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DESCRIÇÃO

Apresentação segmentada de dados, indicadores, classificadores e normatizações de avaliação nutricional em idosos.

PROPÓSITO
Apresentar os métodos e instrumentos utilizados na identificação, coleta, análise e classificação do estado nutricional
de idosos.

PREPARAÇÃO
Antes de iniciar o estudo deste tema, pesquise as tabelas e as referências de avaliação nutricional, especialmente,
antropométricas nos documentos de Orientações para a coleta e análise de dados antropométricos em serviços
de saúde: Norma Técnica do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional – SISVAN e na Caderneta de Saúde
da pessoa idosa – disponibilizados pelo Ministério da Saúde.

OBJETIVOS
MÓDULO 1

Classificar o estado nutricional de idosos a partir de indicadores antropométricos

MÓDULO 2

Reconhecer riscos nutricionais a partir de variáveis clínicas, dietéticas e bioquímicas em idosos

INTRODUÇÃO
Estima-se que a população idosa brasileira represente cerca de 10,5 a 13% do total de indivíduos, de acordo com
dados recentemente levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pela Fundação Getúlio
Vargas (FGV), sendo valor superior a 20% do levantamento realizado em 2012. Ainda, projeta-se que, em 2060, o
envelhecimento atinja 25% da concentração de brasileiros (IBGE, 2018; FGV, 2020). É importante reforçar que a lei
vigente brasileira preconiza definição de idosos como indivíduos com idade a partir de 60 anos, independentemente
do sexo (BRASIL, 2003).

As projeções de aumento do número populacional de idosos alarmam instituições, profissionais e autoridades de


saúde e Governo, tendo em vista a significativa demanda aos cuidados gerais, tais como psicossociais, econômicos e
clínicos da terceira idade (MIRANDA et al., 2016). Os requerimentos nutricionais de idosos estão intimamente
associados a fatores fisiológicos, patológicos e/ou farmacológicos. A perda de tecido muscular esquelético,
degradação sensorial e buco dentária, dificuldades digestórias, interação droga-nutriente e alterações neurocognitivas
consistem nos principais distúrbios do organismo relacionados a velhice. Tais condições podem impactar severamente
a fisiologia nutricional imprescindível para saúde (AMARYA et al., 2018).

Ainda se soma ao tempo o estresse oxidativo ao longo dos anos de vida para estabelecer riscos à saúde do idoso e
agravamento de eventuais doenças estabelecidas. Portanto, é fundamental ter um olhar sensível através de critérios
bem estabelecidos pela literatura no intuito de avaliar e classificar o estado nutricional de idosos com finalidade de
provisionar atenção e intervenção dietética compatível a sua exigência.

MÓDULO 1

 Classificar o estado nutricional de idosos a partir de indicadores antropométricos

As alterações de compartimentos corporais podem apontar para riscos de desenvolvimento ou agravamento de


doenças e desequilíbrios nutricionais. A determinação de parâmetros de risco para o status nutricional de idosos
é baseada em dados epidemiológicos multicêntricos. Contudo, o nutricionista deve se precaver em estabelecer
uma padronização na coleta de medidas, uma vez que modificações físicas são inerentes ao envelhecimento.
Idosos desenvolvem naturalmente processo de desidratação, aumento de flacidez, dificuldade de manutenção
postural e outros fatores que podem interferir negativamente na medição antropométrica e, por conseguinte, no
diagnóstico nutricional. Nesse sentido, as medidas mais comumente utilizadas são de simples coleta e não
invasivas, destacando-se, principalmente (MILANOVIC et al., 2011):

Coleta de peso

Estatura

Dobras cutâneas

Perimetrias

Foto: Shutterstock.com

CLASSIFICAÇÃO NUTRICIONAL POR ÍNDICE DE


MASSA CORPORAL (IMC)
A utilização do cálculo do IMC em idosos emerge como um dos principais indicadores de estimativa de excesso ou
carência de compartimentos adiposos em harmonia antropométrica para idosos. A razão da massa corporal pela
estatura ao quadrado consiste em um método de fácil aplicação, especialmente por seu baixo custo e
reprodutibilidade (OPAS, 2002; BRASIL, 2011). O Quadro 1 apresenta parâmetros de IMC para classificação
nutricional de idosos, independentemente do sexo.

Quadro 1. Classificação do estado nutricional de idosos por IMC

IMC (Kg/M2) Classificação

< 23 Baixo peso

23 – 28 Eutrofia
28 – 30 Sobrepeso

> 30 Obesidade

Adaptado de OPAS, 2002.

A medição do peso e da estatura de idosos pode ser de difícil realização ou impossível para indivíduos que tenham
dificuldades de deambular ou que se encontram acamados. Nessas condições, é possível aplicação de equações
preditivas de peso e estatura baseada na coleta de outras medidas, especialmente a aferição do comprimento da
perna (também denominada altura do joelho). O comprimento da perna (CmP) deve ser medido necessariamente com
paciente sentado, mantendo perna em ângulo reto considerando pés fixos ao solo e joelhos alinhados. A entrada da
posição da fita métrica deve partir da base do calcanhar até a protuberância fibular da perna direita (LIPSCHITZ,
1994). Os Quadros 2 e 3 exibem, respectivamente, cálculos para estimativa de altura e massa corporal para idosos
de acordo com sexo.

Quadro 2. Equação para estimativa de estatura em idosos.

Homens Mulheres

(2,02 × CmP) – (0,04 × I) + 64,19 (1,83 × CmP) – (0,24 × I) + 84,88

CmP: Comprimento da perna; I: Idade


Adaptado de Chumlea et al., 1985.

Quadro 3. Equação para estimativa de peso em idosos.

Homens Mulheres

(0,98 × CP) + (1,16 × CmP) + (1,73 × CB) + (0,37 × (1,27 × CP) + (0,87 × CmP) + (0,98 × CB) + (0,4 ×
DCSE) – 81,69 DCSE) – 62,35

CP: Circunferência da panturrilha; CmP: Comprimento da perna; CB: Circunferência do braço; DCSE: Dobra cutânea
subescapular.
Adaptado de Chumlea et al., 1988

 SAIBA MAIS
A utilização de equações de estimativas de peso e altura vem crescendo na ponta do atendimento nutricional.
Alguns ensaios concluem que os cálculos preditivos demonstram boa segurança, confiabilidade e
aplicabilidade em idosos de ambos sexos (SAMPAIO et al., 2002; CLOSS et al., 2015).

Do ponto de vista padrão, indica-se seguir os procedimentos para dobra cutânea subescapular (DCSE), circunferência
do braço (CB) e circunferência da panturrilha (cp) (MUSSOI, 2014):

DCSE

Deve-se marcar ponto 2cm abaixo da borda inferior da escápula direita, com a demarcação seguindo a orientação
inclinada dos arcos costais. O avaliador deve se posicionar atrás do avaliado e a prega deve ser realizada
obliquamente ao eixo anatômico longitudinal.

CB

Mede-se o membro direito do paciente, envolvendo a fita métrica na metade da distância entre a borda superior do
acrômio e a proeminência do olecrano. Para CB, o idoso deve manter os braços relaxados em paralelo ao eixo
longitudinal.

CP

A fita métrica deve circundar a região de maior perímetro aparente do músculo gastrocnêmio da perna direita.

Exemplo 1
Definir estado nutricional de homem de 92 anos que apresenta estatura de 1,64m e peso de 59,3Kg. IMC calculado de

22,1Kg/M2. Classificação de baixo peso de acordo com IMC para homens idosos (acima de 60 anos).

Exemplo 2
Determinar o estado nutricional de paciente do sexo feminino, 76 anos, acamada apresentando as seguintes medidas:
CmP de 47,2cm, DCSE de 23mm, CP de 32,5cm e CB de 29,0cm.
Peso estimado para idosas: (1,27 × CP) + (0,87 × CmP) + (0,98 × CB) + (0,4 × DCSE) – 62,35
Peso estimado: (1,27 x 32,5) + (0,87 x 47,2) + (0,98 x 29,0) + (0,4 x 23) – 62,35
Peso estimado: (41,3) + (41,1) + (28,4) + (9,2) – 62,35
Peso estimado: 57,7Kg
Estatura estimada para idosas: (1,83 × CmP) – (0,24 × I) + 84,88
Estatura estimada: (1,83 x 47,2) – (0,24 x 76) + 84,88
Estatura estimada: (86,4) – (18,2) + 84,88
Estatura estimada: 153,1 cm ou 1,53 M

IMC estimado: peso estimado / altura estimada2


IMC estimado: 57,7 / 2,3
IMC estimado: 25,1kg/m2. Classificação de eutrofia de acordo com IMC para mulheres idosas (acima de 60 anos).

