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TEMA 01A - CONCEPÇÕES SOBRE O TRABALHO.

INTERAÇÕES SOCIOPROFISSIONAIS NO CONTEXTO DO


TRABALHO.1

"O mundo não muda facilmente de base,


nem o mundo de sociedade,
nem o mundo dos pensamentos."
L. Althusser

1. SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS AO TRABALHO


Trabalho? Por quê? Para quê? São questões que, em geral, formulamos a nós
mesmos, na tentativa de identificarmos o significado atribuído a nossa existência. A
relação que se pode estabelecer entre trabalho e existência centraliza-se na constante
necessidade de averiguar os múltiplos significados atribuídos pelo homem ao espaço
social ocupado em determinado contexto. As diversas relações entre capital e trabalho
ensejam tendências contraditórias que delimitam as posições ocupadas pelos homens
no ambiente de trabalho. Tais tendências ora supervalorizam o capital, ora atribuem
valor secundário ao trabalho, desconsiderando a necessidade de integrar tais fatores
para alcançar o intercâmbio e os ajustes necessários para o alcance dos resultados a
serem atingidos.
O trabalho sempre ocupou lugar central na vida de diferentes comunidades,
onde gradativamente foi sendo limitado pelas condições socialmente estabelecidas.
Ao nos apropriarmos dos distintos significados atribuídos ao trabalho, encontramos a
contribuição de concepções oriundas não só das ciências Iodais, como Antropologia,
Sociologia, Economia, Psicologia, entre outras; e ao nos referirmos a tais concepções,
devemos salientar outras que alteram e definem essa relação: as concepções
políticas, religiosas, econômicas, ideológicas, históricas, biológicas, culturais etc. Ao
encararmos o homem como produto e produtor da sociedade na qual se insere,
conseguimos detectar relações contraditórias entre os múltiplos sistemas existentes.
No que concerne ao Brasil, em função da amplitude territorial atestada pelas
dimensões continentais que evidenciam diversidades devidas às condições
geográficas, climáticas, regionais, folclóricas, tem-se que considerar a amplitude
contrastante das diversidades territoriais e socioeconômico-culturais. Como exemplo,
citamos o eixo Rio-São Paulo, que assinala uma ideologia de Primeiro Mundo,
importada, não condizente com a condição presente em nosso país, como um todo; a
diversidade é devida também à política global existente.
Para que se possa ampliar a concepção de trabalho, faz-se necessário resgatar

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KANAANE, Roberto in COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES, Cap. 01 – Editora Atlas
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distintas abordagens que denotam posições até certo ponto antagônicas e


contraditórias.
Do ponto de vista histórico, estudiosos atestam já na antiguidade esforço
conjugado para se realizarem atividades. A Revolução Industrial trouxe consigo
transformações vitais: a aplicação de descobrimentos científicos e de novos avanços
tecnológicos industriais; concentração das unidades produtivas; expansão sem
precedentes da produção em setores estratégicos; padronização da população ativa
do país; superação das precedentes relações de produção na cidade e no campo;
acentuada tendência à urbanização; aparecimento de grupos cada vez mais
numerosos de empresários industriais de diversos extratos sociais; surgimento de uma
nova classe política que assume a direção do Estado, no qual o bloco do poder é
constituído por forças progressistas, tendencialmente unitárias e forças conservadoras
com múltiplos interesses em nível municipal e regional; aparição da economia clássica
na economia política e, sobretudo, emergência e formação de um proletariado com
consciência de classe.
A Revolução Industrial constitui uma espécie de revolução histórica resultante
da evolução do modo de produção capitalista. Pela primeira vez o desenvolvimento
das forças produtivas possibilita em determinadas condições das relações de
produção que o desenvolvimento da indústria se manifeste e se ponha em marcha,
numa multiplicidade de frentes, sem interrupção. Se, por um lado, a Revolução
Industrial trouxe benefícios do ponto de vista da organização e racionalização do
trabalho, por outro, constata-se que a "máquina" tem levado a freqüentes atentados
ecológicos, com a destruição dos recursos naturais, o fim de espécies animais, o
envenenamento da natureza pelos gases e produtos químicos que muito poluem.
Somente com o surgimento de outra mentalidade é que as organizações sociais
poderão utilizar-se para o bem em sua plenitude, dos recursos advindos da Revolução
Industrial. Cabe ao homem, a nós, enfim, entender que se tem em nossas mãos a
responsabilidade por tal transformação.
Com a finalidade de ampliar as concepções sobre o trabalho, identificamos a
posição de Eric Fromm que assinala: "No processo de moldar a natureza exterior a
ele, o homem molda e modifica a si mesmo”. O trabalho pode ser considerado o
processo entre a natureza e o homem, através do qual este realiza, regula e controla,
mediante sua própria ação, o intercâmbio de matérias com a natureza. Partidário
dessa concepção, Kari Marx assinala, entre outros pontos, o indivíduo por inteiro, em
que ele aparece dirigindo sua própria natureza. Temos também a posição de T. B.

