Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CLIMA ORGANIZACIONAL
Erika Gisele Lotz
Superintendente Prof. Paulo Arns da Cunha
Reitor Prof. José Pio Martins
Pró-Reitor Acadêmico Prof. Carlos Longo
Coordenador Geral de EAD Prof. Renato Dutra
Coordenadora Editorial Profa. Manoela Pierina Tagliaferro
Autoria Profa. Erika Gisele Lotz
Supervisão Editorial Bianca de Brito Nogueira
e Fabieli Fernandes Campos Higashiyama
Parecer Técnico Marcelo Cavalcanti
Validação Institucional Regiane Rosa e Yohan Barczyszyn
Layout de Capa Valdir de Oliveira
FabriCO
KOL Soluções em Gestão do
Conhecimento Ltda EPP
Análise de Qualidade, Edição de Texto,
Design Instrucional, Edição de Arte,
Imagem de Capa, Diagramação,
Design Gráfico e Revisão
CDU 658.310.16
*Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência.
Imagem de capa: © Rawpixel.com // Shutterstock
Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte
desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos
direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Copyright Universidade Positivo 2015
Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 – Campo Comprido
Curitiba-PR – CEP 81280-330
Ícones
Afirmação Curiosidade
Assista
Dica
Biografia
Esclarecimento
Conceito
Contexto Exemplo
Sumário
Apresentação...................................................................................................................11
A autora............................................................................................................................12
Capítulo1
O homem e o trabalho.....................................................................................................13
1.1 O trabalho ..................................................................................................................13
1.1.1 O significado do trabalho ........................................................................................................................................13
1.1.2 O homem e o trabalho através dos tempos...........................................................................................................15
1.2 A visão biopsicossocial do homem............................................................................20
1.2.1 As dimensões biológica, psicológica, social e espiritual do homem...................................................................... 20
1.2.2 A visão biopsicossocial e o conceito de saúde ...................................................................................................... 21
1.3 A qualidade de vida....................................................................................................22
1.3.1 As dimensões universais da qualidade de vida ..................................................................................................... 23
1.4 A Qualidade de Vida no Trabalho (QVT).....................................................................24
1.4.1 O que é Qualidade de Vida no Trabalho ................................................................................................................. 26
1.4.2 O cenário contemporâneo e a Qualidade de Vida no Trabalho ............................................................................. 27
1.4.3 Qualidade de Vida no Trabalho e a gestão de pessoas.......................................................................................... 28
1.4.4 A Qualidade de Vida no Trabalho e os ganhos para o indivíduo, para a organização e para a sociedade............. 29
Referências.......................................................................................................................32
Capítulo2
A motivação e a satisfação no trabalho ..........................................................................35
2.1 A motivação ...............................................................................................................35
2.1.1 A motivação e o ciclo motivacional ....................................................................................................................... 35
2.1.2 Motivação: a busca do prazer ou a fuga da dor?.................................................................................................... 37
2.1.3 O diálogo interno e a estratégia mental de motivação ......................................................................................... 38
2.1.4 Os fatores extrínsecos e a mobilização do comportamento.................................................................................. 40
2.2 A motivação e o trabalho...........................................................................................42
2.2.1 A Hierarquia das Necessidades de Maslow ........................................................................................................... 42
2.2.2 A Teoria dos Dois Fatores de Herzberg................................................................................................................... 44
2.2.3 A Teoria da Fixação dos Objetivos ......................................................................................................................... 47
2.2.4 A influência da motivação na qualidade de vida do trabalhador ......................................................................... 48
2.3 A satisfação no trabalho.............................................................................................49
2.3.1 A satisfação e a insatisfação no trabalho .............................................................................................................. 49
2.3.2 As variáveis promotoras da satisfação no nível da organização............................................................................ 50
2.3.3 As variáveis promotoras da satisfação no nível do grupo..................................................................................... 53
2.3.4 As variáveis promotoras da satisfação no nível do indivíduo................................................................................ 54
Referências.......................................................................................................................57
Capítulo3
O estresse e o trabalho.....................................................................................................59
3.1 O estresse....................................................................................................................59
3.1.1 O que é estresse...................................................................................................................................................... 59
3.1.2 A Síndrome Geral de Adaptação............................................................................................................................. 60
3.1.3 Eustress e distress.................................................................................................................................................... 62
3.2 Mecanismos de formação dos sintomas do estresse,
evidências clínicas e impactos no trabalho................................................................63
3.2.1 As relações sociais.................................................................................................................................................. 64
3.2.2 O enfoque psicossomático..................................................................................................................................... 66
3.2.3 As evidências clínicas e os sintomas do estresse................................................................................................... 67
3.2.4 Os impactos do estresse no trabalho no nível do indivíduo, do grupo e da organização..................................... 68
3.3 As causas do estresse no trabalho.............................................................................69
3.3.1 O Modelo Demand-Control de Karasek.................................................................................................................. 69
3.3.2 Os estudos de Cooper e colaboradores.................................................................................................................. 71
3.3.3 Os estudos de Cooper e Marshall .......................................................................................................................... 73
3.4 Condições clínicas relacionadas ao estresse...............................................................74
3.4.1 As síndromes associadas ao estresse..................................................................................................................... 75
3.4.2 A depressão............................................................................................................................................................ 75
3.4.3 A Síndrome de Burnout.......................................................................................................................................... 77
3.4.4 Apesar do estresse, a qualidade de vida no trabalho............................................................................................. 78
Referências.......................................................................................................................80
Capítulo4
As relações de assédio no ambiente de trabalho.............................................................83
4.1 O assédio moral..........................................................................................................83
4.1.1 O assédio moral nas relações de trabalho............................................................................................................... 83
4.1.2 O que não é assédio moral no trabalho.................................................................................................................. 85
4.1.3 Tipos de assédio moral no trabalho ...................................................................................................................... 87
4.1.4 As estratégias do assediador.................................................................................................................................. 90
4.2 O assédio intelectual..................................................................................................91
4.2.1 O que é assédio intelectual..................................................................................................................................... 91
4.2.2 As estratégias do agressor..................................................................................................................................... 92
4.3 O assédio sexual.........................................................................................................92
4.3.1 O que é assédio sexual........................................................................................................................................... 93
4.3.2 As estratégias do assediador.................................................................................................................................. 94
4.4 O assediador, a vítima e as estratégias preventivas
para coibir o assédio nas organizações .....................................................................94
4.4.1 O perfil do assediador ............................................................................................................................................ 94
4.4.2 A vítima do assédio ............................................................................................................................................... 96
4.4.3 O impacto do assédio para o indivíduo, para o grupo e para a organização......................................................... 97
4.4.4 Estratégias de prevenção e intervenção para assédio em ambiente de trabalho.................................................. 98
Referências.....................................................................................................................100
Capítulo5
Qualidade de Vida no Trabalho: indicadores, instrumentos e programas.....................103
5.1 Considerações sobre indicadores e fatores críticos
de sucesso da Qualidade de Vida no Trabalho..........................................................103
5.1.1 Os indicadores: conceito e funções....................................................................................................................... 103
5.1.2 As bases dos indicadores de Qualidade de Vida no Trabalho:
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e Índice de Desenvolvimento Social (IDS)....................................... 104
5.1.3 A mensuração da Qualidade de Vida no Trabalho................................................................................................ 106
5.1.4 Os fatores críticos de sucesso da Qualidade de Vida no Trabalho........................................................................ 107
5.2 Os indicadores de Qualidade de Vida no Trabalho...................................................108
5.2.1 O Modelo de Walton............................................................................................................................................ 108
5.2.2 O Modelo de Westley............................................................................................................................................110
5.2.3 O Modelo de Davis e Werther...............................................................................................................................111
5.2.4 O BPSO-96.............................................................................................................................................................113
5.3 Os instrumentos de avaliação de Qualidade de Vida no Trabalho ..........................115
5.3.1 Os instrumentos genéricos de avaliação de Qualidade de Vida no Trabalho........................................................115
5.3.2 Os instrumentos específicos de avaliação de Qualidade de Vida no Trabalho.....................................................117
5.4 Os programas de Qualidade de Vida no Trabalho....................................................118
5.4.1 Os níveis de classificação dos programas de Qualidade de Vida no Trabalho ......................................................119
5.4.2 As etapas da implantação de programas de Qualidade de Vida no Trabalho..................................................... 120
5.4.3 As ações da Qualidade de Vida no Trabalho.........................................................................................................121
5.4.4 Os fatores críticos de sucesso para os programas de Qualidade de Vida no Trabalho......................................... 123
Referências.....................................................................................................................124
Capítulo6
Cultura organizacional, clima organizacional e Qualidade de Vida no Trabalho............127
6.1 A cultura organizacional...........................................................................................127
6.1.1 Cultura organizacional: conceitos e elementos......................................................................................................127
6.1.2 Fatores que influenciam a geração das crenças e valores e os elementos superficiais da cultura organizacional.....130
6.1.3 O papel da cultura organizacional ........................................................................................................................131
6.1.4 A manifestação da cultura organizacional............................................................................................................131
6.2 O clima organizacional.............................................................................................133
6.2.1 Clima organizacional: conceito e elementos........................................................................................................ 134
6.2.2 Os indicadores do clima organizacional................................................................................................................135
6.2.3 As emoções e o clima organizacional.................................................................................................................. 136
6.3 A avaliação e a mensuração do clima organizacional..............................................140
6.3.1 Estratégias de avaliação do clima organizacional................................................................................................ 140
6.3.2 Por que mensurar o clima organizacional?...........................................................................................................141
6.4 A influência da cultura organizacional e do clima
organizacional na Qualidade de Vida no Trabalho...................................................143
Referências.....................................................................................................................145
Capítulo7
A pesquisa de clima.......................................................................................................147
7.1 A pesquisa de clima..................................................................................................147
7.1.1 As variáveis organizacionais e o escopo da pesquisa de clima..............................................................................147
7.1.2 As técnicas utilizadas na pesquisa de clima ..........................................................................................................151
7.1.3 A quem compete avaliar o clima organizacional? ............................................................................................... 160
7.2 Etapas para a realização da pesquisa de clima.........................................................161
7.2.1 A preparação da pesquisa..................................................................................................................................... 162
7.2.2 A aplicação da pesquisa e a coleta da pesquisa................................................................................................... 166
7.2.3 A análise da pesquisa........................................................................................................................................... 166
7.2.4 A divulgação dos resultados da pesquisa............................................................................................................. 168
7.3 A pesquisa de clima e as oportunidades de melhorias............................................169
7.3.1 A elaboração e a aplicação do plano de melhorias................................................................................................170
7.3.2 O acompanhamento do plano de melhorias.........................................................................................................172
7.4 A comunicação das melhorias aos colaboradores....................................................173
7.4.1 A importância de oferecer retorno aos colaboradores.......................................................................................... 173
7.4.2 Estratégias para comunicar as ações de melhorias aos colaboradores.................................................................174
Referências.....................................................................................................................175
Capítulo8
A Gestão do Clima Organizacional e da Qualidade de Vida no Trabalho.......................177
8.1 A gestão do clima organizacional.............................................................................177
8.1.1 O que é gerir? ........................................................................................................................................................178
8.1.2 O ciclo PDCA e a gestão do clima organizacional e da qualidade de vida no trabalho ........................................179
8.1.3 O estilo de gestão................................................................................................................................................. 183
8.2 O gestor....................................................................................................................183
8.2.1 O papel do gestor na criação e manutenção do clima organizacional................................................................ 184
8.2.2 As competências do gestor.................................................................................................................................. 184
8.2.3 O feedback apreciativo..........................................................................................................................................187
8.3 A Gestão de Pessoas................................................................................................188
8.3.1 Os processos de gestão de pessoas...................................................................................................................... 188
8.3.2 O papel do Recrutamento e Seleção na satisfação do colaborador..................................................................... 189
8.3.3 O papel das políticas de benefícios na satisfação do colaborador .......................................................................191
8.3.4 A entrevista de desligamento como ferramenta para a gestão do clima organizacional....................................192
8.4 A Gestão da Qualidade de Vida no Trabalho............................................................193
8.4.1 O conceito de Gestão da Qualidade de Vida no Trabalho (GQVT) ........................................................................193
8.4.2 As estratégias de GQVT e as dimensões biológica, psicológica, social e organizacional..................................... 194
8.4.3 Pensar globalmente, agir localmente: a chave para a mudança!........................................................................ 195
Referências.....................................................................................................................197
Apresentação
Currículo Lattes:
<lattes.cnpq.br/3082993955266735>
© Kurhan // Shutterstock
humano e contribui para a sociedade. Albert Camus,
citado por Limongi-França e Rodrigues (2002, p. 15)
enfatiza que “sem trabalho, toda vida apodrece. Mas,
sob um trabalho sem alma a vida sufoca e morre”.
Assim, convidamos você a empreender uma jornada pelo mundo do trabalho e
a conhecer a relação deste com o homem desde os tempos mais longínquos. Vamos
também aprender sobre o seu significado e sobre o relevante papel que a qualidade de
vida no trabalho desempenha, tanto para o indivíduo quanto para as organizações e
para a sociedade.
1.1 O trabalho
Para iniciar a jornada ao mundo do trabalho, nos compete em primeiro lugar en-
tender o que é trabalho, que pode ser definido como “toda energia física ou intelectual
empregada pelo homem com finalidade produtiva” (CASSAR, 2010, p. 3). Em outras
palavras, é a ação, o esforço, seja de ordem física, seja intelectual, cujo objetivo é atin-
gir determinado fim.
Essa definição permite compreender que alguns tipos de trabalho requerem
maior investimento de energia física, outros de energia intelectual; alguns são re-
munerados, ao passo que outros não são, e ainda há os voluntários. O que existe em
comum é “transformação” dessa energia em produtos, bens e/ou serviços que são fun-
damentais para a sobrevivência e a manutenção da sociedade.
Apenas com a Revolução Francesa, no ano de 1857, foi declarada a indignidade da escravidão.
No Brasil, somente em 1888 ela foi abolida, por meio da Lei Áurea. (JORGE NETO, 2010)
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 16
Na Idade Média, competia aos servos a produção de tudo o que a sociedade de-
mandava. Nesse período, os nobres se encarregavam das guerras, e o clero, que goza-
va de grande prestígio e poder, se ocupava da teologia. No feudalismo, regime pautado
por mútuas obrigações entre os senhores de terra e seus vassalos e adotado na Europa
entre os séculos X e XIII, o trabalho humano assumiu nova configuração: passou da es-
cravidão para a servidão. O vassalo, ou servo, prestava serviço, auxílio e obediência ao
seu senhor, proprietário das terras (feudos), e recebia em troca proteção e comida.
Os filhos dos servos também eram servos, uma vez que o juramento de fidelidade
ao senhor feudal passava de geração a geração – essa era a forma de manter o status
quo, ou seja, a ordem estabelecida das coisas, tanto na esfera política quanto econômi-
ca e social do feudalismo. Nesses termos, trabalho servil não poderia ser considerado
trabalho livre, uma vez que o servo não tinha liberdade de escolha em relação a quem
gostaria de prestar serviços.
No Renascimento, uma significativa mudança ocorreu na relação entre homem
e trabalho. Esse importante período, que marcou a passagem da Idade Média para a
Idade Moderna, considerava a razão uma manifestação do espírito, o que posicionava
o homem mais perto de Deus. Os renascentistas atribuíam especial importância à ra-
cionalidade, à dignidade do ser humano, ao rigor científico, à busca por ideais huma-
nistas e à valorização das artes, em especial a greco-romana. Com o Renascimento,
teve início uma forte valorização do homem, e os atos mundanos dele, dentre os quais
o trabalho, passaram a ser vistos de modo diferente.
Nesse contexto, a religião exerceu forte impacto na forma de se pensar e viver.
O destaque foi o protestantismo, cuja doutrina ia ao encontro da classe emergente, a
burguesia, legitimando o comércio como possível entrada no paraíso. Assim, o traba-
lho podia ser visto não mais como uma condenação, mas como forma de aproximar
o homem de Deus.
Contudo, no Renascimento, para a maior parte da população, que vivia na zona
rural, o feudalismo ainda vigorava. A servidão se mantinha com as mesmas caracte-
rísticas, e o servo devia plena obediência ao senhor feudal. No entanto, nos burgos,
pequenas aglomerações urbanas que foram se formando ao longo do tempo nos arre-
dores dos castelos, originou-se uma nova forma de relação de trabalho, as corporações
de ofício, ou seja, agrupamentos de pessoas de um ramo específico de trabalho cujos
objetivos eram o de defesa e de negociação. As mais destacadas correspondiam à dos
construtores e artesãos. Uma vez membro de uma corporação, a pessoa só poderia tra-
balhar em determinado ofício, como carpinteiros, tecelões, comerciantes, padeiros, pe-
dreiros, tintureiros, ferreiros, ouvidores e entalhadores de pedras, entre outros. A não
observância dessa ordem poderia custar ao desobediente a expulsão dele da cidade.
