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Manifestações Rítmicas

e Expressivas
Material Teórico
Dança na Prática

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Bruno Fischer Dimarch

Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Dança na Prática

• Introdução;
• Jogos e Propostas Lúdicas;
• Temas de Movimento de Rudolf Laban.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
··Conhecer as possibilidades de desenvolvimento de propostas de dança;
··Experienciar o corpo expressivo por meio da dança contemporânea;
··Criar uma coreografia a partir dos conteúdos, referenciais e das pro-
postas estudadas.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Dança na Prática

Introdução
Para iniciar, convidamos você a assistir o videoclipe Mais ninguém da Banda do
Mar, formada pelos cantores brasileiros Mallu Magalhães e Marcelo Camelo.
Explor

Disponível em: https://youtu.be/61jSSF3Vu54. Acesso em: 11. jun. 2018.

Será que já nascemos sabendo dançar?


Explor

Há uma maneira correta de se dançar?


Para você, o que é dança?
Como uma dança é criada?
Qual é a sua dança?
Qual é a sua dança?

No decorrer de nossa expedição pela linguagem do movimento, vimos que a dança


é uma das formas mais antigas da expressão corporal humana. Compreendemos
que a dança traz a manifestação de um povo, suas ideias, crenças, emoções e que
o homem também constrói e reconstrói sua história por meio da dança, pois essa
faz parte da evolução cultural da humanidade.

Figura 1
Fonte: iStock/Getty Images

Em nossas conversas, reafirmamos a dança como prática corporal emancipadora


e formadora de cidadãos com habilidades e atitudes que não só refletem no ambiente
escolar, mas que se perpetuam por toda a vida.

Destacamos também a importância da dan- O conceito corponectivo, abor-


ça nas escolas como forma de conhecimento dado anteriormente, rompe com
a ideia de que corpo e a mente
e parte do componente curricular da Educação são instâncias separadas, com-
Física, como linguagem a ser experienciada preendendo a dança como prá-
por todo o corpo. tica que envolve todo o corpo,
todo o sujeito.

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Você se recorda de suas experiências com a dança ao longo de sua vida? Tente se lembrar
Explor

de que forma a dança se fez presente em sua trajetória escolar, em especial nas aulas de
Educação Física.

Por falar em dança no âmbito escolar... Qual é o papel do professor que ensina
dança nas escolas?

No vídeo a seguir, a pedagoga, arte-educadora e bailarina Isabel Marques discorre acerca do


Explor

ensino de dança nas escolas sob uma perspectiva contemporânea.


Disponível em: https://youtu.be/sjkCs3MlTRw.
Assista ao vídeo e anote os pontos que chamaram a sua atenção.

Que tal criar um fórum e trocar ideias com os colegas? Procure seguir as seguin-
tes orientações e responder as questões:
• Destaque os principais desafios, de acordo com Marques, a serem superados
nas escolas em relação ao ensino de dança;
• Aponte as contribuições da dança no rompimento de preconceitos;
• Discorra sobre a interrogação da autora: “qual é a sua dança?”;
• De acordo com Marques, qual é a diferença entre dança de repertório e dança
como linguagem? Relacione esses conceitos com a sua experiência escolar;
• Por que é relevante explorar a dança como linguagem na escola?
Ao longo de suas pesquisas sobre dança na educação escolar, Isabel Marques
destaca a importância do docente que reconhece e considera em suas práticas
metodológicas o repertório corporal e os conhecimentos trazidos pelos alunos
no dia-a-dia.
A capacidade do professor de desenvolver e potencializar esses conhecimentos
através do ensino da dança permite a construção de novos conhecimentos e habili-
dades, pois, uma vez que o indivíduo se expressa por meio do movimento, amplia
também a sua leitura e relação com o mundo.
Partimos para a compreensão de que as práticas relacionadas ao ensino da
dança devem propor também a reflexão, compreensão e o desenvolvimento de
habilidades que promovam no aluno a criticidade e o poder de decisão, forman-
do cidadãos críticos e conscientes de seu papel na sociedade.
Ainda de acordo com a autora, é de extrema importância para o educador,
mesmo que ele não seja especialista em dança, ter um olhar mais crítico, que
destaque as práticas ligadas à dança como linguagem a ser desvendada, que
considere a dança em processos de criação artística, valorizando as vivências,
as pesquisas de movimento, enfim, todas as experiências derivadas das práticas
corporais, e não somente a comemorações festivas da escola.

