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“Cultura representa para grupos e organizações o mesmo que caráter para indivíduos.”
Existem outras de nições quanto aos tipos de cultura, porém, essas quatro
podem apoiar os líderes na de nição de estratégias de gestão e
principalmente de engajamento de pessoas. Uma organização pode ter dois
tipos de cultura, das quais uma é dominante.
O que leva uma pessoa a escolher uma ou outra dessas organizações para
trabalhar?
A resposta mais simples deve responder a outra questão: qual é o seu
motivador de carreira?
Carreiras são motivadas por uma causa ou propósito de vida, por
recompensa nanceira, status, por qualidade de vida, desa os e outros
fatores. Esse motivador deve ser considerado em qualquer tipo de cultura,
mas nem todas podem oferecer o resultado esperado para sua gestão e caz.
Tendo como base duas organizações que possuem culturas bem
divergentes, como Clã e Mercado, podemos identi car claras diferenças,
como veremos a seguir.
Na cultura Clã:
Na cultura de Mercado:
Para nalizar o tema cultura, reproduzo aqui uma regra seguida por Jack
Welch, um ícone na história empresarial do século 20. Ele foi presidente da
General Electric (GE) por 20 anos e levou a empresa da beira da falência
para o status de uma das empresas mais lucrativas e admiradas do mundo.
Foi na GE, sob sua liderança, onde surgiu também o conceito moderno de
planejamento estratégico e de gestão de portfólio de negócios. Sobre a
aderência de pro ssionais aos valores da GE e sobre quando demitir ou
desenvolver, Jack Welch dizia que há quatro tipos de gestores para os quais
ele aplicava um princípio muito claro:
O fator gente
Basta um rápido olhar pela história para constatar a importância atribuída
às ferramentas, ao maquinário, à localização, à planta, ao investimento
necessário à abertura e à expansão das empresas, entre outros itens dos
quais proprietários e administradores costumam se ocupar desde sempre.
Pouca atenção, porém, geralmente era concedida ao fator principal do êxito
ou do fracasso de um negócio: os funcionários.
Atualmente, o panorama mudou muito. Diferentemente do que acontecia
com os artesãos do mundo antigo, com as corporações de ofício, com as
indústrias nascidas durante a Revolução Industrial e depois dela, não
lidamos apenas com mercados locais nem com uma internacionalização
demorada, dependente de contatos e de meios de transporte lentos.
A Tecnologia da Informação avançou exponencialmente e coloca sobre as
organizações uma pressão constante para sua atualização; e essa pressão
recai sobre os gestores, demandando que eles estejam no estado da arte de
seu conhecimento, sob o risco de serem passados para trás se não o zerem.
A rede internacional on-line oferece as facilidades das encomendas em
tempo real e exige entrega pontual, sob o risco da perda de clientes e de
negócios.
A concorrência aumentou muito, os recursos tecnológicos e operacionais
espalharam-se por várias partes do mundo e hoje há grande número de
companhias capazes de atender às expectativas de um mercado cada vez
mais exigente. Qualidade de produtos e serviços, excelência no
atendimento, cumprimento de prazos, facilidade nas trocas são fatores que
podem alçar uma empresa ao ápice – ou destruí-la.
À frente de cada um desses (e de outros) fatores fundamentais para o
sucesso dos negócios estão as pessoas. São elas que operam máquinas, que
saem a campo para tarefas como manutenção e vendas, que leem e
respondem mensagens eletrônicas, que atendem telefonemas de
fornecedores e clientes, que estão em contato diário com toda a rede de
interesses de uma companhia. Elas podem dar conta dos afazeres de
maneira burocrática, apenas cumprindo o horário de trabalho, ou podem
fazer esse horário render, vivenciando um entusiasmo capaz de melhorar
continuamente produtos, serviços, atendimentos, métodos de trabalho.
Somos indivíduos criativos, mas para que nossa criatividade venha à tona, é
preciso estimulá-la. Funcionários cansados, desmotivados, injustiçados,
submetidos a gestores mal-humorados, sem expectativa de crescimento
dentro da empresa, que sofrem assédio moral e/ou sexual e, muitas vezes,
com direitos trabalhistas desrespeitados, não criam – simplesmente
cumprem o ritual diário, consultando o relógio com frequência e esperando
que os minutos passem mais rapidamente. Cada ação, cada movimento é
encarado como um sacrifício, necessário apenas porque por meio dele virá o
dinheiro que pagará as contas do mês.
Imagine-se em um cenário assim. Você despenderia energia além do
necessário por essa empresa que o obriga a passar a maior parte da vida
nessa situação? Uma empresa que, em vez de ajudar a desenvolver o
potencial criativo de cada funcionário, permite ou encoraja sua
subordinação a che as autoritárias ou incapazes e os encara apenas como
um item na folha de despesas mensais?
Claro que você não gostaria de ser submetido a um clima pro ssional assim.
Ninguém gostaria. Por isso, nos últimos tempos várias empresas têm
procurado oferecer aos funcionários um ambiente saudável, agradável,
estimulante. Facilitam a aquisição de conhecimento, encorajando a
retomada aos estudos e a formação continuada. Proporcionam benefícios
que vão muito além do vale-transporte e do vale-alimentação. Estabelecem
planos de carreira, promoções por mérito. E, mês a mês, colhem os frutos
dessa política. O segredo é muito simples: basta tratar as pessoas como...
pessoas, com sentimentos, desejos, necessidades, projetos, sensibilidade,
criatividade, talento.
Infelizmente, porém, ainda existem muitas empresas que não sabem quem
são os reais responsáveis pela gestão de seu capital humano, além de tratá-
lo como custo e não como ativo. O sucesso dessas é parcial e efêmero
porque não sabem gerir esse ativo. No fundo, essas empresas, assim como
grande parte dos executivos, não estão preparadas para uma gestão e caz
de pessoas.
Os motivos são variados, e entre os principais estão a incapacidade que
certas lideranças têm de encarar seu capital humano como ativo; o preparo
inadequado dos executivos para gerir seu pessoal; a perda de hierarquia e
de in uência estratégica das áreas de Recursos Humanos e a falta de
cultura organizacional para atrair, desenvolver e delizar gente com a
atitude e o comprometimento necessários para os negócios.
Um dos pontos nevrálgicos está nos cursos de graduação. Os de
Administração, por exemplo, costumam abordar a gestão de recursos
humanos super cialmente, sem a ênfase e a praticidade que a área exige.
Formam-se líderes sem ensiná-los a gerir sua gente. Os de Psicologia, de
onde sai a maioria dos pro ssionais que trabalhará em Recursos Humanos,
não tratam o tema de maneira prática nem aprofundam o conhecimento do
processo e das responsabilidades pela gestão de pessoas. Em geral, limitam-
se a aspectos comportamentais e psicológicos. As demais escolas apresentam
problemas semelhantes.
É comum ouvir dos gestores e dos CEOs que faltam talentos no mercado de
trabalho. Talvez, mas é preciso admitir que faltam também competências,
dentro das organizações, para uma gestão de pessoas realmente e caz e
produtiva. Precisamos nos lembrar, sempre, de que quem move e dá vida às
organizações é o seu pessoal. É ele o propulsor dos negócios. Com essa
verdade em mente, torna-se mais fácil procurar métodos e procedimentos
capazes de valorizar as pessoas e calibrar de modo apropriado esse
propulsor.
Capítulo 3
Veteranos
Nascidos antes de 1946, hoje acima dos 60 anos de idade. Vários ainda
estão ativos, mas a geração como um todo se encontra em fase de extinção
como membro dos quadros pro ssionais das organizações. Caracterizam-se
pela lealdade à empresa, pelos hábitos arraigados, pelo autoritarismo.
Baby boomers
Pessoas nascidas entre 1946 e 1964. Geração ativa em grande parte das
empresas, com exceção talvez daquelas voltadas para tecnologia, nas quais
dominam as gerações mais novas. Os baby boomers caracterizam-se por sua
disposição ao trabalho, pela gestão democrática, pela busca de segurança no
trabalho, pela atividade em equipe e pela lealdade à empresa.
