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trabalho

Analisar a inter-relação entre as mudanças nas formas globais de


gestão do trabalho e as expressões da questão social.

Módulo 2

Transformação nacional no mundo


do trabalho
Identificar os impactos nacionais relativos às transformações no
mundo do trabalho e da classe trabalhadora.

Questão social e as transformações no mundo do


trabalho
Prof.ª Isabel Paltrinieri Módulo 3

Descrição Questão social e especificidades


Articulação entre as novas configurações globais da gestão das
regionais
relações de trabalho. Desigualdade e expressões atuais da questão
social. Impactos sobre o serviço social como profissão e demandas de Analisar as expressões da questão social na atualidade e os

trabalho. Reflexos nos assistentes sociais pertencentes ao conjunto da aspectos de regionalidade.

classe trabalhadora.

Propósito Módulo 4

No trato de expressões das questões sociais na atualidade, a


compreensão da relação estabelecida entre as novas configurações do
Perfil do profissional de serviço
trabalho e seus impactos sobre as políticas sociais é de suma social
importância para um exercício profissional em serviço social crítico e
comprometido com princípios ético-políticos.
Identificar os elementos importantes na condição do assistente
social como parte da classe trabalhadora e como profissional.

Objetivos

Módulo 1 Introdução
Transformação global no mundo do As alterações que atravessam as relações de trabalho na
sociedade contemporânea afetam todo o conjunto de
trabalhadores e trabalhadoras, inclusive o dos assistentes sociais.
Para que a categoria possa atuar no enfrentamento aos desafios 1 - Transformação global no mundo do trabalho
que, expressos pelas múltiplas formas da questão social, se
Ao final deste módulo, você será capaz de analisar a inter-relação entre as
colocam no cotidiano de seu exercício profissional, analisar as
mudanças nas formas globais de gestão do trabalho e as expressões da
mudanças no mundo do trabalho torna-se uma tarefa fundamental questão social.
para profissionais, estudantes e pesquisadores.

As condições e as relações de trabalho vivenciadas pela classe


trabalhadora sofreram agravos significativos a partir dos processos Trabalho e capital
de reestruturação produtiva e de implementação de políticas
públicas de corte neoliberal, já que eles têm gerado impactos
negativos, sobretudo nas camadas populares. Tais incidências de Trabalho e capitalismo
desigualdade são observadas em diferentes recortes e formas;
entre os quais, destacam-se a raça, o gênero e a regionalidade. Para a análise do eixo de desigualdades, exploração e vulnerabilidades
presentes no chamado “mundo do trabalho”, é necessário dar um passo
No decorrer da década de 1990, o meio acadêmico nacional e
anterior e entender alguns conceitos importantes. O primeiro deles diz
internacional realizou um grande investimento em pesquisas sobre
respeito à compreensão de que as relações econômicas, sociais e
a categoria “trabalho” espalhado por diversas áreas de
políticas vivenciadas por nossa sociedade estão assentadas no modo
conhecimento. Isso se deveu a um conjunto de transformações
de produção capitalista ou no capitalismo.
sociais que, tendo origem na crise capitalista dos anos 1970, afetou
articuladamente a configuração do Estado, da cultura, da política e
das formas de contratação e gestão do trabalho. Mas o que isso tem a ver com o “mundo do
Esses aspectos têm sido amplamente debatidos por intelectuais de
trabalho”?
diversas áreas de saber e afetaram as profissões de um modo
geral, o que não foi diferente no caso do serviço social. Tendo isso Há diferentes correntes teóricas, segundo Catani (2011), que visam
em vista, analisaremos neste texto tais fatores, esmiuçando seus explicar o capitalismo, como a de Max Weber, chamada de culturalista, e
principais aspectos e características. a de Karl Marx, denominada histórica, em razão dos diferentes pontos
de vista dos quais elas partem para explicar o mesmo conceito.

Para Weber, completa Catani (2011), o capitalismo se constitui a partir


da herança de um modo de pensar as relações sociais (compostas
também pelas relações econômicas) que deriva do legado do
movimento de reforma luterana e calvinista na Europa. Essa concepção
é centrada em um modo de pensar no qual existe uma extrema
valorização do trabalho, compreendido como profissão/vocação, em
busca de uma salvação individual. Dessa forma, a geração de riquezas
pelo trabalho e poupança é compreendida como um sinal de que o
indivíduo faria parte do grupo dos “predestinados”. Essas ideias
fundamentavam a ética da Reforma Protestante, cuja
mentalidade/espírito capitalista implicava a aceitação de tais princípios
e normas de conduta, razão pela qual o capitalismo, nessa corrente,
está fortemente ligado aos fatores culturais.
Karl Marx, 1875.

Para que o capitalismo exista, um de seus pressupostos é a


concentração da propriedade dos meios de produção nas mãos de uma
classe social (dominante) e a presença de uma outra classe
(subalterna) para qual a venda de sua força de trabalho seja a única

Max Weber, 1918. fonte de renda, isto é, de subsistência.

Uma das condições essenciais do capitalismo, portanto, é a exploração


Já Marx, informa Catani (2011), parte de uma perspectiva histórica e
da força de trabalho com objetivo de gerar lucro, o qual, em vez de ser
estrutural que define o capitalismo como determinado modo de
dividido entre aqueles que o geram, fica absorvido pelos detentores dos
produção de mercadorias gerado desde o início da Idade Moderna e que
meios de produção. Com isso, podemos observar a raiz da questão da
obteve sua consolidação no complexo processo de industrialização
desigualdade social.
ocorrido na Inglaterra do século XVIII, conhecido como Revolução
Industrial.

Falar sobre o modo de produção significa tanto o modo pelo qual os


meios necessários à produção são configurados quanto as relações
video_library
estabelecidas entre os homens a partir de suas vinculações ao processo
de produção. Desse modo, essa corrente considera que o capitalismo
Capitalismo nas óticas de
significa não apenas um sistema de produção de mercadorias, mas
também um sistema no qual a força de trabalho se transforma em
Weber e Marx
mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca, o
que nos parece a lente mais adequada para a leitura de nossa realidade. Conheça, neste vídeo, as diferentes concepções do capitalismo,
principalmente por meio das visões de Weber e Marx.
adjust Segunda etapa
Houve a separação da propriedade de seus meios
de produção, ou seja, criou-se a dependência do
trabalho assalariado para sobreviver, pois a terra, o
gado e os utensílios agrícolas ou artesanais já não

Transição do capitalismo mais lhes pertenciam.

Etapas de transição do capitalismo


Marx, continua Catani (2011), chamou esse processo de acumulação

O capitalismo se desenvolveu por meio de um lento e complexo primitiva ou acumulação original. Ele figura como uma gênese do

processo a partir de uma forma anterior da sociedade de classes: o proletariado, sob o qual incidiam as seguintes questões:

feudalismo. A servidão da gleba, forma de produção anterior, se


transformou em trabalho assalariado. 1ª

Isso não significa que as etapas de transição do Expulsão dos camponeses e expropriação de suas terras.

capitalismo foram nitidamente marcadas. Ainda assim,


elas implicaram significativas transformações 2ª
políticas, afetando as classes sociais e o Estado.

Perda de suas pequenas porções de terra e equipamentos, algo


No processo de transição da sociedade feudal para o capitalismo, duas
decorrente do empobrecimento e da execução de dívidas.
etapas foram emblemáticas:


arrow_downward Primeira etapa
Crescimento populacional em algumas regiões maior que a
Os pequenos produtores rurais ficaram
capacidade de, terra disponível para suportá-lo.
emancipados das obrigações feudais que recaíam
sobre eles, seja de modo parcial ou total.

A desintegração social e econômica da comunidade de pequenos


produtores e o desenvolvimento da troca em base monetária
favoreceram a emergência de uma camada superior de camponeses
ricos. Essa camada multiplicava a posse da terra e a acumulação do
capital de pequeno vulto, que geralmente era aplicado no comércio e na
usura (juro de um capital ou empréstimo).

