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Copyright © 2022 Nayany Hächler

RACING FOR YOU

FICHA TÉCNICA
Capa: LA Creative

Revisão: Nayany Hächler, Fernanda Blos


Diagramação: Nayany Hächler

Todos os direitos reservados à autora, desta forma é proibido o


armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através
de quaisquer meios, tangíveis ou intangíveis, sem o consentimento
escrito da autora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na
lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos que aqui serão descritos, são produto da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.

1ª Edição Digital | Criado no Brasil | 2022


ECorrer com os carros mais velozes do mundo sempre foi o sonho de
Nataniel Taylor, por isso sua vida foi baseada inteiramente nos
treinamentos e nas competições para estar em ascensão na categoria.
Com o apoio de sua família e amigos, Nataniel foi capaz de se tornar o
piloto mais jovem a ganhar um mundial, alcançando o topo em sua
profissão.
Entretanto, ter tudo em suas mãos pode ser sua maior perdição,
quando no auge dos seus vinte e seis anos ele ainda não aprendeu a
maior lição da vida: responsabilidade. Nate é concentrado e maduro o
suficiente para lidar com os obstáculos de sua carreira e sua vida em
frente às câmeras, mas quando diz respeito a sua vida amorosa, o piloto
parece não ter juízo nenhum.

Com o aumento das notícias relacionadas aos escândalos de sua


imagem, sua equipe profissional precisa encontrar uma forma de
diminuir a quantidade de manchetes diárias envolvendo o nome de Nate,
contudo, a simples menção a mudanças em seus hábitos de prazeres é
suficiente para que ele tente encontrar sua própria solução para seus
problemas.

Sua única e melhor amiga pode ser a única saída para que Nataniel
não perca sua vaga na equipe e possa continuar vivendo seu sonho de
participar das maiores corridas de Fórmula 1 do mundo.
O problema? Ele precisa convencer Luna a embarcar em uma mentira
onde sentimentos antigos e até então nunca revelados correrão o risco de
serem finalmente explorados pelos dois.
T

Sinta-se livre para ouvir a playlist do livro. Cada capítulo é inspirado


em uma música, então você pode escutar enquanto aproveita a leitura.
Abra a guia “Busca” no seu Spotify e toque no ícone de câmera.
Depois, aponte a câmera de seu smartphone para o código.
SINOPSE

PLAYLIST
NOTA DA AUTORA
SOBRE A SÉRIE
PRÓLOGO

Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5

Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8

Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13

Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20

Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27

Capítulo 28
Capítulo 29

Epílogo

QUEM SOU EU
MEUS LIVROS
Antes de mais nada, obrigada por escolher essa leitura. Espero muito que
você goste dessa história e se divirta um pouco com Nataniel e Luna.

É importante ressaltar que esse livro é um romance contemporâneo e pode


possuir alguns gatilhos emocionais. De forma alguma compactuo com o que
acontece nessa história, no entanto, é uma ficção e todo e qualquer conteúdo
é somente para entretenimento.

A história é inteiramente original, nenhum personagem tem relação com


pessoas reais, no entanto, como uma forma de animar os leitores, existem
artes de divulgação com imagens que escolhi como inspiração física para os
meus personagens. Portanto, tenha em mente que é uma ficção original e não
está conectada com nenhuma pessoa real.

Antes que você comece a leitura quero deixar alguns avisos importantes.
O primeiro é simples, essa é uma história de ficção, portanto os temas
abordados podem ser reais, mas estão sendo retratados dentro de uma
narrativa criada com o intuito de entreter. Assim, mesmo que a história se
passe dentro do universo de fórmula 1, lembre-se que as situações não são
reais, os acontecimentos, regras, diálogos e todo o enredo por trás da vida de
Nataniel é uma ficção.

Você sendo fã de F1 irá encontrar diálogos e situações que trazem um


fundo de homenagem aos nossos pilotos favoritos, mas tudo dentro do que a
narrativa do meu personagem pede.

As regras da competição, penalidades, vitórias e toda a regulamentação é


inspirada na realidade, mas criada por mim. Então pode ser que você se
depare com uma situação que jamais aconteceria na realidade, mas que
dentro da minha história é extremamente válida. Além do mais, o objetivo
desse livro é entreter e ser uma leitura leve, então não espere encontrar um
universo muito técnico, tentei ao máximo deixar a leitura sem termos
complexos e apenas o superficial do esporte.

E para você que não tem conhecimento nenhum desse universo do


automobilismo, te convido a abrir a cabeça e se deixar apaixonar pelo mundo
dos pilotos. Quem sabe não temos uma fã escondida aí dentro?

Em todo caso, agradeço a você que chegou até aqui, que disponibilizou
um tempinho para ler essa história que é tão única para mim. Desejo uma boa
leitura e uma boa corrida, nos encontramos no pódio ao final.
Você já deve ter notado algumas semelhanças nesse título, é por isso
que estou aqui para esclarecer que essa história faz parte de uma série de
livros independentes chamada “for you”.

Cada história irá contar a narrativa de um casal único, portanto, todos


os livros são únicos, com a similaridade no título pois todos fazem parte
do universo de esportes.
Nataniel já é conhecido de algumas pessoas pois é um personagem
secundário em “Driven To You”, no entanto, a leitura desse livro é
completamente independente do outro, já que contam histórias de
personagens diferentes.
Caso tenha curiosidade em ler Driven To You, saiba que a ordem é
irrelevante, mas se quiser seguir a cronologia das histórias, Racing For
You acontece após o final de Driven To You.
Espero que você possa se divertir com o piloto mais polêmico que eu
já escrevi, se prepara, pois a corrida irá começar.
Com medo da minha própria imagem
Com medo da minha própria imaturidade
Com medo do meu próprio teto
Com medo de morrer de incerteza
O medo pode ser a minha morte
O medo leva à ansiedade
Não sei o que está dentro de mim

Não se esqueça de mim


Não se esqueça de mim
Mesmo quando eu duvido de você
Eu não sou bom sem você

doubt – twenty one pilots


Para todos aqueles que sentem medo de arriscar.
Você não está sozinho.
1
Charles continua me encarando, as sobrancelhas franzidas e o maxilar
travado, talvez pensando em várias formas de me dar uma lição de
moral. Apenas mais uma dentre tantas as outras que já escutei.

— Realmente não vai explicar o que aconteceu aqui?

— O que posso dizer? Obrigado por salvar minha pele, mas não há
nada além disso que eu possa falar.

Sei que meu amigo não gosta da minha resposta vaga, principalmente
depois que o fiz sair de casa para resolver minha fiança por atentado ao
pudor. Nenhuma novidade até aí.
— Sabe que a Durant não vai gostar caso isso caia na mídia, não é?

Durant Racing Team. A equipe da qual fazemos parte não é a mais


adepta a escândalos midiáticos com seus pilotos, por isso nossa
reputação perante a imprensa precisa ser impecável. Essa foi a principal
razão que liguei primeiro para Charles e não para minha equipe, o
burburinho que seria ao ter uma cavalaria de empresários dentro de uma
estação de polícia com certeza seria o ponto chave para mais uma
manchete envolvendo o meu nome.

Charles suspira e coloca as mãos nos bolsos frontais da calça, os


olhos fixos em cada movimento que eu faço.
— Tranquilo, cara. Eu agradeço por tudo o que fez por mim, não vou
deixar essa situação sair do controle. Minha última vontade é ter que dar
mais explicações a equipe.
— Você lembra como foi ano passado com Antônia, sabe que assim
que eles conseguirem um rumor sobre isso, irão tornar tudo maior do que
realmente é. A propósito, onde está a mulher?
— Que mulher?
Ele bufa mais uma vez:
— Vamos, Nate, colabore comigo.
— Fiz com que ela fosse embora antes dos policiais me trazerem para
cá, as coisas poderiam não ser tão calmas como foram. Seria arriscado
demais ter ela aqui.
— E não pensou nisso quando decidiu foder ela no meu carro?
Estalo os dedos em frente ao rosto do meu amigo e solto uma
gargalhada.
— Então é sobre isso!
Ele tenta desviar a atenção para a recepção, mas falha miseravelmente
quando seu rosto começa a se tornar vermelho como um tomate.
— Você não está realmente preocupado com toda a atenção da mídia
em cima do que aconteceu, está puto porque usei o seu carro. Porra,
Charles, é só um carro.
— Por que não usou o seu então? — rebate, emburrado.

— Sabe que está parecendo uma criança mimada, não é? Onde está
Antônia para cuidar desse problema?
— Resolvendo a documentação em sigilo para que você não tenha
ainda mais problemas. Acredito que ouvir meu sermão seja o mínimo
perto do que você merecia agora.
A última coisa que eu queria era precisar ligar para o meu amigo no
meio da noite para pedir socorro. Não estava exatamente em perigo, mas
acabei em uma situação comprometedora demais. Depois que pedi seu
carro emprestado, para desviar a atenção dos paparazzis, logo me vi
saindo com uma mulher e acabamos transando no carro, no meio de uma
rodovia movimentada.

Em minha defesa, no momento nada mais parecia importante se não


devorar o corpo dela com minhas mãos e boca. O que aparentemente me
fez perder a noção dos arredores e quando menos vi, estava sendo
algemado e levado em custódia para a estação de polícia de Mônaco com
uma acusação de atentado ao pudor.

Não vi outra opção senão ligar para o meu amigo. Antônia, sua
namorada, atualmente cuida de toda a relação da imagem dele perante a
mídia, e sinceramente, não pensei em outra pessoa para me livrar dessa
situação caótica em que me meti.

Poderia ligar para Luna, mas com certeza ouviria um sermão ainda
maior do que o de Charles, e no momento o que mais preciso é de uma
boa noite de sono, não uma completa tortura com reclamações e
cobranças sobre responsabilidades e minha vida pública.

— Já pedi desculpas por isso…


— Na verdade, não pediu — me interrompe, resmungando.

— E agradeci por ter vindo ao meu socorro, mas sinceramente…


Você está rindo de mim?

Charles vira de costas para mim, seu corpo inteiro tremendo com a
risada que solta após ouvir minhas palavras.
— Você precisava ver a sua cara de desespero, foi hilário.

— Qual o seu problema? — Cruzo os braços, indignado por ser feito


de idiota.

— Não estou preocupado com meu carro, mas ainda acho que mereço
um pedido de desculpas por você ter levado uma garota para lá. No
entanto, Antônia está resolvendo tudo, nada vai cair na mídia se
depender daquela baixinha. — O tom de voz amoroso ao falar da
namorada é realmente cansativo. Ela é uma garota legal, mas só de ver
meu amigo completamente apaixonado é uma visão um tanto
desagradável. — Você precisa falar com a Charlotte, porque se mais uma
notícia sua vazar, sabe que vai ter consequências com a equipe.
— Eu sei, eu sei, fique tranquilo, não vou levar nenhuma garota para
o seu carro novamente. E se levar, prometo não ser pego transando no
meio de uma rodovia.

— De tudo que eu falei, só essa parte você prestou atenção?


“All I need is your love tonight”. A música estupidamente alta
machucando meus ouvidos, mas a batida mexendo com todo o meu
corpo me faz gritar e pular sob as luzes estroboscópicas da boate.
Fumaça colorida sobe pelas paredes enquanto a multidão se agita na
pista de dança em frente a um DJ mundialmente conhecido.

— Vai beber? — Ouço um dos meus amigos gritar no meu ouvido,


me fazendo virar o rosto para ele. Seus olhos vermelhos e o sorriso débil
no rosto indicando a quantidade de bebida e drogas que já usou.

Apenas balanço a cabeça em negativa, ele dá de ombros e volta para o


centro do camarote onde uma mesa de vidro dispõe das mais diversas e
exóticas bebidas. Mulheres por todo o sofá enroladas em alguns caras,
outras dançando em cima das mesas e a ostentação de bebidas e drogas
rolando livremente pelo lugar.

Ninguém virá checar nada. Eles nunca vêm.


Principalmente quando ao final da noite assino um cheque com uma
enorme gorjeta para cobrir todo e qualquer prejuízo que o
estabelecimento possa ter tido comigo e meus amigos.

Amigos.
Cruzo os braços e apoio meu quadril no guarda corpo do camarote,
olhando a minha volta todas as pessoas que sempre me acompanham em
uma noitada regada a bebidas e mulheres. Mesmo que eu me refira a eles
como amigos, sei que quando sairmos daqui nenhum deles se preocupará
em me procurar. É sempre assim.

E eu não me importo.
Depois que Charles largou a vida de solteiro para viver com Maria
Antônia, encontrei novas parcerias para curtir a noite na realeza
monegasca[1]. A música alta explodindo nas caixas de som me distrai de
qualquer pensamento negativo com relação a nova vida do meu amigo,
cada um vive a vida como quiser. Se ele acha interessante ter uma
mulher comandando seus passos, não serei eu a dizer que ele está errado.
Mesmo sabendo que ele está.
Desço os poucos degraus do reservado que estou e resolvo dar uma
volta pelo espaço, me misturando aos corpos suados e extasiados dos
frequentadores da casa noturna escolhida hoje.
Estamos entre corridas, portanto tive alguns dias de folga para apenas
aproveitar minha casa.

Olho ao redor e encontro uma mulher com os olhos fixos em mim e


dançando com os braços jogados para cima no meio de uma multidão.
As luzes parecem propositalmente se concentrar nela, pois naquele
momento somente seus olhos claros e brilhantes parecem chamar a
minha atenção.

Desvio o olhar do seu rosto, analisando seu corpo inteiro. Curvas,


muitas curvas. Finalmente encontrei a minha presa da noite, e pelo andar
da carruagem, acredito que ela tenha encontrado o alvo certo para
aproveitar uma bela noite em Monte Carlo.

O telefone chama incansavelmente até cair na caixa postal.

Olho a tela do aparelho somente para confirmar que liguei para o


número certo e mais uma vez, clico no botão verde para iniciar a
chamada. Checo rapidamente o horário no meu relógio de pulso,
marcando exatamente 3:45h da madrugada, nada que me faça desistir,
pois sei que ela nunca deixaria de me atender.
A ligação chama uma porção de vezes, mas antes que eu precise fazer
uma terceira tentativa, a voz sonolenta e rouca de Luna preenche meus
ouvidos.
— Alguém morreu, Nataniel?

Solto uma risada nasalada antes de respondê-la:


— Eu poderia morrer se não falasse com você antes de dormir.

— Espera, você não foi para casa ainda? — resmunga, ainda tentando
formular alguma frase coerente. Sei que em alguns minutos ela irá
levantar da cama e provavelmente fazer uma xícara de café, um hábito
que já estou acostumado a presenciar quando a acordo durante a
madrugada com ligações e visitas espontâneas.
— Estava numa festa.

Ela fica em silêncio, esperando que eu complemente minha resposta.


— Sim, saí com uma garota, mas não consegui ficar até a manhã.

— Por quê?

— Não sei, precisava sair daquele quarto de uma vez. Foi ótimo, mas
não estava no clima de fingir algo que não sinto.
— Nate…

Coloco a mão livre dentro do bolso das minhas calças, abaixando a


cabeça e caminhando de um lado para o outro enquanto espero sua
resposta.

— Você não pode achar que passar um tempo com uma mulher irá
fazê-lo assinar um contrato de casamento.

— Eu sei que não, mas essa proximidade é…


Como se me sentisse sufocado, como se estivesse dando certezas para
alguém, como se estivesse mentindo, como se estivesse me tornando
culpado por mais um coração quebrado no mundo. Porém, tudo que
respondo é:
— Íntimo demais.

Luna fica em silêncio por alguns segundos, posso ouvir o farfalhar de


seus lençóis quando ela se move para sair da cama e os passos que leva
para ir até cozinha.

— Café?

— Você já me acordou, não tenho como continuar essa conversa sem


uma boa xícara de café nas mãos.

— Que horas você precisa ir trabalhar? — questiono, mesmo sabendo


a resposta.
Ela sempre vai para a cama por volta das dez horas da noite e antes
que o relógio chegue à meia-noite, ela já está dormindo. Afinal, trabalhar
em um escritório de advocacia, tendo que lidar com marmanjos o tempo
todo é mais cansativo do que eu pensava.

Em um dia aleatório acabei indo buscá-la ao final do expediente, só


para confirmar minhas já antigas suspeitas que eles não valorizam o
trabalho dela e ainda a exploram mais do que o aceitável.

Luna sabe que não precisa trabalhar naquele lugar, no entanto, como
uma forma de orgulho próprio ela se nega a pedir demissão.
— Preciso estar lá às oito, mas provavelmente não irei dormir mais
essa noite. Talvez ler e adiantar alguns documentos seja uma forma
interessante de terminar a madrugada.
— Não te acordei para que você fosse trabalhar.

— E por que me acordou, então, Nate? — Ela tenta forçar a voz para
soar brava, mas assim como eu conheço seus hábitos, minha amiga
também sabe que eu nunca conseguiria voltar para casa de uma noite
fora sem ligar ou aparecer em seu apartamento.

É um hábito estranho, mas é nosso.


— Precisava ouvir sua voz.

— Se eu não te conhecesse, diria que você acabou de soar romântico


nessa ligação. — Ela gargalha do outro lado da linha, me fazendo abrir
um sorriso. — Você está onde?

— Esperando John sair da boate.

— Na frente da festa? Por que não volta para lá?

Dou de ombros, mesmo sabendo que ela não vai conseguir me ver.

— Já disse, não estou no clima. No entanto, prometi que o levaria de


volta para casa, então aqui estou.

— Faz sentido.

Escuto o barulho da chaleira apitando ao fundo, sabendo que ela já


está passando o seu café. Às vezes me sinto mal por tirá-la da cama tão
cedo, mas sei que assim como eu preciso falar com ela em alguns
momentos, ela também espera que eu ligue em horários inoportunos.

— Vai mesmo trabalhar agora?

— Se eu adiantar esses processos agora, pode ser que eu consiga


chegar um pouco mais tarde no escritório.
— Tente dormir um pouco depois.

Vejo John saindo pela porta principal da boate, acenando para mim e
caminhando na minha direção, finalmente pronto para ir embora.

— E você, por favor Nate, não desvie do caminho e vá para casa, ok?
— Certo. Bom café, sweetie.

Prendo um sorriso ao ouvi-la bufar do outro lado da linha, sei o


quanto ela odeia o apelido, mas não consigo deixar de incomodá-la com
ele sempre que posso.
Sempre imaginei quão doce ela seria e… Puta que me pariu, não é o
tipo de coisa que preciso pensar sobre minha melhor amiga.

— Me nego a responder isso. Vá dormir, Nataniel.

— Também amo você, Luna.

Ela bufa mais uma vez antes de desligar o telefone e a linha ficar
muda, me obrigando a guardar o aparelho dentro do bolso e entrar no
carro. John logo chega ao lado do passageiro e dou partida, indo deixá-lo
em sua casa para em seguida ir para a minha.

São poucas as noites que posso sair sem ter problemas na mídia, na
grande maioria das vezes, quando saio de algum clube a primeira coisa
que enxergo é alguma câmera apontada para o meu rosto, dentre tudo o
que aconteceu hoje, posso dizer que foi uma noite bem-sucedida.

Após deixar meu amigo em segurança, posso finalmente ir para casa


descansar e infelizmente me despedir das noitadas por alguns dias,
afinal, amanhã já começam as longas reuniões e discussões sobre
estratégias para as próximas corridas.
Quando consigo me deitar e realmente relaxar meu corpo na cama já
se passam das cinco horas da manhã, o que me faz contar mentalmente
quantas horas ainda tenho disponíveis para dormir.
Contudo, antes que possa realmente tentar dormir, sinto meu celular
vibrar na mesa de cabeceira, as diversas mensagens entrando ao mesmo
tempo quase travam o aparelho, me impossibilitando de abrir e entender
do que se trata. Não preciso ser um gênio para deduzir que alguma
fofoca começou a rolar por aí, não seria novidade conseguirem algum
furo em um descuido meu.

Repasso mentalmente meus passos hoje à noite, e tirando o momento


que saí do clube para ir até o apartamento da garota, não tive nenhum
deslize. Nem mesmo coloquei uma gota de álcool na boca.
Deslizo o dedo pela tela do celular e finalmente consigo visualizar
uma manchete de algum site qualquer que provavelmente irá viralizar na
internet em algumas horas.

“Piloto da Durant Racing Team é visto na companhia de loira


misteriosa. Será que teremos menos um solteiro dentro da equipe?
Com certeza seria um alívio para os patrocinadores, contudo, será
que Nataniel finalmente irá se render a apenas uma mulher?”

Logo abaixo da headline é possível ver duas imagens de mim, na


primeira estou abraçado a garota, levando-a em direção ao meu carro e
na segunda, estou encostado no mesmo, já no final da noite, sorrindo ao
falar no telefone.

No pequeno texto a história criada desta vez é bem razoável, apenas


que eu encontrei alguém que tenha me feito sorrir ao final de uma noite.

Contudo, não.
Não seria tão simples assim e com certeza, não seria com uma garota
que nem ao menos me recordo do nome. Não me importo que mais
notícias como essas rondem a internet, mas posso sentir que logo meus
empresários pegarão no meu pé por estar mais uma vez estampando uma
página de fofoca qualquer.

Realmente, não quero nem imaginar o que a equipe pensará, sei que
terei problemas, não adianta esquentar a cabeça com isso agora de
qualquer maneira.
Apenas desligo o aparelho, jogo em algum canto do quarto e relaxo na
cama, finalmente me rendendo ao sono pesado de uma madrugada
recheada de ação e mais uma noite regada a prazeres e diversão.
Desligo o motor da McLaren P1 logo que consigo uma vaga próxima
o bastante do edifício espelhado onde Luna trabalha. Me senti
extremamente culpado por ter arruinado sua noite de sono no meio da
madrugada, então decidi surpreendê-la com uma carona após o trabalho.
Muitos curiosos circulam o carro, tirando fotos ou apenas observando
o belo modelo azul perolado que costumo dirigir pelas ruas de Mônaco.
Me sinto uma criança orgulhosa quando vejo o carro que dirijo, mesmo
sabendo que minha equipe poderia disponibilizar o modelo que eu
quisesse, fiz questão de comprar com meu próprio dinheiro o carro que
sempre sonhei em ter.
É como um filho que nunca terei.
Caminho rapidamente em direção as portas duplas de vidro do prédio,
passando rapidamente pela recepção sem muito alarde e logo subo o
elevador até o quarto andar, onde sei que minha amiga possui uma
pequena sala.

Primeiro pensei em mandar uma mensagem para ela avisando que


estava vindo, mas já conseguia deduzir a resposta negativa que ela daria,
então optei por deixá-la sem opção se não aceitar voltar para casa
comigo.
Posso ser insistente quando quero.
— …deveria agradecer a oportunidade que demos a você. Havia
candidatos muito mais qualificados, mas pelo seu currículo acadêmico de
Harvard e por tudo que você fez para estar aqui, decidimos dar uma
chance. Faça por merecer, Srta. Thomas, não haverá uma segunda
chance por aqui.
Antes que chegue perto da porta da sala dela, posso ouvir a voz de um
dos acionistas saindo do escritório, em alto e bom tom. Diminuo um
pouco meus passos, tentando descobrir um pouco mais sobre o que está
acontecendo.

— Eu entendo, Sr. Diaz e garanto que esse erro não se repetirá —


Luna fala com a voz tranquila e suave, não demonstrando estar com
raiva por ser cobrada.

Sempre admirei o controle dela, a forma calma e sensata com que


tenta lidar com todas as merdas que esse escritório a faz passar.
— Quero essa moção pronta em até dois dias, sem atrasos. — O
babaca finaliza o discurso e sai da sala dela batendo os pés, passando tão
rápido por mim que nem ao menos nota a minha presença no corredor.
Quando tenho certeza que ela está sozinha novamente, me direciono a
porta, batendo os nós dos dedos levemente na madeira. Luna se mantém
na posição por uns segundos, sentada em sua cadeira, com os cotovelos
apoiados na mesa e as mãos segurando o rosto, abatida, cabisbaixa.

— Não sabia que as coisas estavam tão ruins por aqui. Por que
continua nesse lugar?
Ela ergue o rosto para mim, surpresa ao me ver caminhando em sua
direção com as mãos dentro dos bolsos das calças. Luna abre um sorriso
cansado, mas responde com a mesma calma de antes:
— Eu gosto de trabalhar aqui, Nate.

— Eles não parecem gostar que você trabalhe aqui. — Dou de


ombros.

— O ponto deles não é exatamente comigo, a equipe toda está


desmotivada, consequentemente, o trabalho não está sendo entregue
como deveria. Eu sou a responsável pelo setor, eu respondo pela equipe.

— E, no entanto, a culpa sempre acaba nos seus ombros — finalizo.


— É um caminho importante que eu preciso seguir, meu sonho é
continuar atuando nessa área jurídica, poder ajudar pessoas e diminuir a
dor de um sistema quebrado. Eu apenas…

Ela suspira, apoiando novamente o rosto nas mãos.


— Você precisa respirar, sweetie — aconselho, caminho devagar até
as costas de sua cadeira e apoio as mãos em seus ombros, massageando
devagar.
Luna solta um suspiro longo e profundo, relaxando instantaneamente
na cadeira.

— Obrigada por vir, Nate.


— Sabia que se avisasse antes, você daria alguma desculpa para me
mandar a merda.
Ela sorri, soltando uma risada baixa.

— Provavelmente. Quais os planos, então?


Solto seus ombros, giro sua cadeira, deixando-a sentada de frente para
mim e me ajoelho sob seu olhar atento.
— Primeiro vamos te tirar desse antro de negatividade, depois, bom,
estou me sentindo generoso, então você escolhe.

Luna bate as palmas das mãos nas minhas bochechas, em seguida


bagunça meu cabelo.

— Uau, eu escolho? Algumas lágrimas, é tudo que levou?


— Calada! Vamos logo antes que eu mude de ideia e te leve para
comer um delicioso japonês hoje à noite.

Ela ergue o corpo com agilidade, rapidamente pegando sua bolsa


branca da jacquemus que a presenteei algumas semanas atrás e sai
marchando em direção a porta do escritório.
— Nem por cima do meu cadáver, Nataniel. Hoje teremos o meu
prato preferido, um maravilhoso…

— Ravioli de queijo com uma taça de chardonnay[2]. É eu sei.

Ela vira o rosto para trás, me presenteando com um sorriso singelo e


dispara:

— Bom garoto.

— Não sou um cachorro, Luna.

— Blá blá blá… pare de reclamar, Nataniel — ela desdenha.


Ao sairmos do elevador no térreo, puxo seu braço e trago seu corpo
para junto do meu, abraçando-a pelos ombros.

— Mesmo que não concorde com a forma que os acionistas te tratam,


estou orgulhoso pela forma que lidou com tudo. Minha garota cresceu.
— Finjo limpar lágrimas no rosto, arrancando uma risada gostosa da
minha amiga.

Caminhamos abraçados pelo curto caminho da recepção do edifício


até onde estacionei o meu carro, encontrando uma pequena aglomeração
de pessoas ainda em volta do esportivo.

— Como consegue andar com um carro que atrai tanta atenção quanto
você?

— O carro precisa estar aos pés do piloto.


Luna apenas balança a cabeça em negação, já completamente
acostumada ao meu jeito e curtas piadinhas. Antes que ela possa
responder algo, alguns flashes estouram em nossos olhos, com alguns
paparazzis circulando todo o nosso caminho até o carro. Ela apenas vira
o rosto em direção ao meu pescoço e me abraça com firmeza, buscando o
mínimo de proteção e privacidade nessa exposição sem autorização na
qual estamos.
— Eu te amo, Nate, mas eu odeio o seu trabalho.

— Faz parte do pacote, sweetie. — Deposito um beijo no topo de sua


cabeça e acelero o passo até colocá-la em segurança no banco do
passageiro do carro, tirando a atenção dos fotógrafos de cima dela.

Luna continua com a cabeça abaixada pelo tempo que eu levo para
dar a volta no veículo e fechar a porta do motorista, acelerando o carro o
mais rápido que eu posso com todas as pessoas em volta de nós.

— É exatamente por isso que eu teria negado uma carona — balbucia,


já erguendo o rosto na minha direção após alguns segundos fora do
alcance das câmeras.

— Eu sei, eu me sinto horrível por colocá-la nessa situação. Só queria


fazer algo normal, uma vez ou outra.

Luna coloca sua mão no meu ombro e me encara seriamente com os


enormes olhos castanhos, levemente avermelhados pelas explosões de
luzes que nos cercou minutos atrás.
— Eu sinto muito que você não possa viver uma vida “normal”, no
entanto, o que é o normal, Nate? Vivemos assim há anos, já deveríamos
estar acostumados.
Opto por ignorar sua pergunta quando a vejo se incluindo no modo de
vida que eu levo, o qual não me importo na grande maioria das vezes,
mas quando vejo minha melhor amiga ser afetada pela minha carreira, é
como se algo se quebrasse dentro de mim.

— O que quer dizer com “deveríamos estar acostumados”? Algo


aconteceu?
Ela dá de ombros e vira o rosto para a janela.

— Nada aconteceu, mas eu estou sempre com você, é normal que


algumas coisas se tornem públicas demais na minha vida.
— Como o que? O que você não me contou, Luna? — engrosso a
voz, preocupado com o que possa ter acontecido fora do meu campo de
visão. Tento ao máximo poupá-la de aparições públicas e eventos com
muita exposição, por um pedido dela mesma, mas tenho consciência que
seu nome acaba sendo comentado uma vez ou outra na imprensa por
estar sempre ao meu lado.
— Fique tranquilo, não há mais nada que eu possa perder com a nossa
amizade.
Capítulo 3
Nataniel é meu melhor amigo.
Desde sempre.

Tínhamos dez anos quando nos tornamos vizinhos em Los Angeles,


de início eu não tinha certeza se queria me aproximar dele. O menino
mais bonito da escola, aqueles que todos queriam ser amigos.
Para mim ele era somente um garoto marrento que se achava a pessoa
mais importante do mundo por ser piloto de kart. Desde muito novo ele
já sabia o que queria ser, já sonhava com seu futuro como um grande
campeão do automobilismo.

Na primeira vez que conversamos, ele perguntou porquê eu ficava


tanto tempo embaixo da árvore que dividia os nossos quintais. Na
segunda vez que ele me encontrou no mesmo lugar em um dia de chuva,
duvidou que eu fosse continuar ali por mais tempo – eu continuei –, mas
foi na terceira vez que tudo mudou.

Naquele dia o sol estava brilhando no céu e o único lugar que era
possível sentar e se refrescar, era embaixo da árvore. Então mais uma
vez eu estava lá, apenas folheando enormes livros velhos que havia
encontrado dentro de casa; apenas passando as páginas e sentindo a
textura do papel em meus dedos, era o que eu fazia todos os dias e o que
me fazia feliz. Nataniel apareceu do seu lado do quintal com um boné
virado para trás, segurando dois copos de água e seguiu caminhando na
minha direção. Quando menos esperei, ele sentou ao meu lado, me
entregou um copo de água e disse:
— Talvez esse possa ser o nosso lugar.
Para uma garota de 10 anos que vivia sozinha dentro de casa, aquele
momento foi como um sonho se realizando. Desde então, todos os dias
nos sentávamos sob a árvore e compartilhávamos nossos maiores sonhos
e conquistas.

Foi onde ele me contou sobre o seu sonho de ser piloto de Fórmula 1.
Foi onde eu contei sobre meu sonho de ir para Harvard.
Foi onde ele apenas sentava em silêncio ao meu lado e me fazia
companhia.
Foi onde, aos 16 anos, eu me apaixonei pelo meu melhor amigo.

Por muitos anos eu suprimi essa paixão, a cada ano que passava Nate
crescia mais e chamava mais atenção do público feminino. Aos poucos
ele foi entendendo o poder que tinha sob as meninas e começou a usar
isso ao seu favor, toda a semana era obrigada a vê-lo com uma garota
diferente nos braços.

Foi também embaixo da nossa árvore que ele me contou quando


perdeu a virgindade.
E foi também no mesmo lugar que eu tive meu coração quebrado pela
primeira vez.
Eu amava Nataniel, mas precisava de uma maneira de apagar aquela
chama dentro de mim, não podia correr o risco de perder a pessoa mais
importante para mim. Foi somente quando fui para faculdade que
consegui reprimir o sentimento que havia pelo meu melhor amigo.
Acho que a distância foi o essencial, ele acabou entrando para a
Fórmula e foi escalando gradativamente sua carreia como piloto e eu
concentrei minha atenção na faculdade de direito. Durante alguns anos
nos comunicávamos apenas por e-mail, cartas e algumas ligações
ocasionais, mas por escolha minha, ficamos sem nos vermos
pessoalmente por algum tempo.
Foi o suficiente para que no momento que me mudei para Mônaco
após conseguir uma vaga de emprego em um escritório renomado de
advocacia, pude conviver novamente com meu melhor amigo sem sentir
meu coração apertado a cada vez que via ele com uma nova garota.

É o que conto para mim mesma todas as noites.


Hoje eu sei que se tivesse falado ou feito algo no passado,
provavelmente teria arruinado a nossa amizade, principalmente por saber
a aversão que Nate tem com relacionamentos.
E por incrível que pareça, eu me sinto bem sendo sua amiga, sendo a
sua maior confidente e a pessoa que ele mais confia no mundo. Eu amo
Nate, hoje como meu melhor amigo, e jamais faria algo para estragar a
melhor coisa que a vida já me deu.
— O que quis dizer com aquilo no carro?

Volto ao presente ao ouvir a voz de Nataniel me chamando,


simplesmente desliguei a mente e comecei a divagar sobre nossos anos
de amizade e esqueci completamente sobre o assunto que estávamos
falando. Respiro fundo uma, duas, três vezes antes de respondê-lo:
— Não é à toa que estou solteira há tantos meses, Nate.

— Você quer estar em um relacionamento? — A forma que ele fala a


palavra é carregada de angústia e… medo.
— A questão não é essa, é só que nossa amizade ser tão pública
também tem suas consequências.
O moreno estreita os olhos na minha direção, me incitando a seguir o
pensamento.

— Todos os meus ex-namorados terminaram comigo pelo mesmo


motivo…
— Viram que não merecem a pessoa mais incrível desse mundo? —
ele me interrompe, falando mais alto para ser ouvido mesmo que eu não
tenha finalizado minha fala.

— Você.

Nate me encara por alguns segundos em silêncio, ergue o braço e


pega sua taça de vinho sobre a mesa do restaurante italiano que ele me
trouxe. Toma um gole generoso da bebida e calmamente apoia os pulsos
na toalha de mesa.
— Você está me culpando pelo fim dos seus relacionamentos?

Jogo o guardanapo de pano sobre o meu prato já finalizado, bufando.

— Você sabe que não! Estou apenas dizendo a verdade, nenhum


homem quer estar ao meu lado quando meu rosto aparece estampado em
todos os jornais, todas as semanas, com uma nova fofoca sobre estar
namorando você! — Coloco para fora tudo que há meses estava
guardado dentro do meu peito.

Tento sentir remorso por ter jogado tudo em cima dele, mas existe um
limite que eu não estou disposta a ultrapassar na nossa amizade. Tudo
precisa estar sobre controle na minha vida e a última coisa que eu quero
é acabar em mais um tabloide como a futura senhora Taylor.

— Isso diz muito mais sobre o caráter deles do que sobre mim,
sweetie.

Balanço a cabeça para os lados, concordando com ele.

— Eu sei, eu não quis iniciar uma discussão, só me sinto frustrada.

— Sexualmente? — Ele ri.


Sinto minhas bochechas esquentarem ao olhar atento do meu amigo,
nunca realmente me importei de falar sobre sexo com ele, mas também
não sou tão aberta a falar sobre o assunto em público como ele é.
— Você só pensa em sexo? — rebato.

Ele ergue as mãos em rendição, abrindo um sorriso galanteador no


rosto coberto por uma barba rala.

— Em minha defesa, essa foi a primeira vez que eu trouxe o assunto


para a mesa.

— Não quero mais falar sobre isso, Nate.

Ele dá mais um gole em seu vinho, acenando com a cabeça e eu imito


seu gesto, finalizando o restante do líquido na minha taça.

— Então esse não é o melhor momento para perguntar se você vai


para Barcelona comigo no final da semana? — pergunta, encolhendo os
ombros.

— Quando você vai?

— Quinta-feira de manhã e pretendo voltar segunda-feira antes do


amanhecer.

— Eu prometo torcer para você…

— …do sofá de casa. É, eu imaginei. — Ele finaliza e mesmo


sabendo que não posso ir por causa do meu trabalho, ele não se chateia.
Acabou se tornando uma tradição ele sempre me chamar para
acompanhá-lo nas corridas, mesmo que eu tenha que recusar em quase
todas as situações.

— Vamos pensar em uma corrida importante para você e assim que


consigo organizar minhas folgas no escritório, que tal? — sugiro, mesmo
sabendo que ele vai falar que todas…

— …as corridas são importantes — diz.

— Vamos pensar em algo, eu prometo.


— Talvez o que você deva pensar é sair daquele escritório, Luna,
tenho certeza que vários outros lugares estarão ansiosos para ter alguém
com o seu potencial. Você não precisa estar lá, sabe disso.

Ele segura a minha mão sobre a mesa, apertando gentilmente meus


dedos.

— Ainda vou tentar, não vou desistir tão rápido assim.

— É por isso que eu sou seu maior fã, garota.

— Claro, claro, não é porque eu vivo aguentando suas crises


existenciais, não é mesmo? — Cruzo os braços em frente ao peito,
estreitando os olhos para ele.

— Jamais!
Antes que ele possa continuar o assunto, seu telefone começa a tocar
alto pelo restaurante, e com um olhar apologético ele se levanta da mesa
e vai até o banheiro para atender. Já estou acostumada com isso, acho
que viver sob os olhos atentos da mídia criaram uma espécie de
armadura em Nate, então ele tem suas estratégias para evitar ser
fotografado em momentos pessoais, como por exemplo, uma ligação
importante onde ele precisa de um pouco de privacidade.

Enquanto aguardo Nataniel voltar, chamo a garçonete que nos atendeu


inicialmente e solicito a conta do jantar. Uma das coisas que mais me
orgulho do meu trabalho, é a independência financeira que ele me
proporciona. Não há preço para a satisfação de entrar em qualquer loja
que eu quiser e comprar o que sentir vontade, além de poder
proporcionar momentos únicos para mim e minha família.
Portanto, mesmo sabendo que Nate me convidou para o jantar, pago a
conta toda durante o tempo em que ele se mantém em sua ligação.
Poucos minutos após a garçonete sair com a nota fiscal do jantar, meu
amigo retorna a mesa, um pouco mais pálido do que o normal.
Sua pele é naturalmente bronzeada, um leve tom dourado
contrastando com os fios escuros de seu cabelo, barba e sobrancelhas.
No entanto, ao vê-lo se aproximar de mim e erguer a mão para que
saiamos do restaurante, sua pele se torna um pouco branca demais, os
lábios levemente ressecados e os olhos sem o brilho constante.
— Você está me preocupando, o que houve? — pergunto enquanto
caminhamos pelas ruas movimentas da noite monegasca. — Você está
bem, Nate?
Ele balança a cabeça em negativa, mas continua segurando a minha
mão e caminhando em direção ao seu carro.

— Era Charlotte trazendo más notícias.


— Fala logo, garoto!

Charlotte é sua publicitária, a mulher responsável por cuidar de sua


imagem perante a equipe, os fãs e a imprensa. Nada passa despercebido
por ela, mas ela sempre resolve tudo antes que as bombas explodam,
então se Charlotte precisou ligar para Nate durante um jantar, com
certeza algo sério aconteceu.
— Ela não tem certeza ainda, mas Serguei a avisou que amanhã pela
manhã a equipe inteira precisa se reunir antes do amanhecer para
resolver algo.
— Eu não estou entendendo…

— Algo vai estourar, Luna. Alguma merda vai explodir na mídia


amanhã e pelo que Charlotte falou, está diretamente ligado à minha vaga
na Durant Racing.

— O que isso quer dizer? — Viro meu rosto para ele, encarando os
olhos castanhos opacos mais uma vez, preocupada com o bem-estar do
moreno.
— Quer dizer que eu não vou conseguir dormir hoje à noite até
entender o que está acontecendo, mas de uma coisa eu tenho certeza, seja
lá o que vão inventar dessa vez, tem poder o suficiente para fazer Joshua
e Dave considerarem o meu assento na equipe.
Capítulo 4
— Eu preciso que você entenda a situação em um todo, Nataniel.
Consigo ouvir a voz da minha publicitária ao fundo, Charlotte tem a
estranha mania de começar a falar e simplesmente não parar mais.
Normalmente isso é uma qualidade quando temos várias fontes de
imprensa para soltar declarações, mas quando essa situação se vira para
mim, não me sinto tão confortável assim.
Ser o ponto de atenção não me incomoda, muito pelo contrário.
Sempre gostei de tudo que a fama me proporcionou. Todo o dinheiro, as
novas amizades, os carros, as mulheres… É uma lista infinita de coisas
que sou grato por ter conquistado após tantos anos de trabalho duro.
E junto a tudo isso, posso fazer o que mais amo, dirigir carros velozes
em corridas selecionadas pelo mundo inteiro. É a vida dos sonhos, eu
diria.
Mas quando precisamos resolver os problemas que a mídia cria em
cima da minha vida, isso me deixa completamente transtornado.
Principalmente porque me sinto uma criança de cinco anos precisando
ouvir sermão dos adultos quando minha equipe decide fazer uma reunião
preparatória.
— Eu estou entendendo, Charlotte, só não consigo entender o que
uma coisa tem a ver com a outra — rebato, já cansado de ouvir a mesma
ladainha sobre minha vida pessoal.
Ela respira fundo e começa a caminhar de um lado ao outro da sala de
reuniões do prédio da Durant Racing Team. Ontem à noite recebi a
ligação dela comunicando sobre o encontro que teríamos hoje cedo para
discutirmos nosso plano de ação para o compromisso agendado com os
sócios majoritários da escuderia.

Mais problemas à vista.


— Como não? — Ela se empertiga com a minha recusa. — Quando
assinou o contrato, estava muito claro para você que diferente de outras
equipes, a Durant não aceita escândalos pessoais. Eles jamais irão
permitir que tabloides de fofoca se sobressaiam às notícias dos avanços
nas corridas.
Antes que eu tenha a oportunidade de responder, Serguei, meu
empresário, continua a explicar o pensamento:
— E é o que está acontecendo, Nate. Ultimamente só o que se fala é
sobre suas noitadas, as diferentes mulheres que são fotografadas ao seu
lado e os escândalos que você se mete. As notícias sobre os avanços do
seu carro, os melhores tempos de qualificatória que você teve na carreira
e as últimas pole position são completamente ofuscadas pela imprensa.
— Serguei gira a caneta em seu dedo, batucando o objeto em cima de
algumas folhas de papel que estão dispostas na mesa de vidro. — Joshua
e Dave nos deram dois avisos nos últimos três meses, nós conversamos
com você sobre isso, mas nada mudou.
— E agora, ao que parece, a paciência deles acabou completamente
— Charlotte finaliza.

— E o que vocês sugerem que eu faça?


Desde pequeno sou aquele tipo de pessoa que prefere virar o rosto
para não ver o sofrimento alheio, ou aquele que sabe que errou, mas
prefere ignorar o erro por não querer que as consequências se tornem
reais. É bastante covarde da minha parte, mas quando somos expostos a
situações tão similares em tão pouco tempo, acabamos nos tornando
calejados e de certa forma imunes. O que é bastante triste, se for parar
para pensar.
— Vamos tentar reverter a situação com os Durant e precisamos que
você embarque nessa jornada, Nate. Não faremos milagres, mas você
precisa mudar seu modo de viver — Charlotte fala.
Abro a boca para retrucar, mas sou interrompido mais uma vez pela
minha publicitária.
— Deixe a conversa para nós, só responda algo se perguntarem
diretamente a você e por favor, sem piadinhas. A situação já está
catastrófica o bastante para que você fique tirando sarro de tudo.
— Não é isso que eu faço — rebato.

— Às vezes você nem nota como tem dificuldade em levar uma


situação a sério — ela murmura, passando a mão pelos fios dourados em
seu cabelo. — Nosso objetivo hoje é fazer com que eles deem uma nova
chance a você, que acreditem que você está disposto a mudar, entende?

— Nada mais? — pergunto.

— Nada mais.
Pode parecer pouco, mas convencer os Durant que estou em um
caminho de redenção pode ser mais difícil do que imaginamos, e acabo
tendo a certeza disso quando entramos na sala e encontro não somente
Joshua e Dave, os donos da equipe, como também Ocean, a única pessoa
que poderia ser capaz de acalmar os ânimos dos acionistas na reunião.
— Nate, como está? — Ocean levanta para me cumprimentar,
passando os braços pelo meu pescoço e me dando um abraço apertado.
— Não sei em que situação você se meteu, mas para eles terem pedido
para eu estar aqui, certamente você está na merda — elu sussurra.

— Obrigado por vir — respondo no mesmo tom de voz.


Ocean apenas dá de ombros e joga seus cabelos platinados para trás,
voltando a se sentar no lado direito de seus pais. Joshua é o segundo a
levantar e erguer a mão para mim em um cumprimento polido e educado,
Dave repete os mesmos gestos do marido.
Quando todos estamos sentados em volta da enorme mesa de madeira,
tendo Dave, Joshua e Ocean de um lado e Charlotte e Serguei me
cercando, a seriedade da conversa começa a finalmente cair dentro da
minha realidade.

— Você sabe o porquê está aqui, certo? — Dave inicia.


Apenas balanço a cabeça, respeitando pela primeira vez uma das
coordenadas que minha equipe me passou. Dave inclina o corpo para trás
na cadeira, apoiando o queixo em uma de suas mãos e analisando meu
comportamento seriamente, no entanto, é Ocean que inicia o assunto.

— A Durant Racing sempre respeitou seus pilotos em todos os


aspectos da carreira, sempre apoiou e sempre esteve presente para
solucionar qualquer problema ou dúvida. A única coisa que sempre
pedimos em retorno é reciprocidade. — A seriedade com que elu fala me
divide em emoções, pois sei o quanto Ocean queria estar à frente da
empresa, ter uma voz ativa e ver que finalmente elu conseguiu, me faz
ter uma porrada de orgulho no peito.
Mesmo que para isso eu precise receber um puta sermão mais uma
vez no mesmo dia.

— Meus pais estão de acordo com tudo que vou dizer, Nate e eu
escolhi ser a pessoa a te passar essas informações porque sei que será
mais fácil ouvir vindo de mim do que de qualquer outra pessoa —
continua falando. — Essa é a terceira e última advertência que você está
oficialmente recebendo.

— Devo ficar surpreso? — pergunto, fazendo com que Charlotte e


Serguei se mexem desconfortavelmente na cadeira por eu ter feito
exatamente o que pediram para eu não fazer.

— Nate… — Ocean chama meu nome com um resquício de angústia


na voz. — Por favor.
Ergo a palma da mão aberta em sua direção, deixando que elu
prossiga com a minha possível condenação.

— As mudanças precisam ocorrer efetivamente e imediatamente, a


equipe de relações públicas da Durant irá repassar uma lista para sua
publicitária com todos os requisitos que precisamos que mude nas
próximas corridas. Você precisará trabalhar duro para que essa situação
não saia do controle. — Ocean mantém sua voz robótica enquanto passa
as informações técnicas, e antes que eu me dê conta, minha mente
automaticamente se desliga de tudo que elu continua falando. A
infindável lista de coisas que preciso mudar, uma eternidade de
mudanças na minha vida pessoal para evitar que mais e mais notícias
saiam rondado pelos sites de fofocas e por fim, o acordo final. — Se
nada mudar nos próximos três meses, seu contrato será encerrado com a
equipe. Todas as multas serão pagas, mas deixaremos você ir.

O silêncio na sala poderia ser mórbido após suas palavras finais,


ninguém ousou falar nada após tudo que foi dito. Ocean simplificou
exatamente o que Charlotte vinha falando há semanas comigo, mas como
sempre, preferi olhar para outro lado a encarar a realidade.

Meu sonho estava indo por água abaixo, e se eu não fizesse algo para
mudar isso, perderia a chance de me tornar um campeão mundial de
Fórmula 1.

Noto pela minha visão periférica que Serguei faz algumas anotações
em sua agenda, provavelmente escrevendo os pontos cruciais que Ocean
passou sobre minha futura mudança, e talvez, de forma precipitada,
cogitando outras equipes que possam ter uma vaga para mim quando a
temporada de contratações abrir.

Charlotte se mantém estável, parada e apenas pensando nas palavras


certas para finalizar a reunião, com mentiras e promessas que com
certeza sabe que eu jamais irei cumprir.
Por breves segundos me sinto um merda por fazer minha equipe
passar por uma situação tão complicada simplesmente porque não
consigo manter meu rabo dentro de casa durante a temporada de
corridas.
Por isso, em uma forma de desespero e talvez uma última gota de
esperanças, falo a última coisa que jamais pensei que sairia da minha
boca:

— Garanto que nada disso será um problema, principalmente agora


que finalmente assumi o meu relacionamento com Luna Thomas.

— Que loucura foi aquela? — Charlotte grita nos meus ouvidos


quando já estamos dentro do meu carro, em direção ao meu apartamento
para pegarmos minha mala e irmos em direção ao aeroporto.

Por causa de todas as mudanças impostas pela Durant, preciso estar


sempre um dia antes em cada uma das corridas para fazer um
planejamento de todos os dias do final de semana, por isso, meus planos
de talvez passar a noite com alguma mulher foram por água abaixo.

— Você por um momento pensou o que sua fala acarretaria? — ela


segue reclamando, mas dessa vez diminui um pouco o tom de voz. — Ao
menos conversou com Luna sobre a loucura que você acabou de fazer?

No momento que ela joga a informação no meu colo, finalmente


entendo as consequências que minhas ações da manhã podem ter. Eu não
falei com Luna. Não pedi sua permissão para embarcar nessa loucura
comigo.
— Não seria mais fácil apenas entrar em um relacionamento de
verdade? Por que colocar sua melhor amiga dentro dessa confusão?
— É complicado — balbucio, batucando os dedos no volante de
couro do carro. — Não quero estar em um relacionamento agora.
— Pois saiba que estará! Sendo verdade ou não, essa mentira precisa
se tornar pelo menos um pouco real, você está entendendo a repercussão
da sua invenção? — Charlotte não está errada, mas ela simplesmente não
entende.
— Vai muito além de apenas não querer me relacionar sério com
alguém. Saiba que eu não me importo se eu vou sair como o vilão da
história, eu apenas não tenho saco para machucar ninguém no percurso.
Estamos quase chegando ao estacionamento do meu prédio, onde
apenas aperto o botão do controle remoto e as portas automáticas se
abrem. Diminuo um pouco a velocidade até estacionar na vaga destinada
ao meu apartamento.

— Luna saíra machucada.


— Isso não vai acontecer — asseguro, saindo do carro e esperando
que minha publicitaria faça o mesmo. — Eu só preciso que você segure
essa notícia até que eu fale com ela pessoalmente.
— Ela não vai para Barcelona?

Respondo com um balançar de cabeça, em negativa. Já sabia que


Luna estaria extremamente ocupada nesse final de semana, mas não
tinha consciência de que precisaria tanto que ela fosse quanto agora.

— Segunda-feira é o máximo que consigo segurar, Nate — ela


promete. — No entanto, existe a possibilidade de a notícia vazar antes,
você sabe disso. Não posso fazer milagres. Por que não liga para ela?
— E falar o que? Não é o tipo de coisa que eu posso jogar no colo
dela sem pensar no depois.
— Engraçado isso vindo da pessoa que justamente nunca se preocupa
com o depois — Charlotte desdenha, revirando os olhos. — Ela
realmente significa algo para você.

— Ela é a minha vida, jamais faria algo para machucá-la — finalizo.


