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Ações Formativas: Ciências Sociais na interface entre a Universidade,

Escola e Comunidade

Projeto de formação e debate público vinculado ao Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Santa Maria.

Resenha: A Condição Humana (Hannah Arendt)

EM 2 DE JUNHO DE 201626 DE ABRIL DE 2017 / POR LMTPCIENCIASSOCIAIS / EM


TEXTOS, TEXTOS LMTP
Hannah Arendt publica o livro  A condição humana em 1958, em um contexto marcado pelas
consequências sociais do totalitarismo fascista. Trata-se de uma obra de filosofia política, a qual busca
compreender a condição humana num longo percurso histórico, que compreende da antiguidade até a
modernidade.

A autora parte do conceito de vida activa para designar não uma suposta natureza (essência) dos homens,
mas sim as atividades fundamentais que constituem a condição humana, qual seja: trabalho, obra e ação.

O “trabalho” refere-se ao ciclo vital dos homens e diz respeito àquilo que é próprio do animal laborans. A
“obra” trata da mundanidade artificial e está associada à condição do homo faber. Por fim, a “ação” é a
mediação da vida política e corresponde à condição humana da pluralidade.

Na antiguidade grega as esferas do “trabalho” e da “obra” estavam vinculadas à preservação da vida.


Enquanto o âmbito da “ação” era considerado o espaço da liberdade, quer dizer, o modo de vida
valorizado por dedica-se aos assuntos da pólis. Para Aristóteles (384 a.c – 322 a.c), a política era a única
atividade digna e capaz de construir um modo de vida autônomo e autenticamente humano. Ela era a
instância apta alibertar os homens das demandas imediatas e utilitárias do ciclo da vida.

Parte dos filósofos gregos ainda distinguiu as noções de ação e contemplação, associando a primeira à
vida terrena ativa (“inquietude”) e segunda a um estado de inatividade(“quietude”). Posteriormente, os
filósofos cristãos retomaram esse aspecto, a partir dabusca do homemcontemplativo e livre do
envolvimento em assuntos mundanos.

A antiguidade estabelecia uma nítida fronteira entre os espaços do lar e da família e o universo da
cidade-Estado. O primeiro correspondia ao campo do privado e ao tratamento das questões econômicas
e o segundo ao campo do público e ao tratamento das questões políticas. A vitória sobre as
“necessidades”– consideradas fenômeno pré-político e privativo –,levada a cabo pelo oikos, era
considerada a condição primeira da liberdade da pólis.Desse modo, quem quer que vivesse uma vida
exclusivamente privada, como era o caso dos escravos, “não era inteiramente humano” (Arendt, 1985,
p.57).

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Para os gregos, no locus público expressam-se as ações políticas que representam as capacidades
humanas mais superiores: a ação e o discurso. Concebe-se que as ações políticas se realizam por meio
das palavras, quer dizer, através do discurso como estratégia de persuasão. Entendia-se que a violência
era“muda”, por isso jamais poderia ter grandeza, sendo pré-política.

A liberdade foireputada como a condição para a felicidade entre gregos. A “vida-boa” era a vida do
cidadão. E era considerada “boa” porque livre do trabalho, da obra e de todas as limitações do processo
biológico.

Arendt (1985)entendia que tais percepções do mundo grego foram alteradas pela emergência da
sociedade moderna. A sociedade de massa tem dificuldade de compreender as divisões que o mundo
antigo considerava axiomática.Na sociedade moderna as atividades econômicas ascendem ao domínio
público, quer dizer, as questões que antes eram da esfera privada da família transformam-se em
preocupações coletivas. A economia, até a era moderna, ocupava um espaço não muito importante na
ética e na política. Ela assume caráter científico somente quando os homens tornaram-se seres
eminentemente sociais. Com a “vitória da sociedade” verifica-se a substituição da “ação” pelo
comportamento padrão; do governo pessoal pela burocracia; a admissão das atividades domésticas e da
administração do lar no domínio público.

Portanto, com a sociedade de massa o processo da vida foi canalizado para o domínio público e
garantido numa escala mundial.

A indicação talvez mais clara de que a sociedade constitui a organização pública do processo vital
encontra-se no fato de que, em um tempo relativamente curto, o novo domínio social transformou todas
as comunidades modernas em sociedades de trabalhadores e empregados (Arendt, 1985, p.57).
Na sociedade moderna as atividades associadas à dependência em prol da vida, ou seja, relacionadas à
mera sobrevivência, emergem em público. Assim, o trabalho é promovido à estatura de coisa pública.A
atividade do trabalho foi liberada das restrições que lhe eram impostas por seu banimento ao domínio
privado, levando ao aumento constante da produtividade laboral. Para tanto, a divisão do trabalho foi
crucial, destacando-se que a mesma somente poderia ter ocorrido nas condições do domínio público e
não na privacidade do lar. A sociedade moderna passou a considerar a excelência humana associada ao
campo do trabalho.

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Na perspectiva de Arendt (1985),os homens ganham excelência na atividade de trabalho e perdem em


capacidade de discurso e de ação, o que coloca o problema da despolitização dos sujeitos e do crescente
pragmatismo e instrumentalização do mundo. Com a redução do espaço público como espaço de ação,
tem-se o predomínio do animal laborans e do homo faber sobre o zoonpolitikon.

FERREIRA, Laura Senna. Resenha. ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense,
1985.p.9-61. Grupo LMTP (Leituras do Mundo do Trabalho e das Profissões), UFSM.

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