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MORFOLOGIA URBANA: A SEGREGAÇÃO NA

CIDADE CONTEMPORÂNEA

Marcelo Ferreira da Silva Salla


Especialista em Planejamento Urbano, Arquiteto e Urbanista
Anderson Saccol Ferreira
Mestre em Administração, Arquiteto e Urbanista

Resumo: O artigo aborda o que entendemos como ruptura da malha urbana nas cidades contemporâneas, o
que por sua vez culmina em espaços segregados no solo urbano no Brasil. O objetivo desse trabalho é realizar
uma revisão teórica da segregação consolidada no solo urbano. Além de trazer uma breve abordagem histórica
do termo segregação, se encontra entre as questões analisadas, os aspectos relacionados as causas dessa
ruptura e ao mesmo tempo, elucidar as causas e consequências do agrupamento de semelhantes em
comunidades, sejam elas carentes ou mesmo em condomínios residências de alto padrão, bem como, observar
o comportamento dos mesmos em relação ao entorno dos agrupamentos, seja no perímetro imediato ou em
relação a toda a cidade. Como resultado, foi possível elencar os agentes desse fenômeno, como, o poder
monetário ou a falta dele advindo do fator capitalista do mercado financeiro vigente, a atuação do mercado
imobiliário na transformação do solo das cidades em mercadorias e as políticas públicas voltadas para as
questões relacionadas ao planejamento urbano, a moradia e a morfologia urbana.

Palavras-chave: Segregação. Cidades contemporâneas. Morfologia urbana.

