Você está na página 1de 6

Especulação imobiliária: Consequências estruturais econômicas e seus impactos na sociedade de

classes
Ana Júlia De Almeida Pradi (RA: 201040); Guilherme (Mila) Nardeli (RA: 201578 ); Isabela Lima Fassina
(201689); Maria Gabrielle Mello Miranda (RA: 198476 ); Victória Cristina dos Santos Lage (RA: 202587);

Resumo
Busca-se analisar o fenômeno de especulação imobiliária através de uma lente econômica e
social e abarcar seus diferentes aspectos neste trabalho. O assunto é de grande complexidade uma
vez que suas consequências como segregação socioespacial e gentrificação ecoam em várias áreas
da sociedade, porém pode-se perceber a resistência social ao fenômeno econômico de especulação.
Sendo assim, neste trabalho também há a tentativa de expandir sobre o movimento feito para
diminuir a desigualdade social com relação às moradias, averiguando o MST e o MTST.
Entende-se, por este, que não há como estudar um assunto econômico apenas do ponto de vista do
lucro e ignorar as consequências estruturais nas vidas dos pouco abastados, e desse modo,
pretendemos expor várias causas e consequências da especulação imobiliária.
Palavras-chave: Especulação Imobiliária, Espaço, Segregação Socioespacial,
Gentrificação, Moradia.

1. Introdução: a especulação imobiliária

Especulação imobiliária é o termo designado ao ato de comprar ou realizar a manutenção


de qualquer terreno ou espaço e aguardar sua valorização de mercado para posterior venda e
obtenção de lucro. É esperado da especulação imobiliária, portanto, o ganho de lucro privado em
detrimento do bem estar social. Dessa forma, essa operação financeira acaba por gerar diversos
impactos negativos a uma comunidade, visto que desocupa espaços que poderiam ter alguma função
social, dificulta o combate à falta de moradias e promove a urbanização descontínua.
Tendo em vista Lei da Oferta e Procura, lei da economia clássica proposta por Adam
Smith, o preço de uma mercadoria é regulado pela proporção entre a quantidade disponível no
mercado em conjunto com a demanda de compra de determinada mercadoria. Portanto, com a
menor oferta de imóveis ocasionada pela especulação e demanda de compra de imóveis, há um
aumento do valor dos imóveis restantes na área, dificultando, assim, o acesso à moradias por parte
da população mais pobre.
Apesar dos efeitos negativos que a especulação imobiliária causa à população,
principalmente a mais vulnerável economicamente, esta operação faz-se muito presente no
cotidiano. Funciona como um investimento, onde é apostado que o espaço ao entorno do imóvel
seja modificado (como, por exemplo, pelo surgimento de comércio, escolas, sistemas de transporte,
etc.) e, portanto, se valorize, agregando assim valor ao lote vazio. Dessa forma, o especulador
imobiliário faz uma aposta de que tais mudanças acontecerão, e aguarda o momento ideal para
vender o espaço de forma a obter maior ganho. Apesar disso, não há garantias de que haverá lucro,
visto que o espaço comprado pode não valorizar ou até mesmo se desvalorizar.
Portanto, é de extrema importância frisar que a especulação imobiliária age de forma
prejudicial às cidades. Sendo esta uma operação financeira para obter altos lucros, pode criar falhas
na malha urbana e prejudicar o crescimento natural, fazendo a cidade se expandir para regiões mais
distantes do centro, embora haja espaços disponíveis e com demanda para ocupação em lugares em
que, muitas vezes, já existe infraestrutura ou em que as conexões se dariam mais rapidamente.
A partir disso, a população mais pobre se vê obrigada a migrar para as periferias da cidade
em busca de moradia - caracterizando um processo urbanizatório descontínuo - o que acaba
piorando a qualidade de vida da comunidade como um todo uma vez que o acesso à direitos básicos
como transporte, saúde e educação é mais precarizado e de difícil acesso. Esse movimento
migratório traz ao debate conceitos estruturais desenvolvidos adiante, como a segregação
socioespacial e a gentrificação, visto que estão ligados diretamente com a organização de imóveis e
os espaços em que as pessoas são alocadas de acordo com poder aquisitivo.

