ao retorno dela, só que com o início do jogo, foi impossível
prestar atenção em qualquer outra coisa.
Meu nervosismo aumentou quando o time de defesa entrou em
cena e nós do ataque saímos. Enquanto bebia água e recuperava o
fôlego, olhei de novo à procura da ginasta e não a encontrei.
Perguntei para um dos treinadores, que não demonstrou muito
interesse em desvendar o mistério, afinal de contas, o jogo estava
em andamento.
— Hazel sumiu — comentei com Josh ao me aproximar dele. —
Não é estranho? Eu não a vi desde que entramos em campo.
Meu amigo olhou na direção da área de apoio para ter a
confirmação do que eu dizia e encolheu os ombros, franzindo a testa
ao me encarar.
— Será que ela não foi ao banheiro?
— E está lá desde o início do jogo? — retruquei, notando a
compreensão que o tomou. — Aconteceu alguma coisa e não posso
sair daqui.
— Mason, relaxa, mano. — Ele tocou meu ombro e bateu o
helmet no meu. — Não perca o foco, porra.
— Tô focado — declarei, respirando fundo e fechando os olhos
ao gritar: — Tô focado, caralho!
Não tive tempo mesmo de pensar em mais nada, porque já se
aproximava o momento de voltar ao jogo e virar aquele placar de
merda, pois estávamos perdendo por onze pontos.
A agitação e confusão, os gritos de comando, os passes
errados e os acertos, era tudo aquilo que tomou a minha mente pela
próxima hora, porque enquanto o relógio corria, não havia espaço
para qualquer outra coisa. Uma simples distração minha podia
resultar em derrota para todo o time e eu não podia permitir que
minhas preocupações se abatessem sobre meus amigos.
Assim que a partida foi encerrada, que o relógio parou de rodar
e que nossa vitória foi declarada com um touchdown a cinco
segundos do fim, corri na direção da área onde o restante da nossa
equipe estava comemorando e perguntei por Hazel. Só então, os
idiotas demonstraram sentir falta da garota, mas não souberam me
dizer onde diabos ela tinha se enfiado.
Puxei o helmet para me sentir livre e olhei ao meu redor,
procurando pelo estádio, tentando encontrá-la em algum outro lugar.
Talvez tivesse preferido mudar de assento, ou estivesse em campo
me procurando, junto com outras pessoas que tinham invadido para
comemorar.
Nenhum sinal de Hazel por ali, o que fez eu me apressar de
volta para os bastidores e percorrer o corredor que levava ao
vestiário. Empurrei a porta com força, piscando quando as luzes se
acenderam pelo sensor de movimento.
— Hazel? — chamei, conferindo todos os cantos. — Hazel,
porra!
Tive, finalmente, a ideia de pegar o celular no bolso do meu
jeans que estava no meu banco, então liguei para o número dela e
deixei chamar. Afastei o aparelho do ouvido para tentar escutar o
toque em algum lugar, mas ela, definitivamente, não estava por
perto.
Saí para o corredor, parando perto de cada porta fechada na
tentativa de ouvir algum barulho, e continuei fazendo isso mesmo
quando os times começaram a retornar. A ligação caiu de tanto
chamar, mas insisti mais uma vez e apressei meus passos quando
consegui ouvir o toque baixinho uns metros adiante. Levantei os
olhos para a placa que sinalizava um banheiro feminino e empurrei a
porta depois de encerrar a ligação e guardar meu celular.
Senti meu coração dar uma cambalhota dentro do peito com a
imagem que vi. Hazel estava encolhida no chão, num canto do
banheiro, com o rosto apoiado nos joelhos erguidos contra o corpo.
Tomei o cuidado de girar a chave e trancar a porta atrás de mim
antes de me aproximar dela e me ajoelhar ao seu lado.
— Ei... — Toquei seus cabelos com um pouco de medo de sua
reação. — Hazel, o que aconteceu?
A garota não recuou sob meu toque, no entanto, virou o rosto
para a parede de forma que não pudesse vê-la direito. Caralho,
precisei engolir em seco e respirar fundo para controlar o ódio que
me inundava. Durante todo aquele tempo eu estava em campo,
jogando e pensando em ganhar ou perder, enquanto a menina se
encontrava desse jeito? Em que momento ela tinha vindo até aqui,
afinal?
— Me fala quem foi que te deixou assim e eu vou resolver o
problema agora mesmo — pedi. — Só preciso de um nome.
Vi o tremor em seus ombros ser seguido de muito choro.
— Não foi ninguém... — ela sussurrou. — Não hoje.
Quando levantou o rosto e encostou a cabeça na parede atrás
dela, senti como se levasse um soco na boca do estômago, porque a
baixinha estava em prantos. Seus olhos se fecharam, apertados, e
ela fungou antes de falar algo que me quebrou em pedacinhos,
porque pude sentir a dor em seu tom de voz.
— A última vez em que pisei num estádio, foi o dia em que tudo
aconteceu. — Sua mão deslizou pela bochecha molhada. — E
também o dia em que vi meu irmão pela última vez.
— Eu não... — Balancei a cabeça, sem saber direito o que falar.
— Não teria arranjado a viagem se soubesse... Por que aceitou vir?
Notei o tremor em seus lábios antes de Hazel prender o inferior
entre os dentes e fungar. Sem mexer a cabeça, ela apenas baixou os
olhos, tomando um tempo para passar as mãos pelo rosto na
tentativa de se limpar. Não faria muita diferença, considerando que
não parava de verter lágrimas a cada segundo.
— Vai fazer dez anos — respondeu entre um soluço e outro. —
Achei que era um bom momento pra me testar, mas as lembranças
retornam mesmo que eu não queira pensar nisso.
Seu soluço ecoou pelo banheiro quando curvou o corpo e tapou
o rosto, dilacerando meu coração por me deixar tão impotente.
— Eu o odeio, porque ele tirou até o meu irmão de mim. — Ela
teve a capacidade de me olhar, com o rímel escorrido, e encolher os
ombros. — Desculpa, não pretendia fazer uma cena.
Como pode achar que precisa se desculpar de alguma coisa?
Eu só desejava abraçar aquele corpo frágil e deixar que chorasse
enquanto sentisse necessidade, e ser eu a pedir desculpa por todas
as coisas terríveis pelas quais passou. No entanto, eu sabia que
aquele não era o lugar ideal para tentar consolá-la e esperar até que
se sentisse melhor. Não podia deixar a garota no chão de um
banheiro público.
Foi a minha vez de respirar fundo e me levantar. Caminhei até o
espelho e conferi meu visual, percebendo meus olhos vermelhos e
marejados. Precisei puxar umas folhas de papel para enxugar as
lágrimas que quase caíram e olhei mais uma vez para a garota no
chão.
— Fique aqui que eu volto pra te buscar, ok? — pedi e ainda
esperei que confirmasse, mas ela estava em outro planeta naquele
momento. — Sério, não saia.
Certamente não encontraria forças para se levantar, então
deixei o banheiro e corri até o vestiário, procurando por alguém da
equipe técnica. A vontade real que eu tinha era de socar a cara de
todos eles, que não se preocuparam com a menina, mas me contive
o máximo que pude quando parei diante do meu treinador e toquei
seu ombro.
— Hazel Mackenzie levou um tombo e está no banheiro, toda
chorosa — menti porque jamais contaria a verdade que só dizia
respeito a ela. — Vou pegar um Uber e voltar com ela pro hotel, ok?
Não faz sentido deixar a garota esperando por nós.
— Ela se machucou? — perguntou, franzindo a testa. —
Precisa de atendimento médico?
— Acredito que não. Machucou apenas o orgulho e rasgou a
calça.
Não esperei nenhuma resposta e até pensei em procurar por
Josh para avisar que ia embora mais cedo, mas a pessoa que mais
me preocupava estava num banheiro feminino aguardando por mim.
Portanto, só peguei toda a minha roupa e a enfiei de qualquer jeito
dentro da mochila antes de sair correndo do vestiário. Ainda estava
de uniforme, mas não perderia tempo me trocando.
Atendendo ao meu pedido, Hazel continuava na mesma
posição quando abri a porta do banheiro. Levei alguns segundos
para usar o celular e chamar um Uber, decorando a placa do veículo
antes de devolver meu aparelho ao bolso da mochila. Então, me
aproximei dela, agachando-me e beijando o topo de sua cabeça.
— Vou te levar embora, tudo bem? — Aquela foi a minha
maneira de pedir permissão antes de passar um braço por suas
costas e o outro atrás de seus joelhos. — Pode chorar se quiser, mas
saiba que eu fico feio quando choro, então não é bom me deixar
emotivo demais.
Tentei fazer uma gracinha e não funcionou, mas pelo menos,
Hazel não ofereceu nenhuma resistência quando me levantei com
seu corpo em meus braços. A ginasta escondeu o rosto no meu peito
e eu lamentei muito por isso, porque estava suado e fedido, e passou
os braços pelo meu pescoço.
— Não queria que todo mundo me visse assim — choramingou,
ainda soluçando um pouco.
— Estão todos no vestiário — murmurei perto de seu ouvido,
enquanto caminhava para fora do estádio, sendo o alvo de centenas
de olhares curiosos. — Nós dois voltaremos de Uber. Mas acho
melhor você manter o rosto escondido.
Tudo bem, confesso que não parei para pensar no espetáculo
que seria aparecer de uniforme ali na frente do estádio, quando o
público ainda dispersava e eu era um ponto azul num mar todo
vermelho. Por sorte, conseguia agir muito bem sob pressão e me
mantive focado enquanto procurava pelo nosso carro entre tantos
outros.
Quando finalmente avistei a placa que havia decorado, respirei
com alívio e corri até lá. O motorista foi bacana e saiu depressa, com
os olhos arregalados, porque não devia esperar ser chamado por um
dos jogadores da noite.
Eu entrei tão depressa que mantive Hazel na mesma posição e
só então soltei a garota, mas ela não se desprendeu do meu
pescoço. Apenas se permitiu levantar o rosto para me encarar e eu
dei um sorriso na tentativa de parecer engraçado.
— Você está um desastre — comentei, revirando meus olhos.
— E o pior de tudo, é que vai chorar ainda mais quando descobrir
que nós ganhamos o jogo e eu ganhei a aposta.
Ela soltou uma risadinha enquanto eu deslizava meu polegar
pela sujeira que o rímel tinha deixado em seu rosto, mas não
esperou que eu terminasse o trabalho antes de deitar novamente a
cabeça no meu peito e fechar os olhos.
— Obrigada, idiota — sussurrou.
Não consegui responder porque minha garganta se fechou.
Passei apenas meu braço por cima dos ombros finos e a prendi
contra mim com mais força, olhando para fora da janela e desejando
que o hotel estivesse a segundos de distância.
Hazel Mackenzie
Quando meus pés tocaram o chão do quarto e ouvi Mason
fechar a porta, me permiti voltar à realidade e sair do torpor no qual
tinha entrado desde que a crise iniciou. Girei meu corpo na direção
do jogador e observei seu corpo dentro do uniforme tradicional do
futebol americano. Não conseguia acreditar que ele tinha me
carregado no colo até aqui, mas me sentia grata por ter feito isso.
Sua camisa úmida grudada na pele rígida e o cheiro característico de
quem tinha corrido quilômetros foram detalhes que me mantiveram
lúcida por algum tempo, enquanto minha mente tentava me soterrar
com mais lembranças ruins.
— Se sente um pouco melhor? — perguntou ele ao se
aproximar e encostar os polegares sob meus olhos inchados. —
Acho que deveria tomar um banho e ir se deitar. Vou esperar o Josh
chegar e partir pro quarto dele, assim você poderá ficar à vontade
esta noite.
— Não precisa fazer isso, Mason.
— Não vai ser um esforço — respondeu, encolhendo os
ombros. — O Bryan está dividindo o quarto com ele e não é todo dia
que a gente pode dormir de conchinha com o quarterback do Bruins.
Meu humor estava no negativo, mas não pude deixar de sorrir
daquela piadinha porque eu sabia que era uma tentativa de me
animar.
Peguei minha mochila em cima da cama e a carreguei para o
banheiro, me preparando para tomar um banho quente e demorado.
A água tocando minha pele conseguiu me fazer relaxar um pouco e
eu me permiti ficar um tempo ali em pé, com o rosto virado para o
alto, deixando que o jato do chuveiro me atingisse por inteira e
levasse embora as minhas lágrimas.
Realmente pensei que não ia me afetar tanto ao entrar no
estádio. Eu não os frequentava mais porque não me interessava
pelos esportes do tipo, mas não imaginei que olhar ao redor,
observar as arquibancadas, andar pela parte interna reservada aos
times, ter todo aquele contato novamente com algo que fazia parte
do meu passado, surtiria um efeito tão impactante em mim.
A falta de ar me dominou por completo quando eu ainda
esperava a entrada do Bruins e precisei sair da área onde a equipe
estava. Procurei pelo primeiro lugar vazio que encontrei e não
consegui me mover por um tempo que não conseguia estimar. Foi a
voz de Mason que me fez acordar e me dar conta de onde estava,
porque até então, minha mente estava sendo inundada por flashes
que se repetiam e não me deixavam em paz.
Ver o rosto de Mason diante de mim foi como encontrar um
bote salva-vidas à deriva e há muito tempo eu não me sentia tão
segura como no momento em que me tirou daquele chão e meu
ouvido colado em seu peito captou as batidas de seu coração.
Alguém de quem eu jamais pensaria em me aproximar até uma
semana atrás, agora era justamente a única pessoa capaz de me
resgatar de um buraco que só me fazia cair mais e mais.
Quando terminei meu banho, vesti meu pijama macio e penteei
os cabelos antes de sair do banheiro. Flagrei o jogador de costas
para mim, mexendo em sua mochila sobre a cama, sem camisa e
com uma calça de moletom no lugar da que usava de uniforme.
Sentei-me na beira do meu colchão, apertando as pontas dos
cabelos úmidos com a toalha e o observando. Ele tinha as costas
largas e musculosas, mas Mason não era grandalhão como a
maioria dos jogadores daquele esporte.
— O pessoal está chegando — falou, então sabia que eu
estava ali, mesmo que permanecesse em silêncio. — O quarto dos
meninos é exatamente aqui do lado direito, ok? Qualquer coisa que
precisar, pode bater na porta ou sei lá, me liga.
Quando se virou, senti meu rosto queimar ao encarar seu peito
nu. Não que ele se importasse, pois acho que nem percebeu minha
reação.
— Está melhor? — perguntou, franzindo a testa.
— Vou ficar se você não sair do quarto por minha causa —
respondi. — Sério, vou me sentir mal se fizer isso.
Ele lançou um olhar apreensivo na direção da porta, mas se
sentou na beira da cama, de frente para mim. Fiz um esforço
extraordinário para não ficar reparando em seu corpo e o encarei,
direto nos olhos.
— Fiquei bem bolado em te ver daquele jeito, Hazel —
pigarreou, esfregando o pescoço. — Não sei o que devo fazer.
Nunca conheci ninguém que tenha passado por nada disso, então
tenho medo de falar algo errado...
— Não precisa fazer ou falar nada. Só seja você mesmo. — Ele
fez uma careta, porque sabia que sua versão natural era muito idiota
e eu sorri. — Você me ajudou hoje, de verdade.
— Então... você pode me contar? — Mason perguntou, me
olhando de forma receosa. — Acho que se eu tivesse conhecimento
de algumas coisas, como o lance do estádio, por exemplo, poderia
ajudar mais. Afinal, eu nunca tomaria a atitude de pedir que te
mandassem nessa viagem, se soubesse desse trauma.
Eu o entendia. Sabia que devia ser péssimo ficar no escuro
desse jeito, me ver passar por uma crise e nem entender direito
meus motivos. Detestava contar o que tinha acontecido, mas percebi
que Mason já tinha conhecimento suficiente do meu passado, para
que eu continuasse com medo de expor meus fantasmas.
Puxei meus pés para cima do colchão e me ajeitei no meio da
cama, trazendo um travesseiro para o meu colo. Assim podia ocupar
minhas mãos e usar alguma coisa como apoio enquanto retornava a
um período tenebroso da minha vida.
— Meu irmão era cinco anos mais velho do que eu e tinha um
melhor amigo, tipo você e Josh — relatei, observando sua expressão
se endurecer. — Eu cresci vendo os dois juntos, e ele, o Peter, nunca
saía lá de casa. Meus pais sempre o trataram como se fosse um
filho.
— Merda. — Mason abaixou a cabeça e apoiou a testa na mão.
— Que merda, cara...
— Eles eram os astros do time do colégio, mas nunca me
deixavam de fora de nada. Peter agia como se eu fosse sua irmã
mais nova, só que conforme fui crescendo, fui desenvolvendo
sentimentos por ele. — Encarei a fronha do travesseiro e deixei que
as lágrimas caíssem. — Ele era minha referência quando se tratava
de ideal de um par romântico, mas nunca contei nada, nunca me
declarei.
— Você tinha doze anos? — Assenti e o vi balançar a cabeça.
— Então, Peter tinha dezessete...
— Isso. Ele e Harry tinham a mesma idade. — Suspirei,
enxugando meu rosto. — Num dos jogos em casa, eu fui atrás deles
como sempre fazia no final da partida. Costumava esperar fora do
vestiário, mas tinha demorado porque fiquei conversando com
algumas amigas, e quando cheguei lá, todo mundo já tinha saído. Ou
quase todo mundo, porque Peter me viu e me chamou. Assim que
entrei, vi que tinham comemorado com algumas cervejas
clandestinas porque senti o bafo dele quando me abraçou.
“Nós dois tínhamos intimidade, então não estranhei a situação
de início, só quando ele tentou me beijar na boca. Foi quando
percebi que gostava dele, mas não tinha desejo sexual nem nada.
Nunca passou pela minha cabeça que transaria com Peter, nem
conseguia imaginar fazer isso com ele. Só que ele estava alterado
por causa da bebida, me arrastou para a parte dos chuveiros e
tentou forçar o que eu não queria. Pra resumir, fui derrubada no chão
e as coisas aconteceram.”
Quando ergui o rosto, me assustei ao ver que Mason estava
chorando. Isso me deixou um pouco desconcertada, mas limpei a
garganta e continuei.
— Eu fiz de tudo pra resistir, mas a situação foi me esgotando
mentalmente porque o fato de ser Peter fazendo aquilo comigo, me
destruiu aos poucos. A cada coisa horrível que ele falava, a cada
toque indesejado, cada gemido... Depois de um tempo eu lembro de
só ter forças pra chorar por causa da dor e do medo... E quando
Harry entrou no vestiário, tudo se tornou um caos.
— Não me diga que ele matou seu irmão...
— Na verdade, Harry quase o matou ali mesmo. Essa parte é
confusa pra mim, porque eu estava machucada e só lembro que um
treinador apareceu e conseguiu separar a briga. — Apertei meus
olhos ao me recordar do olhar de Harry para mim, em puro
desespero, e na maneira como implorou por desculpas como se
fosse ele o culpado por alguma coisa. — Os dois amavam
motocicletas, cada um tinha a sua... E enquanto esperavam a polícia
chegar, parece que Peter tentou fugir de moto. O Harry foi atrás dele
e eu estava no hospital quando meus pais deram a notícia de que os
dois caíram de uma ribanceira. — Escondi meu rosto quando meu
choro aumentou e senti o colchão afundar ao meu lado. — Nada foi
provado, mas algo me diz que Harry se matou pra usar a
oportunidade de levar Peter junto.
— Peter também morreu? — Mason perguntou, passando os
braços ao redor do meu corpo e eu confirmei. — Não pense assim,
pode ter sido realmente um acidente.
— Nunca saberei.
— Claro, mas se culpar por isso também não vai trazer seu
irmão de volta.
— Se eu não tivesse ido atrás deles... — comentei, tentando
enxugar meu rosto. — A minha mania de ficar sempre nos pés dos
dois causou tudo isso.
— Desculpa, mas eu discordo. Não importa o que você fez nem
que o tal do Peter estava bêbado. Só existe um culpado na história e
acredito que saiba disso.
Fechei os olhos quando os dedos de Mason deslizaram pela
minha testa e afastaram alguns fios de cabelo, que ele colocou com
delicadeza atrás da minha orelha.
— Vivo enchendo a cara e nunca cogitei impor nada a
nenhuma mulher — murmurou. — Isso não tem a ver com bebida e,
sim, com caráter.
Respirei fundo, balançando a cabeça devagar, deixando que o
aperto no peito fosse diminuindo aos poucos. Pisquei rápido algumas
vezes, espantando as lágrimas, e lamentei a ausência do calor de
Mason quando ele se levantou e foi até o frigobar. Observei
enquanto pegava uma garrafinha de água e abria a tampa antes de
me entregar.
Bebi um gole longo, vendo o jogador pegar uma camisa que
estava jogada sobre sua cama e vestir a roupa, voltando a se sentar
na beira de seu colchão e me encarar.
— Confesse que quis me ver chorar pra se certificar de que eu
conseguia ficar feio de alguma forma — zombou, passando o
antebraço pelos olhos úmidos. — Você joga baixo.
— Não prestei atenção — respondi, encolhendo meus ombros.
— Pode chorar de novo?
Mason me mostrou o dedo do meio e me arrancou um sorriso
quando tomei mais um gole de água.
— Agora entendo porque suas amigas são tão protetoras
contigo.
— Na verdade, apenas a Sidney sabe da história — esclareci,
me levantando para ir buscar minha escova de cabelo no banheiro.
— Todas as pessoas que sabem o que aconteceu são as que moram
em Dayton e, graças a Deus, ficaram pra trás. Além da minha
família, a Sid é a única do meu passado, que também faz parte do
meu presente.
Desembaracei meus fios parada na porta do banheiro, olhando
para Mason sentado ainda no mesmo lugar e com um vinco no meio
da testa, enquanto me ouvia falar.
— Se mais ninguém sabe, porque me tratam como se eu fosse
um criminoso?
— Isso é culpa sua — respondi, sorrindo para ele. — A sua
fama o precede, elas apenas me protegem pra não ser mais uma de
suas conquistas.
O idiota levou a mão ao peito e se fez de rogado, mas pelo
pouco que o conhecia, já sabia que Mason adorava ser visto como o
bonitão que pega todas as mulheres. Eu o vi na festa, com o ego
todo inflado, não havia a menor possibilidade de se incomodar com o
que falavam, porque fazia questão de agir daquele jeito.
O filho da mãe jogou as mãos para trás do corpo e as apoiou
no colchão, cruzando uma perna sobre o joelho e mantendo uma
expressão convencida no rosto.
— O mundo dá voltas enormes, você não acha? — perguntou
e, antes que eu respondesse, continuou: — No fim das contas, foi a
mocinha que me beijou.
— Eu não sou perfeita, também cometo erros — rebati, vendo-o
gargalhar e se deitar na cama.
— Sua sorte é que sou um cara muito legal, Hazel. — Mason
estalou a língua e ajeitou o travesseiro sob a cabeça. — Por isso,
não vou cobrar a aposta que ganhei. Considere como um desconto
por você estar muito sensível hoje.
Apaguei a luz do banheiro e voltei para o quarto, desocupando
toda a minha cama para me deitar de uma vez. O jogador não estava
me olhando, mas eu sabia que tinha completa noção do que eu fazia
e, agora que nós dois caímos num silêncio, eu comecei a me sentir
ansiosa.
— Está querendo dizer que não vai me cobrar agora, mas fará
isso quando eu menos esperar? — perguntei, sentando-me
encostada à cabeceira.
— Não. — Ele virou o rosto para mim. — Vou parar de pegar no
seu pé, prometo.
— Se eu soubesse que agiria assim, não tinha contado nada.
Vai me tratar como as pessoas da minha cidade me tratavam, como
se eu ainda fosse uma pobre criança que sofreu abuso e é motivo de
pena.
— Não é isso — Mason retrucou, sorrindo como um bobo. —
Deixe de pensar besteira. Você não é uma pobre coitada.
— Então se explique.
Ele encarou o teto em silêncio por alguns segundos, até que
soltou um suspiro e acabou se sentando na cama, jogando mais uma
vez as pernas para fora do colchão e apoiando os antebraços em
seus joelhos.
— Eu gosto de provocar e soltar cantadas, sempre fui assim —
disse, passando uma das mãos pelos cabelos. — E, claro, saio com
muitas garotas, tenho uma vida sexual bem ativa. É óbvio que no
início, dei em cima de você, porque faço isso com todo mundo e não
vou ser hipócrita, eu a teria levado pra cama se as coisas entre nós
tivessem evoluído de maneira diferente.
— Se eu tivesse caído no seu joguinho — acrescentei e ele
assentiu sem nenhuma vergonha.
— Mas está bem claro que você nunca teve nenhum interesse
e agora, eu entendo seus motivos. — Ele sorriu, encolhendo os
ombros. — Não faz sentido ficar te chateando e insistindo num clima
que não existe, considerando que nós dois somos incompatíveis.
Josh me garantiu que é possível ser amigo de uma garota, então
acho que posso tentar.
— A impressão que tenho é que estou levando um fora, sem
nem mesmo ter buscado por isso — zombei, pegando meu
travesseiro e o jogando em cima do idiota. — Obrigada por me
causar essa sensação e me chamar de incompatível. Posso usar
esse termo com meus futuros pretendentes?
— Não — negou, cheirando o travesseiro antes de se levantar
e parar ao lado da minha cama. — A palavra pertence a nós dois.
— É agora que você vai me sufocar com isso?
Seus olhos se estreitaram ao mesmo tempo em que Mason
afofava o travesseiros nas mãos.
— Estou te achando muito engraçadinha pra quem estava
chorando um segundo atrás — declarou, me fazendo sorrir.
— Por incrível que pareça, estou me sentindo bem. — O
jogador se curvou sobre mim e usou uma das mãos grandes para
erguer minha cabeça e colocar o travesseiro no lugar. Quando me
soltou, nossos olhos se encontraram e eu me senti muito estranha.
— Gostei de ter contado pra você.
Só me dei conta de que meus dedos estavam apertando um
pedaço da camisa de Mason, quando ele próprio baixou o rosto
naquela direção e notou o que eu fazia. Soltei-o imediatamente, com
medo do que podia pensar, mas era tarde demais. Meu coração
acelerou quando o garoto começou a descer mais o tronco e
aproximar o rosto do meu.
Fechei meus olhos, ciente de que ele voltaria atrás e acabaria
me dando o beijo pelo qual tanto insistira. Respirei devagar quando
senti seu hálito tocar minha pele e engoli em seco bem rápido. Perdi
um batimento cardíaco quando seus lábios me tocaram no centro da
testa e abri os olhos depressa.
— Boa noite, baixinha — Mason sussurrou. — Apagarei a luz,
então tente dormir um pouco. Vou dar um pulo no quarto ao lado,
mas volto pra passar a noite aqui.
E assim, ele se levantou e caminhou na direção da porta.
Custei a acreditar que o cretino ia mesmo para a bagunça que rolava
no cômodo dos rapazes, porque era possível escutar a música e as
gargalhadas do outro quarto.
Fechei meus olhos para que ele não visse que estava chocada
e respirei muito fundo para evitar jogar o travesseiro de novo em sua
cabeça.
Não, não, não. Tire essa raiva do peito, Hazel. Não existe
motivo para se sentir assim. Pensei, repensei e repeti como um
mantra. Por que eu me sentia frustrada? Não tinha esse direito muito
menos motivo. Mason tinha sugerido que fôssemos amigos e isso
era bom, certo? Mas amigos não sentiam ciúmes, certo?
Talvez fossem ciúmes de amizade. Isso existia, afinal de
contas, no outro quarto só tinham homens. Mas por que eu teria
ciúmes de um amigo dele?
— Quem disse que só tem homem lá dentro? — perguntei em
voz alta, para eu mesma, e me senti reflexiva.
Não sabia a resposta, portanto, acabei me levantando da cama
e andando nas pontas dos pés, como se houvesse mais alguém
dentro do quarto e eu precisasse me esconder. O ponto alto do meu
lamentável estado foi quando grudei o rosto na parede na tentativa
de ouvir as vozes que falavam alto. Não os conhecia o suficiente
para reconhecer cada timbre, mas parecia que realmente só havia
garotos do outro lado.
Um segundo depois de chegar à essa conclusão, a porta ao
meu lado se abriu e quase me matou de susto, principalmente
quando Mason entrou e me encarou, sem entender nada.
— O que está fazendo?
— Ah... — Devia contar que estava o espionando? — Resolvi
me alongar, pois minhas costas estão doloridas.
Me senti derrotada enquanto me esfregava contra a parede,
ciente de que devia parecer uma lacraia, desengonçada, porque
Mason estava com os olhos arregalados.
— A galera da ginástica é diferenciada nos exercícios —
comentou, indo até sua cama e pegando a droga do celular. —
Enfim, bom alongamento. Desculpe ter atrapalhado, já estou de
saída.
O idiota fez uma careta como se estivesse sendo muito
inconveniente e fechou a porta depressa, enquanto eu me arrastava
até a cama e me jogava de bruços, sem disposição para continuar
minha investigação.
— O que eu me tornei? — murmurei com a boca pressionada
contra o travesseiro.
Mason Johnson
Dei o último gole no copo de coca com a vodca que foi
contrabandeada para dentro do hotel pelo Bryan, o responsável por
sempre descolar as melhores bebidas. Estava sentado no chão do
quarto deles, com as costas apoiadas na cama, e acabei deixando
minha cabeça pender para trás no colchão.
— Acho impressionante o que está acontecendo com o Mason.
Tem uma garota no quarto ao lado e é conosco que ele está
passando a noite da vitória.
— Essa garota não é pra transar, Bryan... — murmurei,
fechando meus olhos. — Hazel é diferente...
— Qual dos dois não quer? — Ouvi a voz de Noah. — Você ou
ela?
— Já viu o Mason não querer uma boceta? — Bryan retrucou e
ergui minha cabeça para encará-lo e chutar sua canela.
— Sério, não fale assim dela — pedi. — Se qualquer um de
vocês, até mesmo o Josh, a tratar como uma garota qualquer, vai
arranjar problema comigo.
Cocei meu nariz, sentindo meus olhos pesados. Eu tinha uma
resistência assombrosa quando se tratava de álcool, mas o cansaço
começava a me pegar de jeito. A última noite insone mais o desgaste
físico do jogo estavam cobrando seu preço, e eu sabia que não
duraria muito mais tempo acordado. Tinha ido beber com o pessoal,
justamente para acelerar o processo, já que seria uma tortura ficar
sóbrio e desperto no mesmo quarto que Hazel.
A menina me atraía como um imã e eu não conseguia ignorar
isso, só que não queria mexer com ela. Meu instinto protetor falava
mais alto e sentia essa necessidade de me manter longe, porque eu
era mesmo um selvagem filho da puta que só tinha o sexo a
oferecer. Hazel precisava conhecer um cara que fosse gentil,
paciente e romântico, para dar a ela a chance de viver grandes
experiências.
Por isso, o melhor para nós dois era que eu me mantivesse
longe e com a cabeça em qualquer outro lugar. Já me sentia grato
por ter tido confiança em mim para se abrir e expor tudo o que
sofreu, não podia estragar a pequena evolução que tivemos. E porra,
eu ia curtir pra cacete se conseguisse mesmo criar laços de amizade
com a garota, porque ela se mostrava cada vez mais uma pessoa
incrível e brilhante.
— Pelo pouco que eu conheci da Hazel, sei que ela é boa
demais pro Mason — declarou Josh, sorrindo para mim.
— Tem razão — concordei, apontando para ele e me erguendo
da porra do chão. — Você sempre tem razão e é por isso que te
amo.
Meu melhor amigo jogou um beijo para mim e eu o peguei no
ar, guardando no meu coração, antes de mandar todos eles se irem
se foder e sair do quarto, para abrir a porta ao lado.
O cômodo estava escuro e precisei acender a tela do meu
celular para iluminar o caminho e não correr o risco de me jogar na
cama errada. Hazel estava deitada e coberta até o pescoço, e eu me
aproximei dela para admirar o jeitinho como dormia, as mãos
debaixo do rosto, esmagando a bochecha e o cantinho dos lábios
preso pelos dentes.
Era muito fofinha, mas infelizmente, seus olhos se abriram e me
fitaram, quase me fazendo infartar. Merda! Girei sobre os
calcanhares e saltitei até minha cama, me jogando no colchão e
puxando o lençol.
— Por que sua lanterna estava acesa na minha cara? —
perguntou no quarto que agora voltara a ficar escuro.
— Eu quis me certificar de que você estava respirando. — Dei
um tapa na minha própria testa, porque odiava ser pego no flagra. —
Pode voltar a dormir.
Achei que tivesse resolvido a situação, mas a luz da luminária
que ficava entre nossas camas foi acesa e quando olhei para o lado,
vi Hazel se sentar na cama de frente para mim.
— Sabe que venci o medo de dormir neste quarto e ser
assediada por você — comentou, franzindo a testa. — Mas agora eu
temo ser esquartejada.
A gargalhada saiu com facilidade pela minha garganta porque
Hazel falou aquilo de uma maneira muito natural. Pior que eu nem
podia dizer muita coisa, pois se me colocasse em seu lugar, também
ficaria apavorado com a situação. Uma pessoa ao lado da nossa
cama, nos observando com uma lanterna, era no mínimo, tenebroso.
Típico mesmo de um maníaco.
Mas então, sem que eu esperasse, a ginasta se levantou e
cruzou o espaço de pouco mais de um metro entre as camas, até se
sentar na beirinha do meu colchão. Ela se inclinou sobre mim e
aproximou o rosto de um jeito que cheguei a pensar que me beijaria,
mas estava era me cheirando.
— Está bêbado?
— Não fico bêbado — respondi, tenso com aquela proximidade,
ainda mais com as pontinhas de seus cabelos fazendo cócegas em
meu pescoço.
— Você é um ser sobrenatural? — perguntou, arqueando a
sobrancelha. — Que surpreendente!
— Perdeu o sono?
Hazel ajeitou a postura, graças a Deus, e encolheu os ombros
mantendo um sorriso nos lábios. E por falar neles, eu não sabia se
era a iluminação que os deixava diferentes, ou se eles estavam
mesmo mais vermelhinhos e apetitosos.
— Acordei com uma luz forte na cara — a garota respondeu,
estreitando os olhos para mim.
Esperei que dissesse mais alguma coisa, pois fez parecer que
ainda tinha algo a dizer, mas tudo o que se seguiu foi o silêncio.
Forte e incômodo, enquanto um sustentava o olhar do outro, até que
foi Hazel a primeira a desviar. Entretanto, eu continuei igualmente
tenso e incomodado, porque a menina passou a encarar o meu
pescoço como se fosse uma vampira desejando o alimento.
— Mason? — Não tive tempo de responder antes que ela
voltasse a me olhar e fizesse o que eu considerava sempre o golpe
mais baixo de todos, a mordidinha no lábio. — Tem problema se eu
ainda quiser meu primeiro beijo?
Meu cérebro entrou em curto-circuito. O que eu deveria
responder?
— Ah... — O único som que saiu enquanto minha mente se
tornava um grande vazio.
— Não achei que precisasse pensar. — Ela soltou uma
risadinha. — Logo você, que não é nada exigente.
— Ei! — Estalei minha língua, agradecido por ter algum tempo
a mais para raciocinar. — Assim você me magoa. Quem ouvir esse
absurdo pode pensar que enfio minha língua em qualquer boca, e
não é verdade.
— Não? — Hazel arqueou a sobrancelha. — Tá bom, então vai
se fazer de difícil? Eu não vou implorar.
Bobinha. Nunca nem precisou. Eu não dormiria em paz se
deixasse a oportunidade passar por entre meus dedos.
— Preciso que se levante, porque não posso fazer isso no
conforto de uma cama.
Hazel levou dois dedos aos lábios e os pinçou delicadamente
enquanto se erguia e recuava alguns passos para fora daquele
espaço apertado. Chegou a ser engraçada a maneira como me
encarou depois do aviso que dei, e eu a segui como se fosse uma
presa deliciosa, impedindo-a de andar mais para trás ao segurar a
barra de sua camisa.
Podia enxergar a expectativa em seu olhar e era incrível notar a
diferença daquele momento para o dia em que a encurralei no
banheiro e a assustei sem que fosse minha real intenção. Desta vez,
não havia medo nos olhos de Hazel, era um alívio perceber que se
sentia mais segura comigo.
Levei minha mão até sua nuca devagar, enfiando meus dedos
por baixo de seus cabelos e a puxando delicadamente na minha
direção. Observei sua dificuldade para engolir, com o queixo erguido
para o alto ao me encarar, e os lábios lindamente afastados.
— Basta mover sua boca junto com a minha para que a magia
aconteça — sussurrei segundos antes de beijá-la.
Senti a textura macia e o hálito quente aos poucos,
massageando seu lábio inferior entre os meus e pegando o superior
em seguida. Dei alguns selinhos para desfazer o choque inicial e
introduzi a pontinha da minha língua na boca delicada, que me
recebeu com gosto de creme dental e muita saliva. Suguei tudo que
me foi oferecido, movendo-me contra a língua de Hazel para
incentivá-la a me acompanhar, sem evitar sentir meu peito inflado
pelo simples fato de ser o primeiro a compartilhar aquele momento
especial que era só dela. Seus gestos eram meio erráticos e
inseguros, mas soube que estava tudo bem e que aprovava o que
acontecia, porque seus dedos se enroscaram com força na manga
da minha camisa.
Empurrei meus quadris para trás quando senti meu pau
começar a endurecer, porque o pobrezinho não sabia de toda a
história e jurava que o beijo acabaria em gozo. Não imaginava qual
seria a reação de Hazel se me sentisse excitado e nem queria
descobrir, temendo criar um clima ruim numa noite que era para
terminar tranquila.
— Você tem futuro, baixinha — brinquei, com nossos lábios
ainda grudados, mas encerrando o beijo aos poucos. — Sua boca é
gostosa. Não tanto quanto a minha, mas não fica muito atrás.
Ela riu, de olhos fechados, e meu coração errou uma batida.
— Gostou do seu primeiro beijo?
— Sim — respondeu baixinho, deslizando a língua pelo
cantinho molhado.
Estava linda com os lábios vermelhos e eu nem sabia como
encontrei forças para soltar sua nuca e recuar, colocando um bom
espaço entre nós dois.
— Mantenha os olhos nos meus — pedi, ciente de que estava
com a barraca muito armada.
Claro que foi o mesmo que ordenar para que olhasse o meu
pau, pois assim o fez, antes que eu conseguisse tapar a ereção com
as duas mãos. Eu era bem-dotado, não tinha culpa disso.
— Saiba que essas coisas acontecem... — pigarreei, me
dirigindo à minha cama, me jogando de bruços e puxando o lençol
até o pescoço. — É a fisiologia do corpo, não significa que sou
tarado.
Hazel fez uma careta e foi até sua cama, sentando-se, ao
contrário de mim, e balançando a cabeça de um jeito divertido.
— Eu vivo no mesmo planeta que você, Mason — declarou. —
Estudei sobre o corpo humano no colégio e entendo como funcionam
as ereções. Também vejo filmes, caso não saiba.
— Hm, é verdade. — Sorri, me virando de lado e de frente para
ela. — Esqueci disso.
— Embora seja, sim, tarado. — A garota franziu o nariz. — O
beijo durou meio segundo e você já ficou desse jeito. Mas tudo
bem... Foi bom. — Seu sorriso me desmontou. — Acho que deve
fazer jus à sua fama.
— Que injusto... — Estalei minha língua. — Durou pelo menos
uns trinta segundos, você não é boa com cálculos. Mas não me
importo com seu erro, porque isso significa que estava tão entregue,
que nem viu o tempo passar.
A baixinha encolheu os ombros e pareceu refletir sobre o que
eu disse, mas não me respondeu. Ela lambeu os próprios lábios e se
ajeitou para se deitar, esticando o braço para apagar a luminária e
me deixando ouvir seu suspiro pesado.
— Obrigada pelo seu serviço, Mason Johnson. Por favor, não
me deixe envergonhada amanhã. Se começar a implicar comigo por
causa desse beijo, eu juro que espalho pelo campus que você... sei
lá.. — Hazel ficou em silêncio por dois segundos — tem ejaculação
precoce.
Abafei a risada e me virei para o outro lado sem responder,
porque não precisava. Eu não pretendia ficar mexendo com esse
assunto, pois o mais inteligente a fazer era justamente esquecer o
que tinha acontecido. O tal beijo sequer deveria ter existido, só
atendi seu pedido porque tinha tanto interesse nisso quanto Hazel.
Mas saberia me controlar e não cairia em tentação nunca mais. Era
pelo bem da nossa convivência e da possível amizade que nasceria.
Hazel Mackenzie
Eu e as meninas tínhamos conseguido marcar de ir ao cinema
no meio da semana e, enquanto conversávamos na lanchonete no
fim da noite, não contei a elas o que senti dentro da sala, quando o
casal principal se beijou pela primeira vez. Quer dizer, eu nem sabia
direito descrever a sensação que me tomou, mas foi boa.
Testemunhar os dois se beijarem me fez pensar imediatamente na
forma como Mason me beijou também e consegui ter a percepção de
seus lábios nos meus, como se o jogador estivesse em carne e osso
diante de mim.
Engoli em seco, mexendo no canudo do meu milk-shake e
passando os dentes pela minha boca. No filme, os personagens
iniciaram um beijo intenso, com direito a mordidas no pescoço,
deixando-me com a curiosidade de saber como seria se eu fizesse o
mesmo.
— Por que está tão quieta e calada? — Ergui meus olhos para
Sidney, que me olhava com a sobrancelha arqueada. — Tá tudo
bem?
— Estou pensando besteira — confessei, fechando meus olhos
e sorrindo. — No beijo do Mason.
Enquanto as duas riam, deitei minha cabeça na mesa e
praguejei contra mim mesma. Me arrependi de contar a verdade no
segundo em que a última palavra deixou minha boca e soube que
havia entregado conteúdo suficiente para ser zoada eternamente.
— O filho da mãe deve ser mesmo muito bom no que faz pra
ter conseguido conquistar Hazel Mackenzie — falou Ava,
cantarolando o meu nome. — Eu fico impressionada!
— Quero morreeeeeer! — resmunguei, batendo minha testa
contra a mesa.
— Mentira. — Ava riu. — Você quer é beijar o gostosinho de
novo. Esse é um ótimo remédio pra essa doença que te atingiu,
sabia?
Senti meu rosto queimar de vergonha e continuei de cabeça
abaixada, mas Sidney, que estava no banco ao meu lado, passou o
braço pelos meus ombros e aproximou nossos rostos, murmurando
perto do meu ouvido.
— Você está pensando num garoto... Bem-vinda ao nosso
mundo! Estou tão orgulhosa que meu bebê está amadurecendo!
— Vou ao banheiro — disse Ava. — Se minhas batatas
chegarem, não comam tudo!
Eu permaneci na mesma posição mesmo depois que minha
amiga se levantou, até que senti Sidney massagear minhas costas e
beijar meu rosto com carinho, fazendo com que eu saísse do
esconderijo e a encarasse.
— Sério, estou feliz por você — disse, sorrindo. — É bom te ver
desfrutando dessas experiências.
— Eu me sinto estranha, Sid. Parece fútil demais ficar
pensando em beijos e garotos...
— Todas nós pensamos nisso, quase o dia inteiro. — Ela
revirou os olhos. — Eu sei que na sua cabeça, você acha que não
tem o direito de fazer as mesmas coisas que uma garota qualquer
faz, por causa do que passou. Mas não é verdade. Você tem quase
vinte e dois anos e nunca soube o que é sentir um friozinho na
barriga porque o menino de quem gosta abriu a porta do carro. —
Minha amiga sorriu, alisando meus cabelos. — Você gostou do beijo
do Mason?
— Sim, mas não tenho com o que comparar.
— Isso não importa, é apenas o que é, uma primeira
experiência boa. — Sidney encolheu os ombros e revirou os olhos.
— Fico feliz que ele tenha servido pra alguma coisa.
Tinha contado para Sidney tudo que aconteceu na viagem e em
como Mason havia sido imprescindível para me resgatar daquela
crise. No domingo, quando acordamos, eu me sentia muito melhor e
fiquei muito agradecida por ele ter me tratado normalmente, sem
tocar em assunto de choro, estupro ou beijo.
Não nos víamos desde que descemos do ônibus já no Centro
de Treinamento do campus, porque tive que me trancar no quarto por
uns dias para terminar um trabalho urgente, mas o jogador havia me
mandado mensagem na terça, para saber como eu estava.
— Acha que rola mais um beijinho? — perguntou a curiosa,
cutucando minha cintura com as pontas dos dedos porque sabia que
eu sentia cócegas.
— Para com isso! — pedi, rindo e me encolhendo contra a
parede. — Sei lá. Não quero ficar teorizando nada. Na verdade, acho
que não posso querer muita coisa, né? Alguém que leva a vida como
o Mason leva, não vai ficar sonhando com um beijo simples, ele quer
alguém pra transar. Somos incompatíveis.
Ri internamente ao utilizar a frase dele e encarei o prato de
batatas cheirosas que acabava de ser colocado na mesa no mesmo
instante em que Ava retornou, sentando-se no banco de frente para
a gente e olhando com animação para a comida.
Eu estava prestes a pegar uma das batatinhas e assoprar antes
de levar à boca, quando vi uma movimentação na frente da
lanchonete e meu coração acelerou.
— Disfarcem, mas o Mason e os amigos estão entrando aqui —
sussurrei, levantando o cardápio para me esconder.
— Sério? — Ava tentou olhar para trás, mas fui mais rápida e
chutei a perna dela por baixo da mesa. — Ai!
Por sorte, eu tinha escolhido um lugar ótimo para passar
despercebida, pois era a mesa mais ao fundo da lanchonete, quase
no corredor para os banheiros, e ficava escondida atrás de muitas
outras que estavam ocupadas.
Ao meu lado, senti um olhar penetrante na minha direção e virei
o rosto, notando que Sidney estava com os olhos estreitos e a testa
franzida.
— Foi a senhorita que escolheu essa lanchonete e disse que a
comida era boa. Dona Hazel, por acaso está perseguindo seu crush?
— Não! Desde quando Mason é meu crush? — perguntei num
sussurro. — Eu só...
Ok, talvez eu tenha ido até ali de forma inconsciente, já que foi
exatamente naquela lanchonete que nos esbarramos pela primeira
vez.
— Você escolheu até a mesa, Hazel — disse Ava, abafando
uma risada e olhando para Sidney. — Fomos enganadas.
— Não...
— Ela está se tornando diabólica — completou minha outra
amiga.
Não retruquei, porque estava prestando atenção na entrada
quando Mason entrou logo atrás de Bryan. Ele estava vestido todo
de preto e ainda usava uma jaqueta de couro, mas o acessório que
mais me chamou a atenção foi o braço ao redor de sua cintura. Tinha
uma garota grudada a ele, rindo de algo que o jogador falava
conforme caminhavam pela lanchonete.
— Quem é ela? — Ouvi a voz de Sidney.
Encolhi meus ombros, sem ter o que responder. Uma outra
garota entrou correndo e se pendurou nas costas de Bryan, e
quando ele a puxou para frente, levou a mão direto à bunda dela.
Então, ficou óbvio que os dois amigos tinham saído em casais.
— Acho que podemos ir embora, né? — perguntou Ava, que
teve a ideia de usar a câmera de seu celular para poder ver tudo sem
olhar para trás. — Posso ir comendo as batatas no caminho.
— Não vou levantar agora — avisei, baixinho, me encolhendo o
máximo possível. — Sejam discretas, pelo amor de Deus.
— Prefere assistir a isso? — questionou Sidney, suspirando. —
Francamente, Hazel, ele não vale esse sofrimento.
— Não estou sofrendo.
E era verdade. Só me sentia curiosa, não tinha o direito de
sofrer ou sentir ciúmes por nada. Preferia lidar com a situação como
se fosse um experimento e eu precisasse observar Mason em seu...
habitat natural, como ele mesmo gostava de apontar. Queria saber
como o jogador agia quando não estava comigo, porque era óbvio
que me tratava diferente por conta do meu passado.
Como naquele momento, quando ele se sentou no banco e
puxou a garota para seu colo com a maior naturalidade,
demonstrando que devia ser algo corriqueiro. Ela não parecia tensa
ou nervosa, pelo contrário, conversava de forma animada com o
outro casal que também parecia se divertir. Mason tinha se sentado
de frente para mim, então consegui ver em detalhes a forma como
falava alguma coisa no ouvido dela, talvez perguntando qual seria
seu pedido. Por fim, a garota de cabelos castanhos bem claros
apertou o queixo dele entre os dedos e o beijou na boca.
Definitivamente, não se parecia com o beijo que trocamos.
— Eles sabem que estão em público, né? — murmurou Sidney,
fazendo uma careta. — Mason acabou de perder cem dos cinco
pontos que ele tinha ganhado comigo.
Sorri e beijei o rosto dela por ser tão amiga e protetora.
— Ai, meu Deus! — Sid deu com sua mão na minha cara na
tentativa de tapar meus olhos. — Não veja isso!
Eu já tinha visto, entretanto. Foi o momento em que Mason e a
sua acompanhante precisaram se levantar para que ele fosse fazer o
pedido, mas o beijo que trocaram tinha sido tão intenso que nem deu
tempo da garota tirar a mão de cima do volume da calça dele antes
de serem flagrados.
Bem, quer dizer, não tinha ninguém prestando atenção além de
nós três. O resto da lanchonete continuava em seus mundinhos e
não se importava com mais nada.
— Ela estava mesmo apalpando o pau dele por baixo da mesa?
— perguntou Ava. — Ai, Sidney! Não me chute! Hazel não é cega!
— Eles são solteiros — comentei, bebendo meu milk-shake. —
Qual o problema? Parem de julgar como se fossem duas santas e
virgens, coisa que nenhuma das duas é.
Talvez, se não fosse toda a bagagem que eu carregava,
também sentisse vontade de fazer o mesmo que aquela garota.
Mason era atraente, afinal de contas. Eu me lembrava muito bem de
como me senti quando o vi sem camisa no hotel, olhando mais do
que deveria para os músculos em seu abdômen. E pelo beijo que o
jogador acabara de trocar ali na mesa, acho que eu compreendia um
pouco a garota. Deve ter sido mesmo muito intenso.
Pelos minutos que se seguiram, a gente continuou observando
tudo, mas nada muito diferente aconteceu. Os quatro começaram a
comer seus lanches e mantiveram a conversa animada, trocando
alguns beijos de vez em quando. Quando não aguentei mais segurar
a vontade de urinar, precisei me arrastar até o banheiro, agradecida
por ter escolhido a mesa mais próxima daquele corredor.
Fiz tudo depressa e antes de sair, me olhei mais uma vez no
espelho para refazer meu rabo de cavalo que estava um pouco
despenteado. Em seguida, abri a porta e saí do banheiro, estacando
no meio do corredor quando vi quem se aproximava fazendo o
caminho inverso. Mason estava de cabeça baixa e com as mãos nos
bolsos da jaqueta bonita, mas quando ergueu o rosto, levou um
choque ao me ver na sua frente.
— Ei! — Franziu a testa antes de sorrir. — Está aqui há muito
tempo?
— Sim, numa mesa aqui no fundo — respondi, cruzando meus
braços, chateada por ter sido descoberta. — Tudo bem?
Meus olhos encontraram um ponto colorido em seu pescoço e,
olhando com mais atenção, identifiquei a marca do batom que sua
acompanhante estava usando. Mason não parecia perceber ou não
se importava, mas vê-lo agora tão de perto e com as evidências
diante do meu nariz, fez meu estômago se revirar.
— Se eu soubesse que a encontraria aqui, tinha esperado sua
vez de fazer o pedido só pra furar a fila na sua frente — brincou o
filho da mãe, se aproximando mais de mim e se inclinando na minha
direção. — Conseguiu terminar o trabalho?
Perdi um pouco o foco quando esticou a mão para ajeitar o meu
colar, puxando o pingente para o lado e o ajeitando no meio do meu
decote. Assenti, acho que para responder sua pergunta, mas estava
muito ocupada ouvindo meus batimentos cardíacos ressoarem em
meus tímpanos.
O momento me deu coragem para agir também como ele fez,
então estiquei meu braço e esfreguei meus dedos em seu pescoço,
pegando Mason de surpresa e o vendo ajeitar a postura.
— Estava sujo — expliquei-me. — De batom.
Sua mão tocou a região onde a marca do beijo estava até um
segundo atrás e antes que pudesse dizer alguma coisa, Sidney
apareceu no corredor e se enfiou entre nós dois, passando um braço
pelo meu e sorrindo para o jogador.
— Oi! Que surpresa! — Sorriu falsamente para ele, então me
olhou. — Emilly está passando mal no dormitório e nos pediu para
levar um remédio pra ela. Temos que ir agora!
Fui praticamente arrastada para longe de Mason, que virou a
cabeça e nos observou sem parecer entender porcaria nenhuma, e
quando chegamos ao salão, Ava já estava de pé com nossas bolsas
no ombro.
— Quem é Emilly, gente? — perguntei, enquanto as duas me
empurravam por entre as mesas para irmos embora.
— Sei lá, foi o primeiro nome que me veio na cabeça —
respondeu Sidney.
— Nós tentamos te avisar que o Mason estava indo ao
banheiro, mas você deixou o celular na mesa. — Ava me entregou
meu aparelho quando pisamos na calçada. — Francamente, nunca
passei tanto sufoco. A gente sabia que ia dar merda e vocês iam se
esbarrar no caminho.
Então, eu gargalhei. Elas me olharam como se eu fosse louca,
mas foi uma risada gostosa que deixei sair e até precisei me curvar.
As duas acabaram me acompanhando enquanto caminhávamos sem
destino em mente, preenchidas com toda aquela adrenalina boa de
uma noite regada a fofoca e uma pitada de espionagem.
Eu estava bem, de verdade. Tinha sim sentido uma pontada de
ciúmes quando fiquei cara a cara com Mason e percebi que ele
estava muito bonito e caprichara no visual para sair com aquela
garota. Mas não me sentia triste e acho que tinha a ver com o fato de
que nunca me apeguei nem me interessei por garoto nenhum. Meu
coração não era mole nem bobo, afinal de contas.
— Sabe do que preciso? — comentei, girando meu corpo para
ficar de frente para minhas amigas, enquanto caminhava de costas.
— Beijar outra boca. — Ava arregalou os olhos e Sid gargalhou. —
Tenho que descobrir se Mason vale mesmo a pena ou se eu gostei
do beijo só porque... sei lá, beijos são realmente bons.
— Quem é você e o que fez com a Hazel? — perguntou Ava,
encostando a mão na minha testa. — Não está com febre, né?
— Ela está ótima! — Sidney apertou minha bochecha e me
abraçou. — Viva, feliz e querendo beijar na boca! Essa é a minha
garota!
Eu queria vomitar de nervosismo, mas sorri de volta para elas,
decidida a testar minha ideia. Um beijo não faria mal a ninguém e
nem mudaria quem eu era. Além disso, se acontecesse com um
completo estranho e eu achasse bom, significaria que Mason só
estava preenchendo a minha mente porque era a única referência
que eu tinha. E quando concretizasse essa teoria, poderia
desencanar dele e seguir com minha vida normal.
Mason Johnson
Meu coração sofria pulos abruptos cada vez que Hazel girava
no ar com as mãos se agarrando naquelas barras altíssimas.
Descobri que não tinha estrutura emocional para assistir aquele
esporte porque a todo instante, pensava que a baixinha se
estatelaria no chão e se quebraria toda. Pelo amor de Deus, olha o
tamanho dela! Toda delicada e cheia de ossinhos frágeis, quem teve
a ideia idiota de deixá-la praticar ginástica artística?
Fechei os olhos quando a garota pulou de uma barra, mais alta,
para a outra que era mais baixa, voando por alguns centímetros no
espaço entre elas. Só voltei a abri-los quando não ouvi nenhum grito
ou choro, ciente de que tinha conseguido permanecer inteira.
Aquela manhã estava sendo carregada de altas emoções. Para
começar o dia, eu quase infartei quando Hazel apareceu de collant
pela primeira vez diante de mim. A roupa de lycra era azul de
mangas compridas e exibia um corpo curvilíneo e gostoso pra
caralho. E a bundinha dela, puta que pariu, quando se virou de
costas e correu para a área dos aparelhos, quase caí duro, junto com
meu pau que precisei controlar para não acordar. A baixinha era toda
perfeita e durinha, caberia direitinho nos meus braços.
Balancei a cabeça pela vigésima vez no dia quando me flagrei
pensando em putaria de novo. Sempre que se pendurava naquelas
barras e fazia movimentos com as pernas, meus olhos quase
saltavam para fora porque, porra, era pornográfico demais. Eu era o
único que percebia aquilo? Como que a ginástica artística conseguiu
se tornar um esporte olímpico enquanto as meninas mostravam as
virilhas daquela maneira? E quantos machos ficavam assistindo
essas competições só pra ver Hazel dentro daquela roupa?
— Está se sentindo bem, Mason? — A treinadora parou ao meu
lado e apoiou a mão no meu ombro. — Seu rosto está suado.
Estava sofrendo palpitações e controlando minha ira porque
percebi que minha garota ficava mostrando as intimidades e nem se
importava com isso. Esse era o motivo do meu estado de saúde
atual. E o assistente técnico, aquele filho da puta que estava ali perto
dela, tomando cuidado para ampará-la se necessário, aquele babaca
merecia ter os olhos arrancados. E quem foi o infeliz que inventou
que ginastas precisavam usar a porra de um collant? Por que não
podiam vestir calças largas e compridas?
Calma. Rebobinei meus pensamentos e encontrei um erro
neles. Minha garota? De onde tirei isso? Ela me faria engolir minha
própria língua se me ouvisse.
— Mason?
— Ah. — Sorri e encarei a treinadora de Hazel. — Estou ótimo.
Só estou com calor.
— Beba uma água, garoto! — Levei um tapinha na nuca antes
que ela se afastasse. — Vocês, jovens, acham que são resistentes a
tudo e não se hidratam direito. Tenho sempre que puxar as orelhas
das meninas por causa disso.
Sorri para Suzy, deixando que acreditasse que esse era sim o
meu problema: desidratação. Quando voltei a ficar sozinho ali no
canto do ginásio, sofri novas palpitações ao notar que a baixinha
tinha terminado seu treino nas barras e, agora, se encaminhava para
aquele outro aparelho cujo nome eu esquecera e era comprido. Ela
precisava equilibrar os pés sobre a trave, que era bem estreita, e
ficava dando piruetas mortais.
Engasguei-me com minha saliva quando montou no aparelho
com ambas as pernas completamente abertas e empinou a porra da
bunda. Ela era pequena porque a menina era pequena, mas para
seu próprio tamanho, era bem bonita e arrebitada. Precisei baixar a
cabeça e respirar fundo, porque naquela posição, ficava muito difícil
continuar sendo respeitoso. Não nasci com essa índole, não tinha
jeito.
Puxei meu celular e olhei as horas, calculando quanto tempo
mais eu seria obrigado a sofrer dentro daquele ginásio. Achei melhor
continuar mexendo no meu telefone para não cair em tentação, pois
a última coisa da qual eu precisava, era ficar de pau duro na frente
de todas aquelas garotas. De verdade, eu pouco me importava com
as outras, o motivo do meu desespero tinha nome e sobrenome.

