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Abstract: The conceptual formulations on the structure and training of current settings within
the working class are a current issue, which raises different interpretations by scholars of the
subject. When examining the notion of class, there are dormant historical determinations that
make up its structure and further social processes. Thus, in the current reality of work that
presents itself as complex and heterogeneous, it is important to question the thesis of the end of
labour and consequently, the very working class. In this sense, the article in question focus on
the problematization of this thesis, seeking to identify what is neglected by those who support
this view. The methodological focus was hermeneutical interpretation of the studied
bibliography.
Introdução1
A composição da classe trabalhadora, a qual, historicamente, pela venda da sua
força de trabalho, produziu riqueza social, tem gerado elementos indicadores sobre a
complexa teia que cinge as suas diferentes conformações sócio-históricas. Desta forma,
ressalta-se que o trabalho e as suas metamorfoses permanecem elementos centrais para
o processo de produção moldado pelo capitalismo.
As formulações conceituais sobre a estrutura e formação das atuais
configurações vigentes no interior da classe trabalhadora constituíram-se numa temática
atual, a qual suscita diferentes interpretações pelos estudiosos do assunto. Embora
assumindo sentidos semânticos análogos no cotidiano, as expressões classe trabalhadora
e classe operária, na literatura clássica, apresentam designações distintas. A expressão
classe trabalhadora tem sido utilizada para referir o conjunto de trabalhadores
2 É de salientar que apesar de as três condições – proletária, operária e salarial – se sucederem uma à
outra, conforme demonstra o autor, a seqüência em que se desenvolveram não se pautou por um
processo linear.
Esta subordinação encontra o seu eixo condutor numa sociedade em que o
trabalho, como nos diz Gorz (1982, p. 10), “é apenas um meio de ganhar dinheiro e não
uma atividade com fim em si mesma”. Ou seja, o trabalho tornou-se uma atividade que
visa prioritariamente o acesso a um salário, o que determina socialmente a utilidade
daquele. “Trabalhar por um salário é, portanto, trabalhar para poder comprar à
sociedade em seu conjunto o tempo que se lhe forneceu” (GORZ, 1982, p. 10).
Um elemento importante para a efetivação dessa subordinação consistiu no
processo de educação que objetivava a adaptação dos trabalhadores ao paradigma de
trabalho assalariado. Não se pode deixar de ter em conta que, ao longo das várias
transformações ocorridas na sociedade capitalista, no que diz respeito à forma e
organização do trabalho, novas solicitações foram feitas aos trabalhadores, o que gerou,
em especial, no âmbito do sistema educativo, novas exigências quanto ao padrão
funcional e institucional, a fim de se responder à procura por maior produtividade,
qualidade e competitividade do mercado de trabalho. Tal finalidade, típica da sociedade
salarial, impôs, para fins de garantia de inserção do trabalhador no sistema produtivo
hegemônico, um mínimo de formação geral.
Torna-se imprescindível que a posse dos saberes disciplinares escolares ou
técnico-profissionais se relacione com a capacidade de o trabalhador os mobilizar na
busca de soluções para as situações inusitadas no cotidiano do trabalho. De acordo com
Arroyo (1991, p. 169), a vinculação entre educação e trabalho passa a tomar corpo na
teoria da educação, enquanto teoria da formação humana. Para este autor, o trabalho na
contemporaneidade tem formado uma outra consciência no seio da classe trabalhadora,
tendo como ponto de partida novos saberes ou capacidades inovadoras para
compreender e interpretar a realidade e a lógica que regula a sociedade.
O que fica por analisar neste debate sobre a relação entre educação e trabalho,
inserida na realidade brasileira, é o aspecto do total distanciamento deste sistema, da
realidade sócio-econômica da maioria populacional que não está incorporada no
paradigma de trabalho industrial, mas que exerce, no seu cotidiano, outras formas de
trabalho, para as quais, segundo a ordem econômica hegemônica, não se pressupõe a
aquisição de competências e/ou qualificações.
