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Vamos entender o que

prejudica o seu dente?

Morgana Pontes Brasil Gradvohl


Francisco Xavier Paranhos Coêlho Simões
Daniela Paz Costa
Emilly Meneses Barros
Lize Bezerra de Menezes Morais Correia
Morgana Pontes Brasil Gradvohl
Francisco Xavier Paranhos Coêlho Simões
Daniela Paz Costa
Emilly Meneses Barros
Lize Bezerra de Menezes Morais Correia

Vamos entender o que


prejudica o seu dente?

Ilustrações: Emilly Meneses Barros

Fortaleza - 2021
©️2022 Redescobrindo a Cárie: vamos entender o que prejudica o seu dente?
Esta obra é de inteira responsabilidade dos autores.

Projeto Editorial

Autores

Morgana Pontes Brasil Gradvohl


Mestre em Psicologia.
Especialista em Odontopediatria.
Professora de Clínica Infantil da Unifor.

Francisco Xavier Paranhos Coêlho Simões


Doutor em Odontopediatria pela FOUSP.
Mestre em Clínicas Odontológicas pela UFBA.
Especialista em Odontopediatria APCD - Bauru.
Professor titular em Odontopediatria da UESB.
Professor adjunto da EBMSP.

Daniela Paz Costa


Aluna de graduação em Odontologia na Universidade de Fortaleza.

Emilly Meneses Barros


Aluna de graduação em Odontologia na Universidade de Fortaleza.

Lize Bezerra de Menezes Morais Correia


Aluna de graduação em Odontologia na Universidade de Fortaleza.

Ilustradora
Emilly Meneses Barros

Capa
Daniela Paz Costa
Emilly Meneses Barros
Lize Bezerra de Menezes Morais Correia

Acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons


Prefácio
Se eu fosse definir a Odontopediatria hoje como
especialidade, eu a definiria como “Prevenção para os
pequenos! O avanço dos conhecimentos acerca do
desenvolvimento e dos meios de prevenção e controle
permitiu, em todos os países em desenvolvimento, uma
redução acentuada da prevalência da doença cárie,
principalmente, com o advento de programas
direcionados à educação de pais e de crianças.
Redescobrindo a Cárie é mais um livro que possui como
objetivo fomentar e informar aos pais, às crianças, aos
adolescentes e adultos e, por que não dizer, aos
dentistas, através de uma linguagem moderna,
divertida e sedutora, sobre a importância da educação
como meio de controle e prevenção da doença cárie.
Sabemos que informação e educação são
fundamentais para a conscientização geral acerca dos
cuidados com a cavidade oral.
É nessa perspectiva que nossos colegas autores
Morgana Gradvohl, Francisco Simões, Daniela Costa ,
Emilly Barros e Lize Correia conseguiram, com muita
sapiência, apresentar um panorama de tudo que
envolve o “redescobrimento da cárie”.
Ademais, registro meu orgulho em ser convidado para
escrever este prefácio.
Muito obrigado e boa leitura!

Paulo Cesar Barbosa Rédua


Dedicatória
Dedicamos este livro aos pais que buscam entender e
contribuir para a saúde e desenvolvimento dos seus
filhos;
Às crianças, que têm curiosidade e interesse em
manter um sorriso saudável;
E a todos que têm sede de conhecimento e que
acreditam que o estudo pode nos fazer alçar voos
cada vez mais altos.
Agradecimentos
Ao nosso maravilhoso Deus que nos ilumina e faz
tudo acontecer tudo no tempo certo e com as
pessoas certas;
Às nossas famílias que são parceiras, torcedoras e
fonte de inspiração;
Às professoras da Clínica Infantil da Unifor, que tão
bem preparam os alunos com conhecimento e
humanização no atendimento;
À professora Glória Martins, que é uma grande
incentivadora deste livro e de tantos outros projetos
de vida;
Do mesmo modo, nós alunas, agradecemos à
professora Morgana Gradvohl, por promover esta
oportunidade, que é a elaboração deste trabalho; pela
confiança e credibilidade em nosso potencial desde
cedo e, ainda, pela disponibilidade, orientação e
dedicação conosco.
Sumário
O objetivo do livro.………………………………. …………. 9

