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Relações Étnico-Raciais e

Responsabilidade Social

AUTORIA
Mirian Aparecida Micarelli Struett
Paulo Vitor P. Navasconi
Bem vindo(a)!

Olá!

Seguiremos juntos nessa jornada, espero que possamos conhecer um pouco mais
sobre as Relações Étnico-Raciais e Responsabilidade Social.

Não temos a pretensão de esgotar as análises sobre o tema, mas propomos re etir
sobre a construção do racismo em sua historicidade e seus impactos na sociedade e
relações interpessoais. Abordaremos também a manifestação do etnocentrismo e
seus re exos nas instituições de ensino e nas organizações formais e informais.
Nosso objetivo é fornecer subsídios teóricos e indicativos sobre o tema, que podem
suscitar outras re exões e posicionamentos teóricos-metodológicos.

Nesta disciplina apresentaremos alguns temas que encontram-se presentes em


nossa realidade, tais como a relação entre educação e relações étnico-raciais,
diversidade e políticas de reparações, reconhecimento e valorização das ações
a rmativas, a questão indígena no Brasil, organizações e sociedade,
responsabilidade social, sustentabilidade e o meio ambiente. Temas que por
diversos motivos ainda são temas poucos abordados, assim, esperamos conseguir
abordá-los e compreendê-los da melhor maneira possível nesta disciplina. Então
vamos às apresentações.

Na primeira unidade, falaremos sobre organizações e sociedade, ou seja, iremos


discorrer sobre o desenvolvimento histórico do conceito de trabalho, as formas de
organização do trabalho ao longo da história ocidental. Pensaremos, também, a
relação sobre poder e dominação na sociedade e nas organizações, bem como,
compreender os efeitos da tecnologia e das inovações nas relações de trabalho e
organizações. Por m, discutir sobre a sociedade global e as questões
socioambientais.

Na segunda unidade, abordaremos a temática responsabilidade e sustentabilidade.


Nesta sessão, discutiremos sobre desenvolvimento sustentável, responsabilidade
social e sustentabilidade. Além disso, re etiremos sobre as possibilidades e limites
da criação de um espaço responsável e sustentável, além disso. Por m, falaremos
sobre os dilemas acerca da responsabilidade empresarial e sustentabilidade.

Na terceira unidade, discutiremos sobre cultura e diversidade, isto é, abordaremos o


conceito de raça numa perspectiva sócio-histórica, conceituando a noção de
etnicidade e apresentando uma série de de nições e olhares diante deste conceito
tão complexo. Nesse sentido, abordaremos a questão indígena no Brasil,
apresentando alguns dados de suma relevância para pensarmos a importância de
valorizar a cultura e os povos indígenas. Traremos para discussão, também, alguns
aspectos da história e cultura afro-brasileira e africana. Buscaremos elencar o tema
das relações raciais, o mito da democracia racial e a importância da diversidade e
pluralidade de raças e etnia nas organizações sociais.
Na última unidade, re etiremos sobre políticas públicas e diversidade cultural. Neste
tópico, discutiremos a relação entre educação e políticas e as relações étnico-raciais.
Buscaremos compreender o conceito de diversidade e da valorização das ações
a rmativas no Brasil, sobretudo no contexto das organizações. Discutiremos
também, sobre algumas políticas de reparação e reconhecimento das relações
étnico-raciais.

Portanto, temos como objetivo levar você leitor(a) a re etir sobre essas temáticas, e
sobretudo, fomentar a re exão e apostar na diversidade, e especi camente na
diversidade racial, a m de que possamos contribuir com a construção de uma
sociedade mais justa.

Bem, nossa disciplina é composta por essas temáticas. Espero que você goste.

Boa leitura e um ótimo estudo!


Unidade 1
Organização e Sociedade

AUTORIA
Mirian Aparecida Micarelli Struett
Paulo Vitor P. Navasconi
Introdução
Prezado(a) estudante, você já pensou sobre a in uência do trabalho na qualidade de
vida humana? E sobre o impacto que as organizações ao longo dos anos têm
provocado na sociedade?

Para compreender essa relação tão importante entre o trabalho nas organizações e
na sociedade, faz-se mister compreender como foi o desenvolvimento do
pensamento sobre o trabalho, quais são as formas de poder e dominação nas
organizações e como se organizou o trabalho desde os primórdios até os dias atuais.

É importante pensarmos sobre as inovações e perspectivas nas relações do trabalho


e organizações, bem como entender de modo que a sociedade, principalmente, as
organizações, têm discutido as questões socioambientais.

Caro(a) aluno(a), você irá perceber nesta unidade, a relação trabalho e organização
são compreendidas como um processo de interação entre homem e natureza. É
que esta interação implica também em relações de con itos de interesses que
podem ser resolvidos ou atenuados por meio do poder que as organizações em
sociedade impõem aos trabalhadores.

Prezado(a) estudante, buscaremos abordar as transformações mundiais levam às


reestruturações e como as inovações pelas quais a sociedade tem passado são
variadas e in uenciam a forma de organização e funcionamento das relações de
produção e processos de trabalho. Essas mutações no mundo do trabalho, e o
momento pela qual a sociedade global está passando, trazem uma nova morfologia
ao trabalho, levando a uma maior precarização do trabalhador. Como condição sine
qua non, é preciso compreender que a garantia de qualidade da vida e a própria
existência humana dependem da consciência socioambiental, que envolve vários
atores sociais.

Bons estudos!
O Desenvolvimento do
Pensamento sobre o
Conceito: Trabalho

AUTORIA
Mirian Aparecida Micarelli Struett
Paulo Vitor P. Navasconi
Estudando o mundo do trabalho será possível identi car as transformações
ocorridas nas últimas décadas, a começar pela inovação tecnológica, reestruturação
produtiva, precarização das relações de trabalho, exigências decorrentes dos
modelos de gestão organizacionais, novas formas de organização percebendo como
essas mudanças do século XX até os dias atuais, muitas delas ocorridas no ambiente
de trabalho, trouxeram para a vida dos trabalhadores (SOUZA; TOLFO, 2009).

No entanto, antes de trabalharmos estes tópicos é de suma importância


retomarmos uma questão que parece simples, mas que carrega uma complexidade
conceitual: A nal o que é trabalho?

Podemos entender o trabalho como sendo o meio pelo qual as pessoas buscam
suprir suas necessidades, alcançar seus objetivos e se realizar. Em outras
palavras, o trabalho é uma categoria humana, bem como uma atividade complexa,
multifacetada, polissêmica, que não apenas permite, mas exige diferentes olhares
para sua compreensão. Coutinho (2009), por exemplo, a rma que quando falamos
de trabalho nos referimos a uma atividade humana, individual ou coletiva, de caráter
social, complexa, dinâmica, mutante e que se distingue de qualquer outro tipo de
prática animal por sua natureza re exiva, consciente, propositiva, estratégica,
instrumental e moral.

CONCEITUANDO
A palavra trabalho vem do latim Tripularium, que tem como
signi cado “instrumentos de tortura”, no entanto, vem passando por
um processo de mudanças de signi cados e sentidos (RIBEIRO; LÉDA,
2004).

Por muito tempo, o trabalho humano signi cou fardo e sacrifício, sendo visto como
punição para o pecado. Somente a partir do Renascimento que o trabalho foi
concebido como fonte de identidade e autorealização humana, e a partir daí foi visto
como desenvolvimento e condição necessária para a liberdade.

Com o advento da industrialização, intensi cou-se a valorização do trabalho, em que


o indivíduo passa a ser um trabalhador livre vendendo sua força de trabalho
(ENRIQUEZ, 1999). Por outro lado, na Revolução Industrial a emoção, expressa pelo
sentimento e a percepção do trabalhador, é retirada do local de trabalho, e a
racionalização é o que mais se repete no mundo dos negócios (RIBEIRO; LÉDA,
2004).
O trabalho sempre coloca à prova a subjetividade, da qual esta última sai
acrescentada, enaltecida, ou ao contrário, diminuída, morti cada. Trabalhar
constitui, para a subjetividade, uma provação que a transforma. Trabalhar não é
somente produzir; é, também, transformar a si mesmo e, no melhor dos casos, é
uma ocasião oferecida à subjetividade para se testar, ou até mesmo para se realizar.

Dessa forma, o trabalho não deve ser analisado apenas em relação às técnicas de
produção e dominação, mas considerando a maneira como os sujeitos vivenciam
e dão sentido às suas experiências de trabalho. Estas também variam conforme
o contexto social, histórico e econômico, apontando para diferentes processos
de produção de subjetividade, diferentes sujeitos trabalhadores (DEJOURS,
2004).

A relação com o trabalho certamente é vivida de forma distinta entre o cidadão e o


escravo na Grécia, o senhor e o servo na Idade Média, ou entre o operário da
indústria fordista e o jovem analista de sistemas nas atuais empresas (NARDI, 2006).

ATENÇÃO
Podemos considerar trabalho como a forma na qual o sujeito social se
inscreve num coletivo do qual recebe um nome próprio, que o nomeia,
segundo a inscrição da sua tarefa na cultura e história da sua época.
Outorgando-lhe um lugar de pertença no qual estabelece laços e
condições de realização de desejos enquanto sujeito portados de um
saber socialmente produtivo. Nesta perspectiva, trabalho não é de nido
em relação ao capital. Portanto produtivo/improdutivo não cabe nessa
proposta. Pois todo trabalhador produz um trabalho produtivo.

No entanto, no sistema capitalista a organização do trabalho é reduzido ao nível de


emprego, transformar a obra em mercadoria, desapropriar dessa forma o
trabalhador de se reconhecer no seu saber como sujeito desejante.

Trabalho: Criatividade, crescimento, desenvolvimento;

Emprego: Sistema normativo de ações e condutas que regula a atividade do/a


trabalhador sob condições de controle e vigilância. Captura a criatividade e seu
potencial.

De acordo com Souza e Tolfo (2009, p.1):


O trabalho ocupa um lugar central na vida de quem o realiza, pois é por
meio dele que o ser humano organiza sua vida, seus horários e suas
atividades, e até mesmo seus relacionamentos são in uenciados pelo
trabalho. O trabalho é uma das principais categorias por meio do qual o
homem interage no seu meio social e no seu tempo, seja pelo fato de
ser um meio de sobrevivência, seja pelo tempo da vida a ele dedicado,
seja pelo fato de ser um meio de realização pro ssional e pessoal.
(SOUZA; TOLFO, 2009, p. 1).

Neste contexto, cabe pontuarmos um breve resgate histórico sobre o surgimento da


categoria trabalho, isto é:

Na história primitiva os homens produziam unicamente para satisfazer suas


necessidades imediatas. Os instrumentos utilizados inicialmente rudimentares,
vão aos poucos sendo aperfeiçoados para garantir a caça e a pesca. A
propriedade e a produção eram partilhadas entre todos e a única divisão do
trabalho era a divisão sexual (papéis diferenciados entre homem e mulher).
Com o surgimento da agricultura, por exemplo, o homem já começava a ter
excedentes, dando início a mercadoria e sua comercialização. Daí, decorre a
separação entre aqueles que produzem e aqueles que se apropriam da
produção excedente.
No Ocidente, anos 3000 a.C até 476 d.C, os escravos advinham das chamadas
guerras de conquistas, trabalhando em terras conquistadas pelo Estado, dado
aos nobres – surge então a divisão dos homens entre proprietários e não
proprietários.
No m do Império Romano, esboça-se uma nova organização societária –
sociedade feudal – os servos produziam (trabalhavam) nas terras dos senhores
para obterem subsistência. Com o excedente, caracterizava-se a exploração do
trabalho.
A produção dos pequenos artesãos se destinava à troca, dando origem às
corporações.
A produção agora não tinha só valor de uso (produto produzido por trabalho
humano concreto, útil ao homem), mas também valor de troca (resultados de
trabalhos diversos que incluem o trabalho humano abstrato).

Para Iasi (2010, p. 63) “a atividade do trabalho consiste em transformar a natureza, e


não apenas na apropriação de seus elementos tal como se encontram”.

Já Marx (1988) compreende que justamente essa capacidade que o homem tem de
transmitir signi cado à natureza, por meio de uma atividade planejada, consciente e
que envolve uma dupla transformação entre o homem e a natureza, que diferencia
o trabalho do homem de qualquer outro animal. Para o autor, é pelo trabalho que o
homem transforma a si e à natureza, e, ao transformá-la de acordo com suas
necessidades, imprime em tudo que o cerca a marca de sua humanidade.
O trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza,
processo em que o ser humano com sua própria ação, impulsiona,
regula e controla o seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-
se com a natureza como uma de suas forças. Põe em movimento as
forças naturais de seu corpo, braços e pernas, cabeça e mãos, a m de
apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à
vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e modi cando-a
ao mesmo tempo em que modi ca sua própria natureza (MARX, 1988,
p. 202).

Neste sentido, a ação humana que altera a natureza, altera o próprio ser humano,
produzindo sempre novas necessidades. Para plantar ou arrancar raízes, ou preparar
a terra para o plantio, por exemplo, é necessária a criação de instrumentos
chamados “meios de produção”.

O trabalho, nos seus elementos simples, é aquele produtor de valores de uso, pois.

[...] a existência [...] de cada elemento da riqueza material não existente


na natureza, sempre teve de ser mediada por uma atividade especial
produtiva, adequada a seu m, que assimila elementos especí cos da
natureza a necessidades humanas especí cas. Como criador de valores
de uso, como trabalho útil, é o trabalho, por isso, uma condição de
existência do homem, independente de todas as formas de sociedade,
eterna necessidade natural de mediação do metabolismo entre
homem e natureza e, portanto, da vida humana. (MARX, 1988a, p. 50).

Deste modo, Marx caracteriza o trabalho, de um ponto de vista mais geral, como a
interação entre o homem e a natureza, com o objetivo de transformar a natureza
nos bens necessários à sobrevivência do homem. Deste ponto de vista, só seria
trabalho a atividade que promovesse esta interação e consequentemente somente
seria trabalho produtivo o que resultasse em um produto (COLÁM; POLA, 2009).

Como percebemos até agora, a condição humana é transformada em mercadoria, e


o aumento da produtividade do trabalho, que em princípio aumenta a quantidade
de valores de uso, produz ao mesmo tempo, um efeito inverso que é a
desvalorização da própria mercadoria, a força de trabalho, a qual sofre oscilações do
mercado.

O trabalho não é só explorado pelo tempo excedente e baixos salários, como pelo
ritmo que se impõe à produção, sem alteração de jornada de trabalho. Além da
separação entre trabalhador e meios de produção, não existe mais a unidade entre
necessidades e produção na era do capital, ou seja, a produção não é mais voltada
para o uso, mas principalmente para a troca.
A condição humana tinha o trabalho como meio de humanização, agora na
condição de mercadoria, ocorre a desumanização, porque só se tem acesso ao
trabalho, por isso soa externo ao trabalhador, produzindo, na maioria das vezes,
sofrimento, como aponta Dejours (1992, p.96 apud IASI, 2010, p.73).

As tarefas repetitivas, os comportamentos condicionados não são unicamente


consequências da organização do trabalho. Mais que isso, estruturam toda a vida
externa ao trabalho, contribuindo desse modo para submeter os trabalhadores aos
critérios de produtividade.

Deste modo, podemos a rmar que o trabalho refere-se à uma categoria


essencialmente humana, e como sendo ponto de partida para a constituição do ser
social, ou seja, é a partir da atividade laboral (do trabalho) que nos tornamos
humanos.

Contudo, ao mesmo tempo em que o trabalho humaniza, ele também desumaniza.


pois, sua força de trabalho tornou-se uma mercadoria – cuja nalidade é criar novas
mercadorias e valorizar o capital. Haja vista que, “Todo o sistema de produção
capitalista repousa no fato de que o trabalhador vende e sua força de trabalho como
mercadoria”. (MARX, 1988c, p.48).

No capitalismo, por exemplo, o trabalhador é reduzido a mero produtor de valor de


troca, o que implica a negação de sua existência natural, ou seja, signi ca a rmar
que o trabalhador e, consequentemente, a sua produção estão determinados
totalmente pela sociedade.

REFLITA
Trabalho ao mesmo tempo cria e subordina, emancipa e aliena,
humaniza e degrada, oferece autonomia, mas gera sujeição, libera e
escraviza (ANTUNES, 2011, grifo nosso).
Formas de Organização do
Trabalho

AUTORIA
Mirian Aparecida Micarelli Struett
Paulo Vitor P. Navasconi
As transformações ocorridas nas organizações proporcionaram grandes mudanças no
processo de trabalho. No último século, a indústria e o processo de trabalho
culminado pelo Fordismo com os elementos constitutivos básicos eram dados por:

[...] produção em massa, por meio da linha de montagem e de produtos


homogêneos; através do controle dos tempos e movimentos pelo
cronômetro taylorista e da produção em série fordista; pela existência do
trabalho parcelar e pela fragmentação das funções; pela separação entre
elaboração e execução no processo de trabalho; pela existência de
unidades fabris concentradas e verticalizadas e pela
constituição/consolidação do operário- massa, do trabalhador coletivo
fabril, entre outras dimensões. Menos do que um modelo de organização
societal, que abrangeria igualmente esferas ampliadas da sociedade,
compreendemos o fordismo como processo de trabalho que, junto com
o taylorismo, predominou na grande indústria capitalista ao longo deste
século (ANTUNES, 2011, p. 24-25).

Por exemplo, no modelo proposto pelo Taylorismo a organização do trabalho se dava


por:

Substituição dos métodos tradicionais pelos cientí cos.

Adoção do método dos tempos e movimentos – substitui


movimentos lentos e ine cientes por rápidos.

Adoção de um método mais rápido e um instrumento melhor.


Máxima decomposição de cada tarefa em operações mínimas e
cronometragem.

Implementação de um sistema no qual os gerentes devem reunir


todos os conhecimentos tradicionais antes dos trabalhadores,
classi cá-los, tabulá-los, reduzi-los a normas, leis e fórmulas.

Adoção de uma política no qual o trabalhador é poupado de pensar


para que possa repetir os movimentos ininterruptamente.

Neste sentido, a Administração Cientí ca se baseia em quatro princípios básicos,


desenvolvidos por Frederick Taylor (1856-1915), que visam melhorar o desempenho da
organização:

1º Princípio: O estudo, por parte da gerência, das tarefas (Estudo dos tempos e
movimentos). Este deve ser feito de forma a levantar o conhecimento que se encontra
na cabeça dos trabalhadores, registrá-los, medi-los, simpli cá-lo e reduzi-lo ao
mínimo, observando assim, a melhor maneira de se executar a tarefa. Em seguida,
criam-se regras e leis que irão retornar aos trabalhadores que as colocam em prática.

2º Princípio: A gerência deve fazer uma seleção cientí ca dos trabalhadores de forma
a escolher a melhor pessoa para a execução de uma tarefa e cuidar do seu contínuo
desenvolvimento.

3º Princípio: é o momento em que as leis e regras criadas no primeiro princípio voltam


para o trabalhador selecionado através de cartões de instrução. Assim, as “melhores
pessoas” são treinadas para a realização da tarefa da “melhor maneira”.

4º Princípio: divisão do trabalho. Aqui a gerência, representada pelos administradores


e engenheiros, estabelecem os padrões e os operários apenas obedecem.

Se na cultura Taylorista um dos enfoques era o melhoramento do desempenho, com


o Fordismo, o objetivo se aperfeiçoou, ou seja, com o Fordismo e com a
implementação da esteira rolante, passou-se a construir uma tentativa de
racionalização da organização do trabalho, sendo assim, trouxe uma imensa
intensi cação, automatização e mecanização do processo de trabalho (RIBEIRO,
2015).
A esteira rolante se constituiu como uma maneira de controlar o ritmo do trabalho
(condição tão sonhada por Taylor) de forma automatizada e intensa. Isso gerou um
tipo de processo de trabalho extremamente extenuante para os trabalhadores.

Na década de 80 do século XX houve algumas mudanças e transformações


relacionadas à tecnologia, automação, robótica e a microeletrônica. Essas se inseriram
na relação de trabalho e de produção de capital. Da mesma forma, como no fordismo
e o taylorismo, novos processos emergem, onde “cronômetro e a produção em série e
de massa foram substituídos pela exibilização da produção” (ANTUNES, 2011, p.24).

Essa forma exibilizada de acumulação capitalista é baseada na reengenharia, na


empresa enxuta, e fez com que a classe trabalhadora se fragmentasse, se tornasse
heterogênea e mais complexa, além disto, como aponta Silva M. e Silva S. (2011, p. 24),
houve uma série de consequências:

Tornou-se mais quali cada em vários setores onde houve uma relativa
intelectualização do trabalho, mas desquali cou-se e precarizou-se em
diversos ramos, como na indústria automobilística, na qual o
ferramenteiro não tem mais a mesma importância, sem falar na
educação dos inspetores de qualidade, dos grá cos, dos mineiros, dos
portuários, dos trabalhadores da construção naval etc. Criou-se, de um
lado, em escala minoritária, o trabalhador “polivalente e multifuncional”
da era informacional, capaz de operar com máquinas com controle
numérico e de, por vezes, exercitar com mais intensidade sua dimensão
mais intelectual. E, de outro lado, há uma massa de trabalhadores
precarizados, sem quali cação, que hoje está presenciando as formas de
part-time, emprego temporário, parcial, ou então vivenciando o
desemprego estrutural. (SILVA, M., SILVA, S., 2011, p. 24).

REFLITA
Como declara Antunes, máquinas inteligentes não podem substituir
trabalhadores, pois elas exigem o trabalho intelectual de operários, que
ao agir com as máquinas acabam por transferir parte dos atributos
intelectuais nesse processo, estabelecendo um completo processo
interativo entre trabalho e ciência produtiva, que não pode levar à
extinção do trabalho (2011, p.32).
Poder e Dominação na
Sociedade e no Trabalho

AUTORIA
Mirian Aparecida Micarelli Struett
Paulo Vitor P. Navasconi
Historicamente as organizações têm sido associadas a processos de dominação
social nas quais indivíduos ou grupos encontram formas de impor a respectiva
vontade sobre os outros. Na visão de alguns teóricos organizacionais, inspirados por
Karl Marx, Weber e Robert Michels, essa combinação de realização e exploração é
uma característica marcante das organizações através dos tempos. É possível
encontrar relações de poder assimétricas que resultam na maioria trabalhando para
a minoria, por exemplo, a convocação obrigatória e a escravização que garantiram
muito da mão de obra necessária para a construção da pirâmide e de impérios,
deram lugar atualmente, ao trabalho assalariado, da qual os empregados têm o
direito de se demitir (MORGAN, 1996).

