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Avaliação das

Aptidões Físicas
Avaliação da Composição Corporal

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Luiz Antonio de Oliveira Ramos Filho

Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Avaliação da Composição Corporal

• Introdução;
• Anamnese;
• Estimativa de Idade Óssea e Maturação.


OBJETIVO

DE APRENDIZADO
• Conhecer as diversas fórmulas que auxiliam na avaliação da composição corporal e na inter-
pretação dos dados coletados.
UNIDADE Avaliação da Composição Corporal

Introdução
Olá, estudante, nesta unidade, nós vamos compreender como utilizar os dados an-
tropométricos que estudamos em um conteúdo anterior. Chegou o momento de aplicar
os dados nas fórmulas e, a partir dos resultados, conseguir concluir a avaliação antropo-
métrica, oferecendo indicativos para o avaliado sobre quais são as condições de saúde e
de composição corporal.

Para organizar todo o conteúdo da disciplina e distribuí-lo de forma equilibrada dentro


das unidades, no conteúdo anterior, entraram apenas os testes antropométricos. No entanto,
cabe ressaltar que, ao realizar uma avaliação com um cliente de academia ou mesmo um
atleta num clube, a anamnese será o primeiro passo, antes de realizar qualquer teste. Ela
será apresentada apenas agora nesta unidade, pois também se encaixa na interpretação e
avaliação de dados.

Anamnese
A anamnese é um levantamento de informações padronizadas para verificar se existe
algum fator de risco do avaliado para a realização dos testes a que será submetido na se-
quência (SOUZA; PEREIRA, 2019). Isto é, a anamnese pode ser em forma de entrevista,
em que o avaliador faz vários questionamentos ao avaliado, ou em forma de questionário,
em que o avaliado responde diretamente numa folha impressa e assina confirmando a
veracidade das informações (ACSM, 2014).
Dessa forma, o avaliador conseguirá obter informações em relação aos riscos de doenças
cardiovasculares, pulmonares, metabólicas, lesões ortopédicas ou condições de saúde, como
gravidez ou algum tratamento pelo qual esteja passando o avaliado. Assim, o avaliador terá
maior atenção com a segurança do avaliado durante a aplicação dos testes (ACSM, 2014).
Caso na anamnese apareça alguma resposta do avaliado indicando um problema mais
grave, o caso deverá ser encaminhado para a avaliação médica, antes de iniciar a avaliação
física, preservando assim o avaliador em relação a qualquer problema que venha a ocorrer
na sequência.
Basicamente, a anamnese é composta de perguntas sobre hábitos e estilo de vida do
avaliado, bem como busca identificar se há histórico na família de doenças hereditárias
que possam acometer o avaliado. Existem várias formas de realizar a anamnese, uma
delas é um simples questionário amplamente utilizado em diversos países, conhecido
como PAR-Q, criado no Canadá, na década de 1970, pelos pesquisadores Roy Shepard
e Donald Bailey (ACSM, 2014; SOUZA; PEREIRA, 2019).

PAR-Q: é uma sigla do nome em inglês: Physical Activity Readiness Questionnaire. A tradução
para o português é Questionário de Prontidão para a Atividade Física.

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PAR-Q (ACSM, 2014) – Modelo
Questionário para pessoas com idade entre 15 e 69 anos. Responda com honestidade:

Tabela 1
Sim Não 7 Questões
1. Seu médico alguma vez já lhe disse que você tem uma doença cardíaca e que você deveria fazer
apenas atividades físicas recomendadas por ele?
2. Você sente dor no peito quando realiza uma atividade física?
3. No último mês, você sentiu dor no peito quando não estava fazendo atividade física?
4. Você perde seu equilíbrio por causa de tonturas ou você já perdeu a consciência alguma vez?
5. Você tem algum problema ósseo ou de articulação (costas, joelho, quadril) que poderia piorar com
a alteração na sua atividade física?
6. Seu médico atualmente tem receitado remédios para a sua pressão arterial ou doença cardíaca?
7. Você sabe de qualquer outro motivo por que você não deveria fazer atividade física?

