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UNIDADE I

Sociologia Rural e Urbana

Prof. Me. Alexandre Furniel


Sociologia Rural e Urbana

Roteiro da Unidade I
2. Rural e urbano pelas experiências originais

 Experiências.
 Cidades e campos seguem diminuindo a evidência de suas marcas distintivas...

 As leituras políticas do campo e da cidade: poder e concentração (e vice-versa).

 As leituras antropológicas do rural-urbano: diferenças e


parecenças nos estabelecimentos do corpo.

 As leituras sociológicas do campo e da cidade: a vida


econômica e a economia sem vida...
Sociologia Rural e Urbana

1. A situação como lugar privilegiado da existência

 Estamos procurando os modos de vida característicos do campo e da cidade.

 Já faz anos que não os encontramos do modo fácil, divisável pelas paisagens...

 Então, como será? Do modo difícil, aproximaremo-nos da complexidade, do que está


misturado, condição própria do contemporâneo.

 Misturado, mas não necessariamente democrático...


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O que ganhamos situados?!

 Reconhecemos o que nos faz sentido.

 De que campo falamos? Composição pela aproximação.

 De que cidade falamos? Composição pela aproximação.

 Ontologia. O que é imediato. Pensando pelas experiências,


chegamos a outro patamar além da confusão? O campo e a
cidade real, dependentes da percepção. São como os vemos.
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Mas precisamos de mais, precisamos:

 Da ciência com as mediações conceituais e teorias.

 Teorias positivistas: mundo visível e previsível. Sociologia do objeto passivo: capturado. O


campo está lá, com tudo mais que se identifica nele. O mesmo para a cidade. Estamos no
laboratório, como químicos e biólogos... Tudo ao alcance.

 Teorias críticas: o mundo em construção. Vemos faces das


transformações históricas, pedaços da realidade. Vemos rural
no urbano e urbano no rural...
Interatividade

No que diz respeito à realidade social estudada, campo e cidade, responda sobre as
facilidades do modo positivista de estudar.
a) As cidades são entidades ao mesmo tempo públicas e privadas, biológicas
e culturais, cujas bases históricas de sua morfologia não estão abertas aos
instrumentos metodológicos.
b) A vida no campo está lá, em suas formas tradicionais de produção e sociabilidade,
esperando para ser capturada pelos modelos e pelas teorias.
c) A cidade e o campo têm atividades comuns e distintas, que se interpenetram,
o que torna difícil sua apreensão total.
d) As diferenças atuais entre o rural e o urbano em muitas
regiões são de difícil identificação.
e) Não há mais campo reduzido às atividades agrárias.
Resposta

No que diz respeito à realidade social estudada, campo e cidade, responda sobre as
facilidades do modo positivista de estudar.
a) As cidades são entidades ao mesmo tempo públicas e privadas, biológicas
e culturais, cujas bases históricas de sua morfologia não estão abertas aos
instrumentos metodológicos.
b) A vida no campo está lá, em suas formas tradicionais de produção e sociabilidade,
esperando para ser capturada pelos modelos e pelas teorias.
c) A cidade e o campo têm atividades comuns e distintas, que se interpenetram,
o que torna difícil sua apreensão total.
d) As diferenças atuais entre o rural e o urbano em muitas
regiões são de difícil identificação.
e) Não há mais campo reduzido às atividades agrárias.
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A ideia da dupla abordagem (positivista e crítica) parece nos favorecer didaticamente:

 O CAMPO.

 José Arthur Rios (1979): explanação das fases da sociologia nos EUA.

 Maria Isaura Pereira de Queiroz, José de Souza Martins e Margarida Maria Moura:
camponeses e o rural etnográfico.

 Espaços “rurbanos”, nas sínteses de Graziano da Silva, Miller


(2018), Carneiro (2008), Schneider (2009), Froehlich (2000),
entre outros.
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Além dos questionamentos básicos que são feitos sobre a existência desse camponês e se a
modernização expropriou ou expropria o camponês, Jollivet (1998) encaminha sua reflexão por
meio de três referências básicas:

A sociologia rural é uma aplicação da sociologia geral?

Sociologia rural e ciências sociais da ruralidade supõem uma escola ruralista?

