Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Institucional
em Museus
Indaial – 2021
1a Edição
Elaboração:
Prof.ª Kimberly Terrany Alves Pires
Prof.ª Alahna Santos da Rosa
Prof.ª Julia Maciel Jaeger
R788c
Rosa, Alahna Santos da
ISBN 978-65-5663-351-0
ISBN Digital 978-65-5663-547-7
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Comunicação Institucional
em Museus, que objetiva auxiliar o processo de descobrimento e compreensão da
importância dos elementos comunicacionais dentro do contexto museológico.
Este material pretende possibilitar a você, estudante, uma visão mais ampla e
multidisciplinar da tarefa de criar e expor narrativas. Abordaremos desde a comunicação
em exposições e ações educativas até a concepção de comunicação institucional e
marketing em museus, entendendo como essas dinâmicas são percebidas por cada
tipo de público. Sabe-se que a comunicação em museus é uma tarefa que inclui muitos
profissionais, além do museólogo, e, quando se tem um objetivo claro para atingir, é
preciso usar as estratégias comunicacionais adequadas aos públicos e aos contextos.
QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 65
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................129
REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 205
UNIDADE 1 -
NOÇÕES BÁSICAS
DE COMUNICAÇÃO
MUSEOLÓGICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
NOÇÕES BÁSICAS DE COMUNICAÇÃO
EM MUSEUS
1 INTRODUÇÃO
3
2.1 NOÇÕES BÁSICAS DE COMUNICAÇÃO
De modo geral, sabemos que as estratégias de comunicação visam a entregar
uma mensagem de maneira eficiente por meio de um sistema básico que é bastante
conhecido – emissor-mensagem-receptor-feedback. Essa teoria foi trabalhada
por vários cientistas, mas a sua versão inicial foi organizada, nesse formato, por
Claude Elwood Shannon, responsável por desenvolver o sistema, conforme afirmam
Mattelart e Mattelart (2005):
NOTA
Claude Elwood Shannon foi um matemático norte-americano, nascido em 30 de abril de
1916, na cidade de Petoskey, no estado do Michigan/EUA. Desde jovem, Shannon mostrava
aptidão para a mecânica, como quando, ainda na infância, construiu um telégrafo que
ligava sua casa à de um amigo. Ingressou na Universidade de Michigan aos 16 anos e
graduou-se em Matemática e em Engenharia Elétrica. Também se pós-graduou no Instituto
de Tecnologia de Massachusetts (MIT), uma das instituições de ciências exatas de maior
prestígio no mundo.
4
Informação, em que a informação, em si, era entendida como uma unidade de dado, que,
para ser transmitida, precisava de um canal que não sofresse muito ruído, a fim de garantir
que a mensagem chegasse ao receptor de maneira completa e clara (PELEGRINI, 2009).
CLAUDE E. SHANNON
5
Com esse modelo, transferiu-se, nas ciências humanas que o
adotaram, o pressuposto da neutralidade das instâncias “emissora”
e “receptora”. A fonte, ponto de partida da comunicação, dá forma
à mensagem que, transformada em “informação” pelo emissor que
a codifica, é recebida no outro extremo da cadeia. [...] Sua teoria
[de Shannon] absolutamente não leva em conta a significação dos
sinais, ou seja, o sentido que lhe atribui o destinatário e a intenção
que preside a sua emissão (MATTELART; MATTELART, 2005, p. 60).
É muito comum ver a expressão “Eu falei ‘normal’, você que leu com raiva” em
uma conversa em um aplicativo de mensagens. Isso acontece porque, na comunicação
escrita – a que predomina nos museus, por exemplo –, é muito mais complicado
entender a entonação e o significado intrínseco nas palavras de alguém; é preciso que
a mensagem esteja colocada em um contexto de uma relação entre os participantes da
conversa para sua compreensão não ser – muito – afetada pelos ruídos.
ATENÇÃO
Mudança de conceito
O primeiro conceito de museu foi determinado ainda na década 1970, tendo sido,
posteriormente, revisto, em 2007, quando o Conselho Internacional de Museus (ICOM)
determinou a descrição anteriormente vista. Contudo, desde 2018, as instituições museais,
os profissionais de museus associados ao ICOM e os pesquisadores do campo passaram
a questionar se o conceito de museu ainda é representativo da realidade museológica que
vivemos hoje, nos anos 2020.
6
Comitês Nacionais e, por isso, foi adiada para 2020. Com a ocorrência
da pandemia por COVID-19, a segunda reunião dos associados foi
suspensa e as discussões sobre a questão se alastraram ainda mais, por
meio de recursos que os comitês disponibilizaram aos associados para
que contribuíssem com suas percepções sobre a construção desse novo
conceito. Até a finalização deste material, não havia sido determinada
nenhuma nova definição para “museu”, permanecendo a atual.
O ponto que precisamos compreender é como acontece essa última dinâmica final:
a apreensão e o retorno do receptor, porque essa é a forma que a exposição trabalha com o
público. Enquanto museólogos, devemos compreender que o visitante tem uma bagagem
cultural, faz parte de um grupo social e que seu processo de apreensão de informações é
completamente influenciado por essas características, as quais influenciam a manutenção
da narrativa museológica e os resultados obtidos pela curadoria da exposição.
7
ESTUDOS FUTUROS
Por que semiótica?
Acadêmico, você deve estar pensando: “Por que estamos falando de códigos,
linguagens, decodificação e tudo mais, se este é um livro sobre comunicação
institucional em museus?”. A razão é simples: nosso objetivo é que você
compreenda que o museu é um espaço essencialmente de comunicação e,
ainda, de diferentes tipos de comunicação: verbal, visual, mediada etc. No
decorrer das unidades, aprofundaremos os recursos expográficos que
não somente visam a comunicar a mensagem de uma exposição, mas
também representam a instituição na qual estão colocados.
Nesse sentido, há uma aproximação inevitável da Semiótica, que “[...] tem por
objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o
exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de
produção de significação e de sentido” (SANTAELLA, 1983, p. 13). Assim, busca entender,
portanto, como nós produzimos sentido a partir do que nós compreendemos dos signos
aos quais somos expostos.
8
e, a partir dos nossos conhecimentos ou da nossa inserção no contexto, somos capazes
de compreender a reciprocidade de significados entre esses dois planos. Nesse sentido,
essa reciprocidade entre os planos do texto ao qual nos referimos corresponde
ao princípio de que todo conteúdo é representado por um signo passível de ser
compreendido por alguém. O signo, por sua vez, é uma partícula da linguagem que
reúne em si a forma e o significado de algo, podendo ser uma palavra, um ícone ou uma
cor, alterando-se conforme o texto no qual se insere (GREIMAS; COURTÉS, 2008).
ATENÇÃO
Diferentes tipos de textos
Essa informação é essencial, porque a semiótica francesa “dá ênfase ao conceito de texto
como objeto de significação e, por conseguinte, preocupa-se fundamentalmente em estudar
os mecanismos que engendram o texto, que o constituem como uma totalidade de sentido”
(FIORIN, 1995, p. 166). Logo, estuda a forma que apresenta o conteúdo e formula a teoria de
significação desse texto.
Além disso, Floch (1990, apud SCHWARTZMANN, 2018, p. 4) menciona que, embora a origem
dos estudos semióticos se dê na linguística, a Semiótica também se interessa por outras
manifestações que produzem sentido, como a arquitetura, o design e o
marketing, afirmando que: “[...] a semiótica é, primeiramente, uma relação
concreta com o sentido [...]. O que pode ser um texto, naturalmente, como
também qualquer outra manifestação significante: um logotipo, um filme,
um comportamento” (FLOCH, 1990, apud SCHWARTZMANN, 2018, p. 4).
Portanto, na Semiótica, analisamos diversas formas de expressão e as
nomeamos como texto.
9
relação profunda entre o homem – sujeito conhecedor –, e o objeto,
parte da realidade sobre a qual o homem igualmente atua e pode agir.
Essa relação comporta vários níveis de consciência, e o homem pode
apreender o objeto por intermédio de seus sentidos: visão, audição,
tato etc. Essa relação supõe, em primeiro lugar e etimologicamente
falando, que o homem “admira o objeto” (GUARNIERI, 1981, apud
BRUNO, 2010, p. 123).
Percebe-se que o fato museal nada mais é do que a relação entre um objeto e
um sujeito, que é dotado e consciente das habilidades necessárias, para produzir sentido
nessa interação. Existe, também, uma pressuposição de reciprocidade do significado,
em que se espera que o objeto seja reconhecido como o representante de um contexto,
fazendo jus ao seu valor de musealidade.
Até então, o enfoque foi dado à relação que se constrói entre o indivíduo e o
objeto – seja ele tridimensional, bidimensional, imagem ou texto escrito. No entanto, a
exposição não é feita somente desses objetos, pois a organização espacial e o restante
dos recursos que uma curadoria utiliza exercem grande influência na experiência do
visitante e permitem – ou não – que a mensagem chegue de maneira satisfatória ao
público.
10
• Regime de acidente: o momento em que o sujeito se depara com uma ruptura
no seu estado atual, baseia-se no princípio de aleatoriedade, o qual supõe que
alguma coisa pode acontecer no percurso da produção de sentido que está além
do controle do sujeito.
• Regime de manipulação: instância da interação em que existe a imposição da
intenção de um sujeito sobre o outro, com base no princípio de intencionalidade.
• Regime de programação: há uma imposição de operação de um sujeito sobre o
outro, comumente relacionado também ao uso de sistemas tecnológicos, visto
que, com base no princípio de regularidade, pretende que um sujeito se submeta à
repetição daquele programa.
• Regime de ajustamento: pretende avaliar a interação por meio das percepções
humanas; é a fase da interação em que o sujeito assume seus sentidos e responde
apenas a seus instintos e desejos, logo, esse regime, com base no princípio da
sensibilidade, não pode ser reduzido a quaisquer leis.
ESTUDOS FUTUROS
O conceito de Experiência Museal será visto no próximo tópico, quando
trataremos dos modelos de interação em exposições.
11
No próximo tópico, compreenderemos como a exposição realiza esse movimento
em prol de uma narrativa e o porquê ela é entendida como o meio de comunicação
principal do museu.
Pep talk
12
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
13
AUTOATIVIDADE
1 De acordo com os componentes da cadeia de comunicação desenvolvida por Claude
E. Shannon, assinale a alternativa CORRETA:
I- Regime de programação.
II- Regime de ajustamento.
III- Regime de acidente.
IV- Regime de manipulação.
14
( ) O visitante chega ao museu, percorre o espaço como de costume e, ao entrar em
uma das galerias da instituição, percebe que há um totem informativo que ele nunca
tinha encontrado. No totem, está exposto um dispositivo digital e suas informações
para uso.
( ) Ao ler as instruções para o uso do dispositivo, ele o utiliza conforme as instruções
disponibilizadas. A experiência consiste em um aplicativo desenvolvido para
responder às dúvidas do público sobre as obras de arte expostas.
( ) O visitante realiza inúmeras perguntas ao aplicativo e o experimenta em todas as
obras expostas. Ele ouve as respostas do aplicativo e se sente satisfeito.
( ) As perguntas que o visitante fez ao aplicativo foram simples e cotidianas, mas ele
conseguiu compreender as respostas e sentiu-se mais próximo das obras de arte.
a) ( ) II – III – IV – I.
b) ( ) III – IV – II – I.
c) ( ) I – II – III – IV.
d) ( ) III – IV – I – II.
15
16
UNIDADE 1 TÓPICO 2 - A
EXPOSIÇÃO COMO MEIO
DE COMUNICAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, aprofundaremos os conceitos vistos anteriormente, a fim de
compreender como eles são aplicados na prática museal, em especial no meio de
comunicação de excelência do museu: a exposição.
ATENÇÃO
Sempre que nos referirmos ao museu, enquanto uma instituição,
partimos do pressuposto de que há um discurso e um posicionamento
dele. Isso também vale para os profissionais que nele atuam e outros
que a ele se vinculam por quaisquer razões – artistas, curadores
independentes, museólogos e afins; entende-se que todos estão em
consonância com esse discurso.
17
Na exposição, o curador – que não é, obrigatoriamente, o museólogo – executa
um projeto de comunicação de maneira que a intenção e o caráter da instituição ou do
artista esteja representado e sua mensagem seja compreendida pelo público. Nesse
sentido, Cury (2005) afirma que:
ESTUDOS FUTUROS
No decorrer deste livro, estudaremos os diversos recursos expográficos que
são utilizados em uma exposição e também quais as melhores formas de
utilizá-los para garantir uma maior probabilidade de eficácia ao comunicar
por meio das exposições de museu. É importante conhecer isso para fazer
as melhores decisões quando a hora chegar.
18
Essa abordagem ainda é muito comum em grandes instituições, ainda que
o panorama se altere nos últimos anos. No entanto, é importante compreender que
o museu, enquanto instituição, é entendido com um detentor de conhecimentos
e de influência. Nesse sentido, a construção – e a perpetuação – de uma postura
condutivista na comunicação museológica pode fortalecer uma imagem institucional
fechada e pouco agregadora do público, algo que a Museologia tem tentado evitar, de
forma que “[...] Tal movimento por parte dos Museus gera, por parte dos visitantes, um
outro movimento: a legitimação da ideia do Museu como simples ‘modo de narrar e
apresentar’ uma lógica estética, cronológica ou temática” (MORAES, 2005, s.p.).
Essa postura aproxima-se dos conceitos que vimos sobre Semiótica. Isso
porque busca, não somente a interação que produz sentido nos agentes envolvidos no
processo, mas também porque considera que o receptor tem uma bagagem cultural
e social que é essencial à mensagem que a instituição busca passar. Nesse sentido,
considera-se, na concepção de exposições, que:
Entre as diversas maneiras que a instituição pode utilizar para promover a relação
direta com o público, as que mais se aproximam da prática curatorial são: a avaliação
de exposições e as ações educativas. A primeira visa a analisar a reação do receptor à
exposição, em um panorama geral, conforme Cury (2005, p. 372) afirma “[...] Avaliar é
desvelar a realidade, aprimorar ações, promover atitudes e posturas, atribuir valores”,
para defender que a avaliação seja um recurso utilizado para adequar a mensagem e as
formas da exposição, segundo o resultado das avaliações.
19
As ações educativas, por outro lado, procuram aprofundar, ainda que
pontualmente, a narrativa da exposição junto ao público. Elas podem ser desenvolvidas
com diferentes objetivos, visando a diferentes tipos de públicos e, geralmente, levam o
participante a uma reflexão mais aprofundada sobre a narrativa e o sentido da mostra.
ESTUDOS FUTUROS
Falaremos mais sobre a avaliação e as ações educativas na Unidade
2 deste livro. Ainda assim, é importante que você fique atento para o
fato de que essas estratégias correspondem diretamente ao processo
comunicacional desenvolvido para uma exposição.
FIGURA 1 – ADAPTAÇÃO DO MODELO DE COMUNICAÇÃO DOS ANOS 1940, POR EILEN HOOPER-GREENHILL
FONTE: Adaptada de Hooper-Greenhill (1994, p. 41, apud ALMEIDA; LOPES, 2003, p. 138)
20
Esses estudos contribuíram para a compreensão da importância dos diferentes códigos
de comunicação e passaram a considerar o quanto as linguagens, as vivências, as
culturas de cada participante do processo se diferem e, assim, facilitam ou dificultam a
comunicação (ALMEIDA; LOPES, 2003).
21
FIGURA 3 – MODELO SEMIÓTICO-TEXTUAL DA RELAÇÃO COMUNICATIVA
FONTE: Adaptada de Fusari; Dupas (1997, apud ALMEIDA; LOPES, 2003, p. 140)
FONTE: Adaptada de Rússio Guarnieri (1981, apud ALMEIDA; LOPES, 2003, p. 140)
22
Por meio do conceito de Experiência Museal, os autores Falk e Dierking
(2016) propuseram uma análise sobre a aprendizagem em museus, buscando
identificar quando houve e quando não houve aprendizado – produção de sentido
– através da exposição. A Experiência Museal é um conceito que considera quatro
fatores essenciais à visita em uma exposição de museu: contexto pessoal, contexto
sociocultural, contexto físico e tempo (FALK; DIERKING, 2016), os quais são definidos
da seguinte forma (ALMEIDA; LOPES, 2003):
NOTA
Sobre o contexto sociocultural: conforme Almeida e Lopes (2003), a relação estabelecida
entre os mediadores e o público pode ter aspectos positivos e negativos. Embora a função
primordial da mediação seja facilitar e aproximar o visitante do acervo e da narrativa da
exposição, caso haja algum tipo de incongruência entre os indivíduos, como diferentes
culturas, linguagens diferentes, ou falta de confiança/experiência por parte do mediador,
a comunicação pode sofrer com esses ruídos. As autoras ainda sugerem que, idealmente,
esses profissionais passem por constantes atualizações ou reavaliações.
Sobre o contexto físico: percebe-se que, quando Almeida e Lopes (2003)
mencionam que o visitante precisa se sentir confortável, os autores se
referem ao uso de recursos expográficos que compõem o ambiente, a fim
de permitir que o público tenha uma experiência completa. Luz, textos,
locais de descanso e, até mesmo, as paredes vazias, que oferecem ao
observador um espaço de respiro visual, promovem o conforto do público.