Geração X
Geração Y
Geração Z ou Milênio
Leal à
Leal à equipe
organização Leal ao gestor Leal aos colegas e
Vive para o não à organização
Cumpre seus Trabalha para viver
trabalho
Relação compromissos Carreira = uma Trabalha para
Carreira = mérito contribuir
com a Escala a parte de mim
próprio
organização hierarquia Espera que a Carreira =
corporativa Deseja oportunidade para
empresa faça algo
estabilidade do agregar valor
Carreira = por ele
trabalho
oportunidade
Relacionamento
Formal Colegas são
casual e social
Relação Em face de um Relacionamentos amigos
pessoais Gosta de debater e
com conflito, a Solução de
desafiar um ao outro
colegas autoridade é Evita conflitos conflitos por meio
para obter
determinante do diálogo
compromisso
Quebra as
regras Enfoque nos Foco nas soluções
Trabalha duro resultados
Trabalha em mais rápidas
Estilo de Foco no equipe Muda as regras usando tecnologia
trabalho processo e nas
Foco nas Trabalha com Estilo de trabalho
regras
pessoas e não autonomia fluído
nos números
Gerações Tradicionais Baby boomers Geração X Geração Y
Nascimento (1922-1945) (1946-1964) (1965-1979) (1980-2000)
Isso tem relação com a responsabilidade do CEO para com sua gente?
Akio Morita, o gênio que fez da Sony um império mundial, deixa claro o
papel dos executivos na gestão de seu pessoal:
O gerente de origem oriental sabe que sua missão mais importante é desenvolver uma relação
saudável com os funcionários, criando dentro da empresa um clima familiar – todos,
empregados e gerentes, estão no mesmo barco. As companhias de maior sucesso no Japão são
justamente aquelas que souberam criar uma espécie de destino comum entre todos os
empregados – o que os americanos chamam “mão de obra” e “gerência” – e os acionistas.
Satisfação das
Liderança e resultados Recursos Humanos
partes interessadas
Prover à liderança
executiva a organização Assegurar que haja gente certa, no Compatibilizar e prover
para que se obtenham lugar certo, no momento certo. equilíbrio às expectativas
os resultados almejados das principais partes
pelos acionistas, Selecionar e recomendar seus
interessadas.
mantenedores ou subordinados diretos para aprovação
pelos superiores, realizar sua Uma possui várias partes
guardiões.
avaliação periódica, propor interessadas, mas,
destituição quando necessário e geralmente, três são
atuar como coach de seus fundamentais:
“Fazer acontecer” a
missão e a visão da subordinados diretos.
organização, Assegurar que os recursos humanos
implementando a(s) sejam tratados como ativo e que a
estratégia(s) e empresa tenha as políticas de gestão
cumprindo com planos de pessoas adequadas para a
e orçamentos atração, o desenvolvimento e a O CEO também deve
determinados. retenção dos talentos necessários atender às expectativas
Fazer “chover na horta para seu sucesso. das demais partes.
do acionista”!
f) Certificar-se de que a empresa não seja constituída por feudos, mas sim
por vasos comunicantes, o que contribui para a formação de espírito de
equipe e para a otimização do uso dos recursos humanos
A criação de feudos em uma empresa é uma das principais causas de
inibição ou mesmo de destruição do espírito de equipe. Feudos não
possibilitam o desenvolvimento de sinergias entre diferentes áreas ou
mesmo entre unidades dentro de uma mesma área; criam um processo de
gestão centralizadora e individualista e geram também protecionismo e
“panelinhas”. Feudos não possibilitam a otimização do uso dos recursos
humanos da organização e contribuem fortemente para a criação de um
clima pouco motivador.
Cabe ao CEO certi car-se de que isso não aconteça, começando pelo
trabalho em equipe, de maneira colaborativa e transparente, com os
subordinados diretos. Isso faz com que eles atuem de maneira semelhante
em suas respectivas áreas, mostrando que há colaboração e integração com
as demais. Desse modo, o CEO estimula os subordinados a atuar de
maneira sinérgica com seus colegas diretos e com outras unidades da
empresa.
Nesse sentido, o CEO é o principal comunicador da organização, e deve
saber sê-lo de forma transparente e objetiva. Para isso, deve desenvolver a
autopercepção de que pode transmitir mensagens que causam impacto e
que às vezes podem ser con itantes com o que ele pensa estar
comunicando.
Uma vez adotados esses princípios, o CEO deve observar outros aspectos
relevantes para a boa imagem da empresa.
Imagem interna: dependerá fundamentalmente da criação de um clima
motivador de trabalho, que tenha como base uma política adequada de
gestão de recursos humanos, uma estratégia empresarial que promova
desa os pro ssionais excitantes e exequíveis, um processo de comunicação
uida na vertical e na horizontal, acessibilidade aos executivos por parte
dos colaboradores e desenvolvimento de um clima competitivo, porém
cordial, pro ssional.
Imagem externa: a base da boa imagem externa é a imagem interna, uma
vez que os principais promotores da organização no mercado são seus
próprios colaboradores. É fundamental que a empresa tenha uma política
de relacionamento com o ambiente externo, principalmente com a
imprensa, que conte com assessoria especializada de relações públicas ou
não. O CEO deve zelar para que as mensagens transmitidas à comunidade
por qualquer pessoa da empresa sejam compatíveis. Para isso são
recomendáveis regras bem estabelecidas, tanto perante a imprensa quanto
perante outros tipos de público. Recomenda-se também a existência de
procedimentos claros e bem conhecidos internamente sobre ações a adotar
no caso de situações emergenciais que envolvam a reputação da empresa ou
seus produtos e serviços.
Integridade
Criatividade
Visão
Julgamento
Comunicação
Conhecimento
Honestidade e transparência
Paixão
Carisma
O que um executivo deve fazer para romper esse círculo vicioso e ser, de
fato, o verdadeiro responsável pela gestão de seu pessoal? Algumas atitudes
e ações, como as descritas a seguir, serão um passo importante nesse
sentido.
Algumas das recomendações feitas para o CEO aplicam-se igualmente aos
gestores:
g) Formar sucessores
Vimos que um dos principais entraves à formação de sucessores é o medo
dos executivos em adotar ações nesse sentido. Um gestor que aja dessa
maneira pode ser classi cado como medíocre, não merecedor da posição
que ocupa. Nesse caso a falha é dele, de seus superiores e do RH: ninguém
percebe o fato ou, se percebe, fecha os olhos para isso. Aprendi ao longo de
minha carreira, por meio de exemplos de líderes de sucesso, que:
O melhor executivo é aquele que tem, sob sua liderança, profissionais mais competentes
do que ele em suas especialidades e que trabalha para desenvolver novas competências
e habilidades em todos, ou nos que se destacam e querem crescer mais.
O papel do RH
As atribuições da área de Recursos Humanos têm evoluído nas últimas
décadas; anteriormente cuidando de procedimentos básicos e burocráticos,
como administrar processos de admissão, controle de registros e emissão de
folha de pagamento, atualmente, tem assumido um papel mais moderno, o
de gestão estratégica do capital humano da empresa. A denominação
também evoluiu: relações industriais, gestão de gente, área de recursos
humanos, gestão de pessoas, área de pessoal, gestão de capital humano. Eu
a denominarei aqui de área de RH ou simplesmente RH.
O que é, hoje, uma área de RH? É, sem dúvida, aquilo que o CEO quer que
seja!
E não adianta inventar. Se o CEO quiser que ela seja uma área estratégica,
ela será; caso contrário, terá papéis menos relevantes na vida da
organização. O RH precisa contar com o apoio da alta direção. Talentos são
recursos estratégicos, e por isso a área de Recursos Humanos deve ser
estratégica, ser parceira dos executivos na tarefa do desenvolvimento de
pessoas.
Abordarei neste capítulo alguns temas relevantes para entender o papel que
a área de RH e o líder devem ter dentro da organização. Não tenho a
pretensão de cobrir tudo, mas, com base em minha experiência como CEO,
os aspectos mais importantes se relacionam com:
Estratégicas
Agrupam todas as frentes que atraem, retêm e desenvolvem pessoas:
Políticas de RH
Plano estratégico de recursos humanos
Compensação
Recrutamento e seleção
Plano de carreira
Planejamento sucessório
Gestão de talentos
Educação corporativa
Gestão da cultura e do clima organizacional
Gestão de indicadores
Relações com entidades de RH e setoriais
Transacionais
Agrupam todas as atividades operacionais que suportam ou viabilizam as estratégicas:
Folha de pagamento
Benefícios
Relações trabalhistas
Relações sindicais
Medicina ocupacional
Segurança do trabalho
Desenho de processos de gestão de RH
d. Capacidade de agir como catalisador de mudanças: uma vez identi cadas as necessidades de
alteração nas unidades da empresa, a área de RH deve ter estatura, liderança e proatividade
para obter o engajamento dos líderes dessas unidades nas ações de mudança, alinhando
também os sistemas de reconhecimento e de medição de desempenho para a obtenção de
melhores resultados e comunicando essas ações de maneira transparente para as partes
envolvidas.
