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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO


Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza
Instituto de Geociências
Departamento de Geografia
Geografia Urbana
Professor: William
Artigo

Urbanização e produção da cidade no século XX

Aluna
Letícia Rosa

Rio de Janeiro, 08 de dezembro de 2015.


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Sumário

1. Introdução ........................................................................................................................ 2

2. Sobre a cidade e a urbanização ........................................................................................ 2

2.1. Cidade .......................................................................................................................... 2

2.2. Urbanização ................................................................................................................. 2

3. Contexto histórico ........................................................................................................... 3

4. Formação da cidade no período capitalista...................................................................... 5

5. No Brasil .......................................................................................................................... 7

6. Os subúrbios e as periferias ............................................................................................. 8

6.1. Subúrbios ..................................................................................................................... 8

6.2. Periferias ...................................................................................................................... 9

7. Considerações Finais ..................................................................................................... 11

8. Bibliografia .................................................................................................................... 13
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1. Introdução
2. Sobre a cidade e a urbanização
2.1. Cidade
As cidades possuem uma centralidade econômica. Sua área de influência pode não ir além dos
limites territoriais da unidade político-administrativa local da qual ela é a sede. A cidade é um
espaço de comércio, oferecimento de serviços e produção não-agrícola, sob o pensamento do
uso do solo ou das atividades econômicas. Uma cidade não é só um local onde se produz bens
e serviços e onde os comercializa, consome e onde as pessoas trabalham; é mais do que isso.
Uma cidade é um local onde as pessoas se organizam e interagem com base em interesses e
valores mais diversos, formando grupos de afinidade e interesse. O conceito de cidade muda
segundo o contexto histórico e geográfico, mas o critério demográfico é o mais usualmente
empregado. Uma cidade, para ser cidade, precisa mais do que ter um número X ou Y, apresentar
uma certa centralidade econômica e algumas características espaciais que a diferencia de um
núcleo formado por lavradores ou pastores que vivem um habitat rural concentrado. Em uma
cidade se concentra classes sociais diferentes, fora que as atividades econômicas desenvolvidas
ali serão diferentes das encontradas num povoado rural; quanto maior for a cidade, mais
diversificada será suas atividades e vida econômica. Na verdade, a diversidade das atividades
econômicas da cidade não depende só do seu tamanho, mas também da renda das pessoas que
moram lá; a sofisticação dos bens ofertados por essa cidade, irá dizer muito sobre a renda média
da população. Por exemplo, uma cidade média numa região pobre, como o Nordeste brasileiro,
tenderá a não apresentar comércio e serviços tão diversificados e sofisticados quanto de uma
cidade de mesmo porte numa região mais próspera, como o interior de São Paulo ou o sul do
país. E se comparar essas cidades com alguma de mesmo porte na Alemanha, será bem menos
sofisticada. Logo, podemos entender que “tamanho não é documento”. A Organização das
Nações Unidas (ONU) recomenda que os países considerem urbanos os lugares em que se
concentrem mais de vinte mil habitantes. As nações, porém, organizam suas estatísticas com
base em muitos e diferentes padrões. Os Estados Unidos, por exemplo, identificam como
“centro urbano” qualquer localidade onde vivam mais de 2.500 pessoas. Já o Brasil é diferente,
os núcleos urbanos são as cidades e vilas, porém as primeiras são sedes de municípios e a
segunda são sedes de distritos. O processo de urbanização, no entanto, não se limita à
concentração demográfica ou à construção de elementos visíveis sobre o solo, mas inclui o
surgimento de novas relações econômicas e de uma identidade urbana peculiar que se traduz
em estilos de vida próprios.
Há um fenômeno chamado conurbação, que é quando as cidades são tão próximas e parecidas
que acabam se “costurando”. Com o tempo, já não se trata mais de que os bens produzidos em
uma são vendidos em outra, ou de que os habitantes de uma buscam certos serviços mais
especializados na outra, ou mais ainda que instituições políticas administrativas, legislativas,
judiciárias, religiosas ou militares, sediadas em uma exerça seu poder também sobre a outra. O
que ocorre é que os vínculos delas são tão intensos que alguns fluxos passam a “costura-las” e
daí elas acabam sendo uma só. Exemplos de conurbação: Volta Redonda – Barra Mansa (RJ).