Capítulo 5
Os últimos dias foram tão corridos que realmente não tive tempo nem
mesmo para pensar nos meus próximos passos. Depois que inventei
aquela mentira sem fundamento durante a reunião com os Durant, mal
tive tempo de estar sozinho desde que cheguei em Barcelona.
Charlotte ficou comigo praticamente vinte e quatro horas por dia,
durante todas as entrevistas, na chegada e na saída do paddock e só não
dormiu no mesmo quarto que eu por uma questão de respeito entre nós
dois.

Meu corpo praticamente grita por um minuto de sossego, um


momento privado e um pouco de diversão. Acredito que desde o início
da minha carreira, nunca havia ficado tanto tempo trabalhando sem
desviar o foco.
Eu entendo a seriedade do que aconteceu naquela reunião, sei que
meu assento na equipe está por um fio por causa de todas as notícias e
fofocas que estão vazando sobre mim. Ocean foi inteligente durante todo
o momento, soube exatamente as palavras certas para me deixar
desesperado por uma solução.
E eu não pensei por um milésimo de segundo antes de assumir um
relacionamento com a minha melhor amiga.
Sem que ela houvesse permitido.
— Quão fodido estou? — pergunto, esperando que o casal na minha
frente tenha alguma ideia mirabolante para solucionar meus problemas
depois que contei tudo que aconteceu nos últimos dias.

— Você está numa fase de contenção de riscos, ainda não é a parte


crucial onde sabe que vai perder a vaga na equipe nas próximas semanas
— Maria Antônia, namorada de Charles, murmura. — Se eles realmente
não quisessem que você continuasse na equipe, teriam apenas encerrado
o contrato e acertado todas as multas possíveis.
— E se eles vão se dar ao trabalho de esperar mudanças vindas de
você, é porque sabem que você é um piloto bom demais para jogar fora
— Charles finaliza o pensamento da namorada.
— Nada disso importa. Coloquei Luna no meio do fogo cruzado sem
que ela soubesse.

— Ainda não falou com ela? — Os enormes olhos azuis de Antônia


me encaram com espanto. — Já faz quatro dias, Nataniel!
— Não é o tipo de assunto que posso falar por telefone!
Esfrego as mãos nos cabelos, totalmente na defensiva. Ela não está
errada, o que me enfurece ainda mais.
— De qualquer forma, não há mais nada para falar, o melhor é me
concentrar nessa corrida e deixar para lidar com tudo isso depois —
balbucio enquanto coloco os fones de ouvido e ajeito o plug dentro do
meu macacão antichamas.

Charles apenas balança a cabeça, completamente contra as minhas


atitudes, mas certamente cansado de tentar colocar algum juízo. Antes
que Antônia possa falar algo, meu celular começa a vibrar em cima da
bancada cheia de computadores, o nome de Luna brilhando na tela.

— Boa sorte! — Antônia deseja após ver o nome da minha amiga no


aparelho. Os dois partem para o lado de Charles no box, começando a se
concentrar na preparação para a corrida que deve começar em menos de
uma hora.
Solto os fones de ouvido presos no comunicador do macacão e pego o
celular, imediatamente atendo a ligação de Luna:

— Você está nervoso? — ela pergunta antes que eu possa dizer algo.
— Me sinto tão mal por não estar aí com você.

— Estou bem.
— A semana foi insuportável, os sócios começaram a mais uma vez
pegar no meu pé, principalmente depois daquele dia — ela murmura.
— Não deixou que pisassem em você, não é? — Enquanto falo com
ela, decido caminhar um pouco pelo lugar, observar as outras equipes e
os carros dos pilotos concorrentes é sempre uma boa ideia. Passo
rapidamente pela Montanare[3], mas não dou muita atenção, visto que os
carros deles não estão no mesmo patamar que os nossos, então não há
motivos para observar nada.
— Claro que não, mas o que eu quero dizer é que eu poderia ter
mandado eles a merda e ter ido com você na corrida. — Luna suspira
resignada no outro lado da linha.
— Você não faria isso.

— Eu sei.

Mesmo sabendo que ela se sente mal por não estar aqui comigo, sei
que a morena jamais largaria seu trabalho para vir até aqui. Aquela vaga
é muito importante para ela e por orgulho ela não vai dar motivos para
que continuem falando besteiras sobre ela.

— Ei, sweetie, nós precisamos conversar.


Decido falar de uma vez, ela pode não estar no melhor momento hoje,
mas também sei que trabalhando onde trabalha, não haverá um único dia
em que ela não se sinta mal por estar lá e não comigo.
Eu fiz besteira, e mesmo tentando ignorar a merda que joguei no colo
dos sócios da Durant, minha amiga tem o direito de saber que seu nome
está envolvido comigo.

Mais uma vez.

De verdade, dessa vez.


— Não me diga que encontraram vídeos comprometedores no seu
celular de novo? — ela brinca.

— O quê? — respondo confuso.


— Ah, não, você foi flagrado pela mídia transando em público?

— Você nunca vai esquecer isso, não é? — Nego com a cabeça,


suspirando.
— Jamais. — Ela gargalha.

Eu sou assim, não me importo com o que os outros vão pensar sobre a
minha vida, mas ver a forma que minha amiga se refere a mim, me
mostra mais uma vez que estou sendo um filho da puta em envolvê-la
nessa situação.

— É um pouco mais sério do que isso, Luana.

— Luna!
— Tanto faz, Luana.

Ela resmunga algo estranho do outro lado da ligação, sabendo que


apenas chamei ela pelo nome errado para provocá-la. Nossos nomes
saem na mídia o tempo todo, e em alguns tabloides de quinta categoria,
costumam errar o nome dela. Luana é o mais comum.

Ela odeia as notícias, mas ver que não tiveram nem ao trabalho de
descobrir seu nome de verdade, a tira do sério de uma forma fofa demais.

Fofa?

Balanço a cabeça, apagando os pensamentos estranhos com relação a


minha amiga.

— Preciso ir me preparar para entrar no carro.

— Nate…
— Hm? — murmuro enquanto caminho de volta para o meu box,
logo encontrando a minha equipe no meio do caminho. Eles
provavelmente estavam indo atrás de mim no mesmo momento.
— Traz o carro para casa — finaliza com sua usual fala de boa sorte.

— Sempre.

A velocidade do vento batendo com força na viseira do meu capacete


é o que sempre me mantém em alerta. Dirigir em altas velocidades é
como uma ingestão de adrenalina no meu sistema.
Desde pequeno sempre sonhei em dirigir um carro de Fórmula 1, e
hoje, dentro dessa máquina que vai a quase 200km/h em menos de dois
segundos, é como me sentir vivo pela mais uma vez.
— Continue com o ritmo! — Ouço a voz da minha engenheira
principal pelo fone de ouvido.

— Preciso de mais potência — grito em retorno, sentindo a vibração


do carro diminuir a cada curva. — Estou perdendo a potência! Preciso de
mais!

Para muitas pessoas, o piloto é o responsável pelo carro, pelo


resultado da corrida ou pelas falhas que são encontradas durante um
trajeto. Mas eu sou apenas uma parte de uma equipe muito maior. O
carro só está dentro dessa pista porque existem profissionais incríveis
analisando e criando as melhores estratégias por trás de centenas de
computadores. Eu sou apenas o executor de tudo aquilo que minha
equipe criou.

E em algumas situações, isso também é frustrante. Principalmente


quando estamos em um ritmo tão bom de corrida, conquistando a volta
mais rápida, e em questão de segundos, o carro simplesmente para de
responder aos comandos.

Me sinto revoltado ao ver os carros que estavam a mais de cinco


segundos de distância de mim, passarem voando pelo meu lado e outros
que estavam ainda mais atrás, se aproximarem pelo meu espelho
retrovisor.

— Que porra está acontecendo, Otty? — chamo a engenheira mais


uma vez.

— Estamos resolvendo, Nataniel. Segure o ritmo. — É sua resposta.

Otty é uma das poucas mulheres que temos na equipe de frente, gosto
de me referir como infantaria, onde estão basicamente os engenheiros
que estão na ativa durante as corridas, os mecânicos que estão sempre
prontos para resolver qualquer dano ao carro e os chefes de equipe, que
estão ali para basicamente dar pitaco em tudo que todos fazem.

Talvez Otile seja a única mulher que trabalha diretamente comigo na


infantaria, e eu não poderia pedir uma engenheira mais competente do
que ela. Ela parece sempre prever o que irá acontecer antes mesmo que
os estrategistas tenham a oportunidade de estudar as possibilidades.

Além do mais, ela é uma mulher fácil de conversar, então sempre nos
entendemos muito rápido quando temos milésimos de segundos para
tomar uma decisão quando estou dentro do cockpit.

— Não está funcionando! — grito mais uma vez, tentando sobressair


minha voz a estranha tremedeira que o carro começou a fazer. — Box?

Vejo a luz vermelha no painel acendendo no momento que ela iria me


responder, mas antes que eu possa escutar a sua voz pelo chiado do
rádio, ouço um baque vindo da traseira do carro e muita fumaça saindo
pela parte de cima da minha cabeça.
— Box, box, box! — Otty grita por cima do barulho estrondoso do
motor e as peças que continuam batendo em cima do carro. — A asa
móvel está deslocada, diminua a velocidade.

— Porra! — xingo algo, já sabendo quais as consequências esse


problema irá me trazer. — Caralho, Otty, que porra!
— Diminua a velocidade, Nataniel.

Após as ordens expressas, tiro o meu pé direito do acelerador e com


as mãos vou rapidamente diminuído as marchas no volante, trazendo o
carro de volta a 80km/h e entrando na reta do pit lane.

— Precisamos retirar o carro — Otty diz as palavras que eu não


queria ouvir. — Sinto muito, precisamos retirar o carro.
Aperto o botão branco no volante, deixando o carro com a
configuração e velocidade estabelecidas para entrar pela reta dos boxes e
bato a mão na direção, extremamente irritado com a merda de azar que
tive.

Estava em P2, correndo diretamente com Charles em busca da Pole, e


mesmo sabendo que nossa equipe está segura no campeonato mundial
por ainda ter um piloto em uma posição importante, me sinto um merda
por ter meu carro retirado no meio de uma corrida que estava com um
ritmo tão bom.
Quando desço do carro após os mecânicos levarem-no para dentro do
box e fecharem as portas, não tiro meu capacete. Não estou no clima
para conversar com ninguém, muito menos explicar a porra de má sorte
que acabei de ter. Otty acena a cabeça para mim, silenciosamente me
pedindo desculpas pelo erro do carro.

No fundo eu sei que a culpa não é dela, mas no momento de raiva, só


preciso extravasar e tirar essa energia de merda de dentro de mim.
— Eu sei que você quer sumir, mas preciso que entre no automático
agora. Vá até sua sala, tire o capacete, troque a blusa e me encontre no
stand de imprensa — Charlotte despeja todas as informações sobre mim
enquanto caminhamos lado a lado pelos corredores da Durant no
paddock. — Engula a raiva, você tem cinco minutos — ela grita e sai
caminhando na minha frente.

Faço exatamente o que ela me pediu, com sangue nos olhos e uma
vontade de socar a cara de alguém, vou até minha saleta onde tenho o
mínimo de privacidade antes de enfrentar perguntas inúteis de jornalistas
que sabem tanto quanto eu sobre o que aconteceu.

Abro o macacão e deixo a parte superior largada no meu quadril,


então troco a camisa antichamas por uma de modelo polo com o logo da
equipe e finalizo com o boné da última coleção de merch divulgada para
os fãs. Uma garrafa de água em uma mão e uma toalha de rosto na outra,
saio para encontrar Serguei que está me aguardando na porta.
— Ela te mandou vir me buscar? — pergunto.

O homem careca de quase dois metros de altura e mais massa


muscular que muito lutador de MMA apenas dá de ombros e responde:
— Não vou ir contra as ordens daquela mulher, apenas me siga.

Jogo minha cabeça para trás, gargalhando de ver esse homem gigante
com medo de uma mulher com menos de 1,60m de altura. Sigo
caminhando com ele até encontrarmos Charlotte pronta com dois
celulares em mãos e um repórter a sua frente, me aguardando.
A maratona de perguntas me deixa mais irritado ainda. Sem
criatividade, as mesmas perguntas de sempre e nenhuma novidade. Eu já
me sinto na corda bamba, prestes a explodir com tudo que aconteceu
hoje, não tenho paciência e nem humor para continuar respondendo as
mesmas perguntas idiotas de sempre.
“O que aconteceu na corrida?”
“O que aconteceu com o carro?”

“Como você está se sentindo por ter saído da corrida?”


Não é óbvio o bastante? Eu saí do carro e vim direto para as
entrevistas, é claro que não tenho maiores informações sobre o que
aconteceu com o carro. Estou puto da vida por ter um DNF ao lado do
meu nome no painel de pilotos, de fato.
É claro que estou com raiva.

Em determinado momento, Charlotte identifica os sinais de exaustão


que estou e começa a finalizar as entrevistas, dispensando os jornalistas
seguintes. Contudo, antes que eu possa sair dali e extravasar minha raiva,
um jornalista brasileiro faz a pergunta que fez minha vida entrar em
espiral:
— É verdade que você finalmente assumiu um relacionamento com a
advogada Luna Thomas?
Apenas semicerro meus olhos para ele, engulo em seco e fico em
silêncio. Viro meu rosto para Charlotte, sua pele antes bronzeada se torna
pálida ao ouvir a pergunta. Todo o esquema de planejamento que
fizemos para manter a notícia privada até que eu fale com Luna foi por
água abaixo.

— Sem mais comentários — Charlotte responde ao ver que eu não fui


capaz de falar nada. Não perco tempo e marcho para fora dali, saindo da
vista de todas as câmeras que cercam cada passo que eu dou.
— Mas que caralho foi esse? — exclamo para Serguei, que me
encontra no meio do caminho. — Como eles têm essa merda de
informação?
— Charlotte falou que seria um milagre ninguém vazar nada daquela
reunião. Você sabe que na Durant as paredes têm ouvido, Nataniel. Não
se faça de ingênuo.
— Preciso sair daqui, não vou lidar com isso agora — murmuro,
pegando minhas chaves e me direcionando para o estacionamento. Ouço
os passos apressados da minha publicitária chegando ao lado de Serguei,
mas opto por ignorar os dois.
— Não há como fugir, fizemos o que foi possível. Você precisa falar
com ela antes que ela ouça pela mídia, Nate.
— Ela não vai ouvir pela mídia! Foda-se essa merda toda, eu não sou
um fantoche, vou viver a minha vida como eu quiser e não vou sucumbir
as merdas de pressões que esses infelizes que colocam — grito, jogando
minha toalha de rosto longe.
Cansado. Exausto. Irado.

— Não estou culpando vocês, apenas não vou lidar com isso —
finalizo.
— Você precisa enfrentar toda essa mentira em algum momento —
ela rebate, cruzando os braços, mas mantendo uma distância segura de
mim.
Jamais iria erguer a mão para uma mulher, não fui criado assim e não
suporto agressões contra qualquer tipo de pessoa. Contudo, Charlotte
sabe que se tentar se aproximar de mim, a possibilidade de eu me fechar
ainda mais é forte.

Tenho a tendência filha da puta de fugir das minhas responsabilidades


quando me sinto encurralado. Exatamente como agora.
— Preciso sair daqui — finalizo.
Serguei suspira e se senta numa cadeira ao fundo da sala, cansado de
tentar mudar minha opinião. Ele puxa o braço de Charlotte, fazendo com
que ela fique ao seu lado e saia do meu caminho. A mensagem da minha
equipe é simples:
Faça o que quiser. Lavamos nossas mãos.

Então, eu faço o que sei fazer de melhor: ignoro tudo e todos e vou
embora.

Depois de um tempo eu perdi as contas de quantos copos de vodca eu


tomei. Ou talvez tenha sido absinto. Não me lembro da cor, nem do
gosto, nem mesmo de quando tomei a última dose.

Mas meu corpo está anestesiado. Sinto a batida da música eletrônica


vibrando dentro do meu corpo, fazendo meu coração pular junto a cada
nota alta.

As luzes piscantes machucam meus olhos, talvez minhas pupilas


estejam dilatadas demais para aguentar tantas mudanças de cores em tão
poucos segundos. Ou apenas eu esteja funcionando em uma velocidade
diferente do restante das pessoas ao meu redor.
— Vira isso!
Alguma voz conhecida fala perto de mim, e a pessoa coloca um copo
gelado entre meus dedos. John.
Ele empurra meu cotovelo levemente para cima, me empurrando a
colocar o líquido – muito amargo, por sinal – na boca. Sinto a bebida
gelada dançando na minha língua, vibrando pela minha garganta e
anestesiando ainda mais minha cabeça.
Balanço a cabeça para os lados, sacudindo o álcool dentro de mim e
me dando uma tontura familiar e gostosa.
— Acompanhado? — Uma voz suave no meu ouvido, um cheiro doce
demais nas minhas narinas, contudo, um corpo escultural nas palmas das
minhas mãos.
— De maneira nenhuma — murmuro, tentando soar firme, mas
sentindo minha voz falhar miseravelmente por causa do álcool a cada
palavra. A mulher não parece se importar, pois apenas abre um sorriso e
aproxima o corpo ainda mais do meu.
A música alta impede que eu escute o que ela tenta falar, mas não me
importo com isso. Não estou atrás de alguém para ouvir meus problemas,
e pela forma que ela me olha, tenho certeza que ela também não.
A loira busca com os olhos se há algo restante dentro do meu copo e
ao ver que se encontra vazio, abre uma expressão de decepção no rosto.
Aceno com a cabeça para John e em poucos segundos, um copo idêntico
ao meu é colocado em sua mão, trazendo um sorrido delicioso aos seus
lábios.

Ela bebe um gole, sem tirar os olhos do meu e aos poucos, aproximo
meu rosto do dela. Sinto o cheiro doce do seu perfume misturado ao
amargo da bebida em sua boca, mesmo não sendo a melhor combinação,
não me importo e apenas grudo sua meus lábios nos seus, buscando os
últimos resquícios de álcool em sua boca ao misturar nossas línguas em
uma dança sensual.
Suas mãos se apoiam no meu pescoço e lentamente ela derruba um
pouco da bebida na minha camisa, molhando a gola e fazendo um
arrepio subir pela minha coluna ao sentir o gelado em contato direto com
a minha pele.
— Ops, foi sem querer — ela ronrona perto do meu ouvido. — Talvez
possamos ir em algum lugar mais calmo e limpar essa bagunça.

As palavras que saem de sua boca são a confirmação e o


consentimento que eu precisava para apagar de uma vez toda a raiva que
estava no meu corpo durante todo o dia. Passo a língua devagar pelo seu
pescoço e grudo seu corpo ao meu, sentindo seu corpo colado na dureza
do meu pau.
Me sinto sedento para estar dentro dela, para aplacar o desespero
dentro da minha alma. Sua mão desce lentamente pelo meu abdômen e
para em cima da minha ereção, ela começa uma massagem firme e
devagar, estimulando ainda mais o tesão dentro de mim.
Ouço algumas vozes ao nosso redor, mas opto por ignorar a todos. Se
essa mulher quiser, sou capaz de comê-la no meio dessa pista de dança,
usando todos os presentes como um público curioso para a cena quente
que se tornaria o momento que eu enfiasse meu pau entre suas pernas.

Aperto seu quadril com força e ouço-a gemer em meu ouvido, mas
não consigo me concentrar no momento quando uma tontura surreal se
padece do meu corpo, tomando todo o meu controle para não cair em
cima dela.
Gentilmente tiro sua mão do meu pau, imediatamente sentindo falta
do seu contato, e afasto seu corpo do meu. Um olhar apologético é tudo
que consigo dar em resposta antes de girar sobre meus pés e correr até o
banheiro, precisando urgentemente jogar água gelada no meu rosto para
não cair como um puto bêbado no chão da balada.

Vida filha da puta.


Já não bastava a merda de dia que eu tive, ainda tive o azar de sentir o
álcool sendo um empata foda pela primeira vez na vida. Tonto, tranco a
porta do banheiro e apoio as mãos em cima do balcão da pia.
Jogo um punhado de água no rosto e olho minha aparência mórbida
pelo reflexo do espelho. Os cabelos castanhos espetados para todos os
lados com gotas de água pingando das pontas, meus olhos escuros
vidrados e com as pálpebras baixas. Os cílios pretos molhados e a boca
semiaberta, respiro com dificuldade ao sentir a pressão do meu corpo
cair a cada segundo.
Não vou fazer um fiasco. Olho meu relógio de pulso e identifico o
horário, quase cinco horas da manhã no horário de Barcelona. Sem
pensar muito, busco o celular no bolso da calça e disco o número que já
está decorado em minha mente, espero a chamada ser finalizada e a voz
delicada e sonolenta de Luna me atender:
— Você sabe que são quase cinco horas da manhã aqui também, não
sabe? O fuso-horário é o mesmo, Nataniel, que inferno! — ela resmunga.
— O que você quer essa hora?
Abro a boca para responder, mas sinto apenas a minha respiração
pesada saindo, nenhuma voz, nenhuma palavra.
— Nate? — Sua voa soa mais calma que anteriormente e eu queria
poder dizer que estou bem, mas sinto meus olhos se tornarem cada vez
mais escuros, mais pesados.
E o silêncio que se mantém na minha boca.
— Nate, você está me assustando. Onde você está?
— Luna…
— Ei, garoto, fale comigo. Onde você está?

Respiro fundo, concentrado em sua voz, sentindo meu corpo cair no


chão lentamente. Sentado, com as costas encostadas na parede imunda
do banheiro, consigo sentir minha pressão voltando ao normal.
— Acho que bebi mais do que deveria… — sussurro, não sei nem se
ela foi capaz de me escutar.
— Respira fundo, vamos, você sabe como funciona — ela fala com a
voz suave, ainda um pouco rouca por ter sido tirada da cama
abruptamente pela minha ligação. — Respira, Nate.
Faço como ela pediu, puxando o ar com força para dentro dos meus
pulmões e soltando levemente pela boca. Repito o processo enquanto
escuto suas instruções no outro lado da linha.

— Luna…
— Estou aqui — murmura. — Estou sempre aqui.
— Eu fiz a maior merda da minha vida — balbucio. — Você vai me
odiar.
Ela fica em silêncio por um tempo. Uma eternidade.
— Nada do que você faça me fará o odiar.
— Você vai, e eu sinto muito — sinto um soluço interromper minha
frase —, sinto muito. Eu sinto mesmo.
— Você está sozinho aí? — ela pergunta, preocupada.
— John.

— Isso não me deixa mais tranquila, Nataniel. — Ela bufa.


John não é realmente a melhor companhia, mas é o cara que sabe se
divertir comigo quando preciso. Sem perguntas, sem encher meu saco,
apenas me acompanha em qualquer aventura que eu esteja disposto a ir.
— Luna… eu preciso da sua ajuda — finalmente falo o que preciso,
mas não me lembro de absolutamente mais nada quando fecho os olhos e
sinto meu corpo desabar para o lado, em um sono profundo e horrível no
chão do banheiro sujo de uma balada em Barcelona.
Capítulo 6
A imagem de Nataniel ressonando baixinho na cama é de partir o
coração. Ele não é assim. Nunca foi. Nate sempre gostou de festejar e se
divertir, mas ele não costumava passar do ponto, sempre gostou de
manter o controle do seu corpo e da sua mente.
Ver ele completamente apagado após a noite anterior não é
exatamente a imagem que idealizei quando soube que ele estava
aproveitando a noite em Barcelona.
No momento que entendi a situação que ele estava naquela boate,
mesmo cansada e com sono, levantei da cama em um pulo e comecei a
organizar uma bolsa com mudas de roupas. Não pensei realmente no que
estava fazendo, apenas coloquei um par de calças de linho bege e uma
oversized T-shirt branca, alguns pares de calcinhas e meias e uma escova
de dentes. Mal tive tempo de pegar minha carteira e meu passaporte
quando ouvi Nataniel caindo no chão do outro lado da ligação.
Não queria deixá-lo sozinho, mas precisava usar meu celular para
pedir ajuda, então mantive nossa ligação conectada no viva-voz e mandei
centenas de mensagens para Serguei e Charlotte, explicando por cima o
que eu sabia que estava acontecendo e pedindo que eles fossem até ele.
O pior de tudo era simplesmente não saber onde ele estava, mas
enquanto ouvia sua respiração baixinha do outro lado da linha, sabia que
ele estava minimamente seguro.
Se ele não morrer de ressaca, eu mesma irei matar ele na manhã
seguinte.
Com um pijama de seda composto por uma calça e camisa cinzas,
minhas inseparáveis birkenstocks e uma bolsa cheia de roupas e tudo que
lembrei, corri para pegar um táxi e conseguir um voo de última hora para
Espanha.
Quando estava descendo do carro no estacionamento do aeroporto,
recebi uma mensagem de Serguei com uma foto de Nataniel ao seu lado,
seguro e dentro de um carro. Somente aí, desliguei a nossa ligação – que
já estava muda há alguns minutos –, e consegui entrar no avião com um
peso a menos no coração.
O voo era curto, em torno de uma hora e meia, e antes mesmo do sol
nascer no horizonte, já estava pousando às pressas em El Prat, pronta
para pegar o primeiro táxi que encontrasse e ir na direção do hotel que
Charlotte me enviou por mensagem.
— Como você chegou aqui? — Ouço a voz rouca e grossa de
Nataniel, ele não se mexeu ainda, continua deitado de barriga para cima
com o antebraço jogado sobre seu rosto para diminuir a claridade que
entra pelas cortinas semiabertas.

— Peguei um avião.
— Você está brava? — ele murmura bem baixinho, ainda sem olhar
nos meus olhos.

Eu sei do que ele está falando.


Quando estava correndo pelo aeroporto durante a madrugada,
algumas pessoas começaram a me olhar, apontar e sussurrar. Já estou
acostumada com cenas assim, sei que mais alguma fofoca sobre mim
provavelmente havia saído na mídia.

Eu, com certeza, não estava pronta para abrir um site qualquer de
fofocas e ver uma declaração onde Nataniel afirmava ter assumido um
relacionamento comigo. O site não parecia confiável, e as palavras que
usaram em nome dele, menos ainda, então fui buscar em outras
plataformas.

O que eu vi foi assustador.


Grupos de fãs ovacionando nosso relacionamento inexistente. Pessoas
apoiando e outras destilando ódio. Fã clubes, páginas criadas por
apoiadores de um relacionamento entre nós e outras para disseminar ódio
em tudo que havia sobre nós pela internet.

E então eu assisti a entrevista que Nate deu ao final da corrida, onde


um jornalista afirma que estamos juntos e ele entra em desespero,
Charlotte encerrando a sessão e o clássico:

“Quem cala, consente.”


Então eu sei que Nataniel está completamente ciente de tudo que está
rondando a mídia, mas ao contrário do que ele pensa, eu não estou brava.

— Por qual motivo? — Ergo a mão e dou um tapa estalado em sua


perna bronzeada que estava saindo por baixo do lençol branco da cama
do hotel. — Talvez porque você se embebedou como um louco ontem à
noite e quase me fez ter um ataque do coração…
— Não seria a primeira vez — resmunga, tirando o braço de cima do
rosto.

— Ou talvez porque eu acabei de descobrir que estamos em um


relacionamento?

O moreno pula da cama em menos de um piscar de olhos, se senta


com as costas apoiadas na cabeceira e me encara com os olhos inchados.
Talvez ele não tenha pensado racionalmente na ação, pois antes de
responder, faz uma careta e apoia as mãos em sua testa, pressionando os
dedos em uma forte enxaqueca.

— Tem algum remédio por aqui? — pergunta, ainda de olhos


fechados.

Respiro fundo e me levanto da cadeira, apoiando meu corpo no


colchão e segurando a mão dele.
— Quando ia me falar?

— Amanhã… ou hoje, não sei que horas são.

— Nate… — Não fico brava pela omissão, mas me sinto responsável


por censurá-lo como uma criança pequena.

Ele abre os olhos e me encara com intensidade, olhando por longos


segundos para o meu rosto. Nataniel abre um sorriso dolorido e faz mais
uma careta.

— Eu vou comprar remédios e algo para você comer, mas me


prometa que vamos conversar sobre o que quer que você tenha
inventado.

— Sabe que mantenho minhas palavras, Luna. Vamos conversar, eu


só preciso não estar morrendo para poder falar.
— Ou para estar bem o bastante para que eu precise te matar de novo?
— brinco com ele, arrancando mais um sorriso de seu rosto bonito.

Respiro fundo e saio da cama, deixando-o deitado curtindo sua


ressaca mortal enquanto vou até a farmácia mais próxima e compro
algumas coisas que podem fazê-lo se sentir um pouco menos pior.

Saio do hotel e caminho pela Passeig de Gràcia, uma das maiores


avenidas da cidade e em poucos metros encontro uma pequena loja de
conveniência que parece ter tudo que preciso.

Ao entrar sou recepcionada por uma música ambiente, poucos clientes


e um ambiente agradável. Consigo encontrar remédios para dor de
cabeça, um isotônico e algumas frutas em poucos minutos, mas ao
chegar no caixa, me deparo com pelo menos três jornalistas plantados
como estátuas na saída do estabelecimento.

— A senhorita precisa de mais alguma coisa? — A moça do caixa me


pergunta, consideravelmente preocupada em ver a multidão que começa
a se formar no lado de fora da loja.

— Obrigada, mas estou bem — respondo, pagando as compras e


pegando a sacolinha de papel que ela me entrega. Respiro fundo algumas
vezes antes de sair pela porta e me deparar com câmeras apontadas para
o meu rosto, microfones sendo estendidos na minha direção e uma
comoção de pessoas formando um círculo ao meu redor.
— Você está aqui para acompanhar Nataniel?

— Vocês estão hospedados no Mandarin Oriental?

— Há quanto tempo a amizade se transformou em relacionamento?

— Nataniel foi visto com diversas mulheres nos últimos meses, você
sabia disso?

Com certeza, se estivéssemos realmente namorando, essa seria uma


ótima maneira de criar uma crise entre o casal. Mas não me dou ao
trabalho de responder todas as inúmeras e repetidas perguntas, apenas
abraço a sacola rente ao peito, abaixo a cabeça e caminho a passos
rápidos de volta ao hotel.

Tento a todo o custo não me importar com as especulações que fazem


ao meu respeito ou a total invasão de privacidade que sinto quando todos
eles me seguem de perto até a proximidade do hotel.

Não noto que estava prendendo a respiração até o momento que dois
seguranças do estabelecimento se aproximam para tirar a multidão de
imprensa da minha volta, criando um casulo entre mim e todas as
câmeras até que eu possa estar caminhando em segurança para dentro
das portas de vidro da recepção, e então, finalmente soltando a minha
respiração.

Assim que consigo me livrar da sensação de exposição e assédio que


senti por todo o caminho até o hotel, agradeço rapidamente aos homens
que me ajudaram e sigo meu caminho até as portas metálicas do
elevador. Com as mãos trêmulas, pressiono o andar do quarto de Nate e
assim que chego em frente à porta, passo o cartão magnético e entro
apressada.

— O que houve? — Nate fala comigo, mas apenas fecho meus olhos
e encosto minhas costas na madeira gelada, respirando fundo algumas
vezes para retomar o controle do meu corpo. — Luna, fala comigo!

— Imprensa — consigo balbuciar, sentindo meu corpo tremer pelo


choque de adrenalina que senti em tão pouco tempo.

— Fizeram algo com você? — Sua voz soa mais próxima de mim. —
Está machucada? — Sinto os dedos gelados acariciarem minhas mãos,
subindo pelos meus braços e ombros, tentando garantir que estou inteira.

— Estou bem, foi apenas um susto — murmuro e abro meus olhos,


mas não estava preparada para a visão que estava em minha frente.
Nataniel em toda sua glória havia acabado de sair do banho, uma
toalha enrolada em seu quadril expondo os gominhos de músculo em seu
abdômen perfeito. Os cabelos molhados pingando em seu rosto e os
olhos castanhos umedecidos após a ducha.

Era a visão do paraíso em meio ao inferno.

— Por que você não está vestido? — pergunto na defensiva, ele me


pegou totalmente desprevenida.

— Você chegou no exato momento que saí do banheiro, não deu


tempo. — Ele dá de ombros e abre um sorriso de canto. — Você não me
respondeu, o que fizeram com você?

Finalmente me lembro de toda a situação de merda que passei há


poucos minutos então me ergo da porta e caminho a passos pesados até a
cama, onde me atiro de barriga para baixo e enfio o rosto em um
travesseiro.
— O que você falou sobre nós, Nate? — Minha voz soa abafada pelo
tecido macio, mas sei que ele me escuta, pois escuto seus passos
próximos de mim junto ao som de tecido.

Ergo levemente os olhos e vejo o momento em que ele passa uma


camiseta preta pelos ombros, me tirando completamente a visão do
abdômen perfeitamente esculpido.
— Promete não me matar?

— Tome os remédios enquanto isso, não prometo nada.


Nate semicerra os olhos para mim e se mantém em silêncio enquanto
toma os remédios que estavam dentro da pequena sacola de papel, e em
um gole enorme, quase finaliza o isotônico que trouxe para ele.
Ele volta até perto da cama e se senta no canto do colchão, puxando
meus pés para seu colo e apertando as laterais em uma massagem
relaxante.
— Essa é sua ideia de me comprar? — balbucio, os olhos fechando
com a sensação deliciosa dos seus dedos em minha pele.
Ouço ele respirar fundo por alguns segundos antes de começar a
finalmente falar:

— Na reunião com os sócios da equipe, eles me pressionaram mais do


que eu imaginava possível. Inclusive, Ocean foi a chave em todo aquele
circo que montaram.

— Pensei que você e Ocean eram próximos — falo.


— Somos. Mas amigos, amigos e negócios à parte. — Nataniel dá de
ombros, voltando a olhar para mim e pensando em suas próximas
palavras. — O problema é que entre uma ameaça e outra, eu falei que
estávamos namorando.
Arregalo os olhos, preocupada com o rumo das coisas.
— Espera, eles te ameaçaram? — Minha voz sai mais alta do que
pensei, o que faz com que ele se volte para mim e pare a massagem em
meus pés.

— Você só ouviu essa parte? — ele murmura, entortando a cabeça


para o lado.
— Não, eu ouvi o resto, mas eles não poderiam te ameaçar, Nataniel.
Isso é quase um assédio moral!
Ele solta uma risada e volta a massagear meus pés, ignorando minha
preocupação iminente com seu bem-estar jurídico.

— Não, me expressei mal. Apenas colocaram as cartas na mesa e me


deram um ultimato com relação a minha vida pessoal se tornar tão
pública e cheia de fofocas. Então, para evitar que tentassem me enfiar em
uma espécie de “recolocação” na sociedade, com dezenas de regras e
passos a seguir, eu apenas comuniquei que nada seria preciso, afinal, nós
dois havíamos acabado de assumir nosso relacionamento.

Fico em silêncio.
Eu não sou ingênua, já tinha uma breve noção de que isso estava
acontecendo. Mesmo que sim, eu esteja quase todas as semanas no
furacão que é a internet, na grande maioria das vezes são apenas fofocas
e deduções sobre uma ou outra aparição que eu tenha feito com Nataniel.
E nos últimos dias a situação tomou uma proporção muito maior do
que eu jamais imaginava e a gota d’água foi há poucos minutos na rua do
hotel.
— Você mentiu para todo mundo? — Encaro-o por alguns segundos.
— Isso é tão errado.
— Sim, é errado, mas então, o que me diz? — pergunta em
expectativa, no entanto, tudo que passa pela minha cabeça é um filme da
Luna adolescente fazendo o impossível para esquecer a paixonite pelo
melhor amigo.

Hoje não consigo vê-lo de outra forma, mas tenho medo que com um
namoro de mentira as coisas possam voltar a serem como eram antes.
Tenho total controle sobre a forma que me sinto com relação a Nate, mas
as vezes não sei se tenho o mesmo controle com relação a mim.

— Não podemos fazer isso, é loucura.


— O problema é que para todos, nós já estamos. — Ele dá de ombros,
concentrado demais em massagear os meus pés e fugir do meu olhar
inquisidor.
— Meu deus, garoto, onde foi que você me meteu? — Coloco as duas
mãos no rosto, tentando inutilmente fugir da realidade. — Faz todo o
sentido a atenção desenfreada que ando tendo nos últimos dias, mas
pensei que fosse somente mais uma fofoca.
— Eu não falei nada publicamente ainda, consegue imaginar como
vai ser? — Ele arregala os olhos e sacode o corpo para os lados, como se
estivesse espantando algo. — Charlotte disse que ia segurar a informação
até que eu pudesse conversar com você, mas sabemos como as fofocas
rolam soltas.
— Estou sendo assediada por fotógrafos e jornalistas sobre um
namoro que você não confirmou?

— Basicamente — confirma.
Abro a boca para contradizer mais uma vez a ideia estúpida que ele
teve, mas não tenho a oportunidade pois ele logo complementa:

— Não posso apenas negar isso, a mídia é o de menos no momento.


Eu confirmei para Joshua e Dave, sweetie, seria completamente
irresponsável da minha parte negar algo depois de jurar na cara deles.
Semicerro os olhos para ele.
— Consegue ver a ironia disso?

Desfiro um tapa suave em suas mãos, fazendo com que ele pare de
mexer em meus pés e junto as pernas em posição de índio. Ele vira o
rosto para mim, os cabelos castanhos caindo levemente em seus olhos e
os cílios grossos adorando os orbes castanhos brilhantes.
O desgraçado é bonito. E eu me odeio por pensar isso.
— Se vamos fazer isso, precisamos de regras — falo e ergo a mão em
sua frente, sinalizando o número um. — Primeiro, é tudo mentira.
— Isso já está bem claro — murmura, mas o interrompo.

— Segundo, nada de contato íntimo. — Ergo o segundo dedo, mas ele


segura minha mão entre as suas e me puxa para perto de si, depositando
um beijo delicado em meus dedos.
— Nós dois sabemos como isso vai ser, Luna. Tudo é apenas uma
encenação para o público, nada entre nós irá mudar. Continuaremos
exatamente da forma que sempre fomos, eu prometo — diz.
— Você não pode prometer isso. — Pisco os olhos rapidamente,
disfarçando o aperto que senti em minha garganta após ouvir suas
palavras.
— Eu prometo tentar, prometo te proteger de toda a confusão que é
minha vida e prometo fazer o impossível para você se sentir bem nessa
situação.
— Posso aceitar isso. — Abro um sorriso para ele.

Nataniel puxa minhas mãos ainda mais e me abraça, me fazendo


enterrar o rosto em seu peitoral coberto pela camiseta de algodão que ele
colocou há alguns minutos. Seu cheiro amadeirado entrando nas minhas
narinas e preenchendo meus pulmões é o que me tranquiliza. Mesmo
sabendo que estamos entrando num caminho desconhecido e cheio de
incertezas, saber que ele estará comigo a cada passo do percurso me
deixa relaxada.
Afinal, Nataniel é minha casa, independentemente de qualquer coisa.
Capítulo 7
— Está me convidando para que nos vejam juntos?
— Desde quando preciso provar algo para alguém, Luna? — Nate
rebate meu mau humor.
Desde que voltamos de Barcelona as coisas parecem estar entrando
em um rumo bom entre nós. Nada realmente mudou depois que as
fofocas se tornaram ainda mais fortes sobre nosso relacionamento, mas
às vezes me pergunto se Nataniel só está saindo comigo para aparecer
em público.
É bobagem da minha cabeça pensar isso, contudo a insegurança que
bate dentro do meu peito é forte demais. Eu me forço diariamente a não
deixar que sentimentos do passado voltem, e com isso acabo me
tornando a pessoa mais mal-humorada possível.
No escritório todos pareciam já estar sabendo do suposto namoro
entre nós dois, pois depois que voltei de viagem as constantes fofocas
sobre mim apenas aumentaram. Talvez somente eu que não tenha visto o
que estava tão claro na minha frente.
— Desculpa, não estou no melhor dos humores.

— Respira, sweetie. Somos nós dois apenas, vamos aproveitar esse


dia incrível e esquecer dos problemas.
Nate me segura pelos ombros e se aproxima de mim em uma tentativa
de me acalmar, mas acaba tendo o resultado totalmente oposto quando
sua pele bronzeada parece exalar calor perto da minha. O torso desnudo
coberto levemente por pelos escuros faz um contraste incrível com a
bermuda azul claro que ele usa. A aparência confortável e confiante que
ele mantém é demais para o meu coração. Sinto minha pele arrepiar pelo
toque quente de seus dedos em meus ombros, mas rezo para que ele
pense ser apenas por causa da brisa do mar às minhas costas batendo em
meu corpo coberto pelo biquíni branco estampado com pequenos limões.
— Repete o combinado — ele pede, colocando as esferas castanhas
fixas em mim.

— Nunca tirar o colete salva-vidas. Nunca pular do barco sem


autorização.
Ele estreita os olhos para mim, esperando que eu repita a última regra
ridícula que ele criou para que possamos andar de lancha pela costa
monegasca.
— E por último… — incentiva que eu termine de falar.
— Me divertir.
— Se divertir! — ele grita, abrindo um sorriso carinhoso para mim
antes de me puxar ainda mais e agarrar minhas pernas, colocando-me em
segurança dentro da lancha que está ancorada ao nosso lado na marina de
Monte Carlo.

É estranho ver esse lugar vazio em um final de semana, estou


acostumada a vir somente quando há algum evento ou o Grande Prêmio
de Mônaco, então ter a imensidão azul do mar somente para nós dois é
um privilégio.

Nataniel possui muitos bens, e como todo homem apaixonado por


velocidade, conta com uma frota incrível de carros, barcos, motos e
todos os tipos de automóveis disponíveis. Quando me ligou antes do
amanhecer me convidando para passar o dia em alto-mar, não pensei
duas vezes antes de levantar da cama e arrumar uma bolsa com o
essencial para um dia navegando pelas águas cristalinas da costa de
Mônaco.

O moreno se acomoda em frente ao leme e liga o motor, deslizando


com maestria para mar adentro. O sorriso estampado em seu rosto mostra
como se sente feliz em estar desfrutando de um momento como esse.
— Como está se sentindo com tudo isso? — Nate fala um pouco alto
por cima do barulho da embarcação batendo contra as pequenas ondas do
mar.

Dou de ombros, mas lembro que ele não está me olhando então
respondo em voz alta:
— Nada mal, esperava que seria pior.

— Eu prometi que faria de tudo para que essa situação tivesse o


menor impacto possível na sua vida.

— Ainda é cedo para termos uma conclusão, mas por enquanto está
tudo bem.
Ele desvia o olhar rapidamente da frente do barco e me olha de canto
de olho.
— Por que eu sinto que você está reticente demais com isso?

Porque eu tenho medo de me apaixonar por você, Nataniel.


Mas não é o que eu digo.

— Eu não gosto de mentiras. — É uma meia verdade, eu realmente


não gosto de mentir e ele sabe disso, por isso apenas acena com a cabeça
e volta a olhar em frente.

— Sabe, se você se sentir sufocada, nós acabamos com isso antes


mesmo de começar.

— Não, vamos ir até o fim — afirmo, mesmo sem ter certeza que meu
coração estará intacto até o final disso. — Por falar nisso, você não
pretende me fazer de corna durante nosso “namoro”, não é?

— Ciúmes, sweetie? — O sorrisinho cafajeste estampado em seu


rosto quando ele solta o leme e se vira para mim, caminhando a passos
certeiros e lentos na minha direção.
Me sinto a presa na visão do caçador, mas sei que Nate não me vê
com esses olhos, então apenas levo na brincadeira como sei que ele
também está levando.

— Meu pobre coração não vai aguentar ser a traída da relação. —


Mais uma vez, uma meia verdade, mas dessa vez ele sabe que não estou
falando totalmente a verdade, pois apoia ambos os braços nas barras de
metal que circulam a lancha atrás de mim, me prendendo entre seu
abraço e o barco.

Nataniel abaixa o rosto, sua respiração batendo com força em minha


pele, seu cheiro amadeirado e cítrico se misturando ao ar que inspiro
com força para dentro dos pulmões.

— Podemos tornar essa relação mais verdadeira, assim, não corremos


o risco de nenhum de nós sair machucado — sussurra, a voz grossa bem
perto do meu ouvido.

— Como assim?

Ergo o queixo e sinto seus lábios cada vez mais pertos do meu,
perigosamente pertos. Nataniel passa a língua neles, umedecendo a boca
antes de acordar de um transe e responder:

— Nada, pequena. Esquece o que falei, vamos aproveitar o mar. —


Sei que ele desviou do assunto. Ele sabe que desviou do assunto.
De qualquer forma, nossa conexão é forte demais para voltarmos ao
assunto agora, então estendo a mão para ele que me puxa em direção a
popa da lancha.

— Prende a respiração!

Antes que eu possa pensar muito, ele segura meu quadril com suas
mãos e pula no mar comigo em seu colo, a água gelada cobrindo meu
corpo e arrepiando até os pequenos fios de cabelo encharcados do mar.
Mesmo depois que afundamos, ele não me soltou, continuou com as
mãos abraçadas ao meu quadril. Voltamos juntos a superfície em busca
de ar, nossos corpos colados um no outro.
— Se você me deixar afundar, eu te mato, Nataniel.

— Jamais deixaria, garota. — Ele deposita um beijo na minha testa e


me olha com intensidade, mais uma vez aquele mesmo clima de minutos
atrás voltando entre nós.

Abro a boca, soltando a respiração que não havia notado que estava
prendendo, os olhos dele atraídos com rapidez pelos meus lábios e seus
olhos fixos na minha boca.

Por um segundo eu penso que ele irá me beijar.

Mas então, ele solta uma das mãos da minha pele e passa nos seu
cabelos castanhos, bagunçando os fios molhados e respigando água em
meu rosto, me fazendo fechar os olhos e quebrar o contato visual.

Quando abro meus olhos novamente, Nate continua me olhando, um


sorriso carinhoso estampando o rosto bonito. Não sei por quanto tempo
ficamos os dois apenas boiando juntos na água azul, sentindo a leveza
dos nossos corpos, relaxando a mente e aproveitando a companhia um do
outro.

O tempo ao lado dele parece parar completamente.

Mas infelizmente, nem sempre podemos esquecer quem ele é de


verdade, sua vida pública faz questão de aparecer até mesmo nos
momentos que menos esperamos. Quando estamos prestes a subir na
popa da lancha novamente, somos abordados por dois homens dirigindo
jet-skis. Eles nos cercam e gritam o nome de Nataniel, pedindo por fotos
e autógrafos. Não sinto raiva, sei que faz parte de quem ele é, mas não
deixa de ser uma situação extremamente desconfortável de vivenciar.
Nataniel, como sempre é a pessoa mais solícita que conheço, acena
com a mão para os novos visitantes, mas logo me ajuda a subir na lancha
para evitar qualquer perigo pelos jet-skis tão perto de nós.

— Estamos no meio do mar, podem nos dar um pouco de


privacidade? — meu amigo grita sobre o barulho dos motoros em
direção aos seus fãs.

Não pensei que fosse surtir efeito, mas os homens apenas acenam
com a cabeça e seguem o caminho para longe da lancha. Nate volta a me
encarar com um olhar de desculpas no rosto, contudo, apenas ergo o
braço e aperto sua mandíbula.

— Sei quem você é, Nataniel Taylor. Nunca se desculpe por ser quem
é.

Ele abre um sorriso e caminha para o centro da lancha, buscando em


nossas mochilas duas toalhas fofinhas e macias. Ele volta para perto de
mim e passa o tecido felpudo pelos meus ombros, mantendo meu corpo
molhado um aquecido contra o vento do oceano.

Somente depois de ter certeza que estou seca e segura, ele volta a
pegar a outra toalha e passa a secar o seu corpo, tendo o cuidado de me
fazer sentir bem antes de cuidar de si mesmo.

E mais uma vez, meu medo de me apaixonar pelo meu melhor amigo
volta a tomar conta de mim.
Capítulo 8
Nataniel foi para Miami no meio da semana.
Minha vida foi tão corrida nos últimos dias que mal consegui falar
com ele, ou com ninguém. Minha mãe me ligou pelo menos umas cinco
vezes, mas ainda não consegui retornar sua ligação. No escritório parece
que cada vez mais tentam me desafiar, me passando casos impossíveis e
completamente fora da minha alçada profissional.
Eu não desisto fácil. Continuo dando o meu melhor para vencer cada
um deles, mesmo que para isso eu precise trabalhar durante todo o final
de semana, sem folga, sem tempo para nada.
Só me lembrei de comer porque Nataniel enviou algumas comidas
pelo aplicativo de comida. Como não liguei de volta durante os dias de
treino e qualificatória, ele se preocupou e enviou alguns mimos durante o
dia. Cada entrega vinha com alguma mensagem diferente.
“Ocupada demais para um cupcake?”
“Nenhum advogado jamais ganhou uma causa enquanto passava
fome.”
“Enquanto você não me ligar de volta, vou continuar mandando
comida.”
Foram tantas mensagens – e tanta comida – que perdi as contas depois
da quinta entrega.
Na noite anterior consegui parar por alguns minutos para acompanhar
a corrida e comemorei em silêncio com um belo pedaço de torta –
enviada por Nate – quando ele conquistou uma linda vitória no Grande
Prêmio de Miami. Merecida e fabulosa. Ele estava incrível em cima
daquele pódio, jogando champanhe em Charles e em outro piloto que
havia conquistado o terceiro lugar. A festa parecia não ter fim na equipe
Durant com seus dois pilotos conquistando uma vitória na mesma
corrida. Infelizmente não pude ligar para comemorar com ele, pois
segundos depois que desliguei a televisão, recebi uma ligação
extremamente importante do procurador responsável pelo caso que estou
trabalhando e ficamos horas tentando encontrar um meio termo no
processo. A madrugada de domingo mais uma vez foi a minha fiel
companheira em uma noite cheia de trabalho e problemas para serem
resolvidos o quanto antes.
Naquela segunda-feira eu realmente não pensei muito antes de sair de
casa, a noite foi tão intensa de trabalho que acordei em cima da hora e
precisei sair correndo para não me atrasar ainda mais no trabalho. Na
atual situação que estou no escritório, o que menos preciso são motivos
para falarem ainda mais das minhas funções ali dentro.
Quando bato a porta de casa ao sair noto uma caixa quadrada ao lado
da minha entrada, provavelmente alguma encomenda que eu tenha feito
online há algumas semanas, mas não tenho tempo de ver os dados do
remetente, muito menos de ver o conteúdo da caixa. Apenas deixo-a ali e
corro para fora do apartamento o mais rápido que minhas pernas
dormentes permitem.
Entro apressada pelas portas de vidro do prédio do escritório, mas não
deixo de notar o olhar de algumas pessoas sobre mim. Já estou quase me
acostumando com a atitude delas, mas não deixa de ser muito
desagradável.
Dentro do elevador enquanto subo para meu andar, pego meu telefone
e noto algumas chamadas perdidas da minha colega de trabalho, Melissa,
mas não tenho tempo para retornar a ligação quando as portas se abrem e
encontro meu chefe de braços cruzados em frente a porta do meu
escritório. É realmente exaustivo trabalhar dobrado e ainda não ter
reconhecimento algum de tudo que faço pela empresa. No entanto,
engulo as reclamações e entro na sala em silêncio, sendo seguida de
perto por ele.
— Motivo importante para o atraso? — ele pergunta, já dentro do
meu espaço pessoal, completamente desagradável e desconfortável. —
Espero que sim, no entanto, não importa. Preciso que você me entregue o
relatório dos últimos dois casos que finalizou no mês anterior.

— Claro, qual o prazo? — Começo a anotar na minha agenda para


providenciar os documentos o mais rápido possível essa semana.

— Horário do almoço — ele diz, a voz fina entrando nos meus


ouvidos como balas de uma pistola.
Eu devo ter dormido demais, pois seria impossível uma tarefa como
essa em menos de dois dias.

— Hoje?

— Em vez de fazer perguntas idiotas, por que não começa a


trabalhar? — Ignorante, ele cruza os braços e me encara com desdém.
— Esse tipo de relatório é preciso no mínimo dois dias para agrupar
os documentos…
— Mais desculpas, Srta. Thomas? Devo lembrá-la que não fazemos
caridade neste escritório? Todos que estão aqui, estão porque merecem.
Faça o seu trabalho corretamente e não teremos problemas.

