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EXPRESSÃO CORPORAL E DANÇA

Kaio César Celli Mota

CONHECENDO A DISCIPLINA

Olá, estudante! É um prazer começar a disciplina de Expressão corporal e dança com


você!
Esperamos que, ao longo dos nossos estudos, você consiga compreender e aplicar os
conteúdos de expressão corporal e dança de maneira a desenvolver outras habilidades
em sala de aula. Vale destacarmos que, sendo o corpo conteúdo principal da Educação
Física, cabe a nós, profissionais da área, apossarmo-nos dessa temática e ampliarmos as
experiências corporais dos nossos alunos.
É esperado que, ao longo do curso, você consiga entender os conceitos e relacionar os
conteúdos de expressão corporal por meio da sensibilização e da expressão do corpo de
forma criativa. Sendo assim, quando nos apropriamos deles, entendemos que o uso de
tais conteúdos surge como respaldo pelo profissional de Educação física.
Na primeira unidade, vamos nos debruçar sobre os seguintes conceitos e temas:
expressão corporal, aprendizado e comunicação; comunicação não verbal e expressões
afetivas; atividades para o desenvolvimento da expressão corporal; movimento e
sensibilização corporal; kinesfera; experimentações e significações; e a expressividade
do corpo na dança. Já na segunda unidade, abordaremos a questão da consciência
corporal; nela, discutiremos assuntos como: equilíbrio, esquema corporal, lateralidade,
ritmo, orientação temporal e espacial, transferência de peso, condução, indução,
coordenação motora final e global. Na terceira unidade, falaremos sobre ritmo e dança;
sendo assim, os conteúdos visitados serão: conceito de ritmo, ritmo no dia a dia,
mapeamento musical, musicalidade, tipos de ritmo, danças clássicas, danças de ruas e
danças folclóricas, danças de salão e dança para pessoas com deficiência. Por fim, na
Unidade 4, vamos ver como produzir uma coreografia e nos debruçar, portanto, nos
seguintes temas: estruturação, normas brasileiras e internacionais, interpretações, planos
e significados, tipos de movimentos, escala, sequência e variação rítmica.
Como pode perceber, os conteúdos são os mais diversos, sendo um desafio gigantesco
se debruçar sobre todos eles. Mesmo assim, esperamos que você (com todo o nosso
apoio), ao final deste curso, tenha absorvido as técnicas que ajudarão você ao longo da
sua vida profissional. Vale lembrarmos que este material é mais uma ferramenta de
aprendizagem, sendo você e o autoestudo os grandes responsáveis pelo sucesso da sua
jornada!

NÃ O PODE FALTAR

ATIVIDADES EXPRESSIVAS
Kaio César Celli Mota

CONVITE AO ESTUDO
Olá, estudante! Estamos prontos para iniciar os nossos estudos!
Em primeiro lugar, vamos procurar compreender a importância da expressão corporal
para o desenvolvimento do ser humano, ou seja, introduziremos as noções e os
conceitos da expressão corporal para percebermos como ela atua na linguagem não
verbal. A medida que nos aprofundarmos nos estudos, estabeleceremos relações de
expressividade do corpo com as movimentações, os jogos corporais e a criatividade —
temáticas que irão formar a nossa primeira unidade da disciplina de Expressão corporal
e dança. Perceba como um gesto expressivo muda todo o conteúdo do movimento do
corpo. Você, professor de escola, professor de dança, personal trainer ou técnico de
ginástica, já deve ter notado como alguns gestos/movimentos expressivos mudam a
qualidade do movimento, sendo assim, somos nós os responsáveis ao propormos as
mais diversas experiências.
Ao longo desta primeira unidade, esperamos que você seja capaz de conceituar e
relacionar os conteúdos da expressão corporal por meio da sensibilização e criatividade
do corpo, buscando ampliar os debates em salas de aula. Além do mais, esperamos que
você possa conhecer as características das atividades expressivas, entendendo o corpo
de maneira mais ampla, como fonte de criatividade e expressão.
Ainda assim, na Seção 1, discutiremos os conceitos de expressão corporal, o
aprendizado, a comunicação não verbal e as expressões afetivas. Na Seção 2, falaremos
sobre o corpo expressivo com a sensibilização corporal, os movimentos, a kinesfera, a
experimentação e as significações. Por fim, na Seção 3, discutiremos, por meio de
elementos práticos, jogos de dramatização e mímica, jogos teatrais, criatividade e a
criação de jogos corporais.
Convidamos você a embarcar nessa aventura!

PRATICAR PARA APRENDER

Ao desenvolver atividades expressivas, professores e profissionais de Educação Física


se sentem bloqueados pela subjetividade do assunto. Muitas vezes, não somos
estimulados a desenvolver conteúdos sensíveis e expressivos, pois acreditamos que são
assuntos que pertencem ao teatro e à dança, de maneira geral. Porém, o que temos
percebido é que a expressividade, gestualidade e sensibilização dos movimentos, sejam
eles pertencentes aos mais diversos sujeitos da educação física, carregam consigo maior
valor, sendo mais apreciados pelo público. Quando assistimos a uma apresentação de
patinação no gelo, por exemplo, achamos linda a expressão no rosto da patinadora, que
transmite uma emoção a mais para a sua performance.
Se desejamos propor experiências e conhecimentos mais amplos aos nossos alunos,
devemos incorporar os conteúdos da expressão corporal nas nossas aulas, uma vez que,
como um conteúdo transversal, perpassa por todas as áreas do movimento e do corpo,
tornando-nos profissionais mais completos e aptos para trabalhar com as mais diversas
áreas.
Esperamos que você seja capaz de compreender a importância do desenvolvimento da
expressão corporal como um dos elementos pertencentes à Educação Física. No demais,
contamos que você seja capaz de desenvolver atividades que estimulem essa linguagem
não verbal, criando um ambiente sensível e expressivo aos seus alunos.
Para facilitar a sua compreensão, propomos a seguinte situação-problema: Patrícia é
uma professora de dança, formada em Educação Física e que trabalha num renomado
estúdio de danças da cidade de Fortaleza. Em reunião com a dona do estúdio, ela
escutou reclamações sobre a interpretação e expressividade dos seus alunos quando em
cena. Segundo a sua chefe, eles não transmite emoção alguma, mesmo que,
tecnicamente, estejam muito bem. Estimulada a solucionar tais questões, Patrícia se
recordou de que, durante o curso de Educação Física, na disciplina de “Expressão
corporal e dança”, ela aprendeu e refletiu sobre a expressividade do corpo, assim como
obteve instrumentos para ampliar e estimular o desenvolvimento desse aspecto em sala
de aula. A partir de agora, vamos ajudar Patrícia a aflorar a expressão corporal dos seus
alunos, para que obtenham excelentes resultados no palco.
Se você, profissional da Educação física, estivesse no lugar de Patrícia, como
trabalharia e desenvolveria esses conteúdos em sala de aula? Como estimularia a
sensibilidade e a expressividade do corpo? Quais atividades podem ajudar nesse
processo? Seria a expressão corporal um elemento apenas da dança ou está presente em
todos as esferas da Educação Física?
Ao longo desses estudos, você obterá conhecimentos e recursos para responder a tais
questionamentos. Não se preocupe se surgirem dificuldades, isso é comum em todo o
processo de ensino-aprendizagem. Estamos aqui, juntos, para apreendermos um pouco
mais.
Vocês estão prontos? Então. vamos nessa!

CONCEITO-CHAVE

A EXPRESSÃO CORPORAL: CONCEITOS E ALGUMAS REFLEXÕES

Querido estudante, após essa nossa breve introdução, chegamos no esperado momento
em que nos debruçamos sobre a temática da expressão corporal. Por mais que você não
note (ou ainda não tenha refletido sobre isso), a expressão corporal é um fator
fundamental para o desenvolvimento humano e, principalmente, para o convívio social.
Por meio das expressões, conseguimos criar vínculos e relações ao estabelecermos
diálogos com aqueles que estão ao nosso redor. Você já parou para analisar a maneira
como o corpo se comporta diante de algumas situações? Por exemplo, ao receber uma
notícia tão esperada, a feição do rosto muda, um sorriso toma conta, braços e cabeças se
agitam pelo ar. Ou ao contrário, você presencia alguma situação triste ou
desconfortável, as sobrancelhas se abaixam, o tronco se curva e os membros paralisam.
São por meio desses sinais que o nosso corpo se comunica de maneira não verbal, seja
num encontro com nossos familiares, amigos ou colegas de trabalho, seja numa peça de
teatro ou numa apresentação de dança. A expressão corporal é parte integrante do nosso
ser e está presente durante todo o nosso desenvolvimento.
Isso exposto, olharemos, agora, para algumas conceituações teóricas sobre expressão
corporal e expressividade, para que fique clara a importância de tratarmos esses
assuntos, enquanto professores de Educação Física, em salas de aula, academias de
ginástica, estúdios de dança etc. Dessa maneira, ofereceremos aos alunos a possibilidade
de terem outro contato com o seu próprio corpo. Sendo assim, para Stokoe e Harf
(1987), a expressão corporal é, também, uma linguagem pela qual o homem expressa
sentimentos, sensações e os pensamentos do seu corpo.

Figura 1.1 | Expressão facial


Fonte: iStock.

Ao o aproximarmos da nossa área, entendemos que o movimento, seja ele pensando


num sentido macro (um “grand jete” no ballet), seja num sentido micro (uma franzida
de testa), carrega consigo uma expressividade que atua para ampliar os sentidos do
corpo, da comunicação e do movimento humano daquele que os produziu assim como
daquele que os recebeu. Por meio dessa linguagem não verbal, estaremos nos
expressando corporalmente e a todo o momento. Devemos compreender que, para além
de ser um aspecto natural e intrínseco do ser humano, a expressão corporal também
pode ser aprendida, desenvolvida e estimulada. Para Barbosa-Rinaldi, Lara e Oliveira
(2009), ela potencializa a gestualidade e a comunicação por meio de uma alfabetização
do corpo, trazendo à tona: gestos, posturas, desejos, pensamentos e sentimentos.

REFLITA
Ao refletirmos sobre a Educação Física, percebemos que, ao longo da sua história,
predominaram modelos de ensino tecnicistas, sistematizados, elitistas e alienados.
Sendo assim, ao corpo restou o enrijecimento e a não expressividade; o movimento
tinha fins em si próprio, ou seja, um lançar de disco era apenas um “lançar de disco” a
grandes distâncias e nada mais. Mais o que restava a esse corpo? Como ele se
comportava durante esse lançamento? A expressão do atleta significava algo?
Frustação? Alegria? Euforia?

Durante décadas, restou somente à arte (teatro, circo e dança) o trato da expressão
corporal como elemento de preparação técnica dos artistas. Ao pensarmos nela, então,
como um elemento da Educação Física, Pujade-Renaud (1990) defende que a expressão
corporal surgiu recentemente no nosso campo para questionar algumas ideologias
predominantes, como na competição. Ao voltarmos ao caso do atleta de lançamento de
disco, percebemos outras esferas que estão envolvidas com a sua gestualidade. Não é só
um lançar de disco, é toda uma comunicação não verbal que se estabelece entre atleta,
público e demais competidores. Dessa maneira, ao nos debruçarmos sobre a expressão
corporal, entendemos que o corpo estabelece uma “linguagem própria” por meio de sua
expressividade.

APRENDIZADO E COMUNICAÇÃO NA EXPRESSÃO CORPORAL

Aprender é se comunicar com o mundo e com o outro, cabendo a nós, professores e


profissionais de Educação Física, oferecermos as mais diversas experiências para
estimularmos a sensibilidade e a expressividade dos nossos alunos. Ao propormos um
processo de aprendizagem mais plural, criamos um acervo corporal que, mais a frente,
contribuirá para a ampliação das mais diversas técnicas corporais. Se entendemos que a
“expressão corporal” contribuiu para o processo civilizatório e de formação da
sociedade, compreendemos que um processo de aprendizagem em grupo vai oferecer as
mais diversas experiências, como estimular a cooperação e a convivência com a
diversidade, além do respeito e aprendizado da cultura do outro (BARBOSA-RINALDI;
LARA; OLIVEIRA, 2009).

ASSIMILE
Para além de um processo natural do seu humano (ou seja, a todo momento, o homem
se expressa de maneira não verbal), o processo da expressão corporal também pode ser
estimulado e aprendido. Estando a Educação Física responsável pela atenção ao corpo,
também é nosso papel incentivar processos que desenvolvam a expressividade por meio
do movimento e da comunicação corporal.

Dessa maneira, devemos oferecer um leque de possibilidades, experimentações e


experiências corporais e cenestésicas que vão estimular o desenvolvimento, desde cedo,
da expressividade dos nossos alunos. Quando se aprende algo, aprende a codificar e
decodificar uma linguagem (que, nesse caso, seria uma linguagem não verbal do corpo).
Se um professor propõe uma atividade que vai desenvolver algum aspecto da expressão
corporal, ele deve, primeiro, mostrar o que se pretende trabalhar, de maneira que os
alunos aprendam a decodificá-lo, ou seja, identificar o que se está vendo e reproduzi-lo
em seguida. Após esse processo, por meio da mecânica do corpo e da gestualidade, o
estudante codifica os signos e os incorpora à sua linguagem corporal, adquirindo
ferramentas que vão auxiliá-lo no processo de aprendizado.
Ainda nesse processo, percebemos a comunicação como um elemento-chave que vai
estabelecer uma ponte entre aquele que produz a informação e aquele que a capta. Na
maior parte do tempo, utilizamos a comunicação verbal para exprimirmos ideias e
sentimentos, porém a linguagem oral “é apenas um dos códigos que usamos para
exprimi-los” (BERLO, 1963, p.65). Os movimentos corporais, do rosto e das mãos
também são formas essenciais de comunicação. Dessa forma, devemos assegurar que,
por meio da comunicação entre professor e aluno, estimula-se novos processos de
aprendizagem da expressão corporal, em que ele experimenta outras formas de se
comunicar com o corpo, com o outro e com o mundo, para além da comunicação verbal.
COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL E EXPRESSÕES AFETIVAS

Como introduzido anteriormente, a comunicação não verbal envolve todas as


manifestações de comportamento que não são expressas por palavras, ou seja, de
maneira oral ou escrita. Ela compreende os gestos, as expressões do rosto, a postura, as
orientações do corpo etc. Ela está presente durante todo nosso cotidiano, porém não
temos consciência plena da sua ocorrência (CORRAZE, 1982).
O autor Birdwhisteel (1985) foi um antropólogo que, ao longo dos seus estudos, buscou
compreender a linguagem do corpo. Ele usou o termo “cinésica” para definir esse
processo de comunicação e linguagem não verbal composta pela gestualidade e os
movimentos do corpo. Para ele, o contexto ao qual o indivíduo está inserido, ou seja, a
cultura e o comportamento dos membros de uma certa sociedade oferecem um real
significado ao movimento e à expressão corporal. Logo, podemos dizer que: “Apenas o
movimento do corpo não traduz o significado da mensagem, havendo a necessidade de
inseri-lo num contexto, permitindo que um mesmo gesto tenha diferentes significados
nas diversas sociedades” (SILVA et al., 2000, p. 53).

EXEMPLIFICANDO
Os gestos possuem diversos significados nas diferentes culturas, porém o sorriso é um
gesto semelhante em toda a parte do mundo. Não devemos atribuir o significado de
prazer e alegria a todos eles, já que, como dito anteriormente, seu significado ainda é
diferente de cultura para cultura.

Figura 1.2 | Sorriso e expressões afetivas

Fonte: iStock.
Tratando-se das expressões afetivas, percebemos, ao longo das nossas discussões, como
a expressão corporal é responsável pela transmissão dos sentimentos. Durante uma
conversa, se a outra pessoa franzi a testa, arregala os olhos, abaixa as sobrancelhas ou
abre um largo sorriso no rosto, pelo contexto desse diálogo, interpretamos essas
expressões e atribuímos sentimentos a elas. Da mesma maneira que acontece com o
outro, as nossas expressões também vão transmitir alguns sentimentos que influenciarão
a resposta alheia.
Enquanto professores e profissionais de Educação Física, devemos estar atentos aos
sinais afetivos dos nossos alunos. Sendo assim, podemos propor, para além de
atividades corporais e expressivas, situações que estimulem diálogos e trocas afetivas
entre os indivíduos. Devemos estar atentos a situações que provoquem gatilhos
sentimentais negativos e, dessa forma, criar um ambiente seguro para que os nossos
alunos possam se desenvolver de maneira integral.

COMO DESENVOLVER A EXPRESSÃO CORPORAL NAS NOSSAS AULAS?

A seguir, vamos propor uma série de atividades que poderão ser trabalhadas em sala de
aula com fins de se desenvolver a expressão corporal. Lembrando que atuamos em
contextos e realidades diferentes, sendo assim, as atividades aqui propostas devem (e
podem) ser adaptadas para o seu público específico.
Se o seu objetivo é atingir a expressividade por meio de “elementos lúdicos”, podemos
pensar numa atividade de “imitação dos animais”. Num contexto de primeira infância e
educação infantil, essa atividade pode ser desenvolvida de forma lúdica e divertida; o
professor propõe um cenário imaginário em que os alunos se tornam os animais da
floresta, em seguida, ao falar o nome de um animal, os alunos devem imitá-lo, mudando
sua gestualidade e sua expressão corporal de acordo com o animal sugerido. Para um
contexto de alunos mais velhos, o professor pode adaptar essa atividade para um
“mestre mandou”, em que um aluno faz um gesto ou movimento e os demais copiam.
Ainda assim, essa mesma atividade pode ser feita em duplas ou pequenos grupos.
Se o objetivo for trabalhar com “jogos rítmicos”, indicamos a brincadeira chamada “cup
song” ou “música do copos”. Ela consiste em uma série de movimentos com as mãos,
batidas de palmas e deslocamento do copo. Para essa atividade, o professor deve saber a
série de movimentos que ocorrem no jogo para poder ensiná-la aos alunos. À medida
que todos aprendem a sequência, forma-se uma roda em que todos executam juntos a
movimentação, que vai ocorrer de forma sincronizada e melódica. O último movimento
consiste em passar o seu copo para a pessoa a seguir, o que cria uma dinâmica de
movimentação, além de desenvolver a coordenação motora, ritmo e atenção.
Se o objetivo for desenvolver “brincadeiras cantadas”, indicamos a brincadeira chamada
“História da Serpente”, que acompanha a seguinte música: “Essa é a história da serpente
que desceu do morro para procurar um pedaço do seu rabo. Ei, você aí é um pedaço do
meu rabão!”. Para o desenvolvimento da atividade, todos os alunos devem ficar
espalhados pela sala de aula ou quadra; em seguida, uma pessoa deve começar a cantar
a música enquanto se descola pela sala e, então, escolher uma pessoa que está parada.
Essa pessoa, por sua vez, deve passar, engatinhando por baixo das suas pernas para, em
seguida, levantar e segurar a sua cintura de quem a escolheu, formando uma nova parte
do rabo da serpente, que deve se movimentar até a próxima pessoa e assim
sucessivamente, aumentando o tamanho da fila/serpente.
Se o objetivo for desenvolver a expressividade por meio da “percussão corporal”,
sugerimos a atividade “orquestra humana”. Ela consiste em cada aluno criar um
movimento/gesto/batida que produza um som próprio. Em seguida, o professor dirige e
coordena os movimentos que se integram de maneira a formar uma melodia entre todos
os integrantes.
Esperamos que até aqui você tenha obtido conhecimentos e ferramentas suficientes para
incorporar os conteúdos da expressão corporal nas suas aulas. Por mais que alguns
assuntos não tenham ficado tão claros, ao longo desta unidade, outros serão introduzidos
e somados aos que já foram discutidos até aqui.

REFERÊNCIAS

ALVARENGA, A. Klauss Viana e o ensino de dança: uma experiência educativa em


movimento (1948 – 1990). 2009. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de
Educação. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009.
BARBOSA-RINALDI, I. P.; LARA, L. M.; OLIVEIRA, A. A. B. de. Contribuições ao
processo de (re)significação da educação física escolar: dimensões das brincadeiras
populares, da dança, da expressão corporal e da ginástica. Movimento (Porto Alegre),
Porto Alegre, v. 15, n. 4, p. 243-256, jan. 2010.
BERLO, D. K. O processo da comunicação. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1963.
BIRDWHISTELL, R. L. Kinesics and context: essays on body motion communication.
4. ed. Philadelphia: University of Pensylvania Press, 1985.
CORRAZE, J. As comunicações não-verbais. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
PIRIS, A. G. S. A expressão corporal como potencializadora da educação do
sensível. 2019. Monografia (Graduação em Artes) – Instituto de Arte. Universidade de
Brasília, Brasília, 2019.
PUJADE-RENAUD, C. Linguagem do silêncio: expressão corporal. São Paulo:
Summus, 1990.
SILVA, L. M. G. da. et al. Comunicação não-verbal: reflexões acerca da linguagem
corporal. Rev.latino-am.enfermagem, Ribeirão Preto, v. 8, n. 4, p. 52- 58, ago. 2000.
STOKOE, P. Expressão corporal na pré-escola. Tradução: Beatriz A. Cannabrava.
São Paulo: Summus, 1987.

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO

ATIVIDADES EXPRESSIVAS
Kaio César Celli Mota

SEM MEDO DE ERRAR

Vamos relembrar a história de Patrícia, nossa professora de dança que foi cobrada por
sua chefe para desenvolver a expressão dos seus alunos, pois, segundo ela: eles não
“transmitiam” sentimento algum dançando no palco.
Propomo-nos, então, a ajudá-la, e, para isso, retomaremos alguns conceitos-chave para
compreender melhor o que é e como trabalhar a “expressão corporal” em sala de aula.
Antes de tudo, tenhamos em mente que ela é um processo natural do ser humano, ou
seja, por meio de uma linguagem não verbal, as pessoas se comunicam entre si, como
gestos, posturas e movimentos, que transmitem ideias e sentimentos.
Enquanto profissional da área de Educação Física, Patrícia tem os recursos e as
ferramentas necessárias para pesquisar e aplicar tais conteúdo. Dessa forma, quando
questionamos quais conteúdos Patrícia podem desenvolver em sala de aula, percebemos
que podem ser os mais diversos e plurais, a partir de atividades que proponham:
elementos lúdicos, jogos rítmicos, brincadeiras cantadas e percussão corporal. Dentro
desse leque de possibilidades, Patrícia deve escolher aquelas que melhor se encaixam as
suas aulas, logo, quais atividades propor? Oferecemos uma lista de exemplos, como:
jogos de imitação, mestre mandou, música dos copos, história da serpente etc. —
lembrando que as atividades aqui propostas são apenas sugestões que podem ser
trabalhadas em sala de aula e que devem ser adaptadas ao contexto da sua atuação
profissional.
Quando refletimos sobre como estimular a sensibilidade e expressividade do corpo,
percebemos que isso se dá, também, por meio do trabalho coletivo. Dessa forma, ao
propor exercícios em duplas e grupos, os alunos se tornam protagonistas da ação. O
professor, então, deve criar um ambiente que estimule a criatividade, pensando sempre
na integração e livre expressão do grupo.
Então, seria a “expressão corporal” um elemento apenas da dança ou está presente em
todas as esferas da Educação Física? Depois de todas as nossas discussões, surgem
algumas reflexões sobre isso. Estando a Educação Física sujeita ao trabalho com o
corpo, a expressão corporal aparece como um elemento inerente a ela. Devemos pensar
além das artes e atribuir um valor estético, sensível e expressivo para todas as atividades
do movimento humano. Logo, um chute no futebol, um mortal na ginástica, uma cesta
no basquete e um saque no vôlei são tão potentes quanto aquele “grand jete” do ballet,
na medida em que carregam consigo uma expressividade ao comunicar emoção e
sentimento entre atleta/artista e público.
Sendo assim, Patrícia passou a devolver, durante os 15 minutos iniciais das suas aulas,
atividades que trabalham a expressão corporal. Ela consultou livros, vídeos didáticos e
apostilas em busca de exercícios, atividades, jogos e brincadeiras, passando a trabalhá-
los semanalmente em suas aulas. Na apresentação que se seguiu, a sua chefe comentou:
“Agora sim seus alunos estão lindos em palco, eles transmitem algo, eu sinto!”

AVANÇANDO NA PRÁTICA

A DEFESA DO HANDEBOL
Carlos é técnico de Handebol e conduz uma equipe juvenil formada por meninos e
meninas de 14 a 17 anos. Ao decorrer dos jogos e competições, ele percebeu que a
postura dos seus atletas muda durante a defesa das jogadas e não colabora para intimidar
o time adversário. Mesmo que, tecnicamente, os atletas saibam o que fazer, ele sente
que falta algo para que eles também obtenham sucesso durante a defesa. A postura e
feição dos atletas mudam: eles parecem estar sempre tensos, assustados e preocupados!
Sendo assim, se você fosse o técnico desse time, o que faria para melhorar tal situação?

RESOLUÇÃO

Como técnico, você deve incentivar uma mudança de postura, a fim de que ela possa
passar confiança, perseverança, garra e força de vontade. Para isso, os atletas precisam
trabalhar expressão corporal. Carlos deve passar a propor atividades lúdicas e
expressivas. Sendo assim, ele pode recorrer a jogos teatrais e mímicas, criando situações
imaginárias de “ataque x defesa”, em que os alunos/atletas possam interpretar e resolver
a situação. Tal qual, na mímica, eles podem escolher uma temática que assuma essa
expressividade mais “forte”, como filmes de ação, jogos de computador etc.
Sendo assim, após incorporar essa nova gestualidade, que foi aflorada com os jogos e
brincadeiras teatrais, Carlos deve recorrer a essas posturas e memórias corporais durante
as situações reais de jogo. Espera-se, assim, que o time adversário passe a temer os
“soldados” que guardam o forte do gol.

NÃ O PODE FALTAR

CORPO EXPRESSIVO
Kaio César Celli Mota

PRATICAR PARA APRENDER

Olá, estudante! Nesta seção, vamos nos debruçar sobre alguns aspectos expressivos do
corpo, assim como as suas relações com a dança. Mesmo não sendo a sua área de
atuação, em algum momento, você, profissional de Educação Física, poderá se deparar
com o ensino da dança em sala de aula, estúdios ou clubes. Dessa maneira, a intenção
desta seção é propor algumas reflexões sobre o corpo expressivo, o movimento e a
dança, de forma também prática, para que você possa transpor esses conhecimentos
adiante.
Como vimos na seção anterior, o corpo se expressa de maneira não verbal,
comunicando uma mensagem que pode carregar sentidos, sentimentos e pensamentos.
Ao propormos um ensino de dança (ou de Educação Física) mais sensível, estamos
ampliando as possiblidades sensórias e motoras dos nossos alunos, dessa forma, eles
serão capaz de perceber melhor o mundo ao seu redor, cooperando com os demais
colegas, respeitando as diferenças culturais e sendo mais conscientes de si, do outro e do
mundo.
Esperamos que você seja capaz de compreender a importância do desenvolvimento da
expressividade, da movimentação e sensibilização como elementos pertencentes à
Educação Física. No demais, contamos que você seja capaz de trabalhar com atividades
que estimulem essa linguagem, desenvolvendo o corpo expressivo dos seus alunos.
Para melhorar a sua aprendizagem, vamos propor a seguinte situação-problema:
imagine que você trabalha em um clube e é responsável pela área de dança; os seus
alunos são jovens de 13 a 17 anos. E para o encerramento do ano, o clube propôs a
montagem de um espetáculo, do qual todos irão participar. O tema escolhido foi
“amizade”, ainda assim, a sua turma ficou responsável por desenvolver os
“sentimentos”. Diante da complexidade do tema e tendo ele que estar relacionado com a
dança, de que maneira você pode começar a propor uma investigação em sala de aula?
Quais caminhos podem ser percorridos para que os alunos atinjam a expressividade do
corpo durante a dança? Quais atividades podem ser propostas em sala para melhorar os
aspectos expressivos da coreografia? Como relacionar o tema proposto com as
movimentações escolhidas para a sua coreografia?
Convidamos você a embarcar nessa aventura e esperamos que, ao final da seção, você
seja capaz de responder a esses questionamentos.
Vamos nessa?

CONCEITO-CHAVE

SER HUMANO: CORPO E MOVIMENTO

O ser humano está em constante movimento, afinal, é a partir dele que nos
desenvolvemos e nos expressamos. O corpo é assim, o meio pelo qual as ações
voluntárias (e involuntárias) se comunicam com a realidade física, afinal, somos e
sempre seremos “um corpo no mundo”. Pelas multiplicidades de contextos e realidades,
o corpo tem uma linguagem própria, que precede e complementa a linguagem oral,
sendo assim, a dança vai utilizar dessa linguagem de maneira a ampliá-la e codificá-la
(MALANGA, 1985).
Para ampliarmos os nossos conhecimentos, é preciso, sobretudo, refletirmos sobre os
conceitos de corpo e movimento, a fim de integrá-los como uma única unidade. Para
Rengel, Schaffner e Carmo (2016), o termo corpo diz sobre a relação de coexistência
com o mundo ao nosso redor, ou seja, o movimento não existe sem o corpo, assim como
o corpo não existe sem o movimento. Para compreendê-lo de maneira mais ampla, é
preciso entender que as subjetividades e expressividades fazem parte de uma
comunicação entre o indivíduo, o outro e o meio, logo, a dança vai utilizar dessas
ferramentas para propor uma linguagem mais específica.

ASSIMILE
Quando falamos das linguagens específicas da dança, estamos tratando daquelas
modalidades que já são codificadas e difundidas mundo a fora. Desse modo, podemos
exemplificar com: o ballet clássico, jazz dance, sapateado, flamenco, danças do ventre e
hip-hop.

É preciso ampliar a noção segmentada de corpo. Desde a Revolução Industrial,


predomina-se a ideia de “corpo x trabalho”, dessa forma, somos condicionados a pensar
sobre ele com um único fim e utilidade. O corpo passou a estar fora do nosso domínio e
do nosso alcance, logo, é comum que se instalem males psicossomáticos e doenças
físicas que comprometem a sua funcionalidade e organicidade. O corpo deve ser
compreendido como uma totalidade física, emocional e intelectual, de modo que todo o
conhecimento passa, em primeiro lugar, por ele (RENGEL; SCHAFFNER; CARMO,
2016), afinal, é pelo corpo que experimentamos o mundo ao nosso redor.
Já o movimento engloba todas as ações, posturas e gestos que nascem do corpo e partem
em sentido à realidade. Correr, saltar, pular, cair, andar são exemplos de movimentações
que fazemos no nosso dia a dia, mas que não necessariamente precisam exprimir algo.
Se pensarmos num sentido mais amplo (e mais expressivo), o movimento na dança vai
englobar diferentes vocabulários e técnicas próprias que carregam consigo sentidos e
significados específicos.
Enquanto profissionais de Educação Física, estamos aptos a desenvolver esses
conteúdos em sala de aula, sendo assim, a seguir, vamos nos debruçar sobre algumas
atividades físicas, rítmicas e expressivas, que trabalham corpo, movimento e a
sensibilização corporal. Além disso, precisamos, sobretudo, ampliar a sensibilidade do
corpo para podermos, então, perceber melhor o mundo ao nosso redor.

REFLITA
Segundo a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), a Dança é um dos conteúdos
curriculares pertencentes à Educação Física (EF), assim como jogos, lutas, ginástica,
esportes coletivos etc. Enquanto profissionais de EF, precisamos incorporar esses
conteúdos em nossas aulas, quebrando dicotomias que excluem e segregam a dança e a
EF.