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 17
Para categorizar o trabalho nas corporações de ofício, havia uma distinção entre
aprendizes, companheiros e mestres. Os primeiros eram jovens trabalhadores que
aprendiam o ofício, e submetiam-se ao mestre. A aprendizagem se caracterizava por
um sistema duro de trabalho e por rigorosa disciplina. Quando já dominava o ofício, o
aprendiz migrava para a categoria de companheiro e passava a ter status de oficial for-
mado; entretanto, ainda não dispunha de condição de ascender à maestria. Os compa-
nheiros eram na realidade trabalhadores com qualificação, mas cuja ascensão à
categoria de mestre provavelmente lhes seria negada, uma vez que os mestres deseja-
vam impedir a concorrência e assegurar tal categoria aos filhos e sucessores
(RUSSOMANO, 2005).
As pessoas que exerciam os mesmos ofícios deveriam filiar-se, obrigatoriamente,
às respectivas corporações, sob pena de não poder realizar o trabalho. Estas estabele-
ciam regras para o ingresso na profissão e controlavam a qualidade e a quantidade de
tudo o que era produzido. Competiam a elas o estabelecimento dos preços e a padro-
nização da qualidade dos produtos utilizados. Por exemplo, um artesão jamais poderia
utilizar um material inferior ao de seu colega. Tal feito funcionava muito bem no senti-
do de manter a concorrência.
Muito embora as corporações de ofício apresentassem uma estrutura hierar-
quizada e rígida, ofereciam uma espécie de “proteção” ao trabalhador, amparando-o
na velhice e em qualquer tipo de doença ou invalidez. Contudo, com a Revolução
Francesa, foram proibidas de existir.
Em síntese, podemos observar que o tra-
balho nos feudos era pautado pela servidão, e
nos burgos mantinha-se sob forte interferên-
cia das corporações de ofício. Até a Revolução © Everett Historical // Shutterstock
trabalhador, que até então se encontrava sem possibilidades de defesa em face do po-
der econômico da grande indústria.
Apesar do ritmo de trabalho fragmentado e repetitivo imposto pela Revolução
Industrial, e das jornadas longas e insalubres, foi nesse período que começou a en-
fraquecer a concepção de que o empregador dispunha de poder total sobre os
trabalhadores.
No pós-Guerra, já no século XX, o modelo das grandes organizações e da espe-
cialização do trabalho se encontrava plenamente estabelecido. O profissional passou
a ser protegido por leis trabalhistas, e a satisfação com o trabalho, assim como o am-
biente no qual atuava, estavam sendo levados em consideração. O período também
assinalou a entrada massiva das mulheres no mercado de trabalho.
O último salto na história da relação do homem com o trabalho através dos tem-
pos nos conduz à era digital, caracterizada pelas rápidas mudanças, pelo avanço do co-
nhecimento e pelo aparato tecnológico em constante inovação, tendo o cenário
laboral passado por profundas transformações, decorrentes da realocação da força
de trabalho.
Observa-se que, nos últimos 50 anos, as mudanças ocorridas no mundo do traba-
lho em virtude dos novos paradigmas têm promovido grandes alterações vivenciadas
pela sociedade. Impulsionada pelo conhecimento, a era digital está mudando os cená-
rios laborais, os valores da sociedade e o relacionamento humano de forma profunda.
A era digital ou era da informação consti-
tui um período inaugurado no final do século XX
e está relacionada à dinamização dos fluxos in-
formacionais pelo mundo. Ela gerou profundos
© Firma V // Shutterstock
pelo Brasil e pelo mundo núcleos de trabalho escravo, trabalho infantil e toda sorte de
práticas desumanas por parte de alguns empregadores, apesar da absoluta ilegalidade.
O acesso da população aos cursos técnicos e superiores também tem promovido
uma mudança na mão de obra, que agora tem mais chances de se qualificar. Contudo,
o trabalho enfrenta ainda uma relação conturbada com o homem: se, por um lado,
este se expressa e se realiza em suas potencialidades e papéis sociais, em que o fazer
profissional alicerça a autorreferência, por outro existe ainda uma alta carga de distúr-
bios fisiológicos, emocionais e sociais atrelada ao trabalho. Assim, é importante que os
atores do mundo do trabalho – trabalhadores, empresários e governo – encontrem es-
tratégias que venham a equalizar tais desafios e a promover a justiça social.
O quadro nos ajuda a refletir o quanto o ser humano precisa ser visto sob a pers-
pectiva sistêmica e totalizante e que a qualidade de vida está estreitamente relacionada
ao atendimento às dimensões de forma integrada, em um equilíbrio dinâmico. O enfo-
que biopsicossocial tomou corpo e passou a ser adotado pela Organização Mundial de
Saúde (OMS) em 1986, abrindo espaço para a reflexão acerca do que é ser saudável.
Mas a QVT não foi pensada somente a partir de 1950. Na verdade, essa preocupa-
ção remonta aos primórdios da humanidade. As primeiras civilizações já pensavam sobre
a forma de realizar as tarefas. A história registra a existência de diversos métodos que
procuravam diminuir o mal-estar e o esforço físico da força de trabalho. Um bom exem-
plo é a Lei da Alavanca. Atribui-se a Arquimedes a seguinte frase: “Dê-me uma alavanca
e um ponto de apoio e eu levantarei o mundo”. Com seus conhecimentos, ele conseguiu
reduzir o esforço físico que o homem precisava aplicar para realizar o seu trabalho.
Arquimedes foi um notável matemático e físico. Nasceu no ano de 287 a.C., em Siracusa, e foi
assassinado pelos romanos em 212 a.C., quando estes conquistaram a cidade. Foi considerado
um dos maiores sábios da Antiguidade e autor de uma enorme quantidade de invenções mecâ-
nicas e engenhos de guerra.
A partir dessa teoria a organização deixou de ser tratada como uma máqui-
na e passou a ser considerada um grupo de pessoas e a levar em conta a influência
da motivação para o trabalho, da liderança, do moral e do clima organizacional, tan-
to para satisfação do colaborador quanto para a produtividade e a competitividade
dela. Os estudos sobre Qualidade de Vida no Trabalho passaram a receber destaque
nos Estados Unidos. A National Comission on Productivity se voltou para pesquisar
a considerada baixa produtividade nas indústrias norte-americanas. O Congresso
Americano criou em 1960 o centro de pesquisa intitulado National Center for
Productivity and Quality Working Life com o propósito de realizar levantamentos sobre
a produtividade e a qualidade de vida do trabalhador nas atividades de produção. A
criação desse instituto de pesquisa se deu devido à crise do petróleo e da inflação.
Além desses, foram organizados diversos grupos de estudos voltados à QVT.
Que tal aprofundar seus estudos e obter informações sobre o QVT? Visite o site da Associação
Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), uma organização sem fins lucrativos que visa estimu-
lar ações e programas de qualidade de vida nas organizações.
© FabriCO
Integração social Relevância social
Para ficar por dentro de informações a respeito da saúde e segurança do trabalhador, conheça o
site da Previdência. Lá você irá encontrar estatísticas, notícias, serviços à empresa e ao cidadão.
Confira!
Referências
ALVES, E. F. Programas e ações em Qualidade de Vida no Trabalho: possibilidades e li-
mites das organizações. Revista Eletrônica Fafit/Facic, Itararé, v. 2, n. 1, jan./jun. 2011,
p. 14-25. Disponível em: <www.fafit.com.br/revista/index.php/fafit/article/view/16>. Acesso
em: 30/09/2015.
ABQV – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE QUALIDADE DE VIDA. Disponível em: <www.
abqv.org.br>. Acesso em: 30/09/2015.
AYRES, D. de O.; CORRÊA, J. A. P. Manual de prevenção de acidentes do trabalho . 2. ed.
São Paulo: Atlas, 2011.
BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da
Previdência Social e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 jul.
1991.
CASSAR, V. B. Direito do Trabalho. 4. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2010.
CERQUEIRA, J. G. Sistema de Direito do Trabalho. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1961.
CHIAVENATO, I. Introdução à Teoria Geral da Administração. Rio de Janeiro: Campus,
2000.
FERNANDES, E. Qualidade de vida no trabalho: como medir para melhorar. Salvador:
Casa da Qualidade, 1996.
FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira; 1986.
FISCHMANN, R. Transcrição completa do maravilhoso discurso de Steve Jobs na
Universidade de Standford, em 2005. MacMagazine.com, 12 dez. 2008. On-line.
Disponível em: <macmagazine.com.br/2008/12/12/transcricao-completa-do-maravilhoso-
discurso-de-steve-jobs-na-universidade-de-stanford-em-2005/>. Acesso em: 30/09/2015.
HUSE, E.; CUMMINGS, T. Organization development and change. St. Paul: West
Publishing Company, 1985.
JORGE NETO, F. F. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2011.
KANAN, L. A.; ARRUDA, M. P. A organização do trabalho na era digital. Estudos de
Psicologia, Campinas, v. 30, n. 4, p. 583-591, 2013. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2013000400011&lng=en&tlng=pt. 10.1590/S0103-
166X2013000400011>. Acesso em: 12/05/ 2015.
KURY, G. Minidicionário de Língua Portuguesa. São Paulo: FTD, 2002.
LACOMBE, F. Dicionário de administração. São Paulo: Saraiva, 2004.
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 33
2.1 A motivação
Uma célebre frase atribuída a Platão, destacado filósofo grego que viveu em
Atenas (427 a.C. a 347 a.C.), registra: “Tente mover o mundo. O primeiro passo será
mover-se a si mesmo”. Esse axioma nos convida a pensar sobre o que efetivamente
“move” as pessoas. Como exatamente elas se colocam em movimento rumo a seus ob-
jetivos? O que faz com que algumas ultrapassem obstáculos com obstinação, ao pas-
so que outras optam por parar no meio do caminho? Um olhar sobre a motivação pode
trazer luz a esses e outros questionamentos.
é uma pressão interna surgida de uma necessidade – também interna – a qual, ao excitar
(via eletroquímica) as estruturas nervosas, origina um estado energizador que impulsiona
o organismo a atividade, iniciando, guiando e mantendo a conduta até que alguma meta
(objetivo ou incentivo) seja alcançada ou a resposta bloqueada. (SOTO, 2002, p. 118)
Em outras palavras, pode ser entendida como um motivo que leva a uma ação. É
uma força, uma energia que impulsiona o indivíduo à realização de algo.
A motivação passa por um ciclo, denominado de ciclo motivacional. A figura a se-
guir assim o ilustra:
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 36
Equilíbrio
Estímulo / incentivo
Necessidade
© FabriCO
Comportamento / ação
O ciclo motivacional tem início com uma necessidade, entendida como privação de
algo. Esta funciona como uma força dinâmica que rompe com o estado de equilíbrio do
organismo, promovendo uma tensão que conduz a uma ação para eliminar o desconfor-
to. Para ilustrar esse conceito, imagine uma pessoa que está com muita sede. A sede é a
necessidade que causa um desconforto e, por sua vez, uma tensão, a qual faz com que
a pessoa de alguma maneira busque água, suco ou algo que elimine ou reduza aquela
sensação desagradável. Ao tomar água, imediatamente ela experimenta alívio daque-
la tensão, restaurando o equilíbrio e a satisfação da referida necessidade. Contudo, esse
equilíbrio não é para sempre, pois em algumas horas sentirá novamente necessidade de
tomar água, razão por que é um ciclo, ou seja, um evento que se repete.
No ciclo motivacional, toda necessidade é satisfeita? Não. É aí que entra em cena
a frustração, como é possível perceber na figura a seguir.
Equilíbrio
Estímulo / incentivo
Necessidade
Imagem: © Ollyy / / Shutterstock
Barreira Tensão
© FabriCO
Comportamento / ação
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 37
Nesse caso, a tensão provocada pela necessidade encontra uma barreira ou obs-
táculo. Assim, sem vislumbrar uma saída, ela é represada no organismo, procurando
outra forma de liberação, a qual pode ser expressa por comportamentos agressivos ou
autoagressivos, descontentamento, tensão emocional, perda ou excesso de apetite,
perda ou excesso de sono e outros.
© auremar / / Shutterstock
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 38
Contudo, a vida de uma pessoa contempla diversas áreas: estudos, trabalho, vida so-
cial, cuidados com saúde e outras. Ela pode, por exemplo, adotar uma estratégia de mo-
tivação pela busca do prazer no trabalho (gosta de entregar resultados e fazer muito bem
feito o trabalho) e da fuga da dor para fazer atividades físicas (só se dedica a elas porque
precisa se manter livre de doenças). Outro exemplo é uma estratégia de busca do prazer
para se divertir com amigos (sente prazer em sair com eles para dançar), e uma estratégia
de fuga da dor para viagens de negócios (só aceita viajar para não perder clientes).
Em outras palavras, o que impulsiona é ora a busca do prazer, ora a fuga da dor.
Vale lembrar que esse segundo caso é uma forma de movimento no qual a pessoa ten-
de a se concentrar excessivamente na dificuldade do processo, ou seja, no obstáculo
que enfrentará para realizar a tarefa. Desse modo, vai postergá-la ou adiá-la e não se
dará conta de que o tempo que leva pensando que terá que executar a atividade é mui-
to maior do que o dispendido de fato para cumpri-la.
Mas por que o diálogo interno é tão importante? De acordo com estudos de
Brockert e Braun (1997), os pensamentos disparam os sentimentos, que acessam de-
terminadas condições biológicas as quais afetam a disposição da pessoa para a ação.
Voltando ao caso da equação matemática, observe como isso acontece:
• Pensamento: “Este exercício é muito difícil de fazer! Eu nunca consigo apren-
der Matemática!”.
• Condições psicológicas: Sensação de derrota, de desânimo, de tristeza e de
incapacidade.
• Condições biológicas: Embora as pessoas expressem de forma diferente o
sentimento, a tristeza promove alteração no organismo. O abatimento e a au-
sência de vitalidade assinalam a fisiologia dessa emoção.
• Disposição para a ação: Apatia, ausência de vitalidade, pouca ou nenhuma
disposição para agir.
Os pensamentos influenciam a motivação e o comportamento do indivíduo, e por
essa razão impactam diretamente os resultados que obtém. Nesse sentido, entende-
mos que a motivação é intrínseca, ou seja, interna.
Mas vale lembrar também que os fatores extrínsecos, ou seja, de fora do indiví-
duo também impactam o comportamento. Veja como isso acontece:
Modelo ABC
A: Corresponde a “antecedente” – estímulo externo – e à situação que desencadeia a reação.
"Burrhus Frederic Skinner nasceu em Susquehanna (EUA), em 1904. [...] Formou-se em língua
inglesa [...] antes de redirecionar a carreira para a psicologia, que cursou em Harvard – onde
tomou contato com o behaviorismo. [...] Morreu em 1990, em ativa militância a favor do beha-
viorismo” (FERRARI, [S.d.]).
fato uma ótima ideia, e a empresa passa a adotar a seleção de pessoal da forma
como foi sugerida por João. Em virtude do ótimo resultado que impactou sensi-
velmente a rotatividade de pessoal, o funcionário, além de receber um prêmio
em dinheiro pela ideia, passou a gozar de maior prestígio entre os colegas.
Nessa situação, como o comportamento trouxe consequências positivas, é pro-
vável que João se mantenha atento a outras possibilidades de melhorias e se
sinta seguro para apresentá-las ao gestor.
Caso 2: Maria Amélia vive se queixando com os colegas: “Ana Cláudia é uma fol-
gada, vive pedindo ajuda em seu trabalho! Toda vez eu paro de fazer as minhas
coisas e vou atender ao que ela quer. Não importa o quanto eu esteja ocupada,
ela chama e eu tenho que atender na hora. Não tem um projeto sequer que ela
contribua com ideias, mas sempre temos que colocar o nome dela”.
Esse caso também apresenta um comportamento com consequências positivas.
Não para Maria Amélia, mas para Ana Cláudia, que tem por repetidas vezes a
postura reforçada positivamente. Assim, o que Maria Amélia não percebe é que
cada vez que interrompe o seu trabalho para atender imediatamente às deman-
das da colega e que inclui o nome dela em um projeto no qual não contribuiu
está reforçando a conduta indesejada da colega de trabalho.
sobrecarregada de serviço, e tentou lhe passar um trabalho que era dela. Ana
Amélia foi enfática: “Se eu fizer o seu trabalho, quem fará o meu?”.
Nesse caso, Maria Amélia retirou todo o reforço positivo; com isso, diminuiu a
probabilidade de que Ana Cláudia venha lhe “empurrar” tarefas que não sejam
de sua alçada.
