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Mídia e

Subjetividade

Prof. José Carlos Lunelli


Prof.a Luciana Gregorio de Oliveira

Indaial – 2022
1a Edição
Elaboração:
Prof. José Carlos Lunelli
Prof. Luciana Gregorio de Oliveira
a

Copyright © UNIASSELVI 2022

Revisão, Diagramação e Produção:


Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI

L962m

Lunelli, José Carlos

Mídia e subjetividade. / José Carlos Lunelli; Luciana Gregorio de


Oliveira. – Indaial: UNIASSELVI, 2022.

178 p.; il.

ISBN 978-85-515-0648-6
ISBN Digital 978-85-515-0649-3

1. Surgimento da mídia. – Brasil. I. Oliveira, Luciana Gregorio de.


II. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

CDD 380

Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Caro acadêmico, este livro didático é sobre Mídia e Subjetividade. Este é um
campo vasto que abrange diversas áreas, justamente pela sua relação direta com a
sociedade. O estudo da Mídia e Subjetividade envolve diversos aspectos, como o
surgimento da mídia, as relações estabelecidas e desenvolvidas com a sociedade e o
espaço conquistado pela mídia.

Neste livro você será levado a conhecer, inicialmente o desenvolvimento


da mídia de acordo com a época em questão. Conhecerá um pouco sobre o espaço
conquistado pela mídia e as relações desenvolvidas com a cultura e políticas do nosso
dia a dia.

Na Unidade 1, você será convidado a caminhar pela história e desenvolvimento


da mídia, percebendo seu conceito e evolução ao passar do tempo, onde ela cria um
espaço próprio que se espalha por toda a população alternando comportamentos e, até
mesmo, políticas.

Na Unidade 2, você aprenderá a interação entre indivíduo e sociedade como


duas instâncias distintas que interagem entre si: atitudes, preconceitos, comunicação,
relações grupais e liderança. Dessa maneira, você entenderá melhor a interdependência
entre o indivíduo e a sociedade.

Por fim, na Unidade 3, levaremos você a conhecer os aspectos da mídia e a


relação com a psicologia. Aqui, apresentaremos as normas que conduzem o trabalho da
psicologia com a internet e como essa relação funciona na atualidade. Nesta unidade,
iremos ampliar a discussão sobre as intervenções on-line.

Desejamos a você um ótimo aprendizado! Esperamos que ao terminar o estudo


deste livro, você tenha aprendido os conhecimentos básicos sobre a inter-relação entre
a Mídia e a Subjetividade, consiga compreender a importância desta disciplina e, também,
consiga aplicar esses conhecimentos na vida acadêmica, profissional e no cotidiano.

Bons estudos!

Prof. José Carlos Lunelli


Prof.a Luciana Gregorio de Oliveira
GIO
Olá, eu sou a Gio!

No livro didático, você encontrará blocos com informações


adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender
melhor o que são essas informações adicionais e por que você
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais
e outras fontes de conhecimento que complementam o
assunto estudado em questão.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos


os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina.
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada
também digital, em que você pode acompanhar os recursos
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que
também contribui para diminuir a extração de árvores para
produção de folhas de papel, por exemplo.

Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente,


apresentamos também este livro no formato digital. Portanto,
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Preparamos também um novo layout. Diante disso, você


verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos,
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.

QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!

LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conheci-


mento, construímos, além do livro que está em
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem,
por meio dela você terá contato com o vídeo
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de
auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que


preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


SUMÁRIO
UNIDADE 1 — MÍDIA E SUBJETIVIDADE......................................................................1

TÓPICO 1 — CONTEXTUALIZAÇÃO DA MIDIA............................................................. 3


1 INTRODUÇÃO............................................................................................................. 3
2 O QUE É MÍDIA........................................................................................................... 4
2.1 AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO................................................... 5
3 SOCIEDADE MIDIÁTICA............................................................................................ 7
3.1 MÍDIA, CULTURA E CIDADANIA............................................................................................... 9
3.2 MÍDIA E AÇÕES POLÍTICAS.....................................................................................................11
4 MÍDIA E A PRODUÇÃO DE SUBJETIVIDADES........................................................17
4.1 MÍDIA E COGNIÇÃO...................................................................................................................19
RESUMO DO TÓPICO 1...............................................................................................22
AUTOATIVIDADE........................................................................................................23

TÓPICO 2 — A CIBERCULTURA..................................................................................25
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................25
2 A REVOLUÇÃO CIBERNÉTICA................................................................................25
3 O SURGIMENTO DA INTERNET............................................................................... 27
3.1 AS FASES DA WEB...................................................................................................................28
RESUMO DO TÓPICO 2...............................................................................................32
AUTOATIVIDADE........................................................................................................33

TÓPICO 3 — MÍDIA E CULTURA..................................................................................35


1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................35
2 CULTURA POPULAR COMO CONSTRUÇÃO DE SIGNIFICADOS............................35
3 ESPAÇOS DE CONSTRUÇÃO DA CULTURA POPULAR NA MÍDIA.........................38
3.1 CONSTRUINDO A CULTURA POPULAR............................................................................... 39
4 POTÊNCIA POLÍTICA DO POP.................................................................................43
4.1 POP E CULTURA HEGEMÔNICA............................................................................................44
RESUMO DO TÓPICO 3............................................................................................... 47
AUTOATIVIDADE........................................................................................................48

REFERÊNCIAS............................................................................................................ 51

UNIDADE 2 — A RELAÇÃO ENTRE O INDIVIDUAL, O COLETIVO E A


COMUNICAÇÃO..................................................................................55

TÓPICO 1 — OS CAMPOS PARA A COMUNICAÇÃO E A PSICOLOGIA....................... 57


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 57
2 A SOCIEDADE E O INDIVÍDUO BUSCANDO INTERAÇÃO.......................................59
3 PSICOLOGIA, CULTURA, SAÚDE E TRABALHO.....................................................63
RESUMO DO TÓPICO 1............................................................................................... 67
AUTOATIVIDADE........................................................................................................68

TÓPICO 2 — A COMUNICAÇÃO, O CONHECIMENTO E A INFORMAÇÃO....................71


1 INTRODUÇÃO............................................................................................................71
2 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM.............................................................................. 72
3 O SUJEITO E A COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL....................................................... 74
4 DIFICULDADES NA COMUNICAÇÃO...................................................................... 78
RESUMO DO TÓPICO 2...............................................................................................83
AUTOATIVIDADE........................................................................................................84

TÓPICO 3 — A PSICOLOGIA COMO FUNDAMENTO DA RESPONSABILIDADE


NA COMUNICAÇÃO................................................................................ 87
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 87
2 O SUJEITO E AS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS..................................................... 87
3 A ATUAÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO.........................................................89
LEITURA COMPLEMENTAR.......................................................................................98
RESUMO DO TÓPICO 3.............................................................................................104
AUTOATIVIDADE...................................................................................................... 105

REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 109

UNIDADE 3 — DISPOSITIVOS VIRTUAIS DE INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA.......... 111

TÓPICO 1 — LEGISLAÇÃO.........................................................................................113
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................113
2 RESOLUÇÕES DO CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA................................. 114
2.1 RESOLUÇÃO CFP Nº 11/2018...............................................................................................118
RESUMO DO TÓPICO 1............................................................................................. 127
AUTOATIVIDADE...................................................................................................... 128

TÓPICO 2 — CARACTERÍSTICAS DA INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA


ON-LINE E ASPECTOS ÉTICOS............................................................131
1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................131
2 SERVIÇOS PSICOLÓGICOS REALIZADOS
POR MEIO DAS TIC................................................................................................... 133
2.1 UTILIZAÇÃO DE INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS......................................................... 135
2.2 SUPERVISÃO TÉCNICA......................................................................................................... 141
2.3 SELEÇÃO DE PESSOAL....................................................................................................... 142
2.4 CONSULTAS E ATENDIMENTOS PSICOLÓGICOS........................................................... 146
3 RELAÇÃO TERAPÊUTICA E AMBIENTE ON-LINE ............................................... 147
4 ATENDIMENTOS SÍNCRONOS E ASSÍNCRONOS................................................. 149
5 PSICOTERAPIA ON-LINE EM DIVERSOS CONTEXTOS....................................... 150
RESUMO DO TÓPICO 2............................................................................................. 154
AUTOATIVIDADE...................................................................................................... 155

TÓPICO 3 — AMPLIANDO DISCUSSÕES SOBRE AS INTERVENÇÕES ON-LINE...... 157


1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 157
2 SUPERANDO BARREIRAS AINDA EXISTENTES.................................................. 158
3 OS DESAFIOS ENFRENTADOS DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19...............161
3.1 A REINVENÇÃO DAS INTERVENÇÕES PSICOLÓGICAS DURANTE A PANDEMIA ...... 162
LEITURACOMPLEMENTAR...................................................................................... 165
RESUMO DO TÓPICO 3............................................................................................. 169
AUTOATIVIDADE...................................................................................................... 170

REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 172
UNIDADE 1 -

MÍDIA E SUBJETIVIDADE

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• estudar a relação e desenvolvimento da mídia;

• entender a influência da mídia na sociedade;

• compreender o envolvimento da mídia na cultura;

• destacar as relações de influência entre mídia e subjetividade.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – CONTEXTUALIZAÇÃO DA MÍDIA

TÓPICO 2 – A CIBERCULTURA

TÓPICO 3 – MÍDIA E CULTURA

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!

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2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
CONTEXTUALIZAÇÃO DA MIDIA

1 INTRODUÇÃO
A mídia faz parte do cotidiano das pessoas desde tempos mais remotos.
Entender como a mídia se desenvolveu historicamente e se transformou durante
este tempo auxilia na compreensão do seu papel na atualidade. A mídia não pode ser
entendida como algo estático ou imutável. Ela envolve um sistema de comunicação
amplo, direto ou indireto, entre os sujeitos (de forma individual ou institucional)
e possui finalidades diversas, como o entretenimento e a produção, divulgação e
recepção de notícias e informações. Estes conteúdos são divulgados e repassados
por alguns meios, que podem ser os digitais, impressos e eletrônicos (BRIGGS; BURKE,
2016; MOREIRA, 2010).

Atualmente, as pessoas se referem, de forma geral, à mídia como os jornais,


a internet ou a televisão. Esta ideia é bem restrita, ao mesmo tempo em que leva a
entender que o conceito de mídia, ou de veículo de comunicação, é algo recente. Seus
estudos podem ter se iniciado de forma mais atuante no século XX, devido à ascensão
das novas tecnologias, mas há séculos que se discute a comunicação de massa e sua
influência na vida das pessoas (BRIGGS; BURKE, 2016; MOREIRA, 2010).

FIGURA 1 – CONSTITUIÇÃO DA ORATORIA

FONTE: <https://bit.ly/3n6Hdnz>. Acesso em: 21 jun. 2022.

3
A divulgação de pensamentos e ideias surgiu inicialmente por meio da oratória
na Grécia e Roma Antigas. Também se utilizava dos recursos da escrita na tentativa
de “imortalizar” as ideias e repassá-las para gerações futuras. Conceitos filosóficos,
tratados entre nações, obras literárias e ensinamentos religiosos ou espiritualistas
foram passados de geração em geração e atravessaram continentes devido a estes
recursos. Com a invenção da imprensa, atribuída a Johann Gutenberg no século XV, um
grande passo foi dado. Aumentou-se consideravelmente a quantidade de publicações,
pois, agora, as obras não seriam mais escritas à mão. Esta invenção alavancou de
forma vertiginosa a acessibilidade e a forma de comunicação entre os sujeitos. Partiu-
se, então, da fala e da escrita até se chegar à reprodução massificada de notícias,
informações e entretenimento por meio da imprensa, do telégrafo, do rádio, da televisão
e, com muita força hoje em dia, da internet, utilizando-se principalmente dos textos e
recursos imagéticos (BRIGGS; BURKE, 2016; MOREIRA, 2010; PEREIRA; SILVA, 2010).

2 O QUE É MÍDIA
A mídia envolve o entretenimento, a divulgação de notícias e a publicidade. Ela
possui aspectos de ordem econômica, cultural, política, entre outros. Por isso entende-
se que a sociedade e a mídia se influenciam mutuamente. Deve-se discutir que
conteúdo é este sendo divulgado, por quem, para quem, com qual finalidade e formato.
Pode-se pensar na leitura de romances de trovadores, de obras realistas, de colunas
de jornais e revistas, na interação por telefone e pela internet, nos sites e serviços de
redes sociais, na apreciação de quadros surrealistas, óperas e cinema, nos serviços
de streaming, nas novelas da televisão ou suas antecessoras no rádio. São muitas
formas de entretenimento e de informação a nível local, nacional ou mundial que são
veiculadas por alguns desses recursos citados. Isso faz parte da vida em sociedade e da
construção da subjetividade humana (BRIGGS; BURKE, 2016; MOREIRA, 2010; PEREIRA;
SILVA, 2010).

A mídia, enquanto sistema de comunicação em massa, por si só não tem como


atingir as pessoas. Recursos como o rádio, televisão, imprensa e internet servem a esta
finalidade. Apesar de atualmente ter a impressão de se estar aderindo mais a um veículo ou
outro, entende-se que recursos são desenvolvidos, alguns adaptados, outros excluídos
com o tempo, porém todos eles cumprem ou cumpriram seu papel na divulgação de
informações e/ou entretenimento. Alguns meios de comunicação convivem de forma
concomitante, excluindo a ideia de rivalidade entre eles. Como exemplo tem-se a
televisão e a internet. Hoje pode-se buscar notícias e entretenimento em qualquer um
deles, cada um no seu formato, e ainda há a possibilidade de cooperação entre eles.
Muitos telejornais convidam seus espectadores a participarem de enquetes em sites,
assim como blogs, páginas ou perfis de serviços de redes sociais, que são criados para
discutir conteúdo veiculado por meio da TV (BRIGGS; BURKE, 2016).

4
FIGURA 2 – A COMUNICAÇÃO

FONTE: <https://rockcontent.com/br/blog/o-que-e-midia/>. Acesso em: 21 jun. 2022.

2.1 AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO


Quando se fala de tecnologia, geralmente, as pessoas remetem aos dispositivos
eletrônicos, às pesquisas científicas em grandes laboratórios ou até mesmo à robótica.
A tecnologia não é exclusiva das ciências, entre elas as exatas ou da saúde. Ela permeia
muitas áreas e saberes, e vai muito além do contexto acadêmico. A tecnologia é um
recurso por meio do qual é possível construir e transformar o ambiente em que se
vive. Essas ações buscam atender às necessidades dos seres humanos. Com relação
ao meio acadêmico, as tecnologias podem dar suporte na criação de bens e serviços
que possam atender à sociedade. No entanto, essas necessidades também podem ser
de ordem cultural, socioeconômica, educacional, entre outras. Por isso, é importante
distanciar-se da ideia de que as tecnologias só atendem à comunidade científica
(PINOCHET, 2014).

Devido à ascensão do uso de computadores e da internet, hoje em dia a maior


parte das informações veiculadas no mundo passam pelo ambiente digital. As Tecnologias
da Informação (TI) estão presentes neste contexto e envolvem o desenvolvimento de
dispositivos (hardwares e softwares, por exemplo) e sistemas computacionais a fim
de auxiliar a comunicação. Os maiores avanços tecnológicos surgiram com o objetivo
de aprimorar os processos comunicacionais, principalmente aqueles que envolvem
grupos de pessoas, ou seja, não se detém na comunicação de uma ou duas pessoas
em específico, e sim na comunicação de massa. Considerando a mídia enquanto um
sistema de comunicação de massa, ela recebe suporte das Tecnologias da Informação
e Comunicação (TIC) (PINOCHET, 2014).

5
FIGURA 3 – A REDE

FONTE: <https://digitalks.com.br/noticias/midias-sociais-10-tendencias-para-2017/>.
Acesso em: 21 jun. 2022.

IMPORTANTE
Como exemplo de algumas TIC, pode-se citar: a internet,
computadores e notebooks, smartphones, câmeras, aparelhos de
realidade virtual, tablets, satélites, entre outros. Entre suas múltiplas
aplicações, pode-se pontuar na área hospitalar, educacional,
governamental, auxiliando os sistemas bancários, industriais,
organizacionais e em tantos outros que possam surgir (PEREIRA e
SILVA, 2010; PINOCHET, 2014; SILVA e SANTOS, 2009).

Alguns fatores possibilitaram as mudanças tecnológicas envolvendo a geração,


processamento e transmissão da informação. Um desses fatores refere-se ao contexto
de grandes descobertas na área eletrônica, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial,
que culminou no desenvolvimento de instrumentos e tecnologias que foram usados
para diversos fins desde este período, estendendo-se até a Guerra Fria. Com isso, as
demais inovações surgidas ocorreram de forma processual devido às transformações
tecnológicas desta época. A proposta da internet foi desenvolvida neste contexto
militar e científico. Foi criada como um projeto de comunicação de dados de forma
segura contra ataques nucleares e de espionagem. A internet foi implementada de
forma global na década de 1980. Antes disso, existia sob a forma de ARPANET por
meio da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada (ARPA), responsável por projetos
tecnológicos do departamento de defesa dos Estados Unidos da América. No início, a
ARPANET contemplava apenas algumas universidades norte-americanas nessa rede de
computadores (PEREIRA; SILVA, 2010).

6
Nas décadas seguintes, com a expansão das tecnologias de rede, surgiram
inúmeras possibilidades de comunicação via internet, incluindo o seu acesso por meio
de variados tipos de dispositivos eletrônicos, o que viria a revolucionar a forma como
as pessoas compartilham informações e buscam entretenimento. Essas mudanças
impactam a vida em sociedade como um todo e, também, a construção da subjetividade
de cada sujeito, pois influencia o desenvolvimento humano e seus modos de ser, agir,
pensar, se comunicar e se relacionar com os outros (PEREIRA; SILVA, 2010).

3 SOCIEDADE MIDIÁTICA
Como já citado, por meio da mídia, as pessoas interagem, compartilham
informações e buscam entretenimento. Pode ser um processo comunicativo entre
pequenos grupos ou, principalmente, de forma massificada. Com a maior amplificação
das TIC na vida dos sujeitos, entende-se que se abrem possibilidades para uma
expansão do conhecimento, pois, em tese, todos teriam como ter acesso a ele de forma
mais abrangente através da popularização de smartphones e do acesso à internet
(apesar de serem recursos que ainda são inatingíveis para grande parte da população)
(QUARTIERO, 1999).

FIGURA 4 – REDES SOCIAIS

FONTE: <https://www.implantandomarketing.com/comunicacao-organizacional-em-tempos-de-
midias-sociais/>. Acesso em: 21 jun. 2022.

7
Foi facilitado o acesso ao conhecimento, mas isso não quer dizer que todos
tenham conseguido capturá-lo. Retirando os fatores econômicos e sociais, por exemplo,
hoje é possível consultar qualquer informação na internet em qualquer espaço. Talvez
o único empecilho seja a falta de sinal para conexão ou a falta do dispositivo em si. No
mais, em tese, qualquer pessoa pode buscar informações na internet. Ficou tão fácil que
qualquer um pode falar sobre tudo a partir de uma breve leitura dinâmica dos primeiros
capítulos de qualquer site que esteja nos primeiros resultados durante a busca realizada
no seu navegador. Mas que informações são essas coletadas tão prontamente? O acesso
pode ter sido, até certo ponto, popularizado, mas o conhecimento ainda se constrói de
forma desigual e, por isso, ainda é visto, de forma competitiva, como moeda de troca
devido ao seu poder econômico e político na sociedade (CASTELLS, 1999; PINOCHET,
2014; QUARTIERO, 1999).

Como destacou Valente (1996, p. 5-6 apud QUARTIERO, 1999, s. p.),

A sociedade do conhecimento exige um homem crítico, criativo, com


capacidade de pensar, de aprender a aprender, trabalhar em grupo
e de conhecera o seu potencial intelectual. Esse homem deverá
ter uma visão geral sobre os diferentes problemas que afligem
a humanidade, como os sociais e ecológicos, além de profundo
conhecimento sobre domínios específicos. Em outras palavras, um
homem atento e sensível às mudanças da sociedade, com uma visão
transdisciplinar e com capacidade de constante aprimoramento e
depuração de ideias e ações.

Então, entende-se que não basta somente ler três parágrafos de um site sobre
determinado assunto que você se tornará especialista no tema. Apesar de, muitas
vezes, ser tratado dessa forma, a busca pelo conhecimento exige troca, reflexão, crítica
e compartilhamento. O ser humano não é um mero receptáculo de informações. Existe
uma via de mão dupla na construção do conhecimento e, antes de tudo, tem que saber
onde buscá-lo e como aplicá-lo. Também se deve filtrar e separar o conhecimento que
possui valor (sobretudo econômico e social) agregado. Para isso, é preciso escutar, ler,
assistir versões diversas do tema a qual se tenha interesse, ou seja, apropriar-se da
teoria, mas também deve se aproximar da prática e das vivências de outras pessoas
sobre o tema. As TIC possibilitam a aproximação entre a sociedade e os fenômenos
humanos, muitos deles experienciados e compartilhados por meio dos recursos
tecnológicos (CASTELLS, 1999; COLL; MONEREO, 2010; PINOCHET, 2014; QUARTIERO,
1999; SILVA; SANTOS, 2009).

A sociedade, na atualidade, passa por mudanças cada vez maiores e mais rápidas.
Algo que é hoje pode não ser amanhã. É preciso acompanhar essas transformações, pois
a sociedade ocidental está pautada na informação e no conhecimento e, quem os têm,
detém de poder e status, pois, como já foi dito, a produção e distribuição das informações
ainda não se dá de forma abrangente e equitativa. A economia e a sociabilidade giram em
torno de quem tem o poder da informação, conquistada e construída com o suporte das
TIC. Isso tem tido tanta relevância que os avanços das novas TIC têm sido comparados

8
com os avanços surgidos na Revolução Industrial ocorrida no século XVIII devido à
influência que possui em alterar os modos de produção, a economia, a dominação, o
controle e a organização da sociedade, ou seja, impactando, direta e indiretamente,
a vida das pessoas (CASTELLS, 1999; COLL; MONEREO, 2010; PEREIRA; SILVA, 2010;
PINOCHET, 2014; SILVA; SANTOS, 2009).

Essas mudanças afetam os setores públicos e privados e delineiam a atual


sociedade ocidental sob a ótica da Pós-modernidade. O valor econômico é construído
por meio da informação e do conhecimento, que adquire valor de moeda de troca e
relação de produção, possuindo características de mercadoria e submetidos às leis do
mercado. Além disso, na sociedade pós-moderna, preza-se pelo ambiente digital, pois
é nele que as informações correm rapidamente por meio de imagens, sons, vídeos e
textos, atingindo milhões de pessoas ao mesmo tempo. Como atinge um nível global,
as pessoas estão conectadas e possuem a sensação de que estão mais próximas,
pois as TIC ajudaram a romper a ideia de barreiras e a diluir as fronteiras. Enquanto,
há décadas, os processos comunicacionais demoravam a se desenvolver devido ao
tempo de espera entre a troca de cartas e envio de jornais, por exemplo, na atualidade,
a comunicação é praticamente imediata. Um evento ocorrido no Brasil pode ser
divulgado instantaneamente (até mesmo ao vivo) e, em poucos minutos, ter um alcance
mundial e pessoas de outros países ficarem a par do ocorrido. As TIC possibilitaram
essa aproximação entre as pessoas, ressaltando que ela é apenas simbólica, pois outros
fatores continuam a aproximar ou segregar grupos sociais (CASTELLS, 1999; PEREIRA;
SILVA, 2010; PINOCHET, 2014; SILVA; SANTOS, 2009).

3.1 MÍDIA, CULTURA E CIDADANIA


A motivação para se render ou não de forma intensa ao apelo das mídias está
relacionada com as características da população, entre elas as formas de consumo.
O incentivo ao consumo de dispositivos eletrônicos pode ocorrer pela via econômica
(aumentando o poder de compra da população) ou por meio da publicidade que,
ligada à construção de status social, pode levar as pessoas a comprarem certos tipos
de dispositivos, dando preferência a marcas, modelos, cores e outras características
buscadas em dispositivos eletrônicos. Com isso, entende-se que a relação entre a mídia
e a sociedade é construída culturalmente. Um olhar atento à historicidade pode revelar
motivações que levam as pessoas a terem relações mais próximas ou mais distantes
com as novas TIC. Mesmo sendo, a princípio, uma escolha pessoal sobre quais TIC um
sujeito pode tecer aproximações no seu cotidiano, essas escolhas tendem a apresentar
consequências a um nível maior. A segregação social pode ocorrer por questões de
gênero, de raça, econômicas, etárias e regionais, havendo ainda a possibilidade de todas
elas serem atravessadas pelo acesso ou falta de acesso às TIC e, consequentemente, à
informação e ao conhecimento (PINOCHET, 2014).

9
FIGURA 5 – COMUNICAÇÃO

FONTE: <https://rockcontent.com/br/blog/tipos-de-midia/>. Acesso em: 21 jun. 2022.

Acerca da relação entre as TIC e a sociedade, deve-se ter em mente que modelo
de sociedade é esse, pois os valores e normas podem mudar tanto dentro da mesma
sociedade quanto em culturas distintas. Como já citado, uma sociedade ocidental
pautada na pós-modernidade apresenta um cenário que favorece e é favorecido
pelas TIC, pois elas contribuem, em alguns aspectos, para o desenvolvimento desta
cultura. As TIC viabilizam o crescimento econômico por meio de pesquisas com alto
valor de investimento. As novas tecnologias mobilizam as pessoas a buscarem bem-
estar social e qualidade de vida. As TIC possuem aplicabilidade em áreas sensíveis ao
desenvolvimento da sociedade como a saúde, a educação e os serviços destinados à
população e à promoção da cidadania (PEREIRA; SILVA, 2010).

10
DICA
FILME: O ABUTRE

FONTE: <https://bit.ly/3Ncfnkx>. Acesso em: 21 jun. 2022.

Enfrentando dificuldades para conseguir um emprego formal, o jovem Louis Bloom (Jake
Gyllenhaal) decide entrar no agitado submundo do jornalismo criminal independente de
Los Angeles. A fórmula é correr atrás de crimes e acidentes chocantes, registrar tudo e
vender a história para veículos interessados.

FONTE: <https://www.adorocinema.com/filmes/filme-222858/>. Acesso em: 21 jun. 2022.

3.2 MÍDIA E AÇÕES POLÍTICAS


Ações e políticas públicas devem ser elaboradas a fim de ampliar o acesso às TIC,
pois o sujeito, enquanto ser político e social, tem sua vida atravessada pela forma que
a mídia influencia e molda a sociedade. As relações mediadas pelas TIC, estabelecidas
entre sujeito e sociedade, podem alterar normas e mecanismos sociais, além de que
políticas públicas também são construídas a fim de impulsionar as novas tecnologias.
Devido aos avanços das TIC, abriram-se as possibilidades de relacionamento, de estudo
e de trabalho entre as pessoas. Há um tempo, ninguém conseguiria imaginar que é
possível você trabalhar do conforto da sua casa. Mais difícil ainda de imaginar é que,

11
além disso ser possível, as pessoas não teriam seus rendimentos prejudicados ou
passariam a render menos no trabalho. Os avanços nas TIC também possibilitaram o
acesso à educação institucional, possibilitando às pessoas uma formação acadêmica e
profissional em diversos níveis e áreas (PEREIRA; SILVA, 2010; PINOCHET, 2014; SILVA;
SANTOS, 2009).

A mídia produz efeitos na subjetividade humana e no modo como os sujeitos


se relacionam e produzem conhecimento. Conde, Guareschi e Antoun (2009) refletem
sobre o que seria a democratização das comunicações. Os autores destacam que
querer ter acesso à mídia não é o mesmo que ter direito ao acesso. Muitas pessoas
acabam jogando para si a responsabilidade em ligar ou não a TV ou em acessar ou não
a um site, mas não percebem que a mídia tem um poder considerável no processo de
comunicação de massa na sociedade, e privar alguns deste direito é condená-los à
exclusão social e afastá-los das condições de acesso ao conhecimento, destituindo-
os do poder social, já que na era da informação, conhecimento é poder. Dessa forma,
democratizar as comunicações é possibilitar a todos o acesso à mídia (CASTELLS, 1999).

IMPORTANTE
A comunicação de massa vai além da simples emissão e recepção de
uma mensagem, pois não envolve, necessariamente, sujeitos neste
processo, ou seja, instituições e/ou organizações (econômicas, religiosas,
políticas) podem tomar o lugar, de forma unificada, do sujeito emissor,
transmitindo seus valores éticos, morais e estéticos, sob a forma de
mensagem, para milhões de pessoas ao mesmo tempo. Democratizar
as comunicações é também proporcionar esta multiplicidade ideológica
a ser transmitida para todos, fazendo com que as pessoas se encontrem
na diversidade entre as variadas formas de comunicação (CONDE;
GUARESCHI; ANTOUN, 2009).

A mídia faz parte do dia a dia das pessoas. Adentrou nas casas dos sujeitos
através da televisão, geralmente um aparelho grande, situado na sala de casa e
compartilhado pela família. Com o passar do tempo, a tela grande se dividiu em diversas
outras telas, como os smartphones, computadores, notebooks e tablets, possibilitando
que o conteúdo midiático permanecesse no cotidiano das pessoas de forma cada vez
mais presente. Assim, onde houver um sinal de televisão e/ou de internet, é possível
adentrar em um mundo ao mesmo tempo paralelo e complementar ao seu. As pessoas
mais velhas tinham o costume de dar boa noite ao âncora do telejornal. Hoje, é possível
não só dar boa noite, como também curtir, comentar ou fazer qualquer outro tipo de
interação por meio dos sites de redes sociais com os jornalistas, artistas e até mesmo
com personagens da ficção, estreitando ainda mais a presença da mídia na vida das
pessoas (CONDE, GUARESCHI; ANTOUN, 2009; SILVA; SANTOS, 2009).

12
A subjetividade humana é construída nessa interação entre o mundo interior e
o mundo exterior do sujeito. Assim, o conteúdo de fora vai sendo internalizado e passa a
fazer parte da vida das pessoas, como pode ser observado, de modo geral, na realidade
brasileira. As pessoas não apenas consomem a mídia e os recursos tecnológicos,
elas tecem aproximações mais íntimas com seus artistas e ídolos, levando-os para a
sua dinâmica familiar e, até mesmo, adentrando na deles, como acontece nos casos
dos programas de reality show, onde pessoas são vigiadas por câmeras durante
vinte e quatro horas por dia. E tudo isso chega ao espectador, ou receptor, por meio
de um emissor e sua mensagem cuidadosamente elaborada para, com seu discurso,
conquistar as pessoas. Assim, é possível incentivar à publicidade, ao consumo, à criação
de tendências estéticas e, inclusive, ao debate de temas que, por conta do poder de
alcance da mídia, pode se expandir para outros espaços (CONDE, GUARESCHI; ANTOUN,
2009; VYGOTSKY, 2010).

FIGURA 6 – FONTES DE COMUNICAÇÃO

FONTE: <https://www.bastidoresdatv.com.br/colunas/coluna-midia-e-poder-politico-qual-a-
relacao>. Acesso em: 21 jun. 2022.

Os conteúdos trazidos pela mídia podem ampliar horizontes discursivos, pois,


ao se deparar com diversas realidades, inclusive próximas da sua, os sujeitos podem se
sentir convidados a ingressar em espaços para discussão de muitos temas. É bastante
comum, no país, esses grupos de discussão surgirem com as temáticas abordadas em
algumas telenovelas. A realidade ficcional se mistura com a da coletividade e o conteúdo
midiático acaba extrapolando a tela da televisão. Assim, surgem espaços de discussão
sobre temáticas diversas, entre elas dependência de álcool e outras drogas, tráfico
humano, distúrbios alimentares e o racismo, por exemplo (BENTO, ARAÚJO; SANTOS,
2009; MOREIRA, 2010).

13
Estas discussões podem impactar profundamente a vida de pessoas e até
mesmo de grupos sociais. Diversos coletivos, institutos e centros de estudos vinculados
ao movimento negro chamam a atenção para a forma como a mídia reproduz e, com
isso, tende a perpetuar o racismo. Atitudes racistas são observadas na forma como
as pessoas negras são representadas em novelas, por exemplo, e, também, na forma
que a mídia aponta as religiões de matrizes africanas. Posicionamentos como esses
reproduzem nas pessoas que assistem uma subjetividade racista que pode fazer com
que o sujeito possa replicar esse comportamento em terceiros ou reforçar estereótipos a
fim de afetar a autoestima de pessoas negras, pois elas não se sentiriam representadas
de forma correta na mídia (BENTO, ARAÚJO; SANTOS, 2009; MOREIRA, 2010).

São muitos os casos de pessoas, principalmente crianças, que passam a ter a


sua autoimagem afetada por causa da forma que a mídia retrata a população negra ou
como deixa de retratar, no caso da publicidade envolvendo pessoas negras que, para
alguns tipos de produtos, são deixadas de lado. A mídia atuaria, assim, como um veículo
para a propagação de preconceito e discriminação. No cotidiano, ao se deparar com tudo
isso, esses pensamentos podem ir adentrando e forjando a subjetividade das pessoas.
Dessa forma, pode haver a internalização de atitudes racistas, misóginas, homofóbicas
e gordofóbicas, por exemplo (BENTO; ARAÚJO; SANTOS, 2009).

A forma que as minorias sociais são representadas na mídia pode reforçar


os estereótipos, preconceitos e discriminações ligados a essas populações. A mídia
acaba por enaltecer um modelo e adotá-lo como padrão, levando todas as outras
formas de existir para escanteio. Com isso, crianças negras podem se sentir inferiores,
ao mesmo tempo em que crianças brancas, por exemplo, podem ter em si reforçadas
as ideias de reafirmação na sua autoestima, da manutenção de privilégios sociais e
do ideal de superioridade que é construído em sociedades racistas (BENTO, ARAÚJO;
SANTOS, 2009).

A mídia reforça a construção de uma identidade nacional, pois por meio dela e
de TIC, como o rádio e a televisão, é que produtos culturais são forjados e transmitidos.
Assim, foram construídas ideias como a de que os brasileiros adoram assistir jogos de
futebol na televisão entre amigos e familiares, ou se sentar na frente da TV no domingo
à tarde, ou acompanhar o final da novela e o desfecho dos personagens da ficção, entre
outras programações que são referência nacionalmente. Com isso, a mídia reforça o que
deve ser visto, como deve ser visto e, também, o que deve ser excluído, ou seja, posto
para fora das vistas dos espectadores. A mídia reforça comportamentos, atitudes, corpos,
padronagem estética. Como afirmado, todo esse delineamento tende a favorecer formas
de dominação por meio da manutenção de estereótipos, discriminações e preconceitos
de diversas ordens. Além do racismo, um outro tema para discussão em relação à mídia
envolve os estudos de gênero, principalmente aqueles acerca da população feminina
(BENTO, ARAÚJO; SANTOS, 2009).

14
Pode-se observar, por meio da mídia, a maneira como seus conteúdos expres-
sam as relações de gênero. Cada veículo de comunicação terá sua linguagem própria,
incluindo adaptações a fatores sociais, econômicos, entre outros, porém, de forma ge-
neralizada, os conteúdos tendem a ser separados em cada público alvo (feminino ou
masculino) obedecendo a normas e padrões comportamentais estabelecidos pela so-
ciedade, pois é desta forma que ocorre a divisão entre os sexos, distinguindo-os não
apenas biologicamente, mas também sob uma perspectiva histórica e social. Nesta dis-
tinção, há não apenas uma separação entre os sexos, mas também uma tentativa de
clara delimitação entre que elementos pertencem ao mundo de cada gênero, adotan-
do-se um olhar dicotomizado (BURBULHAN; GUIMARÃES, 2011).

Assim como ocorre no âmbito racial, o entendimento da existência de relações


de poder também está presente na discussão sobre gênero, podendo ser construída
e reforçada por meio da mídia, pois ela é um dos aspectos que permeiam a vida dos
sujeitos em coletividade sob mediação das TIC. Dessa forma, a mídia entretém e
produz conhecimento atravessando a vida das pessoas e as influenciando. Burbulhan
e Guimarães (2011) observaram esta relação entre mídia e gênero por meio da análise
de duas revistas, cada uma voltada exclusivamente para um público, o masculino e o
feminino, de forma separada.

Neste estudo (BURBULHAN; GUIMARÃES, 2011), notou-se que a mídia dirigia


o teor das matérias das revistas direcionando a leitura para o que a sociedade espera.
Assim, para os homens, eram destinados artigos sobre produção de conhecimento,
produtos culturais, esportes e viagens, alternando com conteúdo sensuais a fim de
satisfazer necessidades ditas "naturais'' dos homens. Às mulheres, era permitido um
certo rompimento de regras, até mesmo porque o público leitor da revista era jovem.
Então, a essas mulheres, era permitido um espírito ousado, inovador e crítico, mas sem
abrir mão de matérias sobre compras, moda, beleza, o lar e a maternidade, por exemplo,
que são temáticas esperadas ao público feminino durante seu consumo de conteúdo
pela mídia.

FIGURA 7 – MÍDIA E A REDE

FONTE: <https://www.implantandomarketing.com/o-que-voce-precisa-saber-para-ser-um-
profissional-de-midia-digital-nos-dias-de-hoje/>. Acesso em: 21 jun. 2022.

15
A mídia, em consonância com a sociedade, regula o que e como homens e
mulheres devem consumir conteúdo. Burbulhan e Guimarães (2011) apontaram que
algumas pequenas adaptações podem ser permitidas, portanto que não rompam com o
status quo, ou seja, com aquilo que a sociedade como um todo espera que seja destinado
ao padrão comportamental de cada sexo. Dessa forma, percebe-se o papel da mídia,
nesse jogo de forças, enquanto delimitador e controlador do tipo de consumo que deverá
ser realizado por homens e por mulheres (BORIS; CESÍDIO, 2007; MOREIRA, 2010).

Este controle costuma ocorrer também em relação ao corpo da mulher e à


padronização imposta pela sociedade. Assim, a comunicação de massa interfere no
modo como as mulheres percebem seu próprio corpo e, com isso, provoca alterações
na forma como elas interagem com o mundo e com a coletividade. Essas mudanças
também recebem influência da mídia por via da publicidade, onde, por meio do incentivo
ao consumo, se regula como as pessoas, principalmente as mulheres, devem agir e
dispor de seus corpos (BORIS; CESÍDIO, 2007).

Uma outra pauta muito presente nas discussões e espaços proporcionados pela
mídia é a atenção à saúde, através da conscientização e da promoção dela. A relação
entre a mídia, as TIC e a saúde pode ser entendidas de duas maneiras: as tecnologias
como apoio operacional à serviço dos sistemas de saúde e outras demandas surgidas no
contexto assistencial, como nos atendimentos, principalmente envolvendo a promoção
da saúde (PINOCHET, 2014).

Um dos elementos ligados à promoção da saúde por meio da mídia é percebido


nas campanhas publicitárias que proporcionam uma conscientização da saúde através
da colorização dos meses. Essas campanhas unem estratégias da educação e da saúde
e têm como objetivo voltar a atenção para a preservação da vida e a prevenção de
doenças. Para isso, são eleitos meses e cores como forma de campanha na mídia,
trazendo um discurso de prevenção dessas enfermidades. Esses meses escolhidos
de forma específica recebem palestras e diversos tipos de eventos para fomentar
discussões sobre a temática da campanha, que recebe espaço na mídia por meio das
diversas TIC. São algumas destas campanhas que adotam a ideia de conscientização
e prevenção: Janeiro Branco (saúde mental), Maio Laranja (abuso e exploração de
crianças e adolescentes), Agosto Lilás (violência contra a mulher), Setembro Amarelo
(prevenção do suicídio), Outubro Rosa (câncer de mama), Novembro Azul (câncer de
próstata) (BEZERRA; SILVA, 2019; MARTINS; RADTKE; SOUZA, 2019).

Além da prevenção, também se pode refletir nos impactos das TIC e da mídia na
saúde das pessoas, trazendo adoecimentos físicos e/ou psíquicos ocasionados pela
relação com a mídia e as tecnologias, afetando, assim, a qualidade de vida das pessoas.
Sujeitos podem adoecer caso não estabeleçam relações saudáveis seja com outras
pessoas ou com objetos e serviços do seu dia a dia. Pensando assim, as pessoas podem
adoecer devido à dependência de recursos tecnológicos, por exemplo. Sujeitos buscam
aprovação social e acesso à informação e ao conhecimento. Para isso, eles deverão
estabelecer estreita relação com as TIC para que possam se sentir integrantes de um
grupo social (PINOCHET, 2014).

16
Como citado, vive-se uma era da informação. A todo instante e em qualquer
lugar os sujeitos se deparam com muitas informações na internet. Como saber quais
informações são úteis ou verdadeiras? Esse questionamento pode ser prejudicial e
ocasionar episódios de ansiedade por não saber quais direções tomar em um terreno
de proporções gigantescas como o da internet. Adoecimentos físicos devido às TIC
também são possíveis, principalmente quando não se tem um cuidado com a ergonomia
de dispositivos ou instrumentos ligados a eles, seja em ambiente de trabalho ou de lazer
(PINOCHET, 2014).

4 MÍDIA E A PRODUÇÃO DE SUBJETIVIDADES


Entende-se que a mídia, assim como outros aspectos da vida cotidiana, possui
influência na construção da subjetividade humana, ou seja, no modo como as pessoas
(de qualquer idade) elaboram seus modos de agir, pensar, existir e se relacionar com os
outros. Esses modos são particulares a cada pessoa, porém sofrem profunda influência
social, pois a subjetividade é construída na articulação entre o mundo interior e o
exterior (BORIS; CESÍDIO, 2007; CONDE, GUARESCHI; ANTOUN, 2009; MOREIRA, 2010;
SILVA; SANTOS, 2009).

A mídia é uma dessas pontes entre esses mundos, pois foi a partir de
artefatos tecnológicos que os sujeitos puderam elaborar a comunicação em massa.
Como citado, a imprensa derrubou barreiras e expandiu a comunicação por meio
de publicações impressas como panfletos e livros. De forma processual, outras TIC
foram desenvolvidas, como o telégrafo, o jornal, a carta e a televisão, e possibilitaram
mudanças na subjetividade humana, considerando os aspectos biológicos, afetivos,
políticos e socioculturais (BORIS; CESÍDIO, 2007; CONDE, GUARESCHI; ANTOUN, 2009;
MOREIRA, 2010; SILVA; SANTOS, 2009).

FIGURA 8 – INFLUÊNCIA DAS REDES

FONTE: <https://www.psicologia.pt/artigos/ver_artigo.php?a-influencia-das-redes-sociais-sob-a-
construcao-da-subjetividade-humana&codigo=A1365&area=d9>. Acesso em: 21 jun. 2022.

17
Essas mudanças ocorreram de forma processual, até mesmo por se considerar
a historicidade e os contextos sociais de cada período no decorrer de todos esses anos.
Assim, nota-se os impactos da mídia na vida das pessoas, pois os sujeitos passaram
a organizar sua existência a partir da relação deles com as tecnologias surgidas,
considerando as particularidades de cada uma. A era do rádio, por exemplo, apresentou
transformações na sociedade, pois as pessoas passaram a criar rotinas para acompanhar
seus programas preferidos. A televisão, principalmente com as telenovelas, traz desde
mudanças aparentemente mais simples, como a forma de se vestir das pessoas, a
mudanças mais complexas, como a maneira de se comportar e se relacionar.

