Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Teologia
Indaial – 2021
2a Edição
Elaboração:
Prof. Jairo Demm Junkes
Prof. Rafael Garcia dos Santos
Prof. Teri Roberto Guérios
J95i
Junkes, Jairo Demm
Introdução à teologia. / Jairo Demm Junkes; Rafael Garcia dos
Santos; Teri Roberto Guérios. – Indaial: UNIASSELVI, 2021.
175 p.; il.
ISBN 978-65-5663-578-1
ISBN Digital 978-65-5663-577-4
1. Teologia - Estudo e ensino. - Brasil. I. Junkes, Jairo Demm. II.
Santos, Rafael Garcia dos. III. Guérios, Teri Roberto. IV. Centro Universitário
Leonardo Da Vinci.
CDD 211
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Caro acadêmico, seja bem-vindo ao Livro Didático de Introdução à teologia. Ao
longo do curso de teologia, em geral, o foco é proporcionar a formação sólida, para que
o profissional, no exercício de seu ofício, seja capaz de se deparar com uma série de
situações, que não necessariamente são perceptíveis em outros ramos de atuação.
Bons estudos!
QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 49
UNIDADE 2 — RAZÃO FILOSÓFICA DA TEOLOGIA.............................................................. 51
REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 114
REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 174
UNIDADE 1 -
OS ELEMENTOS A
TRANSFORMAÇÃO DA
TEOLOGIA OCIDENTAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
ORIGEM DA TEOLOGIA
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos o conceito de teologia, com a finalidade de
compreendermos melhor tal conceito, percorreremos o contexto histórico da sua
origem. A formação de um teólogo tem como interesse uma interpretação ampla do
universo teológico, bem como toda uma caminhada que fez com que se chegasse ao
que se conhece na contemporaneidade como teologia.
A palavra teologia não tem sua origem no mundo cristão; já na Grécia clássica,
encontramos esse termo ligado à filosofia. A conceituação do termo teologia surgiu,
pela primeira vez, no pensamento grego, no famoso livro A República, do filósofo grego
Platão, o qual fez referência à compreensão da natureza divina por meio da razão, em
oposição à compreensão literária própria da poesia grega.
3
Helenismo, caracterizado pela fusão e harmonização dos pensamentos greco-romano
e judaico-cristão. Assim, surgiu o movimento chamado de Patrística, no qual o seu mais
eminente representante foi Santo Agostinho.
Aristóteles não usou o termo teologia ou debateu sua origem de maneira direta,
mas, valendo-se de suas conceituações filosóficas e atinentes ao, por ele, definido Motor
Imóvel, permitiu que os vindouros filósofos medievais, como Tomás de Aquino, o mais
eminente escolástico, erigissem sua Filosofia baseada na fé cristã e calcada em um
Deus único e criador de tudo.
4
3 PLATÃO
Platão foi um filósofo grego, discípulo de Sócrates, fundador da Academia
Platônica e mestre de Aristóteles. Acredita-se que seu nome verdadeiro tenha sido
Arístocles, sendo Platão um apelido que, provavelmente, fazia referência a sua
característica física, tal como o porte atlético ou os ombros largos, ou ainda a sua ampla
capacidade intelectual de tratar de diferentes temas.
FIGURA 2 – PLATÃO (NASCIDO EM ATENAS EM 428/427 A.C., FALECIDO EM ATENAS EM 348/347 A.C.)
5
Alguns dos filósofos que inspiraram Platão foram:
• Parmênides, filósofo grego pré-socrático natural da cidade de Eleia, que viveu entre
530 e 460 a.C. Foi o autor da conhecida frase “o ser é, o não ser não é”, o que o tornou
o primeiro pré-socrático a intuir a natureza das nossas percepções a respeito das
coisas humanas, visto que os filósofos pré-socráticos, até então, haviam filosofado
apenas sobre coisas do mundo (ou physis, a palavra para Mundo, em grego). Essa
famosa frase basicamente condensa a ideia da capacidade humana de conhecer.
Assim, ele quis dizer que o que importa é o conhecimento básico e essencial que
temos a respeito de algo, não interessando como esse algo foi ou virá a ser. Nosso
conhecimento se apoia na essência da coisa (para os gregos, a coisa, cada coisa ou
objeto ou corpo é um ser).
GIO
Por exemplo, seu melhor amigo de infância, por acaso, cruzou o seu caminho
após dez anos, mas você o reconheceu, mais gordo ou magro, alto ou baixo;
a essência do seu amigo, a qual você conheceu, em linhas gerais, é a mesma –
portanto, você o reconhece. Assim, o ser é, não interessando o que virá a ser.
• Heráclito, também filósofo grego pré-socrático da cidade de Éfeso, viveu entre 500 e
450 a.C. e foi o autor da conhecida ideia de que “a gente nunca entra duas vezes no
mesmo rio, pois nós e o rio estamos em constante mudança”. Ele afirmou que o mundo
está em constante devir (ou vir a ser). Ou não conseguimos conhecer verdadeiramen-
te o ser, pois este está em constante vir a ser. Portanto, ele defendia que o conheci-
mento absoluto das coisas jamais seria alcançado. Por exemplo, após o dia da compra
de um carro, no dia seguinte, valendo-se da conceituação de Heráclito, esse carro não
seria o mesmo do dia em que foi comprado; ele estará mais sujo e desgastado. Assim,
dizia Heráclito, todo o mundo e tudo nele. A cada fração de tempo, as coisas deixam
de ser como eram e adquirem uma nova realidade, mas que imediatamente também
muda. Tudo muda pela ação física, química e biológica do universo. Portanto, o ser não
nos é possível de ser conhecido e alcançado, pois tudo está em vir a ser.
• Sócrates viveu entre 496 e 399 a.C. Também conceituando sobre a capacidade
do homem conhecer, defendia a ideia de que, em vez de nos preocuparmos com
a apresentação geral de um problema, como a ética, por exemplo, deveríamos
nos centrar na essência da ideia que constrói esse problema. Por exemplo,
quando pensamos sobre o que fazemos para sermos felizes, inúmeras respostas
encontramos. Mas, essencialmente, o que podemos fazer na busca da felicidade
(em grego, eudaimonia)? Poder ou riqueza, ou bens materiais, ou reconhecimento.
Inúmeras respostas seriam possíveis, mas Sócrates, buscando a essência do
conceito felicidade, define que esta só é atingida ao se ter uma vida virtuosa.
6
Somente pelas virtudes e cultivando-as, qualquer homem, seja rico ou pobre, preto
ou branco, qualquer tipo de vida, só gerará uma pessoa completa se ela o conduzir,
por meio das virtudes, para a felicidade. Ainda exemplificando e usando exemplos
mais conhecidos, outros famosos questionamentos de Sócrates foram “O que é o
bem? O que é o belo?”, que remetem ao centro do pensamento socrático. Claro que
sabemos definir o que é belo ou bem, mas o que, em comum, nossas definições
têm? Em geral, o bem é ajudar aos necessitados e ser justo com todos, mas o que
existe de comum nesses “bens”? Sócrates, buscando a essência das coisas, definiu
que a essência do bem é a realização de algo que culmine em gerar a felicidade.
No Livro XII da obra A República, Platão expos a sua ideia de como aprendemos as
coisas, explicando de que maneira, para ele, o ser humano é capaz de aprender. Para Platão,
nosso espírito existia num plano acima deste em que estamos, onde o espírito existia e tinha
contato com toda e qualquer forma ou ideia ou conhecimento existente no mundo. Nesse
plano em que o espírito se encontrava, as formas ou ideias de todas as coisas do mundo
são perfeitas. Quando estamos prontos para o nascimento, o espírito encarna trazendo toda
essa carga de conhecimento. Entretanto, ao nascermos, não nos lembramos de nada; nas-
cemos como um papel em branco. Conforme somos colocados diante das coisas e das ex-
periências da vida e do mundo, nos lembramos paulatinamente de tudo, ao que entendemos
como “conhecer”. Tudo de real ou irreal que conhecemos já nos era conhecido previamente,
mas na sua forma perfeita. No nosso mundo, porém, as coisas não estão nunca na sua for-
ma perfeita; o que captamos, com nossos sentidos, são as formas imperfeitas. Essa cons-
trução teórica de Platão consegue somar a ideia de ser, de Parmênides, de vir a ser e as
imperfeições deste, de Heráclito, e ainda o conceito das essências das coisas, de Sócrates.
7
Portanto, podemos deduzir que, para Platão, nascemos com todo o arcabouço
do conhecimento, de forma inata, mas inconscientes disso. Sob a égide da Teoria do
Conhecimento, Platão é chamado de inatista (ou racionalista).
INTERESSANTE
A alegoria da caverna pode ajudar a demonstrar isso: em uma caverna
profunda, com uma única abertura para o mundo exterior e por onde a
luz do sol passa, sentado no fundo dessa caverna, acorrentados de costas
para a entrada e de frente para o fundo, existe um grupo de homens,
que sempre esteve assim, sendo a única realidade deles a
projeção das sombras das coisas que passavam pela abertura da
caverna, que se delineavam no fundo. Portanto, qualquer ideia sobre as Mas, este conhecimento, para
coisas do mundo se faria pelas suas formas projetadas no fundo da caverna. Platão, não se reduz ao
Por exemplo, esses homens não conheciam um cavalo real, mas, por cavalo, conhecimento sobre as leis
entendiam a sombra projetada no fundo da caverna. A ideia de cavalo, para eles, que regem o mundo físico,
é essa sombra, pois é apenas isso que eles conhecem. Entretanto, um dia um material ou dos fenômenos
desses homens conseguiu escapar das correntes e dos grilhões que o prendiam naturais, mas, da realidade
e saiu da caverna. Lá fora, ele ficou maravilhado, ao descobrir que o mundo como um todo, pois o ser
que eles conheciam era apenas uma projeção da realidade, e a realidade humano é capaz de
transcender para o mundo
é muito mais complexa e linda. Ele resolveu voltar e contar para os outros
das ideiais que, pode sim, ser
homens que ainda estavam acorrentados. Quando retornou e contou aos seus chamar de espiritual.
companheiros que o mundo deles é apenas uma projeção da realidade, os Somente conhecendo este
outros não acreditaram. A história continua, mas, até aqui, já temos elementos mundo espiritual, portanto, é
suficientes para elucidar o que essa maravilhosa estória nos ensina. possível obter um
Através dessa alegoria do Mundo das Formas, Platão conseguiu juntar tanto conhecimento verdadeiro e
Parmênides e seu “ser é, não ser não é”, Heráclito e seu “devir” ou “vir a preciso da realidade. Pois,
ser” e Sócrates e suas “essências” em uma teoria que a todos abarca, para enquanto o ser humano
explicar como o homem é capaz de obter conhecimento sobre o mundo. continuar restrito no
conhecimento do mundo dos
fenômenos naturais, ele
permanecerá olhando as
sombras no fundo da
4 ARISTÓTELES caverna.
Apesar disso, sua produção foi profícua; escreveu sobre inúmeros temas do
conhecimento humano, sendo que muitas áreas, como lógica, biologia, física, ótica,
astronomia, psicologia, ética, política, entre outras, o consideram seu estudioso ou até
mesmo seu fundador.
Após a morte de Platão, com quem sempre esteve junto, abriu sua própria escola,
chamada de Liceu, onde seguiu os estudos de seu mestre. Muitas vezes, ele se contrapôs
totalmente às ideias de Platão, inclusive erigindo teorias totalmente diversas.
8
FIGURA 4 – ARISTÓTELES (NASCIDO EM ESTAGIRA EM 384 A.C., FALECIDO EM ATENAS EM 322 A.C.)
Usando um exemplo mais afeito à atualidade, mas que pode demonstrar isso
mais facilmente: impulsionados pela energia gravitacional, a Via Láctea se movimenta
em relação às demais Galáxias do Universo, o Sistema Solar gira em relação a outros
sistemas locais, os planetas giram em torno do Sol, a lua gira em torno da Terra, os
átomos que compõem as coisas da Terra são formados por partículas que giram ao redor
de outras partículas, e assim repetindo esse movimento indefinidamente. Portanto,
um movimento se segue outro movimento; um movimento causa o outro movimento.
Entendemos, assim, que só haverá um movimento se outro o preceder, o causar.
9
um gerador do primeiro movimento, o primeiro motor, um Motor Imóvel e que imprimiu
o movimento inicial, o qual, então, pôs todo o Universo em movimento perpétuo: “É
necessário chegar a um primeiro motor, não movido por nenhum outro, e este, todos
entendem: é Deus” (AQUINO, 1984, p. 130).
IMPORTANTE
CONCEPÇÃO DE MOTOR IMÓVEL OU CAUSA PRIMEIRA
Aristóteles argumenta nos livros 8 da Física e 12 da Metafísica “que deve haver um ser imortal
e imutável, responsável por toda a integridade e ordem no mundo sensível”. O estagirita
(modo muito usado em filosofia para se referir a Aristóteles, que nasceu em Estagira) parte
de uma premissa geral de que tudo o que existe possui uma causa. O Universo existe e
teve um começo. Nem sempre existiu. Portanto, se antes não existia e passa a
existir, sempre se pensa que, para isso ocorrer, houve e há uma causa, pois
não existe a possibilidade de, do nada, vir algo (do não ser, é impossível o ser).
Percebemos facilmente que cada ser, ou ente, possui uma causa, que esta
que o causou também possui uma causa, e assim por diante. Contudo, não
é possível recuar infinitamente numa série de causa; ou seja, o retorno ao
infinito é impossível, pois, senão, o Universo nem existiria, pois não teria um
começo. Portanto, é lógico que deve haver uma causa primeira, a qual é
necessariamente incausada, ou seja, algo que não teve algo anterior que a
causasse. Essa causa incausada gerou tudo o mais, pois desse ser seguiu-
se outro, do qual seguiu-se outro, e assim continuadamente até surgirem
todos os seres que compõe o Universo. Inclusive você.
5 PATRÍSTICA
A Patrística é o período de aproximação entre as concepções teológicas semitas/
cristãs e a filosofia platônica. Coube a Santo Agostinho, o maior filósofo cristão desse
período, o papel de transformar os conceitos, até então existentes na Patrística, em algo
10
mais maduro, vinculado à filosofia. Essa união de cristianismo e filosofia foi conseguida
por Agostinho com tal êxito que a Patrística assumiu seu verdadeiro arcabouço apenas
após a revolução conceitual por ele perpetrada.
ATENÇÃO
Na época de Agostinho, o cristianismo já era a religião oficial do Império
Romano. Entretanto, não havia uma unificação da religião, existindo
inúmeras correntes cristãs: Gnosticismo, Montanismo, Monarquianismo,
Valentianismo, Marcianismo e Patrologia Grega. Além disso, inúmeros
pensadores, como Orígenes, Contra Celso etc., também conduziram as
suas próprias versões do cristianismo. Coube ao esforço e ao pensamento
de Agostinho e sua obra mais famosa, Cidade de Deus, a defesa de
uma verdadeira Igreja Católica Apostólica Romana. Entre as inúmeras
designações cristãs antes existentes, ela foi a que se tornou oficial e
majoritariamente única, até a Reforma Protestante.
6 ESCOLÁSTICA
A harmonização dos preceitos cristãos e as definições e as ideias de Aristóteles
fundaram o movimento filosófico cristão chamado de Escolástica. Tomás de Aquino, com
quem esse movimento filosófico/religioso começou, fez isso sob inúmeros aspectos,
mas, principalmente, sempre apoiando e se valendo da definição de quatro tipos de leis:
12
• I- Lei eterna ou a razão reguladora de Deus.
• II- Lei divina ou os mandamentos revelados.
• III- Lei natural ou a parte da lei eterna em que razão de Deus é aplicada às criaturas
racionais.
• IV- Lei humana ou a lei natural própria das específicas comunidades, sendo esta a
lei epistêmica primeira.
Essas leis, maiormente as leis III e IV, compilam que o ponto central da Filosofia
Moral tomista, ou a lei natural, proclama que se faça o bem e evite-se o mal. Esse é, sem
dúvida, o princípio ético primeiro de Tomás de Aquino, para o qual tanto as leis naturais
como as morais podem ser igualmente apreendidas pela razão.
13
Das virtudes teologais, em Aquino, temos, em primeiro lugar, a fé como geradora
das outras duas – a esperança e a caridade (aqui, como a caridade implica amor a Deus
e a todas as criaturas, pode-se trocar ou definir caridade por amor). Assim, estando a
caridade/amor vinculada a um amor incondicional a Deus e aos outros homens, além
de todas as criaturas que são frutos da obra criadora de Deus, a caridade passa a ser a
mais perfeita das virtudes teológicas. Portanto, diferentemente da ordem de geração das
virtudes teologais, quando se analisa sob a ótica da perfeição, a caridade/amor precede a
fé, seguida pela esperança.
NOTA
SÃO TOMÁS DE AQUINO
14
e a Metafísica Religiosa Judaico-Cristã apoia o aparecimento do que chamamos de
Helenismo. Segundo Paul Tillich, foi o Helenismo o movimento que mais influenciou os
novos teólogos e, principalmente, os pensamentos de Platão formaram as bases da fase
do pensamento cristão, os componentes da chamada Patrística. O mesmo Paul Tilich
aponta cinco elementos fundamentais nessa linha:
15
IMPORTANTE
SE DEUS EXISTE
Essa questão, ainda tão pujante em nossos dias, também habitava as mentes desde o
aparecimento desse ser inteligente, chamado de Homo sapiens sapiens. Isso não seria
diferente na Europa cristã do século XIII, época do auge da Escolástica. Dessa época,
partiram as demonstrações (tidas, então, como inequívocas) da existência de Deus.
Esse escrito baseia-se no material fornecido sob a forma de livro-texto da matéria História
da Filosofia II, Se Deus existe e Anexo IV – Aquino, disponíveis no site de Ensino a Distância
(EAD) da Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
À época de Aquino, o maior intento da doutrina cristã, além de tentar transmitir a “boa
nova” do cristianismo e toda a benevolência, magnificência e grandeza do Deus cristão,
seria tornar a existência dele ser de maneira in contesti. Daí, partindo-se da essência desse
Deus, formulam-se algumas hipóteses, conforme explicado a seguir.
Se Deus existe
16
c) Se Deus existe:
• Pode-se questionar, ainda, a existência de Deus:
a) Se por Deus se apreende o bem infinito, como pode existir o mal?
b) A existência de Deus faz-se desnecessária na medida em que, recorrendo-se a
princípios outros, como o natural, a natureza e o proposital, representado pela ação
voluntariosa do homem, poder-se-ia explicar tudo o que no mundo a nós aparece.
º A resposta a isso se dá em cinco vias, formuladas por Tomás de Aquino:
I- O movimento, pois sempre, quando ocorre, se deve a uma ação de outro. Esse outro,
atuando sobre o objeto a ser movido, imprime a este “um ato” que gera o segundo
ato, o de mover-se. E qual é o ato que gera o calor do fogo que virá a consumir a
madeira, ou o ato que gera o movimento do sol ou da lua, senão Deus? Melhor
explicando: poder-se-ia aventar uma sequência de movimentos que geram outros
movimentos, e que geram outros, e assim indefinidamente. Entretanto, mesmo
nesse raciocínio, o primeiro movimento tem que ser necessariamente gerado por
um antecedente movimento, e, imaginando-se que este último movimento citado é o
primeiro da sequência, algo deve ter sido o responsável por colocá-lo em movimento,
por gerá-lo, e este algo é Deus.
II- A perfeição do mundo, a eficiência das coisas, a correta ordenação e combinação
dos elementos só podem ser oriundas de um criador – uma relação causa × efeito.
Contudo, só ocorrerá o efeito se, e somente se, houver um ser causador, uma causa.
E esse causador é Deus.
III- Obviamente, se algo existe, em dado momento iniciou sua existência. Nem que esse
algo exista sempre e tenha se originado de outra coisa, e esta coisa de outra, e assim
indefinidamente, houve uma primeira coisa. E se essa primeira coisa, hipotética,
existiu, ela obrigatoriamente iniciou-se a partir de algo que a criou. Este algo é
Deus. Novamente, poder-se-ia aventar sobre o que o surgimento de Deus é, e a
isso prontamente se responde que Deus existe em si e é a causa de todos os outros
seres existirem.
IV- O grau em que os predicados se apresentam são uma prova contundente
da existência de Deus. Os predicados variam de intensidade de apresentação
em diferentes indivíduos; se usarmos, por exemplo, a bondade, o máximo
da bondade a que se possa examinar, o que nunca pode ser atribuído a
nada existente no planeta, só pode ser atribuído a Deus.
V- A aparente ordenação do mundo – e aparentemente essa ordenação
tem sempre um objetivo – parece ter controle inteligente. Animais,
mesmo os simples, sempre operam de maneira intencional,
mas não racional, como que ordenados por algo intelectualmente
superior. Esse algo intelectualmente superior, que ordena o mundo
natural e dos homens, se chama Deus.
17
Como esmiuçado no Mundo das Ideias, visto anteriormente em Platão, ele
acreditava que, ao nascimento, o corpo é encarnado por uma alma advinda do Mundo
das Ideias, e que essa alma traz consigo o conhecimento de todas as coisas do mundo.
Nesse momento da encarnação da alma no corpo, esquecemos de tudo o que a nossa
alma sabe e conhece.
Platão, então, define que conhecer algo, na verdade, é relembrar desse algo que já
era previamente conhecido pela alma. Portanto, em Platão, conhecer é uma anamnese, que
é o oposto de amnésia, que sabemos se referir a não conseguir lembrar de nada. Anamnese
é relembrar, é algo como, confrontados a uma situação, fato ou objeto, nosso cérebro ter que
relembrar o que aquilo é. Platão escreveu em Fédon: “E isto não poderia ser, se a nossa alma
não tivesse vivido em outro lugar, antes de haver entrado nesta forma de homem; pelo que,
ainda por esta razão, se torna evidente que a alma é algo imortal” (PLATÃO, 2000, p. 72-73).