1 INTRODUÇÃO urbanos, sendo um deles, a segregação


socioespacial, objeto deste estudo.
A cidade contemporânea, é o local onde Ao levantar-se a hipótese de que fenômenos
vivemos, convivemos, trabalhamos e exercemos as urbanos como a própria morfologia urbana tem
mais diversas funções sociais. É aqui, nesse relação intima com o trabalho exercido pelas
contexto socioespacial diverso e heterogêneo que pessoas, uma vez que a função de trabalho
se encontram um dos maiores desafios, desempenhada exerce analogia com a capacidade
compreender a formação de uma sociedade mais de ganho material, nesse caso, seria a segregação
plural, onde as problemáticas sociais se tornam urbana um fenômeno exclusivo do mercado
interdependentes em contextos urbanos cada vez capital? Ou existem ainda outros fatores, como
mais fragmentados. O Brasil por sua vez, enfrenta políticos e sociais capazes de exercerem direta ou
o desafio de superar os paradigmas deixados pelo indiretamente a divisão territorial segregada, seja
urbanismo modernista, e desde sua por políticas sociais, obras públicas ou mesmo por
redemocratização no final dos anos de 1980, vem vontade própria?
buscando maneiras de resolver a problemática de O objetivo desse estudo é realizar uma revisão
uma sociedade mais justa e igualitária em um teórica da segregação consolidada no solo urbano.
contexto “historicamente desequilibrado” (DEL RIO, Com uma gama de estudos relacionados a este
SIEMBIEDA, 2019). tema no Brasil, este artigo busca uma revisão
E essa escala de divisão interna de uma teórica que visa elucidar diversos aspectos em que
cidade, embora em novos contextos, não é algo a segregação é vislumbrada nos mais distintos
novo. Para Sposito (2018), essas diferenças traçados urbanos das cidades, e dessa forma,
socioespaciais são uma marca presente desde as analisar os meios pelo qual esse efeito acontece e
primeiras formações urbanas, e apresentam intima perdura, sendo possível contrapor diferentes linhas
relação com o trabalho que cada pessoa exerce na de pesquisa e pensamentos teóricos e
sociedade. Vasconcelos (2016), alerta que tais complementando-os mutuamente, formando assim
diferenças sociais resultantes da formação dos um panorama sobre o atual momento em que vivem
espaços urbanos se diferem em cada parte do as cidades com seus aspectos de segregação
globo. O Brasil tem as suas próprias urbana, bem como seus antecedentes históricos.
particularidades que levam a vários fenômenos E é esta realidade que irá ser analisada, afim
de se identificar os fatores que levam à segregação,
pois como lembra Corrêa (2000), este é um Para que seja possível analisar os fatores
processo que expõe a noção de diferentes classes responsáveis pela segregação espacial, primeiro é
no território urbano, ou seja, são espaços que preciso entender em que aspecto tal fenômeno
apresentam homogeneidade aos que o compõem, ocorre, ou seja, a formação morfológica das
porém são heterogêneos aos espaços restantes, cidades que é a protagonista do feito. Embora não
isso faz com que seja necessário um estudo mais seja objeto direto dessa pesquisa, é preciso
aprofundado que possa elucidar como estes grupos abranger o aspecto capitalista de produção do
se comportam, e qual é o fator de união entre estas espaço, afinal, a expansão tanto do tecido urbano
diferentes massas, bem como qual a relação que quando da densidade construtiva tem intima
as mesmas exercem para com a cidade. Além relação com o valor monetário praticado, dessa
dessa introdução esse trabalho se divide em forma, a cidade se constitui como um artifício
segregação urbana: causas e consequências, exclusivo da ação humana que é a responsável
principais resultados e considerações finais. pela concepção dos espaços (JÚNIOR, 2010).
Partindo desse princípio de que a cidade é
2 SEGRAGAÇÃO URBANA: CAUSAS E fruto da ação do homem e de que sem capital não
CONSEQUÊNCIAS seria possível a modificação do espaço. Carlos
(2018) revela que um dos produtos do capitalismo,
Segundo a definição do Dicionário de o solo urbano, segundo as suas palavras, “[...]
Sinônimos da Língua Portuguesa Rocha Pombo realizou a generalização do espaço como
(2011), a palavra segregação exprime a ideia de propriedade privada[...]”, dessa forma, a
“separar, afastar, destacar uma coisa da outra”, segregação entre classes se aprofunda, uma vez
desunindo-as e pondo-as a parte uma da outra, ou que a condicionante de se obter um espaço urbano
seja, a palavra manifesta o ato da separação em habitável é o resultado do poder de compra do
duas ou mais partes de algo, expondo assim uma indivíduo, mesmo quando o território é redigido por
em contraposição a outra, podendo dessa forma regulamentos do Estado, “[...] criando a contradição