IMPORTANTE
Já a atual configuração, com o uso massivo das mídias digitais, desperta
reflexões devido ao grande alcance que as TIC passaram a ter na vida dos
sujeitos, trazendo consequências para diversos âmbitos como a educação,
o trabalho, a saúde, além de que ajudaram a transformar a percepção das
pessoas acerca da sua realidade e as suas motivações, alterando a sua
interpretação do mundo (MOREIRA, 2010; SILVA; SANTOS, 2009).

A forma como as pessoas percebem o tempo e o espaço foi sendo modificada.


Com tecnologias como a carta e a fotografia, foi possível registrar fatos e fazer com que
eles se perpetuassem no tempo. TIC como a televisão, o telefone e a internet puderam
modificar a noção de espaço, estreitando a distância entre pessoas do mundo inteiro.
Com a atual imersão no ambiente digital, onde vários dispositivos se conectam à internet
para diversos fins, tanto a ideia de tempo quanto de espaço sofre novas alterações. As
pessoas, os serviços e as informações estão na palma da mão a qualquer instante,
acessível a todos. Vive-se o agora e isso altera profundamente a subjetividade humana.
Os sujeitos podem estar presentes em qualquer espaço, com quem quiserem e da forma
que melhor se identificarem (inclusive aparentemente, com a escolha de avatares com
características pelas quais o sujeito se reconheça e se identifique como tal). A ideia de
sujeito de séculos atrás encontra-se dividida em diversos “eus” que coabitam, de forma
integral e interativa, um corpo que é físico, mas também digital (MOREIRA, 2010).

Essa multiplicidade ajuda, inclusive, a ressignificar uma dualidade presente há


uns anos, mas que talvez hoje em dia, não faça mais tanto sentido. Antes se dizia que
algo era real ou virtual, dando a entender que o que advinha da internet, o “virtual”,
estaria preso e restrito a este contexto, não “existindo”, assim, na “vida real”. É como
se as coisas permanecessem presas dentro da tela do computador: seus amigos, sua
vida, as salas de bate-papo, tudo era considerado virtual. Hoje não se tem mais como

18
conceber separações entre “real” e “virtual”, como se o que consumimos na internet
ficasse lá dentro preso na tela. O conteúdo de “dentro” e de “fora” se funde na atualidade:
a comida que você pede, as compras, os meios de transporte, seu dinheiro. Essas e
outras coisas coexistem “dentro” e “fora” da internet pois hoje em dia tudo é uma coisa
só. E o que se passa no ambiente digital, como as interações e as emoções vividas,
também são válidas e reais (MOREIRA, 2010).

4.1 MÍDIA E COGNIÇÃO


Já foi afirmado que, por meio das tecnologias e da mídia, é possível construir
conhecimento sobre determinado assunto. Com isso, sabe-se algumas contribuições
das TIC junto à cognição. Esta se relaciona às atividades mentais, sensoriais, sociais
e à construção de conhecimento. Régis (2008, p. 35) afirmou que as competências
cognitivas abrangem “o conjunto de conhecimentos (saberes), habilidades (saber
fazer) e atitudes (saber ser) necessárias para os usos, criações e recombinações de
linguagens, interfaces e códigos” que favorecem a comunicação humana. Essas
competências cognitivas podem ser entendidas sob alguns aspectos no contexto
digital: cibertextualidade, logicidade, criatividade, sensorialidade e sociabilidade.

A cibertextualidade refere-se ao diálogo e autorreferências entre textos da


mídia, sejam eles escritos ou imagéticos, acessados pela internet. Outro aspecto é
a logicidade, relacionada ao processo de tomada de decisões por uso da lógica e a
resolução de problemas para demandas surgidas nas interações no ambiente on-line.
A criatividade relaciona-se ao processo de criação presente nas relações e interações
on-line. A sensorialidade refere-se aos estímulos sensoriais proporcionados tanto pelos
dispositivos quanto pelos softwares, aplicativos e sistemas operacionais utilizados no
ambiente digital. Por último, a sociabilidade se relaciona à colaboração necessária na
interação entre sujeitos para que o processo de comunicação possa se desenvolver
visando o entretenimento e a partilha de informações. A própria noção de internet é
social, pois está ligada a um sistema de conexão em rede (RÉGIS, 2008).

Régis (2008) e Siqueira (2007 apud PINOCHET, 2014) apontaram que alguns
processos psicológicos podem ser estimulados na relação dos sujeitos com as TIC, mais
precisamente por meio da mídia digital. O processamento da informação, o raciocínio, a
argumentação, o processo criativo, a atenção e a percepção podem ser desenvolvidos
por mediação das TIC e recursos imagéticos visuais e auditivos, presentes no ambiente
on-line. Como estão sempre sendo elaborados dispositivos que possibilitam esta
mediação, o contato com novas tecnologias favorece e estimula os processos mentais
citados, pois os sujeitos estão sempre ressignificando suas práticas e aprendendo a lidar
com os recursos que surgem a todo instante. Além disso, essa permanente atualização
das tecnologias faz com que as pessoas se aproximem cada vez mais das informações
e conteúdos veiculados, aprimorando a construção de conhecimento e a sociabilidade.

19
Um exemplo dessa permanente atualização pode ser compreendido por meio
da forma como as pessoas percebem a realidade. Os órgãos sensoriais e perceptuais
humanos sofrem adaptações frente aos dispositivos surgidos, como a tecnologia da
realidade virtual, onde os ambientes on-line e off-line do sujeito se incorporam na vida
cotidiana. A mídia digital possui um caráter participativo na vida dos sujeitos. Ela tem
afetado a cognição humana e a forma como os sujeitos interagem uns com os outros e
com o mundo ao seu redor (RÉGIS, 2008).

Acerca da relação entre mídia e cognição, é possível compreender que ela


também está presente no processo de aprendizagem, seja a nível escolar ou não.
Tanto os dispositivos físicos, como computadores e smartphones, quanto os sistemas
operacionais, softwares e aplicativos são desenvolvidos para estreitar a relação entre o
sujeito e seu objeto de estudo. Esses recursos podem ser considerados instrumentos na
mediação entre sujeito e sociedade e, dessa forma, mediação também para o processo
de aprendizagem (QUARTIERO, 1999; RÉGIS, 2008; STOLTZ, 2005).

IMPORTANTE
Salas de aula, formais ou não, tornam-se mais próximas no ambiente
digital. É possível aprender sobre qualquer coisa, desde o ensino
regular até idiomas, artesanato, música e demais expressões artísticas,
sob mediação das TIC. Elas possibilitam não só a aproximação teórica
como também o estreitamento com a prática e o objeto a ser estudado.
As ferramentas e recursos da comunicação podem ser adaptados para
diversas áreas. Com isso, a aprendizagem mediada pelas TIC ganhou
novos formatos, desenvolvendo-se mediante uma comunicação plena,
dinâmica e multidirecional. Assim, abriu-se variadas possibilidades de
interação entre as tecnologias, a sociedade e os sujeitos (educadores
e/ou educandos), fazendo-se uso de diversos recursos como os textos,
imagens, vídeos e sons, todos eles compartilhados por meio da mídia
(COLL; MONEREO, 2010; PEREIRA; SILVA, 2010; QUARTIERO, 1999;
RÉGIS, 2008).

A mediação das TIC nos processos educacionais deve ser entendida de forma
natural, pois, como já citado, as tecnologias e veículos de comunicação fazem parte da
vida dos sujeitos desde a sua inserção na sociedade. Ambos facilitam a comunicação
entre sujeitos por meio da linguagem, que é um instrumento pelo qual torna-se possível
a socialização dos sujeitos. Assim, podemos entender a articulação entre mídia, TIC
e o processo de ensino-aprendizagem a partir de dois vieses: as tecnologias como
forma de mediação que favorecem a aprendizagem, ou seja, as TIC como veículos de
comunicação e instrumentos na construção e transmissão do conhecimento. A forma
como as tecnologias impactam a cognição humana e o desenvolvimento de processos
psicológicos (como atenção, criatividade, tomada de decisão, entre outros), afetando a
maneira como as pessoas produzem conhecimento e interagem umas com as outras
(COLL; MONEREO, 2010; PINOCHET, 2014; QUARTIERO, 1999; RÉGIS, 2008).

20
Dessa forma, entende-se que as tecnologias podem afetar o desenvolvimento
humano, já que este envolve a internalização de instrumentos pertencentes ao meio
social do sujeito, adaptando essas ferramentas para a vida cotidiana dessas pessoas.
Esses instrumentos tecnológicos podem ser desde a escrita aos mais recentes
dispositivos eletrônicos que possibilitam o acesso à internet, entre eles o computador,
que podem ser utilizados para diversas finalidades, entre elas o entretenimento e na
elaboração de atividades escolares, auxiliando nos processos educacionais (COLL,
MAURI; ONRUBIA, 2010; LALUEZA; CRESPO; CAMPS, 2010; VYGOTSKY, 2010).

Compreende-se que não necessariamente as TIC irão impactar de forma direta


na aprendizagem humana, pois envolve inúmeros fatores intrínsecos e extrínsecos ao
sujeito, mas se sabe que a relação entre mídia, tecnologia e aprendizagem é possível
de ser estabelecida e pode ser um grande atrativo para todos os envolvidos neste
processo. A relação entre TIC e cognição pode perpassar a subjetividade humana e o
seu desenvolvimento, abrangendo ainda a sociabilidade do sujeito e os valores e normas
pertencentes à coletividade, considerando os eventos que permitiram o delineamento
da sociedade e do sujeito contemporâneo (COLL; MAURI; ONRUBIA, 2010; LALUEZA;
CRESPO; CAMPS, 2010; VYGOTSKY, 2010).

21
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A mídia envolve o entretenimento, a divulgação de notícias e a publicidade.

• Entende-se que a sociedade e a mídia se influenciam mutuamente.

• A mídia, enquanto sistema de comunicação em massa, por si só, não tem como
atingir as pessoas. Recursos como o rádio, televisão, imprensa e internet servem a
esta finalidade.

• Vive-se uma era da informação onde a todo instante e em qualquer lugar os sujeitos
se deparam com muitas informações na internet.

• Atualmente, a maior parte das informações veiculadas no mundo passam pelo


ambiente digital.

• A sociedade, na atualidade, passa por mudanças cada vez maiores e mais rápidas. É
preciso acompanhar essas transformações, pois a sociedade ocidental está pautada
na informação e no conhecimento que está em constante mudança.

• A comunicação de massa vai além da simples emissão e recepção de uma mensagem,


pois não envolve necessariamente sujeitos neste processo.

• A mídia faz parte do dia a dia das pessoas. Adentrou nas casas dos sujeitos através da
televisão, geralmente um aparelho grande, situado na sala de casa e compartilhado
pela família.

• A subjetividade humana é construída nessa interação entre o mundo interior e o


mundo exterior do sujeito.

• Entende-se que a mídia, assim como outros aspectos da vida cotidiana, possui
influência na construção da subjetividade humana, ou seja, no modo como as
pessoas elaboram seus modos de agir, pensar, existir e se relacionar com os outros.

• Já foi afirmado que, por meio das tecnologias e da mídia, é possível construir
conhecimento sobre determinado assunto.

22
AUTOATIVIDADE
1 A mídia faz parte do cotidiano das pessoas desde os tempos mais remotos. Entender
como a mídia se desenvolveu historicamente e se transformou durante este tempo
auxilia na compreensão do seu papel na atualidade. A divulgação de informações
acontece através de vários meios. Assinale a alternativa CORRETA que corresponde à
primeira forma de divulgação da informação:

a) ( ) Rádio.
b) ( ) Jornal.
c) ( ) Oratória.
d) ( ) Televisão.

2 Os maiores avanços tecnológicos surgiram com o objetivo de aprimorar os processos


comunicacionais, principalmente aqueles que envolvem grupos de pessoas, ou seja,
não se detém na comunicação de uma ou duas pessoas em específico, e sim na
comunicação de massa. Considerando a mídia enquanto um sistema de comunicação
de massa, ela recebe suporte das Tecnologias da Informação e Comunicação. Dentre
as ferramentas que correspondem às TIC’s, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Internet.
b) ( ) Computadores.
c) ( ) Tablets.
d) ( ) Todas as opções.

3 Ações e políticas públicas devem ser elaboradas a fim de ampliar o acesso às TIC,
pois o sujeito, enquanto ser político e social, tem sua vida atravessada pela forma
que a mídia influencia e molda a sociedade. Com base nessa afirmação, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) As relações, mediadas pelas TIC, estabelecidas entre sujeito e sociedade podem


alterar normas e mecanismos sociais, além de que políticas públicas também
são construídas a fim de impulsionar as novas tecnologias.
b) ( ) Ficou tão fácil que qualquer um pode falar sobre tudo a partir de uma breve
leitura dinâmica dos primeiros capítulos de qualquer site que esteja nos primeiros
resultados durante a busca realizada no seu navegador.
c) ( ) Talvez o único empecilho seja a falta de sinal para conexão ou a falta do dispositivo
em si. No mais, em tese, qualquer pessoa pode buscar informações na internet.
d) ( ) Com a expansão das tecnologias de rede, surgiram inúmeras possibilidades de
comunicação via internet, incluindo o seu acesso por meio de variados tipos de
dispositivos eletrônicos.

23
4 Em tese, qualquer pessoa pode buscar informações na internet. Ficou tão fácil
que qualquer um pode falar sobre tudo a partir de uma breve leitura dinâmica dos
primeiros capítulos de qualquer site que esteja nos primeiros resultados durante a
busca realizada no seu navegador. Disserte sobre as problemáticas da facilidade da
comunicação.

5 Com a invenção da imprensa, atribuída a Johann Gutenberg, no século XV, um grande


passo foi dado. Aumentou-se consideravelmente a quantidade de publicações, pois,
agora, as obras não seriam mais escritas à mão. Percebemos a mídia como um
sistema de comunicação, mas não é ela a ferramenta que circula a informação em si.
Disserte sobre os meios usados para atingir o público.

24
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
A CIBERCULTURA

1 INTRODUÇÃO
Nas últimas duas décadas, a revolução cibernética transformou radicalmente a
comunicação e a cultura. O desenvolvimento tecnológico no campo da microinformá-
tica, dos computadores e das telecomunicações aumentaram as potencialidades dos
sistemas de armazenamento, processamento e difusão de informações.

Com o surgimento da Internet, conseguimos consolidar uma teia de


comunicação global cada vez mais rápida e participativa. Essas mudanças tecnológicas
tiveram grande impacto nas formas de sociabilidade entre as pessoas. Nesse âmbito,
o ciberespaço favorece práticas de participação e compartilhamento de conteúdo
interessantes e dinâmicas.

O jornalista precisa estar atento a esse novo cenário, para que possa estabelecer
uma relação pertinente com o seu público. Neste capítulo, você vai estudar a cibercultura
e entenderá como a revolução cibernética ajudou a constituir esse tipo específico de
cultura. Além disso, vai descobrir o que é ciberespaço e como ele funciona. Por fim, você
vai identificar os impactos que o surgimento da Internet impõe ao jornalismo.

2 A REVOLUÇÃO CIBERNÉTICA
Iniciamos este capítulo com o seguinte questionamento: o que é revolução
cibernética e como ela afeta a nossa cultura? Para começar, é interessante notarmos
que a cibernética é uma área de conhecimento interdisciplinar vinculada à teoria dos
sistemas. Como contextualiza Castells (2002), as inovações nessa área surgiram a partir
de demandas e experiências tecnológicas da Segunda Guerra Mundial e possibilitaram o
surgimento de um novo paradigma tecnológico.

Em seu livro “A sociedade em rede”, Castells (2002) traça uma revisão histórica
dessa revolução tecnológica, pontuando algumas inovações importantes na área da
microeletrônica, dos computadores e das telecomunicações. Segundo o teórico, os es-
tágios de inovação desenvolvidos nesses três campos são responsáveis por criar essa
paisagem tecnológica. No campo da microeletrônica, a criação do primeiro transistor,
em 1947, pela Bell Laboratories, marca o início desse ciclo de inovação de máquinas ca-
pazes de processar informações em velocidade rápida de modo binário. Duas décadas
depois, em 1971, a invenção dos microprocessadores pelo engenheiro Ted Hoff, da Intel,
fez com que a microeletrônica fosse amplamente difundida. A partir de então, esse chip
com grande capacidade de processamento passou a ser instalado em vários equipa-
mentos (CASTELLS, 2002).
25
FIGURA 9 – A CIBERNÉTICA

FONTE: <https://securityinformationnews.com/2019/07/27/defesa-cibernetica-e-seguranca-
cibernetica-diferencas-e-semelhancas/>. Acesso em: 21 jun. 2022.

Segundo lembra Castells (2002), a criação dos computadores também está re-
lacionada à Segunda Guerra Mundial e seus avanços tecnológicos. Ele também comenta
que o primeiro computador, criado em 1946 para usos bélicos, pesava 30 toneladas e sua
estrutura metálica tinha 2,75 metros de altura, ou seja, a máquina era bem diferente do
que conhecemos hoje. A microeletrônica — capaz de gerar minúsculas estruturas de pro-
cessamento de informações — foi responsável por revolucionar também o computador.
Além dessas tecnologias, Castells (2002) também comenta que as estruturas de tele-
comunicações sofreram grandes transformações, com o surgimento de tecnologias de
transmissão mais velozes e dinâmicas, como fibra ótica, laser e pacotes de dados. Essas
estruturas forneceram a base física para a criação da Internet.

Castells (2002) nos ajuda a traçar algumas características do paradigma


tecnológico que vivemos desde então. A matéria-prima desse paradigma consiste na
informação e as tecnologias são moldadas para agir sobre a informação. Nesse sentido,
o foco da revolução tecnológica encontra-se no processo e não no produto final e nas
ferramentas propriamente ditas. As informações e os conhecimentos são usados e
aplicados “[...] para a geração de conhecimentos e de dispositivos de processamento/
comunicação da informação em um ciclo de realimentação cumulativo entre a inovação
e o seu uso” (CASTELLS, 2002, p. 69).

Como as ações humanas giram em torno da informação, as tecnologias acabam


penetrando integralmente nas mais variadas atividades cotidianas. Outras propriedades
do paradigma consistem na flexibilidade e abertura do sistema, na adoção da topologia
das redes para qualquer estrutura ou processo e na integração das tecnologias micro-
eletrônica, de telecomunicações e dos computadores (CASTELLS, 2002). A natureza
aberta desse paradigma é comentada no seguinte trecho:

26
O paradigma da tecnologia da informação não evolui para seu
fechamento como um sistema, mas rumo a abertura como uma rede
de acessos múltiplos. É forte e impositivo em sua materialidade, mas
adaptável e aberto em seu desenvolvimento histórico. Abrangência,
complexidade e disposição em forma de rede são seus principais
atributos (CASTELLS, 2002, p. 113).

3 O SURGIMENTO DA INTERNET
Nessa esteira tecnológica, temos a criação da Internet, cuja história merece
um espaço próprio. A Internet nasceu da cooperação entre militares e universidades
públicas norte-americanas, passando, em seguida, a agregar iniciativas tecnológicas
e inovações contraculturais. A chamada ARPANET, criada em 1969 por especialistas da
Agência de Projetos de Pesquisa Avançada (ARPA) do Departamento de Defesa dos
Estados Unidos, tinha o objetivo militar estratégico de ser um sistema de comunicação
invulnerável a ataques nucleares para troca de pacotes de informação (CASTELLS,
2002). Assim, a rede passou a ser utilizada pela comunidade de cientistas para troca de
mensagens informais entre seus colegas. Em um determinado momento, lá por volta de
1995, a estrutura da rede foi privatizada. Aos poucos, desenvolvedores começaram a criar
condições para expandir a rede em nível global, para que abarcasse uma conexão entre
vários computadores. Para isso, criaram um protocolo de comunicação que possibilitou
que várias redes já existentes conseguissem se conectar à Internet (CASTELLS, 2002).

FIGURA 10 – INCLUSÃO DIGITAL

FONTE: <https://www.convergenciadigital.com.br/Inclusao-Digital/Conexao-a-internet-ficou-mais-
cara-no-mundo-com-pandemia-de-Covid-19-59743.html>. Acesso em: 21 jun. 2022.

A partir da década de 1990, outro salto tecnológico sacudiu a Internet. Um


grupo de cientistas liderados por Tim Berners Lee criou a World Wide Web (WWW), a
grande teia mundial. A ideia era criar uma interface amigável para que os não iniciados
em programação ou linguagem computacional pudessem navegar de forma mais fácil

27
pela Internet (CASTELLS, 2002). Nesse momento, foram criados os buscadores da
Internet, a linguagem de hipertexto (HTML) e de transferência de arquivos (HTTP) e um
formato padronizado de endereços (URL), elementos que formatam a Internet tal como
a conhecemos.

3.1 AS FASES DA WEB


A Web 1.0, por exemplo, se origina com a própria tecnologia WWW, na década
de 1990, e se caracteriza pelas páginas estáticas, que permitem ao usuário apenas
ler, sem poder interagir ou modificar a informação. A linguagem utilizada é a HTML. A
produção de conteúdo se encontra nas mãos de poucos canais, empresas tradicionais
de comunicação que estabeleceram sua presença na rede, investindo no processo de
comunicação de uma via (SCHMITT; OLIVEIRA; FIALHO, 2008), comum ao processo de
editoração do jornal impresso. Grandes portais como Aol, Uol e Yahoo! são representantes
dessa fase.

A segunda fase da Web, a Web 2.0, começa lá por meados dos anos 2000.
Segundo relatam Schmitt, Oliveira e Fialho (2008), a transição de uma fase para a
outra é marcada pela falência de muitas empresas tecnológicas que tinham ações
hipervalorizadas, com a sobrevivência de algumas poucas. Essas poucas que
sobreviveram compartilhavam algumas características, como a oferta de espaços de
colaboração para escrita e produção de conteúdo.

Schmitt, Oliveira e Fialho (2008, p. 8) comentam alguns dos princípios


compartilhados por essas empresas, citando O’Reilly (2005):

a) utilizar a Web como plataforma; b) aproveitar a inteligência coletiva;


c) gerenciar banco de dados; d) eliminar o ciclo de lançamento de
software; e) apresentar modelos leves de programação; f) não limitar
o software a um único dispositivo; g) oferecer ao usuário experiências
enriquecedoras (O’REILLY, 2005 apud SCHMITT, OLIVEIRA e FIALHO,
2008, p.8).

Encarada como plataforma, a Web passa a ser o meio onde acontece a troca de
informações e conexão entre os usuários de forma mais intensa, por meio de sites de
colaboração. Sites estáticos cedem lugar para sites dinâmicos, mantidos com banco de
dados e linguagens de programação mais simples. Também vemos que a Web 2.0 segue
um modelo aberto de programação, permitindo que o próprio usuário colabore com o
desenvolvimento de software e produtos. Por essa razão, o uso da inteligência coletiva
torna-se um dos princípios dessa nova geração da Web.

28
FIGURA 11 – COMUNICAÇÃO NAS REDES SOCIAIS

FONTE: <https://cakeerp.com/blog/redes-sociais/>. Acesso em: 21 jun. 2022.

Para Lévy (2003), a conexão em redes e outras tecnologias colaborativas produziu


um cenário ideal de aproveitamento e mobilização em tempo real das competências e
inteligências individuais dos sujeitos ligados a essas redes. Nesse sentido, a Internet tem
a potencialidade de ser um ambiente criativo e múltiplo, capaz de somar conhecimentos
individuais, tornando-os coletivos e compartilhados entre a humanidade.

CURIOSIDADE
A Wikipedia é um bom exemplo de projeto que se alimenta da inteligência
coletiva. Trata-se de uma enciclopédia on-line escrita pelos usuários e criada
pela Fundação Wikimedia em meados do ano 2000. Os colaboradores são
responsáveis por criar páginas sobre temas específicos ou editar páginas
já existentes, atualizando ou acrescentando informações ao conteúdo
de terceiros. Atualmente, a Wikipedia tem uma vasta quantidade de
informações sobre diversos assuntos. Além da Wikipedia, outros projetos
da Wikimedia vão nesta mesma linha de colaboração: Wikilivros (páginas
sobre livros), Wikinotícias (páginas sobre notícias) e Wikiversidade (espaço
de construção de conhecimento e saberes).

O desenvolvimento de interfaces amigáveis, na segunda geração, facilitou a


apropriação da Web pelos usuários do sistema. Vemos o surgimento, por exemplo, dos
blogs, plataformas de autopublicação de conteúdo que ganharam grande popularidade
nas redes. Segundo Blood (2002), o blog é um formato com textos de ordem cronológica
reversa (chamados de posts), com atualização contínua e presença de hiperlinks. Essas
características dão a ele um caráter dinâmico, calcado na interatividade, distinguindo-
se de outros formatos da Web, como sites e portais. Lomborg (2009) acrescenta mais
algumas propriedades para o blog: escrita por um autor individual, estilo informal de

29
escrita; assíncrono e persistente, ou seja, seu conteúdo se mantém armazenado na
Web, e fácil de ser operado, pois não requer habilidades técnicas. Essas características
fizeram com que essa ferramenta fosse utilizada por pessoas na forma de um diário
pessoal, sendo posteriormente apropriada por empresas, jornalistas e outros usuários
para fins jornalísticos, de comunicação empresarial, entre outros.

Na Web 3.0, vemos um aprimoramento das ferramentas colaborativas e,
também, uma automatização dos sistemas e mecanismos de busca da Internet. Diante
de um cenário de caos informativo crescente, surge a Web Semântica, cujo princípio
basilar consiste na organização das informações e páginas a partir da colaboração entre
computadores e humanos. Ela funciona segundo um mecanismo interpretativo, em que
o computador é ensinado a reconhecer e conectar significados de palavras. Há uma
integração entre linguagens e tecnologias globais que tornam todas as informações
compreensíveis para as máquinas. Podemos chamar essa fase de Web Inteligente.

Nessa etapa, a interação entre computador-usuário se torna mais funcional.
Uma grande quantidade de informações e dados sobre o usuário e seu perfil de
comportamento on-line abastece os sistemas de inteligência dos sites e portais, que, a
partir dessa leitura, conseguem predizer hábitos de compra e consumo deste sujeito e
oferecer serviços mais personalizados e customizados. Sites buscadores de conteúdo
passam a utilizar técnicas de Search Engine Otimization (SEO) para mapear quais são
as buscas mais frequentes dos seus usuários sobre determinado tema. Essas análises,
passam, então, a ser usadas pelo jornalismo e outras esferas de produção de conteúdo
para formatar conteúdos de interesse do consumidor.

Por fim, a última fase da Web que começa a despontar no horizonte é a Web
4.0. Ela tem como elemento central o uso de dispositivos móveis para o consumo de
informação. As tecnologias dessa fase, como o Wi-Fi, permitem um descolamento do
lugar físico (modem e computador) para pontos móveis de conexão, por onde o usuário
transita munido de um smartphone, enquanto se desloca pelos espaços físicos da
cidade. Essas tecnologias always on fazem com que a comunicação seja ubíqua, ou
seja, aconteça em todos os lugares. A separação entre ambiente on-line e off-line tende
a se dissipar, criando um contexto de conexão total (SANTAELLA, 2007). O Quadro 1
resume as fases da Web e seus principais elementos.

30
QUADRO 1 – FASES DA WEB

Fase da Web Tecnologias Característica


Web 1.0 HTML; sites estáticos. Estática.
Web 2.0 Sites dinâmicos com interface Colaboração e participação
amigável; bancos de dados; (Web Social).
blogs; wikis; fóruns.
Web 3.0 Web semântica; técnicas de Automatização (Web
SEO; XML; uso de algoritmos, Inteligente).
redes sociais.
Web 4.0 Dispositivos móveis Ubiquidade e mobilidade.
(smartphones e tablets); Wi-Fi.

FONTE: Adaptado de Schmitt, Oliveira e Fialho (2008) e Santaella (2007)

DICA
FILME: A REDE SOCIAL

FONTE: <https://bit.ly/3HHuLEk>. Acesso em: 21 jun. 2022.

Em uma noite de outono em 2003, Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), analista de sistemas
graduado em Harvard, se senta em seu computador e começa a trabalhar em uma nova
ideia. Apenas seis anos e 500 milhões de amigos mais tarde, Zuckerberg se torna o mais
jovem bilionário da história com o sucesso da rede social Facebook. O sucesso, no entanto,
o leva a complicações em sua vida social e profissional.

FONTE: <https://www.adorocinema.com/filmes/filme-147912/>. Acesso em: 10 jun. 2022.

31
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Nas últimas duas décadas, a revolução cibernética transformou radicalmente a


comunicação e a cultura.

• Bell Laboratories, marca o início desse ciclo de inovação de máquinas capazes de


processar informações em velocidade rápida de modo binário.

• O foco da revolução tecnológica encontra-se no processo e não no produto final e


nas ferramentas propriamente ditas.

• A Internet nasceu da cooperação entre militares e universidades públicas norte-


americanas, passando, em seguida, a agregar iniciativas tecnológicas e inovações
contraculturais.

• Aos poucos, desenvolvedores começaram a criar condições para expandir a rede em


nível global, para que abarcasse uma conexão entre vários computadores.

• A partir da década de 1990, outro salto tecnológico sacudiu a Internet. Um grupo de


cientistas liderados por Tim Berners Lee criou a World Wide Web (WWW), a grande teia
mundial.

• Podemos classificar o uso da Web em quatro fases: a Web 1.0, a Web 2.0, a Web 3.0 e
a Web 4.0.

• A Web 1.0, por exemplo, se origina com a própria tecnologia www.

• Web 2.0 segue um modelo aberto de programação, permitindo que o próprio usuário
colabore com o desenvolvimento de software.

• Web 3.0, vemos um aprimoramento das ferramentas colaborativas e, também, uma


automatização dos sistemas e mecanismos de busca da Internet.

• A Web 4.0. tem como elemento central o uso de dispositivos móveis para o consumo
de informação.

32
AUTOATIVIDADE
1 Podemos classificar o uso da Web em quatro fases: a Web 1.0, a Web 2.0, a Web
3.0 e a Web 4.0. Essas fases se moldam de acordo com o tipo de tecnologia e as
possibilidades de consumo ofertadas pelas páginas da Internet. Dessa forma,
assinale a alternativa CORRETA que corresponde ao elemento central de uso os
dispositivos moveis:

a) ( ) Web 2.0.
b) ( ) Web 4.0.
c) ( ) Web 1.0.
d) ( ) Web 3.0.

2 Tendo em mente as quatro classificações do uso da Web, podemos recordar que a


Web 2.0 possui uma transição de uma para a outra muito marcada pelas falências de
muitas empresas de tecnologia. Sobre à Web 2.0, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Um modelo aberto de programação, permitindo que o próprio usuário colabore


com o desenvolvimento de software.
b) ( ) Tem como elemento central os dispositivos moveis.
c) ( ) Aprimoramento das ferramentas colaborativas e automatização dos sistemas
de busca.
d) ( ) Funciona segundo um mecanismo interpretativo, em que o computador é
ensinado a reconhecer e conectar significados de palavras.

3 A Web 1.0, por exemplo, se origina com a própria tecnologia www, na década de 1990,
e se caracteriza pelas páginas estáticas, que permitem ao usuário apenas ler, sem
poder interagir ou modificar a informação. Assinale a alternativa CORRETA que se
refere à pessoa que coordenou o grupo de cientistas na criação do www:

a) ( ) Monereo.
b) ( ) Bell.
c) ( ) Berners Lee.
d) ( ) Castells.

33
4 Podemos classificar o uso da Web em quatro fases: a Web 1.0, a Web 2.0, a Web
3.0 e a Web 4.0. Essas fases se moldam de acordo com o tipo de tecnologia e as
possibilidades de consumo ofertadas pelas páginas da Internet. Disserte sobre
essas quatro fases.

5 Em 1971, a invenção dos microprocessadores pelo engenheiro Ted Hoff, da Intel,


fez com que a microeletrônica fosse amplamente difundida. A partir de então, esse
chip com grande capacidade de processamento passou a ser instalado em vários
equipamentos (CASTELLS, 2002).

FONTE: CASTELLS, M. A sociedade em rede: a era da informação: economia, sociedade e cultura.


6. ed., v. 1. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2002.

Disserte sobre a criação do computador.

34
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
MÍDIA E CULTURA

1 INTRODUÇÃO
A cultura popular está presente em vários produtos midiáticos, de propagandas
a canais digitais, da música da periferia urbana ao sertanejo. Quando os saberes e as
práticas da cultura popular são consumidos massivamente, tornam-se pop. Estudando a
cultura pop, podemos conhecer os processos de construção e ressignificação pelo qual
passam os hábitos, conhecimentos e crenças populares.

Neste capítulo, você vai estudar como os significados da cultura popular são
construídos diariamente, como a mídia constrói a cultura popular ressignificando suas
práticas e saberes e como o pop é disputado pelas instâncias sociais.

2 CULTURA POPULAR COMO CONSTRUÇÃO


DE SIGNIFICADOS
A cultura popular é um conjunto de conhecimentos, crenças e atividades
praticadas socialmente que se distinguem dependendo da localização geográfica
a que pertencem, da condição de acesso à educação, da participação política e do
desenvolvimento econômico da comunidade urbana ou rural, além da época a que se
referem. Por exemplo, as práticas, os saberes, as crenças e os hábitos de uma pequena
cidade da Bahia voltada à extração de cacau são diferentes da cultura popular vivida em
bairros periféricos de um centro urbano, como a capital Florianópolis.

Embora diversas práticas e saberes possam ser nomeados igualmente por


cultura popular, esta não é fixa, imutável ou natural. Crenças, conhecimentos, modos de
falar, pensar ou agir não são da ordem da natureza humana ou de determinado grupo;
pelo contrário, o contexto é um elemento importante para a cultura. A vida familiar, a
religião, a comunicação, a experiência cotidiana e o conhecimento não formal passado
entre gerações pertencem às circunstâncias. Por isso, a cultura popular da comunidade
extrativista baiana se distingue da vivida pelas comunidades periféricas de Florianópolis,
embora possam ter características comuns.

O que qualifica uma cultura como popular, de massa, universitária ou de


elite são as condições de acesso à educação e à saúde e a garantia dos direitos e da
representatividade política. A cultura popular está relacionada ao modo de vida de
segmentos sociais menos favorecidos economicamente e com pouco ou nenhum
acesso a recursos sociais, como educação, saúde, cultura e participação política. Para
Néstor Garcia Canclini (2015, p. 261), “[…] a definição comunicacional do popular abandona

35
também o caráter ontológico que o folclore lhe atribuiu. O popular não consiste no que o
povo é ou tem, mas no que é acessível para ele, no que gosta, no que merece sua adesão
ou usa com frequência”. Quando o autor remete à ontologia na citação, ele refere-se à
pergunta filosófica: “o que é algo?”. Neste caso, “o que é o popular?”, como se a resposta
pudesse ser fechada, tal como o folclore foi estagnado no tempo.

É essa dinamicidade que faz com que se compreenda a noção de cultura popular
como uma construção de significados. O sentido das práticas e dos saberes não está
dado de antemão, como uma receita passada entre gerações ou compartilhada entre
grupos; ele é construído pelos usuários no seu cotidiano, nos afazeres domésticos, no
transporte, no trabalho, na comunicação e no comércio, entre vizinhos e na família.
Gírias, vestuário, ritmos, orações e ditos populares apenas ganham sentido se forem
praticados e tiverem êxito no que propõem. Os recursos disponíveis devem servir
à comunicação, à manutenção da fé, à saúde, ao saber, à produção econômica; do
contrário, não serão mais praticados. Isso é muito comum com gírias e vestuário que
respondem à curta periodicidade da moda. Por exemplo, gírias de cinco anos atrás
podem cair em esquecimento e não mais pertencer à cultura de uma comunidade
se não puderem significar, expressar, representar interesses, desejos, expectativas e
receios de outro período e contexto. Em vez de tornarem a comunicação exitosa, essas
gírias podem causar ruído.

O exemplo da gíria pode ser aplicado a quaisquer práticas e saberes da cultura


popular, inclusive aos que foram ressignificados pela própria comunidade. Por exemplo, a
contação de histórias da área rural, ao anoitecer e após o trabalho, era um recurso das
comunidades que não tinham energia elétrica e buscavam se divertir após um intenso
dia de trabalho braçal. Essa prática, que também continha um saber — o ensinamento
dos mais velhos — foi ressignificada por comunidades de subúrbios das grandes
cidades. A relativa distância dos centros urbanos e da fiscalização do poder público
permitiu a ocupação de calçadas com cadeiras de praia para a conversa do fim do dia.
A mesma lógica do lazer a baixo custo, da reunião afetiva e da contação de causos foi
ressignificada pelas comunidades.

DICA
Para conhecer mais sobre os conceitos de cultura popular, de massa, de
elite e suas diferenças, busque pelos livros: A moderna tradição brasileira,
e Mundialização e cultura, ambos de Renato Ortiz. Sobre antropologia e
compreensão da cultura com base nos significados, leia A interpretação das
culturas, de Clifford Geertz.

36
Para compreender a construção dos significados, deve-se considerar a
polissemia e a significação como processos não estanques, além de ultrapassar a
noção de que cada coisa, palavra, discurso ou ação tem um significado. A polissemia
é um conceito da semântica que se refere à capacidade de uma palavra ter mais de
um significado. Por exemplo, a palavra “manga” pode se referir à fruta ou à parte do
vestuário. Contudo, autores da filosofia que estudam a semântica, como Charles
S. Pierce e Jacques Derrida, ampliam a noção de polissemia para além de situações
específicas. Para Derrida (2000), o significado é fruto das diferenças entre elementos ou
termos. O significado das palavras, atividades e coisas está relacionado ao contexto de
significação, às outras palavras, outras atividades e coisas. Portanto, não se pode fixar
os significados, pois se houver mudanças contextuais, eles também se transformam.

No exemplo anterior, a contação de histórias possui o significado de lazer em


área rural pela diferença com outras práticas que lhes dão sentido: o lazer das antigas
elites como o canto e a leitura de poesia, o trabalho braçal estafante durante o dia, a
falta de alfabetização. Essas diferenças e oposições permitem afirmar que tal atividade
se trata de lazer e não trabalho estafante das classes populares. O lazer dos subúrbios,
com cadeiras de praia nas calçadas, não é a antiga contação de histórias; ele ressignifica
esse lazer, pois já se trata de outro contexto, com outros elementos. É a periferia da
cidade e não da área rural. Por mais que o acesso à educação formal ainda seja precário,
as pessoas da cidade vivem em meio à escrita e têm outros recursos de lazer, não sendo
este o único. Se tudo são diferenças, como se pode relacionar a antiga prática de lazer
na área rural com a atual dos subúrbios? Isso é possível porque, nessas diferenças, há
algo que é deixado (os rastros) de uma prática em outra.

Além disso, para Peirce (2008), o significado é significação, está em movimento,


não se esgota, nem é fixo. Qualquer coisa é capaz de significar (é um signo), desde que
se refira a algo e signifique outra coisa. Uma palavra ou uma imagem é um signo, tem
poder de significação, desde que represente ou se refira a um objeto e signifique uma
ideia. Por exemplo, a expressão “lazer popular” representa a prática de conversar na
calçada e significa “o lazer de parte da população residente nos subúrbios das cidades”.
No entanto, esse exemplo ilustra uma leitura rígida da significação, que é dinâmica. O
objeto da significação nunca é a “coisa” e a “prática” em si, porque essas coisas já foram
pensadas antes. Toda prática é acompanhada de um saber; todo objeto que um signo
representa já é uma ideia. A imagem de um cavalo se refere a um cavalo “real”, mas
qualquer cavalo já foi pensado pelos livros de história, pelas experiências pessoais, pelos
filmes de aventura, pelos dicionários etc. Então, é sempre uma ideia. A mesma coisa se
pode dizer sobre o significado. Essa ideia será objeto de outros signos, que vão pensá-la
de outra forma. Por exemplo, o significado “o lazer de parte da população residente nos
subúrbios das cidades”, neste capítulo, está servindo de objeto para pensar a relação
entre mídia e cultura popular.

37
A ressignificação da prática rural nos subúrbios de cidades brasileiras pode ser
explorada a partir dos diversos contextos e pode nunca chegar a uma significação final.
Ao ser apropriada, a contação de histórias pode gerar infinitamente novos significados.
Em algumas comunidades, é muito comum ouvir rádio e assistir à televisão em família,
entre vizinhos, no bar ou em lugares públicos. Os meios audiovisuais já constituem um
novo contexto, pois é preciso considerar a mídia e seus programas, a comunicação
unidirecional (dos meios para o público), o custo de ter aparelhos e energia elétrica. No
entanto, a oralidade, a reunião em torno da comunicação e a sociabilidade produzida
ali não deixam de ser rastros da antiga contação de histórias no contexto do rádio e da
televisão, ou, segundo Peirce (2008), não deixam de se referir à antiga ideia do lazer
na área rural. Antes, os trabalhadores se reuniam em torno de alguém, o ancião da
comunidade ou o viajante que trazia as novidades; agora, o contador de histórias vem
de outra parte da cidade, do país ou do mundo; é a voz do locutor do rádio de pilha que
traz a conversa para os vizinhos, família e amigos; são as novelas que emocionam, os
reality shows e os programas de auditório que promovem debates e expectativas para o
dia seguinte; e são os jornais que trazem as novidades.

3 ESPAÇOS DE CONSTRUÇÃO DA CULTURA


POPULAR NA MÍDIA
A cultura popular é muito rica, porque comporta diversas práticas e saberes,
da religião à medicina popular, da culinária aos ditos populares, mesmo que não
sistematizados pelo conhecimento formal. Tomemos como exemplo a diferença entre
medicina popular e medicina sistematizada cientificamente. Enquanto esta última
tem um corpo profissional organizado em universidades e laboratórios, com verbas
governamentais e privadas, além de uma literatura técnica que registra e documenta
o saber e a prática, a medicina popular é praticada por indivíduos e grupos dispersos,
composta por receitas frequentemente oralizadas, muitas com eficácia reconhecida,
como o uso de ervas e alimentos, e outras de caráter desconhecido para o organismo.

A falta de sistematização formal ou educacional das práticas e saberes da cul-


tura popular faz com que ela, embora praticada cotidianamente, não esteja disponível,
inclusive, aos próprios membros da comunidade. Frequentemente, são antropólogos e
sociólogos, jornalistas e publicitários, cineastas e músicos, membros da comunidade ou
não, que promovem recortes de determinado modo de falar e/ou agir, dando visibili-
dade a ele.

38
IMPORTANTE
Atualmente, a capacitação educacional, profissional e tecnológica das
populações quilombola, ribeirinha e indígena, de periferia urbana e
da área rural têm por objetivo prover recursos para que os próprios
membros proponham recortes da cultura que sejam melhores para a
comunidade.

Esse recorte implica destacar uma prática e/ou um saber do fundo comum
da cultura. No cotidiano, o saber e a prática estão imersos em uma rede contínua de
ações, significações e comunicação, com a qual estão intrinsecamente relacionados,
ganhando seu sentido. Podemos pensar nos ritmos musicais produzidos pela cultura
popular, como os da periferia urbana, o rap, o hip hop e o funk, ou de áreas rurais, como
o sertanejo, além do pagode, do axé, do brega, entre outros. Frequentemente, os grupos
que obtêm reconhecimento da comunidade a que pertencem passam por caminhos
semelhantes; chamam a atenção de pesquisadores acadêmicos, produtores musicais,
emissoras, jornalistas e publicitários, destacando-se. A prática assim recortada é
descontextualizada e ressignificada.