Antes de entender o corpo como uma única unidade, é preciso compreendê-lo como
partes isoladas, ou seja, tronco, membros e cabeça. Na dança, para empregar
movimentos intencionais ou não intencionais, é preciso realizar uma escolha consciente
dos meios do movimento: de onde ele parte e para onde ele vai. Nesse sentido, o
objetivo dessa atividade é levar o estudante a entender e diferenciar as partes isoladas do
corpo, assim como a sua participação na condução de movimentos por meio de
diferentes segmentos corporais. A atividade pode ser desenvolvida na quadra
poliesportiva ou na sala de ginástica, e os materiais utilizados são bolas de borracha.
Desenvolvimento: espalhados pelo ambiente, o professor demonstra uma série de ações
que podem ser feitas com a bola, devendo, os alunos, observarem as partes do corpo que
estão envolvidas nas ações. Em seguida, os alunos devem explorar o material
livremente, achando os próprios caminhos do corpo. Como tarefa individual, o
professor propõe uma exploração que deve se concentrar, a princípio, exclusivamente
nas mãos, em seguida, nos pés, cabeça, ombros, costas, joelhos etc. Para cada parte do
corpo, é importante que o processo de exploração dure cerca de 3 minutos, para que os
alunos desenvolvam uma consciência específica daquela região trabalhada; em seguida,
deve ser inserida a locomoção. Como é possível se movimentar pelo espaço sem que
sejam executados passos? Nesse sentido, sugerimos rolar, girar, engatinhar, escorregar,
deitar-se no chão, andar de joelhos, costas etc. Esse primeiro momento é composto de
atividades individuais, de maneira que os alunos tomem consciência de si em primeiro
lugar; a seguir, atividades em duplas ou pequenos grupos podem ser inseridas. Em
duplas, os alunos utilizarão apenas uma bola, que deverá estar em contato com os dois
membros, que devem se locomover pelo espaço evitando que a bola caia ao chão. O
professor deve propor que o material esteja em contato com diferentes partes do corpo,
como testa, costas, quadril, peito etc., e os parceiros devem executar cuidadosamente a
tarefa, atentando-se ao sinal do professor para a troca do local da bola, além do convite
para um novo tipo de locomoção. Em atividades em duplas ou grupos, os alunos passam
a desenvolver a consciência do outro, além da cooperação e o trabalho em equipe.

A KINESFERA DE LABAN

Você já deve ter visto a famosa imagem de Leonard da Vinci, o Homem Vitruviano, na
qual observamos um corpo humano com braços e pernas abertos formando um círculo
ao seu redor. Ao pensarmos na tridimensionalidade do espaço (largura, altura e
profundidade) esse círculo representa uma esfera, e esse espaço contido dentro dessa
esfera (ou melhor, dentro desse icosaedro), vai ser chamado por Rudolf Laban (1990) de
Kinesfera ou Cinesfera, em que cine ou kine = movimento, mover. Logo, a Kinesfera
quer dizer esfera do movimento; ela representa o espaço pessoal de cada pessoa, ou seja,
o espaço em torno daquele que se movimenta, e, ainda assim, é delimitada pelo alcance
dos membros. Para Laban, cada pessoa possui a sua própria Kinesfera, e quando a
pessoa se move, ela carrega consigo a sua Kinesfera para outro lugar. “Na realidade,
nunca sai de sua esfera pessoal de movimento, mas a leva consigo como uma carcaça”
(LABAN, 1990, p. 86).

EXEMPLIFICANDO
Para fins didáticos pedagógicos, existe a possibilidade de construção do icosaedro de
Laban para exploração em sala de aula. Para isso, sugerimos que os materiais sejam
cabos de vassoura do mesmo comprimento (30 unidades). Com fins de elucidação,
observe a imagem abaixo:

Figura 1.3 | Icosaedro de Laban


Fonte: Wikimedia.

Ainda assim, o ser humano nunca está sozinho no mundo. Mesmo que na dança possa
existir momentos de performances individuais (solos), a sua Kinesfera particular está se
relacionando, a todo momento, com as outras ao seu redor, estando mais evidente nos
momentos coletivos, de coreografias em conjunto, por exemplo.
Nesse sentindo, a seguir, iremos propor duas atividades com fins de desenvolver a
percepção e os conceitos de Kinesfera de maneira individual e coletiva. Para isso, os
locais escolhidos para as atividades são a quadra poliesportiva ou a sala de ginástica e
os materiais utilizados são os bambolês.
Desenvolvimento: espalhados pelo espaço e afastados entre si, os alunos fixam os pés
no chão como um ponto de apoio, podendo, as pernas, estarem levemente afastadas, e, a
partir desse ponto, começam um movimento de contração e expansão do corpo (cabeça,
tronco e membros), da menor contração para a maior expansão, fazendo com que
membros e cabeça alcancem a maior distância dentro dessa esfera. Durante esse
primeiro momento, é importante que os pés estejam fixos no chão e que eles não saiam
desse ponto de apoio; a seguir, o aluno deve começar a se movimentar ao redor desse
eixo, procurando a tridimensionalidade dos movimentos durante a contração e a
expansão, e para desenvolver a Kinesfera de maneira coletiva, optamos pelo uso do
bambolê. O aluno deve entrar no objeto e segurá-lo com as duas mãos na região da sua
cintura. É importante destacar que o tamanho do bambolê não representa o tamanho real
da Kinesfera de cada pessoa, porém para fins educativos, o professor pode usar esse
recurso para demonstrar aos alunos como as Kinesferas se relacionam dentro de um
mesmo espaço. Os alunos devem, então, começar a se locomover pelo espaço de modo
a se aproximar de outro colega e fazer com que os bambolês se confluem. Desse mesmo
modo, quando dançamos ou nos movimentamos com outras pessoas, as Kinesferas estão
em constante interação.

A EXPERIMENTAÇÃO NA DANÇA E SUAS SIGNIFICAÇÕES

Como em toda área da ciência, o conhecimento é produzido por meio de experimentos


que são interpretados e que geram resultados. Sendo assim, com a dança e as atividades
rítmicas expressivas não poderia ser diferente. A partir do momento em que ocorre uma
experimentação de movimentos com qualidades díspares (mais rápido, mais lento, mais
brusco, mais leve), ocorre um mover-se mais consciente e aberto a novas possibilidades
e caminhos até então não explorados, de modo a cessar automatismos e vícios do corpo
(RENGEL et al., 2017).
Ao propormos um ambiente aberto a novas explorações, devemos dar suporte para que
os alunos encontrem, neles próprios, os caminhos possíveis de expressão do seu corpo.
Nesse sentido, a experimentação na dança funciona por meio de tentativa e erro e, ainda
assim, a improvisação é um dos elementos que melhor dá suporte para esses processos
de experimentação. Pela movimentação livre e criativa, o aluno aprende a executar
movimentos de motricidade fina e global, além das relações de espaço, tempo e
sensibilidade.
Ao propormos um ambiente com tais experiências, o aluno passa a conhecer as
possibilidades de movimento com o seu próprio corpo, as dinâmicas de movimento, as
dimensões do espaço e tempo, além de poder se relacionar com pessoas e objetos de
maneira concreta ou abstrata. Nesse sentido, podemos estimular a sensibilização do
aluno, auxiliando-o nas experiências subjetivas, que são indispensáveis para todas as
esferas da vida e, principalmente, na dança (HASELBACH, 1988).
Nesse sentido, a atividade a seguir tem, como foco, a “improvisação”, de maneira a
atingir os objetivos de uma experimentação livre e criativa que gere significados para o
corpo dos seus alunos. Para isso, o local escolhido para a atividade é a quadra
poliesportiva ou a sala de ginástica, bem como o material utilizado é o aparelho de som.
Desenvolvimento: espalhados pelo espaço, os alunos devem se movimentar de maneira
livre e de acordo com o ritmo da música; o professor, então, passa a conduzir a
dinâmica da experimentação por meio de comandos que alterem a forma de se
movimentar dos alunos; por exemplo: correr, andar mais lento, girar em círculos, pular
em zig-zag, engatinhando, imitando um animal, correndo na lua etc. Para cada
comando, o professor deve dar 2 minutos de experimentação e, após todo o processo,
abrir uma roda de conversa para que os alunos falem como se sentiram e o que aquilo
significou para eles. Ainda assim, é possível que novos movimentos possam ter sido
incorporados, podendo, mais a frente, ser introduzidos numa coreografia, por exemplo.

O CORPO QUE SE EXPRESSA DANÇANDO

A dança é o maior sentimento de liberdade. Nela, as pessoas são livres para serem quem
são, por mais que a sociedade ainda tente nos enquadrar em certos estereótipos. Ao
olharmos ao longo da história, percebemos um movimento na dança em que as pessoas
pararam de dançar para adorar deuses ou a natureza e passaram a dançar para expressar
o que sentiam e pensavam em relação às pessoas e ao seu redor.

A dança em todas as épocas da História e/ou espaço geográfico, para todos os povos, é
representação de manifestação “de estado de espírito", de suas emoções, é expressão e
comunicação do ser, de suas características culturais.

(SBORQUIA; GALLARDO, 2006, [s.p])

Como profissionais da Educação Física, estamos aptos para trabalhar o componente


curricular de dança em nossas aulas e, dessa forma, desenvolver a expressividade e a
criatividade dos nossos alunos. Uma vez que a expressão e a criação são próprias do ser
humano (independentemente da sua condição física ou estágio cultural), existe uma
necessidade inata de se movimentar. Logo, quanto mais ajudamos nossos alunos a se
expressar, mais benefícios eles têm em suas vidas pessoais e sociais (FUX, 1983).
A atividade a seguir tem como objetivo propor a solidificação dos temas abordados até
agora de maneira que os alunos possam se integrar e se aprofundar mais no assunto
dança e expressão corporal. Para isso, o local escolhido para a atividade foi a quadra
poliesportiva ou a sala de ginástica, bem como o material utilizado será o aparelho de
som/vídeo.
Desenvolvimento: 1. Assistir a uma apresentação de dança com a turma (escolhida pelo
professor), devendo todos se atentar às diferentes expressões corporais dos dançarinos.
Os alunos podem fazer anotações no caderno para, em seguida, discuti-las em grupo. 2.
Após as discussões, professor e alunos devem identificar os significados dos gestos que
foram expressados na dança assistida. 3. Dividindo a sala em grupos, cada um deverá
montar uma pequena coreografia com a mesma música do vídeo. Se necessário, o
professor poderá usar mais aulas para continuar esse trabalho. Ao final da
montagem/criação, um grupo deverá se apresentar para o outro, que deverá fazer
anotações sobre os sentimentos, emoções e ideias de se apresentar e assistir aos outros
grupos. Por fim, o professor deverá conduzir uma discussão em sala de aula.
Esperamos que, até aqui, você tenha compreendido um pouco melhor os conteúdos de
expressão corporal e dança e seja capaz de desenvolver esses temas em sala de aula.
Não se preocupe caso tenha surgido alguma dúvida, nós ainda estamos no começo dos
nossos estudos. A partir deste momento, os demais assuntos se somaram à sua bagagem
de conhecimentos e esperamos que você se sinta cada vez mais confiante e a par dos
assuntos. Boa jornada!

REFERÊNCIAS
FUX, M. Dança, experiência de vida. Tradução: Norberto Abreu e Silva Neto.
São Paulo: Sammus, 1983.
HASELBACH, B. Dança, improvisação e movimento: expressão corporal na
Educação Física. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1988.
LABAN, R. Dança educativa moderna. São Paulo: Ícone, 1990.
MALANGA, E. B. Comunicação e balé. São Paulo, EDIMA, 1985.
RENGEL, L. P. et al. Elementos do movimento na dança. Salvador: UFBA, 2017.
RENGEL, L.; SCHAFFNER, C. P.; CARMO, C. E. O. do. Dança, corpo e
contemporaneidade. Salvador: UFBA; Superintendência de Educação a Distância,
2016.
SBORQUIA, S. P.; GALLARDO, J. S. P. A dança no contexto da educação
física. Ijuí: Ed. Unijuí, 2006.

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO

CORPO EXPRESSIVO
Kaio César Celli Mota

SEM MEDO DE ERRAR

Chegou o momento de voltarmos a refletir sobre a nossa situação-problema, e


esperamos que, até aqui, você tenha tido recursos necessários para solucionar tais
questionamentos.
Bem, você trabalha num clube, na modalidade de dança, com jovens de 13 a 17 anos, e
para a finalização do ano, o clube decidiu apresentar o espetáculo “Amizade”, e você
ficou responsável por desenvolver, com a sua turma, o tema sentimentos. Essa temática
pode ser considerada complexa e muito delicada, diante disso, é preciso que os alunos
estejam aptos para criar uma ligação com o público por meio de uma interpretação
marcante e expressiva.
Antes do desenvolvimento coreográfico, você pode trabalhar os exercícios que foram
propostos durante a seção, sempre deixando claro os objetivos a serem alcançados com
a turma. Desse mesmo modo, você deve estabelecer “feedbacks”, além de rodas de
conversa com os alunos para trocas de sensações, pensamentos, ideias e experiências.
E quanto aos questionamos sobre quais são os caminhos a serem percorridos para se
atingir a expressividade do corpo durante a dança ou, ainda, quais atividades podem ser
propostas em sala, para melhorar os aspectos expressivos da coreografia, percebemos
que atividades que propõem a conscientização corporal, noções de espaço, exploração
de diferentes dinâmicas de movimento, improvisação e criação coreográfica são
caminhos que buscam uma maior sensibilização do corpo.
Já em relação a como relacionar o tema proposto com as movimentações escolhidas
para a sua coreografia, é de grande importância que o professor estabeleça diálogos com
a turma, a fim de criar relações com as movimentações exploradas e que podem,
futuramente, ser transpostas para uma coreografia.
Enquanto profissionais da Educação Física, precisamos refletir, a todo momento, sobre
as nossas práticas educacionais. Se, em algum momento, você perceber que os objetivos
da sua aula (ou de certa atividade) não estão sendo alcançados, pare, reflita e reformule
suas propostas, a fim de solucionar os problemas. Lembre-se de incluir o aluno nessa
solução, tornando-o protagonista da sua história.
Como solução da nossa situação-problema, você foi capaz de produzir com seus alunos
um processo coreográfico expressivo e sensível, que foi capaz de criar uma forte ligação
entre dançarinos e plateia.

AVANÇANDO NA PRÁTICA

JÉ SSICA PEDE AJUDA!


Na situação-problema anterior, aludimos a situação do espetáculo “Amizade”, do qual
você e sua turma ficaram responsáveis pelo desenvolvimento da coreografia
“sentimentos”. No entanto, uma vez que está nesse clube, a professora Jéssica, de
Ginástica Rítmica, solicitou-lhe uma ajuda, pois está com dificuldades em desenvolver a
interpretação e a expressividade das suas ginastas. A turma de Jéssica ficou responsável
pelo tema “família”, no entanto, por mais que, tecnicamente, sua coreografia esteja
impecável, as ginastas não estão sabendo trabalhar com a expressividade, logo, uma vez
que são colegas de trabalho e que concorda em ajudá-la nesse processo, quais os
caminhos que ela precisa percorrer para atingir uma boa interpretação em cena?

RESOLUÇÃO

Ciente das dificuldades das ginastas, é importante que, durante esse processo de criação
e investigação, sejam propostas atividades que trabalhem a conscientização corporal, a
exploração de diferentes dinâmicas de movimentação, o trabalho de noções de tempo e
espaço, além de improvisação e criação coreográfica. Ainda assim, é importante que o
tema seja discutido entre as alunas, para que tragam ideias e reflexões que possam
auxiliar na coreografia e na descoberta de um bom caminho de interpretação e
expressividade em cena. Você e Jéssica podem juntar as suas turmas e fazer um trabalho
de investigação coletivo. Dessa forma, as suas coreografias podem carregar uma
mensagem condizente com o tema do espetáculo.
NÃ O PODE FALTAR

EXPRESSÃO CORPORAL CRIATIVA


Kaio César Celli Mota

PRATICAR PARA APRENDER

Olá, estudante! Que bom que chegamos até aqui! Nesta seção, iremos nos debruçar
sobre alguns jogos teatrais de dramatização e mímica a fim de compreendê-los como
processos por meio dos quais podemos trabalhar a criatividade e a expressividade
também dentro da Educação Física (EF). Além disso, vamos construir, juntos, alguns
jogos corporais que lidam com os aspectos citados anteriormente, e é importante
destacarmos que esses jogos podem (e devem) ser desenvolvidos em diferentes
contextos da EF, sendo uma importante ferramenta de prática de ensino.
Sendo a EF esse campo tão amplo, enquanto profissionais, podemos trabalhar e atuar
em diferentes realidades (escolas, clubes, academias, ginásios), sendo assim,
independentemente da especificidade da área, os jogos corporais auxiliam no
desenvolvimento da criatividade, sendo um processo em que o aluno passa a
desenvolver aspectos de inteligência corporal, resolução de problemas, cooperação e
trabalho em equipe, princípios pelos quais todas as áreas da EF compartilham.
Esperamos que você consiga compreender a importância do desenvolvimento da
ludicidade, criatividade e dramatização como elementos pertencentes à EF, bem como
que seja capaz de trabalhar com atividades que estimulem a linguagem criativa dos seus
alunos. E para uma melhor fixação dos conhecimentos obtidos por você ao longo desta
seção, iremos propor uma situação problema e esperamos que, ao final, você tenha
informações suficientes para solucioná-la. Digamos que você seja professor do
contraturno de uma escola e responsável pelo desenvolvimento da atividade
extracurricular de circo. Após o término das aulas regulares, os alunos o encontram duas
vezes na semana para juntos, desenvolverem atividades gerais de circo (tecido
acrobático, malabares, acrobacias, palhaçada etc.), e para o Dia das Mães, a turma
decidiu fazer uma apresentação com o tema “palhaços”. Vocês, então, devem construir
uma “cena” que envolva os elementos trabalhados ao longo dos últimos meses de aula,
além da teatralidade e comicidade dos palhaços. Como você, professor, pode estimular
os alunos a desenvolver essa criatividade? Como os jogos teatrais podem auxiliar nos
objetivos dessa apresentação?
Ainda assim, como dar espaço de protagonismo ao aluno para a construção desse
trabalho coletivo? Quais as atividades que desenvolvem criatividade e teatralidade que
podem ser feitas com a turma? Esperamos que as informações que iremos compartilhar
com você a seguir o ajudem a refletir melhor sobre essa temática. É importante que,
cada vez mais, nós, profissionais da EF, proporcionemos experiências diversas aos
nossos alunos, estimulando a sua criatividade e a imaginação. Boa Jornada!

CONCEITO-CHAVE
JOGOS TEATRAIS, DE DRAMATIZAÇÃO E MÍMICA – PRATICANDO E SENDO
CRIATIVO

Até este momento, propomos uma série de reflexões e atividades sobre o corpo, o
movimento, a expressão corporal e a dança. A partir de agora, vamos nos debruçar
sobre um cenário mais específico, que corresponde aos jogos teatrais, de dramatização e
mímica. Nosso intuito é trabalhar com atividades dentro dos contextos variados da
Educação Física (EF), como elementos que atuam a favor do desenvolvimento da
criatividade, imaginação, além, é claro, da expressividade.
Antes de mais nada, é importante vermos alguns conceitos para entender como eles
funcionam dentro das propostas aqui descritas. Dessa maneira, ao olharmos para o
“jogo”, recorremos a Huizinga (1996), no sentido de que, ao jogar, os participantes
experimentam beleza, ritmo, e harmonia, o que pode gerar tensão, alegria e diversão.
Ainda assim, no jogo, existem regras e ordens que devem ser seguidas pelos jogadores;
o seu caráter lúdico representa a liberdade da sua prática envolta, também, em grandes
aspectos afetivos (ANDRADE, 2007).
Ao tratarmos, então, dos jogos teatrais, estamos usando de recursos lúdicos que
auxiliam o aluno a desenvolver a sua expressividade, além da resolução de problemas e
o trabalho em equipe. Além disso, estando cercado dessa atmosfera teatral, o aluno
trabalha a concentração ao se envolver com a prática. Blick e Christofoletti (2010)
destacam que o caráter livre da prática do jogo teatral permite que o aluno atinja os
objetivos da atividade a sua maneira, ainda que os limites e as regras sejam
estabelecidos, o que aumenta o caráter de cooperação dentro dos jogos teatrais.
Para o teatro, o gesto representa o conteúdo da informação a ser desenvolvida. Dessa
maneira, ao se trabalhar com os jogos teatrais, de dramatização e mímica dentro da EF,
é possível compreender e comunicar o significado desse gesto (KOUDELA, 2006), que
se torna expressivo na medida em que está inserido dentro de um contexto e de uma
certa atividade. O professor torna-se a figura mediadora das ações e conflitos, aquela
que propõe a atividade, cria o cenário e estimula a participação de todos. Ele deve estar
sempre atento ao grupo, respeitando as capacidades individuais e o envolvimento de
cada um.

As múltiplas dimensões dos jogos teatrais podem contribuir para o processo de


ensino/aprendizagem na Educação Física. A vivência do aluno no jogo teatral favorece
a ele um desenvolvimento mais amplo de suas habilidades, através: da exploração de
movimentos rítmicos expressivos, na compreensão dos elementos dos movimentos, na
criação e exploração de objetos imaginários, na responsabilidade, na interação, na
observação, na atenção, na solução de problema, na ajuda mútua entre os jogadores.

(BLICK; CHRISTOFOLETTI, 2010, p. 11)

A partir desse ponto, vamos propor uma série de atividades com o objetivo de
desenvolver os jogos teatrais em sala de aula, lembrando que atuamos em diversos
contextos e, dessa forma, as atividades aqui propostas podem (e devem) ser adaptadas
para melhor atingir os objetivos das suas aulas.

 Aquecimento coletivo em roda: o objetivo deste exercício é preparar o corpo para a


prática das atividades, a fim de ativação muscular, mobilidade articular e preparo
vocal.
o Dispostos em roda, todos começam sentados (ou em pé, a depender da
escolha do professor).
o Uma pessoa por vez deve se apresentar, falar o seu nome e fazer um
movimento de alongamento/aquecimento.
o Em seguida, todos os demais alunos repetem esse nome e também o
movimento proposto por ela.
o A pessoa a seguir deve, então, falar o seu nome e fazer um “novo”
movimento. Sucessivamente, todas as pessoas se apresentam e propõe uma
movimentação.
o O professor e os alunos devem se atentar para a não repetição de
movimentos, além de que todos participem.
 Jogo do “espelho”: o objetivo desse exercício é trabalhar a expressividade, a atenção,
o trabalho em equipe e a criatividade, por meio de uma prática em dupla.
o Em duplas, um de frente para o outro, os alunos devem estar dispostos pelo
espaço.
o Uma das pessoas começa a se movimentar de maneira livre, enquanto a outra
imita as suas movimentações, além das expressões corporais e faciais.
o Pode ser estipulado um tempo de 2 minutos para cada pessoa da dupla.
o Após um certo momento, o professor deve juntar as duplas, formando grupos
maiores e, portanto, aumentando a complexidade da atividade, sendo que
uma dupla passa a copiar a outra e os movimentos devem ser feitos em
conjunto.
 Jogo do “faz de conta”: essa atividade tem como objetivo o desenvolvimento da
imaginação, criatividade, cooperação, resolução de problemas e trabalho em equipe.
o O professor é o condutor da atividade.
o Os alunos estão dispostos em pequenos grupos, espalhados pelo espaço.
o O jogo começa quando o professor fala: “faz de conta que...”; em seguida, ele
propõe uma situação. Por exemplo: “vocês estão dentro de um ônibus, a
caminho da escola e o pneu fura”.
o Como resolver essa situação? Por meio de um jogo de pantomima, ou seja,
sem falas, os alunos se juntam e recriam essa situação com o próprio corpo,
dando um desfecho ao problema levantado.
o Para melhorar a dinâmica da atividade, recomenda-se que uma série de
situações já estejam levantadas (escritas em um caderno, por exemplo),
devendo o professor somente consultá-las, colaborando para o fluxo da
atividade e o desenvolvimento das situações.
o Recomenda-se um tempo máximo de 4 minutos para cada situação.
o Deverá o professor intervir para propor soluções quando a turma encontrar
alguma dificuldade para isso.
o É importante dar feedbacks aos alunos para que saibam se estão atingindo os
objetivos da atividade ou não.
 Jogo do “cabo de aço invisível”: assim como a atividade anterior, esta tem como
objetivo o desenvolvimento da imaginação, criatividade, cooperação, resolução de
problemas e trabalho em equipe.
o A turma é dividida em dois grupos.
o Cada grupo assume um lado do campo, dispostos em fila, um atrás do outro.
o A atividade funciona como uma competição de cabo de aço, porém sem o
cabo. Trata-se de uma corda “imaginária”, que deverá assumir o lugar na
atividade.
o A brincadeira funciona como se o cabo realmente existisse, e os alunos devem
fazer os gestos e simular a situação real da atividade.
o Nesse caso, os alunos devem saber, de comum acordo, quando um grupo se
coloca como campeão perante o outro.
o Ainda assim, o professor pode propor uma narração da atividade,
solucionando conflitos durante a execução.
 Jogo da “boneca de pano”: o objetivo dessa atividade é desenvolver a expressão
corporal por meio de um exercício em duplas, envolvendo o toque no corpo e a
confiança no outro.
o Em duplas dispostas pelo espaço, os alunos decidem quem será a boneca
(conduzido) e quem será o condutor.
o A boneca deve ceder aos movimentos, às poses e aos gestos criados pelo seu
condutor, não fazendo resistência a eles.
o A atividade consiste em condução e manipulação, toque e entrega.
o O professor deve estar atento a sinais de desconforto por parte de algum
aluno;
o O tempo da atividade pode ser de 1 a 2 minutos para cada pessoa.
 Jogo do “telefonema com emoção”: essa atividade tem como objetivo o
desenvolvimento da expressividade com foco nas expressões faciais.
o Os alunos estão dispostos pelo espaço.
o Uma pessoa por vez é conduzida ao centro da cena e deve atender a um
telefonema “imaginário”.
o O exercício funciona por pantomima, ou seja, não deve conter falas, somente
expressões faciais e ruídos adicionais.
o Ao atender o telefonema, a pessoa precisa colocar toda a expressividade
possível em seu corpo e em sua face, refletindo, dessa forma, uma situação
extremamente emocionante, podendo variar em tragédia, alegria,
preocupação, euforia, êxtase etc.
o O professor decide quando o próximo aluno entra em cena, devendo, o
anterior, encerrar a sua participação (ainda com foco na sua interpretação) ou
somar à próxima cena, ou seja, permanecer no jogo e atuar com o colega.
o O tempo do exercício pode variar entre 3 e 5 minutos para cada cena.
o Se o número de alunos for muito grande, divida a sala em grupos menores, e
cada grupo deverá atender ao seu próprio telefonema.
 Jogo da “receita distante”: tem como objetivo trabalhar com a expressividade, a
memorização e a projeção de voz.
o Você deve pedir para que os alunos se dividam em duplas.
o A seguir, no espaço em que vocês estão, uma pessoa da dupla deve se afastar
o máximo que conseguir da outra.
o Na sequência, um deles deve escolher uma receita (algo simples que eles
conheçam).
o Ao seu sinal, todas as duplas devem começar a falar essa receita para o colega
que está distante.
o Quando muitas pessoas falam juntas, a tendência é que elas aumentem o tom
de voz, dessa forma, é possível atingir o objetivo da projeção.
o Por conta das conversas cruzadas e do barulho no ambiente, o aluno que está
contando deverá usar a expressividade do seu corpo para informar a sua
receita para o colega que está distante.
o Assim que todos acabarem suas receitas, você deverá pedir para aqueles que a
ouviram contá-la para todo o grupo, e a pessoa que começou deverá
confirmar se a receita está correta ou não, sendo assim, desenvolve-se a
atenção, o foco e a memorização.
o Após esse momento, é chegada a hora de trocar de integrante, ou seja, quem
vai contar e quem vai ouvir a receita (mais uma vez distantes no espaço e
afastados um do outro).

A CRIATIVIDADE E A EDUCAÇÃO FÍSICA, CAMINHOS POSSÍVEIS.

Como um elemento inato do homem, a criatividade surge como um potencial inerente à


realização das necessidades humanas (OSTROWER, 1978). O indivíduo que se
desenvolve em um meio social necessita dispor de mecanismos de criação, dos quais as
suas obras servirão de utilidade para o outro. Dessa forma, a criatividade pode significar
as potencialidades desse ser único, à medida que a sua criação significa a concretização
das suas potencialidades.
Ainda nesse sentido, devemos entender que a criação funciona no âmbito da intuição,
processo pelo qual o indivíduo toma consciência do seu potencial criativo, expressando-
se e concretizando algo. Dessa maneira, somos capazes de transformar o mundo, a
natureza e as pessoas a nossa volta pela exploração da nossa capacidade criativa no
âmbito que for.
Para Ostrower (1978, p. 16), “a natureza criativa do homem se elabora no contexto
cultural”. Podemos dizer que, independentemente da época, o homem criativo sempre
utilizou desse mecanismo para compor e edificar a sociedade e a cultura ao seu redor. À
medida que a consideramos como um aspecto inato, devemos entender que todas as
áreas de natureza humana necessitam de indivíduos criativos para pensar além. Seja na
Educação Física, com a criação de um novo jogo ou exercício, seja nas artes plásticas,
com a criação de uma belíssima pintura, na engenharia com um novo método de
construção ou na farmácia com a invenção de um medicamento revolucionário.
Uma vez que a criatividade pode ser considerada um aspecto da psique humana, ela
vem, há décadas, sendo estudada por psicólogos, terapeutas e psiquiatras. Nesse sentido,
existem diferentes abordagens que classificam os diferentes tipos de criatividade. A
abordagem personológica leva em consideração os traços motivacionais e de
personalidade do indivíduo criativo; já a abordagem cognitiva leva em consideração os
traços intelectuais e estilos cognitivos das pessoas. Na primeira abordagem, ela é
classificada entre: criatividade de talento especial (presença de algum tipo de talento,
como é o caso de poetas, artistas, inventores), ainda que, nesse sentido, alguns autores
sejam contra o uso do termo talento, já que os mesmos acreditam que a talento está
relacionado com a prática e a constância em se fazer algo. Outra classificação é
a criatividade autorrealizadora, ou seja, uma maneira de se comportar e de expressar
suas ideias. A segunda abordagem (cognitiva) faz uma relação com as informações
pessoais de um certo indivíduo perante a sua capacidade de resolução de problemas,
estímulo e demanda; dessa forma, ela pode ser dividida entre: ideacional (quantidade de
ideias), associativa (produção de variedades de relações) e expressiva (facilidade na
construção de sentenças) (DE ALENCAR, 1974).

ASSIMILE
Ainda no quesito da criatividade, Miel (1993) vai estabelecer fases para o estudo do
processo criativo. Segundo ele, a primeira é a abertura – fala quando o indivíduo se
abre para uma nova experiência; a segunda é a focalização – fala sobre tornar
consciente o que se estabelece no inconsciente; a terceira é a disciplina – compromisso
do indivíduo em seguir na caminhada; e a última é o fechamento – fala sobre a
autodescoberta.

