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GESTÃO, LICENCIAMENTO E AUDITORIA

AMBIENTAL

WEBAULA 1
Unidade 1 – O Surgimento das Cidades e
Instrumentos Legais de Planejamento Urbano

CONCEITO E ASPECTOS HISTÓRICOS DO SURGIMENTO DAS


CIDADES

Embora todos nós possamos imaginar o que


é uma “cidade” – geralmente, nos ocorrendo como sendo um local
com adensamento de casas, edifícios, ruas asfaltadas, calçadas,
pessoas e carros transitando, fábricas, lojas, luz elétrica, água
encanada e sistema de esgoto – a definição do termo é alvo de
diversas discussões.   Segundo o dicionário Aurélio (FERREIRA,
2004), o termo cidade corresponde: “1. Complexo demográfico
formado por importante concentração populacional não agrícola e
dada a atividades de caráter mercantil, industrial, financeiro e
cultural; urbe. 2. O conjunto dos habitantes da cidade”.  Já na Nova
Carta de Atenas, adotada pelo Conselho Europeu de Urbanistas, a
cidade é definida como um "estabelecimento humano com um certo
grau de coerência e coesão”.

Reflita:

Você acredita que sua cidade seja estruturada e funcione com


coerência?

A separação entre o que é campo ou cidade nos dias atuais parece


ser cada vez mais difícil porque não raramente encontramos
elementos característicos das cidades nas zonas rurais, como luz
elétrica, água encanada e até mesmo complexos agroindustriais. Por
outro lado, embora em menor extensão, também pode observado o
desenvolvimento de atividades agrárias nas cidades, como a
hidroponia.

A concepção de cidade, de fato, pode variar


de país a país, mas a maioria deles adota critérios quantitativos como
norteador da sua existência, por ser um dos mais importantes em
termos de planejamento.  Deste modo, na Dinamarca, 250 habitantes
já bastam para uma comunidade urbana ser considerada uma cidade,
enquanto a Organização das Nações Unidas considera como cidade
somente áreas urbanizadas que possuam mais de 20 mil habitantes.

No Brasil, adotou-se a definição de “cidade” do Instituto Brasileiro de


Geografia e Estatística (IBGE), sendo assim considerada, toda área
urbana caracterizada como a sede de um município (prefeitura),
independente do número de habitantes.

As cidades também podem ser classificadas por diversos aspectos,


como, por exemplo, quanto ao local, função, origem. Se quiser saber
mais sobre a Classificação das cidades, acesse o link:
<http://www.tiberiogeo.com.br/texto/TextoEscolar1AnoProcessoUrba
nizacaoMundial.pdf>. Neste texto também pode encontrar um
resumo sobre temas que estaremos abordando nesta Web Aula.

Como o mundo passou de população rural para predominantemente


urbana?

O desenvolvimento da agricultura, durante o período neolítico (12 mil


e 4 mil a.C.), foi o primeiro e crucial fator para o surgimento de
aglomerados de pessoas, antes vivendo de forma nomâde, em busca
de alimentos.
CURIOSIDADE

Crescimento demográfico e agricultura

Na pré-história, pequenas comunidades, com cerca de 10 a 30


habitantes por quilômetro quadrado, eram sustentadas pelos
sistemas de cultivo de derrubada-queimada. Entre 3.000 e 1.000
a.C., a população mundial dobrou, passando de
aproximadamente 50 a 100 milhões de indivíduos, devido, em
parte ao desenvolvimento dos sistemas de cultivos de vazante e
de cultivos irrigados que foram implantados pelas grandes
sociedades agrárias nos vales férteis do Indo, da Mesopotâmia e
do Nilo. Estas tecnologias permitiam sustentar uma população de
muitas centenas de habitantes por quilômetro quadrado.  No
período entre o ano 1.000 a.C. e 1.000 d.C, a população mundial
passou de 250 milhões de indivíduos, em decorrência dos
sistemas hidráulicos de rizicultura de várzea dos vales e deltas da
China, da Índia, do sudeste asiático e, em menor escala, da
implantação dos sistemas de agricultura hidráulica (Olmeca,
Maias, Astecas, sociedades pré-incaicas etc.) que surgiram na
América durante esse período.