O reforço condiciona o comportamento. Assim, sob essa perspectiva, a Teoria
do Reforço ajuda a compreender o mecanismo que as organizações adotam, tanto no
sentido de premiar quanto de punir os colaboradores, a saber:
• Premiação/recompensa: Atribuição de recompensa a comportamentos dese-
jados de forma a aumentar a probabilidade de repetição deles. Esse tipo de
reforço é realizado por meio de elogio, reconhecimento e recompensas mate-
riais e imateriais.
• Punição: Tentativa de desencorajar – e reduzir – comportamentos indesejados,
aplicando consequências negativas. Ocorre por meio de cartas de advertência,
suspensões, e pode culminar com a demissão do colaborador.
Abraham Maslow (1908-1970) nasceu no Brooklyn (EUA), e sua infância foi infeliz e mise-
rável, segundo ele mesmo pontuou, por isso refugiava-se em bibliotecas. Fez Direito no City
College of New York, mas se interessou por Psicologia, na Universidade de Wisconsin, onde fez
Mestrado e Doutorado (E-BIOGRAFIAS, [S.d.]).
medida que uma delas é satisfeita, a outra se torna dominante. Robbins (2002) e Soto
(2002) nos ajudam a esclarecer o tema:
• Necessidades fisiológicas/básicas: são as necessidades físicas, inatas, primá-
rias. Relacionam-se com o aparato biológico e são orientadas à sobrevivência.
Incluem-se aqui a fome, a sede, o sono, o sexo e o abrigo, entre outras.
• Necessidades de segurança: nessa categoria encontra-se a necessidade
de proteção, tanto em relação a danos físicos quanto emocionais. Também
está presente a necessidade de estabilidade, ausência de aflições, ameaças
e enfermidades.
• Necessidades sociais: o homem é um ser social, gregário, precisa do outro
para se relacionar. Assim, nas necessidades sociais estão incluídos a afeição, a
aceitação, a amizade e o pertencimento a grupos.
• Necessidades de estima: contempla elementos internos, a exemplo do concei-
to, da imagem e da estima que o homem tem e faz de si mesmo, e externos
(status, reconhecimento social etc.).
• Necessidades de autorrealização: nessa categoria estão incluídos os desejos
de crescimento pessoal e realização do potencial individual.
A Hierarquia das Necessidades de Maslow é representada em forma de pirâmi-
de, como ilustra a figura a seguir.
Realização
pessoal
Autoestima
Necessidades
sociais
Necessidades de
segurança
Necessidades
fisiológicas
© FabriCO
Uma boa dica para compreender a teoria de Maslow é o filme “O Náufrago”. Chuck Noland,
inspetor da Federal Express, multinacional de transporte de cargas e correspondências, fica
preso por quatro anos em uma ilha deserta após um acidente aéreo. Ele luta para sobreviver,
tanto física como emocionalmente.
Frederick Herzberg, grande ícone na gestão empresarial, nasceu em 1923 em Lynn (EUA).
Criador da Teoria dos Dois Fatores, argumentou que enriquecimento do trabalho e valoriza-
ção são vitais para a motivação intrínseca e que o gerenciamento é um processo contínuo.
(HISTÓRIA DA ADMINISTRAÇÃO, [S.d.])
preciso que sejam considerados os fatores motivadores que, segundo Herzberg (1968,
p. 57), “relacionam-se com aquela característica humana singular que é a capacidade
de realizar e, através da realização, desenvolver-se psicologicamente”. O caso a seguir
ilustra o papel dos fatores motivacionais.
Carol, estudante do segundo período de Recursos Humanos, enfrentou uma ver-
dadeira batalha ao informar que abandonaria o curso de Fisioterapia a apenas oito
meses da formatura. Todo dia que ia para a faculdade se sentia desanimada. Até que
resolveu romper com essa situação: prestou vestibular para Recursos Humanos e foi
aprovada. Mudou de emprego e passou a trabalhar nessa área. Carol confidenciou à
sua amiga que estava assoberbada de trabalho. Estava reformulando toda a estratégia
de recrutamento e seleção da organização, implantando uma nova forma de avaliação
de desempenho e elaborando um plano de cargos e salários. Mantinha reuniões cons-
tantes com os diretores da empresa e tinha permissão para realizar as pesquisas que
julgasse necessárias para desenvolver seus projetos. A amiga, entusiasmada, pergun-
tou: “E o seu salário, aumentou?”. Ao que Carol respondeu: “O meu salário não aumen-
tou nem um centavinho. Mas nunca me senti tão feliz e realizada. Acordo todos os dias
me sentindo viva, sem contar que não posso mensurar o quanto estou aprendendo!”.
Note que os fatores motivacionais são relacionados ao que os indivíduos con-
sideram intrinsecamente recompensadores; são eles que promovem satisfação. Os
fatores higiênicos são, portanto, aqueles que não promovem satisfação ou motivação,
mas que quando ausentes no ambiente de trabalho resultam em insatisfação. O qua-
dro a seguir apresenta os fatores de cada uma das categorias.
Assim, olhar para a Qualidade de Vida no Trabalho – uma vez que um dos objeti-
vos dos programas de QVT é exatamente a satisfação do colaborador em relação ao
trabalho – implica necessariamente identificar, avaliar, medir e adotar estratégias que
preservem tanto os fatores motivacionais quanto os higiênicos.
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 47
Realização,
crescimento
Autorrealização
MOTIVACIONAIS
Progresso,
Estima reconhecimento
Relações interpessoais,
Sociais supervisão
Salário, condições de
Necessidades Fisiológicas trabalho
© FabriCO
Fonte: Herzberg (1997); Freitas (2006); Wagner III e Hollenbeck (2009); Gondin e Silva (2004). (Adaptado).
Essa relação nos permite identificar que, para que exista de fato Qualidade de
Vida no Trabalho, é imperativo que esse trabalho oportunize ao trabalhador que suas
necessidades básicas sejam satisfeitas, que este possa oferecer segurança a si mesmo
e a sua família e que possa ter atendidas as dimensões psicológicas e sociais.
Certa vez um arqueiro experiente convidou seu aluno para assistir a uma demons-
tração. Ao chegarem diante de uma árvore, pegou uma flor e a colocou em um dos ga-
lhos da árvore. Em seguida apanhou o arco e flecha e posicionou-se a uma distância de
cem passos da árvore. Amarrou uma venda nos olhos e perguntou ao aluno: “Quantas
vezes você já me viu praticar esse esporte?”. “Todos os dias”, respondeu o discípulo. “E
sempre o vi acertar na rosa a uma distância de trezentos passos”. De olhos vendados,
o arqueiro esticou o arco e disparou. A flecha nem sequer atingiu a árvore, passando
longe do alvo a uma distância constrangedora. “O senhor errou!”, espantou-se o dis-
cípulo. “Achei que queria me mostrar o poder de sua experiência!”. Ao que o arquei-
ro respondeu: “Eu lhe dei aqui a lição mais importante sobre o poder do pensamento!
Quando desejar uma coisa, concentre-se apenas nela: ninguém jamais será capaz de
atingir um alvo que não consegue ver” (RANGEL, 2003, p. 99).
No final da década de 1960, Edwin Locke defendeu a ideia de que a intenção de
lutar por um objetivo é uma das maiores fontes de motivação para o trabalho. Um ob-
jetivo claro é uma visão compartilhada entre a organização e o colaborador. A Teoria
da Fixação dos Objetivos sustenta que objetivos específicos e desafiadores, desde que
aceitos pela equipe e acompanhados de feedback , conduzem a altos patamares de su-
peração e desempenho.
A especificidade do objetivo funciona como um estímulo interno; entretanto, vale
lembrar que para formular o objetivo é imperativo que ele seja elaborado em termos
positivos, mensurável, exequível e ecológico, ou seja, que não traga efeitos colaterais
negativos em outras áreas.
Quando o indivíduo encontra em seu trabalho elementos que são atrelados aos
seus valores – como a importância que atribui ao desenvolvimento pessoal, reconheci-
mento, ambiente de trabalho pautado no respeito, liderança impulsionadora – e quan-
do trabalha naquilo que gosta e possui o perfil para o desenvolvimento das funções,
atuará muito mais satisfeito. Ele se sentirá muito mais seguro para ousar, assumir res-
ponsabilidades, propor mudanças que promovam melhorias contínuas.
Contudo, considerar apenas as necessidades como determinantes do comporta-
mento do trabalhador pode significar um olhar distorcido da realidade, afinal é preci-
so levar em conta o grau em que ele interpreta as condições de trabalho e do ambiente
organizacional de modo geral como facilitadoras ou não do alcance dos seus objetivos
e necessidades. A motivação no desenvolvimento das atividades diárias pode facilitar
ou dificultar o alcance dos objetivos pessoais: se trouxer satisfação, o ânimo será posi-
tivo; entretanto, se provocar frustração, poderá contribuir para o estresse, prejudican-
do assim a qualidade de vida no trabalho (MARSON et al., 2011).
Satisfação é diferente de motivação. Esta tem origem em uma tensão gerada por
uma necessidade, ao passo que satisfação é uma sensação emocional agradável resultan-
te da avaliação que o indivíduo faz do próprio trabalho, de atendimento da necessidade.
É importante que o gestor de Recursos
Humanos se mantenha atento não somen-
te aos aspectos promotores da satisfação
no trabalho, mas também aos feedbacks, ou
seja, às respostas oferecidas pelos colabora-
© FuzzBones // Shutterstock
dores que podem indicar a insatisfação deles
para com o trabalho. Tais respostas podem
ser expressas de diferentes formas, confor-
me dispostas no quadro a seguir.
Recrutamento e seleção:
• Critérios claros de recrutamento e seleção de pessoal por meio da adoção de
técnicas que de fato compatibilizem as necessidades e demandas do cargo ao
perfil e às competências do trabalhador; em outras palavras, técnicas de recru-
tamento e seleção eficazes que aloquem a pessoa certa no lugar certo;
• Recrutamento interno como política de RH para atender aos anseios de cresci-
mento dos colaboradores que desejam galgar outros cargos na organização;
• Adequado programa de integração do novo colaborador que lhe dê oportuni-
dade de conhecer a missão, a visão e os valores organizacionais, para que pos-
sa atuar em consonância com a cultura organizacional.
Gestão do conhecimento:
• Desenvolvimento de programas de educação
corporativa, com oferta de cursos e palestras;
© Pressmaster // Shutterstock
• Criação de programas de desenvolvimento de
equipes;
• Implantação de planos de rotação de funções
( job rotation), possibilitando que toda a equipe
conheça as atividades de determinada área ou departamento;
• Desenvolvimento de banco de melhores práticas profissionais e outros progra-
mas de valorização da disseminação do conhecimento.
Locus de controle foi proposto por Julian Rotter em 1966. Lócus significa lugar em latim, e
controle remete a quem está no comando. É a expectativa da pessoa sobre a medida que os
seus resultados estão sob controle interno (esforço pessoal, competência) ou externo (outras
pessoas, sorte, chance).
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 55
Locus de controle
Filtro de
Característica Linguagem observada
referência
A abordagem é reativa:
As pessoas com locus exter- “Se meu chefe reconhecesse meus esforços...”
no percebem seus resultados “Se eu tivesse tido uma orientação clara...”
Locus de con- como fruto de fatores diver- “Meu colega se destaca porque é amigo do chefe.”
trole externo sos, que independem de sua “Isso sempre foi feito assim e não adianta tentar
vontade, como sorte ou ou- modificar.”
tras pessoas e situações. “Não tenho feedback adequado para poder melho-
rar meu desempenho.”
Essa história convida a refletir que entre um estímulo (um evento ou algo que
acontece) e o resultado (o comportamento) existe uma escolha.
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 57
Referências
BIOGRAFIA de Abraham Maslow. E-biografias. On-line. Disponível em: <www.e-biogra-
fias.net/abraham_maslow/>. Acesso em: 01/10/2015.
BROCKERT, S.; BRAUN, G. Inteligência emocional: teste o seu Q.E. Rio de Janeiro:
Record, 1997.
CHIAVENATO, I. Recursos humanos: o capital humano nas organizações. São Paulo:
Atlas, 2004.
DAVIDOFF, L. Introdução à psicologia. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1983.
EDELMAM, S. Basta pensar diferente. Como a ciência pode ajudar você a ver o mundo
com outros olhos. São Paulo: Editora Fundamento Educacional Ltda., 2014.
ERVILHA, A. J. Liderando equipes para otimizar resultados. São Paulo: Nobel, 2008.
FERRARI, M. B. F. Skinner, o cientista do comportamento e do aprendizado. Nova
Escola. On-line. Disponível em: <revistaescola.abril.com.br/formacao/skinner-428143.
shtml?page=3>. Acesso em: 01/10/2015.
FREDERICK, H. História da Administração. On-line. Disponível em: <www.historiadaad-
ministracao.com.br/jl/gurus/65-frederick-herzberg>. Acesso em: 11/11/2015.
GOLEMAN, D. Trabalhando com a inteligência emocional. São Paulo: Pearson, 2005.
HERZBERG, F. One more time: how do you motivate employees? Harvard Business
Review, 1968.
KURY, G. A. Minidicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: FTD, 2002.
LOTZ, E. G.; GRAMMS, L. C. Gestão de talentos. Curitiba: InterSaberes, 2012.
LUZ, M. da. Onde a religião termina? Foz do Iguaçu: Associação Internacional Editares, 2011.
MARSON, L. S. C. et al. A relação entre motivação e qualidade de vida no trabalho: um
estudo com técnico-administrativos de uma universidade pública do Estado do Rio de
Janeiro. In: CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO, Rio de Janeiro, 7,
12-13 de agosto de 2011. Disponível em: <www.excelenciaemgestao.org/portals/2/docu-
ments/cneg7/anais/t11_0363_2058.pdf>. Acesso em: 01/10/2015.
O NÁUFRAGO. Direção: Robert Zemeckis. Estados Unidos: Universal Pictures, 2000. 143 min.
O QUE É feedback. Conceito e definição da palavra. Marketing Futuro. On-line. Disponível
em: <marketingfuturo.com/o-que-e-feedback/>. Acesso em: 25/09/2015.
RANGEL, A. O que podemos aprender com os gansos: lições de cooperação, liderança e
motivação para melhorar a qualidade de vida, o ambiente de trabalho e a produtividade
da empresa. São Paulo: Original, 2003.
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 58
3.1 O estresse
Será que podemos discutir qualidade de vida ou qualidade de vida no trabalho
sem olhar para um tema muito recorrente no dia a dia das pessoas, o estresse? Ele é
de fato o grande vilão do século? Será que leva apenas a resultados negativos? Existe
estresse positivo? Embora seja erroneamente associado somente a fatores negativos,
trata-se de uma condição de adaptação inerente ao organismo, e por essa razão um
recurso muito útil para que o indivíduo enfrente situações do cotidiano.
Assim, é importante destacar que o estresse existe como processo e como estado:
como processo, é a adaptação do organismo aos estressores que, de uma forma ou de
outra, ameaçam a homeostase, ou seja, o equilíbrio dele; e como estado, é aquele que
afeta o comportamento, promove doenças e afeta o bem-estar e a saúde do indivíduo.
• Luta: quando uma situação é percebida pelo indivíduo como uma ameaça a se
dominar; nesse caso, o organismo se prepara para a defesa, que pode também
incluir o ataque.
• Fuga: quando uma situação é percebida pelo indivíduo como uma ameaça de-
masiadamente grande; nesse cenário, o organismo se prepara para fugir – em
outras palavras, “dar no pé”.
Para entender o mecanismo de luta e fuga, tomemos um exemplo simples. Um alu-
no tem um trabalho a mostrar diante de toda a turma, e esse é um fator altamente es-
tressor para ele. Aqui há duas saídas: a primeira é estudar, ensaiar na frente do espelho,
fazer uma simulação com as plantas da sua casa e com os animais de estimação e no dia
marcado comparecer e fazer a apresentação de seu trabalho; e a segunda é fugir, isto é,
não se sentir bem de saúde na data ou, por qualquer outro motivo, não comparecer.
O que acontece caso o estressor mantenha a sua ação, ou seja, a pressão perce-
bida pelo indivíduo continue? A fase de alarme dá lugar à fase de resistência. Nesse
caso o organismo tenta se adaptar à situação por meio do restabelecimento do equi-
líbrio interno – homeostase. A tensão se acumula e produz alterações no bem-estar e
no comportamento, e o organismo empreende uma busca para se adequar a esse novo
cenário. É quando a reação ao estresse é canalizada para um órgão ou sistema e sur-
gem ulcerações no aparelho digestivo, irritabilidade, insônia, mudanças significativas
no humor, alterações no apetite e redução do desejo sexual, dentre outros (LIMONGI-
FRANÇA; RODRIGUES, 2002). Também são atribuídos a essa fase cansaço constante,
esquecimentos, dificuldade de concentração, isolamento, sensação de perda de con-
trole, desorganização, angústia, apatia, introspecção e autoritarismo, que indispõem a
pessoa ao diálogo.
