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Raphaela Souza1
Juliana Schimitt de Fraga1
Catarina Bertaso Andreatta Gottschall2
Fernanda Michielin Busnello2
Estela Iraci Rabito2
Resumo
Objetivo: Avaliar a concordância entre diferentes classificações de Índice de Massa
Corporal (IMC) e verificar modelos de fórmulas propostas para estimativa de peso
e altura que podem ser aplicadas na população idosa do Sul do Brasil. Método: Estudo
transversal que avaliou 131 idosos residentes de três instituições de longa permanência
para idosos (ILPIs) no Sul do Brasil, por meio de uma avaliação antropométrica,
utilizando peso, estatura, altura do joelho, dobra cutânea subescapular, circunferência
da panturrilha, circunferência do braço, circunferência abdominal e hemienvergadura.
Resultados: A idade média da amostra foi de 78,9 anos, sendo 41,2% homens e Palavras-chave: Idoso.
58,8% mulheres. De acordo com a classificação da Organização Mundial da Saúde Índice de Massa Corporal.
(OMS), apenas dois idosos (1,5%) apresentaram baixo-peso, 63 idosos (48,1%) foram Instituição de Longa
classificados como eutróficos e 66 (50,4%) foram classificados com sobrepeso, Permanência para Idosos.
obesidade grau I e II. Já os pontos de corte estipulados por Lipschitz determinaram Antropometria.
que 21 idosos (16%) se encontram com baixo-peso, 69 (52,7%) eutróficos e 41 (31,3%)
com sobrepeso. Ao comparar as medidas de peso e altura aferidas com as mesmas
medidas estimadas, percebe-se que a única que não mostrou diferença significativa foi
a fórmula de estimativa de altura de Rabito. Conclusão: Os pontos de corte utilizados
apresentaram moderada concordância, sendo que Lipschitz salienta uma maior faixa
de risco para desnutrição. Comparando as medidas de peso e altura aferidas com as
medidas estimadas, foi observado que somente a fórmula de estimativa de altura de
Rabito pode ser aplicada para esta população.
Abstract
Objective: Assessing the concordance between different classifications of body mass
index (BMI) and verify if the formulas to estimate weight and height, that can be
applied to the elderly population in Southern Brazil. Method: Cross-sectional analysis
was applied to 131 elders from three long-stay institutions in Southern Brazil. They were
1
Curso de Nutrição. Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Porto Alegre, RS, Brasil.
2
Departamento de Nutrição. Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Porto Alegre,
RS, Brasil.
Correspondência / Correspondence
Fernanda Michielin Busnello
E-mail: fernandab@ufcspa.edu.br
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corte para classificar obesidade em adultos e A tomada das medidas foi realizada com
idosos, pois mudanças na composição corporal, base nas técnicas propostas por Lohman et
associadas ao processo de envelhecimento, al.14 Para a mensuração do peso, utilizou-se
devem ser consideradas.9 Já os pontos de corte balança calibrada, digital, da marca Plenna, com
propostos por Lipschitz11 levam em consideração capacidade máxima de 150 Kg, com divisões
as mudanças na composição corporal que ocorrem de 100 gramas. O idoso foi pesado no centro
com o envelhecimento quando comparados com da balança, descalço, com o mínimo de roupa
os indivíduos adultos. possível e foi pedido que ele estivesse com a bexiga
vazia. A mensuração da estatura foi realizada
Ainda não há, portanto, consenso quanto utilizando o estadiômetro portátil, marca Seca,
ao ponto de corte de IMC mais adequado para com total de 2m. O idoso foi posionado em pé,
avaliar o estado nutricional de idosos, e não há descalço, o peso igualmente distribuído entre os
no Brasil algum estudo de base populacional que pés; com o corpo erguido em extensão máxima.
avalie a adequação do IMC como marcador de
adiposidade em idosos. Dessa forma, o presente As medidas de AJ, CB, CP, CA, e de
estudo objetiva avaliar a concordância entre as hemienvergadura foram medidas com fita
diferentes classificações de IMC e verificar se as métrica inextensível, com graduação de 1 mm,
fórmulas propostas por Chumlea12 e Rabito13 para da marca Cescorf. A DCSE foi mensurada
estimativa de peso e altura podem ser aplicadas utilizando um plicômetro plástico da marca
na população idosa do Sul do Brasil. Cescorf, com variação de 0,2 mm e capacidade
máxima de 60mm.
Tabela 1 - Valores médios de peso, altura, índice de massa corporal e circunferência abdominal. Porto
Alegre, RS, 2011.
Tabela 2 - Concordância entre a classificação de índice de massa corporal, segundo OMS e Lipschitz.
Porto Alegre, RS, 2011.