Para saber mais sobre a agricultura no contexto histórico, acesse


“História das Agriculturas no mundo” em: 
<http://w3.ufsm.br/gpet/files
/Historia%20das%20agriculturas%20no%20mundo%20
-%20Mazoyer%20e%20Roudart.pdf>.

Com o aprimoramento das técnicas de plantio e de armazenamento


foi possível produzir mais alimentos do que consumiam, permitindo,
desta forma, que os moradores se dedicassem a outras atividades,
passando a existir novos elementos na vida social, tais como o
barqueiro, o mineiro, o lenhador, o pescador e o engenheiro;
“desenvolvem-se ainda outros grupos ocupacionais, o soldado, o
banqueiro, o mercador, o sacerdote. Partindo dessa complexidade,
criou a cidade uma unidade superior” (MUMFORD, 1998, p. 37).

Desta forma, as primeiras cidades podem ser consideradas grandes


assentamentos permanentes onde o estoque de alimentos e o poder
foi centralizado, com a formação de uma sociedade de classes
diferenciadas.
Na Idade média, devido ao desenvolvimento do
comércio, surgiam, além dos muros dos feudos, os burgos – cidades
ocupadas pelos comerciantes, chamados de burgueses, que foram
muito importantes para o renascimento da vida urbana na Europa
após o declínio vivido pelo Império romano. Com a ascensão da
burguesia e o desenvolvimento das forças produtivas do meio
urbano, o sistema feudal de produção – baseado na economia rural-
latifundiaria-escravista – foi sendo gradualmente substituído pelo
modo de produção capitalista, onde a mercadoria é produzida por
trabalhadores assalariados, e a riqueza é acumulada.

Veja a citação de Paul Singer sobre esta transição:

“O capitalismo surge na cidade, no centro dinâmico de uma economia urbana, que


lentamente se reconstitui na Europa, a partir do século XIII. Durante os séculos
seguintes, a libertação de certas cidades do domínio feudal, a fuga dos servos para
estas cidades, o estabelecimento das ligas de cidades comerciais e o surgimento de
uma classe de comerciantes e banqueiros prepararam o terreno para a Revolução
Comercial, no século XVI, que estabelece, finalmente, uma divisão do trabalho
interurbana no plano mundial, assegurando um amplo e contínuo desenvolvimento
das forças produtivas. Neste processo, a capacidade associativa da cidade
medieval, ou melhor, de sua classe dominante – a burguesia – no sentido de unir
dentro da cidade contra as demais classes e de se associar a outras cidades num
sistema cada vez mais amplo de divisão do trabalho, ou seja, de se constituir como
classe, desempenha um papel essencial” (SINGER, 1981, p. 22).

A cidade, então, passa a se sobressair em relação à produção e a


dominação, num movimento ascendente que culmina com a
revolução industrial, que teve início no século XVIII na Inglaterra.

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO


O avanço tecnológico permitiu o surgimento de
grandes fábricas, inicialmente movidas a vapor através da queima de
carvão, e com a demanda de trabalhadores que estas geravam nas
cidades – onde estavam localizadas –, inicia-se o processo de
urbanização, ou seja, a população das cidades aumenta
expressivamente em relação à camponesa.

A “urbanização”, conforme o Dicionário Aurélio (FERREIRA, 2004), é o


“conjunto dos trabalhos necessários para dotar uma área de
infraestrutura (por ex., água, esgoto, eletricidade) e/ou de serviços
urbanos (por ex., de transporte, de educação)”. Esta “aparelhagem”
da cidade proporcionada pela riqueza oriunda das fábricas servia
como mais um atrativo à moradia, e de certa forma, contribuía com a
menor taxa de mortalidade do que a encontrada na área rural,
proporcionando um maior crescimento vegetativo da população
urbana.