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UNIDADE Dança na Prática

Para Isabel Marques, a dança não se resume somente à aquisição de habilidades


corporais, mas engloba o desenvolvimento cognitivo, contribui para o autocontrole
e para o entendimento da realidade social.

Ainda refletindo acerca do papel social do educador e da dança nas escolas,


não podemos esquecer de pensar no papel social, cultural e político do corpo em
nossa sociedade, uma vez que se faz urgente abordagens metodológicas e práticas
em sala de aula que sejam compatíveis com as demandas sociais da sociedade
contemporânea. Convidamos você a assistir os dois vídeos a seguir:

• Videoclipe Triste, Louca ou Má da banda brasileira Francisco, el Hombre. Disponível em:


Explor

https://youtu.be/lKmYTHgBNoE.
• Entrevista com Tereza Taquechel, fundadora do Pulsar Cia. De Dança. Disponível em:
https://youtu.be/ds44tRSX6Kw.

Desde a dança moderna, a dança traz questionamentos, colocando em discussão


padrões relacionados ao papel do corpo na sociedade.

Para você, quais discussões podem ser tratadas a partir dos dois vídeos sugeri-
dos anteriormente? Qual seria o papel da dança para romper padrões de beleza
e a definição de corpos ideais? Que outros vídeos relacionados à dança você
indicaria para essa discussão?
A dança, enquanto processo de autoconhecimento (do corpo, de seus
limites e de suas possibilidades) e instrumento de efetivação das relações
sociais, leva o indivíduo a experimentar novas possibilidades no plano
do exercício de criação e de integração de um grupo. Ela atua como
elemento transformador, pois, sem dúvida, promove em quem dela par-
ticipa a aceitação de si mesmo e uma maior receptividade nos relaciona-
mentos com os outros, mediante o envolvimento que se estabelece num
trabalho prático. (RENGEL; MOMMENSOHN, 1992, p. 102)

Por meio da dança, podemos compreender e problematizar as relações entre etnias,


gêneros, idades, classes sociais e religiões dentro da sociedade. Ressaltamos que essas
questões tão urgentes presentes em nosso cotidiano devem ser abordadas em práticas
pedagógicas, de modo que seja considerada a diversidade presente na sociedade.

Sendo assim, é importante que o educador que ensina dança fortaleça a liber-
dade expressiva de todos os tipos de corpos existentes na sociedade (por meio de
sua atuação em âmbito escolar), considerando seus respectivos contextos históri-
cos, regionais, suas crenças e valores de uma época ou religião.

Ressaltamos aqui a forte discussão sobre os grupos marginalizados advinda


de diferentes linguagens, não apenas da dança e da música, como abordado no
videoclipe Triste, Louca ou Má.

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Essas demandas sociais pautadas no direito de ser, resistindo a aspectos opressores de
uma sociedade ainda largamente impregnada por padrões de “corpos ideais” e padrões
de beleza, são vivas no cenário contemporâneo, em especial nas salas de aula.

A presença de todos os corpos na dança pode favorecer o rompimento de


barreiras trazidas por ideais e padrões impostos ao longo da história e oportuni-
za a discussão sobre o tema.

Nesse sentido, é imprescindível que as situações de aprendizagem voltadas à


dança ocorram de maneira democrática, que todos os estudantes se sintam autori-
zados a participar, independentemente de suas características.

Para tanto, é preciso esclarecer que, assim como somos únicos, cada um de
nós se movimenta de modo singular, ou seja, da mesma maneira que possuímos
uma voz, um jeito de falar, também teremos características pessoais ao dançar.
É imprescindível que essa abordagem seja pressuposta no processo de ensino
aprendizagem em Educação Física. A dança, portanto, contribui de maneira afir-
mativa no ambiente escolar, desdobrando-se em diversos aspectos da vida dos
estudantes. A união de corpos diferentes na construção de vivências ligadas à
dança pode ser enriquecedora em múltiplos sentidos.