A alma boa “irá para o que lhe assemelha, para o que é invisível, para o que
é eterno, divino, intelectual e imortal, aonde, chegando, será bem-aventurada, livre
dos erros, da insensatez, dos temores dos selvagens amores e das outras desgraças
humanas, passando todo o seu tempo com os deuses” (PLATÃO, 2000, p. 81). “As outras
sofrerão o juízo” (PLATÃO, 2000, p. 249).
Esse volume era composto por escritos que não se encaixavam em nenhum dos
anteriores. Como era o volume que ocupava, na coleção, o espaço que ficaria depois da
física, Andrônico chamou-o de após física, ou meta física, ou metafísica. A ideia dessa
natureza Metafísica já era presente em Platão e seu Mundo das Ideias, que, inclusive, é
tido como o pai da Metafísica.
18
repente, é possível avistar uma imagem de um ser em pé, com braços, pernas, um tronco
e uma cabeça, ou seja, um contorno bastante conhecido; imediatamente, seu cérebro,
buscando os arquivos conhecidos, compara e identifica aquela imagem com a de um ser
humano, mesmo estando longe, não sabendo quem é, se é amigo ou hostil, as formas
que estão na mente remetem à ideia de um ser humano, a “humanidade” daquela forma.
Também nessa época da história humana, observa-se que os mortos eram enterra-
dos com algum tipo de ornamento ou pintura, o que demonstra que aqueles homens reve-
renciavam seus parentes mortos e pensavam em dar a eles algum conforto numa pós-morte.
19
Dessa forma, é possível compreender o contexto vasto, mesmo que abordado
de modo breve, de todo um gigantesco universo teológico que foi se moldando com o
passar dos anos, e que, desde as primeiras imagens em rocha, até o período em que
se passa a encontrar um desenvolvimento maior do cristianismo. Assim, foi possível
conhecer um pouco sobre o início de um universo que, hoje, se reconhece como teologia.
20
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• Platão, valendo-se dos conhecimentos adquiridos pelo estudo dos filósofos pré-
socráticos, desenvolveu a chamada Teoria do Mundo das Ideias. Além disso, partiu
de Platão, e até antes dele dos filósofos gregos pré-socráticos, a definição e o uso
das palavras teologia e teólogo.
• A Teoria do Motor Imóvel foi criada por Aristóteles e, posteriormente, usada pelos
filósofos e teólogos medievais, tendo grande importância na história da Filosofia e
da teologia.
21
AUTOATIVIDADE
1 Quando pensamos na origem da teologia, conhecer e estudar o filósofo grego Platão
é fundamental. Para explicar essa afirmação, analise as sentenças a seguir:
I- Platão criou a concepção metafísica chamada de Teoria das Formas ou Mundo das
Ideias, usada pelos filósofos e pensadores como uma teoria para explicar o Paraíso
do Deus Cristão. *tentou ou melhor obteve êxito...
II- A criação do Mundo das Ideias, por Platão, surgiu quando ele tentou associar, numa
única ideia, uma concepção que explicasse e validasse tanto a concepção atinente
ao filósofo Parmênides quanto a do filósofo Heráclito e a de seu mestre Sócrates.
III- A importância de Platão para a teologia se dá por ter partido dele a ideia de céu, No entanto,
de fato, a
inferno e purgatório. cultura
IV- O famoso Mito da Caverna foi uma maneira genial de Platão tentar fazer sua Metafísica grega
anterior a
ser entendida, uma vez que defendia que o homem teria apenas contato com as Platão,
formas perfeitas das coisas do mundo antes de nascer e que, após o nascimento, apresenta
seu contato se dá apenas com as formas imperfeitas do mundo. os conceitos
corresponde
Fique de Olho: Em questões de múltipla
ntes a estes
escolha, frequentemente, expressões tais
Assinale a alternativa CORRETA: como "nunca, sempre, somente, apenas..."
conceitos
cristãos.
induzem ao erro e podem estar erradas.
a) ( ) As assertivas I e II estão corretas.
b) ( ) As assertivas I, II e III estão corretas.
c) ( ) As assertivas I, II e IV estão corretas.
d) ( ) Todas as assertivas estão corretas.
22
Assinale a alternativa CORRETA:
3 Santo Agostinho, padre cristão que viveu no início do Cristianismo, sorveu avidamente
os escritos de Platão, do Helenismo e da chamada Patrística, tornando-se um
eminente normatizador do Cristianismo, de seus ritos e de sua teologia. Já no século
XIII, São Tomás de Aquino, valendo-se dos escritos de Aristóteles, deu início a uma
corrente filosófico cristã chamada de Escolástica. Classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:
a) ( ) F – F – V – F – F.
b) ( ) V – V – F – F – F.
c) ( ) V – V – F – V – F.
d) ( ) V – V – V – V – V.
I- Apesar de o termo teologia surgir pela primeira vez com Platão, sua concepção
já estava presente nos pré-socráticos e na humanidade muito antes do início do
Cristianismo.
II- Advém dos escritos de Platão, na cultura grega, e, posteriormente, incorporada ao
Cristianismo, a noção de um criador de tudo e também a concepção de um mundo
acima deste, em que habitam as almas que já existiam antes mesmo dos nossos
23
corpos, que encarnam, de maneira tal que, ao nascermos, somos seres humanos
com corpo e alma.
III- O filósofo Aristóteles criou o termo Metafísica para designar alguns de seus escritos
compilados.
IV- O poder de imaginar e criar ou conjecturar um mundo com figuras não físicas, ou
metafísicas, só apareceu no Homo sapiens quando este fez contato com a realidade
atinente ao Cristianismo.
5 Platão foi importante não somente na Filosofia, mas também na teologia. Nesse
sentido, seu universo de interpretação foi indispensável para a formulação de
conceitos cristãos na teologia. Disserte sobre a relação do Mundo das Ideias de Platão
com a noção de Deus, do Cristianismo.
24
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
NATUREZA E DEFINIÇÃO DO UNIVERSO
TEOLÓGICO
1 INTRODUÇÃO
No sentido de reforçar o que foi visto no tópico anterior, a palavra teologia
(de theós + logia) é de origem grega, não só no nome, pois supõe o desenvolvimento
específico do pensamento que se deu na época clássica grega e que deu origem à
filosofia ocidental. Originalmente, portanto, ela vem da filosofia, mesmo que, nessa
época, as distinções não fossem tão severas como hoje, supondo um determinado
modo de pensar, de colocar questões e de buscar respostas.
25
FIGURA 9 – LEITURA E VISÃO DE MUNDO
NOTA
Ciência é o conhecimento que inclui, em qualquer forma ou medida, uma
garantia da própria validade. Segundo o conceito tradicional, a Ciência inclui
garantia absoluta de validade, sendo, portanto, como conhecimento, o grau
máximo da certeza. O oposto da Ciências é a opinião, caracterizada pela falta
de garantia acerca de sua validade. As diferentes concepções de Ciência
podem ser distinguidas conforme a garantia de validade que se lhes atribui.
26
É possível, então, assumir que a teologia é uma atividade com responsabilidade
metodológica para falar sobre Deus, em uma abordagem que proclama a boa nova e
objetiva difundi-la. Não deve se restringir a teólogos academicamente formados, mas
é, fundamentalmente, dever deles apresentar e desenvolver argumentos de natureza
teológica sobre a fé. É nesse sentido que, sob o prisma epistemológico, podemos afirmar
que a teologia é ciência, uma vez que se dedica a investigar o que se concebe no campo
da fé como verdade, além de apresentar o que dela apreende, por meio de argumentos
que podem ser postos à prova (BARTH, 2000).
IMPORTANTE
Epistemologia (do grego episteme, que significa “ciência”, e logos, “teoria”) é uma disciplina
que toma as ciências como objeto de investigação tentando reagrupar:
• a crítica do conhecimento científico (exame dos princípios, das hipóteses e das conclusões
das diferentes ciências, tendo em vista determinar seu alcance e seu valor objetivo);
• a filosofia das ciências (empirismo, racionalismo etc.);
• a história das ciências. O simples fato de hesitarmos, hoje, entre duas denominações
(epistemologia e filosofia das ciências) já é sintomático.
Segundo os países e os usos, o conceito de “epistemologia” serve para designar, seja uma
teoria geral do conhecimento (de natureza filosófica), seja estudos mais restritos concernentes
à gênese e à estruturação das ciências. No pensamento anglo-saxão, epistemologia é
sinônimo de teoria do conhecimento (ou gnoseologia), sendo mais conhecida pelo nome de
“philosophy of science”. Nesse sentido, fala-se de epistemologia a propósito dos trabalhos de
Piaget, versando sobre os processos de aquisição dos conhecimentos na criança. O fato é que
um tratado de epistemologia pode receber títulos tão diversos como: “A lógica da pesquisa
científica”, “Os fundamentos da tisica”, “Ciência e sociedade”, “Teoria do conhecimento
científico”, “Metodologia científica”, “Ciência da ciência”, “Sociologia das ciências” etc. Por essa
simples enumeração, podemos ver que a epistemologia é uma disciplina proteiforme que,
segundo as necessidades, se faz “lógica”, “filosofia do conhecimento”, “sociologia”, “psicologia”,
“história” etc. Seu problema central, e que define seu estatuto geral, consiste em estabelecer
se o conhecimento poderá ser reduzido a um puro registro, pelo sujeito, dos
dados já anteriormente organizados, independentemente dele no mundo
exterior, ou se o sujeito poderá intervir ativamente no conhecimento dos objetos.
Em outras palavras, o interesse é voltado para o problema do crescimento dos
conhecimentos científicos. Por isso, podemos defini-la como a disciplina que
toma por objeto não mais a ciência verdadeira de que deveríamos estabelecer
as condições de possibilidade ou os títulos de legitimidade, mas as ciências
em via de se fazerem, em seu processo de gênese, de formação e de
estruturação progressiva.
Isso não significa dizer que a teologia se reduz ao aspecto acadêmico. É possível
que todos nós, em dado momento, sejamos teólogos, uma vez que sejamos cristãos,
como afirmava Lutero (MOLTMANN, 2004).
27
A teologia tem como objetivo mais propriamente discutir, proclamar e abordar
Deus do que Deus por si só. Analisa como a fé se manifesta e é explicitada em diversos
meios do cotidiano, principalmente no que diz respeito a aspectos relevantes para o
contexto contemporâneo em determinado lugar.
FIGURA 11 – LEITURA E FÉ
Tanto a teologia como a filosofia falam, cada qual a seu modo, a partir de uma
interpretação dual acerca da realidade e do aprimoramento humano. A filosofia, por
mais que tenha demonstrado tal interesse, não consegue promover uma interpretação
metafísica, a qual pode estar pautada num horizonte atemporal, como na visão do mundo
platônico; ou buscado uma dimensão de exaltação do ser.
A teologia tem como grande tarefa uma fala à luz da condição humana e de seu
aprimoramento. Essa análise teológica da realidade é feita no horizonte da crítica radical
introduzida pela revelação da palavra de Deus em juízo e graça – “juízo” é a radicalização
da krísis, da crítica, que só pode se dar radicalmente à luz da graça e da esperança. Só
a esperança permite a crítica radical.
28
Mais do que o objeto da teologia, seu objetivo máximo é, em última análise,
a realidade. A teologia fica atenta à interpretação filosófica do real, da qual, inclusive,
colabora, ao seu modo. Esse seu modo é justamente iluminar o real desde a esperança,
que permite sua crítica mais radical, por um lado, e uma perspectiva transformadora,
por outro, e já iniciada por essa crítica, bem entendida. Interpretar o real à luz da
condição humana é perceber a própria interpretação como momento fecundo da
práxis. Criticar o real e seus conceitos, à luz do aprimoramento da condição humana,
é buscar libertar neles suas possibilidades de ser.
Algumas questões povoam a mente humana desde que os primeiros clãs se reuniram
em torno da fogueira na savana africana. A mais intrigante delas é a busca pelo começo
de tudo. Como foi criado tudo à nossa volta – e nós próprios, de onde surgimos? Ao
olhar para o céu, dominado durante o dia pela bola dourada do Sol e, à noite, pontilhado
de luzes, o homem primitivo encontrou elementos para especular. De forma instintiva,
ele estava buscando respostas na porção visível do cosmo. É curioso que seja também
no céu que a ciência moderna tem procurado respostas para as mesmas dúvidas
primordiais da humanidade. Na maioria das culturas humanas, se não em todas elas,
questões dessa natureza foram respondidas com o desenvolvimento do pensamento
simbólico. Os povos antigos vislumbraram na natureza – no Sol, na Lua, nos trovões
– entidades maiores e mais poderosas, capazes de interferir nos acontecimentos e
destinos. Rituais foram criados para reverenciar e apaziguar essas entidades. Estavam
criadas as religiões, que muitos estudiosos acreditam ser a gênese da civilização.
29
O mito da criação do Universo e de tudo o que ele abriga está na base de todas as
religiões. O homem atual, muitas vezes, despreza ou ridiculariza os mitos da criação
porque eles trazem explicações diferentes daquelas oferecidas pela ciência. Contudo,
é preciso considerar os cenários e as etapas do conhecimento humano em que esses
mitos foram criados. Não faz muito tempo, os cientistas acreditavam que a Terra era
plana, encontrava-se no centro do Universo e tinha apenas 6.000 anos de existência.
Não é que nossos antepassados fossem privados de curiosidade científica ou de
raciocínio dedutivo; os mitos da criação surgiram em períodos nos quais muito pouco se
sabia sobre as leis da física ou da química.
30
Após a expansão primordial, os instantes iniciais do Universo foram de caos – uma
sopa de energia e partículas em movimento. É uma descrição similar à dos primeiros
momentos do Universo feita por diversos mitos de origem, como o egípcio e o hindu.
FONTE: CORRÊA, R. O que havia antes do tempo. Revista Veja, São Paulo, n. 25, p. 122-125, 2008.
31
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• Sob o ponto de vista epistemológico, a teologia é uma ciência porque está sempre
à procura da verdade, ainda que não a possua nem possa encontrá-la de forma
absoluta. Além disso, apresenta o que dela se percebe, com argumentos que podem
ser criticados e discutidos.
• A teologia tem como grande tarefa uma fala à luz da condição humana e de seu
aprimoramento.
32
AUTOATIVIDADE
1 Uma vez que pairam dúvidas quanto à teologia efetuar um papel científico, disserte a
respeito da possibilidade de definição da teologia como ciência, com base em critérios
epistemológicos.
3 A teologia tem como grande tarefa uma fala à luz da condição humana e de seu
aprimoramento. Essa análise teológica da realidade é feita no horizonte da crítica
radical introduzida pela revelação da palavra de Deus em juízo e graça – “juízo” é a
radicalização da krísis, da crítica, que só pode se dar radicalmente à luz da graça e
da esperança. A partir dessa análise, assinale a alternativa que indica corretamente o
objetivo da teologia.
4 Sob o ponto de vista epistemológico, a teologia é uma ciência porque está sempre
à procura da verdade, ainda que não a possua nem possa encontrá-la de forma
absoluta. Além disso, apresenta o que dela se percebe, com argumentos que podem
ser criticados e discutidos. Diante disso, assinale a alternativa que melhor sintetiza o
objeto da teologia acadêmica.
33
a) ( ) O objeto da teologia acadêmica, então, não é propriamente Deus, mas o falar de
Deus.
b) ( ) O objeto da teologia acadêmica é decodificar a natureza de Deus.
c) ( ) O objeto da teologia acadêmica não é propriamente Deus, mas o modo como Ele
é interpretado perante os crentes.
d) ( ) O objeto da teologia acadêmica é tornar plausível e colocar à prova Deus enquanto
divindade.
e) ( ) O objeto da teologia acadêmica é simplesmente Deus e sua influência social,
cultural e histórica perante os crentes e os descrentes em sua existência.
34
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
FUNÇÕES E DIVISÕES TEOLÓGICAS
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, conheceremos a função da teologia como estudo acadêmico,
compreendendo a função da teologia como elemento de estudo do exegeta das
Escrituras, buscando a sua compreensão, que transcende ao simples elemento
literário, no sentido de uma interpretação das escrituras, buscando nelas elementos
determinantes de suas ações cotidianas, bem como a sua atividade pastoral.
Outras áreas das ciências humanas, como a Psicologia, também têm relevância
gigantesca no ofício do teólogo, especialmente pelo fato de que o teólogo não somente
irá se dedicar ao estudo dos textos sagrados, mas, em sua função pastoral, terá que lidar
com elementos emocionais de seus fiéis, fazendo com que a Psicologia seja importante
nessa situação.
2 A FUNÇÃO DA TEOLOGIA
A função da teologia, enquanto área do conhecimento, e interpretar os aspectos
divinos das Sagradas Escrituras. Nesse sentido, é possível afirmar que o teólogo é um
exegeta, ou seja, um estudioso, um intelectual, que, em sua carreira, irá se relacionar,
direta e intimamente, com os textos bíblicos. O teólogo é, portanto, um pensador que
irá interpretar, de maneira a buscar se manter fiel ao sagrado, o que Deus expressa em
seus textos sagrados.
35
FIGURA 12 – AS ESCRITURAS
36
Uma das consequências do diálogo interdisciplinar ao qual a teologia
se expõe é sua própria redefinição. Por algum tempo, pensou-se que
o diálogo interdisciplinar representaria uma certa condescendência,
por parte das diversas disciplinas, em vir ao encontro de outras. O
pressuposto é que cada disciplina teria sua configuração natural
e basicamente definida, e que esta não seria transformada pelo
encontro interdisciplinar. Ou seja, tratar-se-ia de naturezas mais
ou menos solidamente definidas e estabelecidas e que procuram o
diálogo por razões outras que sua própria autocompreensão.
O que está por trás desta compreensão é uma determinada imagem
de como funciona a divisão do trabalho nas ciências. Trata-se de uma
imagem mais ou menos estática, semelhante a um prédio com muitas
janelinhas, cada qual dando para uma repartição onde pessoas realizam
seu trabalho dentro de um âmbito preestabelecido. O isolamento de
cada repartição permite um grau maior de concentração na tarefa
própria de cada âmbito. As próprias repartições vão, com o tempo,
dando lugar a novas repartições originadas de um novo arranjo na
divisão interna do trabalho. O prédio como um todo, porém, mantém
a característica de abrigar em seu interior repartições relativamente
isoladas umas das outras (MUELLER, 2007, p. 76).
É percebido pelo teólogo que os textos bíblicos e sua mensagem devem ser compar-
tilhados com as pessoas, tratando-os com o devido respeito e seriedade, visto que são as Sa-
gradas Escrituras; entretanto, também permitido que se compreenda que, nelas, estão diver-
sos textos, de estilos de escrita diferenciados, tendo sido redigidos em momentos diferentes.
Pode-se exemplificar essa situação quando se lança olhar para o Antigo Testamento, que foi
uma compilação de textos que remontam séculos de cultura transmitida através da oralidade.
Nessa formação, então, a teologia exige a dedicação não somente aos textos
sagrados, mas a diversas searas do saber, como Psicologia, que será importantíssima
para o exercício do “Bom Pastor”, uma vez que ele irá se relacionar com um universo
emocional adverso, para poder, da maneira mais sóbria que as possibilidades permitam,
dar um aparo adequado ao fiel, bem como o aconselhar de maneira adequada.
37
FIGURA 14 – BOM PASTOR
3 AS DIVISÕES DA TEOLOGIA
O teólogo, em sua formação acadêmica, no que diz respeito especificamente
às Escrituras, buscará compreender esses textos e sua complexidade da maneira mais
ampla possível. Isso é indispensável, visto que o exercício do ofício teológico terá duas
particularidades importantes, uma delas o constante estudo das escrituras, buscando,
em sua exegese, a leitura não somente das Escrituras, mas também de materiais
especializados, artigos, revistas e livros, para se manter atualizado em seus estudos
teológicos. Outro elemento importante é a aplicação desses elementos, dessa verdade
revelada nas Escrituras. A seguir, será abordado esse contexto de aperfeiçoamento
teológico e suas divisões.
38
3.1 TEOLOGIA BÍBLICA
A teologia bíblica promove uma investigação dos textos das Escrituras em si,
busca uma interpretação para compreender a mensagem que se pretendia pregar, pelo
autor do texto sagrado, dentro do contexto por ele vivido em sua época. Esse estudo
procura compreender os tipos literários e as especificidades que esses estilos podem
representar na revelação da palavra de Deus.
A teologia Bíblica buscou dar ao teólogo uma interpretação para além da teologia
Sistemática, que, em suas interpretações, carrega uma visão pesadamente dogmática
em sua construção e uma hermenêutica. A concepção de teologia Bíblica, como prática
mais habitual, em grande parte se desenvolve com mais intensidade a partir do século
XVI, com os pensadores reformistas, como é o caso de Martim Lutero (1483-1546).
39
FIGURA 15 – DIVISÕES DA BÍBLIA
40
É importante que o teólogo tenha consciência, quando realizar a sua atividade
de maneira acadêmica, de que ele está lindando, geralmente, com elementos que lhe
são caros, por conta de sua fé, e que, nesse momento, deve sobressair o pesquisador,
a fim de estabelecer uma atividade acadêmica que terá como ação a busca de uma
relação harmoniosa entre sua pesquisa, e seus ideais espirituais.
Dessa maneira, é necessário que o pastor saiba orientar os seus, e que confiam
em sua liderança, para compreender o mundo ao redor. Percebendo a complexa e, muitas
vezes, contraditória realidade em que o fiel está inserido, deve conseguir compreender
a sua ação mediante os preceitos espirituais que possui, que, por sua vez, devem ser
refletidos no contexto prático das ações do teólogo, bem como daqueles que ele guia.
