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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM CIDADES INTELIGENTES


GOVERNANÇA EM CIDADES INTELIGENTES

WEILA DOS SANTOS VIEIRA

DIREITO À CIDADE: EM BUSCA DE UMA CIDADE INTELIGENTE:


EXPLORANDO O CONCEITO E A FORMAÇÃO DAS NOSSAS CIDADES

SÃO MATEUS/ES
2023
WEILA DOS SANTOS VIEIRA

DIREITO À CIDADE: EM BUSCA DE UMA CIDADE INTELIGENTE:


EXPLORANDO O CONCEITO E A FORMAÇÃO DAS NOSSAS CIDADES

Relatório do Seminário I: Direito à cidade. Em busca de


uma cidade inteligente: explorando o conceito e a
formação das nossas cidades. Realizada no dia 19 de
outubro de 2023, e ministrada pela prof.ª Renata Helena
P Moura

SÃO MATEUS/ES
2023
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INTRODUÇÃO
A Palestra ministrada pela prof.ª Renata Helena P Moura teve como
destaque a questão das desigualdades socioeconômicas das cidades na
plenitude do abandono dos imóveis nos grandes centros urbanos que promove
a inércia da arrecadação do IPTU e colabora para o problema de habitação nos
grandes centros.
Pode ser destacado que:

Podemos imaginar, de forma bastante empírica, que as cidades


podem ser abertas ou fechadas em quanto à capacidade de seus
habitantes de acessar, ocupar e usar a cidade no intuito de satisfazer
suas necessidades objetivas e (re)produzir suas condições de vida.
Para alguns, a cidade é onde acontece a vida social, econômica e
política, onde o conhecimento e a cultura são criados e
compartilhados; para muitos outros, a cidade é o lugar da exclusão e
marginalização, ao lhes negar todas, ou quase todas, essas
oportunidades, criando bolsões permanentes de famílias pobres. As
cidades brasileiras conhecem ambas as realidades. Nossa
desigualdade é estrutural e é reproduzida desde o período colonial
ancorado da escravidão. Ao final desta, e com o início de uma vida
urbaniza gradativamente mais intensa, a desigualdade dar-se-á nas
cidades, para utilizar a imagem elaborada por Gilberto Freyre, entre
aqueles poucos moradores dos sobrados e os muito que moram nos
mocambos. (ZECHIN e HOLANDA, 2019, p.57)

A palestrante também destacou que no Brasil, a propriedade substitui o


escravo no sentido de valorização patrimonial. Como bem expressado na
palestra, com a valorização da propriedade, principalmente com a
industrialização em regiões urbanas, as cidades ganham novos contornos e
atores diversos: o ex-escravo que se transforma em mão de obra barata para
indústria e para movimentar a força de trabalhos dos grandes centros urbanos,
as mulheres (que já trabalhavam em ambiente doméstico) acrescentam da
dinâmica trabalhistas, as grandes corporações e grandes cadeias de comércio.
Agora, a terra passa ser mercadoria de troca e sentido de poder. Nesse
sentido, Lefebvre (2001, p.07) destaca:

Durante os longos séculos a Terra foi o grande laboratório do homem;


só a pouco tempo é que a cidade assumiu esse papel. O fenômeno
urbano se manifesta hoje sua enormidade, desconcertante para a
reflexão teórica, para a ação prática e mesmo para a imaginação.
Sentido e finalidade da industrialização, a sociedade urbana se forma
enquanto se procura (LEFEBVRE, 2001, p.7).

Nesse cenário, Lefebvre (2001, p.14) ressalta que a cidade e a realidade


urbana dependem do valor de uso. O autor destaca que, o valor de troca e a
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generalização da mercadoria pela industrialização tendem a destruir, ou


subordiná-las a si, a cidade e a realidade urbana, refúgios de valor de uso,
embriões de uma virtual predominância e de uma revalorização do uso.
E esse valor de uso dita a ordem das desigualdades socioeconômicas
dos grandes centros urbanos, no qual, o solo urbano torna-se caro e cada vez
mais excludente e marginal as camadas mais sensíveis socioeconomicamente.
Lefebvre (2001, p.105-16) aborda que as necessidades antropológicas
das cidades é cada vez mais intensas a medida que a urbanização toma novos
contornos. E tais necessidades antropológicas, visam o bem-estar social do
sujeito urbano: segurança pública, transporte público de qualidade, estrutura
urbana adequada para vencer os desafios climáticos, desenvolvimento social
sustentável (para as gerações futuras gozem dos espaços urbanos.