Dessa forma, o trabalho constitui-se num elemento central na sociedade salarial, pois
aquele constitui uma categoria organizada e gerida pela sociedade, à medida que esta
desenvolve as suas próprias formas de divisão e organização dos modos de produção,
moldando regimes de regulamentação de trabalho e de relações entre os trabalhadores.
Partindo dessa afirmação, as previsões de que o trabalho possa vir a perder a
centralidade que sempre teve para a organização da vida social (OFFE, 1989; MÉDA,
1999; GORZ, 1982), questionam o fato de o mesmo constituir o elemento basilar da
constituição da sociedade industrial, enquanto fator de produção e de riqueza.
Schaff, além de pressupor que o trabalho “desaparecerá gradualmente”, salienta
que não se trata de afirmar que toda a atividade humana, ou seja, todo o trabalho
realizado na sociedade, esteja predestinado a desaparecer. “Para evitar erros de
interpretações, devemos salientar que a eliminação do trabalho (sentido tradicional da
palavra) não significa o desaparecimento da atividade humana, que pode adquirir a
forma das mais diversas ocupações” (1993, p. 22).
Em discrepância com essa visão, para Antunes (2005, pp. 159-160), o trabalho
não deixa de ter a sua centralidade, mas sim, tem vindo a passar por metamorfoses:
“diminuição do operariado industrial tradicional e aumento da classe-que-vive-do-
trabalho”.
Segundo Langer (2004, p. 52), “o que falta não é trabalho, mas um determinado
tipo de trabalho que passamos a denominar de emprego. Este sim está em crise. Mas
trabalho, há demais”.
Será que é mais exato falar de descentralização, ou de metamorfoses do trabalho
nas sociedades contemporâneas? A que tipo de trabalho se referem estes autores, no seu
debate sobre a perda da centralidade do trabalho? Não estão estes estudiosos, mais uma
vez, limitados a uma noção de trabalho historicamente localizada? Já que, como salienta
Schnapper (1998, p. 18), “não se pode deduzir que o trabalho deixou de ser uma norma,
de ter valor, de organizar a vida coletiva [...] o trabalho continua a ser central tanto para
os que trabalham como para aqueles que já não têm empregos”. Chegámos a um ponto
importante para a perspectiva da análise em causa: numa realidade de trabalho tão
diversificada, e com toda a particularidade histórica da formação do mercado de
trabalho no Brasil, será que, ao invés de abordarmos a centralidade do trabalho ou a sua
perda, não será mais plausível debruçarmo-nos sobre os novos sentidos e significados
atribuídos ao trabalho, por parte da grande parcela da população que não foi incluída
pelo mercado de trabalho dito formal?
Será que podemos concluir que, olhando para o contexto brasileiro, conforme
nos diz Schnapper (1998, p. 91), “não se caminha para o fim do trabalho, mas para uma
mudança das formas do trabalho e da estrutura dos empregos”? Portanto, o que se vive
atualmente é apenas uma alteração de ordem sócio-econômica da hegemonia do
paradigma do trabalho fabril, e não o fim do trabalho. Desta perspectiva, podemos
conjeturar que todo o trabalho humano não se resume, apenas, à formulação do
trabalho-emprego, forjado na matriz da industrialização, mas que também existem
outras formas de trabalho exteriores a esta matriz.
Torna-se imprescindível observar que, quanto à problemática do fim do trabalho,
se tem omitido que o paradigma do trabalho toyotista/fordista não é único, pois apenas
constitui uma parte do trabalho humano realizado. Não se pode deixar de salientar que
vivemos, de uma forma ou de outra, em sociedades de trabalhadores, em que o trabalho
constitui um vetor de organização social. Na opinião de Schnapper (1998, p. 17), o que
está a dificultar a compreensão dessa questão, é o fato de os sociólogos que anunciam o
fim do trabalho ou o fim do valor do trabalho, terem a idéia de que se pode mudar o
sistema de valores, e que hoje seria possível deixar de se ter em conta a dupla dimensão
constitutiva das sociedades contemporâneas, da cidadania e do produtivismo. Para esta
autora, não se pode ignorar que pertencemos a sociedades organizadas em torno da
produção de bens e de serviços, com todas as conseqüências que daí resultam para o
nosso modo de vida.
