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TECNOLOGIA E SEUS

IMPACTOS SOBRE A
SOCIEDADE

Tema: Relações de Trabalho


CENTRO UNIVERSITÁRIO
LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, nº 1.040, Bairro Benedito
89130-000 - INDAIAL/SC
www.uniasselvi.com.br

Curso obre Tecnologias e seus Impactos Sobre a Sociedade


Centro Universitário Leonardo da Vinci

Autora
Graciela Focchi

Organização
Elisabeth Penzlien Tafner
Meike Marly Schubert
Sonia Adriana Weege
Tatiana Milani Odorizzi

Reitor da UNIASSELVI
Prof. Hermínio Kloch

Pró-Reitoria de Ensino de Graduação a Distância


Prof.ª Francieli Stano Torres

Pró-Reitor Operacional de Ensino de Graduação a Distância


Prof. Hermínio Kloch

Diagramação e Capa:
Letícia Vitorino Jorge

Revisão:
Joice Carneiro Werlang
José Roberto Rodrigues
Tecnologias e seus Impactos sobre a Sociedade 1

RELAÇÕES DE TRABALHO

Ementa

A origem e o significado da palavra trabalho. As mulheres e o trabalho nos tempos


contemporâneos

1 INTRODUÇÃO

Um indivíduo/trabalhador, consciente de si e de seu fazer profissional, geralmente


pergunta-se sobre aspectos inerentes ao ofício, tais como: saber fazer, técnica, matéria-prima
e energia, os meios de produção, o produto, custo, margem de lucro, jornada de trabalho,
remuneração, condições de trabalho, comércio, consumo, categoria de trabalho, reconhecimento
e valor/sentido social e a realização, a satisfação/sentido pessoal, os âmbitos e as instituições
que intermedeiam seu fazer profissional.

2 ORIGEM/SIGNIFICADO DA PALAVRA TRABALHO

Ao pensar e refletir sobre relações de trabalho, parece que se toca em uma questão
que é responsável por causar entusiasmo e resistência aos indivíduos, ao mesmo tempo as
pessoas se sentem dispostas e se dedicam a certa atividade e, por outro lado, recuam diante
das condições, regramentos e normatizações em que precisarão estar alinhadas e adequadas.
Percebe-se também uma espécie de um relutar diante do fato da exploração do homem pelo
próprio homem, no sentido de obter e gerar riqueza.

Conta-se com todo um processo e imaginário histórico para que isto ocorra, no sentido
de que as relações de trabalho encontram-se forjadas em meio a elementos religiosos, sociais,
econômicos e políticos, e procura-se apresentar as principais concepções e dinâmicas que o
homem atribuiu ao trabalho ao longo de sua jornada histórica, bem como as possibilidades do
momento presente e vislumbrar tendências que as relações de trabalho podem trilhar.

Albornoz (2008) apresenta que a expressão trabalho contém muitos significados, tais
como esforço, fadiga, sofrimento, labuta, castigo, realização, sacrifício; que existem muitas
expressões, nas mais diferentes línguas, como labor e operare no italiano, travailler no francês,
work no inglês; bem como comporta correlações entre as mesmas, como no caso da palavra latina
arvum, que significa terreno arável, que surgiu da noção do alemão arbeit, que significa trabalho.

Na Grécia antiga pode ser associada à noção de poiesis, que significava o fazer, a
fabricação, o que o ser humano produz tanto material: uma obra de arte executada por um
artista, escultor, ceramista; como não material: instituições sociais, referências culturais etc.

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2 Tecnologias e seus Impactos sobre a Sociedade

A expressão trabalho, tal como é escrita e utilizada na língua portuguesa, deriva da


expressão latina tripalium, que ao longo da Idade Média era o nome dado a um instrumento de
tortura que apresentava três paus reunidos, utilizado pelos camponeses e servos para bater o
trigo, as espigas de milho, e para desfiar e esfiapar o linho; certa vez foi adaptado e utilizado
como instrumento de tortura (ALBORNOZ, 2008).

