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Rio de Janeiro - RJ
O QUE É TRABALHO EM MARX?
1. Introdução.
de Adam Smith já nos primeiros momentos de sua obra, “A Riqueza das Nações”. “O
trabalho anual de cada nação constitui o fundo que originalmente lhe fornece todos os
fundo consiste sempre na produção imediata do referido trabalho ou naquilo que com
seriam benéficas do ponto de vista social, pois resultariam numa ampliação da produção
mais amplo das demandas sociais. Em outras palavras, se teria um aumento no volume
da riqueza.
próximo da realidade contemporânea, haja vista ser ela a prova visível da elevação da
produtividade alcançada pelo trabalho. Não foi o que se verificou ainda na primeira
1
Doutoranda em História Social na Universidade Federal Fluminense, e-mail: roselainenbs@gmail.com.
2
Para Smith, a riqueza se expressa sob a forma de mercadorias (unidade de valor de uso e valor de troca).
Neste sentido, quanto maior a produção do trabalho, maior a produção de mercadorias e maior a
possibilidade de satisfação dos indivíduos que integram a economia nacional.
3
(SMITH, A. 1996, p. 59)
2
afirmava que “o trabalhador se torna tanto mais pobre quanto mais riqueza produz,
quanto mais a sua produção aumenta em poder e extensão 4.” Atualmente, o mesmo
pode ser atestado pelos que minimamente enxergam o mundo real, através da simples
observação cotidiana.
Transcorridos já mais de dois séculos desde que veio à tona a obra de Smith,
cujo objetivo era o de ‘desvendar a causa das Riquezas das Nações’ e a partir daí
próprios meios de produção objetivos, enfim, produto social “se produz como
mercadoria7”.
vertente clássica identificaram o trabalho como fonte de riqueza, o que atesta a sua
4
(MARX, K. 2004, p. 80)
5
A definição dos meios materiais de produção traz aqui a definição constante da obra de Marx. Com base
nesta, os meios materiais de produção se dividem em: 1) os materiais sobre o qual o trabalho se aplica e;
2) os meios de trabalho, ou seja, os instrumentos que o produtor direto interpõe entre si o material a ser
transformado pela ação do seu trabalho.
6
(MARX, K. 2004, p. 41)
7
Idem
3
outro lado, a defesa que Marx faz em relação à importância do mesmo, colocando-o
consequentemente, outras teorias que se ergueram a partir dela, tal como a marginalista
ou neoclássica8.
teóricos é fundamental para a discussão desta pesquisa, no entanto, sua discussão será
ideológico, que norteia a presente pesquisa; quanto pela defesa que Marx efetua em
8
A teoria marginalista ou neoclássica apreende a utilidade marginal como sendo a essência do valor. Sob
esta teoria, a perda da centralidade do trabalho implicaria portanto na ausência de utilidade da mercadoria
força de trabalho.
9
Em relação ao trabalho assalariado propriamente dito é importante destacar que o termo não se reduz ao
trabalho formal, com carteira de trabalho, etc. Há que se observar que contemporaneamente se
evidenciam novas formas de assalariamento que não devem ser desconsideradas. Dentre os autores que
tem se proposto a discutir esta questão é possível encontrar em Ricardo Antunes uma referência
importante.
10
GORZ,A. e KURZ.R., dentre outros, afirmam a perda da centralidade do trabalho no capitalismo
contemporâneo.
4
capitalista de produção, mas não se restringe a ele; e ainda, pelo fato de que ao se tratar
construída pelos teóricos da economia burguesa, dentre os quais Adam Smith e David
Marx.
categorias essenciais e mais simples que o integram (aquelas que tratam da reprodução
da própria vida humana), quais sejam, o trabalho (fornecido pelo homem) e os meios
homens12). Como se verifica, são eles comuns a todos os modos de produção que
estiveram presentes no decorrer da história humana, pois que “a vida humana sempre se
baseou em algum tipo de produção – produção social – cujas relações são, exatamente,
(ou o modo de produção atual), sabendo-o como a síntese das contradições surgidas no
passado (no modo de produção precedente). É neste sentido que se faz necessário para o
mais diversos momentos históricos (ainda que sob diferentes determinações), Marx
burgueses como ideal e definitivo, (do ponto de vista daquele que o detém
capitalista. Por meio de tal análise, ele o considera como categoria essencial, portanto,
trabalhador encontrar as condições objetivas de seu trabalho como algo separado dele,
15
(Idem, p. 39)
16
De uma forma geral as formas pré-capitalistas de produção conferem ao trabalho a essencialidade
enquanto produtor de valor de uso. Sob o capitalismo (apesar de toda a discussão acerca da perda da
centralidade do trabalho) a postura defendida na pesquisa em questão é de que a essencialidade do
trabalho enquanto valor de uso persiste (ainda que relegada a um plano secundário), pois que o se mostra
como fim é a produção de mercadorias, e nesta, a importância recai sobre o trabalho na condição de
trabalho humano abstrato em geral.