Conforme análise de concordância com o e altura calculados por meio das fórmulas de
teste de Kappa, o valor encontrado foi de 0,427, o estimativa de Chumlea12 e Rabito.13 Percebe-se
que é classificado como moderada concordância que a única fórmula que não mostrou diferença
entre os pontos de corte estipulados por Lipschitz significativa foi a fórmula de estimativa de
e pela OMS.
altura de Rabito. As demais mostraram que há
A tabela 3 demonstra a comparação entre diferença significativa ao serem comparadas
peso e altura aferidos com as estimativas de peso com as reais medidas aferidas.
Tabela 3 - Comparação entre peso e altura aferidos com as mesmas medidas estimadas por meio das
fórmulas de estimativa de peso e altura de Chumlea e Rabito. Porto Alegre, RS, 2011.
brasileiras.1 Santos & Sichieri8 encontraram estipulados pela OMS. Segundo Chumlea et al.,12
IMC médio de 24,5kg/m² em idosos do Rio as condições associadas ao baixo-peso são sérias
de Janeiro, enquanto Sampaio & Figueiredo16 em indivíduos idosos e estes são particularmente
obtiveram 24,4Kg/m² em indivíduos atendidos vulneráveis à desnutrição. Além disso, suas
nos ambulatórios do Hospital das Clínicas da necessidades nutricionais não são bem definidas,
Universidade Federal da Bahia. Resultados devido à dificuldade em se avaliar a ingestão
divergentes foram encontrados por Menezes & de nutrientes, visto que os métodos dietéticos
Marucci,17 nos quais a média de IMC obtida foi disponíveis possuem uma série de limitações
de 22,4kg/m² em 94 idosos do sexo masculino quando aplicados em idosos.
residentes em seis instituições geriátricas de
Fortaleza, no Estado do Ceará. Em estudo realizado na cidade de Recife,22
observou-se que o percentual de indivíduos com
Existem controvérsias quanto ao significado baixo-peso, classificados pela OMS, apresentou-
da obesidade entre os idosos e seu impacto, o qual se bastante reduzido (1,9%), enquanto quando
parece ser menor do que o observado para adultos classificados por Lipschitz correspondeu a 12,3%
quanto à mortalidade.8 Estudo de Grabowski & da população estudada. Já em relação ao excesso
Ellis,18 analisando a associação entre obesidade e de peso, 47,2% dos idosos foram classificados
mortalidade em idosos americanos, verificou que nesta faixa segundo Lipschitz, e o percentual
a condição de obesidade, comparada à magreza e classificado com excesso de peso e obesidade
à manutenção do peso na faixa de normalidade, pela OMS foi de 65,1%, dados semelhantes aos
pode ser protetora para a ocorrência da encontrados na presente pesquisa.
mortalidade.
Outro estudo desenvolvido no estado do
A diminuição do IMC com o avançar da Rio de Janeiro23 obteve os mesmos resultados
idade pode ser atribuída à redução da massa encontrados nesta pesquisa, já que a classificação
muscular corporal e à diminuição da quantidade proposta pela OMS mostrou maior quantidade
de gordura corporal, que tende a diminuir de idosos com sobrepeso, enquanto que Lipschitz
depois dos 70 anos.19 Desta forma, Lipschitz mostrou maior número de idosos desnutridos. A
enfatiza que a dificuldade na utilização do IMC quantidade de idosos eutrófico foi bem próxima
na avaliação do estado nutricional em idosos é a este estudo.
agravado pela heterogeneidade que acompanha
o envelhecimento e pela presença de doenças Esses dados mostram que ainda há importante
idade-dependentes.11 Sua utilização, porém, é variação na prevalência de sobrepeso e baixo-
importante tanto para a análise de indivíduos peso na população idosa, devido à utilização de
quanto para populações, permitindo comparação valores de corte diferentes entre os estudos, os
com estudos nacionais e internacionais, quais, na maioria, são os mesmos aplicados para
além de expressar as reservas energéticas do adultos considerando a falta de pontos de corte
indivíduo.20 Pode-se, portanto, afirmar que o específicos para idosos. Segundo Stevens et al.,24
IMC possui dois principais objetivos teóricos: a escolha do ponto de corte do IMC pode ter
promover facilmente estimativas comparáveis efeito político, porque são utilizados para avaliar
e interpretáveis de peso corporal padronizado a saúde da população e a necessidade de atividades
pela estatura e promover estimativa de gordura e de promoção à saúde. Para profissionais da saúde,
composição corporal.21 no entanto, a utilização de maior ponto de corte
do IMC para baixo-peso e menor para obesidade
Os resultados obtidos nesta pesquisa mostram seria mais interessante, pois estaria considerando
que os pontos de corte estipulados por Lipschitz as modificações corporais que ocorrem durante o
abrangem uma maior faixa de indivíduos envelhecimento, permitindo assim diagnosticar
com baixo-peso do que os pontos de corte mais precisamente o estado nutricional desse
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Recebido: 07/2/2012
Revisado: 05/11/2012
Aprovado:10/11/2012