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NOVEMBRO
2012
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O FETICHISMO DA MERCADORIA
1
A co mp r ee n são ab s tr a t a d a cat e go ri a fet ic h is mo e re i ficaç ão é u m p as so d ec i si vo p ar a
en te nd e r a car ac ter í st ic a d a a mb i va lê nc ia d o c o n he ci me n to na s co nd i çõ es hi s tó ri ca s d a
mo d e r nid ad e c ap i tal i sta .
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Marx não desconhece que o valor agregado “às formas das matérias
naturais” pela força de trabalho c ompreende também o conhecimento. Que,
efetivamente, o conhecimento é um importante insumo na valorização das
mercadorias e, consequentemente, na valorização do capital. Apenas não
desenvolveu teoricamente esse fato como poderia.
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No s sa h ip ó te se é q u e u ma s éria co ns id er a ção d o p ro b le ma d o co n h eci me nto n a
va lo ri zaç ão d o cap it al l ev ar i a Mar x a p e sq ui sa r co mo s e e fe ti v a a p ro d uç ão /ap ro p ria ção
so c ial d o co n he ci me n to na mo d er n id ad e c ap ita li st a.
3
Ho j e, ma i s d o q ue na ép o ca d e Ho d g s ki n , sab e mo s q ue o co n he ci me n to se re v ela co mo
fl u xo e não co mo “e s to q ue ”, ma s e s sa cara cte r ís ti ca não es tá co mp le t a me nt e a u se n te d a
co mp ree n são d e Ho d gs k in , p o i s ele ta mb é m ad m ite q u e o co n hec i me n to sej a “ p rep ar ad o ” e
“ac u mu l ad o ”.
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E m M ar x o co n hec i me nto o u fo i fet ic h izad o p ela mo d er n id ad e d as r el açõ e s cap ita li s ta s
d e p ro d ução , o u fo i co nd e n sad o à cat e go ri a fo rça d e trab al ho , cap aci d ad e p ro d ut i va et c.
Ap e na s co m Gr a ms ci a vi são d e Ho d g s ki n fo i lev ad a a ter mo , e mb o r a Gra ms c i p areç a
d esco n h ecer a s r e fl e xõ e s d e Ho d g s k i n. Ma s o p r o b le ma d o co n h ec i me n t o p ara Gra ms ci não
é o a sp ec to d a p r o d ução /ap r o p r i ação so ci al d o c o n he ci me n to n a va lo ri za ção d o c ap i tal , não
é u m p ro b le ma d e so c io lo g ia eco nô mi ca, ma s d e so c io lo g ia d o trab a l ho e d e so cio lo gi a d a
ed u caç ão . P ar a Gr a ms c i há u m p r i nc íp io ed uc ati vo na at i vid ad e lab o ral, u m p r i ncíp io
p ed a gó gico q ue i nc id e s o b r e a p er so nal id ad e d o s p ro d u to re s, d ete r mi n a nd o a fo r ma ção d a s
p erso n alid ad e s. O p r i nc íp io ed u cat i vo p o d e fo r mar p ro d uto re s co m p er so na lid ad e
s ub a lter n a o u a u tô no ma . Es se p r i nc íp io p ed a gó gi co d o trab a l ho , e m G ra ms ci, co mo será
vi s to no cap ít u lo ter c eir o , é u n i ver sa l, e xi s te e m to d a s a s a ti v id ad e s e m q ue se d es e n vo l v e
a lab o r al id ad e h u ma na , t end o e m v is ta u ma ne ce s sid ad e p ré v ia.
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Não se p o d e d esd e n ha r o fa to , q u e, “d ura n te to d o o lo n go p er ío d o d a p ri me ira e d a
se g u nd a i n fâ n cia ”, o s f i lho s ta mb é m lab u ta m p a ra ap re nd er o s co n h eci me n to s nec es sá rio s
p ara d es e mp e n ha r e m no f ut ur o a l g u ma at i vid ad e út il e p ro d ut i va : es t u d ar é trab al ho . As
ati v id ad e s ed uc at i va s s ão d e se mp e n had a s n a p ri me ira e se g u nd a i n fâ nc ia, s e m q u alq ue r
re mu n era ção p elo e s fo r ço e mp r ee nd id o ; d ed i c a m - s e ao s e st ud o s p o r o b ri ga ção o u e m
fu nç ão d a n ece s sid ad e d e ter e m co m o q ue co nt a r p ara so b re v i ver q u a nd o ad ult o s.
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P o rtan to , d e sd e o s t e m p o s d e Ho d g s k i n, a rep r o d uç ão so cie ta l d o co n h eci me n to se fa z d e
fo r ma p r i vad a; q ua nd o mu i to , e s tat al. A ed uca ção n ão é co mp r ee nd id a, d eci s i va me n te,
co mo i nt er e s se p úb lico so c iet al, aci ma d o E st a d o e d o mercad o : a s c l as se s p ro p r iet ári as
p ag a m p o r ela e a s cla s s es s ub a lt er na s v i ve m d o se u r e fu go .