Por isso, pensar que há uma maneira correta de dançar pode inibir os alu-
nos. Existem, claro, danças que têm códigos estabelecidos e bem demarcados.
Todavia, não existem barreiras para a criatividade e muitos recursos, adaptações
e proposições podem ser utilizados para que qualquer corpo possa se expressar
por meio da dança. Essa é uma forma contemporânea de pensar a dança. Veja
bem, não estamos dizendo que essa é a forma de fazer dança contemporânea,
mas de pensar a dança de forma contemporânea e essa dança pode ser balé,
forró, sapateado, street dance, jongo... Nossa proposta, alinhada com a dos
autores aqui citados, é reafirmar que todos os corpos podem dançar.

Atualmente, constatamos a presença de dançarinos e grupos formados por


pessoas com deficiência. Eles provocam em nós a reflexão, não apenas por conta
de seus corpos poderem dançar, mas também seus corpos se movimentam de
formas únicas, delineando manifestações expressivas que existem graças às defi-
ciências, e não apesar delas.

Afinal, o pensamento de cada corpo, seus movimentos, sua poesia, é algo


próprio, um singular imerso e em diálogo com a pluralidade de corpos, diferen-
ças conectadas por afinidades e tensões.

Você Sabia? Importante!

Existem grupos que se dedicam às pesquisas de dança para pessoas com deficiência?
Há, por exemplo, o grupo inglês Candoco, o grupo alemão DIN A 13 e no Brasil, a Cia
Roda Viva de Natal, o Grupo X de Improvisação em Dança de Salvador e a Cia Pulsar
do Rio de Janeiro. Pesquise saber mais sobre eles.

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UNIDADE Dança na Prática

Jogos e Propostas Lúdicas


Leia o fragmento do texto O corpo no cotidiano escolar: contribuições da
Educação Física na formação de professores em EAD publicado no XVI Con-
gresso Brasileiro de Ciências do Esporte – CONBRACE em 2013:
A relação entre corpo e educação, apesar de historicamente ter viven-
ciado diferentes concepções e valores, nunca possibilitou ao corpo um
espaço privilegiado. Isso se deve ao fato de que a escola, por fatores
diversos, prioriza as experiências racionais em detrimento das corpo-
rais, por razão das influências gregas e romanas de dicotomia entre
corpo e alma; do período da Idade Média em que se reprimiu o corpo
de forma violenta, até a reação iluminista que, apesar de negar os dog-
mas cristãos de repressão corporal, construiu a concepção cartesiana
de supervalorização do pensamento em detrimento do corpo, desde o
século XVII. (SALVADOR et. al., 2013, p. 2)

De acordo com o Professor Doutor em Educação Física Marco Antonio


Santoro Salvador, o corpo, quase sempre destituído de um lugar coerente na
sociedade, ainda carrega ao longo da história um papel secundário, o que se
perpetua ainda hoje nas instituições de ensino.

Como consequência, as atividades práticas com o corpo e o ensino por meio


de jogos, brincadeiras e atividades motoras muitas vezes são vistas como ativida-
des menores no contexto educativo.

As repressões ao corpo se refletem no contexto escolar e podem ser traduzidas


em preconceitos e estereótipos, como aqueles relacionados ao gênero, em que se
estabelece que futebol é para meninos e dança para meninas, que os garotos não
podem rebolar, tocar seus quadris etc.

Salvador diz que é fundamental por parte dos educadores a conscientização


de seu papel social e reconhecimento dos estágios de aprendizagem dos alunos,
em especial das crianças. Afirma ainda que é necessário a flexibilização das pro-
postas educativas, em especial na educação infantil.

Para Salvador, o processo de aprendizagem está intimamente ligado a fatores


culturais, à afetividade e à coletividade, e essas questões podem ser trabalhadas por
qualquer disciplina, o que inclui a Educação Física e as atividades lúdicas.