CLASSIFICAÇÃO NUTRICIONAL A PARTIR DE


OUTRAS MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS
A aplicação de medidas de classificação do estado nutricional em idosos além do IMC é pouco reproduzida no Brasil
devido à carência de padrões de referência antropométricos específicos para o perfil populacional brasileiro nesta
idade.

Porém, embora menos utilizadas na prática clínica, as medidas de CB, circunferência muscular do braço (CMB) e
área muscular do braço corrigida (AMBc) podem indicar riscos de desnutrição ou excessos nutricionais,
principalmente em condições de inviabilidade de aferição de IMC, ou até mesmo de se estimar peso e estatura em
idosos. Enquanto a CB engloba a soma de todas as massas acumuladas da região, a CMB e a AMBc delimitam
estimativa de reserva musculoesquelética corporal importante para indivíduos desta faixa etária, compreendendo
ferramenta valiosa na busca por eventuais processos de deterioração tecidual (CORTEZ & MARTINS, 2012).

Foto: Shutterstock.com

CIRCUNFERÊNCIA DO BRAÇO

Para determinação de estado nutricional a partir da CB, calcula-se o percentual de adequação da perimetria através
da obtenção de medidas detectadas na avaliação nutricional e coleta do valor Percentil 50 (P50) de acordo com a
idade do paciente. A equação é descrita da seguinte maneira:
adequa ção de CB  =  (CB / P50 da CB) x 100

 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

O Quadro 4 dispõe medidas de percentis (P) de CB para idosos de acordo com sexo (BURR & PHILLIPS, 1984),
enquanto o Quadro 5 apresenta classificação do estado nutricional a partir do resultado da equação de adequação da
CB (BLACKBURN & THORNTON, 1979).

Quadro 4. Valores de percentis de CB para idosos de ambos os sexos de acordo com a idade.

Homens

Idade P5 P10 P15 P25 P50 P75 P85 P90 P95

60 – 64 26,6 27,8 28,6 29,7 32,0 34,0 35,1 36,0 37,5

65 – 69 25,4 26,7 27,7 29,0 31,1 33,2 4,5 35,3 36,6

70 – 74 25,1 26,2 27,1 28,5 30,7 32,6 33,7 34,8 36,0

75 – 79 19,7 20,8 - 22,6 24,5 26,4 - 28,2 27,1

80 – 84 19,3 20,2 - 21,9 23,7 25,5 - 27,2 28,1

> 84 18,9 19,8 - 21,3 23,0 24,7 - 26,2 27,1

Mulheres

Idade P5 P10 P15 P25 P50 P75 P85 P90 P95

60 – 64 25,0 26,1 27,1 28,4 30,8 34,0 35,7 37,3 39,6


65 – 69 24,3 25,7 26,7 28,0 30,5 33,4 35,2 36,5 38,5

70 – 74 21,8 25,3 26,3 27,6 30,3 33,1 34,7 35,8 37,5

75 – 79 19,3 20,6 - 22,6 24,9 27,2 - 29,3 30,5

80 – 84 17,9 19,2 - 21,2 23,5 25,8 - 27,9 29,1

> 84 16,4 17,6 - 19,8 22,1 24,5 - 26,6 27,8

Adaptado de Burr & Phillips, 1984.

Quadro 5. Classificação nutricional de acordo com percentual de adequação da CB.

Classificação % de Adequação da CB

Desnutrição grave < 70%

Desnutrição moderada 70 – 79%

Desnutrição leve 80 – 89%

Eutrofia 90 – 109%

Sobrepeso 110 – 120%

Obesidade > 120%

Adaptado de Blackburn & Thornton, 1979.

Exemplo 1
Determinar estado nutricional de paciente do sexo masculino, 67 anos, com CB de 20,3cm. O P50 para idosos de 65
a 69 anos corresponde a 31,1 (Quadro 4).
Adequação de CB = (CB / P50 da CB) x 100
Adequação da CB = (20,3 / 31,1) x 100
Adequação de CB = 65,3%. Classificação de desnutrição grave.

Exemplo 2
Determinar estado nutricional de paciente do sexo feminino, 81 anos, com CB de 19,8cm.
O P50 para idosas de 80 a 84 anos corresponde a 23,5 (Quadro 4).
Adequação de CB = (CB / P50 da CB) x 100
Adequação da CB = (19,8 / 23,5) x 100
Adequação de CB = 84,3%. Classificação de desnutrição leve.

CIRCUNFERÊNCIA MUSCULAR DO BRAÇO E ÁREA


MUSCULAR DO BRAÇO

Para obtenção do valor de CMB, é necessário coleta de medidas de CB e dobra cutânea tricipital (DCT) para,
posteriormente, aplicação dos dados na seguinte fórmula:

CMB  =  CB –  [π x (DCT/10)]

 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

Sendo π (pi) como número de valor aproximado de 3,1416. Em sequência, é indicado cálculo de adequação da CMB
seguindo a equação:

adequa ção de CMB  =  (CMB / P50 da CMB) x 100

 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

O Quadro 6 lista valores de P50 para CMB, ao passo que o Quadro 7 apresenta classificação nutricional de idosos a
partir da adequação da AMB (BLACKBURN & THORNTON, 1979).

Quadro 6. Valores de P50 de CMB para idosos de ambos os sexos de acordo com a idade.

Homens

Idade P50

60 – 64 27,8
65 – 74 26,8

75 – 79 22,1

80 – 84 21,5

> 84 20,8

Mulheres

Idade P50

60 – 64 22,5

65 – 74 22,5

75 – 79 20,0

80 – 84 19,2

> 84 18,2

Adaptado de Frisancho (1981) e Burr & Phillips (1984).

Quadro 7. Classificação nutricional de acordo com percentual de adequação da CMB.

Classificação % de Adequação da CMB

Desnutrição grave < 70%

Desnutrição moderada 70 – 79%


Desnutrição leve 80 – 89%

Eutrofia > 90%

Adaptado de Blackburn & Thornton, 1979.

A AMBc consiste em medida de determinação muscular braquial excluindo-se variável de tecido ósseo no intuito de
melhor precisão das condições de massa proteica muscular do idoso, refletindo indicador mais acurado que a CMB.
As seguintes equações descrevem método de cálculo para AMBc para homens e mulheres:

Foto: Shutterstock.com
Foto: Shutterstock.com

De acordo com as normas padronizadas no Sistema Internacional de Cineantropometria (ISAK), a DCT deve ser
aferida na metade da distância entre a borda superior do acrômio (Figura 1) e o olecrano (Figura 2), na região
anterior do braço direito, com paciente mantendo membro relaxado. A prega deve ser realizada de forma paralela ao
eixo longitudinal (TIRAPEGUI, 2013).

Imagem: Wikimedia.org/domínio público

Figura 1: Localização do acrômio na terminação da clavícula.


Imagem: Wikimedia.org/domínio público

Figura 2: Localização do olecrano na região mais pontiaguda do cotovelo.

O Quadro 8 expõe medidas de percentis (P) para AMBc de idosos de acordo com sexo (FRISANCHO, 1990),
enquanto o Quadro 9 determina classificação do estado nutricional de acordo com percentil de AMBc (BLACKBURN
& THORNTON, 1979).

Quadro 8. Valores de percentis de AMBc (cm2) para idosos de ambos os sexos.

Homens

Idade P5 P15

60 – 64 34,5 41,2

65 – 69 31,4 38,4

70 – 75 29,7 36,1

Mulheres

Idade P5 P15

60 – 64 22,4 26,3
65 – 69 21,9 26,2

70 – 75 22,2 26,0

Adaptado de Frisancho, 1990.

Quadro 9. Classificação nutricional de acordo com percentil de AMBc.

Classificação Percentil

Desnutrição grave < P5

Desnutrição ≥ P5 – P15

Eutrofia > P15

Adaptado de Blackburn & Thornton, 1979.

Exemplo 1
Determine classificação nutricional a partir das reservas musculoesqueléticas de indivíduo do sexo feminino de 72
anos, CB de 24,5cm e DCT de 26mm.
CMB = CB – [π x (DCT/10)]
CMB = 24,5 – [3,1416 x (26/10)]
CMB = 16,3cm
P50 da CMB para idosa de 72 anos: 22,5cm
Adequação de CMB = (CMB / P50 da CMB) x 100
Adequação de CMB = (16,3 / 22,5) x 100
Adequação da CMB = 72,4 %. Classificação de desnutrição moderada.

