Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PROPÓSITO
Analisar as alterações fisiológicas e os requerimentos nutricionais inerentes ao processo de envelhecimento é
fundamental para otimizar estratégias de atendimento clínico e dietético de idosos.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
O último ciclo da existência humana é retratado em diversas obras literárias como um período de reflexão, orgulho,
ressentimento, saudosismo e diversos outros sentimentos, por vezes dicotômicos, em função dos rumos da vida que
foram tomados, das raízes estruturadas e dos legados deixados. É assim no poema Velhas árvores, de Olavo Bilac, e
no filme Uma história real, de David Lynch: são retratados os danos acumulados no corpo do ancião, as memórias da
vida e os dilemas de como encarar a inevitável morte que está por vir.
Esse enfrentamento está cada vez mais presente na vida da população brasileira, pois o crescimento quantitativo de
idosos no país tem ocorrido de forma acelerada. Em 2018, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
apresentou análise demográfica de cerca de 33 milhões de idosos no país, o que representava, na época,
aproximadamente 16% da população nacional. Com a constância de crescimento na margem de 30% em comparação
a 2012, estima-se que a população idosa será de 25% em 2060, quando é provável que o Brasil tenha uma população
de 228 milhões de habitantes. Atualmente, idosos já são maioria quando comparados com crianças de até 9 anos de
idade (IBGE, 2018).
Essa clara alteração na característica etária do país vem estimulando debates sobre as profundas demandas sociais,
clínicas e econômicas de população mais envelhecida. O envelhecimento carrega consigo desafios no sistema de
saúde, na previdência social e na força laboral do país. Sendo assim, conhecer a fundo as principais mazelas clínicas,
as naturais e deteriorantes modificações corporais, os requerimentos assistenciais e as estratégias de abordagens
científicas preventivas e tratativas desse público é fundamental para que planejamentos profissionais coletivos
consigam atender um público que, sem o devido cuidado, avaliação, intervenção e análise, tende a ser marginalizado
e potencializar danos sociais e econômicos dentro das células de convívio no país (MIRANDA; MENDES; SILVA,
2016).
MÓDULO 1
Nas construções científicas atomísticas, os modelos estruturais atômicos, como na descrição do neozelandês Ernest
Rutherford, em 1911, apresentam partículas físicas elementares com a presença de uma região central, denominada
núcleo, composta pelas subpartículas prótons e nêutrons. Ao redor do núcleo atômico encontram-se camadas de
órbitas de uma outra subpartícula, de carga negativa, chamada de elétron. O número de subpartículas e órbitas
atômicas diferenciam os átomos entre si e, dessa forma, tornam possível classificar os átomos de acordo com suas
diferentes características.
COMENTÁRIO
Em suma, um radical livre consiste em um átomo ou uma molécula que teve alteração no número e na distribuição de
elétrons em sua orbital externa que circunda o núcleo atômico. Esse desequilíbrio no número de elétrons gera
significativa instabilidade no átomo/molécula, o que aumenta sua capacidade de interação com outras moléculas para
recuperação do elétron perdido da orbital.
A imagem a seguir ilustra a diferença entre um átomo normal de neônio (com 10 elétrons na orbital) e sua espécie
reativa, radical livre.
Átomo normal de neônio com 10 elétrons orbitando núcleo atômico (esquerda) e espécie reativa de átomo de
neônio com desemparelhamento de elétrons, instável (direita).
Entre os mais variados tipos de radicais livres se destacam as espécies reativas de oxigênio e nitrogênio (ERON), que
se caracterizam por gerar agressão aos componentes celulares humanos.
A fim de buscar reequilíbrio de sua estrutura nativa, as ERON interagem com células e moléculas humanas para
recuperação do elétron perdido. Geralmente, a primeira lesão oxidativa ocorre por meio da oxidação das membranas
fosfolipídicas celulares. Nesse cenário, as células vão reduzindo sua integralidade e se tornando mais suscetíveis a
disfunções, doenças ou agressões por patógenos. Sendo assim, é usual observar profusas alterações fisiológicas em
sistemas do organismo, aceleração do envelhecimento e perda de função orgânica corporal (LIGUORI et al., 2018).
Mais profundamente, um aspecto degenerativo importante ocorre quando as ERON atacam os telômeros
posicionados na extremidade dos cromossomos, encurtando seu comprimento e, assim, gerando maior exposição do
DNA presente no genoma do núcleo das células. O encurtamento dos telômeros reduz a qualidade de vida, a função,
a atividade e a estabilidade celular, ou seja, acelera o envelhecimento ou o desenvolvimento de doenças crônicas
e/ou degenerativas (SILVA; FERRARI, 2011).
Dessa forma, o processo de envelhecimento celular ocorre majoritariamente por conta da constante e progressiva
deterioração oxidativa induzida pelas ERON que afetam as células, os tecidos e os sistemas orgânicos em diferentes
locais e de distintas maneiras. A imagem a seguir demonstra a relação entre o ataque oxidativo e a deterioração
celular.
Célula humana.
Ataque de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio (ERON em vermelho e preto) nos componentes celulares, como
membrana, organelas e núcleo.
A síntese de ERON pode se desenvolver exogenamente, em razão da maior exposição humana à poluição
atmosférica e à radiação ultravioleta por meio dos raios solares; ou endogenamente potencializada por estilo de vida
de pobre qualidade, com destaque para: sedentarismo, maus hábitos alimentares, ingestão alcoólica, consumo de
drogas, restrição de sono, tabagismo e estresse (RAHMAN, 2007).
Entretanto, o organismo humano não suporta passivamente os ataques das ERON e apresenta defesas capazes de
doar elétrons para procurar restabelecer a sua estabilidade atômica/molecular. Esse processo é realizado por
substâncias denominadas de antioxidantes, que servem como uma espécie de “escudo” dos componentes celulares
para mitigar o dano oxidativo.