Quais seriam as demarcações, as delimitações da sociologia


rural e da sociedade? O que estaria dentro e o que estaria fora?

 O ponto mais relevante de seu trabalho é a conclamação


à interdisciplinaridade.
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 Se antes rural e urbano apareciam de modo nítido, com seus conteúdos, limites e fronteiras,
tornaram-se objeto de disputas intermináveis já há algum tempo (a globalização do capital,
dos anos 1970 para cá, acentuou tais dificuldades classificatórias), passando a haver muita
controvérsia entre estudiosos e pesquisadores do fenômeno urbano, de historiadores a
geógrafos, politólogos, antropólogos e urbanistas.

 Começaremos por aqueles que têm visão clara do objeto, passando para a
conturbada contemporaneidade.
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A dupla abordagem (positivista e crítica) parece nos favorecer didaticamente:

 A CIDADE.
 A Escola de Chicago. Segundo Eufrásio (1995), o desenvolvimento da Sociologia nos
Estados Unidos pode ser dividido em cinco fases: surgimento, difusão, consolidação,
funcionalista e diversificação.
 Robert Park coteja as formas físicas da cidade às condutas morais dos habitantes.
 Seu trabalho é de grande interesse, apesar de esvaziar o valor
dos sentimentos e das emoções como motivadores das ações,
reconhecer tal dimensão inviabilizaria a reflexão e o
planejamento da ação racional (SILVA, p. 70).
 Park desenvolve o conceito de regiões morais, conectadas a
regras e costumes, papéis e status quo...
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 A figura a seguir exemplifica boa parte ÁREA URBANA


desse desenvolvimento em uma aplicação
do notável da Escola de Chicago: Burgess.

 Modelo de desenvolvimento da cidade


elaborado por Burgess.

QUARTOS DE
ALUGUEL
MÁ VIDA
II
ZONA DE
I III
TRANSIÇÃO
GHETTOS ZONA DE
DEUTSCHLAND CENTROS HABITAÇÕES
GHETTOS
OPERÁRIAS

CHINA
TOWN

BLACK BELT
ÁREA DOS LOCAIS
NOTURNOS V
BAIRROS ALTOS ZONA DOS TRABALHADORES
PENDULARES
ÁREA DOS
BUNGALOW
Fonte: adaptado de: DONNE,
M. D. Teorias sobre a cidade.
Lisboa: Edições 70, 1983.
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Louis Wirth

 Quanto aos nós das polêmicas relações urbano-rurais, sai do lugar comum de negá-las,
enfocando sua interpenetração.

 Percebe a invasão dos valores de mercado nas atividades sociais diversas.

 Assim, reconhece, a cidade explode, desafia.

 Georg Simmel, sociólogo de grande interesse, trata da


afetação mental das pessoas pelas metrópoles (SILVA, 2009).
Procura as soluções individuais entre a normalização, a
normatização e o desejo de liberdade. Preocupa-se com as
tensões, os desgastes das relações indivíduo-sociedade.
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 Para Max Weber existem diferentes origens e formas assumidas pelas cidades. Essas
diferenças se articulam no decorrer da história do lugar e fazem com que a definição dessas
“instituições” agregue diferentes elementos. As cidades representam, quase sempre, tipos
mistos e que, portanto, não podem ser classificadas em cada caso senão tendo-se em conta
seus componentes predominantes (WEBER, apud SILVA, 2009, p. 60). Nesse caso, um dos
elementos que se destaca do conjunto para a apreciação da cidade é o econômico (SILVA,
2009, p. 60).
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Movimento crítico

 Complexidade assumida, mas não liquidada, posto que acabemos por amparar a análise nas
ciências ou saberes parcelares... Como superar, de fato, o perfil analítico que só sabe
fragmentar? Muitas construções teóricas se puseram à obra para resolver tal problema:
desde teoria crítica de Karl Marx (David Harvey, Henri Léfèbvre, Manuel Castells, Paul
Singer), a fenomenologia (Maurice Merleau-Ponty) e o niilismo nietzschiano.