Por exemplo, o hip hop e o sertanejo estão relacionados às condições de vida e


ao cotidiano da periferia urbana e à cidade do interior do país, e isso se materializa nos
instrumentos, ritmos, modos de cantar e nas mensagens. Uma vez descontextualizado
e contextualizado em outras condições, como em grandes shows, propagandas,
televisão e canal do YouTube, associam-se a novas práticas e saberes, ganhando novos
significados. A investigação acadêmica pelo antropólogo e pelo sociólogo também
produz esse tipo de ressignificação. Atualmente, os pesquisadores têm a consciência
de que sua presença, mesmo que apenas para observação, afeta a comunidade. A
ressignificação da cultura popular pela mídia, no entanto, é muito maior, pelo alcance do
público-alvo, pelo investimento financeiro, pela padronização e pela repetição.

3.1 CONSTRUINDO A CULTURA POPULAR


Os recortes produzidos pela mídia inserem as práticas e os saberes em outras
redes de significação e contexto social. Assim como os membros da cultura popular
constroem o sentido de suas ações, crenças e comunicação cotidianamente, a mídia
também faz isso. A potência da comunicação de massa ou digital está na sua capacidade
de atingir um público vasto, disperso geograficamente e com alto investimento financeiro.
Nesse sentido, a mídia é um ator muito forte na construção da cultura popular.

39
Por mídia, compreende-se a indústria midiática voltada para a informação, o
entretenimento e a propaganda, como as grandes emissoras, produtoras, agências,
jornais e revistas, além das produções da comunicação digital, que hoje disputam
a atenção com os meios de massa. A internet, as redes sociais e o celular já fazem
parte do cotidiano da sociedade, inclusive do segmento popular, e funcionam de
modo diferente de como ocorria com os outros meios de comunicação de massa, cuja
produção, direção ou transmissão dependia das grandes gravadoras, emissoras, jornais,
revistas e agências. Na internet, a produção e a transmissão ficam a cargo de quem
produz o programa, pessoa ou equipe, pertencente à classe popular e que já incorporou
a produção à rotina da vida familiar, da culinária caseira e da vida escolar. A internet
já ressignificou práticas e saberes cotidianos da cultura popular que, como vimos, é
dinâmica e está em constante construção. Esse tipo de produção digital começa a se
aproximar da mídia de massa — em termos de investimentos financeiros, maquinário e
qualificação profissional de equipe, propaganda — quando atinge um público massivo.
Nesse momento, as mídias digitais e de massa produzem descontextualizações da
mesma ordem, inserindo a produção (religiosa, musical, culinária etc.) em outra rede de
coisas, pessoas e significações.

IMPORTANTE
Com as redes sociais, ampliou-se o acesso das classes populares à
mídia por meio da figura do influencer. Muitos deles se originam das
camadas populares, de fora das grandes capitais, deslocando os centros
produtores de cultura e suas características, como sotaques, gostos
musicais, vestuário etc.

Portanto, a mídia é, de modo geral, construtora da cultura pop, porque se


apropria de algo da cultura popular, ressignificando esse algo. Dessa forma, amplia seu
público, cria padrões de comportamento e descontextualiza práticas e saberes de seu
fundo comum. Pode-se identificar essa construção do popular pela mídia por meio de
programas, celebridades, vestuário e produtos que emergem da cultura popular e se
transformam nessa categoria, que relaciona o popular e a massificação da mídia. Além
disso, podem ser elencados os lugares de construção da cultura popular na mídia, como
programas culinários, religiosos, de auditório, de música, de humor, novelas, jornais,
reality shows, propagandas, canais de youtubers e memes de redes sociais.

Os programas de auditório, com suas diversas atrações (musicais, entrevistas,


competições e jogos), talvez sejam os que mais remetem ao formato do antigo circo ou
do teatro popular, em que os espectadores participavam com palmas, vaias, cartazes etc.
O cenário desses programas tende a reproduzir a estrutura espacial desses lugares de
lazer, ao posicionarem um apresentador no centro comandando as atrações e o auditório.
As diversas atrações se alternam, com o objetivo de entreter o público. Já é conhecida a

40
disputa por audiência entre programas semelhantes na televisão, que ocupam o mesmo
dia e o mesmo horário da semana, frequentemente aos fins de semana. No imaginário
da cultura popular, o circo e o teatro popular ainda permanecem como lugares de
participação social, de acolhimento lúdico e, sobretudo, de lazer. Por isso, conversam
com seu público e com outros, já que essa construção esquematizou e organizou o que
havia de informal nessas práticas – por exemplo, substituir a participação espontânea
do público pelo acesso controlado ao microfone, controlar as palavras e os gestos do
apresentador, de sua equipe e do público, apresentar atrações nem sempre pertencentes
à cultura popular, mas promovidas pelo programa. No entanto, há, ainda, no interior
do país, a produção de programas de auditório que remetem à informalidade popular,
cuja participação da plateia é menos controlada. Esses programas são transmitidos por
emissoras locais ou regionais e tendem a atender apenas a um público-alvo específico.

O teatro popular e o circo também são ressignificados em outro lugar da


televisão, construindo um produto legitimamente popular. As novelas brasileiras
respondem a diversas influências, como o melodrama, gênero popular teatral originado
da proibição do diálogo nas peças encenadas publicamente, no final do século XVII.
Essa proibição estava relacionada ao controle sobre as críticas às autoridades religiosas,
políticas e econômicas que pudessem ocorrer nos espetáculos. A ênfase passou a ser na
dramaticidade visual dos grandes gestos, do corpo usado para representar o deboche, o
amor e a tristeza. Em um período em que até a expressão oral era proibida, os segmentos
sociais excluídos usavam a representação teatral para dar vida à esperança e à vingança
das injustiças sociais. Os sentimentos eram representados por personagens por meio
do corpo, com suas feições e gestos. Expressavam a dor sob a forma do vilão, o amor
sob a forma da vítima ou da mulher em apuros, a vingança por meio do herói corajoso,
carismático e solucionador das injustiças sociais, e a alegria na forma do bobo que, na
realidade, é quem consegue perceber a trama, sendo, muitas vezes, o narrador da peça.

No Brasil, o personagem do bobo encarnou, diversas vezes, em filmes e novelas,


o caipira inteligente sem instrução que fazia deboche das autoridades ao descobrir as
artimanhas dos fazendeiros e políticos (MARTÍN-BARBERO, 2001). Era o trabalhador
rural contra as exclusões, restando apenas a inteligência e o riso como vingança. Essa
estrutura melodramática acabou por orientar também as leituras e ações nos reality
shows contemporâneos. É muito comum que participantes e público, de modo geral,
compreendam a atuação como a encarnação nessas figuras do sentimento. Isso ocorre
também com o noticiário, que tende a ler os acontecimentos diários sob a ótica do vilão
e do mocinho, da vítima e da alegria. Noticiários eletrônicos de rádio e televisão e jornais
de caráter popular sensacionalistas utilizam a linguagem melodramática do exagero da
exposição corporal, do excesso das imagens e da fala, para recuperar o sentimento de
indignação com relação às condições de vida das classes populares. O deboche e a piada
são usados como recurso de revanche, mas, frequentemente, emerge o sentimento de
abandono, da ausência do poder público, da agressividade e da constatação de que a
justiça deve ser feita com as próprias mãos.

41
DICA
FILME: Bye Bye Brazil (1979)

FONTE: < https://www.adorocinema.com/filmes/filme-92581/> . Acesso em: 10 jun. 2022.

Salomé (Betty Faria), Lorde Cigano (José Wilker) e Andorinha são três artistas ambulantes
que cruzam o país juntamente com a Caravana Rolidei, fazendo espetáculos para o setor
mais humilde da população brasileira e que ainda não tem acesso à televisão. A eles se
juntam o sanfoneiro Ciço (Fábio Jr.) e sua esposa, Dasdô (Zaira Zambelli), e a Caravana
cruza a Amazônia até chegar a Brasília.

FONTE: <a.com/filmes/filme-92581/>. Acesso em: 10 jun. 2022.

As propagandas merecem um destaque especial, pois, embora ocupem lugar


de destaque na vida moderna, estão presentes no cotidiano popular pelo menos desde
a Idade Média. O mundo medieval, diferentemente das sociedades modernas, não era
organizado por categorias excludentes. O espaço público continuava a vida privada, a
religião convivia com as crendices, as praças públicas eram locais de festas religiosas,
teatros de saltimbancos e feiras livres. A continuação de espaços, crenças e atividades
são ainda presentes nas cidades pequenas e médias do Brasil. Pertencia a esse espaço de
convivência o vendedor ambulante ou o caixeiro-viajante, personagens que transitavam
entre vilas, mercados, feiras e cidades, trazendo as novidades de outros lugares no seu
baú, carro ou animal, como remédios milagrosos, imagens reproduzidas em xilogravura
(como os cordéis nordestinos), notícias, animais ou objetos, que iam a leilão. Essas
figuras típicas do mundo popular, criadores de versos para convencer, cantores do

42
produto e de sua garantia, ainda sobrevivem na propaganda, no merchandising e no
anúncio. Os memes e os programas de humor respondem também a essa lógica do
excesso e do exagero. De fato, uma das características do humor popular é a reunião do
contraditório, a parte superior (em termos de valores, como a virtude, o bem, o belo) que
se aproxima ao seu oposto e perde sua condição superior, tornando-se objeto de riso.
Por isso, muitas vezes, o humor popular está associado à obscenidade e à linguagem
chula, pois é uma das formas de rebaixar a autoridade, a educação formal e os bons
modos (BAKHTIN, 1987).

Os programas de música e os reality shows, frequentemente, trazem cantores


e bandas que já foram ou estão sendo ressignificados pelo show business. Quando a
prática e o saber cotidianos do humor, da música, do melodrama, da propaganda e da
religião se destacam do conjunto comum de ações contínuas não conscientes, já estão
novamente em construção.

4 POTÊNCIA POLÍTICA DO POP


Como vimos, os saberes e as práticas que constituem a cultura popular
emergem das condições de escassez dos recursos culturais e econômicos e da
participação política. O poder público marginaliza, ao não fornecer acesso a recursos
básicos como educação e saúde. A iniciativa privada, voltada apenas para os lucros,
não reconhece que sua participação social, ou parceria com o poder público, poderia
reduzir significativamente a exclusão social. Algumas organizações religiosas exploram
a fé popular, reduzindo mais ainda suas condições de vida. Por fim, a mídia, cuja função
é dar visibilidade aos acontecimentos, frequentemente omite questões de interesse
público e não relaciona a marginalização social com questões de ordem estrutural,
como a organização da sociedade.

No entanto, esses diversos setores da sociedade, por razões diversas, interessam-


se pelo produto da cultura popular, ressignificada e construída midiaticamente pelos
meios de massa e digitais. Pode-se imaginar a quantidade de pessoas mobilizadas
pelos produtos e celebridades do pop, em termos de votos e fidelidade religiosa, de
consumo e seguidores on-line. Quando se fala de política institucional, ter o apoio de
uma celebridade do funk ou do sertanejo, de um líder religioso ou de um influencer em
uma campanha eleitoral representa milhares de votos. Até mesmo fora de campanhas,
pode representar apoio político. Com as redes sociais, em que o valor é quantificado
em seguidores, curtidas e visualizações, conquistar apoio de celebridades do pop é,
muitas vezes, criar o próprio instituto de pesquisa, promovendo “balões de ensaio”
para conhecer a repercussão. Acontece o mesmo com as vendas alavancadas por
propagandas, anúncios e merchandising que estampam estrelas da música, além do
número de seguidores religiosos, leitores e espectadores de filmes e livros, ouvintes
e telespectadores de programas eletrônicos e de reality shows. Jogadores de futebol

43
que estão sempre na mídia e/ou têm canal e perfil em mídias sociais são celebridades
disputadas por diversas instâncias da sociedade. De anunciantes a políticos, há um
grande número de marcas que deseja seus fãs, público e seguidores. Estão presentes
no uniforme, no cenário da entrevista coletiva e nos painéis eletrônicos no campo ou na
quadra da partida.

CURIOSIDADE
“Balão de ensaio” é um termo jornalístico para a antiga prática de políticos,
empresários e pessoas públicas avaliarem a repercussão de uma nova
ideia, o fechamento de um negócio ou uma candidatura. Alguém influente
comenta a informação e, dependendo da repercussão, o interessado recua
desmentindo publicamente.

A cultura pop, portanto, é objeto de disputa material e simbólica entre as


instâncias sociais interessadas. Como bem material, o produto musical, o canal do
YouTube, a celebridade, o uniforme do jogador e o megashow valem milhares e milhões
de reais. Como bem simbólico, a cultura pop não se resume aos seguidores, ao público
e aos consumidores; ela agrega valor a causas, produtos ou serviços, eventos, pessoas
públicas etc. Os bens materiais e simbólicos frequentemente estão juntos. Muitas vezes,
o que traz lucro para determinada marca são os valores da celebridade e de seu produto,
como autenticidade, originalidade, carisma e contemporaneidade. No entanto, é possível
separar essas dimensões. Muitos posicionamentos de marcas e de produção midiática,
ideologias políticas e valores religiosos rejeitam associações (com as quais poderiam
lucrar mais) com celebridades e produtos que possam ir contra suas orientações.

4.1 POP E CULTURA HEGEMÔNICA


Na disputa pela produção pop, há benefícios materiais e simbólicos do outro lado
também. As estrelas e celebridades alcançam um status social até então desconhecido
na cultura popular. Os produtos e a imagem atingem novos públicos e ultrapassam
distâncias geográficas. Os integrantes têm acesso cultural, econômico e político negado
à classe de origem. Por exemplo, instrumentos, lugares e agentes de produção cultural,
como espetáculos, festivais, outras línguas e redes de contatos, passam a dispor de
direitos cidadãos, assim como educação e saúde, não supridos pelo Estado, e carregam
valor de identificação como identidades de gênero, raça, regionalização, geração etc.

44
A ascensão dos agentes da cultura pop passa a dar visibilidade a questões pró-
prias do segmento social, como a precariedade das condições de vida do jogador em
matéria jornalística, os preconceitos de classe, racial e de gênero, denunciados pelo
funk, a ausência do poder público e a violência nas mensagens de rap e hip hop, a des-
centralização cultural de grandes cidades, como Rio de Janeiro e São Paulo, visibilizada
na ascensão dos sertanejos, entre outros.

Hegemonia é um conceito do filósofo italiano Antonio Gramsci, que, ao fazer


uma releitura da luta de classes marxista, reconhece o papel da cultura, ou do simbólico,
na disputa entre grupos. Não é apenas o bem material que se disputa, mas o sentido que
se dá a ele. Retomando exemplos anteriores, quais sentidos estão em jogo e em disputa
na produção e na recepção de uma novela? Quando uma novela ganha espectadores e
atinge uma quantidade massiva de consumidores, a emissora e os anunciantes ganham
porque os atingem? Ou é a classe popular que ganha, ao se reconhecer, visibilizando
a precarização, os preconceitos, a violência, nos produtos da mídia? No Brasil, as
classes populares, a partir do pop e das mídias digitais, têm se tornado atores de peso
na disputa pela hegemonia cultural. Celebridades em reality shows e da música nas
redes sociais têm feito setores da hegemonia cederem com relação a assuntos que a
sociedade brasileira não se interessa em discutir. Questões raciais, como o cabelo afro e
a representação racial, estão nos anúncios, novelas, noticiários e programas midiáticos.
A mulher empoderada e o homossexual também, uma vez que questões de gênero já
são discutidas nos meios de massa e nas mídias digitais. O funk, a música da periferia
urbana e o sertanejo já deixaram a margem e estão no centro da cultura pop, negociando
sentidos. Portanto, “[…]  a capacidade de ação, de domínio, imposição e manipulação,
que antes era atribuída à classe dominante, é transferida agora para a capacidade de
ação, resistência e impugnação da classe dominada” (MARTÍN-BARBERO, 2001, p. 118).

Na lógica da hegemonia cultural, os integrantes da cultura pop promovem


experiências coletivas bastante interessantes para a dinâmica social. Ocupar lugares
privilegiados em termos de acesso e visibilização torna-se objeto de disputa, mas
também de desejo de identidade. No Brasil, as posições de liderança, em quaisquer
setores, são compostas pelo ideal europeu de identidade: gênero masculino, de classe
economicamente privilegiada, heterossexual e adulta. Identidades distintas passam a
disputar a preferência de identificação, movimentando o modo como a sociedade está
historicamente organizada. Mulheres e homens negros, de classe popular, homossexuais
e transexuais, e interioranos ganham visibilidade e possibilitam a ascensão dessas
identidades na política, na empresa, na sala de aula, no consultório médico. Idosos e
crianças participantes de reality shows e influencers também tornam essas identidades e
suas questões mais acessíveis ao debate público, menos confinadas a locais específicos.

Esse conflito identitário que a cultura pop promove frequentemente com o


ideal europeu do homem branco e adulto encontra, muitas vezes, a rejeição e a reação
conservadora da sociedade. Setores afeitos à ordem organizacional criticam a dinâmica
social, revelando como a disputa simbólica do espaço público e a hegemonia cultural

45
frequentemente operam. À medida que o ideal europeu de identidade é disputado
abertamente ou negociado, a hegemonia (o domínio) cultural se desnaturaliza. Essa
identidade não pode mais ser concebida como natural, sem história e eterna, mas,
como qualquer elemento da cultura, uma construção social. A história social, o acúmulo
de tempo, sua passagem e as rupturas de um período a outro constroem e naturalizam
representações que parecem naturais e eternas. Quando essas disputas trazem para
o centro do debate as identidades sociais, como representações de sujeitos, grupos,
segmentos e países (por exemplo, a identidade nacional), é possível recuperar sedimentos
de histórias perdidas e memórias nunca escritas, como as de negros escravizados e
índios no Brasil.

Representações de identidade social são ideais, representam idealmente o


sujeito, o grupo, o país. Para isso, selecionam entre várias características, excluindo
outras, que constituem o sujeito e o coletivo. Frequentemente, organizam-se também
em oposição a outras identidades. Por exemplo, as noções de que o gênero feminino é
frágil, que deve ocupar o espaço privado da residência e que tem a função de criar os
filhos é localizável historicamente e foi construída em oposição à identidade masculina.
Pertence ao século XIX, ao período vitoriano inglês, um dos mais conservadores e
religiosos da Europa, em que os gêneros feminino e masculino passaram a se opor em
várias dimensões. O homem foi associado ao espaço público, à razão, à liberdade, e as
mulheres, em oposição, ao espaço doméstico, ao controle e à contenção. Do vestuário
ao gestual, o corpo das mulheres se tornou objeto de controle social e sexual. No
entanto, essa representação identitária do gênero feminino tem características
precisas, como o fato de se referir a mulheres brancas e de classe economicamente
privilegiada. A fragilidade e a contenção sexual nunca foi uma atribuição das mulheres
negras pela cultura hegemônica. Tampouco, a liberdade e a razão foram atribuições
do homem negro. O espaço público também não era o local do homem homossexual
inglês. Entretanto, essas imagens idealizadas representam a identidade dos gêneros
masculino e feminino para muitos setores até hoje, sem contar as exclusões e
contradições implícitas nessas construções.

Quando as estrelas pop emergem, elas trazem consigo a diferença, não como
oposição, mas como desnaturalização da sociedade. A possibilidade de compreender
as identidades a partir dos processos históricos de construção permite que diferenças
aflorem. Por exemplo, a possibilidade de a mulher negra ocupar posições de razão e
liberdade, como intelectuais, jornalistas, escritoras, coloca novas identificações no centro
da sociedade. As identidades estão associadas a categorias em que as pessoas devem se
encaixar, enquanto as identificações são constantes, complementares e não excludentes,
considerando a dinâmica social e a construção histórica. Diversas identificações podem
ser criadas com celebridades, pessoas públicas, ideais, causas e grupos (FREIRE FILHO,
2013). As diferenças promovidas pelo pop, portanto, tornam a sociedade menos idealizada
e mais próxima de seus membros, sendo integradora e diversa.

46
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A cultura popular é um conjunto de conhecimentos, crenças e atividades praticadas


socialmente.

• O que qualifica uma cultura como popular, de massa, universitária ou de elite


são as condições de acesso à educação e à saúde e a garantia dos direitos e da
representatividade política.

• A polissemia é um conceito da semântica que se refere à capacidade de uma palavra


ter mais de um significado.

• A cultura popular é muito rica, porque comporta diversas práticas e saberes, da religião
à medicina popular, da culinária aos ditos populares, mesmo que não sistematizados
pelo conhecimento formal.

• Os recortes produzidos pela mídia inserem as práticas e os saberes em outras redes


de significação e contexto social.

• Por mídia, compreende-se a indústria midiática voltada para a informação, o


entretenimento e a propaganda.

• Os saberes e as práticas que constituem a cultura popular emergem das condições


de escassez dos recursos culturais e econômicos e da participação política.

47
AUTOATIVIDADE
1 A cultura popular é composta por diversas práticas e saberes, como as crenças
religiosas e a vida familiar, a comunicação cotidiana e a experiência passada entre
gerações e o conhecimento não formal. O contexto e as circunstâncias organizam e
selecionam essas práticas e saberes. Sobre o exposto, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A cultura popular, embora rica e diversa, é imutável e natural.


b) ( ) O acesso à educação, à participação política e ao desenvolvimento econômico
determinam a diversidade da cultura.
c) ( ) O acesso à educação, à participação política e ao desenvolvimento econômico
não determinam a diversidade da cultura.
d) ( ) O contexto e o acesso a direitos básicos é o que caracteriza a cultura popular.

2 A cultura popular, como construção de significados, parte do princípio de que


o sentido das práticas e dos saberes não é dado de antemão. Não é uma receita
passada por gerações ou grupos, e sim construída cotidianamente pelos usuários.
Sobre o exposto, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Os procedimentos rotineiros de trabalho em um laboratório farmacêutico.


b) ( ) A fórmula científica da água.
c) ( ) A construção de uma casa.
d) ( ) O manual para uso de um aparelho eletrônico.

3 As produções que são reconhecidas pela comunidade chamam a atenção de produtores,


pesquisadores e publicitários. Esses saberes e práticas são descontextualizados e
ressignificados. Quando alcançam um público massivo, obtêm o status de pop. Sobre
um exemplo do enunciado no Brasil, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Bolinho de feijoada.
b) ( ) Pizza de queijo brie ou camembert.
c) ( ) Tango.
d) ( ) Poemas de Carlos Drummond de Andrade.

48
4 O programa de auditório é um dos lugares de construção da cultura popular pela
mídia. Ele remete ao antigo circo em que os espectadores tinham grande participação.
O formato tipo arena ou teatro do cenário reproduz a estrutura típica desses antigos
lugares de lazer popular. Disserte sobre as alterações midiáticas nessa prática da
cultura popular.

5 A disputa pela hegemonia cultural leva as personagens da cultura pop a promoverem


situações coletivas interessantes para o movimento da sociedade. As celebridades
tornam-se objeto de disputa e de identificação, dinamizando os ideais da sociedade.
Disserte sobre essa afirmação no Brasil.

49
50
REFERÊNCIAS
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53
54
UNIDADE 2 —

A RELAÇÃO ENTRE O
INDIVIDUAL, O COLETIVO
E A COMUNICAÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• estudar a interação entre indivíduo e sociedade como duas instâncias distintas, que
interagem entre si a partir de atitudes, preconceitos, comunicação, relações grupais,
liderança etc.;

• entender a interdependência entre o indivíduo e a sociedade;

• compreender a importância do trabalho do psicólogo social, que vai a campo para


lidar com os fatores comportamentais das pessoas;

• destacar como a psicologia social está relacionada à forma de manifestação de


sentimentos, pensamentos, crenças e intenções.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – OS CAMPOS PARA A COMUNICAÇÃO E A PSICOLOGIA

TÓPICO 2 – A COMUNICAÇÃO, O CONHECIMENTO E A INFORMAÇÃO

TÓPICO 3 – A PSICOLOGIA COMO FUNDAMENTO DA RESPONSABILIDADE NA COMUNICAÇÃO

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

55
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!

Acesse o
QR Code abaixo:

56
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
OS CAMPOS PARA A COMUNICAÇÃO E A
PSICOLOGIA

1 INTRODUÇÃO
Na Bíblia, o livro do Eclesiastes (BÍBLIA, Ecl. 4:9-12) já confirmava que o homem
não foi feito para viver só, sendo mais feliz quando vive junto com outro, pois, quando
um cair, terá o outro para o apoiar. A Psicologia, que surgiu cerca de 2000 anos depois,
a partir de Freud e Jung, apontou essa mesma realidade. Vimos, anteriormente, que
a interdisciplinaridade se faz presente nesse estudo e constatamos que, enquanto a
Psicologia abraça o indivíduo, a Sociologia esmiúça a sociedade. Queremos, sim, estudar
a interação entre indivíduo e sociedade como duas instâncias distintas, que interagem
entre si a partir de atitudes, preconceitos, comunicação, relações grupais, liderança etc.
e de como tudo isso, indivíduo e sociedade, se ajusta (STREY, 1998).

A comunicação tem papel fundamental nos relacionamentos humanos e,


hoje, somos confrontados com uma cultura que, por vezes, nos priva da educação
mais fundamental de que precisamos para ter sucesso em nossos relacionamentos.
Aprender as sutilezas e as nuances de comunicação significativa e eficaz é fundamental
para relacionamentos sadios.

Nesse momento, é possível surgir a dúvida: por que estudar comunicação e


Psicologia em uma mesma disciplina? A comunicação, como disciplina, chamada
e unificada, tem uma história de contestação que remonta aos tempos dos diálogos
socráticos. Buscar definir “comunicação” como uma palavra estática, ou disciplina
unificada, pode não ser tão importante como ter a compreensão da comunicação com
uma pluralidade de definições.

Algumas definições são amplas, reconhecendo, por exemplo, que os animais


podem se comunicar, mas outras incluem apenas os seres humanos dentro dos
parâmetros de interação simbólica humana.

Via de regra, a comunicação pode ser descrita em três dimensões principais:


conteúdo, forma e destino, conforme exposto a seguir:

• Conteúdo de comunicação inclui atos que declaram conhecimentos e experiências,


como dar conselhos e comandos e fazer perguntas. Esses atos podem assumir
muitas formas, incluindo comunicação não verbal, linguagem gestual e linguagem
corporal, escrever ou verbalizar pela fala.
• A forma depende dos sistemas de símbolos utilizados.

57
• O destinatário pode ser a própria pessoa, outra pessoa (na comunicação interpessoal)
ou de outra entidade (como uma empresa ou grupo).

A Psicologia da comunicação, seja aplicada na forma gerencial, organizacional,


de grupo, verbal ou não verbal, é uma realidade que deve ser levada em conta em todas
as áreas da vida, especialmente porque relações interpessoais são de influência e as
pessoas influenciam umas às outras, seja por personalidade, comportamentos, atitudes,
habilidades e experiências vivenciadas ao longo da vida.

Em uma comunicação eficaz, aliás, primeiramente, é preciso estabelecer um


significado compartilhado em torno das palavras, das construções e das ideias em
discussão e, depois, ainda estabelecer um significado, para alcançar um fluxo coerente
de diálogo. Tal conjunto de habilidades permite que os relacionamentos prosperem. Isso
não vale apenas para pessoas, mas também para empresas, organizações e países. Por
isso, é importante entender os diferentes níveis de comunicação:

• Nível macrossocial: a cultura pode ser abordada como um fenômeno de


comunicação. Em uma sociedade determinada, os produtos culturais são difundidos
ou transmitidos por canais culturais com sistemas de códigos definidos, tanto dentro
de uma estrutura social específica como entre sociedades, no presente ou em uma
geração futura.
• Nível microssocial: inclui os pequenos grupos, instituições e organizações e
intrapessoal.
• Organizações: possuem uma estrutura e realizam funções que são possíveis graças
aos nexos e às redes de comunicação estabelecidas entre os diferentes elementos.
A estrutura hierárquica implica o fluxo de informação em determinado sentido,
tempo limitado e conteúdos específicos.
• Pequenos grupos: há mecanismos de comunicação em grupos que estabelecem
nexos diferenciais entre seus membros. De acordo com a comunicação, esta pode
determinar as posições de liderança ou poder do grupo.
• Intrapessoal: é o modelo de menor interesse para a Psicologia social, em que o
sujeito se comunica consigo mesmo mediante símbolos verbais, implícitos ou
representações imaginárias.

Esses níveis comunicacionais aparecem em diferentes momentos no decorrer


deste estudo, auxiliando no melhor entendimento da comunicação, na interação entre
o indivíduo e a sociedade.

Além dos elementos principais desse processo e dos níveis descritos


anteriormente, há outros componentes, por vezes, imperceptíveis, mas com forte efeito
sobre o processo de comunicação.

58
Na verdade, existem modelos simples de comunicação, mas cada processo
de comunicação é muito complexo. Assim, um dos componentes mais importantes
é a personalidade humana, que tem um grande impacto sobre qualquer processo de
comunicação, independentemente do seu contexto.

É importante lembrarmos que a comunicação é, principalmente, uma interação


entre indivíduos e cada personalidade determina o comportamento de comunicação
e, talvez, por isso, faz-se necessária a investigação sobre as regras relacionais que o
processo de comunicação cria.

Na prática, uma comunicação relacional se desenvolve a partir de uma série de


normas, regras e padrões de comportamento, que podem ser positivos ou negativos,
dependendo dos efeitos dessas interações em rede.

Em tais redes, os especialistas concordam que a saúde mental dos membros é


melhor do que os indivíduos que raramente estabelecem relações com outras pessoas.
Na atualidade, a solidão é a condição mais comum e estressante de vida humana.
Portanto, as pessoas, em função da sua personalidade, têm a capacidade de criar
relações interpessoais, de manter e de desenvolvê-las. Por isso, veremos mais adiante
essa interação entre Psicologia, saúde, cultura e trabalho.

2 A SOCIEDADE E O INDIVÍDUO BUSCANDO INTERAÇÃO


A natureza humana do indivíduo depende de sua participação em uma
sociedade. Tudo o que sabemos sobre o ser humano tende a mostrar que nenhum, em
geral, pode se desenvolver isoladamente.

“Todos os pensamentos ou sentimentos são experimentados pelos e entre


os indivíduos, e não pela sociedade.” Não há vontade comum da sociedade. Quando
dizemos que um grupo tem um pensamento comum, isso significa que há tendências
para pensamento, sentimento e ação, amplamente dominantes no grupo. Essas
tendências são produto da interação entre os indivíduos e suas relações atuais, mas
não formam um único pensamento, uma única vontade ou propósito. A sociedade não
pode ter pensamento ou vontade própria.

É apenas à luz dos nossos interesses, das nossas aspirações, das nossas
esperanças e dos nossos medos que podemos atribuir qualquer função e qualquer meta
para a sociedade. Por outro lado, os indivíduos têm interesses, aspirações e objetivos
somente porque eles são uma parte da sociedade. Enfim, a relação que se estabelece
entre o indivíduo e a sociedade não é unilateral.

59
Pode-se concluir que o indivíduo e a sociedade são interdependentes. Nem os
indivíduos pertencem à sociedade como células nem a sociedade é um mero artifício
para satisfazer certas necessidades humanas. O indivíduo e a sociedade interagem uns
com os outros e dependem um do outro – ambos são complementares.

As teorias que estudam o indivíduo e a sociedade estão corretas quando


apontam a dependência do homem em viver em sociedade. Entretanto, pecam quando
negam a irrelevância da individualidade em detrimento do social. É errado dizer que a
sociedade é mais real do que os seus membros e que a nossa consciência é apenas
uma expressão da consciência social. A realidade é que existe uma inter-relação
fundamental entre o indivíduo e a ordem social.

Tradicionalmente, duas teorias apresentam uma explicação para a relação entre


o indivíduo e a sociedade: o contrato social e a teoria orgânica. Na primeira teoria, a
sociedade é resultado de um acordo celebrado por homens que, originalmente, viviam
em um estado pré-social e porque a sociedade é feita pelo homem é que ele é mais real
do que a sua criação. A sociedade é apenas uma agregação de indivíduos.

Assim, cada indivíduo é produto de relacionamento social e nasce para uma


sociedade que sutilmente molda suas atitudes, suas crenças e seus ideais. Ao mesmo
tempo, a sociedade também cresce e se modifica conforme a mudança de atitudes e
ideais de seus membros. A vida social não pode ter nenhum significado, exceto como a
expressão da vida dos indivíduos.

Quando olhamos para a história de alguns países da América, como os Estados


Unidos e o Brasil, vemos, em escalas diferentes, histórias de luta e conflitos entre o
indivíduo e a sociedade como um todo, podendo-se citar os exemplos de Abraham
Lincoln e Getúlio Vargas.

Passamos grande parte de nossas vidas nos comunicando com os outros.


Compartilhar pensamentos e compreender os sentimentos de outra pessoa são
habilidades essenciais para o funcionamento de qualquer sociedade no mundo. Não
é nenhuma surpresa que a dificuldade com a comunicação está no centro de muitas
outras coisas que prejudicam o convívio social. É justamente por isso que sempre
buscamos melhorar a nossa comunicação, momento em que percebemos como é
importante compreender o porquê das ações e das atitudes das pessoas.

Para isso, precisamos analisar a situação e o momento. A empatia também é


necessária para a busca de soluções para comunicação. Podemos dizer que existem
três princípios universais do comportamento humano e as atitudes a eles relacionadas,
o que pode ajudar a compreendermos as atitudes e a forma de pensar das pessoas:

60
• Mental: raciocínio, objetividade, antevisão, visão global, estrutura e valores.
• Emocional: sentimento, subjetividade, relacionamento, comunicação, organização
e imaginação criativa.
• Físico: realização, execução, concretização, experiência sensorial, praticidade e
experiência sistêmica.

DICA
Acadêmico, para ilustrarmos melhor e entendermos a importância da comunicação,
sugerimos que você assista ao filme Coach Carter, que ilustra como se comunicar com os
outros é difícil, mas que a persistência pode trazer resultados além do esperado. O filme
utiliza o basquete para desenvolver o trabalho do treinador em uma escola que apresenta
baixo rendimento educacional, em que a repetência, a evasão e o desempenho refletiam o
fracasso de um sistema que não se preocupava com o ser humano por detrás do estudante.

Os dirigentes da escola, habituados com os péssimos resultados, ano após ano, não
enxergavam a possibilidade de êxito e se acomodaram em repetir formas ultrapassadas de
ensino, não acreditando no bom desempenho dos alunos.

É nesse contexto que chega o treinador Carter, técnico de basquete que havia estudado na
mesma escola. Preocupado com o desempenho escolar dos alunos que jogam no time de
basquete, em meio ao desânimo e à descrença de professores, pais e alunos, ele desafia a
sua equipe a buscar algo além das quadras: a união do grupo e a busca de transformação
de suas vidas e também de suas famílias.

Vale a pena ver as interações que se desenrolam durante o filme, transformando vidas.

FIGURA – FILME COACH CARTER

FONTE: <https://bit.ly/3Ab2ZOO>. Acesso em: 10 jun. 2022.

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3bwgbU1>. Acesso em: 10 jun. 2022.

61
A sociedade não existe independentemente das pessoas. Há uma interdepen-
dência, uma combinação de atos e de ações que acontecem dentro da sociedade, em
um esforço cooperativo que deve levar a uma sociedade plena, que só tem a sua razão
de existir enquanto estiver a serviço das pessoas.

Não há, basicamente, uma contradição entre indivíduo e sociedade. O


indivíduo é um ser histórico-cultural que é constituído pelas interpelações
sociais. Mesmo quando está sozinho, como Robinson Crusoé, é um
ser humano que tem o habitus de sua sociedade. Isto é, tem o jeito de
andar, hábitos de higiene, de expressar emoções, de usar instrumentos
que adquiriu das relações pessoais com indivíduos da sociedade que
o constituiu. Na sociedade ocidental atual, extremamente individualista
e conflituosa, os indivíduos podem se representar como seres isolados
em oposição à sociedade. Isto, entretanto, é uma criação da própria
sociedade neste momento histórico.
Não há por que ter um alto grau de competição e tensão grupal, tornando
difícil um equilíbrio entre as inclinações pessoais e as tarefas sociais.
O verdadeiro eu não está enclausurado e isolado dessa sociedade. É
somente uma ilusão. O indivíduo não é estranho à sociedade. A vida
social supõe entrelaçamento entre necessidades e desejos em uma
alternância entre dar e receber. A razão e a mente não são substâncias,
mas produtos de relações em constantes transformações. Os instintos
e as emoções sofrem transformações no decorrer da vida social
(MACHADO, 2001, p. 54-55).

Esse raciocínio lança uma luz inteiramente diferente sobre a relação entre os
indivíduos e a sociedade, embora não seja novo. Os indivíduos têm a percepção de
que eles possam satisfazer a sua necessidade de relações e de interações por meio
do intercâmbio e da associação com outros. A grande recompensa e satisfação de tal
cooperação faz com que a interação social se torne a mais eficaz e eficiente ferramenta
do indivíduo para atingir seus objetivos.

Quanto mais uma sociedade for complexa e organizada e quanto maior for o
grau de individualidade entre os membros, mais ela proporcionará oportunidade para
iniciativa e empreendimento. Não há antagonismo inerente entre individualidade e
sociedade, pois um é essencialmente dependente do outro. No entanto, seria enganoso
dizer que existe completa harmonia entre a individualidade e a sociedade.

A sociedade é um sistema de relações entre os indivíduos. O sistema molda


nossas atitudes, nossas crenças e nossos ideais, mas isso não quer dizer que os
indivíduos pertencem à sociedade como as folhas pertencem às árvores ou as células
ao corpo. As relações entre o indivíduo e a sociedade são mais complexas.

A sociedade é uma relação entre indivíduos, seus membros. É a soma de


indivíduos que estão em estado de interação. Essa interação cria algo que é mais do
que a soma dos indivíduos, sendo isso o que diferencia a sociedade da mera agregação
de indivíduos. Existe, portanto, uma interdependência fundamental e dinâmica do
indivíduo e da sociedade. Nessa perspectiva, entenderemos melhor como se dá, ou não,
essa interação do indivíduo na sociedade, utilizando algumas perspectivas ou campos.

62
3 PSICOLOGIA, CULTURA, SAÚDE E TRABALHO
A relação entre o indivíduo e a sociedade tem a incumbência de aproximá-los,
e não de os distanciar. Essencialmente, a “sociedade” estabelece normas, costumes
e regras básicas de comportamento humano. Essas práticas são tremendamente
importantes para saber como os seres humanos agem e interagem uns com os outros.
A sociedade não existe de forma independente, sem o indivíduo. Por outro lado, a
sociedade existe para servir as pessoas, e não o contrário. A vida humana e a sociedade
praticamente andam juntas. O homem é biológica e psicologicamente preparado para
viver em grupos, na sociedade.

Dessa forma, a sociedade passou a ser uma condição essencial para a vida
humana, para o seu surgimento e a sua continuidade e evolução. A relação entre o
indivíduo e a sociedade é, em última análise, um dos mais profundos de todos os
problemas da filosofia social, mais filosófico que sociológico, pois envolve a questão dos
valores. O homem depende da sociedade. É na sociedade que um indivíduo é cercado
(e por que não) pela cultura, como uma força social.

É na sociedade, mais uma vez, que ele tem que estar em conformidade com
as normas, já que vive integrado como membro de um grande grupo. Essa questão da
relação entre o indivíduo e a sociedade é o ponto de partida de muitas discussões. Ela
está intimamente ligada com a questão da relação do homem e da sociedade. A relação
entre os dois depende do fato de que o indivíduo e a sociedade são dependentes
mutuamente e um cresce com a ajuda do outro.

O psicólogo que vai a campo, aí se caracterizando como psicólogo social, vai


lidar com os fatores que o levam a se comportar de uma determinada maneira, na
presença de outros, e olhar para as condições em que certos comportamentos/ações
e sentimentos ocorrem. Já a psicologia social tem a ver com a forma como estes
sentimentos, pensamentos, crenças, intenções e objetivos são construídos e como tais
fatores psicológicos, por sua vez, influenciam nossas interações com os outros.

O modo como a psicologia tenta dar conta das relações sociais


apresenta dupla característica. Uma consiste em focalizar as
dimensões ideais e simbólicas e os processos psicológicos e
cognitivos que se articulam aos fundamentos materiais dessas
relações. A outra aborda essas dimensões e esses processos
considerando o espaço de interação entre pessoas ou grupos, no
seio do qual elas se constroem e funcionam (JODELET, 2004, p. 54).

Já vimos que a Psicologia não está sozinha no trato com o ser humano. Uma
variante muito interessante e de muita valia é a Psicologia cultural, que permite que
os profissionais de saúde mental possam aumentar a eficácia do tratamento das
pessoas de diferentes origens. Por ter uma grande sensibilidade às diferentes origens
culturais, o tratamento pode se tornar mais bem-sucedido. Além disso, a partir do
estudo de culturas diferentes, uma maior compreensão dessas realidades pode facilitar
o acompanhamento.
63
Pode parecer redundante, mas parte importante da Psicologia cultural é
compreender as diferenças sociais de diferentes culturas. Algo que pode parecer
estranho em uma cultura pode ser uma norma em outra; portanto, ao se dirigir a pessoas
de diferentes culturas, é importante entender essas diferenças. Essa atenção não é
apenas para evitar sentimentos de mágoa, mas também obter uma maior compreensão
do indivíduo.

Uma ação que pode ser comum na cultura de um indivíduo é incompreensível


para os padrões da maioria, assim como pode ser confundido como um sinal de doença
mental se o profissional de saúde não tiver a compreensão do que a influência da cultura
pode indicar. Ao incluir a moral cultural como modelo no tratamento, o terapeuta amplia
ainda mais a probabilidade de alcançar o objetivo do paciente. Do lado do paciente, não
é provável que queira abandonar a sua cultura, mas, em vez disso, quer ser capaz de
superar seu problema sem negar suas raízes e seu contexto cultural, mesmo que seja
diferente dos demais.

Com o nascimento da Psicologia cultural, houve o desenvolvimento de terapias


que consideram as características culturais. A origem étnica das pessoas têm problemas
diferentes do que os enfrentados em outras origens, por causa de sua singularidade
cultural.

No campo do trabalho, um passo adiante no conhecimento sobre a questão


social, presente na nossa realidade, não pode ser resumido em desigualdades e
injustiças entre classes, vai além da questão social, chegando até a dimensão mundial,
onde realmente se desenvolvem as relações, sejam elas humanas ou institucionais.

Com efeito, se em tempos passados se punha em relevo no centro


de tal questão, sobretudo, o problema da classe, em época mais
recente, é posto em primeiro plano o problema do mundo. Por
isso, deve ser tomado em consideração não apenas o âmbito da
classe, mas o âmbito mundial das desigualdades e das injustiças; e,
como consequência, não apenas a dimensão da classe, mas sim a
dimensão mundial das tarefas a assumir na caminhada que há de
levar à realização da justiça no mundo contemporâneo (VAN DER
MOLEN; LANG, 2007, p. 48).