41
3.4 TEOLOGIA HISTÓRICA
Essa linha de interpretação teológica busca uma abordagem com relação mais
aproximada da historiografia, para compreender a relação do homem com o sagrado.
42
LEITURA
COMPLEMENTAR
TEOLOGIA E CIÊNCIA
43
novas peças de informação. Essa é uma das razões por que vemos mudança constante
e progresso significativo nas ciências.
É por isso que tendo a ser um teólogo conservador. Duvido que jamais aparecerei
com um discernimento que ainda não foi considerado em grande detalhe por mentes
maiores do que a minha. De fato, no que diz respeito à teologia, não estou interessado
em novidade. Se eu fosse um físico, apareceria constantemente com novas teorias que
explicariam anomalias inquietantes, mas refreio-me conscientemente de fazer isso no
que diz respeito à ciência de teologia.
É claro que essa fascinação por novidades não é exclusiva à nossa época. O
apóstolo Paulo a encontrou entre os filósofos no areópago em Atenas (At 17.16-34).
Queremos progresso em nosso conhecimento e crescimento em nosso entendimento,
mas temos de ser cuidadosos para não sermos seduzidos à tentação de aparecer com
algo novo apenas para sermos originais.
FONTE: SPROUL, R. C. Somos todos teólogos: uma introdução à teologia sistemática. São José dos Cam-
pos: Fiel, 2017. p. 14-15.
44
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• O estudante de teologia estuda os textos bíblicos com sua mensagem, que deve ser
compartilhada com as pessoas, tratando-a com o devido respeito e seriedade, visto
que são as Sagradas Escrituras, mas também permitindo que se compreenda que,
nessas escrituras, estão diversos textos, de estilos de escrita diferenciados, tendo
sido redigidos em momentos diferentes.
• A teologia bíblica promove uma investigação dos textos das Escrituras em si; busca
uma interpretação, para compreender a mensagem que se pretendia pregar, pelo
autor do texto sagrado, dentro do contexto por ele vivido em sua época.
• Há uma importante divisão no estudo teológico, que não pode ser esquecida, entre os
aqueles que irão se dedicar ao estudo de uma teologia Bíblica do Antigo Testamento e
aqueles que, por sua vez, irão se concentrar ao estudo dos textos do Novo Testamento.
Nesse contexto de exegese, pode-se perceber que não há uma única interpretação,
uma única linha de estudos da teologia Bíblica, e sim diversas abordagens.
45
• Os textos sagrados têm padrões que são considerados os mais adequados para a
reflexão do fiel no momento que antecede a uma ação.
46
AUTOATIVIDADE
1 A formação sólida do teólogo é muito mais complexa do que se imagina num primeiro
momento, pois a sua atuação irá muito além do discurso, realizando uma atividade
pastoral muito mais ampla. Sabendo disso, analise as sentenças a seguir:
a) ( ) V – F – V.
b) ( ) F – V – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) V – V – V.
47
3 O curso de teologia não representa um isolamento acadêmico, e sim um diálogo
interdisciplinar, no qual áreas do conhecimento, como a História e a Filosofia, além da
Sociologia e da Antropologia, terão uma participação importante na compreensão da
realidade e no aproveitamento dos estudos, por parte do teólogo. Mesmo sabendo
dessa interdisciplinaridade e tendo em mente a ação do teólogo enquanto exegeta,
analise as afirmativas a seguir:
I- O exegeta realizará suas leituras nas Sagradas Escrituras, tendo como outras
fontes de pesquisa artigos relacionados aos seus estudos; nesse sentido, o exegeta
exercerá uma ação teológica profunda e academicamente especializada.
II- O exegeta estudará apenas os textos sagrados, vinculando, em muitos momentos,
o Antigo e o Novo Testamentos, tendo, nesses livros, todo o material necessário
para a sua ação.
III- O exegeta não irá pensar necessariamente no contexto bíblico, a priori, mas em uma
interdisciplinaridade das ações teológicas, deixando as interpretações bíblicas em
segundo plano.
4 Os textos bíblicos, tanto para os fiéis quanto para o teólogo que exerce uma função
de especialista, representam um amparo emocional, mas terão uma aplicação muito
mais direta na vida das pessoas. Sobre a Teologia Prática, assinale a alternativa
CORRETA:
CORRÊA, R. O que havia antes do tempo. Revista Veja, São Paulo, n. 25, p. 122-125,
2008.
GEFFRÉ, C. Como fazer teologia hoje? Hermenêutica teológica. São Paulo: Paulus;
1983/1989.
49
KUHEN, R. F. Pré Socráticos. Tradução: José Cavalcante de Souza, Arma Lia Amaral
de Almeida Prado, Ísis Lana Borges, Maria Conceição Martins Cavalcante, Remberto
Francisco Kuhnen, Rubens Rodrigues Torres Filho, Carlos Ribeiro de Moura, Ernildo
Stein, Arnildo Devegili, Paulo Frederico Flor, Wilson Regis. Editora Nova Cultural; 1996.
(Coleção Os Pensadores).
PLATÃO. Fédon. Tradução: Jorge Paleikat, João Cruz Costa. São Paulo: Victor Civita;
1972. (Coleção Os Pensadores).
SÓCRATES. Seleção de textos de José Américo Motta Pessanha; Tradução: Jaime Bruna,
Libero Rangel de Andrade, Gilda Maria Reale Strazynski. São Paulo: Nova Cultural; 1987.
(Coleção Os Pensadores). Disponível em: https://bit.ly/2T0aFQt. Acesso em: 10 maio
2021.
50
UNIDADE 2 —
RAZÃO FILOSÓFICA DA
TEOLOGIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
51
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
Acesse o
QR Code abaixo:
52
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
A FILOSOFIA TEOLÓGICA MEDIEVAL
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, apresentaremos a Filosofia Teológica Medieval, desde o seu
alvorecer, com a Patrística, até a sua segunda fase, conhecida como Escolástica. Além
de explorarmos a história e os feitos de alguns personagens do período da Patrística,
daremos especial atenção ao pensador mais importante dessa fase da filosofia: Santo
Agostinho.
2 HELENISMO
A Filosofia Teológica Medieval, cronologicamente, está relacionada aos
acontecimentos pertinentes ao tema Filosofia e sua conexão e interpretação teológica,
atinentes aos períodos conhecidos como Patrística e Escolástica. O surgimento tanto
da Patrística quanto da Escolástica, já após o advento do Cristianismo, só foi possível
devido à pavimentação deixada pela História da Filosofia e da teologia ocorrida no
período pré-cristão, conhecido como Helenismo.
53
gregos, do ponto de vista da cultura, filosofia, política, religião e até mesmo a língua, o
que é tão notável que a própria religião pagã romana era a mesma religião grega, da qual
os romanos se apropriaram, mudando, quando muito, o nome dos deuses (por exemplo,
Zeus grego = Júpiter romano).
IMPORTANTE
Deuses gregos e seus equivalentes romanos:
Esses países foram influenciados pela cultura, pela língua, pela religião, pelos
costumes etc. helênicos (gregos), que, como já falamos, foram antes espalhados pelos
próprios gregos macedônicos de Alexandre, o Grande, e após pelos romanos, que
absorveram e se apossaram também dessa cultura na sua integralidade.
54
FIGURA 1 – IMPÉRIO DE ALEXANDRE, O GRANDE
FIGURA 2 – ALEXANDRE MAGNO E SEU CAVALO BUCÉFALO, NA BATALHA DE ISSO. MOSAICO ENCONTRA-
DO EM POMPEIA, HOJE NO MUSEU ARQUEOLÓGICO NACIONAL, EM NÁPOLES
55
Paulo, mesmo não tendo nascido em Roma (nasceu em Tarso, Cilícia, atual Tur-
quia), teve seu nascimento dado em terras pertencentes ao Império romano. Pelas suas
origens nobres, era um cidadão romano típico. Originalmente, um judeu aristocrata, Paulo
era fluente na língua tida como culta à época, o grego. Todos os romanos cultos, apesar
de falarem sua língua nativa, o latim, geralmente também eram versados em grego, que
era a língua da elite e na qual a produção cultural se difundia pelo mundo romano. Na-
quele tempo, a língua grega ocupava o mesmo posto que, posteriormente, o latim, e hoje
o inglês, tem para a sociedade: a língua mais utilizada tanto para entendimento universal
como para a publicação de textos e livros que buscam um alcance mundial.
É importante ressaltar que Martinho Lutero não pertence a essa fase da Filosofia Te-
ológica – nem mesmo da História. Lutero afixou as 95 teses na porta da Igreja do Castelo de
Wittenberg, na Alemanha, em 1517, portanto, já no período histórico chamado de Idade Moderna.
3 PATRÍSTICA
O nascimento de Jesus de Nazaré é o fato infinitamente mais importante para a
fé e a teologia Cristã, assim como para a História, do que toda e qualquer conquista de
Alexandre ou influência do Helenismo na trajetória da humanidade.
Trata-se de uma maravilhosa nova crença, de que o próprio Deus se faz humano,
Jesus de Nazaré, e desce para estar entre seus filhos, buscando orientá-los e redimi-los
de seus erros. Deus, então, diferente de todas as outras diversas religiões existentes
anteriormente, fez-se carne, viveu entre nós, foi morto em meio a nós, ressuscitou
entre os mortos e ascendeu aos céus, para junto de seu Pai. Isso deixa aos homens
a mensagem de como o mal e a morte podem ser vencidos e o próprio homem pode
alcançar a vida eterna, junto a Deus Pai.
56
da revelação do Redentor. Essa nova visão de Deus permitiu a possibilidade de uma nova
descida do Messias, que, agora, irá anunciar o fim do mundo e aplicar a justiça final. Essa
nova visão de Deus era um absurdo escandaloso para qualquer sábio judeu ou grego.
Se, antes da mensagem Cristã, deuses eram sempre vistos como portadores
de uma mensagem heroica de conquistas pela luta com violência e pela guerra, com o
Cristianismo, surgiu uma nova arma de conquista e heroísmo: o martírio pessoal. Diferente
daqueles deuses heroicos, temos Deus, aquele que, de posse da mensagem da vida eterna,
suporta, em silêncio, os piores sofrimentos e humilhações.
Essa nova mensagem, esse novo Deus, não distingue os homens pela sua origem.
Todos os homens são seus filhos e todos têm o mesmo respeito e consideração. A religião
passa de algo aristocrático e guiado por nobres deuses para algo verdadeiramente popular,
em que um pescador, oriundo das camadas mais populares da multidão, passa a ser tido
como o filho de Deus, e o próprio Deus encarnado, e que a todos, indistintamente, acolhe.
A Igreja tal como foi concebida por Deus, como órgão da salvação da hu-
manidade, a prolongação da obra redentora de seu Filho único, aparece
assim aos olhos do teólogo à escuta da Palavra de Deus como um ‘gran-
de sacramento’, onde tudo significa sensivelmente e procura ao mesmo
tempo eficazmente a via da graça (DANIELOU; MARROU, 1984, p. 89).
57
Dentro do Neoplatonismo, muito presente na cidade de Alexandria, Plotino era
a figura mais influente e marcante. Plotino, que era de Alexandria e não era cristão, in-
fluenciou por demais os escritores e pensadores Cristãos. De outra corrente filosófica, o
Estoicismo, que inclusive teve um Imperador romano, Marco Aurélio, como um de seus
pensadores mais profícuos, definiu-se grande parte da concepção filosófica moral, a
qual foi vasta e totalmente incorporada ao Cristianismo.
3.1 ORÍGENES
Orígenes foi um pensador que nasceu em Alexandria, em 184. De criação e forma-
ção Cristã, e sendo um indivíduo altamente intelectualizado, teve influências grega, roma-
na e judaica na formação de seu pensamento religioso e filosófico. Teve aulas com Amônio
Saccas, o fundador do Neoplatonismo e, a partir desses ensinamentos, consolidou suas
interpretações do Cristianismo à luz dessa doutrina (Neoplatonismo). Ordenou-se sacer-
dote em 231, mas, por inveja do bispo de Alexandria, perdeu tudo, inclusive sua ordenação.
Mudou-se, então, para Cesareia, na Palestina, onde pregou por mais de 20 anos.
Sua obra é vasta e, dentro da Patrística, só é superada por Santo Agostinho. Seu
trabalho é caracterizado, maiormente, pela filosofia e pela teologia, e, em grande parte,
seus textos são erigidos sob a estrutura de interpretações alegóricas das escrituras. E
toda a sua erudição e domínio do grego e do hebraico, o transformaram em um profícuo
escritor Cristão Patrístico. Sua obra mais importante é De Principii (“Do Princípio”).
Orígenes, bem antes de Agostinho, primou pela fusão entre as mensagens Cristãs
e as filosofias e teologias pagãs. Devido a isso, é dele considerada a primeira suma teológica
(sumarização ou fusão de conceitos). Orígenes colocou, então, o Helenismo de seu tempo
para trabalhar a favor do Cristianismo. Gregório Taumaturgo (213-270 d.C.) escreve:
A fim de evitar que nos viesse a acontecer o que ocorre com a multidão
de pessoas inexperientes, ele não nos introduzia em um único siste-
ma filosófico, nem nos deixava deter-nos nele, mas nos guiava através
de todos, não permitindo que ignorássemos qualquer doutrina dos gre-
gos. Ele próprio nos orientava nessa busca, à semelhança de um hábil
artista que, por um experiente uso da filosofia, conhecesse tudo, discer-
nindo o que era bom e útil em cada sistema para chamar nossa atenção
precisamente para esse aspecto, não deixando de afastar os erros.
E nos aconselhava a evitarmos o apego a qualquer filósofo, mesmo
que tivesse sido declarado por todos os homens como perfeitamente
sábio, para aderirmos somente a Deus e a seus profetas. Nada era
proibido, nem ocultado, nem inacessível. Podíamos aprender qualquer
doutrina, bárbara ou grega, mística ou mora, examinar em profusão
todas as ideias, empanturrar-nos com todos os bens da alma. Qualquer
pensamento antigo que fosse verdadeiro acabava por nos pertencer,
por nossa própria vontade, com a possibilidade maravilhosa das mais
belas contemplações; para nós, era verdadeiramente uma imagem do
paraíso (TAUMATURGO apud LELOUP apud DUTRA, 2008, p. 43-45).
58
FIGURA 3 – ORÍGENES
3.2 TERTULIANO
Quintus Septimus Florens Tertullianus nasceu em Cartago, em 160, e faleceu
por volta de 235. Oriundo de família romana pagã, converteu-se ao Cristianismo já na
meia idade. Na juventude, teve sólida formação intelectual. Filosoficamente, inclusive,
era um profundo conhecedor do Estoicismo.
FIGURA 4 – TERTULIANO
59
Como escritor e pensador, produziu muito, mesmo antes de sua conversão ao
Cristianismo. No entanto, infelizmente, poucos escritos dele restaram, exceto por um
importante escrito: Escritos Apologéticos contra judeus, pagãos e Cristãos gnósticos. Sua
defesa dos dogmas católicos se tornou cada vez mais intensa com o passar do tempo.
GIO
Agostinho de Hipona foi parcialmente apresentado no Tópico 3 da Unidade
1, quando abordamos resumidamente sua vida, sua aproximação com
a Patrística e a filosofia de Platão, apontando que ele foi o mais profícuo
representante desse período da história da filosofia e da teologia.
Sua própria história pessoal fez com que ele, tendo vivido e praticado atos, por
ele mesmo, vistos como maus, passasse a entender melhor a mensagem de Cristo.
Lutou avidamente para compreender a si mesmo pela verdade transcendente, acessível
e clareável, segundo suas próprias conclusões, apenas através do Cristianismo.
Agostinho defendeu sempre e avidamente que é possível uma fé sem grandes co-
nhecimentos filosóficos e teológicos, mas um conhecimento sem fé carece precisamente da-
quilo que, desde os filósofos gregos, seria o objetivo de todo o conhecimento: Deus. Devido a
60
isso, não incomumente, alguns teólogos o classificam como um teólogo Existencial. Filósofos
existenciais, como Heidegger ou Sartre, se caracterizam por filosofar no âmbito do cognitivo
(no sentido de como se dá o conhecimento), enquanto Agostinho, mantendo a teologia vincu-
lada à existência, também recorreu ao caráter racionalista e cognitivo da filosofia para explicar
a mesma coisa, ou seja, explicar como se dá o conhecimento. Como teólogo, Agostinho se es-
merava em explicar a fé em Deus. Entretanto, como filósofo, buscava explicar racionalmente o
mundo. “Se a fé vem antes, isso não significa que não possa ser auxiliada pela razão” (RIBEIRO,
2008, p. 114). No seu livro Confissões, percebe-se a tensão entre as duas forças motrizes do
espírito de Agostinho: de um lado um mundo cheio de erros, acertos, racional e finito e do ou-
tro a busca incessante pela salvação final no mundo eterno. Ele aponta que o objetivo maior
da existência Cristã é a salvação em direção a esse mundo eterno.
Talvez sua obra mais magistral seja o portentoso livro A cidade de Deus, no
qual, historicamente, se percebe que todo o alfarrábio versa sobre um período em que o
Império Romano se desmoronava, tinha seus últimos estertores nas mãos dos bárbaros
que o invadiam e o esfacelavam. Agostinho mostra, claramente, que o estilo de vida
adstrito ao Império Romano está ruindo, enquanto uma nova ordem social e um novo
modo de vida floresciam.
Antes de ser um padre católico, Agostinho foi pagão e conduziu sua própria vida
de modo depravado. Com a maturidade, começou a ter questionamentos espirituais
e intelectuais. Por experiências passadas por ele em sua própria vida, iniciou com
questões como “qual a origem do mal?”. Nesse momento, apenas um caminho se abriu
ao jovem Agostinho: a Filosofia, o que o levou ao maniqueísmo, que, por sinal, frente ao
seu questionamento, tinha uma resposta simples e cabal. Nessa fase de sua vida, e já
atuante maniqueu, conseguiu um emprego em Milão.
Estava ele em meio a uma discussão com seus amigos quando ouviu
uma voz que provinha da casa ao lado e que repetia “Toma e lê, toma e
lê” (Tolle, lege, tolle, lege) e entendeu-as como um aviso da Providência
para que abrisse precisamente o livro que tinha ao seu alcance. Abriu,
então, a Bíblia na passagem de Epístola aos romanos (13, 13s): “não em
orgias e bebedeiras, em concubinato e libertinagem, em rixas e ciúmes,
mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não façais caso da carne para
lhe satisfazer os apetites”. Ao término da leitura, a luz de uma certeza
inabalável inundou-lhe o coração (Confissões, VIII, 12, 29) (DROBNER,
apud DUTRA, 2008, p. 122).
61
Agostinho, então, havia encontrado a verdade que tanto buscava, e a partir
desse dia, a maior parte de seus escritos e ensinamentos versaram sobre o tema da
defesa da unidade e da imortalidade da alma. Após a sua conversão e de ter visitado e
vivido em muitos lugares, sua fama cresceu. Em 391, chegou a Hipona e lá se deparou
com intensas disputas entre a Igreja Católica e antigas religiões pagãs locais. Em 395,
tornou-se bispo e iniciou um enérgico ataque às antigas religiões pagãs e a outras
seitas, mesmo as seitas Cristãs.
DICAS
Assista ao filme Santo Agostinho de Hipona, disponível no Youtube (completo e dublado), que
mostra um período da vida de Agostinho antes de se tornar um religioso cristão. Era, então,
um funcionário, um orador a serviço do Rei de Milão. Tinha mulher e um filho. Também vivia
com sua mãe que, diferentemente dele, era cristã. Nesse período de sua vida, declarava-se
um Maniqueísta (uma espécie de upgrade do Gnosticismo, que se iniciou na Pérsia). Nessa
altura, sua esposa, ao perceber a ganância do marido e frente à possibilidade de ela mesma
se tornar um percalço para ele, ela fugiu.
62
Numa determinada passagem, havia uma disputa entre o Rei, um pagão, e o bispo católico
da cidade, pela posse do templo onde esse bispo proferia as missas. Num conflito entre
os soldados do rei e os cristãos devido a esse templo, os cristãos foram covardemente
atacados pelo exército real, na presença de Agostinho. Esse momento, somado ao fato de
ele ter que tentar proferir um discurso em defesa da atitude covarde dos servidores reais, e
mais ainda, o fato de ter sofrido forte revés com a fuga de sua esposa, fez Agostinho entrar
numa intensa crise, que culminou com a sua total conversão ao Cristianismo.
É nesse momento que sua vida, no filme, reaparece com fatos relacionados a Hipona, onde
ele está morando e é um bispo católico. Naquele momento histórico, Hipona está sitiada
pelo Bárbaro germânico Vândalo, chamado Genserico. Vendo estar a cidade em situação
irreversível, Agostinho vai até este líder germano Genserico e oferece-se em troca da fuga
da cidade dos inocentes. Ao retornar, Agostinho iniciou a proferir um discurso em que, além
de oferecer barcos que seriam fornecidos pela Igreja Católica para a fuga dos que assim o
quisessem, ele começou a explanar sobre a igualdade dos homens a despeito da origem.
Nesse momento, é interrompido pelo governador da cidade que, diferentemente da proposta
de Agostinho, conclama o povo a se unir e resistir aos Vândalos, que não são romanos,
e, portanto, são bárbaros, diferentes. Com esse discurso, o governador está tentando
desqualificar o conceito de igualdade humana colocado por Agostinho. O governador ainda
disse que uma frota romana estava chegando para defendê-los. Essa frota, porém, foi
dizimada pelos mesmos Vândalos antes mesmo de chegar à cidade. A essa altura, a parte da
população que opta por fugir nos barcos oferecidos por Agostinho, o faz, enquanto o resto
da população, inclusive Agostinho, é morto na cidade pelos invasores. Assim, termina o filme.