2.2. Urbanização
A urbanização é o processo mediante o qual uma população se instala e multiplica numa área
dada, que aos poucos se estrutura como cidade. Fenômenos como a industrialização e o
crescimento demográfico são determinantes na formação das cidades, que resultam, no entanto
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da integração de diversas dimensões sociais, econômicas, culturais e psicossociais em que se


desempenham papéis relevantes às condições políticas da nação. A urbanização também resulta
fundamentalmente da transferência de pessoas do meio rural (campo) para o meio urbano
(cidade). Assim, a ideia de urbanização está intimamente associada à concentração de muitas
pessoas em um espaço restrito (a cidade) e na substituição das atividades primárias
(agropecuária) por atividades secundárias (indústrias) e terciárias (serviços). Entretanto, por se
tratar de um processo, costuma-se conceituar urbanização como sendo “o aumento da
população urbana em relação à população rural”, e nesse sentido só ocorre urbanização quando
o percentual de aumento da população urbana é superior à da população rural. O processo de
urbanização raramente é induzido por alguma política governamental de forma ordenada. Ele
se processa de modo descontrolado, forçando as cidades a abrigarem um número de pessoas
superior à sua capacidade, o que dá origem a habitações subnormais, aos "sem-teto", à
violência, à poluição e às periferias desassistidas que existem mesmo nas cidades mais ricas do
mundo. A partir daí, é importante citar a fala do Correa (1985 pp 11) para sabermos o que é o
espaço urbano:
“O espaço urbano capitalista – fragmentado, articulado, reflexo,
condicionante social, cheio de símbolos e campos de luta – é um
produto social, resultado de ações acumuladas através do tempo, e
engendradas por agentes que produzem e consomem espaço. ”

Segundo Santos (2008, p.13), “a urbanização é um fenômeno não apenas recente como
também crescente, e em escala planetária”: A urbanização desenvolvida com o advento do
capitalismo aparece na Europa como fato moderno logo depois da Revolução Industrial. Mais
recentemente, e paralelamente à modernização, ela se generaliza nos países subdesenvolvidos;
por isso, costuma-se associar a ideia de urbanização à industrialização. Se observarmos a
população mundial que vive em cidades, constataremos uma expansão do seu crescimento,
concomitante a Revolução Industrial.
Para avaliar a taxa de urbanização de um país utilizam-se três variáveis: o percentual da
população que vive nas cidades de mais de vinte mil habitantes; o percentual da população que
vive em cidades de mais de cem mil habitantes; e o percentual da população urbana classificada
como tal segundo o critério oficial do país. A taxa de urbanização também pode ser expressa
mediante a aplicação da noção de densidade, isto é, o número de cidades de mais de cem mil
habitantes comparado à densidade demográfica total. Com esse método é possível comparar
entre si regiões e países.

3. Contexto histórico
Existe estreita correlação entre os processos de urbanização, industrialização e crescimento
demográfico. A cidade pré-capitalista caracteriza-se pela simplicidade das estruturas urbanas,
economia artesanal organizada em base familiar e dimensões restritas. Ou seja, nesta fase se
estabeleceu uma das condições necessárias para a formação das cidades, que pode ser descrita
como “a fixação do homem à terra através do desenvolvimento da agricultura e da criação de
animais” (SPOSITO, 1988, pp 13). Nesta fase, podemos dividir alguns períodos que foram
importantes para a chegada da forma do século XX, que são:
 Paleolítico: é definido pelo nomadismo e a forte relação do homem com as cavernas.
Esta ligação apresenta um significado importante na dinâmica da relação do homem
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com algum local, porque na caverna eram desenvolvidos os rituais e atividades


artísticas. Era a sua moradia, mesmo que temporária, pois não havia fixação em um
único lugar. Também no período Paleolítico surgiu a preocupação com os mortos, que
eles tivessem um lugar próprio. Segundo Mumford (1965): “os mortos foram os
primeiros a ter moradia uma permanente”.