AMBc para mulheres = [CB – π x (DCT/10)2 – 6,5]/4π

AMBc = [24,5 – 3,1416 x (26/10)2 – 6,5)/4 x 3,1416

AMBc = 14,6 cm2. Classificação abaixo do P5 para mulheres idosas de 70 a 75 anos. Classificação de desnutrição
grave.

CIRCUNFERÊNCIA DA PANTURRILHA
A Organização Mundial de Saúde propõe que a medida de circunferência da panturrilha apresenta significativa
sensibilidade na predição de alteração de conteúdo de massa magra de idosos, especialmente àqueles com
dificuldades de locomoção e manutenção de exercícios físicos regulares.

Foto: Shutterstock.com

 SAIBA MAIS

Objetivamente, determina-se quadro de risco de desnutrição para indivíduos que apresentem valores da
perimetria inferiores a 31cm, tanto para homens quanto para mulheres (NAJAS & NEBULONI, 2005).

ESPESSURA DO MÚSCULO ADUTOR DO POLEGAR (EMAP)

Também conhecida como força de pressão palmar, a aferição da EMAP consiste em método de baixo custo,
simples, ágil, não invasivo e de fácil reprodução e análise, uma vez que não há necessidade de conversão do valor
em fórmulas preditivas. Com auxílio de um adipômetro, o avaliador deve exercer pressão contínua sob o músculo
adutor. O equipamento deve pinçar o vértice do triângulo imaginário formado pela extensão dos dedos polegar e
indicador.

 DICA

Para acompanhamento evolutivo, indica-se comparar medidas obtidas do EMAP ao longo do


acompanhamento nutricional de longo prazo. (PEREIRA et al., 2019)

UMA VISÃO PRÁTICA DA AVALIAÇÃO NUTRICIONAL


DO IDOSO
O especialista Itamar Cunha aborda a parte prática da avaliação nutricional do idoso.
VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. PACIENTE HM, SEXO FEMININO, CADEIRANTE E COM 68 ANOS PROCUROU SERVIÇO


AMBULATORIAL DE NUTRIÇÃO PARA CUIDADOS E ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS. NO
SERVIÇO DE ATENDIMENTO, NÃO CONSTA BALANÇA ACOPLADA À MACA,
IMPOSSIBILITANDO AFERIÇÃO DIRETA. SENDO ASSIM, A EQUIPE REALIZOU AS
SEGUINTES DETECÇÕES: CB: 37CM; ALTURA DO JOELHO (CMP): 46CM; DCSE DE 28MM;
E CP DE 36CM. DIANTE DAS AFERIÇÕES REALIZADAS, ASSINALE ALTERNATIVA
CORRETA EM RELAÇÃO AO ESTADO NUTRICIONAL DA PACIENTE:

A) IMC de 22,8 Kg/M2 sinalizando eutrofia.

B) IMC de 27,9 Kg/M2 sinalizando eutrofia.

C) IMC de 30,3 Kg/M2 sinalizando obesidade.

D) IMC de 33,3 Kg/M2 sinalizando obesidade grau II.

E) IMC de 37,2 Kg/M2 sinalizando obesidade mórbida.

2. NA IMPRECISÃO OU FALTA DE INSTRUMENTAÇÃO DE BALANÇA E ESTADIÔMETRO,


ALÉM DA BUSCA PELA ESTIMATIVA DE INDICADORES ATRAVÉS DA ALTURA DO JOELHO
E OUTRAS PREGAS CUTÂNEAS, É POSSÍVEL AVERIGUAR ESTADO NUTRICIONAL A
PARTIR DE ADEQUAÇÃO DA CB E DA CMB, POR EXEMPLO. ESCOLHA ALTERNATIVA QUE
DETERMINA RISCO NUTRICIONAL PARA IDOSO, SEXO MASCULINO, 75 ANOS E COM
MEDIDAS DE DCT DE 24MM E CB DE 27CM.

A) Eutrofia geral

B) Eutrofia e risco leve de depleção muscular esquelética

C) Eutrofia e risco grave de depleção muscular esquelética

D) Sobrepeso e risco leve de depleção muscular esquelética


E) Sobrepeso geral

GABARITO

1. Paciente HM, sexo feminino, cadeirante e com 68 anos procurou serviço ambulatorial de Nutrição para
cuidados e orientações nutricionais. No serviço de atendimento, não consta balança acoplada à maca,
impossibilitando aferição direta. Sendo assim, a equipe realizou as seguintes detecções: CB: 37cm; altura do
Joelho (CmP): 46cm; DCSE de 28mm; e CP de 36cm. Diante das aferições realizadas, assinale alternativa
correta em relação ao estado nutricional da paciente:

A alternativa "C " está correta.

Na aplicação das fórmulas de estimativa de peso e estatura utilizando as medidas coletadas, temos:
Estimativa de peso para mulheres: (1,27 × CP) + (0,87 × CmP) + (0,98 × CB) + (0,4 × DCSE) – 62,35
Estimativa de peso: (1,27 x 36) + (0,87 x 46) + (0,98 x 37) + (0,4 x 28) – 62,35
Estimativa de peso: (45,7) + (40,0) + (36,3) + (11,2) – 62,35
Estimativa de peso: 70,9Kg
Estimativa de altura para mulheres: (1,83 × CmP) – (0,24 × I) + 84,88
Estimativa de altura: (1,83 x 46) – (0,24 x 68) + 84,88
Estimativa de altura: (84,2) – (16,3) + 84,88
Estimativa de altura: 1,53m
Para cálculo de IMC, cuja fórmula é IMC= Peso/Altura2, temos:
IMC: 70,9Kg/ (1,53)2
IMC: 30,3Kg/M2, enquadrando-se na classificação de obesidade.

2. Na imprecisão ou falta de instrumentação de balança e estadiômetro, além da busca pela estimativa de


indicadores através da altura do joelho e outras pregas cutâneas, é possível averiguar estado nutricional a
partir de adequação da CB e da CMB, por exemplo. Escolha alternativa que determina risco nutricional para
idoso, sexo masculino, 75 anos e com medidas de DCT de 24mm e CB de 27cm.

A alternativa "D " está correta.

Inicialmente, observe valor de P50 no quadro de percentis de CB acordo com a idade em idosos. Para 75 anos em
idosos do sexo masculino, o valor de P50 é de 24,5cm. Em sequência, aplica-se fórmula de adequação de CB para
identificação da classificação de acordo com Blackburn & Thornton (1979).

Adequação de CB = (CB / P50 da CB) x 100


Adequação de CB = (27/24,5) x 100
Adequação de CB = 110%. Classificação de sobrepeso.

Para estimativa de CMB, realiza-se: CMB = CB – [π x (DCT/10)]


CMB = 27 – [3,1416 x (24/10)]
CMB = 27 – [7,5]
CMB = 19,5cm
Na sequência, é indicado buscar valor de P50 para CMB de idosos do sexo masculino de 75 anos. Neste caso, a
medida observada é de 22,1. Calcula-se adequação de CMB e compara-se com a referência:
Adequação de CMB = (CMB / P50 da CMB) x 100
Adequação de CMB = (19,5/22,1) x 100
Adequação de CMB = 88%. Classificação de desnutrição leve.

Sendo assim, nota-se que paciente apresenta conteúdo significativo de massa adiposa com diagnóstico de sobrepeso
para CB. Todavia, há risco de perda de massa muscular esquelética importante devido à adequação de desnutrição
proteica da CMB.

MÓDULO 2

 Reconhecer riscos nutricionais a partir de variáveis clínicas, dietéticas e bioquímicas em idosos

Em razão do natural envelhecimento celular, algumas atividades teciduais encontram-se deterioradas em idosos. De
fato, a perda progressiva da função de órgãos e tecidos consiste na melhor definição clínica sobre o processo de
envelhecimento humano através do tempo (FLATT, 2012). Dentre as principais teorias associadas ao envelhecimento,
destaca-se o estresse oxidativo decorrente da ação de Espécies Reativas de Oxigênio e Nitrogênio (ERON) sobre a
camada fosfolipídica das membranas celulares e sobre outras macromoléculas, como proteínas e DNA. Neste
cenário, as células vão reduzindo sua integralidade e se tornando mais suscetíveis a disfunções, doenças ou
agressões por patógenos (LIGUORI et al., 2018). Sendo assim, é usual observar profusas alterações fisiológicas em
sistemas do organismo. Muitas destas modificações podem estar associadas ao aumento da demanda de nutrientes.
Emergem as seguintes condições:

O aumento do estresse oxidativo intensifica necessidade de antioxidantes, como vitamina C, vitamina E, ẞ-caroteno,
zinco, selênio, magnésio e fenólicos.