Minha vontade é simplesmente pegar o grampeador preto de ferro que


está organizado em cima da minha mesa e jogar com força na cabeça
dele. Quebrar seus dentes em migalhas e puxar todos os cabelos brancos
de sua cabeça, deixando-o calvo e com a aparência de um zumbi.
Balanço a cabeça para os lados e descarto os pensamentos homicidas,
concentrando mais uma vez a minha atenção em cima do meu chefe. A
pessoa que mais parece que odiar no mundo. Contudo, opto por não criar
mais problemas por hoje e apenas concordo, dispensando seu olhar de
superioridade e me sentando em frente ao computador, pronta para
arregaçar as mangas e trabalhar.
Fazer em menos de quatro horas um trabalho de dois dias inteiros.

Antes de iniciar a busca por todos os arquivos, opto por desligar meu
celular para não ter problemas de concentração, afinal, cada segundo é
precioso para que eu consiga entregar tudo isso ao meio-dia.

Começo a pesquisar tudo que preciso no computador, mas logo ele se


torna apenas uma ferramenta secundária, já que preciso ir até o arquivo
físico do escritório para buscar toda a papelada dos últimos casos que
finalizei. No caminho até a pequena sala ao fundo do prédio, mais uma
vez sou vítima de olhares e cochichos, cada vez mais fortes.

Em determinado momento, um dos estagiários que trabalha no meu


setor simplesmente estende o celular na minha frente e bate uma foto
minha saindo do almoxarifado com os braços cheios de papéis.

Não querendo prolongar a falta de privacidade, apenas abaixo minha


cabeça e volto a passos apressados para minha sala, sem erguer o rosto
para mais e mais fofocas e cochichos na minha direção. A atitude do
estagiário certamente será analisada depois pelo RH da empresa, no qual
eu farei questão de fazer uma queixa sobre o ocorrido.

As horas passam voando e como esperado, não consigo finalizar até o


horário esperado pelo meu chefe, mas como não recebi mais nenhuma
visita surpresa dele, tenho certeza que desistiu de tentar me colocar em
ordem.

Quando todos os funcionários começam a desligar suas luzes e deixar


o prédio, noto que o horário de expediente já se passou em alguns bons
minutos, mas como estou perto de terminar tudo, opto por fazer algumas
horas extras.

Ao assinar a penúltima folha do último arquivo, a porta da minha sala


é aberta e Melissa entra afobada, os cabelos presos em um rabo de cavalo
baixo e seus inseparáveis macacões jeans cobrindo seu corpo cheio de
curvas.

— Por que não me atendeu?

Volto a olhar para os papéis na minha mesa, terminando de assinar as


folhas e grampeando-as todas juntas enquanto respondo-a:

— O que você acha?

— Ele te pediu o impossível de novo?

Aceno com a cabeça, mas não tenho certeza se ela viu, contudo,
escolho finalizar o trabalho e colocar todas as folhas dentro de uma
pasta. Mel fica em silêncio, mas sei que continua na minha sala porque
ouço seus dedos teclando com força no celular em suas mãos.

— O que você precisava? — pergunto.

— Que você olhe a porcaria do seu celular! — ela grita, atraindo


minha atenção. — Vamos, olhe!

Franzo as sobrancelhas, mas pego o aparelho e clico no botão para


ligar novamente. Os segundos que se passam parecem intermináveis
enquanto ouço os pés da garota batendo com força no chão da sala.

— O que aconteceu?

Ela estende as duas mãos em frente ao seu corpo, apontando para o


aparelho que finalmente tomou vida em minhas mãos. A iluminação da
tela brilha ao entrar centenas – se não milhares – de notificações
atrasadas. Abro a primeira mensagem, uma de Mel, onde um link para
um site externo se encontra. Clico e espero que o navegador abra a
página, que para uma total surpresa de zero pessoas é um site de fofocas.

As manchetes estão um pouco confusas, mas consigo identificar um


vídeo escuro com vultos que aparentam estar em uma boate.

— Assiste essa merda, Luna!


— Ok, ok, calma.

Dou play no vídeo.


Não queria ter visto o que vi.

As imagens estão escuras e sem foco, mas é possível ver a silhueta de


Nataniel ao fundo de uma festa, luzes estroboscópicas iluminando
precariamente o ambiente e o som alto explodindo pelos alto falantes. O
vídeo é curto, não passa de dez segundos, mas nele é possível ver o
momento em que Nate puxa uma garota pelo braço e a abraça em sua
frente, enterrando o rosto no pescoço dela.

Nesse momento me sinto pálida, minha pressão baixa e me obrigo a


desligar a imagem da tela do celular e encarar minha amiga, que me olha
com uma expressão de pena.

Acho que esse é um dos principais motivos pelo qual não queria
embarcar nessa história de namoro de mentira. Eu sabia que ele não
mudaria da água para o vinho e também sabia que eu sairia como a corna
da relação. Não me admira que eu tenha sido alvo de tantos olhares
durante o dia inteiro no meu trabalho.

— Você está bem? — Mel pergunta com a voz suave, acho que
sentindo tanta pena de mim que não consegue formular uma frase
melhor.

Como dizer que ele é livre para fazer o que quiser, se estamos
supostamente namorando? Como dizer que conheço meu melhor amigo,
sei que ele jamais teria feito o que fez se soubesse que correria o risco de
ser filmado? Como dizer que me sinto péssima apenas pelo fato de saber
que terei meu rosto estampado em mais fofocas por um motivo que nem
ao menos é verdade?

Apenas concordo com a cabeça e peço licença, indubitavelmente


necessitando ficar sozinha e resolver esse problema gigante que Nataniel
colocou no meu colo. Assim que Mel sai da minha sala, rapidamente
organizo os papéis que precisei trabalhar como uma condenada o dia
inteiro e pego minhas coisas, correndo para fora do prédio e em direção
ao meu carro ao mesmo tempo em que tento ligar para Nate.

Como imaginado, o telefone dele está ocupado.


Muito provavelmente está recebendo ordens da equipe sobre alguma
forma de resolver esse escândalo sem maiores prejuízos.

Meu carro parece voar pelas ruas antigas de Mônaco e antes que eu
consiga entrar na minha garagem, vejo a chamada que recebo com o
nome do meu amigo na tela. Atendo a ligação pelo viva-voz enquanto
chego no apartamento e estaciono o carro na vaga.
— Em uma nota de 0 a 10, quão brava você está? — ele responde
meu “oi” direto com uma pergunta.

— Não estou brava, só quero saber como vamos resolver isso.


— Antes de qualquer coisa, eu não fodi a garota, Luna. — Sua voz
soa séria como há muito tempo eu não ouvia. — Foi um descuido meu
me aproximar tanto de alguém, mas eu te prometo que não houve nada
entre nós dois.

— Você não precisa explicar isso — digo.


— Preciso. — Ele é categórico em sua resposta. A voz brincalhona
some completamente quando ele começa a falar sobre toda a situação. —
Eu prometi que não iria te colocar no meio desses problemas, e eu não
coloquei, mas entendo que aquelas imagens valem mais do que minha
palavra.
— Para mim, nada vale mais que sua palavra, Nate — me vejo
murmurando as palavras que parecem gritar dentro do meu coração. Eu
confio minha alma nesse cara, não será um vídeo escuro divulgado por
alguma pessoa de má fé que me fará duvidar dele.
Não costumo confiar nas pessoas, especialmente por causa do meu
trabalho e da quantidade de mentirosos que preciso lidar diariamente,
mas confio de olhos fechados no meu melhor amigo. O único que nunca
fez absolutamente nada para que eu tivesse receios ou dúvidas de sua
conduta.
Ao sair do elevador no meu andar, caminho a passos lentos até a porta
da minha casa, encontrando a esquecida caixa no chão em frente a porta.
— Isso significa que vamos continuar o combinado? — ele pergunta
depois de alguns segundos em silêncio.

Apenas murmuro um som de concordância e apoio o celular entre


meu ombro e meu ouvido ao me abaixar para analisar com cuidado a
caixa. Ao olhar um único adesivo, vejo o nome de Nataniel estampado
no remetente.
— O que você me enviou? — pergunto, buscando a chave de casa
para abrir a embalagem.

— Do que está falando? — Ele parece confuso.


— Recebi uma caixa e tem o seu nome como remetente. Estou
abrindo agora. — Ao tirar a fita adesiva do topo, com as duas mãos abro
as laterais da caixa.
— Eu não mandei nada, Luna. — Eu deveria ter deixado de lado a
minha curiosidade no momento que Nate falou essas palavras, mas
continuei em busca do conteúdo surpresa ali dentro.
Não são somente as flores negras que me assustam quando vejo o
conteúdo da encomenda.

É o combinado do significado da coroa de flores envolta por uma


enorme faixa branca com as palavras “RIP Luna Thomas” junto a um
pedaço de papel com pedaços de letras de recorte formando a frase:
“Se você não for minha, não será de ninguém.”
— Fala comigo, Luna! — Nate fala alto do outro lado da linha quando
fico em silêncio observando o que recebi. Não tenho realmente noção do
que está acontecendo, mas quando mando uma foto para ele do conteúdo
da caixa e espero ele visualizar, apenas falo:
— Acho que fui ameaçada de morte.
Capítulo 9
A respiração dela se torna pesada do outro lado da ligação, Luna
parece prender o ar algumas vezes e depois soltar com força pelos lábios.
Ela não vai admitir o quanto está assustada com a situação, conheço ela
bem demais para saber disso. Principalmente por ser uma advogada
ilustre que lida com todos os tipos de pessoas diariamente, ela vai fingir
ao máximo que tem a situação sob controle.

— Posso pedir algo? — pergunto, uma ideia surgindo na minha


cabeça enquanto isso. Ela solta um som de concordância através da
chamada e eu continuo falando: — Deixe tudo exatamente como está,
não mexa em nada, não entre em casa. Vá para o meu apartamento e me
espere lá.

— E ficar trancada lá, fazendo a vontade dessas pessoas?


Respiro fundo, tentando controlar minha paciência com a teimosia
dela.
— Pode, pelo menos uma vez, me deixar cuidar de você?
As palavras saem mais rápido do que o esperado, mas sei que tiveram
o efeito que eu queria, afinal, Luna fica quieta por alguns segundos antes
de me responder com a voz mais calma.
— Tudo bem, te espero em casa, garoto.
— Boa menina! Sinta-se em casa e fique calma, vou lidar com o que
quer que seja essa porcaria que você recebeu.

Depois que confirmo alguns detalhes logísticos com ela, desligo a


chamada e volto meus olhos para a dupla sentada a minha frente.
Charlotte conectada a um tablet nas mãos e um celular pendendo em seu
ombro, falando apressadamente e digitando ainda mais rápido, em seu
full operational mode, enquanto Serguei analisa algumas páginas de sites
de fofocas pelo notebook, em busca de qualquer dica sobre o possível
remetente dessa porcaria de ameaça.
Muito provavelmente é apenas um fã que passou dos limites e quis
assustar a nós dois, mas depois de tantos anos nesse universo, aprendi
que ser meticuloso e não dar margens para erros é sempre a melhor
solução.
Olhando minha equipe trabalhando ao máximo para desvendar um
mistério antes mesmo que eu pudesse passar informações cruciais, me
faz agradecer mais uma vez por ter encontrado as duas pessoas mais
incríveis para trabalhar junto a mim,

Não poderia haver pessoas mais engajadas e prontas para resolver os


mais estranhos pedidos, foi realmente uma honra esbarrar com a dupla
quando ainda estava começando minha carreira dentro da Fórmula.
— Não há nada em nenhum site ou fórum — Serguei diz, os olhos
fixos na tela.
— A denúncia já foi feita e a perícia vai até o apartamento recolher as
amostras — Charlotte complementa.

— O que eu posso fazer agora? — pergunto, pronto para derrubar


qualquer um que queira machucar Luna.
No entanto, ambos dão de ombros na minha frente, como se prontos
para me dizer que não há nada que eu possa fazer no momento além de
esperar que as autoridades cuidem do caso.
Isso me deixa puto da vida.

— Cuide dela, Nate.

— Não precisava nem falar, Charlotte.


Por causa dessa demanda estúpida da equipe que eu sempre viajasse
um dia antes e voltasse um dia depois, ainda não estou liberado para
retornar à Mônaco. No entanto, antes que minha mente possa relaxar e
aceitar que as coisas estão melhorando, meu celular vibra na minha mão
mais uma vez.
E como sempre, mais problemas surgem à tona.

— Não pensou que eu não tentaria resolver isso, não é? — A voz de


Ocean soa firme na ligação.

— O que posso fazer por você? — pergunto cansado de cobranças já.


Aparentemente meu tom de voz entediado não foi suficiente para que
Ocean me levasse a sério, pois sua risada alta predomina na ligação
durante alguns segundos.

— É minha obrigação ligar e perguntar, você está ciente do vídeo que


foi divulgado ontem à noite de você numa festa com uma mulher que
não é a sua?

Respiro fundo duas vezes.


— Sim, estou ciente e sendo sincero, Ocean, estou com problemas
maiores do que um mal-entendido como esse. Já resolvi isso com a única
pessoa que importa e que precisa de uma explicação. Ter imagens e
vídeos de mim vazados na internet é mais comum do que qualquer um
pode imaginar — depois que começo a falar, as palavras simplesmente
saem como ar da minha boca. Vejo de relance Charlotte ligando o
gravador em seu celular e colocando o aparelho mais perto de mim. —,
não tenho como controlar isso, infelizmente. O que eu posso fazer, e o
que estou fazendo, é preservar a imagem da mulher que precisa de
privacidade nessa relação. E mais ainda, resolver problemas que são
muito mais sérios do que um vídeo meu rodando as redes sociais.

— Nataniel — Ocean me chama.


— Se ainda assim não acreditar em mim, tenho certeza que Luna
ficará satisfeita em esclarecer qualquer situação perante uma reunião
com os sócios…
— Nataniel! — Ocean me chama mais uma vez, me fazendo parar de
falar para ouvir. — Eu não preciso de explicações, como eu te disse,
tenho obrigações e nem sempre gosto de cumpri-las. Escute, só estou
dando um aviso amigável, cuide mais dos seus passos. Eu tenho
problemas maiores do que ficar de babá de um homem de vinte e sete
anos.

Ocean solta uma risada baixa do outro lado da linha e antes de


desligar, fala:

— Qualquer problema, fale comigo primeiro. Tentaremos lidar com o


que quer que seja antes que tudo vá pelos ares como antes.

— Obrigado, Ocean.
— Vá resolver seus problemas e pelo amor de Deus, Nate, me deixe
trabalhar em paz. Não quero ver sua cara na minha frente todos os dias
quando abro meu celular.
Sinto um sorriso brincar nos meus lábios ao ouvir suas palavras. Pelo
menos um pouquinho da nossa antiga amizade permanece viva mesmo
depois que Ocean adquiriu mais poder dentro da equipe.
— Nos vemos na Inglaterra, love — murmuro antes de tirar o celular
do ouvido e desligar a ligação.

Mais uma vez meu celular vibra em minhas mãos, mas dessa vez uma
notificação de mensagem de Luna brilha na tela. Ao abrir, me deparo
com uma foto dela deitada em meu sofá com Pandora enroscada em seu
colo. A gata de pelagem branca parece feliz demais agarrada na minha
melhor amiga, os olhos azuis sempre tão expressivos se encontram
fechados em um sono seguro e confortável.
Inferno, nunca pensei que teria ciúmes de um gato.
O voo de Miami para Monte Carlo foi mais demorado do que eu
havia planejado. Além do atraso inicial, levei mais de três horas para ser
liberado na imigração, alguma confusão com a documentação do meu
visto de trabalho na Europa.
O problema é que eu já havia deixado Luna sozinha tempo demais
para lidar com a possível ameaça junto as fofocas que saíram enquanto
eu estava na América. Conheço muito bem o que se passa dentro daquela
cabecinha, e como a boa advogada que é, ela tentará identificar todos os
cenários imagináveis até ter uma solução para o problema.

Depois de pegar meu carro no estacionamento do aeroporto, o


percurso até meu apartamento geralmente leva em torno de uma hora,
mas por algum motivo desconhecido, o trânsito estava caótico essa
manhã, duplicando o tempo do caminho tão conhecido por mim.

Cada minuto que se passa, me sinto mais e mais ansioso para o que
irei encontrar quando abrir a porta de madeira do apartamento. Luna
ainda estará lá? Terá ela ido ao trabalho mesmo eu pedindo que fique em
casa? Talvez ela tenha ficado, mas esteja com tanta raiva de mim que
queira finalizar nosso acordo.

Não sei o que esperar.

Minha ansiedade parece aumentar gradativamente enquanto me


aproximo da garagem, e no curto período que levo para estacionar o
veículo na vaga destinada ao meu apartamento, sinto minha pele suar por
baixo da camisa branca que estou usando.

Ao entrar no elevador, me vejo pelo reflexo do espelho e detesto a


imagem que encontro. Meus cabelos bagunçados, atirados para todos os
lados, olheiras profundas marcadas embaixo dos meus olhos castanhos e
uma barba por fazer aparecendo por todo meu maxilar e mandíbula.

Minha aparência sempre tão impecável, atirada as traças pelo


descuido gerado pela minha ansiedade em ver com meus próprios olhos
como minha melhor amiga está.

Antes que eu tenha a oportunidade de abrir a porta do apartamento,


Pandora corre até minhas pernas quando Luna se recosta
confortavelmente no batente de madeira. O sorriso doce brincando nos
lábios rosados carnudos, a fileira de dentes brancos e retos brilhando
pelo escuro hall de entrada.

— Como foi o voo?

Ignoro as unhas afiadas da minha gata agarradas na minha perna e


sigo a passos lentos até parar bem próximo a morena sorridente.
— Posso falar? — Pisco um olho e Luna imediatamente sabe o que
quero, os olhos se tornando duas fendas quando ela tenta prender a
risada. Então, falo bem alto para todo o prédio ouvir: — Honey, I am
home![4]

— Esse apartamento é um tédio sem você, sério. — Ela abre espaço


na porta para que eu finalmente entre na sala, encontrando o imóvel
exatamente da forma que deixei, sem uma simples almofada fora do
lugar.

— Eu falei para você se sentir em casa, mas você ao menos encostou


em algo?

— Claro que sim. — Ela revira os olhos e se abaixa para pegar


Pandora do colo. — Por sinal, você vai ficar no quarto de hóspedes. Nós
duas estamos muito bem acomodadas na sua cama.
Eu não queria ter a visão que eu tive.
A imagem da minha melhor amiga esfregando a pele pelos meus
lençóis, seu corpo confortavelmente deitado em cima do colchão macio e
um sorriso delicado cobrindo seus lábios passa pela minha imaginação.

Inferno!
— Pretende ficar aqui então?
— Nataniel, vai me dizer que não ficou repassando na sua cabeça
todos os discursos possíveis para me convencer a ficar aqui até toda a
situação se acalmar?
Dou de ombros.

— Claro que não, pensei em resolvermos tudo assim que eu chegasse


aqui — minto.
E ela sabe.

— Tudo bem, vou ficar aqui por enquanto. Preciso voltar no meu
apartamento e buscar minhas coisas, mas imaginei que você ia querer ir
comigo, então esperei.

Dou passos rápidos até parar na sua frente e depositar um beijo em


sua testa.
— Isso, sim, eu pensei durante todas as últimas horas, sweetie.

— Então trate de arrumar suas coisas no seu novo quarto, pois temos
uma mudança para fazer, garoto! — fala alto, acordando a pequena gata
embolada em seus braços.

No susto de ser acordada com vozes altas, Pandora tenta se defender


de uma possível ameaça, só que a gata endemoniada nem cogitou virar a
cabeça para a morena que a aconchegava, simplesmente ergueu as duas
patas frontais, com as garras para fora, e arranhou com força a lateral do
meu rosto.
— Gata do caralho! — grito ao colocar a mão no rosto, sentindo a
pele arder pela agressão grátis.
— Que bom que agora ela dorme comigo, não mais com você.

Luna fala e se vira de costas, caminhando até o outro lado do


ambiente onde há uma cozinha em conceito aberto junto a sala de estar.
— Além do meu quarto, ainda vai roubar minha gata?

— Se acostume, é um preço baixo a se pagar por toda a confusão que


estou livrando seu belo traseiro.

Abro um sorriso sacana para ela, sua pele imediatamente se tornando


tão vermelha quando o arranhão em minha bochecha.
— Se quiser, posso te mostrar ele.

Ela atira em mim um pano de prato que estava em cima da bancada de


mármore e solta uma risada nervosa, mas prefere me ignorar e voltar a se
concentrar na comida em sua frente.

— Se não quiser que eu me torne insuportável, vá logo se arrumar


para irmos lá em casa. Tô sem paciência para demoras, Nataniel Taylor.
— Ela tenta falar com um tom de voz firme, mas a risada que sai entre as
palavras mostra que ela está se divertindo muito em comandar todas as
minhas ações sabendo que estou completamente rendido ao seu controle.
Afinal, ela não está completamente errada. Eu daria o mundo para ela
se ela me pedisse.

Só que não seria apenas em troca do que ela está fazendo por mim.
Luna não tem noção do que poder que tem sobre mim.

E se depender da minha vontade, continuará no escuro por muito


tempo.
Capítulo 10
Não sou ingênua em pensar que morar com meu melhor amigo seria
um paraíso de flores. Convivemos há muitos anos, então eu sei
exatamente tudo o que me incomoda nele.

Como o fato de que ele nunca arruma a cama quando acorda de


manhã.
Ou que ele odeia a ideia de tomar banho com a porta fechada.

E por mais que tudo isso sempre tenha me incomodado quando


tivemos que dividir espaços, morar sob o mesmo teto e experienciar
esses momentos não é fácil.
Principalmente agora que decidi ir até o seu quarto arrumar a cama
antes de sair para o trabalho. Ele acorda cedo, o que é uma benção, pois
podemos conversar antes de ambos sairmos de casa. Quando entro em
seu quarto – o quarto de hóspedes, já que faz mais de uma semana que
não libero o quarto dele – e começo a ajeitar os lençóis bagunçados,
primeiro alisando o tecido até ficar bem esticado ao colchão, para logo
ajeitar o lençol de cobrir junto ao edredom. Jogo os travesseiros e as
almofadas sobre a cama e finalizo a arrumação.

Mas não foi exatamente isso que me tirou a atenção nessa manhã. O
problema foi exatamente no momento que me virei para sair do quarto e
acabei de frente para a porta aberta do banheiro, onde a visão do meu
melhor amigo de costas dentro do box se fez presente.
O corpo malhado, mas não forte demais, coberto por gotículas de
água. As costas bronzeadas flexionadas e sua cabeça atirada para trás,
com o rosto embaixo do jato de água.
E mais do que isso, o movimento repetido e ritmado de seu braço
direito em frente ao seu corpo. Não tive a visão livre do que ele estava
fazendo, mas não precisei pensar muito quando um gemido rouco saiu
pelos seus lábios grossos.
O cabelo castanho antes escorrendo pela sua nuca, agora cobrindo
parcialmente seu rosto quando ele abaixa a cabeça para frente e para
baixo, o movimento de seu braço cada vez mais rápido e forte.
Um urro gutural e rouco arranha sua garganta ao mesmo tempo que os
movimentos do seu braço cessam, o clímax sendo atingido e o
relaxamento imediato do seu corpo embaixo do chuveiro.
Me sinto paralisada olhando Nataniel massagear com calma o seu pau
enquanto relaxa após gozar no chuveiro. Meu corpo não se move, minha
respiração se torna acelerada e sinto minha pele esquentar ao ter a visão
do meu amigo nu na minha frente.
Ele continua respirando com força, ainda massageando seu membro e
por algum motivo, não se vira. Dificilmente ele saiba que eu estou aqui,
mas de qualquer forma, me sinto uma intrusa ao observar um momento
íntimo dele sem a sua permissão.
Não que eu espere sua permissão para algo assim, nossa relação
sempre foi completamente platônica e não temos nenhum indício de
mudar as coisas.
Somente acordo para a realidade quando ouço um miado forte vindo
da porta do quarto e viro meu rosto para encontrar Pandora arranhando a
madeira, provavelmente em busca de alguém para alimentá-la.

É o tempo suficiente para ver as costas de Nataniel se contraírem e


seu corpo girar sob seu eixo, mas antes que ele possa me ver em frente a
porta como uma pervertida, fujo de sua visão e saio correndo do quarto,
deixando a porta aberta e a gata branca miando para seu dono.
Corro até meu quarto – ou o quarto dele, como for – e tranco a porta,
tentando debilmente controlar minha respiração e a forma que meu corpo
reagiu a cena. Eu já vi Nataniel sem camisa, apenas de cueca e até
mesmo nu.
Mas nunca havia presenciado um momento tão íntimo como esse.
Além da imagem dele dando prazer a si no chuveiro, minha mente
fica delirando sobre o que o inspirou naquele momento.

Em quem ele estava pensando?

Uma parte minha gostaria que fosse em mim, mas outra parte muito
mais sensata e real sabe que essa possibilidade é nula. Nate nunca
demonstrou sentir nada além de um amor fraternal e em muitos anos, eu
vi todas as nuances de seus sentimentos durante a nossa longa amizade.

Mesmo que nunca tenha visto ele se apaixonar por alguém, também
sei que a forma que ele me olha não é como um homem olha para uma
mulher.

É somente a forma como um irmão mais velho olha para sua caçula.
E eu preciso controlar meu coração mais uma vez antes que eu
estrague tudo entre nós dois, antes que seja tarde demais.

Engulo todos os sentimentos controversos que parecem explodir


dentro de mim e vou até a cozinha preparar algo para o café da manhã.
Não temos costume de sentar na mesa e conversar sobre o nosso dia, mas
por alguma razão, sinto que se eu apenas sair de casa será como se eu
estivesse admitindo para mim mesma que ver Nataniel daquela forma me
afetou.
Termino de cortar fatias de queijo e coloco-as nos sanduiches que
preparei, junto a um suco de laranja natural e algumas oleaginosas. No
mesmo instante, sinto o perfume forte de Nate tomando conta de
cozinha, sua presença perto de mim.

Não tenho coragem de encará-lo após ter visto-o naquela situação tão
íntima, então continuo montando nosso café da manhã e ignoro sua
presença.
Mas conhecendo ele, já deveria saber que essa não seria uma missão
fácil, pois segundos depois sinto seu corpo atrás de mim. Os braços
fortes e bronzeados rodeiam o meu corpo quando ele apoia as duas mãos
no balcão a minha frente.

— Por acaso você dormiu comigo essa noite? — pergunta com a voz
rouca bem próxima do meu ouvido.

Meu corpo inteiro se arrepia.

— O-o quê? — Minha voz sai mais fraca do que eu esperava, me


sentindo completamente flagrada por ele nesse momento.

— Para não me dar bom dia! — ele fala mais alto e morde minha
orelha antes de depositar um beijo estalado na minha nuca. — Dormiu
bem, pequena?

Meu corpo imediatamente relaxa quando entendo que tudo não passou
de uma brincadeira, solto um longo suspiro antes de respondê-lo:

— Com uma cama Alaska King [5]só para mim, como você acha?

Nate solta uma risada e se afasta de mim, dando a volta no balcão de


mármore branco da cozinha e se colocando na minha frente. Ele pega
algumas oleaginosas em sua mão e começa a comer enquanto me olha.

— Já imaginou tudo que dá para fazer naquela cama?


O movimento que eu fazia com a faca em minha mão simplesmente
para no meio do ar quando entendo o duplo sentido de suas palavras. A
vermelhidão toma conta do meu rosto e sinto um calor infernal,
principalmente quando ele solta um gemido grosso ao mastigar uma
amêndoa.

Arranho a garganta e volto a fazer o sanduíche para levar para o meu


almoço no escritório.

— Dividir a cama com Pandora é o suficiente para mim.


— Você só diz isso porque ainda não experimentou outras coisas —
ele rebate.

Ergo meus olhos rapidamente da comida e vejo que ele mantém o seu
olhar fixo em mim, analisando cada reação do meu rosto. Me sinto ainda
mais envergonhada vendo-o me examinar minuciosamente, como se no
fundo ele soubesse como fui uma completa depravada essa manhã.
— Não brinque com fogo, Luna.

Largo a faca no balcão e cruzo os braços no peito, criando uma


coragem que até agora não sabia que havia dentro de mim.

— Posso dizer o mesmo para você.


Ele balança a cabeça para os lados, descrente das minhas palavras e
volta a comer suas oleaginosas como se nada tivesse acontecido.

— Foi uma surpresa e tanto encontrar meu quarto tão arrumado hoje.
Esse é um assunto que eu posso falar, claro, se eu esquecer
completamente o que aconteceu logo depois que finalizei a arrumação.

— Você deveria arrumar suas próprias coisas, sabe disso. Sua sorte é
que eu tenho uma obsessão por arrumação e não consigo viver meu dia
sabendo que você deixou a cama toda bagunçada antes de sair.

Ele dá de ombros, sorrindo para mim.

Um sorriso nada inocente que faz os pelos do meu corpo se


arrepiarem e mais uma vez o calor toma conta de mim.

— Gosto de saber que você estará lá. — Ele pisca.

— Comece a reclamar e eu não entro mais no seu quarto. — Aponto o


dedo para ele.

Ele ergue os braços para cima em sinal de rendição, mas o sorriso e o


olhar malicioso não deixam seu rosto, contradizendo totalmente com a
expressão corporal que ele mostra.

— E tirar sua diversão da manhã? — Ele dá de ombros, os dentes


brancos iluminando o sorriso cafajeste em seu rosto. — Jamais faria isso.

Sinto que nossa conversa saiu completamente do rumo da


organização, mas decido embarcar na aventura e continuo dando corda
para ele.

— E o que te faz pensar que eu não vou desistir de ir lá todos os dias?

Ele estala a língua e inclina o corpo para frente, aproximando o rosto


do meu e fala:

— Você sabia que todo o banheiro é revestido de espelhos?

— O que tem isso? — Franzo a testa, confusa com a mudança


repentina de assunto.

Merda, ele sabe.

— Apenas uma curiosidade, sweetie. — Ele passa a língua pelos


lábios grossos e sorri para mim antes de se afastar e quebrar a nuvem de
tensão que havia pairado na cozinha. — Preciso correr, no entanto, tenho
simulador hoje o dia inteiro. Não me espere acordada, ok?

Aceno com a cabeça, sentindo minhas entranhas revirarem com tudo


que aconteceu essa manhã. Nate coloca seu boné da equipe e dá a volta
na bancada para depositar um beijo suave em minha testa e pegar as
embalagens de sanduiche e suco que preparei.

— Obrigada pela manhã, você fez meu dia, Luna.

Mais uma vez, apenas balanço a cabeça em concordância, me


sentindo cada vez mais perdida com as mudanças de humor dele. Me
sinto completamente estranha quando sei que ele tem mais informações
do que eu em uma conversa, detesto me sentir por fora.
No entanto, sempre que isso acontece com ele, sei que independente
do que se passa em sua cabeça, eu jamais preciso me preocupar em me
sentir idiota. Afinal, sei que o que quer que seja, o moreno nunca me
faria sentir mal em uma conversa.

Me despeço de Nate e termino de arrumar a cozinha, preparando tudo


que preciso para um dia excruciante no escritório e pelo visto, uma noite
em claro me preocupando com Nataniel estar altas horas da madrugada
ainda na rua.

As fofocas pareciam ter diminuído depois de tudo o que aconteceu.


Algumas semanas foram suficientes para que tudo aquilo acabasse. Os
olhares tortos, as risadinhas quando eu chegava no escritório e todas as
notificações nas minhas redes sociais com algum link para um vídeo ou
foto comprometedora de Nate. Ainda não tínhamos nenhuma informação
sobre as ameaças que foram deixadas na minha casa, mas por descargo
de consciência, preferi continuar morando com meu amigo. Não
chegamos a falar explicitamente sobre o tempo que eu passaria lá, mas
nenhum de nós fez questão de terminar o acordo.

Por alguma razão, é confortável estar em sua companhia todos os


dias. Cada um de nós tem sua rotina e seus compromissos, mas é bom
saber que no final de um dia complicado, meu amigo estará lá para me
receber em casa.
Esse dia no escritório não foi diferente. Depois de sair do apartamento
com todas as minhas coisas e deixar Pandora alimentada, passei a tarde
toda comprometida ao trabalho. Analisei um novo caso, tive uma reunião
com outros advogados e também com um antigo cliente. Apenas mais
uma quarta-feira na minha vida.
— Sonhando acordada, Srta. Thomas? — Ouço a voz do Sr. Diaz
quando o mesmo entra na minha sala com os braços cheios de pastas. Já
posso imaginar o que vêm por aí.

— Precisa de algo, senhor? — Opto por ignorar a forma com que ele
se direcionou a mim. Estou cansada de tentar mudar a maneira com que
eles me tratam aqui, portanto, irei apenas ignorar.

Ele dá de ombros e caminha até minha mesa, largando as pastas em


cima dos materiais que eu estava trabalhando minutos atrás.
— Preciso que você analise todos esses casos e veja se algum deles
têm potencial.
— Certo, farei isso hoje e amanhã pela manhã entrego minhas
anotações, Sr. Diaz.

Ele acena com a cabeça, os olhos concentrados em mim, porém, não


faz menção de sair da minha sala. Jogo meu corpo para trás e apoio
minhas costas no encosto da cadeira de couro, deposito a caneta em cima
da mesa e dou abertura para que ele fale o que precisa.
— Você é importante para a equipe, não importa o que eu digo todos
os dias.

Entorto um pouco a cabeça para o lado, tentando ler suas ações e


entender aonde ele quer chegar com esse assunto. Eu sei do meu
potencial, sei quão inteligente eu sou e como sou uma peça crucial
dentro dessa empresa.
Motivo que me faz continuar aqui mesmo tendo que lidar diariamente
com desafios completamente absurdos.

— O que quero dizer é que você mais do que ninguém sabe o que é
trabalhar o triplo do que qualquer outro aqui dentro para provar o seu
valor. Continue fazendo o seu trabalho, Srta. Thomas e tenha certeza que
estamos atentos a tudo o que acontece aqui dentro.
Ele finaliza sua lição motivacional – na qual ele desesperadamente
precisa trabalhar – e sai da minha sala, me deixando ainda mais confusa.
Ainda não entendi se foi uma espécie de reconhecimento ou uma
ameaça.
E sinceramente, estou completamente sem paciência para tentar
desvendar mais esse mistério. Volto minha atenção ao caso anterior que
estava trabalhando e coloco minha atenção completamente no trabalho
até a hora do fim do expediente.
Mesmo que o relógio marque exatamente cinco horas da tarde, sei que
meu dia está longe de acabar. Contando tudo que ainda preciso fazer para
finalizar meu expediente, já sei que a noite será longa. Me sinto frustrada
em lembrar que Nate vai chegar tarde e por isso, sei que ficarei sozinha a
noite inteira trabalhando nos processos que o Sr. Diaz me passou.
Quando finalmente chego na casa do meu amigo e consigo organizar
todo o meu material em cima da bancada, passo um café bem forte, me
aconchego em um dos enormes moletons da equipe de Fórmula 1 de
Nate e coloco minha mente focada no trabalho extra que preciso entregar
até amanhã.

As horas passam, o tic tac do relógio antigo da cozinha me faz


companhia na noite silenciosa. Meu trabalho me conforta, me distrai,
mas no fundo, eu sei que estou mentindo para mim mesma.

A cada som de carro na rua, espero alguns minutos para tentar escutar
algum som do elevador.
A cada voz vinda do corredor, espero ouvir o som das chaves da
porta.

A cada miado de Pandora, espero vê-la correr até a porta para receber
seu dono.
E a cada hora que passa madrugada adentro, minto para mim mesma
que estou acordada para me concentrar apenas no meu trabalho e não em
esperar que Nataniel volte para casa.
Mesmo quando o relógio marca quatro horas da manhã e sinto o sono
tomando conta do meu corpo, mais uma vez me concentro totalmente no
trabalho que preciso fazer e não no aperto que sinto dentro do meu peito
ao ver que a cada batida do relógio me vejo ainda sozinha na cozinha
silenciosa.

Somente desisto de esperar que ele volte para casa quando


simplesmente não sinto o peso do meu corpo, não vejo os papéis em
cima da bancada e não escuto o tic tac do relógio.

Meu corpo cai para frente e sinto a dormência em todos os meus


membros quando caio no sono em cima de tudo o que estava
trabalhando. O silêncio, a escuridão e o descanso são bem-vindos.
Minha última lembrança é o tic tac do relógio marcando exatamente
cinco e trinta e quatro da manhã.
E mesmo assim, Nataniel não voltou para casa.
Capítulo 11
Eu acordei na minha cama.
Já passava das oito horas da manhã, mas eu estava bem confortável na
cama gigante do quarto de Nataniel. Sei que foi ele quem me trouxe, mas
não faço a menor ideia que horas ele voltou para casa, muito menos em
qual estado ele estava.
Pelo horário, não tenho tempo para fazer muita coisa antes de chegar
no escritório, mas ainda consigo tomar um banho relaxante e tomar um
café da manhã correndo. Não encontro com ele pela casa, provavelmente
ainda deve estar dormindo. Sei que nesse final de semana não tem
nenhuma corrida, o que significa que ele acaba tendo alguns dias de
folga durante a semana.
Certamente o motivo por não ter voltado para casa antes das cinco da
manhã.
Não fico tentando pensar nos lugares que ele pode ter ido, me
concentro apenas em terminar o meu dia inteira. Contudo, antes que eu
possa sair de casa, recebo duas notificações no meu celular.
Uma mensagem anônima com um link.

E uma frase.
“Estamos de olho em você.”
Sinto minha respiração falhar ao clicar no link, mesmo sabendo que
eu não deveria fazer isso, mas é mais forte do que eu. Meu telefone é
direcionado para uma pasta de um drive anônimo onde contém várias
fotos e vídeos.
Todas as imagens de mim.
Desde coisas simples como eu entrando no meu carro e indo ao prédio
do meu escritório, até algumas mais estranhas como imagens de mim
andando pelo quarto de Nataniel durante a noite. As imagens não têm
uma qualidade muito boa e nem são muito nítidas, mas não preciso de
muito para ver que são por causa das lentes de alto alcance.

O que significa duas coisas:


A primeira é que a ameaça ainda não acabou e eu continuo correndo
perigo.
E a segunda e mais assustadora, seja lá quem está atrás de mim,
realmente está acompanhando cada passo que eu dou, mesmo a distância.
Solto minha tote bag da Marc Jacobs – uma das minhas favoritas para
ir para o trabalho – em cima do sofá e me jogo logo ao lado. Toda a
energia que eu pensava que tinha foi por água abaixo depois de receber
essas mensagens.
Realmente pensei que estava segura aqui no apartamento, mas
sinceramente não sei mais o que pensar. Tudo isso está uma loucura tão
grande e passando tanto dos limites que eu não encontro uma saída.
Como advogada de defesa eu deveria ter mais ideias, ter soluções mais
concretas para os problemas, mas me sinto completamente presa sem
nenhuma informação importante.
Decido mandar tudo que recebi para Charlotte, ela está mais
conectada com todo o processo e está em contato direto com os
detetives, então pelo menos dessa vez irei jogar tudo no colo da
publicitária de Nate.

Não consigo me defender.


Não sou capaz de me esconder.

Não tenho para onde fugir.


Apenas encarar todo esse terror que me cerca.

Engulo o medo e levanto do sofá, correndo até o quarto de hóspedes


atrás de Nate, mas ao entrar me deparo com o quarto vazio e arrumado,
sem nenhum sinal de que ele tenha dormido ali.
Franzo as sobrancelhas, sei que que ele levou até o quarto, mas como
ele não está mais em casa? E mais, onde ele dormiu?

Digito uma mensagem para ele, pedindo para me ligar pois preciso
conversar com ele. Em menos de dois minutos recebo sua resposta:

“Reunião com os Durant. Ligo depois.”


Argh.

Jogo o celular dentro da tote bag e saio de casa, mesmo com medo de
estar sendo seguida, preciso resolver isso. Não consigo lidar com uma
situação assim. Decido passar no escritório e deixar todos os processos
que analisei durante a noite, mas pela primeira vez, não me sinto segura
ali dentro. Então apenas deixo tudo organizado em cima da mesa do Sr.
Diaz e volto a caminhar em direção ao meu carro.
Sei que mais uma vez terei que ouvir uma lição de moral enorme do
meu chefe, mas nesse momento os chiliques dele são as minhas últimas
preocupações.
Cada passo que dou tenho a sensação de estar sendo espiada. É um
medo psicológico ridículo, visto que até mais cedo eu nunca havia me
sentido dessa forma. Como se o fato de eu estar ciente que existe alguém
me seguindo diariamente fosse mudar a forma que eu me sinto quando
estou na rua.

Talvez esse tenha sido o objetivo dessa pessoa, me deixar com medo.
Me fazer abandonar tudo isso.

Me fazer abandonar Nataniel.


Nunca abaixei minha cabeça para ninguém, desde quando entrei em
Harvard apenas uma menina ingênua e com um sonho enorme, lutei com
unhas e dentes por tudo que conquistei. Todos os méritos que tenho hoje
são resultados de anos de estudo e trabalho duro.

E não vai ser dessa vez que irei jogar a toalha para uma pessoa que
não tem nem mesmo a coragem de mostrar sua cara ao tentar infernizar a
minha vida.
Já tive alguns casos de ex-maridos ou até mesmo pessoas obcecadas
pela vítima, em todas elas o medo era o maior inimigo. As ameaças eram
sérias demais, contudo, poucas consequências foram resultado delas. Em
mais de oitenta por cento dos casos a vítima se tornava uma pessoa
reclusa, deixando de viver sua vida pelo medo de algo maior acontecer.

E esse sempre acaba sendo o objetivo do agressor. Causar um medo


tão grande que a vida da vítima se tornava em total controle dele.

Não deixarei que isso acabe com a minha vida.

Uma buzina alta me tira dos meus pensamentos conturbados, olho


para o lado e encontro o carro perolado de Nataniel encostado ao lado do
meu na avenida. Ele baixa o vidro do passageiro e inclina o rosto coberto
por um óculos estilo aviador.
— Charlotte me mostrou tudo, vamos, entre! — ordena.

— Virou macho alfa agora, garoto? — Brinco com ele, diminuindo a


tensão de poucos segundos atrás. Cruzo meus braços sobre o peito e
encaro o sorriso maroto deslizando pelos lábios do moreno.

— Em algum momento eu precisava colocar minhas big boy pants[6],


não é?

Balanço a cabeça para os lados, mas entro no carro pelo banco do


passageiro e espero que ele dê partida no veículo.

— Para onde vamos? — pergunto, porém não me importo realmente


para onde ele vai me levar.
— Você vai fazer suas malas e enviar alguns e-mails enquanto eu
assisto tudo.

Viro de supetão para ele, vendo o sorriso malicioso em seus lábios.


Nate continua encarando as ruas em nossa frente, mas sabe que estou
olhando-o.

— Como assim?

— Preciso repetir, Luana? — debocha falando meu nome errado de


novo.

— Para que eu preciso de malas e que e-mails eu vou enviar?

Ele respira fundo e diminui a velocidade do carro, o velocímetro


indicando que ele está parando de acelerar enquanto se aproxima de uma
vaga em frente à praia. Nate desliga o carro, olha em volta para garantir
que estamos seguros e se vira para mim, ficando frente a frente comigo.
— Você vai fazer as malas porque nas próximas três semanas eu
tenho corrida em três países diferentes, e eu sei que você odiaria aparecer
nas fotos com a mesma roupa ou bolsa, por isso estou te dando a
oportunidade de escolher suas próprias roupas. E os e-mails são apenas
uma garantia para que você tenha seu emprego quando voltar, afinal,
você não pode simplesmente desaparecer por três semanas sem avisar
que está entrando em férias.

— Espera… — tento interrompê-lo, mas ele continua falando todos


os seus planos para me tirar da cidade pelas próximas semanas.

— Sinta-se feliz que estou aqui te dando essa oportunidade, Luna.

— Feliz? Oportunidade? Nataniel, eu não posso tirar férias sem


nenhum motivo. E principalmente, não posso abandonar meu emprego
de uma hora para outra — esbravejo, mexendo as mãos para todos os
lados enquanto ele se mantém completamente parado, apenas me
olhando.
— Luna, estou me esforçando aqui…

— Como? Isso é completamente fora de cogitação! — grito.


Nate segura minhas mãos e me puxa para perto de si, sua respiração
quente batendo com força em meu rosto.

— Meu planejamento inicial era apenas te colocar dentro desse carro


e te levar para o aeroporto, Charlotte iria cuidar de mandar suas malas
depois. Contudo, Serguei apontou todas as falhas no meu plano, sendo
uma delas você me odiando por algum tempo. Por isso, estou aqui, de
peito aberto, te pedindo para fazer suas malas e tirar algumas semanas de
férias do escritório — Nate fala tudo de uma vez e me sinto até tonta
com todas as informações.

Espera, ele realmente pensava em me sequestrar?

— Não seria um sequestro, estou apenas protegendo o meu bem mais


precioso — murmura, lendo meus pensamentos. — Eu preciso muito que
você colabore comigo. Você não está segura aqui enquanto a polícia não
finalizar a investigação, e depois das fotos que você recebeu essa manhã,
não há a menor possibilidade de você ficar sozinha aqui enquanto eu
viajo.

Fico em silêncio, apenas pensando.


Sei que ele realmente seria capaz de colocar uma venda em meus
olhos e tirar somente quando estivéssemos entrando no avião, o que seria
um motivo gigante para que eu ficasse dias sem falar com ele. E eu
entendo a preocupação por me deixar sozinha na cidade, não é como se
eu estivesse realmente me sentindo segura aqui.
Imagina com Nataniel fora por três semanas.

Eu viveria como uma sombra.


— Faz sentido, não é? Você não está se sentindo bem aqui e vai ser
uma forma de tirar as preocupações da cabeça.
— Como você sabia?

— O quê? — Ele me olha confuso antes de soltar minhas mãos e


voltar a ligar o carro. Ele sabe que ganhou meu aval, então não
precisamos mais correr o risco de ficarmos estacionados em um lugar tão
público.

— Que eu pensaria tudo isso.


Ele gira o rosto lentamente para mim e franze as sobrancelhas.

— Eu te conheço melhor que você mesma, garota. Não me subestime.


Dou risada e ergo as mãos em rendição. Nate liga o carro e nos tira da
vaga, dirigindo rapidamente até seu apartamento.

— Não finja que isso é apenas para a minha proteção, Nataniel. —


Aponto o dedo para ele.
Nate abre um sorriso de canto.

— Você sonha em me levar nas corridas há meses.


— É sempre bom ter meu amuleto da sorte a um passo de distância —
revela, me deixando atordoada com a mudança drástica do clima. —
Odeio ir sozinho, mesmo que você me ligue antes de entrar no carro, é
um saco passar dias rodeado de pessoas estranhas sem estar junto da
única pessoa que me entende completamente.

Engulo em seco.
Eu sabia que ele queria que eu fosse com ele em alguma corrida.

Só não imaginava que era tão importante assim.


— Você irá enjoar de mim nos próximos dias — aponto meu dedo
para ele —, só avisando.
Meu amigo desliga o carro após estacionar em sua vaga no prédio e
sorri para mim, balançando a cabeça para os dois lados em negação.
— Veremos.

Cruzo meus braços e encaro as duas malas abertas no chão do quarto.


Nataniel desistiu de me ajudar há horas, então agora está apenas sentado
no meio da cama com Pandora aninhada em seus braços, me encarando
com o maior tédio do mundo.
Separei muitas roupas, sapatos e bolsas… Tantas que não coube nem
metade na mala e agora estou tentando decidir quais deixar e quais levar.
É tempo demais, países diferentes, climas completamente opostos e zero
chances de voltar para casa antes do previsto.
Depois de enviar um e-mail para o Sr. Diaz solicitando minhas férias
– afinal, o que eu mais tenho é banco de horas por todo o trabalho extra
que fiz durante o tempo que trabalho ali – e ter tudo organizado para
embarcar nessa aventura, a pior parte chegou.

Fazer as malas.
— Você já pensou em ser minimalista? — Nataniel pergunta com a
voz arrastada, Pandora ronrona no colo do moreno.

— Qual a graça nisso? — Apoio as mãos no quadril e analiso


minuciosamente os espaços sobrando dentro das bagagens.
Tenho dois espaços em uma. E um espaço na outra.

No entanto, tenho três bolsas, quatro pares de sapato e dois looks para
colocar ali dentro.
— Se quiser, pode usar as camisetas da equipe no paddock. Assim,
não precisa de tantas roupas diferentes — ele fala tentando ajudar, mas
ergue as mãos quando o encaro com ódio nos olhos. — Não está mais
aqui quem falou.
— Me relembre o cronograma — peço e enquanto ele passa a lista de
tudo que teremos que fazer, faço uma nota mental com cada look
destinado a cada ocasião.
Por ser três semanas intensas do campeonato, temos um ou outro baile
beneficente, jantares com sócios, entrevistas em programas de TV e
aparições aqui e ali.
— Inglaterra, Singapura e Brasil. — Ele vai contando nos dedos a
cada país que fala.

— É impossível! — exclamo, jogando as mãos para cima e


suspirando profundamente. — Estamos no verão aqui, mas na Inglaterra
a temperatura está em torno de 20º graus. Voamos para Singapura, onde
a temperatura deve beirar os 30º graus, para logo em seguida irmos para
o Brasil, onde o inverno está castigando todo mundo.
— Parece tudo similar para mim — ele fala.

— Como vou montar roupas para três semanas com basicamente três
estações em casa país? Sem mencionar a cultura em cada um dos
lugares, afinal, precisamos ser respeitosos com os países que estamos.
Além do mais, bailes, eventos e jantares. Tudo isso em apenas duas
malas! É impossível! — Desisto completamente e me sento no chão em
posição de índio enquanto Nate me encara de cima da cama. — Você não
pode ir sozinho em todos esses eventos e eu ficar no hotel?

Ele balança a cabeça.


— O que vão pensar quando me virem saindo do aeroporto com a
minha suposta namorada e logo depois aparecendo sozinho em todos os
compromissos, simplesmente não…
— Faz sentindo nenhum, eu sei. — Termino sua frase. — Depois que
perguntei em voz alta pareceu extremamente estúpido.
Ele dá de ombros e volta a acariciar Pandora.
— Você já arrumou as coisas dela? — Aponto para a bolinha de pelo
branca em seu colo. — Ela vai, não é?
Ele balança a cabeça em negação e fica em silêncio.

Franzo as sobrancelhas e ele imita meu gesto.


— Isso é o que, Nataniel? Não, ela não vai ou não, não arrumou as
coisas? — Bato as mãos no piso de madeira do quarto, explodindo mais
uma vez. — Eu não sou vidente, garoto.
Ele apenas gargalha da minha explosão de estresse, mas continua
acariciando a gata e ignorando a minha pergunta. Pego uma peça de
roupa qualquer de dentro da mala e atiro com força nele, pegando-o de
surpresa com a peça presa em seus cabelos castanhos.
Nate abre um sorriso depravado para mim quando ergue a peça
vermelha em seus dedos e imediatamente me arrependo de não ter visto
o que atirei nele.
— Se for para me matar com isso, posso te ensinar uma coisa ou outra
que serão mais eficazes — murmura enquanto gira a pequena lingerie de
renda vermelha em seus dedos.
A imagem do meu melhor amigo com o pedaço de renda em seus
dedos faz meu coração acelerar. Minha pulsação está tão forte que a
qualquer momento posso ter tendo um ataque cardíaco.
Meu rosto esquenta de tal forma que certamente estou da mesma cor
da renda exposta nos dedos de Nataniel.