Mason: Alguém venha aqui atirar


na minha cabeça, por favor!
Mason: Não consigo ver a Hazel de collant!

Bryan: Isso é medo de ter uma ereção, né?


Eu te conheço, gatinho.

Josh: Fala sério, Mason... É só um maiô.


Você está cansado de ver mulheres com muito menos do que isso.

Noah: Isso se chama tesão reprimido.

Mason: Vão todos vocês se foder, ok?


Se não podem me ajudar, não atrapalhem minha vida.

Josh: Mas que tipo de ajuda você deseja, meu amorzinho?

Bryan: Talvez ele queira uma punhetinha nossa...

Mason: Vai tomar no meio do seu cu, Bryan!

Noah: É disso que está precisando, Mason?


Podemos arranjar um profissional, se preferir.

Bryan: Ou eu posso usar o sabre do Eric... De novo.


Josh: Não basta já ter quebrado o brinquedo
do seu irmão na bunda de uma garota?

Bryan: Se o Eric ouvir você chamar o sabre intocável


dele de brinquedo, ele surta!

Pronto, agora a conversa tinha mesmo desandado. Cansei de


interagir com quem só possuía dois neurônios em funcionamento e
fechei o aplicativo. Num piscar de olhos, fui surpreendido pela
chegada de Hazel, que parou diante de mim com aquele look que
causava calafrios na cabeça do meu pau.
— Já está no seu horário, né? — perguntou, cruzando as mãos
na frente do corpo, o que era ótimo, porque dessa forma escondia a
bocetinha dentro daquele collant apertado. — Curtiu o treino de
hoje?
— Só achei que você fosse cair e quebrar o pescoço, mas foi
ótimo. — Não era uma mentira, o sangue ainda não tinha voltado
totalmente ao meu rosto.
— Cair faz parte do processo! — A filha da mãe ergueu a mão
e afagou meus cabelos como se eu fosse um vira-lata.
Olhe nos olhos dela, babaca. Nos olhos, não no resto do corpo.
Baixei a cabeça, sentindo meu peito abafado, querendo chorar e rir
ao mesmo tempo, mas o pior de tudo: eu queria passar meus braços
ao redor daquela cinturinha minúscula e puxar a menina para o meu
colo.
Como não podia fazer isso, me contentei somente em segurar a
mão pequena e grudá-la na minha bochecha. Ainda estava sentado,
então Hazel de pé ficava de maneira muito perigosa diante de mim.
— O que foi? — ela perguntou quando fechei os olhos. — Você
está bem?
— Tô passando mal — respondi, sentindo meu tom de voz
mudar. — Me sinto engasgado.
Claro que a ginasta trouxe os dedos delicados ao meu pescoço,
levando ao pé da letra a minha confissão. Eu a senti tocar meu pomo
de adão e ergui meus olhos para encontrar os seus, preocupados.
— Quer um copo de água? — Neguei com um gesto, apoiando
minha testa nas costas de sua mão. — O que andou comendo pra
ficar engasgado, Mason?
Ah, se ela soubesse que a questão era justamente o que eu
não comi...
Levantei a cabeça e encarei seus dedos finos, alisando sua
pele até alcançar seu antebraço e limpar o pó branco que elas
usavam nos exercícios. Estava toda suja, inclusive nas coxas
deliciosas que eu quis tocar, mas me contive.
— Preciso ir embora...
— Acho melhor que fique até o mal-estar passar.
— Não vai passar — respondi, sorrindo para ela. — Só estou
doente de tesão. — Vi o instante em que a compreensão atingiu o
semblante chocado de Hazel, e joguei minha cabeça para trás em
sofrimento. — Você é tão gosto...
A garota deu dois passos à frente, praticamente entrando no
espaço entre as minhas pernas e usando sua mão para tapar minha
boca. Com os olhos arregalados e o rosto tomado por uma
vermelhidão deliciosa, balançou a cabeça e estalou a língua.
— Ficou maluco? — resmungou, sem se dar conta de onde
tinha se colocado. — Quer que ouçam esse absurdo?
Neguei, quietinho, e esperei até que afastasse os dedos. Seu
olhar acompanhou o movimento que fiz com minha língua pelos
meus lábios, me observou pigarrear e engolir devagar, no seco, e
depois foi a vez dela de prender a boca gostosa entre os dentes.
— Vai embora logo — pediu ao sair do transe e dar um tapinha
bobo no meu peito. — Você conseguiu me deixar sem-graça.
— Então é melhor que eu não me levante agora ou vai ficar
com mais vergonha ainda.
Meu aviso trouxe a atenção de Hazel para meu colo, e quando
a garota viu minha ereção monstruosa, recuou rápido e olhou ao
nosso redor como se tivesse levado um choque. Ela correu, mas não
foi de mim, e sim para pegar uma toalha que estava caída no chão
ali perto, voltando depressa e jogando o pano sobre minhas pernas.
— Ah, sim. — Sorri. — Agora estou camuflado.
— Você é muito pervertido! — Hazel franziu a testa ao
resmungar. — O que prefere que eu faça?
— Saia de perto de mim e volte para o seu treino — declarei,
apertando a bochecha dela. — A tentação está parada na minha
frente, não consigo lidar com isso.
Sua boca abriu escancarada como se só então ela se desse
conta de que era o motivo para eu ficar daquele jeito. O rosto ficou
da cor de um pimentão conforme recuava e eu provoquei, jogando
um beijo e baixando meu olhar na direção da virilha lisinha.
— Idiota! — Ouvi seu resmungo quando se virou de costas e
levou a mão para trás, tentando esconder a bundinha linda,
apressando-se até o outro lado do ginásio.
Isso mesmo, bem longe da minha visão e do meu alcance, tudo
o que eu precisava para conseguir recuperar o controle e poder fugir
daquele pesadelo. Não queria assistir mais nenhum treino. Será que
era muito tarde para pedir uma troca do Unit e arranjar um parceiro
da equipe de golfe?
Hazel Mackenzie
Pisquei sem querer na hora que Ava passava o rímel nos cílios
do meu olho direito e estraguei o trabalho dela, que resmungou e
pegou o cotonete para consertar a maquiagem. Minha amiga já tinha
passado blush e sombra quase nos mesmos tons em meu rosto,
faltavam apenas o rímel e o batom para ficar pronta.
Normalmente, eu não iria a uma festa em plena terça-feira, mas
ela e Sidney me convenceram de que era a oportunidade perfeita
para colocar em prática meu plano de beijar uma boca diferente.
Minha relação com Mason andava estranha desde a semana
passada, quando ele foi embora do ginásio com aquela ereção. Teve
o jogo no sábado, fora de casa, e obviamente eu não quis ir por
causa de tudo o que rolou na outra viagem.
No domingo, mandei uma mensagem de texto para consolá-lo
pela derrota que sofreram, e conversamos coisas bobas sem muita
importância. Pessoalmente, a gente não se via desde meu último
treino, então achei que era bom mesmo tentar me desprender da
ideia de que Mason me atraía, e ver o que sentiria se ficasse com
outra pessoa.
— O que faço se ele estiver na festa? — perguntei, sentada na
beira da cama, tentando não me mexer para não atrapalhar o
trabalho de Ava.
— Não faz nada, ué — disse Sidney, que tinha terminado de se
vestir. — Basta tratá-lo normalmente. Ele não é seu namorado, não é
seu dono, não tem nada a ver com você.
— Só que não conseguirei beijar ninguém se souber que
Mason está olhando.
— Hazel, a festa não vai acontecer dentro de um banheiro. —
Ava fechou a tampa do rímel e cruzou os braços. — Estaremos numa
fraternidade, não vai faltar espaço para vocês dois não precisarem
se esbarrar.
— Tudo bem, eu sei. — Respirei fundo e esfreguei minhas
mãos suadas nas coxas. — Só estou nervosa. Nunca paquerei.
Fechei meus olhos, ansiosa demais. Não sabia se queria flertar,
não sabia como fazer isso. Era natural estar perto de Mason, mas
acho que não me sentiria à vontade quando me aproximasse de
qualquer outro.
— Amiga, escuta. — Sidney se curvou e apoiou as mãos nos
meus ombros. — O objetivo esta noite é sair com as amigas e se
divertir. Você não tem que se forçar a nada, apenas se estiver
confortável com a ideia.
— Exatamente. — Ava afagou meu queixo. — E até mesmo se
encontrar o Mason e quiser repetir o beijo, também está tudo bem.
Você é livre pra tomar qualquer decisão e a gente vai te apoiar em
todas elas.
— Se me fizerem chorar, vamos precisar retocar minha
maquiagem — avisei, arregalando meus olhos e usando as mãos
para abanar o rosto. — Ok, ok, eu entendi.
Elas riram comigo e me deram espaço para levantar, então fui
me olhar no espelho e amei o que vi. Usava novamente um vestido
de Ava porque nossos tamanhos eram parecidos, e o modelo da vez
tinha me deixado apaixonada. O tecido era macio e leve, de fundo
branco com minúsculas flores num tom de azul-celeste, possuía um
decote reto, mas não tão alto, deixando metade do meu colo à
mostra, e as mangas começavam dois centímetros abaixo da curva
dos ombros, igualando em linha reta com o decote. Ele tinha um
caimento que se ajustava no meu corpo, mas não era do tipo
embalado à vácuo, apenas na região dos quadris se apertava mais
um pouco porque Ava não tinha quase bunda nenhuma.
Deixei os saltos de lado e completei o look com uma bota preta
de cano curto. Sidney parou do meu lado e sorriu, batendo o braço
no meu e se exibindo dentro do vestido branco.
— Estamos gatas, hein.
— Hoje é um dia difícil para as inimigas — comentei, ajeitando
meus cabelos com baby-liss nas pontas. — Sinto muito por elas.
— Eu sinto muito pelos machos que só podem nos olhar —
disse Ava, encolhendo os ombros.
Rimos juntas enquanto saíamos do dormitório e tentei afastar o
pensamento que correu até Mason. Não fazia ideia se o jogador
apareceria na festa, eu não contei nada para ele. Só que me sentia
dividida, uma parte minha, querendo que estivesse lá esta noite e me
impedisse de beijar outro cara, porque era o idiota safado que fazia
meu coração acelerar. Mas havia o meu lado racional, que torcia
para Mason ficar em casa e me deixar viver uma nova experiência,
por mais que soubesse que poderia ser péssima.
Enquanto esperava o elevador com as meninas, pensei na
terceira possibilidade e, com certeza, a pior de todas. E se eu
encontrasse com o jogador na festa, ele me visse com outro e não
esboçasse nenhuma reação? Talvez fosse a opção mais lógica,
afinal de contas, não havia nada rolando entre nós dois. Assim como
eu não pulei no pescoço da garota que o acompanhava na
lanchonete aquela noite, ele provavelmente se comportaria e não
atrapalharia meu beijo.
Fui puxada para dentro do elevador, sentindo minha cabeça
rodar com tantas teorias. Foquei no rosto de Ava, que tagarelava
algo sobre não querer ficar com ninguém esta noite porque preferia
estar disponível se eu precisasse de ajuda. Senti vontade de chorar
por ter amigas tão maravilhosas, mas espantei o máximo que pude
aquela sensação porque não podia ficar ainda mais sentimental do
que já estava.

Não, Mason não estava na festa. E nem era porque estava


cedo, considerando que chegamos lá quase duas horas depois do
horário que tinha sido marcado para começar. Me senti frustrada
durante algum tempo e as meninas perceberam, porque se
esforçaram muito para me deixar animada.
Por causa delas, eu coloquei um sorriso no rosto e fui dançar
quando me puxaram para perto do que funcionava como uma pista
de dança. Eu não gostava de cerveja, então fiquei apenas no
refrigerante, só que nunca precisei ingerir bebidas alcóolicas para me
sentir feliz e me divertir.
Tocava “Celestial”, do Ed Sheeran, quando Sidney apertou
minha cintura e soltou uma risadinha no meu ouvido, fazendo
discretamente com que meu corpo girasse para o outro lado. A nova
posição me fez encontrar o olhar de um garoto que sorriu quando
percebeu ter sido flagrado. Era bonito, tinha cabelos na altura dos
ombros, escuros, e olhos que pareciam pretos.
— Percebi que ele está te observando há algum tempo — Sid
sussurrou. — E é muito gatinho.
Virei-me de costas para o rapaz, sentindo um frio dominar
minha barriga e um nó se formar na minha garganta.
— O que eu faço? — perguntei. — Vou até lá?
— Então... — Minha amiga olhava algo acima do meu ombro.
— Acho que nem vai precisar...
Meu corpo retesou automaticamente quando senti o toque na
minha cintura. Por favor, Deus, não me deixe surtar nem entrar em
crise. É só uma mão inocente. Repeti, orando para conseguir
interagir, mas quando me virei de frente para o rapaz, não consegui
encontrar minha voz.
— Tudo bem? — ele perguntou ao aproximar o rosto. — Qual o
seu nome?
— Ha... Hazel...
— Que lindo! — Sorriu, chegando mais perto porque a música
estava muito alta para conversarmos em paz. — Eu me chamo
Dylan. Não sei se percebeu, mas é a garota mais gata da noite.
Engoli em seco, porque não sabia lidar com elogios de garotos.
Devia agradecer ou me fazer de rogada? Seria aquela apenas uma
tática para se dar bem comigo?
Antes de responder, olhei para o lado à procura das minhas
amigas e vi que estavam pertinho de mim, prontas para me salvarem
se eu pedisse. Procurei mais um pouco além pela multidão de corpos
que dançavam, na esperança de ver outro rosto conhecido, mas nem
sinal dele.
— Obrigada — respondi para Dylan, que não parecia tão ruim e
sorria de um jeito simpático.
Se eu fosse levar meu plano adiante, então que fosse com ele,
que tinha uma aparência agradável e ainda não havia tentado
apertar minha bunda nem nada do tipo.
— Posso te beijar? — perguntei, vendo seus olhos se
arregalarem quando assentiu.
Mason Johnson
Tudo o que eu desejava para aquela noite era o conforto da
minha cama, o quartinho escuro e a televisão sintonizada no jogo da
NFL que eu tinha gravado para assistir depois. Jogamos debaixo de
chuva no sábado e acordei me sentindo mal no domingo, o que se
arrastou pela segunda e me derrubou nesta terça. Não que eu
estivesse morrendo, mas detestava ficar doente e gripe era uma
coisa insuportável.
Por isso, fui o único dos meus amigos que deixou de ir à festa
que rolava no campus e tive que ouvir gracinhas diversas, a maior
parte relacionando meu estado de saúde com problemas do coração.
E tudo bem, as coisas também estavam estranhas nessa área, não
podia ignorar isso. Não ter visto Hazel nos últimos dias mexia pra
caralho com a minha cabeça.
O que eu podia fazer? Absolutamente nada. Tinha prometido a
ela que não encheria mais o seu saco e alcançamos um nível em
que um não precisava mais fugir do outro. Portanto, estava deixando
que as coisas fluíssem naturalmente entre nós, para mostrar à garota
que eu podia ser um amigo legal. A palavra me causava calafrios,
mas certamente, seria o único termo que poderíamos usar para nos
definir. Queria que a ginasta pudesse confiar em mim e se sentisse à
vontade para brincarmos, interagirmos, até, quem sabe, sairmos
juntos fora do âmbito acadêmico.
Estava cogitando mandar uma mensagem de texto para ela,
junto com uma selfie para mostrar minha cara decadente, quando
meu telefone tocou e o nome do Bryan surgiu na tela.
— Fala!
— Está deitado? — perguntou e pude ouvir a música alta no
fundo da ligação.
— Sim. Batendo uma punheta enquanto penso na sua mãe.
— É mesmo? Bacana! Então não vai se importar de saber que
a sua gatinha está na festa e, por sinal, está bem gostosinha.
Eu me sentei depressa, porque ele não precisava citar nenhum
nome. Bryan nunca me ligaria para falar de mulher, se não fosse
sobre Hazel. A gente se conhecia muito bem, não tínhamos essa
necessidade de posse sobre as garotas com quem dormíamos.
— Ela está sozinha? — questionei ao mesmo tempo em que
abria meu guarda-roupas e puxava a primeira camisa que encontrei.
— Hum, não. Está acompanhada de amigas.
Menos mal, tudo bem. Mas isso não diminuía o ritmo acelerado
que meu coração começou a bater.
Merda. Encerrei a ligação sem me despedir e joguei o celular
na cama. Encostei a cabeça na parede e parei um pouco. Estava
doente, afinal de contas. Seria muito estúpido me arrastar até a festa
para o quê? Tomar conta da vida de Hazel? Ela podia se chatear por
achar que eu estava marcando território.
De peito nu com a camisa limpa nas mãos, resolvi me sentar e
encarei meus pés. E se alguém desse em cima dela? Algum idiota
podia passar a mão em sua bunda e assustá-la. Ou pior... Se fosse
agarrada?
— Tenho que ir — decidi, me vestindo e trocando a calça de
moletom por um jeans.
Por sorte, o automóvel que compramos já tinha sido entregue
no final de semana, pois Josh tinha saído com Mia no carro dele. Só
corri pelas escadas e passei a mão pela chave antes de me jogar ao
volante e acelerar como um louco pela rua.
Estava no meio do caminho quando percebi que tinha
esquecido de trocar meus chinelos por um tênis e, infelizmente, não
pensei em colocar um casaco, vestia apenas uma camiseta fina. Que
maravilha, Mason, agora a pneumonia vai chegar com tudo! Bem,
pelo menos, meus pais não estavam vivos para me darem um
sermão.
Ri sozinho e pedi desculpa a eles, dando a seta para pegar a
saída para o campus. Usei aqueles minutos para organizar minha
mente e pensar no que faria quando chegasse na festa. Tudo bem,
bastava conferir se Hazel estava segura e feliz, então, ficaria em paz.
Não atrapalharia a diversão dela com as amigas, mas me manteria
por perto caso precisasse de alguma coisa, tipo uma carona para
casa. Estava frio e na outra festa em que fomos, seus pelinhos
estavam arrepiados.
Estacionei o carro de qualquer jeito na calçada da fraternidade
e ignorei os olhares estranhos que recebia conforme as pessoas
olhavam para meus pés.
— Chegou rápido — disse Bryan quando me viu, dando um
tapa no meu ombro.
— Cara, tá indo pra praia? — Noah fez piadinha e recebeu meu
olhar atravessado.
— Onde Hazel está? Não a perderam de vista, né? — Comecei
a olhar em volta, à procura da baixinha. — Ela continua com as
amigas?
Decidi não esperar pelo relatório de nenhum deles e fui rodar a
festa para encontrar minha garota. Não. Não, Mason. Ela não é sua.
Acenei para algumas pessoas que falavam comigo pelo
caminho e congelei quando avistei Hazel na pista de dança. Ela
estava linda com um vestido que a fazia parecer angelical, mas a
mão pesada do filho da puta que puxou a cintura dela fez o meu
sangue ferver. O beijo queimou meus olhos e me lancei a passos
largos, abrindo o caminho à força entre as pessoas assustadas, até
que consegui fechar minha mão no pescoço do desgraçado.
— Não encoste nela, porra! — gritei, notando o buraco ao
nosso redor ser aberto à menção de uma possível briga. — Quem é
você?
Eu não esperei resposta antes de arrastar o babaca pela gola
da camisa e grudar meu nariz ao dele.
— Mason!
— Mason, mano!
Ouvia as vozes e senti a aproximação de todos os meus
amigos, sabendo que tinha o apoio deles. O infeliz me olhou com um
certo pavor e eu tirei seus pés do chão ao segurar sua camisa agora
com as duas mãos.
— Mason! — A voz me fez piscar e olhar para Hazel. — Solta
ele.
Obedeci de imediato porque ela me olhava assustada, mas aí o
filho da puta revidou e me deu um soco.
— Quem você pensa que é? — gritou. — A garota é minha,
Mason!
Deslizei minha língua pelos dentes, procurando o ponto onde
ele tinha acertado para descobrir se estava sangrando ou não, mas
não senti nenhum gosto específico. Naquele momento, a festa
parecia ter caído num completo silêncio, porque ninguém chegava
assim e arrumava briga com um jogador do Bruins. Ou ele era muito
idiota ou queria muito a Hazel.
— O que você disse? — perguntei, observando Bryan e Noah
se aproximarem pelas laterais.
Mas não pude me mover, porque a baixinha envolveu meu
corpo com seus braços e grudou em mim, encostando o queixo no
meu peito e erguendo seu rosto para me encarar.
— Não brigue, por favor — pediu, quase chorando. — Vamos lá
fora.
Senti o ar passar com dificuldade pelas minhas narinas, porque
estava um pouco entupido e, agora, ofegante. Porém, por mais que
eu desejasse quebrar os dentes do infeliz à minha frente, jamais
negaria o pedido de Hazel. O foco nunca foi ele e sim, ela. Por isso,
assenti, puxando sua mão em minhas costas e a puxando por entre
as pessoas curiosas que acompanhavam tudo.
Paramos apenas para que pegasse seu casaco, que nem
vestiu, apenas pendurou no braço livre e me permitiu tirá-la daquela
festa. Saímos para a calçada e não parei de andar, porque acho que
nem estava raciocinando direito. Foi quando Hazel apertou meus
dedos, que me dei conta de que tínhamos nos afastado até mesmo
do meu carro, então parei.
— Por que está de chinelos?
— Saí com pressa de casa — respondi, pegando seu casaco e
a ajudando a se vestir. — Não se machucou, né?
Ela balançou a cabeça em negativa e encolheu os ombros.
— Você estava errado, por isso quis te tirar de lá — avisou,
soltando um suspiro e enxugando os olhos que brilhavam com a
chegada das lágrimas. — Eu pedi um beijo pra ele.
Senti meu coração bater na garganta e respirei fundo,
procurando olhar para qualquer lugar que não fossem os olhos dela.
Não esperava aquela revelação, em nenhum momento passou pela
minha cabeça que Hazel estava aberta para se relacionar dessa
forma. E eu nunca a imaginei beijando um cara aleatório no meio de
uma festa.
— Ah. — Assenti, me sentindo idiota. — Ok.
— É. — Ela suspirou e se calou.
— Estraguei sua noite — concluí, massageando minha nuca
que latejava e olhando meus pés dentro dos chinelos velhos.
— Na verdade, aconteceu exatamente o que eu queria. —
Hazel se aproximou e apoiou a testa no meu peito, deixando os
ombros caídos. — É meio idiota, mas eu desejei mesmo que você
aparecesse e brigasse por mim.
Do que diabos ela estava falando? Será que minha febre havia
aumentado e me fazia delirar naquela noite? Levei minha mão ao
pescoço, sentindo minha temperatura, e não sabia se estava elevada
por causa da agitação ou porque eu tinha piorado.
Envolvi a cintura pequena, alisando o tecido grosso do casaco
e inalando o perfume gostoso de seus cabelos.
— Meu cérebro está funcionando de forma lenta esta noite,
então vai precisar explicar melhor o que você desejou.
— Eu queria beijar outra pessoa pra saber se era só do seu
beijo que eu gostava — murmurou, me soltando por um segundo
para tocar o canto ardido dos meus lábios. — Minhas amigas me
convenceram a vir na festa e escolher alguém para o meu... hm,
projeto.
— E qual a sua conclusão? — perguntei, sentindo um frio da
porra com a ventania que nos alcançou.
— Então, primeiro, você precisa saber que eu meio que torci
pra você surgir de repente e estragar tudo. — Ela sorriu, tapando o
rosto. — Tenho que tomar cuidado com as coisas que desejo.
Alisei o topo de sua cabeça e desci meu toque até seus dedos
para puxá-los dali e poder olhar seu rosto lindo.
— Você se sentiu bem? É isso que importa. Espero que não
tenha beijado apenas por insistência das suas amigas.
— Eu beijei porque quis — declarou e eu assenti, sentindo meu
coração sangrar e querendo me jogar na cama para dormir por uma
semana. — Mas gosto mais da sua boca.
Porra.
Perdi um ou dois batimentos cardíacos antes de soltar o ar que
nem sabia que estava prendendo. Hazel deu um sorrisinho tímido e
precisei cruzar meus braços, porque minhas mãos coçavam para
poder segurar aquela garota. O gesto não passou despercebido e a
filha da mãe deu um passo à frente, jogando a cabeça para trás.
— Faz alguma coisa... — pediu, usando o dedo indicador para
cutucar meu peito. — Você não é Mason Johnson?
— Eu... hm... — pigarrei, mas virei o rosto para tossir antes de
voltar a encará-la. — Estou gripado...
Sim, era verdade, mas não era por causa disso que eu evitei
beijá-la. Tinha medo do que faria em seguida, se conseguiria parar,
se ia querer apertar sua bunda e tocar seus seios. Não queria ser eu
a pessoa que a magoaria.
— Você está doente? — Hazel se colocou nas pontas dos pés
e tocou minha testa, arregalando os olhos. — Por que não está
sequer vestindo um agasalho? Aliás, por que saiu de casa?
— São muitas perguntas.
— Mason... — Estalou a língua e esfregou as mãos nos meus
braços. — Você está ardendo de febre. Por isso não estava aqui? —
Assenti. — Veio por minha causa? — Assenti de novo. — Não vai me
beijar? Vou voltar pra festa, então.
A danada se virou de verdade e começou a andar em
passinhos curtos e apressados, até que precisei tomar uma atitude e
corri atrás da baixinha, passando meu braço direito por sua cintura e
a prendendo contra meu corpo. Quando virou o rosto, capturei sua
boca de qualquer jeito, sem conseguir me preocupar em ser
delicado, só precisava daquele contato urgente.
Mordendo seu lábio inferior, afrouxei o braço e a deixei se virar
para mim, voltando a segurá-la e trazendo seu corpo para cima,
facilitando as coisas para a minha coluna e a segurando contra meu
peito. Minha boca devorava os lábios pequenos e eu amava sentir a
língua tímida tocando a minha aos poucos.
Meu corpo inteiro estremeceu quando os dedos delicados
tocaram meu pescoço e as pernas macias envolveram a minha
cintura. Por sorte, o casaco que usava era longo e impediria que
outras pessoas vissem sua calcinha, mas foi surpreendente para
mim, ver Hazel confortável daquela maneira.
Por isso, achei melhor pegar leve com ela e interrompi o beijo
antes que uma ereção se formasse em minha cueca.
— Não sabia que você gosta de ficar doente — brinquei para
descontrair e ouvi sua risadinha quando escondeu o rosto no vão do
meu pescoço. — Vai pegar minha gripe e ainda deu o azar de se
jogar em cima do cafajeste da UCLA. Tem certeza de que seus pais
te criaram pra isso? Não sei... Vou fingir que sou um bom rapaz e te
levar pro seu dormitório.
— Acho que tenho um péssimo gosto — sussurrou, fazendo
carinho na minha nuca enquanto eu a carregava até meu carro. —
Me leva pra sua casa...
A gargalhada que eu soltei foi tão alta que quase deixei Hazel
cair dos meus braços. Quem estava na rua ainda naquele horário
acabou se assustando comigo, mas continuei meu caminho, já
podendo avistar a traseira do Nissan.
— Acho que consigo enumerar várias etapas que você está
querendo pular, baixinha — comentei, percebendo o terror que seria
ter Hazel no meu quarto.
— Idiota! — Levei um tapa no ombro e a garota levantou o
rosto, estreitando os olhos para mim. — Quero cuidar de você e não
dormir com você.
— Não vejo isso com bons olhos.
— Mas já dividimos o mesmo quarto, então qual o problema?
— É diferente — respondi e a vi arquear a sobrancelha. — Não
sei explicar sem falar putaria.
Derreti quando sua boca encostou na minha bochecha antes
que eu a ajudasse a escorregar para o chão. Destravei a porta do
carro e abri para que Hazel entrasse, então dei a volta e me joguei
atrás do volante, apressando-me em ligar o aquecedor e me
esquentar um pouco.
— Mason, eu sei que me respeita — murmurou, puxando o
cinto de segurança e tocando meu braço. — Não tenho medo,
porque você não ultrapassaria nenhum limite que eu não permitisse.
— Não confio tanto assim em mim — falei, guiando o carro pelo
caminho até o dormitório. — Essa situação é diferente de tudo que
vivi desde que iniciei minha vida sexual.
— Nunca namorou uma garota virgem? Porque é quase a
mesma coisa, tirando o fato de que, bem... — pigarreou e baixou o
tom de voz — sabemos que não sou virgem.
— Nunca sequer namorei, Hazel. — Virei meu rosto para ela e
vi seus lábios franzidos. — E sim, saio com virgens, para que elas
deixem de ser assim.
A baixinha sorriu e me deu um peteleco no braço.
— Você é horrível.
— Eu sei — respondi, parando o carro na porta do prédio dela.
— Acho que sou defeituoso. Não consigo me apaixonar.
Estiquei meu braço, tocando seus cabelos e os colocando para
trás dos ombros, de forma que pudesse ter melhor visão do rostinho
perfeito, já que tinha virado a cabeça para a frente. Então, a garota
cruzou os braços e fez um biquinho teimoso.
— Não vou descer — declarou.
— Quer mesmo ir pra minha casa? — Apertei sua bochecha e a
fiz me encarar. — E se eu passar dos limites?
— Eu te dou um soco. Ou chuto suas bolas.
Isso me fez sorrir, de verdade.
— Ok... E se eu souber como te seduzir?
Hazel ficou um segundo em silêncio, em seguida, abriu sua
bolsinha e tirou o celular, depois puxou um frasco que eu conhecia
bem, porque era um spray de pimenta.
— Posso usar isso em você — avisou, balançando o objeto
perto do meu rosto. — Quer testar?
Beijei a parte interna de seu pulso até que abaixasse a mão e
me inclinei mais para o lado, até alcançar seu rosto e roçar meu nariz
no cantinho de sua boca. Hazel permaneceu imóvel, respirando forte,
e não resistiu quando depositei um beijo na curva de seu maxilar.
— Fofa — murmurei, me ajeitando e ligando o motor do carro.
— Vamos pra minha casa.
Hazel Mackenzie
Eu não tinha ingerido bebida alcóolica, mas qualquer pessoa
que me conhecesse bem, podia pensar que estava bêbada. Quando
que eu imaginei que estaria dentro de um carro a caminho da casa
de um garoto? No meio da noite, ainda por cima? Nem sabia dizer o
que tinha me impulsionado a isso, apenas me bateu essa vontade
muito grande quando ouvi que Mason estava doente. Queria estar
perto dele e todos esses dias que passamos longe um do outro me
deixaram com saudade.
Hazel: Não procurem por mim nem se preocupem, ok?
Estou indo até a casa do Mason.

Sidney: Ele te sequestrou?


Sorri com a mensagem da minha melhor amiga, pois achei que
deveria avisá-las caso me procurassem e levassem um susto com o
meu sumiço. As duas testemunharam a cena do jogador na festa e
viram quando saí com ele para a rua, mas depois disso, não falei
com elas.

Hazel: Ele está doente, precisa de cuidados.

Ava: Amiga... Você realmente acreditou nisso?

Sidney: Você quis mesmo aceitar o convite dele?


Se sim, então tudo bem. Só tome cuidado.

Hazel: Na verdade, ele não queria me trazer.


Eu insisti pra vir. Estou bem, fiquem tranquilas.

Hazel: Eu... gosto... dele.

Quase infartei quando Mason se inclinou discretamente com a


cabeça virada na minha direção, tentando ler o que eu escrevia.
Grudei o celular em meu peito e o encarei, nervosa, vendo seu
sorriso debochado.
— Suas amigas estão mandando sair correndo do meu carro?
— Você não tem a melhor das reputações — respondi. — Elas
só se preocupam comigo.
— Estão certas. — Ele encolheu os ombros.
Mantive meu olhar sério sobre ele, que abafou uma risada
antes de voltar a atenção à direção, porque o sinal tinha ficado verde
para nós. Decidi encerrar a conversa com as meninas por enquanto,
e aproveitei para prestar atenção no caminho que estávamos
fazendo. Não fazia ideia de onde Mason morava, tinha somente
conhecimento de que não era dentro do campus.
Uns cinco minutos depois, ele entrou numa rua tranquila e
completamente residencial, estacionando diante de uma casa bonita,
de dois andares, mas nada parecida com o que eu imaginava ser o
tipo de moradia daquela criatura. A aparência do lugar era muito...
familiar. Parecia o tipo de casa em que meus pais morariam e não
um dos caras mais populares da faculdade, que vivia cercado de
garotas.
— Bem-vinda ao meu humilde lar — disse ele, quando abriu a
porta do carro para mim.
Desci e andei atrás dele pelo caminho de pedrinhas cercado
por arbustos baixos, até que o esperei abrir a porta e me dar
passagem. Quando acendeu algumas luzes, me surpreendi ainda
mais com a decoração do lugar.
— Há quanto tempo mora aqui? — perguntei, já que não tinha
absolutamente nada a ver com ele.
— A vida inteira. — Arregalei meus olhos e Mason encolheu os
ombros. — Nasci nesta casa.
— Calma, está dizendo que sempre morou aqui? — Ele
assentiu. — Por isso é tão californiano...
Deixei-o para trás e fui bisbilhotar a sala com móveis mais
antigos e cheia de porta-retratos. Reconheci Mia imediatamente,
mesmo em registros de quando era mais nova, e meu coração ficou
quentinho de encontrar fotos de um Mason criança. Vi o casal que,
provavelmente, eram os pais dele, e imediatamente me preocupei de
que aparecessem ali de repente, considerando que era sua casa.
— Eles faleceram quando eu era bem mais novo — murmurou
o jogador atrás de mim e me fez virar, surpresa. — Sobrou pra Mia
ser responsável por mim durante um tempo.
— Sinto muito, não sabia.
— Tudo bem. — Ele sorriu, apertando a pontinha do meu
queixo. — Não tem problema. A questão é que, esta é a casa da
minha infância, Mia e eu somos muito apegados.
— Faz sentido. Quando eu volto pra casa dos meus pais, me
sinto muito diferente, com aquela sensação de estar realmente no
meu lar.
Ele se virou para tossir, o que me fez lembrar do motivo para ter
ido até ali. Olhando rapidamente em volta, identifiquei a cozinha e
empurrei Mason na direção do sofá, quase o obrigando a se sentar,
mas o puxei de volta quando tive outra ideia.
— Tome um banho pra se refrescar e depois vá pra cama —
pedi, vendo seus olhos se estreitarem. — Vou preparar uma sopa.
Ou melhor, vou conferir pra ver se você possui ingredientes para
isso.
— Se você viesse aqui antes da mudança de Mia,
provavelmente se frustraria. — Ele riu, caminhando a contragosto
enquanto eu empurrava suas costas. — Vai mesmo cozinhar pra
mim? É assim que deseja me fisgar? Pelo estômago?
— Aham, vai sonhando.
Mason parou antes de pisar no primeiro degrau da escada e se
virou de repente, enlaçando a minha cintura com um dos braços. Ao
me puxar, meu corpo se desequilibrou e praticamente fiquei mole em
suas mãos, grudada em seu peito e perto demais de sua boca.
— Ganho outro beijo? — perguntou e eu me surpreendi que
não tivesse simplesmente pegado o que desejava, porque nossos
lábios chegaram a roçar um no outro.
— Não foi pra isso que eu vim até aqui — respondi, me
sentindo nervosa.
— Hm... — Ele revirou os olhos, sorridente, e suspirou. —
Considero um método alternativo de tratamento de gripe. Tenho
certeza de que vai me deixar motivado, sabe?
Senti como se houvesse algo em movimento dentro do meu
estômago e imaginei que fossem as tais borboletas das quais tanto
se falava. Era assim? Era desse jeito que a vida funcionava e nos
fazia ansiar pelo próximo olhar, próximo toque, próximo momento
juntos?
Não sabia se a sensação que me tomou era única e exclusiva a
mim ou se eu estava realmente passando pelo que todas as garotas
costumavam passar, mas me senti feliz naquele momento, e dei um
selinho rápido em Mason. Recuei logo a cabeça para que ele não
investisse mais, e o jogador apenas encostou a testa na minha
bochecha por uns segundos.
— Melhorei dez por cento — murmurou. — Se você fizer isso
mais dez vezes esta noite, pode ser que eu sobreviva ao dia
seguinte.
Quando ele finalmente me soltou, apressei-me em ajeitar o
vestido que senti ter subido um pouco na bunda e recuei alguns
passos para me colocar fora de seu alcance.
— Quem diria que Mason Johnson viveria à base de selinhos
superficiais — zombei. — Vai logo tomar seu banho enquanto eu
preparo a pior sopa que você provará na vida.

Agradeci por ele ter deixado a porta aberta, assim eu não


precisava procurar de quarto em quarto até encontrar o de Mason.
Mesmo assim, eu parei diante dela entreaberta e avisei que ia entrar,
só para o caso de ele estar pelado ou coisa do tipo.
Encontrei o jogador sentado na cama, encostado à cabeceira e
digitando no celular. Estava vestindo uma regata cavada e o cheiro
de sabonete me atingiu assim que me aproximei.
— Estou deixando o frango cozinhar — avisei, observando o
quarto ao meu redor. Era bem amplo, mas assim como o resto da
casa, não tinha muito a cara de Mason. — Nenhuma foto de futebol,
nem de mulher sensualizando na parede? Que surpreendente!
— Se você viesse cinco anos atrás, encontraria tudo isso —
respondeu, rindo. — Mas este era o quarto dos meus pais. Eu deixei
o meu para o Josh quando ele se mudou pra cá.
— Eca. Você traz mulheres pra profanar a cama dos seus pais?
— perguntei ao me virar para ele e ver seu sorriso.
— Esse é o seu jeitinho de perguntar se outras garotas já
estiveram aqui? — Piscou, me deixando com vergonha e batendo no
colchão ao seu lado. — Vem cá.
— Estou bem onde estou. Tenho que descer em dez minutos
pra olhar a comida.
— Vai cuidar de mim à distância? — perguntou ele, arqueando
a sobrancelha.
Sim, eu sei, era bobeira minha, por isso, fiz o que ele pediu e
me aproximei da cama, me sentando onde sua mão estava
segundos antes e dobrando uma das minhas pernas sobre o
colchão, enquanto mantinha a outra esticada para fora.
Toquei em seu rosto para sentir sua temperatura, que estava
elevada, mas não tão quente quanto mais cedo, no meio da rua.
— Você é boa enfermeira, baixinha? — Mason perguntou,
segurando minha mão e mexendo em meus dedos.
— Não faço ideia. É a primeira vez que tento cuidar de uma
pessoa doente. — Ri quando ele estreitou os olhos. — A vida toda foi
o contrário, todo mundo cuidando de mim, em excesso. Se eu
ralasse o joelho, um batalhão de gente aparecia pra me amparar. Se
eu cortasse o dedo numa folha de papel, corriam pra me socorrer. Se
eu tirasse uma nota baixa, criavam motivos para abonar meu
desempenho ruim. Sempre fui tratada como algo frágil. É sufocante.
— Só consigo imaginar que seja desesperador para um pai e
uma mãe, ver um filho passar pelo que você passou. — Encarei
nossas mãos unidas, notando a forma como Mason fazia carinho em
mim. Ele era fofo quando queria. — Quando eram vivos, meus pais
sempre foram muito protetores com Mia e eu, e nós nunca passamos
por um trauma tão grande quanto o seu. Ainda por cima, eles
perderam o Harry, né?
— Sim — respondi, sentindo meus olhos arderem. — Não
estou dizendo que foram pais ruins, pelo contrário, eu os amo. É só
que... — suspirei, pensando na minha vida. — Às vezes era demais.
Eles queriam me colocar numa bolha, não me incentivavam a voltar
a viver normalmente como uma garota da minha idade. Já era difícil
querer isso por conta própria e o medo deles ainda ajudava a me
esconder.
— E mesmo assim, aqui está a senhorita. Na faculdade,
praticando um esporte que ama, fazendo amizades, frequentando
festas duvidosas e se enfiando em quartos de garotos. — Soltei uma
risada e puxei minha mão para dar um tapa no braço de Mason. —
Está orgulhosa dos seus passos?
— Sim — respondi. — Minha psicóloga trabalhou muito por
todos esses anos. Ela sempre me ajuda a lidar com meus medos.
Mason se espreguiçou, erguendo os braços e levando as mãos
para trás da cabeça. O movimento fez com que a barra de sua
camiseta se levantasse um pouco, deixando um bom pedaço de seu
corpo exposto, praticamente toda a pele do umbigo até o elástico da
calça de moletom.
— Já falou sobre mim para ela? — Levei alguns segundos para
compreender do que ele falava e precisei desviar o olhar que tinha
ficado grudado naquela região. — Eu sou tímido, Hazel.
O filho da mãe me provocou, puxando o lençol para se cobrir
até a cintura e lançando um sorriso muito sarcástico. Meu rosto
estava tão quente que eu sabia que ele podia notar a vermelhidão,
mas esconder seria ainda pior.
— Vou dar uma olhada na panela! — Tentei me levantar, mas a
mão pesada segurou meu braço e me manteve no lugar.
— Não se passaram nem dez minutos, tenho certeza de que o
frango não está cozido. — Seus dedos deslizaram para o alto, até
meu cotovelo, e quando o encarei, o sorriso que exibia era diferente,
daquele jeito mais gentil e fofo. — Deita aqui comigo, apoia sua
cabeça no meu peito e me abraça.
O bolo subiu depressa e se instalou como um nó no meio da
minha garganta. Era mais intimidade do que eu jamais tive com um
garoto e não tinha certeza de que conseguiria lidar com isso.
— Só cinco minutinhos — murmurou o jogador, alisando meus
cabelos. — Não sinta medo de mim... Só quero conversar e saber
mais da sua vida.
— Eu quero, mas o que sinto, me incomoda — confessei, me
inclinando um pouco.
— O que você sente? — perguntou, tocando meu ombro. —
Explique pra mim, por favor.
Além da Sra. Thompson, ninguém nunca havia perguntado
esse tipo de coisa. Eu olhei para Mason, que tinha a testa franzida e
me olhava com atenção.
— A garganta parece que fecha — murmurei, tocando a região
e atraindo seu olhar. — E eu fico com taquicardia, além do frio
interno... como se... eu bebesse algo muito gelado e se espalhasse
pelo corpo.
De repente, Mason se descobriu e jogou as pernas para o lado
oposto da cama, até se levantar e caminhar sem pressa na direção
de seu armário. A calça que ele vestia era daquelas bem largas e
baixas, que chegava a deixar um pedaço do elástico da cueca à
mostra e isso me fez sorrir.
O que me surpreendeu, no entanto, foi o garoto ter tirado um
edredom enorme de uma das prateleiras mais ao alto e veio até mim,
abrindo a peça inteira e a colocando ao redor dos meus ombros.
— Você pode se enrolar todinha nele, assim não terá contato
direto com o meu corpo — declarou, voltando a se deitar e retornado
à posição inicial. — Sei que não deve ajudar muito, mas se quiser
tentar...
Era sério? Mason tinha pensado naquilo para me fazer sentir
melhor? O nó na garganta aumentou enquanto eu me enrolava no
edredom, mas agora, era por outro motivo.
Mesmo assim, quis dar uma chance à ideia dele e arrisquei me
aconchegar contra seu corpo, recebendo sua ajuda para encontrar a
posição ideal e conseguir deitar a cabeça na altura de seu peito
durinho.
— Assim fica difícil acreditar nas coisas que falam sobre você
— comentei, brincando. — Vai acabar com seu histórico de garanhão
da UCLA.
Por cima do tecido bem macio do edredom, senti o braço de
Mason pesar sobre a minha cintura. Recebi um carinho nos cabelos
e um beijo no topo da minha cabeça, que fez meu coração acelerar.
— Hazel Mackenzie está me desconstruindo — declarou,
soltando um suspiro. — E eu não faço a menor questão de ser um
garanhão perto dela. Prefiro encontrar minha melhor versão.
Fechei os olhos quando algumas lágrimas cismaram em sair, e
também apertei meu braço sobre a barriga dele.
— Não fale essas coisas — pedi, tentando disfarçar a voz
embargada.
— Por quê? — Percebi Mason se inclinar um pouco e abaixei o
rosto para que não me visse lacrimejar. — Acha que estou
mentindo?
— Você disse que somos incompatíveis.
— É verdade, e eu ainda penso do mesmo jeito. — Ele
conseguiu beijar minha testa e manteve o rosto ali, perto do meu, ao
dizer: — Mas eu adoro me sentir desafiado, principalmente por algo
que vale muito a pena.
— Tipo eu?
— Apenas você. — Sua resposta me deu coragem para
levantar o rosto e o encarar. — Por que está chorando?
Fechei os olhos quando seus dedos passearam pelo meu rosto
para me secar, e os abri de novo quando sua mão empurrou meus
cabelos para trás, liberando minha testa.
— Desculpa, não sei lidar com esses sentimentos novos —
admiti, deitando minha cabeça de volta àquele lugar confortável.
— Está se sentindo melhor? — Assenti. — A taquicardia
diminuiu?
— Sim.
— Que bom. — Mais um beijo na minha cabeça e essa
sensação era muito boa. — Meu marshmallow amarelo.
— O quê? — Deslizei minha cabeça pelo peito dele só para
conseguir olhar para ele.
— Está parecendo um marshmallow, toda enrolada nesse
edredom. — O filho da mãe sorriu como uma criança boba e teve a
ousadia de apertar o meu nariz. — Está na hora de levantar a bunda
da minha cama e ir conferir a minha sopa.
— Mas eu acabei de me deitar.
— Eu não disse que era pra passar a noite toda assim. —
Mason revirou os olhos. — Meu braço está dormente. Lembra-se que
tô doente? Veio aqui para cuidar de mim ou me explorar?
Soltei uma gargalhada e me desvencilhei do edredom em
segundos, só pelo prazer de usar minhas mãos e dar dois tapas no
peito dele. Claro que não daria o braço a torcer, mas enquanto
Mason ria, eu me levantei da cama me sentindo mais leve e
relaxada. Podia até dar um beijo em sua boca bem naquele instante,
mas ia guardar minha vontade para mais tarde, antes de ir embora.
Mason Johnson
A primeira vez que senti atração física por uma garota, eu devia
ter em torno de uns dez ou onze anos, mas era aquela coisa boba de
criança, nada muito extraordinário. Somente alguns anos depois
iniciei minha vida sexual, mas sempre me sentia fisicamente atraído,
achava a pessoa bonita e sentia vontade de ter um contato mais
íntimo. Claro que nunca fui babaca e sempre tratei bem todas as
meninas com quem eu ficava.
Entretanto, nunca senti no coração. Nunca me importei a ponto
de me despedir depois de uma noite de sexo ou de um simples
encontro, e passar o dia seguinte pensando na garota. Nunca me
preocupei em saber como ela estaria, o que sentia ou como se
sentia. Talvez, a única pessoa capaz de entrar no meu coração esse
tempo todo, tenha sido minha irmã, que eu realmente amava.
O problema, é que essa era uma palavra que eu usava sem
saber exatamente o que significava. Sim, eu amava a Mia. Ela era
meu sangue, minha família, meu tudo. Mas o que definia esse
sentimento? Por que eu não conseguia diferenciá-lo como tanta
gente fazia? Quantos não passavam a vida inteira declarando
amores como se fosse a coisa mais normal do mundo?
Eu sabia, por exemplo, que Josh amava Mia de uma forma
diferente de mim, mas não conhecia o tipo de sentimento que
habitava o peito dele. E nos últimos dias, essa merda ficava
ocupando boa parte do meu cérebro, porque eu sabia que me sentia
estranho a respeito de Hazel, mas de um jeito que nunca aconteceu
antes.
Tinha medo de me confundir, de achar errado, de pensar que
estava nutrindo um sentimento que não era real. E se fosse apenas,
sei lá, empolgação por ela ser tão diferente das garotas com quem
eu costumava sair? E se eu estivesse me enganando, me iludindo, e
acabasse a magoando sem querer?
— Eu não sou mestre na cozinha, tá? — Desviei minha atenção
quando Hazel entrou no quarto com um prato na mão. — Não me
lembrei de pegar uma bandeja nem nada... Quer apoiar isso num
travesseiro?
Eu dormia com dois travesseiros, então puxei o mais fino e o
trouxe para meu colo, aceitando o prato que me entregou com
cuidado. A aparência da sopa era horrível e, provavelmente, o gosto
também, mas eu jamais faria uma desfeita para alguém que tinha
cozinhado para mim.
— Devo querer saber o que você colocou aqui dentro?
— Frango e alguns legumes que encontrei — respondeu,
mordendo o cantinho do lábio. — Mas eu provei e juro que não está
intragável.
A garota permaneceu em pé ao lado da cama e eu decidi
provar de uma vez a sopa de doente. Queimei a língua porque
esqueci de assoprar, mas consegui engolir sem sentir enjoo. O gosto
não era mesmo dos piores, só não tinha muito sal. O que devia ser
mesmo a intenção de Hazel.
— Já tomou algum remédio? — perguntou, dando uma olhada
pelo quarto. — Um antitérmico, talvez?
— Mia me deu um comprimido de manhã, mas não acho que
esteja com febre agora.
Sua mão pequena tocou meu rosto e, em seguida, seus dedos
deslizaram pela minha bochecha até alcançarem meu pescoço.
Adoraria que continuasse com aquele toque inocente, mas não podia
esperar muita coisa.
— Você está suado — declarou, sorrindo como se fosse uma
boa revelação. — Tem algum termômetro nesta casa?
Assenti, mas precisei tossir algumas vezes e acabei só
apontando na direção da gaveta da mesinha ao lado da cama. Só
me lembrei que estava lotada de embalagens de camisinha, quando
Hazel soltou um suspiro e pegou o aparelho, fechando depressa a
cômoda e se aproximando com o rosto vermelho.
— Levante o braço — pediu, pigarreando.
— Você é uma enfermeira muito autoritária, sabia? — Obedeci,
sentindo a pontinha fria de metal encostar em minha pele. — Pode
aproveitar e pegar a caixinha de lenço de papel que está no
banheiro?
Hazel assentiu e assim que saiu do quarto, fiz malabarismo
com o prato e o travesseiro, então levantei depressa para pegar as
dezenas de preservativos que estavam naquela gaveta. Enchi a mão
e consegui correr até o guarda-roupas, jogando tudo dentro do lugar
onde guardava minhas cuecas. Infelizmente, alguns pacotinhos
caíram no chão, bem quando a ginasta retornou ao quarto.
Olhamos os dois na mesma direção, até que ela se abaixou e
pegou as três embalagens, estendendo-as para mim.
— Esconder isso te torna um santo? — questionou, revirando
os olhos. — Todo mundo sabe que você transa, Mason.
— Só... pensei em guardar o... hm, excesso. — Peguei os
pacotes e os joguei junto com os outros. — Tem tantas dessas
porque compro caixas grandes para aproveitar as promoções. Só por
isso.
Graças a Deus, o termômetro apitou na minha axila e nem
consegui piscar antes que Hazel o puxasse para olhar o resultado.
Voltei para a cama depois que a garota confirmou que eu não tinha
febre e dei mais algumas colheradas na sopa sem sal.
— Não fiz muito porque não tenho muita noção de quantidade,
não estava seguindo nenhuma receita — comentou quando eu
terminei e ela pegou meu prato. — Mas se quiser, posso fazer mais
um pouco antes de ir embora.
Deus me livre.
— Estou muito satisfeito e tenho certeza de que amanhã
acordarei ótimo. — Sorri. — Não precisa fazer mais.
Observei a baixinha colocar a louça sobre a cômoda ao lado da
porta e voltar a se aproximar de mim. Ela se sentou de novo na beira
do colchão, ajeitando o vestido que tinha subido um pouco, então
puxando o edredom amarelo para cobrir as coxas.
— Vou pedir pro Josh te levar embora quando chegar, ok? —
Toquei seus dedos. — Não quero que vá sozinha a essa hora.
Ela assentiu e fez algo que me pegou completamente
desprevenido: voltou à posição em que estava antes de descer para
olhar a sopa, e deitou a cabeça em meu peito. Dessa vez, não se
enrolou no edredom, por isso, considerei um avanço monstruoso e
senti meu peito ficar apertado.
Achei melhor não comentar nada para não ativar nenhum
gatilho nela. Se fez por conta própria, estava se sentindo à vontade o
suficiente e isso era o bastante para mim.
— Você nunca namorou mesmo? — Quis saber, apoiando a
mão linda no meu peito.
— Não. Nunca me apaixonei, então sempre pensei que seria
muito hipócrita criar um compromisso sério com uma garota, sendo
que eu queria apenas sexo.
— Pelo menos, nunca enganou ninguém — disse Hazel. —
Lembro que na adolescência, minhas amigas começavam a namorar
e logo descobriam que os garotos só queriam mesmo era tirar a
virgindade delas.
— É o que acontece com mais frequência. A menina,
geralmente, quer ter aquela primeira experiência com alguém que a
ame. — Estalei a língua, pensando em várias situações do meu
passado. — Ela só não imagina que, na maioria das vezes, o
namorado só está pensando com o pau.
Hazel balançou a cabeça demonstrando que concordava, mas
ficou um pouco em silêncio. Puxei meu celular que estava quase
embaixo da minha bunda e selecionei a primeira playlist que
encontrei, porque sabia que ela gostava muito de música, poucas
eram as vezes em que não via fones em seus ouvidos.
“Nobody Gets Me”, de SZA, foi a primeira que tocou, e a reação
de Hazel foi se encolher contra mim e me apertar mais com seu
braço.
— Amo essa música — sussurrou.
— Que bom. — Toquei seus cabelos cheirosos. — Coloquei pra
você. Pode pegar meu celular e escolher outras que queira ouvir.
Notei seus dedos tranquilos brincando com o tecido da minha
camiseta e, vez ou outra, parecia que Hazel os deixava escorregar
mais forte em meu peito, como se arriscasse me tocar um pouco
mais.
— Juro que não sei por que você fica assim comigo.
— Assim, como? — indaguei, confuso.
— Assim — ela respondeu, simplesmente.
— Não entendi, Hazel. — Seus dedos pararam.
— Com a vida que você leva, as coisas que gosta e a
experiência que tem... — murmurou, baixando o tom de voz
conforme terminava a frase. — Quer dizer, você é Mason Johnson,
eu te conhecia antes de você me conhecer, porque todos te
conhecem. Teria rido da cara da pessoa que me dissesse que eu
deitaria na sua cama e nada demais aconteceria.
— Eu também me surpreendo cada dia mais, acredite. — Sorri
quando ela ergueu o rosto para me olhar. — Mas nunca fico
entediado com você, pelo contrário, cada vez que estamos juntos, é
diferente, um aprendizado pra mim.
Ela ficava linda pra caralho quando mordia o lábio daquela
forma que estava fazendo e eu precisei me controlar muito para não
puxá-la pela nuca e dar um beijo gostoso naquela boca.
Hazel se levantou de repente e saiu do meu quarto correndo,
sem que eu conseguisse entender. Cogitei ir atrás para saber o que
tinha acontecido, quando meu celular tocou com a chegada de uma
notificação e eu o peguei quando vi o nome da garota no aviso.