6
daquele quadro social. Ou seja, o trabalho em sua determinação atual e as relações que
as relações que o trabalhador tem com a produção, que determinam uma realidade de
produtores diretos estabelecem com os meios de produção) para, a partir desta, por um
enquanto sujeito, enquanto pessoa19.” Tal afirmativa vai de encontro com a perspectiva
17
(MARX, K. 2006, p. 81-2)
18
(MARX,K. 2004, p. 88)
19
(Idem, p. 99)
7
que define o trabalho como fonte geradora de toda a riqueza (entendida enquanto
mercadorias em geral).
propriedade (ou de posse) que ele mantém com os recursos objetivos de produção
em determinadas relações com sua comunidade, da qual constituem a base (...) 21”, nas
Em um estudo sob tais formações Marx destacou que, “as formas originárias
diferentes elementos objetivos que condicionam a produção; elas são a base econômica
originalmente significa uma relação do sujeito atuante (produtor) (ou um sujeito que
próprias23.”
Por sua vez, esta relação tinha como pressuposto o pertencimento do indivíduo
21
(MARX, K. 2006, p. 77)
22
(Idem, p. 95)
23
(FEPC, 90). É importante ressaltar que as formações aqui chamadas pré-capitalistas vivenciaram
diferentes formas de organização comunitária, ainda que todas elas evidenciassem “a unidade de seres
humanos vivos e ativos com as condições naturais e inorgânicas de seu metabolismo com a natureza”.
Em determinados estágios da evolução histórica, começaram a se evidenciar formas (de transição) nas
quais o produtor direto passou a ser considerado como a própria natureza inorgânica, como no caso da
escravidão e da servidão. Nestes casos, Marx afirma não haver de forma integral “a separação entre as
condições inorgânicas da existência humana e a existência ativa”, para ele o que ocorre é que “uma
parte da sociedade é tratada pela outra como simples condição inorgânica e natural de sua própria
reprodução. O escravo carece de qualquer espécie de relação com as condições objetivas de seu
trabalho. Antes, é trabalho em si, tanto na forma de escravo como na de servo, situado entre outros seres
vivos como condição inorgânica de produção, juntamente com o gado ou como um apêndice do
solo.”(FEPC, 82-3)
9
comunidade e neste sentido ele tinha uma existência objetiva distinta e anterior à de
onde, por meio do seu trabalho, da sua atividade produtiva, ele se contrapõe aos
recursos naturais (que lhe pertencem, pois são parte de si mesmo, extensão inorgânica
do seu corpo orgânico) e atua enquanto reprodutor da vida social. Ou seja, tem-se aqui
do indivíduo seja trabalho privado e que seu produto seja produto privado; ao
alguém que vivendo isolado não pertencesse a uma comunidade. Em tal contexto seria
produção” humana, para usar as palavras do próprio Marx. De uma forma geral, os
meios fornecidos pela natureza, para a realização do trabalho humano eram tidos como
pressupostos do próprio trabalho e sem estes, nada se poderia produzir e/ou possuir. Em
24
(ROSDOLSKY, R. 2004, p. 114)
25
(MARX, K. 2006, p. 97)
10
observado que o valor de uso era o objeto econômico da produção nas formações pré-
capitalistas, é possível extrair do exposto até o presente uma série de considerações que
social.
dele mesmo, como a parte “inorgânica” do seu corpo “orgânico” e como tal,
existência enquanto membro da comunidade, pode-se dizer que ele tem “um modo
objetivo de existência na propriedade da terra, que antecede sua atividade e não surge
26
De acordo com Marx, o termo propriedade e posse dizem respeito aqui à forma mesma como se
manifestava nas formações econômicas pré-capitalistas, a relação do indivíduo frente às condições
materiais de produção. Marx menciona que na forma asiática predominante o que existe é a posse
enquanto que, por exemplo, na antiguidade clássica a relação é de propriedade. Maiores detalhes ver p.