2. DESIGUALDADES SOCIOECONÔMICAS NAS CIDADES BRASILEIRAS


Depois do disposto da parte introdutória do presente relatório é
importante destacar que por mais que a cidade seja de forma a lidar com as
novas tecnologias de comunicação e uso de dados relevantes, as
desigualdades dos grandes centros ainda se torna de fato uma problemática
estrutural. Lembrando que as cidades em sua grande maioria não foram dadas
de forma planejada (salvo em alguns poucos casos), o movimento urbano se
dá para atender as grandes corporações industriais na sua grande demanda de
trabalhadores das fábricas que precisam morar mais próximo possível do
trabalho. Como resultado, a parte mais subdesenvolvida das cidades (periferia)
eram de fato onde trabalhador residia (aqui no Brasil, são as favelas, guetos,
cortiços que irão abrigar essas pessoas). Por isso, Burnet (2009) destaca que a
questão socioeconômica dos grandes centros reflete na moradia e na falta de
estrutura para que os trabalhadores residem. Nesse sentido, pode ser
ressaltado que:

A desigualdade socioeconômica é uma das questões fundamentais


no Brasil, de sorte que, a partir dos anos 1970, o fenômeno passa a
ser estudado no Brasil com grande intensidade por meio de análises
tanto qualitativas quanto quantitativas, buscando compreender as
causas e os fatores que permitem sua reprodução. No mesmo
sentido, diversas políticas públicas vêm sendo desenvolvidas em
maior ou menor quantidade e em graus variados de eficácia com
vistas a ampliar as fronteiras inclusivas e diminuir o fosso que separa
as classes sociais no País. Contudo, há evidências, [...] de que a
desigualdade de renda, além de ser mais alta do que se imaginava,
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permaneceu estável entre 2006 e 2012, uma vez que, apesar do


crescimento da renda, os mais ricos se apropriaram da maior parte do
crescimento econômico no período. Disto, fica evidente que há
mecanismo que permitem que as famílias mais ricas se apropriem de
maneira mais eficaz dos recursos socialmente produzidos nas
grandes cidades. Ampliar a compreensão de tais mecanismos é
fundamental para uma sintonia mais fina de políticas públicas de
combate à desigualdade, por exemplo. Esses mecanismos formam
um complexo arranjo de causas da persistência da desigualdade e
que, aparentemente, ao dissociar o aumento da renda geral da
sociedade da redução na desigualdade, indicam que seu estudo não
pode se restringir apenas à dimensão da renda, uma vez que, [...] a
desigualdade é também composta por dimensões não monetárias
como, por exemplo, o acesso a serviços públicos ou a eliminação da
barreira do analfabetismo. (ZECHIN e HOLANDA, 2019, p.56)

As cidades são palco das questões socioeconômicas mais sensíveis.


Nesse aspecto, a cidade é uma construção coletiva, pois:

As cidades, mais do que nunca, são as matrizes das promessas,


reais ou imaginárias, de uma vida digna, que, da modernidade à
contemporaneidade, transformou-se em uma plêiade de tensões,
conflitos e expectativas em torno de interesses e visões de mundo.
Apesar das suas fragmentações e déficits, nas cidades convergem as
promessas de uma modernidade incompleta, cujas pautas,
atualmente, estão albergadas em uma expressão amiúde nos
reclamos de militantes e intelectuais do universo urbano: o direito à
cidade. Trata-se de conceito que assumiu feições múltiplas nas
resistências urbanas e está no âmago das agendas reivindicatórias
no tabuleiro das relações e dos conflitos contemporâneos. A partir
dos movimentos urbanos, o direito à cidade foi alçado como um
direito no bojo dos direitos humanos e fundamentais, isto é, tornou-se
um direito proclamado nos documentos das instâncias internacionais
– como na Conferência Habitat III das Nações Unidas – e nos
ordenamentos jurídicos nacionais – como no caso do Estatuto da
Cidade no Brasil. Configurou-se, assim, como um direito
juridicamente exigível [...] A cidade é uma construção coletiva, lugar
das vivências e convivências, do sentido de e para uma vida digna,
ela deve ser compreendida, pensada, debatida, formulada e
reformulada em um tabuleiro de direitos que se constituem,
estabelecem-se e se entrelaçam; portanto, mais do que um direito
individual ou uma diretriz para políticas públicas, o direito à cidade
representa uma dimensão coletiva, por meio da generalidade de seus
habitantes; dentro dessa visada, é também um direito difuso para as
gerações sincrônicas e diacrônicas, como no caso da proteção ao
meio ambiente. Deve-se ressaltar que esse viés não implica, de modo
algum, desconsiderar os direitos individuais, mas que eles não sejam
utilizados para a maximização de interesses proprietários. Essa
vertente, a propósito, deve ser claramente rejeitada, por seu viés
exclusivista, como é visto nos modelos das cidades contemporâneas,
que atomizam discussões cuja essência é coletiva ou difusa. A
cidadania [...] é mais do que uma conquista individual. Afinal, o
cidadão é sempre cidadão de e para outrem. Tanto a reinvindicação
quanto o exercício do direito à cidade podem e devem ser
deflagrados por qualquer cidadão, não para defender exclusivamente
um direito individual potestativo, mas para a formulação e a discussão
do direito à cidade coletivamente (OLIVEIRA e SILVA NETO, 2020,
p.02 e 05)
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Diante do disposto, a questão dos espaços urbanos serem fragmentados


em relação a valorização (valor de uso como destaco Lefebvre (2001))
destacado na palestra deixa claro que a cidade ainda é palco da deflagração
das desigualdades urbanas.

CONCLUSÃO
Por fim, a palestra abordou também da questão do direito da cidade,
bem como Lefebvre (2001) destaca que as necessidades urbanas são
antropológicas e coletivas. Pois, para o autor, a cidade foi um resultado do
crescimento (sem desenvolvimento) urbano em prol da sociedade industrial dos
primeiros séculos da industrialização. E como no contexto brasileiro, o
resultado dessa industrialização gerou lacunas e dividas sociais com a
população afrodescente, que não houve políticas públicas de reparação social
dos atos danosos que a escravidão produziu na sociedade brasileira. E diante
desse cenário o desenvolvimento social urbano deve apontar para a
reestruturação de um espaço urbano mais incluso e que cada vez mais
acolhedor e dinamicamente viável para que o ser humano ainda possa viver de
forma sustentável nos grandes centros urbanos.

REFERÊNCIAS
BURNETT, Frederico Lago. As Cidades Brasileiras e a Desigualdade
Socioespacial. Revista em Pauta, Rio de Janeiro, V.6, N. 24, p.99-112, dez;
2009. Disponível em: https://www.e-
publicacoes.uerj.br/revistaempauta/article/view/522/583. Acesso em: 02 nov
2023.
LEVEBVRE, Henri. O direito da cidade. São Paulo: Centauro, 2001.
Disponível em:
https://monoskop.org/images/f/fc/Lefebvre_Henri_O_direito_a_cidade.pdf.
Acesso em: 02 nov 2023.
OLIVEIRA, Fabiano Melo Gonçalves de; SILVA NETO, Manoel Lemes da. Do
direito à cidade ao direito dos lugares. Urbe Revista Brasileira de Gestão
Urbana, São Paulo, n.12, p.1-13, e20190180, 2020. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/urbe/a/znfPMBh8dGWZW7DGGsBByXF/?format=pdf&la
ng=pt. Acesso em: 02 nov 2023.
ZECHIN, Patrick; HOLANDA, Frederico Rosa Borges de. Atributos espaciais da
desigualdade nas grandes cidades brasileiras: uma relação entre segregação e
morfologia. Cadernos Metrópole, São Paulo, v. 21, n. 44, p. 55-78, jan/abr;
2019. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/2236-9996.2019-4403. Acesso
em: 02 nov 2023.

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