No filme, fica patente que vem de Agostinho, após contato inicial, a iniciativa de fundir
conceitos cristãos com conceitos advindos da filosofia grego, principalmente de Platão, com
os quais teve contato através do Bispo de Milão, seu amigo. Coube a Agostinho o papel de
transformar os conceitos, até então, existentes na Patrística, em algo mais maduro, vinculado
à filosofia. Essa união Cristianismo/filosofia foi conseguida por Agostinho com tal êxito que
a Patrística assumiu seu verdadeiro arcabouço apenas após a revolução conceitual
por ele perpetrada. A seguinte definição expõe soberbamente a Patrística: “A
Patrística auxilia a exposição racional da doutrina religiosa, preocupando-se
principalmente com a relação entre fé e ciência, com a vida moral, com a natureza
de Deus e da alma” (SCHINEIDER, 2007). Tudo isso não poderia ter ocorrido em
ambiente mais fértil: dentro do Império mais extenso territorialmente do mundo
conhecido, detentor da maior influência cultural (greco-romana) existente
dentro desse vasto império e através da língua latina que, era a mais falada
do mundo ocidental, e escrita por toda a elite cultural. Nesse terreno fértil,
foi muito fácil para que a Filosofia, sob a forma de Patrística e atrelada à força
maior, o Cristianismo, se popularizasse a ponto de, hoje, ter alcançado expresso
reconhecimento e ser o Cristianismo a religião mais praticada no mundo.
4 AS DIVISÕES DA ESCOLÁSTICA
Como São Tomás de Aquino é a figura central desse período chamado de
Escolástica (anteriormente abordado na Unidade 1), parte da história da filosofia que
é dividida em Pré-tomista (Pré-escolástica), Tomista (Escolástica) e Pós-tomista (Pós-
escolástica). Nesse momento, veremos tanto a Escolástica Pré-tomista quanto a
Escolástica Tomista, pois a Escolástica Pós-tomista não participa de maneira incisiva
no entendimento e na edificação de uma Razão Filosófica da teologia. A seguir, serão
apresentados dois pré-escolásticos: Duns Scoto Erígina e Santo Anselmo.
63
4.1 PRÉ-ESCOLÁSTICA (PRÉ-TOMISTA)
Anteriormente, relembramos em vários pontos do texto que a base filosófica do
período conhecido como Patrística era, em sua totalidade, calcada na filosofia advinda
de Platão. Os europeus pouco ou nada conheciam de Aristóteles. Em verdade, muito
pouco dos ensinamentos oriundos de Aristóteles chegou até os Patrísticos.
NOTA
“Aristóteles chegou ao conhecimento europeu por meio dos árabes, os
quais haviam preservado o pensamento de Aristóteles durante as invasões
bárbaras. Avicena e Averróes foram os dois maiores filósofos aristotélicos
árabes que influenciaram o Ocidente no período aqui considerado. Aliás, a
tradução do grego para o latim das obras de Aristóteles foi feita por Guilherme
de Maerbeke, por conselho do próprio Tomás” (RIBEIRO, 2008, p. 159).
FIGURA 6 – AVICENA
64
FIGURA 7 – AVERRÓIS – ESTÁTUA DE AVERRÓIS EM CÓRDOBA, ESPANHA
65
Para Duns Scoto, o respeito pela lei divina é mais importante que a busca da felicidade;
e a verdadeira lei natural é formada pelas verdades necessárias, antes mesmo, até, da vontade
divina (por exemplo, Deus não pode querer que o odiemos). Portanto, apesar de Patrístico e
seguidor do platonismo, a lei natural é a sustentação da moralidade, diferentemente do que
dizia Platão, que sustentava a moralidade nas virtudes.
Talvez, o seu escrito mais famoso seja o chamado Prova Ontológica (Metafísica) da
Existência de Deus. Destacamos parte do segmento mais marcante desse escrito a seguir.
66
4.2 ESCOLÁSTICA (TOMISTA)
A Escolástica corresponde a um período que ficou conhecido como Idade
Média. Nesse contexto, os pensadores da escola (de onde advém o termo escolástico)
representam outro grande momento da Filosofia Medieval. Tomás de Aquino, que
foi aclamado santo pela Igreja Católica, foi um pensador cujas análises promoveram
estudos aprofundados, transformando definitivamente a interpretação cristã, acerca
das escrituras, e sua relação com a Filosofia.
DICA
Leia um fragmento do texto Se deus existe na Leitura Complementar, que
apresenta as cinco vias demonstráveis racionalmente da existência de Deus.
67
No primeiro ponto dessa demonstração, quando se fala “Se a existência de Deus é por
si mesma conhecida”, Aquino reflete que uma coisa, para ser autoevidente, poderia o ser de
duas maneiras: essa coisa pode ser autoevidente para si mesma, mas não para nós; ou pode
ser autoevidente para si mesma e para nós. A partir disso, Aquino afirma que a proposição “Se
Deus existe” é autoevidente, pois o predicado existe é o mesmo que o sujeito Deus; Deus é a
própria existência. No entanto, como não conhecemos a sua essência, a proposição “Se Deus
existe” não é evidente para nós. Daí a necessidade de Deus nos ser demonstrado e conhecido
pelos seus efeitos. Com relação ao segundo ponto, em que Aquino escreve “Se é demonstrável
a existência de Deus” (RIBEIRO, 2008, p. 160), abrem-se duas vias de demonstração: uma cha-
mada a priori, ou pela causa, que nos vêm antes; a outra é chamada de a posteriori, ou o efeito,
que nos vêm depois. E o efeito da existência de Deus é conhecido e facilmente perceptível pela
simples observação e contemplação do mundo e das coisas. Então, se os seus efeitos são co-
nhecidos e existem, esse algo pode ser conhecido pelos seus efeitos conhecidos. Assim, apesar
de Deus não ser diretamente evidente a nós, ele é indiretamente evidente pelos seus efeitos.
A ética, defendida por Tomás de Aquino, ou Ética Tomista, baseia-se em uma har-
monização entre os ensinamentos morais cristãos e os ensinamentos éticos advindos dos
gregos, maiormente Aristóteles, e sua Ética das Virtudes. Quando Aquino defende uma nor-
matização ética dada pelas virtudes, ele defende que agir com ética é algo autônomo, ou
seja, ser ético se dá por uma escolha do indivíduo. Isso é bastante diferente de alguém que
age de maneira ética porque a lei (jurídica ou um mandamento) o ordena. Alguém, portanto,
que age de maneira heterônoma. O indivíduo age corretamente ou eticamente se, ao pe-
sar em sua mente, e de modo racional, concluir que, atuando de maneira virtuosa (seguindo
as virtudes), ele atingirá felicidade (ou Eudaimonia – expressão derivada do grego) para si e
para os outros indivíduos da sociedade. Aristóteles enumerava várias virtudes, assim como
Aquino; porém elencava as chamadas Virtudes Cardeais como as mais importantes, das
quais as outras se derivam e a elas se atrelam: temperança, justiça, coragem e sabedoria
para Aristóteles e prudência (no lugar de sabedoria) para Aquino como as principais.
IMPORTANTE
VIRTUDES E SUAS ORIGENS (POR ARISTÓTELES E AQUINO)
Tornamo-nos justos praticando Justiça. Como em toda virtude moral, segundo Aristóteles
(e reforçado por Aquino), a Justiça não surge em nós por natureza. O aprimoramento
moral se relaciona com práticas prazerosas ou dolorosas e é devido aos prazeres que se
praticam as boas e/ou as más ações. É certo afirmar que, pela prática de atos justos, se
gera um homem justo. A felicidade, via práticas prazerosas, só é atingida ao se conseguir
a excelência moral (na busca do aprimoramento dessa moral). E isso se dá frente ao agir
virtuosamente ou sob a égide da ἀρετή (aretê – virtude). Por ἀρετή (virtude), Aristóteles
entende como a predisposição para se desempenhar o bem: ser justo se caracteriza por se
ter a virtude da Justiça, ser bom a da Bondade, ser generoso a do indivíduo Magnânimo etc.
68
Deus; ou seja, estão vinculadas com a felicidade sobrenatural, beatitude
(felicidade e paz eterna, fim maior de qualquer virtude). Das Virtudes
Teológicas, em Aquino temos em primeiro lugar a Fé, como geradora das
outras duas, quais sejam a Esperança e a Caridade (aqui, como a Caridade
implica amor a Deus e a todas as criaturas, pode-se trocar ou definir
Caridade por Amor). Assim, estando a Caridade/Amor vinculada a um Amor
incondicional a Deus e aos outros homens, além de todas as criaturas que
são frutos da obra criadora de Deus, esta, a Caridade passa a ser a mais
perfeita das Virtudes Teológicas. Portanto, diferentemente da ordem em
que são geradas as Virtudes Teológicas, quando se analisa sob a ótica da
perfeição, a Caridade/Amor precede a Fé que é seguida pela Esperança.
IMPORTANTE
AQUINO E A PENA DE MORTE
Segundo Finnis, a posição de Tomás é que o que é mau em si não pode ser transformado em
algo bom em razão do fim a que servir como meio (FINNIS, 1998, p. 280). Tomás considera,
na Summa Theologiae (II-II, q. 64 a. 2), a objeção segundo a qual matar um homem seria um
mal em si mesmo, por isso não se deveria condenar ninguém à morte. Na resposta, porém,
ele afirma ser legítimo matar animais irracionais, na medida em que estão destinados ao
uso humano, como o imperfeito está dirigido ao perfeito. Assim, se a saúde de todo o corpo
demandar a amputação de um membro que poderia comprometer os outros, é elogiável e
vantajoso extirpá-lo. Assim, da mesma forma, cada membro da comunidade é uma parte de
um todo, sendo permitido matar alguém para o bem comum. Inclusive, na réplica à objeção,
pode-se ler o seguinte: pelo mal, o homem aparta-se da razão e, consequentemente, decai
da dignidade de sua humanidade, na medida em que é naturalmente livre e existente para
si mesmo (naturaliter liber et propter seipsum existens), ficando reduzido à condição escrava
das bestas (in servitutem bestiarum). Portanto, ainda que seja mau em si mesmo matar um
homem enquanto ele preserva sua dignidade, poderá ser bom matar um homem
que praticou o mal, assim como é bom matar os animais, pois um homem mau
é pior do que um animal e mesmo mais danoso (Summa Theologiae, II-II, q. 64
a. 2). Finnis anota que o argumento da equiparação aos animais prova demais,
pois despe o ser humano da dignidade, privando-o, por exemplo, das liberdades
morais, como a de lutar para preservar sua vida (FINNIS, 1998, p. 282).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste tópico, foi possível revisar toda a história da filosofia do período iniciado
com o nascimento de Cristo, atendo-se aos pontos mais relevantes dos períodos
conhecidos como Patrística, Pré-escolástica e Escolástica.
Contudo, antes das colocações pertinentes aos filósofos de cada fase e que foram
importantes à razão filosófica da teologia, foi fundamental localizarmos, através de uma
rápida revisão, tanto do Helenismo e de sua conceituação quanto das conquistas do Império
69
de Alexandre Magno, a superposição, ou ligação da cultura ocidental grega com as culturas
locais de todas as terras conquistadas por Alexandre, o que culminou com o Helenismo.
Dentro desse caldo cultural capitaneado pela cultura grega, o Helenismo, nasceu Cristo,
culminando com a ascensão do Cristianismo por Europa, Norte da África e Ásia.
Por fim, chegamos à fase Escolástica, cujo único representante foi São Tomás
de Aquino, que edificou uma obra tão marcante e influente, que, por si só, é uma fase
inteira da filosofia medieval, a Escolástica.
70
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• A Ética defendida por Tomás de Aquino, ou Ética Tomista, que se baseia em uma
harmonização entre os ensinamentos morais cristãos e os ensinamentos éticos
advindos dos gregos, maiormente Aristóteles, e sua Ética das Virtudes.
• Como argumentos tomistas a favor da pena de morte, temos, por exemplo, que
“ainda que seja mau em si mesmo matar um homem enquanto ele preserva sua
dignidade, poderá ser bom matar um homem que praticou o mal, assim como é
bom matar os animais, pois um homem mau é pior do que um animal e mesmo mais
danoso”.
71
AUTOATIVIDADE
1 Helenismo é entendido como a difusão para quase todo o mundo Ocidental, e parte
significativa do Oriental, da cultura grega. Sobre isso, analise as sentenças a seguir:
I- Essa expansão, iniciada por Alexandre, o Grande, e, depois da morte deste, continuada
pelo Império romano, foi de fundamental importância para a difusão da cultura, da política
e das filosofias gregas para todo o mundo conhecido.
II- Graças a essa expansão e assimilação da cultura local, também por parte dos
invasores, primeiramente gregos e, depois romanos, a língua grega, e depois a latina,
facilitou a difusão do Cristianismo pelo mundo.
III- Paulo de Tarso era romano, nascido e criado em Roma, e de origem Cristã.
IV- O marco mais importante na história da Filosofia Teológica Medieval ocorreu com
o nascimento de Cristo. Outros momentos importantes foram a queda do Império
Romano do Ocidente (no ano de 476 d.C.) e a queda do Império Romano do Ocidente
(em 1453 d.C.).
72
IV- Dentro do Neoplatonismo, muito presente na cidade de Alexandria, Plotino era
a figura mais influente e marcante. Plotino, um cristão pregador de Alexandria,
influenciou demais os escritores e pensadores cristãos depois dele.
I- João Duns Scoto e Santo Anselmo são representantes do período conhecido por
Pré-tomista (Pré-escolástica).
II- É de Santo Anselmo a famosa obra Prova Ontológica (Metafísica) da existência de Deus.
73
III- Aquino é, em Filosofia, tido como um precursor do pensamento moderno, pois foi
dele a origem do conceito de que a razão seria uma ferramenta suficiente para
adquirirmos pleno e total conhecimento do mundo. Exemplo disso seria apreendido
através das famosas cinco vias demonstráveis racionalmente da existência de Deus.
IV- Quando Aquino defende uma normatização ética dada pelas virtudes, defende
que agir com ética é algo autônomo, ou seja, ser ético se dá por uma escolha do
indivíduo. Isso é bastante diferente de alguém que age de maneira ética porque a
lei (jurídica ou um mandamento) o ordena. Alguém, portanto, que age de maneira
heterônoma.
I- Diferentemente dos gregos, que defendiam que o fim último do homem, conduzido
pelas virtudes (principalmente as Virtudes Cardinais: sabedoria, justiça, coragem e
prudência), é sempre a busca pela felicidade, Aquino defende que essas virtudes
deveriam aproximar o homem do supra-humano, através da felicidade sobrenatural
(beatitude).
II- Em Aquino, acima das Virtudes Cardinais, temos as chamadas Virtudes Teologais:
a fé, como geradora das outras duas, a esperança e a caridade (como a caridade
implica amor a Deus e a todas as criaturas, pode-se trocar ou definir caridade por
amor).
III- Por se um cristão fervoroso e dono de uma obra magistral e profícua, Aquino foi
contrário à pena de morte em qualquer situação.
IV- O período chamado de Pós-Escolástica foi marcado pela manutenção do pensamento
de Tomás de Aquino e pelo esquecimento por completo das ideias oriundas de Santo
Agostinho.
74
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
REFLEXÕES DA REFORMA
1 INTRODUÇÃO
No século XVI, a Reforma modificou o ambiente do Cristianismo em relação
à Roma. A princípio, pode-se dizer que foi obra de Martinho Lutero que difundiu sua
doutrina em países germânicos e escandinavos. A partir da Reforma Protestante, houve
a sucessão de diversas consequências históricas, porém, talvez o principal fenômeno
decorrente desse período tenha sidp o movimento que, mais tarde, ficou conhecido
como Contrarreforma.
2 A REFORMA
A Reforma foi um movimento religioso que retirou parte da cristandade europeia
de sua ligação com Roma, dando origem às Igrejas Protestantes. Em princípio, a Reforma
foi obra de Martinho Lutero, depois foi difundida nos países germânicos e escandinavos,
onde foram erigidas importantes Igrejas de Estado.
75
Os países de língua francesa, através de Calvino, tinham um orientador da
renovação religiosa. Sua obra em Genebra, junto aos huguenotes franceses, fez da
Suíça e da França representantes de um novo tipo de protestantismo (o Calvinismo), o
qual se espalhou para Polônia, Boêmia, Hungria e Ilhas Britânicas, marcando a Reforma
Anglicana, que se apresentou como uma nova via entre o Catolicismo e o Protestantismo.
Para além das três grandes correntes da Reforma (Reforma Luterana, Reforma
Calvinista e Reforma Anglicana), as quais conformaram igrejas organizadas, surgiram
correntes alternativas, que rejeitaram laços institucionais, como os anabatistas e os
movimentos ligados ao Iluminismo e ao milenarismo.
A Reforma Católica perdurou durante o século XVI. Nessa época, podemos dar
destaque aos seguintes papas reformistas: Paulo III, Paulo IV, Pio V e Xisto IV. O êxito da
Reforma Católica, porém, se deve ao engajamento dos padres da Companhia de Jesus,
ordem fundada por Inácio de Loyola, em 1534.
76
Segundo Ordoñez e Quevedo (2004), no Concílio de Trento, a Igreja Católica:
O Concílio de Trento definiu, para a perspectiva dos católicos, que o pecado não
é definitivo para macular o homem e sua natureza. Além disso, reforçou que a luz natural
da graça inata deve ser defendida o elemento basilar para os códigos de governança
das instituições dos homens (HANSEN, 2001).
77
De acordo com Nohl (1978), os reformadores do século XVII são diretamente
responsáveis pela “autoconsciência” do procedimento educativo, retirando as cogitações
didático-pedagógicas da Filosofia, da teologia ou da Literatura.
Lutero não somente atinge a igreja católica com suas críticas, mas
influencia a educação quando produziu uma reestruturação no
sistema de ensino alemão, inaugurando uma escola moderna. A ideia
da escola pública e para todos, organizada em três grandes ciclos
(fundamental, médio e superior) e voltada para o saber útil nasceu do
projeto educacional de Lutero.
O ensino das camadas populares teve grande relevância para a reforma religiosa.
A busca por métodos que tornassem possível o aumento da disseminação do ensino
tornou-se uma meta. Em uma época em que o latim vigorava, os reformistas ajudaram
a instituir o ensino da língua materna e dos livros ilustrados.
Lutero defendia a unidade da igreja. No entanto, via de forma distinta dois fa-
tores, um visível e outro invisível. Ele assinalou que não existem duas igrejas, mas sim-
plesmente dois fatores de uma só igreja. Para o reformista alemão, a igreja invisível se
torna visível não por sua estrutura interna, tampouco pela autoridade papal, mas pela
Palavra e pelos sacramentos.
A Igreja visível era contemplada por Lutero como constituída por fiéis e
pecadores, aspecto que o fez defender, em contrariedade aos princípios do catolicismo
romano, o predomínio do Estado sobre a Igreja, com exceção ao que correspondia à
pregação da Palavra. Sobre isso, Bacich (2004, p. 17) afirma que:
78
Os anabatistas não ficaram satisfeitos com a posição de Lutero e insis-
tiam numa igreja só de crentes. Em muitos casos, eles zombavam da
igreja visível e dos meios de graça. Além disso, exigiam completa sepa-
ração de igreja e estado. Calvino e os teólogos reformados estavam de
acordo com Lutero quanto à confissão de que a Igreja é essencialmen-
te uma Communio Sanctorum, uma comunhão de santos.
79
3.2 A RESSIGNIFICAÇÃO DA FÉ EM LUTERO
Na Idade Média, a busca pela fé teve grande influência da Escolástica, fortemente
influenciada pelos pensamentos facere quod ince est (isto é, faz o melhor que podes) e
imitiatio christi (ou seja, imitação de Cristo). Entretanto, tais princípios não lograram êxito
pastoral e o exercício de conexão com a fé também foi atributo de Lutero, que manteve
o intuito de professar a fé na busca e em função de um Deus misericordioso – muito
embora surgisse uma série de novos questionamentos a partir do pensamento luterano.
De acordo com Lutero, o homem seria dotado de uma natureza dupla, a nature-
za corporal e a natureza espiritual. Com base em sua natureza corporal, deve ser reco-
nhecido enquanto carne, pessoa velha. Quanto a sua natureza espiritual, está atrelado
à alma e deve ser reconhecido como pessoa espiritual, interior, nova (EBELING, 2014).
Com base na dualidade na natureza humana, para Lutero, sua natureza espiritual
é independente e não pode ser condicionada por nenhum aspecto ou elemento ao bom
caminho, à justiça ou à salvação.
De acordo com Lienhard (1998, p. 91 apud EBELING, 2014, p. 69), o ser humano
interior é criado na alma pela palavra de Deus; o ser humano exterior insiste em alcançar a
justificação pela via das obras meritórias. Ambos, alma e corpo, são valorizados por Lutero:
a alma ganha eminência somente quando tocada pela Palavra de Deus; já o corpo é impor-
tante porque Deus se dirige ao ser humano por sinais exteriores, que passam pelo corpo, e,
sobretudo, na expressão do amor ao próximo que, inevitavelmente, passa pelo corpo.
Logo, para Lutero, o homem não está indelevelmente condenado a sua condição
de pecador, uma vez que, através da palavra de Deus, dotada de santidade, verdade e
justiça, o homem, por meio da atenção devota a esses atributos, pode estender sua
natureza espiritual e retribuir o que emana da natureza divina de Deus.
80
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma, a Reforma Protestante foi um movimento de caráter reformista, tendo
as 95 teses de Lutero como documento mais representativo, o que ocorreu no período
de declínio do modelo medieval, envolto por uma série de mudanças políticas e sociais,
culturais e econômicos.
Uma vez que Lutero compreendia que a Igreja era composta por pela sacralidade
da fé e por pecadores, defendeu que ela deveria se submeter ao Estado, ainda que não
no sentido de pregação da fé. Essa perspectiva foi determinante para que a nobreza
apoiasse a reforma visando à maior autonomia política e também econômica, já que isso
garantiria o fim de pagamento de impostos para a Igreja.