Todavia, para um olhar sob a realidade e as relações de trabalho estabelecidas
em todo o território brasileiro, as críticas e análises do paradigma hegemônico de
trabalho – padrão industrial fordista/taylorista – não são suficientes, dado que aquelas
não fornecem os elementos adequados para se conseguir descortinar a vasta rede sócio-
econômica que se faz e refaz nas periferias dos grandes centros urbanos brasileiros
industrializados, e também no seio dos mesmos, em especial, nos localizados na região
Sudeste do país.
Para lidarmos com a heterogeneidade da realidade do trabalho na sociedade
brasileira, podemos recorrer aos estudos de Latour (1987) que explicitam a interação
existente entre vários elementos e fatores (humanos e não-humanos) que coexistem e
conformam as relações sociais. Para este autor, a melhor forma de perceber esta
interação consiste em “seguir os atores”, ou seja, investigar “quem é quem” na trajetória
dos artefatos ou processos, e deixá-los falar. “Seguindo os atores” podem-se identificar
as redes, evitando impor aos mesmos categorias que não se lhes adequam. Assim,
poderá ser trazida à superfície da questão do trabalho no Brasil, toda a diversidade da
classe trabalhadora que interage entre si, constituindo-se numa rede heterogênea.
4 O autor exclui os gestores do capital, os seus altos funcionários, os quais detêm o controle dos
processos de trabalho e de valorização e reprodução do capital no interior das empresas. O mesmo
ocorre com os pequenos empresários e a pequena burguesia urbana e rural.
mais-valia e participam diretamente do processo de valorização do capital, e também os
trabalhadores improdutivos, cujas formas de trabalho são utilizadas como serviços.
Contudo, vale a pena salientar que apesar deste conceito incluir esses dois tipos de
trabalho, ainda gira em torno do papel daqueles ligados ao trabalho fabril – os
trabalhadores produtivos.
Mas a noção trazida por Antunes adequa-se à classe trabalhadora brasileira, ao
contrário das noções apresentadas por Gorz e Schaff. Porém, Antunes não se afasta de
uma concepção matricial de trabalho, tal qual os autores supramencionados,
continuando a basear-se no modelo de produção fordista/taylorista, o qual se direciona
para um novo paradigma industrial, com novos moldes de organização e gestão do
trabalho, ou seja, para a reestruturação produtiva, denominada de acumulação flexível.
Antunes conclui que na sociedade capitalista moderna a classe trabalhadora, ao
invés de estar em vias de desaparecer, se complexificou, fragmentou e heterogeneizou
ainda mais. Essa classe encontra-se dividida entre “qualificados/desqualificados,
mercado formal/informal, jovens/velhos, homens/mulheres, estáveis/precários,
nacionais e imigrantes, brancos e negros, inseridos e excluídos, etc.” (2000, p. 104),
sem falar ainda nas divisões que decorrem da inserção diferenciada dos países e de seus
trabalhadores na nova divisão internacional do trabalho. Tais configurações não deixam
espaço para a idéia, seja no presente ou num futuro distante, de eliminação da “classe-
que-vive-do-trabalho”, contrariando as alegações de Gorz e Schaff.
Segundo Antunes, a classe-que-vive-do-trabalho tornou-se mais qualificada em
vários setores, como na siderurgia, na qual houve uma relativa intelectualização do
trabalho, mas desqualificou-se e precarizou-se em diversos ramos, tal como na indústria
automobilística, na qual o operário viu relativamente diminuída a sua importância.
Criou-se, de um lado, em escala minoritária, o trabalhador "polivalente e
multifuncional", capaz de operar máquinas de controle numérico e, de outro, uma massa
precarizada, sem qualificação, que hoje se defronta com o desemprego estrutural.
