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Daniella
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Comportamento
Comportamento
Comportamento
Comportamento e
Comportamento
eecultura
cultura
organizacional
organizacional
e cultura
e cultura
cultura organizacional
organizacional
organizacional
daniella
daniella forster
daniella
Daniella Forster
IESDE
2019
© 2019 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor
dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: UfaBizPhoto/Shutterstock
CDD: 158.7
19-59491
CDU: 159.9.019.4-057.5
Apresentação 7
Gabarito 115
Apresentação
O fato de o tema fazer parte do senso comum leva à ilusão de que todos têm conhecimento
sobre características individuais, como valores, percepções, personalidade, entre outras, e que, por
isso, tais aspectos não precisam ser sistematizados ou estudados. Entretanto, trata-se justamente
do oposto, pois o senso comum pode trazer algumas simplificações que nem sempre explicam,
com efeito, o fenômeno do comportamento, tampouco contribuem para agregar valor real aos
resultados corporativos.
No último capítulo, alguns casos reais serão apresentados como forma de associar teoria
e prática de modo consistente, isso facilitará a compreensão do todo e permitirá a reflexão sobre
como contribuir efetivamente enquanto profissional, em qualquer organização que você esteja
inserido, independentemente do papel que cumpra nela.
Bons estudos!
1
Introdução ao comportamento e à cultura
organizacional
As organizações fazem parte de nossas vidas de uma forma tão natural, cotidiana e tácita que
nem percebemos. Todo nosso entorno, seja ele real ou virtual, submete-se ao mundo organizacional,
isso inclui o que comemos, o que bebemos, como nos divertimos ou, ainda, como cuidamos da
nossa saúde.
De acordo com Chiavenato (2014), nascemos em organizações, aprendemos nelas, e até
morremos nelas. Isso quer dizer que o desenvolvimento humano e social é, atualmente, vinculado
às organizações. Por exemplo, nascemos em hospitais, estudamos em escolas, frequentamos
academias, nos graduamos em universidades, trabalhamos em empresas ou criamos a nossa
própria empresa, e fazemos uso de serviços funerários quando morremos. Até mesmo igrejas que,
porventura, frequentemos fazem parte dessa trajetória de vida atrelada a organizações.
Diante dessa realidade, o estudo do comportamento e da cultura organizacional torna-se
imprescindível. Assim, convidamos você a iniciar essa jornada que pode mudar não só a sua visão sobre
o comportamento de outras pessoas e das organizações, como também sua maneira de ver a si mesmo.
inúmeras inquietações ao mundo do trabalho nos próximos anos. Muito se fala em extinção de
certas profissões, de criação de outras, mas, basicamente, o foco da Indústria 4.0 é o impacto do uso
crescente da tecnologia e as consequências disso na vida das pessoas e no dia a dia das organizações
(SCHWAB, 2017).
Outro conceito que tem sido apresentado como atual é o da carreira em slash. Ou seja,
não ter uma única ocupação, mas ser um profissional híbrido e que mistura competências.
Há uma busca por se fazer o que ama, o que traz realização e aproxima-se do conceito de
qualidade de vida e bem-estar. O dia a dia desse profissional pode ser dividido de tal forma
que o trabalho seja distribuído conforme as suas competências, qualificações e escolhas que
considerem a realização profissional, não apenas com base no que lhe traz retorno financeiro
ou estabilidade (TORRÃO, 2013).
Como vimos, constantemente as pessoas recebem informações e conhecimentos que
transformam a realidade e as suas vidas. Pode ser que, ao concluir a leitura desta obra, esses
conceitos já tenham sido revistos e modernizados, ou ainda, recriados. Afinal, vivemos na era
da inconstância.
Diante dessa complexidade, qualquer pessoa que pretenda manter-se atualizada e preparada
para atuar em uma organização, seja como colaborador ou como empreendedor, precisa atentar-se
aos conflitos da atualidade. Hoje, existe a necessidade de interagir, de entender o comportamento
do outro, independentemente de o outro ser empregador, colaborador, cliente ou fornecedor, pois
os resultados dependem diretamente de como esses relacionamentos são capazes de gerar bons
resultados.
Nível da
organização
Nível do
grupo
Nível do
indivíduo
A divisão em níveis foi realizada com o intuito de promover uma compreensão, que gera
construção conceitual conforme o estudo avança. Assim, o nível do grupo é constituído sobre o
nível do indivíduo, enquanto o nível organizacional depende dos conceitos no nível do grupo.
Esse modelo básico é aplicado para todo e qualquer tipo de organização e podemos dizer que a
sua complexidade varia principalmente conforme o porte e a estrutura organizacional. Entretanto,
todas as empresas nascem a partir de um indivíduo e exigem relacionamentos em grupo para que,
posteriormente, gerem resultados e entregas organizacionais.
Para avançar no estudo do modelo básico do comportamento organizacional, é
imprescindível apreender o conceito de variáveis dependentes, que poderá ajudar a explicar e a
predizer ações, consequências e medições. Cada variável dependente será explicitada a seguir para
melhor compreensão.
econômicas. Os resultados brasileiros foram extremamente baixos, tanto em relação a países mais
desenvolvidos quanto em relação a outros no mesmo nível de desenvolvimento.
Apesar de a pesquisa não ser tão recente, ainda se comenta bastante sobre o panorama da
produtividade brasileira. O cenário apresentado é validado em muitas empresas brasileiras que se
preocupam diretamente com os resultados da produtividade em relação a outros países; e este é
um tema que, certamente, merece pesquisas e olhares mais críticos que possam trazer conclusões
para a nossa cultura.
O absenteísmo é o indicador que mensura as ausências ao trabalho, tanto justificadas
como injustificadas. Essa variável é de suma relevância e tem muitos impactos sociais. Ela, por
exemplo, é utilizada como base para pretextos de determinadas organizações, que se recusam a
equiparar salários de homens e mulheres pelas possíveis condições futuras de maternidade delas,
que poderiam, portanto, aumentar os índices de absenteísmo.
Outra questão interessante é que o absenteísmo se torna um indicador do clima
organizacional e das condições precárias de trabalho, que podem comprometer a saúde do
colaborador. No Brasil, a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT, 2017) alerta
para o crescente número de afastamentos do trabalho em função de doenças relacionadas à
ansiedade e depressão, sendo esta última a que figura entre o maior motivo. O mais crítico é
que, em muitos casos, os profissionais precisam acionar a previdência, com risco de invalidez
permanente.
A rotatividade refere-se ao “entra e sai” das organizações, ou seja, às demissões, voluntárias
ou não, e às admissões. Trata-se de um processo que reflete diretamente nos custos organizacionais.
Não são apenas custos de um desligamento, dos valores diretos envolvidos nele, mas de outros
valores indiretos, como os custos para recrutamento e treinamento de um novo profissional e
de sua devida capacitação para atingir o nível de desempenho desejado. Perder um profissional
mediano pode até não representar muito, no entanto, perder um talento, aquele que gera diferencial
competitivo à organização, reflete em danos diretos à organização e a todo o time envolvido.
Essas questões vêm, gradativamente, trazendo mudanças importantes no ambiente de
trabalho, além de trazerem benefícios agregados que fazem com que algumas empresas sejam
mais bem avaliadas que outras. Os rankings das melhores empresas para se trabalhar divulgados
por diversas revistas, de certa forma, podem ser percebidos como uma resposta para alternativas
de retenção de bons profissionais. A Google é sempre citada como um exemplo, em função do
ambiente descontraído, da flexibilidade percebida diariamente e das opções para que as pessoas se
sintam confortáveis como se estivessem em suas casas.
Existe ainda a cidadania organizacional, isso quer dizer que não basta fazer parte da
organização, é preciso comprometer-se além das expectativas. Esse é um comportamento que distingue
o profissional de excelência dos demais, pois o que está descrito como atividades primordiais para
dado trabalho não é o suficiente. O profissional precisa se envolver em tarefas voluntárias e mostrar
que respeita seus colegas, o patrimônio organizacional e as regras da organização.
14 Comportamento e cultura organizacional
Pode parecer pouco, mas muitas organizações têm desenvolvido alternativas para que os
profissionais possam demonstrar a sua cidadania. Um exemplo são programas para redução de
custos com despesas essenciais, como luz, água, telefone, papel e cartuchos de impressora. Pode
parecer algo simplório, mas essas preocupações demonstram o envolvimento do colaborador com
questões que vão além das suas exigências laborais.
A satisfação no trabalho é, finalmente, a última variável dependente que, de certa forma,
está agregada às anteriores e representa os sentimentos que os colaboradores expressam em relação
ao seu trabalho. Expressar sentimentos não necessariamente significa exposição ou demonstração
clara deles. Em outras palavras, um profissional insatisfeito pode faltar ao trabalho, o que é uma
demonstração explícita, mas ele também pode demonstrar essa insatisfação por mau humor ou
desinteresse, sem que os outros percebam claramente o que está acontecendo.
De qualquer modo, a insatisfação, quando não observada e administrada, reflete, a longo
prazo, em disfunções para o absenteísmo, para a rotatividade, para a produtividade e para a
cidadania organizacional. Isto é, ela pode ser crucial para a mensuração efetiva dos resultados
organizacionais.
Por fim, temos o terceiro nível – variáveis no nível organizacional –, no qual compreende-se
que o comportamento organizacional é a soma dos comportamentos dos grupos e dos indivíduos neles
inseridos. Entretanto, como falamos, no caso dos grupos, há uma complexidade maior envolvida.
Essa soma, em si, não é cartesiana, ela demanda uma análise mais aprofundada que reflete na
compreensão da cultura organizacional e em como tal cultura afeta o desenho, a estrutura da
organização e todas as práticas de recursos humanos associadas. Certamente, todos esses aspectos
interligados geram impactos importantes para as variáveis dependentes que estudamos.
Existem outras variáveis que para Robbins, Judge e Sobral (2011) também são primordiais
e demandam uma atenção especial, são as variáveis externas, que correspondem às mudanças
e ao estresse, e que afetam e influenciam toda a dinâmica do comportamento organizacional.
Apesar de serem, na maioria das vezes, consideradas negativas, essas variáveis também podem
ditar inovações, processos criativos aprimorados e novas estratégias para o negócio. De fato,
existem muitas opções interessantes quando passamos a considerá-las.
Após essa breve exposição inicial de todas as variáveis que serão estudadas com maior
aprofundamento nos próximos capítulos, estamos prontos para observar a Figura 2 do modelo
de comportamento organizacional contingencial proposto por Robbins, Judge e Sobral (2011).
Nela, estão os três níveis de variáveis independentes e as variáveis dependentes, além das duas
variáveis externas. Ao reparar nas setas que demonstram as inúmeras relações entre as variáveis e
os diferentes níveis, conseguimos absorver o quão complexas e exigentes são essas inter-relações.
Figura 2 – Síntese do modelo contingencial do comportamento organizacional
Variáveis independentes
E M
S Nível do indivíduo U
T D
R Variáveis independentes A
E Nível do grupo N
S Ç
S Variáveis independentes A
E Nível da organização S
Fonte: Elaborada pela autora com base em Robbins, Judge e Sobral, 2011.
resultado de sua equipe, por eventuais problemas de comunicação ou conflitos que poderiam
afetar negativamente a produtividade e a gestão do negócio.
O segundo exemplo seria uma crise financeira no país, que geraria demissões e novas
diretrizes da área de recursos humanos, que afetariam a qualidade da comunicação entre os grupos
que se preocupam com eventuais perdas de benefícios, de cargos e/ou salários, e que impactam
diretamente na vida de um indivíduo, inclusive em sua vida pessoal.
Tanto em um caso quanto no outro, os três níveis de variáveis do modelo contingencial estão
envolvidos. Inegável também é a participação das variáveis externas. Segundo Robbins, Judge e
Sobral (2011), elas estão presentes e afetam o todo.
Vivemos em um mundo turbulento, no qual estamos constantemente vulneráveis a crises
de todos os tipos, a mercados instáveis e a exigências constantes de mais resultados com menos
recursos. Em outras palavras, indivíduos, grupos e organizações são conduzidos a repensar suas
vidas, seus relacionamentos e seus processos de trabalho como um todo constantemente.
Esse fato nos traz o alerta sobre a importância da cultura organizacional, que, dependendo
das suas características, é mais ou menos tradicional, mais ou menos flexível, consegue ou
não se mover com agilidade em prol de mudanças, tem ou não velocidade de reação diante
de cenários turbulentos. Esses e outros pontos podem ser facilitadores ou complicadores para
que uma organização tenha melhores resultados ou uma certa estabilidade diante do caos
(CHIAVENATO, 2014).
Em função da grande relevância do estudo da cultura organizacional, devemos garantir a sua
compreensão, de fato. No Brasil, empresas familiares, mais tradicionais, tendem a ser mais resistentes
às mudanças, e tal característica influencia o comportamento dos indivíduos, dos grupos e da
organização como um todo.
Como se pode perceber, o modelo contingencial do comportamento organizacional exige
uma visão sistêmica e um estudo aprofundado. É muito comum as pessoas apresentarem conceitos
próprios sobre o comportamento humano e organizacional, mas o desafio aqui é abandonar
conceitos populares e apreender conceitos sistematizados cientificamente, tendo como objetivo
principal permitir a compreensão compartilhada, que pode ser aplicada e replicada em diferentes
cenários organizacionais.
inúmeras alternativas para compartilhar a cultura, mas, em linhas gerais, pode-se dizer que a atração
e a retenção de pessoas com caráter e valores semelhantes aos dos fundadores é o começo de tudo.
Há, ainda, outras influências para a cultura organizacional. Ela é afetada, por exemplo, pelas
características locais de onde está situada. O próprio clima favorece a distinção de edificações e,
automaticamente, a disposição de pessoas em torno do ambiente planejado (ROBBINS; JUDE;
SOBRAL, 2011).
Em nosso país vasto e diversificado, podemos dizer que empresas situadas em regiões nas
quais o clima é mais frio ou reflete em maiores impactos de variações climáticas são construídas
com preocupações diferentes das inerentes às regiões Norte e Nordeste.
Em contrapartida, também temos interferências regionais de outras naturezas, como é o
exemplo das empresas brasileiras da região Sudeste. Por estarem, em sua maioria, situadas em
polos industriais, podem seguir padrões e normas de convivência que em lugares mais amplos não
são necessariamente exigidos.
Diante dessas possibilidades, algumas consequências podem ser imediatas. O ambiente de
trabalho poderá ser mais ou menos formal, com espaços mais ou menos amplos, o que gera maior
ou menor aproximação entre as pessoas, maior facilidade de comunicação ou, até mesmo, maiores
conflitos. E tudo isso decorre apenas do ambiente externo.
Quando falamos em cultura, há, certamente, a interferência de regionalismos sociais.
Robbins, Judge e Sobral (2011) comentam sobre essas características em nível internacional,
demonstrando, por exemplo, que empresas multinacionais muitas vezes trazem a cultura
de origem, de onde a empresa foi criada, e a propaga como sendo a cultura vigente,
independentemente do país no qual são inseridas.
Tal constatação sugere que tais empresas, antes de se instalarem em outros locais, avaliaram
as características sociais do país, da região, do ambiente de um modo geral, para que pudessem
predizer se haveria ou não alinhamento entre as culturas.
A cultura geral de um país também representa um forte desafio. O brasileiro é
reconhecido como mais emocional, em geral, com dificuldades para separar a pessoa da tarefa.
Essa característica marcante do povo brasileiro pressupõe que a comunicação, o feedback e as
avaliações exigem maior atenção.
Robbins, Judge e Sobral (2011) explicam essa influência direta em processos de seleção,
treinamento e avaliação de desempenho nas organizações. Culturas mais distantes, lógicas
e racionais apresentam esses processos de forma mais sistematizada, sem tantas influências
pessoais. Em contrapartida, quando falamos sobre brasileiros, os mesmos processos podem ser
comprometidos por influência das emoções e sentimentos que afetarão a neutralidade ou decisões
mais assertivas.
Esses são apenas aspectos amplos que refletem a relação direta do comportamento e da
cultura organizacional. No decorrer de nossos estudos, voltaremos a esse tema com maior
profundidade, o importante neste momento é reconhecer a relevância do assunto para tudo o que
estudaremos nos próximos capítulos.
18 Comportamento e cultura organizacional
Considerações finais
Neste primeiro capítulo, apresentamos o modelo do comportamento organizacional a fim
de criar uma sensibilização quanto à importância do conteúdo e de sua aplicação prática. Desde
a contratação e o desenvolvimento de pessoas até as eventuais demissões, todos os processos de
gestão de pessoas devem refletir uma boa leitura do comportamento organizacional, afinal, estes
podem comprometer o desempenho financeiro de um negócio, a saúde dos colaboradores e a
qualidade dos processos da organização.
Entende-se que, hoje, quem não está atento ao comportamento organizacional pode
comprometer resultados pessoais e profissionais. A cada novo desafio que se apresenta, novos
olhares e percepções são necessários. Isso significa que até podemos usar casos de outras
organizações para nos instrumentalizar e aplicar boas práticas, mas precisamos cuidar para não
replicarmos essas experiências sem os devidos cuidados, ou seja, sem que estejamos atentos às
mudanças e características específicas que configuram um cenário próprio. Um bom exemplo
disso é tentar replicar um modelo de gestão e liderança de uma empresa multinacional em
uma empresa familiar sem considerar aspectos culturais e políticas organizacionais.
Por isso, enfatizamos o estudo da cultura organizacional e sua relação com o comportamento.
Assim, não se trata de dizer que todas as estratégias podem ser vistas como fórmulas prontas
que podem ser replicadas, pois cada cultura organizacional, com suas próprias características,
incorporará a necessidade de novos olhares e visões para resultados efetivos.
Assim, pensar em comportamento organizacional vai muito além de entender conceitos,
é necessário analisá-los dentro de realidades e contextos específicos e únicos. Portanto, líderes,
executivos e administradores que estiverem conectados a essas exigências certamente terão um
grande diferencial.
• SCHIRATO. Maria Aparecida Rhein. O feitiço das organizações: sistemas imaginários. São
Paulo: Atlas, 2004.
Esse livro relata vários casos de profissionais que viveram anos atrelados a uma única
organização, vinculados emocionalmente com tanta intensidade que o processo de
desligamento acabou se tornando algo de extremo sofrimento.
Introdução ao comportamento e à cultura organizacional 19
Atividades
1. Ao estudar a cultura organizacional, você percebeu que uma multinacional carrega,
para onde for implantar novas unidades, características de seu país de origem. O Brasil
possui características desafiadoras relacionadas às emoções. Como você explicaria essas
características?
