O documento discute as visões de Karl Marx, Max Weber e Alberto Guerreiro Ramos sobre o trabalho. Marx via o trabalho como fundamental para o desenvolvimento humano, mas também como explorado pelo capitalismo. Weber enxergava o trabalho como central para a ascensão do capitalismo ocidental devido à ética protestante. Ramos focou na racionalidade instrumental e substantiva do trabalho na sociedade contemporânea.
O documento discute as visões de Karl Marx, Max Weber e Alberto Guerreiro Ramos sobre o trabalho. Marx via o trabalho como fundamental para o desenvolvimento humano, mas também como explorado pelo capitalismo. Weber enxergava o trabalho como central para a ascensão do capitalismo ocidental devido à ética protestante. Ramos focou na racionalidade instrumental e substantiva do trabalho na sociedade contemporânea.
O documento discute as visões de Karl Marx, Max Weber e Alberto Guerreiro Ramos sobre o trabalho. Marx via o trabalho como fundamental para o desenvolvimento humano, mas também como explorado pelo capitalismo. Weber enxergava o trabalho como central para a ascensão do capitalismo ocidental devido à ética protestante. Ramos focou na racionalidade instrumental e substantiva do trabalho na sociedade contemporânea.
O trabalho é, seguramente, uma das principais categorias que permeiam, e
diferenciam, o desenvolvimento do ser humano tanto na natureza quanto em sociedade. Diferentes estudiosos, filiados em múltiplas abordagens teóricas, têm empenhado esforços no debate acerca do trabalho e suas implicações às pessoas. Essa discussão perpassa diversos momentos e escolas na teoria social, de modo que nessa resenha serão discutidos elementos do trabalho para três teóricos de grande relevância, especialmente no contexto brasileiro: Karl Marx, Max Weber e Alberto Guerreiro Ramos (ANTUNES, 2004, MÜLLER, 2005, RAMOS, 1981). Inicialmente, em “A dialética do trabalho”, Ricardo Antunes apresenta e discute elementos relacionados ao trabalho a partir de obras de Marx e Engels. Nota-se que nessa obra, Antunes (2004) compila textos originais de Marx. O pensador alemão parte- se da noção que o trabalho é “condição básica e fundamental de toda a vida humana” (ANTUNES, 2004, p. 11). Durante a sua evolução, o homem desenvolveu órgãos e a própria linguagem por meio do trabalho. A partir da presença do homem na natureza, ou seja, a partir do trabalho, a natureza é submetida, dominada, explorada e isso o diferencia dos animais. Entretanto, essas ações trazem consequências tanto naturais quanto sociais, o que segundo Marx, auxilia na compreensão da conjuntura que constituiu a luta de classes entre burgueses e proletariados após a revolução industrial e nos próprios efeitos do trabalho no mundo contemporâneo. Conforme Antunes (2004, p. 31), os elementos que constituem o processo de trabalho são “a atividade orientada a um fim ou o trabalho mesmo, seu objeto e seus meios”. Objetos do trabalho (como a terra e a água) já modificados a partir do trabalho são considerados matérias-primas. Os meios de trabalho são um conjunto de objetos e elementos que conduzem a atividade a seu objeto de trabalho. Esses meios servem de referência para a compreensão das condições de trabalho a que os sujeitos estão submetidos. “No processo de trabalho a atividade do homem efetua, portanto, mediante o meio de trabalho, uma transformação do objeto de trabalho, pretendida desde o princípio” (p. 34). O processo se encerra no produto e esse produto possui um valor de uso. Esse produto e seu valor de uso é uma objetivação do trabalho realizado. O meio e o objeto de trabalho, considerando os produtos, são “meios de produção” e o trabalho propriamente dito é o “trabalho produtivo”. O valor de uso constitui o produto de um trabalho e pode ser incorporado como meio de produção de outro produto. Por isso, produtos são ao mesmo tempo trabalho e condições de processos de trabalho. “Ao entrarem em novos processos de trabalho como meios de produção, os produtos perdem, por isso, o caráter de produtos” (p. 36). Nessa