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MASTERCLASS ÉCRITURE PAUL SCHRADER

Ferramentas práticas de escrita, particulares a cada um.

Metáfora de uma Táxi, que precisa atravessar a cidade e um homem que precisa sair desse táxi
(ele se via como o próprio motorista de táxi, num período de sua vida em que vivia dentro de
um carro e tinha sérios problemas de bebida, saúde etc.).

Homem do táxi rodeado de pessoas, mas incapaz de sair do carro e terrivelmente sozinho.

Esse personagem como um “vodoo” que ele precisava exorcizar.

A vossa matéria é você mesmo. É necessário se estudar: o que é que eu preciso contar? Isso
não vai vir do cinema ou da literatura.

Ele depois reúne 10 perfis interessantes, a partir de 2 linhas de texto sobre si mesmo. A
resposta passa a ser propriedade comum da classe.

Procurar o que é verdadeiramente pessoal. Expresso por si mesmo, o que é necessário


expressar (terapia de grupo – segundo ele).

Qual a sua metáfora?

Moça com sobrepeso, menino dentro do armário, garoto que quer matar os pais, um grupo de
alunos que quer matar os demais... Assim é geralmente um grupo que ele escolhe.

O que é uma metáfora? Não é uma comparação, que é algo mais leve, é, em verdade, algo
diferente do problema, mas que guarda uma relação.

Exemplo: Frankenstein, uma metáfora para o progresso industrial, o monstro é o próprio


progresso industrial e todas as angústias que dele advém.

A Quiet Place: uma metáfora poderosa porque o som se torna o medo.

Outra metáfora: a light sleeper. Abordar a crise de 40 anos. Como falar dessa crise fugindo dos
estereótipos (comprar um carro esporte, sair com a aluna, etc.). Não aprendemos nada
reforçando esses mesmos estereótipos. Então, a metáfora foi um comerciante que precisa
vender cosméticos sem ser qualificado para tanto.

Às vezes é preciso mergulhar em um episódio específico para encontrar uma metáfora. Como
buscar uma metáfora em um livro, por exemplo.

Que metáfora encontrar para um jovem gay que não pode se assumir para os seus pais? Por
que não a história de um espião contra o seu país cuja família não sabe da sua profissão? E
agora ele não pode mais continuar como espião?

Outro exemplo: um jovem japonês que mora em Los Angeles e quer falar sobre a sua família.
Ele pesquisa a história de uma gangue de Los Angeles e através dela conta essa história.

E a moça feia? Ela escolhe escrever sobre uma atriz famosa de cinema?

Depois da metáfora, vem a intriga. Então a ordem é assim:

1) Problema central;
2) Metáfora;
3) Intriga.
E a intriga é geralmente simples, algo acontece.

O que faz essa atriz de cinema? Ela se automutila? Ela paga pessoas para lhe humilharem?

Outro exemplo: um jovem com estresse pós-traumático depois de ter matado uma mulher em
um acidente de carro. Metáfora escolhida: uma mulher que teve um aborto não desejado e
que pensa que o seu filho foi roubado mas que um dia vê uma criança e diz que aquele é o seu
filho. Mas e agora? Como contar? Podemos contar a partir do ponto de vista da filha, da
menina de 13 anos que é seguida pela mulher que pensa ser sua mãe.

Ponto 04. Tradição oral.

O cinema não é uma tradição escrita. Um tio conta uma história oralmente.

Imaginemos 2 rapazes que fumam muito e jogam videogame. E há um amigo que chega com
um Playstation novo, e o que acontece depois? Se você estiver bloqueado, faça alguém chegar
com um “flangue” (?). Então dois rapazes negros com roupas violetas entram na sala mas e
agora o que vai acontecer com eles?

As histórias não devem estar escritas, elas devem ser contadas oralmente. E vejam se os seus
amigos se tornam interessantes. Desenvolva a história a cada vez que você conta a história.

Ponto 05. Plan narratif (outlining).

E a cada vez que você for contar a história, perceba como as pessoas reagem (não
necessariamente se eles gostam ou não), mas se prestam atenção etc.