De acordo com os postulados de Weber (apud MORGAN, 1996, pp.282-283), há três


tipos de dominação e raramente são encontradas em suas formas puras, de forma
que, quando se misturam acabam por ocasionar tensão e mal-estar. São elas:

Dominação carismática: ocorre quando o líder exerce in uência em virtude de


qualidades pessoais. É legitimado na fé que o liderado deposita no líder – exemplos:
profetas, heróis ou mesmo demagogos. O aparato administrativo é pequeno, exível,
desestruturado e instável.

Dominação tradicional: o poder de mando tem por base o respeito pela tradição e
pelo passado. É legitimado pelo costume e o sentimento de que é correto fazer as
coisas de tal forma tradicional. As pessoas exercem o poder de status adquirido.
Exemplos: o ciais, parentes, administradores.

Dominação racional-legal: o poder é legitimado por leis, regras, regulamentos e


procedimentos. Quem manda pode obter poder legitimado seguindo
procedimentos legais. É formalmente fundamentado em regras. O aparato
administrativo típico é a burocracia, dentro da qual a autoridade formal está
concentrada no topo da hierarquia organizacional.

Essas ideias se compatibilizam com aquelas que Karl Marx expõe, a de que a lógica
move a sociedade moderna e encontra- se na dominação por meio da
racionalização. Para Marx, encontra-se na dominação gerada pela mais valia e a
acumulação de capital, mostrando como a organização no mundo moderno se acha
baseada em processos de dominação e exploração de diferentes formas (MORGAN,
1996).

Deste modo, enquanto algumas pessoas veem o poder como um recurso, por
exemplo, como alguma coisa que alguém possui, outras o veem como uma relação
social caracterizada por algum tipo de dependência, como um tipo de in uência
sobre alguma coisa ou alguém. “O poder é o meio através do qual, con itos de
interesses são, a nal, resolvidos. O poder in uencia quem consegue o quê, quando e
como” (MORGAN, 1996, p.163).

Nesta perspectiva, podemos a rmar que a relação entre contemporaneidade,


trabalho, poder e dominação resulta na produção do que passamos a nomear como
precarização, isto é, segundo, Araujo e Morais (2017) com a globalização dos
mercados e do capital e o acirramento da concorrência internacional entre
empresas, a pressão para a minimização do custo do trabalho leva à “compressão do
número de trabalhadores efetivos e à externalização de um número crescente de
tarefas, bem como à deslocalização de tarefas e de empresas para zonas com
salários mais baixos” (p. 2). Isso implica a redução do emprego estável e o aumento
de uma força de trabalho exível, que se encontra em condições precárias e pouco
ou nada protegidas (KOVÁCS, 2003).

A precarização do trabalho é elemento central da nova dinâmica do


desenvolvimento do capitalismo, criando uma nova condição de vulnerabilidade
social: um processo social que modi ca as condições de trabalho (assalariado e
estável), anteriormente hegemônicas no período da chamada sociedade salarial ou
fordista (DRUCK, 2011). Esse mecanismo faz do trabalho o principal fator de
ajustamento para a competição internacional. É anunciada a redução drástica, até a
extinção do emprego estável, a tempo integral, a favor do emprego exível. Essa
evolução implica o aumento da força de trabalho exível, uida, periférica ou
contingente que engloba, sobretudo, os trabalhadores a tempo parcial,
temporariamente contratados, e certas categorias dos trabalhadores por conta
própria (KOVÁCS, 2003; ARAUJO, MORAIS, 2017).

Em outras palavras, desde o início da reestruturação produtiva do capital vem


ocorrendo uma redução do proletariado industrial, fabril, tradicional, manual, estável
e especializado, herdeiro da era da indústria verticalizada de tipo taylorista e fordista.
Este proletariado vinculado aos ramos mais tradicionais vem dando lugar a
formas mais desregulamentadas de trabalho, reduzindo fortemente o conjunto
de trabalhadores estáveis que se estruturam através de empregos formais,
herança da fase taylorista/fordista (ANTUNES, 2008, grifo nosso).

Sendo assim, cabe pontuar que os empregos de características precárias não são
produtos de ausência de crescimento econômico (ARAUJO; MORAIS, 2017). Pelo
contrário, são inerentes ao próprio modelo de desenvolvimento econômico de
caráter toyotista, visto que a necessidade de elevação da produtividade motivou
novas práticas trabalhistas sob imposição da concorrência internacional, que passou
a buscar, além de isenções scais, níveis mais rebaixados de remuneração da força
de trabalho (ANTUNES, 2008).
REFLITA
Como a rma Zanelli, Borges-Andrade, & Bastos (2014) o trabalho que
deveria ser humanizador, torna-se:

Alienante: porque o trabalhador desconhece o próprio processo


produtivo e o valor que agrega ao produto, além de não se
identi car com o produto de seu trabalho.
Explorador: mais-valia vinculada ao processo de acumulação do
capital.
Humilhante: afeta negativamente sua autoestima.
Monótono: organização e conteúdo da tarefa
Discriminante: classi ca os homens pelo trabalho
Embrutecedor: inibe as potencialidades pelo conteúdo pobre e
repetitivo das tarefas.
Submisso: aceitação passiva das condições (imposição da
organização interna e força do exército industrial de reserva.
Inovações e Perspectivas
nas Relações de Trabalho e
Organizações

AUTORIA
Mirian Aparecida Micarelli Struett
Paulo Vitor P. Navasconi
As reestruturações e inovações pelas quais o capitalismo tem passado, são
multifacetadas e in uenciam a forma de organização e funcionamento das relações
de produção e processos de trabalho. Como a rma também Castells (2001 apud
AQUILES, 2011, p. 14):

Nas duas últimas décadas, o próprio capitalismo passa por um


processo caracterizado por maior exibilidade de gerenciamento;
descentralização das empresas e sua organização de redes;
considerável fortalecimento do papel do capital e do trabalho, com o
declínio concomitante da in uência dos movimentos dos
trabalhadores, individualização e diversi cação cada vez maior das
relações de trabalho; incorporação maciça das mulheres na força de
trabalho remunerada, geralmente em condições discriminatórias;
intervenção estatal para desregular os mercados de forma seletiva e
desfazer o estado de bem-estar social; aumento da concorrência global
em um contexto de progressiva diferenciação dos cenários geográ cos
culturais para acumulação e gestão do capital. (CASTELLS apud
AQUILES, 2011, p. 14).

De acordo com Antunes (2010, p.26) e (2011, p.118), a classe trabalhadora é


representada por todos aqueles que vendem sua força de trabalho em troca de
salário. Sendo assim, os assalariados do setor de serviços, também o proletariado
rural, que vende sua força de trabalho para o capital. Incorpora o proletariado
precarizado; o subproletariado moderno; part-time; o novo proletariado do
McDonalds; os trabalhadores hifenizados de que falou Beynon (1995); os
trabalhadores terceirizados e precarizados das empresas lio lizadas de que falou
Juan José Castillo (1996 e 1996a); os trabalhadores assalariados da chamada
“economia informal”, e que muitas vezes são indiretamente subordinados ao capital;
além dos trabalhadores desempregados, expulsos do processo produtivo e do
mercado de trabalho pela reestruturação do capital, e que hipertro am o exército
industrial de reserva na fase de expansão do desemprego estrutural.

De acordo com Antunes (2010, 2011), essas mutações criaram uma classe
trabalhadora mais heterogênea, fragmentada e dividida entre os trabalhadores que
são ou não quali cados, pertencem ao mercado formal e informal, jovens e velhos,
homens e mulheres, estáveis e precários, imigrantes e nacionais, brancos e negros
etc. Além das divisões que decorrem da inserção diferenciada dos países e
trabalhadores na nova divisão internacional do trabalho, ou seja, quando se constata
que a maior parte da força de trabalho encontra-se dentro dos países chamados de
terceiro mundo.

Antunes (2011, p.106-109) assim sintetiza o momento que estamos vivendo:

Vemos a ampliação também do trabalho imaterial, comum nas esferas da


comunicação, publicidade e marketing, próprias das sociedades dos logos, da
marca, do simbólico, do involucral e do supér uo. É o discurso empresarial da
chamada sociedade do conhecimento, que está presente no design da Nike, na
concepção de um novo software, no modelo novo da Benetton e projetos de
telefonia - nas chamadas tecnologias da informação e comunicação – “que são
resultado do labor (imaterial) articulado e inserido no trabalho material, expressando
novas formas contemporâneas de criação de valor”.

Os serviços públicos como saúde, energia, educação, telecomunicações, previdência


etc, em processo de reestruturação, subordinando-se à máxima mercadorização,
afetando fortemente, os trabalhadores do setor estatal e público.

O resultado é a intensi cação das formas de extração de trabalho (materiais e


imateriais, corpóreas simbólicas).

Uma empresa concentrada pode ser substituída por pequenas unidades


interligadas em rede com número reduzido de trabalhadores e produzindo vezes
mais, com repercussões no plano organizativo, valorativo, subjetivo e ideo-político.

O trabalho estável tornando-se então informatizado, quase virtual muitas vezes, por
contratos regulamentados, substituído pelas diversas formas de
empreendedorismo, cooperativismo, trabalho voluntário ou atípico como apontava
Vasapollo (2005) e Vasapollo e Arriola Palomares (2005).

O exemplo das cooperativas, antes nascidas como instrumentos da classe operária


para lutar contra o desemprego, hoje, contrariamente, os capitais vêm criando falsas
cooperativas como forma de precarizar ainda mais os direitos dos trabalhadores, sob
o mando da “ exibilização”, seja salarial, de horário, funcional ou organizativa.

Seguido pelo crescimento do chamado terceiro setor, assumindo uma modalidade


alternativa de ocupação, através de organizações de per l comunitário, motivadas
sobretudo por formas de trabalho voluntário, com um leque de atividades, com
predominância de caráter assistencial, sem ns diretamente mercantis ou lucrativos
e que se desenvolvem relativamente à margem do mercado.

Por m, ampliou a composição heterogênea e multifacetada da classe trabalhadora


Brasileira, além das clivagens entre os trabalhadores estáveis e precários, de gênero,
dos cortes geracionais entre jovens e idosos, entre nacionais e imigrantes, brancos e
negros, quali cados e desquali cados, entre nacionais e imigrantes, empregados e
desempregados, temos ainda, a estrati cação e fragmentações que se acentuam.

Nesse quadro de precarização estrutural do trabalho, os capitais ainda exigem o


desmonte da legislação social e protetora do trabalho – exibilização da legislação
social do trabalho, o que signi ca, sem nenhuma ilusão, aumentar ainda mais os
mecanismos de extração do sobre trabalho, ampliar as formas de precarização e
destruição dos direitos sociais arduamente conquistados pela classe trabalhadora.

Nesta perspectiva, cabe aqui pensarmos as implicações da subjetividade e trabalho


na sociedade contemporânea, posto que, encontramo-nos inseridos/as em mundo
marcado pela instantaneidade, pela avalanche contínua de informações e pela
crescente exposição a diferentes ideias e valores, a construção de referências
coletivas e a sensação de pertencimento a um grupo são processos problemáticos
para os sujeitos contemporâneos. Imersos num universo onde os valores mercantis e
o individualismo aparecem como articuladores nucleares das práticas sociais, os
sujeitos têm as relações interpessoais marcadas pela competitividade, insegurança e
busca de privacidade, tornando-se, cada vez mais, pontos perdidos e isolados em
meio à multidão.

Uma vez que com advento da era do taylorismo e do fordismo, que


inovou as formas de organização do trabalho e o sistema de autoridade
fabril, ambos orientados para a criação de um novo tipo de trabalhador,
mais produtivo e mais disciplinado (Do homem certo no lugar certo), e
com a chamada organização cientí ca do trabalho, o processo de
produção foi dissociado das quali cações dos trabalhadores; a
concepção (a dimensão inteligência criativa) foi separada da execução
do ato do trabalho; a gerência assumiu o monopólio do conhecimento
(COLBARI, 2001, p. 116-117).

Além disso, a tecnologia assume cada vez mais a parte mecânica da produção e
substitui um quantitativo grande de mão-de-obra, ao sujeito-trabalhador caberá um
novo espaço, extremamente disputado e competitivo, com novas regulações, com
novas exigências e requisitos, impelindo os sujeitos à construção de novos padrões,
valores e relações no trabalho, e também fora dele.

Pode-se a rmar que diante deste cenário as principais características desta nova
realidade, são: a redução estrutural dos postos de trabalho e a precarização dos
vínculos trabalhistas; a maior competitividade do mercado e a exigência contínua
de individualização e inovação da produção; a exibilização da organização do
trabalho; a dinamização das tarefas e atividades e a consequente necessidade de
maior quali cação e polivalência dos trabalhadores.

Sendo assim, contrariamente às teses que advogam o m do trabalho, estamos


desa ados a compreender a nova polissemia do trabalho, ou sua nova morfologia,
isto é, sua forma de ser, cujo elemento mais visível é seu desenho multifacetado,
resultado das fortes mutações que abalaram o mundo produtivo. Neste sentido, não
é possível mais esperar para que esse compromisso assuma novas proporções, que
não sejam somente de cunho lucrativo, mas sim de efetiva responsabilidade
socioambiental.

REFLITA
Não é sinal de saúde estar adaptado a uma sociedade doente
(KRISHNAMURTI).
A Sociedade Global e as
Questões Socioambientais

AUTORIA
Mirian Aparecida Micarelli Struett
Paulo Vitor P. Navasconi
Considerando as diversas questões relação trabalho-capital descritos até o presente
momento, a sociedade global tem ainda como incumbência um papel primordial,
relacionado às questões socioambientais. Face às grandes transformações, o que se
percebe em escala global, é a expansão sem precedentes do desemprego estrutural
e da desigualdade social.

A economia de mercado cada vez mais competitiva, acirrada pela concorrência


fazendo com que as empresas não consigam permanecer no mercado por muito
tempo, reduzindo cada vez mais seus custos, buscando ser mais e cientes, cabendo
a nós, em um círculo vicioso, na condição de consumidores irrefreáveis, consumistas,
escolhermos o melhor preço. Cabe então à empresa escolher o trabalhador mais
quali cado, polivalente, precarizando-o ainda mais nesta contínua busca pela
e ciência.

Uma competição como diria Singer (2002), que faz com que as empresas satisfaçam
a sociedade pelo melhor preço, que a melhor lucre e seja considerada ganhadora.
Porquanto, do outro lado, cam os perdedores, trazendo seus efeitos sociais. Tudo
isso explica que o capitalismo produz desigualdades, vantagens e desvantagens,
produzindo ao longo dos anos, sociedades profundamente desiguais. E por que?

O capitalismo é um modo de produção cujos princípios são o direito de


propriedade individual. A aplicação destes princípios divide a sociedade
em classes básicas: a classe proprietária ou possuidora do capital e a
classe que (não dispõe do capital) ganha a vida mediante a venda de
sua força de trabalho à outra classe. O resultado natural é a competição
e a desigualdade (SINGER, 2002, p.10).

Nas discussões sobre as questões ambientais nacionais, locais e internacionais


temos: o efeito estufa, a destruição orestal, a perda de diversidade biológica, a
poluição, pandemias tais como a COVID-19, e a deserti cação. Há uma consciência
planetária de que, se esses problemas não forem resolvidos ameaçarão a própria
existência da vida do homem sobre a terra. Questões essas relacionadas às formas
agressivas e conquistadoras de recursos naturais retirados da natureza para o uso do
capital. E não se trata apenas de uma crise natural, mas sim de uma crise
socioambiental, resultante da incapacidade dos ecossistemas de se reconstituírem
após as intervenções danosas do homem que exige, não só uma mudança profunda
nos padrões tecnológicos e cientí cos, como também a mudança dos valores
consumistas (NUPAUB, s.d.).

De acordo com o NUPAUB (s.d.), a crise global estende-se a todos os países, de forma
acelerada e crescente, de caráter irreversível, ameaçadora, reforçadora das
desigualdades sociais locais e entre nações, causadora de impactos socioculturais
de grandes proporções (os que mais sofrem com a degradação ambiental são os
pobres – que para fugirem dos desastres socioambientais são obrigados a
conviverem com o desemprego, a discriminação racial e as precárias condições de
vida). Contudo não é somente dimensão socioambiental que nos afetará, visto que o
problema é ainda muito maior, envolvendo a dimensão econômica, ecológica, social
e política.

SAIBA MAIS
Tendo como base as discussões realizadas nesta Unidade, bem como,
as análises sobre a nova morfologia do trabalho no Século XXI, pode-se
veri car que com o desemprego estruturante houve crescimento nos
“trabalhos informais” – Consequentemente o/a trabalhador/a ca
desprovido de benefícios, como vale-refeição, vale-transporte, etc., além
dos direitos previstos na CLT – Consolidação das Leis do Trabalho. Por
exemplo: O Brasil é o segundo país na América Latina com o maior
número de trabalhadores informais, cando somente atrás da
Bolívia. Em algumas regiões da Ásia, o problema é maior ainda:
cerca de 65% dos trabalhadores são informais.

Há uma outra tendência de enorme signi cado no mundo do trabalho


contemporâneo: trata-se do aumento signi cativo do trabalho
feminino; 48,5% das mulheres com mais de 15 anos participam do
mercado de trabalho, enquanto a taxa é de 75% para homens (OIT,
2016);

Fonte: Organização Internacional do Trabalho (2016).

REFLITA
O trabalho é um dado fundamental da saúde. Não somente de maneira
negativa (o trabalho como causa de doenças, de intoxicações, de
acidentes, de desgaste etc.), mas também de forma positiva. O não
trabalho também pode ser perigoso para a saúde, como se vê bem,
atualmente, com toda a patologia do desemprego (DEJOURS, 1992, p.
102).
Conclusão - Unidade 1

Prezado(a) estudante, as transformações ocorridas no mundo do trabalho e suas


relações entre organizações e a sociedade no contexto produtivo, permite-nos uma
visão geral sobre as organizações, o trabalho e a sociedade. Como foi apresentado, o
trabalho constitui elemento central na vida dos homens e pode proporcionar a
satisfação de nossas necessidades, bem como causar angústia e dor a partir do
estranhamento – alienação - na relação trabalho-capital e também pelo uso do poder
e dominação utilizada pelas organizações.

Ao longo dos anos, as transformações ocorridas nas organizações trouxeram também


modi cações importantes na vida do trabalhador culminados pelos modelos
taylorista/fordista/toyotista e a produção exível. Na era pós-taylorista, o trabalho tem
uma nova morfologia, exigindo de nós, um trabalho inteligente, cada vez mais
complexo, com conhecimentos mais amplos, autonomia, iniciativa, responsabilidade,
capacidade de aprendizagem contínua, autocontrole, investimento subjetivo e a
mobilização da inteligência realizada em estruturas organizacionais mais planas e
descentralizadas. En m, pessoas e organizações tendo que se adaptarem às
Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) em um mundo globalizado.

Compreendemos que a classe trabalhadora é mais heterogênea, fragmentada,


complexa e dividida agora, entre os trabalhadores que são ou não quali cados, e
pertencem ao mercado formal e informal, jovens e velhos, homens e mulheres,
estáveis e precários, imigrantes e nacionais, brancos e negros etc. Além disso,
pudemos perceber que as divisões decorrem da inserção diferenciada dos países e
trabalhadores em uma nova divisão internacional do trabalho, ou seja, a maior parte
da força de trabalho encontra-se dentro dos países chamados de terceiro mundo.

Como atenuante, temos ainda a discussão global sobre os aspectos socioambientais,


a sobrevivência das pessoas e das próprias organizações e ainda, neste contexto, o
desemprego estrutural e a análise da própria lógica do capitalismo e da
mundialização do capital, das relações trabalhistas e da perda de direitos sociais da
classe trabalhadora, bem como da própria emancipação humana, que busca garantir
pelo menos o direito de subsistir frente a todas as transformações no mercado de
trabalho global.

Leitura Complementar
Prezado/a aluno/a no artigo os modos de ser da informalidade: rumo a uma nova era
da precarização estrutural do trabalho; Desenhando a nova morfologia do trabalho no
Brasil; e As mutações no mundo do trabalho na era da mundialização do capital, o
autor Ricardo Antunes aponta que como resultado das transformações e
metamorfoses nos países capitalistas, estamos diante de um intenso e signi cativo
processo de informalização e precarização da classe trabalhadora. Compreender os
modos de ser dessa processualidade, seus elementos explicativos, bem como suas
conexões com a lei do valor é o principal objetivo deste texto. Em oposição à
a rmação do m do trabalho, podemos constatar uma expressiva precarização e
informalidade do trabalho, que ocorre nas formas de trabalho parcial, subcontratado
e precarizado. Por sua vez as autoras Marley Rosana Melo de Araújo e Kátia Regina
Santos de Morais a rmam que precarização, em suma, apresenta-se como um
fenômeno que perpassa o dinâmico movimento de estruturação do trabalho e do
emprego, posto que concerne tanto ao crescimento do desemprego e à ampliação
do exército de reserva quanto às especi cidades dos empregos disponíveis no
mercado de trabalho, enfatizados pela instabilidade e efemeridade contratuais. Isso
conduz à expansão do contingente de trabalhadores alienados de seus direitos e
sujeitos a condições de trabalho instáveis, insatisfatórias e potencialmente
adoecedoras.
Dê um click para ler o texto na íntegra:

ANTUNES, R. Os modos de ser da informalidade: rumo a uma nova era da


precarização estrutural do trabalho? Serviço Social & Sociedade, 2011,
(107), 405-419. Link: http://www.scielo.br/pdf/sssoc/n107/02.pdf

ANTUNES, R. Desenhando a nova morfologia do trabalho no Brasil.