Entretanto, por “outro lado, [houve] a criação de uma camada inferior


empobrecida, forçada pelas dívidas e pela miséria a trabalhar para um
vizinho mais abastado, a vender ou a hipotecar suas terras” (CATANI,
2011, p. 41).
terminologia foi cunhada em função do forte e contínuo crescimento
A primeira fase do capitalismo se desenvolveu até a econômico registrado nessa fase, principalmente nos países centrais.
eclosão da Primeira Revolução Industrial no século
Atenção!
XVIII. Mas foi no fim do século seguinte que se
consolidou o chamado capitalismo tardio, marcado Em particular, essa fase teve grande importância no desdobramento das
relações sociais, econômicas e políticas até os dias atuais.
pelo surgimento dos oligopólios e monopólios, como
formas concentradas que unificaram o esforço
empresarial e suavizaram o caráter competitivo do
capital enquanto ele ainda se encontrava atomizado e Crise do capital, desigualdade
e trabalho
disperso.

No século XX, especialmente nas décadas de 1920 e 1930, o jogo


espontâneo do mercado, sem a intervenção estatal ou quaisquer outras
interferências, não parecia ser capaz de contornar uma crise que parecia O mundo pós-guerra
crônica, determinando baixíssimos níveis de emprego e uma falta de
trabalho generalizada, cujo ápice foi o “crack” de 1929, que parecia Após a guerra, o mundo capitalista empreendeu um reordenamento das

indicar o fim do sistema capitalista. Apesar disso, o modo de produção relações entre as classes sociais e a forma de ação do Estado quanto à

capitalista continuou sendo o dominante em várias formações regulação do mercado e da força de trabalho.

históricas e sociais.
As classes dominantes dos países centrais edificaram acordos e

Essa dominação contou com a intervenção do Estado nos seguintes instituições financeiras internacionais com o objetivo de estabelecer

pontos: uma nova ordem econômica capaz de coibir ou amenizar as crises


cíclicas capitalistas. Ao mesmo tempo, a economia internacional criava
padrões balizadores, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o
Banco Mundial.
adjust Injeção de recursos financeiros na economia.
Paralelamente, houve o avanço da organização da classe trabalhadora
em sindicatos e partidos políticos.

Esse fator propiciou mais condições de acesso às riquezas produzidas


por meio das políticas sociais universais garantidas pelo Estado, que
adjust Atuação como mecanismo estabilizador e passou a controlar mais as trocas financeiras e as mercadorias.
preventivo contra as crises no investimento privado.

Os anos que sucederam ao fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945)


deram início a um novo ciclo de desenvolvimento capitalista.
Destroçados pela guerra, vários países da Europa e da Ásia, como o
Japão, reconstruíram sua base produtiva apoiados no financiamento e
nos planos de expansão econômico-militares eminentemente dos
Estados Unidos, que disputavam com a antiga União Soviética a
hegemonia política mundial.
Trabalhadores se organizando em protesto.
Algumas correntes de economistas nomeiam esse período como “trinta
anos gloriosos” do capitalismo, estendendo-se até os anos 1970. Tal
Graças a isso, constituiu-se o chamado welfare state (ou estado de
bem-estar social), compreendido como resultado de um processo trending_up Alta da inflação.
histórico e geopolítico no qual a forma das relações entre as classes
dominantes e as dominadas não poderia mais se basear no padrão
liberal das primeiras décadas do século XX.

Agora era necessário fazer algumas concessões de “benefícios” para


seguir a dinâmica de exploração. Contudo, nos países considerados local_gas_station Alta do preço do petróleo.
periféricos, como os da América Latina, por exemplo, as conquistas
sociais foram mais precárias.

Ainda assim, o Estado assumiu uma postura mais ativa diante do


mercado. Notadamente desenvolvimentista, ela tinha como principal
objetivo fomentar uma base de acumulação econômica interna, mesmo
trending_down Queda na lucratividade.

sendo muito dependente dos capitais externos.

No final dos anos 1960, esse modelo do Estado capitalista e toda a


estrutura a reboque começaram a sofrer seus primeiros abalos,
sobretudo na esfera política e cultural, com uma onda de greves e
monetization_on Elevação dos juros dos EUA (o que levou à crise
manifestações que tinham como traço comum a crítica ao controle
fiscal em diversas economias nacionais
capitalista da produção e à organização do trabalho sob os modelos
endividadas com o país norte-americano).
taylorista e fordista.

Na década de 1970, já era possível constatar uma severa crise nas


principais economias capitalistas dos países centrais.

Capitalismo e tecnologia

É importante destacar dois aspectos que marcam o capitalismo desde


os anos de 1970 e exercem influências até a atualidade como
consequências nas relações entre as classes no modelo do Estado
capitalista:

settings Reestruturação capitalista da produção.

groups Ofensiva das reformas sociais e econômicas


baseadas nas políticas neoliberais.

Elencaremos a seguir alguns fatores dessa crise:


O objetivo de ambas é reduzir direitos ao invés de ampliá-los, o que
também é chamado de contrarreforma. Fundamentais para explicar o
mundo atual, esses dois aspectos se determinam de forma recíproca, ou velocidades. Com isso, emergiu um novo modelo de acumulação; de
seja, para que novas tecnologias e uma diferente forma de organização caráter flexível, ele contrastava com várias características do padrão
sejam instituídas, uma ofensiva política que consiga debilitar entidades fordista.
sindicais e a resistência dos trabalhadores é necessária, o que tem sido
Esse movimento era marcado pela:
feito por intermédio das reformas neoliberais.

model_training
A partir da década de 1970 são registradas profundas inovações
tecnológicas com o advento da microeletrônica, que propiciou o
processo de automação da produção. Com os avanços da computação,
diversos softwares atualmente são os responsáveis pela sistematização Presença de inovações tecnológicas, organizacionais e financeiras.
do trabalho, guiando e ordenando a produção.

public
Redefinição de mercados e modelos industriais em nível mundial.

As grandes indústrias passaram a reduzir suas organizações


administrativas e quadro de pessoal, enquanto o setor de serviços se
elevava em relação aos setores industriais e agrícolas.

Tal panorama fez com que algumas correntes passassem a refletir


sobre uma sociedade “pós-industrial” com características diferentes da
O desenvolvimento de softwares (programas) dissociados de hardwares sociedade capitalista tradicional. Entretanto, as transformações
(parte física) não elimina o trabalho vivo, embora acarrete duas verificadas na atualidade mostram outros aspectos, os quais, na
consequências de grande relevância: verdade, condizem com a manutenção da estrutura hierárquica de poder
do capital sobre o trabalho.

settings_applications
Faz com que uma única máquina possa variar movimentos e tarefas
sem alterar sua estrutura mecânica.

cloud_upload
Possibilita que o conhecimento se separe do corpo físico do trabalhador
e se transforme em mercadoria.

Outra área importante que foi afetada pelas inovações tecnológicas é a


de telecomunicações, pois, a partir da digitalização das redes, se tornou
possível construir a base de infraestrutura para a mundialização do
capital, especialmente para o imenso poder concentrado nas mãos das
instituições financeiras.

Estudiosos chamaram esse processo de reestruturação produtiva, que


atingiu quase todos os setores econômicos, embora em diferentes
O modo de produção capitalista tem como
pressuposto a exploração do trabalho a fim de gerar
B riqueza coletivamente, porém a apropriação dessa
riqueza se dá de modo privado, excluindo quem
realmente a produziu.

O modo de produção capitalista tem como


C pressuposto a socialização da riqueza produzida
pelo trabalho de maneira equânime.

O modo de produção capitalista tem como


pressuposto a exploração do trabalho a fim de gerar
D
riqueza coletivamente, assim como reparti-la entre
todos os extratos sociais.

Não há vinculação entre o modo de produção


capitalista e a categoria “trabalho”, uma vez que o
E modo de produção em questão diz respeito apenas
às estratégias de comercialização de mercadorias
Falta pouco para atingir seus objetivos. produzidas.

Vamos praticar alguns conceitos?


Parabéns! A alternativa B está correta.
Questão 1
A desigualdade social é fundada na relação de exploração entre
capital e trabalho, que é própria do modo de produção capitalista.
Assinale a alternativa que caracteriza a vinculação entre o modo de
produção capitalista e a categoria “trabalho”.

Questão 2
Não há vinculação entre o modo de produção
capitalista e a categoria “trabalho”, já que o modo de É correto afirmar que as crises pelas quais o capitalismo passa são
A
produção em questão diz respeito apenas a estruturais?
aspectos econômicos.