E o que acontece se o indivíduo se manti-
ver submetido às mesmas condições, ou seja,
quando os agentes, percebidos pelo indivíduo
como estressores, continuarem agindo? Nesse
© Alphaspirit // Shutterstock
Embora Seyle tenha identificado três fases do estresse, recentemente pesquisadores acres-
centaram a quarta: fase de quase exaustão, intermediária entre a de resistência e a de exaus-
tão. Nela se constatou o aparecimento de diversas doenças, no entanto não tão graves a ponto
de levarem à morte.
Mas, e o que dizer de situações como essas: “Meu chefe exige demais de mim! Eu
não aguento tanta pressão! Uma hora eu vou explodir!”; “Esse trânsito me estressa!”; “De
que adianta um escritório tão bonito se sou interrompido o tempo todo e não consigo me
concentrar?”; ou “O cliente ficou estressadinho só porque teve que aguardar na fila!”?
Se observarmos com atenção, cada uma dessas afirmações revela um estímulo
estressante, o qual, por sua vez, provoca uma tensão ou pressão. O resultado é um
dano, que pode ser uma sensação de impotência, incompetência, ansiedade, inseguran-
ça, medo, raiva. Quando isso acontece, o indivíduo se sente estressado, e nesse caso o
estresse passa a ter a conotação de estado e não mais de processo.
Quando uma pessoa se diz estressada está se referindo ao estado do seu organis-
mo. Tal estado é fruto do esforço de adaptação que o organismo realiza, e embora os
estressores sejam os mesmos, cada um responde de forma diferente. Nas palavras de
Limongi-França e Rodrigues (2002, p. 34), o estresse “é uma relação particular entre o
indivíduo, seu ambiente e as circunstâncias nas quais está submetido, que é avaliada por
este como uma ameaça ou algo que exige mais que suas habilidades e recursos e que
coloca em risco seu bem-estar e sobrevivência”. Também pode ser compreendido como
perturbações que causam distúrbios agudos ou crônicos no bem-estar das pessoas e que
podem surgir em virtude de estímulos físicos e emocionais (ALBERT; URURALY, 1997).
Um distúrbio é uma perturbação da ordem, é uma disfunção; trata-se de um sinal
de alerta que o organismo está enviando de que algo não está bem e requer atenção.
Por essa razão toda dor deve ser investigada. Mas, que tipos de distúrbios o estresse
pode causar? Os distúrbios agudos ou crônicos. O distúrbio agudo é provocado por um
evento, como a perda de um ente querido, um problema de saúde, o rompimento inde-
sejado de um relacionamento, levando a uma profunda tristeza. O distúrbio crônico,
por sua vez, é caracterizado por evolução lenta e duração prolongada ou por recorrên-
cia frequente, como um funcionário que há tempos vem sofrendo com o assédio moral.
leva a esse estado. O organismo dele produzirá uma resposta: se as exigências forem
muito maiores do que pode suportar, ela será negativa, ou seja, o distress; se a respos-
ta for positiva e colocá-lo em um estado de busca por seus objetivos e realização, de-
nomina-se eustress.
© eelnosiva // Shutterstock
xão sobre conflitos. As pessoas percebem, pensam,
sentem e agem de maneiras distintas. Nessas percep-
ções singulares é que estes surgem, na medida em que
essas diferenças comportamentais precisam ser enfren-
tadas. Elas não podem ser consideradas boas ou más, pois propiciam riqueza de possibi-
lidades, opções de maneiras de reagir a situações e problemas (MOSCOVICI, 2005).
A reação a essas situações pode gerar conflitos funcionais ou disfuncionais. Os pri-
meiros são aqueles que de alguma forma abrem espaço ao crescimento das pessoas no
grupo, pois produzem um estado de tensão que gera uma mobilização para operar mu-
danças e obter melhores resultados. Isso ocorre porque a divergência de pontos de vista
pode promover uma ampliação de perspectiva, conduzindo a um patamar diferente do
que o estabelecido por A ou por B.
O problema está nos conflitos disfuncionais, que promovem desde uma guerra
fria e velada em relação ao outro até chegar à agressão por palavras e no último es-
tágio à agressão física, fruto da perda de controle emocional por parte do agressor.
Esse conflito invariavelmente leva a todos os envolvidos ao resultado de perda mútua
e pode destruir a relação.
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 65
• Assédio
É a “insistência impertinente junto de alguém,
com pretensões, propostas inconvenientes e indeco-
© BhFoton // Shutterstock
• Bullying
É a violência praticada por um ou mais indivíduos
© lightwavemedia // Shutterstock
Nível Decorrência
Indivíduo Queda da eficiência, ausências repetidas, insegurança nas de-
cisões, procrastinação, protelação na tomada de decisões, so-
brecarga voluntária de trabalho, isolamento, uso abusivo de
© Nomad_Soul // Shutterstock
Nível Decorrência
Organização
Greves, atrasos constantes nos prazos, ociosidade, sabota-
gem, absenteísmo, turnover, altas taxas de doenças, acidentes
© Creativa Images // Shutterstock
Sabemos que uma dose de estresse pode ser altamente benéfica para o indiví-
duo, gerar uma competição saudável entre grupos e colocar toda a organização rumo
a conquistas de objetivos – quando estas acontecem, promovem ganhos a todos os en-
volvidos. Contudo, o contrário também é verdadeiro. O estresse pode trazer perdas
e danos, tanto à saúde emocional quanto à física do trabalhador, promover relações
adoecidas entre as pessoas e os grupos, o que fatalmente comprometerá o alcance dos
objetivos organizacionais.
Por essa razão nos compete investigar: o que pode trazer estresse para o cola-
borador na organização? Para explorar a questão, vamos conhecer o Modelo Demand-
Control de Karasek e os estudos de Cooper, Marshall e colaboradores.
“Condição ligada ao estresse laboral” que “pode levar ao cansaço mental extremo”, com pre-
juízos à saúde; “esgotamento emocional caracterizado por sensação de exaustão emocio-
nal, frustração, desinteresse pelas atividades cotidianas, perda de produtividade e apatia.”
(ALBERT EINSTEN, [S.d.]).
© racorn // Shutterstock
A pessoa com Personalidade Tipo A está sempre em movimento, andando e co-
mendo rapidamente; impacienta-se com a velocidade e o ritmo com que as coisas
acontecem; pensa ou faz duas coisas ao mesmo tempo; não suporta momentos de
ócio; é obcecado por números e mede seu sucesso por meio de quanto consegue obter.
A pessoa com Personalidade Tipo B parece ser imune ao sentimento de urgência e à
impaciência que isso causa; é reservado, não demonstra suas realizações e conquistas
a não ser quando necessário; faz as coisas por prazer, sem se preocupar em provar sua
superioridade a qualquer custo; relaxa sem se sentir culpado.
De acordo com Friedman e Rosenman (1974), pessoas com personalidade Tipo A
operam sob o nível de estresse moderado a alto, se colocam prazos para tudo, tendem
a serem trabalhadores mais velozes, que enfatizam a quantidade, o que muitas vezes
pode ocorrer em detrimento da qualidade. Quando em posições nos altos níveis hie-
rárquicos da organização, são propensos a trabalhar por muito mais horas e diversas
vezes incorrem em decisões equivocadas por terem sido tomadas de forma rápida de-
mais. Assim, sob essa perspectiva, as pessoas com personalidade Tipo B, em virtude
da habilidade de delegarem funções, talvez com menor ambição de conquistas de bens
materiais e status, tendem a ser mais tranquilas e, portanto, menos imunes aos estres-
sores organizacionais.
a. Locus de controle: Locus, em latim, significa “local”; e o termo controle é co-
mando, quem está na direção. Trata-se se um filtro de referência determina-
do pela medida que o indivíduo sente que pode interferir em seus resultados.
Pessoas com locus externo de controle tendem a se sentir sempre vítimas da
situação, já aquelas com locus interno de controle tendem a perceber que en-
tre um estímulo (evento) e um resultado (comportamento) existe uma escolha.
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 73
b. Crenças limitantes: As crenças são como lentes que o indivíduo utiliza para
enxergar a si mesmo, o outro e o mundo; interferem poderosamente na inter-
pretação que a pessoa faz dos fatos e influenciam o comportamento dela. Uma
crença é um sentimento de certeza. Aqui não estamos nos referindo às crenças
religiosas, mas ao que o indivíduo acredita ser verdade sobre ele, sobre o
outro e sobre o mundo.
A estrutura de crenças de uma pessoa gira em torno de sua identidade (o que ela
é), de sua capacidade (o que consegue) e de seu merecimento (o que acredita mere-
cer). As crenças podem ser limitantes ou impulsionadoras. As impulsionadoras for-
talecem o indivíduo, são geradoras de movimento, levam-no à conquista de seus
objetivos. Já as crenças limitantes acerca de identidade, capacidade e merecimento
são fontes potenciais de estresse. Por exemplo: uma pessoa, diante de um novo de-
safio, pode acreditar que experimentará um franco crescimento, ao passo que outra,
perante o mesmo desafio, acredita estar fadada ao fracasso. O quadro a seguir ilustra
esquematicamente esses aspectos.
3.4.2 A depressão
Momentos de tristeza são muito comuns
na vida das pessoas. Aliás, não conseguiremos
realizar nossa jornada existencial sem que te-
nhamos nos deparado com a morte de algum
ente querido, o rompimento de um laço afetivo,
© KieferPix // Shutterstock
Sintomas da depressão
Redução do nível de energia Diminuição do prazer nas atividades em geral
Perda de interesse. Diminuição da libido.
Dificuldade em iniciar atividades, principalmen-
Lentificação dos pensamentos/movimentos.
te pela manhã.
Sentimento de desesperança. Irritabilidade.
Perda ou ganho de peso. Diminuição da autoestima.
Insônia inicial ou despertar precoce. Ideias negativas sobre si mesmo.
Hipersonia durante o dia. Crises de choro.
Preocupação maior que o habitual. Angústia.
Pessimismo. Afastamento das atividades sociais.
Dificuldade de tomar decisões. Ideias e planos de suicídio.
Diminuição significativa do apetite ou aumento Pensamento de que a morte seria um alívio ou
da ingestão de alimentos. solução.
Fonte: LIMONGI-FRANÇA; RODRIGUES, 2002, p. 104-105.
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 77
Cumpre observar que a depressão, por ser uma doença, requer tratamento mé-
dico, com o uso de medicamentos. A psicoterapia deve acompanhar o processo do
paciente e é fundamental no auxílio da reestruturação psicológica da pessoa, oportu-
nizando maior conhecimento acerca de si mesmo e o fortalecimento de suas estrutu-
ras internas que permitirão minimizar os impactos promovidos pelo estresse.
Contudo, vale lembrar que mesmo que o indivíduo não encontre no ambiente
de trabalho as ações e programas acima relacionados, está em suas mãos adotar es-
tratégias que promovam a sua saúde física, emocional e mental. Compete a cada um
a escolha por hábitos alimentares, práticas de atividades físicas, cultivo de emoções
positivas como o perdão, a gratidão, o otimismo, o cultivo de autoimagem positiva,
a perspectiva apreciativa dos eventos e acontecimentos, tendo em vista a aprendiza-
gem, a construção de relações sociais afetivas e apoiadoras etc.
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 80
Referências
ALBERT, E.; URURAHY, G. Como se tornar um bom estressado. Rio de Janeiro:
Salamandra Consultoria Editorial Ltda., 1997.
BAKER, D. B.; KARASEK, R. A. Stress. In: LEVY, B. S.; WEGMAN, D. H. (Ed.). Occupational
health: recognizing and prevening work related disease and injury. Philadelphia:
Lippincott Williams & Wilkins, 2000. p. 419-436.
À BEIRA de um ataque de nervos. Veja, 26/02/1997.
CONCEITO de depressão. Conceito.de. On-line. Disponível em: <conceito.de/depressao
#ixzz3aQ6QyjSY>. Acesso em: 09/10/2015.
COOPER, C. L.; MARSHALL, J. Occupational sources of stress: a review of the literatu-
re relating to coronary heart disease and mental ill-health. Journal of Occupational
Psychology, 49, p. 11-28, 1976.
ENTENDA a Síndrome de Burnout. Albert Einstein – Sociedade Beneficente Israelita
Brasileira. On-line. Disponível em: <www.einstein.br/einstein-saude/pagina-einstein/
Paginas/entenda-a-sindrome-de-burnout.aspx>. Acesso em: 11/11/2015.
FRIDMAN, M. D.; ROSENMAN, R. H. Type A behavior and your heat. New York: Knopf,
1974.
KURY, A. G. Minidicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: FTD, 2002.
LIMONGI-FRANÇA, A. C.; RODRIGUES, A. Stress e trabalho: uma abordagem psicosso-
mática. São Paulo: Atlas, 2002.
LIPP, M. E. N.; MALAGRIS, L. E. N. O stress emocional e seu tratamento. In: RANGÉ, B.
(Ed.). Psicoterapias cognitivo-comportamentais: Um diálogo com a psiquiatria. Porto
Alegre: Artmed, 2001. p. 475-490.
LIPP, M. Mecanismos neuropsicofisiológicos do stress: Teoria e aplicações clínicas. São
Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
LOTZ, E.; GRAMMS, L. Coaching e mentoring. Curitiba: InterSaberes, 2014.
MOSCOVICI, F. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. 15. ed. Rio de
Janeiro: José Olímpio, 2005.
MYERS, D. Introdução à Psicologia Geral. Rio de Janeiro: LTC, 1999.
O QUE é estresse. Clínica Vida. On-line. Disponível em: <www.clinicavida.med.br/o-que-e-
estresse/>. Acesso em: 09/10/2015.
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 81
(BRASIL, 1988). Assim, em hipótese alguma o colaborador pode ser assediado no tra-
balho, pois isso fere a sua dignidade.
Contudo, a cada dia milhares de pessoas deixam suas casas, rumo à jornada de
trabalho, que mais equivale a uma dura jornada de humilhações. Para ilustrar essa per-
versa violência do cotidiano, que tal conhecer o caso de Antonio? Há oito anos trabalha
no departamento financeiro de uma grande empresa, a qual passou por uma reestru-
turação que provocou demissão de dezenas de colaboradores. O estresse é constante
em virtude do desligamento de muitos colegas e das mudanças nos processos organi-
zacionais que atingem diretamente seu trabalho. Antonio tem encontrado refúgio no
cigarro e no álcool; sente-se cansado e nervoso. Ao praticar judô, o que fazia com fre-
quência para eliminar as tensões, fraturou o braço direito, o que o coloca em licença
médica de dez dias, exatamente no período de pico das demandas do departamento.
Ao retornar ao trabalho, passa a ser alvo de críticas constantes e de observações
sarcásticas por parte de Claudio, o superior hierárquico: “Aqui não é instituição de ca-
ridade, se não aguenta o ritmo cai fora”. Alegando reformas, que não aconteciam,
Claudio instala a mesa de Antonio no corredor. Antonio passa a ser constantemente
interrompido e, dadas as suas condições de trabalho, vira alvo de frequentes zomba-
rias. Com dificuldades para se concentrar, o trabalho é feito com mais lentidão, o que
torna mais intensa a agressividade de Claudio: “O tempo que você leva para resolver as
coisas, minha tartaruga ganha a corrida de São Silvestre”.
Há poucas semanas Antonio foi fortemente humilhado por seu gestor na frente de
todos os colegas: “Olha, Antonio, definitivamente é melhor você procurar outra coisa
para fazer porque pelo jeito seu QI não atinge mesmo o nível desejado, você é um pan-
garé e nós precisamos de um cavalo árabe em nosso departamento”. Naquele dia, o fun-
cionário percebeu que não conseguia mais suportar a situação. Foi acometido por uma
grave elevação de pressão arterial, passou mal e foi levado até a casa dele. Desde então,
tem tido pesadelos constantes, e quando está se preparando para o trabalho sente for-
tes tonturas. Hoje, ao chegar à empresa e olhar para a porta, simplesmente não conse-
guiu sair do carro: seus músculos estavam enrijecidos, seu corpo já não lhe obedecia.
A história de Antonio ilustra dois momentos distintos. Primeiramente o que se ob-
serva é um quadro de estresse, fruto de demandas da função e do contexto que a orga-
nização atravessa. Contudo, o cenário se transforma a partir do momento que ele passa
a ser alvo de críticas, sarcasmos, constantes humilhações, dirigidas pontualmente a ele
e a nenhum outro colaborador mais. Antonio, em um segundo momento, sem conseguir
mais suportar a situação, adoece severamente. Assim, o quadro evolui para uma situa-
ção de assédio, no qual está presente a dominação psicológica da vítima pelo agressor.