Estudos Avançados, 2014, 28 (81), 39-53. Link:
http://www.scielo.br/pdf/ea/v28n81/v28n81a04.pdf

ANTUNES, R. & ALVES, G. As mutações no mundo do trabalho na era da


mundialização do capital. Educação & Sociedade, 2004, 25 (87), 335-351.
Link: http://www.scielo.br/pdf/es/v25n87/21460.pdf

ARAÚJO, M. R.M; MORAIS, K. R. S. Precarização do trabalho e o processo


de derrocada do trabalhador. Cadernos de Psicologia Social do
Trabalho, 2017, vol. 20, n. 1, p.1-13 – DOI: 10.11606/issn.1981-0490.v20i1p1-13.
Link: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/cpst/v20n1/a01v20n1.pdf

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Unidade 2
Responsabilidade Social e
Sustentabilidade

AUTORIA
Mirian Aparecida Micarelli Struett
Paulo Vitor P. Navasconi
Introdução
Prezado(a) estudante!

Esta unidade é fundamental para que você compreenda o porquê e como as


atividades organizacionais impactam na qualidade de vida da sociedade. Você será
levado(a) a compreender como a busca pelo desenvolvimento econômico levou as
empresas a se tornarem agentes de transformação na busca pela sustentabilidade
socioambiental a partir do uso da ferramenta da responsabilidade social.

Para tanto, caro(a) aluno(a), você é convidado(a) a entrar nesse seara do


conhecimento, no intuito de entender que ainda há muitas resistências por parte
dos gestores organizacionais ao uso da responsabilidade social e que essas
discussões devidamente argumentadas, alguns, contra e outros a favor a
responsabilidade empresarial culminam também em graus de envolvimento das
organizações em relação a sua atuação, ou seja, a sensibilidade social.

Neste sentido, poderemos veri car e compreender que a gestão ambiental vem
ganhando um espaço crescente no meio empresarial. O desenvolvimento da
consciência ecológica em diferentes camadas e setores da sociedade mundial acaba
por envolver também o setor empresarial. Naturalmente, não se pode a rmar que
todos os setores empresariais já se encontram conscientizados da importância da
gestão responsável dos recursos naturais, mas nesta sessão poderemos observar
que há intensas discussões e ações no que diz respeito à relação responsabilidade
social e socioambiental.

Por m, prezado(a) estudante, discutiremos as implicações ética acerca da relação


responsabilidade social e sustentabilidade. Desejo uma ótima leitura e boas
re exões.

Bons estudos!
Desenvolvimento
Sustentável,
Responsabilidade Social e
Sustentabilidade

AUTORIA
Mirian Aparecida Micarelli Struett
Paulo Vitor P. Navasconi
A noção de desenvolvimento está, muitas vezes, atrelada ao crescimento
econômico. Entretanto este conceito tem mudado muito nas últimas décadas,
demonstrando um consenso entre a busca pela preservação ambiental e melhores
padrões de vida para a sociedade global. A partir do estabelecimento de relações
entre o crescimento econômico, a exploração dos recursos naturais, a herança para
as futuras gerações, a qualidade de vida e a distribuição de renda e pobreza, a
exclusão social e desigualdade social busca-se um conceito aproximado para o
desenvolvimento sustentável.

Dessa forma, estabelecendo-se a relação com o crescimento econômico entre


países, observou-se na década de 50, com a crise econômica dos países do Terceiro
Mundo, que o progresso não era uma virtude natural para todos. Na década
seguinte, a via de desenvolvimento ao Terceiro Mundo foi impulsionada pela
industrialização dos países ocidentais.

De certo modo, as teorias desenvolvimentistas quais sejam neo (liberais) ou


marxistas inspiravam-se nas sociedades ocidentais industrializadas para proporem
modelos de desenvolvimento. As crises ambientais, econômicas e sociais colocaram
em xeque as noções de desenvolvimento e progresso, principalmente, pelo seu
caráter eminentemente quantitativo analisado apenas sob o ponto de vista
econômico (ALMEIDA, 1997).

Por exemplo, na década de 1970 já era instituído a ideia da sustentabilidade, muito


antes do conceito de desenvolvimento sustentável e sustentabilidade se tornarem
conhecidos.

CONCEITUANDO
O “Ecodesenvolvimento”, desenvolvido por Ignacy Sachs re etia uma
preocupação com o desenvolvimento e o papel do homem neste
processo, na qual ele é colocado como protagonista ou vítima. O termo
em si busca retratar o desenvolvimento socioeconômico de forma
equitativa também incluindo a dimensão meio ambiente com
reconhecida importância (SACHS, 1994 apud CHACON, 1997).

Corroborando com Sachs, Veiga (2005) alia a cultura como outra dimensão
importante e promotora do desenvolvimento. Para ele, não se podia limitar o
desenvolvimento unicamente a aspectos sociais e sua base econômica, pois se
ignoraria questões complexas entre o porvir das sociedades humanas e a evolução
da biosfera.
[...] na realidade estamos na presença de uma co-evolução entre dois
sistemas que se regem por escalas de tempo e escalas espaciais
distintas. A sustentabilidade no tempo das civilizações humanas vai
depender da sua capacidade de se submeter aos preceitos de
prudência ecológica e de fazer um bom uso da natureza. É por isso que
falamos em desenvolvimento sustentável. A rigor, a adjetivação deveria
ser desdobrada em socialmente includente, ambientalmente
sustentável e economicamente sustentado no tempo (VEIGA, 2002, p.
9-10).

Em 1987 é publicado o “Relatório de Brundtland”, intitulado “Nosso futuro comum”


(Our common future). Este relatório apontava a desigualdade existente entre os
países e a pobreza como uma das principais causas dos problemas ambientais,
contribuindo assim para disseminar o conceito de “Desenvolvimento Sustentável”.
Neste contexto, há a introdução da ideia de que o desenvolvimento econômico da
atualidade deveria se realizar sem comprometer as necessidades das futuras
gerações (CMMAD, 1991, p. 46).

De acordo com as premissas fundamentais, há o reconhecimento da


“insustentabilidade” e inadequação econômica, social e ambiental, demonstrada
pela nitude dos recursos naturais, das injustiças sociais provocadas pelo modelo de
desenvolvimento vigente na maioria dos países. Entretanto, muito destes temas
continuam sendo negligenciados ou insu cientemente considerados.

Dessa forma, o desenvolvimento sustentável considera que o crescimento


econômico deve ocorrer em harmonia com o meio ambiente e a maioria dos
autores demonstram preocupações com o social e econômico (FILHO, 2008).
Figura 1 - Desenvolvimento Sustentável

Fonte: Pixabay

CONECTE-SE
Na Conferência Rio+20, em 2012, de acordo com o portal do Palmares,
foram proporcionados dois espaços para discussão sobre cultura, que
englobam aspectos étnicos- raciais, sendo a cultura considerada como
o quarto pilar para o Desenvolvimento Sustentável. A programação (1)
do Galpão da Cidadania e, (2) do Armazém da Utopia.

ACESSAR

Todos os países, pessoas e organizações são chamadas também a incluírem na


gestão estratégias e ações que colaborarem com os Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável.
Os objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) são 17, com 169 metas:

Objetivo 1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os


lugares.
Objetivo 2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da
nutrição e promover a agricultura sustentável.
Objetivo 3. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos,
em todas as idades.
Objetivo 4. Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e
promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos.
Objetivo 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e
meninas.
Objetivo 6. Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e
saneamento para todos.
Objetivo 7. Assegurar o acesso con ável, sustentável, moderno e a preço
acessível à energia para todos.
Objetivo 8. Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e
sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos.
Objetivo 9. Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização
inclusiva e sustentável e fomentar a inovação.
Objetivo 10. Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles.
Objetivo 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros,
resilientes e sustentáveis.
Objetivo 12. Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis.
Objetivo 13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e
seus impactos

(*) Reconhecendo que a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do
Clima [UNFCCC] é o fórum internacional intergovernamental primário para negociar
a resposta global à mudança do clima.

Objetivo 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos
recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável.
Objetivo 15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos
ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as orestas, combater a
deserti cação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de
biodiversidade.
Objetivo 16. Promover sociedades pací cas e inclusivas para o
desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e
construir instituições e cazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.
Objetivo 17. Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria
global para o desenvolvimento sustentável.
De acordo com a Organização das Nações Unidas, essa agenda Universal, elaborada
em 2015, visa a transformar o mundo até 2030, ou seja, nos próximos 15 anos busca
concretizar os direitos humanos, alcançar a igualdade de gênero e empoderamento
das mulheres e meninas, erradicar a pobreza no mundo. E para cada objetivo os
governos, empresas e demais organizações terão que traçar metas, objetivos e
estratégias que envolvam a todos, através dos relatórios e da prestação de contas.

A cultura e a diversidade têm relação direta com o processo produtivo, por um lado,
devido ao crescimento dos movimentos em defesa do meio ambiente em relação ao
uso dos recursos naturais e, por outro, como força produtiva, ou seja, mão de obra
nas empresas. A discussão do desenvolvimento sustentável é para todos os atores
da sociedade e todos, independente das relações étnico-raciais, devem estar
envolvidos.
Responsabilidade Social:
Percalços e Desa os

AUTORIA
Mirian Aparecida Micarelli Struett
Paulo Vitor P. Navasconi
Em nossos estudos estamos compreendendo que a responsabilidade social e
ambiental e o desenvolvimento sustentável são questões atuais e altamente
discutidas no mundo globalizado. Veri ca-se que enquanto não houve o aumento
acentuado do desemprego, das desigualdades sociais, da miséria, da fome e da
violência; e, que enquanto o meio ambiente foi capaz de fornecer todos os insumos
e receber todos os refugos da produção industrial sem demonstrar os impactos
negativos gerados à natureza, esses temas não eram abordados, uma vez que o
objetivo estava no crescimento de riquezas materiais.

Nesse contexto, segundo Oliveira (2008, p. 17), os primeiros “[...] problemas


socioambientais eram vistos como uma consequência natural do ‘desenvolvimento’,
que era confundido com crescimento econômico”. Entretanto, com a degradação
ambiental causada pela exploração demasiada dos recursos naturais acima da
capacidade de absorção pela natureza dos resíduos produzidos, com o agravamento
do quadro social causado pela estagnação econômica das últimas décadas e com a
conscientização dos consumidores a respeito dos seus direitos, a sociedade civil
começou a organizar movimentos cobrando soluções aos problemas
socioambientais. Assim, as questões socioambientais passaram a fazer parte da
pauta de discussões globais (OLIVEIRA, 2008, p. 2-12; 15-29).

Diante deste contexto de globalização veri cou-se diversas mudanças efetivas tanto
na economia, acirrando a competitividade no ambiente de negócios, como na forma
de comunicação mundial, que por meio das novas tecnologias propiciou o contato
em tempo real da sociedade com os fatos ocorridos nos quatro cantos do globo.
Nesse contexto, a responsabilidade social e ambiental e o desenvolvimento
sustentável, se tornaram cada vez mais evidentes e incidiram em aspectos que
revelam à cultura das organizações, impactadas em seus objetivos, estratégias e
mesmo no conceito contemporâneo de empresa.

Considerando-se as dimensões econômica, ética e legal, que orientam os estudos de


responsabilidade social e ambiental, questiona-se como a comunicação pode
contribuir para a evolução das ações empresariais e comunitárias referentes à
responsabilidade social e ambiental, visando a sustentabilidade das gerações
futuras. O princípio de que responsabilidade social e ambiental para o
desenvolvimento sustentável representa mudanças signi cativas e importantes na
forma de gestão, portanto, há necessidade de comunicar sobre a necessidade de
novas regras para o desenvolvimento, com o objetivo de alertar as organizações e a
comunidade sobre a relevância do assunto para um crescimento durável, resultando
assim, na conscientização e ação responsável. Dessa forma, a comunicação será o
principal elo de compartilhamento de conhecimentos para mostrar a direção a ser
adotada no sentido do desenvolvimento sustentável e da promoção da expansão da
responsabilidade social e ambiental a médio e longo prazo.

Nesta perspectiva, para compreender o fenômeno da responsabilidade social, é


preciso compreender as contingências que contribuíram para seu advento. Uma
delas, como aponta Dupas (1999), foi o contexto de exclusão social e suas
consequências, pois o conceito é, em sua essência, multidimensional e inclui a ideia
de falta de acesso aos bens e serviços, a segurança, a justiça e a cidadania. O autor
frisa o conceito de exclusão social e, como consequência, a pobreza, principal
responsável pela não satisfação das necessidades básicas. Suas palavras a seguir nos
soam bem recentes. Passados pouco mais de uma década, o quadro nos parece
bem pior com o desemprego estrutural, principalmente nos países europeus.

A exclusão social apareceu na Europa na esteira do crescimento dos sem teto e da


pobreza urbana, da falta de perspectiva urbana, da falta de perspectiva decorrente
do desemprego de longo prazo, da falta de acesso a emprego e rendas por parte das
minorias étnicas e imigrantes, da natureza crescentemente precária dos empregos
disponíveis e da di culdade que os jovens passaram a ter para ingressar no mercado
de trabalho (DUPAS, 1999, p.19).

Como é percebido até agora, a discussão sobre desenvolvimento sustentável está


polarizada em duas grandes concepções: a ambiental e a social. De acordo com
Almeida (1997), incorpora-se, desse modo, a “natureza” à cadeia de produção (a
natureza como um bem de capital) e, de outro, uma ideia que tenta quebrar a
hegemonia do discurso econômico, indo para além de uma visão instrumental e
restrita que a economia impõe à ideia.

De acordo com Veiga (2002), o maior desa o é iniciar a construção de uma


prosperidade multiplicadora de novos empreendimentos e que simultaneamente
conservem a estabilidade e coloque m às práticas de exploração predatória dos
imensos recursos naturais. Isso exigiria um amplo rearranjo institucional e esse
processo é difícil e lento, devido à inércia imposta por fortes interesses cristalizados
Conforme aponta Filho (2008), os países desenvolvidos deveriam priorizar políticas
como a reciclagem, o uso e ciente de energia, a conservação, a recuperação das
áreas degradadas, bem como perseguir maior equidade, justiça, respeito às leis,
redistribuição e criação de riqueza.

A partir da constatação de que o desenvolvimento sustentável serviria para discutir a


permanência ou durabilidade da estrutura de funcionamento do processo
produtivo, atendendo às necessidades da geração presente sem impedir que as
gerações futuras também o façam, e sendo o conceito de desenvolvimento
sustentável disseminado em todo o mundo, estas envolveriam as organizações
como parte deste processo, visto que as atividades que lhe são inerentes no
processo produtivo confrontam-se à inter-relação entre o movimento de
desenvolvimento sustentável e o da responsabilidade social, con uindo em
Sustentabilidade.

Todos aqueles potenciais participantes desse processo, promotores e coadjuvantes


no Desenvolvimento Sustentável, são convidados à discussão. Importantes eventos
de caráter Mundial, como a Conferência do Desenvolvimento Sustentável, que
ocorreu no Brasil, em 2012 – RIO+20 – trouxeram relevantes discussões sobre os
aspectos culturais e étnico-raciais.
Dilemas acerca da
Responsabilidade
Empresarial

AUTORIA
Mirian Aparecida Micarelli Struett
Paulo Vitor P. Navasconi
As organizações não têm ainda uma postura de nida e única sobre a
responsabilidade

1. Visão clássica: a única responsabilidade é conduzir os negócios com máximo lucro


– chamado modelo do acionista (visão de Milton Friedman), que envolvem lucros
reduzidos da atividade, custos maiores do negócio, diluição do propósito do negócio
e poder demasiado para os negócios, e;

2. Visão socioeconômica – assegura que qualquer organização deve se interessar


pelo bem estar social e não somente pelos lucros (sustentada por Paul Samuelson) e
envolvem: lucros de longo prazo e melhor imagem pública para os negócios, evitar
regulamentações governamentais, as organizações têm recursos e obrigação ética e
os negócios devem prover melhores condições para cada um e para todos.

REFLITA
De acordo com o Instituto Ethos: Responsabilidade social empresarial é
a forma de gestão que se de ne pela relação ética e transparente da
empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo
estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o
desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos
ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade
e promovendo a redução das desigualdades sociais (INSTITUTO ETHOS,
2009).

Um dos grandes dilemas acerca da responsabilidade social encontra-se já na


de nição do tema. Há diversos conceitos para responsabilidade social. Em estudo
recente, Vieira (2007) aponta alguns levantados em pesquisa bibliográ ca (Quadro
1): social e estas visões contrastantes se resumem em dois enfoques principais
(SILVA, 2005, p. 71):
Quadro 1 - Conceitos sobre responsabilidade Social

Conceitos sobre Responsabilidade Social Autores/Ano

“Para uns é tomada como uma responsabilidade legal ou


obrigação social; para outros, é o comportamento
socialmente responsável em que se observa a ética, e para
outros, ainda, não passa de contribuições de caridade que a
empresa deve fazer. Há também, os que admitam que a Zenisek,
responsabilidade social seja, exclusivamente, a 1984
responsabilidade de pagar bem aos empregados e dar-lhes
bom tratamento. Logicamente, responsabilidade social das
empresas é tudo isto, muito embora não sejam, somente,
estes itens isoladamente”.

[...] Está ligada a questões e princípios éticos adotados pela


empresa no que diz respeito aos problemas de ordem
Richard Eells
social que enfrenta. Surge a ideia de empresa como elo
e Clarence
entre sociedade, indivíduos e governo, enquanto
Walton, 1984
instrumento capaz de melhorar a qualidade de vida via
desenvolvimento econômico.

“[...] No envolvimento social da empresa, seja com os


empregados, com as pessoas que estão ligadas
tecnicamente à empresa ou com a sociedade, a grande Archie
questão é mesmo quanto custa à adoção de Carrol, 1984
comportamentos socialmente responsáveis e não o simples
fato de adotar tais comportamentos [...]”.

“À obrigação do empresário de adotar práticas, tomar


Howard
decisões e acompanhar linhas de ação desejáveis segundo
Bowen, 1984
os objetivos e valores da sociedade”.

“Uma obrigação pessoal de cada um de quando age em


seu próprio interesse, garantir que os direitos e legítimos Harold
interesses dos outros não sejam prejudicados [...]. O Koontz e
indivíduo, certamente, tem direito de agir e falar em seu Cyril
próprio interesse, mas precisa sempre ter o devido cuidado O'Donnell,
para que esta liberdade não impeça os outros de fazerem a 1982
mesma coisa”.

“Quando uma nova empresa abre suas portas para a Lundborg,


comunidade, ela também abre a porta para um conjunto 1950
de obrigações que ultrapassam a tarefa de comprar ou
vender, produzir ou distribuir. Junto com a obrigação de ser
uma possibilidade de bom crédito - pagando suas contas,
pagando seus impostos - ela assume a obrigação de ser
uma boa ‘cidadã’ e uma boa vizinha [...] Se um negócio
adotar práticas que estejam contra o interesse público, o
público irá procurar o regulamento para corrigir a prática”.

Fonte: VIEIRA, R. F. A iniciativa privada no contexto social: exercício de cidadania e


responsabilidade social. RP em revista, Salvador, BA, ano 5, n. 22, maio 2007.

Como pontuamos anteriormente os anos noventa do século passado e a primeira


década do século XXI foram marcados por uma ampla divulgação dos riscos
ambientais pelos meios de comunicação social. A degradação da qualidade da água
e do ar, a contaminação e a erosão dos solos, o esgotamento dos combustíveis
fósseis, a destruição da camada de ozono, a des orestação agressiva, as chuvas
ácidas, a extinção de espécies e as alterações climáticas, entre outros problemas
ambientais, contribuíram para a redução da qualidade de vida de toda a população,
ou seja, para aquelas pessoas que viviam em níveis de vulnerabilidade, está se
intensi cou, e para as pessoas que viviam em certa medida dentro da lógica da
qualidade de vida, passou-se a vivenciar situações e períodos de vulnerabilidade.

Neste contexto, a responsabilidade social e ambiental pode ser entendida de


diferentes perspectivas. Pode representar a ideia de responsabilidade coletiva, uma
imposição normativa legal e um comportamento coletivo responsável no sentido
ético. Esta última concepção centra-se no pressuposto de que, uma atitude
responsável pressupõe um procedimento ético. Na prática, a responsabilidade social
e ambiental tende a ser transformada quer numa contribuição bondosa de
concepção lantrópica num suporte de imagem das organizações. O ambiente seria
reconhecido como um “lugar determinado ou percebido no tempo onde os
elementos naturais e sociais estão presentes em relações e em interação” (REIGOTA,
1995, p.14).

Richard Hall nos ajuda pensar acerca da complexidade das organizações de modo
muito objetivo e didático, haja vista que para o autor:

Uma organização é uma coletividade com uma fronteira relativamente


identi cável, uma ordem normativa (regras), níveis de autoridade
(hierarquia), sistemas de comunicação e sistemas de coordenação dos
membros (procedimentos); essa coletividade existe em uma base
relativamente contínua, está inserida em um ambiente e toma parte de
atividades que normalmente se encontram relacionadas a um
conjunto de metas; as atividades acarretam consequências para os
membros da organização, para a própria organização e para a
sociedade. (HALL, 2004, p. 30).

Nota-se a complexidade que abrange as organizações, desta forma, como vimos


anteriormente as organizações não podem ser vistas e compreendidas
isoladamente, porque elas dependem de vários outros fatores que encontram-se no
meio social e de vários outros sistemas como o econômico, a educação, o judiciário,
a cultura, política e sobretudo, do ambiente.

Sendo assim, é de suma importância pontuar que as organizações sofrem


in uências do contexto, uma vez que, é através do meio que se constituem e
constroem-se as organizações, com isto, temas como sustentabilidade,
responsabilidade social e questões referente ao ambiente tornaram-se pautas
centrais e em evidências no que diz respeito à relação organizações e sociedade.

De acordo com Dias e Marques (2017) a concepção de sustentabilidade tem


promovido inúmeros debates e re exões entre os diversos atores sociais, desde
discussões no ambiente acadêmico até no campo político. A popularidade dessa
expressão aumentou nas últimas décadas, isto por causa das degradações
ambientais e das preocupações socioambientais que surgiram principalmente a
partir da segunda metade do século XX. De acordo, com os autores acidentes
ambientais como o ocorrido em Chernobil, 1986, na Ucrânia, que provocou sérias
consequências para a região, é um exemplo dos desastres que incentivaram tais
debates.