Ao trazermos o debate para a nossa área, percebemos que o uso da criatividade entra em
declínio à medida que as pessoas se desenvolvem. Algumas pesquisas apontam que
pessoas adultas relatam usar cerca de 2% a 10% da sua capacidade criativa; segundo
elas: “A criatividade decai [...] e existe uma estreita relação entre a criatividade e a
expectativa positiva de futuro profissional” (TIBEAU, 2002, p. 3). Ainda assim, existe a
necessidade de se explorar o potencial criativo das pessoas, como um elemento capaz de
melhorar a percepção acerca da sua própria criatividade e a sua aplicabilidade para a
vida pessoal, com melhoria no trabalho e a participação ativa nas atividades em que
estão envolvidas.

REFLITA
Você se considera uma pessoa criativa? Quais foram as oportunidades que você teve na
vida para desenvolver a sua criatividade? Você participou de laboratórios de artes,
música, canto? Você desenhava quando era criança? Se sim, por que parou de desenhar?
Ao longo do nosso desenvolvimento, as atividades de cunho artístico são aquelas que
mais paramos de praticar; desse modo, as pesquisas aqui descritas corroboram o fato de
que pessoas adultas relatam usar cerca de 2% a 10% da sua capacidade criativa.

Enquanto professores e profissionais da área, devemos levar em consideração a


importância, a dimensão e a necessidade de incentivarmos a criatividade nos nossos
alunos, criando ambientes seguros e propondo tarefas dinâmicas que estimulem a
resolução de problemas por meio da ludicidade, da cooperação e do trabalho em equipe,
aflorando, assim, a criatividade.

ESTIMULANDO O POTENCIAL CRIATIVO DOS SEUS ALUNOS

Quanto à criatividade, como dito antes, aspecto inato do ser humano e que entra em
declínio à medida que se dá o desenvolvimento e a maturação do indivíduo, existe a
urgência e a necessidade do aumento de processos de exploração livre e criativa dentro
de salas de aula. Na perspectiva dos processos pedagógicos do ensino, devemos propor
momentos de protagonismo aos alunos, ao passo que os mesmos se tornem agentes de
ensino e aprendizagem. Ou seja, não é somente o professor o único que detém o
conhecimento, ele também aprende com aqueles que estão ao seu redor, criando uma
rede de aprendizagem que será aflorada pelos processos criativos dos próprios alunos.
Tendo em mente os objetivos gerais de uma aula, por meio de dinâmicas individuais ou
em grupo, os alunos passam a ser responsáveis pela criação e a condução de uma certa
atividade. O professor pode propor um objetivo maior, como expressão corporal, ritmo
e imaginação, e, dessa forma, os alunos se organizam para construir, juntos, uma
atividade que atinja esses objetivos. Ainda assim, é importante que o professor
estabeleça o contexto da atividade, devendo, os alunos, refletirem sobre a integração de
todos os membros da turma, a cooperação, o lúdico, o tempo e o local dispostos para tal.
A criação desses jogos corporais depende de uma bagagem anterior dos alunos,
compreendida pelos conhecimentos prévios, pelas movimentações, técnicas e exercícios
propostos outrora pelo professor.
EXEMPLIFICANDO
O professor, nesse momento, deve oferecer uma série de conteúdos que dialoguem com
esse processo de pesquisa e criação em jogos teatrais. Sugerimos que os alunos
consultem vídeos, gibis, livros etc. com o intuito de aumentar as suas referências,
colaborando para o seu processo criativo.

Destacamos a urgência e a necessidade do desenvolvimento desses aspectos como


princípios inerentes à educação física. Dessa maneira, as atividades aqui propostas
representam uma ínfima quantidade de coisas que podem ser desenvolvidas em sala de
aula. O nosso intuito é oferecer algumas ferramentas que poderão auxiliar você ao longo
da sua jornada pedagógica. Antes de mais nada, você, profissional de EF, precisa ser um
pesquisador, ou seja, aquele que utiliza as ferramentas que estão ao seu dispor para
proporcionar um ambiente crítico, de reflexão, de cooperação, lúdico e criativo.
Enfim, acabamos a nossa primeira unidade. Esperamos que, até aqui, você tenha tido
uma visão mais clara sobre como o corpo está a favor da EF e como os elementos
expressivos e criativos atuam a favor do desenvolvimento pessoal e social dos seus
alunos. Esperamos que, nas próximas unidades, mais conhecimentos se agreguem a
você e que se sinta cada vez mais capaz de trabalhar com a expressão corporal e a dança
dentro das salas de aula. Boa jornada!

REFERÊNCIAS

ANDRADE, D. El-J. O lúdico e o sério: experiências com jogos no ensino de


história. História & Ensino, [S. l.], v. 13, p. 91-106, 2007.
BLICK, R.; CHRISTOFOLETTI, J. F. Jogos teatrais como conteúdo na educação
física. Curitiba: Secretaria de Estado da Educação; SEED/PR, 2011.
DE ALENCAR, E. M. L. S. Um estudo de criatividade. Arquivos Brasileiros de
Psicologia Aplicada, [S. l.], v. 26, n. 2, p. 59-68, 1974.
HUIZINGA, F. J. Homo Ludens: o jogo como elemento de cultura. 4. ed. São Paulo:
Perspectiva, 1996.
KOUDELA, I. D. Jogos teatrais. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2006.
MIEL, A. (Org). Criatividade no ensino. 4. ed. São Paulo: IBRASA, 1993.
OSTROWER, F. Criatividade e processos de criação. 1978.
TIBEAU, C. C. P. Entraves para a compreensão da criatividade no ensino e na formação
do profissional de educação física. Revista Digital EF Deportes, Buenos Aires, v. 8,
2002.

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO

EXPRESSÃO CORPORAL CRIATIVA


Kaio César Celli Mota

SEM MEDO DE ERRAR


Olá, estudante! Agora chegou o momento de revisitarmos a nossa situação-problema.
Como dito anteriormente, você é professor de circo de uma turma extracurricular da
escola em que trabalha e, para o Dia das Mães, decidiu, com seus alunos, montar uma
apresentação com o tema palhaços. Para o desenvolvimento dessa cena, a turma usará a
teatralidade, comicidade, ludicidade e interpretação, mas antes, será preciso desenvolver
a criatividade, para que os alunos compreendam melhor os objetivos da apresentação,
assim como a sua relação com o tema.
Frente a isso, como estimular os alunos a desenvolver essa criatividade? E como os
jogos teatrais auxiliam nos objetivos dessa apresentação? Esperamos que, ao longo da
seção, você tenha compreendido como os jogos teatrais podem ser utilizados a favor da
Educação Física para estimular os processos criativos, desenvolvendo a expressividade
por meio de técnicas do teatro, bem como a ludicidade, o trabalho em equipe e a
resolução de problemas.
Ainda nesse sentido, quando questionamos como dar espaço de protagonismo ao aluno
para a construção desse trabalho coletivo? Esperamos que você entenda que os
processos educativos e pedagógicos com foco no aluno, possibilitam que eles sejam
agentes da ação e passem a construir juntos com o professor e os demais colegas
alternativas de ensino. Muitas vezes, ao darmos esse espaço, outras temáticas podem
surgir e servir como um guia de desenvolvimento de uma certa atividade.
Especificamente no final desta seção, propomos que o professor estimule o aluno na
criação dos próprios jogos teatrais, à medida em que tenha sido oferecido anteriormente
o acesso a diversas ferramentas que o auxiliarão a compor a gama de conhecimentos
necessários para essa “criação”.
Lembre-se de que a Educação Física, enquanto essa área tão ampla, deve usar as
ferramentas que estão ao seu dispor para atingir os objetivos necessários ao
desenvolvimento integral dos seus alunos. Corpo, mente e movimento são a mesma
esfera de uma mesma coisa, e quando propomos processos reflexivos e críticos, estamos
atuando a favor de uma boa educação.
Enquanto professor de circo, você usou d ferramenta dos jogos teatrais para desenvolver
a criatividade dos seus alunos. Sendo assim, vocês foram capazes de preparar uma bela
apresentação de Dia das Mães.

AVANÇANDO NA PRÁTICA

O LIVRO DOS JOGOS TEATRAIS


Digamos que você seja professor assistente de uma escola e que, para o próximo ano, as
turmas do Ensino Fundamental I e II irão desenvolver um conteúdo interdisciplinar
entre a Educação Física e o Teatro. Você foi convidado para desenvolver, com os
alunos, um livro de jogos teatrais; nele, deve conter uma série de jogos e brincadeiras
que envolvam elementos técnicos do circo (pantomima, por exemplo), além do trabalho
com o corpo (preparação cênica, uso do espaço, ritmo etc.). Quais são os elementos que
devem constar nesse livro? Como desenvolver esse trabalho com as turmas?

RESOLUÇÃO

Para a produção desse livro, você deve, em primeiro lugar, desenvolver exercícios com
a turma, para que ela compreenda do que se trata os jogos teatrais, de dramatização e
mímica. Nesse sentido, propomos que o professor pesquise atividades focando
criatividade, ludicidade, cooperação, projeção de voz, pantomima etc. Sugerimos,
também, alguns dos jogos que estão descritos neste livro (boneca de pano, jogo do
espelho, faz de conta que, telefonema com emoção etc.). Ainda assim, o professor pode
dividir a turma em pequenos grupos para que cada um desenvolva um jogo a sua
escolha, respeitando os objetivos propostos e o contexto da turma. Depois disso, vocês
podem condensar e organizar todo o conteúdo no formato de um livro.

NÃ O PODE FALTAR

CONCEITOS DE CONSCIÊNCIA
CORPORAL
Kaio César Celli Mota

CONVITE AO ESTUDO

Olá, estudante! Que bom que chegamos até aqui.


Nesta unidade, iremos nos debruçar sobre a questão da consciência corporal, destacando
a importância do seu desenvolvimento dentro da educação física (EF), tanto em salas de
aula como em ginásios, estúdios de dança ou academias de ginástica.
Você, futuro profissional do corpo, já deve ter notado como alguns gestos e movimentos
se tornam mais efetivos quando bem executados nos “pormenores”. Quando um
atleta/aluno entende os caminhos do seu corpo, ele é capaz de avaliar, analisar e
executar um certo movimento com maior maestria.
Ao longo desta segunda unidade, esperamos que você compreenda melhor os conceitos
de consciência corporal e que seja, sobretudo, capaz de desenvolvê-los dentro das suas
aulas. É urgente a necessidade de repensarmos os modelos tradicionais de EF e
ampliarmos os debates em sala de aula sobre toda a complexidade e subjetividade do
corpo. É sabido que, à medida que o indivíduo se conhece, ele reconhece suas
potencialidades e suas dificuldades; dessa forma, ele se torna mais consciente do
trabalho necessário para o seu “bom” desenvolvimento. Somos nós, profissionais da EF,
os responsáveis por apresentá-los, novamente, aos seus próprios corpos, integrando o
sujeito, que também é corpo e mente.
Sendo assim, na Seção 1, iremos abordar alguns conceitos gerais sobre consciência
corporal sob os aspectos de equilíbrio, esquema corporal, lateralidade e ritmo. Na Seção
2, veremos algumas noções básicas de postura a partir de algumas atividades práticas,
em que discutiremos a orientação espacial, a percepção e a transferência de peso. Na
Seção 3, por fim, falaremos sobre o eixo equilíbrio, peso e contrapeso por meio da
condução e da coordenação motora fina e da coordenação motora global.
Esperamos que esses assuntos se tornem cada vez mais presentes nas suas aulas. Bons
Estudos!
PRATICAR PARA APRENDER

Existe um antigo discurso dentro da EF sobre os modelos tecnicistas e esportivizados


para o ensino do esporte. Durante muitos anos, predominou a ideia de um corpo
“máquina” preparado para o contexto das competições esportivas e capaz de gerar bons
resultados. Esse modelo foi, basicamente, importado para quase todas as áreas da EF e,
por muito tempo, foram deixadas de lado as discussões dos aspectos mais subjetivos e
sensíveis desse corpo.
Para elucidar nossas discussões, citamos o exemplo da Ginasta Olímpica Simone Biles,
que deixou de competir nas finais de aparelhos nas Olimpíadas de Tokyo 2021 por
razões psicológicas. Esse caso demonstra a necessidade de os profissionais de EF
compreenderem o ser humano como esse ser biológico, histórico e social repleto de
camadas que devem ser integradas com vistas ao seu completo desenvolvimento; um ser
capaz de atuar pela mudança e partilhar com seus semelhantes. Sendo assim, vemos, na
consciência corporal, um meio pelo qual o indivíduo se reconecta com a sua
corporeidade.
Para facilitar a sua compreensão, vamos construir uma situação-problema com fins de
introduzir discussões que dizem sobre a consciência corporal. Suponhamos que você é
professional de Pilates e atua num estúdio na modalidade com aparelhos e com um
público diverso. Existe uma enorme quantidade de pessoas da terceira idade que
procuram as suas aulas para reabilitação, devido a pequenas quedas, e sabemos que,
com essa faixa etária, existe uma preocupação enorme com a recuperação de lesões.
Dessa maneira, sua única solução é o desenvolvimento de uma atenção maior ao corpo,
a fim de que os movimentos da vida diária sejam executados com maior segurança e
maior desempenho. Nesse caso, um caminho possível é o desenvolvimento da
consciência corporal como um elemento que vai atuar a favor do corpo e das destrezas
físicas. Quais são os caminhos que você pode seguir? Quais as atividades que podem ser
trabalhadas, objetivando o desenvolvimento da consciência corporal? Ainda assim,
quais são os elementos inerentes à consciência corporal? É um caminho possível de ser
percorrido com a terceira idade?
Esperamos que, ao longo desta unidade, você seja capaz de refletir, questionar e
compreender a consciência corporal como um elemento pertencente à Educação Física.
À medida que o nosso aluno se conhece e se desenvolve, ele é capaz de transformar o
meio e as pessoas ao seu redor. Esperamos que essa primeira seção seja o início de uma
bela jornada. Bons Estudos!

CONCEITO-CHAVE

O CORPO EM DES(EQUILÍBRIO)

Acordamos de manhã, abrimos nossos olhos, espreguiçamo-nos, levantamos da cama e


passamos a nos equilibrar sobre os dois pés. A partir desse ponto, num jogo entre
sistema nervoso, esqueleto, musculatura e, sobretudo, as leis da física, o nosso corpo
entra em constante trabalho para manter-se em equilíbrio à medida que nos
movimentamos e realizamos as tarefas da vida diária. Numa perspectiva ainda
pormenorizada, o funcionamento ideal desse “sistema vivo” chamado corpo depende de
uma série de regulamentos internos entre os sistemas tegumentar, esquelético, muscular,
cardiovascular, respiratório, digestivo, urinário, nervoso e genital.
Uma vez que nos interessa o aspecto psicomotor que se relaciona com o movimento,
ainda mais com a dança, vamos nos debruçar sobre algumas conceituações teóricas a
respeito da temática equilíbrio, a fim de entendermos como ela faz parte da consciência
corporal e atua a favor do bom funcionamento do corpo e sua movimentação.
O equilíbrio possui um caráter instável; dessa forma, os sistemas trabalham diretamente
para restabelecer um equilíbrio, e esse caráter instável é o que garante a “movimentação
corporal”, ou seja, essa constante instabilidade e o desequilíbrio da natureza (física e
química) das coisas, fazendo com que o indivíduo tenha que se manter em busca da
“aparente” estabilidade para o bom funcionamento dos sistemas (NUNES, 2017).
Quando uma pessoa nasce, ela entra numa constante luta contra as leis da física para se
colocar em pé. Quando observamos um bebê, percebemos que, à medida que o seu
corpo se desenvolve, ele passa a se colocar em diferentes posturas e posições corporais
para melhor interagir com o espaço e as pessoas ao seu redor. Num jogo de balanços e
apoios, o bebê passa a sustentar a sua cabeça, engatinhar, sentar, levantar com apoios,
até que ele dá os primeiros passos. Os braços abertos, os passos largos, a pouca flexão
de joelhos e o balanço constante do tronco são percebidos nesse jogo de equilíbrio,
dessa forma, o ser humano vence a natureza, coloca-se de pé, enxerga novos horizontes
e se movimenta rumo a sua evolução.

EXEMPLIFICANDO
Se você tem contato com familiares ou amigos com bebês na fase dos primeiros passos,
observe como funciona a dinâmica para aprender a andar, o jogo entre membros
superiores e inferiores (braços abertos, passadas largas, pouca flexão de joelho) e
troncos. Observe, também, como, progressivamente, ele vai incorporando as técnicas
corporais necessárias ao equilíbrio e à caminhada e, assim, vai melhorando a sua
performance.

Figura 2.1 | Primeiros passos da criança


Fonte: Pexels.

A dança vai atuar nesse desequilíbrio, enquanto uma deformação técnica das ações
básicas do cotidiano, como caminhar, levantar e correr. Segundo Nunes (2017, p. 90),
“o equilíbrio e o desequilíbrio do corpo exercitado em técnicas corporais no teatro e na
dança acontece pelo uso direcionado e ampliado de uma condição que já é própria da
operacionalidade do corpo”.
Para manter-se em equilíbrio na dança, é necessário um maior esforço físico e tônus
muscular. No ballet clássico, por exemplo, para manter-se sobre a ponta dos pés, a
bailarina necessita desenvolver um bom trabalho da musculatura abdominal, membros
inferiores (região anterior, posterior e interna/medial), além das pequenas musculaturas
dos pés (quadrado plantar, por exemplo). Ainda nessa linha, no ballet clássico,
encontramos o termo “balance” para indicar o momento de equilíbrio. Segundo
Malanga (1985), esse termo é usado para indicar quando uma bailarina fica parada em
equilíbrio, geralmente, em uma posição, indicando o término de uma sequência.
Para maior compreensão, observe a imagem abaixo, na qual podemos observar a
bailarina em posição de equilíbrio (releve em quinta posição) na ponta dos pés. Neste
caso, o afastamento do centro de gravidade do seu corpo em relação à linha da
gravidade perpendicular do chão impõe um esforço muscular adicional, além de um
maior recrutamento dos ligamentos, dessa forma, é necessária uma ativação de
abdômen, da musculatura das pernas e dos pés e dos membros superiores para
sustentação dos braços na referida posição. Nesse sentido, concordamos com Nunes (p.
91, 2017):

A busca pelo equilíbrio precário, ou “de luxo”, ou a sua falta, o desequilíbrio, gera uma
infinidade de esforços de um complexo sistema de contrapesos representados pelos
ligamentos, ossos, articulações e músculos, no sentido de recuperar o equilíbrio,
condição também básica para a permanência e sobrevivência do homem.

Figura 2.2 | Bailarina clássica

Fonte: Pexels.

Num outro recorte, a dança moderna e a dança contemporânea desestabilizaram e


aproximaram esse centro de gravidade do chão, colocando o corpo numa posição de
equilíbrio “instável”, fora da linha vertical da gravidade, em que a ação muscular vai ser
maior do que a ação ligamentar (NUNES, 2017). Essas danças são marcadas pela
permanente tensão entre equilíbrio e desequilíbrio, queda e recuperação, e esse trabalho
constante vai permitir ao dançarino desenvolver uma rica performance, por meio do
ritmo, mudança de peso e eixos do corpo.
Uma vez que compreendemos o equilíbrio como um elemento ativo da consciência
corporal, é necessário que esse tipo de trabalho (equilíbrio estático e dinâmico) esteja
presente nas aulas de Educação Física. Diversas são as áreas que se apossam desse
elemento técnico como chave para um bom desempenho e uma boa performance, como
é o caso da ginástica artística e ginástica rítmica. No contexto da dança, como citamos
anteriormente, o professor pode se apossar das noções apresentadas pelo ballet clássico
ou pela dança contemporânea para desenvolver essa destreza com os seus alunos.

O ESQUEMA CORPORAL: CORPO, ESPAÇO E TEMPO


Imagine a seguinte situação: você se encontra deitado no chão de uma sala escura e, por
mais que seus olhos estejam fechados e que você não veja o espaço ao seu redor, seus
sentidos estão atentos às informações que pairam no ambiente: os sons, os cheiros da
sala, o contato do seu corpo com o chão e da roupa com a sua pele. Desse ponto em
diante, você passa a perceber o seu corpo naquele ambiente; um corpo que tem forma,
peso e que ocupa um lugar no espaço, que troca informações com os seus sentidos, que
promovem um novo estado de presença.
Essa relação espacial entre as partes do corpo que são percebidas cinestesicamente e
proprioceptivamente é chamada de esquema corporal. Para Fonseca e Gama (2008), o
esquema corporal pode ser descrito como uma interação neuromotora, que vai permitir
que o ser humano tenha consciência do seu próprio corpo no tempo e no espaço. Ainda
assim, essa interação do corpo com o espaço, o tempo e os objetos pode ser percebida
tanto em estado de repouso como de movimento (LE BOULCH, 1984); dessa forma,
podemos inferir que o esquema corporal está em constante reajuste a novas situações,
com decorrência ao desenvolvimento de novas ações, que se adequam a essas novas
situações. Esse processo é denominado plasticidade.
Para compreendermos melhor o esquema corporal, precisamos, em primeiro lugar, olhar
para alguns termos mais específicos e que são “chave” para o seu entendimento. Ao
buscarmos o de propriocepção, temos que se trata de uma sensibilidade própria aos
ossos, músculos, tendões e articulações e que fornece informações sobre a estática, o
equilíbrio e o deslocamento do corpo no espaço. Já o termo plasticidade significa
qualidade da pessoa que se adapta a variadas circunstâncias; flexibilidade.
Biologicamente, o processo do esquema corporal pode ser compreendido por meio da
anatomia e fisiologia do corpo. Para Fonseca e Gama (2008, p. 28): a área do esquema
corporal se localiza no lobo parietal inferior, parte do lobo parietal superior e sulco
temporal, recebendo informações visuais, auditivas e proprioceptivas que se integram,
permitindo que o indivíduo tenha percepção do corpo anatômico e do espaço.
Para a dança, os aspectos proprioceptivos e de plasticidade são fatores intrínsecos do
movimentar-se. Como vimos anteriormente, o esquema corporal pode ser percebido em
estado de repouso ou movimento, e são essas novas posturas, poses, posições do corpo
no espaço, com estrita ligação entre movimento, ritmo e coordenação motora, que
fazem desenvolver, no sujeito que dança e a cada nova experimentação, um reajuste do
seu esquema corporal. Assim, espera-se que o sujeito encontre um novo jeito de dançar
e de se movimentar, além de um novo caminho para se atingir algum gesto ou passo
técnico, em decorrência de uma nova percepção de si.

LATERALIDADE

No contexto da consciência corporal, outro elemento a se considerar é a lateralidade; ela


fala sobre os processos psíquicos associados à motricidade e a uma organização
intersensorial. Ainda assim, ela representa a conscientização interiorizada dos dois lados
do corpo, o esquerdo e o direito, o que orienta a noção da linha média corporal
(PACHER; FISCHER, 2003).

REFLITA
Sobre o processo de lateralização e especialização de um dos hemisférios e sobre as
suas influências, existe um fator histórico e social que alterou, durante muitos anos, o
uso de certo lado do corpo. Acreditava-se, antigamente, que o uso do lado esquerdo não
era “bom e/ou natural”, obrigando crianças a utilizarem o lado direito (para escrever,
por exemplo). Aliás, essa ação, em decorrência de uma negligência e não comprovação
científica, mais a frente, poderia gerar problemas de desenvolvimento psíquico e de
linguagem para esses indivíduos.

Figura 2.3 | Lado esquerdo e direito do corpo


Fonte: Wikimedia Commons.

Sobre a lateralização, ela desempenha importante papel sobre a especialização de um


dos hemisférios do cérebro. Durante a maturação de um indivíduo, existe a
predominância do desenvolvimento de um lado do corpo, e as ações motoras que
sucedem essa maturação influenciam a força, a preferência, a velocidade e a
coordenação motora (PACHER; FISCHER, 2003). Ela desempenha importante papel
sobre a consciência corporal, à medida que o indivíduo passa a se relacionar de forma
mais harmônica com os objetos, às imagens e os símbolos que a rodeiam.
A Educação Física, de modo geral, está fadada à lateralidade, seja no contexto dos
esportes coletivos, com a organização de jogadas, posição dos jogadores em quadra,
atacantes destros ou canhotos, seja no contexto da educação, com o fatídico drama do:
“a outra perna esquerda...”. É nosso papel propor situações que desenvolvam, de
maneira integral, os dois lados do corpo. Diante do processo de especialização de um
dos hemisférios e ao tratarmos do movimento e da coordenação motora, devemos
propor atividades que desenvolvam ambos os lados. Por mais que exista essa
preferência por um dos lados, um desenvolvimento bilateral permite que o aluno se
movimente melhor e passe a interagir de forma mais “inteligente” com os objetos e as
pessoas que o rodeiam, seja em quadra, seja no palco, seja em campo.
Existe uma dificuldade iminente por parte de pedagogas e professores de Educação
Física de compreensão e desenvolvimento do lado “direito e esquerdo” com turmas de
Educação Infantil. Diante dessa realidade, vamos propor estratégias que podem ser
adotadas em salas de aula e/ou quadras para dar suporte a sua compreensão. Estabeleça
relações visuais com a turma; utilize objetos que se encontram em determinado lado da
sala e faça com que os alunos se lembrem de que aquele objeto se encontra em um
determinado lado, por exemplo. Ainda assim, setas podem ajudar nessa orientação
(setas escritas ou coloridas, por exemplo: a seta azul aponta para direita e a seta
vermelha aponta para a esquerda). Estabeleça relações entre essas orientações espaciais
e/ou objetos com as partes do corpo da própria criança, podendo ser braços ou pernas.
A lateralidade, assim como o equilíbrio, fazem parte da consciência corporal. À medida
que o indivíduo passa a compreender os processos internos e os sistemas que atuam
sobre corpo, ele se movimenta de maneira mais efetiva. Logo, é urgente o
desenvolvimento dessas destrezas como sendo fundamentais para a Educação Física
como um todo.

UMA BREVE INTRODUÇÃO AO RITMO

Antes de adentrarmos nesse assunto, queremos lhe propor uma experiência: coloque a
mão sobre o seu peito, do lado esquerdo, e sinta as batidas do seu coração. Esse
movimento de sístole e diástole faz com que o sangue arterial e venoso percorra todo o
seu corpo. Essa constância de batidas pode ser chamada de “ritmo cardíaco”, e, ainda
assim, ele é alterado à medida que nos movimentamos ou estamos em repouso.
Perceba que o ritmo faz parte de todo processo da natureza, do movimento de rotação da
terra às cheias das marés e ao crescimento de uma árvore, bem como de aspectos
humanos, como andar, correr, mastigar e falar. Tratando-se de um elemento intrínseco
ao ser humano, o ritmo pode ser compreendido pela perspectiva do movimento e, ainda
mais, do movimento “ritmado e estético”. Para Sborquia (2014, p. 20): o ritmo faz parte
da própria essência do ser, e o meio em que se vive também é rítmico em sua natureza.
ASSIMILE
Etimologicamente, entendemos que a palavra ritmo vem do grego, da palavra rheis, que
pode significar fluir, correr. Ainda em grego, ela pode ser associada à palavra rhytmos,
significando aquilo que se move, aquilo que fui (SBORQUIA, 2014).

Diante da complexidade do fenômeno e da busca constante de suas significações, em


1968, Hanebuth com outros pesquisadores da área de EF procuraram, por meio de uma
análise científico-filosófica, esclarecer o conceito de ritmo diante da EF e o corpo.
Dessa forma, para eles, ele pode ser compreendido como um elemento único, sendo que
os componentes que atuam a seu favor é que se modificam, ou seja, força, tempo e
espaço. Ainda nesse estudo, foi constatado que, quando um sujeito se movimenta de
forma adequada para uma certa atividade, ele se move de forma rítmica e global.
Ao nos aproximarmos com a EF, fazemos um recorte para as atividades físicas de cunho
estético, especialmente aquelas que têm um caráter artístico e performático. Podemos
dizer que a dança e a ginástica rítmica, por exemplo, são modalidades que dependem,
em grande parte, do “ritmo”: dos atletas/dançarinos, da música, da manipulação de um
certo objeto, do tempo e das colocações no espaço. Dessa forma, concordamos com
Sborquia (2014, p. 21), que disse: “As noções de movimento (sentido de fluir), ordem e
medida estão sempre associadas ao fenômeno ritmo. Esta característica métrica deve-se
ao fato de que uma ação, para ser considerada rítmica, deve possuir certa ordem e
proporção no tempo e no espaço”.
De maneira sucinta, introduzimos a assunto ritmo para que você possa, a partir desse
ponto, refletir sobre todas as suas ações pedagógicas com base nele. Mais adiante, na
Unidade 3, iremos nos aprofundar nesse assunto, olhando para ele sobre diversas
perspectivas. Esperamos que, até aqui, nossas discussões tenham feito sentido para você
e se sinta cada vez mais seguro para desenvolvê-lo suas aulas.
Esperamos acompanhá-lo até o final da disciplina. Bons Estudos!

REFERÊNCIAS

FONSECA, C. C.; GAMA, E. F. Esquema corporal, imagem corporal e aspectos


motivacionais na dança de salão. Dissertação (Mestrado em Educação Física) –
Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2008.
HANEBUTH, O. El ritmo em lá educación física: bases para perfeccionar el
movimento. [S. l.]: Editorial Paidós,1968.
LE BOULCH, J. Educação psicomotora: a psicocinética na idade escolar. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1984.
MALANGA, E. B. Comunicação e balé. São Paulo, EDIMA, 1985.
NUNES, S. M. O corpo em equilíbrio, desequilíbrio e fora do
equilíbrio. Urdimento – Revista de Estudos em Artes Cênicas, Florianópolis, v. 1, n.
4, p. 90-99, 2017.
PACHER, L. A. G.; FISCHER, J. Lateralidade e educação física. Revista Leo-
nardo, [S. l.], v. 1,n. 3, 2003.
SBORQUIA, S. P. As manifestações rítmicas e expressivas: sentidos e significados na
Educação Física. In: SBORQUIA, S. P. Dança e Educação Física: diálogos possíveis,
Várzea Paulista: Editora Fontoura, 2014.
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO

CONCEITOS DE CONSCIÊNCIA
CORPORAL
Kaio César Celli Mota

SEM MEDO DE ERRAR

Chegou o momento de retornarmos a nossa situação-problema e esperamos que as


discussões que fizemos até aqui tenham colaborado para o seu conhecimento. Neste
ponto, supomos uma situação hipotética em que você é um profissional de EF que atua
na área do Pilates. Recentemente, uma enorme quantidade de pessoas da terceira idade
procuraram o Studio onde você trabalha, buscando uma recuperação e prevenção de
lesões. Até aqui, sabemos que um trabalho efetivo, com foco num treinamento global,
atua a favor das destrezas físicas, como força e flexibilidade, ainda assim, julgamos que
um trabalho com vista na “consciência corporal” pode atuar para favorecer a prevenção
de lesões. Esse tipo de trabalho ensina o aluno a olhar de uma outra maneira para o seu
próprio corpo, partindo de uma consciência maior sobre as suas movimentações; dessa
forma entendemos que a consciência corporal é fator fundamental para o
desenvolvimento de um corpo saudável, mais ativo e dinâmico.
Quando o questionamos sobre quais os caminhos que você pode seguir e quais os
elementos inerentes à consciência corporal, entendemos que (até o momento) que são as
atividades que envolvem o ritmo, lateralização, equilíbrio e o esquema corporal.
Ademais, quando queremos saber se é um caminho possível a ser percorrido com a
faixa etária da terceira idade, compreendemos que a consciência corporal pode (e deve)
ser desenvolvida com todas as idades. Obviamente, existem diferentes tipos de
abordagens que levam em consideração a maturação e o desenvolvimento do indivíduo,
porém é importante o desenvolvimento desse aspecto num sentido global.
Esperamos que, com as nossas discussões, esse assunto tenha ficado mais claro para
você. Cabe, agora, a particularidade do contexto em que você atua, responsável por
desenvolver certa atividade que se adeque melhor ao perfil e a faixa etária dos seus
alunos. Ademais, assuma o conteúdo da consciência corporal, como um elemento
fundamental para a Educação Física. Bons estudos!