Este questionário tem por objetivo identificar a necessidade de avaliação clínica e mé-
dica antes do início da atividade física. Caso você marque um SIM, é fortemente sugerida
a realização da avaliação clínica e médica.

Declaração de Responsabilidade

Assumo a veracidade das informações prestadas no questionário “PAR-Q” e afirmo


estar liberado(a) pelo meu médico para participação em atividades físicas.
Nome e assinatura do(a) participante: ________________________
Nome do(a) responsável se menor de 18 anos: _________________
Data: ______________

Após realizar a anamnese, o PAR-Q ou algum outro questionário, caso tudo esteja
de acordo para o início da avaliação física, o avaliador deverá explicar tudo que fará
na avaliação, tranquilizando o avaliado e solucionando eventuais dúvidas. É comum
que a pessoa que será avaliada prefira que o avaliador seja do mesmo sexo. Caso seja
essa a opção da pessoa que será avaliada, ela deverá ser respeitada e o(a) avaliador(a)
substituído(a). Além disso, é essencial que a avaliação antropométrica ocorra em local
reservado, mantendo a privacidade da pessoa avaliada.

Avaliação da Composição Corporal


Existem várias formas de avaliar a composição corporal. Pelo método direto, que
é feito na dissecação de cadáveres, separando e pesando cada componente do corpo
isoladamente. Obviamente, esse método não serve para o nosso público-alvo da área
da educação física, pois queremos mantê-los vivos! Existe o método indireto, por meio
do qual são medidos os componentes corporais a partir de princípios químicos e físicos,
como, por exemplo, a pesagem hidrostática, a pletismografia e a DEXA (Absortometria
Radiológica de Dupla Energia). No entanto, estas são formas caras e menos comuns de

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UNIDADE Avaliação da Composição Corporal

serem encontradas. Por fim, existe o método duplamente indireto, ou seja, que foi
validado por um método indireto, como, por exemplo, bioimpedância elétrica e a an-
tropometria, sendo esta última a mais comum na educação física (TELLES; BARROS
FILHO, 2003).

Sem complicar muito, vamos começar a compreender a avaliação corporal pelas


formas mais simples e práticas. Após a realização das medidas de estatura e peso, já é
possível fazer uma avaliação inicial sobre o estado de saúde do avaliado. Para isto, usa-
mos a fórmula do IMC, que, apesar de simples, é uma das principais formas de análise
de grandes populações.

IMC: é a sigla de Índice de Massa Corporal e é calculado assim:

 kg  PesoCorporal ( kg )
IMC  2  =
m  Estatura m 2 ( )
Por exemplo, um homem com 75kg de peso e 1,80m de altura, o cálculo será assim:

 kg  75 75
IMC  =2 
= = 23,14
 m  1,80² 3, 24

E agora, o que será que representa um IMC de 23,14?

Você deve-se lembrar que, no conteúdo anterior, vimos que, para cada teste, cos-
tuma haver parâmetros que orientam o avaliador se o resultado está dentro ou fora da
normalidade. No caso do IMC, os parâmetros estão na Tabela 2. Deve-se identificar a
idade e o sexo.

Tabela 2 – Índice de Massa Corporal (kg/m²)


Faixa Etária (anos) Mulheres Homens
19 – 24 19 – 24 19 – 24
25 – 34 20 – 25 20 – 25
35 – 44 21 – 26 20 – 25
45 – 54 22 – 27 20 – 25
55 – 64 23 – 28 20 – 25
> 65 24 – 29 20 – 25
Fonte: GUEDES; GUEDES, 2006

O resultado do IMC será classificado dessa forma (GUEDES; GUEDES, 2006):


• Caso esteja dentro do índice correspondente, é considerado no peso ideal;
• Caso seja inferior ao índice, é considerado abaixo do peso ideal (subnutrição);
• Caso seja superior ao índice, é considerado acima do peso ideal (sobrepeso);
• Caso o seja superior ao índice em 5 pontos ou mais, é considerado obesidade.

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Vamos supor que, no nosso exemplo anterior, o homem avaliado possui 30 anos de
idade e IMC de 23,14. Isso significa que ele está dentro da normalidade, mesmo que o
peso dele varie um pouco para cima ou para baixo. Caso ocorra grande variação de
peso, ele sairá da normalidade. Por exemplo, o mesmo homem de 30 anos com 1,80m,
mas com variação de peso:
• Com 60 kg, o IMC será de 18,51, que é inferior a 20 e estará abaixo do peso
ideal (subnutrido);
• Com 85 kg, o IMC será de 26,23, que é superior a 25 e estará acima do peso
ideal (sobrepeso);
• Com 100 kg, o IMC será de 30,86, que é 5 pontos superior a 25 e estará obeso.

Apesar do IMC ser amplamente utilizado como indicativos de saúde da população, os


resultados podem induzir a erro em alguns casos específicos. Isso ocorre, por exemplo,
com pessoas que fazem muito treinamento de força em academias, possuem grande quan-
tidade de massa magra e pouca massa gorda. Como o cálculo do IMC considera apenas
peso total e estatura, avaliará essas pessoas como com excesso de peso, em função de
sua estatura, e elas serão classificadas como obesas. Na realidade, essas pessoas estão fora
do padrão comum da população (peso e estatura) em que o IMC está baseado. Portanto,
veremos ao longo dessa unidade outras formas de avaliar a composição corporal, com
maior precisão do que o IMC.

Outro cálculo simples que busca identificar a obesidade e a concentração de gordura


abdominal, considerada um dos maiores indicativos de risco para a saúde, é o ICQ ou RCQ.

ICQ: é a sigla de Índice Cintura Quadril, que também é citado na literatura como RCQ, ou
seja, Relação Cintura Quadril e é calculado assim:

 Pc  Perímetro de cintura ( cm )
ICQ  =
 Pq  Perímetro de quadril ( cm )

Por exemplo, para uma mulher com 40 anos de idade, 79 cm de perímetro da cintura
e 100 cm de perímetro do quadril, o cálculo será assim:

 Pc  79
ICQ  =  = 0, 79
 Pq  100

E agora, o que será que representa um ICQ de 0,79?

Novamente, teremos valores de referência que nos ajudarão a interpretar esse dado
(Tabela 3).

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UNIDADE Avaliação da Composição Corporal

Tabela 3 – Referências para o Índice Cintura Quadril (ICQ)


Risco para a saúde
Sexo Idade Baixo Moderado Alto Muito Alto
20-29 < 0,83 0,83 – 0,88 0,88 – 0,94 > 0,94
30-39 < 0,84 0,84 – 0,91 0,92 – 0,96 > 0,96
Homens 40-49 < 0,88 0,88 – 0,95 0,96 – 1,00 > 1,00
50-59 < 0,90 0,90 – 0,96 0,97 – 1,02 > 1,02
60-69 < 0,91 0,91 – 0,98 0,99 – 1,03 > 1,03
20-29 < 0,71 0,71 – 0,77 0,78 – 0,82 > 0,82
30-39 < 0,72 0,72 – 0,78 0,79 – 0,84 > 0,84
Mulheres 40-49 < 0,73 0,73 – 0,79 0,80 – 0,87 > 0,87
50-59 < 0,74 0,74 – 0,81 0,82 – 0,88 > 0,88
60-69 < 0,76 0,76 – 0,83 0,84 – 0,90 > 0,90
Fonte: Adaptado de Bray; Gray, 1988

No nosso exemplo, é possível constatar que uma mulher com 40 anos e ICQ de 0,79
está no limite máximo da classificação moderada de risco para a saúde. Caso ela venha
a emagrecer, provavelmente irá baixar o ICQ, diminuindo a gordura abdominal e conse-
quentemente, diminuirá os riscos de complicações de saúde.

No entanto, o ICQ não acompanha o crescimento das crianças, considerando que os


valores de referência são basicamente para adultos. Então, foi criada uma outra forma de
realizar o cálculo, agora considerando a medida da cintura e da estatura, que será mais
adequada, principalmente nos casos em que o avaliado ainda está em fase de crescimento
(HAUN; PITANGA, 2009; VIEIRA et al., 2018).