— Bela peça, planos para usar? — ele pergunta com a voz baixa.
O tom entediado imediatamente sendo substituído pela rouquidão
grossa de sua voz, os olhos escuros brilhando em minha direção. Ele não
desvia o olhar do meu em nenhum momento.
— Me devolva isso — peço debilmente, mas ele apenas balança a
cabeça para os lados, ainda segurando firmemente a calcinha.

— Irei guardar isso como forma de punição.


— Vai me punir pelo que, garoto? — Tento mais uma vez erguer
meus braços e implorar para que ele devolva a lingerie, mas tudo que
Nataniel faz é guardá-la dentro do bolso de sua calça e levantar da cama.
Ele se abaixa na minha frente e deixa a gata branca em meu colo antes
de depositar um beijo casto na minha testa.

— Nunca falei que a punição era para você — murmura já de costas


para mim, saindo do quarto e me deixando sentada no chão com uma
bagunça de sentimentos dentro de mim.

Se ele ainda não tinha revirado meu estômago antes, pode ter certeza
que ele acabou de destruir qualquer chance de me manter viva nessa
viagem.
Capítulo 12
Não pensei direito quando planejei que Luna viesse nas corridas
comigo. Em todas as vezes que ela apareceu pelo paddock nós nos
encontrávamos alguns minutos antes e acabávamos vindo juntos.

Dividir um quarto de hotel com ela não vai ser fácil.

— Certo, vocês ficarão na suíte 722 e nós ficaremos alguns andares


abaixo. Qualquer coisa vocês têm meu número. — Charlotte, Serguei,
Luna e eu estamos juntos no elevador do hotel próximo a Silverstone e
enquanto minha publicitária divaga sobre todos os compromissos do dia,
só consigo pensar que não comentei com Luna que iríamos ficar no
mesmo quarto.
Minha amiga parece em choque enquanto me encara, provavelmente
ignorando tudo que Charlotte disse. Quando os dois saem do elevador no
andar deles, a morena me olha com fogo nos olhos.
— Por que eu não tenho um quarto só para mim? — pergunta,
irritada.
— Preciso voltar ao discurso de um casal de namorados dormir em
quartos diferentes? — resmungo, esfregando a ponte do nariz com os
dedos.
— Antigamente era assim que funcionava — ela murmura, emburrada
comigo. Luna cruza os braços em frente aos seios e minha atenção cai
totalmente no decote de sua blusa marrom. Uma espécie de corte em V
que marca deliciosamente os seios redondos dela.
Puta que pariu.
— Aqui em cima, garoto. — Ela estala os dedos e ri da minha cara.
— Eles são lindos, mas meus olhos estão aqui.
— Lindos mesmo — concordo, deixando-a vermelha exatamente
como a calcinha de renda que roubei dela hoje mais cedo. Não sei em
que momento nossa amizade passou de algo completamente inocente
para brincadeirinhas maliciosas, mas gosto de vê-la envergonhada
quando falo algo um pouco mais ousado. — E respondendo, não
vivemos no passado, hoje em dia os casais dividem o mesmo quarto. E
sendo sincero, esse hotel está recheado de jornalistas sensacionalistas, o
que eles mais querem é um motivo para estamparem a minha cara em
uma revista.
Não é totalmente mentira, mas também não é verdade. Charlotte havia
reservado dois quartos para nós, um ao lado do outro, o que seria ótimo
para qualquer abutre da mídia se confundir quando entrássemos nos
nossos lugares. Contudo, consegui trazer Luna até aqui com muito
esforço, não iria deixar passar a oportunidade de ter mais tempo com ela.
Claro, me arrependi um pouco dessa decisão no momento que meus
olhos caíram em seu peito, mas não tem como voltar atrás. O único jeito
de continuar é seguindo em frente nessa mentira e tentar convencê-la de
que essa é a única – e melhor – forma de lidarmos com essa situação
nesses próximos dias.
Ela fica em silêncio enquanto caminhamos os poucos passos do
elevador até o nosso quarto, uma suíte enorme com uma cama de casal
no centro do quarto.
Paro em frente a cama depois de deixar nossas malas na porta do
armário e Luna para ao meu lado, encarando o móvel como se houvesse
cinco cabeças saindo dos lençóis brancos.
— Isso vai ser estranho demais — ela comenta baixinho.

— Dormir comigo é tão ruim assim?


Ela sorri e vira o rosto para mim, os olhos castanhos brilhando em
minha direção. O cabelo castanho longo está preso em um coque
bagunçado – principalmente depois de dormir o voo inteiro – e os óculos
de grau que ela usa quando precisa ler alguma coisa completando o
visual dela.
Linda.

Completamente linda.

E totalmente proibida para mim.


Luna dá de ombros e se volta para a cama, por um momento pensei
que ela iria comentar mais alguma coisa, mas ao contrário do esperado
ela dá um impulso e se atira no meio do colchão macio, deitando-se de
barriga para cima e abrindo bem os braços.
— A cama é perfeita!

— Perfeita — murmuro, meu olhar completamente vidrado na visão


da morena deitada no centro da cama.

Desvio o olhar do seu corpo e caminho até a varanda do quarto, abro


as cortinas e o vidro, deixando a brisa úmida do verão britânico tomar
conta do quarto e clarear meus pensamentos. Nunca tive problemas em
demonstrar quando acho uma mulher gostosa, mas tudo isso muda de
figura quando a protagonista dos meus pensamentos é a minha melhor
amiga.

Respiro fundo algumas vezes, encarando a paisagem coberta de folhas


verdes pela janela do quarto. O hotel é um dos mais pertos do circuito de
Silverstone e por isso, acaba sendo um pouco isolado do centro
comercial da cidade. O que traz uma calmaria incrível para os descansos
pós treinos e corrida, mas também me fará passar ainda mais tempo junto
com Luna. Não há muitos lugares para ir além dos campos verdes entre o
hotel e o autódromo.

— Quais os planos para hoje? — ela me pergunta, atraindo minha


atenção para si novamente. Porém, quando me viro para respondê-la, ela
já está de pé, indo em direção as suas malas.
Luna se ajoelha em frente a sua mala e abre, organizando suas roupas
dentro do armário disponibilizado no quarto.

— Em uma hora preciso estar no paddock para as entrevistas em


dupla. Você quer ir? — Não é o dia mais movimentado por lá, então
realmente não seria algo estranho se eu aparecesse sozinho.
Ela dá de ombros e acena com a cabeça, mas não responde em voz
alta. Seleciona algumas peças de roupas e vai para o banheiro.

— Vou tomar uma ducha, me trocar e estou pronta em meia hora.


Pode ser?

— Vou te dar um pouco de privacidade e te espero lá embaixo —


respondo, mas ela já fechou a porta do banheiro.

Certo de que ela me escutou, troco minha camiseta por uma da


equipe, coloco meu boné na cabeça e pego a chave do meu carro.
Deixando o quarto em seguida para que Luna possa se arrumar com
calma e com o mínimo de privacidade.

Nós não temos frescuras um com o outro, mas é a primeira vez que
dividiremos a mesma cama por tanto tempo. Acho que precisamos de
tempo para nos acostumar com a presença constante um do outro.

Mesmo que nesse meio tempo eu continue tendo os piores


pensamentos possíveis com relação a minha melhor amiga.

Quando chego na recepção do hotel, imediatamente encontro meu


companheiro de equipe conversando com um amigo em frente ao bar do
hotel. Caminho até eles, pronto para desopilar um pouco.
— Chegaram cedo! — Charles me cumprimenta assim que me vê
entrar no recinto. — Antônia está se arrumando lá em cima.

— Luna também — respondo após os cumprimentos iniciais.


— Você já conhece Theodore? — Charles pergunta ao apontar para o
homem que está junto com ele. Lembro vagamente de vê-lo pelo
paddock algumas vezes, mas não acho que fomos apresentados de forma
direta antes.

— Então é você que está dando um banho em Charles na pista. — O


loiro alto fala, a imagem do cara é assustadora. Cabelos longos e o corpo
inteiro tatuado, mas a expressão facial dele parece simpática demais. É
uma combinação peculiar. — Theodore, muito prazer.

Theodore estende a mão para mim e o cumprimento de volta.


— Talvez ele aprenda uma coisa ou outra comigo agora — respondo
de volta, recebendo uma risada de Charles ao meu lado.

— Vai sonhando — ele rebate e deixa um tapa em minhas costas.

— Já sabe com quem vai ser a sua entrevista? — pergunto me


referindo as duplas aleatórias que eles selecionam para a coletiva de
imprensa antes das corridas.
Charles nega com a cabeça, mas dá de ombros.

— Depois que Omr [7]saiu, estou tranquilo com qualquer um.


— Aquele cara era um terror — Charles comenta em seguida e
Theodore concorda.

— Não posso discordar — murmuro.


Meu celular vibra no bolso da minha calça e pego o aparelho,
encontrando uma mensagem de Luna dizendo que está na frente do hotel
me esperando.
— Luna está me esperando, nos encontramos pelo paddock mais tarde
— falo a eles, já me virando para ir encontrar a morena.
Ouço as minhas costas as despedidas dos caras, mas não me volto
para eles, pois sei que Luna já está na rua a minha espera.

E não importa quem esteja comigo, sempre vou deixar qualquer um


para ir ao seu encontro.

Havia tantos fotógrafos na entrada do paddock hoje que quase pensei


que havia mais alguma fofoca rodando por aí, mas quando os gritos
foram completamente direcionados a morena ao meu lado, rapidamente
entendi que eles apenas estavam esperando o momento que Luna faria
sua primeira aparição no paddock como minha namorada oficialmente.

— Sorria! — digo no seu ouvido depois que passamos nossos crachás


nas catracas da entrada e seguimos caminhando até o trailer da Durant.
Durante os poucos passos somos acompanhados de perto por pelo menos
cinco fotógrafos, alguns repórteres de plantão e alguns fãs gravando
nossos movimentos pelo celular.

Luna parece um pouco nervosa, noto como ela se contraí um pouco ao


meu lado e para facilitar o trajeto, seguro sua mão com firmeza na
minha, cruzando nossos dedos e trazendo o seu corpo para mais perto do
meu.

As fotos parecem explodir com a pequena mudança em nossos


corpos, mas o sorriso brincando nos lábios da morena mostram como ela
começou a se divertir com tudo isso. Por mais assustador que seja, Luna
ama moda e saber que seus looks estão sendo fotografados e admirados é
como uma realização pessoal para ela.
Posso não entender absolutamente nada disso, mas ela está incrível
vestindo um lindo macacão salmão, a peça é leve e fluída, marcando os
lugares certos do seu corpo e deixando-a mais sexy do que nunca.
— Luna! Luna! Olhe para cá! — Os gritos ficam cada vez mais altos
quando nos aproximamos do trailer, durante o percurso até lá parece que
o número de câmeras duplicou.

Solto sua mão bem em frente a porta para que ela possa posar para
alguns cliques que foram solicitados e entro no ônibus, deixando-a por
poucos minutos livre para se soltar um pouco mais.
— Ela parece feliz. — Charlotte me encontra logo que passo pela
porta de vidro para dentro do espaço refrigerado e bem estruturado. —
Está tudo bem entre vocês?
— Enquanto ela estiver com aquele sorriso no rosto, tudo está bem —
digo e aponto para morena que termina de posar para algumas fotos e
conversa brevemente com os fotógrafos.
Poucos instantes depois ela entra pelas portas duplas do trailer e em
poucos passos me encontra junto à Charlotte. Luna parece radiante pela
atenção recebida, e o antigo olhar de nervosismo completamente
desaparecido agora.

— Vou terminar de organizar a agenda para hoje, mas em poucos


instantes é sua vez de entrar no auditório. Lembre-se, foque apenas no
profissional e desvie de qualquer pergunta pessoal. — Charlotte começa
a caminhar em direção aos escritórios do segundo andar enquanto me
passa algumas informações importantes sobre a coletiva de imprensa.
Irei fazer dupla com um piloto da Montanare, Anthony, uma pessoa
que eu definitivamente não tenho nenhum tipo de contato além do
profissional, mas que se parece uma boa pessoa. Charles costumava
correr com ele no ano passado e os dois tinham uma relação bem
agradável dentro e fora das pistas.

Contudo, no que diz respeito a mim, não tenho absolutamente nada


para falar sobre o cara.
— Somos oficiais agora, então? — A voz de Luna corta meus
pensamentos e volto minha atenção para a morena que me olha com um
brilho nos olhos.

— Ao que parece, sim. — Dou de ombros e abro um sorriso para ela.


— Imaginava que teríamos alguma atenção quando chegássemos, mas
pensei que a comoção de hoje aconteceria somente no domingo.

Puxo seu corpo para perto de mim quando noto alguns olhares
curiosos dos funcionários da equipe. Qualquer motivo para tocar em
Luna é o suficiente para me deixar completamente louco.

— Acha que vai ser pior? — ela pergunta.


— Domingo? — Ela acena com a cabeça em concordância. —
Provavelmente.

— Ou talvez eles já tenham cansado de nós dois até lá. — Ela passa
os braços finos em volta da minha cintura, sinto seus dedos mexerem na
barra da minha camisa. — É por isso que estamos tão grudados agora?
Para mostrar que somos um casal apaixonado?
Ingênua, minha pequena.
— Com certeza. — E se depender de mim, continuará assim.

Luna solta uma risada com o rosto colado em meu peito. Ergo o rosto
e vejo Serguei me chamando com as mãos, provavelmente está na hora
de entrar na sala de coletiva, então deposito um beijo suave no topo da
cabeça da minha amiga e afago suas costas.
— Preciso ir agora, fique por aqui ou volte lá para fora e seja a estrela
do paddock.

— Com certeza voltarei lá — ela comenta aos risos.


Logo se afasta de mim e acena com a cabeça, me incentivando a ir ao
meu compromisso do dia.
— Te encontro mais tarde, tudo bem? E lembre-se… — começo a
falar, mas sou interrompido quando ela finaliza meu pensamento.

— Não saia do paddock sozinha. Got it, babe[8].


Afago seu ombro antes de ir atrás do meu empresário que me leva até
o auditório específico para a minha coletiva pré corrida junto a Anthony.
Luna estará sob os cuidados de Charlotte, que está encarregada de
proporcionar tudo o que a morena precise, inclusive uma guia por todas
as instalações. A única ordem que dei a minha equipe é que não
permitam que ela saia do paddock sozinha.
Ano passado tivemos uma situação conturbada demais nos portões de
saída aqui em Silverstone. Antônia[9], a namorada de Charles, foi
assediada de formas grotescas bem em frente aos portões e se não fosse
pelo meu amigo encontrá-la a tempo, ela com certeza teria sofrido um
trauma muito maior. Depois desse fatídico dia, entramos com diversas
ações para proporcionar segurança para as mulheres dentro e fora das
instalações, e pelos feedbacks que recebemos pelas redes sociais, as
coisas estão gradativamente melhorando.
Contudo, hoje Luna é uma figura pública e pela situação em que a
coloquei, vulnerável demais às pessoas que nem sempre querem somente
o nosso bem. Isso fica bem claro após as ameaças que ela andou
recebendo em casa e no seu número de telefone pessoal.

Por isso, sei que Charlotte irá cuidar para que ela fique em segurança
em todos os momentos em que eu esteja longe, inclusive quando estiver
dentro do carro.

Mas é sempre bom deixar claro que as regras permanecem as


mesmas, mesmo que eu não fique tocando no assunto o tempo inteiro.
Capítulo 13
A quinta-feira foi tumultuada.
Não de uma forma negativa, mas acho que fazia muito tempo que eu
não finalizava o dia extremamente cansada e feliz. Satisfeita seria uma
palavra ideal para o momento. Inicialmente pensei que a experiência de
ser apresentada oficialmente como namorada de Nate em frente a todos
seria desgastante, mas todos me trataram de forma excepcional. Desde os
jornalistas de plantão até as pessoas que estavam andando pelo paddock.
— Vai dormir agora? — Nate me pergunta assim que sai do banheiro
após tomar um banho.
— Acho que sim, sinto meu corpo completamente moído, como se
um caminhão tivesse passado por cima de mim — respondo enquanto
tiro todas as almofadas da enorme cama do quarto de hotel e arrumo os
travesseiros em ordem de tamanho.
É um costume chato, mas eu estou acostumada a fazer isso todos os
dias. Enquanto termino de dobrar a coberta em cima da cama, noto Nate
parado ao meu lado apenas encarando toda a minha organização.
— O que foi? — pergunto, afofando um travesseiro pequeno em
frente à montanha de plumas cobertas por fronhas de algodão egípcio.
— Não sei porquê ainda fico surpreso tentando entender qual a razão
de arrumar a cama dessa forma se você vai deitar em poucos minutos.
Dou de ombros, mas não desvio o olhar da minha obra de arte em
formato de cama.
— A sensação de dormir em um lugar aconchegante e bem-
organizado é muito mais relaxante do que apenas deitar em uma bagunça
de lençóis e travesseiros — explico, mas ele parece determinado a me
fazer mudar de ideia.
— De novo, você irá bagunçar absolutamente tudo assim que deitar
em cima desses lençóis.

— Eu gosto assim, então é assim que iremos dormir — rebato e dou a


palavra final.
Meu amigo balança a cabeça para os lados e caminha até a outra
extremidade da cama, senta-se na cama e passa as mãos pelo tecido
perolado do lençol, alisando o tecido enquanto me encara com um
sorriso debochado no rosto.
— Se eu me deitar como uma múmia, pode ser que sua organização
dê certo de alguma forma — murmura, sorrindo.
— Se você deitar como uma múmia, faça o favor de não roncar e não
ressonar ao meu lado.
— Eu não ronco… — ele resmunga.

— …baixo! — finalizo, soltando uma gargalhada ao ver sua


expressão contrariada.

É mentira, ele não ronca.


Ao menos, nunca ouvi nada.

Não que já tenhamos dividido uma cama antes, mas já tivemos


experiências em que tivemos que dormir no mesmo ambiente. Em todas
elas, meu coração quase saiu pela boca com a simples menção a ele estar
no mesmo ambiente que eu.

O que me faz pensar como passarei a noite toda ao seu lado.


— Você vai ficar apenas me olhando ou vai se deitar de uma vez? —
ele me pergunta após me analisar alguns segundos apenas olhando-o
deitado na cama. — Eu não mordo, Luna!
Bufo alto e me deito no colchão, sentindo o meu corpo
completamente estático em cima da maciez do tecido.
— Você pode respirar.
— Não estou prendendo a respiração — rebato.

— Estava, sim!
Balanço a cabeça para os lados e continuo deitada de barriga para
cima, encarando o teto com toda a minha força de vontade. A sensação é
estranha demais, não consigo relaxar o meu corpo e muito menos encarar
Nataniel.

O que não parece ser um problema para ele, já que sinto seu olhar
preso em mim o tempo inteiro.
— É tão estranho — comento, dando voz aos meus pensamentos.

— Dormir comigo é tão ruim assim? — pergunta, a voz mais baixa do


que antes.

— Não é ruim.
— Se você quiser, eu durmo no sofá, sweetie — sugere.

É por isso que eu odeio amar ele. Mesmo sabendo que ele precisa
descansar o máximo possível para os treinos de amanhã, ele prefere ter
uma péssima noite de sono a me deixar sentir um pingo de desconforto.

Engulo o aperto no meu peito e viro meu corpo para o lado, deitando
frente a frente com ele. Os olhos castanhos presos em meu rosto e o
sorriso de canto deslizando pelos lábios avermelhados.

— Você vai dormir aqui, comigo. Isso não é discutível.


Ele balança os ombros para cima, mas continua parado na mesma
posição.

— Lembra quando você ficava sentada naquela árvore durante horas


sem notar o tempo passando? — pergunta.
— Como eu poderia esquecer? Era o meu porto seguro.
Nataniel acena com a cabeça e passa a língua pelos lábios,
umedecendo-os e levando a minha já frágil atenção exatamente para o
ponto proibido em seu rosto.

— Você ficava confortável lá, não ficava?

Concordo, acenando.

— É exatamente como agora. Você apenas se concentrava em algo


diferente do que na minha presença.

Franzo as sobrancelhas.

Eu sempre estava sozinha lá.

Ele parece ler os meus pensamentos, pois abre um sorriso carinhoso e


ergue a mão, ajeitando uma mecha do meu cabelo que caiu sobre o meu
rosto.

— Você realmente pensava que eu não estava por perto todos os dias?
— Você não estava por perto, Nataniel. Estava sempre se enturmando
com as outras pessoas da escola. — Não era minha intenção soar tão
mesquinha, mas lembro como se fosse ontem os momentos em que ele
me deixava para sair com outras garotas, ou mesmo praticar algum
esporte com algum dos rapazes da nossa turma.

Aqueles momentos quebravam ainda mais o meu coração.


Ele estala a língua, mas continua mexendo em meu cabelo mesmo
depois de ajeitar a mecha fujona.

— Era o que eu queria que você pensasse.


— O que isso quer dizer? — murmuro baixinho.

— Que você precisa se lembrar exatamente como se sentia naqueles


dias embaixo da árvore. Eu estou aqui, sempre estive aqui. Você apenas
se acostumava tanto com o seu redor, que não parava para prestar
atenção. Faça o mesmo agora.

Para evitar que ele veja o sorriso em meu rosto, viro meu corpo
novamente para cima, encarando o teto bege do quarto de hotel. Nate
continua na mesma posição, virado para mim e olhando a cada
movimento que eu faço.
Aos poucos, sinto meu corpo relaxando na cama, minha respiração se
tornando cadenciada e cada vez mais suave. Estar junto com meu melhor
amigo nunca foi desconfortável, e mesmo agora, dividir uma cama com
ele também não deveria ser.

O problema é o inferno que meu coração parece criar quando estamos


em alguma situação assim. O que não faz o menor sentido, pois é um
sentimento completamente unilateral e eu preferiria morrer a fazer com
que ele se sinta pressionado a sentir algo remotamente similar por mim.
Sinto seus dedos acariciando meu braço de cima a baixo, começando
pelo ombro e descendo até o meu punho. O movimento ritmado e
constante relaxa ainda mais o meu corpo, e antes que posso formar um
pensamento coerente, sinto meus olhos se fechando lentamente.

A voz de Nate parece um sonho profundo quando finalmente me


entrego ao sono:
— Eu sempre estarei aqui, sweetie.

No dia seguinte Nataniel não estava mais no quarto quando acordei. A


rotina do piloto em semanas de corrida é realmente excruciante. Ele
provavelmente acordou antes do sol nascer para fazer uma caminhada
pela cidade antes de ir para a academia.
Eu me considero uma pessoa ativa, estou sempre tentando criar uma
rotina de exercícios para poder manter minha saúde em dia, mas é
exaustivo apenas olhar tudo que Nate precisa fazer para estar em forma.

Meu celular vibra com uma mensagem:


“Estou indo para a crioterapia, me encontra na saída do
laboratório?”

Respondo rapidamente com um sim e me preparo para iniciar o dia.


Como sei que teremos os primeiros treinos no circuito hoje, preparo um
look mais despojado e confortável, composto por um jumpsuit [10]marrom
e tênis brancos, para completar o visual, acrescento alguns acessórios, os
crachás com os passes para o paddock e uma linda mini bolsa da Versace
em um tom off white[11].

Encontro com Charlotte na recepção do hotel, com certeza ordens de


Nataniel para que eu não fique andando sozinha pela cidade. Não me
importo realmente, não tive mais nenhum infortúnio com relação as
ameaças e a companhia de sua publicitária é realmente bem-vinda em
um ambiente com tantos homens.

— Estou encarregada de te levar até o laboratório para que vocês


cheguem juntos no paddock — Charlotte começa a falar assim que me vê
saindo do elevador. — Não é a melhor das ideias já que teremos que ir
até o centro e depois voltar novamente para cá, mas Nate acha que a
aparição vai trazer resultados positivos, então, vamos lá!
— Não seria melhor esperarmos ele voltar então? — pergunto.

O hotel é realmente ao lado de Silverstone, com apenas alguns metros


de caminhada já estamos em frente aos portões do enorme autódromo.
Contudo, por ser um lugar mais afastado, todos os compromissos que
Nataniel precisa comparecer ficam na cidade mais próxima daqui. O que
consiste em uma viagem de carro de no mínimo quarenta minutos até lá.
— Ordens do patrão, Luna — Charlotte brinca, já entrando no lado do
motorista do sedan preto estacionado em frente as portas do hotel. — E
eu concordo com ele, a Durant anda bem tranquila com relação as
notícias que vazam dele. E desde ontem só o que se fala nas redes sociais
é sobre vocês dois chegando juntos e oficializando o relacionamento.
— Então toda a história do namoro falso está funcionando? —
pergunto a ela assim que ela dá partida no veículo e saímos em direção
ao laboratório de crioterapia que Nate está.
— Mais do que imaginamos — responde.
— Então, a ideia foi de todos vocês?

Charlotte me encara de canto de olho e sacode a cabeça.


— Tivemos uma reunião para estabelecer nossos próximos passos, as
fofocas o envolvendo estavam fugindo do controle e tem um limite de
notícias que eu consigo fazer desaparecer. Porém, você o conhece melhor
do que ninguém, sabe que ele jamais aceitaria entrar em um
relacionamento de verdade — Charlotte não nota, mas ela acaba de falar
a maior e mais dolorosa verdade que eu poderia ouvir. — E enquanto
estávamos na reunião com os Durant, ele apenas jogou no ar essa
informação sobre vocês dois e acabamos aderindo à ideia.

Fico em silêncio.
Eu imaginava que a ideia inicial não havia sido apenas de Nate, mas
ouvir que tudo não passou de um esquema entre eles é como ter uma faca
revirada no meu estômago.
— Você o ama — Charlotte declara.
— Claro, ele é meu melhor amigo.

Ela balança os cabelos para os lados.


— Não foi isso que eu quis dizer.
— Eu sei — murmuro. — E não estou pronta para admitir nada além
disso.
— Justo — ela responde. — Talvez ele seja a sua pessoa certa, Luna.

Abro um sorriso que definitivamente não alcança os meus olhos.


— Mas na hora errada. — Encerro o assunto e viro meu rosto para a
janela do passageiro, encarando as árvores passando rapidamente pelo
vidro do carro enquanto Charlotte dirige em alta velocidade até a cidade.
Em poucos instantes a paisagem de flores e verdes vai se
transformando em prédios baixos feitos de tijolinhos vermelhos em ruas
estreitas e extremamente movimentadas.
A Inglaterra sempre me encantou com sua cultura, suas casinhas de
tijolos e todo o clima inglês, mas por alguma razão, me sinto tão
sufocada com toda a confusão de sentimentos dentro de mim que não
consigo nem ao menos aproveitar a paisagem durante a curta viagem.
Sinto que todo o percurso durou um piscar de olhos, pois em pouco
tempo noto que Charlotte encosta o carro em frente ao laboratório de
crioterapia que Nataniel se encontra.
— Vou deixar você aqui, entre e logo verá onde ele está — ela me
instrui. — E se eu posso pedir algo, não deixe que a confusão aí dentro
estrague algo tão maravilhoso entre vocês dois.
Ela pisca para mim e estende a mão, abanando enquanto eu desço do
carro. Charlotte sabe como me sinto, talvez qualquer pessoa que conviva
comigo sabe disso.
Com exceção dele.

Nataniel é inteligente demais, esperto o bastante para entender as


entrelinhas em tudo que diz respeito a sua vida profissional, mas entendo
que por todo o seu passado, ele muito provavelmente escolhe não
enxergar certas coisas que estão visíveis demais em sua frente.

Caminho poucos passos até entrar pela porta de vidro dupla do


laboratório, por incrível que pareça, nenhum jornalista nos seguiu até
aqui ou está de plantão fora do estabelecimento. O que é ambos um
alívio e uma preocupação.

É ótimo poder respirar e não precisar cuidar cada movimento que faço
enquanto estou na mira das câmeras, mas é também preocupante pois
caso a situação de Nate nas mídias esteja realmente se consolidando
como um cara concentrado no trabalho e não em festas e mulheres,
significa que nosso acordo pode estar perto do fim.
E sinceramente, eu não sei o que seria pior.

Continuar nessa mentira e correr o risco de quebrar ainda mais o meu


coração estando ao lado da pessoa que eu mais amo no mundo e saber
que jamais poderei estar com ele, ou, terminar tudo de uma vez e aceitar
que nós sempre seremos apenas amigos.
Nada mais que isso.
— Aí está você! — Ouço a voz do dito cujo vindo de trás de duas
portas metálicas, não noto no primeiro momento que ele estava me
observando de cima do tanque de nitrogênio.
— Confortável aí? — pergunto, sabendo que ele provavelmente está
prestes a congelar de tanto frio.
— Não imagina o quanto.
As primeiras vezes que vi ele fazendo crioterapia fiquei muito
preocupada, o tanque chega a temperaturas exorbitantemente baixas,
perto de congelar o corpo. Mas depois de muita calma e explicação, tanto
Nate quanto seu médico me explicaram os benefícios que essa terapia
tem no corpo dele quando ele está dentro do carro.
O esforço físico necessário para conseguir correr e se manter em
forma é surreal. Algo que ele, com seu jeitinho de bom moço e sempre
alegre, nunca demonstra.
Mas eu sei que ele sente o baque quando termina uma semana corrida
de treinos e campeonatos.

— Preparado para o primeiro treino?


Nataniel balança a cabeça, pelo menos o máximo que ele consegue
visto que a temperatura baixa faz seu corpo praticamente congelar no
lugar. Contudo, mesmo assim, os olhos castanhos continuam brilhando
em diversão na minha direção.
— Esse troféu é nosso, sweetie.

— Você diz isso em todas as corridas.


Ele ergue o braço de dentro do tanque e estende o dedo, balançando-o
no ar em um movimento lateral.

— Não, não.
— Sim, sim — rebato, abrindo um sorriso pela sua atitude infantil.

— Todas as vezes que falei isso, o que aconteceu? — Ele leva a mão
até o ouvido e faz uma concha, esperando ouvir minha reação. — Não
estou ouvindo, Luna.

— Você trouxe o troféu para casa.


Nataniel bate as palmas das mãos uma na hora e sorri para mim.
— Essa é a minha garota. Esse final de semana não será diferente,
vamos ter muita coisa para comemorar no final do dia.
— Acha que é uma boa ideia? Irmos comemorar?
— Por que não seria? — ele pergunta.
— A mídia está finalmente entendendo que você não está preocupado
com festas e mulheres, a Durant não pegou mais no seu pé. É o momento
de voltar as festas?
A máquina de nitrogênio começa a apitar um som alto e estridente,
indicando que o tempo que Nate precisava ficar dentro dela finalmente
acabou. As portas metálicas se abrem, revelando o corpo seminu do
moreno.
Mesmo contraído pelo frio, os músculos definidos na pele bronzeada
me afetam mais do que deveria. Meus olhos correm pelos ombros
estreitos e fortes, o pescoço largo pelos treinos preparatório e logo
descem pelo abdômen definido coberto por uma fina camada de pelos.

O corpo do desgraçado é bonito.


E ele sabe disso, pois quando subo meus olhos novamente para o seu
rosto, o encontro com um sorriso idiota rasgando os lábios carnudos,
porém esbranquiçados pelo frio.
— Gostou da vista?
Estendo a mão e pego o primeiro tecido que encontro em cima da
mesa, atirando em cima dele. Nate desvia o rosto, gargalhando da minha
reação, e pega a camiseta em mãos.
— Vou me acostumar mal com você jogando peças de roupa em mim
o tempo inteiro.
— Vai me devolver a lingerie?
Ele nega com a cabeça e logo em seguida começa a vestir sua
camiseta.
— Já falei, irei guardar…

— Como punição. É eu lembro desse detalhe. — Reviro os olhos,


mas me sinto quente por dentro ao saber que ele guardou a pequena peça
íntima para si.

— Então sabe que eu não vou me desfazer dela. — Nate termina de se


arrumar, vestindo sua calça de moletom e o tênis. Pronto para sair do
laboratório comigo ao seu lado, puxo sua mão e freio nossos
movimentos.
Ele me encara com confusão, mas espera que eu diga algo.
— O que estamos fazendo? — pergunto.

— Saindo do laboratório? — ele murmura uma afirmação com um


tom de pergunta, como se eu não estivesse enxergando a realidade. Mas
apenas balanço a cabeça a suspiro.

— Você sabe o que estou querendo dizer. Isso — aponto o dedo para
nós dois —, o que estamos fazendo, Nate?
Ele abaixa o rosto e se vira para mim, segura as minhas mãos rente ao
seu peito e respira fundo.
— Estamos fazendo o que combinamos que faríamos — ele diz.
— Não parece ser só isso.

— Você não gosta mais da ideia? — pergunta, receoso.


Dou de ombros e olho para o chão.

— Nunca gostei da ideia.

— Então por que aceitou? — Ele apoia um dedo no meu queixo e


ergue o meu rosto, os olhos castanhos brilhantes completamente
concentrados em mim.
— Porque você precisava de mim, e eu sempre vou estar aqui por
você.
Ele acena com a cabeça, seus dedos iniciam uma leve carícia no meu
rosto, mas ele não se move.
— O que você quer fazer?
Sei que ele não está realmente falando sobre o agora, mas sim sobre
toda a nossa mentira/relação. E novamente, eu não sei o que é mais
assustador, continuar a mentira ou acabar com tudo de uma vez.
Mas por alguma razão o meu coração masoquista faz o impensável e
me faz responder a coisa mais ridícula que eu poderia pensar:
— Se vamos continuar com isso, talvez tenha algo que você pode
fazer em troca por mim.
— Qualquer coisa. — Como imaginei, ele não hesitou nem por um
segundo antes de responder ao meu pedido.
Ele só não imaginava o que eu iria pedir.
— Continuamos na mentira, no entanto, você vai me levar nas festas
que costuma ir e me ajudar a me soltar.
Ele semicerra os olhos, as mãos que antes estavam acariciando o meu
rosto caem pesadas ao lado do seu corpo.
— Se soltar? — pergunta, entortando levemente o rosto.
— É, você sabe, me soltar, conhecer outros caras. Sei lá, me preparar
para quando tudo isso acabar.
Noto a coloração vermelha tomando conta do seu pescoço, e como
forma de segurança, fixo meu olhar na pele avermelhada do seu corpo,
sem coragem de encarar seus olhos.
— Você quer continuar “namorando” comigo — consigo sentir a
entonação das aspas em sua fala —, mas quer que eu te ajude a encontrar
um cara para comer você quando terminarmos?
Ergo meu rosto de supetão, completamente enojada pela forma que
ele se referiu a mim.
— Como disse?
— É isso mesmo, Luna? Quer que eu te ajude a encontrar sua
próxima foda? — Sua voz é fria, cortante e sem o tom de descontração
de sempre.
Por um momento me sinto completamente sem chão ao me deparar
com essa personalidade do meu amigo.
Uma que eu já conhecia, mas que nunca havia sido direcionada a
mim.
— Não fale comigo dessa forma! — Aponto o dedo para ele. — Você
não tem o direito de falar nada disso para mim. Eu nunca pedi nada em
troca por tudo o que estamos fazendo, nunca questionei suas intenções e
nunca julguei o seu comportamento anterior. Não faça isso!
Explodo com ele, falando baixo, mas com firmeza. Nataniel sabe que
eu não tenho o costume de erguer a voz em uma discussão, palavras
podem ferir muito mais do que um grito.
E ele também sabe como isso pode me afetar. Como palavras são
eternas e muitas vezes imperdoáveis. Mesmo no calor do momento, eu
sempre tento pensar duas vezes antes de falar algo que possa me
arrepender no futuro.
O que, claramente, não é o caso dele.
— Talvez você deva voltar para o hotel hoje.
Um tapa na cara doeria menos.

— Realmente, estar com você agora é a última coisa que eu gostaria.


Ele dá um passo para trás, como se eu tivesse lhe empurrado ou algo
assim. O olhar cortante e frio direcionado a mim uma última vez antes
que ele atire as chaves do carro dele para mim e me dê as costas, indo
para a saída dos fundos do prédio e me deixando sozinha para voltar ao
hotel.
Como eu disse, eu tento pensar duas vezes, mas nem sempre essa
opção é viável.

Ainda mais quando preciso lidar com a personalidade irritável do meu


melhor amigo.
Capítulo 15
Eu posso ser um filho da puta às vezes, mas tenho vontade de socar a
minha cara por ter tratado Luna daquela forma. Não consegui nem
mesmo olhar em seus olhos depois de dizer todas as merdas que
passaram na minha cabeça sem filtro algum.
No momento que falei tudo aquilo, soube imediatamente que as
consequências seriam infernais. Não poderia esperar algo diferente,
conheço Luna desde quando éramos pequenos, sei que quando ela se
sente atacada ela não costuma atacar de volta. Ela simplesmente ignora
totalmente a fonte de perigo.
Geralmente sentia um orgulho do caralho quando ela tinha essa
atitude para com algum cliente ou promotor em um caso jurídico, mas
me senti um desgraçado quando essa reação foi direcionada a mim.
O treino foi um inferno sem ela por perto, e a cada foto que tiravam
de mim, tudo que eu imaginava era ter ela ao meu lado.
A temporada é extremamente longa e desgastante, é cansativo demais
viver os meses do campeonato, e ter alguém ao seu lado que está
disposto a te distrair e trazer momentos bons em meio a um furacão é
como um respiro de ar puro.
Luna é a minha pessoa.

E não ter ela nos dois dias de treino foi como me afogar dentro de um
tanque de água. O carro parecia me sufocar. Os gritos de Otty, minha
engenheira, no meu ouvido me fizeram apenas desligar o rádio e dirigir
as escuras. Os fãs gritando por fotos e autógrafos me deram gatilhos de
raiva o tempo inteiro e tudo que eu queria era voltar naquela porra de
quarto de hotel e implorar seu perdão.
Mas ela apenas me ignorava todas as vezes que me via. Luna é boa
nisso. Boa até demais.
Na noite anterior ela já estava dormindo quando cheguei e já havia
saído de manhã quando acordei. Ela se manteve ocupada nos dois
últimos dias, não tendo absolutamente nenhum segundo de tempo livre
para conversar comigo.
Eu sou um filho da puta.

Por isso, logo que finalizei a classificatória e consegui me qualificar


em P2 para o grid do dia seguinte, apenas aviso Charlotte que não darei
nenhuma entrevista na coletiva de imprensa e corro até meu carro para
chegar mais cedo no hotel.
Se a única maneira de encontrar minha amiga é deixando meus
compromissos de lado e surpreendendo ela, então é exatamente isso o
que farei. Acelero meu carro pelas ruas de terra entre o autódromo de
Silverstone e o nosso hotel, e assim que visualizo as portas de madeira da
recepção, encosto o carro no meio fio. Não me preocupo em estacionar
na vaga determinada para a minha suíte, apenas jogo a chave para o
manobrista de plantão e corro hotel adentro.

São segundos idiotas que eu não precisaria correr, mas sinto a


ansiedade me comendo por dentro a cada passo que dou em direção ao
nosso quarto.
Nosso quarto.

Balanço a cabeça em negação, simplesmente não acreditando como


deixei as coisas escalarem de tal forma entre nós. Luna simplesmente
não entende o que significa para mim, e me sinto um idiota por afastá-la
todas as vezes que ela parece enxergar por trás de todas as merdas que eu
falo quando estou me sentindo acuado.
Passo a chave magnética na porta e abro-a, encontrando minha amiga
sentada na cama com seu notebook no colo. Os cabelos castanhos presos
em um coque frouxo, os óculos de leitura pendendo no nariz arrebitado e
os lábios vermelhos e carnudos semiabertos em surpresa quando me vê
entrando no quarto.
— Fugindo de mim? — pergunto casualmente. Entro a passos lentos
no quarto, deixando minha carteira e celular em cima da mesa de centro
no meio dos sofás. Meu olhar sempre concentrado nela, mas Luna
continua parada, apenas me encarando de volta, sem nenhuma reação.

— Deveria? — O tom de voz desafiador me faz respirar em alívio.


Prefiro lidar com a morena arisca à indiferente.
— Ainda está me odiando?

Ela respira fundo e fecha lentamente a tela do computador em seu


colo.

— Eu nunca te odiei, Nataniel — declara.


— Me perdoa por ser um idiota? — Me sento aos pés da cama,
próximo o bastante para sentir a sua respiração suave, mas longe o
suficiente para que ela não se sinta atacada por mim.
— Não tenho o que te perdoar, você apenas falou o que pensa de
mim. — Ela dá de ombros, o pequeno sorriso nos lábios não chegando
até os olhos castanhos.

Sinto vontade de dar um soco em mim mesmo por fazê-la pensar que
o que eu disse tem algum fundo de verdade. O único fato de tudo que
falei é que não sei lidar com ciúmes.

Nunca senti ciúmes de ninguém na minha vida.

— Eu fui um escroto ao falar aquelas merdas, nada daquilo é verdade.


Você tem o direito de sair com quem quiser, quando quiser.
Ela parece ainda mais cabisbaixa com minhas palavras, mas tudo que
tenho tentado fazer é mostrar que ela é livre para fazer o que quiser.
— Podemos seguir em frente e esquecer tudo isso? — ela pergunta,
mexendo nos anéis de prata em seus dedos.

Ergo meu braço e aperto sua mão entre as minhas, atraindo seu olhar
para nossas mãos unidas em cima do lençol claro da cama. Esfrego meu
polegar na sua pele clara e ergo meus olhos para ela, que continua
encarando nossas mãos.

— O que você quiser. Sempre.

Ela acena com o rosto baixo, concordando comigo.

Continuo a carícia em sua pele, logo sentindo sua respiração acelerar


um pouco, se tornando levemente ofegante. Luna parece em transe sem
desviar o olhar do nosso contato.

Arrisco um pouco e deslizo minha mão para cima, acariciando a pele


de seu antebraço em um vai e vem suave, sentindo-a arrepiar com o
contato dos meus dedos.

Minha amiga ergue os olhos e encontra os meus, suas bochechas


cobertas por um tom suave de vermelho, a boca entreaberta e a
respiração pesada saindo pelos lábios. Me sinto atraído por ela cada vez
mais, por sua pele, seu cheiro, seu gosto.

Puta que pariu, imagino como deve ser o seu gosto. Doce.

Caralho, Nataniel.

Como um choque de realidade, pisco algumas vezes e me afasto um


pouco dela, movendo minhas costas para trás e quebrando o nosso
contato físico e visual. Luna parece sentir a mesma coisa que eu, pois
pigarreia e se mexe de leve na cama, um pouco constrangida pelo clima
que acabamos de experienciar.

— Me acompanha na entrada no paddock amanhã? — pergunto,


desviando para um assunto um pouco mais seguro entre nós dois.
— Acha que eu perderia a oportunidade de estrear um look novo? Até
parece que não me conhece, garoto — ela responde com uma risadinha,
já deixando o clima entre nós mais leve como era antes.
Pelo menos é isso que vou falar para mim mesmo até que eu acredite.

— Como estão os pneus? — Escuto a voz de Otty pelo fone de


ouvido do carro.

— Fenomenais! — exclamo, a respiração acelerada pelo esforço de


estar dentro do carro.
Diferente dos treinos nos dias anteriores, sinto a conexão fluindo com
o carro. Estamos voando! A potência está incrível, fiz uma largada
sensacional e consegui manter minha posição em P2, somente atrás de
Charles. A velocidade aumentando fortemente nas retas e depois
diminuindo de forma brusca para as curvas de baixa velocidade me
mantém vivo durante esse circuito.

— Mantenha o ritmo — Otty murmura pelo chiado do rádio mais uma


vez. — Charles está a 1,8 segundos na sua frente, se manter o ritmo por
mais dez voltas você o alcançará.

— Irão trocar de posição ou podemos correr? — pergunto.

— Nenhuma informação ainda — ela responde.

É comum em equipes onde os dois pilotos estão em posições mais


favoráveis, trocar as posições quando beneficiar mais a equipe. No
campeonato estou com mais pontos que Charles, o que seria um ponto
positivo para a classificatória de equipes se eu ganhar a corrida. No
entanto, nunca achei justa essa atitude.

Estamos aqui para correr.


Charles tem o mesmo posicionamento que eu e já deixou isso claro
em várias reuniões.

No entanto, para evitar acidentes entre os dois carros da mesma


equipe, dificilmente nos permitem correr entre si, pois os riscos são
muito grandes em comparação a apenas trocarmos de posição durante a
corrida.

Dez voltas depois e após uma sequência de cinco curvas de alta


velocidade, consigo baixar minha diferença de tempo para menos de 1
segundo de Charles, o que me permite abrir a asa móvel na reta onde o
DRS é permitido.

No momento que o sinal verde brilha no painel do meu volante, abro


a asa móvel do carro e sinto a velocidade aumentando em milésimos de
segundos. Meu corpo é imediatamente jogado para trás e preciso recorrer
a minha preparação física para manter meus músculos contraídos o
bastante para não perder tempo ao me movimentar demais dentro do
cockpit. Meu carro se aproxima em alta velocidade do veículo à minha
frente, o número do carro de Charles se tornando cada vez mais nítido
aos meus olhos pelo visor do capacete.

— Permissão para correr? — pergunto no rádio e espero menos de um


segundo pela resposta de Otty.

— Negativo.
— Porra! — grito e bato meu punho no volante. A emoção de um
piloto é poder lutar e conquistar a primeira posição, nada que vem tão
facilmente soa tão bom como uma bela corrida.

— Ele foi instruído a deixá-lo passar — ela murmura de novo, mas


nesse momento não estou me importando mais com as ordens dada.

Apenas piso com força no acelerador, aproveitando cada segundo de


alta velocidade pelo resultado da asa móvel aberta e antes de chegar na
curva 15, já estou ultrapassando o carro do meu companheiro de equipe
por dentro da curva.
Charles acena do cockpit para mim, mas é nítido que também ficou
insatisfeito com as ordens que nos foram dadas. Aceno de volta para ele
e sigo pelo setor três em busca de melhorar meu tempo e conquistar um
ponto extra pela volta mais rápida na corrida.
Na atual situação que estamos, quase empatados em pontuação no
campeonato, conquistando o primeiro e segundo lugar respectivamente,
qualquer ponto extra é essencial para uma diferença na última corrida.
Ao fechar a 52ª volta em primeiro lugar, sou o primeiro piloto a ver a
bandeira quadriculada no grid de chegada. Sinto a emoção tomar conta
do meu corpo ao conquistar mais uma vitória na minha carreira. Todas
elas têm um gosto diferente de realização, mas hoje é uma especial.

Hoje a vitória é dela.


— Essa é para você, sweetie — murmuro para mim mesmo enquanto
escuto os gritos dos fãs nas arquibancadas. Diminuo gradativamente a
velocidade do carro até parar em frente ao tótem com o número um
desenhado na frente.
— P1 e volta mais rápida fechando exatamente 1:30.510! — Otty
grita no meu ouvido pelo rádio. — Vamos!
— Vamos! Obrigado a toda a equipe, vocês foram incríveis demais
hoje! — exclamo, feliz demais pela conquista.

Temos que fazer algumas observações enquanto estamos dentro do


carro para que os veículos de imprensa possam divulgar a corrida, então
falo mais algumas coisas com a minha engenheira antes de desligar o
veículo ao tirar o volante do cockpit e depositá-lo em segurança entre o
halo e o bico do carro.
Desço do veículo e sou ovacionado pela torcida presente no
autódromo, a emoção ao ouvir meu nome sendo aclamado por todos é de
arrepiar. Aceno para os que estão por perto e junto as mãos em frente ao
peito para agradecer o carinho de todos que estão presentes.
Olho ao meu redor e encontro Charles caminhando na minha direção,
ele estende a mão e me cumprimenta, me parabenizando pela vitória. Sei
que deve ser amargo perder uma vitória por causa de tecnicalidades de
equipe, no entanto, também sei que eu teria potencial para ganhar a
corrida se tivesse a oportunidade de correr contra ele.

Caminhamos lado a lado até onde nossa equipe inteira se encontra,


desde engenheiros, mecânicos, assistentes e toda o pessoal que trabalha
por trás dos computadores para fazer com que nossos carros se tornem as
máquinas de velocidade que correm nas pistas. Jogo o meu corpo em
cima da multidão, sendo parabenizado por cada um deles. Minha maior
gratidão foi ter encontrado uma equipe como eles, onde todos trabalham
e dão o seu melhor para que tenhamos apenas sucesso em cada uma das
corridas.
Procuro a minha morena pela multidão, vendo-a sorrindo e
aplaudindo ao lado de Charlotte, no fundo de todos os funcionários da
Durant, mas antes que eu possa chegar até ela, Joshua e Dave, os sócios
majoritários da equipe, param na minha frente
— Você estava voando hoje, Taylor. Não tinha dúvidas que um pouco
de responsabilidade cairia bem em você — É Dave quem fala primeiro.
Ele costuma me chamar pelo sobrenome quando estamos em público,
talvez para manter um pouco mais do profissionalismo. Mesmo que o
assunto não seja o mais profissional no momento.

— E onde está a responsável pela mudança no comportamento? —


Joshua pergunta, olhando para os lados em busca de Luna, mas ela está
ao fundo de toda a equipe e a não ser que tenham olhos treinados para
buscá-la, eles não irão encontrá-la.

Bato a mão nos ombros de Joshua e abro um sorriso em direção a


Dave.
— Está me esperando para comemorar a vitória. Se vocês me
permitem, vou ir atrás da minha garota — comento, sorrindo.

Dave acena com a cabeça, um sorriso discreto em direção ao marido,


incentivando-o a me deixar ir. Assim que os dois saem do meu caminho,
marcho reto em direção à Luna. Assim que ela me vê, abre os braços e
corre em minha direção.
A morena se atira em meus braços, no lugar em que pertence, e
envolve meu pescoço, me abraçando com força.

— Você não tem ideia do orgulho que estou sentindo agora! — ela
grita nos meus ouvidos, arrancando risadas das pessoas que estão à nossa
volta. — Meu deus, que corrida incrível!

— Eu falei que iria trazer essa vitória para você — declaro. — E se


prepara, hoje a noite vai ser nossa!

Ela solta uma gargalhada quando seguro sua cintura e a giro no meu
colo, rodopiando com a morena em meus braços no meio de todas as
equipes, torcidas e qualquer um que tenha acesso a uma televisão ou
celular.

Se ainda não estava claro para o mundo que eu sou completamente


rendido por essa mulher, agora não há mais dúvidas.
Bom, somente ela ainda não sabe que sou e sempre serei dela.
Capítulo 16
— Você não deveria ter vindo com essa roupa — falo pela milésima
vez para Luna.

— E desde quando você decide o que eu visto, garoto? — ela rebate.


Luna enrosca seu braço no meu ao entrarmos no ambiente escuro da
balada escolhida para comemorar minha vitória. Os rumores que corriam
pelo paddock hoje cedo eram os melhores sobre esse lugar, o que pode
significar duas coisas.
1: Todos estarão aqui, o que será bom para eu ser visto com Luna.

2: Todos estarão aqui.


— A questão é que você está gostosa pra caralho nesse vestido, vai
me causar dor de cabeça.
Ela dá de ombros e ignora meu comentário, mas sei que gostou de
ouvir o elogio pois suas bochechas estão mais vermelhas ainda por cima
da maquiagem.