A psicologia também tem contribuído com a especialização e o desenvolvimento


das habilidades e competências de indivíduos e grupos, o crescimento mais significativo
no campo da psicologia hoje é a psicologia organizacional-industrial, cujos profissionais
especializados desenvolvem um trabalho com os empregadores para melhorar as taxas
de retenção de funcionários e aumentar a produtividade. Nessa área, muitas pessoas
trabalham em estreita colaboração com programas de computador, que também
podem ser utilizados para avaliar a usabilidade de aplicações de recursos humanos.
Quanto mais a tecnologia é usada em uma empresa ou em uma instituição, mais ela
pode influenciar o trabalho de um psicólogo.

64
A tecnologia e sua relação com a psicologia têm se expandido muito nos últimos
anos. Algumas instituições de ensino superior recomendam a realização de cursos
secundários completos em programação de computadores ou outra área relacionada
com a tecnologia na preparação dos futuros psicólogos.

Vamos aqui reafirmar o que de antemão já sabemos e constatamos


cotidianamente na nossa vida: o trabalho é um forte indicativo da capacidade humana
de criar, inovar e transformar a natureza. O ser humano não pode se contentar somente
com essa adaptação da natureza e das coisas para suprir suas necessidades. O ser
humano tem que sentir-se realizado, sentir-se satisfeito por realizar tal prodígio, sentir-
se mais humano e, por isso, ter interações mais significativas.

Nessa perspectiva, o processo natural é seguir na direção da dinâmica do trabalho


solidário, que se traduz no cooperativismo, no associativismo, no trabalho comunitário
e também no artesanal, que agregam pessoas que desenvolvem, principalmente, suas
habilidades em materiais diferenciados dos de uma produção em série.

O trabalho solidário não foge das regras básicas de qualquer outro ofício,
conforme regulamentado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT):

• Deve ser produtivo.


• Remunerado.
• Exercido com segurança.
• Desenvolvido na liberdade e na inter-relação com os outros.

No Brasil, o trabalho solidário é muito bem-vindo nos empreendimentos


econômicos regidos dentro da solidariedade, mas na seriedade de um desenvolvimento
econômico e social sustentável.

Conforme o mapeamento oficial feito pelo governo federal,


constatou-se que, dos 14.954 empreendimentos econômicos
solidários pesquisados no país em 2005, 77% foram criados nos
últimos 10 anos. Eles operam sob autogestão: os trabalhadores são
proprietários das empresas e decidem democraticamente tudo o que
lhes seja relevante, particularmente a destinação de excedentes.
Inexistem as figuras clássicas de patrão ou empregado, a propriedade
é coletiva, a gestão compartilhada e atua-se sob princípios solidários
(MANCE, 2007, p. 14).

O trabalho solidário é, usualmente, uma resposta a necessidades muito


específicas e localizadas, sejam elas de emprego ou de geração de riqueza, que se
integram a outras redes sociais e oferecem uma nova dinâmica, um novo caminho
possível e palpável, para um novo desenvolvimento econômico mais humano, mais
sustentável e mais justo.

65
Vemos, portanto, que uma nova economia, não capitalista,
ecologicamente sustentável e sociologicamente justa, centrada nos
valores da participação democrática e distribuição de riqueza está
crescendo, trazendo consigo a proposta de um novo modelo de
desenvolvimento e a esperança de um mundo melhor para todos
(MANCE, 2007, p. 14).

O trabalho solidário deve primar pela solidariedade e união. É o contraponto do


que temos hoje no mundo do trabalho: competição e individualismo. O trabalho solidário
é a possibilidade de interações quando se sabe como é difícil exercer qualquer profissão
quando não há a capacidade de estabelecer relações, o que se torna um sacrifício, em
vez de ser um momento de criação, de interações, de promoção do ser humano.

ESTUDOS FUTUROS
No Tópico 2, entenderemos melhor como se dá a relação entre a
comunicação e a linguagem, bem como a comunicação, o conhecimento
e a informação e sua contribuição para uma melhor interação social.

66
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A natureza humana do indivíduo depende de sua participação em uma sociedade.

• Tudo o que sabemos sobre o ser humano tende a mostrar que nenhum pode, em
geral, se desenvolver isoladamente.

• As teorias que estudam o indivíduo e a sociedade estão corretas quando apontam a


dependência do homem em viver em sociedade.

• A sociedade não existe de forma independente, sem o indivíduo.

• A vida humana e a sociedade praticamente andam juntas.

• O homem é biológica e psicologicamente preparado para viver em grupos, na


sociedade.

• A sociedade tornou-se uma condição essencial para a vida humana, para o seu
surgimento e a sua continuidade e evolução.

• A relação entre o indivíduo e a sociedade é, em última análise, um dos mais profundos


de todos os problemas da Filosofia social.

• Com o nascimento da Psicologia cultural, houve o desenvolvimento de terapias que


consideram as características culturais.

• A origem étnica das pessoas têm problemas diferentes do que os enfrentados em


outras origens, por causa de sua singularidade cultural.

• O trabalho solidário é, usualmente, uma resposta a necessidades muito específicas,


localizadas, sejam elas de emprego ou de geração de riqueza, que se integram a
outras redes sociais e oferecem uma nova dinâmica, um novo caminho possível e
palpável, para um novo desenvolvimento econômico mais humano, mais sustentável
e mais justo.

• O trabalho solidário é a possibilidade de interações quando se sabe como é difícil


exercer qualquer profissão quando não há a capacidade de estabelecer relações, o
que se torna um sacrifício, em vez de ser um momento de criação, de interações, de
promoção do ser humano.

67
AUTOATIVIDADE
1 (ENADE, 2012) O modo como a Psicologia tenta dar conta das relações sociais apresenta
dupla característica. Uma consiste em focalizar as dimensões ideais e simbólicas e
os processos psicológicos e cognitivos que se articulam aos fundamentos materiais
dessas relações. A outra aborda essas dimensões e esses processos considerando
o espaço de interação entre pessoas ou grupos, no seio do qual elas se constroem e
funcionam (JODELET, 2004).

FONTE: <https://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2012/08_PSICOLOGIA.pdf>. Acesso


em: 21 jun. 2022.

Considerando o contexto exposto, avalie as asserções a seguir e a relação proposta


entre elas:

I- A Psicologia social, ao estudar fenômenos como preconceito, estereótipo, crenças e


valores, insere-se em perspectivas mais sociologizantes do que psicológicas.

PORQUE

II- A Psicologia social tenta compreender de que maneira as pessoas e os grupos se


constroem no interior de relações socioculturais mais amplas, de acordo com as
duas características apontadas por Jodelet.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I.
b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I.
c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.

2 Não é nenhuma surpresa que a dificuldade com a comunicação está no centro de muitas
outras coisas que prejudicam o convívio social e é, por isso, que sempre buscamos
melhorar a nossa comunicação. Nessa busca, percebemos como é importante
compreender o porquê das ações e das atitudes das pessoas. Tendo em mente os
elementos que fazem parte dos princípios que podem nos ajudar a compreender as
atitudes e a forma de pensar das pessoas, assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) Físico.
b) ( ) Emocional.
c) ( ) Mental.
d) ( ) Comportamental.

68
3 Não há antagonismo inerente entre individualidade e sociedade, pois um é
essencialmente dependente do outro. No entanto, seria enganoso dizer que
existe completa harmonia entre a individualidade e a sociedade. Sobre o sujeito e
a sociedade, tendo em mente que a sociedade é um sistema de relações entre os
indivíduos, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As relações entre o indivíduo e a sociedade são ligações diretas, sendo uma


dependente da outra.
b) ( ) Os indivíduos pertencem à sociedade como as folhas pertencem às árvores.
c) ( ) Existe uma interdependência fundamental e dinâmica do indivíduo e da sociedade.
d) ( ) O indivíduo tem dependência da sociedade, mas a sociedade não depende do
indivíduo.

4 Todos os pensamentos ou sentimentos são experimentados pelos indivíduos.


Sentimentos ou pensamentos são comuns entre os indivíduos, não na sociedade.
Não há vontade comum da sociedade. Disserte sobre essa afirmação.

5 O trabalho solidário é, usualmente, uma resposta a necessidades muito específicas,


localizadas, sejam elas de emprego ou de geração de riqueza, que se integram a
outras redes sociais e oferecem uma nova dinâmica ou um novo caminho possível e
palpável, para um novo desenvolvimento econômico mais humano, mais sustentável
e mais justo. Como a Organização Internacional do Trabalho (OIT) regulamenta o
trabalho solidário?

69
70
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
A COMUNICAÇÃO, O CONHECIMENTO E A
INFORMAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Muitas vezes, tomamos como certo que as nossas palavras transmitem
exatamente o que pretendemos. Contudo, essa é uma suposição que carece de certezas
e, por isso, as palavras, os conceitos tendem a não ser recebidos da mesma forma como
quem envia pretende que seja entendido. No momento em que algumas frases são
pronunciadas, podemos ter uma comunicação totalmente desperdiçada. Quantas vezes
precisamos refazer uma pergunta para poder entender o significado da(s) palavra(s)?

Para nós, seres humanos, as palavras são mais que um meio de comunicação,
pois podem moldar nossas crenças, comportamentos, sentimentos e definir nosso
agir. Assim, como ferramenta eficaz de comunicação, nada é mais poderoso do que as
palavras para moldar nossas opiniões.

Quando se trata de linguagem e comunicação, a principal regra é: não é o que


você diz, mas, sim, o que as pessoas ouvem. As palavras são uma das ferramentas mais
poderosas que nós possuímos. A grande questão é que as palavras são subestimadas
quando se trata de fundamentar o pensamento e o processamento de comportamento,
bem como a tomada de decisões que impactam não somente nossa vida, mas a
daqueles que nos cercam.

Hoje, temos uma preocupação constante com o futuro das próximas gerações,
e, para nos ajudar, surgiram as ciências do comportamento humano, que oferecem uma
base de conhecimento e prática para o desenvolvimento de políticas que promovam,
entre outras coisas, a paz, a justiça social, a plena realização dos direitos humanos a
todos os seres humanos e, é claro, o olhar atento ao meio ambiente, para que um futuro
ecologicamente sustentável não seja apenas um sonho. A Psicologia, então, tem papel
fundamental nesses anseios e se torna uma ferramenta para possibilitar mudanças
sociais positivas, com o intuito de ajudar indivíduos, grupos e toda a sociedade.

Assim, elencamos algumas opções em que a Psicologia pode auxiliar nessa


busca de um mundo melhor, a partir de pequenos gestos e pequenas ações:

• Construir um terreno comum entre divisões que causam uma mentalidade de


desconfiança em relação àqueles que vemos como diferentes.
• Priorizar ações mais amplas a longo prazo.

71
• Reconhecer os erros e buscar sempre a união de forças, resistindo à tendência de
negar a responsabilidade e culpar os outros quando as coisas dão errado.
• Avaliar alternativas realizando uma análise ponderada e empática, rejeitando apelos
de medo e raiva, que, muitas vezes, tornam mais difícil o nosso julgamento.
• Evitar, quando houver, qualquer tipo de conflito de incompreensão e falta de
comunicação que podem causar outros problemas.
• Evitar a transmissão de vingança de uma geração para a seguinte, curando as
feridas causadas pela violência e por traumas.

A Psicologia não está sozinha nessa construção de perspectivas para um mundo


melhor. História e Sociologia são algumas das disciplinas que estão presentes nessa
construção, assim como as tecnologias. Então, para seguir o caminho da Psicologia ou se
tornar um psicólogo, a tecnologia disponibiliza infinitas possibilidades técnicas que afetam
significativamente tanto a sua preparação quanto a sua prática no campo da Psicologia.

2 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
A linguagem pode ser entendida como uma construção da comunicação, como
um sistema gramatical, sendo que os sons, suficientemente normatizados para serem
usados por duas pessoas, podem transmitir informações de uma para outra.

A comunicação é qualquer forma pela qual duas pessoas trocam informações, a


partir do uso da linguagem, mas também de gestos, expressões faciais, sinais, mímica,
ou quaisquer formas ou maneiras de expressar essa informação. Podemos entender,
vulgarmente, que a comunicação é o carro, e a linguagem é a estrada.

Para os seres humanos, as palavras são mais do que um meio de comunicação,


elas podem moldar nossas crenças, comportamentos, sentimentos e, finalmente,
nossas ações. Apesar de espadas poderem nos coagir e ameaçar, nada é mais poderoso
do que uma ferramenta que pode moldar nossas opiniões.

A expressão pela linguagem é uma cognição que realmente nos torna


humanos. Enquanto outras espécies se comunicam com uma habilidade inata para
produzir um número limitado de vocalizações significativas ou mesmo com sistemas
parcialmente aprendidos (por exemplo, o canto dos pássaros), não há nenhuma outra
espécie conhecida, até o momento, que pode expressar ideias a partir de frases com um
conjunto limitado de símbolos, evidenciados pelos sons da fala e pelas palavras.

Ao observarmos a história da Psicologia e da linguagem, encontramos uma das


primeiras explicações científicas de aquisição da linguagem, apresentada por Skinner
(1977). Como um dos pioneiros do behaviorismo, ele foi responsável pelo desenvolvimento
da linguagem por meio de influência da natureza.

72
Skinner (1977) argumentou que as crianças aprendem a linguagem com base em
princípios de reforços behavioristas, por associarem palavras com significados. Quando
a criança se expressa corretamente, é recompensada para que perceba o valor do que
foi comunicado por meio das palavras e frases. Skinner (1977) era um estudioso, um
pesquisador que serviu de base para o avanço de muitos estudos do comportamento
humano, que foi criticado, principalmente, por Noam Chomsky, criador da Teoria da
Gramática Universal.

DICA
Acadêmico, busque mais informações sobre Skinner, Pavlov e Chomsky para
aumentar o seu conhecimento sobre essa temática.

Como visto anteriormente, quando se trata de linguagem e comunicação, o


importante é o que as pessoas ouvem/entendem. Embora as palavras sejam uma das
ferramentas mais poderosas, o problema é que elas são subestimadas, mesmo sendo
utilizadas de forma efetiva para o pensamento e o processamento do comportamento,
bem como para a tomada de decisão.

FIGURA 1 – PROCESSANDO A INFORMAÇÃO

FONTE: <https://bit.ly/3yfXNrJ>. Acesso em: 10 jun. 2022.

O fato é que a linguagem é essencialmente uma característica humana. Todas


as tentativas de lançar luz sobre a evolução da linguagem humana falharam, devido
à falta de conhecimento sobre a origem de qualquer idioma e à falta de um animal
que possua qualquer forma de “transição” de comunicação. Isso deixa os evolucionistas
com um enorme fosso entre seres humanos, com suas habilidades de comunicação
inatas, e os grunhidos, os latidos ou as imitações dos animais. Como observado por
Dunbar (1996, p. 10):

73
Com a idade de seis anos, a média das crianças aprendeu a usar
e entender cerca de 13.000 palavras; por dezoito anos ele terá um
vocabulário de trabalho de 60.000 palavras. Isso significa que ele
tem aprendido uma média de dez novas palavras por dia desde o
seu primeiro aniversário, o equivalente a uma nova palavra a cada 90
minutos da sua vida de vigília.

Ao recorrer à Bíblia, novamente, para explicar por que os seres humanos são
capazes de se comunicar em linguagem humana, encontramos que Deus os criou com
a capacidade de fazê-lo, sendo a única explicação plausível para a origem da linguagem
humana no livro do Gênesis: “Então Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem,
conforme a nossa semelhança; [...] E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de
Deus o criou; macho e fêmea os criou” (BÍBLIA, Gn. 1:26-27).

3 O SUJEITO E A COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL


Diz-se que, ao olharmos ao nosso redor, provavelmente, apenas 7% das pessoas
que fazem parte do nosso dia a dia se comunicam verbalizando. Os outros mais de 90% se
comunicam por sinais não verbais, como linguagem corporal, contato visual e tom de voz,
escrita etc., além da popularização galopante da tecnologia na última década, em termos
de mídia social, que fez com que mensagens de texto e redes sociais, como Facebook e
Twitter, tenham, inevitavelmente, se tornado nas formas mais eficientes de se comunicar.
Podemos também destacar que a eficiência ou a nossa dependência sobre as formas
mais eficientes de comunicação se tornaram uma das maiores preocupações para as
pessoas em nossas interações. No entanto, é preciso não esquecer que a interação face
a face deve permanecer uma referência em nossa sociedade, por sua qualidade muito
superior e capacidade de satisfazer nossas necessidades sociais inerentes.

A comunicação não verbal é um tema muito delicado e, por isso, muitos autores
se debruçaram sobre ele, trazendo contribuições importantes para o conceito e a
caracterização dessa discussão.

De acordo com Corraze (1982), a comunicação não verbal é um meio, entre


outros, de transmitir informação, referido como “comunicações não verbais”, as quais são
definidas como os diferentes meios de comunicação existentes entre seres vivos que
não utilizam a linguagem escrita, falada ou seus derivados não sonoros (por exemplo,
a linguagem dos surdos-mudos). É um conceito que evidencia um extenso campo de
comunicação, pois este não se restringe apenas à espécie humana. A dança das abelhas,
o ruído dos golfinhos e a expressividade das artes, como dança, música, teatro, pintura,
escultura etc., são também consideradas formas de comunicação não verbal.

De acordo com Corraze (1982), para o ser humano, as comunicações não verbais
se processam a partir de três suportes: o corpo, nas suas qualidades físicas, fisiológicas
e nos seus movimentos; no homem, ou seja, nos objetos associados ao corpo, como
os adornos, as roupas, ou mesmo as mutilações, marcas ou cicatrizes de tatuagens,

74
de rituais ou não – ainda podem ser relacionados os produtos da habilidade humana,
que podem servir à comunicação; e, finalmente, o terceiro suporte se refere à dispersão
dos indivíduos no espaço, que engloba desde o espaço físico, que cerca o corpo, até o
espaço que a ele se relaciona, o espaço territorial.

Embora Argyle (1978), estudioso e pesquisador dos comportamentos não verbais,


ao abordar o sistema não verbal, não apresente a categorização de suportes, distingue
os canais que fazem parte de uma categorização denominada como “diferentes sinais
corporais”: expressão facial; olhar; gestos e movimentos posturais; contato corporal;
comportamento espacial; roupas, aspecto físico e outros aspectos da aparência.

Knapp (1982), especialista nesse campo das comunicações não verbais,


apresenta um esquema de classificação bem mais detalhado da conduta não verbal,
dividido em sete áreas, de acordo com a literatura ou com as investigações científicas:

• movimento corporal ou cinésica (emblemas, ilustradores, expressões de afeto,


reguladores e adaptadores);
• características físicas;
• comportamentos táteis;
• paralinguagem (qualidades vocais e vocalização);
• proxêmica;
• artefatos;
• meio ambiente.

Davis (1979), ao apresentar uma visão sintética sobre a área da comunicação


não verbal, relata a temática das pesquisas sob os seguintes subtítulos:

• índices de sexo;
• comportamentos de namoro;
• o mundo silencioso da cinética;
• o corpo é a mensagem;
• o rosto humano;
• o que dizem os olhos;
• a dança das mãos;
• mensagens próximas e distantes;
• interpretando posturas físicas;
• o ritmo do corpo;
• os ritmos do encontro humano;
• a comunicação pelo olfato;
• a comunicação pelo tato, entre outros tópicos.

Assim, os canais de comunicação do nível não verbal podem ser classificados


em dois grupos: o primeiro se refere ao corpo e ao movimento do ser humano, e o
segundo é relativo ao produto das ações humanas. O primeiro grupo apresenta diferentes
unidades expressivas, como a face, o olhar, o odor, a paralinguagem, os gestos, as ações

75
e a postura. O segundo também apresenta várias unidades de expressão, como a moda,
os objetos do cotidiano e da arte, até a própria organização dos espaços físico (pessoal
e grupal) e ambiental (doméstico, urbano e rural).

São muitos os conceitos e diversas as categorizações colocadas por esses


e outros autores, com outros olhares sobre o tema das condutas não verbais. É um
fenômeno difícil de categorizar, de estabelecer um conceito unânime. A vantagem de
tudo isso é termos abertas muitas possibilidades de reflexão, crítica e parâmetros para
o nosso aprofundamento.

a comunicação humana é tanto um fenômeno quanto uma função


social. Comunicar envolve a ideia de partilhar, de compartilhar
e de transferir a informação entre dois ou mais sistemas. Essas
informações podem ser simples ou complexas, tanto em nível
biológico quanto em nível das relações sociais. A mensagem é a
unidade de comunicação e a interação entre indivíduos ocorre
quando uma série de mensagens é intercambiada. A comunicação se
efetua através da transferência de informação, sob duas condições
principais. A primeira condição é a presença de dois sistemas: um
emissor e um receptor; a segunda é a transmissão de mensagens
(MESQUITA, 1997, p. 156).

A comunicação, com suas características peculiares, torna possível a análise de


todos os fenômenos culturais, sejam linguagens verbais ou não verbais, uma vez que
todos esses fenômenos são sistemas de signos e, portanto, fenômenos de comunicação
(MESQUITA, 1997). Ainda fazem parte desse universo as línguas escritas, os alfabetos
desconhecidos, as línguas naturais, as linguagens formalizadas, as comunicações
virtuais, os códigos culturais e de mensagens estéticas, bem como a paralinguística,
a metalinguagem, a proxêmica e a cinésica, entre outros, conforme aponta Mesquita
(1997). Por isso, faz-se importante a semiótica, tanto para a comunicação verbal como
para a comunicação não verbal.

A semiótica é a ciência dos signos e de toda e qualquer linguagem, tendo por


objetivo analisar como se estrutura a linguagem de todo e qualquer fenômeno como de
produção de significação e de sentido. Impostada por Pierce nos últimos decênios do
século passado, foi objeto de estudo e análise de Saussure, no início deste século, sendo
denominada de semiologia – o estudo de todos os sistemas de signos (SANTAELLA, 1983).

A semiologia pode ser definida, segundo Buyssens (1972), como o estudo dos
processos de comunicação, que envolvem o uso de meios para influenciar outrem,
devendo estes ser reconhecidos por aqueles a quem se quer influenciar. O signo, por
definição, é algo que está no lugar de outra coisa. Esse algo é a representação de algum
aspecto ou capacidade, segundo o ponto de vista a partir do qual o objeto é recortado
de um determinado contexto.

76
De acordo com a análise de Coelho Netto (1980), a partir de Pierce, a relação
do signo com o seu objeto pode se dar com base em três tipos de representação: o
ícone, que tem uma relação de semelhança com seu objeto; o índice, que apresenta
uma relação existencial de causa e efeito, e o símbolo, cuja ligação é arbitrária, porém,
quando se constitui, tem uma força coercitiva e se torna uma convenção.

Muitos têm a ideia de que a comunicação se dá através da palavra, da fala, mas


isso seria bem limitado. Embora essa seja uma definição simples, quando pensamos sobre
como podemos nos comunicar, a discussão se mostra muito mais complexa. Existem
várias categorias de comunicação e mais do que uma pode ocorrer a qualquer momento.

Birkner (2013) apresenta quatro diferentes categorias de comunicação:

• Falada ou comunicação verbal: face a face, telefone, rádio ou televisão e outros


meios de comunicação.
• Comunicação não verbal: linguagem corporal, gestos, como nos vestimos ou
agimos.
• Comunicação escrita: cartas, e-mails, livros, revistas, material escrito na internet ou
por meio de outros meios de comunicação.
• Visualização: gráficos e tabelas, mapas, logotipos e outras visualizações.

Entretanto, quando falamos em nível de comunicação relacional entre o ser


humano, há a comunicação verbal e a não verbal. A comunicação verbal é a forma
discursiva, falada ou escrita, na qual mensagens, ideias ou estados emocionais são
expressos. A comunicação humana não verbal é a forma não discursiva, realizada por
intermédio de vários canais de comunicação (ROSO, 1998).

Os gestos e os movimentos fazem parte dos inúmeros canais de comunicação


que o ser humano utiliza para expressar suas emoções e sua personalidade, comunicar
atitudes interpessoais, transmitir informações nas cerimônias, nos rituais, nas
propagandas, nos encontros sociais e políticos e demonstrações de arte (ROSO, 1998).

A comunicação não verbal, como um meio de transmissão e recepção


de uma mensagem, como um meio de interação e entendimento
entre os seres humanos, não pode ser desvinculada do contexto
individual ou de natureza social ao qual pertence a informação.
Grande parte das informações que são geradas e emitidas por esses
canais não verbais situa-se abaixo do nível da consciência (ROSO,
1998, p. 111).

77
FIGURA 2 – CÓDIGOS NA COMUNICAÇÃO

FONTE: <https://elipsy.com.br/wp-content/uploads/2020/08/Elementos-10.png>. Acesso em: 10 jun. 2022.

Passamos boa parte de nossa vida nos comunicando. Compartilhamos


pensamentos, procuramos compreender os sentimentos de outra pessoa com
habilidades essenciais para o funcionamento de qualquer sociedade no mundo. Não
é surpresa, então, que a dificuldade com a comunicação não seja considerada algo
estranho, que leve o indivíduo a buscar aconselhamento e orientação de um profissional,
para identificar quais problemas ele tem ao se comunicar.

4 DIFICULDADES NA COMUNICAÇÃO
A nossa forma de codificar e decodificar mensagens é baseada no processo de
comunicação que desenvolvemos nas fases anteriores da nossa vida.

Todos os dias somos envolvidos e dominados por informações,


imagens, sons, que, de uma forma ou de outra, tentam mudar, criar,
ou cristalizar opiniões, ou atitudes nas pessoas. Isto é a própria
mediação de nossas relações sociais. Como assinala Guareschi
(1993), não há como negar a evidência de que hoje os meios de
comunicação envolvem os seres humanos num novo espaço acústico,
que McLuhan (1962; 1969; 1967) chama de “mundo retribalizado”,
onde eles passam a ser bombardeados, instantaneamente, por
variadíssimas e inúmeras informações de todas as partes do mundo.
Esse espaço acústico pode assumir, muitas vezes, características de
um agente revolucionário imperialista, que tem o poder de construir e
moldar os seres humanos como bem entende. Assim, quem controla
esse espaço pode determinar que tipo de ser humano vai se formar
(ROSO, 1998, p. 126-127).

78
Todas as palavras são realmente apenas símbolos que representam certas
coisas, e cada pessoa pode ter uma compreensão um pouco diferente, mesmo no
nível da palavra individual. Além disso, o número real de palavras que conhecemos, a
complexidade das alterações de linguagem com mais experiência e as formas como
codificar e decodificar mensagens são determinados por nossa cultura, padrões de
família e outras experiências.

USO DE REDES SOCIAIS E APLICATIVOS DE MENSAGENS INSTANTÂNEAS:


SÉRIE CRP ORIENTA

As inovações tecnológicas modificam constantemente as interações entre


profissionais e usuários(as). Em razão disso, é importante que o(a) profissional faça
bom uso de tais ferramentas, avaliando as situações que possam prejudicar as
diretrizes éticas da profissão ou os direitos dos(as) beneficiários(as), assim como é
importante o zelo do(a) profissional para que a Psicologia não seja aviltada.

Ressalta-se, portanto, que o Código de Ética do(a) Psicólogo(a) e as demais


resoluções do Sistema Conselhos também se aplicam às interações virtuais que
ocorrem fora do contexto do atendimento.

Referente ao uso das redes sociais (Instagram, LinkedIn, Facebook, entre outras)
para publicizar os serviços e promover discussões pertinentes à ciência psicológica,
o(a) profissional necessita:

• Acrescentar o nome completo, a palavra “psicóloga” ou “psicólogo”, o CRP e o


número de registro em suas páginas profissionais.
• Fazer referência apenas a títulos ou qualificações que possua.
• Divulgar somente qualificações, atividades e recursos relativos a técnicas e
práticas que estejam reconhecidas ou regulamentadas pela profissão.
• Não utilizar o preço do serviço como forma de propaganda.
• Não utilizar as redes sociais como meios para veicular anúncios sensacionalistas
e que possam caracterizar concorrência desleal.

Com relação à utilização de ferramentas de mensagens instantâneas (como


WhatsApp, Instagram, Telegram, chat do Facebook, entre outras), tais interações
devem ser norteadas pelos padrões éticos e técnicos da profissão, garantindo que
não haja prejuízos ao atendimento prestado, bem como resguardando o vínculo
estabelecido. Dessa forma, cabe reforçar que os cuidados éticos não se restringem
às comunicações feitas de forma presencial.

A facilidade e a agilidade oferecidas pelos aplicativos não devem resultar em


intervenções irrefletidas que desconsideram os direitos do(a) usuário(a), devendo
o(a) profissional responsabilizar-se por suas condutas. Ainda se considera o fato de

79
que a troca de mensagens virtuais facilita a comunicação, mas também pode gerar
situações de desconforto, devido ao grau de ambiguidade e possíveis ruídos de
interpretação. A visualização de mensagens sem, porém, enviar-se uma resposta,
por exemplo, pode ser entendida pelo(a) beneficiário(a) como omissão ou negligência
nas suas demandas.

Por isso, no estabelecimento do contrato terapêutico, o profissional poderá informar


ao(à) usuário(a) de que maneira tais recursos de comunicação são utilizados e em
quais horários, bem como as especificidades de situações para seu uso.

É importante que o(a) psicólogo(a) possua capacitação técnica para identificar se o


conteúdo da sua comunicação é pertinente àquela ferramenta ou se caberia utilizar
outros canais, a fim de evitar situações conflituosas. Orientamos ainda que o(a)
profissional identifique informações pertinentes ao registro em prontuário derivadas
daquelas interações, a partir das diretrizes da Resolução CFP nº 01/2009.

Reforçamos, ainda, que, para oferecer consultas e serviços de Psicologia mediados


por Tecnologias da Informação e Comunicação, o(a) psicólogo(a) deve cadastrar-se
no site e-Psi, de acordo com a Resolução CFP nº 11/2018. Assim, a comunicação
eventual e pontual dos(as) profissionais com os(as) usuários(as), por meio dos
serviços de mensagens para combinar sessões ou discutir o pagamento de
honorários, por exemplo, não deve configurar um atendimento psicológico.

Sugerimos que os(as) profissionais acessem os fôlderes: “O(a) psicólogo(a), a mídia e


a ética profissional” e “Publicidade Profissional”.

No caso de dúvidas, consulte o setor de Orientação da subsede do CRP de sua


região.

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/39TczLw>. Acesso em: 10 jun. 2022.

Problemas de comunicação podem surgir a partir do momento que saímos


ao encontro dos outros, sabendo, de antemão, que estes não tiveram exatamente as
mesmas experiências de vida e os mesmos padrões de comunicação – nesse caso, os
ruídos na comunicação podem atrapalhar.

80
FIGURA 3 – EMISSOR E RECEPTOR

FONTE: <https://bit.ly/3OwdakQ>. Acesso em: 10 jun. 2022.

Um problema muito comum que podemos ter como receptores de mensagens


ocorre em como se dá a codificação do nosso pensamento, do nosso sentimento ou
da nossa necessidade naquele momento – em outras palavras, como será filtrado
aquilo que estamos recebendo. Podemos codificar, por exemplo, a mensagem da
sensação de fome de uma criança com idade menor que três anos de diferentes formas;
provavelmente, se ela não falar, é preciso escolher a melhor maneira de codificar uma
mensagem que, para essa criança, é de suma importância.

Outro problema comum é que, às vezes, nossos pensamentos, sentimentos ou


ideias são extremamente complexos e nós não podemos confiar em nosso próprio bom
senso. Assim, o envio de mensagens, para além de coisas que não entendemos em nós
mesmos, também tem uma baixa probabilidade de compreensão pelo receptor. São os
ruídos, as barreiras na comunicação.

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FIGURA 4 – BARREIRAS NA COMUNICAÇÃO

FONTE: <https://www.ideagri.com.br/siteideagridados/New/42/Fig5.jpg>. Acesso em: 10 jun. 2022.

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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A comunicação não verbal é um meio, entre outros, de transmitir informação.

• A comunicação, com suas características peculiares, torna possível a análise de todos


os fenômenos culturais, sejam linguagens verbais ou não verbais, uma vez que todos
esses fenômenos são sistemas de signos e, portanto, fenômenos de comunicação.

• Todas as palavras são realmente apenas símbolos que representam certas coisas,
e cada pessoa pode ter uma compreensão um pouco diferente, mesmo no nível da
palavra individual.

• Às vezes, nossos pensamentos, sentimentos ou ideias são extremamente complexos,


e nós não podemos confiar em nosso próprio bom senso.

• O receptor, quando recebe uma mensagem, pode não ter habilidade suficiente para
decodificar a mensagem e pode adicionar significado próprio que não coaduna com
a intenção do remetente da mensagem.

• Quem envia a mensagem pode codificar o pensamento, o sentimento ou a necessidade


de forma a dificultar a compreensão do receptor.

83
AUTOATIVIDADE
1 (ENADE, 2015) Em homenagem ao Dia do Motorista, comemorado em 25 de julho,
foi veiculado o seguinte anúncio publicitário: “Esse. Anúncio. É. Assim. Mesmo. Com.
Uma. Série. De. Pontos. Um. Atrás. Do. Outro. Porque. É. Para. Lembrar. A. Você. Que.
Hoje. É. Dia. De. Homenagear. O. Motorista. De. Ônibus”.

FONTE: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2015/06_cs_publicidade_propaganda.
pdf>. Acesso em: 1 jun. 2022.

Considerando o texto apresentado no anúncio, analise as sentenças a seguir:

I- A utilização da palavra “Pontos” no anúncio é realizada com o objetivo de evocar


duplo sentido.
II- No anúncio, faz-se uso de metalinguagem para explicar o processo criativo de sua
produção e o emprego da pontuação.
III- A ideia criativa do anúncio explora o uso excessivo do ponto, a fim de remeter ao
percurso realizado por um motorista de ônibus, ao longo de um dia de trabalho.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Apenas a sentença I está correta.
b) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) Todas as sentenças estão corretas.

2 (ENADE, 2012) A seguinte queixa foi encaminhada ao Conselho Regional de Psicologia.


Uma adolescente, atendida no setor de orientação vocacional, queixou-se de que o
psicólogo influenciava pacientes a participar de cultos, relacionando acontecimentos
à vontade de Deus; utilizava-se de mapa astral em suas orientações e realizava
atendimento a diferentes pessoas de uma mesma família propiciando a troca de
informações entre elas. Foi constatado o uso de mapas astrológicos em sessões de
orientação vocacional como ferramenta complementar de análise. Verificou-se, ainda,
que houve indução a convicções morais e religiosas e que foi realizado atendimento
individual a diversos membros da família.
Em sua defesa, o psicólogo negou ter abordado a questão religiosa e devassado o sigilo,
destacando ser relativa a inviolabilidade, já que a atendida era menor de idade. Afirmou
utilizar-se somente de instrumentos científicos e, eventualmente, da técnica de mapa
astral para melhor compreender os pacientes e abreviar os processos psicoterápicos.

FONTE: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2012/08_PSICOLOGIA.pdf>. Acesso


em: 21 jun. 2022.

84
Com base na situação apresentada e tendo como referência o Código de Ética
Profissional do Psicólogo, analise as sentenças a seguir:

I- A astrologia não é prática complementar da Psicologia e tampouco método


científico; desse modo, não pode ser utilizada direta ou indiretamente no decorrer
de um processo ou tratamento psicológico.
II- O psicólogo tem o dever de respeitar o sigilo profissional, protegendo, por meio da
confidencialidade, a intimidade das pessoas; entretanto, na situação apresentada,
a pessoa atendida era menor de idade, o que autoriza o psicólogo a repassar aos
familiares as informações obtidas.
III- Ao psicólogo é vedado induzir a convicções políticas, filosóficas, morais ou religiosas
no exercício de suas funções profissionais; portanto, no caso relatado, o psicólogo
infringiu o Código de Ética Profissional.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Apenas a sentença I está correta.
b) ( ) Apenas a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) As sentenças II e III estão corretas.

3 O sistema não verbal considera como os canais que fazem parte de uma categorização
denominada como “diferentes sinais corporais”: expressão facial; olhar; gestos e
movimentos posturais; contato corporal; comportamento espacial; roupas, aspecto
físico e outros aspectos da aparência. Quanto ao pesquisador responsável por
distinguir esses canais, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Corraze.
b) ( ) Argyle.
c) ( ) Knapp.
d) ( ) Davis.

4 Comunicação e linguagem estão diretamente ligadas, muitas vezes acabam gerando


confusão em sua compreensão. Disserte sobre o que é comunicação e o que é linguagem.

5 A comunicação não verbal é um tema muito delicado e, por isso, muitos autores
se debruçaram sobre ele, trazendo contribuições importantes para o conceito e a
caracterização dessa discussão. Disserte sobre a visão de Corraze sobre a comunicação
não verbal.

85
86
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
A PSICOLOGIA COMO FUNDAMENTO DA
RESPONSABILIDADE NA COMUNICAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
As mídias sociais de todos os tipos e formas se tornaram uma parte tão importante
da nossa sociedade que olhar para elas de forma negativa só irá provocar retrocessos
de tudo o que já foi construído até os dias atuais, no que tange à comunicação. Como
sociedade, devemos promover e continuar a incorporar a mídia social de modo cada
vez mais positivo, porque sites de redes sociais são ferramentas poderosas quando
precisamos entrar em contato com pessoas que estão distantes.

Acreditamos que a maioria das mídias sociais apresenta contribuições


positivas. No entanto, precisamos levar em conta que o efeito que a mídia social tem
sobre cada pessoa é sempre diferente. Nesse momento, a Psicologia é responsável
por acompanhar todo esse processo, caso a caso, mesmo porque as mídias sociais
são um campo que está em contínua mudança e, ao resolver a questão de como o uso
de mídia social afeta a interação das pessoas, mais perguntas continuarão a surgir, da
mesma maneira como esses sites ainda devem passar por mudanças com o passar
dos tempos. Por isso, os questionamentos, seja na Psicologia, na comunicação ou
na Sociologia, permanecem, já que se trata de indivíduos que vivem em sociedade e
querem aproveitar essas novas tecnologias.

2 O SUJEITO E AS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS


O desenvolvimento de novas tecnologias disparou nos últimos anos,
desempenhando um papel significativo no avanço do campo da Psicologia – e a
própria Psicologia tem utilizado uma série de tecnologias no seu campo de atuação. Na
realidade, quando pequenos grupos de pessoas interagem uns com os outros em tempo
real, usando tipos diferentes de meios de comunicação (como telefones, computadores
e videoconferência), os processos que se desenrolam durante a interação face a face
são combinados por vários fatores únicos para a mediação. Um exemplo evidente de
investigação sobre esse tipo de comunicação é aquela mediada por computador, na
qual dois indivíduos contam com essa tecnologia para realizar uma interação.

Variadas são as preocupações, nos últimos 20 anos, com o fato de as revoluções


das tecnologias da informação resultarem na potenciação do “ensimesmamento” do
homem, isto é, na sua introspecção individualista e egoísta. Uma vez que os recursos
tecnológicos de comunicação e informação estejam ao seu dispor, é natural que esse

87
tipo de preocupação e especulação sociológica venha à tona. Assim, os indivíduos
tenderiam, crescentemente, ao isolamento doméstico. Até as necessidades afetivas
poderiam, como em grande parte podem, ser atendidas virtualmente.

Na atualidade, uma pergunta corriqueira é sobre como a mídia social afetará as


relações e as interações das pessoas na sociedade. Sabemos que há uma diminuição
visível dessas interações face a face, por causa do advento e da popularização das
mídias sociais na última década. Não se pode afirmar que as mídias sociais, de fato,
prejudiquem a capacidade das pessoas para interagir umas com as outras em um
ambiente real.

Estudos sobre a competência social dos jovens que passam grande parte de
seu tempo em redes sociais são, por vezes, muito conflitantes. Há sempre análises de
lados extremos, que fazem julgamentos sem fundamentos em relação às pessoas que
passam muito tempo nas mídias sociais. Nesse contexto, a Psicologia é mais necessária
como acompanhamento e orientação do que em pesquisas e investigações apenas
para detectar os males que podem advir do uso das redes sociais, no que tange aos
comportamentos antissociais.

Por outro lado, vemos, com bastante frequência, nas últimas duas décadas,
uma superação dos isolamentos comportamentais pela intensificação das formas
de comunicação virtual. Não sendo físicas, essas formas de comunicação pela
web provocam, não obstante, um aumento exponencial dos diálogos e da troca de
informação. Amplificam, em vez de diminuírem, os relacionamentos. Permitem, por
extensão, a amplificação de grupos sociais distantes fisicamente.

As redes sociais são um exemplo fantástico de multiplicação de relacionamentos,


trocas de informação, de solidariedade e também de engajamento em questões
coletivas. As cidades estão cheias de movimentos pela internet. Cada vez que alguém
tem uma boa e contagiante ideia e a compartilha em uma rede social, ela se alastra
rapidamente e é capaz de interferir no resultado de um pleito eleitoral, de salvar animais,
de denunciar uma injustiça, de revitalizar uma praça (como é o caso da Prainha de
Blumenau, comprometida pela enchente de 2011, na curva do Rio Itajaí-Açu, e ocupada
por jovens, a partir de um chamamento via rede social, denominado Vamo se unir (sic).

Nessa direção, é possível dizer que as críticas e os temores mais pessimistas


em relação à individualização dos comportamentos parecem fadados ao esquecimento.
Não é por desmerecimento às advertências de certa vertente sociológica, sempre crítica
aos avanços tecnológicos, mas, comparando o que se dizia há dez ou 15 anos sobre o
receio de “ensimesmamento” dos indivíduos, os primeiros anos da segunda década do
século XXI parecem desconstruir os argumentos dos céticos.

No mesmo sentido, é possível lançar mão dos e-mails e dos recursos de busca na
internet para o restabelecimento de contatos afetivos e profissionais jamais imaginados
pelos nossas bisavós. Em outra perspectiva, é possível utilizar a tecnologia para

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conversas e agendamentos de encontros presenciais, fruto do incansável, audacioso e
ambicioso esforço humano na busca do conhecimento e ao encontro de alternativas e
soluções que, não importa se imbuídas do desejo de lucro ou poder, facilitam, melhoram
e trazem felicidade às vidas humanas.

A solidariedade, a comunicação e a coletivização são aspectos inerentes às


formas de organização social na família, na igreja, nas empresas, nas associações e nas
“tribos”. Não há razão para acreditarmos que os recursos das tecnologias de comunicação
tenham sido imbuídos de intenções obscuras de ensimesmamento, individualização
e insulamento humanos. Nem mesmo é possível acreditar que, com o que podemos
ver com nossos próprios olhos, todas essas comodidades tecnológicas sejam utilizadas
pelos “animais que falam” justamente para que se tornem taciturnos. Seres humanos
precisam de gente ao redor e qualquer desvio nesse sentido sempre existiu, sendo
escolha de alguns indivíduos ou resultado de outras causas que constituem uma
exceção, e não uma regra.

A relação com a realidade concreta com seus cheiros, cores, frios,


calores, pesos, resistências e contradições é mediada pela imagem
virtual que é somente imagem. O pé não sente mais o macio da grama
verde. A mão não pega mais um punhado de terra escura, o mundo
virtual criou um novo hábitat para o ser humano, caracterizado pelo
encapsulamento sobre si mesmo e pela falta do toque, do tato e do
contato humano (BOFF, 1999, p. 1).

Outra realidade muito importante que merece destaque é a inclusão digital, que,
para ser autêntica, precisa estar ligada à inclusão social. Nesse sentido, como afirma
Ferreira (2004), o computador é uma ferramenta de construção e aprimoramento do
conhecimento, permitindo o acesso à educação e ao trabalho, o desenvolvimento
pessoal e uma melhor qualidade de vida.