O missionário católico Raimundo Lélio (1232-1315), que atuou entre os povos catalães
no século XIII, foi o responsável por reabilitar a expressão e concepção ‘trabalho’, que foi
amplamente difundida na sociedade moderna industrial e capitalista (GANDILLAC, 1995). A
concepção de trabalho também é identificada na denominação de tripalium, que foi extraída
do latim e designava um instrumento de tortura reservado aos escravos. Lélio a substituiu pela
expressão treballan, que é oriunda do idioma catalão, que designa a habilidade em elaborar
a matéria bruta, transformando-a em obra, realização e propriedade humana, e dignificadora
do próprio homem.

Labor e trabalho são expressões muito utilizadas e até sinônimos, porém Arendt (2007)
nos propõe que se faça distinção entre elas. Por labor a autora relaciona o ato de trabalhar,
que está na labuta, numa lógica de estar em curso, na disposição de verbo no gerúndio, está
ocorrendo, não comporta a noção de produto final. Por trabalho designa as atividades feitas
com as mãos, a noção de produto, trata-se de um trabalho que é apresentado como acabado.

Os estudiosos são unânimes ao apresentar que a palavra trabalho deve ser identificada
e compreendida ainda nas sociedades ágrafas (sociedade sem escrita), quando ocorreu a
passagem das atividades de caça, coleta e pesca à prática da agricultura e na domesticação
dos animais.

Durante muitos séculos, a moral e a ética do “trabalho” e da “conquista” permaneceram,


em grande parte, como um fato circunscrito ao universo rural, ao lavrar e semear a terra,
colher e armazenar alimentos, domesticar e tratar animais, construir pontes, moinhos, celeiros,
castelos, palácios, igrejas, minerais, metais preciosos, entre outros.

As concepções foram alteradas, inclusive as mais antigas, quando reunidas nos livros
da Bíblia Sagrada, em que o trabalho não é mais visto como um indício da maldição de Deus
a Adão e Eva, com a expulsão do paraíso, sendo que teriam que ganhar o pão com o suor do
próprio rosto. Os gregos distinguiam entre esforço do trabalho na terra, a fabricação do artesão
que servia ao usuário, e a atividade livre do cidadão que discutia os problemas da cidade. De
modo muito semelhante na Idade Média, trabalhar com as mãos era sinônimo de ser escravo
ou servo, um indício de que o indivíduo pertencia aos grupos inferiores da sociedade.

A partir da reforma protestante, empreendida pelo teólogo Martinho Lutero (1483-1546),


a concepção de trabalho foi profundamente reformulada no sentido de que o trabalho, como

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vocação, conduziria os indivíduos à salvação da alma. João Calvino (1509-1564), teólogo


francês, apresentava a noção de que o trabalho, o êxito e a prosperidade material em vida
deveriam ser compreendidos como uma forma de conquistar a benevolência Deus. Ambas as
teorias favoreceram o contexto no qual implantavam-se políticas de mercantilismo e capitalismo.

O sociólogo Max Weber (1864-1920) defendeu, em seus estudos, que os valores


religiosos do protestantismo favoreceram e coincidiam com o espírito do capitalismo, no
sentido de que superavam a moral católica de renúncia ao mundo material, do acúmulo de
bens financeiros e ao lucro, na vida religiosa de devoção contemplativa e de renúncia ao
mundo material.

A noção de vocação para o trabalho foi associada também à ideia de amor ao próximo,
e quanto mais intensa a atividade profissional, maior a aproximação da salvação. Por outro
lado, a falta de vontade de trabalhar passou a ser compreendida como ausência do estado de
graça e do não merecimento da salvação de Deus. Assim, estava autorizado que todo indivíduo
empreendesse a busca pela riqueza material, podendo realizar grandes ações e assim galgar
sua própria salvação.

Uma das principais alterações que a modernidade realizou foi a de apropriar-se da


concepção positiva de trabalho e mudar o ambiente de realização do mesmo, que do interior
das casas ou no interior das corporações de ofício passou a ser realizado em cidades, no
interior dos espaços das fábricas.