A batida alta de Ferrari de James Hype estoura pelos altos falantes da


casa, as luzes piscantes brilhando em tons de vermelho, branco e
dourado. Já devia imaginar que eles fariam algum tipo de homenagem à
vitória da Durant hoje em P1 e P2, uma dobradinha digna de
comemoração.
Passo os olhos rapidamente pelo ambiente, já me adaptando a tudo o
que está acontecendo. Os grupos fechados em cada parte da balada, as
mulheres no bar em busca de bebidas grátis e homens atirando dinheiro
em cima de qualquer um que passe por eles. É um ambiente que estou
acostumado demais e que sempre adorei estar. Por alguma razão ter Luna
aqui comigo, conhecendo o lado devasso e depravado da minha vida não
é desconfortável como pensei que seria.
É como abrir mais um pedaço de mim para ela.
Olho para trás e vejo seu rosto iluminado pelos flashes dourados e
coberto pela fumaça branca que se ergue do chão ao teto, ela admira o
ambiente com surpresa, mas parece estar gostando do que vê.
Isso porque ela ainda não viu o que acontece depois de algumas horas.
Vejo John no camarote que reservei mais cedo, no entanto, já está
cheio de convidados que ele deve ter chamado antes que eu chegasse.
— Você quer ir para o camarote? — Aproximo meu rosto do ouvido
de Luna e pergunto alto.
Ela se afasta um pouco de mim e acena com a cabeça, depois faz um
sinal de copo com as mãos.
Minha garota quer beber.
Então é bebida que ela terá.
Puxo sua mão, carregando-a bem próxima de mim, e entro na área
VIP designada para mim e meus amigos. John acena com um copo de
uísque quando me vê entrando, mas continua em sua roda cercada de
bebidas e mulheres.
Luna se balança atrás de mim e me viro para olhá-la, encontrando-a
dançando suavemente no ritmo da batida forte da música eletrônica.
Abro um sorriso e apenas admiro-a por alguns momentos.

Os cabelos castanhos alisados da raiz até as pontas, separados no


meio e estilizados em um penteado simples e elegante, completamente
liso. Fazia muito tempo que não a via tão maquiada como hoje, os olhos
marcados por uma sombra preta e os lábios parecendo ainda maiores e
suculentos com um brilho labial transparente.
Mas o que fez minha perdição completa foi a roupa ousada. O vestido
preto com um decote em canoa dos ombros até o final dos seios, dando
ênfase aos pequenos e lindos peitos. As mangas longas deixando-a com
um toque misterioso, mas são as pernas cobertas por botas pretas com
detalhes vazados dos pés até o encontro da barra do vestido que me
fazem perder a cabeça.

Ela não poderia estar mais gostosa.


— Estou com sede! — ela pede, se balançando no ritmo da música,
mas sem sair de perto de mim.

Ergo o braço para John e peço dois copos, apontando o dedo para
Luna e outro para mim. E em poucos instantes ele aparece ao nosso lado
e deixa uma taça de vidro cheia de um líquido azul para ela e um copo de
uísque para mim.

— O que é isso? — ela pergunta, olhando admirada para a bebida


colorida.

— Apenas beba! — ele grita, já virando e voltando para o seu círculo.


No entanto, Luna me olha com um pedido de permissão, sem tocar na
bebida antes que eu aprove. Aceno com a cabeça e dou um gole na
minha própria, vendo a morena imitar meu gesto. Ela segura o copo com
a mão direita e ergue a esquerda para cima, sacudindo e dançando.
O corpo deliciosamente coberto pela peça de roupa preta se destaca
quando as luzes coloridas caem sobre ela. Com a imagem dessa mulher
na minha frente é completamente impossível manter o controle do meu
corpo. Viro o meu copo com o líquido âmbar, sentindo a ardência da
bebida descendo como fogo na minha garganta.

— Fique aqui, vou buscar outra bebida — falo no ouvido de Luna, ela
apenas assente e continua dançando e bebendo, mas dentro da segurança
do camarote.

O que permite que eu respire aliviado em saber que ela não vai se
meter em problemas enquanto estiver aqui dentro.
— Estava com sede, filho da puta? — John fala assim que me vê
enchendo novamente o copo com o líquido.

— Vai se foder! — exclamo, rindo.


— Ela precisa beber devagar aquilo, é forte pra caralho — ele
comenta e aponta com o queixo para Luna às minhas costas. — Fiz o
mais suave que consegui, mas há um certo limite para a suavidade de um
copo com absinto.

Coloco duas pedras de gelo dentro do meu copo, deixando a bebida


suavizar um pouco com a diluição, e logo dou um gole generoso. Me
viro para ficar ao lado de John, olhando na direção da morena que
continua dançando sensualmente no mesmo lugar.
Dou uma rápida olhada ao redor e imediatamente encontro diversos
pares de olhos concentrados no corpo dela. Me sinto como a porra de um
rei por saber que ela está aqui comigo, com ninguém mais.
— Já prepara outro, pelo ritmo que ela está indo, aquele copo não vai
durar mais cinco minutos — peço para ele, mas não desvio meus olhos
dela.
— Virei garçom agora, caralho?

— Só faça.

John bufa ao meu lado, mas logo se vira para preparar um novo drink
para Luna.
Ela gira seu corpo no lugar e logo encontra meus olhos fixos nela.
Parecendo sentir que estou admirando cada movimento que ela faz, a
morena ergue os dois braços para cima e fecha os olhos. Começa a
rebolar devagar, mexendo os braços e a cabeça para os lados.

Luna abaixa os braços, abre os olhos e deposita o copo na mesinha ao


lado dela. Logo ergue o rosto na minha direção e firma seu olhar no meu,
o fogo queimando suas írises castanhas enquanto ela rebola lentamente,
remexendo a bunda ao descer de leve até o chão.

Minha garota não desvia a atenção de mim, os olhos fixos e


concentrados nos meus enquanto dança para mim.

Sinto meu pau endurecer dentro das calças quando ela sobe
empinando a bunda para trás e realçando os seios marcados pelo decote
do vestido.

Como um filho da puta, minha vontade é correr até ela e colocá-la


apoiada no banco da mesa ao seu lado enquanto a fodo até que perca a
sua voz.

A névoa de tesão é quebrada quando John volta para o meu lado e


estende o novo copo na minha direção, o sorriso de bosta em seu rosto já
diz que ele viu tudo.

— Apenas aproveite, cara.

— Vaza daqui — exclamo e pego o copo de suas mãos para levar de


volta a morena que fechou os olhos mais uma vez, imersa na música e no
remexer de suas curvas sensuais.

Luna ergue as mãos para pegar o copo com a nova bebida e dá vários
goles, me encarando por cima do vidro. Os olhos já brilhantes e as
pupilas levemente dilatadas.

— Vem comigo — ela pede e segura minha mão com o braço livre,
me levando para o meio da pista da dança, fora do nosso camarote.

Ao som de Move Your Body ela começa a rebolar na minha frente, me


incitando a dançar junto com ela. Não tenho o mesmo ritmo, então
apenas me balanço de um lado para o outro, minha atenção
completamente na morena se soltando na minha frente.
Finalizo meu segundo copo de uísque em um único gole e deposito o
vidro vazio em uma bandeja nas mãos de um garçom que passa ao nosso
lado. Luna solta uma gargalhada e toma toda a sua bebida em vários e
longos goles, imitando meu gesto e se desfazendo da taça vazia.
Ela passa os braços pelo meu pescoço e aproxima o rosto do meu,
perco o pouco de controle que eu tinha e aproximo meus lábios dos dela,
deslizando suavemente minha boca na sua. A morena abre um sorriso e
arranha minha nuca com a ponta das unhas, arrepiando a minha pele.

— Não me provoque — murmuro em seu ouvido.

— Por quê? — rebate.


Em vez de responder ela, seguro sua cintura com firmeza e giro seu
corpo na minha frente, colando suas costas em meu peito e deslizando
seu quadril no mesmo ritmo do meu.
Luna parece gostar, pois rebola a bunda no meu pau duro, me fazendo
apertar ainda mais seu quadril com os dedos.

— Porque você vai se assustar com o que pode acontecer. — Tendo


ela nessa posição, fica fácil colar minha boca em seu ouvido e sussurrar
por cima da música alta da festa.

Pressiono mais uma vez seu corpo em direção ao meu, sentindo sua
pele esquentar sob meus dedos. Ela faz menção de se virar de novo, mas
travo seu corpo no lugar e aproximo a boca novamente ao seu ouvido.

— Olhe — digo e aponto o queixo para as sombras nos cantos da


boate.

Casais se beijando.
Se esfregando um no outro.

Se tocando em partes íntimas.


E transformando a balada em um clube de sexo e perdição.
Luna arfa na minha frente, a cabeça girando para os lados, sem saber
para onde olhar, pois em cada canto mais escuro, um casal está
praticamente se comendo.

— Então é por isso que você gosta de sair à noite? — Ela ergue o
rosto para cima, deixando-me perto demais de seus lábios.
— É por isso que eu trouxe você aqui — murmuro.

Ela abre um sorriso e vira o corpo de frente para o meu, suas mãos
deslizando lentamente pelo meu peito e o sorriso malicioso rasgando os
lábios brilhosos.

— Por que não me leva lá? — pergunta, mordiscando o canto da


boca.
Mas é somente no momento que ela toca meu queixo com a ponta dos
dedos que finalmente acordo para a razão.
Que porra que estou fazendo com ela?
Luna parece sentir o momento que o clima mudou, pois afasta sua
mão de mim e dá um passo para trás.
— Por que você sempre foge de mim? — Sua voz está mais arrastada
do que eu havia notado, o sorriso fácil e os olhos brilhantes.

Ela está bêbada demais.


— Não fujo — murmuro bem próximo do seu rosto, agarro os cantos
de sua mandíbula e forço-a a me olhar bem no fundo nos olhos. — Isso
vai acontecer, mas do jeito certo — declaro.
Ela não parece gostar muito das minhas palavras, pois bufa alto e joga
os braços para cima, mas por causa da quantidade de álcool que ela já
tomou hoje, seu corpo tomba para frente, caindo com firmeza no meu
peito.
Luna solta uma gargalhada alta pela queda e não deixo que ela se
sinta ainda mais perdida com tudo, agarro seu corpo rente ao meu em um
abraço que a deixe com o mínimo de privacidade no meio de tantos
curiosos e procuro John em cima do camarote.
Assim que o vejo, abano o braço para cima para chamar sua atenção,
ele me encontra rapidamente no meio da multidão e vê o estado que
Luna está em meus braços, então desce rapidamente até onde estamos, já
com as chaves do carro em mãos.
— Você bebeu? — pergunto, seriamente.

Ele nega com a cabeça e ergue a garrafa de água em suas mãos.


— Hoje eu realmente fui o garçom exemplar. — Ele sorri. — Eu falei
para beber devagar.

— E alguma vez ela ouviu algo que você falou? — rebato, arrancando
uma risada do meu amigo. — Vamos embora, não quero que tenham
fotos dela nesse estado amanhã de manhã.

Luna resmunga algo em meus braços, mas os olhos permanecem


fechados de encontro ao meu peito. Seguro seu corpo pelo quadril e
apoio seu rosto no meu ombro, carregando-a até o carro de John.

— Estão no hotel de sempre? — ele pergunta assim que eu entro no


banco de trás e ajeito a morena em meus braços.
— Como sempre — confirmo.

— Aonde vamos? — Luna balbucia em meu colo, os olhos ainda


fechados e o corpo mal se movendo. É como se cada segundo que
passasse a bebida fizesse ainda mais efeito em seu corpo pequeno.

— Para casa, sweetie.


— Você vai comigo para casa? — pergunta, a voz rouca e pesada.
Luna ergue as mãos e começa a erguer seu vestido, mostrando a calcinha
de renda preta que veste por baixo.
— O que está fazendo? — Seguro suas mãos, evitando que ela tire
completamente a roupa com meu amigo dentro do carro. Sabendo que
precisamos de um mínimo de privacidade, John liga o rádio e coloca
uma música em um volume que seria impossível ele ouvir nossa
conversa.

— Essas botas estão me machucando — ela murmura, arrastando as


mãos pelas pernas.
Respiro fundo, sabendo que não vou ter como fugir dessa missão.
Engulo qualquer porra de desejo que eu tenha por ela e me encho de
controle ao passar os dedos pelo fecho das botas, abrindo uma de cada
vez e deslizando pelas pernas macias da morena.

Ela respira aliviada quando coloco o par de calçado no chão do carro


e logo apoia seu rosto mais uma vez no meu peito. Minha única reação é
baixar seu vestido mais uma vez para que ela não fique ainda mais
exposta e esperar que meu amigo dirija até nosso hotel para que eu possa
colocá-la na cama.
Em poucos segundos Luna já começa a ressonar no meu colo,
certamente entrando em um sono profundo causado pelo álcool junto ao
balanço suave do carro.
— Ela capotou, né? — John diminui o volume do rádio e comenta,
me encarando pelo espelho retrovisor.
Baixo meu olhar para a morena praticamente desmaiada no meu colo,
lembrando a forma sensual que ela dançou para mim e se esfregou no
meu corpo.
Era apenas resultado do álcool ou ela realmente sente vontade de estar
comigo dessa forma?

“Por que você sempre foge de mim?”


Porque eu te amo demais para aceitar que você se machuque por
minha causa.
Capítulo 17
Quando abri meus olhos pela primeira vez naquela manhã, a minha
única certeza é de que havia uma britadeira dentro do quarto de hotel.
Por um segundo eu senti que o mundo estava girando completamente, e
quando finalmente parou, quem começou a girar foi o meu estômago.
A sensação desgraçada de uma ressaca fortíssima como essa era algo
que eu realmente não sentia falta dos tempos de faculdade. Tive meus
momentos de farra, curtição e muita bebedeira, mas desde que comecei a
trabalhar e estava sempre ocupada com alguma coisa, deixei toda essa
missão para o meu melhor amigo.
Argh.
As lembranças são sempre as piores.

A dança, as mãos bobas, o quase beijo.


Eu trocaria tudo por ter amnésia pós bebedeira, mas infelizmente
minha mente faz o favor de lembrar de absolutamente todos os detalhes
da noite vergonhosa que tive.

E mais ainda, da enorme rejeição que senti de Nataniel.


Eu não deveria ter feito tudo o que fiz, ter colocado por água abaixo
todos os anos que sufoquei meus sentimentos por ele em apenas dois
copos de bebida. Talvez por eu não estar mais acostumada a beber tanto,
aquele diabólico líquido azul acabou completamente com meu controle.
Meu deus, eu dancei para o meu melhor amigo.
Sinceramente, não sei onde me enfiar e o que fazer. Como agir depois
de tudo o que fizemos ontem? Ele realmente iria me beijar se eu não
estivesse tão bêbada? Ele teria parado de qualquer forma?
São tantas perguntas, tantas dúvidas que minha cabeça começa a girar
ainda mais em conjunto com a ressaca monstruosa que sinto agora.
— Se você continuar pensando desse jeito, vai sair fumaça pelos seus
ouvidos.

A voz rouca e grossa ao meu lado me acorda dos meus pensamentos.


Continuo com os olhos fechados e as mãos em cima do rosto, cobrindo
qualquer faísca de iluminação que possa ter no espaço. Sinto as mãos de
Nate tocarem as minhas e retirar de cima dos meus olhos suavemente.
— Pode abrir — ele pede, baixinho.
Aceito a sugestão e abro lentamente meus olhos, sinto imediatamente
minhas pálpebras secas e pesadas do sono profundo que tive, mas a dor
que previ que sentiria ao abri-los não veio. O quarto todo continua
escuro, apenas uma suave fresta de luz saindo pelas cortinas pesadas do
quarto.

— Que horas são? — Minha voz parece a de uma fumante de sessenta


anos.

Não me admiraria se eu estivesse me sentindo como uma também.


— Tarde, mas não precisamos levantar ainda.

— Você não tinha compromissos hoje pela manhã? — pergunto,


girando o meu corpo para o lado de fora da cama, pronta para me
levantar a fazer minha higiene matinal, para talvez assim ter um pouco
de dignidade depois do fiasco que fiz na noite anterior.

— Tinha.
Me levanto da cama e viro o corpo para vê-lo deitado de lado, apenas
me olhando da cabeça aos pés. Sigo seu olhar e vejo meu corpo coberto
apenas pela lingerie preta da noite anterior, o tecido fino e transparente
não cobre muita coisa. Ter o olhar dele atento aos detalhes do meu corpo
me faz suar frio, sinto meus pelos arrepiarem e minha pele esquentar
como se o seu olhar fosse uma carícia em mim.
— Você deveria colocar uma roupa — ele murmura, os olhos fixos no
pedaço de tecido entre minhas pernas. — Agora.
Curvo meu corpo para frente e balanço a cabeça para os lados.

— Realmente é complicado te entender, garoto.

— Você não faz ideia, sweetie.


Ele abre um sorriso cafajeste e atira o corpo para trás, soltando uma
risada deliciosa ao tapar o rosto com o antebraço bronzeado.

— Vá logo se trocar! — ele diz entre risos, mas sem tirar o braço dos
olhos, tapando a visão do meu corpo.

Aproveito o momento e analiso seu corpo, o tronco bronzeado e


musculoso subindo e descendo rapidamente pela respiração acelerada.
Desço um pouco mais o meu olhar e encontro seu membro semiereto, o
suficiente para marcar no short curto azul claro que ele veste.

Azul deveria ser a sua cor.


— Pare de me secar e vá logo, Luna — a voz dolorida sendo abafada
pelo outro braço que ele joga em cima do rosto. — Pelo amor de Deus,
vá logo.
Sorrio de leve, mas aceno com a cabeça – mesmo que ele não esteja
me vendo – e giro meu corpo para ir até o banheiro e atirar meu corpo
em uma ducha congelante para tirar o calor que senti em poucos minutos
na presença dele.
Não tocamos no assunto da noite anterior, mas acho que nossa relação
já está passando dos limites do platônico e somente Nataniel ainda não
aproveitou a oportunidade para realmente aceitar isso.
— Se você abrir a boca um pouco mais…

Antes que Nataniel continue a falar, giro meu corpo na cadeira e dou
um enorme tapa em seu braço, atraindo a atenção de algumas mulheres à
nossa volta.

A música Pony de Ginuwine explode nos alto falantes do teatro,


enquanto dez homens seminus dançam sensualmente no palco montado
na frente das nossas cadeiras. O show intimista e cheio de sensualidade
foi a minha forma de punir Nataniel por fingir que a noite anterior não
havia acontecido.

Dois homens apenas vestidos com calças jeans azuis e tênis brancos
se aproximam de nós, um deles se agacha na minha frente a aperta as
minhas coxas com firmeza, enquanto o outro vai nas minhas costas e
massageia minha nuca.

Pelo canto de olho consigo ver Nate se revirando em seu assento, mas
o olhar vidrado nas mãos dos homens passeando pelo meu corpo. Me
sinto uma deusa sendo ovacionada por dois homens gloriosamente
seminus. O que estava agachado na minha frente possuí um corte de
cabelo bem rente a cabeça, simples, mas o que me faz admirar sua
aparência são as tatuagens que cobrem seu corpo inteiro. Desde o
pescoço, o peito, os braços e até as mãos.

Minha imaginação voa para saber até onde vão o restante delas.

Ele se ergue rapidamente, no ritmo do refrão da música e fica em pé


no meio das minhas pernas, suas mãos seguram as minhas com firmeza e
em um ato de rebeldia, ele coloca ambas em seu peitoral.

E aos poucos, começa a deslizar as palmas das minhas mãos e meus


dedos por toda a extensão de seu abdômen, até chegar na barra de sua
calça jeans.
No momento que ele ergue novamente minha mão e faz menção de
levá-la até o meio de suas pernas, duas coisas imediatamente acontecem.

As luzes se apagam para criar um mistério no meio do show.

E Nataniel se levanta bruscamente de sua cadeira.


Arregalo os olhos quando o moreno na minha frente apenas solta
meus braços e pisca para mim, um sorriso convencido rasgando seus
lábios. Os dois homens saem da nossa volta, as luzes ainda baixas, mas
meu amigo não parece ter nenhuma intenção de retornar ao seu assento,
já que apenas coloca as duas mãos nos meus quadris e ergue meu corpo,
colocando-me agarrada no seu colo e com as pernas circulando sua
cintura.

Os gritos das mulheres no teatro vão a loucura quando uma luz branca
e forte predomina em nós dois, chamando atenção para a loucura que ele
está fazendo em público.

— Apenas se segure em mim — ele ordena.


Pela firmeza em sua voz, não penso duas vezes antes de erguer meus
braços e agarrar seu pescoço, sorrindo debilmente quando ele me segura
com firmeza em seu colo e começa a caminhar para fora do teatro
comigo.

Assim que saímos do espaço reservado para as cadeiras VIPs do


show, as luzes se acendem novamente e a música retorna, muito
provavelmente todos os homens deliciosos voltando às suas danças
sensuais.

Mas no momento, a única coisa que me importa é o homem que me


leva em seus braços até um pequeno almoxarifado nos fundos do bar do
teatro. O moreno me carrega até o final do lugar e encosta o meu corpo
na parede gelada, as luzes baixas do ambiente criam uma energia forte
demais entre nós dois.
É quase palpável.

— Não me peça para parar agora — ele murmura, a boca perto da


minha e a respiração pesada. Seu cheiro inebriante tomando conta dos
meus sentidos, as mãos possessivas segurando com firmeza na minha
bunda.

— Então não fuja de mim.

Não dou oportunidade para ele mudar de ideia mais vez e puxo seu
rosto em direção ao meu, buscando sua boca com a minha. O toque
quente e elétrico dos seus lábios junto aos meus incendeia o meu corpo
por inteiro. Nataniel solta um grunhido de prazer e respira fundo junto de
mim.

Pressiono minhas unhas em sua nuca, incentivando-o a continuar e ele


abre a boca, passando a língua macia por toda a extensão da minha. O
beijo com gosto de anos de desejo, tesão e paixão.

Eu o quero mais do que poderia imaginar.

Suas mãos seguram meu quadril com firmeza e ele inclina o tronco
em direção ao meu, tocando os lugares certos para aquecer e eletrificar o
meu corpo.

Nossas línguas deslizam em um beijo recheado de tesão, suas mãos


deslizam pelas minhas pernas, arrepiando minha pele por onde passa.
Nataniel empurra seu quadril em direção ao meio das minhas pernas, sua
ereção tocando no exato ponto que mais necessito dele, me sinto ofegar a
cada toque se sua calça no tecido fino da minha calcinha de renda.

— Por que demoramos tanto? — ele pergunta no meio do beijo, sua


voz sendo sugada para dentro da minha boca.

— Porque você é um idiota — rebato, abrindo um sorriso.


Ele ergue os olhos para mim e mordisca meu lábio inferior, puxando-
o e arrancando um suspiro de mim. Nate volta a encostar os lábios nos
meus, depositando um beijo molhado no exato lugar onde ele mordeu
anteriormente.

Sinto a parede arranhando minhas costas com a pressão que o moreno


faz no meu corpo, mas nada disso importa quando o tenho exatamente
onde sempre sonhei.

Sendo apenas meu.


Deslizo meus dedos pelos seus fios castanhos, puxando e
desalinhando seu cabelo com a intensidade que o momento pede.

— Você vai me levar à loucura, sweetie — ele fala ao afastar o rosto


do meu, encostando sua testa na minha.

Nossas respirações se intercalando, fortes e aceleradas. Posso sentir o


seu coração batendo descompassado dentro do peito, em um ritmo muito
similar ao meu.

Os olhos escuros de Nataniel continuam fixados em mim, encarando


meus lábios, meus olhos, meu rosto, todas as minhas reações. Admirando
aquilo que sempre foi dele e ele apenas nunca conseguiu enxergar.

— O que estamos fazendo? — pergunto, mas no fundo sinto medo do


que possa ser a sua resposta.
— Aquilo que deveríamos ter feito há tempos — responde.

Mas não era o que eu queria ouvir.


Não ainda.
Deixo minha cabeça tombar para trás, encostando na parede gelada
atrás de mim e quebrando nosso contato visual por alguns segundos
preciosos demais.
— Eu não posso fazer isso dessa forma — murmuro baixinho, talvez
com medo de falar alto e fazê-lo fugir de mim mais uma vez.
— O que você quer de mim, Luna?

— Você sabe.
Nataniel fica em silêncio.

E no pior momento possível, a luz do quartinho é acesa quando um


funcionário entra para pegar algum material, nos encontrando agarrados
e grudados nos fundos da parede.

O susto do homem foi tão grande que ele apenas virou as costas e saiu
correndo do almoxarifado, deixando-nos sozinhos com as luzes fortes
iluminando toda a dimensão o que estávamos prestes a fazer. Arrisco
descer meu olhar pra Nate, encontrando-o de olhos fechados e com a
testa franzida.
Com certeza uma luta interna sendo travada em sua mente.
— Me desculpa — ele pede, abrindo os olhos e encontrando meu
olhar preocupado. — Não posso fazer isso.
Aceno com a cabeça e deposito um selinho em seus lábios carnudos
uma última vez antes de descer de seu colo e me virar para ir embora
desse lugar.
— Não me odeie — ele pede com a voz baixa às minhas costas.

Eu não posso dizer que não esperava que isso fosse acontecer.
Conheço ele há tempo suficiente para entender que sua vontade de estar
comigo não é forte o bastante para confrontar o medo do futuro.

Ele é assim.
E eu o amo exatamente dessa forma.
— Eu jamais te odiaria.
A primeira coisa que vejo assim que abro o meu e-mail dentro do
enorme jatinho particular de Nataniel, é uma mensagem da minha colega
de trabalho, Melissa.

“Eu realmente acho que você deveria se impor assim que voltar. As
pessoas estão falando demais e nenhum dos sócios faz absolutamente
nada para acabar com os rumores. O boato da semana é que a única
razão para você ter a vaga de responsável pela equipe junior é porque
namora um piloto de Fórmula 1. Sinceramente, são coisas tão babacas e
infantis que não sei como tomam forma.

O problema disso tudo é que estamos recebendo diversas ligações de


antigos clientes questionando sua autoridade dentro dos casos. Está um
caos, Luna.”

Fecho os olhos com força e respiro fundo algumas vezes,


internamente tentando acalmar minha ira por ter que passar por tudo isso
mais uma vez. Eu realmente achei que depois da minha conversa com Sr.
Diaz as coisas iriam mudar para melhor. No entanto, claramente as
coisas estão saindo cada vez mais do meu controle.
— Está tudo bem? — Escuto a voz de Nate a algumas poltronas de
distância, abro meus olhos e vejo-o mexendo no celular, as sobrancelhas
franzidas e o olhar na minha direção.
Desde ontem à noite as coisas se tornaram estranhas entre nós. Não é
como se eu não tivesse ido com ele para o show de strippers, então
precisei esperar que ele voltasse ao meu lado para ir embora.
O mais fácil foi chegar no hotel, pois assim que saí do banho, ele já
estava dormindo.
Eu nunca, em toda a minha vida, pensei que teria uma relação tão
desconfortável com meu melhor amigo.

— Problemas no trabalho — respondo vagamente, voltando a olhar a


tela do meu notebook.
— Há algo que eu possa fazer?

— Não, obrigada por oferecer.


— Sem problemas — ele responde e volta a mexer no aparelho em
suas mãos.

Meu Deus, o que fizemos com a nossa amizade?


Já estamos há algumas horas trancados dentro dessa aeronave voando
em direção à Singapura para mais um final de semana de corridas, mas
eu não esperava que estivéssemos tão fora de sintonia. Nosso beijo foi
incrível, cativante, sensual e tudo que eu sempre sonhei que seria.
O depois, no entanto, foi devastador.

Sei o que faz com que ele tenha medo de se jogar de cabeça no que
quer que seja isso, mas no fundo do meu coração, não entendo o porquê
ele ainda não tentar lutar contra seus fantasmas.

— Recebi uma mensagem de Charlotte sobre o desenrolar do caso —


ele comenta, mas não ergue os olhos da tela. — Aparentemente existem
dois suspeitos que foram vistos nas câmeras de segurança do seu
apartamento, estão levando-os para maiores investigações na delegacia.
— Isso significa que acabou? — Minha voz parece ter saído mais
esperançosa do que eu imaginava, pois Nate ergue a cabeça com rapidez
e me encara com os lábios entreabertos.
— Tão ansiosa para se livrar de mim? — Tenho certeza que ele
pensou que falaria como uma brincadeira, mas o fundo de verdade é tão
palpável que não consigo nem mesmo responder, voltando minha
atenção para o notebook.

Ele parece notar que não quero falar sobre o assunto, pois não insiste
e apenas muda o tópico para algo um pouco mais neutro entre nós dois.
— Recebi notícias de Pandora, a demônia está infernizando os outros
gatos do hotel. Aparentemente tiveram que colocá-la em isolamento
ontem à tarde para evitar que os outros animais ficassem muito
animados.

Posso sentir o sorriso em sua voz quando fala da gata de pelagem


branca, acho que a própria Pandora é a única que entende o jeito do
dono.

— Sinto falta dela — murmuro baixinho.


— Se quer tanto se livrar de mim, saiba que estará se livrando dela
também — ele declara, não aguentando a oportunidade de mandar uma
indireta para mim.
Para evitar uma discussão ainda maior, apenas dou de ombros e volto
a trabalhar no computador, ignorando o suspiro de tédio que vem da
poltrona próxima a mim. Sei que Nate quer tirar alguma reação de mim,
mas não estou pronta para acabar nossa viagem antes do previsto
simplesmente porque meu coração não tem forças para estar ao seu lado
sem tê-lo para mim.
Então farei o que sei fazer de melhor, sedimentar minhas emoções e
ignorar tudo que diz respeito à forma que me sinto por ele.
Capítulo 18
Estar em cima do pódio sempre me trouxe demasiada alegria. Acho
que até hoje nunca houve um único momento que eu não me enchi de
orgulho ao receber o troféu em mãos e ouvir os gritos da torcida ao
erguê-lo no ar.
Mas hoje tudo parece horrível.
Conquistar uma vitória em Singapura é um marco importante demais
na vida de um piloto. A corrida noturna é sempre cheia de contratempos
e muita emoção, e toda a equipe foi simplesmente sensacional em cada
passo da estratégia hoje.
Charles parece extasiado ao meu lado, com o seu troféu de segundo
lugar brilhando em mãos e o sorriso direcionado à namorada que está
logo abaixo do pódio, junto a multidão da Durant Racing Team.
Passo os meus olhos por todos, um por um, enquanto o hino nacional
toca ao fundo, mas ela não está aqui.
A minha garota não veio me ver.

É um gosto amargo ter conquistado tanto e ter perdido na mesma


proporção em tão pouco tempo. Me sinto um idiota por ter afastado tanto
ela de mim, mas Luna merece algo melhor do que isso.
Ela merece uma pessoa que está disposto a dar o mundo inteiro a ela,
sem ressalvas, sem medo do futuro, sem traumas do passado.
Eu sou quebrado demais para ela.
Meus olhos se fixam em Charlotte, minha publicitária, em meio à
multidão e apenas o balançar de cabeça dela me confirma que Luna não
está aqui. Um vazio estranho toma conta de mim e pela primeira vez,
tudo que eu quero é terminar de vez toda a celebração obrigatória e ir
atrás da minha garota. Mesmo que eu seja um egoísta filho da puta,
preciso saber que ela está bem.
Longe de mim, mas bem.
A melodia de Carmen se inicia e o banho de champanhe que levo do
meu companheiro de equipe é suficiente para que meus pensamentos se
dispersem e eu consiga aproveitar um pouco da minha vitória. Charles
parece empenhado em me fazer esquecer os problemas, pois até que sua
garrafa fique praticamente vazia, ele não para de jogar o líquido em cima
de mim, me deixando completamente encharcado.
— Parabéns, cara — ele grita por cima da música e ergue a garrafa
em minha direção, me incentivando a brindar pela nossa vitória dupla.
— Vamos! — grito de volta, batendo o vidro verde escuro no que está
em suas mãos. Giro o corpo e abro os braços, atraindo gritos
ensandecidos da multidão que preenche todo o Circuito de Marina Bay.

Após todos os cumprimentos necessários com os chefes de estado,


finalmente nos vemos livres para sair do pódio e descer até onde nossa
equipe está. Antes que possamos descer as escadas, no entanto, Charles
me puxa pelo braço e estanco os meus passos, esperando que ele diga o
que quer.
— Não é o que você quer ouvir, mas você precisa engolir o orgulho e
tomar uma posição, cara. Ela não vai ficar esperando na sua volta para
sempre — ele fala com a voz firme, ainda segurando o meu braço. — Eu
sei o que estou dizendo, você não vai querer ser o responsável por
machucar a pessoa que mais ama.
— Você não sabe o que está dizendo — me defendo.

Ele solta meu braço e dá um passo para trás, erguendo as mãos em


sinal de rendição.

— O que eu disse, está dito. Seja homem e assuma seus sentimentos


— ele finaliza, me dando as costas e descendo apressado pelas escadas
em espiral até a pista, onde todos estão nos esperando.
Mas por algum tempo, não consigo me mexer, como se estivesse
sendo levado para todas as merdas do meu passado, tudo que me faz ser
o pedaço de homem que sou hoje.

A razão para eu não ser bom o suficiente para minha Luna.


Minha mãe.

Todas as vezes que eu via Luna sentada na árvore com um livro em


seu colo, eu era completamente atraído para ela, mesmo sabendo que
muitas vezes ela queria estar apenas sozinha ali. Em alguns momentos eu
me sentava perto o suficiente para estar na presença calma dela, mas
longe o bastante para ela não me ver.

Era hipnotizante a imagem da menina concentrada na leitura sem ter a


mínima noção que estava me salvando de um inferno dentro de casa.

Alguns meses depois que meu pai faleceu minha mãe não foi capaz de
voltar ao normal, nunca mais foi a mãe amorosa e carinhosa que era
antes. Como uma forma de sobreviver ao luto ela passou a sair cada vez
mais e algum tempo depois, a presença constante de homens dentro de
casa era demais para mim.
Eles sempre pareciam caras legais, me tratavam bem, cuidavam da
casa e dela. Mas em alguns meses, tudo começava a desabar. As brigas,
discussões, agressões e pouco tempo, minha mãe estava mais uma vez no
fundo do poço.
E o ciclo viciante começava mais uma vez. Saídas, festas, bares,
bebidas, novos homens e um novo namorado.

Por anos nossa vida foi assim e a única forma que eu tinha de lidar
com toda a constante de mudanças, depressões e tristezas era quando eu
podia escapar pela janela do meu quarto e me sentar aos pés da enorme
árvore que dividia os jardins de nossas casas.

Luna estava lá todas as vezes.


E ela não faz a menor ideia que naquele momento ela salvou a minha
vida.

Mas é também a razão que não me permite colocá-la ainda mais


dentro do inferno que é minha vida. Nessas poucas semanas que estamos
fingindo um relacionamento ela já teve problemas no trabalho com
fofocas – nada que uma pesquisa pelas redes sociais dos colegas de
trabalho dela não me fizessem descobrir –, recebeu ameaças de morte e
se sentiu completamente violada, além de sofrer em silêncio porque sou
um completo babaca com ela de vez em quando.

De que jeito eu vou permitir que ela entre ainda mais nesse furacão?
Eu precisaria ser mais idiota ainda para deixá-la se machucar por eu ser
egoísta o suficiente para tê-la para mim sem pensar nas consequências.

Sinto meu corpo voltar a vida aos poucos e pisco algumas vezes,
notando o silêncio no corredor que estou. Todos que estavam aqui em
cima já desceram, algo que nem mesmo vi acontecer. Dou alguns passos
para finalmente sair daqui e encontro Charlotte e Serguei subindo ao
mesmo tempo.

Eles me encontram no meio da escadaria, ambos com expressões


sérias demais. Até mesmo Charlotte que está sempre sorrindo e sempre
cheia de notícias e informações se mantém em completo silêncio na
minha frente. Quem começa a falar é meu empresário:

— Nenhum dos suspeitos que foram investigados são os responsáveis


pelas ameaças, o que significa que o perigo ainda não está fora de
cogitação. Eu sinceramente não sei qual a merda você resolveu fazer
dessa vez com aquela garota, mas existe um limite que ela irá aguentar.
Ela pode amar você incondicionalmente, mas eu garanto, Nataniel — ele
aponta o dedo para o meu rosto —, ela se ama muito mais!

Eu nunca vi Serguei falar dessa forma com ninguém. Seu rosto


completamente vermelho, as veias de sua testa sobressaltadas pela ira e
os olhos esbugalhados direcionados a mim.

Charlotte acena com a cabeça, mas estranhamente não comenta


absolutamente nada do discurso dele. Serguei ergue o braço para cima e
aponta para as escadas.

— Não sei quais eram os seus planos, mas você vai levar a merda
desse corpo até Luna e resolver essa situação de uma vez por todas! Não
me importo quantos sapos você precisa engolir, mas vai resolver isso
hoje! — ele finaliza o discurso.

— Hoje à noite vocês precisam comparecer ao baile beneficente da


FIA, o que significa que precisamos de uma bandeira de paz entre os
dois e principalmente uma frente unida, agora que voltamos à estaca zero
com relação as ameaças — Charlotte fala pela primeira vez, mas ela
parece entediada demais ao me passar as informações, como se
preferisse estar em qualquer lugar do que falando comigo. — Já cancelei
sua coletiva de imprensa de agora, você irá refazer amanhã antes de
embarcar para o Brasil.

Ela termina de me passar as instruções e vira o corpo, voltando a


descer as escadas e dando as costas para mim.

— O que deu nela? — pergunto a Serguei.

— Ninguém mais aguenta o seu comportamento destrutivo, Nate.


Antes eram as festas e manchetes, agora que finalmente pensamos que as
coisas iriam para frente, você dá um jeito de estragar mais uma vez. O
que acha que os veículos de imprensa estão falando quando viram vocês
chegando no aeroporto sem trocar um par de palavras? Ou pior ainda,
quando ela simplesmente não apareceu nenhum dia no paddock? As
pessoas falam!

Aceno com a cabeça, entendendo que meu comportamento não se


resume somente a ser um filho da puta com Luna, mas com
absolutamente todos à minha volta.

— Eu vou mudar isso — digo.


— Eu espero mesmo, pelo seu bem — Serguei dá a última palavra
antes de se virar e seguir o mesmo caminho que Charlotte fez minutos
atrás.

Abro meu macacão com pressa, me sentindo sufocado com a


quantidade de tecido prendendo a minha respiração. Solto os braços e
jogo a parte superior em cima do meu quadril, dando um nó nas mangas
e me permitindo respirar o ar doce do champanhe que exala do meu
corpo misturado ao cheiro de borracha queimada do asfalto.
Crio coragem para encarar o público que me espera fora das paredes
desse prédio, respirando fundo e colocando um sorriso completamente
falso no rosto.
Ninguém precisa saber quão fundo você está dentro do poço.

— Você está linda — é tudo que consigo dizer para Luna quando a
encontro na recepção do hotel usando um longo vestido bege todo
cravejado de diamantes. O recorte da roupa faz loucuras na minha mente,
completamente fechado na frente, prendendo no seu pescoço e deixando
os ombros todos abertos.

O tecido justo marcando os lugares certos do seu corpo, deixando


muito pouco para a imaginação alheia. Ela parece radiante com o cabelo
bem preso em um coque firme no topo da cabeça e brincos de diamantes
endeusando o formato de seu rosto.
— Perfeita demais — balbucio mais uma vez, deixando-a levemente
corada pelo elogio.
— Você não está nada mal também — ela comenta, olhando-me de
cima a baixo vestido em um conjunto de smoking completamente preto,
desde a camisa até a gravata.

Luna ergue sua mão para mim e eu busco seu contato com a minha
pele, trazendo o seu corpo para o meu lado.
— Me desculpa por ser um idiota antes — digo em seu ouvido
enquanto caminhamos para a parte de fora do hotel, onde um motorista
contratado por Charlotte nos espera para nos levar até o hotel onde o
baile ocorrerá.
— Não quero falar sobre isso hoje, Nate.

Ela estava tão cansada quanto eu de tantas desculpas nos últimos dias.
— Uma trégua pela noite? — pergunto, esperançoso.

— Uma trégua — ela confirma, abrindo um sorriso enorme para os


flashes que nos cegam no pequeno percurso da saída do hotel até o carro.
A imprensa parece amar a imagem de Luna, pois seu nome é chamado
tantas e tantas vezes que torna a minha presença insignificante ao seu
lado.
Porque ela é assim, sem nem fazer esforço consegue se tornar o centro
do universo de qualquer um, tudo o que ela precisa fazer é abrir um
sorriso.
O caminho até o baile é curto e coberto por um silêncio
desconfortável dentro do carro, mesmo assim, o simples fato de estar ao
lado dela sem que ela me ignore é o suficiente para mim. Não me
importo que ela esteja em seu modo de defesa, pois sei que aos poucos
serei capaz de quebrar o gelo de alguma forma.

— Temos algum script para a noite? — É a única pergunta que ela me


faz durante todo o trajeto.
— Não exatamente, apenas posar para fotos e cumprimentar alguns
empresários. Fora isso, podemos aproveitar a noite.
Ela solta um murmúrio de concordância e acena com a cabeça, mas
vira o rosto para a janela e continua encarando a escuridão das ruas de
Singapura enquanto o motorista encontra a entrada para o baile.
Quando nos aproximamos do hotel é fácil identificar onde será o
evento, visto que centenas de jornalistas e fotógrafos estão empoleirados
em frente a um enorme tapete dourado com diversas flores rodeando a
passarela.

O carro para exatamente na frente da multidão e eu saio primeiro,


atraindo dezenas de flashes em meu rosto, mantenho a minha expressão
neutra e me viro para abrir a porta para Luna.

E é nesse momento que a multidão vai à loucura.


Por causa dos flashes das câmeras e das luzes piscantes que iluminam
a parte de fora do evento, o vestido da morena parecer criar vida em seu
corpo, com os milhares de diamantes brilhando e piscando na peça
neutra que ela usa.
— Luna, um sorriso aqui!

— Quem você está vestindo?


— Você está maravilhosa!
Os gritos em sua direção são tantos que após descer do carro ela
parece um pouco aturdida quando tenta olhar para cada um deles que
chama a sua atenção.
— Foque sua atenção em mim. — Aproximo o meu rosto do seu
ouvido e falo baixinho, sentindo a pele do seu pescoço se arrepiar pelo
contato íntimo. — Olhe apenas para mim.
Assim que me afasto dela, vejo que a morena seguiu o meu conselho
e seus olhos castanhos estão concentrados somente em mim. Seguro sua
cintura com firmeza e a levo até o centro do tapete, deixando que os
fotógrafos capturem cada momento de beleza que ela permitir.
Luna não desvia o olhar do meu e em certo momento, olho-a de volta.
Intensamente.

Os flashes somem da minha visão periférica e tudo que consigo


enxergar é a beleza da mulher em meus braços. A perfeição que ela se
encontra hoje é algo que jamais imaginei presenciar. Seu brilho único me
faz respirar pesadamente pela boca, atraindo seu olhar para os meus
lábios.
Aproximo meu rosto do seu e deposito um beijo casto e rápido em
seus lábios, levando a multidão à nossa volta a loucura.
Mas não é com eles que me importo, apenas no sorriso contido que
ela deixa escapar assim que me afasto dela. As bochechas cobertas por
um tom rosado e as írises castanhas brilhando em felicidade.
— Obrigada por embarcar nessa aventura comigo, sweetie — sussurro
de forma que somente ela escute e ninguém consiga ler meus lábios. —
Serei eternamente grato por ter você na minha vida.
Luna sorri para mim rapidamente antes de virar e posar para mais
algumas fotos ao meu lado. Quando Charlotte e Serguei aparecem na
porta do evento e acenam com as mãos para que a gente siga até eles,
Luna abana uma última vez para os fotógrafos e caminha de mãos dadas
comigo até a minha equipe, fugindo dos flashes constantes.

Porém, os gritos com os nossos nomes continuam, como se fossemos


as estrelas da noite.
— A entrada de vocês foi espetacular — Charlotte comenta e bate as
palmas de suas mãos, feliz com a resolução da noite.
Meu empresário me encara por cima dela, visivelmente preocupado
com a situação, mas apenas balanço a cabeça em sua direção, tentando
tranquilizá-lo com relação a tudo.
Não que algo tenha mudado desde que conversei com ele mais cedo.
Cheguei tarde demais no hotel, Luna já estava se arrumando no salão de
beleza e eu somente tive tempo de tomar uma ducha e vestir meu
smoking antes de encontrá-la na recepção.
Nossa relação continua uma grande merda, mas ao menos essa noite
concordamos em manter uma trégua entre o que quer que esteja
acontecendo entre nós.
Por mim é o suficiente, por enquanto.
Capítulo 19
Aquele evento não era o mais divertido do mundo, afinal, estávamos
fazendo pose para todos os fotógrafos e cuidando cada movimento para
evitar fofocas no final da noite. Em determinado momento, Nataniel
pareceu ter cansado de tentar criar a imagem de casal perfeito, pois
pegou uma garrafa de champanhe e duas taças de cima da enorme mesa
redonda do salão.

— O que vai fazer com isso? — pergunto, vendo-o procurar algo com
os olhos.

— Apenas venha comigo — pede.


Não me importo mais em negar qualquer coisa que ele me peça, então
o sigo até uma porta dupla nos fundos do enorme salão, ninguém parece
ter notado quando passamos para a parte de fora do baile, encontrando
um ambiente tranquilo e silencioso tendo somente a beleza da noite de
Singapura como nossa plateia.
Nate deposita a garrafa de bebida e as taças em cima de uma mesa de
centro cercada por três poltronas de couro bege. Tudo é tão luxuoso que
dá até medo de encostar. Ele se senta em uma das cadeiras e me chama
com a mão, apontando para o lugar ao seu lado.
Mas dessa vez, opto por ser um pouco rebelde e me sento na poltrona
em frente a sua, vendo o momento que o sorriso desliza por seus lábios
avermelhados.
Ele dá de ombros e começa a abrir a garrafa, servindo até a metade
das taças que depositou em nossa frente. Assim que os copos estão
preenchidos pelo líquido, ele me estende uma ao mesmo tempo que
segura a sua.
— A nós! — fala alto, erguendo sua taça para perto da minha.
Repito o seu movimento, mas evito imitar sua frase. Por alguma razão
parece mentira, parece falso e parece forçado. Não é a forma que quero
brindar com meu melhor amigo.
— Luna…
Sua voz parece quebrada ao me chamar e ergo meus olhos até ele,
vislumbrando uma dor tão forte nas irises castanhas que estava muito
longe de algum dia ver.
— Não consigo fazer isso — ele balbucia, largando a taça intocada na
mesa novamente.
Me mantenho em silêncio, esse é o momento que ele deve falar, eu já
falei, já expus meus sentimentos e já deixei claro o que eu preciso dele.
Não sei se conseguiria suportar mais uma rejeição vinda dele.
— Eu tenho medo — Nate sussurra e respira fundo.
Os ombros do moreno parecem criar um peso insustentável quando
ele inclina o corpo para frente e apoia os cotovelos em seus joelhos,
deixando as mãos soltas entre suas pernas. Ele parece devastado, o que
corta o meu coração, mas sei que ele não precisa da minha pena agora.

Ele precisa da sua melhor amiga.


— De quê? — pergunto, deixando-o livre para falar.

Nate fica em silêncio por alguns segundos, absorvendo os


pensamentos que rondam sua mente.
— De machucar você.

Imito o seu gesto e largo minha taça intocada na mesa ao lado da sua,
umedeço os meus lábios antes de pensar no que falar.

— Quanto mais você evita me machucar, mais eu me machuco.


Sua cabeça se ergue abruptamente, os olhos arregalados e a expressão
de terror tomando conta do meu garoto. Me levanto rapidamente da
poltrona e dou a volta na mesinha de centro, me sentando ao seu lado.
— Não estou dizendo isso para que você tome uma atitude
precipitada, ou para que você se sinta mal — pego suas mãos e cruzo
nossos dedos. — Eu quero que você entenda o que eu sinto.

Seu olhar se mantém focado em nossas mãos juntas, ele parece lutar
internamente para aceitar suas próprias escolhas.
— Eu sempre te amei, isso não é nenhuma surpresa.

Começo a falar, mas não tenho coragem de ver sua reação, então
fecho os meus olhos e deixo as palavras fluírem da minha boca:

— Eu tentei suprimir esse amor, tentei mascarar com preocupação,


tentei fugir com a distância imposta entre nós. Mas desde o momento em
que eu te vi, eu soube que meu coração para sempre seria seu. Não tenho
direito de pedir absolutamente nada em troca, eu sempre te amei em
silêncio e continuaria pelo resto da minha vida se as coisas não tivessem
mudado tão bruscamente.
— Luna… — ele tenta falar, mas eu balanço a cabeça, pedindo que
ele me deixe terminar tudo que está há anos trancado dentro do meu
peito.
— Eu te amo e para sempre te amarei, nunca vou deixar de estar
presente para você, serei a sua melhor amiga se assim você quiser. Mas a
cada passo que damos para frente, parece que retrocedemos outros dois.
Existe um certo limite de dor que uma pessoa pode sentir, eu não sei se
aguento mais.
Abro os meus olhos e me surpreendo ao encontrá-lo tão perto de mim.
Sua respiração batendo com força em meu rosto, seu cheiro dominando o
meu espaço pessoal e nossas mãos ainda juntas.
— Podemos acabar com essa mentira e voltar a sermos exatamente o
que éramos, os melhores amigos da vida inteira, nós dois contra o
mundo. Só por favor, não me peça para continuar fingindo viver com
você algo que sempre sonhei viver de verdade.

Nate fecha os olhos, respirando profundamente. As sobrancelhas


grossas enquadrando seu rosto perfeitamente esculpido. Os lábios
carnudos e avermelhados cada vez mais próximos dos meus.
No entanto, balanço a cabeça e me afasto um pouco, o suficiente para
conseguir pensar racionalmente e não me entregar totalmente pelo
desejo.
— Não faça isso — ele implora, a voz desesperada, a dor exalando
em cada palavra que ele diz. — Não me deixe.

Ele abre os olhos, me permitindo ver a vulnerabilidade dentro deles,


as lágrimas presas lutando para escorrer pela pele bronzeada do moreno.

— Não me deixe, eu não sei viver sem você ao meu lado.

— Não irei te deixar, já disse isso. Mas eu preciso respirar longe de


tudo isso, eu preciso encontrar forças para me amar acima de tudo.
Ele nega com a cabeça diversas vezes, ainda não acreditando que as
coisas estão seguindo para esse lado. Me sinto destroçada por dentro por
ter que tomar essa decisão, mas eu simplesmente não tenho mais forças
dentro de mim para lidar com meus sentimentos.

— O que você vai fazer? — Meu garoto completamente quebrado


pergunta com a voz trêmula.
— Vou voltar para casa e recolher os pedaços do meu coração.

Pareço forte em sua frente, falando tudo que treinei em frente ao


espelho centenas de vezes durante o final de semana, mas a cada palavra
que sai da minha boca, sinto um pedaço da minha alma se desprendendo
de mim.

E para terminar de destroçar meu coração, digo pela última vez:


— Eu te amo, garoto, nós vamos ficar bem. Distantes, mas bem.

Ele engole em seco e acena com a cabeça, completamente em choque


com tudo que aconteceu nesses poucos minutos que nos sentamos para
conversar.

Ergo meu corpo da cadeira e me abaixo em sua frente, depositando


um beijo em seu cabelo castanho. No momento que meus lábios tocam
os fios dele, sinto o soluço forte saindo pela minha garganta e as
lágrimas grossas caindo como uma cascata pelo meu rosto maquiado.

Prendo a respiração pelo tempo suficiente de me erguer e virar de


costas para ele, evitando que ele veja o sofrimento estampado como um
carimbo nos meus olhos.

A passos apressados, deixo a parte externa do evento e busco


Charlotte com os olhos, felizmente ela está a poucos metros de mim e
quando vê a minha imagem derrotada, corre até mim e me leva para uma
saída de emergência do evento.

— O que você precisa de mim? — pergunta, preocupada com o meu


estado.

Os soluços se tornam cada vez mais altos e fortes, e o choro que antes
era somente algumas lágrimas caindo pelo meu rosto, se tornam um
pranto desesperado. Ela parece sentir o meu desespero e me abraça com
força, me confortando o máximo que consegue.

Durante muitos minutos tudo que eu faço é chorar e libertar meu


coração de toda a dor que senti por tudo que fiz. Charlotte apenas fica
ali, me apoiando e me dando suporte, sem fazer perguntas, sem pedir
informações, apenas ao meu lado enquanto meu coração se quebra por
inteiro dentro do meu peito.
— Eu preciso ir embora — digo entre soluços.

— Posso providenciar um táxi.


— Não, eu preciso ir para casa, não consigo ficar aqui mais.