A diminuição da densidade mineral óssea associada à redução da biodisponibilidade de cálcio aumenta requerimentos
de vitamina D e cálcio dietético.

A sarcopenia e a perda de massa muscular reduzem a demanda energética total.

A imunossupressão induz ao aumento da demanda de antioxidantes, vitaminas do complexo B e proteínas.

Aditivamente é comum identificar fatores clínicos e bioquímicos que interferem no estado nutricional de idosos. O
Quadro 11 lista algumas destas características notáveis:

Quadro 11. Alterações clínicas e bioquímicas comuns no envelhecimento.

Aumento Redução

pH gástrico Albumina sérica


Homocisteína sérica Água corporal total

α1-Glicoproteína ácida Massa hepática

Massa gorda (principalmente no tronco) Massa magra total

Fragilidade neuromuscular Função glomerular e renal

Motilidade gastrointestinal

Capacidade absortiva intestinal

Velocidade de esvaziamento gástrico

Adaptado de Amarya, 2018.

Foto: Shutterstock.com

SEMIOLOGIA NUTRICIONAL EM IDOSOS


Diversas características inspecionáveis podem ser observadas em idosos, com destaque para aspectos de:

Desidratação

Cansaço

Magreza
Redirecionamento adiposo

Dificuldades cicatricionais

O Quadro 12 elenca sinais e sintomas diretamente associados a carências, insuficiências ou deficiências nutricionais
importantes.

Quadro 12. Semiologia clínica-nutricional em idosos.

Local Sinal/Sintoma Deficiência

a) Seca, escamosa e ressecada a) Zinco e/ou ácidos graxos essenciais


b) Hiperqueratose folicular b) Vitamina A, vitamina C
c) Petéquias c) Vitamina C, vitamina K
Pele
d) Dermatite fotossensível d) Niacina
e) Dificuldade cicatricional e) Zinco, vitamina C
f) Dermatite escrotal f) Riboflavina

a) Fino e despigmentado a) Proteína


Cabelo
b) Quebradiço b) Proteína, Zinco

a) Despigmentação transversa a) Albumina


Unhas
b) Coiloníquia b) Ferro

a) Nictalopia a) Vitamina A, zinco


Olhos b) Inflamação da conjuntiva b) Riboflavina
c) Queratomalácia c) Vitamina A

a) Sangramento gengival a) Vitamina C, Riboflavina


b) Glossite b) Niacina, Piridoxina, Riboflavina
Boca
c) Papilas atróficas c) Ferro
d) Hipogeusia d) Zinco, vitamina A

a) Aumento da tireoide a) Iodo


Pescoço
b) Aumento da paratireoide b) Proteína

Abdômen a) Diarreia a) Niacina, folato, vitamina B12


b) Hepatomegalia b) Proteína

a) Osteomalácia a) Vitamina D
b) Dores articulares b) Vitamina C
Extremidades c) Sensibilidade muscular c) Tiamina
d) Fadiga muscular d) Proteína, selênio, vitamina D
e) Edema e) Proteína

a) Ataxia a) Vitamina B12


b) Tetania b) Magnésio, cálcio
Sistema Neurológico c) Parestesia c) Vitamina B12, tiamina
d) Demência d) Vitamina B12, niacina
e) Hiporreflexia e) Tiamina

Adaptado de Ahmed & Haboubi, 2010.

No intuito de identificar precocemente possíveis desenvolvimentos e agravamentos patológicos, alguns indicadores


bioquímicos são utilizados em análises laboratoriais. O Quadro 13 apresenta os principais biomarcadores utilizados
na investigação de riscos de doenças no envelhecimento.

Quadro 13. Análise bioquímica usual em idosos.

Teste Referência Implicações Clínicas

Valores elevados podem indicar


Glicemia em jejum (mg/dL) < 126
Diabetes mellitus (DM).

Teste oral de tolerância à glicose


< 200 Valores elevados podem indicar DM.
(TOTG) de 2h (mg/dL)

a) < 110 e < 140


b) > 110 a 125 e < a) Valores normais
Glicemia em jejum + TOTG de 2h 140 b) Glicemia alterada
(mg/dL) c) < 110 e > 140 c) Tolerância glicêmica
d) > 110 a 125 e > d) DM
140
a) > 200 a)Risco de doenças cardiovasculares
Colesterol total (mg/dL)
b) < 50 b) Marcadores de fragilidade

Colesterol-HDL (mg/dL) < 36 Risco de aterosclerose

Colesterol-LDL (mg/dL) > 159 Risco de aterosclerose

Albumina sérica (g/dL) < 3,5 Risco de desnutrição

Proteína C reativa (mg/dL) > 0,5 Estado inflamatório

• < 13 para homens


Hemoglobina (g/dL) • < 12 para Anemia
mulheres

• < 4,3 x 106 para


homens Anemia hemolítica, hemorragia ou
• < 4,0 x 106 para hemólise
mulheres
Número de hemácias

• > 5,5 x 106 para


homens
Policitemia
• > 5,1 x 106 para
mulheres

a) Infecções, inflamação, doenças


a) > 7500
Neutrófilos (M/mm3) metabólicas, neoplasmas
b) < 1500
b) Neutropenia

Eosinófilos (M/mm3) > 500 Alergias, neoplasmas/p>

Monócitos (M/mm3) > 1000 Infecções, sarcoidose


a) > 4000 a) Desordens mieloproliferativas
Linfócitos (M/mm3)
b) < 1000 b) Linfopenia

Adaptado de Abbatecola et al., 2005.

Bioquimicamente, é possível observar alterações importantes nas concentrações de hormônios de várias classes em
função do envelhecimento. Por exemplo, os níveis séricos de hormônios esteroides androgênicos e estrogênicos
reduzem significativamente, em média a partir dos 60 anos. Destacando diminuição de sulfato de
dehidroepiandrosterona (s-DHEA), dehidroepiandrosterona, androstenediona, testosterona, estradiol, estriol, hormônio
folículo-estimulante, estrona e hormônio luteniziante. Inversamente, costuma-se observar aumento dos níveis
hormonais de insulina em indivíduos de 60 a 90 anos quando comparados com adultos jovens de 18 a 59 anos. O
Quadro 14 ilustra faixa média de valores de alguns hormônios esteroides de acordo com a faixa etária.

Quadro 14. Valores de referência dos hormônios esteroides de acordo com a faixa etária e sexo.

Hormônio Sexo 18-59 anos 60-90 anos > 90 anos

Testosterona (mg/L) Masculino 3,5 – 10,3 2,2 – 6,7 3,4

DHEA (mg/L) Masculino/Feminino 1,6 – 8,0 0,2 – 1,7 0,8

a) Masculino a) 1800 – 4500 a) 40 – 750 a) 287


s-DHEA (mg/L)
b) Feminino b) 1200 - 3159 b) 20 – 600 b) 231

Insulina (mU/L) Masculino/Feminino 6 – 26 7 – 37 2 – 19

Folicular: 30-100
Estradiol (ng/L) Feminino <5 – 20 6
Luteal: 70 – 300

Folicular: 30-100
Estrona (ng/L) Feminino < 5 – 58 29
Luteal: 60 – 160

Adaptado de Abbatecola, 2005.

Muitas dessas mudanças hormonais culminam justamente no agravo de características físicas e funcionais de
idosos, como perda de locomoção independente associada a problemas de déficit ósseo ou muscular. Mecanismos
anabólicos costumam diminuir suas atividades e biossinalizações acompanhados de aumento de atividade
catabolizante. A redução hormonal de somatomedina C ou fator de crescimento ligado à insulina (IGF-1) desencadeia
redução da síntese proteica muscular, em virtude do protagonismo da IGF-1 no controle desse mecanismo. Além
disso, observa-se diminuição das concentrações de hormônio do crescimento (GH) em razão direta a menor atividade
hipofisária.

PRINCIPAIS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS EM


FUNÇÃO DO ENVELHECIMENTO

SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO

É naturalmente usual a deterioração da densidade mineral óssea e massa muscular esquelética associada ao
aumento de adiposidade, principalmente, central. Tal combinação costuma gerar aumento da fragilidade geral do
idoso, sendo comum observar aumento da incidência ou risco de fraturas, dores, incômodos, perda de independência
ou autonomia de locomoção e, consequentemente, piora de qualidade de vida. Nessas condições, os processos
deteriorantes de osteoporose e sarcopenia emergem como distúrbios que devem ser cuidadosamente
monitorados para não intensificar estado debilitado de idosos.