É preciso desconstruir a ideia de que a ludicidade é de segunda qualidade, pois


valorizar a educação lúdica é valorizar o corpo criativo e integral, enfatizando aqui
a não separação de mente e corpo.

Assista a entrevista na íntegra Corpo e Movimento na educação infantil, com o professor


Explor

doutor em Educação Física Marco Antonio Santoro Salvador.


Disponível em: https://youtu.be/TC3RpoTFb1w.

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Temas de Movimento de Rudolf Laban
Rudolf Laban foi um importante estudioso da dança e seu método, bastante
utilizado no ensino de dança sob a perspectiva contemporânea, reforça as facul-
dades naturais de expressão, preserva a espontaneidade do movimento e aponta
caminhos para sua exploração e desenvolvimento.

As propostas de Laban (1978) compreendem a dança como um processo


educativo acessível a todos, partindo da compreensão dos princípios dos movi-
mentos. Vamos experimentar algumas propostas de Laban na prática?

Convidamos você a explorar possibilidades da dança inspiradas nos Temas de Mo-


vimento de Rudolf Laban. Os Temas de Movimentos propõem uma sequência de te-
mas para a exploração do movimento na dança que poderão ser desenvolvidos em
diferentes contextos educacionais pelo educador físico, além de ser material básico de
aprendizagem e ensino para professores e dançarinos em todo o mundo.

Importante! Importante!

Se movimente! Experimente! Pois é de muito valor que o educador que desenvolve


(ou desenvolverá) dança na escola tenha as suas próprias vivências, uma vez que o
corpo do professor será uma referência importante para os alunos.

O Tema de Movimento I relaciona-se com a consciência corporal na dança


e visa, principalmente, ao despertar do movimento do corpo e de partes do cor-
po na dança. Em consonância com Laban, Helena Katz (2005) define a dança
como o pensamento do corpo. Portanto, a exploração do corpo no dançar e a
busca por diferentes qualidades de movimento sob diferentes perspectivas en-
gendra um processo de evolução do pensamento.

Proposição 1
Primeiro, exploraremos o espaço, que pode ser uma sala de dança, uma quadra,
pátio de escola, ou um espaço adaptado para as aulas. Proponha aos alunos que
caminhem livremente por cerca de 1 a 2 minutos como aquecimento. Proponha a
exploração do ambiente caminhando em linha reta, curva e diagonal alternadamente.

O tema de movimento I de Laban (1978) também prevê a exploração das


bases mecânicas que constituem o movimento. Portanto, nesse experimento,
exploraremos as três funções mecânicas do corpo: esticar, dobrar, torcer.

A intenção dessa proposição é incentivar os alunos a explorar movimentos


esticando, dobrando e torcendo. Durante a prática, pode-se provocar a reflexão
dos alunos: há partes do corpo que não dobram, torcem ou esticam?

O uso de música poderá contribuir para a concentração e exploração dos movi-


mentos nesse experimento (indica-se músicas instrumentais).

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UNIDADE Dança na Prática

Nas proposições seguintes, continue a incentivar a exploração de esticar dobrar


e torcer.

Reserve um tempo para a criação dos alunos, pode ser após a vivência de uma
ou mais proposições, solicite a eles que formem grupos e peça aos grupos que
criem a partir dos movimentos explorados nas proposições. Estabeleça um tempo
para o processo de criação e para o ensaio. Depois, peça aos grupos que apre-
sentem suas criações as colegas. O foco é a experiência do criar coletivo, não do
estabelecimento de coreografias rigidamente ensaiadas. Os grupos podem utilizar
a improvisação em suas apresentações. Nesse caso, é importante combinar o co-
meço, o desenvolvimento e o final (afinal, improvisar não significa fazer qualquer
coisa, mas apresentar uma proposta dentro de um roteiro de ação). Para não
haver mais aplausos para um grupo do que para outro, você pode combinar que
haverá uma única salva de palmas ao final, após todos os grupos terem realizado
suas apresentações.

Proposição 2
Então, proponha que se desloquem no espaço com base em uma indicação.
A cada comando, os alunos alternarão entre o foco direto e o foco flexível.
Para alcançar um foco direto, basta direcionar o movimento para um determi-
nado ponto; já para o foco flexível, o aluno deve movimentar-se sem determi-
nar um ponto específico, mas variando de modo fluído o foco.