RCEst: é a sigla de Razão Cintura-Estatura e é calculado assim:

 Pc  Perímetro de cintura ( cm )
RCEst  =
 Est  Estatura ( cm )

Por exemplo, para um rapaz com 87 cm de perímetro da cintura e 182 cm de esta-


tura, o cálculo será assim:

 Pc  87
RCEst  =  = 0, 47
 Est  182

E agora, o que será que representa um RCEst de 0,47?

Nesse caso, a única referência será que o resultado menor do que 0,50 é considerado
peso normal, enquanto se o resultado for acima de 0,50 será considerado acima do peso.
Esse parâmetro não depende da idade e nem do sexo do avaliado. Então, lembre-se que
para avaliar homens ou mulheres, jovens ou adultos, o corte será sempre assim:
• RCEst: Peso < 0,50 = Peso Normal;
• RCEst: Peso > 0,50 = Excesso de Peso.

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Você deve ter reparado que, até agora, utilizamos apenas fórmulas simples (IMC, ICQ
e RCEst) e poucos dados coletados para termos noção em relação à saúde dos avaliados.
No entanto, é possível realizar uma avaliação mais precisa, como já falamos em outro
conteúdo, sobre os perímetros segmentares, diâmetros ósseos e dobras cutâneas.

Marins e Giannichi (2003) citam que essas fórmulas simples bastavam para classificar
se havia obesidade ou não até os 40 anos. No entanto, a avaliação corporal modificou
esse conceito ao permitir a medição da quantidade, assim como da localização da gor-
dura corporal, o monitoramento de mudanças corporais associadas ao crescimento, ao
desenvolvimento, à maturação e à idade, a eficiência de intervenções nutricionais e de
exercícios físicos, além de estimar o peso ideal de atletas.

Avaliação de Dobras Cutâneas


A avaliação das medidas de dobras cutâneas é a técnica que estima o percentual
de gordura corporal baseada em protocolos validados cientificamente, ou seja, foram
criados a partir de diferentes estudos de grandes amostras de população, em diferentes
países. Os dados foram analisados com regressões estatísticas, que resultaram em fór-
mulas mais complexas, capazes de estimar com muita precisão a quantidade de gordura
que cada avaliado possui.

Para estimar o percentual de gordura, o avaliador deverá escolher um protocolo com


validade científica específico para o público que irá avaliar, considerando a idade, o sexo,
a etnia e o nível de condicionamento físico. Além disso, será um erro querer comparar
resultados com diferentes protocolos (MARINS; GIANNICHI, 2003). Existem diversos
protocolos, com diferentes públicos-alvos e equações. Na sequência, serão apresentados
alguns dos mais populares no meio acadêmico (Tabela 4).

Tabela 4 – Protocolos de predição de dobras cutâneas de Jackson e Pollock (1985)


Público-alvo: Homens
Dobras cutâneas: ∑3 (peitoral + tríceps + subescapular)
Equação: DC = 1,1125025 – 0,0013125 (∑3) + 0,0000055 (∑3)2 – 0,0002440 (idade)
Público-alvo: Mulheres
Dobras cutâneas: ∑3 (tríceps + abdome + suprailíaca)
Equação: DC = 1,089733 – 0,0009245 (∑3) + 0,0000025 (∑3)2 – 0,0000979 (idade)
Em ambos os casos, após descobrir o valor de DC (densidade corporal), deve-se calcular a fórmula que
define o percentual de gordura (SIRI, 1961):%GC = [(4,95/DC) – 4,50] x 100
Legenda: ∑ é a somatória das dobras, DC é a densidade corporal e %GC é o percentual de
gordura corporal.
Fonte: MARINS; GIANNICHI, 2003

As equações são longas e parecem complicadas. Por isso, vamos fazer o cálculo
passo a passo, com base nesse exemplo: uma mulher, com 20 anos e medida de tríceps
de 19,2 mm, abdome de 31,0 mm e suprailíaca de 23,6 mm. Ao inserir esses dados na
fórmula, teremos:

DC = 1,089733 – 0,0009245 (19,2 + 31,0 + 23,6) + 0,0000025 (19,2 + 31,0 +


23,6)2 – 0,0000979 (20)

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UNIDADE Avaliação da Composição Corporal

Aqui, vale lembrar três regras básicas de matemática:


• Primeiro calcula-se tudo que está dentro dos parênteses (soma das dobras);
• Depois, elevam-se as potências (∑3)², multiplicando o número por ele mesmo;
• No fim, realizam-se as multiplicações que ficam entre os números e os parênteses,
antes das somas e subtrações. Exemplo: 0,0000979 (20) será uma multiplicação
assim: 0,0000979 x 20. Essa regra vale para todos os casos com parênteses na
equação.

