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ENTRE A SOLA E O SALTO

Consultoria de roteiro em 20 de maio de 2020.


Nina Kopko.

Questões para Fernanda:

Versão de 2015? Quais as versões, o percurso desse roteiro?


5ª versão.

O que você pretende ainda trabalhar?


Terceiro ato parece que falta desenvolvimento
Cena da Pina explicar pro Orlando
Ivan e Tereza, dúvida sobre a cena longa

Sobre o que é esse filme? Qual o tema?


Prestígio está no reconhecimento ou não.
Redescoberta da Tereza a partir da perspectiva da Pina.

Qual a pergunta dramática?


Tereza vai conseguir alcançar o sucesso que almeja?

FALTA: SONHO CONCRETO NO INÍCIO

Quais as tuas principais referências?

O raio verde – Rohmer


Cabíria - Fellini
Reality – Garrone
Edward Hopper
Vídeo do programa de talentos britânico - https://www.youtube.com/watch?
v=NuHzXrqj9VY

NOTAS GERAIS:

Acho o filme lindo, a personagem da Tereza é comovente, é engraçada, errada e


completamente humana.

Pina é um poço de carisma e de coisas que ela guarda dentro de si, como uma tartaruga.
Isso é muito potente para uma personagem infantil.

A relação mãe e filha está muito bem desenhada, entre suas aproximações, diferenças,
erros e acertos. É lindo ver o que tem de semelhante entre elas e as diferenças
profundas, especialmente como cada uma lida com a culpa.
Aqui é um ponto para você tratar com carinho numa revisão ao longo do roteiro. Sempre
pensar como essas personagens estão sentindo culpa o filme todo, seja se esquivando
dessa culpa (Tereza) ou engolindo a culpa (Pina). Tereza parece que ao longo da vida
criou um escudo para a sua culpa, faz de conta que está tudo certo, e isso me parece que
passa a refletir no seu corpo, nas suas dores, no choro que ela tanto engole até explodir.
Já Pina, ela sente culpa e se fecha, não consegue lidar mas não aprendeu ainda a fugir
da culpa como a mãe. De novo, a relação com a tartaruga (tanto na ação concreta como
na imagem metafórica) é muito potente.

E falar de culpa é falar desse nosso lugar de mulher no mundo. É contraditório e potente
para o drama. Gosto muito e gera uma grande empatia pelas personagens.

O universo de Paquetá e dessa artista de dança e de rua é também muito bem


construído e único, traz uma personalidade e singularidade ao filme.

O universo dos concursos de auditório eu amo, juntamente com toda essa exposição
na internet, e pensando em Demônia, sei que vocês vão fazer isso muito bem.

Aqui ainda acho que falta parafusos a se apertarem, mais no sentido de deixar tudo
mais estranho e singular, mas é questão de ajuste. Nós nos acostumamos já a tratar
como normal esses concurso de crianças na mídia, também naturalizamos toda essa
exposição midiática que existe com adultos e principalmente com crianças estrelas, e
acho que um dos grandes méritos do filme é deslocar esse olhar do espectador. Fazer
com que ele olhe para aquilo de dentro (das coxias, dos camarins, da equipe nos
concursos, e desse esforço da mãe pra alavancar a filha). Esse deslocamento do olhar
nos faz refletir sobre a perversidade desses ambientes, e isso é um grande ponto alto do
projeto.

Assim, acho que quanto mais se puder explorar a bizarrice por trás das coxias do
programa, também dar pra ele uma cara única e cheia de personalidade (por enquanto é
genérico), vai elevar essa questão dentro do filme.

E no sentido da exposição midiáticas das redes, acho que falta mais pressão para
Tereza fazer aquilo dar certo. Como está agora é um movimento muito natural que ela
faz, de passar a explorar a imagem da filha. Acho que ela ir aprendendo isso, ser cobrada
disso, é o que tem de mais forte. Agora só tem uma cena dela olhando o perfil da Luiza no
facebook, e aqui eu acho fraco, acho que sempre que puder explorar mais sem ficar
usando a internet em si, mas as relações entre personagens, mais potente. E tem que
vir pressão sobre ela de umas três fontes diferentes, digamos. Um único perfil não cumpre
esse papel.

Três referências centrais vêm na minha cabeça, pela temática e personagens:


Frances Ha / Projeto Flórida / Pequena Miss Sunshine

Mas em termos de tom eu vislumbro: Shoplifters


E eu acho que o filme não se permite ir até o limite do tom que escolhe. Na verdade, eu
ainda não sei qual é esse tom.
Se é sobre o peso da vida através do tempo que escorre, como seria em Frances Ha;
se é esse tom de desajuste familiar através de uma aposta severa na dramédia, como é o
caso de Miss Sunshine;
se é ir no limite das situações e personalidades, sem ter medo de abusar de certa
crueldade, como é o caso de Projeto Flórida;
ou se é falar da pressão dessa sociedade patriarcal e capitalista sobre a personagem, que
a leva a situações extremas vistas de fora (mas completamente lógica e normalizadas
vistas de dentro) que é o caso de Shoplifters, e aqui é o drama que imperaria.

