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trabalhadora
Ana Carolina da Silva Bitencourt1
Resumo: O presente artigo apresenta reflexões, por meio da teoria social crítica, sobre as
particularidades do trabalho uberizado e sua incidência na classe trabalhadora. O artigo se
caracteriza como uma revisão narrativa bibliográfica. As reflexões finais que a uberização do
trabalho é uma “nova” forma de labor, na qual apenas evidencia da forma mais perversa a
exploração dos chamados/as trabalhadores/as digitais, afetando tanto sua saúde quanta à
negação de diretos.
Palavras-chave: Trabalho Uberizado. Classe Trabalhadora. Avanço Informacional. Negação
de Direitos.
1 INTRODUÇÃO
Sendo assim Marx (1989), discorre que sociedade e natureza possuem uma relação
direta, uma vez que a segunda é matéria de transformação do homem, a qual é realizada
através do trabalho aplicado por este, assim como, são extraídos do meio natural os elementos
indispensáveis para manutenção da existência dos organismos em sociedade.
Do mesmo modo Marx (2011, p. 188), argumenta que além de movimentar as forças
naturais, o homem também se movimenta, e “[...] agindo sobre a natureza externa e
modificando-a por meio desse movimento, ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria
natureza. Ele desenvolve as potências que nela jazem latentes e submete o jogo de suas forças
a seu próprio domínio [...]. ”
Partindo desses pressupostos Marx (2011, p. 190) discorre que o processo de trabalho
é “[...] a atividade do homem, com ajuda dos meios de trabalho, opera uma transformação do
objeto do trabalho segundo uma finalidade concebida desde o início [...]”. O autor destaca que
essa forma de operacionalidade ocorre por meio da força de trabalho, na qual é o próprio
trabalho, realizado pelo/a trabalhador/a. Dentro deste contexto, o autor destaca um ponto de
suma importância para o entendimento desse processo, a saber
Assim, entende-se que o produto final deste trabalho contém outros valores de uso,
produtos de trabalhos anteriores, ou seja, não constituísse apenas como resultado do labor
humano, mas, também, como uma condição do processo de trabalho. Do mesmo modo que
“[...] sua entrada nesse processo, seu contato com o trabalho vivo, é o único meio de
conservar e realizar como valores de uso esses produtos de um trabalho anterior. ” (MARX,
2011, p. 192).
Mediante a isto, o trabalho humano acaba tornando-se alienado, haja vista que não se
reconhece dentro do processo de elaboração do produto final, no qual Marx (1989, p. 150)
afirma com maestria que “[...] quanto mais o trabalhador se gasta trabalhando, tão mais
poderoso se toma o mundo objetivo alheio que ele cria frente a si, tão mais pobre se torna ele
mesmo, o seu mundo interior, tanto menos coisas lhe pertencem como seu/suas próprio/as
[...]”.
De acordo com Konder (2011, p. 34), apesar do trabalho ser a mola do progresso
esses/as trabalhadores/as não se veem dentro deste processo, dado que os únicos beneficiados
são os capitalistas, à medida que a riqueza centra-se no seio desses. Para mais, o autor explana
que o trabalho acaba sendo visto de forma avessa a classe trabalhadora, posto que “[...]
encaram como uma obrigação imbecilizadora, como uma atividade que lhes é imposta e os
oprime, reduzindo-os a bestas de carga. ”
Todavia, a mercadoria existe somente mediante ao trabalho humano, sendo que o
inverso não ocorre, considerado ao caráter fetichizador que a mesma adquire durante o
processo, no qual Marx (2011) também denomina de coisificação ou reificação. Para o autor,
o produto de trabalho alcança um duplo sentido já que além de satisfazer as necessidades
sociais básicas da sociedade, passa a atender as necessidades dos seus produtores – na qual
não são os/as trabalhadores/as, mas os donos dos meios de produção, ou seja, o capital.
Ainda seguindo essa lógica Antunes (2021) data dois momentos históricos recentes
dessa crise, os quais seriam os anos de 2008-2009, marcado pelo processo de intensificação
de ações que visavam flexibilizar o trabalho, assim como o ano de 2019, no qual o destaque
vai para o avanço tecnológico, a tecnologia sempre online, sem direito a desconexão, sem
contar com o preço já sendo pago, principalmente para a classe trabalhadora. Para o autor,
esse foi o contexto que propiciou o surgimento das plataformas digitais, no qual é marcado
pela alta tecnologia digital e captação e captação da força de trabalho digital, também
chamado de uberização do trabalho.
De acordo com Netto (1995) o contexto da crise do capital não significou somente a
falência das respostas às demandas da sociedade, mas o agravamento nas estruturas do capital,
forçando o Estado a garantir os direitos mínimos a população, no entanto, foi um fator
considerado preocupante para a ordem capitalista. Nesse sentido Antunes (2005, p. 33),
aponta que como resposta a esse cenário
Este contexto foi marcado pelos intensos ataques a classe trabalhadora, tanto pelo
Estado como pelo capital, e as condições vigentes do período do auge fordista. Além disso, o
setor financeiro começa a conquistar espaço, ganhando autonomia relativa, assim como a
expansão tecnológica. Com isso, ocorre a competição intercapitalista, enfatizando às
características centralizadoras, discriminatórias, e destrutivas desse processo, fazendo com
que seu núcleo esteja focado em países capitalistas avançados, em especial a tríade constituída
pelos EUA e o Nafta, a Alemanha e Japão (ANTUNES, 2005). O autor salienta ainda, que
essa autonomia não comportou majoritariamente os países de industrialização intermediaria,
bem como os do Terceiro Mundo, porém quando inseridos, assumiram uma posição de
subordinação e dependência completa. Sendo assim, infere-se que a reestruturação produtiva
desses últimos ocorreu em condições de subalternidade.
Por conseguinte, a alternativa de resolução para esse panorama foi a mundialização e
financeirização do capital, onde a produtividade e a lucratividade alcançaram o setor
econômico gerando o avanço tecnológico e a concentração de capital no poder da classe
dominante. No entanto, acarretou em rebatimentos drásticos sobre o mundo do trabalho. Posto
isso, verificou-se a desregulamentação dos direitos trabalhistas, no desmonte do setor
produtivo estatal e no intenso processo de reestruturação da produção e do trabalho, para Faria
e Kremer (2004) tal processo levou a implementação de novas tecnologias, com bases na
microeletrônica, além das novas formas de organização e gestão de trabalho, traços esses que
englobam o fator mercadológico, afetando, principalmente, os arranjos societários.
Para Schinetsck (2020) essa nova forma de organização apresenta caráter triangular,
dado que participam trabalhador/a, consumidor e plataforma, sendo essa última mediadora
entre os primeiros e responsável pelos contratos de ambos. A autora expõe sete elementos
desta nova forma de organização, a saber: controle por programação, comandos ou objetivos;
sujeito objetivo; liberdade programada; gestão por números ou recompensas; mobilização
total dos trabalhadores; relação de aliança entre trabalhadores e empresas e refeudalização das
relações de trabalho e atomização do mercado de trabalho.
Esse fenômeno revela-se dentro do que Slee (2017) nomeia como economia do
compartilhamento, a qual refere-se a novos investimentos no mercado de serviços, via
internet, com a finalidade de conectar consumidores/as com os/as prestadores/as de
determinado serviço. A sua manifestação, de acordo com o autor, é recente, está datada entre
os anos de 2013 e 2014. A promessa desse movimento é potencializar os sujeitos a conduzir
positivamente sua realidade, através da perspectiva do microempresariado.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS