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Manifestações

Gímnicas
Material Teórico
Origem, evolução e conceito da Ginástica

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Dra. Renata Aparecida Miyabara

Revisão Textual:
Profa. Ms. Fátima Furlan
Origem, evolução e conceito da Ginástica

• Introdução
• A Ginástica no Brasil
• A Ginástica como Prática da Educação Física Escolar
• Ginástica Geral e Educação Física Escolar

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Levar os discentes à compreensão da origem e evolução histórica
da ginástica
· Conhecer as diferentes modalidades de Ginástica existentes
· Compreender a evolução da Ginástica no Brasil
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
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Procure manter indicações
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da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Origem, evolução e conceito da Ginástica

Introdução
Para um bom profissional da área, é de grande importância que se conheça
sobre a origem, evolução e conceito da ginástica, pois foi a partir deste componente
curricular que a Educação Física se originou. Assim como se faz importante
conhecer as diferentes modalidades de Ginástica existentes, para que se possa
conhecer o caminho percorrido por esta manifestação, e com isso, compreender
sua importância para o estudo do movimento, até chegar na evolução e aplicação
da Ginástica no Brasil.

Pode-se dizer que a palavra Ginástica possui diversos significados, originou-se


do grego Gymnastiké, que quer dizer: arte de fortificar o corpo e dar a ele agilidade;
outra vertente diz que Gimnos significa nu, pois sua prática, originalmente, acontecia
com os homens desnudos. Quando ligada ao latim, Gymnasia, com significado
de desenvolvimento, fortalecimento e corpo mais flexível, por meio da prática de
exercícios físicos. Os gregos passaram a utilizar a ginástica nas Olimpíadas de
Atenas, em 1896, fazendo dela um esporte olímpico, sendo praticado, a princípio,
somente por homens e posteriormente, em 1928, em Amsterdã, por mulheres.
(BREGOLATO, 2002)

Considerada uma atividade física, a Ginástica originou-se na Antiguidade, pois


é nessa época que o homem pré-histórico mostra indícios de sua prática ao se
defender de animais selvagens, ao lutar por uma caça e uma pesca, ao proteger sua
família das adversidades da natureza, ao buscar abrigo e refúgio, entre outros. Com
isso, em aproximadamente 2600 a.C., principalmente nas civilizações orientais,
a Ginástica, com suas práticas, passaram a se fazer presente nas festividades, nos
jogos e nos rituais religiosos, entre outros. (BREGOLATO, 2002)

De acordo com a história, foi na Grécia que a ginástica ganhou grande destaque,
sendo uma prática fundamental na educação física desta população, levando-os à
busca de corpos e mentes sãos, caracterizando a Ginástica como uma prática voltada
à busca do constante equilíbrio entre corpo e mente, além de ser considerada uma
prática de culto ao corpo, pois os gregos valorizavam em demasia uma beleza por
eles idealizada. (BREGOLATO, 2002)

Porém, para os romanos, esta visão grega de culto ao corpo, era tida como
imoral e não era vista de forma positiva, sendo praticada como um esporte
que visava apenas a preparação militar nos homens, na civilização romana.
(BREGOLATO, 2002)

Conhecido popularmente como: “Idade da Pedra”, neste período da


nossa história, o homem já se movimentava com naturalidade, para suprir as
necessidades que lhe eram impostas, como a sobrevivência, para isso, haviam
que se cumprir as expectativas de: pescar e caçar para alimentar-se e levar o
alimento à família, competir entre seu povo para demonstrar poder, subir nas
árvores para atrair ou afastar a caça e até mesmo dançar, para comemorar feitos
importantes (nascimento, funeral etc.). Porém, foi na Antiguidade que a ginástica

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passa a tomar a forma, na qual, foi se desenvolvendo e se moldando até chegar
naquilo que é hoje. Já na Idade Média, o povo egípcio, para se divertir, fazia
pequenos torneios de habilidades motoras e de danças, nestes eventos surge a
denominação: ginasta, aquele que praticava atividade física, quase sempre, nos
castelos medievais. (BREGOLATO, 2002)

Você Sabia? Importante!

Na Idade Média existia uma influencia religiosa que não deixava ver que o humano era
corpo e espírito que um dependia do outro, nessa época a influência religiosa tinha a
concepção de que corpo era fonte de pecado. Em meados do século XIV, no Renascimento
começou a surgir conflito, mudanças e principalmente descobertas e uma necessidade
de rever a concepção sobre o homem e da sociedade em si.