Hazel: Se eu falar em voz alta vou chorar,


então, só queria dizer que tô apaixonada por você.

Hazel: Não diga de volta, só se um dia sentir o mesmo.

Levantei minha cabeça quando ela entrou de novo no quarto,


com o celular entre as mãos e os olhos focados na tela, ainda
digitando.

Hazel: Sei que é um susto, pq a gente se conhece


só há algumas semanas, mas acho que foi tão intenso
e rápido porque sou um tanto imatura emocionalmente...
considerando que nunca vivi nada disso e tal...

— Hazel — chamei e ela parou de digitar. — Venha conversar


comigo.
A baixinha puxou o ar devagar e o soltou de uma vez, em
seguida, deixou o celular em cima da cômoda e me encarou
conforme se aproximava. Estava com o semblante apreensivo e
imaginei que estivesse morta de medo por tudo o que acabou de
escrever.
— Sou tão imaturo quanto você — falei ao segurar a mão dela
para que se sentasse. — Acha que entendo o que estou sentindo?
Nem consigo encontrar uma palavra pra definir, porque nunca me
senti desse jeito.
— Parece fake, às vezes — murmurou, mexendo na costura da
minha camisa. — Eu paro e penso: estou sentindo isso por que você
foi o primeiro que deixei se aproximar, ou é justamente por causa
disso que eu permiti a sua aproximação?
— É uma boa reflexão, mas não se apegue a tentar responder.
Toquei o centro de sua testa com meu polegar, para desfazer
aquele vinco que tinha se formado bem ali. Hazel soltou um suspiro e
relaxou a expressão, assim como os ombros tensos. Deixei minha
mão deslizar pela lateral de seu rosto até apoiar seu queixo e sentir
um leve tremor em seus lábios.
— Você é linda, baixinha. A garota mais bonita que eu já vi na
vida.
Ela sorriu, toda bobinha.
— Quer me beijar?
Foi minha vez de rir.
— Se me fizer essa pergunta duzentas vezes por dia, a
resposta sempre será sim — declarei, revirando meus olhos. — Eu
sempre quero o seu beijo, desde que me roubou um no carro.
— Então pegue — disse a filha da mãe, encolhendo os ombros.
Balancei a cabeça, mas não falei nada, apenas pensei que era
muita liberdade para me conceder. De qualquer forma, eu me inclinei
para a frente, levando a mão até sua nuca e sentindo os finos fios de
seus cabelos da região. Ela já tinha afastado os lábios para respirar
pela boca, ansiosa, mas primeiro, encostei os meus em seu queixo.
— Um beijo não precisa ser dado apenas na boca, sabia? —
sussurrei, subindo pela linha de seu maxilar e me aproximando da
orelha delicada. — Esses, inclusive, são os melhores.
Por um instante, temi ter abusado demais e ultrapassado um
limite que não devia, porque Hazel estava completamente dura e até
suas mãos estavam fechadas em punho. Mas antes de recuar, toquei
meus lábios de leve na pontinha de sua orelha e falei o que estava
sentindo, entalado na minha garganta:
— Aquele babaca da festa foi o último, ok? — avisei,
sussurrando. — Não vou deixar que mais ninguém prove o seu beijo.
Eles serão todos meus.
Seu corpo estremeceu com uma risada baixinha, mas a cabeça
mexeu ao assentir e passar os braços pelo meu pescoço.
— Mas e os seus? — perguntou, muito esperta. — Sou a dona
deles?
— A partir de hoje, sim.
— Mesmo? — Ela insistiu quando eu estava prestes a tomar
sua boca, e arqueou a sobrancelha como se duvidasse.
— Eu tomei a sopa toda e ela estava sem gosto — esclareci,
vendo sua cabeça ser jogada para trás com uma gargalhada. —
Isso, por si só, devia ser resposta suficiente.
Quando voltou a me olhar, encerrei a conversa de uma vez e
capturei os lábios delicados, chupando um de cada vez, devagar,
antes de invadi-los com a minha língua. Com o peso que a baixinha
jogou em mim, meu corpo caiu para trás e minhas costas voltaram a
se chocar contra a cabeceira, me obrigando a apertar Hazel com um
braço e trazê-la comigo.
Foi uma evolução notar que ela não recuou nem se mostrou
tensa, apenas se manteve entretida com o beijo. Ainda se enrolava
um pouco ao usar a língua, mas estava cada vez melhor e mais
solta. Até arrisquei mover meu braço morto em sua cintura e alisar
suas costas, delicadamente, sentindo o tecido macio do vestido que
usava e as alcinhas do sutiã.
Foi ali que Hazel parou e me encarou, vermelha, com a
respiração ofegante e os lábios pressionados um contra o outro.
— Estamos bem — falei, colocando minhas duas mãos ao
alcance de sua visão e as usando para afastar seus cabelos do
rosto. — Você está ficando craque em beijos.
— Mentiroso. — Revirou os olhos, sorrindo. — Não fiquei com
medo agora, tá? Só com vergonha, por isso parei.
— Tudo bem. — Assenti, vendo-a arquear a sobrancelha.
— Você está sendo muito respeitoso e controlado, isso é
incrível. — Seus dedos tocaram meu rosto e desceram até meus
lábios. — Mason Johnson é muito fofo.
— Talvez todo o sexo que eu tenha feito na vida, fosse
justamente pra me ajudar a passar por essa fase — falei, fechando
meus olhos e fingindo sofrimento. — Deus sabia o quanto eu
passaria vontade e me concedeu a oportunidade de usar bastante o
meu...
— É sério que você vai terminar esta frase? — Hazel tapou
minha boca e soltou uma risada. — Que nojo. Estou recebendo algo
tão usado assim? Dá tempo de apagar as mensagens que te enviei?
Mexi em meus cabelos, achando graça da expressão dela. Ah,
porra, era gostoso ficar assim com a menina, falando bobeira, sem
segundas intenções, e notando-a toda soltinha e à vontade, talvez
sem perceber que nossos peitos estavam colados um no outro e
aquela proximidade era deliciosa.
— Juro que sou limpinho — murmurei, piscando. — Está
enxergando da forma errada. Não sou usado, sou experiente.
Levei um tapa no ombro, mas valeu a pena porque logo em
seguida, recebi um carinho. E Hazel aproveitou a oportunidade para
se arriscar mais um pouquinho e explorar meu corpo, deslizando os
dedos tímidos até o ossinho da minha clavícula.
— Não se importa mesmo de ir devagar comigo? — indagou,
sem me encarar.
— Claro que não. — Dei um selinho nela, pegando-a de
surpresa. — Tenho dez dedos saudáveis, não vou morrer por falta de
sexo. Eu acho. — Ela riu de olhos fechados e me deu um pequeno
beliscão com as pontinhas das unhas. — Mas tenho uma
curiosidade. Você nunca sentiu nenhuma vontade?
— Eu dei meu primeiro beijo com você... — Hazel respondeu,
encolhendo os ombros. — Em que momento poderia sentir algo por
alguém?
— Sei lá, você está na rua andando e, de repente, vê um cara
muito gostoso só de cueca.
— De cueca na rua? — Ela gargalhou. — Acho que não.
— Nem durante uma cena num filme? Tem umas bem quentes.
— Ah. — Hazel franziu os lábios e desviou o olhar. — Eu já
fiquei excitada vendo filmes... Mas nunca a ponto de olhar pro ator e
querer fazer sexo com ele. Nem com você.
Ela me lançou um olhar vingativo e eu massageei meu peito,
porque o tiro foi fatal e dolorido demais. Não que eu esperasse uma
declaração diferente, pelo contrário, era bom que Hazel estivesse
falando sobre aquilo para que eu pudesse entendê-la melhor e saber
como lidar com o futuro.
— Entendi. — Estalei a língua e soltei um suspiro. — Ou seja,
com o Noah Centineo você fica molhadinha, comigo é só mais um
dia como outro qualquer. Bacana.
Minha garota arregalou os olhos e tapou minha boca, porém,
tarde demais, né? Eu a senti estremecer com uma risada, mas
afundou o rosto na curva do meu pescoço.
— Você é podre, Mason!
— Não, tudo bem. Tô tranquilo — zombei, dramatizando e
livrando minha boca de sua mão. — Essa informação foi muito útil
pro meu ego.
— Não fica assim. — Estremeci quando ela beijou meu
pescoço. Cacete. — Você é muito mais bonito do que o Noah
Centineo.
— E do que isso está me adiantando? — Respirei fundo, mas
estava brincando e dando corda, porque sabia que Hazel estava
descontraindo. — Fala um nome por quem você me trocaria sem
pensar duas vezes.
— Melhor não... — A filha da mãe riu.
— O nome do babaca, Hazel.
— Jacob Elordi — respondeu, mordendo o lábio. — Hero
Fiennes Tiffin, Harry Styles...
— Eu pedi só um — resmunguei, recebendo um selinho dela.
— Não imaginei que você teria tanta facilidade para citar vários.
Minha boca ardia de vontade de pegar aquele rosto bonito e
tomar mais um beijo do jeito que eu precisava, mas me contive
quando Hazel escorregou pelo lençol e se ajeitou como antes,
aninhando-se na lateral do meu corpo e deitando a cabeça no meu
peito.
Coloquei os cabelos macios para trás, de forma que
conseguisse enxergar melhor seu rosto naquela posição, e puxei a
pontinha do edredom amarelo para cobrir suas pernas.
— Posso fechar um pouco os olhos? — perguntou. — Tô
ficando com sono... Você me acorda quando a sua irmã chegar?
— Claro que sim.
Acariciei seu couro cabeludo para que relaxasse, pensando que
àquela altura, Hazel podia tudo comigo. Qualquer coisa que pedisse,
acho que seria capaz de dar. Mesmo o meu coração.
Hazel Mackenzie
Quando abri os olhos, a primeira coisa que entrou no meu
campo de visão foi o edredom amarelo cobrindo o meu braço. Estava
deitada ainda na cama de Mason, isso era fato, e uma nova
percepção me atingiu em cheio: meus dedos tocavam no que eu
tinha certeza de ser a pele do garoto.
Tive medo de levantar a cabeça e o encarar, não sabia se
dormia ou se estava acordado. Não sabia nem mesmo que horas
eram, mas algo me dizia que eu tinha pegado no sono de verdade e
perdido o horário. Tentei mexer um pouco meu rosto para verificar
que minha mão tinha entrado por dentro da camisa de Mason, então
o que eu sentia, eram os gominhos do abdômen dele.
Parabéns, Hazel! Se fosse o contrário, você estaria em surto.
Olha a hipocrisia! Revirei meus olhos e puxei minha mão bem
devagar para não levantar suspeitas, mas ouvir a risadinha dele me
fez constatar que tinha sido flagrada.
— Oi — o jogador murmurou quando levantei meu rosto. —
Bom dia.
— Eu dormi aqui? — Ele assentiu. — Que horas são?
Mason continuava na mesma posição da noite anterior,
encostado à cabeceira e com um braço ao redor do meu corpo.
Devia estar todo dolorido, porque não podia ser uma posição tão
confortável para passar a noite.
— Fique tranquila, ainda é cedo — respondeu. — Nem deu seis
horas ainda.
— Sua irmã não voltou?
— Ela voltou. — Mason sorriu, alisando meus cabelos. — Mas
fiquei com pena de te acordar porque estava dormindo muito
bonitinha. Só pedi pra Mia apagar as luzes porque não queria
levantar e te incomodar.
Meu cérebro levou um segundo para processar aquela
informação.
— Sua irmã entrou no quarto? — Mason assentiu. — Ela nos
viu aqui na cama?
Aquela notícia me fez levantar imediatamente e me sentei,
passando os dedos por dentro dos cabelos embaraçados e
conferindo se o decote do meu vestido estava no lugar. Como eu
pude cair no sono desse jeito e dormir grudada em Mason? O
edredom ainda me cobria parcialmente, mas eu podia sentir que
estava quase com a bunda de fora, porque o tecido havia enrolado
para cima.
— Mia não é nenhuma santa, Hazel. Não tem problema
nenhum ela encontrar uma garota no meu quarto.
Não dei ouvidos, apenas me ocupei em ficar de pé e puxar meu
vestido na velocidade da luz quando os olhos de Mason se cravaram
nas minhas coxas.
Precisava aproveitar para ir logo embora. Ava devia estar em
pânico por eu ainda não ter voltado para o quarto. E por falar nela,
peguei meu celular em cima da cômoda para conferir minhas
mensagens, clicando logo sobre um áudio que minha amiga tinha
enviado às duas e meia da manhã.
— Se está até agora na rua, já deve saber o tamanho do pau
do...
Consegui fechar o aplicativo depressa antes que ela terminasse
a frase e senti o sangue todo sumir do meu corpo. Atrás de mim, ouvi
a risadinha safada e senti dois braços envolverem a minha cintura.
— Olha só a sua amiga fazendo uma ideia toda errada de você
— disse, estalando a língua e beijando meu rosto. — Ela vai se
decepcionar com a notícia real.
Fechei meus olhos por uns segundos porque tinha gostado de
ficar nos braços de Mason daquela maneira. O corpo dele cobria o
meu por estar curvado e me apertando a cintura, e seu nariz em meu
pescoço me deixava arrepiada. Toquei suas mãos com uma das
minhas e joguei minha cabeça para trás, deixando meu peso para
ele lidar.
— Ava não sabe...
— Eu sei, você me contou — ele respondeu, beijando minha
bochecha. — Mas pode dizer pra ela que são quase trinta
centímetros.
Acabei rindo pelo nariz e até me babei sem querer, achando
ainda mais graça quando Mason estreitou os olhos, com o ego
ferido. Então, abri novamente o aplicativo de mensagens para enviar
um áudio pra minha amiga.
— Prefiro contar a verdade a ela — expliquei, sorrindo para ele
e apertando para gravar: — Oi, Ava, daqui a pouco vou pra casa. E
só pra constar, eu ainda não senti o material do Mason, então,
acredito que seja pequeno.
Soltei o áudio e me virei dentro dos braços dele para encarar
seu rosto debochado e convencido. O jogador estava mordendo o
próprio lábio e sorrindo para mim, como se degustasse de alguma
piada interna.
— Eu sou um cara muito, muito legal mesmo com você, porque
qualquer outra estaria... — Ele se calou e balançou a cabeça. —
Esquece.
Apoiei meus braços em seus ombros e fiquei nas pontas dos
pés o máximo que consegui, até que Mason encurtou nossa
distância e me deu um selinho. Eu quis mais, só que ele sorriu e
virou o rosto para fugir da minha boca, ao mesmo tempo em que me
suspendia no colo e beijava meu pescoço.
— Bafo matinal — murmurou no meu ouvido. — Ainda não
escovei os dentes.
Lembrei que eu mesma estava com aquele gosto ruim na boca,
mas nunca passou pela minha cabeça que havia problema em beijar
assim. No entanto, não queria ir embora sem sentir o beijo dele mais
uma vez, portanto, passei minhas pernas ao redor de seu corpo e
deixei um selinho em sua bochecha.
— Me empresta um pouco de pasta de dente? — pedi,
sentindo-me muito ousada porque meu vestido enrolou nos quadris.
Mason arqueou a sobrancelha e sorriu, se virando para a porta
de onde ficava o banheiro e caminhando comigo até lá. Então, me
colocou sentada sobre a bancada gelada da pia e quase infartei
quando baixou os olhos, me fazendo perceber que minha calcinha
branca estava quase toda de fora.
Ele soltou uma risadinha quando usei as duas mãos para me
tapar, sentindo meu rosto pegar fogo e tentando descer daquele
lugar.
— Fique aí — disse, beijando meu ombro e se virando para
abrir o armário. — Você não está mostrando nada que eu já não
tenha visto um bilhão de vezes. É só uma calcinha.
Mason pegou sua escova e um tubo de creme dental, soltando-
os na bancada antes de se curvar e abrir uma gaveta, puxando uma
embalagem nova que me entregou. Era uma escova idêntica a dele,
o que deixava claro que se tratava de uma futura reposição.
Eu me permiti relaxar e soltar minhas mãos, considerando que
o jogador não parecia muito interessado em olhar minha lingerie.
Sendo assim, me ocupei em escovar os dentes com o que recebi e
tirei um tempo para observá-lo fazendo o mesmo.
Estava todo despenteado, com alguns fios de cabelo em pé, a
camiseta regata toda amarrotada, e sua cor bonita já tinha retornado
ao seu rosto e tirado aquela aparência doente.
— Gosta do que vê? — perguntou, me flagrando com um olhar
afiado.
Ele cuspiu e limpou a boca, enquanto eu ainda enrolava com
minha escovação. Seus braços me cercaram quando parou na minha
frente e se inclinou para me beijar no ombro de novo.
— Você foi a primeira garota com quem eu dormi de verdade —
declarou, brincando com meus cabelos. — Foi muito gostoso.
Eu me curvei para o lado até alcançar a pia e me lavar
rapidamente, antes de fechar a torneira e voltar para encarar um
Mason muito reflexivo. Passei meus braços pelos ombros dele e
sorri, me sentindo ótima.
— Fui a sua primeira, então?
— Em muitas coisas — respondeu, fazendo meu coração
acelerar. — Você nem faz ideia do quanto estou fazendo, ou
deixando de fazer, pela primeira vez.
— E é por isso que você é incrível — confessei, acariciando a
nuca dele. — Obrigada. Você se esforça pra me deixar à vontade e
eu valorizo o que tem feito. Prefiro mil vezes você do que qualquer
um daqueles nomes que falei ontem.
— Não sei se estou convencido. — Dei um tapinha nele quando
franziu os lábios. — Meu ego já foi ferido.
— Mas era brincadeira, você sabe. — Puxei o rosto dele e o
beijei, sentindo suas mãos apertarem minha cintura.
O gosto refrescante de pasta de dente me atingiu e senti um
arrepio me dominar, junto com o frio na barriga. Mason não tinha
usado a língua dessa vez, ele apenas chupou meus lábios antes de
depositar um beijo no meu queixo.
— Posso confessar uma coisa? — perguntei e esperei sua
atenção. — Nunca fiquei excitada com você porque sempre fico
nervosa quando a gente se beija. A vida real é diferente da ficção.
Mas acho que... vou melhorar.
— Eu sei que vai. Não se preocupe com isso.
— Nunca conversei sobre sexo com ninguém, nem com a
Sidney — admiti, brincando com a costura da camiseta dele. —
Então, acho que avancei umas vinte fases desde ontem à noite.
— Que linda! — Mason sorriu, segurando meu rosto entre as
mãos. — Eu me sinto foda em saber que se abre assim comigo.
Mesmo com todas as merdas que falo, é impressionante.
É, eu realmente estava apaixonada, porque a cada nova fala
daquele jogador, meu coração derretia um pedacinho mais. Sentia
vontade de abraçá-lo apertado e ficar assim por várias horas, e
confesso que agora que o susto tinha passado, queria poder voltar a
dormir daquela maneira com ele.
Encarei meu dedo enroscado em sua camisa, enquanto Mason
fazia carinho nos meus cabelos, e me senti muito ousada a ponto de
levantar um pouquinho a barra da peça de roupa só pra me lembrar
de como era aquela parte de seu corpo.
Ergui meus olhos na direção do dono da camiseta, notando-o
muito atento, e dei um sorriso sem-graça enquanto puxava um pouco
mais. De repente, Mason tomou o controle do momento e puxou ele
mesmo toda a peça pela cabeça, até jogá-la no chão.
— Melhor? — perguntou, com a voz baixa, perto do meu
ouvido.
Assenti, espalmando minhas mãos em seu peito. Os mamilos
dele eram bem pequenos e estavam durinhos, o que me deixou
morta de vontade de tocar ali.
— Você pode qualquer coisa comigo — disse, beijando meu
ombro. — Pode apenas olhar, tocar onde quiser, apertar, arranhar...
deixo até morder.
Olhar era suficiente e foi isso que fiz nos primeiros segundos,
porque Mason era mesmo muito bonito. Eu adorava o tom bronzeado
de sua pele e ficava curiosa em saber qual seria sua cor verdadeira...
Algo que apenas a marca da sunga ou da cueca poderia revelar.
Meu rosto esquentou e soltei uma risada com aquele
pensamento, percebendo que devia estar andando muito com o
safado e sendo contaminada por ele.
— Qual é a graça?
— Pensei besteira — respondi, fechando os olhos. — Não é
nada.
— E não vai me contar? — Ele levou a mão ao peito. — Logo
pra mim, o rei das besteiras?
— É que você é muito bronzeado, parece gostar muito de sol.
— Mason assentiu. — E aí, pensei se, por acaso, tem alguma marca
de sunga.
— É claro que tenho! Não perco a oportunidade de pegar uma
praia! — Para deixar claro que falava a verdade, Mason abaixou um
tiquinho do elástico da cueca, junto com a calça, e expôs um pedaço
da sua marquinha. — Satisfeita?
Assenti, tocando seus ombros e encarando seus olhos,
controlando minha vergonha. Não queria ficar assim toda hora por
qualquer coisa, precisava aprender a me soltar mais. Foi por isso
que arrisquei e deslizei meus dedos pela pele macia, mas firme, até
alcançar os mamilos que estavam chamando a minha atenção.
Mason fechou os olhos e pareceu ter ficado um pouco tenso,
apertando os dedos em minha cintura e fazendo barulho ao respirar
pelo nariz.
— Vocês também sentem sensibilidade como nós, nessa
região?
— Claro — respondeu, meio rouco.
— Sempre tive essa curiosidade. São sempre os peitos das
mulheres que são colocados pra jogo.
Minha atenção foi atraída para o volume que se formou na
calça de moletom, e eu não sabia se Mason estava consciente
daquilo, mas não comentei nada.
— A mídia é machista — disse ele, abrindo os olhos e me
encarando de forma intensa. — Sexualizar as mulheres dá muito
mais dinheiro.
De forma muito natural, como se estivesse sozinho ali no
banheiro, Mason levou a mão até o volume e pareceu se ajeitar por
cima do moletom. Ele nem sequer tirou os olhos de mim, e ainda me
deu um beijo na testa.
— Me deixe tomar um banho, que me arrumo e te levo embora,
ok? — pediu.
O garoto tentou se afastar, mas eu fui mais ligeira e agarrei seu
pescoço com meus braços e sua cintura com minhas pernas. Isso o
obrigou a se manter no mesmo lugar, então sorri e dei um selinho em
sua boca.
— Me coloque no chão — pedi. — Vou te esperar lá fora.
Ele foi extremamente rápido ao me puxar e me descer da
bancada, mas nem naqueles milésimos de segundos, conseguiu
impedir que meu corpo deslizasse pelo seu. Foi o suficiente para que
eu pudesse ter um vislumbre do que era sentir sua ereção e, quando
meus pés tocaram o chão, o jogador recuou como se tivesse se
queimado muito forte.
— Ah, merda. — Estalou a língua, com os olhos arregalados,
ajeitando a calça mais uma vez. — Desculpe, baixinha. Vou tomar
mais cuidado da próxima vez.
— Por quê? — perguntei, rindo e encarando o volume, antes de
erguer meus olhos até os dele. — Fiz de propósito.
A compreensão o atingiu rapidamente e ele abriu a boca, mas
consegui fugir do banheiro e fechar a porta antes que dissesse
alguma coisa. Meu coração estava disparado pela adrenalina e eu
me joguei na cama de Mason, puxando seu lençol sobre meu corpo
e enfiando o rosto no travesseiro dele.
Mason Johnson
Aproveitei que tinha saído de casa muito cedo para levar Hazel
ao dormitório e fiz algo que não fazia há semanas, que era correr na
praia. O dia estava lindo e, mesmo com o friozinho daquele final de
inverno, foi gostoso curtir a maresia e a paisagem enquanto me
exercitava um pouco. Sentia-me muito mais disposto do que ontem e
devia agradecer aos cuidados da baixinha, que certamente me fez
muito bem apenas por ter se feito presente.
Enquanto corria pela orla, minha mente se fixou nela e em seu
sorriso bobo. Isso seria paixão? Será que o que a garota dizia sentir
por mim era parecido com o que eu estava sentindo? Porque tudo
que eu desejava naquele instante era ir novamente até ela e sentir
seu corpo em meus braços. Não de um jeito sexual, como eu
pensaria a respeito de qualquer outra mulher, mas de uma maneira
que a amparasse e a cuidasse. Queria Hazel para mim, mais do que
nunca.
Queria ser o primeiro a descobrir cada reação que tivesse, com
cada nova experiência. Queria ser o único para quem ela corresse
quando precisasse.
Ok, balancei a cabeça e espantei os pensamentos. Estava me
tornando um cara meloso e nem sabia que isso era possível. Se
meus amigos ouvissem as loucuras que se passavam dentro da
minha mente, iam querer me internar.
Terminei o percurso que não era muito longo e voltei para o
carro, saboreando aquela liberação gostosa de endorfina e
serotonina que sempre eram muito bem-vindas. Liguei o som do
carro e dirigi para o campus, pois aproveitaria que já estava suado
para malhar na academia. Hazel apareceria para o treino em campo
mais tarde, e dessa vez eu tomaria o cuidado de esperá-la na porta
do CT.
Esbarrei com Josh no vestiário e precisei controlar meus
ciúmes de irmão quando notei o enorme chupão que o filho da puta
exibia no pescoço. Ele e Mia adoravam se marcar e desfilar por aí
exibindo suas posses, o que me deixava muito puto, porque sempre
que eu olhava para qualquer um dos dois, lembrava que o
desgraçado estava comendo a minha irmã.
— Foi por isso que chegaram tão tarde, né, filho da puta? —
reclamei, dando um tapa em sua nuca. — Esconde essa merda pra
eu não ser obrigado a ver.
Ele já sabia do que se tratava, porque riu e levou a mão
imediatamente ao local.
— Vai me contar o que rolou ontem à noite com a Hazel?
— Nada — respondi e o vi arquear a sobrancelha. — Sério.
Bem, nada do que eu costumava fazer na minha antiga vida.
— Antiga?
— Aham. — Estufei o peito porque senti necessidade. — Acho
que estou namorando.
— Puta que pariu! — Ouvi a voz do Bryan e me virei, odiando o
timing da chegada dele. — Caralho! Você está morrendo? Está em
fase terminal?
Josh riu e aproveitou para se trocar enquanto o quarterback se
jogava ao meu lado no banco e passava o braço pelos meus ombros.
Ele encostou a cabeça na minha e soltou um suspiro pesado, antes
de dar um tapinha na minha perna.
— O que aconteceu, amigo? — perguntou. — Foi ameaçado
por algum criminoso?
— Não.
— Entendi você dizer que está namorando.
— Acho mesmo que estou — declarei, soltando-me dele. —
Apesar de não termos usado essa palavra. Mas prometi que não
beijaria mais ninguém além dela.
— E foder? Ainda pode? — Bryan encolheu os ombros. — Não
precisa beijar na boca pra foder.
Quis dar um soco no nariz dele, mas me controlei porque era
um babaca que eu admirava pra caralho. Por isso, me contentei em
dar um tapa em sua nuca para deixar de ser besta e não falar assim
de mim, que estava me esforçando para me tornar um homem de
respeito.
— Sério, você e Hazel se pegaram ontem? O que rolou depois
que a arrastou pra fora da festa?
— Você fez isso? — perguntou Josh, surpreso, porque eu ainda
não tive tempo de contar nada a ele. — O que aconteceu?
— Ela estava agarrando outro — disse Bryan.
— Foi só um beijo — expliquei para meu cunhado. — Depois
fomos lá pra casa porque Hazel queria cuidar de mim.
A forma como o quarterback prendeu a risada deixava bem
claro o que se passava em sua mente poluída, portanto, antes que
ele abrisse a boca para falar merda, eu me levantei e joguei a meia
de Josh em seu rosto.
— Vai se foder, Bryan! — avisei, apontando meu dedo. — Não
foi do jeito que está pensando. A Hazel é... quietinha.
— Isso significa que ainda não transaram?
— Não é da sua conta. — Ergui meu dedo do meio e vi mais
duas pessoas entrando no vestiário. — E vamos deixar o assunto
morrer aqui.
Deixaria para conversar com Josh mais tarde, porque eu sabia
que Bryan não tinha maturidade para ouvir nada do que eu tinha a
dizer sobre meu processo de esperar o tempo de Hazel. Claro que
estava ansioso, claro que a desejava pra caralho, mas queria ser
para ela o cara mais paciente que fosse possível.


O sorriso alcançou meus lábios automaticamente, bastou
colocar meus olhos sobre a baixinha que se aproximava. Era início
da tarde e o treino começaria em alguns minutos, então aguardei por
ela na entrada como tínhamos combinado. Hazel vestia um shortinho
jeans mais curto do que eu gostaria de ver e um casaco de moletom
com as iniciais da universidade. A garota ficou nas pontas dos pés
quando parou perto de mim e eu me inclinei para lhe dar um selinho.
— Oi — murmurou, lindinha.
— Senti saudades. — Ela riu e revirou os olhos, prendendo os
dedos na minha camisa. — Está pronta pra entrar? Acha que vai se
sentir bem?
— Estando com você, sim — respondeu, me dando a mão
quando estiquei a minha. — Tive uma reação ruim naquele dia
porque não devia ter entrado no vestiário. Foi sem querer.
Assenti, caminhando com ela pela portaria do prédio principal e
passando para o corredor interno, que nos daria passagem ao
campo de treinamento do Bruins. A maioria dos jogadores já estava
por ali, se aquecendo ou conversando, e percebi que a ginasta ficou
apreensiva quando nos aproximamos mais.
— Prometa pra mim que vai me chamar caso se sinta mal e
queira ir embora — pedi, me dirigindo ao lado onde ficavam os
bancos.
— Não posso atrapalhar seu treino.
— Claro que pode. — Puxei sua mão e a grudei em meu corpo,
deixando um beijo em sua testa. — Você é minha prioridade. Mesmo
que tenha aparecido justo aqui com essas pernas de fora desse jeito,
talvez com a intenção de me causar um infarto.
— Quê? — Hazel jogou a cabeça para trás e riu. — É só um
short. Acabei de sair do meu treino, podia ter vindo só de collant.
— Aí eu sequer conseguiria treinar — declarei, soltando-a e me
afastando depois de beijar suas mãos. — Fique sentadinha e se
divirta.
— Ok, camisa vinte e dois.
Pisquei para ela, sentindo meu ego inflado porque minha garota
me veria treinar, e corri na direção do time de ataque que estava se
reunindo no centro do campo. Forcei-me a me desconectar um
pouco de sua presença ali, porque era um momento sério,
considerando que nosso treinador estava puto com o resultado do
último jogo.
Entretanto, meu coração acelerou em todas as vezes em que
olhei na direção de Hazel e a vi com sua máquina fotográfica nas
mãos, concentrada em tirar fotos do que acontecia ali. No final do
treino, ainda tive a ideia de puxar Noah, Josh e Bryan e fazermos
uma pose engraçada para que a ginasta registrasse o momento.
Corri até o banco onde ela estava sozinha e me agachei na sua
frente, apoiando minhas mãos nos joelhos branquelos e, como
parecia tranquila, cruzei meus braços sobre a região.
— Eu sou muito gostoso em campo, não sou?
— A sua bunda fica bonita nessa calça — a filha da mãe
comentou, rindo e me surpreendendo. — Ops.
Eu me permiti sorrir e fechei os olhos quando seus dedos
tocaram meus cabelos suados. Hazel os deslizou até minhas orelhas
e desceu até meu pescoço, me causando um arrepio delicioso.
— Adorava ver meu irmão de uniforme, ele era louco pelo
esporte — murmurou, me fazendo abrir os olhos. — Você ama o
futebol?
— Sim, não me vejo fazendo outra coisa.
— Então, almeja a NFL, não é?
— Sim — respondi, vendo seu sorriso bobo. — E você? Como
funciona com a ginástica? Acho que rola seleção para as
Olimpíadas, certo?
— Ah, eu perdi meu momento de entrar pra elite. Sidney
chegou a competir pela seleção americana, mas foi bem na época
em que tudo aconteceu e essa janela se fechou pra mim. — Eu não
fazia ideia, era mais um motivo para me fazer odiar um filho da puta
que já estava morto. — Fiquei mais de um ano sem praticar, mas foi
justamente a saudade e o amor pela ginástica, que me resgataram
de uma depressão. Focar no esporte e ter o apoio dos meus
treinadores, era o que me dava forças pra levantar todos os dias e
querer seguir minha vida. Mas eu já tinha perdido a prática, o calor, e
a idade ideal para me preparar pra elite.
— Mas você é incrível, eu vi com esses meus olhos.
— Precisa ser bem mais que incrível pra entrar pra elite. —
Hazel deu de ombros. — Mas não me importo, de verdade. Hoje
estou onde quero. Participo de competições, estudo algo pelo qual
me interesso, consigo ter uma vida social, tudo na proporção ideal.
— Os olhos dela se arregalaram. — Inclusive, minha primeira
competição dessa temporada vai acontecer no final de março, e os
regionais caem sempre aos sábados.
Processei rápido aquela informação e quis morrer, porque isso
significava que, talvez, eu nunca conseguisse assisti-la
pessoalmente. Não podia ser verdade, tinha que existir uma forma
de driblar nossas agendas conflitantes.
— Não vou deixar de assistir, darei um jeito — comentei, me
levantando e segurando sua mão. — Vamos? Preciso trocar de
roupa, mas vou pegar a chave do carro no vestiário e te dou pra você
me esperar lá.
— Mas não posso passar mais tempo com você — Hazel disse,
apertando meus dedos enquanto eu nos levava para dentro do
prédio. — Marquei de ir comer pizza com minhas amigas.
— Não quer que eu a leve até o dormitório? — perguntei,
passando meu braço pela cinturinha fina. — Troco de roupa
rapidinho, prometo.
— Não precisa, Mason. — A ginasta franziu os lábios e passou
os olhos pelo meu corpo. — A não ser que queira vir conosco.
Não esperava pelo convite e me senti muito importante ao
recebê-lo. A surpresa foi tão grande que até parei de andar e encarei
Hazel, que tinha prendido o lábio entre os dentes e talvez tenha
entendido meu silêncio da forma errada, pois soltou minha mão e
ajeitou os cabelos, nervosa.
— Não precisa aceitar, só se quiser mesmo. Eu não me
importaria, mas sei que talvez seja cedo pra fazer esse tipo de
programa e...
— É lógico que eu quero — respondi, colocando meu indicador
sobre aqueles lábios que não paravam de falar. — Então, vou tomar
um banho rápido. Você me espera no carro?
Hazel concordou e pegou a chave que entreguei a ela, antes de
correr de volta para o vestiário e me arrumar para o nosso provável
primeiro encontrinho, mesmo que fosse na companhia de suas
amigas. Eu me sentia extremamente empolgado com isso, quase
como um adolescente, desejei até ter levado um perfume dentro da
mochila, só para ficar ainda mais irresistível do que já era.
Hazel Mackenzie
Enquanto Mason observava meu quarto minúsculo, eu pensava
se tinha feito a coisa certa. Ava ainda não tinha chegado e o jogador
estava sozinho comigo, parecendo grande demais para ocupar
nosso dormitório. Naquele momento, inclusive, estava inclinado
sobre o suporte onde eu pendurava minhas medalhas, conferindo
uma por uma, todo orgulhoso.
— Fique à vontade — falei, apesar de não ser possível ele ficar
mais do que já estava. — Vou tomar banho.
Mason assentiu e se sentou na minha cama quando seu celular
tocou e ele parou para atender. Aproveitei para me trancar no
banheiro e corri para tomar o banho mais rápido da minha vida
porque não queria que Ava chegasse e o encontrasse sozinho ali.
Tinha medo de qual seria a conversa bizarra que os dois teriam na
minha ausência, então nem mesmo parei para lavar os cabelos.
O problema é que depois que terminei e fechei o chuveiro, me
enrolei na toalha e saí do box, percebendo que não tinha trazido
nenhuma roupa comigo. Do lado de fora, podia ouvir a voz alta de
Mason, que conversava no telefone, e pensei se ele chegaria a notar
minha presença, se eu voltasse discretamente para o quarto e
abrisse meu armário para escolher o que vestir. Provavelmente sim,
considerando que o quarto era um ovo de tão pequeno.
Apertei o nó o mais forte que consegui e girei a maçaneta
devagar, primeiro, colocando apenas a cabeça para fora e
observando o jogador. Mason estava sentado de costas para a porta
do banheiro, muito entretido em sua conversa, e meu guarda-roupas
ficava bem ali do lado da cama.
Então, eu saí e arrisquei, mas não fui tão silenciosa ao fechar a
porta e o barulho fez com que ele se virasse.
— Então nós podem... — Mason congelou com a boca aberta e
ficou uns segundos assim. — Ah... Eu... te ligo depois, Mia.
Dei um sorrisinho para ele e me movi na direção do meu
armário, tentando fingir que não estava notando sua presença no
quarto, mas sentindo seu olhar queimar sobre mim.
— O que está fazendo?
— Esqueci minha roupa — respondi. — Não estou acostumada
a receber visitas.
— Neste exato momento, eu estou sofrendo mais do que se
tivesse levado um tiro no peito. Talvez assim você entenda o quão
desesperador é ter que olhar você de toalha.
Fechei os olhos e abafei uma risada antes de encarar meus
cabides.
— Você não está ajudando — falei, de costas para ele. — Só
preciso de uma roupa... E calcinha.
Levei um susto com a forma brusca que Mason se levantou da
minha cama, e me surpreendi quando o camisa vinte e dois saiu do
quarto, batendo a porta com força. Meu rosto estava quente, mas
não consegui não achar graça do que estava acontecendo, porque
ele sempre tinha sido extremamente controlado perto de mim.
Aproveitando que fiquei sozinha, deslizei logo uma calcinha
qualquer por baixo da toalha e me senti mais confortável para
escolher a roupa. Puxei uma calça jeans e a joguei na cama, depois
procurei a blusa ideal.
— Posso entrar?
— Claro! — respondi e Mason retornou, estreitando os olhos
quando viu que eu ainda estava de toalha. — Pelo menos, coloquei a
calcinha.
— Tenho cada vez mais certeza de que gosto muito de você —
murmurou ele, esfregando o pescoço com um olhar de cachorro
abandonado. — Porque não tem noção do quanto eu queria te
agarrar agora...
Encarei minha roupa sobre o colchão e a empurrei um
pouquinho de lado, subindo na cama com cuidado e ficando de pé
ali, enquanto olhava para Mason.
— Defina agarrar — pedi, esticando minhas mãos. — Pode se
aproximar, não tem problema.
Ele veio, meio receoso, o que era bem fofo, e parou diante de
mim. Seu rosto estava quase na altura dos meus seios e eu me senti
nervosa quando Mason envolveu meu corpo com os braços e me
encarou, me puxando para mais perto. Passei meus dedos pelos
cabelos úmidos dele e o beijei na testa, como gostava de fazer
comigo.
Soltei meu peso nos braços dele, deixei que me amparasse por
completo, e deitei minha cabeça em seu ombro. Estava cheiroso do
banho, usando uma camisa branca que contrastava com seu
bronzeado e um cordão que ele raramente tirava.
— Adoro os seus abraços — murmurei, respirando devagar e
deslizando minhas mãos em suas costas. — É tão bom...
— Posso te abraçar quantas vezes desejar. — Mason apertou
mais a minha cintura e capturou minha boca quando ergui meu rosto.
Não tinha sido assim com o cara da festa, nem de longe. A
forma como nossos lábios se encaixavam parecia mágica e eu
amava o sabor dele, a maneira como sua língua me tocava e a
paciência que tinha com cada nova experiência minha. Tudo bem, eu
não tinha como me sentir mais apaixonada.
— O que você faria se eu não fosse eu? — perguntei, curiosa.
— Como assim?
— Se neste exato momento, eu não possuísse toda a bagagem
que você conhece. — Ele estreitou os olhos e eu sorri. — O que
Mason Johnson faria? Eu deixo que escolha uma coisa e a faça.
Me senti animada e corajosa quando vi a expressão de choque
em seu semblante, então seus olhos percorreram meu corpo com
velocidade antes de voltarem a me encarar, ainda aturdido.
— Está falando sério? — Ele riu. — Isso é muito abrangente.
— Confio em você. — Fechei os olhos e apoiei minhas mãos
em seus ombros. — Sei que não fará nada muito absurdo.
Senti as mãos de Mason alisarem meus braços até os ombros,
e ele me puxar um pouco para me beijar. Foi lento, gostoso, bem
íntimo. Sua boca apertou meus lábios com cuidado, seus dentes
roçaram minha pele, e sua língua tocou a minha numa dança sem
nenhuma pressa.
— Tem uma coisa que eu amo... e a sua é linda — murmurou,
me deixando com um frio na barriga e o coração disparado. — E eu
vou tocar, mas pode me empurrar se não curtir, ok?
Assenti, engolindo em seco e esperando. Não queria abrir os
olhos, porque queria que todos os meus sentidos estivessem
ativados naquele momento. Então, pude sentir as mãos de Josh
voltarem para as minhas costas e descerem um pouco mais, até
chegarem na minha bunda. Estavam tocando o tecido da toalha e
mesmo assim, eu conseguia sentir a pressão que exerciam ali na
região.
Sua boca capturou a minha novamente, e o movimento dos
nossos lábios combinava com o ritmo que Mason usava para deslizar
mais seus dedos. Quando encontrou a barra da toalha, retesei sem
querer e isso o fez parar.
— Abra os olhos, Hazel.
Apertei minhas mãos contra os ombros dele quando senti meus
dedos tremerem, porque não queria que notasse. Ao abrir meus
olhos, encontrei Mason me encarando, com os dentes mordiscando
o lábio inferior num sorriso safado, até que me deu um selinho.
— Como se sente?
— Bem — respondi, sorrindo. — Nervosa, mas pode continuar.
— Não funciona assim, baixinha. Quero que aproveite e se
sinta relaxada quando eu te tocar. — Mason passou os braços por
baixo da minha bunda e me pegou no colo, andando comigo para
longe da cama. — Prefiro me sentir ansioso e sofrer um pouco mais,
do que saber que está nervosa por algo que estou fazendo.
Ele me colocou no chão e pegou minha roupa em cima da
cama, colocando-a nos meus braços e dando uma piscadinha. Não
era possível que aquela versão de Mason realmente existisse.
— Vai se arrumar logo — pediu, dando um tapa na minha
bunda e sorrindo quando o encarei, chocada. — Viu? Agora que
liberou, quando você menos esperar, estará recebendo umas
apalpadas.

Minhas amigas ainda estavam muito chocadas e eu não podia


culpá-las. Sentadas no banco de trás do carro de Mason, Ava e
Sidney não conseguiam parar de encarar a minha mão entrelaçada à
do jogador, e pousada sobre a coxa dele. Até mesmo para mim,
aquilo era demais, e eu tinha sofrido um pequeno surto quando ele
tomou a atitude de colocá-la ali, sobre seu jeans escuro.
Estávamos indo à pizzaria de carona com ele, que fez questão
de buscar Sid no dormitório dela e ganhar muitos pontos com minha
melhor amiga. Sabia que as duas estavam ansiosas para que
ficássemos a sós em algum momento e pudessem me encher de
perguntas. A própria Ava, quando entrou no nosso quarto e
encontrou Mason sentado na minha cama, chegou a tropeçar nos
próprios pés.
— Este lugar é bom? — perguntou o jogador quando entramos
no estabelecimento. — Já ouvi falar, mas nunca vim aqui.
— A gente gosta! — respondeu Sidney, percebendo que não
tinha sido a melhor ideia levar um dos astros do futebol para comer
dentro do campus, onde todos os olhares recairiam sobre nós. —
Mas podemos escolher outro lugar.
— Claro que não. — Ele parou, segurando minha mão para que
eu me sentasse primeiro.
As mesas eram daquele estilo com dois bancos fixos de cada
lado, então ocupei o canto e Mason entrou ao meu lado, deixando a
extremidade oposta para as meninas. Ele sorriu quando um cara
passou e o cumprimentou, e bateu o punho no do outro, daquele jeito
que macho fazia.
Ava e Sidney nos observavam, curiosas, e eu chutei uma delas
por baixo da mesa.
— Ai... — Sid resmungou, mas sorriu. — Que ótimo ter se
juntado a nós, Mason. Achava que jogadores de futebol americano
só saíam em bando.
— Vocês três praticam o mesmo esporte, não é? — o filho da
mãe retrucou, provando seu ponto. — É normal fazermos amizades
com as pessoas que vemos todos os dias e temos um gosto em
comum.
Olhei feio para minha amiga, de forma que ela entendesse que
não era para tratar o cara por quem eu estava apaixonada daquele
jeito sarcástico. Eu a mataria no momento em que Mason se
levantasse para ir ao banheiro, isso sim. Queria que os três
pudessem se gostar e serem amigos. Seria pedir muito?
Mason Johnson
As garotas se comportaram de maneira muito arredia quando
nos encontraram e descobriram que eu invadiria a noite de pizza
delas, mas felizmente, bastou meia hora de conversa para que
relaxassem e deixassem de me encarar como se eu fosse um
demônio. Estávamos até nos divertindo enquanto eu contava sobre
algumas loucuras que testemunhara nas festas das fraternidades,
mas quando iniciaram um papo sobre ginástica, fiquei um pouco de
fora.
Acabei deixando de participar ativamente da conversa depois
de um tempo, e aproveitei para me distrair no celular. Achei fofo
quando Hazel pousou a mão na minha perna, era ótimo ver que se
soltava cada vez mais para tomar iniciativas como aquela, mas dei
uma leve engasgada com um pedaço de pizza, quando subiu mais
um pouco, de maneira muito despretensiosa.
Ela conversava animadamente com as amigas, então pensei
que tivesse sido um gesto inconsciente e não fiz nada, mas tive que
soltar o celular de repente, em choque, quando a mão veio parar
sobre meu pau. Eu a segurei, fazendo pressão em seus dedos até
que virasse o rosto para mim. Não estava duro nem nada, mas não
era um santo, não me controlaria por muito tempo.
— Tudo bem? — perguntei e ela assentiu.
Então, tomei a decisão de afastar sua mão e colocá-la em seu
próprio colo. E não levou nem meio minuto para que Hazel repetisse
seu gesto anterior. Inclinei-me na direção dela e afastei os cabelos
de seu ouvido.
— O que está acontecendo? — sussurrei.
— Desculpa — ela pediu, tirando a mão e mordiscando o lábio
ao me encarar. — Você disse que eu podia qualquer coisa e pensei...
— Acho que preciso ir ao banheiro — disse Sidney, nos
interrompendo ao se levantar depressa e puxa a mão de Ava. —
Você também, não é, amiga?
As duas foram extremamente rápidas em nos deixar sozinhos e
eu agradeci pela pausa, porque precisava mesmo conversar e
entender o que se passava na cabeça de Hazel.
— Você pode tudo, é verdade — declarei, tocando seu braço.
— Mas achei estranho, de tantos momentos, você escolher este pra
me tocar pela primeira vez. Aconteceu alguma coisa? Quer que eu
fique excitado na frente das suas amigas? Elas já não possuem a
melhor impressão de mim.
— Não — respondeu, franzindo a testa e deitando a cabeça no
meu ombro. — Desculpa, não. Só achei que estivesse entediado e
pensei em algo pra te animar. Vi uma garota fazer exatamente isso
com você.
— Comigo? Quando?
— Não importa. — Ela encolheu os ombros, sem-graça.
— Hazel. — Segurei o queixo dela quando tentou desfazer o
contato visual. — A questão não é sobre me tocar, ok? Você pode
deixar a mão aqui a noite inteira. Eu só precisava entender e saber
se estava fazendo isso de forma consciente, porque não esperava
que avançasse pra essa etapa hoje.
Um pouco tímida, ela apoiou a mão em minha perna
novamente, mas longe do meu pau, e deu um sorrisinho.
— E não estou entediado. Só estava deixando vocês à vontade
pra conversarem sobre o que as interessa.
A garota abriu e fechou a boca, ficando rapidamente vermelha.
Ela soltou uma risadinha e fechou os olhos por um segundo, antes
de voltar a me encarar. Uma de suas mãos tapou seus olhos
enquanto suspirava, em seguida, se inclinou na minha direção e
beijou meu rosto.
— Esquece isso — pediu.
E eu esqueci, porque logo suas amigas voltaram à mesa e
Hazel fez o possível para iniciar um assunto em que eu pudesse
participar. Durante todo o tempo em que continuamos na pizzaria, a
mão pequena permaneceu em minha perna, aumentando muito a
minha percepção do seu toque e me fazendo ansiar pelo dia em que
sentiria mais do que aquilo.
Mais tarde, depois de deixar Sidney e chegar no dormitório de
Hazel, Ava se despediu de mim e nos deixou no carro. A minha
garota parecia muito à vontade e animada, tanto que se virou no
banco, apoiando as costas contra a porta e esticando suas pernas
sobre o meu colo. Aproveitei para brincar com seus dedinhos quando
tirei seus tênis e percebi que sentia cócegas.
— Vou viajar na sexta à noite para jogar em Utah e acho que
semana que vem vai ser difícil ficarmos juntos por causa das provas
— comentei e ela murmurou em concordância. — No outro sábado,
como jogaremos em casa e no início da tarde, meus amigos e eu
estamos marcando de fazer uma reunião na praia. A gente curte uns
encontros assim.
— De noite?
— Sim, depois do jogo, independente do resultado. — Ela
mexeu os pés e um deles roçou sobre meu pau, me deixando alerta.
— Topa ir comigo?
— Claro — respondeu, mordiscando o lábio. — Nunca fui numa
festa na praia.
— Não é bem uma festa. É coisa simples... A gente só acende
uma fogueira, escuta música, bebe um pouco e ri de algumas
idiotices.
— Parece divertido. — Hazel encolheu os ombros e se mexeu
de novo, e dessa vez, percebi que estava fazendo propositalmente.
— Ops. — Lancei a ela um olhar questionador e vi seu sorriso bobo.
— Você fica tenso!
— Claro que fico. — Ri, apertando o dedão do pé dela. —
Porque sei que essa brincadeira não tem como acabar bem pra mim.
Mas vou deixá-lo acordar pra você ficar feliz.
— Tem esse controle? — ela perguntou, admirada.
— Me dê o seu pé — pedi, segurando-o com delicadeza e o
apoiando sobre meu pau. — O controle é todo seu.
Hazel me encarou por alguns segundos, então, passou a me
esfregar devagar, primeiro de forma bastante tímida, até se soltar um
pouco mais e fazer o volume em minha calça aumentar aos poucos.
Fui me sentindo endurecer, o sangue se concentrando naquela
região e a cabeça do meu pau começando a latejar. Me permiti
fechar os olhos e curtir o toque cadenciado, acariciando seus pés ao
mesmo tempo em que se agitavam sobre meu colo. Em determinado
momento, usei minha própria mão para me tocar, rapidamente,
sentindo quão duro estava.
— Satisfeita? — provoquei, virando meu rosto e notando Hazel
hipnotizada por mim.
— Sim. — Ela pressionou os lábios um contra o outro,
observando minha ereção. — Vou parar, não quero que fique
sofrendo à toa.
A garota puxou as pernas de volta e se sentou no banco.
Pensei que fosse descer do carro, afinal, estávamos parados na
porta do seu prédio e o carro nem mesmo possuía película escura
nos vidros. No entanto, Hazel se ajoelhou depressa em seu banco e
se inclinou na minha direção, apoiando uma das mãos pequenas em
meu ombro direito e, a outra, bem em cima do meu pobre pau.
— Tchau — sussurrou, tímida, beijando o cantinho da minha
boca. — Obrigada por isso.
Puxei o ar com mais dificuldade, desejando abrir a calça e
sentir seu toque direto em minha pele, mas me limitei apenas a
empurrar meus quadris para cima, tentando sentir um pouco mais de
pressão na região.
— Me dê um beijo decente, já que me deixou assim — pedi,
com a certeza de que nada que eu fizesse esconderia o tesão em
meu rosto.
Hazel encostou os lábios nos meus, mexendo a mão deliciosa
por cima do meu jeans e abafando um suspiro em minha boca.
Talvez eu tenha cruzado mais um limite quando segurei seus dedos
e investi seu toque contra mim, passeando com a mão dela pelo
volume do meu pau apertado naquele jeans, ao mesmo tempo em
que chupava sua língua macia.
— Porra, baixinha... — gemi forte demais, apertando minha
ereção com seus dedos.
— Ok! — Ela recuou, puxando a mão e rindo ao voltar ao seu
lugar. — Foram umas duzentas fases ultrapassadas agora. Vou
dormir.
— Sinto muito — pedi, virando o rosto e tocando seus cabelos,
me sentindo mentalmente esgotado. — Perdi um pouco o controle...
— Não perdeu, não. — Minha garota sorriu e se inclinou para
me dar um selinho. — Não rolou nada que eu não quisesse, mas
tenho que ir antes que morra de vergonha por saber que toquei no
seu pau.
Soltei uma gargalhada quando Hazel se jogou no meu pescoço
e me beijou mais duas vezes, deixando bem claro que também era
difícil para ela, se separar de mim.
— Adorei a noite — sussurrou, toda linda. — Adorei, adorei.
Você é demais! — Então, pousou a mão de novo na minha ereção.
— Toma conta dele pra mim. Um dia, irei conhecer.
— Ok. — Sorri, em surto, sem conseguir pensar em muita
coisa. — Boa noite, amor.
Ela abriu e fechou a boca, depois suspirou toda apaixonada e
saiu depressa do carro. Fiquei parado, esperando que entrasse no
prédio e sorri quando se virou e acenou na porta, antes de sumir de
vez.
Respirei fundo, sem acreditar no que tinha acontecido nos
últimos minutos, mas feliz pra caralho em ver que estávamos
evoluindo e ela, gostando. Coloquei o carro em movimento e estava
ligando o som para me distrair, quando meu celular tocou com uma
notificação. Ao parar num semáforo vermelho, peguei o aparelho
para ler a mensagem.