– 2ª. Edição - SP, 1999.


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Vleben que, ao estudar o trabalho na indústria, define-o como esforço destinado a


elevar a vida humana, aproveitando o meio ambiente: o não humano. Jean Paul Sartre
escreve: "Por meio do trabalho dominamos o meio. Há dispêndio de energia, ação
sobre a natureza, produção, destruição e, portanto, trabalho”. Temos ainda a posição
de H. Bergson, que afirma: "O trabalho humano consiste em criar utilidade e, enquanto
o trabalho não está feito, não há nada, nada daquilo que se queira obter”. Segundo G.
Friedmann, o trabalho assume as seguintes facetas:
§ aspecto técnico, que implica questões referentes ao lugar de trabalho e adaptação
fisiológica e sociológica;
§ aspecto fisiológico, cuja questão fundamental se refere ao grau de adaptação
homem-lugar de trabalho-meio físico e ao problema da fadiga;
§ aspecto moral, como atividade social humana, considerando especialmente as
aptidões, as motivações, o grau de consciência, as satisfações e a relação íntima
entre atividade de trabalho e personalidade;
§ aspecto social que considera as questões específicas do ambiente de trabalho e
os fatores externos (família, sindicato, partido político, classe social etc.). Há de se
considerar sob tal perspectiva a interdependência entre trabalho e papel social e as
motivações subjacentes;
§ aspecto econômico, como fator de produção de riqueza, geralmente contraposto
ao capital, e unido em sua função a outros fatores: organização, propriedade, terra.
Das posições assinaladas, conclui-se que o trabalho é uma ação humanizada
exercida num contexto social, que sofre influências oriundas de distintas fontes, o que
resulta numa ação recíproca entre o trabalhador e os meios de produção. A constante
interação entre os meios de produção, o trabalhador e a organização social do
trabalho determina o grau de flexibilidade percebido nas relações de produção.
A importância que o trabalho e os trabalhadores assumem na vida coletiva
determina que seu estudo seja focalizado pela Sociologia do Trabalho. Entende-se por
Sociologia do Trabalho o estudo desenvolvido com o intuito de identificar as
influências sociais nos agrupamentos organizacionais. Modernamente, tem havido a
tendência de considerar-se de forma mais extensiva às aplicações da Sociologia à
Administração e, por extensão, ao comportamento dos grupos presentes nos diversos
setores componentes de uma organização.
Os grupamentos constituem-se em microssociedades, em que se desenvolvem
comportamentos peculiares, que fazem surgir novas crenças e valores. A
compreensão desses fenômenos sociais e as prescrições para melhorar a
produtividade e a qualidade dos agrupamentos constituem o principal campo da
Sociologia aplicada à administração, trazendo para dentro da organização os
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conhecimentos obtidos com os grupos sociais. Outra preocupação da Sociologia