AVANÇANDO NA PRÁTICA

O ESQUEMA CORPORAL – PARA CRIANÇAS!


Suponhamos que você é um professor de Educação Física e trabalha com o Ensino
Fundamental. I. Como tema a ser desenvolvido no bimestre, temos a consciência
corporal com foco no desenvolvimento do “esquema corporal”. Sendo um assunto tão
complexo, como iniciar essas discussões em sala de aula? Ainda mais, qual atividade
propor como introdutória nessas discussões?

RESOLUÇÃO

Antes de mais nada, é preciso fazer com que as crianças entendam que elas possuem (e
são) um corpo. O professor pode propor atividades de reconhecimento das partes do
corpo, em que os próprios alunos se tocam e percebem volume, temperatura, textura da
pele, membro, músculos etc. No demais, outra atividade pode ser proposta, em que eles
desenham o contorno dos seus corpos numa folha de papel Kraft e, em seguida,
colorem/completam-no da forma como eles se veem. Esses aspectos fazem desenvolver
uma consciência de si próprio, do espaço e do tempo.

NÃ O PODE FALTAR

NOÇÕES BÁSICAS DE POSTURA


Kaio César Celli Mota

PRATICAR PARA APRENDER

Olá, estudante. Que bom que chegamos até aqui! Esperamos que, ao longo das nossas
discussões, fique cada vez mais clara para você essa estreita ligação entre o corpo, a
expressão corporal e a consciência corporal. Ao olharmos para essas questões mais
sensíveis e subjetivas, estamos nos colocando diante de uma nova percepção do ser
humano, em que a Educação Física passa a assumir um local de atuação.
Na última unidade, vimos que o esquema corporal diz sobre o corpo, o espaço e o
tempo; dessa forma, entendemos que o ritmo (dentro da dança e, principalmente, do
movimento estético e ritmado) estabelece uma relação harmônica entre os elementos
citados anteriormente. Sendo assim, é necessário entendermos quais são essas relações e
como a orientação espacial e temporal e a transferência do peso, por exemplo, podem
auxiliar um indivíduo a se colocar no espaço, saber quais são os caminhos possíveis de
deslocamento e como se comportar diante de diferentes ritmos e velocidades de uma
música.
Para clarear as discussões, vamos propor uma situação-problema e esperamos que, ao
longo desta seção, você tenha os instrumentos necessários para refletir e solucionar tal
situação. Suponhamos que você seja um professor de dança que precisa desenvolver as
habilidades espaciais e temporais dos seus alunos. Você, no entanto, percebeu uma
dificuldade, por parte dos alunos, de se posicionem no espaço da sala, assim como para
estabelecer um ritmo e uma contagem na música; diante disso, de que forma você pode
solucionar tais problemas? Quais são as atividades que objetivam desenvolver tais
habilidades? Além disso, como tais conhecimentos transcendem a área da dança e
podem colaborar para as demais áreas da Educação Física?
É urgente olharmos para a Educação Física como essa área mais ampla, que entende o
ser humano como um ser biológico, histórico e social. À medida que nos aprofundamos
nas discussões, fica evidente a necessidade de ampliarmos as nossas áreas de
conhecimento e propormos situações diversas que estimulem a real capacidade dos
alunos.
Esperamos que os assuntos fiquem mais claros para você! Boa jornada e bons estudos!

CONCEITO-CHAVE

A ORIENTAÇÃO ESPACIAL

Digamos que você acordou no meio da noite com vontade de ir ao banheiro; você se
levantou, calçou os chinelos e, ainda meio sonolento, caminhou até lá. Durante esse
percurso, suas pálpebras meio pesadas não permitiram que seus olhos ficassem
completamente abertos, mas mesmo assim (e sem imprevistos), você foi capaz de achar
o caminho até o banheiro, como se o seu cérebro tivesse decorado a posição exata dos
móveis, das portas, a quantidade de passos e os obstáculos do percurso. Foi devido a sua
“orientação espacial” que você foi capaz de realizar esse caminho.
Para Locatelli (2007), a orientação espacial fala sobre a condição de comportamento de
um indivíduo diante de espaços construídos ou naturais, bem como sobre o caminho em
que uma pessoa está e até onde pretende chegar. Ela também pode ser compreendida
como uma série de processos mentais e cognitivos, que indicam símbolos e locais que
guiam um indivíduo em movimento. Cabe destacarmos que a escolha dos padrões de
movimento é intencional.

ASSIMILE
Repare que a orientação espacial pode estar relacionada a uma condição de movimento
de um indivíduo perante o espaço que ocupa. Segundo Passini (1992), durante a etapa 3
(execução), o indivíduo, por meio das ações corporais (ex.: caminhar, correr, saltar),
executa a ação motora do corpo, parente o espaço, no sentido do deslocamento.

A orientação espacial pode, também, estar relacionada a decisões “navegacionais”. Para


Passini (1992), essa noção de orientação espacial é definida como “resolução de
problemas espaciais”, indicando três etapas para o seu desenvolvimento: 1. Formação
de mapas cognitivos; 2. Tomada de decisão; 3. Execução.
Com base nos conceitos apresentados acima, proporemos um caminho possível de ser
trabalhado com “a orientação espacial” em diferentes contextos da Educação Física,
mas devemos lembrar que essa é apenas uma das inúmeras abordagens sobre esse
aspecto, sendo assim, decidimos nos orientar por ela. Levando em consideração que a
maioria de nós, profissionais, atua em salas de aula e/ou quadras, temos, como espaço,
esse quadrado ou retângulo (bidimensional) cercado de paredes ou grades. Desse ponto
em diante, definimos uma orientação nesse espaço para ser chamada de “FRENTE”, que
receberá o número um (1); a partir desse ponto 1 e em sentido horário, os demais pontos
da sala também receberão uma numeração, incluindo os cantos da sala, as paredes
laterais e do fundo. Dessa forma, temos que:

 Ponto 1 = frente da sala.


 Ponto 2 = canto direito frente.
 Ponto 3 = lado direito da sala.
 Ponto 4 = canto direito fundo.
 Ponto 5 = fundo da sala.
 Ponto 6 = canto esquerdo fundo.
 Ponto 7 = lado esquerdo da sala.
 Ponto 8 = canto esquerdo frente.

Observe a imagem abaixo para elucidar melhor os conceitos:

Figura 2.4 | Lados, números e diagonais da sala

Fonte: elaborada pelo autor.

Tal modelo de orientação foi importado do ballet clássico, que utiliza essa linguagem
para situar melhor os bailarinos no espaço. É comum, em estágios mais avançados dessa
prática, que os professores apenas indiquem o nome do passo seguido do número
(direção) em que ele será executado. Por exemplo: Grand Plié para o canto dois =
grande flexão de joelhos com o corpo posicionado em direção ao canto da frente
direito.
Ainda nesse esquema, temos as “diagonais” como uma direção que indica uma linha
que parte de um canto da sala em direção ao seu oposto. Na dança, as diagonais são
utilizadas para exercícios de deslocamentos, saltos, giros e composições coreográficas, e
entendemos como diagonal direita aquela que começa no canto esquerdo do fundo e
termina no canto direito da frente (logo, de 6 para 2), já a diagonal esquerda é aquela
que começa no canto direito fundo e segue para o canto esquerdo frente (logo, de 4 para
8). Diante do esquema apresentado, indicamos que você, profissional, faça uma série de
experimentações que desenvolvam a orientação espacial como aspecto fundamental do
esquema corporal.

EXEMPLIFICANDO
São comuns, nas aulas de dança (dança contemporânea, jazz, ballet clássico, dança
moderna e popular), as chamadas “diagonais”. Como dissemos anteriormente, elas
podem ser compreendidas como o caminho de deslocamento de um canto para o outro
da sala. Durante as diagonais, podem ser desenvolvidas:
 Caminhadas, como catwalk – jazz dance.
 Giros, como piquet tour e chainé – ballet clássico.
 Rolamento, como cambalhota – dança contemporânea.

Dessa maneira, propomos o “jogo da memória”, que objetiva o desenvolvimento da


orientação espacial com base na esquematização dos números, cantos e frentes da sala
apresentados pelo professor. Para começar, os alunos devem estar virados para a frente
(definida pelo professor) e com os olhos vendados; a partir desse ponto, o professor
deve falar os números da sala e os alunos devem virar os seus corpos na direção
correspondente. Num primeiro momento, os números podem ser falados em sequência,
para que os ajustes corporais sejam mínimos, na rodada seguinte, é interessante que os
números sejam falados aleatoriamente, devendo, o aluno, levar em consideração sua
atual posição para se virar em direção à nova posição; desenvolvendo uma consciência
maior do seu corpo e do lugar que ocupa no espaço.

ORIENTAÇÃO TEMPORAL

O termo orientação pode ser compreendido como uma direção que impulsiona alguém
para determinada coisa. Como vimos anteriormente, a orientação espacial fala sobre a
relação da pessoa com o espaço que a cerca, os objetos e os outros. Quando tratamos da
orientação temporal, percebemos uma estrita relação com o ritmo, o tempo musical e,
mais especificamente, com a área, o movimento, a dança, a ginástica etc.
As atividades físicas de cunho expressivo e estético dependem (em sua maioria) de um
fator externo musical, representado por aparelhos de som, playlists e uma série de
músicas. Para que os movimentos propostos funcionem no “ritmo da música”, é
necessário o desenvolvimento de uma percepção auditiva mais apurada, que se relaciona
com a harmonia e a contagem musical. Para Cordero (2014), o ritmo é trabalhado na
orientação temporal e, ainda assim, é um dos elementos básicos da psicomotricidade.
Sendo assim, é urgente que se desenvolva esse elemento a partir da primeira infância,
com foco na melhoria a longo prazo das relações do corpo e do movimento. Para Muller
e Tafner (2007, p. 102):

As atividades rítmicas estimulam, nas crianças, a coordenação, o equilíbrio, a


flexibilidade e o freio inibitório; concentram a atenção; economizam esforços; dão
segurança rítmica e educação sensorial; levam à obtenção do relaxamento muscular, da
postura e da percepção auditiva e visual, despertam a criatividade e a expressão
corporal.

Ao compreendermos o tempo como algo linear, existe uma série de sucessões de


instantes que acontecem antes, após e durante determinado momento. Para a dança e a
música, por exemplo, essa sucessão linear de instantes pode ser representada por uma
contagem musical. Músicas quaternárias (que são a maioria das músicas a que temos
acesso) são feitas a partir de uma contagem de “oito tempos”, que se repetem durante o
seu desenvolvimento, e entre os tempos musicais, encontramos os “intervalos”, que
também funcionam na arquitetura da música e podem ser usados com instrumentos de
“contratempo”, em que a contagem pode ser dobrada e acelerada. Assim, teremos a
contagem:

1–2–3–4–5–6–7–8/1-2–3–4–5–6–7–8/1–2–3–4–5–6–7–8
Na dança, existe uma estrita ligação entre a execução de um determinado passo,
movimento ou gesto técnico em sincronia com o tempo da música. A maioria dos
profissionais cria as suas sequências e/ou coreografias levando em consideração uma
contagem que será replicada mais a frente pelos alunos, e essa replicação e/ou repetição
de uma sequência coreográfica na contagem musical pode promover uma
conscientização maior acerca da orientação temporal. Para De Meur e Staes (1984), ela
é a capacidade de um indivíduo situar-se em função da sucessão dos acontecimentos
(antes, após e durante) e da duração dos intervalos.
Diante dos nossos conceitos e esclarecimentos, propomos, agora, um exercício com a
finalidade de desenvolver a percepção temporal, o ritmo e a contagem musical. Para
essa atividade, o espaço pode ser a sala de aula ou a quadra; já o material consiste em
um aparelho de som. O professor deve, anteriormente, montar uma “playlist” com
diferentes músicas, ritmos, velocidades e contagens; como introdução à atividade, os
alunos devem se colocar espalhados pelo espaço e, orientados pelo professor, achar a
contagem da música batendo palmas junto com ele. A seguir, eles devem passam a se
movimentar de acordo com o ritmo da música, ou seja, cada passo deve acontecer em
uma contagem musical.
Após a fixação do tempo, o professor pode propor diferentes dinâmicas corporais em
diferentes contagens. Por exemplo: andar em 4 tempos e parar em 4 tempos; andar em 4
tempos, parar em 4 tempos, jogar o braço para cima 4 vezes. As dinâmicas podem ser
das mais diversas, contanto que envolva a utilização dos membros, tronco e cabeça.
Com o aumento da complexidade da atividade, o professor pode reduzir o tempo de
execução dos movimentos e da música.

OUTROS TIPOS DE PERCEPÇÃO

Até o presente momento, falamos sobre as relações do corpo, o espaço e o tempo,


trazendo conceituações e atividades sobre orientação espacial e temporal, no entanto, no
que diz respeito ao corpo e suas múltiplas camadas, estamos diante de um complexo
sistema que deve ser estimulado em seus infinitos caminhos, técnicas e experiências.
Até o momento, sobretudo pela orientação espacial, percebemos que a visão representou
o principal sentido (quando tratamos de processos neurais e motores), que orienta,
posiciona e reconhece o corpo e o espaço em que se está. Para Silva (2012, p. 9) “A
visão humana representa o principal sentido no processo de percepção do mundo
exterior”.
Ainda assim, ao tratarmos de todos os outros sentidos do corpo, existem campos
gigantescos que, quando navegados, garantem que o indivíduo reconheça a si próprio e
o mundo por meio de uma nova percepção. Sendo assim, acreditamos que estímulos
com o tato, olfato e paladar devem ser incluídos durante os trabalhos de consciência
corporal.

Figura 2.5 | Órgãos relacionados com os sentidos do corpo


Fonte: Wikimedia Commons.

Para os mamíferos, por exemplo, o olfato opera nas funções de socialização,


alimentação, seleção sexual e acasalamento (SCHIFFMAN, 2005); já o tato deve ser
compreendido para além do uso exclusivo das mãos, sendo toda a pele do corpo
responsável pela sensação. Para Schiffman (2005, p. 30), a pele é: “[...] como órgão
sensorial a pele contém em seu interior terminações nervosas especializadas que lhe
permitem ser estimulada de diversas maneiras, a fim de mediar diferentes sensações”.
Já o paladar pode ser compreendido como um sentido que oferece as sensações
relacionadas ao gosto, como amargo, doce, azedo etc., e está relacionado com as papilas
gustativas, encontradas na região da língua.
REFLITA
Entenda que é preciso, sobretudo na nossa área, compreender o ser humano como um
ser complexo, múltiplo e cheio de camadas. Se lhe negamos diferentes tipos de
experiência e, nesse sentido, o despertar para outros tipos de percepção, estamos agindo
contra o desenvolvimento integral desse corpo e agindo contra a EF ao colaborarmos
com os discursos mecânicos e tecnicistas postos em voga até os dias de hoje.

A fim de que essas experiências perceptivas sejam ampliadas e que outros caminhos
com outros sentidos do corpo sejam explorados, propomos a seguinte atividade: “O
toque e o cheiro das coisas”, que pode ser desenvolvida na sala de aula ou quadra e
cujos materiais podem ser de diversos tipos. Para a realização da atividade, o professor
pode pedir para que os alunos peguem um objeto qualquer que eles têm na bolsa ou
selecionar objetos aleatórios presentes no local da aula (ex.: bolas, coletes, anilhas,
cones, cadernos, livros, chave, canetas etc.).
Na primeira etapa, a fim de se estimular o tato, um aluno por vez deve ser vendado e um
objeto aleatório deve ser escolhido para ele; os demais colegas não podem denunciar
qual objeto está sendo usado, desenvolvendo um senso de coletividade para a
brincadeira. A seguir, tal material deve ser colocado à sua frente e o aluno deve tentar
adivinhar do que se trata; a princípio, podem ser usadas as mãos, mas em outro
momento, a fim de deixar a atividade mais complexa, o professor pode encosta o objeto
em diferentes partes do corpo do aluno, que deve tentar adivinhar sem o uso das mãos.
Na segunda etapa, o sentido estimulado será o olfato, logo, com a venda nos olhos (pode
ser utilizado um colete, camisa ou tecido qualquer) e um objeto apoiado numa mesa, o
aluno deverá adivinhar o objeto por meio do olfato, ou seja, cheirando-o. Nesse caso,
deve-se tomar cuidado para que o aluno não encoste as mãos no objeto, respeitando o
uso somente do nariz e do olfato.

TRANSFERÊNCIA DE PESO

Desde o momento em que nos posicionamos de pé, existe uma atuação entre as partes
do nosso corpo para se colocarem em equilíbrio, distribuindo o peso corporal entre os
membros a fim de se prepararem para o movimento. Para a caminhada, por exemplo,
existe uma alternância entre a passada das pernas direita e esquerda; durante esse
movimento, ocorre uma distribuição do peso corporal em sentido à perna de apoio, ou
seja, o centro de massa é deslocado para a direita e para a esquerda, e esse é um
exemplo básico de como o nosso corpo atua em constante reajustes para os diferentes
posicionamentos no espaço.
A transferência de peso pode ser compreendida na dança como um momento de
preparação para um movimento, ou seja, transferir o peso de uma das pernas para a
outra ou de uma perna para o centro do corpo. Quando se está em pé e parado, o peso é
dividido igualmente nas duas pernas e a sua capacidade fundamental pode ser
considerada a coordenação, já as capacidades secundárias são: equilíbrio, orientação
espaço-temporal, resistência, ritmo, agilidade (PITTA, 2019).
No ballet clássico, por exemplo, existe um passo chamado “Temps Lié”, com tradução
de: tempo ligado ou movimento conectado, que indica uma transferência de peso entre
as pernas numa sequência de passos e movimentos realizados em diferentes posições.
Ele é um importante exercício, geralmente utilizado na prática de centro (meio da sala
sem o auxílio da barra), que visa a ensinar o controle e o equilíbrio durante a
transferência de peso do corpo de uma posição para outra, de modo que a(o) bailarina(o)
o alcance por meio da suavidade e do ritmo (AYVAZOĞLU, 2015).
De modo a desenvolver a transferência de peso, propomos a seguinte atividade:
“amarelinha”, que é um clássico exercício para a obtenção de equilíbrio, coordenação
motora, centro de massa (peso) e transferências; para isso, o professor pode utilizar um
giz, para desenhar o trajeto no chão da sala ou da quadra. A brincadeira faz com que o
aluno tenha que avançar no trajeto alternando o apoio das pernas de uma para duas. A
fim de aumentar a complexidade, o professor pode aumentar o trajeto (de 10 para 20
casas, por exemplo) e, ainda, colocar desafios durante o percurso (ex.: na casa 8, o aluno
precisa fazer um agachamento; na casa 12, o aluno precisa dar um giro).

Figura 2.6 | Amarelinha

Fonte: Wikimedia Commons.

Nesta seção, debruçamo-nos sobre alguns aspectos importantes da consciência corporal.


Como vimos até agora, é preciso, urgentemente, que a Educação Física seja vista como
uma área que atua a favor do desenvolvimento integral do ser humano, logo,
acreditamos que, ao trabalhar esses aspectos nas suas aulas, seus alunos terão cada vez
mais contato com as diversas possibilidades de seus corpos. Esperamos que as próximas
discussões agreguem mais conhecimento. Boa Jornada!

REFERÊNCIAS

AYVAZOĞLU, S. The first level of vaganova ballet syllabus (vaganova bale


müfredatinin ilk yili). Art-Sanat, [S. l.], n. 3, p. 181-195, 2015.
CORDERO, O. H. G. A música, o ritmo e a educação física. Revista Científica
FAEMA, [S. l.], v. 5, n. 2, 2014.
DE MEUR, A.; STAES, L. Psicomotricidade: educação e reeducação. São
Paulo: Manole, 1984.
LOCATELLI, L. Orientação espacial e características urbanas. 2007. Dissertação
(Mestrado em Planejamento Urbano e Regional) – Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007.
MULLER, R. Z.; TAFNER, E. P. Desenvolvendo o ritmo nas aulas de educação física
em crianças de 3 a 6 anos. Revista de divulgação técnico-científica do ICPG, [S. l.],
v. 3, n. 11, p. 101-105, jul./dez. 2007.
PASSINI, R. Wayfinding in architecture. New York: Van Nostrand Reinlhold, 1992.
PITTA, F. M. Taxonomia psicomotora de um sistema de atividade motora de dança
para seis estilos de dança: uma validação do método de consenso Delphi. 2019.
Dissertação (Mestrado em Ciências da Reabilitação) – Faculdade de Medicina,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019.
SCHIFFMAN, H. R. Sensação e percepção. Rio de Janeiro: LTC, 2005.
SILVA, H. M. da. Sensação e percepção em ensaio sobre a cegueira, de José
Saramago. In: ENCONTRO DA ABRALIC,
13., 2012, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UEPB/UFCG, 2012.

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO

NOÇÕES BÁSICAS DE POSTURA


Kaio César Celli Mota

SEM MEDO DE ERRAR

Chegou o momento de retomarmos a nossa situação-problema e esperamos que, diante


das nossas últimas discussões, você se sinta mais apto para refletir e solucionar tal
situação. Enquanto professor de dança, você percebeu que seus alunos têm dificuldades
em se posicionar no espaço da sala, bem como estabelecer um ritmo e uma contagem na
música, e quanto aos questionamos sobre de que forma você poderia solucionar tais
problemas, fica evidente que os alunos precisam desenvolver as habilidades espaciais e
temporais por meio de exercícios e atividades que trabalhem os posicionamentos no
espaço, o reconhecimento do ritmo e dos tempos musicais, além, é claro, do
desenvolvimento de outros tipos de percepção.
As atividades que objetivam desenvolver tais habilidades, como as exemplificadas ao
longo desta seção, podem ser: jogo da memória com frentes e cantos da sala;
deslocamentos com dinâmicas e músicas de ritmos diferentes; o toque e o cheiro das
coisas, objetivando estimular o tato e olfato dos alunos; e, ainda, tratando-se da
transferência de peso, a amarelinha.
Nas diversas áreas da Educação Física, como as modalidades esportivas, existe uma
estreita ligação entre as habilidades técnicas dos atletas, o ritmo de jogo, o
posicionamento em campo e a quadra. Dessa forma, percebemos que, tratando-se de um
assunto mais global, tais conhecimentos transcendem a área da dança e podem colaborar
para as demais áreas da Educação Física.
Perceba como todos esses assuntos dialogam, e, em se tratando do seu futuro
profissional, quanto mais a par dessas discussões você estiver, melhor será o seu
desempenho em sala e/ou quadra, assim como o dos seus alunos/atletas.

AVANÇANDO NA PRÁTICA

O BASQUETE E SEUS POSICIONAMENTOS


Digamos que você é um técnico de basquete e que, durante os seus últimos jogos, a sua
equipe não tem se saído tão bem, devido a erros cometidos na defesa e um mau
posicionamento em quadra. Diante desse problema e a fim de buscar melhores
resultados para as próximas partidas, você precisa desenvolver a percepção espacial dos
seus atletas, para que eles passem a se posicionar corretamente em quadra.

RESOLUÇÃO

Uma das soluções para esse problema é desenvolver, nos seus alunos, a noção espacial
por meio de atividades que posicionem, orientem e definam melhor o espaço no qual
eles estão jogando. Umas das alternativas é dividir a quadra em “quadrantes” e, assim,
jogada por jogada, definir quais são as melhores opções de posicionamento levando em
consideração esses locais determinados no espaço. Enfatize as jogadas de defesa, aponte
os erros cometidos anteriormente e posicione os jogadores da melhor forma no espaço
da quadra.

NÃ O PODE FALTAR

EIXO: EQUILÍBRIO, PESO E


CONTRAPESO CORPORAL
Kaio César Celli Mota

PRATICAR PARA APRENDER

Ao nos aprofundarmos nos debates de consciência corporal, fica cada vez mais evidente
como o corpo e o movimento são assuntos muito mais complexos e dinâmicos. Fez-se
valer, por muito tempo, um discurso dentro da Educação Física (EF) que tinha como
objeto de estudo uma ideia mais superficial do corpo. No sentido técnico e mecânico, o
ser humano passou a assumir um local de objeto utilitarista, no qual mais valia os bons
resultados.
Na contramão dessa abordagem, os estudos sobre expressão corporal e consciência
corporal assumiram um lugar dentro da EF para quebrar alguns paradigmas vigentes e
assumir um contexto muito mais complexo sobre o corpo e o movimento no sentido de
que o conhecimento dessas áreas parte das experiências e percepções que nascem em
um local de inconsciência para emergir a consciência do sujeito. Dessa forma, ele passa
a atuar melhor sobre o seu corpo, no sentido de ampliar os movimentos e gestos
técnicos.
Se você é um profissional da EF e trabalha nas áreas de dança, ginásticas, ritmos,
pilates, yoga etc., tenha em mente que um dos pilares dessas áreas é a consciência
corporal. Por meio de um desenvolvimento integral do corpo, o sujeito passa a perceber
a si próprio, os outros e o mundo de uma outra forma. Sendo assim, esteja ciente de que
é de sua responsabilidade o estímulo dessas capacidades/habilidades que são intrínsecas
ao ser humano.
Para que absorva melhor os conteúdos da seção, vamos propor uma situação-problema;
esperamos que, ao longo das discussões, você tenha ferramentas suficientes para agir
sobre ela. Suponhamos que você é um professor de dança de salão que ministra aulas de
“estilos diversos” para grupos de adultos e idosos. A sua turma mais recente está com
dificuldades no quesito de condução/coordenação quando o assunto é dançar com um(a)
parceiro(a). De que forma você pode solucionar tal questão e fazer com que eles
consigam dançar em duplas? Quais são os aspectos que devem ser trabalhados nas suas
aulas? Como a consciência corporal pode auxiliar para que seus alunos desenvolvam
uma percepção sinestésica de si e do outro e passe a dançar melhor em companhia?
Esperamos que, ao final da seção, você seja capaz de responder a tais questionamentos!
Boa jornada!

CONCEITO-CHAVE

CONDUÇÃO E INDUÇÃO

Para o dicionário Michaelis, a palavra condução está relacionada ao ato ou efeito de


conduzir, levar e trazer. No sentido do movimento e da dança, a palavra condução pode
ser compreendida de diversas maneiras; por exemplo, quando o dançarino conduz a si
mesmo sobre diferentes dinâmicas, níveis e ritmos ao dançar sobre um palco; quando
um objeto pode ser conduzido em cena, compondo com o dançarino, uma série de
movimentos estéticos e poéticos; e, ainda, sobre o que mais nos interessa, a condução de
uma ou mais pessoas em trabalho de duplas ou em parcerias, como no caso das danças
de salão, ou com uma condução coletiva (de mais pessoas), como é o caso da prática do
“contact improvisation”, nas danças contemporâneas.
Para Lorandi e Cabral (2019), a condução pode ser compreendida como um movimento
que soma os fatores de fluxo (relacionado com intensidade, direção e ritmo), com as
interferências (qualidades do movimento e o meio em que se realiza) e os planos
relacionais (pré-movimento e pré-linguagem no sentido cognitivo). Ao olharmos para
um recorte mais específico, as danças de salão carregam em seu cerne uma modalidade
de dança executada em “duplas”, em que uma pessoa se torna o condutor (aquele que
conduz) e o outro o conduzido (aquele que é conduzido). Durante anos, por um conceito
relacionado ao gênero, ficou restrito o entendimento dessas duas figuras como “dama e
cavalheiro”, no sentido de que a dama representava a figura do conduzido e o cavalheiro
o condutor. Antes de mais nada, entendemos que existe a urgência da quebra de
paradigmas dentro da Educação Física, sendo assim, concordamos com Lorandi e
Mancini (2019): “A condução na dança de salão é frequentemente tratada como
princípio de ordem, hierarquia, forma, o que desconsidera aqueles e aquelas que dançam
e as especificidades do movimento partilhado por decisões de instante”.
Dessa forma, ao adotarmos os conceitos de “condutor e conduzido”, estamos ampliando
as possibilidades de configuração de duplas dentro das danças de salão para além
daquelas restritas ao gênero. Nesse sentido, diversos campeonatos de danças esportivas
estão ampliando as suas categorias para aceitarem duplas formadas por pessoas do
mesmo gênero, por exemplo.
A condução é um jogo que se faz a dois, em que as relações de força (no sentido de
esforço neuromotor aplicado ao movimento) ocorrem entre os pares; ou seja, por meio
de um jogo de estímulo-resposta, os “partners” se deslocam pelo espaço a partir de
ações musculoesqueléticas, que envolvem o posicionamento dos troncos e membros em
diferentes figuras, e sob um determinado estilo de música. Segundo RIED (2003), ela
pode ser classificada em 4 tipos: indicativa, por invasão ou ausência, corporal e gestual.
A indução está relacionada ao fato de, em uma dança para dois, um dos elementos
“induzir” o outro a fazer um movimento ou se deslocar pelo espaço por meio do seu
próprio corpo. Ela pode ser compreendida como uma evolução da “condução”, em que
os parceiros não precisam de uma condução com contato físico, necessariamente. Dessa
forma, podemos inferir que a indução pode ser realizada com menor esforço físico, na
medida em que a movimentação pode ser alcançada de forma harmônica, sincronizada,
por meio dos gestos, toques (ou não) e olhares, num movimento simbiótico entre os
parceiros.

EXEMPLIFICANDO
O termo partner corresponde ao parceiro da dança. Geralmente, esse termo é cunhado
para indicar uma dança que acontece em duplas (duas pessoas, independentemente do
gênero).

Figura 2.7 | Campeonato de danças esportivas


Fonte: Wikimedia Commons.

Para ampliar o conceito de condução, propomos as seguintes atividades:

 “Olhos fechados pelo caminho”. O exercício é feito em duplas, no ambiente da quadra


ou da sala de aula, e tem como objetivo despertar a confiança entre os membros, de
maneira que, ao se juntarem para os exercícios com contato físico, estejam em maior
sintonia e mais relaxados. A atividade consiste em guiar o outro colega da dupla (sem
contato físico, apenas pela fala) pelo espaço em que se está, e a ação pode ter como
meta sair de um ponto e chegar até o outro. Como venda, os alunos poderão usar
camisetas, casacos ou coletes.
 “Conduzindo na dança”. A segunda atividade será realizada em duplas, de mãos
dadas, pela quadra ou sala de aula. Para esse exercício, o professor precisa de um
aparelho de som e músicas de diferentes estilos. O exercício consiste nos alunos, por
meio do jogo de estímulo-resposta feito pelo contato e apoio das mãos, dançarem
livremente pelo espaço; se for do interesse do professor, ele pode ensinar algum passo
básico de algum estilo da dança de salão específico (ex.: passo básico do forró: 1-2-3),
mas indicamos que, para isso, o professor consulte e pesquise o passo com
antecedência.