Então o cálculo será assim:

DC = 1,089733 – 0,0009245 (73,8) + 0,0000025 (73,8)2 – 0,0000979 (20)

DC = 1,089733 – 0,0009245 x 73,8 + 0,0000025 x 5446,44 – 0,0000979 x 20

DC = 1,089733 – 0,0682281 + 0,0136161 – 0,001958

DC = 1,033163

Agora que encontramos o valor da densidade corporal (DC), o inserimos na fórmula


que define o percentual de gordura corporal (%GC):

%GC = [(4,95/DC) – 4,50] x 100

%GC = [(4,95/1,033163) – 4,50] x 100

%GC = [(4,791112341421441 – 4,50] x 100

%GC = 0,291112341421441 x 100

%GC = 29,1

E agora, o que será que representa um percentual de 29,1 de gordura corporal de


uma mulher de 20 anos? Podemos analisar os parâmetros de percentual de gordura
recomendados para a população em geral (Tabela 5).

Tabela 5 – Padrões de gordura corporal relativa para adultos e crianças


Faixa Não
Sexo Baixo Médio Alto Obesidade
Etária recomendado
6 – 17 <5 5 – 10 11 – 25 26 – 31 > 31
18 – 34 <8 8 13 22 > 22
Homens
35 – 54 < 10 10 18 25 > 25
55 ou + < 10 10 16 23 > 23
6 – 17 < 12 12 – 15 16 – 30 31 – 36 > 36
18 – 34 < 20 20 28 35 > 35
Mulheres
35 – 54 < 25 25 32 38 > 38
55 ou + < 25 25 30 35 > 35
Fonte: HEYWARD, 2011

Podemos, então, concluir que o percentual de gordura corporal de 29,1 para uma
mulher de 20 anos está bem próximo do que é o recomendado para a faixa etária dela
(%GC de 28 = médio). Vale lembrar que, se o avaliado fosse homem, seriam outras dobras

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cutâneas e outra equação, conforme foi descrito no Tabela 4. Agora veremos outro exemplo
de protocolo na Tabela 6, mas, nesse caso, específico para crianças e adolescentes.

Tabela 6 – Protocolo de predição de dobras cutâneas de Slaughter et al. (1988)


Público-alvo: Meninos de 6 a 17 anos
Dobras cutâneas: ∑2 (tríceps + panturrilha)
Equação: %GC = 0,735 (∑2) + 1,0
Público-alvo: Meninas de 6 a 17 anos
Dobras cutâneas: ∑2 (tríceps + panturrilha)
Equação: %GC = 0,610 (∑2) + 5,1
Legenda: ∑2 é a somatória das dobras do cutâneas.
Fonte: HEYWARD, 2011

Repare que, no exemplo da Tabela 6, apenas duas dobras cutâneas são solicitadas
e o resultado já será o percentual de gordura, não sendo necessário usar a fórmula de
conversão da densidade corporal. Além dos protocolos apresentados aqui (JACKSON;
POLLOCK, 1985; SLAUGHTER et al., 1988), existem vários outros disponíveis na
literatura, com maior número de dobras cutâneas, que especificam se são atletas ou se-
dentários, outras etnias e faixas etárias (HEYWARD, 2011, p. 224; SOUZA; PEREIRA,
2019, p. 113 - 114).