Na Idade Média não fora dada importância ao esporte, bem como o culto ao
corpo, pelos romanos, como se podia sentir na Grécia. Com isso, torna-se cada
vez mais notável a presença da ginástica, nas práticas corporais daquela época,
evoluindo-se, principalmente no Renascimento, valorizando-se também a cultura
clássica antiga. (BREGOLATO, 2002)
É na antiguidade que a ginástica se origina como atividade física, sendo que
seus movimentos já eram praticados, desde a pré-história, com exercícios típicos
dos esportes, para se protegerem de possíveis lesões e em preparo do corpo
para a atividade. Já m 2600 a.C. os rituais religiosos, as festividades e os jogos,
eram praticados como cultura da ginástica, principalmente pela cultura oriental.
(BREGOLATO, 2002)
Mas a Grécia foi a verdadeira responsável pela ascensão da ginástica, uma vez
que era considerada elemento fundamental nas atividades físicas do povo grego,
que buscava o equilíbrio geral do ser humano, tanto física como intelectualmente.
Sendo a ginástica, considerada como culto ao corpo, os gregos viam nela, uma
forma de busca da beleza ideal. (BREGOLATO, 2002)
Na Grécia antiga se deu a verdadeira origem da ginástica, a partir dos
exercícios praticados pelos soldados, bem como habilidades e acrobacias diversas.
(BREGOLATO, 2002)
Os exercícios sempre foram uma prática de todos os povos, porém era preciso
que esta prática acontecesse de forma mais consciente, menos preocupada apenas
com a busca do culto ao corpo e mais preocupada com a melhora da saúde de
forma geral, isso se deu a partir do século II d.C. Porém estas práticas passam a
ser condenadas pela igreja, a partir do século XVI, e deixam de ser praticados os
torneios de lutas e os combates a cavalo, sendo substituídos por carrossel e corridas
em círculo. (BREGOLATO, 2002)
Por volta do século XIX, a ginástica passa a se assemelhar mais com o que
vem a ser hoje, com o surgimento das quatro grandes escolas de esporte: Inglesa,
Alemã, Sueca e Francesa, com seus métodos característicos, elementos específicos
e equipamentos estabelecidos. Não parando de evoluir desde então. É criada
então, em julho de 1881 a Federação Europeia de Ginástica, hoje e desde 1921,

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UNIDADE Origem, evolução e conceito da Ginástica

FIG (Federação Internacional de Ginástica), a qual regulariza a prática da ginástica


como desporto competitivo, distinguindo-se nas seguintes modalidades: geral,
artística, aeróbica, acrobática, rítmica e de trampolim. (AYOUB, 2004)
A ginástica geral é caracterizada pela execução sincronizada de movimentos
coreografados e em grupos, geralmente com, no mínimo, seis pessoas.
(AYOUB, 2004)

FIgura 1
Fonte: iStock/Getty Images

A ginástica artística é compreendida por movimentos de maior complexidade,


com uso de equipamentos específicos e diferenciada entre homens (solo, cavalo com
alças, argolas, mesa de salto, barras paralelas simétricas e barra fixa) e mulheres
(mesa de salto, barras paralelas assimétricas, trave de equilíbrio e solo), requer
trabalho de força, equilíbrio e habilidade. (PUBLIO, 2002)

Em 1896 A Ginástica Artística, até então praticada somente por homens, passou a ser um
Explor

esporte olímpico, e em 1928 as mulheres puderam participar nos seus primeiros Jogos. No ano
de 1950, a ginástica passou a ser praticada – nos aparelhos – da forma como se conhece hoje.

Figura 2
Fonte: iStock/Getty Images

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A ginástica aeróbica compõe movimentos coreografados e ritmados, de
impacto, que persistem numa intensidade forte, do início ao fim. (NUNOMURA;
TSUKAMOTO,2009)

Figura 3
Fonte: iStock/Getty Images

A ginástica acrobática caracteriza-se por ser coletiva, com movimentos que


requerem maior habilidade, destreza e ousadia, de forma que se tenha maior
habilidade, força, equilíbrio e flexibilidade. (NUNOMURA; TSUKAMOTO,2009)

Figura 4
Fonte: iStock/Getty Images

A ginástica rítmica diferencia-se por ser exclusivamente feminina, e pela


utilização de elementos específicos (bola, arco, maça, fita e corda) em execução
de sequências coreográficas em formato de dança e com dificuldades variadas.
(NUNOMURA; TSUKAMOTO,2009)

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UNIDADE Origem, evolução e conceito da Ginástica