O que se diferencia desses filmes?


De qual quer mais se aproximar?

Isso é importante para entender para onde vai a próxima versão. Eu julgo que será o
último tratamento antes de entrar nas versões de trabalho. Então esse é o momento para
se apostar tudo em algum lugar. Trazer mais personalidade ao filme, sabe? Não que ele
não tenha, eu efetivamente me emocionei e me engajei com a história, mas para ele ser
inesquecível, para ele se destacar, eu sinto que você precisa arriscar. E apostar em um
dos caminhos, revisando o filme todo para chegar nesse limite do tom.

De forma geral, pensando tanto em Koreeda quanto em Sean Baker, eu fico com a
impressão de que grande parte do que acontece (e das ações dos personagens) no
roteiro é “muito bonzinho”. A pressão do mundo sobre Tereza é mais teórica do que
concreta. Ela tem dificuldades financeiras, ser mãe solo é foda, mas isso ainda tá na
teoria. Sinto que falta a gente sentir mais pressão. Ela tá com aluguel atrasado mas
Dalva ama ela, nunca expulsaria ela. O pai ajuda ela em tudo, até questiona suas ações,
mas é submisso às vontades de Tereza. Orlando pode ter seus lapsos machistas, mas em
geral, é um cara super parceiro que aprende com ela, ajuda ela. Pina também é
facilmente conduzida pela mãe. Tem o perrengue da barca, o encontro com o policial
escroto, as aulas de dança vazias. Mas sinto que é pouco. Que falta alguma crueldade
nesses personagens e suas ações, e também uma pressão concreta financeira sob
Tereza.

Algo que ajuda muito é fazer as contas no papel: quanto ela ganha por mês na
academia, nessas apresentações de rua e de eventos, mais ou menos? Quanto ela gasta,
quais suas contas concretas? Pensar em números, como se você estivesse vivendo essa
situação, ajuda a entender de onde vem a pressão, ter ideias para cenas.

E agora, vamos focar em algo importante, o arco dramático da nossa protagonista,


Tereza. Ela começa ferrada sem grana tentando equilibrar tudo, filha, contas pra pagar,
pai pra conviver, início de namoro e seus sonhos que estão ficando envelhecidos, e
termina sabendo o que? Me parece que ela termina aceitando que essa é a vida mesmo,
empilhar pratos mas saber que no solo o que importa é o amor, são os momentos. É
bonito isso. Mas fico na dúvida se é isso que você quer dizer. O arco da protagonista nos
fala muito sobre o que você quer dizer com o filme. E nesse roteiro, ela passa por toda
uma trajetória para chegar no mesmo lugar, porque esse é o seu lugar, por mais agridoce
que seja. Essa é a vida.

Se você estiver de acordo que é isso que quer dizer, aí acho que vale um ajuste
importante: no início Tereza deveria ser mais inconformada com a vida que leva e ter
sonhos concretos. E aqui não estou falando inconformidade através da raiva, de ficar
reclamando, nem de estar deprimida. Ela não é nada disso, ela segue em frente, cai já no
espacate, fazendo pose, e levanta de novo, rodopiando (como não amar Tereza? rs). Mas
no início ela precisaria mostrar certa inconformidade com a sua situação, e isso pode ser
traduzido em alguns lugares do status quo: sua postura com as pessoas que não lhe
pagam dinheiro na rua pela sua arte, alguma cena com o Marcos da academia de dança
que não dá o valor que ela acha que merece, ter algum plano de mudar de vida ou
realizar algo que revela à Pina, ao pai e/ou para Orlando, e também mais impaciência
com a ausência física e financeira de Ivan.

E esse sonho concreto, essa ambição, ainda ter sonhos. Acho isso fundamental para
grudarmos como argamassa na personagem logo de início, e para o arco dela se fechar
de forma redonda. Quer ser famosa, ser youtuber, dançar na televisão, dançar na
companhia. É lindo falar de uma personagem que tomou tanta porrada na vida mas ainda
parou de sonhar. E mais que isso essa questão social, que não basta o talento e o
esforço, a vida é feita da sorte dos privilégios.

Ideia durante a conversa: ver amiga formada com ela tendo prestígio.

Acho que ela estar nesse lugar de orgulho constante no status quo (não me dão o
valor que mereço, eu deveria estar em outra posição) ajuda a esse final ela estar mais
conformada com a situação, sabe? Um dia depois do outro. Não que ela perca o orgulho,
mas ela entende que definitivamente não vale fazer tudo para conseguir coisas que ela
nem tem certeza se quer.