2. Pensando sobre a velocidade das mudanças que observamos na atualidade, por que o estudo
do comportamento organizacional pode ser um diferencial?
Referências
ANAMT – Associação Nacional de Medicina do Trabalho. Cresce número de afastamentos por transtornos
de ansiedade. 2017. Disponível em: https://www.anamt.org.br/portal/2017/07/12/cresce-numero-de-
afastamentos-por-transtornos-de-ansiedade/. Acesso em: 31 jul. 2019.
ROBBINS, Stephen; JUDGE, Timothy. Fundamentos do comportamento organizacional. São Paulo: Prentice
Hall, 2014.
ROBBINS, Stephen; JUDGE, Timothy; SOBRAL, Filipe. Comportamento organizacional: teoria e prática no
contexto brasileiro. São Paulo: Prentice Hall, 2011.
TORRÃO, S. Previsão: o futuro começa hoje. Revista Montepio, Portugal, v. 9, p. 37-41, 2013.
VELOSO, Fernando. A baixa produtividade nacional é sistêmica. 2018. Disponível em: http://bibliotecadigital.
fgv.br/dspace/handle/10438/25777. Acesso em: 31 jul. 2019.
2
As pessoas nas organizações
2.1 Personalidade
Vídeo
Os primeiros estudos sobre a personalidade centraram-se em definir se ela é
resultado da hereditariedade ou do ambiente. A hereditariedade se refere a todos os
fatores determinados na concepção (estatura, beleza, traços, sexo e temperamento),
características que costumam ser consideradas completas ou substancialmente
influenciadas pelos pais do indivíduo (perfis biológico, fisiológico e psicológico).
A abordagem hereditária explica que a personalidade também está na estrutura molecular do
indivíduo (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2011).
Também existe a personalidade que, em parte, é moldada pelo ambiente, com base na
história de vida do indivíduo desde o seu nascimento. A princípio, por meio do núcleo familiar e de
amigos mais próximos, inicia-se a moldagem do comportamento conforme a categoria do grupo
social ao qual o indivíduo está inserido. À medida que ele se desenvolve, o grupo de convivência se
amplia, bem como seu aprendizado. Contudo, os estímulos externos que adquirimos aos poucos
vão moldando nossas ações e personalidade. Cada indivíduo é um ser único, com padrão próprio
de comportamento e percepção, e possui características próprias que dirigem e norteiam suas
crenças, atitudes e comportamentos (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2011).
A personalidade define como o indivíduo age com base nos estímulos que encontra ao
seu redor, conforme as suas percepções, seu estado emocional e seu próprio ponto de vista.
Conforme a avaliação de cada indivíduo, ele verá um copo de água meio cheio ou meio vazio,
isso dependerá da sua visão individual, que varia de pessoa para pessoa. A diferença, portanto,
se faz pela experiência individual, uma vez que cada um de nós tem sua própria experiência de
vida, seus valores e sua personalidade (ROBBINS; JUDGE, 2014).
Um outro fator da personalidade é a situação, que influencia os efeitos da hereditariedade
e do ambiente. Ou seja, a personalidade de um indivíduo que normalmente é coerente e estável
22 Comportamento e cultura organizacional
pode mudar em determinadas situações. Sendo assim, vale a afirmação de que o conceito de
personalidade é dinâmico, ele descreve todo o desenvolvimento psicológico de uma pessoa,
podendo-se afirmar que se refere a um total agregado, mais complexo que apenas a soma das partes
(ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2011).
Muitas organizações buscam conhecer a personalidade de seus colaboradores, tanto dos
atuais quanto dos futuros que ainda serão contratados. Para tanto, algumas ferramentas são
comumente aplicadas e refletem em benefícios diversos.
Para o indivíduo, há um maior autoconhecimento relacionado às suas características
individuais, ao seu modo de ser e agir no mundo, aos aspectos associados ao relacionamento
interpessoal, à comunicação, à liderança e tantos outros que serão aprofundados nos próximos
parágrafos.
Já para a organização, existe uma previsibilidade sobre como dado profissional prefere
trabalhar, em quais contextos há maior conforto para agir, quais atividades são mais favoráveis
para ele e que tipo de ambiente profissional é mais saudável. Essas ferramentas não garantem 100%
dos resultados, mas oferecem inúmeras possibilidades para compor processos de seleção e de
desenvolvimento. As entrevistas individuais e dinâmicas de grupo poderão confirmar ou rejeitar
tais características mapeadas nas ferramentas, garantindo maior precisão.
Uma das ferramentas mais sólidas e consistentes para identificação de personalidade
chama-se Myers-Briggs Type Indicator (MBTI). Trata-se de um teste de personalidade criado por
Katharine Briggs e Isabel Briggs Myers – mãe e filha –, com base na teoria dos tipos psicológicos,
de Carl Jung. Usada há aproximadamente 60 anos, já foi validada e aplicada em diferentes países,
garantindo uma confiabilidade bem elevada. Esse tipo de ferramenta não apresenta julgamento
acerca da melhor ou pior personalidade e não mede habilidades, seu objetivo principal é identificar
preferências, sendo estas consideradas natas (LUÍS, 2015).
As autoras separam as preferências em quatro escalas, tendo cada uma delas dois polos
opostos. De acordo com Luís (2015), as diferenças entre as pessoas resultam de: onde elas preferem
focar a sua atenção, como preferem coletar informações, como preferem decidir e como se orientam
no mundo exterior. O Quadro 1, a seguir, apresenta sinteticamente a descrição das características
obtidas para cada escala, em seus dois polos opostos.
Quadro 1 – Síntese das características das tipologias do MBTI
Com variedade e ação, quer estar com Procura silêncio e concentração, gosta
Ambiente de trabalho
os outros. de ficar só.
(Continua)
As pessoas nas organizações 23
O que é real ou concreto, obtido a partir Obter informações por meio do “sexto
Preferências
dos cinco sentidos. sentido”, com base no que é abstrato.
Enfoque Nas coisas, na verdade, nos princípios. Nas pessoas, no tato e na harmonia.
2.2 Valores
Vídeo
Desde muito cedo, recebemos a influência de valores dos nossos pais, de
nossa família, escola e da sociedade. Esse é um processo natural, que acontece ao
longo da convivência e, conforme as características culturais tornam-se mais fortes
e adaptáveis, elas passam a moldar diretamente nossas escolhas, comportamentos
individuais e relacionamentos pessoais e profissionais.
Robbins e Judge (2014) conceituam valores como convicções básicas que direcionam o
indivíduo a um modo específico de conduta ou a certos objetivos de vida que são, preferencialmente,
mais usados por ele que outros. Nesse sentido, os valores pressupõem julgamento, eles são as ideias
de uma pessoa em relação ao que é certo, bom ou desejável.
Ainda segundo os autores, os valores possuem atributo de conteúdo, que fala acerca do modo de
conduta ou do objetivo de vida, e atributo da intensidade, que dita o grau de importância desse valor.
As pessoas nas organizações 25
Por fim, existem também certos cuidados em relação à congruência entre os valores de uma
organização e os predominantes na comunidade em que ela está sediada. Se a empresa precisar
impor valores e padrões de comportamento incompatíveis, haverá maior insatisfação e rotatividade.
Um bom exemplo seria: uma empresa alemã, com alta exigência em qualidade e disciplina de
horários, estabelecendo sua base em um país no qual as pessoas não têm, culturalmente, esse
perfil. Nesse caso, há uma incongruência de valores significativa. Por esse motivo, muitas vezes,
estrategicamente, as empresas tendem a avaliar os locais em que terão suas filiais.
Os dois conceitos fundamentais apresentados por Robbins e Judge (2014), com base na
Pesquisa de Valores de Rokeach, em relação ao levantamento de valores são:
• valores terminais: objetivos em si da vida de um indivíduo, por exemplo: paz mundial,
liberdade, saúde e bem-estar, felicidade, família e amizade;
• valores instrumentais: meios para se atingir os valores terminais, como:
autoaperfeiçoamento, autonomia, honestidade, afetividade, responsabilidade e bondade.
Agora, pense em um indivíduo que tem como valor terminal a prosperidade e o sucesso
econômico. Ele pode alcançar esse valor usando os valores instrumentais: disciplina, foco nos
objetivos e sua capacidade. Mas também pode usar outros valores instrumentais para alcançar o
mesmo valor terminal, que seria, por exemplo, a ambição e a imaginação. Assim, existem diferentes
combinações possíveis.
Os estudos sobre Pesquisa de Valores de Rokeach confirmam que os valores RVS variam
muito de um grupo para outro. Pessoas de uma mesma categoria ocupacional tendem a ter valores
similares: sindicalistas, empresários, executivos e ativistas são alguns exemplos nesse sentido.
Como vimos, entender de valores torna-se um grande diferencial para as pessoas e para a
organização. O indivíduo que absorve seus valores pessoais tem mais coerência e consistência para
buscar trabalhos que estejam alinhados com sua tipologia de valores. Em contrapartida, empresas
que sabem escolher profissionais, considerando sua cultura e valores organizacionais, têm maior
chance de apresentar resultados como produtividade, baixos índices de absenteísmo, cidadania
organizacional, baixa rotatividade, e satisfação dos profissionais.
2.3 Percepções
Vídeo
O tema percepção é bastante peculiar, pois uma mesma imagem, um mesmo
objeto, uma mesma notícia ou um mesmo acontecimento pode, por si só, gerar
percepções diferentes nas pessoas. E ainda mais interessante, cada pessoa acredita
que a sua percepção é a mais correta ou a mais válida. Por estar tão certa de sua
constatação, essa pessoa, em muitos momentos, toma decisões ou gera conflitos
com base em sua “verdade percebida”.
Isso significa que essas infinitas percepções individuais da realidade determinam ações e
comportamentos singulares, os quais geram diversidades nas organizações. Tal impacto, por si só,
pode representar uma riqueza potencial de trocas e resultados obtidos, mas também pode acarretar
limitações e dificuldades. Tudo dependerá de como o todo será influenciado pelas partes.
As pessoas nas organizações 27
Pode ser fácil pertencer a um grupo no qual o esforço é menor, por exemplo, um grupo
de mulheres que trabalham e que são mães de crianças que frequentam creches, nesse caso, o
pertencimento a tal grupo é praticamente espontâneo. Entretanto, não é tão simples para uma
mulher pertencer a um grupo sindicalista no Brasil, por exemplo, pois as mulheres ainda são
minoria nesse universo. Nesse último exemplo, para McShane e Glinow (2014), existe maior
força da identidade social, por trazer um caráter de distinção ao grupo que pertence.
A disputa entre a identidade pessoal e a social pode contribuir para que, em dadas situações,
haja a percepção de que o indivíduo se encontra alinhado à maioria, sendo mais facilmente
influenciado por seus pares, equipes e organizações. Em outros casos, verifica-se a expressão de
dissenso repercutindo diretamente em atitudes mais singulares, que podem destacar a pessoa perante
a maioria. Um exemplo claro seria um profissional participando de um processo seletivo em uma
dinâmica em grupo, ou um profissional que defende uma ideia que gera um novo produto ou um
posicionamento estratégico criativo e inovador.
Compreendido o autoconceito, podemos ampliar o tema e apreender a percepção do mundo
externo. A percepção, segundo Robbins, Judge e Sobral (2011), pode ser definida como a forma
que os indivíduos organizam e interpretam as suas impressões sensoriais. O objetivo, portanto, é
significar o ambiente.
Tal processo, segundo Luria (2005), acontece porque a percepção do homem é mediada por
seus conhecimentos anteriores, decorrentes da experiência passada, e isso gera muita complexidade
para análise e síntese na criação e decisão de hipóteses acerca do objetivo perceptível. Por exemplo,
se desde cedo uma criança aprende que um prato é redondo, chegar em um restaurante e se
confrontar com um prato quadrado traz algumas possibilidades hipotéticas: será que é um prato?
Pode ser usado como um prato? É um utensílio diferente de prato? Essas hipóteses podem trazer
decisões correspondentes, a primeira seria pedir um prato redondo, a segunda seria pedir um prato
de verdade.
Esse exemplo é bem interessante para que possamos compreender o caráter material e
genérico da percepção, que é apresentado por Luria (2005). E, certamente, dependerá do quanto
cada pessoa é exposta a um conjunto de experiências que ampliam a sua capacidade de generalizar.
Em outras palavras, se uma criança, ao longo de sua vida, é exposta a diferentes categorias de pratos,
com diversidade de tamanhos, formatos, cores e tantas outras possibilidades, automaticamente
haverá maior repertório para perceber um prato quadrado como sendo, definitivamente, um prato
e, portanto, utilizável para comer.
Outra peculiaridade da percepção também apontada por Luria (2005) é a constância e
a correção. Em outras palavras, trata-se de um processo no qual tendemos a perceber dado
objeto por meio de suas propriedades fundamentais. Se a cenoura sempre nos foi apresentada na
cor laranja e no formato alongado, ao nos depararmos com uma cenoura rubi, nosso processo
perceptivo será confrontado e tenderemos a ver essa cenoura mais perto da cor laranja ou
adaptaremos em nosso cérebro um formato mais arredondado, para que essa cenoura seja
percebida como beterraba. Nosso cérebro busca corrigir a percepção e adaptá-la ao nosso
repertório de conhecimentos e experiências.
As pessoas nas organizações 29
A última peculiaridade da percepção humana seria seu caráter móvel e dirigível. Segundo
Luria (2005), esse é um processo no qual conseguimos identificar características próprias de um
objeto, mesmo que ele esteja associado a outros elementos. Por exemplo, se o médico usa roupas
brancas, mas está em um ambiente de luz fluorescente para realizar um exame, nossa mente
captará a roupa branca, ainda que ela tenha tido sua cor alterada em função da interferência de
uma luz. Mas para que essa percepção seja possível, certamente o indivíduo precisa ter passado por
experiências anteriores que lhe gerem tal informação.
A percepção sofre influência de alguns fatores que moldam e, por vezes, geram distorções.
Esses fatores, segundo Robbins, Judge e Sobral (2011), podem estar no observador, na situação
e no próprio alvo.
Os fatores mais comuns que estão no observador são: atitudes, motivações, interesses,
experiências passadas e expectativas futuras. Se você, por exemplo, se interessa por rock, muito
provavelmente perceberá alvos musicais a partir desse interesse, o que pode moldar, inclusive,
como percebe dados estilos musicais.
O alvo, em si, também traz fatores como: novidade, movimento, sons, tamanho, cenário,
proximidade e semelhança. Pessoas que se sobressaem em função de sua estatura, estética ou
características marcantes são automaticamente percebidas e geram mais comentários, críticas ou
julgamentos. Por estarem expostas, são, naturalmente, foco de percepção.
Por fim, temos os fatores na situação, que seriam: momento, ambiente de trabalho e
ambiente social. A mesma pessoa, em ambientes diferentes, pode gerar diferentes interpretações.
Um exemplo claro seriam pessoas que se encontram diariamente em uma academia, suadas, sem
maquiagens ou outros artifícios e, em dado momento, encontram-se em ocasiões sociais, bem-
vestidas e produzidas. Nessas condições, elas estão tão diferentes que talvez nem sejam reconhecidas
de imediato.
Para Robbins, Judge e Sobral (2011), a aplicação dos conceitos sobre percepção para o
estudo do comportamento organizacional remete à percepção do indivíduo. Para tanto, os autores
apresentam algumas teorias que favorecem essa compreensão.
Perceber os sujeitos é muito diferente de perceber objetos inanimados, afinal, existem
processos internos que geram múltiplas interpretações. Esse é o principal motivo da proposta
da teoria de atribuição, apresentada por Robbins, Judge e Sobral (2011), que busca explicar por
que julgamos as pessoas diferentemente, de acordo com o sentido que atribuímos a determinado
comportamento. Em algumas situações, podemos julgar o motivo desse comportamento como
causa interna ou como causa externa. Tal decisão depende de três fatores:
• Diferenciação: quando o indivíduo mostra ou não comportamentos diferentes em
situações díspares, como no caso de um colaborador que chega sempre atrasado ao
trabalho. Muito provavelmente seu comportamento será avaliado como de causa interna,
ele será visto como não comprometido ou, até mesmo, como desajustado. Dificilmente
esse comportamento será analisado como de causa externa, como problemas com pneu
furado ou ônibus quebrado.
30 Comportamento e cultura organizacional
• Consenso: caso um grupo de pessoas enfrentem dada situação de forma semelhante, pode-
se dizer que esse comportamento gera consenso. Por exemplo, se todos os funcionários
de uma empresa se atrasam em função de uma manifestação que está acontecendo na rua
que dá acesso à portaria, a atribuição da causa externa fica clara e é compartilhada por
todo o grupo.
• Coerência: quando existe um padrão de comportamento no qual fica nítido se a pessoa tem
um perfil que a conduz a um atraso ou não. Sendo assim, o comum é a atribuição a causas
internas. Por exemplo, se um funcionário assume a sua dificuldade em chegar no horário
porque apresenta insônia, então, automaticamente o atraso se torna um padrão coerente.
A teoria da atribuição traz consigo alguns erros e vieses interessantes. O primeiro refere-
se ao que chamamos erro fundamental de atribuição, no qual subestima-se fatores externos e
superestima-se fatores internos. Um exemplo seria culpar uma equipe pelo não cumprimento de
metas, atribuindo o insucesso à incapacidade das pessoas, não ao mercado que está enfrentando
uma crise. Também é bastante comum o chamado viés da autoconveniência, no qual se estabelece
que o sucesso individual é atribuído a causas internas, como inteligência ou perspicácia, e os erros
são atribuídos a causas externas, como o ambiente de trabalho ou o alto nível de estresse.
Outro aspecto a ser considerado no estudo da percepção são as distorções, com base nas
quais, normalmente, costumamos simplificar o julgamento de outras pessoas. Chiavenatto (2014)
aponta as principais distorções, são elas:
• Percepção seletiva: escolher com base em experiências pessoais e interesses ou eliminando
o que não interessa. Por exemplo, ao ler notícias, preferir apenas conteúdos relacionados
a futebol.
• Efeito de halo: visualizar uma pessoa com base em apenas um atributo, geralmente
relacionado a seus valores, crenças e comportamentos. É o que fazemos quando julgamos
como positiva uma pessoa que, assim como nós, gosta de estudar ou gosta de um mesmo
estilo musical.
• Efeitos de contraste: fazer comparações usando como referência outra pessoa que
possui características julgadas como muito superiores ou inferiores é algo comum em
nossa cultura. Os pais costumam educar seus filhos usando o efeito de contraste quando
afirmam, por exemplo, que o filho do vizinho nunca gritou com o pai, ou situações
semelhantes.