Dentro da empresa, mas fora da área de RH: pro ssionais que conhecem
os negócios e possuem fortes competências estratégicas e analíticas são os
mais indicados. Eles devem ter a capacidade de rapidamente conhecer os
fundamentos da gestão de RH.
Dentro da empresa, na própria área de RH: pro ssionais com per l que
permita a capacitação para a função por meio de um treinamento formal ou
preferivelmente um processo de coaching são os mais adequados. As
características do per l descrito neste capítulo têm de ser preenchidas.
No mercado: esses pro ssionais devem ser procurados no mercado quando,
dentro da empresa, não se identi cam candidatos com o per l adequado
para a posição. Eles devem ter a capacidade de entender rapidamente os
negócios e possuir a experiência de um gestor de RH como de nido aqui,
ou potencial para aprender depressa.
6.8 Recompensas
Gestores de RH precisam de objetivos desa adores, como qualquer outro
executivo, e de recompensas pelo cumprimento desses objetivos, assim
como ocorre com os gestores nanceiro, comercial, operacional e outros.
A nal, compete a eles dar todo o apoio para que a empresa tenha o quadro
de pessoal necessário para cumprir suas metas. Isso pode ser baseado, por
exemplo, em um balanced score card que contenha metas como:
As responsabilidades do gestor e
a judicialização trabalhista
O papel do gestor não se limita às suas responsabilidades de liderança de
equipes na busca por resultados para a empresa, mas envolve também
aspectos relacionados com a legislação e a judicialização trabalhista. O
gestor tem de estar cada vez mais atento aos fatores que originam essas
ações e trabalhar intensa e intimamente com a área de Gestão de Pessoas e
com o Jurídico da empresa para evitar que elas ocorram.
As questões de ordem trabalhista seguramente constituem uma das maiores
fontes de litígios para as empresas, sem falar no volume de obrigações que
devem ser observadas em tal área, o que é agravado pelas scalizações e
autuações das delegacias do trabalho. Soma-se ainda a atuação do
Ministério Público do Trabalho, que ajuíza ações civis públicas envolvendo
temas complexos e altos valores.
Ex-funcionários ou mesmo funcionários têm encontrado na Justiça do
Trabalho respaldo para suas reclamações trabalhistas, justi cadas ou não. E
encontram, primeiramente, advogados, alguns idôneos e outros meramente
oportunistas, que os auxiliam a estruturar os casos contra as empresas. E, na
sequência, juízes que podem julgar as causas de forma imparcial e justa, e
outros que, sem conhecimento adequado de causa ou simplesmente para
proteger o trabalhador, acabam dando ganho a este, em detrimento da
empresa, trazendo a esta prejuízos nanceiros e muitas vezes também de
imagem.
A gestão de pessoas deve, portanto, também observar uma série de cautelas
para que não sejam agravados os riscos das empresas relativamente a
contingências de ordem trabalhista, preocupação esta que deve ser tomada
considerando-se todo o corpo de colaboradores da empresa, e não somente
aqueles que integram a equipe do gestor da área em questão.
Abordaremos aqui três aspectos relacionados ao tema deste capítulo:
Isonomia no trabalho
O respeito à jornada de trabalho
E outros aspectos prescritos por lei
Formar e consolidar a cultura em que gente é Atuar como verdadeiros gestores de sua Ser parceiro estratégico, entendendo os
ativo e não custo. Assegurar que a gestão de gente, desde a definição de negócios e as necessidades das áreas.
pessoas seja feita pelos gestores e que a área necessidades até a demissão. Criar Prover ferramentas e apoio para que os
de RH possua relevância estratégica na clima de trabalho estimulante e gestores tenham as pessoas adequadas
organização. desenvolver espírito de equipe. quando necessitarem delas.
Se esses princípios não forem seguidos, não se deve investir tempo em desenvolver um plano estratégico de
RH, pois ele permanecerá sem função e sem aplicação. Neste capítulo, abordarei os aspectos que considero
fundamentais no planejamento e na implementação das ações que levam à disponibilização das pessoas
necessárias para o sucesso de uma organização.
Estratégia é o caminho para criar e sustentar posição Muitos defendem que estratégia é compatibilizar recursos com
competitiva vantajosa e exclusiva no mercado. oportunidades.
É exercer opções excludentes na competição: escolher o que Na realidade, estratégia é o estabelecimento de metas que forçam a
não fazer. empresa a buscar resultados além do que seus executivos imaginam
ser possível.
Tenho minha própria de nição de estratégia, que capta a essência do ensinamento desses mestres de maneira
um pouco mais resumida: estratégia é desenvolver, implementar e sustentar vantagens competitivas em
mercados evolutivos.
Em uma organização, são as pessoas as responsáveis por desenvolver, implementar e sustentar vantagens
competitivas. Pessoas medianas elaborarão estratégias inexpressivas; uma equipe de ponta desenvolverá e
implementará uma estratégia vencedora. E não há inteligência arti cial (ao menos por enquanto) que consiga
inovar com constância, que reinvente periodicamente vantagens competitivas para a empresa.
Uma estratégia de negócios bem fundamentada possibilitará:
A participação dos gestores no desenvolvimento do plano estratégico de negócios é fundamental para que sua
implementação seja exequível e para que se obtenham os resultados almejados. Essa participação permite um
alinhamento dos vetores estratégicos para o sucesso do negócio, em convergência com a missão, com a visão e
com os valores da organização.
O que deve preocupar um CEO e, por conseguinte, todos os gestores da organização e a própria área de RH,
no que diz respeito a formar e manter uma equipe de alto desempenho, pode ser resumido assim:
Suprimento de necessidades
Equilíbrio entre as necessidades de demanda de pessoal e as atividades de suprimento.
Banco de dados de RH que identi que potenciais e emergentes.
Aproveitamento dos recursos internos.
Atratividade da empresa para recrutamento externo.
Formação de sucessores em cada área da empresa.
Administração do processo de envelhecimento e de aposentadoria da força de trabalho.
Compatibilidade da rotatividade de pessoal com as empresas de melhor desempenho e maneiras de
reduzi-la.
Avaliação
Desenvolvimento
Sistema de remuneração e de benefícios competitivo, e caz e muito bem entendido por toda a
organização.
Fluidez de processos de gestão de RH.
Processos de gestão de pessoal que primem pela racionalidade e pela funcionalidade.
Terceirização onde ela seja viável de modo funcional e econômico.
O líder de Recursos Humanos e as pessoas-chave de sua equipe devem participar ativamente de todas as etapas
da formulação do plano estratégico empresarial. Assim, podem desenvolver uma estratégia de pessoas
convergente com as necessidades da estratégia de negócios. Caso a empresa possua várias divisões de negócios,
as pessoas-chave da área de RH devem participar das respectivas equipes que desenvolverão as estratégias de
cada divisão.
Pode parecer óbvio, mas o plano estratégico de RH necessita ser apresentado, debatido e aprovado pelo CEO e
pela diretoria executiva da organização.
Os responsáveis por sua implementação são os gestores de área, não o RH. Este instrumentaliza, apoia, controla
e provê orientação às demais áreas, para que não haja desvios na execução do plano e, consequentemente,
re exos negativos no sucesso do plano estratégico empresarial.
b. Análise SWOT (dos termos em inglês strengths, weaknesses, opportunities, threats) de pessoal (e não da área
de RH)
Visualização das forças, debilidades, oportunidades e ameaças inerentes ao posicionamento da empresa com
relação ao seu capital humano atual e futuro. É uma análise relativa aos recursos humanos da empresa, e não
de sua área de Recursos Humanos.
Cada componente deve ser resumido em um máximo de oito pontos, que devem cobrir os itens mostrados no
esquema a seguir.
j. Indicadores de desempenho
A monitoração e a medição dos resultados da implementação do plano estratégico de RH devem ser feitas
durante todo o processo de execução. Para isso, precisam ser estabelecidos indicadores de desempenho
estratégicos para cada conjunto de ações. O Balanced Score Card (BSC), que possibilita o estabelecimento de
indicadores quantitativos e qualitativos, é uma das ferramentas mais utilizadas para isso.
Da atração à retenção
A arte de atrair consiste em convencer o candidato de que o per l dele
converge sinergicamente com a necessidade da posição, que ele se realizará
nela e que a empresa é um excelente lugar para se trabalhar.
A arte de reter inclui um conjunto de políticas e práticas que envolvem o
comportamento dos gestores e a atuação da área de RH.