23
Os autores afirmam que, na intersecção desses quatro contextos, se estabeleceu
o modelo contextual de aprendizagem, que, por conta do contexto temporal,
possui uma dimensão diacrônica, visto que as pesquisas afirmam que os aprendizados
construídos em uma exposição podem seguir sendo construídos, retomados e
aprimorados por meses e até anos após a experiência. Logo, a Experiência Museal, que
se constrói por meio de todas essas perspectivas, é tão relevante que seus aprendizados
influenciam e se desdobram em outros no decorrer da vida dos indivíduos. Novamente,
esses resultados são percebidos por estratégias de avaliação que deveriam, idealmente,
ser parte essencial do funcionamento das instituições museológicas.
24
amplamente difundida, tomando força apenas na década de 1990, porque, até então, os
museus tinham como objetivo a preservação de coleções históricas e suas exposições
veiculavam o seu discurso didático, não dando relevância ao receptor da mensagem,
isto é, não adequando seus recursos para alcançar a produção de sentido, conforme
explicam os autores:
Pode ser que, hoje em dia, seja difícil desvincularmos a ideia de processo
comunicativo das exposições; porém, é preciso considerar que a dinâmica da construção
de uma narrativa que se transforme em uma comunicação eficaz, através de objetos,
requer o uso de muitos outros recursos que viabilizem a compreensão por parte do
receptor e, há alguns anos, isso ainda não era explorado teoricamente. Somente nos
últimos anos do século XX, estudos foram desenvolvidos, tanto para conhecer os
públicos quanto para desenvolver técnicas curatoriais que explorassem a concepção
de que a exposição é uma experiência altamente sensorial, visto que apreendemos as
informações daquele ambiente por meio de nossos sentidos – visão, olfato, audição,
tato e até paladar, vez ou outra.
25
XXI, vimos tantas evoluções nos meios de comunicação, como telefone, internet, redes
sociais etc., mudanças e adaptações dos meios de consumo de cultura e de informação
que influenciaram diretamente nas dinâmicas de construção de sentido e produção de
conhecimento.
Além disso, em 2020, tivemos uma demanda que exigia uma forma de
comunicação exclusivamente mediada pela tecnologia e pelos dispositivos digitais. Isso
fez com que quaisquer iniciativas, ainda que incipientes, de potencializar a presença
das instituições museais na internet se tornassem uma necessidade emergencial. A
internet passou a ser a janela com o mundo externo.
NOTA
É importante nos situarmos no tempo-espaço: este material foi criado no
ano de 2020, período em que o mundo foi acometido por uma pandemia
do novo Coronavírus, causador da COVID-19. A pandemia, que iniciou na
China, se alastrou rapidamente pelo mundo inteiro e chegou ao Brasil
em meados de março de 2020. De acordo as recomendações da
Organização Mundial da Saúde, a maneira mais eficaz de evitar o
contágio é o distanciamento social.
26
à uma negligência no projeto desses dispositivos. Muitos fatores são necessários
para fornecer ao visitante uma experiência enriquecedora, e, quando relacionado aos
sistemas digitais, a frustração pode vir muito mais rapidamente.
Exposições que contam com esses recursos tendem, geralmente, a evocar uma
interação intensa por parte do público, o que pode, ou não, promover um significado.
Para Desvallées e Mairesse (2016), essas experiências interativas demais acabam por
tomar um viés lúdico e didático, retomando a ideia de que o museu promove uma
comunicação unilateral, que transmite a informação, mas não retorna a significação do
indivíduo à mensagem original.
27
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
28
AUTOATIVIDADE
1 As estratégias comunicacionais utilizadas em uma exposição podem determinar
a forma como o museu se comunica com seu público. A partir disso, considere as
descrições das exposições a seguir com o modelo de postura curatorial correspondente
e associe os itens, utilizando o código a seguir:
( ) Exposição sobre banda de rock. O acervo exposto contém discos raros, instrumentos
musicais e outros objetos pertencentes aos músicos, que são mantidos afastados
do visitante. A expografia conta com linha do tempo e textos informativos sobre a
história da banda.
( ) Exposição histórica sobre a ditadura militar no Brasil. A exposição conta com pouco
texto e poucos objetos. O museu no qual ocorre é o local onde originalmente os
perseguidos políticos foram presos. O visitante percorre o espaço livremente, e a
cenografia remonta a situações precárias nas quais os prisioneiros políticos eram
mantidos.
( ) Exposição de arte moderna. As obras de arte são expostas nas paredes da galeria. O
percurso expográfico é construído de maneira labiríntica e só tem uma possibilidade
de entrada e uma possibilidade de saída. Diferentes caminhos levam a diferentes
leituras da exposição, mas elas começam e terminam nos mesmos pontos.
( ) Exposição histórica em museu de cidade. A exposição narra a história da cidade
interiorana, conta com objetos tridimensionais, textos e legendas. Narrativa com
abordagem temporal, representativa do grupo hegemônico da cidade.
a) ( ) II – II – I – I.
b) ( ) I – I – I – II.
c) ( ) I – II – II – I.
d) ( ) I – II – I – II.
29
I- Catálogos, pesquisas acadêmicas, conferências técnicas.
II- Ações educativas, exposições, visitas guiadas.
III- Redes sociais, newsletter, revistas digitais.
30
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
FERRAMENTAS DE COMUNICAÇÃO
EM MUSEUS
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, apresentaremos os primeiros recursos de uma exposição: os
recursos textuais. A escolha e construção desses elementos é de suma importância
para que a comunicação seja efetiva no contexto de exposições e de quaisquer outros
processos comunicacionais do museu, pois é o contato direto com o público.
2.1 TEXTOS
É importante aprendermos um pouco sobre os formatos de textos encontrados
dentro de um museu e sua aplicabilidade, a qual depende da necessidade de
comunicação.
31
vez que o mesmo efeito só consegue ser criado se forem associados à linguagem verbal
ou a mais de uma forma de comunicação (HODGE; D’SOUZA, 1979).
Logo, para fazer com que o texto no museu seja mais benéfico do que custoso
para o visitante, ao longo deste tópico, aprenderemos algumas estratégias e padrões
que podem auxiliar nessas construções.
32
• Identificação ou descrição: legendas/etiquetas dos objetos (suporte de pequena
dimensão, geralmente posicionado próximo ao objeto).
• Orientação: elementos de sinalização (suportes para organização espacial do museu,
geralmente indicam a circulação, o mapa do espaço, as permissões e as proibições e
a localização dos equipamentos da instituição, como auditório, sanitários, loja etc.).
De acordo com Sousa (2014), “Textos interpretativos são aqueles que permitem
que o leitor saiba qual é o tema da exposição, entenda as razões da exposição, obtenha
informações sobre o contexto geral de um grupo de objetos, compreenda um fenômeno,
intérprete um objeto específico, entre outras ações [...]” (SOUSA, 2014, p. 51).
33
FIGURA 5 – TEXTO EM CAIXA ÚNICA
34
que podem ser criados ao longo do texto (DEAN, 1996). O espaço entre as linhas tem
que ser harmonioso, de forma que não resulte em textos demasiados brancos ou
pretos – efeito bloco.
2.1.1 Títulos
Considerando a composição desses textos e alguns padrões sugeridos, a
maioria contempla dois itens: o título e o texto (ou corpo de texto, como também pode
ser chamado). Os títulos são maiores, curtos e de leitura rápida e simples (IBRAM, 2017).
Não existe uma delimitação de tamanho da letra ou do material, sempre utilizando a
criatividade (Figura 7).
35
A seguir, veremos algumas orientações para os acompanhantes dos títulos – os
subtítulos.
2.1.2 Subtítulos
Os subtítulos são elementos que auxiliam no entendimento do título, podem
trazer informações complementares e indicar limites temporais e espaciais dentro da
temática da exposição. Título e subtítulo funcionam de forma complementar um ao
outro, pois objetivam fornecer subsídios para que o visitante entenda o conceito da
exposição e as grandes ideias apresentadas (SOUSA, 2014).
FONTE: As autoras
36
Como padrão, a extensão do texto é de 75 palavras, embora, segundo Dean
(1996), essa regra seja maleável se o texto cumprir com os quesitos clareza, legibilidade,
simplicidade, entre outros. Se possuir vários parágrafos, essa regra deve ser seguida em
cada um deles. Nesse caso, é fundamental um bom espaçamento entre os parágrafos,
com objetivo de dar um respiro visual ao leitor.
37
2.1.5 Legendas
As legendas – ou etiquetas, como são chamadas em algumas bibliografias –
são utilizadas para evitar possíveis ambiguidades com as etiquetas de identificação dos
objetos, usadas principalmente nos ambientes das reservas técnicas. Esses elementos
funcionam para fornecer informações sobre itens específicos na exposição. As legendas
devem sempre responder a simples questão “O que é isso?”, seguida das perguntas “De
quando é? De onde veio?”.
NOTA
Família e corpo
38
FIGURA 10 – MODELO DE LEGENDA DE OBRA DE ARTE
39
FIGURA 12 – MODELO DE LEGENDA INTERPRETATIVA
40
• Sempre identificar com uma legenda própria, quando um objeto tiver que ser retirado
da exposição para restauro ou outros fins. É importante que o visitante entenda o
porquê da ausência daquele elemento na exposição (SERRELL, 1996).
FONTE: As autoras
Outro aspecto que deve ser observado é o espaço. Quando há grande fluxo
de pessoas transitando, textos e legendas podem ser um problema, seja pelo fato
de as pessoas atrapalharem o fluxo das outras para lerem os textos ou por terem
que esperar alguém terminar a leitura para poderem ler. Nesse caso, o aumento
do tamanho das letras nem sempre será a solução. Alguns museus tentam saídas
criativas para esse tipo de impasse, propondo novos formatos para legendas, como
as fichas de leitura. Geralmente, esses recursos são disponibilizados no início da
mostra ou da sala e apresentam as informações sobre todos os objetos. O visitante
tem em suas mãos as legendas e os textos de todos elementos da sala, podendo fazer
a leitura sentado ou perambulando entre os artefatos em exibição. Essa estratégia
possibilita acesso à informação, mesmo em situações ou ambientes com grande fluxo
de pessoas (SOUSA, 2014).
41
Outro recurso interessante, que pode ser utilizado de forma análoga ao
anteriormente citado, é o próprio guia do museu, que tem caráter interativo pouco
explorado (SOUSA, 2014). Esses livretos podem ser elaborados visando à interação do
público durante o período de visitação, contendo questões que podem ser respondidas
durante a visita e outras atividades. É necessária criatividade para a concepção desse
tipo de material.
DICA
Nunca se esqueça da ficha técnica.
42
FIGURA 14 – MODELO DE FICHA TÉCNICA
43
IMPORTANTE
Você já teve problemas com a altura de algum texto em uma exposição? Ele
estava muito baixo ou extremamente alto? Acompanhe boas técnicas para
qualificar os textos em nossas exposições, conhecendo alguns padrões
indicados para resolver eventuais problemas.
44
DICA
Dessa forma, é necessário cuidado ao posicionar elementos textuais no alto!
45
A hierarquia das informações também auxilia na legibilidade dos textos. É
fundamental que o leitor entenda com facilidade o que é o elemento principal (título e
subtítulo) e os acompanhantes (texto secundário). Isso pode ser facilmente demonstrado
com mudança de tamanho da letra, cor e posicionamento (IBRAM, 2017).
ATENÇÃO
Uma composição perigosa são as superfícies transparentes, que podem sofrer
com a iluminação do ambiente e a luz focalizada. Dependendo da incidência
de luz e do afastamento do suporte da parede, isso pode causar sombra nas
letras e dificuldade para a leitura do texto (SOUSA, 2014).
46
INTERESSANTE
Legibilidade
47
Textos posicionados longe dos objetos a que fazem referência ou aqueles menos
visíveis, necessitando de expressivo deslocamento do visitante para tornar possível
a visualização de seu conteúdo, tendem a ser menos lidos. Portanto, aquele tipo de
legenda com números nos objetos dentro da vitrine e todas as informações compiladas
em forma de listagem (instalada nas proximidades), comunicacionalmente, não é o
mais indicado. O visitante, na ação de descobrir o número e retornar à legenda, acaba
perdendo o interesse antes de identificar as informações de todas as peças presentes
na vitrine. Essa estratégia é indicada apenas quando o espaço é muito restrito para
aproximar as informações do objeto.
FONTE: As autoras
48
Em se tratando de criatividade, outro ponto importante da escrita é escolher
quem será a voz do texto. Além de escolher se será em primeira pessoa ou terceira
(mais comumente utilizadas), deve-se determinar se será uma voz institucional, de
um personagem fictício, do curador ou outro tipo de narrador (SOUSA, 2014). A Figura
19 apresenta uma exposição que tem seus textos expográficos construídos como um
diálogo – como se o narrador da exposição estivesse conversando com alguém.
FONTE: As autoras
Depois de entender como deve ser construído cada tipo de texto, precisamos
pensar ainda em estratégias de estímulo para que o visitante tenha maior probabilidade
de fluir desse conteúdo.
49
Começaremos por uma estratégia visual, indicada por Dean (1996, p. 117) “como
forma de atrair a atenção do visitante para o conteúdo do texto o uso da letra capitular
(primeira letra grande em relação ao corpo do texto) ou o uso de itálico ou negrito na
primeira linha do texto”.
1. Textos que não estão relacionados com uma grande ideia, que
divagam sem foco ou objetivos.
2. Textos que têm demasiada ênfase na instrução (apresentação de
informações) em vez de interpretação (que oferece provocação).
3. Textos que não levam em conta os conhecimentos prévios,
interesses e/ou equívocos dos visitantes – que não sabem quem é
o público.
4. Textos com nenhum sistema aparente de design e conteúdo para
organizar as mensagens, códigos ou contexto.
5. Textos escritos com um vocabulário que está fora do alcance para
a maioria dos visitantes.
6. Textos que são muito longos e prolixos.
7. Textos que fazem perguntas que não são as perguntas dos
visitantes.
8. Textos para objetos interativos que não têm instrução ou
interpretações localizadas de maneiras lógica e integrada.
9. Textos que não começam com o concreto, referências visuais.
10. Textos que são difíceis de ler por causa da má tipografia (má
escolha de tipografia, design, iluminação, materiais, ou da posição)
(SERRELL, 1996, p. 233 [tradução nossa]).
50
QUADRO 1 – RESUMO DE CONTEÚDOS
DICA
Acadêmico, sempre que tiver alguma dúvida sobre a construção desses
recursos expográficos, dê uma conferida nas dicas apresentadas nesse quadro.
51
Em suma, vimos como funciona a comunicação a partir dos textos em uma
exposição. Esse recurso está presente em quase todos os ambientes de um museu
e tem o objetivo de auxiliar explicando, identificando e orientando o visitante que
frequenta esse espaço.
DICA
Indicação de leitura
Outra dinâmica que deve exigir bastante atenção são os textos que solicitam a
participação do visitante, abrangendo ações como sentir, ver, fazer, cheirar ou degustar.
Esses textos devem prender a atenção do público e ser claros nas mensagens. É
importante que esse recurso esteja bem visível, sendo o mais indicado a inclusão
52
de placas de sinalização para reforçar a dinâmica esperada de interatividade com o
visitante. A seguir, será possível observar alguns modelos de placas que reforçam a
possibilidade de determinadas ações dentro da exposição.
FONTE: As autoras
FONTE: As autoras
53
Na Figura 21, temos um conjunto de recursos que indicam a possibilidade de
manuseio da peça: a sinalização de “Permitido tocar”, a legenda com os dados principais,
ao lado de uma legenda em braile e, por fim, a réplica de um objeto em gesso. Apesar
de tantos itens colaborando para a transmissão da mensagem sobre a permissão para
tocar na obra, é fundamental a presença do símbolo.
54
Algumas instituições vêm desenvolvendo uma linguagem própria para
pictogramas e símbolos de indicação e orientação, elaborados em consonância com o
design geral do museu. Na Figura 24, temos um modelo de indicação para os sanitários,
com design estilizado. Ao formular esses novos símbolos, é importante manter
elementos e características compreendidos de forma geral, com linhas simples e de
fácil visualização.
55
LEITURA
COMPLEMENTAR
COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO, EXPOSIÇÃO: NOVOS SABERES, NOVOS SENTIDOS
Tereza Scheiner
56
Ao longo do século XX, esse jogo romântico entre ilusão e realidade tornou-se
uma das formas mais apreciadas de exposição, remetendo o observador ao domínio
da fantasia – especialmente nos museus norte-americanos, que, com tais artifícios,
buscaram compensar a relativa carência de espetaculares acervos de arte, história e
arqueologia, tão comuns nos museus europeus. Estes últimos, ainda que utilizando
dioramas e ambientações, permaneceram concentrados nas mostras de objetos com
ênfase “coisológica”, como diria Marcel Mauss . A reação a essas tendências partiu dos
museus dedicados às artes “moderna” e “contemporânea” – os primeiros capazes de
trabalhar a exposição como processo ou como obra aberta; consolidou-se com o advento
dos museus exploratórios, cuja dinâmica é centrada na relação objeto x visitante, e
aprofundou-se com a inclusão das áreas naturais preservadas no universo do Museu .