81
Esse era o modo usual de se anunciar uma disputa. Era a instituição regular da vida
universitária e não havia nada de dramático no ato. Devido à incontrolável repercussão,
eclodiu o movimento que ficou conhecido como Reforma Religiosa do século XVI
e 31 de outubro foi estabelecido como o seu dia oficial. Passados tantos anos, as
verdades, então proclamadas, permanecem inteiramente oportunas, verdadeiras e
indispensáveis. “Sola Scriptura, Solo Christus, Sola Gratia, Sola Fide, Solo Deo Gloria”.
2ª Tese: E esta expressão não pode e não deve ser interpretada como referindo-se
ao sacramento da penitência, isto é, à confissão e satisfação, a cargo dos sacerdotes.
5ª Tese: O papa não quer e não pode dispensar de outras penas além das que impôs
ao seu alvitre ou nem acordo com os cânones, que são estatutos papais.
6ª Tese: O papa não pode perdoar dívida, senão, declarar e confirmar aquilo que já
foi perdoado por Deus, ou então o faz nos casos que lhe foram reservados. Nesses
casos, se desprezados, a dívida em absoluto deixaria de ser anulada ou perdoada.
7ª Tese: Deus a ninguém perdoa a dívida sem que, ao mesmo tempo, o subordine,
em sincera humildade, ao ministro, seu substituto.
9ª Tese: Eis por que o Espírito Santo nos faz bem mediante o papa, excluindo este
de todos os seus decretos ou direitos o artigo da morte e da necessidade suprema.
82
11ª Tese: Este joio, que é o de transformar a penitência e satisfação, prevista pelos
cânones ou estatutos, em penitência ou penas do purgatório, foi semeado enquanto
os bispos dormiam.
12ª Tese: Outrora canônica poenae, ou seja, penitência e satisfação por pecados
cometidos, eram impostos, não depois, mas antes da absolvição, com a finalidade de
provar a sinceridade do arrependimento e do pesar.
13ª Tese: Os moribundos tudo satisfazem com a sua morte e estão mortos para o
direito canônico, sendo, portanto, dispensados, com justiça, de sua imposição.
14ª Tese: Piedade ou amor imperfeitos, da parte daquele que se acha às portas da
morte, necessariamente resultam em grande temor; logo, quanto menos amor tanto
maior o temor.
15ª Tese: Este temor e espanto em si tão só, sem nos referirmos a outras coisas,
basta para causar o tormento e o horror do purgatório, pois se avizinham da angústia
do desespero.
16ª Tese: Inferno, purgatório e céu parecem ser tão diferentes quanto o são um do
outro o desespero completo, incompleto ou quase desespero e certeza.
17ª Tese: Parece que, assim como, no purgatório, diminuem a angústia e o espanto
das almas, também deve crescer e aumentar o amor.
18ª Tese: Bem assim parece não ter sido provado, nem por boas razões nem pela
Escritura, que as almas do purgatório se encontram fora da possibilidade do mérito
ou do crescimento no amor.
19ª Tese: Parece ainda não ter sido provado que todas as almas do purgatório tenham
certeza de sua salvação e não receiem mais por ela, não obstante nós termos essa certeza.
20ª Tese: Por isso, o papa não quer dizer nem compreender com as palavras “perdão
plenário de todas as penas” o perdão de todo o tormento, mas tão só as penas por
ele impostas.
21ª Tese: Eis por que erram os apregoadores de indulgências ao afirmarem ser o
homem perdoado de todas as penas e salvo mediante indulgência do papa.
22ª Tese: Com efeito, o papa nenhuma pena dispensa às almas do purgatório das
que, segundo os cânones da igreja, deviam ter expiado e pago na presente vida.
23ª Tese: Verdade é que se houver qualquer perdão plenário das penas, este apenas
será dado aos mais perfeitos, que são muitos poucos.
83
24ª Tese: Logo, a maioria do povo é ludibriado com as pomposas promessas do
indistinto perdão, impressionando-se o homem singelo com as penas pagas.
25ª Tese: Exatamente o mesmo poder geral que o papa tem sobre o purgatório,
qualquer bispo e cura d’almas o tem no seu bispado e na sua paróquia, quer de modo
especial, quer para com os seus em particular.
26ª Tese: O papa faz muito bem em não conceder o perdão às almas em virtude do
poder das chaves (coisa que não possui), mas pela ajuda ou em forma de intercessão.
27ª Tese: Pregam futilidades humanas quantos alegam que no momento em que a
moeda soa ao cair na caixa a alma se vai do purgatório.
28ª Tese: Certo é que, no momento em que a moeda soa na caixa, vem lucro, e o
amor ao dinheiro cresce e aumenta; a ajuda, porém, ou a intercessão da igreja tão só
correspondem à vontade e ao agrado de Deus.
29ª Tese: E, quem sabe, se todas as almas do purgatório querem ser libertadas,
quando há quem diga o que sucedeu com S. Severino e Pascoal.
31ª Tese: Tão raro como existe alguém que possui arrependimento e pesar
verdadeiros, tão raro também é aquele que verdadeiramente alcança indulgência,
sendo bem poucos os que se encontram.
32ª Tese: Irão para o diabo, juntamente com os seus mestres, aqueles que julgam
obter certeza de sua salvação mediante breves de indulgência.
33ª Tese: Há que acautelar-se muito e ter cuidado daqueles que dizem: A indulgência
do papa é a mais sublime e mais preciosa graça ou dádiva de Deus, pela qual o
homem é reconciliado com Deus.
34ª Tese: Tanto assim que a graça da indulgência apenas se refere à pena satisfatória,
estipulada por homens.
35ª Tese: Ensinam de maneira ímpia quantos alegam que aqueles que querem
livrar almas do purgatório ou adquirir breves de confissão não necessitam de
arrependimento e pesar.
36ª Tese: Tudo o cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados e
sente pesar por ter pecado, tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão esse que
lhe pertence mesmo sem breve de indulgência.
84
37ª Tese: Todo e qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, é participante de todos
os bens de Cristo e da Igreja, por dádiva de Deus, mesmo sem breve de indulgência.
39ª Tese: É extremamente difícil, mesmo para os mais doutos teólogos, exaltar
diante do povo ao mesmo tempo a grande riqueza da indulgência e, ao contrário, o
verdadeiro arrependimento e pesar.
41ª Tese: É necessário pregar cautelosamente sobre a indulgência papal, para que o
homem singelo não julgue erradamente ser a indulgência preferível às demais obras
de caridade ou melhor do que elas.
42ª Tese: Deve-se ensinar, aos cristãos, não ser pensamento e opinião do papa que
a aquisição de indulgências, de alguma maneira, possa ser comparada com qualquer
obra de caridade.
43ª Tese: Deve-se ensinar, aos cristãos, proceder melhor quem dá aos pobres ou
empresta ao necessitado do que os que compram indulgência.
44ª Tese: É que, pela obra de caridade, cresce o amor ao próximo e o homem torna-
se mais piedoso; pelas indulgências, porém, não se torna melhor senão mais seguro
e livre da pena.
45ª Tese: Deve-se ensinar, aos cristãos, que aquele que vê seu próximo padecer
necessidade e, a despeito disso, gasta dinheiro com indulgências não adquire
indulgência do papa, mas desafia a ira de Deus.
46ª Tese: Deve-se ensinar, aos cristãos, que, se não tiverem fartura, fiquem com o
necessário para a casa e de maneira nenhuma o esbanjem com indulgências.
47ª Tese: Deve-se ensinar, aos cristãos, ser a compra de indulgência livre e não
ordenada.
48ª Tese: Deve-se ensinar, aos cristãos, que se o papa precisa conceder mais
indulgências, mais necessita de uma oração fervorosa do que de dinheiro.
85
49ª Tese: Deve-se ensinar, aos cristãos, serem muito boas as indulgências do
papa enquanto o homem não confiar nelas; mas muito prejudiciais quando, em
consequência delas, se perde o temor de Deus.
50ª Tese: Deve-se ensinar, aos cristãos, que se o papa tivesse conhecimento da
traficância dos apregoadores de indulgência, preferiria ver a basílica de São Pedro
ser reduzida a cinzas a ser edificada com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.
51ª Tese: Deve-se ensinar, aos cristãos, que o papa, por um dever seu, preferiria
distribuir o seu dinheiro aos que, em geral, são despojados do dinheiro pelos apre-
goadores de indulgência, vendendo, se necessário, a própria basílica de São Pedro.
52ª Tese: Esperar ser salvo mediante breves de indulgência é vaidade e mentira,
mesmo se o comissário de indulgências e o próprio papa oferecessem sua alma
como garantia.
53ª Tese: São inimigos de Cristo e do papa quantos por causa da prédica de
indulgências proíbem a palavra de Deus nas demais igrejas.
54ª Tese: Comete-se injustiça contra a palavra de Deus quando, no mesmo sermão,
se consagra tanto ou mais tempo à indulgência do que à pregação da palavra do
Senhor.
55ª Tese: A intenção do papa não pode ser outra do que celebrar a indulgência, que
é a coisa menor, com um toque de sino, uma pompa, uma cerimônia, enquanto o
evangelho, que é o essencial, importa ser anunciado mediante cem toques de sino,
centenas de pompas e solenidades.
56ª Tese: Os tesouros da igreja, dos quais o papa tira e distribui as indulgências, não
são bastante mencionados e nem suficientemente conhecidos na Igreja de Cristo.
57ª Tese: É evidente que não são bens temporais, porquanto muitos pregadores não
os distribuem com facilidade, antes os ajuntam.
58ª Tese: Também não são os merecimentos de Cristo e dos santos, porquanto este
sempre são suficientes, e, independente do papa, operam graça do homem interior e
são a cruz, a morte e o inferno do homem exterior.
59ª Tese: São Lourenço chama aos pobres, os quais são membros da Igreja, tesouros
da Igreja, mas no sentido em que a palavra era usada na sua época.
60ª Tese: Afirmamos, com boa razão, sem temeridade ou leviandade, que esses
tesouros são as chaves da Igreja, que lhe foram dadas pelo merecimento de Cristo.
86
61ª Tese: Evidente é que, para o perdão das penas e para a absolvição em
determinados casos, o poder do papa por si só basta.
63ª Tese: Esse tesouro, porém, é muito desprezado e odiado, porquanto faz com que
os primeiros sejam os últimos.
64ª Tese: Enquanto isso, o tesouro das indulgências é notoriamente o mais apreciado,
porque faz com que os últimos sejam os primeiros.
65ª Tese: Por essa razão, os tesouros evangélicos foram outrora as redes com que
se apanhavam os ricos e abastados.
66ª Tese: Os tesouros das indulgências, porém, são as redes com que hoje se
apanham as riquezas dos homens.
67ª Tese: As indulgências, apregoadas pelos seus vendedores como a mais sublime
graça, decerto assim são consideradas porque lhes trazem grandes proventos.
68ª Tese: Nem, por isso, semelhante indulgência é a mais ínfima graça, comparada
com a graça de Deus e a piedade da cruz.
70ª Tese: Entretanto, tem muito maior dever de conservar abertos os olhos e ouvidos,
para que estes comissários, em vez de cumprirem as ordens recebidas do papa, não
apregoem os seus próprios sonhos.
71ª Tese: Quem levanta a sua voz contra a verdade das indulgências papais é
excomungado e maldito.
72ª Tese: Aquele, porém, que se insurgir contra as palavras insolentes e arrogantes
dos apregoadores de indulgências, seja abençoado.
73ª Tese: Da mesma maneira em que o papa usa de justiça ao fulminar com
a excomunhão aos que em prejuízo do comércio de indulgências procedem
astuciosamente.
74ª Tese: Muito mais deseja atingir com o desfavor e a excomunhão àqueles que,
sob pretexto de indulgências, prejudicam a santa caridade e a verdade pela sua
maneira de agirem.
87
75ª Tese: Considerar a indulgência do papa tão poderosa, a ponto de absolver alguém
dos pecados, mesmo que (coisa impossível de se expressar) tivesse deflorado a mãe
de Deus, significa ser demente.
76ª Tese: Bem ao contrário, afirmamos que a indulgência do papa nem mesmo pode
anular o menor pecado venial, no que diz respeito à culpa que representa.
77ª Tese: Afirmar que nem mesmo São Pedro, se no momento fosse papa, poderia
dispensar maior indulgência, constitui insulto contra São Pedro e o papa.
78ª Tese: Dizemos, ao contrário, que o atual papa, e todos os que o sucederam,
é detentor de muito maior indulgência, isto é, o evangelho, dom de curar etc., de
acordo com o que diz 1 Corinto 12.6-9.
79ª Tese: Alegar ter a cruz de indulgências, erguida e adornada com as armas do
papa, tanto valor como a própria cruz de Cristo, é blasfêmia.
82ª Tese: Haja vista exemplo como este: por que o papa não livra duma só vez todas
as almas do purgatório, movido pela santíssima caridade e considerando a mais
premente necessidade delas, havendo santa razão para tanto, quando, em troca de
vil dinheiro para a construção da basílica de São Pedro, livra inúmeras delas, logo por
motivo bastante infundado?
83ª Tese: Outrossim: por que continuam as exéquias e missas de ano em sufrágio
das almas dos defuntos e não se devolve o dinheiro recebido para esse fim ou não
se permite os doadores busquem de novo os benefícios ou prebendas oferecidos
em favor dos mortos, quando já não é justo continuar a rezar pelos que se acham
remidos?
84ª Tese: E que nova santidade de Deus e do papa é esta a consentir a um ímpio
e inimigo resgate uma alma piedosa e agradável a Deus por amor ao dinheiro e
não livrar esta mesma alma piedosa e amada por Deus do seu tormento por amor
espontâneo e sem paga?
85ª Tese: E por que os cânones de penitência, isto é, os preceitos de penitência, que
faz muito caducaram e morreram de fato pelo desuso, tornam a remir mediante di-
nheiro, pela concessão de indulgência, como se continuassem em vigor e bem vivos?
88
86ª Tese: E por que o papa, cuja fortuna é maior do que a de qualquer Creso, não
prefere construir a basílica de São Pedro de seu próprio bolso em vez de o fazer com
o dinheiro de cristãos pobres?
87ª Tese: E que perdoa ou concede o papa pela sua indulgência àqueles que, pelo
arrependimento completo, têm direito ao perdão ou indulgência plenária?
88ª Tese: Afinal, que benefício maior poderia receber a igreja se o papa, que
atualmente o faz uma vez ao dia, cem vezes ao dia concedesse aos fiéis este perdão
a título gratuito?
89ª Tese: Visto o papa visar mais a salvação das almas mediante a indulgência
do que o dinheiro, por que razão revoga os breves de indulgência outrora por ele
concedidos, quando tem sempre as mesmas virtudes?
90ª Tese: Desfazer esses argumentos muito sutis dos leigos, recorrendo apenas à
força, e não por razões sólidas apresentadas, significa expor a igreja e o papa ao
escárnio dos inimigos e desgraçar os cristãos.
91ª Tese: Se, portanto, a indulgência fosse apregoada no espírito e sentido do papa,
essas objeções poderiam ser facilmente respondidas, nem mesmo teriam surgido.
92ª Tese: Fora, pois, com todos estes pregadores que dizem à igreja de Cristo: Paz!
Paz! Sem que haja paz!
93ª Tese: Abençoados, porém, sejam todos os pregadores que dizem à igreja de
Cristo: Cruz! Cruz! Sem que haja cruz!
95ª Tese: E, dessa maneira, mais esperem entrar no reino dos céus por muitas
aflições do que confiando em promessas de paz infundadas.
89
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• A mudança radical que a Reforma introduziu, na vivência religiosa dos que a ela
aderiram, está no fato de que colocam em primeiro plano a responsabilidade individual.
• A mensagem protestante achou espaço numa sociedade que já não via mais
respostas na religiosidade e, por vislumbrar uma perspectiva de maior inclusão
popular aos princípios da fé, transformou-se em uma resposta às necessidades
humanas do indivíduo que ansiava por ser norteado e relacionar-se com o seu
próprio mundo.
• A Reforma Protestante trouxe uma nova reflexão sobre a teologia e a vida cristã.
A consequência natural desses princípios é que cada cristão necessita ter acesso
à Escritura em sua própria linguagem. De fato, os protestantes, mais do que
qualquer outro grupo religioso, têm se preocupado em traduzir a Bíblia Sagrada
para outras línguas.
90
AUTOATIVIDADE
1 Entre as principais mudanças trazidas pela Reforma protestante, podemos citar a
readequação das relações existentes entre a sociedade e a instituição estatal. Nesse
sentido, assinale a alternativa CORRETA:
3 Lutero defendia a unidade da igreja, porém via, de forma distinta, dois fatores: um
visível e outro invisível. Cite quais são esses fatores e disserte a respeito.
5 De acordo com Lutero, o homem seria dotado de uma natureza dupla – a natureza
corporal e a espiritual. Considerando o que melhor caracteriza esses dois conceitos,
assinale a alternativa CORRETA:
91
a) ( ) Com base em sua natureza corporal, o homem deve ser reconhecido enquanto
carne, pessoa velha. Quanto a sua natureza espiritual, está atrelado à alma e deve
ser reconhecido como pessoa espiritual, interior, nova.
b) ( ) Com base em sua natureza corporal, deve ser reconhecido enquanto carne,
pessoa velha. Pessoa espiritual, interior, nova. Quanto a sua natureza espiritual,
está atrelado à alma e à divindade.
c) ( ) Com base em sua natureza corporal, deve ser reconhecido enquanto pecado
carnal. Quanto a sua natureza espiritual, enquanto a pureza da alma.
d) ( ) Com base em sua natureza corporal, deve ser reconhecido enquanto carne,
pessoa velha. Pessoa espiritual, interior, nova. Quanto a sua natureza espiritual,
está atrelado à alma, ainda que pecaminosa
e) ( ) Com base em sua natureza corporal, deve ser reconhecido enquanto o homem e
sua fé. Quanto a sua natureza espiritual, enquanto alma e sua abstração perante
a percepção humana.
92
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
A TEOLOGIA DA CONTEMPORANEIDADE
1 INTRODUÇÃO
A teologia é muito mais do que uma simples via formal de relação entre o ser
humano e a esfera do Sagrado; é uma ação dinâmica, que envolve o estudo dedicado
dos textos sagrados, vinculado às obras dos teólogos acadêmicos, além da ação de
afinidade emocional envolvendo o teólogo/fiel com sua relação espiritual e pastoral.
Nesse sentido, percebe-se que a ação teológica é uma atividade dinâmica, que en-
volve o aperfeiçoamento constante, como forma de crescimento pessoal e acadêmico (con-
sequentemente, profissional), de modo indispensável nas atividades exercidas pelo teólogo.
Dessa forma, pode-se afirmar que o estudo da teologia não tem semelhança
com o estudo da tabuada, por exemplo, em que os valores são fixos e nunca sofrerão
nenhuma alteração, com 2 × 2 sempre tendo, como resultado, 4. Portanto, o estudo e o
aperfeiçoamento constante se tornam não somente uma forma de compreensão mais
clara dos textos das Escrituras, mas também um caminho do contínuo amadurecimento
intelectual do estudioso.
93
de interpretação, representadas pela Hermenêutica, passam a ser estudadas de modo
interdisciplinar de maneira mais aprofundada pela Filosofia. Esse aprofundamento
dos estudos faz com que se desenvolvam áreas mais especializadas da teologia, bem
como causam um reflexo direto nas ações e aplicações delas, com a ação pastoral dos
representantes da Igreja.
Essas interpretações têm grande participação de uma das mais antigas ativida-
des reflexivas humanas, a Filosofia. Isso ocorre, em grande parte, pelo fato de a teologia
ter, gradativamente, se aproximado das chamadas Ciências Humanas (muito embora a
Filosofia realize reflexões que vão muito além da simples divisão das Ciências Humanas).
A busca da teologia como área de conhecimento, de um diálogo interdisciplinar com
outras áreas de conhecimento a ela próximas, fez, em especial da Hermenêutica, uma
área de concentração interpretativa dividida entre teólogos e filósofos.
NOTA
Hermenêutica é a filosofia que estuda a teoria da interpretação, que pode
se referir tanto à arte da interpretação quanto à prática e ao treino de
interpretação. A hermenêutica tradicional está relacionada ao estudo da
interpretação de textos escritos, especialmente nas áreas de literatura,
religião e direito. Os principais métodos de interpretação constitucional,
defendidos pela Moderna Hermenêutica, são:
• Método Tópico-Problemático.
• Método Hermenêutico-Concretizador.
• Método Científico-Estrutural.
• Método Normativo-Estruturante.
94
2 TEÓLOGOS CONTEMPORÂNEOS
A teologia Contemporânea buscou realizar uma relação de maior interdiscipli-
naridade com outros conhecimentos formais, de modo a promover uma interpreta-
ção mais esclarecida das Escrituras. Seja buscando uma interpretação metafórica ou
tendo um direcionamento mais literal dos textos bíblicos, os teólogos contemporâneos
procuram fundamentos, em grande parte filosóficos, como forma de definir suas con-
cepções acerca da Palavra.
ATENÇÃO
A Filosofia tem divisões, como a Ética, a Lógica e a Filosofia da Linguagem,
que são apenas algumas demonstrações da dificuldade que é situar os
filósofos simplesmente como pertencentes às Ciências Humanas. Só os
ramos filosóficos citados já fazem com que os filósofos se relacionem com
as Ciências Exatas e Naturais e as Linguagens.