Tem aqui uma pista bem importante na cena do caminhão de água, quando ela olhar os
sujeitos trabalhando. Aquela coreografia. Aquela humanidade por trás do barulho que
tanto a atormentava. E como isso se fecha com a imagem final do epílogo, três pessoas
assistindo mas ela dançando melhor do que nunca, dando tudo de si, sob os olhos
atentos e admirados da sua filha e maior fã. O único prestígio que vale a pena.

RITMO:

Num todo, onde a leitura cai o ritmo e a atenção, é todo o segundo ato. As ações e cenas
são repetitivas, avançam a trama mas a ritmo lento, sem surpresas, sem abrir novas
situações. É tudo mais previsível, você começa já sabendo que Pina vai chegar na final.

Tem grandes momentos e uma evolução sólida da trama, mas falta realmente tirar as
coisas do lugar comum, para não tornar cansativo. Ter surpresas. Situações novas.
Tereza se contradizer. Acho que vale manter os beats narrativos de todas as cenas, mas
tentando criar novos desenhos de cenas, com essas novas situações e reações das
personagens, entende?
Algumas cenas do segundo ato também carecem de conflito. Às vezes elas só estão ali
para cumprir a evolução da trama, para dar uma informação, plantar algo que vira, o
passo a passo do concurso. Mas não tem conflito interno nelas. Não temos duas
personagens querendo coisas distintas. Acho que uma revisão cuidadosa nesse sentido
vai levar o filme para outro local, muito mais potente.

E é um roteiro bastante falado. De forma geral, eu não tenho problemas com isso, acho
que não devemos ter medo de diálogos e interações, também faço roteiros bem falantes,
rs. Mas acho que sempre vale o exercício de entender onde dá pra enxugar, para
melhorar o ritmo como um todo. Vou falar mais de cenas longas nos comentários
específicos das cenas, pois acho que vale dar uma limpada na próxima versão. É um
roteiro longo, 120 páginas, anunciando aí um filme de mais de duas horas. Sinto que para
o tom e para a trama, deveria ser um filme um tanto mais curto. Ter mais ritmo, ser mais
acelerado tal qual o ritmo interno de Tereza. E aí sempre vale essa revisão, de entender
onde se pode cortar um pouco dos diálogos, analisar cada fala se é essencial e tem seu
próprio beat (aqui evocando o conceito do McKee), e entender quando a ação pode falar
mais que as falas. É sempre mais forte um gesto do que um diálogo. Ter isso em mente
durante uma revisão geral do roteiro.

ESTRUTURA:

Aqui vamos à análise. Seu roteiro é claramente, para mim, um drama em três atos. Ótimo!
Nem vou me alongar sobre a importância que eu acho em buscarmos uma estrutura bem
definida, por que seria chover no molhado, certo? rs.

Mas aqui eu vejo algumas questões sobre os pontos de virada da estrutura. Vamos lá,
tentando identificá-las:

Detonante: Edy vê Pina dançando e convida Tereza para levá-la ao teste.

PV1: Pina vai ao teste e passa. Agora Tereza está colada a trama central do filme, que é o
percurso do concurso de talentos da filha.

Nessa primeira metade do 2º ato, colocamos as questões principais: início e desenrolar


da exposição na mídia, Pina vai ficando famosa e cansada, Tereza vai ficando obsessiva.

MIDPOINT: aqui eu me pergunto? Qual é esse grande ponto de virada? Aqui é o


momento onde tudo fica ainda mais avassalado, ou viramos o filme do avesso. Não
consegui identificar esse ponto, e acho que esse é o fator principal para o segundo ato ser
repetitivo, para o ritmo cair, para eu me distanciar emocionalmente da narrativa. O que
pode acontecer aqui como uma situação-limite, algo que faça Tereza tomar um novo
rumo, querer ser famosa também e não apenas a filha? Esse ponto crucial nos levará a
sua decisão do próximo PV, que é entrar no palco com a filha. Mas é algo que acontece
aqui que leva ela até o próximo ponto. E que vai fazendo com que ao longo da próxima
metade do 2º ato, ela fique cada vez mais se sentindo frustrada, talvez até enciumada da
filha, tentando trazer protagonismo para si. De todos os ajustes, esse é o que considero o
mais importante de ser feito na próxima versão do roteiro.
PV2: Tereza entra no palco com Pina e temos toda a situação vexaminosa. Que vai nos
conduzir para um terceiro ato de cancelamento virtual (aqui acho que falta explorar mais,
não aumentar as cenas, mas aumentar a voltagem dos acontecimentos com Tereza) e de
culpa e silenciamento de Pina (isso está perfeito, amo o tom e todas as situções que
envolvem esse aspecto da garota. Apesar de achar que Tereza poderia chegar ao limite
querendo fazer Pina falar, mas essa talvez seja uma opinião de gosto pessoal).