Química da cárie, flúor e creme dental …………..………. 10

Aleitamento materno………………………………………. 39

Macronutrientes no desenvolvimento da doença cárie ... 46

Higienização da escova de dente……………………….… 59

Referências ………………………………………………… 62
...é te fazer entender, de uma maneira
científica, mas lúdica e divertida, todo o
processo da doença cárie, tirando a visão de
que se trata apenas um "bichinho que come
o dente", explicando, de verdade, como ela
se desenvolve, os fatores que influenciam a
sua aparência e o que se pode fazer para
evitá-la.
QUÍMICA DA
CÁRIE,
FLÚOR E
CREME DENTAL
A cárie é uma doença de alta incidência na
população e precisa receber muita atenção,
além disso, ela depende da combinação de
diversos fatores para ocorrer, tais como: tipo
de microrganismos, a qualidade dos tecidos
(esmalte e dentina), a quantidade e a
qualidade da saliva.

Quantidade
ideal de saliva
No tocante à saliva, ela tem um papel
fundamental, pois quanto mais é produzida,
menos tempo o açúcar fica na boca.
Além disso, a mastigação é uma forma de
aumentar a quantidade de saliva e, por esse
motivo, após o almoço, o açúcar é eliminado
mais rápido. Em contrapartida, durante o sono,
a salivação diminui e por isso a escovação, à
noite, é considerada a mais importante.
Vale lembrar que existem aspectos
influenciadores da doença cárie que podem ser
controlados, como a quantidade e a frequência
de ingestão de açúcares e ainda o tipo e a
consistência de carboidratos consumidos...

Os produtos decorrentes do metabolismo


bacteriano, após a ingestão de açúcar,
alteram a organização da placa formada
pelas bactérias. Em consequência disso, ela
se torna mais grossa, mais porosa e mais
colada ao dente.
Como assim consistência?
Na realidade, quanto mais
pegajoso e grudento for o
alimento, maior é o risco para
o desenvolvimento da cárie.

... Já o hábito e a forma de escovar os


dentes,
assim como o costume de ir ao dentista, que é
o profissional que contribui para a
conscientização da população acerca dos
cuidados necessários para sua saúde bucal,
também são fundamentais para o controle da
doença cárie.
O dente possui o esmalte, como sua camada
mais externa.

A dentina, como E a polpa,


camada sendo a parte
intermediária. mais profunda.
A grande ingestão de açúcares, como doces e
bombons, contribui para o crescimento da
Streptococcus mutans, que é a bactéria capaz
de produzir ácido e dissolver o esmalte do
dente.

Os doces entram na fábrica e são "processados" (assim como acontece na boca),


tornando o meio bucal ácido.

Favorecendo,
consequentemente,
o desenvolvimento
e crescimento
bacteriano.

Dessa forma, as bactérias


ficam felizes como se
estivessem de férias na
praia, devido ao ambiente
estar muito favorável a elas.
A hidroxiapatita, mineral que compõe cerca de
97% do esmalte e cerca de 70% da dentina,
sofre interação com o meio bucal ácido (pH <
7) e acaba se dissolvendo. A partir disso,
consequentemente, o dente vai perdendo parte
de sua estrutura.
Cristal de hidroxiapatita do
esmalte dentário

Aqui está ocorrendo


perda de estrutura
dentária, uma vez que o
esmalte está sendo
desmineralizado ao
sofrer influência do
ácido produzido pelas
bactérias.
Esse processo é acelerado quando atinge a
dentina, uma vez que ela é mais frágil em
comparação ao esmalte do dente.

Cristal menor de
hidroxiapatita da dentina.

Pode-se observar a
maior velocidade de
destruição que o ácido
provoca na dentina
O dente de leite (decíduo) é
menos mineralizado do que o
dente permanente, portanto é
mais vulnerável ao processo de
desgaste.

Isso explica a maior


fragilidade do dente de leite
em comparação com o seu
sucessor.
Portanto, o desenvolvimento da cárie é mais
acelerado nos dentes decíduos e, dependendo
do grau desse desenvolvimento, o dente
permanente pode ser comprometido.