• Estereotipagem: julgar alguém de acordo com as características do grupo a que pertence.
Por exemplo, ter a concepção de que todos os jogadores de basquete americano são negros.
• Projeção: ocorre com base em uma necessidade individual, que posteriormente é projetada
a um grupo maior. Como quando um indivíduo julga que seu horário de almoço é muito
curto, e acaba externando a necessidade de mudar o horário de todo o grupo.
Robbins, Judge e Sobral (2011) também apontam as implicações da percepção nas organizações,
como em processos seletivos ou em avaliações de desempenho. Como vimos anteriormente, existe
uma série de distorções e simplificações da percepção em relação às pessoas. Infelizmente, pode
As pessoas nas organizações 31
haver injustiças nesses julgamentos se não houver uma quantidade razoável de evidências para que se
determine, com maior clareza e transparência, um dado comportamento.
Pode-se, por exemplo, fazer uma avaliação negativa usando a estereotipagem. Se o sujeito
pertence a uma equipe que apresenta problemas de relacionamento, pode-se atribuir a ele uma
característica de comportamento negativa que não necessariamente o pertence enquanto indivíduo.
Pode-se, também, selecionar pessoas usando a percepção seletiva, buscando apenas
candidatos que tenham estudado em universidades ou faculdades que o avaliador considere
positivas, descartando outras sem qualquer critério racional.
Diante dessas possibilidades, existem estudos que atrelam a tomada de decisão individual
à percepção. Robbins, Judge e Sobral (2011) alertam para fatores que devem ser considerados. De
acordo com os autores, embora o modelo racional de tomada de decisão evite inúmeros desconfortos,
no dia a dia sua aplicação é limitada. Assim, é importante reconhecer essas interferências e estar
atento a elas em nossas vidas profissionais e pessoais:
• Limitação da racionalidade: fator que explica nosso ato de simplificar a análise ou a
resolução de problemas mais complexos. Em geral, essa opção ocorre para minimizar a
perda de tempo e facilitar a tomada de decisão. Nem todos os critérios necessários são
colocados em pauta, mas são escolhidos os mais conhecidos ou os mais comuns, tudo para
tentar facilitar a decisão. Também existem erros e rumos que surgem na tentativa de agilizar
o processo decisório, como atalhos, usando a experiência do próprio indivíduo, suas regras
de senso comum e outros elementos que surgem naturalmente.
• Viés de excesso de confiança: extremamente comum e perigoso, pois quanto mais
conhecemos determinado assunto, mais corremos o risco de não avaliar todo o cenário e
suas perspectivas. Consequentemente, a decisão surge de modo automático, como algo do
tipo: “isto eu já conheço ou eu já sei”.
• Viés de ancoragem: surge com base em um ponto fixado pela nossa mente, por meio do
qual estabelecemos parâmetros e tomamos certas decisões. Quando se negocia um salário
para dada função, comumente se estabelece um valor no qual está fixado a âncora e, com
base nela, o indivíduo diz se aceita ou rejeita a proposta.
• Viés de confirmação: muitas vezes, buscamos a confirmação de nossas verdades de forma
totalmente espontânea. Até em um navegador na internet pode-se buscar um tema que
corrobore nosso pensamento. Perguntamos de modo a obter a resposta que queremos, e,
provavelmente, não daremos importância às informações contraditórias. Se, por exemplo,
uma pessoa é vegetariana e acredita nessa opção de vida, fará perguntas do tipo: ser
vegetariano torna a pessoa mais saudável? A maioria das respostas será positiva.
• Viés de disponibilidade: se as notícias mais comuns que você tem lido falam sobre
mortes em determinado bairro da sua cidade, isso não necessariamente significa que
esse bairro é o mais violento ou que você deva evitá-lo mais do que outros. Entretanto,
é a informação que está mais presente em sua mente, portanto, seu processo decisório
partirá dessa informação.
• Viés de representatividade: ocorre quando se avalia a chance de um acontecimento,
tentando ajustá-lo a uma categoria preexistente. Podemos dizer, por exemplo, que,
aparentemente, há mais chances de meninos negros americanos jogarem basquete na NBA
do que serem profissionais de qualquer outra área, quando, na verdade, estatisticamente,
as chances são muito menores.
• Escala de comprometimento: muitos casais se comprometem com um casamento
que tem grandes chances de não ser bem-sucedido. O motivo principal dessa decisão
está pautado em uma série de decisões anteriores que se relacionam e que parecem
ter coerência, como: o namoro já tem quatro anos, ou eles compraram um carro e um
apartamento juntos. Desse modo, coerentemente, essas pessoas deveriam se casar, ainda
que não haja mais felicidade ou bem-estar no relacionamento.
Como vimos, estamos constantemente sendo afetados por vieses e distorções de percepções.
E, na maioria das vezes, tudo isso acontece de maneira inconsciente. De certa forma, essas
interferências podem atingir nosso discernimento para tomadas de decisões individuais e trazer
algumas consequências diretas para a nossa vida. Nesse sentido, será que podemos reduzi-las?
Robbins, Judge e Sobral (2011) comentam sobre algumas ações possíveis para reduzir erros e
vieses, que serão elencadas a seguir:
• Focar nas metas: no sentido de aumentar a racionalidade, buscar o que é relevante e o
que traz consistência.
• Buscar informações contrárias às suas opiniões: para que você possa pensar de forma
diferente, ampliando conceitos e informações sobre o que já conhece.
• Evitar procurar sentido em eventos aleatórios: afinal, nossa mente está condicionada
a encontrar causa e efeito diante dos eventos. Nem sempre o que acontece tem uma
razão ou justificativa, mas a tendência é tentar encontrar alguma. Então, o melhor é
aceitar que não se pode ter controle sobre tudo e que nem sempre existem padrões
baseados em coincidências.
• Aumentar suas opções: em outras palavras, amplie o seu leque de alternativas possíveis
e use a sua criatividade, diversifique e aumente as probabilidades de encontrar a solução
ideal para cada caso.
Diante dessas dicas, podemos manter maior discernimento frente a fatos e situações
de vida que demandam uma percepção mais racional e coerente. Quando agimos assim, os
acontecimentos da vida e a nossa própria trajetória oferecem menos exposição a arrependimentos.
e raciocinar com emoção, e regular a emoção em si mesmo e nos outros. São quatro dimensões
que permitem tal regulação:
• Consciência nas próprias emoções: seria a capacidade de perceber e compreender o
significado de suas próprias emoções. Aqui, o autoconhecimento pode vir como um
grande diferencial, permitindo melhor percepção das respostas emocionais.
• Gestão das próprias emoções: seria gerir a frustração e os impulsos destrutivos. Nessa
gestão está, também, a demonstração das emoções positivas, quando cabem.
• Consciência das emoções alheias: trata-se de empatia, ou seja, da compreensão e
sensibilidade de uma pessoa quanto aos sentimentos, pensamentos e situações dos outros.
Essa consciência vai além da empatia quando dizemos que também se torna necessária
para reconhecer emoções compatíveis em um ambiente organizacional, como expressar
alegria, felicidade e até tristeza, e as incompatíveis, como raiva e inveja.
• Gestão das emoções alheias: diz respeito a consolar as pessoas que estão tristes, inspirar
emocionalmente os membros de uma equipe, gerir disfunções emocionais no ambiente de
trabalho que possam gerar conflitos e prejudicar o relacionamento com clientes ou outras
pessoas do grupo.
Os autores salientam, ainda, que essas dimensões da inteligência emocional formam
uma hierarquia conforme a sequência conceitual apresentada, afinal, só se pode gerir o que se
tem consciência. Toda essa hierarquia, quando bem equilibrada, gera, certamente, melhores
relacionamentos, maior abertura para aprendizados e melhor desempenho. Quanto ao uso das
emoções e humores no comportamento organizacional, Robbins e Judge (2014) apontam:
• Seleção: a inteligência emocional tem sido critério para predizer sucesso na contratação
pessoal.
• Tomada de decisão: cada vez mais têm sido relatados casos em que as emoções apresentam
efeitos importantes para julgamentos e soluções.
• Criatividade: o bom humor parece contribuir diretamente com novas ideias, com mais
abertura e mais flexibilidade para as atividades diárias.
• Motivação: alguns estudos vêm demonstrando a contribuição direta de humores e
emoções para a motivação, gerando feedbacks positivos e ampliando a possibilidade de
melhorar o desempenho continuamente.
• Liderança: líderes e executivos que conseguem inspirar e gerar entusiasmo provocam
mais interação social positiva e melhor performance. Envolver e engajar pessoas, muitas
vezes, exige das lideranças a gestão das emoções.
• Atendimento ao cliente: sabe-se que muitos clientes compram produtos ou serviços
quando têm um atendimento de alta qualidade, no qual um funcionário consegue ativar
emoções positivas e contagiar o cliente com bom humor. Apenas conhecer determinado
produto ou serviço não é, necessariamente, suficiente.
• Atitudes no trabalho: o bom humor afeta a vida das pessoas tanto no ambiente de trabalho
quanto na vida pessoal. É certo que, mesmo tentando deixar problemas pessoais em casa,
38 Comportamento e cultura organizacional
muitas vezes esses problemas podem acarretar mal humor no trabalho, o contrário é
igualmente observado.
• Comportamento desviante no ambiente de trabalho: quando existe violação de normas
estabelecidas que ameaçam a organização, seus membros ou ambos, acontecem os
comportamentos desviantes que, em sua maioria, são causados por emoções negativas. A
inveja ou a raiva podem gerar atitudes negativas e destrutivas, que podem comprometer
o desempenho das pessoas ao redor.
Nem todos concordam com a temática da inteligência emocional no comportamento
organizacional, mas, como vimos, muitos estudos têm sido realizados com o intuito de demonstrar
pontos críticos que podem interferir nos resultados organizacionais. Sendo assim, vale considerar,
aprofundar teoricamente e observar com atenção a prática organizacional nesse sentido.
Considerações finais
Neste capítulo, você teve a oportunidade de conhecer com maior aprofundamento as variáveis
independentes no nível do indivíduo, que compõem o modelo do comportamento organizacional:
personalidade, valores, percepções, atitudes, comportamentos, sentimentos e emoções.
Você deve ter compreendido que cada uma dessas variáveis interfere no modo como as
pessoas agem individualmente e influenciam outras pessoas, grupos e organizações. Também se
deparou com conceitos que geram reflexões importantes para o autoconhecimento, afinal, cada
variável explica quem somos e quem nos tornamos ao longo da nossa trajetória de vida.
Para melhor escolher uma carreira, uma profissão e uma empresa para trabalhar, essa
base é importantíssima, pois ela permitirá maior engajamento, envolvimento, satisfação e um
desempenho repleto de aprendizados. Todo esse contexto é interessante para todas as partes, pois
se a empresa tem um colaborador comprometido, há maior chance da retribuição e construção de
uma parceria efetiva.
• A DAMA de ferro. Direção de Phyllida Lloyd. Produção de Damian Jones. São Paulo:
Paris Filmes, 2011. 1 DVD de vídeo (104 min), DVD, son., color.
O filme conta a história de uma mulher que enfrentou vários preconceitos na função de
primeira-ministra do Reino Unido, em um mundo, até então, dominado por homens. O
filme permite analisar aspectos estudados neste capítulo, como personalidade, emoções,
valores, atitudes, comportamentos e suas influências.
Atividades
1. Como os valores e a personalidade dos indivíduos podem favorecer os resultados
organizacionais?
2. A respeito do conteúdo sobre a percepção, por que o autoconceito se torna primordial para a
percepção do mundo externo?
Referências
CHIAVENATTO, Idalberto. Comportamento organizacional: a dinâmica de sucesso nas organizações. São
Paulo: Manole, 2014.
LUÍS, Angnes Derli. Tipos psicológicos de Jung e Myers-Briggs (MBTI): um enfoque gerencial. União Europeia:
Novas Edições Acadêmicas, 2015.
McSHANE, Steven L.; GLINOW, Mary Ann Von. Comportamento organizacional: conhecimento emergente,
realidade global. Porto Alegre: Mc Graw Hill Educacion, 2014.
ROBBINS, Stephen; JUDGE, Timothy. Fundamentos do comportamento organizacional. São Paulo: Prentice
Hall, 2014.
Este capítulo é dedicado a um tema que vem sendo estudado há anos e que sempre confere aos
gestores, colaboradores e organizações novos olhares, incômodos e desafios. Além de debater sobre
questões conceituais, você conhecerá diferentes teorias que buscam explicar fatores motivacionais
e compreenderá o que conduz as pessoas na direção de objetivos e metas.
À medida que tais conceitos forem apresentados, você perceberá muitas situações cotidianas
e, automaticamente, haverá concordância ou discordância em relação às teorias. Tal fato acontece
por ser a motivação um assunto complexo e, ao mesmo tempo, repleto de verdades não absolutas.
Um olhar crítico e atento fará grande diferença para ampliar seus estudos. Quanto mais você
comparar realidades, analisar fatos, situações e problemas, melhor compreenderá por que algumas
estratégias de motivação funcionam para alguns e para outros não, por que certas empresas
investem mais em palestras e treinamentos motivacionais que outras, e assim por diante.
Nosso objetivo será desconstruir preconceitos por meio dessas descobertas, a fim de
construirmos conceitos mais íntegros e de descobrirmos que a motivação pode ser a chave para o
nosso caminhar.
pouco relevante. Em contrapartida, alguém extremamente sociável terá uma necessidade forte
o suficiente para dirigir suas ações com determinação inabalável, de modo que sempre esteja
com outras pessoas, conversando e interagindo (MCSHANE; GLINOW, 2014). A motivação,
portanto, varia tanto por questões individuais quanto por questões relacionadas ao momento
em que se encontra esse indivíduo.
Robbins e Judge (2014) definem a motivação como os processos que representam
a intensidade, a direção e a persistência de um indivíduo para alcançar uma meta. Assim, a
motivação se relaciona ao desejo de alcançar um objetivo, aqui compreendido como interesse e
foco relacionados ao trabalho, ou seja, focados nas metas organizacionais.
Segundo Robbins e Judge (2014), a motivação pode ser sistematizada com base em três
elementos-chave: a intensidade, a direção e a persistência. A intensidade descreve o quanto a pessoa
se esforça; esse é o elemento no qual a maioria de nós se concentra quando falamos de motivação,
porém, é pouco provável que a alta intensidade leve a resultados favoráveis de desempenho no
trabalho, a menos que o esforço seja canalizado a uma direção que beneficie a organização.
A motivação tem, também, o papel da persistência. A persistência é o quanto a pessoa
consegue manter o tempo de esforço. Quando os indivíduos estão motivados, conseguem manter
uma tarefa por tempo suficiente para entregá-la.
Quatro teorias de motivação de funcionários foram formuladas na década de 1950. Elas
representam a base sobre as quais outras teorias foram desenvolvidas. Veremos agora, de maneira
isolada, cada uma delas.
Autorrealização
Estima
Pertencimento
Segurança
Fisiológicas
desempenho quando os indivíduos percebem que o nível de esforço é menor, pois há a certeza de
que serão totalmente realizadas (ROBBINS; JUDGE, 2014).
Podemos prever algumas relações entre a necessidade de realização e o desempenho no
trabalho. Primeiro, quando os trabalhos têm alto grau de responsabilidade pessoal e feedback, e
um grau médio de risco, os grandes realizadores, ou seja, os profissionais que gostam de desafios,
ficam fortemente motivados, por exemplo, no gerenciamento de unidades autossuficientes
dentro de grandes organizações.
Segundo, quando há uma grande necessidade de êxito, isso não faz de alguém um bom
gestor, especialmente em grandes organizações. As pessoas com alta necessidade de êxito estão
interessadas no quanto elas realizam pessoalmente e não no quanto influenciam os outros a
também terem um bom desempenho.
Terceiro, as necessidades de afiliação e poder tendem a estar intimamente relacionadas com
o sucesso gerencial. Os melhores gestores têm alto índice de necessidade de poder e baixo índice de
necessidade de afiliação. Um alto motivo de poder pode ser um requisito para a eficácia na gestão
(ROBBINS; JUDGE, 2014).
Após a apresentação dessas quatro teorias que, como já falamos, foram base para tantas
outras, abordaremos teorias que são representativas e influenciam os estudos de motivação e
comportamento organizacional, são elas: teoria dos quatro impulsos (propulsora das teorias
contemporâneas); e teoria das expectativas, modificação do comportamento organizacional ou
teoria social cognitiva e teoria das metas (teorias contemporâneas).
inerentes e estarão constantemente sendo acionados por nosso cérebro, conforme as situações que
se apresentam.
Basicamente, essa teoria diz que o esforço do trabalho é direcionado a comportamentos que
levam as pessoas aos resultados desejados. Assim, pode-se dizer que focamos naquilo que tem
mais chance de dar retorno. De acordo com McShane e Glinow (2014), o nível do esforço de um
indivíduo depende de três fatores:
1. Expectativa de E → D
Uma determinada tarefa pode ser percebida como 100% realizável e, em outras situações,
pode ser interpretada como impossível. Entretanto, o mais comum é a percepção estar
entre esses dois extremos.
2. Expectativa de D → R
A percepção aqui é de que um dado desempenho resultará, definitivamente, em dado
resultado, ou pode-se acreditar que o desempenho bem-sucedido não afetará em nada o
resultado. Aqui, também, o meio termo será o mais comum.
3. Valências de resultado
A satisfação ou a insatisfação com o resultado é a valência. Ela será positiva quando os
resultados são consistentes e satisfatórios, e negativa quando os resultados são insatisfatórios.
Segundo McShane e Glinow (2014), a motivação de um colaborador é influenciada por esses
três componentes. Portanto, se há enfraquecimento de algum, a motivação, por consequência,
enfraquecerá.
Pensando em como seria, na prática, a aplicação da teoria das expectativas, temos, por
exemplo, um caso em que a tarefa objetiva melhorar resultados e metas de dada equipe no
próximo ano (E → D). Pelo menos 60% desse objetivo será atingido por meio de treinamentos e
capacitações dirigidas, além de feedbacks estruturados mensalmente (D → R). Isso pode gerar uma
entrega positiva (valência de resultado), que corresponde a alcançar o patamar estabelecido com a
qualidade esperada.
Assim, em situações difíceis, as pessoas com baixa autoeficácia são mais propensas a se
diminuir, não conseguindo aplicar o esforço necessário ou, ainda, desistindo de suas atividades,
enquanto aquelas com alta autoeficácia se esforçarão muito mais para vencer desafios.
A autoeficácia pode criar uma espiral positiva na qual aqueles com alta eficácia se
tornam mais engajados em suas tarefas e, como consequência, aumentam o desempenho e a
autoconfiança, gerando ainda mais aumento da eficácia. Mudanças na autoeficácia ao longo do
tempo estão relacionadas também a mudanças no desempenho criativo.