Diante do cenário high tech (de alta tecnologia), a inclusão digital faz-
se necessária para todos. As situações rotineiras geradas pelo avanço
tecnológico produzem fascínio, admiração, euforia e curiosidade
em alguns, mas, em outros, provoca sentimento de impotência,
ansiedade, medo e insegurança. Algumas pessoas ainda olham
para a tecnologia como um mundo complicado e desconhecido. No
entanto, conhecer as características da tecnologia e sua linguagem
digital é importante para a inclusão na sociedade globalizada
(FERREIRA, 2004, p. 86).

3 A ATUAÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO


Como podemos entender os meios de comunicação de massa a partir de
uma definição? A comunicação de massa tem sido tipicamente entendida a partir
de organizações – por exemplo, jornais, empresas de produção cinematográfica ou
estúdios de televisão –, que utilizam uma tecnologia de mídia para distribuir informação
para grandes audiências. Com essa nova era digital e tecnológica, o contraste entre as
grandes organizações e as grandes audiências foi descaracterizado, já que se tornou

89
possível a qualquer pessoa produzir uma “notícia” e “postar na internet”, para que milhares
de pessoas possam visualizar e compartilhar. Os 15 minutos de fama preconizados por
Andy Warhol se tornaram realmente possíveis nos nossos tempos.

As tecnologias de comunicação de massa mudaram a forma como pensamos


sobre comunicação em geral, considerando o diálogo, a divulgação e a combinação de
ideias entre duas ou mais pessoas. Do ponto de vista dos processos psicológicos, uma
maneira de se aproximar da comunicação de massa é com uma combinação de face a
face e interações interpessoais mediadas.

Hoje, os meios de comunicação vivem um senso de responsabilidade


social, norteados por uma ética que orienta praticamente todas as suas ações, seja
na mídia ou em outras organizações, exercendo importância comum para com o
ambiente, a sociedade, a cultura e a economia. Os meios de comunicação mostram
uma preocupação muito grande em promover discussões em relação aos aspectos
ambientais, socioculturais e, até mesmo, à economia, à política e aos movimentos
sociais, que, por causa da globalização e da informatização, buscam a diversificação em
suas atuações, como na política, na economia etc.

A(O) PSICÓLOGA(O), A MÍDIA E A ÉTICA PROFISSIONAL: SÉRIE CRP SP ORIENTA

Um processo de comunicação consiste na correta transmissão de informação e


as(os) psicólogas(os), progressivamente, têm sido demandadas(os) por meios de
comunicação para se manifestarem sobre diferentes assuntos. São inúmeros os
modos de inserção da Psicologia nesse campo: entrevistas em programas de TV e
rádio, jornais, revistas, internet.

Essa participação da categoria é fundamental e torna a Psicologia um instrumento


importante nas discussões e intervenções de ordem social, fortalecendo e ampliando
o significado da profissão, zelando pela construção da Psicologia enquanto ciência e
profissão comprometida com a garantia dos direitos humanos.

O Conselho Regional de Psicologia entende que, independentemente do veículo


de comunicação em que a(o) profissional apareça publicamente, é fundamental
que sejam seguidas as orientações contidas no Código de Ética Profissional do
Psicólogo, Artigo 19, de modo que a(o) psicóloga(o) não poderá realizar atendimentos,
intervenções, análise de casos ou outra forma de prática que exponha pessoas e/ou
grupos, podendo caracterizar quebra de sigilo.

Muitas vezes, profissionais são chamadas(os) a se posicionarem sobre pessoas


envolvidas em casos de repercussão nacional a partir de informações de terceiras(os),
o que demanda observância não apenas técnica, mas ética.

90
Embora tais participações apontem para reflexões sobre temas gerais, entendemos
que somente a partir de um trabalho de atendimento e/ou acompanhamento
minimamente sistemáticos, pode-se apontar hipóteses diagnósticas tecnicamente
balizadas, e que tal trabalho se dá em um processo em que interagem ambos,
analisador(a) e analisada(o).

Como essas manifestações se articulam com o Código de Ética Profissional? Quais


os cuidados que a(o) psicóloga(o) deve ter diante de demandas como essas?

Cabe lembrar que as afirmações pronunciadas pela(o) psicóloga(o) devem sempre


possuir a consistência teórica fundamental de que necessitam para ser eticamente
comprometidas e tecnicamente válidas, observando a necessidade de resguardo do
sigilo profissional.

O(a) psicólogo(a) deve atentar para o uso do conhecimento da Psicologia em favor do


bem-estar da população, e não da exposição de pessoas, grupos ou organizações
nesses meios de comunicação. Deverá zelar também para que as informações
oferecidas tomem por base apenas conhecimentos a respeito das atribuições, da
base científica e do papel social da profissão, contribuindo para o esclarecimento do
trabalho que o(a) psicólogo(a) realiza ou em relação às teorias, técnicas, conceitos e
ideias reconhecidas pela Psicologia e que sejam objeto da divulgação.

Cabe ainda ao(à) psicólogo(a) ser crítico(a) quanto aos convites de participação
recebidos, devendo tomar cuidado não somente com sua fala, mas também atentar
ao que essa mídia está falando. Salientamos que alguns programas podem se valer
da presença do(a) profissional da Psicologia para corroborar ideias e posicionamentos
destoantes daqueles defendidos e preconizados pela ética profissional.

No caso de dúvidas, consulte o setor de Orientação da subsede do CRP de sua região.

FONTE: Adaptado de CRP/SP. A(o) psicóloga(o), a mídia e a ética profissional: série CRP SP
orienta. São Paulo: CRP/SP, 2015. Disponível em: https://bit.ly/3u4jDMa.

Como a mídia social afetará a interação em nossa sociedade? Desde o advento


e a popularização das mídias sociais na última década, ainda não há pesquisas nem
provas para apoiar as alegações de que a mídia social, de fato, prejudique a capacidade
de as pessoas interagirem com competência em um ambiente sem utilização de alguma
mídia; ao mesmo tempo, temos pessoas com relacionamentos muito fortes no mundo
real utilizando as mídias sociais como um local adicional para interagir com aquelas que
fazem parte do seu convívio. São pessoas extrovertidas, que querem usar a mídia social
como uma saída extra para interagir com amigos escola, do trabalho e também familiares.

91
Como a mídia social afetará a interação em nossa sociedade? Já não é de hoje que
o face a face nas interações pessoais diminuiu por causa dessas novas tecnologias sociais.
Várias teorias em psicologia social tentam compreender o papel da
mídia na sociedade. Todas, de um modo ou de outro, tentam iluminar
essa problemática. Algumas teorias, contudo, não dão conta de explicar
determinados mecanismos e obscurecem a compreensão global da
realidade. Elas explicam algo, mas ficam no meio do caminho. Assim,
por exemplo, o que está por detrás do comportamentalismo, cognitivo e
psicanálise é uma visão cartesiana: a dicotomia entre o mundo externo
e interno. Cada abordagem tem sua maneira específica de explicar
e lidar com essa dicotomia. Tanto os comportamentalistas quanto os
cognitivistas partem da concepção de que existem seres humanos que
podem saber o que é melhor para a humanidade e, portanto, são dignos
de controlar e construir desejos nas pessoas (ROSO, 1998, p. 134).

Essa realidade, relacionada a essa responsabilidade social dos meios de


comunicação, é relativamente um novo conceito, iniciado em meados do século XX e
usado, sobretudo, por países menos desenvolvidos e em desenvolvimento.

A teoria da responsabilidade social dos meios de comunicação mudou a


maneira de a imprensa publicar notícias a partir de informações objetivas obtidas na
interpretação do que é produzido. Antes dessa teoria, os fatos eram apresentados sem
nenhuma interpretação. O receptor fazia suas próprias interpretações, a sua maneira.
Essa situação evoluiu porque havia o problema de a interpretação não ser baseada na
realidade. Nesse contexto, surgiu uma nova dinâmica de comunicação interpretativa, e
o jornalismo investigativo entra em ação quando passa a buscar, através de uma séria
investigação, a realidade por trás de cada caso.

DICA
Um filme que retrata bem a realidade do jornalismo investigativo é Spotlight, que relata
a situação difícil de um grupo de jornalistas que apresenta um número enorme de
documentações que provam o abuso de crianças por padres na cidade de Boston. A
história, baseada em fatos, é pesada, mas mostra a importância da investigação na busca e
na apresentação da comunicação da verdade.

FIGURA – FILME SPOTLIGHT

FONTE: <https://bit.ly/3AnNOCf>. Acesso em: 10 jun. 2022.

92
É muito difícil um mesmo meio de comunicação de massa ter unanimidade
com o seu público receptor, pois há muita seletividade, e a reação ocorre de diferentes
formas, a partir de sua própria experiência e da orientação de acordo com a mídia de
massa. Algumas dessas mídias são: revistas, televisão, jornais e internet.

Devido às infinitas variedades de meios de comunicação, grandes limitações


parecem ter um impacto impressionante na dinâmica de comunicação, sendo a maior
delas a competição. Embora possa soar estranho, pois é a competição que os mantêm
criativos, atentos e na incessante busca de renovação, como vimos, a reação do receptor
nem sempre é previsível.

FIGURA 5 – MANIPULANDO A INFORMAÇÃO

FONTE: <https://revistaideele.com/ideele/sites/default/files/lamula_1.jpg>. Acesso em: 10 jun. 2022.

Cada meio de comunicação de massa quer ser o único a atingir o público, o que
aumenta a concorrência. Como exemplo, temos a transmissão dos jogos de futebol.
Há empresas que compram o horário de transmissão porque, a partir de pesquisas de
mercado, identificam o público receptor daquele programa e querem vender seu produto
para esse público. É praticamente uma via de mão dupla: os meios de comunicação
precisam das empresas e as empresas precisam dos meios de comunicação, e ambos
miram no público receptor. É a opção de escolha.

Já virou senso comum que, na atualidade, cada vez mais esportes, equipes,
organizações não governamentais lançam programas de mídia social, participando e
interagindo nas redes e nas mídias sociais. Por que está acontecendo isso e qual a sua
importância?

93
• Primeiro: os admiradores do esporte, do esportista, mudaram os seus hábitos e estão
migrando para mídias e plataformas sociais, sem deixar a TV e a mídia impressa.
• Segundo: criaram-se possibilidades de maior interação entre fã/admirador com o
esportista, com o time.
• Terceiro: a valorização do esportista caminha com sua “entrada” nas mídias sociais:
quantos seguidores, quantos twits, quantas curtidas, quantos compartilhamentos etc.
• Quarto: as mídias sociais servem para reforçar uma marca.
• As mídias sociais, de alguma forma, motivam a participação em alguma instituição,
como forma de ajudar outras pessoas.

Parece óbvio, mas somente a criação de uma página com fãs no Facebook
ou conta no Twitter, sem a compreensão das regras de engajamento social, não
garante os itens elencados anteriormente. Pode acontecer o inverso: pode resultar em
oportunidades perdidas ou provocar um isolamento no mundo digital, diminuindo as
relações no mundo real.

FIGURA 6 – MUNDO REAL?

FONTE: <https://bit.ly/3xXqTL1>. Acesso em: 10 jun. 2022.

Já está ultrapassada a discussão sobre qual veículo era mais importante no


mundo das comunicações: se a mídia social ou se o espaço do anúncio de televisão
no horário nobre. Todos os meios são importantes, porque atingem um determinado
público ou pela importância, por exemplo, de algo veiculado na TV, independentemente
da audiência, sendo transportado voluntariamente para redes de mídia social, que têm
a capacidade de envolver os fãs para além do dia do jogo, do evento, da entrevista, ou
seja, em tempo real.

Assim, como afirma Pavarino (2003), a importância e a influência dos meios de


comunicação de massa nas sociedades são inegáveis e o processo de identificação e
avaliação desses efeitos depende de algumas variáveis:

94
• da tecnologia utilizada como difusora das informações: TV, rádio e imprensa são
compreendidos de maneira distinta uns dos outros. A televisão, por exemplo, possui
conteúdo fragmentado e maior visibilidade;
• do acesso: há regiões no Brasil onde o rádio é o meio mais acessível;
• das diferenças culturais, sociais e econômicas que influenciam na escolha e no
acesso aos meios: os jornais são mais lidos pelas classes A e B;
• do papel que cada meio possui na sociedade em que atua: jornais, por exemplo, são
mais relevantes para a opinião pública em alguns países da Europa do que no Brasil.

Com o avanço e acessibilidade da tecnologia, cada vez mais se torna possível


o uso quantitativo do que essas possibilidades oferecem e, por consequência, a forma
como a sociedade migra para essas novas mídias, como o tablet, o computador de
mesa, o notebook, a televisão a cabo etc., com destaque para a evolução do celular,
que, de simples telefone utilizado para chamadas, hoje há uma infinidade de opções.

Mesmo com todas essas possibilidades, a mídia impressa ainda é o tipo mais
influente na formação de opinião. Vivemos momentos de grandes incorporações,
fusões, de encerramento de edições, tanto de revistas quanto de jornais impressos. Por
que essa reestruturação ocorre?

Em um mundo de economia globalizada, de concorrência acirrada, é comum


verificar nas organizações, especialmente as privadas, a tendência em buscar estratégias
que propiciem seu crescimento, por meio de reestruturações que lhes garantam maior
competitividade, como estratégias de crescimento interno, integração horizontal ou
vertical, fusões e incorporações.

Por exemplo, como deve se sentir um atleta profissional quando é cercado


por vários repórteres do mundo todo, apontando câmeras que transmitirão imagens
para celular, tablet, TV e que, logo, estarão estampadas nos principais jornais? Em uma
linguagem popular, isso parece muito insano, mas é o que acontece hoje.

DICA
Acadêmico, se você não for nenhum “famoso” jogador de futebol, você é consumidor disso
tudo, de uma forma ou de outra. Nessa perspectiva, somos apenas espectadores e a intenção,
ou a motivação, não deveria ser essa.

Um filme que mostra essa situação de um mero espectador que demora a reagir, seja em
frente à TV ou atuando nela, é O Show de Truman, que, de forma muito interessante, mostra
um personagem criado em um mundo que simula a realidade. No filme, milhões de pessoas
assistem a Truman desde o seu nascimento até o momento em que ele passa a desconfiar
que algo está errado em sua vida e começa, então, uma busca pela verdade.

95
FIGURA – FILME O SHOW DE TRUMAN

FONTE: <https://bit.ly/39SXGsy>. Acesso em: 10 jun. 2022.

NOTA
O filme O Show de Truman é muito bacana, pois mostra o que acontece
hoje no mundo do esporte: a falta de autocrítica, o narcisismo exacerbado
e a falta de escrúpulos que transborda por toda a sociedade. Para sairmos
dessa situação, é preciso cultivar, em primeiro lugar, a autocrítica.

Qualquer que seja a origem da expressão autocrítica, não se pode negar o


fato de ela ser mundialmente empregada para designar uma atitude cada vez mais
necessária na sociedade contemporânea. Muito dificilmente poderá alguém progredir
se não for capaz de reconhecer as próprias deficiências, os próprios defeitos. Portanto,
a autocrítica precisa ser encarada como uma das finalidades da educação e um
hábito indispensável aos bons esportistas, devendo se tornar uma atitude habitual tão
arraigada quanto possível, o que não quer dizer que a pessoa descambe no sentido
de excessivo pessimismo. É preciso que cada qual conheça os próprios méritos e as
próprias possibilidades, mas não se esqueça da eventualidade de diminuição de suas
capacidades, assim como das falhas existentes no comportamento de qualquer um.

Há muitas maneiras de se influenciar o comportamento dos outros. Em geral,


não esperamos que as pessoas se comportem de modo aleatório, mas que saibam
identificar o comportamento de determinadas maneiras em situações particulares.
Cada situação ou evento social implica o seu próprio conjunto de expectativas sobre
a maneira “correta” ou a maneira mais conveniente de se comportar. Tais expectativas
podem variar de grupo para grupo.

96
Uma forma de essas expectativas se tornarem aparentes é quando olhamos
para os papéis que as pessoas desempenham na sociedade. Os papéis sociais são a
parte em que as pessoas agem como membros de um grupo social.

Ao observarmos algumas décadas atrás, as únicas formas de ligação entre as


pessoas se resumiam ao face a face. Atualmente, temos as redes sociais e uma lista
crescente de outras plataformas que permitem expressar opiniões individuais para
qualquer pessoa, para qualquer assunto, de qualquer lugar do mundo, instantânea e
simultaneamente.

Muitas coisas interessantes acontecem no mundo da tecnologia. Os psicólogos


são influenciados pelos avanços tecnológicos de muitas maneiras, porém, os impactos da
tecnologia sobre a Psicologia podem ser tanto benéficos quanto prejudiciais. Conforme
a tecnologia se desenvolve, médicos, conselheiros, pesquisadores e especialistas em
recursos humanos devem estar preparados para lidar com boas e más ações criadas
pela tecnologia.

Todas essas mídias sociais devem assumir sua responsabilidade no


desenvolvimento dos indivíduos, permitindo a cada pessoa o direito de falar, de se
expressar e de publicar. Parece utopia, porque não vemos isso na atualidade. Quando
temos normas de concessão dos meios de comunicação para determinados grupos,
percebemos que falta muito para que esses meios sejam o lugar de expressão das
pessoas e da própria sociedade.

NOTA
Acadêmico, do seu ponto de vista, sabendo que a função que transparece
das mídias é a de informar, documentar, analisar, interpretar, mediar e
mobilizar, criando e encontrando soluções, os meios de comunicação são
um instrumento para o desenvolvimento social?

97
LEITURA
COMPLEMENTAR
A INFLUÊNCIA DAS REDES SOCIAIS SOB A CONSTRUÇÃO DASUBJETIVIDADE
HUMANA

Renata Monteiro Silva


Eldessandra Santos da Costa
Maria Rosa de Oliveira

1 INTRODUÇÃO

Anexada ao cotidiano das pessoas, as redes sociais se tornam um meio de


socialização indispensáveis nos tempos atuais. Representada por diversas formas
e sistemas, as redes sociais possibilitam a expressão de opiniões, ideias, manifestos,
sentimentos, preferências, expressões pessoais, imagens, vídeos entre outros. Sem a
limitação de caracteres e a extinção dos espaços geográficos, as redes sociais tornam-
se um verdadeiro palco para relatos da vida privada, dessa forma, a subjetividade passou
a ser vista nitidamente nas postagens, comentários e compartilhamentos.

Conforme o dicionário on-line, subjetividade é o “caráter do que é subjetivo;


adj. Que diz respeito ao sujeito. Que se passa no íntimo do sujeito pensante (por opôs.
a objetivo, que diz respeito ao objeto pensado). Que varia de acordo com o julgamento,
os sentimentos, os hábitos etc. de cada um; individual”. Nesses termos, a subjetividade
engloba todas as particularidades inerentes à condição de ser do sujeito, envolvendo as
capacidades sensoriais, afetivas, imaginárias e racionais de um determinado indivíduo,
em todas as suas expressões.

Em consideração à repercussão que se tem observado mediante ao conceito de


subjetividade e em contrapartida à extensão e importância que as redes sociais possuem
atualmente, torna-se essencial discutir esse entrelaçamento entre dois conceitos:
problematizando as influências das redes sociais diante da subjetividade humana.

Este trabalho discute fatores que auxiliam na construção da subjetividade


dentro das redes sociais. Tal questionamento, da subjetividade acerca das redes sociais,
oferece diante da possibilidade da construção de múltiplas identidades dentro desse
novo cenário dos meios de comunicação.

98
Dessa forma, este trabalho apresentou como objetivo geral descrever sob a
importância das redes sociais e os fatores que auxiliam na subjetividade, bem como
a contribuição da Psicologia nesse contexto, evidenciando o objetivo específico em
identificar o conceito de subjetividade, a relação com a Psicologia e explanar sobre essa
necessidade de produção, dentro das limitações dos conceitos de redes sociais.

O interesse pela temática decorre em prol do crescimento das redes envolvendo


a subjetividade e, principalmente, pela própria experiência e observação durante o uso
das redes sociais.

Para discutir tal relação, foi realizada a revisão de pesquisa bibliográfica nas
bases de dados BVS-PSI e SciELO, com a finalidade de analisar textos relacionados a
essa temática em artigos científicos no período de 2013 a 2019.

1.1. O CONCEITO DA SUBJETIVIDADE

No final da década de 1980, a subjetividade passou a ser considerada um problema


social, histórico e política. A decadência do conceito de identidade, nesse mesmo século,
exalta a busca pelas diferenças; entretanto, a subjetividade passa a ser vista como uma
alternativa a problematização da identidade entrelaçada por Kant, que surge em meios as
preocupações quanto à produção de conhecimento (FILHO; MARTINS, 2007).

Em contrapartida, a reflexão cartesiana destaca que:

O espírito pensa e sente (por estar ligado ao corpo) na medida que


tem um “EU” racionalmente consciente de si mesmo. Sentir é, no
limite, pensar. Entronizada a razão deve sempre transparecer na
representação e no sujeito. Esse último termo deve ser entendido
como um “suporte” ou um “sustentáculo”, isto é, uma identidade
capaz de sustentar ou servir de fundamento para a mudança: ainda
que mudem as qualidades acidentais, o sujeito permanece idêntico
a si mesmo (SODRE, 2006, p. 33 apud CAMPANHOLE; MOURA, 2013).

Santtaela (2010) descreve que a subjetividade é originada “por componentes


semióticos irredutíveis a uma tradução em termos de significantes estruturas e
sistêmicos”. Na visão do autor, a subjetividade é o que inventa e modifica os modos de
perceber e sentir do sujeito.

Para o autor, a subjetividade se apoia na complexa opologia da dobra, permitindo-


nos seguir labirintos, percorrer diversas camadas, entretecendo junto coisas diferentes,
estabelecendo o continuum através de transições insensíveis, numa transversalidade
entre planos (SANTTAELA, 2010).

Pesquisadores passaram a compreender que, a subjetividade é “produzida


pelas redes e campos de forças sociais” e que “as maquinas infocomunicacionais
estariam propiciando profundas transformações nos dispositivos de produção das
subjetividades” (SANTTAELA, 2010).
99
Jacques (2016) esclarece que a subjetividade é entendida como o espaço íntimo
do indivíduo, ou seja, como ele “instala” a sua opinião ao que é dito (mundo interno)
com o qual ele se relaciona com o mundo social (mundo externo), resultando tanto em
marcas singulares na formação do indivíduo quanto na construção de crenças e valores
compartilhados na dimensão cultural que vão constituir a experiência histórica e coletiva
dos grupos e populações. A Psicologia social utiliza frequentemente esse conceito de
subjetividade e seus derivados como formação da subjetividade ou subjetivação.

2 REDES SOCIAIS

As redes sociais são sistemas criados com a finalidade de incrementar os


relacionamentos humanos. Presente no cotidiano das pessoas, a internet se tornou um
espaço de socialização entre elas. A expansão tecnológica trouxe consigo a ampliação
das “possibilidades de viver”, transformando-a num estilo de vida focada cada vez mais
nos eventos do cotidiano (DALMASO, 2015).

Para Santtaela (2010), o principal aspecto é o da aplicação direta para a


construção de identidade e intersubjetividades mediadas por sistemas computacionais.
Assim, pode-se compreender, nesse meio de comunicação, o surgimento da produção
da subjetividade e de seu poder que nelas surgem.

Os sites das redes sociais se aperfeiçoaram por intensificar as “manifestações


de autoexpressão”, caracterizadas como um diário. Nessa perspectiva, a mesma autora
enfatiza que a “subjetividade passa a ser marca identificatória dos blogs”, visto que
através dos textos, nesse caso, o sujeito poderá se fazer reconhecer.

Os autores constataram que existe uma “necessidade” de os usuários serem


“ouvidos, manifestando opiniões e gostos, como também por manter ou estabelecer
novas amizades”. Ressaltam também que esses são aspectos positivos com relação ao
uso das redes sociais em relação a “formação e a identificação com grupos de interesses
em comum” (OLIVEIRA; ARAUJO; FIGUEIREDO, 2017).

Para Silibia (2008) explica que “as novas formas de expressão e comunicação que
conformam a Web 2.0 são também ferramentas para a criação de si. Esses instrumentos
de auto estilização agora se encontram à disposição de qualquer um”.

Aguiar e Marques (2011) afirmam que o ciberespaço, além de permitir troca


de informações, possibilita “sentimento de pertencimento”. Dessa forma, o ato de se
estar on-line faz com que o usuário se sinta inserido em uma comunidade, menos
controlada, mas detentora de regras e normas, como se tivesse fisicamente presente
em determinada comunidade.

100
Atualmente, em especial neste século, os autores destacam que a tecnologia
possibilitou ao homem novas formas de relacionamento com o meio social, proporcionando
um novo modelo de se utilizar o tempo e o espaço (OLIVEIRA; ARAUJO; FIGUEIREDO, 2017).

Colvara (2007) saliente que a evolução tecnológica não apenas sofisticou os


meios de comunicação, mas também fez surgir uma nova cultura, tal essa dominada
pela tecnologia.

Entretanto, Lídia Silva (2001) esclarece que:

A internet é simultaneamente o real e o virtual (representacional),


informação e contexto de interação, espaço (site) e tempo, mas
que altera as próprias coordenadas espaço-temporais a que
estamos habituados, em que são construções social partilhadas.
Esta construção é estruturada pelos laços e valores sociopolítico,
estéticos que tipificam esse novo espaço antropológico.

As redes sociais, em especial, têm gerado certa “incapacidade de regeneração


subjetiva”, tendo em vista que tal meio de relacionamento reflete diretamente na
construção da subjetividade. Destaca-se que a tecnologia foi responsável por transformar
e marcar o mundo como um local desestabilizado, em termos de relacionamento, “projeto
e da própria ciência”. No entanto, é refletido de maneira acentuada e pontual, em que se
vê a grande quantidade de ídolos teen que surge indiscriminadamente, propondo, por
seus comportamentos, um perfil subjetivo ideal (OLIVEIRA; ARAUJO; FIGUEIREDO, 2017).

De acordo com Oliveira, Araújo e Figueiredo (2017), o intuito desses novos meios
de comunicação é possibilitar a troca de informações entre os membros agregados a
mesma rede social, “embasados no compartilhamento e convergências da pluralidade
dos conhecimentos dos sujeitos”. Entretanto, observa-se certo grau de vulnerabilidade
com relação às más interpretações que os usuários estão expostos.

Para Lévy (2007), “o virtual é precisamente o modo de existência de que surgem


tanto a verdade como a mentira”. Embora tais tecnologias revelem-se indispensáveis
nos dias atuais, o autor critica o impacto da tecnologia sob a sociedade, apresentando
nas distintas formas, sendo:

De isolamento e de sobrecarga cognitiva (estresse pela comunicação


e pelo trabalho diante da tela), de dependência (vício na navegação
ou em jogos em mundos virtuais), (...) e mesmo de bobagem coletiva
(rumores, conformismo em rede ou em comunidades virtuais,
acúmulos de dados sem qualquer informação, “televisão interativa”.

De acordo com Colvara (2007), essa nova cultura (dominada pela tecnologia) fez
surgir também “o prazer de aparentar ser alguém, de pôr em práticas suas idealizações”.
A autora afirma ainda que a “tecnologia é um componente que exige racionalidade para
o seu uso, mas também uma grande porção de criação por parte de seus idealizadores”.

101
3 INFLUÊNCIAS DAS REDES SOCIAIS NA SUBJETIVIDADE HUMANA

A comunicação no meio digital estabelece uma relação entre o eu e o outro,


“rodeadas de ambiguidades, geradas, por exemplo, pelo potencial para o anonimato, para
a construção de múltiplas identidades nos espaços plurais que a internet propicia”. A partir
desse consenso, tem-se a ideia de que subjetividade são produzidas (SANTAELLA, 2007).

Félix Guattari (apud MANSANO, 2009) também esclarece esse mesmo consenso
de que a subjetividade é essencialmente fabricada e modelada no meio social, tendo
como matéria-prima os sentidos, valores e ideais. Percebe-se, assim, que as redes sociais
servem como novos modos de relacionamento, consequentemente servindo de “molde”
da subjetividade de seus usuários. Seguindo essa linha de raciocínio, poderíamos afirmar
que as redes sociais se colocam como “construtor” das imagens de seus respectivos
usuários, na medida em que estes expõem suas emoções e sentimentos, sejam elas
expostas verbalmente ou não.

Dalmaso (2013) esclarece que, nas redes sociais, os emoticons são utilizados a fim
de demonstrar simpatia e que letras maiúsculas podem servir para inserir algum tipo de
sentimento à postagem, além da linguagem informal que soa como um ar de conversação.
A autora ressalta ainda que é através dessa relação “do que somos” que construímos
nossas autoidentidades, reinventadas do verdadeiro “eu” e que “os outros” influenciam e
constituem essa definição através de compartilhamentos de ideias e pensamentos.

Desse modo, as relações estabelecidas nas redes sociais não apenas expõem
como também interferem na construção da identidade individual (do “eu”). A autora
esclarece que a construção do nosso eu não está sob nosso total controle, pelo fato de
nossas interações on-line interferirem na construção desta. Portanto, ressalta-se que a
construção de identidades multifacetadas é reflexo de interações entre o eu e o outro,
seja on-line ou não (DALMASO, 2013).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho objetivou explanar sobre essa necessidade de produção, dentro


das limitações, os conceitos de redes sociais e subjetividade, ressaltando a influência
entre tais conceitos. A ideia para discutir o assunto nasceu da própria experiência e
observação durante o uso das redes sociais. Assim, tal experiência proporcionou
questionamentos que levam as pessoas a quererem tanto ser reconhecidas.

Em concordância, Sibilia (2008) afirma que as pessoas desejam que suas


subjetividades sejam admiradas pelos demais, e é exatamente o que tem exaltado suas
qualidades, demonstrando-as com o intuito de se parecer alguém interessante, digno
de valorização, além da necessidade.

102
Do ponto de vista social, considera-se que a subjetividade está relacionada às
ideias que só se tornam subjetivas quando há compartilhamento de opiniões, ou seja,
um meio de socialização. O fato é que a identidade da pessoa se modifica de acordo
com o convívio no meio social e, consequentemente, as redes sociais mostram o que é
agradável ou não à sociedade. Contudo, caberá a outras pessoas concordarem ou não,
isto é, há solidificação ou não interligando os meios de socialização que acontecem
nas próprias redes. Porquanto, é onde expressam opiniões e também influenciam na
subjetividade de outros indivíduos.

De forma bem preliminar, este artigo proporcionou uma noção de subjetividade e


como ela nos coloca em uma relação com o mundo, no qual o homem é um ser que se
constitui ao longo de sua vida, agindo, interagindo e transformando seu meio social.
De forma bem introdutória, leva a entender que a construção da subjetividade vem
dessa relação com o mundo social e que a relação entre indivíduo e sociedade implica
a consideração da subjetividade e da objetividade na perspectiva da constituição
recíproca de um e de outro.

Certamente, é uma relação muito complexa e precisa ser aprofundada para


melhor entendimento, inclusive das diferentes perspectivas da subjetividade com outras
abordagens psicológicas. Fica claro que se faz necessária uma mudança de postura
em relação à visão reducionista, popularizada pelo senso comum, sobre o objeto de
estudo da psicologia. Nesses termos, é notório que muito se tem a levantar e confrontar,
fazendo necessário um aprofundamento do tema e das práticas de subjetivação de
Michel Foucault, que, na verdade, não foi citado diretamente no trabalho, mas influenciou
o despertar do tema e o seu desenvolvimento.

FONTE: Adaptada de SILVA, R. M.; COSTA, E. S. da; OLIVEIRA, M. R. de. A influência das redes sociais sob a
construção da subjetividade humana. Psicologia.pt, jan. 2020. Disponível em: https://www.psicologia.pt/
artigos/textos/A1365.pdf. Acesso em: 10 jun. 2022.

103
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O desenvolvimento de novas tecnologias disparou nos últimos anos e tem


desempenhado um papel significativo no avanço do campo da Psicologia – e a
própria Psicologia tem utilizado uma série de tecnologias no seu campo de atuação.

• As redes sociais são um exemplo fantástico de multiplicação de relacionamentos,


trocas de informação, de solidariedade e também de engajamento em questões
coletivas.

• A solidariedade, a comunicação e a coletivização são aspectos inerentes às formas


de organização social, na família, na igreja, nas empresas, nas associações e nas
“tribos”.

• As tecnologias de comunicação de massa mudaram a forma como pensamos sobre


comunicação em geral, considerando o diálogo, a divulgação e a combinação de
ideias entre duas ou mais pessoas. Do ponto de vista dos processos psicológicos,
uma maneira de se aproximar de comunicação de massa é utilizar uma combinação
de face a face e interações interpessoais mediadas.

• Hoje, os meios de comunicação vivem um senso de responsabilidade social,


norteados por uma ética que orienta praticamente todas as suas ações, seja na mídia
ou em outras organizações, exercendo importância comum para com o ambiente, a
sociedade, a cultura e a economia.

• Cada meio de comunicação de massa quer ser o único a atingir o público, aumentando
a concorrência.

• Com o avanço e a acessibilidade da tecnologia na atualidade, cada vez mais se torna


possível o uso quantitativo do que essas possibilidades oferecem e, por consequência,
a forma como a sociedade migra para essas novas mídias.

104
AUTOATIVIDADE
1 (ENADE, 2015) Hoje, o conceito de inclusão digital está intimamente ligado ao da
inclusão social. Nesse sentido, o computador é uma ferramenta de construção e
aprimoramento de conhecimento que permite acesso à educação e ao trabalho,
desenvolvimento pessoal e melhor qualidade de vida.
Diante do cenário high tech (de alta tecnologia), a inclusão digital faz-se necessária
para todos. As situações rotineiras geradas pelo avanço tecnológico produzem
fascínio, admiração, euforia e curiosidade em alguns, mas, em outros, provocam
sentimento de impotência, ansiedade, medo e insegurança. Algumas pessoas ainda
olham para a tecnologia como um mundo complicado e desconhecido. No entanto,
conhecer as características da tecnologia e sua linguagem digital é importante para
a inclusão na sociedade globalizada.

FONTE: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2015/09_psicologia.pdf>. Acesso em:


21 jun. 2022.

Nesse contexto, políticas públicas de inclusão digital devem ser norteadas por objetivos
que incluam:

I- A inserção no mercado de trabalho e a geração de renda.


II- O domínio de ferramentas de robótica e de automação.
III- A melhoria e a facilitação de tarefas cotidianas das pessoas.
IV- A difusão do conhecimento tecnológico.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) As sentenças I e IV estão corretas.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas.

105
2 (ENADE, 2015)

FONTE: <https://bit.ly/39XzVzK>. Acesso em: 21 jun. 2022.

O termo ciberespaço especifica não apenas a infraestrutura material da comunicação


digital, mas também o universo oceânico de informação que ela abriga, assim
como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. O neologismo
“cibercultura” especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais) de
práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem
juntamente com o crescimento do ciberespaço.

FONTE: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2015/06_cs_publicidade_propaganda.
pdf>. Acesso em: 21 jun. 2022.

Considerando a charge e o texto apresentados, avalie as asserções a seguir e a relação


proposta entre elas:

I- A charge expõe um aspecto da cibercultura e compartilha com o texto a visão


otimista em relação ao desenvolvimento das tecnologias da comunicação.

PORQUE

II- O crescimento do ciberespaço possibilita a virtualização, que implica uma realidade


desterritorializada e altera os comportamentos pessoais, o que está de acordo com
os pressupostos de Levy.

106
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I.
b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa
correta da I.
c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.

3 (ENADE, 2012) A realidade dos movimentos sociais é bastante dinâmica e, nem


sempre, as teorizações têm acompanhado esse dinamismo. Com a globalização e a
informatização da sociedade, os movimentos sociais, em muitos países, inclusive no
Brasil e em outros países da América Latina, tenderam a se diversificar e complexificar.
Por isso, muitas explicações paradigmáticas ou hegemônicas nos estudos da segunda
metade do século XX necessitam de revisões ou atualizações ante a emergência de
novos sujeitos sociais ou cenários políticos.

FONTE: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2012/08_PSICOLOGIA.pdf>. Acesso


em: 21 jun. 2022.

Sobre o exposto, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas:

I- A Psicologia precisa dedicar-se a compreender os novos sujeitos sociais em seus


cenários políticos, a diversidade identitária, as diferentes demandas por direitos e
formas de ativismo, para construir um arcabouço teórico, capaz de dar respostas às
demandas de fortalecimento de indivíduos e das redes sociais.

PORQUE

II- A sociedade civil, embora configure um campo composto por forças sociais
heterogêneas, está relacionada à esfera da defesa da cidadania e suas respectivas
formas de organização em torno de interesses públicos e de valores, não sendo
isenta de relações e conflitos de poder, de disputas por hegemonia e representações
sociais e políticas diversas e antagônicas.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I.
b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I.
c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.

4 O computador é uma ferramenta de construção e aprimoramento do conhecimento,


que permite o acesso à educação e ao trabalho, o desenvolvimento pessoal e uma
melhor qualidade de vida. Hoje, esse recurso é responsável pelas maiores ferramentas
de comunicação em massa. Explique o que é comunicação em massa.

107
5 Assim como afirma Pavarino (2003), a importância e a influência dos meios de
comunicação de massa nas sociedades são inegáveis e o processo de identificação
e avaliação desses efeitos depende de algumas variáveis. Descreva quais são as
variáveis segundo Pavarino (2003).

FONTE: PAVARINO, R. N. Meios de Comunicação. Brasília: UnB, 2003.

108
REFERÊNCIAS
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Almeida. Edição rev. e atualizada no Brasil. Brasília: Sociedade Bíblia do Brasil, 1969.

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CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SÃO PAULO – CRP/SP. A(o) psicóloga(o), a


mídia e a ética profissional: série CRP SP orienta. 2015. Disponível em: https://crpsp.
org/uploads/impresso/1654/sChOyyWVxMcRtkidfA6Nnp4XhbMnxJp-.pdf. Acesso em:
10 jun. 2022.

CRP/SP. Uso de redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas:


série CRP orienta. Agosto, 2021. Disponível em: https://www.crpsp.org/uploads/
impresso/165936/ROiIk7k-bI_YDn9ZrNBOy_XZ_pDua7W5.pdf. Acesso em: 10 jun.
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DAVIS, F. A comunicação não verbal. São Paulo: Summus, 1979.

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FERREIRA, J. R. et al. Inclusão Digital. In: BRASIL. O futuro da indústria de software:


a perspectiva do Brasil. Brasília: Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior, 2004. Disponível em: https://livroaberto.ibict.br/bitstream/1/895/1/O%20
futuro_industria_software_perspectiva_Brasil.pdf. Acesso em: 21 jun. 2022.

109
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da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. 5. ed. Petrópolis:
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A. J. M.; CAPRARA, A.; COELHO FILHO, J. M. (org.). Habilidades de comunicação com
pacientes e famílias. São Paulo: Sarvier, 2007. p. 47-66.

110
UNIDADE 3 —

DISPOSITIVOS VIRTUAIS
DE INTERVENÇÃO
PSICOLÓGICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer a legislação do Conselho Federal de Psicologia acerca do atendimento


on-line;

• identificar os serviços psicológicos regulamentados no formato on-line;

• ilustrar as modalidades de intervenção psicológica on-line;

• entender os aspectos relacionados com o atendimento no ambiente digital;

• compreender como a psicoterapia on-line se reinventou durante a pandemia da


Covid-19.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – LEGISLAÇÃO

TÓPICO 2 – CARACTERÍSTICAS DA INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA ON-LINE E


ASPECTOS ÉTICOS

TÓPICO 3 – AMPLIANDO DISCUSSÕES SOBRE AS INTERVENÇÕES ON-LINE

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

111
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!

Acesse o
QR Code abaixo:

112
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
LEGISLAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
A atuação de psicólogos brasileiros é regida e orientada por leis, normas, notas
técnicas e resoluções. O Código de Ética Profissional do Psicólogo (CFP, 2005a) é um
instrumento que visa a orientar o exercício da Psicologia, por meio da autorreflexão e
da responsabilização das ações dos psicólogos no decorrer da sua atuação profissional.
Dessa forma, busca-se servir à sociedade ao garantir à população a qualidade do
serviço ofertado, direcionando os profissionais para o compromisso social da Psicologia
pautada em uma atuação ética, fortalecendo a categoria como um todo e reforçando a
Psicologia enquanto ciência e profissão (AMENDOLA, 2014).

ATENÇÃO
Além de orientar e regulamentar o exercício profissional dos psicólogos, o
Código de Ética também protege a população pela garantia de um serviço
de excelência para todos.

O Código de Ética (CFP, 2005a) é um instrumento norteador, mas não possui


um caráter estático. No Brasil, tanto esse código como as normas e as resoluções que
guiam a Psicologia estão abertos para atender às novas demandas da sociedade e, por
isso, assim como esta, também adotam certa mutabilidade. Dessa forma, a legislação
é construída em espaços de discussão que considerem a relação entre a Psicologia e a
coletividade (AMENDOLA, 2014).

Como dito, mudanças surgem no contexto social, podendo refletir nos saberes
psicológicos e também no exercício profissional da Psicologia. Apontam-se novas
teorias, áreas e modos de atuação, que precisam ser pautados a partir de princípios
éticos. As demandas sociais surgidas exigem uma prática psicológica afinada com tais
mudanças. Assim, não poderia ser diferente quanto às inovações tecnológicas que
foram desenvolvidas e intensificadas nas últimas décadas. Houve a necessidade de
adequar as intervenções psicológicas às mudanças e inovações surgidas na era digital,
proporcionando, assim, uma nova forma de acesso aos serviços psicológicos. Uma
dessas adaptações surgiu por meio do atendimento e oferta de serviços no ambiente
digital, também denominado como virtual e/ou on-line (AMENDOLA, 2014; FORTIM;
COSENTINO, 2007; SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020).

113
ATENÇÃO
A leitura do Código de Ética Profissional do Psicólogo é obrigatória
para toda a categoria, pois se trata de um instrumento norteador
do exercício profissional, sendo a legislação soberana para todos
os profissionais de Psicologia devidamente inscritos no Conselho
Regional da sua localidade. Além disso, estudantes de Psicologia
devem conhecer e responder ao Código de Ética desde a formação
inicial, durante a graduação.

2 RESOLUÇÕES DO CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA


Em 1995, foi publicada a Resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP)
nº 2, de 20 de fevereiro de 1995 (CFP, 1995), que dispõe sobre a prestação de serviços
psicológicos por telefone, afirmando que tal prática era proibida ao profissional de
Psicologia. Cinco anos depois, em 25 de setembro de 2000, foi publicada a Resolução
CFP nº 3, de 25 de setembro de 2000 (CFP, 2000a), a primeira a tratar da regulamentação
da intervenção psicológica mediada por computador. Ressalta-se que ainda não havia
a possibilidade de uso de celulares e smartphones com acesso à internet, devido à
baixa disponibilidade ou inexistência desses tipos de aparelho naquela época. Todas
as resoluções passaram a ser elaboradas conforme as demandas surgidas (como o
desenvolvimento das tecnologias) e discutidas em comitês e grupos de trabalho sobre
a temática (SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020).