 Mesolítico: é o período onde houve a domesticação de animais e as práticas agrícolas.


Aqui foi dado os primeiros passos para a formação das cidades com a plantação de
mudas de plantas e domesticação animal.

 Neolítico: a vida estável se torna predominante neste período. Foi marcado pela
mudança das condições de vida dos povos, que até o período Mesolítico se
caracterizavam pelo nomadismo, e no Neolítico passaram a viver fixos no local de
origem, graças à produção agrícola através das plantações e criação de animais em
rebanhos. Com essa mudança das características, tanto na produção dos alimentos como
do nomadismo, estabelece-se a primeira condição necessária para a formação das
cidades.

Figura 1: Período Paleolítico Figura 2: Período Mesolítico Figura 3: Período Neolítico

A partir dessas explicações, podemos mencionar, mais especificadamente, sobre as aldeias.


Citando SPOSITO (1988 pp 13) “a aldeia é, apenas, um aglomerado de agricultores”. Portanto,
a aldeia (ou povoado, seguindo o pensamento brasileiro), não é uma localidade central. A
natureza dela é mais centrifuga (usando o termo de Christaller), porque a atenção de seus
moradores está voltada para os campos de cultivos, suas bordas; ao contrário das cidades, onde
a sua natureza é centrípeta, atraindo todos os consumidores para o tecido urbano, voltando a
atenção para o centro do assentamento e não para suas bordas.
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Durante muitos anos, se estabeleceu essa dinâmica de cidades e aldeias, não estava disposto a
lógica capitalista e a, sua consequente, desigualdade social.