Para Di Bartolomeo, Silva e Fonseca (2014), depois da humanidade ter sofrido e


presenciado catástrofes em vários lugares do mundo, em razão do crescimento
desordenado de cidades e dos impactos ilegais ao meio ambiente provocados pelo
consumo capitalista, discute-se processos que revertam essa crise ambiental, que
possam reestabelecer ou manter as coisas como antes. É por isso que se pensa
agora em produzir mantendo-se a natureza de forma que as gerações futuras
possam também usufruir dos recursos. Pode-se assim pensar em “sustentabilidade”,
que, se fosse levada a sério desde o início de sua abordagem, teria evitado muito dos
males naturais já ocorridos.

Haja vista que desde a da década de 60 para 70, dobrou o número de pessoas
atingidas por catástrofes naturais, principalmente secas e inundações, e isso está
diretamente ligado à má administração do meio ambiente e do desenvolvimento
socioeconômico. São crises ambientais que expõem a fragilidade da dimensão
social da economia e incentivam iniciativas globais, criação de organismos
internacionais, debates e busca de soluções para os problemas (DIAS; MARQUES,
2007).
REFLITA
Que tipo de sociedade queremos construir?

Pensar em sustentabilidade é pensar em algo muito mais profundo,


que visa uma verdadeira reestruturação do modelo civilizatório atual.
Um projeto de nação que vise um desenvolvimento socioeconômico
mais sustentável passa por um novo posicionamento em relação às
questões raciais, classe, gênero e dentre outros fatores sociais,
econômicos e culturais.

Fonte: o autor.

Como veri camos anteriormente, a expressão “sustentabilidade” muitas vezes está


associada à ideia de desenvolvimento sustentável, termo cunhado em 1987, pelo
relatório de Brundtland, que de niu desenvolvimento sustentável como sendo
aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer as
possibilidades das gerações futuras atenderem suas próprias necessidades. Pelo
momento histórico recente pode-se dizer que tal conceituação foi um avanço para
as preocupações relacionadas às questões ambientais, pensando, nesse caso, na
relação entre desenvolvimento econômico e meio ambiente natural.

Neste sentido, a ideia de desenvolvimento, para muitos, por estar atrelada a


concepção de crescimento econômico, acaba soando com tom pejorativo quando
se trata de meio ambiente e sustentabilidade. Todavia, pode-se pensar no
desenvolvimento de outros modos ou formas, por exemplo, desenvolvimento
tecnológico para melhoramento da qualidade ambiental, produtos e serviços, que,
por meio da tecnologia, reduziriam impactos ambientais, ou o desenvolvimento
social representado pela inserção dos sujeitos numa fatia maior e com senso justo
da distribuição de renda (DIAS, MARQUES, 2007).
ATENÇÃO
Não se pode deixar de notar que, apesar das muitas incertezas e
interpretações diversas quanto aos termos desenvolvimento
sustentável e “sustentabilidade”, ambos possuem algo em comum que
é o entendimento de que a sociedade (ser humano) precisa mudar a
relação que tem com a natureza e com seus pares, visando assim maior
equidade social e equilíbrio ambiental.

A realidade é que a humanidade é dependente do meio ambiente já que existe


inserida na natureza e dependente dela, e a economia existe dentro da sociedade,
sendo importante para o sistema social (Hopwood; Mellor; Obrien, 2005 APUD, dias,
marques, 2007). Portanto, no atual formato do sistema capitalista atentar-se aos
ganhos econômicos equilibrando suas forças com os outros aspectos sociais e
ambientais tem sido o caminho para almejar o desenvolvimento sustentável.

Registram Coelho, Coelho e Godoi (2013, p. 175) que:

A sustentabilidade não envolve apenas política e procedimentos, mas


uma cultura, atitude e envolve o esforço de toda a sociedade e
Governo, organizações, comunidade e indivíduos com ações
economicamente viáveis, ambientalmente sustentáveis e socialmente
responsáveis. No que tange ao discurso da sustentabilidade, é de suma
importância compreendermos que este pode estar sendo utilizado
como meio de inserção das organizações com uma apropriação
mercadológica do conceito. Do discurso da sustentabilidade é possível
desvelar parte de uma realidade organizacional, evidenciando grupos
de interesse, con itos e relações de poder. (COELHO, A., COELHO, C.,
GODOI, 2003, p. 175).
SAIBA MAIS
A sustentabilidade é discutida como um estado em que três tipos de
interesses (ou con itos) sejam cumpridos (ou resolvidos),
simultaneamente: (i) o interesse da geração atual em melhorar a suas
reais condições de vida (sustentabilidade econômica), (ii) a busca de
uma equalização das condições de vida entre ricos e pobres
(sustentabilidade social), e (iii) os interesses das gerações futuras que
não estão comprometidas pela satisfação das necessidades da geração
atual (sustentabilidade ambiental) (HORBACH, 2005).

REFLITA
É realmente possível conciliar crescimento econômico e socioambiental
no atual contexto de economia globalizada e ainda ser uma empresa
sustentável?

Fonte: o autor.
Conclusão - Unidade 2

Prezado(a) estudante, principalmente a partir da década de 80 em diante, o


paradigma do desenvolvimento tem se modi cado, surgindo a necessidade de se
pensar a longo prazo, em um novo contexto onde o “desenvolvimento sustentável” e
a “responsabilidade social” surgem por uma questão de sobrevivência.
Responsabilidade essa atribuída diretamente aos gestores organizacionais por serem
grandes agentes de transformação nas atividades globais, a partir de suas atividades.
Esses agora se vêm forçados a pensar ou persuadidos por uma sociedade cada vez
mais atenta e exigente.

Apesar dos dilemas em relação às ações da responsabilidade social nas empresas, em


grau maior ou menor, a maioria dos gestores está participando. Cada qual tem um
grau de comprometimento ou envolvimento, porém aquelas que têm sensibilidade
social, em sua maioria, já buscam formas de além do que lhes é cobrado.

Entretanto, as organizações buscam encontrar outros meios de fazer uma gestão


cada vez melhor, e a governança corporativa, por meio de sua sistemática, parece que
está surtindo resultados positivos. Por m, e não menos importante, a discussão
sobre a ética, uma vez que tem crescido a procura por organizações que atuem
corretamente, eticamente e socialmente responsáveis. Para aquelas que só buscam
demonstrar uma melhor imagem institucional ou de marca, como é constatado nas
pesquisas, é melhor repensarem sua atuação.

Porém, o caminho ainda é árduo e há muitos desa os para os gestores e demais


atores da sociedade, quando o processo de globalização e exclusão social,
principalmente das minorias presentes na sociedade global, está cada vez mais
aumentando face ao desemprego.
Adriana de Azevedo Mathi e Armin Mathis realizam uma análise, a partir de uma
perspectiva crítica, sobre o processo de criação e consolidação dos parâmetros
mundiais sobre Responsabilidade Social Corporativa (RSC) na relação com os direitos
humanos, na Europa e no Brasil, no atual estágio do capitalismo globalizado. Como
recurso teórico-metodológico fundamenta-se, no plano internacional, em um
conjunto de normas jurídicas existentes sobre a responsabilidade social corporativa e
os direitos humanos nas empresas transnacionais. No plano nacional, a pesquisa tem
como referencial teórico-metodológico um levantamento bibliográ co concernente
ao conceito de RSC nos novos padrões de capitalismo periférico, inseridos no contexto
da globalização. Por sua vez, Maria Paola Di Sessa De Luca Ometto, Sergio Bulgacov e
Márcia Ramos May pontuam sobre a importância do indivíduo na construção,
manutenção e mudança das instituições caracteriza as teorias das práticas sociais. O
objetivo deste estudo é analisar o per l e o envolvimento dos estrategistas nas
práticas de responsabilidade social. Parte-se da identi cação do papel, agência,
experiência e características dos praticantes que atuam na certi cação ambiental de
empresas brasileiras. A discussão dos resultados tem como base os conceitos de
responsabilidade social corporativa e da teoria da estratégia como prática. A pesquisa
foi feita em duas etapas. Na primeira, de caráter qualitativo e exploratório, um estudo
de caso foi realizado na empresa Suzano Papel e Celulose. Na etapa seguinte
desenvolveu-se um levantamento quantitativo em 23 empresas, que representam
41% da população de empresas certi cadas. O trabalho contribui ao destacar as
diferentes dimensões do per l dos praticantes e sua relação com a coletividade de
práticas e seu envolvimento com o processo de certi cação. E por m, Sylvia Constant
Vergara e Paulo Durval Branco entendem por empresa humanizada aquela que,
voltada para seus funcionários e/ou para o ambiente, agrega outros valores que não
somente a maximização do retorno para os acionistas. Nesse sentido, são
mencionadas empresas que, no âmbito inter-no, promovem a melhoria na qualidade
de vida e de trabalho, visando à construção de relações mais democráticas e justas,
mitigam as desigualdades e diferenças de raça, sexo ou credo, além de contribuírem
para o desenvolvimento e crescimento das pessoas. Ao focalizar o ambiente, as ações
dessas empresas buscam a eliminação de desequilíbrios ecológicos, a superação de
injustiças sociais, o apoio a atividades comunitárias, en m, o que se convencionou
chamar de exercício da cidadania corporativa.
Dê um click para ler o texto na íntegra:

MATHIS, A. A., MATHIS, A. Responsabilidade social corporativa e direitos


humanos: discursos e realidades. Rev. katálysis, Jun 2012, vol.15, no.1,
p.131-140. Link: http://www.scielo.br/pdf/rk/v15n1/a13v15n1.pdf.

OMETTO, M. P, BULGACOV, S; MAY, M. R. A Efetividade dos Estrategistas


da Responsabilidade Social Empresarial. Organ. Soc., Set 2015, vol.22,
no.74. Link
https://portalseer.ufba.br/index.php/revistaoes/article/view/11789.

VERGARA, S. C., BRANCO, P. D. Empresa humanizada: a organização


necessária e possível. Rev. adm. empres., Jun 2001, vol.41, no.2, p.20-30.
Link: http://www.scielo.br/pdf/rae/v41n2/v41n2a03.

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Unidade 3
Cultura e Diversidade

AUTORIA
Mirian Aparecida Micarelli Struett
Paulo Vitor P. Navasconi
Introdução
Esta unidade é muito importante, pois nela está contido ou “velado” conceitos sobre
etnicidade, racismo, diversidade. Sendo assim, temos por objetivo neste primeiro
momento compreender a importância do conceito raça e seus efeitos na nossa
sociedade, haja vista que as discussões e teorias sobre a diversidade humana e
consequentemente sobre raças na cultura ocidental emergiram como resultado das
grandes viagens do século XV. Uma vez que, foi nesses encontros entre as diferentes
civilizações, que surgiu a necessidade de classi car e de nir o que era e quem era a
humanidade (SCHUCMAN, 2014).

Sendo assim, a ideia de raça é uma das explicações encontradas pela humanidade
para classi car e hierarquizar os grupos humanos. Para tanto, observaremos que o
racismo passa ser concebido como sendo uma construção ideológica, que tem seu
início a partir dos séculos XV e XVI com a sistematização das ideias e valores
construídos pela civilização europeia. Nesta perspectiva, iremos estudar e entender
que o conceito de raça biológica não apresenta qualquer comprovação cientí ca,
mas a categoria raça ainda se encontra no imaginário da população e produzindo
discursos racistas, deste modo, discutiremos os efeitos desta realidade, sobretudo,
na contemporaneidade.

Os conceitos sobre a etnicidade não são novos e advêm de diversas correntes de


pensamento nas áreas humanas e sociais. Nosso objetivo, aqui, é o de entender o
papel das empresas e da sociedade e suas relações com essas pessoas que, em sua
diversidade.

Buscam ao mesmo tempo o respeito à diferença e a justiça e igualdade quanto às


dimensões culturais que envolvem a linguagem, as línguas, as religiões, a
diferenciação de classes sociais, as histórias, modos de produção etc, en m, tudo
aquilo que, de fato, possa a vir a modi car as relações sociais também no ambiente
organizacional.

Abordaremos a temática da população indígena no contexto brasileiro, bem como,


compreender que os povos indígenas, que exploraram durante séculos os diversos
biomas do planeta, têm muito a ensinar sobre uma relação harmoniosa entre o
homem e a natureza, isto e, A in uência da cultura indígena no Brasil está presente
em diversos traços tradicionais, além de ser uma das grandes raízes que compõem a
identidade do povo brasileiro.

Desejo uma ótima leitura e inúmeras re exões.

Bons estudos!
Re etindo sobre o Conceito
de Raça numa Perspectiva
Sociológica

AUTORIA
Mirian Aparecida Micarelli Struett
Paulo Vitor P. Navasconi
O conceito raça veio do italiano razza, e que por sua vez veio do latim ratio
signi cando sorte, categoria e espécie. No latim medieval, o conceito de raça era
utilizado para designar descendência ou linhagem, isto é, um grupo de pessoa que
têm um ancestral comum e que possuem algumas características físicas em
comum. Todavia, em 1684 o francês François Bernier emprega o termo no sentido
moderno da palavra, para classi car a diversidade humana em grupos sicamente
contrastados, denominadas raças (MUNANGA, 2003).

Nas ciências naturais o conceito raça começou a ganhar espaço sendo utilizado
primeiramente na Zoologia e na Botânica para classi car espécies animais e
vegetais. Neste mesmo contexto que o naturalista sueco Carl Von Linné (1707-1778)
utilizou-se do conceito raça para classi car as plantas em 24 raças/classes.
Classi cação está inteiramente abandonada na atualidade.

Nos séculos XVI-XVII, o conceito de raça passa efetivamente a atuar nas


relações entre classes sociais da França da época, pois utilizado pela
nobreza local que se identi cava com os Francos, de origem germânica
em oposição ao Gauleses, população local identi cada com a Plebe.
Não apenas os Francos se considerava como uma raça distinta dos
Gauleses, mais do que isso, eles se consideravam dotados de sangue
“puro”, insinuando suas habilidades especiais e aptidões naturais para
dirigir, administrar e dominar os Gauleses, que segundo pensavam,
podiam até ser escravizados. Percebe-se como os conceitos de raças
“puras” foi transportado da Botânica e da Zoologia para legitimar as
relações de dominação e de sujeição entre classes sociais (Nobreza e
Plebe), sem que houvessem diferenças morfobiológicas notáveis entre
os indivíduos pertencentes a ambas as classes (MUNANGA, 2003, p. 2).

Neste mesmo período histórico com as grandes navegações e consequentemente


com as grandes descobertas o próprio conceito de humanidade foi colocado em
dúvida, aliás, quem eram esses recém-descobertos? Seriam humanos como “nós”
europeus? Seriam bestas? Estes dentre outros questionamentos zeram com que
os europeus ancorassem em critérios cientí cos de de nições para tentarem
minimamente responderem às seguintes questões: O que faz do outro ser
semelhante a mim? Este Outro é humano? (NAVASCONI, 2019).

Se anteriormente as explicações dos “outros” passava pela Teologia, é a partir do


século XVIII compreendido como século das luzes em que a razão e a racionalidade
passam a ser o destaque e o subsídio para as explicações dos fenômenos “naturais”
e sociais que o conceito de raça deixa de ser compreendido sob viés das ciências
naturais, para então “nomear esses outros que se integram à antiga humanidade
como raças diferentes, abrindo o caminho ao nascimento de uma nova disciplina
chamada História Natural da Humanidade, transformada mais tarde em Biologia e
Antropologia Física” (MUNANGA, 2003, p.2). Neste sentido, inicia-se a hierarquização
de raças e a classi cação da diversidade humana em diferentes níveis.
Assim como em qualquer operação de classi cação é preciso que se estabeleçam
critérios objetivos com base na diferença e semelhança para que seja concretizada a
classi cação. A cor de pele passou a ser um dos critérios de seleção e classi cação, e
assim construiu-se socialmente três raças que resistem até os dias de hoje no
imaginário social e na terminologia cientí ca: raça branca, negra e amarela.

O degrau dessa concentração que de ne a cor da pele, dos olhos e do


cabelo. A chamada raça branca tem menos concentração de melanina,
o que de ne a sua cor branca, cabelos e olhos mais claros que a negra
que concentra mais melanina e por isso tem pele, cabelos e olhos mais
escuros e a amarela numa posição intermediária que de ne a sua cor
de pele que por aproximação é dita amarela Ora, a cor da pele
resultante do grau de concentração da melanina, substância que
possuímos todos, é um critério relativamente arti cial (MUNANGA,
2003, p. 4).

No entanto, a partir do século XIX, além do critério cor de pele acrescentaram-se


outros critérios morfológicos para embasar o sistema de classi cação, tais como a
forma do nariz, dos lábios, do queixo, do formato do crânio, o ângulo facial e etc.
Com isto, lábios grandes fazia-se referência a traços negróides, bem como crânio
alongado dito dolicocéfalo era tido como características dos brancos “nórdicos”
enquanto que crânio arredondado, braquicéfalos era considerado como
característica física dos amarelos e negros. Segundo Munanga (2003) em 1912, o
antropólogo Franz Boas observara nos Estados Unidos que o crânio dos lhos de
imigrados não brancos, por de nição braquicéfalos, apresentavam tendência em
alongar-se. O que tornava a forma do crânio uma característica dependendo mais
da in uência do meio, do que dos fatores raciais.

Durante o século XX tivemos inúmeros avanços e progressos no que se refere ao


campo das ciências biológicas (molecular, bioquímica, genética humana)
favorecendo para a con rmação e conclusão de que raça não é uma realidade
biológica. Ou seja, não passaria ser passível de comprovação cientí ca em termos
biológicos e genéticos, mas sim apenas um conceito cienti camente inoperante
para explicar a diversidade humana, bem como para dividi-la em raças, em outras
palavras, em termos biológicos raças não existem.

Todavia, a rma Munanga (2003) a invalidação cientí ca do conceito de raça “não


signi ca que todos os indivíduos ou todas as populações sejam geneticamente
semelhantes. Os patrimônios genéticos são diferentes, mas essas diferenças não são
su cientes para classi cá-las em raças” (p. 5). Sendo assim, o problema encontra-se
na inoperacionalidade cientí ca do conceito de raça, haja vista que, este conceito
fora utilizado não só para classi car grupos humanos em características físicas, mas
a partir deste conceito passou-se a construir aparatos e dispositivos legais de
hierarquização de vidas, ou seja, estabeleceram-se modos e escalas de valores entre
as chamadas raças, ocasionando na dicotomia entre raças superiores e raças
inferiores em função de suas características hereditárias, morfológicas e físicas.
Neste sentido, pessoas brancas corresponderiam e seriam atribuídas aos símbolos
de beleza, superioridade intelectual, cultural e moral, diferenciando-se, portanto,
daqueles com a pele mais escura, ou seja, as pessoas negras nas quais passaram a
serem representadas como irracionais, emocionais, vagabundas, preguiçosas,
desonestas, menos inteligentes, passivas e consequentemente mais sujeitas à
escravidão e a dominação.

Mesmo tornando-se uma teoria pseudocientí ca, isto é, inválida no campo


cientí co, a raciologia se fez presente durante o século XX, principalmente nos
períodos da década de 1940, posto que a ideia referente à classi cação da
humanidade em raças hierarquizadas passou-se a retomar a partir dos ideários
nacionalistas tais como o nazismo para legitimar as exterminações e atrocidades
que causaram à humanidade durante a Segunda guerra mundial.

Nesta perspectiva, o conceito de raça utilizado pelos estudos raciais e pelos


movimentos negros nada tem de biológico, ou seja, segundo Munanga (2003) é um
conceito político, ou seja, “carregado de ideologia, pois como todas as ideologias, ele
esconde uma coisa não proclamada: a relação de poder e de dominação” (p. 7).
Sendo assim, sabe-se que biologicamente o conceito de raça encontra-se invalidado,
entretanto, no campo semântico do conceito de raça este produz inúmeros efeitos
na estrutura global da sociedade.

Um geneticista pode a rmar que raça não existe, entretanto, no imaginário social a
representação de raças encontra-se presente, sendo assim, é a partir dessas raças
ctícias ou “raças sociais” (MUNANGA, 2003) que se reproduzem e se mantêm os
racismos populares. Neste sentido, porque não banir e excluir dos textos cientí cos e
das práticas discursivas o conceito raça? Mesmo inexistindo no âmbito cientí co
este conceito produz efeitos na realidade social e política, sendo assim, o seu uso diz
respeito à raça enquanto uma construção sociológica e uma categoria social de
dominação e de exclusão (MUNANGA, 2003).
CONCEITUANDO
Pode-se a rmar que racismo diz respeito a uma ideologia essencialista,
isto é, a partir da ideia de uma divisão da humanidade em grandes
grupos pautando-se em características físicas e hereditárias passaria
ser possível produzir uma escala de valores desiguais. Sobretudo, a
pessoa racista cria a raça no sentido sociológico, ou seja, a raça no
imaginário do racista não é exclusivamente um grupo de nido pelos
traços físicos, mas sim é um grupo social com traços culturais,
linguísticos, religiosos, e etc. que esta pessoa considera naturalmente
inferiores ao grupo a qual ela pertence (NAVASCONI. 2019).

Assim como pontua MUNANGA (2003) falar de racismo é consequentemente falar


de um problema estrutural, ou seja, que envolve diferentes facetas da sociedade e
que perpassa diferentes questões sociais, econômicas, psicológicas, culturais,
biológicas, políticas, gênero e de classe. Todavia, racismo nasce quando faz-se
intervir caracteres biológicos como justi cativa de tal ou tal comportamento. O
difícil é aniquilar as raças ctícias que rondam em nossas representações e
imaginários coletivos. Exemplo disto é o efeito social que um saber cientí co produz
nas relações sociais e consequentemente nos modos de subjetivação, ou seja, no
século XVIII Carl Von Linné (Lineu) produz uma escola de valores que sugere a
hierarquização das raças humanas, ou seja, dividindo o homo sapiens em quatro
raças:

1) Americano: que o próprio classi cador descreve como moreno,


colérico, cabeçudo, amante da liberdade, governado pelo hábito, tem
corpo pintado. 2) Asiático: amarelo, melancólico, governado pela
opinião e pelos preconceitos, usa roupas largas. 3) Africano: negro,
egmático, astucioso, preguiçoso, negligente, governado pela vontade
de seus chefes (despotismo), unta o corpo com óleo ou gordura, sua
mulher tem vulva pendente e quando amamenta seus seios se tornam
moles e alongados. 4) Europeu: branco, sanguíneo, musculoso,
engenhoso, inventivo, governado pelas leis, usa roupas apertados
(MUNANGA, 20113, p. 9).