Ela acena com a cabeça, entendendo exatamente o que preciso.


Charlotte se afasta de mim por um tempo e começa a mexer em seu
celular, mandando dezenas de mensagens e organizando a minha partida,
enquanto me sento em uma banqueta e continuo despedaçando cada
pedaço da minha alma em um choro dolorido demais.

Ele pode ter me machucado ao me afastar tantas e tantas vezes, mas


eu terei que viver com a consciência de que quebrei o coração do meu
melhor amigo propositalmente.

Acho que nunca chorei tanto quanto nos últimos dias. Depois do
baile, Charlotte organizou tudo para que eu fosse direto para o aeroporto
e embarcasse para Monte Carlo durante a madrugada.
Uma peça de roupa simples apareceu em meus braços antes de entrar
no carro alugado e uma única instrução:

— Dê valor ao seu coração, independente do quanto você o ama.

Se ela soubesse que isso foi exatamente o que acabei de fazer,


entenderia a dor que estou sentindo por me colocar em primeiro lugar.

Chegar em casa durante a madrugada foi pior ainda, todas as minhas


coisas estavam na casa de Nataniel, mas simplesmente não me senti
pronta para encarar seu espaço, com suas lembranças, seu cheiro e seu
toque pessoal.
Seria um sofrimento ainda maior para o meu coração já machucado.

Então apenas entrei no meu apartamento, fiz questão de deixar todas


as portas e janelas completamente fechadas e me deitei na cama. Por
ainda estar oficialmente de férias, não havia preocupações com horários
e nem trabalho pendente.
Portanto apenas me aconcheguei na cama em posição fetal e chorei
ainda mais durante a madrugada inteira. Aos pouquinhos me livrando da
dor do coração partido e tomando controle da minha vida mais uma vez.
Não posso dizer que acordei uma nova mulher, afinal, ainda me sentia
quebrada por dentro, mas fiz questão de manter a minha rotina para que
pelo menos em um ponto da minha vida eu ainda tivesse controle.
Nesse momento Nataniel provavelmente está dentro do avião indo em
direção ao outro lado do mundo, tão longe que não consigo nem cogitar a
distância. Sempre tive o sonho de conhecer o Brasil, já ouvi falar de suas
praias paradisíacas, a comida bem temperada e a receptividade brasileira.
Apenas sabia que dessa forma não seria a melhor ideia para realizar
um sonho.
Tomo um banho caprichado e coloco uma roupa mais formal, pronta
para voltar ao escritório e colocar outro ponto final em mais uma
situação da minha vida. É como se essas semanas de férias tivessem me
feito criar uma casca grossa com relação a tudo que estava me
machucando.

E pela primeira vez em muitos anos, estou me colocando em primeiro


lugar na minha vida, mesmo que doa tanto.
— Finalmente você voltou! Esse setor estava um caos com você
longe — Sr. Diaz, meu infame chefe, me recebe na porta do elevador
assim que eu entro no andar do escritório. — Garota, me lembre de
nunca mais reclamar do seu trabalho.

Ele parece genuinamente aliviado por eu estar de volta, o que me faz


engolir em seco, pois ele parece calmo demais diante a tantas confusões
com os clientes, como Melissa me avisou anteriormente.
— Não se preocupe, irei organizar tudo ainda hoje. Algum caso novo
que eu precise revisar? — Ele caminha ao meu lado até minha sala e
entra junto comigo assim que eu me organizo na minha mesa.

— Luna, você já deve estar ciente de todas as conversas que estão


ocorrendo por aqui — ele começa a falar, fechando a porta de vidro da
sala, deixando-nos com um pouco mais de privacidade diante dos olhares
curiosos dos outros funcionários da empresa.
Mesmo que a sala seja exatamente igual a um aquário e mesmo que
ninguém escute, os olhos curiosos estão todos direcionados para cá.
Aceno com a cabeça, indicando que ele possa continuar seu ponto.
— Infelizmente não há nada que possamos fazer, você sabe, as
pessoas comentam. — Ele dá de ombros.

Sr. Diaz caminha até apoiar ambas as mãos no encosto da cadeira em


frente à minha mesa, sua atenção concentrada no meu nervosismo. Não
gosto de me sentir encurralada no meu espaço pessoal, mesmo se for o
meu chefe.

— Preciso saber se você está disposta a continuar trabalhando aqui,


mesmo que os murmurinhos continuem? — pergunta.

— Você está disposto a abrir mão de mim? — rebato.


Ele solta uma risada e nega com a cabeça.
— De jeito nenhum, estou apenas avisando que eu não poderei te
defender do que os outros falam. Você vai precisar engolir muita sujeira
se quiser continuar nesse ramo, você sabe, por ter a vida pessoal ligada à
uma pessoa famosa.

— Isso não será um problema, Sr. Diaz. Desde que cheguei aqui
sempre fiz o meu trabalho de forma excepcional, e o senhor sabe disso,
pois não estaria aqui me pedindo para continuar na empresa, se não
soubesse.
Ele aponta um dedo na minha direção e estala a língua.
— Era exatamente essa garota que eu queria de volta aqui. A mesma
que bateu a mão no peito na primeira entrevista e lutou com unhas e
dentes pela vaga, mesmo sabendo que era a que tinha menos experiência
entre todos os candidatos que foram entrevistados. Por meses você se
deixou apagar pelas críticas e cobranças dentro da empresa, todo o brilho
e força de vontade pareciam ter sumido da sua vida.
Semicerro os olhos para ele e cruzo meus braços.
— Isso era um teste?

Ele balança a cabeça e coloca as mãos dentro dos bolsos da calça.


— Chame do que quiser, mas eu ainda tinha esperanças de que você
ativasse sua chama interior novamente. — Ele se vira de costas e
caminha até a porta, mas quando põe a mão na maçaneta, diz mais uma
vez: — E graças a Deus eu estava certo.

Dizendo isso, ele sai da minha sala, me deixando ainda mais perdida
em meus próprios pensamentos. Estou enfurecida por ter sido tratada
como lixo durante meses por causa de uma brincadeira de mal gosto
dele, mas no fundo eu sinto uma pitada de orgulho por saber que eu
nunca deixei de ser reconhecida.
Nunca foi fácil receber os casos mais difíceis, ouvir lamúrias de
funcionários que se acharam no direito de me diminuir diariamente, levar
mais trabalho para casa do que qualquer outra pessoa. E no final, ser
lembrada que estar na carreira que eu escolhi é lutar diariamente por
algo, seja por reconhecimento, por um caso, por um cliente ou mesmo
por si próprio.
Como advogada, é o melhor elogio que alguém poderia ter.
— Então é assim que vai ser, Luna — falo para mim mesma antes de
ligar meu computador e colocar a mão na massa, me sentindo confiante e
poderosa como há tempos não sentia.
Apenas gostaria de me sentir assim em todas as áreas da minha vida.
Capítulo 20
Uma semana sem nenhum contato com Luna.
Puta que pariu, foram os dias mais tediosos que eu já vivi.
Depois que Charlotte foi ao meu encontro no baile e me disse que
Luna havia embarcado para Monte Carlo, o peso de tudo que ela havia
me dito realmente bateu com força.
Até aquele momento eu não havia entendido a seriedade da situação,
de como eu estou machucando-a a cada escolha escrota que eu faço com
o intuito de protegê-la.

Sabendo que ela precisava de espaço para se organizar e tentar


colocar seus pensamentos no lugar – uma desculpa para a minha
covardia em tentar entrar em contato com ela e levar mais um esporro –,
eu me concentrei totalmente na corrida que faríamos em Interlagos, no
estado de São Paulo.

Diferente das corridas anteriores, aqui tivemos um esquema


consideravelmente novo na Fórmula 1, tendo os três dias compostos por
dois treinos, uma qualificatória, uma corrida sprint e a corrida no
domingo. Era uma pouco mais ativo do que os três treinos livres, mas
valeu cada segundo.
Para um piloto como eu, que ama conquistar o primeiro lugar com
uma boa competição, esse é o melhor formato de final de semana.
Começamos na sexta-feira com um treino livre, apenas entendendo a
pista, as curvas e criando uma estratégia de sucesso, logo em seguida
temos uma qualificatória, onde damos o nosso máximo em voltas
rápidas, atingindo os melhores e menores tempos do final de semana.
É nessa qualificatória que será determinado o grid de largada para a
corrida sprint, que é basicamente uma corrida normal, porém, com um
número reduzido de voltas. É diante da ordem de chegada ao final da
corrida que será determinado o grid de largada da corrida oficial no
domingo. É uma forma de realmente lutar pela pole position [12] com toda
a experiência e potencial que um piloto tem.
No sábado, antes da corrida sprint temos mais um treino livre, o que
pode ser muito bem aproveitado se a equipe souber utilizar a pista
durante a hora disponibilizada.

E assim, seguimos para o domingo com uma corrida cheia de


adrenalina no circuito do Brasil. A intensidade da torcida brasileira é
sempre cheia de energia, muitos gritos e fãs realmente apaixonados. A
equipe estava eufórica com toda a comoção dos fãs, principalmente por
Maria Antônia, a namorada de Charles, ser brasileira.
As homenagens para a equipe foram diversas, e do início ao fim eu
coloquei a minha atenção em entregar um resultado satisfatório para
todos.

Charles acabou levando a primeira posição, e eu fiquei com o P2, o


que sinceramente, foi uma enorme vitória contando o esforço que tive
que fazer para me manter concentrado na corrida.
A temporada é longa demais e se não estamos com o nosso
psicológico preparado, a situação pode sair do controle muito facilmente.
A preparação para ser um piloto vai muito além dos treinos físicos e
de saber controlar o carro, é um conjunto de fatores que precisam estar
alinhados todas as semanas para que tenhamos o melhor resultado
possível.
— Eles estão esperando por você — Charlotte me chama, tirando os
pensamentos da minha cabeça.

Havia um tempo já que Joshua e Dave queriam conversar comigo. Os


sócios majoritários da Durant Racing Team pareciam satisfeitos com a
melhora na minha imagem perante a mídia e queriam trocar algumas
palavras comigo.
Não posso dizer que tudo é mil maravilhas, mas não foi a pior coisa
do mundo estar com Luna nessas semanas e fingir estar em um
relacionamento. Não senti tanta falta das festas como pensei que sentiria,
inclusive fomos juntos em uma e foi tão divertido quanto ir sozinho, se
não até melhor.

Ainda não tenho certeza se realmente vou manter essa mentira por
muito tempo, talvez esteja na hora de colocar todas as cartas na mesa e
finalmente libertar minha melhor amiga dessa situação na qual a
coloquei.
Eu tenho total consciência de tudo que fiz ela abdicar ao aceitar fingir
ser minha namorada em público. Sei que ela muito provavelmente está
mais sozinha do que nunca, sem poder conhecer pessoas novas, fazer
amizades ou até mesmo sair sozinha sem correr perigo.
É uma situação de merda.

E como o belo filho da puta que sou, apenas pedi para ela aceitar algo
que seria impossível viver, mas não pensei em nada além de limpar o
meu nome naquele momento.

Não respondo bem sob pressão, mesmo dentro do carro, as atitudes


que eu tomaria seriam extremamente perigosas. São nesses momentos,
principalmente, que agradeço de mãos juntas por ter a melhor equipe
trabalhando comigo.

Desde a minha engenheira até os mecânicos que sabem exatamente


qual passo tomar, sem colocar as decisões na minha mão.

Sigo minha publicitária até entrarmos no escritório improvisado da


Durant, uma sala convencional de reuniões com uma longa mesa de
madeira composta por doze cadeiras de couro. Na ponta se encontra
Joshua, com seu marido Dave à sua direita e Ocean à esquerda. Olhando
com mais atenção, vejo duas pastas em frente a Joshua, uma maior que a
outra, mas as duas cobertas por uma capa bege.

Serguei se levanta assim que Charlotte e eu entramos, meu empresário


puxa uma cadeira para que ela se sente ao seu lado enquanto dou a volta
na mesa e me sento ao lado de Ocean.
— Bom te ver por aqui — falo à Ocean, que abre um sorriso receptivo
para mim e acena com a cabeça.

Diferente da primeira reunião que tive com todos os Durant, o clima


parece mais leve nessa. Não que eu tenha feito algo de positivo nos
últimos dias, mas aceito a vitória do momento.

— Queremos te parabenizar pelas últimas semanas, o seu


desempenho está cada vez melhor. Seu tempo e ritmo de corrida estão
excepcionais e não há nada que possamos criticar com relação a sua
imagem na mídia — Joshua é quem começa a falar, suas mãos
continuam apoiadas em cima das pastas, mas ele não parece fazer
menção de abri-las em nenhum momento. — Não tenho orgulho da
forma que o colocamos contra a parede para uma mudança, Nate.

— Nunca fomos conservadores em pensar que um casamento seria o


necessário para uma pessoa passar confiança — Dave continua o
pensamento do marido. — Não é dessa forma que pensamos e nunca
será.

— Graças a Deus por isso — Ocean comenta, arrancando risadas dos


pais. — Não sei o que faria se me obrigassem a me casar para assumir a
direção da equipe.

— Você ainda não está completamente livre disso — Joshua aponta o


dedo para Ocean, mas os olhos brilhando em orgulho quando olham a
figura loira ao seu lado dizem tudo que as palavras não disseram.
Eles realmente não acreditam que um relacionamento salva a imagem
de alguém.

Então…

— Estão dizendo que meu namoro com Luna não significa nada? —
pergunto, um pouco chocado pela revelação.

— Apenas queríamos que você visse o outro lado da fama, aquele em


que é possível compartilhar com as pessoas que você ama todos os
privilégios que essa vida lhe dá — Joshua diz.

— Sabemos que esse namoro não era de verdade — Ocean bate


palmas ao exclamar alto, jogando a bomba para que todos possam ouvir.
Viro meu rosto lentamente para o meu lado, arregalando os olhos para
a figura risonha e sarcástica.

— Qual é, Nate, você esperava que acreditássemos que você


simplesmente decidiu namorar sua melhor amiga — Ocean ergue o dedo
para cima —, a qual você nunca assumiu nenhum sentimento desde que
o conhecemos, na exata reunião que exigimos uma mudança de
comportamento?

— Poderia ser verdade — rebato, mesmo sabendo que eles estão


certos em tudo que disseram. — Nós realmente poderíamos estar juntos.

Ocean dá de ombros, deixando que seus pais continuem a reunião.


Não há nenhuma forma de me defender, pois estou errado. Desde o
momento que inventei essa mentira, já sabia que estava entrando em uma
conturbada situação.

A pior parte é saber que Luna precisará lidar com as consequências


por um erro totalmente meu.

— Não estamos irritados, nem nada. Claro que é horrível descobrir


que seu piloto escolheu mentir a pedir ajudar, mas entendemos de onde
veio tudo isso. — Joshua ergue os dedos para cima e deixa à vista as
duas pastas que estão na mesa. — Não se assuste, são notícias boas.

— O que faremos com relação a mentira? — Serguei pergunta aos


Durant, talvez esperando o pior. Charlotte já tirou seu tablet da bolsa e
está a postos, apenas esperando as instruções que precisa para resolver
outro problema. Minha publicitária é como uma máquina de resoluções,
acho que em todos os anos que trabalhamos juntos, nunca a vi realmente
tranquila sem ter com o que se preocupar.

— Depende da forma que Nataniel quer lidar com isso. — É Dave


que me olha ao responder. — A escolha de expor Luna na mídia é única
e exclusivamente sua, mas a escolha de manter a garota presa em uma
mentira não soa tão bem quanto.
— Você precisa fazer uma escolha, filho. Não pode querer ela ao seu
lado se você não der espaço para tal. Um relacionamento não é e nunca
será uma prisão, é a maior forma de liberdade do ser humano. É ter ao
seu lado a pessoa que o complementa, que o faz sentir livre e poderoso
— Joshua aconselha. — Não há nada mais puro que um amor tão forte e
concreto como um amor de infância. Dê valor ao que você tem em mãos,
assim você saberá exatamente qual decisão tomar.

Aceno com a cabeça, entendendo o seu ponto de vista. Eu deveria ter


tentado conversar com eles antes de inventar tudo que inventei, talvez eu
não tivesse machucado tanto minha garota e talvez ainda tivéssemos uma
chance de ser como antes.
Agora, tudo parece destruído demais para que um dia possa ser como
no passado.
— Você entende o que estou dizendo, Nataniel? — Joshua pergunta
ao me encarar com firmeza, assim que aceno com a cabeça ele imita o
meu gesto e ergue as duas pastas. — Cada uma dessas pastas dependeria
apenas da forma que você lidasse com essa reunião.
Ele ergue a pasta esquerda na mão, a que estava mais fina e com
poucas folhas dentro.
— Essa aqui seria a que você receberia se agisse de forma diferente.

Engulo em seco.
— Como o caso foi diferente e nós — ele aponta para Dave e Ocean
— gostamos de você como pessoa, estamos apostando que você será
uma adição incrível para os próximos anos.
Ele me estende a pasta de direita, a mais grossa. Ao abrir a capa bege,
a primeira folha marca o título “renovação de contrato” e abaixo, nas
dezenas de linhas digitadas na folha branca, em negrito consta a
informação mais importante:
“Renovação multianual sem contrato pré-estabelecido”

O sorriso de alívio e realização se abre em meu rosto, demonstrando a


total gratidão e alegria que sinto ao ter meu trabalho reconhecido mais
uma vez. A primeira vez que a Durant Racing Team me estendeu a mão
foi quando contrataram um piloto novo, sem experiência e com pouco
patrocínio.
Eles apostaram em mim e eu fiz de tudo para merecer sua confiança.

Mesmo que durante o percurso eu tenha me perdido um pouco e saído


da linha diversas vezes, meu único objetivo e sonho desde criança era
estar onde estou hoje, em busca do campeonato mundial de pilotos.

E agora, um contrato sem data de limite, onde eu correrei pela equipe


por muitos anos, é uma realização indescritível.
Passo a pasta para Serguei e Charlotte, que silenciosamente analisam
todas as outras páginas do contrato, me deixando somente com a incrível
notícia que recebi.
— Vocês acreditaram em mim desde o início, eu farei jus a tudo que
já fizeram por mim — declaro e me levanto da cadeira, caminhando até
onde eles estão e cumprimentando um por um com um firme aperto de
mão.
Ocean abre um sorriso para mim e solta uma risadinha.
— Acho que você ainda vai enjoar da minha cara, mas sabe como é,
eu não sei lidar com a distância — elu diz, os olhos um pouco brilhantes
pelas lágrimas de emoção. — Ei, eu redigi esse contrato e você é
oficialmente a minha primeira contratação como sócia majoritária[13] da
Durant Racing Team.
— Está falando sério? — pergunto e pego Ocean pela cintura,
erguendo o seu corpo alto e esguio em um abraço apertado. —
Finalmente!
— Agora posso oficialmente mandar em você — elu diz, um sorriso
travesso nos lábios tingidos de vermelho.

— Está tudo dentro dos conformes, Nate, pode assinar que iremos
oficializar o contrato mais tarde — Charlotte chama a minha atenção ao
falar sobre os termos contratuais que acabou de ler.

— Eu sei, sempre confiei em Ocean, sabia que elu faria um trabalho


incrível dentro da equipe — elogio, arrancando risadas de Joshua e
Dave.

— Já começou bem, meu filho. Ocean não consegue ter pulso firme
quando elogios estão em cena — Dave comenta, abraçando Joshua pelos
ombros.

Estar entre eles é como estar em família. Não há equipe que eu tenha
mais orgulho do que a minha e eu sou eternamente grato por tê-los
sempre ao meu lado.
A energia de comemoração e gargalhadas toma conta da sala, os sons
altos das conversas animadas e os gritos de alegria poderiam ser ouvidos
de qualquer sala no andar.

E mesmo assim, consigo escutar o vibrar do meu celular em cima da


longa mesa de madeira. Ergo meu dedo para Joshua e Dave e giro meu
corpo para visualizar a tela:

Luna.
Há uma semana não tenho nenhum contato com ela, pela primeira vez
desde que tínhamos dez anos de idade ficamos mais que um ou dois dias
sem nos falar.
Não penso duas vezes antes de atender a ligação, mesmo ainda
estando no meio da reunião com os Durant. Todos parecem entender meu
nervosismo, pois assim que coloco meu celular no ouvido, sinto as
conversas baixando de volume para apenas um murmurar baixo entre
eles.

— Luna? — pergunto ao atender a ligação.


Contudo, não é sua usual saudação que escuto, é apenas a sua
respiração entrecortada e forte. Ela parece estar com dificuldade para
respirar, pois a cada segundo posso ouvir a força com que puxa o ar para
dentro dos lábios e como o expira trêmula. Ela está tentando controlar
sua respiração.

— Respire, garota. Faça como eu — peço e inspiro audivelmente para


que ela possa repetir meus movimentos. Ela tenta sugar o ar, mas parece
perder o controle e os soluços tomam conta da ligação, em um choro da
puro pânico. — Não pare de respirar, sweetie. Faça como eu estou
fazendo, por favor.
Charlotte me encara e digita algo no seu tablet, virando a tela para
mim em seguida com a seguinte frase:
“Preciso mandar ajuda?”
Nego com a cabeça, ainda concentrado nos sons do outro lado da
linha. Luna está tendo uma crise de ansiedade e sinto o peso dentro do
meu peito por estar praticamente do outro lado do mundo quando ela
mais precisa de mim.

Ela parece se esforçar muito, mas consigo ouvir sua respiração ainda
forte e pesada voltando a seguir um ritmo constante.
— Isso, garota, continue respirando. Estou aqui com você —
murmuro, voltando a inspirar e expirar audivelmente para que ela possa
me ouvir e imitar meus movimentos.
Posso ouvir as vozes abafadas na ligação, a movimentação de um dia
comum no tribunal, onde ela provavelmente está e teve a crise de
ansiedade.
— Você está sozinha, Luna? — pergunto, pronto para pegar minhas
coisas e entrar no primeiro voo disponível de volta a Mônaco, sem
pensar em mais nada além dela.
— Estou bem — ela murmura bem baixinho, mas consigo suspirar
aliviado quando noto que sua respiração voltou ao normal. — Me
desculpe, eu não sabia o que fazer.
— Me ligue sempre que precisar de mim, não importa a hora, a
situação ou o que quer que eu esteja fazendo. Você sempre será a minha
prioridade.
Ela fica em silêncio do outro lado da ligação, talvez tenha sentido
tanto medo que não pensou em tudo que acarretaria quando me ligasse
novamente. Luna apenas murmura uma concordância e se despede de
mim, desligando a chamada sem realmente falar nada.

Guardo meu celular no bolso e me viro para encontrar cinco pares de


olhos preocupados na minha direção. Me direciono a minha publicitária,
ignorando todos ao meu redor.

— Vou pegar um táxi para o aeroporto, encontre a primeira passagem


que conseguir, em qualquer classe, a qualquer horário, em qualquer
assento. Apenas me coloque dentro de um avião para Mônaco — ordeno,
já pegando minha carteira e virando para a saída da sala, mas antes, um
pingo de responsabilidade bate em mim e me viro para os Durant.
— Sinto muito por isso, mas eu realmente preciso ir atrás… — sou
interrompido por Joshua que ergue sua mão e aponta afoito para a saída
do prédio.
— Vá logo, garoto! — ele aconselha e eu aceno com a cabeça,
sentindo nada além de gratidão por ter pessoas tão incríveis ao meu redor
o tempo inteiro.
Saio apressado em direção às ruas de São Paulo, aceno com a mão e
paro o primeiro táxi que passa pela grande Avenida Paulista.

— Para o Aeroporto de Guarulhos, por favor — falo no melhor


português que consigo.
Dentro do veículo, tudo o que passa na minha cabeça é chegar logo
em casa, encontrar a minha garota e finalmente resolver toda a confusão
que eu criei dentro da minha vida.
Capítulo 21
O voo parecia ter sido eterno, foram mais de doze horas trancafiado
dentro de uma aeronave, completamente fora de comunicação. Não fazia
a menor ideia se Luna estava bem ou se ainda estava se sentindo ansiosa.

Quando finalmente pousei e pude entrar no carro do motorista que


Charlotte organizou para mim, quem estava perto de ter uma crise de
ansiedade era eu.
Os poucos minutos até o apartamento de Luna foram intermináveis,
como estava sem bagagem e apenas com a carteira e celular, não precisei
passar em casa para nada. A cópia da chave do apartamento dela estava
dentro do meu bolso, pesando toneladas dentro do tecido de moletom.
A velocidade do carro aos poucos começa a diminuir e quando ergo
meus olhos, já visualizo o prédio bege da minha garota. Apenas desço do
carro correndo e passo pela recepção sem me identificar, o próprio
porteiro já me reconhece ao entrar apressado em direção ao elevador.
Quando vejo que está no último andar, desisto de esperar e corro até a
escadaria antiga da construção, subindo de dois em dois degraus até
chegar ao andar dela.
Quando finalmente coloco meus pés em frente à sua porta, paro
alguns segundos e respiro fundo, criando coragem para finalmente
encontrar a minha garota.
Coloco a chave extra na fechadura e giro, ouvindo o clique familiar da
porta de madeira. Ao abrir, vejo o apartamento completamente escuro,
sem nenhum sinal de vida.
Mas entro de qualquer forma e tranco a porta atrás de mim, deixando
meu celular, carteira e chaves na mesinha encostada na parede. A passos
lentos, caminho pelo ambiente pequeno e bem decorado, encontrando
diversas pastas com papéis espalhados pela mesa de jantar, certamente
um processo que ela esteja trabalhando.
Junto a papelada e uma enorme caneca térmica, o provável motivo
para não encontrar Luna acordada pela casa. Já deve passar das sete
horas da manhã, sendo esse um horário que normalmente ela já estaria
acordada e iniciando sua rotina matinal. Continuo explorando o
ambiente, vendo todo o restante da casa completamente intocado, sem
menção de que ela estava aqui.
O corredor escuro me recebe com um cheiro familiar, seu perfume
parece estar mais concentrado nessa área do apartamento e sigo
caminhando até seu quarto. Ao abrir a porta branca do lugar,
imediatamente encontro a figura morena dormindo pacificamente na
enorme cama de casal.
Luna parece ressonar baixinho e pelas coisas que encontrei pela mesa
de jantar, posso imaginar que ela entrou a noite trabalhando. Mesmo
após uma crise forte como a que ela teve, ela ainda encontrou forças para
continuar trabalhando.

Orgulho e preocupação transbordam dentro de mim nas mesmas


proporções.

— Nate… — o murmúrio baixo me faz olhar mais uma vez para ela,
pronto para fazer minha presença visível, mas Luna continua em um
sono profundo.

Um sorriso filho da puta de estende pelo meu rosto.


Ela está sonhando comigo.

Porra, não há sensação melhor.


Olho com mais atenção para ela, tentando encontrar qualquer sinal de
que possa estar acordada, mas sua respiração pesada apenas me confirma
o que já imaginava. Ela está completamente apagada.
E conhecendo ela, sei que nada a fará acordar agora, o que me permite
resolver algumas coisas enquanto ela dorme. Volto para a sala, deixando
a porta do seu quarto fechada para que ela não acorde assustada com o
barulho de alguém na casa.
Eu não tenho a mesma propensão em deixar a casa limpa e organizada
como ela, mas posso fazer um esforço nessa situação. Deixo toda a casa
aberta, apenas as cortinas brancas fechadas, como sei que ela gosta.
Mandoc uma mensagem para o hotel que Pandora está hospedada e peço
que me tragam ela até aqui, sei que Luna gostará da companhia da gata
endemoniada assim que acordar.

Além disso, como tenho total ciência que sou péssimo na cozinha,
abro o aplicativo de entregas e peço um café da manhã caprichado para a
morena, já que pela imagem intocada de sua cozinha, posso deduzir que
ela não comeu nada além de tomar uma garrafa de café ontem à noite.

Algumas horas mais tarde, uma mesa recheada de comidas posta e


Pandora aninhada em meus braços, Luna acorda e caminha pela sala. Ela
se surpreende quando me vê sentado em seu sofá com a gata em meu
colo, mas parece aceitar o fato bem rápido.
— Que horas você chegou? — A garota abre os braços e caminha na
minha direção com eles estendidos, logo que se aproxima de mim, a gata
branca se solta da minha camiseta e pula nos braços dela. — Senti sua
falta, bolinha.
Pandora parece ter sentido o mesmo pois começa a ronronar alto
enquanto Luna passa os dedos por toda a extensão de sua pelagem
branca.
— Cedo, não quis acordar você — respondo sua pergunta, mas
continuo parado, talvez esperando o momento que ela vá pedir para eu ir
embora.

Ela balança a cabeça e parece sentir o cheiro de comida, pois solta um


gemido gostoso ao inclinar o nariz na direção da mesa.
— Pra que tanta comida, garoto?

O alívio me inunda pela segunda vez no dia.

Saber que aos poucos vamos voltando a ser o que éramos me deixa
tranquilo, mesmo que meu corpo não pense da mesma forma, pois me
sinto completamente duro apenas por ouvi-la gemer para a comida.

— Você precisa se alimentar e pelo que encontrei na mesa, você não


deve ter comido absolutamente nada desde ontem.

— Culpada — ela responde, o rubor avermelhado tomando conta de


seu rosto. Seus olhos castanhos parecem cansados, mas o brilho que
sempre me atrai continua ali, direcionado a mim.

Ela me deixa no sofá e caminha até a mesa, pegando algumas frutas e


tomando um copo cheio de suco de laranja. Pandora parece esperar que
vá ganhar algo a qualquer momento, pois todas as vezes que Luna ergue
sua mão para comer, a gata endemoniada se levanta e abre a boca.

A cena é fofa.
— Posso dar frutas para ela? — Luna pergunta, procurando pedaços
pequenos de maçãs sem semente.

— Só evite as frutas cítricas, de resto, não vai fazer mal — respondo,


me levantando do sofá e caminhando em sua direção.

— Quem diria, você sendo pai de uma gata — Luna desdenha.

Com a maçã em mãos, ela deixa o pedaço da fruta na palma de sua


mão e Pandora se sente livre para erguer o focinho e abocanhar a
comida. Como se Luna precisasse de algo para fazer a gata ser ainda
mais apaixonada por ela, não bastasse todo o carinho e cuidado, ela pode
facilmente pegar a gata de mim que Pandora não sentirá a minha falta.

— Está com ciúmes.


— Não estou — rebato sua afirmação, o sorriso cínico na face da
morena.

— Aprendi a ler suas expressões, garoto, não adianta mentir para mim
— ela fala, passando os dedos pela cabeça da gata.

— Talvez tenha aprendido errado.

Afinal, como ela pode ter pensado por um único segundo que eu a
rejeitaria? Que eu não sinto um tesão fodido por cada pedaço do seu
corpo? Como ela pode pensar que eu não a quero por inteira depois que
senti o gosto de seus lábios nos meus?

Ela estala a língua e dá de ombros, voltando sua atenção para as


comidas da mesa como uma forma de evitar continuar o assunto.

Ao mesmo tempo que sinto que estamos progredindo, também


consigo ver como ela se restringe na minha presença. Como se ela
calculasse cada passo, cada gesto e cada palavra.

Pandora parece desistir de comer e pula dos braços de Luna,


aterrissando no chão de madeira com muita leveza e logo corre em
direção ao corredor para se esconder em algum canto.

— Independente ela, não é? — Luna brinca com as frutas na mesa,


mas sem comer nenhuma.

— Talvez ela apenas queira nos deixar sozinhos por um tempo —


respondo.

Me aproximo um pouco mais dela, deixando que o calor do seu corpo


aqueça o meu por inteiro. Sua respiração parece acelerar a cada passo
que dou em sua direção, nossos braços quase se encostam pela pouca
distância.

— Por que ela faria isso? — pergunta com a voz rouca.

— Porque ela sabe melhor.


Ela parece prender a respiração, seu pescoço e rosto se tornando ainda
mais adoravelmente rosados, seu cheiro me faz perder o controle e antes
que possa pensar, me vejo deslizando meus dedos pelos dela.

Luna ergue os olhos e fixa seu olhar no meu, as írises castanhas


pegando fogo, gritando de desejo e tesão.

— No entanto, não é como se eu precisasse estar sozinho — murmuro


baixinho, encarando os olhos confusos. — Talvez eu goste de ser
observado.

Ela engole em seco, abrindo os lábios e deixando que sua respiração


pesada saia pela boca carnuda. Aos poucos vou subindo meus dedos pela
sua mão, passando pelo antebraço e finalizando no ombro, apenas a
ponta do meu dedo criando um caminho por toda a extensão de sua pele.

Deslizo a mão pelo seu pescoço, quente como o inferno e embrenho


meus dedos nos fios de cabelo castanho em sua nuca. Em um puxão
firme, seguro seu rosto e o puxo para mim, quase tocando minha boca na
sua, mas com a distância de poucos centímetros entre nós.

Seus olhos ardem como fogo, a respiração quente batendo com força
no meu rosto, meus dedos firmes em seu cabelo ao segurar sua cabeça.
Resvalo meus lábios nos seus e falo:

— Talvez você devesse ter entrado naquele chuveiro comigo, afinal,


era em você que eu estava pensado.

Luna parece entender o que estou falando, pois abre um sorriso


malicioso e aproxima o rosto ainda mais do meu, ela morde meu lábio
inferior e se afasta mais uma vez.
— Talvez a gente deva tentar algo assim uma hora — ela murmura,
me fazendo jogar toda a merda do controle pela janela e grudar meus
lábios nos seus.
A saudade que eu estava do seu gosto não fazia jus à sensação de
estar com ela mais uma vez. Passo a língua nos seus lábios, pedindo
permissão e ela abre a boca, me recebendo com avidez.

Continuo segurando com firmeza no seu pescoço, sem fazer menção


de soltá-la. Luna geme na minha boca quando sente a pressão do meu
pau em sua barriga, com a mão livre puxo suas costas e prenso seu corpo
junto ao meu.

Ela parece estar se segurando em um último fio de razão, mas quando


sente minha mão deslizando de suas costas, passando pela bunda gostosa
e segurando suas coxas, a morena finalmente se entrega.

Luna ergue as pernas e pula em meu colo, enrolando as pernas ao


redor do meu quadril e esfregando o seu centro bem em cima do meu
pau. Sem desgrudar nossos lábios, caminho com ela até o sofá,
encontrando o tecido de couro do móvel com o pé.
Me sento, trazendo seu corpo junto ao meu, em meu colo. Como uma
deusa, ela separa nossos lábios para recuperar a respiração e segura meu
rosto com as duas mãos, me encarando com desejo transbordando no seu
olhar.
— Me faça sua — ela pede.

Grudo nossos lábios mais uma vez, com um pouco mais de força
dessa vez, e Luna arqueja, gemendo com prazer. Minha língua em uma
dança sensual com a dela, sugando tudo de si.

Solto o seu pescoço e deslizo minhas mãos pelas curvas deliciosas da


morena, passo minhas mãos pela curvatura do seu seio, parando com o
polegar entre a costela e o monte delicado. Luna ergue suas costas,
colocando seu peito exatamente no meio das palmas das minhas mãos,
aperto com fervor, sentindo o tamanho se moldando exatamente à minha
palma.
— Por favor — ela implora, rebolando no meu colo. Inclino meu
quadril para cima, dando um pouco do contato que ela tanto anseia.
Aperto os seios em minhas mãos, mas logo puxo a blusa de alças para
baixo, deixando os dois montes claros em minha vista. Afasto meus
lábios dos seus e abaixo a cabeça, colocando um mamilo rosado na boca,
chupando e mordiscando, sentindo sua respiração falhar em cima de
mim.
Dou atenção ao outro seio com a mão livre e intercalo entre os dois,
mamando com vontade enquanto a morena parece se derreter no meu
colo. Continuo chupando forte, mas com uma das mãos, desço por sua
cintura e encontro o tecido encharcado em frente a sua boceta.
— Meu deus, garota, você está pronta para mim — murmuro, me
deliciando com seus peitos. Luna geme alto quando sente meus dedos
deslizando por cima do tecido, sentindo seu clitóris inchado embaixo do
pequeno short de pijama.
Tiro a boca de sua pele avermelhada e puxo seu corpo para cima,
apenas uma distância suficiente para tirar sua blusa com rapidez e baixar
o short, deixando-a apenas em uma calcinha de renda vermelha.
Exatamente como a que guardei de recordação quando ela atirou em
mim.
— Minha perdição é você — rosno e puxo suas pernas novamente,
deixando-a em pé na minha frente com a pequena lingerie exatamente na
frente do meu rosto.
Com o movimento de pinça, seguro os dois lados da peça, deslizando
lentamente pelas pernas, sentindo sua pele se arrepiar por cada lugar que
meus dedos tocam.
— Preciso sentir você — imploro e ela parece deslumbrada. Seguro
suas coxas e giro seu corpo em 180º, deixando a bunda empinada na
direção do meu rosto.
A palma da minha mão amassa com força as nádegas, deixando a
marca vermelha dos meus dedos como prova do meu tesão por ela, apoio
a mão livre na sua lombar, forçando para que ela se incline para frente.
Luna apoia as mãos estendidas na mesinha de centro, abrindo ainda mais
suas pernas, deixando a visão de sua boceta melada na minha frente.

Deslizo o dedo de cima a baixo, arrancando um gemido dela e em


seguida, abraço suas pernas e grudo meu rosto na sua boceta, sentindo
seu gosto doce e viciante escorrendo na minha língua. Com movimentos
circulares, chupo cada pedaço de sua excitação.
Os gemidos cada vez mais altos da morena apenas me incentivam a
continuar.

Agarro seu quadril com o braço esquerdo, rodeando junto de mim e


com a mão direita, deslizo dois dedos dentro do seu canal apertado,
sentindo suas paredes internas me apertarem a cada estocada. Minha
língua trabalhando em conjunto, sugando e mordiscando seu clitóris
enquanto meus dedos fodem a boceta gostosa.
Luna grita, seu orgasmo perto, forte.

— Por favor — ela implora. — Não para, não… Ah.


Acelero meus movimentos, um vai e vem delicioso dos meus dedos
em sua bocetinha apertada. Endureço minha língua e deslizo desde o
clitóris até o buraco intocado da morena. Sinto seu corpo estremecer nos
meus braços, o som da minha língua molhada em sua pele me faz ficar
ainda mais duro.

— Meu deus… Ah… — ela grita, gozando na minha boca e dedos,


me permitindo tomar cada gota do seu líquido. Me lambuzo com seu
gosto, lambendo os grandes e pequenos lábios, diminuindo o ritmo dos
meus dedos enquanto a sinto tremer, o corpo perdendo completamente a
força. Seguro seu peso com meu braço, mantendo-a de pé e aberta para
mim.

— Nate, por favor… — Ela parece ensandecida, as pernas vibram e


quando tenho certeza que prolonguei ao máximo seu orgasmo, deslizo
meus dedos para fora.

— Gostosa demais.
Luna vira o rosto para mim, ainda inclinada com as pernas abertas.
Apenas tempo suficiente para me ver chupar seu gosto dos meus dedos
melados e lubrificados.
— Você é perfeita — digo, puxando o seu corpo para o sofá, Luna se
deita, me permitindo ter a visão completa de toda a sua pele exposta, os
seios rosados inchados e com as marcas dos meus dentes, a pele clara,
porém bronzeada, criando um contraste lindo com seu cabelo castanho
escuro e os lábios vermelhos, ainda mais inchados pelas mordidas dos
nossos beijos.

— Preciso te ver — ela pede, os olhos deslizando por todo o meu


corpo. Não há nada que ela me peça que eu vá negar, então ergo os
braços e tiro a camiseta, jogando em um canto qualquer do apartamento.

Ela ergue as mãos e inclina seu corpo em uma altura ideal que a
permita puxar minhas calças de moletom para baixo, deixando meu
membro duro e solto apontado em direção ao meu umbigo.

— Sem cueca, então?


— Pronto para você — murmuro, deixando que ela aprecie a visão do
meu pau em seu rosto.
— Me deixe sentir seu gosto — pede.
— Quando quiser, menos agora. — Apoio as mãos em seus ombros,
deitando-a de volta no sofá. — Preciso estar dentro de você, sweetie.
Assim que ela volta a posição inicial, rapidamente pego uma
camisinha do bolso da minha calça e visto meu pau, protegendo a mim e
a ela. Não tivemos uma conversa aberta sobre sexo sem camisinha e não
sou escroto ao ponto de fingir esquecimento por causa do tesão
acumulado.

Deslizo minhas mãos pela sua perna, abrindo espaço para me


acomodar atrás do seu corpo. Com a mão livre, ergo sua outra perna,
envolvendo meu quadril de costas, deixando sua boceta livre para o meu
pau e meus dedos.
Luna se apressa e segura meu membro, colocando-o em sua entrada
molhada, me fazendo deslizar lentamente para dentro dela. Gememos ao
mesmo tempo com o prazer que irradia por finalmente termos nossos
corpos juntos.
Passo meu braço direito por baixo de sua cabeça, colando suas costas
em meu peito e apertando seu pescoço, privando-a um pouco de respirar.
O suficiente para que o prazer se torne ainda mais intenso, mas seguro o
bastante para que ela não desmaie em meus braços por falta de ar.

Estoco devagar e com força, deixando que ela se acostume com o meu
tamanho. Logo ela começa a gemer e rebolar no meu pau, então passo a
acelerar os movimentos, penetrando com força enquanto seus gemidos
explodem em meus ouvidos, me incentivando a estocar ainda mais
rápido.
— Isso é tão bom — ela fala, a voz entrecortada por cada penetração.
— Eu poderia ficar aqui o dia todo.

Ela solta uma risadinha, mas logo sua boca se abre, um grito mudo
nos lábios vermelhos. Luna parece uma miragem em meus braços, o
rosto vermelho coberto pelas gotículas de suor que se espalham por todo
seu corpo. As unhas grandes pintadas de branco apertam meus braços,
deixando marcas que irei desfilar por aí com o maior orgulho.
Continuo estocando, sentindo-me cada vez mais perto de gozar. Luna
parece estar no mesmo caminho, pois sua respiração acelera e sinto seu
coração batendo descompassado dentro do peito.
Quando seu corpo começa a tremer em meus braços e sinto o
momento que ela está prestes a se desfazer, os olhos revirando e a boca
entreaberta, me permito me soltar, encontrando o meu próprio prazer no
mesmo instante em que digo:
— Goza comigo, sweetie.
Capítulo 22
Os braços de Nate continuam enroscados em meu corpo, a respiração
profunda batendo suavemente na minha nuca. O calor que emana de sua
pele aquecendo cada pedaço da minha alma.

Não pensei, apenas fiz.

Essa semana que passou foi insuportável sem ele, desde os meus dez
anos nunca passei tanto tempo sem a sua presença. Isso me desconcertou
demais, me pressionou a tentar viver sozinha e independente, quando no
fundo do meu coração eu só queria estar ao seu lado novamente.
Não me importava mais se era como sua amiga ou mais. Eu só
precisava dele.
— O que está pensando? — ele pergunta, a voz rouca e grossa pelo
sono pesado de minutos atrás.
— Em como senti sua falta — respondo.
Ele deposita vários beijos pelo meu pescoço e ombros, me abraçando
ainda mais rente ao seu corpo.
— Já está com saudades? — O tom de voz malicioso e a risadinha no
final da frase já mostram que ele não está muito inclinado a conversas
sérias, então embarco na onda e me permito aproveitar estar ao seu lado.
— Não imagina o quanto.
Suas mãos me seguram com força na cama enquanto ele vira seu
corpo e se coloca em cima de mim, sua nudez tocando em cada parte da
minha pele, sem exceções. Me sinto incendiar com o mínimo contato de
sua pele.
— Ainda quero sentir seu gosto mais uma vez, mas por agora, preciso
de você, sweetie.
Ele abaixa o rosto e gruda seus lábios nos meus, a pressão de sua boca
na minha faz a minha respiração se tornar entrecortada e pesada. Agarro
seu pescoço com os braços, puxando-o para ainda mais perto de mim.
Com os joelhos, Nataniel separa as minhas pernas e sem desgrudar
nossos lábios, ele passa os dedos delicadamente nas minhas dobras, me
fazendo suspirar de prazer.
O estímulo na minha vagina em conjunto com seus lábios na minha
boca é tão afrodisíaco e logo estou tão excitada que seus dedos passam a
fazer um som molhado ao deslizar pelo meu clitóris.
— Você toma pílula? — ele pergunta, os lábios tão grudados aos
meus que sua voz sai somente um enrolado de palavras. Aceno com a
cabeça, em concordância.
— Confio em você.
Não preciso falar mais nada, ele me aperta ainda mais em seus braços
e desliza seu membro para a minha entrada, me preenchendo
intensamente de uma vez só. Sinto o ar ficar preso na minha garganta
enquanto meu corpo parece tentar se acostumar com sua grossura, mas
logo que relaxo, passo a gemer algo com as estocadas.
Diferente do dia anterior em que precisávamos extravasar anos de
desejo e tesão um pelo outro, hoje Nate mantém um ritmo suave. Como
se ele não tivesse nenhuma pressa para me possuir, tendo todo o tempo
do mundo.
O vai e vem constante e lento me faz ver estrelas. Grudo minhas
unhas em suas costas e abro ainda mais minhas pernas, sentindo sua
pélvis entrar em contato com meu clitóris a cada batida de nossas peles.
O orgasmo vem crescendo dentro de mim, cada vez mais forte e mais
intenso do que a vez anterior. Uma de suas mãos continua firme no
colchão, evitando que seu peso caia totalmente em cima de mim,
enquanto a outra passa a estimular meus seios sensíveis.
— Eu… Ah… — Não consigo formular uma palavra, apenas deixo
meu corpo ser completamente tomado pelo dele. Seus lábios tomando
qualquer murmúrio que saia pela minha boca enquanto seu membro me
possui como sempre sonhei.

— Goza para mim, morena — ele ordena, a voz rouca e firme


próxima do meu ouvido enquanto suas mãos fazem maravilhas em todas
as partes sensíveis do meu corpo.

Com uma última estocada firme e forte me derramo em um clímax


poderoso, relaxando até a última ponta do fio do meu cabelo. Nate me
segue e logo chama o meu nome enquanto se derrama dentro de mim.

Me possuindo por inteira.


Se eu não era completamente dele antes, agora não há mais dúvidas.

— Você tem certeza que isso é seguro? — pergunto pela milionésima


vez enquanto Nate fecha o meu macacão antichamas com firmeza no
meu pescoço.
Ele puxa o zíper por todo o meu tronco e coloca a barra da minha
balaclava na parte interna do macacão, prendendo tudo com perfeição.
— Por que não seria? — Ele inclina o rosto para o lado, balançando
os cabelos castanhos para os dois lados em uma confusão de fios. — Eu
faço isso todas as semanas, você sabe.
Bufo e reviro os olhos.

— Ah, claro, e eu passo os meus dias analisando processos, longe de


estar perto de um carro assim — resmungo e cruzo os braços.
— Não pense no carro, apenas lembre-se de quem está dirigindo-o —
desdenha e eu desfiro um tapa leve em seu braço.

Ele olha mais uma vez para toda a minha paramentação, garantindo
que estou com tudo seguro e firme.

— Apenas coloque o capacete e está pronta.

Ele dá um pulo no chão e puxa seu macacão – que estava solto em


seus quadris – para cima, passando os braços pelas mangas com uma
agilidade surreal. Eu levei mais de dez minutos para colocar tudo e ainda
precisei de sua ajuda para fechar.

Em um piscar de olhos ele já está passando as bordas da balaclava


branca pelas lapelas do macacão e puxando o zíper. Nate parece ver que
estou impressionada com a sua agilidade, pois vira o rosto para mim e
solta uma piscadinha com os olhos.

— Vamos lá, garota! — Ele estende sua mão e me leva em frente ao


carro.

É como um carro de fórmula 1 completamente normal, as mesmas


cores, pneus e toda a estrutura, mas esse contém dois assentos. O de
Nataniel na frente, com o volante em sua frente e um atrás, onde irei
sentada.

— É igual ao seu carro? — pergunto, segurando com força em sua


mão, os nervos completamente à flor da pele.

— Não exatamente, é um pouco mais lento, mas a aventura será tão


especial quanto o meu carro — ele responde, sorrindo.
Aceno com a cabeça, me deixando ser conduzida por ele para o
cockpit destinado a mim. Já andei em carros velozes com Nataniel
dirigindo, já participei de campanhas publicitárias onde tínhamos que
estar em alta velocidade.
Por Deus, já gravei um comercial onde Nataniel simplesmente saía de
dentro da carga de um avião dirigindo em alta velocidade enquanto eu
estava no carona.
Mas em todos esses anos, eu nunca coloquei meus pés dentro de um
carro de Fórmula 1.

Sei que com os anos os carros se tornaram cada vez mais seguros e
todas as medidas possíveis para que nada ocorra estão sendo
administradas nesse momento, mas a sensação de tocar no veículo é
assustadora. Diferente de um automóvel comum, a primeira e grande
diferença é estar completamente exposta, a única proteção contra o
exterior é o halo, uma barra curva em cima do carro que é destinada a
proteger o piloto – ou no caso, eu – de qualquer impacto ou colisão com
a cabeça.

— Nada vai acontecer com você, confie em mim — ele pede e me


ajuda a erguer a perna para entrar no assento.

É onde entra a segunda diferença, esse carro não tem portas, então
precisamos praticamente escalar para entrar. Ele me ajuda a sentar, o que
é bem confortável contando que eu preciso ficar praticamente deitada
dentro do cockpit. É uma posição estranhamente prática onde minha
bunda fica totalmente abraçada pelo assento e minhas pernas se mantém
esticadas para frente, como se eu estivesse pronta para me deitar na
cama.
Nate ergue o corpo para dentro do carro, puxando quatro tipos de
cintos de segurança, me prendendo pelo quadril, braços e pelo capacete.

— Minha forma física não vai prejudicar? — pergunto.

O preparo físico que ele precisa ter para conseguir se manter aqui
dentro é algo indescritível, algo que eu não tenho. Academia três vezes
na semana não contam realmente como uma rotina de um atleta de alto
rendimento.

— Não vamos correr por mais de uma hora, serão apenas algumas
voltas para você sentir a adrenalina.
Assinto, o capacete pesando em minha cabeça, mas me sentindo tão
segura e presa que nem se eu tentasse me desamarrar, conseguiria.

Nataniel dá um peteleco no meu capacete e diz:

— Pare de se preocupar e curta o momento, sweetie.


Abro um sorriso espontâneo, mesmo que ele não possa ver por causa
da proteção na minha boca. Logo ele se vira e termina de conversar com
os engenheiros, mecânicos e a equipe de filmagem que nos
acompanhará.

Assim que tudo está pronto e organizado, ele finalmente pula para
dentro do seu assento, mais uma vez me surpreendendo pela agilidade e
rapidez com que termina de se prender nos cintos de segurança e estar
completamente pronto para partir.

Todas as vezes que o acompanhei nos boxes e o vi entrando e saindo


do carro, achava muito surreal, mas como nunca havia experienciado eu
mesma, não imaginava quão difícil era tudo isso.

— Pronta? — Escuto a voz de Nataniel pelo fone de ouvido preso por


dentro do meu capacete.

— Com certeza! — grito alto, arrancando risadas do moreno na


minha frente.

Ele liga o motor e o ronronar poderoso do carro me faz tremer, nem


saímos da garagem e já estou me sentindo cheia de energia. O mecânico
faz um sinal para liberar a pista e Nate pisa fundo no acelerador.
Meu corpo sofre um solavanco muito forte, batendo as costas contra o
assento e o protetor de cervical segurando minha cabeça no lugar, me
sinto afundar com a pressão tão forte da gravidade contra o meu corpo.

Então é assim que os pilotos sentem a força G.


— Estamos andando a mais de 200km/h. — Escuto a voz de Nataniel
por cima do grito do motor e realmente, ao girar meus olhos para os
lados, não consigo ver absolutamente nada além de vultos passando.