A partir dos anos 1990, uma outra “revolução” se anuncia: uma nova epistemologia
do conhecimento permite que se perceba o Museu como um evento, um acontecimento,
uma eclosão da mente ou dos sentidos, cujo sentido se dá no instante, no momento mesmo
da relação. Nessa perspectiva, coloca-se, definitivamente em segundo plano, a articulação
espacial/formal da exposição – que atuará como cenário, ou acessório, para a verdadeira
experiência: a que une, no instante da relação, exposição e visitante. E que é intensa,
verdadeira, intangível e personalíssima. E que é fugaz. É, pois, no domínio da intangibilidade
que se percebe, hoje, a relação exposição x visitante – na centelha de reconhecimento que
faz com que o indivíduo apreenda, pela emoção e pelos sentidos, a coisa exposta.
57
A estrutura do discurso
58
interpretativas presentes nos noticiários de TV ou da imprensa. Museus podem ainda
ser utilizados como instrumentos de suspensão da memória coletiva, especialmente
no caso de períodos recentes e ambivalentes da história nacional ou mundial – quando
se decide pela omissão ou não apresentação de certos fatos ou memórias que são
considerados perturbadores por alguns segmentos da sociedade.
Compete, assim, aos responsáveis pelo projeto de uma exposição definir que
articulações de “vocabulário” desejam na sua narrativa. Lynn Maranda lembra que
esses movimentos podem ser reconhecidos a partir de quatro grandes categorias:
1) a genérico/estética, que valoriza o aspecto formal da exposição e trabalha sobre a
percepção estética herdada, importante componente da memória social; 2) a genérico/
objetiva, que se baseia na informação taxonômica e no valor científico da coleção e
celebra a percepção intelectual, baseada na articulação entre similaridades e variedade;
3) a temática/narrativa, que estabelece relações entre os conjuntos e explicita as
realidades em sua relação; e 4) a temática/situacional, que enfatiza a ambientação,
colocando cada elemento do conjunto em simbiose com a totalidade – a partir da
conjuntura gestáltica da imersão –, e explora a relação entre elementos, da maneira
como se articulam na realidade – em seus ambientes originais.
59
estabelecendo suas narrativas a partir de códigos que estejam em pleno uso na
sociedade contemporânea. Assim, hoje videotextos e experiências interativas virtuais
comunicam mais fácil e completamente que, por exemplo, as tradicionais etiquetas
– principalmente naquelas exposições onde se espera público jovem ou familiarizado
com as novas tecnologias. Todavia, espera-se que a exposição não se esgote nesses
recursos, tornando-se a mera cópia de produtos já exaustivamente oferecidos por
outras agências mediáticas.
FONTE: SCHEINER, T. Comunicação, Educação, Exposição: novos saberes, novos sentidos. Semiosfera, ano 3,
n. 4-5, 2003. Disponível em: https://bit.ly/35Kq8e7. Acesso em: 20 nov. 2020.
60
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Os textos em uma exposição têm como função levar informações ao visitante que
o objeto sozinho não transmite. Além disso, demonstram o discurso da exposição
compondo a narrativa expográfica, servindo, também, para fornecer indicações para
a circulação e a orientação do visitante.
61
AUTOATIVIDADE
1 Existem vários recursos textuais empregados dentro dos espaços museais, como
textos expográficos e sinalizações para orientação do visitante. Muitas exposições
utilizam da textualidade como recurso comunicacional, apresentado em forma
de títulos, subtítulos, textos introdutórios ou curatoriais, textos secundários ou de
grupos, legendas e ficha técnica. Disserte sobre a importância do recurso textual em
uma exposição.
a) ( ) Legendas – podem ser de dois tipos; são elementos informativos que podem
ser acompanhados de um texto interpretativo; têm a função de apresentar os
objetos da exposição.
b) ( ) Textos secundários – apresentam a exposição e, geralmente, estão localizados
próximos à porta de entrada.
c) ( ) Títulos – devem ser criativos e podem conter até 20 palavras.
d) ( ) Ficha técnica – geralmente é instalada abaixo do título da exposição e pode
conter no máximo 75 palavras.
62
5 As sinalizações nas exposições têm papel fundamental para boa fruição do visitante
no espaço. Considere os exemplos apresentados para cada situação e associe os
itens, utilizando o código a seguir:
I- Permissão.
II- Proibição.
III- Orientação.
IV- Instrução.
a) ( ) III – I – II – IV.
b) ( ) IV – III – I – II.
c) ( ) IV – I – III – II.
d) ( ) I – IV – III – II.
63
64
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, A. M.; LOPES, M. M. Modelos de comunicação aplicados aos estudos de
públicos de museus. Revista Ciências Humanas, v. 9, n. 2, p. 137-145, 2003.
BITGOOD, S. Engaging the Visitor: Designing Exhibits that Work. MuseumEtc; 2014.
BITGOOD, S. Attention and value: Keys to Understand Museum Visitors. Left Coast
Press; 2013.
DEAN, D. Museum exhibition: theory and practice. New York: Routledge; 1996.
FALK, J. H.; DIERKING, L. D. The Museum Experience Revisited. Nova York: Routledge,
2016. Disponível em: https://bit.ly/3KlXcrZ. Acesso em: 26 fev. 2021.
GREIMAS, A. J.; COURTÉS, J. Dicionário de Semiótica. São Paulo: Contexto; 2008. 543 p.
65
HODGE, R.; D’SOUZA, W. O museu como comunicador: uma análise semiótica da
Galeria dos aborígenes do Western Australian Museum, em Perth. 1979.
LANDOWSKI, E. Interações Arriscadas. São Paulo: Estação das Letras e Cores; 2014.
66
RÚSSIO GUANIERI, W. Quest-ce que cest la Muséologie? ICOM Muwop Museologiacal
Working Papers, n. 2, 1981, p. 58-59.
SOUSA, A. J. M. Como os textos das exposições museais podem ser percebidos pelos
visitantes? Uma análise da perspectiva metodológica de Stephen Bitgood a partir da
década de 1990. 2014, 95f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Museologia) –
Faculdade de Ciência da Informação da Universidade de Brasília, Brasília, 2014.
67
68
UNIDADE 2 —
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
69
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
Acesse o
QR Code abaixo:
70
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
AÇÕES EDUCATIVO-CULTURAIS
EM MUSEUS
1 INTRODUÇÃO
Assim como vimos alguns modelos e esquemas comunicacionais e suas
aplicabilidades no campo da Museologia na unidade anterior, neste tópico, daremos
seguimento a essa temática conhecendo as possibilidades práticas de comunicar em
museus.
2 AÇÕES EDUCATIVO-CULTURAIS
Após a identificação da exposição como meio de comunicação por excelência
do museu, sendo o espaço no qual se estabelecem as relações entre os homens e os
objetos, pode parecer que a comunicação museológica se encerra ali. Pode-se pensar
“basta realizar uma boa exposição para ter como garantia a entrega da mensagem”,
porém isso não corresponde à realidade.
Como diria o antigo ditado, “não vamos colocar a carroça à frente dos bois”.
Antes de tudo, é preciso saber que, em um processo comunicacional, principalmente
naqueles em que diversas interpretações são permitidas, como é o caso da exposição,
na grande maioria das vezes, é muito difícil garantir que o significado da mensagem
recebida por um indivíduo seja tal qual o significado que o emissor teve a intenção de
enviar. De modo geral, esse também não é – ou não deveria ser – a intenção de uma
exposição de museu.
71
procedimentos que promovem a educação no museu, tendo
relação entre o homem e o bem cultural como centro de suas
atividades. Pode estar voltada para [...] reflexão crítica e transformação
da realidade social. Nesse caso, deve ser entendida como uma ação
cultural, que consiste no processo de mediação, permitindo ao
homem apreender, em sentido amplo, o bem cultural, com vistas
ao desenvolvimento de uma consciência crítica e abrangente
da realidade que o cerca. Seus resultados devem assegurar a
ampliação das possibilidades de expressão dos indivíduos e grupos
nas diferentes esferas da vida social. Concebida dessa maneira, a ação
educativa nos museus promove sempre benefício para a sociedade,
determinando, em última instância, o papel social dos museus
(CADERNO DE DIRETRIZES MUSEOLÓGICAS, 2006, p. 149, grifo nosso).
72
INTERESSANTE
Embora o curso de Bacharelado em Museologia esteja bastante envolvido com as práticas
museológicas, é importante lembrar dos outros dois cursos acompanham a Museologia no
campo das Ciências da Informação: Biblioteconomia e Arquivologia.
É importante que estejamos atentos para o fato de que as bibliotecas e os arquivos também
são locais de construção de narrativas, com diferentes objetos geradores, mas com acervos
de grande relevância para a construção cultural e histórica de uma sociedade. Ainda que
esses espaços guardem suas diferenças, as ações educativo-culturais acontecem lá com
tanta frequência quanto nos museus.
73
A atividade humana, ao longo da história, se condensa nos objetos
e nas experiências culturais. Na medida em que nos apropriamos
daquilo que outros seres humanos produziram, nos apropriamos da
atividade condensada e acumulada, ou seja, da cultura. [...] Sob esta
perspectiva, podemos pressupor que, quanto maior for o acesso à
cultura historicamente construída e acumulada, mais ricas e diversas
serão nossas necessidades, mais ampliada será nossa capacidade
de criação e transformação da realidade (HILLESHEIM, 2016, p. 246).
FIGURA 1 – AÇÃO COM FOCO NA SUBJETIVIDADE DO INDIVÍDUO – MUSEU DE ARTE MURILO MENDES, 2013
74
É relevante atentarmos para a particularidade das exposições de arte, que, por
vezes, solicita do visitante um conhecimento técnico prévio para que ele compreenda
as intenções do artista. Nesse sentido, através da ação educativo-cultural, é possível
auxiliar o público que não tem essa bagagem cultural a produzir sentido e criar relação
com essa narrativa artística.
NOTA
Perceba que, por “conhecimento técnico prévio”, nos referimos às particularidades as
quais, muitas vezes, o visitante de uma exposição de arte precisa conhecer previamente
para que consiga acompanhar e se relacionar com a mensagem expositiva,
como o movimento artístico, o histórico, as técnicas comuns ao artista
expositor ou reconhecer a temática da exposição.
Nesse sentido, Vergara (2011, apud HILLESHEIM, 2016) propõe que observemos
a ética da mediação, visto que esse é um encontro entre dois sujeitos que possuem
diferentes contextos pessoais e são influenciados por objetivos distintos. Assim,
Hillesheim (2016, p. 252) afirma que “mediação passa a ter um papel multilateral
e pressupor uma troca de saberes, uma vez que parte do entendimento que ambos
os sujeitos envolvidos no encontro carregam consigo saberes, formas de entender e
conviver com a cultura”.
75
Essa perspectiva também reforça que o objetivo das ações museológicas não
é – ou não deveria ser – incutir no público uma mensagem ou ideia, mas sim, produzir
novas reflexões e habilidades críticas a partir da interação entre emissor-mensagem-
receptor. Pinto (2010, p. 100) resume de maneira eficaz a Ação Educativo-Cultural nos
museus, quando afirma que “concebe-se a ação educativa e cultural como uma política
social e de caráter público. Afinal, o objetivo de atuação dos museus hoje em dia é muito
mais a postura de agenciador cultural e histórico”.
Portanto, é certo afirmar que os museus são lugares que têm por objetivo educar
o seu público. Contudo, pode surgir a dúvida: “que tipo de educação é promovida em
museus, já que suas narrativas são tão específicas?”. A resposta para essa pergunta
está nas relações que as ações educativo-culturais constroem com os indivíduos no
espaço do museu. Para Valente (2009, p. 85), “a educação e a cultura são os processos
fundamentais da formação intelectual própria dos indivíduos”. Assim, a educação é o
meio pelo qual aprendemos o que nos pertence culturalmente, e ela acontece dentro do
museu, um espaço considerado um local de educação não formal.
77
INTERESSANTE
Você sabia que o ICOM está em processo de atualização para a definição de museu? Isso
acontece porque a definição atual não abrange algumas das discussões museológicas
contemporâneas – como os museus virtuais, a necessidade de maior representação das
minorias e outras demandas sociais. Desde 2018, os comitês nacionais do ICOM buscam
novas possibilidades para a definição de museu.
78
a educação é vista pelo viés do não formal e é evitado o termo ensinar,
considerado próximo da função da escola, mais dirigida à aquisição
de competências ligadas a conteúdos disciplinares. A educação
não formal é a perspectiva que embasa as relações humanas de
apropriação de saberes no interior das instituições como museus,
que se dá na comunicação entre visitante e conhecimento, gerando
um efeito educativo, ou seja, que corresponde de maneira geral ao
desejo do educador de provocar a mudança de atitude dos indivíduos,
em relação a um conhecimento (VALENTE, 2009, p. 92).
79
Para que esse processo seja bem-sucedido, o setor educativo precisa promover
ações conscientes e bem planejadas, mostrando que a instituição tem maturidade
profissional e seus funcionários estão preparados para oferecer, ao público, uma
experiência com relevância social e que valorize a importância da cultura popular. Essas
ações e metas devem estar previstas no documento de gestão mais importante do
museu: o Plano Museológico.
80
No programa educativo, é ideal que estejam dispostas metas de construção de
atividades para os diferentes tipos de público – escolar, universitário, profissional, das
mais variadas faixas etárias (crianças, jovens, adultos e idosos) – e também para a equipe
do museu, que é considerado público interno e faz parte do grupo de comunicadores da
instituição. Além disso, é interessante para a instituição que estejam previstas avaliações
periódicas de suas atividades, evitando que suas abordagens fiquem desatualizadas.
Uma das estratégias de maior sucesso para instituições que possuem exposição de
longa duração é promover uma releitura de seus acervos e suas narrativas por meio das
ações educativo-culturais, propondo novos olhares e reflexões sem a necessidade de
construir novas expografias. Essas estratégias são alinhadas no Plano Museológico, a
fim de manter as atividades da instituição alinhadas a sua missão, visão e valores.
81
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
82
AUTOATIVIDADE
1 A abordagem educativa, no contexto dos museus, passou por diversas mudanças no
decorrer dos últimos anos, modificando o seu foco da obra de arte para o indivíduo.
Considerando os modelos de foco das ações educativo-culturais, associe os itens,
utilizando o código a seguir:
a) ( ) III – II – I.
b) ( ) II – I – III.
c) ( ) I – II – III.
d) ( ) II – III – I.
2 As relações que uma instituição museal estabelece com seu público, por meio das
ações educativo-culturais, são fundamentais, sendo o setor educativo uma forma
de aproximar o museu de seu público e de criar novas possibilidades de narrativas.
Disserte sobre a importância dessas atividades no contexto comunicacional do
museu.
3 A equipe do museu é um dos meios pelos quais a instituição passa suas mensagens.
Espera-se que funcionários e servidores estejam sempre alinhados aos objetivos
do museu e sejam porta-vozes das ideias que se propagam no espaço expositivo.
As ações educativo-culturais propostas pelo museu são uma das maneiras de
enriquecer a experiência do visitante e não aconteceriam se não fosse pela presença
do mediador. Disserte sobre a importância desse personagem no contexto em
questão.
83
muitas vezes, os museus têm crenças organizacionais limitantes – Cury (2013)
denomina de “síndromes” as posturas problemáticas das instituições. Considerando
as possíveis soluções para cada tipo de “síndrome” de museu, associe os itens,
utilizando o código a seguir:
a) ( ) III – I – II.
b) ( ) I – III – II.
c) ( ) II – III – I.
d) ( ) III – II – I.
a) ( ) Plano museológico.
b) ( ) Exposição.
c) ( ) Conservação.
d) ( ) Nenhuma das alternativas anteriores.
84
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
ESTUDO DE PÚBLICO
1 INTRODUÇÃO
Podemos imaginar incontáveis motivos para que o desejo de um visitante
de conhecer um museu, como questões pessoais ou ocasionais: conhecer o museu,
ter interesse pela temática da exposição, diversão, acompanhar alguém, entre tantos
outros. Conhecer, de fato, essas motivações faz parte do processo de gestão de uma
instituição museológica, podendo ajudar muito no planejamento das ações educativas
e culturais.
2 ESTUDO DE PÚBLICO
O público é um elemento de fundamental importância para os museus. Conforme
a definição do ICOM, museus são “uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a
serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, aberta ao público e que faz pesquisas
relacionadas com os testemunhos materiais do ser humano e de seu ambiente, tendo
em vista a aquisição, conservação, transmissão e, principalmente, exposição desse
acervo com a finalidade de estudo, educação e deleite”. Logo, a partir dessa definição,
podemos perceber a figura do público como elemento central na conceituação do que é
um museu e para que ele serve na atualidade.
