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Universidade de Brasília – Instituto de Artes

Departamento de Artes Cênicas


Professor: Jonas Sales
Disciplina: Movimento e Linguagem 2
Aluno: Rodrigo Ribeiro Bittes Matrícula: 15/0147181

RESENHA Nº 3

Isabel A. Marques, no livro “Linguagem da Dança – arte e ensino”, resgata


conceitos criados por Rudolph Laban a respeito da dança e do movimento humano para
abordar temas como a corporeidade do artista em cena e o estudo do movimento em
cursos de dança e de artes cênicas. Um dos principais conceitos trazidos pela autora em
seu texto é o da Coreologia, entendida como:
“a teoria das leis dos eventos de dança manifestos como a síntese de
experiências espaciais e temporais” (Laban, traduzido por Maletic, 1987 apud
Preston-Dunlop, 1995, p. 580) (...) “a ciência da dança, ou a lógica da dança; o
estudo das regras escondidas no movimento que o fazem expressivo e
funcional, e não arbitrário ou sem sentido” (Preston-Dunlop, 1998b, pp.276-
277)” (MARQUES, 2010, p. 100).
Assim, passamos a compreender que a dança e o movimento são sempre
compostos por elementos e signos que ultrapassam o corpo do intérprete. Diversas
escolhas artísticas de um determinado espetáculo de dança, por exemplo, são parte e
fruto de um processo histórico, e refletem as nuances da relação do intérprete com o
meio.
Essa relação, aliás, tem se mostrado muito nítida nas aulas de Movimento e
Linguagem 2. Diferentes corpos produzem diferentes tipos de movimento e diferentes
linguagens; isso porque os nossos corpos são modificados pelo meio em que vivemos e
pelas experiências de vida que temos. Assim é que dançarinos de ballet podem
apresentar muita dificuldade na desconstrução dos signos próprios dessa dança,
enquanto que outras pessoas, até aqueles que nunca praticaram dança, podem ter mais
facilidade no aprendizado de alguma linguagem corporal diversa.
“Não é à toa que alunas educados em códigos únicos e pré-estabelecidos de
dança levam tempo para incorporar outros códigos ou até mesmo para
“livrarem-se” dos anteriores: quem fez a dança jazz a vida inteira (e nada
mais), traz em seu corpo marcas de um corpo expandido, desenhado
linearmente com movimentos predominantemente firmes. Para que incorporem
e corporeifiquem as sutilezas de gestos e o espaço reduzido da dança butoh, por
exemplo, deverão passar por muitos processos de desconstrução das marcas
que já possuem.” (Idem, p. 113).
É possível percebermos isso nas aulas: a partir dos exercícios propostos,
principalmente aqueles que trabalham a corporeidade das danças populares afro-
brasileiras, aprendemos mais sobre o comportamento dos nossos corpos e sobre a forma
como cada um de nós consegue absorver essa linguagem ainda não explorada por nós e
ressignificá-la em nossos corpos. Assim como diz Marques, é importante distinguirmos
quem, onde, o quê, como e por que dançamos/dança-se, para que sejamos capazes de
criar relações com as danças que assistimos e que produzimos (Idem, p. 106).
Por fim, é muito claro a partir dos exercícios propostos, que os estímulos
externos alteram significativamente a qualidade do movimento dos alunos/intérpretes.
Quando trabalhamos em dupla alcançamos um estado de presença que dependerá
bastante da relação estabelecida com o parceiro de cena, e que será totalmente diversa
daquela alcançada quando trabalhamos em grupo ou individualmente. Além de ser
possível perceber os diferentes estados corporais através da interação com o outro e com
o corpo do outro, podemos perceber que interferências do que a autora chama de
“paisagens” sonoras e visuais alteram a nossa linguagem corporal. Dessa forma é que
percebemos muito frequentemente uma alteração dos nossos corpos quando a música
que acompanha os exercícios em sala cessa ou muda o ritmo; ou quando a luz diminui
ou aumenta; ou mesmo quando os nossos colegas de sala mudam de posição no espaço:
“iluminação, objetos e cenários dialogam com as sonoridades construindo corpos e
espaços de dança e sendo reconstruídos por elas” (Idem, p. 125).

Bibliografia: MARQUES, Isabel A. Linguagem da Dança – arte e ensino. São Paulo:


Digitexto, 2010. Capítulo 3.

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