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 85
Quais são os fatores que de fato constituem o assédio moral no trabalho? De que
forma podemos estabelecer uma fronteira entre o que o caracteriza e o que está fora
dessa condição? A resposta aponta para situações nas quais estão presentes a inten-
ção, a repetição e a duração das práticas hostis, a saber:
• Repetição sistemática: humilhação, perseguição, sarcasmos ou outras formas
de violência contra a vítima ocorrem de forma repetitiva e prolongada. A fre-
quência é um importante aspecto para a caracterização do assédio moral.
• Intencionalidade: significa fazer algo de caso pensado, ou seja, de propósito,
premeditado. O objetivo é de fato humilhar, diminuir, causar dor e sofrimento
moral.
• Direcionalidade: existe uma pessoa-alvo da violência do agressor. A vítima,
além de ser isolada do grupo sem explicações, é ridicularizada, culpabilizada,
humilhada, inferiorizada e desacreditada, não apenas em particular, mas, so-
bretudo, diante dos pares.
• Degradação deliberada das condições de trabalho: o assediador faz de tudo
para dificultar as condições de trabalho – físicas ou psicológicas – da vítima.
Mas de que forma essa dignidade pode ser ferida? Quais práticas são considera-
das abusivas no ambiente laboral? Hirigoyen (2002) ensina que abusivo é todo com-
portamento que venha impactar a integridade física ou psíquica do colaborador.
Esse aspecto dá origem ao conceito de assédio proposto pela autora:
Assédio moral é toda e qualquer conduta abusiva que se manifesta por comportamentos,
palavras, gestos, atos, escritos, que possam trazer dano à personalidade, dignidade ou in-
tegridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr em perigo seu trabalho ou degradar seu
ambiente de trabalho. (HIRIGOYEN, 2002, p. 20)
Os conflitos podem ter a gênese na tarefa, nos processos ou nas relações interpes-
soais. As diferenças de modelos mentais, crenças, personalidade, interesses e valores
Conflitos
podem levar as pessoas ao conflito, dentro e fora da organização. Quando funcionais,
podem trazer bons resultados, gerar aprendizagem e aprimorar processos.
Agressões Uma agressão pontual é um ato de violência, mas a menos que ocorra sistemática
pontuais e repetidamente não pode ser considerada assédio moral.
Em todo trabalho é natural que os gestores façam pressões por metas, ofereçam
Imposições feedbacks com o objetivo de aprimoramento, os quais nem sempre são bem acei-
profissionais tos pelos colaboradores. Por essa razão, é imprescindível que os gestores se co-
muniquem de forma clara e, sobretudo, respeitosa.
© Ollyy // Shutterstock
mais comum. O gestor, alicerçado em po-
sição hierárquica que lhe confere poder e
autoridade, a exerce de forma autoritária
e assimétrica, por meio de condutas ne-
gativas, relações desumanas e não éticas de longa duração (BARRETO, 2000). O
assédio promovido pelo superior hierárquico pode ser deflagrado também em vir-
tude de o gestor se sentir ameaçado pela competência do subordinado, de que
este possa demonstrar um desempenho superior ao seu. Assim, passa a asse-
diá-lo sistemática e deliberadamente com metas inalcançáveis, ameaças, com-
prometendo suas condições de trabalho e com todo tipo de conduta abusiva. O
assédio também pode ocorrer quando o colaborador não se adapta às diretrizes
do gestor ou quando está doente. Nos dois casos observa-se que funcionário se
torna improdutivo sob a perspectiva da organização, e o gestor, sem o devido
preparo para o cargo que ocupa, com o objetivo de se livrar do subordinado, pas-
sa a assediá-lo, forçando-o a pedir demissão (HIRIGOYEN, 2002).
• Assédio moral horizontal: ocorre quando os pares não aceitam o colega no
ambiente de trabalho. É manifesto por meio de discriminação, comportamen-
tos pejorativos, difamação e outros; também pode se dar em virtude da into-
lerância, seja por sexo, seja por raça, seja por religião, seja por posição social,
seja por escolha afetiva, dentre outros.
• Assédio moral ascendente: ocorre quando o superior hierárquico é alvo de
condutas negativas por parte dos subordinados, os quais pretendem desestabi-
lizá-lo. É muito comum a incidência desse tipo de assédio quando:
a. o grupo não aceita a forma de chefiar do gestor ou por este promover mu-
danças radicais nos métodos de trabalho com as quais, por algum motivo, os
subordinados não concordam;
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 88
• Assédio moral misto: ocorre quando há a presença tanto do assédio por parte
do superior hierárquico quanto de seus pares.
Mas será que os tipos citados encerram as situações de assédio nas organizações?
Para tratar disso, vamos começar conhecendo a história de Mariana. Ela sabe que hoje é
fechamento de mês, o dia em que os vendedores apresentam os resultados das vendas
feitas e a aquisição de novos clientes. Ela não bateu a meta: passou uma semana sem
trabalhar porque o filho mais novo, de cinco anos, ficou internado e Mariana esteve ao
lado dele. Sabe que será exposta a constrangimentos, pois terá que passar o dia usando
um chapéu de tartaruga, seus colegas sempre que passarem por ela deverão tocar uma
corneta como símbolo de que deve “acordar para a vida” – tudo isso para que todos sai-
bam o quanto é lenta para atingir as metas estabelecidas. Além disso, novamente será
alvo do comentário do chefe de que “deveria se concentrar na busca por um marido para
sustentá-la já que é mãe solteira e porque seu forte definitivamente não é o trabalho”.
Mariana já comunicou ao chefe, desde a primeira vez que ocorreu, que não gos-
taria de que tais situações se repetissem, mas ele pareceu ignorar o pedido e tem o
prazer de submetê-la a toda sorte de humilhações. Ela não suporta mais ser alvo de
ofensas. Mas fazer o quê? Embora esteja nitidamente adoecendo, tem dois filhos para
alimentar, por isso precisa do emprego.
Difícil situação a de Mariana! Será que esse tipo de episódio, que expõe o colabo-
rador à sua revelia, constrange, humilha pode ser caracterizada como assédio ou faz
parte da “cultura”? Esse é um ponto importante – o elemento cultural – a ser salien-
tado. Uma vez que entre os fatores que caracterizam o assédio se incluem a intencio-
nalidade e a frequência, pode ser que em uma organização seja considerado “normal”
submeter o colaborador a constrangimentos na frente dos demais quando não atinge
os resultados esperados ou em virtude da baixa produtividade dele. E por ser um “há-
bito” na organização, não representa para os colaboradores nenhum tipo de ofensa.
Essa situação pode resultar em um dano moral. Mas, o caso de Mariana é diferente, já
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 89
que desde a primeira vez que ocorreu ela comunicou ao chefe seu desconforto e o sen-
timento de humilhação causados por essa exposição que levaram ao aparecimento de
distúrbios físicos e psicológicos.
A diferença entre dano moral e assédio moral é que “o assédio moral traz consequências so-
bre a saúde da vítima, e estas podem ser detectadas clinicamente. O dano moral apresen-
ta sintomas próprios, e ainda não existe necessidade da prova do prejuízo sobre a saúde [...]”
(ZANETTI, 2010, p. 49).
© KieferPix // Shutterstock
Negócios, trabalhava fazia cinco anos em uma
empresa de gestão de projetos. Por questões de
ordem política, sua chefe foi demitida sob fal-
sas e cruéis acusações de desvio de verba e rece-
bimento de propina. Foi então que Margarida assumiu o cargo. Não tardou para que
Vitória passasse a realizar as mais degradantes tarefas para uma pessoa com sua for-
mação. Uma tarde, foi enviada para fazer a limpeza de todos os livros da biblioteca
da empresa, em outra designada a limpar a sala do arquivo morto. Era excluída de to-
das as reuniões com os clientes e expropriada de tarefas que sempre lhe competiam.
Quando um cliente perguntava por ela, a resposta era sempre a mesma, de que esta-
va trabalhando em outro projeto. Destruída emocionalmente, em menos de seis meses
engordou 30 quilos e foi diagnosticada com depressão severa, o que lhe custou o afas-
tamento temporário do trabalho para tratamento.
Para compreender as bases que caracterizam o assédio intelectual, tomamos
emprestado as palavras de Lobregat (2001, p. 93):
[...] ao empregador incumbe a obrigação de distribuir o trabalho que deva ser desenvolvido por
seus empregados, não podendo impor a nenhum deles qualquer espécie de ociosidade forçada,
ainda que sob o pagamento de salários, sob pena de colocar o obreiro em situação vexatória e
submetido ao crivo de comentários maldosos, além de lesivos ao seu patrimônio moral.
Assista ao emblemático filme “Assédio Sexual”. Tom Sanders (Michael Douglas) é um execu-
tivo que espera ser promovido, mas a ocupante do cargo é Meredith Johnson (Demi Moore),
que cria várias estratégias para ter relações sexuais com ele, e diante da recusa ameaça des-
truí-lo na empresa.
Zanetti (2010) propõe analisar o tema sob a perspectiva das “caricaturas”. Uma
caricatura é uma representação burlesca, satírica, grotesca, exagerada de uma pessoa.
Não é a pessoa em si, mas a representação distorcida de seus traços. Assim, de for-
ma estereotipada, vamos conhecer traços de personalidade que favorecem a prática
do assédio nas organizações.
• Perversidade: estão presentes a frieza, a ausência de empatia, o prazer em fa-
zer sofrer. A pessoa com traços de perversidade tende a construir as próprias
leis, buscando sempre o favorecimento pessoal; é hábil no uso da “inteligên-
cia” de forma maliciosa; é persuasivo; é indiferente diante do sofrimento de
outrem; assume comportamento tirânico; é fechado à negociação e a ouvir o
outro; o outro é um mero objeto a serviço de seus desejos; sente prazer em
desqualificar o outro, o qual ele somente utiliza.
• Personalidade narcisista: o que recebe destaque é a vaidade exagerada.
Acredita na grandiosidade de sua importância, das suas realizações ou das suas
capacidades; tem sonhos de sucesso ilimitado, de poder ou de esplendor, de
beleza, de amor ideal; acalenta sentimento de ser especial e único, somen-
te pode ser compreendido por pessoas excepcionais, não é para qualquer um;
necessita excessivamente ser admirado; percebe-se como o centro do mundo;
inveja diante de outrem ou crê que outros o estão invejando; assume compor-
tamentos arrogantes.
• Personalidade obsessiva: a pessoa é exageradamente perfeccionista, preocupa-
da com a ordem, e apresenta grande rigidez em relação ao seu ponto de vista. O
perfeccionismo exagerado atrapalha a finalização das tarefas; excessivo no tra-
balho em detrimento do lazer e das relações entre amigos; rigoroso nos valores
éticos e religiosos; tem dificuldades de delegar, de trabalhar em equipe; preocu-
pa-se em economizar demais em vista de catástrofes que imagina irão ocorrer;
acredita que padrões, tarefas e resultados são mais importantes que as pessoas.
• Personalidade paranoica: o traço que recebe destaque é a desconfiança, sen-
tir-se constantemente ameaçado. Tende a desconfiar tudo e de todos; consi-
dera o outro como potencial inimigo que a qualquer momento pode lhe retirar
o poder; por se sentir assim, reage como um assediador implacável (principal-
mente no caso de assédio horizontal, entre colegas); é egocêntrico e impulsivo;
não tolera posicionamentos contrários aos seus, interpretando-os como sinal
de ameaça a seu poder; autoritário e intolerante.
Mas, será que por trás de comportamentos manipuladores, cruéis, narcisistas e
calculistas pode existir algum transtorno de personalidade? Esse é um ponto muito de-
licado a ser tocado, mas de grande importância também. Muitas vezes a vítima, além
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 96
Que tal conhecer a palavra de especialistas sobre a psicopatia? Leia Meu vizinho é um psicopata,
de Martha Stout. Lançado em 2005 nos Estados Unidos, a obra se tornou referência acerca do as-
sunto e ganhou o Prêmio Books for a Better Life por sua significativa contribuição à sociedade.
• Homens: sentem-se feridos em sua
masculinidade, revoltados, indignados,
desonrados, com raiva, traídos e com
© Wavebreakmedia // Shutterstock
vontade de se vingar; ideias de suicídio
e tendências ao alcoolismo; sentimento
de vergonha diante da mulher e dos fi-
lhos, sobressaindo a sensação de inutili-
dade, fracasso e baixa autoestima.
Nível Perdas
Indivíduo
© Image Point Fr // Shutterstock
Grupo
Degradação do ambiente de trabalho; comprometimento do mo-
ral do grupo; desgaste das relações interpessoais; prejuízos no
© PathDoc // Shutterstock
Nível Perdas
Organização
Absenteísmo; turnover; queda de produtividade; diminuição de
© Photographee.eu // Shutterstock
Para encerrar esta seção, é importante destacar que o assédio, seja moral, seja
sexual, seja intelectual, resulta em uma conta de alto valor a ser paga para a vítima, as
testemunhas, a organização e toda a sociedade. Com isso, salientamos que as relações
interpessoais, assim como as condições de trabalho, determinam em grande parte a
qualidade de vida do trabalhador. Por essa razão, o que acontece no âmbito interno
das empresas é essencial para a democracia e para os direitos humanos.
Referências
ASSÉDIO SEXUAL. Direção: Berry Levinson. Distribuição: Warner Bros. Estados Unidos:
1994, 127 min.
BARRETO, M. O que é assédio moral? Assédio moral no trabalho. On-line. Disponível em:
<www.assediomoral.org/spip.php?article1>. Acesso em: 14/10/2015.
______. Fases da humilhação no trabalho. Assédio moral no trabalho. On-line. Disponível
em: <www.assediomoral.org/spip.php?article2>. Acesso em: 11/10/2015.
BOTELHO, S. P. C. Assédio moral no ambiente de trabalho. Âmbito Jurídico. On-line.
Disponível em: <www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_
leitura&artigo_id=1452>. Acesso em: 11/10/2015.
BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 31 dez. 1940. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del2848.htm>. Acesso em: 11/10/2015.
BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil
de 1988. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao
Compilado.htm>. Acesso em: 11/10/2015.
BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/
L10406.htm>. Acesso em: 11/10/2015.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Assédio moral e sexual no trabalho. Brasília:
MTE, ASCOM, 2009.
BROXADO, S. Assédio intelectual. Web Artigos, 18 maio 2010. On-line. Disponível em:
<www.webartigos.com/artigos/assedio-intelectual/38050/#ixzz3bjXuN35w>. Acesso em:
11/10/2015.
CAMPAGNOLI, A. Assédio sexual nas relações de emprego. Breves de Saúde, n. 8, out./
nov. 2005. On-line. Disponível em: <www.brevesdesaude.com.br/ed08/assedio.htm>.
Acesso em: 11/10/2015.
HIRIGOYEN, M. F. Mal-estar no trabalho redefinindo o assédio moral. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2002.
LOBREGAT, M. V. Dano moral nas relações individuais de trabalho. São Paulo: LTr, 2001.
MARTINS, S. P. Assédio moral no emprego. São Paulo: Atlas, 2015.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos do Homem.
1948. Disponível em: <unesdoc.unesco.org/images/0013/001394/139423por.pdf>. Acesso
em: 11/10/2015.
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 101
SANTOS, A. Assédio sexual nas relações trabalhistas e estatutárias. 2. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2002.
STOUT, M. Meu vizinho é um psicopata. São Paulo: Sextante, 2010.
TURTE-CAVADINHA, S. L. et al. A violência psicológica no trabalho discutida a partir de
vivências de adolescentes trabalhadores. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São
Paulo, v. 39, n. 130, jul./dez. 2014. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0303-76572014000200210&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em:
11/10/2015.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Assédio moral no trabalho. [S.d.].
Disponível em: <www.assediomoral.ufsc.br/?page_id=445>. Acesso em: 11/10/2015.
ZANETTI, R. Assédio moral no trabalho. E-book. Disponível em: <www.conteudojuri-
dico.com.br/livro-digital,e-book-assedio-moral-no-trabalho,22743.html>. Acesso em:
11/10/2015.
5 Qualidade de Vida no Trabalho:
indicadores, instrumentos e programas
A Qualidade de Vida no Trabalho tem por linha norteadora criar e manter um am-
biente saudável, agradável e produtivo, características que promovem ganhos ao pro-
fissional em termos de respeito, saúde e satisfação com o trabalho e à organização
quanto a clima, imagem e produtividade. É fruto de envolvimento direto e ativo tan-
to dos colaboradores, por meio da adoção de hábitos saudáveis em relação à vida e ao
trabalho, quanto da organização, mediante políticas, estratégias e ações que consoli-
dam a cultura organizacional voltada à qualidade de vida.