Você sabia que o primeiro sinal do


desenvolvimento da cárie é por meio de
uma mancha branca no dente?
Uma boa escovação remove, de forma
mecânica, a placa bacteriana que fica nas
superfícies dos dentes. Quando não ocorre
essa remoção mecânica, a aplicação de agentes
antimicrobianos (flúor da pasta de dente; flúor
aplicado nos consultórios; clorexidina à 1%)
perde parte do seu poder de ação.

Essa massinha amarela


é uma representação da
placa bacteriana.
Para que ocorra uma boa escovação:

Todas as faces de todos os dentes


precisam ser escovadas;

Deve-se utilizar uma escova de dente


com cerdas macias;

A duração recomendável para cada


escovação é de 2 minutos.
Há a necessidade de que os pais façam uma
escovação supervisionada nos filhos durante
todas as escovações. À medida que as crianças
vão crescendo e adquirindo mais habilidades
motoras, essa supervisão vai se tornando
menos frequente.
Os casos de crianças que apresentam dentes
ainda completando seu processo de erupção,
ou seja, ainda "nascendo" merecem uma
atenção ainda maior dos pais para reforçar a
importância da escovação.

Além disso, quando esses dentes não estão em


oclusão (na mesma altura que os outros
dentes), facilita o acúmulo de placa e inflama
a gengiva o que pode dificultar a escovação.
Desse modo, por serem mais susceptíveis às
lesões de cárie, são mais frágeis, pois ainda
não finalizaram seu processo de maturação.
De modo geral, é necessário o uso da pasta
dental fluoretada e de escovas personalizadas,
como a unitufo, a fim de se obter um maior
alcance às regiões mais difíceis de higienizar.
Uma técnica utilizada para a escovação
eficiente em crianças de colo até dois anos é a
posição joelho-a-joelho. Nesse método, duas
pessoas sentam-se de frente uma para a outra,
encostando seus joelhos de forma a oferecer
um suporte para posicionar a criança, com
carinho e atenção, a fim de se obter maior
visibilidade da dentição e controle durante a
escovação.

Vale ressaltar que, durante a realização dessa


técnica, há a necessidade de se evitar que a
criança se engasgue com a pasta de dentes.
A concentração padrão de flúor dos
dentifrícios deve ser de 1100 ppm, sendo
obedecida a quantidade preconizada por Jaime
Cury, duas vezes ao dia.
Existem duas fases do desafio cariogênico.

A fase da desmineralização ...e a fase da remineralização,


ocorre de forma mais rápida, que, por sua vez, ocorre de
uma vez que as bactérias forma mais lenta, já que será
apresentam grande facilidade necessário retirar os íons H+
de metabolizar os da placa e transferi-los para a
carboidratos fermentáveis... saliva, por meio de íons
fosfato e bicarbonato, com o
intuito de aumentar o pH.

O time RE está apresentando maior dificuldade em equilibrar o jogo, por isso vemos o ion
H+ mais próximo do time DES, indicando que eles estão ganhando o desafio e resistindo
à tentativa do time RE de estabilizar o pH novamente.
A saliva consegue controlar a perda dos
minerais do dente, provocada pelo meio ácido,
até determinado nível. Entretanto, na presença
do flúor, os tecidos dentários ficam mais
fortalecidos, apresentando, dessa forma, uma
maior tolerância à acidez do meio.
Isso ocorre, pois são formadas estruturas mais
estáveis, as fluorapatitas (FA), em decorrência
das trocas dos íons OH- das hidroxiapatitas
por íons fluoreto. Quando essa troca ocorre de
forma parcial, chamamos de
fluorhidroxiapatita (FHA).
Ademais, na presença do flúor, a camada mais
superficial do esmalte fica fortalecida pelos
íons fluoreto. No entanto, a aplicação de flúor
não elimina a necessidade de um bom hábito de
escovação e de um controle de dieta adequado
para cada paciente.
É preciso lembrar que, após a alimentação, o
meio bucal fica ácido por determinado período
de tempo até que a saliva consiga equilibrar o
meio novamente. Quando a ingestão de
alimentos, principalmente com alto teor de
açúcar, ocorre em pequenos intervalos de
tempo, por exemplo, 12h-12:30-13h, a
remineralização, por meio da saliva, fica
comprometida...
...dessa forma, o meio permanece ácido por
mais tempo o que favorece o desenvolvimento
de bactérias capazes de produzir e sobreviver a
ácidos, além de contribuir para a produção de
substâncias provenientes do metabolismo
bacteriano. Tais substâncias atuam como um
depósito interno de açúcar dentro da célula e
ajudam a prolongar a fase da desmineralização
e a dificultar a etapa da remineralização.
Como cerca de 20% da dentina é composta por
matriz orgânica, o processo de remineralização
é mais difícil, fato que, associado à velocidade
da progressão da lesão de cárie na dentina,
demonstra a maior necessidade de flúor .