No século XX, novamente ocorrem profundas


transformações, tanto no campo como na indústria, como, por
exemplo, o uso da tecnologia da robotização, que possibilitou que
inúmeros trabalhos, antes somente realizados pelas mãos humanas,
fossem efetuados pelas máquinas, requerendo menor número de
pessoas por unidade de produção. Desta forma, ocorre o
desenvolvimento do terceiro setor, envolvendo a prestação de
serviços às empresas e aos consumidores finais, colocando-o como
novo motor de crescimento urbano.
O processo de urbanização não ocorreu ao mesmo tempo e da
mesma maneira pelo mundo afora, podendo ser dividida em duas
fases:

1ª: Entre 1750 – 1950, quando a população urbana cresceu de 15


para 423 milhões de pessoas, e foi concentrada especialmente nos
países mais ricos e industrializados.

2ª: Após a Segunda Guerra Mundial, com a chegada das indústrias


nos países da periferia do capitalismo global, e o consequente
aumento da população urbana. Cabe ressaltar que, a urbanização no
terceiro mundo também foi influenciada pelas intensas modificações
que estavam ocorrendo no campo, a Revolução verde.

Comparando estas duas fases de urbanização da humanidade, e


considerando os números atuais da população mundial, que hoje já
conta com cerca de 7 bilhões, metade vivendo nas zonas urbanas,
podemos perceber que a primeira fase ocorreu nos países que hoje
identificamos como de primeiro mundo e que foi da ordem de milhões
de pessoas em séculos de história, enquanto a segunda está
ocorrendo em países relativamente mais pobres, envolvendo bilhões
de pessoas em poucas décadas.

Veja como se encontra distribuída a “Urbanização nos diferentes


grupos de países” acessando o link:
<http://www.coladaweb.com/geografia/o-processo-de-urbanizacao>.

Para ver estas informações e alguns pontos de discussão que


circulam em torno desta realidade, acesse os links:

População urbana vai quase dobrar até 2050


<http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,populacao-urbana-vai-
quase-dobrar-ate-2050,853960,0.htm>.
População das cidades se iguala à rural no planeta:
<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2806200706.htm>.

CURIOSIDADE

Quantas pessoas existiam no mundo quando você nasceu?

Para saber acesse http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/10


/populacao-mundial-chega-7-bilhoes-de-pessoas-diz-onu.html,
e calcule adicionando o ano de seu nascimento ao final da página.

URBANIZAÇÃO NO BRASIL

Embora a urbanização brasileira tenha ocorrido


na segunda onda de urbanização da humanidade, ou seja, a partir da
década de 1950, desde o período colonial, na passagem entre os
séculos XVIII e XIX, as cidades por aqui já eram importantes centros
de poder político, administrativo e artístico, sendo o local das
transações comerciais (açúcar e escravo, por exemplo). Nesta época,
a economia imposta pela colonização portuguesa baseava-se na
agricultura direcionada a exportação, por isso, as primeiras grandes
cidades brasileiras estiveram intrinsecamente ligadas à função de
porto comercial e à função militar. Salvador, por exemplo,
comandava a primeira rede de cidades das Américas, contando com
cerca de 100 mil habitantes, enquanto nos EUA as maiores não
atingiam mais que 30 mil (SANTOS, 2005, p. 19-22).

Foi no Século XX, entretanto, que o país passou pelo maior e mais
rápido processo de urbanização, passando de uma população rural
para a urbana em quatro décadas. As transformações foram
estimuladas pela crise da bolsa de valores de Nova Iorque em 1929,
que afetou diretamente a economia agroexportadora e pôs fim à
hegemonia cafeeira da época, e culminou com a Revolução de 1930,
quando foi adotado um novo modelo de desenvolvimento industrial e
urbano.

Para que você possa melhor compreender nosso rápido processo de


urbanização assista ao vídeo a seguir:

VÍDEO AULA 1 – URBANIZAÇÃO BRASILEIRA


O Plugin Silverlight est� desabilitado ou n�o foi instalado em seu browser, fa�a
o download clicando aqui ou ative o mesmo.

Você pode observar a importância de reconhecer o processo histórico


do processo da urbanização brasileira no decorrer do século XX para
a compreensão dos problemas socioambientais urbano de nosso país.
Não se esqueça de que precisamos levar em consideração os fatores
que influenciaram esse processo, pois somente assim é possível
analisar a problemática urbana de nosso país. Continuemos nossa
discussão.