resultar em desunião, desarmonia e desigualdade entre o espaço produzido enquanto valor de uso e
entre as partes segregadas. o espaço produzido enquanto valor de troca, com a
Em seu contexto histórico, a palavra separação radical entre espaço público e privado e
segregação denota de processos que resultaram aprofundamento da segregação[...].” (CARLOS,
em grandes transformações sociais. De acordo 2018, p.68).
com Vasconcelos (2016), a origem do termo deu-se Para que se possa melhor compreender esse
do latim segrego, aquilo que se cerca, desde de efeito, Ribeiro (2018), faz uma crítica ainda mais
então, muitos processos históricos culminaram na profunda, alertando-nos que no Brasil a produção
segregação de partes da população, sendo de fato espacial é calcada na extrema desigualdade, fruto
os mais notáveis, a criação dos “guetos” para alocar de fatores históricos de uma cultura autoritária, e
os judeus, tanto em Veneza durante o período da que parece ter sido absorvido de maneira pacifica
Republica, quanto os criados durante a segunda pela sociedade, e hoje as cidades não escondem
guerra, baseados na ideologia do nazismo, e em suas paisagens as mazelas desse feito,
também, a política de segregação racial norte fazendo deste território um local perfeito para tal
americana que resultou na criação de espaços reprodução desigual que perdura, sendo um fator
delimitados de uso para a população negra. mutuo e complementar, onde a criação de novos
Embora a etimologia da palavra tenha forte espaços acaba por contribuir para o
ligação com eventos históricos, existe uma aprofundamento da desigualdade, marcando o
divergência entre autores quanto ao uso do termo. território por meio de um subproduto desse
O próprio Vasconcelos (2016), alerta que é processo, a segregação.
importante se manter fiel a origem do termo, para E em meio a esses fatores, a condição social
que o mesmo não perca o seu “caráter heurístico” é apontada como uma das condicionantes de um
quando usado de maneira generalizada. Mas ao processo presente no território urbano que
mesmo tempo, Sposito (2016) lembra que independe de sua localização, a ilegalidade
conceitos mudam com o passar dos anos, a territorial. Nesse processo, pobreza e inadequação
acabam se adaptando a questões relacionadas a territorial se unem, formado assim glebas urbanas
problemas atuais, não sendo diferente ao conceito à margem da urbanização, gerando uma ruptura
de segregação urbana. Sendo assim, não caberá a socioespacial em determinados locais da cidade.
este estudo discutir as questões relacionadas ao As denominadas “favelas”, acabam por criar
uso “correto” do termo, e sim, expor diversos fatores uma nova tessitura na cidade, um novo modo de
que levam a divisão social territorial em uma cidade, ocupar o espaço, tanto que seus moradores
apresentando clara ruptura na tessitura morfológica preferem o termo “comunidade”, referindo-se ao
urbana, entendendo por tanto, que tais fatores espaço como algo homogêneo, um espaço de
compreendem uma segregação socioespacial. identidade coletiva (LAGO, 2003).
Essa forma de separação em camadas da de se viver em uma cidade, mas de maneira
sociedade, tem forte e intima relação com a abstrata e segregada, protegida por muros e
produção do espaço que é guiado pelo poder de guaritas que controlam a entrada e acabam por
compra. Na concepção do espaço da cidade negar o seu entorno (PADUA, 2018).
capitalista, a divisão de classes também se O fenômeno de agrupamento por questões
evidencia na ocupação territorial, formando assim sociais, raciais e religiosas, sempre foi um fato
espaços que se destinam ou não ao uso de histórico, como já visto desde a formação dos
determinadas “classes dominantes”. “guetos”, mas como lembra Frey e Duarte (2006), o
Nessa ótica, resulta em uma cidade em que o fator econômico atua com maior poder de influência
poder de compra é que determina não só o espaço quando o assunto é a segregação no Brasil, porém
mas também o local a ser ocupado, muitas vezes esse novo modelo em que é proposital essa
forçando pessoas de baixo rendimento a separação territorial presente nos condomínios vem
ocuparem-se de locais cada vez mais distante dos sendo chamada de auto segregação, uma vez que
centros, ou mesmo compelidos ao fazerem, quando é por livre escolha que os indivíduos optam pelo
políticas públicas muitas vezes por meio de isolamento.
interesses privados, forçam a retirada de Também é de maneira mais recente que tais
moradores de locais de ocupação irregular, condomínios dominaram o imaginário da
frequentemente bem localizados, limitando-os a população, sendo objeto de desejo não somente
uma nova ocupação de um espaço pré- das classes de maior poder aquisitivo como
determinado, ou seja, amiúde mal localizados também caiu no gosto da classe média no país.