Embora muitas empresas cuidem desses aspectos de maneira estruturada,
com necessidades e per s bem de nidos e conduzindo o recrutamento de
modo metodológico, ainda há situações em que pessoas são contratadas
apenas com base em sua experiência, sem que se leve em consideração suas
características pessoais ou a adaptabilidade ao cargo, ou simplesmente
porque alguém a conhece: “Pode contratar que ela é boa!”.
Boa para quê? Muitas decisões sobre contratações ainda são tomadas com
base na rede de relacionamentos dos indivíduos, sem avaliar que valor
agregado eles podem levar para a empresa. Com frequência, as organizações
se esquecem de olhar para seu próprio capital humano antes de ir buscar
gente no mercado.
Da mesma maneira, políticas estruturadas e gestores adequadamente
capacitados podem garantir boa parte do sucesso da retenção de pessoal. Ter
boas políticas não basta, se os gestores não souberem como motivar e
trabalhar na retenção de suas equipes, as pessoas permanecerão na empresa
até encontrar uma alternativa fora dela. O inverso também é válido.
Contratações equivocadas ou processos de desenvolvimento e de promoção
inadequados levam a consequências como tempo anormal dedicado por
superiores para orientação ao subordinado, atividades com resultados abaixo
do esperado, investimento em treinamento em pessoas que não se
aproveitarão dele, questionamentos por parte dos demais membros da
equipe e, principalmente, desgaste do executivo que contratou esse
pro ssional e que se depara com uma situação delicada sobre como se
desfazer dele.
Alguns cuidados devem ser tomados desde a atração até a retenção de gente
em uma organização. Esse processo pode ser assim esquematizado:
9.1 Atração
A atração começa pela de nição criteriosa das necessidades da posição e do
per l necessário para o preenchimento do cargo, para que se contrate uma
pessoa que venha a ter alto desempenho. Isso vale para qualquer nível
hierárquico, do CEO ao responsável pela limpeza.
No começo da minha gestão como CEO da Sodexo do Brasil, tive a
oportunidade de contratar um pro ssional de Recursos Humanos, Jair
Arruda, com quem trabalhei em perfeita sintonia e com quem também
muito aprendi sobre a arte de gerir pessoas. Na ocasião, tínhamos altíssimo
índice de rotatividade de pessoal, um dos mais altos do setor, e baixíssima
produtividade (medida em número de refeições por dia servidas por cada
um de nossos funcionários), além de custos elevados como resultado de
desperdícios.
Jair se incorporou às equipes de cozinha, trabalhando efetivamente em
nossas operações dentro de clientes, conhecendo a fundo as operações e as
pessoas que nelas trabalhavam, buscando também identi car as causas
desses problemas. Duas foram as causas identi cadas. A principal delas: um
processo de seleção inadequado, sem critérios. Quando se necessitava, por
exemplo, de um auxiliar de cozinha, simplesmente se colocava um anúncio
na porta do cliente ou em jornais do bairro. A entrevista com os candidatos
era feita pelo próprio gerente da unidade, que não havia sido treinado para
isso e sequer possuía um guia de orientação para avaliação e escolha de
pessoal.
Sua decisão, em geral, recaía sobre aqueles que tinham disponibilidade
imediata de trabalho e moravam perto da unidade.
Com a necessidade de ganhar algum dinheiro, qualquer desempregado se
apresentava e acabava sendo contratado. Um pedreiro, por exemplo, cuja
vocação natural não era trabalhar em uma cozinha industrial, era contratado
como auxiliar de cozinha, para lavar panelas. Na primeira oportunidade que
ele encontrava para trabalhar em uma construção, ia embora. E casos como
esses eram frequentes.
Como consequência disso, e de uma inadequada capacitação dos gerentes de
unidades para exercer o papel de gestor, os processos internos às cozinhas
sofriam rotineiras descontinuidades. Eventuais treinamentos realizados eram
desperdiçados pela rotatividade de pessoal; o gerente da unidade e seus
colaboradores mais estáveis tinham de sair de suas funções para cobrir
lacunas e não sobrava tempo para gerenciar o processo de produção.
Após essa avaliação, o primeiro passo conduzido por Jair foi elaborar um
plano estratégico de pessoal. Isso porque, a problemática já existente
agravar-se-ia de modo substancial como resultado de planos muito
agressivos de expansão, que se concretizavam rapidamente. Duas ações
prioritárias foram desenvolvidas em paralelo: um programa de capacitação
de gerentes de unidade e um processo estruturado de recrutamento e
seleção.
Para o processo de seleção, Jair liderou um grupo de trabalho que de niu o
per l ideal para cada posição. Com base nesse per l, foram criados critérios
de pré-eliminação de candidatos, procedimentos de entrevistas e aplicação
de testes vocacionais. A equipe da área de Recursos Humanos trabalhava em
estreita colaboração com os gerentes de unidade, orientando-os sobre como
proceder e aplicando as ferramentas de avaliação desenvolvidas. Depois de
alguns meses, chegamos a um dos mais baixos índices de rotatividade do
setor e a uma alta produtividade por funcionário.
O programa de capacitação dos gerentes que foi elaborado em paralelo é
abordado mais adiante, quando tratamos sobre o desenvolvimento de
pessoas.
Atrair e selecionar pessoal adequado começa, portanto, por uma de nição
criteriosa das necessidades do cargo e do per l dos pro ssionais a contratar.
Essa de nição deve ser feita pela área de Recursos Humanos juntamente
com o responsável pela área requerente.
9.2 Seleção
“Cada cabeça, uma sentença”, diz um ditado popular. E isso é verdade
quando se trata da tomada de decisão com base em informações subjetivas.
É assim, de maneira subjetiva, que muitos gestores ainda se comportam para
escolher candidatos a vagas em suas áreas.
No outro extremo, situam-se testes variados em qualidade e em
profundidade. E são tantos que já nos perdemos entre testes de
personalidade, psicológicos, psicométricos. Defendo a aplicação, mas não o
exagero de muitos pro ssionais de Recursos Humanos.
Antes de abordar aspectos que considero relevantes em um processo de
seleção, tratarei do tema “competências”, tão antigo, tão falado, tão usado e
ainda mal-entendido e praticado erroneamente por muitos gestores.
Assim como se escolhem árvores em um jardim pela beleza de seus galhos,
folhas e ores, tradicionalmente se avaliavam, e ainda se avaliam,
pro ssionais por suas habilidades e seus conhecimentos, ou seja, a parte
mais visível do ser humano. Entretanto, para que se obtenha um
posicionamento adequado dos indivíduos nas organizações, e melhor
produtividade e e cácia de cada um, é necessário avaliá-los por um conjunto
de competências pessoais, intrínsecas a cada pessoa.
Competências são um conjunto de valores, atitudes, habilidades e
conhecimentos que levam as pessoas a obter alto desempenho. Portanto, são
uma referência para a formação de equipes e para o desenvolvimento do
capital humano da organização. Trata-se de características pessoais que vão
de aspectos íntimos até conhecimentos e habilidades adquiridos e
modi cáveis.
Ingressei na Arthur D. Little logo depois de a empresa adquirir a Innovation
Associates, fundada por Peter Senge, que assessorava seus clientes em
processos de gestão de mudanças e no desenvolvimento de processos de
gestão de recursos humanos por competências. Nessa ocasião, conheci um
interessante comparativo entre uma árvore e uma pessoa, com foco nos
fatores intrínsecos de cada um, em suas competências.
A comparação é reproduzida a seguir.
Não vou entrar no mérito das metodologias usadas nesse processo, pois são
muitas, ensinadas por inúmeros acadêmicos em variadas publicações, e
praticadas por diferentes empresas de uma ou outra maneira. Abordo a
seguir apenas alguns aspectos para os quais chamo a atenção nas diferentes
etapas desse processo.
Nessa parte do processo há várias ferramentas que podem ser utilizadas. Elas
são disponibilizadas por empresas especializadas, que as desenvolveram ou
que as representam no Brasil. Gosto particularmente do MBTI (Myers-
Briggs Type Indicator) e do DISC (Dominance, In uence, Steadiness,
Conscientiousness), embora haja outras igualmente e cientes.
9.3 Integração
Todo novo pro ssional deve ter uma fase de integração à empresa e de
conhecimento sobre as características e funcionamento desta, e,
principalmente, cultura e valores, qualquer que seja a posição ou o nível para
o qual foi contratado.
A Sodexo é uma empresa de mão de obra intensiva, com uma sede central e
várias operações descentralizadas. Quando assumi a direção geral, o pessoal
da sede sabia que administrávamos os serviços de alimentação nos clientes,
mas não fazia ideia da complexidade do trabalho; reclamava cotidianamente
da falta de compromisso com os processos por parte do pessoal de campo.