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Ho d g s k i n, j u n to co m o esco cê s Ro b er tso n , fu n d ara m e m 1 8 2 3 o i n sti t uto ed uca cio n al d a
cla s se t r ab a l had o r a i n g le sa, o Mech a n ic’ Ma g a zin e . N es se i n st it u to o s tr ab al h ad o re s
ap re nd i a m o q ue er a ind i sp e n sá v el p ara tr a b al har na s i nd ú str ia s in g le sa s : q u í mi ca,
me câ n ica, c iê n cia d a p r o d uç ão e d i str ib uiç ão d e riq uez as. Fo i ne s se i n st it u to q u e el e não
só p ub l ico u o o p ú s c ulo r e fer e n ciad o ac i ma, m as ta mb é m vár ia s co n ferê nc ia s q ue n ele
p ro feri u fo r a m c o nd e ns a d as e m u ma o u tra o b r a i mp o rt a nte , p ub l icad a e m 1 8 2 7 , Eco n o mia
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Po lí ti ca Po p u la r , n a q u al f ez cr í ti ca s às t e se s d e Ri card o , Ma lt h u s, B e n th a m, Ma c C ul lo c h
e S t uar t M il l.
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E mp r e ga mo s e s se ter mo co n f o r me M a nd e v il l e (2 0 0 1 ) o e nte n d e. As co mo d id ad es são
fo r ma s so ci ai s q ue tr a ze m o co n fo rt o so ci al, b e m - e s tar et c.
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Mar x e nt e nd e a o b j e ti v i d ad e d o s v í nc u lo s so ci ai s, n a mo d er nid ad e cap i t ali s ta, co mo tra ço
carac ter í st ico d o fe tic h i s mo . E ste não re s ul ta d e q ua lq uer fal h a o r g â ni ca o u s ub j e ti va d o
ser h u ma no : “a i m p r e s s ão l u mi n o sa d e u ma co is a so b re o n er vo ó tico n ão se ap r es e nta
co mo u ma e x ci taç ão s u b j eti va d o p ró p r io ner v o , mas co mo fo r ma o b j eti v a d e u ma co i sa
fo r a d o o l ho . [ E co n ti n u a] no ato d e ve r, a l u z s e p ro j eta re al me n te a p a rtir d e u ma co i sa,
o o b j eto ex te r no , p ar a o ut r a, o o l ho . É u ma re la ção fí si ca e n tre co i sa s fís ica s” ( ib id e m, p .
7 1 ). I mp o r ta r e ss al tar es sa r ela ção d e s tac ad a p o r Mar x e ntr e o s se n tid o s h u ma no s,
o rgâ n ico s o u b io ló g ico s – q ue ta mb é m p o d e mo s co mp re e nd er co mo i n t erio rid ad e – , e a s
‘fo r ma s o b j et i va s ’, o mu n d o e xt er no o u o o ut ro – q ue p o d e mo s c o mp r ee nd er co m o
ex ter io rid ad e, o so cia l.
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Es sa e xp r e s são é co nc e b id a p o r Gra ms c i co mo “u n id ad e s c ul t ura is so ci ai s” ( G R AMS CI,
1 9 8 5 , p . 1 3 6 ss) .
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Ess e me s mo met ab o li s mo q ue o b s er va mo s o co rrer co m a ca te g o r ia ab ra n g e nte
me rcad o r ia o co r r e co m a ca te go r i a e sp e cí fica c o n he ci me n to . A h ierarq ui a e n tre o s s uj ei to s
so c io eco nô mi co s e e ntr e o s s uj ei to s p ed a gó g ico s , o co ntro le d o Es tad o e d o cap i ta li st a q ue
at ua no p r o ce s so d e p r o d uç ão / ap ro p ri ação s o cia l d o co n h eci m e n to , o s cri tério s d e
av al iaç ão d o e nr iq u ec i me n to d a fo r ça d e trab al ho p o t e nci al d o s d i sc en te s c e ntrad o s no
ind i víd uo , o s cer ti f ic ad o s co mo at es tad o co mp ro b ató rio d o e nr iq uec i me n to d a fo rça d e
trab a l ho , ap ar e ce m d e ter mi n ad o s p e lo me rc ad o . D et er mi n açõ e s a q u e b uro c rat as ,
cap i tal i st as, fo r ç a d e t r ab al ho ac ab ad a d o d o ce nte e a fo rç a d e tra b al ho p o te n cia l d o
d is ce nt e não p o d e m f u g i r , s e não se s ub me ter e s e s uj e itar .
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É i mp o r ta nt e d e st acar co mo Mar x d á i mp o r tâ nc ia à i nt erio r id ad e h u ma n a, me s mo
co n s id era nd o a e x t er io r i d ad e, a so c iab i lid ad e, c o mo mo me n to d e ter mi na nt e d o s fe nô me no s
so c iai s, co mo é aq ui e vi d en ciad o p el a a ná li se q ue faz so b re o fet ic h i s m o d a merc ad o ri a e
se u mi s té r io .
