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Questionamentos e reflexões acerca do Corpus Hermeticum

Discente: George Alex Silva Lima


Docente: Hugo Filgueiras de Araújo
Disciplina: Cultura Clássica

“O Homem nada sabe; mas é chamado a tudo conhecer.”

- Hermes Trismegisto

Primeiramente, quem foi Hermes Trismegisto?

Transfiguração do deus egípcio Thot, foi tomado tardiamente por um sábio


que fundou a Alquimia e outras ciências herméticas. Obras herméticas são as obras
de caráter metafísico que tem como modelo a corrente de pensamento de Hermes
Trismegisto. O Deus egípcio Thot é identificado como o deus grego Hermes. Há
aqui um caso de Sincretismo. As obras de Hermes Trismegisto são os textos
compilados no Corpus Hermeticum e a Tábua de Esmeralda.

Cabe destacar que a Alquimia é prática mística que visa purificar e


aperfeiçoar certos objetos, como no caso da transformação do metal em ouro. “O
chumbo da personalidade no ouro do Espírito”. Isso significa uma analogia de
aperfeiçoamento pessoal através do autoconhecimento. A título de curiosidade,
Trismegisto significa "Três vezes grandíssimo". Há, na contemporaneidade, a noção
de que sob a figura mística do deus egípcio, vários autores contribuíram escrevendo
textos que ao longo do tempo formaram a literatura hermética e a figura de
Trismegisto. O Corpus Hermeticum é um conjunto de textos iniciáticos, que são
aproximademente datados entre o século I ao século III e é desse conjunto de
textos que aprofundarei meus estudos e reflexões.

As Sete Leis Herméticas

Pode-se afirmar que as ciências herméticas serviram também para produzir


"O Caibalion", escrito por Três iniciados das obras de Hermes Trismegisto. No
Caibalion, estão reunidas as 7 leis Herméticas que regem e ordenam todo o
universo. As Sete leis são as seguintes:

1 - Princípio do Mentalismo: "O todo é Mente; o universo é mental". No universo,


tudo aquilo que existe é de natureza mental: a natureza, os corpos, nossas ações
etc. Nós somos aquilo que pensamos. Portanto, se pensamos coisas boas, atraímos
coisas boas; se pensarmos coisas ruins, coisas ruins virão. O universo é um todo
mental.

2 - Princípio da Correspondência: "O que está em cima é como o que está embaixo.
O que está dentro é como o que está fora". Para tudo existe uma correspondência
no universo.

3 - Princípio da Vibração: "Nada está parado, tudo se move, tudo vibra". Esse
princípio é de que tudo que move, pois tudo vibra. E podemos afirmar isso, o que
temos são átomos que estão em constante vibração. Esse princípio me lembrou
bastante o conceito de devir de Heráclito, de movimento, de mudança. Através das
vibrações, podemos estar mais próximos da harmonia ou do caos.

4- O Princípio da Polaridade: "Tudo é duplo, tudo tem dois polos, tudo tem o seu
oposto. O igual e o desigual são o mesmo. Os extremos se tocam. Todas as
verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliáveis". Tudo
é polarizado. Existe o escuro e o claro. O frio e o quente. A noite e o dia. A paz e a
guerra. O escuro é a ausência da luz, a doença é a ausência da saúde. Os
extremos se tocam.
5 - Princípio do Ritmo: "Tudo tem seu fluxo e refluxo, tudo tem suas marés, tudo
sobe e desce, o ritmo é a compensação". Tudo que vai, volta. Toda ação tem sua
reação.

6 - Princípio da Causa e Efeito: "Toda causa tem seu efeito, todo efeito tem sua
causa, existem muitos planos de causalidade, mas nada escapa à lei". Nada é por
acaso, segundo o Hermetismo. As coincidências são acontecimentos que as causas
ainda não foram descobertas. Há um determinismo aqui.

7 - Princípio de Gênero: "O Gênero está em tudo: tudo tem seus princípios
Masculino e Feminino, o gênero manifesta-se em todos os planos da criação".Toda
criação, segundo a sétima lei hermética, deriva de uma foraça masculina e feminina.
Tudo tem gênero.

CORPUS HERMETICUM

Poimandres é o Nous da Soberania Absoluta, uma deidade ou atributo de


Deus como mente. É uma divindade responsável pela mente e pela luz da alma da
humanidade. Essa Inteligência Soberana Divina aparece à Hermes e com ele
conversa: "Que desejas ouvir e ver, e pelo pensamento aprender a conhecer? Eu
sei o que queres e estou contigo em todo lugar".

- Hermes: “Quero ser instruído sobre os seres, compreender sua natureza, conhecer
Deus".

- Poimandres: "Mantém em teu intelecto tudo o que desejas aprender e eu te


instruirei".

