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RESENHA

URBANIZAÇÃO E CAPITALISMO

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
SPOSITO, Maria da Encarnação Beltrão. Capitalismo e Urbanização. Contexto

O livro Urbanização e Capitalismo é uma importante obra na compreensão histórica


dos processos de urbanização em diferentes épocas. Ao longo do texto, a autora explica a
relação entre a cidade e o modo de produção vigente de cada época, com destaque para o
capitalismo. Desde a antiguidade a cidade assume um papel fundamental nas decisões
políticas e econômicas e passa a ser o símbolo do que hoje entendemos por civilização. É no
ambiente urbano que se desenvolvem com mais vigor as atividades artísticas, culturais,
religiosas e comerciais.
A primeira parte do livro é dedicada à urbanização no período que antecede o
capitalismo. A autora busca os primórdios desse processo, enfatizando que foi a partir do
excedente produzido no campo e da divisão do trabalho que começaram a surgir as primeiras
cidades, por volta de 3 mil anos antes de Cristo. Com o surgimento dos impérios, em especial
o Império Romano, as relações urbanas e comerciais se intensificaram. Criou-se uma rede de
cidades e o intercâmbio entre elas era constante, sob a tutela do império. As cidades dessa
época, assim como hoje, concentravam o poder político econômico e religioso.
Na Idade Média o ambiente urbano perdeu a importância de outrora, pois as relações
comerciais entre as cidades diminuíram significativamente. Os feudos produziam somente o
essencial para o próprio consumo. O ambiente urbano não deixou de existir, mas não tinha o
papel decisivo de antes. O poder girava em torno da Igreja Católica e do senhor feudal.
No segundo capítulo, a urbanização sob o capitalismo, a autora trata do renascimento
das relações comerciais na Europa e da importância disso para os novos processos de
urbanização. Com a proliferação dos burgos (comerciantes que andavam de cidade em cidade
e posteriormente ganharam o nome de classe burguesa), já por volta do século X, o comércio
entre as cidades ganhou novo impulso. Aos poucos cria-se novamente o sistema monetário,
surgem as manufaturas, o acúmulo de capital substitui o acúmulo de terras da Idade Média.
Mas é a aliança entre o capital comercial e a realeza que dá impulso à primeira forma do
capitalismo, o mercantilismo. A busca por novas rotas comerciais e a colonização dos novos
territórios permitem aos Estados Absolutistas acumular riquezas e exercer o monopólio
comercial nas colônias. Também é nesse período que a burguesia se fortalece e as cidades
voltam a ser o centro das atenções e das decisões.
Com o surgimento da indústria na Europa, em meados do século XVIII, e
consolidação do sistema capitalista, o ambiente urbano vai novamente sofrer grandes
transformações. É sobre isso que a autora discorre no terceiro capítulo. A cidade atrai para a
um grande contingente de pessoas para o trabalho assalariado na indústria, criando um
inchaço populacional principalmente no centro dos aglomerados urbanos, os chamados
bairros operários. Isso gerou uma série de problemas, pois as cidades não estavam preparadas
para um crescimento tão acelerado. A autora resume assim os problemas dessas cidades
recém-industrializadas:
A falta de coleta de lixo, de rede de água e esgoto, as ruas estreitas para a circulação,
a poluição de toda ordem, moradias apertadas, falta de espaço para o lazer, enfim,
insalubridade e feiura eram problemas urbanos, na medida em que se manifestavam
de forma acentuada nas cidades, palco de transformações econômicas, sociais e
políticas. (SPOSITO, p. 69)

A saída foi o reordenamento e a expansão. Enquanto a massa assalariada permaneceu


no centro em condições precárias, os mais abastados foram morar em outras áreas das cidades
que lhes permitissem melhor qualidade de vida. O Estado também passou a intervir, criando
políticas para ordenar o crescimento urbano e melhorar as condições sanitárias e de
infraestrutura.
Saindo do capitalismo industrial, a autora discorre sobre a o capitalismo monopolista
e a urbanização nessa nova era. Uma característica marcante dessa nova fase do capitalismo é
a multinacionalização das empresas. Estas passaram a fixar suas unidades de produção nos
países “periféricos” para reduzir custos, isto é, pagar menos pela força de trabalho para
produzir um produto pelo qual iria pagar mais se estivesse localizada num país dito
“desenvolvido”. Dessa forma, o poder do capital está condicionado às grandes empresas que
detém o monopólio comercial. Nesse contexto, a cidade reafirma seu lugar de importância
pois agrega grandes unidades de produção e consumo e concentra o poder político e
financeiro. Assim, a cidade continua sendo o espaço de referência para o modo de produção
capitalista.
A autora faz questão também de destacar que a urbanização dos países
subdesenvolvidos não ocorre no mesmo patamar dos países desenvolvidos. A urbanização dos
países desenvolvidos foi impulsionada pela industrialização, ao passo que nos países mais
pobres a urbanização acabou sendo um reflexo da dependência em relação aos países ricos,
mas não representou melhorias significativas na qualidade de vida.
De todo modo, os países subdesenvolvidos são os que mais sofrem as consequências
do crescimento exacerbado das grandes cidades. Falta de acesso à moradia, falta de esgoto,
crescimento de favelas são apenas alguns exemplos dos problemas urbanos enfrentados pelos
países pobres. O Estado, por sua vez, promove uma urbanização desigual, priorizando os
bairros “nobres” e construindo as chamadas “cohabs” para os desprovidos de poder aquisitivo.
A periferia continua à margem, refletindo a desigualdade produzida pelo sistema capitalista.
Contudo, foi possível verificar que ao longo da história a cidade sempre teve lugar de
destaque nas grandes transformações econômicas e sociais. A urbanização não pode ser
confundida com o modo de produção vigente, mas também não pode ser compreendida sem
este. A autora nos mostrou que a metamorfose do capitalismo pode ser analisada a do ponto
de vista do contexto urbano e a partir da relação capitalismo/urbanização pudemos entender
como se processaram grandes transformações sociedade moderna e como se configurou a
organização do espaço urbano
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
CAMPUS DE SÃO BERNARDO
CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNNCIAS HUMANAS
ÁREA DO CONHECIMENTO: GEOGRAFIA
DISCIPLINA: ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO RURAL E URBANO
PROFESSORA: MANUELA LEAL

José Claudio dos Santos Costa

RESENHA
CAPITALISMO E URBANIZAÇÃO

São Bernardo – MA
2013

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