Depois de quase três séculos esta representação ainda se faz presente existindo no
imaginário coletivo das gerações, bem como sobrevivendo aos progressos da
ciência, ou seja, a partir de uma construção cientí ca, produziu-se inúmeras
representações sociais do que poderia e seria a pessoa negra, branca e amarela.
Sendo assim, enquanto o racismo clássico se alimenta na noção de raça, o racismo
presente na atualidade se alimenta na noção de etnia de nida como um grupo
cultural, categoria que constituí um lexical mais aceitável que a raça (falar
politicamente correto).
Conceituando a Noção de
Etnicidade

AUTORIA
Mirian Aparecida Micarelli Struett
Paulo Vitor P. Navasconi
CONCEITUANDO
O termo “etnicidade” permaneceu praticamente inusitado até hoje no
vocabulário sociológico ou etnológico, e só recentemente começa a ser
utilizado nos estudos sobre imigração, racismo, nacionalismo ou
violência urbana. Seu conceito está atrelado à pertença cultural.

O Quadro 1 faz referência aos vários usos do termo e seus signi cados em um dado
contexto histórico.
Quadro 1 - Uso dos termos e seus signi cados

Autores Uso do Termo e seus Signi cados

Década de
A pertença a um outro grupo que não anglo-americano (o
50 Yankee
único grupo branco a não ter uma “origem nacional”) e é
City Series,
utilizado como uma variável independente entre outros
Warner –
(especialmente a raça ou a religião), cujo efeito sobre o
primeiro
comportamento dos indivíduos é estudado. Indica que ele
autor
entende a etnicidade como uma das características que
americano
modi cam o sistema social e sã modi cadas por ele, e as
a utilizar o
outras características são a idade, o sexo e a religião.
termo.

Acentuam o caráter etnocêntrico deste uso da noção de


1952, etnicidade que manifesta, antes de tudo, que tem “o poder
Hughes de nomear”. Falam sobre grupos étnicos (ethnics) ao passo
and Mac que outros, que não fossem originários da comunidade, não
Gill seriam consideradas como membros integrais da sociedade
Hugues local. É dado a partir da pesquisa dos entrevistados brancos,
sobre “de qual país veio a maioria dos seus ancestrais”.

Utilizam etnicidade para designar não a pertença, mas aos


Década de sentimentos que lhe estão associados. De maneira bastante
60 subjetiva, seria o sentimento de formar um povo partilhado
Wallerstein pelos membros ou sentimento de lealdade manifestado em
e Gordon relação aos novos grupos urbanos pelos africanos
destribalizados.

Um tipo de con ito e de reivindicações quali cadas como


étnicas surgem de forma simultânea nas sociedades
industriais e de terceiro mundo e se produzem igualmente
Final da
como pluriétnicas, assim como nas supostamente
década de
culturalmente homogêneas como são regionalismos na
60
França e na Grã-Bretanha, con itos linguísticos no Canadá e
na Bélgica, problemas de nacionalidades no Leste Europeu,
Tribalismo na África.

Década de A partir da Revista Ethnicity, em 74, e por um número


70 impressionante de obras, os temas se multiplicaram,
Basham & caracterizado como indústria acadêmica da etnicidade.
De Groot, Desde a Segunda Guerra Mundial, os con itos étnicos
1977*, levaram à morte em torno de 20 milhões de pessoas. Na
Greeley, mesma época, Connor calculava que quase a metade dos
1974, estados do mundo eram, em graus diversos, tocados por esse
Connor, tipo de con ito, ao passo que Daniel Bell sustentava que com
a destruição dos sistemas imperialistas nos antigos países
1973 e Bell, coloniais e a erosão das antigas estruturas nas autoridades
1975**. ocidentais, a competição entre grupos étnicos estava em
todos os lugares transformada na norma.

O conceito de etnicidade é de nido por aqueles que a


utilizam pela universalidade de seu domínio de aplicação.
Francis,
Deve ser considerada uma dimensão universal das relações
1976
humanas, e não um fenômeno característico dos grupos que
o senso comum de ne como étnicos.

A emergência da categoria étnica pertinente para a ação


social e a crescente tendência de fazer derivar dela lealdades
e direitos coletivos. Impõem cada vez mais a clareza da ideia
de que o grupo étnico (unidade que engloba os indivíduos
de nidos por meio de herança cultural) chegou a concorrer
Brass, 1991,
com a classe (unidade que engloba indivíduos de nidos por
p.19
sua posição comum dentro do circuito de produção) como
categoria fundamental de diferenciação social. A
comunidade étnica “é uma forma alternativa da organização
social de classe, e a etnicidade é uma forma de identi cação
alternativa da consciência de classe.

Fonte: Adaptado de poutignat e Streiff-Fenart (1998, p. 21-27).

Para Mendes (s.d., p. 209):

Etnia existe quando alguns requisitos se encontram preenchidos:


quando um “segmento signi cativo da sociedade é visto como
diferente a partir de combinações de algumas características – língua,
religião, raça, origem, quando “os seus membros percebem-se a si
próprios daquela forma” e, “partilham e partilham” atividades
construídas a volta da sua (real ou mística) origem e cultura comuns”.
(MENDES, s.d, p. 209).

Para Silva M. e Silva S. (2011, p. 213):

Etnia, em sentido restrito, designa, segundo Breton (1983, p. 11), o


conjunto de indivíduos pertencentes à mesma língua materna e, em
sentido amplo, compreende uma comunidade de indivíduos ligados
por traços comuns linguísticos, antropológicos, históricos, políticos,
culturais e religiosos. (BRETON, 1983 apud SILVA M; SILVA S, 2011, p. 213).
Para Poutgnat e Streiff-Fenart (1998, p. 33) “a noção de etnia se encontra mesclada a
outras noções conexas, as de povo, de raça ou de nação, com as quais mantém
relações ambíguas”.

Tanto o conceito de raça quanto o de etnia são hoje ideologicamente manipulados.


É esse duplo uso que cria confusão na mente dos jovens pesquisadores ou
iniciantes. A confusão está justamente no uso não claramente de nido dos
conceitos de raça e etnia que se re etem bem nas expressões tais como as de
“identidade racial negra”, “identidade étnica negra”, “identidade étnico-racial negra”,
etc. (MUNANGA, 2012, p. 13).

Para Munanga (2012, p. 12):

O conteúdo da raça é morfo-biológico e o da etnia é sociocultural,


histórico e psicológico. Um conjunto populacional dito raça “branca”,
“negra” e “amarela”, pode conter em seu seio diversas etnias. Uma
etnia é um conjunto de indivíduos que, histórica ou mitologicamente,
têm um ancestral comum; têm uma língua em comum, uma mesma
religião ou cosmovisão; uma mesma cultura e moram
geogra camente num mesmo território. Algumas etnias constituíram
sozinhas nações. Assim o caso de várias sociedades indígenas
brasileiras, africanas, asiáticas, australianas, etc., que são ou foram
etnias nações. (MUNANGA, 2012, p. 12).

O que distingue a pertença racial da pertença étnica é que a primeira é “realmente”


fundada na comunidade de origem, ao passo que o que funda o grupo étnico é a
crença subjetiva na comunidade de origem. Quanto à nação, ela é, como o grupo
étnico, baseada na crença da vida em comum, mas se distingue deste último pela
paixão (pathos) ligada à reivindicação de um poderio político.

Desta forma, para Weber (1971, p. 416-419 apud POUTGNAT; STREIFF-FENART, 1998, p.
37-38), pode-se assim conceituar:

Grupos étnicos: são grupos que alimentam uma crença subjetiva em uma
comunidade fundada nas semelhanças de aparência externa ou de costumes, ou
dos dois, ou nas lembranças da colonização ou da migração, de modo que esta
crença torna-se importante para a propagação da comunalização, pouco
importando que uma comunidade de sangue exista ou não objetivamente.

Nação: as relações comerciais entre a pátria de origem e a colônia representam


fatores decisivos de subsistência de um sentimento comunitário entre os colonos e
seus compatriotas de origem, apesar da divergência dos patrimônios culturais e dos
tipos hereditários. O fator decisivo continua sendo a comunidade política.
Corresponde ao que ele designa como a forma “mais arti cial” de origem da crença
no parentesco étnico, aquela pela qual uma associação (tal como uma atividade
comum de defesa do território ou de conquista, ou mesmo de uma simples
subdivisão administrativa), transforma-se em comunalização étnica, atraindo um
simbolismo para a comunidade de sangue e favorecendo a emergência de uma
consciência tribal ou eclosão de um sentimento de dever moral ligado à defesa da
pátria.
A Questão Indígena no
Brasil

AUTORIA
Mirian Aparecida Micarelli Struett
Paulo Vitor P. Navasconi
De acordo com a Fundação Nacional do Índio, a FUNAI (2018, on-line), o Brasil possui
uma imensa diversidade étnica e linguística.

São cerca de 220 povos indígenas, mais de 70 grupos de índios isolados, sobre os
quais ainda não há informações objetivas. 180 línguas, pelo menos, são faladas pelos
membros destas sociedades, que pertencem a mais de 30 famílias linguísticas
diferentes. No entanto, é importante frisar que as variadas culturas das sociedades
indígenas modi cam-se constantemente e reelaboram-se com o passar do tempo,
como a cultura de qualquer outra sociedade humana. E é preciso considerar que
isto aconteceria mesmo que não houvesse ocorrido o contato com as sociedades de
origem europeia e africana.

De fato, e atrelado a esse conceito dado ao FUNAI, surgem questionamentos sobre a


personalidade indígena. Mesmo para nós, Brasileiros, a questão sobre sua origem,
sua cultura e seu papel na sociedade parece ainda ser uma incógnita.

Ao questionar a personalidade indígena: “passados 500 anos de convivência sempre


con ituada, o índio continua sendo pouco mais do que um mito brasileiro”. “A nal...”
Pergunta: “... quem são eles? Defensores da ecologia, ou apenas selvagens,
pessimistas suicidas, empresários bem-sucedidos, como os caiapós? Podem ser três,
como os xetás, ou 23 mil, como os ticunas”. E à pergunta: “Para onde vão? ”,
responde: “A resposta não depende deles”. O autor também indaga sobre a
memória no tocante aos destaques indígenas: “A história brasileira não registra um
único herói indígena – nem aqueles que ajudaram os portugueses a conquistar a
terra, como Tibiriçá, que salvou São Paulo, Araribóia, que venceu os franceses, ou
Felipe Camarão”. Este último teria ajudado nos con itos com holandeses.

Ele lembra que houve o Juruna, mas, observa que acabou abandonado em Brasília.
E quanto a Raoni, foi herói de Sting, não brasileiro (MARTINS, 2009, p.15). Calef
(2003, p. 2) inicia sua análise a partir de um questionamento importante: “o que é ser
índio neste momento histórico? ”, posto que “a classi cação do mesmo não remete
a um único grupo étnico e muito menos a uma raça, em que consiste sua
identidade”?

Podemos a rmar que índio além de referir-se a pessoas integrantes de diferenças


de grupos étnicos com um longo período de luta contra a marginalização impostas
pelas políticas coloniais e depois nacionais, e pelos próprios integrantes da cultura
ocidental, foi inicialmente uma identidade atribuída. [...] atribuída por Cristovão
Colombo aos habitantes do território, posteriormente conhecido como América. [...]
acreditando chegar às índias orientais [...] ao deparar-se com os habitantes das terras
passa a chamar-lhes indistintivamente de índios [...] homogeneizando-os como uma
única categoria (CALEFFI, 2003, p. 2).

Com a promulgação do Estatuto do índio, sob a Lei nº 6.001, de 19 de Dezembro de


1973, foi regulamentada a situação jurídica dos índios e silvícolas e das comunidades
indígenas, com o propósito de preservar a sua cultura e integrá-los à comunhão
nacional.
Porém, os índios considerados não integrados cam sob regime tutelar do Estado,
sendo nulos os atos praticados pelos eles. Este Estatuto frisa, no artigo 2º:
I - estender aos índios os benefícios
da legislação comum, sempre que
possível a sua aplicação;

II - prestar assistência aos índios e às


comunidades indígenas ainda não
integrados à comunhão nacional;

III - respeitar, ao proporcionar aos


índios meios para o seu
desenvolvimento, as peculiaridades
inerentes à sua condição;

IV - assegurar aos índios a


possibilidade de livre escolha dos
seus meios de vida e subsistência;

V - garantir aos índios a


permanência voluntária no seu
habitat, proporcionando-lhes ali
recursos para seu desenvolvimento e
progresso;

VI - respeitar, no processo de
integração do índio à comunhão
nacional, a coesão das comunidades
indígenas, os seus valores culturais,
tradições, usos e costumes;

VII - executar, sempre que possível


mediante a colaboração dos índios,
os programas e projetos tendentes a
bene ciar as comunidades
indígenas;

VIII - utilizar a cooperação, o espírito


de iniciativa e as qualidades pessoais
do índio, tendo em vista a melhoria
de suas condições de vida e a sua
integração no processo de
desenvolvimento;

IX - garantir aos índios e


comunidades indígenas, nos termos
da Constituição, a posse
permanente das terras que habitam,
reconhecendo-lhes o direito ao
usufruto exclusivo das riquezas
naturais e de todas as utilidades
naquelas terras existentes;

X - garantir aos índios o pleno


exercício dos direitos civis e políticos
que em face da legislação lhes
couberem (BRASIL, 1973, on-line).

@Rodrigo Farhat em Pixabay

SAIBA MAIS
De acordo com a FUNAI (2020, on-line):

No que diz respeito à identidade étnica, as mudanças ocorridas em


várias sociedades indígenas, como o fato de falarem português,
vestirem roupas iguais às dos outros membros da sociedade nacional
com que estão em contato, utilizarem modernas tecnologias (como
câmeras de vídeo, máquinas fotográ cas e aparelhos de fax), não fazem
com que percam sua identidade étnica e deixem de ser indígenas.

Atualmente, no Brasil, a questão indígena está em evidência, marcada por uma série
de con itos entre índios e produtores rurais, envolvendo um tema que não é novo: a
falta de direitos de propriedade privada sobre terras indígenas (SANTORO, 2013, on-
line).

[...] eles não possuem direito de propriedade privada sobre a terra


demarcada, sendo sempre coletiva, de todos, e tutelada em conjunto
com a FUNAI. A Constituição vai mais longe e proíbe a comercialização
dessas terras (art. 231, § 4o), o que é um desperdício tanto para os índios
quanto para os produtores brancos, empobrecendo toda a sociedade
brasileira, independentemente da sua etnia (SANTORO, 2013, on-line).

De acordo Martins (2009), os con itos territoriais são marcados por violência e são
extremamente desfavoráveis aos indígenas, não somente pelo fato da perda
territorial, mas também da perda de sua própria identidade alterada, quando não
extinta. “Extintas, dizimadas também o foram várias comunidades ao longo da
busca desenfreada de determinados grupos em busca de vantagens nanceiras,
ausentes em si de escrúpulos com os índios” (MARTINS, 2009, p. 9).

Atualmente, com a preocupação mundial, com as questões socioambientais, o índio


se torna alvo também como fator preponderante em relação à natureza e às suas
chances de sobrevivência. De acordo com Martins (2009), é comprovado que sua
cultura não é depredadora, pois eles tiram da terra exatamente o que precisam, sem
degradá-la, deixando de tal modo intacto para que as futuras gerações possam
também dela satisfazer as suas necessidades.

O índio se vê envolvido em um grande choque cultural, buscando adequar-se à


natureza da cultura branca, cercados por todas as vantagens tecnológicas ou
materiais. Além disto, segundo o portal da FUNAI (2020, on-line), as populações
indígenas são vistas de maneira preconceituosa e, às vezes, de forma idealizada.

Dominadas política, ideológica e economicamente por elites municipais com fortes


interesses nas terras dos índios e em seus recursos ambientais, tais como madeira e
minérios, muitas vezes as populações rurais necessitam disputar as escassas
oportunidades de sobrevivência em sua região com membros de sociedades
indígenas que aí vivem. Por isso, utilizam estereótipos, chamando-os de “ladrões”,
“traiçoeiros”, “preguiçosos” e “beberrões”, en m, de tudo que possa desquali cá-los.

Procura justi car, desta forma, todo tipo de ação contra os índios e a invasão de seus
territórios. [...] Só recentemente os diferentes segmentos da sociedade brasileira
estão se conscientizando de que os índios são seus contemporâneos. Eles vivem no
mesmo país participa da elaboração de leis, elegem candidatos e compartilham
problemas semelhantes, como as consequências da poluição ambiental e das
diretrizes e ações do governo nas áreas da política, economia, saúde, educação e
administração pública em geral. Hoje, há um movimento de busca de informações
atualizadas e con áveis sobre os índios, um interesse em saber, a nal, quem são
eles.
Re ita sobre Alguns Dados
Estatísticos sobre a
População Indígena

AUTORIA
Mirian Aparecida Micarelli Struett
Paulo Vitor P. Navasconi
Segundo Povos Indígenas do Brasil PIB (2012) estima-se que existam hoje no mundo
pelo menos 5 mil povos indígenas, somando mais de 370 milhões de pessoas
(IWGIA, 2015). No Brasil, até meados dos anos 70, acreditava-se que o
desaparecimento dos povos indígenas seria algo inevitável.

Nos anos 80, veri cou-se uma tendência de reversão da curva demográ ca e, desde
então, a população indígena no país tem crescido de forma constante, indicando
uma retomada demográ ca por parte da maioria desses povos, embora povos
especí cos tenham diminuído demogra camente e alguns estejam até ameaçados
de extinção. Na listagem de povos indígenas no Brasil elaborada pelo ISA, sete deles
têm populações entre 5 e 40 indivíduos.

Dos 256 povos listados pelo ISA, 48 têm parte de sua população residindo em
outro(s) país(es). Quando há informações demográ cas a respeito, essas parcelas
são contabilizadas e apresentadas separadamente, segundo a fonte da informação,
e não contam na estimativa global para o Brasil.

Segundo o Censo IBGE 2010, os mais de 305 povos indígenas somam 896.917
pessoas. Destes, 324.834 vivem em cidades e 572.083 em áreas rurais, o que
corresponde aproximadamente a 0,47% da população total do país.

Outras constatações do censo a respeito da população indígena


foram:

Há mais mulheres nas áreas urbanas e mais homens na zona rural;


São altas as taxas de fecundidade e mortalidade nas comunidades
indígenas;
Os indígenas que habitam fora de suas terras apresentam baixa
taxa de fecundidade e mortalidade;
Apesar de ter melhorado a taxa de alfabetização, as comunidades
ainda apresentam nível educacional baixo quando comparadas à
população não indígena;
Na zona rural, aproximadamente 38,4% das crianças indígenas não
possuíam certidão de nascimento;
52,9% dos indígenas não possuíam nenhum tipo de renda.
NA PRÁTICA
Segundo relatório da ONU, os povos indígenas têm enfrentado
discriminação e negação dos seus direitos especialmente associados às
mudanças no cenário político. Em 2007, 92 indígenas foram
assassinados, aumentando para 138 o número em 2014. O estado do
Mato Grosso do Sul é o que apresenta o maior número de assassinatos.

Quadro 2 - Etnias e suas populações, segundo o IBGE

Nome da etnia População

Tikúna 46045

Guarani Kaiowá 43401

Kaingang 37470

Macuxí 28912

Terena 28845

Tenetehara 24428

Yanomámi 21982

Potiguara 20554

Xavante 19259

Pataxó 13588

Fonte: Mundo Educação (2017)


SAIBA MAIS
Em 1910, foi criado o Serviço de Proteção ao Índio, sendo, portanto, o
órgão federal responsável pela política indigenista. Já em 1967, foi criado
a Fundação Nacional do Índio (Funai), cuja função está relacionada à
delimitação, à demarcação, à regularização e ao registro das terras
indígenas. É também de responsabilidade do órgão coordenar e
implementar as políticas de proteção aos povos indígenas.

Segundo relatório da ONU, os povos indígenas têm enfrentado


discriminação e negação dos seus direitos especialmente associados às
mudanças no cenário político. Em 2007, 92 indígenas foram
assassinados, aumentando para 138 o número em 2014. O estado do
Mato Grosso do Sul é o que apresenta o maior número de assassinatos.

Ainda no que se refere aos dados publicados pela Funai, a população


indígena em 1500 era de aproximadamente 3.000.000 habitantes
divididos entre 1.000 povos diferentes, sendo que aproximadamente
2.000.000 estavam estabelecidos no litoral do país e 1.000.000 no
interior. Em 1650, esse número caiu para cerca de 700.000 indígenas,
chegando a 70.000 em 1957. De acordo com Darcy Ribeiro, um
antropólogo brasileiro conhecido por estudar os índios, cerca de 80
povos indígenas desapareceram no Brasil no século XX.

Fonte: FUNAI, 2018.


A História e Cultura Afro-
brasileira e Africana

AUTORIA
Mirian Aparecida Micarelli Struett
Paulo Vitor P. Navasconi
A história e cultura Afro-Brasileira e Africana tem aspectos culturais pluriétnicos que
os representam e os levam a uma nova civilização. De acordo com Prandi (2000),
aqui em uma síntese histórica, foi assim engendrada:

Entre 1525-1851: mais de cinco milhões de africanos foram trazidos para o Brasil
na condição de escravos (CONRAD, 1985, p. 34-43 apud PRANDI, 2000.
Não se tratava de um povo, mas de uma multiplicidade de etnias, nações,
línguas, culturas. Povos da África se classi caram em dois grupos linguísticos
sudaneses e bantos que se diversi caram em várias linguagens no Brasil.
Como a economia brasileira colonial vai se modi cando, a demanda por
escravos também vai mudando geogra camente.
Como escravizados, no século XVIII, grande parte era destinada ao Engenho
(Pernambuco e Bahia). Com a descoberta do Ouro em Minas no século XVIII –
Ciclo de Ouro (MG). Com a demanda agrícola – fumo e cacau (BA e Sergipe), no
Rio de Janeiro Cana e café, Cana e algodão (Maranhão e Pará), Café (PE,
Alagoas e Sergipe) Cana e café em São Paulo, Mineração (MG e MGS) e cultivo
de café em ES e agricultura no Rio Grande do Sul.
Em todos os lugares, realizavam serviços domésticos, organizados no complexo
senzala.