De repente, tudo se abriu diante do protagonista e ele teve uma visão sem
limites, tornando-se tudo luz. Pouco depois surgiu uma obscuridade dirigindo-se
para baixo, em sua natureza assustadora e sombria. Depois a obscuridade
transformou-se em natureza úmida, agitada e exalando vapor. Um grito de apelo
ecoa daí tal qual uma voz de fogo. Ademais, um Verbo santo cobriu a Natureza,
exalta-se um fogo sem mistura. E esse fogo era leve e vivo; e o ar, por ser leve,
seguia ao sopro e elevava-se ao fogo. E as coisas se moviam a partir do sopro do
verbo. Logo após, Poimandres esclarece a visão e explica que ele é a luz, Noús,
Deus, aquele que existe antes da natureza úmida que apareceu fora da
obscuridade.

O Verbo luminoso saído do Nóus é o filho de Deus. O Verbo do Senhor e o


Nóus, ou Deus Pai, representam bastante a relação que existe no Cristianismo
envolvendo a Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Há uma citação da
Bíblia cristã que pude recordar ao ler o Corpus: "No princípio era o Verbo, e o Verbo
estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as
coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez". Podemos aqui
perceber bastante semelhança entre o pensamento hermético e a tradição cristã. E
Poimandres prossegue: Viste no Nóus a forma arquetípica, o pré-princípio anterior
ao começo sem fim.” Após isso, Hermes questiona sobre o surgimento dos
elementos da Natureza, ao que a deidade responde que surgiram da Vontade de
Deus, que, tendo nela recebido o Verbo e tendo visto o belo mundo arquetípico, o
imitou feita como foi em um mundo ordenado, segundo seus próprios elementos e
seus próprios produtos, as almas. Essa explicação para a origem da Natureza se
assemelha bastante com a Metafísica Platônica, o que me leva a questionar se
Platão chegou a ler Hermes, tendo em vista que há uma clara referência em sua
obra.

“Ora o Noús, Pai de todos os seres, sendo vida e luz, criou um ser humano
semelhante a ele, pelo qual sentiu tanto amor como por seu próprio filho. Pois o ser
humano era muito belo, reproduzido a imagem de seu Pai: pois é verdadeiramente
de sua própria forma que Deus tornou-se amoroso e legou-lhe todas as suas obras.”
A citação anterior de Poimandres lembra bastante o Cristianismo, no qual um Pai
repleto de amor e compaixão cria o mundo e o Homem a sua imagem e
semelhança. Deus seria, portanto, o Sumo Bem, o criador de todo o Universo. Deus
não é formado pela natureza e é mais forte do que qualquer potência humana,
tendo em vista que ele é Ato Puro. Deus é o Bem e o Bem é Deus, não há distinção
alguma. O Bem é inseparável de Deus pois é o próprio Deus. Outra denominação
conhecida de Deus é a de Pai, tendo em vista sua virtude de tudo criar.

Hermes inicia o segundo tratado de seu Corpus Hermeticum indagando a


Asclépios se todo móvel não é movido em qualquer coisa e por qualquer coisa.
Asclépios afirma positivamente. E, por conseguinte, não é necessário que aquilo em
que o móvel se move lhe seja maior? Seguramente. Ademais, o motor é mais forte
que o móvel? Asclépios confirma. E também o móvel é movido por algo que tem
uma natureza totalmente oposta à sua, uma vez que é isso que gera o movimento.
Ambos chegam à conclusão de que o mundo é um corpo que abriga vários corpos e
que nenhum corpo é maior que o mundo. Esse mundo é um corpo que é movido.

Logo, aquilo em que o mundo se move só pode ter uma natureza oposta à
sua para que o movimento seja possível, e o oposto do mundo que é corpo é o
incorpóreo. Temos aqui então um mundo corpóreo que se move devido a algo que é
incorpóreo, que seria Deus. Deus não é físico, material; pelo contrário, o Deus de
Hermes é mental, assim como defende a Primeira Lei Hermética do Mentalismo,
exposta na obra “Caibalion”, “o todo é mental, o universo é mente”. O lugar no qual
se move o universo é um incorpóreo. Mas o que é o incorpóreo? “Um intelecto, que
contém inteiramente a si próprio, livre de todo corpo, infalível, impassível, intangível,
imutável em sua própria estabilidade, contendo todos os seres e os conservando no
ser, do qual são como os raios, o bem, a verdade, o arquétipo do espírito, o
arquétipo da alma”.

Segundo Hermes: “Deus não deixou nenhum lugar ao não-ser, já que todas
as coisas que existem vêm e são a partir de coisas que existem, e não a partir de
coisas inexistentes: pois não é da natureza das coisas inexistentes vir a ser, mas
sua natureza é tal que elas não podem ser qualquer coisa, e em contrapartida as
coisas que são não poderão vir a não ser, jamais”. Essa frase me lembrou bastante
da Ontologia de Parmênides, de seu estudo do ser enquanto ser, que defendia que
o ser é; ou seja, aquilo que é não pode vir a não-ser, podendo ser dito e pensado.
Pelo contrário, aquilo que não é não pode jamais vir a ser. Parmênides é mais um
pensador grego que pode ter sido diretamente influenciado pela filosofia de Hermes.

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