4. Formação da cidade no período capitalista.


A urbanização do século XX é um processo global, generalizado, que atinge grande parte do
globo terrestre.
Este século foi marcado pela urbanização da sociedade e, ao longo destes 100 anos, inúmeras
foram as transformações que ocorreram na produção, na distribuição, na troca, no consumo e
nas relações sociais. A dinâmica social e espacial deste período é caracterizada pelo "modo de
vida urbano". Nessa perspectiva é que procurarei explicar os processos que ocorreram nas
cidades, destacando suas formas e suas adaptações aos novos padrões sociais de consumo, para
que se possa compreender melhor o espaço urbano.
Sob o impacto da industrialização, modificam-se em quantidade e qualidade as atividades
econômicas, acelera-se a expansão urbana e aumenta a concentração demográfica. As antigas
estruturas sociais e econômicas desaparecem e surge uma nova ordem, que passa a ser
característica das cidades industriais. Nesse primeiro período, a indústria pesada e concentrada,
grande consumidora de mão-de-obra, atrai para os novos centros contingentes populacionais
que exercem sobre as estruturas de serviço existentes demandas que não podem ser atendidas.
Com a continuidade do processo de urbanização, a cidade se transforma de diversas formas:
setores urbanos se especializam; as vias de comunicação se tornam mais racionais; criam-se
novos órgãos administrativos; implantam-se indústrias gradativamente na periferia do núcleo
urbano original e modificam-lhe a feição; classes médias e operárias que, pela limitação da
oferta existente em habitação, passam a alojar-se em subúrbios e mesmo em favelas; e,
sobretudo, a cidade deixa de ser uma entidade espacial bem delimitada.
A Grã-Bretanha, primeira sociedade a vivenciar o fenômeno da industrialização, foi também a
pioneira da transformação de um país rural para outro predominantemente urbano. Segundo
Giddens (2005, p.456). Em 1800, um percentual bem inferior a 20% da população residia em
cidades de mais de 10 mil habitantes. Até 1900, essa proporção já havia chegado a 74%. No
ano de 1800, a capital, Londres, abrigava cerca de 1,1 milhão de pessoas; e sua população
expandiu-se para mais de 7 milhões de pessoas até o início do século XX. Londres era então,
de longe, a maior cidade que o mundo jamais havia visto, um vasto centro manufatureiro,
comercial e financeiro no coração de um império britânico ainda em expansão. A urbanização
das cidades europeias e norte-americanas ocorreu um pouco mais tarde. Em 1800, os Estados
Unidos eram uma sociedade muito mais rural do que muitos países europeus. Menos de 10%
da população moravam em comunidades de mais de 2.500 pessoas. No século XX, bem mais
de três quartos dos norte-americanos passaram a residir em áreas urbanas. Para
compreendermos a complexidade desse processo, basta dizer que entre 1800 e 1900, a
população de Nova York saltou de 60 mil pessoas para 4,8 milhões. Por isso, os estudiosos da
questão urbana consideram que a urbanização do século XXI é um processo global e
generalizada.
As causas principais da urbanização nos países capitalistas desenvolvidos foram a
industrialização e a mecanização do campo. Mecanização essa impulsionada por esse mesmo
processo de industrialização. A industrialização do campo liberou mão-de-obra, na medida em
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que as máquinas passaram a realizar o trabalho de várias pessoas. Por outro lado, a
industrialização criou novas ofertas de emprego na cidade, tanto no setor secundário (indústria)
como no setor terciário (serviços). Assim, as cidades cresceram em virtude do aumento
populacional, acrescido da migração de trabalhadores rurais para as áreas urbanas em busca de
trabalho e melhores condições de vida.
A partir da revolução industrial, o processo de crescimento das cidades se acelerou. A
industrialização promoveu de modo simultâneo os dois eventos, um de atração pela cidade,
outro de expulsão do campo. Antes da revolução industrial não havia nenhum país onde a
população urbana predominasse. No começo deste século, apenas a Grã-Bretanha possuía a
maior parte de sua população vivendo em cidades (Munford 1982). Pode-se afirmar que o
Século XX é o século da urbanização, pois nele se acentuou o predomínio da cidade sobre o
campo. Salvo regiões muito atrasadas, que permanecem com características nitidamente rurais,
o processo de urbanização prossegue em marcha acelerada.
Outros fatores também contribuíram para esse aumento populacional, como as grandes
melhorias sanitárias, que no século XIX contribuíram para diminuir sensivelmente as taxas de
mortalidade. O desenvolvimento dos transportes, ligando o Centro das cidades a periferias e
subúrbios cada vez mais distantes. O advento do automóvel, enquanto meio de transporte
individual. Assim, o grande avanço técnico, em todos os aspectos, vivenciado pelas sociedades
modernas, sobretudo no século XX, contribuiu efetivamente para a expansão da urbanização
em escala mundial.
Dentre os diversos agentes que atuam na produção e reprodução do espaço urbano, destaco as
atividades ligadas ao comércio. Ao examinarmos a história da cidade, vemos que as atividades
ligadas à troca de mercadorias e a fixação de povos em determinados lugares são fatores
primordiais para o nascimento de uma cidade. Em sua história percebe-se que vários foram os
processos sócio espaciais que contribuíram para sua produção e reprodução. Ao longo dos
séculos, a cidade ganhou e perdeu funções conforme o modo de produção vigente e assim, até
início do século XIX as atividades do campo estavam impregnadas na cidade. Com a
industrialização crescente ao longo dos séculos XIX e XX, as atividades da produção industrial
apontavam inclusive para o desenvolvimento da sociedade, entretanto, presenciamos a partir do
último quartel do século XX uma grande transformação nas atividades industriais e que muitos
autores têm denominado de “desindustrialização da cidade”, isto é, a indústria deixa as cidades,
metrópoles e passa a localizar-se em locais próximos, ligados pelos grandes sistemas de
transporte (rodoviários, aéreos, ferroviários, marítimos), construídos para dar maior fluidez ao
espaço. As atividades comerciais e de serviços, embora passando também por inúmeras
transformações ao longo do tempo, permanecem na cidade, pois claro, fazem parte da natureza
da cidade, são constitutivas do modo de vida urbano.
A ideia da fixação do homem no campo como forma de evitar o crescimento das cidades carece
de realismo. As pessoas vão para o meio urbano em busca de oportunidades para melhorar a
vida, de emprego, de escola, coisas que nem sempre são encontradas em pequenos povoados
do interior. A cidade pode ser associada a uma unidade produtiva complexa, produzindo ampla
variedade de bens e serviços, estando permanentemente em busca de economias de escala, e
sempre exercendo forte atração sobre os seres humanos.
Do mesmo modo que muitas atividades econômicas superam as suas escalas econômicas de
produção, as cidades que crescem desmesuradamente acabam por exceder o denominado
"tamanho ideal" e, a partir daí, passam a impor problemas econômicos de escala a grande parte
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dos estabelecimentos industriais ou comerciais ali instalados. Esses problemas econômicos se