Além disso, diante de um feedback negativo, os indivíduos que têm alta autoeficácia parecem
responder com aumento de esforço e motivação, enquanto aqueles com baixa autoeficácia são
propensos a diminuir seus esforços.
Assim, como os gestores podem ajudar seus funcionários a alcançar altos níveis de
autoeficácia? E como eles podem ajudar seus funcionários com baixa autoeficácia? De acordo com
Robbins e Judge (2014), os gestores podem fazê-lo unindo a teoria da definição de metas, que
veremos na sequência à teoria da autoeficácia.
Segundo McShane e Glinow (2014), Albert Bandura, psicólogo que desenvolveu a teoria da
autoeficácia, propõe quatro modos de aumentá-la, são eles:
• maestria prática;
• aprendizagem por observação;
• persuasão verbal;
• excitação emocional.
De acordo com a teoria do pesquisador, a maneira mais importante para aumentar a
autoeficácia é a maestria prática, ou seja, é adquirir experiência relevante para a tarefa ou trabalho.
Desse modo, se uma pessoa foi capaz de fazer determinado trabalho com sucesso no passado, terá
maior confiança em sua capacidade em fazê-lo no futuro.
A segunda fonte é a aprendizagem por observação, que corresponde a tornar-se mais
confiante ao observar alguém realizando uma tarefa. Por exemplo, se seu amigo emagrece, isso
aumenta sua confiança, levando-o a crer que você também pode perder peso. A aprendizagem
vicária – por observação – é mais efetiva quando você se vê da mesma forma que o ser observado.
A terceira fonte, a persuasão verbal, trata-se de se tornar mais confiante porque alguém o
convence de que você tem as habilidades necessárias para ter o devido sucesso; essa tática é muito
utilizada por palestrantes motivacionais.
Por fim, de acordo com a teoria de Bandura, a excitação emocional também aumenta a
autoeficácia, correspondendo à quarta fonte. A excitação emocional leva a um estado energizado
no qual a pessoa se sente “empolgada” e isso torna seu desempenho melhor. Entretanto, se a tarefa
requer uma perspectiva estável e discreta (por exemplo, editar cuidadosamente um manuscrito), a
excitação emocional pode, de fato, prejudicar o desempenho.
Motivação e engajamento nas organizações 51
Programas de treinamento muitas vezes usam a maestria prática para fazer com que as
pessoas pratiquem e construam suas habilidades naquilo que lhes é dito e aplicado. Na verdade,
uma das razões de o treinamento funcionar é que ele aumenta a autoeficácia.
De acordo com Robbins e Judge (2014) e McShane e Glinow (2014), os indivíduos com graus
mais altos de autoeficácia também parecem obter mais benefícios dos programas de treinamento e
são mais propensos a usar seu treinamento em seu trabalho. A inteligência e a personalidade estão
ausentes na lista de Bandura, mas com certeza podem aumentar a autoeficácia. As pessoas que são
inteligentes, conscientes e emocionalmente estáveis são mais propensas a ter uma alta autoeficácia.
(BSC) e da Avaliação 360º. Os autores também se preocupam com o feedback frequente ou bem
estruturado, na medida em que existem metas claras e observáveis, cujo período de consolidação
foi bem definido.
A neutralidade do avaliador ou gestor também é de extrema relevância para evitar confusão
ou julgamento parcial que possam afetar a qualidade do feedback e impactar diretamente na
credibilidade da avaliação, devolutiva e, consequentemente, na motivação futura para nova tarefa.
Considerações finais
Inúmeras são as possibilidades para buscar maior envolvimento, engajamento e motivação
dos colaboradores. Como vimos, esses conceitos são complexos, interligados e aplicados nas
organizações de forma mais ou menos estratégica, com resultados nem sempre correspondentes
com os desejos de gestores. Afinal, o que fica é que os fatores motivacionais são diferentes para
cada pessoa, cada cultura e cada contexto organizacional.
Irrefutável é a necessidade de estar atento a essa variável, independentemente do nível do
indivíduo como propulsor de diferentes cenários do comportamento organizacional. O importante
não é aplicar este ou aquele conceito, aplicar uma dada teoria, mas sim analisar as possibilidades
e escolher as melhores opções diante do desafio e do cenário da realidade. Certamente haverá
impactos significativos na satisfação, na rotatividade, no absenteísmo, na cidadania organizacional
e na produtividade.
Atividades
1. De que forma você aplicaria a teoria de Maslow para uma pessoa em situação de rua que não
tem intenção de buscar um trabalho, ter uma casa ou uma vida comum?
2. Existem alguns debates que apontam o tema da motivação como uma forma de “manipular”
o comportamento, principalmente quando se fala em reforço positivo e recompensa. Com
base em nossos estudos, quais são as suas considerações sobre o tema?
Referências
MCSHANE, Steven L.; GLINOW, Mary Ann Von. Comportamento organizacional: conhecimento emergente,
realidade global. Porto Alegre: Mc Graw Hill Educacion, 2014.
ROBBINS, Stephen; JUDGE, Timothy. Fundamentos do comportamento organizacional. São Paulo: Prentice
Hall, 2014.
4.1.1 Papéis
Referem-se ao desempenho atribuído a cada membro do grupo, ou seja, ao conjunto de
padrões de comportamento esperados, os quais são atribuídos a alguém que esteja ocupando
uma determinada posição. Não necessariamente podemos escolher um papel e desempenhá-lo de
maneira regular e consistente.
Muitas vezes precisamos ter funções variadas dentro e fora de nossos trabalhos. Nesse
ponto, cabe um alerta: uma das tarefas na compreensão do comportamento é entender o papel que
a pessoa está desempenhando naquele momento.
Grupos diferentes impõem exigências de papéis diferentes sobre os indivíduos. Programas
de aprendizagem permitem que iniciantes assistam a um especialista para que possam aprender a
agir como deveriam dentro de um determinado grupo.
4.1.2 Normas
As normas são comuns a todos os grupos, sendo que ditam padrões de comportamento
aceitáveis compartilhados por seus membros e expressam o que deve e não deve ser feito em certas
circunstâncias. Quando acordadas e aceitas pelo grupo, as normas influenciam o comportamento
dos membros com o mínimo de controle externo.
A mais comum das normas é a de desempenho, que fornece condições explícitas sobre quanto
os membros devem trabalhar, qual nível de dedicação devem apresentar, como o trabalho deve ser
executado, que nível de atraso é tolerado, e assim por diante. Essas normas são extremamente
poderosas e conseguem predizer o nível de desempenho e motivação dos membros do grupo.
Outros bons exemplos são as normas de aparência – vestimentas e regras silenciosas para
quando estiver muito ocupado –, normas de compromissos sociais – com quem fazer amizades no
trabalho e fora dele – e normas de alocação de recursos – atribuição de tarefas difíceis e distribuição
de recursos, como pagamento ou equipamento.
Um membro deseja ser aceito pelo grupo; assim, ele está suscetível à conformidade com
suas normas. Diversos fatores interferem para que os grupos exerçam forte pressão a fim de que
os membros individuais adequem suas atitudes e comportamentos e, desse modo, adaptem-se aos
padrões do grupo. Existem inúmeros motivos para a conformidade, sendo que pesquisas recentes
destacam a importância de um desejo de desenvolver relações sociais significativas com os outros
ou de manter um autoconceito favorável.
Poucas organizações admitirão criar ou tolerar condições que encorajem e suportem
normas desviantes. No entanto, elas existem. Como as normas em geral, as ações antissociais
de cada funcionário são moldadas pelo contexto do grupo com o qual ele trabalha.
As evidências demonstram que o comportamento desviante no local de trabalho tem
grande probabilidade de aparecer quando é apoiado pelas normas do grupo. O que isso
significa para os gestores é que, quando surgem normas desviantes no local de trabalho,
a cooperação, o comprometimento e a motivação do funcionário provavelmente sofrem.
60 Comportamento e cultura organizacional
4.1.3 Status
De acordo com Robbins e Judge (2014), status seria uma posição ou classificação socialmente
definida, dada por outros aos grupos ou membros do grupo. Trata-se de um critério social que
existe em qualquer grupo, independentemente de seu tamanho.
Para os autores, o status é um motivador significativo e tem importantes consequências
comportamentais, pois nem sempre os grupos recebem status compatíveis com suas próprias
percepções. O que, basicamente, determina o status é o poder que uma pessoa exerce sobre as outras
e sua capacidade de contribuir com as metas do grupo.
O tamanho do grupo afeta seu comportamento geral. Uma das descobertas mais importantes
sobre esse fator diz respeito à indolência ou folga social, que é a tendência que os indivíduos têm
de despender menos esforços no trabalho coletivo do que no trabalho individual. Tal fator explica,
de certa forma, os motivos pelos quais alguns reconhecimentos baseados em grupos sempre
são percebidos como justos. Afinal, a folga social gera sobrecarga para alguns e “acomodação”
para outros, sendo que o grupo aparece como igual, porém os esforços individuais são distintos
(ROBBINS; JUDGE, 2014).
Robbins e Judge (2014) oferecem algumas dicas para se evitar a indolência social: estabelecer
metas por grupo; criar concorrência entre grupos, buscando resultados compartilhados; exigir
avaliação entre pares; priorizar membros de alta motivação e que prefiram trabalhar em grupos;
estabelecer recompensas individuais e para o grupo.
4.1.4 Coesão
Um grupo coeso é aquele no qual seus membros estão juntos e motivados em prol de
um propósito ou tarefa. Robbins e Judge (2014) explicam que esse tipo de característica é mais
evidenciada em grupos menores, ou em grupos muito bem alinhados em valores. Há também
aqueles que, de alguma maneira, por ameaças externas, passaram por um processo de aproximação
mais intensa. Os autores ressaltam que a coesão gera maior produtividade.
4.1.5 Diversidade
A diversidade dos membros do grupo corresponde a quão semelhantes ou diferentes entre
si eles são e tende a ser promotora do conflito do grupo, especialmente nas primeiras fases de sua
existência.
Em outras palavras, as pessoas discutirão e mostrarão seus próprios pontos de vista com
base em suas diferenças, e precisarão passar por uma fase de adaptação, negociação e decisão para
que o grupo defina as suas prioridades e caminhos a serem trilhados. Nem sempre esse processo
termina bem e é comum que haja diminuição da moral do grupo e aumento das taxas de abandono,
tendo em vista que algumas experiências negativas podem gerar desconforto e impossibilidade de
continuar no grupo (ROBBINS; JUDGE, 2014).
A diversidade parece ser ruim para o desempenho até mesmo de equipes criativas, mas a
organização e a liderança compensam esses problemas. De certa forma, tudo dependerá de como
será a gestão da diversidade. Uma equipe heterogênea de gêneros poderá favorecer excelentes
Os desafios dos grupos nas organizações 61
-las nos profissionais que já as possuem. O importante é reconhecer que, geralmente, fatores
relacionados à personalidade e à inteligência emocional impactam diretamente na apresentação de
uma prontidão maior ou menor para estar inserido em uma equipe de alto desempenho.
Ao estudarmos as variáveis independentes de grupo, continuaremos com a abordagem
desenvolvida até aqui. A cada variável conceituada, grupos e equipes ganham em possibilidades
e direcionamentos em prol da gestão do comportamento humano. Então, teremos inúmeras
possibilidades para absorver o tema, que é, definitivamente, um dos mais relevantes em todo o
contexto organizacional.
4.2 Comunicação
Vídeo
Nenhum indivíduo, grupo ou organização pode existir sem compartilhar
ideias, informações, dados, símbolos e conteúdo. Comunicar-se não é apenas a
transmissão, mas também a compreensão do que foi transmitido; o significado
também deve ser entendido. Sabemos que, muitas vezes, a comunicação falha
gera uma série de consequências negativas, tanto em nossos relacionamentos
profissionais quanto nos pessoais. Então, certamente, vale a pena apurarmos o conceito dessa
variável independente de grupo.
O primeiro aspecto que precisamos compreender é que a comunicação envolve um processo
que não necessariamente é racionalizado em nosso dia a dia. Isto é, não pensamos nesse processo
sempre que vamos comunicar algo.
De acordo com Carvalho (2012), os estudos de Harold Lasswell (1902-1978), um dos
pioneiros no estudo da comunicação, ainda são muito influentes na atualidade e explicitam que,
para que ocorra, a comunicação necessita de um propósito, de um emissor e de um receptor. O
emissor codifica a mensagem e a transmite por meio de um canal ou de um meio de comunicação
e o receptor a recebe e a decodifica. O resultado é, portanto, a transferência da mensagem de uma
pessoa para outra.
É sabido que existem teorias linguísticas mais recentes que englobam ainda mais elementos
complexos envolvidos no processo comunicativo, entretanto, de modo geral, podemos dizer que
a mensagem é o produto real da codificação do emissor. Quando fazemos um discurso, ele é a
mensagem; quando escrevemos uma carta, a escrita é a mensagem. O canal é o meio pelo qual a
mensagem viaja (voz, escrita, gestos etc.). O emissor, por sua vez, determina se deve ser usado um
canal formal ou informal.
Com base nisso, podemos dizer que canais formais são estabelecidos por uma organização e
estão relacionados a atividades profissionais dos membros. Já os canais informais são espontâneos
e emergem como uma resposta às escolhas individuais.
Receptores são as pessoas que recebem a mensagem, que primeiro traduzem os códigos
de forma compreensível, ou seja, que decodificam a mensagem. Os ruídos de comunicação são
as barreiras que distorcem a clareza da mensagem, tais como sobrecarga de informações ou
dificuldades culturais.
Os desafios dos grupos nas organizações 63
negócio e da área de atuação das pessoas envolvidas. A transparência dos objetivos organizacionais
e a postura dos gestores e líderes também afetam a qualidade dessa comunicação.
É importante ressaltar aqui a importância de evitar mensagens dúbias, que gerem interpretações
múltiplas e que possam dar abertura para ruídos, comentários informais e, até mesmo, conclusões
prematuras. Você já deve ter ouvido, por exemplo, que certos assuntos são mais bem comunicados
pessoalmente. Isso ocorre porque determinados assuntos exigem a percepção clara do receptor, de
suas reações e de seu entendimento sobre a mensagem. Imagine demitir um profissional por e-mail?
Ou, ainda, por uma mensagem de texto? Você estaria com sérios problemas. Não apenas legais,
mas também pessoais. Já a comunicação de uma promoção não geraria os mesmos desconfortos e
questionamentos ao ser feita por meio do uso desses mesmos meios.
Mais um ponto relevante sobre esse assunto: toda vez que comunicamos uma mensagem
verbal, comunicamos também uma mensagem não verbal. Muitas vezes, o componente não verbal
pode ser o suficiente. Nenhuma discussão da comunicação estaria completa sem a comunicação
não verbal, que inclui gestos, movimentos corporais, entonações de voz, expressões faciais e a
distância física entre o emissor e o receptor da mensagem (ROBBINS; JUDGE, 2014).
Outro ponto extremamente importante da comunicação não verbal é que ela é automática
e inconsciente. Muitas vezes, planejamos o que escrevemos e o que falamos, mas não um gesto,
um sorriso ou um “afastamento” corporal, pois essas ações fazem parte do nosso repertório de
emoções (MCSHANE; GLINOW, 2014).
É por isso que costumamos dizer que as pessoas podem mentir nas palavras, mas não nos
gestos e nas representações corporais. Profissionais de processos seletivos muito bem treinados
conseguem detectar inconsistências nas entrevistas observando apenas a linguagem corporal
do candidato. Assim, muitas vezes, a reprovação não é tão racional, em função da percepção de
incoerências entre o que se fala e o que o corpo comunica.
Um dos aspectos mais pontuados na comunicação são as barreiras para a sua eficácia, pois
elas podem retardar ou distorcer o conteúdo transmitido. Para abordarmos esse tema, falaremos
de algumas barreiras consideradas por McShane e Glinow (2014) e Robbins e Judge (2014) em
modelos teóricos.
• Filtragem: refere-se à manipulação da informação por parte do emissor de forma
proposital, para que o receptor a veja de modo mais favorável. A filtragem pode envolver
apagar ou postergar informações negativas, além de excluir pontos que possam gerar
problemas na mensagem.
• Percepção seletiva: diz respeito ao que os receptores veem ou ouvem seletivamente, com
base em suas necessidades, motivações, experiências e outras características pessoais. Os
receptores projetam seus interesses e expectativas nas comunicações do modo como as
decodificam.
• Sobrecarga de informações: quando a capacidade de informações excede a nossa
capacidade, o resultado é uma sobrecarga de processamento, que resulta na sobrecarga
de informações. Quando essa capacidade excede, o indivíduo tende a selecionar, ignorar,
Os desafios dos grupos nas organizações 65
comunicação verbal, mas devem reconhecer também os padrões não verbais (ROBBINS; JUDGE,
2014; MCSHANE; GLINOW, 2014).
Alguns estudos também apontam diferenças entre gêneros, as quais podem ser, de certo modo,
mapeadas, até porque pressupõem constatações na vida prática. Segundo McShane e Glinow (2014),
os homens, em geral, conversam com mais ênfase em aconselhar e afirmar poder e tendem a dominar
a conversa, desculpando-se com menos frequência e sendo menos sensíveis aos gestos não verbais.
Diante de tanta complexidade e de diversas possibilidades, você certamente aprendeu
que comunicar bem pode lhe trazer benefícios, mas comunicar mal pode acarretar uma série de
problemas. Se isso já é uma verdade nos níveis individual e de grupo, nas organizações a amplitude
de consequências é bem maior.
quem é tido como o mais fraco da relação exerce algum tipo de poder em relação ao mais forte,
poder que chamamos de compensatório.
Em uma organização, por exemplo, é fato que o diretor ou o gerente exercem poder sobre
sua equipe e podem impor certas regras, normas e padrões que garantem entregas e resultados e
geram a remuneração no final do mês. Entretanto, o colaborador subordinado pode deixar de fazer
algo que venha a prejudicar seu superior, como uma forma de retaliação que exige, de certo modo,
uma mudança de postura ou um tratamento mais interessante (MCSHANE; GLINOW, 2014). Para
que o poder seja aplicado, de fato, precisamos delimitar as fontes de poder e as contingências que
permitem a sua eficácia enquanto influência.
Segundo McShane e Glinow (2014) e Robbins, Judge e Sobral (2011), fontes de poder são
partes originadas no cargo formal ou na função informal do detentor de poder: poder legítimo, poder
coercitivo, recompensa e informação. As demais formas se originam nas próprias características do
detentor do poder, sendo elas: talento ou especialização, referência e carisma. O Quadro 1, a seguir,
apresenta os conceitos dessas fontes de poder.