aplicada ao contexto empresarial tende a ser o estudo da comunidade organizacional,
a forma e a maneira pelas quais a mesma organiza as relações sociais de poder e
autoridade. As distintas maneiras pelas quais as organizações se estruturam
contemplam formas diferenciadas de organização, entre outras: a
departamentalização, a estrutura matricial, as equipes, as forças-tarefas, as
comissões, os comitês, os colegiados, o que implica a análise e a compreensão das
relações sociais contidas nos respectivos agrupamentos. Tais agrupamentos possuem
clima, culturas e subculturas organizacionais específicos.
O trabalho, sob a perspectiva sociológica, é elemento chave na formação
de coletividades humanas muito diversas por seu tamanho e suas funções. As
atividades de trabalho modificadas pelo progresso técnico têm implicado mudanças
significativas nas condutas e reações dos grupos e dos indivíduos que os
compõem. O trabalho é o fator fundamental na estratificação social e na mobilidade
social. Segundo De Grazia: “a vida coletiva atualmente se organiza em torno do
trabalho”. Seilier, E. e Tiano, A. analisam o trabalho sob uma perspectiva econômica,
argumentando que o mesmo está vinculado a uma série de fenômenos econômicos,
que afetam os trabalhadores. Entre os fenômenos, citam-se:
§ a renda salarial de um trabalhador ou do conjunto de trabalhadores (medida do
valor social do trabalho e sua determinação);
§ as condições de emprego dos trabalhadores;
§ a distribuição socioprofissional da população ativa;
§ o comportamento de grupos e as intervenções dos poderes públicos, as reações
monetárias (medidas inflacionárias ou antiinflacionárias após a variação de uma
renda) etc.
Do ponto de vista psicológico, o trabalho provoca diferentes graus de
motivação e de satisfação no trabalhador, principalmente quanto à forma e ao meio no
qual desempenha sua tarefa. As diversas abordagens sobre a motivação humana
destacam o conceito de necessidade e o conceito de expectativa. Não basta
considerar as necessidades como determinantes do comportamento do trabalhador; é
preciso considerar também em que grau o mesmo percebe as condições existentes no
ambiente organizacional, como facilitadoras ou não, para o alcance de seus objetivos
e de suas necessidades. Ao mesmo tempo, deve-se destacar a distinção entre
motivação e satisfação, ou seja, a satisfação pode estar vinculada a um desejo,
necessidade ou impulso, sem que necessariamente corresponda a um motivo básico
de conduta do trabalhador no respectivo local de trabalho. A motivação, por outro lado,
corresponde às ações selecionadas pelo indivíduo na busca do alcance de suas
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necessidades, e é influenciada por fatores inerentes à personalidade individual e por


aqueles oriundos do ambiente e da herança genética. O trabalhador pode estar
satisfeito parcial ou até plenamente, sem que com isso tenha atingido o nível de
realização pessoal ou profissional em dado contexto organizacional; contrariamente,
pode ocorrer que a ação de enfrentar obstáculos organizacionais possa trazer-lhe
satisfação e realização, à medida que ela esteja associada às expectativas e
possibilidades percebidas pelos indivíduos. Tem-se, então, que o trabalho assume
distintas finalidades: de um lado ativa mecanismos psicológicos que permitem o
estímulo da produtividade do trabalhador, eliminando obstáculos secundários,
procurando adequá-los de forma otimizada ao sistema, isto é, trata de manipular,
através de mecanismos coercitivos ou subliminares, a mente do trabalhador para que
este trabalhe melhor; de outro, pode dirigir-se a um fim diferente, caracterizando-se
pela progressiva participação, comprometimento, envolvimento e responsabilidade de
todos os trabalhadores, através da transformação do trabalho, de modo a dotá-lo de
sentido para aquele que o executa.
Do exposto conclui-se que tanto a abordagem sociológica, quanto à abordagem
psicológica do trabalho assinalam a interdependência de fatores intrínsecos e
extrínsecos ao trabalhador, tornando dessa forma viável a compreensão dos
processos sociointerativos, evidentes no quotidiano das organizações. Nesse sentido,
as ciências sociais têm possibilitado um avanço na compreensão dos fatores sociais
existentes no contexto do trabalho.