Não. Trata-se de crises conjunturais, que dependem


A dos acontecimentos em determinados momentos
históricos.
B Sim. Trata-se de crises estruturais, que dependem
dos acontecimentos em determinados momentos
históricos, não guardando relação com a estrutura
do meio de produção.

Não. Esse modo de produção funciona de forma


C organizada e harmoniosa desde o fim do
feudalismo.

Sim. Elas fazem parte constitutiva desse modo de


produção, o qual, ao esgotar suas formas de
D exploração, colapsa e cria outras formas de manter
seu modo de operar e reorganizar tal modo no
sentido de sua continuidade.

2 - Transformação nacional no mundo do


trabalho
Não. As poucas crises registradas no modo de
E produção capitalista são decorrentes da má Ao final deste módulo, você será capaz de identificar os impactos nacionais
relativos às transformações no mundo do trabalho e da classe
administração pública estatal. trabalhadora.

Parabéns! A alternativa D está correta.


Capitalismo e trabalho no
A própria estrutura do modo de produção capitalista é baseada na
superexploração, que termina no colapso dessa estrutura. Com Brasil
isso, ela exige novas formas de organização para garantir sua
continuidade sem perder a essência predatória da exploração do
trabalho. Economia capitalista e o trabalho no Brasil

Para abordar as expressões de desigualdade, exploração e


vulnerabilidade atreladas ao trabalho no Brasil, é preciso considerar a
relação direta que elas possuem com as formas de gerenciamento dele.
Desde a passagem do feudalismo para a economia colonial, passando
pelo processo da Revolução Industrial tardia, do milagre econômico e da
automação ligada aos avanços tecnológicos, não só os aspectos
econômicos são alterados a cada etapa de mudança e crise do modo de
produção capitalista, mas também as condições de trabalho e suas
garantias (ou a ausência delas).
servil para o trabalho assalariado.

Dessa maneira, a economia colonial se organizou para cumprir a função


de instrumento de acumulação primitiva do capital, viabilizando
mecanismos que permitissem os seguintes pontos:

adjust A produção de um excedente que se transformasse


em lucros ao se comercializar a produção no
mercado internacional.

É certo que a formação e o desenvolvimento do capitalismo ocorreram


de formas e em velocidades diferentes tanto nos países centrais quanto
nos periféricos, como é o caso do Brasil. Por isso, precisamos identificar
algumas fases importantes para compreendermos esses dois
adjust A criação de mercados coloniais para a produção
fenômenos no país, bem como sua influência sobre o trabalho, que se
metropolitana.
processou com características próprias desde a economia colonial até a
atualidade.

Na economia colonial (século XVI até o início do XIX), estiveram


presentes dois fatores relevantes, são eles:

adjust A apropriação pela burguesia metropolitana


(também em fase de constituição) de quase todo o
lucro gerado na colônia.

Do ponto de vista do trabalho, para que houvesse uma produção


colonial, mercantil e comercializável, era imprescindível haver no
mercado mundial um trabalho compulsório, servil ou escravo, uma vez

Setor exportador que eles eram mais rentáveis que o assalariado. O tráfico negreiro, com
isso, abriu um setor do comércio colonial altamente rentável e
representou uma alavancagem significativa para a acumulação de
capitais.

Ocorrendo de forma mais enfática no Império (século XIX), esse


fenômeno desenvolveu a economia cafeeira brasileira, bem como sua
gestão de mão de obra, que era composta parcialmente pelo trabalho
escravo e posteriormente pelo assalariado de imigrantes. A estratégia
de trabalho imigrante se baseava na geração de um fluxo abundante de
homens pobres sem alternativa de subsistência senão a empresa
cafeeira, já que não podiam comprar sua terra nem abrir negócios

Setor produtor de alimentos próprios.

Com isso, o trabalho dominante no país passava a ser o assalariado.


A expansão das relações mercantis promovia a superação da economia
Em 1888, a escravidão foi extinta, deixando, contudo, um rastro de
colonial para a economia capitalista, bem como do regime de trabalho
desigualdade social, já que os escravizados, tornados homens livres,
objetivamente não encontravam formas de subsistir dignamente no tecnológico difícil de ser resolvido, já que demandava um maciço
mercado de trabalho capitalista e assalariado existente. volume de investimento inicial e uma tecnologia altamente sofisticada
para nossos padrões.

Para investir no país, o capital estrangeiro industrial impele o Estado a

Industrialização nacional um tipo de ação política e econômica inteiramente solidária a um


esquema privado de acumulação com base nas seguintes ações:

Em um momento posterior, o Brasil passou por uma fase de


industrialização retardatária que não só influenciou os aspectos keyboard_arrow_right Garantir forte proteção contra importações
econômicos nacionais, mas também a configuração do trabalho. Com o concorrentes.
nascimento das economias capitalistas exportadoras, o modo de
produção capitalista tornava-se dominante na América Latina.

No entanto, esse modo era, na verdade, uma reprodução ampliada do


capital que não está assegurada endogenamente. Essa reprodução não
se deu nos países latino-americanos “por dentro” em função da keyboard_arrow_right Impedir o fortalecimento do poder de barganha dos
ausência de bases materiais de produção de bens de capital e de outros trabalhadores (que poderia surgir com um
meios de produção — e, entre esses países, incluía-se o Brasil. sindicalismo independente).

O período entre 1888 e 1933 marca o nascimento e a consolidação do


capital industrial, propiciando o florescimento de:

grass keyboard_arrow_right Realizar investimentos em infraestrutura,


assegurando economias externas baratas ao

Uma agricultura mercantil de alimentos e uma indústria de bens de capital industrial.

consumo para os trabalhadores, ambas capazes de, ao se expandirem,


reproduzir a massa de força de trabalho disponível no mercado de
trabalho.

Não bastou ao Estado Novo (1937-1945), durante a Era Vargas, definir

home_work
claramente as políticas de defesa nacional, pois a indústria siderúrgica,
por exemplo, só foi possível graças ao aporte dos EUA e a seu
alinhamento de maneira inteiramente solidária com o padrão de
Um núcleo de indústrias leves de bens de produção (pequenas acumulação. Isso atrasou o desenvolvimento interno nos transportes e
indústrias de aço e cimento), além da agricultura mercantil de matérias- na produção de energia, pois eles estavam subordinados à economia
primas que, por conta de sua continuação e crescimento, reduziram a mundial capitalista.
necessidade de importação.
Para que a Era Vargas lograsse êxito governamental em sua aliança
com os EUA para um desenvolvimento econômico pautado na
Em 1933, iniciava-se uma fase de transição relacionada a um novo exploração capitalista do território nacional, ele paralelamente criava
padrão com o qual a acumulação se move. Era a chamada pacotes de ações nacionalistas e de regulação social via trabalho.
industrialização restringida, que se estendeu até 1955.
Exemplo
Basicamente, esse processo tem um caráter restrito, pois as bases
São exemplos dessas ações a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)
técnicas e financeiras de acumulação são insuficientes para a
e as grandes instituições assistenciais criadas durante o governo de
implantação do núcleo fundamental da indústria de produção. O
Getúlio Vargas.
nascimento tardio da indústria pesada no Brasil ocasionou um atraso
money_off Arrocho salarial
Do desenvolvimentismo ao
regime militar
Do ponto de vista do trabalho, a fixação dos salários era vista como uma
medida necessária para a estabilização econômica, o que representou
A política desenvolvimentista
um duro golpe na classe trabalhadora, que sequer podia se manifestar
sob pena de prisão, tortura, desaparecimento e morte, mesmo
O governo de Juscelino Kubistchek (1956-1961) e sua sucessão
tratamento dado àqueles que questionavam politicamente o sistema
imediata representaram o maior bloco de investimentos até então
vigente. A política de estabilização resultou no aprofundamento da crise,
registrados na economia brasileira. A industrialização desse período
gerando uma onda de liquidações de empresas pequenas e médias.
configura um ciclo de acumulação, compreendendo seu momento de
expansão (1956-1961) e o de declínio (1962-1967).
O milagre econômico
A partir dos anos de 1960, a crise cíclica do capitalismo já dava seus
sinais no país. Ela estava expressa na baixa do Produto Interno Bruto
Entre 1968 e 1973, ocorreu o período denominado “milagre econômico”,
(PIB), que, em 1961, era de 7,3%. No ano seguinte, o PIB baixou para
que se caracterizou pela forma de desenvolvimento capitalista que
5,4%; em 1963, para 3,1%.
beneficiava o capital monopolista e que excluía as massas populares da
A crise política a acompanhar a crise econômica de superacumulação esfera dos direitos políticos e econômicos. O investimento na indústria
no início dos anos de 1960 teve um desenlace conservador, coroado automobilística, com isso, ganhava destaque.
com o golpe militar de março de 1964 e a ascensão das Forças
Armadas ao poder do Estado. Além da violência e da truculência contra
Havia uma enorme concentração de renda decorrente
a população, uma série de medidas de austeridade foi adotada, como:
da lógica da organização da produção posta em
andamento. A miséria produzida por tal “milagre”

money_off Cortes no gasto público constituía a face da contradição dessa exploração e


desigualdade.