Hazel: Meu coração tá muito acelerado, Mason.


Fiquei excitada dentro do carro... Obrigada por ser perfeito...
Quero chorar de felicidade.

O nó se formou instantaneamente na minha garganta e nem


consegui dirigir quando a luz piscou em verde lá no alto do semáforo.

Hazel: Sei o que está pensando. Não volte pra cá, por favor.
Quero só curtir esse momento sozinha,
já foram muitas emoções por hoje.

Mason: Seu desejo é uma ordem.


Obrigado por compartilhar esse momento comigo.
Tô feliz pra caralho por você, baixinha.

Hazel: A “culpa” foi sua, então tinha que te contar!


Foi quando você pegou minha mão...

Mason: Esse é o poder do meu pau.

Levei um susto com a buzina estridente nos meus ouvidos e


olhei pelo retrovisor, vendo dois carros parados atrás de mim, que
bloqueava a rua. Abaixei o vidro e coloquei o braço para fora,
pedindo desculpa, então voltei a dirigir. No entanto, mantive o celular
com a tela ligada no banco do passageiro, atento às novas
mensagens da minha garota.

Hazel: Idiota!

Hazel: Boa noite! E pare de usar o celular enquanto dirige.

Suspirei, me sentindo bobo e com o coração acelerado.


Hazel Mackenzie
Tinha terminado de imprimir um trabalho que valia pontuação
junto com a prova e me senti orgulhosa das fotografias que consegui
anexar a ele. Uma delas, inclusive, era de quatro jogadores no
campo de treinamento, fazendo uma pose boba, e precisei olhar
umas vinte vezes para aquela foto, para perceber que algumas
feridas dentro de mim pareciam um pouco curadas.
Era estranho pensar que eu estava apaixonada por um jogador
e começava a conviver com outros, após tantos anos fazendo o
possível para me manter longe de qualquer coisa que me lembrasse
esse esporte. Os sentimentos dentro do meu peito, às vezes,
entravam em conflito quando eu me dava conta disso, mas a parte
boa vinha ganhando da ruim.
Coloquei as folhas impressas na pasta e a deixei sobre minha
mesa de cabeceira, pois entregaria o trabalho na segunda-feira.
Então, me sentei na cama e encarei a parede, pensando no meu
encontro.
Mason estava jogando naquele instante e eu não fui ao estádio.
O jogador perguntou se eu me sentia bem para ir, mas não insistiu
em nenhum momento e eu agradeci por isso. Tinha medo de entrar
em outra crise, então preferi não arriscar e deixar para vê-lo apenas
mais tarde, quando viesse me buscar para irmos à praia.
A gente só conseguiu se encontrar uma única vez naquela
semana, porque quando as provas começavam, os horários de todo
mundo ficavam muito apertados. Ele tinha me levado para almoçar
na terça, mas não deu tempo de nos curtirmos muito. Na quinta,
convenci Sidney a sair comigo de noite para me ajudar a comprar um
vestido. Não queria ficar pegando as roupas todas da Ava
emprestadas, e sentia vontade de me arrumar mais um pouquinho
para estar com Mason, então, fui ao shopping procurar por algo legal
para o sábado.
Voltei para casa com um vestido preto de cetim, de um modelo
muito parecido com o lilás que Ava me emprestou da outra vez, e
também comprei um todo branco, de algodão, com uma aparência
mais romântica e que parecia combinar com um look praiano. Ele era
frente única e minhas costas ficavam nuas até a altura da cintura, o
que para mim, era uma evolução, porque nunca vestia nada que
mostrasse tanta pele.
— Eu espero que o Mason mereça mesmo tudo isso — Sidney
disse quando saímos da loja naquela quinta-feira.
— Eu queria muito que tivesse uma maneira de você sentir o
bem que ele está me fazendo — comentei com minha melhor amiga
ao abraçá-la pelos ombros. — Ele é todo fofo, Sid.
— Sei disso, e fico muito feliz cada vez que te vejo fazer algo
que eu não esperava. Tudo o que quero é ver você vivendo e se
realizando, só tenho medo, porque sei que homens costumam ser
quase todos iguais. Uma hora, eles sempre fazem merda.
— Que merda você acha que o Mason faria? — perguntei,
curiosa, porque não conseguia enxergá-lo assim.
Tudo bem, eu conhecia a fama dele, e quando começamos a
interagir um com o outro, minha desconfiança alcançava níveis
estratosféricos. Não escondo que tinha certa implicância e não fazia
questão de me dar bem com o jogador, porque achava que ele nunca
acrescentaria em nada na minha vida. Só que paguei a língua
conforme o tempo passou e fomos nos conhecendo melhor, e
atualmente, eu não possuía absolutamente nada a reclamar de
Mason.
— Sei lá, amiga — respondeu Sidney. — Não estou me
referindo a algo específico, só tenho um pé atrás, entende? E espero
estar enganada, claro.
— Tente dar uma chance a ele, ok? — pedi, apertando sua
mão. — É imprescindível pra mim que minha melhor amiga se dê
bem com a pessoa por quem estou apaixonada.
— Você confia que ele não esteja se esforçando só pra
conseguir o que quer? — Sidney ergueu as mãos ao ver minha
expressão. — Eu sou sua amiga há anos e fui eu quem te segurou
em todos os momentos que você precisou, então tenho o direito de
falar e de querer te proteger. Não vou tratar o Mason mal, sei que
gosta dele. Mas quero que tome cuidado, ok?
— Acha que ele está fazendo tudo isso só pra transar comigo?
— Isso é o que ele faz de melhor, não é? — Sid encolheu os
ombros. — Sabemos que é mulherengo, não é estranho que de
repente, comece a fazer voto de castidade por você?
Aquela foi a primeira vez que Sidney e eu quase discutimos,
mas estávamos no meio do shopping e eu não quis fazer uma cena.
Também era minha melhor amiga, sabia que se preocupava comigo,
por isso, deixei passar. No entanto, me sentia engasgada com essa
conversa e me sentindo incomodada por saber que a pulguinha da
desconfiança tinha sido plantada na minha mente.
Não queria pensar assim de Mason, ele não havia feito nada
para merecer aquele julgamento, então, precisava espantar essa
frustração que tinha tomado o meu peito e recuperar o ânimo para
encontrá-lo em breve.
Depois de sair do banho, descobri que o Bruins tinha ganhado
o jogo e isso significava que os rapazes estariam exultantes esta
noite. Também me senti feliz por eles e adicionei uma nota mental
para ir trabalhando nos próximos dias, uma maneira de conseguir
assistir o próximo jogo em casa. Queria poder saber como era a
sensação de ver Mason comemorando uma vitória.
— Uau! Que gostosa! — Ava assobiou ao entrar no quarto e me
ver quase pronta. — A noite promete, né?
Encolhi meus ombros, sentindo meu rosto esquentar, e me
olhei no espelho. Será que estava me produzindo muito? Nem tinha
passado maquiagem, só um gloss e um pouquinho de rímel, mas
acho que como não me arrumava muito, qualquer coisinha que
fizesse iria surtir esse efeito surpresa nas pessoas.
— Que horas o Mason vem te buscar?
— Marcamos às sete e meia lá embaixo — respondi, conferindo
no celular que ainda faltavam quinze minutos para ele chegar. — A
roupa ficou legal?
— Óbvio! O que não fica lindo em você?
— Não está muito inocente nem muito vulgar? — perguntei,
alisando a saia do vestido. — Quero equilibrar as coisas.
Ava segurou meu rosto entre as mãos e sorriu. Não tínhamos o
histórico tão extenso quanto eu tinha com Sidney, mas era uma
ótima amiga de qualquer forma e a gente também se dava muito
bem.
— Você está linda, Hazel — comentou, piscando. — Não
transaram ainda, né? Você está tensa... Está na cara que ainda não
passaram dessa fase.
— Não acho que vai acontecer tão cedo — confessei, torcendo
para que Ava também não começasse a teorizar sobre Mason.
A garota franziu os lábios e balançou a cabeça, pensativa.
— Bem, que seja. Vai no seu tempo mesmo, amiga. — Deu um
sorriso safado. — Dá pra fazer muitas coisas gostosas sem precisar
transar. Adoro a fase inicial de quando a gente está conhecendo a
pessoa ainda, e só rolam aquelas sarradinhas, sabe?
Não sabia não, mas permaneci calada e apenas assenti.
— E vocês estarão na praia à noite! — Ava revirou os olhos. —
Quer lugar melhor pra isso?
— Você diz se esfregar um no outro? — perguntei, curiosa. —
Por cima da roupa?
— Sim! — Se Ava percebeu que eu nunca fiz isso, não disse
nada. — Deixar o boy com a cueca melada? Adoro! Pra mim, é tão
gostoso quanto a penetração.
Assenti, fingindo naturalidade, e quando me despedi minutos
mais tarde, me sentia corajosa e curiosa para colocar aquela
sugestão em prática. Desde a noite em que senti a ereção de Mason
no carro e percebi o impacto disso em meu corpo, estava ansiosa
para tentar coisas novas. Dava um pouco de medo? Sim, mas eu
sabia que ele seria paciente para me permitir experimentar tudo no
meu tempo.
Mason estava todo lindo, encostado no carro, vestido com uma
camisa preta de botões e mangas curtas, uma bermuda branca e tão
perfumado que a fragrância me atingiu antes que eu o abraçasse.
Quando me colou em seu corpo e me envolveu com seus braços, me
deu um selinho e me mostrou seu sorriso bonito.
— Oi, baixinha.
— Parabéns pelo jogo, camisa vinte e dois!
— Obrigado — respondeu, tocando meus cabelos. — Por que
está tão linda hoje? Sabe que tenho o coração fraco, é injusto se
vestir desse jeito.
— Qual a graça de sair com você se não for pra te provocar?
Mason revirou os olhos, levando a mão ao coração antes de
abrir a porta do carro para mim — gesto que sempre me deixava
toda boba. Enquanto eu colocava o cinto de segurança, ele ligava o
som do carro e aproveitava para me roubar um beijo rápido.
Durante o percurso, foi contando sobre os acontecimentos
daquela tarde de jogo, e era bonitinho ver o quanto ficava empolgado
ao falar sobre o esporte. Tenho certeza de que Harry gostaria muito
dele se o tivesse conhecido, talvez até pudessem ser bons amigos,
apesar de que meu irmão já seria bem mais velho.
— O que foi? — Sua mão tocou minha coxa e eu me
impressionei em ver que ele já percebia com facilidade minha
alteração de humor.
— Estava pensando no meu irmão. Vocês dois se dariam bem
— comentei, tocando a mão dele. — Poderiam conversar o dia
inteiro sobre futebol. Às vezes, eu fico viajando, sabe? Tentando
montar uma vida pra ele. Tipo, qual seria sua profissão se estivesse
vivo? São detalhes dos quais não me lembro, qual faculdade ele
queria tentar, o curso que pretendia escolher... Então, eu crio.
— E o que Harry estaria fazendo?
— Bem, ele estaria com quase vinte e sete anos — respondi,
olhando as luzes da cidade pela janela. — Acho que jogaria pelo
Patriots, o time do coração dele. Já estaria casado e teria um
filhinho, pelo menos. Nós todos nos reuniríamos na casa dos nossos
pais para o Natal e, claro, ele pegaria um pouco no seu pé porque
sempre foi muito protetor comigo.
— Certamente, ele sentiria ciúmes quando percebesse que
seus pais o trocaram pelo genro favorito.
Gargalhei e olhei para Mason, que encolheu os ombros e voltou
sua atenção à estrada. Enxuguei o cantinho dos meus olhos e
cantarolei a letra da música que tocava na rádio, para espantar a
nostalgia e a tristeza que me abateu com aquela conversa. Nunca
era fácil pensar em Harry. Nunca seria.
Depois que estacionamos, Mason segurou minha mão
enquanto caminhávamos pela faixa de areia em direção ao grupo
que podia ser avistado mais adiante. Felizmente, eu tinha lembrado
de pegar minha jaqueta jeans no armário antes de sair, porque
apesar de já termos entrado na primavera, ali à beira-mar o clima
ficava mais frio.
Enquanto nos aproximávamos, notei uma boa quantidade de
garotas perto da grande fogueira e olhei na direção de Mason, que
parecia distraído e alheio aos meus pensamentos.
— Você já ficou com alguma dessas meninas que estão aqui?
Achei graça da maneira como sua cabeça virou na minha
direção, como se tivesse levado um choque. O jogador abriu a boca,
mas a fechou depressa e pigarreou.
— Não vamos entrar nesse assunto — pediu.
— Você acabou de responder — comentei, rindo e apertando
os dedos dele. — Tudo bem, não estou com ciúmes, só curiosa. Nem
vou perguntar quantas, porque não quero me assustar.
O filho da mãe se manteve calado, com medo de produzir
provas contra ele mesmo. O pior de tudo, era que eu nem me
surpreenderia se ele admitisse ter ficado com todas em algum
momento de sua vida. Porém, não estava ali para ficar me
preocupando com isso e queria aproveitar a noite. Não podia alterar
o passado e não queria ser daquelas pessoas que fica controlando o
que o outro viveu antes de o conhecer.
— Você merece um prêmio, Hazel — disse um dos jogadores
que eu não lembrava o nome, ao nos aproximarmos. — Por aturar
Mason todo esse tempo. Não sei como está resistindo.
Não era nenhuma dificuldade para mim. Até soltei uma risada
enquanto observava o jogador correr na direção de Bryan e pular nas
costas dele, invadindo a rodinha com outros rapazes que
comemoravam, provavelmente, sua recente vitória.
Mason roubou a garrafa de cerveja que estava na mão de Noah
e deu um longo gole. Observei de longe a sua interação com os
amigos, a forma como parecia sempre leve perto deles, seu jeito
brincalhão e descontraído. Até que se sentaram ao redor da fogueira
e seus olhos procuraram por mim. Quando me encontrou, deu um
sorriso fofo e ergueu a mão para me chamar.
— A minha namorada não é linda? — perguntou para ninguém
em especial, mas isso não impediu que uma garota cuspisse sua
bebida e a outra que estava bem perto dele, perdesse todo o sangue
do rosto. — Vem cá, baixinha.
Quase infartei e quis me enterrar na areia ao receber toda a
atenção do grupo, mas quando Mason afastou as pernas e me puxou
para sentar no meio delas, ele me envolveu com seus braços e me
fez sentir protegida.
— Não ligo pra quem já passou pela minha vida — sussurrou
no meu ouvido, me deixando arrepiada. — Só me importo com quem
eu quero que fique.
Encostei-me em seu peito, me sentindo incrível, e coloquei um
sorriso no rosto ao observar que havia mais um casal ali além de
nós. A menina também estava de vestido, só que um pouco mais
longo que o meu, e seu parceiro alisava sua perna para limpar a
areia que a toalha não impediu de sujar.
Isso me fez perceber que eu tinha apenas me jogado no chão e
ao me mover discretamente, percebi a idiotice que cometi.
— Mason — chamei ele, virando meu rosto. — Estou com areia
entrando na bunda.
Dei-lhe uma cotovelada ao ouvir sua risadinha debochada e me
levantei, tirando minha jaqueta e a entregando para que forrasse o
chão. Só então eu percebi que ainda não havia me visto sem ela e
foi contemplado pelo modelo do vestido. Seu sorriso estava se
alargando quando dei um cutucão com meu pé em seu joelho.
— Forra o chão pra mim.
— Espere — pediu, tocando minhas pernas e limpando a areia.
Prendi a respiração quando senti seus dedos subirem pelas
minhas coxas como se ele estivesse fazendo algo rotineiro, como
limpar farelos de cima do sofá, por exemplo. Todo mundo parecia
muito entretido em conversas paralelas e na música que dois garotos
produziam com seus violões, enquanto eu me sentia prestes a
desmaiar de vergonha, quando Mason deu tapinhas na minha bunda,
por baixo do vestido.
Ele bem disse que tocaria quando eu menos esperasse, só não
pensei que fosse ser daquela maneira. E pensar isso, me fez prender
uma risada nervosa. Mas como se não bastasse a situação
inesperada, eu ainda estava me excitando. Tive certeza de que o
filho da mãe estava fazendo de propósito quando trouxe uma das
mãos para o interior das minhas coxas e chegou muito perto da
minha virilha.
— Já está ótimo — declarei, me sentando de qualquer jeito e
colocando minha bolsa sobre o colo. — Obrigada.
Baixei o rosto e peguei meu celular para disfarçar, não queria
que ninguém percebesse meu nervosismo. Mason abraçou minha
cintura e aproximou o rosto do meu, sussurrando em meu ouvido:
— Fui longe demais?
— Sim — respondi curta e grossa só para dar um medinho
nele, mas esperei uns segundos e virei meu rosto para o lado. —
Mas foi bom.
Joguei minha cabeça para trás quando senti seu beijo em meu
ombro e apreciei o abraço apertado e quentinho, do qual eu já estava
muito acostumada a gostar.
— Amei o vestido — Mason murmurou, me enchendo de beijos
no rosto e pescoço. — Está uma gata, linda e gostosa.
— Comprei pra usar hoje — confessei, me sentindo feliz com
os elogios.
— É mesmo? — Ele sorriu, inclinando um pouco nossos corpos
e me beijando mais umas dezenas de vezes. — Que maravilhosa...
Cheirosa, linda, fofa... — Revirei os olhos com todo aquele dengo. —
Toda minha...
— Tô ficando diabético só de olhar o Mason. — Ouvimos a voz
de Bryan e eu olhei para o garoto sentado à nossa frente. — Ainda
não acredito que perdi um companheiro de guerra. Noah! Temos que
resistir bravamente, hein!
Sorri, com um pouco de vergonha por ser o centro das
atenções, mas apertei uma das mãos de Mason em minha cintura e
me permiti retornar à nossa bolha, já que o jogador continuava
sussurrando de forma apaixonada no meu ouvido.
Mason Johnson
Depois que Hazel se soltou um pouco, a noite ficou perfeita.
Mais uma vitória sendo comemorada, meus amigos juntos, minha
irmã por perto e a garota que estava tomando conta de todos os
meus pensamentos, bem ali, dentro do meu abraço.
Apesar de nos manter na conversa principal e eu nunca me
desligar das brincadeiras que rolavam, também tínhamos o nosso
mundinho com nossos sussurros e nossos carinhos. Como naquele
momento, em que me sentei de novo depois de ir buscar mais uma
cerveja, e Hazel se virou um pouco de lado.
— Posso beber um gole?
— De cerveja? — perguntei, estranhando. — Você não disse
que não bebia?
— Não bebo — respondeu, mordendo o lábio e abaixando a
voz. — Na verdade, nunca gostei muito do sabor da cerveja, isso
aliado ao fato de que sempre achei que o álcool tira nossa
capacidade de raciocínio rápido, nunca me fez querer beber. — A
garota se inclinou para trás, sobre meu braço, e me deu um sorriso
bonito. — Mas tenho você pra tomar conta de mim, quero saber
como é ficar um pouco... afetada.
— Acabou de dizer que confia em mim a ponto de ficar
bêbada? — questionei, sentindo meu coração acelerado. — Confia
que cuidarei de você?
Hazel assentiu sem pensar duas vezes e eu entreguei minha
garrafa a ela, que a levou até a boca e deu dois goles, fazendo cara
feia e me devolvendo.
— Mas não vou me embebedar — respondeu, rindo e limpando
os cantinhos da boca. — Só quero ganhar um pouco de coragem.
— Vai tomar apenas uns goles — avisei, dando um selinho
nela. — Não quero que passe mal.
— Sim, senhor! — Revirei meus olhos e estremeci quando a
filha da mãe beijou meu pescoço e passou a língua pela minha pele.
— Gostoso...
— Não é possível que tenha ficado bêbada em dez segundos.
— Ri, sentindo receber um beliscão.
A risadinha tímida que ela soltava era sempre deliciosa e fazia
meu coração parar de vez em quando. Eu havia me transformado
num idiota babão quando o assunto era Hazel Mackenzie e, o mais
inusitado, era que não fazia a menor questão de mudar aquele
cenário.
— Tenho o direito de achar meu namorado gostoso —
sussurrou, se virando mais em meus braços a ponto de esticar as
pernas de lado sobre a minha, e circular meu pescoço com os
braços. — Não tenho? Isso não é efeito da cerveja com gosto de
mijo.
— Você tem obrigação — respondi, tocando suas coxas e me
preocupando em manter seu vestido no lugar. — Porque eu sou sim,
muito gostoso. Delicioso. Suculento.
— Ô Hazel! — Noah chamou e atraiu a atenção de todos. —
Quero ver se vai continuar toda apaixonada por esse idiota do
Mason, quando descobrir que ele consegue arrotar o alfabeto inteiro.
Eu enfiaria a porrada no babaca assim que surgisse a primeira
oportunidade. Não era novidade para ninguém que me conhecia há
algum tempo e costumava andar comigo, mas Hazel me encarou
com os olhos arregalados e eu não me sentia nem um pouco ansioso
para arrotar na frente da minha garota.
— Bora, Mason! — o filho da puta do Bryan gritou.
— Não — respondi, erguendo meu dedo do meio.
— O quê? — Hazel franziu a testa e se ajoelhou diante de mim.
— Preciso ver isso, por favor.
Os idiotas começaram a insistir, em coro. Por isso, para
encerrar logo aquele circo, virei a cerveja que ainda tinha na garrafa,
toda de uma vez, e prendi a respiração enquanto encarava uma
Hazel curiosa.
Abri a boca e comecei a arrotar letra por letra, arrancando
gargalhadas dos meus amigos e, infelizmente, da garota também.
Quando estava passando pelo M, a ginasta se levantou de repente e
foi até o isopor. Ela pegou uma latinha de refrigerante, a abriu sem
pressa, e começou a beber enquanto retornava para mim. Mantendo-
se de pé e com as mãos na cintura, todo mundo se calou quando
Hazel começou a arrotar com facilidade, como se fizesse aquilo
sempre, surpreendendo a todos nós.
Ela parou por volta do L e se jogou no meu colo, rindo com o
rosto todo vermelho conforme o pessoal comemorava a atuação.
— Caralho! Eles são almas gêmeas!
— Você sabe que nunca esquecerão disso, né? — comentei,
beijando o rosto dela.
— Sei — respondeu, se ajeitando nos meus braços, toda
sorridente. — Cortesia e ensinamentos de Harry.
— Sem dúvida, ele seria um ótimo cunhado — comentei,
piscando para minha baixinha.
Desejando passar um tempo só com ela e aproveitar a
paisagem da praia à noite, levantei-me e a puxei comigo,
entrelaçando nossos dedos e agitando sua jaqueta no ar para tirar a
areia do tecido.
— Vem comigo? — perguntei, meneando a cabeça para trás e
colocando o agasalho sobre seus ombros.
Hazel concordou, e conforme nos afastávamos do grupo, fomos
obrigados a ouvir as piadinhas dos meus amigos, que mandavam
termos juízo e não esquecermos a camisinha. Me preocupei, por um
instante, que a garota se retraísse com a possibilidade de que eu
tivesse isso em mente, mas Hazel permaneceu relaxada enquanto
afundávamos nossos pés na areia molhada perto da água.
— Onde nós vamos? — questionou, fugindo de uma onda que
quebrou mais perto.
— A lugar nenhum — respondi, passando meu braço por sua
cintura e a colando em meu corpo. — Só queria ficar sozinho
contigo. Curtir minha garota sem aqueles marmanjos babando nas
pernas dela.
Ela assentiu, em silêncio, levantando a cabeça e olhando para
os lados. Tínhamos nos distanciado bastante e, agora, só havia areia
e mar, sem outros barulhos, sem outras pessoas por perto. Confesso
que não estava com segundas intenções, mas queria beijar sua boca
curtindo aquele cheirinho bom de maresia, e o vento do litoral, que
trazia um frio gostoso de sentir.
— Quer voltar para a fogueira? — perguntei, notando que Hazel
ainda parecia reflexiva.
— Não. — Ela soltou minha mão e se virou de frente para o
mar, então, deu alguns passos adiante. — Quero molhar meus pés.
Nunca estive na praia à noite.
— Se molhar a roupa, vai sentir frio!
Não que ela tivesse se importado com meu aviso, porque a
doida afundou os pés na água até os tornozelos, mas não contava
com a onda que se aproximava, pronta para quebrar bem em cima
dela.
Corri e a ergui pela cintura, recuando depressa para salvar o
vestido branco, mas não consegui evitar que nos molhássemos um
pouco. Hazel, no lugar de se estressar com o desastre, estava rindo
e se divertindo daquela loucura.
— Ops! — Mordeu o lábio quando nos coloquei na areia seca.
— Está gelada!
— Jura? — Revirei meus olhos, mas não consegui evitar rir. —
Você merece uns tapas na bunda.
Curvei-me para esfregar minha perna e tirar o excesso de água
fria, repetindo o gesto em Hazel, que tinha uma pele muito mais
agradável ao toque do que a minha, cabeluda.
Eu me sentei na areia e tirei meu celular do bolso, acionando
uma playlist para tocar enquanto desfrutava daquela visão. O céu
limpo e estrelado, o mar iluminado pela lua e uma menina de vestido
branco, correndo de novo até a areia molhada e se inclinando para
lavar as mãos.
Tocava “Wild Flower”, de RM, enquanto eu apenas observava a
paisagem à minha frente. Ri sozinho quando o vento levantou o
vestido de Hazel e mostrou a bundinha linda para mim, que ela
tentou esconder sem sucesso e, em seguida, revirou os olhos ao
notar que havia fracassado.
Seus cabelos estavam completamente despenteados e um
pedacinho da saia branca estava molhado, quando se aproximou
devagar e parou no meio da minhas pernas afastadas.
— Desistiu dos tapas? — perguntou, sorrindo.
— O tapinha que quero dar em você é outro — respondi,
tocando suas panturrilhas. — Vou esperar pelo momento certo.
Hazel baixou os olhos para mim de um jeito que me deixou
arrepiado, em seguida, se agachou até sentar em meu colo, com as
pernas circulando minha cintura e me agarrando pelo pescoço.
Engoli em seco, sem esperar aquela interação partindo dela, mas
apoiei minhas mãos em seus quadris e observei seu semblante
sério.
— Desculpa.
— Pelo quê? — indaguei, curioso.
— Duvidei de você mais cedo. — Franzi a testa, sem entender,
mas me senti impactado. — Não aqui, foi em outra situação. Algo
que ouvi, sobre você fazer tudo isso só pra me levar pra cama.
— Faz sentido desconfiar — respondi, sentindo um nó na
garganta, porque só estando dentro da minha cabeça para ter
certeza de que eu não tinha esses planos. — Já passou?
— Há muito tempo. — Hazel beijou minha bochecha. — Na
verdade, foi quase instantâneo. Não tem como te conhecer um
pouquinho e não sentir o quanto você é verdadeiro.
— A pessoa que pensou isso de mim, não aprovaria se me
visse te trazendo pro lado deserto da praia. — Ri, jogando a cabeça
para trás e recebendo um beijo no pescoço. — Não estou sendo
muito inteligente. — Olhei as horas no meu celular e vi que já
passava das dez. — Quer voltar pra fogueira ou ir pra casa?
— Hm... — Hazel tocou meus cabelos, sorrindo e passeando os
olhos pelo meu rosto. — Quero... ficar um pouco aqui com você. E
depois, ir dormir na sua cama.
— Bebeu alguma outra coisa além daqueles dois goles na
minha cerveja? — perguntei quando escondeu o rosto no meu
pescoço. — Estou te achando muito soltinha.
Hazel Mackenzie
Meu Deus, sim, eu estava solta. E não, nada tinha a ver com
bebidas. Queria colocar em prática a sugestão de Ava e aquele era o
momento perfeito. Não havia ninguém por perto do lugar onde a
gente tinha se sentado e o clima agradável da praia ajudava a me
sentir aventureira.
Era engraçada a forma como Mason me encarava, assustado
com aquela reviravolta, e isso me incentivava a ir em frente. Por isso,
beijei sua boca, mordendo o lábio macio do jogador e envolvendo
seus cabelos em meus dedos. Não sabia dizer se era ele que estava
muito atraente naquela noite ou eu quem estava com fogo, mas até
nosso beijo parecia mais intenso.
— Baixinha... — sem fôlego depois de chupar minha língua, ele
afastou o rosto e me encarou. — Você assim no meu colo não vai
dar muito certo. Tô ficando de pau duro.
— Eu sei. — Sorri e ele arqueou a sobrancelha.
— Você quer isso? — Assenti, sentindo meu coração
acelerado. — O que está planejando?
— Uma sarradinha — respondi.
Eu ia matar minha amiga assim que voltasse para o dormitório,
por ela me fazer passar vergonha, porque Mason jogou a cabeça
para trás e soltou uma gargalhada. Certamente, foi ouvida a
quilômetros de distância.
Quando parou de rir, suas mãos alisaram minha cintura e
subiram pelas minhas costas, por baixo da jaqueta, me deixando
arrepiada.
— Uma sarradinha — repetiu, estalando a língua. — Não
esperava por isso, mas tudo bem. Tem noção de que está de vestido,
certo?
Não respondi, apenas beijei seu pescoço e coloquei a ponta da
minha língua para fora, lambendo a região antes de chupar sua pele.
Queria saber deixar aquelas marcas de chupão que eu sempre via
em outras pessoas, mas não tinha certeza de que estava fazendo do
jeito certo.
— Porra, Hazel — ele resmungou, respirando fundo. — Assim
vai fazer eu me descontrolar.
— Perca o controle, então — pedi, arriscando enfiar minhas
mãos por dentro de sua camisa e sentir sua cintura. — Só um
pouquinho. Eu deixo.
Podia sentir o volume em sua bermuda e movi meus quadris
para me ajeitar, sentindo o coração bater na garganta e minha
calcinha ficar um pouco úmida. Quando eu menos esperava, Mason
puxou minha jaqueta pelos meus braços e a jogou no chão, deixando
uma mordida no meu ombro esquerdo, ao mesmo tempo em que
explodia a minha mente ao levar as mãos até minha bunda.
Dessa vez, não havia nenhuma toalha. Ele passou pelo vestido
e tocou minha pele com os dedos, apertando minha carne com força,
e eu só conseguia pensar que desfilaria de collant, com as nádegas
marcadas.
— Como eu queria fazer isso! — declarou, me alisando sobre a
calcinha e dando um tapa fraco.
Senti seus músculos sob a palma da minha mão, toquei a
região de suas costelas e alcancei suas costas lisas, passando
minhas unhas por ela e o deixando arrepiado. Era muito gostoso ver
como reagia a mim, mesmo que eu ainda me sentisse meio perdida,
sem saber o que fazer.
Uma de suas mãos tocou minha nuca e puxou a minha cabeça
para que pudesse me beijar. Foi diferente, algo mais urgente, quente,
com sua língua se movendo de um jeito que me fazia pulsar na
vagina. Deixei um gemido escapar sem querer e isso pareceu animar
meu namorado, que mordeu meu lábio e o puxou, depois o soltou e
passou a língua por ele.
Sua mão que ainda se mantinha presa à minha bunda, fez
meus quadris se mexerem de encontro aos dele, que também
investiam contra mim. Me senti derreter, sofri com um calafrio na
espinha, e com as pernas bambas, confusa com tantas sensações
boas e novas.
— Avise se eu passar de algum limite — pediu o jogador,
apoiando uma mão nas minhas costas ao me inclinar para trás.
Seu corpo se curvou sobre o meu e ele trouxe sua boca até
meu pescoço, me chupando a cada centímetro percorrido e me
deixando com a pele melada. Não consegui manter minha cabeça no
lugar, mas não me importei, porque sabia que Mason não me
deixaria cair.
Seus lábios depositaram vários beijos no meu colo nu e se
aproximaram dos limites laterais do decote. Senti dedos deslizarem
perto dos meus seios, mas não chegaram a me tocar ali.
— Me diga como se sente — murmurou, me dando um selinho.
— Fale comigo, baixinha.
— Me sinto... — engoli em seco, arrepiada — molhada...
Ouvi uma risadinha e voltei a abrir os olhos, encontrando os de
Mason. Na posição em que ele tinha me colocado, meu vestido tinha
ficado embolado todo na cintura e estava com a calcinha inteira
aparecendo. Por sorte, era um modelo decente e não me senti
envergonhada, mas o frio consumiu minha barriga quando o jogador
baixou o rosto e a encarou.
— Tem uma manchinha úmida bem aqui — murmurou,
encostando o polegar sobre o tecido.
Meus dedos agarraram a camisa dele, que estava com três
botões abertos e eu nem tinha me dado conta, assim que o senti
deslizar de leve para baixo, depois para cima. Puxei o ar devagar
pela boca e fechei meus olhos com força quando os senti queimar.
— Hazel? Fale comigo, amor.
— Estou bem — respondi, sentindo que perdia a minha voz.
— Nunca se tocou? — Mason perguntou, sem parar o
movimento tão delicado que eu queria pedir por mais pressão.
— Sim. — Abri meus olhos, sentindo que, infelizmente, deixei
uma lágrima escapar. — Mas é diferente.
Ele puxou minha cabeça e me beijou, apertando o braço ao
redor da minha cintura. Nossos lábios se encontraram com mais
tranquilidade, um beijo tão molhado como eu também estava.
Consegui mover minha língua em sincronia com a dele dessa vez, e
deixei um suspiro de alívio sair quando Mason voltou a tocar minha
calcinha.
— Não chore — pediu, chupando minha boca. — Fico
confuso... Quer ir embora? — Neguei, sentindo seu polegar se
concentrar no meu clitóris. — Quer gozar? — Assenti dessa vez,
sem coragem de falar em voz alta, mas Mason largou minha boca
para encostar os lábios na minha orelha. — Então, goza pra esse
sortudo que está apaixonado por você.
Ai, meu Deus! Se ele não queria que eu chorasse, falou a coisa
errada, porque agora eu não sabia se me excitava ou derramava
mais lágrimas. Afundei meu rosto na curva do seu pescoço e
estremeci quando senti a mão de Mason colocar minha calcinha para
o lado e tocar pele com pele. Ele não aprofundou o gesto, não me
explorou mais do que devia, apenas manteve o polegar de volta
naquele meu ponto mais sensível.
— Acho que te amo, Hazel. — Sua boca beijou meu ombro. —
Não existe outra explicação pro que sinto.
A fricção em meu clitóris aumentou de intensidade e não
consegui resistir mais, sentindo a sensação do clímax me atingir e
fazer meu corpo estremecer. Não sabia se meu orgasmo era igual ao
de outras pessoas, porque eu não me tocava com frequência e me
achava contida quando gozava, mas Mason pareceu ficar satisfeito e
me esmagou em seus braços, colocando minha calcinha de volta no
lugar e me prendendo ali, por alguns segundos, em silêncio comigo.
— Não me solta — pedi, querendo ficar daquela maneira mais
um pouco.
— Nunca. — Ele beijou meu rosto e roçou seu nariz na minha
pele. — Você é pequenininha, consigo segurar por uma vida inteira.
— Também gozou? — perguntei, levantando a cabeça e
piscando quando os dedos de Mason se aproximaram para enxugar
meu rosto.
— Não e nem tentei — respondeu, sorrindo todo fofo. — Era o
seu momento, não podia perder isso me distraindo com um orgasmo.
Segurei seu rosto bonito em minhas mãos e o encarei,
apaixonada. Deslizei meus dedos pelo peito exposto na camisa
aberta e procurei pela marquinha no pescoço, para ver se meu
chupão tinha dado resultado, mas não encontrei nada e fiz uma
anotação mental para tentar com mais força depois.
— Ava me sugeriu dar uma sarradinha, não levar uma dedada
— comentei, vendo-o franzir os lábios. — Acho que ela não pensou
que eu iria tão longe.
— Não consegui resistir, baixinha. — Mason encolheu os
ombros e soltou um suspiro. — Tem noção do quanto é difícil se
manter impassível com uma calcinha molhada a um dedo de
distância?
— Você é muito safado.
— Eu? — O filho da mãe levou a mão ao peito. — Quem foi
que veio com a ideia de sarrar em mim?
Mordi meu lábio, prendendo uma risada e rebolando no colo
que ainda contava com a ereção durinha. Ele estreitou os olhos
mediante a provocação e estalou os ossos do pescoço.
— Estou me sentindo um pouco usado, sabe? Você já veio pra
praia hoje com más intenções comigo.
— Coitadinho — zombei, alisando a bochecha dele. — Pobre
menino que foi usado. Se eu soubesse que se incomodaria, teria
procurado outra pessoa...
Ele riu, jogando a cabeça para trás e apertando a minha bunda
ao quase nos fazer cair na areia.
— Ah, baixinha... Não vai conseguir me deixar com ciúmes. —
Suas mãos deslizaram pela minha pele e apertaram minha carne. —
Sei que sou o primeiro e serei o único.
Agarrei os cabelos do jogador, puxando sua cabeça para trás e
o fazendo resmungar enquanto ria. Era para sentir dor mesmo.
— Se isso não for recíproco, eu vou deixar Sidney e Ava
cortarem as suas bolas — ameacei, observando a pontinha de sua
língua safada passear pelo canto dos lábios. — Ouviu, Mason?
— Eu sou inteiramente seu — declarou, piscando. — Tanto
esses fios que você está tentando arrancar, quanto os pentelhos lá
embaixo.
— Que nojo! — Dei um peteleco nele.
Gargalhei quando o idiota me puxou com força e nos derrubou
na areia, montando em cima de mim e afundando o rosto no meu
pescoço para me encher de chupões.
Mason Johnson
Peguei um pote dentro da geladeira, onde Mia tinha guardado
um pedaço generoso do último bolo que fez, e o coloquei diante de
Hazel junto com um garfo. A garota devorou quase tudo e bebeu
meio litro d’água em seguida, o que me deixava na dúvida se ela
estava faminta ou apenas ansiosa.
Parei ao seu lado enquanto terminava de comer, beijando seu
ombro, uma parte do corpo dela que eu adorava porque era
delicadinha e ficava perto do pescoço cheiroso.
— Quer tomar um banho antes de dormir? — perguntei,
percebendo que ela tinha areia até nos cabelos. — Empresto uma
camisa pra você, ou posso pegar algo emprestado da Mia.
— Prefiro uma roupa sua — respondeu, se levantando e
segurando minha mão quando a estiquei para ela. — E acho que
vou precisar de alguma parte de baixo. Não rola tomar banho e
vestir a mesma calcinha.
Eu até poderia ceder uma blusa minha para a garota, mas teria
que procurar um shortinho nas gavetas da minha irmã, pois não
havia a menor chance de uma cueca minha caber em Hazel, que
tinha metade do meu tamanho.
Por isso, deixei-a à vontade no banheiro, com uma toalha
limpa, e peguei meu celular para mandar mensagem pra Mia.

Mason: Me ajuda, Hazel vai dormir aqui em casa.


Você tem algum short de pijama para emprestá-la?

Mia: Josh e eu estamos na rua, daqui a pouco chegamos em casa.


Mas pode abrir minha segunda gaveta no lado esquerdo
do armário porque lá tem alguns conjuntos de baby-doll.

Mia: Só pra constar, estou orgulhosa de você!


Como é se sentir apaixonado?

Mason: Estranho, mas bom... Ela é linda, né?

Mia: Sim! Não a magoe ou eu quebro a sua cara!