2. INTERAÇÕES SOCIOPROFISSIONAIS NO CONTEXTO DO TRABALHO


O comportamento humano nas organizações é também identificado a partir dos
conceitos de responsabilidade, postura, tônus corporal, que possibilitam visualizar os
traços e características de personalidade. A responsabilidade tende a corresponder ao
conjunto de valores introjetados pelo indivíduo e disseminados a partir de condutas
compromissadas com o processo de trabalho. Destaca-se aqui a íntima relação entre
autonomia e dominação como mecanismos reguladores do comportamento individual
e grupai; o fato de o indivíduo tornar-se responsável por seus atos implica capacidade
de discriminar entre condições prescritas pela organização e assumir o compromisso
de intervir e posicionar-se como ator e autor do processo de trabalho, representando
os respectivos papéis profissionais. Outro fator importante refere-se à disponibilidade
do indivíduo diante das condições de trabalho, o que normalmente se evidencia a
partir do tônus ou energia manifesta através da vivência e experiência corporal, que
caracterizam as distintas posturas.
Há de se considerarem as influências da cultura, tanto em seu aspecto social,
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quanto nas condições estabelecidas pela própria organização, como fator fundamental
na determinação das concepções sobre o trabalho e na caracterização do mesmo nos
respectivos momentos históricos da sociedade industrial. E é aí que fica ressaltada a
importância da Antropologia nas organizações, que propicia a compreensão daquilo
que conhecemos por cultura organizacional.
Os estudos desenvolvidos por Taylor, no âmbito da organização e
racionalização do trabalho, trouxeram à tona um aspecto que ainda hoje perdura nos
sistemas contemporâneos de produção: a noção da divisão de trabalho. Este conceito
refere-se à divisão cartesiana dos meios de produção, no sentido de fazer prevalecer o
controle do próprio trabalho por parte daqueles que o administram - o administrador
científico - e também a especificação da execução do trabalho por aqueles que o
protagonizam. Fica dessa forma configurada a apropriação dos meios de produção por
uma classe pensante, que subordina a classe executora/operacional aos parâmetros
determinados e estabelecidos pelos primeiros. Evidentemente, esta configuração leva-
nos a considerar que a divisão do trabalho preconiza a divisão da sociedade em
classes sociais, reforça as diferenças sociais e estabelece limites que de certa forma
atuam como barreiras demarcadoras da ascensão social do indivíduo em dado
sistema de produção.
O conceito de trabalho produtivo está relacionado à questão da produtividade -
que encerra uma concepção ideológica - e implica necessariamente a consideração de
dois conceitos básicos: o de racionalidade e o de racionalização do trabalho. Tais
conceitos exigem que tenhamos equalizado as questões de tempo e logicidade em
prol da apropriação dos meios de produção. Como conseqüência, temos que visualizar
o trabalho em um sistema socioeconômico preciso, e em um modo de produção
concreto, sendo que ambos se inter-relacionam, fazendo surgir diferentes concepções
acerca dos sistemas econômicos que embasam os respectivos sistemas de produção:
sistema capitalista de produção, sistema social-democrata de produção, entre outros.
Ao se abordarem as questões referentes aos sistemas de produção e os
determinantes socioeconômicos, esbarram nos padrões internacionais que assinalam
a importância da qualidade nos processos de produção e a organização social do
trabalho. Os anos 90 fez surgir à preocupação com a qualidade de vida do trabalhador
e por extensão a qualidade do produto, como pré-requisitos para o passaporte do
Brasil para a internacionalização da economia, principalmente no que tange à
competitividade de mercado. Um dos mecanismos adotados pelas empresas, hoje,
refere-se à ISO-9000 (que tem como objetivo básico credenciar as organizações no
tocante aos padrões de eficiência e eficácia; o certificado ISO constitui-se num
passaporte para o mercado internacional). Tal sistemática vem sendo assimilada
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proporcionalmente ao tamanho da organização e aos mecanismos burocráticos


existentes; estes normalmente têm atuado como fatores restritivos à implementação
da qualidade no ambiente de trabalho. Há ainda outros obstáculos; entre eles, citam-
se: os comportamentos e as atitudes dos funcionários, as resistências às mudanças,
os maquinários e os equipamentos obsoletos, que atestam, entre outros pontos, o
longo caminho a ser percorrido para a implantação da gestão de qualidade.
O trabalho assalariado implica que se considere o jogo de interesses oriundos
das partes envolvidas: o capital e o próprio trabalho; neste sistema, reúnem-se
significados que advêm tanto do capital, quanto do próprio trabalho. Evidentemente,
surge um conjunto de expectativas geradas no sistema de trabalho que se referem ao
contexto socioprofissional; isto equivale a dizer que anseios, expectativas e
necessidades do trabalhador estão vinculados ao próprio trabalho que realiza e são
demarcados e direcionados pelo mesmo.
Segundo Friedmann há de se considerar o papel que o trabalho desempenha
para o indivíduo, atestando que a concepção de trabalho corresponde ao engajamento
e às predisposições pessoais, diferentes das encontradas nas realizações de
atividades coagidas, que são exercidas com o objetivo de atingir um fim prático. O
trabalho para Friedmann significa um fator de equilíbrio e de desenvolvimento para o
indivíduo, que lhe assegura a inserção no real, em termos dos diferentes grupos
existentes na sociedade.
De certa forma, ao sentir-se participante de um processo de trabalho, o
indivíduo tende a responsabilizar-se pelo mesmo. Tal participação proporciona-lhe
consciência mais ampla de si mesmo e dos meios de produção e possibilita-lhe
desenvolver sua liberdade de opção diante do contexto de trabalho e, por extensão, da
sociedade de maneira geral. Conseqüentemente, este caminho possibilita-lhe
apropriar-se de sua cidadania, que lhe proporciona condições de desenvolvimento e
equilíbrio psicológico.
Há de se considerar a importância do trabalho no destino individual,
evidenciando, inclusive, sua importância como fator de equilíbrio psicológico. As
relações que o indivíduo estabelece com a sociedade estão demarcadas pelas
possibilidades e perspectivas originadas da posição ocupada no contexto social e
na forma pela qual ele consegue exercer sua ação no respectivo contexto e, em
especial, no ambiente profissional. É possível atestar que, afora as condições de
sobrevivência e subsistência, o trabalho possibilita ao indivíduo exercer sua
potencialidade criativa, desde que as condições ambientais e profissionais sejam
facilitadoras, levando-o à plena realização. As energias individuais e grupais, se
canalizadas efetivamente para a concretização de objetivos pessoais e/ou
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profissionais, possibilitam ao ser humano condições de dar vazão a suas