2. Segregação socioespacial e a gentrificação: economia em prática

A segregação socioespacial é a marginalização de grupos sociais como uma consequência


da desigualdade econômica e consiste na organização e demarcação da população rica e pobre
dentro da cidade. Além disso, engloba o projeto urbano e econômico ao ser pensado a partir de todo
o sistema público como educação, saúde, transporte, etc. Esse conceito é estrutural, visto que é
construído historicamente através da atividade capitalista, a qual produz um desenvolvimento
geográfico descontínuo e desigual (HARVEY, 2004).
Este fenômeno, ao ser caracterizado pela residência da população mais pobre em áreas
distanciadas dos grandes polos econômicos, concentra e evidencia as desiguais relações de poder
estruturadas nos centros urbanos. Pelo fato da cidade se organizar e expandir através do centro, esse
espaço concentra quem tem mais poder de aquisição e isso impacta na chegada de infraestrutura até
os lugares afastados (como favelas, cortiços, habitações irregulares). Se o Estado não trabalha para
garantir o acesso igualitário aos locais e o planejamento urbano aumenta a separação entre classes
sociais, o resultado são processos como a gentrificação.
O termo gentrificação foi usado primeiramente pela socióloga Ruth Glass, em 1964, para
conceituar um processo de ocupação de moradores de classe média alta, em uma região central de
Londres, anteriormente ocupada pela classe trabalhadora. Este princípio permanece atual, e decorre
após um longo período de sucateamento das regiões centrais, uma vez que o foco de investimento
está nas regiões de expansão urbanas, fazendo com que o valor da área central se reduza. Sendo
assim, a diferença entre seu valor potencial e a renda efetivamente capitalizada com a ausência de
uso da terra alcança um patamar crítico, e ao atingir essa fase é mais lucrativo investir nesses
antigos centros do que nas áreas periféricas em constante crescimento urbano. Dessa maneira, o
centro se transforma no foco de novos capitais, em conjunto com um novo público com maior poder
aquisitivo. Com o retorno do capital e das novas classes sociais, o novo centro torna-se um polo de
repulsão para seus antigos moradores que não conseguem manter-se nesse alto valor de especulação
imobiliária, porém torna-se um pólo de atração para a classe alta.
Dentro dos dois conceitos gerais abordados, temos um foco no centro urbano decadente,
porém na gentrificação esse passa por uma retomada de investimentos e sofre mudança em seu
perfil socioeconômico. Há um processo intrínseco com a economia, pois o desenvolvimento desta
ocorre por meio do investimento de capital privado e da entrada de indivíduos de classe média alta
em regiões urbanas precarizadas. Essa entrada de capital ocorre pelo diferencial de renda (Neil
Smith, 2009).
Pode-se observar uma constante de valorização ao lucro que traz custos altos sociais para
classes mais baixas, fenômenos como a migração interna, segregação, especulação imobiliária têm
relações complexas com várias facetas dos estudos econômicos e sociais e estabelece uma conexão
intrínseca que demanda um olhar que se aproxima dos dois pólos para gerar entendendimento,
escritores como Lefébvre, Castells e Lojkine fomentam a discussão de desigualdade socioespacial
através da junção de temas sendo capaz de analisar o espaço urbano como mercadoria e as
consequências desse pensamento para a sociedade atual.

3. Polos de resistência à cultura ao lucro

Com a iniciativa de problematizar a especulação imobiliária que promove, mesmo com as


diversas ofertas de terrenos vazios, a falta do acesso à moradias, surgem diversos movimentos de
resistência como o MST e o MTST, que possuem como objetivo principal garantir o direito
constitucional à moradia. Os militantes que compõem os movimentos mencionados são
trabalhadores que não possuem casa própria nem condições de pagar aluguel. O MTST foi fundado
em 1997 para atender às demandas dos trabalhadores urbanos, já que seu irmão, o MST, atende aos
trabalhadores campesinos. Além disso, sua principal crítica ao sistema está relacionada justamente à
desigualdade habitacional, onde algumas pessoas detêm mais de um imóvel enquanto outros não
têm onde morar., sendo assim, exigem uma Reforma Urbana.
O movimento age da seguinte maneira: os militantes ocupam imóveis irregulares em uma
tentativa de atrair a atenção das autoridades para que ocorra a desapropriação dos locais de seus
donos. A legitimidade do MTST está apoiada na própria constituição brasileira, no artigo sexto e no
artigo vigésimo terceiro.
Art. 6° São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição. Art. 23 É competência comum da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios:

IX – promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições


habitacionais e de saneamento básico.

Fora esses dois pontos, há também algumas partes que reforçam esse papel de direitos à
moradia para a população como o artigo sétimo, por exemplo. Porém, para que haja a
desapropriação de um imovel, é necessário que o proprietário não esteja cumprindo as normas para
manter seu bem com sua determinada função social, função essa estabelecida pelo município local.
Mesmo se o imovel foi desapropriado há também a indenização para o proprietário.
A Reforma Urbana que os militantes da causa tanto almejam possui alguns pontos
importantes. O primeiro seria uma política de contenção da especulação imobiliária. O segundo,
obter um melhor aproveitamento dos espaços urbanos. Por fim, garantir o acesso à infraestrutura
para todos os bairros de uma determinada cidade. Com isso, seria possível uma melhor
democratização dos espaços urbanos.