CLÍMAX: O último dia do programa, o atraso, a pressão, as dúvidas de Tereza, até que
Pina fala (dá vontade que seja outra coisa ao invés de “Manhê”).

DESELANCE: Elas juntas dançam na praia e são um pequeno sucesso virtual.

Acho os pontos em gerais muito bem acertados, com exceção do midpoint. Isso geraria
toda uma reescrita da segunda metade do segundo ato, na maior parte dela com ajustes
nas cenas já existentes. Mas acho que essa é a grande questão estrutural para se
resolver na próxima versão e que vai afinar a emoção do roteiro.

DIÁLOGOS:

Em geral, acho os diálogos muito bem escritos e sinto a personalidade de seus


personagens, no modo de falar, de construir frases, de reagir. Mas sinto que falta
subtexto. Muitas cenas centrais dramaticamente os personagens dizem exatamente o que
querem/sentem, não há aquele tom de falar de algo querendo dizer outra coisa, sabe?

Subtexto é sempre o que há de mais fino e complexo em se realizar nos roteiros, acredito
sempre que surgem na última versão mesmo. E acho que a hora do Sola é agora.
Repensar todas as frases, como é possível trazer outro assunto para dentro da cena mas
deixar os personagens dizerem o que querem ainda assim?

PERSONAGENS COADJUVANTES:

Aqui também acho que há um trabalho delicado a se fazer. Já disse anteriormente, que
acredito que são todos personagens muito, digamos, bonzinhos. Eles tem personalidades
definidas mas não tem contradições. E aqui acho que é um caminho de ouro pra você
aprofundar esse roteiro.

Tentando passar por todos eles, em notas breves:

Antonio. O pai que fuma maconha e está tendo uma reanimada nos seus bailes de
terceira idade, zeloso e parceiro da filha e da neta. É tudo legal, mas por que Antonio
aceita tudo facilmente? O conflito entre ele e Tereza não passa de algumas palavrinhas.
Se ele está preocupado com a neta e repreende Tereza explorar a filha, acho que isso
precisa ir mais longe, aumentar a voltagem desse senhor.

E um detalhe: por que Tereza e Antonio não vivem na mesma casa? Me parece que a
casa dela é grande, a dele também, da forma como tudo é descrito. Se as contas tão
apertadas, pensando nesse velho solitário que ama companhia, faria muito sentido eles
viverem juntos. Pode ser por orgulho de Tereza, acho isso perfeito. Mas me parece que
esse assunto precisa vir à tona, sabe? Não fazer de conta que não existe essa
possibilidade na cabeça dos personagens. Pode ser um “assunto antigo”, Antonio tenta
puxar o assunto e Tereza diz “nem começa, pai”. Mas para a relação dos dois e para
situar a posição e situação de Tereza, acho importante tocar nisso.

Orlando. Namorado mais velho, mais conformado com a vida, ciumento, mas bastante
parceiro, carinhoso, quer ser um pai para Pina. O que temos aqui de contradição nesse
sujeito que é tão importante para a trama da Tereza? Orlando é a chave, depois de Pina é
o personagem coadjuvante mais importante. E ele ainda não é complexo para mim. Não
há mistério, acaba sendo um personagem funcional.

Mãe de Orlando. Resolvi fazer uma nota porque me chamou a atenção essa personagem
sem nome que troca o cd lá no início e não tem fala nem ação, e então desaparece. Se
Orlando tem 50 e poucos, sua mãe tem mais de 70. Fiquei imaginando essa senhora que
acompanha a vida inteira artística do filho, sem dúvidas, uma personagem memorável. E
imagina a relação dela com Tereza. Tantos caminhos possíveis. Isso pode complicar a
trama, desviar o foco também. Mas se ela tiver algum paralelo, se pudermos ver nela uma
figura materna que Tereza não desempenha com Pina, pode ser interessante ver ela em 2
ou 3 cenas. Mas do jeito como está agora, sugeriria cortá-la, pois é uma aparição
fantasma.

Edy. Depois de Pina e Tereza, é minha personagem favorita. A produtora neurótica. Cheia
de neuroses e de dor. Consegui ver isso nas poucas cenas que está, amo todas as suas
aparições, está muito bem construída. Por mais perverso que seja o que ela desempenha,
eu nunca tenho raiva dela. Eu entendo a personagem, a pressão que ela sofre, vejo dores
ocultas por trás de seus gestos. A minha única questão com ela é saber se, de fato, uma
produtora de elenco continua trabalhando na coxia do programa, o que ela exatamente
faz. Às vezes ela desempenha funções de assistente de direção, às vezes de produtora
de set, às vezes de produtora de elenco. Gosto sempre de trabalhar no concreto. Ajuda a
deixar tudo no filme mais crível.