Por sua vez, estes funcionários se referiam à sede como “lá na Sodexo”, sem
se sentir parte da empresa e sem entender por que o pessoal da sede
reclamava tanto.
Desenvolvemos um programa de integração pelo qual, inicialmente, todo
novo colaborador, independentemente de sua área ou posição hierárquica,
participava de reuniões iniciais nas quais lhe era apresentada a empresa.
Começávamos com uma apresentação geral e, em seguida, os gestores
responsáveis pelas áreas funcionais falavam sobre seu setor. Os processos
administrativos e operacionais também eram explicados. Eu procurava estar
sempre presente às apresentações sobre a empresa, para dar as boas-vindas
aos novatos.
O principal, porém, era um programa de integração sede-operações, em que
todo novo colaborador fazia um estágio no campo alheio. Isso signi cava que
os colaboradores contratados para a sede tinham de passar algum tempo
dentro de uma cozinha industrial, vivendo o dia a dia e interagindo com o
pessoal de campo. Chegavam no mesmo horário que eles, no início do dia, e
desempenhavam alguma tarefa (tomando-se cuidado com a segurança e sem
interferência na operação). Um funcionário administrativo, como um
assistente de Contabilidade ou uma secretária, passava uma semana
“trabalhando” na cozinha do cliente. Um gerente podia passar até um mês
ali.
Eu mesmo z um estágio em cozinhas, com a “mão na massa”, pois eu não
conhecia o negócio e seus aspectos operacionais. Cheguei a me acidentar,
com um corte no dedo que evoluiu para um doloroso processo in amatório;
e isso me despertou para os aspectos de segurança no trabalho.
O novo pessoal das cozinhas também fazia um estágio na sede, para
conhecer as pessoas e os processos. Um gerente de unidade passava um mês,
e um chefe de cozinha, uma semana.
Além disso, durante o ano, cada líder de área tinha a responsabilidade de
visitar certo número de restaurantes e de interagir com o pessoal da cozinha
e com o cliente. Periodicamente, os gerentes de unidades e seu chefe de
cozinha iam à sede para reuniões com temas especí cos, mantendo ativa
essa integração.
Desse modo, cada um passou a entender o trabalho de todos, suas
características, necessidades e di culdades. O pessoal de campo começou a
se sentir parte da Sodexo, a entender os processos e a fazer a gestão
administrativa adequadamente, e o pessoal de sede parou de reclamar do
pessoal de operações e passou a colaborar com ele.
Um programa de integração precisa ser bem estruturado e contar com um
cronograma. As pessoas que farão apresentações sobre a empresa devem
estar muito bem preparadas para falar sobre ela, para dar continuidade, na
prática, às maravilhas que foram ditas durante a seleção. A área de Recursos
Humanos é a dona desse processo e deve veri car se cada uma das áreas está
dando atenção aos novatos e cumprindo a sua parte na integração. O CEO
deve veri car periodicamente como estão sendo conduzidos os programas
de integração.
9.4 Avaliação
Existem muitos modelos de avaliação de desempenho. Há inúmeros livros
sobre o assunto, e empresas de consultoria se especializaram em estruturá-
los, além de dar assistência continuada aos seus clientes. A seguir, destaco
alguns aspectos que não podem ser esquecidos.
O objetivo de um processo de avaliação é estabelecer um direcionamento
para a melhoria de desempenho das pessoas e, por conseguinte, de sua área
e da organização. Esse processo deve possibilitar ao avaliado um conjunto de
informações sobre seu desempenho anterior, de nir prioridades e objetivos
de desempenho futuro, identi car lacunas pro ssionais e de comportamento
pessoal a ser preenchidas e estabelecer um plano de ação individualizado
para melhoria continuada.
A cultura de avaliação precisa estar impregnada na empresa. O CEO é
responsável por isso, com o apoio da área de RH. O processo tem de ser
encarado seriamente por todos os gestores, que devem transmitir essa
seriedade aos seus subordinados. Isso implica um processo estruturado,
difundido e bem entendido por toda a organização. O resultado deve ser
construtivo: quem avalia precisa adotar atitude de imparcialidade e
honestidade nas avaliações que faz sobre outras pessoas, e quem é avaliado
tem de estar aberto a atitudes receptivas e não defensivas. A avaliação não
pode ser feita simplesmente para cumprir a rotina.
O processo deve ser simples. Adotar formulários complexos acompanhados
de manuais de procedimento elaborados é contraproducente e faz com que
as pessoas o encarem como mais uma burocracia da empresa. A avaliação
deve destacar o que se quer ou o que se necessita avaliar sobre cada pessoa.
Em uma das organizações em que passei, deparei-me com um processo de
avaliação cujo manual tinha mais de 20 páginas, além de instruções
paralelas. O formulário de avaliação era um complexo de planilhas Excel
interligadas. Poucos o levavam a sério, e no nal, as avaliações eram
praticamente feitas pelo próprio avaliado; o chefe simplesmente as
referendava.
A avaliação não deve ser genérica, abordando somente temas
comportamentais ou de aderência a valores corporativos. Deve incluir
aspectos relacionados a esses temas e ao desempenho técnico. A avaliação de
gestores deve abordar as características de liderança e de práticas gerenciais
(delegação e controle, tomada de decisões, solução de con itos, trabalho em
equipe). O desempenho também deve ser medido comparativamente a
indicadores estabelecidos para cada pessoa, os quais devem ser quantitativos
e qualitativos.
Para gestores e pro ssionais cujas funções requerem contato continuado
com outras áreas é fundamental uma avaliação de 360 graus, pela qual o
indivíduo é avaliado por superiores, pares e subordinados. A mesma
avaliação pode ser feita com relação àqueles que mantêm contato externo.
Hoje existem várias ferramentas de avaliação on-line, rápidas e e cientes,
sem exposição dos avaliadores.
A avaliação de nada vale se não for complementada por um plano de ação
para cada indivíduo. E sua implementação caberá ao próprio indivíduo,
juntamente com seu superior imediato, com o apoio da área de RH. Caberá
ao superior imediato atuar como coach de seus subordinados nesse processo,
como já vimos no Capítulo 4.
Empresas que ainda não desenvolveram uma cultura de avaliação de
colaboradores e deseja fazê-la, devem observar alguns fatores importantes:
9.6 Remuneração
Remuneração mereceria um capítulo especial, mas existem vários livros
didáticos ou técnicos sobre o assunto. Destaco aqui alguns fatores que
considero fundamentais, do ponto de vista do CEO, para estruturação de
programas de remuneração.
A remuneração deve ser tratada quase como uma ciência. Seus fundamentos
estão correlacionados ao plano estratégico de longo prazo, aos valores
corporativos e aos objetivos de curto, médio e longo prazos. Remuneração
xa e variável, e como a estruturar está na pauta dos líderes e do RH, pois,
dependendo da cultura e da causa (vide Capítulo 1), pode ser um forte fator
in uenciador na contratação e na retenção de pro ssionais.
Observações gerais
Estabelecer, criteriosamente, um plano de cargos e salários, mesmo que ele seja uma
simples planilha de posições e valores;
Benefícios são mais importantes para os pro ssionais juniores com base em
resultados à medida que o indivíduo sobe na hierarquia da empresa.
Desenvolvimento de pessoas
Certa vez, perguntaram ao artista Michelangelo di Lodovico Buonarroti
Simoni (1475-1564) como ele havia idealizado e esculpido Davi. “Ele já
estava dentro do bloco de mármore”, respondeu Michelangelo, “Eu apenas
removi o que não era Davi”.
Convivi com vários “Davis”, mas um dos que mais me marcaram foi Durval,
que conheci quando era diretor geral da Coel, empresa brasileira de
componentes para automação industrial. Durval ingressara lá como
mensageiro e chegara a comprador; não zera curso superior. Percebi nele
um talento diferenciado – raciocínio rápido, habilidade de relacionamento
interpessoal, lógica de raciocínio, domínio dos processos de negócios da
empresa e profundo conhecimento dos nossos produtos. Comecei a
designar-lhe atividades adicionais. Quando saí da Coel, Durval me disse:
“Eu pensava ter atingido meus limites. Mas você me deu a oportunidade de
descobrir outra pessoa dentro de mim”. Durval alcançou o cargo de diretor
industrial.
A General Electric possui uma “fábrica de executivos”, um centro de
treinamento que é referência mundial na formação de líderes, a ponto de
ser chamado pela revista Fortune de “Harvard da América Corporativa”.
