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GOIÂNIA / GO
2024
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI - UNIFAVENI
GOIÂNIA / GO
2024
BREVES REFLEXÕES SOBRE A ELABORAÇÃO DOS TERRITÓRIOS
INDÍGENAS NAS CIDADES
Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo
foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou
integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente
referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por
mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos
direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços).
RESUMO: A presença indígena nos espaços urbanos é um fenômeno que ocorre desde a formação dos
povoamentos, que originaram várias cidades brasileiras. Esse fenômeno tem ganhado interesse de
pesquisadores em especial após a segunda metade do século XX dada a negligência nesse campo
amplo de estudo. Todos os anos emergem vários estudos antropológicos, demográficos, linguísticos,
históricos e geográficos acerca da temática. Neste contexto, evidencia-se com este ensaio, o processo de
construção das aldeias urbanas e identidades territoriais indígenas em espaços citadinos. As análises
foram elaboradas utilizando uma abordagem qualitativa, valendo-se de dados bibliográficos acerca do
tema. A partir do levantamento realizado, foi possível evidenciar uma dificuldade em identificar os
territórios indígenas urbanos e aldeias urbanas, dada a própria dificuldade em estimar essas populações
fora das Terras Indígenas, em especial nos espaços citadinos visto que a Lei Nº 6.001, de 19 de
dezembro de 1973 distingue o indígena como um indivíduo cuja suas características culturais destoam da
sociedade nacional e apontam para uma ascendência pré-colombiana.
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E-mail: leodemelo87@gmail.com
1 INTRODUÇÃO
Vários são os fatores que ao longo da história tem contribuído para a êxodo
indígena de aldeias para as cidades, dentre os quais destacam-se as próprias políticas
indigenistas, o aumento das grandes propriedades de terras, concentrando a terra nas
mãos de poucas pessoas, processo esse que força a muitos indígenas a saírem de
suas terras tradicionais e buscarem condições de vida mais favoráveis nas cidades,
(BAINES, 2001; ALBUQUERQUE, 2015).
A autora observa as vilas erigidas em antigos aldeamentos após a instituição do
Diretório Pombalino, “as vilas, talvez, permitam algumas aproximações com os atuais
bairros indígenas em capitais brasileiras, por exemplo, o Nações Indígenas, primeiro
“bairro” ocupado apenas por índios Cocama na periferia da capital amazonense (Farias,
RBA: 2013, apud SILVA, 2016).
Em um mesmo sentido Nunes (2010, p.11), acede sobre a existência indígena
nas cidades, não ser um acontecimento atual, embora apenas na última década tenha
despertado o interesse de estudiosos, pelo “que foi e (tem sido) descrita como a de
‘urbanidade’ indígena”. Evidenciando assim essa existência histórica de sujeitos e
grupos indígenas em algumas cidades, senão várias, cidades brasileiras.
Nesse sentido SILVA (2016, p. 19) destaca em específico na cidade do Rio de
Janeiro o seguinte
As discussões e análises sobre a presença dos índios na cidade do Rio de
Janeiro, durante o século XIX, obriga qualquer pesquisador,
incondicionalmente, a ‘caminhar no passado’ através da documentação
histórica, pois não há nenhuma sociedade indígena, especificamente do
período, vivendo naquele espaço urbano, permitindo assim uma conexão mais
particular entre o antes e o agora. Desse passado, embora, existam memórias,
patrimônios culturais, linguísticos, iconografias, monumentos, todos,
testemunhas das trajetórias desses atores e suas relações ali estabelecidas, é
mediante a leitura e análise da documentação histórica que os índios ganham
silhueta mais consistente, voz e rostos, ganham vida.
Em geral essa população indígena ao logo dos séculos XIX e XX foi segregada a
áreas especificas da cidade do Rio de Janeiro, os chamados aldeamentos, espaço esse
designado a essa população para que pudessem interagir com esse novo ambiente em
que estavam e pudessem assim ter mais liberdade para suas práticas tradicionais, mas,
ao mesmo tempo eram forçadas através de um processo de assimilação cultural
adaptarem-se a um novo modo de vida citadino.