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A rel i gi ão é ap e na s u m r e f er e nc ia l. Ma s n ão é ap e na s no “mu n d o d a reli gi ão ” q ue “ o s
p ro d u to s d o cér eb r o h u ma no ” são a n i mad o s, ga n ha m “v id a p ró p ri a ” e in v erte m as a
co nd ição d e cr iad o r e cr ia t ur a co n tra a s p e s so a s. I sso ta mb é m o c o rre no mu n d o d a
p ro d uç ão / ap r o p r i ação so cia l d o co n he ci me n to . P ara mu i to s s uj e ito s p ed a gó g ico s (d o ce n te s
e d i sc e nte s) q u e a t ua m n a s u nid ad e s d e p r o d uç ão /ap ro p ria ção d o co n hec i me n to , o s
p ró p rio s co nt e úd o s so ci ali zad o s a s si m s e ma n i fes ta m. Aq ui o fet ic h i s m o e a re i fi caç ão d o
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72). Ainda assim persiste o fato de que “seu próprio movimento social possui
para eles [os produtores] a forma de um movimento de coisas, sob cujo
controle se encontram [assujeitados], em vez de controlá -las [como sujeitos]”
(ibidem, p. 72-73).
Como corpo a mercadoria não passa de utilida de, mas como corpo
determinado por relações sociais parece, as mercadorias, serem dotadas de
vontade e dinâmica própria. Esse aspecto torna o ser humano impotente
diante da “trocabilidade universal” na modernidade capitalista – o produtor
está diante de um processo de produção e destruição de mercadorias, mas não
pode se apoderar delas, mesmo que esteja coberto de necessidades ou desejos,
mesmo que ela tenha sido produzida parcialmente por ele.
Pode ser o produtor mais incapaz, desde que seus conhecimentos sejam
úteis à valorização d o capital, ao inserir-se na divisão técnica do trabalho,
essa incapacidade é dissolvida, nivelada e corrigida pelo metabolismo do
capital. Em termos abstratos, a mercadoria força de trabalho, que valoriza o
capital, recobre não só a transferência dos conhe cimentos ao processo de
produção de mercadorias, mas “encobre” todo o caráter social da exploração e
das relações de poder do capital. Este ocultamento é a condição alienante da
produção de mercadorias.
São esses os aspectos sociais que Marx revela em seus estudos sobre
as relações de produção da mercadoria, ao contrário dos economistas
clássicos, que reduziram as mercadorias a simples produto do trabalho; e dos
economistas vulgares, que viram o valor e as formas sociais como algo
intrínseco à mercadoria. C riticando os clássicos e vulgares economistas
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P o r ir o n ia d o d e st i no o u ne ce ss id ad e d e co m p ree nd er a fu n cio na lid a d e d a so c ied ad e
mo d e r na p ar ece q ue mu ito s “r ato s” a nd ara m ro end o a Id eo lo gi a Ale mã . R ato s p eq u e no s e
rata za na s. Hab er ma s é u ma d e st a s gra nd es . Ad e n tro u a Id eo lo gi a Ale mã vi sa nd o faz er a
s ua “R eco n st r ução d o Mat er i al is mo H is tó r i co ”. Na i n terp r et ação d e Mé s záro s t al
“r eco n str u ção ” ap ó s el i mi n ar p r at ic a me n te as cate go ria s fu nd a me n ta i s d o ma ter ia li s mo
hi s tó ri co , “f ica - s e a i ma g i nar , co m tre mo r , o q ue so b r ari a d a co n cep ção o ri gi n al d o
Mat eria li s mo Hi s tó r i co q ua nd o Hab er ma s co n cl uí s se s ua no va fo r mu l aç ão ” (MÉ S ZÁR O S,
2 0 0 4 , p . 2 0 0 ) . E o a f ir m a: “s ua ‘co mu n i d ad e id e al d e co mu n i caç ão ’ e a s ua ‘s it ua ção id ea l
d e fa la ’ d e f e nd e m u ma vi s ão d o co n fli to so ci al e d e s ua re so l ução p o t e n cia l q u e n a mel ho r
d as h ip ó t es es , p o d e ser q ua li f ic ad a d e ‘i n gê n u a ’” (ib id e m, p . 1 9 2 ).
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Não s e p o d e e sq ue cer q ue o na t ura li s mo é u ma co n cep ç ão so cio ló gic a q ue co ntr ib ui p ar a
en co b rir a s o p r e ssõ e s e d o mi naç ão d e cla s se s. El e to r na a nô ni m a s as fo r ça s so c ia i s
b en e fi ciad as co m a e xp l o r aç ão d a fo rç a d e trab a l ho e a d ifere nc iaç ão so c ia l n a
mo d e r nid ad e cap it al i sta . O a no n i ma to , co m e ss e co nt e úd o , ap e n a s é p o s sí ve l p o rq ue el e
fa z o h is tó r ico p a s sar p o r n at ur al. O q u e l e gi ti ma a d o mi n a ção d e s sa s me s ma s fo rç as é a
acei ta ção acr ít ica d o p r i nc íp io d ar wi n is ta d a se leç ão n at ura l e d e to d o ap ar ato
in s ti t uc io nal q ue l he s us te nt a, co mo é o ca so d o si s te ma d e p ro d u ção / ap r o p riaç ão so c ia l d o
co n h eci me nto fo r ma l e i n fo r ma l.