O maior investimento em indústrias fabris,


e, a consequente geração de empregos, atraiu ainda mais pessoas às
cidades, consideradas desde a época da república, como o local da
modernidade. Tal situação se intensifica com a mecanização da
agricultura nos anos 70, provocando um elevado êxodo rural. Desta
forma, enquanto em 1940, cerca de 70% das pessoas viviam no
campo, em 1990, o mesmo porcentual ocupa as cidades.

Este processo de urbanização não ocorreu igualmente no país todo,


mas de forma centralizada, recebendo as capitais os maiores
contingentes populacionais, especialmente São Paulo e Rio de
Janeiro. De fato, até hoje a região Sudeste continua sendo a mais
urbanizada do país (92,9 % de população urbana), seguidas pelas
regiões Centro Oeste (88,8%), Sul (84,9%), Norte (76,6%) e
Nordeste (73,1%).

Para ver esta e outras informações acesse o artigo “Êxodo rural cai
pela metade em uma década, diz IBGE”
(<http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2011/04/29/
exodo-rural-cai-pela-metade-em-uma-decada-diz-ibge.htm>).

OCUPAÇÃO URBANA E SEGREGAÇÃO SOCIAL

Como resultado do acelerado – e frequentemente, desorganizado –


crescimento populacional surgem os diversos problemas
socioambientais, frequentemente mais associadas às cidades do
terceiro mundo e à parcela da população mais pobre, tais como as
condições deficitárias no que diz respeito a moradias, saneamento
básico, e serviços eficientes de saúde, educação e lazer.

A desigualdade na distribuição dos serviços


oferecidos pelas cidades já era observada desde o início da Revolução
industrial, quando os investimentos na urbanização promoveu a
criação de bulevares, projeção de ruas largas e bairros luxuosos nas
cidades inglesas, mas também produziu os bairros dos proletários,
onde as condições estéticas e sanitárias eram precárias. No entanto,
foi no século XX, com aumento da população e a demanda por novas
moradias, que as desigualdades sociais se ampliaram, e os problemas
resultantes também, tais como a violência e a criminalidade.

Com a elevação do preço dos terrenos nos centros urbanos – onde


existe a maior oferta de empregos e disponibilidade de serviços –, o
poder econômico e político podem ser utilizados pela especulação
imobiliária, que obtém lucros com a implantação de loteamentos
afastados das áreas centrais, a partir de projetos de baixa qualidade
e custo, cujas responsabilidades de infraestrutura são transferidas ao
poder público, onerando os cofres municipais, e consequentemente, a
população (SILVA; WERLE 2007). 

Além de afastadas,
muitas vezes, estas áreas não recebem os mesmos benefícios que as
centrais, tais como saneamento básico, transporte adequado,
escolas, lazer, supermercados, e podem ser inadequadas à habitação,
tais como encostas de grande declividade ou áreas sujeitas a
inundações, ou próximas a aterros sanitários, etc. Soma-se a isso o
tempo e dinheiro gasto em transporte, e fatores que contribuem para
o declínio da qualidade de vida.

Em geral, a ocupação de locais impróprios pode contaminar a água


pelo despejo de resíduos, diretamente ou derivado de um tratamento
de esgoto ineficiente, além de causar impactos negativos diretos
sobre a vegetação e fauna local.

No Brasil, é visível a taxa de crescimento anual mais elevada das periferias do


que as áreas centrais. Veja a tabela com estes dados no Link:
<http://www.uff.br/cienciaambiental/biblioteca/geobrasil/areas_urbanas.pdf> (p.
57).

Para refletir:

Se por um lado, a população de comunidades estabelecidas


ilegalmente seria beneficiada com a implantação dos serviços básicos,
por outro, as autoridades temem que isto possa atrair mais pessoas
pobres da zona rural para a periferia das cidades. Qual sua opinião
sobre isso?
A segregação social e espacial observada
nesta forma de organização da cidade (centro-periferia), associada à
falta de urbanização e proteção, negligência do poder público, e a
pobreza dos moradores, acabam gerando bairros que constituem
focos de degradação ambiental, sendo comum, por exemplo, a
presença de esgoto a céu aberto e rios que se tornam via de
escoamento de todo material descartado no ambiente, lixo nas ruas,
além de violência e criminalidade, onde tudo é permitido.