95
FIGURA 11 – FRIEDRICH SCHLEIERMACHER
Foi preciso uma guerra para que ele viesse a romper com sua criação
burguesa e aristocrática, romper com o sistema no qual vivia, a
fim de que pudesse afirmar a fé, não só religiosa, mas também nos
ideais democráticos e na revolução social. Iniciou seus estudos em
Berlim e conseguiu a láurea em filosofia em Tünbigen e em Halle a
de teologia. É importante destacarmos que teve um conhecimento
dos grandes filósofos alemães, sobretudo Schelling. Inclusive as duas
teses de Tillich são direcionadas a este autor. Teve contato com os
grandes teólogos de sua época. Dialogou e dialogou muito com estes
(MATHIAS, 2007, p. 38).
96
FIGURA 12 – PAUL JOHANNES OSKAR TILLICH
Muito embora Tillich considerasse as escrituras como fonte única para o acesso
às revelações, o pensador considerava importante uma compreensão que se aproxi-
masse da realidade humana, com todas as suas contradições e dificuldades, inserida
nos mais diversos contextos. Em grande parte, essa interpretação ocorre por conta do
fato de ter sido capelão no exército. Essa experiência revelou-se bastante traumática
emocional e racionalmente. Nesse momento, ao tomar contato com o niilismo de parte
da Filosofia Alemã, Tillich refletiu sobre a definição de que Deus está morto; essa refle-
xão fez com que ele percebesse que o que realmente estava morto, na verdade, não era
Deus, como havia refletido Nietzsche, mas a interpretação tradicional do divino, cons-
truída durante séculos.
97
reflexões de Tillich passam pela análise de um cenário pessoal, em que ele percebe a
relação com a religiosidade, de maneiras diferentes, com base na observação de sua
própria vivencia familiar, como a diferença de concepção da vida de seu pai e de sua mãe.
98
FIGURA 13 – RUDOLF BULTMANN
A palavra kerigma ou kérygma (do grego κήρυγμα) está relacionada com a men-
sagem a ser anunciada, em específico no Novo Testamento. Essa linha de interpretação
preocupa-se menos com as figuras históricas e mais com as mensagens anunciadas
nas escrituras, que, segundo os seus estudiosos, deveria ser o centro das interpreta-
ções teológicas. Essa interpretação de Bultmann foi aperfeiçoada por seus discípulos.
99
diante da interpelação decisiva que lhe vem da pregação, não da
pesquisa histórica.
Com respeito ao pensamento de Bultmann, Käsemann criticou,
principalmente, a total desconexão entre história e fé e enfatizou
que a pesquisa deveria procurar o enraizamento de Jesus na
história, evitando assim, um tipo de docetismo, capaz de permitir
aos estudiosos a construção de um Cristo conforme seus interesses
(CARMO; ANDRADE, 2015, p. 209).
Bultmann, para compor seu ponto de vista das escrituras, que não se baseava
unicamente no Jesus histórico, fez uso de uma concepção chamada de “sola fides”,
uma das denominações dessa interpretação. Esse termo, oriundo do latim, pode ser
livremente traduzido como “somente pela fé”. É importante novamente ressaltar que
esse é um posicionamento adotado pelas vertentes protestantes, não sendo, portanto,
uma forma de compreensão utilizada pelas igrejas Católica e Ortodoxa.
100
pode ser percebida na obra A Carta aos romanos (1922), em que os conceitos do filósofo
são vistos com frequência. São percebidas obras da filosofia kiekegaardiana como
Prática no Cristianismo, O Momento e Uma Antologia.
101
tórico-crítico se concentrava, em demasia, nas questões periféricas, ao
passo que Barth enfatizava a proclamação como sendo o fundamental.
A autoridade da Palavra de Deus, segundo Barth, não pode ser
submetida a critérios de pesquisa. A razão humana não pode ser
o critério último para análise dos escritos bíblicos; a dimensão
escatológica do ser divino deve ser preservada. “A única resposta que
possui genuína transcendência, e assim pode resolver o enigma da
imanência, é a Palavra de Deus – notem: a Palavra de Deus”.
Com muita veemência, Barth rejeita qualquer modalidade de teologia na-
tural. Para ele, Deus não pode ser conhecido pela capacidade da razão
humana, nem se revela na natureza ou na história (MORAIS, 2010, p. 73).
102
3.1 TEOLOGIA LIBERAL
A teologia Liberal busca dar uma interpretação histórica para a figura de Jesus
Cristo, através das escrituras, ressaltando questões morais e éticas, que, para esses
estudiosos, devem ser a base teológica a ser compreendida. É um direcionamento que
teve grande desenvolvimento durante o século XX. Schleiermacher é um dos pensadores
que inspirou essa corrente teológica, que acabou sendo mais permissiva com a
liberdade de expressão, pois a racionalidade (fortemente ligada à Filosofia) na relação
com as escrituras deu menos relevância à autoridade institucionalizada do clero. Essa
racionalidade ainda permite uma projeção otimista do fiel no que diz respeito ao futuro,
tomando como produtivo o aparecimento e o desenvolvimento de novas tecnologias.
103
Nessa direção, a exegese bíblica deixa de assumir um aspecto estático, com
base na interpretação institucional, passando a fazer uso da experiência pessoal, mais
emocional, como elemento de aplicação prática.
104
Algumas segmentações teológicas tiveram um grande impulso com a Teologia
da Libertação, como segmentos teológicos como as teologias que aproximam os mo-
vimentos indígenas e os movimentos negros – apesar de serem chamados de teologia
Indígena e teologia Negra, essas duas linhas de interpretação são consideradas inte-
grantes da Teologia da Libertação. Em grande parte, essa multiplicidade de tendências
acontece pelo fato de as ações teológicas serem exercidas pelos sacerdotes, com for-
mação formal, mas também pela ação dos leigos, que recebem formação para a sua
participação, permitindo um alcance maior da presença da Palavra aos fiéis. Essa ação,
envolvendo a interpretação teológica com o envolvimento político como forma de bus-
car uma maior igualdade de direitos aos menos favorecidos, é o elemento que garante
uma dinâmica a esta linha da teologia.
105
com a hierarquia do Vaticano acabou por levá-lo ao afastamento
voluntário do sacerdócio, mas não da teologia e da assessoria às
pastorais populares. Podemos ver assim como os caminhos da
vida, e neles a ação do Espírito Santo, vão movendo a história e
transformando mentes e corações (ZWETSCH, 1998, p. 141-142).
Leonardo Boff ficou conhecido não somente por conta de seus posicionamentos,
em suas obras, como Igreja, Carisma e Poder, publicado em 1981, mas pelos
desdobramentos institucionais, em grande medida por ter passado por um processo
institucional de um órgão da Igreja chamado de Congregação Para a Doutrina da Fé. Essa
hierarquia interna do Vaticano, na época, era presidida pelo Cardeal Joseph Ratzinger
(1927-), que, mais tarde, foi eleito o 265º Papa, com o nome de Bento XVI.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na pós-modernidade, foi possível se contemplar o horizonte teológico de
maneira que não era apenas relacionado à tradução, em termos mais acessíveis dos
textos bíblicos, mas também à possibilidade de uma interpretação teológica mais próxima
das pessoas. Tanto com as diferentes interpretações protestantes, que buscavam
aproximar as escrituras e a sua mensagem dos fiéis, quanto pelo catolicismo romano,
que também objetivou se aproximar do seu rebanho ao redor do globo, percebemos
uma aproximação da Igreja, enquanto instituição, com o seu fiel.
Esse processo, como visto, nem sempre foi muito bem recebido pelas alas mais
conservadoras da Igreja, independentemente da denominação, mas, com o passar
do tempo, mediante um resultado mais efetivo no processo de aproximação dos fiéis,
acabou se fortalecendo e se consolidando.
106
LEITURA
COMPLEMENTAR
PROVA ONTOLÓGICA (METAFÍSICA) DA EXISTÊNCIA DE DEUS
Então, ó Senhor, tu que nos concedestes a razão em defesa da fé, faze com que eu conheça,
até quanto me é possível, que tu existes assim como acreditamos, e que és aquilo que acredi-
tamos. Cremos, pois com firmeza, que tu és um ser do qual não é possível pensar nada maior.
Ou será que um ser assim não existe porque “o insipiente disse, em seu coração: Deus não
existe?”. Entretanto, o insipiente quando eu digo: “o ser do qual não se pode pensa nada maior”,
ouve o que digo e o compreende. Ora, aquilo que ele compreende se encontra em sua inte-
ligência, ainda que possa não compreender que existe realmente. Na verdade, ter a ideia de
um objeto qualquer na inteligência, e compreender que existe realmente, são coisas distintas.
Um pintor, por exemplo, ao imaginar a obra que vai fazer, sem dúvida, a possui em sua inteli-
gência; porém, nada compreende da existência real da mesma, porque ainda não a executou.
Quando, ao contrário, a tiver pintado, não a possuir. apenas na mente; mas também lhe com-
preender. a existência, porque já a executou. O insipiente há de convir igualmente que existe
na sua inteligência “o ser do qual não se pode pensar nada maior”, porque ouve e compreende
essa frase; e tudo aquilo que se compreende encontra-se na inteligência. Mas “o ser do qual
não é possível ensinar nada maior” não pode existir somente na inteligência. Se, pois, existisse
apenas na inteligência, poder-se-ia pensar que h. outro ser existente também na realidade; e
que seria maior. Se, portanto, “o ser do qual não é possível pensar nada maior” existisse so-
mente na inteligência, este mesmo ser, do qual não se pode pensar nada maior, tornar-se-ia
o ser do qual é possível, ao contrário, pensar algo maior: o que, certamente, absurdo. Logo, “o
ser do qual não se pode pensar nada maior” existe, sem dúvida, na inteligência e na realidade.
Capítulo III – Que não é possível pensar que Deus não existe
O que acabamos de dizer é tão verdadeiro que nem é possível sequer pensar que Deus não
existe. Com efeito, pode-se pensar na existência de um ser que não admite ser pensado,
como não existente. Ora, aquilo que não pode ser pensado como não existente, sem dúvida,
é maior que aquilo que pode ser pensado como não existência. Por isso, “o ser do qual não
é possível pensar nada maior”, se se admitisse ser pensado como não existente, ele mesmo,
que é “o ser do qual não se pode pensar nada maior”, não seria “o ser do qual não é possível
pensar nada maior”, o que é ilógico. Existe, portanto, verdadeiramente “o ser do qual não é
possível pensar nada maior”; e existe de tal forma, que nem sequer é admiti-lo pensá-lo como
não existente. E esse ser é. Senhor, nosso Deus, és tu. Assim, tu existes és. Senhor, meu Deus,
107
e de tal forma existes que nem é possível pensar-te não existente. E com razão. Se a mente
humana conseguisse conceber algo maior que tu, a criatura elevar-se-ia acima do Criador
e formularia um juízo acerca do Criador. Coisa extremamente absurda. E, enquanto tudo,
excluindo a ti, pode ser pensado como não existente, tu és o único, ao contrário, que existes
realmente, entre todas as coisas, e em sumo grau. Então, por que o insipiente disse em seu
coração: “Não existe Deus”, quando é tão evidente, à razão humana, que tu existes com maior
certeza que todas as coisas? Justamente porque ele é insensato e carente de raciocínio.
Capítulo IV – Que o insipiente disse em seu coração aquilo que é impossível pensar
Mas como o insipiente pôde dizer, em seu coração, aquilo que nem sequer é possível
pensar? Ou como pôde pensar aquilo em seu coração, quando “dizer no coração” nada
mais é do que pensar? Se, verdadeiramente, ele disse isso em seu coração, na verdade,
também, o pensou. Mas, na verdade, ele não disse isso em seu coração, porque, jus-
tamente, não podia pensá-lo. Com efeito, pode-se pensar, ou dizer no coração, uma
coisa de duas maneiras: pensando na palavra que expressa a coisa, ou compreenden-
do a própria coisa. No primeiro sentido, é possível pensar que Deus não existe’ no seu
mundo, não. Quem, por exemplo, compreende o que são a água e o fogo, sem dúvida:
não pode pensar que os dois elementos sejam realmente a mesma coisa. Entretanto, se
pensar apenas nas palavras água e fogo, pode imaginar as duas coisas como idênticas.
Assim, quem compreende o que Deus é, certamente, não pode pensar que ele não exis-
te, mas o poderia, se repetisse na mente apenas a palavra Deus, sem atribuir-lhe ne-
nhum significado, ou significando coisa completamente diferente. Deus, porém, é “o ser
do qual não é possível pensar nada maior”, e quem compreende bem isso sem dúvida
compreende, também, que Deus é um ser que não pode encontrar-se no pensamento.
Quem, portanto, compreende que Deus é assim, não consegue sequer imaginar que
ele não exista. Obrigado, meu Deus. Agradeço-te, meu Deus, por ter-me permitido ver,
iluminado por ti, com a luz da razão, aquilo em que, antes, acreditava pelo dom da fé que
me deste. Assim, agora, encontro-me na condição em que, ainda que não quisesse crer
na tua existência, seria obrigado a admitir racionalmente que tu existes.
Capítulo V
Que Deus é tudo aquilo que é melhor que exista do que não exista, e que é o único
existente por si mesmo, tendo feito todas as outras coisas do nada.
Portanto, o que és tu, ó Senhor, Deus meu, tu de quem não é possível pensar nada maior?
Mas, quem poderia ser, senão aquele que supremo entre todas as coisas, único existente
por si mesmo – criou tudo do nada? Com efeito, o que não é tudo isso é inferior àquilo que
o pensamento pode compreender no seu mais alto grau. Mas isso não pode ser pensado
de ti. Que tipo de bem poderia faltar, então, ao bem supremo, donde deriva toda espécie
de bem? És, portanto, justo, verdadeiro, feliz e tudo aquilo que é melhor que exista do que
não exista. De fato, é melhor ser justo do que não ser justo, ser feliz do que não ser feliz.
FONTE: Adaptado de DUTRA, D. J. V.; HEBECHE, L. A. História da filosofia II. Florianópolis: FILOSOFIA/EAD/
UFSC, 2008.
108
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• Paul Johannes Tillich era filho de pastor luterano, portanto, bastante familiarizado
com o contexto das ideias cristãs tradicionais. O início do século XX, com todo o
seu contexto de violências, fez com que esse pensador revisse suas concepções
do mundo ao seu redor, realizando uma reflexão profunda. Com o grande avanço
promovido na interpretação de Tillich, em suas reflexões, foi possível construir uma
maior interdisciplinaridade nas abordagens da teologia, o que permitiu não somente
uma expansão do paradigma interpretativo da teologia, mas também se valeu dos
avanços nessas áreas de conhecimento.
109
• O pensador Rudolf Bultmann foi uma mente de relevância teológica, cujas
concepções foram discutidas por teólogos católicos e protestantes. No entanto, foi
no contexto protestante que ele teve maior visibilidade, ao afirmar que a fé cristã não
tem necessidade de se amparar apenas na figura histórica de Jesus Cristo para ser
fundamentada.
• Bultmann, para compor seu ponto de vista das escrituras, que não se baseava
unicamente no Jesus histórico, fez uso de uma concepção chamada de “sola fides”,
uma das denominações dessa interpretação. Esse termo, oriundo do latim, pode ser
livremente traduzido como “somente pela fé”.
• Karl Barth foi outro exemplo de pensador de língua teuto, que exerceu importante
participação no contexto teológico, durante o século XX. É considerado por muitos
um dos maiores da teologia daquele século. Sua formação teve início com uma
grande influência das correntes teológicas liberais, das quais pouco tempo depois
se afastou. É muito comum imaginar que, ao se afastar de uma interpretação mais
liberal, Barth fosse abraçar como base uma concepção mais conservadora, o que não
foi o caso. Ele foi defensor de uma interpretação mais moderada, de modo a se situar
entre essas duas visões.
• Muitos estudiosos afirmam que a teologia de Karl Barth é uma reação ao pensamento
teológico de Friedrich Schleiermacher. Para Barth, é equivocada e enganosa a relação
entre o elemento sagrado e divino, com concepções que justificavam, de maneira
falaciosa, usando pressupostos culturais, que levaram o ser humano às guerras
ocorridas, em grande escala, duas vezes, no continente europeu. A concepção
teológica de Barth não se encaixa facilmente em uma das vertentes teológicas
constituídas durante o século XX.
• A teologia Liberal busca dar uma interpretação histórica para a figura de Jesus
Cristo, através das escrituras, ressaltando questões morais e éticas, que, para esses
estudiosos, devem ser a base teológica a ser compreendida. É um direcionamento
que teve grande desenvolvimento durante o século XX. Schleiermacher é um dos
pensadores que inspirou essa corrente teológica.
110
• A Teologia da Libertação surge em meio aos complexos contextos sociais e políticos,
em que as diferenças entre os estratos da sociedade são gigantescas, portanto,
fomentam e criam movimento sociais que têm como interesse diminuir esse abismo
social. A segunda metade do século XX foi um período de grandes transformações na
parte latina do Continente Americano. A divulgação de ideais socialistas, bem como
a adoção de sistemas neossocialistas em algumas nações, como Cuba, com Fidel
Castro, ajudou a popularizar o movimento da Teologia da Libertação.
• Leonardo Boff ficou conhecido não somente por conta de seus posicionamentos
em suas obras, como Igreja, Carisma e Poder, publicado em 1981, mas pelos
desdobramentos institucionais, em grande medida por ter passado por um processo
institucional de um órgão da Igreja chamado de Congregação Para a Doutrina da Fé.
111
AUTOATIVIDADE
1 O estudo da teologia, no período Contemporâneo, passou a ter um caráter diferente
do que era conhecido anteriormente. Nesse sentido, uma interpretação da teologia,
relacionando-a, de maneira mais próxima, com outras áreas de conhecimento, em
especial as ditas Ciências Humanas, permitiu uma análise teológica mais ampla. É
evidente que essas discussões absorvem elementos das outras áreas, que podem
ser aperfeiçoados em suas especificidades, adotando ou desenvolvendo algumas
interpretações. Um bom exemplo é a abordagem entre a teologia e a Historiografia.
Considerando a época em que teve início a interpretação teológica conhecida como
contemporânea, assinale a alternativa CORRETA:
112
4 A palavra kerigma está relacionada com a mensagem a ser anunciada, em específico
no Novo Testamento. Essa linha de interpretação preocupa-se menos com as figuras
históricas e mais com as mensagens anunciadas nas escrituras, que, segundo os
seus estudiosos, deveria ser o centro das interpretações teológicas. Com base no
teólogo que se preocupou com essa forma de intepretação das Escrituras, assinale a
alternativa CORRETA:
113
REFERÊNCIAS
ANDRADE, R. S.; SILVA, I. D. Opção liberal ou opção fundamentalista? O criacionismo
na controvérsia modernista-fundamentalista nos Estados Unidos. Sacrilegens, Juiz
de Fora, v. 10, n.1, p. 62-82, 2013. Disponível em: https://bit.ly/2RBmsVa. Acesso em: 10
maio 2021.
AQUINO, T. Suma teológica. Volume I, III e IV. São Paulo: Abril Cultural; 1984. (Coleção
Os Pensadores).
DANIELOU, J.; MARROU, E. Dos primórdios a São Gregório Magno. Tradução: Frei
Paulo Evaristo Arns. 3. ed. Petrópolis: Vozes; 1984.
114
DUTRA, D. J. V.; HEBECHE, L. A. História da filosofia II. Florianópolis: FILOSOFIA/EAD/
UFSC, 2008.
GONZALEZ, J. L. A Era dos sonhos frustrados. São Paulo: Vida Nova; 1986. (vol. V).
HANSEN, J. A. A civilização pela palavra. In: LOPES, E. M. T.; FARIA FILHO, L. M.; VEIGA, C.
G. (Orgs.). 500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica; 2001.
115
ORDOÑEZ, M.; QUEVEDO, J. História geral. São Paulo: IBEP; 2004.
ZEFERINO, J. Karl Barth: uma breve introdução a seu pensamento no horizonte da ética
teológica. Revista de Cultura Teológica – PUC/SP, São Paulo, a. 25, n. 89, p. 300-331,
jan./jun. 2017. Disponível em: https://bit.ly/3fYUMTq. Acesso em 10 maio 2021.
116
UNIDADE 3 —
A RELAÇÃO ENTRE
A TEOLOGIA E AS
ESCRITURAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar
o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
117
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
Acesse o
QR Code abaixo:
118
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
A RELAÇÃO ENTRE A TEOLOGIA E AS
ESCRITURAS
1 INTRODUÇÃO
Nesta unidade, nosso foco será a fundação e a origem da chamada teologia
Cristã, mais especificamente, a Teologia Evangélica. Para isso, falaremos sobre os
profetas, apóstolos e alguns aspectos da vida de Jesus, e, por fim, desenvolveremos o
tema da Teologia Evangélica.
Como já dito, teologia é uma palavra formada pelos termos advindos do latim
(Theologia) e do grego (Theologos) – theos (deus) e logia ou logos (estudo). Assim,
entendemos teologia como um estudo sobre a existência de Deus, das questões
referentes ao conhecimento da divindade, assim como de sua relação com o mundo e
com os homens. Também é costumeiramente entendida como uma ciência, cujo fim é
compreender e tematizar uma área do conhecimento humano, e isso dentro do caminho
indicado pelo próprio objeto em questão. O nome teologia remete à ideia de que essa área
do conhecimento seria a única a ocupar-se em compreender e tematizar Deus. Contudo,
Barth (1996, p. 10) cita que: “[...] não há nem religião, nem filosofia, nem cosmovisão que –
quer seja profunda, quer superficial – não se relacione com alguma divindade, interpretada
e circunscrita desta ou daquela forma, e que, portanto, não seja teologia”.
119
Como afirma Barth (1996), a melhor e única teologia correta é a do Deus único,
verdadeiro, a qual deveria ser a única – que é o que todas as outras, erradamente,
alegam ser. Esse Deus é o que se revela nos escritos do Antigo Testamento.