65-77 da obra Formações Econômicas Pré-Capitalistas.
11
como simples conseqüência dela, sendo tanto uma pré-condição de sua atividade como
é sua própria pele, como são os seus órgãos sensoriais, pois toda a pele, e todos os
comunidade se realiza por meio de sua atividade, de seu trabalho. O caráter social do
manutenção de sua própria vida aparece também como atividade vital para a vida da
comunidade. A especificidade do seu trabalho (materializada nos valores de uso por ele
consciência de que a sua atividade específica é parte necessária do todo que ele se
coloca como um ser ativo, portanto, diversamente do animal. Em outros termos, ele se
homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação, impulsiona,
regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza
como uma de suas forças. Põe em movimento as forças naturais de seu corpo, braços e
termos, há que se ressaltar que enquanto atividade humana produtiva ela é vital para a
27
(MARX, K. 2006, p. 77-8)
28
(MARX,K. 1985, 202)
12
Este caráter do trabalho, forma pela qual ele foi predominante nas formações
ele “nada pode criar sem a natureza, sem o mundo exterior sensível. Ela é a matéria na
qual o seu trabalho se efetiva, na qual (o trabalho) é ativo, (e) a partir do qual e por
direta, tal dependência não se apresenta a ele como negativa ou explícita, haja vista que
ele a contempla como a própria extensão inorgânica do seu corpo orgânico e, neste
sentido, dizer que “a vida física e mental do homem está interconectada com a natureza
não tem outro sentido senão que a natureza está interconectada consigo mesma, pois o
O fato de que ele se aproprie dos meios necessários para a produção como
seus, lhe permite visualizar igualmente o produto do seu trabalho como sua criação e
29
(MARX,K. 2004, p. 84)
30
(Idem, p. 80)
31
(MARX, K. 2004, p. 84)
13
reconhecer neste, a sua atividade. O mundo no qual ele está inserido se configura,
portanto, enquanto sua própria criação. Ele mesmo, enquanto parte da natureza vivencia
uma autotransformação. Por meio de sua atividade vital ele se desenvolve em sua
primeiramente à sua própria subsistência, não pode ser igualado à atividade meramente
animal praticada pelos animais irracionais. Seu trabalho, enquanto atividade essencial e
específica é realizado pelo emprego de sua atividade física e mental e é só por meio
desta que ele pode agir de forma consciente, ou seja, tomando os recursos brutos que
estão à sua disposição fornecidos pela natureza (que são portanto a natureza) e
Ou seja, ainda que o homem enquanto ser genérico tenha o seu trabalho como meio de
satisfação imediato de suas necessidades físicas, ele não o faz de forma meramente
instintiva, tal qual o animal. Seu trabalho é consciente, planejado, e o seu resultado (seu
consciente.
E ainda, neste ato de produção consciente ele não produz somente a si mesmo,
mas a natureza como um todo. Sua atividade criativa é, portanto, responsável direta pela
construção ou destruição da vida que lhe envolve. Da mesma forma que ele faz da
meio social, ele reflete sobre ela os efeitos positivos e/ou negativos, advindos da prática
de sua atividade. Sendo assim, pode-se dizer que o animal “produz unilateral(mente),
carência física imediata, enquanto o homem produz mesmo livre da carência física, e só
livre33.” É isto que o torna específico e superior em relação aos animais. Em outras
necessidade física, a atividade enquanto trabalho humano em geral não se resume a isto,
ao reino da necessidade. E é justamente fora desta condição que ele pode de fato
produzir.
Por outro lado, essa atividade vital consciente e livre faz do homem o condutor
do ato produtivo. Este é por ele dirigido e se dá com vistas a objetivos econômicos já
mencionados. Ele não produz comandado, comanda a produção e o que lhe move não
são os instintos individuais, mas a relação de interdependência que ele vive e lhe é
Em resumo, do exposto até então é possível dizer que o trabalho, tal como
meio delas que o indivíduo pode: reconhecer o seu trabalho como atividade
visualizar o produto do seu trabalho como sua criação e reconhecer nele a importância
de sua atividade34.
32
(MARX,K. 2004, p. 85)
33
(Idem, p, 84)
34
Na leitura deste parágrafo considerar a nota 23.