fazem refletir nos custos de produção, na saturação dos sistemas de abastecimento d'água, no
elevado tempo de viagem imposto aos trabalhadores, nos problemas de abastecimento causados
por dificuldades no trânsito, nas restrições para resolver o problema dos rejeitos, e assim por
diante.
No momento em que a cidade entra numa curva de perda das vantagens inicialmente oferecidas
pelo processo industrial, o lógico seria iniciar a descentralização das atividades, buscando
outras localidades mais vantajosas. Mas não é isso que ocorre. A cidade continua crescendo,
assistindo inerte à degradação de seu meio ambiente e de sua qualidade de vida, como alguém
que espera a morte sem qualquer reação. A descentralização só tem ocorrido muitos e muitos
anos depois do completo inchamento e da considerável destruição do meio ambiente nos
grandes centros urbanos.

Figura 1: São Paulo, 1914 Figura 2: Arco do Triunfo, 1806

5. No Brasil
O processo de urbanização brasileira começou a partir de 1940, como resultado da
modernização econômica e do grande desenvolvimento industrial graças à entrada de capital
estrangeiro no país. As empresas transnacionais preferiram se instalar nas cidades em que a
concentração populacional fosse maior e de melhor infraestrutura, dando origem às grandes
metrópoles. A industrialização gerou empregos para os profissionais qualificados, expandiu a
classe média e o nível de consumo urbano. A cidade transformou-se num padrão de
modernidade, gerando o êxodo rural. A tecnologia e o nível de modernização econômica não
estavam adaptados à realidade brasileira. A migração campo-cidade gerou desemprego e
aumento das atividades do setor terciário informal.
O modelo de desenvolvimento econômico e social adotado no Brasil a partir dos anos 50 levou
a um processo de metropolização. Ocorrência do fenômeno da conurbação, que constituem as
regiões metropolitanas (criadas em 1974 e 1975).
A partir da década de 80 houve o que se chama de desmetropolização, com os índices de
crescimento econômico maiores nas cidades médias, havendo assim um processo de
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desconcentração econômica. Outras regiões passaram a atrair mais que as regiões


metropolitanas, havendo também desconcentração populacional. Está ocorrendo um declínio
da importância das metrópoles na dinâmica social e econômica do país. Um número crescente
de cidades passou a pertencer ao conjunto das cidades médias e grandes.
A urbanização do século XX foi marcada por importantes características, a começar pelo ritmo
bastante acelerado de crescimento das cidades e pela sua abrangência, agora mundial. De fato,
as transformações que o capitalismo promoveu em diversas sociedades nacionais contribuíram
para que este processo se desencadeasse em diversas nações, mesmo naquelas onde a
industrialização não foi representativa, isto é, em diversas áreas do mundo subdesenvolvido.
Uma outra característica se refere ao processo de metropolização. As metrópoles encontram-se
generalizadas, embora sua presença seja mais marcante nos EUA, Japão, China, Europa
Ocidental e América Latina. As metrópoles exercem influência em praticamente todo o
território nacional, promovendo a difusão de novas formas de vida, além de imprimirem
mudanças na organização do espaço geográfico.
Por outro lado, as metrópoles não representam apenas problemas, aparentemente insolúveis.
Ao contrário, seu extraordinário dinamismo é gerador de ofertas de trabalho e de negócios, além
de concentrador de recursos financeiros e de consumo. Nesse sentido, sua dinâmica também
promove soluções para as dificuldades que fazem parte de seu cotidiano.