COORDENAÇÃO MOTORA FINA E GLOBAL

Para que uma pessoa se movimente, existe uma série de acordos entre as partes do corpo
comandadas pelo sistema nervoso e que, juntas, atuam a favor de uma organicidade do
movimento. Esse fator pode ser conceituado como “coordenação motora”, no sentido de
organizar uma sequência lógica de passos ou movimentos, ou seja, numa cadeia motora.
Para Andrade, Barbosa e Bessa (2018, p. 2): “A coordenação é responsável pela
harmonia dos movimentos e seu desenvolvimento ocorre de acordo com a maturação do
sistema nervoso, sendo subdivida em global ou geral; viso-manual ou fina; e visual”.
Ao pensarmos no aspecto do desenvolvimento de um indivíduo, a coordenação motora
favorece a construção de novas habilidades físicas. Por meio de brincadeiras e jogos,
uma criança vai experienciar um processo de aprendizagem que colaborará para a sua
evolução motora. Os desafios corporais encontrados nos jogos objetivam o
desenvolvimento de:

 Trabalho cognitivo.
 Socialização
 Imaginação e criatividade.
 Noção de espaço.
 Raciocínio lógico.
 Equilíbrio e ritmo.

A coordenação motora global pode ser considerada aquela desenvolvida pelos


movimentos mais amplos, que envolve grandes grupos musculares que atuam em
sincronia e a favor de um certo movimento. Nas danças, por exemplo, na sua grande
maioria, os movimentos estão associados a uma coordenação motora global, já que
existe uma enorme ligação entre a execução de um certo passo e a atuação dos
membros, tronco, cabeça e musculaturas internas, no sentido de equilibrar, saltar, girar e
lançar o corpo no espaço, por exemplo.
Já a coordenação motora fina está associada àqueles movimentos mais refinados,
realizados pelos pequenos músculos. Durante o desenvolvimento de uma criança, as
atividades realizadas com as mãos (pegar pequenos objetos, desenhar e pintar,
brinquedos de montar e desmontar) vão auxiliar, mais à frente, no processo do
desenvolvimento da escrita, clássico exemplo de movimento realizado por conta de uma
coordenação motora fina.

Figura 2.8 | Criança desenhando

Fonte: Wikimedia Commons.

A fim de desenvolver coordenação motora global e fina, propomos os seguintes


exercícios:

 “Circuito de obstáculos”. A atividade deve ser desenvolvida na quadra e os materiais


utilizados são: cone, banco sueco, bambolê, corda. A atividade pode funcionar como
uma competição, na qual o professor divide a turma em duas equipes, montando dois
circuitos semelhantes para cada equipe. O circuito pode ser criado de acordo com os
interesses do professor e a disponibilidade dos materiais, mas é importante que os
obstáculos permitam que os alunos atinjam a coordenação motora global por meio de
exercícios de equilíbrio, saltos, giros, descer e subir do chão etc. A competição começa
quando o professor dá a partida e vencerá a equipe cujos participantes terminarem
primeiro.
 “Desenho criativo”. A fim de relacionar o tema com a atividade anterior, os alunos
devem desenhar, numa folha de sulfite, um “novo circuito”, levando em consideração
os materiais disponíveis para a aula. O foco dessa atividade é o desenvolvimento da
coordenação motora fina por meio das pequenas musculaturas das mãos, visando ao
auxílio na escrita e a outros trabalhos manuais (artesanato, pintura, costura etc.); além
disso, o professor pode retomar o exercício anterior experimentando, com a turma, os
novos circuitos criados pelos alunos.

PERCEPÇÃO SINESTÉSICA

Ao nos aprofundarmos na consciência corporal, vimos, na seção anterior, a necessidade


da exploração de outros tipos de percepções para compor a gama das experiências
disponíveis ao ser humano. Nesse ponto, e para além dos 5 sentidos, compreendemos a
percepção sinestésica como: “conjunto de reações determinadas pelas sensações e
percepções do movimento humano” (DE MARINIS, 2000, p. 239).
A percepção sinestésica é algo que é intrínseco à natureza humana, definitiva na
realização de toda atividade corporal (ZANANDREA, 2013) a partir das percepções que
temos de nós mesmos e das coisas ao nosso redor ao atuarmos, conscientemente, para a
edificação do meio por meio do movimentar-se.

ASSIMILE
A percepção sinestésica pode ser compreendida como o sexto sentido do corpo, ainda
assim, ela depende intrinsecamente dos outros sentidos, no quesito de fornecer
estímulos sensoriais que serão interpretados pelo sistema nervoso. Essa percepção
corresponde às sensações provocadas pelo “movimento”, que serão somadas aos outros
estímulos sensórios, colaborando para a formação da consciência corporal.

Se a Educação Física está fadada ao movimento, fica evidente que a percepção


sinestésica vai ser elemento intrínseco a ela, dessa forma, pode ser compreendida como
o “sentido do movimento”. Ela nasce da cooperação entre as entradas multissensoriais:
da visão, dos receptores vestibulares, dos proprioceptores, dos receptores cutâneos e dos
graviceptores, que são elementos localizados nos músculos, nas articulações, nas
orelhas e na pele (BERTHOZ, 1997 apud ZANADREA, 2013).
Ao tratar das artes e, especificamente, da dança e do teatro, existe uma relação direta
entre quem apresenta uma obra (dançarino ou ator) e quem a assiste (público). Zanadrea
(2017) nos diz que:
“o sentido do movimento também é primordial para que o público assimile a
complexidade do fenômeno [...] e possa reagir àquilo que está assistindo”.
Até então, acreditamos que a maioria das atividades propostas durante essas duas
primeiras unidades trabalha, invariavelmente, a percepção sinestésica quando
relacionada ao movimento humano. De modo a estimular essa percepção por outra
perspectiva, a de quem aprecia, ou seja, o público, propomos a seguinte atividade:

 “Sessão Pipoca”. A atividade pode ser realizada em sala de aula, com o auxílio de um
aparelho de vídeo. O professor deve escolher, previamente, uma apresentação de
dança da modalidade que bem lhe entender, visando à apreciação artística e estética.
Antes do início do vídeo, é importante frisar aos alunos que prestem maior atenção na
obra, de modo a perceber sentimentos, sensações e emoções da parte de quem dança
para quem assiste. Ao final do vídeo, deve-se abrir uma roda de conversa para
partilhar as impressões, e o objetivo dessa atividade é que os alunos passem a
desenvolver um gosto pela apreciação da arte, nesse caso, a dança.

REFLITA
Entenda que existe a necessidade de se estimular um senso de “apreciação”, no sentido
de público e plateia, dessa forma, à medida que você passa a propor certas atividades
nas suas aulas, faça com que os alunos se assistam e que um grupo se apresente para o
outro; estimule um ambiente em que os alunos discutam entre si sobre o que foi
assistido, ressaltando impressões, sensações e feedbacks. Se esse senso de apreciação
for desenvolvido e estimulado desde muito cedo, é esperado que esse indivíduo se torne
um adulto que (além de praticar), passe a consumir e apreciar a arte e os esportes como
elementos que provocam novas experiências e percepções.

Esperamos que os conceitos de condução, coordenação motora e percepção sinestésica


tenham ficado mais claros para você. Perceba como esses assuntos se relacionam com
tudo o que discutimos até agora, sendo que todos eles pertencem à área da consciência
corporal. Esperamos que você se sinta cada vez mais capaz de desenvolver,
futuramente, essas temáticas nas suas aulas. Até mais!

REFERÊNCIAS

ANDRADE, A. S. da S.; BARBOSA, C. C.; BESSA, S. A importância do estímulo


ao desenvolvimento da coordenação motora global e fina. In: CONGRESSO DE
INICIAÇÃO CIENTÍFICA ESTÁGIO E DOCÊNCIA DO CAMPUS FORMOSA.
2017, Formosa. Anais [...]. Formosa: Universidade Estadual de Goiás, 2017.
DE MARINIS, M. In cerca dell’attore: un bilancio del novecento teatrale. Roma:
Bulzoni Editore, 2000.
LORANDI, R. M.; MANCINI, B. S. C. Condução e danças de salão:
conducorporificação. Interfaces Brasil/Canadá, São Paulo, v. 19, n. 1, p. 104-120,
2019.
RIED, B. Fundamentos de dança de salão. São Paulo: Phorte, 2003.
ZANANDREA, A. P. O 6° sentido do ator: a importância da percepção cinestésica
no teatro. Cena em Movimento, [S. l.], n. 3, jul. 2013.

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO

EIXO: EQUILÍBRIO, PESO E


CONTRAPESO CORPORAL
Kaio César Celli Mota

SEM MEDO DE ERRAR

Chegou o momento de retomarmos a nossa situação-problema e esperamos que, até


aqui, os assuntos tenham ficado claros para você. Na situação proposta, você é um
professor de dança de salão que ministra aulas de “estilos diversos” para grupos de
adultos e idosos, e a sua turma mais recente demonstrou dificuldades no quesito de
condução/coordenação em danças de parceria (duplas).
Nesta seção, vimos que a condução deve ser compreendida como o ato de “conduzir”
algo ou alguém pelo espaço. A condução para as danças de salão funciona entre uma
série de acordos entre as duas pessoas da dupla, no sentido de ações
musculoesqueléticas que irão compor gestos, passos e posturas pelo espaço em que
estiverem.
Como meio de solucionar tal questão e fazer com que eles consigam dançar em duplas,
relembre o exercício de condução pelo espaço com os olhos fechados, estimulando um
senso de confiança e sintonia entre a dupla. Quando perguntamos quais são os aspectos
que devem ser trabalhados nas suas aulas, entendemos que, aliados à condução, devem
ser desenvolvidos aspectos da coordenação motora, ritmo, equilíbrio etc., bem como
outros tipos de experiências para além daquelas tradicionais da dança de salão, se
necessário, de modo que o aluno entenda que a consciência corporal pode auxiliar o
desenvolvimento de uma percepção sinestésica de si e do outro, passando a dançar
melhor em companhia.
Atue como um profissional mais completo e proponha as mais diversas experiências nas
suas aulas, a fim de que seus alunos se conheçam cada vez mais, passando a reconhecer
as suas dificuldades (e agindo sobre elas para melhorá-las) e suas potencialidades. Boa
Jornada!

AVANÇANDO NA PRÁTICA

A “ESTRELINHA” DA GINÁ STICA


Digamos que você seja um professor de ginástica artística que trabalha na iniciação à
ginástica com crianças de 6 a 10 anos. Durante as aulas, elas irão aprender o elemento
acrobático “estrela”, no entanto, sabendo da complexidade desse elemento, você
precisará ajudá-las a desenvolver coordenação motora. A parte desafiadora é que,
devido à faixa etária, esse assunto deverá ser abordado de forma lúdica, logo, de que
maneira você solucionará tal situação?

RESOLUÇÃO

Uma das atividades que pode ser desenvolvida é o pega-pega animal. Por meio dela, os
alunos andam em diferentes posições (alternando apoios de membros e tronco) numa
brincadeira tradicional de pega. Sendo assim: cachorro (andar em 4 apoios, pernas
flexionadas); canguru (saltar com as duas pernas juntas); caranguejo (apoio invertido de
prancha).

NÃ O PODE FALTAR

NOÇÕES DE RITMO
Kaio César Celli Mota
CONVITE AO ESTUDO

Caro estudante, passamos da metade da nossa jornada. É um prazer estar aqui contigo.
Esperamos que a partir deste ponto os assuntos estejam mais claros para você. Perceba
como até este momento construímos conceitos básicos a respeito da expressão corporal
e dança, além de termos proposto uma série de atividades práticas que concretizam os
temas trabalhados até o devido momento. Na unidade anterior, começamos a introduzir
o conceito de ritmo, só que, a partir de agora, nos aprofundaremos nele, no ponto em
que acreditamos que ele seja uma das principais temáticas da dança e, em uma
perspectiva mais ampla, ele esteja presente em diversas outras práticas corporais, seja
nas ginásticas, esportes coletivos e outras.
Com as discussões propostas adiante, esperamos que você conheça as noções básicas de
ritmo, compreendendo as características da atividade rítmica para atuar
profissionalmente com este conteúdo, podendo usar as múltiplas linguagens da dança.
E, deste modo, em uma perspectiva de prática e atuação, esperemos que você consiga
correlacionar o ritmo com a atividade física, além de compreender as noções de
musicalidade e reconhecer as diversas possibilidades nas linguagens da dança.
Na Seção 1, nos debruçaremos sobre as noções de ritmo de maneira mais ampla, de
forma que possamos relacioná-lo com diversas modalidades e práticas esportivas. Na
Seção 2 vamos olhar para atividades rítmicas, na intenção de ampliar nossos
conhecimentos a respeito da musicalidade, tipos de ritmo etc. Na Seção 3, discutiremos
as múltiplas linguagens da dança, tendo em mente as danças clássicas, danças de salão,
danças de rua, danças folclóricas e danças para pessoas com deficiência.
Esperamos que ao final desta unidade, você esteja no “ritmo” da disciplina e se sinta
cada vez mais confiante a trabalhar com essa temática nas suas aulas, de modo a
desenvolver de maneira mais integral os seus alunos, mediante as práticas esportivas
individuais escolhidas por cada um.

PRATICAR PARA APRENDER

A partir deste ponto é necessário que você compreenda que a temática do ritmo é um
tema transversal, que perpassa todas as áreas da Educação Física. No basquetebol, por
exemplo, o bom desempenho da “passada” depende do ritmo em que o jogador bate a
bola no chão. Estando tão intimamente relacionado com a áreas expressivas – danças ou
ginástica rítmica, por exemplo – o ritmo deixa de ser um fator que pode ser
potencialmente explorado nas mais diversas áreas, desenvolvendo uma coordenação
motora e harmonia que estarão intrinsecamente conectadas com a técnica e o bom
desempenho nas performances.
Na Seção 1, trataremos novamente do conceito de ritmo, mas de maneira mais ampla,
de forma que possamos relacionar com diversas modalidades e práticas esportivas. Na
Seção 2, vamos olhar para o ritmo no dia a dia, na intenção de ampliar nossos
conhecimentos a respeito da temática, identificando as mais diversas situações que
atuam pelo ritmo. Na Seção 3, discutiremos a prática de atividade física e os seus
benefícios. Por fim, na Seção 4, vamos relacionar o ritmo com a prática de atividades
físicas, tendo em mente que ele não é um assunto desenvolvido somente pela dança, e
sim por todas as atividades motoras realizadas pelo corpo e pelo ser humano.
Com uma formação mais ampla, da qual o ritmo passa a ser uma ferramenta de trabalho
em salas de aula, campos e clubes, é sabido que os alunos terão maior desempenho e
mais destaque nas atividades esportivas que se propuserem a fazer. Dessa maneira,
frisamos a necessidade de que você, profissional de EF, amplie os seus horizontes, e se
alimente das mais diversas áreas do conhecimento para compor as suas próprias aulas.
Para melhorar a sua aprendizagem, proporemos uma situação-problema e esperamos
que até o final da unidade você tenha obtido conhecimentos suficientes para responder
tais questionamentos. Nessa situação, digamos que você é treinador de handebol.
Durante as últimas partidas de campeonatos na série infantil, você percebeu que os seus
alunos estão cometendo o erro de dar mais de três passadas sem quicar a bola, e tudo
isso deve-se ao fator do ritmo. Eles não estão conseguindo coordenar o movimento das
pernas com a quicada da bola nas mãos (membros superiores). De que maneira você
poderá solucionar essa situação?
Qual a relação que existe entre o erro percebido e o fator do ritmo? Existem outras
situações em quadra que o ritmo passa a ser um fator predominante?
Esperamos que até o final da unidade você esteja com as respostas na ponta da língua.
Estamos juntos nessa jornada, boa sorte!

CONCEITO-CHAVE

SOBRE RITMO

O ritmo pode ser compreendido como um padrão a ser seguido (MARTINS;


ROSA, 2008). Como estamos tratando da Educação Física (EF), e no nosso caso, as
atividades expressivas e a dança, ele (o ritmo) vai estar associado a um padrão de
movimento que vai ser repetido durante uma certa passagem no tempo. Ao tratarmos do
seu aspecto mais amplo, é preciso entender que ele está presente em todo o ambiente,
pois tudo que ocorre tem um ritmo: as ondas do mar, o crescimento de uma árvore, o
trânsito nas ruas, quicar a bola de basquete no chão, a respiração etc.

Figura 3.1 I O ritmo das ondas


Fonte: Wikimedia Commons.

Como tratamos na unidade anterior, a palavra ritmo tem origem grega e está associada
com o movimento ou o fluxo regular das coisas. Para Martins e Rosa (2008, p. 150), “O
ritmo está diretamente ligado ao movimento corporal, pois todo movimento existente
em nosso corpo possui um ritmo.”
A EF precisa adotar o ritmo como um elemento fundamental a ser desenvolvido em
todas as suas áreas de conhecimento. É por meio das atividades rítmicas que os
estudantes passam a compreender melhor as potencialidades dos movimentos do seu
corpo, por meio do reconhecimento de uma consciência corporal e da percepção rítmica
(GODOY; ANTUNES, 2008; TIBEAU, 2006). Esse tipo de atividade vai permitir o
desenvolvimento de coordenação, harmonia e união entre os elementos físicos e
internos (como coordenação dos membros, por meio do sistema nervoso) e os elementos
externos (como os do ambiente; quadra, campo, bolas, aparelhos ginásticos etc.).

REFLITA
Discorra com os seus colegas a respeito das suas infâncias, e tente rememorar as aulas
de Educação Física: quais foram as atividades trabalhadas que contemplavam o
desenvolvimento do ritmo? Perceba como é discrepante, além da grande ausência, como
esse conteúdo vem sendo (ou não) abordado nas aulas de EF, pois acreditou-se por
muito tempo que o ritmo era um conteúdo restrito às aulas de dança ou ginásticas, por
exemplo.

O RITMO NO DIA A DIA

Quando tratamos do ritmo no dia a dia, precisamos levar em consideração algumas das
suas características, ao perceber as diversas ações que estão envolvidas e dependem
dele. Para Sborquia et al. (2014), ele pode ser compreendido como:
 Individual: acerca das relações do sujeito com ele mesmo e com o mundo que o cerca.
 Grupal: acerca da interação dos sujeitos com seus semelhantes e suas adaptações para
atingir um ritmo coletivo.

Ao tratarmos desses aspectos mencionados, vamos pensar em alguns exemplos e


classificá-los em ritmos individuais e grupais. No primeiro aspecto podemos pensar,
dentro da EF, a série de movimentos e ajustes corporais propostos em quadra, além do
manuseio individual de algum material esportivo. No basquetebol, por exemplo, o
movimento de um único jogador ao quicar a bola enquanto se desloca pela quadra pode
ser classificado como ritmo individual. Em contraponto, a série de ajustes de
posicionamento entre os jogadores em quadra, além das passadas e toques, e estratégias
de defesa e ataque, criadas pelo conjunto dos elementos do grupo, pode ser classificado
como ritmo grupal. Em alguns esportes coletivos com características estéticas e
artísticas, fica mais evidente como o funcionamento dessa modalidade depende
exclusivamente do ritmo grupal. É o caso do nado sincronizado, em que as atletas
realizam os movimentos artísticos e técnicos, característicos da sua modalidade, em
conjunto e em sincronia com a música e entre todos os elementos do grupo.
O ritmo também pode ser classificado como interno, no sentido de ter uma raiz
fisiológica, sendo um conjunto de diversos fenômenos que se repetem sucessivamente
em intervalos regulares de tempo (HANEBUTH, 1968). O ritmo interno pode ser
subdividido:

 Cinético, que são os ritmos biológicos involuntários (como piscar os olhos).


 Circadianos, aqueles que se repetem em intervalos regulares de tempo (como o sono).
 Cinestésicos, que são ritmos voluntários, controlados conscientemente pelo indivíduo
(estender a mão para cumprimentar, por exemplo).

ASSIMILE
O sono, considerado um ritmo interno circadiano, é dividido em duas fases: sono não
rem e sono rem. O primeiro é composto pelos estágios iniciais para se atingir o último,
que é considerado o momento de intensa atividade cerebral, com os sonhos e a fixação
de memórias (FERNANDES, 2006).

De um outro modo, o ritmo também pode ser classificado como externo, que são os
ritmos que nos rodeiam e influenciam todos os outros. Cada indivíduo responde de uma
maneira a esses ritmos e no fenômeno de ação coletiva, a adaptação a esses ritmos
formula a ideia de pertencimento de grupo, por meio de uma percepção e reprodução
rítmica (SBORQUIA et al., 2014). O ritmo externo pode ser subdividido em:

 Individual, tem relação com os gestos característicos de certa pessoa e sua


personalidade e que descrevem um modo seu de se expressar. Existe uma certa
influência de vários fatores externos (com a hora do dia, por exemplo), à medida que
ele varia (como falar mexendo as mãos).
 Grupal, com relação à soma de fatores de ritmos individuais, caracterizando o ritmo de
um só grupo (a canoagem, por exemplo).
 Sociocultural, depende da cultura e de um povo de determinado lugar (como os ritmos
das diferentes regiões do Brasil).
 Institucional, aqueles que são estabelecidos (o carnaval é um exemplo).
 Cósmico, aqueles cíclicos e periódicos (como as estações do ano e o movimento das
marés).
Figura 3.2 | Exemplo de ritmo externo grupal, associado à canoagem

Fonte: Wikimedia Commons.

Por meio dessas classificações podemos perceber como é complexo e variado o


fenômeno do ritmo. À medida que nos aprofundamos no assunto, precisamos quebrar
urgentemente a visão restrita do ritmo associado com a dança. É preciso entender que é
fundamental o seu desenvolvimento atrelado a todas as áreas de atuação da EF.

PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA

Nos últimos anos, percebemos um aumento do número de doenças relacionadas a


rotinas estressantes de trabalho e estudo, por exemplo. Estudos recentes sugerem que a
inatividade física associada, ao sedentarismo, é grande fator de risco, que pode agravar
algumas condições médicas, como AVC, doenças do coração, hipertensão etc.
(SILVA et al. 2010).
Em contraponto, cresce também o número de adeptos de práticas de atividades físicas,
com fins na obtenção de saúde e melhora da qualidade de vida. Existe uma barreira
inicial para a adaptação a novas rotinas associadas à atividade física, mas quando
superada, ainda concordando com Silva et al. (p. 116, 2010), traz benefícios: “O
exercício é uma atividade usualmente agradável e que traz inúmeros benefícios ao
praticante, que vão desde a melhora do perfil lipídico até a melhora da autoestima.”
Quando falamos em qualidade de vida, estamos tratando da capacidade de um indivíduo
viver sem doenças ou de se recuperar de morbidades. Assim, a prática de atividade
física representa o melhor dos caminhos para se alcançar uma boa qualidade de vida.
Essa prática deve ser regular e constante, e é necessária uma orientação profissional que
melhor indique os caminhos. Nas academias, por exemplo, o personal trainer é aquele
que orienta o praticante individualmente nos treinos e controla as cargas e a
periodização, e essas orientações deverão ser seguidas por aqueles que buscam essa
melhoria.
Para além dos benefícios tratados anteriormente, quando falamos da prática de atividade
físicas, podemos perceber melhoria da eficiência do metabolismo, diminuição da
gordura corporal, aumento da massa muscular, aumento da força muscular, melhora na
densidade óssea, melhora na flexibilidade e mobilidade articular, melhora da postura,
aumento da potência aeróbica, diminuição da pressão arterial, melhora do autoconceito,
autoimagem e autoestima, diminuição de estresse, ansiedade e depressão, melhora na
insônia, no humor e disposição física e mental, entre outros (MACEDO et al., 2003).
Dessa maneira, inferimos que a prática de atividades físicas está associada a uma
melhora da qualidade de vida em geral e, quando estimulada desde muito cedo, maiores
são as chances de o indivíduo conquistar um estilo de vida mais saudável, além de
diminuir o risco de esse indivíduo desenvolver diversas doenças.

RELACIONANDO O RITMO COM A PRÁTICA

Como viemos discutindo até o momento, o ritmo se tornou um elemento essencial para
a EF, tendo como objeto o corpo que se dispõe em movimento. Dentro dessa
perspectiva, e a partir desse ponto, vamos pensar na prática quais são as diversas
atividades que contemplam o ritmo como elemento fundamental para o
desenvolvimento de uma certa modalidade.
No sentido de desenvolvimento de um ritmo individual, podemos pensar na perspectiva
de brincadeiras com palmas (cup song, peito estala bate etc.).
No sentido de desenvolvimento de um ritmo coletivo, as atividades propostas poderão
seguir a mesma linha de musicalização e sons, como no caso de brincadeiras de palmas.
Porém, agora, pensando na perspectiva do desenvolvimento de um trabalho grupal.

Figura 3.3 | Brincadeira de palmas em roda


Fonte: Wikimedia Commons.

Na perspectiva do desenvolvimento do ritmo interno cinestésico, podemos pensar na


série de movimentos coordenativos feitos durante o treinamento no futebol,
especificamente com o goleiro, a respeito da melhoria das demais habilidades que
dizem respeito à sua função em campo, diga-se: potência, amplitude, força, mobilidade
etc.

Figura 3.4 | Treinamento de goleiro de futebol


Fonte: Wikimedia Commons.

No sentido de refletirmos a respeito do ritmo externo com características socioculturais,


podemos pensar nas diversas manifestações das culturas populares brasileiras, que
representam um movimento característico e regional: maculelê, frevo, Festival de
Parintins, festa junina etc.

EXEMPLIFICANDO
Segundo Antunes et al. (2018), o frevo pode ser considerado um gênero musical
brasileiro, que foi reconhecido, no ano de 2012, como Patrimônio Imaterial da
Humanidade. Com música acelerada no estilo de bandinhas de carnaval, começou a ser
desenvolvido no nordeste brasileiro.

Figura 3.5 | Frevo


Fonte: Wikimedia Commons.

Esses foram alguns dos diversos exemplos característicos do movimento e do corpo


humano que estão estritamente vinculados ao fator ritmo. A nossa intenção é despertar
em você essa noção mais ampla que poderá lhe auxiliar em qualquer área da EF em que
você decida atuar. Com esse conceito um pouco mais ancorado, esperamos que os
próximos capítulos orientem você ainda mais por essa jornada.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, S. F. et al. Frevo: patrimônio imaterial da humanidade. Mostra de Ensino,


Pesquisa e Extensão do IFRS, Campus Rolante, v. 1, n. 2, 2018. Disponível
em: https://bit.ly/3KrGtV7. Acesso em: 19 maio 2022.
FERNANDES, R. M. F. O sono normal. Medicina, Ribeirão Preto, v. 39, n. 2, p. 157-
168, 2006.
GODOY, K. M. A. de; ANTUNES, R. de C. F. de S. Dança criança na vida real.
São Paulo: Instituto de Artes da UNESP, 2008.
HANEBUTH, O. El ritmo em lá educación física: bases para perfeccionar el
movimento. Buenos Aires: Paidós, 1968.
MACEDO, C. de S. G. et al. Benefícios do exercício físico para a qualidade de
vida. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde, v. 8, n. 2, p. 19-27, 2003.
MARTINS, J. V., ROSA, M. V. Análise da percepção rítmica de alunos de dança
de salão. Coleção Pesquisa em Educação Física, 7. 2008.
SBORQUIA, S., EHRENBERG, M. C., FERNANDES, R. D. C., BRATIFISCHE, S.
A. As manifestações rítmicas e expressivas: sentidos e significados na
Educação Física. MC Ehrenberg, R. de C. Fernandes, & SA Bratifische. Dança e
Educação Física: diálogos possíveis, 17-40. 2014.
SILVA, R. S. et al. Atividade física e qualidade de vida. Ciência & Saúde Coletiva, v.
15, p. 115-120, 2010.
TIBEAU, C. C. P. M. Motricidade e música: aspectos relevantes das atividades rítmicas
como conteúdo da Educação Física. Revista Brasileira de Educação Física, Esporte e
Lazer, São Paulo: UBSP, 2006.

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO

NOÇÕES DE RITMO
Kaio César Celli Mota

SEM MEDO DE ERRAR

Chegou o momento de retomarmos a nossa situação problema. Esperamos que até aqui
você tenha obtido recursos suficientes para responder tais questionamentos. Retomando,
digamos que você é treinador de handebol. Durante as últimas partidas de campeonatos,
você percebeu que os seus alunos estavam cometendo erros na passada e na quicada da
bola, por estarem fora do ritmo. De que maneira você poderá solucionar essa situação?
Primeiro foi preciso perceber que existe um fator fundamental de coordenação motora,
entre o movimento das pernas e a quicada da bola nas mãos (membros superiores).
Dessa forma, é necessário que se desenvolvam movimentos coordenativos com
finalidade de ritmo, assim, o professor poderá propor circuitos, envolvendo passadas e o
manuseio da bola.
Qual a relação que existe entre o erro percebido e o fator do ritmo? Percebemos que o
ritmo é fundamental para que os elementos de manuseio e passadas ocorram em
sincronia. Existem outras situações em quadra nas quais o ritmo passa a ser um fator
predominante? O ritmo pode ser considerado fundamental em todas as áreas da
Educação Física e do esporte, mesmo assim podemos destacar as modalidades dança de
salão, canoagem, zumba, ginástica artística, ginástica rítmica, step, voleibol etc.
Com o desenvolvimento de atividades que visam ao aspecto geral do ritmo, é esperado
que os seus alunos estejam hábeis a não cometer mais esse erro em quadra. Logo,
perceba como o ritmo é fundamental para o desenvolvimento de um elemento técnico
básico da modalidade do handebol.

AVANÇANDO NA PRÁTICA

O LEVANTAMENTO NO VOLEIBOL
Digamos que você é técnico de voleibol, e percebeu uma certa dificuldade nas suas
atletas no momento do levantamento (segunda bola) para o ataque (terceira bola). As
jogadoras não estão em sincronia, logo, no momento do levantamento, a jogadora do
ataque está saltando antes ou após o toque e não está acertando o tempo para o ataque
da bola. Como você poderá resolver essa situação?

RESOLUÇÃO

Você poderá utilizar exercícios que envolvam o ritmo e a sincronia entre as atletas. Um
exemplo a ser seguido é simular as movimentações desejadas (de levantar e atacar),
porém sem o material e seguindo o ritmo de uma música. Esse elemento vai
desenvolver uma contagem, que levará em consideração a série de movimentos
realizados durante um certo período no tempo. Espera-se que dessa maneira as
jogadoras passem a estar em sincronia em quadra.

NÃ O PODE FALTAR

ATIVIDADE RÍTMICA
Kaio César Celli Mota

PRATICAR PARA APRENDER

Caro estudante, é um prazer recebê-lo novamente.