(BAUMAN, 1999, apud CANETTIEI et al, 2017). Pádua (2018, p. 89) propõem “uma vida na qual se
É com maior clareza que se demonstra o precisa o menos possível sair do condomínio, pois
motivo da união de pessoas em comunidades, uma ele satisfaz grande parte das necessidades
vez que esse processo é um reflexo da divisão de cotidiana dos moradores, logicamente com um
classes sociais que por sua vez fica estampado na custo adicional para esses serviços.”
malha urbana, que acaba por refletir essa divisão. Ciente desse desejo crescente por parte da
(FERREIRA, 2020)E se a falta de recursos classe menos abastada de se apropriar dessa
financeiros força a união de pessoas semelhantes condição que os condomínios fechados oferecem,
em grupos, o mesmo fenômeno é observado nas grandes incorporadoras se apropriaram desse
classes de mais abastadas, porém de maneira apelo, criando os condomínios populares que
distinta, é o que no mercado imobiliário vem a ser atendem as demandas do programa de moradia
chamado de condomínios residenciais fechados, popular Minha Casa Minha Vida (MCMV),
sendo que nesse estudo de maneira mais enfática, replicando-os em grandes glebas, com extremo
levasse em conta a proliferação dos condomínios distanciamento das áreas urbanas consolidadas,
fechados horizontais. sob argumentação de que somente nestes locais é
Essa nova forma de morar expressa uma nova possível equilibrar o custo de terreno e o custo da
maneira de segregar o espaço urbano, e vai mais construção, para assim oferecer ao consumidor
além, esse estilo de vida acaba por romper um fator final um imóvel que atenda aos parâmetros de
antes dominante no cenário das cidades, o centro poder de compra dessa categoria de menor
rico versus a periferia pobre, que agora passa a rendimento médio mensal (FERREIRA, 2012).
vislumbrar um novo modelo de desigualdade. A E se tratando do poder público, Hirata (2009),
periferia que por sua natureza dispõe de um espaço alerta que políticas públicas sociais, como as do
mais amplo que o centro já não oferece, passa programa MCMV ou de seus antecessores,
agora a ser um local de vislumbre das classes de acabam por estimular essa postura adotada pelo
maior poder econômico, que possuem as mercado imobiliário. Cria-se um discurso baseado
condições necessárias para “consumir” este na qualidade de vida e na necessidade de se
espaço (MEDEIROS et al, 2008). construir em novos espaços em que se mitigue os
Esses espaços surgem com a promessa de efeitos causados pela urbanização, mas na prática
um “novo modo de viver”, dentro de seu espaço não se delimitam com clareza nos planos e nas leis,
murado, nega a vida externa na cidade, e cria um instrumentos capazes de inibirem a atuação
ambiente capaz de satisfazer todas as desenfreada do mercado imobiliário, que acaba
necessidades de seus moradores. Dentro de seu assumindo o protagonismo frente a disputada pelo
recinto vigiado e controlado, são oferecidas todas espaço urbano, causando assim a falta de
as benesses de se viver de maneira alheia a cidade, capacidade de que tais pessoas decidam onde vão
praças, equipamentos de ginástica, natação, morar, o que na prática significa que as pessoas
serviços de lavanderia, motoristas, entre outros, se precisam dobrar-se a vontade que lhes é imposta e
juntam ao apelo pela segurança, um dos principais adaptar-se à condição de moradia, impedindo-as
fatores relacionados aos empreendimentos, ou de usufruírem melhores espaços nas cidades.
seja, a garantia de que o local oferece os benefícios
E a falta de escolha sobre o local de moradia voltados para um segmento popular, as
expõe o problema de segregação desses incorporadoras optam pelo que Ferreira (2012),
condomínios populares que acabam sendo chama de “condomínios-clube”, onde são
implantados nas “franjas urbanas” das cidades, oferecidos intramuros praças, quadras,
trazendo à tona outros problemas, como a playgrounds e outras benesses que imitam os
dificuldade de inserção e de mobilidade urbana. condomínios de luxo das classes mais altas,
Embora haja engajamento por parte de arquitetos, rompendo a malha urbana e optando por um
nesses casos, o lucro se impõem de maneira a se padrão de vida voltado ao uso do automóvel, dada
sobrepor as questões de qualidade arquitetônicas e a distância em que esses espaços se encontram
urbanas, atendendo tão somente aos interesses dos centros de comércio e de trabalho.
pautados no ganho material. Na prática, no caso das construções de
Ao reproduzir de maneira ilógica o padrão condomínios residenciais fechados, não importa o
residencial condominial tão apreciado pelas classes nível social em que se encontram, seja dos
de maior poder aquisitivo, a cidade caminha de segmentos de menor renda ou de classe média