A velocidade unida a força que o corpo sofre a cada vez que ele
acelera o carro após uma curva, me fazem ofegar. Sinto meu corpo
esquentar por dentro do macacão pesado, o gosto do suor do meu rosto
pingando nos meus lábios.
A força que meu corpo está fazendo para se manter no lugar e
simplesmente não ceder à pressão é inacreditável. Em poucos instantes
vejo que estamos nos aproximando da reta de largada, onde em dias de
corrida é um espaço completamente lotado de pessoas.
Desde os funcionários das equipes, até jornalistas e celebridades,
todos querendo chegar o mais próximo possível dos carros. Claro que
não estamos no carro oficial de Nate, como ele mesmo disse, mas
enxergar o privilégio que tenho ao estar dentro desse carro com meu
melhor amigo é simplesmente surreal demais .
— Está preparada? — Nate grita.
Entramos na reta e ele abre a asa móvel do carro, nossa velocidade
parece aumentar exponencialmente em segundos. Mais uma vez meu
corpo sofre o solavanco, mas como eu já estava esperando por isso,
consigo me manter ereta com a velocidade alta. Solto um grito alto e se
eu estivesse solta, com certeza ergueria meus braços para cima e apenas
teria a sensação do vento na minha pele.
O que não é o caso, então apenas grito até explodir os meus pulmões,
caindo na gargalhada assim que sinto a necessidade de respirar de novo.
Em segundos as risadas são substituídas por lágrimas de emoção. As
sensações dentro de mim mudam na mesma velocidade que Nataniel
parece dirigir esse carro.
Nunca me senti tão leve em toda a minha vida.

— Meu deus, isso é incrível demais — digo pelo rádio, ouvindo seu
murmúrio de concordância em resposta. — Obrigada, obrigada,
obrigada.

— Sempre que quiser, sweetie.


Capítulo 23
Às vezes eu prefiro nem pensar quando as coisas estão fluindo tão
bem apenas para não agourar e trazer energias ruins, mas tem situações
que infelizmente a gente precisa lidar querendo ou não.

— Por que você precisa ir? — Nataniel esfrega os olhos com as mãos.
A imagem do moreno nu em minha cama é quase suficiente para me
fazer ficar em casa mais um pouco.
No entanto, nossa lua de mel precisa terminar por um tempo.
Recebi uma ligação de Mel, minha colega de trabalho, pedindo que eu
fosse com urgência até o escritório. Ela não quis me adiantar nada sobre
o assunto, mas eu tenho certeza que coisa boa definitivamente não vai
ser.

Nate continua me encarando com os olhos inchados de sono,


implorando que eu volte para cama. Abro um sorriso e me aproximo
dele.
— Você sabe que eu não posso — murmuro, encostando meus lábios
no dele.
Ele respira fundo e acena, fechando as irises castanhas mais uma vez.
O moreno volta a me olhar somente quando já estou quase saindo do
quarto, nesse mínimo espaço de tempo, Pandora voltou para cima da
cama e se acomodou junto ao seu dono.
A gata parece entender quando precisamos de um espaço só nosso,
pois sempre dá um jeito de sair de perto no mesmo instante que nossas
peças de roupas começam a se perder pelo quarto.
— Se precisar de algo, me ligue que eu vou até onde você estiver —
ele diz, acariciando a gata manhosa.
— Sim, senhor — brinco com ele, já saindo do quarto e deixando a
porta aberta para que Pandora possa andar pela casa.
Esse clima de morar com Nataniel está me afetando mais do que eu
imaginava. Apenas me deixei viver a vida sem ressalvas, sem pensar no
amanhã e sem sofrer pelo que não posso ter.
Apenas estou vivendo o que a vida está me proporcionando no
momento.

Não é do meu feitio fazer isso ou mesmo pensar isso, mas eu cansei
de sofrer tanto por algo que eu quero e não posso ter. Ao menos assim,
tenho o meu melhor amigo de volta.
E de quebra, alguns orgasmos diários.

Entro no meu carro e dirijo rapidamente até o prédio do escritório,


deixo o meu carro em uma vaga na rua mesmo e corro pelas portas de
vidro. Cumprimento rapidamente as recepcionistas da manhã e subo no
elevador até o meu andar, já encontrando Melissa me esperando assim
que as portas de vidro se abrem.

O que eu não esperava era encontrar meu chefe, o Sr. Diaz, junto a
ela.
— O que está acontecendo? — pergunto, preocupada com a seriedade
da situação. — Tivemos algum caso reaberto?

— Não, não é nada do tipo, pode ficar tranquila — Sr. Diaz tenta me
acalmar, mas logo levanta sua mão e estende em direção a minha sala,
mostrando que devemos segui-lo até lá. — Vamos conversar em
particular.
Sigo minha amiga e meu chefe até a minha sala, no instante que
entramos no escritório ele dá a volta e tranca a porta, aumentando ainda
mais a minha preocupação. Mel se senta em uma das cadeiras em frente
à minha mesa e deposita um envelope branco no tampo de madeira. Ergo
meus olhos para os dois, meu chefe se mantém em pé de braços
cruzados, apenas analisando minha reação, enquanto minha amiga parece
tão ou mais nervosa do que eu.
Com as mãos trêmulas, pego o envelope e abro, puxando três folhas
brancas de dentro.
— Nós só tivemos conhecimento disso nessa madrugada, os técnicos
de informática estavam com algumas suspeitas, mas como não havia
nenhum dado aos processos, ninguém investigou mais. — Meu chefe
aponta com o queixo para o papel, indicando que eu devo abrir e ler de
uma vez. — Até que recebi um e-mail da publicitária do seu namorado.
No momento que leio a primeira linha do documento, um peso sai das
minhas costas.
— Eu não entendo nada de informática, como vocês já sabem, mas
havia alguns meses que estava notando alguns arquivos faltando na
nuvem do escritório. Como se alguém estivesse apagando os arquivos
antigos e colocando outros no lugar, pois a quantidade sempre se
mantinha igual — Sr. Diaz começa a falar.

“Depois que a empresa entrou no ramo de tecnologia, todos os nossos


processos antigos são armazenados numa nuvem, assim não precisamos
de um espaço físico maior. No entanto, alguém estava apagando esses
casos, já que de vez em quando gosto de voltar a analisar casos antigos
por curiosidade.”

“Eu resolvi colocar um alerta com a equipe de TI, talvez eles


estivessem fazendo algo. E quando Charlotte, a publicitária, me ligou e
pediu para que eu analisasse qualquer estranheza no escritório, a situação
dos arquivos na nuvem voltou a chamar a minha atenção.”

Minha atenção volta para o documento em minhas mãos, volto a ler a


terceira linha do documento, onde diz:
…armazenou dados e imagens da advogada Luna Thomas no lugar
dos arquivos excluídos.

— Então as ameaças, fotos e perseguições são de alguém daqui?


— Era apenas um estagiário, alguém que ninguém realmente prestou
atenção — Mel diz. — Eu mesma nunca havia visto ele aqui antes, até
descobrir tudo isso.

Eu reconheço o nome do garoto, Nathan Sanders, foi a pessoa que


tirou fotos de mim no dia em que estava saindo do almoxarifado. Eu
levei aquela situação para o RH, mas não imaginava que eles iriam
ignorar completamente a minha queixa.

— O contrato dele já foi finalizado e tudo que a TI encontrou foi


encaminhado para os investigadores do seu caso. Ao que parece, ele
criou uma obsessão em você desde que entrou aqui — meu chefe diz,
dando de ombros.
Minha amiga ergue o dedo e comenta:

— Talvez ele tenha entrado aqui por sua causa, não sabemos
realmente. Contudo, ele é ingênuo, aqueles adolescentes que se acham
importante atrás da tela de um computador, mas não conseguem nem
limpar o próprio quarto sem pedir ajuda aos pais.

Sr. Diaz suspira, negando com a cabeça.

— Eu venho oficialmente te pedir desculpas por ter colocado você em


uma situação tão delicada quanto essa, sempre prezamos a segurança dos
nossos associados, e erramos com você, Luna — ele fala, parecendo
realmente chateado por ter deixado passar algo que me incomodou por
tanto tempo. — No que você precisar, estaremos disponíveis para você.

— Agradeço, Sr. Diaz, mas esse caso eu irei passar para um advogado
externo, realmente é algo que não quero lidar e não tenho mais saúde
mental para pensar sobre — digo, ele apenas concorda comigo e acena
com a cabeça, sabendo que não há mais nada que ele pode fazer por
mim, apenas diz:

— Faça como quiser. — Ele aponta para a porta, girando a chave e


abrindo-a de uma vez. — E mais uma vez, sinto muito mesmo.

No segundo que a imagem do homem desaparece pelo corredor do


escritório, Melissa se levanta da cadeira e bate as mãos na mesa.

— Você vai mesmo jogar o caso para outra pessoa? — pergunta,


chocada. — Justo você? Acho que desde que cheguei você nunca
dispensou um único caso.

— Defender a mim mesma requer uma atenção que não estou disposta
a dar nesse momento — respondo, dando de ombros. — Normalmente
eu realmente agarraria essa oportunidade com unhas e dentes,
principalmente sabendo quão público esse caro poderá se tornar.

— O que mudou? — Ela semicerra os olhos para mim, mas


parecendo ver algo na minha expressão, abre um sorriso malicioso. — O
que não mudou, não é mesmo? O garoto de ouro te deu um chá, garota.

Solto uma risada nervosa, sentindo meu peito bater com força.

— Prefiro nem pensar nisso.

— Sendo bem comida é o que importa — ela rebate, me fazendo


engasgar com o gole de água que estava tomando.

Errada, ela não está.

— Minha equipe vai cuidar de tudo.


É o que eu mais queria ouvir do meu melhor amigo.
Assim que cheguei em casa o encontrei vestido e sentado na sala, com
duas malas prontas na sua frente. Não tive muito tempo para pensar no
que estava acontecendo, apenas corri até ele e o abracei com força, me
permitindo desabar por alguns segundos.
Contei todas as descobertas da manhã e pedi sua ajuda, como era de
se esperar, ele não deixou eu me preocupar com nada, apenas acenou
com a cabeça e continuou me abraçando.

Ele tirou o maior peso das minhas costas em apenas uma frase.

— Agora, vamos a parte boa. — Ele se afasta de mim e esfrega as


palmas das mãos uma na outra. — Escolhe uma das malas.
Ele aponta para as duas malas de bordo que estavam na sua frente
quando cheguei. Uma é preta e a outra é prata, fora isso, não faço a
menor ideia qual a diferença entre elas.
— O que estou escolhendo? — pergunto.

— O destino do nosso final de semana — ele responde, suscinto.


Aponta novamente para as duas bagagens e espera que eu responda.

Analiso as duas, tentando encontrar qualquer dica do que ele


planejou. Pelo tamanho das duas, certamente não caberiam roupas de
inverno para mais de uma pessoa, então preciso deduzir que qualquer um
dos destinos é de verão.

Aponto a mala prata.

— Italia, ci vediamo tra poche ore![14]

— Está falando sério? — Abro a boca, completamente chocada.


Nataniel desliza a mala prata até a minha frente e estende os nossos
passaportes. — O que há na outra mala? O que faria se eu escolhesse
ela?
— Abra.
Me agacho no chão e abro a pequena bagagem preta, prendendo o riso
quando a encontro vazia. Abro a prata e vejo a mala cheia de roupas de
verão, como imaginei.

— Se escolhesse a preta, ficaríamos aqui, nus o dia inteiro. Como


escolheu a prata, estamos partindo para Lado di Como em… — ele olha
o grande e luxuoso relógio em seu pulso. — Bom, não pensei que
gastaríamos tanto tempo conversando, então temos exatamente uma hora
para o jatinho decolar.
Arregalo os olhos.
Meu deus, eu simplesmente não consigo aguentar as nuances de
humor dele. Fico chocada com a facilidade que ele consegue falar sobre
alugar um jatinho particular para nos levar para a Itália ao mesmo tempo
que fala em jogar tudo isso fora se eu apenas escolhesse uma mala
diferente.
— Corre, vá trocar de roupa — ele ordena, apontando para o quarto.
— Você está falando sério mesmo? — pergunto uma última vez, só
por garantia.
— Alguma vez brinquei com isso, sweetie? O CastaDiva Resort nos
aguarda. — Ele estala a língua e abre um sorriso gostoso para mim.

Me atiro em seus braços mais uma vez, grudando meus lábios nos
seus, sem pressa alguma de soltá-lo, não poderia estar mais grata por tê-
lo ao meu lado novamente.

— Não preciso trocar de roupa, nem pegar nada. Tudo que eu preciso
está aqui comigo — murmuro com a boca colada na sua, sentindo o seu
sorriso pelas minhas palavras.

— Bela romântica você, não é?


— Não me acostume mal e não teremos problema — rebato, dando de
ombros.
— Nunca falei que seria um problema — ele declara.

Geralmente é um voo de umas duas horas, com algumas paradas que


precisam ser feitas de carro ou barco, mas como fomos no avião
particular de Nataniel e tínhamos um helicóptero à nossa disposição
assim que pousamos, nossa viagem se tornou mais rápida do que o
esperado.
O próprio resort que Nate reservou tem um heliponto, o que nos
permitiu desembarcar dentro do lugar que vamos nos hospedar. Pelo
horário, não foi possível ver as águas cristalinas que rodeiam a
propriedade, mas a iluminação com diversas luzinhas amarelas deixa o
ambiente confortável e harmônico.

A construção parece um minicastelo, mas sem as torres. Todo feito de


pedras escuras, janelas altas e longas e um enorme gramado rodeando, o
hotel é todo iluminado por luzes vermelhas enfeitando os vidros. O clima
sexy do lugar é um afrodisíaco para casais como nós.
Não que sejamos um casal, mas… Eu nem mesmo sei o que pensar
mais.

Assim que entramos, nos deparamos com uma recepção de tirar o


fôlego, o chão em pedras marrons contrastando com as paredes brancas e
janelas pretas nos transportam para uma época passada.

— Vou pegar as chaves — Nate murmura e deposita um selinho em


meus lábios antes de me deixar admirando a arquitetura do lugar para
buscar os cartões de acesso do nosso quarto.
Toda a recepção é vazia, sem móveis ou sofás, a única peça é uma
mesa de centro em estilo vitoriano com um vaso de rosas brancas na
superfície. É simples, luxuoso e deslumbrante.

— Não tinha disponibilidade para as suítes, então estamos em um


quarto menor. — Ele puxa a mala e me guia até as escadas, subindo
apenas um lance e parando em frente a portas duplas em madeira escura.
— Mas espero que você goste.
Ao abrir as portas, me vejo ofegante pela grandeza do quarto. Isso é o
que ele chama de algo menor, não consigo nem imaginar o que seria algo
maior que isso. O quarto é todo redondo, as paredes são todas de vidro
com armações de madeira preta e cortinas douradas. No centro do
ambiente, há uma cama no mesmo tom escuro e lençóis na cor purpura.
Alguns sofás, poltronas e mesas de centro compõe o ambiente, mas o
charme do quarto é a cama bem em frente as janelas.
Caminho até olhar a vista, encontrando a imensidão das águas verdes
do lago coberta pelo azul escuro da noite italiana.
— Estou sem palavras — comento, me sentando na enorme cama.
— Era o que eu esperava mesmo.

Nataniel solta a mala perto de um armário espelhado, que num


primeiro momento pensei que fosse somente uma porta de espelhos, mas
acabou sendo a porta para o closet e banheiro. Ele caminha até onde
estou, parando no meio das minhas pernas.
— Vamos aproveitar esse quarto como nunca, mas antes, preciso de
você cavalgando no meu rosto.

Engasgo com as palavras sujas que ele usa, mas sinto o meu corpo
esquentando sem que ele tenha ao menos tocado em mim. O moreno
inclina o corpo para frente, passando as mãos pelas minhas coxas e
erguendo o vestido curto que estou usando. Em um movimento rápido e
único, ele tira a peça do meu corpo, me deixando somente de calcinha e
sutiã.

— Linda demais — comenta, admirando o meu corpo dos pés à


cabeça.
Ergo minhas mãos e desamarro seu cinto, deixando que suas calças
caiam em seus pés, ele me ajuda e se ergue, ficando apenas com a cueca
a vista. Nate rapidamente tira sua camiseta, me deixando ter a visão do
seu corpo desnudo todo a minha disposição.

— Venha — ele pede e ergue a mão, me fazendo levantar da cama. —


Tire a calcinha e sente no seu macho.
Abro um sorriso, gostando da forma que ele fala. Ainda estamos
desbravando os limites um do outro, mas gosto de saber que ele não tem
pudores comigo.
Nataniel se deita na cama, me fazendo babar no seu corpo inteiro,
principalmente na visão de seu membro duro marcado na cueca boxer
que ele usa. Tiro minha calcinha lentamente, atraindo seu olhar
esfomeado para minha intimidade. Mantenho o sutiã no lugar, gosto da
sensação de suas mãos junto a renda do tecido esfregando a minha pele.

Deslizo pelo colchão, passando minhas mãos por toda a extensão do


seu corpo, tocando, amassando, apertando. Apenas me deleitando com
sua pele morena e quente. Nate puxa minhas coxas e me faz sentar em
cima do seu estômago, ele prende os dedos nas laterais da minha perna,
me segurando com firmeza.

— Vem, sweetie[15]. Me deixe sentir o seu gosto doce.


Abro um sorriso sacana e ergo meu corpo, Nate me ajuda segurando
minhas nádegas e soltando o meu corpo em cima de sua boca. Sinto sua
respiração fazer cócegas em cima do meu clitóris.
— Boceta gostosa do caralho — murmura.

Ele desfere um tapa na minha bunda, me fazendo dar um pulinho com


os joelhos e no momento que volto a minha posição original, sinto sua
boca me lambendo por inteira.
Como se eu fosse uma fruta doce e suculenta, Nataniel me chupa com
vontade, passando a língua macia por toda a minha extensão. Me abrindo
por inteira, ele faz movimentos de vai e vem na minha entrada, imitando
o movimento de seu pau.

Olho por cima do meu ombro e vejo sua mão presa em seu membro,
movimentando com firmeza para cima e para baixo.
— Rebola para mim, sweetie.

Fazendo exatamente como ele pediu, deslizo meu corpo para cima e
para baixo, busco apoio na cabeceira da cama e seguro com firmeza os
cantos de madeira, usando como alavanca para cavalgar em seu rosto.

Cada movimento que eu faço permito que sua língua encontre um


novo lugar, me dando ainda mais prazer. Os sons do moreno me
chupando com vontade unidos a sua mão batendo para cima e para baixo
em seu pau me deixam completamente enlouquecida.
— Meu deus, Nataniel… — grito, minha respiração completamente
entrecortada.

Ergo meus braços e deslizo minhas mãos em meus seios, me


estimulando enquanto Nataniel me come por inteira. Seus olhos estão
abertos, olhando cada movimento que eu faço, sua boca fazendo um
trabalho surreal na minha vagina.
— Deliciosa — ele murmura, mordiscando meu clitóris e depois
assoprando, me fazendo perder a compostura.
Aperto meus seios com força e abro a boca, mas nenhum som sai de
mim. Nataniel acelera os movimentos de sua mão, alcançando o seu
clímax um pouco antes de mim.
— Goza na minha cara, sweetie.

Desde a primeira vez que transamos, meu corpo passou a reagir as


suas palavras. Após sua ordem, sinto o orgasmo explodir dentro de mim,
minha visão fica completamente escura e vejo pequenos brilhos
enquanto me sinto em queda livre.
O moreno diminui a velocidade das chupadas, apenas me lambendo
enquanto sente o meu corpo tremer por inteiro em cima de si. Minhas
pernas parecem gelatina, mas antes que eu tombe para frente e caia, sinto
suas mãos segurarem minhas coxas.
— Venha aqui — ele pede suavemente.

Engatinho por cima do seu corpo e sinto seu gozo melando minha
barriga. Sorrio por saber que ele aproveitou o momento tanto quanto eu.
Nataniel puxa uma toalha da mesa de cabeceira e limpa seu corpo, em
seguira abre minhas pernas com o braço livre e limpa minha vagina.

Um pingo de vergonha me recobre pela ação tão intimista e vendo a


minha reação, ele abre um sorriso cafajeste.

— Você me deixou foder sua bocetinha e chupar todo o seu gozo, mas
tem vergonha de me ver limpando nossa bagunça?

— Ainda não estou acostumada com você falando essas putarias para
mim.
Ele joga a toalha no chão e puxa o meu corpo para o seu, me
abraçando com cuidado e depositando um beijo no topo da minha
cabeça.
— Pois trate de se acostumar, seu homem pode ser insaciável de vez
em quando — ele murmura baixinho enquanto faz carinho no meu braço.

Meu homem, como eu gostaria que isso fosse real.


Capítulo 24
Ele não estava mentindo quando disse que poderia ser insaciável,
desde o momento que chegamos simplesmente não conseguimos tirar as
mãos um do outro. A viagem foi combinada para durar apenas o final de
semana, então não temos muito tempo para aproveitar as belezas da
Itália, já que amanhã de manhã já temos que voltar para Mônaco.

— Você prefere um passeio de barco pelo lago ou um banho de


piscina com a vista para a paisagem? — Enquanto termino de prender as
laterais do meu biquíni, escuto a voz de Nataniel vinda do banheiro.

Dou uma breve olhada por uma das dezenas de janelas do quarto,
encontrando o céu sem uma única nuvem e o sol da manhã brilhando na
imensidão azul.
— Não podemos fazer os dois? Aqui parece ser tão lindo, mas
também quero conhecer as ilhas da redondeza.
— Seu pedido é uma ordem.
Nate apenas coloca a cabeça para fora do banheiro e dá uma
piscadinha para mim.
Não posso negar que esse clima entre nós é delicioso, mesmo que
uma parte de mim ainda se prenda na realidade absurda que ele irá
mudar de ideia com relação a relacionamentos.
Eu aceito suas inseguranças, seus medos e seus traumas. Apenas não
consigo entender a profundidade que isso teve dentro dele.

Meu coração se parte ao vê-lo se privando de algo tão incrível e único


como o amor. Nate é cercado de pessoas que o amam, que se importam
com ele e querem apenas o seu bem, no entanto, ele sempre mantém uma
enorme barreira entre eles, determinando o seu espaço e até onde esse
amor pode ir.
É triste, para ser bem sincera.
— Vamos ir à piscina agora e depois assistiremos o pôr do sol no
barco — ele comenta ao caminhar até onde estou, segurando o celular
em mãos.
— Você resolveu isso enquanto estava no banheiro?
— O que você acha que eu estava fazendo lá até agora? — pergunta,
malicioso.
Dou de ombros, sorrindo como uma boba quando ele envolve os
braços pela minha cintura e gruda o meu corpo no seu, seu perfume
amadeirado misturado ao pós-barba tomando conta dos meus sentidos.

— Talvez eu estivesse recriando a cena do banheiro do meu quarto —


murmura perto do meu ouvido.
— Não estava.

Ele ergue o pescoço e vira o rosto para mim.


— Como tem tanta certeza? — questiona, mordiscando meu lábio
inferior.

— Porque eu estaria com você.


Nataniel estala a língua e aperta minha bunda com firmeza, me
fazendo soltar um gemido baixinho.
— Se você não se afastar de mim, vamos perder toda a programação
do dia — diz.

— Então, vamos para a piscina, garoto!

Viro meu corpo, passo os braços pelo seu pescoço e deixo um beijo
suave em seus lábios antes de me afastar e pegar a minha pequena bolsa
de praia.

— Como sabia que essa era a minha preferida? — Me refiro a uma


tote bag da Christian Dior com uma estampa azul e bege. Não me lembro
de já ter usado com ele, pois a bolsa é extremamente nova, mas sempre
que vou a algum lugar tropical, levo ela comigo.
— Presto atenção aos detalhes, morena — ele murmura e pisca para
mim, me seguindo em direção a porta do quarto para irmos até o deck do
hotel.
Pela manhã a parte externa do hotel surpreende tanto quanto a noite, a
iluminação dá lugar a um lugar extremamente aberto, com enormes
guarda-sóis circulando todo o espaço de madeira.
O que realmente me deixa completamente deslumbrada é o deck ser
dentro do lago. Através de uma ponte de do mesmo material
caminhamos até estarmos quase no meio do lago, onde a piscina se
encontra. O contraste da água verde escura do lago com a azul cristalina
da piscina é de tirar o fôlego.

Nataniel me passa seu celular e a chave do quarto em um segundo e


no outro está correndo para mergulhar na imensidão azul da piscina.
Com o clima agradável, o sol brilhando sobre nossas cabeças e o calor
queimando a pele, não poderíamos ter dito ideia melhor.

Encontro uma cadeira para deixar minha bolsa e me deito para tomar
um pouco de sol enquanto Nate mergulha na piscina. Talvez ser um final
de semana de baixa temporada seja o motivo para o lugar estar
completamente vazio, dando total privacidade para nós dois.

O que não impede que qualquer hóspede que passe pelo gramado que
circula a construção nos veja, mas o clima intimista é algo que aprecio
muito. Principalmente porque sei que no momento que colocarmos
nossos pés fora dessa fortaleza, muitas pessoas vão se meter entre nós
dois.

É uma realidade que estou acostumada a lidar, mas uma parte


mesquinha da minha mente ainda se sente incomodada em ter que dividir
Nataniel com qualquer pessoa que passe no nosso caminho.

— Luna — Nataniel me chama, os braços cobertos por gotículas de


água descansando sobre a borda de madeira da piscina. — Vem cá.
Me ergo da cadeira, abandonando meus óculos ao caminhar em sua
direção. Olho para baixo, encontrando o seu olhar coberto de desejo
sobre o meu corpo. A peça de biquíni nunca pareceu tão sensual quanto
agora, sob a análise minuciosa do moreno.

Me ajoelho em sua frente, sento na borda e jogo minhas pernas para


dentro da água fresca. Nate segura os meus joelhos, se colocando no
meio das minhas coxas. O sorriso devasso cobrindo seus lábios.

— Não pense besteira, estamos em público — digo rindo.

Ele dá de ombros e estala a língua.


— Como se alguém fosse ver alguma coisa — ele desdenha.

Giro o meu rosto ao redor, encontrando somente a solidão a nossa


volta. Nenhum hóspede, nenhum funcionário. Absolutamente nenhuma
alma viva pode ser vista de onde estamos.

— Você fez isso? — Aponto o dedo para trás, indicando a construção


vazia.

— Talvez.
Nate segura os meus joelhos com firmeza, lentamente abrindo as
minhas pernas e se encaixando ainda mais perto de mim. Seu rosto
exatamente na altura da minha intimidade e os olhos castanhos
concentrados em mim.

Ele ergue uma mão, fazendo uma carícia desde a parte interna do meu
joelho até a minha virilha, esquentando a minha pele por cada pedaço
que ele toca. Sinto meus pelos se arrepiarem pelo toque molhado em
contato com o calor do meu corpo.
Nataniel abaixa a cabeça e segue o mesmo percurso com os lábios,
passando a boca úmida por toda a extensão da minha coxa, desde o
joelho até perigosamente perto do meu centro.
Arfo, inclinando o meu corpo para trás.

— Apoie as mãos no deck, sweetie — ele ordena e pisca um olho para


mim. — E tente não gritar.

Não tenho a chance de responder, pois rapidamente ele arrasta a parte


inferior do meu biquini para o lado e cobre a minha intimidade com a
boca. Arrancando suspiros de prazer dos meus lábios.

Arqueio o corpo para cima quando ele faz movimentos circulares com
a língua, encontrando todos os lugares sensíveis que mais necessitam de
atenção.

Nate segura com firmeza as minhas pernas no deck de madeira que


circula toda a área, evitando que eu as levante e exponha a sua posição
íntima entre minhas coxas.
Me sinto perder o controle, minha respiração se torna ainda mais
acelerada e minhas mãos buscam apoio em qualquer superfície da
madeira lisa, a língua do moreno me devorando com fervor, como se não
tivéssemos passado a noite como dois coelhos dentro daquele quarto de
hotel.

— Deliciosa, senti falta do seu gosto doce — ele murmura com a


boca na minha vagina, sua respiração quente fazendo cócegas, me
deixando ainda mais alucinada.

— Pelo amor de Deus, não para — peço, quase imploro em puro


sofrimento, o que parece deixá-lo ainda mais animado.

— Nunca — diz antes de mordiscar o meu clitóris e erguer os olhos,


fixando-os nos meus. A energia sexual que emana dele me faz prender a
respiração. — Goza na minha boca, gostosa.
Ele volta a abocanhar minha intimidade, sua boca me chupando com
vontade, me beijando como se estivesse esfomeado por mim. Sua língua
macia faz movimentos de vai e vem na minha entrada enquanto seu nariz
encosta com suavidade no ponto mais sensível.
Sinto o meu corpo tremer, o orgasmo tão perto que me sinto perder a
visão por alguns segundos. Ouço vozes às minhas costas, me fazendo
sentir ainda mais tesão por estarmos correndo contra o tempo antes de
sermos flagrados nessa situação.

— Goza, meu amor — ele pede suavemente, me chupando com


dedicação total. Suas mãos apertam com firmeza as minhas pernas, me
prendendo no lugar quando sinto meu corpo flutuar pelo clímax atingido.
Nataniel deposita vários beijos pela minha virilha, coxas e pernas.
Ele não para de me tocar até o momento que volto a abrir meus olhos
e respirar normalmente, retomando aos poucos o controle do meu corpo.
Quando baixo meus olhos para encará-lo, noto que ele colocou meu
biquini de volta no lugar e rodeou seus braços no meu quadril no exato
momento que dois hóspedes chegam na piscina e nos cumprimentam.

Sem ao menor imaginar o que estava acontecendo há poucos


segundos.

— Isso foi incrível — sussurro para ele, minha voz ainda um pouco
frágil e rouca.
— Minha garota gosta de experimentar coisas novas e perigosas? —
ele pergunta, mas não espera a minha resposta antes de falar novamente:
— Se depender de mim, seu desejo será uma ordem.

— Nunca vou me acostumar com essa visão — comento.


Nataniel solta um murmúrio de concordância e me abraça. Deito o
meu rosto em seu peito, abraçando sua cintura com meus braços. A
imagem do pôr do sol na proa da lancha que ele alugou para o nosso
passeio é simplesmente de tirar o fôlego.

A intimidade do momento é tão única que apenas me permito


aproveitar sua presença junto de mim e a paisagem surreal da natureza
cobrindo o céu.

— Nem eu, sweetie — ele murmura no meu ouvido.


Suspiro, aproveitando o momento.

Os minutos parecem se arrastar, nos dando ainda mais tempo para


apenas curtir a presença um do outro. Nataniel não fez a menor menção
de me soltar, mesmo quando o sol some completamente no horizonte. A
iluminação da lancha se acende no mesmo instante, criando um clima
confortável no meio do lago verde.
O silêncio entre nós é tão confortável e tão leve que me fazem
suspirar diversas vezes.

— O que está pensando? — ele pergunta.


— Em como isso parece perfeito demais — respondo e viro o meu
rosto para cima, encontrando seus olhos sobre mim. — Queria que nada
disso acabasse amanhã.
Ele acena, mas volta a olhar para o horizonte.

— A vida real nos espera.


Engulo em seco, sabendo que toda a tranquilidade que tivemos até
aqui está prestes a acabar, principalmente pelo que estou prestes a
responder.
— A vida real pode ser tão boa quanto esses momentos, basta você
querer.
Me sinto fria no momento que ele me solta de seus braços e se senta
na proa da lancha, Nate ergue os joelhos e apoia os braços em cima,
encarando o céu escuro na sua frente.

— Por que você insiste em me pressionar com isso? — ele pergunta


com a voz baixa, mas firme.
— Não estou fazendo isso.

— Mas está! Por que simplesmente não aceita o que temos? — Ele
vira o rosto, me encarando. Sua pele se tornando mais e mais vermelha,
talvez o nervosismo tomando conta de seu corpo por completo.

— Porque não temos absolutamente nada!


— E qual o problema nisso? — rebate.

Respiro fundo e me sento, imitando a sua posição, apoiando meus


braços em cima dos meus joelhos, no entanto, continuo olhando em seus
olhos.
Quero que ele veja exatamente como eu me sinto.

— Eu não sou como você! Eu não sou como as mulheres que você
sai! Eu estou há anos na sua vida e agora você espera que eu apenas lide
com a ideia de que não sei mais o que somos? — falo, mas sem erguer o
tom de voz.
Algo que desde que nos conhecemos, nunca fizemos.

— Eu não posso dar o que você quer. Não posso estar em um


relacionamento com você. — Nataniel esfrega seu rosto com as mãos.
— E o que você acha que estava fazendo em todos esses anos?

— É diferente — ele rebate


Estalo a língua, a ira tomando conta de mim.
— Claro que é diferente, mas não anula o fato de que você estava lá
por mim em cada instante da minha vida. Mesmo agora, com essa
mentira ridícula que você inventou, você ainda está em um
relacionamento comigo. Apenas não enxergou.
— É o que você quer? Estar com alguém que pode te destruir a
qualquer instante? Colocar o seu coração nas mãos de outra pessoa e
permitir que ela faça o que quiser com ele? — Sua voz é grossa e mais
fria do que eu esperava. — É o que você quer?
— Qual a diferença? — Jogo minhas mãos para o alto, fazendo-o me
olhar com atenção. — Independente do que acontecer, você já tem meu
coração e já está me destruindo. Não há nada que vá piorar esse
sentimento.

— Porra, Luna — ele aperta a ponte do nariz entre os dedos.


— Você já quebrou o meu coração tantas vezes, mas isso nunca me
tirou do seu lado. Eu não sou como a sua mãe, Nataniel. Eu continuei
aqui, ao seu lado, independente da minha dor. — Abaixo o meu rosto,
encarando minhas mãos. — E se você não fizer um mínimo por mim, eu
não posso mais viver dessa forma.

— O que quer dizer?


— Que eu preciso de um tempo. Isso — aponto o dedo de mim para
ele — está me machucando, pois estou vivendo um sonho de mentira.

Sinto as lágrimas grossas se acumularem nos meus olhos, o aperto em


meu peito mais uma vez me impedindo de respirar. Eu sempre soube que
o que estávamos vivendo tinha um prazo de validade. Era como uma
forma de extravasar nosso tesão e desejo um pelo outro, mas no
momento que meu coração ficou ainda mais exposto, eu soube que
estava fadada ao sofrimento.
— Não vou repetir tudo o que eu disse no baile, você sabe exatamente
como eu me sinto, eu realmente pensei que esses dias fariam você
enxergar diferente e se abrir para um novo sentimento — falo, engolindo
em seco. — Porque mesmo que você negue, eu sei que você me ama.
— Mais do que posso suportar — ele concorda, terminando a minha
frase.
— Mas você apenas não consegue se livrar de todos os esqueletos no
armário e apenas viver isso comigo — declaro.

— Não, não consigo. — Ele balança a cabeça para os lados. — Eu


sinto muito.
Viro o meu rosto para ele, permitindo que ele veja as lágrimas rolando
soltas pelo meu rosto. Nataniel engole em seco e desvia o olhar, voltando
a olhar para frente.
— Não sinta, apenas me deixe ir.

Ele assente e estende a mão, cruzando seus dedos com os meus.


Como uma despedida de algo que nunca tivemos, um término de algo
que não tivemos a chance de começar.

— Eu te amo — ele murmura.


— Eu sei.
Capítulo 25
Estar de volta em casa não foi tão reconfortante quanto eu imaginava.
Depois que Luna e eu voltamos para o hotel, nossa relação esfriou
completamente. Não que meu desejo por ela tenha em algum momento
desaparecido, mas seu afastamento físico foi muito claro para mim.

Então eu lhe dei o espaço que ela precisava.


Dormi no sofá e no primeiro horário da manhã, já estávamos voltando
para Monte Carlo. A burocracia dos voos e trocas de carro foram bem-
vindas, visto que fiquei tão ocupado organizando tudo que não tivemos
tempo de conversar. Também pude avisar Charlotte de todas as novas
variantes da minha relação com Luna, e a primeira coisa que minha
publicitária falou foi:

— Você é um tremendo imbecil, e sinceramente, espero que seja tarde


demais quando você finalmente aceitar nessa sua cabeça de jumento que
você não consegue viver sem ela.
Não posso dizer que fiquei bravo pela sinceridade, mas esperava que
ela compreendesse um pouco da minha situação. O que pelo visto,
nenhuma das mulheres na minha vida são capazes de enxergar.

Logo que chegamos no aeroporto, Charlotte já havia organizado os


carros para cada um de nós, e sem ao menos se despedir de mim, minha
melhor amiga entrou no sedan preto destinado a ela e sumiu das minhas
vistas em menos de cinco minutos.
Fiquei um tempo parado na saída do terminal, apenas olhando para a
sombra do caminho que ela fez, me deixando para trás e seguindo sua
vida.
A representação do que foi esse momento me doeu no fundo do peito.
Saber que ela não estava apenas indo embora, ela estava realmente
seguindo o seu caminho, sem mim, me fez sentir um aperto e uma
amargura no fundo da garganta.
Já passava das onze horas da noite quando cheguei em casa, sendo
recebido pela escuridão do apartamento e a solidão de não ter sua
companhia ao meu lado.
Pandora ficou com Luna.
Segundo Charlotte, com quem a gata ficou durante o final de semana,
Pandora não se sentiu confortável quando ela a deixou aqui no
apartamento, então ela a levou de volta para a casa de Luna.
Eu perdi a minha melhor amiga e a minha gata.
Não há desculpas para a minha idiotice, apenas sei que não há nada
que eu possa fazer para mudar isso, dentro de mim eu sei o meu limite e
sei que não posso ser para Luna o que ela deseja de mim.
Meu celular vibra nas minhas mãos, atraindo a minha atenção. Uma
pulga de esperança se forma dentro de mim, esperando ver o nome de
Luna na tela.

Contudo, me frusto quando vejo o nome de John brilhar no celular de


última geração.

“Estou indo para o Indian Express, quer ir?”


O Indian Express nada mais é que um dos mais luxuosos iates do
mundo, onde em determinados momentos do ano, uma festa bilionária
acontece. Meses atrás eu estaria me preparando durante semanas para
fazer uma aparição brilhante por lá.
Estaria escolhendo a dedo meus acompanhantes e quem estaria ao
meu lado durante a noite mais badalada de Mônaco, mas hoje, a ideia de
sair da escuridão do meu apartamento não soa tão atrativa.
O dono do iate, um bilionário do ramo automobilístico possuí uma
lista VIP de convidados, não há ingressos para comprar nem outra forma
de entrar na festa se não for pessoalmente convidado por ele.
Além do mais, não é permitido foto e vídeos, o que é como uma brisa
de ar puro para aqueles com uma vida pública. Sempre foi o melhor
lugar para se soltar, fazer loucuras e aproveitar a noite da melhor forma
possível.

E hoje, só o que consigo responder ao meu amigo é:


“Fica para a próxima.”

No mesmo instante, vejo que ele está digitando uma resposta:

“Ela te pegou de jeito mesmo, bastardo infeliz. Ok, mas vou precisar
de carona no final, estava contando com você.”
Ainda não comentei com ele sobre o término definitivo com Luna,
meu amigo não entenderia o meu lado, a minha história. Ele apenas
enxerga a possibilidade do casal de ouro que eu e Luna formaríamos
caso assumíssemos um relacionamento de verdade entre nós.
“Já imaginava, me avise quando precisar.”

Eu e John temos um acordo antigo, desde quando começamos a sair


juntos. Não somos amigos íntimos nem nada do tipo, mas temos uma
parceria que funciona para ambos. Gostamos de sair, de pegar mulher e
de ter uma vida com o menor número de escândalos possíveis, no
entanto, prezamos a segurança.
O que nos fez entrar em um acordo, um de nós sempre será o
motorista sóbrio da rodada. Não importa o lugar, a quantidade de pessoas
ou o que estamos comemorando, confiamos um no outro para a missão
de nos levar em segurança para a casa. E por estarmos no topo da alta
sociedade, é incomum que possamos simplesmente pedir um táxi sem
causar um alvoroço pelas ruas.

E hoje, mesmo não indo para a festa com ele, não o deixarei na mão.
Prezo muito pela segurança da noite, portanto, seguirei o nosso
combinado.
Mesmo que todo o resto já tenha mudado dentro de mim.

Me sento no sofá para assistir alguma série enquanto deixo o tempo


passar, não há absolutamente nada que eu possa fazer agora para resolver
a minha vida. Não sem machucar Luna.

E eu não suportaria o seu olhar quebrado em cima de mim outra vez,


saber que eu fui a causa de suas lágrimas me destrói pouco a pouco. E
mesmo sentindo cada pedaço de mim gritar para ir atrás dela, sei que ela
precisa do espaço, precisa se reconectar consigo mesma.
Todas essas semanas que passamos juntos me fizeram enxergar como
não seria a coisa mais horrível do mundo aceitar meus sentimentos por
ela. Quem sabe realmente não teríamos uma relação boa, da mesma
forma que sempre tivemos quando éramos somente amigos.

Mas por outro lado, não consigo suportar a ideia de que por tão pouco
tudo pode mudar e todo o respeito, carinho e amor que temos um pelo
outro poderia simplesmente morrer por algo inútil. Sei como são as
brigas entre casais e como o amor se transforma em ódio em um piscar
de olhos.

Mesmo sabendo que a perdi, sei que ela continua me amando, mesmo
de longe. E o mesmo acontece comigo, jamais deixarei de amá-la.

E é por isso que não posso permitir que a gente se envolva mais do
que já fizemos até hoje.

Sentirei falta do seu corpo, do seu gosto, do seu beijo, mas saberei
que ela está bem, feliz e me amando a distância.

Para mim, é o suficiente, desde que ela esteja com um sorriso no


rosto.

O tempo parece voar, pois quando menos espero, recebo uma nova
mensagem do meu amigo.
“Porra, você precisa estar aqui. A mulherada tá caindo de boca em
geral. Estou com duas. Nos espere em frente ao porto.”

Balanço a cabeça em negativa, mas já imaginava que ele não sairia


sozinho de lá. Se eu fosse, também não sairia. Levanto do sofá e pego
um moletom com capuz, o que menos preciso é fotógrafos seguindo cada
passo que eu dou. Ponho o tecido sobre minha cabeça, escondendo meus
cabelos e sigo até meu carro, escolhendo um modelo com bancos na
parte traseira, já que John terá companhia.

Sigo até a marina da cidade, já sabendo o caminho que muitas vezes


faço para ir em festas ou mesmo quando temos corrida. Ao chegar perto
da movimentação de motoristas, taxis e segurança, faço questão de parar
o carro um pouco antes.

Aviso John onde estou e apenas espero.

Saio do carro e me apoio em frente ao capô, cruzo os braços e observo


o redor. A vida noturna da cidade sempre foi algo que me chamou
atenção, como algo proibido acontecendo bem embaixo do nariz da nata
sociedade.
A cidade tão histórica esconde seus podres dentro de iates, festas e
salões de baile. E a grande maioria das pessoas nem imagina algo assim.

Escuto gritos histéricos e risadas em minha direção, vendo John e


duas mulheres caminhando até mim.

— Meu amigo, você perdeu uma festa e tanto — John balbucia,


tentando se equilibrar sem cair para frente. Uma das mulheres passa os
braços pelo pescoço do meu amigo, lambendo sua pele e soltando uma
risada.

A outra, no entanto, apenas me observa com cuidado.

— Vamos? — Indico o carro para eles.


John e a loira que não desgrudou de seu pescoço entram no banco de
trás, provavelmente já iniciando as preliminares que vão anteceder uma
noite regada à sexo e bebidas.

A ruiva que me encara apenas dá de ombros, talvez um pouco


deslocada, então abro a porta do passageiro para ela e estendo a mão.

— Sua chance de dar meia volta e aproveitar a noite com outra pessoa
— digo, mas ela abre um sorriso malicioso e segura a minha mão.
— Não, estou no lugar certo — ela ronrona, tentando chamar a minha
atenção em vão.

Assim que todos estão dentro do veículo, finalmente tiro o meu


capuz, sentindo a brisa quente do verão monegasco, a umidade baixa
permitindo que o vento sopre com força no meu rosto, refrescando meu
corpo por inteiro.
Respiro fundo e dou a volta no carro, me sentando em frente a direção
e dando partida no motor, pronto para deixar meu amigo e suas
acompanhantes na sua casa, em segurança.

Assim que vejo John e as garotas caminhando pelo gramado de sua


casa, pego o meu celular do bolso do moletom e passo o dedo pelos
contatos.

Sem pensar muito, clico no nome de Luna e deixo a chamada tocar.

Chama.

Chama.
Chama.
Mas Luna não atende.
Olho o visor e vejo que são duas horas da manhã, o que normalmente
é tarde, não posso negar. Contudo, Luna nunca rejeitou uma ligação
minha, mesmo nos horários mais estranhos possíveis.

Seja porquê eu estava em alguma festa ou mesmo por causa do fuso


horário quando estava em outro país competindo. Por isso, tento outra
vez, mas diferente da anterior, a ligação chama apenas uma vez e em
seguida vai para a caixa postal.

Ou seja, ela desligou propositalmente.


Não queria que isso me atingisse tanto, mas sinto uma falta de ar
imediata ao saber que ela não blefou quando disse que precisava de
distância de mim.
Me sinto um imbecil por ter perdido a única mulher que já amei em
toda a minha vida apenas porque sou covarde para enfrentar os meus
medos e traumas.
Um covarde, é isso que sou.

— Vamos, me atenda, garota. — Insisto mais uma vez, precisando


apenas ouvir a sua voz, mesmo que seja para me mandar tomar no rabo.
Preciso de sua raiva, sua ira, qualquer coisa, mas não a sua indiferença.

E mais uma vez, a ligação vai para a caixa postal, mas decido não
deixar nenhuma mensagem. Se ela não quer me atender para não ter que
falar comigo, por que ela ouviria uma mensagem de voz?

Jogo o celular no banco de trás e bato com força no volante diversas


vezes, com tanta raiva de mim que seria capaz de socar a minha própria
cara.
Ligo o motor do carro e acelero pelas ruas iluminadas da cidade até o
seu apartamento, não me importando com a porra dos sinais vermelhos
ou com possíveis multas por alta velocidade. Tudo que eu quero é vê-la e
ouvir sua voz.
Não faz nem vinte e quatro horas que a vi pela última vez, mas é
como se a ficha estivesse finalmente caindo. Luna me deixou.
Ela escolheu a si própria, o seu caminho.

Eu sou um filho da puta de um covarde, apenas isso.


Estaciono o carro de qualquer jeito rente ao meio fio de sua rua e
desço do carro, correndo até o elevador, no entanto, o porteiro vem até
mim.
— Sr. Nataniel, eu sinto muito, mas a Srta. Luna pediu que o senhor
fosse tirado da lista de convidados — ele diz.

Viro o meu rosto para ele, pensando ter ouvido errado.


— O caralho que ela não vai permitir que eu suba, Harold.

Ele balança a cabeça e coloca as mãos em frente ao seu corpo,


tentando encontrar palavras educadas para pedir que eu me retire do
prédio.

— Você fez o seu trabalho, mas eu vou subir, não importa o que me
diga.
— Sr. Nataniel, por favor — ele implora, mas o som o elevador se
abrindo é tudo que preciso para seguir meu caminho até Luna.
— Harold, você fez o seu trabalho, mas nada vai me impedir de subir.
— São as minhas últimas palavras antes das portas metálicas se
fecharem entre nós dois.
Como são poucos segundos até o andar de Luna, logo estou em frente
a sua porta e num último resquício de controle, me impeço de entrar
correndo no apartamento e opto por tocar a campainha.
Toco mais de cinco vezes até decidir que ela não vai abrir a porta.
Então coloco a cópia da minha chave na fechadura e abro-a,
encontrando a sala completamente escura de sua casa. Não há nenhum
sinal de vida aqui dentro, nem de Luna e nem de Pandora.

Caminho por todos os cômodos e a única coisa que me chama a


atenção é a quantidade de roupas jogadas em cima da cama, junto a
cabides vazios.

Corro até seu quarto de hóspedes, onde sei que ela guarda suas
bagagens. Abro os armários e não me surpreendo quando os encontro
completamente vazios.

Ela foi embora de verdade.


Me sento no chão e encosto minhas costas próximas a parede do
quarto escuro, tudo aqui dentro me lembra ela. O cheiro, a decoração, os
móveis. O que antes me enchia de alegria, hoje é como uma facada
dentro do meu peito.
— Onde você está, garota?
Capítulo 26
Quando vi o nome dele na tela do meu celular durante a madrugada,
senti o meu mundo desabar. As últimas semanas foram regadas à
primeiras vezes, e dessa vez, mais uma. Nunca rejeitei uma ligação dele
se não estivesse realmente ocupada, e mesmo nesses casos eu costumava
mandar uma mensagem avisando que iria retornar a ligação outra hora.

Quando ele me ligou mais de três vezes, eu escolhi apertar o botão


vermelho. Escolhi negar o contato com meu melhor amigo. Escolhi
proteger o meu coração.

Mas por que dói tanto se colocar em primeiro lugar? É como escolher
entre sofrer de uma forma ou sofrer de outra. Não há uma decisão que
me faça feliz, não importa o quanto eu tente.
Quando vi que ele não iria desistir de jeito nenhum, desliguei o
aparelho.
Eu precisava sair de onde estava, sair da cidade que me fazia lembrar
dele a cada instante. Não pensei duas vezes antes de encher minhas
malas com tudo de mais importante que eu tinha, colocar Pandora na
caixinha de transporte e correr para o aeroporto.

Não havia um plano naquele momento, eu estava apenas fugindo.


— A senhora precisa de ajuda? — A funcionária da companhia aérea
me pergunta assim que pousamos nos Estados Unidos. Talvez tenha visto
que seria impossível sair com a caixa de transporte, minha bolsa e minha
mala de mão.
Aceno e ela pega a caixa com Pandora, levando-a para fora da
aeronave e colocando-a em cima de um carrinho de bagagens, onde logo
em seguida coloco o restante das minhas coisas.
— Obrigada, querida — falo para ela, agradecendo por sua ajuda.
Não avisei ninguém que estava vindo para cá, meus pais ficarão
extremamente surpresos ao me verem chegar em casa no final do dia.
Por tudo ter acontecido de maneira tão corrida, me sinto de forma
automática, apenas caminhando em direção à saída do aeroporto.
Passar pela imigração e toda a burocracia foi fácil, especialmente por
eu ser uma cidadã americana. O difícil foi explicar a gata sem nenhuma
documentação ao meu lado.
Não havia a menor possibilidade de deixar Pandora para trás,
Charlotte cuidaria dela se eu pedisse, mas a gata escolheu ficar comigo,
portanto, eu escolhi trazê-la comigo para casa.
Casa.
Há quanto tempo não volto para onde cresci? Onde estão as minhas
raízes, a minha família.
Sinto meu estômago revirar pelo nervosismo, desde que saí de
Mônaco durante a madrugada, tudo que tenho vontade de fazer é
vomitar. Não importa o que eu coma ou beba, meu instinto é colocar
tudo para fora. Se já não bastasse meu coração completamente
descontrolado, agora ainda preciso me preocupar com os nervos do meu
estômago.

Ainda me lembro o endereço da casa dos meus pais e assim que me


acomodo dentro do táxi, é para onde peço que ele me leve. Sei que lá é o
único lugar neutro para mim agora.

E sinceramente, não é como se eu tivesse outro lugar para ir.


Normalmente em situações assim eu corro para Nataniel, o que
claramente não é algo que eu possa fazer agora, então não me resta
alternativas se não voltar para casa.
O trajeto é curto, meus pais moram nas redondezas de Los Angeles, o
que permite um caminho mais rápido ao sair do aeroporto. Logo que o
carro se aproxima do enorme gramado verde, já sinto meu estômago se
revirar.
A construção bege e simples traz tantas lembranças que meu coração
parece que irá sair pela boca. Duas enormes janelas de vidro desenham
as laterais da casa e a porta, um arco de concreto bem no meio do
terreno, mostra o cuidado que minha mãe tem com toda a residência ao
expor arranjos de flores brancas.