Foi nesta época que surgiram as noções de divisão de trabalho, na qual cada indivíduo,
com a fração/parte que desempenha, na sua especialidade, contribui à soma de trabalho
coletivo, que por sua vez gera a riqueza de cada nação, o que se tornaria uma espécie de
consciência e interesse coletivo e comum a todo indivíduo. É neste momento que a mudança
de percepção da noção de trabalho passa a ocorrer, no sentido de que as pessoas passam a
trabalhar para poder consumir, e não mais para produzir algo.

A partir do século XVIII, os economistas Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo (1772-
1823) reforçam os valores de atividades produtivas e de riqueza material, e defendem que o
trabalho é o grande responsável pela riqueza social, o que por sua vez supervalorizou a ideia
de homem operário, Homo economicus, que produz riqueza, que contribui para que o sistema
econômico continue a alcançar seus objetivos e lançar novas possibilidades de investimentos e
lucratividade. Foi neste contexto que o estudioso alemão Karl Marx (1818-1883) defendeu que
a essência do homem é o trabalho e não a sua vida espiritual. Passou a observar mais de perto
a relação do homem e do trabalho, ao ponto de analisar dimensões peculiares e subjetivas da
relação do homem com o trabalho e a mercadoria, e se engajar ativamente em fazer o processo
de crítica e denúncia das contradições que envolviam trabalhadores, proprietários dos meios
de produção e burgueses comerciantes, abrangendo o sistema capitalista como um todo.

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No entanto, a perspectiva de Marx era a de que o exercício crítico, através da


intelectualidade, não era suficiente, para ele o mundo não se transforma com o pensamento
e leis, o mundo deveria ser transformado pela práxis, na organização dos trabalhadores e na
realização de atos revolucionários. A divisão do trabalho era responsável pela alienação do
homem na sociedade capitalista, que por sua vez se revelava em face à perda da totalidade e
da dignidade humana. Caberia ao proletariado a responsabilidade pelo ato de fazer a revolução
e transformar a sociedade, tomar o poder e abolir a relação capitalista de produção. Em meio
ao campo de luta e revoluções, os trabalhadores deveriam estar conscientes de si e de sua
classe/categoria e empreender as revoluções que fossem necessárias a fim de desfazer o
quadro de desigualdade, injustiças e exploração que o trabalho favorecia. Marx defendia a
superação do sistema capitalista pelo comunismo, numa espécie de sociedade associativa
em que o livre desenvolvimento individual seria a condição do livre desenvolvimento de todos.
(MARX; ENGELS, 2010).

Segundo Abbagnano (2007), a relação do trabalho com a existência humana passa a


ser lugar-comum na cultura contemporânea. Mesmo fora do âmbito marxista, o caráter penoso
atribuído ao trabalho não é atribuído ao trabalho em si, mas às condições sociais em que ele
é realizado nas sociedades industriais.

O trabalho passa a ser visto como parte fundamental da natureza humana. O trabalho é
ainda hoje visto como um valor social, sendo o trabalhador um personagem social merecedor
de respeito, admiração e dignidade pelas obras que faz a si, a seus familiares e semelhantes.

A nova concepção que foi atribuída ao trabalho combina com os valores das mudanças
no interior da fabricação de produtos. O homem, reconhecendo que o trabalho não era mais
motivo de sofrimento e castigo, mas sim uma atividade que o tornaria socialmente reconhecido,
se sentiu motivado e disposto a se dedicar e doar a fim de preencher as oportunidades e a
demanda da manufatura e indústria nascente, bem como o campo das invenções de máquinas
e técnicas e o próprio sistema capitalista, que estavam exigindo.

Trabalho, geralmente, pode ser definido como atividade coordenada de caráter físico
ou intelectual, necessária a qualquer tarefa, serviço ou empreendimento, ocupação, ofício,
exercício de profissão. Um aspecto que distingue o trabalho humano do trabalho dos outros
animais está no fato de que o trabalho e esforço humanos são atribuídos à intencionalidade,
além da operação instintiva e programada que é reconhecida nas atividades dos animais. No
homem é percebido o grau de especialização, complexidade, tanto das atividades, como dos
meios dos quais eles se utilizam para realizar o trabalho.