A partir deste ponto e com as ideias um pouco mais ancoradas, olharemos na prática as
atividades rítmicas, com base fundamentada nos exercícios de musicalização. Como
viemos discutindo até o momento, as atividades rítmicas são fundamentais para todas as
áreas da Educação Física, pois são capazes de desenvolver uma harmonia entre os
elementos técnicos e as ações motoras de determinada modalidade esportividade.
Se você é um profissional da EF e trabalha nas áreas de dança, ginásticas, ritmos,
pilates, yoga etc., tenha em mente que um dos pilares dessas áreas é o ritmo, logo, o
fator da musicalização vai estar sempre presente. Por meio de um desenvolvimento
integral do corpo, o sujeito passa a perceber a si próprio, os outros e o mundo, de uma
outra forma. Assim, esteja ciente de que é de sua responsabilidade o estímulo dessas
capacidades/habilidades que são intrínsecas ao ser humano.
Para melhorar a fixação da sua aprendizagem, vamos propor uma situação-problema, e
esperamos que ao final desta seção você tenha recursos suficientes para responder tais
questionamentos. Suponhamos que você é professor de ritmos, trabalhando com aulas
coletivas para o público adulto e idoso. Você está percebendo uma certa dificuldade
para o desenvolvimento do ritmo e a harmonia dos passos, junto com a contagem da
música. Por mais que eles saibam os passos e os elementos da coreografia, a maioria
não consegue acompanhar. Como resolver tal problema? Seriam os exercícios de
musicalização capazes de fundamentar o seu trabalho?
Ainda: será que o desenvolvimento de diferentes tipos de ritmos nas suas aulas poderá
ajudar o público a reconhecer melhor as contagens e a se dispor em maior sincronia nas
coreografias?
Esperamos que os assuntos discutidos ao longo desta seção colaborem para a sua
aprendizagem e auxiliem a resolver tais questionamentos.
Bons estudos!
CONCEITO-CHAVE

MAPEAMENTO MUSICAL

Para que a dança ou outras atividades rítmicas ocorram, é preciso, sobretudo, entender a
música – sua composição, melodia, ritmo, velocidade, andamento e sua estrutura,
ajudando o corpo a realizar os movimentos em sincronia entre a sonoridade e as
diversas técnicas escolhidas. Para Fux (p. 51, 1983), “O movimento unido ao estímulo
musical, permite uma compreensão total da música, o que não acontece quando alguém
escuta ou se move sem escutar”.
O corpo que se move diante de uma melodia se torna sensibilizado por ela, e é capaz de
integrar e deslizar os seus movimentos por entre os acordes, os graves e os agudos,
dando diferentes intenções de movimento para diferentes vibrações de música. Como
qualquer outra aprendizagem, isso pode ser treinado e aprimorado, e tratando-se do
ensino e aprendizado em dança: “Nas aulas de dança se adquire a música com o corpo:
pode-se escutar melhor movendo-se.” (FUX, p. 51, 1983).
Assim, entendemos que mapeamento, segundo o dicionário on-line de português
PRIBERAM (2022), pode significar tanto uma ilustração feita por meio de mapas como
uma representação gráfica das diversas partes de um todo. Se levarmos em consideração
uma música, o mapeamento musical indica a representação gráfica das diversas partes
dessa música.
Logo, é o desenho da música. Ele serve para facilitar a estrutura da aula ou uma
composição coreográfica, no sentido de indicar aos professores e alunos em que
momento ocorre, no compasso da música, cada gesto ou movimento, como no caso das
danças ou atividades rítmicas e expressivas. Sobretudo é preciso dividir, interpretar e
entender, para poder colocar as técnicas e as movimentações desejadas.
Dessa forma, para fins de mapeamento, vamos adotar os seguintes termos: pulso,
compasso, frase musical e bloco musical. Entendemos como pulso uma unidade abstrata
de medida do tempo musical, também conhecido como pulsação (PULSO, [s. d.]).
Então, indicaremos que ele representa um (1) tempo, ou uma batida. Pulso = 1 tempo.
Já o compasso indica uma regularidade no andamento de uma execução musical
(MICHAELIS, 2022). Neste sentido, indicamos que o compasso representa 4 unidades
de tempo, ou 4 batidas. Compasso = 4 tempos.
A frase musical vai indicar uma sequência transcorrida de 8 tempos, ou 8 batidas. Frase
musical = 8 tempos ou 2 compassos.
E um bloco musical representa, geralmente, as maiores partes de uma música, indicando
momentos de cortes e refrão, e pode ser compreendido em 32 tempos, ou 4 frases
musicais, ou, ainda, 8 compassos.
Esses termos foram criados para dividir uma música em blocos, de maneira a colaborar
com a sua compreensão e entendimento acerca do seu andamento. Nas aulas de danças
ou outras atividades rítmicas e expressivas que façam o uso de músicas, é essencial
saber escutar e desenvolver os exercícios em sincronia, assim, esse entendimento
anterior possibilita que os estudantes e professores treinem melhor os seus ouvidos e
atuem melhor em conjunto: entre si, seus corpos, o ambiente e a música.

EXEMPLIFICANDO
A frase musical está relacionada com a contagem de 32 tempos (ou 32 batidas). Passe a
reparar nas músicas que você escuta no seu dia a dia. Geralmente, a cada mudança na
frase musical ocorre uma modificação na música, com a entrada de um instrumento ou a
mudança na voz.

MAPEAMENTO NA PRÁTICA

Para fins de desenvolvimento prático deste assunto, proporemos que você, futuro
profissional, faça com os seus alunos, independentemente da área que venha atuar,
atividades que trabalham essa compreensão musical. Dessa forma, o exercício pode ser
feito em roda, sentados ao chão, com o som de uma música. É importante que você
selecione bem as músicas que vão ser reproduzidas, com atenção a letras, melodias e
fácil compreensão. Atente-se a explicar anteriormente os termos, para que a ideia de
tempo, compasso, frase e bloco musical já venham bem ancoradas por eles.
O exercício em si consiste em bater palmas e fazer gestos, em diferentes tempos,
compassos e blocos da música. Além das palmas, o professor define quais movimentos
que serão executados, por exemplo, cruzar os braços, jogar as mãos para cima, levar as
mãos ao rosto etc. No primeiro momento, é interessante que os estudantes estejam
sentados, levando a atenção aos ouvidos e braços, para posteriormente, com os
conceitos mais fixados, colocarem-se em pé e fazer mais movimentos com diferentes
partes do corpo.

Figura 3.6 | Crianças batendo palma

Fonte: Wikimedia Commons.


MUSICALIDADE

Desde muito tempo pesquisadores estudam o fenômeno da musicalidade para entender


as suas raízes e melhor conceituá-lo. Em 1940, Revesz considerava o senso musical um
talento e uma competência inata. Mais à frente, Davidson, Howe e Sloboda (1997)
estabeleceram uma relação com a influência das circunstâncias socioculturais na
expressão de comportamentos musicais, e ainda reconheciam que as crianças
desenvolviam as suas capacidades musicais aprendidas no contato com a cultura.
De todo modo, e com um olhar mais específico para a nossa área, devemos ter em
mente que a musicalidade vai ter relação com as circunstâncias gerais do corpo (ações,
passos, movimentos e técnicas), em relação estreita e direta com a música, no sentido de
integridade, harmonia e união. Destacamos a necessidade de “saber” usar uma música.
Para Haselbach (p. 92, 1988), ela pode ser usada “Como motivação para estimular e
intensificar a atividade motora; como auxílio para se coletar experiências e
conhecimento no âmbito de tempo, dinâmica e forma; como modelo de improvisação e
coreografia.”
A saber, é importante que se considere o ritmo, o instrumental, a tonalidade ou o timbre,
a forma e o caráter (HASELBACH, 1988). Todos esses elementos constituem a música
como um todo. O próximo passo é em relação ao corpo – como essa vibração penetra
esse corpo? Para Fux (p. 51, 1983), “O corpo produz imagens que, estimuladas pela
música, se comunicam entre si. Diferentes elementos se mobilizam […] de modo que a
música às vezes se transforma em algo vivo que nos permite senti-la […]”.
O movimento se torna o meio pelo qual é possível adentrar na música, devendo nós
proporcionarmos diversas experiências relacionadas a ritmo, musicalidade e expressão
corporal, que permitirão que nossos alunos acessem outros lugares e sintam outras
sensações. Devemos buscar um movimento em toda a sua extensão e que reflita toda a
complexidade musical; logo, a vivência musical só vai ser ampliada e enriquecida
quando estendida a todo o corpo e movimento (FUX, 1988).

REFLITA
Entenda que a música, pode (e deve) ser uma aliada na dança, quando servir de estímulo
sonoro, para uma composição artística ou movimento corporal. Ela não restringe a sua
prática, ou seja, uma dança pode também ocorrer sem o uso de música. O que persiste é
uma ideia de que uma coisa não existe sem a outra, porém, com um trabalho
corretamente orientado, as técnicas de dança podem ser desenvolvidas sem esse
estímulo sonoro, a depender dos objetivos do professor e da aula.

MUSICALIDADE NA PRÁTICA

A fim de aumentar as experiências perceptivas propomos uma atividade simples com


musicalidade, que consiste em duas etapas: primeiro o professor pede aos seus alunos
que façam uma seleção de músicas que eles mais escutam, para trazerem para a aula. A
seguir, dessa seleção cada um deverá escolher uma das músicas para que todos os outros
colegas da turma escutem. No próximo e último passo, o corpo entra em ação. Os
estudantes deverão dançar e se mover de acordo com o ritmo dessa música. Elas não
precisam ser tocadas por inteiro, o que dá chance para que outras pessoas se sintam
incluídas.
Figura 3.7 | Dançando livremente

Fonte: Wikimedia Commons.

NOÇÕES DE TEORIA MUSICAL

Como viemos discutindo até o momento, a música se tornou um elemento essencial


quando tratamos das ações e movimentações que vão lidar com as áreas da dança e
atividades rítmicas em geral. Sobretudo, é importante reconhecer que alguns elementos
fazem parte de uma teoria musical, e eles vão versar a respeito da sua configuração
como um todo. Para Fux (1988), ritmo, melodia e frases são exemplos de características
que são pessoais para cada partitura da música.
No demais, outros elementos a se considerar:

 Melodia: é o sentido musical, representado em frases musicais, pelas notas e pausas,


seguindo um caminho linear.
 Harmonia: é a combinação simultânea dos sons, gerando sensações harmônicas que
podem ter o efeito de tensão ou relaxamento, dissonância ou consonância,
agradabilidade ou desagradabilidade. Pode-se dizer que a harmonia é um dos
preenchimentos da música, incorporando e reforçando o sentido musical.
 Ritmo: é tudo que está ligado ao tempo, isto é, a dimensão temporal da música. É
formado pelos seguintes elementos: marcação, divisão, duração, valores, andamento,
acentuação, movimento (BACKES, 2013, p. 9).

Outro elemento da teoria musical diz respeito às notas musicais. Elas funcionam como
um alfabeto musical, o que permite agregar as frequências dos sons, auxiliando a
composição musical, ou seja, uma combinação que gera uma melodia. Essa
classificação, nomeada notação musical, foi inventada pelo monge e regente italiano
Guido D'Arezzo (992-1050) (MONTEIRO, 2020). As notas musicais são representadas
por símbolos (claves), e cada desenho e posição representam os sons DÓ – RÉ – MI –
FÁ – SOL – LÁ – SI – DÓ.

Figura 3.8 | Claves na partitura

Fonte: Wikimedia Commons.

TEORIA MUSICAL NA PRÁTICA

A fim de fixar os conteúdos apresentados acerca da teoria musical, propomos a seguinte


atividade: o aluno deverá criar uma melodia, com base nas notas musicais expostas.
Lembrando que as melodias surgem a partir da combinação entre as notas. O exercício
em si pode ser feito cantado, porém se algum estudante tiver habilidade com algum
instrumento de som, ele poderá representar a sua melodia por meio dele. A intenção é
que os alunos apresentem suas melodias uns para os outros.

TIPOS DE RITMOS MUSICAIS

O ritmo é definido pelas variações entre a frequência e a intensidade dos sons. Partindo
dessa conceituação mais ampla, podemos dizer que o ritmo também pode representar as
categorias de uma música, ou seja, onde ela se enquadra. A respeito de sua
categorização, é preciso ter em mente instrumento, letra, função, estrutura e
contextualização.
A fim de afunilar as nossas discussões, os principais gêneros musicais existentes são:

 Axé.
 Blues.
 Country.
 Eletrônica.
 Forró.
 Funk.
 Gospel.
 Hip Hop.
 Jazz.
 Pop.
 MPB.
 Música clássica.
 Pagode.
 Reggae.
 Rock.
 Samba.
 Sertanejo.

ASSIMILE
Na seção anterior, viemos abordando o conceito de ritmo de uma maneira mais geral, à
medida que identificamos suas relações com movimento e o corpo. No sentido da
música, o ritmo pode estar associado a um gênero musical, quando tratamos da sua
categorização. Ou seja, ritmo – no sentido de fluir, se mover, que é diferente de ritmo –
no sentido de gênero musical.

Quando tratamos das músicas populares brasileiras, ao se pensar em um contexto mais


regional, específico e característico do nosso país e da nossa cultura, encontramos os
seguintes ritmos: samba, frevo, maracatu, forró, baião, xaxado, brega, bossa nova, coco,
lundu, maxixe (SANTANA; CAZNOK; FERNANDES, 2021).

TIPOS DE RITMO NA PRÁTICA

Para melhorar o contexto da aprendizagem, o professor deve fazer uma seleção musical
variada, com diferentes ritmos, mesclando músicas regionais e internacionais. O
exercício consiste em identificar os diferentes tipos de ritmos (quanto ao seu gênero). Se
for preciso, o professor poderá solicitar que os estudantes façam uma pesquisa mais
detalhada do ritmo escolhido, destacando origem, país, características, danças etc.
A partir deste ponto, você já tem recursos suficientes para conduzir uma aula de ritmo,
fazendo as relações com a música, o movimento e o corpo. Perceba a importância de
desenvolver os conhecimentos de teoria musical para se relacionar melhor com os
elementos sonoros que envolvem as danças e as atividades rítmicas em geral.
Esperamos que os próximos conteúdos lhe auxiliem cada vez mais.

REFERÊNCIAS

BACKES, É. Teoria Musical. 2013. Disponível em: https://bit.ly/3AtSiFH. Acesso em:


25 ago. 2022.
DAVIDSON, J.; HOWE, M.; SLOBODA, J. Environmental factors in the development
of musical performance skill over the life span. In: HARGREAVES, D.; NORTH, A.
(ed.). The social psychology of music. Oxford University Press, 199.
p. 187-206.
FUX, M. Dança, experiência de vida. Tradução de Norberto Abreu e Silva Neto. São
Paulo: Sammus, 1983.
HASELBACH, B. Dança, improvisação e movimento: expressão corporal
da Educação Física. Rio de Janeiro: Ao
livro técnico, 1988.
MAPEAMENTO. In: DICIONÁRIO Online de Português PRIBERAM. 2022.
Disponível em: https://bit.ly/3Tq4Vdz. Acesso em: 24 abr. 2022.
COMPASSO. In: DICIONÁRIO MICHAELIS Online de Português. 2022. Disponível
em: https://bit.ly/2O1SMtG. Acesso em: 26 ago 2022.
MONTEIRO, D. J. M. O Design e a Notação Musical: Movimentos, Elementos,
Cultura. 2020. 184f. Dissertação (Mestrado em Design Gráfico e Projetos Editoriais) –
Faculdade de Belas Artes, Universidade do Porto, Porto, 2020.
NETO, L. Uma história do samba: as origens. São Paulo: Companhia das Letras,
2017.
PULSO. In: DICIONÁRIO Online de Português Michaelis. Disponível
em: https://bit.ly/3AvaiPW. Acesso em: 28 abr. 2022.
REVESZ, G. Die formenwelt des tastsinnes. The Journal of Nervous and Mental
Disease, v. 92, n. 4, p. 541, 1940.
SANTANA, C. C. S. C.; CAZNOK, Y.; FERNANDES, A. Missa Breve sobre Ritmos
Populares Brasileiros, de Aylton Escobar: perspectivas analíticas. Música Theorica, v.
6, n. 1, p. 133-164, 2021.

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO

ATIVIDADE RÍTMICA
Kaio César Celli Mota

SEM MEDO DE ERRAR

Chegou o momento de voltarmos a refletir a respeito da situação-problema.


Relembrando: você é um professor de ritmos, trabalhando com aulas coletivas para o
público adulto e idoso. Você estava percebendo uma certa dificuldade para o
desenvolvimento do ritmo e a harmonia dos passos, junto com a contagem da música.
Por mais que os estudantes soubessem os passos e os elementos da coreografia, a
maioria não conseguia acompanhar. Como resolver tal problema? Seriam os exercícios
de musicalização capazes de fundamentar o seu trabalho? Percebemos ao longo das
nossas discussões que atividades de mapeamento musical e musicalidade colaboram
para construir uma relação harmônica entre a música (e os seus elementos), o
movimento e o corpo. Dessa forma, entendemos que é necessário o estímulo dessas
percepções sonoras, se desejamos trabalhar com as danças e outras atividades rítmicas e
expressivas.
O desenvolvimento de diferentes tipos de ritmos nas suas aulas pode ajudar as turmas a
reconhecerem melhor as contagens e se disporem em maior sincronia nas coreografias?
Os diferentes tipos de ritmos têm características sonoras diferentes, quanto à sua
velocidade, ritmo e harmonia. Logo, quando proporcionamos um ambiente em que os
estudantes têm variados estímulos musicais, maior percepção e atenção será requerida, o
que colabora para a compreensão do andamento da mudança e os movimentos do
corpo.
Perceba como a Educação Física se relaciona com a música, na medida em que o corpo,
ainda como objeto central de trabalho, utiliza-se de outros elementos para compor as
suas ações artísticas, estéticas, físicas e esportivas. Seja um profissional que estimula e
proporciona um ambiente mais rico e cheio de experiências sensíveis.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
A MÚ SICA DA TURMA!
Você recebeu um desafio de criar, com os seus alunos de Educação física, uma música
instrumental, que só poderia ser tocada com objetos da aula de EF. Os materiais que
estariam ao seu dispor são aqueles tradicionais da aula: bolas, bastões, cones, apito etc.
Levando em consideração as noções compreendidas durante a seção de ritmo, melodia,
compasso e pulso, entre outras, como você poderia desenvolver tal atividade com a sua
turma?

RESOLUÇÃO

Como exemplo da atividade proposta na seção (roda de palmas), ocorreria uma


adaptação dos materiais pelos estudantes, explorando primeiramente as possibilidades
de sons produzidos. A seguir, tendo em mente a ideia de pulso, compasso, frase e bloco
musical, você os organizaria para entrar em diferentes tempos da música. É necessário
uma certa repetição e ensaio para que cada um grave o seu tempo e o andamento do seu
instrumento.

NÃ O PODE FALTAR

AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS DA
DANÇA
Kaio César Celli Mota

PRATICAR PARA APRENDER

Caro estudante, que bom que chegamos até aqui! Até o momento nos debruçamos em
algumas questões mais técnicas e conceituais que envolvem a dança. Deste ponto em
diante, e com os conhecimentos um pouco mais ancorados, olharemos para aspectos
mais gerais, principalmente nos que dizem respeito às modalidades de dança e seu
desenvolvimento, e de maneira mais prática.
Futuramente se você vier atuar com essa área, existirão infinitas modalidades de danças
que poderão ser trabalhadas nos diversos contextos que forem apresentadas – desde de
um enfoque mais nacional, como algumas manifestações características da cultura
brasileira, como no caso das danças folclóricas, ou em um aspecto mais global, como as
danças clássicas ou as danças de salão. Se aceitamos que a dança é para todos, ela pode
ser trabalhada em um contexto mais inclusivo, como no caso das danças para pessoas
com deficiência. Caberá você decidir quais aspectos e em quais contextos de dança você
vai atuar, principalmente agora que reconhece o tamanho da sua variabilidade.
Se você é um profissional da EF e trabalha nas áreas de dança, tenha em mente que ela
proporciona um desenvolvimento integral do corpo, de modo que o sujeito passa a
perceber a si próprio, aos outros e ao mundo de uma outra forma. Assim, esteja ciente
que é de sua responsabilidade o estímulo dessas capacidades/habilidades que são
intrínsecas ao ser humano.
Para melhorar a sua aprendizagem, vamos propor uma situação-problema e esperamos
que ao final desta seção você se sinta capaz de analisá-la e respondê-la. Digamos que
você é professor de Educação Física Escolar. Durante este bimestre você deverá
desenvolver o conteúdo de dança para as turmas do 8º ano. Como estratégia de ensino,
você optou por abordar diferentes linguagens de dança, para que os estudantes
pudessem ter conhecimentos de variados estilos. Partindo dessa estratégia, como podem
ser organizadas as aulas? Quais serão os conteúdos abordados?
Ainda, quais são as linguagens de dança escolhidas para o trabalho? É importante saber
da história, conceitos e técnicas para desenvolver tais modalidades?
Esperamos que até o fim da seção os conteúdos auxiliem você a solucionar tais
questionamentos. Boa jornada!

CONCEITO-CHAVE

DANÇAS CLÁSSICAS

Para se refletir a respeito das danças clássicas é preciso, sobretudo, olhar para trás na
história e ver como foram entrelaçadas as relações sociais, da mesma forma como se
desenvolveram e como eram constituídas as sociedades daquela época. A princípio,
nota-se uma constituição dos “bailes da nobreza” desde a Idade Média, especialmente
na região da Itália e da França. Mais à frente, durante a Renascença, e devido à presença
do clero nas festas, novos movimentos foram incorporados, no sentido de uma dança
que tomava menor proporção teatral, surgindo nesta época as posições e os passos
de ballet (MALANGA, 1985).
A palavra ballet remete a bailado, e para aquela época lia-se como os bailes organizados
pela corte. Na Itália, durante o século XV também de desenvolvia esse “ballet”, sendo
Catarina de Médicis responsável por levar esses costumes para a França, quando se
casou com o rei Henrique II. Adiante, no século XVII, ocorreu a expansão
do ballet durante o reinado de Luís XIV, conhecido como Rei Sol – também bailarino e
uma figura que dava grande importância para a dança na época (MALANGA, 1985).

Figura 3.9 | Representação dos ballets da corte


Fonte: Wikimedia Commons.

Como iniciamos as nossas discussões, as danças acabam refletindo a sociedade de uma


época. Ao olharmos atualmente para a predominância de praticantes mulheres nas
modalidades de dança, nem imaginamos como no cerne da sua constituição os papéis
eram trocados, ou seja, até meados do século XVII, apenas homens participavam
dos ballets. Segundo Malanga (p. 65, 1985), “Anteriormente os papéis femininos eram
feitos por homens, travestidos e usando máscaras. A participação feminina nos balés
permitiu que se abolissem as máscaras, sendo então possível desenvolver mais a parte
expressiva.”
Na história do ballet, destacam-se ainda a criação das escolas de dança; a criação das
cinco posições dos pés; a utilização de palco elevado; o uso do corpo e dos braços maior
do que os desenhos formados; a criação de novos passos e vocabulário próprio etc.
(MALANGA, 1985).
A Revolução Francesa e o Romantismo provocaram uma enorme mudança na estrutura
social europeia, e com o ballet não foi diferente. Neste período vemos a primeira
bailarina a dançar na ponta dos pés, Marie Taglioni (1804-1884). Na dança, destacam-se
a maior liberdade de movimentos e a aparência etérea. Ainda neste processo histórico
vemos a Rússia, em meados do século XVII, buscando seu desenvolvimento teatral e
artístico com o objetivo de se equiparar à Europa e, assim, sob o reinado de Ana
Ivanovna (1730-1740), é criada a Escola Imperial de Dança. A Rússia teve importante
papel no desenvolvimento do ballet clássico, com destaque a grandes compositores de
obras, como Tchaikovsky, com o Lago dos Cisnes.
As danças clássicas – ou o ballet clássico – foram se modificando ao longo do tempo, e
ainda hoje servem como um poderoso instrumento de preparação artística, técnica de
dança e linguagem das artes. A fim de experimentação, propomos a vivência a seguir.
Observe as imagens:

Figura 3.10 | Posições dos pés no ballet clássico

Fonte: Wikimedia Commons.

ASSIMILE
Foi durante o reinado de Luís XIV que Charles Beauchamps (1639-1705), mestre de
balé e coreógrafo da corte, professor da Académie de la Danse, fixou as posições dos
pés, que mais tarde foi ser publicada pelo padre jesuíta Ménestrier (MALANGA, 1985).

Essas são as posições dos pés no ballet clássico, das quais os passos de dança partem,
finalizam e transitam entre elas. Para fins de compreensão, faça a experimentação
dessas posições com os seus alunos, e em seguida, para memorizar, faça um jogo da
memória. Com os olhos vendados, o professor fala o nome de uma posição e os
estudantes fazem em seguida. Ao abrir os olhos, eles conferem entre si se a posição feita
foi a correta, e caso tenham errado, sejam corrigidos.

DANÇAS DE RUA

Como umas das manifestações de dança mais difundidas da atualidade, as danças de


rua, danças urbanas ou hip-hop ganharam nas últimas décadas dezenas de praticantes,
com ajuda de um grande alcance midiático. Por conta dessa difusão, dezenas de estilos
se desenvolveram, e hoje estão presentes para além dos espaços da rua – dentro das
instituições formais, escolas e academias.
Foi nos Estados Unidos, especificamente no Bronx, em Nova Iorque, que foi
desenvolvida a cultura hip-hop, especialmente pelas festas organizadas pelo DJ Afrika
Bambaataa, que representaria vínculos para além de dança e música (GUSTSACK,
2003; ZENI, 2004). As danças de rua tiveram as suas origens nas classes mais baixas
norte-americanas e negras, que tratavam de expressar sua realidade por meio das
músicas e da dança (VARGAS, 2011).
Como hip-hop, enquanto manifestação cultural, podemos considerar: graffiti (arte,
desenhos, cartum etc.), break (primeiro estilo de dança desenvolvido), o rap (a música,
sonoridade, rimas), o MC (o cantor ou rapper) e o DJ (discotecagem, mixagem beats da
música) (COSTA, 2005; ZENI, 2004).

EXEMPLIFICANDO
O termo DJ, que pode ser traduzido como disc-jóquei, foi criado na França, e se refere à
pessoa responsável pela troca das músicas, nas festas, bailes e batalhas (CARVALHO,
2015).

Figura 3.11 | Alguns elementos da cultura hip-hop

Fonte: Wikimedia Commons.

PRÁTICA DE DANÇAS URBANAS

A fim de aproximar o universo dos estudantes a essa manifestação cultural, peça uma
pesquisa dos elementos da cultura hip-hop. Apresente vídeos, e tente desenvolver algum
elemento técnico de estilo de um estilo de dança, como o caso do break, por exemplo.
Também solicite que os alunos reproduzam passos e coreografias por eles pesquisadas
em vídeos, e peça para que eles apresentem uns para os outros.

DANÇAS FOLCLÓRICAS

As danças folclóricas estão a interesse da cultura popular e tradicional de um povo e, no


nosso caso, as danças folclóricas brasileiras surgem no contexto de festas e
comemorações religiosas (promessas, louvores), ou para festejar um acontecimento
importante para uma comunidade. Podemos dizer que elas se tornam parte da identidade
cultural de um povo. À medida que ocorre o fenômeno da migração (por questões
econômicas, por exemplo), há uma tendência de que parte dessa cultura se desloque
com o indivíduo, e assim ocorra o fenômeno de miscigenação entre as diversas culturas
do nosso extenso país (CUPERTINO, 2004). Para Souza e Reis (2011), “A Dança
folclórica trata-se de uma forma tradicional de dança recreativa do povo. Muitas das
danças folclóricas têm origens anônimas e foram passadas de geração para geração
durante um longo período de tempo.”
Destaque a algumas manifestações culturais/danças folclóricas por região do país:

 Carimbó (Região Norte).


 Xaxado (Região Nordeste).
 Siriri (Região Centro-Oeste).
 Calango Mineiro (Região Sudeste).
 Fandango (Região Sul). (SOUZA; REIS, 2011).

Figura 3.12 | Grupo de Xaxado, Balé Folclórico Sisais

Fonte: Wikimedia Commons.

DANÇAS DE SALÃO

As danças de salão podem ser consideradas uma modalidade de dança que engloba em
si ritmos de diversas regiões e culturas de vários povos. São características da sua
prática: elegância, postura, força e fluência dos movimentos (OLIVEIRA; ROSA,
2008). Ainda para Silva e Rosa (2008, p. 49): “A dança de salão é uma vertente de
dança, normalmente praticada em reuniões sociais, onde pares de dançarinos
desenvolvem passos, que são variações do andar, formando figuras de forma a
harmonizar com a música e o parceiro.”
Como tratamos anteriormente, as danças de salão são organizadas em parceiras, ou seja,
duas (ou mais) pessoas executando os passos técnicos e característicos de um
determinado ritmo, somados em um jogo de ação e reação (aplicação e distribuição de
forças) entre as figuras de condutor e conduzido que se deslocam pelo espaço.
Atualmente as danças de salão são praticadas em todo o mundo, e sua popularização foi
tanta que passaram a surgir no campo das competições as chamadas danças esportivas.
Diversos são os ritmos que englobam essa modalidade, com destaque para cumbia, xote,
lambada, quizomba, rumba, merengue, valsa, soltinho, chá-chá-chá, zouk, tango, salsa,
bolero, forró e samba (SILVA; ROSA, 2014).
Esse tipo de dança permite que os praticantes aprendam a dançar com outra pessoa,
desenvolvendo a confiança, a entrega e a harmonia. Dessa maneira, julgamos o olhar
como uns dos meios de comunicação para esse tipo de dança, além do toque e dos
gestos. Para Martins e Rosa (2014, p. 67, 68), “Aprender a dançar com outra pessoa
sendo o seu par, é estabelecer uma relação que possibilita a harmonia de corpos
diferentes, sintonia, que proporciona um encontro consigo mesmo, a partir de encontros
com o próximo.”

PRÁTICA

A fim de desenvolver uma dança de “dois”, essa atividade consiste na formação de


duplas. Cada dupla deverá escolher um ritmo da dança de salão e fazer uma breve
pesquisa nas bases de dados, redes sociais e plataformas de vídeos. A pesquisa será
apresentada para a turma, e deve conter: nome, país de origem, características principais
e passo básico. O passo será ensinado para demais colegas da turma, e assim todos
experienciarão diversos ritmos das danças de salão.

DANÇA PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Ao longo da história da constituição da nossa sociedade, as pessoas com deficiência


foram marginalizadas, excluídas e desfavorecidas dos meios sociais, da educação e do
lazer. Ao longo dos anos elas passaram a reivindicar os seus direitos, na medida em que
participaram ativamente da sociedade, das artes, do trabalho e das escolas (BARRETO;
FERREIRA, 2011).
Para Vendramin (2013), foi a partir da década de 1990 que a dança para pessoas com
deficiência começou a ser desenvolvida e ao longo dos anos foi ganhando maior
visibilidade. Segundo Braga et al. (2002, p. 154), “No Brasil, a dança foi desenvolvida
por grupos independentes, vinculados a clubes, universidades, associações de
deficientes, prefeituras municipais, centros de reabilitação e algumas escolas de dança
isoladas.”

Figura 3.13 | Pessoas com deficiência dançando


Fonte: Wikimedia Commons.

REFLITA
Como profissional de Educação Física, você deve proporcionar um ambiente seguro e
inclusivo aos seus alunos. Ao tratar das atividades físicas para pessoas com deficiência
– especialmente no âmbito da dança –, garanta que as experiências vivenciadas
proporcionem o desenvolvimento das habilidades requisitadas, sobretudo, de maneira
divertida, fazendo com que toda a turma participe e acolha essas pessoas.