maneira contrária a sustentabilidade urbana, e como do programa habitacional público MCMV, ou
coopera para a perpetuação de um modelo de empreendimentos particulares voltados ao
segregacionista de criação de espaços mercado de luxo, ambos acabam exercendo os
(FERREIRA, 2012). mesmos impactos negativos na malha urbana.
A segregação sempre foi levada a cabo por
3 PRINCIPAIS RESULTADOS motivos específicos, como étnicos e religiosos,
porém, esse novo fenômeno da “autossegregação”
De maneira geral, a segregação urbana é fruto exige uma nova análise sobre os motivos pelos
de fatores diversos, mas que convergem em um quais isso acontece.
ponto comum, o poder de compra de cada A morfologia urbana observada no século XIV
indivíduo, e de como o capitalismo é capaz de e meados do século XX, onde existia uma clara
modificar o meio urbano. Para Sposito (2018), isto dinâmica territorial de centro bem estruturado
é perceptível quando grandes glebas antes rurais e versus periferia, é posto à prova com as novas
agora urbanas, são tratadas como um novo produto “estruturas multicêntricas”, onde cria-se um caráter
imobiliário, ocupando um espaço periférico antes heterogêneo do espaço das cidades, e a
destinado somente aos que não tinham poder segregação que ainda insiste em persistir, está
aquisitivo para ocupar os centros das cidades, mas diretamente ligada com a capacidade de compra de
que agora convivem de maneira próxima, sem cada indivíduo, tento intima relação com a
esquecer que tal convívio só é possível pelo segregação socioeconômica, se aprofundando
complexo de muros e guaritas que separam as gradualmente e extrapolando os limites
áreas pobres e de ocupações irregulares, daquelas residenciais, orientando o crescimento econômico
destinas aos complexos imobiliários de luxo, na malha urbana, que sempre tente a ser mais
anulando a convivência entre as diferenças, que é estruturada nas áreas onde se concentram pessoas
fruto natural do processo de urbanização com maior poder aquisitivo (SPOSITO, 2016).
vivenciado pelas cidades ao longo dos anos. E por esse motivo, Frey e Duarte (2006),
Ciente desses aspectos, é importante ressaltar demonstram a complexidade desse tema no Brasil,
que a segregação urbana, é um processo presente e apontam para um fator atípico até o momento nas
entre as classes sociais, porém, o fator em que políticas sociais e urbanas. Levando em conta os
ambos ocorrem são distintos. É preciso destacar aspectos da “autossegregação”, em relação a
que muitas das pessoas que vivem nessas gestão mais democráticas das cidades, seria
condições, não são responsáveis e não gostariam necessário não somente uma política voltada para
de estar vivendo nelas, é uma “imposição” pela qual a incorporação social das pessoas excluídas e
são forçadas graças as dificuldades de acesso ao marginalizadas da sociedade, mas também
solo urbano que se tornou um produto que não é políticas que incorporem as pessoas que optaram
acessível a todos. Isso por sua vez contrasta com pela reclusão em relação aos espaços das cidades,
as famílias de maior poder aquisitivo, que ao uma vez que ficou claro a abnegação aos espaços
comprarem casas em condomínios fechados, públicos dos quais não são mais necessários para
optam pela quebra do tecido urbano e pela negação atender as necessidades e seus “interesses
do entorno, o que pode ser entendido como uma particulares”.
“segregação autoimposta”, pois foram os mesmos Nesse caso ações mais abrangentes seriam
que escolheram viver nessas condições (ZECHIN e necessárias para mitigar os efeitos da segregação
HOLANDA, 2019). urbana, que combinadas e alinhadas com as mais
O mesmo pode se dizer de condomínios diversas diferenças sociais que possam existir,
voltados a programas sociais recentes como os do busquem mutuamente a concepção de um espaço
Minha Casa Minha Vida, que muito embora urbano coletivo, justo e igualitário.
bem como os padrões de alta renda e baixa renda
CONSIDERAÇÕES FINAIS fazendo uma abordagem por meio de um estudo de
caso do perímetro imediato e sua interferência
Este artigo teve como objetivo realizar uma exercida na malha urbana da cidade.
revisão teórica da segregação consolidada no solo
urbano. Identificamos sob a luz dos autores Hirata
(2009), Ferreira (2012), Sposito (2018), Frey e REFEÊNCIAS
Duarte (2006), que os agentes causadores pela CANETTIERI, Thiago; PEREIRA, Thiago; LIBERATO, Rita de
ruptura dos agrupamentos em comunidades mais Cássia. Um a contribuição para o entendimento da segregação
carentes ou em situações economicamente mais urbana: exploração, dominação e valorização. Revista
abastadas estão diretamente relacionados ao Espinhaço, UFVJM, [S.l.], p. 3-13, 2017. Disponível em:
poder monetário ou pela falta dele, estando http://www.revistaespinhaco.com/index.php/journal/article/view/