Figura 5
Fonte: iStock/Getty Images

A ginástica de trampolim, caracteriza-se por saltos e manobras realizados sob


plataforma elástica. Pode ser executada individualmente, em duplas ou pequenos
grupos, nesta modalidade são usados um e dois trampolins, onde um ou dois atletas
executam uma série de dez elementos. (NUNOMURA; TSUKAMOTO,2009)

Figura 6
Fonte: iStock/Getty Images

Em contrapartida à ginástica competitiva, existem outras modalidades


discriminadas como não competitivas, que são: contorcionismo, cerebral, laboral,
localizada de academia e a hidroginástica. (NUNOMURA; TSUKAMOTO,2009)
O Contorcionismo: são movimentos que se utilizam da flexibilidade, não
comumente utilizados e que são vistos, principalmente em espetáculos circenses.
A Ginástica cerebral: realizada pela execução de movimentos coordenados do
corpo, os quais estimulam certas partes do cérebro.

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A Ginástica laboral: uma prática realizada no ambiente de trabalho, aplicada nos
funcionários, com objetivo de evitar lesões por movimentos repetitivos, diminuindo
assim, o número de afastamentos por atestado médico. A Ginástica localizada
de academia: exercícios que visam o condicionamento físico são os exercícios
realizados nas academias, com objetivo, também, de perda de peso, fortalecimento
muscular, evitar riscos de doenças cardiovasculares, maior convivência social e
melhora da qualidade de vida geral.

A Hidroginástica: realizada em meio líquido, piscina, com objetivo de melhorar


a capacidade aeróbia e a resistência cardiovascular e respiratória.

A prática de todas estas modalidades de ginástica promove muitos benefícios


para o corpo e para a mente, modelando o corpo, produzindo emagrecimento,
beneficiando o pensamento e os aspectos psicológicos, bem como valoriza
a ginástica como forma artística, ela é tudo que faz o homem movimentar-se,
exercitando-se.

Além destas modalidades específicas do desporto, chama-se de ginástica, toda


e qualquer modalidade de atividade física realizada pelo homem, da mais simples
(caminhar, saltar, pular corda etc.), às mais complexas (exercícios para melhora
da aptidão física), O “fazer ginástica” apresenta-se com uma ampla conotação.
Vislumbrando-se a melhora da qualidade de vida, promoção de saúde e bem estar
físico e mental, ainda tonificando e esculpindo corpos e melhorando a imagem
corporal. (NUNOMURA; TSUKAMOTO,2009)

Nicolas J. Cuperus, interessado nos festivais de ginástica e menos nas


competições, organizou o primeiro Festival Internacional de Ginástica, na Suécia,
em 1953. Com esta iniciativa, responsáveis de países diferentes, da Europa,
passaram a cobrar maior empenho da FIG, a fim de estender a prática da ginástica
para além do objetivo de competição, criando-se assim, em 1979 o Comitê de
Trabalho de Ginástica Geral, e depois de cinco anos, o Comitê Técnico de GG
(Ginástica Geral), depois chamada de Ginástica para Todos, como categoria não
competitiva, divulgada em evento da FIG, em diversos países. Valorizando uma
prática de ginástica mais lúdica, voltadas à dança e jogos, de acordo com as
preferências de quem a pratique. (SOUZA, 1997)

A ginástica, como exercício físico, pode ser classificada em duas modalidades: as


competitivas (por exemplo as que fazem parte das olimpíadas) e as não competitivas
(por exemplo, as praticadas nas academias). (SOUZA, 1997)

Os objetivos daqueles que procuram a ginástica podem ser diversos, desde


melhorar a desenvoltura motora, como emagrecer, ou fortalecimento da musculatura,
e até mesmo melhora nas funções mentais, e relaxamento. (SOUZA, 1997)

A entidade responsável pela organização de eventos e a representação dos


atletas e árbitros de ginástica, do Brasil, chama-se: Confederação Brasileira de
Ginástica (CBG). A Confederação Brasileira de Desportos (CBD), hoje, Comitê
Olímpico Brasileiro (COB) marcou, em 1951, a história do esporte no país, mesma

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UNIDADE Origem, evolução e conceito da Ginástica

época em que aconteceu o primeiro campeonato brasileiro de ginástica na cidade


de São Paulo e a filiação do Brasil à Federação Internacional de Ginástica (FIG).
Em 1978 foi criada a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), tendo sua sede
na cidade de Aracaju e Dr. Lorenzo como primeiro presidente e responsável pela
formação e treinamento da equipe brasileira nas modalidades competitivas e nos
eventos em geral. (SOUZA, 1997)