Nesse sentido Pacheco de Oliveira, (1998, apud SILVA, 2016, p. 164) evidência
Dessa forma, essa política de cerceamento dos índios com a implementação
dos aldeamentos (mecanismos de controle espacial dos índios) impôs a
delimitação de áreas físicas afixadas, estáveis e sem continuidade – antes os
índios viviam segundo suas formas próprias de organização territorial, que
obedeciam às noções particulares de paisagem e interação com o ‘ambiente’,
com a suas concepções de territorialidades –; categorias e formas existenciais
bastante distintas da noção de aldeamento, terra, imposta pelos agentes
colonizadores. Nas relações estabelecidas com os não indígenas, as novas
lógicas espaciais indígenas não serão naturais e, tão pouco de origem.
Bevilaqua (2017, p. 86) em seus estudos acerca dos povos indígenas urbanos na
cidade do Rio de Janeiro, conduz estes junto a ‘Aldeia Vertical’, segundo a autora a
Aldeia Vertical compõem-se “de um prédio do programa governamental (sic) Minha
Casa, Minha Vida, onde residem exclusivamente indígenas de diferentes povos. São
pessoas que antes habitavam a Aldeia Maracanã, que teve sua desocupação forçada
em 2013”. Essa população que vive nesse prédio é composta de pessoas e povos
indígenas distintos, que antes residiam na Aldeia Maracanã, aldeia essa que foi
desocupada pelo governo no ano de 2013, ao terem suas terras expropriadas o
governo transfere essa população para esta nova área e constrói um prédio para
abrigá-las através de recursos do governo federal, do programa Minha Casa Minha
Vida.
Segundo Bevilaqua (2017, p. 89) nesse contexto urbano a identidade indígena
jamais é negada por completo, embora os indígenas que vivem na cidade muitas vezes
são considerados como uma versão “mais fraca daqueles que vivem na aldeia”. O
movimento indígena urbano, revela um espaço para a inclusão de pessoas com
trajetórias distintas, na busca de resgate ou de redescobrimento, nem todos são
sujeitos que ali estão saíram da aldeia, mas o que se deve buscar entender e como
eles chegaram à cidade (BEVILAQUA, 2017).
Nunes (2010, p. 16) ressalta que pensar a ideia de indígenas citadinos aparece
no imaginário como uma contradição de termos, “o selvagem fora da selva, (quase)
camuflado entre prédios, é pensado como um indivíduo deslocado, fora de seu próprio
mundo, em contradição com a essência de seu ser”. Mas é preciso compreender que
essa é uma realidade que muitos povos indígenas têm passado, e é preciso reconhecer
essa realidade.
Embora o autor compreenda a complexidade do uso do termo ‘aldeias urbanas’
visto que, “este termo, que atualmente se encontra generalizado mesmo entre os índios
para denominar a área indígena, espaço de exclusividade étnica, é produto da lógica
colonialista (SILVA, 2007, p. 14 apud SILVA, 2010, p. 19). Na Aldeia Vertical, cria-se
um movimento que tem como objetivo encontrar outros parentes que também vivem na
cidade e juntá-los em um movimento, trazendo como um segundo foco indicar a
algumas pessoas de que elas são ou pelo ao menos poderiam ser indígenas
(BEVILAQUA, 2017), nessa perspectiva Bevilaqua (2017, p. 92) complementa,
“Essas são as pessoas que têm parentes índios em algum nível. Elas poderiam,
se quisessem, se considerar também como indígenas. Por conta de preconceito
e diversas outras situações, muitas vezes essa identificação com o lado
indígena é renegada. O que o movimento da Aldeia Maracanã buscava fazer
era apresentar o índio como uma possibilidade atraente de ser. O movimento
assim foi criado para resgatar os índios da cidade, e eu cheguei a ouvir
reclamações sobre os índios da aldeia que agora chegavam “querendo mandar
em tudo”.
7 REFERÊNCIAS
BEVILAQUA, C. ‘Se fantasiar de índio é fácil, ser índio é difícil, tem que estudar muito’:
vivências indígenas na cidade do Rio de Janeiro. In. Revista ANTHROPOLÓGICAS.
Ano 21, 28(2). Recife. 2017.
BICUDO, M. A. V.; ESPÓSITO, V. H. C. Pesquisa Qualitativa na Educação. São
Paulo: UNIMEPE. São Paulo. 1994.
RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. Tradução de Maria Cecília França. São
Paulo: Ática, 1993. cap. 1, p. 143-163.