Século XIX – mercados de serviços realizavam serviços urbanos em espólio aos


seus senhores. Com a expansão da força de trabalho e a emancipação, o
trabalhador escravo se urbaniza e amplia suas relações sociais, com novas
formas de sociabilidade.
Havia ainda o trá co ilegal, com preferência aos bantos, demonstrando a
preferência cultural. Como a carga era vendida aberta por peça a peça, era
comum a desagregação e dispersão, e que poderiam ter a mesma origem,
obrigados a conviver com a miscelânea linguística e cultural e, além de tudo,
submetida à cultura brasileira em formação de língua e costumes de tradição
portuguesa.
Casamentos entre nações, miscigenação entre brancos e índios, promoveram
com intensidade o apagamento das diferentes culturas africanas.
Com o m do trá co em 1850, há uma nova etapa no desenvolvimento da
economia e pujança do café continuava a demandar mão de obra escrava até
1888, com a abolição da escravatura. Calculavam-se trezentos mil o número de
escravos transferidos de um lugar a outro (CONRAD, 1985, p. 212 e 217 apud
PRANDI, 2000).
O Ceará a seco teve que se desfazer de toda a escravaria, pois restava vendê-los
para poder comprar comida para seu sustento, vindo a se tornar o mais branco
dos estados brasileiros, não só racialmente, mas culturalmente e mais católico.
Escravos urbanos e negros livres eram divididos em nações. No exército, os
soldados negros formavam minas, ardras, angolas e crioulos. Na confraria
negra Católica, na Bahia, eram iorubás. Organizações de ajuda mútua que
ajudavam o negro livre, tomado a sorte, para retorno a origem africana e a
preparar-se para as revoltas.
Com o m da escravidão, parece que a população negra, na tentativa de se
integrar na sociedade brasileira, não como africana, mas brasileiros
desinteressado de suas próprias origens – passando agora a serem chamados
simplesmente como negros africanos de origem africana.

As misturas étnicas se realizaram em todas as partes da América, formando um


novo tipo de negro, que apagou as suas origens; por outro lado, as nações,
como tradições culturais, foram preservadas: candomblé, no Brasil; santeria,
em Cuba; Vodus, no Haiti – cada grupo religioso compreendendo variantes
rituais, pelo nome de antigas etnias africanas.
Por volta do século XIX, com a presença de escravos, negros libertos e seus
descendentes da cidade, mais integrados entre si, maior liberdade de
movimento e maior capacidade de organização, de forma que, mesmo o
escravo não estava preso ao domicílio, podendo agregar-se em residências
coletivas, vivendo com seus iguais e línguas vivas em razão da chegada. Criou-
se, no Brasil, a reconstituição cultural mais bem acabada de negro no Brasil,
capaz de preservar até os dias de hoje, a religião afro-brasileira.
Neste mesmo século, surgiram grupos que recriavam e reproduziam os cultos
africanos e diversas formas de manifestação da religião, com o fortalecimento
do candomblé no século XX.
Seus aspectos de origem africana compunham, na década de 70, um
redimensionamento da herança africana na música. A valorização da cultura
negra no Brasil ocorreu juntamente com a formação dos movimentos de
minorias, as quais os negros manifestavam avivando os afrodescendentes a
questão da origem e da identidade.
Durante séculos de integração, miscigenação e branqueamento (físico e
cultural), setores da população negra questiona e são questionados sobre sua
condição.
Mesmo que o negro se expresse para a rmar a sua negritude, a sua condição
africana, ainda que o passado ancestral perdido seja a África pluriétnica,
multicultural, o passado recuperável é aquele que o Brasil logrou incorporar a
construção de uma nova civilização.
Relações Raciais e Mito da
Democracia Racial

AUTORIA
Mirian Aparecida Micarelli Struett
Paulo Vitor P. Navasconi
Na atualidade, veri cando o contexto histórico social, percebemos que “não há
dúvida de que o passado escravocrata tem re exos sobre as relações sociais,
econômicas e raciais no Brasil”. Por muitos anos, os negros e afrodescendentes
foram vistos e tratados como inábeis para exercer funções privilegiadas, além de não
serem tratados como iguais a outros indivíduos brancos, também nos espaços
públicos e Instituições de ensino (ARAUJO, 2010, p. 124, grifos nossos).

Há ainda o agravante de essa circunstância de discriminação se repetir e ser


reforçada pelos meios de comunicação, fato que ajuda a reproduzir e aumentar a
condição de desigualdade em que está o negro no Brasil. A partir dos elementos
históricos, do modo como se deu a mudança de trabalho escravo para o trabalho
livre, da permanência da desigualdade racial, é possível compreender a lógica do
racismo nas relações sociais do país. Tal racismo é conformado a partir de dados
históricos e atualmente reproduzido de modo velado, mas persiste em nossa história
contemporânea.

Nesta perspectiva, é importante que você aluna e aluno compreenda que a


desigualdade e o preconceito racial têm origens históricas; seu princípio se
fundamenta na escravidão negra praticada durante 300 anos neste país. Nestes três
séculos, “o negro foi considerado como uma peça, um objeto de trabalho que
poderia ser comprado, usado e vendido de acordo com os desejos do proprietário”
(ARAUJO, 2010, p. 120).

Não obstante, não eram levados em consideração fatores importantes, por exemplo,
saúde, condições de trabalho, alimentação e organização familiar. Assim, mães eram
separadas de sua família; crianças eram postas em atividades pesadas; mulheres
levadas à prostituição; e os escravos trabalhavam até a exaustão, estando ainda
sujeitos aos castigos de seus donos (ARAUJO, 2010, p. 121).

Depois da supressão das leis do apartheid na África do sul, não existe mais, em
nenhuma parte do mundo, um racismo institucionalizado e explícito. O que signi ca
que os Estados Unidos, a África do Sul e os países da Europa ocidental se encontram
todos hoje no mesmo pé de igualdade com o Brasil, caracterizado por um racismo
de fato e implícito, às vezes sutis (salvo a violência policial que nunca foi sutil). Os
americanos evoluíram relativamente em relação ao Brasil, pois além da supressão
das leis segregacionistas no Sul, eles implantaram e incrementaram as políticas de
“ação a rmativa”, cujos resultados na ascensão socioeconômica dos afro-
americanos são inegáveis. Os sul africanos evoluíram também, pois colocaram m
às leis do apartheid e estão hoje no caminho de construção de sua democracia, que
eles de nem como uma democracia “não racial” (MUNANGA, 2012, p. 11).

Para Araujo (2010, p. 128), “o mito da democracia racial é componente formador da


sociedade brasileira e a partir dos seus traços acredita-se que no Brasil não haja
racismo nem preconceito de cor”, ou seja, que não existem diferenças raciais. Para
Fernandes (1978 apud ARAUJO, 2011), ele é sim resultante de uma construção, criada
para satisfazer os interesses das elites brasileiras, compostas por indivíduos da “raça
branca” e que serve para evitar o con ito entre os diferentes grupos étnicos.
O mito das diferenças raciais está baseado na ideia de que não existem diferenças
raciais, mas sim, de classes sociais, as quais explicariam as diferenças econômicas e
de oportunidade de vida entre os indivíduos, isolando o elemento cor como
de nidor da condição social dos indivíduos. Ademais, ele contém a ideia de que o
Brasil é um país miscigenado, sendo assim, difícil – “quase impossível” – discernir
“quem é branco e quem é negro, motivo pelo qual a miscigenação seria vista
positivamente como um traço de assimilação e de tolerância do povo brasileiro, que
se relacionaria sem dar demasiada importância a cor do parceiro” (ARAUJO, 2010, p.
129).

Independentemente dos aspectos da miscigenação, retomando o tema sobre o


mito da democracia racial, percebemos quão presente está nos ideários de nossas
relações sociais, encobrindo reais características de nossa sociedade, que
objetivamente tem na cor um elemento para discriminar e excluir alguns indivíduos,
principalmente os negros e afrodescendentes (empregos, relacionamento no
trabalho, educação, infraestrutura etc.).

Dentro desse quadro – marcado pela presença do mito da democracia


racial – os negros passam de vítimas de uma sociedade racista e
discriminatória à condição de réus. Seriam incapazes de ascender
social e economicamente porque seriam preguiçosos, por não
gostarem de estudar e preferirem sair das escolas, por não se
esforçarem bastante em suas atividades pro ssionais, por preferirem
cantar e sambar a trabalhar exaustivamente como fazem, por exemplo,
os imigrantes portugueses, italianos ou japoneses quando chegam ao
Brasil. Estes são fortes estereótipos que escamoteiam a realidade,
auxiliam na manutenção secular da desigualdade racial presente no
Brasil e di cultam a discussão para a posterior implantação de ações
compensatórias que proporcionem maior igualdade entre brancos e
negros em nosso país (ARAUJO, 2010, p. 131).

Depois da divulgação de sucessivas pesquisas do IBGE e do IPEA mostrando a


situação desigual entre negros e brancos, a “democracia racial” já não se sustenta.
como a rma Telles (2003 apud CARVALHO, 2009, p. 85-86):

Os defensores da tese do “racismo cordial” precisam de novos argumentos. A


a rmação, sempre progressiva, de que não existem raças humanas, agora que está
em discussão a adoção de políticas de ação a rmativa como iniciativa para
minimizar a situação de exclusão causada pela escravidão e pelas práticas racistas
cotidianas a que foram submetidos os negros e os índios, as maiores vítimas do uso
tanto cientí co como ideológico da ideia da raça, pode acabar assumindo as cores
do reacionarismo se for utilizado como argumento contrário à institucionalização
dessas medidas.

O discurso – aparentemente sintonizado com as mais humanitárias teses do


Iluminismo – de que a raça humana é uma só e por isso não há sentido em que uma
parcela se bene cie de tratamento diferenciado, neste momento só serve para erigir
mais obstáculos a transformação dessa sociedade, criando di culdades para que ela
se torne elo menos um pouco mais justa, na medida em que fornece argumento
para que as mudanças na nossa pirâmide social, mesmo mínimas, não sejam
efetivadas e a melanina continue colorindo apenas a sua extensa base, deixando,
convenientemente, intocado o estreito cume.

De acordo com Munanga (2012, p. 13), no Brasil “o mito de democracia racial


bloqueou durante muitos anos o debate nacional sobre as políticas de ‘ação
a rmativa’ e também o mito do sincretismo cultural ou da cultura mestiça” – na
qual podemos inserir os índios – que é representada nacionalmente, atrasando
também a implantação do multiculturalismo.

REFLITA
A IMPORTÂNCIA DA DIVERSIDADE NAS ORGANIZAÇÕES

Ter uma força de trabalho multicultural é a melhor solução que


qualquer empresa pode adotar. Para além de ser eticamente correto, é
uma solução que só traz vantagens. Dá-se igual oportunidade a
qualquer pessoa sem a prejudicar por ela ter uma cultura, religião, etnia
ou loso a de vidas diferentes.

Nos dias atuais, para manter a competitividade, a empresa precisa atrair


e reter talentos de um amplo espectro de grupos de idade, gêneros,
culturas e etnias.

Hoje, a falta de diversidade é um problema para uma empresa e


demonstra que ela pode não atuar da maneira mais efetiva no
mercado. Diversidade tem a ver com qualidade, produtividade e
sucesso.

Apostar em diversidade é apostar em enriquecimento cultural para a


empresa. Pessoas com diferentes origens, crenças, etnias, classes
sociais, entre outros, quando parte de um mesmo propósito, podem
compartilhar idéias e visões tão diferentes – e ricas – e encontrar
soluções que não seriam possíveis se todos tivessem vivências
parecidas.

GELEDÉS (2018)
Conclusão - Unidade 3

Caro(a) aluno(a)! Espero que esta unidade tenha elucidado suas dúvidas sobre os
diversos conceitos que envolvem as questões étnico-raciais, a sociedade e as
organizações de forma geral. Como você pôde perceber, não foi nosso objetivo
aprofundar o assunto sobre o multiculturalismo existente em nosso país, sequer
como estão internacionalmente.

Como condição sine qua non, tratamos do assunto sobre os diversos conceitos acerca
da Etnicidade, o que culminou em uma discussão sobre racismo, dado à sinonímia
dos termos etnia e raça.

Apesar da profundidade que requereria a discussão sobre a história e cultura Afro-


Brasileira e Africana, bem como a questão sobre os indígenas de nosso país, zemos
uma breve síntese histórica apenas retratando alguns pontos fundamentais, como
seu modo de produção e condição de trabalho, entre outros poucos aspectos
históricos. Essa síntese culmina na discussão sobre o Mito da Democracia Racial, de
maneira que cou claro a existência da desigualdade social em nossa sociedade.

A sociedade busca saldar suas dívidas sociais por meio das ações a rmativas e
políticas de reparações e compensações, pois conforme visualizamos no contexto
sobre afro-brasileiros e Africanos que culminaram em uma nova Cultura e, não
obstante, o mesmo tratamento foi dado à questão indígena, esses foram, e alguns
ainda o são, marcados historicamente pela desigualdade social promovida,
principalmente, pelas relações sociais e econômicas, de forma preconceituosa e
imbuída de desrespeito identitários, como pudemos perceber na discussão sobre o
mito da democracia racial.

Leitura Complementar
Em Para entender o negro no Brasil de hoje: histórias, realidades, problemas e
caminhos, Kabengele Munanga e Nilma Lino Gomes focalizam alguns exemplos da
resistência negra após abolição. É importante destacá-los para re etir sobre o
processo de luta do povo negro no Brasil e desmisti car a ideia de que após a
assinatura da Lei Áurea (que aboliu a escravidão) a situação dos negros, descendentes
de africanos escravizados no Brasil, tomou-se harmoniosa e estável. Esta ideia ainda
paira em nosso imaginário social.

Dê um click para ler o texto na íntegra:

MUNANGA, Kabengele; GOMES, Nilma Lino. Para entender o negro no


Brasil de hoje: histórias, realidades, problemas e caminhos. São Paulo:
Global; Ação Educativa, 2004.

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Unidade 4
Políticas Públicas e a
Diversidade Cultural

AUTORIA
Mirian Aparecida Micarelli Struett
Paulo Vitor P. Navasconi
Introdução
Nesta unidade falaremos sobre as políticas públicas e a diversidade cultural, isto é,
os estudos e fatos cientí cos tentam explicitar os aspectos pluriétnicos em suas
mais variadas dimensões.

Dessa forma, a ideia inicial é levá-lo(a) a uma re exão sobre os contextos históricos e
culturais das nações étnicas presentes no Brasil, bem como a re exão acerca da
relação educação, diversidade, relações étnico-raciais e organizações. Não temos a
pretensão de esgotar as re exões possíveis , mas apresentaremos conceitos
pertinentes para analisar a temática.

Serão apresentados a você, caro(a) estudante, os conceitos de diversidade e ações


a rmativas e da consciência política, que culminará sobre a política de reparações e
compensações em que as leis, a constituição federal e o governo, por meio das
políticas públicas e programas, realizam, bem como será demonstrado como as
empresas estão atuando em relação às diversidades e ações a rmativas, dando uma
ênfase especial à questão dos afro-brasileiros e africanos.

Bons estudos, e excelentes re exões!


A Educação, Políticas
Públicas e as Relações
Étnico-raciais

AUTORIA
Mirian Aparecida Micarelli Struett
Paulo Vitor P. Navasconi
De acordo com Navasconi e Moscheta (2020) pensar sobre a formação, a relação
educação, políticas públicas e as relações étnico-raciais é um desa o necessário a
ser enfrentado dentro de um contexto nacional que ainda não superou o nefasto
legado do processo de escravização.

Conforme Bicharra (2015) quando se procura entender sobre a educação das


relações raciais no Brasil, deve se destacar dois pontos importantes: o primeiro é
estudar os poucos registros sobre a educação para negros no Brasil e o segundo é
ler e estudar sobre a história da educação brasileira analisando e problematizando
questões que foram omitidas, silenciadas ou distorcidas, entendendo que a história
é contada por aqueles que vencem as batalhas. (GUIMARÃES, 1996).

No Brasil, as discussões sobre políticas públicas voltadas para a ascensão dos negros
no país, é muito recente, data de 1996, quando o Ministério da Justiça realiza em
julho deste mesmo ano, um Seminário Internacional sobre “Multiculturalismo e
Racismo: o papel da ação a rmativa nos estados democráticos contemporâneos”.
Segundo Guimarães, (1996), foi a primeira vez que um governo brasileiro admitiu
discutir políticas públicas especi camente voltadas para a ascensão dos negros no
Brasil.

Neste sentido, veri ca-se no período histórico que os processos educacionais no


contexto brasileiro foram repensados. Ou seja, passou-se a pensar e pontuar a
necessidade de se compreender os fenômenos sociais, culturais, políticos e
econômicos de modo crítico e contextualizado, bem como que contemple as
necessidades sociais, de gênero e sexualidades, os direitos humanos, as questões
étnico-raciais e dentre outros marcadores.

Logo é neste cenário que as políticas públicas ganham espaços e notoriedade, haja
vista que as “políticas públicas designam como a intervenção do Estado no
ordenamento da sociedade, por meio de ações jurídicas, sociais e administrativas”
(RODRIGUES, 2010).

A noção de política pública geralmente é usada para se referir a proposições,


medidas e ações do governo dirigidas aos problemas de uma determinada
população na tentativa de gerir soluções, relacionada ao Estado democrático
moderno (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2007). É, ao mesmo tempo, uma
forma de colocar o governo em ação uma vez que os problemas podem ser
colocados em pauta, na agenda pública, pela sociedade civil (SOUZA, 2006;
BRIGAGÃO, NASCIMENTO, SPINK, 2011).

Essa mudança no âmbito social e sobretudo curricular, de formação e atuação


produziu inúmeros efeitos, avanços e progressos, isto é, as transformações foram
tantas e de diferentes ordens que permitiram olhar a educação brasileira enquanto
uma estrutura plural indicando uma diversidade de teorias, técnicas e modos de
conceber os fenômenos sociais (NAVASCONI, MOSCHETA, 2020).
Portanto, para Cunha e Cunha (2002), as políticas públicas têm sido criadas como
resposta do Estado às demandas que emergem da sociedade e do seu próprio
interior, sendo a expressão do compromisso público de atuação numa determinada
área em longo prazo. Em outras palavras, a política pública surge quando há uma
demanda, ou seja, um problema, e através desse problema é que ocorre a
fundamentação, neste caso, as leis, que através destas tornam-se políticas públicas.
A política pública é um dever do Estado, porém emerge em muitas vezes da
reivindicação social (BICHARRA, 2015).

Bicharra (2015) pontua que no Brasil não existe uma discriminação racial de maneira
o cializada, ou seja, inscrita na lei. Contudo:

A constituição é clara quando diz não ser admissível qualquer exclusão


de um cidadão ou cidadã, seja ela por seu sexo, raça, cor ou religião.
Como diz no Art. 5 da Constituição Federal de 1988: “Todos são iguais
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...]”
(BRASIL, 1988, p. 15).

No entanto, há a discriminação sim, só que esta se faz presente de maneira informal


e velada. Deste modo, é necessário que exista uma legislação que proteja os direitos
humanos, prevendo punição para a prática da discriminação racial e para o crime do
racismo. Porém só a legislação não é o su ciente, ela é sem dúvida de grande valia,
mas acima de tudo é fundamental que junto a ela sejam somadas políticas efetivas
de combate à discriminação racial e de um processo de reeducação frente às
diferenças.

O combate à discriminação e ao preconceito pode ser realizado de


duas maneiras básicas: através da Legislação Penal, com a criação de
leis que penalizem os atos discriminatórios; e por meio da promoção de
igualdades de oportunidades ou ações a rmativas (BICHARRA, 2015, p.
7).

Sendo assim, para compreender a necessidade de uma ação a rmativa, é preciso,


antes de tudo, compreender o contexto social vivido por um país, por isso o que gera
preconceito por parte de setores da sociedade em muitos casos é analisar uma ação
a rmativa sem antes entender o histórico que precedeu a política pública.

Deste modo, esperamos que você leitor e leitora possa compreender que ao falar
sobre ações a rmativas automaticamente pensem que se refere a um conjunto de
ações privadas e/ou políticas públicas que tem como objetivo reparar os aspectos
discriminatórios que impedem o acesso de pessoas pertencentes a diversos grupos
sociais às mais diferentes oportunidades. Uma ação a rmativa não deve ser vista
como um benefício, ou algo injusto. Pelo contrário, a ação a rmativa só se faz
necessária quando percebemos um histórico de injustiças e direitos que não foram
assegurados.

Portanto, re ro-me às ações a rmativas, no Brasil, como políticas públicas que se


destinam a corrigir uma história de desigualdades e desvantagens sofridas por um
grupo étnico-racial frente a um Estado nacional que o discriminou negativamente.
Devido a isso, o que motiva essas políticas é a ideia de que essas desigualdades
tendem a se perpetuar caso o Estado continue utilizando os mesmos princípios
considerados universalistas (mas que, na prática, favorecem só a alguns setores da
sociedade) com que vem operando até agora na distribuição de recursos e
oportunidades para as populações que contam com uma história secular de
discriminação.

Por sua vez, as ações a rmativas de acordo com Munanga e Gomes (2004), podem
ser entendidas como políticas de combate ao racismo e à discriminação racial, que
por sua vez, busca promover ativamente a igualdade de oportunidades para todos,
instituindo meios que façam com que os grupos socialmente discriminados tenham
as mesmas chances e condições de vivência digna e livre dentro da sociedade. Tais
ações podem ser compreendidas como um conjunto de políticas, ações e
orientações públicas ou privadas, de caráter compulsório, facultativo ou voluntário,
cujo intuito consiste na correção de desigualdades que historicamente têm sido
impostas, gerando discriminação e exclusão em determinados grupos sociais e ∕ ou
étnico-raciais.

Trata-se de uma transformação de caráter político, cultural e


pedagógico. Ao implementá-las, o Estado, o campo da Educação e os
formuladores de políticas públicas saem do lugar de suposta
neutralidade na aplicação das políticas sociais e passam a considerar a
importância de fatores como sexo, raça e cor nos critérios de seleção
existentes na sociedade. Nesse sentido, as políticas de ação a rmativa
têm como perspectiva a relação entre passado, presente e futuro, pois
visam corrigir os efeitos presentes da discriminação praticada no
passado, tendo por m a concretização do ideal de efetiva igualdade e
a construção de uma sociedade mais democrática para as gerações
futuras. (MUNANGA; GOMES, 2004, p. 186).