diretamente ligados ao fator capitalista do mercado 73. Acesso em: 05 de abril de 2020.
financeiro. O mercado imobiliário transforma o uso CARLOS, Ana Fani Alessandri. Da “Organização” à “Produção”
e ocupação do solo urbano em mercadorias. Já as do Espaço no Movimento do Pensam ento Geográfico. In:
políticas públicas passam a voltar-se as questões CARLOS, Ana Fani Alessandri; SOUZA, Marcelo Lopes de;
relacionadas ao planejamento urbano, a moradia e SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão (orgs). A Produção do
a morfologia urbana. Espaço Urbano: Agentes e Processos, Escalas e Desafios.
1.ed. São Paulo: Contexto, 2018, p. 124-145.
Os resultados obtidos nesse estudo teórico,
visam elucidar a cidade contemporânea, trazendo CORRÊA, Roberto Lobato. Segregação residencial: classes
fatores relevantes para proporcionar mecanismos sociais e espaço urbano. In: CORRÊA, Roberto Lobato;
que possam combater ou minimizar a segregação PINTAUDI, Silvana Maria; VASCONCELOS, Pedro de Almeida
urbana. (orgs.). A Cidade Contemporânea: Segregação Espacial. 1
ed. São Paulo: Contexto, 2016, p. 39-59.
Esse estudo traz como constatação que a
segregação está diretamente relacionada ao poder DEL RIO, Vicente; SIEMBIEDA, William (orgs). Desenho
de compra de cada indivíduo e de como o Urbano Contemporâneo no Brasil. 1.ed. Rio de Janeiro: LTC,
capitalismo modifica o meio urbano. Os 2019.
apontamentos dessa abordagem teórica tornam-se FERREIRA, João Sette Whitaker (org.). Produzir casas ou
perceptíveis quando referenciamos as questões construir cidades. Desafios para um novo Brasil
relacionadas as grandes glebas antes rurais que urbano.1.ed. São Paulo: FAPUM, 2012. DOI:
passaram a ser urbanas sendo ponderadas como https://doi.org/10.6008/CBPC2318-3055.2020.001.0008
um produto imobiliário.
FERREIRA, A. S; NASCIMENTO, D. R. O custo da
Outra constatação percebida está relacionada
infraestrutura urbana: um delineamento para o desenvolvimento
aos condomínios do programa Minha Casa Minha de pequenos municípios. Engineering Sciences, v. 8, p. 67-79,
Vida, os quais são oferecidos privilégios que 2020.
passam a assemelhar com condomínios de classes
mais opulentas, esses empreendimentos rompem a FREY, Klaus. DUARTE, Fábio. Auto-segregação e a Gestão das
Cidades. Ciências Sociais em Perspectiva. Universidade
malha urbana e criam aspectos relacionados ao
Estadual do Oeste do Paraná, Campus Universitário de
uso do automóvel por estarem distantes do centro Cascavel. Cascavel, v.5. n.9, p.109-119, 2006. Disponível em:
ou dos locais de trabalho. http://e-
As contribuições desse estudo estão revista.unioeste.br/index.php/ccsaemperspectiva/article/view/14
relacionadas aos aspectos causados pela ruptura 22. Acesso em: 05 de abril de 2020.
desses agrupamentos em comunidades ou mesmo
HIRATA, Francini, “Minha Casa Minha Vida”: Política de
em condomínios residências de alto padrão, bem Habitacional de Geração de Emprego ou Aprofundamento da
como, o comportamento em relação ao entorno dos Segregação Urbana?. Aurora. Marília, Revista PPGCSV Unesp,
agrupamentos, seja no perímetro imediato ou em v.2, n.2, p.01-11,2009. Disponível em:
relação a toda a cidade. Destaca-se que este https://doi.org/10.36311/1982-8004.2009.v2n2.1202. Acesso
fenômeno está relacionado ao fator monetário, ao em: 08 de abril de 2020.
fator capitalista gerado pelo mercado financeiro, da JÚNIOR, Orlando Moreira. Cidade Partida: Segregação Induzida
mesma forma, as questões de transformações que e Auto-Segregação Urbana. Caminhos da Geografia.
o mercado imobiliário gera em seu entorno imediato Uberlândia, v.13, n.33 p. 1-10, 2010. Disponível em:
e no uso e ocupação do solo das cidades. http://www.seer.ufu.br/index.php/caminhosdegeografia/article/vi
Este estudo limita-se a um discurso teórico ew/15899. Acesso em: 08 de abril de 2020.
com base nos autores Hirata (2009), Ferreira LAGO, Luciana Corrêa do. Favela-loteamento: Reconceituando
(2012), Sposito (2018) e Frey e Duarte (2006). os Termos da Ilegalidade e da Segregação Urbana. Cadernos
Como recomendações para um estudo futuro, seria Metrópole. São Paulo, n.4, p.119-133, 2003. Disponível em:
importante analisar os fatores históricos da https://revistas.pucsp.br/index.php/metropole/article/view/9207.
segregação relacionando-os com os aspectos Acesso em: 05 de abril de 2020.
tempo, causas e consequências do agrupamento,
MEDEIROS, Cintia Rodrigues de Oliveira. JÚNIOR, Valdir
Machado Valadão. PERREIRA, Alessandra Paulina.
Condomínios Horizontais Fechados: segregação do espaço
social. Revista Eletrônica de Administração, FACEF, [S.l.],
v.11, 2008. Disponível em:
https://periodicos.unifacef.com.br/index.php/rea/article/view/210
. Acesso em: 05 de abril de 2020.