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É sab id o q ue M ar x fez a cr í tic a a o si st e ma he g eli a no na s ua to ta lid ad e. Es sa cr ít ica p o d e
ser e nco n tr ad a e sp ar s a me n te e m d i ve rs as o b ra s: S a grad a Fa mí l ia, Cr í tic a à F ilo so fia d o
Dire ito , Ma n u s cr i to s E co nô mi co s e F ilo só fic o s d e 1 8 4 4 . T o d av ia, Mar x não d e fi n i u
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É dentro dessa tensão que se situa, para Marx & Engels, a filosofia
hegeliana, alimentada pelo debate entre seus discípulos. Nesse confronto
intelectual os hegelianos de esquerda também sucumbem. Eles também
“substituem as coisas” pelo “reinado da religião, dos conceitos e do univers al
no mundo existente” (ibidem, p. 16).
Esta tomada de posição “prático -crítica” afasta Marx & Engels dos
hegelianos e lhes possibilita enxergar e desvendar os limites da filosofia
hegeliana; em especial, da filosofia dos hegelianos de esquerda. Esta restringe
o existente ao campo das idéias e do pensamento. Isto é, à consciência cr ítica.
O que Marx & Engels farão a partir dessa crítica não é abandonar a filosofia a
sua própria sorte, mas reconstruí -la desde uma perspectiva materialista da
história. Marx & Engels fundam uma nova filosofia no universo da ontologia:
a filosofia da práx is.
O ser dessa nova ontologia é o ser social. Não mais o ente metafísico
“puro” e/ou absoluto, mas o complexo ou totalidade do ser social, a
efetivação concreta do sujeito histórico. Eles passarão a inquirir, a se
embrenhar, na descoberta e exposição da d inâmica interna das forças sociais
que determinam a existência humana: as forças de sujeição e de emancipação,
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P arece e str a n ho , ma s so cia li s mo não se r ed uz p a ra Mar x ap e na s a u ma es trat é gi a p o lí ti ca
d as fo rç as q u e se co ntr a p õ e ao cap i ta l; si g n i fi ca ta mb é m, co mo p ro p o s t o no s Ma n u scr ito s
d e P ari s, a fo r ma d e o s ser e s h u ma no s i n ter a gi re m e ntr e si, d el es s e a sso ci are m e se
so c ial iz ar e m r ec ip r o c a m en te. O q ue ta mb é m se as se me l ha ao q ue Ma u s s (2 0 0 1 ) c ha ma d e
as so c iac io ni s mo .
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É u ma q u e stão a ser i n ve s ti gad a o s mo ti vo s q ue le v ara m, no d e co rr er d o P ó s - G uerr a,
co m a he g e mo ni zaç ão d o cap i ta li s mo no r te -a meri ca no no co nte x t o i nter n ac io nal , a
filo so fi a d a hi s tó r i a a p er d er o l u g ar, co mo ce n tro d e p reo c up açõ es d a s ci ê nci as h u ma n a s,
p ara a filo so f ia d as ci ê n cia s.
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Marx & Engels vão desfazendo a “ganga mítica” que ainda corroía a
rebeldia do pensamento hegeliano e fortalecendo a história materialista ou
humanista com a dialética, justamente a combinação ausente em Feuerbach.
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Sér gio Les sa ( 2 0 0 2 ) e m se u l i vro Mu n d o d o s h o men s: trab a l ho e s e r so ci al, r eal izo u
gra nd e e s fo r ço i n te lec t ua l vi sa nd o re s sa lt ar o s co n to r no s fu nd a me n ta i s d a ep is te mo lo gi a
ma r xi st a, i n sp ir ad o n a O nto lo gi a d o ser so cia l d e G yö r g y Lu k ác s.
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O ser social de Marx & Engels é um ser ativo e consciente dessa sua
condição, que produz idéias e representações; que se exterioriza através de
uma diversidade de esferas sociais: a música, a escrita, a arte, o teatro, o
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O q ue fo i d e mo n s tr ad o na a ná li se d o fet ic h i s mo e d a re i fi caç ão d o co n h ec i me n to ,
ce ntr ad a na ca te go r ia d a cer t i fi caç ão d a fo rça d e trab a l ho p o te nc ia l d i sc e nt e.