A síntese e a presença de antioxidantes dependem de uma adaptação a uma exposição controlada de ERON, como
na atividade física crônica e de intensidade regular/moderada e de boas escolhas de estilo de vida, como alimentação
balanceada, densa em antioxidantes, e ajuste do controle do ciclo circadiano na relação entre estado de vigília e sono.
A imagem a seguir sintetiza a função de proteção contra as ERON exercida pelos antioxidantes.
Antioxidante doando elétron para orbital externa do radical livre, restabelecendo equilíbrio e estabilidade atômica,
o que garante a preservação celular.
A expectativa de vida está intimamente associada ao processo de controle do dano oxidativo e do envelhecimento
celular, bem como às opções de estilo de vida. Recentemente, em 2020, Chudasama e colaboradores observaram
que a expectativa de vida pode aumentar em aproximadamente 6,3 anos em homens e em 7,6 anos em mulheres,
independentemente da presença de doenças, apenas com escolhas adequadas na forma de viver, como melhor
qualidade de dieta, sono e atividade física. Cerca de 500 mil britânicos adultos foram observados nesse estudo de
coorte (CHUDASAMA et al., 2020).
Outro ponto relevante reside no fato de que há uma relação inversamente proporcional entre a magnitude do estresse
oxidativo e o estado nutricional em idosos. Observa-se que baixos níveis de antioxidantes plasmáticos costumam ser
identificados em idosos como maior índice de massa corporal (IMC), indicador antropométrico de risco de status
nutricional em idosos. Além disso, idosos com maior perímetro abdominal costumam apresentar maior concentração
de biomarcadores de estado oxidativo, como produtos ou intermediários da peroxidação fosfolipídica realizada por
ERON. Por fim, nota-se que diversas doenças crônicas e degenerativas em idosos se desenvolvem de forma mais
perniciosa em função da maior presença de oxidantes e da menor defesa antioxidante (MOREIRA; VILLAS BOAS;
FERREIRA, 2014).
De modo amplo, é comum observar mudanças fisiológicas em sistemas do organismo em idosos. Muitas dessas
modificações podem estar associadas ao aumento da demanda de nutrientes. As seguintes condições valem
destaque:
Aditivamente, é comum identificar fatores clínicos e bioquímicos que interferem no estado nutricional de idosos. O
quadro a seguir lista algumas dessas características notáveis:
Aumento Redução
pH gástrico Albumina sérica
Motilidade gastrointestinal
O conjunto entre o envelhecimento natural, em que há degradação biológica inexorável e universal à vida humana, e o
envelhecimento usual, no qual o incremento de más escolhas de hábitos de vida aumentam ERON, potencializa o
surgimento e o agravamento de doenças crônicas, inclusive neurodegenerativas. Dentre esses quadros deteriorantes,
emerge um grupo de manifestações clínicas e bioquímicas que suscetibilizam idosos a uma maior dependência e à
marginalização, devido à redução da capacidade de autonomia em virtude de severo dano e disfunção muscular,
óssea e cerebral.
Quatro estágios de porosidade óssea. Da esquerda para direita: as duas primeiras imagens representam
densidade e distribuição mineral óssea dentro da normalidade; a terceira, distribuição mineral óssea em estágio de
osteoporose instaurada; e a quarta, osteoporose grave.
A deterioração das estruturas proteicas do tecido muscular esquelético é conhecida como sarcopenia, termo derivado
do grego que tem origem na frase “pobreza da carne” e notabiliza essa alcunha devido à marcante redução do volume
muscular durante a velhice. A sarcopenia pode induzir idosos a quadros de resistência à insulina, obesidade,
osteoartrite, osteoporose e até mesmo de depressão (LEITE et al., 2012).
A perda de massa muscular em idosos é uma resposta à redução do número de estruturas funcionais intramusculares
da miofibrila, chamadas de sarcômero, que têm função direta na efetivação da contração muscular pela capacidade
de aproveitar a conversão da energia química do ATP em atividade mecânica por meio dos motores moleculares
organizados por suas proteínas.
Com a limitação do número de sarcômeros e de volume muscular, idosos perdem capacidade de desenvolvimento de
força. Em média, idosos que possuem histórico de prática esportiva pregressa costumam apresentar mais tardiamente
e menos agressivamente a instauração da sarcopenia e seus sinais/sintomas (SIDDIQUE et al., 2017).
De forma geral, a precariedade de cuidados com o estilo de vida costuma intensificar a sarcopenia. As principais
teorias de estabelecimento de sarcopenia apontam para redução de produção hormonal endógena esteroide,
mutações de DNA mitocondrial da célula muscular, dano oxidativo, diminuição na condução de estímulos neurais,
desequilíbrio do catabolismo de citocinas e fatores externos (como sedentarismo). A sarcopenia pode ser medida por
meio da análise de depleção continuada da musculatura em alguns pontos do corpo, especialmente:
A avaliação da progressão da sarcopenia passa pela análise de medidas de detecção de força muscular,
biomarcadores bioquímicos, exames de imagem e exame físico. Dentre as variáveis para obtenção do nível de força
muscular, é possível elencar a capacidade de flexão e extensão de membros inferiores, a pressão palmar e o
pinçamento. No que tange às medidas bioquímicas laboratoriais, devem ser observados valores de proteína C reativa
(inflamação sistêmica), interleucina 6 (IL-6), miostatina, fator de diferenciação de crescimento (GDF-15) e IGF-1.
ATENÇÃO
Também é importante acompanhar biomarcadores de dano muscular, tais como creatina quinase (CK), mioglobina
(Mb) e transaminases glutâmico oxaloacética (TGO) e glutâmico pirúvica (TGP) no intuito de acompanhar proteólise
muscular, especialmente esquelética (MARGUTTI; SCHUCH; SCHWANKE, 2017).
Completando o conjunto que estabelece a fragilidade em idosos, distúrbios neurológicos também são condições
inerentes ao envelhecimento. A diminuição da capacidade de transmissão e comunicação de impulsos nervosos na
velhice costuma culminar em uma variedade de distúrbios neurológicos, alguns de características mais amenas (como
pequena perda de memória, alterações organolépticas e retardo na velocidade de raciocínio lógico) e outros de
condições mais graves (como doenças neurodegenerativas).
Nas possibilidades mais preocupantes, as doenças de Parkinson e Alzheimer destacadamente são as degradações
neurais mais observadas nessa faixa etária. Ambas diminuem drasticamente a qualidade de vida e a autonomia do
indivíduo. Entretanto, cabe ressaltar que a taxa de incidência de acidentes vasculares encefálicos (AVE) ainda é
bastante elevada e apresenta grande risco de mortalidade entre idosos.
Acuidade visual: presbiopia e degeneração da adaptação visual em ambientes muito claros ou escuros. Também
há perda de campo visual e discernimento de cores.
Audição: presbiacusia (manifestação que compromete a distinção de sons e de falas, com perda auditiva
relevante no idoso).
Percepção olfativa: hiposmia, isto é, redução da sensibilidade e distinção de aromas, cheiros e odores outrora
característicos para o indivíduo.
Sensibilidade tátil: diminuição do fluxo sanguíneo em direção aos receptores sensoriais associados à
desidratação da pele.
Em um levantamento realizado em 2010, o Sistema Único de Saúde (SUS) apresentou as principais causas e número
de óbitos em idosos de acordo com o sexo e a idade. Os quadros a seguir demonstram que as doenças crônicas
estabelecidas nessa faixa etária podem culminar em maior incidência de mortes (CHAIMOWICZ, 2013).
Restante de doenças do ap. digestivo †† 997 Restante de doenças do ap. digestivo †† 3.873
A combinação de distúrbios clínicos comuns e destacados na velhice, como a latrogenia, a incontinência urinária, a
degradação osteomuscular, as doenças neuropsiquiátricas e a síndrome da imobilidade, são popularmente
conhecidas como “os gigantes da geriatria”. É muito comum que idosos, de diferentes idades, apresentem no mínimo
um dos integrantes desse complexo de doenças, sinais e sintomas. A vigilância sobre essas condições é fundamental
no anseio da melhor oferta de qualidade de vida para idosos de ambos os sexos.
A latrogenia é definida como o resultado dos efeitos colaterais do uso de medicamentos ou terapias alternativas de
cuidado, sejam isolados, combinados ou excessivos, sem a devida atenção médica e/ou multidisciplinar no
acompanhamento. Indivíduos da terceira idade têm maior chance de sofrerem de latrogenia devido à sua maior
assiduidade aos serviços de saúde, ao seu estado degenerativo mais evoluído, à maior incidência de doenças
crônicas e, no Brasil, à razoável taxa de analfabetismo entre idosos.
Mesmo que recebam no atendimento boa acolhida na prescrição de remédios ou na realização de terapias
alternativas, como realização de exercícios físicos (regulares ou fisioterápicos), existem cenários em que os efeitos
adversos ou as condições outrora adaptativas desses tratamentos geram demanda de continuidade de orientações
para o idoso. É o caso das mialgias após a prática de atividades físicas ou dores epigástricas após uso de aspirina,
por exemplo. Em diversas condições, idosos não são evolutivamente acompanhados e podem apresentar
deliberadamente ou não omissão no tratamento.
Existe uma considerável incidência de incontinência urinária durante o último ciclo da vida, condição patológica que
consiste em uma excreção involuntária de urina súbita e, por vezes, imperceptível em alguma quantidade. Essa
eliminação acaba por gerar algum tipo de dano à saúde ou ao convívio social do idoso. Do ponto de vista da vida
comunitária, a incontinência urinária pode levar idosos à depressão, à redução da autoestima, ao afastamento de
atividades sociais e ao isolamento.
O risco de fraturas também pode ocorrer em momentos em que o indivíduo percebe a excreção urinária e procura se
deslocar com urgência para algum banheiro. Microbiologicamente, observam-se riscos de infecções urinárias e
cutâneas, e ainda há possibilidade de desenvolvimento de úlceras de pressão na tentativa de se controlar os jatos de
urina pelo idoso.
Dentre problemas de ordem psicossocial, destacam-se os quadros de depressão nessa faixa etária. A depressão em
idosos pode ser inespecífica, ou seja, multifatorial. Por vezes é de difícil compreensão etiológica, mas pode possuir
relação com o contexto social, econômico, clínico e psicológico do indivíduo.
A doença tem característica de exercer um potente dano funcional nas atividades do idoso, podendo agravar ou
desencadear outras doenças. Nos quadros depressivos, além do natural funcionamento celular sofrer excedente de
estresse para gerar cenários de dano metabólico, cabe ressaltar que a doença pode gerar impacto severo na saúde
do idoso por questões de déficit energético — há observação de inapetência ou anorexia. Ainda, são observados
cenários de profundo isolamento social, com perda da comunicação verbal ou ideação suicida (NÓBREGA et al.,
2015).
Para monitoramento do desenvolvimento depressivo, profissionais da equipe multidisciplinar e familiares devem estar
atentos aos seguintes sinais (BRASIL, 2006):
a. Antecedentes depressivos
b. Doenças incapacitantes
c. Doenças dolorosas
f. Moradia solitária
g. Insônia
i. Etilismo
Perda de apetite.
Disfagia.
Incapacidade física.
Interações medicamentosas.
Sinais de magreza.
Para se avaliar a magnitude da composição corporal alterada pelo envelhecimento, o gráfico a seguir apresenta as
diferenças de concentração de massa adiposa (MA), massa muscular (MM) e massa livre de gordura e musculatura
(MLGM) entre indivíduos adultos e idosos.