A produção artesanal, produção familiar em espaços domésticos ou pequenas oficinas,


como alfaiates, ceramistas, sapatarias, na qual importa fazer um bom trabalho, um produto
único, com maestria e arte de fazê-lo. O trabalhador encontrava-se livre para organizar seu

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trabalho, a seleção de sua matéria-prima, o começo, a forma, a técnica, o ritmo, os detalhes,


o acabamento, a entrega. Não ocorre a distinção de trabalho e lazer, divertimento e cultura,
ambos fundem-se.

A Europa viveu seu momento de desenvolvimento industrial ainda no século XIX, na


América Latina ocorreu somente na segunda metade do século XX, realidades nas quais o
processo de aprimoramento da produção acabou por se modificar, não seguindo a lógica de
fases e processos que ocorreram na Europa. O quadro industrial desta região apresenta-se ora
como que ainda na segunda revolução industrial, e ora na produção que se utiliza de tecnologia
de ponta e robotização, em especial a migração e empregabilidade no setor de serviços. Ao
mesmo tempo, encontram-se inúmeros desafios em termos de dependência em relação a
tecnologias e desigualdades no que diz respeito ao acesso ao emprego.

No século XIX pode-se falar que a produção capitalista, que introduziu a máquina a
vapor e a modernização dos métodos de produção, desintegrou costumes e introduziu novas
formas de organização da vida social. A transição da produção artesanal para a manufatureira
e desta para a produção fabril, a migração do campo para a cidade; o fim da servidão; o
desmantelamento da família patriarcal; a introdução do trabalho feminino e infantil.

A individualização da produção, a programação das atividades, linhas de montagem,


produção em série e o consumo em massa (fordismo e taylorismo) almejavam articular o
acesso a matérias-primas, à mão de obra, ao fácil escoamento da produção e obter maiores
margens de lucros entre os custos e a comercialização da produção, que por sua vez acarretam
deslocamentos que desperdiçavam tempo significativo na vida dos trabalhadores, além da
produção de poluição e impactos ao meio ambiente.

A maquinização e a mecanização da produção conferiram ao trabalhador a percepção


da perda do saber fazer, a perda da noção de produtor. Diante disto, o trabalhador se sentiu
pressionado a se adaptar para poder operar as máquinas que estavam sendo introduzidas
nos espaços de trabalho. A separação, divisão, especialização da produção fizeram com que o
produtor não conseguisse mais reconhecer a totalidade do produto depois de pronto. Mudanças
da concentração da população em relação às atividades econômicas e oportunidades de
trabalho, o trabalho na indústria acabou por concentrar a população em determinadas regiões
e cidades, tornando-as superpovoadas.

O que Marx procurou definir como ‘alienação’ encontrava-se nascente nestes processos,
e depois poderia ainda ser verificada em situações como a do consumo dos produtos que
estavam sendo produzidos/consumidos, no contexto industrial em que a produção se dava
em grande escala e para consumo em massa. Trabalhadores como alfaiates, costureiras,
sapateiros, eram os testemunhos mais expressivos deste processo.

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Diante da reflexão de Arendt (2007), podemos afirmar que, desde o século XIX, o
Homo faber foi perdendo sua aura e passou a ser valorizado o “princípio da felicidade”. De
fato, o progresso da civilização não produziu uma sociedade de indivíduos políticos ou de
trabalhadores que amam seu ofício, e sim uma sociedade de consumidores, de indivíduos
isolados e desenraizados, uma cultura de massa imersa em futilidade. E a construção da
identidade deixou de ser pautada em atividades criativas e produtivas, à medida que o trabalho
se tornou apenas um meio de satisfazer necessidades ou desejos de consumo.

3 AS MULHERES NO CONTEXTO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

As mulheres participaram da produção de utensílios, alimentos e mercadorias desde


os tempos mais remotos, que envolviam desde as atividades no interior da casa, família e
comunidade. A alimentação, o artesanato e a educação das crianças foram inseridos no interior
dos espaços de trabalho com fortes projetos a partir da Revolução Industrial. Os maiores
problemas surgem quando as mulheres passam a ser empregadas no interior das indústrias
modernas, em meio a longas jornadas de trabalho, com a presença de maquinários, em que
os salários pagos às mulheres passam a ser inferiores.