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Eles também admitem que esse ser não é “mais do que o Ser
consciente”. Mas isso é muita coisa quando comparamos essa idéia de Ser
consciente com aquela consciência metafísica dos hegelianos. O que é Ser
consciente? Ser consciente de quê? É Ser consciente das suas atividades e
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Aq u i há p r o p o siçõ e s q u e r e fut a m a h ip ó t ese d e o ma r xi s mo c o n st it u ir e m u m
eco no mi ci s mo . O “p r o c es so d e vid a re al ” não é ap e n as a p ro d ução , e n vo l ve “a s fo r ma s
ma i s a mp la s q ue e st as p o s sa m to mar ”.
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A 1 1 ª te se co ntr a Fe uer b ac h co n fir ma e ss a hip ó te se.
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mundo sensí vel em seu redor não é obj eto dado diretamente
para toda a eternidade, e sempre i gual a si mesmo, mas antes
o produto da indústria, do estado e da sociedade, isto é, u m
produto histórico [...] e modificava o seu regi me social em
função das modificações das necessidades (i bidem, p. 30).
É por isso que Feuerbach não conseguiu perceber a importância que tem
para o conhecimento a empiricidade dos fatos. O quê e o como os seres
humanos fazem em vida e pela vida é o que eles são realmente e não o que
imaginam. Feuerbach não conseguiu conciliar história e materialismo e
permaneceu um filósofo ligado à tradição idealista. Em outros termos, não
conseguiu fazer a transição da filosofia social para a teoria social, “dobrar o
cabo da boa esperança”.
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Aq ui Mar x & E n ge l s s e r e vel a m co mo cr ít ico s mo rd aze s d a o b j et ua li za ção .
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Es se s e n u n ci ad o s s ão “mo me n to s” q u e e x is tir a m d esd e o i níc io d a h i st ó r ia d o s p r i me iro s
ser es h u ma no s ( ib id e m, p . 3 5 ) . Mo me n to s ge n u i na me n t e a n tro p o ló g ico s.
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Es sa p r o p o siç ão ne g a a ac us ação d e Mar x & E n ge l s t ere m red uz id o “o p ro ce sso vi tal d o s
ind i víd uo s p ar tic u lar es ” ao p r o d u ti v i s mo . A “p r o d uç ão ” é “o p r i mei ro a to d a hi stó r ia ”, n ão
o ú ni co , ta mp o uco a fi n alid ad e úl ti ma d o ser h u ma no . Ma s é a s ua b a se. Aq u ela se m a q u a l
o ser h u ma no n ão p o d e e xi s tir .
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I mp o s sí ve l ad mi t ir o i n d iv íd uo fo ra d a so cied a d e. T o d as a s ab str açõ e s q ue p arte m d e ss e
p res s up o sto são eq ui vo c ad as , d o p o nto d e v i st a d a teo r ia so c ial mar x ia n a. O u co nd u ze m a
ta uto lo gi a o u a ab str a çã o d o i nd i v íd uo .
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[...] não têm história, não têm desenvol vi mento; serão antes os
seres humanos que, desenvol vendo a sua produção material e
as suas relações mat eriais, transformam, com esta realidade
que lhes é própria, o seu pensamento e os produtos desse
pensamento. Não é a consciência que determina a vida, mas
sim a vida que determina a consciência . Na pri meira for ma
de considerar este assunto, parte -se da consciência como sendo
o indivíduo vi vo, e na segunda, que corresponde à vida real,
parte -se dos próprios indivíduos reais e vi vos e considera -se a
consciência unicamente como sua consciência 28 (MARX &
ENGELS, 1980b, p. 26, grifos meus) .
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“E st a fo r ma d e co n sid er ar o a s s u nto [d e co mp re e nd ê - lo ] não é d e sp ro vid a d e
p res s up o sto s. P ar t e d e p r e mi ss as r eai s e nã o as ab a nd o n a u m ú n i co i ns ta n te. E st as
p re mi s sa s s ão o s s er e s h u ma no s, n ão i so l a d o s ne m fi xo s d e u m a q u alq u er fo r ma
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Como dizíamos acima, o desfecho desse debate entre Marx & Engels e
os hegelianos ocorre com a rejeição da aborda gem especulativa e a necessári a
politização da produção/apropriação social do conhecimento. Isto é estender
intencionalmente a teoria à prática. Nesse momento, dizem Marx & Engels,
começa a “ciência real”: a ciência da história. E, digo eu: a teoria social .
Dessa forma, fica claro que não se pode utilizar o signifi cado de
hipóstase indiscriminadamente, mas revela -se que seu uso se presta para
diferenciá-la do termo essência, que designa por vezes a substância individual
concreta, aquela que é sempre sujeito e nunca predicado, e por vezes a
espécie ou gênero, comum a várias substâncias individuais concretas.
Galeano chamava hipóstase de sujeito individual em seu último
complemento: a substância complementada na razão da espécie possuía para
Galeano, perfeita substância. São Tomás de Aquino refere -se a ela como “ser
de uma coisa em sua completude”, o “ato pelo qual ela existe por si mesma”.