Ao ponto que em existem diversos espectros de deficiências, a dança vai exigir uma
série de adaptações para suprir as necessidades desse público em específico, e neste
sentido propomos a seguinte atividade: dividir a turma em grupos, e cada grupo deverá
ficar com um tipo de deficiência. A seguir, os grupos realizam uma pesquisa das
necessidades e características de cada deficiência. Tendo em mente essas necessidades,
eles deverão montar uma atividade de dança que estimule ritmo, coordenação motora e
capacidades físicas.
A partir deste momento, e com os conhecimentos mais ancorados, esperamos que você
se sinta capaz de trabalhar com as diversas modalidades de dança. Tenha em mente que
a dança faz parte das manifestações corporais humanas e elas precisam (e devem) ser
estimuladas nos diversos contextos, especialmente aqueles da Educação Física.

REFERÊNCIAS

BARRETO, M. A.; FERREIRA, E. L. Dança esportiva em cadeira de rodas: a


história contada pelas vozes de quem dança. Revista de História e Estudos
Culturais, v. 8, n. 3, p. 1-10, 2011.
BRAGA, D. M. et al. Benefícios da dança esporte para pessoas com
deficiência física. Revista Neurociências, v. 10, n. 3, p. 153-157, 2002.
CARVALHO, N. F. de. DJ, novas mídias e as formas criativas de colagem do sampling
na música pop. Revista Eletrônica da Pós-Graduação da Cásper Libero, v. 7, n. 3,
2015.
COSTA, M. P. A Dança do Movimento Hip-Hop e o Movimento da Dança Hip-
Hop. In: FÓRUM DE PESQUISA CIENTÍFICA EM ARTE, 3., 2005,
Curitiba. Anais […]. Curitiba: Escola de Música e Belas Artes do Paraná, 2005.
CUPERTINO, K. Dança Folclórica: apropriação e difusão cultural. Revista
da Comissão Mineira de Folclore, n. 24, p. 9, maio 2005.
GUSTSACK, F. Hip-Hop: educabilidades e traços culturais em moimento. 222 f.
Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2003.
MALANGA, E. B. Comunicação e Balé. São Paulo, EDIMA, 1985.
MARTINS, J. V., ROSA, M. V. Análise da percepção rítmica de alunos de dança de
salão. Coleção Pesquisa em Educação Física, 7. 2008.
OLIVEIRA, L. de C. S. de; ROSA, M. V. de. As metodologias de ensino adotadas pelos
professores de dança de salão, nas academias e/ou escolas de dança na cidade de campo
grande – MS. In: Dança de Salão: Investigando diferentes temáticas. Campo
Grande/MS: UFMS, 2014.
SANTOS, A. S. dos. Dança de rua: a dança que surgiu nas ruas e conquistou os palcos.
2011. Disponível em: https://bit.ly/3CHx61N. Acesso em: 26 ago. 2022.
SILVA, A. E. da; ROSA, M. V. da. Marcando o tempo: a história da dança de salão
em Campo Grande – MS. In: Dança de Salão: Investigando diferentes temáticas.
Campo Grande/MS: UFMS, 2014.
SOUZA, A. I. M.; REIS, E. J. B. dos. Danças Folclóricas na Educação
Física. Resgatando a Cultura Popular. Programa de Desenvolvimento
Educacional. Secretaria do estado de Educação do Paraná, 2011.
VARGAS, S. Diferentes Linguagens na Educação Física: projeto hip-hop na escola.
Relato de experiências apresentado na Universidade Salgado de Oliviera, Niterói, 2005.
VENDRAMIN, C. Diversas danças – diversos corpos: discursos e práticas da dança
no singular e no plural. Do Corpo: Ciências e Artes, 2013.
VOLP, C. M. Vivenciando a dança de salão na escola. Tese (Doutorado
em Psicologia Escolar) – Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo,
São Paulo, 1994.
ZENI, B. O Negro Drama do Rap: entre a lei do cão e a lei da selva. Revista
Estudos Avançados, São Paulo, v. 18, n. 50, jan./abr. 2004.

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO

AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS DA
DANÇA
Kaio César Celli Mota

SEM MEDO DE ERRAR


Este é o momento de retomarmos a situação-problema. Esperamos que você tenha
obtido recursos suficientes para responder aos questionamentos e encontrar soluções
inteligentes para a situação. Retomando: imaginamos ser você um professor de
Educação Física Escolar. Durante o bimestre você deveria desenvolver o conteúdo de
dança para as turmas do 8º ano. Como estratégia de ensino, você optou por abordar
diferentes linguagens de dança, para que os estudantes pudessem ter conhecimentos de
variados estilos.
Em relação a como poderiam ser organizadas as aulas, esperamos que você compreenda
que as linguagens de dança podem ser trabalhadas de acordo com a afinidade dos alunos
a respeito do assunto. Logo (e se for do interesse do professor), você poderá fazer uma
pesquisa de quais linguagens de dança poderão ser desenvolvidas e, em seguida, por
meio de pesquisas e com o auxílio de recursos visuais, introduzir passos técnicos e
movimentos características de certa modalidade.
A respeito dos conteúdos abordados, vimos ao longo da seção que danças clássicas,
danças de rua, danças folclóricas, danças de salão e dança para pessoas com deficiência
representam uma parte das diversas linguagens de dança que podem ser desenvolvidas
em sala de aula.
Esperamos que você se sinta cada vez mais seguro de trabalhar esses conteúdos em sala
de aula. Boa jornada!

AVANÇANDO NA PRÁTICA

INCLUINDO O ESTUDANTE PCD NA AULA DE DANÇA


Você é um profissional de Educação Física e recentemente recebeu em sua turma um
novo aluno, usuário de cadeira de rodas. Você e a sala estão desenvolvendo atividades
rítmicas e de dança, porém, com essa nova presença, você precisará adaptar a aula e
incluí-lo nas atividades. Quais as estratégias a serem tomadas, e como desenvolver essas
atividades?

RESOLUÇÃO

No primeiro momento, o professor deverá se informar acerca do tipo da condição e


quais são as limitações e dificuldades encontradas pelo aluno. A seguir, planejar a aula
de forma que esse estudante se sinta incluído na turma e consiga realizar os exercícios.
Se for o caso, peça para que os outros alunos o auxiliem e deem suporte, e se ele
permitir, que eles dancem com esse estudante, ainda que dentro das suas limitações.
Neste caso, os exercícios podem envolver o uso dos braços e o deslocamento com a
cadeira (com ou sem ajuda).

NÃ O PODE FALTAR

NORMAS DE MOVIMENTOS NA
DANÇA
Kaio César Celli Mota
CONVITE AO ESTUDO

Olá, estudante, que bom que chegamos até aqui. Agora, estamos no fim da nossa
jornada e esperamos que, até o momento, os assuntos estejam muito mais claros para
você. Perceba como, até aqui, construímos conceitos básicos a respeito da expressão
corporal e da dança, além de termos proposto uma série de atividades práticas que
concretizam os temas trabalhados até o devido momento. Na unidade anterior,
começamos a pesquisar as múltiplas linguagens da dança; a partir de agora,
abordaremos um ponto que acreditamos ser uma das principais temáticas da dança, que
é a composição coreográfica, e, numa perspectiva mais ampla, ela está presente em
diversas outras práticas corporais, como ginásticas, esportes coletivos etc.
Com as discussões propostas adiante, esperamos que você conheça o processo
coreográfico da dança por meio das normas de movimento, da formação de movimento
e da sequência coreográfica; desse modo, numa perspectiva de prática e atuação,
esperemos que você entenda as principais normas de movimentos na dança, além de
conhecer a formação e as sequências de movimentos.
Na Seção 1, vamos nos debruçar sobre as normas de movimento na dança e como elas
são desenvolvidas no Brasil e no exterior; na Seção 2, vamos olhar para a formação de
movimentos na dança e como eles são constituídos dentro de uma coreografia; por fim,
na Seção 3, discutiremos sobre sequências de movimento em relação a componente
didático pedagógico, escala, sequências e variações rítmicas.
Esperamos que, ao final desta unidade, você esteja apto a desenvolver a temática da
expressão corporal e da dança nas suas aulas, de maneira a desenvolver integralmente,
com os seus alunos, os sentidos rítmico, estético e expressivo.

PRATICAR PARA APRENDER

Estamos no ponto da nossa jornada em que todos os assuntos abordados até o momento
auxiliarão você a compor a gama dos conhecimentos necessários para o
desenvolvimento da disciplina de expressão corporal e dança. Sendo uma das áreas de
atuação da Educação Física, em algum momento da sua jornada profissional, você se
deparará com o desafio de desenvolver as temáticas da dança nas suas aulas. Desse
modo, tudo que viemos tratando até o momento faz parte dessa gama de conhecimentos.
Os temas estudados adiante serão relevantes para a composição coreográfica em dança,
logo, perceba que existe uma estrutura que facilita e orienta o desenvolvimento de uma
coreografia em se tratando de: ritmo, velocidade, posicionamento, interações entre os
membros, entre o espaço e a música. Se você estiver habituado e familiarizado com
esses assuntos, diante do desafio da montagem coreográfica, não encontrará
dificuldades para a sua realização.
Se você é um profissional da EF e trabalha nas áreas de dança, tenha em mente que ela
proporciona um desenvolvimento integral do corpo, de modo que o sujeito passa a
perceber a si próprio, os outros e o mundo de outra forma. Sendo assim, esteja ciente de
que é de sua responsabilidade o estímulo dessas capacidades/habilidades que são
intrínsecas ao ser humano. Sendo assim, vamos propor uma situação-problema e
esperamos que, ao longo desta seção, você se sinta capaz de solucionar tais
questionamentos. Digamos que você é um professor de dança competitiva, de
modalidades de dança de salão, e que você e seus alunos irão participar, pela primeira
vez, de um campeonato internacional, que possui regras e características próprias. Antes
de montarem as suas coreografias, vocês precisam saber como são as normas e o
funcionamento da dança nesse país, suas competições e como elas podem influenciar
nas suas composições coreográficas. Diante disso, quais estratégias devem ser seguidas?
Ainda assim, quais as principais diferenças entre as normas do Brasil e do exterior?
Esperamos que, até o final da unidade, você esteja com as respostas na ponta da língua.
Estamos juntos nessa jornada, boa sorte!

CONCEITO-CHAVE

APLICAÇÃO

Quando falamos em normas, estamos nos referindo a um princípio que serve de regra
ou, ainda, aquilo que determina um comportamento, uma conduta ou uma ação. Se
pensarmos na dança e na sua constituição ao longo da história, perceberemos o
desenvolvimento de algumas correntes (ou, se preferir, técnicas) que foram se
estabelecendo por meio de normas e condutas.
Como vimos anteriormente, o ballet clássico representa uma dança imersa na técnica, na
qualidade dos movimentos e nos símbolos que a constituem. Como exemplo disso, as
posições dos braços e pés, criadas em meados do século XVII, perduram até os dias de
hoje; percebemos, ao longo da sua formação, um aprimoramento dessas técnicas
somadas a um desenvolvimento artístico, social, político e cultural das sociedades que
compunham as danças clássicas, o que fez com que as normas, especificamente para
esse tipo de dança, fossem estabelecidas como as conhecemos nos dias de hoje.
Para clarear as nossas reflexões, analise as imagens abaixo e perceba como algumas
normas do ballet clássico permanecem até a atualidade; veja como elas são aprimoradas
e desenvolvidas de acordo com as condições atuais dos bailarinos (seus corpos e
físicos).

Figura 4.1 | Posição de “atitude”. Pintura século XVIII x Bailarina século XXI
Fonte: Wikimedia Commons.

No que concerne às normas e técnicas do ballet clássico, percebemos algumas dessas


particularidades na formação da sua linguagem. Para Assumpção (2003, p. 5):

O Ballet Clássico, é uma modalidade de dança, que surgiu nas cortes com
entretenimento para os reis, foi sendo cada vez mais elaborado através de um código
técnico de passos e normas, e hoje vigora como umas das modalidades de dança mais
praticadas e reconhecidas.

Desde a sua constituição até os dias de hoje, algumas dessas características podem ser
destacadas:

 Fixação das posições dos pés e braços.


 Uso da sapatilha de ponta e tutu (figurino, saia armada e rodada).
 Formação baseada na graduação de níveis – iniciação ao profissionalizante.
 Uso do “en dehors” – rotação externa na perna na articulação coxofemoral.
 Uso de barra para o desenvolvimento de exercícios com apoio.

REFLITA
Como tratado anteriormente, o uso do “en dehor” é uma característica marcante do
ballet clássico, ele pode ser compreendido como uma rotação externa da coxa, na
articulação coxofemoral, segundo o qual todos os passos serão executados. Alguns
estudos sugerem que o uso exacerbado dessa posição pode gerar inúmeras lesões,
devendo, então, ser trabalhado de maneira consciente.
Podemos dizer que os exemplos citados acima são algumas das normas do ballet
clássico que constituem a sua técnica. Independentemente do local em que for praticado,
essas características serão mantidas por conta de todo um respeito às normas
anteriormente fixadas, dessa forma, concordamos com Assumpção (2003, p. 7):

Hoje, o Balé Clássico segue um código de normas que pode ser francês, italiano, russo,
mas que não perde a rigidez, chegando ao ponto de haver correções na angulação do
rosto dos (as) bailarinos (as) .... Este código é usado por grupos de balé clássico, de jazz,
de moderno e de contemporâneo, graças a sua eficácia enquanto técnica.

ESTRUTURAÇÃO

Quando pensamos em estruturação, estamos nos referindo à maneira como algo é


organizado, seguindo regras e normas de acordo com alguns parâmetros. Para as nossas
discussões, abordaremos as normas da dança de salão, modalidade competitiva
conhecida como Dança Esportiva. No cenário brasileiro, essa modalidade foi
recentemente inserida, por mais que já praticássemos as danças de salão de maneira
recreativa, nas escolas de dança, clubes e academias.
Como já vimos, a dança de salão é uma dança de pares, em que uma pessoa representa a
figura do condutor (aquele que dá os comandos), enquanto a outra a figura do
conduzido (aquele que cede aos comandos). Num jogo de aplicação de forças entre
membros e tronco, os parceiros se deslocam pelo espaço, por meio de uma música,
executando os passos técnicos e característicos de um determinado ritmo. Ao
refletirmos sobre as danças esportivas no Brasil, concordamos com Paula (2008, p. 19):

A Confederação Brasileira de Dança Esportiva (CBDance) foi criada e formada em


2005 para difundir o esporte e inserir o Brasil no contexto mundial da Dança Esportiva,
a partir das normas adotadas pela International DanceSport Federation (IDSF). A
CBDance quer estimular a prática da Dança Esportiva, formar multiplicadores,
organizar competições de âmbito nacional, criar um ranking nacional e preparar atletas
para representar o Brasil em competições internacionais.

Podemos dizer, então, que essa modalidade esportiva e competitiva da dança de salão,
chamada de Dança Esportiva, obedece às regras ditadas pela International DanceSport
Federation, que foram estabelecidas no ano de 1930 na Inglaterra (VOLP, 2010).

Figura 4.2 | Competição de dança esportiva


Fonte: Wikimedia Commons.

A saber, destacamos algumas das suas normas para que possa entender sua estruturação:

 É dançada a dois (casal).


 Reconhecida como modalidade Olímpica.
 Os Syllabus são os passos codificados que têm a mesma descrição no mundo todo, o
que favorece o seu ensino e permite a sua prática e difusão internacionalmente.
 Contempla 10 ritmos internacionais de danças de salão divididos em 2 modalidades:

Quadro 1 | Modalidades standard e latin


Modalidade Standard M

Valsa Lenta; Samba Internacional;


Tango Internacional; Cha cha cha;
Valsa Vienense; Rumba;
Slow Fox; Paso Doble
QuickStep. Jive

Fonte: adaptado de Conselho Nacional de Dança Esportiva (2020).

Podemos perceber que a dança esportiva obedece a uma série de regras internacionais
que foram fixadas para que pudessem ser praticadas em todo o mundo. Seguindo uma
mesma estrutura, essa dança rompe as fronteiras geográficas, permitindo que os
participantes (competidores) estejam páreo a páreo durante as competições. A saber,
destacamos a importância das normas e estruturação, para que seja desenvolvida uma
dança esportiva de caráter internacional.
NORMAS EM OUTROS PAÍSES

Como vimos, o contexto das danças é múltiplo e variado. Ao passo que elas foram se
desenvolvendo ao longo do planeta, foram incorporando características próprias de um
determinado povo, características essas que representam as suas culturas, seus
costumes, valores etc., desse modo, é correto inferir que existem diferenças de normas e
estruturações de certos tipos de dança, de uma parte do planeta para outra.
Diferentemente dos exemplos tratados anteriormente, como o caso do ballet clássico e
da dança esportiva, que formularam, ao longo das suas histórias, normas e regras que
são válidas para quaisquer praticantes de todo o mundo, lidaremos, adiante, com um
tipo de dança característico e próprio de um povo em específico, que é o caso das
danças indianas.
Em primeiro lugar, é preciso destacar a forte ligação desse povo e a sua cultura com a
religiosidade. A sua identidade cultural foi formada ao longo dos séculos por meio de
crenças e práticas religiosas, de modo que a arte manifesta a sua ligação com o divino.
Por ser um país geograficamente extenso e populoso, observa-se o desenvolvimento da
dança para além do contexto clássico, como as danças folclóricas, que variam de acordo
com a região do país.
Sendo assim, há sete estilos de dança indiana considerados “clássicos”, em que cada um
vem de uma determinada região. Para Andrade (2008), os estilos e suas características
são:

 Brarata Natyam: estilo desenvolvido no Sul do país, considerado o mais antigo. Trata-
se de um estilo de dança que representa os sentimentos e que, inicialmente, era
praticado somente por mulheres.
 Mohini Attam: considerada a “dança do encantamento”, com movimentos de árvores,
vento e ondas do mar, representa sedução, delicadeza e graciosidade.
 Odissi: desenvolvida no Leste do país, dança que representa a energia masculina e
feminina.
 Kathak: foi criada nas margens do Ganges e considerada como uma dança para
“contar histórias”. Ela é caracterizada por giros e trabalhos de pés.
 Kuchipudi: pode ser considerada uma dança teatro ou uma dança folclórica. Os
dançarinos equilibram um pote com água na cabeça sem que ela caia, caracterizando
sua habilidade, agilidade e ritmo.
 Kathakali: considerado um ritual de adoração a serpentes, com figurinos elaborados e
muito coloridos.
 Manipuri: dança com ênfase nos movimentos corporais, com o uso de espadas e
escudos.

Para esse contexto internacional, especificamente das danças indianas, percebemos que
elas apresentam normas, estruturação e características próprias que vão representar os
costumes da sua cultura e do seu povo. Recentemente, por conta de intercâmbios
culturais, essa modalidade de dança está sendo difundida por mais regiões do planeta,
colocando-nos em contato com novas experiências e construindo um novo olhar para a
dança.

ASSIMILE
Entenda que, no contexto das danças internacionais, cada uma segue e respeita as
normas próprias do povo que a constituiu. Desse modo, ao decidir abordar esses
assuntos nas suas aulas, é necessário que você pesquise, oriente-se, informe-se e, se
possível, convide um especialista no assunto para trabalhar e o orientar nessas questões.
Figura 4.3 | Danças clássicas indianas

Fonte: Wikimedia Commons.

NORMAS NO BRASIL

Ao tratarmos do Brasil, precisamos levar em consideração a sua grande extensão, de


modo que a sua cultura e a arte acompanham a diversificação dos povos espalhados ao
longo do seu território; dessa maneira, acreditamos que as normas e estruturas das
danças devem ser consideradas múltiplas e diversificadas, e para um recorte específico,
trataremos das danças contemporâneas como sendo uma das manifestações de dança
que se firmaram no país e incorporam algumas das técnicas já desenvolvidas aqui para a
criação de algo novo e genuinamente brasileiro.
Concordamos com Assumpção (2003, p. 12): “A dança contemporânea em geral, tem
finalidades artísticas que buscam num trabalho coreográfico uma nova linguagem, na
qual o corpo pode estar liberto de amarras técnicas.” Para Assumpção (apud FARO,
1980), o dançarino procura seguir certos códigos de movimento com fins de “limpeza”,
para que, de alguma forma, esses movimentos mais rudimentares possam ser levados ao
palco. Aliás, é comum que dançarinos contemporâneos se apoiem em outras técnicas de
dança para a construção do seu perfil físico, com foco nas habilidades e agilidades, que
serão requisitadas pelas danças contemporâneas em momentos de treino e performance.

Figura 4.4 | Quasar Cia de Dança (Brasil)


Fonte: Wikimedia Commons.

EXEMPLIFICANDO
Fundada em 1988, a Quasar Cia de Dança, sediada em Goiânia – GO, pode ser
considerada uma cia que nasce fora das bases clássicas e as incorpora posteriormente,
resultando num corpo cênico mais eclético e mais próximo do urbano (TORRES, 2008).

No Brasil, dezenas de grupos, companhias e coletivos desenvolvem as danças


contemporâneas de acordo com as suas características pessoais, ora se aproximando, ora
se afastando de alguns padrões estéticos ou de algumas temáticas insurgentes nas áreas
das artes, cultura, política e sociedade em geral. A exemplo disso, sendo o Brasil um
país majoritariamente negro, diversos são os grupos que desenvolvem um trabalho de
dança contemporânea voltado para as manifestações das culturas negras no caminho da
religiosidade (como no caso das religiões de matrizes africana).
Com essa proposição, gostaríamos de destacar que as danças contemporâneas,
principalmente aquelas desenvolvidas no Brasil, não seguem um modelo de norma e
regras específico, por conta do seu desenvolvimento e a sua complexidade de técnicas,
além das características próprias do local (e povo) que estão sendo desenvolvidas. Dessa
maneira, concordamos com José (2011, p. 2), ao tratar das danças contemporâneas:

A possibilidade de criar, inovar, romper com normas, regras e padrões hierárquicos, de


se diferenciar e ser diferenciado vem ao longo da história da dança e das artes cênicas,
estimulando corpos dançantes à composição de partituras cênico-coreográficas,
revelando diferentes formas de linguagem expressiva do corpo, demonstrando seu modo
de ver-sentir pensar e estar em comunicação com a realidade e com o mundo.
Quando tratamos das normas, buscamos criar códigos que diferenciam uma técnica de
dança da outra, ao ponto em que ela possa ser desenvolvida integralmente pelos
diversos indivíduos que a praticam. Sendo assim, é preciso levar em consideração o
estilo que busca ser praticado (as intenções, vontades e desejos por essa modalidade),
além de um local que proporcione um ensino e pesquisa em dança de qualidade.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, J. Dança clássica indiana: história, evolução, estilos. Curitiba: Edição do


Autor, 2008.
ASSUMPÇÃO, A. C. R. O balé clássico e a dança contemporânea na formação
humana: caminhos para a emancipação. 2003. Monografia (Graduação em Educação
Física) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2003.
CONSELHO NACIONAL DE DANÇA DESPORTIVA. Dança Esportiva. 2020.
Disponível em: https://bit.ly/3csW2iC. Acesso em: 27 jun. 2022.
FARO, A. J. Pequena história da dança. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira,
1980.
JOSÉ, A. M. de S. Dança contemporânea: um conceito possível? In: COLÓQUIO
INTERNACIONAL, 5., 2011, São Cristóvão. Anais [...]. São Cristóvão, 2011.
MARCUCCI, N. C. Z. Dança indiana e dança do ventre: representantes da cultura
oriental e suas influências na cultura brasileira. 2010. Monografia (Graduação em
Educação Física) – Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho, Rio Claro, 2010.
PAULA, D. A. M. de. Dança de salão: história e evolução. 2008.Monografia
(Graduação em Educação Física) – nstituto de Biociências, Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho, Rio Claro, 2008.
TORRES, R. G. de A. Marcas híbridas em corpos que dançam a
cena brasileira. ABRACE, [S. l.], v. 9, n. 1, 2008.
VOLP, C. M. A dança de salão como um dos conteúdos de dança na escola. Motriz,
Rio Claro, v. 16, n. 1, p. 215-220, jan./mar. 2010.

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO

NORMAS DE MOVIMENTOS NA
DANÇA
Kaio César Celli Mota

SEM MEDO DE ERRAR

Olá, estudante. Que bom que chegamos até aqui; esperamos que, ao longo desta seção,
você tenha compreendido melhor os conceitos relacionados às normas, aplicação e
estruturação das danças no Brasil e no exterior. Agora, com os conceitos um pouco mais
ancorados, chegou o momento de retomarmos a nossa situação-problema e esperamos
que você se sinta capaz de responder tais questionamentos.
Retomando, falamos que você é um professor de dança competitiva, das modalidades de
dança de salão, e que irá, com seus alunos, participar, pela primeira vez, de um
campeonato internacional, que possui regras e características próprias. Antes de montar
as suas coreografias, vocês precisam saber como são essas normas e o funcionamento da
dança específico para esse país e suas competições, bem como elas podem influenciar
nas suas composições coreográficas. Quanto os questionamos sobre quais as estratégias
a serem seguidas, percebemos que é necessário consultar o código de normas e regras
próprias da competição. Tratando-se das danças esportivas, esse código foi criado
pela International DanceSport Federation e é seguido internacionalmente.
Quanto aos questionamos sobre quais são as principais diferenças das normas para o
Brasil e o exterior, percebemos que, se for seguido o exemplo da dança esportiva, o
mesmo código de normas serve para o Brasil e os demais países. Nesse mesmo ponto, o
ballet clássico apresenta, também, uma série de códigos e condutas que também são
difundidos internacionalmente. Frente a isso, percebe como é importante o
entendimento de algumas normas e como elas caracterizam um certo tipo de dança? Ao
escolher trabalhar com isso, é urgente que você se atualize constantemente sobre as
danças e suas especificações.

AVANÇANDO NA PRÁTICA

DANÇA CONTEMPORÂ NEA NA ESCOLA


Digamos que você seja professor escolar e, por demanda dos seus alunos, terá de
trabalhar a dança contemporânea em suas aulas. Partindo do pressuposto de que essa
modalidade é nova para você, como desenvolvê-la?

RESOLUÇÃO

Digamos que você seja professor escolar e, por demanda dos seus alunos, terá de
trabalhar a dança contemporânea em suas aulas. Partindo do pressuposto de que essa
modalidade é nova para você, como desenvolvê-la?
NÃ O PODE FALTAR

FORMAÇÃO DE MOVIMENTOS NA
DANÇA
Kaio César Celli Mota

PRATICAR PARA APRENDER

Olá, estudante, que bom que chegamos até aqui. Estamos na reta final da nossa jornada
e é esperado que, até momento, você esteja seguro o suficiente para aplicar os
conhecimentos de expressão corporal e dança nas suas aulas, estimulando os seus
alunos por meio da dança, de jogos rítmicos, dinâmicas e movimentações desejadas para
essa disciplina.
Por mais que a dança não seja a sua principal área de atuação (e que sorte a sua se ela
for), espero que você se sinta apto e consciente de que esse é um conteúdo transversal
que ultrapassa todas as áreas da Educação Física (EF). Seja na EF escolar, em salas de
ginástica, quadras, campos, ginásios, tratando-se do corpo como nosso instrumento de
trabalho, ele é transpassado pelos fenômenos de movimento e ritmo, independentemente
da atividade que estiver sendo realizada. Logo, tenha em mente que esse é um conteúdo
extremamente importante para a EF e que servirá de apoio para as demais áreas.
Se você é um profissional da EF e trabalha nas áreas de dança, tenha em mente que ela
proporciona um desenvolvimento integral do corpo, de modo que o sujeito passa a
perceber a si próprio, os outros e o mundo de outra forma. Sendo assim, esteja ciente de
que é de sua responsabilidade o estímulo dessas capacidades/habilidades que são
intrínsecas ao ser humano.
Dessa maneira, iremos propor uma situação-problema e esperamos que, até o final da
unidade, você se sinta capaz de responder tais questionamentos. Digamos que você é
coreógrafo de uma companhia de dança e, para o seu próximo trabalho, você e seus
alunos terão de pesquisar e coreografar a partir da perspectiva de planos e significados.
Por meio de alguns tipos de movimentos, vocês terão que dar uma interpretação para
essa coreografia, logo, como solucionar tais questões? Qual o ponto de partida desse
trabalho? Como a interpretação na dança carrega significados para ela?
Esperamos que, até o final desta unidade, você se sinta suficientemente capaz de
responder a tais questionamentos. Desejamos força para você, estamos juntos para
finalizar essa jornada!

CONCEITO-CHAVE

INTERPRETAÇÃO

Quando falamos de interpretação, estamos nos referindo a uma ação executada por meio
da representação de algo que será transmitido como mensagem para outro alguém.
Segundo o site Significados (2022, [s. p.]):

A palavra tem origem do latim interpretatĭo,ōnis que significa “explicação, sentido” ...
que caracteriza uma ação ou efeito que estabelece uma relação de percepção da
mensagem que se quer transmitir, seja ela simultânea ou consecutiva, entre duas pessoas
ou entidades.

No contexto das artes, a palavra interpretação está diretamente relacionada com o “ato”
do ator, no que diz respeito a dar vida a um novo alguém (personagem), que estará
dentro de um contexto narrativo-fictício. Ainda assim, no caminho da música, a palavra
interpretação vai estar relacionada com a ação da execução musical e da performance;
agora, quando tratamos da dança, aproximamo-nos do conceito geral das artes, de forma
que a interpretação vai representar o momento em que dançarino se envolve com os
estímulos sonoros, técnicos, visuais e figurativos por meio das movimentações do seu
corpo e com todo o contexto apresentado, sendo um momento de entrega, harmonia e
fluxo entre ele mesmo, as pessoas, o ambiente e tudo que estiver ao seu redor. Desse
modo, concordamos com BritTo (2013, p. 3): “No movimento do que é, está em ato de
interpretação no seu corpo permissivo de linguagem, no qual o texto-dança vai se
desvelando a cada pouso e repouso próprio, a que pertence o movimento de interpretar-
se.”
De forma literal, a interpretação também pode ser usada na dança como meio de dar
vida a um personagem dentro de um enredo específico. Como no caso dos grandes
ballets de repertório, em que os bailarinos assumem as posições de determinados
personagens que serão representados por meio da vestimenta, da maquiagem, das
movimentações e ações técnicas específicas, como o caso da “Odette”, princesa
enfeitiçada no ballet O Lago dos Cisnes, de composição musical de Tchaikovsky.

Figura 4.5 I Interpretação no Lago dos Cisnes


Fonte: Wikimedia Commons.

Agora, chegou o momento de desenvolvermos esse conceito de maneira prática, desse


modo, ao trabalhar o conteúdo de dança nas suas aulas, procure trazer a interpretação
como um elemento que complemente o ato e a ação de dançar, criando pontes, diálogos
e ligações entre dançarinos e plateia, com foco na transmissão de uma mensagem ou
sentimento.

 A história dançada – essa atividade consiste na criação de uma história entre


professores e alunos. No primeiro momento, o foco será a criação dos personagens,
suas características, o enredo, o local etc.; após isso, os alunos decidirão, entre si,
quem interpretará o quê – lembrando da necessidade de que todos tenham um
personagem; por fim, terão de dar vida aos personagens, porém como o objetivo da
atividade é estimular a interpretação por meio da dança, não poderá haver fala, a
história deverá ser contada somente pela dança. Se necessário, reserve mais aulas
para a continuação do processo, filme e compartilhe com eles. Reforce a necessidade
de haver uma interpretação adequada e que transmita alguma mensagem ou
sentimento.