Revirei meus olhos e enviei um monte de emojis com a mesma


reação, então larguei o celular para ir até o quarto de minha irmã.
Fiquei um pouco apavorado ao notar que todos os shorts que ela
guardava na tal gaveta eram tão pequenos quanto as calcinhas. No
entanto, teria que servir, então peguei um amarelo para me lembrar
do marshmallow e fui até o banheiro onde Hazel estava, batendo na
porta primeiro.
— Vou deixar a roupa pendurada na maçaneta aqui fora —
avisei e ela murmurou em concordância.
Usei o banheiro do corredor para também tomar um banho,
pois me sentia suado e cheio de areia. Dei um trato diferenciado no
rapaz que andava dormindo muito, porque Hazel estava muito
soltinha e eu já não sabia o que esperar dela. Portanto, o pau
precisava ficar bem limpo e cheiroso, só para o caso de ele ser
convidado para alguma festa.
— Mas não se anima muito — avisei, alisando a glande com
carinho. — Se rolar algo, pode ser apenas um happy hour. Hoje,
certamente, não teremos jantar com sobremesa.
Me enxuguei diante do espelho, conferindo o visual e notando
uma marquinha bem singela no meu pescoço, fruto da boquinha
gostosa de Hazel. Meu pau pulsou de leve e olhei na direção dele,
preocupado.
— Não — avisei. — Ninguém te chamou, por enquanto.
Como podia minha vida ter mudado de forma tão drástica?
Num dia, eu estava recusando ligações porque não tinha tempo
suficiente para transar com todo mundo que me queria, no outro,
estava criando calos nos dedos da mão direita, de tanta punheta
que vinha batendo para me manter vivo.
Dei dois tapinhas no rosto e me enrolei na toalha para sair do
banheiro. Voltei ao meu quarto, ouvindo o barulho da porta da sala e
notando a chegada de Mia e Josh, sendo assim, fechei minha porta
para não sermos incomodados e encarei minha baixinha sentada na
beira da cama.
— Hm... — Inspirei profundamente, a caminho do meu
armário. — Achei que você não pudesse ficar mais deliciosa, mas
me enganei. Com o meu cheiro, fica ainda melhor.
— O cheiro é do sabonete, que está à venda em qualquer
farmácia — murmurou. — Você não tem exclusividade sobre ele.
Virei-me para ela, que encolheu os ombros e sorriu,
demonstrando que adorava me contrariar. Desisti de me vestir e me
aproximei, apoiando minhas mãos no colchão e a prendendo entre
meus braços, ao mesmo tempo em que me inclinava e encostava
nossos narizes.
— Que seja. Pelo menos, a blusa é minha. — Enfiei minha
boca em seu pescoço cheiroso e a beijei ali. — Isso significa que eu
posso pegá-la de volta a hora que quiser, então não me provoque.
— Se me deixar pelada, vai ter que ficar também — a baixinha
atrevida rebateu, espalmando a mão no meu peito.
Ajeitei minha postura e gargalhei, levando meus dedos ao nó
da toalha em minha cintura e encarando Hazel, que pressionou os
lábios e ficou vermelha. Ela não me conhecia tão bem, pelo visto.
Não sabia que nesse joguinho, eu era campeão.
— Meu amor, eu não tenho problema nenhum em ficar nu —
avisei, ameaçando abrir a toalha. — Só não faço isso em respeito a
você. Se quiser ver o material, basta pedir.
— Eu quero. — Ela prendeu o lábio com os dentes e me
encarou, parecendo muito decidida. — Só... olhar. Não se anime.
Dei alguns passos para trás e me afastei um pouco, porque
não queria que tivesse uma imagem tão agressiva, em seguida,
soltei o nó e deixei a toalha cair, abrindo meus braços e dando uma
voltinha para minha garota. Ao completar o giro e ficar novamente
de frente, encarei seus olhos, que desceram lentamente pelo meu
abdômen e se fixaram no meu pau.
— Já disse que você pode ter qualquer coisa de mim — falei,
me virando e indo até o armário. — Eu imaginava que tivesse
curiosidade.
— É que o único garoto que vi assim pessoalmente, você
sabe... Não tenho referências.
Vesti uma cueca branca e puxei uma calça de moletom preta,
passando-a depressa pelas pernas antes de voltar para a cama,
sem me preocupar em colocar uma camisa. Ajoelhei-me sobre o
colchão e envolvi a cintura da pequena, puxando seu corpo para
cima e a deitando devagar. Ela não ofereceu resistência, mas eu
sentia, só por tocar seus músculos, que estava bem nervosa.
— Agora você tem — falei, beijando seu queixo. — Eu sou sua
referência. O que você sofreu não pode ser usado como modelo pra
nada na sua vida sexual.
— Eu sei. — Ela sorriu sem que o gesto alcançasse os olhos.
— Tenho consciência disso.
Seus dedos alisaram meus bíceps e ela se demorou um tempo
ali, com os olhos fixos em meu corpo, tocando meu tórax e me
explorando. Lentamente, fui trazendo Hazel para mais perto, até
apoiar um joelho entre suas pernas e beijar sua boca, sentindo sua
língua macia contra a minha.
Ela estava um pouco trêmula e eu achei que fosse um
nervosismo normal, assim como ficava de vez em quando, com a
expectativa do que podia acontecer. Mas de repente, a garota virou
o rosto para o outro lado e mordeu a boca, apoiando ambas as
mãos no meu peito.
— Fale comigo, Hazel.
— Não consigo... — Fechou os olhos, respirando de forma
pesada. — Essa posição.
A compreensão me atingiu e me fez virar para o lado, saindo
de cima dela e me sentando no colchão. Senti a raiva me consumir
e esquentar meu sangue, porque agora eu sabia como tinha sido e
nunca me esqueceria disso, nem desejava ter essa imagem na
minha mente.
— Quer que eu busque uma água pra você? — perguntei,
alisando seus cabelos. — Ou, sei lá, tem algo que eu possa fazer?
Hazel permaneceu em silêncio, com as mãos cruzadas sobre o
estômago e o rosto ainda virado, com os olhos fechados. Eu não
fazia ideia de como podia ser útil, portanto, apenas esperei, sem
dizer mais nada, porque ela podia apenas querer ficar quieta. Por
mais que eu desejasse beijá-la, trazê-la para meus braços e dizer
que estava segura, eu nem sabia qual seria sua reação se a tocasse
naquele momento.
Talvez tenham se passado uns cinco minutos até que sua mão
procurou pela minha e ficou assim, só naquele contato. Fiz um
carinho em seus dedos de unhas curtinhas, observando sua
respiração mais tranquila, cogitando me oferecer em levá-la para
seu dormitório.
— Vou querer a água agora — murmurou, finalmente virando o
rosto e me encarando. — Pode pegar?
Assenti, depositando um beijo em sua mão antes de me
levantar da cama e descer. Encontrei com Josh na cozinha, só de
cueca, com a porra de um pote de morangos nas mãos.
— Por favor. — Eu o parei, segurando seus ombros. — Imploro
pra que não façam nenhum barulho constrangedor. A Hazel acabou
de passar por um episódio tenso e não precisa ouvir vocês dois
fodendo.
— Está tudo bem?
— Vai ficar. Eu acho. — Encolhi os ombros, soltando meu
amigo e abrindo a geladeira. — Talvez eu a leve pra casa, não sei.
Acho que fiz merda.
Enchi um copo com água e bebi, mas ainda estava com sede e
enchi mais uma vez, tomando tudo antes de apoiar a garrafa sobre
a bancada e respirar fundo. Josh me observava, parecia um pouco
assustado, quando quem tinha levado um susto tinha sido eu.
— Você não parece bem — comentou e eu enchi mais um
copo para mim, tomando de um gole só.
— Estou ótimo. — Sorri, pegando a garrafa e saindo com ela
da cozinha. — Sério, sem gritos ou gemidos, ou qualquer outra
merda, ou eu arrebento a porta do seu quarto e te espanco.
Nem esperei pela resposta, voltei logo para o meu quarto e
encontrei Hazel sentada, com as costas apoiadas na cabeceira da
cama. Seu semblante parecia muito mais aliviado e ela me lançou
um sorriso quando entrei.
— Quer que deixe a porta aberta? — perguntei, com a mão na
maçaneta, e a vi franzir a testa.
— Não.
Fechei a porta e me aproximei, colocando a garrafa na mesa
de cabeceira e enchendo o copo antes de entregar à garota. Notei
que minha mão tremeu um pouco e recuei depressa, cruzando
meus braços enquanto a observava.
— Posso pedir uma calça emprestada pra Mia, assim você a
veste pra não sair desse jeito, e eu a levo em casa.
— Achei que tivéssemos concordado que eu dormiria aqui —
Hazel retrucou, erguendo os olhos. — Foi só um episódio ruim,
Mason, mas estou bem agora.
A baixinha esvaziou o copo e o deixou na mesinha antes de se
ajoelhar na cama e engatinhar até a beira do colchão. Perdi
algumas batidas ao assistir seus movimentos e entender que queria
alguma coisa de mim. Ela me puxou pelo elástico da minha calça e
passou os braços pelo meu pescoço, me deixando um tanto
apavorado, porque meu coração ainda não tinha se recuperado.
— Desculpa por ter estragado o clima — comentou,
encolhendo os ombros.
— Está brincando, né? Desde quando tem que se desculpar
por isso?
— É que estou chateada por ver que se abalou. Estou vendo
que está quase chorando — respondeu, contendo um sorriso. —
Não queria te deixar assim, você não fez nada de errado. Quero só
fingir que nada aconteceu, porque minha noite estava ótima.
Soltei o ar que prendia e apoiei minha testa no ombro dela,
tocando em sua cintura pequena e a sentindo por cima da minha
camisa. Agora que a adrenalina havia passado, uma leve dor de
cabeça se fazia presente, porque aquele susto me pegou mesmo de
surpresa.
— Vê-la daquele jeito foi horrível — comentei, sentindo as
pontinhas dos seus cabelos tocarem meus dedos. — Não quero
mais fazer nada que possa te machucar, física ou emocionalmente.
— Você não vai, Mason.
— Não tem como saber isso — retruquei. — Eu sou
descuidado...
Quase infartei quando Hazel revirou os olhos e me puxou para
a frente, caindo comigo na cama. O problema é que eu estava
novamente em cima dela, mas a garota foi ligeira em girar o corpo e
subir sobre o meu, com um sorriso desafiador naquele rosto lindo.
Ela esticou o braço e vi que mexeu por alguns segundos no
celular, até uma música começar a tocar. Eu a reconhecia, era “Not
Another Love Song”, de Ella Mai, uma delícia para um momento
mais quente a dois, mas eu não sabia se estávamos naquele clima.
— Aquilo aconteceu porque eu não sabia que me sentiria mal
com você em cima de mim — comentou, franzindo a testa. — Nunca
fiz isso com ninguém, então não era algo que eu podia prever.
Agora, já sabemos que é bom evitar.
— Tudo bem — respondi, tocando seus braços.
— Pode voltar ao Mason de antes? — pediu, beijando meu
rosto. — Aquele Mason legal e sedutor, sabe? Eu gosto dele,
porque é carinhoso e cuidadoso comigo, mas também não perde
nenhuma oportunidade de me deixar com borboletas no estômago.
Respirei fundo, passando meus dedos por dentro dos seus
cabelos e alisando suas costas. Hazel me encarava com
expectativa, querendo que eu tomasse alguma iniciativa, e
confesso, estava com medo.
— Aquele Mason não tem problema em admitir que, na maioria
das vezes, não sabe o que fazer com você — comentei, vendo seu
sorriso bobo. — Ele se caga de pavor de fazer alguma merda ou ir
além do que deveria.
Ainda tinha mais coisa para dizer, mas Hazel calou minha boca
com um beijo e isso foi suficiente para reativar o meu desejo por ela.
Com mais cuidado, porém, apertei sua cintura e deslizei minhas
mãos, encontrando a barra da camisa e a levantando para encontrar
o short de algodão enfiado na bunda. Não quis nem imaginar minha
irmã dentro daquela roupa, porque se em Hazel, que era menor que
Mia, parecia indecente...
A baixinha me pegou de jeito quando deixou um beijo intenso
no meu pescoço, decidida a me marcar de qualquer forma, e em
seguida, mordiscou meus lábios. Apertei sua bunda durinha pra
caralho, deliciosa, e gemi ao sentir meu pau endurecer tão rápido.
— Não é melhor a gente dormir? — Tentei desviar o foco
porque não sabia se ia conseguir, pela segunda vez na noite, me
segurar para não gozar.
Só que me arrependi da pergunta no instante em que Hazel
me olhou, com a testa franzida, parecendo confusa. No entanto, a
ginasta não parou seus movimentos, então só continuou me
deixando mais louco ainda.
— Se você quiser — murmurou, fazendo biquinho —, podemos
parar.
— Gostou de se esfregar, né? — perguntei, segurando seu
rosto nas minhas mãos e vendo o sorriso dela. — Senta em mim e
se inclina pra frente, abrindo bem as pernas. Vai ficar mais gostoso.
Hazel me obedeceu prontamente, um pouco insegura no início,
mas cada vez que roçava a bocetinha no meu pau, ia se soltando e
se excitando mais. Eu me sentia uma pedra dentro da cueca, o
único tecido que se movia entre nossos corpos sendo meu moletom.
Toquei a cintura dela e busquei por sua boca macia, enfiando
minhas mãos por baixo de sua blusa e sentindo a pele quente.
Minha garota aumentou a velocidade dos movimentos,
parecendo cada vez mais ansiosa e respirando ofegante contra
meus lábios.
— Mason... — ela gemeu, me deixando louco e babando
dentro da cueca. — Isso é bom...
Subi meus dedos com cuidado, testando suas reações, até
alcançar a curva deliciosa dos seios. Ela não se alterou, portanto,
continuei meu caminho até encontrar os pequenos montes
arrebitados e de mamilos duros. Nossos olhos se encontraram e
Hazel mordeu o lábio, deixando a cabeça cair para frente.
Meu pau latejava forte, desejando um contato mais íntimo,
mais pele com pele, mesmo assim, pronto para gozar a qualquer
momento.
— Ai, meu Deus... — gemeu, desistindo da posição e soltando
o corpo sobre o meu.
— Relaxa — sussurrei em seu ouvido, afastando seus cabelos.
— Não vai com tanta força pra não assar seu grelinho.
Hazel estava em outra realidade, pois nem reagiu à minha fala.
Seus braços tremiam de exaustão e sua pele suava à medida que
se movimentava como se tivesse pressa para gozar.
— Me ajuda — pediu, sem parar os quadris. — Não tô
conseguindo.
— Calma, amor. — Apoiei minha mão sobre sua bunda e beijei
o cantinho de seus lábios. — Nem sempre é fácil, isso requer
paciência.
Ela fechou os olhos e respirou fundo, ondulando os quadris de
forma gostosa, aprendendo sozinha a buscar pelo seu próprio
prazer.
— Você pode tirar o short — sugeri, enfiando minha mão por
dentro do tecido e tocando sua bunda. — Vai facilitar o atrito com a
minha roupa e te deixar mais livre.
Pensei que fosse recusar, afinal, seria um passo bem grande
entre nós dois. Porém, me surpreendi, pois Hazel nem pestanejou
antes de rolar para o lado e se sentar na cama. Vi apenas o pedaço
minúsculo de pano ser atirado para longe antes de subir novamente
em cima de mim. Soube que o tesão estava grande mesmo,
considerando que nem se preocupou se estava ou não me
mostrando alguma coisa.
— Ai... — gemeu, deitando-se sobre mim e fechando os olhos.
— Nossa...
Sorri, investindo meus quadris contra ela e segurando seus
cabelos para manter sua boca no lugar e poder chupá-la devagar.
Foi minha vez de gemer, não estava mais conseguindo me segurar,
já começava a me sentir dolorido. O foda é que temia gozar antes
dela e estragar sua brincadeira, então respirei fundo e fechei meus
olhos.
— Estou surtando, Hazel — avisei, esfregando meus cabelos e
sentindo seus beijos em meu queixo. — Vou gozar.
A baixinha choramingou e me olhou em desespero, ansiosa
para chegar lá, e resolvi usar a única tática que conhecia sem
precisar usar de tanto contato físico. Juntei seus cabelos no alto e
gemi forte no ouvido dela, movimentando mais os meus quadris que
quase declaravam game over.
— Se estivesse se esfregando no meu rosto, já teria gozado
na minha boca — murmurei, sentindo-a rebolar mais curtinho. —
Chuparia sua bocetinha com tanta vontade, que ela sairia inchada
daqui.
— Mason...
— Goza pra mim, Hazel. Goza aqui, na minha calça, porque
em breve, você vai gozar com meu pau dentro de você, te fazendo o
melhor carinho do mundo.
Ela beijou minha boca quando pude sentir que o orgasmo
tomava conta de seu corpo, esfregando-se mais devagar agora,
gemendo contra a minha boca, permitindo que eu sentisse a forma
como seu corpo tremia cada vez que contraía a bocetinha em meu
moletom.
Só que também gozei, não consegui evitar, porque sentir Hazel
daquela forma foi surreal e delicioso. Completamente entregue, com
a respiração desacelerando, e ainda rebolando muito discretamente
sobre mim. Não me importei com a cueca melada nem com o pau
que não queria descansar, meu foco estava direcionado à pequena
garota com o rosto enterrado no meu pescoço, o hálito tocando
minha pele, que parecia esgotada de todas as maneiras.
— Podemos fazer isso de novo daqui a pouco? — ela
perguntou e eu gargalhei de desespero, descendo minha mão e
dando um tapa na bunda gostosa, ansioso para a próxima rodada
porque Hazel Mackenzie conseguia tudo que queria de mim.
Hazel Mackenzie
Eu saí de cima do corpo de Mason apenas para que ele se
ajeitasse na cama e pudesse recostar à cabeceira. Nos primeiros
cinco segundos em que nossos olhares se cruzaram, senti meu rosto
esquentar por vergonha do que tinha acabado de acontecer, mas foi
passageiro, pois logo eu já queria grudar de novo nele.
De qualquer forma, me mantive um pouco quieta, até mesmo
para desacelerar meus batimentos cardíacos e respirar um pouco
melhor. Estava suada pelo corpo todo e melada entre as pernas,
apesar de me sentir incrível.
Só me aconcheguei ao seu lado, aceitando seu peito como
travesseiro e deslizando meus dedos por seu abdômen sarado. A
ereção dele ainda resistia, mas parecia ter diminuído um pouco, e o
mais impactante para mim, era a sua calça molhada. Eu mesma
tinha uma parcela de culpa naquele trabalho.
— Como as pessoas que não possuem preparo físico fazem
sexo? — perguntei, porque me sentia cansada e nem tinha
acontecido nada de extraordinário.
— Todo mundo transa, baixinha — respondeu ele,
massageando meu couro cabeludo. — Na hora do tesão, as pessoas
surpreendem a elas mesmas. Tipo você, sabe?
Afundei o rosto em seu peito com a provocação e sabia que
não podia discordar. Nem eu tinha me reconhecido direito,
principalmente no momento em que já me sentia cansada, não tinha
gozado, e ainda parecia que eu nunca chegaria lá. Foi quando
Mason sugeriu que eu tirasse o short e nem consegui ter tempo de
sentir vergonha, só sabia que precisava, com urgência, satisfazer
aquela vontade.
— Foi mais fácil na praia — comentei, lembrando da ajuda dele.
— Tenho que te dar os créditos.
Mason deslizou a mão pelo meu braço e a pousou na minha
cintura, brincando com a barra da minha camisa. Senti que depositou
um beijo nos meus cabelos e me aconcheguei mais contra seu
corpo, aproveitando para provocar um pouco o jogador e passando
minha perna sobre a sua.
— Está se sentindo bem? — indagou, descendo a mão até a
curva dos meus quadris.
Sabia que estava louco para tocar minha bunda e, confesso, eu
também queria sentir o toque dele, mas ficava sem jeito de falar para
que fizesse logo isso. Sabia que Mason tinha medo de avançar muito
e me deixar mal, portanto, preferia que ele tomasse as atitudes em
seu próprio tempo.
— Tô cansada, mas feliz — admiti, passando meus dedos ao
redor de seu umbigo. — Por muito tempo, nunca imaginei que estaria
assim um dia, com alguém. Tem horas que sinto um pouquinho de
medo, pensando se estou indo muito rápido, mas é porque fico muito
à vontade com você, então acabo me jogando de cabeça.
— Mas não tem problema se quiser ir mais devagar — disse
ele, e como eu nunca me enganava, Mason recuou a mão que
estava quase na minha bunda. — Pode não parecer, mas eu consigo
ser paciente e resistir mais tempo. O que não quero é que você dê
um passo grande demais e acabe se arrependendo.
— Como o quê?
Ergui meu tronco e apoiei um braço no peito de Mason para
poder me virar e encará-lo. Sua testa estava franzida, exibia
preocupação, e esse lado dele me deixava derretida.
— Penetração — respondeu, suspirando. — No ritmo em que
estamos, não vai demorar pra acontecer. Na minha cabeça, você é
virgem, pelo menos, emocionalmente. E eu te amo... — Mason
mordeu o lábio, alisando meu rosto. — Não quero que se arrependa
de algo tão significativo. Que se arrependa de ter sido comigo.
— Você acha que eu não tenho medo? — perguntei, tocando
seu rosto quando ele apertou minha cintura e me levou mais para
cima. — Eu fico apavorada quando penso em transar com você.
Olha sua experiência e olha a minha, que é nenhuma. Enquanto
você teme que eu me arrependa, eu temo que você enjoe de mim.
— Não se sinta ameaçada pelas minhas experiências, baixinha.
— Mason me puxou para seu colo e eu me sentei, envolvendo seu
pescoço. — Sempre foi só sexo. Tenho certeza absoluta de que,
quando for entre nós, vai transcender qualquer sensação que já vivi.
— E se for muito tosco? — Ele revirou os olhos.
— Não será — respondeu, piscando todo sedutor. — E é aí que
a gente vai aproveitar a minha bagagem, porque eu nunca permitirei
que uma transa seja ruim. — Sofri um arrepio forte quando suas
mãos apertaram minha cintura e ele beijou minha orelha. — Quando
acontecer, vai entender. Enquanto isso, eu deixo que se esfregue o
dia inteiro em mim.
Joguei minha cabeça para trás ao soltar uma risada, apertando
os ombros de Mason e me aproveitando um pouco daquela posição.
Eu quase não o tocava, nunca sabia o que fazer com minhas mãos,
o que ele poderia gostar de sentir, até onde era aconselhável que eu
fosse sem maltratá-lo muito. E convenhamos, estava muito curiosa a
respeito de todo o corpo dele, principalmente, a parte que ficava
escondida pela calça.
Desci meus dedos por seu peito e parei um pouco abaixo do
umbigo, sentindo sua pele arrepiada pelo meu toque. Podia ouvir sua
respiração pesada e, mesmo que não o estivesse encarando
naquele instante, sentia o olhar cravado em mim.
— O que está fazendo?
— Pensei que tivesse dito que eu pudesse fazer o que quisesse
com você — respondi, erguendo meus olhos.
— E você pode, mas... — Mason suspirou e coçou a testa,
nervoso. — Enfim, que se dane... Faça o que quiser.
Mordi meu lábio para aproveitar que estava me encarando.
— Acha que vou tocar seu pau?
— Acho que é isso que deseja. — Mason encolheu os ombros,
convencido. — Se tem coragem, não sei.
Ainda estava pensando se satisfazia a minha vontade ou não,
quando o filho da mãe levou ele mesmo sua própria mão para dentro
da calça e segurou a ereção, sorrindo para mim. Sua sobrancelha se
arqueou, enquanto movia os dedos de forma muito sugestiva, sem
que eu pudesse ver o que acontecia lá dentro.
— Quer me tocar assim? — perguntou, lambendo o canto do
lábio.
E para demonstrar que ele podia tudo, Mason puxou a mão
vazia, deslizando-a pelo seu abdômen e deixando sua pele com
certo brilho pelo caminho da tentação. Engoli em seco, querendo
muito ser corajosa, e consegui pousar minha mão ali, sobre o
moletom, sentido os contornos do volume duro.
Conferi a reação do jogador, ponderando se podia mesmo ir
além ou não.
— Eu não tenho vergonha, amor — disse, tocando meu queixo.
— De verdade.
Beijei a boca de Mason, aproveitando para levar minha mão ao
interior de sua cueca. Seus lábios chuparam os meus quando toquei
o pênis grosso e quente, sentindo a ponta muito lisa e macia sob
meus dedos. Ele gemeu quando alisei a parte onde tinha a
minúscula fenda, de onde podia sentir a lubrificação sair.
Desci meus dedos, tateando e sentindo a pele ganhar alto
relevos finos e disformes, por isso, precisei recuar e olhar o que
estava tocando. Foi Mason quem abaixou os dois elásticos e se
colocou totalmente exposto, me deixando impactada com a imagem
diante dos meus olhos.
Eram veias que eu tinha sentido e eu nem reparei nelas quando
soltou a toalha. Também estava muito claro que havia dobrado de
tamanho, o que era um pouco assustador, considerando onde ele
devia entrar.
— Fale comigo, Hazel. — Ergui meus olhos e o encontrei,
sempre preocupado comigo. — Tudo bem?
— Tudo. — Sorri, excitada. — Acho que entendo sua fama. Não
que eu tenha com o que comparar, mas seu pau é bonito. — Fechei
minha mão ao redor dele, sentindo como era pesado. — Sempre
achei que teria nojo quando tocasse algum, porque... não sei... é a
sensação da qual me lembro.
Percebi que Mason tinha algo a dizer, mas o interrompi com um
beijo, pois temia que o assunto se tornasse muito emocional e
aquele clima gostoso fosse embora. Não queria trazer meu passado
à tona mais uma vez naquela noite. Nenhum de nós dois merecia
isso.
Raspei meus dentes no cantinho da boca de Mason, descendo
meus lábios pelo maxilar do jogador e alcançando seu pescoço.
Ainda estava cheiroso do banho, e o lambi naquela região, enquanto
movia minha mão pelo pau de ponta vermelha e tão bonita.
— Me ensina como tocar do jeito que gosta — pedi, arrepiada
ao ouvir seu gemido rouco. — Quero ver como você fica quando
goza...
— Sou capaz de me melar todo só em ouvi-la falando assim,
com tanta naturalidade — murmurou, segurando minha mão
enquanto ele mesmo investia em movimentos precisos. — Aqui na
glande é onde fica a maior sensibilidade, mas qualquer lugar em que
o toque, vai ser ótimo.
Mason insistiu nos movimentos por um tempo, até afastar a
mão e me deixar sozinha, sempre tocando meu rosto e meus
cabelos, hipnotizado com os olhos presos em mim. Sorri para ele,
apertando o membro grosso com meus dedos, encantada em ver
como ele ficava ainda mais bonito com aquela expressão de desejo e
tesão. Seu olhar queimava no meu, e também me fazia queimar
entre as pernas.
Ainda estava sem calcinha, então podia sentir que ficava cada
vez mais molhada, me esfregando na calça de moletom, sendo
invadida por uma vontade como nunca antes existiu, de necessitar
ter mais do que estava recebendo.
Conforme Mason gemia e seus olhos iam ficando mais
nublados, eu conseguia ter a percepção do pau enrijecer cada vez
mais, como se fosse possível, e esquentar em minha mão. Não
podia imaginá-lo dentro de mim, não parecia natural, tamanhos muito
discrepantes, mas de todo jeito, não achava que teria medo quando
acontecesse. Eu desejava Mason, estava muito certa disso, e sabia
que não me arrependeria da minha primeira vez.
— Porra, Hazel... — sibilou, se contraindo e deixando a cabeça
cair para o lado. — Obrigado por isso, amor... Está gostoso...
De olhos fechados, ele encontrou a minha mão e me ajudou a
aumentar a velocidade, apertando os meus dedos sem me deixar
descer muito pelo seu comprimento.
— Assim... — falou, lambendo os lábios, e esticando a mão
livre. — Vem aqui, do meu lado, vem. — Meu corpo deslizou com
facilidade com a força dele, e sua mão veio parar entre minhas
pernas. — Isso, preciso sentir sua bocetinha...
A maneira como me tocou quase me fez perder os sentidos,
deslizando os dedos pela minha fenda, de cima para baixo e depois
o contrário, até que eu nem conseguisse mais manter o controle da
minha mão em seu pau.
— Mason! — Meu mundo parou quando ele puxou os dedos e
os levou à sua boca, sorrindo ainda de olhos fechados, deixando
claro que nem precisava me olhar para saber onde me tocar e como
eu funcionava.
— Minha — declarou, então me encarou enquanto gozava em
nossas mãos unidas. — Você é muito minha, garota.
O jogador me puxou para seu colo e me beijou de um jeito
esfomeado, ao mesmo tempo em que eu sorria, apaixonada, com o
coração derretido, tentando reagir e retribuir aquele beijo. Agarrei
seus cabelos com força quando me inclinou para trás, mordendo
minha boca e rindo de nossa bobeira desengonçada.
E foi nesse movimento, que nos desequilibramos e eu caí de
costas, com Mason me esmagando debaixo de seu corpo. Senti que
se retesou imediatamente, enquanto meu coração parava por um
segundo e aquela sensação inconfundível se repetia. O nó na
garganta, o frio me consumindo, a impressão de perder minhas
forças. Mas também, ali estava o cara que eu amava, apavorado e
congelado sobre mim.
Ouvi “Patience” tocar no momento certo, porque era o que me
acalmava, e por isso, eu envolvi a cintura de Mason com minhas
pernas para não o deixar fugir. Meu namorado já tinha ficado
apavorado da primeira vez, não podia deixar que pegasse trauma de
me tocar com liberdade.
— Fica — pedi, sentindo meu rosto molhado com as lágrimas.
— Não me deixa. Mesmo que eu peça o contrário.
— Hazel...
— Eu quero superar — murmurei, com o nó tomando conta de
quase toda a minha voz. — Me ajuda a superar.
Mason ergueu o rosto e nos encaramos sem que eu
conseguisse esconder meu medo e minhas lágrimas. Tentei evitar
que visse da primeira vez, queria resolver meus problemas sozinha,
sem trazer nada mais para assombrar nosso relacionamento. Agora,
não foi possível e ele podia enxergar o quão quebrada eu era.
Seus lábios tocaram meu olho esquerdo com delicadeza,
enquanto seus braços, que estavam sob a minha cabeça, levaram os
dedos até meus cabelos.
— Estou aqui — sussurrou, fechando os olhos quando suas
lágrimas caíram. — Ficarei o tempo que precisar. Hoje, amanhã,
tanto faz.
— Eu sou uma confusão, Mason. Me perdoa.
— Você é uma perfeição — retrucou, baixinho, beijando meu
nariz. — Nunca uma confusão. Nunca algo ruim. Veja bem, quem
precisa ser perdoado sou eu, que estou aqui com o pau pra fora,
enquanto a garota que eu amo está chorando. Tem coisa mais
ridícula que essa?
Tapei meu rosto, tentando não rir, mas foi difícil e eu sabia que
era isso que o filho da mãe estava tentando fazer. E ele era bom.
— Também te amo — declarei, tocando o rosto dele.
— Bem, é o mínimo, não é? — Mason revirou os olhos. — Olha
a nossa situação.
Sem que eu percebesse o que ele fazia, acabamos virados de
lado, com o jogador enroscando seu corpo todo no meu e me
prendendo dentro de seus braços e pernas. Ele beijou o topo da
minha cabeça e protegeu meu rosto contra seu peito, praticamente
me embalando no ritmo da música, e acalmando meu coração.
— Não gosto de te ver chorar, mas se é o que precisa, então
chore, meu bebê. Coloque pra fora de uma vez o que está entalado.
— Seus lábios tocando a pontinha da minha orelha me deixaram
arrepiada. — Depois enxugo suas lágrimas.
E ali, fechei meus olhos e deixei o choro silencioso sair, porque
não via a hora de que a fonte secasse, de uma vez por todas. Eu só
queria saber de ser feliz com aquele garoto.
Mason Johnson
Enchi a boca de pipoca depois de me sentar de novo, pois tinha
ido repor o balde pela segunda vez. Hazel abafou um sorrisinho
quando o apoiei entre minhas pernas e a puxei de novo para meus
braços. Era oficial, eu tinha me tornado um banana apaixonado, e a
prova maior disso era que em plena sexta-feira de uma linda
primavera, quando todos os meus amigos estavam na rua, eu estava
sentado no meu sofá, ao lado da minha namorada, assistindo “O
Guarda-Costas”, que era o filme favorito da vida dela.
Não era muito cinéfilo, não a ponto de ter uma lista de filmes
preferidos ou de ficar assistindo algum mais de uma vez, portanto,
não conseguia entender como Hazel podia ser apaixonada por uma
história que foi lançada uma década antes de seu nascimento.
De qualquer forma, eu a acompanhava, é claro. Passamos as
últimas duas semanas alternando entre meu sofá e minha cama,
enquanto a garota me apresentava seus filmes prediletos. A maioria,
da década de oitenta ou noventa, o que tornava as coisas ainda mais
assustadoras.
— Eles são tão lindos juntos — declarou numa determinada
cena que já devia ter visto quinhentas e oitenta e cinco vezes,
considerando que tinha decorado as falas. — É tão triste que ela
tenha morrido tão cedo...
— E você acabou de me dar spoiler?
— Quê? — Hazel me olhou e começou a rir, pausando o filme.
— Não, bobo, estou falando da Whitney Houston.
Ah, sim, dessa informação eu tinha conhecimento. A cantora
era mundialmente famosa e eu mesmo adorava algumas de suas
músicas. Mas o filme? Nunca havia assistido e estava achando tudo
bem clichê.
— Me diz logo se alguém morre, por favor — pedi, porque
estávamos na metade e eu já sentia que teria um gostinho de
sofrimento no final. — Ele é o guarda-costas dela, então está na cara
que vai levar um tiro pela amada e vai morrer.
— Cala a boca, Mason! — Hazel apertou meu queixo e beijou
meus lábios. — Sério, te amo, mas está me irritando. Não estrague
meu filme.
— Você mesma disse que já assistiu mais de trinta vezes.
— E sempre parece a primeira — concluiu, me fazendo suspirar
e me espreguiçar no sofá.
Decidi ficar quieto porque percebi que a baixinha estava
emocionada e eu não queria estragar a noite. Beijei seus cabelos,
segurando sua mão na minha e brincando com seus dedos. A parte
boa do filme, sem dúvida era a trilha sonora, mas o lado do romance
não era algo que me pegava muito de jeito. Sempre curti mais as
histórias de ação, policial e suspense. Toda a pequena parcela que
eu possuía de fofura e romantismo, ao que parecia, era inteiramente
destinada à minha garota e nada mais.
Sei lá, a forma como ela me completava e me fazia acordar
todas as manhãs desejando que estivesse na cama, do meu lado,
me deixava com os quatro pneus arriados. Nunca pensei que
conseguiria passar tanto tempo sem transar e aqui estava eu,
sobrevivendo à base de punhetas e roçadinhas entre calcinhas e
cuecas. Claro que esses momentos entre nós eram sempre
fenomenais, eu vibrava com cada um deles, mas sabia que o dia em
que Hazel liberasse o parquinho, eu a deixaria sem andar por uma
semana.
Infelizmente, enquanto esse momento esplêndido não chegava,
meu pau continuaria apenas sonhando com dias melhores. Pelo
menos, por duas vezes, ele havia ganhado um afago gostoso da
mão delicada de Hazel.
Suspirei, me compadecendo do sofrimento do casal
protagonista do filme, que parecia chegar ao fim e arrancava muitas
lágrimas da garota em meus braços. A trilha sonora, logicamente,
era a culpada por fazer tudo se tornar mais sentimental, e até mesmo
eu senti meus olhos arderem de leve enquanto assistia o avião
prestes a decolar.
— Só me explica uma coisa, porque estou curioso. Se você
sabe como termina, por que se emociona todas as vezes?
Hazel me encarou como se eu tivesse chutado filhotes
inocentes de gatos.
— Não é pelo final, é pela mensagem que todo o filme nos
passa — declarou. — Você prestou atenção?
— Mais ou menos, mas vou tentar assistir de novo outro dia —
respondi, porque não queria que me achasse insensível. — Acho
que não captei direito a mensagem.
A baixinha riu e se ajoelhou no sofá, subindo em meu colo e
segurando meu rosto. Me senti muito mais feliz e disposto com
aquela deliciosa reviravolta, ganhando beijos molhados nos cantos
da minha boca e, depois até mesmo no pescoço.
Naquela noite, Hazel estava de calça, então não tive um bom
acesso à bundinha bonita, mas isso não me impediu de levar minhas
mãos até lá e apertar com vontade. Ela percebeu, nos últimos dias,
que não conseguia manter minhas garras longe do seu traseiro,
então não se incomodava mais. E eu ficava feliz pra caralho em ver o
quanto havíamos evoluído. O caminho ainda seria longo porque nem
tudo era tão simples, mas Hazel me impressionava com a força que
guardava naquele corpinho pequeno, e a resiliência que igual a dela,
eu não enxergava em mais ninguém.
— Queria passar a noite aqui, mas sei que não dá —
murmurou, formando um biquinho com os lábios bonitos. — Odeio
que nossas agendas não sejam compatíveis.
— Faz parte, baixinha. — Dei um selinho nela, colocando uma
mecha de cabelos atrás da orelha pequena. — Melhor te levar logo
pra casa, não é? Até porque você vai viajar, então precisa dormir
cedo.
Ela assentiu, deitando a cabeça em meu ombro e apertando
meu pescoço. Estava assim porque amanhã seria sua primeira
competição regional no campeonato universitário de ginástica
artística, porém, a apresentação seria no Oregon, estado que ficava
a pouco mais de duas horas de avião. Como amanhã eu também
tinha que jogar, aqui mesmo em casa, ficava impossível conciliarmos
nossos compromissos para que um pudesse torcer pelo outro.
Bem, pelo menos, isso era o que Hazel pensava. A verdade, é
que eu havia me programado para fazer uma surpresa a ela. Como
meu jogo começaria de manhã e a competição dela começaria às
seis da tarde, eu sairia depressa do estádio, direto para o aeroporto,
pegaria um voo direto e chegaria com tempo para dar um beijo nela
e desejar boa sorte. Tinha avisado para Suzy, sua treinadora, que
estava ciente disso e tinha separado para mim uma credencial de
staff.
Estava nervoso e ansioso porque sabia que Hazel ia surtar de
felicidade. Ela vinha falando sobre isso há uns dias, resmungando
que nunca teria o prazer de me ver na plateia torcendo por ela, então
eu mal podia contar as horas para chegar lá.
Ao mesmo tempo, também me sentia nervoso e irritado porque
minha garota estaria com aquele collant pornográfico que mostrava
sua virilha perfeita para todo mundo ver. Nem eu mesmo tinha visto
direito, mal havia tocado aquela bocetinha, enquanto um bando de
marmanjo punheteiro devia ficar seco no uniforme das meninas.
Desci do carro quando parei na frente do dormitório de Hazel e
abri a porta para ela, pois sabia que gostava desse cuidado. Seus
braços se enroscaram na minha cintura ao ficar de pé, e me encostei
no automóvel, beijando sua testa e a apertando um pouquinho.
— Só vamos nos ver agora no domingo à tarde — murmurou,
frustrada. — Vou morrer de saudade.
— Você está muito apaixonada, né? — zombei, levando um
beliscão bem no meu mamilo. — Ei! Não danifique o material, sou
um espécime raro.
— Tem momentos que eu paro e penso, o que tinha na cabeça
pra te dar confiança. — Hazel estalou a língua e jogou o corpo para
trás, confiando que eu a manteria segura. — Desde o início você foi
convencido e só falou besteira. Como eu posso ter me encantado
com isso?
— As garotas sempre preferem os safados. — Encolhi os
ombros. — O Josh por exemplo, que sempre foi todo certinho, teve
que ralar pra caralho pra conseguir conquistar minha irmã. Pensa
que foi fácil?
Hazel soltou uma risada, mas calou a boca quando a beijei,
encaixando nossos lábios e dando uma mordidinha gostosa nos dela
antes de respirar fundo e olhar na direção do céu estrelado. Sempre
que eu me despedia da minha garota, era assim. Ficava enrolando
para deixá-la ir, procurando mais assunto para estender nosso
momento juntos e tentando decorar o gosto de seu beijo.
— Bom jogo amanhã — disse ela, alisando meu peito. —
Prometo que ainda vou pisar num estádio e assistir você jogar.
— Eu sei que vai. — Beijei seus dedos, devolvendo-os ao meu
coração. — Vamos superar isso juntos, ok? — Hazel assentiu, seu
semblante se transformando como acontecia quando tocávamos em
algum assunto que a lembrava do passado. — Afinal de contas,
tenho certeza de que Harry não ia gostar se você namorasse um
astro da NFL e não sentisse o prazer de assisti-lo jogar. Imagina
quando eu tiver que disputar o Super Bowl?
Ela balançou a cabeça, mordendo o lábio inferior e fechando os
olhos, sem evitar sorrir. Eu me sentia muito foda quando conseguia
afastar seus pensamentos ruins e fazê-la descontrair um pouco.
— Você realmente sonha alto e muito à frente — comentou,
ficando nas pontas dos pés e me dando um selinho. — Te amo.
— Sei disso. — Pisquei, soltando a cintura dela. — Também te
amo, baixinha. Durma bem esta noite e faça uma boa viagem
amanhã, ok?
— Ok. Vou te ligar quando chegar lá.
Assenti, enfiando minhas mãos nos bolsos e a esperando
entrar em segurança no prédio, enquanto sonhava com o rostinho
feliz amanhã, sorrindo para mim.
— Merda, Bryan tem razão. — Suspirei, sacodindo a cabeça ao
dar a volta para entrar no carro. — Estou espalhando a diabetes por
aí.
Hazel Mackenzie
Estava empolgada porque Ava, Sidney e eu ficaríamos juntas
no mesmo quarto de hotel, então nos abraçamos e demos pulinhos
assim que fechamos a nossa porta. Ava correu logo para pegar a
cama do meio, se jogando sobre ela de braços e pernas abertas,
sendo muito mais rápida e esperta que a gente.
— Finalmente poderemos passar uma noite inteira falando mal
dos outros — disse Sid, sentando-se na beira do colchão escolhido
por Ava e dando um tapa na bunda dela. — A bonitona aqui gosta de
dormir cedo, mas hoje não vou deixar isso acontecer.
— Até porque teremos muito o que comemorar — comentei,
puxando minha mala até a cama perto da janela. — Nossas
pontuações serão ótimas, afinal.
— Isso aí!
Abri as cortinas, mas a paisagem que encontrei não era das
mais bonitas e o tempo também não estava muito bom. Isso logo me
fez pensar em Mason e como estaria o céu em Los Angeles. Peguei
logo o celular no bolso e digitei uma mensagem, como havia
combinado.

Hazel: Cheguei no hotel! Estou no quarto com Ava e Sidney.

Hazel: Você deve estar jogando, né? Te amo!

— Ela é toda apaixonada! — Ava zombou, bem atrás de mim,


olhando minhas mensagens por cima do meu ombro e me cutucando
na cintura. — Quem diria que o safado conquistaria a minha amiga
certinha.
— Eu mesma duvidei muito das intenções dele — disse Sid,
sorrindo quando me virei de frente para elas. — Mas até que, por
enquanto, Mason não me deu nenhum motivo para arrancar suas
bolas.
— Até porque se você encostar nas bolas dele, o problema que
vai ter, será comigo — fingi ameaçá-la, apontando meu dedo e
fazendo cara feia antes de me jogar na minha cama. — Aquelas
bolas são apenas minhas!
Ava abriu a boca, parecendo um tanto confusa, e olhou na
direção de Sidney, que estava rindo com a mão no peito.
— Já transaram? — perguntou a primeira, desconfiada. —
Garota, você está muito solta. Já viu as bolas do Mason?
— Claro que sim! — gritei, me virando de bruços e enfiando o
rosto no travesseiro que abracei. — Me deixem! Não façam mais
perguntas!
— Eu quero saber se o pau dele é tudo isso que falam mesmo!
— Deixe de ser vadia, Ava! — Ouvi a risada da Sidney. — Eu
não estou nem um pouco ansiosa pra saber sobre o pau do
namorado da minha amiga.
Mesmo com o rosto escondido, abafei uma risadinha porque
imaginei o ego inflado de Mason ao ouvir aquela conversa. Lógico
que eu não compartilharia detalhes sobre ele com ninguém, pois o
queria inteiro e exclusivamente para mim. Qualquer pessoa que não
o tivesse conhecido de forma mais íntima antes, agora perdera a
chance definitiva, pois eu nunca mais o soltaria.
Enquanto minhas duas amigas se divertiam com os absurdos
daquela conversa, deixei que minha mente viajasse um pouco para
os momentos vividos naquelas três últimas semanas. Era delicioso
perceber como as coisas entre nós vinham evoluindo perfeitamente,
como Mason conseguia me transformar em alguém muito mais feliz e
confiante.
Virei-me no colchão e peguei de novo o meu celular, voltando a
digitar, sem me importar em ser melosa e encher a caixa de
mensagens dele.

Hazel: Estou com saudade. Queria tanto você aqui...


Quero dormir na sua casa amanhã, ok?

Hazel: Tome conta das minhas bolas!

Soltei a piadinha interna, imaginando que Mason não


entenderia nada. Eu mal tinha intimidade com seu pau até agora. Só
o toquei duas vezes, deixando que o jogador me ensinasse como
gostava de sentir minha mão, e confesso que vinha ensaiando o
momento em que me sentiria pronta para substituir meus dedos pela
minha boca. As garotas faziam parecer algo muito normal, mas para
mim, aquilo era o auge da intimidade.
— Ainda não chupei o Mason — declarei para minhas amigas,
que me olharam prendendo risadas. — Sério. Me ajudem.
— Você quer chupar? — perguntou Ava e eu revirei os olhos.
— Sei lá, né? Tem mulher que não gosta.
— Sério? — Aquela informação era nova para mim. — Achei
que fosse normal...
Sidney se levantou da cama da Ava e veio se sentar na minha,
puxando as pernas para cima do colchão e segurando minha mão,
sempre com a maior paciência do mundo. Ela nem tinha tanta
experiência sexual assim, pois eu sabia que até hoje só tinha
transado com quatro rapazes, mas sua bagagem era muito mais
vasta do que a minha, porque viveu todos os encontros e amassos
que eu pulei durante minha adolescência.
— É normal, amiga — murmurou, encolhendo os ombros. —
Mas ninguém é obrigado a gostar de nada nessa vida, né? E tem
mulher que não gosta de sexo oral, assim como tem homem que
também sente nojinho.
— Pois eu acho que tudo bem se a pessoa não gostar, mas se
não quiser fazer, não pode se sentir no direito de receber — declarou
Ava, cruzando os braços. — Já saí com um cara, assim como Sidney
disse, que dizia que era nojento lamber boceta. Então, no segundo
encontro, ele me pediu um boquete e eu, obviamente, não dei.
— Meu problema, neste caso, não é o nojo — comentei,
suspirando e pensando em Mason pelado, em como era atraente. —
É mais a vergonha e a insegurança de não fazer direito.
— Tem gente que treina com bananas, mas há o risco de
morrer engasgada — zombou Ava, arregalando os olhos para mim.
— Vai à merda!
Joguei meu travesseiro em cima dela e segui Sidney na
gargalhada, porque ela estava dobrando o corpo de tanto rir. Nada
que fosse assunto de uma conversa entre a gente conseguia manter
um nível de seriedade por muito tempo, era sempre assim. Por isso
que eu as amava e era muito grata em ter as duas na minha vida.
O tema do sexo oral teve que ser deixado de lado quando Suzy
ligou para o quarto, avisando do horário em que tínhamos que
descer para almoçar e também da hora exata em que todas
precisaríamos estar no saguão do hotel para irmos à competição. Ela
fez um pequeno terror psicológico conosco, dizendo que o ônibus
que nos levaria não esperaria por nenhuma mocinha atrasada e que,
se isso acontecesse, a pessoa ficaria de fora.
Todas levávamos a disciplina muito a sério, mas por via das
dúvidas, nós três colocamos nossos despertadores para o mesmo
horário, porque de jeito nenhum a gente deixaria de balançar nossa
bunda no solo esta noite.