Outra consideração importante é a dificuldade de fazer os cálculos na calculadora,


com números tão grandes nas equações dos protocolos. Para diminuir essa dificuldade
e as chances de erros de cálculo, evitando a perda de tempo, o ideal é preparar uma
planilha de Excel com todas as equações automáticas que você irá usar. Dessa forma,
bastará inserir os nomes dos avaliados e as medidas de cada dobra cutânea para a plani-
lha te entregar imediatamente todos os resultados. No entanto, recomenda-se fazer uma
prova real de alguns cálculos para verificar se as equações da planilha estão realmente
fazendo os cálculos da forma correta. Para quem tem dificuldade com a preparação do
Excel, é comum que sejam disponibilizadas em sites e blogs na internet planilhas prontas
com alguns protocolos. Também existem os softwares de avaliação física, muito utiliza-
dos nas academias, que disponibilizam diversos protocolos e equações prontas, mas que
geralmente são pagos.

Podemos melhorar ainda a compreensão sobre a composição corporal. A partir dos


dados de percentual de gordura corporal, é possível calcular o peso da gordura (FETT
et al., 2006):

PG = (%GC x PCT) / 100

Em que PG significa peso da gordura, %GC significa percentual de gordura e PCT


significa peso corporal total (kg).

Por exemplo, a mulher que já estimamos o %GC em 29,1, pesa 60 kg. Então o cál-
culo será:

PG = (29,1 x 60) / 100

PG = 1746 / 100

PG = 17,46 kg

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UNIDADE Avaliação da Composição Corporal

Agora também é possível calcular a massa corporal magra:

MCM = PCT – PG

Em que MCM significa massa corporal magra, PCT significa peso corporal total e PG
significa peso da gordura. Seguindo no mesmo exemplo, teremos:

MCM = 60 – 17,46 = 42,54 kg

Por que é importante saber a quantidade de massa gorda e de massa magra no corpo de
uma pessoa?

Esses cálculos permitem um melhor acompanhamento de pessoas que se submetem


a um treinamento físico para a perda de peso. Por exemplo, uma pessoa poderá iniciar
um treinamento de musculação e, após alguns meses, o peso ter permanecido pratica-
mente o mesmo do início do treino. A princípio, baseando-se apenas no resultado da
balança, aparentemente ela não emagreceu. No entanto, isso poderá significar que ela
aumentou o gasto calórico, reduziu a gordura corporal, mas ganhou mais massa magra,
ou seja, ficou mais forte e, por isso, o peso total permaneceu estável.

Os perímetros segmentares também auxiliam nessa avaliação. Por exemplo, quando


o avaliador demonstra ao avaliado que houve redução do perímetro da cintura, na prá-
tica, isto significa diminuir o tamanho da barriga e passar a usar roupas de tamanhos
menores. Resultados assim geram uma grande motivação para quem está tentando
emagrecer. Dessa forma, fica evidente a importância da precisão da avaliação da com-
posição corporal para fazer o devido acompanhamento do avaliado.

Outros Métodos de Avaliação Corporal


Existem outras formas de realizar a avaliação corporal, no entanto, são mais caras e
dependem de equipamentos sofisticados, que, geralmente, estão disponíveis apenas em
laboratórios e hospitais. Souza e Pereira (2019) citam brevemente cada método:
• A Pesagem Hidrostática baseia-se na densidade corporal, por meio da relação do
peso no ar e do peso na água. O avaliado é submerso em um compartimento cheio
de água em que é analisado o deslocamento da água e os aspectos de flutuabilidade
devido à quantidade de gordura corporal;
• A Pletismografia estima a densidade corporal por meio do deslocamento de ar.
É uma câmara que analisa a diferença da pressão interior do equipamento vazio e
ocupado pelo avaliado;
• A DEXA (Absortometria Radiológica de Dupla Energia) é uma técnica de esca-
neamento do corpo com raio X. É muito utilizada para diagnosticar osteoporose,
devido à densidade óssea, porém também é capaz de analisar a gordura e os teci-
dos moles do corpo humano;
• A Bioimpedância Elétrica (BIA) é uma avaliação do fluxo de corrente elétrica de
baixa intensidade pelo corpo humano, praticamente imperceptível pelo avaliado. A

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composição do corpo é diferenciada pela condutividade elétrica, em que a massa
magra é um bom condutor, enquanto a massa gorda oferece maior resistência.

Importante!
Para conhecer melhor esses métodos de avaliação corporal mais tecnológicos e avança-
dos, veja, no final dessa unidade, os vídeos sugeridos em Material Complementar.