 Na esteira de Karl Marx, Paul Singer, fazendo uma economia


política da cidade, e Henri Léfèbvre, refletindo sobre a
produção e a reprodução social do espaço, corroboram em
suas análises o fim do camponês ou, ao menos,
do rural agrícola.
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Portanto, vamos nos perguntar o tempo todo:

O que é o campo e, por extensão, o rural e o agrário? E daí o que é então a cidade, o urbano?
Como as pessoas vivem nesse campo, o lugar da pergunta anterior? Podemos chamá-las de
camponesas? São trabalhadores rurais? São empregados? Podemos opô-las ao homem da
cidade, ao homem urbano?
 Questões diretas e de simplicidade aparente. Valorizamos aqui a integração e não a
separação de categorias e conceitos que, de fato, encontram-se todos conectados.
 Os conceitos fundamentais do tema são: sociedade,
comunidade, Estado, urbanização, organizações e espaço
rural, agrário; organizações e espaço urbano e da cidade.
Interatividade

Sobre a Escola de Chicago, podemos afirmar que:

a) Pelo que vimos é totalmente descartável.


b) É nosso ponto de partida obrigatório para os estudos de uma sociedade cada vez mais
complexa; posto que sua base positivista seja a mais adequada ao enfrentamento da
totalidade da sociedade contemporânea.
c) É mais sensato destacar os atributos das linhas de pensamento que tenham potencial de
responder às dificuldades de lugar e tempo.
d) Seus pensadores são muito mais críticos que aqueles do marxismo.
e) Não tem como estudar os aspectos culturais e ambientais
das cidades, pois seu forte é a aproximação dialética.
Resposta

Sobre a Escola de Chicago, podemos afirmar que:

a) Pelo que vimos é totalmente descartável.


b) É nosso ponto de partida obrigatório para os estudos de uma sociedade cada vez mais
complexa; posto que sua base positivista seja a mais adequada ao enfrentamento da
totalidade da sociedade contemporânea.
c) É mais sensato destacar os atributos das linhas de pensamento que tenham potencial de
responder às dificuldades de lugar e tempo.
d) Seus pensadores são muito mais críticos que aqueles do marxismo.
e) Não tem como estudar os aspectos culturais e ambientais
das cidades, pois seu forte é a aproximação dialética.
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2. Rural e urbano pelas experiências originais


Hannah Arendt:

 Com a expressão vita ativa, pretendo designar três atividades humanas fundamentais: labor,
trabalho e ação. Trata-se de atividades fundamentais porque a cada uma delas corresponde
uma das condições básicas mediante as quais a vida foi dada ao homem
na Terra.

 O labor é a atividade que corresponde ao processo biológico


do corpo humano, cujos crescimento espontâneo,
metabolismo e eventual declínio têm a ver com as
necessidades vitais produzidas e introduzidas pelo labor no
processo da vida. A condição humana do labor é a
própria vida.
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 Estamos caminhando e entramos, agora, nos lugares com o objetivo de observar neles a
vida acontecendo; pessoas trabalhando, comendo, dormindo, circulando. Nesse momento,
nossa preocupação é com o que há de primário, quase estritamente orgânico em nossas
atividades garantidoras da existência; ocupamo-nos com essa ordem de necessidades
e impulsos.

 Vimos grande proveito e aceitamos fazer algumas paradas


pela arqueologia, pela história e pela antropologia (MAZOYER,
2010; PINSKY, 2011; HAVILAND, 2011) em busca de relações
originárias, assim como de propostas de pesquisa em
etnociências (CARVALHO; BERGAMASCO, 2010), além da
menção ao tema por um economista e ambientalista como
José Eli Veiga (2004).
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 Estamos trazendo a associação entre labor e autodeterminação do corpo-sujeito, que evoca


um Eu difuso, além do cérebro (um Eu do tipo organísmico, que escolhe, de modo quase
biológico, no reino do labor), um Eu cujas ações estão estreitamente vinculadas ao
metabolismo, ao movimento independente do organismo em autorregulação.

 A ambientação desse labor do corpo processador de recursos está mais para a Physis
grega; agente nas cadeias e nos ciclos energéticos, com os imperativos de coletar,
plantar e criar.

 Os impulsos de sobrevivência instauram uma espécie de


economia natural: satisfação das necessidades pelo acesso e,
no início, controle mínimo de recursos.
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 Também é preciso referir o labor impedido, afastado, os obstáculos ao labor; trata-se do


corpo negado e do labor sem sentido, quando não, impossível, em decorrência da
concentração dos meios, de comer por comer – comer como ato desqualificado pelo
deslocamento das comidas originais dos povos (constituídas ao longo de milhares de anos
em conjuntos de culturas e ecologias, que incluem os corpos).