15
Assim, pode-se dizer que para Marx, nas sociedades pré-capitalistas o trabalho
se revela como algo além do dispêndio força física ou atividade instintiva voltadas para
a satisfação física. É atividade consciente essencial e vital ao ser humano e ao seu meio
forma pensada).
Neste ponto, cabe ressaltar que não é o propósito aqui efetuar uma discussão
acerca da transição para o capitalismo, ou, mais especificamente, elencar os pontos que
exigindo, portanto uma nova configuração social, que encontrou seu modelo ideal na
síntese burguesa. O objetivo é tão somente determinar o que é o trabalho para Marx,
contemporâneo.
35
(MARX, K. 2004, p. 84)
16
desta aparecem de forma bastante distinta da retratada nas formações econômicas pré-
36
Conforme destacado por Marx, o processo de trabalho é comum a todos os períodos históricos. No
capitalismo, tem-se, no entanto, uma especificidade: um processo produtivo no qual a produção de
valores de uso (produção característica do processo de trabalho) ocorre de forma subordinada à produção
de mercadorias (valor-de-troca). Sob tal forma, o objetivo é a produção para a valorização do capital, ou
seja, após a venda de tais mercadorias espera-se obter um valor maior que o despendido em sua produção,
valorizando dessa forma o capital.
37
Na medida em que o produtor se encontra separado dos meios materiais de produção ele é levado pela
coerção indireta (da fome, da necessidade) a disponibilizar a sua atividade essencial – o trabalho aos que
possuem tais meios, com vistas a garantir a sua manutenção física. Nestes termos, as condições sob as
quais o trabalhador é livre (porque não servos ou escravos/ desvinculados dos meios de produção) se
constituem efetivamente no estabelecimento da sua dependência em relação ao detentor dos meios
objetivos de produção – o capitalista.
17
sentido, ainda que a mercadoria seja unidade do valor de uso e do valor de troca,
que traz impregnado em si um valor específico (inserido por meio do trabalho 40)
que lhe permita converter-se em valor social41, mais especificamente, que lhe
produção.
38
De acordo com Marx, capital é valor que se valoriza. Este processo ocorre em função da forma real que
o capital assume dentro do processo de produção, a saber, capital constante e capital variável. O fato é
que o capitalista emprega um quantum determinado (valor constante) de dinheiro na aquisição de tais
elementos, materializados na forma dos materiais objetivos de produção e nos bens de subsistência pagos
ao trabalhador, e obtém em contrapartida, uma mercadoria que cria valor e que, portanto, lhe fornece
valor maior do que aquele nela empregado. Tal se dá por força de que no interior do processo produtivo o
capital variável assume a forma da força de trabalho (cuja propriedade é de produzir valor) e não a forma
dos bens de subsistência (cujo valor é constante). Por outro lado, os meios objetivos de produção se
confrontam com a força de trabalho extraindo-lhe valor. Desta forma, o material sobre o qual a
trabalhador executa sua atividade trará impregnado em si além dos valores dos trabalhos passados
(presentes no capital constante) o valor dos bens de subsistência pagos ao trabalhador e ainda, um valor
excedente. Para maiores detalhes, ver os 48 e 49 do capítulo VI inédito de O Capital.
39
Para Marx (1985, 41), “a mercadoria é, antes de mais nada, um objeto externo, uma coisa que, por
suas propriedades, satisfaz necessidades humanas, seja qual for a natureza, a origem delas, provenham
do estômago ou da fantasia. Não importa a maneira como a coisa satisfaz a necessidade humana, se
diretamente, como meio de subsistência, objeto de consumo, ou indiretamente, como meio de produção.”
40
O trabalho do qual se trata neste ponto é o trabalho humano em geral, ou ainda, trabalho abstrato.
Dispêndio de força física e mental, trabalho despido de especificidades. Sob tal caráter, os mais diversos
trabalhos específicos se tornam homogêneos e, como tal, a sua única especificidade é ser produtor de
valor. Nas palavras de Marx (1985, 45) - “O trabalho que constitui a substância dos valores é o trabalho
humano homogêneo. Dispêndio de idêntica força de trabalho. Toda a força de trabalho da sociedade, -
que se revela nos valores do mundo das mercadorias, -, vale aqui, por força de trabalho única, embora
se constitua de inúmeras forças de trabalho individuais.”
41
A forma do valor social é o dinheiro.