Se você pode contar uma história por 45 minutos e cativar uma pessoa, o filme funciona, se
não, não faça o filme.

A cada vez que você contar a história, faça um plano. Duas coisas se passam quando você
conta a história: você enche o saco dela, o que é bom, porque você evita de escrever uma
história que ninguém quer ler; outra coisa é a história pode encher o saco de ser contada, o
que significa que é o dia de escrever a história.

Ele também realça as cenas por suas funções e as vias na ordem do filme: quantas cenas de
comédia, quantas de ação, quantas de romance estavam encadeadas.

Quando ele faz o plano, ele já tem o número de páginas estimado e a duração de cada cena (1
minuto por página). Assim, mesmo antes de escrever, ele já tem uma ideia da duração do filme
e do tamanho do roteiro.

Ele faz um plano em uma página só e assim ele pode ter uma visão geral do filme.

Uma vez ele falhou porque não seguiu o preceito da narração oral. Ele só inicia a escrita do
roteiro quando sabe como a história termina.

É preciso pensar em que etapa estamos na nossa “maratona”.

Cada história diz como ela quer ser escrita.

Quantos atos precisam existir em um filme? Normalmente existem 3 atos (passado, presente,
futuro). Mas podem ter quantos forem necessários.

2 coisas mais difíceis em um roteiro:


Exposição: um homem está em uma vila onde ele viveu um tempo, num mercado ele
reconhece alguém mas não o mostra, e a filha dessa pessoa chega e o reconhece. O irmão
dessa filha foi morto por esse homem e ela o reconhece. Escrever essa exposição em 2 páginas
e meia.

Os alunos devem entender a qual ponto deve ser esperto para fazer uma cena de exposição.

Diálogo: sempre complicado. As pessoas não falam como pensam, ou não falam como
queríamos que falassem. Os diálogos em um roteiro não são equivalentes aos da vida real, são
ligeiramente diferentes. Outro exercício: mãe e filha discutem no metrô sobre a faculdade, a
filha quer parar e a mãe é contra, escrever 2 páginas de diálogo pra essa cena. Geralmente, os
diálogos são banais e ele pede que os diálogos sejam lidos ao contrário (do fim para o início).

No último curso, ele convida um escritor que discorde de tudo o que ele disse. Talvez nada
disso seja aplicável à escrita pessoal dos alunos.

Metamorfosear as ideias em imagens. Mas os objetos não são palavras. Qual é o sentido das
palavras num plano visual? Tudo tem de ser pensado em termos visuais.

Personagens.

O que vem antes? Os personagens ou a intriga? O problema é a impossibilidade de exprimir o


amor então a metáfora vai ser um gigolô no centro da intriga. Pra mim a intriga emana do
personagem, o sentido de um personagem é a contradição: eu amo tanto a minha esposa que
a detesto. É assim que vejo os personagens. Os personagens interessantes são pessoas que
fazem coisas que são contra os seus interesses, e eles não compreendem o porquê. Travis (Taxi
Driver) quer recuperar a sua saúde mas ele continua bebendo. Ele vê uma garota que ele quer
mas não pode ter, depois ele vê uma garota que ele pode ter mas ele não a quer. Ele tenta
matar o pai da primeira mas não consegue... é assim que o personagem vive. Quando o
personagem nasce, me dei conta de que a história era sobre a sua solidão e sobre o que isso
construiu.

Ele não baseia a sua escrita na mitologia.

Modo de adição é geralmente muito mais criativo do que o modo de subtração.

Outro exemplo: noção de punição. O que acontece com alguém que sente que não foi
suficientemente punido? Isso o referiu à sua educação calvinista. Um homem que joga poker
12 horas por dia, todos os dias: são pessoas que estimam que não merecem a liberdade e
buscam a sua punição nesse tipo de prisão pelo jogo.

A perda da fé e a metáfora é um homem que na sua profissão perdeu a fé no futuro da


espécie.

Quando o tema e a metáfora têm uma boa distância, isso funciona.

Exemplo: um xerife que precisa resolver um crime e está obstinado nessa resolução, mas na
verdade não há crime, há só um xerife que enlouqueceu e acredita que houve um crime.

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