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Disciplina: Metodologia de Pesquisa em Artes Cênicas 1 (código 343455) Curso: Mestrado

Professores: Gilberto Icle e Sulian Vieira


Período: intensivo
Aluno: Rodrigo Ribeiro Bittes
Matrícula: 21/0025212

FICHAMENTO 4
Haseman – Manifesto pela Pesquisa Performativa.

Em seu artigo “Manifesto pela Pesquisa Performativa”, Brad Haseman defende a existência
e o surgimento de um novo paradigma na pesquisa acadêmica, que altera tudo o que entendíamos
como pesquisa até então: o da pesquisa performativa (HASEMAN, 2015, p. 41). Essa nova forma
de pesquisa se difere das que já conhecemos – a qualitativa e a quantitativa – porque, ao contrário
delas, não se baseia em dados numéricos, números, gráficos e fórmulas (pesquisa quantitativa) e
nem em dados não numéricos na forma de palavras (pesquisa qualitativa), mas sim na performance
e na noção de pesquisa guiada-pela-prática (Idem, p. 44 a 46).

Para melhor entender o argumento do autor e como ele pode ser aplicado na pesquisa que eu
desenvolverei em meu mestrado, cumpre esmiuçar algumas explicações que ele nos apresenta. Em
primeiro lugar, é preciso ressaltar que a pesquisa guiada-pela-prática surge de uma inquietação de
pesquisadores que, ao utilizar métodos quantitativos de pesquisa sobre a prática, entenderam que as
abordagens tradicionais distorcem a comunicação da prática. Assim: “tem ocorrido um impulso
radical para não somente colocar a prática no âmbito do processo de pesquisa, mas para guiar a
pesquisa através da prática” (Idem, p. 43).

Nesse novo paradigma, nem sempre o projeto de pesquisa será guiado por “um problema” –
os pesquisadores “podem ser levados por aquilo que é melhor descrito como “um entusiasmo da
prática” e, além disso, eles insistem “que os resultados da investigação e as reivindicações de
conhecimento devem ser feitos através da linguagem simbólica e forma de sua prática” (Idem, p.
44). Isso significa que agora, ao contrário dos métodos quantitativos e qualitativos em que os
resultados são apresentados sobretudo na forma de demonstrações numéricas e verbais,
respectivamente, nesse novo paradigma surge a demonstração simbólica ou de um produto final,
que pode ser uma experiência, uma performance, uma peça teatral.

“Essa insistência em relatar a pesquisa através dos resultados e formatos materiais da


prática desafia as formas tradicionais de representação da reivindicação de conhecimento.
Significa ainda que as pessoas que desejam avaliar os resultados da pesquisa também
precisam experimentá-los de forma direta (copresença) ou indireta (assíncrono, gravado)”
(Idem, p. 45).

No caso da pesquisa que realizo atualmente, percebo que, sem querer, tornei-me (ou ao
menos o pretendo) um pesquisador guiado-pela-prática. Quando proponho-me a investigar
dramaturgias de ator num processo criativo que engloba teatro físico e pesquisa em sonoplastia, a
pesquisa se dá no processo de criação. Ela ocorre dentro da sala de ensaios e a cada descoberta – ou
não descoberta. A pesquisa é a realização do processo de criação e portanto não pode ser dele
desvencilhada. Assim, entendo como importantíssima a contribuição do autor ao sinalizar a
existência desse novo paradigma, já que pesquisas como a minha nem sempre são abarcadas de
maneira suficiente pela dicotomia tradicional da pesquisa quantitativa (que não se aplica nem em
tese ao que pretendo estudar) e da pesquisa qualitativa (que poderia abarcá-la, não sem prejuízo à
prática e ao resultado final).

Porém, o autor lança uma pergunta relevantíssima: Mas como podem as formas de
apresentação ser entendidas como pesquisa? O que faz de uma dança, um romance, uma
performance contemporânea, o resultado de uma pesquisa?” (Idem, p. 46). O próprio autor
responde, então, que há dois quesitos fundamentais: o primeiro, de que a prática é a principal
atividade de pesquisa, e o segundo de que os resultados materiais da prática são fundamentais para
os resultados da própria pesquisa (Idem, p. 48).

Por fim, o autor faz um apanhado de métodos que são comumente utilizados por
pesquisadores adeptos à pesquisa guiada-pela-prática – e caberá ao pesquisador que aqui vos
escreve destrinchar cada um desses métodos futuramente para entender qual ou quais podem ser
úteis em sua pesquisa, nunca olvidando que uma parte fundamental desse paradigma de pesquisa é a
inventividade do pesquisador, inclusive quanto à criação do método de pesquisa prática. Em linhas
gerais, enumera o autor como métodos relevantes: “prática reflexiva, observação participante,
etnografia performativa, etnodrama, investigação biográfica/autobiográfica/narrativa, e o ciclo de
investigação da pesquisa-ação” (Idem, p. 49) dentre outros. Creio ter um bom ponto de partida para
a investigação dos métodos para a minha pesquisa.

Bibliografia:
HASEMAN, Brad. Manifesto pela Pesquisa Performativa. Resumos do 5o Seminário de
Pesquisas em Andamento PPGAC/USP / Silva et alii (orgs) São Paulo: PPGAC-ECA/USP, 2015.
v.3, n.1, pp. 41-53.

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