Gráfico: Diferenças percentuais de massa muscular (MM), massa adiposa (MA) e massa livre de gordura e
musculatura (MLGM) na composição corporal entre idosos e adultos.
Adaptado de Nowson; O’connell, 2015, p. 6876.
Características socioculturais, psicológicas e de qualidade de vida podem ser determinantes, em conjunto com as
questões clínicas. Por isso, é fundamental que na anamnese do atendimento de idosos constem questionamentos
sobre sua moradia (se convivem com outros indivíduos, se possuem cômodo próprio ou compartilhado, por exemplo),
condição econômica (independência/dependência de organização orçamentária e compra de insumos, por exemplo) e
cuidados psicológicos (possíveis sinais ou diagnósticos de depressão, ansiedade, isolamento social, demência e
depressão, por exemplo).
COMENTÁRIO
Na abordagem nutricional bioquímica, recomenda-se medição dos níveis séricos de albumina (risco quando abaixo de
3,5mg/dL), leptina, eritrograma (principalmente hemoglobina) e colesterol total (risco quando abaixo de 160mg/dL) de
maneira combinada aos indicadores antropométricos, clínicos e dietéticos para melhor diagnóstico do estado de
depleção nutricional.
Por outro lado, embora alguns fatores fisiológicos possam contribuir para a redução da ingestão alimentar,
principalmente aqueles relacionados à dentição e à percepção sensorial, na primeira fase do envelhecimento é
incomum haver grandes mudanças nos hábitos dietéticos anteriores. Adicionalmente, indivíduos com boas condições
socioeconômicas e autonomia também dificilmente alteram de forma significativa o consumo alimentar. Sendo assim,
em muitos idosos o acréscimo adiposo costuma ser observado em decorrência da combinação de menor gasto
energético em repouso e em função do exercício associado à manutenção da ingestão energética. Os principais
fatores fisiológicos, comportamentais, ambientais, patológicos e genéticos que podem levar idosos à obesidade são:
Insuficiência de sono.
Atividade enzimática.
Muitas dessas condições são intensificadas pelo natural aumento da resistência à leptina e pela perda de
sensibilidade hormonal tireoidina, levando a dificuldades de controle de apetite.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
O cálculo do IMC destaca-se como uma ferramenta fácil e indicativa de estimativa de excesso ou carência de
compartimentos adiposos em harmonia antropométrica em idosos. A razão da massa corporal pela estatura ao
quadrado consiste em método de fácil aplicação especialmente por seu baixo custo e sua reprodutibilidade (OPAS,
2002; BRASIL, 2011). O quadro a seguir apresenta parâmetros de IMC para classificação nutricional de idosos,
independentemente do sexo.
23-28 Eutrofia
28-30 Sobrepeso
> 30 Obesidade
COMENTÁRIO
A medição do peso e da estatura de idosos pode ser difícil ou impossível para indivíduos que tenham restrições para
deambular ou que se encontram acamados. Nessas condições, é possível efetuar a aplicação de equações preditivas
de peso e de estatura baseadas na coleta de outras medidas, especialmente a aferição do comprimento da perna
(também denominada “altura do joelho”).
O comprimento da perna (CmP) deve ser medido necessariamente com o paciente sentado, mantendo a perna em
ângulo reto considerando os pés fixos no solo e os joelhos alinhados. A entrada da posição da fita métrica deve partir
da base do calcanhar até a protuberância fibular da perna direita. Os quadros que seguem exibem, respectivamente,
cálculos para estimativa de altura e massa corporal para idosos de acordo com o sexo.
Homens Mulheres
Homens Mulheres
(0,98 × CP) + (1,16 × CmP) + (1,73 × CB) + (0,37 × (1,27 × CP) + (0,87 × CmP) + (0,98 × CB) + (0,4 ×
DCSE) – 81,69 DCSE) – 62,35
Do ponto de vista padrão, indica-se desenvolver os seguintes procedimentos para dobra cutânea subescapular
(DCSE), circunferência do braço (CB) e circunferência da panturrilha (CP) (MUSSOI, 2014, p. 107):
DCSE
Deve-se marcar o ponto 2cm abaixo da borda inferior da escápula direita, com a demarcação seguindo a orientação
inclinada dos arcos costais. O avaliador deve se posicionar atrás do avaliado e a prega deve ser realizada
obliquamente ao eixo anatômico longitudinal.
CB
Mede-se o membro direito do paciente, envolvendo a fita métrica na metade da distância entre a borda superior do
acrômio e a proeminência do olecrano. Para CB, o idoso deve manter os braços relaxados em paralelo ao eixo
longitudinal.
CP
A fita métrica deve circundar a região de maior perímetro aparente do músculo gastrocnêmio da perna direita.
Como contraponto ao uso isolado do indicador do IMC, que costuma ser uma excelente ferramenta do ponto de vista
epidemiológico, indica-se a aplicação de métodos capazes de aprofundar a composição corporal individual de idosos.
O IMC carece de maior alcance na definição do conteúdo dos compartimentos corporais e deixa lacunas sobre a
qualidade da harmonia e a relação entre a massa corporal total e a estatura.
Nesse sentido, as medidas de CB, circunferência muscular do braço (CMB) e área muscular do braço corrigida
(AMBc) podem indicar riscos de desnutrição ou excessos nutricionais, principalmente em condições de inviabilidade
de aferição de IMC ou até mesmo de se estimar peso e estatura em idosos. Enquanto a CB engloba a soma de todas
as massas acumuladas da região, a CMB e a AMBc delimitam estimativa de reserva musculoesquelética corporal
importante para indivíduos dessa faixa etária, compreendendo ferramenta valiosa na busca por eventuais processos
de deterioração tecidual.