As indicações podem ser realizadas com estímulos sonoros como apitos, palmas,
interrupção de uma música, além da voz do professor.

No final de cada aula, é interessante realizar exercícios de respiração e relaxa-


mento, chamando atenção para o estado do corpo, os movimentos que foram
realizados, quais chamaram mais atenção, quais foram descobertos. Exemplo:
em roda, com os olhos fechados, peça para os alunos inspirarem e expirarem
lenta e profundamente, chamando atenção às partes do corpo, aprimorando a
consciência corporal.

Proposição 3
Nesta proposição, exploraremos os diferentes níveis do corpo: baixo, mé-
dio e alto. Tratamos os níveis do corpo como cada região principal do corpo
que será explorada na dança. O nível baixo corresponde aos movimentos que
predominam quando estamos agachados, deitados, sentados. No nível médio,
predominam os movimentos que realizamos com o joelho ou tronco flexionados
e no nível superior predominam os movimentos realizados em pé ou para cima
como pulos.

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Figura 2 – Jovens explorando diferentes níveis do corpo na dança
Fonte: iStock/Getty Images

Para iniciar, faça marcações no chão do espaço utilizando riscadores ou fitas


adesivas em diferentes cores. Cada cor representará um nível do corpo a ser
explorado. Por exemplo: o espaço azul indicará o nível baixo do corpo; o verme-
lho, o nível médio; e o verde, o nível alto. A intenção é que, a cada comando do
professor, os alunos transitem por esses espaços explorando movimentos livres
em diferentes níveis do corpo.

Utilize o vocabulário conceitual estabelecido por Laban e enfatize as partes do


corpo que estão sendo exploradas durante a exploração dos movimentos.

Num segundo momento, podemos explorar o conceito de cinesfera (conceito


labaniano que trata da extensão de nossa esfera de movimentos) com os alunos,
propondo que, durante a prática, experimentem movimentos grandes e peque-
nos (ou seja, mais ou menos distantes do centro do corpo).

Durante o experimento, proponha que explorem cada área do espaço consi-


derando agora o fator peso, acrescentando a cada região de cor o peso leve ou
firme. Por exemplo: realizar movimentos em nível médio, próximos ao centro do
corpo (cinesfera menor), de modo leve; ou explorar o nível alto com movimentos
expandidos e firmes.

Proposição 4
Indique partes do corpo a serem enfatizadas durante a exploração dos movi-
mentos e introduza o fator tempo nela, propondo a investigação de movimentos
que variem do súbito ao sustentado. Exemplo: torcer com o tronco sustentando o
tempo de movimento, esticar e dobrar os braços direito subitamente.

Ao som de músicas ora agitadas ora mais lentas, podemos reforçar o fator tem-
po, explorando diferentes ritmos para esse experimento. O professor pode estimu-
lar a criação de movimentos com as ações esticar, dobrar e torcer acompanhando
o tempo da música. Exemplo: ao som de uma música lenta, dobrar o tronco; ao
som de uma música mais agitada, como o rock, torcer o quadril. Pode-se também
inverter (movimentos sustentados com músicas ágeis, por exemplo) ou alternar (mo-
vimentos em diversos tempos com uma música em um andamento fixo).

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UNIDADE Dança na Prática

A proposição também pode abranger paradas bruscas/rápidas e/ou perma-


nências sustentadas como na brincadeira da estátua.

O interessante é instigar a pesquisa de movimento e promover a consciência


de cada parte do corpo que se move e como se move. Ao final, pode-se propor
reflexões em conjunto como: quais as partes do corpo foram mais usadas? Você
descobriu movimentos novos? Como foram os movimentos que você criou, leves
ou firmes, rápidos ou lentos? Qual dos níveis do seu corpo você mais experimen-
tou? Quais propostas foram mais desafiadoras?

Proposição 5
Agora experimente com os alunos as ações corporais, aquelas ações realiza-
das em nosso dia a dia como sentar, correr, pular, rodar, empurrar...