6. Os subúrbios e as periferias
6.1. Subúrbios
Trazendo um pouco da história, MUMFORD disse que em 1795 as esposas dos comerciantes
que adoeciam com a fumaça das industrias de Londres, necessitavam ter suas vilas em Clapham,
então eles se deslocavam para Hampstead, pois possui uma localização elevada, em uma colina,
proporcionando ar puro e um luxo que outros londrinos não possuíam. Segundo MUMFORD
(1965 pág. 529) “do subúrbio brotou, na realidade, uma nova arquitetura doméstica,
organicamente coerente, tanto em função quanto em imagem, com a vida no interior e a
paisagem no exterior: casa e jardins que proporcionavam perfeição consciente as virtudes
tradicionais da casa de fazenda, mediante novos aperfeiçoamentos só possíveis em nossos
próprios dias. ”
Uma das características da urbanização dos países desenvolvidos é o surgimento dos subúrbios
(áreas suburbanas ou até rurais ao redor das cidades muito valorizadas) no qual se localizam
residências de alto padrão. Vale ressaltar, que o subúrbio dos países desenvolvidos é muito
diferente da periferia das grandes cidades dos países em desenvolvimento. As periferias são
áreas para onde a cidade se expande e nas quais existe uma carência enorme de infraestrutura
básica (rede de esgotos, asfalto, escolas, posto de saúde, transporte coletivo, eletricidade), local
onde reside grande parte da classe trabalhadora. Os subúrbios nos países desenvolvidos estão
associados a ideia da casa própria e da posse de um carro e, em termos de valores, à vida familiar
tradicional. Essa população, indivíduos de classe média, profissionais liberais, veem no
subúrbio a busca uma qualidade de vida que não é mais possível nos arredores da área central
da cidade. Segundo Giddens (2005, p. 462): Muitos dos subúrbios que cercam a cidade de
Londres desenvolveram-se entre as duas Guerras Mundiais, aglomerando-se em torno das
novas estradas e das conexões do metrô que permitiam o transporte de trabalhadores para o
centro. Nos EUA, o processo de suburbanização teve seu ápice nas décadas de 1950 e 1960.
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Durante essas décadas, o índice de crescimento dos centros das cidades esteve em 10%,
enquanto o das áreas suburbanas foi de 48%. A maior parte do deslocamento para os subúrbios
envolveu famílias brancas. O cumprimento da lei que estabelecia a mistura racial nas escolas
pode ser visto como um grande fator que pesou na decisão de muitos brancos de escaparem das
áreas urbanas. Mudar-se para os subúrbios era uma alternativa que atraia as famílias que
desejavam colocar seus filhos em escolas exclusivas para brancos. Mesmo nos dias de hoje, os
subúrbios norte-americanos continuam sendo regiões onde predominam pessoas brancas. O
autor destaca, ainda, que no início dessas mudanças para o subúrbio, os negros sempre foram
minoria. Os negros, quase sempre, viviam em bairros de maioria negra, em cidades pequenas
que margeiam as grandes cidades norte americanas, sobretudo os negros que compões as
camadas mais pobres da sociedade. Atualmente verificamos que essa realidade ganha novos
contornos, na medida em que ninguém quer viver perto das áreas urbanas mais pobres em
função dos problemas que afetam essas áreas como: moradia precária, escolas com ensino de
péssima qualidade, ruas sem segurança, gangues violentas que amedrontam os moradores do
centro. Por outro lado, a fuga para os subúrbios trouxe implicações dramáticas para a vitalidade
dos centros urbanos das cidades europeias e norte-americanas. Hoje existem sociedades
totalmente urbanas, ou seja, com 100% de suas populações vivendo nas áreas urbanas. Exemplo
máximo dessa realidade pode ser encontrado em Cingapura, Hong Kong e Nova York. O que
caracteriza esses espaços são a grande concentração populacional, vivendo em áreas
relativamente pequenas, mas com um nível de desenvolvimento técnico, econômico e social
alto. Esses espaços oferecem a seus moradores um conjunto de serviços extremamente
sofisticados.