Bruna e Dora. Juntei as personagens aqui porque acho que elas poderiam ser uma só.
Ajuda a ficar menos difusa nossa atenção. É a mais próxima de uma antagonista concreta
à Tereza. E aqui vou jogar uma opinião pessoal, acho que poderia ser a assitente de
direção. A cena do figurino, pode ser ela que traz correndo a figurinista e ela que bota
pressão e começa ela mesma a vestir a menina, ignorando inclusive sua colega
figurinista. Ela quer cumprir. Quer fazer certo. Não tem doçura. Exerce o pequeno poder.
Acho tudo isso bem potente, mas dividir nas duas personagens diminui essa força.

Nei. Adoro suas aparições e adoro que conheçamos ele apenas no palco. Acho só que
você pode apertar o parafuso da bizarrice e da graça com ele. É um personagem com
gancho ótimo para o riso através da perversidade. Pensando nesses famosos líderes de
auditório: Silvio Santos, Chacrinha, Gugu, Raul Gil, Luciano Hulk, Faustão, Rupaul. São
únicos e são bizarros. Escolher um caminho único para o Nei vai ajudar muito também.
Deixá-lo ainda mais singular.

Júri. Esse momento é tão precioso nos concursos de auditório que eu acho que valeria
um cuidado extra com suas aparições. Entender que cada um exerce um papel, o vilão, o
amoroso, o analista. Não acho que precise aumentar suas aparições mas tirar suas falas
e reações do funcional, do genérico. Esses pequenos detalhes complexificam e adensam
o roteiro.
Dalva. Ela é maravilhosa, quero ser inquilina dela, rs. Aqui eu acho que seria lindo uma
personagem trágica: que ama Tereza e Pina, mas precisa da grana no aluguel para
alguma coisa muito importante e concreta. Ela depende desse dinheiro que Tereza não
paga. Sofre para cobrar. Enfim, essa é uma opinião pessoal, mas mesmo que não seja
esse o caminho, acho que vale rever Dalva para ela não ser um acessório divertido no
filme. Ela pode desempenhar esse papel de exercer uma pressão concreta e a mais
urgente em Tereza.

E, de todas as tramas, a que sobra pra mim e está mais ali pra você falar de um assunto
que não necessariamente faz parte do coração do filme, é a trama com Ivan. Esse pai
aparecer do nada depois da fama da garota tem um gatilho importante, mas a menina
passar a conviver com ele, a ida para cuidar de Kira, isso tudo pra mim pareceu uma
trama paralela à central do filme. Desvia o foco. Não traz mudanças ou conflitos para o
arco de Tereza. São cenas longas, sem beat definido. Ela ainda termina dando dinheiro
pra ele, não sei, achei que isso não condiz com a trajetória da personagem. Você não
precisa disso pra afirmar que ela é generosa, dá pra trazer esse aspecto para a trama
central. Essa seria uma sugestão de corte, toda essa trama paralela com Ivan.

NOTAS INTERNAS DE CENAS:

SEQ 1: Gosto de como introduzimos esse filme. Mãe e filha em planos distintos. Filha
cuidando da mãe com responsabilidade que não cabe à sua idade, e mãe se virando nos
30 pra conseguir estabelecer as contas. Pensando aqui na imagem final que vamos ver
elas juntas no mesmo plano, unidas pela dança, é uma linda forma de começar e encerrar
o filme.

SEQ 7: Acho engraçadinho que a tartaruga chave do filme seja o nome ao contrário de
Pina, o Anip. Mas às vezes acho que essas coisas que soam muito “espertas” geram um
ruído ao espectador, podem funcionar de forma reversa. Mas também pode ser eu que
seja muito apegada a palavras e identifiquei isso logo de cara (também está escrito,
ouvindo é outra coisa) e ninguém vá se ligar de imediato. Então só deixo como um
asterisco.

Só pensando aqui em algo que é até de outra cena: Orlando diz que vovô tem essas
tartarugas há anos, desde que era moço. Se essa história for verdade, essas tartarugas
estarão IMENSAS, jamais caberiam dentro de um aquário ou embaixo da geladeira. E
também por que vovô chamaria essa tartaruga de Anip tantos anos antes de Pina vir ao
mundo? E como conseguiria comprar outra tartaruga enorme para substituir Anip?
Sou cri-cri com concretude, então se quiser relevar os comentários, fique à vontade, rs.
Mas são coisas que sempre me ocorrem e me distanciam dos filmes que estou vendo,
então bato o pé para que tudo seja concreto e factível.