O professor pode sortear um tema, como por exemplo: gestos do cotidiano, fábri-
cas, esportes e propor um jogo incluindo os fatores de movimento tempo, espaço,
peso e fluência, além dos conceitos abordados nos experimentos anteriores.

Você Sabia? Importante!

A videodança é uma produção híbrida, ou seja, não se trata apenas de um regis-


tro de alguém ou grupo dançando, mas de um trabalho artístico que engloba um
pensamento conjunto das linguagens audiovisual e da dança. Na videodança,
pode haver diálogo também com outras linguagens como a música, o teatro, a
performance e as artes visuais.
Indicamos aqui a videodança Rosas danst Rosas da bailarina e coreógrafa belga Anne
Teresa De Keersmaeker. Disponível em: https://youtu.be/oQCTbCcSxis.

Como sugestão para a sala de aula, o educador pode promover momentos


de apreciação e nutrição estética a fim de que os alunos observem, selecionem
e descrevam quais gestos/movimentos estão presentes no vídeo e fazem parte
do nosso cotidiano.

Rosas danst Rosas desperta a atenção pela repetição de movimentos realiza-


dos por mulheres. Você consegue descrever os movimentos? Por que será que eles
se repetem? Na sua opinião, qual é relação do cenário e do figurino das mulheres
no vídeo? Qual é a expressão dessas mulheres? Para você, para quais reflexões nos
conduz a obra Rosas danst Rosas?

Em 2013, aniversário de 30 anos do espetáculo, Teresa De Keersmaeker


propôs um novo projeto: Re: Rosas! Para o qual lançou a proposta para mu-
lheres de diversos lugares do mundo a criarem suas próprias danças inspiradas
na obra original.

No site oficial, é possível assistir o convite da coreógrafa ao público e conferir


os as criações compartilhadas nas redes sociais. Os resultados contêm vídeos,
animações, enviados por pessoas de diferentes lugares do mundo.

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Confira alguns dos resultados do projeto indicados no site oficial da coreógra-
fa. A seguir, a seleção de alguns vídeos indicados no site oficial (todos os acessos
foram realizados no dia 14 de junho de 2018):

• Rosas Danst Rosas Prélude à la rose: https://goo.gl/UmcptJ;


Explor

• Modulant Re:Rosas: https://goo.gl/4ZXf7H;


• Re: Rosas – Beloit College: https://goo.gl/BSFTt5;
• Ella und Ella tanzen Rosas – Kulturmäuse Recklinghausen: https://goo.gl/24A4Rq;
• Re:Rosas Chairs: https://goo.gl/kgKbfG;
• re:rosas: https://goo.gl/z8Bo3j;
• Rosas de Angola: https://goo.gl/4wfqHT.
Vamos criar uma videodança?

Figura 3
Fonte: iStock/Getty Images

Que tal fazer o seu próprio vídeo? Escolha espaços para a filmagem, você
também pode pensar nas cores, se é interessante utilizar figurinos, em quantas
pessoas irão compor o vídeo. Você pode selecionar alguns movimentos do vídeo
e incorporar os seus próprios movimentos observando ações simples do dia a dia.
Veja quais deles se repetem com mais frequência e em quais situações; procure
avaliar seus movimentos a partir do conceito de Cinesfera.

Os Temas de Movimentos IV relacionam-se com a fluência. Permitindo que o


dançarino explore o controle do movimento que pode ser livre, fluente, abandonado
ou cortado, restrito, contido. A fluência mostra como os movimentos progridem.

Proposição 6
Por meio desta proposta, podemos reconhecer a fluência, explorando as ações
corporais e dançando como bonecos, máquinas, marionetes... A intenção é ex-
plorar movimentos que variem do livre ao controlado.

Trabalhar com movimentos do break dance, ou a dança do robô, são maneiras


de explorar a fluência restrita, pois nessas danças a fluência é, na maior parte do
tempo, controlada, com pequenas pausas, poses e gestos cortados. Esse trabalho

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UNIDADE Dança na Prática

pode ser realizado por meio da apreciação de vídeos de dança, caso o grupo não
se sinta à vontade de trabalhar uma dança com códigos próprios – assistir a vídeos
do artista pop Michael Jackson com a turma pode ser uma forma de investigar o
fator de movimento fluência na dança.