Quadro 1 – Fontes de poder
Fonte Descrição
Poder Claramente percebido nas estruturas organizacionais que têm por base as posições
legítimo hierárquicas. Representa o quanto a pessoa detém e controla os recursos organizacionais.
Tem relação direta com o medo, quando o indivíduo teme pelas consequências negativas
de seu comportamento. Ações empregadas por meio dessa fonte de poder podem impor
Poder dor, sofrimento e frustração, sendo que até a força física é usada para corrigir. Ações
coercitivo como expulsão, advertência, constrangimento, dentre outras, podem ser exercidas por
superiores, policiais, professores e tantos outros que detêm essa fonte de poder. Não é
obrigatório que esse poder seja aplicado, mas ele ainda existe.
O poder pessoal, como vimos, não decorre de uma posição formal, visto que ele é obtido
Poder
por meio de características únicas e individuais. Um exemplo comum é quando uma
pessoal
pessoa possui esteticamente, ou fisicamente, alguma vantagem em um grupo.
(Continua)
Fonte Descrição
Poder de talento ou Remete ao nível de conhecimento específico de determinado indivíduo. Sua palavra, sua
especialização decisão e seus conselhos passam a ser relevantes e influenciar decisões.
Contingência Descrição
Não necessariamente está vinculada ao cargo legítimo, mas depende, muitas vezes, da
Liberdade de ação
condição de trabalho. Pode-se acreditar que supervisores apresentam maior liberdade de
ou autonomia para
ação do que gerentes, isso porque a natureza do trabalho e a voz de comando ativa que
exercer julgamento e
sempre surge e representa a autoridade de supervisionar uma equipe pode trazer essa
decidir
percepção.
As redes sociais atualmente são vistas como articuladoras de poder. Existem inúmeras
possibilidades para utilizá-las, e, certamente, esses usos variam de cultura para cultura. Entretanto,
em geral, os indivíduos usam as redes sociais para fins expressivos e utilitários.
Uma forma de as redes sociais gerarem poder é por meio do capital social, que oferece
compartilhamento de recursos por meio de apoio ou demonstração de simpatia. Se uma pessoa
demonstra solidariedade em relação a uma atitude ou a um comportamento, algumas trocas
acontecem, há maior visibilidade e reciprocidade e, consecutivamente, há maior sensação
de poder. Por exemplo, se você compartilha um evento social para ajudar uma comunidade
carente, automaticamente quem te apoia pode te ajudar na promoção e na aquisição de recursos
financeiros e materiais, ou seja, há maiores chances de se atingir o resultado e de tornar algo, de
fato, concretizado.
Os laços podem ser fortes, com pessoas cujo relacionamento é mais intenso, mas também
podem ser fracos, com aqueles que são apenas conhecidos. Os laços fortes sugerem maior qualidade
e os fracos, maior quantidade, mas ambos podem trazer benefícios. Os fortes provavelmente
retribuirão com recursos mais rápidos e imediatos, enquanto os fracos, com recursos mais
interessantes, pela sua diversidade e novidade.
Um bom exemplo são as redes sociais voltadas para ofertas de emprego ou para uma
necessidade de indicação, na qual a variedade é mais relevante que a previsibilidade. Isto é,
por vezes, a ampliação da rede de contatos pode trazer mais resultados do que se limitar a pessoas
mais próximas (MCSHANE; GLINOW, 2014).
Outro aspecto relevante sobre o poder são os tipos de táticas de influência. Enquanto o
poder representa, em si, o potencial para mudar pessoas em suas atitudes e comportamentos, a
influência é qualquer comportamento que busque alterar as atitudes ou comportamentos de outrem.
Isto é, ela é o poder em ação. Sua aplicação está vinculada às fontes de poder, possibilitando que, de
alguma maneira, consiga-se que as pessoas revejam crenças, sentimentos e atividades.
As organizações estão infiltradas em todos os níveis pelas táticas de influência, que
podem ocorrer do nível superior para o hierarquicamente inferior e vice-versa. Pesquisadores do
comportamento organizacional não chegaram a um consenso sobre a lista definitiva das táticas
existentes, por isso usaremos como referência McShane e Glinow (2014) para discorrer sobre o
assunto.
Segundo esses autores, há cinco táticas de influência vistas como “duras”, porque forçam a
mudança do comportamento pelo poder da posição (legítimo, de recompensa e coercitivo). As
outras táticas são consideradas “suaves”, pois se baseiam em fontes pessoais do poder (de referência
e especialização) e apelam para as atitudes e necessidades da pessoa em questão. Essas táticas
podem ser observadas no Quadro 3 a seguir.
70 Comportamento e cultura organizacional
Diante das inúmeras estratégias na tentativa de influenciar outras pessoas, elas podem ter
diferentes reações como: resistência, conformidade ou comprometimento. Aqui cabem alguns
pontos de atenção. Se, por um lado, a resistência é um conceito que remete à negação ou a atraso,
o que é claramente compreendido, a conformidade gera aceitação e resposta positiva, mas depende
de fontes externas para estimular o comportamento desejado. Já o comprometimento é a reação
mais forte, pois há maior identificação com o pedido realizado, incrementando a motivação para
fazer acontecer (MCSHANE; GLINOW, 2014).
É importante frisar que as táticas suaves são mais responsivas. Por estarem diretamente
relacionadas ao poder pessoal, a resistência a elas tende a ser menor. Também deve-se considerar
outras contingências, por exemplo: imagine que a tática mais eficaz para quem detém poder legítimo
seja a autoridade silenciosa, a qual é naturalmente compatível com quem tem esse tipo de poder.
Outra contingência relevante é o nível no qual a pessoa influenciada está inserida, por exemplo, um
profissional subordinado pode ter consequências maiores se resistir à tática de influência, sofrendo
retaliações e outras punições possíveis.
Os valores e fatores culturais das organizações naturalmente também podem influenciar
quais são as melhores táticas a serem aplicadas. Questões regionais e locais de cada país em que
as pessoas estão inseridas refletem essa realidade. Culturas mais tradicionais, disciplinadas e que
remetem à hierarquia se apropriam mais facilmente das táticas duras do que culturas mais abertas.
O importante, desse modo, é considerar essas diferenças (MCSHANE; GLINOW, 2014).
Robbins e Judge (2014) alertam que, quando as pessoas estão em grupos, de alguma maneira
o poder será exercido. As pessoas, de algum modo, buscam espaços para exercer a sua influência,
obter recompensas e promoções e fazer a sua carreira acontecer. Quem demonstra boas habilidades
políticas apresenta capacidade para usar as suas bases de poder efetivamente.
Os desafios dos grupos nas organizações 71
Robbins e Judge (2014) também afirmam que comportamento político nas organizações
consiste em atividades que não compõem as atribuições formais de um indivíduo, mas que
influenciam ou tentam influenciar a distribuição de vantagens ou desvantagens organizacionais.
Em outras palavras, inclui esforços para influenciar objetivos, critérios ou processos que conduzem
a uma decisão. Aqui, entram as articulações que visam delatar, espalhar boatos, trocar favores,
omitir informações ou vazar informações confidenciais.
Entende-se que a política organizacional é inevitável. A sua aplicação ética é o que deve,
de fato, ser considerado. Não prejudicar diretamente outras pessoas em benefício próprio deveria
ser o balizador para orientar as ações de influências. Quando falamos em organizações, sabemos
que existem recursos limitados que, muitas vezes, precisam ser consistidos por pessoas e grupos
que apresentam valores, objetivos e interesses próprios. Então, existe uma competição natural de
recursos limitados, com base em objetivos e interesses pessoais distintos. (MCSHANE; GLINOW,
2014; ROBBINS; JUDGE, 2014).
A política também traz consigo margem para extrapolar fatos e dados e sugerir a necessidade
de interpretações e distorções. Alguém que, de fato, seja um genuíno defensor dos interesses
organizacionais pode, de alguma maneira, ser visto como um profissional que sempre quer ter
maior visibilidade ou que está em busca de mérito pessoal. Nessa linha de raciocínio, pode surgir
a politicagem como um comportamento praticamente inevitável nas organizações em que existe a
manipulação dos fatos usada para apoiar objetivos e interesses pessoais.
Robbins e Judge (2014) apresentam os fatores que contribuem para o comportamento
político. Os primeiros são os fatores individuais, que incluem os traços de personalidade, as
necessidades do momento e as percepções que advêm de suas experiências. Bons exemplos são as
personalidades maquiavélicas ou manipuladoras, que se sentem muito confortáveis diante do uso
político para a promoção de seus interesses.
Outros são os fatores organizacionais, ou seja, em dadas circunstâncias e culturas, a promoção
da política é bem mais significativa. Uma organização que apresentou dificuldades recentemente e
foi obrigada a cortar recursos faz com que as pessoas queiram defender seus espaços. As culturas
organizacionais que apresentam baixa confiança criam um clima favorável à politicagem. Bons
exemplos são as empresas que não deixam claros os seus objetivos, não avaliam os colaboradores
com objetividade e não esclarecem critérios de reconhecimento e remuneração. Todos esses
comportamentos organizacionais funcionam como gatilho para o comportamento político.
As respostas percebidas pelos indivíduos quanto às políticas organizacionais são as seguintes:
diminuição da satisfação no trabalho, aumento do estresse e da ansiedade, maior rotatividade e
menor desempenho. Robbins e Judge (2014) argumentam que quando a política é internalizada
como ameaça, automaticamente, ela proporciona comportamentos defensivos, os quais estão
demonstrados no Quadro 4 a seguir.
72 Comportamento e cultura organizacional
Ação evasiva
Superconformismo: limitar-se à sua responsabilidade (“esta é a maneira como sempre trabalhamos”).
Evitar a culpa
Documentar-se: documentar com rigor e projetar uma imagem de competência e rigor.
Garantir-se: assumir projetos com uma alta probabilidade de sucesso, evitar situações que podem prejudicar.
Deturpação: manipular informações por meio de distorção, embelezamento, enganação, apresentação seletiva ou
ofuscamento.
Evitar a mudança
Prevenção: evitar a ocorrência de uma mudança ameaçadora.
Autoproteção: agir de modo a proteger o interesse pessoal durante uma mudança, preservar informações e outros
recursos.
Fonte: Robbins e Judge, 2014, p. 290-291.
Outro aspecto relevante é a gestão da impressão, que seria o processo de um indivíduo para
controlar a impressão que os outros têm sobre ele. Algumas técnicas de gestão da impressão são
apresentadas por Robbins e Judge (2014) como as mais populares:
• conformidade: concordar com a opinião de outra pessoa para receber aprovação;
• favorecimento: fazer algo bom para alguém em prol de aprovação;
• justificativa: dar explicações para minimizar a gravidade de um problema ou situação
negativa;
• desculpas: admitir a responsabilidade por um problema ou situação negativa;
• autopromoção: enaltecer as melhores qualidades e minimizar os defeitos;
• realce: valorizar mais seus resultados diante de outros membros da organização;
• bajulação: elogiar os outros sobre suas virtudes para ser mais perceptivo e simpático;
• exemplificação: fazer mais do que é necessário, destacando a sua dedicação.
A gestão da impressão surge também como uma defesa, afinal o profissional precisa realizar
um esforço para que possa se manter com visibilidade e reconhecimento positivo. Entender que
tais comportamentos surgem nas organizações e fazer uma leitura do ambiente e contexto em que
as ações podem refletir problemas e disfunções que interferem na política organizacional torna-
-se fundamental. Como vimos, os comportamentos impactam diretamente os resultados
organizacionais, nas variáveis dependentes e independentes.
Os desafios dos grupos nas organizações 73
4.4 Liderança
Vídeo
Um dos temas mais empolgantes do comportamento organizacional
é a liderança. Não é incomum em livrarias ou na internet você ter à
disposição inúmeras obras que sugerem as melhores formas de liderar e
gerar os resultados esperados. Além da vasta literatura, encontramos cursos
e treinamentos com múltiplas opções para formar o líder eficaz. Mas será
que a liderança é nata? É aprendida? Todos deveríamos ser líderes? Uma carreira bem-
-sucedida envolve ocupar um cargo de liderança? O objetivo desta seção é refletir conceitualmente
para responder a essas perguntas.
O primeiro ponto que devemos reconhecer é o conceito genérico da liderança. Os líderes são
referência, pois eles possuem poder de persuasão, capacidade de influenciar as pessoas, habilidades
de comunicação e poder de estimular a coletividade a conquistar objetivos desafiadores. Líderes
são capacitados e organizam o ambiente de trabalho para que os seus colaboradores atinjam os
objetivos organizacionais com mais facilidade (MCSHANE; GLINOW, 2014).
O conceito de liderança, quando propagado, deve ser ampliado, e não restrito a um cargo
ou função. Assim, surge a liderança compartilhada. A ideia é de uma liderança plural, na qual os
funcionários lideram uns aos outros conforme a ocasião e não dependem de líderes formais para
desempenhar suas funções.
De acordo com McShane e Glinow (2014), a liderança compartilhada se desenvolve quando
a liderança formal delega responsabilidades, confere poder e incentiva colaboradores a assumir
riscos. Um dos pontos-chave é não ter medo do erro ou fracasso.
Uma das questões mais debatidas é se a liderança é nata ou aprendida. Robbins e Judge (2014)
explicam essa diferença conceitual por meio da teoria dos traços ou teorias comportamentais. Na
teoria dos traços, existem alguns atributos que defendem que o indivíduo nasce com certos aspectos
da personalidade que fazem com que ele seja naturalmente um líder. Nas teorias comportamentais,
há espaço para compreender que a liderança apresenta a possibilidade de ser aprendida, o que não
exclui a influência de fatores internos do indivíduo, até mesmo abertura e disponibilidade para
querer se tornar um líder em dado momento.
Uma abordagem bastante comum, que envolve em parte a teoria dos traços, é a perspectiva
da liderança como competência. Isto é, os líderes eficazes demonstram características pessoais
específicas, habilidades, conhecimentos e aptidões que conduzem ao desempenho superior.
McShane e Glinow (2014) descrevem categorias para explicar a competência liderança:
• Personalidade: liderança eficaz, mas as características previstas mais fortes são os
altos níveis de extroversão (expansivo, falante, sociável) e escrupulosidade (cuidadoso,
confiável e autodisciplinado).
• Autoconceito: autoavaliação positiva, autoestima elevada, autoeficácia.
• Impulso: motivação interna do líder para seguir dado objetivo.
• Integridade: sinceridade para traduzir palavras em ações.
74 Comportamento e cultura organizacional
• Estrutura da tarefa: os líderes devem adotar o estilo diretivo quando a tarefa não for
rotineira. Dessa forma, será diminuída a ambiguidade de função, que tende a ocorrer
nas situações de trabalho complexas. Os colaboradores que apresentam atividades mais
rotineiras e simples podem necessitar da liderança apoiadora. A liderança participativa é
preferida pelos funcionários que realizam tarefas não rotineiras, porque a falta de regras e
de procedimentos lhes dá mais liberdade de ação para alcançarem objetivos desafiadores.
O estilo participativo é ineficaz para funcionários com tarefas rotineiras, porque eles não
possuem liberdade de ação em relação ao seu trabalho.
• Dinâmica de equipe: as equipes coesas, com normas orientadas para o desempenho,
atuam como um substituto para a maioria das intervenções do líder. A alta coesão da
equipe substitui a liderança apoiadora, enquanto as normas da equipe orientadas para o
desempenho substituem a liderança diretiva e, possivelmente, a liderança orientada para
a realização.
Como você pode perceber, a teoria do caminho-objetivo ou caminho-meta é mais profunda
e completa e traz, por si só, elementos interessantes de análise. Afinal, quando o tema é liderança,
muitos fatores precisam ser ponderados. Não podemos apenas considerar o perfil do líder, mas
também todo o contexto no qual ele está inserido e que, realmente, influencia na liderança.
Existem outras teorias de contingência que foram desenvolvidas ao longo dos
anos. Robbins, Judge e Sobral (2011) sugerem o estudo dessas teorias, que também são
apresentadas por McShane e Glinow (2014). Duas, em específico, são percebidas como as
mais populares e que representam uma importância histórica para o estudo da liderança. A
primeira é a teoria situacional de Hersey e Blanchard, e a segunda é o modelo de contingência
de Fiedler. Ambas são consideradas mais abstratas do que a teoria do modelo caminho-
-objetivo ou caminho-meta, mas são bastante estimadas.
M3 M4
Habilidade
M1 M2
Fonte: Elaborada pela autora com base em McShane e Glinow, 2014, p. 328.
Os desafios dos grupos nas organizações 77
De acordo com a Figura 1, M1 seria o estilo de liderança comando, mais diretivo e menos
apoiador, para uma motivação baixa e habilidades baixas. O M2 seria o estilo vendas, no qual a
motivação é alta, mas as habilidades são baixas, exigindo maior comportamento diretivo e menor
comportamento de apoio. O M3 é o estilo participativo, com alto comportamento de apoio e baixo
comportamento diretivo, para habilidades altas e motivação baixa. E, por fim, o M4 é o estilo de
delegação, no qual ambas, motivação e habilidades, são altas. Aqui, há o líder que oferece pouco
comportamento de apoio e baixo direcionamento.
Como dito, o modelo de Hersey e Blanchard é um modelo popular, mas a sua superficialidade
gera certa inconsistência na comprovação prática. Portanto, muitos questionamentos acabam
surgindo em sua aplicabilidade.
O que é tangível nesse modelo é que a sua simplicidade pode oferecer algumas alternativas
genéricas e, portanto, trazer referências para agir. Não significa, necessariamente, que se aplique
esse modelo de forma tão taxativa, mas pode-se mapear opções que, de acordo com as situações
apresentadas, tendem a ser estratégias mais interessantes. Trata-se de um norteador que pode fazer
o líder pensar em suas decisões.
4.5.1 Confiança
Os autores definem a confiança como uma expectativa positiva de palavras, ações e decisões
que serão cumpridas conforme estabelecido. Não existe má-fé, tampouco há espaço para o
oportunismo. Isso sugere que se trata de uma relação consolidada com o tempo, na qual existem
experiências acumuladas que se refletem positiva ou negativamente na confiança.
Existem algumas dimensões básicas que fundamentam a confiança: integridade, competência,
consistência, lealdade e abertura.
• Integridade: diz respeito à honestidade e à confiabilidade.
• Competência: engloba habilidades e conhecimentos técnicos e interpessoais de um
indivíduo. Em outras palavras, a pessoa precisa cumprir com o que diz.