Já na década de 1980, houve a adoção de uma política de cunho


nitidamente ortodoxo e recessivo. A partir de 1984, basicamente em

money_off Aumento de carga tributária função da demanda externa, a economia brasileira começava a
experimentar os primeiros sinais de recuperação, inscrevendo-a em um
padrão internacional de crescimento no qual a internacionalização
produtiva e a financeira são dois aspectos do mesmo processo, ao
passo que a dívida externa seguia sem perspectiva de liquidação.

money_off Contenção do crédito A derrocada do regime militar, os sucessivos planos econômicos sem
êxito para a recuperação do crescimento econômico e a diminuição da
inflação marcaram os anos 1980. Essa década, porém, também foi
marcada pelo nascimento de outras formas de organização política dos
trabalhadores e pelo fortalecimento de um movimento sindical crítico à
estrutura oficial do Estado.
grading Abertura comercial e financeira.

grading Privatizações.

Luiz Inácio Lula da Silva discursando em uma greve de metalúrgicos de 1979.

Em 1988, a Constituição Federal, por fim, garantia um importante grading Planos de estabilização baseados em juros altos e
conjunto de direitos aos trabalhadores e preservava o monopólio estatal calcados em regulações jurídico-econômicas.
em setores-chave da economia.

Neoliberalismo no Brasil Dessa forma, nos governos Collor e FHC, as classes dominantes foram
contempladas com a redução dos custos da força de trabalho causada
pela desregulamentação jurídica e econômica em detrimento da classe

Em 1989, o governo de Fernando Collor (1989-1992) deu início a um trabalhadora, que experimentou o aumento do desemprego e a inibição

amplo programa de reformas do Estado e da economia, afetando, do crescimento econômico apontada no PIB. A desigualdade social

assim, diretamente o trabalho. Esse programa foi intensificado por permaneceu praticamente inalterada, enquanto a informalidade do

Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e mantido em sua essência emprego atingia altos índices: quase metade da força de trabalho ativa

pelos governos de Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma no país.

Roussef (2011-2016) até o impeachment de 2016, ano em que assumia


Comentário
Michel Temer (2016-2018).
Essa tendência só passou a mostrar alguma alteração a partir de 2001,
O neoliberalismo parecia criar um projeto hegemônico capaz de
em função do aumento expressivo das exportações de produtos
rearticular o bloco no poder, que, por sua vez, buscava alternativas para
primários ou semimanufaturados de baixa tecnologia.
a crise do Estado desenvolvimentista apesar das diferenças existentes
entre os partidos e as ideologias políticas — ao menos daqueles que, de
A chamada Era PT teve início nesse contexto de insatisfação popular
fato, assumiram o governo federal — que os norteavam.
com as consequências econômicas de tais políticas. Ao longo dos
As políticas neoliberais baseiam-se em três ordens principais: mandatos de Lula e Dilma, não houve uma mudança estrutural das
políticas macroeconômicas do país, já que os fundamentos das
medidas da década anterior para a contenção da inflação e a
Impeachment estabilização da economia se mantiveram inalterados.

Embora o processo de impeachment tenha ocorrido dentro dos parâmetros


Sem modificar a base econômica por conta dos compromissos com o
da Constituição e sob total supervisão do Supremo Tribunal Federal (STF),
capital financeiro, restou ao governo ampliar políticas sociais
não é raro encontrar como referência a esse evento a expressão “golpe de
compensatórias, ainda na esteira da lógica liberal de “focalização” de
2016”. À época, até mesmo cursos de pós-graduação lato sensu
recursos, em detrimento da prestação universal desses serviços. O
(especialização) foram oferecidos sob esse título em instituições públicas e
programa mais emblemático desse período foi o Bolsa Família.
privadas.
Trabalho no Brasil
Panorama do trabalho no Brasil

A partir do impeachment de 2016, no qual Dilma Roussef foi deposta e


seu vice-presidente, Michel Temer, assumiu o governo federal, até a
posterior eleição do presidente Jair Bolsonaro (2019-2022), é possível
A liberação de mais recursos para o crédito consignado, o Programa de observar uma contínua degradação de direitos e garantias relativas ao
Aceleração do Crescimento (PAC) e os aumentos reais do salário- trabalho, com ênfase na precarização, no desemprego e na
mínimo possibilitaram uma saída menos conturbada da crise desocupação.
internacional que se abateu a partir de 2008 e expressaram uma
Saiba mais
melhora de índices sociais e econômicos. Houve inclusive mais geração
de empregos e elevação do padrão de renda de pessoas cuja renda Para uma análise mais profunda sobre esses direitos e garantias, vale
familiar variava de 2 a 8 salários mínimos. conferir o teor da Lei nº 13.467, de 13 de julho 2017, que altera a CLT.

Do ponto de vista de trabalho, embora tenham sido registrados avanços


Botão (2020) destaca quão interessante é notar a inconsistência
no aumento de empregos, a imensa precariedade ainda era uma
neoliberal, que apregoa que o mercado é autorregulável, porém, ao
realidade para grande parte da força de trabalho brasileira. Ela era, afinal,
menor sinal de crise e prejuízo econômico para as elites, buscam-se
pressionada pelas consequências da flexibilização (terceirização,
soluções por meio de pactos econômicos e políticos com intervenção
subcontratação ou contratos temporários), do trabalho informal ou do
estatal.
subemprego.

Além das refrações da crise sobre a sociedade no que tange ao trabalho,


A precariedade realmente figura como a face contraditória da
merecem destaque as análises sobre as grandes transformações na
modernização do capitalismo brasileiro.
natureza e na organização das relações de trabalho, já que elas foram
profundamente afetadas pelo uso de novas tecnologias, especialmente

video_library da informação e da comunicação, com um aumento da automação, da


inteligência artificial e da regulação do trabalho por aplicativos e

Políticas sociais
plataformas.

compensatórias
Confira, neste vídeo, uma apresentação sobre as políticas sociais
compensatórias no contexto do neoliberalismo no Brasil.

Atrelado aos marcos legais da Reforma Trabalhista e da Previdenciária,


esse cenário fragiliza ainda mais a relação de trabalho formal no Brasil.
Exemplo disso são os contratos por plataformas nos quais se pretende
descaracterizar a relação de assalariamento, tratando os trabalhadores por outro apresentam-se novas formas de representação em busca de
como parceiros ou colaboradores e os empregadores por “plataformas”. uma resposta para o processo de diminuição/eliminação dos direitos
sociais do trabalho.
Essa relação escamoteia:
Nesse sentido, destaca-se o papel dos sindicatos e dos movimentos
sociais, que precisarão cada vez mais realinhar suas estratégias para

adjust A ausência de férias remuneradas.


compreender melhor uma classe trabalhadora e multiforme que
apresenta demandas bastante diferentes das tradicionalmente
colocadas.

Como a precarização não é algo estático, e sim um processo que, em


determinados momentos, se amplia ou se reduz, a capacidade de
adjust As jornadas de trabalho extenuantes. resistência e de organização — o que os autores chamam de “novo
proletariado digital” — será um elemento decisivo para a recomposição
de formas protetivas ao trabalho.

adjust A falta de amparo previdenciário, como


aposentadoria por tempo de serviço, por invalidez,
licença-maternidade e auxílio-doença etc.