85
DICA
Em 2011, o IBRAM, com a utilização do Cadastro Nacional de Museus, lançou
o livro Museus em Números. Nesse momento, o cadastro havia mapeado 3.025
instituições museológicas. A edição contou com informações sobre dados
institucionais, acervo, acesso do público, caracterização física dos museus,
segurança e controle patrimonial, atividades, recursos humanos e orçamento.
Quer saber mais? Acesse o link para conferir a edição na íntegra: https://bit.ly/3NSzaqH.
As instituições museológicas devem saber que seu público pode ser constituído
por uma infinidade de segmentos da sociedade, como “famílias, estudantes e professores,
profissionais, especialistas, [pesquisadores], turistas, grupos organizados, nichos de
público (aposentados, imigrantes, pessoas com necessidades especiais), dentre outros
[...]” (ANDRADE, 2010, apud COSTA; BRIGOLA, 2014, p. 128).
86
também enfrentam uma nova fase, sem desprezar metodologias antigamente aplicadas,
mas incorporando abordagens mais transdisciplinares. Dessa forma, Costa e Brigola
(2014) apontam que os novos estudos contemplam:
Cury (2015) alerta sobre a necessidade de uma pesquisa para discussão dos
conceitos inerentes a essa temática, sendo importante para criar definições claras
para a interpretação desse tipo de agente no ambiente museal – essa é uma dica de
investigação a ser desenvolvida de extrema importância para museologia.
88
Em 1920, em Viena, Otto Neurath desenvolveu um modelo de avaliação da
exposição, focando nos aspectos econômicos e sociais. O estudo teve como objetivo
entender necessidades e desejos do visitante, para, consequentemente, decidir
quais informações comunicar e como as apresentar. Em seguida, entre 1928 e 1931,
Edward Robinson e Arthur Melton, nos Estados Unidos, fizeram estudos empíricos de
observação do público, para compreender como as pessoas realizavam o percurso nas
salas, identificando quais eram as partes atrativas da mostra, como o público utilizava
os diferentes recursos, entre outras questões (ALMEIDA, 1995).
IMPORTANTE
Pode parecer um pouco estranho, mas são estudos muito valiosos para os
museus.
89
Nesse contexto, estudos realizados no hemisfério norte foram largamente
aplicados, averiguando questões como “o perfil do visitante, seus gostos, suas
preferências culturais; sua opinião sobre a sua experiência vivida no museu; o impacto
cognitivo no visitante, assim como o impacto econômico de grandes exposições”
(CARVALHO, 2000, p. 8), como as Blockbusters, que são marcos de sucesso de público.
Essas pesquisas balizaram tomadas de decisão, como a forma de cobrança de ingressos
e a participação relevante na receita de alguns museus (CARVALHO, 2000).
• grupos pequenos que não prestam atenção e pouco aprendem, dificilmente mudam
de comportamento;
• grupos pequenos que têm centros de interesse particulares, sabem o que querem ver
e aprender;
• grupos grandes que andam pelo museu de forma exploratória, procurando coisas
que despertem interesse.
De acordo com pesquisa realizada por Roger Miles (1993) sobre o Museu
Britânico de História Natural, foi observado que os visitantes não permaneciam
mais de 2h30min no museu, sendo esse tempo dividido pelos outros equipamentos
da instituição, como a loja, o café, o restaurante e os sanitários. Outros aspectos
identificados nessa pesquisa foram:
90
• os visitantes costumam explorar o espaço procurando “sentir” os conjuntos, não
apenas elementos individuais;
• as paradas dentro da exposição podem durar de 30 segundos até 45 minutos
(dependendo do nível de interatividade);
• é dada maior atenção nos primeiros 30 minutos de visita, após isso, o visitante fica
menos tempo em cada núcleo ou espaço.
Esses dados são boas referências para refletir diferentes dinâmicas do museu,
como as mediações, que, nesse caso, devem ser moldadas para trazer as informações
mais importantes durante os primeiros 30 minutos de visita, quando o público está mais
concentrado na atividade.
91
• Como modificar o estigma dos museus?
• Como atingir as pessoas que não conhecem as instituições?
• Quais são os meios para trazer mais pessoas a frequentarem os museus?
Outro clássico estudo de público foi realizado por Pierre Bourdieu e Alain Darbel,
que foi aplicada por meio de um questionário respondido por milhares de pessoas de
diferentes países da Europa (França, Espanha, Grécia, Itália, Holanda e Polônia) e tinha a
finalidade de saber por que alguns visitantes possuíam uma matriz cultural e outros não
(BOURDIEU; DARBEL, 2007). A falta dessa matriz cultural ainda é muito presente no Brasil,
o que explica o baixo nível de uso dos equipamentos culturais (museus, bibliotecas, teatros,
cinemas, entre outros) pela população – todavia, o público brasileiro, historicamente, visita
instituições culturais em outros países quando está em viagens turísticas. Dessa forma,
podemos perceber o quão atual é a questão tratada nessa pesquisa (DEGELO, 2009).
DICA
É possível conferir todas as informações dessa pesquisa no livro O amor pela
arte: os museus de arte na Europa e seu público, escrito por Pierre Bourdieu
e Alain Darbel, cuja primeira publicação, em francês, foi realizada em 1966.
Ainda hoje, é considerado um dos estudos de público mais abrangentes do
século XX, permitindo reflexões muito pertinentes à atualidade.
92
Mais adiante, conheceremos quem é o público do museu. Nesse momento,
surgem as dúvidas: podemos separá-los em grupos? Quais são as expectativas de cada
um deles?
NOTA
No tópico anterior sobre ações educativo-culturais, mencionamos que as exposições
artísticas geralmente pedem que o visitante já tenha um conhecimento prévio
sobre a temática da exposição. Agora, vimos que alguns teóricos falam sobre
a necessidade de a bagagem cultural do visitante servir de base para sua
compreensão da exposição.
93
No espaço das exposições, há diferentes tipos de comportamento entre as
famílias, desde pais que apenas observam seus filhos até aqueles que executam as
atividades para eles ou com eles. Dessa maneira, é importante que, ao planejar uma
exposição, sejam previstos dispositivos tanto para adultos como para as crianças, para
que os pais tenham a liberdade de explicar algo, caso desejem, que não está ao alcance
do filho (MARTINS et al., 2013).
Nesse contexto, veremos cada uma dessas barreiras e ao que elas correspondem.
A barreira física dificulta ou impossibilita o acesso do visitante ao espaço, correspondendo
a escadas, espaços estreitos, vitrines com altura e forma inadequadas, entre outras. A
sensorial dificulta ou impossibilita o processo de comunicação, surgindo com a ausência de
informações, como a escrita em braile ou suportes para libras. Para auxiliar na diminuição
dessa barreira, é indicado o uso de recursos táteis, como maquetes, miniaturas, obras
em relevos, entre outros. Por fim, as barreiras atitudinais estão relacionadas à inclusão
de pessoas com algum tipo de deficiência. É importante que a instituição faça formações
de sensibilização, conscientização e capacitação de sua equipe para atender, conduzir e
saber orientar esse tipo de público (MARTINS et al., 2013).
94
IMPORTANTE
Diferença entre libra e braile
Assim, iniciamos com o público visitante, que é, de fato, aquele que frequenta o
museu, sendo mapeado por meio do levantamento do perfil (MILES, 1986). Esse público
não deve ser esquecido, pois já é cativo, e é a partir do conhecimento dele que é possível
determinar quem são os nossos não públicos.
95
Há também o público potencial, aquele que se pretende atingir com uma ação
no museu (MILES, 1986); essas pessoas já podem fazer parte do público visitante ou
fazer parte de um grupo que seria uma aspiração do museu.
Por fim, o público-alvo é composto por uma seleção dentro do público potencial,
uma parcela específica que se pretende atingir com uma ação/projeto pontual (MILES,
1986). O termo público-alvo surgiu da concepção mercadológica vinda da administração,
como uma forma de determinar quem era o cliente de algum produto ou serviço (CURY,
2015) e, logo, acabou sendo adaptado para o universo dos museus, mostrando, de forma
objetiva, quem é o alvo de uma ação museológica.
96
- Avaliação preliminar ou conceitual: ocorre na fase de planejamento,
mais especificamente no momento das primeiras formulações e
na definição do conteúdo da exposição. Determina conhecimento,
conceitos, interesses, atitudes e preferências do público. Por avaliar
ideias, é também conhecida como avaliação de conceito.
- Avaliação formativa: ocorre durante a fase inicial de desenvolvimento
do desenho da exposição e corresponde ao exame de propostas de
recursos expográficos por meio de protótipos e simulação.
- Avaliação corretiva: provoca modificações quase que imediatas à
percepção de aspectos não satisfatórios da exposição.
- Avaliação somativa: avalia a interação entre a exposição e o público,
a partir do modelo museológico de comunicação proposto. Colabora
para a formulação de teorias sobre como o público aprende e interage
mediante determinada proposta.
- Avaliação técnica ou apreciação crítica: é promovida e realizada
pela equipe responsável pela exposição. Levanta questões técnicas
não satisfatórias e o mérito do desenho da exposição. Convidados
externos podem colaborar neste tipo de análise, ampliando os
referenciais críticos. São avaliados os elementos expográficos do
projeto e a exposição instalada.
- Avaliação do processo: é promovida pela equipe responsável pelo
desenvolvimento de determinado processo de concepção e/ou
execução de exposição e visa ao refinamento das metodologias e
técnicas de trabalho e de planejamento (CURY, 2005, p. 373).
97
Ainda sobre as pesquisas, podem ser divididas em dois tipos de abordagens:
quantitativas ou qualitativas. A abordagem quantitativa encara a realidade de maneira
objetiva e baseia-se em métodos mensuráveis para obtenção de dados (KORN, 1989);
as informações obtidas são, geralmente, apresentadas utilizando estatísticas. Em
suma, acabam virando números, utilizam da matemática para descrever, representar
ou interpretar a multidiversidade. As ferramentas mais utilizadas, nesse caso, são
questionários fechados. Essa abordagem limita-se a observar fenômenos e fixar ligações
de regularidade, com a pretensão de identificar as leis que os regem; esses estudos não
trabalham com significados, pois acham que é uma realidade incapaz de se abordar de
forma científica. Pesquisas com abordagens quantitativas costumam ser mais viáveis,
pois o processo de análise é rápido e ágil, conseguem abranger um número maior de
casos – trazem à tona indicadores e tendências observáveis em grupos de pessoas
(MINAYO; SANCHES, 1993). Um alerta sobre esse tipo de pesquisa é que elas acabam
se tornando instrumentos de objetivação social, analisando apenas uniformidades e
regularidades, desconsiderando o que há de essencial nos fenômenos e nos processos
sociais (MINAYO; SANCHES, 1993).
Nesse momento, daremos maior atenção aos estudos descritivos, que são
fundamentais como fontes de informações básicas, pois fazem o diagnóstico do perfil
do visitante. Esses dados são coletados mantendo uma periodicidade geralmente de
forma anual, sendo um bom exemplo de uma ferramenta, que é utilizada para essa
função, os livros de presença dos museus, aqueles que completamos comumente
com nosso nome, idade, sexo cidade, profissão e data. Alguns ainda permitem realizar
anotações ou sugestões para a instituição. Essas variáveis permitem compreender o
segmento de público frequentador do museu; já as comparações, de forma sistemática,
possibilitam visualizar algum tipo de alteração, como a presença de novos segmentos
(SOUSA E SILVA, 1989).
98
DICA
Uma pesquisa de público diferenciada, realizada por desenhos e textos, foi
feita pelos professores Dr. Mário de Souza Chagas e Dra. Denise Studart, com
o auxílio de alunos da Pedagogia e Museologia da Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). O público que respondeu à pesquisa
foram adolescentes, com idade média de 12 a 18 anos. A partir de desenhos
ou resenhas, os jovens responderam às questões: “Como você vê o Museu?”
e “Você já foi ao museu?”.
99
As entrevistas estruturadas costumam ser aplicadas a partir de questionário
enviado por e-mail, correio, entre outras possibilidades. Assim, o entrevistado acaba
por responder de forma escrita. Um grande benefício desse tipo de recurso é que o
entrevistador e o entrevistado não precisam se encontrar, podendo ser realizada com
pessoas de locais distantes, além de não ser necessário a realização de forma síncrona
– logo, o entrevistado tem a liberdade de escolher o momento mais oportuno para
respondê-la.
100
5.4 TÉCNICAS DE APLICAÇÃO DE ENTREVISTA
Além do tipo de construção da entrevista, existem algumas técnicas que podem
ser utilizadas para aplicá-las, como os exemplos apresentados a seguir.
101
5.5 FORMA E CONTEÚDO DAS ENTREVISTAS
Agora que já conhecemos as principais estruturas e algumas técnicas de
aplicação das entrevistas, focaremos em sua forma e conteúdo. Segundo Manzini
(2004), é importante ter ciência de que a entrevista permite estudar o relato sobre os
fatos, e não os fatos em si. Esse autor também indica sugestões importantes sobre as
perguntas de uma entrevista, como:
• Não há um número ideal de questões, que, na verdade, têm relação direta com o
objetivo do estudo. Estudos mais amplos, que transitam por muitas temáticas,
tendem a conter um maior número de perguntas. Se for muito amplo, indica-se o uso
de questionário fechado, para facilitar o processo de análise das informações.
• A formatação de um roteiro apenas com tópicos não garante que o pesquisador irá
formular boas questões; nesse sentido, indica-se que as questões estejam mais bem
delineadas, com palavras-chave. Um roteiro apenas com itens é adequado somente
para entrevistadores experientes.
• Mesmo com roteiro de perguntas elaborado, isso não significa que o entrevistador
deva ficar refém apenas aquelas questões; quando se trata de uma entrevista
semiestruturada, sempre há liberdade de aproveitar as oportunidade que surgem
durante a conversa e o entrevistador pode questionar coisas que estão além do
roteiro e parecem ser relevantes para aquilo que está sendo estudado.
• Deve-se ter cuidado com a construção das questões e o vocabulário utilizado. As
perguntas devem ser objetivas e claras (MANZINI, 2004).
102
(Para o aluno com deficiência)
Que tipos de dificuldades
Quais as suas necessidades
Uso de Jargão você encontra na
educacionais especiais no ensino
universidade?
superior?
QUADRO 2 – CATEGORIAS QUE PODEM SER AVALIADAS ENFOCANDO A ADEQUAÇÃO DAS PERGUNTAS
103
Descreva como as crianças Com base na sua
Uso de aprendem a ler. Se possível, experiência, como as
perguntas
você deverá citar as fases de crianças começam a
com multipla
finalidade desenvolvimento da criança no aprender a ler? E, depois,
aprendizado da leitura. qual é a fase seguinte?
FONTE: Manzini (2004, p. 7-8)
DICA
Essas dicas, apresentadas nos Quadros 1 e 2, para adequação das questões
podem ser de grande serventia no processo de concepção de uma entrevista
ou, até mesmo, questionário. Então, lembre-se de consultá-las quando estiver
planejando sua ferramenta de pesquisa de público.
104
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Na história dos estudos de público no mundo, com sua aplicação de forma evidente
na Europa e América do Norte, na segunda metade do século XX e com o crescimento
da ideia mercadológica de museu, viu-se a necessidade da ampliação dos estudos
de público, dando expressiva atenção também para o não público.
• A ferramenta mais utilizada para estudos de público é a entrevista, que pode ser
realizada de três distintas formas: aberta, em que o entrevistado tem liberdade de
discorrer sobre o tema proposto; estruturada, geralmente composta de questionário
fechado, enviado ou entregue ao visitante; e semiestruturada, constituída por
questões abertas e fechadas, tendo o entrevistador papel fundamental na condução
do diálogo, o qual pode aprofundar situações que saiam do roteiro inicial.
105
AUTOATIVIDADE
1 O público potencial tem relação direta com o público-alvo do museu. Descreva como
se constitui essa relação, dando um exemplo de atividade para cada um dos públicos.
3 O processo de avaliação sugerido por Cury (2005) pode ser dividido em várias etapas,
sendo todas de fundamental importância para a análise aprofundada daquele cenário.
Com base em teorias anteriores, a mesma autora propõe uma síntese de etapas
que compõem o processo avaliativo: avaliação preliminar ou conceitual, avaliação
formativa, avaliação corretiva, avaliação somativa, avaliação técnica ou apreciação
crítica e avaliação do processo. Em relação à etapa da avaliação e a sua descrição,
assinale a alternativa CORRETA:
106
d) ( ) Avaliação do processo: é promovida pela equipe responsável pelo desenvolvimento
de determinado processo de concepção e/ou execução de exposição e visa ao
refinamento das metodologias e técnicas de trabalho e de planejamento.
I- Entrevista aberta.
II- Entrevista estruturada.
III- Entrevista semiestruturada.
a) ( ) I – III – II.
b) ( ) II – I – III.
c) ( ) III – II – I.
d) ( ) III – I – II.
107
108
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
INTERATIVIDADE EM MUSEUS
1 INTRODUÇÃO
É comum ouvir a frase “museu é lugar de coisa velha e sem graça”. Como vimos
anteriormente, esse discurso é resultado de uma gestão inadequada dos espaços
museais, que pode levar a um baixo aproveitamento das potencialidades educacionais
de seus acervos.