• Consistência: refere-se à segurança, à previsibilidade e à capacidade de julgamento diante
das situações.
• Lealdade: disponibilidade para defender/proteger outra pessoa, garantindo que não agirá
de maneira oportunista.
• Abertura: dito de outra forma, há a crença de que existe confiança?
Essas dimensões sugerem que quanto maior a confiança no líder, maior será a quantidade
de recursos aos quais o líder terá acesso. Estamos falando, então, de conhecimento, pensamento
crítico e cooperação. Em momentos em que, muitas vezes, as organizações são questionadas sobre
decisões, os líderes acabam tornando-se vulneráveis e expostos em relação à confiança. Outro
aspecto que vale aprofundarmos são os três tipos de confiança:
• Confiança baseada na intimidação: baseada no medo de represálias e de consequências
no caso de não “obedecerem” ao líder.
• Confiança baseada no conhecimento: baseada no conhecimento que, de fato, o líder
possui. Quando existe maior predição do comportamento, mais fortemente se confia no
líder, e essa predição é construída com o tempo e vale mais do que um documento formal,
um contrato ou algo parecido.
• Confiança baseada na identificação: refere-se à identificação que se dá no âmbito
emocional entre as partes.
Como se pode constatar, a confiança realmente tem um papel importante na liderança.
Quando se diz que confiança gera confiança, estamos dizendo que, nas organizações, o elemento
reciprocidade pode contribuir fortemente para influenciar decisões e, até mesmo, gerar resultados
Os desafios dos grupos nas organizações 79
muito melhores no relacionamento com equipes e nas negociações realizadas com clientes internos
e externos.
É claro que a confiança no líder gera maior produtividade e aumenta a coesão do grupo. A
transparência e a clareza, que são atributos que geram a confiança, na prática, são responsáveis por
esses resultados.
Duas abordagens inspirativas sobre lideranças devem ser consideradas antes de concluirmos
o tema: liderança carismática e liderança transformacional. Muitos líderes famosos são
exemplificados com base nessas teorias, sendo assim, elas não podem ser esquecidas (ROBBINS;
JUDGE, 2014).
Robbins e Judge (2014) apontam essa forma de pensar como a visão tradicional e que,
nessa abordagem, o conflito deveria ser evitado. Entretanto, os autores apresentam outras duas
perspectivas que devem ser consideradas: a perspectiva das relações humanas, na qual o conflito
é visto como um processo inevitável e não necessariamente negativo, e a interacionista, na qual o
conflito é percebido como uma força positiva e que, de fato, deve existir, nem que seja mínimo. Isso
porque, nessa visão, há um incremento do desempenho eficaz do grupo.
Diante das tendências de gestão mais modernas, a visão interacionista parece estar mais
alinhada com as demandas relacionadas à inovação e à criatividade, geralmente mais comuns em
modelos de gestão mais flexíveis e competitivos. Em grupos muito estáveis, pacíficos e harmoniosos,
os indivíduos tendem a se tornar apáticos, pouco abertos à mudança e à renovação. Sendo assim,
o conflito, mesmo que baixo, gera discussões, críticas, novos olhares e ideias em prol de resultados
mais interessantes (ROBBINS; JUDGE, 2014).
Para McShane e Glinow (2014), a visão emergente considera dois tipos de conflito: o
construtivo e o de relacionamento. O primeiro trata de um conflito relacionado à tarefa, sendo que
existem posições diferentes que são encorajadas e as ideias são esclarecidas, reelaboradas e testadas
em prol da integridade lógica. Há espaço para as pessoas envolvidas reexaminarem seus conceitos
e crenças em uma visão de abertura para fazer diferente e/ou mais eficaz e eficiente. Aqui, não há
espaço para inquietações emocionais, ressentimentos ou algo parecido. Nesse sentido, o conflito
construtivo é benéfico e requerido para empresas que desejam melhores resultados.
Já o conflito de relacionamento tem como foco o adversário e desconsidera o problema.
São incompatibilidades de personalidade e de valores e diferenças interpessoais. Há espaço para
competição, para discussões intempestivas e reações impulsivas, nas quais o domínio das emoções
e sentimentos prejudica a racionalidade. É difícil entrar em harmonia, em consenso, e as percepções
distorcidas surgem e geram a ampliação do conflito.
Fica claro que potencializar os conflitos construtivos e evitar os de relacionamento seria
a melhor estratégia. Entretanto, diariamente, nas organizações, tal discernimento nem sempre é
possível. Isso porque há, muitas vezes, o surgimento de conflitos de relacionamento com base nos
conflitos construtivos.
Pode existir algum ponto no qual o debate naturalmente flua para o âmbito pessoal e o
processo se perca em discussões que passem a ser pouco produtivas. Você deve ter exemplos de
sua vida pessoal e profissional em que alguns temas tenham sido evitados para não atingir as
vulnerabilidades alheias. O problema é que não temos esse controle sempre.
McShane e Glinow (2014) apresentam três estratégias para minimizar o nível de conflito de
relacionamento durante os episódios de conflito construtivo.
• Inteligência emocional: pode contribuir diretamente para manter as bases de discussão
no âmbito da racionalidade; quanto mais maduras e bem resolvidas consigo mesmas as
pessoas são, menos suas emoções são afetadas durante debates. Portanto, elas evitarão
ataques pessoais e atitudes impulsivas.
82 Comportamento e cultura organizacional
• Equipe coesa: conhecer as pessoas dentro de uma equipe e saber como lidam diante das
diferentes situações, seus posicionamentos e suas ações diante de problemas são aspectos
favoráveis para que o conflito construtivo seja mantido. Há maior confiança e concessão
diante da diversidade e pluralidade.
• Normas de equipe apoiadoras: quando existe transparência e abertura para o diálogo e a
troca, as equipes entendem a importância de discutir situações sem que haja a visão dual do
certo e errado para julgar ou definir o que é melhor ou pior. Existe incentivo, ponderação e
humor. Evita-se alimentar sentimentos negativos e guardar mágoas ou rancores.
Aqui vale uma recomendação para reflexão: quando discutimos, em capítulos anteriores,
as características individuais, conseguimos reconhecer como os perfis são únicos e percebem a si
mesmos e a realidade externa de forma diferente. Para conflitos, podemos considerar diretamente
a influência de características como personalidade, valores, emoções e sentimentos, além de como
todas eles interagem e geram as percepções e a dinâmica dentro de grupos e equipes. Se você
compreender que tudo está interligado, conseguirá dominar melhor o que estamos abordando
sobre conflitos.
Com essas questões pontuadas e consideradas, o processo de conflito pode ser mais bem
compreendido. McShane e Glinow (2014) propõem um modelo que ilustra como se cria, desenvolve-
-se e se manifesta o conflito e quais os resultados possíveis. Nesse modelo, representado na Figura
2, é possível entender como o ciclo do conflito pode ser ampliado e retroalimentado.
Figura 2 – Modelo de processo de conflito
Como se pode observar na Figura 2, as fontes de conflitos são essenciais para a compreensão
de todo o processo. McShane e Glinow (2014) apontam as seguintes:
• Objetivos incompatíveis: quando cada parte apresenta um objetivo que traz divergência
de opinião, de ideias ou de caminhos a serem seguidos.
• Diferenciação: diferenças entre pessoas, departamentos e áreas em relação a treinamentos,
valores, crenças e experiências. São modos de pensar que, de alguma maneira, impactam
o objetivo comum.
Os desafios dos grupos nas organizações 83
3. Esclarecimentos e justificativas
Nesse ponto, já existe a possibilidade de expor o assunto e justificá-lo adequadamente para
que as outras partes entendam com clareza sua visão. Oferecer fatos e dados informativos pode
ajudar na comunicação.
4. Barganha e solução de problemas
Momento de colocar na mesa quais são as trocas possíveis, quais as concessões viáveis e
chegar a um acordo.
5. Conclusão e implementação
Passo necessário para formalizar a negociação, permitir que seja colocada em prática e que
haja o monitoramento para garantir sua correta aplicação.
Com essa sistematização, fica mais fácil compreender os motivos pelos quais, muitas vezes,
os processos que ficam “soltos” e “pouco regulados” podem impedir que a negociação seja possível,
de fato. Alguns assuntos organizacionais acabam sendo repetitivos por falta de uma visão mais
clara e assertiva.
Considerações finais
Neste capítulo, compreendemos a importância dos grupos, tanto formais quanto informais.
Vimos que grupos e equipes formados por indivíduos com melhores níveis de inteligência
emocional sugerem melhor desempenho e que a existência de normas e papéis claros favorece
processos mais otimizados e contribui para a performance organizacional.
Além disso, buscamos abordar a importância da comunicação para as organizações e os
problemas decorrentes de seu mau uso, e descobrimos que uma comunicação eficaz é capaz de
melhorar variáveis como produtividade e satisfação no trabalho, portanto torna-se chave para o
comportamento organizacional.
Tratamos também sobre poder e política, em linhas gerais, e vimos que o poder nem
sempre está relacionado a cargos legítimos, mas também a características pessoais que podem
se tornar referência ou desejo de outros colaboradores. Absorvemos que as políticas dizem
respeito ao poder colocado em prática e que quando temos competição, escassez de recursos
e reestruturação organizacional, tendemos a enfrentar organizações que demandam maior
aplicação de políticas.
86 Comportamento e cultura organizacional
Liderança foi a terceira variável e observamos que o tema é riquíssimo e envolve teorias que
buscam compreender se nos tornarmos ou já nascemos líderes. Em geral, durante o debate teórico,
foi possível concluir que existem alguns traços que potencializam o desenvolvimento de um
líder, mas também vimos que algumas características dessa competência podem ser aprendidas.
Constatamos que os líderes eficazes precisam se adaptar aos diferentes estilos de habilidade e
motivação de seus liderados, além de serem capazes de analisar o contexto e a situação que estão
vivenciando. O destaque ficou para a confiança e para as lideranças inspiradoras, que demonstram
atributos que envolvem os liderados além da competência técnica e favorecem maior engajamento,
produtividade e satisfação no trabalho.
Por fim, a última variável apresentada foi a gestão de conflitos e negociação. Vimos que a
visão tradicional de conflitos vem perdendo espaço em relação à visão construtiva e funciona, ou
seja, muitas vezes o conflito precisa existir para que as pessoas possam sair da zona de conforto,
apresentar novos padrões de comportamento e buscar resultados mais criativos.
Já na negociação, pudemos aprender sobre estratégias para negociar, entendendo que
para cada situação existe uma alternativa mais efetiva para se chegar a um resultado que seja o
melhor para as partes envolvidas. Tanto conflitos quanto negociações podem gerar resultados
organizacionais importantes e seu manejo irá variar de acordo com a estratégia que a organização
busca atingir em dado momento.
Com esses temas aprendidos, você estará pronto para ir além no próximo capítulo, no qual
buscaremos entender o nível organizacional e as variáveis externas.
Excelente filme para refletir sobre grupos, equipes, normas, coesão, comunicação,
conflitos e negociação, poder e políticas e liderança. Correlaciona-se perfeitamente aos
temas trabalhados neste capítulo.
Atividades
1. Diante de nossos estudos, qual é a relação existente entre os grupos informais e a conhecida
rádio peão?
2. Com base em nossos estudos, quais as principais diferenças constatadas entre poder e
liderança?
Referências
CARVALHO, Rafiza Luziani Varão Ribeiro. Harold Lasswell e o campo da comunicação. 2012. 244 f. Tese
(Doutorado em Comunicação) – Faculdade de Comunicação, Universidade de Brasília, Brasília, 2009.
Disponível em: http://repositorio.unb.br/handle/10482/12047. Acesso em: 12 set. 2019.
MCSHANE, Steven L.; GLINOW, Mary Ann Von. Comportamento organizacional: conhecimento emergente,
realidade global. Porto Alegre: Mc Graw Hill Educacion, 2014.
ROBBINS, Stephen; JUDGE, Timothy. Fundamentos do comportamento organizacional. São Paulo: Prentice
Hall, 2014.
Este capítulo tem como objetivo tratar do tema cultura organizacional, uma variável
independente que completa o modelo do comportamento organizacional. A cultura organizacional
traz consigo alguns desafios conceituais, mas, ao final deste capítulo, você conseguirá não apenas
conceituar, mas também compreender como ela se propaga e quais são suas funções e disfunções
diante do comportamento.
Em seguida, abordaremos as duas variáveis externas que afetam todo o modelo
organizacional, em todos os níveis. São dois temas de extrema relevância, visto que representam
elementos que desestabilizam e transformam pessoas, grupos e organizações constantemente.
São estas duas variáveis que, ao longo do tempo, geram a necessidade de “sair da zona de
conforto”: mudanças e estresse.
Como vimos, temos, sim, o lado positivo e o lado negativo da cultura e de sua força. Por si
só, estar alerta a essas possibilidades já é suficiente para que exista consciência diante de realidades
organizacionais diferentes. Essa reflexão já poderá lhe ajudar em muitas decisões e processos do
comportamento. Agora, prosseguiremos para compreender de que forma se cria e como se mantém
uma cultura organizacional.
Robbins e Judge (2014) dizem que uma cultura se origina de seus costumes, de tradições, de
como as coisas são feitas desde os seus fundadores. Estes, com sua visão, propagam gradativamente
suas crenças aos demais membros da organização. Para os autores, a criação da cultura se dá de três
maneiras diferentes:
1. os fundadores contratam apenas pessoas alinhadas ao seu perfil;
2. os fundadores doutrinam e socializam as pessoas para serem e agirem como eles;
3. os fundadores estimulam as pessoas a se alinharem com suas crenças, valores e
pensamentos.
Quando a personalidade dos fundadores faz parte da cultura, entende-se que a organização
é bem-sucedida. Alguns casos podem ser interessantes para refletir sobre essa afirmação, como a
Microsoft, de Bill Gates; a Apple, de Steve Jobs; e o Facebook, de Mark Zuckerberg.
Bill Gates, por exemplo, por ser de uma personalidade lógica e racional, é focado em
resultados e extremamente inquieto para buscar alternativas e soluções, o que corresponde à
cultura da Microsoft, empresa que apresenta aos seus consumidores inúmeras soluções. Já Steve
Jobs teve como pontos-chave de sua personalidade o carisma e a confiança, também apresentou
racionalidade, mas a usou de modo diferente de Bill Gates. A figura de Steve Jobs como referência
se tornou maior do que a sua própria marca. Por fim, Zuckerberg tem um perfil de personalidade
com diferencial na estratégia e na ambição, mas não gosta de aparecer, prefere os bastidores, o que
não significa que não consiga interferir diretamente na vida das pessoas, como faz pelo Facebook
e Instagram.
Robbins e Judge (2014) ponderam sobre a manutenção da cultura e acreditam que existem
forças fundamentais que contribuem para melhores práticas e que merecem, cada uma delas,
atenção especial. São estas: práticas de seleção, ações de alta gestão e métodos de socialização.
A seleção é um processo muito importante para identificar pessoas mais bem alinhadas a
cargos que tenham exigências específicas, mas também para avaliar os valores das pessoas, a fim de
que eles sejam compatíveis com a cultura da empresa. Quando estudamos valores, vimos o quanto
esse desalinhamento pode ser prejudicial ao indivíduo e à própria organização.
Ações de alta gestão referem-se aos comportamentos dos altos executivos, que estabelecem
as normas e os padrões que permeiam a organização, desde os mais simples até os mais complexos.
Tais padrões podem ser de etiqueta profissional até normas para recompensas e promoções, por
exemplo.
A socialização é uma continuidade da seleção. Ainda que a empresa tenha conseguido
contratar os melhores e mais alinhados profissionais, cabe, neste momento, permitir que eles
Cultura organizacional, mudança e estresse 93
tenham um período de adaptação até estarem totalmente preparados para o dia a dia. Temos
que considerar um processo de três fases: pré-chegada (que traz um repertório de expectativas),
encontro (que trabalha expectativas x realidade) e metamorfose (a mudança necessária para que o
profissional esteja de acordo com a demanda organizacional).
Vamos imaginar um caso fictício para compreendermos essas fases: um jovem é selecionado
para atuar em um cargo na área de Recursos Humanos de uma organização, a qual é altamente
inovadora e competitiva. Sua expectativa é de que será exposto a uma série de desafios e de que
o ambiente será flexível em vários aspectos. Entretanto, em seu primeiro dia de trabalho, ele se
surpreende pelo fato de que precisará cumprir horário fixo, não poderá ter jornada flexível e ainda
terá descontos em seu salário caso chegue atrasado. Durante um período, ele terá que passar por
uma adaptação e mudar para garantir que o novo comportamento seja observado.
É perceptível a importância de ser transparente no ato da contratação em dois sentidos:
organização para o indivíduo e indivíduo para a organização. Qualquer mal-entendido ou
comunicação superficial pode trazer consequências bem graves para ambos os lados.
McShane e Glinow (2014) contribuem com esse debate quando apresentam a teoria de
atração-seleção-atrição, também denominada de ASA. De acordo com essa teoria, as organizações
têm uma tendência natural para atrair, selecionar e reter pessoas compatíveis com elas em termos
de valores e personalidade. Segundo os autores, os candidatos praticam a autosseleção, ou seja,
avaliam os artefatos para entenderem se estão ou não alinhados com as empresas antes mesmo de
tentarem iniciar suas carreiras nelas.
Muitas organizações deixam algumas mensagens mais claras em seus anúncios de vagas
para permitir essa análise por parte dos candidatos, e isso faz parte da atração. No processo
seletivo propriamente dito, o nível de análise proposto e as ferramentas que serão usadas
refletem o grau de preocupação com o perfil desejado pela organização; desse modo, a seleção
visa escolher aqueles que têm mais propensão a se adaptar à cultura e ao caráter organizacional.
Por fim, a atrição seria o desligamento do profissional, por meio da percepção de incoerência de
valores em nível elevado.
Nosso desafio, agora, é agregar a ética à cultura organizacional. Robbins e Judge (2014)
defendem que uma cultura organizacional mais propensa a padrões éticos elevados apresenta alta
tolerância ao risco, agressividade (de baixa a moderada) e concentração tanto nos fins quanto nos
meios. Cabe, então, a síntese sobre essas organizações de acordo com os autores:
Esse tipo de cultura leva a uma perspectiva de longo prazo e equilibra os direitos
das várias partes interessadas, incluindo funcionários, acionistas e a comunidade.
Os gestores são apoiados para assumir riscos e inovar, são desencorajados a
engajar-se em concorrência desenfreada e orientados a buscar não apenas quais
objetivos serão alcançados, mas também como fazê-lo. (ROBBINS; JUDGE,
2014, p. 363)
represália de clientes, fornecedores e parceiros diretos. Sendo assim, a cultura organizacional ética
pode favorecer algumas proteções consideradas importantes no cenário atual.