A dentina tenta
ultrapassar a linha de
chegada, que
representa a
remineralização, porém
está com dificuldade de
chegar a tempo.

Todavia, com o auxílio


do flúor, a dentina
percorre o trajeto com
maior velocidade,
possuindo maiores
chances de concluir seu
objetivo.
Lesão jovem e com menor
resistência ao flúor

Devido ao metabolismo das bactérias e às


reações que elas provocam nos tecidos
dentários, podemos observar que as lesões
mais antigas apresentam maior resistência à
ação do flúor.

Lesão mais antiga e com maior


resistência ao flúor
Existem diversas formas de obtenção de flúor,
como através da água de abastecimento, das
soluções fluoretadas em forma de gel, verniz
ou líquido para bochechos e de cremes dentais.

É preciso lembrar que o flúor precisa estar em


contato com a superfície dental para ter
efeito.
Além disso, ele é mais eficiente em regiões que
apresentam maior quantidade de cálcio, como
áreas com porosidades, pois a formação do
fluoreto de cálcio é facilitada, e ainda, nos
meios com baixo pH, onde o esmalte libera
mais íons cálcio.
O leite humano é naturalmente um composto
protetor, rico em imunomoduladores e anti-
inflamatórios que serão essenciais no
desenvolvimento das crianças. A amamentação
apresenta relação direta com a respiração, a
mastigação, a deglutição, o desenvolvimento
correto de ossos e músculos da face e com a
articulação dos sons da fala.
E qual a frequência
indicada?
A amamentação tem recomendação exclusiva
nos primeiros 6 (seis) meses de vida, porém é
indicada até os 2 (dois) anos de idade. Dessa
forma, no 1º ano, deve acontecer por livre
demanda e, entre 1 e 2 anos, no máximo 4
(quatro) vezes ao dia.
primeiros
6 meses só leite, na hora
que tiver fome
até 1 ano

na hora que quiser

até 2 anos

até 4 vezes no dia


E o leite não aumenta
os índices de cárie
nas crianças?
O leite materno, por si só, não tem potencial
acidogênico para provocar a desmineralização
da estrutura dentária a ponto de provocar um
início de cárie, ou seja, o Carboidrato Lactose,
presente na composição do leite, não chega a
provocar a perda de esmalte.
CASEÍNA

Além disso, o leite é rico em Caseína, uma


proteína com capacidade de propiciar ao dente
um armazenamento de Cálcio e Fosfato, que
lhe dará uma resistência ainda maior, por
formar fluorapatita, que possui um pH crítico
menor que o da hidroxiapatita desprotegida,
dando ao dente uma proteção maior contra a
ação das bactérias.

HIDROXIAPATITA FLUORAPATITA
O problema, portanto, ocorre quando a criança
já tem um consumo extra de outros alimentos,
principalmente quando contém Sacarose*, o
que provoca uma queda significativa no pH do
meio bucal. Dessa forma, a Lactose seria um
estímulo a mais para contribuir com a
desmineralização, podendo dar início a um
processo carioso.

* Ver página 48
{
Outro fator importante a ser destacado é a
forma como esse leite é introduzido na
alimentação das crianças, pois, quando ele
deixa de ser exclusivamente materno, deve-se
escolher opções que não contenham adição de
açúcares.