potencialidades, resultando em realização pessoal. Isto assinala a importância do
trabalho como fator mobilizador das capacidades humanas.
Se considerarmos o homem como sujeito da ação (social/profissional)
empreendida em dado contexto, identificam-se limites intrínsecos ao próprio homem e
ao contexto do qual ele faz parte. Cabe a nós, que refletimos sobre o comportamento
humano e as microssociedades existentes, delinear o percurso a ser ocupado pelo
desempenho individual e grupal evidenciado na interação entre o homem e seu
produto, o homem e seus parceiros, o homem e a comunidade mais próxima, para
finalmente captarmos os múltiplos significados inerentes à relação do homem com a
sociedade.
Através do trabalho, o homem pode modificar seu meio e modificar-se a si
mesmo, à medida que possa exercer sua capacidade criativa e atuar como co-
participe do processo de construção das relações de trabalho e da comunidade na
qual se insere. A interdependência entre o homem e seu trabalho é intermediada por
vetores administrativos, tecnológicos, sociais, políticos, ideológicos, comportamentais
etc., que interferem continuamente na dinâmica estabelecida em tal relação. O
processo de transformação da sociedade a partir das ações dos indivíduos e grupos
requer um movimento constante entre a ação e a reação dos envolvidos, o que
equivale a dizer que todo o movimento humano se propaga em ondas simétricas e não
simétricas. O constante dinamismo das interações sociais denota as respectivas
mudanças que dirigem o comportamento humano para contextos específicos.
Normalmente, deparamos com diversos sentidos atribuídos ao trabalho: trabalho como
forma de realização, trabalho como disciplina do intelecto, trabalho como forma de
sobrevivência. Temos como conseqüência as concepções sobre o trabalho: liberal,
trabalho realizado em organizações, trabalho dirigido, trabalho manipulado. Enfim, o
trabalho surge como uma das formas de relação do homem com o meio no qual se
insere. O significado destas concepções tende a variar de acordo com o grau de
influência das mesmas sobre o sistema de valores do indivíduo, sua auto-estima; elas
estão relacionadas com as expectativas e vivências dos envolvidos e com as
oportunidades e disponibilidades que o próprio meio social a ele oferece.
Na década de 50, admitiu-se que, a evolução da tecnologia poderia ter um
impacto positivo sobre as condições e organizações do trabalho. Contudo, estudos
recentes assinalam que a mudança tecnológica está criando uma defasagem entre as
habilidades existentes e as requeridas, além de alterar a natureza do trabalho. Tem-se
que considerar que as mudanças ocorridas na natureza do trabalho não se devem
somente à condicionante tecnologia, mas também aos fatores políticos, históricos,
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socioculturais e econômicos. Assim, a rotinização do trabalho atua na determinação de


seu próprio processo, e o planejamento de produção tende a representar a efetivação
desta sistemática. Observa-se a tendência acentuada de distribuição de tarefas a
pessoas desprovidas de conhecimento, horizontalização das estruturas, em que são
maximizados os lucros e minimizadas as despesas, às custas da substituição
temporária ou até permanente do quadro de funcionários. Tal fato tem gerado
ineficiências do ponto de vista da qualidade do produto. As empresas, hoje, em função
do quadro político/econômico, vêem-se à beira do colapso organizacional; muitas
vezes têm que recorrer às alterações estruturais e funcionais principalmente no
tocante à redução dos níveis hierárquicos e ao redimensionamento das atividades,
surgindo daí um contexto organizacional que contempla distintas dimensões do próprio
trabalho, isto é, a automação e a informatização de sistemas produtivos e não
produtivos.
Do exposto tem-se que as relações socioprofissionais têm acentuado, através
dos tempos, o caráter específico das relações de produção e os respectivos impactos
nas relações interpessoais; é necessário redefinir concretamente o sistema produtivo e
encará-lo sob a perspectiva socioprodutiva.

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