Ainda assim, parece existir um ideário implícito de que esse trabalhador


precarizado e desprotegido do ponto de vista legal e previdenciário seja,
na verdade, um “empreendedor”, um “patrão de si mesmo”, tendo
liberdade para definir seu local e sua jornada de trabalho. Ao
estabelecermos um olhar mais crítico sobre a atual forma de sobreviver
do trabalho, percebemos que se trata de um discurso falacioso, que
mistifica a exploração e, por consequência, seus desdobramentos
expressos na desigualdade e na vulnerabilidade.

Somando-se à crise dessa fase atual do capitalismo e às suas


expressões sobre a classe trabalhadora, o amplo e multiforme processo
de precarização do trabalho, frisa Antunes (2020), vem acarretando uma
mobilização por descontentamentos. Se, por um lado, há dificuldades,
Não há vinculação entre o serviço social e a análise
E dos aspectos evolutivos da economia nacional, pois
não existe rebatimento em nossas demandas de
trabalho.

Parabéns! A alternativa A está correta.

Pensar criticamente, conhecer o passado e refletir acerca de


alternativas para o presente e o futuro são questões urgentes para a
categoria profissional dentro de nossas atribuições profissionais
específicas.

Falta pouco para atingir seus objetivos.


Questão 2
Vamos praticar alguns conceitos?
Quanto ao cenário contemporâneo, aponte a alternativa que

Questão 1 caracteriza as relações de trabalho considerando a atual fase do


modo de produção capitalista.
Por qual razão é importante conhecer as fases de evolução da
economia nacional?
Investimento em postos de trabalho com garantias
A
trabalhistas (carteira assinada).
Para analisar de maneira crítica como os
acontecimentos mais antigos influenciam a
A atualidade não só sob o ponto de vista meramente Investimento em postos de trabalho ligados ao
B
econômico, mas também a partir de seus impactos funcionalismo público via concursos.
sobre a questão social e a cultural.

Degradação dos direitos sociais oriundos do


Na verdade, não é importante conhecer todas as trabalho, fragilização dos vínculos formais de
C
fases de evolução da economia nacional, e sim trabalho e aumento das taxas de desemprego,
B apenas as mais recentes, que expressam a desocupação e informalidade.
conjuntura atual sob a qual vivemos mais
imediatamente.

Estímulo ao emprego em indústrias e centros de


D
produção de insumos agrícolas.
Para identificar possibilidades de aplicações
C
financeiras e ganhos rentáveis.

E Investimento em políticas de trabalho e renda.

Para debater a tomada de decisões na elaboração


D
de políticas de ajustes fiscais.
Parabéns! A alternativa C está correta.
Uma das tendências da atual fase do capitalismo, no que tange ao
trabalho, são os contratos intermitentes e desprotegidos e o
trabalho “uberizado”, isto é, aquele realizado por meio das
plataformas digitais sem a caracterização de
empregador/trabalhador.

Há uma tendência de remeter, no senso comum, a terminologia “questão


social” a toda e qualquer situação de falta de acesso aos mínimos
aspectos sociais necessários para a sobrevivência. Contudo, a atuação
profissional em serviço social exige um olhar mais apurado para a
chamada questão social.

No âmbito do serviço social, o conceito de questão social apresenta-se


no terreno histórico das desigualdades constitutivas das relações
sociais na sociedade brasileira, que são reproduzidas de forma
ampliada, com suporte do Estado, por intermédio dos recursos das
políticas públicas, destaca Iamamoto (2017). Muito embora a discussão
e a análise dessa questão não sejam uma prerrogativa única de tal
profissão, os assistentes sociais, por seu caráter interventivo, são
chamados a refletir, pesquisar e atuar sobre as manifestações da
questão social, a qual, por sua vez, figura como objeto de intervenção
profissional por meio das políticas sociais.

3 - Questão social e especificidades regionais Mas por qual razão nos referimos à questão
Ao final deste módulo, você será capaz de analisar as expressões da questão social, e não às questões sociais, no plural?
social na atualidade e os aspectos de regionalidade.

Sob uma perspectiva alinhada com o projeto ético, político e profissional


do serviço social e com a teoria social crítica, a questão social é

A questão social enxergada como uma expressão das contradições inerentes ao


capitalismo — em especial, da contradição entre o capital e o trabalho.

Desenvolve-se, assim, o processo de construção de desigualdades. A


Considerações sobre “questão social” questão social tem sua origem no modo de produção capitalista, sendo
característica desse modo de produção.

video_library Dessa forma, não é correto afirmar a existência de


questões sociais, e sim de múltiplas expressões da
Evolução tecnológica e questão social, que se expressam em tantas formas de

desigualdade social desigualdade.

Como exemplo dessas múltiplas expressões, podemos citar o acesso à


Veja, por meio de exemplos, como a evolução tecnológica pode subsistir saúde, à educação, à habitação, ao trabalho e à renda ou questões
e até mesmo ampliar a desigualdade social. étnico-raciais, de gênero e de orientação sexual.
As expressões da questão social apresentam-se na desigualdade e na
vulnerabilidade, vejamos um exemplo: Desigualdade e regionalidade
Exemplo
No cenário da crise contemporânea, a questão social, na era do capital
Ao compararmos a evolução mundial em termos de tecnologia, serviços financeiro, indica suas repercussões no universo do trabalho no Brasil e
e bens de consumo, podemos registrar avanços como nunca antes no mundo. A globalização e os mercados livres, segundo Eric
notados. Também registramos, no entanto, uma distância cada vez Hobsbawm (2007), acentuaram as desigualdades econômicas e sociais
maior entre aqueles que possuem recursos financeiros para acessar o entre as nações e mesmo dentro de um mesmo país.
que é produzido e quem não tem sequer acesso aos mínimos sociais
Tanto a desigualdade quanto a instabilidade econômica estão na base
para uma vida digna.
das importantes tensões sociais e políticas do século XXI. Em 2010, o
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) realizou
O trabalho do serviço social se apresenta, assim, para lidar com as
uma pesquisa nos países latino-americanos para levantar dados
expressões de tais desigualdades e vulnerabilidades sociais.
referentes à distribuição de renda na América Latina.
Usualmente, isso se dá na formulação e na implementação de políticas
públicas.

Para um exercício profissional crítico e comprometido, cabe aos


assistentes sociais compreender que, em seus espaços socio-
ocupacionais, suas demandas cotidianas não são fenômenos sociais ou
questões individuais, e sim expressões de uma questão social inerente à
contradição e à desigualdade do modo de produção capitalista. Pode
parecer uma diferença sutil, mas a devida compreensão da questão
social, de suas expressões e da vinculação com o modo de produção
norteia a categoria profissional a não estabelecer uma prática O estudo do PNUD (2010) apontou que, dos 15 países com maior
moralizadora, disciplinadora ou julgadora de costumes que vislumbre o desigualdade, 10 faziam parte da América Latina e do Caribe. Dessa
usuário do serviço social como um sujeito disfuncional cuja lista, o Brasil e o Equador tinham o terceiro pior índice de Gini: 0,56. Para
problemática apresentada tenha um caráter individual. compreender melhor o que isso significa, basta saber que, pelo
balizador desse índice, quanto mais próximo de 1, maior é a
desigualdade no país.
Por essas razões, é tão necessário e urgente a
categoria imprimir historicidade ao conceito A posição do Brasil e do Equador só foi superada por Bolívia,
Madagascar e Camarões (com marcador de Gini de 0,60), seguidos de
de questão social. África do Sul, Haiti e Tailândia (cujos índices de Gini foram de 0,59). Na
outra ponta, os países da América Latina com os melhores índices
Para isso, ela deve observar seus nexos causais relacionados ao (inferiores a 0,49) eram Costa Rica, Argentina, Venezuela e Uruguai.
capitalismo sem perder de vista a necessidade permanente de
Na comparação desses dados com uma pesquisa apurada pelo 10º
pesquisar a realidade brasileira a fim de conhecer cada vez mais as
Censo Agropecuário de 2006 (Iamamoto, 2013), conclui-se que o grau
expressões atuais da questão social que se abatem sobre nossa
de concentração de propriedade de terra no Brasil está praticamente
população.
inalterado desde 1985. A desigualdade é indissociável do processo de
“modernização produtiva” e da inserção do país no competitivo mercado
mundial de commodities agrícolas, atualizando sua condição histórica

Regionalidade e questão de economia agroexportadora.

social Gini
Instrumento usado para medir o grau de concentração de renda de uma
população.