Naquele contexto, o atendimento psicológico mediado por computador ainda


não era difundido. Não havia uma formação específica para os psicólogos acerca dessa
prática. Além disso, os efeitos e os riscos da sua utilização ainda não eram suficientemente
conhecidos nem comprovados cientificamente. A Resolução CFP nº 3/2000 (CFP, 2000a)
autorizava a utilização desse tipo de atendimento no exercício profissional, porém
destacava o seu caráter experimental, autorizando seu uso exclusivamente no contexto
de pesquisas científicas. Já havia um interesse nessa forma de serviço, porém eram
necessários embasamentos científicos para que tal prática fosse regulamentada. Esses
estudos realizados deveriam seguir o Código de Ética do Psicólogo (CFP, 2005a) e as
legislações que tratavam de pesquisas com seres humanos, como as atuais elaboradas
pelo Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2012; 2016).

Para os demais serviços psicológicos, como seleção de pessoas, orientação


psicológica, profissional e consultorias a empresas, havia a possibilidade de
atendimento mediado por computador, desde que esses serviços não tivessem o
caráter psicoterapêutico. A resolução abordava o cuidado com o sigilo das informações
fornecidas nessa modalidade de atendimento, exigindo o credenciamento e a fiscalização
dos profissionais autorizados a realizá-lo. Para isso, foi proposta a criação da Comissão
Nacional de Validação, Acompanhamento e Fiscalização dos Sites, mantida pelos cinco
anos seguintes à publicação dessa resolução (CFP, 2000a).

114
Em 16 de dezembro do mesmo ano, foi publicada a Resolução CFP nº 6/2000
(CFP, 2000b), que instituiu a Comissão Nacional de Credenciamento e Fiscalização dos
Serviços de Psicologia pela Internet. A validação, a fiscalização e o acompanhamento
dos sites de atendimento psicológico era responsabilidade dessa comissão, sendo suas
atribuições:

I- Desenvolver critérios, por meio de rigorosa análise e coleta de


informações qualificadas, para avaliar a qualidade dos serviços
psicológicos oferecidos pela Internet.
II- Acompanhar o credenciamento e fiscalizar os sites de atendimento
psicoterapêutico mediado pelo computador.
III- Acompanhar a certificação dos sites de pesquisa sobre atendi-
mento mediado pelo computador que tenham sido aprovados por
Comitê de Ética em Pesquisa reconhecido pelo Conselho Federal
de Psicologia (CFP, 2000b, p. 2).

A Resolução CFP nº 6/2000 (CFP, 2000b) indicou, ainda, a publicação da


Portaria CFP nº 6/2000 (CFP, 2000c), que nomeou os membros desta Comissão a
partir das indicações feitas pelos Conselhos Regionais. Em 14 de junho de 2003, foi
publicada a Resolução CFP nº 10/2003 (CFP, 2003), que visou a alterações em dois
artigos da Resolução CFP nº 3/2000. O Art. 5º, que tratava da realização do atendimento
psicológico mediado pelo computador, determinava que a certificação eletrônica de
autorização deveria ser exposta visivelmente na divulgação do serviço pelo profissional.
Já no Art. 6º, foi realizada uma mudança na certificação de pesquisas realizadas nesse
ambiente digital, que deveriam ser aprovadas tanto pelo Comitê de Ética em Pesquisa
(CEP) quanto pelo CFP.

A Resolução CFP nº 12, de 18 de agosto de 2005 (CFP, 2005b) teve como objetivo
regulamentar o atendimento psicoterapêutico, assim como outros serviços psicológicos
mediados por computador, e revogou a Resolução CFP nº 3/2000. O primeiro capítulo
da Resolução CFP nº 12/2005 tratava do atendimento psicoterapêutico, modalidade que
continuava sob caráter experimental e as condições oferecidas para tal eram as mesmas
de pesquisas realizadas com seres humanos. O segundo capítulo tratava dos demais
serviços psicológicos (desde que não psicoterapêuticos) e sua realização sob mediação
do computador. Ainda previu a manutenção da Comissão Nacional de Credenciamento
de Sites, que deveria avaliar os sites dos profissionais que realizavam atendimento on-
line e apresentar sugestões para o aprimoramento desse tipo de serviço.

Em 23 de agosto de 2006, foi publicada a Portaria CFP nº 10/2006 (CFP,


2006), cujo objetivo foi nomear membros da Comissão Nacional de Credenciamento
e Fiscalização de Serviços de Psicologia pela Internet. Quase três anos depois, ela foi
revogada pela Portaria nº 1/2009 (CFP, 2009), publicada em 23 de janeiro de 2009. Ela
também nomeou membros para a referida comissão.

A Resolução CFP nº 11, de 21 de junho de 2012 (CFP, 2012), regulamentou os


serviços psicológicos realizados por meios tecnológicos de comunicação a distância,
prevendo esse atendimento psicoterapêutico ainda em caráter experimental. Nessa

115
publicação, foi revogada a Resolução CFP nº 12/2005 (CFP, 2005b). No primeiro capítulo
da CFP nº 11/2012, foram apresentados os serviços psicológicos autorizados por meios
tecnológicos de comunicação a distância:

I- As orientações psicológicas de diferentes tipos, entendendo-se


por orientação o atendimento realizado em até vinte encontros ou
contatos virtuais, síncronos ou assíncronos.
II- Os processos prévios de Seleção de Pessoal.
III- A aplicação de testes devidamente regulamentados por resolu-
ção pertinente.
IV- A supervisão do trabalho de psicólogos, realizada de forma even-
tual ou complementar ao processo de sua formação profissional
presencial.
V- O atendimento eventual de clientes em trânsito e/ou de clientes
que momentaneamente se encontrem impossibilitados de com-
parecer ao atendimento presencial (CFP, 2012, p. 2).

ATENÇÃO
Pode haver discordâncias entre o uso dos termos paciente e/ou
cliente. Entende-se que essa diferença conceitual é de origem
teórica, pois algumas perspectivas psicológicas podem preferir
utilizar um termo em detrimento de outro. No decorrer desta
unidade, os termos são utilizados como sinônimos, para referir
pessoas em situação de atendimento psicológico.

Conforme a Resolução CFP nº 11/2012 (CFP, 2012), para o oferecimento de


tais serviços, o profissional deveria efetuar o cadastro junto ao Conselho Regional de
Psicologia (CRP) ao qual estiver inscrito. Para esse cadastro, seria necessário manter um
site exclusivamente para a oferta do serviço na internet, com as seguintes informações:

I- Especificar o nome e o número do registro da(o) psicóloga(o)


Responsável Técnica(o) pelo atendimento oferecido, bem como
de todos os psicólogos que forem prestar serviço por meio do site;
II- Informar o número máximo de sessões permitidas de acordo com
esta resolução;
III- Manter links na página principal para: o Código de Ética Profissional
da(o) psicóloga(o); esta resolução; o site do Conselho Regional
de Psicologia no qual a(o) psicóloga(o) está inscrita(o); o site do
Conselho Federal de Psicologia no qual consta o cadastro no site
(CFP, 2012, p. 2).

O segundo capítulo trazia orientações quanto ao atendimento psicoterapêutico


em caráter exclusivamente experimental, realizado por meios tecnológicos de
comunicação a distância, considerando sua aplicação somente no contexto de pesquisas
científicas (CFP, 2012). Esse atendimento deveria obedecer às seguintes condições:

116
I- Apresentar certificado de aprovação do protocolo em Comitê de
Ética em Pesquisa, conforme os critérios do Conselho Nacional
de Saúde do Ministério da Saúde.
II- Respeitar o Código de Ética Profissional da(o) psicóloga(o);
III- É vedado ao participante pesquisado, individual ou coletivamente,
receber qualquer forma de remuneração ou pagamento;
IV- A(o) psicóloga(o) deve se comprometer a especificar quais são
os recursos tecnológicos utilizados no seu trabalho e buscar
garantir o sigilo das informações;
V- As informações acima citadas deverão constar de maneira visível
e com fácil acesso no site que realiza a pesquisa (CFP, 2012, p. 3).

Anexa à resolução (CFP, 2012), dispõe-se de um Manual Sobre o Cadastramento


de Sites, que tinha como objetivo orientar os profissionais quanto aos sites para a
prestação dos serviços psicológicos por meios tecnológicos de comunicação a distância
e a oferta da psicoterapia nesse mesmo ambiente, porém em caráter experimental. O
manual, apesar de estar disposto de forma anexa, é parte integrante da resolução e
apresentava as etapas da solicitação do cadastramento dos sites:

1- Recepção: consiste no preenchimento do protocolo no sistema de


cadastramento específico para análise dos sites e encaminhamento
para o Conselho Regional de Psicologia em que a(o) psicóloga(o) é
inscrita(o). [...]
2- Avaliação do Conselho Regional de Psicologia – CRP: consiste
na verificação do Conselho Regional de Psicologia quanto à inscrição
da(o) psicóloga(o), se está ativa e sem processo ético (transitado em
julgado) que caracterize impedimento do exercício da profissão e na
verificação técnica do cumprimento das condições contidas nesta
Resolução.
3- Ajustes no site: em caso de necessidade de alterações no site,
durante o processo de avaliação do Conselho Regional de Psicologia,
este concederá 20 (vinte) dias à(ao) psicólogo(a) [sic] para fazer as
regularizações. Atendidas as adequações no site, o(a) psicólogo(a) se
obriga a dar conhecimento ao seu Conselho Regional de Psicologia,
para que o processo continue. Se não houver manifestação do(a)
psicólogo(a) nesse prazo, o processo de cadastramento receberá
avaliação desfavorável.
4- Recurso: após a comunicação ao requerente sobre a decisão
da Plenária do Conselho Regional de Psicologia, aquele poderá
apresentar recurso ao Conselho Federal de Psicologia até 30 (trinta)
dias, a contar da data da emissão do parecer do CRP no sistema de
cadastramento específico para análise dos sites.
5- Avaliação do recurso: no caso de recurso, será considerado
site com permissão de funcionamento mediante cadastro aquele
que receber parecer favorável pelo Conselho Federal de Psicologia. A
avaliação desfavorável prevalece quando for negado provimento ao
recurso apresentado (CFP, 2012, p. 5-6, grifos do autor).

Após o recebimento da solicitação (que era gratuita), esta deveria ser julgada
no prazo de 60 dias pelo CRP, o qual emitiria um parecer justificado, podendo ser
considerado “favorável” ou “desfavorável”. Neste último caso, o parecer deveria
apresentar orientações quanto às adequações necessárias. A decisão ainda poderia
ser definida como “não se aplica” se os serviços oferecidos não se enquadrassem no

117
proposto pela resolução. Como dito, aos profissionais cabia recurso, junto ao CFP,
quanto às decisões tomadas pelo CRP. A permissão para funcionamento desses sites
deveria ser renovada a cada três anos e a solicitação de renovação precisava ser feita
três meses antes do prazo de validade. Ressalta-se que só deveriam ser cadastrados
os sites que tinham como finalidade o serviço de atendimento on-line. Essas regras não
eram aplicadas aos demais sites, como aqueles usados para divulgação de serviços
psicológicos presenciais (CFP, 2012).

Ainda conforme o manual (CFP, 2012), após o cadastramento do site e a sua


autorização, era imprescindível que algumas informações estivessem dispostas de
forma visível para todos os seus visitantes: “Descrição clara dos serviços que serão
realizados por meio tecnológico de comunicação a distância; público-alvo; contatos
do(s) psicólogo(s): e-mail e telefone” (CFP, 2012, p. 6).

2.1 RESOLUÇÃO CFP Nº 11/2018


A legislação mais recente e ainda em vigor, que trata dos atendimentos e dos
serviços psicológicos realizados de forma on-line, é a Resolução CFP nº 11, de 11 de
maio de 2018 (CFP, 2018a). O contexto de sua elaboração remete à grande expansão
de tecnologias e dispositivos, que possibilitam cada vez mais o acesso à internet.
Esse acesso cada vez mais difundido influenciou a forma como as pessoas procuram
cuidados para a saúde como um todo, incluindo a saúde mental (RODRIGUES, 2020).

A Resolução CFP nº 11/2018 (CFP, 2018a) regulamentou e ampliou a prestação


de serviços psicológicos por meio de Tecnologias da Informação e da Comunicação
(TIC). Mais serviços foram autorizados e incluídos, em comparação com as resoluções
publicadas anteriormente, e houve uma mudança na forma com que o contexto digital
foi concebido, principalmente pela diversificação tecnológica desenvolvida. Atualmente,
muitos dispositivos possibilitam o acesso à internet. Devido à alta demanda de
smartphones e inúmeros aplicativos e plataformas de comunicação possibilitados por
eles, essa resolução concebe, então, que esses serviços sejam realizados por meio das
TIC, não mais apontando o atendimento somente por computador ou telefone, como
ocorreu em resoluções anteriores.

A Resolução CFP nº 11/2018 (CFP, 2018a) encontra-se embasada, entre outras


legislações, pela Lei nº 12.965/2014 (BRASIL, 2014), que consiste no Marco Civil Brasileiro
da Internet, estabelecendo princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet
no país. Isso mostra uma necessidade de articulação das resoluções elaboradas pelo
CFP com as tecnologias desenvolvidas e as leis que regem a coletividade. Com base
nessa lei, é interessante atentar para algumas recomendações, ao refletirmos acerca
dos aspectos técnicos, jurídicos e éticos:

118
a) Psicólogas(os) que atendem aos dispositivos previstos na
Resolução CFP nº 11/2018 ou normativa que venha a substituir
sobre esta matéria, bem como que atendam aos dispositivos
combinados da Resolução CFP nº 10/2005 – Código de Ética
Profissional do Psicólogo, da Lei nº 4.119, de 27 de agosto de
1962, do Decreto nº 53.464, de 21 de janeiro de 1964, da Lei nº
5.766, de 20 de dezembro de 1971 e do Decreto nº 79.822, de 17 de
junho de 1977 e demais normativas pertinentes ao objeto desta
questão estão habilitadas(os) a prestar serviços psicológicos por
meio de TICs, estando a(o) psicóloga(o) no Brasil, ou a partir de IPs
registrados e com validade no território nacional.
b) Psicólogas(os) que atendam os requisitos citados no item acima
podem prestar serviços psicológicos para clientes/usuárias(os)/
pacientes que estejam fora do território nacional, desde que
as(os) clientes/usuárias(os)/pacientes aceitem via instrumento
contratual que esta prestação de serviços será regulada pelas
legislações brasileiras pertinentes à matéria
c) O alcance da Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014, bem como
das Legislações da profissão fica restrito à prestação de serviços
que sejam oriundos do território brasileiro (com IPs registrados e
com validade no território nacional com base no que preconiza
os dispositivos do Art. 5º da supracitada legislação de regulação do
uso da internet), inclusive para fins de apuração e responsabilização
de profissionais previsto no Art. 3º, inciso VI.
d) O Conselho Federal de Psicologia não possui qualquer
responsabilidade em relação ao exercício da profissão perante
outros países, ainda que, mediados por TICS (sic).
e) Para prestação de serviços psicológicos mediados por TICs (sic) no
Brasil, ou a partir de IPs registrado (sic) e com validade no território
nacional, a(o) psicóloga(o) estrangeira(o) deve possuir inscrição no
Conselho Regional de Psicologia, nos termos da Lei nº 5.766/1971
(CFP, 2018b, p. 5).

NOTA
O termo IP significa Protocolo de Internet (a sigla refere-se ao termo
original em inglês – Internet Protocol) e consiste no número de identificação
de cada dispositivo que tenha acesso à internet. Serve para apontar o
protocolo de comunicação entre dispositivos e, assim, saber de onde
partiu determinada mensagem, postagem ou acesso a um determinado
site, por exemplo. Pode-se comparar o IP de um aparelho celular ou de um
computador ao número de CPF de cada pessoa, já que é uma identificação
única para cada brasileiro.

Em 2018, foi publicada a Lei nº 13.709/2018 (BRASIL, 2018), que assegura o direito
à privacidade e proteção dos dados do usuário como um todo, inclusive no meio digital
e, com isso, auxilia os profissionais que atendem pela internet. A lei conduz a uma maior
reflexão acerca dos cuidados éticos e garantia de sigilo profissional e confidencialidade
dos dados. Essa normativa consiste na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e entrou
em vigor de forma processual, a fim de que a sociedade se organizasse para tal, no
decorrer de dois anos (SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020).

119
DICA
Como é importante conhecer a legislação brasileira, que, de certa forma,
se relaciona ao atendimento psicológico on-line. Leia mais sobre a Lei nº
12.965/2014 e a Lei nº 13.709/2018, por meio dos seguintes links:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm e
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm.

O profissional de Psicologia deve conhecer o seu conteúdo e não se aceita


alegar o desconhecimento dos dispostos nela caso infrinja, durante o seu
exercício profissional, o que ela propõe.

Por meio da Resolução CFP nº 11/2018 (CFP, 2018a), são autorizados os seguintes
serviços psicológicos realizados por meio das TIC:

I- As consultas e/ou atendimentos psicológicos de diferentes tipos


de maneira síncrona ou assíncrona.
II- Os processos de Seleção de Pessoal.
III- Utilização de instrumentos psicológicos devidamente regula-
mentados por resolução pertinente, sendo que os testes psico-
lógicos devem ter parecer favorável do Sistema de Avaliação de
Instrumentos Psicológicos (SATEPSI), com padronização e nor-
matização específica para tal finalidade.
IV- A supervisão técnica dos serviços prestados por psicólogas e
psicólogos nos mais diversos contextos de atuação (CFP, 2018a,
p. 1-2).

Nota-se que alguns serviços, na resolução anterior, possuíam um caráter


pontual e/ou experimental, sendo adotados, atualmente, um caráter permanente. A
regulamentação para o, então, atendimento em caráter experimental, presente em
resoluções anteriores, auxiliou a embasar as resoluções seguintes, incluindo a atual,
pois os resultados das pesquisas realizadas puderam nortear a prática profissional e sua
oferta pelo meio digital (SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020).

Com a nova resolução, consultas e/ou atendimentos psicológicos que visam


à avaliação, orientação e/ou intervenção em processos grupais e individuais podem
ser realizados sem tempo preestabelecido ou número limitado de sessões. Esses
atendimentos devem prezar, tal qual ocorrem com os atendimentos presenciais, pela
qualidade e devem ser orientados por métodos e técnicas psicológicas de base científica
a partir de cada área de atuação da Psicologia (CFP, 2018a).

Mesmo com as alterações, ressalta-se a necessidade de cadastro e autorização


desses serviços pelo CRP, por meio do site e-Psi, no qual também consta a relação de
todos os psicólogos do país autorizados a atender on-line. A Resolução CFP nº 11/2018
(CFP, 2018a) previa que deveria ser feito um cadastro individual do profissional, e não
mais um cadastramento vinculado a um site específico para tal finalidade, como ocorria
na resolução anterior. São condições para iniciar o cadastro no site e-Psi:

120
a) não estar com sua inscrição cancelada, conforme estabelece o Art.
11 da Resolução CFP nº 3/07 ou normativa que venha a substituí-la;
b) cadastro atualizado nos termos desta normativa;
c) não estar com o pagamento das anuidades interrompido
temporariamente, de acordo com o Art. 16, da Resolução CFP nº
3/07 ou normativa que venha a substituí-la;
d) estar adimplente com relação às anuidades dos exercícios
anteriores, de acordo com o Art. 89, da Resolução CFP nº 3/07 ou
normativa que venha a substituí-la;
e) apresentar proposta de prestação de serviços por TICs
(fundamentar serviços oferecidos, relacionando-os com as
tecnologias a serem utilizadas);
f) preenchimento e concordância, por parte da(o) profissional ao
Termo de Orientação e Declaração para Prestação de Serviços
Psicológicos por meio de TICs (CFP, 2018b, p. 6).

Com a finalidade de orientar os profissionais quanto ao correto preenchimento


do cadastro no site e-Psi, agilizando, assim, a confecção do parecer favorável para
atendimento, o CFP disponibilizou aos psicólogos um modelo do Termo de Orientação
e Declaração para Prestação de Serviços Psicológicos, por meio de TIC, como pode ser
observado na Figura 1 (CFP, 2018b).

FIGURA 1 – MODELO DO TERMO DE ORIENTAÇÃO E DECLARAÇÃO PARA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS


PSICOLÓGICOS POR MEIO DE TIC

CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA - XXa REGIÃO TERMO DE ORIENTAÇÃO


E DECLARAÇÃO PARA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PSICOLÓGICOS POR MEIO DE
TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO

O Conselho Regional de Psicologia - XXa Região, no uso de suas atribuições legais previstas na
Lei no 5.766/71, regulamentadas pelo Decreto no 79.822/77, vem por meio deste ato proceder
a orientação, direcionado para a(o) psicóloga(o) _____________________________________
CRP __________, para fins de regulamentação da prestação de serviços psicológicos mediados
por tecnologias da informação e da comunicação.

Cabe ao profissional:

1. Realizar e manter atualizado o cadastro profissional junto ao Conselho Regional de


Psicologia - XX* Região conforme a Resolução CFP No 11/2018, em seus artigos 3o
e 4o, no Cadastro e Psi (Cadastro Nacional de Profissionais para Prestação de Serviços
Psicológicos por meio de TICs).
2. Estabelecer com as(os) usuárias(os) contrato ou termo de prestação de serviços contendo
as garantias essenciais de manutenção do sigilo e segurança em relação ao acesso aos
equipamentos e armazenamento das informações utilizados na prestação dos serviços.
3. Realizar o registro documental/prontuário decorrente da prestação de serviços
psicológicos observando que a produção de documentos escritos pela(o) psicóloga(o)
deverá respeitar a legislação vigente. Nos atendimentos de crianças e adolescentes as(os)
profissionais deverão obter autorização de ao menos uma das(os) responsáveis legais,
conforme o CEPP vigente, preferencialmente com autorização formalizada por escrito.
Nas situações em que haja litígio entre as(os) responsáveis legais, recomendamos que a
autorização seja realizada por ambas(os) as(os) responsáveis. No entanto, reiteramos que
a autorização de pelo menos uma das(os) responsáveis será o suficiente para a prestação
dos serviços.

121
4. Garantir uma adequada condição de guarda e sigilo do registro documental prontuário,
conforme a legislação pertinente. A guarda do registro documental/prontuário é de
responsabilidade da(o) psicóloga(o) prestadora do serviço, e preservado pelo período
de no mínimo 5 (cinco) anos, podendo ser ampliado nos casos previstos em lei, por
determinação judicial, ou ainda em casos específicos em que seja necessária a manutenção
da guarda por maior tempo. O registro documental/prontuário deve estar organizado e
disponível para eventual solicitação da Comissão de Orientação e Fiscalização do CRP
competente.
5. Utilizar recursos de tecnologia da informação e comunicação, adequados do ponto de
vista teórico, metodológico, técnico e ético da Psicologia, para prestação dos serviços,
para o cumprimento dos objetivos do trabalho e para o melhor beneficio da(o) usuária(o).
6. Somente divulgar e realizar práticas com evidência científica consolidada na ciência
psicológica. Com relação à divulgação, a(o) psicóloga(o) deve seguir as orientações do
Art 20 do Código de Ética Profissional do Psicólogo, Resolução CFP 10/2005.
7. Acompanhar e zelar pelo cumprimento das disposições legais e éticas.
8. Aguardar as verificações do Conselho Regional de Psicologia quanto à situação cadastral,
financeira e ética para que possa ser validada a inserção do nome no Cadastro e-Psi
(Cadastro Nacional de Profissionais para Prestação de Serviços Psicológicos por meio de
TICs) e autorização da prestação de serviços mediados por TICS.

Caso, a qualquer momento, o Conselho Regional de Psicologia - XX* Região receba


denúncia sobre os serviços psicológicos prestados por meio de TICs de responsabilidade da(o)
profissional, considerar-se-á que ao profissional cadastrada(o) está ciente dos termos deste
documento de orientação.

Por ser a expressão da verdade, declara estar ciente e de acordo com o conteúdo acima
explicitado e do inteiro teor da Resolução no 11/2018.

Brasília, de de 2018.

__________________________________
Psicóloga(o) - CRP ___/______________

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3OHdZYj>. Acesso em: 10 jun. 2022.

O cadastramento está sujeito à análise e avaliação pelo CRP, que tem como
base, para esse julgamento, fatores éticos, técnicos e administrativos em relação ao
serviço que se pretende prestar de forma on-line. Ao contrário da Resolução CFP nº
11/2012 (CFP, 2012), que previa que a autorização deveria ser renovada a cada três
anos, a Resolução CFP nº 11/2018 (CFP, 2018a) indica que a renovação deve ser anual
e a atualização dos dados do seu cadastro no site e-Psi é de responsabilidade do
profissional. Após o período de um ano, caso a renovação não seja solicitada e deferida,
o serviço prestado será considerado irregular e deverá ser suspenso. No caso de um
cadastro novo e que ainda não tenha completado um ano, se o profissional precisar
atualizar os dados referentes à prestação do serviço em si (como aspectos técnicos que
alterem a característica do atendimento) deverá ser realizado um novo cadastro (CFP,
2018a; 2018b).

122
Ressalta-se que atender on-line sem cadastramento e autorização do
Conselho caracteriza uma falta disciplinar sujeita a sanções. Já o não cumprimento
de informações (entre elas as técnicas e operacionais da oferta do serviço) presentes
no cadastro e/ou a utilização de métodos e técnicas não condizentes com o adequado
exercício profissional da Psicologia por meio das TIC e o disposto no Código de Ética
caracteriza falta ética (CFP, 2018a; CFP, 2018b).

FIGURA 2 – CADASTRO DO PROFISSIONAL NO SITE E-PSI

FONTE: <https://e-psi.cfp.org.br/cadastro-simplificado/encontrarRegistro>. Acesso em: 7 jun. 2022.

FIGURA 3 – MECANISMO DE BUSCA DOS PROFISSIONAIS DE PSICOLOGIA CADASTRADOS NO SITE E-PSI

FONTE: <https://e-psi.cfp.org.br/cadastro-simplificado/encontrarRegistro>. Acesso em: 7 jun. 2022.

123
IMPORTANTE
Você pode se perguntar por que é necessário conhecer tantos detalhes
da Resolução CFP nº 11/2018, uma vez que muitas informações são
burocráticas. Mesmo estando ainda na graduação, é importante
conhecer as normativas, as legislações e as ações que devem ser
realizadas, a fim de garantir um exercício profissional de excelência
que, nesse caso, inclui a possibilidade de atendimento psicológico on-
line. Conhecer as orientações propostas para o exercício da profissão
podem auxiliar nas suas práticas de estágio no decorrer da graduação.
Adotar uma postura ética desde já só tende a aprimorar ainda mais a
sua formação e futura profissão.

A atual resolução (CFP, 2018a) também prevê o atendimento de crianças e


adolescentes, que já havia sido autorizada na Resolução CFP nº 11/2012 (CFP, 2012),
porém é trazida agora de forma mais ampla e detalhada. Para esse tipo de atendimento,
é necessária a autorização de pelo menos um dos responsáveis legais. Se houver
litígio entre eles, recomenda-se, se possível, que os dois autorizem o atendimento de
maneira formal e por escrito. Além disso, é preciso que haja adequação do atendimento
para que tenha viabilidade técnica para a realização de tal serviço com esse público. A
viabilidade de métodos e instrumentos também deve ser compreendida na adaptação
do atendimento a pessoas com deficiência. Os serviços psicológicos oferecidos pela
internet, para diversos públicos, devem ser embasados, como um todo, na viabilidade.
Para isso, alguns procedimentos podem ser adotados, a fim de que todo o processo
ocorra de forma transparente e profícua para todos os envolvidos (CFP, 2018b).

Mesmo com a ampliação dos serviços, a resolução prevê que alguns tipos de
atendimento deverão ser conduzidos de forma presencial, pois o atendimento mediado
pelas TIC não é considerado adequado. Entre eles, está o atendimento de pessoas e
grupos em situação de violência, em situação de violação de direitos e em situação de
urgência, emergência e/ou desastres (CFP, 2018b). Entende-se como desastre:

uma ruptura do funcionamento habitual de um sistema ou


comunidade, devido aos impactos ao bem-estar físico, social,
psíquico, econômico e ambiental de uma determinada localidade. Tal
evento afeta um grande número de pessoas, ocasionando destruição
estrutural e/ou material significativa e altera a geografia humana,
provocando desorganização social pela destruição ou alteração
de redes funcionais. O desastre deve ser compreendido/vinculado
ao contexto no qual ele ocorre, ou seja, é necessário considerar as
dimensões sócio-político-culturais de vulnerabilidade, capacidade,
exposição de pessoas e bens, características e percepções dos
riscos e meio ambiente (CFP, 2018b, p. 8).

Ao apontar a amplitude desse tipo de evento, entende-se que os atendimentos


com essa população são considerados inadequados pela via remota porque, como
são situações emergenciais, impediria a vinculação do profissional de Psicologia com

124
serviços aos quais o sujeito em atendimento poderia precisar, tomando, assim, para a
pessoa do psicólogo, a única responsabilidade pela situação do atendido e que pode
colocar em risco a si e a terceiros. Considerando esse contexto, a resolução previa
que o atendimento de forma remota só poderia ser oferecido às equipes presenciais
(incluindo aquelas que atendem emergencialmente), com o objetivo de lhes prestar
suporte técnico. Nesse caso, as equipes emergenciais (por exemplo, na situação de
desastre) devem se apresentar ao Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil da região
afetada para ser integrado à rede de atendimento e suporte à população (CFP, 2018b).

FIGURA 4 – POPULAÇÃO ACOMETIDA POR UMA EMERGÊNCIA

FONTE: <https://elements.envato.com/pt-br/flooding-flooded-city-of-tulun-L975FT9>. Acesso em: 10 jun. 2022.

DICA
Para saber mais sobre alguns cuidados e restrições de atendimento
on-line, assista ao seguinte vídeo Atendimento on-line: o que não fazer?,
disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wFEi56mRSQM.

ESTUDOS FUTUROS
O Brasil, assim como o restante do planeta, passou por um estado de
emergência com a pandemia da Covid-19, tema que será discutido
no Tópico 3, com a discussão de como ocorreram as práticas em
Psicologia e a oferta de atendimento on-line nesta situação.

125
Apesar das mudanças e adaptações surgidas, todo o conteúdo da atual
resolução e demais práticas psicológicas devem obedecer ao disposto no Código de Ética,
que é a legislação maior que rege a atuação do profissional de Psicologia no Brasil. Por
isso, entende-se que não seria necessário pensar em padrões éticos específicos para
o atendimento on-line, pois estes deverão ser consonantes com os demais tipos de
intervenções psicológicas, seja presencial ou não. Quaisquer adaptações que poderão
surgir visando aprimorar o atendimento ou ajustar à realidade da população atendida
(criança, adulto, idoso, ou atendimento a casais ou grupos) devem obedecer, sobretudo,
ao Código de Ética Profissional (CFP, 2018b; RODRIGUES, 2020).

DICA
Saiba mais sobre a Resolução CFP nº 11/2018, principalmente após
as novidades em comparação com a resolução anterior, assistindo
ao vídeo Diálogo digital: novidades sobre o atendimento on-line,
produzido a partir de uma roda de diálogo promovido pelo CFP:
https://www.youtube.com/watch?v=8aqWwrczeq0.

126
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A evolução das primeiras resoluções do CFP sobre o atendimento psicológico mediado


pelas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC).

• A resolução mais recente e em vigor sobre o atendimento mediado pelas TIC.

• As condições para que um profissional possa realizar atendimentos on-line.

• Em quais casos o atendimento psicológico on-line não é recomendado.

127
AUTOATIVIDADE
1 O Código de Ética Profissional do Psicólogo (CFP, 2005a) é um instrumento norteador
do exercício profissional da Psicologia, capaz de apontar para novos modos de
atuação, teorias e áreas. Sobre a legislação que rege a atuação dos psicólogos
brasileiros, com base nas modalidades normativas que esse profissional é orientado,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Relatórios, pareceres, leis e normas.


b) ( ) Leis, normas, notas técnicas e Resoluções.
c) ( ) Resoluções, leis, Constituição e notas técnicas.
d) ( ) Normas, laudos, pareceres e Resoluções.

2 Em 16 de dezembro de 2000, com a publicação da Resolução CFP nº 6/2000 (CFP,


2000b), foi instituída a Comissão Nacional de Credenciamento e Fiscalização dos
Serviços de Psicologia pela internet, sendo sua responsabilidade a validação, a
fiscalização e o acompanhamento dos sites que promoviam atendimento on-line.
Com base nas atribuições dessa comissão, analise as sentenças a seguir:

I- Desenvolver critérios gerais para avaliar a qualidade dos serviços psicológicos


oferecidos pela internet, sem necessariamente seguir a coleta de informações.
II- Acompanhar o credenciamento e fiscalizar os sites de atendimento psicoterapêutico
mediado por computador.
III- Acompanhar todos os sites de pesquisa sobre o atendimento mediado por compu-
tador, sendo aprovados ou não pelo Conselho Federal de Psicologia.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 A Resolução CFP nº 11/2018 (CFP, 2018a) leva em consideração o disposto no Marco


Civil da Internet (BRASIL, 2014), que estabelece princípios, garantias, direitos e
deveres para o uso da internet no país. Isso mostra uma necessidade de articulação
das resoluções elaboradas pelo CFP com as mudanças do país, com as tecnologias
desenvolvidas e as leis que regem a coletividade. Com base nos serviços psicológicos
autorizados a partir das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), classifique
V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

128
(  ) Apenas as consultas e/ou os atendimentos psicológicos de diferentes tipos, de
maneira síncrona. 
(  ) Os processos de seleção de pessoal.
(  ) A supervisão técnica dos serviços prestados por psicólogas e psicólogos.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – F.
b) ( ) V – V – V.
c) ( ) F – F – F.
d) ( ) F – V – V.

4 O atendimento psicoterápico on-line com crianças, adultos, idosos, em grupos ou com


casais deve se ajustar as suas realidades e obedecer ao Código de Ética Profissional
do Psicólogo (CFP, 2005a). Disserte sobre os padrões éticos necessários que devem
ser adotados nessa modalidade de atenção psicológica no ambiente digital.

5 A Resolução CFP nº 11/2018 (CFP, 2018a) estabelece diretrizes para a realização


dos serviços psicológicos on-line, sendo norteadora desse tipo de atendimento
que faz parte da prática profissional das psicólogas e psicólogos. Disserte sobre os
procedimentos necessários para a oferta do serviço de psicoterapia por meio digital
e sobre aqueles que são vedados nesse tipo de atendimento.

129
130
UNIDADE 3 TÓPICO 2 —
CARACTERÍSTICAS DA
INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA ON-LINE
E ASPECTOS ÉTICOS

1 INTRODUÇÃO
No Brasil, as pesquisas que envolvem as várias formas de intervenção
psicológica mediada por tecnologias são relativamente recentes, porém, em outros
países, os estudos e as práticas no ambiente digital já são realizados há décadas.
Nota-se a relevância dada às pesquisas sobre o tema por parte do CFP na elaboração
de resoluções, conforme visto anteriormente. As primeiras intervenções só foram
autorizadas no contexto das pesquisas e, com a consolidação destas e dos resultados
discutidos e apresentados, pôde-se abrir às possibilidades de atendimento até se
chegar à atual oferta apresentada na mais recente resolução sobre o tema (CFP, 2018a;
SIEGMUND et al., 2015).

As pesquisas desenvolvidas não versam apenas sobre a modalidade de


psicoterapia ou sobre os recursos tecnológicos envolvidos nos atendimentos, por
exemplo, mas também sobre aspectos que se relacionam ao contexto psicológico
como um todo e as particularidades do ambiente digital, entre elas a sua eficácia, o
sigilo e demais aspectos éticos. Questões como custos, logística e distância física ou
dificuldade de locomoção também são fatores considerados em relação à viabilidade
e à procura por atendimento on-line (SIEGMUND et al., 2015).

Com o decorrer dos anos e o avanço das pesquisas e da própria tecnologia, foi
possível ampliar a concepção sobre o atendimento, hoje, acessado pela internet. Uma das
formas pioneiras de intervenção foi a mediação por telefone, por meio das teleconsultas
com a telemedicina. Atualmente, com a disponibilidade de acesso à internet cada vez
maior, os atendimentos podem ser realizados em praticamente qualquer dispositivo que
se conecte à rede (SIEGMUND et al., 2015; SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020).

Não somente os recursos puderam ser ampliados, mas também a nomenclatura


utilizada se diversificou bastante e, hoje, a intervenção psicológica on-line também
pode ser concebida como psicoterapia pela internet, telepsicologia, e-terapia, terapia
on-line, entre outros termos, dependendo do serviço oferecido (CFP, 2005b; CFP, 2012;
SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020).

Independentemente do objetivo, do serviço ofertado ou da modalidade de


atendimento, deve haver atenção aos aspectos éticos estabelecidos, que possibilitam
uma atuação pautada na ética e no profissionalismo por parte do psicólogo. Esses

131
aspectos giram em torno, principalmente, do cuidado com o respeito e a dignidade do
sujeito em atendimento. Um olhar para a responsabilidade do profissional de Psicologia
nesse processo deve ser ainda maior, a fim de que riscos envolvendo a intervenção
psicológica mediada pelas TIC sejam diminuídos. O bem-estar e a segurança do sujeito
devem guiar esse cuidado (SIEGMUND et al., 2015).

Os aspectos éticos perpassam pela atenção ao sigilo e pela confidencialidade das


informações trocadas no ambiente digital, assim como também ocorre no atendimento
face a face. Espera-se que o psicólogo tenha aproximações com as tecnologias, na
tentativa de diminuir os riscos que possam prejudicar o atendimento como um todo.
Deve-se recorrer a tecnologias e dispositivos para garantir que dados não sejam vazados
ou roubados e, com isso, o atendimento seja comprometido ou o sujeito seja colocado
em risco (RODRIGUES, 2020; SIEGMUND et al., 2015; SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020).

Essa aproximação objetiva compreende como se deve prezar pela segurança


dos dados trocados durante os atendimentos, o que pressupõe alguns cuidados:

• Escolha de dispositivos: é interessante dar preferência ao computador de mesa ou


ao notebook, devido ao maior enquadramento da imagem e para evitar distrações,
interrupções e notificações (comuns em aparelhos celulares). Os dispositivos devem
conter softwares e sistemas operacionais que sejam constantemente atualizados.
Essas atualizações também são recomendadas para o firewall e antivírus, que devem
proporcionar uma ampla proteção.
• Uso de internet de banda larga segura (de preferência privada) e de fones de ouvido
com microfone, para melhor captar o áudio e resguardar as conversas.
• Criação de senhas seguras e inclinação por programas ou aplicativos que tenham
comunicação criptografada e garantam a proteção de dados, para evitar, por exemplo,
que estes sejam usados pelas empresas para publicidade e coleta de perfil.

FIGURA 5 – PROTEÇÃO DE DADOS NOS ATENDIMENTOS POR COMPUTADOR

FONTE: <https://elements.envato.com/pt-br/computer-security-concept-8G54HPF>. Acesso em: 10 jun. 2022.

132
O maior investimento deve ser do psicólogo, que deve se atentar ao fato de os
seus clientes precisarem de conhecimentos e dispositivos mínimos para a realização
dos atendimentos, além de reforçar os cuidados necessários em relação ao risco de
vazamento de dados (RODRIGUES, 2020; SIEGMUND et al., 2015; SOUZA; SILVA;
MONTEIRO, 2020).

Um aspecto relacionado ao atendimento on-line é a necessidade de um link


com o contexto off-line do sujeito, como serviços na sua cidade ou em seu entorno para
os quais ele possa ser encaminhado e pessoas que poderão ser contactadas em caso
de riscos iminentes a que o sujeito possa se colocar ou impor a terceiros (SIEGMUND et
al., 2015).

Mesmo sendo regulamentada e embasada por legislações e estudos científicos,


o atendimento on-line, como qualquer outro, requer cuidados do psicoterapeuta, a fim
de minimizar riscos a que a pessoa em atendimento possa estar sujeita. Como citado
por Rodrigues (2020), os riscos desse atendimento não devem provocar danos maiores
ou superiores aos benefícios esperados. Nesse caso, os fins não justificam os meios, ou
seja, os danos que podem surgir não devem ser maiores que os benefícios advindos da
busca pela saúde biopsíquica-social do sujeito.

2 SERVIÇOS PSICOLÓGICOS REALIZADOS


POR MEIO DAS TIC
Percebe-se como a compreensão acerca do atendimento psicológico mediado
pelas TIC se transformou no decorrer dos anos, acompanhando as mudanças na
sociedade e as próprias transformações tecnológicas. Em 1995, foi publicada a primeira
resolução sobre o tema (CFP, 1995), que previa a prestação de serviço psicológico
mediado por telefone – o recurso tecnológico mais abrangente na época. Ainda no final
da década de 1990, a sociedade passou a contar com a internet, mesmo que de forma
incipiente (ATENDIMENTO..., 2011; FORTIM; COSENTINO, 2007).

Nesse período, foi criado o Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática


(NPPI), tendo como fundadores a professora Rosa Maria Farah (Figura 6) e o professor
Lorival de Campos Novos, considerados, desde então, pioneiros e referências nos
estudos sobre a interface entre Psicologia e as tecnologias. Esse grupo era vinculado
ao curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e sua
origem foi consequência da demanda surgida após a criação do site da Clínica Escola
dessa instituição. O site tinha como objetivo aproximar a comunidade acadêmica das
atividades da Clínica Escola (ATENDIMENTO..., 2011; FORTIM; COSENTINO, 2007; PUC-
SP, 2022).

133
FIGURA 6 – ROSA MARIA FARAH

FONTE: <https://www.pucsp.br/sites/default/files/img/rosa_farah_2160x160.jpg>. Acesso em: 10 jun. 2022.

DICA
Para conhecer mais sobre a trajetória da professora Rosa Maria
Farah e do professor Lorival de Campos Novo, fundadores do
NPPI e os primeiros pesquisadores de Psicologia e as tecnologias,
acesse os links: https://www.pucsp.br/janus/rosa-maria-farah e
https://www.pucsp.br/janus/lorival-de-campos-novo.

Na época do surgimento, o site do grupo passou a receber e-mails com pedidos


de suporte psicológico, o que chamou a atenção da equipe e motivou ainda mais estudos
sobre o tema. Como ainda não havia a regulamentação de serviços como a psicoterapia,
o auxílio dos profissionais se resumia a encaminhamentos e/ou orientações psicológicas
pontuais, e isso era uma novidade na época, dando oportunidade para o surgimento de
um serviço de orientação psicológica por e-mail. Estima-se que, de 1997 a 2009, essa
procura tenha aumentado cerca de 20%. Esse grupo, que atualmente se chama Janus
– Laboratório de Estudos de Psicologia e Tecnologias da Informação e Comunicação
–, foi um dos pioneiros no país e se consolidou nos estudos e pesquisas envolvendo a
Psicologia e o ambiente digital (ATENDIMENTO..., 2011; FORTIM; COSENTINO, 2007; PUC-
SP, 2022).

Essa e outras iniciativas ajudaram a fortalecer as ações no ambiente digital.


Desde então, as resoluções seguintes do CFP foram atualizadas em relação aos
dispositivos. A primeira citava o telefone e a seguinte, o computador. Depois, abrangeu
outros meios tecnológicos de comunicação a distância até chegar à atual nomenclatura:
Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). Mudanças ocorreram devido à oferta
dos dispositivos e ao acesso da população à internet terem se tornado maiores e, por isso,
foi preciso se manter atualizado, pois novas tecnologias continuam em desenvolvimento
(CFP, 2000a; 2012; 2018a).