2 OS PROFETAS E OS APÓSTOLOS
Para limitarmos o lugar da chamada teologia, faz-se fundamental aceitarmos
que existem seres humanos aos quais compete uma posição toda particular no que
concerne à palavra de Deus, tidos como Profetas do Antigo Testamento e os apóstolos
do Novo Testamento. Através desses homens, as palavras de Javé e sua história com
Israel fez-se ouvir pelo povo, tendo sido por eles registradas (ou que mandaram registrar)
nos escritos para o conhecimento das gerações futuras.
120
A Teologia Evangélica entende os testemunhos dos Profetas do Velho
Testamento não apenas como um prelúdio do Novo Testamento, mas com a máxima
seriedade a eles possível de se atribuir. “O Novo Testamento está latente no Antigo, e o
Antigo se torna patente no Novo” (BARTH, 1996, p. 24). Segundo a Bíblia:
Essa história era real, e era real para elas exclusivamente como tal
história de salvação e revelação; Jesus lhes era real exclusivamente
como aquele que anunciavam (baseado em sua autoproclamação)
como kyrios, Filho de Deus e Filho do homem. Assim, não sabiam e
falavam nem de um “Jesus histórico” nem de um “Cristo da fé”: nem
(abstraindo) de um Cristo no qual ainda não criam nem (abstraindo
mais uma vez) de um Cristo em que haveriam de crer mais tarde. Fa-
lavam de modo concreto do Jesus Cristo uno com quem se tinham
encontrado como aquele que ele era, como o que se lhes dera a co-
nhecer, mesmo quando ainda não acreditavam nele. [...] A origem, o
assunto, o conteúdo do testemunho neotestamentário foram e con-
tinuam sendo a história da salvação e da revelação, tornada evento
em Jesus Cristo, como ação e palavra de Deus (BARTH, 1996, p. 25).
IMPORTANTE
A relação entre a Teologia Evangélica e o testemunho bíblico acerca da palavra de Deus:
1. Como acontece no profetismo e no apostolado, a teologia tem por objetivo dar respostas
humanas à palavra divina. Também as testemunhas do Antigo e as do Novo Testamento
tinham ouvido a palavra como tal, testemunhando-a humanamente, em linguagem
humana, dentro de seu modo de pensar condicionado pelo tempo e pelo espaço em
que viviam – foram, portanto, teólogos (e teólogos muito distintos entre si, embora todos
se orientassem pelo mesmo objetivo). Assim, também a Teologia Evangélica não poderá
ser nem mais nem menos: sua intenção será a das testemunhas bíblicas.
121
2. No entanto, por outro lado, a teologia não é nem profetismo nem apostolado. O seu
lugar, portanto, não se encontra no mesmo plano – ou em plano semelhante – daquele
das primeiras testemunhas.
3. Menos ainda, o lugar da teologia se situará em qualquer nível acima do das testemunhas
bíblicas.
4. Assim, a teologia terá seu lugar definitivo abaixo dos escritos bíblicos. Terá de permitir,
de bom grado, que aquelas lhe olhem sobre os ombros e lhe corrijam os cadernos, por
serem melhores peritos nesse único assunto que realmente importa.
5. O único assunto que importa é o conhecimento do Deus do evangelho tão estranhamente
distinto dos deuses de todas as demais teologias. A teologia recebe este seu assunto
partindo da Escritura Sagrada e aproximando-se continuamente desta.
6. Na aprendizagem da Escritura, a teologia é confrontada com o Deus uno –
mas que é uno na plenitude de sua existência, ação e revelação. Nessa
aprendizagem não será possível que ela se torne monolítica, monomaníaca e
monótona – e, portanto, infalivelmente tediosa –, assim como será incapaz de
fixar ou de limitar sua atenção a este ou àquele detalhe.
7. A teologia responde ao logos de Deus, tentando ouvi-lo e interpretá-
lo em seu testemunho bíblico de maneira sempre nova. Pesquisa as
Escrituras, auscultando os seus textos: quer saber se e em que medida
dão testemunho dele.
122
IMPORTANTE
ESBOÇO DA HISTÓRIA BÍBLICA EM ATOS
FIGURA 1 – APÓSTOLOS: SIMÃO, CHAMADO DE PEDRO, ANDRÉ, TIAGO, FILHO DE ZEBEDEU, JOÃO, FILIPE,
BARTOLOMEU, TOMÉ, MATEUS, TIAGO, FILHO DE ALFEU, TADEU, SIMÃO, O ZELOTE E JUDAS ISCARIOTES
3 A VIDA DE JESUS
O casamento de José e Maria anunciava o advento de alguma coisa, de algum
acontecimento, de algum ser misterioso e incompreensível à lógica comum. Um Deus
iria nascer:
123
o poeta é quem sabe expressar com palavras o sentido oculto das
coisas e os sentimentos mais íntimos do ser humano, Jesus foi um
grande poeta (ROCHA, 1973, p. 16).
Com base no que os cristãos são considerados por estarem em Cristo, Deus,
mediante o seu Espírito e o evangelho, dá-se o começo da obra restauradora das
relações de toda a comunidade cristã. E todos, sem exceção, anseiam pela vida de
Cristo, em sua máxima glória.
Entretanto, Jesus era também um homem, e nada revela melhor o homem Jesus
do que os seus sentimentos em face da morte. Quando chegou a hora, ele sentiu-se
apavorado, como um homem comum: “Ele começou a sentir pavor e angústia” (BÍBLIA,
Mc., 14:34). E mais, Jesus fala aos Apóstolos: “Minha alma está numa tristeza mortal”
(BÍBLIA, Mt., 26:38).
DICAS
Leia o texto O Cordeiro de Deus na Leitura Complementar, ao final do Tópico 3.
DICAS
“Dois mil anos se passaram... e sua vida continua sendo um enigma
perturbador para toda a humanidade” (PAGLIARIN, 2006, p. 73). Uma boa
sugestão de leitura é o livro Jesus – a pessoa mais intrigante e influente que
já viveu neste mundo.
124
FIGURA 2 – JESUS E FELICIDADE
NOTA
HERMENÊUTICA
Em uma definição mais geral, hermenêutica é uma parte da Filosofia dedicada à interpretação.
Apesar de não ter esse nome ainda, foi tema de especulação quando da análise da
linguagem, desde a Antiguidade, por Platão. A hermenêutica fundou-se, inicialmente, como
uma teoria interpretativa de textos cristãos. Na primeira leva de autores dessa linha de
pensamento, também poderiam ser acoplados os intérpretes não só dos textos canônicos,
mas também dos textos jurídicos, como Schleiermacher e Dilthey. Schleiermacher tentou
criar uma arte e ciência da compreensão em geral. Já o filósofo Wilhelm Dilthey iniciou
uma nova abordagem de um ramo da compreensão geral, reconhecendo uma relação
de circularidade existente entre objeto a ser estudado de modo científico e o indivíduo
que o estuda, e procurando associar validade epistemológica à interpretação geradora da
definição de hermenêutica.
125
RESENHA DA OBRA: HERMENÊUTICA – ARTE E TÉCNICA DE INTERPRETAÇÃO
DE FRIEDRICH D. E. SCHLEIERMACHER
126
Estudando os métodos de Ast e Wolf, Schleiermacher pontua que quando a
compreensão segura e completa não se realiza simultânea e imediatamente com
a percepção, os métodos comparativo e divinatório deverão ser utilizados, nos
graus proporcionais de necessidade do objeto de estudo, até que se chegue a uma
satisfação tão semelhante quanto à compreensão imediata do texto (p. 43). Todavia,
o autor questiona como podem as crianças compreender o que é dito sem que
conheçam ainda a atividade do pensamento, nem tenham pontos de comparação.
A doutrina hermenêutica que propõe somente pode começar quanto tanto a língua em
sua objetividade quanto o processo de formação do pensamento forem vistos enquanto
funções da vida espiritual individual em sua referência ao próprio pensamento, a partir
do modo como se procede no encadeamento e comunicação dos pensamentos, como
também do modo como se deve proceder na compreensão (p. 46).
No próximo discurso (outubro de 1829), o autor trata da ideia, que diz ter sido inspirada
em Ast, de que cada particular apenas pode ser compreendido por meio do todo e,
portanto, toda explicação do particular pressupõe já a compreensão do todo.
O mesmo raciocínio vale para uma obra por inteiro. Uma obra deve ser interpretada
sobre um duplo ponto de vista, pois cada obra é um particular no domínio da literatura
ao qual pertence, mas também é um particular enquanto ato de seu autor e forma,
com outras suas ações, o todo de sua vida.
127
Das regras mais relevantes, podem-se destacar as seguintes:
• Partir do objeto mais restrito, porque mesmo que haja uma hermenêutica
particular, a exemplo da hermenêutica religiosa, o particular é compreendido
apenas através do universal (p. 67).
• A hermenêutica parte de dois pontos distintos: compreender na linguagem e
compreender no falante. A interpretação é, por esse motivo, arte, pois nenhum
deles se completa por si. Deve-se compreender tão bem e melhor que o escritor.
• Não se pode esquecer o escritor na gramática e a linguagem na técnica, evitando
as incompreensões qualitativas e quantitativas, respectivamente.
128
Através de uma Hermenêutica bem conduzida, o teólogo torna-se capaz e está
apoiado a lançar sua Igreja a suas realizações pastorais. Vemos que, desde o Concílio
de Trento, a teologia voltou-se, quase exclusivamente, para a formação de futuros
sacerdotes. Entretanto, mais recentemente, a teologia aparece para leigos, sob a forma
de cursos em que professores os colocam em contato com toda a metodologia da
teologia (LIBANIO, 1996).
Por exemplo, um adventista do sétimo dia, que gosta de uma boa discussão, se
aproxima de um jovem pároco anglicano e pergunta: “com licença, que dia é o Sabbath?”,
e o anglicano responde: “domingo”.
129
A novidade verdadeira e decisiva vem a ser o novo ser humano que,
conforme o testemunho bíblico, agiu naqueles feitos em meio às
outras pessoas, como senhor, servo e fiador de todas elas, e neles
anunciou a si mesmo e, com isso, a justiça e o juízo de Deus, e assim
revelou a sua glória... nova é sua vontade que nele já foi feita assim
na terra como no céu (BARTH, 1996, p. 47).
O teólogo não poderá deixar de perceber que, tanto a sua época como nas passadas
e futuras, sempre é, foi e será tempo de um mesmo Jesus. Ou seja, a graça de Deus sempre
esteve e estará presente. Disso, aduzimos a existência de alguém que professa essa
ciência, mas também: “E que ele não está apenas dentro do mundo nem apenas dentro da
comunidade, mas também simplesmente em si e consigo” (BARTH, 1996, p. 56).
O teólogo deve ser um ente, na sua totalidade, comprometido com a teologia, pois,
apenas assim, será, então, chamado a uma forma específica de percepção, pesquisa, raciocí-
nio e discurso. Se o teólogo deseja ser fiel à sua ciência, deve se obrigar a assumir o tema de
teologia, apropriar-se, ser persistente e ser recordado constantemente do tema que a teologia
versa. Só assim será totalmente fiel ao cerne da ciência a que se dedicou e deseja exercer.
Barth (1996) lembra que a teologia é uma ciência humana, e, por isso, usa, como
ferramenta para circunscrever suas ideias e imagens, os recursos linguísticos. A dinâmica
da língua fará encontrar a fé. Fé é condição sine qua non da ciência teológica. Por Barth:
“Isso quer dizer: a fé é o evento, a história sem os quais uma pessoa, não obstante todas
as demais possibilidades e qualidades boas que lhe possam ser peculiares, em verdade
não poderá se tornar e ser cristão e, portanto, teólogo” (BARTH, 1996, p. 65).
130
para aceitar essa mesma palavra, reconhecendo-a como confortadora. O maravilhoso
disso é que, por se originar da palavra do próprio Deus, se torna, de modo autêntico e
livre, uma ação da própria pessoa.
O teólogo tem a obrigação e a certeza de que a palavra desse Uno não é um anúncio
neutro, mas, sim, forte e ativo da relação entre Deus e o ser humano. Por Barth (1996):
IMPORTANTE
O AMOR
Barth (1996) afirma que o trabalho do teólogo só será obra boa se puder ser realizado sob o
verbo amor e onde, de fato, for realizado com amor. Paulo afirma que: “mesmo sendo capaz
de anunciar mensagem profética, mesmo sendo sabedor de todos os mistérios, e mesmo
possuindo e usufruindo todo o conhecimento, sem amor não seria nada, absolutamente
nada” (PAULO apud BARTH, 1996, p. 124). A palavra que o Novo Testamento usa para definir
o amor é ágape. E amor no sentido de ágape:
131
Em Cristo, no qual a aliança entre Deus e o ser humano foi consumada, o
amor permanece, mesmo que os teólogos surjam e desapareçam, mesmo
que, no âmbito da teologia, se alternem períodos de claridade com outros
de escuridão, pois o sol, mesmo oculto por detrás das nuvens, permanece
sendo o sol fulgente.
A primeira está centrada numa dúvida sobre a palavra do próprio Deus. Tal dúvida
expõe o fato de que, em teologia, nada é gratuito, e que, então, tudo deve ser conseguido
mediante o trabalho na busca de ser aceito e corroborado. “Isso se aplica tanto ao pastor
que prepara o seu sermão no sábado quanto ao estudante que assiste a uma preleção
ou lê um livro” (BARTH, 1996, p. 79) e, frente a essa dúvida, devemos nos pautar nos
ensinamentos atribuídos a Anselmo de Cantuária, para enfrentá-la de forma adequada.
132
INTERESSANTE
SANTO ANSELMO (ANSELMO DA CANTUÁRIA)
IMPORTANTE
Sobre a dúvida, Barth (1996, p. 83) erigiu três aforismas provisórios:
133
a prece: “Venha o teu reino!” ele, a cada
momento, poderá olhar para além desse
espaço, e mesmo dentro dele poderá pelo
menos opor-lhe resistência, mesmo que não
o possa simplesmente eliminar. No mínimo,
poderá, de modo semelhante àquela mulher
huguenote, riscar um Resistez! na vidraça da
janela do calabouço. Aturar e suportar!
É por causa da esperança que o teólogo sofre de solidão e de dúvida, mais que
qualquer outra pessoa, e por crer, com Abraão (BÍBLIA, Rm. 4.18), “esperando contra a
esperança”, ele deverá e poderá aturá-las e suportá-las. Em tendo-se Deus a esperança
da teologia e depositando sua esperança nele, a teologia não será confundida:
Deus com igual fidelidade, que vive em paz com Ele, que vive para Sua
glória. Ora, o Deus que age e se revela na morte de seu Filho amado
realmente representa ameaça mortal, mas também a esperança
vivificante para o ser humano, para o cristão e, portanto, também
para o teólogo (BARTH, 1996, p. 97).
134
Neste tópico, vimos a definição de teologia como defendida pelo pensador
Carl Barth, delimitando o estudo à teologia Cristã, mais especificamente à Teologia
Evangélica. De forma muito resumida, citamos a importância dos profetas e dos
apóstolos na estruturação do que, hoje, entendemos por Cristianismo, bem como de
seu estudo, a teologia.
135
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• A Teologia Evangélica tem uma grande participação na interpretação dos textos das
Escrituras, principalmente no que tange a Teologia Contemporânea.
• A leitura das Escrituras e de toda a tradição cristã tem como objetivo munir o teólogo
de um profundo esclarecimento, sendo importante que ele aja como um aglutinador
de sua comunidade
• Existem perigos que rondam o ofício do teólogo, o qual atua não somente na
pregação da mensagem de Deus, mas no cultivo do amor entre as pessoas das
mais diferentes culturas, através do respeito e da caridade, além do carinho do
acolhimento a todos, demonstrando o amor de Cristo acima de tudo.
• Barth foi considerado o pensador da Teologia que outorgou três aforismas atinentes
à dúvida que, eventualmente, pode se apossar do teólogo quando do exercício de
seu ofício.
136
AUTOATIVIDADE
1 A Teologia Evangélica conecta-se com o Novo Testamento; a partir dos escritos de
evangelistas, apóstolos e profetas do Novo Testamento, veio à luz para ser redescoberta
e revivida na Reforma do século XVI. Considerando a Teologia Evangélica desde as
suas raízes, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
a) ( ) V – F – V – F.
b) ( ) F – V – V – F.
c) ( ) F – F – V – V.
d) ( ) V – V – V – V.
2 Os profetas bíblicos do Velho Testamento eram homens ou mulheres a quem foi dada
uma palavra especial de Deus para que a anunciassem para suas próprias gerações.
Muitos desses profetas foram chamados para ministrar durante toda a sua vida;
outros estiveram nesse ofício por pouco tempo, voltando à vida comum após terem
cumprido uma missão específica. Sobre profetas e apóstolos e suas relações com a
estruturação do Cristianismo e da Teologia Evangélica, analise as afirmativas a seguir:
I- Os profetas bíblicos do Velho Testamento eram apenas homens, a quem foi dada
uma palavra especial de Deus para que a anunciassem a suas próprias gerações.
II- A Teologia Evangélica entende os testemunhos dos profetas do Velho Testamento
como um prelúdio do Novo Testamento.
III- Jesus e seus apóstolos estavam absolutamente convictos da autoridade suprema
do Antigo Testamento e o veneravam como a palavra como Deus falada ao seu
povo, considerando-o como o registro fiel do que Deus disse através dos profetas.
IV- Profetas do Velho Testamento não fizeram menção de Jesus nem de maneira direta
nem de maneira indireta.
137
Assinale a alternativa CORRETA:
3 Para muitos cristãos, Jesus de Nazaré é um ser extraordinário e que não tem grande
consistência humana. Sua divindade o absorve em tal magnitude que a humanidade
se evapora e quase desaparece. Ele toma dimensões fantásticas, mas, ao mesmo
tempo, perde a dimensão de homem comum. Com base nos temas pertinentes à
vida de um teólogo e nas ferramentas necessárias ao exercício da teologia, analise as
assertivas a seguir:
I- Entre os perigos que rondam o labor do teólogo, a dúvida é um deles. Essa dúvida
pode ser de dois tipos: da natureza do empreendimento teológico e religioso; e se o
teólogo irá aturar e suportar a demanda exigida à função de teólogo.
138
II- A esperança, em si mesma, não é o impulso para um labor teológico incansável. O
labor teológico pode ser exercido sem esperança.
III- Deus une o seu povo em Cristo pela fé, e oferece a seu povo a perfeição que há em
Cristo. Com base no que os cristãos são considerados por estarem em Cristo, Deus,
mediante o seu Espírito e o evangelho, dá-se o começo da obra restauradora das
relações de toda a comunidade cristã.
5 “A teologia age sempre norteada pela realidade da obra de Deus e, portanto, pela
verdade da palavra de Deus, essencialmente superior a ela. Esta realidade e verdade
precedem a teologia, e precedem-na de forma absoluta. Sempre e em toda parte,
representam o futuro da teologia; jamais, portanto, se acham a sua disposição, sob
o poder de seu raciocínio e discurso; jamais se acham à mercê do pôr e dispor do
teólogo” (BARTH, 1996, p. 93). Considerando esse contexto, assinale a alternativa
CORRETA:
139
140
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
OS POVOS E CULTURAS DE RELEVÂNCIA
TEOLÓGICA
1 INTRODUÇÃO
Passados séculos, ocorreram diversas transformações de todos os matizes,
sendo que tais mudanças foram determinantes para que, hoje, tenhamos uma
concepção acerca do termo civilização. As diversas culturas e costumes, os aspectos
sociais e políticos, a linguagem etc., tudo é característica fundante do ser humano e
configura os símbolos políticos e sociais que demarcam sua comunidade, ou, em outras
palavras, sua civilização.
A Idade Antiga, composta pela cultura Oriental e pela cultura Ocidental, traz
no seu bojo diversas civilizações das quais temos registros e estudos consolidados,
havendo, porém, uma série de civilizações desse mesmo período que ainda não foram
desvendadas, ou que ainda não podemos especular com legítima precisão. Em suma,
nessa época precursora de grandes acontecimentos civilizacionais, ocorreu uma série
de grandes construções de cunho urbano, criação de leis e de organizações políticas, o
ímpeto da expansão territorial e, consequentemente, das guerras.
141
Da mesma forma, esperamos subsidiar algumas informações que reforcem
a herança, principalmente científica e religiosa, desses povos no estabelecimento
das religiões vigentes nos dias atuais – especialmente as três religiões monoteístas
fundamentais: o Cristianismo, o Judaísmo e o Islamismo –, assim como do surgimento
da teologia enquanto ferramenta de compreensão da fé.
NOTA
Considerada a mais antiga língua humana escrita conhecida, a escrita
cuneiforme é definida como uma escrita produzida com o auxílio de
objetos em formato de cunha, que é uma pequena ferramenta de entalhe.
Foi criada pelos sumérios por volta de 3.500 a.C., na antiga Mesopotâmia.
2 ANTIGUIDADE ORIENTAL
Composta por civilizações entranhadas no Oriente Médio, caracterizava-se pelo
maciço uso do meio natural de que dispunham, uma vez que se cercavam de extensas
porções de terra e de água. Por estarem, em sua maioria, próximas a um crescente
fértil que abrigava rios como Nilo, Tigre, Eufrates e Jordão, exploraram a agricultura e a
pecuária. Também se caracterizaram pelo uso de mão de obra escrava.
142
O certo é que esse processo se dava em função da forte ligação dos egípcios
com a morte, uma vez que acreditavam que ela representava o desligamento entre
corpo e alma. Assim, o corpo era preservado, por meio de um ritual fúnebre, com o
intuito de prepará-lo para uma nova vida no post mortem.
143
NOTA
• Politeísmo: sistema de crenças em que mais de um deus é cultuado, ou
venerado.
• Teocracia: modalidade de governo em que o poder possui fundamento
religioso. Normalmente, a manifestação do poder se dá através da
figura de um governante, que simboliza uma ou mais divindades, como
no Egito dos faraós, ou por sua escolha direta, como nas monarquias
absolutistas.