Para Aquino, hipóstase é a substancia particular mas não de qualquer modo,
senão em seu complemento. Os neoplatônicos, por outro lado, deram um
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“A d is ti n ção d o s f ato s co m b a se e m se u si g ni fic ad o e n a s ua i mp o rtâ nc ia n ão é o
res u ltad o d e u ma a v al i ação s ub j e ti va , mas o res u ltad o d o co n te úd o o b j eti vo d o s fa to s
iso lad o s” ( KO SÍ K, 1 9 6 9 , p , 4 5 ) .
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“A r ea lid ad e [ p o d e s er co mp r ee nd id a] co mo t o tal id ad e co ncr et a, i s to é , co mo u m to d o
es tr ut ur ad o e m c ur so d e d ese n vo l vi me nto e d e a u to cri ação [.. .] [P ara Ko s ík ] to t ali d ad e não
si g n i fi ca to d o s o s fa to s , [ ma s] r ea lid ad e co mo u m to d o e str u t urad o , d i alé tico , no q ual o u
d o q u al u m f ato q u a lq u e r ( cla s se s d e fato , co nj u nto s d e fato s) p o d e v ir a s er ra cio n al me n te
co mp ree nd id o ” ( ib id e m, p . 3 5 ) .
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Ana li sar e mo s co mo se p r o ce ss a a rac io na lid ad e d a h ip ó s ta se, d e u m mo d o mai s co ncr eto ,
q ua nd o tr a tar mo s d e c ate go r ia s e mp íri ca s co mo a cid ad a n ia e o co nt rato so cia l. Aq ui
p rete nd e mo s , t ão -so me n te, ap r ee nd er o si g n i fi ca d o cat e go ri al d a hip ó st a se e m t er mo s ma i s
ab ra n ge n te s, a i nd a q ue se m d es c uid a r d a o b j et i vid ad e co mo el a se i n s t aur a na p ro d uç ão
d as teo r ia s so c ia i s. I st o é, co mo ela é p la n t ad a p e lo p ro d u to r d e co n h eci me nto , no
mo me n to me s mo e m q u e ele o p r o d uz p o r me io d e p ro ced i me n to s me tó d ico s. Aliá s, é p o r
is so q ue ad mi ti mo s ha v er n a hip ó st as e u ma ra ci o na lid ad e e q ue es ta p r e ci sa ser a n al is ad a.
A hip ó s ta se é u ma p r á t ica teó r ica ca rac ter ís ti c a q ue p o d e ser v eri fic a d a e m teo r ia s q u e
an al is a m o s f ato s so ci a is. É u m co ns tr u to q u e se d e sc u id a d a re la ção en tre ab s traç ão e
co n cre tic id ad e; teo r ia e p r átic a; p ar tic u lar id ad e e u ni ve rs al id ad e, co mo rela çõ e s
p ro b le má ti ca s e d et er mi n a nt e s d a s i n terp r e taçõ e s e co mp r ee n sõ es q u e d e fi ne m
p ro p ria me n te u m ca mp o se mâ n t ico e her me n ê ut ic o d e a ná li se .
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voluntariamente, sem que ele tome consciência das diferenças vitais entre os
contratantes.
A hipóstase aparece ainda obscura quando concebida como processo
subjetivo da produção do conhecimento, mas já temos um elemento
fundamental que serve como delimitador e identificad or das concepções que
tendem a hipostasiar o conhecimento: o produto analítico do real ou dos fatos
sociais e a ausência nas abordagens das ciências humanas da categoria da
historicidade. As concepções que desconhecem a historicidade tendem, ao ser
trabalhadas pelos sujeitos do conhecimento, a hipostasiar o processo de
construção, pois partem de um pressuposto de maior dinamicidade das
relações humanas: o social.
A historicidade também possui seu pressuposto: a temporalidade, que é
transitiva e dotada de co ntinuidade; isto não implica que não haja saltos ou
descontinuidades, mas sempre se parte de algo construído anteriormente como
patrimônio da humanidade. Portanto, o tempo, nesse caso, é um acontecendo,
um processo construído no devir como força impulsora desse devir; a vontade,
o desejo e a paixão são as pulsões desse devir e o motor da história.
Encontramos esta referência em três momentos na ontologia materialista da
história:
[A historicidade como] interna conexão da práxis obj etivante e
obj etivada da h umanidade, denomi nada substância, espírito
obj etivo, cultura ou civilização, e inter pretada na teoria
materialista como histórica unidade das forças produtivas e
das condições de produção, cria a ‘razão’ da sociedade, que se
pode realizar historicamente, é independente de cada indivíduo
em particular e, por conseguinte, é superindividual, mas existe
realmente apenas através da ati vidade e da razão dos
indivíduos (KOSÍK, 1969, p. 218, grifos do autor).
[Na mesma perspecti va, Mészáros concebe a história como]
[...] o j ogo mútuo dos aconteci mentos e circunstâncias em
relação ao homem como suj eito [...] (MÉSZÁROS, 1981, p.
37).