Para Gorz (1982) caberá ao neoproletariado pós-industrial, e não ao proletariado
tradicional, uma ação transformadora do sistema, enquanto classe inserida no mesmo.
No entanto, para Antunes, o proletariado tradicional conserva o papel de agente
transformador do sistema capitalista, cuja centralidade do trabalho ainda se encontra no
“chamado trabalho produtivo, o trabalho social e coletivo que cria valores de troca, que
gera mais-valia” (2000, p. 198).
Neste cenário, em particular no contexto brasileiro, tanto os trabalhadores que se
incluem no tipo de trabalho fordista quanto aqueles que foram excluídos desse modelo
coexistem numa sociedade integrada. A questão pertinente, no entanto, é a de que,
apesar de eles se encontrarem envolvidos em processos distintos, ambos vivem numa
mesma realidade que os subjuga.
Para melhor examinarmos esta realidade, em primeiro lugar, deveremos
considerar o legado cultural do processo de produção anterior, baseado no fordismo,
herdado pelo atual modelo produtivo do capitalismo moderno. Aquele legado propicia,
como anteriormente mencionado, uma plataforma de novas exigências para os
trabalhadores, e a coexistência (presente em todo o contexto brasileiro) do trabalhador
de produção em massa, da era do fordismo, com o trabalhador do padrão atual,
polivalente, especializado e com alto grau de instrução, e também com o trabalhador
atípico, o qual desenvolve outros tipos de trabalho que não se cingem ao modelo
fordista/taylorista. Tal coexistência denota a quebra da dicotomia trabalho produtivo e
improdutivo, a partir de uma nova configuração da classe trabalhadora, a qual abrange,
numa mesma realidade social, os trabalhadores que exercem atividades diversas e
complexas no interior das sociedades contemporâneas.
Considerações Abertas
Olhar para a questão do trabalho no Brasil, a partir de uma leitura que se resume
apenas a um determinado tipo de organização do trabalho, especialmente ao padrão
industrial fordista/taylorista, não nos possibilita apreender todas as variantes
econômicas, sociais e culturais que circundam as teias de relações no seio da sociedade.
Não nos permite desmantelar a visão restritiva de uma realidade localmente
circunscrita, ou seja, retratar toda a complexidade da problemática do trabalho face à
realidade dos grandes pólos industriais, especialmente, na região Sudeste daquele país,
apesar de, mesmo nestes pólos, o trabalho assalariado sempre ter coexistido com outras
formas de trabalho.
O mesmo se aplica ao debate sobre a descentralização do trabalho. Um debate
que tem grande ressonância nos países europeus, mas que não encontra fundamentos
práticos no contexto brasileiro, já que são os sentidos do trabalho e, não a sua
centralidade, que estão sendo questionados pelas relações sócio-econômicas
experimentadas pelos trabalhadores na reprodução de suas vidas. É o debate sobre os
sentidos atribuídos ao trabalho que nos parece mais adequado, já que, para a trajetória
da “classe-que-vive-do-trabalho”, a questão crucial consiste em assegurar um trabalho
mais seguro, digno e com sentidos. Como tal, nos parece mais apropriado falar de
sentidos do trabalho no contexto histórico brasileiro, no qual, a maioria dos pobres
sempre viveu fora do mercado formal de trabalho e das relações assalariadas, num
sentido estrito.
Da mesma forma, a teoria do desaparecimento ou da perda do valor da classe
trabalhadora na contemporaneidade não possui qualquer fundamento. A realidade do
trabalho não é homogênea, portanto, a sociedade salarial, com os seus arcabouços,
coexiste com outras relações sócio-econômicas no interior das sociedades hodiernas.
Neste sentido, a classe trabalhadora, apesar da sua homogeneidade endógena,
partindo das experiências vivenciadas no cotidiano das relações de trabalho, se encontra
num processo de reconfiguração de uma nova postura e do seu papel social diante das
atuais realidades e relações sociais de, e no, trabalho.
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