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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS MATEMÁTICAS E DA NATUREZA

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

GEOGRAFIA URBANA

Avaliação I

Urbanização e Produção nas Cidades: Classes Sociais e Contradições

Aluna: Bruna Andrade dos Santos Lobo


DRE: 119177035

Rio de Janeiro
2023.2
Inicialmente, antes de adentrar o conceito de urbanização, precisamos entender como
foram formadas as cidades e suas dinâmicas, pois são estas que são o berço para a
industrialização e o desenvolvimento do sistema urbano. Durante a idade média, as cidades
eram aglomerados cuja função era focada nos centros comerciais, onde a economia era
majoritariamente baseada na agricultura, sendo importante para a troca e venda de produtos
agrícolas. Era muito comum também nas cidades fortificações em seu entorno como
muralhas para defender os habitantes (como na imagem abaixo), além de que, nos centros das
cidades era muito comum encontrar igrejas e bibliotecas, já que na primeira, a religião era de
suma importância e de grande dominância na época enquanto as bibliotecas, eram onde
ocorriam as trocas intelectuais e culturais entre os homens. Outro fator importante para a
formação das cidades são as migrações, onde a população saia do rural para o urbano em
busca de melhores condições, e assim com o crescimento populacional, a cidade busca se
desenvolver em questões de infraestrutura para comportar o fluxo de pessoas.

Fonte: Imagem cortada do livro História da Cidade - Leonardo Benevolo.

Sposito (1988) deixa claro em seu livro que havia uma explicação geográfica para a
formação das cidades sendo estas, de caráter natural, onde surgiam principalmente em regiões
com localização nos vales e nas proximidades de rios, além de que sua organização interna
era extremamente teocrática onde o rei era a liderança por isso era comum ver a elite toda na
região central, logo podemos concluir que todo o desenvolvimento dessas cidades eram em
torno desse centro, mostrando a diferença de dominâncias de classes já pré-estabelecidas.
Fonte: Figura do livro “Capitalismo e Urbanização” de Maria Encarnação B. Sposito.

Com a chegada da revolução industrial no século XIX, Jacqueline Beaujeu-Garnier


(1980) nos explicita que com o progresso do desenvolvimento industrial, foi possível
expandir as cidades para além das muralhas e então podemos notar o início do que seria
chamado de urbanização. O crescimento populacional gerou estímulo para o
desenvolvimento de estruturas, trazendo assim melhor qualidade de transporte, sendo esses
coletivos, um aumento no consumo de alimentos, o surgimento de fábricas e seus anexos, etc.
dando início a formação de parques industriais. Houve também a volta de alguns para áreas
rurais para fugir do caos da urbanização, mas de forma que estes lugares fossem estruturados
com os transporte para promover a locomoção dos moradores para o centro urbano. Podemos
concluir então que cidades são aglomerados urbanos, onde exercem seu domínio baseado no
desenvolvimento de suas estruturas, de formas que estas sejam capazes de comportar a
população local e os imigrantes, no qual estes buscam melhores condições humanas.
Ao que podemos ver anteriormente, a urbanização é um processo fundado a partir da
dinâmica da migração massiva de áreas rurais para urbanas, no qual esse êxodo rural está
associado à industrialização de grandes centros. A urbanização traz consigo uma série de
consequências significativas, como por exemplo, em termos positivos, as cidades
frequentemente concentram disponibilidade de emprego, o que pode impulsionar o
crescimento econômico e o desenvolvimento. No entanto, também enfrenta desafios
significativos, como por exemplo o rápido crescimento populacional das cidades pode
sobrecarregar os sistemas de infraestrutura, levando a problemas como congestionamentos de
tráfego, escassez de moradia acessível e poluição ambiental. Além disso, a desigualdade
muitas vezes se agrava nas áreas urbanas, com comunidades marginalizadas enfrentando
dificuldades no acesso a serviços básicos e oportunidades devido a gentrificação dessas áreas.
A urbanização e o capitalismo estão intrinsecamente interligados, e a dinâmica entre
eles é uma característica marcante do mundo contemporâneo. O capitalismo desempenha um
papel fundamental como um dos principais impulsionadores da urbanização, sendo a busca
por lucro e o desenvolvimento industrial o motor de crescimento das cidades, a concentração
de população e a expansão das atividades econômicas nas áreas urbanas. Marcelo Lopes de
Sousa (2003) nos elucida que o crescimento vertiginoso desse desenvolvimento também tem
relação paralela às desigualdades geradas pelo capitalismo, pois como citado anteriormente,
eles estão interligados entre si. A medida que uma cidade se desenvolve, a riqueza material é
extremamente centralizada fazendo que ocorra a segregação urbana, como por exemplo, a
verticalização das favelas ao lado de grandes centros urbanos, ocorrência de impactos
ambientais como destruição de mangues e florestas para incorporação de novas áreas
urbanas, gerando também a necessidade de se produzir mais para atender as demandas
econômicas.
As cidades, como construções sociais moldadas pela interação humana, desempenham
um papel crucial na dinâmica de transformação estrutural que acompanha o avanço do
sistema de produção capitalista. O impacto da industrialização nas cidades é inegável. À
primeira vista, poderíamos conceber o desenvolvimento industrial, que teve início com a
Revolução Industrial, como uma mera ampliação do papel produtivo já desempenhado pelas
cidades durante a era do capitalismo comercial, quando as produções eram
predominantemente artesanais e manufatureiras. No entanto, Sposito (1988) demonstra que
enquanto a industrialização fortalece a função produtiva das cidades, ela também redesenha
profundamente a própria natureza das cidades. A transição para uma economia industrial não
apenas aumenta a produção urbana, mas também reconfigura os espaços urbanos, as relações
sociais e a paisagem urbana, como na figura abaixo.
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/611146/segregacao-urbana-em-6-fotografias-desigualdade-vista-de-cima