Miami, subúrbio Dinamarca, subúrbio

6.2. Periferias
Sendo uma consequência dos “problemas” urbanos as periferias surgiram devido ao rápido
crescimento populacional das cidades, gerando uma alta procura por espaço. Com o modo de
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produção capitalista tornando a terra numa mercadoria, uma parcela do espaço das cidades
estava mediada, pela compra ou aluguel de terrenos, porém nem todos podiam comprar ou
alugar estes terrenos, daí surge as periferias. Essas áreas ficam em volta do centro, onde a grande
maioria é habitada por trabalhadores assalariados.
A impiedosa especulação imobiliária é um dos fatores responsáveis pela expulsão de milhões
de moradores pobres das cidades para as periferias e para as favelas, sujeitando-os a inundações,
deslizamentos e a todo tipo de risco que acabam sujeitos, levando a graves doenças, inclusive
ligadas a falta de saneamento básico. Além disso, doenças praticamente banidas dos países
centrais crescem vertiginosamente nessas áreas.
As favelas caracterizam–se por serem imóveis ilegais. Estas, geralmente não surgem na
periferia, mas próximas ao centro. Trata–se de barracos, construídos precariamente, sem
qualquer tipo de saneamento básico e segurança. O espaço construído é mínimo, muitas vezes
formado por um só cômodo, onde quarto, sala e cozinha estão juntos. Esse tipo de moradia, não
fornece nenhum tipo de conforto a seus moradores, mas é a única forma de habitação que eles
conseguiram ter acesso.
O surgimento das favelas está diretamente relacionado a migração, consequência da
transformação as relações de trabalho no campo, generalizando o emprego de diaristas, que
foram obrigados a mudar-se do campo e fixar-se nas periferias das cidades (êxodo rural), da
expropriação dos pequenos proprietários rurais – o capitalista engolindo o lavrador -, da
escassez de empregos, que resulta em dificuldades financeiras, das pessoas de baixa renda que
carecem de algum tipo de assistência, migram das pequenas e médias cidades para as
metrópoles, sendo que, mesmo nestas, enfrentam problemas. Pode-se mencionar os altíssimos
valores de casas e apartamentos como um fator relacionado com o surgimento das favelas.
Segundo SPOSITO (1988 pag. 73):
“O acesso a uma moradia decente não depende de se dar tempo para
a construção de mais casas, mas de se poder pagar por elas. Alguns
podem fazê-lo; para a maioria isto se apresenta como um problema.

A possibilidade de acesso a moradia, por exemplo, está subordinada


ao nível salarial. Ao discutirmos o desenvolvimento do capitalismo
monopolista, vimos como a troca desigual apoia-se no fato de que os
trabalhadores de todo o mundo capitalista recebem salários diferentes
para produzir riquezas de mesmo valor. De fato, nós sabemos que o
trabalhador que recebe o piso salarial nacional, não consegue sequer
alimentar devidamente sua família, o que dizer de ter acesso a uma
moradia, pela compra ou aluguel do imóvel. ”