Para determinação de estado nutricional a partir da CB, calcula-se o percentual de adequação da perimetria pela
obtenção de medidas detectadas na avaliação nutricional e pela coleta do valor percentil 50 (P50) de acordo com a
idade do paciente. A equação é descrita da seguinte maneira:
A seguir, o primeiro quadro dispõe medidas de percentis (P) de CB para idosos de acordo com o sexo (BURR;
PHILLIPS, 1984); já o segundo apresenta a classificação do estado nutricional a partir do resultado da equação de
adequação da CB.
Homens
60- 64 26,6 27,8 28,6 29,7 32,0 34,0 35,1 36,0 37,5
65- 69 25,4 26,7 27,7 29,0 31,1 33,2 4,5 35,3 36,6
70- 74 25,1 26,2 27,1 28,5 30,7 32,6 33,7 34,8 36,0
Mulheres
60- 64 25,0 26,1 27,1 28,4 30,8 34,0 35,7 37,3 39,6
65- 69 24,3 25,7 26,7 28,0 30,5 33,4 35,2 36,5 38,5
70- 74 21,8 25,3 26,3 27,6 30,3 33,1 34,7 35,8 37,5
Quadro: Valores de percentis de CB para idosos de ambos os sexos de acordo com a idade.
Adaptado de Burr; Phillips, 1984.
Classificação % de adequação da CB
Desnutrição grave < 70%
Eutrofia 90%-109%
Sobrepeso 110%-120%
Para obtenção do valor de CMB, é necessário haver a coleta de medidas de CB e dobra cutânea tricipital (DCT) para,
posteriormente, aplicar os dados na seguinte fórmula:
CMB = CB – [π × (DCT/10)]
Sendo π (pi) como número de valor aproximado de 3,1416. Em sequência, é indicado cálculo de adequação da CMB
seguindo a equação:
A seguir, o primeiro quadro lista valores de P50 para CMB; o segundo apresenta classificação nutricional de idosos a
partir da adequação da AMB (BLACKBURN; THORNTON, 1979).
Homens
Idade P50
60-64 27,8
65-74 26,8
75-79 22,1
80-84 21,5
> 84 20,8
Mulheres
Idade P50
60-64 22,5
65-74 22,5
75-79 20,0
80-84 19,2
> 84 18,2
Quadro: Valores de P50 de CMB para idosos de ambos os sexos de acordo com a idade.
Adaptado de Frisancho, 1981.; Burr; Phillips, 1984.
A AMBc consiste na medida de determinação muscular braquial excluindo-se variável de tecido ósseo, no intuito de
obter melhor precisão das condições de massa proteica muscular do idoso, o que reflete um indicador mais acurado
que a CMB. As seguintes equações descrevem método de cálculo para AMBc para homens e mulheres:
De acordo com as normas padronizadas no Sistema Internacional de Cineantropometria (ISAK), a DCT deve ser
aferida na metade da distância entre a borda superior do acrômio e o olecrano, na região anterior do braço direito,
com o paciente mantendo o membro relaxado. A prega deve ser realizada de forma paralela ao eixo longitudinal
(TIRAPEGUI; RIBEIRO, 2013).
A seguir, o primeiro quadro expõe medidas de percentis (P) para AMBc para idosos de acordo com o sexo
(FRISANCHO, 1990), enquanto o segundo determina classificação do estado nutricional de acordo com percentil de
AMBc (BLACKBURN; THORNTON, 1979).
Homens
Idade P5 P15
Mulheres
Idade P5 P15
Classificação Percentil
Desnutrição ≥ P5-P15
A área adiposa do braço (AAB) e o percentual de gordura por AAB podem refletir o conteúdo lipídico de idosos com
projeção de risco. Para obtenção do valor, é necessária aplicação das seguintes fórmulas:
2
AAB = (DCT × 0, 1) × (CB/2) – (π × (DCT × 0, 1) /4)
SAIBA MAIS
A Organização Mundial da Saúde propõe que a medida de circunferência da panturrilha apresenta significativa
sensibilidade na predição de alteração de conteúdo de massa magra de idosos, especialmente aqueles com
dificuldades de locomoção e de manutenção de exercícios físicos regulares. Objetivamente, determina-se quadro de
risco de desnutrição para indivíduos que apresentem valores da perimetria inferiores a 31cm, tanto para homens
quanto para mulheres (NAJAS; NEBULONI, 2005).
Também conhecida como força de preensão palmar, a aferição da espessura do músculo adutor do polegar (EMAP)
consiste em método de baixo custo, simples, ágil, não invasivo e de fácil reprodução e análise, uma vez que não há
necessidade de conversão do valor em fórmulas preditivas. Com auxílio de um adipômetro, o avaliador deve exercer
pressão contínua sob o músculo adutor. O equipamento deve pinçar o vértice do triângulo imaginário formado pela
extensão dos dedos polegar e indicador. Para verificar a evolução, indica-se comparar medidas obtidas do EMAP ao
longo do acompanhamento nutricional de longo prazo. O quadro a seguir apresenta adequação comparativa da
evolução dos valores (PEREIRA et al., 2019).
Ausência 100%
Leve 99-90%
· > 5,5 × 106
para homens
Policitemia
· > 5,1 × 106
para mulheres
Testosterona
Masculino 3,5-10,3 2,2-6,7 3,4
(mg/L)
a) 1800-
a) Masculino a) 40-750 a) 287
s-DHEA (mg/L) 4500
b) Feminino b) 20-600 b) 231
b) 1200-3159
Folicular: 30-100
Estradiol (ng/L) Feminino <5- 20 6
Luteal: 70-300
Folicular: 30-100
Estrona (ng/L) Feminino < 5- 58 29
Luteal: 60-160
Muitas dessas mudanças hormonais culminam justamente no agravo de características físicas e funcionais de idosos,
como perda de locomoção independente associada a problemas de déficit ósseo ou muscular. Mecanismos
anabólicos costumam diminuir suas atividades e biossinalizações juntamente com aumento de atividade
catabolizante. A redução hormonal de somatomedina C ou fator de crescimento ligado à insulina (IGF-1) desencadeia
redução da síntese proteica muscular, em virtude do protagonismo da IGF-1 no controle desse mecanismo. Além
disso, observa-se diminuição das concentrações de hormônio do crescimento (GH) em razão direta da menor
atividade hipofisária.
c) Para tratamento de desordens gastrointestinais: agonistas H2, inibidores de bomba de prótons (omeprazol e
pantoprazol, por exemplo).
d) Para cuidados de doenças ou desordens musculares: drogas anti-inflamatórias não esteroides, metotrexato,
colchicina.
f) Quimioterápicos: todos.