Agora outra nota importante da Seq 7, é a reação de Pina quando o avô diz que Anip
sumiu. Acho o choro muito repentino, sinto que falta aí um caminho para Pina entender o
que aconteceu antes de cair nas lágrimas. Pensando em como conduzir a direção e misé-
en-scene da cena mesmo, sabe? E, pensando mais profundamente, o modus-operandi de
Pina lidar com as emoções doloridas é engoli-las. Então, eu penso em reescrever essa
cena para a menina ficar perplexa, estatelada, engolindo o choro. Acho inclusive mais
forte. Uma reação mais inesperada.
SEQ 8: Aqui você apresenta Tereza como alguém que já gosta de se expor nas redes,
que usa isso a seu favor. É um caminho, bom caminho, aliás. Mas fico pensando no
exercício de fazer o contrário: Tereza entender esse mudo da super exposição a partir do
concurso. Pode trazer outra camada para o arco de aprendizado (erros e acertos) dela.
Enfim, uma provocação com intuito de exercício apenas, não sei o que poderia ser
melhor. Só acho que aqui é importante que ela seja falida nas redes, poucos seguidores,
poucas interações nas suas postagens, etc. Gosto dela mendigar para a Jovem Fotógrafa
depois marcar ela, etc.

SEQ 9: Acho lindo isso dessa personagem em constante movimento, estriquinada, 220V,
e de repente a gente vê ela estática apenas aguardando. Sem controle das coisas, afinal.
É forte para o início.

SEQ 10: Aqui temos uma cena de 3 páginas. Muita coisa é apresentada e é importante
que seja uma cena que tome tempo, mas sinto o ritmo interno dela meio flácido. Acho que
valeria uma revisão nesse sentido.

O parágrafo final do skate, por exemplo, não me diz nada. Não traz camada à
personagem, não traz respiro, não traz o tema ou o universo à tona. É só um acessório.

SEQ 11: Amo essa cena, colocar Pina dormindo na bicicleta, essa mãe improvável, essa
vida de artista de rua que vive em Paquetá com a filha sozinha.

SEQ 12: Outra boa cena e com beat acertado, mas que se alonga demais, são mais de 3
páginas. Acho que vale dar uma enxugada.

SEQ 14: Gosto muito dessa descrição do sexo deles, de como a coisa toda acontece.
Mas aqui uma dúvida de produção: esse é um filme que por mais que trate de sexo e
sensualidades, poderia ter classificação mais livre, e essa cena adensa a idade dele.
Pode ser bobagem, mas achei que não preciso ver o sexo para entender o fogo de Tereza
e nem a relação intensa dos dois, então consideraria talvez cortar.

SEQ 16: Acho super engraçado esse diálogo e a situção toda, mas também sinto a cena
um pouco flácida, se alonga mais do que deveria.

SEQ 17: Detonante, ótima cena.

SEQ 19: Adoro essa preocupação dela em investigar Edy nas redes. Mãe preocupada,
adensa sua personalidade contraditória.

SEQ 21: Acho essa cena toda do aniversário legal, tem vários movimentos internos, do
tipo de cena que eu adoro ver e que segura ser mais longa mesmo. Mas acho que ainda
falta brilho nela, alguma coisa inusitada acontecer, ter mais conflito interno para além
daquele de Pina esperar pelo pedaço de bolo.

E acho que vale colocar em algum lugar aqui alguma menção sobre o programa de TV.

SEQ 22: Não entendo o beat, a função dessa cena. O que ela traz? Aqui me parece ser o
lugar ideal para instaurar a pressão de Dalva sobre Tereza. Aqui também seria um local
que poderia ter algo do programa, para não esquecermos dele.
SEQ 23: Adorei esse personagem do Rodriguinho e do pai.

SEQ 25: Aqui vou instaurar uma opinião super pessoal, mas não gosto dessa cena. Não
gosto dela resolver na malícia com o guarda a situação, acho tudo pouco verossímil. Sinto
que o beat aqui é botar mais pressão nela, não estão mais conseguindo espaço para
dançar na rua e fazer uns trocados, e isso vai piorar a situação de grana e fazer ela mais
dependente ainda do programa depois. Mas essa pressão aqui escorrega, não consigo
ver ela, fico mais nessa relação dela fazer ciúmes em Orlando e acho isso meio fraco
como está desenhado. Mas pode ser só opinião minha mesmo.

SEQ 26: Aqui outra cena super longa que acho que valeria ser bem enxugada. Não
entendo muito bem a razão dessa cena, plantar a filha de Orlando, mas essa é uma sub-
trama que agrega tão pouca emoção pra mim que não dou atenção. Não entendo por que
Orlando decide não transar com ela por causa do espirro. E não entendo aquele chamado
dele final também, “Tereza!”, a mensagem foi ruim?

SEQ 27: Ponto de Virada 1. Boa cena!

SEQ 29: Outra cena que é boa na ideia, mas a execução é muito longa. Carece de ritmo.
É pra afundar ainda mais eles e essa profissão de dançarinos contratados, mas se perde
no foco.

SEQ 30: Gosto dessa cena, da relação com a vida em Paquetá, dela pedir o dinheiro. Ela
está mentindo aqui, certo? Quer comprar algo pro concurso? Acharia legal entender de
fato que ela tá mentindo sobre uniforme e livros.