Mesmo que existam diversas possibilidades para evitar esse estigma e mudar
a relação do público com os museus, é comum que as instituições optem pelo uso de
recursos interativos e tecnológicos em suas exposições, visando a engajar o público.
Neste tópico, discutiremos questões como até que ponto a tecnologia realmente auxilia
o público e o cativa, bem como que tipo de interação propomos ao visitante e o quanto
ela é, de fato, relevante para essa narrativa.
Essas reflexões são muito pertinentes para os dias atuais, em que vivemos
permeados pela tecnologia, sendo de grande importância para realização do trabalho
do museólogo.
2 INTERATIVIDADE EM MUSEUS
Nunca estivemos tão envolvidos em processos tecnológicos como nos dias
atuais. Se, desde os anos 2010, nos comunicamos, consumimos e até trabalhamos por
meio da internet, em 2020, em função da pandemia de Coronavírus (Covid-19), nos
tornamos seres absolutamente digitais. Nosso trabalho, lazer e qualquer necessidade
de contato com o mundo externo ficaram completamente vinculados ao uso dos
dispositivos tecnológicos conectados à internet.
109
explorassem o acervo e, principalmente, compreendessem na prática as teorias
expostas, surgiram os museus tradicionais interativos, que consistem, sobretudo, em
museus de ciência e tecnologia que promovem a experimentação, como o Museu de
Ciência e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).
110
próxima possível da realidade científica. São museus onde os visitantes
têm uma relação direta com os experimentos, protagonizam ações e
descobrimentos, convertem-se em sujeitos ativos (PAVÃO; LEITÃO,
2007, p. 40).
• Para Velarde (1992, p. 662, apud LOUREIRO, 2007, p. 3), os recursos “interativos”
configuram-se em quaisquer objetos que dependam da ação, seja ela eletrônica ou
mecânica, do visitante para seu funcionamento.
111
• Caulton (1999, apud LOUREIRO, 2007, p. 3) destaca o uso constante dos termos
“interativo” e “hands-on” como sinônimos, e afirma que está implícito, no termo em
inglês, que existe uma interação física mais ou menos complexa. Contudo, ele diz que
apenas a pressão de um botão não seria “verdadeiramente interativo”, determinando
que a interação acontece, de fato, no plano intelectual.
• Para Lourenço (2000, p. 61, apud LOUREIRO, 2007, p. 3), os recursos denominados
“participativos” são aqueles que solicitam ação do visitante, mas há de se considerar
que existem diferentes graus de participação. Além disso, o autor chama a atenção
para o fato de que o termo “interatividade” foi importado do campo da informática
e implicaria “possibilidades teoricamente infinitas (contínuas) de reciprocidade” –
embora a interação ocorra no plano intelectual, ela é limitada no espaço da exposição,
já que precisa corresponder à narrativa previamente definida.
Portanto, percebe-se que, de modo geral, o conceito interatividade pressupõe
a ação do visitante; nesse sentido, adotamos a nomenclatura hands-on, a fim de
mantermos a hipótese do desenvolvimento desse conceito nas propostas interativas
em museus.
NOTA
Na Unidade 1, falamos sobre a importância dessa relação entre o público – com
envolvimento emocional – e o acervo, assim como com a narrativa.
Nesse momento, acompanhamos o desenvolvimento do conceito de
interatividade e percebemos que, novamente, ainda que ele possa ser externado
no ambiente expositivo, por meio de botões, sistemas e afins, o processo de
interação se dá, de fato, no âmbito intelectual e particular do indivíduo.
A interatividade hands-on pode ser, tal qual todo tipo de interação proposta
em exposições, um sucesso ou um fracasso. A ideia não é automatizar o visitante, para
que aperte um botão e chegue a um resultado, tendo uma explicação corriqueira de
como aquilo aconteceu; essa dinâmica, fechada acabaria por inviabilizar o processo
reflexivo do visitante, tornando-o um mero depósito de informações. Pavão e Leitão
(2007) informam que, para evitar essa transferência de conhecimento, os mediadores
são essenciais, fazendo a função da interatividade com outras pessoas.
112
desenvolver explicações, interpretações, teorização e compreensão
dos fenômenos com os quais interage. Estamos falando de atividades
desafiadoras (PAVÃO; LEITÃO, 2007, p. 41).
3 TECNOLOGIA
Conforme visto, o desenvolvimento da tipologia de museu tradicional
interativo ocorreu tanto em função da necessidade de promover uma experimentação
para o público dos museus de ciências quanto por conta do avanço e disponibilidade
de tecnologias. Assim, essas instituições passaram a ser conhecidas como museus
interativos, considerados “uma tendência do século XXI. Utilizam recursos tecnológicos
para transmitir conteúdos de forma participativa, democratizar a informação e atrair e
incluir o público” (ISRAEL, 2011, p. 6).
113
INTERESSANTE
A classificação de hipertextual que Cury (2005) propõe não se relaciona
diretamente ao conceito de hipertexto que conhecemos da informática.
O hipertexto da internet está relacionado aos diferentes blocos de texto
interligados por links e o termo remonta, ainda, aos diferentes tipos de
texto que se reúnem em um só – conceitos anteriores ao proposto por
Cury. Essa autora refere-se, porém, a uma exposição que não segue uma
linearidade na ordem textual e que tem como característica mais marcante
a relativa autonomia entre as suas partes, ou seja, o visitante pode explorar
o espaço com liberdade e interagir com os diferentes estímulos a seu gosto
(LOUREIRO, 2007).
114
Em análise, Rosa (2017) apontou que, ainda que a intenção da exposição fosse
aproximar o público da arte – tanto através da tecnologia quanto pela capacidade
que o sistema tinha de responder às perguntas mais comuns –, a experiência poderia
proporcionar um afastamento devido ao sentimento de frustração, que acontecia por
conta de alguns pontos bastantes importantes na experiência:
• A promoção: a publicidade realizada pela Pinacoteca e pela IBM trazia uma experiência
muito mais ampla do que a entregue ao visitante, criando uma expectativa muito alta.
• A visitação: o público entrevistado por Rosa (2017) afirmou que, em suas visitas, se
sentia muito mais compelido a observar as obras selecionadas, fazendo com que o
restante das peças expostas no espaço fossem negligenciadas.
• O sistema: esperando um sistema que correspondesse à expectativa criada
pela publicidade, o público se frustrou ao encontrar uma inteligência artificial
extremamente limitada. Em um primeiro momento, acreditava-se que o sistema
era conectado à internet, proporcionando, de fato, uma resposta para quaisquer
perguntas feitas. Contudo, tratava-se de um sistema fechado e com uma base de
informações igualmente limitada, que, por vezes, não era suficiente para responder
aos questionamentos realizados.
Os museus são popularmente conhecidos como locais elitistas, seja por sua
arquitetura ou suas propostas expográficas, quando deveriam ser reconhecidos por
sua capacidade de agregar diferentes públicos. Em cenários que apresentam tantos
abismos culturais e socioeconômicos, como no Brasil, é necessário sempre levar em
conta o fato de que muitas pessoas não têm acesso aos mesmos conhecimentos, e é
nosso trabalho torná-los acessíveis a todos, e não elitizá-los ainda mais.
115
DICA
A exposição “A Voz da Arte” foi realizada, em 2017, na Pinacoteca de São Paulo, em parceria
com a gigante de tecnologia IBM. Existem, na internet, alguns relatos, assim como os
materiais publicitários no YouTube, que valem a pena ser conferidos.
116
Ainda assim, é preciso manter o passo, pois as gerações que nascem – ou que
já nasceram – nesse contexto tecnológico, têm necessidade de estímulos diferentes
das gerações anteriores, as quais têm sido nossos públicos há mais tempo. Por isso,
117
de interesse do visitante. As novas tecnologias digitais permitem
estabelecer um diálogo interativo, que implica na mudança de um
paradigma conservador, que se reduzia à simples observação da
coleção por parte do visitante (MARINS et al., 2008, p. 3)
DICA
O estudo sobre o uso de tecnologias em museus, mesmo que seja um
assunto em amplo crescimento e que suscite muitas dúvidas e possibilidades,
ainda sofre de uma grande escassez de produção teórica. Percebe-se que
as referências que utilizamos para destacar as possibilidades de aplicação
das tecnologias são dos anos de 2003, 2008 e 2011.
118
Ainda que essas tecnologias estejam disponíveis e tenham sido aplicadas em
exposições de museu ao longo dos últimos anos, Israel (2011) afirma que a maioria dos
recursos disponíveis em museus ainda remonta a uma realidade bem básica:
Essa é uma realidade muito dura e converge em uma análise muito complexa
e particular da realidade dos museus brasileiros. Rosa (2020) afirma que constam no
Cadastro Nacional de Museus, levantamento realizado em 2011, mais de 5 mil instituições
museais no Brasil, das quais mais de 60% são de responsabilidade do poder público –
em âmbito municipal, estadual e federal (IBRAM, 2011). Nessa realidade, espera-se que
os devidos recursos sejam disponibilizados para proceder com manutenção e eventuais
atualizações dos setores do museu: expografia, gestão, conservação, documentação e
educativo, por exemplo. No entanto, a realidade que presenciamos em nada faz jus às
nossas expectativas.
119
LEITURA
COMPLEMENTAR
A EXPOSIÇÃO COMO “OBRA ABERTA”: BREVES REFLEXÕES SOBRE
INTERATIVIDADE
Uma das poucas afirmativas que podemos fazer a respeito de museus – não
apenas os de ciência, mas os museus em geral –, sem temer causar polêmica, é que a
exposição é seu principal canal de comunicação com o público. Trata-se da atividade
mais visível para a sociedade (muitas vezes, a única), sem a qual um museu não é
percebido como tal.
Apesar disso (ou, até mesmo, por causa disso), pouca atenção tem sido dada
à sua linguagem específica, àquilo que a define como uma exposição propriamente
museológica. Com muita frequência, as exposições são tratadas como livros
tridimensionais. O autor ou as equipes que as elaboram dificilmente escapam da
combinação de textos e objetos “ilustrativos”, com algumas variações, dependendo do
orçamento de que se dispõe. Quer se trate de objetos históricos ou “aparatos interativos”,
a função dos objetos é, quase sempre, ilustrar um texto – que pode ser apresentado na
forma impressa, por meio de vídeos ou telas de computador.
120
leitores. Mesmo limitada pelas competências e convenções, essa liberdade sabe como
se desviar e reformular as significações que a reduziram”.
121
de uma ação (eletrônica ou mecânica) do visitante para seu funcionamento. Caulton
(1999) destaca o uso frequente dos termos “interativo” e “hands-on” como sinônimos,
esclarecendo que estaria implícito no termo “hands-on” uma interação física mais ou
menos complexa. Enfatiza, no entanto, que um objeto que demande a simples pressão de
um botão não seria “verdadeiramente interativo”, o que pressupõe o reconhecimento de
que a interação ocorre sempre no plano intelectual. Lourenço (2000, p. 61), por sua vez,
denomina “participativos” os objetos que solicitam qualquer tipo de ação dos visitantes,
ressaltando a possibilidade de diferentes graus de participação. Adverte que o termo
interatividade seria importada do campo da informática e implicaria “possibilidades
teoricamente infinitas (contínuas) de reciprocidade”.
Embora possa ocorrer “no plano intelectual”, estaria “ausente dos museus de
ciência e tecnologia”, nos quais a liberdade dos visitantes “é limitada pela existência
prévia de uma ideia a comunicar. Tal observação leva-nos ao terreno da Arte, no qual as
interpretações resultantes da interação entre uma obra e seu fruidor são sempre livres
e subjetivas, a despeito das inúmeras práticas que, ao longo do tempo, tiveram como
objetivo fixar arbitrariamente significados e interpretações autorizadas(2).
122
ensaios seria publicada na Itália, sob o título “Obra Aberta”. O livro, que alcançou grande
repercussão, teve sua tradução brasileira publicada em 1968.
Tal como Couchot e Plaza (2000) relacionam a arte interativa, nascida com
as novas tecnologias, às correntes participacionistas. Coloca a questão, no entanto,
em termos de abertura da obra de arte, para a qual propõe uma gradação entre três
diferentes níveis:
123
Ao estender às exposições, na condição de textos, as reflexões mencionadas
acerca das obras de arte, assumimos, a partir de Eco (1976, p. 89) que toda exposição
possuiria duas aberturas: a primeira seria condição inerente a toda e qualquer exposição,
mesmo que seus idealizadores visem uma “comunicação unívoca e não ambígua”. Uma
“segunda abertura” estaria presente em algumas exposições com “uma intenção de
abertura explícita levada até o limite extremo”.
Notas
O termo hipertexto foi utilizado pela primeira vez, em 1965, por Theodore
(1)
FONTE: Adaptado de LOUREIRO, M. L. N. M. A Exposição como “obra aberta”: breves reflexões sobre
interatividade. In: X REUNIÓN DE LA RED DE POPULARIZACIÓN DE LA CIENCIA Y LA TECNOLOGÍA EN
AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE (RED POP – UNESCO) y IV Taller “Ciencia, Comunicación y Sociedad” San José,
Costa Rica, 9 al 11 de mayo, 2007. Disponível em: https://bit.ly/3xdMPTk. Acesso em: 21 dez. 2020.
124
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O conceito hands-on pressupõe uma ação por parte do visitante, porém, sozinho, não
há garantia da compreensão da mensagem. Conforme Pavão e Leitão (2007), para que
o conhecimento aconteça, não basta que o público interaja (hands-on), mas ele deve
entender o processo (minds-on), sentir emoções através do experimento (hearts-on)
e socializar em função dele (social-on), completando um ciclo de apreensão e fixação
de seu aprendizado.
125
AUTOATIVIDADE
1 Ainda que o contexto tecnológico que vivenciamos no mundo de hoje em dia
pareça fazer com que todas as opções de interatividade sejam, necessariamente,
voltadas ao digital, isso não é verdade. As instituições museais podem desenvolver
outras atividades interativas que podem ser disponibilizadas tanto no espaço
expográfico quanto nas atividades educativas. Portanto, assinale a alternativa que
não corresponde à uma possibilidade tecnológica de interatividade a ser oferecida
pelos museus:
a) ( ) Realidade aumentada.
b) ( ) Jogo de tabuleiro.
c) ( ) Tela touchscreen.
d) ( ) Vídeos informativos.
3 O simples ato de mexer ou tocar em objetos, por si só, não garante uma experiência
de interatividade de sucesso. Nesse sentido, Pavão e Leitão (2007) apresentam
uma cadeia de desenvolvimento sobre o processo de interação através de alguns
conceitos. Considerando a ordem correta que os autores determinam a interatividade
dos conceitos “on”, assinale a alternativa CORRETA:
126
5 A relação dos museus com a tecnologia pode ser complexa e gerar mais afastamento
do que aproximação. Os museus tradicionais têm uma relação muito importante com
a materialidade, enquanto os museus interativos lançam mão de outras estratégias
tecnológicas para oferecer aos seus públicos. No entanto, todas as tipologias de
museu podem – e devem – fazer uso dos sistemas tecnológicos e digitais disponíveis
hoje. Para os autores do campo dos museus e da tecnologia, existem algumas
potencialidades. Associe os itens, utilizando o código a seguir:
I- Internet e intranet.
II- Multimídia.
III- Simulações, micromundos e games.
a) ( ) I – II – I – III – II – II.
b) ( ) II – III – I – III – I – II.
c) ( ) I – II – I – III – II – III.
d) ( ) III – II – I – II – I – III.
127
128
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, A. M. O contexto do visitante na experiência museal: semelhanças e diferenças
entre museus de ciência e de arte. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de
Janeiro, v. 12 (suplemento), p. 31-53, 2005.
BOURDIEU, P.; DARBEL, A. The love of art: european art museums and their public.
Stanford: Stanford Un. Press, 1990. 176 p.
129
CARVALHO, R. M. R. Exposição em museus e a relação com o público: o processo de
comunicação e transferência da informação. Interdiscursos da Ciência da Informação:
Arte, Museu e Imagem. Rio de Janeiro: IBICT/DEP/DDI; 2000. p. 127-148.
CHAGAS, M. S. Museu: Coisa Velha, Coisa Antiga. Rio de Janeiro: UNIRIO; 1987. 10 p.
COUCHOT, E. A Arte pode ainda ser um relógio que adianta? O autor, a obra e o espectador
na hora do tempo real. In: DOMINGUES, D. (Org.). A Arte no século XXI: a humanização
das tecnologias. São Paulo: Ed. da UNESP, 1997. p. 135-143.
130
DESVALLÉES, A.; MAIRESSE, F. Conceitos-chave de Museologia. São Paulo: Comitê
Brasileiro do Conselho Internacional de Museus, 2013. Disponível em: https://bit.ly/3DL2GtZ.
Acesso em: 20 nov. 2020.
DIMAGGIO, P. et al. Audience studies for the performing arts and museums.
Research report. Washington: National Endowment for the Arts, October 1978. 102 p.
ECO, U. O conceito de forma nas poéticas contemporâneas. In: A Definição da Arte. Rio
de Janeiro: Elfos; Lisboa: Edições 70; 1995. p. 153-259.