Leia o artigo: Ocupação irregular e criminalidade na região da Serra


da Cantareira-SP.
(<http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/levs/article/viewF
ile/1671/1413>), que apresenta um exemplo sobre a relação entre
desigualdade social, criminalidade e impactos sobre áreas de
preservação ambiental.

Segundo o autor, a ocupação urbana irregular pode ocorrer,


resumidamente, por meio de três vertentes:

- A expansão dos bairros,

- Surgimento de loteamentos clandestinos e invasões,

- Condomínios fechados (ou casas particulares dispersas).

PLANEJAMENTO AMBIENTAL URBANO: INSTRUMENTOS


LEGAIS

A despeito dos inúmeros problemas gerados pela


urbanização, como a falta de emprego, miséria, superpovoamento e
perigos ambientais e de saúde, as cidades ainda continuam atraindo
as pessoas, pois, oferecem melhores condições de saúde, educação
e, e até mesmo emprego, do que as áreas rurais, haja vista que a
mecanização da agricultura reduziu o uso de mão de obra. Os
indivíduos têm maior perspectiva de vida, devido principalmente a
menor taxa de mortalidade infantil, além da maior disponibilidade de
assistência médica, planejamento familiar, educação e serviços
sociais (MILLER JÚNIOR, 2007, p. 158).

“Acho que vou ter quer dar um jeito nessa cidade. É pro bem dela. Já
que não vou mudar mesmo, eu vou dar um jeito nela. É pro bem
dela...” (Música: Pro bem da cidade; Autor: Luiz Tatit).

BREVE HISTÓRICO SOBRE O PLANEJAMENTO URBANO NO


BRASIL

A crise social deflagrada em grande parte dos países


subdesenvolvidos, a exploração descontrolada dos recursos naturais,
bem como a comprovação científica de que os impactos ambientais
podem ser transmitidos a outros locais distantes da origem (por ex. o
aquecimento global), foram um dos motes principais que levaram o
tema ambiental a ser discutido mundialmente.

Embora hoje seja senso comum que, todo processo de ocupação do


território urbano (e rural) deve ter como premissa básica a utilização
controlada dos recursos naturais, não foi sempre esse o raciocínio.

Até a década de 1960, acreditava-se que a degradação do meio


ambiente era inerente ao processo de industrialização, e que não era
possível implementar políticas de desenvolvimento associado à
preservação ambiental.

No final desta mesma década e a seguinte, houve a


intensificação de pesquisas científicas e a revolução tecnológica, que
contribuiu com monitoramento e sensoriamento territorial,
possibilitando uma melhor compreensão das causas e efeitos dos
processos de desenvolvimento tradicionais.

Em 1972, se deu, explicitamente, a interação conceitual


entre industrialização e preservação ambiental, durante a Conferência
das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, em Estocolmo. Ali, foi
debatida a noção de poluição e degradação do meio como resultado
da pobreza e falta de desenvolvimento de uma nação, e apresentadas
algumas possíveis soluções para o eco-desenvolvimento.

Antes de continuarmos nossa aula, é fundamental realizarmos uma


distinção entre o Planejamento e a Gestão. Para tanto, assista ao
vídeo a seguir:

VÍDEO AULA 2 – PLANEJAMENTO X GESTÃO

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o download clicando aqui ou ative o mesmo.

Não é raro nos depararmos com pessoas que confundem os termos


Planejamento e Gestão, por isso estamos aqui dando tanta
importância ao assunto. Os termos não são sinônimos, mas se
complementam! Vamos voltar a discutir sobre o planejamento em
nosso país.