No Brasil, a ginástica deu início no Rio Grande do Sul, disseminando-se por


outros estados, sendo que, em 1951 oficializou-se a ginástica olímpica, hoje artística
como esporte, criando-se outras federações a rio-grandense, a carioca e a paulista,
ano em que se deu o primeiro Campeonato Brasileiro, na cidade de São Paulo,
momento em que a Confederação Brasileira de Desportos filiou-se à Federação
Internacional de Ginástica. (SOUZA, 1997)

Posteriormente à este período, o desporto passou a contar com outros


colaboradores, que contribuíram sobremaneira para a ginástica, foram eles: a
professora IIona Peuker (húngara) que introduziu e propagou a ginástica moderna,
depois chamada de ginástica rítmica, bem como o professor Enrique Wilson Libertário
Rapesta (argentino) tido como o maior incentivador da ginástica artística no Brasil,
no período de 1951 a 1978. Em 1978, foi criada a Confederação Brasileira de
Ginástica, com Dr. Siegfried Fischer na presidência. (BREGOLATO, 2002)

Cabe à CBG, comandar todas as competições em nível nacional, mantendo


assessoria aos atletas, aos técnicos e aos árbitros nas competições de nível
internacional. Também é de responsabilidade da CBG, a distribuição dos códigos de
pontuação de todas as modalidades, individualmente, para as federações nacionais.

Tanto a categoria júnior (englobando também a infantil), quanto a categoria


sênior (englobando: ginástica artística, ginástica rítmica, acrobática, aeróbica e a
de trampolim), regidas pela FIG, também participam das competições comandadas
pela CBG. (FIG, 1993)

A Gymnaestrada, um evento que reúne os praticantes da ginástica para todos,


também é de responsabilidade da FIG, respondendo pelas apresentações dos
ginastas brasileiros. (FIG, 1993)

A ginástica geral, com sua origem na Grécia, tinha sua prática realizada ao ar
livre, com práticas de alongamento, preocupação geral com uma boa alimentação,
com intuito de se preservar a performance corporal assim como a boa saúde e
também a beleza. O grau de dificuldade na realização dos exercícios deveria ser
realizado de forma contínua e gradual, onde a dificuldade aumentava de acordo
com a aptidão de cada atleta, ocorrendo, naturalmente, ganho de força, aumento
do volume de massa muscular, entre outros benefícios. (GALLARDO, 1997)

Nesta perspectiva, a ginástica geral vai conquistando outros continentes, sempre


sendo modificada, para sua melhora e adequação, tendo participação e incentivo
internacionais cada vez maiores. A chegada da ginástica no Brasil se deu com
influência política e principalmente com origens do patriotismo alemão e suíço,

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trazendo a ginástica corretiva e profilática, tendo Ruy Barboza como seu incentivador,
pelas contribuições profissionais e de novas ideias. (GALLARDO, 1997)

Já no Brasil, foi em 1950 que se deu a regulamentação da formação de


professores de Educação Física, quando Getúlio Vargas torna obrigatório o ensino
desta disciplina nas escolas, ainda com influências militares da França e anos
depois cria-se a Divisão de Educação Física do Ministério da Educação e Saúde.
(COLETIVO DE AUTORES, 1992)

Entre os anos de 1930 e 1960, o curso de Educação Física teve grande avanço
técnico e cultural, quando da contribuição de atletas profissionais estrangeiros
para os cursos de formação de professores desta área. Pode-se perceber este
desenvolvimento na formação com o avanço no número de cursos superiores em
Educação Física, nos últimos trinta anos, bem como a divulgação do desporto,
o crescente número de academias de ginástica, que buscam atender, cada vez
mais, as necessidades da população que busca por este serviço. (COLETIVO DE
AUTORES, 1992)

A Ginástica no Brasil
As Ginásticas com caráter pedagógico foram idealizadas a princípio pelo
alemão Guths Muths em 1793, mas suas ideias foram superadas por Napoleão que
derrotou os alemães em 1805, fato que despertou um forte sentimento nacionalista
enaltecendo o Método Alemão, cujo idealizador Friedrich Ludwing Jahn, apoiava-
se em metodologias sócio militares para desenvolvê-lo. (BREGOLATO, 2002)

O sistema de ensino brasileiro carregou, ao longo do tempo, um desenvolvimento


apoiado por políticas educacionais, visando atender um modelo produtivo
industrializado, segundo padrões sociais, econômicos e culturais que a sociedade
exige. A educação física passa a pertencer ao ensino a partir do final do século
XIX e início do século XX, primeiramente com influências dos métodos ginásticos
alemão, sueco e francês e também o método esportivista, o qual predominou até a
década de 60. (GALLARDO, 1997)