SEM ADIÇÃO
DE AÇÚCARES
Outro aspecto indispensável para se saber, desde
cedo, é o estímulo para a criança utilizar copos,
sejam eles com alças laterais ou tampas, pois estes,
além de facilitarem a destreza dos pequenos, evitam
que o leite permaneça por muito tempo na cavidade
bucal, o que é justamente o contrário do que ocorre
com o uso de mamadeiras, e que pode provocar um
maior prejuízo aos dentes. Com o uso de copos, o
leite apenas passa pela cavidade da boca e não
permanece, sendo uma forma de facilitar a
remineralização, tendo em vista que esse processo
terá condições de se iniciar mais rápido.
CARBOIDRATOS
Para conhecermos melhor os carboidratos,
destacamos que o primeiro grupo são os dos
Açúcares Convencionais, que favorecem o
desenvolvimento da doença cárie. Eles são
divididos em dois subgrupos, os
monossacarídeos, como a glicose e a frutose, e
os dissacarídeos, como a Sacarose (a principal
causadora da cárie), a Lactose e Maltose. Eles
são cariogênicos, pois seu metabolismo é
realizado através da fermentação feita por
bactérias, até se transformarem em ácido
lático e outros ácidos que vão reduzir o pH do
meio bucal, favorecendo a desmineralização e
deixando a estrutura dentária suscetível às
bactérias.
MONOSSACARÍDEOS

AÇÚCARES CONVENCIONAIS

DISSACARÍDEOS
GLICOSE

FRUTOSE

SACAROSE

LACTOSE

MALTOSE
A Sacarose, atualmente, representa o açúcar
que mais aumenta a formação do biofilme,
também conhecido como placa bacteriana,
sendo portanto a que possui maior ação
cariogênica, e isso pode ser explicado, por sua
alta prevalência em diversos alimentos, como:
doces e biscoitos recheados e até mesmo nas
frutas. Quando a Sacarose é quebrada pelas
enzimas que estão presentes na boca, ela é
dividida em diversas partes e foi comprovado
que existem várias formas de transportá-la.
Ademais, ela também é capaz de baixar mais o
pH da boca do que os outros tipos de açúcar,
facilitando o metabolismo pelas bactérias,
aumentando as condições dessas se
multiplicarem e assim desmineralizarem os
dentes.

SACAROSE
formação de
biofilme pelo
consumo dos
açúcares

ação da enzima
glicosiltransferase
Há substitutos para os açúcares convencionais,
isto é, os adoçantes, os quais encontram-se
divididos em dois grupos, como veremos a seguir,
entretanto é importante lembrar que, embora s
menos cariogênicos, continuam não sendo
recomendados para crianças, uma vez que podem
desencadear pré-disposição à doença Diabetes.

Menos cariogênicos, mas não


recomendados para crianças!
Podem ser um risco para o
desenvolvimento da Diabetes.
Nesse contexto, há o grupo dos Álcoois de Açúcar,
que também ganham o nome de polióis, conhecidos
como Xilitóis. Esses são os mais estudados por
terem grande uso setor de confeitarias e por serem
naturalmente extraídos de algumas frutas e legumes.
O Xilitol não possui a capacidade de ser
metabolizado por microorganismos, sendo benéfico
para evitar a progressão de cáries, além de diminuir
o número de Streptococcus mutans e Streptococcus
sobrinus, bactérias recorrentes na cavidade oral. Ele
também inibe a formação de placa e origina
complexos de íons Cálcio e Fosfato, facilitando a
remineralização para a cavidade oral, contudo é
pouco absorvido no intestino, podendo alterar
funções gastrointestinais.
O Sorbitol, que é pouco fermentado pelas
Streptococcus mutans e Streptococcus
Sobrinus, não aumenta significativamente o
risco à cárie. O Maltitol, que está presente em
variados produtos - principalmente nos doces -
e apresenta baixa cariogenicidade por sua
pouca fermentação, causa uma queda menor
no pH do meio bucal, não interferindo tanto no
processo de desmineralização. Todos os
Álcoois de Açúcar tendem a ser mais laxantes
em consumo excessivo, sendo necessário haver
um controle ainda mais rigoroso quando
administrados para crianças.
Ainda sobre os substitutos dos açúcares
tradicionais, apontamos o segundo grupo que é dos
Adoçantes Intensos, os quais não possuem valor
nutricional e são menos cariogênicos, por não
serem fermentados no meio bucal, não produzindo
assim ácidos que alteram o pH crítico na boca.
Vejamos, o esteviol glicosídeo, que é derivado da
planta estevia, o aspartame, que é bem adocicado,
a sucralose, a sacarina e ciclamato são seus
componentes.
Com essa diversidade de tipos de carboidratos, é
essencial estarmos sempre atentos à composição
dos alimentos que fornecemos às crianças,
lembrando que aqueles referenciados no primeiro
grupo são os encontrados em maior quantidade.
e os outros
macronutrientes,
como agem no
processo da cárie?
proteínas e gorduras
Bem, as proteínas e gorduras são conhecidas
como protetores. As primeiras, por serem
compostas por ureia, que em seu metabolismo
não vão resultar em ácidos, não alteram o pH.
Ainda existem proteínas que trazem um
benefício a mais, como a Caseína, encontrada
no leite, que ajuda como reservatório de cálcio
e fosfato para a estrutura dentária, deixando-a
mais resistente.