noção, o processo de trabalho é ao mesmo processo de consumo ao gastar seus meios de produção. Considerando que as pessoas vendem sua força de trabalho ao capitalista, esses indivíduos tornam-se meios de produção, cuja força de trabalho é consumida e o trabalho que realizam tornam-se propriedade do sujeito adquirente dessa força (que paga ao empregado por dia/hora/mês, etc.). “Ao comprador da mercadoria, pertence a utilização da mercadoria, e o possuidor da força de trabalho dá, de fato, apenas o valor de uso que vendeu ao dar seu trabalho” (p. 39-40). Nessa lógica, o trabalhador torna-se mercadoria do capitalista, que possui sua força de trabalho e a transforma em meio de produção de algo que também lhe pertence. Adiante, Antunes (2004) discute que o valor de uso do trabalho (os produtos), no contexto capitalista, é produzido pois se espera que o mesmo tenha valor de troca, que seja uma mercadoria, tenha valor e mais-valia. Nisso, o processo produtivo pode ser entendido como um processo de formação de valor. “O valor de uma mercadoria é determinado pelo quantum de trabalho materializado em seu valor de uso, pelo tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção” (p. 42). Em suma, Marx defende que o valor de troca de um produto é determinado por funções sociais e históricas (da-se o exemplo do valor de troca do algodão e da joia). Finalmente, Marx discute o valor de uma mercadoria e como é possível determina-lo. O autor entende que para identifica-lo, é preciso reduzir as mercadorias a uma expressão comum a todas as mercadorias existentes, nesse caso, o trabalho (especificamente o trabalho social). Em suas palavras “uma mercadoria tem um valor porque é uma cristalização de um trabalho social”. Nessa direção, entende-se que o salário de um trabalho é limitado pelo valor de troca de um produto (sendo normalmente muitas vezes menores que esse valor). Marx discorre então que para o cálculo do lucro, deve-se considerar que as mercadorias são vendidas, em média, “pelos seus verdadeiros valores e que os lucros são obtidos vendendo-se mercadorias pelo seu valor, ou seja, proporcionalmente à quantidade de trabalho nelas incorporada” (p. 68). Em seguida, apresentando outras noções a respeito do trabalho, Müller (2005) discute os pressupostos que fundamentam este conceito em Max Weber. Inicialmente, o autor argumenta que “o trabalho, sua significação, o surgimento da organização racional do trabalho, bem como da relação entre vocação e identidade” (p. 234) são temas centrais na obra de Weber, especialmente em suas análises da ascensão do capitalismo ocidental. A respeito de sua ampla formação, Weber estudou o trabalho em quatro domínios: da estrutura técnica e econômica (organização do trabalho); da estrutura social (relações entre profissão e estratificação social); da estrutura política (classes e partidos) e; da estrutura cultural (relações entre vocação, personalidade e modo de vida a partir do trabalho). Weber é inclusive um dos responsáveis pela fundação da chamada sociologia do trabalho e das organizações (MÜLLER, 2005). Considerando os domínios de estudo de Weber, Müller (2005) discute nesse texto especialmente aspectos relacionados aos domínios estrutural e cultural do trabalho, haja visto que para o pensador alemão, essa categoria é uma das principais instituições sociais. No entanto, para compreender o conceito de trabalho em Weber, Müller (2005) percorre cinco etapas. Primeiramente, as discussões sobre trabalho para Weber perpassam a própria ascensão do capitalismo e a configuração da modernidade no Ocidente, marcada por um modelo de racionalização das relações. Nesse sentido, Weber entende que o trabalho figura como um dos principais elementos para se compreender este movimento. O que chama atenção, contudo, é que o capitalismo ocidental se desenvolve como tal devido a aspectos culturais que envolvem o trabalho, especialmente a partir de uma ordem religiosa que trata o trabalho como um tipo de vocação, um ideal transcendental para o indivíduo. Por