Durante a década de 70, o modelo esportivista, inserido para adequar a


população ao modelo industrial, predominou com o objetivo de se sobrepor a um
modelo até então agrícola, tendo a escola, um papel importante nessa adequação
do trabalhador. Com a ditadura militar no comando, a escola é requisitada a
impor um novo modelo de ensino, tendo o esporte como modelo de ensino,
buscando, por meio do esporte, tirar os jovens das forças perigosas para o
progresso e o desenvolvimento social. O desenvolvimento das aptidões físicas e o
modelo esportivista passam a ser modelos de práticas pedagógicas na educação.
(GALLARDO, 1997)

Por volta do final da década de 80, início da década de 90, aproxima-se o


modelo político neoliberal, trazendo novas prioridades no estudo de teorias da
educação do movimento, progredindo para o estudo da psicomotricidade e ciência

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UNIDADE Origem, evolução e conceito da Ginástica

da motricidade humana, buscando superar o modelo até então sugerido, da


diferenciação do estudo do corpo e da alma, sempre presentes nos discursos da
educação física. (GALLARDO, 1997)

A partir da década de 90, aparecem novas vertentes, na tentativa de superar


o modelo esportivista, buscando um estudo voltado à aptidão física, aparecendo
com predominância nesta área. Nessa época, a esportivização da ginástica leva
às atividades, um caráter mais individualizado, padronizando-as nas leis biológicas
e excluindo um grande número de jovens das práticas de ginástica esportiva.
(GALLARDO, 1997)

O conhecimento vai sendo produzido a partir de técnicas e de tecnologias com


origem no fitness americano, dando à ginástica mutações, por motivos de sua
adequação para os modelos estéticos padronizados e influenciados pelo consumismo
da época, o que leva o professor a fragmentar e alienar seus métodos de ensino,
para adequação ao sistema vigente. (GALLARDO, 1997)

Porém, este mesmo consumismo não divulga as diversas modalidades de ginástica


existentes, nem mesmo aquelas que trazem visibilidade e lucro são divulgadas
de forma eficiente, levando a população ao pouco, ou nenhum conhecimento
destas modalidades gímnicas, menor ainda é a divulgação da ginástica geral (GG).
(GALLARDO, 1997)

O nome “ginástica geral”, muitas vezes, leva as pessoas ao entendimento de que


esta modalidade é a união de diferentes tipos de exercícios, buscando a melhora do
condicionamento físico de uma pessoa, o que não deixa de ser verdade, mas que não
nos leva a uma caracterização fidedigna do que seja ginástica geral, pois a origem dos
exercícios da GG é que a caracteriza como modalidade. (GALLARDO, 1997)

A ginástica geral surge, não com o intuito de competição, porém é considerada,


muitas vezes, como esporte por estar vinculada à Federação Internacional de
Ginástica (FIG). (GALLARDO, 1997)

Nessa perspectiva, a GG é considerada esporte, como as outras modalidades


também são (artística, rítmica, acrobática etc.), contudo, mais voltada às práticas
do lazer, em detrimento da competitividade. Mas sendo uma modalidade gímnica,
também possui características (elementos gímnicos) que a diferencia das demais,
possui elementos da ginástica em sua forma mais “básica” no que se refere à
“essência do movimento humano”, onde o importante é: movimentar-se.
(GALLARDO, 1997)

Dessa forma, a GG é composta pelas práticas gímnicas competitivas, bem


como pelas práticas esportivas de uma forma geral, como por exemplo: as
práticas circenses, as danças, as manifestações folclóricas, as lutas, enfim, por
todas as formas de se movimentar, envolvendo também, outras áreas com a qual
interagimos nas atividades da vida diária, inclusive no nosso lazer, como as artes
cênicas, as artes plásticas, as brincadeiras e jogos que vivenciamos durante a vida,
a GG engloba também as nossas experiências de vida.