18
Por seu turno, o atendimento das necessidades sociais tem como único agente
coerente, submetendo-se tudo à cega ação das forças do mercado. O movimento geral
de sua desordem é sua ordem44”. Sendo assim, pode-se afirmar que é no mercado que se
material do valor de uso) por dinheiro (valor na forma social) é, de fato, uma evidência
da contribuição social de cada indivíduo, por meio de seu trabalho, enquanto atividade
específica e essencial, ainda que, na superfície tal interdependência não apareça e/ou
seja negada.
42
Estabelecer o modelo como estas relações se estabelecem entre os indivíduos é uma outra questão. Ou
seja, elas se constituem efetivamente numa troca monetária realizada entre proprietários de mercadorias.
No entanto, a formalidade ou não (no sentido burocrático, documental), é um ponto a ser explorado.
Como exemplo, a forma própria do assalariamento abre margem a uma série de questionamentos que
precisam ser melhor esclarecidos.
43
Concorrência entre capitalistas em busca de ampliação do seu mercado consumidor, condição
necessária para a ampliação do capital. Concorrência entre trabalhadores, com vistas a garantir, por meio
da venda da sua força de trabalho, a própria existência física.
44
(ROSDOLSKY, R. 2001, p. 112)
19
Nesta, é preciso enfatizar mais uma vez, as relações que se estabelecem são entre
capitalista e o trabalhador.
determinado, cedendo ao capitalista o valor de uso a ela intrínseco, qual seja o de criar
valor. Na verdade, ele aliena a sua “capacidade viva de trabalho, que gera valor e que,
como elemento que produz valores, pode ser maior ou menor, pode representar-se
como grandeza fluida, em devir45”. Em troca, ele recebe uma grandeza constante, o
salário.
Com tal negociação, o capitalista passa a ser dono da força de trabalho em sua
outro lado, mesmo que para ele a essencialidade recaia sobre o segundo aspecto, o
objetivos em um novo objeto, inserindo novo valor ao mesmo tempo em que conserva o
que o trabalho concreto se faça presente, a leitura que se tem do mesmo é enquanto
trabalho que insere valor, que permite ao capitalista quantificar no objeto produzido, um
quantum específico que seja por ele negociado e transformado em valor social,
efetivando-se assim a valorização do seu capital. Mais uma vez, o trabalho em sua
forma específica só interessa ao capital na medida em que este lhe garanta a produção
daquilo que o mercado transforme em valor social. Por outro lado, ao trabalhador, a
especificidade do seu trabalho só lhe interessa na medida em que lhe garanta o acesso
possibilidade efetiva de que tais propósitos sejam alcançados que a relação contratual se
o seu capital sem o trabalhador, mas, por outro lado, o trabalhador não pode subsistir
de produção na qualidade de capital, que como ele (na condição de força de trabalho)
pertence a outro, o capitalista. Estes devem ser por ele transformados, tal como
determinado pelo capitalista (portanto, seguindo a vontade de outro), que para tanto
específica. Assim, a forma real do capital no interior do processo produtivo é aquela que
intento. Vale reafirmar que “os elementos que compõem o processo de produção do
21
capital” são “os mesmos do processo de trabalho em geral 46”, o que o distingue e,
vivencia por meio de seu trabalho, um processo de estranhamento que se expressa sob
de uso específico, portador de valor de troca, portanto, mercadoria, não eram seus; 2) O
trabalho que ele aplicou aos recursos materiais (capital) foi por ele vendido ao dono de
tais recursos (que o comprou essencialmente com vistas ao valor de uso do trabalho, que
é para ele o de produzir valor). Como já mencionado, ainda que o que interesse ao
trabalhador vende a sua força de trabalho ele vende conjuntamente sua atividade
46
(MARX, K. 2004, p. 47)
47
(MARX, K. 2004) - Capítulo sobre Trabalho estranhado e propriedade privada.