Foto: Shutterstock.com

 ATENÇÃO

A Organização Mundial de Saúde considera a osteoporose como segunda maior desordem clínica de
necessidade assistencial no planeta, afetando, principalmente, mulheres idosas.

Por definição, a osteoporose consiste em degradação osteometabólica da microarquitetura do sistema, aumentando a


porosidade e, por conseguinte, incidência à ruptura do tecido ósseo. A desnutrição associada ao envelhecimento não
somente aumenta as possibilidades de acometimento, mas também de agravamento da osteoporose.

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Para acompanhamento da progressão do distúrbio, recomenda-se vigilância por densitometria, solicitada por
médicos, associada à avaliação nutricional dietética, através da análise de instrumentos de triagem nutricional e
inquéritos dietéticos. Em referência ao acompanhamento bioquímico, é indicada medição de nutrientes relacionados
ao metabolismo ósseo, em especial, vitamina D, magnésio, cálcio. Além disso, é importante medir valores de
fosfatase alcalina sérica (FA) e, eventualmente, osteocalcina (SIDDIQUE et al., 2017).
A sarcopenia é um termo associado à perda de massa muscular em idosos em resposta à redução do número de
estruturas funcionais intramusculares da miofibrila, denominada de sarcômero. O sarcômero é estruturado pelo
arranjo organizado de proteínas miofilamentosas densas e delgadas que são capazes de converter energia química
advinda do metabolismo energético (ATP) em energia cinética/mecânica pelo movimento de contração e relaxamento
muscular. Com a limitação do número de sarcômero e volume muscular, idosos perdem capacidade de
desenvolvimento de força.

 SAIBA MAIS

Em média, idosos que detêm história de prática esportiva pregressa costumam apresentar mais tardiamente
e menos agressivamente a instauração da sarcopenia e seus sinais/sintomas (SIDDIQUE et al., 2017).

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 ATENÇÃO

As principais teorias de estabelecimento de sarcopenia apontam para redução de produção hormonal


endógena esteroide, mutações de DNA mitocondrial da célula muscular, dano oxidativo, diminuição na
condução de estímulos neurais, desequilíbrio do catabolismo de citocinas e fatores externos (como
sedentarismo).

A avaliação da progressão da sarcopenia passa pela análise de medidas de detecção de força muscular,
biomarcadores bioquímicos, exames de imagem e exame físico. Dentre as variáveis para obtenção do nível de
força muscular, é possível elencar a capacidade de flexão e extensão de membros inferiores, pressão palmar e
pinçamento. No que tange às medidas bioquímicas laboratoriais, devem ser observados valores de proteína C reativa
(inflamação sistêmica), interleucina 6 (IL-6), miostatina, fator de diferenciação de crescimento (GDF-15) e IGF-1.
Também é importante acompanhar biomarcadores de dano muscular, tais como creatina quinase (CK), mioglobina
(Mb) e transaminases glutâmico oxalacética (TGO) e glutâmico pirúvica (TGP), no intuito de acompanhar proteólise
muscular, especialmente, esquelética (MARGUTTI et al., 2017).

SISTEMA NERVOSO

A diminuição da capacidade de transmissão e comunicação de impulsos nervosos na velhice costuma culminar em


variedade de distúrbios neurológicos, alguns de características mais amenas (como pequena perda de memória,
alterações organolépticas e retardo na velocidade de raciocínio lógico) outros de condições mais graves (como
doenças neurodegenerativas). Nas possibilidades mais preocupantes, as doenças de Parkinson e Alzheimer
destacadamente são as degradações neurais mais observadas nessa faixa etária. Ambas diminuem drasticamente a
qualidade de vida e autonomia do indivíduo.

 SAIBA MAIS

Cabe ressaltar que a taxa de incidência de acidentes vasculares encefálicos (AVE) ainda é bastante elevada
e de grande risco de mortalidade entre idosos.

Especificamente a respeito da involução neural mais lentamente gradativa, é possível salientar as seguintes
variações:

Diminuição da capacidade de velocidade de processamento de informações e magnitude da memorização


(armazenamento temporário).

Diminuição na capacidade de realizar multitarefas simultaneamente, agravo na memória de longo prazo, problemas
na resolução de problemas (inteligência fluida) e deterioração da assimilação de novas informações e raciocínio
lógico.

Presbiopia e degeneração da adaptação visual em ambientes muito claros ou escuros. Também há perda de campo
visual e discernimento de cores.

PRESBIOPIA

É uma situação natural do envelhecimento na qual os olhos perdem a sua capacidade de focar em objetos
próximos e/ou distantes.

Presbiacusia.

PRESBIACUSIA

Diminuição auditiva devido ao envelhecimento por alterações degenerativas.

Redução de acuidade de captação de sabores, especialmente salgados (reduzida) e amargos (aumentada), resultado
em elevação de processos de desinteresse alimentar.

Hiposmia.
HIPOSMIA

Diminuição do olfato.

Diminuição do fluxo sanguíneo em direção aos receptores sensoriais associados à desidratação da pele.

RELEVÂNCIAS CLÍNICAS EM DISTÚRBIOS


NUTRICIONAIS EM IDOSOS

DESNUTRIÇÃO

Em idosos, a desnutrição costuma estar associada com a degeneração da recuperação cicatricial, diminuição
cognitiva e da função respiratória e muscular, além de aumentar o risco de infecções em diversos tecidos, diminuição
de imunoproteção e, consequentemente, aumento do risco de mortalidade.

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Na investigação clínica, diversos fatores de risco estão associados ao desenvolvimento de desnutrição no


envelhecimento, inclusive com indivíduo já em curso da velhice. Dentre as condições clínicas para origem da
desnutrição em idosos, destacam-se:

Perda de apetite

Problemas dentários, como perda ou amolecimento de dentes

Disfagia

DISFAGIA

Dificuldade de deglutir alimentos ou líquidos.


Perda de sensação de olfato e paladar

Problemas no trato gastrointestinal, como redução absortiva da mucosa intestinal

Incapacidade física

Desordens endócrinas, como diabetes e alterações tireoidianas

Infecções, como do trato urinário

Interações medicamentosas

Distúrbios ou desordens neurológicas, como doença de Parkinson ou Alzheimer

Sinais de magreza

Perda de peso mensal a partir de 2% da massa corporal

Características socioculturais, de qualidade de vida e psicológica podem ser determinantes, conjuntamente


com as questões clínicas. Por isso, é fundamental que, na anamnese do atendimento de idosos, constem
questionamentos sobre:

MORADIA

CONDIÇÃO ECONÔMICA

CUIDADOS PSICOLÓGICOS

 RECOMENDAÇÃO

Na abordagem nutricional bioquímica, recomenda-se medição dos níveis séricos de albumina (risco quando
abaixo de 3,5mg/dL), leptina, eritrograma (principalmente, hemoglobina) e colesterol total (risco quando
abaixo de 160mg/dL) de maneira combinada aos indicadores antropométricos, clínicos e dietéticos para
melhor diagnóstico do estado de depleção nutricional (GAVRAN et al., 2019).
OBESIDADE

Embora alguns fatores fisiológicos possam contribuir para redução da ingestão alimentar, principalmente aqueles
relacionados à dentição e percepção sensorial, na primeira fase do envelhecimento, é incomum grandes mudanças
nos hábitos dietéticos anteriores. Adicionalmente, indivíduos com boas condições socioeconômicas e autonomia
também dificilmente alteram de forma significativa o consumo alimentar. Sendo assim, em muitos idosos, o acréscimo
adiposo costuma ser observado em decorrência da combinação de menor gasto energético em repouso e em
função do exercício associado à manutenção da ingestão energética.

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Os principais fatores fisiológicos, comportamentais, ambientais, patológicos e genéticos que podem levar idosos à
obesidade são:

Consumo de fármacos, principalmente aqueles que interferem em mecanismos hormonais endócrinos.

Diminuição da atividade física.

Aumento da lipidogênese inerente à velhice.

Insuficiência de sono

Hábitos alimentares ruins ao longo da vida

Atividade enzimática

Estado hormonal endócrino

Aumento da ingestão energética

LIPIDOGÊNESE

Lipidogênese inclui a lipogênese. A amplitude se completa nas questões de outros lipídios que não a formação
de massa adiposa. Como variação no lipidograma sérico.
ESTADO HORMONAL ENDÓCRINO

Refere-se especificamente à classe de hormônios endócrios, geralmente peptídeos, que são secretados por
diversos tecidos e enviados à corrente sanguínea. Insulina, PTH, Calcitonina e Cortisol são bons exemplos.