KORN, R. Introduction to Evaluation: theory and methodology. In: BERRY, N.; MAYER,
S. (Orgs.). Museum education: history, theory and practice. Reston: The National Art
Association, 1989. p. 219-238.
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Técnicas de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Editora Atlas,
1996.
131
LOPES, M. M. Resta algum papel para o(a) educador(a) ou para o público nos museus?
Boletim do CECAICOM-Brasil, ano 1, n. 0, p. 1-4, 1997.
132
PINTO, J. R. O Papel Social dos Museus e a Mediação Cultural: conceitos de vygotsky
na arte-educação não-formal. Palíndromo, v. 4, n. 7, p. 81-108, 2013. Disponível em:
https://doi.org/10.5965/2175234604072012081. Acesso em: 20 nov. 2020.
WAGENSBERG, J. The “total” museum, a tool for social change. História, Ciências,
Saúde, v. 12 (suplemento), p. 309-322, 2005.
133
134
UNIDADE 3 —
DESAFIOS DA COMUNICAÇÃO
MUSEOLÓGICA NA
CONTEMPORANEIDADE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender o cenário sociocultural em que a inserção dos museus no meio virtual acontece;
• conhecer as estratégias digitais que outras instituições têm realizado em prol da comunicação
institucional;
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
135
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
Acesse o
QR Code abaixo:
136
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
COMUNICAÇÃO MUSEOLÓGICA
NO ÂMBITO VIRTUAL
1 INTRODUÇÃO
Dentro do contexto atual, em que somos cotidianamente mediados pela
tecnologia e pelos dispositivos digitais, é natural imaginar que isso afete a produção
de sentido e a maneira pela qual nos comunicamos uns com os outros e com o mundo.
Sendo os museus um meio de comunicação, como já visto nas unidades anteriores, era
esperada a sua adaptação a esse contexto tecnológico.
137
seguidores interessados, entre outros. Esse comportamento é essencial a qualquer
museu que tenha como visão tornar-se relevante e potente em sua comunidade.
A virtualidade, para Lévy (1996), sugere uma forma de ser que ainda não é.
Portanto, corresponde a uma potência. No caso dos museus e de outras instituições
culturais, apropriar-se do que pode ser uma força é um meio de explorar todas as facetas
desse museu, uma vez que se trata de um lugar de educação, conhecimento, lazer e
preservação da realidade, sendo que, em momento algum, é tido como uma entidade
estática. Nesse sentido, é pertinente que, enquanto pesquisadores e trabalhadores de
museus, busquemos descobrir quais outras maneiras de ser são pertinentes a nossa
instituição.
138
a chamada: cibercultura. Para os autores que trabalham o contexto tecnológico na
sociedade, ela “surge a partir do meio tecnológico, reunindo um grupo de técnicas –
sejam elas materiais ou intelectuais – e de práticas, atitudes modos de pensamento e
valores que vão se desenvolvendo juntamente ao ciberespaço” (LÉVY, 2010, apud ROSA,
2017, p. 33; LEMOS, 2007).
NOTA
Alguns conceitos trabalhados podem parecer comuns: virtual, ciberespaço,
cibermuseologia e cibercultura, pois também são trabalhados na disciplina
de História dos Museus, quando pensamos o presente das manifestações
virtuais e digitais da Museologia. Esses conceitos são bem importantes para
que a gente entenda melhor o contexto sociocultural em que os museus
estão hoje. Portanto, se você, acadêmico, tem dúvidas, vale a pena
retomar a leitura do livro da disciplina anterior, para entender melhor.
139
em prol da divulgação dos museus, como a #MuseumWeek e a #MuseumSelfieDay, que
divulgam e enaltecem atividades diversas no campo dos museus pelo uso das hashtags
que indexam e fortalecem a relevância de assuntos no meio virtual, promovendo o
engajamento e o compartilhamento de temas, imagens e postagens.
140
Uma questão que se coloca é como a Internet é usada pelos
museus. Mais do que um veículo de comunicação, a Internet
permite uma maior interação com o público, mas também com os
especialistas. Além do uso como uma ferramenta de marketing, [...]
a Internet possibilita a montagem de redes de conexão entre várias
instituições afins e com objetivos convergentes. Este uso pode ser
feito através de listas de discussões, fóruns, rede de comunicação,
etc., pois a Internet possibilita uma troca de experiências entre
os profissionais dos museus de forma mais rápida e consistente
(HENRIQUES, 2004, p. 60).
É preciso existir uma visão estratégica para que o uso do meio virtual auxilie no
estabelecimento comercial dos museus, pois, ainda que os museus sejam entidades
sem fins lucrativos, eles precisam de verbas para seu financiamento. A adoção desse
posicionamento estratégico é potencialmente relevante para garantir isso.
Rosa (2020) traz uma análise bastante pertinente sobre a relação entre os
digital influencers e os museus. Nesse sentido, a autora questiona se, em função do
crescimento do marketing de influência, seria possível transformar as instituições
museais em influencers? Nessa perspectiva, os museus explorariam sua função
de formadores de opinião do grupo no qual estão inseridos, embora, para que isso
aconteça, é preciso ter o reconhecimento social adequado, que só é atingido pelas
estratégias de gestão.
141
Quando um website apresenta exclusivamente as informações básicas sobre a
instituição, como horário de funcionamento, programação de atividades e endereços,
é denominado de folheto eletrônico. Atualmente, é a tipologia de website mais difícil
de ser encontrada e se refere a sites de museus públicos municipais, cuja página da
instituição é comumente vinculada à da prefeitura, sendo restrita a uma aba do site
(Figura 1).
Essa tipologia de site serve como um guia básico para a instituição e também se
repete muito no âmbito dos aplicativos, que acabam sendo um informativo e oferecem
pouca interação entre o sistema e o público (Figura 2) – essa segunda tipologia tem sido
encontrada com mais facilidade e é chamada de museus no mundo virtual. Henriques
(2004) afirma que essa categoria corresponde aos sites que apresentam visitas virtuais,
acesso aos sistemas de acervo e informações mais detalhadas sobre ele.
142
FIGURA 2 – APLICATIVO DE MUSEU FOLHETO ELETRÔNICO
FONTE: As autoras
Esses recursos estão bem mais desenvolvidos hoje em dia e já não são mais
tão onerosos às instituições, tornando possível a aquisição dos serviços de maneira mais
ampla. As visitas virtuais podem ser disponibilizadas no site ou contar com aplicativos que
ofereçam maior interação do público com as obras e com o espaço de visita físico (Figuras
3 e 4). Além disso, também está incluída nessa categoria a disponibilização dos acervos
da instituição no Repositório Digital Tainacan (Figura 5), o qual foi desenvolvido para ser
a base de dados oficial de museus geridos pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM).
143
FIGURA 4 – APLICATIVO QUE OFERECE UMA VISITA GUIADA VIRTUAL NO MUSEU FÍSICO, INCLUI INFOR-
MAÇÕES EXTRAS SOBRE AS OBRAS E ARTISTAS EXPOSTOS
FONTE: As autoras
144
INTERESSANTE
O aplicativo visto na Figura 4 foi desenvolvido para o Rijksmuseum, o museu
nacional dos Países Baixos, localizado em Amsterdã, na Holanda. Essa
instituição foi uma das pioneiras no uso de dispositivos digitais em suas
exposições. Ainda que a função do aplicativo seja bem simples –oferecer
mais informações sobre a obra e o artista quando identifica a imagem
pela câmera do celular –, permite uma interação muito particular no
contexto de um museu de arte. Muitas vezes, o visitante tem dificuldade
de estabelecer uma conexão mais profunda e interessante com as obras
porque desconhece as informações necessárias e, nesse caso, o aplicativo
as fornece. Ainda hoje, essa iniciativa é reconhecida e muito valorizada pelo
público de museus, tendo grande aceitação e recomendação de uso.
145
FIGURA 7 – MUSEU DA PESSOA
146
Para além dos resultados que a experiência ofereceu – os quais não serão
aprofundados neste material –, a aplicação de um serviço tecnológico no espaço
expositivo museológico dá à instituição uma imagem muito inovadora, o que serve
como uma maneira de chamar a atenção do público, atraindo-o para a experiência.
Novamente, essa perspectiva corrobora-se em função da nossa cultura altamente
permeada pela virtualidade e pelos dispositivos digitais.
147
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
148
AUTOATIVIDADE
1 Atualmente, nosso contexto social é definido por um modelo econômico que
privilegia o lucro e as dinâmicas comerciais de modo geral. A importância do uso
da internet, nesse contexto, fez com que a comunicação visando à publicidade
e, consequentemente, à compra e venda dos mais variados produtos e serviços
ganhasse uma abrangência ainda maior de público-alvo. Visto que os museus,
enquanto instituições atuantes e edificantes da sociedade, sofrem a influência
desse contexto capitalista e on-line, disserte brevemente sobre a importância do
posicionamento e da presença dos museus na internet para sua sobrevivência.
I- Folheto eletrônico.
II- Museus no mundo virtual.
III- Museus realmente interativos.
a) ( ) II – II – III – I – I – III.
b) ( ) III – II – III – I – I – II.
c) ( ) III – II – II – I – III – I.
d) ( ) III – II – II – I – I – III.
3 Existem algumas ações que os museus tomam em prol de estarem mais presentes
e ativos no meio virtual e, consequentemente, tornarem-se mais reconhecidos pelos
seus públicos-alvo. Essa temática também suscita muita reflexão nos pesquisadores
149
de Museologia, que buscam dissertar sobre a importância desse contexto tecnológico
sem fazer com que os museus, necessariamente, percam sua marca registrada:
a materialidade. Considerando esse contexto, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:
( ) O uso das tecnologias, dos sistemas e do ciberespaço pelos museus conta com
bastante discussão e produção acadêmica.
( ) O engajamento das instituições museais em eventos on-line, como hashtags
da semana dos museus ou outras datas pertinentes, produz bons efeitos e traz
resultados para os participantes.
( ) As demandas pelo uso de tecnologias em museus partem da sociedade, em função
da alta utilização de dispositivos digitais e processos virtuais que correspondem à
cultura digital do século XXI.
a) ( ) F – V – V.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – F – F.
d) ( ) V – V – V.
4 Entre as diversas utilidades que a internet oferece, a comunicação é a mais
reconhecida. É muito provável, portanto, que os museus vislumbrem e projetem sua
presença virtual nesse sentido. No entanto, alguns autores, que pesquisam a presença
dos museus na internet, afirmam que não se trata apenas de uma ferramenta de
comunicação, mas também de gestão. Disserte brevemente sobre como a internet
pode ser uma ferramenta de gestão.
5 A utilização dos meios virtuais e das estratégias digitais no contexto museal causa
diversos resultados na gestão das instituições. Considerando um resultado do uso
dessas estratégias, assinale a alternativa INCORRETA:
150
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL
EM MUSEUS
1 INTRODUÇÃO
Muito se fala em comunicação em museus, por ser um dos pilares que regem
essas instituições. Neste tópico, veremos a comunicação institucional dos museus, ou
seja, a forma como essas instituições se apresentam para o mundo e se comunicam com
seu público, seus funcionários, seus parceiros, os financiadores etc. Essa comunicação
pode ocorrer dentro da instituição, mas também por meio de outras plataformas, como
propagandas, sites, redes sociais, flyers, outdoors etc.
É preciso ficar claro que, em todas essas formas de comunicar, o museu precisa
ter uma única identidade, a fim de mostrar qual sua missão e sua função. Além disso,
trata-se de uma instituição que precisa do público para justificar sua função social e,
portanto, deve utilizar estratégias para atraí-lo ao seu espaço.
No entanto, a comunicação dos museus com seu público começa antes mesmo
da visita propriamente dita. De acordo com Remelgado (2014):
Os museus, enquanto instituições sem fins lucrativos, não têm o lucro como
objetivo a ser atraído pelo marketing. O marketing para museus busca dar visibilidade
para essas instituições, para alcançar seu público e atrair visitantes. Atualmente, os
museus são espaços de lazer e de cultura que disputam público e financiamento com
outras instituições com esses mesmos fins. Logo, é preciso se diferenciar e se destacar
dos demais. De acordo com Dal Molin e Souza (2006):
É importante atentar para o fato de que, além de ser positivo para os museus,
o marketing também favorece os visitantes. Ao trazer o público para discussão central
e promover estratégias para atraí-lo, a programação museal e seus aparatos acabam
satisfazendo mais o visitante ao proporcionar uma experiência mais atrativa.
Como Neil G. Kotler, Philip Kotler e Wendy I. Kotler (KOTLER; KOTLER; KOTLER,
2008, apud LIMA; GASPAR, 2013, p. 105, tradução nossa) evidenciam:
152
• O marketing é um processo de troca de produtos, serviços e valor e é centrado no
consumidor.
• Os museus também precisam de visibilidade; eles devem oferecer valor para captar a
atenção de uma variedade de públicos.
• O museu recorre ao marketing porque precisa persuadir os outros de seu valor.
DICA
Quando falamos em alguns produtos, podemos imediatamente associá-los a uma marca
– como, ao pensar em tênis, podemos lembrar dos famosos “All Star”; em uma bebida
refrescante, lembramos de “Coca-Cola”; quando se trata de celulares,
lembramos da “Apple”.
Quando você pensa nessas empresas, o que vem a sua mente? A estrela
símbolo dos tênis All Star, a cor vermelha do rótulo da Coca-Cola e a
clássica maçã da Apple? Tudo isso, e um pouco mais, é o que chamamos
de marca. A seguir, veremos como esse conceito se aplica aos museus.
153
A marca é como as instituições, com fins lucrativos ou não, se apresentam
para seu público e para a sociedade, além de servir para diferenciar os produtos e os
serviços oferecidos por cada uma. De acordo com Palaio (2011), essas diferenças podem
ser “funcionais, racionais ou tangíveis, ou seja, podem ser relativas ao desempenho
do produto, [o nome, o logotipo, os slogans], ou ser ainda simbólicas, emocionais ou
intangíveis, ligadas a tudo o que a marca representa [a identidade, a personalidade]”
(PALAIO, 2011, apud REMELGADO, 2014, p. 88).
ATENÇÃO
Criar uma marca é diferente de gerir uma marca. O primeiro requer a criação de
um nome e um logotipo; a definição de um posicionamento e o planejamento
de como a marca quer ser reconhecida. Já o gerenciamento (branding) da
marca deve traçar estratégias visando a alcançar os objetivos da instituição.
154
O branding possibilita que a instituição reflita sobre si e projete para o público.
Nesse sentido, é preciso que essa projeção corresponda a sua missão e seus objetivos, o
que vai além das coisas materiais que a identificam (por exemplo, a arquitetura do prédio
onde está, ou os objetos que fazem parte de sua coleção). De acordo com Remelgado
(2014, p. 88), “só assim poderá ser construída uma “marca” consistente e capaz de se
diferenciar de outras organizações, nomeadamente, outros museus”.
De acordo com Ruth Peralta Vásquez (2007, p. 202), existem alguns requisitos
para que a marca cumpra seu propósito, entre os quais deve ser:
155
FIGURA 9 – SÍMBOLO + LOGOTIPO = MARCA
FONTE: As autoras
Algumas instituições compõem sua marca apenas com letras, o que também é
uma possibilidade. Por exemplo, o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de
São Paulo (MAC), que utiliza sua abreviação em fonte estilizada ao invés de um símbolo.
156
FIGURA 11 – MARCA DO MAC
157
As fontes e as cores vão além do uso na marca; devem ser utilizadas em materiais
institucionais criados pelo museu e seguir um padrão, pois também constituem a sua
identidade. Ao escolher os tipos de fonte e as cores, deve-se ter o cuidado de usá-las
sempre nos materiais de divulgação da instituição, para firmar a sua identidade visual.
IMPORTANTE
Para reforçar sobre como utilizar a identidade visual do museu, tanto interna
quanto externamente, vale citar que pode ser constituído um manual de
identidade visual, no qual se apresentam todos os elementos utilizados
pela marca e como ela deve ser aplicada, padronizando e garantindo que a
marca do museu será sempre reproduzida da mesma forma. Veja mais sobre
isso no vídeo a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=KwKxdYmNotA.
158
De acordo com Robert Jones (2012, p. 29), “alguns museus claramente se tornaram
‘marcas’: passaram a habitar o imaginário do público. Isso é ainda mais evidente nas grandes
instituições, com suas construções icônicas, como o Tate e o Guggenheim”. Apesar de elas
serem destaques, a forma como essas marcas se posicionam é diferente, mostrando que
cada instituição deve ter um jeito próprio. Ainda de acordo com Jones (2012):
159
É importante ter em mente que a marca e o branding vão além do logo e
das cores escolhidas; trata-se de uma forma de comunicar do museu e como ele se
posiciona perante o seu público. É como o seu público identifica a instituição, seja em
seu site, em sua rede social ou em sua exposição e suas atividades educativas. De
acordo com Andrade e Lessa (2010):
DICAS
Para saber mais sobre o branding nos museus, indicamos duas produções de Luis Marcelo
Mendes (jornalista e consultor de organizações culturais, especialista no desenvolvimento
de projetos de comunicação, branding, mídias digitais, editoriais e de exposições).