isso, a racionalização do trabalho torna-se institucionalizada, implicando em uma série de transformações na sociedade. Nessa discussão que envolve a chamada ética protestante e o desenvolvimento do capitalismo a partir do trabalho, Müller (2005) discorre que o trabalho é um elemento essencial para a reprodução natural e social da humanidade. No entanto, o trabalho, em condições naturais, é tido como algo penoso e indesejável para aqueles sujeitos que buscam uma “boa vida”. Em sentido contrário, a ética puritana que fundamenta a ética social da sociedade capitalista ocidental se baseia em certos aspectos relacionados ao trabalho: o lucro monetário, a ideia do dever profissional e a competência no trabalho. O trabalho e a prosperidade econômica, a partir dessa ética, tornam-se signos promissores que indicavam que o indivíduo figurava entre os eleitos que estariam salvos por Deus, segundo o dogma da pré-destinação. Ou seja, nessa concepção, o trabalho torna-se um tipo de vocação divina. Dessa ética puritana, contudo, Weber discute que o capitalismo moderno desenvolveu uma nova ética, com a qual o trabalho (ofício) e a acumulação são elementos centrais da vida. Disso vem a metáfora da gaiola de ferro que o capitalismo ocidental impõe e envolve sobre as pessoas. Outro aspecto interessante no que se refere às discussões weberianas sobre o trabalho está relacionado às naturezas do trabalho rural e do trabalho industrial, bem como a organização do trabalho moderna (MÜLLER, 2005). Em suas pesquisas direcionadas a novas organizações do trabalho na Alemanha do fim do século XIX, Weber discute implicações do capitalismo na forma de significação do trabalho para os indivíduos, descrevendo aspectos tais como o aparecimento de trabalhadores assalariados no campo e a nova classe operária industrial. Finalmente, Müller (2005) traz a discussão que encerra o capítulo, congregando os principais argumentos de Weber em relação ao trabalho. Nesse sentido, destaca-se como o pensador alemão discute esta categoria sob uma perspectiva histórica e social, ressaltando como o conceito e as práticas mudaram ao longo dos anos, de uma recusa ao trabalho na Antiguidade, para uma ética puritana de valorização e santificação do ofício, até a ética capitalista, que se distancia da proposta anterior (apesar de ter sido constituída por ela) e trata o trabalho como um tipo de atividade “sem vocação”, sem identidade, que fornece os meios necessários para se viver. Contudo, Müller (2005) questiona se essa noção é definitiva ou se o próprio Weber não consideraria mudanças sociais nas relações de trabalho. Seguindo as discussões, Guerreiro Ramos (1981), em “A nova ciência das organizações”, também traz importantes reflexões sobre o trabalho e suas relações na sociedade contemporânea. O debate de Ramos (1981) está centralizado sobretudo nas noções de racionalidade instrumental e substantiva que permeiam o trabalho. No texto em questão, Ramos (1981) traz uma reflexão crítica em torno das ciências organizacionais, fundamentada em uma proposta de teoria das organizações de racionalidade substantiva. Essa noção busca, sobretudo, apresentar novos direcionamentos epistemológicos para se pensar em relações nas organizações, o que impacta diretamente nas formas de se pensar o trabalho. Primeiramente, Guerreiro Ramos chama atenção para a necessidade de se repensar a noção de racionalidade predominante na teoria organizacional, direcionada ao comportamento econômico como totalizante da condição existencial humana. Nesse tipo de racionalidade instrumental, assume-se que todas as ações do homem são movidas pelo interesse de elevar ganhos econômicos, ou seja, é voltada para os fins da ação. Essa configuração, conforme o autor apresenta fortes elementos ideológicos (RAMOS, 1981). Ramos (1981) propõe que a organização formal, nos termos hegemônicos, é um construto que deve ser considerado em um contexto sócio e histórico, do capitalismo e da modernidade. Ou seja, não é uma noção universal e que, portanto, não pode