 ATENÇÃO

Muitas dessas condições são intensificadas pelo natural aumento da resistência à leptina e perda de
sensibilidade hormonal tireoidiana, levando a dificuldades de controle de apetite.

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INSTRUMENTOS DE TRIAGEM NUTRICIONAL EM


IDOSOS
Tendo em vista as variadas condições clínicas, bioquímicas e metabólicas afetadas pelo envelhecimento, o risco de
perda de integridade nutricional é significativo na terceira idade. Idosos mais debilitados, doentes e/ou hospitalizados
têm maior suscetibilidade a apresentar desnutrição, especialmente, por dificuldades de ingestão, absorção,
biodisponibilização e metabolização de nutrientes. Além disso, a imunodepressão desses indivíduos facilita
instauração e agravo de doenças ou comorbidades, aumentando chance de óbito. Dessa forma, a aplicação de
instrumentos de triagem nutricional em idosos mais fragilizados, especialmente, do ponto de vista imune e
nutricional, é fundamental. Essas ferramentas de análise ágil da progressão do status nutricional têm características
de serem facilmente aplicáveis, ter boa relação custo-benefício e demandarem baixo nível de experiência do
avaliador. O Quadro 15 sumariza os principais métodos de triagem nutricional em idosos com algumas de suas
peculiaridades (VELLAS et al., 2001).

Quadro 15. Ferramentas de triagem nutricional.

NRS NSI NRI PNI SGA MNA NuRAS

Sensibilidade (%) - 36 46 93 82 96 -

Especificidade
- 85 85 44 72 98 -
(%)

Custo + + + +++ ++ + +

Tempo Rápido Rápido Rápido Lento Intermediário* Rápido Rápido

Condição do Em Em Em Em
Adoecido Adoecido Todos
idoso casa casa casa casa

Detecta
Sim Sim Sim Não Não Sim Sim
desnutrição?

Diagnostica
Não Não Não Sim Sim Sim Não
desnutrição?

É indicado para
acompanhamento Não Não Não Não Não Sim Não
evolutivo?

* Paciente precisa se despir; +, barato; ++, custo médio; +++, custo alto; MNA, Mini Avaliação Nutricional; NRI, Índice
de Risco Nutricional; NRS, Escore de Risco Nutricional; NSI, Iniciativa de Triagem Nutricional; NuRAS, Escala de
Avaliação de Risco Nutricional; PNI, Índice de Prognóstico Nutricional; SGA, Avaliação Subjetiva Global.

Adaptado de Lauque & Veras, 1999.


Uma das grandes vantagens da utilização de instrumentos de triagem nutricional reside na capacidade dinâmica de
aplicação combinada ao baixíssimo custo. Isso permite aplicação do método escolhido para um grande número de
pacientes em um curto espaço de tempo, de forma segura e eficiente, sendo extremamente útil, especialmente, em
serviços hospitalares em função de sua grande demanda de atendimentos. Dentre as principais ferramentas,
emergem:

MINI AVALIAÇÃO NUTRICIONAL (MNA)


A MNA é de fácil aplicação, boa recepção pelos pacientes, sensível, específico e altamente reprodutível. Basicamente,
esse instrumento segmenta os idosos em 3 possíveis níveis de estado nutricional a partir de valores obtidos por meio
de aplicação de questionário/prontuário. Os resultados podem gerar de 0 a 30 pontos, sendo:

• ≥ 23 = ESTADO NUTRICIONAL SATISFATÓRIO


• 17-23,5 = RISCO DE DESNUTRIÇÃO
• < 17 = DESNUTRIÇÃO PROTEICO-ENERGÉTICA

 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

Salienta-se que a aplicação do MNA é indicada exclusivamente para níveis de atenção à saúde com indicativo de
internação ou atenção hospitalares. Consulte Item 1 do tópico “Explore+” para conferir detalhadamente triagem MNA
com sua respectiva forma de pontuação.

INICIATIVA DE TRIAGEM NUTRICIONAL (NSI)


Consiste em método norte-americano multidisciplinar de triagem exclusivamente indicado a idosos. De modo a
melhorar a acessibilidade de informações do estado nutricional do idoso, o questionário pode ser autoaplicável ou até
mesmo realizado por acompanhante do paciente. Caso seja notado condição de degradação nutricional através do
questionário, o paciente é indicado a seguir avaliação nutricional em 2 níveis:

Nível 1: Avaliação realizada por profissional de saúde, mais apropriadamente nutricionistas, médicos ou enfermeiros.
São avaliados indicadores antropométricos associados a dados de alteração em curto/médio prazo de alteração de
hábitos alimentares, peso, desempenho físico e até mesmo local de moradia. A partir destes questionamentos, os
pacientes podem seguir dentro do nível 1 ou migrar para o nível 2. A indicação para direcionamento ao nível 2 ocorre
caso o paciente tenha passado por experiência de perda de peso significativa, ou seja, já em condição de
necessidade de tratamento iminente. No nível 1, a intervenção tem maior base preventiva de agravo do status
nutricional.

Nível 2: A avaliação é conduzida por equipe médica. São avaliadas medidas antropométricas, bioquímicas (albumina
e colesterol total e frações), neurológicas, cognitivas, emocionais e farmacológicas.

ESCALA DE AVALIAÇÃO DE RISCO NUTRICIONAL (NURAS)


A triagem NuRAS estabelece risco nutricional a partir de breve questionário de 12 perguntas que englobam possíveis
desordens dos sistemas digestório e musculoesquelético em conjunto com perdas importantes de peso, variações de
hábitos dietéticos, função cognitiva e história medicamentosa do paciente. É recomendado que o material seja
aplicado por profissional de saúde. A pontuação máxima do NuRAS indica risco de desnutrição grave em idosos.
ÍNDICE DE PROGNÓSTICO NUTRICIONAL (PNI)
O PNI caracteriza-se por instrumento recomendado para aplicação em pacientes indicados à intervenção cirúrgica.
Esse método tem capacidade de avaliar possíveis riscos ou desordens nutricionais em condição pós-operatória.
Assim, é possível melhor direcionamento de possível terapia nutricional precoce para reduzir eventuais complicações
cirúrgicas. São verificados DCT, albumina e transferrina sérica e teste de hipersensibilidade cutânea. Os resultados
obtidos são distribuídos percentualmente da seguinte maneira:

• < 40% = SEM RISCOS NUTRICIONAIS


• 40-49% = RISCO NUTRICIONAL MODERADO
• ≥ 50% = ALTO RISCO NUTRICIONAL

 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

AVALIAÇÃO SUBJETIVA GLOBAL (SGA)


Um dos principais métodos de triagem nutricional para diversas faixas etárias, a SGA é constituída por questionário
simples e de ágil aplicação para conhecimento de possíveis flutuações de peso, modificações de hábitos alimentares,
sintomas gastrointestinais, alterações de compartimentos corporais (magro e gordo) e sinais físicos inspecionáveis,
tais como: edemas, depleção muscular marcante e ascites. Em média, profissionais treinados aplicam SGA em cerca
de 2 minutos (DETSKY et al., 1987). Os resultados obtidos podem ser distribuídos em 3 possíveis classificações:
indivíduos bem nutridos, indivíduos sob risco de desnutrição e indivíduos desnutridos.

HISTÓRIA MEDICAMENTOSA E INTERAÇÃO DROGA-


NUTRIENTE
A ingestão de medicamentos é bastante comum em idosos, tendo em vista a degradação sistêmica combinada, dentre
outros fatores, com possíveis históricos pregressos de maus hábitos de saúde e qualidade de vida ao longo dos anos.
Todavia, inúmeras drogas podem afetar tanto a cinética, disponibilidade e armazenamento de nutrientes quanto o
sistema sensorial do indivíduo. Alguns fármacos, por exemplo, são capazes de induzir processo de anorexia em
idosos, destacando-se os seguintes:

PARA TRATAMENTO DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES

PARA TRATAMENTO DE DISTÚRBIOS NEUROLÓGICOS

PARA TRATAMENTO DE DESORDENS GASTROINTESTINAIS


PARA CUIDADOS DE DOENÇAS OU DESORDENS MUSCULARES

ANTIBIÓTICOS

QUIMIOTERÁPICOS

A anotação ou observação cuidadosa do rol de drogas consumidas pelo paciente é capaz de apontar possíveis riscos
de desvios nutricionais ou implicações dietéticas para o nutricionista. O Quadro 16 descreve relação de alguns
medicamentos com seu impacto nutricional.