Com a intensificação da urbanização, espaços distintos começam a ser criados, identificando


seus moradores de formas opostas, divididos entre os bairros de classes baixa, média e alta.
Com o crescimento da população e a falta de planejamento das cidades ocorre um grave
problema: a segregação, tanto espacial (distância entre moradias de diferentes grupos) como
social (distância de condições no que diz respeito ao acesso, elaboração e execução de políticas
públicas). A primeira está relacionada à valorização excessiva dos imóveis que dispõem dos
serviços básicos, como asfalto, saneamento básico e transporte, e uma localização estratégica
que facilita o acesso ao trabalho, comércio e lazer, além, ainda, da construção dos conjuntos
habitacionais na periferia. A segunda diz respeito a dificuldade de alguns grupos têm para
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conseguir serviços de melhor qualidade, como escolas, médicos, emprego, cultura e lazer. As
duas formas de segregação são extremamente ligadas e concentradas nos grupos com menores
rendas.
A segregação no Brasil está relacionada às condições econômicas. Desde o período colonial é
pregado o bem-estar dos ricos em detrimento dos pobres. A distância espacial era um meio de
distinguir os moradores da Casa Grande e da Senzala. Porém, apesar de já existir a muito tempo,
é no Capitalismo que ganha mais força. Este sistema é predatório e não permite que todos
tenham os mesmos direitos aos bens de consumo, privilegiando, assim, uma minoria com
condições econômicas melhores.
Os principais responsáveis por estes espaços com características geográficas, econômicas e
estéticas diferenciados são o Estado e a iniciativa privada. Eles são representados pelo capital
imobiliário, construção civil e o estoque de terras urbanas. Os investimentos públicos e privados
se concentram em determinadas áreas, valorizando-as ao disponibilizar saneamento básico,
asfalto, transporte e segurança, enquanto a área periférica, como os cortiços, os bairros distantes
do centro e os conjuntos habitacionais, são esquecidos. Os primeiros espaços citados são
reservados para a elite e leva os que não possuem recursos financeiros a periferia.

Favela Ibirapuera, século XX Favela Santa Marta, século XX

7. Considerações Finais
Aparentemente as grandes cidades não param de crescer, excetuando-se algumas cidades da
Europa e algumas metrópoles norte-americanas onde o equilíbrio populacional já está
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praticamente atingido. Entre as principais causas do crescimento das cidades, e de outras


metrópoles de países em desenvolvimento, está a migração do campo e das regiões mais
pobres do país para os grandes centros urbanos, guiada pela crença de que esses centros
seriam capazes de dar emprego, habitação, escola e serviços hospitalares, para a grande massa
de cidadãos excluídos de qualquer benefício. Na maioria das vezes trata-se apenas de uma
ilusão, pois a cidade grande muito pouco tem a dar ao migrante com pouca qualificação para o
trabalho urbano. Desfeito o sonho, ele passa a viver em condições degradantes, muitas vezes
piores do que as do início de sua jornada em busca de melhores condições de vida. Logo,
passa a existir os grupos sociais excluídos, como pessoas em condições de rua, pessoas sem
tetos etc. Esses grupos têm como possibilidades de moradia os densamente ocupados cortiços
que ficam localizados próximos ao centro da cidade, a casa produzida pelo sistema de
autoconstrução em loteamentos periféricos, os conjuntos habitacionais produzidos pelos
Estado e a favela.
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8. Bibliografia

CORRÊA, Roberto Lobato. “O espaço urbano”. 4. ed., São Paulo: ÁTICA, 2002.

SANTOS, Milton. “Ensaios sobre a urbanização latino-americana”. 1. ed., São Paulo: HUCITEC, 1982.

SPOSITO, Maria Encarnação (1988). Capitalismo e urbanização. São Paulo: Hucitec. PP. 11-77.

MUMFORD, Lewis (1965). A cidade na história. Belo Horizonte: Itatiaia, 2 volumes, Capítulo 16.

SOUZA, Marcelo Lopes de (2003). ABC do desenvolvimento urbano. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, Capítulo
1, pp. 23-40.

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