A anotação ou observação cuidadosa do rol de drogas consumidas pelo paciente é capaz de apontar possíveis riscos
de desvios nutricionais ou implicações dietéticas para o nutricionista. O quadro a seguir descreve a relação de alguns
medicamentos com seu impacto nutricional.
Sensibilidade (%) – 36 46 93 82 96 –
Especificidade
– 85 85 44 72 98 –
(%)
Custo + + + +++ ++ + +
Condição do Em Em Em Em
Adoecido Adoecido Todos
idoso casa casa casa casa
Detecta
Sim Sim Sim Não Não Sim Sim
desnutrição?
Diagnostica
Não Não Não Sim Sim Sim Não
desnutrição?
É indicado para
acompanhamento Não Não Não Não Não Sim Não
evolutivo?
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
A composição conjunta de alterações fisiológicas e antropométricas em idosos pode ser uma combinação de grande
perigo para o atendimento dos requerimentos nutricionais nesse público, tendo em vista que não só a atividade
metabólica sofre algum grau de deterioração, especialmente por ERON, mas também há impacto no consumo, na
digestão e na absorção dos nutrientes.
De forma ampla, a desidratação inerente ao envelhecimento e a periculosidade com os extremos nutricionais, isto é,
desnutrição e obesidade, demandam o máximo de individualização nas ofertas nutricionais em idoso. Além disso, é
preponderante que o maior foco da oferta dietética em idosos se concentre no estímulo de ingestão oral. A indução a
mastigação, gustação e socialização perante o consumo oral trazem benefícios clínicos, comunitários e psicológicos
de grande vantagem.
COMENTÁRIO
Os principais objetivos da dietoterapia em idosos reside na provisão de energia, fluidos, proteínas e micronutrientes
para manutenção ou melhoria do status nutricional geral.
ESTIMATIVA DE NECESSIDADES ENERGÉTICAS
Há consenso de grande pujança na literatura de que a oferta de energia total para idosos seja de 30kcal por
quilograma de massa corporal ao dia. Entretanto, a equipe multidisciplinar que acompanha o atendimento ao idoso
deve se atentar a fatores que possam influenciar o aumento dessa demanda energética, como nível de atividade física
e nível de injúria (VOLKERT, 2019).
IMPORTANTE
Reforça-se que na terceira idade é notável o decréscimo nos valores de gasto energético basal (GEB) e gasto
energético em repouso (GER).
O GEB consiste na demanda energética elementar para funcionamento celular, metabólico e fisiológico do corpo
humano, desconsiderando qualquer condição de demanda energética associada à contração musculoesquelética,
inclusive o repouso.
O GER é definido como uma medida de GEB associada ao estado de repouso, em condições de significativa
aerobiose.
Ambas as medidas (GEB e GER) costumam decrescer na velhice por conta da importante depleção de tecido livre de
gordura. Os valores de GEB e GER em idosos costumam apresentar média de 20kcal/kg/dia, o que, associados a
medidas de níveis de atividade física de 1,2 a 1,8, característicos para idosos, resultam em uma faixa de oferta
energética de 24kcal a 36kcal/kg/dia em diferentes tipos de condições e demandas desse público, com raras
exceções.
O quadro a seguir resume a indicação de demanda energética em idosos com variáveis de estado nutricional e
clínico.
Desnutrição 32-38kcal/kg/dia
Obesidade 27-30kcal/kg/dia
Não há impedimentos para aplicação de fórmulas preditivas de GEB ou GER em idosos, como as equações de Harris-
Benedict, Mifflin St. Jeor ou da Organização Mundial da Saúde. É importante ressaltar que as medidas encontradas
nessas fórmulas devem ser associadas com fatores de atividade compatíveis com a rotina do idoso. Par tal, o registro
diário de atividades físicas deve incluir:
COMENTÁRIO
Com o recolhimento dessas informações, há maior capacidade de enquadramento do idoso no nível de atividade
física, que deve ser multiplicado pela medida de GEB preferida.
A seguir, o primeiro quadro apresenta as fórmulas de diversas equações de obtenção de GEB. Já o segundo
determina os critérios para aplicação das variáveis de níveis de atividade física, que podem ser observadas no
terceiro quadro, em razão da demanda energética dissociada do repouso.
NAF Critérios
Muito leve Necessidades mínimas exigidas para sobrevivência que não são
compatíveis com a promoção da saúde a longo prazo (pessoas acamadas
e debilitadas fisicamente).
Pessoas que não demandam esforço físico nas suas atividades
ocupacionais. Não têm uma rotina de atividades intensas: não caminham
longas distâncias, utilizam veículos motorizados para transportar-se, não
Leve
realizam atividade física regular e passam boa parte do seu tempo
sentadas ou de pé, realizando poucos movimentos corporais (ex.: TV,
computador etc.).
NAF Medidas
Leve 1,4-1,6
Para determinação personalizada da demanda energética, recomenda-se multiplicar o valor encontrado do GEB pelo
NAF, segundo critérios da FAO/WHO/OMS (2004).