SEQ 33: Bonita a situação toda, a ideia de falar com a profª de yoga, mas também uma
cena que acho que vale uma revisão de ritmo e tamanho.

SEQ 34: Ri com essa cena, gostei muito.

SEQ 35: Adoro essa cena e os movimentos dela, mas acho que vale uma enxugada de
diálogos, se estende mais que o necessário.

SEQ 36: Amo a reação das amigas. Acho que vale dar nome para as personagens,
pensar numa mais deslumbrada e outra mais enciumada também, pequenos ajustes dos
diálogos. Elas podem voltar a ser assunto depois.

SEQ 37: Não entendo direito a função dessa cena, como vemos e o motivo da distração
de Tereza. Acho massa a ideia repentina da promoção.

SEQ 38: Cena longa onde eu não entendo o beat. Acho legal ela esbanjar e querer
também pagar o Orlando, mas não vejo o conflito da cena. Essa acho que vale uma
revisão cuidadosa, talvez uma reescrita do zero. Ficou uma cena protocolar e longa.

SEQ 39: Não vou fazer comentários internos em todas as cenas do Ivan pois já anotei
acima o que penso dessa trama paralela, rs. Acho legal o pai voltar em um momento, com
interesse na menina pela fama e tal, mas não sei se da forma como está isso está
funcionando bem.

SEQ 40: Bom isso, as revistas da filha e seguir na sua meta de conseguir mais jobs.
SEQ 41: Essa é uma cena que não tem função definida para a trama central, mas que eu
amo. Porque fala do tema do filme, de Tereza. Isso faz falta daqui pra frente no roteiro,
não teremos mais momentos assim. Não que precise muitos, mas ajuda a respirar o filme,
sabe? Ajuda o espectador a preencher coisas internas de Tereza ao invés de ter tudo
dado pelos diálogos.

SEQ 43: Acho essencial esse momento, essa afirmação de Pina de hoje era nossa folga.
Grande-pequeno-momento para mim.

SEQ 44: É um filme tão focado em Tereza e Pina, que essa cena sobra totalmente para
mim. Acho ela bonita, especialmente descobrir que Antonio fuma maconha, mas sinto que
é a típica cena que cai na montagem. Por que não fala de Tereza no fim, não é o ponto de
vista dela sobre a situação.

SEQ 46: Adorei muito toda essa cena. Divertida, ritmada, surpreendente, conflituosa.

SEQ 47: Esse corte é muito bom também, diz tanta coisa em tão pouco tempo, traz ritmo
e movimento.

SEQ 48: Nessa sequência já fiz a sugestão de incluir Bruna, e focar mais no conflito dela
com Tereza do que abrir a frente para Dora, mas é apenas uma sugestão de concentrar
os elementos do roteiro.

SEQ 49: Também já falei acima, repito que acho que aqui é o caso de explorar mais, o
Nei, a singularidade do programa, os jurados, etc. Assim como nas próximas cenas do
programa.

SEQ 50: Triste e linda essa cena.

SEQ 51: Adoro como teu roteiro já tem ações para os personagens, nada é estanque,
amo esse gesto de tirar a pressão. Já tira uma conversa protocolar do lugar comum né,
dá outro sabor, outro ritmo. De forma geral, isso é um grande mérito do roteiro, esse
desenho interno das situações com ações para os personagens.

SEQ 52: Aqui uma cena que acho meio flácida também. Perco a atenção. Fico pensando
se não seria muito mais forte ver uma reação de Marcos às fotos já publicadas do que ter
todo esse papo sobre ela postar as fotos.

SEQ 53: Gosto muito-muito dessa cena e dessa situação com a professora. Aqui acho
que seria um lugar pra revisar essa questão do subtexto que mencionei. Acho que eu
testaria também dar mais voltagem para o conflito mãe-e-professora. É isso: já amo a
cena e ela super funciona, mas é dessas cenas memoráveis de um filme, sabe? Tenho
essa intuição. Então cuidaria ainda mais dela.

Sugestão para enxugar é cortar todo o papo do começo no celular e já começar quando
ela chega na frente da Rafaela, uma ligação em andamento que vamos entendendo o teor
do assunto.

SEQ 54: Aqui uma cena que acho longa e repetitiva de tudo que já vi (tanto do cansaço
de Pina quanto delas ensaiando juntas).

SEQ 55: Sublime essa cena e esse gesto de cortarem o cabelo dela, grande ideia.
SEQ 58: Essa cena acho que valeria uma reescrita total também. Além dela ser longa
(mais de 4 páginas), sinto que fico perdida durante a leitura na movimentação. Parecem
três cenas para mim. Acho boa essa fixação dela com os panfletos e o fato de perder a
Pina de vista, mas como está a cena agora, achei tudo meio enrolado. Porém amo
terminar com ela ceder à ida para o mar e pedir pra Orlando filmarem elas.