Nesta perspectiva, pode-se a rmar que discutir sobre educação das relações raciais
é também assumir uma postura política, uma vez que é através do debate social
que ocorre a mudança de mentalidade. A ruptura de preconceitos existentes nas
discussões acerca da inserção social, cultural, histórica e política acerca dos povos
afrodescendentes, nos levam a pensar na urgência de incluir esses povos no âmbito
escolar. Se a maioria da população brasileira é composta por negros e estes cam
exclusos das políticas públicas, logo signi ca que não haverá no país
desenvolvimento na democracia e nem tampouco avanços sociais.
Os Negros na Educação
Brasileira e nos
Movimentos Sociais

AUTORIA
Mirian Aparecida Micarelli Struett
Paulo Vitor P. Navasconi
Segundo Domingues (2007) é possível dividir a história política do movimento negro
em três fases principais. A primeira faz do que hoje em dia chamamos de
Movimento Negro se deu entre a Primeira República ao Estado Novo (1889 a 1937)
diversas entidades foram criadas, como clubes negros, jornais escritos por e para
negros, comunidades e grêmios. A entidade que mais se destacou foi a Frente
Negra Brasileira (FBN) criada em 1936 desenvolveu várias ações combatendo a
discriminação racial, como por exemplo, a criação de escolas voltadas
especi camente para a população negra. Já em 1936 a FBN tornou-se partido
político de extrema direita.

Um segundo momento, foi entre a Segunda República e ditadura civil militar (1945 –
1964) dessa época, um dos principais agrupamentos foi a União dos Homens de Cor.
Também intitulada Uagacê ou simplesmente UHC, foi fundada por João Cabral
Alves, em Porto Alegre, em janeiro de 1943. Já no primeiro artigo do estatuto, a
entidade declarava que sua nalidade central era “elevar o nível econômico, e
intelectual das pessoas de cor em todo o território nacional, para torná-las aptas a
ingressarem na vida social e administrativa do país, em todos os setores de suas
atividades” (DOMINGUES, 2004).

Segundo Domingues (2004) na segunda metade da década de 1940, ela abriu


sucursal ou possuía representantes em pelo menos 10 Estados da Federação (Minas
Gerais, Santa Catarina, Bahia, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Sul, São Paulo, Espírito
Santo, Piauí e Paraná), estando presente em inúmeros municípios do interior.
Somente no estado do Paraná, a UHC mantinha contato com 23 cidades em 1948.
Em linhas gerais, sua atuação era marcada pela promoção de debates na imprensa
local, publicação de jornais próprios, serviços de assistência jurídica e médica, aulas
de alfabetização, ações de voluntariado e participação em campanhas eleitorais.

Outro agrupamento importante foi o Teatro Experimental do Negro (TEM), fundado


no Rio de Janeiro, em 1944, e que tinha Abdias do Nascimento como a sua principal
liderança. Segundo CFP (2017) O TEN teve como alicerce três eixos a rmativos: o do
resgate e fortalecimento da identidade cultural negra africana; do poder negro e a
luta pela liberdade dos povos africanos colonizados e do diálogo interétnico entre
diferentes povos.

TEN foi de suma importância na luta internacionalmente contra o colonialismo, o


imperialismo e o racismo. A proposta original era formar um grupo teatral
constituído apenas por atores negros, mas progressivamente o TEN adquiriu um
caráter mais amplo: publicou o jornal Quilombo, passou a oferecer curso de
alfabetização, de corte e costura; fundou o Instituto Nacional do Negro, o Museu do
Negro; organizou o I Congresso do Negro Brasileiro; promoveu a eleição da Rainha
da Mulata e da Boneca de Pixe; tempo depois, realizou o concurso de artes plásticas
que teve como tema Cristo Negro, com repercussão na opinião pública
(DOMINGUES, 2004).

Com o golpe militar de 1964 veri cou-se uma desarticulação e uma coalização de
forças no que tange o combate e enfrentamento do preconceito de cor, sendo
assim, a discussão acerca da questão racial foi praticamente excluída. O terceiro
momento foi marcado pelo surgimento do Movimento Negro Uni cado (MNU) em
1978. Momento este em que o movimento passou-se a construir discursos
radicalmente contra o racismo e a favor de uma melhor qualidade de vida para a
população negra, visando o estabelecimento de uma identidade étnico-racial
especí ca do negro.

Em 2001 o Brasil participou da Conferência Mundial contra o Racismo,


Discriminação Racial, Xenofobia e Formas Conexas de Intolerância em Durban,
África do sul, nela se estabeleceu como prioridade e dever:

(a) Adoção de medidas reparatórias às vítimas do racismo, da


discriminação racial e de formas conexas de intolerância, por meio de
políticas especí cas para a superação da desigualdade; (b) Criação de
um fundo de reparação social gerido pelo Governo e pela sociedade
civil destinado a nanciar políticas de cunho inclusivo no âmbito da
educação; (c) Proposição de emenda ao art. 45 da Lei de Licitações
Públicas, de modo a possibilitar que, uma vez esgotados todos os
procedimentos licitatórios, con gurando-se empate, o critério de
desempate, de nido até então por sorteio, fosse substituído pelo
critério de maior presença vertical de negros(as), homossexuais e
mulheres no quadro funcional dos licitantes; (d) Adoção de cotas ou
outras medidas a rmativas que promovam o acesso dos negros às
universidades públicas (CFP, 2017, p. 65/66).

Essa conferência veio na tentativa de reparar os danos causados aos povos que
foram tão importantes para o desenvolvimento político, social e econômico de vários
países como o Brasil, onde os índios e os negros levantaram a economia entre os
séculos XV e XX.

Ainda neste contexto, segundo Bicharra (2015) pressionado por organizações


internacionais, o governo brasileiro foi obrigado a criar políticas públicas voltadas
para atender essas necessidades emergentes de um povo que clamava por
igualdade de direitos, para tentar resgatar e sanar a dívida social com as populações
negras e indígenas e algumas populações tradicionais, surgindo assim às primeiras
regulamentações, a primeira grande política de desconstrução do racismo e
preconceitos étnico-raciais, ou seja, a lei da Constituição de 1989 com a lei n 7.716 de
5 de janeiro de 1989.

Em janeiro de 2003 foi promulgada a lei 10.639 de 9 de janeiro de 2003. Esta foi
criada no intuito de buscar resgatar a cultura africana tão presente no Brasil, trazida
pelos escravos, que modi ca a lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e assim
passa a vigorar acrescida dos seguintes:
Arts. 26-A, 79-A e 79-B: Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino
fundamental e médio, o ciais e particulares, torna-se obrigatório o
ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. § 1o O conteúdo
programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da
História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura
negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional,
resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e
política pertinentes à História do Brasil. § 2o Os conteúdos referentes à
História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o
currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de
Literatura e História Brasileiras. [...] Art. 79-B. O calendário escolar
incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência
Negra’. (BRASIL, 2003, p. 35).

A proposta desta Lei vem reforçar a necessidade de valorização da Cultura Afro-


brasileira, uma vez que os negros trouxeram grandes contribuições culturais e
históricas para a formação da sociedade.

Mais recentemente a Lei 11.645 de 10 de março de 2008 acrescentou este resgate


histórico estendendo para os povos indígenas também injustiçados historicamente
e de niu alguns pontos para a educação: Art. 1o O art. 26-A da Lei no 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação:

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino


médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e
cultura afro-brasileira e indígena. § 1o O conteúdo programático a que
se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura
que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses
dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos
africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura
negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da
sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social,
econômica e política, pertinentes à história do Brasil. § 2o Os conteúdos
referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas
brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em
especial nas áreas de educação artística e de literatura e história
brasileiras. (BRASIL, 2008, p. 37).
Diversidade e Ações
A rmativas

AUTORIA
Mirian Aparecida Micarelli Struett
Paulo Vitor P. Navasconi
As identidades plurais evocam as discussões sobre a identidade nacional e a
introdução do multiculturalismo numa educação-cidadã, considerando todas as
diversidades, posto que, olhando a distribuição geográ ca do Brasil e sua realidade
etnográ ca, percebe-se que não existe uma única cultura branca e uma única cultura
negra e que regionalmente podemos distinguir diversas culturas no Brasil.

Neste sentido, os afro-baianos produzem no campo da religiosidade, da música, da


culinária, da dança, das artes plásticas, etc. uma cultura diferente dos afro-mineiros,
dos afro-maranhenses e dos negros cariocas. As comunidades quilombolas ou
remanescentes dos quilombos, apesar de terem alguns problemas comuns,
apresentam também histórias, culturas e religiões diferentes. Os descendentes de
italianos em todo o Brasil preservaram alguns hábitos alimentares que os aproximam
da terra mãe; os gaúchos no Rio Grande do Sul têm também peculiaridades culturais
na sua dança, em seu traje e em seus hábitos alimentares e culinários que os
diferenciam dos baianos, etc. (MUNANGA, 2012).

Contudo, como já vimos os grupos étnicos, raciais e culturais não dominantes, assim
como as mulheres, têm sido concretamente discriminados nos mercados de serviços
e trabalho, bem como no acesso aos serviços públicos assistenciais e de uso coletivo,
porém, a adoção das políticas de ação a rmativa, favorecendo determinados grupos
da população, encontra sérias resistências em setores do pensamento liberal e
neoliberal. Isto é, segundo Taylor (1998 apud PAIXÃO, 2003, p. 144-145):

Para os liberais estritos tais práticas contradizem uma questão chave de


sua loso a, que reside na ideia da universalidade da natureza humana.
Neste sentido não haveria o menor sentido em serem adotadas políticas
que recriem práticas discriminatórias no seio da sociedade. (TAYLOR
apud PAIXÃO, 2003, p. 144-145).

Contudo, não obstante à força desta argumentação, parece inegável que, dado o
padrão de convívio social existente no mundo atual, a inexistência de políticas que
visem a superar as desigualdades de gênero, étnicas e raciais somente poderá levar à
perpetuação das injustiças contra os grupos não hegemônicos da sociedade. Por
outro lado, o desenvolvimento do argumento comunitarista moderno vem
avançando progressivamente a ideia de que é um direito dos indivíduos a
preservação de seus laços culturais e identitários uma vez exercendo
voluntariamente.

Para Candau (2005, p. 19 apud NOGUEIRA; FELIPE; TERUYA, 2008, p. 2):


Não se deve contrapor igualdade a diferença. De fato, a igualdade não
está oposta à diferença, e sim à desigualdade, e diferença não se opõe à
igualdade, e sim à padronização, à produção em série, à uniformidade, a
sempre o “mesmo”, à “mesmice”. [...] Reconhecer a diferença é
questionar os conceitos homogêneos, estáveis e permanentes que
excluem o ou a diferente. As certezas que foram socialmente construídas
devem se fragilizar e desvanecer. (CANDAU, 2005, p. 19 apud NOGUEIRA;
FELIPE; TERUYA, 2008, p. 2).

Para tanto, é preciso desconstruir, pluralizar, ressigni car, reinventar identidades e


subjetividades, saberes, valores, convicções, horizonte de sentidos. Somos obrigados a
assumir o múltiplo, o plural, o diferente, o híbrido, na sociedade como um todo.

A adoção de políticas públicas sensíveis à raça podem também desmascarar os


preconceitos da comunidade acadêmica, pois a discriminação racial não será
eliminada com o atual discurso, presente no senso comum, que a nega. Além disso, é
preciso reconhecer e assegurar o m da desigualdade racial, mas é preciso também
garantir o direito à diferença (ARAUJO, 2010, p. 134).

CONCEITUANDO
De acordo com Abramowicz (2006, p. 12), o conceito de “Diversidade”
está relacionado à “variedade, diferença e multiplicidade. A diferença é
qualidade do que é diferente; o que distingue uma coisa de outra, a falta
de igualdade ou de semelhança”.

Já para Barroco (2006 apud MARQUES, 2011, p. 3) a diversidade constitui-se em um


componente da realidade social:

Está presente nas diversas culturas, raças, etnias, gerações, formas de


vida, valores, concepções do mundo, crenças, representações simbólicas
e outros aspectos relacionados ao desenvolvimento da humanidade na
história. Nesse sentido a diversidade é um elemento constitutivo do
gênero humano e a rmação de suas peculiaridades naturais e
socioculturais [...] como um valor positivo pode re etir alteridade,
liberdade, equidade e tolerância com direito a diferença, mas lembra
que a ética nem sempre trata apenas de valores positivos. Também
existe a negação desses valores, con gurados na intolerância, no
desrespeito ao outro, na desigualdade e na não liberdade. (BARROCO
apud MARQUES, 2011, p. 3).
De acordo com Silva (2005), as mudanças ligadas aos aspectos sociais têm tido um
efeito muito forte no estudo sobre gerenciamento e comportamento organizacional,
sendo um desses aspectos a diversidade da força de trabalho. Neste contexto, a
diversidade está ligada às diferenças em uma ou mais dimensões, como idade,
religião, gênero, etnia, en m, entre pessoas e organizações, principalmente
ocasionadas por:

Mudanças demográ cas na força de trabalho que aproveita os talentos


diversi cados; legislação e ações legais que forçam contratações sem
discriminações; movimento de globalização que exige aprendizado de
tratamento com outros costumes e normas sociais; crescente
conscientização de que as diferenças podem melhorar a qualidade da
força de trabalho (SILVA, 2005, p. 75).

De acordo com os autores Don Hellriegel, John Slocum Jr. e Richard Woodman (2001,
p. 12 apud SILVA, 2005, p. 75), há duas categorias de diversidades que causam efeitos
sobre o comportamento organizacional:

1. Diversidades primárias: idade, raça, etnia, gênero, habilidades físicas e


qualidades, orientação sexual e afetiva.
2. Diversidades secundárias: educação, experiência, salário, estado civil,
crenças religiosas, localização geográ ca, estado paterno, estilo de
comportamento, outros.

No contexto sobre a diversidade sociocultural, corroborando com Barroco, está Tonet


(2009 apud MARQUES, 2011, p. 3-4) que explica a diversidade no contexto capitalista –
o sistema capitalista, como “antropofágico” historicamente vive crises periódicas,
desta forma é mais uma crise. A humanidade está atravessando uma crise sem
precedentes, que atinge todas as dimensões da vida [...] a crise atual, tem
características muito próprias por dois motivos: primeiro porque é uma crise global e
segundo porque com a mundialização do capital, não permite a esse mesmo capital
deslocar essa crise dos países centrais para os periféricos [...] também a questão da
reestruturação produtiva do neoliberalismo que teve origem exatamente em um
apelo de capital para tentar ludibriar o rebaixamento da taxa de lucro.

Nesse contexto, todas as esferas (dimensões) da vida humana são atingidas, sejam
elas de ordem política, religiosa, psicológica, pessoal, familiar, entre outras [...] assim,
considera-se que falar de diversidade sociocultural, extrapola o senso comum. É
necessária uma abstração profunda da questão até mesmo para não cair na
discussão do “multiculturalismo” que vem sendo realizada em nível mundial, sem se
atentar muitas vezes para questões de “pano de fundo” tais como as mudanças nas
relações de produção e reprodução e as contradições advindas da grande
contradição capital/trabalho.
Nessa complexidade, em que, anteriormente, era discutido o conceito de igualdade
apenas como material ou substancial, na qual necessariamente é avaliada no
contexto de desigualdades concretas existentes na sociedade, de sorte que as
situações desiguais também permaneçam presentes, há a necessidade da busca de
uma igualdade, agora, de oportunidades, nascida da necessidade de se extinguir ou
pelo menos mitigar o peso das desigualdades econômicas e sociais e,
consequentemente, de promover a justiça social. Desta nova visão, surgem as
políticas sociais de apoio e a promoção de determinados grupos fragilizados. A essas
tentativas de concretização da igualdade substancial ou material, dá-se a
denominação “ação a rmativa” (GOMES, 2003, p. 3).

Neste sentido, como veri camos anteriormente as ações a rmativas se de nem


como políticas públicas (e também privadas) voltadas à concretização do princípio
constitucional da igualdade material e à neutralização dos efeitos da discriminação
racial, de gênero, de idade, de origem nacional e de compleição física.

Impostas ou sugeridas pelo Estado, por seus entes vinculados e até


mesmo por entidades puramente privadas, elas visam a combater não
somente as manifestações agrantes de discriminação, mas também a
discriminação de fundo cultural, estrutural, enraizada na sociedade
(GOMES, 2003, p. 3).

Magalhães e Silva (1997, p. 5), em conceito mais voltado para o Estado, não tão ampla,
como as de Munanga e Gomes (2004), de nem as ações a rmativas como especiais e
temporárias, tomadas e determinadas pelo Estado de forma espontânea ou
compulsoriamente que tem o como objetivo também:

[...] eliminar as desigualdades historicamente acumuladas, garantindo a


igualdade e oportunidades de tratamento, bem como visando
compensar as perdas provocadas pela discriminação/ marginalização,
decorrentes de motivos raciais, étnicos, religiosos, de gênero e outros.
Buscam reparar danos sócio-históricos sofridos pela população negra e
outros grupos minoritários ao longo da construção da nação brasileira,
no sentido de mitigar os perversos efeitos acumulados em virtude das
discriminações e omissões ocorridas no passado e presente
(MAGALHÃES; SILVA, 1997, p. 5).

O Estado Brasileiro Democrático, como uma organização político administrativa, tem


entre suas atribuições o dever de cumprir com os princípios constitucionais, e entre
suas atribuições, utilizar-se das políticas públicas para atender às necessidades da
população, inclusive de grupos minoritários discriminados e vulnerabilizados, tendo
em vista o desenvolvimento econômico social do país. As políticas públicas
representam uma forma de regulação ou intervenção na sociedade, não se
con gurando apenas como meros recursos de legitimação política ou intervenção
social, subordinada apenas à lógica da acumulação capitalista, mas sim dos diversos
interesses de diferentes sujeitos sociais (MAGALHÃES; SILVA, 1997).
Atualmente, as políticas públicas especí cas decorrem da necessidade que
determinadas parcelas da população têm em ser compensadas em virtude de perdas
sociais históricas sofridas e que se acumularam ao longo do tempo. Além das
mulheres, os negros constituem os setores que mais têm sido discutidos nos debates
que o tema vem suscitando no Brasil. “Os índios, idosos e pessoas com de ciência
física também têm sido focados nessas discussões” (SANTOS, 2002, p. 56).

A Constituição Federal de 1988, no artigo 204, demonstra que o Governo tenha a


obrigação constitucional de participar diretamente da elaboração de políticas
públicas e assegurar os direitos de todos os cidadãos. Os artigos retirados da CF
demonstram essa concepção e servem de fundamentos para a elaboração de PPs,
revelam mais sob o ponto de vista das garantias fundamentais que de igualdade
substancial, não se limitando a proibir a desigualdade, mas permitindo a utilização de
medidas que implementem a igualdade material (MUNANGA; GOMES, 2004, p. 11).

Assim, por exemplo, os artigos 3º, 7-XX.º, 37-VIII e 170 dispõem:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do


Brasil:

I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; [...] III – erradicar a


pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais
[...].

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho


humano e na livre iniciativa, tem por m assegurar a todos existência
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios: [...] VII – redução das desigualdades regionais e sociais [...] IX –
tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas
sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.
Art. 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros
que visem à melhoria de sua condição social: [...] XX – Proteção do
mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos especí cos, nos
termos da lei; Art. 37 [...] VIII – A lei reservará percentual dos cargos e
empregos públicos para as pessoas portadoras de de ciência e de nirá
os critérios de sua admissão (BRASIL, 1988 apud GOMES, 2002, p. 11).
Em relação aos índios, conforme aponta Araujo (2006, p. 38 apud MARTINS, 2009, p.
42):

A Constituição de 1988 trouxe uma série de inovações no tratamento da


questão indígena, incorporando a mais moderna concepção de
igualdade e indicando novos parâmetros para a relação do Estado e da
sociedade brasileira com os índios. De lá para cá, houve um avanço
signi cativo na proteção e no reconhecimento dos direitos dos povos
indígenas no país, fazendo desta Carta uma espécie de marco divisor
para a avaliação da situação dos índios no Brasil de hoje. (ARAUJO, 2006,
p. 38, apud MARTINS, 2009, p. 42).

Conforme aponta Dias (2010), as políticas de ação a rmativa, no âmbito educativo,


con guram-se em tentativas de rompimento dos processos de exclusão no interior
da escola, as quais foram dadas por meio da hierarquização dos saberes escolares e
da valorização das culturas em detrimento de outras. Neste aspecto, encontra-se o
princípio da justiça construindo para a construção de uma nova sociedade,
valorizando a diversidade humana.

Trata-se de uma política de inclusão, de caráter curricular, balizada por princípios que
constituem a consciência política e histórica da diversidade, o fortalecimento de
identidades e de direitos e que culmina com ações educativas de combate ao
racismo e a todo tipo de discriminação. A obrigatoriedade da inclusão da temática da
diversidade étnico-racial nos currículos escolares traduz uma postura política, com
marcantes repercussões pedagógicas, inclusive no que tange a formação de
professores, a partir do entendimento e do reconhecimento de que estamos inseridos
em uma sociedade multicultural e pluriétnica (DIAS, 2010).

A publicação da Lei 10.639/03 veio acompanhada do parecer CNE/CP3/2004 do


Conselho Nacional de Educação, que instituiu as Diretrizes Curriculares Para a
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-
Brasileira e Africana a serem oferecidos por todos os Institutos Educacionais.

Ainda no âmbito Educacional, con gurando Justiça e Cidadania, são apontadas as


cotas para Universidades. Neste campo, Paixão (2003, p. 151) salienta:

A adoção de políticas de ação a rmativa para grupos menos favorecidos


da população, neste plano, con gura-se como uma questão de justiça e
cidadania para estes contingentes. Entretanto, sua adoção realmente
ainda encontra severas restrições por parte de relevantes grupos em
nossa sociedade. Menos entre os próprios afrodescendentes, onde 70%
dos “pretos” e 61% dos “pardos” consideram que deve haver vagas nas
universidades para negros. (PAIXÃO, 2003, p. 151).