Movimento Sem Terra (MST) em manifestação contra a concentração de terra no Brasil.

Ao mesmo tempo, é possível constatar uma intensa internacionalização


do território brasileiro mediante a compra de terras por parte dos
grandes conglomerados financeiros mundiais sem controle público,
Alusão à desigualdade social.
tendo em vista a produção de produtos agropecuários para exportação
e a disputa pela água e pelos recursos minerais, bem como pela
O referido órgão registrou a existência de um ciclo virtuoso de
biodiversidade brasileira.
crescimento da economia brasileira desde 2003 com base na renda
Recomendadas pelos países centrais aos periféricos desde a década de familiar, que apresentava uma taxa acumulada de 40,7% de crescimento
1990, as medidas anticrise servem, na verdade, para promover a até 2011. Tal cenário denota que, nesse período, aquilo que o Ipea
recuperação das taxas de lucro ao mesmo tempo que acentuam a chama de “novo ciclo do desenvolvimentismo” no país se apoia na
desigualdade. As políticas anticrise de cunho liberal constituem, em expansão do mercado interno e no consumo de bens em massa.
suma, estratégias de um projeto de classe que se destina a restaurar e
Desse modo, o “novo desenvolvimentismo” foi uma estratégia do
consolidar o poder do capital, privatizando lucros e socializando custos.
período que articulava:
Com isso, cresce o abismo social entre ricos e pobres, ampliando a
questão social, cujas expressões são retratadas no cotidiano das
classes subalternas. Essa é uma situação crônica e inerente à condição trending_up Crescimento econômico.
do capitalismo periférico e dependente dos centros mundiais, o que
muito se explica por nossa herança histórica.

O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) publicou em 2012


um estudo analisando a desigualdade, a pobreza e as políticas de renda
no Brasil no período compreendido entre 2001 e 2011. Embora a flag Reafirmação da soberania nacional (Brasil colocado
desigualdade brasileira, segundo o Ipea, estivesse entre as 12 mais altas na posição de credor perante o mercado mundial).
do mundo, ela se encontrava em queda naquela fase.

account_balance Reforço da presença do Estado nos bancos


públicos, na ampliação do funcionalismo público e
no PAC.
Família era baseado em valores fechados. Em 2021, antes de sua
extinção, o benefício básico era de R$89,00 mensais.

Na raiz da questão social, encontram-se políticas governamentais que


Com tais características somadas à adoção de outras medidas
favorecem o grande capital produtivo de instituições, mercados
relacionadas ao trabalho, à previdência, ao Programa Bolsa Família e ao
financeiros e empresas multinacionais. Tais grupos atuam como forças
Benefício de Prestação Continuada (BPC), ocorreu uma inédita redução
que “capturam” o Estado, as empresas nacionais e o conjunto de
da desigualdade de renda.
classes e grupos sociais, que acabam por assumir os ônus das
chamadas exigências de mercado.

Políticas assistenciais
Esse processo influencia a questão social, radicalizando suas múltiplas
manifestações. Dessa forma, o capital financeiro:

Políticas assistenciais e previdenciárias adjust Impõe sua lógica incessante de crescimento


baseada na exploração.
O investimento de recursos públicos nos programas de transferência de
renda, como o BPC e o Bolsa Família, custava “mais barato” que o
investimento em previdência social, por exemplo. Isso significa que
programas de transferência de renda (em especial, o Bolsa Família)
representavam o caminho mais curto para a erradicação da miséria.
adjust Aprofunda desigualdades de toda natureza.
Voltada para a relação entre custo e benefício para os cofres públicos,
essa lógica de erradicação nos leva a perceber:

adjust O desmonte dos benefícios previdenciários em adjust Torna invisível o trabalho vivo, aquele que cria a
favor da assistência social. riqueza, bem como inviabiliza os sujeitos que o
realizam.

adjust O reforço na assistencialização da pobreza. As múltiplas manifestações da questão social sob a órbita do capital
tornam-se objeto de ações filantrópicas, dissociando-se da esfera das
políticas públicas de caráter universal. A mundialização do capital
acaba, assim, por afetar profundamente tanto a questão social quanto
as políticas públicas, já que desloca suas diretrizes para a focalização, a
adjust O rebaixamento das condições de vida dos privatização, a descentralização, o desfinanciamento e a regressão dos
segmentos beneficiados. direitos ligados ao trabalho em uma ampla perspectiva de privatização
da política social pública.

A efetivação dessas políticas vem sendo transferida aos organismos


privados da sociedade civil (o chamado “terceiro setor”). As conquistas
As diferenças de rendimentos transferidos para os cidadãos por sociais acumuladas têm sido transformadas na causa de “gastos
intermédio de políticas ou programas sociais são um exemplo disso. sociais excedentes”, segundo a interpretação neoliberal, cujo ideário
Enquanto o Benefício Assistencial à Pessoa com Deficiência e os pretende convencer que o “bem-estar social” pertence ao foro privado
benefícios previdenciários são pautados pelo salário mínimo, o do Bolsa dos indivíduos, das famílias e das comunidades.
A intervenção do Estado no atendimento às necessidades sociais é
pouco recomendada, sendo transferida ao mercado e à filantropia como
alternativas aos direitos sociais. Essa tendência, que vem se
acentuando até os dias atuais, foi agravada pelo trabalho desprotegido
na chamada era digital e pela pandemia da covid-19, com mais
dificuldades impostas ao acesso ao trabalho, à saúde e aos quesitos
básicos à sobrevivência.

Paralelamente, podemos registrar ainda o fim do Bolsa Família para dar


lugar a um programa mais focal e provisório chamado de Auxílio Brasil.
Isso sem contar com o fim do auxílio emergencial, disponibilizado para a
população com diversas fragilidades e críticas durante a fase inicial da
pandemia.

Auxílio Brasil
Em novembro de 2021, o Senado aprovou o Auxílio Brasil, programa social
que substitui o Bolsa Família. De acordo com o Ministério da Cidadania, o
Falta pouco para atingir seus objetivos.
valor médio seria de R$217,00 por família.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Indique a alternativa que trata corretamente o entendimento de


questão social.

Expressão da desigualdade causada pela


A exploração, condição sem a qual o modo de
produção capitalista não se sustentaria.

Mazelas sociais que não podem ser consideradas


B
como problemas estruturais do capitalismo.
Problemática apresentada pelos sujeitos sociais e Para ter um panorama quantitativo dos marcadores
por eles ocasionada, tendo, assim, sua resolução D
econômicos da população.
C
voltada para uma mudança de comportamento
individual.

Para ter um panorama que balize a concessão de


E crédito financeiro à população por meio do sistema
Entende-se por questão social o equivalente a bancário.
D pobreza, sem qualquer vinculação ao modo de
produção vigente numa estrutura social.

Parabéns! A alternativa C está correta.


Objeto de atuação de grupos voluntários na prática Sem o mapeamento quantitativo e qualitativo das questões
E
de ações solidárias. econômicas e sociais da população, torna-se uma tarefa muito
difícil acertar as estratégias de enfrentamento da questão social e
atuação sobre ela.
Parabéns! A alternativa A está correta.

A questão social ou as expressões da questão social sobre a


sociedade estão ligadas à desigualdade e à vulnerabilidade,
questões inerentes ao capitalismo, o qual, para o funcionamento de
sua estrutura, pressupõe a exploração e a não socialização das
riquezas produzidas.

Questão 2

Por que é importante a realização de pesquisas socioeconômicas


com a população?

Para identificar a capacidade de compra e


A
movimentação da economia nacional.

4 - Perfil do profissional de serviço social


Para identificar a capacidade produtiva da Ao final deste módulo, você será capaz de identificar os elementos
B
população economicamente ativa. importantes na condição do assistente social como parte da classe
trabalhadora e como profissional.