Como saber o nível de Qualidade de Vida no Trabalho vigente em uma organi-
zação? De que modo o gestor pode identificá-lo para visionar o estado desejado das
práticas promotoras dela? Ao longo deste capítulo você vai conhecer os modelos e os
critérios de avaliação de Qualidade de Vida no Trabalho, assim como instrumentos ge-
néricos e específicos para medi-la. Além disso, conhecerá um conjunto de ações e es-
tratégias que a criam e a mantêm, independentemente do porte e ramo de atividade
da organização. Bons estudos!
nações deveria melhorar as condições de vida das pessoas e não apenas aumentar a
produção, Amartya Sem desenvolveu o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Quais são as bases dos indicadores para mensurar a Qualidade de Vida no
Trabalho? Os indicadores estão alicerçados no Índice de Desenvolvimento Social
(IDS), no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e nos critérios de Walton (1973).
O IDH representa uma medida de progresso, é um índice que aponta para o progres-
so e a qualidade de vida de uma nação, e leva em conta três dimensões fundamen-
tais: saúde, educação e renda. Graças a esse índice, o avanço e o desenvolvimento de
um país passaram a ser considerados não apenas em termos do crescimento econômi-
co. O IDH vem sendo utilizado desde 1993 pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) em seu relatório anual.
A renda é um fator de extrema importância, mas é um meio e não um fim em si mesmo. O con-
ceito de desenvolvimento humano postula que para aferir o progresso na qualidade de vida de
uma população é preciso ultrapassar a dimensão econômica e contemplar também as sociais,
culturais e políticas.
O IDH, por ser uma medida comparativa, contribui para classificar países segundo
o grau de desenvolvimento. Os países desenvolvidos são aqueles com o índice muito
alto; países em desenvolvimento incluem os que apresentam desenvolvimento huma-
no médio e alto; e países subdesenvolvidos possuem desenvolvimento humano baixo.
A Organização das Nações Unidas (ONU) classifica anualmente os países-membros.
O IDH é também utilizado para medir o progresso de estados, cidades e também
aldeias. De acordo com o PNUD, desde 2010 a classificação tem sido feita com base na
combinação de três dimensões:
• Saúde: mensurada pela expectativa de vida;
• Acesso ao conhecimento: mensurado por meio da média de anos de educação
de adultos e pela expectativa de anos de escolaridade para crianças na idade
de iniciar a vida escolar; e
• Padrão de vida: mensurado por meio da Renda Nacional Bruta (RNB) per capita
expressa em poder de paridade de compra (PPP) constante, em dólar, (2005 é o
ano de referência).
E o que significa IDS? O Índice de Desenvolvimento Social tem por base a esperan-
ça de vida ao nascer, o nível educacional e o conforto e saneamento; difere do IDH, uma
vez que substitui o PIB pelo conforto e saneamento. Ele é composto pelos seguintes ín-
dices: Índice do Nível de Saúde (INS); Índice do Nível de Educação (INE); Índice da Oferta
de Serviços Básicos (ISB); e Índice da Renda Média dos Chefes de Família (IRMCH).
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 106
SAÚDE MENTAL
AUTORREALIZAÇÃO
Realização do seu T
próprio potencial R
A
B
ESTIMA
A
Autoconfiança
L
CRESCIMENTO independência
H
DO SER
O
HUMANO
SOCIAIS
Sentimentos de aceitação E
amizade, associação M
NECESSIDADES HUMANAS
G
© FabriCO. (Adaptado).
(SIMULTÂNEAS) SEGURANÇA
R
Proteção sua e de sua família
U
P
FISIOLÓGICAS O
Sobrevivência, alimentação
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 107
Oportunidade
Desenvolvimento das potencialidades e aquisição de novos conhecimentos
de crescimento e
e habilidades; desenvolvimento de carreira; segurança no emprego.
segurança
O trabalho e o espa- Equilíbrio entre horários de trabalho; demandas da carreira; viagens; convívio
ço total da vida familiar e lazer; possibilidade de pertencer a um lugar e permanecer nele.
O que esse modelo ensina ao gestor? Por meio dele, é possível refletir sobre a re-
levância de pensar o cargo considerando-se os fatores ambientais, organizacionais e
comportamentais. Especialmente sinaliza o papel-chave do processo de recrutamento
e seleção da organização no sentido de que seja eficaz em alocar o colaborador certo
para o lugar certo; isso significa afirmar que quando o colaborador desempenha fun-
ções compatíveis com o seu perfil, a possibilidade que tenha satisfação com o trabalho
aumenta exponencialmente.
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 113
5.2.4 O BPSO-96
O modelo é fruto da tese de doutorado da pesquisadora Limongi-França (1996),
que propõe um instrumento de avaliação da satisfação dos colaboradores por meio de
indicadores empresariais selecionados com base no enfoque biopsicossocial. Segundo
preconiza a estudiosa, as camadas biológica, psicológica e social são associadas à or-
ganizacional, que comporta elementos tais como missão, visão, valores da organiza-
ção, sua tecnologia, mercados, produtividade e gestão, representados por lideranças
desenvolvidas não somente tendo em vista as competências técnicas, mas, sobretudo,
as comportamentais. Assim se desenha o Modelo BPSO-96:
• Dimensão biológica: por meio de elementos que atendam às necessidades fí-
sicas do colaborador; de promoção da saúde e da segurança no trabalho, as-
sim como o controle dos riscos ambientais (biológicos, físicos, químicos ou
ergonômicos).
• Dimensão psicológica: por meio de elementos que assegurem um ambiente
de trabalho saudável, caracterizado pela tolerância às diferenças, livre de todo
tipo de assédio, e que promova a autoestima e o desenvolvimento de compe-
tências pessoais e profissionais.
• Dimensão social: por meio da ofer-
Mapa de riscos;
SIPAT;
Ações que promovam Higiene, Segurança e
Refeições;
a saúde, sensibilizem Saúde do Trabalho;
Serviço médico interno
para hábitos saudáveis, Ambulatório;
Biológica contratado;
controlem os riscos am-
bientais e atendam às Melhorias ergonômicas; Nutrição;
necessidades físicas. Programas de sensibiliza- Recursos Humanos.
ção para saúde;
Treinamentos específicos.
Processo de seleção e
avaliação de desempenho;
Ações que promovam a Carreira; Recrutamento e Seleção;
autoestima, a satisfação Suporte psicológico;
no trabalho, a utilização Treinamento de pessoal;
Psicológica Convênio psicológico;
e o desenvolvimento de Cargos e salários;
competências pessoais Remuneração;
Treinamentos Gestão de pessoas.
e profissionais.
comportamentais;
Programas participativos.
© wavebreakmedia // Shutterstock
Há vários que se propõem essa tarefa, e nes-
te estudo vamos tomar por base aqueles que
apontam para a saúde do colaborador. Assim,
podemos distinguir claramente a natureza de
tais instrumentos como genéricos e específicos.
Que tal conhecer mais sobre esse valioso instrumento de Qualidade de Vida no Trabalho?
Visite o site do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Lá
você encontrará os critérios para as questões do WHOQOL e muito mais!
Domínio V – Ambiente
16. Segurança física e proteção
17. Ambiente no lar
18. Recursos financeiros
19. Cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade
20. Oportunidades de adquirir novas informações e habilidades
21. Oportunidades de recreação/lazer
22. Ambiente físico (poluição/ruído/trânsito/clima)
23. Transporte
© bikeriderlondon // Shutterstock
o índice de felicidade bruta por meio de
nove indicadores: bem-estar psicológico;
saúde; uso do tempo; vitalidade comuni-
tária; educação; cultura; meio ambiente;
governança; e padrão de vida.
• Saúde da mulher;
• Ginástica laboral e fisioterapia no trabalho.
b. Grupos de apoio:
• Suporte ao abandono de tabaco;
• Suporte ao abandono de álcool;
• Suporte para redução de peso.
f. Programas de desenvolvimento:
• Programa de desenvolvimento pessoal;
• Programas de desenvolvimento interpessoal;
• Programa de orçamento e finanças pessoais;
• Planejamento familiar;
• Preparação para a aposentadoria.
“A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”. (ALBERT
EINSTEIN, [S.d.])
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 123
Referências
ABORDAGEM humanística da administração. Portal do Administrador. On-line.
Disponível em: <www.portaladm.adm.br/Tga/tga91.htm>. Acesso em: 10/11/2015.
BEKIN, S. F. Endomarketing: como praticá-lo com sucesso. São Paulo: Prentice Hall,
2004.
CARMO, J. T.; PUEYO, A. A. A adaptação ao português do Fagerström Test for Nicotine
Dependence (FTND) para avaliar a dependência e tolerância à nicotina em fumantes brasi-
leiros. RBM Revista Brasileira de Medicina, v. 59, n. 1/2, p. 73-80, 2002.
CICONELLI, R. M. et al. The Brazilian Portuguese version of the Work Productivity and
Activity Impairment: General Health (WPAI-GH) questionnaire. São Medical Journal,
São Paulo, v. 124, n. 6, nov. 2006. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-
31802006000600005&script=sci_arttext>. Acesso em: 10/11/2015.
CONSTANTINO, M. A. C. Avaliação da qualidade de vida: desenvolvimento e validação
de um instrumento, por meio de indicadores biopsicossociais, junto à Comunidade da
Universidade de São Paulo – USP. 162 p. Tese (Doutorado em Nutrição Humana Aplicada)
– Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade – PRONUT – Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2008.
EINSTEIN, A. A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.
Pensador. Disponível em: <pensador.uol.com.br/frase/MTQw/>. Acesso em: 14/10/2015.
FERNANDES, E. C. Qualidade de Vida no Trabalho: como medir para melhorar. Salvador:
Casa da Qualidade, 1996.
FLECK, M. P. A. O instrumento de avaliação de qualidade de vida da Organização Mundial
de Saúde (WHOQOL-100): características e perspectivas. Ciênc. Saúde Coletiva, Rio de
Janeiro, v. 5, n. 1, 2000. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S1413-81232000000100004>. Acesso em: 14/10/2015.
GARCIA, E. O. P. O papel da comunicação organizacional na Qualidade de Vida no Trabalho:
modismo ou um novo conceito no campo da gestão empresarial? In: CONGRESSO DE
INICIAÇÃO E PRODUÇÃO CIENTÍFICA, São Bernardo do Campo, 12, 19-23 out. 2009.
Anais... São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo. Disponível em:
<www.metodista.br/congressos-cientificos/index.php/CM2009/FAEPGADM/paper/view/
4025>. Acesso em: 14/10/2015.
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 125
1. Conjunto de valores em vigor em uma empresa, suas relações e sua hierarquia, definin-
do padrões de comportamento e de atitudes que governam as ações e decisões mais im-
portantes da administração. 2. Crenças em relação ao que é importante na vida de uma
empresa e expectativas sobre o comportamento de seus membros. 3. Conjunto de cren-
ças, costumes, sistemas de valores, normas de comportamento e formas de fazer ne-
gócios, peculiares a cada empresa, que definem um padrão geral para as suas atividades,
decisões e ações e descrevem os padrões explícitos e implícitos de comportamento que
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 128
O professor e escritor Edgar Schein nasceu nos Estados Unidos em 1928. É PhD em Psicologia
Social pela Harvard University e lecionou na Sloan School of Management, no MIT, por cerca de
40 anos. Contribuiu significativamente com suas pesquisas e análises na área do desenvolvi-
mento organizacional.
© FabriCO
Assunções basicas
ser punido. Como resultado desse cenário, o que se desenha é uma empresa
reativa, que não favorece o moral dos colaboradores em um ambiente de tra-
balho longe de promover a satisfação e a qualidade de vida no trabalho.
• Organização Beta: acredita na criati-
vidade; confia nos colaboradores; tem
orgulho de sua história; utiliza o resul-
tado (erro) como fonte de aprendiza-
gem e, portanto de melhoria; ou seja,
possui um conjunto de crenças e va-
© Rido // Shutterstock
lores que estimulam a competição
saudável e favorecem a satisfação no
trabalho e o elevado moral do grupo.
Portanto, se quisermos conhecer a cultura de uma empresa, para onde podemos
olhar? Para conhecer a cultura organizacional, é importante estarmos atentos para as
manifestações dela: o código de ética, a missão, a visão e os valores, slogans, cores,
logomarcas, arquitetura, o relacionamento com clientes e parceiros comerciais, pro-
dutos, processos, tecnologia e outras. O comportamento das pessoas na organização
também revela traços da cultura da empresa, a exemplo da forma como elasse tratam,
trajes, cortes de cabelo e linguagem, dentre outros.
A cultura organizacional impacta diretamente o clima da companhia e tem refle-
xos na satisfação do colaborador, na produtividade como resultado final e na competi-
tividade da empresa.
Por ser subjetiva, a percepção é tão passível de inexatidão. Rangé (1995, p. 37) explica que “de-
pendendo das interpretações específicas e momentâneas que um indivíduo faz de cada situa-
ção, o afeto e comportamento que apresenta são diferentes”.
© BlueSkyImage // Shutterstock
incidência de colaboradores que adoecem
na organização, há que se investigar se
não estão ocorrendo situações de sobre-
carga de trabalho, humilhações por parte
do gestor, assédios de toda ordem etc.
• Avaliação de desempenho: O instrumento de mensuração de performance
utilizado pela organização para avaliar os colaboradores é um forte indicador
de clima. Caso sejam detectados repetidos períodos de desempenho abaixo
das expectativas e das demandas da empresa, é preciso verificar o estado de
ânimo dele. Muitas vezes um resultado abaixo do que se espera esconde um
profissional insatisfeito com a organização e desmotivado com o trabalho.
• Programas de sugestões “malsucedidos”: Quando a organização oferece
esse canal aberto para os colaboradores e estes não se manifestam, ela deve
investigar o quanto as pessoas acreditam que de fato irá modificar algo. Se a
falta de credibilidade imperar, elas tendem a não apresentar sugestões de me-
lhorias, alicerçados na crença de que “nada vai mudar mesmo”.
O gestor que se mantiver atento a esses indicadores estará sempre municiado de
elementos para identificar o grau de satisfação dos colaboradores.
Você sabia que diversas coisas acontecem em questão de segundos, sem escolha do indivíduo,
no calor de uma emoção? Observe os sinais na voz, nas expressões faciais, nas reações auto-
máticas do corpo, na recuperação de memórias e principalmente na alteração da forma de in-
terpretar a realidade.
Para ilustrar, vamos empreender uma jornada pelas emoções do medo, tristeza,
raiva, alegria e amor, e identificar de que maneira cada uma delas influencia o clima
organizacional.
• Medo: é uma reação do organismo ao perceber o estímulo do perigo, o qual
pode ser real ou imaginário. Quando uma pessoa sente medo, ocorre uma mu-
dança imediata em sua fisiologia: alteração dos batimentos cardíacos, acelera-
ção da respiração, dilatação das pupilas, redução do fluxo sanguíneo nos
órgãos periféricos e preparação do corpo para fuga.
E o que pode promover o medo nas organizações? Prenúncio de demissão, es-
tilos gerenciais autoritários e bruscas mudanças sem a devida transição, o que
promove insegurança entre os colaboradores, afetando diretamente o clima
organizacional. Como resultado de tais práticas,
observam-se funcionários amedrontados e com ten-
dência a fugir de compromissos e à procrastinação;
© Sergey Mironov // Shutterstock
© Andresr // Shutterstock
de para ação. Uma organização que
prima pelo reconhecimento, está ali-
cerçada em comportamentos éticos,
oferece aos colaboradores a oportu-
nidade de desenvolvimento pessoal e profissional, desafios, modelo de gestão
participativa, cultura da aprendizagem etc. tende a despertar a emoção da ale-
gria. Quando ela está presente no ambiente de trabalho, prevalecem o entu-
siasmo, a colaboração, as parcerias, a criatividade e a predisposição à assunção
de riscos decorrentes das mudanças. Uma empresa que cultiva estímulos pro-
motores da alegria não se torna isenta de enfrentar problemas e situações difí-
ceis. A diferença é que os colaboradores estarão mais propensos ao diálogo e a
trabalhar os conflitos no nível funcional, o que favorece a construção de clima
organizacional saudável.
São facetas da alegria: confiança, felicidade, satisfação, arrebatamento, gratifi-
cação, ânimo, interesse, entusiasmo, otimismo, alívio, euforia e senso de humor.