Importante! Importante!

Pesquise mais sobre os Temas de Movimento no livro Domínio do Movimento de


Rudolph Laban.

Lembre-se, os Temas de Movimentos podem ser misturados nos experimentos


propostos. Durante as práticas, você perceberá que os elementos constituintes
da dança estudados se inter-relacionam e que a dança é uma linguagem viva, di-
nâmica que envolve todo o corpo.

Ao final das aulas, é interessante convidar a turma para rodas de conversa a respei-
to de suas percepções, opiniões em cada situação de aprendizagem. O educador pode
investigar se eles perceberam quais as articulações que possibilitaram tais ações; quais
as partes do corpo mais usadas e o porquê; solicitar que descrevam os movimentos a
partir do vocabulário estudado.

Estimule sempre a criação de movimentos que considere o repertório corporal do


indivíduo e promova a sociabilização e o respeito por diferentes corpos e movimen-
tos. Considere o que é apropriado e divertido para cada turma. Use a imaginação!

É preciso romper com a ideia preconcebida de que algumas pessoas não pos-
suem ritmo ou vocação para dançar. Por meio de uma perspectiva contemporânea,
a dança permite desenvolver a consciência dos movimentos e das possibilidades es-
téticas do corpo. Perceba que, nessas proposições, não enfocamos a prática de uma
dança já codificada, como o balé, o sapateado, o forró, o samba-rock etc., mas a
exploração dos movimentos e a criação inventiva a partir do repertório explorado.

Improvisação, células coreográficas, criação coreográfica


No Tema de Movimento V, Laban enfatiza a dança em conjunto, com parceiros.

Dançar é muito mais do que ação física, vai além da reprodução de movimentos.
É de suma importância que a improvisação em dança seja consciente e intencional
por parte de quem a cria e a reproduz.

Cabe compreendermos a importância da conscientização do dançarino ao


criar, improvisar e a valorização da dança não como produto final, mas como
processo, como meio a ser experienciado.

Que tal improvisar em dupla criando um jogo de espelhos com diferentes cenas
e, ao final, criar uma célula coreográfica?

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Proposição 7
Na primeira etapa, inicie formando as duplas, um parceiro de frente para o
outro (como um espelho) reproduzirá o movimento do outro (cada um dentro de
suas possibilidades e limites). Você pode propor que explorem as três funções
mecânicas do corpo: esticar, dobrar, torcer.
Na segunda etapa, o aluno continuará de frente para o outro, mas, dessa vez,
explorará um jogo de perguntas e respostas corporais, movimentos que podem
variar o mesmo nível espacial – dançar em baixo, mais no alto ou em um nível
médio; variar em ritmos diferentes; utilizar a voz, criar sons que acompanham os
movimentos, o uso de algum instrumento. Exemplo: um aluno agachado (explo-
rando o nível baixo do espaço) torce, estica e dobra seus pés enquanto reproduz
um som de máquina; o outro aluno, então, espera o parceiro finalizar o seu movi-
mento e, em seguida, responde a esse movimento esticando e dobrando a perna
enquanto estala os dedos.

Proposição 8
Uma coreografia é composta por uma sequência de movimentos que podem
ou não conter improvisos. Podemos compreender então cada parte da coreogra-
fia como uma célula coreográfica.
Nesta proposta, formaremos grupos que criarão diferentes sequências de
movimentos e juntos farão uma criação coreográfica.
Escolha um tema central para o experimento – ex.: elementos da natureza.
Divida os alunos em duplas, trios, quartetos e escolha subtemas para cada grupo
formado – ex.: água, terra, fogo, ar, metal, madeira.
Cada grupo deve desenvolver uma sequência de movimentos com base em suas
vivências e práticas em sala de aula.
Ao final, experimente apresentar todas essas sequências compondo uma grande
corrente, ou seja, quando um grupo termina sua apresentação, o seguinte já inicia
a sua. Os grupos podem ficar em roda e se apresentarem em sentido horário, um
após o outro, por exemplo.
Os movimentos podem ser sincronizados, ou seja, todos fazem os mesmos
movimentos simultaneamente, ou assíncronos, com cada integrante realizando
um tipo de movimento (mas com diálogo entre eles).
Incentive os alunos a repetir as células coreográficas várias vezes, percebendo que
os movimentos podem passar por modificações e se “ajeitar” melhor aos corpos.
Durante o processo de criação coreográfica proponha as seguintes reflexões:
como são empregados esses movimentos? Como os movimentos dos integrantes
do grupo dialogam um com o outro? Como estão sendo explorados os fatores de
movimento? Como foi pensada a Cinesfera?