Estimativa de Idade Óssea e Maturação


A avaliação da composição corporal também torna possível estimar a idade biológica
em comparação com a idade cronológica. Isto é, permite analisar se uma criança ou
adolescente está passando por maturação precoce, esperada ou tardia em comparação
com a faixa etária. Esse diagnóstico é extremamente importante devido aos indicado-
res morfológicos, funcionais e motores nas primeiras duas décadas de vida (GUEDES;
GUEDES, 2006).

No caso específico do meio esportivo e de jovens atletas, a maturação precoce ou


tardia influencia diretamente na avaliação de desempenho, podendo levar a equívocos
de seleção e exclusão de atletas das equipes. Por exemplo, um treinador classificar uma
criança como talento esportivo, enquanto, na realidade, ela passa pela maturação preco-
ce. Isto é, essa criança já cresceu, ganhou mais força e velocidade que outras crianças da
mesma faixa etária e, por isso, passa a impressão de que é mais qualificada. Alguns anos
depois, essa mesma criança/adolescente já estará completamente maturada e não irá
evoluir mais, enquanto os demais continuarão evoluindo e irão superar o desempenho
dele no final da adolescência.

O mesmo exemplo serve para crianças e adolescentes com maturação tardia, que são
excluídos de equipes esportivas por apresentarem desempenho abaixo dos demais, mas,
na realidade, só possuem o mesmo ano de nascimento, pois estão passando por matura-
ção mais lenta. Ao serem excluídos, acabam abandonando o esporte. No entanto, esses
atletas com maturação tardia, caso tenham algum talento, são os que mais interessam
para as equipes esportivas profissionais, pois se sabe que eles continuarão evoluindo até
o início da fase adulta, por volta dos 21 anos de idade. Resumindo esses dois exemplos,
no primeiro caso, a equipe esportiva seleciona equivocadamente um jogador precoce
que só irá evoluir até o início da adolescência e, no segundo caso, exclui equivocadamen-
te um jogador com potencial para chegar até a categoria profissional.

Para não incorrerem nesse tipo de erro, clubes esportivos com muitos recursos finan-
ceiros costumam utilizar o método da radiografia da mão das crianças e adolescentes.
Assim, conseguem verificar a quantidade de cartilagem ainda presente nas extremidades
dos ossos, tornando possível estimar a idade biológica e o nível de maturação do jovem
atleta. Quanto maior for a presença de ossos e menor for a de cartilagem, mais matura-
do biologicamente é o avaliado. Na Figura 1, as imagens superiores são de crianças e as
inferiores do final da adolescência.

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UNIDADE Avaliação da Composição Corporal

Figura 1 – Modelo de referências radiográficas para análise da maturação óssea


Fonte: Adaptada de GUEDES; GUEDES, 2006

No entanto, a maioria das escolas e das equipes esportivas não possuem recursos
financeiros para realizarem esses tipos de testes com seus atletas. Para esses casos,
existem equações com medidas antropométricas, que possuem validade científica para
fazer o mesmo tipo de diagnóstico em relação ao estágio de maturação das crianças e
adolescentes, como a equação a seguir (CABRAL et al., 2013).

Idade Óssea = -11,620 + 7,004 (estatura) + 1,226 (Dsexo) + 0,749 (idade) – 0,068 (Tr)
+ 0,214 (Pcb) – 0,588 (Du) + 0,388 (Df)

Legenda:
• Estatura (m);
• Sexo masculino: Dsexo = 0; Sexo feminino: Dsexo = 1;
• Idade (anos);
• Tr (dobra cutânea triciptal, mm);
• Pcb (perímetro corrigido do braço, cm). Para obter esse valor “corrigido”, é necessário
obter o perímetro do braço (cm), subtraído pelo valor da dobra cutânea tricipital (Tr),
transformado em cm (ex. 5mm = 0,5cm).
• Du (diâmetro de úmero, cm);
• Df (diâmetro de fêmur, cm).