• Amor: é a resposta ao estímulo percebido de contato; promove energização,
harmonização do organismo e bem-estar físico. Uma organização que adota
práticas de gestão participativa, relações interpessoais alicerçadas no respei-
to, na dignidade, na lealdade e na promoção de um trabalho significativo ten-
de a incentivar essa emoção. O resultado é um ambiente saudável no qual os
colaboradores se respeitam, se ajudam, se apoiam, cuidam dos recursos ma-
teriais e imateriais da empresa. O moral do grupo é elevado, o que favorece
muito o modo como os funcionários recebem os
feedbacks e tratam as questões organizacionais.
© Lucky Business // Shutterstock
© wavebreakmedia // Shutterstock
ca com vistas a identificar avanços, resistências
e possibilidades do avaliado. Também contribui
para “a tomada de decisão sobre estratégias
para superar os obstáculos e atingir os resulta-
dos desejados” (VASCONCELLOS, 1995, p. 15).
“As pessoas nas organizações comportam-se como pessoas e não como peças de máquinas ou
seres estritamente profissionais. [...] Seu comportamento pode ajudar ou atrapalhar os objeti-
vos da empresa, de modo que administradores não devem negligenciar esse lado das organiza-
ções”. (MAXIMIANO, 2008, p. 219)
Estratégia Característica
Oferece aos dirigentes da organização informações que possibilitam
Contato direto entre gesto-
identificar potenciais situações e problemas que influenciam a quali-
res e colaboradores
dade do clima organizacional.
Canal aberto aos colaboradores, mantido pelo presidente ou diretor
Linha direta com o presidente de RH, para que apontem problemas e sugestões que possam contri-
buir com a implementação de melhorias na organização.
Café com o presidente / Encontros que permitem aos executivos perceberem determinados
diretores e gestores problemas que ficam ocultos aos olhos da alta administração.
São iniciativas cujo objetivo é receber sugestões que possam atender
Programas de sugestões
às expectativas e às necessidades dos colaboradores.
Especialista de alto nível em uma organização a quem compete rece-
ber e investigar, de forma objetiva, reclamações e sugestões de clien-
Ombudsman / ouvidoria
tes internos e externos, encaminhá-las aos responsáveis, junto com
um parecer com suas recomendações para a resolução do caso.
Encontros com profissionais capacitados os quais buscam contribuir
para a harmonia nas relações entre empregadores e empregados,
Reuniões da equipe de rela-
evitando conflitos coletivos de trabalho manifestos por meio de gre-
ções trabalhistas e sindicais
ves, desperdício de materiais, destruição de máquinas e equipamen-
tos e redução do ritmo e eficiência do trabalho.
Fonte: LUZ (2003, p. 35-38) e LACOMBE (2004, p. 227). (Adaptado).
© FabriCO
(Hoje) de transição (Futuro)
Uma melhoria implica uma mudança, e esta requer, em primeiro lugar, uma clara
identificação de objetivo e de estratégias para alcançá-la. O quadro a seguir nos ajuda
a entender com mais clareza essa ideia.
© Andresr // Shutterstock
“O que queremos?”
“O que vamos fazer
para chegar lá?”
Insatisfação Satisfação no trabalho
Definição do objetivo
Desperdícios Qualidade de Vida no Trabalho
Definição de estratégias
Conflitos disfuncionais Desenvolvimento de carreira
Recursos
Absenteísmo Sentido de time
Comunicação
Turnover Ambiente saudável
Greve
Acidentes
Queda de produtividade
Estratégias, Sistemas
Tecnologia
Estrutura
Um padrão de comportamento
organizacional
Pressupostos básicos
Crenças, Valores
Normas
© FabriCO
Mais difícil Longo prazo
Você consegue imaginar o que ela nos ensina? Um olhar para os elementos da cul-
tura apresentados indica que a base para as mudanças na organização repousa sobre
as crenças e valores, os quais dão origem ao padrão de comportamento organizacio-
nal, esfera por onde gravitam as políticas de gestão de pessoas.
As mudanças superficiais, a exemplo de estrutura física, maquinaria, reformas
etc., são mais fáceis e mais rápidas de acontecer. Já aquelas que implicam aspectos
comportamentais são mais delicadas, levam mais tempo e uma profunda sensibiliza-
ção para que ocorram.
A cultura e o clima organizacional, portanto, influenciam diretamente a
Qualidade de Vida no Trabalho, pois as relações de trabalho, o que a empresa valori-
za se refletem no nível de rendimento, na saúde e satisfação do colaborador e também
na produtividade e competitividade dela.
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 145
Referências
BROCKERT, S.; BRAUN, G. Inteligência emocional: teste o seu QE. Rio de Janeiro:
Record, 1997.
CASTILHO, W. Mentira: um rosto de muitas faces. São Paulo: Matrix, 2011.
CULTURA segundo Edgar Schein. Reciprhocal. On-line. Disponível em: <www.reciprhocal.
com.br/?p=172>. Acesso em: 31/10/2015.
DUBRIN, A. Fundamentos do comportamento organizacional. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2003.
INAZAWA, F. K. O papel da cultura organizacional e da aprendizagem para o sucesso
da gestão do conhecimento. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte,
v. 14, n. 3, p. 206-220, set./dez. 2009. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?script=
sci_arttext&pid=S1413-99362009000300013&lng=en&tlng=pt. 10.1590/S1413-9936200900
0300013>. Acesso em: 10/06/2015.
LACOMBE, F. Dicionário de Administração. São Paulo: Saraiva, 2004.
LIMONGI-FRANÇA, A. C. L. Indicadores empresariais de Qualidade de Vida no
Trabalho: esforço empresarial e satisfação dos empregados no ambiente de manufa-
turas com certificação ISO 9000. 1996. 355 f. Tese (Doutorado em Administração) –
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo,
São Paulo, 1996.
______. Qualidade de Vida no Trabalho – QVT. Conceitos e práticas nas empresas da
sociedade pós-industrial. São Paulo: Atlas, 2014.
LUZ, R. Gestão do clima organizacional. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2003.
MAXIMIANO, A. C. A. Teoria Geral da Administração. Da Revolução Urbana à
Revolução Digital. São Paulo: Atlas, 2008.
NÚCLEO PSICO. Disponível em: <www.nucleopsico.com.br/home/?page_id=7>.
Acesso em: 01/11/2015.
RANGÉ, B. (Org.). Terapia comportamental e cognitiva de transtornos psiquiátri-
cos. Campinas: Psy, 1995.
ROBBINS, S. Comportamento organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 2002.
VASCONCELLOS, C. S. Avaliação: concepção dialética do processo de avaliação
escolar. São Paulo: Libertad, 1995.
7 A Pesquisa de Clima
As pessoas tendem a ser mais produtivas e mais felizes quando inseridas em um
ambiente de trabalho no qual imperam o respeito, a valorização, o reconhecimento e a
segurança. Assim, a qualidade do ambiente da organização é fator fundamental para a
qualidade de vida no trabalho e a produtividade. Mas de que forma identificá-la? Como
conhecer a percepção dos colaboradores acerca dos diversos aspectos que envolvem o
dia a dia da empresa?
Com estas perguntas convidamos você a nos acompanhar nas reflexões sobre a
pesquisa de clima. O estudo deste capítulo vai apontar as diferentes formas de identi-
ficar os fatores promotores de satisfação e insatisfação no trabalho, bem como as fer-
ramentas para planejar e aplicar uma pesquisa. Você conhecerá as etapas relevantes e
os cuidados para conduzir cada uma delas e ainda compreenderá a importância de en-
volver os colaboradores na elaboração do plano de melhorias.
À medida que os gestores conhecem a percepção dos funcionários sobre o ambien-
te de trabalho, podem adotar estratégias de melhorias contínuas que promovam a satis-
fação, o que tende a gerar ganhos mútuos: por um lado, os colaboradores respeitados e
valorizados, e, por outro, a organização, com alto nível de produtividade e competitiva.
Luz (2003) explica que as organizações tendem a conhecer a opinião dos colabo-
radores acerca das seguintes variáveis:
• Trabalho: investiga a satisfação do colaborador em relação aos diversos aspectos
do trabalho, como carga e volume, justa distribuição das tarefas, se o número de
funcionários no quadro é suficiente e se as tarefas são desafiadoras e relevantes.
• Condições físicas de trabalho: verifica a qualidade e o conforto das instala-
ções e postos de trabalho e dos recursos colocados à disposição dos colabora-
dores para a realização das atividades.
• Segurança do trabalho: investiga a percepção e a satisfação do colaborador
em relação à prevenção e ao controle de riscos de acidentes e doenças laborais
como a Lesão por Esforços Repetitivos (LER) e o Distúrbio Osteomuscular
Relacionado ao Trabalho (DORT).
• Salário: investiga a percepção dos cola-
boradores a respeito da compatibilidade
entre as funções realizadas e a remune-
ração recebida, a influência do salário
Prezado(a) colaborador(a),
Sabendo que as pessoas são o patrimônio mais valioso para uma organização, queremos saber
sua impressão sobre a empresa onde trabalha. Nosso objetivo é proporcionar aos nossos colabo-
radores um melhor clima organizacional, buscando alternativas para melhorar o ambiente de tra-
balho a fim de fazer dessa organização uma excelente empresa para se trabalhar.
I. Instruções de preenchimento
• Use toda a sinceridade ao responder às perguntas, pois só assim conheceremos de fato a sua
opinião.
• Marque com um X a resposta que você escolher.
• Caso a pergunta não se aplique a sua situação de trabalho, assinale a opção “Não se aplica”.
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 152
Tempo de empresa:
( ) menos de 1 ano
( ) de 1 até 3 anos
( ) de 4 até 5 anos
( ) de 6 a 8 anos
( ) mais de 8 anos
Faixa etária:
( ) até 18 anos
( ) entre 19 e 25 anos
( ) entre 26 e 40 anos
( ) entre 41 e 45 anos
Turno de trabalho:
( ) horário comercial
( ) primeiro turno
( ) segundo turno
( ) terceiro turno
Você se sente à vontade para falar abertamente a respeito de trabalho com o seu superior imediato?
( ) Sempre ( ) Às vezes ( ) Raramente ( ) Nunca ( ) Não se aplica
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 153
Você se sente reconhecido por seu superior imediato quando alcança bons resultados no seu trabalho?
( ) Sempre ( ) Às vezes ( ) Raramente ( ) Nunca ( ) Não se aplica
Você acha que o seu chefe/gestor/gerente é receptivo às críticas dos seus subordinados?
( ) Sempre ( ) Às vezes ( ) Raramente ( ) Nunca ( ) Não se aplica
Você considera que o seu chefe/gestor/gerente está sempre disponível quando precisa dele?
( ) Sempre ( ) Às vezes ( ) Raramente ( ) Nunca ( ) Não se aplica
Comunicação
As orientações que você recebe do seu chefe/gestor/gerente para desempenhar o seu trabalho
são claras e objetivas?
( ) Sempre ( ) Às vezes ( ) Raramente ( ) Nunca ( ) Não se aplica
Você se sente à vontade para perguntar e pedir ajuda quando tem alguma dificuldade em seu
trabalho?
( ) Sempre ( ) Às vezes ( ) Raramente ( ) Nunca ( ) Não se aplica
Você conhece de que forma a qualidade de seu trabalho e/ou departamento impacta a qualidade
do trabalho dos outros funcionários e/ou departamentos?
( ) Sempre ( ) Às vezes ( ) Raramente ( ) Nunca ( ) Não se aplica
Você se sente à vontade para apresentar críticas e sugestões para seu chefe/gestor/gerente
quando identifica que algo pode ser melhorado?
( ) Sempre ( ) Às vezes ( ) Raramente ( ) Nunca ( ) Não se aplica
Você se sente adequadamente informado pela empresa sobre as decisões que afetam o seu
trabalho?
( ) Sempre ( ) Às vezes ( ) Raramente ( ) Nunca ( ) Não se aplica
Ambiente de trabalho
Os funcionários são tratados com respeito, independentemente dos cargos que ocupam?
( ) Sempre ( ) Às vezes ( ) Raramente ( ) Nunca ( ) Não se aplica
Você dispõe dos recursos necessários para desempenhar adequadamente o seu trabalho?
( ) Sempre ( ) Às vezes ( ) Raramente ( ) Nunca ( ) Não se aplica
Como você avalia os recursos materiais e a organização na área onde executa o seu trabalho?
( ) Ótima ( ) Boa ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Não se aplica
Remuneração
Você acha que a empresa remunera adequadamente os funcionários?
( ) Sempre ( ) Às vezes ( ) Raramente ( ) Nunca ( ) Não se aplica
Você considera que o seu trabalho é avaliado de forma justa pelo seu chefe/gestor/gerente?
( ) Sempre ( ) Às vezes ( ) Raramente ( ) Nunca ( ) Não se aplica
O retorno que você recebe de seu chefe/gestor/gerente sobre o resultado da avaliação de desempenho
permite que você tenha clareza dos pontos a melhorar?
( ) Sempre ( ) Às vezes ( ) Raramente ( ) Nunca ( ) Não se aplica
Qualidade e imagem
O compromisso da empresa com a qualidade de seus produtos, serviços e processos é visível no seu
trabalho diário?
( ) Sempre ( ) Às vezes ( ) Raramente ( ) Nunca ( ) Não se aplica
Você considera que a empresa desfruta de uma boa imagem entre os funcionários?
( ) Sempre ( ) Às vezes ( ) Raramente ( ) Nunca ( ) Não se aplica
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 156
Indique os três principais motivos pelos quais você trabalha na empresa. Coloque o número 1 para o
motivo mais importante, o número 2 para o segundo motivo mais importante, e o número 3 para o ter-
ceiro motivo mais importante.
( ) Salário
( ) Trabalho que realizo
( ) Reconhecimento
( ) Pacote de benefícios
( ) Relacionamento com a chefia
( ) Relacionamento com os colegas
( ) Proximidade da empresa com a minha residência
( ) Oportunidades de progresso profissional
( ) Oportunidades de desenvolvimento
( ) Prestígio da empresa
( ) Autonomia para realizar o trabalho
( ) Falta de opção de outro emprego no momento
( ) Outros: _______________
Indique os três principais fatores que geram maior insatisfação no seu trabalho. Coloque o número 1
para o fator que gera maior insatisfação, o número 2 no segundo maior fator, e o número 3 no terceiro
maior fator.
( ) Salário
( ) Trabalho que realizo
( ) Ausência de reconhecimento e valorização
( ) Ausência de pacote de benefícios
( ) Estilo de gestão e relacionamento com a chefia
( ) Relacionamento com os colegas
( ) Falta de oportunidade de progresso profissional
( ) Falta de treinamento
( ) Instalações inadequadas (banheiros, vestiários, refeitório)
( ) Ausência de segurança no trabalho
( ) Falta de autonomia
( ) Sobrecarga de trabalho
( ) Falta de recursos
( ) Outros: _____________
Muito obrigado!
Mas, por que a organização deveria optar pelo questionário como ferramenta de
coleta de dados? Quais os pontos favoráveis da técnica? Eles são diversos e significati-
vos, dentre os quais destacamos os seguintes:
a. aplicação a grande número de colaboradores, mesmo quando estes se encon-
tram espalhados em ampla área geográfica;
b. custo relativamente baixo;
c. preservação do anonimato do respondente;
d.
abrangência satisfatória das variáveis organizacionais que precisam ser
pesquisadas;
e. checagem da consistência das respostas, especialmente acerca de variáveis po-
lêmicas, por meio de perguntas cruzadas;
f. aplicação a todos os colaboradores ou apenas a uma amostra representa-
tiva deles;
g. possibilidade de aplicação eletrônica.
Com tantos pontos a favor, será que existem aspectos que devem ser observa-
dos com cautela na adoção do questionário como forma de coleta de dados? Embora
a ferramenta apresente um conjunto de vantagens, requer planejamento e cuidadosa
montagem, pois existem elementos que precisam ser cuidadosamente observados sob
pena de comprometer os resultados da pesquisa:
a. Clareza, objetividade e simplicidade das perguntas: perguntas longas e com
problemas de redação podem levar à ambiguidade de interpretação e prejudi-
car a qualidade da resposta;
b. Tamanho do questionário: um questionário muito longo pode comprometer
a atenção e o empenho do colaborador em respondê-lo. Assim recomenda-se
que todas as variáveis a serem pesquisadas sejam cobertas em no máximo 80
perguntas;
c. Necessidade de testagem prévia do instrumento: é imprescindível que se
realize o pré-teste com o intuito de identificar e corrigir hiatos, distorções e du-
biedades nas perguntas;
d. Contemplar espaço aberto: é importante que haja uma área destinada a cole-
tar informações acerca de ações eventuais ou contingenciais.
Você se sente à vontade para falar abertamente a respeito de trabalho com o seu superior imediato?
Você se sente adequadamente informado pela empresa sobre as decisões que afetam o seu trabalho?