Instalada em Crotonville, estado de Nova York, Estados Unidos, tem como
princípios: imersão total, cursos para a vida real, só os melhores participam,
os líderes prestigiam, incentivo ao convívio social, investimento consistente.
Diversas empresas de grande porte possuem suas academias corporativas
dedicadas à capacitação.
Grandes empresas podem realizar investimentos dessa ordem de grandeza,
mas... e as outras? Bem, elas podem desenvolver programas de capacitação
que envolvam todas as pessoas da organização, de maneira sistematizada e
continuada, sem investir fortunas no processo. A academia se torna um
hábito, não um investimento. Disso trataremos aqui: o que fazem as
grandes organizações também podem fazer as pequenas, guardadas as
devidas proporções. Os tópicos abordados a seguir englobam:
10.3 Conteúdos
Os programas de capacitação podem abordar os temas mais diversos, de
acordo com a necessidade da empresa e dos participantes. Inicia-se pelo
mais básico, composto de sessões de introdução de um novo pro ssional na
empresa, e vai até o desenvolvimento de lideranças.
Quero chamar a atenção para os programas de integração de novos
pro ssionais na empresa. Diversas organizações grandes e consolidadas têm
programas muito bem estruturados e os conduzem de modo que não só
apresente toda a empresa e seu negócio aos novatos, como também que
sirva de motivador inicial. Entretanto, já presenciei empresas também de
grande porte e outras de menor porte negligenciando esses programas e
conduzindo-os de maneira mal estruturada e com instrutores inadequados.
O resultado deixa um ponto de interrogação na cabeça dos participantes
sobre a sua decisão de ingressar na empresa.
Estruture esse programa para que dê uma visão holística da organização,
porém com detalhes interessantes e importantes, e tenha instrutores que
conheçam a empresa, que possam responder a perguntas e que sejam
motivadores. Inclua gerentes funcionais nas apresentações e, quando
possível, convide o CEO para dar um “bom-dia”.
Nesse programa é fundamental que se abordem, de maneira bastante clara
e exaustiva, os aspectos culturais da organização e seus valores, conforme
mencionamos no Capítulo 1.
Os programas de desenvolvimento de pessoal podem ser mais generalistas
ou mais especí cos.
A citação que inicia este tópico é de omas Stewart, em seu livro Capital
intelectual, em que re ete a diferença entre um passado não muito distante
e a realidade na qual vivemos.
O que é “carreira”? É aquele quadro que indica como podemos subir na
hierarquia da empresa ao longo dos anos e que é apresentado nos
programas de indução? Ou é o caminho pro ssional que alguém se propõe
a seguir como um desa o pessoal?
Quando terminei meu MBA nos Estados Unidos, com 28 anos de idade,
de ni como objetivo pessoal me tornar diretor geral de uma organização
aos 35. Para isso, cheguei à conclusão de que o melhor caminho seria
trabalhar em uma empresa de consultoria de ponta que me possibilitasse
vivenciar os mais diversos aspectos da gestão empresarial e da de nição de
uma estratégia ao desenho de processos.
Minha experiência na Booz, Allen & Hamilton, na ocasião uma das três
mais expressivas empresas mundiais de consultoria empresarial (depois
Booz & Co. que acabou sendo adquirida pela PwC), quase me fez esquecer
meu objetivo, até que um dia um cliente me disse: “Você me propõe a
racionalização deste processo porque nunca teve de demitir ninguém em
sua vida”. Voltei a pensar em meu objetivo, também motivado pelo fato de
que, se eu quisesse seguir como consultor, embora diferenciado, teria de me
sentar do outro lado da mesa por algum tempo. Fui atrás do meu objetivo e
assumi minha primeira direção geral, na Sodexo. A empresa crescia no
mercado mundial, mas ainda era inexpressiva no Brasil; em três anos ela
cresceu mais de dez vezes e entrou no mapa das principais empresas do
setor.
A empresa pode ter seu quadro de carreira, mas cada indivíduo é o
responsável maior pelo aproveitamento e pelo gerenciamento das
oportunidades que se apresentam. A empresa deve propiciar apoio, desde
que merecido. A pessoa deve ter seus objetivos, empenhar-se, mostrar sua
capacidade, brigar pelo que considera relevante para ela mesma e para a
empresa, e não esmorecer no meio do caminho.
Para grande parte das gerações Y e Milênio, o discurso de que eles têm uma
carreira pela frente e a apresentação do quadro evolutivo poderá não surtir
efeito. Eles são impacientes, querem resultados mais imediatos e não estão,
em geral, dispostos a esperar muito tempo por uma promoção; são mais
éis aos seus projetos do que à empresa. Promoção, para eles, pode ser
assumir projetos diferentes, com desa os crescentes, o que os mantém
motivados até acumular experiência e capacitar-se para assumir a
supervisão de outras pessoas ou de projetos simultâneos.
Quando falamos em desenvolvimento de carreira, pensamos
imediatamente em um crescimento vertical executivo na empresa, e isso, às
vezes, não motiva pro ssionais que não têm vocação para tal. Muitos
conhecem a história daquele excelente vendedor que foi guindado à
posição de gerente de Vendas, teve péssimos resultados e acabou sendo
demitido. Na realidade, tudo que ele queria era ser vendedor e ganhar bem
com as suas vendas, sem a responsabilidade de ter de supervisionar outros
vendedores.
A carreira ou a evolução pro ssional de um indivíduo em uma empresa
pode ser feita de diferentes maneiras.
— Sinto informar que a partir de hoje não serei mais seu chefe.
— Mas o que houve, chefe? Que aconteceu? Por quê? Para onde você vai?
— Bem, não sou eu quem vai... é você!
Essa piada (ou drama?) re ete bem o despreparo dos gestores em situações
de demissão de subordinados.
Quantas vezes as áreas de RH são acionadas para demitir funcionários, em
processos equivocados, dos quais o gestor se esquiva e o pessoal de recursos
humanos lamentavelmente assume? O RH tem um papel importante nesse
processo, como veremos mais adiante, mas não demite pessoal de outras
áreas.
Demitir não é função do RH. Demitir é responsabilidade de cada gestor, no
que diz respeito a seus subordinados. Assuma isso gestor; se não sabe como
fazer, busque apoio com o RH, mas não delegue a ele. Não se acovarde
empurrando para outros o que é sua responsabilidade. Isso é também uma
forma de demonstrar para sua equipe que você é um líder que se preocupa
com sua gente.
Gestores passam por uma variedade enorme de conteúdos de treinamento
técnico e de práticas gerenciais, mas raras empresas adotam um programa
de treinamento que aborde aspectos relacionados a processos de demissão.
Destaco o tema neste capítulo especí co por sua relevância, pois o
desligamento de funcionários se re ete diretamente no estado de ânimo do
pessoal, dependendo de como são conduzidos.
Dividirei minhas recomendações em três situações que envolvem
demissões:
Demitir é tarefa do gestor. Quanto a esse princípio, não há mais o que dizer.
O processo deve ser pro ssional, tão humano quanto possível. E cabe à área
de Recursos Humanos prover orientação e treinamento aos gestores para
que isso seja viabilizado.
Capítulo 12
Capital humano
Insistiremos sempre em a rmar que no topo das prioridades do líder
deverá estar, como sempre deveria ter estado, o capital humano, pois sem
gente certa, no lugar certo, no momento certo, ele pode ter sucesso, mas
não será duradouro. O líder deve assegurar sempre que a empresa cuide de
sua gente como valor e não custo e atentar-se para que subsista uma cultura
motivadora para a atração e o engajamento de pessoas. As rápidas
mudanças que o mundo vivencia impactam os aspectos emocionais e
comportamentais das pessoas e passam também a merecer mais atenção por
parte do líder.
Ele tem de passar a conhecer muito mais a vida de seus colaboradores, não
somente na empresa, mas fora dela, principalmente em suas casas. Colocar
pessoas em home o ce foi imperativo durante a quarentena e motivou
várias empresas a pensar em adotá-lo permanentemente. Isso não é tão fácil
assim.
Muitas pessoas não possuem ambientes físicos e relacionais fora da empresa
que permitam realizar o home o ce de forma continuada e tranquila.
Mesmo indivíduos com um nível socioeconômico que lhes permita habitar
em casas ou apartamentos mais espaçosos, podem encontrar di culdades
pelo convívio com crianças, adultos carentes e outras pessoas. Imaginemos
aqueles em condições habitacionais menos favorecidas. O líder, portanto,
tem de dar um passo além e empatia passa a ser quesito essencial. Conhecer
a realidade do colaborador não é mais su ciente, ele precisa entendê-la.