OFERTA DE PROTEÍNAS
O consumo de 1g por quilograma de massa corporal ao dia consiste no mínimo recomendado para ingestão proteica
em idosos. Fatores como adesão e assiduidade em práticas esportivas e condição do estado nutricional e clínico
podem demandar alterações nesse requisito diário. Contudo, é comum observar que a ingestão proteica em idosos
tenha que, necessariamente, ser superior aos valores indicados para adultos em geral (0,8g/kg/dia). Isso se justifica
pela deterioração de tecido magro peremptório do envelhecimento. O quadro a seguir lista indicações de ingestão
proteica em idosos sob diferentes condições:
Alerta-se ao fato de que, conforme a oferta proteica é atendida, o balanço energético não pode, de forma alguma, ser
insuficientemente atendido. Caso as proteínas ingeridas estejam dentro de um contexto hipocalórico, boa parte dos
aminoácidos oriundos do processo digestivo colaborarão para atendimento energético (ou perda das capacidades
funcionais plásticas proteicas). Como consequência, deixa-se de atender à manutenção de tecidos magros. Ainda, a
formação energética por oxidação de esqueletos de carbonos de aminoácidos pode estimular processos pró-
inflamatórios e termogênicos nesses indivíduos, o que clinicamente não traria benefícios em geral (NOWSON;
O’CONNELL, 2015).
Além do cuidado de oferta de proteínas ao longo dia, a distribuição proteica por refeição costuma auxiliar na
aminoacidemia e no estímulo para síntese de novo de proteínas. Em média, a ingestão de 25g-30g de proteínas por
refeição costuma ser de grande preparo para suporte das demandas no idoso. Entretanto, em termos práticos, os
desafios organolépticos/sensoriais, clínicos, dentários, econômicos, antropométricos, psicológicos/colaborativos e
metabólicos criam obstáculos para atendimento da melhor ingestão proteica. Nesse contexto, a equipe
multiprofissional de atenção ao idoso deve desenvolver estratégias criativas de técnicas dietéticas e assistência
domiciliar/hospitalar para que as preparações alimentares sejam bem aceitas por esse grupo de indivíduos, já que,
por vezes, o volume de alimentos necessários pode ser afrontoso ou de difícil aceitação.
EXEMPLO
Por exemplo, recomenda-se consumo a partir de 25g de fibras (carboidratos não digeríveis), em virtude da
característica disfunção das atividades digestórias e absortivas do trato gastrointestinal nesses indivíduos.
Sobre tipos de gorduras oferecidas, é importante que a oferta de pelo menos 70% das necessidades lipídicas totais
seja composta por fontes de lipídios insaturados. Mais especificamente, o consumo de mais de 20% das
necessidades energéticas totais deve vir da combinação do consumo de gorduras monoinsaturadas (MUFA) e poli-
insaturadas (PUFA). Adicionalmente, balancear fontes de PUFA na margem de cada grama de ácido linolênico (PUFA
ômega 3) para, no máximo, o dobro de ácido linoleico (PUFA ômega 6) costuma trazer benefícios sob o ponto de vista
de controle inflamatório em idosos, mesmo aqueles não imunodebilitados.
OFERTA HÍDRICA
Em função do processo natural de perda de compartimentos magros e de fluidos corporais, é comum observar
redução de água corporal total em idosos. Entretanto, na falta de cuidados de ingestão hídrica, há chance de
progressão relevante de deterioração da atividade renal regular. Levando isso em consideração, o requerimento
hídrico de idosos é sutilmente aumentado quando comparado a adultos.
Em geral, a ingestão recomendada varia de 1,5L-3,7L de água/dia (IOM, 2004 SKULLY, 2014).
MICRONUTRIENTES
Para análise da ingestão de micronutrientes, vale ressaltar que é necessária especial atenção sobre o consumo de
vitamina D, vitamina B1, vitamina B6, vitamina B12, folato, zinco, ferro, cálcio, vitamina K e vitamina E. Embora não
seja comum haver recomendações nutricionais aumentadas desses micronutrientes para idosos, esses indivíduos
sofrem constantemente do metabolismo de vitaminas e minerais em função das alterações fisiológicas do
envelhecimento e eventuais tratamentos medicamentosos. Os quadros a seguir apresentam demanda nutricional de
micronutrientes indicados para idosos (SKULLY, 2014).
Ác.
Vitamina Biotina Colina
Sexo Folato (μg/d) pantotênico
B12 (μg/d) (μg/d) (mg/d)
(mg/d)
Potássio Fósforo
Sexo Sódio (mg/d) Cloro (g/d) Iodo (μg/d)
(mg/d) (mg/d)
Recentemente, a Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (Braspen) publicou diretrizes para terapia e
conduta nutricional específica para idosos. O quadro a seguir aponta as indicações dietéticas voltadas ao
envelhecimento em idosos de quadro clínico estável (BRASPEN, 2019):
Nutriente Orientações
Consumo de 25g/dia para manutenção de atividades
Fibras
intestinais regulares
Micronutrientes
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A debilidade física inerente ao processo de envelhecimento humano pode, por vezes, ser intensificada por escolhas
ruins na alimentação, reduzida prática de exercício, pouco convívio social e outras influências sobre a capacidade
oxidativa das células.
Esse movimento cronológico do corpo e da mente é notavelmente observável quando a equipe de assistência
multiprofissional está atenta às manifestações clínicas, antropométricas, bioquímicas e dietéticas geradas por idosos.
Cabe ressaltar a premência na individualização das abordagens nutricionais e clínicas para esse grupo de indivíduos,
pela clara diferenciação de sua sintomatologia e seus requerimentos.
Por fim, em função da redução da independência e da autonomia, seja locomotora ou mesmo de outras ordens, a
humanização na abordagem profissional se faz imprescindível para que o idoso — e seus acompanhantes, quando for
o caso — tenha maior inclinação e colaboração no seguimento das orientações de atendimento, no acompanhamento
ou nas intervenções nutricionais.