— Ok, meus amores, vamos parar pra respirar fundo — disse


Suzy ao nos reunirmos na sala que tinha sido destinada à nossa
equipe. — Hoje, quero que pensem em como se sentem sendo um
time, na confiança que colocaram umas nas outras desde o primeiro
dia, e na importância que este regional tem pra cada uma de vocês.
Olhei para minhas amigas e apertei as mãos de ambas, porque
eu sabia que era a mais novata no meio da equipe e, mesmo assim,
fui tão bem recebida desde o primeiro instante.
— Eu tenho tanto orgulho de cada uma que está aqui — Suzy
continuou, distribuindo sorrisos. — Vocês são autênticas,
disciplinadas, amáveis, guerreiras. Vocês são inquebráveis e vão
fazer lindas apresentações lá fora!
Respirei fundo quando batemos palmas ao final do discurso,
me sentia um pouco emocionada, mas não queria chorar. Não podia,
de jeito nenhum, afinal de contas, já estava toda maquiada.
Trocamos abraços rápidos antes de voltarmos aos preparativos
finais, e aproveitei para me olhar no espelho. Meus cabelos estavam
completamente presos, com tranças firmes aparecendo nas laterais
e sumindo dentro do coque justo bem no alto da cabeça. Não
éramos celebridades, então nós mesmas ajudávamos umas às
outras, preparando nossos penteados e ajudando nas maquiagens.
Desde muito novas, nos tornávamos especialistas em tranças, gel de
cabelo, grampos, glitter, e todos os tipos de artimanhas que
pudessem ser usadas para manter nossa roupa no lugar certo.
— Estamos gatíssimas — disse Sidney ao me abraçar por trás
e apoiar o queixo no meu ombro. — Talvez só com um pouco de dor
de barriga, mas beleza.
— Você competiu nas Olimpíadas. — Ri, revirando meus olhos.
— Não pode passar mal num regional.
— E daí? Eu fico nervosa por mim e por você. — Ela se fez de
magoada e fungou. — Me deixe ser sentimental.
Sorri, jogando um beijo pelo espelho. A gente ia arrasar, eu
tinha certeza disso, confiava muito no talento de cada uma de nós. A
ginástica artística não era um esporte tão valorizado, provavelmente,
era um dos que menos holofotes e atenção recebia, e a maioria das
pessoas não fazia ideia do sacrifício e da luta necessária para estar
ali. Das inúmeras torções, distensões musculares, fraturas e milhares
de hematomas que cada uma colecionava. Da dor da derrota por
causa de um décimo de ponto, de uma pisada em falso, de uma
postura errada, de uma coreografia fora de ritmo, de um salto que
resulta numa queda. A gente era incrível demais, porque na frente de
tudo isso, o sorriso no rosto era sempre a primeira coisa que se
aprendia e treinava.
— Hazel! — Ouvi Suzy me chamar de algum lugar e me soltei
de Sidney. — Hazel, venha aqui fora agora!
— Que merda você fez? — perguntou Ava, levantando-se da
cadeira com o batom na mão. — Ela parece irritada.
Encolhi os ombros, confusa, porque nunca aconteceu de ter
qualquer desentendimento com Suzy Miller. De qualquer forma,
deixei as meninas e fui até a porta da sala, abrindo-a e colocando a
cabeça para fora à procura da treinadora. Meus olhos, no entanto,
focaram apenas na imagem que mais parecia um sonho.
Mason Johnson estava diante de mim, encostado à parede de
frente para a porta, com um sorriso no rosto e o maior buquê de
flores que já vi na minha vida.
— Oi, baixinha.
Mason Johnson
Aquela era a primeira vez que eu perdia um jogo e não ficava
puto, porque não tinha tempo para isso. Foi a maior correria deixar o
estádio depois de um banho rápido, pegar minha mochila que já
estava preparada desde a noite anterior, e ser levado às pressas
para o aeroporto, para não perder o horário do voo.
Josh tinha me deixado lá com Mia, e eu consegui chegar dez
minutos antes do embarque ser encerrado. Toda a taquicardia
acabou valendo muito a pena, é lógico, porque a surpresa nos olhos
de Hazel não tinha nenhum preço. Depois de fazer check-in no
mesmo hotel em que a equipe estava hospedada, ainda consegui
parar no caminho para comprar um buquê de rosas vermelhas.
— Oi, baixinha.
Sua boca abriu, em choque, e minha ginasta se aproximou,
intercalando o olhar entre meu rosto e minhas mãos.
— Não acredito — murmurou, levando as mãos à cabeça. — O
que está fazendo aqui?
— Achou mesmo que eu perderia a oportunidade de ver minha
garota competir? — Estiquei o buquê, que ela pegou toda
sorridente. — Fiz um planejamento há uns dias, mas precisava ser
uma surpresa.
— Nunca ganhei flores. — Seus olhos encontraram os meus.
— Isso é real?
— Opa! Não só é real como eu vou ficar com isso, ok? —
Sidney apareceu, pegando as rosas dos braços da amiga. — Vou
guardar seu buquê em segurança, assim você pode usar as mãos
pra agarrar muito seu boy. Ele fez por merecer! — Ela se inclinou
até o ouvido da baixinha. — Tomei a liberdade de tirar uma foto
desse momento, pra você depois postar e esfregar na cara das
inimigas.
Hazel levou um tapa na bunda antes da outra garota voltar
para a sala e nos deixar a sós. Finalmente, minha garota deu um
pulinho e eu a peguei pela cintura, recebendo um beijo gostoso e
um carinho no pescoço, do jeito que só ela e seus dedos sabiam
fazer.
— Ainda não estou acreditando que você veio — murmurou,
jogando a cabeça para trás. — Hoje é o dia mais feliz da minha vida!
Colei minha boca em sua orelha, rindo baixinho e sussurrando:
— Achei que tivesse sido o dia em que me viu pelado.
Hazel riu, sacodindo a cabeça como se eu fosse muito louco e
só falasse asneiras. E bem, sim, também tinha isso.
Beijei sua testa com cuidado para não estragar sua
maquiagem poderosa. Ela estava com os olhos pintados de preto e
vermelho, com a pele brilhando de glitter na altura das maçãs do
rosto, além do batom que precisaria retocar porque deve ter gastado
todo em mim.
Para completar o look, eu a soltei e a observei melhor. Hazel
vestia um collant preto de mangas longas, com muito brilho e com
as letras da UCLA em minúsculas pedrinhas prateadas. Estava
usando um short de lycra curtinho, que imaginei que fosse tirar
antes de se apresentar. Pelo menos, não ficava exibindo a minha
bunda linda por aí, de graça, o tempo todo.
— Você está deslumbrante, amor — falei, observando seu
penteado e beijando a lateral de sua testa. — Mas acho que
estraguei alguma coisa aqui, pois tem uma mecha de cabelos solta.
Hazel tateou para encontrar o problema, mas como eu tinha
uma melhor visão da situação, me arrisquei em puxar um daqueles
grampos, ouvindo um resmungo dela, e o levando à minha boca.
— Vou consertar — avisei, afastando suas mãos nervosas e a
virando de costas para mim. — Fica quietinha.
— Não piore as coisas.
— Eu sou um excelente cabeleireiro — zombei, ouvindo sua
risada. — Shhh, fica quieta.
Havia gel naqueles fios, dava para notar, mas a mecha rebelde
estava seca, sendo assim, passei um pouco de cuspe ali, sem que
minha garota notasse, e obtive o resultado desejado. Enrolei a
mecha fina em meu dedo e levei a pontinha para o interior do coque,
empurrando-a com delicadeza, me cagando de medo daquela porra
inteira despencar e Hazel querer furar meus olhos.
— Já disse que está linda? — perguntei, prendendo o grampo
e ouvindo um gritinho por ter ido com muita força. — Desculpe, não
sou tão experiente em penteados. Prometo que vou me esforçar pra
mudar isso.
Cutuquei o coque quando terminei, para testar a resistência do
filho da mãe. Se ele desmanchasse no meio da apresentação, não
queria ser o culpado por isso.
Por fim, deixei que se virasse de frente e a observei enquanto
tateava a própria cabeça, em busca de algum erro meu. A baixinha
sorriu, espalmando as mãos em meu peito, toda boba e
encantadora.
— Obrigada por ter vindo. Amei a surpresa e espero que goste
de me assistir. — Ela suspirou e fechou os olhos. — Agora vou ficar
ainda mais nervosa.
— Não fique — pedi, apertando sua cintura. — Não foi pra isso
que eu vim. Quero que tudo saia como você planejou.
Segurei sua mão e beijei seus dedos quando a porta da sala
foi aberta e um monte de ginastas saiu de lá, empolgadas e
ansiosas, tanto que muitas nem notaram a minha presença. Dei um
empurrãozinho para que Hazel fosse no embalo e me largasse, pois
não queria ser um estranho no meio delas. Sabia que precisava se
concentrar e se preparar, então meu objetivo era me manter em
segundo plano até que a performance da baixinha chegasse ao fim.
Como eu não tinha entrado pelo mesmo lugar que o público,
aquela era a primeira vez que eu tinha uma visão completa do
ginásio. Era bem amplo e com muitos assentos, mas infelizmente,
nem a metade estava ocupada. Nem mesmo os jogos mais fracos
do futebol americano operavam com uma capacidade tão baixa de
espectadores, e isso me deixou chateado por elas. Não sabia se era
algo que as importava, mas parecia injusto que não recebessem a
devida atenção, porque eu sabia o quanto Hazel treinava para estar
ali.
Nossa equipe — sim, eu me sentia parte disso porque a garota
era minha — foi direcionada para sua área e eu me sentei junto com
o resto da equipe, enquanto as meninas se alongavam mais
adiante, conversando com os treinadores. Uma delas tinha se
deitado de bruços no chão acolchoado e estava recebendo
massagem de um dos profissionais que devia sempre acompanhá-
las.
As ginastas começaram a se preparar, se despiram das roupas
extras, fizeram preces silenciosas. Os jurados estavam a postos em
seus respectivos aparelhos e uma a uma, de outras equipes,
começou a se apresentar.
Hazel se aproximou de mim e jogou o short no meu colo,
apoiando as mãos nos meus joelhos e se inclinando para me roubar
um selinho. Sorriu, estava linda pra caralho, e sussurrou que me
amava antes de se virar e saltitar de volta para as amigas.
Sentia meu peito apertado e o coração acelerado quando
minha baixinha foi para seu primeiro aparelho, que era aquela trave
estreita. A cada pulo e giro que dava, eu percebia que prendia
minha respiração, vibrando de segundo a segundo, até que
terminasse e fosse aplaudida.
Era bonito ver a maneira como elas se apoiavam e torciam
umas pelas outras. Ovacionavam a colega de equipe enquanto esta
estivesse sobre um aparelho, e mesmo as que não tinham um
desempenho tão bom, eram recebidas e abraçadas como campeãs
de toda forma.
Hazel voou graciosamente pelas barras assimétricas, naqueles
movimentos perfeitos, por mais pornográficos que fossem, e levou o
público ao delírio com sua desenvoltura e saltos cronometrados.
Quando chegou sua vez na porra do cavalo, eu acabei me
levantando e indo torcer no meio delas. Já tinha entendido que
aquele aparelho era motivo de tensão, porque o impacto final era
grande demais para o ginasta, tanto física quanto mentalmente. O
giro precisava ser perfeito e o pouso, tinha que fazer cravar os pés
com equilíbrio para que a nota fosse alta.
Outras atletas que passaram por ele não tiveram tão bons
desempenhos e uma delas, da equipe do Michigan, chegou a torcer
o tornozelo e causou uma comoção generalizada. Quase desmaiei
com a imagem, mesmo que no esporte que praticava acabasse
acontecendo acidentes tão ruins quanto, mas só conseguia pensar
na minha garota dando aqueles pulos, e meu coração quase parava.
Hazel se preparou lá do outro lado da pista, pela qual teria que
correr em alta velocidade antes de saltar por cima do aparelho. Ela
respirou fundo, extremamente concentrada, e eu cerrei minha
mandíbula quando disparou como uma flecha, os movimentos
precisos, o olhar intenso focado no cavalo, sob os gritos de toda a
equipe. Pensei em não olhar, mas não consegui.
A baixinha saltou, dando duas cambalhotas no ar antes de
descer, com os joelhos flexionados ao pousar, esticando as pernas
depressa ao cravar com o pulinho e erguendo os braços numa pose
bonita, com o queixo erguido e o sorriso tenso.
— Isso é bom, né? — perguntei, sendo ignorado porque suas
amigas estavam se abraçando e comemorando. — Ok, deve ser
bom!
Senti alguém me abraçar por trás rapidamente, antes de me
soltar, e meu corpo ir no embalo da agitação quando Hazel desceu
do piso superior e caiu em nossos braços. A primeira pessoa que a
parabenizou foi sua treinadora, que sempre parecia extremamente
orgulhosa de cada garota. Mas foi em mim que seus olhinhos
ansiosos pousaram quando se desvencilhou dos outros braços para
se jogar nos meus.
— Você foi perfeita! — falei em seu ouvido, beijando o rosto
suado. — Linda, linda!
— Vamos aguardar pela nota — murmurou, sem muito fôlego,
com o rosto vermelho e sorridente. — Não sou tão boa no cavalo,
minhas notas são melhores nas barras e no solo.
Mas para a surpresa de Hazel, a baixinha tirou a terceira maior
nota da noite naquele aparelho. Não era a primeira, mas pela sua
reação, era um resultado muito satisfatório. Eu, no entanto, pouco
me importava em qual posição ficava, porque a achava a mais
perfeita em todos os sentidos.
Enquanto esperavam que as rodadas terminassem e o solo
desse início, sendo o último da competição, mantive Hazel no meu
colo porque não conseguia me afastar da garota. Sentada de lado
em uma de minhas pernas, sua cabeça estava deitada no meu
ombro e seus joelhos balançavam no espaço entre minhas coxas. A
posição me permitia massagear um pouco seus membros inferiores,
assim como seus ombros extremamente tensos.
— Está hospedado no nosso hotel?
— Sim — respondi, notando seu sorriso. — Mas não quero
atrapalhar seu momento com suas amigas.
— Amo Ava e Sidney, mas jamais passaria a noite com elas
sabendo que você está no mesmo prédio que eu. — A baixinha
levantou a cabeça e beijou meu rosto, uma, duas, várias vezes,
depositando selinhos deliciosos pela minha pele. — Vocês
ganharam hoje? Esqueci de perguntar.
— Não deu dessa vez.
— Sério? — Hazel alisou meus cabelos e eu a encarei,
recebendo um selinho nos lábios. — Você merece ser mimado hoje.
Cuidarei do meu amor.
Percebi, pela minha visão periférica, que alguém nos
observava com os olhos arregalados. Virei o rosto para flagrar Ava,
sentada no chão à nossa frente, com uma careta direcionada a nós
dois.
— Caramba, vocês são muito melosos, alguém já disse isso?
— Ela sacodiu os braços. — Minha nossa, tá escorrendo açúcar pra
todos os lados. Ô Sid, me ajuda aqui! — a garota gritou, chamando
a outra amiga, mas antes de se afastar, ela se aproximou da gente e
sussurrou para Hazel: — Sobre aquela nossa conversa de mais
cedo... Se continuar assim, o gosto vai ser docinhooooo!
Minha garota tapou a boca da ginasta com as duas mãos
antes da outra sair correndo e saltitando. Encarei Hazel, toda
vermelha, que abriu um sorriso sem-graça para mim.
— Quero acreditar que minha mente é poluída e Ava não falou
o que estou pensando — comentei, apertando a coxa da baixinha.
— Não é nada disso — ela respondeu, apoiando a mão na
minha bochecha e empurrando meu rosto para o lado. — Esquece!
— Estavam conversando sobre... — Minha boca foi tapada
enquanto Hazel ria de nervoso.
— A conversa era sobre bolos, Mason.
— Entendi — murmurei quando ela me libertou. — Está
pensando em provar meu bolo?
— Não...
— O recheio é exclusivo.
— Meu Deus. — Hazel deitou a cabeça de novo. — Você é
sujo.
— Não sou não, sou limpinho — sussurrei no ouvido dela. — A
confeitaria recebe faxina todos os dias, tá? E sigo todas as
orientações da vigilância sanitária.
— Cala a boca, Mason. — Recebi um beliscão nas costas e
me calei um pouco, só para que minha garota pudesse voltar a se
concentrar.
Não demorou muito mais para que a etapa do solo fosse
iniciada e a energia voltasse a circular pela equipe. Quando
chegava a vez de cada uma, as outras meninas se amontoavam ao
redor da área quadrada para a apresentação e ovacionavam cada
segundo da coreografia. Descobri que as músicas não podiam
conter partes cantadas, mas consegui reconhecer várias apenas
pelo instrumental.
No momento em que Hazel se posicionou na pontinha da área
delimitada, ela ajeitou sua postura impecável e aguardou. Eu já
sabia que tinha escolhido “Bad Blood”, da Taylor Swift, porque havia
me contado minutos antes. No entanto, seria a primeira vez que eu
assistiria aquela coreografia. Nas vezes em que fui aos seus treinos,
não vi Hazel trabalhar em solo, não fazia ideia da capacidade da
minha garota.
E me emocionei, quando a baixinha correu na diagonal, em
direção a outra ponta do quadrado, saltando por alguns metros no ar
e girando, para cair lindamente com aquele barulho seco que seus
pés fizeram. Ela arrebatou a plateia só com aquela entrada, sendo
ovacionada, e continuou com perfeição seus movimentos. Ondulava
o corpo, dançava nas pontas dos pés ao ritmo da batida da música,
toda graciosa, parecendo uma bailarina.
Eu não fazia ideia dos nomes de cada um daqueles saltos que
dava, mas sabia que eram incríveis pela forma como todos reagiam
em cada finalização de Hazel, que nunca perdia a postura, nunca
vacilava ou dava um passo a mais do que deveria. Minha garota era
gigante pra caralho, porque aquela porra que fazia era mais difícil do
que o dia mais desafiador que eu tive em campo. Seus ossos
pareciam de ferro, não tinha outra explicação para a força do
impacto que sofria cada vez que aquele corpo pequeno girava em
piruetas. E mesmo com todo esse desgaste, a filha da mãe ainda
tinha disposição para fazer as gracinhas da coreografia e balançar
aquela bunda exuberante, ciente do quanto era bonita em suas
poses cronometradas com maestria.
Eu percebi que a apresentação chegava ao fim porque as
meninas ao meu redor se mostravam apreensivas, dando as mãos
enquanto torciam. Por mim, ficaria assistindo Hazel girar e dançar
por mais meia hora, mas ela retornou lá para a pontinha oposta,
fixando o olhar no chão, metros adiante, exatamente na marca de
onde tinha começado. Puxou o ar devagar, flexionou as pontas dos
pés, então correu, firme e decidida. Mantinha os braços esticados
ao lado do corpo até que se jogou de cabeça, apoiando as mãos no
chão e dando um giro, pisando no tatame para outro salto ainda
mais incrível e alto, até finalizar com uma cambalhota perfeita antes
de cravar lindamente com os braços acima da cabeça.
Sob os gritos empolgados das suas amigas, Hazel saiu
pulando da área marcada e veio para nossos braços, mas foi a
minha vez de impedir que qualquer outra pessoa chegasse nela
primeiro, e a peguei no colo, girando-a no ar.
— Eu sabia que você era foda, mas precisava ver com meus
próprios olhos — declarei, beijando sua bochecha, porque
estávamos diante de muita gente.
— Você viu a saída? — Ela perguntou, exultante, com a
respiração ofegante e o rosto vermelho do esforço. — Treinei tanto,
aqueles saltos são extremamente difíceis...
— Eu vi tudo, amor. Não perdi um segundo.
Seu sorriso feliz aqueceu meu coração e precisei devolvê-la
para o chão porque tinha que deixar que suas amigas a abraçassem
também. Tomei esse tempo para me jogar no banco e voltar a
respirar, pois sentia minha garganta seca de tão nervoso que fiquei,
temendo que algo desse errado.
Ainda bem que na ginástica artística, as competições eram
curtas e em menor quantidade, se comparadas com a maioria dos
outros esportes universitários. Não tinha saúde mental para dar
conta de acompanhar Hazel se precisasse passar aquele
nervosismo toda semana, sempre tendo que rezar para que minha
garota terminasse o dia inteira. Eram muitas as contusões que eu
tinha presenciado só naquela noite, e o que me deixava em pânico,
era justamente pelo fato de ver garotas se machucando. Quando se
tratava de um troglodita em campo, já estava acostumado, a gente
aguentava o tranco. Mas aquelas meninas pequenas, que prendiam
o choro na frente dos jurados? Não, não. Eu não tinha estrutura
para isso. Elas eram incríveis por serem tão fortes.
Hazel Mackenzie
Fui ao quarto que dividia com as meninas apenas para pegar
minha mala e levar para o de Mason. Nem banho tomei, porque
antes de soltar minha mão quando o elevador chegou ao meu andar,
ele implorou para que eu não tirasse o collant, me lançando um
sorrisinho cheio de segundas intenções.
Parecia que eu havia ganhado uma terceira perna porque
tropecei sem motivo enquanto corria de um lado para o outro do
quarto, sentindo os olhos de Ava e Sidney sobre mim.
— Por que está tão nervosa? Vocês já dormiram juntos, não
foi?
— É diferente — respondi, ajeitando meus cabelos no espelho.
— Estarmos num hotel me dá a impressão de ser uma noite mais
importante.
— Não entre nessa neura, amiga — disse Sidney. — Se ficar
assim, nem vai curtir direito o momento. Só aproveite que seu
namorado veio pra ficar com você.
— Você anda muito boazinha com o Mason. — Estreitei meus
olhos ao me virar e encará-la. — Desde quando passou a gostar
dele?
Ela encolheu os ombros e sorriu, se levantando e vindo me
abraçar. Retribuí, sentindo seu carinho em minhas costas antes de
beijar meu rosto.
— Eu sou justa e estou vendo o quanto ele está te fazendo
bem.
— Ou seja, nós desistimos de cortar o pau dele fora —
completou Ava. — Não o chamarei mais de cafajeste... Enquanto
continuar se comportando.
Sidney se afastou para pegar minha mala de rodinhas,
puxando-a pela alça e a colocando diante de mim. Ela piscou, me
olhando de uma maneira que dizia muita coisa que apenas nós duas
podíamos compreender. Sabia que comemorava cada pequeno
passo meu e seu jeitinho mais sarcástico e desconfiado era apenas
uma de suas maneiras de me proteger do mundo. Eu me chateei
quando desconfiou de Mason, mas ficava feliz em ver que ela tinha
maturidade suficiente para perceber que estava errada e que o
jogador me fazia bem.
— Vai se divertir — falou, arrumando meus cabelos como uma
irmã mais velha orgulhosa. — Você, mais do que ninguém, merece
isso.
— Sabem que eu amo vocês, né? — perguntei, segurando a
mala e recuando em direção à porta do quarto. — Na próxima
regional, vamos aproveitar juntas.
As duas assentiram e eu parei de enrolar antes que meu
nervosismo aumentasse. Cruzei o corredor depressa, não queria ser
flagrada por ninguém da equipe, e entrei no elevador quando parou
no andar. Mason estava hospedado um acima de mim e quando
toquei a campainha, ele atendeu todo sorridente.
Fui puxada para dentro do quarto e minha mala sumiu da minha
mão quando o jogador me pressionou contra a parede. Seus beijos
arrepiaram meu pescoço e seus dedos me transformaram em
gelatina conforme passeavam pela minha cintura e desciam até
meus quadris.
— Há horas eu desejava fazer isso — murmurou ao me soltar e
esfregar os cabelos. — Cacete, é difícil pra caralho namorar uma
gostosa e não poder tocar nela o tempo todo.
— Mas pode tocar — avisei, enrolando meus dedos na camisa
dele e o puxando de volta. Mason soltou uma risadinha e mordeu o
lábio, todo delicioso. — Sei que nossas ideias são diferentes, mas se
você exagerar, sabe que falarei.
— Sabe o que quero mesmo? — perguntou, enfiando as mãos
por baixo da minha camiseta e a puxando pela minha cabeça. — Ver
você nesse collant safado. Acho que desenvolvi um novo fetiche.
— Mas Mason, eu preciso tomar um banho. — Consegui me
livrar dele e avancei pelo quarto, notando que ao contrário do outro
com as três camas de solteiro, este só possuía uma de casal.
— Mas eu quero você desse jeitinho — declarou, vindo atrás de
mim.
— Estou cheia de pó, seu louco. — Passei as mãos pelas
minhas coxas. — Não quero sujar a roupa de cama onde vamos
dormir.
Aproveitei para soltar meus cabelos, que caíram de forma
estranha, endurecidos por causa de todo o gel que a gente
costumava usar. O jogador abafou uma risada e tocou uma das
mechas que apontavam para o lado de um jeito nada natural.
— Preciso contar que passei um pouquinho de cuspe em você.
— Quê?
— Quando arrumei seu coque — declarou o filho da mãe,
levando as mãos para trás das costas e recuando. — Sinto muito, foi
necessário.
Observei Mason se jogar na poltrona do quarto, relaxando as
mãos sobre os braços do móvel e jogando a cabeça para trás, sem
tirar o sorriso idiota do rosto. Pelo visto, estava falando sério mesmo
a respeito do cuspe, mas no fundo, eu não acho que isso importava
para mim.
Suas pernas se esticaram enquanto estalava o pescoço e abria
os botões da camisa, expondo o peitoral sarado e daquela cor que
eu amava ver contrastar com a minha. Estava muito gato, todo de
preto como quase não o via, pois gostava muito de roupas coloridas.
Por isso, não consegui resistir e me aproximei, sentando no braço da
poltrona e enfiando meus dedos por dentro de seus cabelos.
— Não acredito que cuspiu em mim — brinquei, estalando
minha língua. — E eu achando que era um cavalheiro.
Deslizei para o colo dele, balançando minhas pernas no ar
quando passou o braço pela minha barriga e se inclinou para me
beijar. Estremeci quando mordeu meu queixo e lambeu minha pele
pelo caminho que fez até meu pescoço. Sua boca correu pelo decote
do meu collant e chegou a um dos ombros, onde Mason abaixou um
pouco o tecido para expô-lo melhor.
Puxei o ar com certa dificuldade quando o braço sobre minha
barriga se mexeu e os dedos passearam por todo o meu abdômen,
subiram até meus seios e me tocaram por cima do tecido. A pressão
muito leve em meus mamilos enviou arrepios pelo meu corpo inteiro
e me fez pulsar entre as pernas.
— Posso tirar seu short? — perguntou ele, tocando no cadarço
da peça de roupa.
Mason pareceu ansioso quando eu autorizei, observando que
era tão fofa a forma como se controlava, desfazendo o pequeno nó e
puxando lentamente o tecido pelas minhas pernas. Como eu estava
quase deitada em seu colo, não foi difícil para ele deslizar o short até
passá-lo pelos meus pés e soltar a roupa no chão.
Confesso que me senti estranha, quase nua, exposta daquele
jeito. Era meu uniforme de apresentação e eu o vestia desde que era
uma criança, nunca o encarei como algo sexual, mas agora, com
Mason me olhando tão intensamente, precisei resistir à vontade de
me tapar.
— Não sei se lembra que eu surtei quando a vi vestida assim
pela primeira vez — comentou, deslizando alguns dedos pela minha
virilha. — Sei que é normal no seu esporte, mas pra mim você quase
não mostrava pele nenhuma, então eu recebi muita informação de
uma só vez.
Passei meus braços pelo pescoço dele e o beijei ali, deixando
que sua pele se arrepiasse enquanto fazia o mesmo comigo. Perdia
um pouco os meus sentidos quando Mason me tocava com tanta
delicadeza e sensualidade ao mesmo tempo, parecia saber dosar
com perfeição o peso de suas mãos, a intensidade dos movimentos,
tudo de uma maneira que me fizesse sentir confiança em seus
braços.
Como agora, que alisava minhas coxas até os joelhos, depois
voltava a subir os dedos. E cada vez mais, minhas pernas se
afastavam de forma automática, dando mais e mais espaço para que
ele me tocasse na parte interna delas.
— Quero sentir mais, Mason — murmurei em seu ouvido e seu
rosto virou para o meu, com um olhar doce. — Pode ir além...
Ele me beijou na boca enquanto pousava a mão em cima da
minha vagina, roçando os dedos na lycra e empurrando o tecido para
dentro da minha fenda. Fechei meus olhos para me permitir apenas
sentir e curtir o momento, o toque de Mason não me causava mais
nenhum medo ou insegurança.
— Posso tocar nessa bocetinha do jeito que quero? Ou há
algum limite?
— Você pode tudo — declarei, ouvindo o gemido que parecia
preso no peito dele.
— Porra, baixinha! O collant acabou de perder a graça!
Eu quis rir, mas não tive tempo, porque Mason puxou o elástico
para o lado e me tocou pela primeira vez daquele jeito, com a mão
inteira, fazendo parecer que ela era imensa perto da minha
intimidade. Encostei minha testa em seu peito e me concentrei
apenas na minha respiração, enquanto seus dedos afastavam os
lábios e se afundavam dentro deles.
Sentia que estava muito molhada e me excitava cada vez mais,
a cada toque em meu clitóris, que ele manejava com perfeição. O
safado sequer me olhava direito nos olhos, de tão hipnotizado pelo
que fazia, quase babando em cima de mim. Sob meu corpo, sua
ereção já tinha se formado e me cutucava, portanto, decidi ocupar
minha mão com o volume tão duro.
Foi de repente que Mason começou a puxar o collant pelos
meus ombros, depois deslizou o tecido maleável com facilidade pelo
meu tórax, e não tive reação quando meus seios apareceram. Quer
dizer, até tentei tapar com minhas mãos, mas o jogador me encarou
com tanta intensidade, que abaixei meus braços e me mostrei para
ele.
— Linda — murmurou, tocando um por um, devagar, dessa vez
olhava bem dentro dos meus olhos, ao mesmo tempo em que seus
dedos roçavam meus mamilos. — Fale comigo.
Não consegui, apenas fechei os olhos e joguei minha cabeça
para trás, sentindo seu nariz roçar minha bochecha e seus lábios
deixarem beijos pela minha pele.
— Devo pegar mais leve e recuar? — perguntou, num sussurro.
— Não. — A devoção que vi no olhar de Mason quando voltei a
encará-lo me fez ajoelhar sobre seu colo e apoiar minhas mãos em
seus ombros. — Tira logo a minha roupa.
Meu namorado deixou o queixo cair, jogando a cabeça para
trás e me olhando todo bobinho, até descer os olhos para meus
seios e segurar minha cintura. Abafei um gemido quando senti sua
língua passear pelo meu mamilo esquerdo, antes de sua boca se
fechar ao redor dele e me chupar devagar. Minha vagina se contraiu
com força e me preparei para sentir novamente quando Mason
alternou o foco para o lado direito.
— Acho que sou o homem mais feliz do mundo — murmurou,
erguendo os olhos com meu peito na boca. — Você é tão deliciosa,
que estou prestes a gozar na cueca.
Recebi um tapinha na bunda quando o jogador levou ambas as
mãos até lá, enfiando os dedos por dentro do collant e me apertando
com vontade, sem mais nenhum pudor. Fechei meus olhos, curtindo
aquele toque e os beijos, percebendo o momento em que minha
roupa começou a deslizar para baixo. Mason não demonstrava
pressa alguma e isso estava me enlouquecendo, mas entendia que
assim tornava tudo mais gostoso.
Por fim, acabei me sentando de novo para que ele puxasse o
tecido pelas minhas pernas e me deixasse completamente nua. A
sensação foi muito estranha, principalmente, porque Mason estava
todo vestido, mas como sempre, o olhar dele conseguia derrubar
todas as minhas barreiras.
Eu sempre me considerei dona de um corpo muito simples,
comum, eu diria. Tinha seios de tamanho médio para pequeno, uma
bunda proporcional à minha estrutura e, por conta do esporte
praticado desde criança, meu corpo não era tão curvilíneo, com
aquela cintura fininha e quadris grandes. Achava meus ombros mais
largos do que os da maioria das garotas comuns, porque essa parte
do corpo acabava sendo muito desenvolvida na ginástica, e minha
altura também não me tornava um mulherão. No entanto, Mason
olhava para mim como se eu fosse a criatura mais escultural do
universo inteiro. Ele não conseguia disfarçar o quanto me desejava e
admirava meu corpo, e isso fazia eu me sentir maravilhosa.
— Porra! — Sorri quando franziu a testa, me ajudando a
ajoelhar novamente e alisando minhas coxas. — Eu sou um filho da
puta muito sortudo.
— Deve ser mesmo... — provoquei, mexendo em seus cabelos
e gemendo quando senti sua mão entre minhas pernas. — Mason...
Movi meus quadris de forma inconsciente quando seus dedos
se esfregaram em mim, ao mesmo tempo em que sua boca chupava
meu peito. O toque dele, o desce e sobe pela minha carne molhada
e os gemidos que abafava contra minha pele, eram deliciosos.
— Ah, caralho, Hazel... — Ele me esfregou com mais pressão e
arranhou os dentes no meu mamilo, antes de jogar a cabeça para
trás na poltrona. — Tô gozando, não aguentei.
Desviei meus olhos para sua calça quando Mason levou os
dedos até o botão e puxou o zíper para se aliviar. Sua mão sumiu
dentro da cueca por uns segundos e me deixou com o coração
acelerado porque não parou de me tocar.
— Que bocetinha deliciosa — murmurou, de olhos fechados,
muito atraente. — Diz que ela é só minha...
— Mas ela é — respondi, ansiosa para ter mais de Mason.
— Quero ouvir tudo — pediu, levantando a cabeça e me
encarando. — Quero ouvir você sujar sua boca.
Meu namorado afastou a mão da cueca e a trouxe para meus
cabelos, agarrando-os em minha nuca e me puxando até me fazer
descer sobre seu colo. Pude rebolar contra sua ereção, ainda mais
excitada e surpresa por me sentir muito bem com aquela sua pegada
mais forte.
— Minha boceta é sua, Mason — declarei, lambendo a orelha
dele. — Só sua. Queria que tivesse sido sempre assim. E eu quero
transar com você, esta noite.
Tudo que acontecia naquele instante era muita informação e
levava a minha sensibilidade a níveis estratosféricos. Por isso, com
os dedos de Mason ainda me esfregando e a cueca dele gerando o
atrito necessário em cada cantinho da minha vagina, mal tive tempo
de capturar a boca que ele abriu em choque com minha declaração,
e fui contemplada com um orgasmo intenso, que me obrigou a
rebolar desesperadamente sobre seu colo gostoso, como eu jamais
pensei que faria um dia.
Mason Johnson
Porra.
Puta que pariu.
Caralho.
— O que você disse? — perguntei, porque não tinha certeza se
entendi certo.
Hazel, completamente mole em meu colo, pois tinha acabado
de gozar gostoso comigo, deu um sorriso largo e cheio de preguiça.
A baixinha rebolou sem pressa, me sentindo ainda duro, alisando
minha nuca com suas unhas curtas num carinho que eu amava.
— Quero que me faça sua — declarou, não me deixando mais
nenhuma dúvida.
A compreensão me atingiu em cheio. Achei que naquela noite
todas as fases permitidas teriam acabado de serem ultrapassadas,
não esperava mesmo que ela fosse se libertar completamente. E me
senti em transe, com minha mente derretendo e meu pau prestes a
se declarar morto, porque cacete, eu era um asno.
— Não... — pigarreei, alisando suas costas. — Então, eu não
trouxe camisinha.
Hazel levantou a cabeça depressa e me encarou, parecendo
desacreditada. Eu mesmo me sentia assim.
— Juro que não achei que aconteceria agora — expliquei-me,
observando os seios lindos, empinadinhos e levemente curvados
com os mamilos durinhos. — Teria trazido uma caixa inteira se
soubesse.
Eu compraria uma fábrica de preservativos se desconfiasse das
intenções da minha garota. Porém, talvez nem ela mesma tivesse
planejado aquela decisão, e eu entendia, porque no ápice do tesão a
gente nem pensa direito, só vai e faz.
Alisei sua cintura pequena e desci meus olhos, até a boceta
linda, meladinha e toda depilada. A pele era tão macia e lisa, que me
dava água na boca em pensar no gosto que tinha. Era pequena e
estreita, mas bem no final dos lábios, eles se tornavam carnudos o
suficiente para serem chupados com muita dedicação.
— Não tem problema — murmurou ela, se aconchegando toda
gostosa em meus braços. — Não precisa ser hoje.
— Onde fica a farmácia mais perto? — Cogitei me levantar e
ver se enxergava alguma pela janela, mas Hazel riu. — É sério,
basta que me espere.
— Prefiro ficar quietinha com você aqui no quarto — ela
respondeu, beijando minha boca e pulando do meu colo com mais
desenvoltura do que eu podia esperar. — Mas quero tomar banho,
ok? E espero que quando eu terminar, não veja essas roupas em
você.
A baixinha correu para o banheiro, como se estivesse com
vergonha por estar pelada, e bateu a porta sem pensar duas vezes.
Eu ainda levei um tempo para me desgrudar daquela poltrona
maravilhosa, que trouxe sorte para a minha vida, mas saí de cima
dela apenas para ir me sentar na cama como um abobalhado.
Certo, quais eram as minhas opções? Eu não queria transar
sem camisinha, porque as chances de dar merda e um novo membro
ser adicionado à família nove meses mais tarde, eram sempre muito
grandes. Ainda me lembrava de quando descobrimos a primeira
gravidez da Mia no meio daquela tragédia toda, porque ela e o
babaca do Josh tinham achado seguro foder como coelhos sem a
porra do preservativo.
Eu só tinha vinte e dois anos, era muito novo para ser pai e
ainda queria aproveitar Hazel só pra mim por muito tempo. Nada de
dividir aqueles peitinhos lindos com um bebê esfomeado, ou permitir
que um cabeçudo — eu nasci assim, de acordo com meus pais —
passasse pela bocetinha linda que agora era toda minha. Batalhei
demais para ser passado para trás por um pirralho com meu
sobrenome.
Tudo bem, minha garota não queria que eu saísse, sabia que
isso quebraria o clima que construímos aquela noite. Sendo assim,
eu precisaria me controlar e esperar mais um pouquinho. Se estava
mesmo decidida a dar esse nosso passo, então aconteceria cedo ou
tarde e, em breve, nós estaríamos de volta em casa.
— Você vai sobreviver, amigão — avisei, aproveitando para tirar
minha calça e alisar meu pau por cima da cueca. — Toda a sua
espera será recompensada. Você é um guerreiro, garoto!
— Está falando com seu pau? — Levantei a cabeça e vi Hazel
com a sobrancelha arqueada, enrolada na toalha e me lançando um
olhar duvidoso. — Achei que isso só acontecesse na ficção.
— Ele é um membro do meu corpo que possui vontade própria
— expliquei, tirando a minha camisa e jogando em qualquer lugar
quando Hazel soltou a toalha branca e ficou nua. — Está tentando
me enlouquecer?
Não esperei a resposta antes de dar dois passos em sua
direção, vendo-a prender o lábio entre os dentes e recuar devagar.
Queria falar coisas obscenas demais, e fazer outras ainda piores
com ela. Queria colocar aquela menina sentada na minha cara e
implorar para que esfregasse sua boceta em mim, até ejacular
gostoso na minha boca.
— Devo me vestir? — perguntou, os olhos correndo pelo quarto
antes de me encarar. — Eu acabei de ficar pelada na sua frente, não
pensei que precisasse me cobrir.
Segurei Hazel no lugar ao levar minhas mãos para sua bunda
dura e apertar meus dedos na carne lisa, sem me preocupar em
deslizar pela região, afastando cada banda e a tocando mais
intimamente. Senti o tremor em seu corpo quando chupei o pescoço
fino antes de erguê-la do chão e a envolver nos meus braços.
— Que tal ficar pelada em cima de mim, ali na cama? — sugeri,
dando um tapa em sua bunda e vendo seu rosto corar. — Ainda tô
duro pra cacete, então venha se esfregar em mim.
— Podemos só conversar pelos próximos minutos? —
perguntou, com aquela carinha linda enquanto a soltava sobre o
colchão. — Quero processar os últimos acontecimentos.
— Seu desejo é uma ordem, baixinha.
Depois de soltá-la, pedi para que também me esperasse um
pouquinho, assim podia tomar um banho, já que a ducha que joguei
no corpo depois do jogo foi bem rápida e havia horas que aconteceu.
Perdi menos do que quinze minutos no banheiro e vesti uma cueca
limpa, porque não confiava em mim para permitir que nós dois
ficássemos pelados naquela cama. Precisava existir uma barreira,
pelo bem da minha saúde mental.
Encontrei meu diamante deitado de bruços. Ela tinha se coberto
com o lençol, mas um pedaço da bunda havia ficado de fora e eu
amei a visão. A cortina estava parcialmente aberta e, como a cama
era alta, sua cabeça estava virada na direção da janela para
observar os prédios iluminados.
Engatinhei pelo colchão e afastei o lençol para beijar o ombro
nu, ouvindo um gemidinho preguiçoso e me encostando à cabeceira.
Hazel virou a cabeça para mim e deslizou o corpo para cima, de
modo que conseguiu deitar a cabeça nas minhas pernas.
— Essa sensação é ótima — murmurou, fechando os olhos
quando toquei seus cabelos para iniciar um cafuné.
— Qual? Me conte.
— Estar assim... — Sorriu lindamente. — Minha pele tocando o
lençol, nunca na vida nem dormi pelada, acredita?
— É libertador.
— Uhum. — Ela abriu os olhos e me encarou. — Mas melhor
ainda é me sentir compartilhando essa intimidade com você. É sentir
que qualquer coisa que a gente faça vai ser muito bom.
— Amo te ver mergulhada nessas reflexões, sabia?
Ela alisou a minha perna e se levantou, sorrindo e se
esfregando pelo meu corpo, até passar uma perna por cima de mim
e se sentar no que parecia, ultimamente, ser o seu lugar favorito.
— Você ama muitas coisas em mim — sussurrou, procurando
pela minha mão e entrelaçando nossos dedos.
— Eu amo tudo em você, baixinha — retruquei, tocando seus
mamilos com meus polegares. — E amo quando se abre comigo pra
falar qualquer coisa que guarda aqui dentro. — Pousei minha mão na
altura de seu coração. — Sempre fui meio seco pra isso, pra esse
lance de diálogo, meu foco era o sexo, sabe disso. Então, não foi
apenas você que evoluiu nessa relação, eu também me sinto muito
diferente.
Hazel alisou minhas sobrancelhas e passeou os dedos pelo
meu rosto, com a maior paciência do mundo, como se me
decorasse. Seus olhos verdes ficavam lindos e intensos quando se
perdiam em mim, e eram capazes de me fazer afogar dentro deles.
O mundo lá fora podia estar prestes a acabar, mas enquanto a
pequena garota mantivesse as mãos em contato com meu corpo,
nenhuma outra coisa me importava.
— Quem diria que Mason Johnson conversaria sobre assuntos
profundos com o pau duro? — zombou, acabando com meu
romantismo e me arrancando uma gargalhada.
— Ele está murchando — avisei, mexendo na minha cueca. —
Não é muito fã de diálogo.
Minha garota deslizou a mão pelo meu abdômen até tocar
minha cueca e puxar o elástico, puxando meu pau meio mole, meio
duro, e o massageando. Não precisou de muita coisa para que a
ereção retornasse ao seu ápice, então aproveitei para agarrar o
quanto pudesse aquela delícia que estava bem ali, toda aberta para
mim.
Escorreguei meu corpo para baixo no colchão para me deitar
um pouco mais e toquei a boceta de Hazel, ensopada e cheirosinha.
Quis testar como era sua abertura, levando um dedo até a entrada
apertadinha e a estimulando conforme rebolava para mim.
— Sente dor assim? — perguntei e como negou, enfiei a
cabeça do dedo, notando-a piscar ao redor dele.
Foi com o acréscimo do indicador que Hazel gemeu e travou,
se contraindo toda e apertando meu peito com as unhas. Sustentei
seu olhar para que se concentrasse em mim e movi meus dedos
lentamente, com cuidado, observando seu semblante.
— Está doendo?
— Um pouquinho... — respondeu, engolindo em seco. — Mas
não é insuportável.
Empurrei os dois dedos inteiros, flexionando-os dentro daquela
bocetinha, e os esfregando naquela carne quente e molhada para
que se acostumasse. Não seria naquela noite que eu a penetraria,
mas queria que quando acontecesse, Hazel pudesse me receber
sem tanto incômodo.
Quando percebi que a tensão tinha dissipado um pouco e a
garota já arriscava rebolar enquanto engolia meu dedo médio e meu
indicador, recuei a mão e manipulei o clitóris pequeno. Ela pingava
de tesão e aquela boquinha entreaberta, deixando gemidinhos
baixos escaparem, me alucinava.
Precisei me desvencilhar depressa da cueca e me sentir livre,
retornando à posição de antes e apertando os quadris de Hazel para
trazê-la de volta ao meu colo. Seus olhos ansiosos demonstravam a
vergonha de me ver daquela forma e encontraram os meus,
enquanto suas mãos se apoiavam no meu peito.
— Abre bem essa bocetinha e a esfrega direto no meu pau —
pedi, alucinado demais para controlar meu linguajar. — Quero gozar
assim, com seu clitóris roçando na minha glande.
A baixinha mordeu o lábio, o rosto vermelho e a respiração
tornando-se ofegante. Meu cacete já babava com a expectativa e eu
o alisei um pouco, para ficar bem melado e escorregadio. Quando
Hazel desceu sobre meus quadris, afastando bem as pernas e
encostando a boceta nas minhas bolas, soltei um gemido alto com a
visão impressionante.
— Gostosa pra caralho. — Estiquei meu braço e toquei aquela
carne linda e rosa, e o grelinho pulsante.
— Assim? — perguntou, vacilante, encaixando os lábios
melados ao redor da minha circunferência e movendo os quadris.
— Isso...
Fiquei hipnotizado, a cabeça do meu pau apontada na direção
do meu rosto, o sortudo quicando sobre meu abdômen à medida que
Hazel deslizava para trás e para frente. Minha boca ficou seca e eu
me senti latejar, porque não era só a sensação, a imagem era bonita
demais.
— Amor... — murmurei, cravando meus dedos nos joelhos dela.
— Que gostoso...
Nossa lubrificação se misturava e escorria ao redor do meu
umbigo, facilitando cada vez mais os movimentos. Minha menina já
tinha pegado o jeito da coisa e, muito esperta, investia uma maior
pressão sempre que chegava em cima da minha glande, rebolando e
movendo seu clitóris inchado bem ali, antes de se afastar de novo.
Ela se jogou em meu peito e afundou o rosto no meu pescoço
quando começou a gozar, deliciosa, movendo os quadris com maior
velocidade.
— Preciso sentir você, amor — pediu, baixinho, rebolando de
forma que meu pau começou a ter mais liberdade. — Por favor... só
um pouco...
— O que você quer? — Beijei seu rosto, puxando-a pela nuca
para que me olhasse. — Assim, de repente, pode doer.
Hazel sequer esperou. Seus movimentos contra meu pau, tão
melado quanto a boceta dela, facilitaram muito o encaixe e me
permitiram deslizar por sua entrada apertada. A baixinha reclamou,
apertou os olhos e apoiou a testa em meu peito, mas não recuou.
Tentei não me mexer, deixando que apenas ela suprisse sua vontade
de me sentir, porque seu jeito de foder não era o mesmo que o meu.
— Mason...
— Não force nada — pedi, alisando sua bunda que se contraía
conforme rebolava. — A gente pode esperar, ok?
— Eu não quero... eu tô quase lá...
Envolvi sua cintura com meus braços e ergui um pouco meus
quadris, me afundando devagar em sua boceta quente e apertada.
Hazel se esfregou, abrindo mais as pernas e me surpreendendo com
sua elasticidade, sem parar a dança gostosa com meu pau dentro
dela.
Não estava mais aguentando me controlar, mas cerrei meu
maxilar e esperei quando seu corpo começou a se contrair com força
e ela perdeu a coordenação das pernas. Em meu ouvido, seus
gemidos ecoaram deliciosamente, aproveitando um orgasmo longo e
intenso.
— Tenho que sair, Hazel. Não posso gozar dentro de você.
A baixinha ergueu os quadris e me deixou escapar, voltando a
se esfregar no meu pau latejante, enquanto eu me permitia soltar os
jatos de gozo sobre minha barriga.
— Ah! — gritei, sofrendo espasmos violentos e morrendo de
tesão porque a diaba em cima de mim continuava se masturbando
com minha glande. — Caralho, Hazel!
Senti minhas pernas desgrudarem momentaneamente do
colchão e agarrei o lençol com meus dedos, sem nada mais para
expelir, porém, curtindo aquele orgasmo. E o pior era que Hazel
começou a me cavalgar com aquela sarradinha deliciosa, se
contraindo novamente e indo mais rápido, recomeçando tudo de
novo.
— Sabe que vai me matar assim, né? — avisei, tocando a
boceta ensopada e inchada, que escorria em meu pau. — Deixe-me
entrar de novo em você. Vem aqui.
A filha da mãe estava gozando quando se jogou para a frente e
beijou minha boca, permitindo que sua boceta me recebesse
apertadinha, mas magnificamente lubrificada. Seus espasmos
esmagaram a glande que deslizava até o fundo e me fizeram mudar
de ideia, estocando curtinho para aproveitar suas contrações.
Meu primeiro orgasmo tinha sido tão intenso que eu ainda me
sentia sensível, portanto, não durei nem vinte segundos ali dentro,
fodendo a boceta mais gostosa que conhecia, sentindo seus seios
pressionados contra minha pele e o barulho do nosso sexo sendo
música para os meus ouvidos.
— Sinta — pedi, pegando a mão de Hazel e a colocando sobre
meu coração. — Estou quase passando mal.
Ela riu e me beijou, rebolando contra meus quadris que a
comiam rapidinho, até que explodi de tanto prazer.
— Amor! — gemi, puxando os cabelos da minha garota e a
ouvindo gemer comigo. — Ah... que bom...
— Fala que me ama... — sussurrou, baixinho, alisando meu
rosto.
— Eu te amo pra caralho. — Beijei sua boca, passando um
braço por suas costas suadas. — Te amo por inteira, cada pedaço,
cada cheiro, cada textura, cada toque, cada sorriso...
Hazel não se moveu mais quando voltou a deitar a cabeça em
meu peito e fechou os olhos, enquanto seus dedos passeavam pelo
meu rosto. Não ousaria sair de dentro dela pelo tempo que
conseguisse, porque aquela conexão era a coisa mais gostosa que
eu havia experimentado na vida.
Hazel Mackenzie
Peguei no sono com o homem da minha vida me apertando
em seus braços e distribuindo beijos em meus cabelos. Acordei com
o mesmo homem virado de barriga para cima na cama, de olhos
arregalados enquanto encarava o teto. Parecia que tinha sido
mumificado, porque o observei por quase cinco minutos e vi que não
se mexia, com exceção dos movimentos que o peito fazia ao
respirar.
— Mason, está tudo bem? — perguntei, ainda com preguiça de
levantar, apoiando um braço sobre sua barriga.
— O que eu fiz? — murmurou, levando a mão ao rosto e
batendo na testa. — Merda.
Por um instante, achei que o problema fosse eu e meu
estômago chegou a se contrair, mas antes que conseguisse pensar
no que dizer, ele mesmo se virou de lado, com o sangue sumindo do
rosto, e me puxou pela cintura. Respirei profundamente e fechei os
olhos por um segundo, controlando meus batimentos cardíacos e
evitando a frustração.
— Me expressei mal. — Sua boca tocou meu nariz, depois
minha bochecha. — Não me referi a você. Eu te amo pra caralho e a
noite ontem foi perfeita.
— Por que está assim, então?
— Estou chateado porque gozei dentro de você — Mason
respondeu, suspirando e parecendo mesmo culpado. — Era minha
obrigação ser responsável com isso.
— Mas posso tomar o remédio, não é? — Enfiei uma das
minhas pernas entre as suas, procurando por mais contato com o
seu corpo, porque estava viciada nele. — Desculpa, nunca me liguei
muito em aprender sobre meu período fértil. Ajuda se eu disser que
minha menstruação terminou há uns quatro dias?
— Não sei, amor. Sempre preferi confiar no preservativo.
Soltei-me de seu abraço e me sentei na cama, tentando me
situar porque a noite havia sido muito mais intensa do que imaginei.
E o mais surpreendente é que as coisas nem aconteceram como eu
queria. Tinha cogitado fazer sexo oral e nem me lembrei disso em
momento algum, porque estava sedenta para sentir como era ter
Mason dentro de mim.
Desci da cama e fui em busca do meu celular, que havia ficado
esquecido dentro da minha mochila. Ignorei as notificações que
chegaram e abri o navegador da internet, voltando para a cama e
me sentando ao lado do jogador.
Digitei sobre período fértil na barra de pesquisa e entrei no site
que parecia ser mais confiável, lendo algumas informações e
tentando fazer um cálculo rápido.
— Minha menstruação dura sempre três ou quatro dias, no
máximo, e aqui no site diz que, se eu contar de dez a quatorze dias
após o primeiro da menstruação, então terei o momento mais
propício pra engravidar.
Mason me encarou, parecia fazer as mesmas contas que eu
fizera segundos atrás. Só que eu entendia que, se era complicado
para mim, devia ser ainda mais para meu namorado.
— Não tem cinco dias que terminei de menstruar, entendeu?
— expliquei, sorrindo quando me beijou no ombro, olhando o celular
em minhas mãos e apoiando seu queixo ali. — Então, parece que
não estou perto dessa janela da fertilidade. Bem, assim eu espero,
porque nunca pensei em ter filhos.
Foi a vez do jogador ficar chocado com algo que saiu da minha
boca, pois ele recuou e franziu a testa para mim. Seus lábios se
franziram enquanto agitava os dedos nos cabelos já bagunçados, e
eu percebia que íamos entrar num assunto cômico para toda aquela
situação.
— Como assim, não quer ter filhos?
— Disse que nunca pensei — consertei, encolhendo meus
ombros. — Não disse que não quero.
— Ah. — Mason piscou, confuso. — Então, eu não quero ser
pai pelos próximos, sei lá, dois ou três anos. Mas quero ter filhos
com você, um dia.
Não fazia ideia se ele tinha se dado conta do que disse, mas
meu coração parou de bater por um segundo. Era significativo
demais ouvir aquelas palavras, por mais que elas tenham sido ditas
sem querer. Claro que eu o amava e esperava que ficássemos
juntos para sempre, mas sabia muito bem que relacionamentos não
eram simples, que casais apaixonados, muitas vezes, deixavam de
se gostar.
Eu não esperava isso de Mason. Queria, sonhava sim, mas
nunca me permiti parar para pensar num futuro distante, porque
sabia que o jogador tinha ainda muito o que viver. Minha vida no
esporte seria limitada, ginastas paravam muito cedo, ainda muito
novos. Já meu namorado, certamente seria contratado para jogar na
NFL e construiria uma carreira brilhante. Ele teria um mundo aos
seus pés ainda, e eu teria algum emprego simples, comum,
provavelmente algo que me permitisse trabalhar com fotografia.
Amores de faculdade geralmente eram assim. As exceções
existiam, obviamente, mas eu não achava que era sortuda a esse
ponto. Por isso que a fala de Mason me pegou desprevenida.
— Eu não... cheguei a pensar tão longe... — Engoli em seco,
um pouco tensa. — Pelo menos, depois que se formar, as coisas
podem mudar e...
— Está querendo dizer que nosso namoro tem data de
validade, baixinha? — Ele estreitou os olhos e sorriu daquele seu
jeito safado. — Não vai se livrar de mim facilmente.
— Não prometa nada — murmurei, suspirando ao ser puxada
pela cintura e receber uma mordida no queixo. — Sério, nós
sabemos que é difícil manter relacionamentos à distância.
— Então, o quê? — Estalou a língua e suspirou. — Eu devo
terminar com a garota que eu amo? Só porque me formarei antes
dela?
— Não sei.
— Olhe pra mim, Hazel — Mason pediu e eu virei meu rosto,
encontrando seu olhar decidido. — O que sinto por você não vai
mudar mesmo se eu for jogar do outro lado do país. E tudo bem,
pode não ser fácil, mas daremos um jeito.
— Desculpe, não queria trazer esse assunto à tona — falei,
encostando meu rosto no dele e alisando sua nuca. — Não é o
momento pra isso.
— Eu achei ótimo que tenhamos falado, porque não sabia que
você estava tão pessimista.
Passei meus braços pelo pescoço de Mason e o beijei na
boca, esperando que meus sentimentos à flor da pele pudessem ser
traduzidos naquele beijo. Meus dedos passearam pelos seus
cabelos e procuraram por sua nuca, porque eu sabia como se
derretia com meus carinhos naquela região.
— Não tão pessimista, prometo! — falei, abrindo um sorriso
para ele. — Me dá um desconto, ainda sou a mesma pessoa que
conheceu um tempo atrás. Não me livrei totalmente da minha
insegurança.
— Eu sei, baixinha, eu sei. — Ele colou a testa na minha e
pousou as mãos sobre minha bunda quando montei em seu colo. —
Mas você vai casar comigo, tenha certeza disso. Precisa aceitar
quando eu pedir sua mão, ou eu juro que a perseguirei por todo o
país.
Meu peito liberou um som hilário, como um ronco, junto com a
minha risada.
— Talvez seja inteligente e educado, você conhecer meus pais
antes de me arrastar para o altar — avisei, vendo Mason jogar a
cabeça para trás e arregalar os olhos. — Ou acha que vou me casar
sem a presença deles?
— Meu Deus! — O jogador deu um tapa na testa. — É que não
tenho mais os meus, né? Sempre esqueço que outras pessoas os
possuem.
— Sério? — Ele respondeu com um sorriso bobo e me fez
revirar os olhos. — Bem, sabe que os meus estão vivos, portanto,
dê seu jeito para conhecê-los.
— Não é um problema para mim, porque sou cativante.
— Às vezes, eu acho que você realmente fala determinadas
coisas com seriedade.
— E falo mesmo, tem razão. — Sua sobrancelha se arqueou,
me divertindo. — Por isso, vamos combinar sobre os filhos.
Faremos o possível para que eles não cheguem antes dos próximos
dois anos, ok? Mas quando nos sentirmos prontos, e tudo bem se
demorar mais tempo do que isso, nós teremos, pelo menos, dois
pirralhinhos.
— Parece que você já pensou em tudo. — O filho da mãe
assentiu, muito sério. — Não acha que ainda serei muito nova daqui
a dois anos?
— Ok, podemos pensar em três ou quatro anos — respondeu,
encolhendo os ombros. — Vinte e cinco é uma boa idade pra ser
mãe?
Apertei o queixo dele, franzindo seus lábios e lhe dando um
selinho.
— Você é inacreditável — declarei. — Sua sorte é que gosto
muito dos seus beijos. E se me der mais um, posso pensar no seu
caso.
Mordi o lábio inferior dele e o puxei antes de unir nossas
bocas. Pude sentir que seu brinquedinho começava a se animar
embaixo de mim e provoquei um pouco, rebolando no colo dele até
levar um tapa na bunda.
Mason mordeu meu ombro ao se levantar comigo da cama, me
obrigando a agarrá-lo com minhas pernas, conforme me carregava
pelo quarto. Nós passamos pela porta do banheiro e soltei um
gritinho quando minha bunda nua tocou o mármore frio da bancada.
Foi só então que eu me dei conta de que ainda estava pelada
e não me importava, assim como o jogador, que apoiou as mãos na
frente da pia e se encarou no espelho.
— Você é uma safadinha que consegue sempre me enrolar —
comentou, estalando a língua e abrindo a torneira. — Com esse
jeitinho sorrateiro, tanto fez que me roubou dois beijos antes que eu
escovasse os dentes.
Lambi meus lábios, pensando que nem tinha notado isso, até
porque eu mesma também não tive oportunidade de fazer minha
própria higiene. Por isso, dei de ombros e me inclinei, jogando meu
peso sobre o ombro dele e lambendo sua orelha.
— Me dá mais um — pedi.
— Sai daqui. — Mason riu, afastando a cabeça.
— Sabemos que você é gostoso até com bafo — provoquei,
mordendo seu ombro.
Mason sorriu, mas não foi convencido por mim, infelizmente.
Sem que eu esperasse, ele pegou o tubo de creme dental e o
apertou contra a minha boca, trazendo seu dedo e o espalhando por
dentro dos meus lábios.
Empurrei-o para poder descer e pulei para o chão, parando
atrás do jogador delicioso e encarando a bunda branca por causa da
marca da sunga. Eu me sentia tão corajosa e com tanta vontade de
fazer aquilo, desde que o vi desfilar todo bonito com a calça justinha
do uniforme, que não consegui resistir. Primeiro, dei um tapa forte
naquele traseiro, e em seguida, me inclinei e deixei uma mordida na
nádega redonda e durinha, que certamente resultaria numa marca
de exclusividade minha.
Quando Mason deu um pulo para a frente, chocado com minha
ousadia e levando a mão até a região avermelhada, ele chamou
meu nome de um jeito tão baixinho e controlado, que eu tinha
certeza de que estava formulando a melhor vingança contra mim,
portanto, saí correndo do banheiro, para só depois perceber que
ainda tinha creme dental na boca.
Mason Johnson

O spring break[12] da nossa faculdade caiu uma semana depois


que voltamos da viagem e como eu tinha ficado com aquilo na
cabeça, convidei Hazel para visitarmos seus pais em Ohio. Quando
dei a ideia, a ginasta se mostrou um pouco resistente, mas eu
prometi que seria divertido e que só gastaríamos dois dias das
nossas pequenas férias em sua casa. Depois de visitarmos sua
família, a gente faria uma viagem com o carro alugado até Chicago,
e passaria o restante da semana lá antes de voltar para casa. Essa
parte do roteiro tinha sido sugerida por ela e eu aceitei na hora,
porque nunca tinha viajado para lá.
Não sabia exatamente o que a garota tinha dito para os pais,
mas enquanto eu dirigia a caminho de seu endereço, ela parecia
mais nervosa do que eu. Segurei a mão que ela apertava sobre o
colo e sorri quando me olhou.
— Por que está assim? — perguntei. — É só uma visita.
— Nunca trouxe um garoto em casa. — Hazel revirou os olhos
e riu. — Quer dizer, isso é meio óbvio, eu sei. É que estou me
sentindo uma adolescente, com medo de ouvir sermão dos pais.
— Se isso acontecer, é só deixar rolar. Você não mora mais
com eles e em alguns dias, seremos só nós dois de novo.
— Se eles não te tratarem bem, promete que não vai correr de
mim?
Ri enquanto estacionava na porta da casa onde Hazel cresceu,
e me inclinei para dar um selinho na garota ansiosa. A residência era
bem bonita, com um belo gramado verde, o primeiro andar, todo
erguido em pedras coloridas e o segundo, de tijolos vermelhos que
contrastavam com o telhado branco, da mesma cor da varanda que
dava entrada para dois lados da construção.
— Esta casa é tão fofa quanto você — declarei, abrindo a porta
e saindo para pegar a mão de Hazel, que não conseguiu esperar que
eu desse a volta para abrir a dela. — Sério, amor, não fique nervosa.
— Vocês chegaram! — Ouvi o grito atrás de mim e me virei,
avistando a cópia da minha garota caminhando pelo jardim.
Tudo bem, não era idêntica, mas a mãe era muito parecida
mesmo. Descobri rapidamente de onde Hazel tinha herdado sua
baixa estatura, porque a mulher tinha, no máximo, um metro e
sessenta, enquanto o homem parado na varanda era tão alto quanto
eu.
Imediatamente, abraçou a filha, largando beijos por todo o rosto
da minha garota antes de segurá-lo entre as mãos e parar uns
segundos para analisar se ela estava inteira. Quando se deu por
satisfeita, então se virou para o lado e me encarou com os mesmos
olhos de Hazel, e seu sorriso desabrochou nos lábios.
— Como você é bonito! — A mulher, que se chamava Anne,
pareceu espantada ao tocar minha bochecha. — Muito bonito! Olha
esse sorriso...
Lancei um olhar para a minha baixinha, que cruzou os braços e
revirou os olhos, um pouco revoltada por ter deixado de ser o centro
das atenções. Então, pisquei para ela antes de voltar a encarar sua
mãe e tocar a mão da mulher.
— Obrigado — agradeci, sorrindo um pouco mais. — A senhora
também é encantadora, assim como sua filha.
Anne riu, envergonhada, levando a mão ao peito e usando a
outra para abanar o ar.
— Faz tempo que não escuto um elogio assim.
— Mãe? — Hazel resmungou, segurando o braço dela. —
Podemos entrar? Papai está esperando.
— Ah, claro. — Anne assentiu, parecendo voltar à realidade e
me puxando junto com elas. — Desculpe, Mason. Estou falando
certo o seu nome, né? Ah, desculpe... É que Hazel nunca trouxe um
namorado em casa.
— Porque ele é meu único namorado — disse minha baixinha.
— Não tem problema, Sra. Mackenzie. Sei que costumo causar
impacto, estou acostumado.
— Mason tem problemas com o ego, mãe. Seria bom se a
senhora não alimentasse essa ilusão.
Joguei um beijinho no ar para Hazel, quando ela me olhou por
cima dos ombros de sua mãe e me lançou uma careta. Mas logo
meu foco foi desviado para seu pai, um homem que, de acordo com
minha namorada, tinha cinquenta e seis anos e havia servido ao
Exército, mas foi aposentado quando sofreu um ferimento que o fez
perder dois dedos do pé direito.
A maneira como me encarou, em pé na varanda e eu, dois
degraus abaixo, pareceu um pouco ameaçadora. Não que ele se
esforçasse para ter aquela imagem padrão de ex-militar durão nem
nada do tipo, mas parecia um homem sério que estava olhando pela
primeira vez para o cara que comia sua filhinha. Por isso, sabia que
precisava manter o respeito e estiquei minha mão, ajeitando minha
postura.
— Olá, Sr. Mackenzie — murmurei, sorrindo. — É um prazer.
Por um ou dois segundos, seus olhos olharam fundo nos meus
e eu sustentei. Com todo o conhecimento que eu possuía sobre o
passado de Hazel, conseguia entender toda a desconfiança que os
pais dela poderiam ter de mim, então não estava preocupado com
isso.
Quando a garota passou os braços pela minha cintura e
encostou a cabeça no meu peito, os olhos de seu pai se desviaram
para ela antes de voltarem a me encarar. Então, ele esticou a mão e
segurou a minha que permanecia estendida.
— Seja bem-vindo, Mason — declarou.

Como chegamos perto da hora do almoço, eu nem tive tempo


de respirar direito antes de começarem a enfiar comida pela minha
goela adentro. Lembrei-me dos porcos que são engordados antes do
abate e me senti um pouco preocupado, mas Anne e Matthew não
pareciam maníacos. Pelo contrário, os trinta minutos que passei
entre tirar as malas do carro e ser levado para conhecer a casa, me
fez perceber que os dois eram um típico casal da classe média
americana.
— Já assistiu alguma apresentação da Hazel? — perguntou a
mãe dela, enquanto me servia a segunda colher de purê de batatas.
— Eu fiz uma surpresa pra ela na semana passada.
— Mason pegou um avião para ir assistir a primeira regional —
a baixinha explicou, arrancando um sorriso de Anne. — Não seria
nada extraordinário, se não fosse pelo fato de que ele teve um jogo
de manhã na UCLA e se desdobrou pra chegar no Oregon.
— O que você joga, Mason? — questionou Matthew, prestando
atenção na conversa, mas com o foco na comida em seu prato.
— Futebol americano — respondi e ouvi o barulho dos talheres
que Anne soltou.
O silêncio caiu ao redor da mesa e eu pensei se tinha feito bem
em responder aquela pergunta. Hazel e eu não conversamos nada
sobre isso, ela não me contou se havia problema em tocar no
assunto, então fui pego de surpresa.
— Ele é o running back principal do Bruins — disse minha
garota. — Eu o odiava quando o conheci.
Virei todo o copo de suco que estava à minha frente,
observando pela minha visão periférica, Anne tocar o peito e o
massagear, enquanto encarava a filha. Então, a mulher se levantou e
parou atrás da cadeira de Hazel, segurando sua cabeça e a beijando
no topo.
— Isso é muito bom, querida — murmurou, um pouco baixo, e
como eu estava sentado ao lado da minha namorada, a mulher
esticou o braço e afagou meu ombro. — Muito bom.
Segurei a mão de Hazel, alisando seus dedos, porque tinha
percebido que ela mesma havia se desconcertado um pouco.
Enquanto isso, seu pai observava a tudo em silêncio, mas não me
escapou o brilho em seus olhos como se não conseguisse controlar
a emoção, por mais que tentasse manter a pose.
— Contei tudo ao Mason — declarou minha garota quando a
mãe a soltou e voltou ao lugar. — Então, não precisam ter medo de
falar sobre nada na frente dele.
— E como vocês se conheceram, querida? — Quis saber Anne,
animada para se inteirar das novidades da vida de sua filha.
Quando Hazel começou a contar como tudo aconteceu, eu
percebi que não tinha tanto tempo assim que a gente se conhecia,
mas a sensação em meu peito era como se já fizesse anos, de tão
forte e profundo era o que sentia por aquela garota.
A tarde foi ocupada com histórias de infância, dela e de Harry, e
fui soterrado por álbuns de fotos adoráveis, com uma baixinha ainda
mais pequenina, que parecia viver mostrando os dentes no sorriso
fofo. Os registros que seus pais guardavam de cada competição dela
aqueceram meu peito, porque era lindo ver como sempre amou a
ginástica e tinha nascido para saltar naquelas barras.
O casal também guardava muita coisa do filho, até mesmo o
quarto do garoto ainda estava lá, com a mesma cama que era dele,
de acordo com Hazel, assim como o armário e sua escrivaninha. A
maior parte da decoração do adolescente tinha sido retirada, mas os
porta-retratos com suas fotos não deixavam dúvidas de que era ali
que vivera toda sua curta vida.
Infelizmente, foi naquele quarto que me colocaram para dormir,
e eu não conseguia fechar os olhos, encarando o teto branco acima
da minha cabeça e agradecendo por só ter decidido passar dois dias
naquela casa.
Vi a chegada de uma notificação e peguei direito meu celular,
que descansava sobre meu peito, notando que tinha recebido
mensagem de Hazel.

Baixinha: Tudo bem aí do lado?

Mason: Mais ou menos.


Estou com medo de que Harry apareça
e me sufoque com o travesseiro.

Baixinha: kkkkkkkkkkkkk te amo!

Mason: É sério. Ele sabe que estou aqui, Hazel.


Ele sabe que estou comendo a irmãzinha dele.
Ele sabe que minha bunda tá deitada no lençol que era dele.

Minha garota parou de responder, o que só me deixou mais


cismado. Será que Harry tinha sugado a bateria do celular dela, para
que ficássemos incomunicáveis e, assim, eu não pudesse pedir
socorro quando ele aparecesse?
Virei-me de lado, encarando a cortina que deixava algumas
sombras entrarem no quarto. Mas então, me dei conta de que nessa
posição, ficaria de costas para as portas do guarda-roupas, por isso
me virei para o outro lado.
Eu realmente amo a sua irmã, cara. Estou falando sério. Ou
melhor, pensando. Caso você leia pensamentos, fica a dica. Hazel é
a minha garota e eu juro que nunca fiz putaria com ela.
Meu corpo inteiro gelou quando ouvi o rangido de madeira e
grudei meus olhos na porta, mas era só a baixinha colocando a
cabeça para dentro do quarto e sorrindo para mim. Massageei meu
peito e relaxei quando saltitou em silêncio e subiu na cama, entrando
debaixo do meu lençol e encostando os pés gelados nos meus.
— Quer foder a porra toda? — sussurrei. — Se seu irmão nos
flagrar na cama dele, ele vai me acompanhar até Los Angeles e serei
assombrado pelo resto da vida.
— Não vamos fazer nada — disse Hazel, me dando um selinho.
— Vim só lembrar a você, que não está me comendo, como acabou
de sugerir. Nem chegou perto disso, porque que eu me recorde, sou
eu que ando me esforçando pra conseguir gozar. Você só fica lá,
parado, em Nárnia, todas as vezes.
— O quê? — Mordi a boca para não gargalhar e dei um tapa na
bunda da atrevida. — Está me provocando, Hazel?
— Não. — Ela sorriu e piscou os cílios para mim. — Só estou
pedindo pra que pare de me tratar como um cristal. Já passou da
hora de eu conhecer o verdadeiro Mason Johnson.
Mas que filha da mãe! Ela teve a coragem de me apalpar com
força antes de se levantar e correr para fora do quarto. Eu voltei a
encarar o teto, porque agora, mais do que nunca, não conseguiria
dormir. O medo de ser assombrado tinha sido substituído pelas
indiretas de Hazel, porque era claro que eu tomava muito cuidado
quando estávamos juntos.
Ouvi o som do celular e o levantei para ler mais uma
mensagem da minha namorada.

Baixinha: Quando Harry era vivo, ele vivia reclamando


de barulhos estranhos pelo quarto.
Então, caso você escute alguma coisa, talvez não seja ele.
Talvez seja apenas o fantasma que também o atormentava.

Mason: Quando chegarmos ao hotel, você vai levar uma surra de


pau.
Continue me provocando, Hazel.