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UNIDADE Dança na Prática

Ao final, o professor pode promover apresentações e realizar rodas de conversa


com os alunos para promover reflexões sobre os diferentes processos de criação,
suas descobertas e desafios, sobre as coreografias apresentadas e outros pontos
que podem ter chamado atenção.

Nesta jornada, esperamos que você tenha se movimentado e refletido acerca


das interessantes possibilidades de desenvolvimento de situações de aprendiza-
gem em dança. Com este material, pretendemos evidenciar o caráter reflexivo
e inclusivo da dança. Lembre-se: há dança para todos os corpos. O elemento
básico da dança é o movimento, não apenas os codificados, mas todos os movi-
mentos; todo movimento do corpo, portanto, é potencial para a criação artística
no dançar. As situações de aprendizagem são únicas e devem ser elaboradas
especialmente para cada contexto a partir de um referencial teórico consistente
e muita criatividade.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

  Sites
Caleidos
A Cia Caleidos coordenada por Isabel Marques desde 1997 dedica-se a pesquisa e
ensino da dança educação. A Cia Caleidos desenvolve trabalhos em que a arte não
seja escolarizada e em que o ensino não perca sua potência artística transformado-
ra. Conheça as atividades realizadas pela Cia acessando o site oficial.
https://goo.gl/2tK5NX
Balangandança Cia. 20 anos
Explore o site oficial da companhia de dança contemporânea Balangandança. Inspire-
-se e apresente aos alunos o trabalho desse grupo voltado ao público infantil
https://goo.gl/af7XGo

 Vídeos
videodança Rosas danst Rosas de Anne Teresa De Keersmaeker
Assista a videodança Rosas danst Rosas de Anne Teresa De Keersmaeker na íntegra.
https://youtu.be/vlLZExpgBOY

 Leitura
O corpo no cotidiano escolar: contribuições da Educação Física na formação de professores em EAD
Leia a respeito do corpo na escola no artigo O corpo no cotidiano escolar: con-
tribuições da Educação Física na formação de professores em EAD.
https://goo.gl/Eey3Sb
O corpo que dança
Helena Katz, crítica e pesquisadora de dança, traz uma interessante abordagem para
repensar a separação corpo e mente. Junto com Christine Greiner, criou a teoria do
corpomídia que traz, de forma complexa, a ideia de uma mente encarnada (embodied
mind). Conheça algumas de suas ideias por meio do artigo O corpo que dança.
https://goo.gl/e8niJb

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UNIDADE Dança na Prática

Referências
KATZ, Helena Tânia. Um, dois, três: a dança é o pensamento do corpo. Belo
Horizonte: FID, 2005.

LABAN, Rudolf. O domínio do movimento. São Paulo: Summus, 1978.

MARQUES, Isabel. Dançando na escola. 5. ed. Campinas: Cortez, 2010.

RENGEL, Lenira Peral. Dicionário Laban. São Paulo: Annablume, 2003.

RENGEL, Lenira Peral; MOMMENSOHN, Maria. O corpo e o conhecimento:


dança educativa. Série Idéias, n. 10, 1992.

RENGEL, Lenira Peral et al. Elementos do Movimento na Dança. Salvador:


UFBA, 2017. (e-book)

SALVADOR, Marco Santoro. et al. O corpo no cotidiano escolar: contribuições


da Educação Física na formação de professores em EAD. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE – CONBRACE, 2013, Brasília, DF.

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