160
4 SITE INSTITUCIONAL
O site institucional é uma ferramenta de comunicação muito importante para os
museus. Contudo, além de possuir um site, é preciso que ele seja útil e funcional para
aqueles que vão acessá-lo em busca de informações. Por isso, é importante aprender
mais sobre o que precisamos ter em um site de museu.
Um site pode ser criado para cumprir diversas funções. De acordo com Carvalho
(2014, p. 84), em uma perspectiva museológica, o site do museu pode ter:
• Cariz informacional, em que o Museu indica uma série de informações úteis sobre si
próprio (horários, funcionamento, exposições etc.).
• Cariz expositivo, no qual o site do Museu é pensado como um portfólio do Museu,
mostrando o seu acervo e/ou exposições.
• Cariz coletivo, em que o Museu pretende recolher informações sobre o utilizador.
• Cariz comunitário, no qual o Museu promove a utilização de fóruns de discussão e
impulsiona o sentido de comunidade.
NOTA
Cariz é uma palavra que significa aspecto, cunho.
Cada um desses aspectos não exclui os outros. O site pode ter mais de um
cunho, dependendo apenas das informações e dos elementos que vão compô-lo.
161
a informação está no mesmo local em todas as páginas?; todas
as páginas têm forma de regressar à página inicial?; durante a
navegação pelo site sabemos sempre onde nos encontramos, os
caminhos estão claramente assinalados?; as páginas do site correm
em diferentes browsers?; o tempo de carregamento da página é
menor que 8 segundos?; existe uma área própria de navegação?;
existem serviços de informação on-line?; existe um mapa do site?;
o site tem uma estrutura destacada?; há retorno à página principal?;
existem instruções?; o site é compatível com diversas resoluções
gráficas?; a actualização do site é feita?; existe um cadastro de
visitantes? (OLIVEIRA; SILVA, 2007, p. 207).
162
Além dos itens citados, o site deve apresentar uma seção para o educativo e
para publicações, pois a instituição possui um setor educativo muito ativo e promove
diversas publicações. Nesse sentido, saiba que, em cada instituição, pode haver seções
diferentes, adequadas à atuação de cada museu. A Figura 17 mostra um exemplo da
página inicial do site do Museu Histórico Nacional.
IMPORTANTE
As informações disponibilizadas no site precisam estar sempre atualizadas!
163
FIGURA 18 – REDIRECIONAMENTO PARA AS REDES SOCIAIS NO SITE
DO MUSEU NACIONAL DE BELAS ARTES
DICAS
Sugerimos que você, acadêmico, faça um exercício: procure sites de museus
que você conhece e avalie essas questões que levantamos. Pergunte-se:
esse site tem tudo o que é preciso para informar o público do museu? Ele
está de acordo com a identidade visual da instituição? Ele é rápido e de fácil
navegação? Seu conteúdo é adequado e compreensível a todos que visitam o
site? Ele contempla os itens que descritos anteriormente?
5 REDES SOCIAIS
Com relação às redes sociais, algumas das plataformas mais famosas atualmente
são: Facebook, Instagram, Twitter, LinkedIn etc.
DICA
Acadêmico, reflita: o que você faz ao utilizar essas redes? Em geral, as
pessoas se conectam e se comunicam umas com outras pessoas, criando e
compartilhando informações e conteúdos.
164
com seu público visitante e público em potencial. É importante ressaltar que o uso das
redes pelos museus se dá com objetivos diferentes das empresas comerciais. De acordo
com Martins, Carmo e Santos (2017):
As redes sociais do museu devem ser uma extensão daquilo que ele é em seu
dia a dia, contemplando a sua missão e visão; constituem-se em uma forma virtual
de se conectar com o público, tanto aquele que já conhece a instituição física como
aquele que nunca a visitou. Além disso, permite que o público interaja diretamente com
a instituição por meio de comentários, avaliações e mensagens privadas.
O uso das mídias sociais pelos museus pode ser categorizado em três situações
(KIDD, 2011, apud MARTINS; CARMO; SANTOS, 2017):
O Sebrae (2017) dá algumas dicas sobre o uso das redes sociais por empresas,
as quais foram adaptadas ao contexto museal, pois se trata de um caso diferenciado:
165
• Conteúdo relevante – publicar conteúdos que agreguem ao público, fazendo-os
sentir vontade de conhecer o museu e interagir com a página.
• Imagens – nas redes sociais, imagens têm maior engajamento que textos. Portanto,
dá-se preferência às imagens. Usam-se sempre imagens de boa qualidade e, além
disso, a identidade visual do museu nas postagens.
• Criar relacionamento – as redes sociais promovem a interação. Por isso, não
adianta apenas postar: é preciso interagir! Responder ao público em comentários e
mensagens privadas, bem como incentivar que as pessoas comentem.
• Monitorar os resultados – testar e avaliar as estratégias utilizadas. As redes sociais
permitem observar o número de cliques por postagem, o alcance dos posts, o número
de visitas etc. Desse modo, é possível saber o que está dando certo ou não e fazer os
ajustes necessários para melhorar o desempenho cada vez mais.
IMPORTANTE
É fundamental manter informações relevantes, como telefone, endereço,
dias e horários de atendimento sempre atualizadas nas redes sociais! As
redes são uma ferramenta para atrair o público para o museu físico.
166
As possibilidades são muitas! Cada museu tem um público diferente e, com
certeza, estratégias diversificadas para atingi-los pelas redes sociais. Para tanto, é
preciso sempre acompanhar os resultados das postagens e adequar o conteúdo para
melhorar a experiência do público.
• Museu do Louvre, França (Figura 19), faz postagens frequentes durante a semana,
divulgando itens de seu acervo com legendas informativas. Outros museus de
grande porte utilizam essa estratégia, como o Metropolitan Museum of Art e o British
Museum.
• Museu do Imigrante de Bento Gonçalves começou a ser mais ativo nas redes
durante a pandemia. Utiliza sempre a cor da identidade visual nos posts. Produzem
vídeos rápidos mostrando o dia a dia da instituição, com um tom divertido e de fácil
acesso aos visitantes (Figura 20).
167
FIGURA 20 – INSTAGRAM DO MUSEU DO IMIGRANTE DE BENTO GONÇALVES
• Pinacoteca de São Paulo (Figura 21) realiza intensa divulgação das atividades
promovidas e das obras expostas. Além disso, estimula os visitantes a postarem
fotos no museu através de campanhas (por exemplo, “com qual obra da Pina você se
parece?”) e do uso de hashtags.
168
• Museu de Porto Alegre Joaquim José Felizardo (Figura 22) frequentemente posta
fotografias antigas da cidade de Porto Alegre revisitando histórias e memórias antigas.
Além disso, durante a pandemia, promoveu uma série de lives com pesquisadores
acadêmicos que tiveram como objeto de estudo o museu e seu acervo.
ATENÇÃO
Observa-se que esses museus deixam suas informações de localização, contato
e site bem evidenciadas, seja na descrição da página ou nos destaques.
169
ATENÇÃO
Conforme já abordado em marketing e branding, para o gerenciamento
de redes sociais e a criação de conteúdo, existem profissionais formados e
capacitados para exercerem essa função, não sendo dever do museólogo
realizá-la. Entretanto, acreditamos que o conhecimento básico seja
essencial para que o profissional do museu esteja ciente sobre todas as
atividades referentes à instituição museal.
170
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Os sites de museus precisam possuir alguns itens básicos para serem um bom canal
de comunicação entre o público e o museu. É preciso que sejam garantidos a fácil
navegação, uma boa apresentação gráfica e conteúdos adequados para que os
visitantes tenham uma boa experiência e queiram visitar a instituição pessoalmente.
• As redes sociais são locais muito frutíferos para a comunicação institucional dos
museus, pois muitas pessoas fazem parte dessas plataformas. Além disso, as redes
possibilitam o fortalecimento da identidade do museu e a interação com a instituição
antes, durante ou depois da visita, tornando-se um canal direto de comunicação.
171
AUTOATIVIDADE
1 O marketing faz-se muito necessário para os museus, porque visibiliza a instituição,
projetando sua marca e ações desenvolvidas para fora das paredes de sua estrutura
física. Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Por serem instituições sem fins lucrativos, os museus não precisam recorrer ao
marketing.
b) ( ) O marketing aplicado aos museus em nada contribui para o envolvimento das
instituições com o seu público visitante.
c) ( ) Os museus precisam convencer público visitante, possíveis parceiros e
financiadores sobre o seu valor, divulgando o que há de melhor na instituição.
Isso se dá por meio de uma estratégia de marketing.
d) ( ) A divulgação institucional ocorre apenas dentro do museu.
2 As redes sociais são espaços muito positivos para a realização da divulgação dos
museus, pois, além de serem gratuitos, promovem o engajamento de diversas
pessoas. Sobre os usos das redes sociais pelos museus, associe os itens, utilizando o
código a seguir:
I- Colaboração.
II- Inclusão.
III- Marketing.
a) ( ) II – I – III.
b) ( ) III – II – I.
c) ( ) III – I – II.
d) ( ) I – II – III.
172
4 As pessoas costumam relacionar os conceitos de marca e branding a instituições
com fins lucrativos, que vendem produtos para o consumo – contudo, existe também
uma relação desses conceitos com os museus. Sobre marca e branding no contexto
museológico, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
a) ( ) V – F – V – F.
b) ( ) F – V – V – F.
c) ( ) F – F – V – V.
d) ( ) F – F – V – F.
5 O site institucional é uma ferramenta muito importante para a divulgação dos museus
na internet. Por seu caráter mais fixo em comparação com uma rede social, o site deve
apresentar as informações mais relevantes para que o público conheça a instituição
e saiba como visitá-la. Descreva as informações mínimas que precisam constar em
um site institucional de museu, em seguida, escolha um exemplo de sua preferência
e analise se ele contempla essas informações.
173
174
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
ACESSIBILIDADE COMUNICACIONAL
EM MUSEUS
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, conheceremos alguns aspectos importantes para a acessibilidade
comunicacional em uma instituição museológica, reconhecendo padrões desejados e
estratégias para inclusão, além de identificar os principais recursos utilizados nos espaços
dos museus, para possibilitar acolhimento e participação de pessoas com deficiência
(chamadas de PCDs), como audioguias/audiodescrição, videoguias e recursos táteis.
175
FIGURA 23 – HISTÓRICO DE TERMINOLOGIA NO BRASIL
176
IMPORTANTE
Quando se trata de acessibilidade, autonomia e independência são termos
recorrentes que visam à equiparação de oportunidades. Contudo, você já
parou para pensar no que significa ter autonomia e independência?
Logo, pensar em acessibilidade não é apenas optar pelo público que tem algum
tipo de necessidade especial – cabe salientar que muitos dos recursos e soluções
comunicacionais utilizados para esses visitantes acabam beneficiando o público em
geral. De fato, trata-se de uma medida técnica-social destinada a garantir o acolhimento
de todos os usuários potenciais (COHEN; DUARTE; BRASILEIRO, 2012).
177
Os recursos utilizados para inclusão costumam proporcionar diferentes
oportunidades sensoriais, e todo público gosta desse tipo de interação. Um bom
exemplo é a utilização dos objetos táteis nas exposições e mostras, pois, apesar de o
público com deficiência visual ser o principal alvo, geralmente, o público geral também
tem a oportunidade de experienciar esse recurso.
Uma estratégia para alcançar esse objetivo é começar pela utilização do desenho
universal, naturalmente inclusivo, pois prevê a diversidade humana e contribui para
melhoria da qualidade de vida de todos (CARDOSO, 2014), tendo sido definido durante
a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, de 25 de
agosto de 2006, ratificada pelo Brasil em 2008.
178
FIGURA 24 – MEDIDAS PARA MOBILIÁRIOS ACESSÍVEIS
179
Fazem parte também das estratégias de mediação a produção de
mapas táteis, maquetes expográficas, reproduções bi e tridimensionais
de objetos ou imagens planas (pinturas, fotografias, entre outras),
objetos referenciais e documentais de conteúdos expositivos,
além de publicações adaptadas e de recursos tecnológicos que
auxiliem na tradução, complementação interpretação dos conteúdos
apresentados (TOJAL, 2015, p. 200).
IMPORTANTE
Modelo emergente de mediação expográfica
180
Logo, esse tipo de concepção de exposições amplia o diálogo e a participação
do público, com equipes de desenvolvimento interdisciplinares. Isso ocorre
pela mediação indireta, proposta pelos elementos da exposição, como
seleção de objetos, textos, etiquetas, bem como pela mediação direta,
desempenhada nas ações educativas, como mediações, oficinas, entre
outros (TOJAL, 2007).
IMPORTANTE
Sinestesia e recursos mediáticos, qual é a relação entre eles?
181
O conjunto entre as formas de acesso e o preparo dos profissionais do museu
para esse tipo de atendimento é chamado de “estratégias de mediação inclusivas”, um
conceito bastante conhecido atualmente nos processos de gestão, mas, efetivamente,
pouco praticado. Outro ponto importante da política de inclusão nas instituições é a
absorção de profissionais com deficiência no corpo funcional do museu, principalmente
para desempenhar funções de atendimento ao público, compondo as equipes de
educadores. Os surdos podem realizar visitas mediadas em Libras, possibilitando um
canal direto de comunicação com público com deficiência auditiva (TOJAL, 2015).
NOTA
Os museus, como espaços de responsabilidade social, devem ter suas equipes bem
informadas sobre as legislações que balizam os processos de garantia de direitos e normas
para promoção da acessibilidade para pessoas com deficiências. Assim, sugerimos dois
documentos importantes a serem consultados:
182
3 COMPONENTES DA ACESSIBILIDADE E AMBIÊNCIA
Ao se pensar em acessibilidade, é comum pensar em medidas relacionadas a
questões físicas, como rampas, banheiros adaptados e pisos táteis. Frequentemente,
são as medidas mais encontradas nos espaços culturais, ainda que muitos deles não
estejam minimamente adaptados. De acordo com Dischinger e Bins Ely (2005), existem
quatro condições para aplicação, de forma satisfatória, da acessibilidade:
• a orientabilidade, que ocorre quando o visitante sabe onde está e para onde deve
ir, de forma totalmente autônoma. Um exemplo é a orientação para localizar os
sanitários da instituição;
• o deslocamento, quando o visitante tem condições ideais para se movimentar ao
longo do percurso proposto, como rampas e espaços que permitam livre circulação
de cadeirantes;
• a comunicação, relacionada à possibilidade de obter boas condições de troca de
informações e compreensão;
• o uso, tido como uma oportunidade de participação nas atividades que o visitante
desejar de forma autônoma, confortável e segura, como pela utilização de recursos
táteis.
Com base nas normas brasileiras, todos os espaços culturais, como os museus,
devem apresentar alguns aspectos para o acolhimento de pessoas com deficiências
físicas, visual ou auditiva:
184
Apesar do estabelecimento das normas, muito ainda se deve fazer para a
efetiva acessibilidade nos espaços culturais. A seguir, aprofundaremos o debate sobre a
aplicabilidade das tecnologias assistivas que proporcionam interpretação, compreensão
e participação de pessoas com deficiência nos espaços de museus e exposições.
DICA
Indicamos uma leitura complementar curiosa e interessante sobre a
apresentação de um personagem histórico que viveu o mundo a partir
da audiodescrição. Trata-se da famosa história de James Holman (1786-
1857), conhecido como o “viajante cego”, que viajou pela Europa e por
outros continentes, durante o século XIX, contando com o auxílio dos
transeuntes para interpretar as paisagens por onde passava (MAIA,
2014).
185
A audiodescrição abre portas para o acesso, de forma mais integral, à cultura e
à informação, sendo especialmente destinado a pessoas com deficiência visual, cegas
ou com baixa visão. Consiste na transformação de imagens em palavras (FRANCO;
SILVA, 2010), mas não deve ser entendida como uma descrição simples, e sim como um
recurso que permite acessibilizar aquilo que é visto em formato de áudio (WEBER, 2018).
Dessa forma, esse recurso serve para explicar o que acontece nas cenas, e
não apenas o diálogo, possibilitando a descrição de paisagens, objetos e personagens,
assim como descrevendo aspectos apresentados na linguagem corporal e nas
expressões faciais; sua finalidade é aumentar a compreensão do deficiente visual de
materiais e experiências audiovisuais, como peças de teatro, filmes, programas de TV,
óperas, espetáculos de dança, exposições, mostras, eventos turísticos, esportivos,
pedagógicos e científicos, como aulas, seminários, congressos, palestras, feiras, entre
outros (CASADO, 2007).
186
Entretanto, reforçando aspectos apresentados anteriormente, a utilização
dessa tecnologia assistiva (TA) é muito importante, mas deve ser acompanhada de
outras estruturas para acessibilidade, como objetos táteis, sinalização de piso tátil e
capacitação dos profissionais para realização do atendimento a esse público.
3.2 BRAILE
A deficiência visual pode ser classificada como total ou parcial, também chamada
de baixa visual. Em determinados níveis, nesse último caso, a ampliação das fontes e
dos objetos pode promover a compreensão do conteúdo.