O líder tem de conhecer as condições de cada liderado para poder separar
quem poderá ser mais produtivo no escritório ou em home o ce. E, não
basta “determinar” que o colaborador faça home o ce; é necessário saber se
ele consegue ali desempenhar suas funções com e cácia, sem estar sujeito a
um burnout causado pelo seu ambiente doméstico.
Para isso, o líder, com apoio do RH, deverá pesquisar as condições
habitacionais e de convivência familiar de cada colaborador, tendo cuidado
para não invadir sua privacidade e de sua família, para saber como
posicionar suas equipes nos diferentes ambientes de trabalho. Uma simples
pesquisa feita com a empresa toda pode ajudar nessa troca de
conhecimento e fazer com que o colaborador se sinta parte do processo.
Por outro lado, o RH terá de ser muito mais ativo e proativo para apoiar o
gestor nessa tarefa e para desenvolver critérios e ferramentas que
possibilitem avaliar o desempenho dos colaboradores em home o ce ou no
escritório. No ambiente da empresa isso se torna mais fácil, pois as pessoas
estão visíveis, convivendo sicamente com líderes e colegas. Como, porém,
avaliar o desempenho do trabalho remoto? Quando falamos de
desempenho, vamos além do cumprimento de tarefas que estão nas
atribuições do indivíduo; o líder terá também de olhar para o desempenho
da satisfação de seus colaboradores, para poder mantê-los motivados e fazê-
los evoluir na organização. Medir desempenho por meio de planilhas ou de
horas dedicadas pode ser adequado para um robô, mas não para pessoas.
Essa forma de encarar o capital humano, ou o lado humano do capital,
obrigará os verdadeiros líderes a estar mais próximos ao seu pessoal, mesmo
daqueles que estiverem em home o ce; neste novo mundo as pessoas têm
de sentir que existem, mesmo estando remotas.
Adicionalmente, os colaboradores deverão ter maior empoderamento que
lhes permita ter maior agilidade nas suas atividades e maior poder e
assertividade de decisões.
Mas não basta “dar” esse empoderamento a eles; será necessário identi car
de forma mais aprofundada suas competências, saber o que delegar, e
capacitá-las para que saibam usar adequadamente esse empoderamento.
Inovação
O líder deverá dedicar mais tempo no estímulo ao espírito de inovação
interno, e ao acompanhamento das inovações de mercado. O espírito de
inovação interno não se refere somente a produtos, mas também, e muitas
vezes mais relevante que produtos, a processos internos de trabalho e
aqueles que interagem com clientes e a comunidade. Vejam o que acontece,
por exemplo, com reuniões por videoconferência: antes da pandemia, eram
praticados por poucas empresas; durante a pandemia tornou-se a forma
imperativa e habitual de trabalho. As pessoas, mesmo aquelas das mais
tradicionais gerações, quebraram seus paradigmas e passaram a incorporar
essa prática ao seu dia a dia e a tendência é que isso permaneça.
No retorno à “normalidade” deste novo mundo, será necessário repensar as
formas tradicionais de trabalho e no engajamento das pessoas. Novas
formas de trabalho foram testadas não só nas rotinas de escritórios, mas em
muitas pro ssões. As inovações tecnológicas, da burocracia dos escritórios a
novos procedimentos na saúde e outros setores, obrigam o líder a se inovar
e a estimular seus liderados a entender e praticar novas formas de trabalho.
Inovar não signi ca necessariamente colocar uma barreira no passado e
mergulhar no que é novo. Não esqueçamos o quê e como fazíamos as
coisas, pois a forma de solucionar problemas no passado pode nos ensinar a
equacionar soluções futuras. Mas o foco na adversidade é essencial: com
essa nova realidade, as soluções para os mesmos problemas podem tomar
formas diferentes, portanto, é importante que o líder volte às raízes dos
problemas para que assim possa abrir seu leque de potenciais soluções.
Sobre o mercado, o líder deve estimular em seus gestores a consciência de
que eles não podem continuar trabalhando tradicionalmente como
trabalhavam, e incentivá-los a tomar iniciativas para acompanhar e
entender toda e qualquer inovação que possa trazer re exos para a
empresa. Estimulá-los não só a pensar fora da caixa, mas a chutar a caixa.
As novas gerações talvez tenham maior facilidade para acompanhar essas
inovações, pois já nasceram digitais. As gerações mais antigas necessitarão
de estímulo e de apoio para fazê-lo.
Aprendizado
Aqueles pro ssionais que quiserem fazer diferença na organização onde
trabalham e contribuir de forma mais produtiva na perseguição dos
objetivos sob sua responsabilidade e os da organização como um todo,
deverão buscar ampliar seus conhecimentos sobre temas que impactam
diretamente seus resultados e também sobre outros que impactam a
empresa.
Esses temas estão relacionados com processos de gestão, tecnologias,
mercado, meio ambiente, entre outros. O líder, normalmente, preocupa-se
com o aprendizado de sua gente, ou deveria. O mundo que passamos a
vivenciar com todo esse impacto evolutivo, fará com que esse líder dedique
mais tempo a ajudar suas equipes a identi car suas necessidades de
aprendizado e estimulá-las a buscar esse conhecimento.
As empresas geralmente se dedicam a promover treinamentos em grupo
e/ou padronizados a equipes de colaboradores, sejam eles focados em
temas de gestão/liderança, processos ou técnicas de trabalho. Esse tipo de
treinamento continuará a ter espaço, mas o aprendizado terá também de
ser individualizado. A tecnologia, tanto de treinamento quanto de
monitoramento de performance individual, permitirá que as organizações se
atentem mais às necessidades especí cas de cada colaborador e, com isso,
possibilitar que invistam no aprendizado individual, levando cada
colaborador a evoluir para atingir seu real potencial.
As mudanças estão ocorrendo muito rapidamente. Isso faz com que as
organizações e as pessoas que nestas trabalham encontrem maneiras de
entender e se adaptar de forma contínua e rápida a essas mudanças. As
realidades emergentes, dentro das organizações e em seus mercados,
sugerem que as pessoas possam ter maior aproveitamento e, portanto,
melhor desenvolvimento, com treinamentos especí cos às suas
necessidades. O e-learning passa a ter um papel contributivo relevante neste
processo.
Planejamento
Planejamento estratégico ou planejamento de atividades, já faz parte da
agenda de muitos líderes. Apesar das urgências em tomadas de decisões e
necessidades de rápidas adaptações provocadas pela Covid-19, esse
exercício terá de ser intensi cado para possibilitar que os gestores e suas
equipes saibam para onde ir e como ir até lá. Quem é velejador sabe que
“não existe vento favorável para o timoneiro que não conhece qual é seu
destino”. Capital humano, inovação e aprendizado, temas que possuem
relevância estratégica para o futuro sucesso do líder e da organização, terão
de ser cada vez mais incorporados ao seu planejamento.
A realização de pesquisas junto com os ambientes interno e externo das
empresas poderão ser de grande valia. Pensar, por exemplo, que podemos
reduzir o tamanho dos espaços físicos ocupados pelas empresas porque as
pessoas se acostumaram com home o ce não é tão elementar. Como
observamos anteriormente, neste caso é necessário identi car onde os
colaboradores encontram melhores condições de trabalho e isso pode ser
feito por meio de pesquisa.
Uma empresa do setor nanceiro nos relatou como procedeu para de nir
sua política de home o ce, partindo de uma pesquisa que conduziu sobre
as condições de trabalho remoto, para entender as condições e preferências
de cada colaborador. Como resultado, identi cou três grupos de
colaboradores: quem precisa trabalhar em um escritório porque as
condições em suas casas não favorecem o trabalho, quem prefere trabalhar
no escritório mesmo com condições adequadas em suas casas e quem
prefere trabalhar em casa. A empresa passou, então, a cruzar essas
informações com os dados de desempenho de cada colaborador. Com isso
ela identi cou, por exemplo, o nível de produtividade daqueles que
preferem trabalhar em casa, mapeando e balanceando a necessidade de
presença física no escritório e do trabalho remoto. Do mesmo modo, passou
a entender as condições de quem não conseguia trabalhar remoto para
saber se essas condições são impeditivas ou se é necessário melhorar a
infraestrutura, como uma internet e acomodações.
A crise levou muitas pessoas a pensar antecipadamente antes de realizar
uma atividade. Se isso já era praticado dentro das organizações, terá de ser
enfatizado. O líder terá de exercer seu papel educador com muito mais
intensidade, para motivar suas equipes a pensar antes de executar.