De acordo com Sarres (2012, p. 1), as políticas compensatórias são justi cadas pela
Constituição:
A UnB foi a primeira Universidade Federal a instituir o sistema de cotas,
em junho de 2004. Atos administrativos e normativos determinaram a
reserva de 20% do total das vagas oferecidas pela instituição a
candidatos negros (entre pretos e pardos). A ação a rmativa faz parte do
Plano de Metas para Integração Social, Étnica e Racial da UnB e foi
aprovada pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão. No primeiro
vestibular, o sistema de cotas foi responsável pela aprovação de 18,6%
dos candidatos. A eles, foram destinados 20% do total de vagas de cada
curso oferecido. (SARRES, 2012, p. 1).

No caso da questão indígena, Martins (2009, p. 37) expõe seu posicionamento:

[...] os constituintes de 1988 não só consagraram, pela primeira vez em


nossa história, um capítulo especí co à proteção dos direitos indígenas,
como afastaram de nitivamente a perspectiva assimilacionista,
assegurando aos índios o direito à diferença. A Constituição de 1988, para
vários autores, trouxe ampliação e detalhamento de direitos indígenas,
positivando direitos relacionados às terras, com imposição à União do
dever de realizar a demarcação e proteção no tocante a tais terras. Silva
entende que resultou, o documento constitucional, de uma tendência
mundial de reconhecer o direito dos índios como minorias étnicas que
se vê manifestada através de órgãos como a Organização das Nações
Unidas (ONU) e Organização Internacional do Trabalho (OIT). O que é,
certamente, também resultado da evolução do dinamismo social e
pressões surgidas no sentido de que mude procedimentos não
condizentes com a incessante busca dos direitos humanos. (MARTINS,
2019, p. 37).

Não só realizou o reconhecimento sobre os direitos permanentes e coletivos dos


índios, mas trouxe também a inovação quanto ao reconhecimento da capacidade
processual dos índios “de suas comunidades e organizações para a defesa dos seus
próprios direitos e interesses”. E ainda deu ao Ministério Público o dever nas garantias
determinadas aos indígenas, para que este possa intervir “em todos os processos
judiciais que digam respeito a tais direitos e interesses, xando, por m, a
competência da Justiça Federal para julgar as disputas sobre direitos indígenas”
(MARTINS, 2009, p. 42).

Com a criação da Portaria 68, de 14/01/2017, que atenta contra os direitos indígenas e
acelera o sucateamento da Fundação Nacional do Índio (Funai), e a criação de um
Grupo Técnico Especializado (GTE) para dar “subsídio” ao Ministro nas decisões e
diligências sobre demarcação de Terras Indígenas, objetiva pôr em prática a
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) (art. 4º, VI, Portaria 68/17) (BRASIL,
2017).

Segundo o art. 5º, Portaria 68/17, prevê, ainda, que, caso tenha havido perda de terra,
será veri cado se houve previsão para a “reparação por terras que possuíam
tradicionalmente”; altera e burocratiza o sistema de demarcação já existente,
incorporando uma nova etapa e fazendo com que se realize uma reavaliação de todo
o trabalho já realizado pela Funai na demarcação, que serve à proteção dos povos
indígenas e à consagração de seus direitos, mediante o procedimento estabelecido
pelo Decreto 1.775 de 1996, que envolve estudo antropológico, possibilidade de
contraditório e foi declarado constitucional pelo STF inúmeras vezes. Isto mostra a
desnecessidade da criação de qualquer GTE.

Já para os Quilombolas, são apontadas políticas públicas para regularização fundiária


aos grupos remanescentes, como uma forma de compensação:

A dimensão quilombola de um viver que necessariamente se fez e se faz


como forma de resistência e luta mostra como cada grupo negro no
meio rural hoje, independentemente de sua origem e constituição, pode
e deve ser compreendido como grupo remanescente, pois é portador de
um “legado, uma herança cultural e material que lhes confere a um
grupo especi ca”. Qualquer que seja o grupo é ele originário e
descendente de uma condição escrava com história própria e singular.
Aqui, a base legítima de poder reivindica a titulação de suas terras em
razão de direitos assegurados pelo Artigo 68 da Constituição Brasileira
[...] muitas iniciativas foram implementadas no âmbito federal e
estadual, através de órgãos públicos como o INCRA, CNPT (IBAMA),
Fundação Cultural Palmares, ITESP e tantos outros, buscando mapear e
encaminhar processos de reconhecimento de territórios ocupados pelas
comunidades negras, e assim, postular a consequente titulação
(GUSMÃO, 2007, p.158-159).

As empresas, também têm feito o seu papel, é o que mostram as pesquisas “Per l
Social, Racial e de Gênero das 500 maiores empresas do Brasil e suas Ações
A rmativas” (ETHOS, 2016, on-line).

Este levantamento pretende retratar o público interno das grandes corporações e


mostrar os eventuais desequilíbrios em sua composição no que se refere a sexo, cor
ou raça, faixa etária, escolaridade e presença de pessoas com de ciência. Doze anos
depois da segunda edição da série, que começou a estudar a composição de
funcionários e dirigentes em todos os níveis hierárquicos, o cenário apresentado pela
pesquisa é, como nas vezes anteriores, de grandes desigualdades. Destacam-se,
porém, alguns bons resultados, como o aumento signi cativo da participação de
mulheres em níveis gerenciais e a presença majoritária de negros entre trainees e
aprendizes, ainda que a inserção deles no início da carreira possa ser re exo de
políticas públicas na área educação, implementadas nos últimos anos.

As pesquisas de 2007, 2010 e 2015 buscaram traçar o per l dos funcionários e


dirigentes das maiores empresa que atuam no País, observando sua representação
em todos os níveis hierárquicos, de acordo com o sexo, a cor ou a raça, a faixa etária, o
tempo da empresa e a escolaridade, bem como a presença de pessoas com
de ciência. De acordo com seus promotores, os dados obtidos reforçam a ideia de
que é necessário promover ações de valorização da diversidade e promoção da
equidade no mercado de trabalho. A última pesquisa é datada de 9 de dezembro de
2014 a 28 de maio de 2015, e apresenta evolução histórica de alguns indicadores nos
últimos 15 anos.
Dos resultados de 2010 já era possível evidenciar o crescimento da participação de
mulheres e negros nos quadros dos funcionários. Vejamos alguns desses dados:

A série histórica mostra também evolução positiva da participação dos negros –


pretos e pardos, de acordo com nomenclatura do IBGE adotada por este estudo.
Certamente muito mais lenta que a evolução feminina, principalmente para um
grupo que já representa uma parcela de 51,1% da população brasileira ou, em
números absolutos, 98 milhões de indivíduos, de acordo com a Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD) de 2009.

A disparidade e a sub-representação ainda é imensa. A situação da mulher negra é


pior: ela detém uma parcela de 9,3% da base da escala e de 0,5% do topo, o que
representa, em números absolutos, seis negras (todas pardas) entre as 119 mulheres
ou os 1.162 diretores, negros e não negros, de ambos os sexos, cuja cor ou raça foi
informada pelas empresas que responderam este item da pesquisa (ETHOS, 2013, p.
26).

ATENÇÃO
Mais de 52% das empresas disseram desenvolver políticas de igualdade
de oportunidades para brancos e negros entre os funcionários, na página
29, do relatório de 2010.

Dentre elas, foi encontrada a política de desenvolvimento e capacitação pro ssional,


que visa a quali cação de negros. Em comparação com 2007, houve um decréscimo
de 7% percentuais, ou seja, as empresas investiram 16%, em 2007, e apenas 9%, em
2010.

Aos que consideram a participação dos negros na empresa menor do que deveria ser,
foi indagado aos gestores a que atribuem essa insu ciência, em pesquisas realizadas
em 2010 e 2015. A maior parcela dos gestores (61%), em 2010, atribuem essa
insu ciência à falta de quali cação para os cargos (ETHOS, 2013), e 48,3%, na pesquisa
realizada em 2015 (ETHOS, 2016 on-line), também mencionaram a falta de
quali cação para os cargos. Porcentagem bem inferior, de 31% (ETHOS, 2013) e 41,4%
(ETHOS, 2016, online), atribui a situação da insu ciência à falta de conhecimento ou
experiência da empresa para lidar com o assunto; 8% dos gestores, na pesquisa de
2010 (ETHOS,2013), e 10,3% dos gestores, na pesquisa de 2015, (ETHOS, 2016, on-line),
atribuíram essa insu ciência à falta de interesse dos próprios negros por cargos na
empresa.
Comparando as percepções dos gestores, pode-se evidenciar que a falta de
quali cação para os cargos reduziu, principalmente pelos negros terem mais acesso
ao ensino superior, porém a falta de experiência ou conhecimento para lidar com o
assunto e a falta de interesse por cargos na empresa aumentaram. Em 2015, é
expressiva a presença de negros entre os aprendizes, com participação de 57,5%
nesse nível, mas cam com apenas 28,8% no nível dos estagiários, com uma diferença
de 50% entre os dois contingentes. Entretanto, sua participação nos demais cargos
ainda é incipiente (ETHOS, 2016, on-line). A porcentagem de 58,2% no nível dos
trainees, com a mesma diferença de 50% em relação aos estagiários, abre, numa
primeira observação, a perspectiva de um considerável aproveitamento de negros
nos níveis seguintes – o que não se con rma. Sua participação no quadro funcional é
de 35,7% (diferença de 38,7%), decrescendo progressivamente para 25,9% na
supervisão (27,5% de diferença), 6,3% na gerência (75,7% de diferença) e 4,7% no
quadro executivo (25,4% de diferença), e mantendo-se num mesmo patamar no
conselho de administração, com 4,9% (ETHOS, 2016, p. 24).

Perguntado às corporações quanto à adoção de alguma política de promoção da


igualdade de oportunidades para negros e não negros, manifestaram-se
a rmativamente somente 12% do grupo (ETHOS, 2016, on-line).

Em 2015, a Prefeitura de São Paulo, por meio de mensagem eletrônica endereçada ao


principal gestor e ao responsável pela área de recursos humanos (RH) ou de
responsabilidade social, produziu relatório semelhante endereçado as 200 principais
empresas fornecedoras da Prefeitura de São Paulo. Vale a pena fazer esse paralelo
com as informações das 500 maiores empresas.

Há outras informações relevantes nestes relatórios, não relacionadas às questões


étnico- raciais, porém importantes para que você, prezado(a) estudante, conheça, pois
se trata de um novo desa o para os gestores de empresas que atuam sob a ótica da
Responsabilidade Social.

Conforme aponta Powell (1998 apud SILVA, 2005, p. 76):

Um dos grandes desa os na administração do comportamento


organizacional é a determinação daqueles fatos cujos efeitos negam
oportunidades e assim são desperdiçados e contraproducentes, pois
simplesmente re etem tolerância às diferenças por parte daqueles que
conduzem, ao admitir a diversidade como um recurso que adiciona valor
organizacional. (POWELL 1998, apud SILVA, 2015, p. 76).

De acordo com Roosevelt Thomas (apud SILVA, 2005, p. 77), incluem-se alguns pontos
importantes na valorização da diversidade, como:
Promover a consciência e a aceitação das diferenças individuais;

Auxiliar os participantes a compreenderem seus próprios


sentimentos e atitudes a respeito das pessoas que são diferentes;

Explorar como as diferenças podem ser transformadas em pontos


positivos no ambiente de trabalho;

Estreitar as relações de trabalho entre pessoas que são diferentes


umas das outras.

Como podemos perceber neste último tópico, as organizações estão aos poucos
aperfeiçoando seu relacionamento com as questões étnicas, com respeito e equidade
e promovendo ações de antidiscriminação na esfera organizacional, baseadas em
ações a rmativas e no respeito à diversidade. Estas se traduzem, atualmente, em
ações de responsabilidade social, agregando valor à imagem organizacional.

Neste sentido, é cada vez mais comum a apresentação dos indicadores relacionados
a esses temas nos balanços sociais das organizações do primeiro, segundo e terceiros
setores, respeitando a Constituição Federal, nossa carta magna de maneira mais
efetiva. Entretanto, ainda há muitos desa os na relação entre pessoas, organizações e
sociedade, quando o assunto é relacionamento étnico-racial!
SAIBA MAIS
Leia o relatório “Per l Social, Racial e de Gênero das 500 maiores
empresas do Brasil e suas Ações A rmativas” na íntegra.

ACESSAR

REFLITA
As organizações são um campo fecundo para a reprodução das
desigualdades raciais. As instituições apregoam que "todos são iguais
perante a lei"; e asseguram que todos têm a mesma oportunidade, basta
que a competência esteja garantida. As desigualdades raciais
persistentes evidenciam que alguns são menos iguais que outros. Mas
sobre isto há um silêncio. O silêncio não é apenas o não-dito, mas aquilo
que é apagado, colocado de lado, excluído. O poder se exerce sempre
acompanhado de um certo silêncio. É o silêncio da opressão.

BENTO (2005)
Conclusão - Unidade 4

Foi possível veri car algumas políticas públicas e ações governamentais reforçadas
pela Constituição Federal e em Leis que visam a servir de compensação e reparação
das ações a rmativas, buscando minimizar os efeitos de tantos anos de desigualdade
social e econômica. Neste sentido, foi demonstrado como as empresas podem utilizar
das re exões sobre a responsabilidade social para que haja efetivamente uma
contribuição para diversidade e pluralidade de etnias, saberes e pensamentos, bem
como para implementação das ações a rmativas e reforçando o interesse pelas
questões étnico-raciais.

Haja vista que, é preciso lembrarmos que um ambiente diverso é um ambiente não
só plural, mas de extrema potência, uma vez que, a diversidade nas empresas traz
benefícios. Segundo estudos da consultoria McKinsey, empresas com mulheres na
liderança têm lucratividade 21% maior quando comparadas às que não tem. Quando
se trata de diversidade étnica-racial esse percentual sobe para 33%.

Sendo assim, reitera-se que o aprendizado em relação à questão histórica dos negros
e de outras minorias é de suma importância, não só de administradores, psicólogos,
pedagogos, e a ns, mas também na formação de cidadãos que consigam ver as
diferenças e respeitá-las e que também tenham um embasamento adquirido na
universidade para que saibam lidar com todas as pessoas, aproveitando delas o se
potencial em favor das organizações.

Leitura Complementar
Eliane Barbosa da Conceição a rma que nos últimos anos, a sociedade brasileira tem
assistindo à evolução da discussão sobre as questões relativas à discriminação racial
nos espaços de trabalho. Apesar disso, os estudos organizacionais têm negado a
importância do tema. A relativa ausência de trabalhos abordando esse assunto
demonstra que os pesquisadores da área têm dedicado pouca atenção a temática
que, por sua natureza, merece maior preocupação. Neste ensaio, apresento
características da cultura brasileira que justi cam o fato, demonstrando que a forma
como historicamente se tratou da questão racial no Brasil in uencia o modo como os
brasileiros enfrentam os problemas relativos à discriminação; e levo o leitor a
compreender como a questão veio a ser naturalizada em nosso meio. Dados
contemporâneos sobre a posição dos afrodescendentes no mercado de trabalho
revelam que as organizações reproduzem, por meio de mecanismos e processos
especí cos, a discriminação racial existente na sociedade. Certamente, a ausência de
discussão sobre as questões raciais nos espaços frequentados por administradores
tem contribuído para a manutenção da realidade retratada. Por essa razão,
argumentei em favor da ampliação da produção acadêmica organizacional sobre o
tema considerado e apresentei caminhos para futuras pesquisas, discorrendo sobre
subáreas dos estudos organizacionais que podem ser enriquecidas com a inclusão de
estudos sobre as desigualdades raciais, bem como apontando possível orientação
metodológica para a realização desses estudos. Por sua vez, Silvia Generali da Costa e
Carolina da Silva Ferreira descrevem que as pesquisas brasileiras em Administração
vêm apresentando uma lacuna no que se refere aos estudos sobre as minorias no
contexto organizacional. Esta conclusão é resultado de uma pesquisa, de caráter
descritivo e exploratório, realizada entre as principais publicações nacionais na área,
nos últimos dez anos. Seu principal objetivo foi o de mapear a presença dos
afrodescendentes, dos portadores de necessidades especiais, das mulheres e das
pessoas com diferentes orientações sexuais, no contexto dos estudos administrativos
brasileiros. Sua contribuição está em apontar caminhos para futuras pesquisas,
sobretudo do ponto de vista crítico. Em relação aos resultados, foram encontrados
quarenta e nove artigos sobre as temáticas de interesse, entre as mais de seis mil
publicações do período: quarenta sobre gênero, cinco sobre diversidade, de forma
ampla, e três sobre portadores de necessidades especiais. Os temas que
permanecem praticamente inexplorados nos estudos organizacionais são os de raça
e etnia (uma publicação) e inclusão de pessoas com orientações sexuais diversas
(nenhuma publicação). Os resultados vêm ao encontro dos achados de Hanashiro,
Godoy e Carvalho (2004) e Fleury (1999) indicando a escassa produção acadêmica
brasileira em diversidade e a ênfase na temática gênero. E por m a publicação
realizada pelo Instituto Ethos mostra formas de como enfrentar o preconceito no
ambiente de trabalho e no âmbito das relações empresariais e aborda temas como a
igualdade de oportunidades, a ética e a diversidade como fator de competitividade, a
discriminação racial, étnica, a subordinação das mulheres, além de aspectos como as
oportunidades de trabalho e o espaço existencial nas empresas.
Dê um click para ler o texto na íntegra:

CONCEIÇÃO, E. B. A negação da raça nos estudos organizacionais. Anais


do Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Administração, São Paulo, SP, Brasil, 33, 2009. Link:
http://www.anpad.org.br/admin/pdf/EOR1426.pdf.

COSTA, S., & FERREIRA, C. Diversidade e minorias nos estudos


organizacionais brasileiros: presença e lacunas na última década. Anais
do Encontro de Estudos Organizacionais, Porto Alegre, RS, Brasil, 4,
2006. Link: http://www.anpad.org.br/admin/pdf/eneo2006-006.pdf.

INSTITUTO ETHOS. Como as empresas podem (e devem) valorizar a


diversidade. São Paulo: Autor, 2010. Link:
https://www.ethos.org.br/cedoc/como-as-empresas-podem-e-devem-
valorizar-a-diversidade-setembro2000/.

Livro
Filme
Considerações Finais

Podemos concluir que falar sobre responsabilidade social e relações étnico-raciais é


um desa o e tanto, uma vez que, abarca uma série de questões que não dizem
respeito apenas a um grupo social. Neste sentido, pudemos veri car que o trabalho
sempre coloca à prova a subjetividade, da qual esta última sai acrescentada,
enaltecida, ou ao contrário, diminuída, morti cada. Trabalhar constitui, para a
subjetividade, uma provação que a transforma. Trabalhar não é somente produzir; é,
também, transformar a si mesmo e, no melhor dos casos, é uma ocasião oferecida à
subjetividade para se testar, até mesmo para se realizar.

Dessa forma, o trabalho não deve ser analisado apenas em relação às técnicas de
produção e dominação, mas considerando a maneira como os sujeitos vivenciam e
dão sentido às suas experiências de trabalho. Estas também variam conforme o
contexto social, histórico e econômico, apontando para diferentes processos de
produção de subjetividade, diferentes sujeitos trabalhadores, ou seja, A relação com
o trabalho certamente é vivida de forma distinta entre o cidadão e o escravo na
Grécia, o senhor e o servo na Idade Média, ou entre o operário da indústria fordista e
o jovem analista de sistemas nas atuais empresas (NARDI, 2006).

Sendo assim, pudemos observar que antes da industrialização, os processos


produtivos eram bastante limitados, tanto na própria produção de bens e serviços,
quanto na comercialização. Ainda na época da Revolução Industrial, as pessoas
soavam uníssonas, ou seja, eram vistas e entendidas com uma única coisa. De lá pra
cá, o modo de produção, vendas e, principalmente o comportamento das pessoas,
foram sofrendo alterações signi cativas.

Eis que surge a noção de responsabilidade social e sustentabilidade, no qual esse


conceito visa mais o lado ambiental ou físico, promovendo o comprometimento de
melhorias em práticas que se referem ao meio ambiente. Por exemplo, o
desenvolvimento da prática sustentável fomenta o crescimento de um olhar mais
humanizado para os negócios e para sociedade propriamente dita.
Tanto a responsabilidade social, bem como a sustentabilidade em âmbito geral,
precisam ser entendidas como maneiras de se agregar valor ao bem ou serviço.
Neste sentido, a importância de entendermos que a sociedade, a economia e o
ecossistema estão essencialmente ligados. Sendo assim, as empresas deverão gerar
retorno aos três pilares do tripé simultaneamente, visto que a combinação
equilibrada das três dimensões e a in uência que uma tem sobre a outra caracteriza
uma relação como sustentável.

Para além dessas temáticas, cabe pensarmos e re etirmos sobre a responsabilidade


social que as organizações e instituições possuem frente às desigualdades sociais,
raciais e de gênero, uma vez que, a conjuntura atual da sociedade brasileira é
caracterizada pela diversidade e por uma estrutura marcada por comportamentos
discriminatórios, desde a colonização. A escravização dos povos indígenas e da
população negra, alicerce da economia da colônia e do império, nos séculos XVIII e
XIX também deixaram estigmas inapagáveis que re etem nas desigualdades e
preconceitos ainda latentes no país, salientando que em pleno século XXI ainda
persistem práticas e valores escravistas.

Nesta perspectiva, mais do que urgência relembrarmos e resgatarmos a história dos


povos indígenas e da população negra para reaprendermos e visarmos a construção
de uma sociedade minimamente equânime e plural, onde a diferença seja
valorizada e não silenciada, excluída e negligenciada.

Portanto, como pontua Bugarelli (2013) podemos nalizar e compreender que não
há valorização da diversidade sem a realização de ações a rmativas. Também não é
possível realizar ações a rmativas sem explicitar o posicionamento contra o racismo
e sem agir sobre ele para além da oferta de oportunidades. Aspectos culturais e
medidas concretas no âmbito da gestão, dos processos internos e do
relacionamento com os diferentes públicos, ou stakeholders, precisam ser
combinados para que as empresas ganhem maior efetividade e ajustem o passo
com as demandas da sociedade civil e do Estado brasileiro.

Neste sentido, as grandes empresas souberam enfrentar desa os gigantes em


vários campos para se tornarem amplas e atuantes até o momento. Portanto, elas
saberão enfrentar o desa o da promoção da igualdade racial. É uma exigência, mais
do que uma esperança.

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