32
A p ro b le má t ica q u e e n vo l v e a hi s tó ri a e a a n ti - h is tó ri a ap ar ece no p eq u e no o p ús c ulo
S to r ia e An t i sto ria d e T ilg h er . A re ferê nc ia é d o p ró p rio Gra ms c i, à p ág i na c i nq üe n ta e
ci nco (V er T il g her – S a g g i d i Ét ica e d e F ilo s o fia D el D i ri tto . T ur i n: B o cca, 8 ª ed i ção ,
1 9 2 8 , p á gs . X V – 2 1 8 ) .
53
33
P o d e mo s p er ceb er a hip ó s ta se, p o r e xe mp lo , n a t e nta ti v a d e g e ne rali zar o mo d elo
o ri gi nár io d o tr ab a l ho a to d a fo r ma co ncr eta d e t rab al ho . E n g el s co me te u hip ó st as e q u a nd o
ut il izo u e s se p r o ce d i me nto p ar a e xp li ci tar a d i n â mic a d o s fe nô me no s na tu rai s ; d e sta fo r ma
to mo u a d ia lé tic a co mo u ma le i u n i ver sa l e, ao fazê - lo , h ip o st as io u o mé to d o d ia lét ico q ue
Mar x co n ceb er a p ar a a p r ee nd er a hi s tó ri a d o ser so cia l. Mar x, p o rta nto , t i n ha cri tér io s
me tó d i co s r i go r o so s p a r a i n ve st i gar o s fato s so ci ai s, s e m d e sco n si d erar a to tal id ad e
co n cre ta. Fo i e s sa co m b in ação d e cr ité rio s ar t ic ul ad o s co m o s p ro ce s so s o b j eti vo s d o s
fa to s so ci ai s q ue p er m iti a M ar x, se m d e i xar d e ab s tra ir, co n to r nar a h ip ó sta s e. E ss e
co n to r no fo i p o s sí v el p o r q ue el e d e se n vo l v e u ca te go ri as med i ad o ra s p ar a a nal i sar o s fa to s
esp e cí fico s q ue p e sq ui s o u, o q u e l h e p er mi t i u n u nc a d e i xar d e e sta r c alcad o na re al id ad e
q ue p ro c ur o u e xp li ci tar .
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Es sa é u ma o b s er vaç ão q ue Ma nd e vi lle (2 0 0 1 ) j á ha v ia p ro p o s to co mo o gra nd e
p arad o xo d a mo d er n id a d e: “o s v íc io s p ri v ad o s le va m ao b e m - e st ar p úb l ico ”. Id é ia q ue
d ep o i s S mi t h ( 1 9 8 5 ) co n ver ter á na fa mo sa me tá f o ra d a “ mão i n vi sí v el” .
60
36
Le mb r o - me d e u ma p r o p ag a nd a b o mb á st ic a d o go ver no Lul a, ma s s i g ni fic at i va, u ma
in fo r maç ão q u e p ar ec e i ne x i st ir n as re fle xõ es g en ia is d e s se gra nd e h is t o riad o r e fi ló so fo :
“q u e m te m f o me t e m p r es sa ”. É ó b vio q ue “u m a co i sa é u ma co i sa e o ut ra co is a é o utr a
co i sa”, ma s a g e nea lo g ia fo uc a ul tia n a p a rec e d e sco n sid erar a p o liti cid ad e d o
co n h eci me nto . Alé m d o d ele ite e d o p ra zer, a p ro d uç ão / ap ro p riaç ão so cia l d o
co n h eci me nto ta mb é m a f ir ma p r o j e to s so ci etár io s e é re le va n te d i sto n ão esq u ecer.
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37
Mar x ( 1 9 8 2 ) se r e fer e às “ab st raçõ es r azo á ve i s” p ar a d i fere nc i ar d as “ab str açõ e s
me ta fí sic a s”. As p r i me i r as s ão r azo á v ei s p o rq u e ar ti c ula m o ab stra to c o m o co n cre to , no
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Para Della Volpe essa contribuição não pode estar dissociada do que
ele chama de “liberdade igualitária”. A “liberdade igualitária” é uma forma de
liberdade ancorada no mérito e foi vislumbrada por Rousseau. Tal liberdade
não se reduz à liberdade de escolha, perpassa a sociedade civil e os aparelhos
de hegemonia, como o parlamento, os sindicatos e os partidos.
38
Não p o d e mo s e sq uec er q u e es ta mo s d i sc u ti nd o o p ro b l e ma d a d i str ib u ição d e p o d er d e
go ver no na mo d er n id ad e. E m q ue med id a e s sa d is trib u ição p ar a a e ma nc ip aç ão o u p ar a a
d o mi naç ão ? O p o si cio na me n to d o s co ntra t ua li st a s é el u cid ati vo so b re a p ro b le má t i ca d es sa
d is trib u ição .