A gradual introdução das mulheres no campo de trabalho favoreceu a mudança de


hábitos e costumes por parte das mesmas. O fato de trabalhar no interior das fábricas exigia
novos comportamentos, posturas e até uma indumentária que favorecesse a realização das
atividades e evitasse possíveis acidentes de trabalho. Os vestidos longos e rodados, os chapéus
e demais acessórios ofereciam risco de acidentes se usados nos espaços de trabalho em meio
às máquinas.

As roupas que deveriam ser usadas no interior das indústrias precisavam ser justas, retas
e que cobrissem o corpo o máximo possível. A condição e imposição do meio de trabalho foram
responsáveis por depreciar a feminilidade, fragilidade e sensibilidade da mulher e favorecer
uma postura rígida, tenaz e ereta. Foi neste contexto que a estilista francesa Coco Chanel
(1883-1971) começa a projetar roupas com design mais favorável às atividades no interior
das fábricas e empresas, nas quais se destacam cortes e precisão geométrica das roupas e
modelos ajustados ao corpo, ausentes de babados, volumes, acessórios, entre outros.

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ÇÃO!
ATEN

1º de Maio: Dia do Trabalhador, Dia do Trabalho ou Dia Internacional


dos Trabalhadores
Esta data, que é comemorada em diversos países, como Brasil, Portugal,
Austrália, Angola, França, Suécia, Moçambique, é resultante de uma
greve geral de trabalhadores que ocorreu no ano de 1886, no interior de
Chicago, nos Estados Unidos da América. A paralisação foi responsável
por envolver diversos parques industriais da cidade. Dentre as causas da
paralisação encontrava-se a redução da jornada de trabalho. A presença
dos manifestantes na rua se estendeu por diversos dias e acabou por ser
reprimida com violência pelas tropas do governo, causando inúmeras mortes.

A partir dos anos de 1990 o toyotismo, idealizado pelo engenheiro-mecânico Taiichi Ohno
(1912-1990), tornou-se tendência no interior dos sistemas produtivos. Este rearranjo produtivo
apresenta, como princípios, a otimização da produção em todas as fases e a integração de todos
os setores no interior dos espaços produtivos; no campo deliberativo requer a descentralização
da tomada de decisões; produção de itens diferenciados; formação de alianças e redes de
atividades empresariais; por parte dos indivíduos requer trabalho em equipe, proporciona a
participação nos resultados, subcontratação e exige qualificação constante.

4 O TRABALHO NOS TEMPOS CONTEMPORÂNEOS

O homem contemporâneo possui uma relação com o trabalho, que foi instaurada ainda
no século XIX e que ganhou desenvolvimento e aprofundamento ao longo do século XX. Trata-
se da produção industrial, tecnológica e a prestação de serviços no interior de grandes cidades.
O espaço primordial de realização dos indivíduos torna-se o espaço no interior das cidades,
os espaços das indústrias e o âmbito público das relações.

A era industrial deixou de cumprir sua ‘grande promessa’: fabulosas realizações materiais
e intelectuais. O sonho de sermos senhores independentes de nossas vidas terminou quando
despertamos para o fato de que todos nos tornamos peças ínfimas da máquina burocrática,
com nossos pensamentos, sentimentos e gostos manipulados pelo governo, pela indústria e
pelas comunicações de massa que controlam tudo. (FROMM, 1987).

Uma das questões cruciais de tal processo diz respeito à passagem do regime fordista
(século XIX) ao regime chamado de produção toyotista. A técnica tornou cada vez mais
fragmentado o processo de trabalho e, consequentemente, independente dos indivíduos, bem

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como aleatório com quem o faz, em que já não importa como cada um o faz; importa sim que
cada indivíduo mantenha-se submetido ao todo, mantenha os laços, as passagens, o fluxo do
processo, com o mínimo de interferência criativa, inovação que possa tornar os fluxos ainda
mais eficientes.

Trabalhar em uma mesma empresa por muitos anos, ser homenageado e receber
condecorações de três, cinco, dez, 15, 20 anos de empresa, faz parte da geração anterior à
qual nos encontramos e que tende a se tornar cada vez mais raro. Especialmente no ramo do
terceiro setor.