 Labor impedido pela fome, inconsciência e distorções nos


hábitos alimentares e obesidade. Autores como Mazoyer falam
da gravidade e do paradoxo da desnutrição e ou subnutrição
no campo (2010, p. 25), problemas para os quais concorrem
práticas culturais “excêntricas”, com perdas inconscientes e
descartes de saberes extrativos, produtivos e alimentares
construídos nas relações ambientais.
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 O labor, reafirmando Hannah Arendt, está nas bases do estabelecimento dos fatos sociais,
como relações campo-cidade, rural-urbano. Assim como labor é a motivação de ocupações
“originais” ou vernáculas, territorialização em função dos recursos, com “pouca” margem
para manobras, em virtude de nossa dependência direta das fontes de alimentação
ambiental de nosso ecossistema corporal.

 Trata-se de uma dimensão pré-histórica, velha como o mundo, que vive para a busca de
alimentos, abrigo, fugindo de predadores. E se as conquistas “humanas” da Terra, de boa
parte dos processos naturais, datam de milhares de anos; boa parte disso expressa nos
casos de domesticação ambiental, principalmente de plantas e animais.
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 Seguimos Hannah Arendt em sua elaboração de instrumental conceitual na aproximação dos


espaços estruturados, com formas modeladas pelas mãos que aprendem a se satisfazer em
diferentes ambientes, com sentido reflexivo (conferido pelas histórias, narrativas, mitos,
lendas) e progressivo significado histórico, documental (científico). É o caso de Arendt, em A
condição humana; Durand, em A fé do sapateiro; e Sennett, em O artífice; obras em que
resgatam a importância da inteligência social e ancestral das mãos.

 Nosso objeto de interesse se constitui de modos de vida e


atividades específicas sobre aquilo que se convencionou
chamar de campo e de cidade; contudo, aqui é o labor do
organismo, diante de suas necessidades (alimentação,
energia, abrigo, sentido e significado).
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Mais uma questão fundamental sobre o mundo agrário, a escravidão e a servidão:

 Ao contrário do que ocorreu nos tempos modernos, a instituição da escravidão na


Antiguidade não foi uma forma de obter mão de obra barata nem instrumento de exploração
para fins de lucro, mas sim a tentativa de excluir o labor das condições da vida humana
(ARENDT, 2007, p. 95).

 Chegamos ao que mais interessa quanto ao propósito da


disciplina: a aproximação das sociedades rurais e urbanas; os
nomes das coisas como decorrências das associações e
soluções humanas, isto é, no caso, as atividades rurais,
as lavouras.
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E ainda no quesito distância, labor, lavor, rural, foi sendo, estrategicamente, integrado ao
mercado, na frente das políticas econômicas com fins de convertê-lo ao mercado de trabalho, o
que lhe retirava acesso aos meios de produção; ao passo que também não fazia parte dos
planos políticos, era e é ignorado por outros. Hannah Arendt continua, de modo crítico:

 “À primeira vista, porém, é surpreendente que a era moderna […] não tenha produzido uma
única teoria que distinguisse claramente entre o animal laborans e o homo faber, entre ‘o
labor do nosso corpo e o trabalho de nossas mãos’.

 Ao invés disso, encontramos primeiro a distinção entre


trabalho produtivo e improdutivo […]. O próprio motivo da
promoção do labor como trabalho na era moderna foi a sua
‘produtividade’ […]” (ARENDT, 2007, p. 96).
Interatividade

Sobre labor e trabalho, do modo como vimos nos inspirando em Hannah Arendt, é possível
afirmar que:
a) Tratar do labor é uma forma de estudar os povos primitivos.
b) Trabalho é o modo mais simples de lidar com os recursos.
c) Tais considerações da autora nada têm a ver com Karl Marx.
d) Há na vita activa uma conjugação de atividades articuladas, que não são em si mesmas
mais ou menos complexas, apenas adequadas.
e) A ação é para ela a mais importante, pois, muito mais que o labor, conecta
pessoas civilizadamente.
Resposta