Para ter um panorama factível das necessidades


sociais da população, que, medidas por meio de Serviço social e capitalismo
contemporâneo
C pesquisas e censos, dão um melhor direcionamento
para as estratégias de enfrentamento às expressões
da questão social.
alternativas eficazes para o controle dos mercados e da produção. Esse
Um olhar menos atento sobre os desdobramentos históricos e sociais
processo envolve as relações sociais em geral, pois as mudanças
pode considerar um exagero examinar tais fatos. No entanto, para
radicais ocorridas revelam um novo tempo para o capital.
compreender a atualidade de maneira crítica, é imprescindível entender
como se chegou até aqui. Para isso, logicamente é preciso levar em Inaugura-se a era da acumulação flexível, cujas estratégias passam a
consideração o enfoque sobre o serviço social. exigir a intensificação do trabalho. Isso também implica modificações
nas suas formas de gestão e em suas relações.
A conjuntura a compreender desde os anos 1970 até os dias de hoje
expressa modificações importantes para o conjunto da sociedade. No Brasil, a reestruturação produtiva é demarcada por:
Trata-se de um denso cenário de transformações no qual se processam
as expressões da questão social e, em consequência disso, situam-se
os grandes desafios para a atuação profissional. keyboard_arrow_right Redução do trabalho.

Além de ter como objetivo a retomada das taxas de lucro, o cenário


instaurado no mundo a partir da década de 1970 também fragiliza a
organização da classe trabalhadora e, ao mesmo tempo, acirra o
controle sobre ela. Por essas razões, tal momento propicia a
radicalização da questão social, tendo em vista que suas expressões keyboard_arrow_right Desemprego.
são elevadas a outro patamar que exigirá o realinhamento das
estratégias de enfrentamento.

keyboard_arrow_right Transformação dos trabalhadores em autônomos


sem carteira assinada e garantias protetivas
oriundas do trabalho.

No caso brasileiro, a reprodução das expressões da questão social se


encontra ampliada devido a seu lugar de país periférico no capitalismo
A questão social eclode de maneira latente com o processo de
mundial, o que faz com que as desigualdades próprias da nossa
industrialização, estando ancorada, a partir da consolidação do modo de
formação social e histórica recaiam nas atuais expressões da questão
produção capitalista, nas relações contraditórias entre capital e trabalho
social inseridas na dinâmica própria dos processos contemporâneos.
no bojo do processo produtivo. Portanto, o surgimento dessa questão se
dá com a formação da classe trabalhadora e sua inserção no cenário Para Iamamoto (2017), um exemplo disso é o aumento da exploração de
político. mão de obra e a ampliação desmedida da pobreza. A modernidade das
forças produtivas de trabalho social, afinal, contrasta com os padrões
atrasados nas relações de trabalho, ocasionando a radicalização da
É justamente nesse cenário denso e marcado por
questão social, que se abate sobre a população.
conflitos que o conjunto de problemáticas denominado
questão social surge e se desenvolve. Tal conjunto Essa radicalização também produz particularidades relacionadas aos
seguintes aspectos:
assume conotações diversificadas durante toda a
trajetória do capitalismo.

Nesse sentido, identificam-se novos arranjos no sistema capitalista, já


que, agora sob o comando do capital financeiro, ele necessita de
implementação de políticas sociais que sirvam como formas de
controle para as atuais manifestações da questão social.
wc Recorte de gênero.
Desse modo, o Estado procura responder às condições de
superexploração da força de trabalho pela via da constituição das
políticas sociais públicas. Para tanto, ele recruta novos agentes
profissionais para atuar tanto na formulação quanto na implementação
de tais políticas.
public Localização geográfica urbana e rural.

Diante do exposto até aqui, pudemos verificar que o


trabalho de assistentes sociais se relaciona
diretamente com a conjuntura histórica do capitalismo
trending_down Queda de níveis de educação. e as relações sociais contraditórias que as permeiam.

Por um lado, assistentes sociais têm sua atuação caracterizada pelo


conflito demarcado pelas demandas oriundas da classe trabalhadora da
qual também fazem parte. Por outro, são contratados pelo Estado,
import_export Disparidade entre o rendimento das famílias mais podendo ser compreendidos como um “comitê executivo da burguesia”,
pobres e o rendimento crescente das famílias mais pontua José Paulo Netto (2009), devido a sua característica de
ricas. alinhamento com os ditames do modo de produção capitalista e as
classes dominantes, fator que constitui um terreno de desafios
contemporâneos para a profissão.

Tal quadro é resultante do cumprimento de medidas recomendadas por


organismos financeiros internacionais que impõem, especialmente aos
países periféricos, a implementação de políticas de ajuste estrutural.
Desafios à profissão
Desse modo, as políticas sociais são submetidas aos ditames da
política macroeconômica com forte teor privatista, impelindo uma
Desafios à profissão no contexto atual
tendência forte de corte dos gastos sociais, uma retração dos serviços
públicos, um enxugamento da estrutura estatal e uma seletividade na
O desenvolvimento do capitalismo e as intensas modificações ocorridas
oferta de programas direcionados aos pobres e aos necessitados, o que
na contemporaneidade, inclusive a descentralização das políticas
vai contra a perspectiva de direitos universais.
sociais, redimensionam o perfil de assistentes sociais, cedendo lugar a
Comentário novas possibilidades de atuação. A categoria é chamada a atuar na
formulação e na avaliação de políticas públicas, bem como em sua
É nessa conjuntura que a profissão do serviço social se coloca como
gestão e monitoramento, e não só na execução terminal dessas
alternativa para mediatizar os conflitos e atender às mais variadas
políticas para a população usuária.
expressões da questão social. Ela constitui-se como trabalho
especializado na sociedade a partir da inserção das políticas sociais Esse movimento expande o mercado de trabalho para os assistentes
públicas na divisão social e técnica do trabalho. sociais. Embora a categoria não deixe de ser executora das políticas
sociais, ela vem atuando em estruturas organizacionais mais
O Estado aparece, nesse caso, como principal agente de intervenção, complexas.
lançando mecanismos que permitem a manutenção do controle sobre
as mazelas sociais. Para isso, ele pode atuar na formulação e na
essa parcela da sociedade. A atuação de assistentes sociais, assim,
denota o caráter histórico e político dessa profissão, que está situada
na reprodução das relações sociais capitalistas em seu processo de
acumulação.

Comentário
As mudanças na natureza das políticas sociais repercutem diretamente
no trabalho dos assistentes sociais, já que elas determinam as
condições em que se dá o trabalho profissional. Nesse contexto social,
em que existe uma forte tendência para a precarização e a focalização
das políticas, as orientações institucionais costumam se estruturar em
Com a expansão do mercado de trabalho, espaços ocupacionais são
ações que ferem o caráter universalista de tais políticas.
ampliados. Ao mesmo tempo, o mercado exige determinadas formas de
atuação, buscando impulsionar a capacidade crítica, criativa e
Como consequência da retração do Estado e do corte nos gastos
propositiva de assistentes sociais na perspectiva de seu
sociais, ocorre a ampliação da seletividade das políticas, inviabilizando
comprometimento com a transformação da realidade.
a consolidação dos direitos conquistados na Constituição de 1988.
O Estado, pela via das políticas sociais, tem necessitado de espaços Paralelamente, a profissão conta com a orientação do projeto ético-
socio-ocupacionais e de profissionais para administrar as refrações da político profissional e seus ideais emancipadores, oferecendo apoio a
questão social por intermédio de políticas sociais com um possível fim de buscar as mediações necessárias para atender às demandas de
caráter universalista ou focalista. O significado da profissão, entendido trabalho com competência crítica e propondo análises que se pautam
sob as condições históricas e sociais que a atravessam, permite a na defesa da liberdade e da justiça social.
demarcação de possibilidades para a apreensão das peculiaridades que
dão forma a seu projeto profissional.

video_library
Orientado pela cultura crítica, tal projeto requer
profissionais comprometidos ética e politicamente. Constituição de 1988:
avanços e retrocessos
Eles precisam estar munidos de competências teóricas
e metodológicas para atuar nas demandas sociais,
decifrando as particularidades do seu trabalho em
conexão com os processos macros da sociedade Neste vídeo, você conhecerá os avanços e os retrocessos da
burguesa. Constituição de 1988 no contexto dos direitos e deveres do cidadão.