PODCAST
Agora, o especialista irá abordar como envelhecer de forma saudável.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ABBATECOLA, A. B. et al. Clinical and biochemical evaluation changes over aging. In: BALDUCCI, L.;
EXTERMANN, M. (ed.). Biological basis of Geriatric Oncology. Boston, USA: Springer, 2005, p. 135-164.
AMARYA, S.; SINGH, K.; SABHARWAL, M. Ageing process and physiological changes. In: D’ONOFRIO, G.;
GRECO, A.; SANCARLO, D. (ed.). Gerontology. London, UK: IntechOpen, 2018, p. 3-24.
BLACKBURN, G. L.; THORNTON, P. A. Nutritional assessment of the hospitalized patients. Medical Clinics North
America, v. 63, p. 1103-1115, 1979.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Envelhecimento e
Saúde da Pessoa Idosa. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Cadernos de
Atenção Básica, n. 19).
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Orientações para a
coleta e análise de dados antropométricos em serviços de saúde: Norma Técnica do Sistema de Vigilância
Alimentar e Nutricional - SISVAN. Brasília: Ministério da Saúde, 2011. (Série G. Estatística e Informação em Saúde)
BURR, M. L.; PHILLIPS, M. K. Anthropometric norms in the elderly. British Journal of Nutrition, v. 51, n. 2, p. 165-
169, 1984.
CHUMLEA, W. C. et al. Prediction of body weight for the nonambulatory elderly from anthropometry. Journal of
the American Dietetic Association, v. 88, n. 5, p. 564-568, 1988.
CHUMLEA, W. C.; ROCHE, A. F.; STEINBAUGH, M. L. Estimating stature from knee height of persons 60 to 90
years of age. Journal of the American Geriatrics Society, v. 33, n. 2, p. 116-119, 1985.
FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION. FAO. Human Energy Requirements. Report of a Joint FAO/WHO/
UNU Expert Consultation. Rome: FAO, 2004. (Technical Report Series 1).
FRISANCHO, A. R. New norms of upper limb fat and muscle areas for assessment of nutritional status. The
American Journal of Clinical Nutrition, v. 34, n. 11, p. 2.540-2.545, 1981.
FRISANCHO, A. R. Anthropometric Standards for the Assessment of Growth and Nutritional Status. Ann Arbor,
USA: University of Michigan, p. 189, 1990.
LAUQUE, S.; NOURHASHEMI, F.; VELLAS, B. A tool for nutritional anamnesis of elderly patients. Zeitschrift für
Gerontologie und Geriatrie, v. 32, supl. 1, p. I45±54, 1999.
LEITE, L. E. A. et al. Envelhecimento, estresse oxidativo e sarcopenia: uma abordagem sistêmica. Revista
Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 15, n. 2, p. 365-380, 2012.
LIGUORI, I. et al. Oxidative stress, aging, and diseases. Clinical Interventions in Aging, v. 13, p. 757-772, 2018.
MARGUTTI, K. M. M.; SCHUCH, N. J.; SCHWANKE, C. H. A. Inflammatory markers, sarcopenia and its diagnostic
criteria among the elderly: a systematic review. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 20, n. 3, p. 441-453,
2017.
MOREIRA, L. P.; VILLAS BOAS, P. J. F.; FERREIRA, A. L. A. Associação entre estresse oxidativo e estado
nutricional de idosos. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 60, n. 1, p. 75-83, jan.-fev. 2014.
NAJAS, M. S., NEBULONI, C. C. Avaliação nutricional. In: RAMOS L. R., TONIOLO NETO, J. Geriatria e gerontologia.
Barueri, SP: Manole, 2005. p 299.
NOWSON, C.; O’CONNELL, S. Protein requirements and recommendations for older people: a review. Nutrients,
v. 7, n. 8, p. 6874-6899, 2015.
REIS, N. T. Nutrição clínica: interações. Rio De Janeiro: Livraria e Editora Rubio, 2004.
SIDDIQUE, N. et al. Malnutrition in the elderly and its effects on bone health: a review. Clinical Nutrition ESPEN, v.
21, p. 31-39, 2017.
SKULLY, R. Essential nutrient requirements of the elderly. Nutrition and Dietary Supplements, n. 6, p. 59-68, 2014.
TIRAPEGUI, J.; RIBEIRO, M. L. Avaliação nutricional: teoria e prática. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2018.
VOLKERT, D. et al. ESPEN guideline on clinical nutrition and hydration in geriatrics. Clinical Nutrition, v. 38, n. 1,
p. 10-47, 2019.
EXPLORE+
Leia o artigo intitulado Associação do consumo de fibras e risco cardiovascular em pacientes idosos, de Joana
Brandão, Camila Fernandes, Sérgio Barroso e Gabrielle Rocha, e saiba mais sobre a relação entre o consumo de
fibras e a prevenção de doenças cardiovasculares em pacientes idosos. O artigo foi publicado no Internacional Journal
of Cardiovascular Sciences, v. 28, n. 6, p. 464-471, 2015 e pode ser encontrado na internet.
Saiba mais sobre o estado nutricional de idosos, aspecto considerado um problema de saúde pública, por meio do
artigo Avaliação nutricional de idosos: desafios da atualidade, de Elda Tavares, Débora Santos, Aline Ferreira e
Maria Menezes, publicado na Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 18, n. 3, p. 643-650, 2015, disponível
no portal SciELO.
Leia o artigo Padrões dietéticos e fatores associados em idosos, de Marcelo Ferreira, Ágatha Previdelli, Tatiana
Freitas, Karina Marques, Rita Goulart e Rita Aquino, estudo feito com 295 idosos residentes em São Caetano do Sul,
município no estado de São Paulo. O artigo foi publicado na Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 20, n. 4,
p. 534-544, 2017, e pode ser encontrado no portal SciELO.
CONTEUDISTA
Daniel Ronaldo Chreem