O futuro
Conselhos têm dedicado mais tempo com o passado e o presente, do que se
preocupando com novos caminhos a seguir, cenários que poderão ser
vivenciados, estratégias e planos que poderão ser adotados para enfrentá-
los. Esse hábito terá de ser quebrado; os impactos que a evolução pela qual
passamos pode trazer para as empresas, com maior ou menor intensidade
dependendo da natureza de seu negócio, mas sem dúvida impactando suas
operações, têm de ser tema constante nas agendas dos conselhos. O que se
aprendeu até agora é importante e não pode ser descartado, pois a história
nos ensina muito, mas não se pode car preso a ela.
O conhecimento
Para poder debater e decidir sobre os novos desa os da organização, será
fundamental que conselheiros acompanhem a evolução tecnológica e
cultural, atualizando constantemente seus conhecimentos. Terão de dedicar
tempo a escutar palestras, estudar publicações, participar de debates sobre
temas evolutivos e inovativos que possam vir a impactar sua organização.
Isso, sem dúvida, vai tirar uma grande quantidade de conselheiros de uma
certa zona de conforto.
O capital humano
Maior atenção deverá ser dada ao capital humano. As novas gerações são
uma realidade, nas atividades operacionais e, também, já atuando como
líderes. Novas gerações gerindo novas gerações. Suas expectativas,
comportamentos e fatores motivacionais são diferentes das gerações
anteriores; nem melhores, nem piores, apenas diferentes. E muito
diferentes. “Gente” tem também de estar presente nas agendas dos
conselhos, e os conselheiros devem procurar entender com maior
profundidade as características do pessoal que trabalha na empresa. E atuar
proativamente na otimização da cadeia de valores de gestão de pessoas.
Gestão de risco
Gestão de risco deverá ter maior atenção por parte do conselho. “Viver é
muito perigoso”, dizia o personagem Riobaldo na obra Grande sertão:
veredas, de João Guimarães Rosa, “pois ninguém sai vivo dessa experiência”.
Viver é, portanto, um risco. Uma empresa “vive” e, portanto, suas atividades
implicam riscos potenciais. Risco é inerente a qualquer atividade, e
impossível de eliminar; saber administrá-los – identi cá-los, quali cá-los,
estar preparados para enfrentá-los – passa a ser relevante para o sucesso das
organizações. E o conselho tem papel fundamental nisso, pois deve tornar
gestão de riscos uma responsabilidade relevante da administração.
O mundo não parou com a pandemia de 2020. No momento em que este
livro foi escrito, o mundo estava em câmara lenta. Muita atenção era
dedicada a sobreviver num ambiente recessivo e desa ador; era
fundamental superar e sobreviver à recessão.
Se não vencêssemos o “agora” daquele momento, não haveria o “depois”
que estaremos vivenciando quando o livro for publicado.
Para isso cada empresa adotou as medidas que mais lhe convinha. Líderes
que estavam cuidando daquele “agora”, precisam colocar suas mentes a
pensar e a planejar o que fazer neste “depois”. Há diferentes cenários a
considerar e eles devem ser ponderados no planejamento da vida futura da
organização. Para isso, quando houver um conselho, este deverá trabalhar
em maior sintonia com os líderes, cuidando, porém, para não invadir o
campo das operações.
As “novas” prioridades de conselhos e de líderes deverão persistir durante
muito tempo. Até que outras novidades ou uma nova crise surja, quando
elas terão de ser revistas e atualizadas. A empresa é um organismo vivo,
mutante. Seus responsáveis terão de mudar junto com ela.
Capítulo 14
Conclusão
Não existe inteligência arti cial que substitua o ser humano. Não temos
escassez de talentos, mas sim ambientes redutores da atratividade e do
desenvolvimento de gente. Manter pro ssionais com o per l adequado,
motivados e delizados depende de uma cultura empresarial na qual o
ativo mais importante são os funcionários.
A gestão de pessoas não é “lá com o RH”. É uma responsabilidade dos
gestores. O RH deve prover as ferramentas e o apoio necessários para que
eles desempenhem seu papel.
A cultura de gestão de pessoas começa com o CEO. Se para ele o capital
humano for um ativo, assim esse capital será tratado. Pessoas não são como
peças de uma máquina.
O CEO é o modelo das práticas que os gestores seguirão. Ele deve garantir
que as políticas de recursos humanos estejam alinhadas com a estratégia
empresarial, para que a empresa tenha os talentos necessários para seu
sucesso.
A cultura da organização e de que forma a faz ser entendida, disseminada,
incorporada e praticada pelos líderes e colaboradores é condição sine-qua-
non para o adequado engajamento e motivação das pessoas e, portanto,
para o sucesso de todos – pessoa e organização. Cada empresa tem suas
peculiaridades, sua própria cultura. Em cada uma, o líder tem a
necessidade de se adaptar a diferentes arquiteturas de gestão; engajar-se na
compreensão da cultura é pré-requisito para uma gestão e caz.
O líder tem de entender, absorver e incorporar a cultura, o DNA, e os
valores da organização, fazendo-os permearem e serem incorporados por
todos os colaboradores.
Se assim não o zer, sua dedicação, seu empenho na formação de equipes,
no desenvolvimento de seu trabalho, e toda a experiência acumulada ao
longo da carreira, que poderiam servir para alavancar a evolução da
organização que ele lidera, caem por terra. E o líder tem de entender e
praticar quatro aspectos relacionados à cultura: o que é cultura
organizacional, a essência de diferentes culturas, o gestor e a sua
responsabilidade ante a missão da organização e como preservar ou mudar
uma cultura.
Os gestores devem saber lidar com gente e gostar disso. A eles compete
irradiar a cultura de tratar gente como ativo e gerir suas equipes, da
de nição de necessidades à promoção ou à demissão. São responsáveis por
atingir os objetivos de suas áreas, e o farão por meio de suas equipes. Para
isso, terão de formá-las, mantê-las, desenvolvê-las, motivá-las e obter delas
um desempenho superior. Gestor tem de gostar de gente!
A área de RH deve ter um papel estratégico e ser parceira de negócios de
seus pares.
Ela deve contar com todo o apoio do CEO e ser respeitada pelos demais
executivos, e seu líder precisa ter um assento no comitê executivo da
empresa. Compete ao RH desenvolver e implementar políticas, práticas e
ferramentas de apoio à gestão dos recursos humanos da organização e
trabalhar em estreita colaboração com os gestores.
Motivar pessoas é saber lidar com seu lado emocional. A empresa pode ter
políticas e procedimentos de gestão de pessoas bem elaborados, mas é a
atitude do gestor e a maneira como trata seus subordinados, pares e
superiores, que impacta o desenvolvimento do espírito de equipe, a
motivação, a lealdade à companhia e o orgulho de fazer parte dela.
Gerir gente é, portanto, saber de nir as necessidades de pessoal, atrair,
contratar, reter, motivar, avaliar desempenho, desenvolver, remunerar,
reconhecer empenho (diferente de desempenho) e saber demitir.
É reconhecer que gente é o propulsor que move e dá vida às empresas.
Ao longo deste livro procuramos levantar os principais aspectos relativos à
gestão dos recursos humanos de uma organização, destacando que essa
responsabilidade compete às pessoas que ocupam os cargos de liderança e
aos superiores (os gestores) nas organizações, com a área de RH provendo
orientação e as ferramentas de apoio.
Cada capítulo apresentou um dos aspectos que vivenciamos para compor
equipes, motivá-las, possibilitar que realizem seus sonhos pro ssionais e
mantê-las com alto grau de desempenho. O que abordamos neste livro se
aplica a todos os tipos ou tamanhos de organização, pois seres humanos têm
objetivos, aspirações e motivações em qualquer lugar.
Alguns querem chegar ao topo da pirâmide, outros podem almejar se
tornar excelentes vendedores, atingir suas metas com e cácia e levar para
casa o dinheiro decorrente de suas comissões e bônus, sem ter a
responsabilidade de dirigir equipes. Temos de saber distinguir um do outro
e capitalizar sobre as competências de cada um.
Esperamos que nossa experiência e a de outras pessoas e organizações,
re etidas ao longo deste livro, possam ser úteis aos executivos que têm ou
terão a tarefa de gerir pessoas, aos pro ssionais de Recursos Humanos
responsáveis por suprir seus colegas com orientações e ferramentas
apropriadas, aos estudantes que um dia poderão ser responsáveis pela
supervisão de pessoas e aos pro ssionais de áreas de RH.
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