Quadro 16. Relação droga-nutriente.

Medicamento Interação Nutricional

Diazepam, pentoxifilina, imipramida, orazepam, Metabolismo de xantinas. Limitar ingestão de


ranitidina, clomipramida, haloperidol cafeína.

Clorpromazina, metildopa, metformina,


Reduz absorção de vitamina B12.
omeprazol

Eficácia reduzida (aproximadamente 50%) quando


Captopril, sulfato ferroso
consumidos com alimentos.

Pepsogel®, Gastrol® Terapia quelante de folato.

Sulfametaxazol Interfere no metabolismo de folato.

Aumenta a necessidade de vitamina C e aumenta a


Fenobarbital
taxa de metabolismo da vitamina K e D.

Suplementação de cálcio reduz absorção do


Fenitoína, propranolol
fármaco.
Digoxina Ação reduzida por ingestão de fibras (25%).

Depleta absorção de vitaminas, principalmente C e


AAS
K.

Paracetamol Ação reduzida pela ingestão de fibras.

Pode levar à hipercalcemia quando combinada com


Hidroclorotiazida
suplementação de cálcio e vitamina D.

Bisacodil Reduz absorção de glicose e aminoácidos.

Quando combinado com doses elevadas de vitamina


Alopurionol
C, pode resultar em cálculos renais.

Óleo mineral Depleta absorção de vitamina A e vitamina K.

Furosemida Reduz absorção e aumenta excreção de sódio.

Adaptado de Cardoso, 1998.

AVALIAÇÃO DIETÉTICA
Para obtenção do perfil de consumo alimentar do idoso, recomenda-se a aplicação de inquéritos alimentares, sendo
eles: recordatório de 24h; diário ou registro alimentar e questionário de frequência alimentar. Cada método apresenta
vantagens e desvantagens (Quadro 17) que devem ser levadas em consideração pelo nutricionista a partir da
compreensão do paciente atendido ou do acompanhante que auxilia a avaliação.

Quadro 17. Vantagens e desvantagens de inquéritos dietéticos.

Inquérito
Vantagens Desvantagens
dietético
• Rápida aplicação.
• Ingestão alimentar não
• Depende da memória do entrevistado ou de seu
influenciada pelo
responsável.
Recordatório de preenchimento do indivíduo.
• Depende da confiança e da colaboração do
24h • Baixo custo.
entrevistado ou de seu responsável.
• Por se tratar de entrevista,
• O dia do relato pode ser atípico na rotina alimentar.
não requer nível completo
de alfabetização.

• Independe da memória, • Requer alto nível de colaboração, dedicação e


uma vez que os dados são entendimento do preenchimento do material.
anotados no ato do • Requer indivíduos alfabetizados.
consumo. • Alteração dos dados escritos por crianças,
Diário alimentar
• Medição do consumo real adolescentes ou responsáveis, uma vez que o
e atual. material será entregue depois ao nutricionista
• Boa análise quanti- (influência direta na alteração do consumo a ser
qualitativa. analisado).

• Estima ingestão habitual.


Questionário de • Depende significativamente da memória.
• Baixo custo.
frequência • Material usualmente grande.
• Não altera padrão de
alimentar • Dificuldades de precisão quantitativa.
consumo.

Adaptado de Tirapegui, 2013.

A partir da quantificação ou classificação qualitativa da dieta do idoso por meio do inquérito dietético de preferência, é
fundamental buscar incongruências nutricionais que, eventualmente, gerem risco à saúde do indivíduo. O Quadro 18
lista recomendação de macronutrientes requeridos para idosos.

Quadro 18. Requerimento nutricional (macronutrientes) para idosos.

Ômega Ômega
Carboidratos Fibras Proteínas Lipídios
3 6

56g/dia ou 1,0-1,2g/Kg de Não


130g/dia 30g/dia 1,6g/dia 14g/dia
Peso/dia determinada

Adaptado de IOM, 2011.


 ATENÇÃO

Em função do processo natural de perda de compartimentos magros e fluidos corporais, é comum observar
redução de água corporal total em idosos. Entretanto, na falta de cuidados de ingestão hídrica, há chance de
progressão relevante de deterioração da atividade renal regular. Levando isso em consideração, o
requerimento hídrico de idosos é sutilmente aumentado quando comparado a adultos. Em geral, a ingestão
recomendada varia de 1,5-3,7L de água/dia (IOM, 2011; SKULLY, 2014).

Para análise da ingestão de micronutrientes, vale ressaltar que é necessária a especial atenção sobre o consumo de
vitamina D, vitamina B1, vitamina B6, vitamina B12, folato, zinco, ferro, cálcio, vitamina K e vitamina E. Embora não
seja comum recomendações nutricionais aumentadas desses micronutrientes para idosos, esses indivíduos sofrem
constantemente do metabolismo de vitaminas e minerais em função das alterações fisiológicas do envelhecimento e
eventuais tratamentos medicamentosos. Os Quadro 19, 20 e 21 apresentam recomendação nutricional diária de
micronutrientes indicados para idosos (SKULLY, 2014).

Quadro 19. Requerimento nutricional (vitaminas lipossolúveis) para idosos.

Sexo/Idade (em Vitamina A Vitamina D Vitamina E Vitamina K


anos) (μg/d) (μg/d) (mg/d) (μg/d)

Homens 51-70 900 15 15 120

Homens > 70 900 20 15 120

Mulheres 51-70 700 15 15 90

Mulheres > 70 700 20 15 90

Adaptado de IOM, 2011.

Quadro 20. Requerimento nutricional (vitaminas hidrossolúveis) para idosos.

Vitamina C Tiamina Riboflavina Niacina Vitamina B6


Sexo
(mg/d) (mg/d) (mg/d) (mg/d) (mg/d)

Homens 90 1,2 1,3 16 1,7


Mulheres 75 1,1 1,1 14 1,5
Vitamina B12 Ác. pantotênico Biotina
Sexo Folato (μg/d) Colina (mg/d)
(μg/d) (mg/d) (μg/d)

Homens 400 2,4 5 30 550


Mulheres 400 2,4 5 30 425

Adaptado de IOM, 2011.

Quadro 21. Requerimento nutricional (minerais) para idosos.

Ferro Magnésio Selênio Zinco


Sexo Cálcio (mg/d)
(mg/d) (mg/d) (μg/d) (mg/d)

Homens 1000-1200 8 420 55 11


Mulheres 1200 8 320 55 8

Potássio Sódio
Sexo Fósforo (mg/d) Cloro (g/d) Iodo (μg/d)
(mg/d) (mg/d)

Homens 3400 1500 700 1,8-2,0 150


Mulheres 2600 1500 700 1,8-2,0 150

Adaptado de IOM, 2011.

Recentemente, a Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN) publicou diretrizes para terapia e
conduta nutricional específica para idosos. O Quadro 22 aponta as indicações dietéticas voltadas ao envelhecimento
em idosos de quadro clínico estável (BRASPEN, 2019):

Quadro 22. Orientações nutricionais gerais para idosos.

Nutriente Orientações

Fibras Consumo de 25g/dia para manutenção de atividades intestinais regulares.

Energia 30-35Kcal/Kg de peso corporal/dia.

Proteínas 1-1,5g/Kg de peso corporal/dia.


Líquidos* Mulheres no mínimo 1,4L/dia e homens no mínimo 2,0L/dia.

Probióticos Indicados para idosos saudáveis como método de prevenção de distúrbios intestinais.

*Os líquidos permitidos e indicados para ajuste de fluidos em idosos são: água, água aromatizada, chás, leite, sucos
de frutas e smoothies.

Adaptado de BRASPEN, 2019.

UMA VISÃO PRÁTICA DA AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA EM


IDOSOS
O especialista Itamar Cunha aborda a parte prática da avaliação bioquímica em idosos.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. O PACIENTE JLAMS, 67 ANOS, ENCONTRA-SE INTERNADO NA ENFERMARIA DE


CLÍNICA MÉDICA COM QUADRO DE PNEUMONIA ASSOCIADA A OUTRAS DOENÇAS
CRÔNICAS, EM DESTAQUE DIABETES MELLITUS II (DMII) E INSUFICIÊNCIA RENAL
CRÔNICA (IRC). A EQUIPE DE NUTRIÇÃO LOCAL USUALMENTE UTILIZA O MNA COMO
MÉTODO DE TRIAGEM DO ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS. O PACIENTE APRESENTOU
AS SEGUINTES RESPOSTAS E INDICADORES FRENTE AOS QUESTIONAMENTOS DO MNA:

• NÃO SOUBE DIZER SE VARIOU OU NÃO PESO NO ÚLTIMO TRIMESTRE.