SEQ 60: Acho muito boa essa cena, todas as ações, e um excelente respiro ao filme.

SEQ 62: Gosto de ter um respiro para Pina também, mas será que assistir TV com cara
de tédio é a melhor forma de ter esse momento? Acho que poderia buscar algo mais
inusitado.

SEQ 66: Já disse que amo toda essa relação com o caminhão de água e como essa cena
desenrola. O caminho até aqui também, ela ligando pra votar na filha, etc. Porém: essas
votações hoje não são pela internet? Não vi BBB, então nem sei dizer, mas me parece
muito mais prático que ligar, rs. Porém para cena é muito melhor que seja telefone mesmo
e uma voz que possamos ouvir, do jeito como está.

SEQ 69: Segundo ponto de virada. Amo muito essa cena, toda ela, ritmo excelente
também mesmo sendo longa, não cortaria nada. Sofri demais aqui com a vergonha
alheia.

SEQ 70: Essa é a primeira cena pós grande virada do filme e sinto que falta alguma
consequência mais pesada para Tereza, ela começar a ter dimensão do que a espera
depois disso. Fica tudo muito atenuado pela reação de Edy.

SEQ 71: Acho bonita essa cena, penso que Antonio certamente assistiu ao vexame e
tenta disfarçar. Eu talvez apertaria um pouco essa ação dele, de “tentar disfarçar”, sabe?

SEQ 72: Quem é D. Glória? É o romance de Antonio? Fiquei super perdida aqui e não vi
grandes reações emocionais.

Sinto também que falta a gente não esquecer de que acabou de acontecer algo super
grave, que foi a exposição de Tereza em rede nacional.

SEQ 74: Sinto que a pixação precisava ser mais ofensiva.

SEQ 76: Acho linda essa cena e a reação toda de Pina.

SEQ 77: Essa cena também é um tesouro, essa árvore.

SEQ 79: Acho maneira a ideia dessa cena, mas tem alguma coisa que eu não entendo, o
que de fato dispara tudo em Tereza. É o único momento que vemos a personagem em
sua fragilidade extrema, e sinto que não há um desenho sólido para romper essa
personagem ao meio.

SEQ 81: Aqui é um momento crucial, Pina finalmente se abre e é para Orlando. Acho que
falta subtexto, dos dois personagens, nesse diálogo. Não pode ser protocolar as
revelações, sabe? Ainda que seja tudo bonito, mas acho que vale revisão.
E outra coisa importante: Quando a tartaruga morreu de fato, quando Pina matou? Perdi
essa cena? Todo o Plot B do roteiro é centrado em Pina e na relação de seus afetos. Essa
da tartaruga é central. Achei estranho não ver isso.

SEQ 82: Não entendi também o enterro da tartaruga. Orlando vai no cemitério e quer
enterrar mas não faz um enterro presencial? Qual o objetivo de fazer essa cova? Isso
ficou solto pra mim.

SEQ 83-84: Clímax!

SEQ 86: Adoro essa cena, entender tudo através da TV e do telefonema com Antonio.
Mas acho que quem deveria ligar é Tereza. Porém pode dar ruído porque ela tá
dançando, eu sei, mas sinto falta que seja ela quem avise o pai, sabe? Porém, tenho
dúvidas dessa nota, rs, então deixo pra você pensar.

Mas amo demais elas dançando nas imagens frisadas e as tartarugas na sala.

SEQ 87: Um epílogo. É bonito. Talvez sobre, mas defendo muito que você mantenha ele,
e decida-se na montagem. Do tipo de coisa que pode sobrar mas pode fazer muita falta. E
é uma bela cena, “de volta à normalidade”. Agridoce. Amo o tom e o que fica comigo
depois disso.

Arrasou! <3

Assuntos tratados no filme:


Maternidade
Ausência parental
Dificuldades financeiras da vida de artista
Prestígio / sucesso / fama X Fracasso / frustração / anonimato
Talento x Reconhecimento
Linha tênue da exploração do trabalho infantil
Universo concurso de auditórios
Pressão midiática / Exposição midiática
Período em que a mulher não tem lugar: nem jovem e nem velha
Artistas de rua
Dança de salão

Outras referências que acho que valeriam ser vistas ou revistas:


O Céu de Suely – Karim Aïnouz
Erin Brokovich – Steven Soderbergh
Inside Lewis Davis – Irmãos Coen
He Got Game – Spike Lee
Minha Irmã – Ursula Meier
Meu Anjo – Vanessa Filho
Imitação da Vida – Douglas Sirk
Sob a luz da fama – Nicholas Hytner
Flashdance – Adrian Lyne
Irma Vep – Olivier Assayas
Verdades e mentiras – Mike Leigh

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