PADUA, Rafael Faleiros de. Espaços de Desindustrialização na


Urbanização Contemporânea da Metrópole. In: CARLOS, Ana
Fani Alessandri (org.). Crise Urbana. 1ed. São Paulo: Contexto,
2018, 85-103.

POMBO, Rocha. Dicionário de Sinônimos da Língua


Portuguesa. 2° ed. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de
Letras, 2011.

RIBEIRO, Fabiana Valdoski. Produção Contraditória do Espaço


Urbano e Resistências. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri (org.).
Crise Urbana. 1ed. São Paulo: Contexto, 2018, 171-186.

SPOSITO. Maria Encarnação Beltrão. A produção do espaço


urbano: escalas, diferenças e desigualdades socioespacias. In:
CARLOS, Ana Fani Alessandri; SOUZA, Marcelo Lopes de;
SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão (orgs). A Produção do
Espaço Urbano: Agentes e Processos, Escalas e Desafios.
1.ed. São Paulo: Contexto, 2018, p. 123-145.

SPOSITO. Maria Encarnação Beltrão. Segregação


Socioespacial e Centralidade Urbana. In: CORRÊA, Roberto
Lobato; PINTAUDI, Silvana Maria; VASCONCELOS, Pedro de
Almeida (orgs.). A Cidade Contemporânea: Segregação
Espacial. 1 ed. São Paulo: Contexto, 2016, p. 17-37.

VASCONCELOS, Pedro de Almeida. Contribuição para o debate


sobre processos e formas socioespacias nas cidades. In:
CORRÊA, Roberto Lobato; PINTAUDI, Silvana Maria;
VASCONCELOS, Pedro de Almeida (orgs.). A Cidade
Contemporânea: Segregação Espacial. 1 ed. São Paulo:
Contexto, 2016, p. 17-37.

ZECHIN, Patrick. HOLANDA, Frederico Rosa Borges de.


Atributos espaciais da desigualdade nas grandes cidades
brasileiras: uma relação entre segregação e morfologia.
Caderno Metrópoles. São Paulo, v. 21, n. 44, p. 55-78, 2019.
Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/index.php/metropole/article/view/2236-
9996.2019-4403. Acesso em: 06 de abril de 2020.

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