• VIVE EM CASA PRÓPRIA ACOMPANHADO DE SUA ESPOSA E DEAMBULA
NORMALMENTE.
• TEVE FALECIMENTO DE SUA IRMÃ RECENTEMENTE. ENTRETANTO, NÃO APRESENTA
DIAGNÓSTICO DE DEPRESSÃO OU PROBLEMAS PSICONEUROLÓGICOS GRAVES.
• IMC DE 22,8 KG/M2, CMP DE 32CM E CB DE 22CM.
• UTILIZA 7 MEDICAMENTOS DIARIAMENTE.
• NÃO APRESENTA LESÕES NA PELE.
• NÃO APRESENTA DIFICULDADES EM SE ALIMENTAR SOZINHO E NÃO IDENTIFICOU
DIMINUIÇÃO NA INGESTÃO DE ALIMENTOS NO ÚLTIMO TRIMESTRE. REALIZA 4
REFEIÇÕES AO DIA, CONSUMINDO DIARIAMENTE 2 PORÇÕES DE LEITE E DERIVADOS, 2
PORÇÕES DE LEGUMINOSAS, 1 PORÇÃO DE FRUTAS E 2 PORÇÕES DE FONTES
PROTEICAS DE ORIGEM ANIMAL. INGERE 4 COPOS DE ÁGUA DIARIAMENTE.
• NÃO SABE DIZER COMO ANDA SUA CONDIÇÃO NUTRICIONAL. CONTUDO, CONSIDERA-
SE BEM PARA SUA IDADE QUANDO SE COMPARA COM MEMBROS DA FAMÍLIA.

UTILIZANDO MNA, É POSSÍVEL AFIRMAR QUE O PACIENTE SE ENCONTRA EM:

A) Estado nutricional normal

B) Sob risco de desnutrição

C) Desnutrido

D) Com sobrepeso

E) Obeso

2. A SÍNDROME DA FRAGILIDADE DO IDOSO CONSISTE NA ASSOCIAÇÃO DO ESTADO


DEBILITADO DOS SISTEMAS MUSCULOESQUELÉTICO E NERVOSO. COM
ENVELHECIMENTO, É NATURAL E PROGRESSIVO PROCESSO DE DETERIORAÇÃO DE
ATIVIDADES NEURAIS EM CONJUNTO COM A PERDA DE INTEGRIDADE DE MASSA
MUSCULAR ESQUELÉTICA E MASSA MINERAL ÓSSEA. COMO O NUTRICIONISTA DEVE
PROCEDER NA AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DA CONDIÇÃO DE FRAGILIDADE DO IDOSO?

A) Verificar: no exame físico capacidade de força e mobilidade; na análise sérica observar biomarcadores como
albumina, FA e proteína C reativa; na anamnese clínica buscar sintomas relacionados à depleção cognitiva e
sensorial; e na avaliação dietética, ingestão de nutrientes como cálcio, magnésio e vitamina D.

B) Verificar: no exame de imagem, densitometria mineral óssea; na análise sérica, biomarcadores de estresse
oxidativo como DPPH; e na anamnese clínica, nível de memorização e disposição geral.

C) Verificar: no exame antropométrico, massa mineral óssea; na análise sérica, transaminases; na avaliação dietética,
vitaminas lipossolúveis, principalmente, vitamina A e D.

D) Verificar: no exame físico, depleção aparente de massa muscular; na anamnese, queixas de dores e de dificuldade
de movimentação independente; na análise sérica, biomarcadores como Insulina e glicemia em jejum; e na avaliação
dietética, dieta hipoproteica e hipoenergética.

E) Verificar exclusivamente indicadores antropométricos associados ao exame de imagem por densitometria óssea.
GABARITO

1. O paciente JLAMS, 67 anos, encontra-se internado na enfermaria de clínica médica com quadro de
pneumonia associada a outras doenças crônicas, em destaque diabetes mellitus II (DMII) e insuficiência renal
crônica (IRC). A equipe de nutrição local usualmente utiliza o MNA como método de triagem do estado
nutricional de idosos. O paciente apresentou as seguintes respostas e indicadores frente aos
questionamentos do MNA:

• Não soube dizer se variou ou não peso no último trimestre.


• Vive em casa própria acompanhado de sua esposa e deambula normalmente.
• Teve falecimento de sua irmã recentemente. Entretanto, não apresenta diagnóstico de depressão ou
problemas psiconeurológicos graves.
• IMC de 22,8 Kg/M2, CmP de 32cm e CB de 22cm.
• Utiliza 7 medicamentos diariamente.
• Não apresenta lesões na pele.
• Não apresenta dificuldades em se alimentar sozinho e não identificou diminuição na ingestão de alimentos
no último trimestre. Realiza 4 refeições ao dia, consumindo diariamente 2 porções de leite e derivados, 2
porções de leguminosas, 1 porção de frutas e 2 porções de fontes proteicas de origem animal. Ingere 4 copos
de água diariamente.
• Não sabe dizer como anda sua condição nutricional. Contudo, considera-se bem para sua idade quando se
compara com membros da família.

Utilizando MNA, é possível afirmar que o paciente se encontra em:

A alternativa "B " está correta.

A pontuação obtida a partir dos indicadores e respostas geram 8 pontos no quadro de avaliação global e 12 pontos na
triagem. Totalizando 20 pontos no MNA, sendo assim, classificado como paciente sob risco de desnutrição.

2. A síndrome da fragilidade do idoso consiste na associação do estado debilitado dos sistemas


musculoesquelético e nervoso. Com envelhecimento, é natural e progressivo processo de deterioração de
atividades neurais em conjunto com a perda de integridade de massa muscular esquelética e massa mineral
óssea. Como o nutricionista deve proceder na avaliação nutricional da condição de fragilidade do idoso?

A alternativa "A " está correta.

Especificamente na avaliação nutricional, combinada de sarcopenia, osteoporose e degeneração psiconeural é


fundamental buscar indicadores além daqueles medidos na antropometria, com destaque para observação dietética
de elementos do metabolismo do tecido ósseo. Ainda, verificar estado inflamatório geral por PCR, conteúdo proteico
de longo prazo (por albuminemia) e enzimas de participação direta no metabolismo ósseo (FA) costumam, de maneira
integrada, indicar risco de debilitação geral do idoso. Ressalta-se que nutricionistas não têm autonomia laboral para
requisição de exames de imagem.
CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A progressão da maturidade etária em humanos desencadeia mudanças significativas no funcionamento do corpo.
Tais alterações podem ser notavelmente avaliadas, quantificadas, catalogadas e acompanhadas para determinação
de reservas nutricionais e saúde geral de idosos.

A utilização de ferramentas antropométricas combinadas com métodos de identificação de variação clínica de tecidos
e funções corporais torna possível predizer e evoluir estado nutricional de indivíduos da terceira idade. A
administração adequada dos procedimentos de avaliação nutricional são pré-requisitantes para definição da
intervenção e orientação nutricional de idosos em conjunto com seus acompanhantes.

A equipe multidisciplinar deve levar em consideração que as dificuldades cognitivas, mentais, locomotoras, anímicas e
colaborativas comuns em idosos podem impossibilitar melhores cuidados e progressão positiva do tratamento
nutricional. Portanto, humanizar a abordagem através de interação direta com o paciente ou com seus familiares é
indispensável para melhor adesão à dietoterapia escolhida, bem como compartilhamento mais fidedigno e facilitado
de informações relevantes à evolução do estado nutricional do idoso.

AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS
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BRASIL. Ministério da Saúde. Vigilância alimentar e nutricional SISVAN: orientação para coleta e análise de dados
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BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 10.741 de 1º de outubro de
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VELLAS, B. et al. Nutrition assessment in the elderly. Current Opinion in Clinical Nutrition and Metabolic Care,
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EXPLORE+
Para saber mais sobre os assuntos explorados neste tema, pesquise:

Mini Avaliação Nutricional (MNA)

Sistematização do Cuidado de Nutrição da Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN), disponível no site da


Associação Brasileira de Nutrição.

Estatuto do Idoso, disponível na biblioteca virtual do Ministério da Saúde.

Diretriz para Terapia Nutricional no Envelhecimento BRASPEN, disponível no 3º suplemento do BRASPEN


Journal de 2019 - Jornal site da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral.
CONTEUDISTA
Daniel Ronaldo Chreem

 CURRÍCULO LATTES

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