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A GG tem como característica a apresentação de um produto final, que seria
uma coreografia demonstrando o fechamento de um ciclo de trabalho, porém,
nem sempre este produto final acontece, justamente pela visão de que o mais
importante na GG é o processo, e não o produto. (GALLARDO, 1997)

Todas as outras modalidades de ginástica podem expressar sua colaboração na


prática da GG, além de outras manifestações corporais. Como as manifestações
folclóricas e as da dança, por exemplo, utilizando-se de manifestações livres e
criativas, com utilização, ou não, de música, realizadas em grupos e sem qualquer
distinção de fixa etária ou gênero, sendo possível as mais diversas manifestações
corporais, limitadas apenas pelas possibilidades motoras de quem a pratica.
(GALLARDO, 1997)

A Gymnaestrada, onde “Gymna” significa ginástica e “Strada”, caminho,


citada anteriormente, é um evento grandioso, realizado a cada quatro anos, sem
objetivos competitivos e contando com a participação de, aproximadamente,
25 mil participantes de todo o mundo. Neste evento ocorrem, não somente as
demonstrações da ginástica, mas também uma feira de equipamentos esportivos.
O evento propõe ainda, que a GG seja vista como a base para outras modalidades,
bem como alavanque a ideia de uma atividade para todos, no Brasil denominado,
muitas vezes, por “esporte participação”, “esporte não formal” ou “esporte de
inclusão” (NUNOMURA; NISTA-PICCOLO, 2005)

A GG surge para a FIG de uma perspectiva sociocultural, sem motivos


especulativos ou econômicos, com amplitude internacional e reconhecida pelo
Comitê Olímpico Internacional (COI), por motivo de seus objetivos humanísticos e
educacionais. (FIG, 1993)

A ginástica, no âmbito escolar, foi sendo construída, ao longo do tempo,


predominando-se os modelos europeus, assim como a esportivização marcou sua
presença. Modelo este, que muitas vezes causa prejuízo no âmbito escolar, pois
limita o aprendizado apenas as práticas esportivas mais comuns e de mais fácil
acesso e aceitação do aluno, em detrimento das práticas da ginástica, perante a
alegação de falta de equipamentos e/ou instalações adequadas, generalizando as
modalidades gímnicas competitivas (artística, rítmica, de trampolim, entre outras)
com a ginástica geral, gerando desta forma, a elitização de tal prática (COLETIVO
DE AUTORES, 1992).

Além do divertimento, satisfação e prazer proporcionados pela prática da GG,


ela promove o desenvolvimento da criatividade, da ludicidade e da participação, da
compreensão dos alunos pelo conteúdo da GG desenvolvidos na escola, buscando
novos significados e possibilidades dos movimentos gímnicos. (AYOUB, 2003)

As atividades promovidas pela GG, originadas da criatividade e espontaneidade


dos alunos, leva-os ao contato com o outro, promovendo socialização, percepção
e reflexão do mundo que os cercam e das pessoas com as quais convivem. Estas
práticas promovem também autonomia e liberdade de expressão, favorecendo o
convívio em grupo, a comunicação com o mundo e a ampliação das fronteiras. As

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UNIDADE Origem, evolução e conceito da Ginástica

vivências na modalidade da GG têm a função de sociabilização, de solidariedade


e identificação social, sendo considerada, portanto, um elemento privilegiado no
contexto sócio educativo. (AYOUB, 2003)

Deste modo, a ginástica é tida como um bem cultural, à medida que é um bem
cultural, produzido pela humanidade e apropriado pela população ao longo da
história. (AYOUB, 2003)

No que se refere ao campo da Educação Física Escolar, dizemos que a ginástica


se apresenta como uma prática pedagógica, buscando a prática da cultura corporal
de movimento, próprias da Educação Física no âmbito escolar, levando este
conhecimento à compreensão da expressão corporal como forma de linguagem
e expressão, objetivando a formação de indivíduos mais críticos e criativos,
intervindo efetivamente, para a mudança de nossa realidade social (COLETIVO DE
AUTORES,1992)

Educação Física e Cultura Corporal de Movimento: Uma perspectiva Fenomenológica e


Explor

Semiótica. Vídeo disponível em: https://youtu.be/nOSLReDmQHw

A Ginástica como prática


da Educação Física Escolar
Sabemos que a ginástica tem suas origens desde os primórdios da humanidade,
mas é a partir do século XIX que esta modalidade passa a ser compreendida a partir
de suas raízes modernas. Sua denominação origina-se dos agrupamentos desportivos
gregos, como a arte de exercitar o corpo nu; esta ligação, o exercício ao corpo nu,
vem mostrar o sentido do despido, do simples, do livre, do limpo, do desprovido ou
destituído de maldade, do imparcial, do neutro e do puro (AYOUB, 2003).