134
Outro fato que podemos observar é a maior oferta de serviços psicológicos
no decorrer dos 23 anos que transcorrem entre a primeira resolução até a mais
recente, publicada em 2018. Anteriormente, os atendimentos deveriam ser em caráter
experimental, não poderia haver a cobrança de honorários, além de muitos serviços
serem restritos ou proibidos no contexto mediado pelas TIC. Atualmente, apesar de ainda
haver uma grande referência à psicoterapia on-line, quando se fala de atendimento
nesse ambiente, há uma abrangência maior dos serviços psicológicos cuja prestação
é autorizada nesse contexto. Independentemente do serviço prestado de forma on-
line ou presencial, o Código de Ética Profissional deve ser o instrumento norteador das
ações e das práticas dos psicólogos (CFP, 2000a; 2005a; 2012; 2018a; 2018b).

TABELA 1 – SERVIÇOS PSICOLÓGICOS REGULAMENTADOS PELA RESOLUÇÃO CFP Nº 11/2018

SERVIÇO PSICOLÓGICO POSSÍVEIS ATIVIDADES REALIZADAS POR MEIO DAS TIC


• Avaliação Psicológica.
Utilização de • Entrevista psicológica.
instrumentos • Anamnese.
psicológicos • Testes psicológicos.
• Protocolos ou registros de observação.
Supervisão técnica dos • Supervisão de atendimentos psicológicos.
serviços prestados por • Supervisão de aplicação e correção de testes psicológicos.
psicólogos • Supervisão de escrita de documentos psicológicos.
• Recrutamento.
Processos de
• Seleção.
Seleção de Pessoal
• Avaliação Psicológica.
• Psicoterapia.
Consultas e/ou
• Orientação psicológica.
atendimentos
• Orientação profissional.
psicológicos
• Reabilitação cognitiva

FONTE: Adaptada de CFP (2005b; 2018a; 2018c)

2.1 UTILIZAÇÃO DE INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS


A prática profissional envolvendo a avaliação psicológica é regida pela Resolução
CFP nº 9, de 25 de abril de 2018, que “estabelece diretrizes para a realização de
Avaliação Psicológica no exercício profissional da psicóloga e do psicólogo” (CFP, 2018c,
p. 1). A avaliação é uma área complexa e abrangente da Psicologia. Muitas vezes, ela é
reduzida, no senso comum, à aplicação e à interpretação de testes psicológicos, porém
envolve muito mais que isso. Conforme Primi (2003, p. 68), a Avaliação Psicológica é
“responsável pela operacionalização das teorias psicológicas em eventos observáveis”
e consiste em compreender o psiquismo humano, tomando essa compreensão como
base para orientar ações.

135
Avaliação Psicológica é definida como um processo estruturado de
investigação de fenômenos psicológicos, composto de métodos,
técnicas e instrumentos, com o objetivo de prover informações à
tomada de decisão, no âmbito individual, grupal ou institucional,
com base em demandas, condições e finalidades específicas (CFP,
2018c, p. 2).

A avaliação alia estudos teóricos e respostas advindas do uso de instrumentos


como entrevistas psicológicas, observação e testes psicológicos. Os testes podem ser
elaborados a partir de escalas, inventários, questionários e métodos projetivos, tendo
como objetivo “identificar, descrever, qualificar e mensurar características psicológicas,
por meio de procedimentos sistemáticos de observação e descrição do comportamento
humano” (CFP, 2018c, p. 4). O psicólogo também pode utilizar outros instrumentos,
como anamnese, técnicas de dinâmicas de grupo e documentos técnicos que auxiliem
no entendimento do fenômeno estudado (CFP, 2018c; PRIMI, 2010).

FIGURA 7 – EXEMPLO DE TESTE APLICADO DE MANEIRA INFORMATIZADA

FONTE: <https://elements.envato.com/pt-br/feedback-comment-survey-support-response-bar-word-KWXRXEY>.
Acesso em: 10 jun. 2022.

O processo de avaliação psicológica é permitido aos profissionais de Psicologia


pela mediação das TIC, como consta na legislação:

Utilização de instrumentos psicológicos devidamente regulamentados


por resolução pertinente, sendo que os testes psicológicos devem
ter parecer favorável do Sistema de Avaliação de Instrumentos
Psicológicos (SATEPSI), com padronização e normatização específica
para tal finalidade (CFP, 2018a, p. 2).

136
São várias as motivações e os contextos de realização da avaliação psicológica.
O profissional, com sua expertise teórica e prática, tem o poder de decidir qual(is)
instrumento(s) fará uso no processo avaliativo, desde que sejam fundamentados tanto
na literatura científica quanto pelo que está proposto pelas normas técnicas e resoluções
do Conselho Federal. A Resolução CFP nº 9/2018 (CFP, 2018c) ressalta que o uso de
métodos e técnicas psicológicas é privativo dos profissionais de Psicologia e preconiza o
compromisso da categoria com a ética durante a utilização dos testes psicológicos. Por
isso, seja no contexto presencial ou on-line, é importante que se siga o recomendado
pelo Código de Ética Profissional do Psicólogo (CFP, 2005a) e que os testes envolvidos
nesse processo sejam padronizados e específicos para tal finalidade. Deve-se atentar
ainda para que os testes aplicados sejam específicos para a modalidade on-line,
caso a avaliação ocorra nesse ambiente. Para isso, é importante que o profissional de
Psicologia se atente aos testes listados e recomendados pelo Sistema de Avaliação de
Testes Psicológicos (SATEPSI), seguindo a orientação fornecida no próprio sistema, que
foi regulamentado pela Resolução CFP nº 9/2018 (CFP, 2018c; MARASCA et al., 2020).

FIGURA 8 – ORIENTAÇÕES SOBRE O USO DE TESTES PSICOLÓGICOS SOB MEDIAÇÃO DAS TIC

FONTE: <https://satepsi.cfp.org.br/>. Acesso em: 6 jun. 2022.

Cabe ao profissional e à demanda surgida decidir se a avaliação psicológica será


realizada de forma presencial ou on-line. Além disso, o psicólogo também deve analisar
a escolha dos instrumentos e dos testes psicológicos. A escolha por testes favoráveis
para a aplicação de modo on-line ou remoto é importante porque tal entendimento está
em consonância com a própria finalidade do SATEPSI, que consiste em “um sistema
informatizado que tem por objetivo avaliar a qualidade técnico-científica de instrumentos
submetidos à apreciação da Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica” do
Conselho Federal (CFP, 2018c, p. 1). Esse sistema visa, então, a orientar os profissionais

137
de Psicologia sobre quais instrumentos psicológicos possuem qualidade técnica e
psicométrica com a sua adequada aplicação, mantendo, assim, a fidedignidade e a
validade esperadas com aquele instrumento. Revisões são feitas periodicamente para
que os instrumentos possam serem aplicados (MARASCA et al., 2020).

Interferir ou tomar decisões contrárias àquelas recomendadas pelo SATEPSI


pode afetar a qualidade da avaliação psicológica, além de colocar o profissional em risco
de cometer uma falta ética, o que contraria o proposto no Código de Ética Profissional
do Psicólogo (CFP, 2005a). Com isso, ressalta-se que adaptações, mesmo que
aparentemente simples, não devem ser feitas para que um instrumento seja aplicado
de forma on-line. É importante que o material possua um parecer favorável para a
aplicação no ambiente remoto (MARASCA et al., 2020).

Com isso, é importante ressaltar que alguns testes possuem parecer favorável
para a aplicação de forma remota via on-line, ou seja, a distância. Dessa forma, o
sujeito avaliado e o profissional encontram-se em ambientes diferentes, porém juntos,
por meio das TIC. Ainda há a possibilidade de alguns testes serem aplicados de forma
informatizada (Figura 7), ou seja, o sujeito responderia a um teste, por exemplo, usando
um computador, mas essa aplicação seria conduzida junto ao avaliador, de forma
presencial. Como já dito, cabe ao profissional estudar e conhecer os testes que utilizará
na Avaliação Psicológica proposta e que se adequa melhor a esta necessidade. Todas
essas informações podem e devem ser obtidas no site do SATEPSI. A plataforma lista
todos os testes psicológicos, seja com parecer favorável à aplicação ou desfavorável.
Também elenca os instrumentos não privativos da categoria e que estão aptos à
aplicação pelos profissionais de Psicologia (MARASCA et al., 2020).

FIGURA 9 – FORMA DE ACESSO PARA A RELAÇÃO DOS TESTES PSICOLÓGICOS FAVORÁVEIS AO USO

FONTE: <https://satepsi.cfp.org.br/>. Acesso em: 6 jun. 2022.

138
FIGURA 10 – FORMA DE ACESSO PARA A RELAÇÃO DOS TESTES PSICOLÓGICOS DESFAVORÁVEIS PARA USO

FONTE: <https://satepsi.cfp.org.br/>. Acesso em: 6 jun. 2022.

Essas informações auxiliam o profissional, caso tenha alguma dúvida sobre os


instrumentos que pensa utilizar em uma avaliação psicológica. As buscas podem ser
feitas/refinadas a partir de alguns campos:

• Nome (do teste).


• Autor.
• Editora (que publicou).
• Público-alvo.
• Idade da amostra de normatização.
• Aplicação, que pode ser individual, coletiva, informatizada, não informatizada, on-line
(remota).
• Correção (podendo ser informatizada ou não informatizada).
• Construto (a ser avaliado), sendo eles: aprendizagem; atenção; condutas sociais/
desviantes; crenças/valores/atitudes; desenvolvimento; habilidades/competências;
inteligência; interesses/motivações/necessidades/expectativas; personalidade; pro-
cessos afetivos/emocionais; processos neuropsicológicos; processos perceptivos/
cognitivos, saúde mental e psicopatologia; técnicas projetivas.

DICA
Acesse o site do SATEPSI e confira os testes, utilizando os campos
de busca: https://satepsi.cfp.org.br/.

139
Além do processo de avaliação psicológica, o profissional deve ter os mesmos
cuidados éticos em qualquer que seja o serviço psicológico que ofereça, seja de forma
presencial ou on-line. A viabilidade da oferta do serviço deve ser analisada refletindo
sobre a demanda, a aproximação do paciente com as tecnologias, se há ansiedade,
estresse, desconforto e/ou fadiga em contato com dispositivos tecnológicos, habilidade
de uso e, até mesmo, qualidade dos dispositivos e da conexão à internet. Também
podemos incluir, nessa reflexão, fatores como idade, cultura e condições físicas e/ou
cognitivas do sujeito, que podem afetar os resultados de um teste e, assim, interferir no
processo de avaliação psicológica. Pesando todos os fatores, o psicólogo deve avaliar
os benefícios, os riscos e possíveis prejuízos advindos da avaliação psicológica on-line
com determinado sujeito (MARASCA et al., 2020).

Depois de considerada a necessidade de realizar a avaliação psicológica e de


se ter ciência dos procedimentos éticos e técnicos a que se deve atentar, o profissional
precisa acertar todo o processo junto ao sujeito avaliado, o qual necessita ser esclarecido
desde o início, incluindo na forma de um contrato, em que constarão informações sobre
honorários, sigilo, a delimitação do local onde o sujeito fará as etapas da avaliação
via TIC (a dinâmica do lugar escolhido para responder a um teste, por exemplo, pode
influenciar – negativa ou positivamente – as suas respostas), que deverá ser confortável,
bem iluminado, seguro e privativo. Além disso, é proibido ao profissional de Psicologia,
no manuseio (que pode envolver desde a produção, validação, comercialização e/ou
aplicação) dos testes psicológicos, os seguintes comportamentos:

a) realizar atividades que caracterizam negligência, preconceito,


exploração, violência, crueldade ou opressão;
b) induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas,
religiosas, raciais, de orientação sexual e identidade de gênero;
c) favorecer o uso de conhecimento da ciência psicológica e norma-
tizar a utilização de práticas psicológicas como instrumentos de
castigo, tortura ou qualquer forma de violência (CFP, 2018c, p. 14).

O resultado de uma avaliação psicológica pode ser comunicado, dependendo


da sua finalidade, por meio de um documento psicológico, que consiste em uma
comunicação escrita resultante da prestação de um serviço psicológico. Um dos
documentos que pode ser fruto do processo de avaliação psicológica, seja de forma
presencial ou on-line, é o atestado psicológico, que “certifica, com fundamento em
um diagnóstico psicológico, uma determinada situação, estado ou funcionamento
psicológico, com a finalidade de afirmar as condições psicológicas de quem, por
requerimento, o solicita” (CFP, 2019, p. 6). As informações contidas no atestado devem
ser aquelas observadas e analisadas com base na avaliação psicológica desenvolvida
com o sujeito. O laudo psicológico é outro tipo de documento que pode ser oriundo
de uma avaliação psicológica, apresentando os resultados desse processo e visando a
fundamentar as decisões a serem tomadas (CFP, 2019).

140
Existem outros tipos de documentos psicológicos que não são oriundos de uma
avaliação psicológica, como a declaração, que tem como objetivo “registrar, de forma
objetiva e sucinta, informações sobre a prestação de serviço realizado ou em realização”
(CFP, 2019, p. 5). Outro tipo de documento é o parecer psicológico, que apresenta uma
análise técnica para responder a uma questão surgida, por meio de um problema. O
parecer pode ter um caráter indicativo ou conclusivo, dependendo das respostas
elaboradas para o problema em questão (CFP, 2019).

O relatório é um documento que também não resulta de uma avaliação


psicológica. Ele pode ser psicológico ou multiprofissional. O relatório psicológico
“considera os condicionantes históricos e sociais da pessoa, grupo ou instituição
atendida” (CFP, 2019, p. 7). É um documento informativo, descritivo e circunstanciado,
que pode proporcionar orientações, encaminhamentos e intervenções necessários. O
relatório multiprofissional é semelhante ao psicológico, diferencia é que o psicólogo
dividirá a escrita com outros membros da equipe. Mesmo assim, ele deve se preocupar
em resguardar informações de caráter sigiloso e que não tenham pertinência com o
contexto da escrita do documento (CFP, 2019).

Em todo o atendimento psicológico on-line e, nesse caso, na avaliação


psicológica no ambiente digital, além de outros cuidados, deve-se prezar pelo sigilo
e confidencialidade das informações para que o documento psicológico não chegue
a pessoas não envolvidas no seu contexto de realização. Deve-se ter atenção no
armazenamento da documentação em meios eletrônicos e na sua divulgação por meio
digital ao ser compartilhado a quem for de interesse. É necessário tomar esse cuidado
para evitar o risco de vazamento de dados e informações, impedindo que o conteúdo
do documento psicológico chegue a terceiros. Ainda na elaboração desse material, é
importante situar o ambiente de realização do processo, a fim de explicitar ao máximo as
particularidades de cada contexto, como ocorre em uma avaliação psicológica on-line
(CFP, 2018c; MARASCA et al., 2020).

2.2 SUPERVISÃO TÉCNICA


Um outro serviço que o profissional de Psicologia pode oferecer por mediação
das TIC é a “supervisão técnica dos serviços prestados por psicólogas e psicólogos
nos mais diversos contextos de atuação” (CFP, 2018a, p. 2). A supervisão consiste em
uma atividade de grande importância para a formação e o aprimoramento profissional
de qualquer psicólogo ou estudante de Psicologia. O serviço de supervisão pode ser
ofertado tanto a estudantes durante a graduação como também para profissionais
registrados no CRP, podendo essa atividade fazer parte da sua formação continuada.
Trata-se de um processo de ensino-aprendizagem que ocorre em via de mão dupla
entre o supervisor e o treinando (MARASCA et al., 2020; TAVORA, 2002).

141
A supervisão abrange, entre outras atividades, o compartilhamento de
experiências e casos clínicos presentes na realidade dos profissionais envolvidos.
Pode ocorrer de forma individual ou coletiva e de maneira presencial ou on-line. Essa
modalidade tem sido muito proveitosa, principalmente porque permite um maior alcance
de profissionais especializados e a possibilidade de aprender com eles em contato por
meio de uma supervisão técnica (MARASCA et al., 2020; TAVORA, 2002).

Geralmente, a supervisão envolve a discussão de casos, dirigir a aplicação e a


correção de testes psicológicos e orientar a escrita de documentos. De modo on-line,
essas atividades poderiam ser adaptadas para a realização de chamadas de vídeo, por
exemplo, e o compartilhamento de documentos através de e-mails. Ressalta-se que
os cuidados éticos adotados devem ser os mesmos, independentemente do contexto
de prestação do serviço em Psicologia (on-line ou presencial). Uma forma de cuidado é
checar sempre a viabilidade da realização desse serviço de forma on-line, que envolve
sigilo e confidencialidade, aproximação dos envolvidos com a tecnologia, qualidade dos
equipamentos e de conexão à internet, entre outros fatores. Essas reflexões devem
ocorrer sempre que houver a possibilidade de atendimento de forma on-line, para
qualquer tipo de serviço psicológico a ser prestado, tanto os serviços já citados quanto
outros que ainda serão discutidos mais adiante (MARASCA et al., 2020).

Na atividade de supervisão, deve haver um cuidado no manuseio de material


privativo do psicólogo, seja de forma presencial ou on-line. Deve existir a precaução para
que testes psicológicos, por exemplo, não “caiam” na internet e ao alcance de pessoas
leigas, que podem fazer mau uso das informações, até mesmo de forma ilegal (algumas
pessoas aproveitam o vazamento de testes e se aproveitam da tentativa de “ensinar”
a sua realização). É preciso atentar-se também para que não haja gravações indevidas
nem presença de terceiros no espaço de supervisão. Dependendo do caráter do grupo
de supervisão e das informações que transitam nele, podem-se utilizar plataformas
criptografadas e/ou com acesso restrito, pelo uso de login e senha, a fim de resguardar
os materiais e informações restritas aos profissionais de Psicologia ou àqueles que
estão em formação. É de extrema necessidade discutir esses cuidados éticos com os
envolvidos na supervisão, sejam alunos e/ou supervisionados (MARASCA et al., 2020).

2.3 SELEÇÃO DE PESSOAL


Os processos de seleção de pessoal também são serviços psicológicos
autorizados para a realização de forma on-line. A Resolução CFP nº 3/2000 (CFP,
2000a) foi a primeira a tratar desse assunto, ao autorizar somente os processos prévios
de seleção, decisão mantida na Resolução CFP nº 12/2005 (CFP, 2005b) e na Resolução
CFP nº 11/2012 (CFP, 2012). Somente na Resolução CFP nº 11/2018 (CFP, 2018a) que todo
o processo de seleção de pessoal foi autorizado para ser feito por meio das TIC. Esses
processos são fundamentais para a dinâmica das organizações, pois permitem realizar o
recrutamento e a seleção de funcionários. Cada organização tem a sua cultura e muitas

142
optam por fazer somente algumas etapas, enquanto outras realizam todo o processo
de seleção de forma on-line. De fato, uma organização pode mesclar a forma de fazer
seleção, seja on-line ou presencial, dependendo, por exemplo, de períodos específicos
ou do tipo de cargo (CFP, 2018a; LIMA; RABELO, 2018).

FIGURA 11 – SELEÇÃO PARA UM CARGO REALIZADA DE FORMA ON-LINE

FONTE: <https://elements.envato.com/pt-br/mature-confident-woman-counselor-recording-video-s-3GY3LLW>.
Acesso em: 10 jun. 2022.

Seja on-line ou presencial, esse processo é dividido em recrutamento e seleção.


O recrutamento consiste na busca por um candidato que melhor se encaixa na vaga,
com a tentativa de buscar e atrair esses sujeitos. Para isso, as vagas precisam se tornar
públicas e um das formas de realizar isso é por meio da divulgação em meio digital,
que costuma receber o nome de e-recrutamento. Sites especializados em busca de
empregos se encarregam dessa missão, assim como perfis e grupos em redes sociais,
além da própria mídia social da organização, dependendo do seu tamanho e dos recursos
disponíveis para isso. A divulgação de uma vaga de maneira on-line pode ampliar o poder
de alcance do recrutamento. A etapa seguinte é a seleção em si (FERREIRA; SOEIRA,
2013; LIMA; RABELO, 2018).

A seleção de pessoas faz parte do processo de provisão de pessoal,


vindo logo depois do recrutamento. O recrutamento e a seleção
de recursos humanos devem ser tomados como duas fases de um
mesmo processo: a introdução de recursos humanos na organização.
Se o recrutamento é uma atividade de divulgação, de chamada, de
atenção, de incremento da entrada, portanto, uma atividade positiva
e convidativa, a seleção é uma atividade obstativa, de escolha, opção
e decisão, de filtragem da entrada, de classificação e, portanto,
restritiva (CHIAVENATO, 2006, p. 185).

A seleção visa a comparar os candidatos com a vaga oferecida, buscando aquele


que poderia desempenhar melhor a função almejada. Algumas técnicas são utilizadas
para observar e analisar os candidatos, comparando-os com as características que

143
são esperadas para a investidura no cargo. Essas ferramentas também podem ser
adaptadas ao ambiente digital, podendo ser aplicadas em um processo de seleção
on-line, fundamentada por uma avaliação psicológica (FERREIRA; SOEIRA, 2013; LIMA;
RABELO, 2018).

A avaliação psicológica para fins de seleção de candidatos(as) é um


processo sistemático, de levantamento e síntese de informações, com
base em procedimentos científicos que permitem identificar aspectos
psicológicos do(a) candidato(a) compatíveis com o desempenho das
atividades e profissiografia do cargo (CFP, 2016, p. 2).

NOTA
Profissiografia é o termo referente à descrição sistemática e minuciosa de uma determi-
nada profissão, levantando características como: definição e histórico da ocupação e sua
importância; número de profissionais (considerando idade, gênero e/ou outros fatores);
atribuições do cargo; instrumentos e equipamentos necessários; remuneração; carga ho-
rária; riscos à saúde; formação, treinamentos, experiência, requisitos e restrições para o
exercício profissional; entre outras informações.

FONTE: MIRA Y LOPEZ, E. A profissiografia do administrador. Cadernos de


Administração Pública, n. 30, 1955. Disponível em: https://bibliotecadigital.
fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/11943/30_000009458.pdf?sequence=1.
Acesso em: 21 jun. 2022.

A entrevista de seleção é uma dessas técnicas que também podem ser realizadas
sob mediação das TIC. Seu objetivo é aproximar-se e conhecer o candidato. Para isso, de
forma on-line, essas entrevistas geralmente são realizadas via chamada de vídeo, pois,
assim, é possível obter informações e detalhes através da linguagem verbal e não verbal. As
entrevistas podem ser feitas em qualquer etapa da seleção, podendo acontecer mais de uma,
comum em seleções que contam com uma entrevista inicial e outra devolutiva ao final do
processo (ALMEIDA, 2004; KNAPIK, 2008; LIMA; RABELO, 2018).

As provas situacionais e específicas são técnicas que também podem ser utilizadas
em processos de seleção realizados de forma on-line, visando, respectivamente, a avaliar o
desempenho do candidato em situações que poderiam acontecer no ambiente de trabalho
e analisar seus conhecimentos sobre assuntos relacionados, de maneira direta ou indireta,
à área do trabalho. De modo remoto, podem ocorrer via chamada de vídeo e por aplicação
de questionários on-line, por exemplo. As dinâmicas de grupo são outras ferramentas
utilizadas. Também podem ocorrer de forma on-line, de preferência em uma comunicação
de forma imediata, pois envolve muitas pessoas avaliadas a partir da sua capacidade de
trabalhar em equipe (ALMEIDA, 2004; KNAPIK, 2008; LIMA; RABELO, 2018).

144
Por fim, os testes psicológicos também foram citados por Knapik (2008) como
técnicas de seleção. Nesse contexto organizacional, sua aplicação busca conhecer as
características de perfil e personalidade do candidato, atentando-se a testes que avaliem
constructos que sejam almejados no desempenho da função pretendida. A aplicação
on-line (e/ou informatizada) de testes psicológicos encontra-se fundamentada em
estudos e práticas profissionais, sendo discutida desde a Resolução CFP nº 3/2000,
conforme apresentado anteriormente (ALMEIDA, 2004; CFP, 2000a).

Por não precisar gastar com locomoção e material de expediente (contribuindo,


inclusive, com uma cultura sustentável), por exemplo, o recrutamento e a seleção on-
line podem se tornar menos onerosos para as organizações. Isso também pode facilitar
a busca por candidatos em empresas que possuem matriz e filiais, fazendo com que
recrutadores não precisem se locomover por várias cidades ou, até mesmo, países,
dependendo do caráter da empresa. Isso também é um diferencial para os candidatos,
pois um morador de uma cidade pode se candidatar e participar da seleção de uma vaga
em outras cidades, estreitando, assim, as distâncias geográficas (LIMA; RABELO, 2018;
RECHE, 2011 apud LIMA; RABELO, 2018).

Pode-se apontar ainda outros benefícios do recrutamento e seleção de pessoal


on-line, como a possibilidade de otimização de todo o processo (com economia
considerável de tempo) e a agilidade que tal formato proporciona à comunicação entre
recrutadores/organização e candidatos, fazendo com que mensagens sejam trocadas de
modo mais breve e eficiente (LIMA; RABELO, 2018; RECHE, 2011 apud LIMA; RABELO, 2018).

Uma tática muito utilizada no ambiente digital é a abertura e o acesso a um
banco de dados (também chamado de banco de talentos). Organizações recorrem a
empresas especializadas nesse procedimento ou podem dispor, em seus sites, de um
espaço para possíveis e/ou futuros candidatos se inscreverem nesses bancos, pensando
em concorrer a uma atual ou futura vaga. Os sujeitos, nesse cadastro, preenchem
formulários com informações pessoais e profissionais, podendo também responder a
testes diversos ou provas situacionais, dependendo do caso. Esses são mais alguns
exemplos do uso das TIC no ambiente organizacional relacionados à seleção de pessoal,
que é um dos serviços oferecidos pelos profissionais de Psicologia, embasados por
legislações da categoria (CFP, 2018a; LIMA; RABELO, 2018).

Como reflexão sobre esse serviço, apontam-se também as desvantagens ou os


pontos críticos do processo de seleção on-line, chamando a atenção para uma espécie
de elitismo e/ou segregação social, pois se entende que essa modalidade acaba se
restringindo a uma parte da população, muitas vezes a de maior poder aquisitivo.
Geralmente, recorre-se à seleção on-line para cargos de gerência, trainee, vendas,
entre outros. Cargos mais operacionais ou técnicos ainda não são muito contemplados
por esse tipo de seleção, como os de serviços gerais ou auxiliares de produção (LIMA;
RABELO, 2018).

145
DICA
Para conhecer mais sobre os processos de seleção de pessoal on-
line, acesse o artigo E-recrutamento: a internet como ferramenta
no recrutamento e seleção, disponível em: https://administradores.
com.br/artigos/e-recrutamento-a-internet-como-ferramenta-no-
recrutamento-e-selecao.

2.4 CONSULTAS E ATENDIMENTOS PSICOLÓGICOS


Quando se fala em atendimento no ambiente digital, remete-se, quase que
imediatamente, à psicoterapia on-line. Esse é o serviço mais lembrado pela população
em geral e consiste em atendimentos sistemáticos e contínuos semelhantes à
psicoterapia de forma presencial, porém com algumas particularidades do ambiente
digital. Além da psicoterapia, o profissional de Psicologia pode realizar outros tipos de
serviços nas consultas mediadas pelas TIC, conforme a Resolução CFP nº 11/2018 (CFP,
2018a; FORTIM; COSENTINO, 2007).

ESTUDOS FUTUROS
Muitos aspectos da psicoterapia on-line e da relação terapêutica estabelecida
entre psicólogo e cliente foram apontados, porém outros ainda serão
discutidos mais adiante nesta unidade, a fim de trazer um foco maior para
esse tipo de serviço psicológico mediado pelas TIC.

Outro serviço psicológico realizado no ambiente on-line é a orientação


psicológica. Conforme Fortim e Cosentino (2007), a diferença entre a psicoterapia on-
line e a orientação psicológica é que esta se baseia em encontros de número limitado,
pontuais, específicos, reflexivos e informativos, nos quais se busca compreender a
queixa e realizar as devidas orientações (que pode ser, inclusive, um encaminhamento
para psicoterapia, seja on-line ou presencial). Na orientação psicológica, não se adentra
profundamente no psiquismo do sujeito como em uma psicoterapia. Apesar de serem
atendimentos breves, entende-se que, mesmo assim, é possível estabelecer uma
relação terapêutica, assim como ocorre na psicoterapia, que é um atendimento contínuo
e sistemático (PRADO; MEYER, 2006; SIEGMUND; LISBOA, 2015).

O serviço de orientação pode abranger diversas finalidades, como: “Orientação


psicológica e afetivo-sexual, orientação profissional, orientação de aprendizagem
e Psicologia escolar, orientação ergonômica, consultorias a empresas, reabilitação
cognitiva, ideomotora e comunicativa” (CFP, 2005b, p. 4).

146
A orientação psicológica pode ser oferecida por diversos formatos tecnológicos,
como o e-mail. Também pode estar presente em fóruns de discussão (como em redes
sociais), em sites, salas de bate-papo e aplicativos (ou softwares) de comunicação,
telefone, troca de mensagens e/ou chamadas de vídeo (FORTIM; COSENTINO, 2007;
PRADO; MEYER, 2006; SIEGMUND; LISBOA, 2015).

3 RELAÇÃO TERAPÊUTICA E AMBIENTE ON-LINE


Na relação terapêutica, entende-se que deve haver um vínculo autêntico e
aberto entre terapeuta e cliente. Essa relação está presente tanto na psicoterapia quanto
na orientação psicológica, por exemplo. No entanto, mesmo essa aproximação, inclusive
física, não pressupõe de imediato uma maior desinibição e abertura por parte do cliente.
Às vezes, isso só é possível graças ao ambiente digital, que pode auxiliar em alguns
casos e promover uma maior desenvoltura do processo terapêutico, principalmente
para clientes mais introvertidos ou os mais jovens, que, geralmente, possuem maior
familiaridade com a comunicação via web e, assim, sentem-se mais à vontade nessa
configuração de atendimento (RODRIGUES, 2020; SIEGMUND et al., 2015; SOUZA; SILVA;
MONTEIRO, 2020).

A relação terapêutica, tanto na intervenção on-line quanto na presencial, é um


importante componente do processo terapêutico, sendo marcada por fatores que se
mostram eficazes nesses dois tipos de intervenção, o que mostra que essa relação pode
ser construída em um ambiente de acolhimento e ajuda, para além das paredes de um
consultório físico. Um desses componentes é a aliança de trabalho, construída por meio
do vínculo nessa relação e desenvolvida entre psicólogo e cliente (considerando as suas
particularidades). Outro fator é o objetivo do trabalho realizado e o entendimento de que
ele pode ser atingido independentemente do tipo de intervenção (RODRIGUES, 2020;
SIEGMUND et al., 2015).

Estudos analisaram a real possibilidade da construção da aliança terapêutica


no ambiente on-line. Assim como no formato face a face, ela também é eficiente no
contexto digital em qualquer público-alvo, seja em atendimento individual, de casal ou
grupo. Entende-se que a relação entre cliente e psicoterapeuta é construída na própria
prática clínica e, com isso, pode estar presente em qualquer modalidade de atendimento.
O mais importante é observar a demanda e o atual estado de saúde da pessoa atendida
(RODRIGUES, 2020; SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020).

Visando a um bom andamento do processo terapêutico on-line, é importante


refletir sobre algumas informações presentes no contrato terapêutico, como número de
sessões, valores, modalidade de atendimento (síncrona e/ou assíncrona), como proceder
no caso de interrupção do atendimento devido a problemas técnicos, entre outras. A
escolha do local onde serão feitos os atendimentos também deverá ser discutida. O
ambiente da consulta é digital, mas tanto terapeuta quanto cliente estarão, cada um,

147
em um espaço físico. Hoje em dia, é possível acessar a rede a partir de qualquer lugar
que tenha sinal de internet, seja móvel ou de banda larga (RODRIGUES, 2020; SOUZA;
SILVA; MONTEIRO, 2020).

Ainda, pode-se refletir sobre qual seria o melhor local para fazer os atendimentos.
Entende-se que não existe uma regra exata de um determinado local no caso do
cliente, até porque se pressupõe que, para o psicólogo, isso já é bem delimitado,
devido a sua prática e experiência profissional. Cabe tanto ao psicoterapeuta quanto ao
cliente escolherem um local apropriado dentro das suas possibilidades, de preferência,
um ambiente silencioso e seguro, com o objetivo de resguardar o sigilo profissional
(RODRIGUES, 2020; SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020).

Em um consultório físico, preza-se pela configuração do setting terapêutico,


que consiste nos variados recursos que possibilitam o processo terapêutico em si. Isso
envolve o espaço destinado à terapia, o momento reservado para tal, ou seja, toda a
disponibilidade do sujeito para estar presente naquele momento. Isso não seria diferente
no atendimento on-line (RODRIGUES, 2020).

O cliente pode fazer o atendimento no conforto da sua casa (até mesmo


compartilhando a configuração do seu espaço no processo terapêutico, o que é uma
novidade possibilitada pelo atendimento on-line). Essa aproximação com o mundo “real”
do cliente pode auxiliar na construção do vínculo com o psicólogo e também ajudá-lo
a compreender a dinâmica familiar do cliente e como ele interage com as pessoas que
residem com ele, por exemplo. De sua própria casa, o cliente pode se sentir mais à
vontade para compartilhar as suas demandas, o que pode se tornar importante para o
processo terapêutico (RODRIGUES, 2020; SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020).

FIGURA 12 – ATENDIMENTO ON-LINE REALIZADO NA RESIDÊNCIA DA CLIENTE

FONTE: <https://elements.envato.com/pt-br/young-confident-african-american-psychologist-talk-MPBGVWG>.
Acesso em: 10 jun. 2022.

148
No entanto, esse ambiente também pode ser interpretado de outra maneira.
Outras pessoas que dividem a casa podem não estar abertas para auxiliar o sujeito em
terapia. Barulhos incômodos, falta de privacidade e tentativa de escuta do atendimento
podem interferir na psicoterapia e dificultar a total entrega do cliente, o qual, junto ao
terapeuta, pode pensar em soluções, visando a superar esses obstáculos. Rodrigues
(2020) apresenta algumas ideias, como marcar os atendimentos em horários que
normalmente tem pouco movimento na casa e evitar locais públicos e/ou de trabalho,
tanto para resguardar a privacidade quanto para evitar distrações e interrupções.
Em alguns casos, se a psicoterapia por chamada de vídeo não for viável pela falta de
privacidade, pode-se adotar o uso de mensagens de texto em algumas sessões.

4 ATENDIMENTOS SÍNCRONOS E ASSÍNCRONOS


Os atendimentos on-line podem ser concebidos de duas formas: síncrona e
assíncrona. No atendimento síncrono, a interação é simultânea, como em chamadas de
áudio e de vídeo (o recurso mais comum). Já no atendimento assíncrono, essa interação
não se dá de forma imediata, como aquelas feitas em trocas de e-mails e mensagens
de texto, em que tanto o terapeuta quanto o sujeito atendido respondem de acordo
com a sua disponibilidade ou em ocasiões combinadas previamente. Dessa forma, eles
não estão conectados ao mesmo tempo, o que faz com que haja um intervalo entre a
comunicação, a recepção da mensagem e a resposta (RODRIGUES, 2020; SIEGMUND et
al., 2015; SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020).

A modalidade de atendimento adotada na intervenção psicológica deve ser


acordada logo no início, havendo a possibilidade também de mesclar os dois formatos.
Isso se tornou muito comum, pois algumas formas de interação entre paciente e
terapeuta ocorrem, pelo menos inicialmente, de forma assíncrona, como o envio de
documentos ou a troca de mensagens para combinar horários e outros assuntos
(RODRIGUES, 2020; SIEGMUND et al., 2015).

A modalidade de atendimento também estará relacionada à demanda, ao tipo de


intervenção adotado e aos recursos disponibilizados para a sua realização. Uma pessoa
que apresenta um quadro de ansiedade ou outra demanda que necessite de uma ação
prontamente, por exemplo, poderia não se beneficiar de um atendimento assíncrono,
sendo mais recomendada, nesse caso, a modalidade síncrona (RODRIGUES, 2020).

Como já apontado, em um mesmo serviço, pode haver a combinação de


diferentes modalidades de atendimento quando, por exemplo, pode ocorrer a aplicação
de um questionário de forma remota em um processo de seleção e, em outra ocasião,
realizar uma entrevista de forma síncrona por chamada de vídeo. Todos esses
procedimentos deverão ser combinados na elaboração do contrato do serviço a ser
ofertado (SIEGMUND et al., 2015).

149
A aliança terapêutica pode ser construída de diversas formas, mas entende-
se que a modalidade síncrona pode reforçar essa construção, pois, em uma chamada
de vídeo, por exemplo, pode-se captar a linguagem não verbal ou outros aspectos
da comunicação, de forma mais atenta do que em uma troca de e-mails de forma
assíncrona. Além disso, pode haver maior grau de confiança, pois torna-se possível notar,
de modo quase que imediato, se quem está na interação é o próprio psicoterapeuta, e
não terceiros, que poderiam se passar por ele (RODRIGUES, 2020).

5 PSICOTERAPIA ON-LINE EM DIVERSOS CONTEXTOS


As modalidades de atendimento on-line podem ser adaptadas a diferentes
contextos e públicos, como na psicoterapia de crianças e adolescentes, de casal ou
de grupo. Geralmente, muitas crianças e adolescentes têm mais aproximação com as
novas tecnologias, pois já cresceram nesse ambiente digital. Às vezes, eles possuem
mais conhecimentos na área do que os próprios psicólogos, sobretudo os profissionais
nascidos em uma época em que o acesso à internet não estava presente no seu dia
a dia. Por isso, os psicoterapeutas precisam se adaptar à linguagem utilizada nesse
meio, muitas vezes permeada por memes, sites de redes sociais e jogos eletrônicos, a
fim de manter o componente lúdico nos atendimentos desse público. Esses recursos
podem ser adaptados para o atendimento mediado pelas TIC, possibilitando uma maior
aproximação e construção da aliança terapêutica (RODRIGUES, 2020; SOUZA; SILVA;
MONTEIRO, 2020).

FIGURA 13 – MÃE ACOMPANHANDO A FILHA EM UM ATENDIMENTO ON-LINE

FONTE: <https://elements.envato.com/pt-br/asian-girls-study-with-a-tutor-private-lessons-at--ESB6JVM>.
Acesso em: 10 jun. 2022.

150
FIGURA 14 – ADOLESCENTE EM ATENDIMENTO NO CELULAR

FONTE: <https://elements.envato.com/pt-br/a-young-teenage-girl-is-browsing-social-networks-o-BGH3WZL>.
Acesso em: 10 jun. 2022.

Outras adaptações precisam ser feitas, como no ambiente do atendimento,


que poderá requerer um maior campo de visão do espaço físico ao qual o cliente está
presente, além do uso de recursos como brinquedos, itens pessoais da criança e
desenhos, que serão compartilhados pela câmera nas chamadas de vídeo. As crianças
também poderão compartilhar seu espaço físico mostrando elementos presentes
na sua casa. Para elas, a psicoterapia é vista, muitas vezes, como uma novidade, e
isso proporciona engajamento e adesão. Crianças que veem seus pais participando
de chamadas de vídeo, principalmente para reuniões de trabalho, podem se sentir
importantes por ter um momento como esse para elas (RODRIGUES, 2020; SOUZA;
SILVA; MONTEIRO, 2020).

Para a realização da psicoterapia com crianças, basta que elas já tenham a


capacidade de se comunicar e que consigam usar o dispositivo eletrônico necessário
para a realização do atendimento. Também é preciso o apoio de pais e/ou responsáveis,
assim como na psicoterapia presencial, para explicar sobre o atendimento e sua forma de
realização, pois a criança pode precisar de um suporte tecnológico durante as sessões.
Assim como ocorre na psicoterapia on-line de adultos, o sigilo deve ser resguardado,
principalmente com crianças maiores e adolescentes, que entendem melhor que ali
é um espaço para elas se abrirem com o psicólogo. Para isso, torna-se necessária a
cooperação dos pais e de outras pessoas que habitam na residência (RODRIGUES,
2020; SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020).

Uma desvantagem da psicoterapia on-line, nesse contexto de atendimento, é


que, em alguns casos, dependendo da demanda, o psicólogo pode ter dificuldade em
manejar a sessão, devido ao comportamento da criança, seja por ser do tipo opositor,
por exemplo, ou por não conseguir captar pela câmera sinais sutis ou causados por

151
ruídos na comunicação, oriundos de problemas tecnológicos. Por isso, o psicólogo deve
tentar ser o mais claro possível, gesticulando bastante e exacerbando sua entonação,
para tentar diminuir as chances de ser incompreendido, e também deve ter o apoio de
pais e/ou responsáveis para manejar o comportamento da criança e tentar mantê-la na
chamada de vídeo (SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020).

O atendimento on-line (de forma síncrona ou assíncrona) também pode


ser oferecido na forma de psicoterapia de casal, que envolve pessoas casadas, em
relacionamento estável, noivas e que se relacionam no mesmo ambiente ou em casas
diferentes, independentemente da orientação sexual dos envolvidos. No contexto
digital, adaptações podem ser feitas visando à construção do vínculo entre o psicólogo e
os sujeitos e, com isso, o desenvolvimento do processo terapêutico. As sessões podem
ser realizadas em dispositivos separados (isso possibilita que parceiros que vivem em
localidades diferentes, por motivos diversos, possam se beneficiar desse atendimento)
ou compartilhando a mesma tela, de preferência com o uso de um computador ou
notebook, devido ao maior enquadramento da imagem, a fim de possibilitar que
psicólogo e clientes possam ser bem visualizados uns pelos outros (RODRIGUES, 2020;
SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020).

FIGURA 15 – CASAL EM PSICOTERAPIA ON-LINE

FONTE: <https://elements.envato.com/pt-br/couple-using-a-laptop-while-calculating-their-mont-3BZZNKK>.
Acesso em: 10 jun. 2022.

Uma desvantagem do compartilhamento do dispositivo eletrônico, assim como


do atendimento de casal on-line em si, é o fato de o psicoterapeuta não conseguir
analisar a maneira como o casal se comportaria em um consultório físico, como a análise
da escolha dos assentos, se eles se sentariam juntos ou separados, se há contato físico
entre eles ou outras observações que poderiam auxiliar a entender a dinâmica do casal.
Todavia, isso pode ser explorado de outras formas no atendimento on-line, uma vez

152
que a sessão pode ocorrer, geralmente, na residência do casal e, com isso, possibilitar a
observação da dinâmica familiar, incluindo momentos de companheirismo e de conflitos.
Além disso, o atendimento de casal pode ser praticamente impossível devido a conflitos
na agenda dos envolvidos, porém esse empecilho pode ser superado com a flexibilidade
do atendimento on-line (RODRIGUES, 2020; SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020).

ESTUDOS FUTUROS
Outras vantagens ou desvantagens da psicoterapia on-line de casal
são semelhantes aos outros tipos de atendimento e serão explicadas
no Tópico 3, de forma geral.

A psicoterapia de grupo pode ser concebida no ambiente on-line e realizada


de forma síncrona ou assíncrona, sendo essa modalidade usada comumente, bastante
difundida devido às práticas já existentes e impulsionadas pelas redes sociais, como os
grupos de discussão, de apoio, fóruns, eventos, plataformas de realidade virtual e jogos
on-line. Esses grupos, geralmente, são organizados entre si e envolvem pessoas que
compartilham demandas semelhantes, mas isso não quer dizer que os psicólogos não
possam fazer uso da psicoeducação e se aproveitar desse formato já existente e que
produz benefícios, sobretudo da adesão e da busca por alívio do sofrimento psíquico
(ou outras demandas). Grupos síncronos, por meio de chamadas de vídeo, também
podem ser realizados, porém as dificuldades podem ser maiores, devido às questões
técnicas e à impossibilidade de acompanhar a comunicação verbal e não verbal de
todos os presentes na tela do seu dispositivo, principalmente se o grupo tiver muitos
participantes (SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020).