caseína
Já as gorduras servem como película para os
dentes ou mesmo englobam as moléculas de
carboidrato, impedindo que elas se fixem nos
dentes.
Dica: Olhar sempre a Tabela
Nutricional dos alimentos!
Os que aparecem primeiro
estão em maior quantidade!

Não introduzir produtos


com açúcares na alimentação
das crianças antes dos
2 anos de idade!
Logo depois da escovação dos dentes, as
escovas ficam cheias de bactérias, incluindo as
Streptococcus mutans, que podem não só
afetar a saúde bucal no próximo uso como
também a saúde de uma forma geral. Essa
retenção de bactérias pode representar uma
possível recontaminação na boca.
Sabia que é sensato guardar as escovas de
dentes de cada pessoa de maneira individual?
Se guardadas todas juntas, no mesmo
recipiente, as bactérias que ficaram na escova
de um, podem contaminar a do outro e levar
ainda mais bactérias para a boca, na próxima
escovação.

CLOREXIDINA 1,2%

Uma técnica de fácil aplicabilidade e boa eficácia


para higienização e armazenamento da escova de
dentes é deixá-la em um tubo fechado, onde as
cerdas fiquem imersas em clorexidina com
concentração de 1,2%. Esse líquido deve ser
trocado de 3 a 5 dias e deve-se lavar a escova
com água corrente antes de cada novo uso.
Agora é com você!
Esperamos ter te ajudado, de forma
consciente, não só acerca da sua saúde bucal
mas também sobre melhor maneira de
preservar seus dentes!
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https://www.nature.com/articles/sj.bdj.2014.651. Acesso em: 28
ago. 2021.
Acredito na educação!

Após 25 anos de ensino e de prática diária como odontopediatra,


observei e fiquei muito feliz em perceber que, tanto os pais como as
crianças, se interessavam, cada vez mais, pelo mecanismo de ação
da cárie e pelos motivos que levam a maior ou menor propagação
da doença nos indivíduos. Além disso, traziam consigo também
questionamentos sobre a amamentação e a higienização de
escovas de dentes.

Após assistir à apresentação de uma mesa clínica da disciplina de


odontopediatria do curso de Odontologia da Unifor (Universidade
de Fortaleza), senti-me chamada a divulgar esse conteúdo que foi
tão bem explicada pelas alunas autoras Lize, Daniela e Emilly. Esta,
além de aluna da odontologia, identificou-se como desenhista
gráfica e nos impactou com seu talento.

Dessa forma, pudemos transformar o conteúdo científico em


desenhos a fim de facilitar a compreensão do assunto. Este trabalho
de transformar o conteúdo em livro teve início há um ano e meio e,
além disso, durante o momento de pandemia, o professor Francisco
veio abrilhantar a escrita com sua honrosa participação.

Desejo que possamos ser mais uma gotinha d’água no oceano da


educação e, além disso, ser motivação para a promoção de saúde
bucal.

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