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O resultado dessa equação indicará qual é a idade biológica do avaliado, que poderá
ser comparada com a idade cronológica. Por exemplo, o avaliado possui 15 anos de
idade, devido à sua data de nascimento, mas, pela equação, o resultado aparece como
14 anos, isto quer dizer que ele está com a maturação atrasada em um ano (tardia). Caso
a equação resultasse em 16 anos, significaria que ele está com a maturação precoce, ou
seja, antecipada em um ano em relação aos demais da mesma faixa etária. Essa é uma
informação valiosa obtida simplesmente pela antropometria.

Em Síntese
• Antes de iniciar a avaliação física, o ideal é fazer uma anamnese para conhecer
melhor o avaliado. Recomenda-se também o uso de questionários (ex.: PAR-Q) ca-
pazes de identificar situações de maior risco, que deverão ser encaminhadas para
avaliação médica prévia;
• A avaliação corporal pode ser feita de diversas formas. Entre as mais simples, estão
o IMC, com base apenas no peso e estatura; o ICQ, com base nas medidas de cintura
e quadril; e o RCEst, com base na medida de cintura e estatura;
• A avaliação com base nas medidas de dobras cutâneas possibilita maior aprofunda-
mento na avaliação corporal, pois consegue definir o percentual de gordura corporal
do avaliado. Caberá ao avaliador conhecer bem os diversos protocolos existentes,
utilizando os mais adequados para seu público-alvo;
• Existem outras formas de avaliação corporal que dependem de equipamentos tec-
nológicos e recursos financeiros, como a Pesagem Hidrostática, a Pletismogra-
fia, a DEXA e a Bioimpedância Elétrica (BIA);
• A antropometria possibilita também estimar a idade óssea e a maturação do ava-
liado, com base em perímetros segmentares, diâmetros ósseos e dobras cutâneas.

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UNIDADE Avaliação da Composição Corporal

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Vídeos
Bod Pod - Pletismografia - Instituto Vita - Dra. Patricia Campos
https://youtu.be/GbDVNyFifxM
Clinica Especialmed #2 - Exame DEXA, Densitometria de avaliação composição corporal
https://youtu.be/l3oIqlzh4xM

 Leitura
Exame pré-participação esportiva e o PAR-Q, em praticantes de academias
https://bityl.co/9086
Métodos de avaliação da composição corporal em crianças
Artigo interessante com uma revisão de literatura sobre as diversas formas de avaliação
corporal para crianças.
https://bityl.co/9087

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Referências
ACSM. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. 9. ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. (e-book)

BRAY, G. A.; GRAY, D. S. Obesity. Part I – Pathogenesis. Western Journal of Medicine,


v. 149, n. 4, 1988.

CABRAL, B. et al. Equação preditora de idade óssea na iniciação esportiva através de


variáveis antropométricas. Rev Bras Med Esporte, v. 19, n. 2, 2013.

FETT, C. A. et al. Composição corporal e somatótipo de mulheres com sobrepeso


e obesas pré e pós-treinamento em circuito ou caminhada. Rev Bras Med Esporte,
Niterói, v. 12, n. 1, 2006.

GUEDES, D. P.; GUEDES, J. E. R. P. Manual prático para avaliação em educação


física. Barueri Manole, 2006.

HAUN, D. R.; PITANGA, F. J. G. Waist-height ratio compared to other indicators of


obesity as predictors of high coronary risk.R evista da Associação Médica Brasileira,
v. 55, n. 6, 2009.

HEYWARD, V. H. Avaliação física e prescrição de exercício: técnicas avançadas. 6. ed.


Porto Alegre: Artmed, 2011. (e-book)

MARINS, J. C. B.; GIANNICHI, R.S. Avaliação e prescrição da atividade física: guia


prático. 3. ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003.

SOUZA, E. F.; PEREIRA, J. L. Medidas e avaliação. Curitiba: InterSaberes, 2019. (e-book)

TELLES, R. K.; BARROS FILHO, A. A. O uso da antropometria como método de ava-


liação corporal em pediatria. Revista de Ciências Médicas, v. 12, n. 4, 2003.

VIEIRA, S. A. et al. Índice relação cintura-estatura para predição do excesso de peso


em crianças. Revista Paulista de Pediatria, v. 36, n. 1, 2018.

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