No Brasil, o desenvolvimento urbano começou a se intensificar neste


mesmo período (década de 1970), entretanto, o planejamento deste
processo só foi ser incorporado, legalmente, após o governo militar,
em 1988, com a nova Constituição da República. Para sua criação, a
Assembleia Constituinte mobilizou diferentes setores da sociedade
(como a igreja católica, movimentos populares e intelectuais) para
discutir sobre os principais problemas sociais das cidades, como a
falta de moradias, resultando numa Emenda Popular de Reforma
Urbana.
Ao mesmo tempo, outra importante Emenda Popular,
igualmente assinada por milhares de pessoas e organizações, propôs
a aprovação de uma série de dispositivos constitucionais
reconhecendo o direito coletivo ao meio ambiente equilibrado
(FERNANDES, 2010, p. 57-58).

Na constituição, enquanto o capítulo sobre meio ambiente reproduziu


quase integralmente os termos desta última, as reivindicações
solicitadas pela Emenda Popular de Reforma Urbana foram resumidas
num capítulo específico para questões referentes à política de
desenvolvimento urbano, que passou a ter como objetivo o
ordenamento e o pleno desenvolvimento das funções sociais da
cidade e a garantia do bem-estar de seus habitantes. A seguir
descrevem-se os dois únicos artigos:

Capítulo II – Da Política Urbana

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder


Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por
objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da
cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.

§ 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório


para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento
básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.

§ 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende


às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no
plano diretor.

§ 3º As desapropriações serão feitas com prévia e justa indenização


em dinheiro.

§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica


para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal,
do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não
utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena,
sucessivamente, de:

I – parcelamento ou edificação compulsórios;


II – imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana
progressiva no tempo;

III – desapropriação com o pagamento mediante títulos da dívida


pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com
prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e
sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.

Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e
cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e
sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família,
adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro
imóvel urbano ou rural.

§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao


homem ou à mulher, ou ambos, independente do estado civil.

§ 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de


uma vez.

§ 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião


(BRASIL, 1988).

Embora este conteúdo não abarcasse todos os anseios e propostas


mencionadas durante as discussões, pode ser considerado um marco
de mudança no pensamento nacional a respeito da cidade e do
urbano e do direito à cidade, podendo ser assinalado dois aspectos
importantes:

- A responsabilidade da execução da política de


desenvolvimento urbano passa a ser do Poder Público Municipal, o
que significou um avanço – especialmente se considerarmos o poder
altamente centralizado do governo militar antecessor;

- A criação de um instrumento legal para reger a ocupação territorial:


o plano diretor.

O Plano Diretor é o instrumento básico da política de desenvolvimento do


Município. Sua principal finalidade é orientar a atuação do poder público e da
iniciativa privada na construção dos espaços urbano e rural na oferta dos serviços
públicos essenciais, visando assegurar melhores condições de vida para a
população.

Para saber mais acesse: <http://www.ufv.br/pdv/que.html>.

Veja o vídeo: <https://www.youtube.com/watch?v=DDI76dNEN7w>


que relata a importância da gestão participativa no processo de
elaboração do plano.

Um dos aspectos tratado neste vídeo é, em conformidade com o


disposto no parágrafo 4º, do artigo 182 da Constituição, sobre a
inibição pelo poder municipal do problema que chamamos de “vazios
urbanos” (no sentido de função social), tais como lotes
supervalorizados, infraestruturas subutilizadas nas áreas centrais, e
edificações abandonadas ou em desuso.

Salienta-se que foi necessário um conjunto de leis para


que as diretrizes deste capítulo fossem regulamentadas, o que, de
fato, ocorreu apenas após onze anos de tramitação legislativa, com a
sanção da Lei 10.257/01, o Estatuto da Cidade, do qual trataremos
adiante.