Sobre labor e trabalho, do modo como vimos nos inspirando em Hannah Arendt, é possível
afirmar que:
a) Tratar do labor é uma forma de estudar os povos primitivos.
b) Trabalho é o modo mais simples de lidar com os recursos.
c) Tais considerações da autora nada têm a ver com Karl Marx.
d) Há na vita activa uma conjugação de atividades articuladas, que não são em si mesmas
mais ou menos complexas, apenas adequadas.
e) A ação é para ela a mais importante, pois, muito mais que o labor, conecta
pessoas civilizadamente.
Sociologia Rural e Urbana

 As diversas figuras de uma demografia viva são: lugares de nascimento, de saída, de


chegada, posse, desposse, controle, descontrole dos meios de produção e de sua própria
identidade; controle dos lugares e de seus recursos simbólicos e materiais para a
manutenção da existência.
Sociologia Rural e Urbana

 Carl Sauer trata das diversas expressões de trabalho agrário.

Das revoluções produtivas e da domesticação das espécies, apresentando três premissas


sobre a origem da agricultura:
 Esse novo estilo de vida era sedentário, surgiu a partir de uma sociedade sedentária anterior.
Na maior parte das condições, especialmente entre agricultores primitivos, a terra plantada
deve ser vigiada continuamente contra predadores dos cultivares.
 A atividade de plantio e domesticação não foi desenvolvida a
partir de fome, mas de fartura e de tempo livre. As pessoas
vítimas de fome não têm oportunidade e incentivos para a
seleção lenta e contínua de formas domésticas. Comunidades
aldeãs são as que oferecem circunstâncias favoráveis
a tais progressos.
Sociologia Rural e Urbana

 A agricultura primitiva está localizada em terrenos arborizados. Mesmo o fazendeiro


americano pioneiro apenas invadiu pastos até meados do século passado. Seus campos
foram clareiras estabelecidas pela morte das árvores, geralmente pelo corte. Quanto maior
era a árvore, mais fácil a tarefa; já o matagal requeria que se arrancasse e cortasse; as
pradarias detiveram seu avanço, enquanto não se dispusessem de arados capazes de cortar
os tapetes de raízes. Os restos no chão da floresta foram limpos com queima ocasional;
troncos mortos quase não interferiram no seu plantio. O pioneiro americano aprendia e
aplicava práticas indígenas. Curiosamente, acadêmicos, porque eles carregam em seus
pensamentos as imagens nítidas de campos, arados criados pelo agricultor europeu com o
corte de árvores com um machado, terem pensado tantas vezes
que as florestas repelem a agricultura e que as terras abertas
a convidam.
Sociologia Rural e Urbana

Raymond Williams

 Conexões.

O trabalho de Williams (1989) dá apoio às nossas considerações sobre a diversidade integrada


de urbano e rural pelas suas próprias experiências que emprega nas análises e como nexo
entre os modos de vida e trabalho caraterísticos. Fala de paisagens e períodos de extrema
pobreza com base na literatura e em documentos, comentando que:

 “Também isso é diferente agora, mas sempre que penso nas


relações campo e cidade, e entre berço e instrução, constato
que se de uma história ativa e contínua: as relações não são
apenas ideias e experiências, mas também de aluguéis e
juros, situação e poder – um sistema mais amplo [...].”
Sociologia Rural e Urbana

Raymond Williams

 Williams (1989) expõe a trama que liga os espaços rural e urbano de modo multidimensional,
provocando muitas reflexões sobre as ligações entre a vida nos campos e a vida nas
cidades, principalmente quando aponta para “os fios da natureza” (WILLIAMS, 1989, p. 102-
103) persistentes, apesar da urbanização devastadora. Seu intento é desmitificar as várias
visões simplistas das relações entre a cidade e o campo, as mais comuns sendo aquelas que
atrelam a vida rural à dinâmica das cidades.

 As atividades agrárias (agropecuárias) estão ligadas ao que há


de mais característico nas paisagens rurais. Dito isso, Andrade
(2004) mostra que a pecuária e a produção de alimentos no
Período Colonial seguem uma lógica que se movimenta entre
as determinantes econômicas da empresa colonial portuguesa
na América.
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 Ricardo Abramovay.