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Ca tar si s e m Gr a ms ci “[ ...] i nd ica a p a ss a ge m d o mo v i me n to p u ra me n t e eco nô mi co (o u
ego í sta -p o s se s si vo ) ao mo me n to ét ico -p o lí ti co , is to é, a e lab o r ação s up erio r d a
[i n fra]e s tr ut ur a e m s up e r es tr ut ur a n a co n sc iê nc i a d o s ho me n s. A p as s a g e m d o ‘o b j e ti vo ao
s ub j et i vo ’ e d a ‘ ne ce ss i d ad e a lib erd ad e ’” ( GR AM S CI, 1 9 8 1 , p . 5 3 )
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Qu a nd o a na li sa mo s a p r o b le má ti ca d o fe ti c hi s mo e d a r ei fica ção , v i mo s o s li mi te s d e
u ma ta l p r o p o si t ur a .
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Id e nt i fi ca mo s e m Ro u s sea u ( 1 9 8 3 , 1 9 9 9 ) al g u ma s ca te go r ia s u t il iz a d as p o r D ur k h ei m
(1 9 8 0 ) e m s ua s a ná li se s, ma s so b u ma li g eira d ifere nç a, p o r e xe mp l o , o q ue Ro us se a u
ch a ma d e vo nt ad e s i nd i v id u ai s e i nd i vid u al id ad e , D ur k he i m co n ceb e co m o i nd i v id ual i s mo .
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Oh, Fabrício! Que pensaria vossa grande al ma, se, para vossa
infelicidade de volta à vida, vísseis a face pomposa dessa
Roma sal va por vossos braços e que vosso nome respeitável
ilustrara mais do que tod as as suas conquistas? ‘Deuses’ !,
diríeis ‘em que se transfor maram aquelas choupanas e aqueles
lares rústicos em que outrora moravam a moderação e a
virtude? Que funest o esplendor sucedeu à si mplicidade
romana? Que linguagem estranha é essa? Que costumes
efeminados são esses? O que significam essas estátuas, esses
quadros, esses edifícios? Insensatos, o que fizestes? Vós, os
senhores das nações, vós vos tornastes os escravos dos
homens f rívolos que vencestes? São os retóricos que vos
governam? Foi par a enri quecer arquitetos, pintores,
escultores e histriões que regastes com vosso sangue a Grécia
e a Ásia? Os despoj os de Cartago são a presa de um tocador
de f lauta? Romanos, apressai -vos em derrubar esses
anf iteatros [símbolo da “burocracia est ética dos homens
frívolos”]; quebrai esses már mores; quei mai esses quadros;
expulsai esses escravos que vos subj ugam e cuj as funestas
artes vos corrompem ( ROUSSEAU, 2002, p. 21, grifos meus).
ele não pode, sem cessar de ser ele mesmo, ser representado por um outro
sujeito que não ele mesmo”
A soberania é indivisí vel [afir ma Dur khei m]. Com efeito, ela
só pode se dividir se uma parte da sociedade qu er pela outra
parte. Mas a vontade do grupo assi m privil egiado não é geral,
por conseguinte o poder do qual ele dispõe não é a soberania.
Sem dúvida o soberano é composto de partes, mas o poder
soberano que resulta dessa composição é uno. Ele não pode
estar inteiro em cada uma de suas manifestações; pois ele só
existe se todas as vontades particulares entrarem nele como
elementos (DURKHEIM, 1980, p. 363).
Para que a j ustiça reine entre os indi víduos, é preciso que haj a
fora deles um ser sui generis que sirva de árbitro e que fixe o
direito. É o ser social. Este não deve então sua supremacia
moral à sua superioridade física, mas esse fato de que el e é de
uma outra natureza que os particulares. É porque ele está fora
dos interesses privados que ele tem a aut oridade necessária
para regulá -los [...] Assim, o que essa teori a expressa é que a
ordem moral ultrapassa o indi víduo, que ela não é reali zada na
natureza física ou psíquica, ela deve ser sobreposta a estas.
Mas para que haj a um fundamento, é preciso um ser no qual
ele se estabelece, e, como não há na natureza um ser que
preencha para isto as condições necessárias, é preciso criar
um. É o corpo soc ial. Dito ainda em outras palavras, a moral
não decorre analiticamente do que é dado. Para que as relações
de fato se tornem morais, é preciso que elas sej am consagradas
por uma autoridade que não está nos fatos. O caráter moral
Ihes é acrescentado sinteti camente. Mas, então, é preciso uma
nova força que opere essa ligação sintética: é a vontade geral
(DURKHEIM, 1980, p.358 - 359) .
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Me s mo co m to d o s o s eq u í vo co s as s i na lad o s p o r He ll er, o e n te n d i m en to a mp l iad o d a
p o lít ic a d ei xad o p e lo le gad o ar i sto tél ico é, até ho j e, i ne st i má v el. Ari s tó te le s co nc eb e o
p o lít ico co mo s ub s tâ nc i a d o ser so c ia l, q ue nã o se co n fu nd e co m o si st e ma p o l ít ico ; p o r
is so a s u a co n cep ç ão d e cid ad a n ia n ão se d esd o b ra e m h ip ó s ta se .
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