ser pensada como um paradigma de organizações. Aliás, para o autor, é plenamente possível considerar um tipo de organização baseada em uma racionalidade substantiva. Adiante, o autor argumenta que um possível caminho para se superar a visão economicista tem seu fundamento em correntes que reconhecem o interacionismo simbólico. Nesse sentido, pressupõe-se que a essência da realidade é constituída por diferentes interações simbólicas que podem tanto trazer concepções instrumentais quanto substantivas, a depender de engajamentos nessa direção, o que incorreria em mudanças profundas nas relações interpessoais nas organizações. Por fim, essa abordagem traz implicações diretas às relações de trabalho. Ramos (1981) narra que a teoria das organizações convencional, baseada em um sistema de mercado, atribui uma visão mecanomórfica ao homem, o que impossibilita a distinção entre trabalho e ocupação. Para Ramos (1981, p. 130), o trabalho “é a prática de um esforço subordinada às necessidades objetivas inerentes ao processo de produção em si”. Por sua vez, a ocupação é “a prática de esforços livremente produzidos pelos indivíduo em busca de sua atualização pessoal” (p. 130). No sistema de mercado, o homem é tido apenas como um requisito do plano mecânico de produção (ou um meio de produção, nos termos de Marx) e seu trabalho é item de custo, direcionado apenas ao salário. Ramos discute que esse sistema também traz elementos ideológicos que fundamentam uma ética do trabalho (próxima à ética puritana discutida em Weber), em que essa atividade é tomada como um instrumento de medição do valor e da dignidade humana. Ramos (1981) entende que distinção entre trabalho e ocupação precisa ser superada e que a consideração do trabalho como indicativo de valor é apenas um “expediente psicocultural, usado para minimizar a dissonância cognitiva e o conflito interior”, haja visto que o trabalho é “naturalmente” algo que o ser humano despreza. Posto dessa forma, Guerreiro Ramos (1981) defende um programa de mudança epistemológica no que se refere aos estudos organizacionais, em direção ao reconhecimento de formas substantivas de organizações, para além da primazia de uma racionalidade instrumental. Considerando as três abordagens aqui discutidas, nota-se a existência de aproximações e diferenças entre as propostas de Marx, Weber e Ramos quanto ao “trabalho”. Inicialmente, os três autores concordam que o trabalho tem sido explorado como uma categoria central no desenvolvimento histórico do homem. Todavia, divergem quanto a sua natureza. Enquanto para Marx o trabalho é condição básica natural do ser humano, Weber e Ramos reconhecem o caráter histórico do sentido normativo e ideológico do trabalho, já considerado, especialmente na Antiguidade, como um tipo de atividade de degenerativa e politicamente inferior dos indivíduos. Ramos vai além e discorda do caráter universal do trabalho, diferenciando esta categoria do conceito de “ocupação”, o qual deve ser fomentado em sua virada epistemológica das ciências administrativas. Ainda assim, esses três autores concordam quanto à apropriação ideológica do trabalho pelo sistema capitalista que fundamenta a sociedade contemporânea aos autores e a nós próprios. De qualquer forma, reconhece-se a importância e validade de estudos sobre o trabalho considerando os referenciais tratados nesta resenha. É necessário, contudo, que novos esforços críticos sejam produzidos, de modo a atualizar algumas noções, inclusive de Guerreiro Ramos, quanto aos direcionamentos do trabalho no mundo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, R. A dialética do trabalho: escritos de Marx e Engels. São Paulo:
Expressão Popular, 2004. MULLER, H. P. Trabalho, profissão e “vocação”; o conceito de trabalho em Max Weber. In: O trabalho na história do pensamento ocidental. Petrópolis: Vozes, p. 237, 2005. RAMOS, A. G. A Nova ciência das organizações: uma reconceituação da riqueza das nações. Fundação Getúlio Vargas, 1981.
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