 Mitos sobre o rural: Professor José Graziano da Silva.

 A leitura antropológica da cidade.

 Gilberto Velho: referenciais e mudanças...

 José Guilherme Cantor Magnani: jovens e tribos urbanas...


Interatividade

Há necessidade de esforço interdisciplinar para encontrar tanto as cidades quanto os campos


“reais”. Sendo assim, assinale a alternativa que expresse tal aproximação.
a) Movimentos interdisciplinares se afastam do objeto de interesse, em decorrência dos
diversos instrumentos a serem manejados.
b) Os estudos disciplinares têm maior alcance porque não se perdem em considerações
externas aos seus próprios domínios.
c) A postura interdisciplinar não apenas nos leva mais longe nos estudos e na pesquisa, pois
deve abrir-se para a diversidade de visões, abrindo as coisas.
d) É preciso adotar a interdisciplinaridade porque os conteúdos
das ciências estão todos envelhecidos, sem dar conta de
lidar com o real, sem renovação completa.
e) A sociologia não pode estudar o real dividindo-se com
outras ciências.
Resposta

Há necessidade de esforço interdisciplinar para encontrar tanto as cidades quanto os campos


“reais”. Sendo assim, assinale a alternativa que expresse tal aproximação.
a) Movimentos interdisciplinares se afastam do objeto de interesse, em decorrência dos
diversos instrumentos a serem manejados.
b) Os estudos disciplinares têm maior alcance porque não se perdem em considerações
externas aos seus próprios domínios.
c) A postura interdisciplinar não apenas nos leva mais longe nos estudos e na pesquisa, pois
deve abrir-se para a diversidade de visões, abrindo as coisas.
d) É preciso adotar a interdisciplinaridade porque os conteúdos
das ciências estão todos envelhecidos, sem dar conta de
lidar com o real, sem renovação completa.
e) A sociologia não pode estudar o real dividindo-se com
outras ciências.
Referências

 ANDRADE, M. C. de. A questão do território no Brasil. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 2004.
 ARENDT, H. A condição humana. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense universitária, 2007.
 CARVALHO, I. S. H.; BERGAMASCO, S. M. P. P. Sociologia rural e etnociências:
convergências e diálogos interdisciplinares. In: ENCONTRO NACIONAL DA ANPPAS, 5.
2010, Florianópolis. Disponível em: https://bit.ly/3oa2FIW. Acesso em: 30 jan. 2019.
 EUFRÁSIO, M. A. A formação da Escola Sociológica de Chicago. Plural. Sociologia, USP,
São Paulo, n. 2, p. 37-60, 1. sem. 1995. Disponível em: https://bit.ly/3OblwxS. Acesso em: 21
maio 2019.
 FROEHLICH, J. M. Gilberto Freyre, a historia ambiental e a
“rurbanizacao”. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 7, n.
2, VII(2): 281-301, jul./out. 2000. Disponível em:
https://cutt.ly/ELLpIOM. Acesso em: 11 jun. 2019.
 HAVILAND, W. A. et al. Princípios de antropologia. São Paulo:
Cengage Learning, 2011.
 JOLLIVET, M. A “vocação atual” da sociologia rural. Estudos
Sociedade e Agricultura, n. 11, 1998.
Referências

 MILLER, Z. L. Pluralismo, Estilo da Escola de Chicago. Tradução de Raoni Borges Barbosa.


Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia, v. 2, n. 4, p. 81-86, mar.
2018.
 MAZOYER, M. História das agriculturas no mundo: do neolítico a crise contemporânea. São
Paulo: Edunesp; Brasília: Nead, 2010.
 RIOS, J. A. O que e é como surgiu a Sociologia Rural. Fundação Joaquim Nabuco: Rio de
Janeiro. Revista Ciência e Trópico. n. 1, v. 7, 1979.
 SCHNEIDER, S. A pluriatividade na agricultura familiar. Porto Alegre: EdUFRGS, 2009.
 SILVA, A. Sociologia urbana. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2009.
 PINSKY, J. As primeiras civilizações. 25. ed. São Paulo:
Contexto, 2011.
 WILLIAMS, R. O campo e a cidade: na história e na literatura.
São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
ATÉ A PRÓXIMA!

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