No âmbito da proteção do meio ambiente brasileiro, embora já


contemplada na Lei da Política Nacional de Meio Ambiente (Lei nº
6.938/81), a nova Constituição também representou um marco
evolutivo, visto a inserção de diversos artigos que a preconiza,
fornecendo dispositivos legais que podem ser aplicados com esta
função (de proteção ambiental). Como exemplos, podemos citar:

Art. 23, I, III, VI, VII e XI – Define como competência comum da


União, Estados e Distrito Federal e dos Municípios, a conservação do
Patrimônio Público, dos bens paisagísticos, do meio ambiente, e a
fiscalização da pesquisa e exploração dos recursos hídricos e
minerais;

Art. 24, VI a VIII – Coloca como competência concorrente da União,


Estados e Distrito Federal o ato de legislar sobre o meio ambiente,
patrimônio paisagístico e responsabilidade por danos ambientais;

Art. 30, I, VIII e IX – Confere ao município a competência para


legislar sobre temas de importância e interesse local, promover o
ordenamento territorial e proteção do patrimônio histórico-cultural
local;

Art. 170, VI – Estabelece como princípio da ordem econômica a


defesa do meio ambiente;
Art. 186, II – Acrescenta a preservação do meio ambiente entre os
requisitos para o atendimento da função social da propriedade;

Art. 216, V e § 1° – Atribui ao Poder Público o dever de proteção do


patrimônio cultural brasileiro, nele incluídas as áreas de valor
paisagístico, arqueológico e ecológico;

Art. 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.

Com esta lei, alguns dos instrumentos da política ambiental aplicáveis


à orientação do desenvolvimento urbano, foram fortalecidos, tais
como: o zoneamento ambiental; padrões da qualidade ambiental;
exigência da avaliação de impactos ambientais para o licenciamento
de atividades efetivas ou potencialmente poluidoras; a criação de
espaços territoriais especialmente protegidos; penalidades
disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas
necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental.

O ZONEAMENTO URBANO E AMBIENTAL

Caracteriza-se pela aplicação da legislação (normalmente, em nível


municipal) para organizar o uso e ocupação do solo urbano, tendo em
vista, “a priori”, o bem-estar comum da sociedade. Às vezes, pode
ser adotado o termo Zoneamento Municipal, indicando a inclusão das
áreas rurais. Em geral, apresenta-se um documento que pode ser
anexado ao Plano Diretor.

O zoneamento define, considerando os aspectos


geográficos, sociais e econômicos, os bairros destinados a
residências, indústrias e comércio, impedindo, por exemplo, a
instalação de indústrias próximas a hospitais ou bairros residenciais,
e protegendo áreas ambientalmente importantes ou improprias a
moradia (terrenos alagados ou muito declivosos, reservas
ecológicas). Apesar de o zoneamento ser, com certeza, um
instrumento que pode ser muito eficaz para o desenvolvimento
sustentável das cidades, em muitos casos, é visto como um entrave
ao desenvolvimento econômico, especialmente por empresas
privadas que travam grandes batalhas para que prevaleçam seus
interesses.

Para se aprofundar no assunto, leia o artigo “O zoneamento


ambiental como instrumento da política nacional do meio ambiente e
do desenvolvimento: uma perspectiva sobre os centros urbanos”, que
pode acessado por meio do link: .

O ESTATUTO DA CIDADE

Como mencionamos anteriormente, os artigos


destinados ao Desenvolvimento urbano na Constituição só foram
regularizados após 11 anos, com o estabelecimento do Estatuto da
cidade, Lei 10.257/01 (Brasil, 2010), que tem como objetivo “ordenar
o desenvolvimento das funções sociais das cidades e da propriedade
urbana, mediante uma série de diretrizes que apontam para a
construção de cidades sustentáveis, com acesso à terra, à
infraestrutura urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, como
também aos transportes, serviços e lazer públicos para a presente e
futura gerações”.

Veja como esta lei se relaciona aos artigos 182 e 183 da


Constituição:

Capitulo 1

Parágrafo único. Para todos os efeitos, esta Lei, denominada Estatuto


da Cidade, estabelece normas de ordem pública e interesse social que
regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da
segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio
ambiental.

Reflexão:

Você acredita que as politicas públicas das cidades brasileiras


atendem ao preconizado por este texto?
O Plano Diretor – também previsto no artigo 182 – é regularizado nos
artigos 39 a 42 do Estatuto das Cidades, devendo ser previsto em
orçamento, aprovado em Lei Municipal e revisado a cada 10 anos.
Assista ao vídeo a seguir para saber mais sobre os Planos Diretores:

VÍDEO AULA 3 – PLANO DIRETOR PARTICIPATIVO

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Vamos continuar nossa discussão sobre a gestão e o planejamento


das cidades.