Ela enviou apenas um coração como resposta e eu larguei o


telefone para tentar dormir. Só tentar mesmo, porque comecei a ouvir
as merdas dos barulhos estranhos. Podia ser apenas coisa de casa
antiga, seria a explicação mais lógica e comum, mas agora eu não
me sentia tão confortável para relaxar e dormir.
Hazel Mackenzie
— Você é a razão da nossa vida. Sabe disso, não é? —
perguntou meu pai, segurando meu rosto antes de beijar minha
testa. — Sua mãe e eu estamos muito orgulhosos da mulher que se
tornou.
Fechei meus olhos para não deixar todas as lágrimas
escaparem e senti meu pai me apertar dentro de seus braços. Eu o
envolvi com os meus, gravando o cheiro de sua loção pós-barba que
era característico da minha infância.
— Minha garotinha. Tão pequena e tão gigante.
— Te amo, pai.
— Eu também te amo, querida. — Suas mãos alisaram minhas
costas, um toque firme que eu conhecia muito bem e que me
passava conforto. — Não fique tanto tempo longe, ok? Traga o
Mason, ele parece gostar muito de você.
Assenti quando me soltou, beijando meu rosto mais uma vez e
alisando meus cabelos. Já tinha me despedido da minha mãe — o
que resultou em muito mais lágrimas do que a despedida do meu pai
—, então me virei para ir ao encontro do meu namorado, que me
esperava encostado ao carro, todo lindo vestido de regata e
bermuda, sapatos brancos e o óculos escuro pendurado na blusa.
Precisei de um tempinho em silêncio para me recuperar
daquela dose de nostalgia que recebi nos últimos dois dias, e abri
um pouco o vidro da janela para deixar o ar entrar. Estávamos na
estrada há quase uma hora, o céu ganhando uma coloração linda
com o pôr do sol da primavera, a mão de Mason pousada em minha
coxa e uma sensação deliciosa de liberdade invadindo o meu peito.
— Está feliz, meu amor? — ele perguntou.
Na rádio estava tocando “Under the influence”, do Chris Brown
e eu havia colocado metade do meu corpo para fora da janela,
deixando que o vento bagunçasse meus cabelos e me fizesse sentir
viva com aquele pico de adrenalina.
Quando voltei a me sentar direito, sentia meu rosto quente e
assenti para Mason, lembrando de responder sua pergunta. Ele deu
um sorrisinho satisfeito e foi diminuindo a velocidade ao mesmo
tempo em que virava o volante para entrar numa estradinha bizarra
de terra batida, que mal passava um carro, então desligou os faróis.
— Que bom que está feliz — murmurou, acionando o botão em
sua porta e subindo o meu vidro. — Porque eu não vou esperar
chegarmos ao hotel pra me vingar de você.
— O quê? — Mason estava desabotoando a bermuda e me
pegando de surpresa ao chegar seu banco para trás.
Entendi qual era sua intenção quando me lançou um olhar
muito safado e apertou o pau ao levar a mão para dentro da cueca.
Tive tempo de tirar meu cinto de segurança antes que Mason
trouxesse seus dedos para a minha calcinha, dando muita sorte de
eu ter escolhido colocar um vestido para a viagem.
— Quero você sentando no meu pau — murmurou, se
inclinando para abrir o porta-luvas do carro e pegando uma
embalagem de camisinha. — Vim preparado dessa vez, baixinha.
Ele voltou a me tocar, puxando minha calcinha para o lado e
massageando meu clitóris. Eu já tinha entendido há algum tempo,
que reagia muito bem aos dedos de Mason, porque me sentia ficar
molhada rapidamente. O jogador tinha puxado o pau para fora da
cueca e eu podia observar, impressionada, como a ereção se
formava e modificava o tamanho do membro.
— Não foi você que disse querer conhecer minha outra versão?
— perguntou, rouco, puxando meus cabelos para me beijar. —
Espero que esteja pronta pro que desejou, querida.
Abafei uma risada em seus lábios e o lambi, movendo meus
quadris contra os dedos dele, muito ansiosa para o que aconteceria.
Mason me soltou apenas para vestir o preservativo e observei com
atenção para poder aprender como se fazia. Completamente ereto,
ele balançou quando eu me ajoelhei no meu banco e passei por cima
do console do carro, até me posicionar no colo do jogador. Suas
mãos agarraram a minha bunda e deslizaram pela minha pele, até
que senti seus dedos puxarem e rasgarem a minha calcinha na
lateral.
— Desça — mandou, enrolando meu vestido para o alto e
esfregando a palma da mão em meus grandes lábios. — E não
reclame.
Apertei seus ombros enquanto me abaixava, observando
Mason cuidadoso ao se encaixar na minha entrada, então fechei os
olhos. Era inevitável sentir dor, porque além de eu não ter
praticamente experiência, o pau dele era grande. Precisei me
concentrar conforme Mason me mantinha presa pela cintura e me
guiava mais para baixo, me alargando conforme me penetrava mais
fundo.
— Não aguento... — falei, apesar de não querer choramingar.
— Seja bonzinho...
Ele não me permitiu levantar nem me mexer, mas vi em seus
olhos, a dúvida que o atingiu. Sua língua passeou devagar pelos
seus lábios antes que fechasse a boca e soltasse um suspiro forte
pelo nariz.
— Sempre sou, mas você quis me provocar. — Mason sorriu,
voltando ao seu modo fofo, ainda enterrado dentro de mim. Ele se
inclinou e me abraçou forte, me dando um selinho e sussurrando: —
Tudo bem, amor, podemos tentar de novo no hotel.
— Não — respondi, me decidindo, mesmo que ali a gente
corresse grandes riscos de ir parar na cadeia. — Vamos continuar.
Rebolei em cima dele, ouvindo sua respiração pesada e
sentindo as mãos descerem pelas minhas costas.
— E a dor?
— Não é insuportável — garanti a ele, empurrando seus
ombros para que voltasse a se encostar no banco. — Passei a vida
toda ouvindo amigas dizerem que ficaram com as bocetas doloridas
depois de um sexo selvagem. — Mason soltou uma risada gostosa,
investindo os quadris contra mim. — Então, me dê um pouco disso.
— Gosto quando você suja essa boquinha — murmurou, me
dando um tapa na bunda. — Fala mais, fala...
Apoiei uma mão na porta do carro quando o filho da mãe
cravou os dedos nos meus quadris e se moveu com força por dentro
de mim. A sensação que eu tinha era a de que Mason me
arregaçava e eu nunca mais conseguiria fechar as pernas, mas era
excitante sentir meu corpo quicar sobre o dele daquela forma.
Notei os músculos das minhas coxas tremerem, sem que eu
tivesse controle sobre eles e pudesse parar aquela reação do meu
corpo. Agradeci em silêncio quando Mason me puxou de encontro ao
seu peito e me deu aquele suporte, mas acabei gritando como uma
louca quando suas mãos afastaram minhas nádegas de uma
maneira que facilitou suas estocadas. Elas se tornaram mais rápidas
e violentas, explodindo o som pelo interior do carro, uma coisa de
carne com carne que me deixou mais envergonhada do que o sexo
em si.
— Mason... — Eu me sentia arder por onde seu pau se
esfregava. — Meu Deus...
— Sua boceta é deliciosa, amor.
Mordi o pescoço dele para evitar gritar ainda mais, porque
sentia uma mistura de prazer e dor. Talvez, um pouco mais de prazer
do que de sofrimento em si, porque o incômodo que sentia por ter
seu pau inchado dentro de mim, ao mesmo tempo me causava uma
sensação de precisar de mais daquilo que recebia.
— Quero testar você — disse o filho da mãe, chupando minha
boca e colocando a ponta da língua para fora, entre os meus lábios,
antes de lamber meu maxilar e descer até o pescoço. — Quero
saber até onde essa bocetinha me aguenta.
Eu me sentia tão sensível, que nem esbocei nenhuma reação,
apenas deixei que suas mãos me manipulassem enquanto descia o
encosto do banco e ajeitava minhas pernas para que eu apoiasse
meus pés no assento. Levou minhas mãos até o apoio de cabeça e
agarrou firme em meus quadris, começando a estocar tão rápido que
meus gemidos pareciam sair gaguejados.
— Levante mais esse vestido e coloque seu peito na minha
boca.
Cumpri sua ordem depressa, alucinada, encaixando o bico do
meu peito entre os lábios dele, que os apertou com força ao redor do
meu mamilo. Gozei daquele jeito, completamente preenchida por
Mason, arriscando rebolar no ritmo dele porque precisava aproveitar
ele bem duro, enquanto minha boceta o esmagava com os
espasmos que me atingiam.
— Isso, minha garota... — Mason murmurou, gemendo comigo.
— Goza bem gostoso, assim...
— Não pare... — pedi quando soltou meus quadris, e comecei a
cavalgar sobre seu pau.
— Não tô parando, mas vou gozar.
Capturei a boca bonita quando ele começou a gemer com a voz
sufocada, estocando forte e tremendo embaixo de mim. Deslizei
meus lábios pelo seu queixo, lambi o pomo de adão que se movia
conforme Mason engolia, e voltei a esfregar nossas bocas quando o
senti se acalmar.
— Fale comigo, Hazel... — pediu, de olhos fechados e
ofegante, nunca deixando de se preocupar.
— Estou maravilhosa, se quer saber — brinquei, depositando
uns beijinhos no rosto dele. — Descobri que meu namorado, hm... só
vou falar isso uma vez, então preste atenção.
— O quê?
— Descobri que meu namorado fode gostoso.
O jogador gargalhou e abriu os olhos, levantando o banco para
a posição original e exibindo um sorriso convencido. Suas mãos
deslizaram pela minha cintura e chegaram aos meus quadris, que ele
apertou, movendo o olhar pelo meu corpo e o fixando entre minhas
pernas. Seu polegar me esfregou bem ali, entre meus lábios abertos
e melados, então foi parar em sua boca para que sentisse meu
gosto.
— Logo mais também vai descobrir que seu namorado chupa
sua boceta bem demais — declarou, me causando um arrepio com
seu olhar penetrante. — Quero você sentadinha na minha boca,
gozando sem parar.
— Acho que vou sentir vergonha disso — admiti, ansiosa. —
Sentar assim? Parece absurdo...
Mason sorriu de um jeito que parecia querer dizer o quanto eu
estava enganada. E eu sabia que ele sempre conseguia me fazer
relaxar e passar por cima de qualquer vergonha ou insegurança, por
isso, não insisti no assunto. Preferia esperar até que o momento
chegasse e descobrir como lidaria com a situação. De uma coisa eu
tinha certeza absoluta: nada que acontecia entre nós dois me
causava qualquer arrependimento depois, por isso, eu acabava me
jogando de cabeça nas experiências que vivia com Mason.
Mason Johnson
Hazel ficou toda bobinha quando chegamos ao nosso quarto de
hotel e ela viu a minha surpresa. Quando marquei a reserva pela
internet, solicitei de núpcias — ninguém precisava saber que éramos
só namorados — e a equipe responsável o decorou com muitas
pétalas de rosas vermelhas, balões metalizados com felicitações ao
casal e um balde de gelo com uma garrafa de champagne nos
aguardando sob uma toalha no meio da cama.
Com as mãos tapando a boca, chocada, minha garota me
encarou com os olhos arregalados e deu pulinhos sem sair do lugar.
Gastei uma graninha com a brincadeira daquela viagem inteira, mas
estava valendo cada centavo gasto.
— Nós casamos, Mason? — perguntou, rindo ao se jogar nos
meus braços. — Não estou encontrando o diamante em meu dedo.
— Vamos com calma — pedi, beijando sua testa. — Eu sou
pobre, terá que se contentar com uma pedra de strass numa
bijouteria, ok?
A bonitinha assentiu, mordendo o lábio gostoso.
— Nunca precisei de ouro e pedras preciosas — disse ela,
alisando minha bochecha. — Só quero você.
— Se parar pra refletir, eu meio que sou precioso. Um elemento
raro, que não se encontra na tabela periódica.
Hazel arqueou a sobrancelha e, em seguida, revirou os olhos.
Levei um beliscão no peito, ainda bem que por cima da camisa, até
que a filha da mãe se soltou dos meus braços e ergueu a mão,
alisando o dedo anelar e estalando a língua.
— Hm, tudo bem, então. — Sorriu para mim, mas de forma
maliciosa. — Posso colocar uma das suas bolas em um anel.
Isso doeu, cara. Doeu pra caralho, tanto que levei a mão até
meus sagrados testículos para me acalmar. A safada achou muita
graça e me deixou ali, apreensivo, para ir puxar sua mala para perto
da cama e a abrir, mexendo nas roupas que estavam
meticulosamente dobradas porque ela era assim, toda certinha.
— Quero me lavar rapidinho, tá?
— Posso ir junto? — Me animei, ansioso para tomar meu
primeiro banho com ela.
Mas Hazel ficou vermelha ao parar diante da porta do banheiro
e balançou depressa a cabeça, me lançando um sorrisinho sem-
graça e mordiscando o lábio.
— Ainda não chegamos nessa fase — murmurou, franzindo os
lábios. — Não vou lavar minha bunda na sua frente.
— Eu lavo por você, amor. — Pisquei, recebendo um dedo do
meio antes de ela entrar e fechar a porta.
Foi só o tempo de tirar minha camisa para relaxar e me sentar
na cama, pensando em pegar o celular e conferir minhas
notificações, até que Hazel escancarasse a porta, com os olhos
arregalados e brilhando.
— Mason! Tem uma banheira gigante aqui dentro!
Porra, ela era deliciosamente inocente.
— Você acha que eu não sei disso? — perguntei, tirando meus
sapatos. — Esqueceu que foi seu namorado inteligente que reservou
este quarto?
Quando compreendeu minhas intenções, piscou algumas vezes
e fechou a boca, parecendo uma barata tonta ao girar para voltar ao
banheiro e se enrolando um pouco com o tapete que ficava bem na
entrada. Quando fechou a porta, ainda pude ouvir o barulhinho da
chave sendo virada na fechadura e sorri, ansioso por pegar minha
garota de jeito.

Não podia me sentir mais feliz do que estava, sinceramente.


Nem rolava penetração, mas ter minha garota em meus braços ali
dentro da banheira, com as velas acesas e minha playlist favorita de
R&B tocando baixinho no meu celular, devia ser o mais próximo do
céu que eu havia chegado.
Afastei seus cabelos molhados para beijar seus ombros sujos
de espuma cheirosa, e apertei meus braços ao redor de sua cintura,
puxando ainda mais sua bundinha para o meu colo.
— Te amo — sussurrei pertinho de seu ouvido, porque sua
cabeça encostou em meu peito.
— Te amo mais — disse ela, entrelaçando os dedos nos meus.
— É bom ficar assim...
Abri meus lábios ao redor de sua pele, deixando a pontinha da
minha língua sentir seu gosto. Tocava “Long Nights”, de 6LACK, um
som muito agradável para o momento, tranquilo, intimista, do jeito
que eu desejava passar minha vida com aquela garota.
Não havia pressa nem necessidade de nada. Eu não queria
entrar nela, não queria vestir a camisinha, não queria lhe causar
desconforto porque sabia que dentro da água não era tão bom. Mas
também não queria sair tão cedo do lugar em que estava, preferia
apenas curtir o mais devagar possível, sentir nossos corpos se
tocando daquele jeito preguiçoso.
— Tão linda... — murmurei, colocando o lóbulo de sua orelha
na boca.
Hazel gemeu baixinho, ondulando os quadris e esfregando as
pernas nas minhas, deixando que eu tocasse lentamente seu clitóris,
bem de leve. Vez ou outra, ela apertava as coxas ao redor da minha
mão, então as relaxava e eu deslizava meus dedos por toda sua
bocetinha, até enfiar o médio em sua entrada delicada.
Fazia mais de vinte minutos que tínhamos entrado naquela
banheira e nós dois já tínhamos gozado assim, apenas com nossos
toques e sem afobação, mas eu me sentia duro novamente,
latejando naquele espaço maravilhoso, sentindo as nádegas macias
se esfregando em mim, engolindo meu pau que se acomodava entre
suas pernas e descansava a cabecinha entre os pequenos lábios.
Hazel esticou a mão e pegou sua taça que já estava quase
seca, mas eu tinha colocado bem pouca bebida para ela. Estalou a
língua, sacodindo a cabeça e os ombros, me divertindo com aquela
reação.
— Desisto, não dá pra fingir costume — confessou, virando o
rosto para mim. — Isso não é gostoso, não sei porque o povo gosta
tanto de beber. Por que você está sorrindo desse jeito?
— Eu te amo até reclamando da champagne pela qual paguei
cem dólares — respondi, vendo-a escancarar a boca. — É tão
lindinha...
— Mason! — Hazel apertou meu queixo. — Cem dólares?
Ficou louco?
— É romântico — justifiquei e ela riu.
— Com essa grana, a gente podia comer muita pizza.
Assenti, era verdade.
— Mas aí, eu não poderia te abraçar assim, dentro dessa
banheira, nesse climinha gostoso, com uma pizza escorrendo
gordura dentro da água. — Puxei sua cintura, acomodando seu
corpo de lado em meu colo, e a penetrei com dois dedos curvados.
— E mesmo que você só tenha tomado meia taça, o teor alcóolico te
ajuda a ficar assim, soltinha e excitada, curtindo enquanto te fodo
desse jeitinho.
— Ai... — Hazel fechou os olhos e jogou a cabeça para trás, se
contraindo ao redor dos meus dedos, ao mesmo tempo em que meu
polegar massageava seu grelinho duro. — Mason...
— Sim, amor. — Lambi seu pescoço molhado. — É sempre o
meu nome que quero te ouvir gemer.
Sua mão desesperada procurou e encontrou meu pau,
deslizando para cima e para baixo pelo meu cacete duro, e já tinha
aprendido que eu gostava daquele carinho mais forte ao redor da
glande. A forma como meu corpo escorregou pela banheira,
derretido com a punheta gostosa e focado em foder a bocetinha da
minha baixinha, deixou a cabeça do meu pau para fora da água.
Quando gozei nos dedos de Hazel, um jato forte acabou
fugindo e se derramando sobre meu peito. Em seguida, a garota me
surpreendeu ao passar um dedo pelas gotas de esperma e levar até
sua própria boca, me olhando de forma intensa enquanto gozava
comigo friccionando depressa seu ponto G. Em êxtase total, não nos
importamos com toda a água que derramamos para fora da banheira
enquanto o tesão nos atingia com tanta força, existindo apenas
aquele momento de puro prazer, sintonia e liberdade.
Os minutos se passaram enquanto a gente curtia um ao outro,
trocando beijos e muito carinho, e eu sentia que Hazel estava quase
adormecendo nos meus braços. Como meus planos ainda não
tinham sido todos executados, decidi carregá-la de volta para o
quarto antes que pegasse no sono.
Forrei a cama com toalhas porque não pretendia dormir na
roupa de cama molhada e depois me deitei com a baixinha. Com sua
pele úmida e macia, desci por seu corpo e ergui uma de suas
pernas, tocando suas panturrilhas com minha boca.
— Você ainda tem energia pra isso?
— Não achou que eu fosse te deixar dormir essa noite, né? —
perguntei, estalando minha língua. — Só vai descansar quando eu
tiver o que quero.
Seus olhos desceram na direção de sua boceta, adivinhando
exatamente qual era o meu objetivo. Por um instante, tentou fechar
as pernas e eu a impedi, me inclinando para beijar a parte interna de
uma das coxas gostosas.
— Tô nervosa, Mason... — sussurrou, com os cotovelos
apoiados no colchão, prestando atenção a tudo.
— Não fique, amor. — Flexionei meus braços ao subir sobre
seu corpo e uni nossos lábios, tentando fazer com que relaxasse um
pouco. — Não tem nada aqui que eu já não tenha visto ou tocado, ou
sentido. Vou me deitar e você vai esfregar essa bocetinha linda em
mim, só que no lugar do meu pau que gosta tanto, estará minha
boca. Te juro que você vai amar.
Eu me virei para o lado e me deitei de costas, ajeitando o
travesseiro debaixo da minha cabeça e tocando a mão de Hazel.
Seus dedos se prenderam aos meus e ela veio, devagar, como uma
gatinha manhosa, engatinhando para subir em mim e me encarar de
forma apreensiva.
— Vire-se de costas, assim terá acesso ao meu pau, se o
quiser. — Ela me obedeceu e alisei sua bunda bonita, puxando-a
pelos quadris para que se aproximasse do meu rosto. — Sobe mais,
não tenha medo de sentar.
Quando montou em meu rosto, Hazel se inclinou levemente
para a frente, e eu logo passei a ponta da minha língua no lugar que
mais queria. Senti a textura dos lábios internos, ainda quentes e
melados, lambi a virilha lisa e macia, então fechei minha boca para
chupar a melhor fruta do mundo. Minha baixinha gemeu, quase
perdendo o apoio das mãos, mas a segurei firme para que se
sentisse segura.
Ela era deliciosa, o clitóris inchadinho foi capturado pelos meus
lábios e chupado devagar, sugando aquele ponto e passeando a
língua por ele antes de soltá-lo e repetir a operação. Hazel
estremeceu e a lambi por inteira, sentindo o gosto da boceta de
ponta a ponta, tomando toda sua lubrificação para mim.
— Mason... — gemeu, inclinando mais o corpo.
Eu amava aquele som de prazer carregando meu nome junto, e
por isso, dei um tapa no traseiro arrebitado para pode sentir a boceta
piscar ao redor da minha língua, que brincava em seu interior quente.
— Meu Deus... — Hazel rebolou devagar e, para me deixar
louco, colocou meu pau na boca.
Eu não tinha como ver o que estava fazendo, mas podia sentir
minha glande receber beijos tímidos e uma ou outra lambida. A
garota se deitou, me presenteando com aquela boceta toda
arreganhada para mim, e eu comecei a mamar ela inteira quando
iniciou seus movimentos com os quadris, na mania de se esfregar
que tanto gostava.
Foi perdendo a vergonha aos poucos, gemendo quando enfiei
meus dedos dentro dela e a fodi sem pressa, sempre com seu clitóris
na boca. Meu pau ganhou um boquete gostoso quando começou a
experimentar me engolir até onde conseguia, e foi ganhando ritmo
conforme fodia a minha língua que tentava lamber cada pedacinho
da boceta cheirosa.
— Ah, Hazel... Que delícia...
Lambi o que escorria daquela entrada perfeita, gozando na
minha boca e rebolando com mais vontade e urgência. Eu me
mantive ali, meus dedos sendo engolidos pela gulosa que, no auge
do tesão, já não estava mais se importando que era com meu rosto
que estava fodendo daquele jeito insano, gemendo lindamente
enquanto me cavalgava.
Eu não me dei nem ao trabalho de avisar que ia gozar, apenas
explodi sem controle, satisfeito em ver que Hazel continuava me
engolindo, me chupando e me lambendo, em sintonia total comigo,
até que nossos corpos foram se esgotando mutuamente e eu a
ajudei a vir se deitar ao meu lado.
— Acho que encontrei minha posição preferida no sexo — a
baixinha murmurou, se aconchegando em mim.
— Chupando meu pau?
— Não — respondeu, rindo. — Sentando na sua boca.
Soltei uma risada e me virei sobre ela, enfiando minha perna
entre as suas, uma posição que ainda era um tabu entre nós. Hazel
já não surtava mais quando ficávamos assim, mas não sabia quando
transaríamos daquele jeito.
— Eu te falei que chupava muito bem, não falei? — Beijei a
ponta do nariz dela e deslizei pelo seu corpo para dar atenção aos
seios lindos. — Podemos repetir todos os dias, basta querer.
— Você é muito safado, Mason.
— Hm, mas foi por isso que te conquistei, não foi? —
provoquei, chupando um de seus mamilos antes de me jogar para o
lado e rindo. — Confesse que desde o dia em que ofereci meu
autógrafo, você só pensa em mim e em como seria me cavalgar.
— Idiota. — Levei um tapa no peito e ouvi sua risada. — Você é
tão tosco!
A baixinha se virou de bruços e apoiou um braço no meu peito,
depositando um beijo naquela região antes de sorrir para mim.
— Sujo e usado, mas mesmo assim eu te amo.
Hazel Mackenzie
Tanto eu, quanto Ava e Sidney queríamos comemorar nossas
pontuações no segundo regional, que tinha acontecido aqui mesmo
na UCLA. Era para ser um momento só nosso, até porque eu
passava a maior parte do meu tempo livre, agarrada ao Mason e
sentia muita falta de ficar com elas. Sendo assim, avisei ao meu
namorado que aquele domingo seria todo das meninas. Nos demos
uma folga um do outro e ele também aproveitaria para fazer algum
programa com seus amigos.
Já estávamos nos encaminhando para a terceira semana de
abril e a forma como os meses estavam passando depressa vinha
me assustando. Parecia que tinha sido dias atrás que senti ódio de
Mason quando furou a fila na minha frente, e a gente já tinha vivido
tantos momentos importantes, que era como se namorássemos há
anos.
Fomos a um barzinho que o jogador nos indicou quando pedi
uma sugestão, porque nenhuma de nós três era do tipo que ficava
antenada com os points mais badalados. Pedimos cerveja, que eu
sabia que esquentaria no copo antes que conseguíssemos tomar
tudo, e escolhemos alguns petiscos do cardápio.
— Não adianta sair com a gente e não largar o telefone, Hazel.
— Ava estreitou os olhos para mim.
Eu sorri, digitando para Mason que precisava desligar ou
causaria uma treta na mesa, então deixei o telefone de lado. No
entanto, o aparelho começou a tocar com a solicitação de uma
chamada em vídeo, que aceitei rapidamente.
— Oi, meninas lindas! — Mason abriu um sorrisão e eu virei a
tela para elas. — Juro que vou deixar a Hazel em paz. É que ela é
tão linda, não é?
Sidney riu e Ava revirou os olhos.
— Meu Deus, vocês são muito enjoativos — disse Sid. —
Tchau, Mason.
— Não fala assim, bonitinha. — Ele estalou a língua. — Vou
arranjar namorados pra vocês duas e poderemos sair em casais.
— Um desses seus amigos que possuem uma azeitona no
lugar do cérebro? — perguntou Ava, arqueando a sobrancelha. —
Se for assim, prefiro meus dedos.
Mason gritou, assustando a nós três, e levou as mãos aos
ouvidos ao mesmo tempo em que fechava os olhos.
— Eu sou um homem comprometido! Não posso ouvir essas
coisas justo da amiga da minha mulher! Deus me livre!
Sidney e Ava gargalharam e eu virei o telefone completamente
para mim, sentindo meu rosto quente e esperando que o bobo
voltasse a abrir meus olhos.
— Vou desligar, amor — avisei. — Antes que você monopolize
a nossa noite.
— Te amo! — Ele beijou a câmera. — Tô me arrumando pra ir
beber com os rapazes.
— Divirta-se, mas com juízo.
— Sempre tenho juízo — declarou antes de piscar e encerrar a
chamada.
Eu não podia concordar com aquela afirmação, mas sabia que
ele se esforçava muito para fazer tudo certinho. E acho que o mais
importante era a confiança que existia entre a gente. Não me
importava que Mason fosse para nenhum lugar sem mim, mesmo
que isso não acontecesse tanto por enquanto, porque sabia que me
respeitaria acima de tudo. Sabia que não era impossível alguém dar
em cima dele, mas meu namorado nunca me deu motivos para
desconfiar de suas intenções ou ter ciúmes de suas atitudes.
Em relação a mim, eu pertencia totalmente a Mason Johnson.
Nunca houve ninguém antes dele e não haveria depois. A conexão
que desenvolvemos era surreal e não existia quem me entendesse
melhor do que aquele homem. Eu me sentia amada e segura como
nunca aconteceu.
— Vamos brindar ao campeonato! — sugeriu Ava quando
nossas cervejas chegaram, junto com os petiscos.
— Que nossas notas sejam as melhores sempre e que as
medalhas venham para os nossos pescoços! — brindei com elas.
— Que tenhamos muito o que comemorar no final dessa
temporada! — completou Sidney.
Dei logo um gole grande e devolvi o copo à mesa, me
lembrando de mandar uma mensagem urgente para Mason, apenas
por garantia, considerando que nós três juntas não servia de muita
coisa.

Hazel: Eu tô bebendo com as meninas e tenho medo de ficar muito


tonta.
Pode vir nos buscar mais tarde?

Mason: Lógico. Que horas?

Tínhamos acabado de chegar e não eram oito horas ainda. Por


quanto tempo se podia beber e jogar conversa fora num bar?

Hazel: Acho que por volta das dez... talvez?


Ou vai atrapalhar sua saída?

Mason: Nada é mais importante que você.


Chego aí às dez horas, ok?

Mandei um coração como resposta e soltei o celular, sorrindo


para a cara feia que Sidney fez ao me ver com ele em mãos.
— Estava garantindo o nosso retorno em segurança —
expliquei. — Mason vem nos buscar, então não tem problema se
alguém ficar bêbada.
— Mais um motivo para um novo brinde! — comemorou Ava,
levantando o copo.
O que eu sei, é que talvez a gente tenha brindado mais umas
doze vezes, por cada assunto que entrava em discussão e que se
tornava interessante o suficiente para merecer ser comemorado.
O resultado disso foi uma ida um tanto quanto desequilibrada
até o banheiro, porque Ava e eu estávamos quase fazendo xixi nas
calças. Como o bar estava bem cheio, a gente prendeu o quanto
conseguiu, mas não adiantou. Empurramos a porta com pressa e
percebemos que os dois reservados estavam ocupados, com
garotas que conversavam normalmente entre si, como eu mesma já
fizera várias vezes com minhas amigas.
Ava e eu nos entreolhamos e suspiramos, cientes de que
precisávamos esperar, e enquanto isso, fui me olhar na parede
espelhada. Eu não estava bêbada, mas me sentia alegre e morta de
saudade do meu namorado. Pensar em Mason me fez ter vontade
de beijar sua boca, mas tudo o que eu tinha naquele momento, era
uma Ava olhando um aplicativo de encontros no celular, passando
fotos para a direita ou para a esquerda.
— Vamos pagar a conta e ir depressa pra lá! — Ouvi uma das
garotas dizer, dentro do reservado. — Aproveitar que vários deles
estão juntos.
— Pior que eu já dormi com o Noah três vezes esse ano, e
você acredita que ele continua não decorando o meu nome? —
respondeu a outra, dando descarga logo em seguida. — Acho que
vou tentar a sorte com o Bryan.
Ava se virou para me olhar e franziu os lábios. Eu sabia que
ela queria soltar uma risada, porque as meninas não faziam ideia de
que estavam falando sobre alguém que conhecíamos. Não podia ter
outro Noah e Bryan no mesmo grupo de amigos, considerando que
esse era um bar de universitários, dentro do campus. Seria muita
coincidência.
A garota cujo nome ninguém parecia decorar, saiu do
reservado e se assustou quando deu de cara com a gente, mas logo
fingiu costume e passou para ir até a pia. Como Ava estava mais
descontrolada do que eu, empurrei suas costas para que entrasse
logo e eu fiquei para esperar que o outro banheiro vagasse.
— Bem, eu soube que o Mason está com eles, então, é nele
que vou apostar — comentou a menina que eu ainda não tinha
visto.
Meu sangue gelou com aquela informação e engoli em seco.
— Sabe que ele está namorando, né? — falou a que retocava
o batom no espelho. — Pelo menos, é isso que todo mundo está
dizendo.
— Ele nunca postou nada nas redes sociais, amiga. E ainda
não vi os dois juntos, então aceito me fingir de cega.
Levei minha mão ao peito, me sentindo muito chocada para
conseguir abrir a boca. Porém, eu tinha uma amiga que não engolia
nenhum desaforo e era muito pior do que eu. Ava chutou a porta do
reservado onde tinha entrado, com o botão da calça aberto e um
olhar raivoso. Foi bem no momento em que a garota que desejava o
Mason também saiu, e quase infartou com a explosão de Ava.
— Ô suas piranhas, a namorada do Mason está bem aqui! —
Ela ergueu e balançou o meu braço, empurrando a garota com a
outra mão. — Vai continuar se fazendo de cega, queridinha?
Devia ter adotado a mesma postura de durona e enfrentado as
duas, mas tive uma crise de riso. Nossas espectadoras estavam
espantadas, de olhos arregalados, enquanto eu ria e dobrava meu
corpo, porque aquela situação era ridícula demais. Até que senti
Ava virar a cabeça na minha direção, com vontade de me matar,
então pigarreei e consertei minha postura.
— Então, sim — murmurei. — Sou a namorada do Mason. E
se tiver alguma dúvida, eu posso ligar pra ele agora.
A primeira, que tinha falado de Noah, me olhou da cabeça aos
pés com desdém e franziu o nariz, soltando uma risadinha.
— Se é verdade mesmo, lamento pelo Mason. Poderia ter
conseguido coisa melhor.
— O mais engraçado é que o Bryan acabou de postar esta
foto. — A outra, que queria meu namorado, mexeu no celular e
apontou a tela para mim. Mason, Bryan e Noah estavam abraçados
numa foto que foi postado há quinze minutos. — E não estou vendo
a namoradinha do Mason com ele. Mas tudo bem, querida, eu
também já me iludi como você está se iludindo.
Juro que não era de me meter em confusão e achava muito
legal aquela coisa de empoderamento e união feminina, mas foi
muito difícil aguentar aqueles desaforos. Minha mão foi parar no
rosto da filha da mãe, num tapa tão forte, que a garota ficou
vermelha na hora.
Sabia que no futuro eu teria muita vergonha do que aconteceu
a seguir, mas no auge da raiva não dava para pensar direito. Só sei
que a amiga dela partiu para cima de mim e puxou meus cabelos,
então Ava também precisou se enfiar entre os tapas e puxões, ao
mesmo tempo que outras pessoas entravam no banheiro e
encontravam quatro garotas tentando se matar.
Não conseguia entender direito o que nenhuma de nós dizia
aos gritos, que devem ter sido escutados do lado de fora, porque vi
o braço de Sidney empurrar alguém que enfiou as unhas no meu
rosto.
— Parem! — ela gritou e apertou minha cintura. — Hazel!
— Essas vadias começaram, Sid! — Ava explicou quando as
duas garotas foram afastadas por dois garçons.
— Sua maluca! — rosnou uma delas, me olhando com muita
raiva. — Quem você pensa que é pra encostar em mim?
— A namorada do homem que você quer, idiota! — respondi,
tendo minha visão bloqueada quando um terceiro funcionário entrou
na minha frente.
— Senhoritas, vamos acabar com isso. — Ouvi alguém falar.
— Não aceitamos brigas dentro do estabelecimento.
— Me expulsa! — Ava gritou. — Mas expulsa essas vadias
também!
Talvez minha amiga não devesse ter feito aquele pedido,
porque nem mesmo deixaram a gente tirar um tempinho para
vomitar. Só nos fizeram pagar nossas contas e pediram, com
gentileza, para que fôssemos embora por livre e espontânea
vontade, ou chamariam a polícia para acabar com a confusão.
Eu só não tentei lutar pelos meus direitos, porque as duas
safadas também tiveram o mesmo destino. Só esperava que não
fossem correndo para cima dos rapazes, considerando que esse era
o plano inicial das duas.
— Que bonito, não é? — Ouvi a voz de Sidney quando me
sentei no meio-fio ao lado de Ava. — Conseguiram destruir a nossa
noite.
— Hazel estava sendo traída...
— Estava? Eu não vi o Mason por aqui, Ava — resmungou
Sidney. — Cadê ele?
— Verdade — concordei, esticando minhas pernas doloridas,
porque levei um chute na canela. — Não fui traída. Ainda.
Sidney era a única de nós três que continuava de pé e nos
encarava como uma mãe raivosa, com as mãos na cintura e a testa
franzida. Ela tinha nos arrastado para longe do bar, pois seria muito
humilhante cair bem na porta para todo mundo ver, mesmo assim,
eu não queria ir para casa.
— Me dá o seu celular — pediu, pegando minha bolsa e
puxando meu aparelho. — Bora, olha pra cá pra desbloquear essa
droga.
Dei um sorriso para a tela, esperando que o reconhecimento
facial destravasse meu telefone, depois ela se afastou um pouco e
virou de costas para nós duas.
— Mason, pode vir nos buscar agora? Estou com Hazel e Ava
meio bêbadas e sentadas no meio-fio, fora que as duas acabaram
de sair de uma briga.
Bem, pelo menos, vou ver meu amor mais cedo.
Mason Johnson
Não entendi porra nenhuma sobre a briga a qual Sidney se
referiu, mas afundei o pé no acelerador, a caminho do endereço
onde estavam. Não conseguia imaginar minha baixinha entrando
numa briga, por isso minha curiosidade triplicou quando parei o
carro diante delas e vi as duas garotas que se meteram em
confusão, sentadas e cabisbaixas, uma com a cabeça encostada na
outra.
Desci do carro e agachei na frente de Hazel, que me olhou
tristonha, com um arranhão na bochecha e o cantinho da boca
cortado.
— O que aconteceu?
— Elas me contaram que duas garotas falaram sobre você e
seus amigos — Sidney explicou, de braços cruzados, parecendo
puta por ser a babá do trio. — Que estavam planejando ir encontrá-
los e uma delas queria ficar contigo.
Aquilo era uma novidade para mim, porque não chamamos
nenhuma mulher para o encontro de hoje. Só nos reunimos para
beber e jogar conversa fora.
— Parece que não acreditaram quando a Hazel se apresentou
como sua namorada.
— E aí você brigou? — Sorri, compadecido daquela carinha
arrasada, tocando seus cabelos. — Sabe que sou todo seu.
— Não posso produzir provas contra mim mesma — Hazel
declarou, encolhendo os ombros.
— Ela deu um tapão na cara da biscate — disse Ava, levando
uma cotovelada da amiga. — Ai! Eu te ajudei!
— Podemos ir, Mason? — perguntou a coitada da Sidney,
suspirando. — Antes que eu termine a noite enforcando as duas
barraqueiras.
Levantei primeiro Ava, testando para ver se a garota conseguia
andar sozinha, e abri a porta do carro para que ela e Sidney
entrassem. Em seguida, peguei Hazel no colo e beijei o machucado
dela, esfregando nossos narizes enquanto dava a volta até o lado
do carona.
— Quer dizer que eu namoro uma brigona? — provoquei,
vendo um biquinho se formar em seus lábios. — Não sabia que era
tão ciumenta.
— Eu não sou.
— Ah, não? — Sorri, colocando-a sentada no banco e
prendendo seu cinto de segurança.
— Elas duvidaram do nosso namoro... — resmungou, virando
o rosto para o outro lado.
Bati a porta com cuidado e retornei ao volante, olhando pelo
espelho interno e conferindo que estavam todas ali dentro. Ava
parecia ter apagado no ombro de Sidney, que ainda estava de
braços cruzados e o semblante enfezado.
— Custo a acreditar que minhas amigas brigaram por homem.
— Que bom que você conseguiu fazê-las parar — comentei,
focando na direção.
— Eu? — Sidney deu uma risada forçada. — Eu não estava
presente quando aconteceu. Foi tipo o bar inteiro que teve que
separar as quatro malucas.
Olhei na direção de Hazel, que estava muito divertida, imitando
a amiga reclamar, sem que Sidney pudesse ver. Segurei a mão
pequena e a trouxe para meu colo, alisando seus dedos e a fazendo
focar em mim.
— Você conhece o meu passado, amor — murmurei. — Se for
se estressar com cada garota que falar algo de mim...
— Você não está entendendo. — Ela me deu um tapinha e
puxou a mão, cruzando os braços. — Eu pouco me importo se todas
elas se juntarem pra contarem suas experiências. O meu problema
é que a filha da mãe estava dizendo, na minha cara, que ia ficar
com você porque não acreditava que tinha namorada. E aí quando
eu e a Ava dissemos que eu era a sua namorada, nenhuma das
duas acreditou e ainda tive que aturar provocação, dizendo que
estava me iludindo, que você estava postando foto sem ninguém do
lado, blá-blá-blá. Queria que o cabelo dela fosse aplique só pra eu
arrancar.
Eu nunca tinha visto Hazel falar tanta coisa, tão rápido e sem
nem parar para respirar.
— Bonito, hein, Mason. — Sidney estalou a língua lá atrás.
— O que eu fiz? — Ri, nervoso, sem entender. — Estava só
bebendo com meus amigos.
— Ninguém sabe que você tem namorada, seu besta! Já não
passou da hora de esfregar a Hazel na cara dessas vadias que dão
em cima de todo mundo? — A garota no banco traseiro tapou o
rosto e suspirou.
— Mas não é como se eu estivesse escondendo a Hazel —
retruquei, tentando me defender e olhando para a minha garota. —
Você pensa isso, amor?
Ela encolheu os ombros e eu tentei não levar muito em
consideração, porque não sabia quanto havia ingerido de álcool e
como a bebida afetava seu julgamento.
— Só quero dormir.
Parei na porta do prédio de Ava e Hazel, mas quando ela
tentou abrir a porta, segurei sua mão.
— Vamos pra minha casa, porque precisamos conversar.
Soube que não estava verdadeiramente com raiva de mim
porque não retrucou nem ofereceu nenhuma resistência. Apenas
voltou a colocar seu cinto e esperou, enquanto Ava saía do carro
com a ajuda de Sidney. Esta se aproximou da minha porta e eu
desci o vidro para falar com ela.
— Já que Hazel vai dormir fora, eu vou subir com a Ava e ficar
por aqui mesmo — explicou, se inclinando e lançando um olhar para
a minha garota. — Joga ela debaixo da água fria pra tomar
vergonha na cara.
Hazel mostrou o dedo do meio para a amiga antes de voltar a
cruzar os braços. Manobrei o carro para sair do recuo e peguei o
caminho para fora do campus, trazendo de novo a mão da baixinha
para o meu colo, pois sabia que aquele contato sempre a acalmava.
— Nunca passou pela minha cabeça que o nosso
relacionamento estava gerando dúvidas nas pessoas — comentei,
ligando o som do carro bem baixinho. — Caso não se lembre, eu
nunca namorei, então não pense que sei o que fazer em todas as
situações.
— Não temos fotos nossas juntos — murmurou Hazel.
— Então vamos tirar várias amanhã.
Ela assentiu e voltou a ficar em silêncio, contemplando a vista
pela janela. Não demoramos a chegar em minha casa porque o
trânsito estava ótimo, sendo assim, levei-a direto para o meu quarto
e a coloquei sentada na cama, indo buscar a caixinha de primeiros
socorros.
Hazel me esperou voltar, já sem a calça jeans que estava
usando, mantendo apenas a camiseta e a calcinha. Lançou-me um
olhar magoado que eu tratei de espantar com um beijo em sua
testa, em seguida, me sentei ao lado dela e a puxei para o meu
colo.
— Não é legal te ver assim, machucada, então me faça o favor
de não entrar em mais nenhuma briga.
— Sabe o que me chateia? — perguntou, fazendo careta ao
sentir o toque do cotonete embebido no antisséptico. — Que essas
garotas vão continuar dando em cima de você, porque com certeza
não acreditaram em mim. Nem depois de apanharem.
— Vou contar pra todo mundo, baixinha. — Assoprei o
cantinho de sua boca antes de começar a passar o remédio na
bochecha arranhada. — Nem que eu precise colocar o aviso em
todos os murais de todos os prédios do campus. E amanhã mesmo
vou postar uma foto minha, beijando sua boca gostosa, pra não
haver mais nenhuma dúvida.
— Bobo.
— Um bobo apaixonado — respondi, sentindo uma mão
safadinha apalpar minha calça. — Hazel Mackenzie, está com más
intenções comigo?
— Não são más, são boas... — Ela mordeu o lábio. — Pensei
de você deitar um pouquinho e me deixar roçar no seu pau. Tô com
sono... Pode ser uma reinvenção do famoso “contar carneirinhos”.
Gargalhei e levei um susto porque a filha da mãe me empurrou
para trás e desabamos sobre o colchão, jogando, inclusive, a caixa
de remédios no chão. Claro que eu permitia que ela me usasse
como quisesse, mas a verdade é que a baixinha acabou roncando
em cima de mim, me deixando com o pau duro, depois de se
esfregar por dois segundos.
Hazel Mackenzie
Confesso que estava um pouco chateada naquela tarde,
porque era meu aniversário e não tinha conseguido encontrar com
Mason para almoçarmos juntos, como fazíamos quase todos os dias.
O jogador não tinha culpa, afinal de contas, porque eu não contei
para ele qual era a minha data de nascimento. Nunca fui de muitas
comemorações, de dar festas ou planejar saídas com amigos.
Geralmente, pedia alguma comida da qual gostava e ficava vendo
filmes antigos em casa.
No entanto, eu queria ter visto meu namorado e conseguido
marcar alguma coisa com ele. Mas seu celular estava desligado e eu
sabia que estaria treinando para o jogo de sábado.
As coisas entre nós tinham ficado normais depois da minha
briga no domingo, porque na segunda-feira ele começou a postar
fotos nossas no Instagram, como tinha me prometido. Não que
fizesse mesmo diferença para mim, eu só havia reclamado muito
naquela noite porque estava alcoolizada e com a adrenalina
correndo pelo meu sangue.
De verdade, o que importava eram nossos sentimentos e a
forma como Mason me tratava. Ali no campus, ele nunca se livraria
da fama de mulherengo e eu não podia fazer muita coisa em relação
a isso. Não era como se o jogador tivesse escondido seu passado de
mim ou tentado se fingir de santo. Pelo contrário, o filho da mãe
sempre adorou esfregar seu talento de rotatividade na cara de todo
mundo, inclusive na minha, quando ainda nem sonhava em ficar com
ele. Ou seja, eu sabia onde estava entrando e com quem assumia
um relacionamento.
Devia apenas agradecer que o jogador estava a alguns meses
da formatura e sumiria do alcance de todas aquelas garotas que já
passaram pela sua cama.
— Hazel! O que você está fazendo aqui? — Ava apareceu na
porta do nosso dormitório, com as mãos na cintura e a testa franzida,
me afastando dos meus devaneios.
— Como assim? — Olhei ao meu redor, sem entender. — Não
tenho nenhuma aula pelas próximas horas.
— Esqueceu da reunião?
Minha amiga entrou no quarto e se trancou no banheiro,
demorando menos de dois minutos lá dentro. Ouvi o barulho da
descarga e a encarei quando saiu, pegando sua mochila de cima da
cama e a jogando no ombro.
— De que reunião está falando? — perguntei, preocupada. Eu
costumava ser muito responsável com meus compromissos.
Ava arqueou as sobrancelhas.
— Sério? — Ela apertou minha bochecha, soltando uma risada.
— Ficou mais velha e começou a desenvolver problemas de
memória?
Eu tinha recebido os parabéns dela e de Sidney logo pela
manhã, quando nos encontramos para tomar café juntas e elas me
darem presentinhos — ganhei uma pulseira linda de uma e um livro
de outra —, e mesmo assim, nenhuma das duas safadas tocou no
assunto da reunião.
Levantei-me depressa, dando uma olhada no espelho e
conferindo meu visual. Minha camiseta estava um pouco amarrotada,
mas não era realmente um problema.
— Esqueceu que a Suzy marcou uma conversa com todas nós
a respeito da próxima regional? — Ava me encarou como se eu
fosse louca, mas encolhi meus ombros.
— Acho que não prestei atenção no aviso — respondi enquanto
calçava meus tênis e pegava meu celular sobre a mesinha de
cabeceira.
Não levei nenhuma mochila, porque depois do ginásio acabaria
voltando para o quarto. Certamente, só conseguiria me encontrar
com Mason à noite, e aí sim colocaria uma roupa melhor.
Desci o elevador com Ava e caminhamos de braços dados,
enquanto ela me contava sobre um carinha com quem tinha
conversado no aplicativo de encontros. Parece que o papo dele era
legal o suficiente para deixar minha amiga interessada, então
marcariam de se conhecer no domingo. Quando me mostrou a foto
do rapaz, dei ainda mais incentivo para que fosse adiante e
marcasse mesmo o encontro, pois ele era um gato.
— E o Mason? — perguntou ela, quando já podíamos avistar o
ginásio. — Ele já te deu algum presente hoje?
— Eu não contei que era meu aniversário — respondi, vendo
Ava arregalar os olhos.
— Ele vai matar você, Hazel! Isso não se faz. — Ela balançou a
cabeça e riu. — Juro, se fosse eu no lugar do Mason, ficaria pelo
menos uma semana sem falar com meu namorado.
Ah, que droga. Desse jeito, eu estava começando a me sentir
culpada por ter escondido a informação. Ou melhor, omitido. Não era
como se ele tivesse perguntado e eu mentido ou me recusado a
falar. Simplesmente não aconteceu essa conversa e eu também
tinha pouco interesse de compartilhar isso com qualquer pessoa.
Mas tudo bem, talvez ele pudesse mesmo se chatear. E agora,
era tarde demais.
— Quem são essas pessoas? — murmurei, observando um
movimento incomum ao redor do ginásio. — Está rolando algum
evento e não sabemos?
— Sei lá. — Ava encolheu os ombros, caminhando comigo pela
entrada por onde outras pessoas também passavam.
Logo avistei Suzy conversando com algumas das meninas no
corredor e ela acenou para a gente. Quando nos aproximamos,
recebi um abraço da minha treinadora, que ainda não tinha me visto
naquele dia, e outras colegas também aproveitaram para me
parabenizar.
— Vamos entrar? — perguntou ela, piscando para mim e
passando um braço pelos meus ombros.
Assenti, feliz por não estar sozinha no quarto, precisava admitir
isso. Mas estranhei mais uma vez, quando pelas paredes em vidro
eu pude perceber que tinham pessoas espalhadas pelas
arquibancadas, e esse movimento não era nada comum para nós.
Só havia algum público no ginásio em dias de apresentações, além
de que não fazia sentido que a reunião acontecesse em meio a todo
aquele burburinho.
No entanto, o que eu podia fazer, não é? Apenas aceitar e
esperar para entender o que Suzy tinha para nos dizer, então me
deixei levar pelo embalo e me sentei ao lado de Sidney, que mexia
no celular de um jeito distraído.
Estava prestes a cutucar sua cintura quando as coisas ficaram
ainda mais confusas, porque boa parte do time de futebol americano
entrou no ginásio fazendo muita algazarra, toda aquela barulheira
típica daqueles garotos, só que não estavam em seu campo, e sim
na nossa área. Fiquei chocada ao perceber que Suzy nem mesmo se
alterou, e ergui meu rosto para o alto, na direção dos alto-falantes,
quando “Shake It Off”, da Taylor Swift, começou a tocar.
— Sugiro você se levantar e vir aqui pra frente — disse Sidney
ao segurar meu pulso e me puxar com ela. — Garanto que não vai
querer perder um segundo do que está pra acontecer.
— Como assim?
Minha pergunta ficou perdida no ar, porque ela não deve ter
escutado, considerando que a gritaria começou quando Mason
Johnson surgiu saltitando e vestindo um collant rosa cheio de glitter.
— Eu não estou vendo isso... — murmurei, chocada, mas
tapando a boca para abafar meus gritos.
O homem mais lindo do mundo jogou beijos para a plateia que
se amontoou para vê-lo melhor, enquanto se movia em direção à
área onde praticávamos as apresentações em solo. O collant, meu
Deus, era a coisa mais engraçada que eu já tinha visto — e vulgar
também. Por mais que não fosse tão cavado quanto os nossos,
ainda assim apertava o pau e as bolas dele, que eram avantajados, e
estava meio que entrando na bunda.
— EU VOU MORRER! — gritei, curvando meu corpo, sem
aguentar de tanto rir.
Mason deu dois pulinhos ridículos, se achando bailarino, e
correu na diagonal. O que ele faria? Eu duvidava que fosse dar um
salto mortal. Ou melhor, eu esperava que não tentasse isso ou
acabaria com o pescoço quebrado. Apertei o braço de Sidney,
nervosa, só que minha amiga também gargalhava ao mesmo tempo
em que tentava filmar tudo.
— Vai, Johnson! — Ouvi a voz de Bryan em algum lugar. —
Sacode essa bundinha!
Então, no lugar de um duplo twist carpado, ele se jogou no
chão e deu uma cambalhota. Tapei os olhos sentindo vergonha
alheia, mas eu o amava de qualquer jeito. Quando se levantou, vi
que Josh correu até ele, com um daqueles megafones na mão e o
entregou para meu namorado.
— E aí, gente bonita? E alguns feios. Tudo bem? — Mason
sorriu ao ser ovacionado. — Acharam que não fosse mostrar meus
atributos hoje? — Ele olhou na direção de Suzy e encolheu os
ombros. — Sinto muito por ter que ver minhas bolas, treinadora.
Quis sumir, mas não conseguia parar de rir.
— Na verdade, vim aqui alegrar a tarde de vocês porque é
aniversário da minha namorada. — Ele ficou nas pontas dos pés,
olhando ao redor. — Ouviram bem, seus putos? Eu tô namorando,
caralho! Mason Johnson tá fora do mercado já tem uns meses e
quem ainda não entendeu essa merda, é porque tá se fingindo.
Acho que Suzy nunca deve ter escutado tanto palavrão em um
único dia.
— Mas enfim, que se foda. Só quero dar os parabéns pra
minha garota e mostrar que ela, sim, é foda pra caralho nessa coisa
de pulos e saltos. Minha bunda nem é tão gostosa quanto a dela.
Senti as mãos das minhas amigas em minhas costas, me
empurrando para a frente, enquanto eu adoraria me esconder.
Encarei Mason lá do outro lado exibindo um grande sorriso para
mim, e queria poder matar meu namorado.
— Vem cá, amor — pediu, inclinando a cabeça de lado. — Mas
vem daquele seu jeitinho talentoso e especial. Mostre o que sabe
fazer.
O quê? Ele queria um solo meu, do nada, assim? Eu estava de
legging e camiseta comum, sequer pensei em treinar qualquer coisa
hoje. Neguei, balançando minha cabeça, mas o povo ao meu redor
começou a me incentivar.
— Se não vier, terei que te buscar e fazer todo o meu show de
novo. — Ele fez uma careta ao levar uma das mãos até a bunda. —
Mas essa porra justa tá entrando no meu parquinho e não está muito
confortável.
— Eu vou te enforcar! — gritei para que ele ouvisse.
— Duvido — respondeu, largando o megafone e abrindo os
braços, então gritou: — Eu tenho um presente especial pra você,
mas só vai ganhar se vier aqui!
Revirei meus olhos, ajeitei minha roupa e prendi meus cabelos
num coque. Então, foquei o solo diante de mim, abaixei meus
braços, e corri. Como sempre acontecia quando estava em
movimento, meu coração bateu forte e meus ouvidos bloquearam
qualquer som externo para não me desconcentrar. Enxerguei apenas
Mason na minha frente e saltei, girando uma vez, tocando o chão e
saltando de novo, para finalizar a menos de um metro do jogador,
que me abraçou a cintura e me puxou para um beijo.
— Cadê meu presente, seu filho da mãe?
— Não basta ter a mim? — perguntou, mostrando seu sorriso.
— Era mentira, falei apenas pra dar o empurrãozinho que você
precisava.
Dei um beliscão nele, mas cruzei minhas pernas ao redor do
seu corpo, de forma que pudesse esconder um pouco o que ele já
tinha mostrado demais.
— Eu estou traumatizada em altas proporções — avisei,
deitando minha testa em seu ombro. — Nunca mais vista um collant.
— Não sei... — Ele arregalou os olhos. — Talvez no dia em que
pedir sua mão em casamento...
— Eu recusarei.
— Duvido. — Ele sorriu e me beijou, caminhando comigo pelo
ginásio e, só então, eu voltei a escutar todo o burburinho à nossa
volta.
Com tanta gente usando os celulares para filmar aquele
espetáculo, com certeza não dava mais para nenhuma garota sair
por aí se fingindo de desentendida, ou sem saber da minha
existência. Coisas engraçadas como a performance patética de
Mason costumavam viralizar com muita facilidade, então não era
impossível que nos próximos dias o assunto se espalhasse pelo
campus.
— Feliz aniversário, amor — sussurrou ele em meu ouvido
antes de me colocar no chão. — Por sorte, eu descobri quando
Sidney veio me perguntar o que eu daria a você de presente. Sério,
que safadeza esconder isso de mim. Vou levá-la pra jantar esta
noite, mas juro que quando chegarmos em minha casa, vou fazer
com que fique assada de tanta surra de pau.
Sorri com a ameaça que mais parecia uma promessa, beijando
o rosto dele, depois fui obrigar Josh a tirar o casaco que vestia para
poder amarrá-lo na cintura de Mason. Ele estava muito enganado se
pensava que eu o deixaria desfilar daquele jeito obsceno no meio de
toda aquela gente.
Hazel Mackenzie
Não lembro quanto tempo permaneci sentada na cama, depois
de sair do meu banho. Andava um pouco para baixo nos últimos dias
porque eu sabia o que aconteceria daqui a duas semanas. Junho
estava se aproximando e com ele, viria a formatura de Mason.
Tivemos aquela conversa tantas e tantas vezes, mas mesmo assim,
não conseguia deixar de me preocupar. Nossa vida mudaria, a dele,
principalmente.
Na primeira semana de maio, ele passou pelo tão esperado
Draft da NFL, junto com seus amigos, e o time que tinha feito a
escolha por ele foi o Cincinnati Bengals, de Ohio, quase do outro
lado do país. Era surreal e muito irônico, pensar que Mason estaria
mais perto dos meus pais do que de mim.
Ouvi todas as suas promessas de que nosso namoro não seria
afetado e que ele viajaria para cá em todas as folgas, mas no fundo,
eu morria de medo que conhecesse alguém e me esquecesse. Não
conseguia imaginar minha vida sem Mason Johnson, e um nó se
formava em minha garganta toda vez que pensava nisso.
Espantei as lágrimas ao ouvir o toque do meu celular e o atendi
ao ver o nome do meu namorado na tela.
— Oi, baixinha — murmurou, todo doce. — O que está
fazendo?
— Acabei de sair do banho e vou encontrar com Ava e Sidney
— respondi, aproveitando para me levantar e escolher minha roupa.
— Hum, entendi. Mas olha só, preciso que você dê um pulo em
minha casa, porque Mia está precisando de uma ajuda com a bebê e
nem eu, nem o Josh, podemos ir.
Fiquei em alerta, pois se minha cunhada estava sozinha, eu
precisava socorrê-la. Ela deu à luz há um mês e Amber, a sobrinha
de Mason, era a coisa mais fofinha do mundo. Tinha as pernas
gordinhas e os olhos lindos do pai, o que deixava meu namorado
todo enciumado, porque queria que a criança se parecesse com ele.
— Tudo bem — falei, puxando um jeans. — Vou me trocar e
dou um pulo lá, tá? Onde você e Josh estão, afinal?
— Hazel? — Ouvi um barulho horrível de interferência e afastei
o celular do ouvido. — Amor, está ouvindo? A ligação está horrível...
— Mason? Estou ouvindo e avisei que estou indo pra sua casa.
Não adiantou, pois a chamada caiu e eu não perdi mais tempo.
Decidi me vestir depressa e mandei mensagem para as meninas,
avisando que eu me atrasaria porque precisava ver como Mia
estava. E enquanto esperava pelo elevador, tentei fazer contato
direto com o celular da garota, mas estava desligado e caiu na caixa
postal.
Confesso que dentro do Uber, me senti nervosa com aquela
emergência. Não era uma pessoa que sabia lidar com bebês, não
entendia absolutamente nada de seus problemas e doenças, e
morria de medo de segurar aqueles seres tão minúsculos nos
braços. Torci para que o problema de Mia fosse algo simples como
trocar a bateria da babá eletrônica ou descartar uma fralda suja. Se
fosse um caso mais complexo, eu ligaria para Ava vir me socorrer,
pois ela tinha sobrinhos.
Desci do carro e senti calafrios ao notar que a casa estava toda
apagada. Mia e Amber estariam no escuro? Será que algum fusível
havia queimado?
Subi os degraus para a varanda e girei a maçaneta, que
encontrei trancada. Então, meu celular tocou com a chegada de uma
mensagem.