22
criativa, ela não lhe pertence e sim ao capitalista e como tal, ela será empregada
especificamente, da ciência aplicada ao processo produtivo. Esta, por sua vez, tem sido
aspectos. Primeiro, considerando que a matéria sobre a qual ele aplica o trabalho não é
que ele materializa o seu trabalho no objeto, ele sofre a sua perda. Por outro lado, o
objeto que em sua essência nada mais é que trabalho coloca-se diante do trabalhador
defronta-se agora com o trabalho vivo na condição de potência externa que lhe domina e
em relação ao objeto (produto do seu trabalho) está duplamente posta, ou seja, para que
ele “possa existir, em primeiro lugar, como trabalhador e, em segundo, como sujeito
meios de produção objetivos fornecidos pelo capitalista. Estes, ao mesmo tempo em que
personificação do próprio capital. Neste sentido, a criatura se volta contra o seu criador
23
e quanto “maior este produto” resultante da atividade do trabalhador “menor ele é48”.
Quanto ao segundo aspecto, fica evidente que a sua própria manutenção física passa a
depender do capital. É este que agora lhe compra trabalho em troca de um salário que
lhe garanta a subsistência. O que se tem é uma situação na qual “somente como
trabalhador ele (pode) se manter como sujeito físico e apenas como sujeito físico ele é
trabalhador49.”
privada perdeu sua qualidade natural e social”; por outro, “a produção da atividade
estranha; a existência abstrata do homem como um puro homem que trabalha e que,
por isso, pode precipitar-se diariamente de seu pleno nada no nada absoluto e,
trabalhava porque era consciente, e por meio da atividade consciente moldava o mundo
à sua volta. Agora, ele é consciente porque trabalha, ou seja, “porque é um ser
consciente, faz da sua atividade vital, da sua essência, apenas um meio para a sua
existência51.”
negativa, ou seja, ele “não se afirma, portanto, em seu trabalho, mas nega-se nele, não
48
(MARX, K. 2004, p. 81)
49
(Idem, p. 82)
50
(Ibidem, p. 92-93)
51
(MARX, K. 2004, p. 82)
24
se sente bem, mas infeliz, não desenvolve nenhuma energia física e espiritual livre, mas
mortifica sua physis e arruína o seu espírito.” Em tal contexto “o seu trabalho não é
portanto voluntário, mas forçado, trabalho obrigatório”. Desta forma, o seu trabalho, a
sua atividade se mostra como “externa” a ele, como “se o trabalho não fosse seu
próprio, mas de um outro, como se (o trabalho) não lhe pertencesse, como se ele no
trabalho não pertencesse a si mesmo, mas a um outro52”, que lhe oprime e se mostra
indiferente as suas necessidades humanas, que o vê e trata como coisa. O outro, passa a
trabalho? O que é para Marx o trabalho sob o capitalismo? Em que medida pode se
dizer que o trabalho guarde a mesma significância que a apresentada nas formações
para o indivíduo que trabalha a sua atividade tem se colocado essencialmente como
como algo que o oprime. Por outro lado, há que se ressaltar que a efetividade do
trabalho enquanto atividade criativa persiste, mas não se mostra perceptível a ele porque
com a venda da sua força de trabalho ela passa a ser condicionada à vontade do capital
52
(Ibidem, p. 82-4)
25
Para o capital, por sua vez o trabalho é mercadoria, e como tal deve satisfazer
as necessidades daquele que a adquire, qual seja, produzir valor em escala ampliada.
Portanto, para o capital o trabalho é coisa, e como tal não possui vontades, sentimentos,
etc. Sob esta ótica, a especificidade e o caráter criativo do trabalho enquanto atividade
mercadorias e a si mesmo como tal. E nesta condição ela passa a ser apenas trabalho
humano em geral. A produção capitalista “produz o homem não somente como uma
mercadoria, a mercadoria humana, (...), ela o produz como um ser desumanizado tanto
trabalhadores e capitalistas53.”
Marx visualiza o trabalho sob o capitalismo. Seu caráter específico e essencial submete-
satisfação das necessidades físicas. Assim, movido pela necessidade o trabalho se revela
ao homem como sofrimento. É neste sentido que o homem passa a se sentir como um
Por outro lado, ainda que o trabalho em sua condição de atividade humana
essencial esteja oculta sob o trabalho humano em geral, há que se ratificar que Marx
reafirma a permanência do mesmo – (mesmo que esta se revele oculta até mesmo ao
enquanto ser, em sua especificidade humana. É por ele que o homem produz o mundo à
REFERÊNCIAS
MARX, Karl. Formações Econômicas Pré-Capitalistas. São Paulo, Paz e Terra, 2006.
__________. O Capital: crítica da economia política. Livro I, vol. I e II, São Paulo,
Difel, 1985.
2001.
SMITH, A. A Riqueza das Nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. São