Minha família se manteve humilde, mas isso não significa que eles
não cuidem daquilo que é deles. Eu nasci e cresci nessa casa, e ainda
sim, ela se parece cada dia mais bem cuidada.

— Pode parar aqui, por favor.


O taxista me ajuda a descer as malas e a caixinha com Pandora, e
assim que pago o valor referente à corrida, ele arranca o carro do meio
fio.
— Luna?

Escuto meu nome ser chamado de um lugar muito próximo, mas não
da minha casa. Giro meu corpo no lugar, encontrando Abigail parada em
frente ao seu jardim na casa ao lado.

A casa que eu passei tantos momentos incríveis com ele.


A casa que a pessoa que eu mais amo nasceu e cresceu.

— Menina! Que saudades que eu estava de você. O que está fazendo


aqui? — Abigail começa a caminhar na minha direção, me
bombardeando de perguntas, sem me dar a chance de responder
nenhuma delas. — Não importa, seus pais já sabem que está aqui? Ôh
menina, venha dar um abraço nessa velha.

A mãe de Nataniel abre os braços, me recebendo em um abraço


carinhoso e cheio de saudades. Sempre adorei a sua companhia, Abigail
me tratava como filha, sempre me ajudando, cuidando de mim e me
dando conselhos amorosos.

Era como a minha segunda mãe.


— Eles não sabem, eu apenas… vim — murmuro.

A senhora acena sabiamente com a cabeça e começa a fazer um


carinho suave no meu cabelo.
— Eu entendo, minha menina. Ele ainda não superou, não é?

Balanço a cabeça em negação. A mãe de Nate sempre soube da minha


paixonite por ele, desde quando éramos pequenos. Ela costumava dizer
que o tempo seria suficiente para que Nataniel superasse os seus traumas
e enxergasse o que estava bem em frente a ele.

O que não foi o caso.

— Quando Nataniel tinha oito anos, um pouco antes de vocês se


conhecerem, ele era um menino diferente. Vivia preso naquela garagem
com o pai, eles não se desgrudavam por nada — ela começa a falar,
saudosa. Ajeito Pandora em meus braços e solto minha bolsa no chão. —
Tudo mudou depois que ele se foi. Não apenas por tudo que aconteceu
depois, com todos os homens que entraram e saíram da nossa casa, mas
no momento em que ele perdeu a figura paterna, parece que meu filho
nunca mais foi o mesmo.

— Ele costumava dizer que o amor quebrou a senhora — falo,


acariciando a cabeça da gata branca em meus braços.

— O amor nunca me quebrou, filha. Ele é o que me deu forças para


continuar, mesmo errando e buscando algo que jamais seria preenchido.
Tudo que eu fiz foi por amor, em busca dele. — Abigail parece presa em
lembranças, o olhar emocionado perdido em pensamentos. — Eu tentei
proteger meu filho de tudo, colocando-o numa bolha fora da realidade.
Para ele, seu pai foi meu maior amor e com a perda do homem da minha
vida, eu não fui capaz de me reerguer e cuidar da nossa família.

Pandora se aconchega no meu colo, gostando do carinho que recebe, e


eu me mantenho atenta às palavras da senhora que criou meu melhor
amigo.

— Não foi o que aconteceu? Lembro de pouca coisa — digo a ela.

— Nem de perto. Eu e o pai de Nate tínhamos um casamento de


fachada, na verdade. Nos amamos muito no passado, mas em
determinado momento, nos tornamos apenas parceiros. Perder ele me
deixou sem chão, mas não somente pelos motivos que Nate acredita.
Quando se perde sua base, é difícil se encontrar firme novamente. Eu
precisava de ajuda para cuidar do meu filho e sabia que sozinha não iria
alcançar o que ele sempre sonhava.

— Ser piloto de fórmula 1 — completo seu pensamento, Abigail


concorda com um acenar suave de cabeça. Ela parece se interessar em
Pandora e estende a mão, acariciando a cabeça da gata.

— Todos os homens que surgiram na minha vida eu me apaixonei de


alguma forma, alguns foram muito bons para nós, outros nem tanto —
ela estremece um pouco com as memórias —, mas meu sofrimento não
era por não encontrar o amor em outro homem, era por não encontrar
outra pessoa que suprisse o que o pai de Nate era em nossa família. Isso
me quebrou, a sensação de insuficiência frente aos sonhos do meu
menino. Nunca foi sobre desilusões amorosas, foi sobre ele. Eu não tive
conhecimento da profundidade que isso afetou Nataniel, mas durante a
adolescência e todas as vezes que o via quebrar o coração das garotas, fui
entendendo que ele acreditava que seria como um dos homens que
passou em nossa vida.

Respiro fundo, sentindo meu estômago revirar com suas palavras.


Meus nervos completamente à flor da pele.
— Ele se sente responsável pelos sentimentos dos outros, acredita que
ter o amor de outra pessoa é como ter uma arma em mãos — ela diz,
abrindo um sorriso triste na minha direção. — Eu sempre acreditei que a
relação de vocês seria capaz de fazê-lo mudar de ideia.
— Eu também — concordo. — Eu fiz tudo o que pude, mas ele se
recusa a mudar.

— Você já pensou que talvez ele não precise mudar? — ela pergunta,
atraindo a minha atenção. — Nataniel nunca deixou de te amar, Luna.
Acima de tudo o que ele acredita, ele nunca deixou o seu lado. Uma
forma de encontrar o equilíbrio entre o que vocês dois querem e estão
dispostos a dar um para o outro é a chave para que tudo dê certo.

— Eu… — balbucio. — Eu não havia pensado assim.

Abigail ergue a mão e acaricia minha bochecha suavemente,


exatamente como uma mãe faria.

— Eu sei, minha menina. Afinal, é exatamente por isso que você


voltou, não é? Seus pais estão morrendo de saudades, todos os dias eles
falam de você. Será bom se reconectar com seu passado, mas não
esqueça que é o seu presente que à espera, não o que um dia você foi.

As palavras da mãe de Nate entram com força dentro de mim, me


tirando completamente da zona de conforto. Foi como receber uma lição
de moral e um conselho na mesma frase. Sinto o enjoo tomando conta do
meu corpo ao finalmente entender que tudo está uma confusão por causa
de uma má comunicação entre mim e Nataniel.

Posso sentir a bile subindo pela minha garganta, trancando a minha


respiração e me fazendo perder o equilíbrio por um segundo. Abigail me
olha com preocupação, segurando o meu braço enquanto sinto meu
corpo tombar para o lado.
— Você está bem, filha? — pergunta, passando as mãos pelo meu
rosto, procurando algo em meus olhos, uma resposta.
— Apenas nervosismo, minha vida está uma bagunça — murmuro,
voltando a respirar lentamente.
— Eu sei que está, mas você precisa se cuidar, tudo bem? Deixe a
gatinha comigo um pouco, assim me sinto um pouco mais próxima de
Nate, e vá ver seus pais. Eles estão morrendo de saudades — ela fala, já
pegando Pandora das minhas mãos e carregando minhas malas em
direção a porta da minha casa.
— Judith! Stephan! — grita, chamando meus pais.

Sinto vontade de rir pela intimidade que nossas famílias têm, a


proximidade e cumplicidade de serem vizinhos e amigos por tantos anos.

— O que foi, Abigail? — Ouço a voz da minha mãe se aproximando,


e no momento que ela abre a porta e me vê ao lado de sua amiga, o
sorriso de felicidade se abre em seu rosto. — Meu Deus, minha Luna,
você voltou, meu amor.

Minha mãe me puxa para um abraço esmagador, como somente ela


saberia me dar. Ela me agarra por intermináveis minutos, e só me solta
quando meu pai aparece ao seu lado e me puxa para outro abraço.

A tontura parece voltar com tudo, pois quando me solto do meu pai,
me sinto cair mais uma vez. Minha pressão provavelmente baixando pelo
estresse excessivo dos últimos dias.

— Stephan! Ai meu Deus! Leve nossa menina para a cama, querido


— minha mãe ordena, colocando-nos todos para dentro de casa. Sinto
minha visão embaçar completamente e meus sentidos se tornarem fracos.

— Ela precisa descansar, foi um dia de muitas emoções — Abigail


diz, provavelmente para a minha mãe. — Irei colocá-los a par de tudo,
fiquem calmos.
Meu pai me leva escada acima até onde era meu antigo quarto, posso
ver os vultos se movimentando ao meu lado e o cheiro inesquecível de
laranja do sabão que minha mãe usa para lavar as roupas de cama.
Quando a maciez do travesseiro é colocada embaixo da minha cabeça,
me permito embarcar na escuridão que me espera, perdendo
completamente os sentidos enquanto escuto a voz grossa de meu pai ao
meu lado:

— Estamos aqui, minha princesa, você não está sozinha.

Quando me desperto e olho o relógio de cabeceira do meu antigo


quarto, vejo que já passa da uma hora da madrugada. Faço um rápido
cálculo mental e chego à conclusão que de acordo com o fuso horário, é
em torno de dez horas da manhã em Mônaco, o que me permite ligar
para Nataniel sem culpa.

Eu não sei o que precisamos para fazer dar certo, eu apenas sei que
preciso estar ao seu lado. E no momento eu irei aceitar o que ele estiver
disposto a me dar, desde que ele esteja comigo.

Não consigo suportar a ideia de não ter meu companheiro ao meu


lado.
Rir de suas piadas idiotas, incentivá-lo quando ele está desanimado
com o campeonato, assistir filmes de romance no sofá da minha sala
enquanto Pandora ronrona em nosso colo.
Eu não sei viver sem isso.

Sem ele.
Disco o seu número, clicando no botão verde e esperando a ligação se
completar.
Mas isso não acontece, a chamada vai direto para caixa postal.
Tento mais outras duas vezes, e a mesma coisa acontece. A ansiedade
arrisca tomar conta de mim outra vez, principalmente por estar do outro
lado do mundo e sem nenhum tipo de comunicação com ele. O silêncio
na casa indica que meus pais já estão dormindo, então não irei
incomodá-los agora, esperarei para conversar com calma em outro
momento.
Penso em ligar para Charlotte, ela pode saber onde ele está ou mesmo
estar com ele, mas depois lembro que ela sabe sobre toda a confusão
entre nós dois. Não quero falar com ninguém sobre minha decisão antes
de falar a Nataniel.
É somente ele que importa.

Tento mais uma vez ligar para ele, mas a chamada mais uma vez vai
para a caixa postal.
O que me deixa somente uma opção, voltar para casa.

Quão impulsiva eu sou em fazer dois voos de mais de dez horas em


menos de dois dias? Não faz nem mesmo um dia inteiro desde que
cheguei aqui, não consegui nem ao menos conversar com meus pais e
explicar os motivos pela minha chegada abrupta. Menos ainda explicar
porquê passei tão mal horas antes.
Como explicar que simplesmente preciso ir embora no meio da
madrugada como se a minha vida dependesse disso?
Deixo as considerações racionais para outra hora, apenas me levanto
da cama, notando que continuo com a mesma roupa que estava antes.
Jogo o conteúdo da minha mala de mão em cima da cama e encontro um
conjunto de moletom rosa bebê, trocando rapidamente a roupa antes de
pegar a minha bolsa, carteira, passaporte e celular.
Nada mais importa, apenas chegar até o aeroporto, entrar no primeiro
voo disponível e encontrar o meu melhor amigo. A minha pessoa.

Com passos apressados e o coração palpitando forte dentro do meu


peito, abro com força desnecessária a porta do meu quarto, pronta para ir
a pé até o aeroporto se não encontrar um táxi pelas ruas próximas.

Ao abrir a porta branca do meu quarto na casa dos meus pais, estanco
meus pés antes de sair do cômodo, sentindo-os grudarem com firmeza no
carpete bege do lugar.

Não consigo me mover.


Fisicamente falando.
Porque Nataniel está parado no umbral da porta.
Capítulo 27
Eu havia preparado um discurso para esse momento, treinei várias
vezes durante o voo e as palavras pareciam perfeitas, mas ao encarar seu
olhar surpreso dentro do seu quarto antigo, minha mente pareceu
derreter.
Não havia palavras boas o bastante para falar.
E mesmo assim, Luna parecia esperar algo de mim.

— Olá, sweetie.
— O que está fazendo aqui? — ela pergunta, gaguejando um pouco.
— Aonde você estava indo? — rebato, sem responder.
Luna abre a boca para falar algo, mas um vulto branco passa entre nós
dois, me fazendo dar um passo em falso para frente, me aproximando
ainda mais da morena. Pandora parece empenhada em fazer as coisas
darem certo, pois mesmo não intencionalmente, me ajudou a ter Luna a
um toque de distância.

— Eu vim atrás de você, garota. Nada importa além de você —


murmuro baixo, sentindo seu suspiro resignado em meu rosto.

— Eu estava indo atrás de você. Não me importo com nossos limites,


desde que estejamos juntos. — A voz doce e cheia de emoção me faz
abrir um sorriso.
Ergo a mão e tendo o seu consentimento com um acenar de cabeça,
acaricio seu rosto, deslizando os dedos por toda sua pele macia. Toco em
seu pescoço com suavidade, sentindo seus pelos arrepiados e o calor
emanando do seu corpo.
— Podemos falar sobre tudo isso ou podemos nos perder nos braços
um do outro — digo, minha voz pesada pelo tesão.
Luna inclina a cabeça, os olhos se fechando com a carícia dos meus
dedos.
— Eu acho que preciso tomar banho — ela sussurra.
Seus olhos se abrem e num ímpeto de coragem, ela me puxa para
dentro do quarto e tranca a porta atrás de mim. Seu olhar desce por todo
o meu corpo, mas são as suas mãos que fazem o trabalho.
Os dedos finos se prendem na barra da minha camiseta, e sem tirar os
olhos do meu corpo, ela vai erguendo o tecido, até passar pela minha
cabeça e braços, me livrando da primeira barreira entre nós.
— Minha vez.
Imito o seu gesto, pinçando seu moletom rosa e erguendo o algodão
pelo tronco da morena, aproveito e seguro sua camiseta junto, passando
os dois juntos pela sua cabeça e braços. A visão do tronco nu, sem sutiã,
destrói o meu psicológico.
— Um aviso teria sido bom — ofego.

— E perder o show? — Encaro seus olhos, mas Luna está


concentrada na visão do meu pau que ficou completamente duro dentro
da calça de moletom com a imagem dos seus seios desnudos e redondos.

Desamarro o cadarço do seu moletom e a peça cai em suas pernas, ela


dá um passo para o lado, ficando apenas de calcinha. Os cabelos soltos e
selvagens não me permitem tirar os olhos dela.

— Preciso sentir o seu gosto — ela pede.


— Sempre que quiser, garota.

Luna se abaixa na minha frente, ficando de joelhos para mim. Suas


mãos trêmulas soltam minha calça e os dedos pinçam minha boxer preta,
soltando o meu pau.

Ela suspira com a visão do membro estendido na sua frente, grosso e


duro, pingando por ela.
Luna passa a língua pelos lábios macios, umedecendo-os antes de
abocanhar o meu pau, me fazendo ofegar de prazer. Sua boca quente e
molhada acomodando toda a minha extensão.

Ela lambe e chupa com vontade, mamando meu pau como eu sempre
sonhei em vê-la. De joelhos para mim, me dando prazer.
— Puta que pariu, garota — rosno, me perdendo em sua boca. Seguro
o seu cabelo, olhando em seus olhos em busca de permissão. Luna não
parece o tipo de mulher que aceita ser subjugada, portanto espero o seu
leve acenar para prender meus dedos nos fios castanhos e foder sua boca
com firmeza.

Meto meu pau na sua boca macia até o seu limite e Luna segura com
força as minhas coxas, apertando a minha pele cada vez que meu pau
alcança sua garganta.

Me sinto perto de explodir em seus lábios, mas a noite está somente


começando.
— Venha, sweetie — peço ao diminuir a velocidade das estocadas,
Luna solta o meu pau, um filete de saliva saindo pela sua boca. —
Gostosa demais, caralho, Luna.
Ela abre um sorriso e se ergue, passando os braços pelo meu pescoço.
Limpo seu rosto com o polegar, massageando seus lábios grossos,
sentindo a umidade de sua boca em minha pele. Ela gruda seus lábios
nos meus, me beijando com saudade, calando nossos gemidos e me
impedindo de me afastar dela outra vez.

Sua língua dança com a minha, um beijo com paixão, desenfreado.


Apoio minhas mãos em suas coxas e ergo o seu corpo para cima,
colocando-a sentada em cima do meu pau, com as pernas em volta do
meu quadril.
Caminho até o banheiro do quarto, encontrando o espaço grande e
iluminado, e apoio o seu corpo em cima da bancada da pia,
movimentando o quadril para frente e sentindo a umidade da sua boceta.

— Você está pronta para mim? — sussurro em seus lábios doces.

Luna abre um sorriso durante o beijo e eu solto uma de suas pernas,


deslizando os dedos por toda a sua pele, passando pelas costelas,
abdômen e chegando até a virilha. A morena se contorce em seus braços,
praticamente implorando pelo meu toque na parte mais sensível de seu
corpo.

— Por favor — ela pede.

— Onde você me quer?

— Nate, por favor — implora, os lábios entreabertos deslizando sobre


os meus. — Me toque.

Arrasto meus dedos por cima do tecido fino de renda, sentindo o calor
e umidade de sua boceta, empurro sua calcinha para o lado, encontrando
suas dobras molhadas, pingando de tesão. Meus dedos correm pelos
grandes lábios, arrancando um suspiro sôfrego da morena. Luna abre a
boca e inclina o rosto para trás no momento que meus dedos pinçam seu
clitóris inchado, a respiração dela se torna errática.

Sigo beijando sua pele, descendo do seu queixo para o pescoço e sinto
sua pulsação acelerada, o coração batendo descompassado no peito em
um ritmo similar ao do meu.

— Você é minha, sweetie.


— Sempre serei — ela murmura, os olhos perdidos no teto do
banheiro enquanto tenta controlar os movimentos do seu corpo. Seu
quadril produz um vai e vem enquanto meus dedos brincam com a
entrada de sua boceta. Ela se esfrega na minha mão, arrastando o clitóris
pela minha palma.
Mordo sua pele e Luna solta um gritinho de surpresa, em seguida
deposito um beijo casto na pele avermelhada.

— Não aguento mais esperar — ofego.

Luna abre ainda mais as pernas, ficando completamente aberta e


pronta para mim. Ela pega o meu pau, movimentando-o para cima e para
baixo, me masturbando com deleite antes de encaixá-lo em sua entrada.

— Eu te amo — murmuro no momento que penetro ela, sentindo seu


canal me apertando com quentura. — Porra, eu te amo.

Estoco com força, mas em uma velocidade mais lenta, movimentando


o seu corpo suado em cima da bancada de mármore. Seu quadril desliza
para trás a cada estocada e minhas mãos a trazem de volta logo em
seguida, aumentando ainda mais a penetração.

— Meu Deus, Nate — ela grita, ofegando.


Coloco minha palma da mão em seus lábios, evitando que ela
continue gritando tão alto.

— Quer que seus pais escutem enquanto fodo você?


Ela solta um gemido profundo quando aperto seu clitóris com a mão
livre, aumentando seu prazer durante as estocadas constantes e ritmadas.

— Eu preciso gozar, Nate… Ah…

Ela se perde em seu próprio prazer enquanto fodo sua boceta com
fervor, sinto o momento que suas paredes internas esmagam o meu pau e
Luna aperta meus ombros com as mãos livres, suas unhas deixando
marcas vermelhas em minhas costas. A morena me puxa para mais perto,
apertando seu corpo junto ao meu, gritando e chamando o meu nome
enquanto goza lindamente para mim.
Seus olhos reviram, sua boca se abre em um grito mudo e seu corpo
treme em meus braços antes de desfalecer por completo.
— Nate… Ah, Nate — ela sussurra meu nome tantas e tantas vezes
que sigo estocando com força em busca do meu próprio clímax. A
imagem da garota se desfazendo em meus braços foi suficiente para
sentir meu gozo saindo jatos quentes dentro dela.
— Eu te amo, sweetie.

— Eu te amo, garoto.

Depois de realmente usarmos o banheiro para sua oficial utilidade e


tomarmos um banho juntos, finalmente nos deitamos em sua cama
antiga. Já passava das cinco horas da manhã quando conseguimos nos
acomodar e relaxar nossos corpos.

Pandora pula em cima de nós dois, aparecendo depois de se esconder


durante horas em algum lugar dentro do quarto. A gata branca se
acomoda em cima do meu peito, dividindo o espaço com Luna que a
recebe com uma delicadeza que me fascina.
A morena acaricia a pelagem da gata, fazendo-a ronronar entre nós
dois.

— Como você sabia onde eu estava? — Luna me pergunta, atraindo a


minha atenção para si.

— Sua mãe me ligou.

A morena ergue o rosto para mim em surpresa.

— Traidora!

Solto uma risada e levanto a cabeça para deixar um beijo suave em


sua testa.
— Não fale isso. Seu pai me ligou também, mas eu não vi a ligação a
tempo.
— Minha família inteira me traiu, então — ela brinca, fingindo um
tom de voz emburrado. No entanto, sei que ela se sente grata, assim
como eu, por eles terem ido atrás de mim.
Durante horas apenas fiquei sentado em seu apartamento escuro,
esperando qualquer sinal de Luna ou alguma notícia do seu paradeiro.
Não havia ninguém por perto, ninguém sabia absolutamente nada dela e
eu me sentia impotente sentado no chão do quarto sem rumo.
Quando Judith me ligou e disse que Luna havia retornado para casa e
precisava de mim, não pensei duas vezes antes de correr para o aeroporto
somente com a roupa do corpo e embarcar no primeiro voo para Los
Angeles.

Durante todas as horas do voo eu criei um enorme discurso sobre


como ela é mais importante para mim do que todos os traumas do meu
passado, mas nada daquilo pareceu ser suficiente no momento que
coloquei meus olhos nela.
— Não traíram você. Eles apenas me guiaram de volta para o que eu
havia deixado escapar.

— Nate, eu preciso falar… — Interrompo sua frase ao erguer o dedo


e colocá-lo em frente aos seus lábios, não deixando que ela complete seu
pensamento.

— Eu fui um covarde todos esses anos. Fingi não enxergar o seu amor
por mim e fingi que nada disso me afetava, apenas criei uma realidade
onde o amor que havia entre nós não existia. — Solto uma risada seca.
— Nunca fui tão infeliz em toda a minha vida.
— Eu entendo o que você passou — ela murmura, erguendo os orbes
castanhos para mim. Tantos sentimentos presos ali dentro me
desestabilizaram.
Quão idiota eu fui por nunca ter dado valor a isso?
— É exatamente isso, no passado. Não posso carregar uma
experiência ruim por toda a minha vida, preciso aprender a me libertar
disso. Criar experiências com você, é somente isso que eu quero.
— Eu não preciso de rótulos, não preciso que você mude quem você é
para estar comigo. Durante essas semanas fomos mais um casal do que
jamais seríamos se as coisas fossem diferentes — ela fala, a voz
embargada e as lágrimas começando a cair pela sua face.

Limpo as gotículas com a ponta dos dedos, preocupado com ela.


Judith falou brevemente como ela passou mal assim que chegou,
inclusive a forma como desmaiou nos braços de seu pai.

— Estou bem, apenas uma bomba de nervos — ela me acalma e eu


balanço a cabeça em concordância, deixando passar por enquanto. — Eu
só preciso de você, seja como for.

— Nós dois contra o mundo.


— Nós dois contra o mundo — ela repete.
Pandora parece querer entrar no assunto também, pois ergue sua
cabeça peluda e se esfrega no meu queixo, soltando um miado agudo
para mim.
— Você também, gata endemoniada.

Não importa toda a merda do meu passado, não importa as


experiências negativas que eu vivi. Luna estava comigo em cada passo,
em cada lágrima de tristeza e em cada sorriso de vitória. Posso continuar
com meus pensamentos antiquados ou posso tentar viver algo novo com
ela.
Não faço a menor ideia do que irei fazer, como irei lidar com tudo o
que vai mudar em nossa vida, mas a minha única certeza é que
independente do que acontecer, ela estará ao meu lado.

Como sempre esteve.


E sempre vai estar.

— Vai ficar pensando na morte da bezerra ou me explicar porquê


recebi várias mensagens com fotos de você com uma ruiva no porto de
Mônaco ontem à noite? — Luna pergunta, o tom de provocação em sua
voz.

Franzo as sobrancelhas, confuso.


— O quê?

— Ué, vai se fazer de desentendido agora, garoto? — Ela gira o corpo


e pega o celular na mesinha de cabeceira, clicando em alguns botões até
abrir o site de fofocas. Ela mostra a tela para mim. — Se importa em
explicar?
Olho a tela, vendo o momento que coloquei uma das companheiras de
John dentro do carro. Como o casal já estava no banco de trás, a imagem
mostra apenas eu e a mulher misteriosa, como se estivéssemos saindo da
festa juntos.
Nem mesmo a porra do moletom na cabeça me fizeram passar
despercebido na frente dos jornalistas e fotógrafos de plantão.
— Não é isso o que aconteceu — falo com firmeza, desviando meu
olhar da tela e encontrando o olhar risonho da morena deitada no meu
peito. — O que foi?

— Estou brincando com você — ela desdenha, abanando o ar com a


palma da mão. — Sei que você foi buscar John.

— Como? — pergunto, confuso.


— Porque ele me mandou mensagem naquela noite, dizendo que eu
havia o feito perder o amigo de festas. — Ela dá de ombros, sorrindo.

— Ele disse isso?


Ela concorda, passando os dedos finos em meu torso.
— Ele disse também que você nunca esteve tão feliz.

Seguro seu rosto, erguendo-o para cima e aproximo meus lábios dos
seus antes de dizer:

— Ele não está errado.


Luna morde e passa a língua pela minha boca, me atiçando.
— Eu sei.

— Convencida — arrasto minha língua pelos seus lábios


avermelhados, arrancando um suspiro seu.
— Eu sei.
Capítulo 28
— Ainda está mal, filhota? — Minha mãe pergunta quando recuso
outro pedaço de torta de morango.

— Um pouco enjoada, apenas — respondo, mas aceito o copo de


água gelada que ela me estende.

— Seria bom marcar um médico, até mesmo parar fazer um check up


geral, não acha? — A pergunta é para mim, mas ela se direcionou
inteiramente a Nataniel, como se ele fosse me obrigar a fazer algo que
ela sabe que não farei.
Detesto médicos, então se eu não estiver morrendo, não pisarei em um
consultório tão cedo. Nate dá de ombros, sabendo que está em uma
sinuca de bico, se ele concordar com a minha mãe, sabe que irá contra a
minha vontade, mas também sabe que se discordar, a senhora de cabelos
castanhos grisalhos nunca mais deixará de falar sobre isso.
Meu pai parece entender a situação, pois pisca para Nate, atraindo a
atenção da minha mãe.
— Algo a falar, Stephan? — Ele enfia um enorme pedaço de bolo na
boca, fugindo completamente da ira da esposa.

Esse sempre foi o clima na minha casa, meus pais casados há mais de
trinta anos tendo uma convivência digna de livros de romance. Talvez
por isso eu tenha insistido e pressionado tanto Nataniel para tomar uma
atitude, crescer vendo o amor entre os dois me inspirou a um dia
conquistar o mesmo para mim.
O que ainda não estava claro dentro da minha cabeça é que existem
várias formas de amor, de expressar carinho e de cuidar um do outro.
Nem sempre a imagem do casal perfeito e a família de comercial de
margarina será o objetivo, as vezes uma amizade de anos acaba se
tornando o maior conto de fadas que uma mulher poderia sonhar.
— Tem certeza que você está bem? Sei que sua mãe pode ser
exagerada, mas você desmaiou e ainda continua enjoada, sweetie — Nate
se inclina na cadeira, falando bem rente ao meu ouvido para evitar que
meus pais escutem a conversa. — Eu me preocupo com você.
Solto o copo de água em cima da mesa e aperto sua mão por baixo da
madeira, passando o mínimo de conforto a ele.
— Eu estou bem, prometo que se me sentir pior, irei ao médico.
Ele não parece realmente satisfeito com a minha recusa, mas sabe que
é o máximo que conseguirá de mim no momento. Minha saúde está boa,
sei disso porque precisei fazer os exames de rotina no escritório há
menos de dois meses, é apenas estresse.
Não foram dias fáceis e meu psicológico ficou completamente
destruído em pouco tempo. Ainda não tive a chance de me reorganizar
mentalmente e colocar minha vida em ordem.

— Aceito, mas estarei de olho em você.


Viro o meu rosto e encontro seus olhos castanhos em mim, analisando
minhas reações e enxergando tudo de mim. A vulnerabilidade que um
dia eu senti ao ser escrutinada pelo olhar de Nataniel simplesmente não
apareceu. Me senti quente, cuidada e protegida como nunca.
— Eu amo você — sussurro, inclinando-me para depositar um selinho
em seus lábios.

— Vai mesmo me beijar na frente dos seus pais? — ele rebate, seu
rosto se torando uma mistura de tons vermelhos.

Dou de ombros, sorrindo e me virando para a mesa novamente,


encontrando o olhar carinhoso dos meus pais em nós dois. Minha mãe,
junto a mãe de Nataniel, sempre torceu para que ficássemos juntos.
Foi uma das razões para eu não ter contato nada sobre nossa mentira a
eles, sei que eles iriam criar expectativas que estavam muito longe da
realidade e no momento que tudo acabasse, eu não seria a única de
coração partido.

— Preciso falar com a minha mãe. — Nataniel termina de comer a


sua torta e limpa a boca com o guardanapo com flores bordadas que
minha mãe usa somente em ocasiões especiais. — Me espera na nossa
árvore em uma hora?

Nossa árvore. Nosso porto seguro. Nosso lugar no mundo.


— Sempre. — Seguro seu rosto entre minhas mãos e grudo meus
lábios nos seus, tento intensificar nosso beijo, mas Nataniel parece
irredutível quanto a demonstrações de afeto em frente aos meus pais.
Ah, se ele ao menos soubesse o quanto eles esperavam por esse
momento.
— Volto logo, sweetie — ele se despede de mim e se vira para o meu
pai. — Uma palavrinha com o senhor, por favor?

Meu pai parece radiante, levantando-se da mesa e deixando sua torta


favorita inacabada no prato, logo os dois homens da minha vida seguem
em direção a sala de estar, me deixando sozinha com a minha mãe.

Seu olhar analítico em cima de mim.


— Você está grávida, meu amor — ela declara, me fazendo engasgar
com o gole de água. Tusso algumas vezes, tentando recuperar o fôlego
enquanto minha mãe aparece atrás de mim, dando tapinhas em minhas
costas. — Respire, filha.

— Estou… Estou tentando. — Minha voz sai completamente rouca,


minha garganta machucada pela tosse constante e forte de segundos
atrás. — A senhora perdeu a cabeça? Eu tomo pílula, mãe.
Minha mãe estala a língua e dá um tapinha no ar, fazendo pouco caso
do que eu disse.

— Eu conheço uma mulher grávida quando vejo uma, seus sintomas


são bem específicos, e eu duvido que você possa me garantir que não
deixou escapar um ou outro dia de pílula.
Fico em silêncio, fazendo as contas na minha cabeça. Eu sempre fui
muito regrada com meus remédios, mas não posso negar que com a
loucura que foi a minha vida nas últimas semanas perdi alguns dias de
comprimido. Principalmente com o fuso horário das viagens, os horários
que eu costumava tomar não estavam sempre corretos.

Sinto meus olhos esbugalharem no meu rosto e minha boca se abrir


em choque, o pavor tomando conta do meu corpo inteiro.

— Não é tão ruim assim — ela assegura. — Vamos fazer um teste,


tirar essa dúvida e então seguimos daí, o que acha?
Apenas balanço a cabeça, sem forças para falar mais nada. Sigo
minha mãe até o seu quarto, onde ela disse que sempre guarda esse tipo
de teste e remédios para emergências. Não consigo nem ficar surpresa ao
saber que ela tem uma farmácia dentro de casa, o medo do que pode
estar acontecendo é maior do que qualquer outra coisa.

— Isso não pode acontecer, mama. Acabamos de nos acertar, trazer


um bebê para essa confusão vai piorar tudo — choramingo, sentindo
meu coração bater descompassado dentro do peito.
— Não é uma escolha que você precisa fazer agora.

Confirmo, aceitando usa ajuda. Minha mãe coloca um teste em


minhas mãos e me leva até o banheiro, como se eu voltasse a ser a
criança que precisava de companhia a cada passo.

— Sabe o que fazer? — pergunta, me olhando com tanto amor que


me sinto transbordar em emoções.
Se eu for mãe, rezo para ser como ela. A mãe perfeita, incrível e
compreensiva que qualquer filha sempre sonharia em ter. Logo ela sai do
banheiro, me dando um pouco de privacidade enquanto sigo as
instruções da embalagem e faço o teste de gravidez, sem coragem
alguma de olhar o pequeno palito enquanto espero os minutos
determinados.

Quase cinco minutos depois, ouço a batida suave na porta.

— Filha?

— Não consigo olhar, mãe — choramingo mais uma vez, permitindo


que ela volte ao banheiro e me encontre sentada em cima do vaso
sanitário, ignorando completamente o palito em cima da bancada.

Ela se ergue, pegando o teste em mãos e vendo o resultado. Minha


mãe suspira e levanta os olhos para mim, nada além de amor
direcionados a mim.

— Você precisa contar a ele, meu amor.


Então, sinto o meu mundo desabar por completo quando ela vira o
teste na minha direção e vejo os dois tracinhos cor de rosa marcando um
enorme positivo no exame de gravidez.

Quando chego nos fundos da casa, encontro Nataniel sentado em


frente à nossa árvore, completamente distraído enquanto puxa alguns
ramos de flor que cresceram ao redor da enorme raiz.

É uma nostalgia gigante voltar aqui, estar no lugar que nos


conhecemos pela primeira vez quando éramos apenas duas crianças.
Principalmente pelo fato de agora, além de termos crescido e nos
tornados adultos, estamos juntos e…
À espera de um bebê.

— Você demorou — ele aponta, e realmente, com tudo o que


aconteceu desde que ele e meu pai saíram da mesa de café da manhã o
tempo passou voando enquanto eu e minha mãe lidávamos com as
novidades.

Desde pequena eu tinha o desejo de me tornar mãe em algum


momento, por isso abortar nunca passou pela minha cabeça, mas isso não
diminui o fato de tudo ser um choque.

Não faço a menor ideia como Nataniel irá reagir a isso, especialmente
porque ele já está dando um passo enorme em aceitar o que estamos
vivendo sem se prender ao medo e aos traumas do passado.

Respiro fundo e movimento minhas pernas, caminhando até o moreno


que olha para cima, o sorriso de canto brincando em seus malditos
lábios.

Não sei como aguentei tanto tempo sem beijar sua boca.

Me sento ao seu lado, exatamente como fazíamos no passado. Nate


estica uma de suas pernas e ergue a outra, fazendo de seu joelho um
suporte para o seu braço.

Ele umedece os lábios, pronto para começar a falar.

— Não sei por onde começar.


— Eu preciso te falar algo — solto de uma vez, me sentindo ainda
mais nervosa.

Meu coração parece pronto para explodir dentro do meu peito, as


palavras se embolando na minha mente e criando uma confusão de sons
que saem pela minha boca.

— Eu… Ah, é… Preciso… — gaguejo diversas vezes, mas Nate não


me deixa sofrer mais e se vira para mim, segurando ambas as minhas
mãos nas suas, acariciando minha pele com o seu polegar.
— Respira, Luna — ele pede, respirando com força, me instruindo a
imitá-lo.

E é exatamente o que eu faço, continuo olhando no fundo dos seus


olhos, sentindo sua proximidade junto de mim e repetindo a inspiração
profunda que ele faz. Aos poucos vou sentindo o meu corpo mais leve,
mais em controle.

— Isso, garota, respire comigo.


Seus olhos me hipnotizam com todos os tons de marrom possíveis,
um pequeno pontinho dourado chama a minha atenção e é ali que me
concentro, é ali que encontro a minha calma, dentro dos olhos do homem
que eu amo.

Sinto um toque gelado em minhas mãos, me fazendo quebrar o


contato visual com Nataniel e abaixar o olhar para nossas mãos juntas.
Vendo pela primeira vez o enorme anel dourado que ele colocou em
minha mão esquerda.
— Não me importo com os passos que a sociedade demanda que um
relacionamento deva ter, pois desde o momento que coloquei meus olhos
em você, quando estávamos aqui nesse mesmo lugar, eu soube que para
sempre seria seu. O tempo só serviu para mostrar todas as nuances do
meu amor por você, a forma que você me complementa e me faz ser a
melhor versão de mim mesmo.

— Nate… — exclamo, fascinada pelas suas palavras e pelo brilho da


joia dourada em minhas mãos.
Nunca vi um anel tão lindo como esse. O aro é feito de duas linhas
douradas cruzadas entre si, como uma trança. Em alguns lugares alguns
diamantes iluminam a peça, que no topo, ostenta uma versão ainda maior
deles. É tão perfeito que nem palavras para descrever eu tenho.
— Você é a minha garota, a minha melhor amiga, a pessoa que
cresceu ao meu lado e a mulher com quem eu quero passar a eternidade.
Luna Thomas, sweetie, casa comigo? — ele finaliza a declaração. As
lágrimas presas nos cantinhos dos seus olhos, uma felicidade que
transpassa palavras.
— Eu estou grávida — exclamo com avidez, jogando a informação
sem pensar duas vezes. — Eu descobri agora, não sei como você irá
reagir. Sei que é muito cedo, não estava preparada para isso, e agora você
me pede em casamento, eu…

— …sou o homem mais feliz do mundo — ele completa a minha


frase, mudando o final para suas próprias palavras. — Vocês são o meu
mundo, Luna, se você me aceitar, faremos dar certo.

— Ah meu Deus.
O choro que sai da minha garganta é de alívio, de paz e de
tranquilidade. Coloco as mãos nos olhos, tentando diminuir a cascata que
parece se acumular no meu rosto, chorando tudo que estava há anos
preso dentro de mim.
Nataniel continua segurando minhas mãos, mas logo me puxa pela
nuca, grudando seus lábios nos meus com paixão, amor e carinho. Seu
cheiro me acalma, sua presença faz minhas pernas virarem gelatina e seu
beijo me faz sentir a mulher mais importante do seu universo.
— Luna, sweetie — ele me chama, tentando fazer com que o meu
choro diminua, mas tudo que consigo fazer é murmurar um soluço,
arrancando uma risada doce dele. — Isso é você dizendo que aceita se
casar comigo?

Então eu vejo que nunca respondi sua pergunta.


Me afasto um pouco do seu abraço, apenas o suficiente para continuar
entre seus braços, mas ter uma visão clara de seu rosto, seus olhos, sua
alma.
— Eu sempre fui sua e eu sempre serei. Sim. Sim. Sim. Sim.

Continuo repetindo “sim” por dezenas de vezes, em todas elas dou um


beijo em seus lábios, confirmando ainda mais o meu amor por esse
homem.

As coisas podem não ter acontecido na ordem certa, e talvez no tempo


errado, mas tudo que importa é estarmos juntos, um ao lado do outro,
como sempre fomos.

— Eu amo vocês — ele declara e meu coração se derrete ao vê-lo se


referir ao nosso bebê.
Suas mãos descem até minha barriga, fazendo um carinho suave sobre
o tecido da minha camiseta, seus olhos transbordando amor pelo
momento único que estamos vivendo.
— Por anos eu corri em círculos, tão perdida e tão sem chão que
pensei em desistir tantas vezes. Agora eu percebo que tudo não passou
de uma grande mentira, algo que contei tantas vezes para mim mesma na
esperança de que um dia fosse se tornar realidade. Tentei apagar os meus
sentimentos, as minhas emoções, mas…

— Foi como apagar uma parte de você — ele completa. — Eu sei


exatamente como é, eu fiz o mesmo.

Como uma forma de selar a nossa nova realidade, Nataniel puxa o


meu corpo para cima do seu, me colocando sentada em seu colo.
— Você é minha e eu sou eu. Sempre e para sempre.

— Sempre e para sempre.


Capítulo 29
duas semanas depois

Eu vou ser pai.

Eu vou me casar.

Para um cara que não aceitava a ideia de estar em um relacionamento,


acredito que estou lidando muito bem com todas essas novidades na
minha vida. Admito que acabei perdendo a cabeça alguns dias atrás
quando conversei com minha mãe e ela me passou um enorme sermão
sobre as responsabilidades de ser marido e pai.
Mas nunca passou pela minha cabeça desistir. Jamais.
Levei anos para aceitar que não importa o que eu fizesse e aonde eu
fosse, Luna sempre estaria destinada a ser minha. E agora, além de tudo,
ainda temos o fruto de anos de amizade e amor crescendo dentro dela.
— Traga o carro para casa, garoto.
Minha mulher vibra ao meu lado, esfregando minhas costas com a
palma de sua mão. Me viro para ela e ajeito o abafador de sons em seu
ouvido, apenas uma desculpa para tocar nela mais uma vez. Luna vai
assistir a corrida de dentro do boxe junto aos mecânicos e engenheiros,
minha equipe organizou tudo para que ela estivesse aqui e não em algum
camarote pelo paddock. A estratégia era bem simples, tê-la perto o
bastante para que pudesse ir até mim ao final da corrida, no pódio ou
fora dele. Minha garota abre um sorriso brilhante para mim, e talvez ela
não consiga ver por causa do capacete, mas sinto meus olhos se
encherem de lágrimas por tê-la aqui comigo hoje.
Comigo de verdade.

Luna se inclina para mim, passando os braços pela minha cintura já


que o protetor de cervical está preso no meu macacão e a impede de
segurar meu pescoço. A morena se equilibra na ponta dos pés e deposita
um beijo no lugar que seria a minha boca, em cima do capacete vermelho
da equipe.
Charlotte logo aparece ao nosso lado, puxando Luna para longe de
mim e me dando um aceno de cabeça, um sinal de que preciso entrar no
carro o quanto antes para que os mecânicos possam finalizar os preparos
do carro.
— Volte para mim, garoto — Luna murmura um pouco mais alto, já
que o som das máquinas acaba abafando qualquer coisa que um de nós
fale.
— Sempre — respondo no mesmo tom.
No instante que me certifico que ela está nos fundos do boxe com
Charlotte e Serguei a cercando, me sinto pronto para entrar no carro e
fazer história.

Termino de ajeitar o macacão antes de colocar os pés no cockpit do


veículo, e logo já sinto diversos pares de mãos amarrando os cintos em
mim. Quando tudo está pronto, todos os pontos importantes do carro
conferidos e meu rádio funcionando a pleno vapor, apenas espero o aviso
do meu mecânico para que eu possa sair do boxe.

— Nataniel, radio check — Otty, minha engenheira, pede uma


confirmação de rádio.

— Tudo ok — aperto o botão no volante e respondo-a.


Acelero com o carro, primeiro fazendo uma volta devagar por todo o
circuito para colocar o carro em posição no grid de largada, onde toda a
equipe já está preparada me esperando.
Não há muito tempo agora, poucos minutos para organizar os últimos
detalhes antes da largada oficial. Quando o sinal é dado e todos saem do
grid, finalmente sinto a adrenalina tomando conta do meu corpo. Apenas
eu e o carro, como um só.
Observo todas as luzes se acenderem e uma a uma, irem se apagando.

Até que todas desaparecem e os motores gritam por toda a largada, os


pilotos acelerando seus carros e dando tudo de si no início da corrida.
Sigo em primeiro lugar, sentindo o carro mais potente do que nunca, os
pneus com boa aderência e aumentando a temperatura gradativamente.
Não sei se é a minha mente que se tornou tão leve nas últimas
semanas, mas nunca me senti tão em sintonia com o carro. Em pouco
tempo já abri mais de vinte segundos entre a minha posição e a de
Charles, que segue em segundo lugar.
Essa corrida é mais importante do que tudo, pois dependendo da
pontuação que eu fizer hoje não estarei somente no topo do campeonato
de pilotos, como estarei com uma pontuação tão a frente do segundo
lugar que garantirei a vitória do mundial.
Além do mais, é o dia que planejei detalhadamente há semanas.

Pelo tempo de folga que tenho da minha posição para a de Charles,


me sinto correndo completamente sozinho, quase alcançando o fundo do
pelotão. Os carros retardatários logo começam a receber a bandeira azul
pela pista e em seus visores no volante, indicando que um carro em uma
posição superior está se aproximando e eles precisam liberar espaço na
pista para a ultrapassagem. É comum isso acontecer, mas é sempre um
risco pois um piloto sempre pode tentar defender a sua posição e acabar
prejudicando a minha corrida, que não é com eles.

Assim que passo pelo primeiro retardatário, vejo que os carros estão
seguindo com uma distância muito próxima um do outro, o que me
impede de acelerar ainda mais. Por ter um pouco de tempo extra na
frente, me permito passar por todos eles em segurança, mesmo que isso
diminua ainda mais minha distância de Charles.

— Você pode manter esse ritmo? — Otty me pergunta pelo rádio.


— O carro está perfeito — respondo de volta, sentindo a chicane
diminuir um pouco a velocidade do carro, mas mantenho a agressividade
na pista, tomando todo o espaço que tenho disponível.

— A escolha é sua.

Otty já sabe o que vou fazer, mesmo assim, deixa a decisão nas
minhas mãos. Mantenho o ritmo de corrida pelo máximo de tempo que
consigo, e na última volta, quando vejo o carro de Charles se
aproximando de mim pelo espelho retrovisor, dou tudo de mim e acelero
ainda mais.

Ganhando velocidade em poucos milésimos de segundos. O suficiente


para que eu passe com folga pela bandeira quadriculada, indicando não
somente a vitória do Grande Prêmio de Mônaco, mas me tornando o
Campeão Mundial de Fórmula 1.

— Parabéns, Nataniel, foi uma honra correr com você nessa


temporada — Otty soa emocionada pelo rádio. — Vá buscar o que é seu.

— Vamos! — grito mais uma vez, levando o carro até a vaga


destinada ao primeiro lugar. Comemoro com a torcida no momento que
desço, agradecendo a presença deles.

E antes que eu possa ir até as entrevistas, minha equipe inteira me


espera, gritando, urrando e comemorando a nossa vitória. Abraço um por
um, agradecendo todo o trabalho e principalmente a paciência que
tiveram comigo em todos os anos que trabalhamos juntos.

Joshua e Dave me encontram no final da comemoração, antes que eu


possa subir ao pódio para receber meu troféu e ir até a minha garota.
— Você tem certeza que fará isso? — Joshua pergunta, ambos
começam a caminhar junto comigo até as escadas, pois eles irão até o
palanque para receber o troféu pelo primeiro lugar também. — Estou
dividido demais, mas entendo a sua decisão.

— Foi uma honra, Nataniel — Dave fala, apertando minha mão na


sua em um aperto firme.
— Obrigado, aos dois, pela oportunidade de estar aqui hoje,
conquistando o título de Campeão Mundial. É surreal e jamais serei grato
o suficiente — digo segundos antes de ser interrompido pelo orador, que
passa a encaminhar todos nós até os lugares determinados.

Charles manda uma piscada para mim, erguendo as duas mãos com
um sinal positivo com os dedos. Ele já sabe, e o filho da puta não poderia
ter ficado mais feliz pela minha decisão.

De qualquer forma, ele ficará bem.

Toda a cerimônia de entrega de troféus se passar com um piscar de


olhos e antes que a melodia de Georges Bizet comece a tocar indicando
que é hora de abrirmos as garrafas de champanhe, minha equipe
interfere[16] na comemoração. Procuro Luna pelo grid, encontrando-a
exatamente na minha frente, alguns bons metros de altura, mas com os
olhos fixos nos meus e as mãos acariciando sua barriga.

Ainda é cedo para qualquer informação sobre a gravidez, mas os


médicos disseram que ela está mais saudável do que nunca, o que tirou
um enorme peso das minhas costas.

A morena cola os dedos nos lábios e atira um beijo para mim,


apoiando a minha decisão, como sempre fez.

É por ela, pelo nosso filho e pelo nosso futuro.


Pela segurança em saber que estarei em casa todos os dias, que
voltarei para casa no final do expediente e que darei uma vida fora dos
holofotes ao nosso bebê.

Pego o microfone que Charlotte me entregou e me dirijo à toda


multidão de torcedores e amantes do esporte, em sinal de respeito ergo a
minha mão e agradeço mais uma vez por todo o apoio que sempre me
deram.

Mas é olhando nos olhos da minha garota que digo:

— Estou anunciando oficialmente a minha aposentadoria como piloto


de Fórmula 1.
Epílogo
o que aconteceu?

Charlotte e Serguei ingressaram na equipe de Charles Maxwell,


complementando o trabalho do jovem piloto que conquistou mais de
quatro campeonatos mundiais em sua carreira.

Abigail, mãe de Nataniel, nunca mais se casou, ela adotou quatro


gatos.

O perseguidor de Luna nada mais era que um jovem adulto obcecado


em internet. O garoto usou todas as artimanhas possíveis para assustar a
morena. Ele não sofreu nenhuma acusação, no entanto.

Pandora odiou dividir sua atenção com um novo bebê. A gata


destruiu todos os brinquedos do novo irmão.

Theodore, o amigo de Charles, decidiu viajar para o norte da Suécia e


por muito tempo, o gigante tatuado se tornou incomunicável. Fontes
dizem que ele está se escondendo de alguns criminosos, mas não há
nenhuma informação real sobre o assunto.

E bom, Luna e Nataniel tiveram uma linda menina chamada Winnie,


a pequena ficou encantada por Pandora, porém, a gata não pareceu feliz
em ter uma irmã. As duas vivem em pé de guerra até hoje.
Espero que tenha se divertido com essa história, talvez até mesmo se
tornado uma nova fã do esporte. Seja muito bem-vinda ao universo
incrível de Fórmula 1, você irá se apaixonar cada vez mais.
Peço encarecidamente que se puder, deixe uma avalição do livro na
Amazon, isso ajudará outras pessoas a encontrar a história e ter uma
experiência incrível também.
E caso não tenha gostado da história, o que faz parte e eu agradeço
que tenha dado uma oportunidade, talvez o livro não tenha sido o ideal
para você. Peço e agradeço de antemão que tenha respeito com a autora e
com a obra.

No mais, obrigada.
Nayany Hächler, leitora compulsiva há anos, sempre amou romances
e ficção. Estudante de Estética e Cosmetologia, trabalhou durante seis
anos como maquiadora profissional. No estresse do dia a dia, sempre
buscou refúgio nos livros e nos diversos mundos criados nas páginas
brancas. Em uma mudança de rumos, buscou realizar o sonho de
escrever um livro; então nasceu o amor pela escrita. Autora
independente, nascida no Rio Grande do Sul, 27 anos e apaixonada pelo
mundo literário.
E esse é apenas o início de um sonho.

Onde me encontrar:

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romances disponíveis na Amazon e KindleUnlimited.

[1]
Mônaco possui uma família real. Monegasco é a forma que se refere a quem nasceu em
Mônaco.
[2]
Tipo de vinho.
[3]
Equipe antiga de Charles.
[4]
Em tradução literal: Querida, estou em casa!
[5]
Modelo de cama gigante.
[6]
Em tradução literal: calças de garoto grande. Uma forma de se referir ao fato do personagem
aceitar e lidar com suas responsabilidades.
[7]
Antagonista de Driven To You.
[8]
Tradução: Entendi, baby.
[9]
Situação que acontece em Driven To You.
[10]
Macacão.
[11]
Tom de branco, quase bege.
[12]
Primeira posição no grid.
[13]
Ocean é um personagem não-binário. A introdução de sua história é contada no livro “Driven
To You”, onde Ocean informa que prefere ser chamada com o pronome feminino ou neutro.
[14]
Tradução: Itália, te vejo em poucas horas!
[15]
Doce em inglês.
[16]
Situação extremamente fictícia, pois não é algo viável em corridas normais.

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