Namorado: Olhe sob o tapete.

Virei a cabeça para trás, chocada, achando que ele estava me


pregando uma peça. Mas não havia ninguém na rua, então me
abaixei e levantei o capacho, vendo a chave da casa escondida ali.
Abri a porta e entrei, sem entender nada, e acendi logo os
interruptores da sala. Bem aos meus pés, descobri um envelope e
me abaixei para pegar. Dentro dele, um pequeno papel escrito com a
letra horrível de Mason.

Não se preocupe, Mia e Amber estão bem e seguras. Mas já que


você chegou até aqui, suba as escadas e entre no meu quarto.
Tem um presente esperando em cima da minha cama.

Puxei o ar devagar, erguendo meus olhos para a escada diante


de mim. Senti que meus batimentos cardíacos começaram a mudar
de ritmo, mais acelerados, enquanto meu cérebro processava os
fatos e tentava encontrar a resposta para aquela charada. Não havia
muito tempo em que Mason me surpreendera com uma dança de
collant, então eu não duvidava de nada mais quando se tratava do
jogador.
Segui os degraus acima, depressa, escancarando a porta do
quarto dele e parando por um instante, em choque.
Mason tinha espalhado dezenas de velas elétricas pelo chão do
quarto, e mais algumas sobre a cama, com uma caixa grande no
centro delas. Sobre a tampa preta, encontrei outro envelope e puxei
sua carta.

É, meu amor, esse dia chegou. Eu pensei, pensei, pensei, nunca


pensei tanto, juro. Mas eu tenho um cunhado que é criativo pra
caralho e me ajudou com umas ideias. Agora, o que você
precisa saber, é o seguinte. Não abra a tampa antes de terminar
de ler, ok?
A gente se conheceu em fevereiro, baixinha, e eu nunca pensei
que viveria nada tão intenso. Achava impossível o que via
outros casais compartilharem e paguei a minha língua, porque
sou muito apaixonado por cada pedacinho seu. Você é minha
vida, entende? E eu sei o quanto está temerosa a respeito do
nosso futuro. Sinto seu medo em cada célula do seu corpo,
porque você não consegue se esconder de mim.
Eu podia pedir sua mão, ok? Seria o certo a fazer, o tradicional,
mas nós somos muito diferentes e especiais. Nosso amor foi
transformador em nossas vidas, e sinceramente, esse momento
não tinha como não ser igualmente foda. Mas viajarei em alguns
dias, não é? Vou passar umas semanas longe, em imersão, e
meu peito tá muito pesado. Eu desistiria da minha profissão por
você, e juro, se você pedir, eu saio. Mas antes de dar esse passo
sem volta, quero tentar outra coisa. Que não é a segunda opção,
e sim a mais importante. Quero colocar um anel no seu dedo e
te declarar minha esposa, meu tudo, minha vida.
Então, agora, pode abrir a caixa. Você vai encontrar um vestido
lindo como você, um par de sapatos que a Ava me prometeu ser
do seu tamanho, e meu coração inteiro. Se arrume e venha se
casar comigo.
Você conhece o endereço. Estarei aguardando aqui no estádio,
minha segunda casa. Se me ama, então a esperarei, mesmo
ciente de que será desafiador entrar aqui. Mas precisa superar,
quero te ajudar nisso também, e eu sei que é forte pra caralho e
vai conseguir.
Vem casar comigo agora, Hazel!

Escorreguei para o chão, em choque, sem conseguir enxergar


mais nada, e deixei a carta cair de qualquer jeito. Mason tinha
ultrapassado todos os limites do surreal e eu não sabia o que fazer.
Meu coração doía de um jeito que nunca senti antes, porque
precisava do meu namorado ali naquele momento, para que pudesse
me segurar nos braços e falar que me amava. Ainda estávamos
muito longe um do outro, eu não conseguia suportar a distância.
Meus dedos tremiam quando os levei até meu rosto e me
limpei, sentindo que podia desmaiar a qualquer momento. Quanto
tempo eu levaria para pedir um carro e alcançar Mason no estádio?
Peguei o celular para conferir e levei um susto ainda maior quando o
nome de Sidney surgiu na tela.
— Oi? — atendi, quase sem voz.
— Você vai? — perguntou ela. — Sim ou não?
— O que você acha? — respondi, me desmanchando em mais
choro e lágrimas. — Eu o amo, Sid.
— Então troque de roupa. Sua carruagem chegará em dez
minutos.
Minha melhor amiga desligou sem que eu pudesse fazer
perguntas, por isso, me arrastei até a cama e me sentei, puxando a
tampa da caixa e tirando o par de sapatos brancos, em seguida,
puxando o vestido da mesma cor. Era curto, de alcinhas e com um
decote generoso, com um forro delicado por baixo da renda macia e
bordada.
Enxuguei meus olhos com as costas das mãos, sentindo que
tremia dos pés à cabeça. Mesmo assim, me levantei e tirei minha
roupa, trocando-a pelo vestido que coube perfeitamente. Calcei os
sapatos e quando estava para sair do quarto, notei que dentro da
caixa ainda havia alguns objetos pequenos. Soltei uma risada ao
descobrir que eram itens de maquiagem, então os carreguei até o
banheiro.
Devo ter levado uns cinco minutos para dar um jeito na minha
cara, apesar de saber que estragaria tudo pelo caminho. Mason não
tinha o direito de fazer isso comigo. Eu precisava de cosméticos à
prova d’água e, com certeza, aqueles não eram.
Desci as escadas com cuidado porque minhas pernas estavam
completamente bambas e quando abri a porta da casa, avistei uma
limusine preta à minha espera.
Tranquei tudo e caminhei até lá, mordendo os nós dos meus
dedos para controlar as lágrimas, sem muito sucesso. O motorista
me cumprimentou quando entrei e dirigiu em silêncio, deixando-me
ainda mais ansiosa. A única coisa que eu carregava em minhas
mãos, era meu celular, por isso, o apertava o tempo todo para
controlar meus tremores.
Mason morava a uns dez minutos do campus, mas aquele foi o
trajeto mais longo da minha vida. A cidade toda iluminada passava
através dos meus olhos, enquanto meu coração galopava no peito e
meus olhos inundavam mesmo que os secasse de minuto em
minuto.
— Chegamos ao destino, senhorita — disse o motorista ao
parar diante do estádio. — Tenha uma boa noite.
Agradeci, saindo e batendo a porta do carro, erguendo meus
olhos para o alto e encarando a construção grandiosa. Nunca entrei
ali.
Olhei para meu celular que tocou, com o nome de Josh aceso
na tela, e atendi.
— Oi, Hazel. Está tudo bem até agora?
— Si-sim... — gaguejei e respirei fundo.
— Que bom — disse o rapaz. — Mason está lá dentro, você
precisa entrar pelo acesso lateral, um segurança estará lá para abrir
o portão. Depois, é só seguir em frente até o final do corredor, em
direção ao gramado.
Fechei os olhos e me concentrei em respirar.
— Josh, como eu faço pra falar com o Mason? — perguntei. —
Tenho... dificuldades... para entrar em estádios.
A ligação ficou em silêncio por mais de cinco segundos e eu
quase infartei.
— Não tenha medo, Hazel — disse o garoto. — Mason está lá
dentro. Sabe que pode confiar nele. Te vejo depois, ok?
Josh desligou e eu encostei minha mão na boca, deixando as
lágrimas caírem, sem saber o que fazer. Não queria entrar, mas
precisava. Não podia deixar Mason esperando, porque ele confiava
que eu iria ao seu encontro.
— Você pode — murmurei, apertando meus olhos e dando um
passo à frente. — Você pode.
Apertei meu celular contra o peito, focando meus olhos no chão
diante de mim, para evitar olhar a grandiosidade daquela construção.
Era só um lugar como outro qualquer. Um ginásio. Pequeno... Com o
Mason dentro dele.
Sem pressa, dei um passo de cada vez, controlando a minha
respiração. Finalmente alcancei o portão indicado e, para a minha
surpresa, o segurança em questão era uma mulher. Sorri quando ela
me deixou entrar e limpei um pouco os meus olhos embaçados.
Minhas pernas pareciam gelatinas quando pisei no corredor
que levava ao campo de futebol. Meu coração batia tão forte e alto
dentro do peito, que meus ouvidos estavam com aquele zumbido
incômodo que mal me deixava raciocinar direito.
Mesmo assim, respirei fundo e continuei com os passos
adiante, porque confiava a minha vida a Mason. E então, quando
pisei no gramado, muitas luzes se acenderam por todo o estádio,
como se um jogo estivesse prestes a iniciar naquela noite. Não
somente isso, mas em algum lugar nas caixas de som do estádio
Pauley Pavillion, “I Will Always Love You”, da Whitney Houston,
começou a tocar. Levei minha mão ao peito, assustada, temendo
infartar, porque no telão estavam passando fotos minhas de quando
era criança, depois algumas na adolescência, misturadas a imagens
de Mason pelas mesmas épocas.
Caí em mais lágrimas quando um setor da arquibancada foi
aceso e me fez olhar naquela direção, notando rostos conhecidos em
pé, olhando para mim. Ava e Sidney, Bryan, Noah, Josh e Mia com
Amber, e minha nossa... meus pais.
Do outro lado do estádio, mais uma luz se acendeu, lá no alto,
no último setor, onde avistei uma imagem inconfundível. Mason
começou a descer os degraus devagar, vestindo um terno preto, e eu
me vi impelida a caminhar em sua direção. Ou talvez, até o meio do
gramado, onde um canhão de luz iluminava um senhor que, se
realmente aquilo estava acontecendo, devia ser uma espécie de juiz
de paz.
Precisei levar minhas mãos ao rosto, e fechei meus olhos por
um instante, porque surgiram algumas fotos minhas com Harry, além
das de Mason com seus pais. Era mais do que eu conseguia
suportar, porque ver meu irmão ali, in memorian, era de arrasar com
meu coração, e eu sabia que tinha um grande significado.
Não conseguia mais mover um único passo, meus olhos ardiam
e meu rosto pegava fogo de tanto chorar. Sentia tudo ao mesmo
tempo, porque aquele jogador sempre teve talento para me arrancar
da minha zona de conforto.
Ele terminou de descer todos os setores e pude enxergá-lo
melhor, com uma das mãos dentro do bolso da calça e um sorriso
bobo no rosto. Levantei meus olhos para o telão quando vi que
estávamos sendo filmados ao vivo, e não me contive quando notei
que Mason também chorava enquanto caminhava para mim.
Por fim, acho que desistiu da cena toda e começou a correr, já
que eu não conseguia sair mais do lugar. Levaram só alguns
segundos para me alcançar, e o filho da mãe parecia ter
cronometrado tudo, porque bem no auge da música, ele me segurou
a cintura com um braço e me girou no ar, beijando minha boca e
apoiando a mão na minha nuca.
— Oi, baixinha.
— Você não tinha esse direito — falei, afundando meu rosto em
seu pescoço e me permitindo soluçar. — Estou me sentindo tonta,
Mason...
— Eu a levarei pro hospital se for preciso, mas antes, preciso
que se case comigo — disse, beijando minha testa e me apertando
nos braços que também tremiam. — Obrigado por ter vindo, estou
muito orgulhoso da mulher que amo. — Enxuguei os olhos dele, tão
vermelhos quanto os meus. — Temi que você travasse, porque tentei
preparar a maior surpresa que você poderia ganhar.
Assenti, ainda sem conseguir recuperar minha voz em perfeitas
condições, alisando a nuca dele e sentindo seu olhar transbordar
com tantos sentimentos envolvidos. Nada do que eu fizesse para
Mason jamais chegaria aos pés daquele pedido, ou cerimônia, nem
sabia como definir o que estava acontecendo.
— Não acredito que os meus pais estão aqui — comentei
quando ele me desceu de volta ao chão e secou minhas lágrimas.
— Precisava pegar fotos suas. — Encolheu os ombros, rindo.
— Então, não podia deixar os dois de fora disso, né? Perguntei se
gostariam de fazer parte desse momento, e é claro que concordaram
de imediato.
Mordi meu lábio para evitar chorar mais e Mason me puxou de
novo, beijando o topo da minha cabeça e entrelaçando nossos
dedos.
— Estou nervoso pra caralho, baixinha. — Beijou minha mão,
caminhando comigo. — Existe alguma chance de você decidir não se
casar?
— Não — respondi, sorrindo. — Eu enfrentei um estádio no
meio da noite, sozinha, por você. Se isso não é resposta suficiente,
não sei o que mais seria.
Mason sorriu e me abraçou, e naquele finalzinho de uma das
músicas que eu mais amava no mundo, ele pousou a mão na base
da minha coluna e dançou comigo, devagar, no nosso tempo e bolha,
abaixando a cabeça para unir nossos rostos, e sussurrando o quanto
me amava.
— Você é a garota que mudou a minha vida, Hazel. É a pessoa
mais corajosa que conheço e a mais doce também. — Seus dedos
abriram a tampa da caixinha que segurava e pude ver a dupla de
alianças douradas. — Pode parecer rápido para quem está olhando
de fora, mas não quero viver nenhum dia da minha vida sem ter a
certeza de que você é minha, de todas as formas possíveis. Estou
prestes a iniciar um novo capítulo da minha história e ele não faria
sentido nenhum sem você do meu lado. Então, eu irei pra Ohio, mas
com o compromisso de tê-la como minha prioridade.
Assenti, beijando os lábios dele, salgados de lágrimas, e
engolindo em seco.
— Irei definitivamente até você, assim que me formar — falei,
sentindo seu beijo em meus cabelos. — Mas você precisa vir até
mim quantas vezes conseguir.
Mason levou minha mão ao seu peito, onde eu podia sentir os
batimentos acelerados sob o terno. Seu polegar alisou meus dedos
enquanto um sustentava o olhar do outro, até que a música
acabasse.
— Eu sempre, sempre voltarei pra você, baixinha — declarou,
tocando o cantinho do meu lábio. — O meu lar é onde bate o seu
coração.
Fechei os olhos, sentindo minhas lágrimas descerem quando
Mason segurou meu rosto com o maior cuidado do mundo e beijou
minha testa, antes de apertar meus dedos e me puxar na direção do
senhor que parecia pronto para nos casar.
Mason Johnson
[ quase dois anos depois ]

Eu estava há quase duas semanas sem ver a minha mulher,


por causa da agenda apertada de jogos desta temporada, então
sentia saudade pra caralho. Quando entrei na nossa cobertura num
dos melhores bairros de Cincinnati, larguei minha mala e comecei a
chamar pelo nome dela antes mesmo de fechar a porta.
Encontrei Hazel no corredor dos quartos, só de calcinha e sutiã,
alisando o barrigão de vinte e oito semanas de gestação. Apesar de
termos brincado dizendo que esperaríamos bastante tempo antes de
sermos pais, a vontade de gerar uma continuação de nós dois
acabou falando mais alto. Fomos responsáveis e até planejados
demais, meio psicopatas, como diria meu cunhado, porque
decidimos até mesmo o mês em que faríamos o bebê, para
tentarmos combinar o nascimento dele com minhas férias.
Minha baixinha fez o teste duas vezes, em dias alternados, até
confirmar a gravidez e podermos comemorar. No entanto, no início,
ela ficou apavorada. Achava que não daria conta e que não seria
uma boa mãe, e felizmente, eu me sentia totalmente preparado para
a paternidade. Foi uma experiência incrível ver os meses passarem e
ir descobrindo, aos poucos, o quanto aquele bebê que era fruto do
nosso amor, nos modificava de dentro para fora.
Hazel carregava nosso menino, que se chamaria Harry, e
estava a coisa mais linda naquele modelito mamãe do ano. Ou talvez
eu fosse mesmo um marido muito babão, porque não existia mulher
no mundo que pudesse competir com a minha.
— O que está fazendo aqui? — perguntou, de olhos
arregalados e um sorriso no rosto. — Mason! Por que não me
avisou?
— Se eu contasse, não seria uma surpresa. — Beijei sua testa,
depois seu nariz, por último, seus lábios macios. Em seguida, me
curvei e fiz um carinho no nosso bebê. — Como os dois estão?
Sentiram saudade?
— A gente sempre morre de saudade. — Hazel ficou nas
pontinhas dos pés e envolveu meu pescoço. — Meus pais acabaram
de sair pra ir ao mercado.
— Que bom pra eles e pra mim também. — Abri um sorriso
cheio de más intenções e toquei os seios da minha esposa,
aproveitando para abrir o fecho do sutiã.
Meus sogros moravam em Dayton, que ficava a mais ou menos
uma hora de distância de carro, portanto, eles iam e vinham o tempo
todo para fazer companhia a Hazel enquanto eu estivesse fora. Com
a gravidez avançando, não podíamos dar nenhuma chance para o
azar, pois tudo podia acontecer, então eu era muito agradecido pelo
fato de estarem sempre disponíveis e cuidarem dos meus bens mais
preciosos.
— Ligue pra eles e avise que podem ir pra casa. Tenho três
dias pra curtir minha baixinha. — Pisquei, entrelaçando nossos
dedos e beijando sua mão. — Vou tomar um banho, ok? Prometo
não demorar.
Inclinei-me e coloquei um dos seios gostosos entre os lábios,
aproveitando um pouquinho, porque logo eu teria que dividi-lo com
Harry.
Minha garota assentiu, abafando uma risada, e foi para a sala,
enquanto eu deixava minha roupa largada pelo chão do quarto para
entrar no banheiro. Sentia falta de tudo da minha casa, inclusive do
meu chuveiro, portanto, até mesmo aquele simples momento eu
gostava de valorizar.
Deixei que a água morna caísse sobre minha nuca e minhas
costas por alguns segundos, ansioso para relaxar um pouco pelos
próximos dias, então virei a cabeça quando vi a porta do banheiro
abrir. Hazel entrou, pelada, exibindo um sorriso safado, e abriu o box
para se juntar a mim.
— Ainda não tomei banho hoje — ronronou, virando-se de
costas e se esfregando no meu corpo.
A baixinha pegou minhas mãos e as colocou sobre sua barriga,
trazendo os braços para o alto e tocando o meu pescoço daquela
maneira que só ela sabia fazer e me arrepiar. Beijei seu ombro
molhado, alisando a pele lisa do ventre que carregava meu filho e o
sentindo mexer por um instante. Esses pequenos momentos e
detalhes me deixavam com um gosto amargo na boca de vez em
quando, por saber que tanto daquilo eu acabava perdendo por causa
do meu trabalho. Não podia reclamar do dinheiro que ganhava
agora, mas era exaustivo viver com uma agenda tão corrida,
sabendo que minha mulher fica sozinha por vários dias.
— Harry se mexeu — comentei, sorrindo como um bobo. — Ele
tem estado muito agitado?
— Fica mais à noite, quando me deito — respondeu, tocando
meus dedos. — Mas agora, é porque está ouvindo a sua voz.
Quando ouço seus áudios no celular, ele sempre se mexe.
Apoiei meu queixo em seu ombro e parei um pouco, tentando
sentir de novo. Nada aconteceu, mas não importava, pois eu
aproveitaria cada segundo daquela folga.
— Eu te amo tanto — sussurrei no ouvido da baixinha,
depositando um beijo na região e deixando meu pau roçar na
bundinha gostosa. — Como eu senti saudades disso! Nunca quis
tanto que uma temporada terminasse logo...
— Eu sei, amor. — Ela suspirou quando subi meus dedos até
os seios que estavam mais fartos do que nunca. — Eu sei... Preciso
tanto do seu carinho. De você, do seu corpo... dos seus beijos...
— Vou te dar tudo isso hoje — prometi, abraçando seu corpo e
ficando assim, curtindo o cheiro dela, por uns segundos.
Hazel não tinha mais estabilidade para ficarmos transando no
chuveiro, portanto, apenas tomamos um banho sem nenhuma
pressa, matando a saudade dos nossos corpos com toques
delicados. Quando acabamos, eu a levei no colo para a cama e a
deitei no nosso colchão macio, tomando o lugar ao seu lado e a
puxando para mim.
Desde que sua barriga aumentou bem, a posição mais
confortável para minha garota era de lado, daquele jeito de
conchinha, onde eu podia sempre ter acesso a todo o seu corpo.
Ajeitei vários travesseiros ao redor dela, apoiando a barriga com
cuidado e tocando com meus dedos a bocetinha molhada. Sua
sensibilidade estava alta nos últimos meses e Hazel gemeu bem
gostoso conforme eu massageava seu clitóris.
— Sabia que eu fico sonhando com esses momentos? —
comentei, lambendo o contorno de sua orelha e deslizando meus
dedos para dentro da minha esposa. — Fico pensando que estou te
tocando assim, desse jeito, que eu sei o quanto gosta.
— Eu amo — declarou, respirando fundo.
Introduzi meu joelho entre suas pernas, acomodando seu corpo
no meu e movendo os quadris. Meu pau dançava lentamente
naquela região deliciosa, encaixando-se aos poucos na bocetinha
que ia me recebendo gulosa, quente e escorregadia.
Enquanto minha mão passeava pelo corpo lindo e delicado da
minha garota, seus gemidos se misturavam aos meus conforme eu a
penetrava. Hazel era sempre apertada e me esmagava em seu
interior, não importava o quanto eu me afundava em sua boceta, o
quanto ela rebolava e esfregava o traseiro em meu corpo.
Trouxe o seu rosto para o lado e a beijei com a vontade que me
consumia, apertando os seios inchados e pesados, estocando um
pouco mais rápido ao perceber que já me recebia muito bem.
Deslizei meus dedos pela barriga redonda, sabendo que ela gostava
muito daquele toque, principalmente quando eu alcançava o baixo
ventre e chegava ao monte de vênus que parecia mais gordinho e
apetitoso.
— Sua bocetinha está com saudade da minha boca? —
perguntei, ouvindo sua risada gostosa.
— Sempre... Vai me chupar ainda hoje?
— Daqui a pouco — respondi, levando meus dedos até a carne
deliciosa e melada, sentindo meu pau que entrava e saía,
escorregando com facilidade.
Deixei minha mão ali, espalmada contra a boceta aberta,
roçando o clitóris e sentindo Hazel se desfazer num orgasmo
intenso. Seus quadris dançavam enquanto tentavam capturar cada
segundo daquele momento e pararam de se movimentar apenas
quando eu me senti explodir dentro da boceta linda, que me engolia
com dedicação e sugava cada gota do meu gozo.
Curtimos um ao outro em silêncio, aguardando que nossos
corpos se recuperassem, enquanto eu acariciava seu couro cabeludo
e a deixava relaxar bastante.
— Podemos ficar assim até amanhã? — Hazel perguntou,
passando as unhas em meus braços e me deixando arrepiado. —
Não quero que me solte pelas próximas horas.
— Meu amor, eu não vou te soltar pelos próximos três dias.
— Eu sei. — Ela riu, dando mais uma reboladinha. — Confio
muito em você.
Quando me permiti sair de dentro de sua boceta, virei-me de
barriga para cima e a ajeitei nos meus braços, sentindo seus pés se
esfregarem nas minhas pernas. Isso me lembrou que ela andava
reclamando muito por mensagens, sobre cansaço e inchaços, e me
fez ter uma ótima ideia.
— Que tal se eu preparar o nosso almoço enquanto você
descansa e, mais tarde, fizer uma massagem relaxante nesse
corpinho lindo? — sugeri, beijando seus cabelos. — Vou me dedicar
muito, principalmente nas suas pernas, e ainda prometo finalizar a
sessão, chupando a sua bocetinha.
— Se não fosse pelo seu filho, que sempre me deixa
esfomeada, eu juro que pediria pra pular direto pra massagem —
declarou ela, soltando uma risada. — Promete fazer uma por dia?
— Prometo tudo que quiser.
Levantei-me e me curvei para beijar sua boca antes de me
afastar da cama, afinal de contas, passava das onze da manhã. Se
eu quisesse cozinhar, teria que começar logo, porque não era muito
expert nisso e sempre me enrolava mais do que pessoas com mais
habilidade em manusear panelas.
Vesti apenas uma cueca antes de me dirigir à nossa cozinha,
que era bem ampla e equipada com os mais modernos
eletrodomésticos. Abri os armários e a geladeira para conferir o que
havia em casa, e entendi por que meus sogros tinham decidido ir ao
mercado.
Os braços que rodearam a minha cintura amoleceram meu
coração e eu parei, largando um pacote de macarrão e tocando as
mãos pequenas.
— Como você está? — Hazel perguntou, beijando minhas
costas.
— Agora, muito feliz. — Suspirei, jogando a cabeça para trás e
a observando por cima do meu ombro. — Tenho ficado preocupado
todos os dias, as noites são horríveis, porque fico pensando na bolsa
estourando a qualquer momento, e eu perdendo o nascimento do
Harry.
— Isso não vai acontecer, Mason. Não fica pensando o pior.
— Mas e se acontecer? E se você precisar ir pro hospital numa
hora em que seus pais não estejam? — Eu me virei de frente para
ela e uni nossas testas. — Tipo agora, que eles foram na rua...
— Amor, o mercado é neste quarteirão. — Ela revirou os olhos.
— Raramente saem os dois juntos e, mesmo assim, a obstetra já
explicou que o fato de a bolsa estourar não significa que precisamos
entrar em pânico.
— Eu sei. — Fechei meus olhos, me sentindo culpado por algo
que nem tinha acontecido. — Eu sei.
— Você já é um pai incrível, Mason Johnson, e essa criança
ainda nem nasceu — declarou a minha baixinha, me dando um
selinho. — Além disso, é o melhor marido do mundo. O homem que
eu amo mais que tudo na vida.
— Também te amo. — Senti meus olhos arderem quando a
encarei, notando que a Hazel medrosa não existia mais e tinha dado
lugar a uma mulher muito mais forte.
— Vamos continuar focando em nossos planos — murmurou,
mordendo o lábio toda fofinha e alisando meu peito. — Você vai
ganhar o Super Bowl, Harry vai nascer, você vai conseguir a
transferência pro Rams e voltaremos pro lugar que ama. Tudo como
queremos, não é?
Sim, eu queria muito voltar a morar na Califórnia, sentia
saudade pra caralho daquele lugar, apesar de isso aumentar mais a
distância entre mim e minha irmã, que morava em Massachusetts
com o Josh. Isso dificultava que eu visse minha sobrinha com
frequência, mas Los Angeles tinha muita história para mim.
Como Hazel se considerava aposentada na ginástica e passava
seu tempo expondo suas fotografias — um de seus trabalhos havia
sido premiado no ano passado —, ela podia trabalhar de qualquer
lugar do país e já tinha aceitado se mudar para onde fosse preciso. A
única coisa que importava, era que levássemos a trave sempre
conosco, porque eu fiz questão de comprar aquele aparelho no qual
ela gostava de treinar, e aproveitava para foder sua bocetinha toda
arreganhada de vez em quando. Claro que com a gravidez, esse
nosso passatempo foi deixado de lado porque ela não podia
continuar fazendo as estripulias de antes, mas eu me sentia ansioso
para o dia em que estivesse totalmente recuperada e conseguisse
abrir as pernas naquela posição que me enlouquecia.
— São todas as coisas que quero, sim — respondi, segurando
seus dedos que ainda alisavam meu peito. — Mas pra ser sincero?
No fundo, acho que não me importo tanto com a ordem das coisas,
desde que tenha você comigo. Eu sei que damos conta de qualquer
obstáculo, baixinha.
— Uhum. — Ela grudou os lábios nos meus quando passei
meus braços por sua cintura. — Lembro o quanto eu já superei com
a sua ajuda. Você sempre trouxe cor ao meu mundo, Mason.
Levei-a de volta para o quarto, obrigando que descansasse
enquanto eu me ocupava com nossa refeição, e ao passar de novo
pela sala, lancei um olhar na direção do porta-retratos mais novo que
tinha sido colocado sobre o aparador. Ainda não tinha visto aquela
foto, então parei para apreciar e relembrar o momento.
Era um registro do chá de Harry e estávamos reunidos em
grupo. Ava e Sidney beijavam o rosto de Hazel, uma de cada lado,
enquanto Bryan e Noah posavam comigo daquele jeito moleque de
sempre. Mia e Josh estavam mais ao canto, com uma Amber risonha
doida para colocar o terror na festa. A foto tinha sido revelada em
preto e branco num tamanho maior que o padrão, e ficaria por muito
tempo ali, certamente. Por mais que estivéssemos todos distantes
um do outro, vivendo nossas vidas agitadas, aqueles laços de
amizade não seriam desfeitos com facilidade. Todos tiveram
importância na minha relação com Hazel e eu seria eternamente
grato por fazerem parte da nossa história, aquela que mudou nossa
vida.
Harry Johnson
[ muito anos depois ]

Fechei os olhos quando Madeleine agitou suas mãos molhadas


sobre mim antes de sair correndo pela borda do lago, resistindo à
vontade de brigar com ela. Era verão, devia deixar que se divertisse
porque aquelas seriam algumas de suas melhores lembranças da
vida, como também eram as minhas.
Todo ano, quando chegava essa estação, nossos pais nos
levavam para nossa casa de campo com lago privativo, e
passávamos todo aquele tempo fazendo uma imersão em família.
Nossos tios apareciam para ficar um ou dois finais de semana, o que
tornava tudo ainda mais empolgante. Ava, Sidney, Bryan, Noah, Mia,
Josh e meus primos, Amber e Adam, nunca deixavam de ser
presentes nas vidas uns dos outros. Era incrível como eu já tinha
quinze anos e não me lembrava de um único verão sem que todo
mundo estivesse reunido.
Sempre tinha música, comida boa e muitas conversas
engraçadas — que agora eu tinha idade para escutar, de acordo com
meus pais —, a maioria sobre o passado deles na faculdade.
Enquanto a maioria dos meus amigos reclamava de passar um
tempo com a família nas férias, eu confesso que ficava ansioso para
que o verão chegasse e a gente viajasse.
— Harry! Harry! — Revirei meus olhos quando Madeleine se
aproximou aos gritos. — Mamãe e papai mandaram você entrar na
água comigo!
— Não mandaram, não — respondi, rindo da cara enfezada
que minha irmã de oito anos fez.
— Como você sabe? — perguntou, cruzando os braços e
estreitando os olhos iguais aos da nossa mãe.
Eu não podia dizer que os dois ainda estavam dentro do quarto
e, provavelmente, fazendo o que eu não gostaria de imaginar.
Apesar de ter iniciado minha vida sexual no ano passado e conseguir
fugir bravamente das conversas constrangedoras que minha mãe
tentou ter comigo, não era nada agradável saber que o casal
realmente fazia sexo. Quer dizer, eu sabia como tinha sido
concebido, não era otário, mas porra, pais deveriam ser sagrados,
não? Tipo, deveriam parar de transar pra sempre depois que
tivessem filhos.
— Ah... — Sorri para Maddy. — Na verdade, o papai me pediu
pra não deixar você ficar perto do lago.
— Mentira! — A pequena geniosa me mostrou a língua e
saltitou em direção à margem.
Não tinha importância, de qualquer forma. O lago da nossa
propriedade era pequeno e raso, e Madeleine sabia nadar muito
bem. O fato de pedir que eu a acompanhasse era apenas porque
não conseguia viver sem estar grudada em mim. Por isso, quando
pulou dentro da água gelada e soltou um gritinho, eu acabei dando o
braço a torcer e me levantei. Tirei minha camisa e desfiz o cadarço
da bermuda para ficar só de cueca, então, corri como uma bala de
canhão e me joguei bem forte, de propósito, para que ela recebesse
aquele jato de água na cabeça.
— Harryyyyy! — gritou, se virando e jogando água em mim com
as mãos minúsculas. — Idiota!
— Sabe que xingar é feio, Maddy — avisei, me aproximando
até agarrar suas pernas por baixo da água e assustá-la. —
Princesinhas não podem ter a boca suja.
— O papai tem!
— Sim, mas o papai não tem limites — admiti, apertando seu
nariz. — E ele sempre leva esporro da mamãe.
A pequena mergulhou por um segundo e veio à tona depressa,
cuspindo a água e empurrando os cabelos para trás da cabeça. Em
seguida, se pendurou no meu pescoço e me usou de boia como
sempre gostava de fazer. Ela estava crescendo e eu não fazia ideia
de até quando gostaria de me ter por perto e brincar comigo, porque
eu me lembrava de quando Amber entrou na adolescência e se
tornou mais arredia.
Fiz cócegas em sua cintura, arrancando algumas risadas da
minha pequena, então a joguei para o alto e a deixei cair na água.
Ela emergiu, feliz, pois adorava a brincadeira, e veio nadando de
volta para mim.
Maddy era muito parecida com nossa mãe. O rosto, o formato
das mãos, o corpo pequenino, sendo a mais baixa das amigas, até a
cor dos cabelos. Enquanto eu sabia que era a cópia fiel de Mason
Johnson e ainda bem, porque não seria legal possuir um metro e
meio na minha idade.
— Quando nossos primos vão chegar? — perguntou, agora
subindo nas minhas costas para que eu a carregasse pelo lago.
— Mamãe disse que estariam aqui hoje à noite — respondi,
andando em círculos amplos. — Vê se tenta se comportar e não fica
enchendo o saco da Amber. Ela não tem mais idade pra ficar
brincando com você, mas não tem coragem de dizer isso na sua
cara.
— Mas eu amo a Amber e quase não vejo ela... — Ouvi sua
voz tristonha. — Ela tem idade pra que então?
De acordo com as postagens em seu Instagram, eu diria que
nossa prima estava mais focada em garotos. Ela era dois anos mais
velha do que eu e foi o meu crush durante minha pré-adolescência,
sinto até vergonha em lembrar que bati muita punheta pensando em
Amber. Mas sempre nos demos bem e era tudo fantasia da minha
cabeça, então felizmente, consegui parar com essa loucura.
De qualquer forma, não a julgava. Aos dezessete anos, a
garota queria mais era se divertir com os amigos e beijar muito na
boca, sempre deixando meu tio desesperado cada vez que
apresentava um novo namorado... que durava dois, três meses, no
máximo.
— Pai! — Saí dos meus devaneios quando Madeleine pulou do
meu colo e nadou de encontro ao nosso pai, que entrou na água e a
pegou nos braços.
Revirei meus olhos ao ver a cena. A criança tinha oito anos,
estava bem grandinha para viver pulando de colo em colo, mas a
gente acabava a mimando o tempo todo.
— Quem disse que podiam se divertir sem mim? — perguntou
o papai, piscando na minha direção e beijando o rosto de Maddy. —
Acham que não sinto ciúmes?
— O Harry nem queria entrar.
— É mesmo? — Parando diante de mim com minha irmã
sentada num de seus braços, meu pai tocou minha nuca e beijou
minha testa. — Bom dia, campeão.
— Bom dia. — Beijei seu rosto e olhei por cima de seu ombro
quando vi que minha mãe caminhava sem pressa pelo gramado. —
Pai, você viu se vai poder aparecer no primeiro jogo da minha
temporada, como falei há uns dias? O treinador queria que chutasse
a bola.
— É claro que vou. — Ele bagunçou meus cabelos e sorriu. —
Não perderia isso por nada. Meu bebê é quarterback!
— Bebezinho — minha irmã provocou, imitando o que tinha
acabado de ver, e esfregando a mão na minha cabeça como meu pai
fez.
Sabia que de nada adiantaria retrucar e entrar naquela ladainha
de que eu tinha quinze anos e era um homem. Para ele e minha
mãe, eu sempre seria uma eterna criança. Como fui o primeiro filho,
sinto que até a maneira como me criaram era diferente da que
criavam Madeleine.
— Crianças, eu tenho certeza de que vocês não passaram o
protetor solar — minha mãe falou, na beira do lado, levando a mão
aos olhos para fugir do sol. — Estou certa?
Maddy ergueu os polegares e nos denunciou quando nosso pai
a devolveu para a água e foi até a margem abraçar minha mãe. Tudo
bem, eles formavam um casal incrível, mas eu evitava ver aquelas
cenas muito melosas. Os dois se amavam muito e eram
extremamente carinhosos um com o outro, assim como eram comigo
e Madeleine.
Eu os observei por um segundo, ciente de que era sortudo por
ter pais como eles. Minha mãe ficava sempre toda bobinha ao lado
do marido, parecia uma adolescente apaixonada, mas ela também
era o amor da minha vida. Nossa conexão era surreal e minha tia
Sidney dizia que era porque eu levava o nome do seu irmão, que
faleceu quando mamãe era bem nova.
Nunca saberíamos o motivo, mas eu a amava e faria qualquer
coisa por ela. Claro que pelo meu pai também, os dois e a Maddy
eram as pessoas mais importantes da minha vida, mas eu e minha
mãe, para a gente se entender bastava um olhar.
— A mamãe passou a mão no bumbum do papai — a pestinha
sussurrou ao subir em minhas costas.
— Ela faz isso sempre, bobinha.
Ouvindo a risadinha de Madeleine, nadei para a margem com
ela pendurada em mim, pois sabia que u ficaria ouvindo sermão se
não passasse logo a porcaria do protetor solar.
— Amor, descubra com a Mia que horas eles vão chegar —
meu pai pediu, com minha mãe ainda dentro dos seus braços, antes
de beijar sua boca. — Pensei de pegarmos o barco depois do
almoço e darmos uma volta, mas aí depende do horário que teremos
que voltar pra receber minha irmã.
— Ontem a Mia mandou mensagem e avisou que viriam hoje à
noite — ela respondeu, se soltando dele para vir até nós. — De
qualquer forma, quando entrar para dar uma olhada no preparo do
almoço, eu aproveito e ligo pra ela.
Seus olhos se estreitaram na minha direção ao mesmo tempo
em que beijava o topo da cabeça de Maddy. Sorri, vendo a minha
outra baixinha se aproximar, e levei um tapa na bunda seguido de
um beijo no rosto quando puxou meu pescoço.
— Querido, quantas sungas você possui?
— Não sei — respondi, encolhendo os ombros.
— Eu digo, são muitas. — Ela sorriu e revirou os olhos, toda
fofinha. — Então, por que está sempre de cueca molhada? Parece o
seu pai, que adora exibir as coisas por aí...
— Deixe o nosso filho mostrar os atributos, amor! O que é
bonito é pra ser visto, Hazel! — Abafei a risada quando meu pai se
virou para trás e deu um tapa no traseiro dela. — Tipo a sua
bundinha.
— Sério? — Ela o encarou, cruzando os braços, enquanto
Maddy e eu nos entreolhávamos e recuávamos a caminho da água.
— Tem certeza de que é isso que quer ensinar pra sua filha?
Achei graça quando papai perdeu a cor do rosto e olhou na
direção de Madeleine, que nem prestava mais atenção, pois já tinha
se jogado de novo dentro do lago. Eu, no entanto, fiquei preso
naquele limbo. Sem saber se voltava para junto da minha irmã, se
entrava em casa para pegar o protetor solar ou se aguardava pelo
sermão da minha mãe.
E foi justo neste momento que tia Mia e tio Josh chegaram, com
Amber e Adam caminhando mais à frente. Meu cérebro processou a
informação rapidamente e inclinei meu rosto na direção da minha
cueca transparente, percebendo que estava numa enrascada. Eu
não tinha vergonha de andar daquele jeito na frente dos meus pais,
os dois deviam estar cansados de me ver pelado, mas era bem
diferente ter o restante da família reunida ali, prestes a ver meu pau.
Eu morreria antes que Amber me visse assim!
Portanto, minha única saída foi me jogar para trás e cair sem
jeito na água, chamando a atenção de minha mãe, que parecia não
ter notado o meu desespero.
— Harry, saia pra cumprimentar seus tios e vá pegar o protetor
solar, por favor. Sua irmã vai ficar toda ardida mais tarde.
— Não dá — respondi.
— Como, não dá? — Ela levou as mãos à cintura e meu pai se
virou para trás, meio que no automático, ao mesmo tempo em que
cumprimentava tia Mia.
— Obedeça a sua mãe, Harry.
— Sério, não posso — insisti. — Estou de cueca branca,
esqueceram?
Amber correu para abraçar minha mãe, enquanto tio Josh dava
tapinhas nas costas do meu pai. Este, inclusive, riu do que eu disse e
gesticulou para que eu saísse da água.
— Deixa de besteira, Harry! — gritou, totalmente indiscreto. —
Você é meu filho, porra! Todo mundo sabe que tem pau grande!
— Mason! — Minha mãe deu um tapa no braço dele.
— O que foi? É verdade! Você mesma vivia reclamando que ele
estava cada vez mais parecido comigo.
— Mason, eu não sei se você percebeu, mas a sua sobrinha
está bem aqui — meu tio Josh avisou, olhando de cara feia para ele.
— O que tem isso? — Meu pai encolheu os ombros. — Amber
e Harry brincavam de médico quando eram crianças. Acha que
nunca olharam dentro da calça um do outro?
Foi Adam quem quebrou o clima fúnebre e caiu na gargalhada,
enquanto minha prima se encolhia e tentava se esconder atrás do
celular. E eu, o melhor que pude fazer foi nadar para bem longe e
sair pela margem do lado oposto, de forma que pudesse correr para
dentro de casa sem mostrar muitos detalhes a ninguém.
Aquele era o meu pai, que falava as coisas sem pensar e
matava a minha mãe de vergonha. Mesmo assim, a minha família
era a mais foda do mundo e eu esperava que aqueles verões se
repetissem ainda por muitos anos, porque sabia que quando
chegasse minha hora de ir para a faculdade, sentiria uma saudade
absurda deles três.

FIM
Espero que tenha gostado o suficiente do livro para chegar até
aqui! Então, se gostou, que tal expor sua opinião para que outros
leitores possam se interessar pela história? É rapidinho, basta
deixar uma avaliação na Amazon em poucas palavras (ou muitas,
depende da sua inspiração) e eu vou ficar extremamente feliz
quando ler. Muita gente não sabe como a avaliação é importante
tanto para conquistar novos leitores como para incentivar a nós,
autores, escrevermos sempre mais.
Se você não curtiu o livro, tudo bem, acontece! Vou torcer para
que em outro momento encontre algum trabalho meu que te
conquiste para podermos mudar essa impressão ruim, ok?
Se encontrou algum erro de revisão durante a leitura, pode
reportar à Amazon que eles sinalizarão para que eu conserte. Ou
pode me procurar pelas redes sociais e falar diretamente comigo, eu
não mordo e sou muito tranquila com isso.
Obrigada!
Este livro me pegou de jeito. Finalizo ele agora, com o coração
pesado de saudade, porque Mason e Hazel se tornaram um dos
meus casais favoritos de escrever. O “jogador” me surpreendeu
tanto ao longo da história, tomando um caminho bastante diferente
do que eu tinha pensado para ele. Mason, o tempo todo, só estava
esperando para conhecer sua baixinha. E eu espero que você, leitor,
tenha amado cada detalhe da história de vida dos dois.
Agradeço a Deus por me possibilitar concluir mais um trabalho e
me fazer tirar foco e força que nem eu sei de onde vem.
Obrigada, minhas parceiras lindas, por terem panfletado sem
parar e apresentado esse casal por aí, vocês arrasaram muito!
Minhas betas, Geisa e Lary, que surtaram comigo a cada capítulo
e me xingaram enquanto esperavam os próximos, amo vocês!
Raquel, minha revisora, que sempre vai dormir de madrugada
nas vésperas dos meus lançamentos, já que sou a louca do prazo,
obrigada!
Família, obrigada pela torcida por cada um desses livros, pela
apreensão, pela comemoração, e por me levarem adiante todos os
dias.
Leitores, meus calos fofos do coração, eu amo vocês. Obrigada
por me apoiarem em cada coisa que decido fazer. Por esperarem
ansiosos por cada lançamento, por divulgarem, por amarem meus
personagens e os levarem para dentro de seus corações.
Beijo da Kel!
Estou tentando descobrir até hoje. Incrível, não é? Mas a vida
é assim mesmo, uma constante evolução, mudanças e mais
mudanças, cicatrizes que vão formando nossa história e sonhos que
vão se renovando.
Eu comecei a escrever em 2008, quando me tornei uma fã
obcecada por Crepúsculo e passei a frequentar muitas comunidades
no Orkut (pois é, olha a idade aparecendo). Não demorou para que
decidisse me aventurar pelo universo das fanfics e tomei coragem
para criar as minhas, até que me vi ganhando certa relevância
naquela rede social e me animei a escrever as minhas próprias
histórias.
Foi daí que surgiu Fortaleza Negra, o primeiro livro que
publiquei por uma editora tradicional. Inicialmente, era para ser uma
trilogia e só existia em formato físico, mas no meio do caminho eu
descobri o mundo dos livros digitais e me apaixonei. Passei algum
tempo trabalhando exclusivamente com literatura fantástica, até que
decidi me arriscar um pouco pelo mundo dos romances. Foi um
caminho sem volta e hoje não me vejo parando de escrever o
gênero, apesar de querer muito conciliá-lo com os demais.
Nasci em 1983, faço aniversário dia 24 de agosto e sou uma
virginiana meio lá meio cá. Sabe? Aquele tipo de pessoa que se
adequa pela metade em seu signo. Por exemplo, sou muito
perfeccionista, neurótica com coisas desalinhadas, cores ou
padrões descombinados, excessivamente pontual e extremamente
analítica, meio chata com higiene e racional demais para
relacionamentos. No entanto, você seria capaz de se perder em
meu quarto de tão bagunçado que ele é, minhas roupas estão
sempre amarrotadas e sou uma das maiores procrastinadoras que
conheço.
Mas eu sou gente boa, juro que sou. Se me encontrar
pessoalmente, não pense que sou antipática, sou apenas tímida
num primeiro momento. Sou alguém que se for reconhecida na rua,
primeiro vai olhar para trás só para conferir se é comigo que estão
falando, depois vai ficar vermelha, e em seguida, vai bater o maior
papo com a pessoa. Nas redes sociais, tendo a me soltar muito
mais, então não estranhe se você acessar meu Instagram e achar
que sou louca, que ninguém mais ou menos normal passaria
metade dos vexames que eu passo. Sou bem aleatória e posso falar
sobre cachorros e gatos, sobre músicas antigas, minha paixão por
carros, soltar minha afinação vocal no seu ouvido ou sei lá, postar
uma foto de alguma comida bem gordurosa. E isso tudo pode
acontecer só num único dia. Ou eu posso simplesmente sumir por
uma semana porque deu vontade ou porque estava com a energia
baixa. Todos nós temos os nossos momentos bons e ruins.
Ah, só para constar, algo muito importante: você
provavelmente vai me ver falando muito sobre doramas, BTS e
cultura coreana. Desculpa, é difícil demais me controlar. Aqui tem
um coração de army batendo forte.
Tenho tatuagens, moro no Rio de Janeiro, não sou muito fã de
praia, tenho certeza de que sou um unicórnio e nunca passo muito
tempo com o mesmo corte ou cor de cabelo.
Acho que deu para me conhecer um pouquinho, mas se quiser
saber mais, estou sempre disponível no Instagram. É só clicar e
começar a me seguir!
Um beijo!

@kelcosta.oficial

@kelcostaoficial

@kelcosta_k
Caso ainda não tenha lido, eu te convido a
conhecer a história de Josh e Mia, a irmã de
Mason Johnson:

O ERRO MAIS CERTO DA MINHA VIDA


- New adult
- Clichê invertido
- Age gap
- Found family
- Melhor amigo do irmão

Mia Johnson está desempregada, com o coração vazio e teias


de aranha entre as pernas desde que seu último relacionamento
fracassou. Por isso, acaba saindo de Washington e voltando para
Los Angeles, cidade onde nasceu e viveu até se formar na
faculdade, decidindo morar com seu irmão mais novo, na casa de
seus falecidos pais.

Era para ser um recomeço tranquilo, uma forma de se


reconectar com sua essência e se redescobrir como uma mulher
beirando os trinta anos. Mas em sua primeira noite de volta à
ensolarada Califórnia, sua melhor amiga Olivia a arrasta para um
bar que é parada obrigatória dos universitários, exatamente tudo do
qual Mia queria distância. Muitos brindes e várias cervejas depois
para comemorar o reencontro das duas, um episódio do destino faz
com que ela acabe agarrando um garoto atraente demais, que
rapidamente percebe que ela está bêbada.

Apenas no dia seguinte, quando acorda em seu quarto com


uma ressaca terrível, Mia percebe o erro que cometeu ao dar de
cara com o mesmo rapaz e descobrir que ele é Josh Coleman, um
novo amigo de seu irmão e companheiro dele no time de futebol
americano Bruins. Não basta ter que dividir a casa com um estranho
de olhos claros, covinhas impressionantes e corpinho apetitoso, ela
sente vontade de morrer por ter realmente beijado um universitário.

Mia faz de tudo para ignorar a tentação sob o mesmo teto e


Josh tenta ao máximo respeitar a irmã de Mason. O problema é que
o garoto de vinte e um anos não consegue esconder a atração pela
bela morena de traseiro arrebitado, lábios fartos e olhos marcantes,
e isso deixa Mia totalmente encurralada.

A tensão sexual entre eles será suficiente para derrubar tantos


tabus que envolvem uma relação desse tipo?
FEITA PRA SER MINHA
Livro Único

UM NEW ADULT com AGE GAP e o clichê do IRMÃO DO


MELHOR AMIGO!
PATRICINHA RICA + LUTADOR CLANDESTINO com hot de
qualidade!

April Jones foi criada em meio à nata da sociedade nova-iorquina,


cercada de muito luxo e muitas regras, mas fazia o possível para
viver como uma universitária comum. Ela saiu da casa dos pais para
estudar na Universidade de Columbia, a alguns minutos de
distância, no mesmo curso que o seu melhor amigo (e também ex-
namorado de adolescência) James Pratt, pois os dois mantiveram a
amizade intacta mesmo depois que o relacionamento esfriou.
Aos vinte anos de idade, April vê sua vida mudar quando descobre
que o amigo se envolveu com o tráfico de drogas, e a melhor
chance de salvarem seus pescoços sem precisarem recorrer aos
seus pais, é procurando o irmão mais velho de James.

Adam Pratt não é um cara comum. Mesmo nascendo em berço de


ouro, saiu de casa aos dezoito anos por não concordar com o estilo
de vida que seus pais queriam lhe impor. Com o corpo todo tatuado
e cheio de piercings, o homem de trinta e um curtia a vida que
queria após anos de laços cortados com a família. Conhecido como
SNAKE, era a estrela invicta da Jaula, o galpão que organizava as
lutas clandestinas de MMA em Nova York, e estava muito
confortável com aquela rotina. Ele só não esperava que seu caçula
aparecesse de repente implorando por sua ajuda, junto com a
garota que nem lembrava de ter visto crescer. April era o seu
perfeito oposto, mas Adam logo percebeu que o jeitinho da garota
mexia demais com sua libido. Ela não parecia interessada no lutador
arrogante, mas Snake adorava um desafio e aproveitaria a
oportunidade de ajudar seu irmão para derrubar todas as barreiras
da ninfetinha por quem estava louco.

Ela foi feita pra ser dele muito antes de tomar conhecimento
disso, e uma vez envolvida, o homem possessivo e sedutor
pegaria tudo que oferecesse.

ATENÇÃO: LEITURA RECOMENDADA PARA MAIORES DE 18


ANOS.
CONTEÚDO ERÓTICO E COM CENAS DE VIOLÊNCIA QUE
PODEM ATIVAR GATILHOS EMOCIONAIS.
Duologia new adult
Projeto Zoe - Livro Um
Projeto Idol - Livro Dois
Encontre outros títulos clicando
aqui
[1]
Running backs são jogadores de ataque que ficam atrás ou ao lado do quarterback,
para, geralmente, serem uma alternativa para correr com a bola. Eles também podem
receber passes.

[2]
Quarterback (QB) é uma posição do futebol americano. Jogadores de tal posição são
membros da equipe ofensiva do time (do qual são líderes) e alinham-se logo atrás da linha
central, no meio da linha ofensiva.
[3]
Aparelho de uso estritamente feminino na ginástica artística, que possuem alturas
diferentes. As rotinas realizadas devem conter movimentos de impulso, voo e estáticos. Os
exercícios de força devem ser usados com moderação, pois os de impulso são a base dos
movimentos estáticos antecedidos pelas rotações ou transições.

[4]
As apresentações da ginástica artística são individuais ­— ainda que nas disputas por
equipes —, possuem o tempo aproximado de trinta a noventa segundos de duração, são
realizadas em diferentes aparelhos e separadas em competições femininas e masculinas.

[5]
Ginastas que atingem o mais alto nível de competição têm a chance de entrar para a
“elite”, participar profissionalmente da seleção e ir para Olimpíadas. Isso geralmente
acontece quando ainda são muito novos, por volta dos 12 anos de idade. Enquanto apenas
alguns passam para a elite, a grande maioria tem a oportunidade de competir
colegialmente.
[6]
Os campeonatos de ginástica feminina da NCAA são uma competição anual de ginástica
para determinar a melhor equipe de ginástica feminina universitária do país. Ao contrário
da maioria dos esportes da NCAA , o campeonato de ginástica feminina não é separado
em divisões e usa um único campeonato nacional universitário.
[7]
É o edifício principal para o atletismo interno da UCLA. Além disso, serve como uma das
sedes da equipe feminina de vôlei e também abriga o ginásio de treinamento da equipe de
ginástica.
[8]
Como é chamado o carro do Batman.
[9]
Capacete de futebol americano.
[10]
Dois giros em torno do corpo, seguido de dois mortais no ar com uma flexão no quadril
levando as mãos à altura do joelho. O famoso “Duplo Twist Carpado”, movimento que foi
executado com perfeição pela primeira vez pela ginasta brasileira Daiane dos Santos. Em
razão disso, levou o nome "Dos Santos".

[11]
Termo muito usado para definir “sexo casual”, encontros para fazer sexo, etc.
[12]
Famoso feriado escolar que dura uma semana e acontece na primavera - geralmente
entre março e abril, mas as datas de cada instituição podem ser diferentes dentro daquele
período.

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