Robbins e Judge (2014) afirmam que os gestores podem criar uma cultura mais eficaz por
meio de alguns princípios: ser modelo de conduta visível, transmitindo uma referência para o
comportamento adequado; comunicar expectativas éticas, evitando ambiguidade; reconhecer
claramente atos éticos e recriminar, também com transparência, os antiéticos; fornecer
mecanismos de proteção, como auditorias e ouvidorias em canais de transparência. Podemos dizer
que a coerência, nesse sentido, é o elemento-chave para postular a ética organizacional, por isso a
comunicação verbal e a não verbal são tão relevantes para as organizações e seus membros.
Outra opção é a formação de cultura organizacional positiva, em que há ênfase na construção
com base nos pontos fortes dos colaboradores, com foco na recompensa, e não na punição, e ênfase
na vitalidade individual e de crescimento (ROBBINS; JUDGE, 2014). Diante dessas características,
podemos apontar uma tendência para que as organizações com foco em pessoas possam consolidar,
naturalmente, uma cultura organizacional positiva: aproveitar o melhor das pessoas, fazendo delas
cada vez melhores.
5.2 Mudanças
Vídeo
O mundo está mudando o tempo todo e em todos os lugares. Já tivemos
pontocom: empresas
empresas consolidadas que, depois, foram vendidas ou simplesmente se perderam
que geram negócios na história. Nas últimas décadas, foram criadas as empresas “pontocom” e
por meio da internet.
várias startups, que cresceram vertiginosamente e, por motivos nem sempre
startups: empresas compreendidos, perderam-se no meio do caminho.
novas em fase de
desenvolvimento e A competição está mudando o foco de local para global. A economia globalizada significa
ampliação.
que a concorrência pode estar do outro lado do mundo, não mais na esquina do seu negócio.
O aumento da competição significa também que as organizações precisam se defender, tanto
dos concorrentes tradicionais, que desenvolvem novos produtos e serviços, como das empresas
pequenas e empreendedoras, que surgem com ofertas inovadoras.
Empresas bem-sucedidas serão aquelas capazes de mudar para vencer as concorrentes e de
se sustentarem apesar das dificuldades. Além de reverem processos e otimizarem recursos, terão
de ser mais flexíveis a fim de se adaptarem às mudanças rápidas e, por vezes, radicais que o mundo
globalizado proporciona (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2011).
Mudanças significam fazer as coisas de maneira diferente, porém, para que isso ocorra
de modo eficaz, o processo de mudança deve ser planejado. Deve-se buscar tanto melhorar a
capacidade de a organização se adaptar às mudanças em seu ambiente quanto visar à mudança de
comportamento dos funcionários (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2011).
Entendendo que, normalmente, a mudança tem uma conotação negativa por interferir
diretamente em nossas vidas, precisamos compreender um dos aspectos fundamentais dela, que
seria a resistência. Nem sempre a mudança é negativa, afinal, assim como estudamos em conflitos, a
mudança também pode ser funcional. Ou seja, ela pode introduzir conceitos interessantes, modernos
Cultura organizacional, mudança e estresse 95
O assunto mudança só se completa com a citação das políticas da mudança. Como ela ameaça
o status quo, implica diretamente na atividade política, por isso os agentes internos de mudança são
indivíduos detentores de altos cargos na empresa e possuem muito poder. Eles chegaram a atingir
tais cargos por meio do desenvolvimento de habilidades e padrões de comportamento que são
favorecidos pela organização, e a mudança representa uma ameaça a essas habilidades e padrões,
aumentando as chances de outras pessoas alcançarem poder às suas custas.
96 Comportamento e cultura organizacional
A política exige uma revisão por parte dos novos funcionários que não compõem a estrutura
do poder central da organização. Profissionais de carreira costumam ser um grande obstáculo
à mudança, pois ela representa uma ameaça concreta a seu status e posição. Mesmo assim, tais
profissionais implementam mudanças, já que não são meros zeladores da situação (ROBBINS;
JUDGE, 2014).
As lutas pelo poder dentro de uma organização determinarão, em grande parte, a velocidade das
mudanças. Há de se esperar, com isso, que os executivos de carreira apresentem resistência ao
reconhecer a necessidade de mudanças radicais que envolvam, por exemplo, uma nova liderança
de candidatos externos à empresa (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2011).
Um modelo bastante aplicado pelas organizações é o modelo de três etapas de Lewin.
Kurt Lewin defendia que, para que houvesse mudanças bem-sucedidas nas organizações, estas
deveriam passar por três etapas: o descongelamento do status quo, o movimento para a nova
condição e o recongelamento da mudança.
O descongelamento é o início do processo de mudança, é o momento em que a empresa
inicia a sua reestruturação, quando os dirigentes estimulam as forças propulsoras que ditam
o comportamento da empresa para a mudança; o movimento para a nova condição é a
reestruturação em si, é a saída do status quo para a meta desejada; e o recongelamento é o momento
da reestruturação em sua situação desejada, ou seja, a empresa em sua nova situação de equilíbrio
planejado (ROBBINS; JUDGE, 2014).
Outro modelo amplamente difundido é o desenvolvimento organizacional. Sua utilização
engloba uma série de intervenções de mudanças planejadas, que têm por base os valores humanos
e democráticos e que visam à melhoria da eficácia organizacional e ao bem-estar dos funcionários
(ROBBINS; JUDGE, 2014). Os valores que são a base do desenvolvimento organizacional podem
ser identificados a seguir:
• Respeito pelas pessoas: as pessoas são tratadas com dignidade, são vistas com
responsabilidade, são conscientes e dedicadas.
• Confiança e apoio: confiança, autenticidade, abertura e apoio são características de uma
organização eficaz e saudável.
• Equalização do poder: a organização eficaz não dá ênfase à autoridade e ao controle
hierárquico.
• Confrontação: problemas devem ser encarados abertamente, e não escondidos.
• Participação: quanto mais pessoas afetadas no processo de mudança participarem dele,
mais comprometidas elas estarão.
de como ele é percebido pelos outros, além de aumentar a compreensão dos processos do grupo
(ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2011).
Muitas vezes, os executivos das organizações observam que o desempenho de suas unidades
pode ser melhorado, mas nem sempre conseguem identificar o que deve ser feito para que isso
ocorra. Nesse sentido, a consultoria de processo tem o intuito de fazer com que o consultor ajude
o cliente a ver, compreender e agir em relação aos eventos dos processos que ele precisa mudar.
Os consultores de processo têm por função diagnosticar o que acontece com o cliente ao seu
redor, em seu interior e entre ele e os outros. Eles não solucionam os problemas da organização, mas
indicam onde estão acontecendo e agem como instrutores, a fim de sanar tais falhas no processo.
Sua especialidade é realizar diagnósticos e desenvolver uma relação de ajuda, na qual, se o cliente
participa, há maior compreensão do processo e da solução da proposta e menor resistência ao
plano de ação (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2011).
O desenvolvimento intergrupal tem por objetivo a mudança de estereótipos que possam
existir entre vários grupos da mesma empresa. Em todas as empresas existem olhares que podem
caracterizar grupos e, de alguma forma, discriminá-los, gerando impactos por vezes negativos.
Isso acontece bastante com profissionais de tecnologia da informação, vistos como os nerds da
organização.
Existem muitos métodos para tratar desse tipo de situação, para melhoria das relações entre
os grupos. De acordo com Robbins, Judge e Sobral (2011), um deles é que cada grupo faça uma
reunião para listar as percepções que tem de si mesmo, de outro grupo e de como acredita que é
visto por esse outro grupo.
Com base nisso, comparam-se as listas discutindo as semelhanças e diferenças identificadas.
Estereótipos e diferenças existem, mas pode haver um nivelamento positivo, a fim de eliminar
essas disparidades e melhorar as relações entre os departamentos. Pode-se ainda criar um grupo
com cada membro de cada departamento para trabalhar possíveis alternativas para melhoria do
relacionamento.
Ao contrário das abordagens de desenvolvimento organizacional que estão centradas em
problemas, a investigação apreciativa acentua os pontos positivos das relações. Essa investigação
não busca problemas, e sim identificar as qualidades únicas e as forças especiais de uma organização
que servem como ponto de partida para o seu avanço, tendo como foco, portanto, os casos de
sucesso, e não as dificuldades.
Aqueles que defendem a investigação apreciativa procuram criar um clima para a mudança
positiva; além disso, outras técnicas de desenvolvimento organizacional afirmam que faz muito
sentido aprimorar aquilo que a organização faz bem, já que isso possibilita que ela passe a atuar em
seus pontos fortes e em sua vantagem competitiva (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2011).
A investigação apreciativa consiste em um processo de quatro passos realizados em uma
reunião supervisionada pelo agente de mudança da organização, sendo eles:
1. A descoberta: descobrir os pontos fortes da organização.
2. O sonho: especular os futuros possíveis para a empresa.
98 Comportamento e cultura organizacional
3. O desenho: com base no sonho, busca-se uma visão comum para a organização e suas
qualidades específicas.
4. O destino: definir o destino da empresa traçando planos de ação e estratégias a serem
implementadas.
Programas de gestão de qualidade constituem um outro exemplo de ferramenta para
mudanças, pois visam à melhoria contínua dos processos a fim de reduzir as variações. Quando
reduzimos variações, aumentamos a uniformidade do produto ou serviço ofertado, o que resulta
em menores custos e maior qualidade.
As organizações têm adotado o processo de melhoria contínua, no qual as pessoas podem
sentir um aumento de estresse causado por um clima de trabalho que não tem mais complacência
com o status quo, o que denota um ritmo acelerado nos processos e cria tensão.
No entanto, uma tensão positiva para a organização pode causar ansiedade e estresse para
alguns funcionários. A administração deve encarar tais fatos como a fonte primária de ideias para
melhorias. Os programas de envolvimento dos funcionários, portanto, são parte indispensável
na melhoria contínua dos processos, pois equipes de trabalho com maior autonomia e envolvidas
diretamente na melhoria dos processos, por exemplo, são amplamente empregadas nas organizações
que adotam programas de qualidade (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2011).
Com objetivos próximos, a reengenharia significa recomeçar, repensar os processos pelos
quais a empresa gera valor e faz seu trabalho. As competências definem aquilo que a organização
faz melhor do que a concorrência, como um sistema de distribuição eficiente, produtos de melhor
qualidade, pessoal de vendas treinado ou suporte técnico para os clientes.
É preciso avaliar também os processos essenciais que agregam valor às competências
distintas da organização, pois eles transformam material, capital, informação e mão de obra em
produtos e serviços valorizados pelos consumidores. Reengenharia, portanto, significa reorganizar
a empresa em processos horizontais, é trabalhar com equipes multifuncionais e autogerenciadas,
com foco nos processos, e não nas funções, o que significa eliminar camadas intermediárias
de gerência.
Após o processo de reengenharia, aqueles que mantiveram seus empregos perceberão que
seu trabalho já não é mais o mesmo, normalmente passa-se a requerer mais habilidades, implicando
maiores responsabilidades e proporcionando maiores remunerações. Um processo de reengenharia
dura em torno de três a cinco anos e costuma ser difícil, fazendo com que os funcionários sofram
com as ansiedades e incertezas associadas às novas tarefas (ROBBINS; JUDGE, 2014).
A inovação é a mudança especializada, como a criação de uma ideia nova aplicada
para melhorar um serviço, processo ou produto. Toda inovação envolve mudança, mas nem
toda mudança envolve inovação. Tudo aquilo que é novo em uma mudança, e que influencia
positivamente a estrutura organizacional, é oriundo de uma fonte de inovação.
Organizações inovadoras estimulam a experimentação e recompensam tanto o sucesso
quanto o fracasso. Os executivos das empresas inovadoras têm conhecimento de que o fracasso é
uma oportunidade para desvendar o desconhecido e aprender algo diferente (ROBBINS; JUDGE;
SOBRAL, 2011).
Cultura organizacional, mudança e estresse 99
5.3 Estresse
Vídeo
O estresse é um dos temas mais recorrentes na atualidade, pois a velocidade
com que as coisas acontecem em nosso mundo e o contexto de constantes
transformações causam impactos relevantes em nossas vidas, que devem ser
considerados tanto no aspecto pessoal como profissional. Talvez, estresse seja uma
das palavras mais recorrentes em nossa realidade atual.
O estresse, em boa parte das situações, é uma resposta à mudança, nos casos em que existe
um confronto ou uma exigência diferente do status atual. Ele traz consigo algumas incertezas e
inquietações, mas o que nem sempre fica claro é que o estresse pode não ser negativo. Na dose
certa, ele pode gerar melhorias no desempenho, além de criações melhores e mais eficientes, ou
seja, pode trazer benefícios ao trabalho realizado e à organização como um todo (ROBBINS;
JUDGE, 2014). De acordo com Robbins, Judge e Sobral (2011), podemos considerar que o estresse
apresenta três categorias:
1. Fatores ambientais: problemas socioeconômicos e políticos, mudanças relacionadas ao
comportamento social e à tecnologia.
2. Fatores organizacionais: sobrecarga de tarefas, alta responsabilidade de entrega,
dificuldades de relacionamento, estrutura organizacional mal dimensionada, ambiente
cultural coercitivo, tenso e ambíguo.
3. Fatores individuais: problemas pessoais e familiares, sobrecarga emocional e problemas
psicológicos diversos.
100 Comportamento e cultura organizacional
Segundo os autores, esses fatores são cumulativos, ou seja, podem acontecer simultaneamente e
acarretar um estresse além da medida. As consequências do estresse podem ser sintomas físicos,
como taquicardia, aumento da pressão arterial, dor de cabeça, síndrome metabólica e outros tantos
possíveis. Também pode acarretar sintomas psicológicos, como tédio, procrastinação, ansiedade e
tensão. Aqui cabe o alerta sobre o quanto essas questões podem afetar o relacionamento interpessoal
com o grupo e a satisfação com o trabalho. Por fim, pode haver sintomas comportamentais, atrelados
principalmente a mudanças de hábitos alimentares, aumento do uso de álcool e tabaco e outras
substâncias tóxicas, além de distúrbios de sono que geram maior absenteísmo e rotatividade como
consequências.
Pesquisas sobre estresse identificam que existem diferentes fatores estressantes, são eles:
estressores por desafio (associados à carga de trabalho, à pressão e a prazo de entrega) e estressores
por obstáculo (que impedem a conquista de metas, como política organizacional, processos mal
desenhados e sobreposição de atividades).
Evidencia-se maior tensão nos estressores por obstáculo, e você pode imaginar que faz mais
sentido. Por exemplo, se você tem um prazo de entrega apertado, mas tem coerência para fazer
acontecer, ou seja, se existe uma organização envolvida no processo e apoio de recursos dela, por
mais que seja um momento difícil a ser superado, não existe alguém que te deixe esperando uma
resposta ou aprovação, ou que trabalhe contra, no sentido de trazer complicadores adicionais à
tarefa (ROBBINS; JUDGE, 2014).
Outro ponto a ser considerado é que o estresse pode estar associado às demandas e aos
recursos, compondo o modelo de estresse demandas-recursos. Nele, quando os recursos são
adequados para reduzir a natureza estressante das demandas, há menos estresse. Considere aqui
que os recursos devem variar conforme a dificuldade, o prazo, a sobrecarga emocional e o apoio
social exigido. Às vezes, há necessidade de pessoas; outras vezes, necessita-se de ferramentas e
sistemas, e esse é um ponto que deve ser sempre observado (ROBBINS; JUDGE, 2014).
Quanto à administração do estresse, a organização pode buscar agir em prol de seu
controle. Existem algumas estratégias individuais que podem ser interessantes, por exemplo, o
próprio sujeito pode buscar uma organização mais compatível com seu perfil, seus valores e seu
estilo de vida, além de procurar atividades que reduzam o estresse, como a prática de exercícios
físicos e hábitos alimentares mais saudáveis. As organizações também podem fazer a sua parte,
proporcionando programas para a qualidade de vida e bem-estar de seus colaboradores.
Também é possível, do ponto de vista organizacional, criar processos de seleção, treinamento
e desenvolvimento, no sentido de transparência, de fixação de objetivos realistas e de entender a
real capacidade das pessoas em relação às demandas apresentadas. Isto é, cobrar dentro do que é
possível para que as expectativas sejam atendidas, replanejar o trabalho e melhorar a comunicação
organizacional como um todo, principalmente quanto à coerência e à clareza.
Cultura organizacional, mudança e estresse 101
Considerações finais
Os temas apresentados neste capítulo findam a construção do modelo do comportamento.
A cultura é considerada a principal variável independente no nível organizacional, isso porque
ela representa a identidade da empresa, como ela se expressa, sua forma de ser, de agir e seu
comportamento no contexto corporativo.
A cultura nasce com base nos valores dos seus fundadores e é, gradativamente, compartilhada
com todos que dela fazem parte. O fundamental é que ela não seja apenas comunicada, mas também
observada em comportamentos e ações de todos.
Outro ponto de extrema relevância é que a cultura organizacional atrai pessoas mais ou
menos compatíveis com ela. A diversidade é sempre considerada um diferencial em empresas que
buscam novos olhares, revisão de ideias e percepções diferenciadas, mas um alinhamento entre os
valores pessoais e a cultura organizacional também é relevante, considerando que essa relação mais
fluida e menos conflituosa gera maior produtividade e satisfação no trabalho e menor rotatividade.
É importante compreender que a cultura organizacional afeta pessoas e grupos, mas a
contrapartida também existe. Como vimos, as influências são constantes e podem, certamente,
ser ampliadas quando consideramos a ação de variáveis externas, como as mudanças e o estresse.
Atividades
1. A cultura organizacional forte pode impactar negativamente a inovação e a criatividade.
Como você reverteria esse quadro?
3. Com base em nossos estudos, quais estratégias de gestão do estresse por parte da organização
podem ser as mais eficientes?
102 Comportamento e cultura organizacional
Referências
MCSHANE, Steven I.; GLINOW, Mary Ann Von. Comportamento organizacional: conhecimento emergente,
realidade global. Porto Alegre: Mc Graw Hill Educacion, 2014.
ROBBINS, Stephen; JUDGE, Timothy. Fundamentos do comportamento organizacional. São Paulo: Prentice
Hall, 2014.
Chegamos ao último capítulo desta obra, e aqui faremos uma conclusão detalhada sobre o
modelo do comportamento organizacional. Apesar de uma série de exemplos ter sido citada ao
longo da obra, atrelada a explanações teóricas, a visão do todo com base em casos de empresas reais
torna-se um diferencial para a consolidação dos conceitos individuais e integrados.