As cidades são frequentemente palcos de complexas estruturas de classes sociais. A


urbanização muitas vezes atrai uma mão de obra diversificada, levando à formação de classes
sociais distintas. Isso inclui a classe trabalhadora, composta por operários e assalariados, a
classe média, que abrange uma variedade de profissionais e gerentes, e a elite econômica, que
controla os principais meios de produção e riqueza. Assim, ao considerar o fenômeno da
urbanização em uma sociedade que passa pelo processo de industrialização, é fundamental
examinar o papel desempenhado pelas diferentes classes sociais nesse contexto. Muitas
cidades também experimentam segregação espacial, onde diferentes classes sociais habitam
áreas distintas da cidade. Isso pode resultar em isolamento social e disparidades no acesso a
serviços e oportunidades.
No capitalismo, as classes sociais são caracterizadas pela relação dos indivíduos com os
meios de produção. As principais classes incluem a burguesia (ou classe capitalista), que
detém os meios de produção, e o proletariado, que vende sua força de trabalho em troca de
salários. Além dessas classes principais, existem camadas intermediárias, como a classe
média, que ocupam posições diversas no sistema. Paul Singer (1988) argumenta que as
classes sociais desempenham um papel crucial no processo de urbanização. Ele enfatizava a
desigualdade entre as classes sociais nas áreas urbanas, com uma elite econômica que detinha
o controle dos meios de produção e uma classe trabalhadora que frequentemente enfrentava
condições de trabalho precárias e falta de acesso a serviços básicos. Com isso, houve o
crescimento do setor informal como por exemplo, nas cidades brasileiras, onde muitos
trabalhadores não tinham empregos formais e segurança no emprego e viram isso como uma
resposta à falta de oportunidades formais e à exclusão da classe trabalhadora dos benefícios
do desenvolvimento urbano.
As contradições entre as classes sociais no capitalismo são inerentes ao sistema e
surgem de várias maneiras, como por exemplo, a desigualdade econômica onde a burguesia
acumula riqueza e poder enquanto o proletariado muitas vezes enfrenta condições precárias.
Os conflitos de interesses e a exploração são questões que continuam a desafiar as sociedades
em todo o mundo. Compreender essas contradições é essencial para abordar os desafios da
desigualdade e promover sistemas econômicos mais justos e equitativos. À medida que a
sociedade evolui, a busca por soluções que atendam às necessidades das diversas classes
sociais continua sendo um objetivo crítico.
Pode-se concluir, com o texto de Paul Singer (1988), que a análise da urbanização
muitas vezes serve como um ponto de partida, mas é obrigada a transcender seu próprio
escopo para uma compreensão completa. Portanto, quando se aborda a urbanização em uma
sociedade em processo de industrialização, é necessário investigar o papel desempenhado
pelas classes sociais nesse processo. Ignorar essa dimensão seria reduzir a urbanização a um
fenômeno autônomo, resultante apenas de mudanças nas atitudes e valores da população
rural, o que levaria à perda do seu significado essencial no contexto geral da sociedade.

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