No interior das grandes organizações descortinam-se tendências à rotatividade, à


terceirização, cooperativas de trabalho, atividades autônomas, grupos de voluntariado, economia
solidária, entre outras. No panorama atual de sistemas de governos, grupos empresariais
e relações de trabalho, se cadencia a internacionalização dos processos de produção e
comercialização e a mercantilização/financeirização das relações econômicas e sociais, no
sentido de que reforçam o sistema capitalista e o poder do mercado, dimensões em que a noção
de competição e propriedade prevalecem como moral e finalidade última, o que por sua vez
acaba por fragilizar as estruturas de Estado, as relações sociais e culturais entre os indivíduos.

A tecnologia da informação, a descoberta e desenvolvimento de novos materiais, as


mudanças e oscilações nas estruturas de mercado e a capacidade de competitividade e as
relações intra e interpessoais parecem ser os elementos que mais permeiam as relações de
trabalho. No interior destas novas tendências identifica-se a busca dos indivíduos em vivenciar
experiências que aliem trabalho, moradia, realização de projetos pessoais, formação continuada,
vivências familiares, sociais e de lazer.

4.1 AS POSSIBILIDADES DO TRABALHO INFORMAL

O trabalho informal é o que ocorre nas experiências de trabalho artesanal e prestação


de serviços, em que envolve intensa dedicação de mão de obra, de caráter temporário,
geralmente apresenta pouco montante de capital envolvido e acaba apresentando acordos à
parte das legislações trabalhistas; o que por sua vez acaba não concorrendo como linhas de
financiamentos, seja de bancos ou governos; como exemplo, pode-se relacionar as práticas
de trabalho no ramo do vestuário e alimentação.

Como economia solidária pode-se entender as atividades que ocorrem de forma


coletiva e em estruturas suprafamiliares, articuladas em associações, cooperativas, empresas
autogestadas, grupos de produção, clubes de trocas etc., cujos participantes tanto podem ser
trabalhadores dos meios urbano e rural.

Os envolvidos nas atividades de economia solidária exercem forte controle e

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gerenciamento das atividades e dos resultados. Realizam atividades econômicas de produção


de bens, de prestação de serviços, de fundos de crédito (cooperativas de crédito e os fundos
rotativos populares), de comercialização (compra, venda e troca de insumos, produtos e
serviços) e de consumo solidário. As atividades econômicas devem ser permanentes ou
principais, ou seja, a razão de ser da organização.

4.2 RELAÇÕES DE TRABALHO E OS PROCESSOS LEGAIS NO BRASIL

O trabalho livre e assalariado ganhou espaço após a abolição da escravidão aplicada


aos trabalhadores negros no Brasil em 1888 e com a gradual vinda dos imigrantes europeus. As
condições impostas eram ruins, acabaram por gerar no interior do país as primeiras discussões
sobre leis trabalhistas. Os imigrantes traziam consigo a experiência do movimento operário
e sindical no interior dos países europeus, o que por sua vez favoreceu a estruturação de
organizações de trabalhadores, círculos operários, sindicatos e demais frentes de representação.

No final do século XIX surgem as primeiras normas trabalhistas, por meio do Decreto
nº 1.313, de 1891, que regulamentou o trabalho dos menores de 12 a 18 anos. Em 1912
foi fundada a Confederação Brasileira do Trabalho (CBT), durante o 4º Congresso Operário
Brasileiro. Dentre as causas defendidas pela Confederação estavam: a jornada de trabalho
de oito horas, fixação do salário mínimo, indenização para acidentes, contratos coletivos ao
invés de individuais.

No cenário internacional do pós-1ª Guerra Mundial, em 1919, surge a Organização


Internacional do Trabalho (OIT), órgão internacional que por sua vez impulsionou a formação
de um Direito do Trabalho. O surgimento deste órgão, naquele momento histórico, visava
intermediar o conflito entre o capital e o trabalho, e que era visto como uma das principais
causas dos desajustes sociais e econômicos, inclusive motivadores de guerras.