Neste capítulo, você será conduzido e instigado a refletir sobre esse modelo, de modo a
correlacionar as variáveis independentes, a ponderar sobre os resultados organizacionais e
a compreender as influências das variáveis externas. Para tanto, apresentaremos aqui alguns
casos que nos possibilitarão discutir o assunto com base em diferentes realidades.
Após a exposição das exigências, houve a escolha de quem ficaria à frente do projeto: um
engenheiro chamado Takeshi Uchiyamada, o engenheiro-chefe. Ele não era um profissional que já
estava totalmente pronto tecnicamente, tampouco apresentava a experiência necessária para entregar
o projeto conforme os executivos da Toyota exigiam. Entretanto, o novo engenheiro-chefe vinha da
área de pesquisa e apresentava uma excelente experiência em engenharia, o que demonstrava que ele
tinha potencial de sobra para fazer acontecer o projeto inovador com alta tecnologia.
Na autopercepção de Uchiyamada, ele era um profissional incompleto, portanto precisaria de
uma equipe extremamente preparada e complementar. O engenheiro, então, convocou profissionais
especialistas que seriam capazes de consolidar os resultados esperados, e eles chegaram, inclusive,
a consolidar o sistema Obeya de desenvolvimento de veículos, que viria a se tornar o novo padrão
da Toyota.
Uchiyamada demonstrou uma liderança criativa, mas focada em metas e resultados, diante
da tarefa de encontrar uma solução que agregaria ao consumidor final maior economia de um
motor. Nesse sentido, gradativamente, houve o tema de um motor híbrido, que seria a chave para a
solução, pois não apenas seria econômico como combinaria com as baixas emissões de poluentes.
Apesar de a solução híbrida ter ganhado força e repercussão, o G21 foi apresentado como
um veículo conceitual, e a equipe tinha apenas um ano para desenvolver um protótipo. Após
inúmeras tentativas e análises de projetos híbridos de 80 tipos avaliados, apenas quatro deles foram
efetivamente encaminhados para um teste mais avançado de simulação computadorizada. Com
base nos resultados, a equipe se sentiu confiante o suficiente para propor uma alternativa para o
G21 em maio de 1995.
Em junho de 1995, o projeto Prius tornou-se oficial e foi estabelecido um novo sistema de
produção, com plano de três anos. No primeiro ano, seria estabelecido o protótipo completo; o
segundo ano serviria para a elaboração dos detalhes, por meio de pesquisa minuciosa, o terceiro
ano seria destinado para a finalização da versão de produção e sua preparação. Previu-se, então,
um bom prazo para concluir a produção.
Esse plano foi totalmente alterado com a mudança do presidente da Toyota. Hiroshi Okuda
assumiu em agosto de 1995, sendo o primeiro presidente não membro da família Toyoda. Com um
perfil totalmente diferente do de seu antecessor, sua agressividade nas negociações e sua força em
experiência administrativa impactaram a forma de ver e usar estrategicamente o projeto. Em sua
forma de ser e agir, o novo presidente antecipou a entrega do projeto em um ano sem que houvesse
muita margem para negociação de prazos.
Toda a equipe, junto ao engenheiro Uchiyamada, fez um esforço extraordinário. O foco com
base em alta pressão nos prazos não influenciou negativamente a qualidade ou a simplificação do
Discussão prática de conceitos 105
projeto, sendo que todos se dedicaram para realmente entregar um projeto que fosse consistente
e que traduzisse as exigências apontadas pela empresa. Nesse ponto, é possível perceber o quanto
Uchiyamada estava alinhado ao princípio Toyota de desenvolver equipes e pessoas excepcionais.
Houve, por parte da equipe, uma dedicação incansável, pautada na visão de que todos
pertenciam à empresa e de que o projeto inovador mudaria a percepção da marca. Correndo contra
o tempo, conseguiram superar metas e desafios grandiosos para que pudessem atingir a meta de
entrega em dezembro de 1997. Todos entendiam o que estava envolvido nisso, quais eram os
sacrifícios necessários e o quanto estavam alinhados à organização no sentido de fazer acontecer.
Muitos problemas técnicos precisaram ser enfrentados e demandaram pesquisas e
desenvolvimento de alternativas, além de envolvimento com parceiros que se tornaram
importantíssimos para que soluções fossem encontradas. Aliás, o trabalho em parceria foi o grande
diferencial desse projeto, até porque faz parte de um dos princípios da Toyota, que é respeitar a
rede de parceiros e ajudar no aprimoramento deles. Diante desse princípio, todos se apoiam e
chegam a resultados positivos para todas as partes. Pode-se dizer, portanto, que houve integração e
complementariedade de equipes, além de coesão em prol de um objetivo comum.
Conforme as informações apresentadas por Liker (2004), o Prius foi lançado dentro do
prazo, em outubro de 1997, dois meses antes do prazo estipulado. Foi o primeiro carro híbrido
de produção em massa oferecido ao mercado japonês. Logo em seguida, foi lançado nos Estados
Unidos. Identifica-se que o retorno do Projeto Prius é inestimável, e o investimento torna-se quase
trivial. Os funcionários da Toyota esforçaram-se para fazer as coisas do seu jeito, em família, e
desenvolver conhecimento e novas habilidades ao longo do caminho.
11. Respeite sua rede de parceiros e seus fornecedores para ajudá-los a melhorar.
12. Vá e veja, para melhor compreender a situação.
13. Tome decisões lentamente por consenso, considere todas as opções e implemente-as
rapidamente.
14. Torne-se uma organização de aprendizagem pela reflexão (hansei) e por melhorias
contínuas (Kaizen).
O projeto Prius se inicia por meio do primeiro princípio, que reflete foco na visão de longo
prazo. Alinhado a esse princípio e trazendo os demais como consequência, o executivo maior da
empresa questiona sobre a necessidade de sair da estagnação, percebida como crise.
Seu papel de líder impulsiona novos pensamentos, que são compartilhados e propagados por
toda a equipe envolvida. As pessoas entendem a necessidade de um compromisso acima da média
e, consecutivamente, de abrirem mão de questões pessoais para fazerem acontecer coletivamente.
Como você pode analisar na Figura 1, a seguir, os princípios da Toyota, que refletem sua cultura,
norteiam a organização, as equipes e as pessoas de forma contínua.
Figura 1 – Visão geral do caso Prius
Princípios Toyota
Não permite
Engaja pessoas estagnação
para fazer
acontecer
Princípios Toyota
Princípios Toyota
Impõe mudanças
Como vimos, o engenheiro Takeshi Uchiyamada foi um líder que não apenas comunicou a
cultura, mas a colocou em prática.
Outro ponto fundamental que estudamos na teoria sobre a cultura organizacional é que
ela passa a ser sólida e gera a possibilidade de integrar-se por meio das pessoas e dos processos
somente quando é compartilhada. O resultado disso no caso Toyota foi a busca pela qualidade e pelo
compromisso com prazos, o que contribuiu positivamente para a imagem e reputação da organização.
Além disso, nota-se claramente que a cultura organizacional trouxe pessoas alinhadas aos
princípios da organização quanto aos valores, atitudes, comportamentos e percepções. Em outras
palavras, buscou-se atrair, desenvolver e reter profissionais capazes de entender tais conceitos,
além de internalizá-los em suas práticas diárias.
Estudamos também a importância de decisões organizacionais em relação a processos
seletivos, treinamento e desenvolvimento e a necessidade de eles serem coerentes com a cultura da
empresa, principalmente se ela for tradicional e sólida, fator que também pôde ser identificado no
caso da Toyota.
A Figura 2 traz de forma sistematizada o modelo do comportamento organizacional para o
projeto Prius. A cultura (variável independente no nível organizacional) influenciou uma liderança
(variável independente no nível do grupo), pautada em objetivos e metas relacionados à inovação,
à visão de futuro e à busca contínua de melhoria, que engajou equipes de trabalho (outra variável
independente no nível do grupo), influenciando atitudes e comportamentos individuais.
Figura 2 – Análise do modelo organizacional para o caso Toyota Prius
Pessoas alinhadas
Variável independente
Liderança e equipes no nível do indivíduo
Variável independente
Cultura da Toyota
no nível do grupo
Variável independente
no nível da
organização
Pela análise do caso Toyota, concluímos que alguns resultados organizacionais podem
ser mais bem percebidos. Diante de um engajamento tão forte, podemos dizer que organizações
que adotam esse tipo de cultura organizacional estão longe de altos índices de rotatividade e
absenteísmo. Aliás, há uma grande inclinação para o contrário.
Em uma cidadania organizacional na qual o comprometimento com a organização vai além
da obrigação, a produtividade observada também atingiu objetivos acima da média, superando
desafios e buscando a todo custo entregar os resultados, mesmo quando estes foram impostos em
menores prazos, por exemplo, quando houve a mudança do executivo maior da organização.
Diante do resultado final, pode-se dizer que a satisfação com o trabalho foi perceptível em
todos os níveis, já que o tipo de comprometimento em fazer acontecer foi tão relevante que foi
capaz de despertar nos profissionais o desejo de abrir mão até mesmo de períodos de férias.
108 Comportamento e cultura organizacional
Quanto às variáveis externas, uma empresa como a Toyota tem no radar a mudança como um
elemento atrelado à visão de longo prazo. Isso significa um estado de prontidão, uma necessidade
de não se acomodar e de antecipar possíveis crises ou sua não permanência no mercado. O próprio
estresse latente, diante da necessidade de que algo precisava ser feito ao identificarem a estagnação,
fez, de alguma forma, a empresa despertar e trazer para si a responsabilidade de usar essa variável
de forma positiva, como um ato de sair da zona de conforto. Esse caso reflete, portanto, a influência
das variáveis externas como propulsoras de desenvolvimento organizacional, o que trouxe novos
conhecimentos e aprendizados para líderes, equipes e pessoas.
Nesse caso, temos uma empresa com definições claras e uma visão estratégica que traz
processos decisórios mais coerentes, fato que torna mais fácil a compreensão de como definem
seus processos e escolhem pessoas. Ainda assim, existe bastante complexidade se imaginarmos
essa realidade organizacional transitando em outros países com culturas parcialmente ou quase
totalmente distintas, porque, como estudamos, a cultura local nem sempre contribui positivamente
para a cultura de origem de uma empresa multinacional.
Então, analisar um projeto como o Prius, da Toyota, contribuiria, e muito, para decisões
futuras na instalação de novas plantas em outros países, em contextos sociais plurais e diversificados.
Aí está a verdadeira contribuição do comportamento organizacional: ele pode, sim, predizer
facilitadores e complicadores na gestão de pessoas e de processos organizacionais.
Podemos dizer que, em uma empresa mais dinâmica e instável, predizer os indicadores é
muito mais desafiador do que no caso da Toyota, no qual os princípios mais regrados e tradicionais
geram maior certeza conforme a organização se desenvolve.
Esse profissional brasileiro passou a sua vida em uma empresa com a qual se via praticamente
“casado”, e ainda que considerasse estar em um “casamento” ruim, estava ancorado nessa relação.
Com uma série de benefícios conquistados ao longo dos anos, não via vantagem em trocar de
emprego, pois ainda que não tivesse uma relação saudável, algumas garantias ainda existiam, e a
remuneração fazia parte delas. Então, apesar de tudo, permaneceu na função por mais alguns anos.
Mas qual foi o impacto desse relacionamento em sua vida? Tornou-se uma pessoa com um
nível altíssimo de ansiedade e estresse; as mudanças organizacionais, a falta de clareza e o aumento
das cobranças trouxeram a percepção de que ele não daria conta e de que correria riscos diante
dos rumores políticos de reestruturação; seu medo era o de perder seu lugar de trabalho e ser
transferido para um local em que pudesse ser exposto a novas exigências, sentindo-se incapaz de
realizar seu trabalho a contento.
Todo esse processo acarretou uma síndrome do pânico e afastamentos do trabalho
por motivos de internamento em clínica psiquiátrica para fins de tratamento. Em um desses
afastamentos, chegou a ficar cerca de quatro meses longe da empresa. Muitas vezes chegou a ter
crises no próprio ambiente de trabalho, acreditando que não suportaria tanto mal-estar.
Sua vida familiar, em contrapartida, passou a ser seriamente comprometida. Seus problemas
foram ampliados por perder o controle com sua esposa e filhos e sua instabilidade emocional
trouxe seu divórcio como consequência.
Diante de tantos problemas, a gravidade do quadro foi ampliada, gerando um afastamento
definitivo por síndrome do pânico e ansiedade generalizada, e o resultado de tudo isso foi sua
aposentadoria por invalidez.
Outro problema comum nas empresas estatais é a falta de transparência e clareza. Como
vimos, políticas tornam-se problemas nesse tipo de cenário, pois há sentimento de injustiça e
de falta de equidade em negociações. Assim, surgem conflitos e, naturalmente, a comunicação
apresenta ruídos e rumores.
Nesse âmbito, consideramos que as variáveis independentes no nível do grupo estão
comprometidas e afetam diretamente o comportamento organizacional. Há também um impacto
considerável na motivação (variável independente no nível do indivíduo), além de existir mais a
visão de punição e de falta de reforço positivo, levando a entender que prejuízos serão percebidos.
O caso apresentado suscita a interpretação de que variáveis dependentes são comprometidas
negativamente. O absenteísmo é claro e notório, por exemplo, no afastamento do profissional
por síndrome do pânico. A produtividade também é prejudicada em função de políticas que
comprometem a comunicação nos grupos e aumentam os rumores.
Em uma cultura organizacional de uma empresa normatizada e regulada pelo governo,
é incomum um envolvimento que extrapole a obrigação; geralmente, cumprir apenas o ritual
do cargo já é suficiente. Não há espaço para a cidadania organizacional, e a satisfação pode ser
insuficiente, visto que a ancoragem remete a uma zona de conforto, não a um engajamento maior.
Mais uma vez, fica claro que a cultura organizacional, as pessoas e os grupos geram um sistema que
produz diferentes resultados.
Considerações finais
O intuito de apresentar casos reais é permitir que o conhecimento adquirido possa ser
visualizado em termos práticos. O caso da Toyota, pelas características da empresa, mostra um
comportamento organizacional mais sistematizado, no qual o fator cultural aparece fortemente
como norteador e como catalisador de pessoas em prol de processos e resultados.
O caso de Steve Jobs, em contrapartida, trouxe um dinamismo maior. Analisando a
personalidade do líder, foi possível compreender o quanto ele esteve à frente de projetos e de
resultados extraordinários, mas, ao mesmo tempo, o quanto conflitou e perdeu. Se não fosse a
sua base de poder, sedimentada em seu talento e em sua referência, bem como em sua liderança
carismática, talvez a Apple não fosse a marca que é hoje.
Finalmente, o caso do profissional brasileiro apresenta a realidade de uma empresa mais
política e exposta às mudanças socioeconômicas do Brasil, e o quanto esse todo pode afetar uma
organização e representar impactos significativos na saúde emocional/mental de uma pessoa.
É importante que você compreenda a complexidade, mas também a diversidade de
possibilidades para se analisar empresas, grupos e pessoas. Indicadores organizacionais (as
variáveis dependentes, no caso desta obra) apresentaram resultados muito diferentes, e, cada vez
mais, entender esses processos envolvidos faz parte da gestão organizacional e da gestão de pessoas.
Diante disso, podemos dizer que o comportamento organizacional não é uma ciência exata,
pois não existe uma verdade única para esse estudo. O que existem são tendências e possibilidades.
Ainda assim, pudemos compreender que nem por isso esse estudo perde a sua relevância; muito
114 Comportamento e cultura organizacional
pelo contrário, ele merece ser continuamente aprofundado e enriquecido com casos e exemplos da
vida organizacional como ela é, de fato.
Atividades
1. O que tornou a cultura da Toyota forte e resistente ao longo do tempo?
3. Como você explica os efeitos negativos da ancoragem nas empresas estatais brasileiras?
Referências
KAHNEY, Leander. A cabeça de Steve Jobs. São Paulo: Agir, 2008.
LIKER, Jeffrey K. O modelo Toyota: 14 princípios de gestão do maior fabricante do mundo. São Paulo:
Artmed, 2004.
3. A cultura brasileira é reconhecida por ser pautada nas emoções, em convivência com
familiares e amigos e em diversão. Sendo assim, muitas empresas usam estratégias em que
esses itens sejam, de alguma forma, valorizados e percebidos. Na remuneração, um bom
exemplo seriam as premiações ou bônus que contemplem viagens e itens de consumo
compartilhados com a família. Na parte de benefícios, os planos de saúde estendidos
aos filhos e cônjuges e alguns custos com educação dos filhos também acabam sendo
percebidos positivamente. Além disso, cartões de crédito corporativos são apreciados e
trazem percepções positivas na realidade brasileira.
2. P
oder e liderança são temas semelhantes. Podemos dizer que a diferença fundamental é
que a liderança é conquistada e o poder existe dentro de uma relação de dependência e
permanece enquanto essa relação for presente. Assim, dificilmente um líder deixa de ser
líder, mas o poder pode ser perdido a qualquer momento.
2. A mudança é necessária e pode gerar a condição de a empresa agir para que sobreviva
no mercado, mantenha a sua posição ou até mesmo melhore em relação aos seus
concorrentes. Entretanto, ela também é vista, na maioria das vezes, como uma ameaça,
e pode gerar impactos negativos no relacionamento do grupo, na comunicação, na
produtividade, na rotatividade e no absenteísmo, afinal ela interfere diretamente no
status quo organizacional e individual.
2. Steve Jobs, por meio de seu perfeccionismo e elevado grau de exigência, impôs à Apple a
sua maneira de ser e agir como executivo à frente dos negócios. Alguns comportamentos do
líder foram negativos, no sentido de impactarem sua permanência na empresa, mas outros o
diferenciaram. Ele nunca desistiu de realizar o melhor, de fazer a diferença nos detalhes, de
criar desejo aos consumidores e de gerar um carisma de alguém extraordinariamente capaz.
Essas características favorecem uma imagem da marca, que se tornou maior do que seus
próprios produtos.
3. A ancoragem é um processo que ocorre quando existem decisões que são pautadas por uma
série de compromissos estabelecidos ao longo dos anos ou ao longo de uma relação, criando
vínculos que se tornam difíceis de serem rompidos e podem trazer a ancoragem como
reflexo. No caso das empresas estatais brasileiras, esses vínculos podem ser a estabilidade
no emprego – independentemente do desempenho –, os benefícios adquiridos com o passar
dos anos e a remuneração garantida.
Daniella
Daniella
Daniellaforster
forster
forster
Comportamento
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Comportamento
Comportamento e
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organizacional
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