Nesta mesma época, século XIX, o Brasil, influenciado pela Europa, passa a
considerar a ginástica como científica, por sua forma de pensar os exercícios
físicos com maior consciência, buscando fundamentos nas teorias dos movimentos
gímnicos europeus, fazendo das práticas algo significativo para o aluno/atleta,
renegando então as práticas sem fundamentação como: dos artistas de rua,
artistas circenses, acrobatas, funâmbulos, os quais se dedicavam aos espetáculos
populares que mostravam o movimento como entretenimento ao público
(SOARES, 1994, 1998, 2001)
Explor

Funâmbulo: equilibrista

Este molde diferenciado da ginástica como expressão cultural foi crescendo


a partir das relações do dia a dia, do divertimento, das festas populares, das
apresentações de rua, das artes circenses, assim como, dos exercícios militares e

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dos passatempos da classe nobre. As manifestações gímnicas possuem princípios
de ordem e disciplina, que são desenvolvidos ao longo do processo de ensino
aprendizagem, muitas vezes sendo permeados ao divertimento produzido
naturalmente, pela modalidade, a fim de obter aceitação dos discentes.
(SOARES, 1998)

Durante o processo de aceitação dos princípios de ordem e disciplina oriundos


do Movimento Ginástico Europeu, e do afastamento de seu núcleo primordial,
o divertimento, é que paulatinamente a ginástica passa a ser vista como parte
da educação dos indivíduos, fundamentada como prática capaz de valorizar a
utilidade dos gestos, oferecendo uma prática consciente e institucionalizada dos
usos do corpo, afastando-se dos elementos cênicos, existentes no cenário gímnico.
(SOARES, 1998)

As manifestações gímnicas influenciaram diretamente a Educação Física Escolar, no


Brasil, atuando nos discursos: político, médico e pedagógico, pois mesmo em países
distintos, as influências se assemelhavam, como regeneração da raça, promoção da
saúde, desenvolvimento de vontade, força, coragem, energia de viver no cumprimento
aos deveres com a pátria e desenvolvimento da moral. (SOARES, 1994)

Hoje, o que chamamos de Educação Física, é o que, anteriormente chamávamos


de ginástica, com tradição científica e carregada de características de educação
corporal aliada ao discurso do poder. Dessa forma, inicia-se o projeto de
institucionalização da Educação Física no Brasil, como disciplina obrigatória nas
escolas, onde ainda se tinha ideais eugênicos e higiênicos presentes na Educação.
(SOARES, 2001)

Para que a educação física pudesse contribuir com a formação destes corpos
eugênicos e higiênicos, era preciso que estes assuntos fossem ressaltados em
seus conteúdos e metodologias para a formação da ordem, da disciplina e da
moralização, advindos dos modelos gímnicos europeus, carregados de preceitos e
contextos de cada região. (SOARES, 2001)

A ginástica teve grande importância no processo de higienização e de eugenização


da população brasileira, como forma de adestrar e alterar os corpos mecanizados
por quase três séculos de colonização. (OLIVEIRA, 1994)

Com relação a esportivização, a ginástica foi fortemente influenciada pela


Inglaterra que, diferentemente da França, Alemanha e Suécia, elevou a prática e
importância do desporto. (SOARES, 1994)

O desporto, nesta época, era marcado pelas práticas das classes nobres em
tempo ocioso, enquanto classes menos privilegiadas faziam do desporto sua
profissão, possibilitando o entretenimento de ambas as classes. (SOARES, 1994)

Nesta época, a ginástica passa a ser vista como esporte de rendimento,


restringindo seu acesso a poucos. Ou seja, as expressões gímnicas esportivizaram-
se, enquanto para a sociedade contemporânea ficou a ginástica como prática
elitizada, excluindo-se da escola este movimento. (SOARES, 1994)

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UNIDADE Origem, evolução e conceito da Ginástica

Ginástica Geral e Educação Física Escolar


O principal centro de desenvolvimento e prática da GG hoje é a Europa. Há
crescente prática e participação desta modalidade em todo o mundo, nos festivais
acorridos em muitos lugares. A Dinamarca possui a Associação Dinamarquesa de
Ginástica e Esporte (DGI), onde a ginástica não possui a denominação “geral”.
(SOUZA, 1997),

Para Ayoub (2003), a GG deve ser projetada com o intuito de visualizar os


pilares fundamentais que a sustentam, os quais estão ligados à concepção de GG
da Federação Internacional de Ginástica (FIG) e que influenciou as ações na área,
inclusive no Brasil. Segundo a autora, a GG não possui finalidade competitiva
e está situada num plano diferente das modalidades gímnicas competitivas, num
plano básico, com a abertura para o divertimento, o prazer, o simples, o diferente,
para a participação de todos, segundo a autora, a GG é, então, irrestrita.