187
FIGURA 26 – ALFABETO EM BRAILE
Esse recurso pode ser acoplado aos painéis informativos ou ser fornecido como
uma publicação disponível na recepção da instituição, que poderá ser manuseada e
levada pelo visitante ao longo da exposição (MINEIRO, 2004). Nem todo cego é
alfabetizado em braile, alguns preferem ler letras em relevo. Dessa forma, quando o braile
estiver sendo utilizado para uma legenda ou texto expográfico, ele deve ficar abaixo das
letras em relevo ou sobrepostas à escrita simples adesivada na face do suporte, para
que o mesmo item possa ser lido pelos dois públicos. O braile é apresentado sozinho
apenas quando o material for o texto impresso, destinado apenas para o público com
deficiência visual (CARDOSO, 2014).
188
estruturas semelhantes a uma régua, que possibilitam, com a utilização de um marcador,
aplicar os relevos em superfícies relativamente maleáveis, como papéis. Na Figura 27,
temos um exemplo do funcionamento de uma reglete.
189
3.3 MAQUETES, RELEVOS E OBJETOS TÁTEIS
Os recursos sensoriais de uma exposição, como maquetes, relevos e objetos
táteis (réplicas e originais), são de interesse de todos os visitantes. Em contraste ao
senso comum de não poder tocar nada em um museu, esses recursos aguçam um
fetiche da maioria do público: tocar e manipular uma peça de acervo museológico é, para
muitos, um momento memorável. Além disso, obras/objetos táteis são fundamentais
para experiência prazerosa de pessoas com deficiência visual em museus.
Tecnicamente, para uma coleção ser tocada, ela deve estar posicionada na zona
de alcance gestual comum aos visitantes, ou seja, entre 0,80 m e 1,40 m. Sempre que
forem utilizados objetos táteis, eles devem estar em suportes planejados ao alcance
de todos os visitantes, inclusive de pessoas em cadeiras de rodas (COHEN; DUARTE;
BRASILEIRO, 2012).
190
FIGURA 28 – GALERIA TÁTIL, PINACOTECA DE SÃO PAULO
191
FIGURA 29 – RECURSOS ACESSÍVEIS, EXPOSIÇÃO ESQUINAS DO TEMPO
FONTE: As autoras
Mapas táteis e pictogramas em relevo também são muito úteis para os espaços
museais. Os mapas são compostos por linhas em relevo, textura e cores diferenciadas,
que orientam o público sobre a localização dos objetos e lugares. Auxiliam na mobilidade
de forma autônoma da pessoa com deficiência visual. Já os pictogramas em relevo
permitem simultaneamente a leitura da mensagem tátil e visual. A Figura 30 mostra um
exemplo de mapa tátil, em que podemos observar a utilização de relevo nas letras e nas
linhas para localização, e também legendas em braile.
192
Após conhecermos os recursos utilizados para o público com deficiência
visual, a seguir, apresentaremos os recursos utilizados para atender as necessidades
comunicacionais do visitante com deficiência auditiva – um universo que desenvolveu
a segunda língua brasileira.
3.4 LIBRAS
As pessoas com deficiência auditiva também podem ser classificadas por níveis
mais brandos ou severos. Com análises sobre a ambiência acústica, é possível utilizar
tecnologias de amplificação do som, que podem atender pessoas que tenham algum
problema auditivo leve. Todavia, para atender amplamente esse público, é importante
que os funcionários do museu sejam capacitados com treinamento na Linguagem
Brasileira de Sinais – conhecida como Libras.
193
Os surdos enfrentam a imposição da cultura ouvinte, inclusive em espaços
culturais – muitos desses locais buscam acessibilidade apenas com inserção de
legendas em português, que não é a língua oficial dos surdos (COUTINHO; POPAZOGLO;
BENTO, 2017). Não que esse seja um recurso ruim, pelo contrário, mas é o início de
uma consciência da inclusão. Entretanto, o recurso comunicacional completo deve
integrar uma janela de Libras em vídeos e a legenda escrita, para as pessoas surdas não
alfabetizadas em Libras.
DICA
Como visto, ainda há um longo caminho a ser percorrido para a transformação das
instituições brasileiras em espaços acessíveis. Portanto, é um assunto que deve
ser tratado como prioridade, pois a inclusão social faz parte da responsabilidade
museal. Devemos refletir sobre a importância de acessibilizar os conteúdos e
as experiências museais, aplicando esses recursos no dia a dia das instituições
como políticas institucionais transversais.
Então, acadêmico, você pode refletir sobre o que existe e o que ainda falta nesses
espaços, para que todos os públicos sintam que vale a pena visitá-los e revisitá-los.
NOTA
Há um tradicional desconforto de gestores de cultura na conexão das palavras branding e
cultura, embora esse cenário esteja em transformação.
A Leitura complementar, a seguir, lançou um holofote sobre a discussão de reprogramação
de museus, principalmente no entendimento de que estamos no início de uma
nova era, em que a marca atua como o polo magnético da organização.
Escrito por Robert Jones, diretor de Novas Ideias da Wolff Olins, uma das maiores
consultorias de branding do mundo, o texto é resultado da apresentação do
autor na conferência Communicating the Museum, realizada em Veneza, em
2008, e inclui os resultados de um questionário entregue a uma centena
de gestores de museus presentes no evento.
A Wolff Olins é responsável por marcas de instituições museológicas
inovadoras, como a Tate e o V&A, de Londres, e o New Museum, de Nova
York – um caso também citado anteriormente neste livro.
194
LEITURA
COMPLEMENTAR
MUSEUM NEXT
Robert Jones
Museu × Marca
A marca, em sentido estrito, não é apenas o nome, a logo, o design gráfico nem
mesmo apenas o marketing. É o que uma organização representa, por meio de tudo o
que faz. A marca de um museu deveria, portanto, ser trabalhada cuidadosamente em
seu programa. Exposições, eventos, mostras da coleção: tudo deveria ser inspirado pela
ideia específica que o museu pretende representar.
Marcas são essenciais para museus, claro, e para qualquer outra organização,
mas por quê? Por que o público deveria visitar um museu, qualquer museu? Por que o
governo deveria financiá-los? Por que as corporações deveriam patrociná-los? Por que
os curadores deveriam se engajar? Por que alguém deveria se importar? Por que, afinal,
existem os museus?
Esses “por quês” têm uma dimensão tanto externa quanto interna.
Presença externa
Agora, mais do que nunca, as pessoas têm uma gama imensa de opções e
tempo limitado. Diante de tanta variedade, precisam saber rapidamente qual o vínculo
delas com qualquer museu. Precisam saber por que deveriam investir tempo e dinheiro,
ou criatividade e ideias nessas coisas.
195
Isso é evidente em museus privados, como nos Estados Unidos, mas é também
cada vez mais válido para museus estatais. Os museus precisam reafirmar seus papéis
no mundo. Alguns museus, claro, já têm um prestígio indiscutível e, em nossa pesquisa,
21% dos representantes descreveram seus museus como “um dos melhores do mundo”.
Muitos museus estão preocupados, pois, mesmo com boa visitação, ainda assim
interessam a um público pequeno e, portanto, são raramente visitados por minorias
étnicas ou visitantes locais.
Propósito interno
196
Ao eleger uma ideia, ou mesmo um ideal para representar, ela estabelece
padrões elevados. Muitos museus padecem de processos decisórios consensuais e, em
diversos museus estatais, é muito difícil se livrar de pessoas com baixo desempenho,
daí a prevalência da mediocridade. A marca combate a mediocridade.
Uma marca é muito mais do que a tradicional “missão” que muitos museus
têm desde os primórdios. “Missão” é uma palavra fria, oficial, nada empolgante. Marca
é atitude, a ação única do museu sobre mundo, é clima, é a pedra de toque, é o polo
magnético.
No entanto, para a enorme maioria dos museus, a marca ainda não tem todo
esse poder intrínseco e o branding é apenas uma ferramenta de marketing, com muito
pouca influência fora desse departamento. Nesta pesquisa, quase dois terços dos
representantes, 65%, disseram que suas marcas “determinam a aparência de artigos de
papelaria, sinais e folhetos”. Apenas 23% afirmaram que ela “orienta nosso programa de
exposições”, e somente 17% disseram que “orienta o comportamento de nossa equipe”.
197
agora querem, ou precisam, colaborar com outras instituições, com vizinhos, com a mídia.
E, por fim, museus que costumavam pensar de forma ocidentalizada querem agora exibir
e investigar diversas culturas, diferentes perspectivas, múltiplas vozes.
Ou seja, estão cada vez menos parecidos com instituições (com um único
ponto de vista estabelecido de forma hierarquizada), e cada vez mais organizados
como plataformas (locais que permitem que diversas pessoas e organizações formem
e compartilhem pontos de vista).
A partir de agora
198
Portanto, o ponto de partida para os museus é fazer essa definição. E, como o
papel dos museus muda, a definição deve funcionar para o futuro, e não apenas para o
passado.
A estratégia atual do museu pode também ajudar aqui: o que ele pretende fazer
mais? E menos? Qual caminho a organização está percorrendo, quais são os possíveis
destinos? Todavia, a estratégia não deveria dominar: a marca vai continuar existindo por
muito mais tempo do que a estratégia atual.
O segundo passo é olhar para fora. Com a ajuda de seus próprios especialistas,
analistas, escritores, artistas, acadêmicos, o museu deveria lançar um olhar rígido para
o mundo que habita, e perguntar o que está errado, o que falta. O que a sociedade
precisa na esfera da arte, ou da arqueologia, ou da ciência, ou da história militar, ou da
preservação, ou do transporte? Por que as pessoas estão interessadas nessas coisas? O
que mais elas gostariam de saber, e de fazer? Quais outras organizações têm interesse
nesse campo: a academia, a mídia, quais outras? Quais novas preocupações e interesses
estão emergindo?
E mais importante, entender como isso pode ser útil para as pessoas. Não em
um sentido simplesmente utilitarista, mas como as pessoas podem, ao interagir com
você, fazer mais as coisas que realmente querem fazer?
A partir dessa ideia essencial, duas outras coisas ficam claras para um museu.
Primeiro, o uso do jargão da marca, seu “propósito”, ou seja, que tipo de plataforma ele
oferece para os visitantes, membros, fundadores, colaboradores, voluntários.
199
Então, e esse é o ponto mais importante, o museu precisará traduzir isso para
sua programação, para toda a experiência de seus visitantes, antes de pensar na
comunicação, na logo ou no projeto gráfico. O erro mais comum no branding de museus,
assim como em todos os tipos de branding, é tentar mudar uma imagem descolada da
realidade. Uma logo sempre será apenas uma bandeira: o que importa é o navio.
Isso tudo pode parecer um enorme empreendimento, com uma grande exigência
de recursos, demandando uma forma de pensamento corporativa que levantaria
suspeitas na equipe de curadoria. Mas não precisa ser nenhuma dessas coisas. O processo
pode ser feito de forma sutil, e a reflexão pode ser muito estimulante intelectualmente.
E o trabalho não é estritamente instrumental (como podemos convencer as pessoas a
comprar algo?), ele é profundamente filosófico (o que representamos?). A reflexão deve
ser conduzida pelo diretor, afinal é um ato de liderança. No entanto, deve envolver várias
pessoas desde o início, principalmente os curadores, e deve estar verdadeiramente
aberta aos pensamentos dessas pessoas.
E deve ser feita sem pressa: na verdade, deve ser compreendida como um
processo ininterrupto de definição e compreensão, sempre em transformação, como o
mundo e as pessoas dentro do museu.
O mundo dos museus precisa desse novo tipo de branding. Mesmo as maiores
marcas precisam disso: o que o Guggenheim de fato representa? O Tate está pronto para
a nova geração? Dezenas de museus menos conhecidos precisam firmar suas presenças
no mundo. Não há mais uma incompatibilidade entre a integridade institucional do
“museu” e a exploração comercial da “marca”.
FONTE: Adaptado de JONES, R. Museum Next. In: MENDES, L. M. [Org.]. Reprograme: Comunicação, Branding
e Cultura numa nova era de museus. Rio de Janeiro: Ímã Editoria; 2012. p. 27-41
200
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A pessoa com deficiência auditiva deve ter acesso a tecnologias assistivas com a
apresentação em Libras. Podem ser acompanhadas com dispositivo de videoguia ou
com visita mediada por intérprete de Libras.
201
AUTOATIVIDADE
1 O museu comunica-se pela oralidade e pela forma, sendo importante que os
profissionais e os espaços estejam preparados para receber a todos. Ao longo do
tempo, ocorreram mudanças importantes nos paradigmas museológicos que
fundamentaram novas visões sobre os processos comunicacionais. Explique o que é
o conceito de acessibilidade comunicacional.
I- Deficiência auditiva.
II- Deficiência física.
III- Deficiência visual.
( ) Videoguia em Libras.
( ) Texto em braile.
( ) Audiodescrição.
( ) Rampas e elevadores.
a) ( ) I – III – II – III.
b) ( ) III – III – II – I.
c) ( ) I – III – III – II.
d) ( ) II – III – III – I.
4 Conforme os autores Dischinger e Bins Ely (2005), existem quatro condições para
aplicação, de forma satisfatória, da acessibilidade: a orientabilidade, o deslocamento,
a comunicação e o uso. Em relação a esses componentes, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as falsas:
202
( ) Orientabilidade possibilita boas condições de compreensão das informações.
( ) Uso está associado à oportunidade de participar de forma autônoma, confortável e
segura, como na utilização de um tablet informativo em uma exposição.
( ) Comunicação está relacionada à possibilidade de localizar o café do museu de
forma totalmente autônoma.
( ) Deslocamento é quando o visitante tem condições ideais para se movimentar no
museu.
a) ( ) V – V – F – V.
b) ( ) F – V – F – V.
c) ( ) F – F – V – V.
d) ( ) V – V – F – F.
a) ( ) Maquetes.
b) ( ) Intérprete em Libras.
c) ( ) Réplicas.
d) ( ) Letras em relevo.
203
204
REFERÊNCIAS
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Norma Brasileira. ISO
9001:2008. Rio de Janeiro, 2008.
205
DAL MOLIN, E. D.; SOUZA, M. J. B. Os museus como organizações sem fins lucrativos e as
estratégias de marketing aplicadas ao segmento. Revista Ciências Administrativas,
v. 12, n. 2, p. 191-200, 2006.
LÉVY, P. O que é virtual? Trad. Paulo Neves. São Paulo: Ed. 34; 1996. 157 p.
LIMA, D. F. C. O que se pode designar como museu virtual segundo os museus que assim
se apresentam. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO,
2009, João Pessoa. Anais [...] João Pessoa: UFPB, 2009.
LIMA, J.; GASPAR, F. Marketing cultural: posicionamento dos museus públicos e privados
portugueses referenciável pela audiência. Lusíada. Economia & Empresa. Lisboa, n. 17,
p. 101-115, 2013.
206
MAGALDI, M. B.; BRULON, B.; SANCHES, M. Cibermuseologia: as diferentes definições
de museus eletrônicos e a sua relação com o virtual. In: MAGALDI, M. B.; BRITO, C. C.
(Orgs.). Museus & museologia: desafios de um campo interdisciplinar. Brasília: FCI-
UnB; 2018. p. 135-155.
MARTINS, D. L.; CARMO, D.; SANTOS, W. S. A presença dos museus brasileiros nas mídias
sociais: o caso Facebook. Revista Morpheus: estudos interdisciplinares em Memória
Social, v. 10, p. 1-18, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3uU4lsU. Acesso em: 10 jan. 2021.
RIBEIRO, L.; CAL, D. Museu como medium: reflexões sobre as interfaces entre
comunicação e museologia. Revista Dispositiva, v. 5, n. 2, p. 85-102, 2016. Disponível
em: https://bit.ly/3jeXVQ0. Acesso em: 10 jan. 2021.
207
SARRAF, V. P. Acessibilidade para pessoas com deficiência em espaços culturais e
exposições: Inovação no design de espaços, comunicação sensorial e eliminação de
barreiras atitudinais. In: CARDOSO, E.; CUTY, J. (Orgs.). Acessibilidade em ambientes
culturais. Porto Alegre: Marcavisual, 2012. p. 60-80.
SEBRAE. Branding – O que significa e qual sua importância. SEBRAE, 2019. Disponível
em: https://bit.ly/3KirBr6. Acesso em: 10 jan. 2021.
SEBRAE. 10 dicas básicas de redes sociais para os pequenos negócios. SEBRAE, 2017.
Disponível em: https://bit.ly/3Kr3zuk. Acesso em: 10 jan. 2021.
SULZ, P. O que é Branding: aprenda como fazer uma gestão de marca incrível. Rock
Content, 2019. Disponível em: https://rockcontent.com/br/blog/branding/. Acesso em:
11 jan. 2021.
208
WEBER, L. M. Estratégias de Acessibilidade em Exposições: O uso do audioguia/
Pentop no Museu de Porto Alegre Joaquim José Felizardo. 2018. 87f. Trabalho de
Conclusão de Curso (Bacharelado) – Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2018.
209
ANOTAÇÕES
210