Os funcionários são tratados com respeito, independentemente dos cargos que ocupam?
Você dispõe dos recursos necessários para desempenhar adequadamente o seu trabalho?
O que você acha que pode ser melhorado nas instalações físicas?
Como você avalia os recursos materiais e a organização na área onde executa o trabalho?
Que recursos você acredita que são necessários para melhorar o resultado do seu trabalho?
Qual a sua opinião sobre o sistema de avaliação de desempenho adotado pela empresa?
Você conhece com clareza os critérios pelos quais o seu trabalho é avaliado?
Você considera que o seu trabalho é avaliado de forma justa e adequada pelo seu chefe/gestor/gerente?
O retorno que você recebe de seu chefe/gestor/gerente sobre o resultado da avaliação de desem-
penho permite que você se tenha clareza dos pontos a melhorar?
Você considera que a empresa desfruta de uma boa imagem entre os funcionários?
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 159
O que precisa acontecer para tornar a empresa um lugar excelente para se trabalhar?
Que sugestões você dá para tronar a empresa um lugar melhor para se trabalhar?
A linguagem verbal é aquela representada por palavras e serve, acima de tudo, para transmi-
tir informações e dados. A linguagem não verbal, por sua vez, dá vida às palavras pronuncia-
das, expressam as emoções mais profundas e verdadeiras; se dá por gestos, posturas, silêncio
(GUGLIELMI, 2011).
© wavebreakmedia // Shutterstock
b. dá oportunidade a que um dos entrevista-
dos levante uma questão e teça a sua opi-
nião e ponto de vista, o que funciona como
gatilho para que os outros explicitem suas
ideias a respeito do mesmo tema.
A aplicação do painel de debates, todavia, requer um local adequado para a rea-
lização dele, e não há como manter o anonimato dos participantes. Outro ponto a to-
mar cuidado é com a natureza das perguntas: as reativas, que remetem somente a
problemas, tendem a traçar um cenário reativo, voltado às dificuldades, e a buscar
culpados. Assim, é fundamental que as questões sejam proativas e apreciativas, dire-
cionadas à criação de uma situação que os colaboradores gostariam de encontrar, de
modo a proporcionar elementos para a realização de um plano de ação.
vez que existem diversas empresas idôneas especializadas nessa modalidade de ava-
liação. Se, por um lado, essa opção demanda maior investimento financeiro, por outro
assegura a neutralidade e o sigilo, bem como a agilidade na tabulação dos dados e no
envio dos relatórios.
Todavia, se a empresa não está disposta a recorrer a prestadores externos, o RH
pode cuidar de todas as etapas da aplicação? Com certeza sim, contudo há que se ob-
servar que, quando feita internamente, a pesquisa pode levar à indução dos resulta-
dos. Colaboradores pouco à vontade, com desconfiança acerca da confidencialidade
das informações, podem abrir mão de escrever o que pensam no espaço destinado a
críticas e sugestões, com receio de algum tipo de retaliação por parte de gestores ou
pares. Com isso, as conclusões acabam por não retratar com fidelidade o clima da em-
presa. Mas vale lembrar que muitas organizações têm usado esse expediente e obtido
bons resultados (BISPO, 2006).
Quer conhecer um modelo de pesquisa de clima que pode ser aplicado a diversos formatos de
organização? Leia o artigo “Um novo modelo de pesquisa de clima organizacional”, de Carlos
Bispo, disponível na SciELO, biblioteca eletrônica que reúne uma coleção de periódicos cientí-
ficos brasileiros.
pela empresa para quem vai de ônibus para o trabalho. Por essa razão, recomenda-se a
opção Não se aplica. Observe o exemplo:
• Como você avalia a segurança do estacionamento?
( ) Excelente ( ) Boa ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Não se aplica
Assim, essa opção de resposta evita que o colaborador assinale outra indevida, o
que causaria desvios nos resultados da pesquisa por não refletir a realidade.
O que é uma série histórica e para que serve? Ela “representa os resultados cumulativos de de-
terminada informação pesquisada, obtidos em pesquisas anteriores e serve para indicar ten-
dências” (LUZ, 2003, p. 70).
Você quer aprofundar seus conhecimentos sobre tabulação das variáveis em uma pesquisa? No
livro Gestão do Clima Organizacional, de Ricardo Luz (2003), é possível encontrar exemplos
de como proceder com cada tipo de tabulação
seja, outra medida que a empresa possa adotar e que também traga solução do pro-
blema em questão.
Referências
BISPO, C. A. F. Um novo modelo de pesquisa de clima organizacional. Produção, v. 16,
n. 2, p. 258-273, maio/ago. 2006. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/prod/v16n2/06>.
Acesso em: 03/11/2015.
GUGLIELMI, A. A linguagem secreta do corpo: a comunicação não verbal. Petrópolis:
Vozes, 2011.
LOTZ, E. G.; GRAMMS, L. C. Coaching e mentoring. Curitiba: InterSaberes, 2014.
LUZ, R. Gestão do clima organizacional. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2003.
8 A Gestão do Clima Organizacional
e da Qualidade de Vida no Trabalho
Este capítulo é dedicado à gestão. No decorrer de nossos estudos compreende-
remos o significado dela e por que exerce papel de protagonista no contexto de clima
organizacional e qualidade de vida no trabalho. Será que é possível oferecer ao colabo-
rador um bom e adequado ambiente de trabalho quando prevalecem o clima de insa-
tisfação, desânimo, descrédito na possibilidade de crescimento e até mesmo riscos à
saúde de quem ali atua? Acreditamos que não! Dificilmente um funcionário terá a per-
cepção de qualidade se sua equipe estiver com o moral baixo, se ele próprio for alvo
de humilhações ou não encontrar qualquer perspectiva de crescimento, seja como pes-
soa, seja como profissional.
A gestão do clima organizacional impacta diretamente a qualidade de vida no tra-
balho. Apenas por meio de um processo adequado, eficiente e eficaz de gestão serão
possíveis a construção e principalmente a manutenção da QVT, a satisfação do colabo-
rador e a competitividade da empresa.
Você é nosso convidado para explorar estes temas a partir de agora.
© Jirsakc // Shutterstock
fo, escritor e magistrado da Justiça
Criminal durante o Império Romano
–, remete à importância de definir
aonde se quer chegar. Por essa ra-
zão, o planejamento é a primeira etapa da aplicação do ciclo PDCA, e englo-
ba: a) estabelecimento dos objetivos e metas (estado desejado); b) escolha da
estratégia (o caminho); e c) definição do método a ser utilizado para atingir os
objetivos. Ele também contribui para identificar desafios e barreiras que se le-
vantem ao longo do caminho. A cada obstáculo identificado é fundamental
que se busque uma forma de superá-lo.
• Executar (Do): É a etapa da execução. Uma vez definidos objetivos, estraté-
gias e métodos para o alcance dos resultados, é hora de colocá-los em prá-
tica. Um importante aspecto a ser considerado é a tarefa de comunicação e
treinamento dos colaboradores envolvidos em relação aos métodos adota-
dos. A etapa contempla também a coleta dos dados que serão posteriormente
avaliados.
• Verificar (Check): É a verificação dos resultados obtidos que, comparados aos
desejados, permitirão identificar a necessidade de ações corretivas para man-
ter-se na rota rumo aos objetivos.
• Agir (Act): É a etapa da implementação das ações corretivas de modo a melho-
rar o sistema e o método de trabalho.
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 180
O PDCA é um ciclo, o que significa que “gira” constantemente. Não tem um fim definido. As
ações corretivas do primeiro ciclo abrem espaço para novo planejamento de melhoria, dando
início à criação de um novo.
gerada por meio dessa estratégia de conscientização. Embora a ação tenha sido
nobre, não permitiu à empresa identificar o quanto foi realmente eficaz.
• O desperdício na gestão do clima organizacional: Vamos supor que a pesqui-
sa de clima revelou grande insatisfação dos colaboradores em relação ao re-
conhecimento. Eles não se sentem valorizados, nem os esforços são ao menos
percebidos pelos gestores imediatos, cujo foco está, segundo os funcionários,
apenas nas tarefas, esquecendo-se do fator humano. A diretoria até admite a
possibilidade de que isso de fato acontece na organização; entretanto, em vez
de elaborar, junto com o RH, um Plano de Desenvolvimento Pessoal para tais
gestores, apenas justifica que todos são provenientes de áreas de exatas, são
engenheiros, e por essa razão não têm mesmo muito “jeito na lida com gente”.
O desperdício aqui está em identificar o problema e não encaminhar a solução.
• O desperdício na gestão da qualidade de vida no trabalho: Vamos supor que
a organização adotou um conjunto de programas tendo em vista a promo-
ção da saúde no trabalho. Quatro meses depois da implantação das primeiras
ações de QVT, a diretoria de RH convidou um grupo de colaboradores influen-
tes em suas áreas para coletar a percepção de como estavam vendo a aplicação
das iniciativas. Para a surpresa, o resultado foi que: a) os funcionários achavam
que a empresa só estava promovendo aquelas medidas para obter a certifica-
ção ISO; b) eles definiam os programas como superficiais, baseados em mo-
dismo; e c) consideravam que tudo não passava de estratégia de marketing e
perfumaria. O desperdício desse exemplo foi que, apesar de todo esforço no
sentido de implantar o programa de QVT e de realizar o painel de debate, a
empresa não atuou no sentido de construir uma imagem diferente sobre o pa-
pel e a importância das ações estabelecidas nos programas de QVT.
“Coaching é uma conversa que leva à ação e à realização do que é almejado” (DUTRA, 2010,
p. 16). Envolve dois atores: o coach, que é o profissional, e o coachee, que é o cliente.
8.2 O gestor
Você já parou para pensar o importante papel que o gestor desempenha na cria-
ção e manutenção do clima organizacional? Ele é o responsável pelos trabalhos e pe-
los resultados da equipe e da organização, os quais estão diretamente atrelados aos
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 184
estímulos que oferece. Além disso, é protagonista nesse processo, uma vez que os va-
lores que adota e as competências que possui fazem toda a diferença no engajamento,
comprometimento e participação da equipe.
Competência
Para que o gestor consiga criar e manter uma atmosfera de trabalho saudável e
satisfatória, é fundamental que desenvolva a habilidade de observar, falar, ouvir e dar
feedback.
• Observar: É importante manter-se sempre atento às mensagens não verbais,
identificando os comportamentos favoráveis e os que demandam ajustes, além
de ter sensibilidade para descobrir as características das pessoas, sem, no en-
tanto, julgá-las e condená-las.
• Falar: É fundamental, para criar o clima de respeito e empatia, manter-se aten-
to não apenas ao que é dito (conteúdo), mas, sobretudo, como é dito (forma), à
escolha do momento e do local em que será dito. É papel do gestor argumen-
tar, citando fatos, evidências e fundamentos, sobre o que está sendo dito; uti-
lizar a fala como comandos para imagens mentais positivas (imagens voltadas
àquilo que se deseja e não ao que se quer evitar) e as palavras para criar esta-
dos positivos, impulsionadores e fortalecedores, além da sensibilidade do mo-
mento e do local oportuno para fazer a abordagem.
• Ouvir: Ouvir o que uma pessoa tem
a dizer é uma das grandes declara- © Sean Locke Photography // Shutterstock
Apreciar: v.1 Valorar, o ato de reconhecer o melhor nas pessoas ou no mundo a nossa vol-
ta, afirmando as forças, sucessos e potenciais passados e presentes, perceber essas coisas
que dão vida (saúde, vitalidade, excelência) aos sistemas vivos. Sinônimos: valor, estima,
honra. (COOPERRIDER; WHITNEY; STRAVOS, 2008, p. 17)
Você sabia que uma organização que aprende é aquela que não repete os mesmos “erros” do
passado? Aprofunde seu conhecimento com o artigo de autoria coletiva “O que fazer para não
repetirmos as mesmas histórias ano a ano?”, disponível no site da Fundacentro (Ministério do
Trabalho e Previdência Social).
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 188
Cada um desses processos oferece impacto direto nos fatores que promovem a
satisfação ou a insatisfação do colaborador. Contudo, destacamos o papel do recru-
tamento e seleção e da política de benefícios. Tais práticas apresentam relação direta
com o clima organizacional e com a qualidade de vida no trabalho.
disponibilizará à empresa informações valiosas que poderão ser utilizadas para a me-
lhoria de processos; contribui também para a detecção da necessidade de treinamento
e desenvolvimento de habilidades técnicas e comportamentais das lideranças; e per-
mite identificar os níveis de insatisfação do colaborador.
É válido ponderar, entretanto, que, analisada isoladamente, pode não ter a força
suficiente para indicar com clareza os aspectos que precisam ser revistos e trabalhados
pela organização. Contudo, quando várias entrevistas apontam, de forma consistente,
para os mesmos problemas em determinada área, há que se avaliar com cautela, pois
aí se encontra uma oportunidade de melhoria para a companhia.
Quer conhecer as melhores empresas para se trabalhar no Brasil? Você pode ter boas ideias
que podem ser implantadas em sua realidade! Acesse o site do Programa de Estudos em
Gestão de Pessoas e confira o artigo “As 10 Melhores Empresas para se trabalhar no Brasil e a
Qualidade de Vida no Trabalho”.
Ao encerrarmos nossos estudos, é muito importante que você esteja alerta para
evitar a armadilha de imaginar que tudo o que foi aqui tratado não passa de um apor-
te teórico sem aplicação prática de nenhuma natureza. Aí se encontra o desafio: O que
é possível fazer para melhorar o clima organizacional e a qualidade de vida no trabalho
com base nos elementos e recursos que dispomos na empresa? E como podemos colo-
car isso em prática?
Em primeiro lugar, é importante conhecer o estado atual da organização e
criar a visão do estado desejado. Assim será possível traçar em seguida uma estra-
tégia que promoverá a mudança. Mas você pode estar se perguntando: “Como fazer
isso?”. A palavra-chave é: pesquisa! Ela levanta dados que, quando transformados em
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 196
Referências
BRANDÃO, H. P.; GUIMARÃES, T. A. Gestão de competências e gestão de desem-
penho: tecnologias distintas ou instrumentos de um mesmo constructo? Revista de
Administração de Empresas, v. 41, n. 1, p. 8-15, jan./mar. 2001.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência Social. O que fazer para não repetirmos
as mesmas histórias ano a ano? Fundacentro: Brasília, [S.d.]. Disponível em: <www.
fundacentro.gov.br/arquivos/projetos/1ACABEIPORTALLER%20DORT%2028%20FEV%20
2014%20(1).pdf>. Acesso em: 01/11/2015.
CHIAVENATO, I. Recursos humanos: o capital humano das organizações. São Paulo: Ed.
Campus, 2004.
______. Recursos humanos: o capital humano das organizações. 9. ed. São Paulo: Ed.
Campus, 2009.
COOPERRIDER, D.; WHITNEY, D.; STRAVOS, J. Manual da investigação apreciativa. Rio
de Janeiro: Qualitymark, 2008.
CUMBERLAND, N. Recrutamento. São Paulo: Figurati, 2014.
DURAND, T. Forms of incompetence. Proceedings of the Fourth International Conference
on Competence-Based Management. Oslo: Norwegian School of Management, 1998.
DUTRA, J. S. Gestão de pessoas: modelos, processos e perspectivas. São Paulo: Atlas,
2002.
DUTRA, E. Coaching: o que você precisa saber. Rio de Janeiro: Mauad, 2010.
GRAMMS, L. C.; LOTZ, E. G. Aprendizagem organizacional. Curitiba: Instituto Federal do
Paraná, 2013.
LACOMBE, F. Dicionário de Administração. São Paulo: Saraiva, 2004.
LACOMBE, F. E.; HEILBORN, G. Administração: princípios e tendências. São Paulo:
Saraiva, 2003.
LIMONGI-FRANÇA, A. C. Qualidade de Vida no Trabalho – QVT: Conceitos e práticas nas
empresas da sociedade pós-industrial. São Paulo: Atlas, 2003.
LOTZ, E. G.; GRAMMS, L. C. Coaching e mentoring. Curitiba: InterSaberes, 2014.
LUCAS, A. et al. As 10 melhores empresas para se trabalhar no Brasil e a Qualidade de
Vida no Trabalho. Programa de Estudos em Gestão de Pessoas. Disponível em: <www.
progep.org.br/MelhoresEmpresas/InfoDocs/EQUIPE%20PROGEP_ISMA2011_As%20
10%20Melhores%20Empresas%20para%20se%20Trabalhar%20no%20Brasil%20e%20
a%20Qualidade%20de%20Vida%20no%20Trabalho.pdf>. Acesso em: 01/11/2015.
Qualidade de Vida e Clima Organizacional 198