4. Conclusão

Entende-se, enfim, que a especulação imobiliária é definida como o ato de adquirir um


espaço e aguardar a sua valorização no mercado para então vendê-lo, visando sempre o lucro
privado, obstruindo o bem da população geral, levando a diversos fenômenos sociais como a
migração da população mais pobre para as áreas periféricas das cidades. A visão de centro a partir
do lucro destrói as camadas mais baixas da população com a segregação socioespacial e
gentrificação. Acadêmicos como Kimi Tomizaki, Hamilton Harley e Maria Gilvania Valdivino
atestam a ligação destes conceitos na prática através da seguinte análise:

Segundo os depoentes, suas famílias de origem viviam em precárias


condições financeiras, muitas vezes agravadas pelo abandono ou morte do pai.
Em geral, a migração para zonas urbanas em busca de melhores condições de
vida e trabalho contou com o suporte de algum parente ou amigo já instalado na
periferia de São Paulo. A “vida na cidade” foi marcada pela precariedade típica da
inserção no mercado informal de trabalho e pelo alto custo da moradia, em função
da especulação imobiliária, o que obrigou essas famílias a se distanciarem das
regiões mais centrais. (TOMIZAKI; HARLEY; VALDIVINO, 2016, p 937)

Por meio da afirmação mencionada percebe-se a importância de ter mecanismos que


garantam que a lei esteja sendo cumprida com relação à moradia, os diversos movimentos sociais
que buscam repudiar contra esse fenômeno e buscar equidade o fazem pois, o Estado não foi capaz
de prover ao seu povo, sendo grandes nomes nesse meio o MST e o MTST.
Em suma, chega-se à conclusão que todos os processos nocivos para as camadas sociais
menos favorecidas fazem parte da estrutura capitalista como um todo. Além disso, são dados de
modo macro e micro, podendo se materializar desde o projeto de urbanização das cidades até o
saneamento básico levado até as áreas mais remotas. Fica claro, assim, que para estudar essas
injustiças do sistema deve-se juntar conhecimentos interdisciplinares.

Bibliografia:

ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA. [s.l.:s.n.,s.d.]. Disponível em: <https://www


.ufjf.br/pa8/files/2015/03/7B1_ESPECULA%C3%87%C3%83O-IMOBILI%C3
%81RIA.pdf>. ADMIN.
O que realmente é especulação imobiliária? Saiba como tirar vantagens. URBE.ME.
Disponível em: <https://urbe.me/lab/especulacao-imobiliaria/>. Acesso em: 28 jun. 2022.
Lei da Oferta e Demanda: entenda como funciona essa lei da economia - Politize!
Politize! Disponível em: <https://www.politize.com.br/lei-da-oferta-e-demanda/>. Acesso em:
28 jun. 2022.
MTST: conheça o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto - Politize! Politize! Disponível
em: <https://www.politize.com.br/mtst-conheca-o-movimento-dos-trabalhadores-sem-teto/>.
Acesso em: 30 jun. 2022.
DOS, Contribuidores. movimento sociopolítico brasileiro. Wikipedia.org. Disponível em:
<https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Movimento_dos_Trabalhadores_Sem-Teto>. Acesso em: 30
jun. 2022.
A gentrificação e a hipótese do diferencial de renda: limites explicativos e diálogos
possíveis.
Álvares Luís dos Santos Pereira. Cad. Metrop., São Paulo, v. 16, n. 32, pp. 307-328, nov 2014
ALCÂNTARA, Maurício Fernandes de. 2018. "Gentrificação". In: Enciclopédia de
Antropologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, Departamento de Antropologia.
Disponível em: http://ea.fflch.usp.br/conceito/gentrificacao.
Segregação socioespacial: o que é e quais são os impactos? Disponível em
<https://summitmobilidade.estadao.com.br/ir-e-vir-no-mundo/segregacao-socioespacial-o-que
-e-e-quais-sao-os-impactos/>. Acesso em: 30 jun. 2022.
ALVES, Rodolfo F. Segregação Urbana. Segregação urbana e socioespacial. Mundo
Educação. Disponível em:
<https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/segregacao-urbana.htm>. Acesso em: 30 jun.
2022.
SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL NO ENSINO DE GEOGRAFIA: um conceito em
foco. Ufrr.br, 2017. Disponível em: <https://revista.ufrr.br/actageo/article/view/4775>. Acesso
em: 30 jun. 2022.
Tomizaki, Kimi, et al. “SOCIALIZAÇÃO POLÍTICA E POLITIZAÇÃO ENTRE
FAMÍLIAS DO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TETO.” Educação &
Sociedade, vol. 37, no. 137, Dec. 2016, pp. 935–954,
www.scielo.br/j/es/a/5W5LfFwZS3nGnnZd7YKJDHk/?lang=pt,
10.1590/es0101-73302016166488.

Você também pode gostar