S!
DICA

Caro estudante, procure saber mais sobre a atuação da


Organização Internacional do Trabalho-OIT. Trata-se do órgão
responsável pelas convenções e recomendações que norteiam as
questões relacionadas ao trabalho em nível internacional.
D i s p o n í v e l e m : < h t t p : / / w w w. o i t b r a s i l . o r g . b r / c o n t e n t /
apresenta%C3%A7%C3%A3o>. Acesso: 3 jun. 2015

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A política trabalhista brasileira se consolida, de fato, após a Revolução de 30, quando
Getúlio Vargas cria o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. A Constituição de 1934
foi a primeira a tratar de Justiça do trabalho e Direito do Trabalho, assegurando a liberdade
sindical, salário mínimo, jornada de oito horas, repouso semanal, férias anuais remuneradas,
proteção do trabalho feminino e infantil e igualdade salarial.

No Brasil de 1964, com o golpe militar e a instalação da ditadura, ocorreram fortes


medidas de repressão à classe trabalhadora, com o Decreto nº 4.330, as intervenções atingiram
sindicatos em todo o Brasil. Este decreto é conhecido como a lei antigreve, que impôs tantas
regras para realizar uma greve que, na prática, elas ficaram proibidas.

Depois de anos sofrendo cassações, prisões, torturas e assassinatos, em 1970 um


novo movimento sindicalista se reestrutura no interior do Estado de São Paulo, no chamado
ABCD paulista. No ano de 1978 ocorre uma grande greve em São Bernardo do Campo (SP)
e que ganhou aderência de trabalhadores de todo o país.

Após o fim da ditadura militar, em 1985, e em meio às mudanças no cenário econômico,


com a promulgação da Constituição de 1988, as conquistas dos trabalhadores foram
restabelecidas; por exemplo, a Lei nº 7.783/89, que restabelecia o direito de greve e a livre
associação sindical e profissional, a aposentadoria rural; Fundo de Amparo ao Trabalhador
(FAT); Benefício de Prestação Continuada (BPC); Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
(PETI); bolsa escola e, ulteriormente, bolsa família, entre outros.

S!
DICA

Conheça o site do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE. Lá encontrarás


resoluções sobre o funcionamento das centrais sindicais, leis e convenções
ao exercício das profissões, orientações sobre os trâmites contratuais
e demissionais, seguro-desemprego, trabalho temporário, políticas de
microcrédito, trabalho decente, entre outros.
MTE. Ministério do Trabalho e Emprego. Disponível em: <http://portal.mte.
gov.br/portal-mte/>. Acesso em: 3 jun. 2015.

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LEITURA COMPLEMENTAR

A TERCEIRIZAÇÃO DE POSTOS DE TRABALHO

Grupos de empresários e empregadores apresentam argumentos no sentido de que a


geração de emprego formal, e até a abertura de empresas, no Brasil, são dificultadas diante
dos custos que as leis trabalhistas acabam acarretando. Alegam que em torno de 67% do
salário consiste em tributos, que são pagos ao governo, que procura atender a leis de descanso
remunerado, 13º salário, FGTS, adicionais em casos de horas extras, insalubridade e trabalho
noturno. E diante deste cenário é que ganham espaço as ideias de terceirização no interior
dos postos de trabalho.

Terceirização é o processo pelo qual uma empresa deixa de executar uma ou mais
atividades realizadas por trabalhadores diretamente contratados e as transferem para outra
empresa. A terceirização se realiza de duas formas, não excludentes. Na primeira, a empresa
deixa de produzir bens ou serviços utilizados em sua produção e passa a comprá-los de
outra - ou outras empresas -, o que provoca a desativação, parcial ou total, de setores que
anteriormente funcionavam no interior da empresa.

A outra forma é a contratação de uma ou mais empresas para executar, dentro da


“empresa-mãe”, tarefas anteriormente realizadas por trabalhadores contratados diretamente.
Essa segunda forma de terceirização pode referir-se tanto a atividades-fim como a atividades-
meio. Entre as últimas podem estar, por exemplo, limpeza, vigilância, alimentação. Tem-se
observado também que vem ocorrendo o processo de quarteirização, a contratação de uma
empresa pela empresa-mãe, que deverá gerir as relações com o conjunto das empresas
terceiras contratadas no interior da mesma.