A gestão democrática por meio da participação da população e de


associações representativas dos vários segmentos da sociedade para
construção do plano diretor, também é reforçada pelo Estatuto e,
posteriormente, pela Resolução 25, de 18 de março de 2005, que
traz orientações para a sua efetivação, e recomendações aos
municípios sobre a coordenação compartilhada com a sociedade, a
realização de audiências públicas e de um calendário de discussão.

O conceito de “plano diretor participativo” dá força a


movimentos populares, que podem agora requerer discussões mais
amplas e pressionar o poder executivo municipal sobre a inclusão de
projetos que atendam aos seus anseios. Entretanto, a participação
efetiva da sociedade vem sendo uma batalha a ser conquistada;
muitas vezes, com argumentos autoritários ou tecnocráticos, a
capacidade da população em opinar na elaboração dos planos é
questionada.

Podemos citar diversas cidades, como Curitiba, Fortaleza, Salvador,


São Luís, Rio de Janeiro, que tiveram conflitos – com ações civis,
judiciais e/ou mobilização do povo na câmara ou prefeitura –, durante
a elaboração do plano diretor por descumprirem a exigência de
participação popular. Algumas destas ações conseguiram suspender
temporariamente a tramitação do plano ou alterar o processo, em
prol da sociedade. Mas, ainda hoje, infelizmente, pode ser observada
a elaboração de planos diretores apenas por especialistas,
geralmente, empresas de consultorias, com pouca ou nenhuma
comunicação com a população da cidade (RODRIGUES; BARBOSA,
2010, p. 26).
No site do Ministério das Cidades você pode encontrar diversas
informações e artigos sobre o tema .

A despeito dos instrumentos legais para que a ocupação e uso do solo


das cidades brasileiras se deem de forma equilibrada
ambientalmente, podemos constatar que as recomendações nestes
prescritos, não estão sendo seguidas em sua maioria, haja vista os
inúmeros problemas socioambientais que estas agregam. Isso
porque, não incomumente, impera os interesses particulares, e
descaso das autoridades quanto a estas questões. É frequente, por
ex., vermos, nas cidades brasileiras, a deterioração de áreas de
interesse histórico, social ou ambiental, e a construção de
condomínios habitacionais de baixa qualidade para a população
menos favorecida. Portanto, além de políticas publicas, é necessário
maior fiscalização e efetiva inserção da comunidade no planejamento
de sua cidade, promovendo, desta forma, o aumento das
preocupações com o ambiente, com o zelo, e a busca contínua de
melhorias, que elevem a qualidade ambiental de seus cidadãos.

Assista ao “Programa debate planejamento urbano nas cidades”


(https://www.youtube.com/watch?v=9TG2FJ_prXg) onde são
discutidos os problemas ambientais resultantes do crescimento
desordenado das cidades. Segundo o professor entrevistado, a cidade
deve oferecer trabalho, moradia, circulação e lazer, sendo esta última
em geral negligenciada. Sobre isso, propõe que áreas de preservação
permanentes (especialmente, próximas aos rios) poderiam ser
transformadas em áreas de lazer (parques, bosques) ao invés de
ocupa-las – irregularmente – com moradias.

Para terminar nossa Web, gostaria de destacar a


importância da inserção da educação ambiental, como forma de
conscientização/interiorização dos problemas e promoção da
cidadania, nos diversos programas relacionados ao planejamento da
cidade, tais como os habitacionais, gestão de resíduos sólidos, gestão
de recursos hídricos, manutenção de parques, entre outros.

Para refletir:

Como é a manutenção – por parte da população e da administração –


de espaços públicos ou privados de interesse público na sua cidade?

Vamos aproveitar o fórum da disciplina para discutir sobre a


implantação do Plano Diretor em sua cidade. Se já existe, se houve a
participação da comunidade, quais os avanços, etc.

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