O objetivo primordial deve ser a integração das pessoas, dos grupos e a prática
da ginástica de forma prazerosa e criativa, portanto, a ludicidade e a expressão
criativa são pontos fundamentais na GG. A modalidade não possui regras rígidas
preestabelecidas, pois estimula a amplitude e diversidade, abrindo um leque de
possibilidades para a prática da atividade corporal, sem distinção de idade,
gênero, número e aptidão física ou técnica dos praticantes. A música e o vestuário
favorecem fortemente a participação e criatividade da modalidade. Os festivais
se constituem como sua principal manifestação, o que a vincula ao artístico, ao
espetáculo. (AYOUB, 2003). Na ginástica competitiva, as principais características
são: seletividade, regras rígidas preestabelecidas, especialização, comparação
formal, classificação por pontos, com objetivo, sempre, de vencer. As distinções
entre a GG e as ginásticas competitivas não podem ser vistas de forma rígida
e estanque, pois estas convivem interligadas na sociedade e exercem influências
recíprocas. (AYOUB, 2003).

Para Ayoub (2003), aprender GG na escola significa: estudar, vivenciar, conhecer,


compreender, perceber, confrontar, interpretar, problematizar, compartilhar,
apreender as inúmeras interpretações da ginástica a fim de buscar novos
significados e criar novas possibilidades de expressão gímnica. Pode-se dizer que a
ginástica promove sua reconstrução na educação física escolar numa perspectiva
de confronto, síntese, ludicidade, criatividade e participação ativa.

A prática da ginástica na escola deve privilegiar a formação humana em sua


totalidade, com uma proposta de trabalho em GG da educação a serviço de novos
valores, manifestados e gerados na sociedade e na vivência do lúdico na cultura,
fazendo com que os participantes sejam agentes participantes da história, em busca
da transformação social. (AYOUB, 2003).

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
A aplicação do conteúdo Ginástica nas aulas de Educação Física Escolar no município Araruna - PR
https://goo.gl/4AT8ca

Livros
Ensinando Ginástica Para Crianças
WERNER, Peter H. Editora Manole, 2015.

Vídeos
Educação Física e Cultura Corporal de Movimento: Uma perspectiva Fenomenológica e Semiótica
Vídeo realizado sobre o artigo escrito por Mauro Betti, onde aponta as contribuições
da Semiótica de Peirce para a Educação Física.
https://youtu.be/nOSLReDmQHw

Leitura
Revista Brasileira de Educação Física e Esporte
A Revista Brasileira de Educação Física e Esporte é uma publicação da Escola de
Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, e tem por objetivo publicar
pesquisas que contribuam para o avanço do conhecimento acerca do movimento
humano relacionado à Educação Física, Esporte e áreas afins.
https://goo.gl/uytJvx

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UNIDADE Origem, evolução e conceito da Ginástica

Referências
AYOUB, Eliana. Ginástica geral e educação física escolar. Campinas, SP:
Unicamp, 2003.

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de educação física. São


Paulo: Cortez, 1992.

FÉDÉRATION INTERNATIONALE DE GYMNASTIQUE (FIG). General


gymnastics manual. Moutier: 1993.

OLIVEIRA, V. M. de. Consenso e conflito da educação física brasileira.


Campinas: Papirus, 1994.

GALLARDO, J.S.P., SOUZA, E. P. M. A proposta de ginástica geral do Grupo


Ginástico Unicamp. In: AYOUB, E., SOUZA, E. P. M., PÉREZ GALLARDO, J.
S. (Orgs.). Coletânea de textos e sínteses do I e II Encontro de Ginástica Geral.
Campinas: Gráfica Central da Unicamp, 1997. p.25-32.

SOARES, C. Educação física: raízes europeias e Brasil. Campinas: Papirus, 1994.

____. Imagens da educação no corpo: estudo a partir da ginástica francesa no


século XIX. Campinas: Papirus, 1998.

____. Corpo, conhecimento e educação: notas esparsas. In: SOARES, C. (Org.).


Corpo e história. Campinas: Autores Associados, 2001. p.109-129.

SOUZA, E. P. M. Ginástica geral: uma área do conhecimento da educação


física. Tese de doutorado, Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de
Campinas. Campinas, SP: 1997.

NUNOMURA, M.; TSUKAMOTO M. H. C. Fundamentos das Ginásticas. 1 ed.


Jundiaí, SP. Fontoura, 2009.

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