PLANOS

Da necessidade de se orientar no espaço, os planos vão indicar em que medida os


trabalhos coreográficos, as movimentações, passos e poses irão acontecer com relação à
proximidade do chão, verticalização do tronco, elevações em saltos ou momentos de
transição. Nesse sentido, podemos relacioná-lo com os “níveis do movimento”,
conceituação cunhada por Laban (1973), que vai ter relação com os níveis em que o
respectivo movimento vai ser realizado.
Dessa forma, ao tratarmos do nível baixo, estamos nos referindo ao plano mais próximo
ao solo, também conhecido como plano horizontal, em que o eixo de massa do corpo se
encontra próximo ao centro de gravidade da terra, nesse caso, próximo ao chão. As
danças contemporâneas são a grande referência para trabalhos no nível baixo, no que
diz respeito a sequências, diagonais, rolamentos, deslizamentos, além, é claro, de esse
recurso ser altamente explorado durante processos coreográficos.

Figura 4.6 | Trabalho de chão na dança contemporânea


Fonte: Wikimedia Commons.

O nível médio (ou plano médio) vai indicar um pequeno afastamento do centro de
massa do corpo em relação ao chão, havendo a necessidade de maior uso dos membros
inferiores para posições de grandes flexões dos joelhos, apoios com o joelho ao chão,
agachamento, pliés etc. Ainda no nível médio, ocorre a liberação do uso dos braços em
relação ao espaço ocupado pelo bailarino (Cinesfera – Laban, 1973), no sentido de
flutuar e explorar o “ar”, mas mesmo assim, ocorre a necessidade do uso para apoio das
mãos e braços em movimentação de “4 apoio”, por exemplo.

Figura 4.7 | Movimentação em nível médio


Fonte: Wikimedia Commons.

EXEMPLIFICANDO
Os cannons são movimentos amplamente usados na dança quando se referem a
coreografias em conjunto, ou seja, com mais de uma pessoa dançando. Eles representam
um movimento em cascata, em que cada integrante da turma realiza o mesmo
movimento um tempo depois do colega anterior; desse modo, o efeito visual atrai a
atenção do público por meio desses movimentos repetidos sequencialmente em cascata,
dando uma sensação de fluxo e fluidez.

O nível alto (plano vertical) vai indicar o máximo de afastamento do centro de massa no
corpo em relação ao chão, só que, dessa maneira, com mais extensão dos joelhos
(pernas esticadas, ou semi-estendida), elevação do tronco, liberação dos braços e
cabeça. Ainda no nível alto, poderíamos pensar num nível aéreo, indicando a perda de
contato durante momentos de saltos, por exemplo, com relação ao chão. As danças
clássicas, desde a sua concepção, busca um afastamento do chão, com elevação (no
sentido de superioridade) da bailarina, com o uso da sapatilha de ponta, por exemplo; o
nível alto é amplamente explorado pelas mais variadas modalidades de dança, sendo
possível o uso de saltos, giros, deslocamentos, diagonais, cannons, sequências etc.

Figura 4.8 | Movimentações em nível alto e aéreo na dança


Fonte: Wikimedia Commons.

PRÁTICA
A fim de fixação do conceito de níveis e planos, iremos propor duas atividades:
1. Pega-pega animal: a brincadeira consiste em um pega-pega tradicional, porém para
fins de incorporação dos níveis e transição entre eles, deverá ser feita imitando-se uma
cobra (arrastando o corpo no nível baixo), um caranguejo (posição de quatro apoio de
barriga para cima, no nível médio) e um canguru (saltos com os dois pés, no nível alto
aéreo); além disso, o professor é quem decide quando mudar o animal. 2. Passeando
pelos níveis. Com movimentos preestabelecidos, os alunos deveram transitar pelos
níveis de acordo com a orientação do professor. Se necessário, escolha uma modalidade
específica de dança, pesquise e ensine movimentações que trabalham com esse
conceito, a saber: saltos, giros, rolamentos, deslizamentos, apoios, flexões e tronco,
braços etc.

SIGNIFICADOS

Da complexidade da dança, tiramos diversos significados. Falaremos, então, da relação


primordial: a de quem dança (artista) e de quem aprecia (plateia). No primeiro caso,
podemos dizer que o significado da dança está atrelado às emoções atribuídas e
experienciadas pelo dançarino no momento em que ele dança. Entendemos que o ato de
dançar promove benefícios, além das atribuições físicas, no sentido de bem-estar com o
corpo, também relacionadas ao bem-estar mental, como alegria, satisfação e êxtase.
Sendo assim, cada um atribui um significado diferente para a sua dança, estando
relacionado com a sua trajetória pessoal e as suas afinidades por uma determinada coisa.
Desse modo, concordamos com Freire e Azevedo, (2020, p. 4): “Através dos tempos, a
dança tem assumido diferentes significados, sendo a arte mais completa dentre as que
existem.”

REFLITA
A dança em toda a sua complexidade carrega uma infinitude de significados, que são
pessoais e intransferíveis de pessoa para pessoa. Desse modo, enquanto profissionais do
movimento, precisamos respeitar os processos individuais dos nossos alunos; à medida
que entendemos que a dança é algo natural e intrínseco do ser humano, cada um vai se
relacionar de uma forma diferente, no sentido mais profissional ao vocacional, de
pesquisa, por hobbies ou prática de atividade física. Ao proporcionarmos um ambiente
mais plural, estamos permitindo que nossos alunos encontrem um modo pessoal de se
relacionar com essa prática, além de descobrir os próprios caminhos com a dança.

No sentido de quem aprecia, a plateia, assim como discorremos anteriormente, o


significado para quem assiste estará relacionado com uma trajetória pessoal, no sentido
de interesses, costumes, busca a apreciação por arte etc., além, é claro, das suas
afinidades por determinados temas ou assuntos. Sendo assim, os significados da dança
para essas pessoas serão diferentes, à medida que as experiências são pessoais e
intransferíveis. Mas de um mesmo modo, a busca por emoções e sensações marcam a
dança como um todo. Sendo assim, concordamos com Freire e Azevedo, (2020, p. 4):

Mesmo com vários significados, a dança será entendida pelo homem apenas no
movimento. Tanto para quem dança como para quem assiste, ela faz sentido e, também,
cria novos sentidos. Esses conceitos se entrelaçam e criam outros infinitos.
Para refletirmos melhor sobre “significados”, iremos propor a seguinte atividade: A
dança da sua família – cada aluno vai pesquisar em casa um estilo de dança que esteve
sempre presente nas festas familiares; no próximo passo, ele terá de fazer uma busca
sobre a história, características, artistas e músicas de referência dessa dança e uma lista
de recordações. Como disparador das reflexões, o professor poderá fazer os seguintes
questionamentos: o que essa dança significa para você? O que significa para a sua
família? Quais são as memórias que te vêm à mente? Quais são as emoções que você
vive ou viveu com essa dança? A seguir, os alunos deverão compartilham as
experiências e perceber os diferentes significados afetivos atribuídos a essas danças.

TIPOS DE MOVIMENTO
Ao tratarmos dos tipos de movimentos na dança, precisamos levar em consideração as
suas multiplicidades de estilos e modalidades, em que cada uma vai ter uma linguagem
própria, logo, diferentes tipos de movimentos. Pensando em um aspecto mais amplo, os
movimentos podem ser considerados a partir de uma exploração e criação de um
repertório motor próprio, nesse sentido, acreditamos que os alunos passarão a
desenvolver múltiplas habilidades, além, é claro, do desenvolvimento da criatividade
como fator essencial para a exploração de novos movimentos na dança. Desse modo,
concordamos com Rolfe e Harlow (1992, p. 32): “O equilíbrio entre desenvolver
movimentos com criatividade e com habilidade técnica deve ser uma busca
constantemente considerada.”
Sendo assim, a nossa intenção é exemplificar alguns tipos de movimentos que poderão
ser usados para as suas composições coreográficas, mas reforçamos a necessidade de
que você e seus alunos criem, explorem e compartilhem os seus próprios movimentos,
aqueles que fazem mais sentido para vocês. Logo adiante, alguns exemplos de
movimentos:

 Saltos: movimentos de pular e saltar do chão, em sentido a um nível alto ou aéreo.


Dentro de algumas conformidades da dança, alguns saltos já foram criados e podem te
auxiliar na exploração de novas conjunturas a partir deles, exemplos: salt de cheval,
salto afastado, salto tesoura, sissone, assemblé etc.
 Giros: movimentos de rotação do corpo no próprio eixo. Geralmente, esses
movimentos são feitos com uma elevação na ponta dos pés, o que diminui a superfície
de contato do pé com o chão, melhorando a sua dinâmica. Ainda assim, eles podem
ser feitos com deslocamento ou, ainda, no próprio lugar. Exemplos:
piruetas, chainés, piquets tour etc.
 Rolamentos: esses movimentos acontecem próximos ao nível ou plano baixo e
indicam uma rotação do corpo no eixo horizontal com maior contato das partes do
corpo (membros e tronco) com o solo. Exemplo: cambalhota.
 Contração e expansão: a partir dessas conceituações, existem uma série de
movimentos que podem ser explorados por meio do princípio de “contrair”, ou seja,
de aproximar as partes do corpo ao centro de massa, recolhendo braços e pernas, por
exemplo, ou “expansão”, no sentido de se afastar do centro de massa, ampliando, ao
máximo, o limite da sua cinesfera. Esses conceitos devem estar associados à
respiração, no sentido que a inspiração indicada é o movimento de expansão, já a
expiração é o movimento de contração. Quando associados, os movimentos ganham
mais fluidez e dinâmica.
 Deslizamentos: indica um movimento feito em deslocamento, em que certa parte do
corpo (na maioria das vezes os pés) está em contato o tempo todo com o chão.
Exemplos: slides, chassé etc.
 Quedas: esse tipo de movimento pode estar associado aos saltos, uma vez que as
quedas também indicam um momento de pouso, recepção ou amortecimento. Ainda
assim, elas representam uma soltura do corpo em sentido ao nível baixo ou médio,
com recuperação seguida ao nível alto ou entrega do corpo ao chão. Esse tipo de
movimentação exige treinamento e técnicas para que os alunos não se machuquem;
indica-se, para as quedas, o apoio dos braços e das partes do corpo menos rígidas.
Exemplo: cair e levantar.

ASSIMILE
Os termos tratados ao final desta última seção foram usados como exemplos de tipos de
movimentos derivados, em sua maioria, da linguagem do ballet clássico. Em caso de
dúvidas ou, também, interesse em usá-los como exemplos de passos para se trabalhar
em aula, indicamos que consulte dicionários de ballet, além das plataformas de vídeos
na internet.

 Prática: seguindo a linha dos tipos de movimentos, a atividade consiste na criação e


exploração de movimentos levando-se em consideração as conceituações citadas
anteriormente. Desse modo, os alunos deverão criar 1 movimento de cada tipo (salto,
giro, rolamento, contração e expansão, deslizamento e quedas); em seguida, eles
deverão compartilhar os movimentos criados com os demais membros da turma, e
esses movimentos poderão ser solicitados no momento da composição coreográfica.

Esperamos que os assuntos vistos ao longo desta última seção o auxiliem em momentos
coreográficos. Entenda que é de sua responsabilidade a busca constante por informações
e novos conhecimentos, principalmente aqueles voltados para o campo da dança. Sendo
assim, esperamos que nosso material indique possíveis caminhos. Boa Jornada!

REFERÊNCIAS

BRITTO, W. L. de A. O Silêncio na Dança. In: REUNIÃO CIENTÍFICA ABRACE, 7.,


2013, Belo Horizonte. Anais [...]. Belo Horizonte: UFMG, 2013.
FREIRE, A. L.; AZEVEDO, G. F. Sentidos e significados da dança: um contratempo
de (in) definições. 2020.
Monografia (Bacharel em Educação Física) – Centro Universitário do Planalto Central
Apparecido dos Santos, Brasília, DF, 2020.
LABAN R. Modern educational dance. London: McDonald e Evans; 1973.
MALANGA, E. B. Comunicação e balé. São Paulo: EDIMA, 1985.
ROLFE, H.; HARLOW, M. Let’s dance. London: BBC Enterprises, 1992.
SIGNIFICADOS. Significado de interpretação. [s. d.]. Disponível
em: https://bit.ly/3TlyLQx. Acesso em: 27 jun. 2022.

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO

FORMAÇÃO DE MOVIMENTOS NA
DANÇA
Kaio César Celli Mota

SEM MEDO DE ERRAR

Olá, chegou o momento de retomarmos a nossa situação-problema. Esperamos que, até


aqui, você tenha absorvido o conhecimento necessário para responder aos nossos
questionamentos. Perceba, cada vez mais, como esses conhecimentos compõem o
campo da dança, porém é de sua responsabilidade usá-los da melhor maneira.
Diante disso, pedimos a você, enquanto coreógrafo de uma companhia de dança, e seus
alunos que pesquisassem e coreografassem a partir da perspectiva de planos e
significados. Por meio de alguns tipos de movimentos, vocês devem dar uma
interpretação para uma coreografia, logo, como solucionar tais questões? Entendemos
que a coreografia vai representar aquilo que pode significar ao professor ou coreógrafo
ou, ainda, aos bailarinos. Se estamos fazendo uma interpretação pura, devemos focar as
características de um certo personagem e trazer, por meio da dança, as suas
significações. Quando nos questionamos sobre qual o ponto de partida desse trabalho,
entendemos que o início consiste em refletir sobre a imagem que se quer transmitir e,
em seguida, criar e explorar alguns tipos de movimentos com significados para essa
dança.
Agora, quando perguntamos como a interpretação na dança carrega significados para a
mesma, entendemos que a interpretação vai ser o processo pelo qual a mensagem ou o
sentimento vai ser transmitido do dançarino para a plateia, gerando uma aproximação e
identificação com a arte.
Esperamos que, até aqui, os assuntos tenham ficado mais claros para você. Estamos
entrando na reta final, boa jornada!

AVANÇANDO NA PRÁTICA

DANÇA PARA TERCEIRA IDADE


Digamos que você seja um profissional de Educação Física e que foi convidado para
montar uma coreografia para uma turma de terceira idade em associação de um bairro.
Quais são os movimentos possíveis de se explorar nessa coreografia?

RESOLUÇÃO

Como vimos anteriormente, existem alguns tipos de movimentos que podem ser
explorados na dança, como: saltos, giros, deslocamentos, contração e expansão,
deslizamentos etc.. Tratando-se de uma turma que, provavelmente, apresentará algum
tipo de limitação, cabe ao profissional escolher adequadamente os movimentos
propostos.

NÃ O PODE FALTAR

SEQUÊNCIAS DE MOVIMENTOS
Kaio César Celli Mota

PRATICAR PARA APRENDER

Querido estudante, finalmente, chegamos ao final da nossa jornada. Esperamos que, até
aqui, você tenha se sentido confortável em desenvolver os conteúdos da expressão
corporal e da dança nas suas aulas. Perceba como, ao longo das nossas discussões,
fomos trazendo uma série de conceitos e conteúdos que fazem parte da dança, tais como
ritmo, tipos de dança, interpretação, musicalidade etc. Independentemente da área que
você vier a atuar, você acabará se deparando com a dança ou ritmo, já que fazem parte
do conteúdo do movimento humano.
Se você é um profissional da EF e trabalha nas áreas de dança, tenha em mente que ela
proporciona um desenvolvimento integral do corpo, de modo que o sujeito passa a
perceber a si próprio, os outros e o mundo de outra forma. Sendo assim, esteja ciente de
que é de sua responsabilidade o estímulo dessas capacidades/habilidades que são
intrínsecas ao ser humano.
Para melhorar a sua aprendizagem, iremos propor uma situação-problema e esperamos
que, até o final da nossa última seção, você tenha obtido conhecimentos suficientes para
responder a tais questionamentos: chegamos em junho, comemoração das festas juninas
e a assessoria esportiva para a qual você trabalha foi contratada para coreografar a
“quadrilha” de uma empresa. Como um profissional do ritmo, você terá de organizar o
desenvolvimento de uma coreografia com base em sequências de movimentos
específicos para o tema apresentado, além da variação do ritmo com a famosa
“quadrilha maluca”. Diante disso quais são as estratégias necessárias para o
desenvolvimento desse trabalho?
Esperamos que, até o final desta seção, você se sinta suficientemente capaz de
responder a esse questionamento. Estamos juntos finalizando esta jornada!

CONCEITO-CHAVE

A DANÇA COMO CONTEÚDO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

Dentro dos processos de ensino e aprendizagem, existe a necessidade de se alinhar


objetivos, necessidades e ferramentas disponíveis ao processo, de modo que alunos e
professores criem pontes de acesso aos conteúdos desejados. Do mesmo modo, ao se
trabalhar com a dança, seja ela no contexto escolar, seja de academias de dança, clubes
ou ginásios, o professor precisa ter os objetivos que deseja alcançar bem claros,
alinhando-os com as intenções próprias dos alunos, ou seja, o modo como a dança é
desenvolvida nas escolas é totalmente diferente do modo como acontece nas academias,
por exemplo. Ainda assim, podemos dizer que os objetivos intencionados com a dança
podem ser os mais diversos: fitness, para emagrecimento, por diversão, profissionais,
para desenvolver habilidades motoras, ritmo ou para sociabilização. Tendo em vista os
diversos objetivos intencionados pelos alunos, existe a necessidade de o profissional que
vai propor certa atividade se aprofundar e discutir os aspectos pedagógicos dos
processos de ensinar e de aprender a dançar (CARVALHO; SOUZA; RAUSCH, 2019).
O fato é que, sendo uma das áreas pertencentes à Educação Física, diversos são os
colegas que assumem o compromisso de trabalhar com a dança, mesmo não tendo tido
experiência anterior na área. Dentro dessa perspectiva, reconhecemos que os desafios
serão maiores, ainda mais no que diz respeito a como e o que se ensinar. Tendo em vista
os objetivos principais da turma, você pode recorrer a algumas ferramentas aqui
apresentadas para o desenvolvimento primário do ritmo e da musicalidade, considerados
como elementos primordiais na dança. Ainda assim, é essencial que o professor crie um
modo próprio de dar aula e de abordar os assuntos em sala de aula, construindo
ferramentas e estratégias próprias que deem certo para si e para a turma. Nesse ponto,
concordamos com Carvalho, Souza e Rausch (2019, p. 82): “O professor percebe-se
artista em seu processo de criação e, também, professor em formação, pois discute
especificidades da linguagem da dança.”

REFLITA
Durante o processo de ensino e aprendizagem na dança, assuma uma postura de troca e
compartilhamento de saberes com os seus alunos; faça com que eles se tornem
protagonistas e assumam, cada vez mais, o espaço de propor reflexões, exercícios e
novas experimentações na dança; faça com que aquilo que é comum à cultura do aluno
esteja presente durante as suas aulas.

A fim de cristalizarmos essa discussão, propomos a seguinte atividade prática: pensando


nos diversos objetivos intencionados pelos alunos, crie duas atividades para dois
públicos específicos: o primeiro é uma turma de dança para terceira idade, a qual
procura uma prática de atividade física leve, além da sociabilização; já o segundo grupo
é uma turma do 6º ano escolar, que, nas aulas de Educação Física, está discutindo o
conteúdo programático de dança. O foco das atividades será o aprimoramento do ritmo,
coordenação motora, lateralidade e ludicidade. Tenha em mente os objetivos que
pretende alcançar e as especificidades de cada turma.

ESCALAS

Para pensar nas escalas do movimento é preciso retomar as discussões feitas na Unidade
1, Seção 2, no capítulo movimento corporal e cinesfera. Lá, trouxemos as conceituações
cunhadas pelo pesquisador do movimento Rudolf Laban (1879-1958), que nos indicou
uma série de conceitos para pensarmos no corpo, nos segmentos corporais e nas
relações dele no espaço e no tempo.
Quando falamos de icosaedro, tratamos da figura geométrica que, quando relacionada
ao corpo em movimento, indica caminhos, sentido e planos, os quais o corpo alcança e
com os quais interage no espaço. Nesse sentido, Brasil (2011, p. 2) nos diz que:

Baseando-se nas ideias de Platão, quanto à perfeição das formas dos sólidos
geométricos, Laban organizou percursos a serem seguidos pelos movimentos do corpo,
explorando no espaço os elementos de poliedros platônicos imaginários. Seguindo esses
percursos, as chamadas escalas de movimento, baseadas nas escalas musicais, Laban
propunha que o indivíduo experimentasse com o corpo os princípios da harmonia
espacial.

Figura 4.9 | Icosaedro


Fonte: Wikimedia Commons.

Ao identificar a figura, perceba que cada face, aresta e vértice vai indicar, para
Laban: direções dimensionais, direções diagonais e direções diametrais. Brasil
(2011, p. 7) diz que “do centro da esfera de movimento, onde se encontra a interseção
das retas que marcam as três dimensões do espaço: largura, profundidade e altura.”
Quando o corpo se coloca em movimento contínuo com interação progressiva entre os
elementos dimensionais (largura, profundidade e altura) do espaço, vai se constituir
a escala dimensional. A partir da exploração dessas direções, seis ações corporais estão
associadas a elas:

1. Subir – alto.
2. Descer – baixo.
3. Cruzar – esquerda.
4. Abrir – direita.
5. Recuar – atrás.
6. Avançar – frente.

De outro modo, os movimentos que ocorrem nos pontos externos das diagonais internas
dessa figura vão ser denominadas direções diagonais, que são movimentos que podem
acontecer com o lado direito e esquerdo do corpo e que, se forem executados numa
sequência ordenada, formarão a escala diagonal (Brasil, 2011).
Já as direções que emergem do centro da figura para as arestas paralelas, no sentido do
ponto médio, vão indicar as direções diametrais. Delas, emergem o plano horizontal,
plano vertical e plano sagital.
A fim de fixarmos os conhecimentos, propomos a seguinte atividade prática: tratando
das escalas do movimento, vamos nos debruçar sobre a escala dimensional, no sentido
de explorar ações corporais que vão indicar essas 6 direções. Desse modo, cada aluno
deverá criar para si um movimento que indique: subir, descer, cruzar, abrir, recuar e
avançar; após esse momento de criação, cada aluno compartilhará seus movimentos
com a turma e, em seguida, irá se juntar em trio, em que, cada grupo, criará uma
sequência coreográfica com os movimentos indicados pelos colegas. Nessa sequência
ele deve passar, pelo menos, por 4 das e 6 direções – ações indicadas anteriormente.

SEQUÊNCIAS DE MOVIMENTOS

Agora, com os assuntos mais ancorados, iremos refletir sobre sequências de


movimentos na dança e como elas auxiliam no desenvolvimento de alguns passos e
ações motoras. Como vimos anteriormente, cada modalidade de dança vai ter em seu
cerne uma série de ações e passos técnicos que caracterizam a sua modalidade e, dessa
forma, quando executados no espaço, poderão ser combinados um elemento com o
outro de modo a criar uma “sequência coreográfica”, que será executada em
deslocamento, nas diagonais ou no centro da sala. Segundo Ribeiro e Teixeira, (2009, p.
95): “Aprender uma sequência de movimentos coreografados envolve uma série de
processos cognitivos (observação, simulação, imitação e repetição) que podem ser
estudados por meio do mapeamento cerebral.”
Essas sequências, além de ancorar os conhecimentos técnicos de certa modalidade,
estimularão uma série de processos cognitivos e mentais que auxiliarão o indivíduo no
seu repertório motor, coordenação, lateralização, além do desenvolvimento da memória
e da expressividade requisitados na dança.
Ao propor sequências de dança, trabalhe com aqueles movimentos que são
característicos da modalidade em que você está se aprofundando e procure respeitar os
níveis e as complexidades técnicas de cada passo. O professor representa a figura que
irá demonstrar o passo e, em seguida, os alunos, como um recurso de orientação visual,
repetem as ações que foram propostas. Para Freire (1999, p. 84): “Ao passarmos uma
sequência de movimento, compartilhamos com ela ideias de movimentos que através de
seu corpo nascem e renascem a cada repetição.”
Ao retomarmos as discussões feitas na seção anterior, relembramos alguns tipos de
movimentos na dança, entre eles: saltos, giros, rolamentos, deslizamentos, quedas,
contração e expansão. As sequências de movimentos vão acontecer de maneira
progressiva, de modo que diferentes tipos de movimentos serão combinados e
executados pelo espaço, de preferência com deslocamento, ou seja, de um lado para o
outro da sala. Sendo assim, uma certa sequência, poderá ser feita por meio da
combinação de uma andada, com um salto e mais um giro, todos realizados em seguida
ou, ainda se preferir, uma mesma sequência será executada somente por meio de um
elemento, como uma sequência que contenha somente quedas na sua execução.
A fim da fixação desse conteúdo, propomos a seguinte atividade prática: os alunos
devem executar as seguintes sequências coreográficas (caso o professor não tenha
familiaridade com algum passo aqui descrito, sugerimos que recorra às plataformas de
vídeo na internet, para verificação do mesmo):

1. Em diagonal: saindo com a perna direita, dois passos avançando no espaço, chute para
frente com a perna direita, depois, com a esquerda (braços abertos ao lado); mais dois
passos (sempre saindo com a direita); passe com a perna direita e esquerda; mais dois
passos; por fim, um salto tesoura.
2. No centro da sala: giro para direita, joga os braços para direita; giro para a esquerda,
joga os braços para a esquerda; corrida para frente (4 passos); mais um salto afastado
no final.
ASSIMILE
Essas sequências são uma pequena demonstração das inúmeras possibilidades de
combinação de movimentos na dança. Como professor, você deve se aprofundar cada
vez mais nos diferentes tipos de movimentos e propor a melhor combinação de acordo
com os objetivos tencionados por você nas suas aulas.

VARIAÇÃO RÍTMICA

Entendemos como variação rítmica as diversas possibilidades de ritmos encontramos na


dança. De acordo com a sua especificidade, cada um vai apresentar uma certa
característica, podendo variar em ritmo, velocidade, andamento, suavidade, melodia e
letra. Ainda assim, a variação rítmica pode estar associada a uma única música, quando
tratamos de identificar diferentes pulsações e melodias da mesma. Ao desenvolver esse
elemento, o aluno vai ser estimulado, por meio da percepção sonora, a trabalhar
diferentes dinâmicas do movimento. Para Roesler (2017, p. 10):

A percepção rítmica expressa em movimentos sincronizados pode incluir padrões de


repetição marcados pelo pulso musical (SANTOS, 2010). A música, por exemplo, é
marcada com momentos de eventos temporais que, depois de um determinado tempo,
incorrem em repetições. A marcação de passos da dança se torna mais simples por causa
da repetição, facilita a contagem musical e a sincronização entre passos coreográficos
com a música.

Logo, podemos dizer que a variação rítmica vai permitir que o aluno desenvolva as suas
habilidades rítmicas, físicas e motoras, cognitivas, além da expressividade própria para
a dança, Para De Lima (1998):

A consciência rítmica do movimento, a dinâmica e o equilíbrio interior proporcionam


ao dançarino a descoberta da forma perfeita, portanto, do movimento
harmônico. Assim, num mesmo desenho (arquitetura do movimento), as diferentes
disposições rítmicas associadas aos diferentes graus de tonicidade muscular nas fases de
encurtamento e alongamento são determinantes para a diversidade de movimentos, ou
seja, do movimento pendular, balanceado, lançado, percutido, vibratório etc. Isto
favorece infinitas variações rítmicas, proporcionando características diferentes ao
mesmo.

Para fixação desse conteúdo, propomos a seguinte atividade prática: explorar diferentes
ritmos. De maneira livre e improvisada, o professor propõe aos alunos a exploração de
diferentes ritmos musicais, com diferentes velocidades e pulsações, devendo os alunos
se moverem de acordo com esse ritmo. É necessário enfatizar que os alunos encontrem
as pulsações da música e se movimentam de acordo com a sua batida.

EXEMPLIFICANDO
O pot-pourri é um modo de executar várias músicas em uma única faixa, tocadas uma
após a outra, às vezes, sobrepostas e nem sempre tocadas por inteiro. Se deseja explorar
diferentes tipos de dinâmicas corporais com diferentes ritmos de músicas, procure esse
tipo de música nas plataformas digitais e apresente aos seus alunos.
Chegamos no final da nossa jornada e esperamos que agora você se sinta familiarizado e
pertencente à área da dança. Tenha em mente a necessidade de uma busca constante por
conhecimentos e atualizações e fique livre para propor os conteúdos a sua maneira. Foi
um prazer compartilhar esses momentos contigo. Boa Jornada!

REFERÊNCIAS

BRASIL, I. Transformações das linhas do movimento na dança. [S. l.]: Graphica,


2011.
CARVALHO, C.; SOUZA, M. A. da C.; RAUSCH, R. B. Formação do professor de
dança: em análise o currículo do primeiro curso de licenciatura de Santa
Catarina. Formação Docente – Revista Brasileira de Pesquisa sobre Formação de
Professores, Belo Horizonte, v. 11, n. 21, p. 71-88, 2019.
DE LIMA, L. M. Um momento de dança em Goiás. Pensar a Prática, [S. l.], v. 1, p.
74-80, 1998.
FREIRE, I. M. Compasso ou descompasso: a pessoa diferente no mundo da
dança. Ponto de Vista – Revista de Educação e Processos Inclusivos, [S. l.], n. 1, p.
81-84, 1999.
RIBEIRO, M. M.; TEIXEIRA, A. L. Ensaiando dentro da mente: dança e
neurociências. Repertório: Teatro & Dança, Salvador, ano 12, n. 12, p. 95-103, 2009.
ROESLER, L. Fatores determinantes do aperfeiçoamento da percepção rítmica na
dança: uma revisão de literatura. 2017. Monografia (Graduação em Educação Física) –
Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Rio
Claro, 2017.
SANTOS, P. P. K. B. Análise de estruturas rítmicas musicais utilizando a concepção
neurocientifica de beat induction. In: CONGRESSO DA ANPPOM, 20., 2010,
Florianópolis. Anais [...]. Florianópolis: Udesc, 2010.

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO

SEQUÊNCIAS DE MOVIMENTOS
Kaio César Celli Mota

SEM MEDO DE ERRAR

Olá, estudante, chegou o momento de retomarmos a nossa situação-problema.


Esperamos que, até aqui, você tenha tido recursos suficientes para responder a tais
questionamentos.
Relembrando: é chegado o mês de junho, comemoração das festas juninas, e a
assessoria esportiva para a qual você trabalhava foi contratada para coreografar a
“quadrilha” de uma empresa. Como um profissional do ritmo, você terá de organizar o
desenvolvimento de uma coreografia com base em sequências de movimentos
específicos para o tema apresentado, além da variação do ritmo, com a famosa
“quadrilha maluca”. Quais seriam as estratégias necessárias para o desenvolvimento
desse trabalho?
Partimos do pressuposto de que, sendo uma dança tradicional, existem alguns passos
característicos dela. Ainda assim, usando o recurso de pot-pourri, você pode explorar
diferentes ritmos brasileiros e, em cada um deles, propor uma sequência coreográfica
com a combinação de diferentes tipos de movimento.
Dessa forma seria possível o desenvolvimento dessa atividade.

AVANÇANDO NA PRÁTICA

JURADA DE DANÇA
Digamos que você foi convidado por um festival de dança para fazer parte da banca
avaliadora e avaliar a combinação de tipos de movimentos e diferentes sequências de
dança. Como você se sairia nessa situação?

RESOLUÇÃO

Partimos do pressuposto de que, após a leitura das regras do festival, você deve estar
atento ao número de sequências realizadas para além da correta execução dos passos. O
quesito expressividade, por exemplo, poderia ser examinado por outra avaliadora.

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