NOTA
Por ter se desenvolvido no entorno de dois rios, que compunham o
crescente fértil da região, os rios Tigre e Eufrates, o nome Mesopotâmia
significa “a região entre rios” ou “terra entre rios”.
144
Inicialmente, a agricultura era o elemento fundamental da economia e da
subsistência da civilização mesopotâmica, porém, o advento de novas descobertas
dinamizou esse processo e o tornou mais sofisticado, por meio do uso de artefatos
como a roda e do advento do comércio com regiões com terras menos agricultáveis.
145
NOTA
Monoteísmo é o sistema doutrinário que admite a existência de apenas
uma divindade, seguindo uma única religião. Atualmente, as principais
religiões monoteístas são o islamismo, o judaísmo e o cristianismo. Os
monoteístas acreditam que o responsável pela criação de todas as coisas
no Universo seja apenas um único Deus.
146
2.4 CIVILIZAÇÃO/CULTURA FENÍCIA
A civilização fenícia teve origem por volta de 3000 a.C., embora sua consolidação
tenha ocorrido com o incremento da arquitetura, o que fez surgir enormes centros
urbanos. Tais estruturas, porém, eram independentes entre si e tinham características
e formas de governança autônoma, distinguindo-se, por exemplo, de grandes impérios
estabelecidos por monarquiais expansionistas, como é o caso da monarquia de Israel.
Uma vez que o território fenício não contava com imensas áreas férteis e agricultáveis,
a agricultura não se sustentava como atividade socioeconômica viável. Por outro lado,
vastas áreas compostas por florestas permitiram a estruturação de uma base comercial
sólida a partir da construção de artefatos voltados para a navegação.
147
2.5 CIVILIZAÇÃO/CULTURA PERSA
Os persas destacam-se por uma forte tendência expansionista, o que propiciou a
essa civilização conquistar uma série de territórios, constituindo um verdadeiro império. Por
volta do ano de 550 a.C., comandado por Ciro, o Grande, o império Persa estabeleceu seus
domínios em cidades gregas na Turquia, além de territórios sírios, babilônicos e fenícios.
Após 25 anos de governo de Ciro, o Grande, e com a morte de seu sucessor, Cambises, deu-
se um processo de descentralização política e territorial, encabeçada por Dario I.
Com a ascensão de Dario I, o território persa passou por uma profunda divisão
política, organizada por organismos que realizavam a coleta de tributos, os sataprias,
que, por sua vez, eram inspecionados por uma organização criada especificamente
para o controle dessa atividade. Outro pioneirismo dos persas foi o advento de um
sistema monetário de moeda única, tornando mais dinâmico e prático o comércio entre
os territórios de sua civilização. Nessa mesma direção, houve maciço investimento na
construção de estradas que interligavam territórios persas distantes, o que facilitou não
somente a circulação de mercadorias, mas também de pessoas.
148
3 ANTIGUIDADE CLÁSSICA
O período conhecido como Antiguidade Clássica remete a um conjunto de
civilizações, formadas em território europeu, que serviu de base para a formação da
cultura Ocidental. Esse período teve forte influência da filosofia e da arte, especialmente
na poesia. Nomes como os dos filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles, além do poeta
Homero, a quem se atribui a autoria de Ilíada, que narra, de modo romantizado, a Guerra
de Troia, dão conta da efervescência cultural e intelectual dessa época, que influenciou
diretamente, mais tarde, o medievo e, de maneira geral, o cristianismo.
A civilização grega como concebemos hoje, porém, teve início por volta do ano
2000 a.C., a partir de fluxos migratórios compostos por jônios, aqueus, eólios e dórios,
que se fixaram na área correspondente à Ilha de Creta.
149
FIGURA 10 – SIMULAÇÃO DE UMA CIDADE-ESTADO GREGA
A cultura esportiva é outro marco dos gregos, uma vez que os Jogos Olímpicos,
hoje festejados e alvos de investimentos de diversas fontes, se originaram em função
de honrarias prestadas pelos gregos a Zeus (deus máximo da mitologia grega).
150
Indivíduos de diferentes localidades reuniam-se em Olímpia para a disputa de
competições esportivas, como o arremesso de objetos e corridas. Esse acontecimento,
inclusive, era explicado com base na mitologia, já que teria sido o grande herói Hércules
o responsável por inaugurar esse evento em Olímpia, após o término do quinto daqueles
que ficaram conhecidos na literatura como “Os Doze Trabalhos de Hércules”.
4 CIVILIZAÇÃO/CULTURA ROMANA
De modo similar ao arcabouço cultural grego, os romanos tiveram decisiva
influência da formação dos elementos culturais que compõem a base do que chamamos
de cultura Ocidental. Com vocação expansionista, os romanos constituíram um vasto
império que, durante muito tempo, foi o alicerce da civilização europeia e do Médio Oriente.
151
As tribos latinas teriam se reunido aos arredores do Rio Tibre, sob a liderança
dos irmãos Rômulo e Remo, que seriam descendentes do herói Eneas, o qual tem sua
epopeia narrada no conto grego de Homero, Ilíada. Dessa forma, temos a conjugação
das culturas grega e romana (cultura greco-romana) já em sua origem.
152
• Os patrícios, que representavam a aristocracia dos grandes proprietários de terra.
• Os plebeus, constituídos por artesãos camponeses, pequenos proprietários e
comerciantes.
• Os clientes, conjunto de homens que serviam aos patrícios e aos plebeus, de maneira
similar aos trabalhadores assalariados no mundo capitalista como conhecemos hoje.
Com o intuito de dar fim aos conflitos, no senado, foi deliberada a formação do
que se chamou, mais tarde, de Primeiro Triunvirato, um grupo de líderes encabeçados por
Pompeu, Crasso e Júlio César. Logo após o falecimento de Júlio César, houve a segunda
versão do Triunvirato, dessa vez sob a égide de Marco Aurélio, Otávio Augusto e Lépido.
153
circo”, hoje muito popular e considerado uma forma de manter a população anestesiada
quanto aos problemas e a sua condição de subserviência, ao mesmo tempo que se
mantinha suficientemente saudável para se sentir satisfeita e apta ao trabalho.
Após Otávio Augusto, foram imperadores Tibério, Calígula, Nero, Tito, Trajano,
Adriano e Marco Aurélio. Em seguida, o Império romano iniciou um processo de
decadência a partir do século III d.C., quando, já há muitos anos, estava sob o domínio
de imperadores-soldados, que se revezavam, uma vez que Roma estava sob constante
ameaça de invasores bárbaros estrangeiros.
Após a morte de Teodósio, por volta do ano de 395, o Império Romano dividiu-
se em Império Ocidental e Império Oriental, os quais ficaram, respectivamente, sob a
liderança de seus herdeiros Honório e Arcádio.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O período conhecido como Antiguidade legou à posteridade grandes civilizações
com grandes feitos. Com variáveis étnicas e geográficas, diversas vocações e circunstân-
cias impeliram uma série de povos do passado à criação de elementos, hoje, imprescindí-
veis, como a política, o direito, a astronomia, a matemática, a filosofia e as artes.
154
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• A Idade Antiga corresponde ao período em que ocorreu a primeira forma escrita pelo
homem, o que, de acordo com pesquisas historiográficas, teria surgido na Suméria,
onde se caracterizou a escrita cuneiforme.
• A Idade Antiga, composta pela cultura Oriental e pela cultura Ocidental, traz no seu
bojo diversas civilizações das quais temos registros e estudos consolidados.
• A cultura romana legou formas de governo, como o senado, que funcionava como
uma assembleia para tomada de decisões, e o direito romano, que estabelecia, entre
outras coisas, a lei comum a todos os homens e o direito à propriedade privada,
aspectos relevantes na cultura jurídica de todo o Ocidente até os dias atuais.
155
AUTOATIVIDADE
1 Através dos séculos, ocorreram diversas transformações de todos os matizes, sendo
que tais mudanças foram determinantes para a concepção que temos hoje acerca
do termo civilização. Considerando o aspecto fundante das comunidades humanas
relacionados com as diversas culturas e costumes, e os aspectos sociais e políticos,
assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Por estarem, em sua maioria, próximas a um crescente fértil, que abrigava rios
como Nilo, Tigre, Eufrates e Jordão, exploraram a agricultura e a pecuária.
b) ( ) Por estarem próximas aos arredores do rio Tibre, exploraram a agricultura e a pecuária.
c) ( ) Por estarem, em sua maioria, afastadas de um crescente fértil, exploraram o
comércio.
d) ( ) Por estarem próximas aos arredores do rio Tibre, exploraram a agricultura e a coleta.
e) ( ) Por estarem, em sua maioria, próximas a um crescente fértil, que abrigava rios
como Nilo, Tigre, Eufrates e Jordão, exploraram a psicultura.
a) ( )
Isso permitiu o surgimento das religiões e da metafísica.
b) ( )
Isso permitiu o surgimento do politeísmo como religião dominante.
c) ( )
Isso permitiu o surgimento do monoteísmo como religião dominante.
d) ( )
Isso permitiu o surgimento das três principais religiões politeístas – o Cristianismo,
o Islamismo e o Judaísmo.
e) ( ) Isso permitiu o surgimento das três principais religiões monoteístas: o
Cristianismo, o Islamismo e o Judaísmo, assim como o da própria teologia, capaz
de desenvolver estudos confiáveis alicerçados no saber científico com a finalidade
de desnudar e difundir a fé.
156
4 A Civilização grega exerceu forte influência em civilizações posteriores, como é o
caso dos romanos. Ainda mais recentemente, o arcabouço cultural grego teve
influência decisiva no movimento renascentista. Em quais aspectos a cultura grega
foi determinante para a formação do perfil renascentista?
5 A Civilização Romana, sob o ponto de vista histórico, possui três fases marcantes: a
monarquia, a república e o império. Caracterize os três períodos, procurando destacar
aspectos políticos e sociais marcantes.
157
158
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
AS VISÕES PROFÉTICA DOS ANTIGO E NOVO
TESTAMENTOS
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, veremos os contextos do Antigo Testamento, bem como do Novo
Testamento, no que tange o horizonte dos elementos que ficaram conhecidos como
visões proféticas, promovendo a interpretação acadêmica do significado do que é uma
profecia, oportunizando o conhecimento de alguns nomes que se tornaram famosos
enquanto interlocutores de algumas dessas profecias.
A caminhada do Messias entre os humanos, aos quais ele veio salvar, representa,
de maneira muito importante e com grande destaque, a relação profética que coloca
sob a proteção de Deus os justos e os humildes, sendo essas características de grande
importância na pregação messiânicas, bem como nas proféticas, tendo, assim, uma
garantia da salvação de sua alma e as bênçãos divinas no futuro.
159
2 AS PROFECIAS
As profecias são uma parte constitutiva importante do corpo dos livros bíblicos.
Há estimativas que afirmam que, entre 20% e 30% do conteúdo total da Bíblia, seja
escrito em linguagem profética, contido em mais de 5 mil versículos. A utilização desse
tipo de estilo literário tem como interesse dar orientações aos fiéis, em grande medida,
referindo-se ao futuro. Costuma não ter muita produção, sendo direta, uma vez que
a mensagem de Deus é escrita de maneira clara. Dessa forma, as determinações
da vontade divina podem ser compreendidas sem muita dificuldade, assim como as
promessas do Criador, que constam nessas profecias.
FIGURA 12 – PROFECIAS
O exercício da ação do profeta nem sempre era uma tarefa fácil; se, em alguns
momentos, eles serviam ao rei como mediadores da vontade divina, como Natã, que foi
servo do rei Davi, em outras situações, no exercício público de seu ministério, tinham
que se defender de perseguições dos falsos profetas.
161
FIGURA 13 – PROFETA MOISÉS
162
4 PROFECIAS NO NOVO TESTAMENTO
No Novo Testamento, João, filho de Zacarias, é considerado o autor das
primeiras escrituras proféticas, que aparecem após os livros que constituem o Antigo
Testamento. Acredita-se que o período cronológico, entre as profecias em João e os
que lhe antecederam, giram em torno de 300 anos.
Nessa direção, o profeta João veio por meio de sua ação profética anunciar
a tão esperada vinda do Salvador. Assim, ele anunciou a realização da palavra do Pai,
através da vinda de seu filho, o Libertador.
Pode-se, nesse contexto, citar os nomes de Ágabo (BÍBLIA, At. 11:27-28; 21:10),
profetas em Antioquia (BÍBLIA, At. 13:1), Judas e Silas (BÍBLIA, At. 15:32), e as quatro
filhas de Filipe, o evangelista (BÍBLIA, At. 21:9).
164
5 CUMPRIMENTO DAS PROFECIAS
No contexto profético, diante de todos os cenários que se encontram nas
escrituras, como citado acerca do Apocalipse, entre tantas outras expressões proféticas,
certamente, o momento, a promessa que gera maior ansiedade dos fiéis, pelo seu
cumprimento, é a vida do governo de Deus, junto ao Messias. Contudo, é importante
salientar que o cumprimento das profecias ocorre também de outras maneiras, como a
presença da graça do Espírito Santo.
Assim, vimos mais do significado de uma profecia, bem como a ação dos profetas
como interlocutores de uma revelação divina para o seu povo. Foi possível reconhecer,
na forma profética, que esta sempre tem um tom de anunciação, seja de castigos, para
165
aqueles que se desviam do caminho das recomendações e das determinações do que
consta na Palavra, bem como apresentar promessas para aqueles que se mostram
fiéis às convicções pertinentes ao Povo de Deus. Ainda nesse contexto, é expressado
também o anúncio de um retorno do Messias como uma forma de demonstrar a
importância atribuída ao contexto dos textos proféticos.
166
LEITURA
COMPLEMENTAR
O CORDEIRO DE DEUS
Plínio Salgado
Vestia uma túnica talar de linho branco e um manto de lã, avermelhado, dos
tecidos de Damasco, Magdala ou Tiro. Os cabelos louro-escuros, penteados à moda
nazarena, e a barba lhe davam o semblante reflexo de ouro antigo.
167
Ondula a multidão entre os penedos, os caniços, os tufos de palmeiras e de
junco; espalha-se pelos barrancos e recôncavos estremes dos rebalsados ribeirinhos.
É uma linda manhã de céu azul com nuvens esparsas, de brancura alvinitente.
Brilha o sol nas copas do arvoredo; cintila nos penhascos úmidos; crepita no dorso
claro do rio. Do alto da encosta, o jovem nazareno contempla o espetáculo da multidão
ondulante, no cenário de pedras e palmeiras.
O homem de Nazaré considera aquele povo e aquele profeta, cuja fama chegara
ao Esdrelão e às montanhas setentrionais, pela voz das caravanas e dos peregrinos. E,
rompendo caminho entre a turba, dirige-se para João, detendo-se à margem do rio.
João estremece fitando-o. Esse encontro estava marcado desde a aurora dos tempos.
Nas longas meditações pelo deserto, o Batista refletira muitas vezes acerca da
espantosa revelação que lhe fizera. Aquele, cuja voz escutara no desmesurado silêncio
ignorava, porém, o aspecto sob o qual apareceria o Cristo. Era provável que o supusesse,
segundo o modelo dos profetas: híspido, de ar severo, algo apavorante, como Isaías,
Ezequiel, Jeremias, irradiando aquela terrível luz que fazia os próprios justos arrojarem-
se por terra. Descoberta do esperado entre os milhares de rostos que se voltavam para o
rio, nunca sentira, nem no semblante taciturno dos essênios nem nas faces formalizadas
dos fariseus, nem nos rudes perfis dos soldados nem nas silhuetas dos publicanos, ou
mesmo na efígie dos homens mais santos, a “presença” por ele aguardada como sinal
comovedor do próprio encerramento da sua missão apostolar.
168
João sabe que seus dias estão contados, pois já não terá o que fazer no mundo,
quando os clarins da boa nova começarem a despertar o Gênero Humano do longo
sono pagão. Ao contemplar o homem de 30 anos que se aproxima do rio, João põe-se
a exclamar: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!”.
“Consente, por agora”, responde o outro, “porque assim nos convém cumprir
toda a justiça”.
João Batista ergue os olhos ao céu e depois curva a cabeça leonina. Enche o
púcaro de água e despeja-a sobre a cabeça do neófito. A multidão vê os dois homens
como arrebatados num êxtase. João Batista escuta uma voz: “Este é o meu filho muito
amado em quem me comprazo!”.
Uma luz mais viva que a manhã fulgurante desce das alturas e o Espírito de
Deus, tomando a forma de uma pomba, resplandece.
Outrora, foi a sarça ardente aos olhos de Moisés; depois, foram os raios e trovões
no Sinai; e, agora, uma pomba. A graça divina tinha sido a fé no Deus uno e tinha sido,
mais tarde, o terror dos crimes e pecados. Agora, era a paz que descia sobre o mundo.
Uma noite, nos campos de Belém, não tinham os pastores ouvido o anúncio dos
tempos, proclamando “paz na terra aos homens de boa vontade”? João compreende tudo.
FONTE: Adaptado de SALGADO, P. Vida de Jesus. São Paulo: Voz do Oeste; 1978. p. 85-88.
169
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• As profecias são uma parte constitutiva importante do corpo dos livros bíblicos.
Há estimativas que afirmam que, entre 20% e 30% do conteúdo total da Bíblia, seja
escrito em linguagem profética, contido em mais de 5 mil versículos. A utilização
desse tipo de estilo literário tem como interesse dar orientações aos fiéis, em grande
medida, referindo-se ao futuro. Costuma não ter muita produção, sendo direta, uma
vez que a mensagem de Deus é escrita de maneira clara.
• O exercício da ação do profeta nem sempre era uma tarefa fácil; se, em alguns
momentos, eles serviam ao rei como mediadores da vontade divina, como Natã, que
foi servo do rei Davi, em outras situações, no exercício público de seu ministério,
tinham que se defender de perseguições dos falsos profetas. A linguagem do
profeta, segundo as escrituras, muitas vezes, costumava remeter à comunicação
direta entre Deus e o receptor da profecia, fazendo o uso de expressões como
“Assim disse o Senhor” ou “Veio a mim, a palavra do Senhor”.
• João, o autor do Apocalipse, faz menções a alguns profetas do período. No que diz
respeito ao contexto das profecias, não se pode deixar de fazer referência ao Livro
do Apocalipse, que contém profecias sobre o futuro.
170
• As escrituras não servem somente como caráter normativo, mas como forma
de amparar os seguidores de Deus e do Messias nos momentos de dificuldade,
lembrando da graça de poder perceber os Dons do Espírito Santo, tendo a segurança
de contar com a certeza do advento da Nova Jerusalém.
171
AUTOATIVIDADE
1 As profecias têm como interesse a pregação de uma mensagem de Deus, através do
profeta. Nessa direção, de acordo com os tipos de conteúdo que costumeiramente se
encontra nas profecias, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Determinações e promessas.
b) ( ) Determinações e punições.
c) ( ) Promessas e desejos.
d) ( ) Determinações e desejos.
e) ( ) Promessas e punições.
2 No que diz respeito ao contexto das profecias, não se pode deixar de fazer referência
ao Livro do Apocalipse, que contém profecias muito importantes ao povo de Deus.
Segundo o tipo de conteúdo encontrado nesse livro bíblico, assinale a alternativa
CORRETA:
a) ( ) Conselhos.
b) ( ) Desejos.
c) ( ) Promessas.
d) ( ) Determinações.
e) ( ) Punições.
3 O exercício da ação do profeta nem sempre era uma tarefa fácil; se, em alguns
momentos, eles serviam ao rei como mediadores da vontade divina, como Natã, que
foi servo do rei Davi, em outras situações, no exercício público de seu ministério,
tinham que se defender de perseguições dos falsos profetas. A linguagem do profeta,
segundo as escrituras, muitas vezes, costumava remeter à comunicação direta entre
Deus e o receptor da profecia. Com base no tipo de expressão costumeiramente
utilizado nessas situações, assinale a alternativa CORRETA:
172
a) ( ) De 50% a 60%.
b) ( ) De 40% a 50%.
c) ( ) De 10% a 20%.
d) ( ) De 30% a 40%.
e) ( ) De 20% a 30%.
5 O livro de Apocalipse foi escrito por volta do ano 95 (d.C.) no século I da Era Cristã,
no fim do reinado de Domiciano, imperador romano (81-96 d.C.). Cabe ressaltar que
Domiciano foi um dos imperadores que também perseguiu os cristãos de sua época.
O Cristianismo estava em seus anos iniciais, e apesar das grandes perseguições e
adversidades, novos cristãos surgiram, e com a fé cristã, constituíram um importante
espaço religioso que, aos poucos, sufocou as religiões pagãs greco-romanas. Nesse
sentido, considere o autor ao qual é atribuída a autoria do Apocalipse e assinale a
alternativa CORRETA:
a) ( ) Mateus.
b) ( ) João.
c) ( ) Moisés.
d) ( ) Pedro.
e) ( ) Paulo.
173
REFERÊNCIAS
ALBINI, V. P. Gênero profecia na bíblia: um estudo linguístico textual do livro Apocalipse.
2015. 35 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade Tecnológica
Federal do Paraná, Curitiba, 2015. Disponível em: https://bit.ly/3x7uST6. Acesso em: 17
maio 2021.
BEZERRA, J. Polis Grega. Toda Matéria. [S. l.], c2021. Disponível em: https://www.
todamateria.com.br/polis-grega/. Acesso em: 20 fev. 2021.
BRAICK, P. R.; MOTA, M. B. História: das cavernas ao terceiro milênio. 3. ed. São
Paulo: Moderna; 2007.
174
PLATÃO. A República. 3. ed. Belém: EDUFPA; 2000.
ROCHA, M. Quem é este homem? 4. ed. São Paulo: Livraria Duas Cidades; 1973.
175