O contrato terapêutico também deve ser elaborado nesse contexto de atendi-


mento e reforçar assuntos como o sigilo, a confidencialidade e a formação da aliança
terapêutica. É importante trazer as pessoas para dentro do grupo e fazer com que elas
compreendam que cada sujeito é um elo na construção dessa corrente de trabalho,
sendo um dos objetivos o bem-estar de todos (SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020).

153
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Os cuidados que devem ser tomados para prezar pela segurança dos atendimentos
on-line.

• Os aspectos de cada serviço psicológico realizado sob mediação das TIC.

• Como ocorre a relação terapêutica nos atendimentos psicológicos on-line.

• As modalidades síncrona, cuja interação é simultânea, como em chamadas de áudio


e de vídeo; e assíncrona, na qual essa interação não se dá de forma imediata, como a
realizada em trocas de e-mails e mensagens de texto.

• As particularidades dos atendimentos em diferentes contextos e com grupos


populacionais específicos.

154
AUTOATIVIDADE
1 Comumente, recebemos notícias na mídia sobre ataques virtuais a sites, incluindo
redes sociais, expondo perfis e causando vazamento de dados. Além desse risco, e
pensando na importância, como um todo, da segurança dos dados, para que eles
não sejam vazados e o atendimento on-line, comprometido, existem alguns cuidados
que devem ser tomados durante esses atendimentos para garantir a segurança dos
sujeitos e dos seus dados, assim como o sigilo e a confidencialidade. Nesse contexto,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Uso de celular, internet aberta e aplicativos que tenham comunicação


criptografada e firewall atualizado.
b) ( ) Antivírus atualizado, internet 3G, e uso de tablets e aplicativos de bate-papo.
c) ( ) Firewall e antivírus atualizados; uso de notebook, internet privada e aplicativos
que tenham comunicação criptografada.
d) ( ) Firewall desatualizado e antivírus atualizado; uso de aplicativos de bate-papo,
softwares atualizados e internet privada.

2 O atendimento psicológico mediado pelas TIC, acompanhando as mudanças na


sociedade e as próprias transformações tecnológicas, passou a ofertar uma gama
de serviços, a fim de fortalecer as práticas do profissional de Psicologia no ambiente
digital. Com base nos serviços psicológicos, cuja prestação é autorizada nesse
contexto pelo CFP, analise as sentenças a seguir:

I- Instrumentos psicológicos regulamentados pelo CFP não devem ser utilizados em


atendimento on-line.
II- O Sistema de Avaliação de Instrumentos Psicológicos (SATEPSI) só deve avaliar e
dar parecer favorável aos testes físicos e palpáveis e de aplicação presencial.
III- No processo de avaliação psicológica, o profissional deve ter os mesmos cuidados
éticos em qualquer que seja o serviço psicológico que ofereça, seja de forma
presencial ou on-line.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença I está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

155
3 Um serviço que pode ser oferecido pelo profissional de Psicologia por mediação das
TIC é a “supervisão técnica dos serviços prestados por psicólogas e psicólogos
nos mais diversos contextos de atuação” (CFP, 2018a, p. 2), que é uma atividade
fundamental na formação (básica e complementar) e no aprimoramento profissional.
Sobre a supervisão técnica por meio digital, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:

FONTE: CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA – CFP. Resolução nº 11, de 11 de maio de 2018.


Regulamenta a prestação de serviços psicológicos realizados por meios de tecnologias da informação
e da comunicação e revoga a Resolução CFP nº 11/2012. Brasília: Conselho Federal de Psicologia,
2018a. Disponível em: https://atosoficiais.com.br/cfp/resolucao-do-exercicio-profissional-n-11-2018-
regulamenta-a-prestacao-de-servicos-psicologicos-realizados-por-meios-de-tecnologias-da-informacao-
e-da-comunicacao-e-revoga-a-resolucao-cfp-no-11-2012?origin=instituicao&q=11%202018. Acesso em:
6 jun. 2022.

(  ) A supervisão técnica abrange apenas o compartilhamento de experiências entre


supervisor e profissional de Psicologia. 
(  ) Geralmente, a supervisão envolve discussão de casos, dirigir a aplicação e a correção
de testes psicológicos, e orientar a escrita de documentos psicológicos.
(  ) Durante a supervisão técnica dos serviços prestados por psicólogos, estes
necessitam atentar-se para que não haja gravações indevidas nem a presença de
terceiros no espaço (presencial ou on-line).

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) F – V – V.
b) ( ) V – V – V.
c) ( ) F – F – F.
d) ( ) F – F – V.

4 A pandemia da Covid-19 fez algumas empresas e instituições se adaptarem ao


ambiente digital, para a realização de processos de seleção de candidatos para
compor o seu quadro de funcionários. Disserte sobre a realização de entrevistas
psicológicas mediadas pelas TIC visando à seleção de pessoal.

5 São observadas grandes contribuições do atendimento psicológico por meio das TIC
e sua larga utilização como consequência dos primeiros atendimentos experimentais
que proporcionaram a regulamentação desse serviço de forma ampla, como é
atualmente. Recursos tecnológicos também têm possibilitado mais segurança
para esses atendimentos – apesar desses avanços, alguns pontos ainda merecem
discussão. Disserte sobre as desvantagens (ou pontos críticos) da psicoterapia on-
line no atendimento de algumas populações específicas.

156
UNIDADE 3 TÓPICO 3 —
AMPLIANDO DISCUSSÕES SOBRE AS
INTERVENÇÕES ON-LINE

1 INTRODUÇÃO
Conhecer as mudanças ocorridas na sociedade, nas tecnologias e como essas
transformações modificam o sujeito é importante para analisar o presente e construir
ações futuras de intervenções psicológicas. Com essas mudanças, os profissionais
podem se ver impelidos a se adaptar às novas possibilidades de atuação. O mesmo
deve ocorrer para aqueles que ainda estão em formação, ou seja, a discussão sobre
a intervenção psicológica on-line deve ocorrer desde a formação básica, incluindo o
formato de componente curricular e atividades complementares. Ainda na graduação,
os estudantes poderão ser convidados a discutir e a entender a necessidade das
mudanças ocorridas e outras mais que, porventura, poderão acontecer para que a
atuação e a prática em Psicologia acompanhem o desenvolvimento da sociedade e
das tecnologias (RODRIGUES, 2020; SIEGMUND et al., 2015; SOUZA; SILVA; MONTEIRO,
2020).

Para os psicólogos que já atuam, deve-se também convidá-los para esses


debates, a fim de enriquecer a Psicologia como um todo. Não basta somente realizar
a leitura de resoluções e normativas. Discussões, trocas, capacitações, treinamentos
e especializações são necessários para que haja atualização, fortalecimento e
aprimoramento do atendimento no ambiente digital de forma ética e segura para a
população (RODRIGUES, 2020; SIEGMUND et al., 2015; SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020).

Esses conhecimentos não se restringem apenas ao saber psicológico. É preciso


uma interlocução com outras áreas e saberes, para que o atendimento on-line seja mais
bem desenvolvido. Alguns termos tecnológicos, que antes poderiam ser estranhos,
passam a fazer parte da rotina dos psicólogos que atendem de forma on-line. Alguns
deles são:

Telecomunicação é a preparação, transmissão, comunicação


ou processamento de informações por meios eletrônicos. [...]
Videochamada é uma forma de comunicação instantânea entre
duas pessoas por vídeo, semelhante a uma ligação telefônica. [...]
Confidencialidade significa o princípio de que os dados ou informações
não são disponibilizados ou divulgados a pessoas ou processos não
autorizados. [...] Segurança ou medidas de segurança são termos que
abrangem todas as guardas administrativas, físicas e técnicas em
um sistema de informações. Sistemas de informação consistem no
conjunto interconectados de recursos de informação dentro de um
sistema, inclui hardware, software, informações, dados, aplicativos,
comunicações e pessoas (SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020, s. p.).

157
Conhecimentos sobre ferramentas tecnológicas são importantes, até mesmo,
para que se saiba operar os dispositivos utilizados nas intervenções, incluindo no
formato presencial. As trocas realizadas com outras áreas só tendem a enriquecer e
aprimorar as práticas em Psicologia e superar as barreiras e as dificuldades que podem
surgir (RODRIGUES, 2020; SIEGMUND et al., 2015; SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020).

2 SUPERANDO BARREIRAS AINDA EXISTENTES


Embora ainda existam resistências a essa forma de intervenção psicológica,
principalmente por ainda ser considerada uma novidade (apesar de estar presente
nas discussões do CFP desde 1995), é inegável a eficácia dos atendimentos on-line,
seja no caso de tratamentos de transtornos ou em quaisquer outros tipos de serviços
psicológicos, entendendo que os efeitos produzidos no atendimento on-line são, muitas
vezes, equivalentes aos do atendimento presencial (SIEGMUND et al., 2015).

A psicoterapia on-line é procurada devido às vantagens de acessibilidade


e conveniência. Muitas vezes, as pessoas possuem rotinas com horários e agenda
apertada, próprias das demandas de trabalho impostas neste século. Dessa forma, a
psicoterapia on-line torna-se atrativa para sujeitos com dificuldade de conciliar agenda,
locomoção e tempo disponível, seja para o atendimento individual ou não. Também é
possível reduzir os custos de deslocamento, por exemplo, ao abranger a possibilidade
de intervenção psicológica para pessoas que moram em lugares distantes ou que, em
sua localidade, atendimentos e/ou serviços especializados não estejam disponíveis. A
psicoterapia on-line também pode ser vantajosa para pessoas com mobilidade reduzida
ou limitada, seja de forma temporária ou permanente, ou por condição psicológica ou
física que dificulte a ida a um consultório físico (RODRIGUES, 2020; SOUZA; SILVA;
MONTEIRO, 2020).

De modo geral, a intervenção psicológica mediada pelas TIC se destaca pela


flexibilidade e pelo conforto. Por isso, essa modalidade também pode ser atrativa para
mulheres grávidas, que tiveram filhos há pouco tempo e/ou que possuem dificuldade
em sair, por não terem com quem deixar seus filhos. Outra vantagem da psicoterapia
on-line é que essa modalidade pode ser interessante para pessoas muito tímidas ou
que tenham dificuldade de interagir face a face para falar de si. O ambiente digital pode
ser mais confortável para elas, pelo menos inicialmente, o que facilitaria o início de um
processo terapêutico (RODRIGUES, 2020; SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020).

158
FIGURA 16 – MULHER COM CRIANÇA PEQUENA EM ATENDIMENTO ON-LINE

FONTE: <https://elements.envato.com/pt-br/young-mother-with-toddler-in-her-arms-talking-onli-V2WWU9X>.
Acesso em: 10 jun. 2022.

Apesar das vantagens, nem todos estão abertos ou disponíveis para um


atendimento on-line, muitas vezes motivados por questões pessoais e/ou de resistência
às novidades. Além dessa resistência relatada por algumas pessoas, a psicoterapia on-
line também pode apresentar algumas desvantagens. Muitas pessoas se queixam da
perda de contato visual e, até mesmo, do contato tátil. O atendimento no ambiente digital
pode proporcionar acolhimento, mas ainda não é possível superar a falta do contato
mais próximo e físico. Esse distanciamento físico pode ser prejudicial em situações que
demandam um contato face a face, como em casos de crise ou vulnerabilidade que
possam surgir no decorrer do processo terapêutico e colocar em risco a segurança do
próprio sujeito ou de terceiros (RODRIGUES, 2020).

Dessa forma, enfatiza-se que cada caso é único e particular, cabendo ao


psicoterapeuta avaliar a necessidade do sujeito e a possibilidade de atendimento on-
line ou face a face. Por isso, reforçamos a necessidade de ter um contato de suporte
na mesma localidade do cliente, como um serviço emergencial de saúde, por exemplo.
Nesses casos, ao manter o atendimento on-line, entende-se que o atendimento
síncrono seja mais apropriado, pois o psicólogo poderia avaliar melhor a comunicação
verbal e não verbal com o cliente (RODRIGUES, 2020).

Barreiras podem surgir devido a falhas tecnológicas, inclusive proporcionando


ruídos na comunicação, causados por quedas de conexão, imagens congeladas ou atraso
no áudio. Isso pode atrapalhar principalmente quando uma fala importante é elaborada
e cortada e, com isso, perde-se a linha de raciocínio. É importante alertar o cliente sobre
essas possibilidades e combinar alternativas caso isso ocorra. Outra barreira que pode
surgir seria a social, pois sabemos que, apesar da crescente popularização e das propostas
de inclusão digital, ainda não são todas as pessoas que possuem acesso a dispositivos

159
eletrônicos, pensando em aparelhos que estejam conectados à internet ou que possuam
requisitos mínimos e adequados para a realização de uma chamada de vídeo com imagem
nítida e de qualidade suficiente para uma boa comunicação (RODRIGUES, 2020).

FIGURA 17 – PROBLEMAS NA CONEXÃO PROVOCAM RUÍDO NA COMUNICAÇÃO E ATRAPALHAM


O ATENDIMENTO ON-LINE

FONTE: <https://elements.envato.com/pt-br/nope-this-is-not-for-me-RRTUFWL>. Acesso em: 10 jun. 2022.

Talvez a maior desvantagem do atendimento on-line esteja relacionada ao seu


maior risco, isto é, a quebra da confidencialidade, mas isso é algo que também pode
ocorrer no formato presencial, apesar de as chances serem menores. O vazamento de
dados é um risco do ambiente digital em si, devendo-se evitá-lo ao máximo e diminuindo
as chances de que esse vazamento possa ocorrer – talvez, esse seja um dos maiores
cuidados que o psicoterapeuta deve ter quando oferecer serviços on-line. Para evitar o
risco de vazamento ou uso indevido dos dados, as sessões não deverão ser gravadas,
pelo menos sem a ciência e o consentimento de todas as partes, principalmente do
cliente (RODRIGUES, 2020; SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020).

Em alguns casos, mais do que uma desvantagem, não é aconselhável a


realização do atendimento on-line. Já foi citado que esse tipo de atendimento é vedado
para pessoas em situação de urgência, emergência, desastres, violência e violação de
direitos. Além dessas, existem outros casos em que se deve prezar pelo atendimento
presencial: dependentes de álcool e outras drogas; potencial suicida (que apresente
ideação ou que tenha histórico de tentativas); e alguns casos de transtornos mentais, em
que o sujeito esteja em crise, como casos de esquizofrenia, borderline ou psicose. Toda
situação deve ser analisada e avaliada antes da decisão sobre o tipo de atendimento.
No caso de pessoas com transtornos mentais e que estão em crise, uma avaliação
conjunta com um médico psiquiatra, por exemplo, pode ser benéfica para a tomada
dessa decisão, porque o médico pode ser o elo entre o sujeito e o ambiente físico, ao
proporcionar o suporte de forma presencial (RODRIGUES, 2020).

160
3 OS DESAFIOS ENFRENTADOS DURANTE A PANDEMIA
DA COVID-19
No final de 2019, surgiu uma nova doença, de característica respiratória, a
Covid-19, causada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2). A enfermidade pode causar
sintomas como febre, tosse e dificuldade de respiração, além de dores no corpo, mal-
estar e cansaço. A transmissão ocorre por contato pessoal próximo (como apertos de
mão), por secreções (gotículas de saliva, por exemplo) e pelo ar. Durante a infecção
da doença, as pessoas podem apresentar desde sintomas leves a outros mais graves,
que podem evoluir para óbito. A enfermidade também pode ser assintomática. Sujeitos
idosos e portadores de doenças crônicas, como diabetes e asma, fazem parte da
população que apresenta maiores riscos de evoluir para um estado de maior gravidade,
incluindo óbito (HENRIQUES; VASCONCELOS, 2020; UFCA, 2020).

A Covid-19 surgiu na cidade de Wuhan, na China, no final de 2019 e imagina-


se que as festividades de fim de ano ajudaram a desencadear a contaminação pela
doença. Não demorou para que casos de pessoas infectadas, oriundas dessa localidade,
fossem identificadas em outros países, aumentando ainda mais as transmissões, que
ocorriam de forma rápida. Em janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
declarou estado de emergência de saúde pública de relevância internacional e, assim,
a doença foi promovida ao status de pandemia, o que ocorre quando uma epidemia
já se alastra por diversos países e continentes, causando infecções simultâneas
e mortes em diversas localidades. A pandemia da Covid-19, devido à proporção que
tomou, é considerada maior do que a de gripe espanhola, ocorrida no início do século
XX (HENRIQUES; VASCONCELOS, 2020; UFCA, 2020).

Em fevereiro de 2020, foram registrados os primeiros casos no Brasil e o primeiro


óbito ocorreu em 17 de março de 2020; no mês seguinte, foram tomadas ações para
evitar novas transmissões, que já estavam no nível comunitário, frear as milhares já
existentes e impedir um colapso no sistema de saúde, tanto no público quanto nas redes
privadas. Um procedimento necessário foi a decretação de quarentena com isolamento
social e domiciliar, levando, praticamente de uma hora para outra, as pessoas a ficarem
confinadas em suas casas, com saída restrita apenas para atividades essenciais, o que,
muitas vezes, trouxe o contexto de trabalho e estudos para as residências (ROCHA et al.,
2021; RODRIGUES, 2020; UFCA, 2020).

NOTA
A transmissão comunitária ocorre quando alcança o nível local
entre os integrantes da comunidade, com a impossibilidade de
se obter a identificação ou a origem do sujeito transmissor de
determinada infecção.

161
DICA
Conheça outros termos relacionados à pandemia da Covid-19
acessando o link: https://ictq.com.br/farmacia-clinica/1368-glossario-
do-coronavirus-entenda-os-termos-que-explicam-a-pandemia.

Além disso, quando havia suspeita ou a confirmação da infecção, era necessário


ficar em quarentena e ainda mais isolado (muitas vezes, em cômodos separados), para
evitar que as pessoas próximas, que morassem na mesma residência, por exemplo,
também não se infectassem. Também houve uma intensificação de campanhas de
higiene incentivando o uso de máscaras, além do reforço para que as pessoas sempre
mantivessem suas mãos limpas com o uso de álcool em gel e/ou a limpeza com água e
sabão (ROCHA et al., 2021; RODRIGUES, 2020).

FIGURA 18 – USO DE MÁSCARAS COMO FORMA DE PREVENÇÃO CONTRA O CORONAVÍRUS

FONTE: <https://elements.envato.com/pt-br/multiracial-group-of-warehouse-workers-hold-delive-LW3FFJY>.
Acesso em: 10 jun. 2022.

3.1 A REINVENÇÃO DAS INTERVENÇÕES PSICOLÓGICAS


DURANTE A PANDEMIA
Com todas essas medidas adotadas, muitos serviços foram suspensos,
mas outros não poderiam ser descontinuados. A psicoterapia on-line já havia sido
regulamentada no país em 2018. Com a pandemia, tornou-se muito mais popular e
ainda mais necessária. Além dos novos casos de depressão e ansiedade que surgiram
com a situação da pandemia (muitas vezes, causados pelo sentimento de novidade e
insegurança, já que se tratava de uma doença nova e uma condição nunca passada
por quase toda a população brasileira especificamente), ainda existia as demandas de

162
sofrimento psíquico e psicopatologias diversas, normalmente presentes na sociedade.
Conflitos de ordem social, econômica, entre outros, também refletiram direta ou
indiretamente na saúde mental da população (ROCHA et al., 2021; RODRIGUES, 2020).

Acompanhar os movimentos da sociedade e eventos como esse da pandemia é


importante para adequar normas e revisar legislações. Assim, a Resolução CFP nº 4/2020
(CFP, 2020) reforçou a prática profissional mediada pelas TIC durante a pandemia, cuja
grande adaptação realizada, e que visava a atender à necessidade da sociedade naquele
momento, foi a possibilidade de atendimento on-line em situação de violência, violação
de direitos, emergência, urgência e desastres, mas permanecendo a importância de se
ter um contato presencial na localidade da pessoa atendida. Embora a Resolução CFP
nº 11/2018 (CFP, 2018a) proibisse essa prática, com a Resolução CFP nº 4/2020, essa
proibição foi suspensa nesse período para que as pessoas não ficassem sem suporte
psicológico durante a pandemia, principalmente no início, quando muitas dúvidas e
temores assolavam a população e muitos estavam em quarentena e isolamento social
(SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020).

A Resolução CFP nº 4/2020 (CFP, 2020) prevê a obrigatoriedade de cadastro no


site e-Psi, como já ocorre desde a Resolução CFP nº 11/2018, porém, autoriza o início
do atendimento antes do parecer do CRP. Depois de emitido um parecer favorável, o
profissional poderia continuar atendendo. Caso não fosse favorável, poderia entrar com
um recurso e, se negado, ter a autorização suspensa. Destaca-se que o profissional,
por meio de sua prática mediada pelas TIC, deveria prestar um serviço de qualidade e
regular ao CRP e ao CFP. A resolução apenas apressou o início dos atendimentos, para
que a população não ficasse desassistida nesse período em específico.

ATENÇÃO
Apesar da flexibilização do atendimento on-line, proporcionada
pela Resolução CFP nº 4/2020, para que a população não deixe
de receber atenção psicológica mesmo durante a pandemia, o
cadastramento do profissional no site e-Psi ainda é obrigatório.
Confira, na íntegra, o comunicado realizado pelo CFP, em 16 de
abril de 2020, sobre a nova decisão: https://site.cfp.org.br/cfp-
simplifica-cadastro-de-profissionais-na-plataforma-e-psi/.

Apesar do suporte oferecido pela mudança na legislação, nem todos os


profissionais atendiam on-line previamente à pandemia ou estavam preparados,
incluindo tecnologicamente, para esse novo desafio. Chamadas de vídeo, por exemplo,
poderiam já estar mais próximas da realidade das pessoas, principalmente em situação
de trabalho ou auxiliando no contato com amigos e familiares. Na pandemia, esse recurso
tornou-se um grande aliado no cuidado da saúde mental, o que fez muitas pessoas

163
procurarem o recurso digital para trabalhar demandas da própria pandemia e da situação
de estresse causada pela quarentena ou por outras questões que permeiam a vida dos
sujeitos (RODRIGUES, 2020; SCHMIDT et al., 2020; SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020).

Com o relaxamento de medidas de distanciamento e isolamento social e, até


mesmo, com o próprio fim dessas recomendações e a desobrigatoriedade do uso
de máscaras, como ocorreu em cidades em que o índice de contaminação e mortes
diminuiu bastante, tendo como principal causa a adesão da população à vacinação,
muitas pessoas puderam retomar as suas atividades presenciais, muitas delas
equivalentes aos tempos antes da pandemia. Com isso, alguns atendimentos e serviços
psicológicos voltaram a ser realizados de forma presencial. Mesmo assim, uma parcela
da população, que fez uso desses serviços, optou por manter os atendimentos de forma
digital, mediada pelas TIC, levando ao entendimento de que resultados também podem
ser alcançados de forma on-line, sendo as vantagens desse formato de atendimento
relevantes na escolha adotada (RODRIGUES, 2020; SCHMIDT et al., 2020).

Alguns paradigmas foram desconstruídos. Assim, entende-se com mais


clareza que o atendimento on-line e o face a face não são rivais, que podem ser
complementares e devem ser adotados a partir das particularidades da demanda e do
sujeito que procura esse serviço. Além disso, particularidades surgem de cada contexto
de atendimento, mas as práticas devem se basear sempre no que é orientado pelo
Código de Ética Profissional. A experiência durante a pandemia pode, futuramente,
ampliar as possibilidades de atendimento e, quem sabe, flexibilizar para a autorização da
oferta de serviços psicológicos mediados pelas TIC, de forma regular, em emergências,
bem como de outros serviços que podem surgir, pois a Psicologia está em permanente
renovação (RODRIGUES, 2020; SCHMIDT et al.; SILVA et al., 2021).

Sabendo-se que as duas formas de atendimento são eficientes, tanto a psicoterapia


on-line quanto a presencial são importantes para ajudar os sujeitos no caminho para o
controle/fim da pandemia da Covid-19. Muitas pessoas ficaram com sequelas relativas ao
contágio, como dificuldade de memorização e outros problemas de ordem fisiológica, que
surgiram nesse período decorrentes do contágio e/ou do isolamento social e a própria
pandemia. Muitas pessoas adoeceram com depressão, transtornos de ansiedade, estresse
pós-traumático, entre outros. É papel da Psicologia e de seus profissionais procurar se
adaptar para atender às demandas da sociedade (BORLOTI et al., 2020; ROCHA et al., 2021;
SCHMIDT et al., 2020; SOUZA; SILVA; MONTEIRO, 2020).

DICA
Para conhecer mais sobre o atendimento on-line durante a pandemia
e algumas recomendações oferecidas aos profissionais de Psicologia,
leia o documento criado pelo Governo Federal, por meio do Ministério
da Saúde e da Fundação Oswaldo Cruz, Saúde Mental e Atenção
Psicossocial na Pandemia Covid-19: recomendações aos psicólogos
para o atendimento on-line: https://bit.ly/3Npm0Qw.

164
LEITURA
COMPLEMENTAR
O “NOVO NORMAL” NO FAZER DA PSICOLOGIA

Thaís Oliveira de Lacerda


Larissa Gabriela Silva Santos
Rafaella Bitencourt Costa
Zirlene dos Santos Matos Rebouças
Camila Barreto Bonfim

Principais desafios e potencialidades na construção do novo fazer da


Psicologia

Ainda que haja incertezas acerca do uso das TIC nos atendimentos psicológicos,
são inegáveis as potencialidades que podem apresentar, especialmente no contexto da
pandemia da Covid-19. Destacam-se a acessibilidade para populações que não podem
ter o atendimento realizado no contexto presencial. O acesso à internet, especialmente,
quebrou barreiras de espaço e tempo que neste momento são fundamentais. A própria
OMS recomenda procedimentos de telessaúde, visando a diminuir as desigualdades
sociais no acesso à saúde, especialmente da saúde mental. Acrescenta-se ainda a
evitação de estigmas sociais, comuns em quem necessita fazer acompanhamento
psicológico. Nesse momento em que vivemos situações de constantes estigmatizações,
seja por ser portador do vírus ou por ser um profissional de saúde, mais uma vez
observamos as vantagens do uso das TIC no atendimento psicológico.

Outro ponto positivo está na possibilidade de atender pessoas em situação


de viagem ou mudança para outras cidades ou países. O cliente pode continuar com
seu atendimento, ainda que não esteja mais na mesma cidade que seu psicólogo. No
entanto, é importante que o psicólogo se torne sensível a nova cultura do cliente e
nunca assuma as suas normas culturais como sendo as mesmas ou superiores que a
do seu cliente.

O anonimato é outra condição dita como uma vantagem dos atendimentos por
meio do uso das TIC. Pessoas tímidas, por exemplo, podem ficar mais desinibidas diante
do uso de tecnologias. Todavia, o uso das TIC pode crescer o senso de anonimato da
pessoa. Em contrapartida, o anonimato e a impessoalidade podem reduzir inibições em
pessoas que estão procurando ser menos inibidas.

165
Entretanto, há ainda uma série de desafios a serem superados para que essa
prática seja ainda mais legitimada. Um dos principais refere-se a questão da segurança
dos dados para garantia de privacidade e confidencialidade, aspectos centrais para um
atendimento psicológico em qualquer modalidade. Nesse sentido, o CFP tem orientado
os psicólogos a utilizarem plataformas que garantam a segurança dos dados da melhor
forma possível. Contudo, nesse contexto da pandemia, a questão da privacidade não está
apenas relacionada ao uso de plataformas digitais, mas também sobre a impossibilidade
de estar sozinho num ambiente em que as pessoas devem ficar em casa para manter
o distanciamento social. Estratégias devem ser pensadas para que os atendimentos
possam ser realizados com privacidade, mas mantendo o distanciamento social.

Um outro aspecto desafiador refere-se aos questionamentos quanto ao


estabelecimento de vínculo na relação psicólogo-cliente. Enquanto alguns estudos
vão evidenciar a dificuldade de estabelecer este vínculo para um acompanhamento
psicoterapêutico, outros vão demonstrar que o vínculo se estabelece porque temos
empatia e isso ocorre em qualquer espaço. É importante ressaltar que a empatia pode
falhar ou ter sucesso em qualquer situação: individualmente, em grupo off-line ou on-line.

Destaca-se também uma discussão sobre a ausência de informações corporais


nos atendimentos psicológicos por meio das TIC. Alguns artigos sinalizam que nos
atendimentos neste formato, o corpo é invisível e impossível de ser incluído. A presença
apenas da face nas interações dificulta que o psicólogo tenha acesso a informações
corporais do cliente. O próprio corpo parece ser um elemento invisível para os próprios
clientes, o que pode ser percebido pelas vestimentas informais ou ausência delas.
Entretanto, não há um consenso quanto a essa questão. O corpo parece ressignificado
neste contexto se fazendo presente de outras formas como a partir do som da respiração,
do barulho da cadeira ao se mover, ajustes de postura, barulhos do nariz ou estômago.
Estes são sons da presença real da nossa humanidade compartilhada.

Podemos pensar em adaptações para que a experiência virtual se aproxime


mais da experiência face a face, como a exemplo do distanciamento da tela para que o
corpo possa ser visto. Há vantagens e desvantagens de sentar-se perto ou longe da tela
e isso pode depender também da orientação teórica do psicólogo ou das necessidades
do cliente. Sentar-se perto da tela pode tornar o corpo invisível, dando a impressão de
que há um ambiente sem corpo e criar uma experiência diferente dos encontros face
a face. No entanto, isso pode promover uma maior visualização das expressões faciais.
Já ao se sentar longe da tela, pode ser uma experiência mais similar que o contexto de
uma sessão face a face, mas pode acabar negando que o contexto das TIC é diferente.

A não aplicabilidade a todos os casos tem sido referida também como um


limitador para os atendimentos por meio das TIC. Casos de psicoses em situação de
surto, pacientes potenciais suicidas, usuários de substâncias psicoativas e pessoas em
situação de violência que residem com o próprio agressor são situações que inviabilizam

166
este tipo de atendimento. O próprio CFP trazia restrições a algumas dessas situações
para o atendimento por meio de TIC. Entretanto, neste contexto de pandemia, devemos
pensar que estas pessoas que estão em maior risco de desenvolver agravos de seus
problemas de saúde mental podem ficar sem acompanhamento devido às questões
impostas pelo distanciamento social. Se não houver possibilidade de manter este
atendimento presencialmente, algumas estratégias emergenciais podem ser pensadas
como em caso do cliente não morar com alguém, ter o contato de emergência de algum
vizinho para que o psicólogo possa contactar e solicitar suporte emergencial.

Certamente que o cenário da pandemia trouxe luz a importância do cuidado em


saúde mental, mas por outro lado revelou os aspectos de precariedade das condições
de trabalho dos profissionais de saúde, da escassez de serviços de saúde mental com
quantidade suficiente de recursos humanos e materiais. Além disso, os psicólogos foram
convocados a exercerem trabalhos voluntários, a exemplo do Psiu Acolhimento em
Salvador (BA), que recebeu consideráveis críticas do Conselho Regional de Psicologia
3ª região. Segundo o CRP-03, o apoio do município a esta plataforma estimulava
o voluntariado em Psicologia no serviço público, o que denotava desvalorização e
precarização do trabalho dos psicólogos. Este aspecto revela ainda uma visão da
psicologia com uma lógica caritativa que está longe de alcançar a relevância social de
outras profissões de saúde.

Ressalta-se que muitos aspectos ainda precisam ser melhor investigadas


através de pesquisas empíricas. Algumas considerações sobre a prática da psicologia por
meio das TIC precisam ser feitas, especialmente no contexto da psicoterapia. Existem
habilidades fundamentais para psicólogos que pretendem realizar atendimentos por
meio das TIC. Há uma necessidade de estar profundamente focado. Psicoterapia por
meio das TIC são mais distratoras do que encontros presenciais devido à influência
de outros estímulos e também porque é mais difícil estar focado em frente a uma tela.
O psicólogo deve adotar um estado mental em que ele esteja totalmente focado nas
necessidades do paciente.

O setting também apresenta consideráveis diferenças. Na psicoterapia por meio


das TIC, o psicólogo perde o controle do setting. Dessa forma, é necessário que, antes
de iniciar a psicoterapia, o psicólogo deve se certificar que o cliente está realizando a
videoconferência em um ambiente calmo, onde a privacidade esteja preservada e que
não faça psicoterapia enquanto dirige. O psicólogo deve preparar e instruir o cliente sobre
os encontros on-line, assim como combinar regras, especialmente quanto a privacidade
e o domínio das tecnologias. Recomenda-se o uso de fones de ouvido para prover a
privacidade e qualidade da conversa, além de utilizar um plano de fundo permanente e
um código de vestimenta similar ao utilizado no contexto face a face. Um contrato deve
ser elaborado e discutido com o cliente, visando garantir estes aspectos. É importante
também prever formas de suprir as interrupções geradas por problemas tecnológicos
e providências a serem tomadas em situações emergenciais com pacientes em risco.

167
Precisam ainda ser melhor investigadas situações que ocorrem em frente à
tela e que não estão diretamente relacionadas ao processo psicoterápico, a exemplo
da presença de animais trazidos para frente da tela ou outros elementos presentes.
Recomenda-se que estes elementos devam ser explorados no contexto da psicoterapia.
Um outro aspecto refere-se ao fato de que o psicólogo pode se ver na tela durante os
atendimentos, o que pode aumentar sua autoconsciência, mas também seu narcisismo.
Embora isto possa ajudar a entender como o psicólogo aparece para o cliente, isto pode
afastá-lo de estar focado.

Este cenário reflete que o uso das TIC na Psicologia trouxe resistências, mas
também deu visibilidade a suas conveniências, disponibilidades e complexidades. Ainda
precisamos avançar em muitos aspectos para compreender esse novo fazer na Psicologia.
O psicólogo está sendo convocado a exercer novas habilidades e competências como
uma nova forma de atenção, uso de tecnologias, manejo de situações não previstas no
contexto presencial, além de ter que acolher questões não apenas de ordem subjetiva
concernentes ao acompanhamento psicológico, mas também questões objetivas
impostas pela pandemia de Covid-19 e que afetam a dinâmica de trabalho e vida de
seus clientes.

FONTE: Adaptada de LACERDA, T. O. et al. O “novo normal” no fazer da psicologia. Práticas de Cuidado:


Revista da Saúde Coletiva, v. 3, n. e11731, p. 1-28, 2022. Disponível em: https://www.revistas.uneb.br/
index.php/saudecoletiva/article/download/11731/9601/. Acesso em: 21 jun. 2022.

168
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A importância da discussão sobre os atendimentos on-line durante a formação


básica e continuada em Psicologia.

• As vantagens e as desvantagens do atendimento psicológico on-line.

• Quais os desafios encarados pelos profissionais de Psicologia durante a pandemia da


Covid-19.

• Como os serviços psicológicos mediados pelas TIC se reinventaram devido à


necessidade de continuidade dos atendimentos durante a pandemia.

169
AUTOATIVIDADE
1 As mudanças ocorridas na sociedade e nas tecnologias abriram grandes
possibilidades para o atendimento virtual em Psicologia, com larga escala e forte
impacto psicossocial. A psicoterapia on-line é procurada, principalmente, devido às
vantagens da acessibilidade e da conveniência, mesmo que ainda existam algumas
barreiras a serem superadas. Sobre as falhas tecnológicas que podem ocorrer e
prejudicar o atendimento on-line, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Ruídos na comunicação; falha e/ou queda da conexão; imagem congelada; e


vazamento de dados.
b) ( ) Internet de alta velocidade; vazamento de dados; imagem congelada; e áudio de
alta qualidade.
c) ( ) Conexão segura; uso de fones de ouvido e microfone de qualidade; internet
banda larga; e ruídos na comunicação.
d) ( ) Uso de celular com internet de alta velocidade; imagens em alta definição; custo
elevado no uso de dados móveis da internet 3G; e imagem congelada.

2 É interessante que os cursos de graduação e pós-graduação em Psicologia passem


a ofertar componentes curriculares e atividades complementares que contribuam
com a formação dos profissionais, para que eles se sintam seguros na utilização e na
intervenção psicológica on-line. Com base nos serviços psicológicos mediados pelas
TIC, sobre o que é preciso para maximizar a qualidade dos atendimentos virtuais,
analise as sentenças a seguir:

I- É preciso uma interlocução com outras áreas e saberes para que o atendimento on-
line seja mais bem desenvolvido.
II- Discussões, trocas, capacitações, treinamentos e especializações são necessários
para que haja atualização, fortalecimento e aprimoramento do atendimento no
ambiente digital, de forma ética e segura para a população.
III- Basta uma leitura profunda das resoluções e normativas formuladas pelo principal
órgão fiscalizador e regulador da Psicologia no Brasil, o Conselho Federal de
Psicologia.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença III está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) As sentenças II e III estão corretas.

170
3 O atendimento psicológico virtual apresenta uma série de vantagens para as
pessoas que procuram esse serviço, algo que favoreceu enormemente a busca por
psicoterapia on-line. Sobre as vantagens do atendimento por meio digital, classifique
V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

(   ) O atendimento on-line em Psicologia favoreceu apenas pessoas que gostam de


redes sociais e de se comunicar por meio digital.
(  ) Pode ser muito atrativo para mulheres grávidas, que tiveram filhos recentemente e/
ou que possuem dificuldade em sair, por não terem com quem deixar seus filhos.
(  ) Pode facilitar o início da psicoterapia para pessoas que são introvertidas e que
possuem dificuldade na convivência social e na comunicação face a face.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) F – F – V.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – V.
d) ( ) F – F – F.

4 Com as grandes mudanças sociais e tecnológicas vivenciadas no período da


pandemia da Covid-19, não apenas a sociedade sofreu grandes impactos; os modelos
de atenção psicossocial e, consequentemente, os psicólogos(as) tiveram que se
reinventar com relação ao atendimento psicológico. Disserte sobre as dificuldades
enfrentadas pelos profissionais de Psicologia diante da atuação em psicoterapia on-
line durante a pandemia.

5 Acerca da prática dos profissionais de Psicologia, as transformações ocorridas durante


a pandemia levaram ao fortalecimento do atendimento psicológico on-line. Disserte
sobre os pontos relevantes que justificam a continuidade da oferta desse tipo de
atendimento mesmo após as medidas de relaxamento quanto ao distanciamento e
ao isolamento social.

171
172
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, W. Captação e seleção de talentos: repensando a teoria e a prática. São
Paulo: Atlas, 2004.

AMENDOLA, M. F. História da construção do Código de Ética Profissional do


psicólogo. Estudos e Pesquisas em Psicologia, v. 14, n. 2, p. 660-685, 2014.

ATENDIMENTO psicológico na internet começou em 1997. Folha de São


Paulo, São Paulo, 3 de jun. de 2011. Disponível em: https://m.folha.uol.com.br/
equilibrioesaude/2011/06/924873-atendimento-psicologico-na-internet-comecou-
em-1997.shtml. Acesso em: 8 jun. 2022.

BORLOTI, E. et al. Saúde mental e intervenções psicológicas durante a pandemia da


Covid-19: um panorama. Revista Brasileira de Análise do Comportamento, v. 16, n.
1, p. 21-30, 2020.

BRASIL. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Aprova diretrizes e normas


regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Brasília: Ministério da
Saúde, 2012. Disponível em: https://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.
pdf. Acesso em: 6 jun. 2022.

BRASIL. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias,


direitos e deveres para o uso da internet no Brasil. Brasília: Presidência da República,
2014. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/
l12965.htm. Acesso em: 5 jun. 2022.

BRASIL. Resolução nº 510, de 7 de abril de 2016. Dispõe sobre as normas aplicáveis


a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais. Diário Oficial [da] República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 24 maio 2016. Disponível em: Disponível em: http://conselho.saude.
gov.br/resolucoes/2016/Reso510.pdf. Acesso em: 24 jun. 2022

BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados


Pessoais (LGPD). Brasília: Presidência da República, 2018. Disponível em: https://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm. Acesso em: 5 jun.
2022.

CHIAVENATO, I. Recursos Humanos: o capital humano das organizações. São Paulo:


Atlas, 2006.

173
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA – CFP. Resolução nº 2, de 20 de fevereiro
de 1995. Dispõe sobre prestação de serviços psicológicos por telefone. Brasília:
Conselho Federal de Psicologia, 1995. Disponível em: https://atosoficiais.com.br/cfp/
resolucao-do-exercicio-profissional-n-2-1995-dispoe-sobre-prestacao-de-servicos-
psicologicos-por-telefone?origin=instituicao&q=02%201995. Acesso em: 6 jun. 2022.

CFP. Resolução nº 3, de 25 de setembro de 2000. Regulamenta o atendimento


psicoterapêutico mediado por computador. Brasília: Conselho Federal de Psicologia,
2000a. Disponível em: https://atosoficiais.com.br/cfp/resolucao-do-exercicio-
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CFP. Resolução nº 6, de 16 de dezembro de 2000. Institui a Comissão Nacional


de Credenciamento e Fiscalização dos Serviços de Psicologia pela Internet. Brasília:
Conselho Federal de Psicologia, 2000b. Disponível em: https://atosoficiais.com.br/
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CFP. Portaria nº 6, de 16 de dezembro de 2000. Designar para compor a Comissão


Nacional de Credenciamento e Fiscalização dos Serviços de Psicologia pela Internet.
Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2000c. Disponível em: https://atosoficiais.
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CFP. Resolução nº 10, de 14 de junho de 2003. Altera a Resolução nº 3/2000.


Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2003. Disponível em: https://atosoficiais.com.
br/cfp/resolucao-do-exercicio-profissional-n-10-2003-altera-a-resolucao-cfp-no-
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CFP. Resolução nº 10, de 21 de julho de 2005. Aprova o Código de Ética Profissional


do Psicólogo. Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2005a. Disponível em: https://
atosoficiais.com.br/lei/codigo-de-etica-cfp?origin=instituicao. Acesso em: 6 jun. 2022.

CFP. Resolução nº 12, de 18 de agosto de 2005. Regulamenta o atendimento


psicoterapêutico e outros serviços psicológicos mediados por computador e revoga
a Resolução nº 3/2000. Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2005b. Disponível
em: https://atosoficiais.com.br/cfp/resolucao-do-exercicio-profissional-n-
12-2005-regulamenta-o-atendimento-psicoterapeutico-e-outros-servicos-
psicologicos-mediados-por-computador-e-revoga-a-resolucao-cfp-no-003-
2000?origin=instituicao&q=12%202005. Acesso em: 6 jun. 2022.

174
CFP. Portaria nº 10, de 23 de agosto de 2006. Nomear os membros da Comissão
Nacional de Credenciamento e Fiscalização de Serviços de Psicologia pela internet.
Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2006. Disponível em: https://atosoficiais.com.
br/cfp/portaria-cfp-n-10-2006?origin=instituicao&q=resolu%C3%A7%C3%A3o%20
10%202006. Acesso em: 6 jun. 2022.

CFP. Portaria nº 1, de 23 de janeiro de 2009. Nomear os membros da Comissão


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