O processo de terceirização da produção e da prestação de serviços no Brasil, e em


quase todos os países capitalistas, desenvolveu-se como parte do rearranjo produtivo, iniciado
na década de 70 do século XX, a partir da terceira Revolução Industrial, e que se prolonga até
os dias de hoje. São mudanças importantes na organização da produção e do trabalho e, no
caso específico da terceirização, na relação entre empresas.

A adoção deste processo foi intensificada e disseminada no âmbito da reestruturação


produtiva que marcou os anos 90. A partir do ano 2000, a economia brasileira iniciou um lento
processo de recuperação, com taxas de crescimento positivas, porém o cenário do mercado
de trabalho já é o da difusão generalizada da terceirização da mão de obra. Se, inicialmente,
as empresas precisaram enxugar os custos para garantir sua sobrevivência, o processo de
terceirização não apresentou retrocesso diante da melhora do cenário econômico, tendo
permanecido como um elemento fundamental da mudança do processo produtivo e do mercado
de trabalho brasileiros.

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12 Tecnologias e seus Impactos sobre a Sociedade

Em nível internacional destaca-se que as atividades mais atingidas pela terceirização,


em suas diferentes formas, são aquelas próprias da Tecnologia da Informação (TI), o que inclui o
trabalho de programadores, de processamento de dados e de desenvolvimento de softwares. O
avanço rápido e constante nesses processos tecnológicos facilita a troca de dados, a execução
de projetos e a entrega de produtos, independentemente do local onde o trabalho é executado.

A maior preocupação constatada a partir das fontes de informação sobre os Estados


Unidos é a possibilidade de demissão em massa de trabalhadores americanos qualificados em
decorrência de processos de terceirização nos quais as contratantes são empresas americanas.
Nesse caso, o mais comum tem sido a adoção do international outsourcing (compra do
componente ou serviço em outro país), do offshoring (realocação da empresa em outro país)
ou ainda do on-site offshoring (contratação de trabalhadores estrangeiros imigrantes ou de
trabalhadores em seus países de origem). Os países europeus, quando comparados com os
Estados Unidos, demandam menos serviços terceirizados e adotam algumas barreiras culturais
que dificultam a transferência de atividades de um país para outro.

Dentre os setores mais vulneráveis à terceirização no continente, tem-se que


a maioria está relacionada à área de TI, que atuam nos ramos de desenvolvimento de
softwares, processamento de dados, vendas, serviços de atendimento ao cliente, pesquisa,
desenvolvimento e designs, finanças, recursos humanos e gerenciamento. Estima-se que os
trabalhadores indianos da área de computação, por exemplo, recebam entre 1/5 e 1/10 do que
é pago a um americano pela mesma função.

No Brasil os ramos de atividades que mais registram processos de terceirização são o


setor público, no interior das unidades de governo, o setor financeiro, como bancos, os setores
elétrico, químico, de petróleo e petroquímico e da construção civil.

Diante das formas mais explícitas de precarização das condições de trabalho e de


vulnerabilidade da condição do trabalhador que resultam dos processos de privatização, tem-se
um novo relacionamento sindical entre empregador e empregado, que aponta a desmobilização
dos trabalhadores para reivindicações e greves, eliminação das ações sindicais e trabalhistas
que reclamam pelos direitos sociais.

Texto adaptado de DIEESE. Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos


Socioeconômicos. O processo de terceirização e seus efeitos sobre os trabalhadores no Brasil.
Convênio SE/MTE nº 04/2003, Processo nº 46010.001819/2003-27.

FONTE: Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/data/files/FF8080812BA5F4B7012BAAF91A9E060F/


Prod03_2007.pdf>. Acesso em: 2 jun. 2015.

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Tecnologias e seus Impactos sobre a Sociedade 13

Referências bibliográficas

ALBORNOZ, Suzana. O que é trabalho. 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 2008.

ARENDT, Hannah. A Condição Humana. 10. ed. São Paulo: Editora Forense-Universitária,
2007.

FROMM, Erich. Ter ou Ser? Rio de Janeiro: LTC, 1987.


 
GANDILLAC, Maurice de. Gêneses da modernidade. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. Porto Alegre: LP & M,


2010.

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