A condição de trabalhador assalariado impõe aos assistentes sociais


obstáculos para a realização plena do seu processo de trabalho, pois ele
não dispõe de total autonomia para realizar seu trabalho, estando à
mercê das condições e dos meios de trabalho ofertados por seus
empregadores. Tal fato recai sobre a sua ação profissional, definindo
quais serão as demandas a serem atendidas e as expressões ou os
A questão social é indissociável da sociabilidade capitalista. Sua gênese
recortes da questão social que devem ser trabalhadas, fator que
está ancorada na contradição entre o trabalho socializado e a
restringe suas funções e atribuições dentro da instituição, seja ela
apropriação privada.
pública ou privada.
Estruturada nesse pilar, a questão social expressa as desigualdades
No trabalho realizado com os segmentos subalternizados da população,
típicas do capitalismo e se vê permeada por um processo denso de
encontram-se as bases para a constituição de particularidades do seu
conformismos e rebeldias, fincando seu pé em um terreno marcado por
exercício profissional no atendimento às demandas apresentadas por
conflitos no período de expansão do capital financeiro. Isso reafirma
que a contemporaneidade, considerando seus aspectos contraditórios,
coloca certos desafios consistentes ao serviço social, tendo em vista
sua vinculação com a questão social, bem como implicações que
decorrem do fato de o assistente social ser um trabalhador assalariado
(o que justifica a relativa autonomia da profissão).

Atenção!
Atender às demandas do trabalho e ser contratado pelo Estado ou por
organismos privados significa, portanto, ser desafiado a todo tempo por
um conflito inconciliável dentro de um sistema cuja base está atrelada à
contradição elementar entre capital e trabalho.

Embora essa contradição constitua um terreno árido, isso não significa


que a área seja um campo impossível de atuação. É preciso ter em vista
que tais dificuldades se colocam não só como crise, mas também como
oportunidade de resistência e de reafirmação profissional. Elas
resgatam a nossa capacidade crítica e propositiva de enfrentar
estrategicamente as reconfigurações da questão social a cada fase do
Falta pouco para atingir seus objetivos.
modo de produção vigente.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Qual das alternativas abaixo indica a relação entre a exploração


desmedida do capital sobre o trabalho e o papel do Estado?

O capital designa membros para a administração


A pública estatal a fim de facilitar a adoção de
medidas legais que a favoreçam.

O Estado não atua coadunado com o capital em


B relação ao trabalho, não havendo, portanto, uma
relação estabelecida.

O Estado empreende ações para dar sustentação ao


modo de produção capitalista, mas somente no que
C
tange a determinações dos juros e dos bancos
nacionais.
O Estado funciona como braço do capital na adoção D Sim. Isso se dá em função do baixo número de
de medidas que favoreçam esse modo de produção vagas para atuação em serviço social.
D
e as classes dominantes, criando, em diversos
momentos, mecanismos de suporte para a Sim. Existe uma necessidade atual do treinamento e
superexploração do trabalho, bem como sua E do desenvolvimento de competências que não são
desproteção. contempladas na fase formativa profissional.

Em seu movimento de exploração do trabalho, o

E
capital conta com o Estado meramente para Parabéns! A alternativa C está correta.
regulações legais, como é o caso, por exemplo, da
CLT. Todo o conjunto da classe trabalhadora está sofrendo os impactos
das novas formas de gestão do trabalho e das relações de trabalho,
que estão cada vez mais fragilizadas e desprotegidas de garantias
Parabéns! A alternativa D está correta. legais. Além disso, a focalização das políticas públicas também
tem figurado como um grande desafio no cotidiano do exercício
Como cita o conceituado autor José Paulo Netto (2009), o Estado profissional.
funciona como um “comitê executivo do capital”, isto é, dá
materialidade às estratégias do capital para a exploração do
trabalho.

Questão 2

É correto afirmar que a categoria profissional passa por desafios


Considerações finais
em sua atuação no cenário atual? Por quê?

Ao longo de nosso percurso neste texto, analisamos as particularidades


sociais e históricas que vinculam a questão social, a profissão do
Não. O cenário atual tem se mostrado favorável às
A serviço social e as novas configurações adotadas no chamado “mundo
políticas públicas e aos programas sociais.
do trabalho”. Evidenciamos, assim, que tais categorias guardam entre si
uma inter-relação que permite a percepção de que as expressões da
questão social não são fenômenos espontâneos e muito menos
Não. A atuação profissional vem atravessando uma
vinculados a problemáticas individuais apresentadas pelos sujeitos
B longa fase de ausência de alterações e conflitos
sociais.
sociais.
Do mesmo modo, caracterizamos o desdobramento social e histórico
das diferentes fases do modo de produção capitalista, destacando, a
cada fase, as alterações nos aspectos econômicos, políticos e culturais,
Sim. Além de sua condição de trabalhadores,
assim como na própria forma de gestão do trabalho. É nesse terreno —
assistentes sociais também são chamados para
sob o olhar crítico da profissão e embasados pela construção de cerca
atuar em um cenário de degradação das políticas
C de 80 anos de evoluções que se espelham em nossos arcabouços
públicas e dos direitos sociais oriundos do trabalho,
teórico-metodológicos, ético-políticos e técnico-operativos — que
lidando ainda com a escassez de recursos materiais
afiamos as nossas “armas” para o enfrentamento das expressões da
e sua autonomia relativa.
questão social e para a elaboração de estratégias de atuação nos mais
diversos espaços socio-ocupacionais.
Verificamos, por fim, que tal atitude é uma tarefa árdua para a categoria, Apresentamos em nosso texto alguns dados sobre economia,
que também integra a classe trabalhadora e que, como ela, sofre os população e emprego. É importante que você se mantenha atualizado,
impactos do “mundo do trabalho”. Essa, contudo, não é uma tarefa pesquisando na internet as fontes originais de tais informações. Por
impossível. Os avanços registrados na condução da profissão e obtidos isso, sugerimos estas duas:
gradativamente desde a inserção dela na divisão social e técnica do
Programa da Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
trabalho são uma prova disso.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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Podcast Referências
Neste podcast, abordaremos como temática o assistente social e o
ANTUNES, R. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços
mundo do trabalho.
na era digital. 1. ed. São Paulo: Boitempo, 2018.

ANTUNES, R. (Org.). Uberização, trabalho digital e Indústria 4.0. 1. ed.


São Paulo: Boitempo, 2020.

BOTÃO, M. Serviço social e consultoria empresarial. 1. ed. Rio de


Janeiro: Gramma, 2020.

BRASIL. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. A década inclusiva


(2001-2011): desigualdade, pobreza e políticas de renda. Comunicados
do Ipea, n. 155, 25 set. 2012.

CATANI, A. O que é capitalismo. 35. ed. São Paulo: Brasiliense, 2011.

Explore + CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA


DE ENSINO E PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL. Serviço social: direitos
sociais e competências profissionais. Brasília, DF: CFESS/ABEPSS,
Disponibilizados na página da TV Boitempo no YouTube, três vídeos
2009.
podem ajudar você a aprofundar a temática apresentada neste
conteúdo: HOBSBAWM, E. Globalização, democracia e terrorismo. Rio de Janeiro:
Cia das Letras, 2007.
Ricardo Antunes: "O privilégio da servidão" - aula 1.

Ricardo Antunes, Paulo Galo e Luci Praun: Uberização, indústria IAMAMOTO, M. O Brasil das desigualdades: “questão social”, trabalho e

digital e trabalho 4.0. relações sociais. Ser social, v. 15, n. 33, p. 261-384, 2013.

Virgínia Fontes: O que é acumulação primitiva? IAMAMOTO, M. Serviço social em tempo de capital fetiche. São Paulo:
Cortez, 2017.
Apesar de ser um texto de 2015, o artigo do economista Juan Fernando
NETTO, J. P. Capitalismo monopolista e serviço social. São Paulo:
Carpio traz um panorama econômico de nosso continente, mas sob uma
Cortez, 2009.
perspectiva de contraponto:

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. ONU. Relatório de


Sobre as reformas “neoliberais” na América Latina e por que elas
desenvolvimento humano. Nova York: PNUD, 2010.
fracassaram, publicado em Mises Brasil no dia 5 de março de 2015.
SILVA, J. K. D. da; DANTAS, B. H. L.; DANTAS, M. F. M. Questão social e
serviço social: desafios contemporâneos do trabalho profissional. In:
JORNADA INTERNACIONAL POLÍTICAS PÚBLICAS, 8., 2017, São Luís.
Anais [...] São Luís: Universidade Federal do Maranhão, 2017.

STAMPA, I. (Org.). Trabalho, regressão de direitos e serviço social. 1.


ed. Rio de Janeiro: Mórula, 2020.

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